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A Arte de Cantar

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Conteúdo

Introdução ........................................................................................................................ 3

Dicas de saúde vocal ..........................................................................................................5

Nosso instrumento vocal .................................................................................................. 6

Classificação vocal ............................................................................................................. 7

Sobre Respiração, impostação, ressonância .................................................................... 9

Trabalhando a técnica vocal ............................................................................................ 11

Preparação e aquecimento vocal ..................................................................................... 12

1) Exercícios de respiração e postura ........................................................................... 13

2) Sensibilização e ressonância .................................................................................... 13

3) Vocalizes .................................................................................................................. 14

O papel do fonoaudiólogo ................................................................................................ 14

A importância das aulas de canto .................................................................................... 16

Teste seu grau de cuidado com a saúde vocal ................................................................. 17

Interpretando as respostas do teste: ............................................................................ 18

Este e-book pode e deve ser distribuído

livremente desde que não seja alterado

seu conteúdo original, sendo vedada a

venda ou revenda total ou parcial de seu

conteúdo sem autorização do autor

Joaber Manhães Sales. Consulte a lei

9610/98 e a http://www.bn.br/portal






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Introdução

Este pequeno guia, tem como função difundir um pouco sobre técnicas

vocais e técnicas utilizadas no canto, talvez um pouco mais sobre a técnica do

canto, como aperfeiçoá-la e que cuidados devem ser tomados para manter a boa

saúde vocal.

O canto costuma ser uma atividade prazerosa para a maior parte das

pessoas, incluindo as que aparentemente não levam muito jeito para a coisa. Há

quem se envergonhe de cantar na frente dos outros, porque reconhece que não

canta bem, ou porque já ouviu muitas piadas e críticas à sua performance vocal...

Mesmo esses, na solidão do chuveiro e de outros espaços, talvez também nos

karaokês mais descontraídos, experimentam sensações agradáveis ao soltar a voz

naquele refrão que toca sua alma.

Nada disso é por acaso. Cantar é mesmo uma atividade poderosa, capaz

de proporcionar uma série de benefícios para o corpo, a mente e as emoções. Não

se diz por aí que “quem canta, os males espanta”? Pois a ideia tem muito

fundamento. Algumas melhorias são bem evidentes, como a da frequência

respiratória, da frequência cardíaca, da concentração e da memória. Outras são

sentidas de maneira mais subjetiva, como a expressão das emoções, o

desenvolvimento da criatividade, um alívio para dores físicas e psicológicas... Até

a autoestima se reforça, o que ocorre também com o sistema imunológico dos

praticantes do canto.

Motivos não faltam para aprender, desenvolver sua técnica, treinar e

cantar cada vez mais e melhor. Seja qual for o estágio em que você se encontra,

sempre haverá o que aperfeiçoar para tornar seu canto mais bonito, preciso e

apreciado. É extremamente recomendado que se conte com o auxílio profissional

nesse processo. Muitos dos problemas que podem comprometer o desempenho

de sua voz cantada podem ser evitados a partir de uma série de atitudes voltadas

à promoção da saúde vocal.




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Dicas de saúde vocal

Alguns cuidados com a saúde vocal e a com a saúde geral podem ajudar

bastante na conservação da saúde e da qualidade da voz. Veja algumas indicações:

Evite fumar, consumir álcool e drogas. Esses elementos, além de

nocivos à saúde geral, são extremamente agressivos ao trato vocal

Procure evitar ou minimizar hábitos vocais inadequados como

pigarrear, tossir, gritar, entrar em competição sonora em locais

barulhentos, falar ou cantar por muito tempo, cantar sem

aquecimento adequado, cochichar... A prática frequente dessas

ações causa desgaste, cansaço e muitas vezes disfonias vocais

(dificuldades na emissão/rouquidões)

Hidrate-se muito bem, sempre. As bebidas mais saudáveis são a

água e os sucos de frutas. Os sucos cítricos favorecem a retenção

de líquidos e a lubrificação das pregas vocais

Se possível, evite expor-se a mudanças bruscas de temperatura

Em locais com ar condicionado, intensifique a hidratação

Evite o uso abusivo de condimentos e de bebidas quentes e geladas

Cuide da qualidade de sua alimentação

Use roupas confortáveis, que permitam ao corpo movimentar-se

livremente

Esportes como natação e caminhada estão entre as práticas mais

favoráveis aos cantores, pois não exigem movimentos bruscos que

provocam tensão muscular

Fique atento às alterações hormonais, elas podem trazer

alterações vocais

Atenção e cuidado também com as alergias, que devem receber

acompanhamento médico e podem requerer empenho

diferenciado na limpeza dos ambientes frequentados e no local de

sono, além de outros cuidados como o uso de roupas feitas de

tecidos de fibras naturais e hidratação mais rigorosa.






Profissionais de otorrinolaringologia e fonoaudiologia são fundamentais

para o diagnóstico e a orientação sobre problemas vocais. A disfonia – dificuldade

de emissão da voz com suas características naturais – merece atenção por parte

do cantor. Caso perceba-se sensação de cansaço durante a fala ou canto, ardência

ou dor na garganta, perda de voz ou rouquidão que perdure por mais de dez dias,

é importante consultar um desses profissionais para investigar melhor os

sintomas e tomar as medidas necessárias.

Nosso instrumento vocal

Do mesmo modo que um violinista ou um pianista precisa conhecer bem

o instrumento que toca, é importante para o cantor conhecer a constituição e o

funcionamento do seu instrumento vocal. Antes de enfocar a laringe, o órgão

fonador por excelência, cabe destacar a função essencial da respiração para o

canto. Para utilizarmos melhor a nossa capacidade respiratória, é necessário que

preparemos as estruturas envolvidas no processo, tais como os pulmões,

musculaturas abdominais e intercostais e diafragma, esse um músculo muito

importante que controla a entrada e saída de ar dos pulmões. Durante o canto, é

preciso controlar bem esse conjunto de músculos, o que pode ser desenvolvido

com exercícios específicos ensinados em aulas de canto e também em sessões de

fonoterapia. Respirar bem é aspecto fundamental para um bom cantor. A fluência

e adequação nesse processo, além de melhorarem o canto e a fala, trazem

benefícios para a saúde geral e contribuem para o alívio de tensões.

A laringe – Trata-se de um curto canal localizado no pescoço, cujo

comprimento no adulto está entre 4 e 5 centímetros. Em sua parte superior, a

laringe comunica-se com a faringe. Já na parte de baixo, ela é continuada pela

traqueia. Muito mais do que um tubo que permite a passagem de ar que se dirige

aos pulmões ou que deles sai, a laringe tem a importante função de emitir a voz.

As responsáveis diretas por essa tarefa são as pregas vocais, situadas no interior

do canal laríngeo. As cordas vocais são constituídas por pregas músculo-

membranosas dispostas horizontalmente e que fecham de modo parcial o canal

laríngeo. O expulsar do ar por elas as faz vibrarem, produzindo o som pelo qual






nos comunicamos. As pregas são fibras elásticas que se distendem ou relaxam

pela ação dos músculos da laringe, com isso modulando e modificando o som que

nos permite toda a variedade sonora que produzimos ao cantar ou falar.

Dependendo da tensão aplicada às cordas vocais, elas produzirão sons

mais ou menos agudos. Um músculo muito delgado que compõe essa estrutura,

o tíreo-aritenóideo, tem sua tensão regulável pela nossa vontade. Através do

cérebro, os estímulos são transmitidos ao nervo laríngeo inferior e esse faz

contrair ou relaxar o músculo. Como consequência, a fenda glótica – espaço

compreendido entre os bordos das cordas vocais – se alarga ou se restringe,

segundo o caso. O ar que passa pela glote provoca vibrações de intensidade

diversa, cada uma delas correspondendo a uma nota musical ou a um som

elementar.

O timbre da voz, essa característica que dá a identidade vocal única de

cada pessoa, depende essencialmente da forma da própria laringe e pode variar

na dependência das diversificações que afetam esse órgão. No homem, antes da

puberdade, o canal laríngeo tem uma secção redonda e a voz é ainda de soprano.

Com o desenvolvimento sexual, a secção torna-se elípitica, devido à mudança de

forma da faringe, o que torna o timbre de voz mais grave. Já a mulher não

apresenta mudanças de aspecto na laringe, ficando sua voz geralmente mais

aguda e mais metálica que a do homem.

Classificação vocal






Imagem: Vancouver 125 – The City of Vancouver, CC BY 2.0

Como se verifica nos instrumentos musicais, a voz humana também

apresenta uma extensão é uma tessitura em notas musicais. A extensão

compreende todas as notas passíveis de serem produzidas por um indivíduo,

enquanto a tessitura consiste em um intervalo um pouco mais restrito de notas

que podem ser produzidas com precisão e qualidade mais apuradas. Estima-se

que cada pessoa nasça com a possibilidade de cantar com mais beleza e facilidade

cerca de 14 notas musicais, ou duas oitavas. De acordo com as classificações

geralmente aplicadas ao canto lírico, as vozes são qualificadas como soprano,

mezzo-soprano ou contralto, para mulheres e tenor, barítono ou baixo, para

homens.

Veja uma referência genérica que corresponde às tessituras mais comuns

relacionadas às classes de voz mencionadas (lembrando-se que Dó 3 é o dó central

do piano):

Soprano – Dó 3 a Dó 5

Mezzo-soprano – Lá 2 a Lá 4

Contralto – Fá 2 a Fá 4

Tenor – Dó 2 a Dó 4

Barítono – Lá 1 a Lá 3

Baixo – Fá 1 a Fá 3

Vale ressaltar que dificilmente uma voz não desenvolvida por aulas de

canto e trabalho de técnica vocal produzirá belos sons no total da tessitura

correspondente à sua classificação. Até mesmo para definir de forma apurada

onde a voz de uma pessoa fica mais adequadamente classificada é muito indicado

iniciar um treinamento formal para aprimorar emissões e passagens de registro

de som, por exemplo. O trabalho de ensino de canto não é rápido. É preciso testar,

ousar, experimentar exercícios diferentes, repertórios diferentes, visando

desenvolver a identidade cantada de cada um. O uso de vocalizes, com o auxílio

do piano, é muito importante para moldando a voz tanto para o grave quanto para







o agudo, expandindo os limites da tessitura. Isso deve ser realizado, claro, sem

esforço, com muita responsabilidade e trazendo segurança à emissão das notas.

Sobre Respiração, impostação, ressonância

Funções de execução importantíssima e sempre passíveis de

aprimoramento, a respiração, a impostação e a ressonância formam um tripé de

sustentação de uma boa voz cantada, que produz sons de qualidade em todas as

regiões de sua extensão. Nunca é demais frisar o quanto é importante respirar

adequadamente, desenvolver continuamente o controle sobre o processo da

inspiração e principalmente sobre a expiração do ar que está nos pulmões, já que

é na expiração que ocorre o canto.

A respiração é uma função que deve receber treinamento contínuo,

para que o cantor fique plenamente habilitado a realizar todas as manobras

exigidas nas mais variadas formas de frases musicais, de andamentos, alturas e

agrupamentos de palavras que constituem as obras que canta. Para ser efetivo no

canto, o treino respiratório precisa ser sistemático e contínuo. É com o tempo e a

repetição de exercícios específicos que se alcança o domínio sobre o processo.

Entre os objetivos do treino constante está o de tornar a inspiração praticamente

imperceptível. Também a sonorização treinada deve resultar de um ótimo

aproveitamento do ar, que deve aos poucos conseguir ampliar sua quantidade de

armazenamento e ser expelido de forma mais lenta e controlada, contando com o

apoio diafragmático.

Conhecido também como suporte ou apoio respiratório, o apoio

diafragmático acontece quando o diafragma está contraído (abaixado) e os

músculos de toda a cinta abdominal sustentam as costelas abertas, aumentando

a capacidade torácica e impedindo que o diafragma relaxe e se eleve, expelindo o

ar de maneira súbita. Desse mecanismo depende nosso controle da saída de ar e

da pressão com que esse ar é expelido. Se a pressão for baixa demais, o ar não

transmitirá energia suficiente para que as pregas vocais ajam de forma plena. Já






uma pressão forte demais resulta em constrição na laringe, o que acaba por

causar tensão em toda a estrutura que a cerca, gerada por mecanismos de

compensação a que o corpo acaba lançando mão para “corrigir” a emissão

problemática.

Outra base de sustentação da boa voz cantada é a impostação. Embora

o termo tenha sido empregado originalmente para definir uma técnica do canto

lírico, trata-se de um fundamento útil a todo estilo de canto, responsável por

tornar a voz consistente e por minimizar os esforços para o cantor. Emprega-se

menos força para produzir o som, além de conseguir um ajuste do trato vocal para

potencializar os ressonantes. Entre as características da impostação está o

rebaixamento de laringe e a elevação do véu palatino, além de outras condições

mais complexas.

A ação de impostar a voz corresponde ao uso de todos os recursos

técnicos disponíveis, tais como respiração, apoio, articulação e ressonância, de

modo a evitar que a voz soe em lugares que podem prejudicar o canto, seja na

garganta (voz gutural), no nariz (voz anasalada) ou na faringe (voz entubada,

abafada). O objetivo a atingir é a emissão de uma voz equilibrada, que faça uso de

todos os pontos de ressonância, procurando sempre colocar a voz e a pressão do

som para cima, preenchendo toda a cabeça, principalmente a máscara.

Dependendo do timbre do cantor ou do gênero musical, geralmente

definem-se como três principais as maneiras de se executar a impostação vocal.

No canto lírico, fala-se em impostação total, tipo que surgiu na Itália como “Bel

Canto”. É um estilo muito utilizado em óperas, com trabalho feito principalmente

em cima de vogais. Já no tipo de impostação denominado impostação da fala,

bastante utilizado no canto popular, não há a preocupação em igualar a voz, mas

sim em aproveitar o timbre particular de cada cantor e sua região mais

confortável de notas musicais para cantar. Um terceiro tipo de impostação é

conhecido como impostação mediana ou belting, a forma mais empregada nos

musicais, que está numa posição intermediária entre os dois modos de

impostação citados anteriormente, usando recursos de ambos.

A função primordial da ressonância é amplificar o som produzido na

laringe pela vibração das pregas vocais. Quando a massa sonora que vem da







laringe passa pela faringe e alcança nossas caixas de ressonância, essas atuam

como espécies de amplificadores que potencializam e projetam os sons. As caixas

ou cavidades de ressonância são espaços que temos em nosso corpo,

especialmente na cabeça, onde o som pode circular e aumentar de volume, antes

de ser projetado.

Nossas principais cavidades de ressonância são os pulmões, a laringe, a

faringe, a boca, os seios da face, os maxilares e os ossos da cabeça. Os pulmões

ressoam nos graves. Já a laringe é o local onde o som é gerado e começa a se

espalhar pelo trato vocal. Na faringe, a voz começa a tomar volume. Seu espaço

pode ser ampliado com o gesto de um bocejo, que faz a língua descer, a faringe se

expandir e o céu da boca se elevar. Trata-se de um ajuste muito adequado para a

colocação da voz e para a ressonância.

A boca, ou cavidade oral, é importante porque ajuda o som gerado e

ampliado a ser articulado e projetado. Abrir a boca é importante para que o som tenha

por onde sair, e para que não procure outros caminhos, como o do nariz, e não faça

pressão contrária na faringe e laringe. O seio frontal, os seios etnoidais e os maxilares

constituem os principais espaços que temos no rosto, fazendo com que a voz ganhe um

colorido especial. É importante trabalhar a região para obter um equilíbrio de

ressonância e também para ajudar na graduação de volumes que não sejam compensadas

usando o nasal. Muitos dos ossos de nossa cabeça estão associados às cavidades do rosto,

por isso também auxiliam na ressonância, especialmente o crânio. O som se propaga pelo

rosto e, pela vibração, alcança também o crânio, que ajuda muito na amplidão do som e

na sua projeção.

Trabalhando a técnica vocal

Chama-se de técnica vocal um conjunto de procedimentos que visam a

melhor compreensão e consciência corporal, intelectual e emotiva, propiciando

assim uma utilização eficaz, saudável e prazerosa da voz, tanto falada como

cantada. Entre os principais pontos trabalhados pela técnica vocal estão:

Postura corporal e mental

Respiração e apoio diafragmático










Ressonância e articuladores

Informações básicas sobre saúde vocal/corporal

A técnica vocal geralmente é trabalhada por meio de exercícios de

autopercepção corporal e sensorial: relaxamento, alongamento, exercícios de

respiração, de emissão sonora, de treinamento auditivo, entre outros. Quando se

trabalha a emissão sonora, por exemplo, é possível proporcionar aos praticantes

uma sensibilização das ressonâncias, dos articuladores e da relação entre a

produção de som e a respiração “baixa” (diafragmática), trabalhando a

possibilidade de apoio vocal. Também se estimula a reflexão sobre a importância

da saúde corporal geral para uma boa qualidade vocal.

Para tornar mais claro o entendimento sobre a percepção e uso do

aparelho fonador, cabe ressaltar que as ressonâncias para as quais se faz um

trabalho de sensibilização dizem respeito ao uso da faringe, boca e nariz – nossas

cavidades de ressonância – e seu funcionamento como amplificadores naturais

da voz. Já os elementos articuladores consistem em língua, lábios, mandíbula e

palato (céu da boca), responsáveis pela projeção da voz. As pregas vocais

(também chamadas de cordas vocais) são pregas de mucosa com musculatura que

se localizam no interior da laringe, em posição paralela ao chão. A passagem de

ar pelas pregas vocais, quando falamos ou cantamos, faz com que estas vibrem e

produzam sons.

Preparação e aquecimento vocal

Imagem: University of the Fraser Valley, CC BY 2.0








O aquecimento vocal é essencial para todo cantor, de qualquer estilo

musical. Para aprender a realizar um aquecimento vocal não é necessário que se

faça anos de aula de canto, ou que se tenha total conhecimento dos músculos do

trato vocal que estamos utilizando. É importante ter consciência de que as pregas

vocais são músculos, e que, como todo músculo, precisa ser aquecido antes de

uma atividade mais intensa, para evitar sobrecarga, uso inadequado ou um

quadro de fadiga vocal. Veja algumas dicas para uma realização simples dessa

importante etapa pré-canto:

1) Exercícios de respiração e postura

→ De pé, solte a coluna, dobrando o corpo para frente, respire e sopre – observe

a respiração. Volte lentamente à postura ereta, desenrolando a coluna, vértebra

por vértebra, a partir da bacia, sempre com os joelhos destravados.

→ Espreguiçe-se. Alongue o tronco e as costelas. Abrace sua cintura e sinta a

respiração. Faça percussão do esterno – osso central das costelas – com som,

deixando o som chegar à voz. Enquanto produz pequenas batidas com a mão no

osso esterno, emita algum som contínuo, como uma vogal, e perceba a vogal

percutindo junto ao movimento.

→ Realize sopros articulando “sss”, “ffff”, “chch” e sentido a força abdominal para

expirar.

2) Sensibilização e ressonância

→ Faça vibrações de lábios e língua em “brbr” e “prprpr” emitindo sons em

glissando – escorregando na emissão das notas musicais para cima e para baixo

(exemplo: do ~ sol ~ do), sem parar por muito tempo em nenhuma nota.

→ Percuta os ossos da face e da cabeça (dê batidinhas com a ponta dos dedos em

vários pontos de ambos).






→ Faça caretas, como que espreguiçando os músculos da face. Gire a língua

lentamente, por fora dos dentes e mantendo a boca fechada, cinco vezes para cada

lado, sem parar na transição de um lado para o outro.

→ Execute movimentos verticais de mastigação, fazendo sons na região média da

voz, observando ressonância ora nos lábios, ora nos dentes, ora no nariz.

→ Emita sons em boca chiusa (com a boca fechada). Exemplo: do – re – mi – re

– do, na região médio-grave.

3) Vocalizes

Vocalizes são exercícios vocais feitos geralmente por meio da emissão de

vogais ou sílabas em escalas ascendentes e descendentes, sempre respeitando a

tessitura de cada voz.

→ Comece sempre na região médio-grave das notas e vá subindo, sem exageros,

somente até a região médio-aguda. Lembre-se de intensificar o “sopro” (emissão

e sustentação do ar) ao subir na escala, sentido a expansão lateral da cintura e

abrindo “espaço” na parte interna da boca (levantando o palato) para facilitar a

emissão dos agudos.

→ É importante que o maxilar não esteja tensionado. Deixe-o à mercê do som,

tente não conduzi-lo. A língua deve ficar no “chão” da boca, sem tensão, para trás.

Buscar um som com metal (brilho) e veludo (corpo).

O papel do fonoaudiólogo

Nem todas as pessoas, mesmo as que se dedicam à prática do canto, têm

indicação para ser acompanhadas por um fonoaudiólogo, embora seja sempre

benéfico e desejável que tenham orientação de um professor de canto para a

atividade. As funções desses dois profissionais não se confundem nem

concorrem, cada um tem seu importante papel a exercer no sentido de promover







um padrão de canto adequado e a saúde vocal do cantor. Nos casos em que há

patologia laríngea detectada, porém, a atuação conjunta do fonoaudiólogo e do

professor de canto é necessária. Sempre que houver dúvidas ou tiver sido notada

alguma alteração na voz com a prática intensa do canto, ou mesmo

preventivamente, antes desse trabalho mais frequente com a voz cantada,

recorrer a uma avaliação fonoaudiológica pode ser essencial para sanar o

problema ou para impedir que este se agrave.

A função do fonoaudiólogo em relação ao cantor é orientá-lo para que o

uso de sua voz ocorra sem exageros e esforços desnecessários, tendo como

consequência sérios prejuízos no seu trato vocal. Já as mudanças na estética

vocal, realizadas com segurança, são o foco de atuação do professor de canto.

Ambos têm como meta trabalhar a voz cantada sem danos ou prejuízos orgânicos

e/ou funcionais.

Os conhecimentos da fonoaudiologia podem auxiliar os cantores a obter

uma melhor conexão com o que é o seu instrumento de expressão artística (todo

o seu corpo), extraindo dele um som e uma qualidade musical ainda mais

completa e consciente. O fonoaudiólogo tem como foco de estudo e de atuação

toda a fisiologia vocal, seus órgãos, suas funções, disfunções e patologias. Ele

pode trabalhar desde a orientação na parte de técnica vocal, percebendo esforço

muscular, ataque glótico, ressonância desequilibrada, articulação imprecisa, até

o tratamento de patologias nas pregas vocais como fendas, nódulos, pólipos, entre

outros. Um exame otorrinolaringológico é geralmente solicitado antes de um

tratamento fonoterápico, para que se tenha a exata constatação de presença de

alteração ou não dos órgãos envolvidos na fonação. Outras áreas que podem

interferir na produção vocal, como audição e linguagem, também estão entre os

focos de estudo e observação dos fonoaudiólogos.







A importância das aulas de canto

Imagem: Hans Splinter, CC BY-ND 2.0

Cantar é sobretudo uma atividade física, muscular e racional, na qual

existe um gasto real de energia. Por isso, é importante estar descansado e

alimentado antes de cantar, estando preparado para o consumo de energia.

A aula de canto é fundamental para o desenvolvimento e aprimoramento

da voz cantada. Mesmo que se esteja em terapia fonoaudiológica, visando

trabalhar alguma questão determinada, essa não supre o trabalho realizado na

aula de canto. Contar com a orientação de um professor de canto não é algo que

só se aplique ao canto lírico, como alguns pensam. As aulas também não irão

“mudar o timbre de sua voz”, ou fazê-la ficar “impostada”, ideias preconceituosas

geradas pelo desconhecimento do aprendizado direcionado do canto. Todo estilo

musical pode e deve ser aperfeiçoado com aulas de canto.

O bom trabalho de técnica vocal promove o autoconhecimento e a

sensibilização do praticante. O raciocínio lógico e a sensibilidade decorrentes da

técnica vocal como vivência estruturada e estruturadora de vida são incorporados

pelo cantor e transferidos tanto para a execução de obras do repertório quanto

para todas as facetas de sua atuação como indivíduo e como integrante da

sociedade. É a oportunidade de cada um de descobrir-se, assumir-se como

instrumento, instrumentista e luthier (quem fabrica o instrumento). A

experiência gera bons frutos que vão muito além do aspecto musical em si.








Teste seu grau de cuidado com a saúde vocal

Como um último tópico de nosso pequeno guia, proponho a você que faça

um pequeno teste, sendo assim observe as perguntas a seguir, reflita e anote

quantas vezes você responde afirmativamente aos questionamentos apontados:

Ao final de um dia de trabalho (ou apresentação), você percebe sua voz mais

fraca?

Você canta com muita frequência?

Sente dores na região do pescoço?

Quando você canta, leciona ou fala em público, suas veias ou músculos do

pescoço

saltam?

Você fuma?

Costuma cantar ou ensaiar durante horas seguidas?

Você se automedica quando tem problemas na voz?

Você canta em diversos tons?

Você tem faringite, amigdalite ou laringite frequentes?

Após cantar você sente dor de cabeça?

Quando você canta acompanhando um cd, por exemplo, você segue sempre o

tom do cantor?

Você tem resfriados frequentes?

Você pigarreia muito?

Você tem alergia das vias respiratórias?

Você tem dificuldades digestivas? (azia, úlcera, refluxo gastresofágico)






Interpretando as respostas do teste:

Conte o número de vezes que você respondeu “sim” às questões acima. Se

o resultado for um número acima de 4, você deve ficar atento e procurar tomar

alguma providência no sentido de modificar seus hábitos. Se o número de itens

marcados com resposta afirmativa for acima de 6, é altamente recomendado que

você procure um especialista para que ele avalie o estado de sua laringe e de suas

pregas vocais. Essa quantidade de indícios já merece atenção imediata, para que

se possam evitar problemas mais sérios no futuro.






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