walt whitman - 40 poemas.pdf

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  • WWAALLTT

    WWHHIITTMMAAMM

  • *********************************************************************************************************

    444000 PPPOOOEEEMMMAAASSS:::

    VVVoooccc,,, llleeeiiitttooorrr

    AAA bbbaaassseee dddeee tttooodddaaa aaa mmmeeetttaaafffsssiiicccaaa

    AAA sssooommmbbbrrraaa iiimmmaaagggeeemmm mmmiiinnnhhhaaa

    DDDeee """CCCaaannntttooo aaa mmmiiimmm mmmeeesssmmmooo"""

    AAA uuummm hhhiiissstttooorrriiiaaadddooorrr

    AAA uuummmaaa ppprrrooossstttiiitttuuutttaaa rrreeessspppeeeiiitttooosssaaa

    AAA vvvoooccc

    AAAnnniiimmmaaaiiisss

    AAAooo cccooommmeeeaaarrr mmmeeeuuusss eeessstttuuudddooosss

    sss vvveeezzzeeesss cccooommm aaa pppeeessssssoooaaa aaa qqquuueeemmm aaammmooo

    CCCaaannntttooo dddaaa eeessstttrrraaadddaaa aaabbbeeerrrtttaaa

    CCCaaannntttooo dddaaa eeessstttrrraaadddaaa rrreeeaaalll --- 000111

    CCCaaannntttooo dddaaa eeessstttrrraaadddaaa rrreeeaaalll --- 000555

  • CCCaaannntttooo dddaaa eeessstttrrraaadddaaa rrreeeaaalll --- 111555

    CCCeeerrrtttaaa vvveeezzz nnnuuummmaaa ccciiidddaaadddeee

    CCCooommm vvvoooccc

    DDDooo iiinnnqqquuuiiieeetttooo oooccceeeaaannnooo dddaaa mmmuuullltttiiidddooo

    EEE qqquuuaaannntttooo aaa tttiii,,, MMMooorrrttteee

    EEEmmm mmmeeeiiiooo mmmuuullltttiiidddooo

    EEEnnnqqquuuaaannntttooo eeeuuu llliiiaaa ooo llliiivvvrrrooo

    EEEpppiiitttfffiiiooo

    FFFeeeiiitttooo AAAdddooo dddeee mmmaaannnhhh ccceeedddooo

    MMMqqquuuiiinnnaaa aaalllggguuummmaaa dddeee pppooouuupppaaarrr tttrrraaabbbaaalllhhhooo

    MMMiiinnnhhhaaa vvvooozzz sssaaaiii

    MMMooommmeeennntttooosss aaaooo nnnaaatttuuurrraaalll

    NNNooo mmmeee fffeeeccchhhaaammm aaasss pppooorrrtttaaasss

    NNNeeesssttteee mmmooommmeeennntttooo ttteeerrrnnnooo eee pppeeennnsssaaatttiiivvvooo

    OOO ppprrrppprrriiiooo ssseeerrr eeeuuu cccaaannntttooo

  • OOOuuuooo dddiiizzzeeerrr qqquuueee cccooonnntttrrraaa mmmiiimmm fffoooiii

    aaallleeegggaaadddooo

    PPPaaarrraaa uuummm eeessstttrrraaannnhhhooo

    PPPoooeeetttaaasss dddeee aaammmaaannnhhh

    PPPrrreeecccuuurrrsssooorrreeesss

    QQQuuuaaannndddooo aaannnaaallliiisssooo aaa cccooonnnqqquuuiiissstttaaadddaaa fffaaammmaaa

    QQQuuuaaannndddooo eeemmm ttteeeuuu cccooolllooo dddeeeiiittteeeiii aaa cccaaabbbeeeaaa

    QQQuuueeerrrooo fffaaazzzeeerrr ooosss pppoooeeemmmaaasss dddaaasss cccoooiiisssaaasss

    mmmaaattteeerrriiiaaaiiisss

    SSSaaauuudddaaaooo dddeee NNNaaatttaaalll

    SSSooouuu ooo pppoooeeetttaaa dddooo cccooorrrpppooo

    UUUmmm pppoooeeemmmaaa

    UUUmmmaaa fffooolllhhhaaa sss mmmooosss dddaaadddaaasss

    UUUmmmaaa mmmuuulllhhheeerrr eeessspppeeerrraaa pppooorrr mmmiiimmm

    ******************************************************************

  • http://groups-beta.google.com/group/digitalsource

    VVVoooccc,,, llleeeiiitttooorrr

    (Traduo Jos Paulo Paes)

    Voc, leitor, que pulsa

    de vida e orgulho e amor,

    assim como eu:

    para voc, por isso,

    os cantos que aqui seguem!

  • AAA bbbaaassseee dddeee tttooodddaaa aaa mmmeeetttaaafffsssiiicccaaa

    E agora meus senhores,

    Dir-vos-ei algumas palavras que devero permanecer

    no vosso pensamento e na vossa memria,

    Como base e concluso de toda a metafsica.

    (Assim falou aos alunos o velho professor,

    Ao encerrar o animado curso.)

    Aps ter estudado o antigo e o novo, o sistema grego

    e o germnico,

    estudado e dissertado sobre Kant e Fichte, Schelling e

    Hegel,

    Exposto a sabedoria de Plato e a de Scrates ainda

    maior

    que a de Plato,

    E maior que a de Scrates a do divino Cristo qual

    longamente me dediquei.

    Relembro hoje os sistemas grego e germnico,

  • Observo todas as filosofias, as Igrejas e as doutrinas

    crists,

    Mas vejo claramente sob o nome de Scrates, vejo

    claramente

    sob o nome do divino Cristo,

    O terno amor do homem pelo seu companheiro, a

    atraco

    do amigo pelo amigo,

    Do esposo pela esposa amada, dos filhos e dos pais,

    De cada cidade por cada cidade, de cada terra por cada

    terra.

    in Clamo, edio bilingue,

    verso de Jos Agostinho Baptista,

    Assrio & Alvim, , 3. edio, 1999

    AAA sssooommmbbbrrraaa iiimmmaaagggeeemmm mmmiiinnnhhhaaa

    A sombra imagem minha

  • que para c e para l

    vai procurando um jeito de viver

    atravs da conversa, da barganha

    - quantas vezes eu dou por mim parado

    a ver por onde ela passa,

    quantas vezes indago e ponho em dvida

    que quilo seja realmente eu;

    mas entre os meus amantes

    e no cantarolar destas canes,

    ah, eu no duvido jamais

    que aquilo seja realmente eu.

    DDDeee CCCaaannntttooo aaa mmmiiimmm mmmeeesssmmmooo

    (Traduo Geir Campos)

    1.

    Celebro a mim mesmo

  • e canto a mim mesmo:

    e o que eu assumo, vocs devem assumir,

    pois cada tomo que a mim pertence

    tambm a vocs pertence.

    Folgo e convido minha alma,

    deito-me e folgo vontade

    vendo no estio uma lana

    de capim.

    Minha lngua, cada tomo

    do meu sangue, se forma

    deste cho, deste ar:

    nascido aqui, de pais aqui nascidos

    de pais quanto a isso iguais

    e os pais deles tambm,

    eu,

    agora com trinta e sete anos,

    em plena sade vou

    contando no parar

  • at morte.

    Crenas e escolas em estado latente,

    por enquanto afastadas um pouquinho,

    quanto para elas basta,

    porm no esquecidas,

    ao bem e ao mal dou guarida

    e em qualquer circunstncia

    me permito falar

    - natureza sem confronto

    com a energia original.

    5.

    Creio em voc, minha alma:

    o outro que sou no deve

    rebaixar-se a voc,

    nem voc deve rebaixar-se

    ao outro.

  • Folgue comigo na grama,

    afrouxe o n da garganta,

    nem palavras nem msica nem rimas

    estou querendo,

    nem costume nem lio,

    por melhor que seja:

    eu gosto do acalanto

    do murmrio valvar da tua voz.

    Lembro como uma vez nos espichamos

    numa certa manh de vero transparente,

    como foraste a cabea nos meus quadris

    e me rasgaste a camisa no osso do peito

    e enfiaste a lngua em meu corao nu

    e foste assim at tocar-me a barba

    e foste assim at tocar-me os ps.

    Docemente cresceu e se espalhou

    em torno a mim a paz-sabedoria

  • alm de todo argumento da terra,

    e eu sei que a mo de Deus

    promessa da minha,

    e eu sei que o esprito de Deus

    irmo do meu,

    e que todos os homens j nascidos

    so tambm meus irmos

    - e as mulheres, irms e amantes minhas -

    e que o esteio da criao o amor

    e ilimitadas so as folhas secas

    ou cadas nos campos,

    e as formigas castanhas

    nos buraquinhos por debaixo delas,

    e as cicatrizes dos lquens

    nos moures tortos da cerca,

    pilhas de pedras, flores

    silvestres, musgo e espinhos.

  • 7.

    Teria algum julgado

    uma sorte - nascer?

    Apresso-me a informar,

    a ele ou ela,

    que igual sorte - morrer,

    e isso eu sei.

    Eu passo a morte com os agonizantes

    e o nascimento com os bebs lavados

    e no me sinto contido

    entre o chapu e os sapatos.

    Manuseio objetos de formas variadas,

    nem dois iguais e todos eles bons:

    a boa terra e as boas estrelas

    e o bom de tudo o que vai por elas.

    No sou uma terra

    nem funo de terra alguma,

  • sou o colega e companheiro de pessoas

    to imortais e inesgotveis todas elas

    quanto eu prprio (no sabem

    o quanto tm de imortais, mas eu sei).

    Cada espcie por si e para si;

    a mim o macho e a fmea,

    a mim os que j foram rapazolas

    e amam mulheres,

    a mim o homem que tem seu orgulho

    e sabe como di ser desconsiderado,

    a mim a namorada e a virgem velha,

    as mes e as mes de mes,

    a mim os lbios que j deram riso

    e a mim os olhos que j deram lgrima,

    crianas e criadores de crianas.

    Descubram-se! Vocs

  • para mim no so culpados

    nem maus nem descartveis:

    eu vejo atravs da roupa de l

    ou de algodo, se sim ou se no,

    e fico em volta, interessado, teimoso,

    e eu no posso ser mandado embora.

    11.

    Vinte e oito moos tomando banho na praia,

    vinte e oito moos e todos to amigveis;

    vinte e oito anos de uma vida de mulher

    e todos to solitrios.

    Ela a dona da bonita casa

    na subida da encosta,

    e bem vestida e simptica ela se esconde

    por trs das venezianas da janela.

    Qual o moo de que ela gosta mais?

  • Ah o mais caseiro de todos para

    ela o mais bonito.

    Aonde que vai assim, senhora? Estou s vendo:

    vejo voc se espalhando naquelas guas,

    ainda que fique a dentro do quarto

    parada feito um pau.

    Danando e rindo vem pela linha da praia

    o banhista nmero vinte e nove;

    os outros no a viram,

    mas ela bem que os viu e os adorou.

    As barbas dos moos resplandeciam

    de gotas d'gua,

    e a lhes carem das compridas cabeleiras

    pequenos fios d'gua

    lhes escorriam pelos corpos todos.

    Uma invisvel mo

  • tambm passava pelos corpos deles,

    descendo trmula das frontes aos quadris.

    Os moos nadam de costas,

    claras barrigas ao sol,

    sem indagarem quem estende a mo para eles:

    no sabem eles quem enche o peito e desiste,

    as sobrancelhas curvadas e vacilantes,

    nem lhes ocorre que estejam salgando algum

    com a gua que respingam.

    17.

    Estes so realmente pensamentos

    de todo homem em qualquer tempo e lugar,

    no so originais meus;

    e se no so de vocs tanto quanto meus

    no querem dizer nada

    ou quase nada;

    e se no so a pergunta

  • e a resposta pergunta,

    no significam nada;

    e se eles no se colocam tio perto

    quo distantes parecem, no valem nada.

    Esta a relva que cresce

    onde quer que haja terra e haja gua,

    este o ar comum

    que banha o globo.

    Eu rufo e bato o tambor pelos mortos

    e sopro nas minhas embocaduras

    o que de mais alto e mais jubiloso

    posso por eles.

    Vivas queles que levaram a pior!

    E queles cujos navios de guerra

    afundaram no mar!

    E a todos os generais

    das estratgias perdidas,

  • que foram todos heris!

    E ao sem-nmero dos heris desconhecidos,

    equivalentes aos heris maiores

    que se conhecem!

    18.

    Com msica forte eu venho,

    com minhas cometas e meus tambores:

    no toco hinos

    s para os vencedores consagrados,

    toco hinos tambm

    para as pessoas batidas e assassinadas.

    Vocs j ouviram dizer

    que ganhar o dia bom?

    Pois eu digo que bom tambm perder:

    batalhas so perdidas

    com o mesmo esprito

  • com que so ganhas.

    Eu rufo e bato o tambor pelos mortos

    e sopro nas minhas embocaduras

    o que de mais alto e mais jubiloso

    posso por eles.

    Vivas queles que levaram a pior!

    E queles cujos navios de guerra

    afundaram no mar!

    E a todos os generais

    das estratgias perdidas,

    que foram todos heris!

    E ao sem-nmero dos heris desconhecidos,

    equivalentes aos heris maiores

    que se conhecem!

    20.

    Quem que vai por a

  • aflito, mstico, nu?

    Como que eu tiro energia

    da carne de boi que como?

    O que um homem, enfim?

    O que que eu sou?

    O que que vocs so?

    Tudo o que eu digo que meu,

    vocs podem dizer que de vocs:

    de outro modo, escutar-me

    seria perder tempo.

    No ando pelo mundo a lastimar

    o que o mundo lastima em demasia:

    que os meses sejam de vcuo

    e o cho seja de lama

    e podrido.

    A gemer e acovardar-se,

  • cheio de ps para invlidos,

    o conformismo pode ficar bem

    para os de quarta categoria;

    eu ponho o meu chapu como bem quero,

    dentro ou fora de portas.

    Por que iria eu rezar?

    Por que haveria eu de me curvar

    e fazer rapaps?

    Tendo at os estratos perquirido,

    analisado at um fio de cabelo,

    consultado doutores

    e feito os clculos apropriados,

    eu no encontro gordura mais doce

    do que a inserida em meus prprios ossos.

    Em toda pessoa eu vejo a mim mesmo,

    nem mais nem menos um gro de mostarda,

    e o bem ou mal que falo de mim mesmo

  • falo dela tambm.

    Sei que sou slido e so,

    para mim num permanente fluir

    convergem os objetos do universo;

    todos esto escritos para mim

    e eu tenho de saber o que significa

    o que est escrito.

    Sei que sou imortal,

    sei que esta minha rbita no pode

    ser traada

    pelo compasso de um carpinteiro qualquer.

    Sei que no passarei

    assim que nem verruga de criana

    que noite se remove

    com um alfinete flambado.

    Eu sei que sou majestoso,

  • no vou tirar a paz do meu esprito

    para mostrar quanto vale

    ou para ser compreendido:

    tenho visto que as leis elementares

    jamais pedem desculpas.

    (Eu reconheo que, afinal de contas,

    no levo meu orgulho

    alm do nvel a que elevo minha casa.)

    Existo como sou,

    isso o que basta:

    se ningum mais no mundo

    toma conhecimento,

    eu me sento contente;

    e se cada um e todos

    tomam conhecimento,

    eu contente me sento.

    Existe um mundo

    que toma conhecimento,

  • e este o maior para mim:

    o mundo de mim mesmo.

    Se a mim mesmo eu chegar hoje,

    daqui a dez mil ou dez milhes de anos,

    posso alcan-lo agora bem-disposto

    ou posso bem-disposto esperar mais.

    O lugar de meus ps

    est lavrado e ajustado em granito:

    rio-me do que dizem ser dissoluo

    - conheo bem a amplitude do tempo.

    21.

    Eu sou o poeta do Corpo

    e sou o poeta da Alma,

    as delcias do cu

    esto em mim

    e os horrores do inferno

  • esto em mim

    - o primeiro eu enxerto

    e amplio ao meu redor,

    o segundo eu traduzo

    em nova lngua.

    Eu sou o poeta da mulher

    tanto quanto o do homem

    e digo que tanta grandeza existe

    no ser mulher

    quanta no ser homem,

    e digo que no h nada maior

    do que uma me de homens,

    Canto o cntico da expanso e orgulho:

    j temos tido o bastante

    em esquivanas e splicas,

    eu mostro que tamanho

    nada mais que desenvolvimento.

  • Voc j passou os outros,

    j chegou a Presidente?

    pouco: at a ho de chegar

    e iro ainda mais longe.

    Eu sou aquele que vai com a noite

    tenra e crescente,

    e invoco a terra e o mar

    que a noite leva pela metade.

    Aperte mais, noite de peito nu!

    Aperte mais, noite nutriz magntica!

    Noite dos ventos do sul,

    noite das poucas estrelas grandes!

    Noite silenciosa que me acena

    - alucinada noite nua de vero!

    Sorria, terra cheia de volpia,

    de hlito frio!

  • Terra das rvores lquidas e dormentes!

    Terra em que o sol se pe longe,

    terra dos montes cobertos de nvoa!

    Terra do vtreo gotejar da lua cheia

    apenas tinta de azul!

    Terra do brilho e do sombrio encontro

    nas enchentes do rio!

    Terra do cinza lmpido das nuvens,

    por meu gosto mais claras e brilhantes!

    Terra que faz a curva bem distante,

    rica terra de macicirais em flor!

    Sorria: o seu amante vem chegando!

    Prdiga, amor voc tem dado a mim:

    o que eu dou a voc, por tanto, amor

    - indizvel e apaixonado amor!

    23.

    Interminvel desdobrar

  • das palavras dos tempos!

    A minha uma palavra bem moderna:

    a palavra Massa.

    Uma palavra de f que jamais se altera,

    aqui ou daqui em diante

    sempre a mesma, o Tempo

    aceito cem por cento.

    S ela sem defeito,

    s ela envolve e completa tudo:

    surpreendente maravilha mstica

    sozinha completa tudo.

    Aceito a Realidade

    e no ouso question-la,

    impregnao de materialismo

    do principio ao fim.

    Viva a cincia positiva!

  • Viva a experincia exata!

    Tomem a planta da pedra

    junto com cedro e ramos de lils:

    aqui est o lexicgrafo, aqui est

    o qumico, aqui est

    o que dos velhos pergaminhos fez

    uma gramtica,

    aqui marujos que levaram seu navio

    por mares perigosos e desconhecidos,

    aqui est o gelogo, aqui est

    o que maneja o bisturi, e aqui

    um matemtico.

    Cavalheiros, vocs

    tm sempre as honras iniciais!

    As coisas que vocs fazem so teis,

    embora eu nelas no more:

    atravs delas eu apenas entro

    num terreno em que moro.

  • Minhas palavras

    so menos indicadoras

    de propriedades reconhecidas

    e mais indicadoras

    da vida no expressa,

    da liberdade e do extravasamento,

    pouco levando em conta

    neutralidades e castraes,

    e favorecem homens e mulheres

    totalmente equipados

    e fazem ressoar o gongo da revolta

    e fazem ponto com os fugitivos,

    com aqueles que tramam e conspiram.

    27.

    Ser de uma forma qualquer

    - o que isso?

    (Giramos e giramos, todos ns,

  • e sempre voltamos ao mesmo ponto.)

    Se nada houvesse mais evoludo,

    a ostra em sua calosa concha

    deveria bastar.

    No tenho calosa a concha:

    tenho instantneos condutores

    por mim todo,

    esteja eu parado ou em movimento,

    e eles apreendem todas as coisas

    e sem dano as conduzem

    atravs do meu ser.

    Eu simplesmente me animo e tateio,

    sinto com os dedos e fico feliz:

    tocar com a minha a pessoa de outrem

    quase o mximo

    a que eu posso resistir.

  • 30.

    Esto todas as verdades

    espera em todas as coisas:

    no apressam o prprio nascimento

    nem a ele se opem,

    no carecem do frceps do obstetra,

    e para mim a menos significante

    grande como todas.

    (Que pode haver de maior ou menor

    que um toque?)

    Sermes e lgicas jamais convencem,

    o peso da noite cala bem mais

    fundo em minha alma.

    (S o que se prova

    a qualquer homem ou mulher,

    que ;

    s o que ningum pode negar,

    que .)

  • Um minuto e uma gota de mim

    tranqilizam meu crebro:

    eu acredito que torres de barro

    podem vir a ser lmpadas e amantes,

    que um manual de manuais a carne

    de um homem ou mulher,

    e que num pice ou numa flor

    est o sentimento de um pelo outro,

    e ho de ramificar-se ao infinito

    a comear da

    at que essa lio venha a ser de todos,

    e um e todos nos possam deleitar

    e ns a eles.

    34.

    Agora eu conto

    o que eu soube no Texas

  • em minha juventude

    (no vou contar a tomada de lamo,

    no escapou ningum para contar

    a tomada de lamo,

    aqueles cento e cinqenta esto mudos

    ainda em lamo):

    esta a histria do assassinato

    a sangue frio

    de quatrocentos e vinte homens moos.

    Em retirada tomaram a formao

    de um quadrado vazio

    com as bagagens como parapeitos,

    novecentas as vidas do inimigo

    que agora os sitiava,

    nove vezes o que tinham em nmero

    e o preo foi cobrado adiantado,

    o coronel deles fora ferido

    e a munio havia terminado,

    negociaram capitulao com honra,

  • papel timbrado e assinado,

    entregaram as armas e marcharam

    prisioneiros de guerra.

    Eram o orgulho da raa dos rangers,

    inigualveis em montaria,

    rifles, canes, repastos, galanteios,

    enormes, turbulentos, generosos,

    amveis e orgulhosos,

    barbudos, peles tostadas de sol,

    trajados moda descontrada

    dos caadores,

    nenhum contava mais de trinta anos.

    No segundo domingo de manh

    foram levados em grupos

    e massacrados:

    era uma linda manh de vero,

    a faina comeou ai pelas cinco e meia

  • e s oito estava tudo terminado.

    Nenhum se quis sujeitar

    ordem de ajoelhar,

    alguns tentaram inutilmente correr

    feito uns alucinados,

    alguns ficaram inabalveis em p,

    alguns poucos tombaram de uma vez

    com tiros na fronte ou no corao,

    os mutilados e desfigurados

    ainda cavando o cho,

    vivos e mortos estirados juntos

    onde eram vistos pelos recm-vindos,

    uns meio mortos tentavam sair de rastos

    e eram ento despachados a golpes de baionetas

    ou esmagados a coronhas de espingardas,

    um jovem com no mais de dezessete anos

    agarrou-se ao algoz

    at virem dois outros afroux-lo

    e ficaram os trs todos rasgados

  • e cobertos do sangue do rapaz.

    s onze horas em ponto

    comeou a incinerao dos corpos.

    Eis a a histria do assassinato

    dos quatrocentos e vinte homens moos.

    44.

    Est na hora de eu falar de mim,

    vamos ficar de p!

    O que conhecido, eu deixo de lado:

    chamo todos os homens e mulheres

    para a frente comigo

    rumo ao Desconhecido.

    Marca a hora, o relgio;

    mas o que que marca a eternidade?

    Temos esgotado assim

  • trilhes de veres e invernos,

    trilhes h mais pela frente

    e trilhes frente deles.

    Beros nos tm trazido

    riqueza e variedade;

    riqueza e variedade

    mais beros ho de trazer.

    No digo eu que um maior e outro menor:

    o que preenche bem seu tempo e seu lugar

    igual a qualquer outro.

    Ter-se- mostrado enciumada ou assassina

    a raa humana, em relao a ti,

    meu irmo, minha irm?

    Por ti lamento: no se mostra enciumada

    ou assassina em relao a mim,

    todos tm sido cordiais comigo,

    no fao conta de lamentaes

  • - que iria eu fazer com lamentaes?

    Eu sou um vrtice de coisas feitas

    e um cercado de coisas por fazer.

    Meus ps batem num topo

    do topo das escadas,

    feixes de idades em cada degrau

    e feixes maiores entre os degraus,

    embaixo tudo devidamente galgado

    e eu a subir e a subir sempre mais.

    Aurora aps aurora atrs de mim

    os fantasmas se curvam,

    l longe eu vejo o grande Nada inicial,

    sei que j estive l

    e eu aguardava sempre, sem ser visto,

    entre a bruma letrgica a dormir,

    e usei bem do meu tempo

    e nenhum mal me fez o ftido carbono.

  • Por muito tempo eu estive enrolado,

    por muito e muito.

    Imensas haviam sido

    as preparaes de mim,

    confiantes e amigveis

    os braos que me amparavam.

    Ciclos fizeram navegar meu bero,

    remando e remando sempre

    como animados barqueiros:

    para me darem lugar,

    estrelas desviavam-se nas rbitas

    enviando influncias a espiarem

    o que haveria de ficar comigo.

    Antes de eu ser

    parido por minha me,

    geraes me indicavam o caminho:

  • meu feto jamais foi entorpecido,

    coisa nenhuma era capaz de cobri-lo.

    Por ele a nebulosa sustentava-se em rbita,

    os longos cirros lentos

    amontoavam-se para aninh-lo,

    plantas enormes davam-lhe o sustento,

    surios gigantes nas bocas o transportavam

    e o pousavam com todos os cuidados.

    Todas as foras foram prontamente usadas

    para me completarem e me deleitarem:

    neste ponto que eu me levanto agora

    com minha alma robusta.

    48.

    Tenho dito que a alma

    no mais do que o corpo

    e tenho dito que o corpo

  • no mais do que a alma,

    e que nada, nem Deus,

    para ningum mais

    do que a prpria pessoa,

    e quem anda duzentas jardas

    sem vontade

    anda seguindo o prprio funeral

    vestindo a prpria mortalha,

    e que eu como vocs

    sem um tosto no bolso

    posso comprar

    o que o mundo tem de melhor,

    e dar uma vista d'olhos

    ou mostrar uma vagem no seu galho

    confunde o aprendizado

    de todos os tempos,

    e no existe emprego ou desemprego

    em que um homem no possa ser heri,

    e coisa nenhuma h de ser to mole

    que no sirva de cubo s rodas do universo,

  • e a qualquer homem ou mulher eu digo:

    - Deixem que se levantem as almas de vocs

    tranqilas e bem postas

    ante um milho de sis!

    E raa humana eu digo:

    - No seja curiosa a respeito de Deus,

    pois eu sou curioso sobre todas as coisas

    e no sou curioso a respeito de Deus.

    (No h palavra capaz de dizer

    quanto eu me sinto em paz

    perante Deus e a morte.)

    Escuto e vejo a Deus em todos os objetos,

    embora de Deus mesmo eu no entenda

    nem um pouquinho,

    assim como tambm eu no entendo

    que possa algum ser mais maravilhoso

    do que eu.

  • Por que haveria eu de querer ver a Deus

    melhor que neste dia?

    Eu vejo algo de Deus em cada uma

    das vinte e quatro horas

    e em cada instante de cada uma delas,

    nos rostos dos homens e das mulheres

    eu vejo a Deus

    e no meu prprio rosto em cada espelho,

    acho cartas de Deus cadas pela rua

    e todas assinadas com o nome de Deus,

    e eu as deixo onde esto,

    sei muito bem que aonde quer que eu v

    outras me ho de chegar pontualmente

    sempre e por todo o sempre.

    52.

    O gavio malhado cai-me em cima

    e me acusa e reclama

    da minha parolagem e do meu

  • andar toa.

    Tambm no sou nem um pouquinho acomodado

    tambm no sou fcil de traduzir,

    fao tinir meu dialeto brbaro

    sobre os telhados do mundo.

    O ltimo passo do dia

    demora por minha causa,

    puxa a imagem de mim depois das outras

    e fiel como as outras no inspito das sombras,

    e me arrasta para o vapor e a treva.

    Eu parto que nem ar,

    sacudo os cabelos brancos ao sol

    que se est indo embora,

    derramo em remoinhos minha carne

    e deixo-a flutuando em pontas rendilhadas

    Eu me planto no cho para crescer

  • com a relva que eu amo:

    quando vocs de novo me quiserem,

    s me procurarem

    debaixo das solas dos seus sapatos.

    Dificilmente sabero quem sou

    ou o que eu quero dizer,

    mas mesmo assim eu hei de ser para vocs

    boa sade, dando ao sangue de vocs

    pureza e energia.

    Se logo de sada no me acharem,

    mantenham a coragem:

    se me perderem num lugar, procurem

    achar-me noutro:

    em algum ponto eu hei de estar parado

    espera de vocs.

    AAA uuummm hhhiiissstttooorrriiiaaadddooorrr

    (Traduo Jos Paulo Paes)

  • Voc, que fala de coisas passadas,

    tem explorado s o lado de fora,

    as superfcies das raas,

    a vida como ela se deixa ver,

    tratando o ser humano

    como uma criatura de polticos,

    agregados, governantes e sacerdotes...

    Eu, habitante dos Alleghanies,

    tratando-o como ele de fato

    em seus plenos direitos,

    tomando o pulso da vida

    que raramente se deixa entrever

    (o grande orgulho do homem consigo mesmo):

    cantor da Personalidade, rascunhando

    o que ainda est por vir

    - o que eu projeto a histria do futuro.

  • AAA uuummmaaa ppprrrooossstttiiitttuuutttaaa rrreeessspppeeeiiitttooosssaaa

    Tranquilize-se, fique vontade comigo

    - eu sou Walt Whitman,

    generoso e saudvel como a Natureza!

    Antes que o sol a rejeite,

    eu no a rejeitarei;

    antes que as guas se neguem

    a rebrilhar para voc

    ou as folhagens a sussurrar por voc,

    minhas palavras no se negaro

    a rebrilhar e a sussurrar por voc.

    AAA vvvoooccc

    Seja voc quem for,

    receio que voc esteja

    trilhando as trilhas das iluses:

    receio que essas supostas realidades

  • venham a derreter-se de baixo dos seus ps

    e suas mos

    mesmo agora os seus traos, alegrias,

    conversa, casa, negcios, costumes,

    maneiras, preocupaes, loucuras, crimes,

    dissipam-se a afastar-se de voc,

    e diante de mim surge

    voc em corpo e alma verdadeiros,

    parte das tarefas, do comrcio, lojas,

    trabalho, fazendas, roupas, a casa,

    comprar, vender, comer, beber, sofrer, morrer.

    AAAnnniiimmmaaaiiisss

    Penso que poderia desviar-me e viver com os animais,

    so to plcidos e retrados,

    Paro e fico a olh-los, longa, longamente.

    Eles no se angustiam nem se lamentam por motivo de

    sua condio,

  • No ficam acordados nas trevas chorando por seus

    pecados,

    No me aborrecem discutindo suas obrigaes para

    com Deus,

    Nenhum se ajoelha ante o outro, nem ante o de sua

    espcie que viveu h milhares de anos,

    Nenhum respeitvel ou infeliz sobre a terra inteira

    AAAooo cccooommmeeeaaarrr mmmeeeuuusss eeessstttuuudddooosss

    (Traduo Jos Paulo Paes)

    Ao comear meus estudos,

    me agradou tanto o passo inicial,

    a simples conscientizao dos factos,

    as formas, o poder de movimento,

    o mais pequeno insecto ou animal,

  • os sentidos, o dom de ver, o amor

    - o passo inicial, torno a dizer,

    me assustou tanto,

    e me agradou tanto,

    que no foi fcil para mim passar

    e no foi fcil seguir adiante,

    pois eu teria querido ficar ali

    flanando o tempo todo,

    cantando aquilo

    em cnticos extasiados.

    sss vvveeezzzeeesss cccooommm aaa pppeeessssssoooaaa aaa qqquuueeemmm aaammmooo

    s vezes com a pessoa a quem amo

    Fico cheio de raiva

    Por medo de estar s eu dando amor

    Sem ser retribudo;

    Agora eu penso que no pode haver amor

    Sem retribuio, que a paga certa

    De uma forma ou de outra.

  • (Amei certa pessoa ardentemente

    e meu amor no foi correspondido,

    mas foi da que tirei estes cantos.)

    CCCaaannntttooo dddaaa eeessstttrrraaadddaaa aaabbbeeerrrtttaaa

    1.

    A p e de corao leve

    eu enveredo pela estrada aberta,

    saudvel, livre, o mundo minha frente,

    minha frente o longo atalho pardo

    levando-me aonde eu queira.

    Daqui em diante no peo mais boa-sorte,

    boa-sorte sou eu.

    Daqui em diante no lamento mais,

    no transfiro, no careo de nada;

    nada de queixas atrs das portas,

    de bibliotecas, de tristonhas crticas;

    forte e contente vou eu

  • pela estrada aberta.

    A terra quanto basta:

    eu no quero as constelaes mais perto

    nem um pouquinho, sei que se acham muito bem

    onde se acham, sei que so suficientes

    para os que esto em relao com elas.

    (Carrego ainda aqui

    os meus antigos fardos de delcias,

    carrego - mulheres e homens -

    carregos-os comigo por onde eu vou,

    confesso que impossvel para mim

    ficar sem eles: deles estou recheado

    e em troca eu os recheio.)

    "Folhas das Folhas de Relva" (Leaves of Grass),.

    Seleo e traduo de Geir Campos.

  • CCCaaannntttooo dddaaa eeessstttrrraaadddaaa rrreeeaaalll --- 000111

    Traduo de Mrio Ferreira dos Santos

    A p, alegre, sigo pela estrada real,

    Saudvel e livre, o mundo diante de mim,

    O amplo caminho da terra morena minha frente me

    conduz aonde me agrada.

    Daqui por diante no interrogarei o destino, eu mesmo

    serei o destino.

    Darei um fim s queixas de quartos cerrados, de

    bibliotecas de crticas plangentes,

    Forte e contente, sigo pela estrada real.

    A terra, e isto basta.

    No desejo que as constelaes estivessem mais

    prximas,

    Sei que elas esto muito bem onde esto,

    ( At aqui trago minha antiga e venturosa carga.

  • Levo-os, homens e mulheres, levo-os comigo aonde

    quer que eu v.

    Juro que me impossvel deles me desfazer,

    Eu deles me impregnei, em troca quero impregn-los).

    CCCaaannntttooo dddaaa eeessstttrrraaadddaaa rrreeeaaalll --- 000555

    Traduo de Mrio Ferreira dos Santos

    A partir desta hora, ordeno a mim mesmo: liberta-te

    dos limites e das linhas imaginrias,

    Irei aonde eu quiser, senhor total e absoluto de mim

    mesmo,

    Escutarei os outros, examinarei atentamente o que

    dizem,

    Deter-me-ei, aceitarei, meditarei,

  • E mansamente, mas com vontade indomvel, hei de

    me esquivar aos compromissos que me queiram

    aprisionar.

    Aspiro grandes golfadas de espao.

    O leste e o oeste me pertencem, o norte e o sul me

    pertencem

    Sou maior e melhor do que eu pensava

    Eu no sabia que em mim continha tantas coisas boas.

    Tudo me parece admirvel.

    Posso sem cessar repetir aos homens e mulheres. Vs

    me fizestes tanto bem que eu desejaria outro tanto

    devolver-vos.

    Quero ao largo dos caminhos absorver foras novas

    para mim e para vs.

    Eu me dispersarei entre os homens e as mulheres do

    meu caminho,

    Espargirei uma alegria e uma nudez nova entre eles,

    Se algum me repelir, no me perturbarei,

    Quem me aceitar, ele ou ela, por mim ser bendito e

    me abenoar.

  • CCCaaannntttooo dddaaa eeessstttrrraaadddaaa rrreeeaaalll --- 111555

    Traduo de Mrio Ferreira dos Santos

    Vamos! O caminho est aberto nossa frente!

    Ele seguro, eu j experimentei, meus ps j o

    provocam cuidadosamente: que nada te retenha!

    Que as folhas fiquem abertas sobre a mesa, e os livros

    sem abrir em seu armrio!

    Que os instrumentos permaneam nas oficinas! Que o

    dinheiro permanea sem ser ganho!

    Que repouse a escola! No importam os brados dos

    mestres!

    Que o pregador pregue em sua ctedra! Que arrazoe o

    advogado no tribunal, e o juiz exponha a lei.

    Camarada, d-me tua mo!

    Eu te dou meu afeto mais precioso que o dinheiro,

    eu te dou a mim mesmo em vez de prdicas e de leis.

  • Queres dar-te a mim? Queres seguir comigo?

    Seguiremos juntos, um ao lado do outro, enquanto

    durarem nossas vidas!

    CCCeeerrrtttaaa vvveeezzz nnnuuummmaaa ccciiidddaaadddeee

    Certa vez eu passei

    por uma cidade bem populosa,

    guardando no meu crebro impresses

    para futuro emprego,

    com suas mostras, sua arquitetura,

    costumes, tradies,

    embora dessa cidade eu agora

    me lembre apenas de uma mulher

    que encontrei ao acaso

    e me deteve por amor de mim

    e juntos estivemos

    dia por dia e mais noite por noite

    - posso afirmar que s me lembro mesmo

  • dessa mulher que se apegou a mim

    apaixonadamente,

    de quanta vez andamos, nos amamos,

    de novo nos deixamos,

    de novo ela a pegar-me pela mo,

    e eu sem precisar ir:

    vejo-a bem perto a meu lado

    de tristes lbios trmulos

    calados.

    CCCooommm vvvoooccc

    (Traduo Jos Paulo Paes)

    Desconhecido, se voc vier passando

    e der comigo e me quiser falar

    - por que no h de falar comigo?

    E eu, por que

    tambm no haveria de falar com voc?

  • DDDooo iiinnnqqquuuiiieeetttooo oooccceeeaaannnooo dddaaa mmmuuullltttiiidddooo

    Do inquieto oceano da multido

    veio a mim uma gota gentilmente

    suspirando:

    - Eu te amo. h longo tempo

    fiz uma extensa caminhada apenas

    para te olhar, tocar-te,

    pois no podia morrer

    sem te olhar uma vez antes,

    com meu temor de perder-te depois.

    - Agora nos encontramos e olhamos,

    estamos salvos,

    retorne em paz ao oceano, meu amor,

    no estamos assim to separados,

    olhe a imensa curvatura,

    a coeso de tudo to perfeito!

  • Quanto a mim e a voc,

    separa-nos o mar irresistvel

    levando-nos algum tempo afastados,

    embora no possa afastar-nos sempre:

    no fique impaciente - um breve espao -

    e fique certa de que eu sado o ar,

    a terra e o oceano,

    todos os dias ao pr-do-sol

    por sua amada causa, meu amor.

    EEE qqquuuaaannntttooo aaa tttiii,,, MMMooorrrttteee

    E quanto a ti, Morte, e a ti, amargo abrao da

    mortalidade, intil tentarem alarmar-me.

    A parteira acorre ao seu trabalho sem demora,

    Vejo a mo pressionado, recebendo, sustendo,

    reclino-me nos umbrais das delicadas portas flexveis,

    E observo a sada, e observo o alvio e a libertao.

  • E quanto a ti, Cadver, penso que s bom adubo mas

    isso no me ofende,

    Aspiro o doce perfume das rosas brancas crescendo,

    Toco as folhas como lbios, toco o peito lustroso dos

    meles.

    E quanto a ti, Vida, reconheo que s o resduo de

    muitas mortes,

    (No duvido que eu prprio j morri mil vezes).

    Escuto o vosso murmrio, estrelas do Cu,

    sis, erva dos tmulos, perptuas transferncias

    e promoes,

    Se no dizeis nada que poderei eu dizer?

    Do turvo charco na floresta do Outono,

    da lua que desce os precipcios do crepsculo

    sussurrante,

    Ca, centelhas do dia e do acaso, ca sobre as hastes

    negras que apodrecem no estrume,

  • Ca sobre o lamento incoerente dos ossos secos.

    Levanto-me da lua, levanto-me da noite,

    Percebo que a luz dbil o reflexo do meio-dia,

    E desemboco no que firme e central desde o rebento

    grande ou pequeno.

    (in Folhas da Erva,

    Traduo de Jos Agostinho Baptista)

    EEEmmm mmmeeeiiiooo mmmuuullltttiiidddooo

    Em meio multido de homens e mulheres

    dou com algum a chamar por mim

    por meio de sinais secretos e divinos:

    de ningum mais toma conhecimento

    - pai, marido, mulher, irmo ou filho,

    no tem parente mais chegado que eu -

    h alguns que fazem confuso,

  • mas esse no,

    esse a me conhece.

    Ah amante e perfeito semelhante,

    eu bem sabia que voc me encontraria

    com to dbeis disfarces,

    e quando eu o encontrei

    percebi que tambm eu o reconhecia

    pelo mesmo em voc.

    EEEnnnqqquuuaaannntttooo eeeuuu llliiiaaa ooo llliiivvvrrrooo

    (Traduo Jos Paulo Paes)

    Enquanto eu lia o livro, a famosa biografia:

    - Ento isso (eu me perguntava)

    o que o autor chama

    a vida de um homem?

    E assim que algum,

  • quando morto e ausente eu estiver,

    ir escrever sobre a minha vida?

    (Como se algum realmente soubesse

    de minha vida um nada,

    quando at eu, eu mesmo, tantas vezes

    sinto que pouco sei ou nada sei

    da verdadeira vida que a minha:

    somente uns poucos traos

    apagados, uns dados espalhados

    e uns desvios, que eu busco

    para uso prprio, marcando o caminho

    daqui afora.)

    EEEpppiiitttfffiiiooo

    Eu parto com o ar - sacudo minha neve branca ao sol

    que foge

    Desfao minha carne em redemoinhos de espuma,

    Entrego-me ao p para crescer nas ervas que amo;

    Se queres ver-me novamente, procura-me sob teus ps.

  • Dificilmente sabers quem sou ou o que significo;

    No obstante serei para ti boa sade

    E filtrarei e comporei teu sangue.

    E se no conseguires encontrar-me, no desanimes;

    O que no est numa parte esta noutra

    Em algum lugar estarei a tua espera.

    FFFeeeiiitttooo AAAdddooo dddeee mmmaaannnhhh ccceeedddooo

    Feito Ado de manh cedo

    deixando o seu abrigo a caminhar

    refeito pelo sono

    - olhem por onde eu passo,

    escutem minha voz, cheguem mais perto,

    toquem em mim, encostem

    as palmas de suas mos em meu corpo

    quando eu passar:

    no precisam ter medo do meu corpo.

  • MMMqqquuuiiinnnaaa aaalllggguuummmaaa dddeee pppooouuupppaaarrr tttrrraaabbbaaalllhhhooo

    Mquina alguma de poupar trabalho

    Eu fiz, nada inventei,

    Nem sou capaz de deixar para trs

    Nenhum risco donativo

    Para fundar hospital ou biblioteca,

    Reminiscncia alguma

    De um ato de bravura pela Amrica,

    Nenhum sucesso literrio ou intelectual,

    Nem mesmo um livro bom para as estantes

    - apenas uns poucos canto

    vibrando no ar eu deixo

    aos camaradas e amantes.

    MMMiiinnnhhhaaa vvvooozzz sssaaaiii

  • Minha voz sai em busca do meus olhos no conseguem

    alcanar,

    Com uma virada da lngua aambarco mundos e

    volumes de mundos.

    O discurso gmeo de minha viso... inconstante

    para poder se medir.

    Est sempre me provocando,

    Diz com sarcasmo, Walt, voc j compreende o

    suficiente... por que ento

    No bota tudo para fora?

    Ora, vamos, no vou ser atormentado... voc concebe

    articulaes demais.

    O dito e o escrito no provam quem sou,

    Traga a plena prova e todo o resto em meu rosto,

    Com meus lbios calados confundo o maior dos

    cpticos.

  • MMMooommmeeennntttooosss aaaooo nnnaaatttuuurrraaalll

    Momentos ao natural,

    quando vocs vm a mim...

    Ah, esto a agora, agora dem-me

    somente alegrias libidinosas,

    dem-me o charco das paixes, a vida

    lbrica e bruta,

    eu hoje vou desposar as noivas da Natureza,

    e hoje noite tambm,

    estou com aqueles que acreditam

    em prazeres largados,

    eu compartilho as orgias de meia-noite

    dos jovens, dano com os danarinos

    e bebo com os que gostam de beber,

    ecos ressoam com os nossos nomes feios,

    pego um baixote para meu mais caro amigo,

    deve ser um analfabeto, um marginal,

    bronco, deve ser um dos condenados

  • por outros por alguma coisa feita;

    eu no vou mais representar - por que haveria

    de me exilar de entre meus companheiros?

    criaturas enjeitadas,

    eu pelo menos no vou enjeit-las:

    venho correndo para o meio de vocs,

    e para vocs eu hei de ser mais

    que qualquer dos restantes.

    NNNooo mmmeee fffeeeccchhhaaammm aaasss pppooorrrtttaaasss

    (Traduo Jos Paulo Paes)

    No me fechem as portas, orgulhosas

    bibliotecas, pois justamente o que estava faltando

    em suas prateleiras apinhadas,

    o que venho trazer

  • - mal acabando de sair da guerra,

    um livro que escrevi:

    pelas palavras do meu livro, nada;

    pelas intenes, tudo!

    Um livro margem,

    sem nada a ver com os restantes,

    e que no pode ser sentido s

    com o intelecto.

    Vocs, porm, com seus silncios latentes,

    a cada pgina ho de estremecer

    maravilhadas.

    NNNeeesssttteee mmmooommmeeennntttooo ttteeerrrnnnooo eee pppeeennnsssaaatttiiivvvooo

    Neste momento terno e pensativo

    Aqui sentado a ss

    Sinto que existem noutras terras outros homens

    Ternos e pensativos,

    Sinto que posso dar uma espiada

    Por cima e avist-los

  • Na Frana, Espanha, Itlia e Alemanha

    Ou mais longe ainda

    No Japo, China ou Rssia,

    Falando outros dialetos,

    E sinto que se me fosse possvel

    Conhecer esses homens

    Eu poderia bem ligar-me a eles

    Como acontece com homens de minha terra,

    Ah e sei que poderamos

    Ser irmos ou amantes

    E que com eles eu estaria feliz.

    OOO ppprrrppprrriiiooo ssseeerrr eeeuuu cccaaannntttooo

    O prprio ser eu canto:

    Canto a pessoa em si, em separado

    _ embora use a palavra Democracia

    e a expresso Massa.

  • Eu canto o Corpo

    Da cabea aos ps:

    Nem s o crebro

    Nem s a fisionomia

    Tem valor para a Musa

    _ digo que a forma completa

    muito mais valiosa,

    e tanto a Fmea quanto o Macho

    eu canto.

    A vida plena de paixo,

    Fora e pulsam,

    Preparada para as aces mais livres

    Com suas leis divinas

    _O Homem Moderno

    eu canto.

    OOOuuuooo dddiiizzzeeerrr qqquuueee cccooonnntttrrraaa mmmiiimmm fffoooiii aaallleeegggaaadddooo

    Ouo dizer que contra mim foi alegado

  • que eu procurava destruir instituies,

    mas em verdade eu nada tenho contra

    nem a favor das instituies

    - que tenho eu afinal a ver com elas

    ou com a destruio delas?

    Tudo o que eu quero fundar

    em Mannahattan em toda e qualquer cidade

    destes Estados, litorneos ou do interior,

    e pelos campos e bosques,

    e em qualquer barco de quilha pequena ou grande

    singrando quaisquer guas,

    sem edifcios ou regras ou fiadores

    ou qualquer tipo de argumentao,

    a formidvel instituio

    do amor entre camaradas.

    PPPaaarrraaa uuummm eeessstttrrraaannnhhhooo

    Traduo de Oswaldino Marques

  • Estranho que passas! Tu no sabes com que nsia eu te

    fito,

    Tu deves ser aquele que eu andava procurando, ou

    aquela

    que eu andava procurando

    (isso vem a mim como num sonho)

    Com certeza eu j gozei em algum ponto do mundo

    uma vida

    de alegria contigo,

    Tu me diz que j nos cruzamos ombro a ombro,

    fluidos, ternos,

    castos, em plena maturao.

    Tu cresceste comigo, foste um rapaz comigo ou uma

    moa comigo,

  • Eu j comi e dormi contigo; teu corpo, desde ento no

    pertence somente a si, assim como o meu no ficou

    pertencendo

    mais somente a mim.

    Quando passamos um pelo outro, tu me ds o prazer

    de teus

    Olhos, do seu rosto, da tua carne e eu te retribuo com o

    prazer

    do meu peito, das minhas mos, da minha barba.

    Eu no quero falar contigo, eu gosto de pensar em ti

    quando

    estou sentado sozinho, ou acordado noite sozinho.

    Eu te esperarei, no tenho duvida alguma de que vou

    te encontrar ainda.

    E terei cuidado dessa vez para que no te per

  • PPPoooeeetttaaasss dddeee aaammmaaannnhhh

    Poetas de amanh: arautos, msicos,

    cantores de amanh !

    No dia de eu me justificar

    E dizer ao que vim;

    Mas vocs, de uma nova gerao,

    Atltica, telrica, nativa,

    Maior que qualquer outra conhecida antes

    - levantem-se: pois tm de me justificar !

    Eu mesmo fao apenas escrever

    Uma ou duas palavras

    Indicando o futuro;

    Fao tocar a roda para frente

    Apenas um momento

    E volto para a sombra

    Correndo

  • Eu sou um homem que, vagando

    A esmo, sem de todo parar,

    Casualmente passa a vista por vocs

    E logo desvia o rosto,

    Deixando assim por conta de vocs

    Conceitu-lo e aprov-lo,

    A esperar de vocs

    As coisas mais importantes.

    PPPrrreeecccuuurrrsssooorrreeesss

    (Traduo Jos Paulo Paes)

    Como so eles colocados sobre a terra

    (surgindo a intervalos),

    como so caros e terrveis para o mundo,

    como eles se habituam a si mesmos

    assim como aos demais

    - que paradoxo chega a parecer

    o tempo deles -

  • como as pessoas respondem a eles

    ainda que os no conheam,

    como algo de intransigente persiste

    na sorte deles em todos os tempos,

    como todos os tempos

    escolhem mal as coisas

    com que os adular e os recompensar,

    e como o mesmo preo inexorvel

    h de ser pago ainda

    pela mesma grandeza encomendada.

    QQQuuuaaannndddooo aaannnaaallliiisssooo aaa cccooonnnqqquuuiiissstttaaadddaaa fffaaammmaaa

    Quando analiso

    a conquistada fama dos heris

    e as vitrias dos generais,

    no sinto inveja desses generais

    nem do presidente na presidncia

    nem do ricao em sua vistosa manso;

    mas quando eu ouo falar

  • do entendimento fraterno entre dois amantes,

    de como tudo se passou com eles.

    de como juntos passaram a vida

    atravs do perigo, do dio, sem mudana

    por longo e longo tempo atravessando

    a juventude e a meia-idade e a velhice

    sem titubeos, de como leais

    e afeioados se mantiveram

    - a ento que eu me ponho pensativo

    e saio de perto s pressas

    com a mais amarga inveja.

    QQQuuuaaannndddooo eeemmm ttteeeuuu cccooolllooo dddeeeiiittteeeiii aaa cccaaabbbeeeaaa

    Quando em teu colo deitei a cabea, meu camarada,

    a confisso que fiz eu reafirmo,

    o que eu te disse e a cu aberto

    eu reafirmo: sei bem que sou inquieto

    e deixo os outros tambm assim,

  • eu sei que minhas palavras so armas

    carregadas de perigo e de morte,

    pois eu enfrento a paz e a segurana

    e as leis mais enraizadas

    para as desenraizar,

    e por me haverem todos rejeitado

    mais resoluto sou

    do que jamais poderia chegar a ser

    se todos me aceitassem,

    eu no respeito e nunca respeitei

    experincia, convenincia,

    nem maiorias, nem o ridculo,

    e a ameaa do que chamam de inferno

    para mim nada , ou muito pouco,

    meu camarada querido: eu confesso

    que o incitei a ir em frente comigo

    e que ainda o incito sem a mnima ideia

    de qual venha a ser o nosso destino

    ou se vamos sair vitoriosos

    ou totalmente sufocados e vencidos.

  • (in Poemas)

    QQQuuueeerrrooo fffaaazzzeeerrr ooosss pppoooeeemmmaaasss dddaaasss cccoooiiisssaaasss mmmaaattteeerrriiiaaaiiisss

    Quero fazer os poemas das coisas materiais,

    pois imagino que esses ho de ser

    os poemas mais espirituais.

    E farei os poemas do meu corpo

    E do que h de mortal.

    Pois acredito que eles me traro

    Os poemas da alma e da imortalidade.

    E raa humana eu digo:

    - No seja curiosa a respeito de Deus,

    pois eu sou curioso sobre todas as coisas

    e no sou curioso a respeito de Deus.

    No h palavra capaz de dizer

  • Quanto eu me sinto em paz

    Perante Deus e a morte.

    Escuto e vejo Deus em todos os objetos,

    Embora de Deus mesmo eu no entenda

    Nem um pouquinho...

    Ora, quem acha que um milagre alguma coisa demais?

    Por mim, de nada sei que no sejam milagres...

    Cada momento de luz ou de treva

    para mim um milagre,

    Milagre cada polegada cbida de espao,

    Cada metro quadrado de superfcie

    Da terra est cheio de milagres

    E cada pedao do seu interior

    Est apinhado de milagres.

    O mar para mim um milagre sem fim:

    Os peixes nadando, as pedras,

    O movimento das ondas,

    Os navios que vo com homens dentro

    - existiro milagres mais estranhos?

  • SSSaaauuudddaaaooo dddeee NNNaaatttaaalll

    Traduo de Oswaldino Marques

    Bem-vindo sejas, irmo brasileiro! - teu amplo lugar

    est pronto;

    Um sorriso te enviamos do norte mo afetuosas - uma

    urgente

    saudao cheia de sol!

    (Que o futuro se haja sozinho, onde quer que surjam

    transtornos

    e obstculos,

    Nossas, nossas as agruras do presente, o fim

    democrtico, a

    aceitao e a f)

    Para ti, neste dia, nossos braos se estendem, nosso

    rosto se volta

    Sobre ti nosso olhar aspira esperanoso.

  • Nota:

    Um dos ltimos poemas de Whitman, supem-se que

    a homenagem a nosso pas se deve a emancipao dos

    escravos.

    SSSooouuu ooo pppoooeeetttaaa dddooo cccooorrrpppooo

    Sou o poeta do Corpo e sou o poeta da Alma,

    As aventuras do Cu esto em mim e as penas do

    Inferno esto em mim,

    As primeiras enxerto e reforo em mim mesmo, as

    ltimas traduzo para uma nova lngua.

    Sou o poeta da mulher e do homem.

    E digo que to grande ser mulher como ser homem.

    E digo que no h nada maior que a me dos homens.

    Canto o canto do crescimento ou do orgulho,

  • J baixmos bastante a cabea, j implormos,

    Provo que a medida apenas desenvolvimento.

    J excedeste o resto? s o Presidente?

    uma ninharia, eles excedero isso e muito mais.

    Eu sou o que caminha entre a crescente e terna noite,

    Convoco a terra e o mar meio abraado pela noite.

    Aperta-me, noite, no teu peito nu - aperta-me, noite

    magntica e abundante!

    Noite silenciosa e sonolenta - louca e nua noite de

    Vero!

    Sorri, oh voluptuosa terra fresca!

    Terra das rvores adormecidas e cintilantes!

    Terra do sol-posto - terra das montanhas cobertas de

    nvoa!

    Terra do fluir vtreo da lua cheia e azul!

    Terra de luz e sombra derramadas sobre a mar do rio!

    Terra de lmpidas nuvens plidas resplandecendo para

  • mim!

    Terra de braos arrebatados ao longe - rica terra de

    macieiras em flor!

    Sorri, que a vem o teu amante.

    Prdiga, deste-me amor - e assim te dou amor!

    Oh, indizvel e apaixonado amor.

    Traduo

    Jos Agostinho Baptista

    (in Canto de Mim Mesmo,

    Assrio & Alvim, 1999)

    UUUmmm pppoooeeemmmaaa

    Isto o toque de milhares de cornetas, o choro

  • das flautas e o bater dos ferrinhos.

    Eu no toco uma marcha s para os vitoriosos...

    toco grandes marchas para os conquistados e

    derrotados.

    J ouviram dizer, foi bom ter ganho o dia? Tambm

    digo,

    bom perder... perdem-se batalhas com o mesmo

    esprito

    com que se ganham.

    Ouo tambores triunfantes, aos mortos...

    Abandono-me msica alegre que se toca em sua

    honra,

    Vivas, em honra dos que falharam, e queles cujos

    vasos

    de guerra caram nos mares, e aos que se afundaram

    eles prprios,

    E a todos os generais que perderam combates, e a

  • todos

    os heris vindouros, e ao sem nmero de heris iguais

    aos grandes heris conhecidos.

    (verso livre de Jos Flix)

    UUUmmmaaa fffooolllhhhaaa sss mmmooosss dddaaadddaaasss

    Uma folha s mos dadas!

    Vocs, pessoas jovens

    ou da idade avanada;

    vocs que passam pelo Mississipi

    ou pelo afluentes e alagados

    do Mississipi;

    vocs, amorveis barqueiros e mecnicos;

    vocs, difceis;

    vocs, gmeos; vocs

    de todas as procisses que se movem

    ao longo das ruas

  • - entre vocs eu quero me infiltrar

    at ver que passou a ser comum

    andarem de mos dadas!

    UUUmmmaaa mmmuuulllhhheeerrr eeessspppeeerrraaa pppooorrr mmmiiimmm

    (Traduo Jos Paulo Paes)

    Uma mulher espera por mim, nela tudo se contm, no

    falta nada,

    No entanto faltaria tudo se lhe faltasse o sexo ou a

    humidade do homem certo.

    Tudo se contm no sexo, corpos, almas,

    Significados, provas, purezas, delicadezas,

    proclamaes, efeitos,

    Ordens, canes, higidez, orgulho, o mistrio materno,

    o leite seminal,

    As esperanas todas, bens, outorgas, todas as paixes,

    belezas, amores,

  • os deleites da terra,

    Todos os governos, juizes, deuses, o cortejo de pessoas

    da terra,

    Tudo se contm no sexo como partes de si e

    justificaes de si.

    Sem pejo o homem de quem gosto sabe e confessa as

    delicias do sexo,

    Sem pejo a mulher de quem eu gosto sabe e confessa as

    do sexo dela.

    Pois eu me afasto das mulheres insensveis,

    Para ficar com a que espera por mim, e com as

    mulheres de sangue

    quente que me satisfazem,

    Eu vejo que elas me compreendem e no me repudiam,

    Vejo que so dignas de mim e eu serei delas o marido

    vigoroso.

    Essas mulheres no so em nada inferiores a mim,

    Tm o rosto tisnado pelo brilho dos sis e pelo sopro

    dos ventos,

    H na carne delas, antigas e divinas, agilidade, fora,

  • Elas sabem nadar, remar, montar, lutar, atirar, correr,

    bater,

    recuar, avanar, resistir, defender-se sozinhas,

    So supremas por direito prprio - so calmas,

    lmpidas, donas de si mesmas.

    Puxo vocs para junto de mim, mulheres,

    No as posso deixar ir. vou lhes fazer bem

    Existo para vocs e vocs para mim, no apenas para o

    nosso bem,

    mas para o bem dos outros,

    Envoltos em voc dormem grandes heris e bardos,

    Eles se recusam a acordar pelo toque de outro homem

    que no eu.

    Sou eu, mulheres, abro o meu caminho,

    Sou severo, custico, indissuadvel, mas amo vocs,

    No as machuco mais que o necessrio a vocs

    mesmas,

    Derramo a substncia geradora de filhos e filhas

    dignos destes

    Estados, assedio com msculo pausado e rude,

  • Me firmo eficazmente, no dou ouvido a rogos,

    No ouso retirar-me sem depositar o que h de muito

    acumulei dentro de mim.

    Atravs de vocs eu dreno os rios enclausurados de

    mim mesmo

    Em vocs concentro mil anos de futuro,

    Em vocs fao enxerto dos to amados por mim e pela

    Amrica,

    As gotas que em vocs destilo faro medrar moas

    atlticas e ardentes, novos artistas, msicos, cantores,

    As crianas que em vocs procrio vo procriar, por sua

    vez, outras crianas,

    Exigirei, dos meus dispndios amorosos, homens e

    mulheres perfeitos,

    Eles iro se interpenetrar, espero, como eu e voc agora

    nos interpenetramos,

    Contarei com os frutos dos generosos aguaceiros deles

    como conto

    com os frutos dos aguaceiros que ora entorno.

    Vou ficar espera das ternas colheitas do nascimento,

  • vida, morte, imortalidade

    Que to amorosamente planto agora.

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