sindepor.ptsindepor.pt/wp-content/uploads/2019/02/29901vd_201… · web viewdo conselho de...
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Exmo. Senhor Presidente
do Conselho de Administração do Centro Hospitalar ______
(Nome completo), Enfermeiro, titular do C.P. nº ______, que exerce funções em regime de
CTFP/CIT, vem expor e requerer:
I – Preliminarmente
1. Os Enfermeiros, no exercício das suas funções, devem adoptar uma conduta
responsável e ética no respeito pelos direitos e interesses legalmente protegidos do
cidadão (art.º 8º, nº 1 do Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros – REPE,
aprovado pelo Decreto-Lei nº 161/96 de 04/09).
2. Assim, os Enfermeiros devem garantir a prestação dos cuidados de Enfermagem
adequados às necessidades do utente.
3. A atividade dos Enfermeiros, que exercem funções em regime de CTFP, rege-se pelas
normas constantes do Decreto-Lei nº 248/2009 de 22/09, que criou a Carreira Especial de
Enfermagem, da Lei nº 35/2014 de 20 de Junho (LGTFP) e, a título subsidiário, do Código
do Trabalho.
4. A atividade dos Enfermeiros, que exercem funções em regime de CIT, rege-se pelas
normas constantes do Decreto-Lei nº 247/2009 de 22/09 e do Código do Trabalho.
II – Os E. que exercem funções em regime de CTFP
5. Nos termos do art. 17º do DL nº 248/2009 de 22/09 “O período normal de trabalho da
carreira especial de enfermagem é de 35 horas semanais”.
6. Nos termos do art. 105º, nº 1, alíneas a) e b) da LGTFP “O período normal de trabalho
é de:
a) Sete horas por dia, exceto no caso de horários flexíveis e no caso de regimes especiais
de duração de trabalho;
b) 35 horas por semana, sem prejuízo da existência de regimes de duração semanal
inferior previstos em diploma especial e no caso de regimes especiais de duração de
trabalho”.
7. Nos termos do art. 28º do DL nº 248/2009 de 22/09: “É revogado o Decreto-Lei n.º
437/91, de 8 de Novembro, com excepção do disposto nos artigos 43.º a 57.º, os quais se
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mantêm em vigor, com as necessárias adaptações, na medida em que regulem situações
não previstas no presente decreto-lei, e na medida em que não sejam contrárias ao regime
por ele estabelecido, até ao início da vigência de instrumento de regulamentação colectiva
de trabalho”.
8. O Decreto-Lei nº 437/91 de 8 de novembro, foi revogado pelo Decreto-Lei nº 248/2009
de 22 de setembro, com exceção do disposto nos seus artigos 43º a 57º (conforme art.º 28º
do Decreto-Lei nº 437/91 de 8 de novembro), os quais se mantêm em vigor, até que exista
instrumento de regulamentação colectiva de trabalho.
9. O art. 54º do DL nº 437/91 de 08/11 prevê a existência das seguintes modalidades de
horário de trabalho para os trabalhadores integrados na carreira de enfermagem:
- a tempo completo (35h semanais);
- a tempo parcial (20h ou 24h semanais; depende da autorização prévia do dirigente
máximo do serviço);
- regime de horário acrescido (42h semanais), regulado pelo art. 55º do DL nº 437/91,
que só poderá ser aplicado se o enfermeiro manifestar a sua disponibilidade para o
efeito, mediante declaração escrita assinada por este.
10. Além das modalidades previstas no DL nº 437/91 de 08/11, a LGTFP prevê a
existência das seguintes modalidades: horário flexível, horário rígido, horário desfasado,
jornada contínua, meia jornada, trabalho por turnos.
11. Sendo que a modalidade “trabalho por turnos” é a modalidade de horário de trabalho
mais comum aplicável aos trabalhadores integrados na carreira especial de enfermagem.
12. Trabalho por turnos obedece às regras previstas na lei e não pode ultrapassar os
limites máximos do período normal de trabalho (art. 115º, nº 3 da LGTFP).
13. Os turnos têm caráter rotativo; nos serviços de funcionamento permanente não podem
ser prestados mais de seis dias consecutivos de trabalho; as interrupções a observar em
cada turno devem obedecer ao princípio de que não podem ser prestadas mais de cinco
horas de trabalho consecutivo, de modo a proporcionar o descanso necessário para a
recuperação do trabalhador e garantir o exercício adequado das funções que lhe são
incumbidas.
14. Nos termos do art. 214º, nº 1 do CT (aplicável ex vi art. 101º da LGTFP), “O trabalhador
tem direito a um período de descanso de, pelo menos, onze horas seguidas entre dois períodos diários de trabalho consecutivos”.
15. Excetuam-se desta regra as situações em que haja necessidade de prestação de
trabalho suplementar ou caso se trata de atividade caracterizada pela necessidade de
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assegurar a continuidade do serviço (recepção, tratamento ou cuidados providenciados por
hospital ou estabelecimento semelhante) (art. 214º, nº 2, alínea b) e d) do CT).
16. No entanto, no primeiro caso deverá ser assegurado ao trabalhador um período de
descanso que permita a sua recuperação (art. 214º, nº 3 do CT); no segundo caso, a
aplicação da norma constante do art. 214º, nº 2, alínea d) do CT é condicionada à
existência do Instrumento de Regulamentação Coletiva de Trabalho (IRCT) que assegure
ao trabalhador um período equivalente de descanso compensatório e regule o período em
que o mesmo deve ser gozado.
17. O artigo 56º do DL nº 437/91 de 8/11 estabelece as regras de organização, prestação e
compensação de trabalho, ou seja, regras referentes ao horário de trabalho de enfermeiros.
18. Nos termos do art. 56º, nº 2 do DL nº 437/91 de 08/11, “os enfermeiros têm direito a um
dia de descanso semanal, acrescido de um dia de descanso complementar, devendo, em
cada período de quatro semanas, pelo menos um dos dias de descanso coincidir com o
sábado ou o domingo”.
III – Os E. que exercem funções em regime de CIT
19. Nos termos do art. 203º, nº 1 do CT “O período normal de trabalho não pode exceder
oito horas por dia e quarenta horas por semana”.
20. Porém, de acordo com a cláusula 4ª do Instrumento parcelar e transitório aplicável aos
trabalhadores enfermeiros em regime de contrato de trabalho - Procedimento concursal e
outras, publicado no Boletim do Trabalho e Emprego, nº 11, de 22/03/2018, “O período
normal de trabalho é o previsto na Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas aplicável a
trabalhadores com vínculo de emprego público, na modalidade de contrato de trabalho em
funções públicas, integrados na carreira especial de enfermagem”.
21. Ou seja, o período normal de trabalho dos E. em regime de CIT é de 35h semanais,
conforme estabelecido pelo art. 17º do DL nº 248/2009 de 22/09.
22. De acordo com o art. 221º, nº 3 do CT a duração de trabalho por turnos não pode
ultrapassar os limites máximos dos períodos normais de trabalho.
23. Nos termos do art. 221º, nº 5 do CT “Os turnos no regime de laboração contínua e os
de trabalhadores que asseguram serviços que não podem ser interrompidos,
nomeadamente nas situações a que se referem as alíneas d) e e) do n.º 2 do artigo 207.º,
devem ser organizados de modo que os trabalhadores de cada turno gozem, pelo menos,
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um dia de descanso em cada período de sete dias, sem prejuízo do período excedente de
descanso a que tenham direito”.
24. São igualmente aplicáveis aos T. em regime de CIT, as disposições constantes do art.
214º do CT.
IV – Da criação do “banco de horas”
25. Nos termos do art. 106º, nº 1 da LGTFP “São aplicáveis aos trabalhadores com
contrato de trabalho em funções públicas os regimes de adaptabilidade, individual e grupal
e os regimes de banco de horas, individual e grupal, previstos no Código do Trabalho, com
as necessárias adaptações”.
26. Conforme refere o Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 15/06/2015:
“A criação do chamado banco de horas terá que obedecer ao formalismo concretamente
estipulado nos arts. 208º e 209º do Código do Trabalho de 2009”.
27. O regime de banco de horas é o regime de horário de trabalho especifico, distinto da
prestação de trabalho suplementar/extraordinário.
28. Este regime só pode ser instituído por IRCT ou por acordo entre o empregador e o
trabalhador (arts. 208º e 208-Aº do CT).
29. Por aplicação do regime de banco de horas, o período normal de trabalho pode ser
aumentado até quatro horas diárias e pode atingir sessenta horas semanais, tendo o
acréscimo por limite duzentas horas por ano.
30. Porém, o IRCT, que instituiu o regime de banco de horas, deverá regular a forma de
compensação do trabalho prestado em acréscimo, que pode ser feita mediante, pelo
menos, uma das seguintes modalidades:
- Redução equivalente do tempo de trabalho;
- Aumento do período de férias;
- Pagamento em dinheiro;
31. Além disso, o IRCT deverá conter uma norma que prevê a antecedência com que o
empregador deve comunicar ao trabalhador a necessidade de prestação de trabalho, bem
como definir o período em que a redução do tempo de trabalho para compensar trabalho
prestado em acréscimo deve ter lugar, por iniciativa do trabalhador ou, na sua falta, do
empregador, bem como a antecedência com que qualquer deles deve informar o outro da
utilização dessa redução.
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32. O empregador não tem competência para instituir, unilateralmente, o regime de banco
de horas.
33. Na falta do IRCT aplicável, a imposição do horário de trabalho em regime de Banco de
Horas, é ilegal.
V – Da prestação de trabalho suplementar/trabalho extraordinário:
34. Nos termos do art. 120º, nº 1 da LGTFP “É aplicável aos trabalhadores com vínculo de
emprego público, com as necessárias adaptações e sem prejuízo do disposto no presente
artigo e nos artigos seguintes, o regime do Código do Trabalho em matéria de trabalho
suplementar”.
35. A prestação de trabalho suplementar é sujeita aos seguintes limites (art. 120º, nº 2 da
LGTFP e art. 228º, nº 1 do CT):
- 150 horas de trabalho por ano;
- Duas horas por dia normal de trabalho;
- Um número de horas igual ao período normal de trabalho diário, nos dias de descanso
semanal, obrigatório ou complementar, e nos feriados;
- Um número de horas igual a meio período normal de trabalho diário em meio dia de
descanso complementar.
36. O limite anual poderá ser aumentado até 200h de trabalho suplementar por ano, por
aplicação do IRCT (art. 120º, nº 4 da LGTFP e art. 228º, nº 2 do CT).
37. A violação dos limites de prestação do trabalho suplementar constitui contraordenação
muito grave, nos termos do art. 228º, nº 1 do CT.
38. A LGTFP admite a possibilidade de ultrapassagem dos limites de prestação do trabalho
suplementar, que só é possível perante as circunstâncias excecionais e delimitadas no
tempo e mediante autorização do membro do Governo competente ou, quando esta não for
possível, mediante confirmação da mesma entidade, a proferir nos 15 dias posteriores à
ocorrência (art. 120º, nº 3, alínea b) da LGTFP).
39. O trabalho suplementar só pode ser prestado nas situações de acréscimo eventual e
transitório de trabalho (quando as necessidades do serviço imperiosamente o exigirem, em
virtude da acumulação anormal ou imprevista de trabalho ou da urgência na realização de
tarefas especiais não constantes do plano de actividades), em caso de força maior ou
quando seja indispensável para prevenir ou reparar prejuízo grave para a empresa ou para
a sua viabilidade.
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40. O mesmo resulta do art. 26º do Decreto-Lei nº 259/98 de 18/08, aplicável aos E. em
regime de CTFP, que estabelece as regras de admissibilidade de trabalho extraordinário.
41. Assim, apesar de a lei prever a obrigatoriedade de prestação do trabalho
suplementar/extraordinário (salvo se o trabalhador, havendo motivos atendíveis para o
efeito, solicitar a sua dispensa), o mesmo só poderá ser prestado em situações especificas,
previstas na lei, e não pode ultrapassar os limites temporais legalmente estabelecidos.
42. O que equivale a dizer que a prestação de trabalho extraordinário fora dos moldes
legalmente previstos, o que acontece de modo reiterado, quer em turnos previamente
planeados e com recurso à acumulação de horas dos Enfermeiros em Bancos de Horas, é
ilegal.
43. As instituições de Saúde, no âmbito da prossecução das finalidades que prosseguem e
para as quais são constituídas, estão vinculadas ao respeito pelas competências legais dos
enfermeiros e pela sua área de intervenção (tal como dos restantes grupos profissionais),
devendo ter como prioridade a segurança e bem-estar dos utentes e o respeito pela saúde
destes.
44. Tal implica a criação das condições adequadas para promover uma prestação de
saúde de qualidade e em recer nº CJ-24/2012 de 20 de dezembro de 2012).
45. As instituições não devem pôr em causa o descanso diário ou semanal do enfermeiro,
bem sabendo que os períodos de descanso visam a recuperação física e psíquica do
trabalhador e que o desrespeito pelos mesmos é prejudicial à sua saúde e segurança.
46. Cabe às instituições criar as condições para garantir a segurança, a continuidade e a
qualidade de cuidados aos seus clientes, bem como o respeito pelos direitos que assistem
aos trabalhadores que com elas têm vínculo laboral.
47. Trata-se de uma realidade por demais provada em estudos realizados que, a exaustão
das equipas por excesso de horas de trabalho potenciam a existência de erro e diminuem a
qualidade dos cuidados prestados aos utentes.
48. Assim, o prejuízo não é apenas para os utentes mas também para os enfermeiros, com
acréscimo de risco para a sua saúde física e mental bem como de responsabilização
profissional.
49. A violação reiterada das normas legais que regulam o período normal de trabalho, o
gozo do descanso diário e semanal e as condições e limites de prestação do trabalho
suplementar, são a causa do estado de exaustão física e psicológica em que o signatário, e
grande parte dos seus colegas, se encontram.
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50. Pois, não se encontrarem asseguradas as condições de descanso que permitam a
prevenção do erro e promoção da qualidade dos cuidados a prestar aos utentes o que,
como se referiu anteriormente, coloca em risco profissionais de saúde e utentes.
51. Os horários devem respeitar os normativos legais com respeito pelos direitos dos
trabalhadores que ficam esquecidos em prol dos interesses da instituição, sendo certo que
as pessoas que nela trabalham diariamente são, sem sombra de dúvida, a sua maior mais-
valia.
Nos termos do supra exposto e tendo em conta que:
Por um lado,
● Compete ao Enfermeiro o dever de manter um padrão de conduta e de exercício
profissional, que assegure a segurança, a continuidade e a qualidade dos cuidados
prestados ao cliente no respeito pelo seu código deontológico;
● Quer o código deontológico dos enfermeiros quer a legislação laboral está a ser
infringida pelas razões aludidas e em especial porque as exigências de trabalho
extraordinário não são de carácter excepcional e nem sequer são objecto de compensação
financeira;
● É recomendação da Ordem dos Enfermeiros, amplamente divulgada nos últimos
meses pelos vários órgãos de comunicação social, de que todos os Enfermeiros portadores
de cédula profissional em exercício devem "recusar-se a prestar trabalho extraordinário,
nos termos permitidos por lei”;
Por outro lado,
● A prestação de trabalho suplementar só poderá ter lugar em circunstâncias
excecionais, cuja imprevisibilidade é determinada pela lei, e deverá ser sujeita ao cumprimento dos limites temporais previstos na legislação laboral.
● Fora das situações previstas supra, o Signatário é livre de recusar a prestação de
trabalho suplementar / trabalho extraordinário, não podendo ser sujeito, em caso algum, a qualquer sanção ou medida repressória,
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Vem requerer a elaboração de horários de trabalho, em estrita obediência das normas legais aplicáveis e dentro do período normal de trabalho a que o Signatário é sujeito.
Mais se requer:Que, nos termos do disposto nos artigos 11º, 12º e 82º do CPA, seja dada, em tempo útil, resposta à presente exposição e requerimento, a qual será oportunamente informada à Digníssima Bastonária da Ordem dos Enfermeiros atenta a recomendação emanada quanto ao tema bem como do parecer do Conselho Jurisdicional da Ordem dos Enfermeiros com o n.º 24/2012 de 20 de dezembro de 2012.
Local, data.
E.D.
O Enfermeiro
___________
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