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1. HISTÓRIA DO DIREITO PENAL Períodos das Punições (em ordem cronológica): Vinganças Privadas: - Não havia intervenção de um poder maior (Estado) para resolver os conflitos entre particulares. Vingança individual (revidar pessoalmente) Vingança coletiva (quando grupos se unem contra alguém que feriu um de seus integrantes) Vingança religiosa (argumentos místicos para tratar da coletividade, sem qualquer argumento factual) Vinganças Públicas: - Estado tomou para si o poder de definir como seriam as punições para os conflitos. Talião: vingança do “olho por olho, dente por dente”. Caráter PROPORCIONAL. o Talião material: a vingança era feita com o mesmo crime que foi cometido. o Talião simbólico: quando não se era possível cometer algo exatamente igual se cometia algo que impossibilitasse o criminoso de fazer aquilo de novo. Composição: É o que gerou a ideia de indenização como conhecemos hoje em dia. Caráter DESIGUAL. Na épocaera vista como uma fraude, pois se aplicava apenas para beneficiar os ricos, livrando-os do castigo físico (normalmente substituindo a pena por um valor pecuniário) quanto estes na verdade deveriam sofrer a lei do talião. Neste momento, a humanidade perdeu a chance de se ter um direito penal democrático. Obs.: Todos os povos da antiguidade aplicavam o talião e a composição. IMPÉRIO ROMANO

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Page 1: Web viewArtigo 2º do CP: “A lei posterior, ... Lei contra a elevação de preços que dura um ano. ... § 2º - É também

1. HISTÓRIA DO DIREITO PENAL

Períodos das Punições (em ordem cronológica):

Vinganças Privadas:

- Não havia intervenção de um poder maior (Estado) para resolver os conflitos entre particulares.

Vingança individual (revidar pessoalmente) Vingança coletiva (quando grupos se unem contra alguém que feriu um de seus

integrantes) Vingança religiosa (argumentos místicos para tratar da coletividade, sem

qualquer argumento factual)

Vinganças Públicas:

- Estado tomou para si o poder de definir como seriam as punições para os conflitos.

Talião: vingança do “olho por olho, dente por dente”. Caráter PROPORCIONAL.o Talião material: a vingança era feita com o mesmo crime que foi

cometido.o Talião simbólico: quando não se era possível cometer algo exatamente

igual se cometia algo que impossibilitasse o criminoso de fazer aquilo de novo.

Composição: É o que gerou a ideia de indenização como conhecemos hoje em dia. Caráter DESIGUAL. Na épocaera vista como uma fraude, pois se aplicava apenas para beneficiar os ricos, livrando-os do castigo físico (normalmente substituindo a pena por um valor pecuniário) quanto estes na verdade deveriam sofrer a lei do talião. Neste momento, a humanidade perdeu a chance de se ter um direito penal democrático.

Obs.: Todos os povos da antiguidade aplicavam o talião e a composição.

IMPÉRIO ROMANO

- Crimina Publica

Perduelio – crime contra instituições romanas Parricidium – assassinato do pater famílias

- Delicta Privata

Crimes entre particulares

- Anteriormente, o processo em Roma era público e oral, e havia um acusador, além da vítima, do réu e do juiz.

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- Posteriormente, com a passagem de Constantino para o Cristianismo, os processos se tornaram sigilosos, por escrito, e o juiz passou a acumular mais funções, não havendo mais a presença do acusador. Crimes religiosos se tornaram muito graves, e a maior prova que se tinha era a confissão, gerada normalmente pela tortura.

- Havia uma flexibilização das penas em dois casos: quando se confessava o crime espontaneamente, ou quando havia um pagamento.

- Neste período em Roma, há uma espécie de “mistura” da vingança pública com a divina, ou seja, punições organizadas com forte influência da religião. A inquisição era praticada contra os que ameaçavam o poder da Igreja.

PERÍODO HUMANITÁRIO

Pietro Verri – influência dos filósofos iluministas; contestou o sistema penal Beccaria – afirmava que penas deveriam ser codificadas e claras. Penas mais

leves porém mais aplicáveis são melhores que as penas pesadíssimas que dificilmente serão aplicadas.

Escolas Penais

CLÁSSICA

Crime é um ente jurídico; é uma ação física e moral conceituada por uma lei promulgada pelo Estado através de uma vontade política. Portanto, se utiliza do método dedutivo, partindo de uma premissa geral (lei) para uma particular (conduta criminosa).

Isenta da influência religiosa como razão de todas as coisas. Livre arbítrio – crime é uma escolha do indivíduo dotado de livre arbítrio, ou

seja, ele não é determinado a fazer aquilo, o crime é uma opção que ele faz. Kant – a punição é uma questão moral; seu objetivo não é evitar futuros

crimes. Hegel – o crime nega o direito, e o único remédio para restabelecê-lo é através

da punição. Para esta escola, a pena tinha caráter retributivo.

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POSITIVA (Lombroso)

Fazia a biópsia de pessoas que haviam cometido crimes e estabelecia uma anatomia específica do criminoso, uma espécie de biotipo do criminoso. Portanto, nota-se que esta escola é adepta do método indutivo, pois estabelece uma premissa geral após a análise de diversos casos particulares.

Marat faz dura crítica à escola clássica. Para ele, a pena para um pobre que furtava para alimentar-se deveria ser mais branda do que a de um político que já tem dinheiro suficiente para sustentar a si e sua família e continua roubando através de crimes de corrupção.

A idéia de Lombroso contrariava a concepção de livre-arbítrio, pois se a pessoa já nasce com aquele biotipo de um criminoso, ela nada pode fazer a não ser se tornar um deles, ou seja, não há essa escolha que o livre-arbítrio proporciona.

Aqui, a pena é tratada como defesa social, e, em vez do livre arbítrio, há o determinismo, ou seja, o sujeito nasce determinado a cometer crimes.

Crime era visto como ente de fato.

2. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL

LEGALIDADE

Artigo 1º do CP: “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.”

É o mais importante do Direito Penal; influência iluminista. Diz que crimes e penas só podem ser existir/ser aplicadas se previstos em lei Proporcionou segurança às pessoas contra a arbitrariedade das penas. 1801 Feuerbach – “Nullum crimen nulle poena sine praevia lege” Características:

o Lege Certa – objetividade do crime. “Desagradar o Rei”, como antigamente, fere este princípio.

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o Lege Praevia – lei previamente elaboradao Lege Scripta – deve ser lei escrita o Lege Stricta – não se pode estabelecer crimes por analogia, ou seja, a lei

penal deve ser tipificada e determinada, devendo não ser receptiva a mais de uma interpretação.

Irretroatividade da Lex Gravior

Quando uma lei prevendo uma pena mais dura é promulgada, ela não retroage na primeira pena aplicada. Portanto, conclui-se que a lei mais grave não retroage.

Retroatividade da Lex Mitior

Se a nova lei promulgada torna a pena mais branda, ela retroage, mesmo que o caso já tenha transitado em julgado

Artigo 2º do CP: “A lei posterior, que de qualquer modo favorece o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado”.

Exceções da retroatividade da lei mais branda estão previstas no Artigo 3º do CP: “A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência”.

o Caso de Lei Temporária: exemplo: Lei contra a elevação de preços que dura um ano. Se alguém aumentou os preços durante este período, será punido nestes moldes, não sendo absolvido após esse um ano previsto para a duração da lei temporária.

o Caso de Lei Excepcional: exemplo: lei que diz que enquanto durar uma enchente, a pena do furto é duplicada. Se alguém furtou algo neste período, sua pena não será normalizada quando a situação da enchente se regularizar.

Abolitio Criminis

Quando uma conduta deixa de ser criminosa, quem está cumprindo pena por causa daquilo é liberado.

O sujeito não pode pedir ressarcimento pelo tempo que cumpriu pena, pois enquanto ele a cumpria a conduta era considerada criminosa.

SUBSIDIARIEDADE

“Ultima Ratio”: Este princípio estabelece que o Direito Penal deve atuar subsidiariamente no direito, ou seja, deve ser a ÚLTIMA alternativa a ser buscada para a resolução de um conflito. Só é acionado quando nenhum outro ramo do direito é cabível naquele caso.

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Corrente minimalista – procurar estabelecer como crime o mínimo de condutas possíveis, só quando for realmente grave. Garantismo de Ferraioli.

Corrente abolicionista – pensadores que propõe o fim do direito penal por acreditar que ele não adianta nada. São, neste aspecto, desconstrutivistas, pois sugerem o fim de algo sem propor algo como solução.

FRAGMENTARIEDADE

O Direito Penal não tutela sozinho o bem jurídico, ou seja, só tutela parte deste. Exemplo: um empregado de uma fábrica rouba produtos e vende fora. Haverá

punição penal, pelo furto, sanção trabalhista e também cível. Obs.: bem jurídico é um interesse relevante que afeta a sociedade (patrimônio,

liberdade, vida, honra, dignidade, vida de um feto, patrimônio público, etc)

LESIVIDADE

Só pode ser considerada como crime uma conduta que traga lesão ou risco a um destes bens jurídicos

CULPABILIDADE

Somente se pode criminalizar alguém se houver o mínimo de vínculo subjetivo-psíquico entre autor do crime e o resultado deste. Se ele não tiver responsabilidade subjetiva sobre a conduta, não pode ser criminalizado.

Exemplo: há uma bomba ativada em um determinado lugar, e um terceiro, sem saber, a faz explodir, com vítimas. Ele não pode ser considerado criminoso.

3. TEMPO DO CRIME

Teorias:

Atividade – crime ocorreu no momento em que foi executado, independentemente de qualquer outra coisa. Adotado no Brasil.

Resultado – momento do crime é quando se tem o seu resultado. Mista – crime é tanto no seu ato quando no resultado

Artigo 4º do CP: “Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado”.

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4. LUGAR DO CRIME

Teorias:

Atividade – local do crime é onde ele foi cometido Resultado – local do crime é quando se tem seu resultado Mista – tanto faz o local, o que vale é tanto um quanto outro. Adotado no

Brasil.

Artigo 6º do CP: “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado”.

Territorialidade:

Artigo 5º do CP: “Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.

§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.

§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil”.

Extraterritorialidade:

Casos em que crimes são ocorridos fora do Brasil, mas mesmo assim são tutelados pela lei brasileira. Todos os casos estão especificados no artigo 7º do CP:

“Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:

I - os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;

II - os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir b) praticados por brasileiro c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.

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§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.

§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições:

o a) entrar o agente no território nacional b) ser o fato punível também no país em que foi praticado c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.

§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:

o a) não foi pedida ou negada a extradição b) houve requisição do Ministro da Justiça”.

Pena cumprida no estrangeiro:

Artigo 8º do CP: “A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas”.

BLOG DIREITO UFPR, 21/05/2013

Pedro Wambier.