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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
THIBÉRIO MEDEIROS FERNANDES DE MACEDO
ANÁLISE DA DESINDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL NA INDÚSTRIA DE
TRANSFORMAÇÃO: UMA ABORDAGEM TEÓRICA E METODOLÓGICA
NATAL - RN
2015
THIBÉRIO MEDEIROS FERNANDES DE MACEDO
ANÁLISE DA DESINDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL NA INDÚSTRIA DE
TRANSFORMAÇÃO: UMA ABORDAGEM TEÓRICA E METODOLÓGICA
Monografia apresentada ao Curso de
Ciências Econômicas da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como
requisito básico necessário à obtenção do
título de Bacharel em Economia.
Orientadora: Prof.ª Maria da Luz Góis
Campos
NATAL - RN
2015
Catalogação da Publicação na Fonte.
UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA.
Macedo, Thibério Medeiros Fernandes de.
Análise da desindustrialização no Brasil na indústria de transformação: uma
abordagem teórica e metodológica / Thibério Medeiros Fernandes de Macedo. - Natal,
RN, 2015.
39 f.
Orientadora: Profa. Ma. Maria da Luz Góis Campos.
Monografia (Graduação em Economia) - Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Economia. Curso de
Graduação em Ciências Econômicas.
1. Economia - Monografia. 2. Desindustrialização brasileira - Monografia. 3. Indústria
de transformação - Monografia. 4. Produto interno bruto – Monografia. I. Campos, Maria
da Luz Góis. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/BS/CCSA CDU 330.322(81)
AGRADECIMENTOS
Inicialmente quero agradecer a Deus por sempre me guiar para o lado das
realizações e paz, e principalmente por ter colocado em minha vida pessoas tão boas e
especiais.
Aos meus pais Maurício e Conceição que sempre me proporcionaram o melhor
que podiam, nunca desistiram e sempre confiaram em mim, poder retribuir todo o
esforço que fizeram, me ver concluindo o curso e saber o que quero da vida
profissional, com certeza é a melhor retribuição que eles podem ter.
Aos meus irmãos, Thalita e Thúlio, que sempre me incentivaram e acreditaram
que eu seria capaz, além de serem grandes exemplos.
A minha namorada Marcelly, por ter me apoiado e ajudado para que eu
obtivesse êxito nessa jornada.
Aos meus amigos, onde contei e sei que posso contar com vocês para os
próximos objetivos.
Em especial à minha orientadora Maria da Luz, por ter abraçado esse trabalho
comigo mesmo no pequeno prazo que tive e pela dedicação, apoio, ensinamentos e
correções necessárias para que o trabalho pudesse dá certo.
Enfim, meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que de alguma forma
doaram um pouco de si para que a conclusão deste trabalho se tornasse possível.
EPÍGRAFE
“Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-vos de que as grandes
coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível”.
Charles Chaplin
RESUMO
A desindustrialização é um tema que está em evidência e que vem sendo alvo de
muitos estudiosos e discussões por parte de economistas e teóricos. No caso do Brasil,
essa discussão começou a partir dos anos 1980, quando a indústria de transformação
começou a perder participação no Produto Interno Bruto (PIB) e virou alvo de uma série
de debates e contrapontos por parte dos estudiosos na área. Partindo disso, e de acordo
com o conceito definido de desindustrialização, o projeto de pesquisa busca analisar a
desindustrialização na Indústria de Transformação através de seus aspectos históricos,
teóricos, metodológicos e conjunturais. Para isso, serão feitas pesquisas documentais e
bibliográficas com os autores e órgãos específicos, a fim de conceituar o tema proposto
e suas fundamentações em relação à Teoria Econômica. Através dessa pesquisa e
tomando com base a literatura brasileira apresentada, a indústria de transformação
brasileira mostrou evidências conclusivas a respeito da ocorrência de
desindustrialização na economia brasileira.
PALAVRAS-CHAVE: Desindustrialização, Indústria de Transformação, Produto
Interno Bruto.
ABSTRACT
De-industrialization is a topic that is in evidence and that has been the target of
many scholars and discussions by economists and theorists. In Brazil, this discussion
started from 1980, when the manufacturing industry started losing share in the Gross
Domestic Product (GDP) and became the target of a series of debates and counterpoints
by the scholars in the area. From this, and according to the defined concept of de-
industrialization, the research project aims to analyze de-industrialization in the
Manufacturing Industry through its historical, theoretical, methodological and
situational aspects. For this, they will be made documentary and bibliographic research
to the authors and specific organs in order to conceptualize the theme and its
foundations in relation to economic theory. Through this research and taking based
Brazilian literature presented to the Brazilian manufacturing industry showed
conclusive evidence of the occurrence of de-industrialization in the Brazilian economy.
KEYWORDS: De-industrialization, Manufacturing Industry, Gross Domestic Product.
LISTA DE FIGURAS
Gráfico 1: Brasil - Evolução da Participação da Indústria de Transformação no PIB .. 27
Gráfico 2: Brasil – Participação da Indústria de Transformação no PIB - % ................. 30
Gráfico 3: Taxa de Crescimento do PIB e da Indústria de Transformação (%) e Taxa
real Efetiva de Câmbio ................................................................................................... 33
Gráfico 4: Participação do Valor Adicionado da Indústria de Transformação a Preços de
1995 ................................................................................................................................ 34
Gráfico 5: Balança Comercial Brasileira em US$ milhões ............................................ 36
Tabela 1: Participação Relativa da Indústria de Transformação no valor adicionado
(VA) e no pessoal ocupado (PO) em % .......................................................................... 29
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 10
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL 13
3. ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO PROCESSO DE
DESINDUSTRIALIZAÇÃO: CAUSAS E EFEITOS ................................................................ 17
3.1 Causas da Desindustrialização ........................................................................................ 20
3.2 Efeitos da Desindustrialização ........................................................................................ 23
4. DESINDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL NA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO:
UMA ANÁLISE COMPARATIVA DOS ASPECTOS MACROECONÔMICOS ................... 26
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 37
6. REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 38
10
1. INTRODUÇÃO
Um tema em evidência e que gera diversas opiniões e discussões entre os
economistas é sem dúvidas a desindustrialização. Partindo desse pressuposto, Marquetti
(2002), realizou um dos primeiros estudos a apontar para a desindustrialização da
economia brasileira. Esse autor apresentou dados para a indústria de transformação,
mostrando que a economia brasileira, entre as décadas de 1980 e 1990, passara por um
processo de desindustrialização, tanto em termos da participação no valor adicionado
como em termos da participação do emprego, onde a participação no PIB da indústria
de transformação reduziu aproximadamente 35% no período 1985 a 1995.
Para Marquetti (2002), a “desindustrialização” ocorreu nesse período devido ao
baixo investimento, em particular na indústria, realizado na economia do Brasil. Ainda
com base nesse autor, devido à associação entre a transferência de recursos e de
trabalho da indústria para setores com uma menor produtividade do trabalho, gerando
menor crescimento do produto potencial no longo prazo, o processo de
desindustrialização ocorrido nesse período seria essencialmente negativo sobre os
prospectos de crescimento da economia brasileira.
Por outro lado, Bonelli (2005) realizou um novo estudo, o qual aponta resultados
que reforçam o estudo anterior feito por Marquetti sobre a desindustrialização no Brasil
nas décadas de 1980 e 1990. As contas nacionais do Brasil forneceram informações que
mostram uma redução de 42,3% em 1985 e de 31,4% em 1995, da participação da
indústria de transformação no PIB, isto é, perda em torno de 25% em relação ao PIB em
dez anos. Outro ponto a ser apontado, trata das mudanças pelas quais a economia
brasileira sofreu no final da década de 1980 e início da década de 1990, que levaram a
essa perda de participação da indústria de transformação no PIB, que podemos destacar:
privatização em vários segmentos da indústria, sobrevalorização da taxa real de câmbio
no período 1995-1998 e a abertura comercial e financeira.
Diante disso, outros autores também contribuíram com estudos acerca da
desindustrialização na economia brasileira durante as décadas de 1980 e 1990, entre
eles: Feijó, Carvalho e Almeida (2005, p.1) destacam que: “o peso da indústria de
transformação cai de 32,1% do PIB em 1986 para 19,7% do PIB em 1998, queda de 12
pontos percentuais, muito alta sob qualquer critério de avaliação”.
11
Destarte, Almeida (2006), seguindo a mesma linha dos estudos anteriores,
aponta uma nítida tendência à queda, por parte da participação da indústria de
transformação no PIB, onde há uma redução de 37% no período compreendido entre
1985 e 1998. Contudo, essa tendência teria sido parcialmente revertida a partir de 1999,
pois houve mudança no regime cambial brasileiro, que viabilizou, pelo menos até 2005,
a diminuição ou eliminação da sobrevalorização cambial ocorrida no período 1995-
1998.
Por outro lado, dados apresentados pelo IEDI (Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial) mostram resultados distintos em relação a
desindustrialização, onde:
Resultados mostram que a indústria brasileira preserva representatividade de
todos os segmentos básicos segundo a classificação tecnológica. A
desindustrialização ocorrida no Brasil, portanto, não exclui ou eliminou os
setores de mais alta tecnologia, muito embora as políticas adotadas desde os
anos 1990 não tenham beneficiado a maioria dos segmentos inclusos nesta
categoria, exceção para o segmento de outros equipamentos de transporte
(aeronaves) e refino de petróleo, neste caso, devido às políticas de
substituição de importações e de desenvolvimento tecnológico, aplicadas pela
estatal Petrobrás. Por outro lado, essas mesmas políticas na medida em que
represaram os aumentos de emprego e de renda da população levaram a um
retrocesso dos setores de mais baixa intensidade tecnológica na estrutura
industrial brasileira. Tais setores, no entanto, são os mais empregadores da
indústria. (IEDI, 2005, p.20).
Nesse sentido, podemos ressaltar que os estudos teóricos apresentados pelos
pesquisadores apontam que a desindustrialização é um fato que vem ocorrendo desde
1985, isso posto, quando analisado do ponto de vista das variáveis macroeconômicas,
em especial: valor adicionado e participação do emprego industrial. Além disso, os
pesquisadores apresentam dados que mostram a perda de participação da indústria no
PIB do país.
Nesse contexto, o presente estudo tem como propósito verificar o contra ponto
entre os autores destacados e os dados apresentados pelo IEDI, além de aprofundar e
esclarecer o debate entre ou autores na questão da desindustrialização. Dessa forma, o
trabalho deve contribuir como base para futuros estudos e críticas, levantadas a partir da
abordagem comparativa entre os autores, onde alguns pesquisadores destacam variáveis
macroeconômicas como valor adicionado e participação no emprego industrial e outros
apresentam resultados a partir do saldo da balança comercial.
12
Diante disso, o objetivo geral do estudo realizado é analisar a desindustrialização
na indústria de transformação brasileira através dos seus aspectos históricos, teóricos,
metodológicos e conjunturais. E para operacionalizar os fins a que se tratam,
apresentamos os seguintes objetivos específicos: Apresentar o conceito de
desindustrialização através da bibliografia pesquisada; Analisar as causas e efeitos do
processo de desindustrialização e suas consequências dentro da economia do país e
analisar dados estatísticos acerca da situação da indústria de transformação brasileira.
De acordo com os objetivos da presente pesquisa podemos delimita-la como do
tipo descritiva, tendo em vista, apresentarmos dados conjunturais da econômica
brasileira no que se refere à indústria de transformação, apresentando um panorama
macroeconômico do setor, através do método estatístico de análise descritiva. O
procedimento metodológico adotado na elaboração desse estudo se deu mediante
pesquisa bibliográfica, documental e levantamento de dados. Esses dados são de base
secundária, tendo sido coletados através de relatórios de pesquisa e tabelas estatísticas,
produzidos pelas seguintes instituições: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEADATA. Por outro lado, a
pesquisa bibliográfica teve por base teórica os seguintes autores: Cano (2012),
Marquetti (2002), Rowthorn E Ramaswamy (1999), Bresser-Pereira (2008), Palma
(2005).
O presente trabalho está dividido em três capítulos, além da introdução e das
considerações finais. No primeiro capítulo é realizada uma abordagem histórica acerca
do processo de instalação da indústria no Brasil. No segundo, busca-se apresentar o
conceito de desindustrialização segundo a Teoria Econômica, bem como suas causas e
efeitos. Destarte, no terceiro capitulo, realiza-se uma análise do desempenho da
indústria de transformação brasileira, buscando as variáveis ou fatores que foram
responsáveis pelo processo de desindustrialização na indústria pesquisada.
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2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO
NO BRASIL
Para que possamos entender como o processo de desindustrialização se instalou
e passou a ser discutido no Brasil é preciso, a priori, entender como ocorreu o processo
de industrialização no país.
Suzigan (1988) destaca que o processo de industrialização da economia
brasileira até fins da década de 1920, não apresentava elevados índices de produtividade
na economia. A indústria estava atrelada ao setor agrícola-exportador e dependia da
renda gerada por este setor para a produção dos manufaturados. Após a Primeira Guerra
mundial, houve incentivo do Estado para estimular algumas indústrias especificas, não
configurando em um investimento geral.
A partir da década de 1930, a intervenção estatal em defesa do setor agrícola
exportador, em crise, gerou maiores investimentos para o desenvolvimento industrial.
Com a expansão da renda devido às atividades ligadas ao mercado interno, aumentou
expressivamente a demanda por produtos manufaturados.
Tais intervenções do governo, no setor industrial, permitiram a adoção de
políticas macroeconômicas expansionistas, protecionismo à indústria e substituição na
pauta de importações, o que gerou mecanismos de avanço para a industrialização no
país. Estes mecanismos permitiram na década de 1940, geração de investimentos diretos
para o setor de bens intermediários e na produção de motores pesados, o que formava a
base para o desenvolvimento da atividade industrial no Brasil.
Pode-se, então, compreender que as medidas tomadas para o desenvolvimento
industrial no Brasil no período de 1930 até o final da década de 1940, permitiram a
formação de uma base para o início da expansão dos investimentos no setor. Logo, em
1950, a intervenção do Governo condicionou a formação da estrutura do setor produtivo
industrial, através do capital privado nacional, capital estrangeiro e do próprio Estado.
Estabeleceu-se uma estratégia geral de desenvolvimento ou “Plano de Metas”, com a
função de orientar a implementação de indústrias específicas, o que segundo Bacha e
Bonelli (2005) foi decisivo para definir o padrão de industrialização inserido no Brasil.
14
Ainda conforme Suzigan (1988), a elevada proteção ao mercado interno e
atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) que financiava o
desenvolvimento industrial que estava concentrado nas indústrias de base e de
infraestrutura. Além disso, o avanço da estrutura produtiva contribuiu para inserir
segmentos da indústria pesada, da indústria de bens de consumo e indústrias de bens de
capital, através do processo de substituição de importações de insumos básicos
tornando-se suporte para o crescimento industrial no final da década de 1960 e meados
da década de 1970, o chamado “ciclo expansivo”.
A primeira fase do “ciclo expansivo” (1968-1973), inserida no regime militar,
foi definida por elevado crescimento industrial que decorreu pelos elevados
investimentos que absorveram os níveis de capacidade ociosa que se encontravam as
indústrias nacionais, nos anos anteriores. O Estado subsidiou a formação de capital
industrial, através das isenções de impostos, subsidio nos financiamentos de longo prazo
e incentivos fiscais, administrado por órgãos regionais, para reduzir os desequilíbrios
regionais.
A ampliação do mercado interno resultou da expansão da demanda por produtos
manufaturados que se derivaram das políticas macroeconômicas adotadas, através de
investimentos na infraestrutura econômica e social, em grande parte financiada por
recursos externos, devido à facilidade de tomar empréstimos no mercado financeiro
internacional, e também por recursos obtidos junto ao BNDE.
Suzigan (1988) destaca que o auge da produção industrial no período do “ciclo
expansivo” (1968-1973), também chamado de milagre econômico1, foi alavancado por
setores como a indústria automobilística e indústria de bens de consumo duráveis.
Houve aumento dos níveis de exportação decorrente do dinamismo do comércio
mundial.
1 É a denominação dada à época de excepcional crescimento econômico durante o Regime
Militar no Brasil, entre 1968 e 1973, também conhecidos pelos oposicionistas como "anos de chumbo".
Nesse período do desenvolvimento brasileiro, a taxa de crescimento do PIB saltou de 9,8% a.a. em 1968
para 14% a.a em 1973, e a inflação passou de 19,46% em 1968, para 34,55% em 1974. Paradoxalmente,
houve aumento da concentração de renda e da pobreza.(Singer 1972).
15
Fatores que contribuíram para o progresso industrial no Brasil, o que, segundo
Almeida (2004), permitiu ao governo o lançamento do primeiro Plano Nacional de
Desenvolvimento (PND), entre os anos de 1972 a 1974, com o objetivo de modernizar a
estrutura da economia brasileira, visando à integração nacional e desenvolvimento
regional, através de investimentos, principalmente, na área de infraestrutura e no setor
produtivo voltado para aumentar a competitividade e dinamismo da economia.
No entanto, Suzigan (1988) ressalta que após o primeiro choque do petróleo2,
em 1973, houve queda na produção industrial, maior endividamento externo e déficit da
balança comercial, devido à elevação dos preços das matérias primas no mercado
internacional (1973-1974). Como resultado de um maior esforço de acumulação de
capital e diversificação da estrutura produtiva industrial foi introduzido o segundo Plano
Nacional de Desenvolvimento (II PND), período de 1975 a 1979, que visava uma nova
fase de investimentos públicos e privados nas indústrias de insumos básicos e bens de
capital, o que seria o segundo “ciclo expansivo”.
O contexto econômico no qual foi inserido o II PND não apresentava bons
aspectos, segundo Mantega (1997), a economia brasileira encontrava-se em deficiência
estrutural, principalmente, nos setores de bens intermediários e de capital, tal situação
foi agravada no período do “milagre econômico” somada à “crise do petróleo” que ao
elevarem a demanda por consumo na economia, geraram maior escassez de matéria-
prima para a produção.
Ainda com base em Mantega (1997), o II PND pretendia promover como
prioridade investimentos nos setor de bens de capital e insumos básicos, como
consequência, o governo reduziria o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) que no
ano 1974, estimava-se em 9,7%, porém, em 1978, aproximava-se de 5%.
O governo financiava com baixas taxas de juros os investimentos na produção
de bens de capital e na produção de petróleo para dar suporte para o desenvolvimento
industrial, no qual era executado pelas empresas estatais, com o maior volume de
capital, e empresas nacionais.
2 Ocorreu em 1973, quando os países do Oriente Médio descobriram que o petróleo é um bem não
renovável e que, por isso, iria acabar algum dia. Os produtores então diminuíram a produção, elevando o
preço do barril de US$ 2,90 para US$ 11,65 em apenas três meses. As vendas para os EUA e a Europa
também foram embargadas nessa época devido ao apoio dado Israel na Guerra do Yom Kippur (Dia do
Perdão). Com isso, as cotações chegaram a um valor equivalente a US$ 40 nos dias de hoje.
16
Percebe-se no final da década de 1980 que o II PND produziu uma alteração no
padrão de acumulação de capital no Brasil. Através da conservação dos índices de
participação da produção de bens de capital na indústria de transformação, o nível foi
mantido em 16% desde 1975 até o final da década.
Nota-se que houve alguns cortes de investimento em setores não prioritários,
contudo, preservou-se o nível de crescimento nos demais setores da economia, como o
de bens intermediários, bens de capital, bens duráveis e bens não duráveis, mesmo com
a tendência de queda da participação da indústria de transformação na economia. Tais
condições permitiram a economia brasileira atingir um equilíbrio inter setorial, não
apresentando grandes mudanças nos índices de produção ao longo da década de 1980
(MANTEGA, 1997).
Ao final do “ciclo expansivo” (1968-1973) e de uma mudança não favorável da
conjuntura econômica internacional, notava-se uma ausência de investimento nos
setores de desenvolvimento cientifico e tecnológico, o que gerava ineficiência e falta de
competitividade com o mercado externo. O esforço realizado pelo governo que se
configurou no II PND teve maior participação do capital estrangeiro, devido á falta de
recursos do setor nacional e das empresas estatais, o que vinculava o crescimento
industrial à tecnologia estrangeira.
Em linhas gerais, o desenvolvimento industrial brasileiro foi bastante estimulado
no período de 1950 a 1973, formando a estrutura produtiva nacional. No final da década
de 1980, houve uma tendência à redução da participação da indústria de transformação
na economia, substituído pelo investimento em insumos básicos, produção de bens de
capital e energia que estavam insuficientes para a demanda de consumo da economia.
No mercado interno, a condição de alta rentabilidade para se produzir gerou
indústrias com elevados índices de ineficiência e obsoletas, devido ao elevado
protecionismo e falta de exigência quanto a metas de produção. As dificuldades para
obtenção de crédito no mercado financeiro internacional somado as condições que se
encontravam a economia brasileira resultaram no retrocesso do desenvolvimento
industrial, logo no inicio da década de 1980.
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3. ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO PROCESSO DE
DESINDUSTRIALIZAÇÃO: CAUSAS E EFEITOS
Rowthorn e Wells (1987) trazem o conceito de desindustrialização, como sendo
um processo de mudança social e econômica causada pela eliminação ou redução da
capacidade industrial ou atividade em um país ou região, especialmente a indústria
pesada ou indústria transformadora. É um termo oposto de industrialização.
Contudo, o conceito “clássico” de desindustrialização foi definido por Rowthorn
e Ramaswamy (1999) como sendo uma redução persistente da participação do emprego
industrial no emprego total de um país ou região. Com base nesse conceito, os assim
chamados países desenvolvidos ou do “primeiro mundo” teriam passado por um forte
processo de desindustrialização a partir da década de 1970, onde apresentavam uma
taxa de 26,8% da participação industrial no emprego total, e na década de 1990, essa
taxa reduziu para 20,1%. Por outro lado, a América Latina teria passado pelo mesmo
processo na década de 1990, cuja participação industrial no emprego total era de 16,8%
e no ano de 1998 passou para 14,2%.
Um estudo mais recente promovido por Tregenna (2009) redefiniu de forma
ampliada o conceito “clássico” de desindustrialização como sendo uma situação na qual
tanto o emprego industrial como o valor adicionado da indústria se reduzem como
proporção do emprego total e do PIB, respectivamente.
A primeira observação importante a respeito do conceito ampliado de
desindustrialização é que o mesmo é compatível com um crescimento expressivo da
produção da indústria em termos físicos. De outro modo, uma economia não se
desindustrializa quando a produção industrial está estagnada ou em queda, mas quando
o setor industrial perde importância como fonte geradora de empregos e/ ou de valor
adicionado para uma determinada economia. Dessa forma, a simples expansão da
produção industrial não pode ser utilizada como prova da inexistência de
desindustrialização.
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A segunda observação é que a desindustrialização não está necessariamente
associada a uma reprimarização da pauta de exportação3. Visto que a participação da
indústria no emprego e no valor adicionado pode se reduzir em função da transferência
para o exterior das atividades manufatureiras mais intensivas em trabalho e/ou com
menor valor adicionado. Nesse caso, a desindustrialização pode vir acompanhada por
um aumento da participação de produtos com maior conteúdo tecnológico e maior valor
adicionado na pauta de exportações. Diante disso, a desindustrialização é classificada
como “positiva”. No entanto, se a desindustrialização vier acompanhada de uma
reprimarização da pauta de exportações, ou seja, por um processo de reversão da pauta
exportadora na direção de commodities, produtos primários ou manufaturas com baixo
valor adicionado e/ou baixo conteúdo tecnológico; então isso pode ser sintoma da
ocorrência de “doença holandesa”, ou seja, a desindustrialização causada pela
apreciação da taxa real de câmbio resultante da descoberta de recursos naturais escassos
num determinado país ou região.
Desse modo, a desindustrialização é classificada como “negativa”, pois é o
resultado de uma falha de mercado4 na qual a existência e/ ou a descoberta de recursos
naturais escassos, para os quais o preço de mercado é superior ao custo marginal social
de produção, gera uma apreciação da taxa de câmbio real, produzindo assim uma
externalidade negativa sobre o setor produtor de bens manufaturados (Bresser-Pereira,
2008).
Em contrapartida, Cano (2012) considera que para uma análise detalhada sobre a
desindustrialização é essencial a principio lembrar os conceitos de desenvolvimento e
de subdesenvolvimento econômico, assim como o sentido da industrialização em tais
processos. Desenvolvimento é o resultado de um longo processo de crescimento
econômico, com elevado aumento da produtividade média, sem o qual o excedente não
cresce o bastante para acelerar a taxa de investimento e diversificar a estrutura produtiva
e do emprego. Esse processo intensifica a industrialização e urbanização para
transformar de maneira progressista as estruturas sociais e políticas do país.
3 Quando uma economia industrializada passa a exportar mais produtos primários em detrimento de
produtos manufaturados esse fenômeno é conhecido como reprimarização, isto é, um retorno à fase
histórica quando essa economia exportava mais produtos primários do que manufaturas. 4 São fenômenos que impedem que a economia alcance um estado de bem estar social através do livre
mercado, sem interferência do governo.
19
Por outro lado, o subdesenvolvimento, como mostrou Furtado (2000), seria uma
forma de organização social no interior do sistema capitalista, sendo contrário à ideia de
que seja uma etapa para o desenvolvimento, como podem sugerir os termos de país
"emergente" e "em desenvolvimento". Na verdade, o subdesenvolvimento é um
processo estrutural específico e não uma fase pela qual tenham passado os países hoje
considerados desenvolvidos.
Os países subdesenvolvidos tiveram, segundo Furtado, um processo de
industrialização indireto, ou seja, como consequência do desenvolvimento dos países
industrializados. Este processo histórico específico do Brasil criou uma industrialização
dependente dos países já desenvolvidos e, portanto, não poderia jamais ser superado
sem uma forte intervenção estatal que redirecionasse o excedente, até então usado para
o "consumo conspícuo" das classes altas, para o setor produtivo. Note-se que isto não
significava uma transformação do sistema produtivo por completo, mas um
redirecionamento da política econômica e social do país que levasse em conta o
verdadeiro desenvolvimento social.
Nesse sentido podemos destacar com base no que foi apresentado pelos autores
acima citados, que o conceito de desindustrialização apresenta diversas vertentes, desde
sua relação com a redução da participação do emprego industrial no emprego total de
um país, definido por Rowthorn e Ramaswamy (1999), como a metodologia usada por
Tregenna (2009) que conceitua a desindustrialização a partir de duas observações, visto
que a primeira mostra que a desindustrialização não ocorre quando a produção industrial
está estagnada, mas sim quando apresenta uma perda de importância no PIB.
A segunda, por sua vez, classifica a desindustrialização como sendo positiva ou
negativa. Onde seria positiva quando a transferência da atividade de um setor para
outro, mesmo se tratando de uma desindustrialização, vier acompanhada de aumento na
participação de produtos de alta tecnologia. E seria negativa caso venha acompanhada
de uma reversão da pauta exportadora na direção de commodities e produtos primários,
ou seja, a desindustrialização causada pela apreciação da taxa real de câmbio resultante
da descoberta de recursos escassos e matérias-primas em determinado país.
20
Cano (2012) destaca que o conceito de desindustrialização deve ser entendido, a
partir da compreensão de dois outros conceitos, desenvolvimento e
subdesenvolvimento. Visto que, desenvolvimento é o resultado de um longo processo
de crescimento econômico, acompanhado de um elevado aumento da produtividade
industrial. E o subdesenvolvimento seria um processo estrutural específico e não uma
fase pela qual tenham passado os países hoje considerados desenvolvidos.
3.1 Causas da Desindustrialização
Rowthorn e Ramaswamy (1999) destacam que a desindustrialização pode ser
causada por fatores internos e externos a uma determinada economia. Os fatores
internos seriam basicamente dois: uma mudança na relação entre a elasticidade renda da
demanda por produtos manufaturados e serviços; e o crescimento mais rápido da
produtividade na indústria do que do setor de serviços. Nesse contexto, o processo de
desenvolvimento econômico levaria “naturalmente” todas as economias a se
desindustrializar a partir de certo nível de renda per capita. Isso porque a elasticidade
renda da demanda de serviços tende a crescer com o desenvolvimento econômico,
tornando-se maior do que a elasticidade renda da demanda por manufaturados.
Dessa forma, a continuidade do desenvolvimento econômico levará a um
aumento da participação dos serviços no PIB e, a partir de um dado nível de renda per
capita, a uma queda da participação da indústria no PIB.
Além disso, como a produtividade do trabalho cresce mais rapidamente na
indústria do que nos serviços, a participação do emprego industrial deverá iniciar seu
processo de declínio antes da queda da participação da indústria no valor adicionado. Os
fatores externos que induzem a desindustrialização estão relacionados ao grau de
integração comercial e produtiva das economias, ou seja, com o estágio alcançado pelo
assim clamado processo de “globalização”.
Nesse contexto, os diferentes países podem se especializar na produção de
manufaturados, caso da China e da Alemanha, ou na produção de serviços, caso dos
Estados Unidos e Reino Unido. Além disso, alguns países podem se especializar na
produção de manufaturados intensivos em trabalho qualificado, ao passo que outros
podem se especializar na produção de manufaturados intensivos em trabalho não
21
qualificado. Esse padrão de desenvolvimento gera uma redução do emprego industrial
em termos relativos no primeiro grupo e um aumento do emprego industrial no segundo
grupo.
Por fim, a relação entre a participação do emprego e do valor adicionado da
indústria, e a renda per capita pode ser afetada pela “doença holandesa” (Palma, 2005).
Assim, a abundância de recursos naturais pode induzir a uma redução da participação da
indústria no emprego e no valor adicionado por intermédio da apreciação cambial, a
qual resulta em perda de competitividade da indústria e déficit comercial crescente da
mesma. Em outras palavras, a desindustrialização causada pela “doença holandesa” está
associada a déficits comerciais crescentes da indústria e superávits comerciais
crescentes no setor não industrial.
A desindustrialização causada pela “doença holandesa” é também denominada
de “desindustrialização precoce”, uma vez que a mesma se iniciaria a um nível de renda
per capita inferior ao observado nos países desenvolvidos quando os mesmos iniciaram
o seu processo de desindustrialização. Sendo assim, os países afetados pela “doença
holandesa” iniciam o seu processo de desindustrialização sem terem alcançado o “ponto
de maturidade” de suas respectivas estruturas industriais e, portanto, sem ter esgotado
todas as possibilidades de desenvolvimento econômico que são permitidas pelo
processo de industrialização.
Por outro lado, Cano (2012) aponta que a desindustrialização no Brasil teve
como causa pelo menos cinco fatores, entre eles estão:
1. A política cambial instaurada a partir do Plano Real. Conforme as reformas
liberais e a política de estabilização, o câmbio excessivamente valorizado cumpre,
até hoje, o papel de âncora dos preços. Esse fato produz parte do pagamento dos
juros da dívida pública. O resultado da foi a crescente perda de competitividade
internacional da indústria nacional perante outros países;
2. Outra razão resulta da abertura comercial pela qual o Brasil passou desde 1989,
no governo Sarney, quando ocorre uma primeira investida quanto à proteção sobre as
importações. A segunda ocorreu no governo Collor, em 1990. A terceira foi realizada
no governo de Fernando Henrique Cardoso, a partir de 1994. Essa
desregulamentação manteve-se e assim está até hoje. A abertura comercial com a
22
queda das tarifas e demais mecanismos protecionistas da indústria nacional
complementou o efeito do câmbio valorizado, reduzindo bruscamente o grau de
proteção em relação à concorrência internacional;
3. A taxa de juros elevada do país faz com que o empresário capitalista, compare-a
com a taxa de lucro, com a expectativa de acumular capital. O empresário nacional
fica atento a esse fenômeno e só investe em última instância, se necessário investir.
Caso contrário, quebra e fecha. Em tais condições, o investimento é fortemente
inibido, o que deixa a indústria vulnerável. Enfim, perde produtividade, novas
oportunidades e competitividade, passando a ser um forte obstáculo ao
desenvolvimento econômico do país;
4. IDE ou investimento direto estrangeiro. É visto que cresceu em números
absolutos nos últimos anos, mas não se trata apenas no sentido global, no volume e
participação no PIB. O investimento, contudo, é uma variável tão importante na
economia que deve ser tratada com mais cuidado. Uma taxa de investimento precisa
ser analisada estruturalmente, pois inicialmente é deduzido o investimento em
carteira do fluxo total de capital estrangeiro, em geral, de caráter especulativo;
5. Os economistas ficam ainda mais preocupados pelo fato da economia mundial
ter desacelerado de 2007 aos dias atuais. A partir da política econômica norte-
americana e a da União Europeia, percebe-se que a maioria das economias
desenvolvidas devem atravessar um período de longa crise, assim como, economistas
críticos e várias instituições haviam previsto. Algumas dessas economias, como EUA
e China (que perdeu parte dos mercados que disputava) estão obtendo taxas elevadas
de crescimento das exportações e recuperando parte dos mercados, através de
políticas agressivas no que se trata de mercado internacional de produtos.
A taxa de juros e a oferta de commodities têm sido os primeiros pontos da
discussão sobre a causa da desindustrialização. No que se refere ao setor de
commodities trata-se do resultado da competitividade do Brasil com outros países, a
23
qual, o país sabe bem explorar. Já a taxa de juros alta é motivo de muitas insatisfações,
pois afeta diretamente a atividade industrial, inviabilizando o investimento no setor.
Além disso, comparada aos países centrais, a taxa de juros brasileira é expressivamente
elevada (13,75%), o que favorece a entrada volumosa de divisas para especulação,
valorizando o real e dificultando as exportações.
Nesse caso, o aumento da produtividade é visto como fator de recuperação dessa
situação, ao possibilitar a redução de custos e compensar a perda com o câmbio. Para
que ocorra esse aumento da produtividade é necessário que haja investimento. Neste
ponto, pode ocorrer outro gargalo causador da desindustrialização: o baixo nível de
poupança nacional.
Países com baixo níveis de poupança sofrem com escassez de recursos para
investimentos e apresentam quedas na produção industrial. Diante disso, o país se sente
obrigado a recorrer a capitais estrangeiros tornando vulnerável esse setor da economia.
Soma-se a tudo isso a baixa qualificação da mão de obra que, na maioria dos
casos, torna insuficiente a oferta da mesma. Com baixa qualificação da mão de obra, as
indústrias, em grande parte, tomam iniciativas próprias de capacitação técnica dos
trabalhadores (treinamentos, cursos de capacitação, etc.), o que impacta no aumento do
seu custo. Cabe, nesse caso, ao Estado criar programas de capacitação de profissionais
para estimular o crescimento industrial.
3.2 Efeitos da Desindustrialização
No contexto dos modelos neoclássicos de crescimento a ocorrência ou não do
fenômeno da desindustrialização é irrelevante, haja vista o crescimento de longo prazo é
consequência apenas da “acumulação de fatores” e do “progresso tecnológico”, sendo
independente da composição setorial da produção. Para esses modelos, uma unidade de
valor adicionado tem o mesmo significado para o crescimento de longo prazo seja ela
gerada na indústria, na agricultura e no setor de serviços. As diversas correntes do
pensamento heterodoxo, contudo, consideram que o processo de crescimento
econômico é setor-específico.
24
Os economistas heterodoxos Thirwall (2002) e Tregenna, (2009) acreditam que
a indústria é o motor do crescimento de longo prazo das economias capitalistas, uma
vez que:
(i) Os efeitos de encadeamento para frente e para trás na cadeia produtiva são mais
fortes na indústria do que nos demais setores da economia.
(ii) A indústria é caracterizada pela presença de economias estáticas e dinâmicas de
escala, de tal forma que a produtividade na indústria é uma função crescente da
produção industrial. Esse fenômeno é conhecido na literatura econômica como lei de
Kaldor-Verdoorn5.
(iii) A maior parte da mudança tecnológica ocorre na indústria. Além disso, boa parte do
progresso tecnológico que ocorre no resto da economia é difundido a partir do setor
manufatureiro.
(iv) A elasticidade renda das importações de manufaturas é maior do que a elasticidade
renda das importações de commodities e produtos primários. Dessa forma, a
“industrialização” é tida como necessária para aliviar a restrição de balanço de
pagamentos ao crescimento de longo prazo.
Em suma, a indústria é vista como “especial” pelo pensamento heterodoxo, pois
ela é a fonte de retornos crescentes de escala, pois é indispensável para a sustentação do
crescimento no longo-prazo, é a fonte e/ou a principal difusora do progresso tecnológico
e permite o relaxamento da restrição externa ao crescimento de longo prazo. Nesse
contexto, a desindustrialização é um fenômeno que tem impacto negativo sobre o
potencial de crescimento de longo-prazo, pois reduz a geração de retornos crescentes,
diminui o ritmo de progresso técnico e aumenta a restrição externa ao crescimento.
Nesse contexto, pode-se aferir que não houve confluência metodológica no que
se pode frisar entre os autores, onde Cano (2012) mostra que a valorização cambial
observada no período seria uma das causas da perda de competitividade da indústria
nacional que passaria a sofrer a concorrência de produtos importados a preços
competitivos e, com isso, o Brasil entraria em um processo de desindustrialização. Por
5 Associação do crescimento do emprego (e) com o crescimento do produto (q), partindo-se da identidade
básica de que p º q – e.
25
outro lado, o processo de desindustrialização, apresentado por Rowthorn e Coutts
(2004), é inerente ao desenvolvimento econômico, diferente da visão apresentado por
Cano (2012), e mostram que as ideias desse autor representam pontos de estreitamento
e, não, desindustrialização precoce.
26
4. DESINDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL NA INDÚSTRIA DE
TRANSFORMAÇÃO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DOS
ASPECTOS MACROECONÔMICOS
Entre 1947 e 2013, a participação da indústria de transformação no produto
interno bruto (PIB) apresentou dois períodos distintos, conforme observado no gráfico
1. Dos anos 1950 até 1985 transcorreu o primeiro período, caracterizado por um intenso
processo de crescimento, diversificação e consolidação da estrutura industrial brasileira.
Foi nesse período que a participação da indústria de transformação no PIB mais que
duplicou, saltando dos 10,8% em 1952 para 27,2% em 1985.
Já no segundo período, com início em 1986, observa-se uma expressiva perda de
participação da indústria na produção agregada do país, o que configura um processo de
desindustrialização.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e
estimativas da FIESP, a participação da Indústria de Transformação no PIB declinou
mais de 51% ao longo do último período, atingindo, em 2013, a marca dos 13,0%
Com o propósito de destacar alguns fatores explicativos dos dois períodos
anteriormente ressaltados, será apresentado, nas páginas a seguir, um breve retrospecto
do desenvolvimento da indústria no Brasil.
27
Gráfico 1: Brasil - Evolução da Participação da Indústria de Transformação no PIB
Fonte: IBGE - Elaboração Própria.
No período que se estende do pós Segunda Guerra Mundial até o primeiro
choque do petróleo (1973), a economia mundial passou por um processo de forte
crescimento econômico liderado pela indústria. O Brasil aproveitou esse cenário externo
favorável para implementar duas grandes políticas industriais capazes de alterar a
estrutura industrial doméstica: o Plano de Metas (1956-1961) e o II PND (1974-1979).
Planejado e fomentado pelo Estado ao longo desse período, o processo de
industrialização brasileiro ganhou força com a instalação das indústrias de bens de
consumo duráveis, bens de capital, insumos básicos e energia. Portanto, em face desse
período de intensas transformações estruturais, a participação da indústria no PIB
aumentou fortemente.
Conforme Bonelli (2005), após esse período, a economia mundial passou por
vários eventos adversos que influenciaram negativamente o ambiente macroeconômico,
a demanda agregada e, por consequência, o crescimento da indústria. Destacam-se o
segundo choque do petróleo (1979), o forte aumento da taxa de juros pelos EUA e a
consequente crise da dívida pela qual o Brasil e outros emergentes sofreram, a
aceleração da inflação doméstica nos anos 1980 e as crises financeiras da década de
1990 (mexicana, asiática e russa). A partir dos anos 1980, todos esses fatores
0
5
10
15
20
25
30
1947 1956 1961 1964 1979 1985 1990 1995 2003 2010 2013
Participação da Indústria deTransformação no PIBBrasileiro em % (1947-2013)
28
contribuíram para uma mudança de patamar na participação da produção industrial no
PIB da economia mundial.
De acordo com Cano (2012) no caso do Brasil, o processo de desindustrialização
é precoce e nocivo à economia nacional, pois se associa a fenômenos negativos, tais
como a perda de competitividade das exportações industriais, que se manifesta por meio
da reprimarização da pauta exportadora; e o aumento das importações não somente de
bens de capital e de consumo, sobretudo da China, como também de insumos
industriais, o que afeta nocivamente diversas cadeias produtivas da indústria brasileira.
Com relação a esse último fenômeno, observa-se um aumento da participação de
produtos importados no consumo interno da indústria de transformação, perceptível nos
resultados do Coeficiente de Importação da indústria de transformação (CI), divulgado
pelo Departamento de Comércio Exterior da FIESP (DEREX), que saltou de uma média
de 15,2% no período entre 2006 e 2007 para 22,7% no 4º trimestre de 2011. Esse
aumento expressivo do CI em um curto intervalo de tempo evidencia a ocorrência de
um vazamento do crescimento da indústria para o exterior.
Marquetti (2002) apresentou um dos primeiros estudos acerca do tema
desindustrialização da economia brasileira e mostrou através de dados apresentados na
Tabela 2 que houve um processo de desindustrialização entre as décadas de 1980 e
1990, tanto em relação à participação do emprego, como o valor adicionado. Essa
desindustrialização teria sido causada pelos baixos investimentos realizados na
economia, especialmente na indústria. Esse processo de desindustrialização teria sido
negativo sobre a economia, pois estaria associado à transferência de recursos e de
trabalho da indústria para setores de menor produtividade, causando um menor
crescimento do produto potencial no longo prazo.
29
Tabela 1: Participação Relativa da Indústria de Transformação no valor adicionado
(VA) e no pessoal ocupado (PO) em %
DISCR. 1980 1985 1988 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998
VA 31,3 31,6 28,6 25,7 23,8 22,7 21,6 21,0 20,6 20 18,2 19,1
PO 15,5 14,6 13,9 13,9 13,8 13,5 13,4 12,9 12,4 - - -
Fonte: Marquetti (2002, p 121) - Elaboração Própria.
Bonelli (2005) reforça o estudo realizado por Marquetii (2002), através de dados
fornecidos pelas contas nacionais do Brasil, que apontam uma redução de 42,3% em
1985 para 31,4% em 1995, por parte da participação da indústria no PIB. Essa queda foi
resultado da redução da participação da indústria de transformação, que reduziu de
31,62 % em 1985, para 20,60% em 1995. O processo de perda de participação, segundo
o autor, foi causado por mudanças, as quais passou a economia brasileira no final dos
anos 1980 e inicio de 1990, entre elas: aumento da competição interna e externa, devido
à abertura comercial e financeira; privatização em diversos segmentos industriais; e
sobrevalorização da taxa real de câmbio 1995-1998.
Outros estudiosos a apontar evidências sobre a desindustrialização durante as
décadas de 1980 e 1990 foram Feijó, Carvalho e Almeida (2005). Segundo dados
apresentados por esses autores o peso da indústria de transformação cai de 32,1% do
PIB em 1986 para 19,7% do PIB em 1998.
Almeida (2006) seguindo a mesma linha dos estudos anteriores destaca que a
participação da indústria de transformação no PIB apresentou tendência a queda no
período compreendido entre 1985 e 1998, como mostra o Gráfico 2. Contudo, essa
tendência teria sido parcialmente revertida a partir de 1999, com a mudança do regime
cambial brasileiro, o que possibilitou, pelo menos até 2005, a redução ou eliminação da
sobrevalorização cambial ocorrida no período 1995- 1998.
30
Gráfico 2: Brasil – Participação da Indústria de Transformação no PIB - %
Fonte: Almeida (2006) - Elaboração Própria.
Argumentos contrários à tese de desindustrialização foram apresentados por
Nassif (2008). Segundo esse autor,
“Não se pode falar que o Brasil tenha passado por um processo de
desindustrialização porque não se assistiu a um processo generalizado de
mudança na realocação de recursos produtivos e no padrão de especialização
dos setores com tecnologias intensivas em escala, diferenciada e science-
based para as indústrias baseadas em recursos naturais e em trabalho”
(Nassif, 2008, p. 89).
A sua afirmação está apoiada numa análise detalhada acerca da composição do
valor adicionado na indústria brasileira, por tipo de tecnologia, para o período 1996-
2004. De acordo com os dados apresentados por Nassif, a participação no valor
adicionado da indústria dos setores intensivos em recursos naturais e em trabalho teria
passado de 46,26% em 1996 para 49,79% em 2004; ao passo que a participação
conjunta dos setores intensivos em escala, diferenciada e baseada em ciência passou de
31
53,72% em 1996 para 50,15% em 2004. Dessa forma, se observa uma relativa
estabilidade da estrutura industrial brasileira no período em consideração, o que
descartaria, portanto, a ocorrência de um processo de desindustrialização. Contudo, o
autor em consideração parece confundir os conceitos de desindustrialização e “doença
holandesa”.
Deste modo para Nassif, a desindustrialização não seria um processo de perda de
importância da indústria no emprego e no valor adicionado, mas de mudança na
estrutura interna da própria indústria em direção a setores intensivos em recursos
naturais e trabalho. Definido dessa forma, o conceito de desindustrialização não pode
ser distinguido ao conceito de “doença holandesa”. Contudo, a literatura sobre
desindustrialização deixa claro que a mesma pode ocorrer mesmo na ausência de doença
holandesa.
De acordo com estudos de autores brasileiros sobre o tema, parece impossível
negar que a economia brasileira tenha passado por um processo de desindustrialização
no período 1986-1998. De fato, os estudos de Marquetti (2002), Bonelli (2005), Feijó et
al (2005), Almeida (2006) e, até mesmo, Nassif (2008) apontam nessa direção.
Contudo, a controvérsia recente sobre o tema, principalmente o debate travado nos
jornais de grande circulação diária e em outros veículos de comunicação, parece se
limitar ao comportamento da indústria brasileira no período posterior a mudança do
regime cambial, notadamente o período 2004-2008, no qual se verificou uma aceleração
da taxa de crescimento do valor adicionado da indústria de transformação relativamente
ao período 1995-1996.
Os economistas ortodoxos insistem na tese de que, para esse período, não
existem dados que comprovem a continuidade do processo de desindustrialização da
economia brasileira. Pelo contrário, as mudanças macroeconômicas pelas quais o Brasil
passou pós-1999, com a implementação do tripé metas de inflação-superávit primário-
câmbio flutuante, teria permitido um crescimento bastante robusto da produção
industrial, eliminando assim o fantasma da desindustrialização. A grande dificuldade
para se avaliar a continuidade ou não do processo de desindustrialização no período
posterior à mudança do regime cambial brasileiro se encontra na mudança da
metodologia de cálculo do PIB implementada pelo IBGE no primeiro trimestre de 2007.
32
Essa dificuldade técnica tem permitido que alguns economistas ortodoxos
simplesmente rejeitem a ocorrência de desindustrialização na economia brasileira,
alegando a ausência de dados que permitam inferir a ocorrência da mesma . Soma-se a
isso o fato de que a participação da indústria de transformação no PIB a preços
correntes no período 1999-2004 ter apresentado uma notável recuperação, ensejando
assim alguns economistas ortodoxos a mencionar a ocorrência de uma possível
reindustrialização6 da economia brasileira.
Nesse contexto, para analisar a perda de importância relativa da indústria,
notadamente a indústria de transformação, no PIB, a comparação ao longo das décadas
de 1990 e 2000 deve lançar mão de evidências indiretas que contornem a dificuldade de
se comparar diretamente a evolução da participação percentual do valor adicionado a
preços correntes dos setores no total da economia. Conforme se observa no gráfico 3,
onde são apresentadas as taxas de crescimento da indústria e do PIB, bem como a taxa
real efetiva de câmbio, no período 1996-2008, apenas em três anos a taxa de
crescimento da indústria superou a da economia: 2000, 2003 e 2004.
Nos demais anos, o PIB cresceu à frente do valor adicionado da indústria de
transformação, revelando assim continuidade da perda de dinamismo da indústria no
período posterior a 1995. Verificamos também que a forte apreciação da taxa real
efetiva de câmbio no período 2004-2008 foi acompanhada pela perda de dinamismo da
indústria de transformação com respeito ao resto da economia brasileira. De fato, entre
2005 e 2008 a taxa de crescimento do valor adicionado da indústria de transformação
ficou sistematicamente abaixo da taxa de crescimento do PIB. Esse movimento foi
acompanhado por uma forte apreciação do câmbio real.
6 Significa resgatar a indústria como indutora do crescimento.
33
Gráfico 3: Taxa de Crescimento do PIB e da Indústria de Transformação (%) e Taxa
real Efetiva de Câmbio
Fonte: IBGE, Contas Nacionais Trimestrais, Elaboração Própria.
O gráfico 4 permite qualificar melhor o sentido da perda de importância da
indústria na medida em que compara o valor adicionado da indústria de transformação
com o PIB a preços de 1995, ou seja, isola o efeito da variação dos preços na evolução
da participação da indústria no total. O ponto de destaque é que sem o efeito da variação
dos preços, a queda na participação da indústria de transformação no PIB é mais nítida.
A maior participação registrada na série a preços constantes foi em 1996
(18,3%), e mesmo o maior dinamismo relativo da indústria no biênio 2003-2004 não
recuperou o peso da indústria na segunda metade dos anos 1990. Esta é uma indicação
que reforça o efeito negativo da tendência à valorização do câmbio sobre o setor
manufatureiro.
34
Gráfico 4: Participação do Valor Adicionado da Indústria de Transformação a Preços de
1995
Fonte: IBGE - Elaboração Própria.
A partir do que foi exposto nos parágrafos anteriores, parece haver pouca
margem para a dúvida a respeito da ocorrência de um processo de desindustrialização
da economia brasileira, mesmo após a mudança do regime cambial em 1999. Nesse
contexto, o ponto que ainda pode ser objeto de divergência refere-se às causas desse
processo. Mais precisamente, trata-se de debater se esse fenômeno é um resultado
natural do estágio de desenvolvimento da economia brasileira ou se é a consequência
das políticas macroeconômicas adotadas nos últimos 20 anos.
Um ponto particularmente importante é avaliar se o processo de
desindustrialização da economia brasileira resulta da ocorrência de “doença holandesa”.
No que se refere à relação entre desindustrialização e “doença holandesa”, um estudo
recente divulgado pelo IEDI mostra que no período 2004-2009 o saldo comercial da
indústria (acumulado de janeiro a setembro) passou de 17,09 bilhões de dólares em
2004 para -4,83 bilhões de dólares em 2009. Ao desagregar esse saldo por intensidade
tecnológica verificamos que os setores de média-alta e alta intensidade tecnológica não
são apenas deficitários, como ainda presenciaram um crescimento expressivo do déficit
comercial no período em consideração.
35
Com efeito, o déficit do setor de média-alta intensidade passou de 2,07 bilhões
de dólares em 2004 para 19,19 bilhões de dólares em 2009, ao passo que o déficit do
setor de alta intensidade passou de 5,58 bilhões de dólares em 2004 para 12,65 bilhões
de dólares em 2009. O crescimento do déficit comercial da indústria, principalmente nos
setores de maior intensidade tecnológica, no período 2004-2009 coincide com a redução
da participação do valor adicionado da indústria de transformação no PIB, conforme
podemos constatar no gráfico 4. A ocorrência simultânea de perda da importância da
indústria no PIB e aumento do déficit comercial da indústria é um sintoma claro de
ocorrência de “doença holandesa”, segundo a definição de Palma (2005).
Um argumento similar a esse é desenvolvido por Bresser-Pereira e Marconi
(2008). Segundo esses autores, a desindustrialização da economia brasileira seria o
resultado da “doença holandesa”, uma vez que, no período 1992-2007, o saldo da
balança comercial de commodities apresentou um superávit crescente — passando de
US$ 11 bilhões em 1992 para US$ 46,8 bilhões em 2007 — ao passo que o saldo da
balança comercial de manufaturados passou de um superávit de US$ 4 bilhões em 1992
para um déficit de US$ 9,8 bilhões em 2007. No caso dos manufaturados de média-alta
e alta tecnologia a deterioração do saldo comercial foi ainda mais dramática: o déficit
nessa categoria passou de US$ 0,7 bilhões em 1992 para US$ 20,2 bilhões em 2007.
Esses dados apontam, portanto, para um aumento da participação das commodities e
uma redução da participação dos manufaturados (que passaram a ter contribuição
negativa) no saldo da balança comercial no período 1992-2007. Como nesse período
ocorreu simultaneamente uma perda relativa de importância da indústria na economia
brasileira, segue-se que a desindustrialização foi o resultado da “doença holandesa”.
Mesmo se considerarmos a estrutura da indústria brasileira com base na composição do
valor adicionado da mesma, tal como Nassif (2008), iremos constatar a existência de
sinais de “doença holandesa”.
Com efeito, os setores da indústria brasileira mais intensivos em escala,
diferenciado e baseado em ciência, tiveram a sua participação no valor adicionado da
indústria reduzida de 53,72% em 1996 para 50,15% em 2004. Daqui se segue que
existem sinais não desprezíveis de mudança no padrão de especialização da estrutura
produtiva da economia brasileira na direção de atividades intensivas em recursos
naturais e de baixo conteúdo tecnológico.
36
Diante disso, não podemos desconsiderar a hipótese de desindustrialização para
economia brasileira, uma vez que mesmo com o crescimento do PIB e da produção
industrial, a indústria de transformação tem perdido participação para os demais setores,
como ocorreu de forma mais intensa pós-2004. Segundo, a afirmação de que o resultado
líquido do câmbio apreciado sobre a demanda agregada foi claramente expansionista,
também é questionável, dado que parte do consumo, principalmente de bens
manufaturados, é atendida através das importações e, portanto, reduz os efeitos
multiplicadores sobre a economia brasileira de tal forma que tem reduzido sua
contribuição no PIB, sobretudo no período pós-2005 quando a contribuição das
exportações líquidas tornou-se negativa, como mostra o Gráfico 5.
Gráfico 5: Balança Comercial Brasileira em US$ milhões
Fonte: ALICEWEB - Elaboração própria.
37
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve por objetivo inicial fazer uma abordagem acerca da
industrialização no Brasil, além de uma discussão teórico-conceitual a respeito do termo
desindustrialização e a relação do mesmo com os conceitos de “reprimarização” da
pauta de exportações e “doença holandesa”. Na sequência foram analisadas as possíveis
causas os efeitos do processo de desindustrialização sobre a economia de um país. Por
fim, analisou-se o caso brasileiro, com ênfase na literatura nacional existente sobre o
tema. No que se refere a esse ponto, a literatura brasileira dos últimos quinze anos
apresenta evidências conclusivas a respeito da ocorrência de desindustrialização na
economia brasileira para o período 1986-1998.
Para o período posterior à mudança do regime cambial, a continuidade do
processo de desindustrialização não pode ser estabelecida de forma tão conclusiva, em
função da mudança na metodologia de apuração das Contas Nacionais pelo IBGE em
2007. Contudo, os dados a respeito da taxa de crescimento da indústria de
transformação apontam para a continuidade da perda de importância relativa da
indústria brasileira nos últimos vinte anos.
Destarte, estudos recentes a respeito da composição do saldo comercial
brasileiro e da composição do valor adicionado da indústria brasileira mostram sinais
conclusivos da ocorrência de “doença holandesa”, ou seja, de desindustrialização
causada pela apreciação da taxa real de câmbio que resulta da valorização dos preços
das commodities e dos recursos naturais no mercado internacional.
Assim, esse debate ainda parece distante de um consenso. Visto essa situação, é
indispensável à atuação do governo para orientar e estimular esse setor, juntamente com
a participação da iniciativa privada, de forma a perseguir resultados crescentes para o
mesmo. É possível que essa situação não se reverta no curto prazo, mas planos de longo
prazo devem ser elaborados e executados o quanto antes para evitar índices piores nos
níveis de produção industrial do país.
38
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, J.G. de. O boom das exportações brasileiras, reprimarização da
pauta de exportação e desindustrialização: uma visão do Brasil entre 1999 e
2008. 2004. Disponível em:
<http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/28144/000765835.pdf?sequence=1>.
Acesso em: 20 Maio de 2015.
ALMEIDA, J.G de. “Política Monetária e Crescimento Econômico no Brasil”. In:
SEMINÁRIO DO PSDB, 16 fevereiro de 2006. São Paulo, 2006.
BACHA, E. L.; BONELLI, R. Uma interpretação das causas da desaceleração
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BONELLI, R. Industrialização e Desenvolvimento: Notas e conjecturas com foco na
experiência do Brasil. In: CONFERÊNCIA DE INDUSTRIALIZAÇÃO,
DESINDUSTRIALIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO, São Paulo: FIEPA, 2005.
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Approach, Revista de Economia Política, v. 28, n.1, 2008.
BRESSER-PEREIRA, L.C; MARCONI, N. Existe doença holandesa no Brasil? In:
FÓRUM DE ECONOMIA DE SÃO PAULO, 4., 2008. Anais... São Paulo:
Fundação Getúlio Vargas, 2008.
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