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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA UNIDADE DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DE SÃO PAULO/SP.
nome, brasileiro, aposentada, maior, inscrito no CPF(MF) sob o
nº. xxxxxxxxx, RG N.º xxxxxxxx—SSP/PR, residente e domiciliado na
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, comparece, com o devido respeito a Vossa Excelência, a
presente
AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS ( danos materiais e morais )
contra 1SMILES S.A., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF n.º
15.912.764/0001-20, localizada na Rua Luigi Galvani - São Paulo – SP, Bairro
Brooklin – CEP 04575-020, e
AIR FRANCE NO BRASIL, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF
n.º 33.013.988/0001-82, localizada na Av. Chedid Jafet, 222, Bloco B, cone. 21 e 22,
Vila Olimpia, São Paulo, CEP 04.551-065, em decorrência das justificativas de ordem
fática e de direito abaixo delineadas:
(1) – CONSIDERAÇÕES FÁTICAS
1
O autora (Reserva 2AARPE) e seu filho (Reserva 2ACH7Q)
encontraram sérias dificuldades para retornarem de sua viagem de férias de Paris-CDG para
São Paulo, devido a problemas durante o voo AF454 em 29/10/2013 agendado para às 23hs
e 20 minutos com previsão de chegada em São Paulo às 08hs e 05 minutos.
Sendo a empresa SMILES S.A., denominada primeira Ré,
responsável pela emissão das passagens aéreas, e a empresa AIR FRANCE, denominada
segunda Ré responsável pelo voo.
Após o embarque, todos os passageiros permaneceram
acomodados dentro da aeronave, quando após 01 hora de espera foi anunciado que o voo
não foi autorizado, por problemas técnicos na aeronave (porta da aeronave com problema,
que a empresa não havia detectado falha antes do embarque dos passageiros, somente no
momento que os comissários de bordos tentaram fechar a mesma).
A autora e seu filho junto dos demais passageiros
desembarcaram, passando novamente pela imigração europeia, procuraram pelo check-in da
empresa AIR FRANCE o qual informaram que as bagagens já tinham sidos despachadas,
sem possibilidade de retorno, pois o voo de embarque estava previsto para as 10hs do dia
seguinte, no entanto tal informação só seria confirmada posteriormente no hotel.
No próprio check-in da AIR FRANCE foi negado remarcação para
voo diurno/noturno, ou a possibilidade de endossar bilhete para embarque na companhia
aérea da TAM, ambas as alternativas foram negadas.
Foi oferecido um voucher do hotel, sendo que as despesas com
alimentação (jantar) não foram inclusas tendo que o Autora e seu filho arcar com as despesas
a titulo de alimentação, pois no voucher estava incluso tão somente o café da manha do hotel.
Para locomoção dos passageiros a empresa AIR FRANCE
disponibilizou um ônibus da própria AIR FRANCE, que levou mais de 01 hora para chegar ao
aeroporto, sendo que no check-in da referida companhia aérea foi negado voucher de taxi do
aeroporto até o hotel.
Neste período de espera para chegar o ônibus, foi informado pela
AIR FRANCE, que o voo havia sido autorizado com saída para somente as 15hs e 05 minutos
do dia seguinte com previsão de chegada em São Paulo às 23hs e 50 minutos. No entanto,
após muita insistência no balcão da AIR FRANCE, foi aceito remarcar o voo para ás 10hs e
30 minutos do dia seguinte.
Depois de aceito a remarcação do voo para as 10hs e 30 minutos,
foi pedida a devolução da bagagem já despachada, porém foi negado novamente pela AIR
FRANCE, sem qualquer compensação com reembolso de despesas provenientes dos
pertencentes pessoais da autora e seu filho, pois estavam sob os cuidados da da companhia
aérea. Com a intenção de minimizar todo o transtorno causado, a autora
pediu para companhia aérea AIR FRANCE um upgrade para a primeira classe, uma vez que a
mesma estava vazia (e todo o transtorno era devido unicamente a companhia aérea Air
France, não tendo tido problemas metereológicos ou de perda de conexões por atraso de
outros vôos), porém negado pela referida companhia, mesmo embora seu filho seja
passageiro frequente da AIR FRANCE Gold e viajando em cabine Executiva.
Após enfrentar o frio e vento típico da região durante a
madrugada, o ônibus disponibilizado pela AIR FRANCE, chegou no hotel às 03hs da manhã.
Diante de todo o transtorno e descaso da companhia aérea, a
autora, uma senhora de 67 anos, com problemas de hipertensão arterial, passou mal, tendo
inclusive uma grave crise de hipertensiva no hotel durante a madrugada que impediu ela e
seu filho descansassem.
No dia seguinte, em 30/10/2013 ao embarcar no voo AF456 mais
uma vez houve atraso de mais de 01 hora para decolagem, sem que o passageiros tivessem
uma explicação do motivo pelo qual o voo marcado com saída às 10hs e 30 minutos não
partiu no horário previsto, causando insegurança e mais angústia numa viagem que era para
ser de laser (levando-se em conta, que o cancelamento anterior foi por falha técnica).
Durante o voo, o atendimento e serviço de bordo não foram
adequados e condizentes com o que preceitua a companhia aérea AIR FRANCE, atendimento
lento por parte da tripulação, quando chamados entre as refeições, os comissários
simplesmente desligavam a luz indicativa sem que nenhum profissional procurasse saber o
motivo do acionamento. Considerando que a viagem tem 11 horas de voo sem escala, sequer
houve a disponibilidade de refeição (prato principal), concluindo que o péssimo atendimento
para uma viagem longa, em cabine que se exige atendimento de alto padrão.
A autora e sua genitora tiveram um termino de férias totalmente
abalado pelos acontecimentos ocasionados pela companhia aérea AIR FRANCE.
O filho da autora, no desempenho de suas funções de médico,
perdeu compromissos inadiáveis, tais como o mais grave o cancelamento de uma cirurgia
agendada para o período da tarde. E a autora ao chegar em solo brasileiro, dirigiu-se
imediatamente ao balcão de atendimento da GOL LINHAS AÉREAS INTELIGENTES, para
remarcar a sua passagem de retorno para cidade de Maringá/PR a qual reside, tendo em vista
ter perdido o dia inteiro viajando, e o voo de retorno era no dia seguinte (quinta-feira pela
manhã), sendo obrigada a remarcar para sexta-feira.
Temos que a responsabilidade é exclusiva da companhia aérea
AIR FRANCE quanto ao tratamento inadequado prestado durante o voo de retorno e os
transtornos causados, ou seja, ressalta-se aqui que não foi motivo de perda de conexão por
atraso de voo, não foi atraso de passageiro, não foi fechamento do aeroporto por questões
meteorológicas, e tão somente por culpa exclusiva da Ré AIR FRANCE, que não teve a
capacidade de realizar manutenção preventiva de suas aeronaves de forma adequada, nem
tão pouco ter aeronave reserva que permitisse a troca de aeronave (lembrando que
estacamos em Paris, principal aeroporto, ou HUB, onde a companhia aérea desenvolve suas
operações).
Diante do quadro fático ora narrado, destaca-se que os
serviços ofertados pela Ré foram extremamente deficitários, ocasionando, sem sombra de
dúvidas, quebra de contrato e danos ao Promovente, porquanto gerou sentimentos de
desconforto, constrangimento, aborrecimento e humilhação decorrentes dos atrasos nos voos,
comprometendo, significativamente, o propósito a que foram dispostos.
DO DIREITO:
Não há dúvidas que o caso em tela devolve a apreciação segundo
os ditames da Legislação Consumerista, visto que houvera relação de consumo na hipótese
fática em estudo.
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza
produtos ou serviço como destinatário final.
Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada nacional
ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem
atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação,
importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.
Art. 18 - Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis
respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a
indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem
publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o
consumidor exigir a substituição das partes viciadas.
Portanto, deve ser afastada qualquer pretensão de ilegitimidade
passiva da parte que figura no polo passivo desta ação, pois, nos termos do art. 18, do CDC,
é solidária a responsabilidade de todos os que tenham intervindo na cadeia de fornecimento do produto, pelos vícios que este apresentar.
Comentando tal dispositivo, ensina Zelmo Denari:
" Preambularmente, importa esclarecer que no pólo passivo desta relação de
responsabilidade se encontram todas as espécies de fornecedores, coobrigados e
solidariamente responsáveis pelo ressarcimento dos vícios de qualidade e quantidade
eventualmente apurados no fornecimento de bens ou serviços. Assim, o consumidor poderá, à sua escolha, exercitar sua pretensão contra todos os fornecedores ou contra alguns, se não quiser dirigi-la apenas contra um. Prevalecem, in casu, as
regras da solidariedade passiva, e por isso, a escolha não induz concentração do
débito: se o escolhido não ressarcir integralmente os danos, o consumidor poderá
voltar-se contra os demais, conjunta ou isoladamente. Por um critério de comodidade e
conveniência o consumidor, certamente, dirigirá sua pretensão contra o fornecedor
imediato, quer se trate de industrial, produtor, comerciante ou simples prestador de
serviços. Se o comerciante , em primeira intenção, responder pelos vícios de qualidade
ou quantidade - nos termos previstos no §1º do art. 18 - poderá exercitar seus direitos
regressivos contra o fabricante, produtor ou importador, no âmbito da relação interna
que se instaura após o pagamento, com vistas à recomposição do status quo ante." (In:
GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor
comentado pelos autores do anteprojeto, 2a ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
p. 99-100).
Na mesma sorte de entendimento seguem as lições de Cláudia Lima Marques, a qual, sobre o tema em vertente, professa que:
“ O art. 3º do CDC bem especifica que o sistema de proteção do consumidor considera como
fornecedores todos os que participam da cadeia de fornecimento de produtos e da cadeia de fornecimento
de serviços ( o organizador da cadeia e os demais partícipes do fornecimento direto e indireto, mencionados
genericamente como ‘toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como
os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de ( ...) prestação de serviços ’), não importando sua
relação direta ou indireta, contratual ou extracontratual, com o consumidor.”(In, Manual de Direito do
Consumidor, RT, 2008, pág. 82).
De outro bordo, ainda sob a égide do Código de Defesa do
Consumidor, verifica-se que:
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
Art. 7º- Os direitos previstos neste Código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário,
da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades
administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais
do direito, analogia, costumes e equidade.
Parágrafo único - Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.
Art. 25 - É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite,
exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas Seções
anteriores.
§ 1º - Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas Seções
anteriores.
Art. 34 – O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes autônomos.
Portanto, em sendo incidente a Legislação Consumerista, a
empresa SMILES S.A. (“primeira Ré”), responsável pela emissão das passagens aéreas
responde pelos danos advindos de defeitos na prestação de serviços, ainda que tenha sido
prestado por empresas diferentes.
Se há solidariedade, cabe ao consumidor, ora Autores, escolher a
quem dirigir a ação. Quaisquer considerações acerca da ilegitimidade passiva, eventualmente
levantada, por tais motivos deverá ser rejeitada.
Neste rumo:
JUIZADOS ESPECIAIS. CONSUMIDOR. SOLIDARIEDADE. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA REJEITADA.
PORTABILIDADE DE LINHA TELEFÔNICA NÃO SOLICITADA. DANO MORAL CONFIGURADO. INDENIZAÇÃO
RAZOÁVEL E PROPORCIONAL. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.
1. O parágrafo único do art. 7º da Lei n. 8.078/90 estabelece a responsabilidade solidária dos que
participam da relação de consumo e venham a causar danos ao consumidor. Preliminar de ilegitimidade
passiva ad causam rejeitada.
2. A mudança de operadora sem a solicitação de portabilidade pelo titular da linha telefônica configura falha
na prestação de serviços da prestadora de serviços. A respectiva condenação na obrigação de reparar os
danos decorrentes é medida que se impõe e encontra amparo legal no art. 14 da Lei n. 8.078/90 .
3. Se o quadro de circunstâncias da lide revela habilidade técnica eficiente para violar a dignidade do
consumidor e, assim, um dos atributos de sua personalidade, configura-se o dano moral passível de
indenização.
4. Observados os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade na fixação da indenização do dano
moral, com inteligência judicial que considerou as circunstâncias da lide, a condição socioeconômica das
partes, bem como o grau de culpa do causador do dano, a gravidade e intensidade da ofensa, a respectiva
condenação merece ser confirmada.
5. Recurso conhecido e improvido. A Súmula de julgamento servirá de acórdão conforme reza o art. 46 da Lei
n. 9.099/95. Condenada a recorrente ao pagamento das custas e honorários advocatícios em 10% (dez) do
valor da condenação. (TJDF - Rec. 2009.01.1.197060-5; Ac. 494.273; Primeira Turma Recursal dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais do Df; Relª Juiza Sandra Reves Vasques Tonussi; DJDFTE 08/04/2011; Pág. 219)
1.AÇÃO INDENIZATÓRIA DE DANOS MATERIAIS E MORAIS FUNDADA NO INADIMPLEMENTO DE SEGURO
VIAGEM CONTRATADO EM PACOTE TURÍSTICO INTERNACIONAL. AUTOR SUBMETIDO A CIRURGIA
CARDÍACA, COM IMPLANTAÇÃO DE DESFIBRILADOR VENTRICULAR, EM HOSPITAL LOCALIZADO NA CIDADE
DE LIVORNO. ITÁLIA, SEM A CORRESPONDENTE COBERTURA INTEGRAL DO DÉBITO HOSPITALAR PELA
SEGURADORA ANTERIORMENTE CONTRATADA. RELAÇÃO DE CONSUMO. CERCEAMENTO DE DEFESA
INOCORRENTE. LEGITIMIDADE E SOLIDARIEDADE PASSIVA DAS CORRES (AGÊNCIA DE TURISMO,
OPERADORA DE TURISMO E SEGURADORA). ART. 275 DO CC E ART. 14 DO CDC.
2. Responsabilidade solidária de todas as empresas integrantes da cadeia de fornecedores dos serviços,
que comercializam pacotes de viagens em parceria empresarial, pelos danos causados aos consumidores
por defeitos na prestação dos serviços contratados. Art. 25, § 1º do CDC.
3. Vedação legal à estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de
indenizar. Art. 25 caput do CDC.
4. A declaração pré-contratual da seguradora integra o contrato celebrado entre as partes, vinculando a
prestadora de serviços. Art. 48 do CDC. Descumprimento injustificado. Lesão à boa-fé objetiva. Art. 422 do
CC. Ineficácia de cláusula contratual limitativa de cobertura para doenças pré-existentes, exageradamente
desvantajosa para o consumidor e que desvirtuaria a própria essência protetiva plena da cobertura de
assistência de viagem internacional contratada. Art. 51, caput e IV do CDC.
5. Verbas indenizatórias devidas. Condenação a ser apurada por liquidação em artigos mantida, a fim de se
evitar a propositura de eventual ação autônoma, aproveitando-se todo o exame fático até aqui ocorrido,
preservada a ampla defesa. Notícia de celebração de acordo não cumprido integralmente pela empresa
contratada, sem qualquer justificativa plausível. Reparação material integral mantida.
6. Transtornos e abalos emocionais gravíssimos causados a indivíduo idoso, lançado ao desamparo após
infarto, por empresa contratada para assisti-lo em viagem internacional. Danos morais moderadamente
fixados, em atenção à sua dúplice função punitiva ao ofensor e compensatória à vítima, à maneira dos
"punitive damages" do direito norte-americano, origem remota do art. 5o, VeXda CF/88.
7. Desobediência injustificada às ordens judiciais e tentativa de induzimento do julgador em erro, sem
qualquer temor institucional ao Poder Judiciário. Fatos gravíssimos. Multa diária limitada, por ora, a R$
500.000,00, tendo em vista princípios de razoabilidade e proporcionalidade, desde que efetivado o
pagamento do débito ao órgão fazendário da cidade de Livorno em até 15 dias após a prolação deste
acórdão. Persistindo a desobediência após tal prazo, a multa diária voltará a fluir no montante de R$
5.000,00, por inescusável recidiva. Possibilidade de majoração das "astreintes" a qualquer tempo. Art. 461, §
4o c/c § º do CPC.
8. Empresa de assistência a viagem que incorretamente se intitula como seguradora, deduz defesa contra
fato incontroverso, forja negociações e junta aos autos e-mails falsos, encaminhados para endereços
eletrônicos inexistentes, a fim de alterar a verdade dos fatos. Comportamento inaceitável e que beira
conduta criminosa. Art. 17, I e II do CPC. Litigância de má-fé da "seguradora de viagem" caracterizada em
grau extremo. Indenização por má-fé processual fixada em 20% do valor atualizado da causa. Art. 18 § 2o do
CPC. Determinação de remessa de cópias ao MP para aferição de eventual prática de crime de falsidade
ideológica.
9. Verba honorária adequadamente fixada e compatível com o expressivo trabalho advocatício prestado nos
autos.
10. Apelo parcialmente provido, com observação e determinação, rejeitada a preliminar. (TJSP - APL
0047211-20.2008.8.26.0562; Ac. 4978866; Santos; Trigésima Quarta Câmara de Direito Privado; Rel. Des.
Soares Levada; Julg. 28/02/2011; DJESP 21/03/2011)
(3) – NÃO HÁ DECADÊNCIA DO PEDIDO
CDC, art. 27
A hipótese em vertente trata de defeitos na prestação de serviços
(inadimplemento contratual).
Não incide, por este ângulo, o prazo estipulado no art. 26 da lei
consumerista, mas, em verdade, aquele prazo de 5 anos previsto no art. 27 desta mesma
citada Lei
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. RELAÇÃO CONSUMERISTA. DEFEITO NO SERVIÇO.
DECADÊNCIA (ART. 26 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR). INAPLICABILIDADE DENUNCIAÇÃO DA
LIDE. IMPOSSIBILIDADE, IN CASU. PETIÇÃO INICIAL. DOCUMENTOS INDISPENSÁVEIS À PROPOSITURA DA
AÇÃO. ACÓRDÃO RECORRIDO EM HARMONIA COM O ENTENDIMENTO DESTA CORTE. LITIGÂNCIA DE MÁ-
FÉ. NÃO OCORRÊNCIA. RECURSO IMPROVIDO.
1. Na discussão acerca do defeito no serviço, previsto na Seção II do Capítulo IV do Código de Defesa do
Consumidor, aplica-se o artigo 27 do referido diploma legal, segundo o qual o prazo é prescricional, de 05
(cinco) anos, a partir do conhecimento do dano e da sua autoria.
2. Nas relações de consumo, a denunciação da lide é vedada apenas na responsabilidade pelo fato do
produto (artigo 13 do Código de Defesa do Consumidor), admitindo-o nos casos de defeito no serviço (artigo
14 do CDC), desde que preenchidos os requisitos do artigo 70 do Código de Processo Civil, inocorrente, na
espécie.
3. Está em harmonia com entendimento desta Corte Superior de Justiça, o julgamento proferido pelo Tribunal
de origem no sentido de que os documentos indispensáveis à propositura da ação são os aptos a comprovar a
presença das condições da ação.
4. A aplicação de penalidades por litigância de má-fé exige dolo específico.
5. Recurso improvido. (STJ - REsp 1.123.195; Proc. 2009/0124926-9; SP; Terceira Turma; Rel. Min. Massami
Uyeda; Julg. 16/12/2010; DJE 03/02/2011)
DECADÊNCIA. HIPÓTESE DE DEFEITO E NÃO DE VICIO DO SERVIÇO. APLICABILIDADE DO ART. 27 E NÃO 26
DO CDC: DECADÊNCIA AFASTADA. CONSUMIDOR. CARTÃO DE CRÉDITO. IMPUGNAÇÃO A DIVERSOS
LANÇAMENTOS. ADMINISTRADORA QUE NÃO FAZ PROVA DAS TRANSAÇÕES. DECLARAÇÃO DE
INEXIGIBILIDADE MANTIDA. DANO MORAL INSERÇÃO INDEVIDA DO NOME DA AUTORA NOS ÓRGÃOS DE
PROTEÇÃO AO CRÉDITO. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR RECONHECIDA. DANO IN RE IPSA. ECLOSÃO NO
MOMENTO DA PERMANÊNCIA INDEVIDA. .' '.''.'. INDENIZAÇÃO. ARBITRAMENTO QUE DEVE. SER
EQUILIBRADO E OBSERVAR O BINÔMIO REPARAÇÃO/SANÇÃO. VALOR ELEVADO. COBRANÇA DE DÍVIDA JÁ
PAGA. NOTIFICAÇÕES ENVIADAS À AUTORA POR EMPRESA DE COBRANÇA. AUSÊNCIA, NO ENTANTO, DE
PAGAMENTO DA DÍVIDA INEXISTENTE. REPETIÇÃO DE INDÉBITO QUE PRESSUPÕE SUA OCORRÊNCIA.
Inaplicabilidade dos artigos 940 do Código Civil ou 42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor.!
- Recurso da ré improvido, parcialmente provido o da autora. (TJSP - APL 9172150-53.2008.8.26.0000; Ac.
5018162; São Paulo; Décima Quinta Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Araldo Telles; Julg. 22/03/2011;
DJESP 31/03/2011)
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. Ação de rescisão de contrato de serviços educacionais. Coisa julgada. Inexistência
de identidade de partes, pedido e causa de pedir. Decadência. Inaplicabilidade do art. 26 do CDC. Fato do
serviço caracterizado. Danos materiais e morais configurados. Litigância de má-fé inconfigurada. Recurso
desprovido. "Somente verifica-se a litispendência ou a coisa julgada pela reprodução de lide já proposta ou
definitivamente julgada, em que haja tríplice identidade de partes, de causa de pedir e de objeto"
(desembargadora Maria do rocio luz santa ritta). "O prazo prescricional para o consumidor pleitear o
recebimento de indenização por danos decorrentes de falha na prestação do serviço é de 5 anos, conforme
prevê o art. 27 do CDC, não sendo aplicável, por conseqüência, os prazos de decadência, previstos no art. 26
do CDC" (ministra nancy andrighi). As irregularidades constantes da propaganda, bem como a baixa qualidade
do curso disponibilizado aos alunos, são fundamentos suficientes para o sucesso da pretensão indenizatória
por danos materiais e morais, à vista da responsabilidade objetiva dos fornecedores, prevista na legislação
consumerista. O juiz deve fixar o valor da indenização por danos morais de modo a representar, a um só
tempo, alívio para o lesado, orientação pedagógica e séria reprimenda ao ofensor para arredá-lo da
possibilidade de recidiva. Para a configuração da lide temerária do artigo 17 do CPC, necessária é a presença,
simultânea, dos elementos objetivo e subjetivo: O primeiro representado pelo dano processual comprovado,
devendo estar exposta a prova do efetivo prejuízo ocasionado à parte contrária pela conduta injurídica de
uma das partes; o segundo extrata-se no dolo ou na culpa grave da parte maliciosa, cuja prova há de ser feita,
não se admitindo presunção. (TJSC - AC 2010.082353-3; Capital; Rel. Des. Luiz Carlos Freyesleben; Julg.
30/03/2011; DJSC 12/04/2011; Pág. 113)
(3) – NO MÉRITO
3.1. – CÓDIGO CONSUMIDOR X CÓDIGO AERONÁUTICO
Na hipótese sub judice, caracterizados os requisitos legais para
configuração da relação de consumo (art. 2º e 3º do CDC). Por conseguinte, inaplicável, em
detrimento do Código de Defesa do Consumidor, o Código Brasileiro de Aeronáutica ou mesmo a Convenção de Montreal, tendo em vista a raiz constitucional da legislação
consumerista - art. 5º, inc. XXXII da CF/88.
O transporte aéreo de passageiro, seja nacional seja internacional, encerra relação de consumo, traduzido por um verdadeiro contrato, onde
uma das partes se obriga a transportar a outra juntamente com seus pertences ao ponto de
destino, aplicando-se, portanto, o Código de Defesa do Consumidor.
A segunda Ré AIR FRANCE responsável pelo voo, enquadra-se
perfeitamente no conceito de fornecedor, dado pelo art. 3º do CDC, que diz:
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
Art. 3º - "Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
(...)
§ 2º - Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,
salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
E a Autora e seu filho também se enquadram, como antes
afirmado, no conceito de consumidor, ditado pelo mesmo ordenamento:
Art. 2º - Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto
ou serviço como destinatário final.
As Convenções Internacionais, embora aplicáveis ao Direito
Brasileiro, em regra não se sobrepõem às normas internas.
Nesse sentido:
CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E DANOS MORAIS.
TRANSPORTE AÉREO. EXTRAVIO DE BAGAGEM. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DOS DANOS MATERIAIS.
CONFIGURAÇÃO DO DANO MORAL. DESNECESSIDADE DE PROVA. DANO MORAL IN RE IPSA. VALOR DA
INDENIZAÇÃO. OBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE. RECURSO
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.
1. O Código de Defesa de Consumidor sobrepõe-se à Convenção de Montreal, em razão da especialidade da
matéria com assento constitucional (CF, art. 5º, XXXII), dai decorrendo que a indenização por extravio de
bagagem não se limita ao valor fixado na norma internacional.
2. Contratado o serviço de transporte aéreo internacional e ocorrendo a perda de bagagem impõe-se a
indenização pelo dano material suportado pelo contratante.
3. O dano material deve ser comprovado, de forma que não se mostra verossímil a alegação de extravio de
equipamento eletrônico de alto valor sem qualquer prova da aquisição quando a parte junta notas fiscais de
roupas e perfumes de valores menores. 4. Somente os prejuízos comprovados devem ser ressarcidos. A
autora conseguiu provar o prejuízo de aproximadamente EUR$ 673,25 (seiscentos e setenta e três euros e
vinte e cinco centavos) (fls. 40/54), que, considerando-se a taxa de câmbio de 2,39631, correspondente à taxa
de conversão em 24/08/2008 (data do extravio da bagagem), totaliza o montante de R$ 1.613,32. Redução da
condenação em danos materiais para R $ 1.613,32 (um mil seiscentos e treze reais e trinta e dois centavos),
corrigidos monetariamente e com juros de 1% ao mês desde 28/08/2008.
5. No caso de extravio de bagagem, principalmente vindo de país estrangeiro, em que o passageiro realizou a
compra de diversos produtos perdidos juntamente com a bagagem, o dano moral é presumido, uma vez que
sofreu transtornos e aborrecimentos que ultrapassam a esfera da normalidade, não sendo necessária a prova
do prejuízo e nem da intensidade do sofrimento experimentado pelo ofendido, sendo certo que o extravio de
bagagem, por si só, mostra-se hábil a configurar dano moral, passível de ser indenizado (CF, art. 5º, V e X, c/c
Lei nº 8.078/90, art. 14, caput). 6. A fixação do valor devido pelos danos morais deve ser feita mediante
prudente arbítrio do juiz, que deve se valer de critérios da razoabilidade e proporcionalidade, atentando para
o caráter pedagógico e punitivo da indenização. Mostra-se justa e razoável a fixação da indenização no valor
arbitrado pelo juiz a quo, de R$ 2.000,00 (dois mil reais).
7. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.
8. Sem custas e sem honorários, em razão do provimento parcial do recurso. (TJDF - Rec. 2009.01.1.049266-9;
Ac. 472.632; Segunda Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Df; Rel. Juiz Asiel Henrique;
DJDFTE 14/01/2011; Pág. 116)
RELAÇÃO DE CONSUMO. AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MATERIAIS E MORAIS COM FULCRO NO ART.
5º; INCISO V DA CF/88 E DA LEI Nº 8.078/90. TRANSPORTE AÉREO. VIAGEM INTERNACIONAL. EXTRAVIO DE
BAGAGENS. INAPLICABILIDADE DA CONVENÇÃO DE VARSÓVIA. RELAÇÃO DE CONSUMO. APLICAÇÃO DO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. INTELIGÊNCIA DO ART. 14 DO
CDC. INDENIZAÇÃO AMPLA. DANOS MATERIAIS RESTRITOS À COMPROVAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE
REFORMATIO IN PEJUS. MÁ PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. ATO ILÍCITO, NEXO CAUSAL E DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. QUANTUM INDENIZATÓRIO RAZOAVELMENTE FIXADO EM R$ 8.000,00 (OITO MIL REAIS).
RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA PELOS SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS.
1. Em casos de extravio de bagagem ocorrido durante o transporte aéreo, há relação de consumo entre as
partes, devendo a reparação, assim, ser integral, nos termos do CDC, e não mais limitada pela legislação
especial.
2. Editada Lei específica, em atenção à; constituição (art. 5º, xxxii), destinada a tutelar os direitos do
consumidor, e mostrando-se irrecusável o reconhecimento da existência de relação de consumo, suas
disposições devem prevalecer. Havendo antinomia, o previsto em tratado perde eficácia, prevalecendo a Lei
interna posterior que se revela com ele incompatível.
3. A responsabilidade do transportador é objetiva, nos termos do art. 14 do CDC, respondendo,
independentemente de culpa, pela reparação dos danos que eventualmente causar pela falha na prestação
de seus serviços.
4. É responsável pelos prejuízos materiais e morais decorrentes do extravio de bagagem a empresa de
aviação, configurando-se a má prestação de serviço no contrato de transporte.
5. É cabível condenação a título de dano moral em face de extravio de bagagem, haja vista o sentimento de
desconforto do passageiro diante da situação humilhante e vexatória de chegar ao local do destino sem os
seus pertences necessários. (TJBA - Rec. 0034592-77.2008.805.0001-1; Primeira Turma Recursal; Relª Juíza
Sandra Inês Moraes Rusciolelli Azevedo; DJBA 10/12/2010)
APELAÇÃO CÍVEL. CONTRATO DE TRANSPORTE AÉREO. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. PERDA DE
BAGAGEM. PREJUÍZOS PATRIMONIAIS. DANOS MORAIS.
1. Aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor. Relação de consumo - companhia aérea como
fornecedora de serviços e passageiros como consumidores. Raiz constitucional da legislação consumerista -
art. 5º, XXXII, da CF/88. Inaplicabilidade do Código Brasileiro de Aeronáutica.
2. Ausente verossimilhança nas alegações contidas na inicial acerca dos bens que estariam na bagagem
extraviada, de modo que escorreita a sentença ao indeferir o ressarcimento dos danos materiais pleiteados.
Comportamento processual que demonstra a tentativa de obter enriquecimento indevido com o processo.
3. Reparação por dano moral devida em face dos inegáveis transtornos causados à demandante a partir do
extravio definitivo de sua bagagem. Responsabilidade da ré pelo transporte seguro e chegada em condições
da carga transportada. Inexecução do contrato, sujeitando a autora à situação não desejada.
4. Manutenção da verba fixada na sentença, considerando que a situação concreta, o grau de dificuldade e o
grau de dificuldade e apreensão e os parâmetros desta Câmara, cabendo relembrar que a reparação não
pode servir de amparo ao enriquecimento sem causa. APELOS IMPROVIDOS. (TJRS - AC 70038044558; Porto
Alegre; Décima Segunda Câmara Cível; Relª Desª Judith dos Santos Mottecy; Julg. 25/11/2010; DJERS
10/12/2010)
Em sendo, pois, a situação em análise como relação de consumo,
nestas circunstâncias, a responsabilidade do fornecedor, ora Rés, em decorrência de vício na prestação do serviço, é objetiva, nos exatos termos do art. 14 do CDC que assim dispõe:
Art. 14 – O fornecedor de serviços responde, independente da existência da culpa,
pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação de serviços, bem como informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
função e riscos.
§ 1º - O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele
pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes entre as
quais:
I – o modo de seu fornecimento;
II – o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III – a época que foi fornecido; ( . . . )
Ainda o mesmo Código prevê expressamente no artigo 23 que “ a
ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos e
serviços não o exime da responsabilidade. “
As empresas Rés comprometeram-se contratualmente a
transportar a Autora e seu filho, nas horas marcadas, nos dias estabelecidos e até o lugar
indicado, entregando-o, nos termos do contrato de transporte, suas bagagens intactas, sendo
certo que sua obrigação não se limita apenas ao voo, incluindo-se na prestação de serviços
ao cliente (consumidor).
A negligência da Promovida no atendimento a Autora, sobretudo
no repasse de informações desencontradas, horários divergentes do contratado e extravio
temporário de suas bagagens, caracteriza defeito na prestação de serviços, gerando,
consequentemente, o dever de indenizar.
3.2. – DOS DANOS OCASIONADOS
Com efeito, a situação de espera indeterminada e de extravio
temporário de suas bagagens, causou ao Autor abalo interno, sujeitando-o à forte apreensão,
sensação de abandono e desprezo.
Outrossim, o transportador assume – perante o passageiro – uma
obrigação de resultado, ou seja, deve levá-lo, bem assim os seus pertences, com segurança
ao seu destino.
Não se diga, mais, que haja aplicação do Pacto de Varsóvia ao
caso em questão, nem mesmo tocantemente à Lei 7.565/86.
Como dito em passagem anterior deste arrazoado, não há dúvida
de que a relação existente entre o passageiro e a empresa de transporte aéreo encontra-se
albergada na Lei 8.078/90, recebendo agasalho de suas normas e de seus princípios,
inclusive com observância obrigatória, pois o interesse tutelado é sempre de ordem pública e
não o meramente individual.
De outra banda, visto que equacionada a questão à relação de
consumo, importante que afastemos possível conflito entre a aplicabilidade do Código de
Defesa do Consumidor em face da Convenção de Varsóvia para aplicação de possível
indenização.
A este respeito, prevalece em nosso sistema jurídico o
entendimento de que os tratados ou convenções internacionais não se sobrepõem à
legislação federal, já que ao serem referendados pelo Congresso passam a ter a mesma força
da legislação ordinária.
Eduardo Arruda Alvim e Flávio Cheim Jorge, em texto publicado
na Revista de Direito do Consumidor(nº 19), ressaltam a orientação adotada pelo STF a este
respeito:
“Como se verá, todavia, o STF firmou orientação no sentido de que as convenções e tratados
internacionais são recepcionados dentro do ordenamento jurídico brasileiro no mesmo plano da
legislação interna, de tal sorte que podem perfeitamente ser afastadas pela legislação ordinária
superveniente e com eles incompatível. “
Não há, dessarte, sobreposição de normais internacionais às leis
que integram o direito positivo brasileiro que lhes sejam contrárias e supervenientes.
Desta maneira, a promulgação de lei posterior que contenha
divergência coma Convenção Internacional, acaba por modificar o regulamento da matéria em
comum, pelo menos na questão em que haja incompatibilidade. Assim, devem predominar as
disposições do Código de Defesa do Consumidor quando estejam em conflito com a
Convenção de Varsóvia, sobretudo quando constata-se que aquela lei federal é posterior à
entrada desta normatização no sistema jurídico pátrio(Decreto nº. 20.784/31), bem como das
modificações que lhes seguiram.
Portanto, possível é a Autora receber indenização com base na
Lei nº. 8078/90, tendo esta posição sido objeto de manifestação do STJ:
“ ( . . . ) uma vez editada lei específica, em atenção à Constituição(Art. 5º, XXXII) destinada a tutelar os
direitos do consumidor, e mostrando-se irrecusável o reconhecimento da existência da relação de
consumo na espécie, suas disposições devem prevalecer.(STJ, REsp nº. 169.000-RJ, 3ª Turma, rel.
Min. Paulo Costa Leite, j. 14/08/2000).
Neste sentido é o posicionamento da doutrina:
“ A Convenção, o Código Brasileiro de Aeronáutica e o Código de Defesa do Consumidor convivem de
maneira harmoniosa, permanecendo aqueles dois primeiros documentos plenamente em vigor, exceto em
relação a alguns de seus dispositivos, onde o conflito é evidente. Isso quer dizer que o Código de Defesa do
Consumidor não revogou a integralidade da Convenção e do Código Brasileiro de Aeronáutica, a não ser onde
patente a antinomia. “(Antônio Herman V. Benjamin, O Transporte Aéreo e o Código de Defesa do Consumidor,
in Revista de Direito do Consumidor, v. 26, p. 39)
Não sendo observada essa obrigação, deve responder pelos
prejuízos causados.
CONSUMIDOR. PACOTE DE TURISMO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. FALHA NA PRESTAÇÃO DOS
SERVIÇOS. PREJUÍZOS MATERIAIS COMPROVADOS. DANO MORAL CONFIGURADO.
1. Preliminar de ilegitimidade passiva que vai afastada, diante da informação constante no roteiro do pacote
à fl. 69 - Páscoa punta del este -, dando conta do nome de ambas as empresas, ora recorrentes. No mesmo
sentido, a ficha de inscrição juntada à fl. 79, onde consta o site www. Uniexplorer. Tur. BR e o email
contato@uniaosantafe. Com. BR.
2. No mérito, incontroverso pela prova produzida nos autos que a autora adquiriu pacote turístico incluindo
passagem rodoviária, duas diárias em hotel, city tour e compras no chuí. Contudo, a viagem não se realizou
em razão do ônibus contratado pelos recorrentes não ter aparecido no local programado para a saída.
3. Incide, na espécie, a disposição do artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor, que estabelece a
responsabilidade objetiva do prestador do serviço pelos danos causados aos consumidores.
4. Comprovado o dano material, deve ser ressarcido o valor de R$ 449,00 (quatrocentos e quarenta e nove
reais), referente ao pacote turístico (fl. 16).
5. Indenização por danos morais que se mostra devida, ante o sentimento de desamparo e insegurança
experimentados pelo consumidor. Valores corretamente apurados, de acordo com os critérios da
razoabilidade e da proporcionalidade. Recurso improvido. (TJRS - Rec. 432-43.2011.8.21.9000; Sapiranga;
Segunda Turma Recursal Cível; Relª Desª Fernanda Carravetta Vilande; Julg. 13/04/2011; DJERS 19/04/2011)
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. PACOTE TURÍSTICO. VÍCIO NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. PRESCRIÇÃO NOS
TERMOS DO ARTIGO 27 DO CDC. DENUNCIAÇÃO DA LIDE QUE DEVE SER APRESENTADA COM A
CONTESTAÇÃO, NÃO CABENDO REABERTURA DE PRAZO PARA DEFESA.
Vedação em ações decorrentes do direito do consumidor que tem por objeto a agilização da prestação
jurisdicional, não cabendo ser invocada pela prestadora de serviço, tanto mais que já admitida e julgada.
Condenação dos que intervieram na relação de consumo. Descumprimento parcial da obrigação. Danos
morais devidos. Indenização reduzida. Apelo da íítisdenuncíada parcialmente provido, improvido da ré. (TJSP
- APL 9168071-36.2005.8.26.0000; Ac. 4994784; Santos; Vigésima Oitava Câmara de Direito Privado; Rel. Des.
Eduardo Sá Pinto Sandeville; Julg. 01/03/2011; DJESP 01/04/2011)
DIREITO DO CONSUMIDOR. REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. PACOTE TURÍSTICO. EMPRESA
DE TURISMO E COMPANHIA AÉREA. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE
PASSIVA REJEITADA. DANOS CONFIGURADOS. REPARAÇÃO DEVIDA. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL
MAJORADA. RECURSO DA REQUERIDA DESPROVIDO. RECURSO DAS AUTORAS PROVIDO. SENTENÇA
PARCIALMENTE REFORMADA.
Nos termos do Código de Defesa do Consumidor, é cediço existir responsabilidade solidária entre os
fornecedores dos serviços ou produtos que atuam na mesma cadeia de consumo, tal como no caso, em que a
empresa de turismo atuou como intermediária entre a companhia aérea e as consumidoras na celebração do
contrato. A terceirização dos serviços prestados no exterior não se constitui em fundamento hábil para
afastar as responsabilidades e obrigações devidas perante as autoras que adquiriram junto à empresa de
turismo o pacote respectivo. Não há como descartar a intensa angústia e privação injustamente suportadas
pelas demandantes, não apenas pelos transtornos no decorrer da viagem, mas principalmente pelo grave
descaso com que foram tratadas a partir data em que deveriam retornar ao país. Com espeque na
Constituição Federal, precisamente no artigo 5º, incisos V e X, exsurge indene de dúvida a ocorrência de
danos materiais e morais. O valor da indenização por dano à esfera moral do indivíduo comporta juízo
subjetivo, eis que inexistentes parâmetros objetivos previamente estabelecidos. Ao fixar o referido quantum,
deve o Juiz cuidar para que não seja tão alto, a ponto de proporcionar o enriquecimento sem causa; nem tão
baixo, a ponto de não ser sentido no patrimônio do responsável pela lesão. (TJDF - Rec. 2008.01.1.122983-4;
Ac. 491.242; Primeira Turma Cível; Rel. Des. Lécio Resende; DJDFTE 30/03/2011; Pág. 150)
JUIZADOS ESPECIAIS. CONSUMIDOR. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM AFASTADA.
FORNECEDOR QUE INTEGRA CADEIA DE FORNECIMENTO . MÉRITO. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE
PACOTE TURÍSTICO. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. SENTENÇA MANTIDA PELOS SEUS PRÓPRIOS
FUNDAMENTOS . RECURSO CONHECIDO . PRELIMINAR REJEITADA . IMPROVIDO.
1. É parte legítima para responder por qualquer falha na prestação de serviço turístico todos os fornecedores
que participam da cadeia de fornecimento do pacote turístico (passagem aérea, hotel, etc..) oferecido
diretamente ao consumidor.
2. No caso em questão, restou comprovada a grave sequência de falhas na prestação de serviço contratado
(nítido tratamento de descaso com o autor e sua família na hospedagem em cidade estranha ao seu
domicílio), configurando a responsabilidade do fornecedor, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados ao consumidor por defeitos relativos à prestação dos serviços.
3. Não realização do pacote turístico conforme contratado, gera desconforto e aflição ao consumidor que
extrapola a situação de meros aborrecimentos da vida cotidiana.
4. Observados os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, haja vista a duração do tratamento
descortês com o consumidor e sua família, sentença que fixa valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), para cada
autor, a título de reparação por dano moral e, ainda, que considera a gravidade do dano, os incômodos e
constrangimentos experimentados pelos consumidores deve ser confirmada.
5. Sentença mantida pelos próprios fundamentos, com Súmula de julgamento servindo de acórdão, na forma
do artigo 46 da Lei nº 9.099/95. Preliminar rejeitada. Recurso conhecido e não provido. Condenado o
recorrente vencido ao pagamento das custas e honorários advocatícios que fixo em 10% (dez por cento)
sobre o valor da condenação. (TJDF - Rec. 2010.07.1.022741-9; Ac. 491.089; Primeira Turma Recursal dos
Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Df; Rel. Juiz Flávio Fernando Almeida da Fonseca; DJDFTE 29/03/2011;
Pág. 440)
No caso em liça, a contratação do serviço aéreo pelo Autora
restou devidamente demonstrada e a prestação do transporte, ao revés, não ocorreu
conforme acertado, com defeito que reflete em abalo moral.
Tais fatos, pois, ultrapassam os meros dissabores ou
aborrecimentos comumente verificados pelos passageiros do transporte aéreo, configurando
efetivo abalo moral.
A responsabilidade do dano moral, alçada ao plano constitucional
pela redação conferida no art. 5º, incs. V e X, da Constituição Federal, e também estatuída na
Legislação Substantiva Civil, em seus artigos 186 combinado com 927, exige do julgador a
condenação do ofensor, obedecendo-se aos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade.
Neste sentido:
CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO. EXTRAVIO DE BAGAGEM. DANO MORAL. OCORRÊNCIA.
VALOR. RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.
1. Os danos no Direito do Consumidor encontram-se sujeitos à disciplina da responsabilidade objetiva, nos
exatos termos dos artigos 12 e seguintes da Lei Protetiva, independentemente de se tratarem de prejuízos
materiais ou morais.
2. É notória a aflição psíquica sofrida pelo consumidor que se vê privado de sua bagagem durante viagem
internacional, sobretudo quando o passeio objetiva comemorar o sucesso de tratamento de saúde.
3. A fixação da verba indenizatória a título de dano moral deve obedecer aos princípios da razoabilidade e
proporcionalidade, observada a capacidade econômica das partes, bem como as circunstâncias do caso
concreto.
4. Recurso desprovido. (TJDF - Rec. 2009.01.1.163056-5; Ac. 467.750; Terceira Turma Cível; Rel. Des. Mario-
Zam Belmiro; DJDFTE 09/12/2010; Pág. 225)
APELAÇÃO CÍVEL. TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL. EXTRAVIO TEMPORÁRIO DE BAGAGEM.
1. Irregularidade na representação processual da ré não verificada. Instrumento procuratório conferindo
poderes à advogada subscritora da contestação.
2. Indevida a indenização por dano material, se não comprovadas as despesas alegadas. Os cupons fiscais
acostados referem apenas a data e o valor, não identificando o produto adquirido, ou mencionam bens
adquiridos no navio que não têm relação com o extravio da bagagem. Itens destacados nas faturas de cartão
de crédito que dizem com o pacote turístico adquirido e são anteriores à data da viagem. 3. De ser mantido o
valor arbitrado na sentença como reparação por dano moral, decorrente do extravio temporário de bagagem,
montante que se revela adequado na espécie, considerando que a autora viajava em lua-de-mel, em um
cruzeiro pelo Mar Mediterrâneo, ficou desprovida de parte de seus pertences por todo o período do passeio.
A mala foi localizada e entregue apenas quando a demandante já estava de volta ao Brasil. Arbitramento do
valor que leva em conta a situação econômica das partes, as conseqüências do evento, o grau de
responsabilidade do causador do dano e o princípio da proporcionalidade.
4. Ratificada a sucumbência recíproca reconhecida na sentença, ante o indeferimento da pretensão por dano
material, mantido nesta Corte. Apelos improvidos, por maioria. (TJRS - AC 70029120284; Pelotas; Décima
Segunda Câmara Cível; Rel. Des. Orlando Heemann Junior; Julg. 12/11/2009; DJERS 03/12/2010)
RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MATERIAIS E MORAIS. EXTRAVIO DE BAGAGEM COLOCADA NO
BAGAGEIRO DO ÔNIBUS. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS TARIFADA. DANOS MORAIS
CARACTERIZADOS. MÁ PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DA EMPRESA TRANSPORTADORA. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA. A INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL É IN RE IPSA, PELO QUE PRESCINDE DE COMPROVAÇÃO.
Valor da indenização fixado em dez vezes o valor do prejuízo experimentado pelo autor (R$16.964,00).
Recurso parcialmente provido. (TJSP - APL 991.07.079676-0; Ac. 4807886; Jundiaí; Décima Quarta Câmara de
Direito Privado; Rel. Des. Cardoso Neto; Julg. 27/10/2010; DJESP 03/12/2010)
CONSUMIDOR. RECURSO DOS CONSUMIDORES PARA MAJORAÇÃO DO VALOR INDENIZATÓRIO. EXTRAVIO
DE BAGAGEM RECUPERADA NO PRAZO DE TRÊS DIAS. MANUTENÇÃO DO VALOR DA CONDENAÇÃO (DANO
MORAL). SENTENÇA CONFIRMADA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO.
Custas e honorários pelos recorrentes vencidos. Honorários fixados em 10 (dez por cento) sobre o valor da
condenação, devidamente atualizado, artigo 55, da Lei nº 9099/95. (TJDF - Rec. 2010.01.1.063968-5; Ac.
465.171; Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais; Relª Juíza Wilde Maria Silva
Justiniano Ribeiro; DJDFTE 26/11/2010; Pág. 429)
Na situação em apreço, demonstrada a abusividade do ato
praticado pelas Ré e a gravidade potencial da falta cometida; o caráter coercitivo e
pedagógico da indenização; os princípios da proporcionalidade e razoabilidade; tratando-se
de dano moral puro; e que a reparação não pode servir de causa a enriquecimento
injustificado; merecido e conveniente que Vossa Excelência, no mínimo, imponha, a título de
reparação de danos morais, o valor de R$ 8.000,00(oito mil reais), quantia esta que se mostra
adequada para o caso em apreço.
(4) – DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS
Em arremate, requer o Promovente que Vossa Excelência
se digne de tomar as seguintes providências:
a) Determinar a citação das Requeridas, por carta, com AR, para, querendo, apresentarem defesa;
b) pede, mais, sejam os pedidos JULGADOS PROCEDENTES, condenando as Rés, solidariamente, a pagarem aos Autores:
1) a quantia de R$ 6.480,00(seis mil, quatrocentos e oitenta reais) a título de danos materiais, correspondentes à devolução dos valores pagos (repetição indébito) a título da contratação dos serviços imperfeitos ou, sucessivamente, sua devolução com abatimento do “eventual” proveito que tenham tido a Autora com o pacote turístico em ensejo; prejuízos com a aquisição de produtos de uso pessoal;
2) à guisa de danos morais, o valor mínimo de R$ 8.000,00(oito mil reais);
3) incidirão sobre os valores acima, juros moratórios legais de 12% a.a., a contar do evento danoso (29/10/2013), além de correção monetária pelo IGP-M;
Súmula 43 do STJ – Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo.
Súmula 54 do STJ – Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual.
4) com o pedido de inversão do ônus da prova, protestar provar o alegado por todos os meios de prova em direitos admitidos, por mais especiais que sejam, sobretudo com a oitiva de testemunhas, depoimento pessoal dos representantes legais das Rés, o que desde já requer, sob pena de confesso.
Concede-se à causa o valor de R$14.480,00
Respeitosamente pede, e espera merecer, deferimento.
São Paulo, 26 de maio de 2014.