zona fractal

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ANDAIME ANDAIME ANDAIME ANDAIME FRACTAL FRACTAL FRACTAL FRACTAL [Danielle Spadotto e Felipe Ribeiro] [Danielle Spadotto e Felipe Ribeiro] [Danielle Spadotto e Felipe Ribeiro] [Danielle Spadotto e Felipe Ribeiro]

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arquitetura acústica

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ANDAIMEANDAIMEANDAIMEANDAIME

FRACTALFRACTALFRACTALFRACTAL[Danielle Spadotto e Felipe Ribeiro][Danielle Spadotto e Felipe Ribeiro][Danielle Spadotto e Felipe Ribeiro][Danielle Spadotto e Felipe Ribeiro]

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PlanialtimetriaPlanialtimetriaPlanialtimetriaPlanialtimetria

Tudo no texto é abstrato e duvidoso, estruturas linguísticas sobre a cidade de nus,apresentados ânimos para pesquisa, nós em nossos vãos e ofíciios, afectos que gerammodificações estruturais no corpo urbano. Performance poético-arquitetônica onde osprocessos mentais tornam-se criação para a produção de outra ala na Biblioteca da Babilônia.Grande entulho conceitual onde talvez se possa reciclar uma viga ou outra pra erguer umbarraco.

Prática arquitetônica (acústica sonora): Planialtimetria (audiometria), programa (programação),criação (transcriação), partido (orquestra), projeto (partitura), aprovação (crítica), executivo(soação), cronograma (ensaios), construção (gravação), ação (performance), azimutes (tons),coordenadas (escalas), cotas (arranjo), desejos (escutas), necessidades (ruídos), sensível(som), cognição (melodia), organograma (harmonia), fluxograma (progressões harmônicas),orientação (leitmotiv), antropologia (musicologia), percepção (audição), proporção (radiação epropagação), harmonia (estocástica), ritmo (pulso), função (música), forma (transmetria),escala (ponto de escuta), desenho (paisagem sonora), aprovação (duração). Náusea primeira:a espera (a pausa). Desenvolvimento (pesquisa), impressão (allure), cópias (fractais),burocracias (métodos). Segunda náusea: as restrições (limites do audível). Alvarás (estilos) eetapas (modas). Terceira náusea: a coreografia do possível (a dança sem coreografia).Maestria (aura), equipes (redes), previsão (devir), duração (improviso), terceirização (samples ecitações), limpeza (decupagem), canteiro (entrescuta), gerenciamento (cibernética), ponto zero(silêncio), estacas (axiomas), infra-estruturas (harmonias contextuais), estruturas(nanoharmonias espectrais), lajes (ressonâncias espectrais), vedação (reverberação). Náuseaquarta: o atraso (delay). Aberturas (barulhos inesperados), elétrica (estática), hidráulica(paixões musicais), caixilharia (fonomia, o nome do som), piso (cultura aural do público), pintura(fonótica), louças (modulações), metais (conexões com outros sons), acabamentos (libretos evideos), paisagens sociais (audível), ocup.ação (bioeco em interferência).

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Marca de EstacasMarca de EstacasMarca de EstacasMarca de Estacas

“O espaço não é o ambiente (real ou lógico) em que as coisas se dispõem,mas o meio pelo qual a posição das coisas se torna possível.

Devemos pensá-lo como a potência universal de suas conexões.”Maurice Merleau Ponty

O construtor africano de casas de adobe, intitulado curador de espaços (ambientalista strictusensu), queria que os espaços se tornem ao invés de nós os ocuparmos: espaçosespacializantes de eventos instantâneos. Espaço conectado ao tempo por suas tramas detemporalidades. Espaço sonoro em mídias molhadas onde a informação se sobrepõe àrealidade dos eventos numa velocidade em crescimento exponencial. Espaço-convivência comtodas as suas incoveniências.

De modo semelhante, os fluxos sonoros dos ruídos de Merzbow aderem à arquitetura acústicados espaços que antes já haviam vertido as formas a-rítmicas da Mersbau de Kurt Schwitters.O espaço sonoro (o audível), como já o notava Mcluhan, gera esta modificação de vivênciaplanificada dos espaços úteis à afetivação em ambientes de imersão.

Além de maquineísmos de interconexão estruturante da fenomenologia das percepçõesabstratificadas, quais os aromas locais? Era um balcão de bar de fórmica vermelha. Labores,trincheiras e as revoltas das saúdes, as posturas erigidas pelos desígnios da forma, ondetermina o espaço e começa sua ambientação dos sentidos? Quais as sinestesias impostaspelos estriamentos do movimento. A escolha dos ângulos dos cômodos projetam osmovimentos [os planos, reverberações sinuosas de correntes sísmicas de sensações esentidos] e tal como as maiores árvores fazem a curva da trilha [acumulam história emsuperfícies perplexas] e com o temporal caem sobre os automóveis mais brilhantes.

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Como reverter o efeito medusa sobre a música [sobre a cidade] , petrificada ao ver-se noespelho? Que encanto dormente é este dos desejos projetados na arquitetura [música-escuta]que impedem o fluxo de possibilidades de atuação sobre a experiência humana? Comodeixamos que os centros urbanos [a poesia ruidosa e potente] se tornassem outra forma dearquivo de corpos encarcerados? [de ação desejante e atada]

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Espaço e Lugar,Espaço e Lugar,Espaço e Lugar,Espaço e Lugar,

Audível e EscutaAudível e EscutaAudível e EscutaAudível e Escuta

“A cidade se move sob os pés distraídos do lugar-comum.”

Não há mais espaços naturais. O espaço como percepção humana (tal como o audível comolimite do sonoro) devido às suas puras abstrações de vértices e axiomas, geram umaimpossibilidade de relação não-artifical (a-naturante segundo Espinosa) entre um sujeito e esteobjeto-espaço. Mesmo a floresta tida como mais densa só permanece assim como um gestoarquitetônico. A amazônia é o jardim do mundo, esta selva de concreto.

Já o lugar está imbuído de significação pelo modo de habitação tal qual uma escuta individual oestá por seus focos e modos de ouvir, suas memórias afetivas com relação aos sons e àsmúsicas. Um novo lugar no espaço onde a manifestação do pensamento em detrimento dascorporeidades nos convidam àquilo que pode ser percebido como real. O espaço acústico é olugar da escuta, o espaço musical é o lugar do som. Isto pode ser só poesia.

As cidades são cemitérios mascarados, como as edificações neo-clássica são forjadas à formados mausoléus. A favela e as ruas são valas comuns. O cemitério é um shopping center.Estamos experimentando um mundo de abundância (até mesmo da ausência), um mundoregido por liberdade individual e liberaridade coletiva (calcados no auto e retro controles), pelainfinidade de territórios e escolhas. Neste contexto como poderíamos viver de modo a construirnovos sentidos com as inúmeras possibilidades disponíveis, tendo em vista o poder dasrestrições que nos cercam? Como não incorrer na guerrilha por territórios sonoros, masexpandir terrenos de escuta?

Qual é esta escuta acústica para além das músicas em busca de novas sonoridades? Comomanter a sensibilidade aberta e em contínua abertura, sabendo de nossos preconceitos

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musicantes, nossos pontos de escuta? O metrô é uma flauta vertebrada dos fluxos sonoros dacidade.

O urbanismo é a gestação deste outro espaço silencioso (mas um silêncio ruidoso queincomoda, não a solitude tácita do que nos cala por sublimação mas o que nos amordaça eentorpece). E qual a diferença entre estes espaços da solitude e da solidão? Qual o espaço doruído ao gerar uma escuta da transição (entrescuta). Moondog presenteando alguém na ruacom uma canção sem dono.

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Instante, Tempo e EventoInstante, Tempo e EventoInstante, Tempo e EventoInstante, Tempo e Evento

“Pixo como impressão arquitetônica do tempo.”

O espaço das locações é, enfim, substituído pelo espaço das linhas de fluxos. Proliferandosuas funções, os espaços dão vazão a diversas temporalidades; e a partir disto, os própriosespaços são reconstruídos de forma que permitam fluidez em seu exercício. Uma garagem queé um laboratório, uma pista de dança, uma capela e uma loja. Assim também, um ambientesonoro entra na escuta separando-se nos sons que so compõem, timbres em entranhamento.

Calendários de eras, estações dos anos nas estações de trens, agendas de meses e diários dedias, clepsidras de horas e ampulhetas de minutos do pulso marcando metrônomos. O sino é oprimeiro relógio das cidades que vai depois de tempos tornar-se a polifonia e de apitos defábricas.

As atualizações da vivência virtual ocorrendo à taxa de 60Hz dos monitores menos modernos,as tornam hiper-realizadas de experimentações em representação simbólica de vivências. Daíparte da sua hipnose. Outra advém, na população empregável no registro de admissões taiscomo entrevistas de emprego, editais, licitações; e na mais jovem como treino para o ministériodo controle do tempo (também conhecido como mercado de trabalho).

Como representar essa descontinuidade dos espaços em suas metamorfoses contínuas?Ninguém parava naquele banco. Como traçá-la? Todos ficavam de pé à beira da rodovia.Superá-la? Bebiam e conversavam de pé, do outro lado da rodovia. É interessante que acontinuidade seja superada? Ninguém sentava-se no banco do lado de cá. Ou sejatransformada de modo a ser percebida, ser integrada ao cotidiano como prática árquica.

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Os trânsitos de acasos que rompem com as estruturas psícofísicas dos corpos nos ambientes,como vislumbrar alguém que decide-se por dançar em pleno horário do rush na avenidacentral. Este corpo vibrátil gera uma arquitetura experimental (anarquitextura) não só para si,mas também para os encontros que o atravessam.

Como pensava Lefebvre, poderíamos acreditar numa territorialidade das possibilidades, doespaço não-construído, lugar inconstruível, tempo autônomo zoneado, de ordenação fluida dacomplexidade auto-gerida. Onto-latitudes e Onto-longitudes para o trânsito e criação de novaspaisagens (alterealidades) multifacetadas, interconectadas e ativas, onde a busca é pelorealizar(-se). Composição do espaço como uma série de linhas de fuga e ritornelos. Dentrodessa pluralidade escalar, novas geologias aurais cognitivas. As camadas de memóriasedimentadas grão a grão no culto das formas musicais. Samba na capela. Bach nasmarginais.

O tempo situando-se entre a paisagem movente e o que é ouvido (percebido, criado) é aapresentação da continuidade fluida da construção acústica e ainda outra transformação doterritório a operar encaixes das entrescutas no audível. Passa o avião, estrela da manhã. Acidade é a afinação dos intonarrumori. O futuro já passou.

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Trânsito e Movimento, DesertosTrânsito e Movimento, DesertosTrânsito e Movimento, DesertosTrânsito e Movimento, Desertos

“Não há saídas, só pontes estradas e avenidas.”Itamar Assumpção

Podemos pensar hoje, uma nova geografia. Uma geodinâmica de fluxos capitais,informacionais, uma geografia dos movimentos (transgrafia cartogênica) onde se vislumbra umurbanismo dos modos de arquia e textura. Movimentos de fracturas de estruturações préviasda experiência. Varèse ouvindo suas gravações ainda é Varèse e não o puro ruído dosdesertos concretos que são as cidades, Cage ouvindo Varèse ainda é Cage sonhando o acaso.Os desertos (the wasteland) como paisagem sonora do ócio. Mas entre nós e este silêncio,uma cidade rumina: paredes em decomposição, encanamentos, circuitos, suores, fezes,máquinas, motores a combustão.

O corpo como ressonância no meio das estruturações burocráticas de massificação da cidade:todos como iguais, que tentam manter de pé os circuitos elétricos mal utilizados , osencanamentos hidráulicos, o escoamento dos dejetos sem reciclagem para algum lugardistante, a habitação segregária e nossas posições de poder nos nichos urbanos, eprincipalmente tentando manter o movimento no meio da impossibilidade que o tráfico detráfegos gera em tal movimentação. O circo está armado, podem chamar o arado que andasozinho.

O recuo da bateria no sambódromo é a orquestra entrando a tocar no fosso da sala deconcertos, como a batida de um coração se deslocando até o centro do córtex e ali esperandoo movimento da manda entre as duas orelhas coletivas, os que já viram a procissão e os queainda não. Joãozinho trinta vestindo Wagner com sacos de lixo. As conchas acústicas e osjogos de búzios dos passatempos que toda cidade média tem? Ficam às moscas, devidamente

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policiadas para que não haja nenhuma banda de heavy metal acabando com o sossego dostranseuntes.

O transporte público é um terreno baldio rodeado de logomarcas de status por todos os lados,o corpo é um dejeto cruzando entre os fluxos de carros, e o automóvel é forjado à imagem deum templo à solitude individualista, espaço híbrido ícone do deserto. O ronco dos motores esuas metáforas predatórias, cheiro de flores e gasolina. O cluster cacofônico desemboca nodrone dos escultores de fragores e a música industrial se miniaturiza no Japão. Teu carro tãocaro não se move, tua argos tão muda não se muda, a roda é só outra engrenagem nesta linhade montagem... e eis a maldição de Ford. Depois andar a pé no meio do mato. Onde?

No âmbito púbico quem é que dinamiza a cidade, quem é que a transforma, quem a move(além do mito religioso do capital financeiro), que desejos erguem as vigas? Ouço os lugaresnômades criados por mendigos, por ambulantes, por ocupações artisticas, artistas de rua, - asignificação está no sujeito, na relação criada, não no espaço. É algo que se carrega consigo, éa possibilidade de criação, é a criatividade propositiva entre o sujeito que a dinamiza e oespaço em si. Lugares nômades nos espaços de trânsito, lugares de afeto. Que lugares sãoesses?

El toponômade, com suas nuances imateriais: topografias, sobre-camadas, a rede de cinemas,a rede de coletivos artísticos, as festas, os mritos urbanos, os lugares de contemplação, demanifestações, de vazio e silenciares. Uma escuta que conecta sonoridades, e mais ainda, queconecta outras escutas de maneira quase hidráulica, o ouvido como o coração é, afinal, umaválvula a vapor. Se o corpo humano é mais água que animal, o caracol é mais concha quepérola.

Acúmulo de ações significativas, decantações dos fluxos, impregnação dos gestos na crosta.Cruzam o meio da quadra, edifício antigo, cantar na subida do morro é diferente, pátio interno,corredores, arcos ogivais, ante-câmaras, pé-direito, jardim, silêncio. Zom de luz pisca-pisca denatal fora de época. Qual o lugar sensível que a arquitetura física nos leva? Pão de açúcar,praça dos três poderes, memorial da américa latina, porque guinle, parque da luz, ccbb,voodoo, ponto de ônibus, minha casa, o espaço entre o armário do quarto e os portais dolouvre, minha roupa arca com os espaços de conexão sensível entre nós, nossas anotaçõesdinamitam todo este texto abaixo e riem de nós, seus desenhos.

Abre-fecha, expande-contrai, o que fica disso tudo? Escalas, trânsito entre o público e oprivado. O espaço é uma porta e o tempo uma sanfona. Ulysses lembra a Benjamin que já nãohá espaço ou tempo para flanar.

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Misantropia Urbanística, Florescentismo,Misantropia Urbanística, Florescentismo,Misantropia Urbanística, Florescentismo,Misantropia Urbanística, Florescentismo,

Descartografia e CryptoflorestaniaDescartografia e CryptoflorestaniaDescartografia e CryptoflorestaniaDescartografia e Cryptoflorestania

“A cidade é o romance da pedra.”

Por conta do confinamento dos corpos, do aumento do controlo de fluxo dos trânsitos, a mais-valia dos avatares em detrimento das subjetividades, vemos uma crescente do processo deindividuação egoística. Os jardins fechados, as praças engradadas, os campos cercados, osítios privados, o loteamento e a loteria da Babilônia.

É proibido morar na rua, é foda morar na periferia sem acesso a bens culturais, não há maisbens naturais que não sejam tratados como atração turístico-comercial, não há mais espaçosde convivência gratuita (o prazer como commodity), e a especulação imobiliária impossibilita ahabitação. E quando todos quiserem conhecer o santuário, quem vai recolher as garrafas derefrigerantes?

Como a arquitetura pode promover espaços e tempos de percepção do agora e do aquidespojada de uma obrigatoriedade programática prévia? Arquitetura fluida, assim como ohumano? Como pode a sonorizaçao promover a escuta sem a obrigatoriedade das hierarquiasde fala ou da partitura? Musicalidade fluida, que aceita o ruído como parte da evolução naturaldo sistema acústico? Quais as bases de uma atuação submidiática no campo da vivênciacotidiana?

Juntar pessoas que nunca se conheceram numa cidade à qual nenhum deles pertença. Alugaruma casa em ruínas. Reformá-la e habitá-la por um período fechado de tempo. Geraratividades que sirvam de disparador para a cultura local. Deixar um ponto de cultura com esteencontro como base da mitologia poética dali.

Faróis, vermelho, verde, a coreografia urbana cotidiana, insana, finais de semana, comoorquestrar depois do ensaio felliniano do caos industriante? Cidadecaos, como subverter seus

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códigos? Calçada, lugar de trânsito, esquina, espera, encruzilhadas, praças calçadas, a gentenão fica, a gente passa. Dança! Quebra-corpo, quebra-copos, cadeiras. O que pode ocupar arua e acessar seu corpo subjetivo? Penso agora no carnaval, virada cultura o que resta dogesto? O mágico em frente ao metrô, o canto do camelô.

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Favela, o Cristal e da CidadeFavela, o Cristal e da CidadeFavela, o Cristal e da CidadeFavela, o Cristal e da Cidade

"Quando a cidade será um grande centro de pesquisaspara descobrir as coisas do universo e da vida,

para conhecer a alma humana?"Flávio de Carvalho

Há uma favela no sonho desperto da sambista na mesa do bar (talvez a chamássemos cavela),espaço cristalizado pelos hábitos de gente, relação de vizinhança e intimidades desabrochadasà praça pública. Nesta, a transparência do cristal derrubou as paredes entre os cômodos.Organização afetiva dos lugares através de mecanismos de fluidez. Uma das qualidades maisinteressantes dos cristais é sua habilidade de encapsular partículas estranhas, espaçogeofágico.

Cristais são exemplo ancestral, nas mais diversas culturas (tal como crystalpunk), deorganização simétrica fractal tanto visível quanto molecular. Formalmente, a favela não denotatal simetria, mas suas estruturas psicogeonâmicas (relações de micro-poder atuante e nano-potência religiosa) se embasam nesta cristalinidade. Atlan fala da vida entre o cristal e a

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fumaça, ordem paralizante e evanescência gasosa. O tráfico é a fumaça no sonho dela, todosos tráficos. Principalmente o tráfico de tráficos.

Cristais são grandes produtores vibracionais de ruído. Ruído este que move a primeiraengrenagem dos relógios sob a precisão do quartzo. Quais ressonâncias e proteções acústicasdevemos pensar para uma cidade de cavelas sem incorrermos no higienismo próprio daarquitetura contemporânea? Quando o arquiteto pergunta, a sambista ri e taca o relógio nochão. Dança com sua cintura de ampulheta e canta em alto brado uma ciranda sobre ostrabalhos e o dia.

A favela, como exemplo de auto-gestão e organização é um modelo catalizador. Para aconstrução de Brasília, foi necessário um acampamento periferial de casas de saco de cimento(Sacolândia). O que está implicito nesta afirmação é a escala, a escala de aproximação edistanciamento, sinestesias de calango sob o Sol a projetar o macrochip processador de umanação sobre os mitos do quartzo que subjaz a capital. A árvore que brinquei a duas semanasatrás é a mesma que agora brinca o garoto. O banco onde sentei me perguntou como nosaproximamos, que tom usamos, como acessamos? Qual é esta arquitextura literante?

O policial bate no artista de rua, proibido de atuar, mero camelô de afetos. O onibus aumenta,pedágio do movimento no centro implodido. A higiene quer aumentar o preço da muamba eexpulsar a eletrecidade da luz. Santa If, o garoto de joelhos pede, se puder mantenha ochurrasco grego.

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Maquineísmos da MoradiaMaquineísmos da MoradiaMaquineísmos da MoradiaMaquineísmos da Moradia

“Muito mais comodidade para o sua vida e a de sua família!Áreas Verdes, playground, churrasqueira e tudo o que sua família precisa!”

A planta livre, a abertura de espaços privados e as incontáveis formas de vigilância dosterritórios, das geografias dos recursos arquitetônicos e de suas identidades (feudos, Brasília,favelas, etc...), o centro e suas infra-estruturas, as periferias dormitórios, espaços públicos esuas ressonâncias.

O sonho do último morador: ao levantar-se o espelho está à sua frente, senta-se e a cadeira jáestá lá, a mesa surge com a comida, levanta-se e é vestido, senta-se e o escritório já o põe emofício. Sem pausas, sem tempo, sem espaço, só habitação da vida pela função. Caracol-girassol numa toca repleta de ninhos que fica dentro de um ovo, numa colméia onde girinosfundem constelações.

O trem no túnel, o motor elétrico, a reverberação de menos de 0,1 segundo convoluindo ometro como sendo arrastado submerso por uma onda, as vibrações subterrâneas da cidade,radiações da televisão emudecida do vagão, rumores de quinze tocadores de som aos ouvidosdos calados, ninguém ousa palavra, você ri.

Cozinhar é um luxo. As áreas comerciais fantasmas de Brasília e os jardins suspensos doaterro do Flamengo. O toque de recolher de São Paulo. Como abrir os condomínios fechados,estes novos muros de Tijuana, Gaza ou Berlin? O fim do horário de trabalho e a produçãoonírica de espacialidades surreais.

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Escuta Ubíqüa,Música e Arquitetura da Informação

"Um mapa do mundo que não inclua utopias, não merece nem mesmo uma espiada.”Oscar Wilde

Com o crescimento exponencial da utilização dos enredamentos sociais virtuais, como osespaços públicos urbanos de encontro vêem suas arquiteturas abandonadas.

A arquitetura física ainda é necessária, mas não pode mais se limitar pelas condições estáticasde um local definido, mas como arquitetura de dados no espaço. Somando a isto a crescentevirtualização dos encontros, é necessário pensarmos uma arquitetura dos encontros em umfavorecimento espacial ao encontro físico entre pessoas. A transarquitetura da Argos para seadaptar às situações e a travessia do navio a vapor por sobre o morro puxado pelos índioscontratados para fazer o filme, no qual Fitzcarraldo vence sua aposta.

Acesso à área reformada de acordo com a especulação vigente, movimento de commoditiesacomodados na cadeira sob cada cidadão. O da poltrona levanta e vai até a lavanderia (somde dutos de ar quente - bafo escaldante) casa das máquinas, manutenção do gerador,encanametos e conduítes elétricos. A escuta fágica dos filamentos moleculares das harmoniasintracontextuais, o modo como comemos os gárgulas e as dobras rococó com os olhos. Fila

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para a saída, faixa de pedestres. Fluxo da água e de pessoas, o fluxo da energia e o fluxo dotrabalho. Log-a-ritmo, cartão de ponto, ponto nenhum (trabalho incessável), som, céu, sino. Àsvezes tenho a impressão de que há mais automóveis que gente aqui. Máquinas em pseudomoto-perpetuo.

Se um certo tipo de música consegue reunir tanta gente num espaço público, consumo deprazer que se tornou, que arquitetura molda os modos deste encontro para a realização destecabresto acústico? Qual é a sala de concerto da contemporaneidade? É possível ainda umamúsica na contemporaneidade? Não chegamos à saturação do código musical assim como aarquitetura chegou a um limite material e geométrico das formas e o urbanismo se deparoucom o fim espacial do mundo? Como seria produzida uma escuta popular complexa o bastantepara aceitar os ruídos como forma de composição musical dos espaços aurais e das acústicassubjetivas?

Relações de densidade e harmonia, construção e composição, altura e timbre, entrada de solno ambiente urbano e das músicas estrangeiras num sistema fechado, espaços abertos esistemas integrados, espaços fechados e hierarquias simpáticas (criação nepotística dasmáfias), meios de quadras. Escadlas do público privado.

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Espaços Lacônicos,Vão Sinestésico entre Desertos

“A Grécia é o único lugar do mundo onde os turistas vão para visitar terrenos baldios.”Henry Miller

Mas não bastam ser conectados os conceitos como os monumentos arquitetônicos (ruínasincluídas), eles devem também se articular, devem se afetar, sensibilizar mutuamente, a si eaos outros. Nem a sala de concerto nem os templos inspiram mais a devoção do silêncio,automóveis estupram seu espaço aural.

Pensar cantando, andar sonhando, raciocinando imagens em movimentos. Pequenas brechasacausais de rompimento das estruturas da arquestratégia do uso temporal. Ritualizar eemprenhar a cidade de poesia. Dar-se tempo. Moldar vazios necessários, lembrar-se pernasque o caminhar faz caminhos..O organismo urbano como organismo humano (orgaurbehumano?), possui um imensodesconhecido, abandonado, o espaço não percebido, o terreno vazio convive com a melencoliae seu mistério, a desconfiguração do tecido e suas descontinuidades. As I sit... In a fourcornered room...

E se derrubássemos os muros? E se derrubassemos os muros para fora e para o vizinho, seabrissemos um quintal comum, se deixássemos que essas quadras se tornassem semi-

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permeáveis, multiplicando os espaços de interação de cada uma delas. Se cada vizinhoquebrar as barreiras de seus lotes, criando mini vizinhanças a cada quadra, ele teria aindaassim a propriedade, porém ele partilharia do espaço comum dinamizado. Polifonia dasformações subjetivas e arquiteturas escalares.

Kaspar Hauser sonha antes da morte, ele vê uma caravana liderada por um velho cego. Elesparam no meio do deserto perante uma montanha e se acreditam perdidos. O velho cego dizque a montanha é uma ilusão e que devem seguir através dela. Hias escuta seu coração decristal ressoar, pessoas subirão à montanha e se entreolhando elas paralizarão e seconverterão numa floresta de pedra. Sem rubis, orelhas tolhidas por ratos, uns não confiandonos outros nem, para sentarem-se no mesmo banco de uma praça.

Quem arca com os sonhos da cidade para reformarmos as fossas todas das relações destecanteiro de obras?

Construir não passa de uma viagem em um barco rio acima rumo à materialização de umdesejo inicial sempre frustrado nas partes de seu fluxo que negam a gravidade do caso. Eis oedifício erguido, quem habitará este texto? O programa em arquitetura é a manifestação dodesejo do outro. O partido, a racionalização da criação a partir do programa. Sincrotetura dasarquicrônicas. Artequietura nauseante de quem sonha a cidade em si, ruído delicado no tempoda terra, silêncio frágil na temporalidade das esperas, avesso ao instantâneo fotográfico e aofluxo musical.