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Abas

House, uma das séries americanas de televisão maisassistidas no Brasil atualmente, apresenta Gregory House,um médico brilhante e sarcástico que, com a ajuda de suaequipe, desvenda os casos bizarros que chegam ao HospitalPrinceton-Plainsboro.

Dotado de um humor extremamente ácido e uma totalinabilidade para lidar com as pessoas, o Dr. House desprezaa humanidade e repele qualquer possibilidade deenvolvimento, por mais superficial que seja. Apesar de seujeito rabugento e de sua indisfarçável frieza, que muitasvezes resvala na crueldade, o protagonista cativa otelespectador pela perspicácia com que analisa os sintomasmais incomuns e produz os diagnósticos mais precisos einesperados.

Os casos mostrados na série são tão inusitados que éinevitável para o público questionar a veracidade dasconclusões apresentadas. Será realmente possível um casode malária no cérebro? Uma raríssima doença genéticapoderia ser descoberta porque a paciente cancelou umaconsulta oftalmológica? E os tratamentos nada ortodoxossugeridos por House, quando ele recomenda o fumo paracurar uma doença inflamatória no intestino ou algumasdoses de uísque para sanar um caso de envenenamento?

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Afinal, o que é verdade e o que é ficção nessa intrigantesérie de TV?

Andrew Holtz estudou as principais obras da literaturamédica e entrevistou diversos especialistas – médicos,enfermeiros e professores – para compilar os maisextraordinários casos e os mais surpreendentes tratamentosjá vistos na prática da medicina. Em um texto que consegueconciliar inteligibilidade para os leigos e riqueza de detalhespara os iniciados na ciência médica, o autor desvenda osmistérios que instigam a curiosidade de todos que assistema um dos seriados mais populares da atualidade.

Andrew Holtz é jornalista especializado em medicina emestre em Saúde Pública. Foi repórter da CNN e atualmentetrabalha como autônomo, produzindo matérias nas áreas demedicina e saúde. É membro do conselho da Associação deJornalistas Especializados em Assistência Médica dosEstados Unidos.

Contra-capa

Como pode um adolescente quase morrer com sarampo semnunca haver entrado em contato com o vírus? E alguém jáviu o cérebro ser afetado por um verme parasita? No popularseriado americanos House, o ranzinza mas genial Dr.

Gregory House trata de doenças tão insólitas que fazem com

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que os telespectadores imaginem se há alguma autenticidadeou se os diagnósticos são pura invenção.

Com uma linguagem acessível e dinâmica, Andrew Holtzapresenta o resultado de uma extensa pesquisa em buscados casos mais peculiares que o irreverente protagonistatrata na série que mistura medicina diagnóstica cominvestigação detetivesca.

A meus pais, Merriman e Carolyn Holtz, por seu amor eapoio, e pelas oportunidades maravilhosas.

A minha esposa, Kelly Butler Holtz, por seu amor ecompanheirismo, mas particularmente por administrar nossacasa e nossa família enquanto eu escrevia este livro.

A nossos filhos, Aaron e Judy, por suportar minhasausências em longas jornadas de trabalho.

SUMÁRIO

Introdução: Como identificar zebras

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1. "Doutor, não me sinto muito bem."

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A apresentação dos pacientes aos médicos. A maioria dosqueixos são comuns, mos de vez em quando há uma "zebra"à espreita na solo de exames.

2. Investigação e sondagem

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O exame. O que os médicos procuram.

3. Vamos fazer alguns testes

67

Os testes e dispositivos usados paro ver os pacientes pordentro.

4. Há um computador na casa?

101

Simplesmente há informação demais paro o médico dominare muito pouco tempo paro absorver todos os dadosproduzidos por laboratórios e aparelhos.

5. O quadro branco

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Cópias idênticos do quadro bronco de House estão emtodos os hospitais, cheios de anotações sobre os sintomasdos pacientes, suas prováveis e improváveis causas, e ospossíveis alternativos.

6. Vamos fazer você se sentir melhor

143

A escolho do tratamento correto. A curo completo pode serilusão e os opções nem sempre são ideais.

7. Zelo pelo paciente

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House tenta evitar os pacientes, mas o fato de enxergar suadimensão humana, e não vê-los apenas como uma lista desintomas, é fundamental para um atendimento médicocompleto. A confiança de House em remédios potenteslevanta dúvidas... Assim como seu senso de ética.

8. Nenhum médico é uma ilha

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Os médicos são apenas uma parte das equipes deprofissionais de saúde. Os hospitais são comunidades comhierarquias e culturas, regidos por regras e regulamentos, e

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monitorados por grupos de profissionais e pelo governo.

Epílogo

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Índice remissivo

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INTRODUÇÃO

Como identificar zebras

Todo estudante de Medicina já ouviu esta máxima sobre odiagnóstico: "O barulho de cascos que você ouve atrás desi, em geral, não é de zebras”. Fora da África, evidentemente,barulho de cascos geralmente indica a presença de umcavalo.

O seriado House apresenta uma equipe de especialistasmédicos, liderada pelo Dr.

Gregory House, cuja função é identificar zebras médicas,aqueles casos surpreendentes em que o som dos cascos nãoanuncia cavalo algum. Quando uma mulher jovem eaparentemente saudável tem uma convulsão e de repenteperde a capacidade de falar, House e sua equipe encontramuma tênia em seu cérebro, e não o tumor inicialmente

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considerado. Quando um jogador de rúgbi de 16 anosapresenta visão dupla, a causa não é um acidente no campo,mas um vírus mutante alojado em seu cérebro.

O personagem Gregory House em parte é baseado nofamoso detetive ficcional Sherlock Holmes e, como Holmes,o Dr. House está pronto para se valer das mais improváveisdeduções para solucionar os mistérios com os quais depara,assim que todas as demais possibilidades são eliminadas.Verdade seja dita, os médicos em House enfrentam umacombinação de casos bem peculiar e as doenças quedescobrem são, muitas vezes, raríssimas, mas isso nãosignifica que sejam totalmente impossíveis. Se você destilara experiência de milhares de médicos e milhões de pacientesao longo de muitos anos, bem, tudo que pode acontecerprovavelmente já aconteceu. Tênias e vírus mutantes sãoencontrados, embora raramente, nos cérebros de pacientesreais por médicos que não tinham a menor idéia de que umazebra bateria à sua porta naquele dia específico.

Embora Gregory House chegue a seus mirabolantesdiagnósticos com mais rapidez, charme e arrogância que osmédicos comuns, ele faz o que todos tentam fazer quandoconfrontados com um caso difícil: estabelece conexõescríticas entre pistas fracas para identificar e tratar a tempo osriscos médicos que ameaçam a vida dos pacientes.

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Então, como os médicos, seja em um consultório, no setor deemergência de um hospital ou em um importante centromédico acadêmico, concluem se as queixas dos pacientessão rotineiras ou alarmantes?

Nas próximas páginas, vamos repassar os métodos e osinstrumentos de diagnóstico e tratamento para entender osfatos e a ficção por trás de House. Todo caso está cheio deelementos desconhecidos no começo... E todo médico deve,rapidamente, tomar decisões preliminares sobre fragmentosde informações. O problema de algum modo representa umaameaça imediata à vida do paciente? É contagioso? Hánecessidade de intervenção urgente ou existe tempo parainvestigar todas as possibilidades?

Conversar com o paciente e realizar um rápido exame físico ésuficiente ou há necessidade de recorrer a testeslaboratoriais, exames radiológicos e outros procedimentosespeciais?

Os médicos fazem perguntas. Fazem um minuciosolevantamento do organismo de seus pacientes. Podemsolicitar exames, avaliações radiológicas ou procedimentosque os ajudarão a eliminar ou acolher diferentesdiagnósticos possíveis. Muitas das perguntas e opçõesnessa gama de decisões são influenciadas pelo ambiente emque se dá o encontro entre paciente e médico. Um médico de

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família pode ser capaz de estabelecer o elo entre os novossintomas e uma condição crônica que o paciente enfrenta háanos. Um médico da emergência agirá para determinarrapidamente se a vida ou os órgãos do paciente correm riscoimediato. Um especialista procura respostas para asperguntas específicas que levaram o paciente a seuconsultório. Um oncologista procura um tumor. Uminfectologista procura uma infecção. Um pneumologistainvestiga os pulmões. E assim por diante.

Embora a metodologia básica de diagnóstico aplicada pelosmédicos atualmente já venha sendo utilizada há um séculoou mais, os instrumentos disponibilizados pela tecnologiahoje em dia conferem aos médicos a capacidade de verrapidamente o que seus predecessores só viam tarde demais,durante uma autópsia. Microscópios eletrônicos, testes deanticorpos monoclonais, ultra-som, tomografiascomputadorizadas, imagens por ressonância magnética emuitos outros dispositivos e técnicas podem ser usados noprocesso. Mas essas ferramentas não fazem o diagnóstico;os médicos decidem quando e como aplicar testesespecíficos e depois como interpretar os resultados.

Começa agora uma jornada ao mundo do diagnóstico.

CAPÍTULO 1

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"Doutor, não me sinto muito bem."

Uma jovem de 29 anos que sofreu uma convulsão e perdeu acapacidade de falar. Um homem com uma freqüência cardíacatão acelerada que não bombeava o sangue direito. Umamodelo de 15 anos que de repente torna-se agressiva e, emseguida, desmaia.

Esses são alguns dos mistérios de House.

A princípio, todo paciente é um mistério. Muitos sãoresolvidos em questão de minutos.

Outros demoram mais. Alguns nunca são resolvidos. O Dr.Gregory House e sua equipe no seriado House enfrentamcasos difíceis, até mesmo bizarros, em cada episódio; maspraticamente todos os pacientes que procuram o Dr. Housetêm um histórico médico, mesmo que perguntas essenciaisfiquem sem resposta. Todos os pacientes consultaramvários médicos antes e foram submetidos a uma série detestes. House sabe que o paciente tem um problema sério,com uma explicação incomum.

Quando uma mulher que está dormindo 18 horas por diachega ao Dr. House no episódio “Fidelity" (“Fidelidade” 1-07), ela já passou por três médicos de emergência, doisneurologistas e um radiologista; por isso, o diagnósticoóbvio, depressão, já havia sido considerado e descartado.

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Quando um jovem recém-formado aparece sofrendo deespasmos com sensações semelhantes a choques, outrosmédicos já investigaram as hipóteses de deficiênciavitamínica, câncer, esclerose múltipla, neuropatias e algumaspossibilidades de intoxicação antes de encaminhar opaciente à equipe do Dr. House.

Os sintomas são, evidentemente, parte essencial dasinformações necessárias para fazer um diagnósticoadequado. Contudo, em geral, um conjunto de sintomaspode apontar para várias doenças. Essa lista de opções éconhecida como “diagnóstico diferencial”. Febre repentina,dor de garganta e fraqueza muscular são sintomas de gripe.Mas o mesmo conjunto de sintomas também aparece noscasos de dengue e em uma variedade de outras infecçõesvirais e bacterianas. Freqüentemente, sintomas semelhantesaos da gripe são o primeiro sinal de uma infecção por HIV.Os sintomas isolados podem ser muito difíceis de interpretar.

Por isso, como os médicos começam a trilhar o caminho parao diagnóstico certo?

O contexto é tudo. Por exemplo, nos casos em que opaciente tiver viajado recentemente para os trópicos, haverámaior probabilidade de ser dengue. No entanto, antes que omédico tenha acesso ao histórico clínico e pessoal dopaciente, antes que paciente e médico tenham tido a

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oportunidade de trocar uma palavra sequer, uma informação-chave é conhecida: o cenário em que o paciente seapresenta.

No jargão médico, “apresentar-se” é comparecer perante omédico com um problema ou queixa. A apresentação é acircunstância inicial de interação entre paciente eprofissional de saúde, antes de qualquer exame ou qualquertipo de teste. O paciente sente que algo está errado, ou algoacontece, um colapso ou uma convulsão, que mobilizaalguém a levá-lo para receber atendimento médico.

As circunstâncias iniciais em grande parte determinam oprocesso de diagnóstico primário. O paciente chegou deambulância? Foi andando até uma emergência? Marcouconsulta com antecedência om seu clínico geral regular? ODr. House avalia seus pacientes da clínica de modo bemdiferente dos casos desafiadores que lhe são indicados.

Ele considera que os pacientes da clínica têm enfermidadescomuns. Na verdade, no episódio “Sports Medicine”(“Medicina Desportiva”, 1-12) ele diagnostica quatropacientes em menos de três minutos, todos na sala de esperada clínica. Por outro lado, regularmente descartadiagnósticos comuns em seu quadro branco da sala deconferências, quando investiga mais a fundo os casos paraencontrar explicações raras. O contexto do primeiro encontro

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com o médico é uma pista importante.

Assistência primária

“Se você é o Dr. House e está naquele centro deatendimento terciário e o paciente está na unidade detratamento intensivo, isso significa que ele está muitodoente ou tem algo extremamente bizarro, porque foi pararnaquele ambiente”, afirma Rick Kellerman, médico de famíliaem Wichita, no estado norte-americano do Kansas, epresidente na gestão de 2006-2007 da Academia Americanade Médicos de Família.

“Um dos aspectos realmente difíceis da assistência primáriaé que atendemos pacientes que vêm diretamente da rua.Assim, algumas pessoas com dor de garganta estarão comamigdalite. Outras, com câncer no esôfago”.

De muitas maneiras diferentes, o primeiro médico a ver opaciente tem a tarefa mais difícil. Para o primeiro médico, umpaciente novo pode ser uma página em branco. O

problema ameaça sua vida ou é simplesmente incômodo? Elevai melhorar por conta própria ou a condição precisa sertratada?

“Acho que é incrivelmente difícil diagnosticar alguém. Para opúblico, freqüentemente parece que é muito fácil, mas, na

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verdade, é bastante difícil. Os pacientes não chegam com osdiagnósticos estampados na testa”, afirma o Dr. Kellerman.

Os pacientes chegam da rua, de maneira não-selecionada,com o que chamamos de problema não-diferenciado. Talveza queixa seja cansaço. O desafio é ir do "cansaço" para oque realmente está acontecendo com aquele paciente.

"O que o traz aqui hoje?"

Em geral, o encontro entre médico e paciente começa comuma pergunta assim. Mas o processo de diagnóstico muitasvezes já está em andamento. O médico talvez veja o pacienteno corredor ou na sala de espera. O paciente está ereto oucurvado, sentindo dores? Parece estar alerta ou tonto? Elecaminha com facilidade até a sala de exames ou não?

Em “Paternity” (“Paternidade”, 1-02), o Dr. House vê de suasala um jovem paciente no corredor e fica intrigado com amaneira como uma perna do rapaz se movimenta. O garoto eos pais não haviam prestado atenção ao espasmo muscular,mas esta acaba sendo uma pista crucial para explicar a causados outros estranhos sintomas que levaram o rapaz aohospital.

Interrupções

Assim como os médicos que fazem perguntas para sondar

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os pacientes, Gregory House está longe de ser o único queinterrompe as respostas deles.

Duas décadas atrás, pesquisadores gravaram dezenas deconsultas médicas para estudar as interações entre médicose pacientes. Em média, os médicos interrompiam ospacientes após apenas 18 segundos.

Menos de um quarto dos pacientes conseguiam concluirseus comentários iniciais sobre suas preocupações médicasantes de serem interrompidos.

Ao longo dos anos, não parece que a situação tenhamelhorado muito. Em 1999, outros pesquisadores analisarammais de 250 consultas realizadas em consultórios de 39

médicos de família, alguns dos quais haviam recebidotreinamento especial em técnicas de comunicação.

Embora os médicos tenham feito perguntas sobre aspreocupações dos pacientes na maior parte do tempo,deixaram-nos concluir suas respostas em apenas um terçodos casos.

O tempo médio até a primeira interrupção foi de apenas 23segundos.

Evidentemente, os médicos sofrem com a pressão de tempo,

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mas não economizam muito interrompendo os pacientes.Eram necessários menos de 30 segundos em média para queos pacientes terminassem de explicar quais eram suaspreocupações.

O processo que começa com uma pergunta abrangenterapidamente passa para o âmbito específico. Se o pacienteestá se queixando de "dor de estômago" então o médicopergunta onde exatamente é a dor. O médico pode pedir aopaciente que indique a fonte da dor. Está em uma área doestômago? Mais alto no esôfago ou no tórax? Mais embaixo,em volta dos intestinos ou na região do apêndice? A dor éconstante ou intermitente, com que freqüência aparece? Oque a faz aumentar ou diminuir? O paciente vomitou?

Dor de estômago por si só, como a maioria dos sintomasisolados, pode significar praticamente qualquer coisa. Achave para entender a queixa consiste em rapidamenteinvestigar a rotina do paciente, procurando combinações decircunstâncias que podem reduzir a lista de possibilidades.Por isso, os médicos talvez perguntem sobre alergias, casosde internação, cirurgias, doenças crônicas, fumo, uso deálcool.

Também é importante saber a situação familiar do paciente:casado, solteiro, divorciado? Tem filhos? Como vai otrabalho?

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Pode parecer exagero perguntar a um paciente com dor deestômago sobre sua vida em casa, incluindo talvez umhistórico sexual, mas o estresse está muitas vezes ligado àdor abdominal e o relacionamento sexual entre os cônjugespode ser um indício de estresse. Mais especificamente, nasmulheres, a dor abdominal pode ser um sintoma de doençainflamatória pélvica, talvez relacionada ao histórico sexual ouao uso de um dispositivo intra-urerino (DIU) paracontracepção. Como mostra este exemplo das várias pistasreveladas a partir de uma queixa de dor de estômago, aconversa inicial entre médico e paciente é, na verdade, umadança sofisticada.

É claro que muitas das perguntas levam a becos sem saída.Esse não é um desfecho ruim. Excluir possibilidades da listade doenças potenciais é um avanço.

O Dr. Kellerman compara a avaliação inicial de um pacientecom um jogo de memória.

Muitas peças são reveladas e depois viradas novamente,porque não coincidem. Mas, a cada lance, o número decasas que pode estar escondendo a peça procurada diminui.O padrão subjacente é revelado pouco a pouco e a metaaproxima-se de ser alcançada passo a passo.

Convulsões

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As convulsões atacam muitos pacientes do Dr. House. Naverdade, na primeira temporada, em praticamente metade dosepisódios alguém tinha uma convulsão...

Rapidamente seguida por gritos de "Ativan! Agora!"

Essa taxa de convulsões parece incrível, mas pode estar bemdentro do razoável para o tipo de paciente atendido pelo Dr.House. O tipo de convulsão em geral apresentado noseriado consiste em ondas súbitas de atividade elétrica nocérebro. Essas tempestades cerebrais, chamadas deconvulsões epilépticas, podem ter muitas causas.

"O número de disfunções que pode dar origem a eventosepilépticos é enorme", afirma o Dr. William J. Nowack,professor associado do Comprehensive Epilepsy Center doCentro Médico da Universidade do Kansas.

Mas ter uma convulsão epiléptica não significanecessariamente que o paciente tenha epilepsia.

“A epilepsia é mais do que uma convulsão epiléptica ou, deacordo com a mais recente definição, pelo menos umaconvulsão epiléptica e uma lesão cerebral que tornam aocorrência de outras convulsões mais provável. É umadoença crônica. Nem toda convulsão epiléptica é sinal deepilepsia. Pode haver casos agudos, como uma infecção nocérebro, um tumor, um derrame, uma lesão na cabeça e assim

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por diante, que irrite os neurônios a ponto de produzir umaconvulsão, a qual ocorre em um momento próximo da causa,mas a causa aparece e desaparece, e a convulsão não volta aocorrer. Isso é chamado de convulsão sintomática aguda.Não envolve necessariamente a presença da doença crônicada epilepsia, nem resulta nela", afirma o Dr. Nowack.

Também existem muitos eventos súbitos que podem dar afalsa impressão de ser uma convulsão epiléptica, mas nãosão, porque não apresentam sobrecarga elétrica no cérebrodo paciente. Outras doenças cerebrais, por exemplo, causammovimentos, espasmos ou posturas que podem serconfundidos com uma convulsão epiléptica. A dor crônica eo hiperventilação, batimentos cardíacos irregulares ouparadas cardíacas são algumas das muitas outras possíveiscausas de ataques súbitos. Alguns fatores, como uma lesãona cabeça, podem causar convulsões epilépticas ou ataquesnão-epilépticos.

Esses outros elementos podem ser tão traumáticos quantouma convulsão epiléptica, mas, como têm causas diferentes,exigem procedimentos diferentes.

O procedimento mais freqüente utilizado pela equipe do Dr.House diante de uma convulsão epiléptica é uma rápidainjeção de Ativan. O nome genérico do fármaco é lorazepam.Tomado diariamente na forma de comprimido ou solução,

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pode aliviar a ansiedade. Injeções de Ativan são comumenteusadas para interromper convulsões. Em geral, o Ativanfunciona, mas às vezes outros medicamentos se fazemnecessários.

"Basicamente, [o lorazepan] age na excitabilidade das célulasnervosas. O

medicamento os torna menos excitáveis. Funciona. Sealguém estiver em plena convulsão epiléptica, esta é umamaneira de acabar com a convulsão e evitar o que chamamosde status Epilepticus, que é um evento epiléptico contínuo",afirmo o Dr. Nowack. "O Ativan não é um tratamento delongo prazo, mas com certeza é muito bom."

É preciso ter cuidado na hora de injetar Ativan, porque, se ofármaco entrar diretamente em uma artéria, poderá causar umespasmo no vaso sangüíneo, interrompendo o fluxo naquelaárea. Em casos graves, o resultado de injetar Ativan em umaartéria pode ser uma gangrena, resultando em uma possívelamputação. O fármaco também pode causar excesso desedação.

O status epilepticus é uma emergência médica, e quanto maistempo se passar, maiores as chances de complicação. Já queas convulsões epilépticas tendem a se repetir e o Ativan éum tratamento eficaz anticonvulsão somente por um período

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limitado de tempo, o tratamento de longo prazo com outrosmedicamentos também precisa ser considerado. "A equipemédica precisa decidir se é o caso de um evento epilépticoou de outra condição, porque pode tratar erroneamente averdadeira causa do problema", avisa o Dr. Nowack.

Convulsões epilépticas como as vistas no seriado Houseparecem assustadoras. Com o paciente entrando em súbitaconvulsão, os olhos revirados e talvez até sufocando,parece óbvio que uma ação imediata é necessária parainterromper o ataque.

"É um evento dramático, sem dúvida alguma." No entanto, oDr. Nowack afirma que o que os médicos fazem depois derecorrer ao Ativan também é parte essencial do processo.

"O importante depois de controlar a convulsão é descobrir oque a causou em primeiro lugar", afirma o médico. "Em geral,uma convulsão epiléptica isolada dura menos de doisminutos e meio; e isso, por si só, não causa mal algum. Masexiste o risco de o paciente entrar em status epilepticus e deapresentar convulsões repetidas e prolongadas sem recobrara consciência. Pode levar até cinco, dez, trinta minutos oumais. E quanto mais tempo durar, maior será o risco de lesãoou morte. "

"É perfeitamente aceitável primeiro tentar cessar a convulsão

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para depois descobrir o que a causou."

Se médico e paciente já estabeleceram um relacionamento, oprocesso de diagnóstico pode avançar rapidamente. Talveza nova queixa seja outro episódio de um problema de saúdede longa data. Quando médico e paciente se conhecem, omédico já terá alguma idéia de como e com que extensão opaciente informa os sintomas. Ele tende a minimizar a dor?

Exagera a fadiga? Os tratamentos anteriores estãoregistrados, assim como há anotações sobre medicamentos,consumo de álcool, cigarro, tipo e local de trabalho,ambiente doméstico e muito mais.

O Dr. House muitas vezes comenta que "todos mentem".

"Eu não sei se todos mentem intencionalmente, não sei seconcordo com isso, mas existem certos pacientes que, sejapor meio de sua linguagem corporal, pela maneira comofalam, ou pelo que dizem, levantam suspeita. Vemos issocom mais freqüência entre alcoólatras e viciados em drogas.Outros podem não informar seu histórico sexual completo,por exemplo”, afirma o Dr. Kellerman. "Por isso, semprehaverá situações nebulosas em que não temos como saberse o paciente contou toda a verdade”.

Apesar do ceticismo agressivo de House, a maioria dosmédicos confia na veracidade do que seus pacientes

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informam a eles.

"Imagino que, na maior parte dos casos, se a pessoa está alino consultório é porque tem algum tipo de problema, existealgum sofrimento envolvido. Tento levar os pacientes asério, mas às vezes temos a nítida impressão de que algosimplesmente não está certo" afirma o Dr.

Kellerman.

Mentir sem palavras

O Dr. House acabou descobrindo uma mentira que ajudou aresolver o caso em

"Failure to Communicate" ("Falha na Comunicação", 2-10),embora o paciente não tenha contado uma mentira... Pelomenos não da maneira esperada.

O paciente procurou a equipe médica depois que começou aemitir frases sem sentido de repente; uma condição chamadade afasia. A palavra deriva do grego e quer dizer "sem fala".O paciente não entendia que as palavras que ele usava nãofaziam sentido para mais ninguém, porque havia algo deerrado na maneira como seu cérebro estava processando alinguagem.

"Com esse tipo de afasia, os pacientes parecem pensar que

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estão falando, ou seja, não têm consciência do problema enão conseguem entender a fala dos outros nem osproblemas com a própria fala. Em geral, considera-se queesses pacientes têm uma psicose, em vez de uma disfunçãoneurológica, porque sua aparência é normal, eles andam ecomem normalmente e não apresentam qualquer problemafísico aparente", afirma o Dr. James Kelly, da Faculdade deMedicina da Universidade do Colorado, em Denver.

No episódio de House, as pistas, como a fala do paciente,não faziam sentido, até que o Dr. House descobriu que opaciente fizera uma viagem à América do Sul para umacirurgia cerebral experimental. Ele não havia contado aninguém, nem mesmo à esposa. Depois de o segredo ter sidorevelado, concluiu-se que o problema era malária cerebral.Essa infecção parasitária não estava incluída na lista depossibilidades porque ninguém sabia que o paciente tinhaviajado para uma região em que a malária é endêmica.

O Dr. Kelly, que é membro da Academia Americana deNeurologia, afirma que, embora nunca tenha tratado um casode afasia causado por malária, existem alguns relatos naliteratura médica.

A malária ataca o cérebro em menos de um por cento doscasos, de acordo com o livro Neurology and GeneralMedicine. Entretanto, quando acontece, o prognóstico em

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geral é ruim. O livro afirma que até metade dos pacientes commalária cerebral morre.

A escolha do tratamento depende da espécie de parasita ese o paciente foi infectado em uma região em que osparasitas podem ser resistentes a determinados fármacos.

Como ocorre com tantos aspectos da medicina, a técnica nãoconsiste em meramente ler sinais e sintomas biológicos, mascompreender o paciente como pessoa. O médicosimplesmente não junta os sintomas; ele deve pesar asinformações, julgar sua precisão, suspeitar o que pode estarfaltando e decidir sua relevância para a necessidade imediatado paciente.

Síndrome de Munchausen

Karl Friedrich von Münchhausen era um nobre alemão doséculo XVIII conhecido por contar histórias. Dizia-se que elese gabava de ter voado em balas de canhão e viajado até alua. A ele creditam a autoria da frase "Subir por seuspróprios esforços". É assim que ele afirma ter se livrado dolodo em um pântano. As histórias de Münchhausen eramrecontadas e publicadas por terceiros. Seu nome tornou-sesinônimo de exageros e acabou ganhando significadomédico, a síndrome de Munchausen, que é uma disfunçãopsiquiátrica. Também são popularmente chamadas de

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doenças fictícias, pois os pacientes com essa síndromeapresentam o comportamento de pessoas que inventamsintomas médicos ou até mesmo se ferem de propósito parareceber tratamento.

A síndrome de Munchausen não é igual a fingir-se dedoente. No segundo caso os pacientes em geral têm algo aganhar fingindo que estão doentes. O exemplo típico é deum soldado que finge estar doente para evitar ser enviadoao campo de batalha.

O episódio "Deception" ("O erro", 2-09) retrata um pacientecom suspeita de síndrome de Munchausen. A históriamostrava um dos maiores riscos da síndrome: testes etratamentos prescritos com base em informação falsa podemlevar a lesões reais. A paciente foi submetida a uma série deprocedimentos invasivos, incluindo quase ter sua medulaóssea destruída por radiação.

Os pacientes também podem causar mal a si mesmos paracriar sintomas realistas. Em um caso, uma pessoa tentousimular o dano causado aos pulmões pela fibrose cística.Após a morte do paciente, um exame dos pulmões encontrougrandes quantidades de material cristalino. Aparentemente,o paciente havia aspirado talco. A deficiência respiratória erabastante real, ainda que a causa subjacente fossepsiquiátrica, e não genética.

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Às vezes, as mentiras e a realidade se cruzam. Os médicos naInglaterra relataram o caso de um homem que afirmou tersido diagnosticado como HIV positivo dois anos antes.

No entanto, seus novos testes sanguíneos revelaram-senegativos para HIV. Novos exames com testes maissensíveis mostraram que ele fora recentemente infectadopelo HIV. Embora não tivesse sido sincero quanto aosresultados de seus primeiros testes, no final das contas eleestava realmente infectado por HIV.

Então, mesmo que o paciente não esteja dizendo a verdade,isso nem sempre significa que ele não tenha realmente adoença.

As crianças são vítimas em uma variação perturbadora dasíndrome, chamada de Munchausen por procuração. Nessecaso, a pessoa com necessidade anormal de atenção é o paiou a mãe. O distúrbio psiquiátrico faz com que o paimachuque a criança. O pai, então, recebe a atenção e asimpatia naturalmente oferecidas aos pais de uma criançadoente.

Esses casos podem ser difíceis de descobrir. Às vezes,câmeras ocultas são usadas quando os profissionais desaúde desconfiam de que a fonte dos sintomas físicos dacriança envolve abuso por parte de um pai ou responsável

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com distúrbios mentais.

Às vezes as pessoas com síndrome de Munchausen estãono próprio serviço de atendimento médico. Dentro da lógicada síndrome, a forte atração pelo sistema de saúde podefazer com que trabalhos ligados a essa área sejam atraentespara essas pessoas. Um dos casos mais notórios é o daenfermeira britânica Beverly Allitt, que foi condenada em1993 pelo assassinato de quatro crianças e por injetarpotássio ou insulina em mais de uma dúzia de outrospacientes jovens.

Quando as pessoas procuram um médico, querem saber oque está errado com elas. É

um vírus? Pode ser câncer? E, embora alguns pacientesdigam a seus médicos o que acham que pode estar causandoaqueles sintomas, declarando: "Tenho uma infecção" ou“Tenho um tumor”, tudo o que geralmente sabem quandochegam à clínica ou ao hospital é que algo não vai bem.Procuramos ajuda porque estamos sofrendo, estamoscansados ou com constipação ou congestão. Cabe aomédico reunir as queixas apresentadas pelos pacientes ecomeçar a pesquisa para descobrir sua causa. Muitos dosproblemas apresentados encaixam-se em algumas categoriasprincipais.

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Problemas que mais aparecem na assistência Primária¹

PERDA DE PESO

Quanto peso o paciente perdeu? Se um homem de 90 quilosperdeu 4,5 quilos em seis meses sem fazer dieta, esse podeser um motivo de preocupação. Todas as opções podem serconsideradas, da depressão ao câncer, passando pelo HIV,embora em muitos casos a causa nunca seja identificada.

FADIGA

É aguda ou crônica? A fadiga aguda pode representar desdea pura e simples falta de descanso suficiente até problemascom medicamentos. A fadiga que dura mais de seis meses éconsiderada crônica. Entretanto, menos de cinco por centodos pacientes atendem aos critérios oficiais de síndrome dafadiga crônica.

TONTEIRA

Onde a tonteira parece afetar o paciente? Na cabeça ou nocorpo? Um dos primeiros passos é identificar o tipo detonteira. Pode ser vertigem, que é a sensação de que osobjetos estão se movendo ou inclinando. A tonteira podeser prenúncio do desmaio. Pode ser sentida como umproblema de equilíbrio ou de falta de firmeza ao ficar de péou andar. Também existem outros tipos de tonteira e ela

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pode ir e vir ou durar longos períodos.

TOSSE

Uma tosse é considerada crônica se durar mais de trêssemanas. As variedades incluem gotejamento pós-nasal,sintomas semelhantes aos da asma, tosse relacionada a aziaou problemas relacionados a outras causas.

DOR NO PEITO

É súbita e aguda o suficiente para o paciente não poderesperar pela consulta regular durante o horário comercial?Esse tipo de sintoma é chamado de dor no peito emergente.A dor no peito em geral é causada por uma distensãomuscular, azia ou algum outro problema relativamentesecundário; mas também pode ser sinal de um ataquecardíaco. O médico deve ________________

¹ Esses problemas comuns estão destacados no Manual ofFamily Practice, Roberr B.Taylor, M.D., ed. 2002.

determinar rapidamente se o problema é secundário ou umapossível ameaça à vida do paciente. Como o tempo éessencial no tratamento de um infarto, o público em geral éaconselhado a não esperar pela consulta regular masprocurar o serviço de emergência, só para prevenir.

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DOR ABDOMINAL

Assim como ocorre com a dor no peito, a primeira tarefa domédico é decidir se o problema coloca em risco a vida dopaciente. É um problema de estômago ou uma apendicite?

Outros problemas comuns apontados pelos pacientes paraos médicos de ambulatório incluem icterícia (uma coloraçãoamarela na pele e nos olhos), inchaço e dor na regiãopélvica. Dor nas costas é uma das queixas mais comuns;quase todos já sentiram uma vez ou outra. Quase sempremelhora por conta própria, mas a dor nas costas crônica éum dos problemas mais difíceis e frustrantes para a medicinamoderna. A dor nas costas pode impedir que as pessoastrabalhem ou apreciem outras atividades na vida, mas nãoexistem tratamentos eficazes e simples.

Sexsomnia (contração em inglês das palavras "sexo" e"insônia") É possível fazer sexo dormindo? Essa foi aexplicação que o Dr. House deu a uma paciente ambulatorialno episódio "Role Model" ("Modelo Exemplar", 1-17). Amulher apresentava sintomas de um aborto recente, masdizia não ter relações sexuais há quase um ano.

Fazer sexo durante o sono certamente vai muito além domero sonambulismo, mas alguns especialistas afirmam que ésemelhante a outros comportamentos que são chamados de

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parassonias. A parassonia e outros distúrbios do sonoafetam a maioria das pessoas em um momento ou outro navida. As parassonias mais conhecidas são enurese noturna,terrores noturnos e até mesmo ataques violentos dos quaiso atacante não tem qualquer recordação. As causas nemsempre são claras. Às vezes há um fator emocional ou umaexperiência traumática que afeta o sono. Álcool e outrasdrogas, incluindo medicamentos, podem afetar o sono. Noentanto, muitos episódios de várias parassonias podem ir evir sem explicação.

No outono de 2005, um homem em Toronto, no Canadá, foiabsolvido da acusação de estupro porque o juiz aceitou aexplicação de que ele estava dormindo durante o incidente.

O especialista em distúrbios do sono, o Dr. Colin Shapiro, daUniversidade de Toronto, testemunhou em sua defesa. Ele eos colegas propuseram que a sexsomnia fosse reconhecidacomo uma parassonia.

Existem apenas alguns relatos de sexsomnia na literaturamédica e ninguém sabe até que ponto esse distúrbio podeser comum. A condição pode afetar homens e mulheres.

Alguns casos, como o de Toronto, ganham destaque porcausa de uma queixa de agressão sexual. Entretanto, em umcaso, a parceira disse que o paciente tinha se tornado um

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amante mais gentil e amoroso durante o sono. Algunspacientes que sofrem de sexsomnia foram tratados comClonazepam, que geralmente é usado para tratar convulsõesou ansiedade.

Os pesquisadores afirmam que a sexsomnia não é igual àexcitação sexual comum durante o sono.

Aliás, o comportamento de comer durante o sonorepresentado pelo personagem dos quadrinhos Dagwoodtambém tem inspiração em fatos. Durante décadas, Dagwoodfez incursões noturnas à geladeira para devorar seusfamosos sanduíches gigantescos.

A síndrome alimentar noturna está descrita na ClassificaçãoInternacional de Distúrbios do Sono e envolve comida ebebida. A síndrome pode afetar até cinco por cento dapopulação, de acordo com alguns relatos. E, em homenagemao mais famoso, embora fictício, sofredor, o desejoincontrolável de fazer um lanche noturno é apelidado desíndrome de Dagwood, nos Estados Unidos. Para além dasperguntas sobre distúrbios do sono e suas causas, está omistério ainda maior que envolve o próprio sono. Embora omotivo fundamental para o sono ainda seja tema de intensaspesquisas, existe um consenso de que uma boa noite desono é essencial para manter a saúde e que não conseguirter um sono regular e relaxante é uma das fontes mais

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comuns de queixas de saúde.

A sala de emergência

Os pacientes do Dr. House freqüentemente entram pela salade emergência logo depois de ter um colapso, sofrer umaconvulsão ou algum outro ataque que cai como um raio docéu azul e límpido. Por exemplo, em "Babies and Bathwater"("Bebês e Banheiras”, 1-18), uma jovem grávida de repentefica desorientada enquanto dirige. Depois de parar o carro,ela desmaia. Em seguida, aparece no hospital, cercada pelaequipe de House.

Quando alguém chega à sala de emergência, o contexto éinteiramente diferente daquele estabelecido em um ambienteambulatorial. O médico e o paciente em geral não seconhecem.

Pode haver pouco ou nenhum registro médico disponível.Os sintomas provavelmente parecem graves e urgentes, pelomenos para o paciente.

“Quando vejo um paciente, independentemente da queixa,ou de quanto ele pareça bem, mal ou indiferente, procuro epenso nas causas possíveis mais ameaçadoras à sua vida”,afirma o Dr. Richard O'Brien, médico de emergência emScranton, no estado norte-americano da Pensilvânia, que éporta-voz do American College of Emergency Physicians.

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Ao considerar as possíveis causas dos sintomas de umpaciente em uma sala de emergência, não se trata apenas dograu em que determinada ameaça à saúde é comum ou rara.Diferentemente do médico de família, que primeiro tentaráeliminar as doenças mais comuns, o médica da emergênciaclassifica os possíveis diagnósticos de acordo com avelocidade com que avançam e sua potencial letalidade.

"Começo sempre pela pior possibilidade. Quando alguémchega e diz que está sentindo dor no peito, nem começopensando em ataque cardíaco; realmente não penso nisso.Começo considerando a possibilidade de dissecção da aortatorácica, que definitivamente é a pior condição capaz decausar dor no peito, porque pode matar em segundos.Quando alguém chega com alguma infecção, eu não pensoprimeiro em pneumonia ou infecção urinária, mas emmeningite meningocócica, que coloca em risco a vida dopaciente: porque na minha porta está escrito “Emergência”,afirma o Dr. O'Brien. "Procuramos primeiro aquilo que podematar, algo que pode mutilar o paciente em segundo lugar e,depois, podemos respirar fundo e, se encontrarmos outracausa, ou precisarmos indicar um especialista ou marcarexame, então prosseguimos nesse sentido”.

Em geral, os tipos de problemas de apresentação queaparecem na emergência dos hospitais são naturalmenteaqueles que parecem mais urgentes do que os sintomas que

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levam os pacientes aos médicos de ambulatório.

PROBLEMAS DE APRESENTAÇÃO COMUNS NAMEDICINA DE EMERGÊNCIA

• Dor no peito

• Dificuldade respiratória

• Dor abdominal

• Febre

• Tosse

• Lesões

• Perda de consciência

Quase metade dos pacientes no seriado House chega aohospital após sofrer um colapso, uma convulsão ou umderrame. Cerca de 14 por cento dos pacientes chegam deambulância nas emergências de verdade espalhadas pelosEstados Unidos. Aproximadamente um em cada cempacientes que chegam às salas de emergência estáinconsciente ou exige ressuscitação imediata.

Quanto mais dramáticos os sintomas de determinadopaciente na chegada à sala de emergência, mais diretos serão

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o diagnóstico e o tratamento. "Quando chegam muitodoentes ou com muitas lesões, não quero dizer que seja fácil,mas intelectualmente é: só há uma direção a seguir. Quandoalguém chega com uma taquicardia ventricular grave, usoequipamento de choque. Não há dúvida; ponto final”, afirmao Dr. O'Brien. “Entretanto, quando chega um paciente fracoe tonto que já teve isso várias vezes e você é oquadragésimo médico a vê-lo, bem, isso é difícil de resolver”.Os médicos ouvem o que os pacientes dizem, mas o corpodos pacientes também “fala”.

“É muito difícil fingir a transpiração, quando você está emuma sala com temperatura normal. Se estiver em um lugar emque realmente não deveria estar suando e está, então vocêestá doente. Se estiver em um ambiente com temperaturanormal e sua pele estiver fria e pegajosa, você está doente.Ainda não sei o que é. Talvez seja o nível de açúcar nosangue.

Talvez você esteja tendo um choque séptico. Talvez sejauma jovem que acabou de ter sua artéria ovariana rompidapor causa de uma gestação ectópica. Não sei ainda, masimagino que haja algo errado”, continua o Dr. O'Brien.

“Se não estiver conseguindo pensar direito, há algo errado.Tive uma paciente que era estudante de Letras e costumavaser muito eloqüente em suas falas, mas não estava

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conseguindo pensar direito. Você fazia uma pergunta e elarespondia, 'Onde está minha bolsa?

O que aconteceu?' Eu respondia, 'Não sei. A polícia acaboude trazer você aqui. Está doendo alguma parte de seucorpo?' E ela respondia: 'Bem, estou com um pouco de dorde cabeça.

Mas onde está minha bolsa?' E ela continuava repetindoisso, daí eu soube que havia algo errado”.

Os médicos de emergência nos Estados Unidos em geralenfrentam mais fatos desconhecidos do que seus colegasem outros países. Isso porque o sistema de assistênciamédica nos Estados Unidos é extremamente fragmentado,com fornecedores independentes que não compartilhaminformações com facilidade. Quando um paciente chega emuma sala de emergência, o médico de plantão talvez nãotenha informação alguma sobre o histórico do paciente. Emcontraste, na Suécia, noventa por cento dos clínicos geraismantêm registros médicos eletrônicos de seus pacientes.

De acordo com uma pesquisa internacional realizada peloCornmonwealrh Fund, os Estados Unidos estão atrás deoutros países de língua inglesa. Em comparação com aAustrália, o Canadá, a Nova Zelândia e o Reino Unido, osEstados Unidos tiveram o pior desempenho em termos do

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percentual de pacientes indicados para realizar os mesmosexames por médicos diferentes e o pior em termos de nãofazer com que os registros médicos ou os resultados dosexames cheguem aos cuidados do médico a tempo para aconsulta. Os defensores da idéia de haver registros médicoseletrônicos afirmam que eles poderiam ajudar a preencheressas lacunas de informação.

Um senador norte-americano, Dr. Bill Frist, escreveu umartigo a favor de melhores sistemas de registros médicoseletrônicos. “Os americanos precisam ter condições deacessar seus registros médicos onde quer que estejam. Issoé alta prioridade, porque os sistemas existentes como osVAś são inúteis fora das organizações que os criaram. Sedois turistas se envolverem em um acidente de carro aquilômetros de distância de casa, a sala de emergência para aqual forem levados deveria ter condições de acessar umsistema que possa apresentar seu histórico médicocompleto, suas alergias e informações sobre osmedicamentos que tomam. No momento, na verdade,regulamentações governamentais ultrapassadas impedemque muitos hospitais criem sistemas com essa finalidade”.

Evidentemente, trazer os registros médicos para o séculoXXI exigirá investimentos substanciais, não apenas emtermos monetários, mas também na reestruturação do modocomo os profissionais de saúde trabalham. Um relatório do

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Instituto de Medicina (IOM), embora defendesseenfaticamente o uso da tecnologia da informação paramelhorar a qualidade da assistência médica, incluía tambémalertas importantes.

"Embora os sistemas de informação computadorizadostenham ótimo potencial para melhorar a gestão dainformação, ainda são subutilizados ou implementados de talmodo que aumentam a carga de trabalho dos profissionais eda equipe de assistência. Isso é contraproducente e deve serevitado”, afirma o relatório do IOM.

O esforço para usar a tecnologia a fim de dar aos médicosmais informações para análise quando um novo pacientechega é apenas uma das mudanças que estão ocorrendo nofront da prática médica.

Ambulâncias

O trabalho de um médico de emergência é um poucodiferente quando os pacientes chegam ao hospital deambulância.

Antigamente, as ambulâncias eram caminhões oucaminhonetes adaptadas para receber a maca. Hoje em dia,algumas ambulâncias são verdadeiras salas de emergênciaem movimento. São equipadas com os mais sofisticadosaparelhos e a equipe de paramédicos ou outros profissionais

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médicos de emergência é altamente treinada. As equipes deambulâncias com sistemas avançados de suporte a vidafazem muito mais do que transportar pacientes; começam oprocesso de diagnóstico e até mesmo de tratamento muitoantes de o paciente chegar ao hospital.

A orientação para um tratamento de ataque cardíaco exigeque os atendentes estejam capacitados a usareletrocardiogramas a fim de diagnosticar o problema esaibam usar um desfibrilador para fazer o coração voltar aoritmo normal por meio de choques. Os desfibriladoresautomáticos estão bem avançados, permitindo que pessoascom pouco ou nenhum treinamento reanimem o paciente.

Fazer um diagnóstico certo nesse campo pode salvarminutos críticos, permitindo que os hospitais alertem suasequipes, preparem laboratórios de cardiologia ou salas decirurgia, e comecem o tratamento assim que o pacientechegar. Um estudo sobre os hospitais que demonstraram tero maior índice de sucesso na redução do tempo detratamento dos pacientes que precisaram fazer angioplastiasde emergência após um ataque cardíaco mostrou que essespassos mais importantes incluíam aparelhar e treinar equipesde ambulâncias para realizarem eletrocardiogramas emmovimento... e depois confiar em seus relatórios para acionaras equipes de tratamento antes da chegada ao hospital.

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A tendência em direção a estender o diagnóstico e otratamento ao cenário "pré-hospitalar" está avançando, comalguns sistemas hospitalares treinando suas equipes deparamédicos no sentido de administrarem drogas capazes deromper os coágulos sangüíneos que causam os infartos.

"Eles veem casos de dor no peito o dia inteiro. Umparamédico bom e experiente pode muito bem julgar agravidade do estado do paciente. Quando me chamam pelorádio para receber alguma instrução, atendo imediatamente,porque sei que, se estão precisando da minha opinião,significa que algo de muito grave aconteceu com opaciente”, afirma o Dr.

O'Brien.

Às vezes, a verdadeira apresentação do paciente aoprofissional de assistência médica ocorre após o diagnósticoe o tratamento, e não antes. Talvez o exemplo mais dramáticoseja o uso dos desfibriladores automáticos externos (AEDs,na sigla em inglês). Esses dispositivos podem diagnosticarcasos de fibrilação ventricular em alguém que desmaiouapós uma parada cardíaca súbita e, em seguida, enviarpotentes choques elétricos para fazer o coração cansadovoltar ao ritmo de batimentos normal. O uso dessesdispositivos requer pouco treinamento.

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Eles podem literalmente assessorar o técnico a usá-los pormeio de um procedimento com comandos de voz. Estãosendo utilizados por comissários a bordo de suas aeronaves,treinadores em eventos esportivos estudantis e em muitosoutros ambientes.

Um desfibrilador automático seria muito bem-vindo em"Heavy" (“Uma Questão de Peso”, 1-16). Uma menina de 10anos desmaia durante uma aula de ginástica. O professorpercebe que seu coração parou de bater e liga para o númerode emergência nos Estados Unidos, 91l.

Se o ginásio estivesse equipado com um dispositivo desses,o professor poderia ter tentado usá-lo imediatamente namenina, sem precisar esperar a chegada dos paramédicos.

Um número cada vez maior de escolas está comprandodesfibriladores automáticos externos, que custam por voltade mil dólares cada. Alguns estados norte-americanos atémesmo exigem que escolas ou academias de ginásticainstalem equipamentos desse tipo como medida preventiva.

Uma das instalações mais bem-sucedidas dessesdispositivos foi nos cassinos de Las Vegas. Uma análise deuma série de 105 casos de desmaios por fibrilação ventricularnos cassinos demonstrou que pouco mais do que metade dogrupo sobreviveu ao ataque e teve alta hospitalar. Essa taxa

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de sobrevida é muito maior do que a tipicamente encontradaem pacientes que sofrem de paradas cardíacas súbitas emgeral.

O tempo é absolutamente essencial nesses casos, porque ocoração cambaleante já não consegue bombear sangue parao cérebro. Na experiência dos cassinos, o pessoal desegurança tinha treinamento para acoplar um dispositivodesfibrilador ao paciente em média dentro de três minutos emeio após sofrerem um colapso. Em comparação, em média,foram necessários quase dez minutos para que os primeirosparamédicos chegassem. Sem dúvida, essa diferença de seisminutos é vital para a ressuscitação adequada de muitospacientes. Na verdade, três em cada quatro pacientessobreviveram quando submetidos a choques para que seucoração voltasse ao ritmo normal em três minutos.

Mais adiante vamos falar sobre outros exemplos de como atecnologia da informática está assumindo cada vez maistarefas que antes eram exclusividade dos médicos.

Comunicação

Evidentemente, pacientes e médicos precisam se comunicarbem para passar da fase de apresentação para a detratamento. Entretanto, nem sempre eles falam a mesmalíngua; ou seja, uma palavra que quer dizer algo muito

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específico para o médico pode ter um significadocompletamente diferente para o paciente. Isso pode seaplicar até mesmo a uma simples palavra como febre.

Por exemplo, uma pesquisa com pais que levaram seus filhospara o setor de emergência em hospitais de Cincinnatidescobriu que, embora a maioria das pessoas soubesse quefebre significa que a temperatura do corpo está elevada, elasnão estabeleciam a ligação entre essa definição geral e astemperaturas corporais específicas. Por exemplo, ospesquisadores escreveram que os pais podem afirmar queseus filhos tiveram febre durante vários dias, mas nãoespecificam que a temperatura corporal estava 38,8°C nosprimeiros dias e apenas 37,5°C

nos últimos dias. O detalhe adicional pode fazer toda adiferença no modo como o médico decide responder.

A pesquisa também revelou que, embora os pais em geralsoubessem o significado de termos como "diarréia" e“constipação”, não havia um consenso quanto aos detalhesque talvez fossem importantes para um médico. A maioriados pais não sabia definir “meningite”,

“letargia” ou “vírus”. Os pesquisadores responsáveis peloestudo afirmam que os médicos precisam ter certeza absolutado que os pais querem dizer, mesmo utilizando termos

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médicos aparentemente simples.

Naturalmente, a barreira da comunicação é mais radicalquando médico e paciente literalmente não falam a mesmalíngua ou vêm de culturas distintas. Diferençasmulticulturais e lingüísticas sempre ocorreram, mas estão setornando mais comuns à medida que as comunidades setornam mais diversificadas.

Cerca de uma em cada cinco pessoas nos Estados Unidosfala um idioma diferente do inglês em casa. A maioria falaespanhol, mas existem mais de trezentos idiomas diferentesfalados em todo o país. De acordo com o governo federal, aslínguas mais comuns depois do inglês e do espanhol sãofrancês, alemão, italiano, chinês, tagalo, polonês, coreano,vietnamita, português, japonês, grego, árabe, hindu, russo,iídiche, tailandês, persa, francês crioulo e armênio.

O Dr. House e seus colegas raramente encontram pacientesque não falam inglês fluentemente, embora as respostas aoCenso 2000 nos Estados Unidos indiquem que quase 1

milhão de pessoas no estado de Nova Jersey têm pelomenos algum tipo de dificuldade em falar inglês. Problemascom o idioma representam papel secundário no episódio"Humpty Dumpty" (2-03). O paciente, que trabalha na casada Dra. Cuddy, fala espanhol melhor do que inglês. Seu

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irmão caçula, que ainda está no ensino fundamental, aparecepara fazer algumas traduções informais no hospital.

Os regulamentos federais exigem que qualquer médico queaceite fundos federais (o que inclui médicos que tratampacientes cobertos pelos planos Medicare e Medicaid) tomeas devidas providências para atender pacientes comdificuldades na língua inglesa. Esses passos podem incluir acontratação de tradutores que estejam presentes na sala deexame ou ao telefone com o médico e o paciente.

Como a contratação de um tradutor profissional parecetrabalhosa aos médicos, alguns se valem da boa vontade deamigos ou parentes como tradutores informais, assim comoos médicos do Hospital Escola Princeton-Plainsboro fazemno episódio “Humpty Dumpry”.

Entretanto, essa prática nem sempre funciona bem. Ainformação pode ser passada de maneira velada ou poucoclara, dificultando o entendimento por parte do médico sobrea queixa do paciente ou impossibilitando que ele oriente ostestes ou o tratamento a ser seguido pelo paciente. Imaginea dificuldade enfrentada por um garoto de 12 anos que éforçado a traduzir as queixas de sua mãe sobre um problemaginecológico.

Um estudo demonstrou que a "interpretação ad hoc", ou

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seja, o uso de atendentes ou de outras pessoas que poracaso estejam disponíveis na hora, mas que não sãointérpretes profissionais, em geral leva a erros deinterpretação. Quase metade das palavras e expressõesutilizadas foi traduzida de modo incorreto. Além disso, essesintérpretes por acaso ouvem informações acerca do pacienteque devem ser mantidas em sigilo entre paciente e médico.

A própria cultura pode interferir na comunicação entrepaciente e médico. A seguir está a descrição constante dorelatório elaborado pelo Instituto de Medicina dos EstadosUnidos, chamado Unequal Treatment (Tratamentodesigual), de encontros hipotéticos entre um médico brancoe um homem de meia-idade latino-americano ou brancoapresentando sintomas que podiam estar relacionados aproblemas cardíacos:

“Vamos supor que o paciente latino e o paciente brancoestivessem apresentando exatamente os mesmos sintomas edescrevessem sua dor ao médico. Será que o médico chegaráà mesma decisão clínica para o latino e para o homembranco? A expressão dos sintomas da dor difere entregrupos culturais e raciais. Os médicos brancos simplesmentepodem entender melhor relatos de dor dos membros de seupróprio grupo racial. Quando o homem branco fala com omédico, este consegue entender bem o relato do paciente;quando o latino-americano conta sua história, o médico

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acompanha menos detalhes e capta menos pistas implícitas”,afirma o relatório.

Como resultado, mesmo quando não há qualquer tipo deprejuízo ou favorecimento, os dois pacientes com osmesmos sintomas podem ser encaminhados para realizarexames diferentes devido às diferenças culturais que afetama comunicação entre médico e pacientes.

Quando os pacientes se apresentam, os médicos sãotreinados a, primeiro, procurar as condições mais comuns emais perigosas possíveis. Esses são os casos com que eleslidam todos os dias e, por isso, nunca chegam ao Dr. House.Ele só quer tratar as zebras.

Zebras

Pergunte a um médico quando foi a última vez que ele viuuma zebra e quase todos saberão que você não está falandode um passeio ao zoológico ou sobre um safári na África.

No jargão médico, uma zebra é um caso estranho queaparece de vez em quando, quebrando a rotina e provandomais uma vez que todas as leis da probabilidade não excluemo improvável.

Algumas zebras causam perplexidade imediata, resistindo aqualquer tipo de categorização. Outras apresentam os sinais

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e sintomas de uma queixa comum... e só mais tarde revelamsuas verdadeiras características.

Ser uma zebra nem sempre é bom para o paciente. Podesignificar trilhar um caminho tortuoso, passando por váriosmédicos e clínicas... ouvir que não há nada de errado, sertratado equivocadamente por conta de um diagnósticoerrado ou ficar amarrado à frustrante e assustadora incerteza.Para os médicos, as zebras podem ser frustrantes e atémesmo enlouquecedoras, mas também são fascinantes. Aszebras alteram a rotina. Apresentam um desafio, umoponente à altura... algo que micróbios mundanos e queixascrônicas não conseguem oferecer. Na verdade, existe até umtermo que se tornou sinônimo de zebra médica e combina aspalavras "fascinação" com o sufixo "-oma”, que significatumor:

“fascinoma”.

O personagem Gregory House incorpora, ao extremo, essafascinação por casos peculiares. O Dr. John Sotos sabe bemo que é a atração por zebras médicas desde seu primeiro anona faculdade de Medicina, quando ouviu o aviso habitualcontra pensar em animais exóticos africanos ao ouvir o somde cascos nos Estados Unidos. Apesar do aviso e, naverdade, intrigado com ele, o Dr. Sotos começou acolecionar zebras, anotando suas principais características

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no que se transformou em seu livro Zebra Cards. Por fim, olivro foi publicado para ajudar colegas médicos a manteremsuas mentes abertas a possibilidades surpreendentes nahora de catalogar os sintomas de seus pacientes.

Para o Dr. Sotos, a surpresa é a principal característica deuma zebra médica. A raridade do quadro não é suficiente.Por exemplo, se o filho de um paciente com uma doençagenética extremamente rara também desenvolver a doença,ninguém ficaria particularmente surpreso.

O caso não seria uma zebra, mesmo que fosse um casoúnico, do tipo um em 1 milhão.

Uma condição comum também pode ser uma zebra. A cadaano, 1 milhão de pessoas nos Estados Unidos sofrem umataque cardíaco. Se os sintomas forem dor excruciante nopeito ou no braço esquerdo, não há elemento surpresaalgum. Entretanto, o Dr. Sotos observa que há uma dúzia decasos documentados em que uma dor de cabeça foi a únicaqueixa mencionada pelo paciente, que, no final das contas,estava tendo um ataque cardíaco; isso sim é uma zebra!

As dores de cabeça também podem ser causadas por umtumor, embora somente uma porcentagem extremamentepequena dos casos de dor de cabeça sinalizem tumorescerebrais.

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Será que essa é uma zebra? Bem, se for, as listras são bempequenas. Poucos médicos vão suspeitar de tumorimediatamente, mas, à medida que o tempo passa e outrasexplicações forem perdendo força, o tumor cerebral podesurgir como possibilidade na lista de opções.

Mas, como o tumor cerebral talvez estivesse no final da lista- e talvez fosse um dos principais temores do paciente -, elenão é um forte candidato a zebra.

As zebras são tão familiares aos médicos e aos estudantesde Medicina que parece que o termo sempre fez parte dojargão dessa área. Quem o cunhou? O Dr. Sotos afirma quepesquisou durante vinte anos e finalmente concluiu quemuito provavelmente o sentido do termo foi usadoprimeiramente pelo finado médico Theodore E. Woodward,que lecionou na Faculdade de Medicina da Universidade deMaryland, em Baltimore, durante quase cinqüenta anos. ODr. Woodward também foi indicado para o Prêmio Nobel erecebeu um prêmio do presidente Franklin D. Roosevelt porseu papel no desenvolvimento de tratamentos contra o tifo ea febre tifóide.

O Dr. Sotos afirma que, a partir da década de 1940, o Dr.Woodward alertava seus estudantes de Medicina: "Nãoprocurem zebras na Greene Streer' , fazendo referência à ruada Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland.

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Com o tempo, o conselho passou a ser mais geral: “Quandoouvir cascos atrás de você, não espere ver uma zebra”.

O Dr. Woodward faleceu em 2005, aos 91 anos, mas seuconselho a jovens médicos perdura. E serve de impulso àbusca em todos os episódios de House, em que o barulhodos cascos só é interessante se sinalizar algo diferente deum cavalo. Como o Dr. House afirmou no programa-piloto:“Vamos descobrir com que tipo de zebra estamos lidando”.

CAPÍTULO 2

Investigação e sondagem

A maior parte dos exames físicos vistos no seriadotranscorre em cenas rápidas na clínica que o Dr. House tantotenta evitar. No programa, essas seqüências rápidas são emgeral cômicas. Em um caso, uma mulher havia confundidogeléia de morango com gel espermicida. Em outro, o Dr.House insinua para um jovem paciente resfriado que eletalvez precise de um transplante para assustá-lo a ponto deobrigá-lo a fazer um plano de saúde.

As cenas da sala de exames da clínica podem parecerdigressões do roteiro principal do episódio, mas resumemmuito bem as principais características das consultas típicas.O

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paciente explica o motivo pelo qual procurou o clínico,motivo esse chamado de 'queixa principal'. Em seguida, asperguntas do médico começam a revelar os detalhes da“história da doença atual”. Durante essa sessão deperguntas e respostas há um importante equilíbrio entreidentificar os sintomas do paciente e investigar o corpo todoem busca de pistas cuja importância talvez nem sejapercebida pelo paciente.

“Com alguns pacientes, é preciso concentrar-se em apenasum aspecto. Se for uma erupção cutânea, concentre-se naerupção. No entanto, o médico precisa pensar no pacientecomo um todo, porque pode haver problemas associados”,afirma o Dr. Rick Kellerman, observando que outrosproblemas relacionados podem influenciar o diagnósticofinal.

Em "Sleeping Dogs Lie" (“Monstros no Armário”, 2-18), afalta de acompanhamento de uma erupção cutânea retardouo diagnóstico. A principal queixa da paciente era nãoconseguir dormir. A erupção que aparecera antes pareciairrelevante para ela. Não era.

Para cobrir todas as possibilidades, os médicos fazem aassim chamada revisão dos sistemas, que é um método paraverificar rapidamente o estado dos órgãos e das outraspartes do corpo. A revisão dos sistemas leva a discussão

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para questões específicas, direcionadas a revelarinformações que o paciente talvez não considere relevantesou importantes.

As perguntas da revisão dos sistemas incluem:

• "Você teve dor de cabeça?"

• "Como está sua visão?"

• ' Apresenta tosse?"

• "Como está seu apetite?"

• "As articulações estão doloridas?"

• "Seus pés e tornozelos estão inchados?"

A revisão em geral vai da cabeça aos pés... Assim como oexame médico que se segue.

E as perguntas também são agrupadas pelo sistema deórgãos. Perguntas relacionadas a alergias e ao sistemaimunológico tendem a caminhar juntas, assim comoperguntas sobre aspectos neurológicos e psiquiátricos dasaúde do paciente.

Todas essas perguntas fazem parte da construção dahistória médica do paciente, o importante contexto da queixa

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principal atual. No entanto, as perguntas não envolvemapenas a condição do paciente naquele dia. Os médicostambém precisam saber sobre o passado, sobre a família dopaciente e sua vida social e no trabalho, pois tudo isso temprofunda influência na saúde geral e nas questõesespecíficas do momento.

Apesar da afirmativa de que “todo paciente mente”, o Dr.House se vale muito das conversas com o paciente parasaber o que está acontecendo em sua vida, paracontextualizar sinais e sintomas. Em um episódio, o Dr.House observa que a paciente está usando óculos escuros erecentemente clareou os dentes. Assim, quando elapressiona o médico para resolver logo a gripe que teve umasemana antes, ele infere que a paciente está tentando seaproveitar de todos os benefícios do plano de saúde antesde sair do emprego. No primeiro episódio, a pele de umpaciente da clínica estava alaranjada porque ele comeugrande quantidade de cenouras e tomou suplementos deniacina. Mas o Dr. House também diagnosticou umcasamento fracassado, já que a esposa do paciente nemparecia se importar com o fato de que a pele do marido haviaadquirido uma estranha nova tonalidade.

Sintomas e sinais

Os sintomas são do que o paciente se queixa.

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Os sinais são o que o médico encontra no exame.

Há um tema e uma ordem comuns à maioria dos examesfísicos modernos, com variações que dependem do motivopara a consulta. Muitas vezes, antes do encontro entremédico e paciente, uma enfermeira verifica os sinais vitais eo peso do paciente. Os quatro sinais vitais são: pulso,pressão arterial, temperatura e respiração.

O "quinto" sinal vital

Alguns especialistas e institutos chamam a dor de o quintosinal vital e solicitam que os profissionais de saúdeperguntem sempre aos pacientes se sentem dor. A dor nemsempre é óbvia. Os pacientes com dor crônica podem setornar mestres em escondê-Ia, embora ela possa se revelarno padrão de respiração, na maneira de andar, no modocomo o paciente se apresenta.

A Comissão Conjunta de Credenciamento das Organizaçõesde Assistência Médica dos Estados Unidos estabeleceupadrões para o manejo da dor, que devem ser seguidos porhospitais e outras instituições:

''A dor pode ser parte comum da experiência do paciente; ador sem alívio tem efeitos físicos e psicológicos adversos. Odireito do paciente ao manejo da dor é respeitado edefendido. A organização de assistência médica planeja,

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apóia e coordena atividades e recursos para garantir que ador dos pacientes seja reconhecida e tratada de maneiraapropriada."

O Dr. House provavelmente concordaria que avaliar a dordeve ser parte da rotina de qualquer exame e que tratá-Iadeve ter alta prioridade.

Com informações sobre o histórico e os sinais vitais emmãos, o médico começa a examinar o paciente fisicamente,investigando e sondando, para fazer o corpo revelar seussegredos.

“Eu chamo esse momento de dança, em que você verificaorelhas, garganta, pescoço, tireóide, coração, pulmões.Tendo a ir de cima para baixo. Digo a meus alunos que é umadança e que eles precisam aprender a dançar”, afirma o Dr.Kellerman.

Robert B. Taylor, médico da Oregon Health & ScienceUniversity (OHSU), em Portland, no estado norte-americanode Oregon, que editou o Manual of Family Practice, apontauma série de motivos para a rotina de cima para baixo. Emprimeiro lugar, ao seguir sempre a mesma ordem, o médicocorre menos risco de esquecer algum item. Em segundolugar, parece mais socialmente confortável para a maior partedos pacientes começar o exame pela cabeça, olhos, ouvidos

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e assim por diante. Geralmente, "de cima para baixo"significa da cabeça aos pés... e depois até o fim. Depois deum exame pélvico, genital e retal, a maioria das pessoas,compreensivelmente, está louca para que o exame termine.

“Examinar a cabeça é a parte menos ameaçadora e invasiva,por isso começamos por ali, e vamos descendo”, afirma o Dr.Taylor.

Quando um paciente tem uma queixa clara e específica, porexemplo, “Meu joelho dói”, faz sentido pegar um atalho. Naverdade, um paciente que se queixa de um problema no péprovavelmente ficaria perplexo com um médico que insistisseem começar o exame pelos olhos. Mas, quando um pacientenão conhece bem o médico ou tem uma queixa genérica oudifusa, como cansaço, por exemplo, um exame geral é útil.Nos casos difíceis que o Dr. House e seus colegasenfrentam, um exame completo e escrupuloso é necessário.Às vezes, uma pista leva o caso para um caminhointeiramente novo.

Quando os médicos olham nos olhos dos pacientes, dentreoutras coisas, querem saber o seguinte: o movimento dosolhos é adequado? O branco dos olhos é realmente branco?As pupilas reagem à luz? Qual o aspecto do fundo do olhoquando visto pelo oftalmoscópio?

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Em "Babies and Bathwater" (“Bebês e Banheiras”, 1-18),uma sutil queda da pálpebra indicou um possível problemaneurológico. O exame levou a equipe a suspeitar desíndrome paraneoplásica; especificamente, a síndromemiastênica de Lambert-Eaton, que apontava para um tumorpulmonar.

Síndromes paraneoplásicos

Em vários episódios, problemas neurológicos, comodesmaios ao dirigir, convulsões, dormência nos braços eparadas respiratórias, levaram a um diagnóstico de câncer.Essa condição é chamada de síndrome paraneoplásica oudistúrbio neurológico paraneoplásico.

Os distúrbios neurológicos paraneoplásicos sãoespecificamente aquelas síndromes que envolvem um ataqueauto-imune que, embora com a intenção de combater umtumor, acaba prejudicando as células nervosas. Esse tipo dedano colateral é aparentemente causado por antígenos nasuperfície das células nervosas que talvez tenham aspectosemelhante aos encontrados nas células cancerosas.

Em outros episódios, as síndromes paraneoplásicas sãoincluídas na lista de diagnósticos possíveis para os casoscom sintomas neurológicos. De acordo com especialistas emoncologia, menos de um em cada cem pacientes com câncer

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sofrerá de um distúrbio neurológico paraneoplásico. Nãoparece muito e, de fato, significa que essas síndromes sãomuito menos comuns do que os outros problemasrelacionados com o câncer. Com mais de 1,3 milhão de casosde câncer nos Estados Unidos todos os anos, essa taxaindica que talvez 10 mil norte-americanos desenvolvamdistúrbios neurológicos paraneoplásicos.

As taxas variam drasticamente, dependendo do tipo decâncer subjacente. As síndromes paraneoplásicas sãoobservadas em até três por cento dos pacientes com câncerde pulmão de pequenas células, conforme apresentado noepisódio "Babies and Bathwater".

No entanto, menos de uma em cada mil mulheres com câncerginecológico desenvolverá a síndrome.

As síndromes podem ser difíceis de reconhecer. Em geral,não são detectadas pelos testes sangüíneos padrão nempelo líquido cefalorraquidiano ou por ressonânciamagnética.

Se os testes padrão eliminarem as outras possíveis causaspara os sintomas, então o distúrbio neurológicoparaneoplásico poderá continuar sendo uma possibilidade.Um diagnóstico firme dependerá da identificação de umtumor subjacente ou da detecção de anticorpos que estejam

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atacando as células nervosas do paciente.

As síndromes paraneoplásicas revelam-se mais importantesdo que os simples números podem indicar porque,freqüentemente, são o primeiro sinal de câncer no paciente.Infelizmente, mesmo que o tumor subjacente seja tratadocom sucesso, o dano neurológico pode ser permanente,incapacitando o sobrevivente do câncer.

Alguns estudos indicam que os pacientes com câncer esíndromes paraneoplásicas têm melhor prognóstico do queos demais pacientes com câncer. Talvez porque odiagnóstico precoce dado em função das síndromesparaneoplásicas permita que os médicos detectem o tumorantes que ele cresça demais a ponto de se tornar intratável.

Entretanto, esse tempo médio maior de sobrevida pode seruma miragem. Pode ser que as síndromes paraneoplásicaslevem os pacientes a procurar um médico logo no início dodesenvolvimento do câncer. Esse "viés de antecipação dodiagnóstico", como é chamado, significa que se passa maistempo entre a data do diagnóstico e a data de óbito, quandoo câncer é fatal; só que em vez de a morte ser adiada, o querealmente está acontecendo é que o diagnóstico aconteceumais cedo.

Agora vamos voltar ao exame físico. Depois dos olhos, os

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médicos examinam as orelhas, o canal auditivo e o tímpano.Talvez façam um pequeno teste auditivo.

“Costumava usar um relógio de pulso”, afirma o Dr. Taylor.“Mas agora os relógios de pulso sequer fazem barulho! Porisso, esfrego meus dedos fazendo um som bem baixinho. É

um teste rápido e direto”.

Nariz: examine o nariz com uma lanterna. Talvez um examemais completo seja necessário, se houver indícios desinusite.

A estranha respiração de uma criança pequena chamou aatenção do Dr. House e o fez examinar o nariz do menino em"Mob Rules" ("Nas Mãos da Máíia", 1-15). O irmão dopaciente disse que a criança estava sibilando, mas o Dr.House foi mais específico. O som era de um assobio nas viasaéreas superiores ou no nariz do menino. Seguindo oassobio, o Dr.

House subiu pela narina usando pinças para extrair umminúsculo soldadinho de brinquedo.

Boca: inspecione a língua, os dentes, as glândulas salivarese a parte de trás da garganta.

Pescoço: como é o movimento do pescoço? Qual o aspecto

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e a textura da glândula tireóide?

Em "Three Stories" (“Três Histórias”, 1-21), Cameronexaminou a tireóide de uma jogadora de vôlei adolescente.Pode parecer estranho, já que a principal queixa da pacienteera dor no joelho. Mas Cameron estava fazendo um examecompleto, e valeu a pena. Descobriu um nódulo na tireóideda paciente. A disfunção da tireóide pode causar problemasmentais e dor nas articulações. O exame do pescoço tambéminclui a verificação da artéria carótida, para verificar se existealgum tipo de ruído. O significado médico nesse caso é umsom de turbulência no fluxo sangüíneo que pode indicar umestreitamento do vaso sangüíneo ou o oposto: umaneurisma.

No episódio "Love Hurts" (“Consultório 2”, 1-20), Chaseouve um pequeno ruído na artéria carótida de uma paciente.Ele especula que o ruído poderia indicar um aneurismacausado por trauma. Embora o Dr. House tenha descartado apista de início, mais tarde ficou claro que a paciente haviasofrido abuso físico.

Tórax: os dois lados do peito se movem igualmente quandoo paciente respira fundo?

Bata levemente no peito para comparar o som de um lado ede outro. Os pulmões normais ressoam. Uma batida surda

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pode indicar fluído ou massa nos pulmões. Ausculte com umestetoscópio. Sons graves chamados de roncos são sinal debronquite. Estertores, que soam como vento assobiando nasfolhas, são característicos da pneumonia.

Os estertores, dificuldades respiratórias ou sibilos tambémsão sinais de asma. Se o som tiver um único tom, aobstrução provavelmente está apenas em uma área,enquanto sons polifônicos indicam uma obstrução maisgeneralizada. O Dr. House usou esses sons da respiração eoutras pistas de um exame clínico para concluir que a mãe deum paciente vinha reduzindo a medicação de asma domenino.

Coração: existem cinco principais elementos a seremauscultados - quatro válvulas e a extensão do esterno nomeio do tórax. Um murmúrio mais intenso pode ser sentidocom a mão. Batidas leves ao redor do coração podem indicarseu tamanho. O exame do coração ou do tórax pode serrepetido com o paciente deitado.

Nodos linfáticos: verifique se há intumescimento debaixo dobraço.

Exame dos seios: sinta se há caroços e procure outrasanormalidades nas mamas.

Os seios ganham destaque em uma história paralela na

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clínica durante o episódio

"Fidelity" (“Fidelidade”, 1-07). A queixa principal dapaciente era falta de ar. O Dr. House ausculta o tórax com umestetoscópio, pergunta se há histórico de doenças cardíacasna família da paciente e solicita um eletrocardiograma (ECG)para verificar seus batimentos cardíacos. Em seguida, eleobserva seus implantes mamários, um tanto grandes.

Nesse caso, os implantes acabaram não sendo a causa dossintomas da paciente. Os implantes geram dúvidas tantopara as pacientes quanto para os médicos quando se tratade investigar câncer de mama. Um artigo científico sobrerecomendações para exames clínicos de mama observou quealguns médicos não têm certeza sobre como os implantespodem afetar sua capacidade de detectar caroços nos seios.Entretanto, os autores indicam que, como os implantes sãocolocados por trás do tecido mamário natural da paciente, asetapas utilizadas para realizar um exame clínico nos seios sãoexatamente as mesmas que as usadas para mulheres semimplantes.

Os implantes podem ser um desafio para os radiologistasque tentam detectar pequenos caroços nos seios emmamografias. Em geral, os especialistas recomendam quesejam feitas imagens adicionais durante a mamografia, paracompensar o fato de o silicone ou a solução salina dos

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implantes tenderem a bloquear os raios X.

Abdômen: inspecione. Bata levemente e sinta para avaliar otamanho e a condição do fígado e do baço. Ouça os sonsdos intestinos.

Pernas: procure sinais de boa circulação, como, por exemplo,a qualidade da pele dos pés.

Condição neurológica: com o paciente sentado, verifiquecomo é o movimento dos músculos na face, cabeça e troncosuperior, em busca de pistas sobre a saúde dos nervos dacabeça. Verifique os reflexos batendo de leve com ummartelo de borracha no joelho para produzir uma respostaautomática da coluna vertebral - é o teste do "reflexopatelar". O

martelo de borracha também é usado para estimularsuavemente a planta externa do pé. Uma resposta normal éos dedos dobrarem. Pouca ou nenhuma resposta nessestestes pode indicar danos aos nervos decorrentes de doençaou trauma.

Em seguida, perto do fim do exame físico, vem o examepélvico para as mulheres e uma verificação da região genitale de hérnias para os homens. E, finalmente, o exame retal,incluindo um exame da próstata para os homens.

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Teste do cheiro

Apesar de os sentidos da visão, tato e audição geralmentereceberem mais atenção durante um exame físico, o olfatotambém pode desempenhar um papel importante.

Escrevendo para o New England Journol of Medicine, umjovem médico chamado Andrew Bomback observourecentemente que, embora ele pareça dedicar cada vezmenos tempo ao exame físico e mais tempo à análise deresultados de testes e laudos de imagens, parte do examefísico não pode ser substituída pelos testes: o cheiro dopaciente. O cheiro dos curativos de um paciente diabéticoimediatamente revela se há necessidade de fazer uso deantibióticos para combater alguma infecção. O hálito de umpaciente pode alertar para a presença de problemas renais. E,evidentemente, o cheiro de cigarro é um sinal vermelho,indicando maiores riscos a curto e a longo prazo para asaúde do paciente.

Cigarros como terapia

Em "Damned If You Do" ("Se Correr o Bicho Pega", 1-05),um Papai Noel de shopping procura a clínica, e o Dr. Housefaz questão de farejar o ar depois que ele entra na sala deexame. No final das contas, o paciente estava em busca deum tratamento eficaz para sua doença inflamatória

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intestinal... que causou conseqüências desagradáveis comvárias crianças em seu colo... e o odor pungente que o Dr.House reconheceu.

House prescreve cigarros. Dois por dia. Ele afirma que osestudos demonstram que fumar é uma das maneiras maiseficazes para controlar a doença inflamatória intestinal.

Bem, ele chegou perto. Estudos realmente indicaram que osfumantes têm menos probabilidade de desenvolver um tipode doença inflamatória chamada colite ulcerativa, mas maiorprobabilidade de desenvolver a doença de Crohn, que éoutra manifestação de doença inflamatória intestinal. Algunsestudos indicam que, em vez de proteger as pessoas contracolite ulcerativa, o fumo só aumenta a probabilidade de quepessoas que sejam predispostas a uma forma ou outra dedoença inflamatória intestinal acabem com a doença deCrohn.

Com relação à prescrição de cigarros para atenuar ossintomas de inflamação intestinal, certamente não é umaprática comum. Com base em indícios de um efeito, estudosforam desenvolvidos sobre o tratamento com nicotina depessoas com doença inflamatória intestinal,mas nem cigarrosnem adesivos de nicotina são considerados boas opções.Os principais tratamentos medicamentosos incluemantiinflamatórios e remédios que suprimem o sistema imune.

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Outros medicamentos são usados para controlar ossintomas.

A opção final e drástica para alguns pacientes com quadrosmais graves pode ser a cirurgia para remover a parte dointestino problemática.

Quando Wilson questiona a prescrição do Dr. House,porque fumar causa câncer de pulmão, House observa quenão há laços vermelhos para o câncer de pulmão, como nocaso da Aids, porque as pessoas culpam os fumantes epensam que eles merecem morrer.

Embora a observação cáustica seja típica de House, tem algode verdade. Um grupo de especialistas em câncer de pulmãocomissionados pelo Instituto Nacional do Câncer nosEstados Unidos concluiu que o estigma de fumar é um dosprincipais motivos pelos quais existem relativamente poucaspesquisas voltadas a tratamentos de câncer de pulmão. Naverdade, o governo federal norte-americano gasta muitomais em pesquisas para combater o câncer de mama do queo câncer de pulmão, embora este último seja o maiorcausador de mortes tanto de mulheres quanto de homensnos Estados Unidos.

Entretanto, House estava errado quanto aos laços. Algunsgrupos de defesa dos pacientes que sofrem com câncer de

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pulmão usam laços transparentes ou cor de cristal parasimbolizar a "invisibilidade" da principal causa de morte porcâncer no país. Então, os laços do câncer de pulmão existem... só que poucas pessoas o usam.

O ritmo do exame físico é uma das técnicas fundamentaisque todo médico deve dominar.

“É tudo orquestrado. O paciente não fica descendo esubindo da cama. Tudo transcorre de maneira ordenada. Oexame inteiro pode ser feito em 15 minutos ou mais, casoinclua um exame pélvico. Quinze minutos é o tempo de rotinapara um examinador experiente”, afirma o Dr. Taylor.

Evidentemente, os médicos recém-formados demoram umpouco mais para fazer o exame. O Dr. Taylor afirma que osmédicos jovens aprendem o ritmo do exame físico para nãodeixar de fora nenhum item nem fazer com que o paciente sedeite e levante o tempo todo. Quando já se sentem àvontade com o exame completo, os médicos aprendem noque devem se concentrar e o que pode ficar de fora, combase no histórico fornecido pelo paciente. Saber conduzir oexame físico é uma habilidade crítica, porque simplesmentenão há tempo suficiente para examinar em minúcias cadapaciente da cabeça aos pés.

“O exame físico dependerá do tipo de sintoma apresentado.

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Se um paciente chegar e disser: 'Doutor, nos últimos trêsdias senti dor nas costas e ardência ao urinar', eu não vouganhar nada ouvindo o coração ou os pulmões; esse não é oproblema do paciente. Também não preciso fazer um exameneurológico detalhado. Sei que muito provavelmente oproblema está relacionado a rins, bexiga e trato urinário.Posso concentrar o exame nesses aspectos”, afirma o Dr.Taylor.

“Por outro lado, se o paciente apresenta um sintomagenérico, como fadiga e cansaço, perda de peso e outrosafins, ou um sinal inesperado é descoberto, como, porexemplo, descobre-se que o paciente está anêmico, talvezdepois de uma doação de sangue, sem que ele soubesse daanemia; então, essas situações exigem um exame muito maisdetalhado, porque a lista de possibilidades não só é maislonga, mas pode ser mais ameaçadora, como câncer”.

Os pacientes têm o direito de verificar se o médico realizouum exame físico satisfatório para entender o problema.

“Às vezes, em um dia cheio, tende-se a fazer um examerápido no paciente. Este tem o direito de perguntar: 'Você jáacabou? Examinou todas as áreas necessárias?'”, afirma oDr.

Taylor.

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Do lado do médico, a pergunta final volta àquela do início daconsulta: "Mais alguma coisa?" Por mais completo quetenha sido o histórico e o exame físico, não é raro que ospacientes guardem informação consigo. Às vezes,imediatamente antes de sair, essa informação é revelada.

Geralmente, ela é chamada de "pergunta da maçaneta daporta", porque os pacientes podem soltar uma preocupaçãocontida quando já estão prestes a sair da sala de exame. Em

"The Mistake" (“O Erro”, 2-08), Chase pensa que a pacientetalvez tivesse uma pergunta a fazer antes de sair da sala deexame por causa do jeito como ela hesitou quando sedespediram após uma rápida conversa. Mais tarde, ficouprovado que ele realmente não seguira corretamente aspistas de um problema grave.

Uma pergunta assim pode envolver algo de que o pacientese envergonhe ou um sintoma que parece irrelevante para oprincipal tópico daquela consulta específica. Os pacientesidosos ou com doenças crônicas podem ter omitido algumainformação em parte por estar relutantes em despejar nomédico uma longa lista de preocupações. Em um estudo, umem cada cinco pacientes revelou novos problemas no finalda consulta.

Embora eliminar esse tipo de pergunta seja um sonho

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inalcançável para os médicos, alguns especialistas afirmamque a melhor maneira de reduzir o número de surpresas deúltima hora - e os atrasos que causam nos horários – é saberouvir melhor, sem interromper o paciente, desde o início daconsulta. Se os pacientes forem estimulados a apresentartodas as suas preocupações, grandes ou pequenas,envolvendo um único problema ou vários, logo no início daconversa, talvez tendam a diminuir perguntas na hora de sedespedir do médico.

O Dr. Taylor afirma que não começou examinando pacientesdiretamente. Os estudantes de Medicina primeiro observame repetem partes do exame que seus supervisores acabaramde demonstrar. Eles vão avançando no treinamento, primeirofazendo uma parte ou todo o exame sob supervisão, antes deficar por conta própria.

“É um processo gradual. Os médicos mais jovens nãocomeçam fazendo exames sem orientação”, diz Taylor. “Masaqui na OHSU temos um programa curioso que não existiana minha época. Antes mesmo de os calouros terem tidouma única aula, eles têm a oportunidade de passar umasemana na casa de um médico rural e ir para o hospital ouconsultório desse médico. Esses jovens vão lembrarexatamente a primeira vez em que foram enviados a uma salade exame para ajudar a examinar o paciente, porque tiveramapenas um curso intensivo de um dia e meio sobre como

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usar o estetoscópio”.

E, por falar nesse símbolo universal dos médicos, quando osestetoscópios começaram a ser usados, há dois séculos,esse conjunto simplório de tubos de borracha e metal era oque havia de mais avançado na tecnologia médica. O créditopela descoberta e a popularização do estetoscópio são domédico francês René Théophile Hyacinthe Laënnec. O nomevem da palavra grega para tórax: stethos. O terceiro séculode uso do estetoscópio não é certo, uma vez que o ultra-som, a tomografia computadorizada, a ressonânciamagnética e os programas de computador ameaçamsubstituir os tubos, auscultadores, olivas e a interpretaçãopor parte do médico dos sons do corpo do paciente. (Veja oCapítulo 3 para saber mais sobre o futuro do estetoscópio.).

Os avanços na tecnologia também afetam as atitudes emrelação ao próprio exame físico.

“A enorme diferença hoje reside na atitude em relação aoexame físico. A atitude hoje é:

'Realmente não preciso saber tanto, porque vou usar oslaudos da tomografia, da ressonância e dos sofisticadosexames de sangue'. Na minha época, não tínhamostomografia computadorizada, não tínhamos ressonânciamagnética, nem mesmos esses exames de sangue

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sofisticados. O médico contava muito mais com seus olhos,ouvidos e intuição. Era preciso ser realmente bom nodiagnóstico físico. Hoje em dia, acho que existe a impressãoem alguns locais de que é possível sair-se bem só com osdados dos exames de rotina e as imagens sofisticadas. Hámuito mais confiança na tecnologia atualmente do que nopassado. Acho que é uma realidade. Mas acho meio triste,porque estamos perdendo parte da arte da medicina”, dizTaylor.

A ' arte da medicina" é uma daquelas frases usadas comfreqüência, mas só definidas de vez em quando. A maioriados médicos a considera uma técnica que deve serdesenvolvida para integrar a ciência, sua experiência clínicae o entendimento que fazem dos desejos dos pacientes. Éuma arte porque, embora a ciência seja o elemento essencialà medicina, cada paciente e cada encontro são únicos eexigem julgamentos adaptados à situação específica.

O Dr. Taylor lembra um aforismo de um pioneiro dodiagnóstico, Sir William Osler:

“Ouça o paciente. Ele está lhe dando o diagnóstico”. E,mesmo com a mais avançada tecnologia disponível, eleafirma que a regra geral é que sessenta a setenta por centodos diagnósticos sejam feitos apenas com base no histórico.

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Por exemplo, um médico que examina um paciente com fortesdores de cabeça, que podem ser enxaquecas, às vezes sente-se tentado a solicitar uma ressonância magnética. Noentanto, três perguntas simples podem resolver a maioriados casos: Sua dor de cabeça:

1. obrigou-o a limitar as suas atividades?

2. causou náusea ou enjôo?

3. faz você ficar incomodado na presença de luz?

Se o paciente responder "sim" a todas essas perguntas,então existe uma alta probabilidade de que o problema sejaenxaqueca e nada mais.

Sir William Osler, médico

Uma das figuras mais influentes no desenvolvimento dosmétodos diagnósticos modernos foi Sir William Osler. Oslernasceu em Ontário, no Canadá, em 12 de julho de 1849. Eleajudou a lançar as bases do ensino de Medicina nosEstados Unidos como um dos primeiros instrutores doHospital Johns Hopkins e na Faculdade de Medicina emBaltimore, Maryland. Durante sua administração, de 1888 a1905, Osler ajudou a impulsionar o ensino prático dos jovensmédicos.

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“Aprende-se Medicina ao lado do leito do paciente e não emsala de aula”, pregava Osler.

Trabalhar com pacientes em alas de hospitais pode pareceruma maneira óbvia de aprender Medicina, mas não era aprática corrente nas escolas de Medicina nos EstadosUnidos naquela época.

"Observe, registre, tabule, informe. Use seus cincosentidos" e "Os quatro pontos cardeais da bússola de ummédico são: inspeção, palpação, percussão e auscultação"são dois dos aforismos mais repetidos de Osler sobre oexame dos pacientes.

O pediatra Billy Andrews escreveu sobre a influência deOsler nos médicos atuais no Southern Medical Journal. ODr. Andrews escreveu que "[O reitor da faculdade] avisouque eu era um neto acadêmico de Sir William Osler e quedeveria levar adiante os altos ideais e as práticas de Osler.Muitos dos membros desta sociedade também são netos,bisnetos e possivelmente até tataranetos acadêmicos de SirWilliam Osler".

Em 1891, o Dr. Osler escreveu The Principles and Practice ofMedicine. Este é considerado um marco tão importante naliteratura médica que, em 1999 , no 150º

aniversário de nascimento de Osler, o Departamento de

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Medicina da Universidade Johns Hopkins criou a sala deleitura Osler no local em que o médico escreveu seu livro.

O Dr. Osler talvez gostasse da capacidade de o Dr. Houseobservar e diagnosticar seus pacientes, mas provavelmentenão aprovaria a atitude amarga.

“É um erro imperdoável atender um paciente de caraamarrada”, essa é uma das máximas do Dr. Oslerfreqüentemente citada.

É claro que, mesmo quando um médico habilidoso faz todasas perguntas certas e investiga, sonda e escuta todas aspartes do corpo do paciente, algumas queixas continuamsem solução.

“É muito importante para um médico de família, um médicoambulatorial, saber quais são seus limites. Cerca de 95 porcento dos problemas que aparecem podem ser tratados.

Mesmo os mais raros e bizarros em geral têm solução. Noentanto, existem casos simplesmente inexplicáveis”, afirma oDr, Rick Kellerrnan,

"Uma vez não consegui descobrir o que havia de errado comuma paciente. Por isso eu a encaminhei a um neurologista",lembra Kellerman.

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Naquele dia, no consultório, havia um estudante deMedicina. O Dr. Kellerman lembra de comentar com oestudante que ele achava que o especialista também nãoconseguiria resolver o problema da paciente.

"Naquele instante, o telefone tocou. Eu atendi. Era oneurologista. Ele disse: 'Sabe de uma coisa? Eu também nãosei o que está acontecendo com esta senhora' '.

Para além do corpo do paciente

A maioria dos casos apresentados no seriado é bem maiscomplicada do que aparece no exame físico típico. Dequalquer modo, o Dr. House em geral deixa o exame físicodos pacientes para outros médicos.

Os exames físicos dos pacientes são menos comuns noseriado do que na maioria das especialidades médicas, mas oDr. House e sua equipe freqüentemente investigam oambiente físico dos pacientes, suas casas e escritórios. Jávasculharam geladeiras, examinaram chás de ervas,verificaram molhos de tomate caseiros, foram atrás decompanheiros de viagem para fazer perguntas e exames.Procuraram em toda parte por pistas, incluindo embaixo dapia da cozinha.

Na vida real, os médicos confiam no que os pacientes lhescontam sobre seu ambiente e as possíveis exposições a

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micróbios ou toxinas. Com uma sala de espera ou ala dehospital cheia de pacientes, os médicos simplesmente nãotêm tempo para fazer pesquisa de campo a fim de examinar oambiente físico de seus pacientes.

Ainda assim, nos casos de surtos de doenças infecciosas ouexposições tóxicas, as investigações do meio ambiente sãocríticas para determinar a fonte da ameaça. Embora o médicoparticular de determinado paciente não saia às ruas paraprovar alimentos em busca de bactérias ou vasculhararmários de roupas para procurar sinais de contaminação porpesticida, os relatos dos médicos geram ação por parte deoutros profissionais da saúde de órgãos públicos locais,estaduais ou federais.

Em 2001, o serviço de epidemias (EIS, Epidemic IntelligenceService) dos Centros de Controle e Prevenção de Doençasdos Estados Unidos (CDC) comemorou meio século detreinamento na formação de detetives especializados emrastrear ameaças à saúde no país e no mundo. O EIS foicriado durante a Guerra da Coréia. A primeira turma tinhaapenas uns vinte e poucos alunos, mas hoje em dia mais de2.500 detetives da saúde já se formaram nesse programa dedois anos.

Os investigadores do EIS estão lotados em órgãos de saúdepública locais e ajudam com o trabalho de rotina no sentido

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de rastrear problemas de saúde local e outras ameaças àsaúde pública. Sempre que ocorre um surto, eles estãoprontos para entrar em ação e encontrar a fonte da doença.O problema pode ser tão banal quanto uma salada de batataque estragou ou um micróbio comum que causa diarréia emuma creche. No entanto, de vez em quando, os agentes decampo do EIS enfrentam verdadeiros quebra-cabeçasmédicos que deixariam o Dr.

House babando de inveja.

O parasita Cryptosporidium se espalhou pela rede deabastecimento de água e contaminou mais de 400 milpessoas em Milwaukee, no estado norte-americano deWisconsin, na primavera de 1993. Os agentes do EISauxiliaram os órgãos de saúde pública locais a rastrear afonte do surto.

Mais de 25 veteranos de repente desenvolveram problemasrespiratórios e faleceram depois de participar da convençãoda Legião Americana na Filadélfia, em 1976. Trabalhandocom as autoridades locais na Pensilvânia e nas casas dasvítimas, os agentes do EIS fizeram parte de uma investigaçãoque durou oito meses. Chegavam a um impasse atrás dooutro.

Aparentemente, os casos estavam relacionados com o hotel

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da convenção. Contudo, nem todas as vítimas tinham estadono hotel. O elo comum escapava aos investigadores àmedida que aumentava o número de mortos. Por fim, umabactéria transmitida pela água foi identificada comocausadora da doença. Foi chamada de Legionellapneumophilia.

Depois do surto na Filadélfia, os investigadores de saúdepública descobriram que esse tipo de bactéria pode sedesenvolver em banheiras, torres de refrigeração usadas emsistemas de condicionamento de ar e outras fontes de águapotável ou para lavagem. Pessoas com sistemasimunológicos mais fracos, idosas, fumantes e as que sofremde outras doenças correm maior risco de desenvolver gravesconseqüências da infecção pela bactéria Legionellapneumophilia.

A maior parte dos problemas de saúde é mais grave para apopulação mais jovem e mais velha de nossas comunidades,assim como para os portadores de doenças crônicas.

Evidentemente, a maioria dos pacientes do seriado House éjovem e, em geral, saudável. Esse é um dos motivos pelosquais seus casos são tão intrigantes. Em 1993, jovenscomeçaram a morrer no Novo México. Na verdade, o quechamou a atenção dos médicos foi a boa saúde das vítimas.

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Ao investigar a morte súbita de um atleta jovem eparticipante de corridas de longa distância, um médicosoube que ele estava a caminho do funeral de sua noiva de21 anos, que havia morrido com sintomas semelhantes. Osnoivos estavam ótimos e, de repente, não conseguiam maisrespirar, em questão de dias. Após o alarme ter sido dadopor médicos locais, os especialistas em saúde pública locaise depois os agentes do EIS do CDC entraram em ação. Essafoi uma das primeiras vezes em que instrumentos de altatecnologia de DNA foram utilizados para rastrear um agenteinfeccioso durante um surto.

Em poucas semanas os investigadores no local e noslaboratórios do CDC em Atlanta haviam coletado provassuficientes para anunciar que o responsável pelas mortes erauma forma de hantavírus, um patógeno comum em roedores,que nunca fora reconhecido como um vírus capaz de causardoença ou morte em seres humanos, por meio de ataque aospulmões.

Na época, as pessoas imaginaram que o vírus talvez tivessesofrido alguma mutação recente. Em seguida, médicos nopaís inteiro verificaram amostras guardadas de casos demortes não-explicadas ao longo dos anos. Encontraramcasos bem antigos. Na verdade, o mais antigo casoconhecido data de 1959. Além disso, os índios Navajo locaisafirmam que havia histórias antigas de jovens morrendo de

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repente e de maneira semelhante aos casos modernos deinfecção por hantavírus. Pode ser que o vírus sempre tenhaexistido, mas era simplesmente tão raro que não chamavaatenção na maioria dos casos... e também muito difícil deidentificar antes do desenvolvimento dos testes de DNA.

A investigação do hantavírus começou porque os médicospediram ajuda quando não conseguiram explicar uma sériede mortes incomuns. Mas algumas doenças precisam serreportadas, devido a seu potencial de ameaçar a saúdepública. As doenças que precisam ser informadas incluemsarampo, coqueluche, gonorréia e infecções por salmonella.Os sistemas de comunicação existentes para identificaresses casos são exemplos do trabalho de vigilância emsaúde pública. A vigilância pode indicar surtos antes queeles se tornem grandes demais a ponto de lotar os hospitaislocais e outras instituições de assistência médica. Masmuitos especialistas em saúde pública avisam que os atuaismétodos de vigilância são inadequados e talvez nãoidentifiquem os sinais de um evento natural ou de um ataquebioterrorista a tempo de prevenir o surto generalizado dedoenças, mortes ou o pânico da população.

A natureza freqüentemente casual da vigilância sanitáriaaparece no episódio "Poison"

(“Veneno”, 1-08). Um estudante do ensino médio sentiu-se

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mal durante um teste e chegou ao hospital com náuseas,desorientação e uma freqüência cardíaca perigosamentebaixa. Em seguida, outro estudante foi trazido, com sintomassemelhantes. O Dr. House e sua equipe rapidamentecomeçaram a procurar alguma conexão entre os dois garotos.E se o segundo garoto tivesse sido transportado para umhospital diferente? Sem uma vigilância centralizada, os doiscasos talvez não tivessem sido relacionados, deixando osmédicos em desvantagem.

Um desafio para identificar precocemente os surtos é que ossintomas de muitas condições raras e potencialmente letaissão semelhantes aos de outras doenças comuns e menosgraves. No surto de hantavírus, os primeiros sintomas sãodor de cabeça e febre. Sem um teste específico na época, osmédicos não sabiam se o paciente com queixasaparentemente menores naquele dia poderia estar morto nodia seguinte. Por outro lado, no meio da temporada deresfriados e gripes, admitir todo paciente que se queixa dedor no corpo rapidamente sobrecarregaria qualquer hospital.

Alguns órgãos de saúde pública estão começando aaproveitar o poder dos computadores para ajudar aidentificar padrões suspeitos. Em 2005, a Carolina do Nortecomeçou a usar um sistema de vigilância de emergência emhospitais, o North Carolina Hospital Emergency SurveillanceSystem, para fazer a ligação eletrônica de todas as

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emergências dos hospitais do estado. À medida que ospacientes são atendidos na sala de emergência, seussintomas são inseridos no sistema de dados informatizadosdo hospital. Em vez de apenas ficarem restritas àquelesistema específico, as informações mais importantes sobreos sintomas dos pacientes são passadas regularmente paraum computador do sistema de saúde pública estadual.Assim, se pacientes de determinada localidade foremdirecionados a hospitais diferentes, seus casos serãoagrupados e comparados aos padrões normais de doença nacomunidade.

Ao divulgar o novo sistema de alerta, as autoridadesobservaram que, no sistema anterior de relato de casos como envio manual de formulários em papel, poderia levarsemanas para identificar o surto de determinada doença. Aesperança é que, com os computadores hospitalaresfornecendo automaticamente as informações para o bancode dados estadual, padrões incomuns causados por umaepidemia ou por um ataque bioterrorista sejam identificadosde modo muito mais rápido. Na verdade, na entrevistacoletiva que anunciou o novo sistema de vigilância, asautoridades informaram aos repórteres que, apenas umasemana antes, o sistema havia ajudado as equipes de saúdepública a responder em 24

horas a um surto de hepatite A que se originara de algum

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alimento contaminado. As autoridades afirmaram que, antesda criação desse sistema, provavelmente seriam necessáriassemanas até que os casos fossem relacionados.

O sistema da Carolina do Norte é o primeiro programaestadual desse tipo, mas os primeiros elementos de umsistema nacional já estão surgindo nos Estados Unidos.Como parte da resposta de longo prazo aos ataques deantraz ocorridos em 2001 no país, o CDC estádesenvolvendo um programa nacional, chamado BioSense,que coletará e analisará os relatos de doenças atuais decidades em todo o país. Como ocorre no sistema devigilância da Carolina do Norte, o objetivo do BioSense éidentificar grupos incomuns de sintomas e doenças empoucas horas.

É claro que nem todas as pessoas que se sentem malprocuram um médico. Esses pacientes não seriam detectadospor sistemas de vigilância baseados em salas de emergênciados hospitais, pelo menos não até que eles se tornassem tãodoentes a ponto de pedir ajuda.

Uma idéia para identificar os sinais de doença nascomunidades é monitorar a venda de remédios nas farmáciaslocais. As cadeias de farmácias nacionais já utilizamsofisticados sistemas de controle de estoque paraacompanhar as vendas. Existem obstáculos técnicos e

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jurídicos que os agentes de saúde pública teriam de superarantes de poderem efetivamente estabelecer uma conexãocom os sistemas de farmácias comerciais. Em seguida, teriamde aprender sobre os padrões de normalidade nacomunidade para reduzir o número de alarmes falsos. Aindaassim, um sistema de acompanhamento que analisasse asvendas de remédios com e sem receita médica poderiadetectar surtos muito antes de as pessoas começarem aencher os consultórios médicos ou as salas de emergências.

De vez em quando, o Dr. House manda Foreman, Chase eCameron investigarem a casa de um paciente em busca depistas. Não apenas essas invasões de domicílio por partedos médicos provavelmente são ilegais como também não hánecessidade de manter segredo. Um médico pode reportarcasos suspeitos para as autoridades de saúde públicaslocais mesmo que não haja obrigatoriedade de informes. Emgeral, os agentes de saúde pública têm autoridade paraprocurar pistas ou para adotar qualquer outra medida a fimde proteger a comunidade.

A lei de saúde pública nos Estados Unidas remonta aosprimeiros dias da nação, quando as autoridadesinspecionavam rotineiramente os navios que chegavam aosportos e colocavam de quarentena as tripulações queapresentavam quaisquer sinais de doenças infecciosasperigosas. Os governadores estaduais têm graus de

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autoridade variados para declarar situação de emergência desaúde pública. Podem solicitar buscas, quarentenas ou atémesmo detenções em alguns casos. Esse tipo de uso dopoder de polícia em nome da saúde pública se tornou maisraro nas últimas décadas, uma vez que o surto de doençasinfecciosas caiu, devido à melhoria geral da saúde dapopulação e às campanhas de vacinação em massa.

Entretanto, o poder de restringir a liberdade individual emnome da saúde pública às vezes é invocado. No início dadécada de 1990, índices crescentes de tuberculose em váriascidades importantes dos Estados Unidos levaram asautoridades a deter alguns pacientes.

Quando os pacientes de tuberculose não concluem todo operíodo de tratamento prescrito, que pode incluir uma sériede medicamentos diferentes durante muitos meses, abactéria pode se tornar resistente ao tratamentomedicamentoso. Entretanto, os pacientes em geral se sentembem melhores antes que o tratamento tenha eliminado todasas bactérias da tuberculose em seu corpo. As autoridades desaúde pública da cidade de Nova York e de outras cidadestemiam que as pessoas que interromperam o tratamentoprecocemente e eram portadoras da tuberculose resistenteaos medicamentos pudessem criar uma epidemia de algumadoença intratável.

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O comissário de saúde da cidade de Nova York emitiuordens no sentido de que, em certos casos, os pacientesdeveriam ser detidos para garantir que concluíssem otratamento prescrito para a tuberculose. Em um estudo,dentre os 8 mil pacientes com tuberculose em um período dedois anos, 139 foram detidos durante o tratamento. Outros150 foram encaminhados para se submeter a uma "terapiadiretamente observada". Nesses casos, em vez de apenasreceber a prescrição de comprimidos e as instruções sobre ohorário de torná-los, os pacientes deveriam se apresentar emuma clínica onde um atendente os observaria tomar suamedicação. Na maior parte das vezes, pequenos incentivos,como cupons para uma refeição fast-food, já eramsuficientes para garantir que os pacientes se apresentassemdentro do prazo.

Mas a ameaça de detenção estava presente.

Evidentemente, passar por cima dos direitos individuais paraproteger a saúde pública é uma prática considerada éticasomente quando existem bons motivos para acreditar que otratamento forçado ou outras ações vão funcionarefetivamente. Uma análise recente e sistemática de todos osestudos disponíveis sobre terapia diretamente observadapara a tuberculose concluiu que a estratégia não produz umamelhora significativa em termos do número de pacientes queconcluem o tratamento nem nas taxas de cura gerais. A

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avaliação pela Cochrane Collaboration observou todos osensaios controlados e randomizados conhecidos de terapiadiretamente observada em países desenvolvidos e emdesenvolvimento.

Essa conclusão científica provavelmente causará impactonas decisões de políticas de saúde pública em relação aomomento no qual os pacientes de tuberculose devem serforçados a aceitar o tratamento.

A eficácia e a ética do tratamento obrigatório e de outrasrestrições aos direitos individuais continuam a ser debatidasem um cenário de preocupação crescente com apossibilidade de bioterrorismo, incluindo o uso do vírus davaríola ou de outros micróbios.

"Fantasmas"

Às vezes, não há nada para descobrir... Bem, na verdade,não é que não haja nada, mas é que não existe um culpadofísico, nenhum micróbio ou toxina. Isso porque algunssurtos de doenças brandas "temporárias" podem ser umfenômeno psicossomático, ou seja, os sintomas, as náuseas,as dores de cabeça, os desmaios não são propriamente reais,mas tendem a resultar de uma reação do corpo a um impulsopsicológico, e não a um patógeno físico.

Eis como os investigadores do EIS resumiram um incidente

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em uma escola de ensino médio: "Em novembro de 1998, umaprofessora observou um cheiro 'semelhante ao de gasolina'na sala de aula e logo em seguida começou a sentir náuseas,dores de cabeça, falta de ar e tonteira. A escola foi evacuadae oitenta alunos e funcionários da escola foram para a salade emergência de um hospital local; 38 pessoas foraminternadas. Cinco dias depois, quando a escola foi reaberta,outras 71 pessoas foram parar na emergência do hospital".

Apesar das minuciosas investigações conduzidos por váriosórgãos do governo, incluindo o EIS do CDC, nenhuma causamédica ou ambiental foi detectada. No entanto, ainvestigação revelou algumas pistas importantes. Aspessoas que se sentiam doentes em geral eram as que viamoutras doentes também, que conheciam um colega que ficaradoente ou que reportara um odor incomum.

A "doença psicológica em massa", como esses incidentessão chamados, não é relegada a segundo plano pelosespecialistas em saúde pública. Para começar, os pacientesnão estão inventando seus sintomas; eles realmente sesentem mal. Depois, há todo o transtorno causado na escolaou qualquer outra instituição em que ocorre o incidente.Mas talvez a característica mais importante seja asemelhança entre esses eventos psicogênicos e ashipóteses de bioterrorismo. Nas horas ou dias necessáriospara investigar cada incidente, a escola ou a comunidade, ou

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mesmo a nação, pode ser tomada por ondas de medo.

Observar, tocar, escutar e, às vezes, cheirar os pacientes sãoatitudes que oferecem aos médicos pistas que, emcombinação com o histórico médico individual, propiciam umdiagnóstico razoável na maioria dos casos. Ainda assim,com a explosão da tecnologia médica, será que os médicoscontinuarão a confiar em seu bom senso e no contato diretocom o paciente?

Muitos jovens médicos relatarão o árduo processo pelo qualpassaram até aprender a fazer o exame físico de seuspacientes em seus dias de estudante... E depois destacarãoque, na prática, eles vão direto aos exames, dedicando, aomesmo tempo, cada vez mais horas à interpretação dosresultados dos testes. Muitos médicos têm dúvidas sobreessa tendência; eles reconhecem o poder dos testesmodernos, mas procuram manter a conexão pessoal existenteentre médico e paciente, que é representada e alimentadapelo exame físico.

No entanto, quando se trata de casos estranhos quenenhuma conversa nem palpação pode resolver, ninguémquestiona o emprego da tecnologia nos exames. Certamente,é assim que a medicina é praticada no universo de House. Naverdade, o Dr. House e sua equipe estariam perdendo tempodemais sentados diante do quadro branco discutindo

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hipóteses caso não tivessem alguns exames para solicitar.Então, vamos direto para o laboratório.

CAPÍTULO 3

Vamos fazer alguns testes

O Dr. House conta com um profundo entendimento danatureza humana para chegar a seus diagnósticos. Ele usasua experiência e o conhecimento que possui dos pacientespara desvendar as enfermidades que provavelmente estãoenfrentando. Só que nada se compara a um exame de sanguecompleto ou a uma ressonância magnética para começar asfazer as perguntas certas.

Exames de laboratório

A maior parte das decisões médicas - e certamente todos oscomplexos casos de vida ou morte vistos no seriado -envolve exames laboratoriais. Amostras de sangue, urina,fluido espinhal, tecido de órgãos e até mesmo fragmentos deDNA são capazes de revelar cada vez mais sobre o queocorre no corpo de um paciente.

“Há muito mais envolvido do que apenas o exame físico,que, obviamente, era mais importante no passado”, afirma oDr. Fred H. Rodriguez Jr. O Dr. Rodriguez é professor demedicina laboratorial na Faculdade de Medicina de

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Louisiana, em Nova Orleans, e foi presidente da SociedadeAmericana de Patologia Clínica em 2005-2006.

O Dr. House e seus colegas fazem uma batelada de testes namaioria de seus pacientes, mas ainda assim é preciso serseletivo. Solicitar exames demais pode ser tão ruim ou piordo que não fazer um número suficiente deles. O fluxo deinformação provavelmente ocultaria as informaçõesimportantes, levando os médicos na direção errada.

Como aponta um estudo sobre a importância dos exameslaboratoriais: “Uma das principais deficiências da literaturacientífica sobre os testes diagnósticos é a ausência de umadeclaração explícita sobre a necessidade clínica, ou seja, aquestão clínica ou operacional a que o emprego do testeestá querendo responder”. Em outras palavras, muitofreqüentemente os testes são solicitados sem umentendimento claro sobre como os resultados serãoutilizados. Acredita-se comumente no mito de que maisinformações sempre é melhor ou que, de algum modo, ostestes revelarão respostas importantes. Na verdade, fazer asperguntas certas é a parte mais importante do processo,seguida do uso adequado dos exames que, em geral,respondem a essas perguntas.

“Ninguém diz: 'Eis a amostra de sangue. Façam todos ostestes possíveis e enviem os resultados'. A quantidade de

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dados que o médico solicitante teria de processar seriaabsurda”, afirma o Dr. Rodriguez. “Por isso, há um processode seleção com base no treinamento e na experiência”.

Embora seja natural pensar que dispor de informações émelhor na hora de tentar descobrir o que há de errado comum paciente, os especialistas dizem que muitas vezes essenão é o caso. Os testes envolvem custos, e não apenasfinanceiros. Em "Paternity"

(“Paternidade”, 1-02), Cuddy censura House por solicitar umteste de DNA de 3.200 dólares para resolver uma disputa. Amaioria dos testes não é tão cara assim, mas, somados,chegam facilmente a valores muito altos que podem ou nãoser cobertos integralmente pelo plano de saúde. É claro que,mesmo quando o seguro paga pelos exames, os planos desaúde e os órgãos públicos simplesmente embutem essescustos em suas mensalidades e tarifas. No entanto, comfreqüência, o custo imediato dos testes médicos aospacientes pode ser medido em termos de ansiedade e dosprocedimentos de acompanhamento. Esses custos precisamser levados em conta e comparados aos potenciaisbenefícios obtidos com as informações.

“É preciso estudar o histórico e o exame físico do paciente e,com base em seu conhecimento, solicitar os exames. Essasinformações deverão orientá-lo na escolha adequada. Antes

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de solicitar um exame, é preciso ter uma hipótese em mente.'Minha hipótese é de que, ao obter o resultado desse exame,terei a resposta que estou procurando' ou 'Vou solicitar oteste porque espero que seja negativo e isso excluirá umadas opções. Em seguida, com base nesses dados, podereireduzir ainda mais a gama de possibilidades'": afirma o Dr.

Rodriguez. "A atitude do tipo: 'Bem, não sei o que esse testevai revelar, mas, assim que tiver os resultados, saberei o quefazer' envolve lidar com o caso de uma posiçãodesvantajosa, em vez de tentar selecionar seus processos deteste de uma posição privilegiada' .

Um dos exames mais controversos desenvolvidosrecentemente pode determinar se uma mulher é ou nãoportadora do BRCA1, o assim chamado gene do câncer demama. Como ocorre com a maioria dos exames, o teste deBRCA1 não responde de forma concreta se determinadamulher terá ou não câncer de mama. Um teste positivoinforma que existe um risco maior do que a média dedesenvolver esse tipo de câncer. A quantificação desse"risco maior" é tema de debates científicos.

Mas a verdadeira questão para uma mulher diante de umteste para a presença do gene do câncer de mama (ou paraqualquer pessoa que esteja pensando sobre qualquer teste)é: "O

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que vou fazer com o resultado?". Algumas mulheres cujostestes foram positivos para a mutação do gene BRCA1optaram por fazer mastectomias, embora não tivessem câncerdetectável. Outras escolheram ficar com seus seios, fazendoexames clínicos e mamografias freqüentes.

Por outro lado, um resultado negativo não significa quedeterminada mulher não terá câncer de mama; significaapenas que seu risco pode ser mais próximo ao risco médio.

A situação é diferente, é claro, para uma paciente internadaque está claramente doente...

E cujos testes laboratoriais irão ajudar os médicos adescobrir o que está errado. Mas, quando os testes chegamdo laboratório, os médicos precisam decidir quais resultadossão relevantes.

O laudo informará se os resultados estão dentro da faixanormal, o que levanta outra questão: o que é normal?

No episódio "Spin" ("O Ciclista", 2-06), um ciclistaprofissional tem um colapso. Os resultados do exame desangue parecem normais, mas Chase imagina se o que énormal para a maioria das pessoas seria considerado anormalpara esse paciente. Talvez seus resultados

"normais" mostrassem contagens de leucócitos elevadas

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para esse paciente, sugerindo, assim, uma infecção.

Normal não é sinônimo de saudável. Não entendemos osuficiente sobre o corpo humano para podermos calcularuma lista objetiva de todos os valores "mais saudáveis" dediferentes substâncias. Na maior parte dos casos, os valoresobtidos nos resultados dos exames baseiam-se em medidasrelativas a grandes grupos de pessoas que parecem sersaudáveis; pelo menos aquelas que não apresentamsintomas conhecidos ou histórico de doença. Como muitascoisas na natureza, os resultados coletados com essesparticipantes da pesquisa produzem uma curva em forma desino em um gráfico denominado distribuição normal, o quequer dizer que muitas pessoas apresentaram resultados emalgum ponto perto do meio, mas algumas pessoas tiveramresultados substancialmente maiores ou menores, emboraaparentassem ser saudáveis na hora do teste.

A prática geral é descartar as "caudas" da curva em forma desino e depois definir uma faixa normal para os resultados queincluem cerca de nove dentre dez pessoas na pesquisa.

Por exemplo, a faixa para a contagem total de leucócitos, emgeral, é entre 4 mil e 10 mil células por milímetro cúbico desangue. Em outras palavras, duas pessoas perfeitamentesaudáveis podem ter contagens de leucócitos muitodiferentes. Na verdade, uma poderia ter uma contagem duas

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vezes mais alta do que a outra e ainda ser consideradadentro da faixa normal.

As pessoas que estão claramente doentes não apresentamos mesmos números em um teste específico. Essesresultados variam para elas, assim como para as pessoassaudáveis. E

essa faixa para pessoas doentes, em geral, se sobrepõe àfaixa dos resultados das pessoas saudáveis.

Às vezes, outros fatores estão envolvidos. Por exemplo, osníveis de colesterol são cada vez mais comparados com osníveis desejados, e não com os níveis médios. Então,quando seu médico afirma que seu colesterol está um poucoalto, pode ser algo perfeitamente normal, embora indique quevocê corre um risco mais alto de ataque cardíaco do que aspessoas com níveis de colesterol mais baixos.

Embora as pessoas, até mesmo médicos, em geral, façamreferência aos resultados normais ou anormais dedeterminado exame, o termo oficial para esses valores em umlaudo é a faixa de referência. Essa expressão foi criada pararessaltar o fato de que os resultados estão ali apenas paraajudar a comparar um paciente individual com a populaçãoem geral, e não para declarar o que é normal ou saudável.

Não há uma separação clara entre valores normais e

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anormais para a maioria dos testes laboratoriais ou examesclínicos. Como os limites normais para muitos testes sãoestabelecidos por métodos estatísticos, é fundamental que oclínico baseie sua interpretação dos resultados laboratoriaisna situação clínica. Além disso, os clínicos precisam saberque a prevalência da doença é afetada pelo ambiente em quese dá a sua prática médica e a maneira como utilizamdeterminado teste clínico pode afetar o valor preditivo doteste utilizado.

- W. B. Applegate, "Decision Theory for Clinicians: Usesand Misuses of Clinical Teses", Southern Medical Journal,abril de 1981, p. 468.

Mais uma vez, a lição é que os médicos precisam analisar opaciente como um todo e decidir que resultados de testes seencaixam no quadro geral. Casos em que um único númerodefine o desfecho são a exceção, não a regra.

Em vários episódios de House os resultados dos testes nãoforam o que pareciam ser no princípio. Às vezes, como em"Spin" ("O Ciclista", 2-06), medicamentos que o pacientetomava secretamente pra impulsionar o desempenho atléticomascaravam uma doença subjacente. Em outros casos, adieta do paciente afeta os resultados dos testes. Em "TheSocratic Method" ("O Método Socrático", 1-06), a pacienteestava tendo problemas de sangramento e coagulação ao

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mesmo tempo, embora os testes de tempo de coagulaçãoparecessem normais. Sua invariável dieta de hambúrguereshavia causado uma deficiência de vitamina K, o que a levoua ter problemas sangüíneos, mas enganando o teste padrão.

Os médicos precisam ter cuidado para não se deixaremenganar pelos resultados dos exames ao tratar pacientescom medicamentos anticoagulantes, como Warfarina, quetêm como objetivo reduzir o risco de um ataque cardíaco,derrame ou outras ameaças relacionadas com obstruções devasos sangüíneos. Um paciente que adora couves ou outrasverduras ou folhas verdes talvez precise de uma dose maisalta de medicação para obter o efeito desejado.

Mas, quando as folhas verdes estão fora de época e a dietado paciente muda, a dose do medicamento que estavacorretamente balanceada no verão talvez esteja elevadademais, levando a um sangramento perigoso.

Quem está no laboratório?

No seriado, Chase, Cameron ou Foreman sãofreqüentemente vistos trabalhando no laboratório,examinando amostras de tecidos ou esperando até que umamáquina acabe de processar uma análise química.

"Isso é ficção", afirma o Dr. Rodriguez. Realizar exameslaboratoriais não só requer especialização, mas também é

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rigidamente regulado por leis federais e estaduais. "Não épermitido aos médicos conduzir a maioria dos testes".

A CLIA, ou as Emendas para o Aperfeiçoamento dosLaboratórios Clínicos de 1988, é a lei federal norte-americanaque estabelece padrões para todos os laboratórios médicos,desde os mais bem equipados centros médicos acadêmicosaos menores laboratórios do país, nos próprios consultóriosmédicos. O principal ímpeto para uma regulamentação maisrigorosa foi uma investigação conduzida pelo Wall StreetJournal em 1987. A série de artigos revelou uma variedadede práticas fraudulentas ou negligentes, incluindolaboratórios que forçavam

seus funcionários a processar quatro vezes mais esfregaçosde Papanicolau (Pap) do que o recomendado. Os esfregaçosPap podem revelar sinais precoces de câncer cervical. Asaúde e a vida de muitas mulheres foram colocadas em riscoporque alguns cânceres letais não foram detectados, mastambém porque outras mulheres foram submetidas a testesou procedimentos adicionais impulsionados por laudospositivos errados.

"Qualquer teste que influencie a forma de tratamentodispensada ao paciente está coberto por essa lei", afirma oDr. Rodriguez, "não é que os médicos não possam realizarseus próprios testes, mas eles teriam de ser avaliados pelo

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menos uma vez ao ano para satisfazer a

banca médica".

O médico especializado em exames laboratoriais e no estudode fluidos e tecidos corporais é o patologista. Testes delaboratório também são realizados por técnicos e outrosprofissionais treinados e licenciados para realizar os exames,mas quem interpreta os resultados é um médico. Com maisde 2 mil exames laboratoriais disponíveis, quando umpaciente precisa de testes especializados é um patologistaque geralmente ajuda o médico responsável a selecionar ostestes que mais provavelmente terão respostas úteis... Edepois o

patologista, em geral, consulta o médico responsávelquando os resultados são conhecidos.

A defasagem de tempo entre a solicitação de um examemédico e os resultados é muito maior do que aparece natelevisão. No mundo real, testes complexos, como algumasanálises genéticas, podem levar semanas.

Testes freqüentemente usados:

VELOCIDADE DE HEMOSSEDIMENTAÇÃO

Um dos exames laboratoriais mais freqüentemente

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mencionados em House é o VHS, ou velocidade dehemossedimentação. O teste VHS foi criado em 1921. É umamedida da velocidade em que os eritrócitos, ou os glóbulosvermelhos, se depositam no sangue não-coagulado. A taxacom que as células caem é influenciada pela quantidade defibrinogênio no sangue.

O teste de sedimentação pode indicar a presença deinflamação, que, por sua vez, pode sugerir que o pacienteestá combatendo uma infecção, um câncer ou talvez artrite,doenças vasculares ou outras condições.

Por ser um teste de seleção abrangente, o VHS nãorepresenta prova da existência de uma condição específica.Ele simplesmente indica se o sangue do paciente temaparência normal ou se algo está errado.

PAINEL BIOQUÍMICO

O painel bioquímico é outro teste comumente solicitado porHouse e sua equipe.

O teste envolve sete testes diferentes que analisam abioquímica de uma amostra de soro sangüíneo, que é a partedo sangue sem os glóbulos brancos (leucócitos), glóbulosvermelhos (hemácias) ou outras células. O resultado dessepainel mostra os níveis de uréia, cloro, dióxido de carbono,creatinina, glicose, potássio e sódio no soro sangüíneo do

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paciente.

Esse tipo de teste também é chamado de painel metabólicobásico, embora o índice, em geral, inclua uma medição decálcio, aumentando o número de testes para oito.

HEMOGRAMA COMPLETO

O painel bioquímico avalia sete aspectos do soro sangüíneoe o hemograma completo faz uma análise mais abrangente dehemácias, leucócitos e plaquetas. O hemograma completoinclui medições de hemoglobina, a proteína dos glóbulosvermelhos que transporta oxigênio.

Muitas doenças afetam os níveis de células sangüíneas eoutros fatores medidos pelo hemograma, tornando-o umbom ponto de partida para uma investigação de diagnóstico.

Contagens elevadas de glóbulos brancos podem indicar umainfecção ou alguns tipos de câncer, como leucemia.Paradoxalmente, uma contagem reduzida também pode sersinal de infecção grave. Contagens elevadas de glóbulosvermelhos podem ser sinal de diarréia ou desidratação grave.Baixas contagens de glóbulos vermelhos podem indicaranemia.

Contagens elevadas de plaquetas podem indicar risco deformação de coágulos perigosos.

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Baixos níveis de plaquetas podem indicar risco desangramento.

Os hemogramas completos eram solicitados como parte dequase todos os exames de rotina. São utilizados com maisparcimônia agora, mas ainda são comuns na investigaçãoampla, no início do processo diagnóstico.

TESTES TOXICOLÓGICOS

Um boletim do Yale-New Haven Hospital, em Connecticut,considera os testes toxicológicos "provavelmente os maismal entendidos de todos os realizados pelo LaboratórioClínico". Embora seja mencionado no seriado como se fosseum único teste, esses exames toxicológicos, na verdade,descrevem uma variedade de testes usados para procurartoxinas, incluindo drogas, na urina, no sangue e em outrosfluidos e tecidos corporais. O artigo publicado no boletimchamava a atenção para o fato de que os testestoxicológicos não têm como eliminar todas as possibilidadesde envenenamento ou de exposição às mais diversassubstâncias, pois existem simplesmente variáveis demais.

Quando um médico solicita um exame toxicológico, naverdade está pedindo um de uma série de procedimentos detestes específicos. Assim, antes de solicitar um exame, omédico deve decidir o que acha que está causando o

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problema do paciente, com base em seu histórico ou emoutras informações.

Um dos testes toxicológicos mais comuns envolve acromatografia em camada fina (TLC) em uma amostra deurina. Um teste positivo indica exposição, mas outros testessão necessários para definir a quantidade de certasubstância no organismo e o momento em que a exposiçãoocorreu. Às vezes, esse tipo de teste identifica rnetabólitos,ou produtos do metabolismo, de uma substância que podepermanecer mais tempo no corpo.

As amostras de sangue em geral são analisadas comcromatografia a gás ou testes específicos que se destinam adetectar certas substâncias, como drogas que podem causaroverdose perigosa.

No seriado, os médicos com freqüência observam que oexame toxicológico de determinado paciente estava "limpo"ou negativo. Entretanto, esse fato não provaconclusivamente que o paciente não foi exposto a nada, jáque os exames toxicológicos detectam apenas assubstâncias específicas que estão sendo testadas (talvezalgumas dúzias em muitos laboratórios hospitalares) esomente quando os níveis estão acima de certos limiares.Um exame toxicológico negativo somente reduz aprobabilidade de um paciente ter sido exposto à substância

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da qual o médico suspeita.

No episódio "Poison" ("Veneno", 1-08), o exametoxicológico de um paciente foi negativo, mas Chase ressaltaque o resultado pode simplesmente significar que o meninonão foi exposto a uma substância não testada. Na verdade,depois ficou determinado que a causa da doença dopaciente foi envenenamento por pesticida, o qual, contudo,não poderia ter sido identificado no primeiro examesolicitado.

Além de identificar drogas em possíveis situações deoverdose, os exames toxicológicos são usados em uma sériede situações, incluindo suspeitas de exposições no local detrabalho a materiais tóxicos, envenenamento doméstico etambém, como parte do exame de pessoas que demonstramsinais de depressão, distúrbio bipolar e outros problemaspsiquiátricos, para assegurar que o uso de medicações nãoexplica os sintomas. Os exames toxicológicos também podemser usados antes de declarar a morte cerebral do paciente;mais uma vez, apenas para garantir que determinada droganão está suprimindo a atividade das ondas cerebrais dopaciente.

TESTES GENÉTICOS

Existe uma galáxia em expansão de testes que analisam o

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DNA e outros materiais genéticos, um número grandedemais para discutirmos aqui. O emprego dos testesgenéticos é semelhante aos dos outros testes, mas, aomesmo tempo, muito diferente. Como muitos exames desangue, os testes de DNA podem ser usados para identificara fonte dos sintomas de um paciente. Em "Daddy's Boy"("Queridinho do Papai", 2-05), a equipe realizou um teste deDNA para neurofibromatose tipo 2, um tipo de tumor quepode se desenvolver nos nervos.

Diferentemente da maioria dos exames de sangue, em vez demedir apenas o que acontece no corpo do paciente, muitostestes genéticos podem prever o risco de desenvolver certosproblemas. O já mencionado teste para o gene do câncer demama BRCA1 é um exemplo de teste que prevê o risco, emvez de identificar a doença. Um teste que oferece umaprevisão ainda mais sombria é o teste para a Doença deHuntington. Um resultado positivo no teste para essedistúrbio hereditário significa quase certeza de morteprematura, precedida por vários anos de declínio nasfunções mentais e físicas. Filhos de pessoas com a Doençade Huntington podem ser testados. No entanto, a maioriados especialistas e grupos de aconselhamento afirma que oteste pode esperar até as crianças crescerem e poderemdecidir se querem ou não saber qual seu provável destino, jáque não existe tratamento ou qualquer outra medidaconhecida para retardar ou prevenir o aparecimento dos

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sintomas.

Outros testes com um componente genético podem serrecomendados para crianças, porque medidas preventivasou o tratamento podem fazer diferença. Quase todos osrecém-nascidos nos Estados Unidos fazem o teste parafenilcetonúria (PKU), uma das doenças testadas no "testedo pezinho", um distúrbio hereditário que pode levar aoretardo mental e a outros problemas, caso não sejaidentificado logo após o nascimento. Se for identificadoprecocemente, uma dieta controlada pode proteger bem asaúde da criança. Como o teste e o tratamento são tãoeficazes, nos Estados Unidos, o teste do pezinho éobrigatório em todos os estados.

Uma das características mais importantes e desafiadoras demuitos testes para identificar distúrbios genéticos é que osresultados não se referem apenas a um indivíduo, mas naverdade a toda a família. Se uma pessoa na família é testadapara o gene do câncer de mama ou para a doença deHuntington ou para fibrose cística, as respostas obtidaspodem revelar informações sobre os riscos enfrentados porseus familiares. Embora as pessoas, em geral, tenham odireito de manter as informações relativas a seus testesmédicos confidenciais, os conselheiros genéticos consultamquem se submeteu a determinados testes genéticos paradiscutir se e como devem informar os outros parentes sobre

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resultados que também podem afetá-los.

Outro tipo de conseqüência familiar dos testes genéticosestá no episódio "Paternity"

("Paternidade", 1-02). Os testes de DNA encomendadospelo Dr. House revelaram que o paciente, um menino de 16anos, era adotado. Nesse caso, os pais sabiam que o garotonão era seu filho biológico. Entretanto, os conselheirosgenéticos afirmam não ser incomum os testes genéticosrevelarem segredos de família, incluindo traições. Umafamília ficou perplexa quando um pai de meia-idade começoua apresentar sintomas da Doença de Huntington.

Nenhum dos ancestrais diretos havia desenvolvido adoença. Depois ficou claro que sua mãe tivera um casosecreto com um amigo da família. Seus ancestrais não eramde fato aqueles.

Saber dessa troca de paternidade pode ser algocompreensivelmente traumático para a família.

Os conselheiros genéticos têm dificuldades em alertar asfamílias sobre o potencial dos testes genéticos de revelarsegredos que talvez devessem permanecer ocultos.

Dobra no tempo da televisão

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Os médicos no seriado raramente esperam muito para obteros resultados dos testes.

Eles solicitam determinado exame e os resultados chegampraticamente na cena seguinte.

Em geral, no mundo real, os resultados demoram mais parachegar, às vezes muito mais tempo.

Embora certos exames urgentes possam ser realizados emminutos, os resultados em geral só são enviados horas oudias depois... ou talvez até mesmo semanas depois. Noepisódio "Hunting" (“A Caçada“, 2-07), Cameron solicitouum teste de Kveim-Siltzback para sarcoidose, um tipo deinflamação que produz pequenos acúmulos de células emvários órgãos. O teste envolve injetar um preparado feito deum caso confirmado de sarcoidose sob a pele do paciente,de modo parecido com o teste para tuberculose, a fim deidentificar como o corpo do paciente reage. Se aparecer umapápula, uma pequena erupção, significa que o teste épositivo e o paciente provavelmente tem sarcoidose. Noseriado, resultados do teste de Kveim-Siltzbach chegaramem um dia. Na realidade, a reação demora um mês ou mais, epor isso esse teste raramente é usado.

O sangue conta muitas histórias. Por isso é testado comfreqüência. Mas existe outro motivo: tirar uma amostra de

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sangue para teste é um procedimento relativamente fácil eseguro. Evidentemente, muitas pessoas não gostam de tirarsangue e mal conseguem ver a diferença entre umflebotomista e um vampiro... mas para chegar a umdiagnóstico preciso, ou simplesmente como parte de umcheck up regular, os médicos sempre solicitam exames desangue.

Às vezes, a resposta não está em uma amostra de sangue... ehá necessidade de um fragmento de outro tecido. Tirar umaamostra de tecido para fins diagnósticos é chamado debiópsia.

Biópsias

De todas as biópsias retratadas em House, a queprovavelmente causou uma reação mais forte notelespectador foi a biópsia da retina realizada no segundoepisódio, "Paternity", em que o cérebro do paciente podeestar sendo atacado por um vírus de sarampo mutante. Emvez de fazer a biópsia do cérebro propriamente dito, a equipeopta por enfiar uma enorme agulha pelo olho para chegar àretina na parede interna. Foreman ressalta que, embora aagulha pareça assustadora, o olho do paciente foianestesiado, ele não vai sentir dor e o órgão não seráafetado.

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Sarampo mutante

Além de apresentar um procedimento diagnóstico de biópsiada retina, esse mesmo episódio mostra uma forma incomum,mas bem real, de sarampo que pode manter-se latentedurante anos antes de atacar o cérebro.

O vírus do sarampo é um dos mais infecciosos existentes.Embora apenas 37 casos tenham sido reportados nosEstados Unidos em 2004, um novo recorde mínimo, antes davacinação, o sarampo era uma doença infantil comum. Namaioria dos casos, os sintomas duram cerca de uma semana,causando erupções cutâneas, febre, tosse, coriza e olhosvermelhos e lacrimejantes. Ainda é comum em algumaspartes do mundo que não têm uma rotina de vacinação.Embora seja fatal em menos de um por cento dos casos, osarampo mata quase 1 milhão de crianças anualmente emtodo o mundo.

No entanto, os casos típicos e breves de sarampo talvez nãorepresentem o fim da ameaça viral. Às vezes, o vírus dosarampo fica latente, emergindo anos ou mesmo décadasdepois como uma doença cerebral mortal denominadapanencefalite esclerosante subaguda. Devido à vacinaçãocontra o sarampo, a panencefalite praticamente desapareceunos Estados Unidos. Em 1980, a taxa dessa doença haviacaído para cerca de um caso por ano para cada 17 milhões de

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pessoas.

Em "Paternity", um jovem adolescente adotado logo após oparto desenvolveu visão dupla e terrores noturnos. O Dr.House percebeu um tique mioclônico: a contração daspernas do garoto, que normalmente só acontece quando aspessoas estão caindo no sono.

Esses são sintomas da panencefalite, mas também de outrosproblemas de saúde mais comuns. Por fim, House descobreque a mãe biológica do garoto não fora vacinada contrasarampo, o que deixou seu filho vulnerável nos primeirosmeses de vida, quando ele deveria ter sido protegido pelosanticorpos maternos.

Houve relatos de panencefalite em crianças cujas mães nãohaviam sido vacinadas, embora os pacientes tivessemrecebido a vacina e não apresentassem sinais de infecçãotípica de sarampo durante a infância. Provavelmente, o víruspode ficar latente durante muitos anos. Em um estudo, opaciente mais velho a desenvolver a doença tinha 26 anos,quase 24 anos depois de ter tido sarampo quando criança.

Problemas de visão podem preceder outros sintomasneurológicos em alguns anos.

"Tenho o caso de uma jovem australiana que aos 25 anosapresentou queda no rendimento escolar, dificuldades de

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memória e problemas de atenção e concentração. Essessinais geralmente não são levados em conta porque não sãoespecíficos. Ela teve coriorretinite (uma inflamação dosvasos sangüíneos na retina) diagnosticado por umoftalmologista aos 9 anos, mas foi descartada como algumtipo de infecção, possivelmente viral, não-específica", afirmao Dr. Generoso G. Gascon, professor emérito deNeurociência Cognitiva e Pediatria da Faculdade deMedicina da Universidade de Brown, em Providence, noestado norte-americano de Rhode Island.

O Dr. Gascon afirma que, quando aparecem espasmosmioclônicos, o paciente já está na segunda fase dapanencefalite esclerosante subaguda.

A panencefalite geralmente leva a convulsões, demência,coma e morte. Injetar interferon - uma proteína que estimulao sistema imunológico a agir - diretamente no cérebro é umadas opções de tratamento para a doença. Isoprinosina oral,também chamada de inosiplex, é uma das primeiras opçõesde tratamento. Em um estudo, cerca de um terço dospacientes teve os sintomas estabilizados ou melhoradosapós seis meses apenas com isoprinosina ou em combinaçãocom alfa-interferon injetado nos ventrículos do cérebro.Drogas antivirais, como ribavirina, também foram tentadasem pacientes com panencefalite esclerosante subaguda.Outros estudos indicam que cerca de cinco a dez por cento

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dos pacientes com panencefalite se recuperam por contaprópria.

Os pacientes também recebem medicamentos, como a drogaantiepiléptica carbamazepina, para controlar os espasmosmusculares causados pela panencefalite.

No fim do episódio "Paternity", o paciente adolescenteaparece jogando lacrosse novamente, aparentementecurado. Na realidade, a sobrevivência a longo prazo éincomum.

A maioria dos pacientes com panencefalite enfraquece aospoucos e morre, independentemente do tratamento recebido.

Ainda assim, o Dr. Gascon afirma que histórias ocasionaisde sucesso motivam a ele e outros especialistas empanencefalite.

"Talvez eu tenha tido quatro ou cinco pacientes nos últimos25 a 30 anos de clínica que tiveram esse tipo de recuperação,e sei que são casos esporádicos no mundo todo assim",afirma o Dr. Gascon. "É esse tipo de resultados que nosmantém firmes na tentativa de tratar esses pacientes."

Poucas biópsias são tão dramáticas quanto a agulha nosolhos. As biópsias são realizadas rotineiramente comoseguimento aos achados de mamografias, testes para câncer

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de próstata, entre outros.

A biópsia estereotáxica com agulha é uma forma popular dedescobrir se determinado caroço visto na mamografia é umtumor ou meramente um cisto. Antes de a técnica serintroduzida, muitas mulheres eram submetidas a pequenosprocedimentos cirúrgicos para que o médico pudesseremover e inspecionar o caroço suspeito. Como alternativa àremoção cirúrgica do caroço, nos casos em que é possívelsenti-lo, o médico pode simplesmente inserir uma agulha eretirar algumas células. Um patologista examina as células embusca de sinais de câncer.

A biópsia estereotáxica com agulha leva essa tecnologia umpasso além, permitindo que os médicos encontrem caroçosmesmo quando não podem ser sentidos. A mulher deita debruços em uma mesa especial com uma abertura para o seio.Um tipo especial de dispositivo de mamografia tira imagensdo seio de vários ângulos e, em seguida, depois ocomputador calcula precisamente o local do caroço suspeito.Além disso, o computador controla a agulha da biópsiamontada sob a mesa, orientando-a diretamente até o nódulo.Dessa maneira, o médico sabe que as células que estãosendo examinadas são do mesmo ponto que pareceramsuspeitas na mamografia.

Os homens também têm sua cota de biópsias com agulha –

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para câncer de próstata.

Quando um exame de sangue ou de próstata levantasuspeita de câncer, amostras da próstata podem ser tiradaspor meio da biópsia com agulha. Na maioria dos casos, omédico que realiza a biópsia é guiado por ultra-som. Noentanto, essa técnica não é tão precisa quanto a da biópsiaestereotáxica do seio. Mesmo quando várias amostras sãotiradas, pequenos tumores ficam de fora.

Nem sempre as biópsias são realizadas com agulhas. O termosimplesmente refere-se a recuperar algum tecido para examepelo método mais adequado. Algumas biópsias envolvempequenos procedimentos cirúrgicos. Uma biópsia dospulmões pode ser realizada com um broncoscópio.

Broncoscópio é um dispositivo com um tubo flexível quepode ser inserido pela garganta até os pulmões. Com fibrasóticas, o médico pode ver aonde está indo a ponta do tubo.Pode sugar fluidos pelo tubo para exame. O médico podecoletar tecido sólido utilizando minúsculos fórceps inseridospelo tubo.

Amostras de procedimentos de biópsia, qualquer que seja atécnica utilizada, são enviadas a um laboratório de patologiapara exame sob um microscópio ou análise por outrosmétodos.

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Imagens

Em quase todos os episódios, a equipe solicita imagens dealta resolução dos pacientes.

Com muita freqüência, os exames são imagens porressonância magnética (MRI) e tomografia computadorizada(TC), mas também utilizam imagens de ultra-som ou damedicina nuclear.

Cada uma dessas tecnologias tem pontos fortes e fracos ecada uma é usada de maneira específica para ajudar o médicoa fazer o diagnóstico ou orientar o tratamento.

MRI

MRI é a sigla em inglês para imagens por ressonânciamagnética, também chamada de ressonância magnéticanuclear (NMR).

Ímãs potentes fazem com que os átomos de hidrogênio nocorpo, integrantes da água e de outras moléculas, se alinhemao longo da direção do campo. Pulsos de radiofreqüênciafazem com que alguns dos átomos de hidrogênio semovimentem e emitam energia. A energia é detectada emapeada por um computador para produzir a imagem porressonância magnética, que é interpretada por umradiologista.

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Geralmente os exames são usados para visualizar tecidosmoles, que vão do cérebro ao abdômen, passando pelosmúsculos e tendões.

O nome original dessa técnica, ressonância magnéticanuclear, caiu em desuso em parte por conta da preocupaçãodas pessoas, imaginando que os dispositivos ou a energiapara a geração das imagens eram radioativos. Não são.Neste caso, a palavra "nuclear" significa apenas o núcleodos átomos que são afetados pelos campos magnéticos epulsos de radiofreqüência.

Existem também novos tipos de máquinas de MRI chamadasde MRIs funcionais. Em vez de tirar imagens estáticas dointerior do corpo, as MRls funcionais (às vezes chamadas def-MRIs) podem fazer filmes. As f-MRIs são usadas nainvestigação do cérebro. À medida que os participantes doestudo realizam várias tarefas, as imagens podem mostrarquais partes do cérebro estão sendo utilizadas.

TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA

A tomografia computadorizada (TC) também é chamada deCAT scan, abreviação em inglês para tomografiacomputadorizada axial.

O nome refere-se ao uso de computadores para criar imagensbi ou tridimensionais a partir de uma série de leituras de raio

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X. O dispositivo emite um feixe estreito de raio X, que émedido por um detector no outro lado do paciente que estásendo examinado. A intensidade desse feixe revela quantaenergia do raio X é absorvida ou dispersa na passagem dofeixe.

Essa única informação não revela muito, mas, com ocomputador realizando uma série de cálculos completos,todas essas informações dispersas dos feixes enviados pelocorpo em todos os ângulos podem ser agrupadas para geraruma imagem detalhada no corpo do paciente.

As imagens por tomografia computadorizada dos tecidosmoles, em geral, são menos detalhadas do que as produzidaspor MRIs. Uma imagem padrão de TC não mostra os vasossangüíneos muito bem. Entretanto, se uma solução decontraste for injetada no fluxo sangüíneo, então uma imagemde tomografia computadorizada poderá oferecer uma visãopreciosa do fluxo sangüíneo e das anormalidades daestrutura dos vasos sangüíneos. A solução de contrasteabsorve os raios X de modo que os vasos sangüíneos sedestaquem e brilhem nas imagens por TC.

Os tomógrafos foram projetados para utilizar a quantidademáxima necessária de radiação por raios X. O risco decânceres ou de outros problemas relacionados com aradiação de um único exame é extremamente baixo.

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Entretanto, o risco aumenta se o paciente precisar de váriosexames ou de monitoramento constante. Além disso, osmédicos raramente fazem tomografias em mulheres grávidas,especialmente nas primeiras semanas de gestação, pois aradiação pode aumentar o risco de má-formação ou decâncer no feto.

RAIO X

O termo comumente significa o emprego de raios X paraobter uma única imagem bidimensional dos ossos e dasprincipais estruturas do corpo. A radiação é semelhante àutilizada nas tomografias computadorizadas, só que nãoexiste manipulação dos dados para criar ângulos diferentes.Os raios X são a maneira mais antiga de geração de imagensmédicas. Em 1895, o físico alemão Wilhelm Conrad Roentgendescobriu como produzir radiação de alta energia queatravessasse vários objetos sólidos do mesmo modo que aluz normal passa pelo vidro translúcido. Essa radiação ' X"tem efeitos sobre o filme fotográfico e por isso a técnicapode ser usada para gerar imagens de sombras da estruturainterna do corpo.

As máquinas modernas produzem imagens muito maisnítidas, é claro, e utilizam muito menos radiação. Os raios Xsão usados rotineiramente para verificar a presença decáries, diagnosticar se há ossos quebrados, procurar

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infecções de tuberculose nos pulmões e muito mais. Emdeterminado momento, os raios X eram parte dos checkupsde rotina, mas essa prática acabou uma geração atrás, emmeio às preocupações sobre a exposição desnecessária àradiação. Da mesma forma, as esperanças iniciais de queraios X regulares do tórax pudessem ajudar a detectar sinaisprecoces de câncer de pulmão nos fumantes foram perdendoforça à medida que estudos demonstram que, quando ostumores se tornavam detectáveis, já estavam muitoavançados para serem tratados com sucesso. Existemestudos em andamento para ver se os mais recentestomógrafos, de alta resolução, são úteis para os fumantes.

Aplicações especializadas dos raios X incluem angiografia,mamografia e testes de densidade óssea.

A angiografia usa fluidos de contraste injetados nas artériaspara ajudar a produzir imagens detalhadas do fluxosangüíneo. A técnica pode localizar e medir estreitamentosou bloqueios que podem causar ataques cardíacos ouderrames. As imagens podem ser feitas em tempo real paraajudar a orientar o médico com o uso de cateteres ou comoutros métodos para restaurar o fluxo sangüíneo. Aangioplastia e os stents cardíacos são terapias de ponta paraataques cardíacos e dor no peito devido a problemas decirculação com o emprego de cateteres.

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Diferentemente da maioria das operações derevascularização cardíaca, o tórax do paciente permanecefechado, por isso esses tratamentos baseiam-se naangiografia para mostrar aos cardiologistas a localização daspontas dos cateteres que estão sendo usados.

A mamografia é o uso de uma máquina de raio Xespecificamente projetada para procurar tumores e outrasanomalias nos seios.

Os exames de densitometria óssea, usados para verificar aexistência de sinais de osteoporose, utilizam raios X, masnão para criar uma imagem convencional. As informaçõesimportantes aqui consistem em mostrar a força dos ossos.Passando os raios X pelo corpo, a máquina pode calcular adensidade dos ossos em função da quantidade de energiade raio X

bloqueada.

Embora a principal diferença entre os raios X padrão e atomografia computadorizada seja o fato de os tomógrafosusarem cálculos de computador para criar a imagem, os raiosX

padrão estão evoluindo para o formato digital. Cada vezmais, dispositivos semelhantes a câmeras digitais estãosubstituindo o filme. Os computadores também estão sendo

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usados para aperfeiçoar e até mesmo começar a examinartodos os tipos de imagens, incluindo raios X padrão.

MEDICINA NUCLEAR

Em vez de enviar um feixe de energia pelo corpo para revelaro que está dentro dele, a medicina nuclear em geral utilizafluidos ligeiramente radioativos que são infundidos ouingeridos pelo paciente para encontrar tumores, pequenasfraturas ósseas ou outras anomalias.

A substância radioativa, chamada de marcador, é formuladapara coletar dados em uma área de interesse ou se acoplar aum tumor ou outra anomalia. Uma câmera que conseguedetectar radiação de baixo nível vê o acúmulo do marcadorcomo um ponto de acesso.

Em geral, as imagens são pouco nítidas, não mostrandodetalhes das estruturas internas do corpo. No entanto, osraios X padrão e a maioria das outras técnicas de geração deimagens precisam ser direcionados para uma parte específicado corpo. Isso significa que os médicos precisam ter algumaidéia de onde procurar. Uma vantagem dos marcadores damedicina nuclear é que podem ajudar a encontrar tumoresquando os médicos não sabem onde procurar.

Por exemplo, nos pacientes com sintomas que sugerem queo câncer pode estar localizado em qualquer parte do corpo,

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uma imagem da medicina nuclear pode revelar o local em queo tumor se esconde. Os marcadores também são usados paramonitorar alguns pacientes de câncer para recorrências apóso tratamento, já que talvez seja possível localizar tumoresmicroscópicos.

PET scan (sigla em inglês para Positron EmissionTomography, ou tomogra6a por emissão de pósitrons) é umadas aplicações da medicina nuclear. Um PET scan temalguma similaridade com as tomografias computadorizadas.Um anel de detectores localiza as emissões radioativas debaixo nível e um computador usa a tomografia para agruparos dados em uma imagem. A diferença é que, durante umPET scan, a radiação vem de uma substância marcadoraintroduzida no corpo do paciente, enquanto as tomografiascomputadorizadas envolvem raios X advindos de umemissor externo e que passam pelo corpo do paciente antesde chegar ao detector.

Os PET scans são freqüentemente usados para detectarcâncer, porque as células tumorais tendem a consumir maisglicose do que a maioria das células normais; por isso ummarcador radiativo feito de glicose se concentrará no tumor,produzindo, assim, uma área brilhante na imagem gerada porPET. Os PET scans também são usados por clínicos epesquisadores para estudar a atividade cerebral. Quandouma região do cérebro está ativa, utiliza mais glicose, por

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isso fica mais brilhante em um PET scan que utiliza ummarcador de glicose. Por exemplo, os PET scans ajudaram ospesquisadores a identificar as partes do cérebro que estãoenvolvidas na visão e em outros sentidos, onde aslembranças são armazenadas e que áreas são estimuladasquando um fumante traga um cigarro.

A tomografia por emissão de fótons (SPECT) funciona demodo muito parecido com o PET scan, mas o marcador éprojetado para gerar um tipo de radiação diferente. Asimagens SPECT são menos detalhadas do que as dos PETscans, mas os dispositivos são menos caros e maisamplamente disponíveis.

ULTRA-SONOGRAFIA

Os aparelhos de ultra-som estão se tornando tão comuns namedicina que ameaçam o papel do venerável estetoscópiocomo o primeiro instrumento a ser usado pelo médico parapesquisar o corpo do paciente.

Como o nome indica, os aparelhos usam ondas de som dealta freqüência, como o sonar, para criar uma imagem.Diferentemente dos feixes de raio X, que atravessam opaciente para chegar ao detector, a energia do ultra-somreflete no transdutor, que emite e detecta ondas de som, daío apelido do ultra-som ser "eco".

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O ultra-som não apresenta o mesmo tipo de preocupaçãocom a segurança que os raios X; nem as máquinas são tãocaras quanto as de ressonância magnética. Na verdade, osaparelhos de ultra-som continuam a diminuir tanto em termosde custos quanto de tamanho.

Existem dispositivos portáteis que custam menos de mildólares e foram fabricados para substituir os estetoscópiosem certas situações.

O ultra-som não só é usado para visualizar fetos e órgãos,mas é particularmente adequado para medir o fluxosangüíneo, graças ao efeito Doppler. O efeito Doppler éouvido quando a sirene de uma ambulância ou de um carrode polícia em movimento parece mais alta no momento emque o veículo se aproxima e depois diminui de intensidade àmedida que o veículo passa. Essa mudança de intensidadepode ser usada para calcular a velocidade com que o sangueestá fluindo na direção do transdutor de ultra-som ou emdireção contrária. O

ultra-som Doppler é freqüentemente utilizado para detectarproblemas com válvulas cardíacas, pois é sensível àpassagem do sangue por uma válvula que deveria estartotalmente vedada.

O Dr. Elliot Fishman, da Universidade Johns Hopkins,

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enfrenta rotineiramente os tipos de casos que seriam típicosdo Dr. House, casos que desafiaram outros médicos.

Ele lembra o caso de um paciente que atendeu recentemente.

“O paciente tinha muitos sintomas vagos - perda de peso,mal-estar. O exame de sangue tinha valores alterados e a taxade sedimentação era elevada. Todos esses dados indicavamum processo crônico. Em seguida, ele foi submetido a umatomogra6a computadorizada. Pensou-se que o pacientepoderia ter algum tipo de malignidade. Acabaramdescobrindo que ele sofria de vasculite, uma condiçãochamada de Arterite de Takayasu, caracterizada peloespessamento das paredes dos vasos sangüíneos. É tratadacom esteróides, Não é uma cura, mas em geral pode sercontrolada”, afirma o Dr. Fishman. “Foi totalmenteinesperado. Ninguém havia pensado nisso, mas a tomografiacomputadorizada deixou o quadro bem claro”.

Segundo ele, o seriado mostra um quadro bem realista dosmédicos que utilizam as imagens médicas para ajudar aresolver casos completos... e identificar condições raras querealmente aparecem.

“Com as tomografias, realmente dá para ver o que está ládentro”, afirma o Dr.

Fishrnan.

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As tomografias e ressonâncias magnéticas de fato podemver demais, gerando ansiedade e testes adicionais paraverificar aparentes anormalidades que, no final das contas,não representam qualquer risco à saúde.

Pesquisadores no sul da Califórnia analisaram mais de miltomografias computadorizadas de corpo inteiro realizadas emum centro de imagens particular para um estudo de revisãode casos. Três em cada quatro pacientes que foramexaminados haviam decidido fazer o exame por contaprópria; em outras palavras, não tinham sido encaminhadospor um médico e provavelmente não havia um problemamédico envolvido que exigisse testes por geração deimagens.

Quase todas as tomografias, nove em dez, encontraram algo,mas isso não significa que essas imagens tenham impedidoque as pessoas ficassem doentes ou morressem. Na maiorparte das vezes, nada foi feito, porque a anormalidade vistanas imagens não parecia ser importante. Em cerca de umterço dos casos, os indivíduos foram encaminhados para arealização de novos testes ou outros tipos de seguimento.

Imagine se todo mundo fizesse uma tomografia de corpointeiro só para ver o que está acontecendo dentro de seucorpo! O resultado seriam milhões de pessoas indicadaspara novos testes. E só raramente algo realmente ameaçador

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seria descoberto. Além disso, mesmo que algo perigosofosse encontrado em um teste assim, talvez não pudesse sertratado; portanto, o destino final do paciente não mudaria. Aúnica maneira como a tomografia funcionaria nesse casoseria dar ao paciente a má notícia mais cedo e provavelmenteaumentar o número de exames, preocupação e despesas.

Quando alguém decide fazer uma tomografia sem indicação,em geral paga do próprio bolso. Nos Estados Unidos, umatomografia do tórax, abdômen e pélvis em um aparelho detomografia computadorizada móvel pode ser obtida a 398dólares. Na outra ponta da balança, um centro de imagens espa resort no Havaí oferece translado do aeroporto, colarperfumado de boas-vindas, tratamentos de spa, refeições eacomodação por duas noites, além de cinco testes comimagens e outros exames, tudo por quatro mil dólares.

Os altos valores dos exames acabam com o entusiasmopopular pelas imagens de tomografias computadorizadas. Deacordo com uma pesquisa de mercado realizada por umaempresa de imagens médicas da área de Boston, o custo erao motivo mais comum citado pelas pessoas para não quererfazer uma tomografia computadorizada. Ao reconhecer queum teste inicial muitas vezes leva a novas perguntas, essaempresa inclui uma quantidade limitada de exames no pacotebásico. "Se alguém tem alguma coisa, especialmente nofígado ou nos rins, às vezes aparece na tomografia como um

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cisto, mas não é possível ter cem por cento de certeza, porisso fazemos uma ultra-sonografia para confirmar esseachado, ou a anomalia no fígado ou nos rins, como parte doexame sem cobrar qualquer adicional. Estamos fazendo issopara deixar o menor número de lacunas possível", afirma oDr. Max Rosen. Mas ele concorda que os centros deimagens não podem oferecer um acompanhamento completode novos exames toda vez que o resultado apontar paraalgum tipo de anormalidade.

O radiologista dr. James Borgstede, presidente do Conselhodo Colégio Norte Americano de Radiologia, afirma que astomografias iniciais não são problemáticas. "O

verdadeiro problema está nos resultados falso-positivosobtidos nesses exames. Quem paga por eles", pergunta."Sabe como é, os pacientes vêm e pagam pelo exame, mas,quando algo aparece, que em geral é um falso-positivo,então o seguro entra em cena. Se você tiver um plano desaúde, alguém no plano pode fazer esse tipo de exame, e issomuda o perfil de seu plano de saúde e acaba afetando toda aestrutura de seu benefício. Então, acho que precisamospensar isso do ponto de vista epidemiológico epopulacional".

Alguns especialistas vão além, argumentando que, até queas tomografias provem seu valor, as pessoas que optarem

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pelo exame sem sintomas ou fatores de risco claros arcarãocom os custos das conseqüências. O Dr. Fishman, chefe doLaboratório de Imagens Médicas Avançadas nasinstituições médicas do Centro Johns Hopkins, emBaltimore, no estado norte-americano de Maryland, observaque um resultado positivo leva a um fluxo constante deexames de acompanhamento regulares, uma fonte de rendapara os centros de imagens, mas um dreno para os planos desaúde. "Em minha opinião, eles deveriam fazer o seguinte: sealguém quiser fazer o exame por conta própria, deverá serresponsável por tudo", ele argumenta. Embora apóie acobertura dos exames iniciais solicitados pelo médico comoparte de uma assistência mais abrangente, Fishman advertepara o custo envolvido para a sociedade das tomografiascomputadorizadas realizadas sem controle. "Na verdade,isso quebraria o sistema. Esses custos acabam tornando-seastronômicos quando buscamos coisas sem sentido", elealerta. "Não quero que meu plano de saúde aumente depreço porque as pessoas decidiram por conta própriasolicitar estudos em centros de categoria duvidosa e depoisoutros estudos para fazer o acompanhamento de quadrosque não têm importância alguma".

O preço potencial para as tomografias computadorizadaspatrocinadas pelos próprios pacientes é tão incerto quantoseus potenciais benefícios para a saúde. De acordo com umrelato publicado do debate em sessão plenária sobre a

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tomografia computadorizada na Conferência Científica de2002 da Sociedade de Radiologia da América do Norte(RSNA), o dr. Bruce Hillman, diretor de Radiologia daUniversidade de Virgínia em Charlottesville, afirmou que umestudo sobre tomografias computadorizadas indicou que umexame de rotina em indivíduos saudáveis de 50 anos embusca de cânceres importantes, aneurismas e doençascardíacas poderia custar 150 mil dólares por ano de vidasalva.² Em outras palavras, se um grupo grande de pessoasaparentemente saudáveis com 50 anos fosse submetido aoexame, provavelmente alguma forma de câncer tratável seriadescoberta.

Digamos que vinte cânceres fossem descobertos e que cadapaciente vivesse em média cinco anos a mais por conta dadetecção e do tratamento precoces. Isso significaria que oprograma de triagem poderia receber o crédito para um totalde cem anos de sobrevida. De acordo com o cálculo do Dr.Hillman, seria necessário fazer testes no valor de 15 milhõesde dólares para chegar a um resultado desses.

________________

² Cobertura da reunião anual de 2002 da RSNA porDiagnostic lmaging.com.

Outros cálculos geram estimativas de custo menores. No

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debate da RSNA, o Dr.

Michael Brant-Zawadzki, diretor-médico de Radiologia doHoag Memorial Hospital em Newport Beach, na Califórnia,indicou outras análises de testes mais limitados paraidentificação de câncer de pulmão que prevêem que atomografia computadorizada pode custar menos de 50 mildólares por ano de vida salva.

Embora o uso da tomografia possa ser realista, existe algomuito irreal sobre as imagens médicas apresentadas noseriado: os radiologistas são invisíveis. Chase, Foreman ouCameron, em geral, estão no controle e até o Dr. House parade vez em quando para monitorar o trabalho. Não é assimque as imagens são feitas na maioria dos hospitais.

O Dr. Borgstede, radiologista em Colorado Springs, afirmaque os médicos raramente olham para os exames finais. Essafunção é do radiologista.

“Poucos médicos efetivamente chegam a analisar asimagens. Alguns o fazem, mas não é comum. Eles confiam nolaudo. Mesmo quando analisam os filmes, quanto maissofisticado o teste, mais confiarão no radiologista para ter ainterpretação”, afirma o Dr.

Borgstede.

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O Dr. Fishman concorda, observando que os radiologistassão treinados para reconhecer padrões diferentes nasimagens. Segundo ele, um.radiologista em um centro dereferência como o dele, que examina muitas imagens devários casos complexos, tem experiência para reconhecerpadrões incomuns capazes de alterar um diagnóstico.

Por exemplo, uma mulher com sintomas de doença no fígadofoi submetida a uma tomografia, sendo encaminhada para umoncologista no Johns Hopkins.

“A imagem externa foi interpretada como metástase nofígado”, afirma. Em geral, esse diagnóstico tem umprognóstico muito ruim. Mas o Dr. Fishman resolveuanalisar melhor o resultado.

"No final das contas, a mulher tinha hidatidose, umainfecção muito rara do fígado. É

encontrada em países sul-americanos, causada por umparasita encontrado em ovelhas. Essa mulher vinha deWashington, mas era peruana e provavelmente portadora doparasita desde a infância", afirma o Dr. Fishman.

"Ela foi encaminhada para o Hopkins para ressecção de umtumor hepático, em vez de hidatidose. Como tumor, não erapassível de ressecção. Como hidatidose, era tratável".

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Sensibilidade e especificidade

Com qualquer tipo de teste, existe um equilíbrio entre o graude sensibilidade e a especificidade.

A sensibilidade representa a freqüência com que o testedetectará o que está sendo testado. Assim, um teste comsensibilidade de noventa por cento dará um resultadopositivo em noventa das cem pessoas que efetivamenteapresentam o quadro que está sendo investigado.

A especificidade representa a freqüência com que oresultado negativo está correto, ou seja, a freqüência comque quem não tem a doença ou condição recebe o resultadode teste correto. Um teste com especificidade de noventapor cento terá um resultado negativo em noventa das cempessoas que não apresentam o quadro que está sendoinvestigado.

Na maioria dos casos, um teste que é mais sensível serámenos específico e vice-versa. Em outras palavras, se vocêquiser descobrir todos os casos possíveis, a outra face damoeda é identificar de modo incorreto o maior número depessoas possivelmente com algo que elas realmente nãoapresentam. Esse resultado é chamado de falso-positivo.Quando um teste informa incorretamente que alguém nãotem a doença quando de fato tem, o resultado é chamado de

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falso-negativo.

Vamos usar as mamografias como exemplo. Quanto maisdetalhada a imagem e mais cuidadoso o radiologista que ainterpreta, maior será a probabilidade de que algo sejaconsiderado suspeito, talvez identificando um pequenotumor de mama. Evidentemente, quanto mais sensível oteste, maior será a probabilidade de que identifique umamancha que na verdade não seja câncer. Por outro lado, natentativa de ser mais específico para não preocupardesnecessariamente mulheres que não sofrem de câncer,existe o risco de perder um tumor pequeno.

Interpretar a sensibilidade e a especificidade pode ser algocapcioso, em parte porque a interpretação de resultados nãodepende apenas da precisão do teste, mas também de acondição ser ou não comum.

Considere a seguinte hipótese: em uma cidade com 1 milhãode habitantes, existe uma doença que infecta uma em cadacem pessoas. Isso significa que existem, provavelmente, 10mil pessoas na cidade com a doença.

Imagine que você faça o teste para a doença com umasensibilidade de 99 por cento e uma especificidade de 98 porcento. Parece muito bom, não é? O teste provavelmenteidentificará 9.900 das 10 mil pessoas com a doença. Por outro

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lado, a especificidade de 98

por cento significa que, a cada cem pessoas saudáveistestadas, duas serão informadas incorretamente que podemestar com a doença. Como 10 mil pessoas apresentam adoença, isso significa que as 990 mil pessoas restantes nacidade são saudáveis. Nesse caso, então, a especificidadede 98 por cento significa que quase 20 mil pessoas (dois porcento das 990

mil) serão informadas de que seu teste é positivo para umadoença que realmente não possuem.

Evidentemente, em testes de triagem, nem médico nempaciente sabem com antecedência se o paciente tem adoença. Tudo que sabem é o resultado do teste. Ao analisarnovamente os números nessa situação hipotética, sabemosque, no conjunto, haverá 29.700 pessoas com resultadospositivos (os 9.900 "verdadeiramente" positivos mais os19.800 "falso-positivos"). Como 9.900 dos 29.700 resultadosde teste positivos são

"verdadeiros", existe uma em três chances de que qualquerresultado de teste positivo individual seja verdadeiro. Ou, deoutro modo, duas em cada três pessoas com um resultado deteste positivo na verdade não têm a doença.

Agora considere o que acontece com doenças menos

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comuns. Digamos que, na mesma cidade de 1 milhão dehabitantes, a doença para a qual você está sendo testadoafeta apenas uma pessoa em cada mil. Isso significa queprovavelmente mil pessoas na cidade têm a doença.

Um teste com sensibilidade de 99 por cento e especificidadede 98 por cento provavelmente identificará 990 das milpessoas com a doença.

Lembre-se de que os restantes 999 mil habitantes da cidadesão saudáveis e que dois por cento das pessoas saudáveisreceberão um resultado “falso-positivo”.

Testar todo mundo na cidade geraria cerca de 20.970resultados positivos (os 990

“verdadeiros” positivos mais os 19.980 “falso-positivos”).Como apenas 990 dos 20.970

resultados positivos são “verdadeiros”, a probabilidade dequalquer resultado positivo individual ser verdadeiro é demenos de cinco por cento, o que significa que, a cada vintepessoas com resultado positivo, apenas uma não serásaudável.

Em muitos casos, o limiar para declarar um teste positivo ou"negativo" pode ser ajustado para cima ou paro baixo,conforme a maneira como o teste é realizado ou os

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resultados são interpretados. O limiar pode ser baixo noscasos em que a doença tenha conseqüências graves e oseguimento de um teste de triagem é relativamente benigno(talvez apenas repetição do primeiro teste, ou outro quetalvez seja ligeiramente mais demorado ou custe mais caro,mas não envolva risco físico algum para o paciente). Poroutro lado, talvez você queira estabelecer um limite mais altoe, assim, deixar de fora alguns casos, se a doença não forimediatamente perigosa ou se o seguimento de um testepositivo for uma biópsia cirúrgica ou outro procedimentoinvasivo que você deseja evitar, se possível.

Não se sinta mal se as estatísticas confundirem você. Asensibilidade e a especificidade podem enganar muitosmédicos também. Uma pesquisa descobriu que apenas umem cada cinco médicos interpreta corretamente o significadode um resultado positivo quando recebe os dados desensibilidade e especificidade dos testes.

Segurança da ressonância magnética

Não surpreende o fato de que quase todos os pacientesprimários no seriado façam uma ressonância magnética emalgum momento do episódio, já que os MRIs oferecem ummétodo único e poderoso de investigar profundamente ocorpo de um paciente.

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Esses exames são cada vez mais populares na assistênciamédica de rotina. Existem cerca de 10 mil aparelhos deressonância magnética nos hospitais e clínicas norte-americanos examinando aproximadamente 10 milhões depacientes todos os anos.

A segurança raramente entra na discussão acerca darealização ou não de um exame de ressonância magnética emdeterminado paciente, ou do momento adequado para tanto.Isso ocorre, principalmente, porque as ressonâncias sãorealmente muito seguras. Diferentemente da tomografiacomputadorizada, esses exames não usam raios X nemenvolvem marcadores radioativos como PET scans ououtras formas de medicina nuclear, por isso não há qualquerpreocupação quanto ao risco de câncer ou quaisquer outrosefeitos de radiação ionizante.

Pode parecer que a única desvantagem dos MRIs seja ocusto, que pode variar de algumas centenas de dólares parabem mais do que mil dólares, dependendo da área emquestão, da sofisticação do aparelho, da extensão dainterpretação necessária e das políticas de preçosespecíficas da instituição que possui o aparelho.

Mas nada na vida é totalmente seguro. A maioria dos metaisdeve ficar do lado de fora da sala de exames de ressonânciamagnética, porque os ímãs extremamente potentes do

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aparelho podem atrair até mesmo objetos muito pesados eatirá-los contra os pacientes ou em qualquer outra pessoa nasala. Um tanque de oxigênio pode se tornar um míssil mortalse deixado na sala de MRI. Cadeiras, suportes de sorointravenoso, materiais usados pelo pessoal da limpeza e atécarrinhos de entrega já foram sugados pelos aparelhos deressonância magnética.

O outro risco importante é o dano aos marca-passos, àsbombas de administração de fármacos e a outrosdispositivos implantados nos pacientes. Em "Histories"("Histórias", 1-10), Cuddy interrompeu um exame deressonância magnética imediatamente antes de o campomagnético ser acionado porque a paciente tinha um pinocirúrgico no braço. Ela disse que o ímã teria arrancado oimplante do corpo da paciente. E uma placa de metal usadapara reconstruir a mandíbula de um paciente forçou a equipea descobrir a causa de um derrame sem o benefício de umexame de MRI. Entretanto, em ambos os casos, umaressonância magnética ainda teria sido possível, porque amaioria dos implantes ortopédicos, como articulaçõessubstitutas ou parafusos para ajudar a cicatrizar ossosfraturados, assim como a maioria dos implantes dentários, éfeita de metais não-magnéticos. Alguns implantes em geralusados em procedimentos realizados nos olhos, no cérebroou nos vasos sangüíneos podem ser magnéticos e podemser sugados pelo campo magnético do aparelho de exame,

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com conseqüências potencialmente dolorosas e atéenvolvendo risco de vida. Os pacientes com qualquer tipode implante precisam alertar seus médicos e a equipe médicaantes de um exame de ressonância magnética, para ficaremseguros.

De acordo com relatos feitos ao Food and DrugAdministration (FDA), dos Estados Unidos, houve cerca detrezentos incidentes de segurança atribuíveis aos exames deMRI entre 1995 e o início de 2005. Nove pessoas morreram.Uma morte deveu-se a um objeto voador. A maioria dasmortes ocorreu devido a uma falha do marca-passo ou deoutro dispositivo implantado.

As estatísticas do FDA incluem apenas casos relatados dedanos reais. Incidentes sem maiores repercussões não sãoreportados. Um sistema mais abrangente de relato de casosno estado da Pensilvânia registrou 88 incidentesrelacionados a exames de ressonância magnética em apenas16 meses; uma taxa muito mais elevada de incidentes do queos registros do sistema do FDA para o país inteiro, emboraos incidentes da Pensilvânia tenham sido, em geral, menosgraves do que reportados pelo FDA.

Existem sinais de melhoria. Muitos novos dispositivosimplantáveis têm menos probabilidade de ser afetados peloscampos magnéticos. Mas o poder dos MRIs exige respeito...

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e cuidado com itens que podem ser arremessados oudanificados pelos extraordinários campos magnéticos dosaparelhos.

A tecnologia médica avançada oferece informações sobre oque ocorre no corpo dos pacientes que as geraçõesanteriores de médicos sequer sonhavam em ter. No entanto,todos esses dados vêm acompanhados de um novo desafio:o excesso de informação. Quais fatos são críticos e quaissão apenas "ruído" irrelevante? Os computadores ajudarama criar uma enxurrada de informações. Mas também são umaparte essencial dos esforços para tentar entender tudo isso.

CAPÍTULO 4

Há um computador na casa?

Será que o Dr. House poderia ser substituído por umcomputador algum dia? Uma máquina não teria esse nível desarcasmo, esse desprezo pela autoridade ou esse grau dedependência no Vicodin. Mas será que um computadorconseguiria igualar sua capacidade de diagnosticar?

"Se você me perguntasse se eu saberia desenvolver umprograma de computador melhor do que um médico muitobom, eu responderia que sim", afirma o professor EnricoCoiera, diretor do Centro de Informática e Saúde daUniversidade de New South Wales, em Sidney, na Austrália,

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em um enfático endosso da capacidade da máquina.

Por um lado, todo médico já é assistido pelo computador. Ésua única maneira de se manter atualizado.

Um século atrás, seria razoável supor que um bom médicotinha condições de ficar a par da literatura médica, mas nãohoje em dia. Mecanismos de busca especializados emmedicina são essenciais para os médicos que pesquisamcasos incomuns ou fora do escopo normal de sua prática. OMedline, administrado pela National Library of Medicine,contém mais de 13 milhões de referências a artigos empublicações sobre as ciências da vida, a maioria editada nosúltimos quarenta anos. Além disso, muitas dessasreferências contêm links para cópias digitais dos artigos naíntegra.

As pesquisas podem ser personalizadas para procurar emcategorias específicas de estudos clínicos, mas tambémpodem analisar diferentes tipos de informação médica. Umacategoria crescente é a de "revisões sistemáticas". Essesrelatórios utilizam sofisticados métodos estatísticos paracombinar os resultados de vários ensaios clínicos, natentativa de ter o quadro geral; em outras palavras, o que háde melhor, levando em conta todos os resultados dosensaios individuais. A National Library of Medicine tambémdispõe de recursos especiais que ajudam a localizar

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informações sobre genética médica, assim como sobre aqualidade e os custos de assistência médica.

A pilha de novos artigos continua a crescer. Em 2004, oMedline acrescentou mais 571

mil novas referências. Isso representa mais do que o dobrodo número anual de artigos de pesquisas médicas gerado noinício da década de 1980. Atualmente, os médicos estãolidando com uma quantidade muito maior de informação doque seus antecessores. Em média, uma nova citação médicaé acrescentada ao Medline a cada 55 segundos. Os médicosnão têm condições de se manter atualizados. Precisam deajuda, e cada vez mais essa ajuda vem dos bancos de dadosdigitais.

O professor Coiera ressalta que os principais bancos dedados online não são apenas versões eletrônicas dosboletins médicos que os profissionais podem consultar.Quando alguém digita um termo de busca, o programaprocura por resumos que contêm informações relevantes eatualizadas. Essencialmente, o computador está decidindo oque os médicos devem procurar primeiro.

Os PDAs, os assistentes pessoais, como os dispositivosportáteis Palm ou Pocket Pc, estão colocando esses bancosde dados ao alcance de um número cada vez maior de

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médicos.

Os PDAs também contêm orientações de tratamento,declarações de consenso e listas dos órgãos de saúdepública, de sociedades médicas e das instituições deassistência em que os médicos trabalham.

O Manual Merck , considerado o livro didático mais usadona medicina, é um respeitável tomo com encadernação decouro de quase 3 mil páginas. Mas os médicos podemtransportar a versão eletrônica do livro em seus PDAs. Nãoé pouca coisa. A versão para PDA do Manual Merckcontém informações suficientes sobre as condições e ossintomas dos pacientes que poderiam acabar com osuspense de vários episódios do seriado House.

O caso de um atleta estudante que estava com uma infecçãode sarampo que atacou seu cérebro em "Paternity"("Paternidade", 1-02) é um bom exemplo. O gancho que fezcom que o Dr. House se interessasse pelo caso foi umespasmo mioclônico, uma contração muscular involuntária.A maioria das pessoas tem isso de vez em quando aoadormecer, por exemplo, mas o Dr. House ficou intrigadoquando viu a perna do rapaz se contrair enquanto ele estavabem acordado.

Se House, Foreman, Chase ou Cameron tivessem procurado

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em seus PDAs pela entrada "Mioclonus" em sua versãoeletrônica do Manual Merck , teriam visto que as contraçõesocorrem normalmente quando a pessoa está caindo no sonoe que os soluços são uma forma comum de mioclonia queafeta o diafragma. Mas se tivessem continuado a ler embusca de condições menos comuns, teriam visto a seguintelista: panencefalite esclerosante subaguda, distúrbiocerebral causado por uma infecção latente de sarampo, quefoi exatamente o que acabaram descobrindo.

Como o professor Denis J. Protti escreveu em um artigo parao site do British National Health Service, “com relação aosPDAs e aos demais dispositivos de mão e sem fio, o uso porparte dos médicos dessas tecnologias está crescendorapidamente. Ao habilitar o pronto acesso a várias fontes deinformação sobre os pacientes e ao conhecimento médicoem vários formatos, as aplicações móveis inteligentesoferecem um nível admirável de eficiência para osprofissionais sem interromper as interações entre médicos epacientes. Fornecer níveis cada vez mais elevados deassistência médica implica equipar os médicos em tempo realcom uma gama de informações sofisticadas e atualizadassobre o atendimento dado ao paciente que antes eraimpossível”.

É verdade que os médicos memorizam grande quantidade deinformações sobre o corpo humano e as enfermidades às

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quais ele está vulnerável. Mas já se foi o tempo em que océrebro do médico e a prateleira do consultório detinhamtodas as informações necessárias.

Especialmente quando há algo incomum sobre determinadocaso, hoje os médicos se voltam instintivamente a seusdispositivos portáteis e telas de computador a fim de obterajuda cibernética.

Os computadores também estão fazendo o verdadeirotrabalho médico nos consultórios. Por exemplo, a maioriados exames de sangue é interpretada por uma máquina.

“Tudo ocorre nos bastidores. Os pacientes não ficamsabendo de nada. Você recebe o exame de volta e vê quealgo foi anotado no final da página dizendo se você é ou nãoportador da doença, e você acha que esse resultado foi dadopor um ser humano; mas muito provavelmente ele foi geradopor uma máquina e conferido por um humano”, afirma oprofessor Coiera, que é autor de Guide to HealthInformatics.

Pelo menos três sistemas estão comercialmente disponíveispara ajudar os radiologistas a fazer pesquisas emmamografias em busca de sinais de câncer de mama, emboraum olho humano tome a decisão final. A detecção assistidapor computador é considerada parte da prática padrão e os

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seguros-saúde pagarão pelo uso dos sistemas decomputador em certas aplicações, como detecção de câncerde mama.

Os pesquisadores estão investigando ativamente outrasmaneiras de usar os computadores a fim de detectaranomalias significativas nas pilhas de dados de imagensgeradas por aparelhos cada vez mais sensíveis deressonância magnética, tomografia computadorizada, PETscan e outros tipos de máquinas de imagens. Na verdade,estudos das imagens de corpo inteiro revelam que quasesempre essas imagens detectam algum tipo de anomalia, masos nódulos encontrados raramente são perigosos. Fazer atriagem dentre todas as imagens de alta resolução paraseparar o que pode ser importante de todo o ruído de fundoé uma tarefa assustadora. Os computadores podem ajudar aclassificar os dados.

O câncer de pulmão é um dos focos do trabalho. Nomomento, raramente o tratamento para câncer de pulmão temsucesso, em parte porque o câncer, em geral, já se espalhouquando o paciente percebe algum sintoma. Novos aparelhosde tomografia computadorizada podem encontrar nódulosno pulmão quando ainda são bem pequenos e relativamentefáceis de remover cirurgicamente. Entretanto, muitos dessespequenos caroços acabam não sendo cânceres, assim comoa maioria dos caroços nos seios são, na verdade, cistos ou

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outras massas provavelmente não perigosas. Por isso, umdesafio com que deparam os radiologistas é decidir quandovale a pena investigar um pequeno ponto em uma imagem equando é melhor deixar para lá, poupando o paciente deprocedimentos invasivos desnecessários.

Existem vários modelos de inteligência artificial diferentesque são usados em aplicações médicas. Todos seguem umcaminho diferente para atingir o objetivo de fazer com queuma máquina imite alguns dos passos seguidos por umapessoa ao analisar um problema.

Os sistemas baseados em regras são uma maneira de tentarcapturar e informatizar os processos do pensamentohumano. De certo modo, os programas de computador queutilizam um sistema baseado em regras são semelhantes àsconhecidas listas de verificação que podem orientardeterminado médico a chegar ao diagnóstico correto. Porexemplo, quando um paciente apresenta febre e calafrios,várias doenças são possíveis. Se o paciente acabou devoltar da África, então a malária sobe na lista depossibilidades de diagnóstico. Caso contrário, então talvez oproblema seja uma variedade de pneumonia viral. Esse tipode processo SE > ENTÃO pode ser programado em umcomputador.

Esses tipos de sistemas baseados em regras exigem a

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descrição explícita do processo lógico que osprogramadores desejam imitar, mas eles não são a únicaforma de informatizar a resolução de problemas.

Redes neurais baseiam-se não em listas de verificaçãoexplícitas, mas em um tipo de modelo do próprio cérebro; ouseja, em conexões entre os neurônios que são fortalecidascom o uso. Em vez de inserir longas listas de declarações SE> ENTÃO para guiar o computador, uma rede neural étreinada.

“É possível treinar a rede neural em inúmeros exemplos doque você deseja encontrar, até que ela desenvolva umaespécie de imagem em sua própria mente do que estáprocurando.

Então, da próxima vez que você mostrar um exemplo, a rededecidirá se ele parece ou não com o que você desejaencontrar”, afirma o professor Coiera.

As redes neurais são adequadas à leitura deeletrocardiogramas ou imagens de tomografias, tarefas queenvolvem o reconhecimento de padrões. Entretanto, oprofessor Coiera observa que, embora as redes neuraispossam conectar um conjunto de observações com umconjunto de diagnósticos, não são muito boas deexplicações.

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“Uma rede neural nunca vai explicar o porquê”, afirma.

Às vezes, essa explicação é crucial para que a pessoa queestá lendo a resposta do computador decida se a informaçãoé ou não confiável.

Outro tipo de diagnosticista computadorizado pode setornar mais popular à medida que mais registros de saúdesejam informatizados também. As redes de probabilidadeforam desenvolvidas para analisar uma série de sintomas eoutras informações, e combiná-las com as explicações maisprováveis. Esse tipo de sistema funciona melhor quantomaior o número de exemplos que o computador dispuser decasos reais em que determinado conjunto de dados descreveuma doença específica. O crescimento dos registroseletrônicos de saúde ajudará a fornecer aos sistemas deredes de probabilidade a quantidade de "experiência" de queprecisam para tornar as conexões mais precisas.

Mas até que ponto um computador pode ser eficiente naescolha do diagnóstico certo quando a condição éextremamente rara ou se houver algo de estranho quanto aossintomas...

o tipo de caso em que seguir todos os procedimentos epistas comuns leva à conclusão errada?

“Essa é a pergunta-chave. Os sistemas de computador são

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fantásticos no que há de padrão. Isso não significa que nãopossam captar raridades, mas serão muito bons em situaçõesem que tenham muitos e muitos dados. Por isso, se tiver umcaso raro que ninguém nunca viu, porque existem duasdoenças e uma está mascarando a outra, e se esse caso émuito raro, então a máquina não será necessariamente muitoboa nisso”, afirma o professor Coiera. “Mas, ainda assim, épossível usar a máquina para encontrar casos relacionados”.

O Dr. House puxa os casos raros de sua vasta memóriaregularmente. Por exemplo, em

"Fidelity" ("Fidelidade", 1-07), a equipe está procurandopossíveis hipóteses para explicar como uma mulher quenunca tinha saído do país poderia contrair a doença do sonoafricana. A doença é tipicamente disseminada pela moscatsé-tsé. O Dr. House afirma que a paciente poderia ter sidoinfectada por contato sexual. Ele faz referência ao relato deum caso de transmissão sexual da doença do sono que foipublicado em uma revista médica portuguesa.

Evidentemente, reles mortais não conseguem se manteratualizados com a literatura médica em língua inglesa, muitomenos pesquisar artigos escritos em vários outros idiomas.

No entanto, com a ajuda de um computador, não precisamdisso. Em vez de confiar na memória, ou em buscas manuais

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na literatura médica, os médicos podem usar o computadorpara acelerar o processo de pesquisa de casos semelhantesao do paciente que está sendo examinado no momento.

“Esse é um exemplo de outro tipo de sistema, chamado delógica baseada em casos, em que é possível encontrar casosmuito semelhantes ao que acaba de encontrar: sintomas,sinais e dados com apresentação semelhante”, diz oprofessor Coiera.

A lógica baseada em casos pode ser o tipo de sistema decomputador que mais se assemelha ao modo como aspessoas realmente pensam; ou seja, com a incorporação detoda a experiência individual, de todos os casos tratados, noprocesso de diagnóstico do próximo caso.

“Envolve a exposição anterior a casos semelhantes, e não acapacidade de pensar logicamente sobre os casos”, afirma oprofessor Coiera.

“Descobrimos que o conhecimento que as pessoas têmbaseado em sua experiência anterior é a característica que asdistingue, em oposição a algum tipo de habilidade lógicagenérica e super-poderosa. Esse tipo de visão é, na verdade,a lembrança de um caso semelhante que viram vinte anosantes, ou algo que guardaram da literatura médica”, afirma.

“Então, não se trata apenas de reunir informações.

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Acreditamos que esses médicos fazem uso de uma fortelógica baseada em casos que os fazem estabelecer relaçõescom sua experiência passada”.

A doença do sono

Se Foreman, Chase ou Cameron tivessem decidido checar aobscura referência portuguesa do Dr. House, uma busca emum banco de artigos da literatura médica usando aspalavras-chave "doença sono transmissão sexual" resultariana edição da The Lancet, de 17

de janeiro de 2004. Uma carta em inglês, e não em português,descreve um caso muito parecido com o mencionado noseriado.

Os médicos escreveram de Lisboa, em Portugal, contandoque haviam tratado uma jovem com doença do sonoafricana, embora ela nunca tivesse viajado para a África. Elesdescobriram que o seu companheiro, um homem brasileiroque tinha estado em Angola, estava infectado com oparasita tripanossoma, embora ele não apresentasse sintomaalgum da doença.

A doença do sono, normalmente, é transmitida por picadasda mosca tsé-tsé. Há relatos de transmissão por transfusãode sangue ou agulhas contaminadas. Mas, nesse caso, osmédicos acreditam que a mulher tinha sido infectada por

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contato sexual. Seu bebê de 19

meses de idade também estava doente. Provavelmente, elapassou os parasitas a ele antes do nascimento.

Em "Fidelity", House e sua equipe estão tentando chegar àconclusão se sua paciente tinha doença do sono outularemia, também chamada de "doença do coelho". Seudiagnóstico dependia da confirmação se era ela ou o maridoque tinha um caso extraconjugal, porque o contato sexualextraconjugal ajudaria a explicar a doença do sono, com baseno relato de transmissão sexual do caso em Portugal.

No seriado, era fundamental fazer um diagnóstico correto,porque o tratamento específico para cada uma das doençaspoderia causar efeitos colaterais graves e ameaçar a vida dapaciente. Na realidade, a febre do coelho geralmente étratada com antibióticos, como a estreptomicina, que nãocostuma ser arriscado. Uma droga, o cloranfenicol, podelevar à anemia aplástica, um grave distúrbio sangüíneo, emalguns casos. Entretanto, o cloranfenicol raramente é aprimeira opção, embora alguns especialistas relatem que eleparece ser mais eficiente do que a estreptomicina no ataqueà bactéria da tularemia no tecido cérebro-espinhal.

A droga da doença do sono mostrada nesse episódio, omelarsoprol, contém arsênico. Pode ser perigoso, mais de um

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paciente em vinte pode morrer. Ainda assim, o melarsoprol éusado rotineiramente na África para tratar com eficácia casosda doença do sono.

Nos casos da mãe e do filho infectados em Portugal, osmédicos reportaram que ambos foram tratados com sucessocom um medicamento alternativo, a eflornitina, que éconsiderada menos perigosa do que o melarsoprol.

Em muitos casos, ser uma máquina pode ser uma vantagemquando se trata de fazer o diagnóstico médico correto. Asmáquinas não são afetadas pela experiência recente. Se vocêjogar uma moeda e tirar cara cinco vezes seguidas, a maioriadas pessoas apostará que a próxima jogada dará coroa; masum computador calculará corretamente que as chances aindasão 50-50, independentemente dos cinco resultadosconsecutivos anteriores.

Na medicina, uma das habilidades mais difíceis que osjovens médicos precisam dominar é a capacidade deprocurar doenças comuns e ordinárias mantendo, ao mesmotempo, a mente aberta para a possibilidade de estranhasraridades que podem aparecer, sem se fixar em um sódiagnóstico. As máquinas não são tendenciosas nem têmqualquer ligação emocional com um diagnóstico específico.

Não surpreende, portanto, que haja ceticismo quanto à

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possibilidade de as máquinas avançarem em seu território.Essa afirmação está no episódio "Failure to Communicate"

(“Falha na Comunicação”, 2-10). No final das contas, opaciente tem parasitas da malária em seu cérebro, o queaparentemente resulta de uma cirurgia realizada na Américado Sul. O Dr.

House pede que a equipe inspecione visualmente um examede sangue, em vez de fazer o processamento porcomputador. Quando Foreman vê o parasita no microscópio,ele e Cameron culpam o computador por não ter identificadoesse sinal crítico.

Mas será que é justo culpar o computador? O motivo peloqual ninguém suspeitara de malária no episódio é que opaciente havia ocultado o fato de ter viajado para a Américado Sul, sem contar sequer para esposa. A malária estápraticamente erradicada nos Estados Unidos e só apareceem casos em que a pessoa viajou para uma região em que adoença é comum. Não havia motivo algum para procurarparasitas até que a viagem secreta do paciente foi revelada.

Alguns exemplos de sistemas de computador disponíveisaos médicos incluem: O GlDEON (Global Infectious Diseasesand Epidemiology Networks) é um sistema de computadorcomercialmente disponível que é atualizado semanalmente

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com informações sobre surtos de doenças infecciosas emtodo o mundo. Os usuários inserem o máximo de informaçãopossível sobre os sintomas dos pacientes e os locais em queo paciente esteve recentemente. Em seguida, o programalista os possíveis diagnósticos com classificações deprobabilidade.

Em um estudo feito pelos desenvolvedores do GIDEON,informações sobre 495

pacientes foram inseridos. O diagnóstico correto foi obtidoem praticamente 95 por cento dos casos, e era o primeirodiagnóstico listado em três de cada quatro casos.

Um exemplo de demonstração compilado pelos criadores dosistema GIDEON parece muito com o tipo de caso quepoderia chegar às mãos do Dr. House. Um jovem de 20 anosde repente cai doente depois de uma viagem para a Tailândiae a Mongólia. No hospital, o médico insere os sintomas, osachados do exame físico e os resultados dos exames desangue. A princípio, o software coloca tuberculose no topoda lista de várias passíveis infecções. Caso o resultado nãocorresponda às expectativas do médico, é possível solicitaruma explicação.

Nesse exemplo, o médico lembra que o paciente mencionou apresença de ratos em sua barraca na Mongólia. Adicionar

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essa informação ao histórico do paciente lança a peste parao topo da lista, em parte porque o software éconstantemente atualizado, por isso pode levar em contarelatos recentes de peste na Mongólia.

O software GIDEON apresenta detalhes sobre a bactériaYersinia pestis e os tratamentos recomendados. Esse tipo desistema de apoio à decisão pode reunir conhecimentos dosmelhores especialistas e dos mais recentes relatórios delaboratórios do mundo todo para uso por médicos emqualquer hospital, clínica ou consultório.

O DXplain é outro sistema de apoio à decisão que estácomercialmente disponível aos clínicos. O nome baseia-se naabreviação médica para diagnóstico em inglês: Dx. Como oGIDEON e outros sistemas semelhantes, o DXplain coletainformações do histórico do paciente, achados físicos eresultados de testes e imagens. Em seguida, apresenta umalista de condições comuns e raras para serem levadas emconta.

De acordo com seus criadores, o DXplain contém "mais de4.800 manifestações clínicas com mais de 2.200 doençasdiferentes". Esse sistema inclui todo tipo de condição, nãoapenas doenças infecciosas. Os médicos podem inseririnformações clínicas para ver que doenças podem estarpresentes ou inserir uma doença suspeita para verificar que

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sinais e sintomas podem estar presentes.

Os pesquisadores da Mayo Clinic em Rochester, Minnesota,fizeram uma pesquisa com um grupo de estudantes deMedicina com acesso ao DXplain à medida que faziam suassessões clínicas. Praticamente três em cada quatroestudantes de Medicina afirmaram que o sistemafreqüentemente - ou sempre - sugeria diagnósticos que elesnão haviam considerado. E o restante afirmou que o DXplainoferecia um diagnóstico novo pelo menos em alguns doscasos. A maior parte dos estudantes afirmou que gostaria deter o sistema de apoio à decisão regularmente disponível.

O UpToDate é um recurso popular baseado em computadorpara médicos. Tem como objetivo ajudar esses profissionaisa encontrar respostas de forma rápida para atender àsexigências sempre dinâmicas da prática médica. Ésupervisionado por várias sociedades médicas.

Várias

pesquisas

independentes

destacadas

no

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site

do

UpToDate,

www.uptodate.com. informam que o sistema é usado pormuitos médicos e, em geral, é a fonte de referência eletrônicamais consultada. Os médicos informaram aos pesquisadoresque obtinham respostas em menos de 15 minutos e quemuitas vezes evitavam ter de recorrer a um especialista.Muitos dos médicos em várias das pesquisas realizadasafirmaram que mudaram o diagnóstico ou o tratamento dadoao paciente com base nas informações aprendidas usando osistema de computador UpToDate.

O professor Coiera criou um catálogo on-line de sistemas deinteligência artificial que estão sendo estudados ou usadosem aplicações clínicas. O trabalho de manter o catálogo emwww.openclinical.org está sendo levado adiante porterceiros. A seção sobre sistemas de inteligência artificial naprática clínica agora inclui dezenas de aplicativos diferentes,não apenas para ajudar os médicos e demais profissionais afazer diagnósticos, mas também para oferecer apoio noatendimento de casos agudos, com a utilização e ainterpretação de testes de laboratório e de imagens médicas,a administração da prática clínica e a educação tanto de

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pacientes quanto de estudantes sobre as áreas ligadas àassistência médica.

Os softwares de suporte à decisão estão se expandindo paraalém dos mundos médicos. Existe um número crescente desistemas baseados na Web orientados a pacientes.

Por exemplo, um desses sites permite que os pacientesforneçam detalhes muito específicos sobre seu tipo decâncer, se é melanoma ou câncer de mama ou de próstata, ouvários outros tipos. Os sistemas utilizam os laudos dosexames clínicos e de laboratório e a própria avaliação dospacientes sobre sua saúde, além de oferecer sugestõessobre o tipo de tratamento que pode ser considerado, assimcomo as pesquisas disponíveis. Evidentemente, o sistemanão faz recomendações médicas. Tem como objetivo ser uminstrumento educacional que ajuda as pessoas a entender aenorme quantidade de informações sobre tratamentos decâncer disponíveis, a fim de encontrar as partes maisrelevantes a seu tipo específico de câncer.

Existe uma série de ferramentas para pessoas que estãopreocupadas com o risco de desenvolver uma doençacardíaca. Utilizam recomendações de grupos especializadose resumos de pesquisa em uma tentativa de fornecerprevisões individualizadas com base em fatores como idade,colesterol, pressão arterial e fumo. Por exemplo, uma

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calculadora do risco de doença cardíaca leva em conta ospotenciais benefícios - e riscos - de certas açõespreventivas, como tomar aspirina e medicamentos quepossam reduzir o colesterol ou a pressão arterial.Evidentemente, todos que visitam o site são aconselhados anão fumar, a se alimentar melhor e a incorporar algum tipo deatividade física em sua rotina diária.

À medida que proliferam esses sistemas baseados na Web,surgem questões sobre sua credibilidade e especialização.Quem procura um médico sabe que ele é registrado e talvezmembro de algum conselho profissional, com algumaespecialização em determinada especialidade médica. Noentanto, qualquer pessoa pode criar um site e não existenecessariamente qualquer conexão entre o grau desofisticação do site e o valor subjacente da informação ouconselho que oferece. Os pacientes acabam tendo de sevirar sozinhos... e verificar quem está fornecendo asinformações em determinado site, se é um órgão público ouuniversidade, ou, talvez, uma empresa particular interessadaem vender produtos, ou mesmo um indivíduo.

E o estetoscópio?

Os computadores estão se infiltrando até no símbolo maisrepresentativo da medicina: o estetoscópio.

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O estetoscópio "personifica a essência da medicina: usar aciência e a tecnologia junto com a habilidade humana desaber ouvir para determinar o que aflige um paciente", deacordo com um trecho do New England Journal ar Medicine,escrito pelo Dr. Howard Markel, Ph.D. Ele é diretor do Centrode História da Medicina da Faculdade de Medicina daUniversidade de Michigan, em Ann Arbor.

Entretanto, o estetoscópio pode estar se transformando maisem um símbolo do que em um instrumento regular, pelomenos em sua forma clássica. Hoje existem estetoscópioseletrônicos que assumem boa parte das funções de escuta einterpretação dos sons no corpo dos pacientes.

A brochura on-line de um dispositivo desses afirma que,"quando combinado com o software de análise de som da3M, o resultado é um sistema de ausculta de ponta eexcepcional, que permite ver o som produzido pelo visor dofonocardiograma. Essa combinação de hardware e softwaremelhorará as oportunidades de aprendizado, servirá comoauxílio ao diagnóstico e ajudará a se fazer um uso maisefetivo da telemedicina".

Esse modelo específico custa pouco mais de quatrocentosdólares, em comparação com aproximadamente cem dólarespara um estetoscópio clássico. O médico ainda pode escutarpor meio desse modelo híbrido, mas outros estetoscópios

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digitais fazem toda a escuta de forma eletrônica, usandomicrofones ou ultra-som para coletar dados para análise.

Em um estudo de pesquisa, um estetoscópio eletrônico foiusado para alimentar dados a um programa de computadorque usava um tipo de inteligência artificial de rede neural.Nesse teste, o sistema eletrônico tinha de fazer a distinçãoentre pacientes com uma grave doença cardíaca dos demais,que haviam tido murmúrios ou sopros cardíacosconsiderados inofensivos. O computador acertou tudo.

Os pesquisadores observaram que um sistema assim poderiaser usado para testar crianças a fim de identificar sinaisprecoces de doenças cardíacas.

Embora muitos médicos sintam-se nostálgicos ao pensar emseu primeiro estetoscópio e se prendam a ele como um elocom a tradição médica, de certa forma, a tomada dosestetoscópios clássicos pela tecnologia moderna éapropriada. Quando o estetoscópio foi criado, tambémenfrentou muito ceticismo, inclusive médicos que rejeitavamo dispositivo como um afastamento radical da práticaapreciada na época de colocar o ouvido contra o tórax dopaciente.

Um comentário recente publicado em um site do BritishNational Health Service citou uma análise negativa feita

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sobre os estetoscópios que apareceu no London Times em1834.

"Que o dispositivo venha a ter um emprego generalizado,apesar de seu valor, é algo muito duvidoso, porque suaaplicação benéfica requer muito tempo e causa bastantetrabalho ao paciente e ao médico; porque sua natureza equalidade são estranhas e opostas a nossos hábitos econceitos", dizia o jornal.

O historiador médico Dr. Markel observa que, emretrospecto, as sementes da possível derrocada doestetoscópio já podiam ser vistas em seu própriosurgimento. "Afinal de contas, sua criação iniciou umatendência irreversível na medicina, separando fisicamente osmédicos responsáveis pelo diagnóstico e seus pacientes,ainda que fosse apenas pela distância de um tubo oco",escreveu o Dr. Markel.

A tecnologia médica está sempre avançando. Embora o maisrecente teste de laboratório e estudo de imagens, juntamentecom as técnicas mais antigas de exames físicos e relatos dehistória pessoal, forneçam informações essenciais, eles nãofazem, sozinhos, o diagnóstico do paciente. Mesmo sem oauxílio do computador, cabe aos médicos reunir todos osfatos conhecidos, julgar a credibilidade e a relevância dosachados e, em seguida, selecionar as melhores explicações

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da gama de possíveis diagnósticos. É aí que entra em cena oquadro branco do Dr. House.

CAPÍTULO 5

O quadro branco

Boa parte da ação no seriado ocorre em salas de exames, nolaboratório, ao lado do leito dos pacientes e nas salas detratamento... mas o centro do trabalho do Dr. House está na

"sala de diagnóstico". Nessa generosa área de conferênciaencontra-se seu quadro branco.

Nesse quadro, o Dr. House e sua equipe listam os sintomase sinais dos pacientes... muitas vezes com os possíveisdiagnósticos. O quadro branco é a essência do programa.As concisas anotações escritas no quadro filtram eacompanham cada caso, desde a apresentação até aresolução.

Embora poucos médicos contem com as próprias salas deconferência particular, todos confiam em um processosemelhante personificado pelo quadro branco. "Diagnósticodiferencial" é o exercício lógico durante o qual os sinais esintomas clínicos são comparados com possíveisdiagnósticos. Na maior parte dos casos, os diagnósticos sãorazoavelmente diretos.

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Quase sempre existe mais de uma possível explicação para aqueixa principal do paciente, mesmo que um diagnóstico sejamuito mais provável do que outros. Por exemplo, umpaciente que está com tosse, dor de cabeça e doresmusculares provavelmente está gripado... mas o"diferencial" inclui uma série de outras infecções porbactérias, fungos ou outros vírus. Como discutidoanteriormente, jovens médicos são treinados para procuraros suspeitos mais comuns sugeridos pelos sintomas esinais; ou seja, que são cavalos, e não zebras, osresponsáveis pelo barulho de cascos ouvido. Os médicos dasala de emergência são treinados para rapidamenteinvestigar os diagnósticos dos casos mais letais. Porexemplo, a dor no tórax pode ser causada por umrompimento na aorta, que pode matar em questão deminutos. Ataque cardíaco é mais provável, mas não é tãomortal ou traiçoeiro. Distensão muscular e azia são osdiagnósticos mais comuns, mas menos perigosos.

Esses casos são descartados pelo Dr. House como banais eindignos de atenção. Cada episódio do seriado se constróiem torno de um caso cheio de idas e vindas que frustramexpectativas, quer seja um verme no cérebro de uma jovempaciente, uma bomba-relógio provocada pelo vírus mutantedo sarampo ou um distúrbio genético que parece ser doençamental. Os casos são realmente bizarros. No entanto, apesarde quase sempre as situações retratadas parecerem

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exageradas, coisas estranhas acontecem.

Embora uma lista razoavelmente gerenciável de infecções edoenças crônicas, distúrbios metabólicos e anomaliasgenéticas explique a grande maioria dos casos, o Dr. F.

Parkes Weber, afirmou que, "para cada doença ou síndromecomum, existem várias outras, raras". Em outras palavras,cada condição rara é por si só rara, mas, somando-se todasas condições raras, não é tão incomum assim ver um casoestranho desses. Como disse um médico de emergênciaveterano, em todos os plantões aparece uma surpresa, e umavez ao mês, um caso muito complicado de resolver.

Quer seja um caso específico complicado ou simples, oprocesso de gerar diagnósticos diferenciais e eliminá-los éessencialmente o mesmo. Um artigo sobre a arte dediagnosticar descreveu seis etapas básicas: agrupar osachados clínicos em padrões, selecionar um achadoprincipal, listar as possíveis causas, estudar a lista,selecionar um diagnóstico e, em seguida, validá-lo. Umaqualidade importante consiste em ser capaz de fazer umahipótese abrangente o suficiente para abarcar o diagnósticoreal, sem embarcar em uma busca interminável por causasimprováveis. Além disso, essas escolhas críticas são feitascom base em evidências incompletas.

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Como as propriedades dos elementos individuais dohistórico e do exame físico em geral não estão disponíveis, épreciso confiar na experiência clínica e na intuição paraprever até que ponto muitas informações modificam odiagnóstico diferencial.Para alguns problemasclínicos,inclusive o diagnóstico de embolia pulmonar, aintuição dos clínicos provou-se incrivelmente precisa.

- Users´ Guides to the Medical Literature, AmericanMedical Association Em "Daddys Boy" ("Queridinho doPapai", 2-05), o paciente era um jovem que acabara de seformar. Em uma festa, ele de repente sofre um ataque comsensações semelhantes à de um choque. Além disso, tinhadores de cabeça, náuseas e tonteira. A lista inicial no quadrobranco só tinha esses sintomas listados.

Em geral a apresentação formal de um caso feita nas escolasde Medicina é muito mais detalhada. O quadro branco (emuma faculdade de Medicina ou em uma sala de conferênciasdo hospital, os achados e as causas de fato são listados emum quadro branco) geralmente listaria todas as principaiscaracterísticas do paciente e os achados dos exames etestes, em jargão médico. Além disso, haveria uma colunalistando as causas que levaram os médicos que estãofazendo a apresentação a considerar essas possibilidadesdentre os diagnósticos diferenciais.

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No programa, Wilson, o Dr. House e o restante da equipepassam rapidamente por uma série de possíveis causas. Narealidade, a lista pode ser bastante longa.

Por exemplo, esclerose múltipla foi rapidamente mencionadapor Cameron. Os diagnósticos diferenciais para esclerosemúltipla incluem cerca de duas dúzias de outras doenças esíndromes, que variam de infecções que atacam o sistemanervoso até massas expansivas no cérebro, de infecçõesoportunistas causadas por Aids a distúrbios metabólicoshereditários, de distúrbios nos vasos sangüíneos à doençade Lyme.

O lúpus também está na lista de diagnósticos diferenciaispara esclerose múltipla.

Existem testes específicos que podem ser realizados paraverificar se a doença está ou não presente. Um dos maiscomuns é o de anticorpos antinucleares. Uma amostra desangue é tirada para verificar a presença de anticorpos queatacam as próprias células do paciente. Se os anticorposatacarem as células nervosas, o resultado pode ser algumdistúrbio neurológico.

Os resultados dos testes para detecção de anticorposantinucleares devem ser somados à lista de achados. Noentanto, como ocorre com a maior parte dos testes, essa

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única informação não será capaz de solucionar o caso.Praticamente todos os pacientes com lúpus apresentam umteste positivo para anticorpos antinucleares. Entretanto, issonão ocorre com cerca de um em cada vinte casos, por issoum teste negativo não significa necessariamente que opaciente esteja livre de lúpus. Por outro lado, um resultadopositivo nem sempre indica lúpus. Na verdade, um resultadopositivo para anticorpos antinucleares pode sugerir um dosvários tipos de distúrbios auto-imunes, incluindo a síndromede Sjögren, que é uma doença inflamatória sistêmica, ouesclerodermia, ou, ainda, outras doenças reumáticasrelacionadas.

Além dos resultados dos testes que acrescentam maisinformação à lista do quadro branco, o tempo muitas vezesoferece mais pistas. Nesse caso específico do seriado, opaciente desenvolveu uma paralisia do esfíncter. Esseevento levou Foreman a sugerir a síndrome de Miller Fisher,que é uma variedade da síndrome de Guillain-Barré. Essassíndromes tendem a ocorrer após uma infecção. Ospacientes sofrem de sintomas relacionados a um ataqueauto-imune que danifica as células nervosas. Eles têm açãomuscular anormal ou fraca e certas formas de paralisia, quepodem progredir até um nível perigoso.

Houve um pico no número de casos da síndrome de Guillain-Barré nos Estados Unidos em 1976, depois que as pessoas

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foram vacinadas contra a gripe suína. Existem relatosesparsos de casos após outras vacinações, mas nenhumestudo científico relatou evidências de um elo entre asíndrome de Guillain-Barré e qualquer outra imunização quenão a da vacina contra a gripe suína de 1976.

Como as causas da síndrome de Guillain-Barré e a síndromede Miller Fisher são pouco compreendidas, essas síndromessão difíceis de provar ou descartar. Como resultado, podemficar na lista do quadro branco como causas potenciais,enquanto outros diagnósticos são investigados.

A síndrome de Guillain-Barré e a de Miller Fisher têm aspróprias listas de diagnósticos diferenciais, que sesobrepõem ao de esclerose múltipla ou outras causas dedistúrbios neurológicos. Os clínicos podem procurar sinaisde síndromes paraneoplásicas, que poderiam apontar paraum câncer subjacente.

O Dr. David N. Gilbert, diretor de ensino médico do CentroMédico de Providence Portland, em Portland, no estadonorte-americano do Oregon, e co-editor de The SanfordCuide to Antimicrobial Therapy, descreve o diagnósticodiferencial como uma "árvore que está sempre brotando".Um possível diagnóstico pode sugerir vários outros mais eassim por diante. O Dr. Gilbert afirma que, à medida que osmédicos tornam-se mais experientes, adquirem a habilidade

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de reconhecer padrões que os ajudam a entender pistasfragmentárias que são apresentadas pelo paciente. A queixaé aguda ou crônica? Está progredindo rapidamente oudevagar? É um processo inflamatório ou não?

As ramificações dos diagnósticos diferenciais podem serseguidas ad infinitum, caso os clínicos não imponhamalguns limites ao processo. As doenças mais comunsnaturalmente recebem mais atenção. As conseqüências dascondições e os tratamentos disponíveis também são levadosem conta. Esses julgamentos tornam-se rotineiros paramédicos experientes.

"Na elaboração de um diagnóstico diferencial, o bom médicocoloca uma ressalva no final da lista: 'Ou pode ser algo maisque ainda não pensei"; afirma o Dr. John Sotos, autor deZebra Cards, um livro que ajuda os médicos a sefamiliarizarem com os sinais e sintomas de condições poucoconhecidas.

"Na hora da avaliação, se as coisas não se encaixaremdireito, é preciso ampliar a lista.

O que não se deve fazer é ficar preso a uma hipótese inicial etentar encaixar todas as manifestações dos pacientes nessahipótese. Isso é intelectualmente desonesto e presta umdesserviço ao paciente. Você cometerá erros. É preciso ser

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frio, analisar os indícios, ver o que se encaixa. Em seguida,quando algo não se encaixar, é importante expandir seucampo de busca", afirma Sotos.

Uma habilidade crítica é decidir quando determinado achadoque não parece atender ao padrão é significativo e quando éapenas uma distração. O Dr. Sotos afirma que não há umalinha clara ou um único momento em que essa decisão étomada. A lista de diagnósticos diferenciais evolui à medidaque novas informações se tornam disponíveis.

O Dr. Sotos realça a diferença entre o modo de trabalho declínicos experientes e o tipo de diagnóstico diferencial formalque se tem em uma sala de conferência em um centro médicoacadêmico.

"Eu o descreveria como um exercício didático. É muitoartificial. Serve para pessoas inexperientes. Esse exercício setransforma ao longo do tempo em um processo decombinação de padrões", afirma. Entretanto, mesmo médicosveteranos podem se valer de um processo mais formal seprecisarem ir além do escopo rotineiro de sua prática ouespecialidade. "Mesmo alguém muito experiente emneurologia, por exemplo, quando de repente se vê diante deum caso que envolva obstetrícia, vai voltar àquele processolento e deliberado."

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O Dr. Sotos afirma que, embora o quadro branco apareçacom destaque em todos os episódios do seriado, o Dr.House muitas vezes avança, tomando decisões rápidassobre que testes ou tratamentos devem ser tentados emseguida, decisões que muitas vezes só são explicadas maisadiante.

A arte da medicina

Quando um paciente apresenta problemas clínicosdesafiadores, um médico eficiente deve ser capaz deidentificar os elementos cruciais por meio do exame físico eda análise do histórico complexo, e extrair os principaisresultados laboratoriais dos laudos computadorizadosdetalhados para concluir se deve "tratar" ou "observar"determinado paciente. Decidir se uma pista clínica deve serlevada adiante ou descartada e ponderar se o tratamentoproposto envolve mais risco do que a própria doença sãojulgamentos essenciais que o médico habilidoso deve fazermuitas vezes por dia. Essa combinação de conhecimentomédico, intuição, experiência e bom julgamento define a arteda medicina, que é tão necessária ao exercício da profissãoquanto um bom banco de dados científicos.

- Harrison's Principies ar Internal Medicíne, 16° edição

Como observado anteriormente, ao discutir avaliações em

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uma sala de emergência, uma ruptura na aorta é fortecandidata quando o paciente se queixa de dor no peito,embora seja uma condição relativamente rara, porque podematar rapidamente. Uma condição incomum também podereceber mais atenção se houver um tratamento eficazdisponível, mesmo que as conseqüências da doença nãosejam imediatamente sinistras. Por outro lado, se não houvertratamento eficaz para determinada condição, então ela podeser colocada no final da lista de possíveis causas, já que umatraso não vai necessariamente alterar o desfecho final parao paciente.

Por exemplo, quando uma pessoa procura o médicoqueixando-se de movimentos musculares involuntários erigidez, uma possível causa é a doença de Huntington. Essedistúrbio hereditário é raro, e afeta cerca de uma pessoa emcada 20 mil na maior parte das nações do Ocidente. Adoença de Huntington acaba sendo mortal, mas aprogressão pode levar mais de uma década. Não há curaconhecida.

Todavia, a queixa inicial que pode sugerir uma possíveldoença de Huntingron também pode ser causada peladoença de Parkinson, que pode ser tratada durante umperíodo longo. Outra possibilidade é a doença de Wilson,um distúrbio relacionado à maneira como o corpo processa ocobre. Essa doença pode ser tratada por meio de dieta

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cuidadosa e medicação. Assim, um médico pode, primeiro,seguir as pistas que levam ao diagnóstico da doença deWilson, reduzindo o consumo de cobre na dieta do paciente,a fim de evitar a progressão da condição.

Está tudo nos olhos

Uma mãe de 38 anos começa a agir de modo estranho. Elabebe e apresenta sinais de danos hepáticos. Assim, odiagnóstico de esquizofrenia e alcoolismo que ela recebe noinício do episódio "The Socratic Method" ("O MétodoSocrático", 1-06) parece razoável. No entanto, House duvidada resposta fácil, claro, e por fim uma observação sobre umaconsulta ao oftalmologista desmarcada o leva a umdiagnóstico de doença de Wilson, uma disfunção genéticaque leva à sobrecarga prejudicial de cobre no organismo.

House suspeita que os sintomas psiquiátricos da pacientetalvez não sejam de esquizofrenia, e por bons motivos. Háuma lista muito longa de condições que podem serconfundidas com esquizofrenia. Então, quando ele revisouas notas feitas pelo filho da paciente e viu que ela haviaperdido uma consulta ao oftalmologista, seria bastantenatural imaginar quais seriam os resultados de um exameoftalmológico.

Anéis amarelo-esverdeados na córnea do olho são um sinal

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clássico da doença de Wilson, embora nem sempre sejamóbvios. Um exame de rotina dos olhos do paciente usandouma luz especial em geral realçará esses anéis de cobre egrânulos de enxofre. Esses depósitos são chamados deanéis de Kayser-Fleischer.

Na prática, qualquer paciente com suspeita de esquizofreniaprovavelmente seria examinado para checar a existência dadoença de Wilson, uma vez que há tratamento específico eeficaz disponível. Certamente, parece que anéiscaracterísticos de Kayser-Fleischer não passariamdespercebidos.

A presença de cicatrizes no fígado também é um sinal dedoença de Wilson. A disfunção genética afeta a capacidadedo corpo de regular os níveis de cobre. O resultante excessode cobre danifica primeiro o fígado e, à medida que os níveisde cobre se elevam, algum escapa para a circulaçãosangüínea e é depositado em outros órgãos. Qualquerpaciente com doença hepática inexplicada deve serexaminado para a doença de Wilson. A insuficiênciahepática é a característica mais letal dessa disfunção.

Uma pergunta feita pelo episódio é por que a paciente teriamarcado uma consulta ao oftalmologista. Chase sugerecatarata. A catarata, um enevoamento das lentes dos olhos,realmente ocorre em pacientes com a doença de Wilson. No

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entanto, o tipo geralmente ligado à doença, chamado decatarata girassol, não afeta a visão, mostrando-seimprovável que seja causa suficiente para fazer o pacienteprocurar um oftalmologista.

O tratamento preferencial para a doença de Wilson envolveagentes quelantes que se ligam ao excesso de cobre paraque o corpo possa excretá-Io de maneira mais fácil, alem demudanças na dieta para limitar a ingestão de cobre.

No limiar

Poucas coisas na vida ou na medicina são absolutamentecertas, por isso os médicos também organizam suaspesquisas diagnósticas em torno de limiares de teste etratamento.

Quando algo está abaixo do limiar de teste, significa queaquela causa específica é tão improvável que não vale apena ser testada, mesmo que não seja completamenteimpossível.

Na outra ponta do espectro, se uma possível causa excedero limiar do tratamento, significa que a probabilidade éelevada o suficiente para seguir adiante com o tratamento,mesmo que o médico não possa oferecer cem por cento degarantia ao paciente.

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Existem fórmulas para calcular os limiares de teste etratamento, embora os médicos possam abordá-los demaneira mais informal. Os cálculos, precisos ou intuitivos,incluem os benefícios e os problemas potenciais dos testes etratamentos.

Por exemplo, em casos raríssimos, o primeiro sintoma de umtumor no cérebro é dor de cabeça. Mas os médicos nãosolicitam uma ressonância magnética de todos os pacientesque apresentam dores nas têmporas. A ressonânciamagnética pode não ser perigosa na maioria dos casos, maso teste é caro e é pouco provável que produza informaçõesúteis para quem sofre de dores de cabeça. Ainda que ocusto não fosse problemático, os profissionais de saúde sãoresponsáveis pelo uso adequado dos recursos médicos.Testar todos os pacientes pode significar longas filas deespera e um atraso potencialmente prejudicial aos pacientescujos resultados dos testes talvez sejam cruciais.

Ou ainda considere todos os exames de sangue disponíveis.Quantas vezes você realmente deseja ter suas veiasespetadas para tirar mais soro para testes? Além da dorzinhada picada de um exame de sangue, sempre há o risco de umresultado falso-positivo; ou seja, alguns testes terãoresultado positivo mesmo quando o paciente na verdadenão apresenta aquela condição. Por exemplo, os exames desangue PSA, que têm como objetivo detectar sinais de

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câncer de próstata, podem apresentar altos níveis deantígeno prostático específico por vários motivos. Opróximo passo após confirmar o resultado de um examesangüíneo com valores altos de PSA é geralmente umprocedimento de biópsia com agulha para coletar amostrasde tecido da próstata. Embora o teste de biópsia com agulhaconfirme a presença de câncer, na maioria das vezes nenhumtumor é encontrado.

Assim, a questão que os homens e seus médicos enfrentamé: quando vale a pena submeter-se ao desconforto e àansiedade de um procedimento de biópsia com agulha? Nemsempre é fácil responder a essa questão... e a resposta podeser diferente para homens diferentes, dependendo de seuponto de vista pessoal.

Um equilíbrio semelhante dos riscos e benefícios deve serfeito com os tratamentos.

Qual o grau de certeza necessário para iniciar a terapia?Depende.

Se a doença for perigosa e o tratamento mostrar-serazoavelmente seguro, então o limiar de tratamento pode sermuito baixo. Por exemplo, os pacientes que chegam à sala deemergência com dor no tórax podem receber aspirina muitoantes de os médicos terem certeza de que um ataque

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cardíaco está em andamento, porque o tratamento rápidocom aspirina pode ajudar a restaurar o fluxo sangüíneo até omúsculo do coração, limitando, assim, os danos do ataquecardíaco. A aspirina pode causar sangramento no estômagoou nos intestinos, mas o risco é relativamente baixo,especialmente para um paciente que está sendo monitoradona emergência.

Voltando ao exemplo do câncer de próstata, esse limiar detratamento é mais alto. O

tratamento mais comum para câncer de próstata é a cirurgiapara remover a glândula da próstata. A cirurgia não só édolorosa, mas muitos pacientes também sofrem deincontinência urinária e impotência de longo prazo ou atémesmo permanente.

Ninguém se apressa em recomendar cirurgia com baseapenas em um teste de PSA do sangue. Mesmo depois deum procedimento de biópsia e de um câncer ser confirmado,pode haver dúvidas sobre se o limiar do tratamento foi ounão ultrapassado. Além disso, os tumores de próstatatendem a crescer muito lentamente; os tumores podem levaranos ou até mesmo décadas para causar problemas desaúde. Um homem idoso com outros problemas de saúdepode optar por não fazer a cirurgia, mesmo que tenha câncer,pois considera que a cirurgia para remover um pequeno

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tumor não vai oferecer benefícios suficientes a ponto desuperar o trauma da operação e suas conseqüências.

Em geral, o limiar de teste do Dr. House é quase zero. Sehouver alguma chance de encontrar algo, ele tende asolicitar outro exame de sangue, uma punção lombar,ressonância magnética, tomografia computadorizada e assimpor diante. Ele também demonstra um baixo limiar detratamento, em geral começando a terapia muito antes de tercerteza sobre um diagnóstico. Os riscos de testes eprocedimentos raramente o demovem da idéia.

Talvez o exemplo mais extremo esteja no episódio"Autopsy" ("Necropsia", 2-02). O

Dr. House disse que a única maneira de provar a existênciade um possível coágulo no cérebro de uma jovem pacienteseria resfriar seu corpo até que ele basicamente sedesligasse e depois drenar o sangue de seu cérebro e fazê-lovoltar acompanhando o fluxo via ressonância magnética. Amedida drástica da parada hipotérmica às vezes é usada parareduzir os riscos de cirurgia no cérebro ou em suas artériasprincipais. O tecido cerebral pode sobreviver mais temposem o fluxo sangüíneo normal quando está frio. Essefenômeno explica a sobrevivência de algumas pessoas queforam reanimadas depois de ficarem submersas em águasgeladas.

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Adotar uma medida tão extrema para minimizar o risco de umprocedimento de tratamento é uma coisa; sujeitar umpaciente a um processo muito arriscado para confirmar umdiagnóstico é algo muito diferente.

Às vezes, é mais difícil analisar a lista de diagnósticosdiferenciais quando os sintomas são os mais comuns detodos. Fadiga ou uma sensação geral de cansaço é uma dasqueixas mais comuns e também a mais difícil de identificar. Alista de diagnósticos diferenciais pode incluirhipotireoidismo, diabete, anemia, mononucleose, depressãoe muito mais.

"Após examinar o paciente, posso achar que o diagnósticomais provável com base em tudo que sei sobre aquele caso éanemia. Então, esse será meu diagnóstico hipotético. Noentanto, terei em mente todos esses outros diagnósticos;não vou descartá-los. Vou continuar pensando em todoseles", afirma o Dr. Rick Kellerman, médico de família.

No entanto, se a análise da lista não levar a um suspeitoprincipal, o Dr. Kellerman afirma que pode procurar umasegunda opinião, não só para ter a perspectiva de outromédico sobre a possível causa subjacente da queixa, mastambém para verificar se o problema é urgente ou não. Hátempo para fazer mais exames? Ou será que um dossuspeitos na lista de diagnósticos diferenciais é perigoso o

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suficiente para justificar o tratamento, mesmo antes de tercerteza absoluta da causa real?

Avançar com o tratamento antes de os fatos serem apuradosé uma ocorrência freqüente no seriado. Em um episódio, oDr. House determina o tratamento para a síndrome deGuillain-Barré, embora os testes de anticorpos para a doençatenham sido negativos. Ele suspeitou que o teste talveztenha deixado algum elemento escapar. Como House achavaque o tratamento por plasmaferese, que é um tipo defiltragem sangüínea, e o uso intravenoso de imunoglobulinaG apresentavam poucos riscos de efeitos colaterais, faziasentido prosseguir.

Se o tratamento funcionasse, sustentaria o diagnóstico desíndrome de Guillain-Barré... e, se não ajudasse, elespoderiam investigar melhor as outras possibilidades.

Sem exageros

No início da investigação de um caso, o Dr. House,freqüentemente, prescreve uma série de antibióticos. Suaidéia é a seguinte: se a doença for uma infecção bacteriana, oantibiótico ajudará; se for um problema diferente, a maiorparte dos antibióticos tem poucos efeitos colaterais, por issoseu uso se justifica em qualquer caso.

Na verdade, o uso excessivo de antibióticos criou uma séria

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ameaça à nossa capacidade de combater doençasinfecciosas. O problema é que os micróbios estão evoluindoe se tomando resistentes aos antibióticos e a outros agentesantimicrobianos. De acordo com os Centros de Controle ePrevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC),praticamente 2 milhões de pacientes nesse país sãoinfectados durante seu período de internação e cerca de 90mil morrem como resultado das infecções contraídas.

Os hospitais são refúgios para micróbios. Afinal de contas,estão repletos de doentes, incluindo várias pessoasvulneráveis a infecções, parque seu sistema imunológicoestá enfraquecido. Para piorar a situação, muitos dosmicróbios nos hospitais são como criminosos detidos emprisões de segurança máxima: eles conhecem todos ostruques e podem ser extremamente cruéis. Mais de setentapor cento das bactérias que causam infecções hospitalaressão resistentes a pelo menos um dos medicamentos maiscomumente usados para tratá-Ias, afirma o CDC.

Alguns micróbios estão se tornando resistentes a váriasdrogas. Um relatório publicado no periódico Clinicallnfectious Diseases afirmou que, em 1992, cerca de um terçodas infecções por Staphylococcus aureus nas unidades detratamento intensivo era resistente a vários fármacosimportantes. Em 2003, quase dois terços das amostras deStaphylococcus aureus coletadas nas UTls eram resistentes

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a múltiplas drogas. A possibilidade de haver super-micróbios que não sejam passíveis de tratamento por meiodos medicamentos disponíveis atualmente é umapreocupação crescente. Além disso, o número de novasdrogas em teste é pequeno.

Alguns especialistas alertam para o fato de que o futuropode ser como nos dias que antecederam a descoberta dosantibióticos, quando os médicos não dispunham de armaseficazes para combater os micróbios comuns. Os pacientesmelhoravam por conta própria...

ou não. Existem campanhas internacionais em andamentopara impedir essa perspectiva assustadora. Umacaracterística importante dessas campanhas é aconselhar osmédicos e seus pacientes a resistir à necessidade deprescrever antibióticos de rotina em caso de suspeita deinfecção. A esperança é que, com o uso cuidadoso dedrogas antimicrobianas, os pesquisadores terão mais tempopara desenvolver novas ferramentas, com o objetivo deficarmos um passo à frente dos micróbios em constanteevolução.

Iniciar o tratamento para ajudar a diminuir a lista dediagnósticos diferenciais, ajudando, assim, o paciente, é umavariação do conceito de limiar do tratamento. Ou seja, emgeral os médicos não podem esperar para ter absoluta

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certeza sobre a causa de determinada queixa do paciente. Sehouver pelo menos uma base razoável para suspeitar dedeterminada causa, e se os efeitos colaterais e os demaisriscos do tratamento parecerem aceitáveis, então o fato deque iniciar um tratamento pode ajudar a provar ou descartaro diagnóstico preliminar é mais um item a favorecer acontinuidade do tratamento.

Evidentemente, o médico precisa monitorar os efeitos daterapia a fim de determinar se o tratamento é a escolhacorreta. No episódio "DNR" ("Ordem para não ressuscitar",1-09), o paciente estava recebendo vários tratamentos aomesmo tempo. Quando começou a melhorar, não havia comosaber qual tratamento surtira efeito. Nesse caso, o Dr. Houserecomendou interromper todos os tratamentos e, emseguida, acrescentar um de cada vez.

Desse modo, seria possível identificar qual deles estavafuncionando.

Não fazer nada

Existem casos em que não fazer nada é a melhor linha deação, pelo menos durante algum tempo.

A "ação do tempo" é uma expressão comum utilizada parafazer referência a esses casos em que a inação, pelo menosdurante algum tempo, é a melhor opção.

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"Digamos que eu não saiba qual é o problema. Os resultadosdos testes estão normais e não há uma condição grave queameace a vida do paciente", comenta o Dr. Kellerman.

"Nesses casos, um de nossos melhores e mais eficientestestes é esperar um pouco. Não anos, é claro, mas você jáacompanhou o caso e deve esperar durante uma ou duassemanas para ver o que acontece. Alguns quadros, devido àação de vírus, estresse ou outros fatores, simplesmentedesaparecem e o paciente se sente melhor. Talvez nemconsigamos determinar exatamente o que aconteceu".

Não existem regras rígidas e rápidas que determinem quantotempo é preciso esperar para que certa doença se resolvapor conta própria ou manifeste sua verdadeira intensidade,mas médicos e pacientes muitas vezes são recompensadospela espera.

No primeiro episódio do seriado, mesmo o Dr. House, apesarde seu temperamento tipicamente impaciente, recomendouesperar, embora a condição do paciente fosse bem grave.

Nesse caso, as causas prováveis na lista de diagnósticosdiferenciais tinham ritmos de progressão muito diferentes.Por isso, o Dr. House decidiu que, se apenas observasse, averdadeira causa se manifestaria. Na ocasião a velocidadedo declínio do paciente eliminou a possibilidade de câncer.

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Por fim, a equipe médica encontrou indícios de que o cérebroe outros órgãos do paciente haviam sido infectados peloparasita tênia.

Neurocisticercose

Cistos cerebrais causados por tênias são raros nos EstadosUnidos, mas parecem estar ocorrendo com mais freqüênciamesmo entre aqueles que nunca viajaram para paísesestrangeiros onde as infecções parasitárias são maiscomuns. A cisticercose é causada pelo estágio larval doparasita tênia encontrado em porcos, Taenia sollium. Cercade mil casos são reportados nos Estados Unidosanualmente. Um caso em cada dez pode ser deneurocisticercose, o que significa que cistos sedesenvolveram no cérebro ou na medula espinhal.

Como retratado no primeiro episódio do seriado, o primeirosintoma da neurocisticercose em geral são convulsões. Podenão haver indício óbvio sugerindo a existência de tênia. Naverdade, quatro casos foram reportados na comunidade dejudeus ortodoxos em Nova York, que nunca comeram nemmanipularam carne de porco. Os investigadores chegaram àconclusão de que os parasitas provavelmente haviam sidotransmitidos por trabalhadores domésticos que ajudavam apreparar as refeições.

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Às vezes, a fonte dos parasitas nunca é encontrada. Quandouma menina saudável de 6 anos que mora em um subúrbiode Chicago teve uma convulsão, os médicos iniciaram otratamento para o que consideraram ser abscesso cerebral.Durante a cirurgia cerebral, os médicos descobriram que oque tinha a aparência de abscesso na verdade era um cistocontendo larvas de tênia parcialmente degeneradas. A únicaviagem ao exterior que a menina havia feito foi para a Irlanda,onde é rara a ocorrência de tênias. Nenhum sinal de parasitafoi encontrado no exame de fezes da menina ou de outrosmembros de sua família.

As infecções parasitárias por tênia em geral sãodiagnosticadas por meio de testes do sistema imunológicoque encontram sinais de uma reação de anticorpos aosparasitas.

Ressonâncias magnéticas, tomografias computadorizadas eexames oculares também ajudam os médicos a encontrarindícios da presença de cistos. Um simples exame de fezespode revelar a presença de parasitas, mas nem sempre, comofoi o caso da menina de Chicago.

No episódio-piloto, a equipe de House não fez umatomografia do cérebro do paciente, embora esses examesrevelem a presença de cistos de tênias nessa região. Noentanto, quando esse tipo de exame não está disponível, os

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médicos às vezes tiram radiografias de outras partes docorpo em busca de sinais de parasitas, como sugerido porChase.

O albendazol é um dos medicamentos tipicamente utilizadospara tratar casos graves de neurocisticercose. Omedicamento pode reduzir a freqüência e a gravidade dasconvulsões, mas talvez não as elimine por completo.

O Dr. Gilbert observa que esperar e observar eramprocedimentos mais comuns no passado, enquanto aresposta típica hoje em dia à incerteza é solicitar exames etestes.

"Os médicos costumavam esperar que mais sinais esintomas se manifestassem", afirma o Dr. Gilbert. "O tempopode estar a seu favor e, às vezes, esperar é o melhorremédio".

Ele se lembra de uma jovem que atendeu na década de 1970.Ela não estava se sentindo bem e uma cultura da gargantaapresentou resultado positivo para estreptococo. Eleprescreveu antibiótico, mas, em vez de melhorar, a pacientepiorou. Sua garganta estava inflamada. Os testes de suafunção renal pareciam um pouco alterados. O Dr. Gilbert nãosabia qual era a causa dos sintomas, mas, certamente, nãoera estreptococo. Ele interrompeu o uso do antibiótico, que

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claramente não estava ajudando, e encaminhou a pacientepara outros médicos.

Anos mais tarde, ele e a ex-paciente se encontraramnovamente. Ela parecia diferente.

A parte superior de seu nariz tinha achatado. Um nariz emsela pode ser sinal de uma doença chamada granulomatosede Wegener, que é um problema incomum nos vasossangüíneos, em que os vasos inflamados impedem acirculação sangüínea até certos tecidos.

A granulomatose de Wegener não estava na lista original dediagnósticos diferenciais do Dr. Gilbert. Não existem examesde sangue que possam identificar especificamentegranulomatose de Wegener. Por fim, foi feita uma biópsia daárea afetada da paciente, que é o principal método paradiagnosticar a doença. A terapia médica em geral ajuda, masmuitos pacientes sofrem recidiva.

"Com base no que eu vi quando a examinei pela primeira vez,essa hipótese seria impossível", afirma o doutor. "Mas otempo revelou outros sintomas".

Em muitos lugares do mundo, em que não há disponibilidadede aparelhos de imagens de alta tecnologia, esperar eobservar que sintomas se manifestem, e em que ordem eritmo, ainda são os principais procedimentos táticos para se

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chegar a um diagnóstico.

É claro que existem casos que ficam sem solução. Um estudocom mais de mil pacientes que procuraram clínicas deotorrinolaringologia queixando-se de tonteira revelou quecerca de um em cada quatro casos ficou sem diagnóstico.

Febre é outro sintoma que pode frustrar médicos epacientes. Na verdade, febres persistentes já deixaram tantosmédicos perplexos que a condição ganhou um nome próprio:

"Febre de origem desconhecida". A definição clássica é deuma febre que persiste durante mais de três semanas, comtemperaturas documentadas acima de 38°C em váriasocasiões e um diagnóstico incerto após uma avaliaçãoprolongada no hospital durante uma semana. As causasreais dos casos que acabam sendo resolvidos variam deinfecções a tumores, ou doença vascular, com outras causasdiversas também possíveis.

Os casos de febre que atormentam os médicos parecem termudado ao longo dos anos.

Quando as causas subjacentes acabam sendo descobertas,câncer não costuma ser a explicação mais comumatualmente. Os pesquisadores afirmam suspeitar de váriosfatores envolvidos nessa mudança. No entanto, acreditamque os avanços na tecnologia de diagnóstico, como ultra-

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som ou tomografias computadorizadas, permitiram identificarcasos de tumores antes de serem rotulados de "febre deorigem desconhecida".

Mesmo diante do tremendo avanço tecnológico, um em cadatrês casos de febre de origem desconhecida fica semsolução. Esses pacientes melhoram por conta própria e adoença simplesmente fica sem explicação. Infelizmente,alguns casos inicialmente intrigantes acabam se revelandoletais. Em uma série de pacientes, câncer no sangue era oresponsável por cerca de um em cada dez casos do que foraconsiderado febre de origem desconhecida.

Entretanto, essas doenças sangüíneas, particularmente olinfoma não-hodgkiniano, representavam mais da metade deóbitos registrados pelos pesquisadores.

A doença em geral conta seus segredos entre parênteses.

- Wilfred Barten Lewis Trorter (1872-1939)

O Dr. House deveria reconhecer o trabalho pioneiro docirurgião de câncer e neurocirurgião britânico WilfredTrotter. Os casos que ele e sua equipe tratam não têmsolução fácil. Eles só conseguem decifrar os indícios pormeio de uma cuidadosa investigação. Quando as pistas sutissão reconhecidas, muitas vezes levam a uma mudançaradical na direção da investigação diagnóstica.

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"É aquela observação casual que o paciente faz quedesperta a atenção do médico.

Quando o paciente se apresenta com a síndrome Á´, seuquadro está inteiramente compatível com a síndrome Áé omédico está considerando a síndrome Áćomo hipótese, umaobservação do tipo Áh, sim, meus dedos do pé ficam azuisquando isso acontece´, aparentemente sem importância, fazcom que o médico de repente mude o diagnóstico para asíndrome ´B´", afirma o Dr. John Sotos, que citou o Dr.Trotter em seu livro sobre doenças e condições incomuns,Zebra Cards.

No primeiro episódio do seriado, foi um comentário casualde Foreman sobre comer um sanduíche de presunto quelevou a equipe a considerar a possibilidade de infecçãocausada por um parasita de origem alimentar.

No episódio "Daddy's Boy' discutido anteriormente nestecapítulo, o sinal precoce mais dramático do paciente foramsensações semelhantes a choques. Nenhuma das suspeitasse manifestou. De repente, o Dr. House abandonou todas ashipóteses anteriores e partiu para a ação quando um amigodo paciente fez uma observação aparentemente fortuitasobre o trabalho do rapaz durante o verão no ferro-velho deseu pai. Esse "parêntese" continha a pista mais importante: adoença do paciente poderia estar relacionada a algo

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encontrado em pátios de ferros velhos. Bastou procuraremnos pertences do garoto para encontrar um objeto de metalaparentemente ordinário. A sucata não era nada inofensiva.Era radioativa.

Embora o envenenamento por radiação só tenha aparecidono quadro branco no final do episódio, já havia indíciosdesse quadro. No início, Cameron mencionou que oschoques poderiam ser sinal de Lhermitte, que às vezes é umsintoma precoce de esclerose múltipla.

Entretanto, a esclerose múltipla não é a única causa. O sinalde Lhermitte também pode ser causado por exposição àradiação. Na verdade, a sensação de choque é umaconseqüência comum da radioterapia.

Heurística

Embora a medicina seja cada vez mais científica, os médicossão humanos... e ao lidar com evidências disponíveis em umcaso difícil a natureza humana pode levá-los a tomardecisões erradas. A análise da maneira como se dá oentendimento humano revela que freqüentemente seguimosatalhos para tomar decisões.

Esses atalhos fazem parte do motivo pelo qual médicosexperientes chegam rapidamente a um diagnóstico sempassar por todas as etapas de um exame completo e de um

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processo de diagnóstico diferencial formal, como fazem osjovens residentes ou recém-formados.

Toda profissão tem suas "regras gerais", estratégiasbaseadas na experiência do que geralmente funciona ou não.Chamamos essas regras de heurística. Um exemplo de umaheurística popular é a navalha de Occam, a crença de que,quando várias soluções são possíveis, então devemosescolher a mais simples. Na maior parte das vezes, aheurística melhora nossa eficiência. Permite que tomemosdecisões mesmo quando as evidências estão incompletas ouconfusas. É natural que as pessoas se valham dessasestratégias quando estão com pressa... e os médicos quetentam tomar uma decisão sobre determinado diagnósticoestão quase sempre com pressa.

Apesar de sua enorme utilidade prática, a heurística tambémpode nos guiar na direção errada.

Três décadas atrás, Amos Tversky e Daniel Kahnemanescreveram um trabalho muito citado que foi publicado narevista Science, intitulado "Judgment under Uncertainty:Heuristics and Biases" Os autores apresentavam um modelode como as pessoas tomam decisões, embora muitas vezesnão disponham de todos os fatos. Eles propuseram quaseuma dúzia de tipos de vieses ou "ilusões cognitivas" quepodem afetar o julgamento.

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A precisão com que o modelo consegue captar o processode tomada de decisões do ser humano no mundo real foiquestionada. Ainda assim, o famoso artigo e outros artigos elivros tiveram profunda influência nos conceitos popularessobre o processo de pensamento humano, particularmenteno diagnóstico médico. Certamente, os médicos precisamestar cientes disso e tentar contrabalançar a tendêncianatural de tomar decisões rapidamente. Na verdade, essetreinamento é parte essencial do pensamento críticosubjacente à formação médica.

A HEURÍSTlCA DA DISPONIBILIDADE

Se tiver ouvido falar de determinada situação recentementeou assistido a seu desenrolar, você terá mais chances depensar nela quando estiver diante de situações semelhantes.

"Essas heurísticas podem ser inimigas do processo dediagnóstico. Por isso, algumas instituições treinam seusestudantes e residentes médicos a reconhecer quando estãosendo levados por um caminho equivocado por uma dessasheurísticas, incluindo a da Disponibilidade. Se eu vi um casode alcaptonúria na semana passada, é muito mais provávelque eu faça um diagnóstico igual esta semana por causa daheurística da Disponibilidade. O

que aconteceu recentemente fica em nossa mente", afirma o

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Dr. Sotos.

A alcaptonúria é um distúrbio metabólico hereditário raroque pode ser uma das causas da descoloração da urina, masocorre em menos de uma pessoa em cada 25 mil.

Obviamente, o seriado parte da premissa de que não é porser extremamente improvável que algo deixará de ser a causade determinada condição. Na verdade, muitos médicosexperientes se lembram de casos em que um estudante deMedicina escolhe uma doença rara como explicação para ossintomas do paciente. Às vezes, segundo o Dr. Sotos, osjovens médicos acabam acertando o diagnóstico.

"O residente termina sua apresentação e diz: Acho que esteé um caso evidente de sarcoma de células reticulares, que éuma doença extremamente rara, e todos riem dele. Umasemana depois, descobre-se que o paciente de fato estavacom sarcoma de células reticulares.

Perguntaram ao estudante como ele sabia disso e elerespondeu: 'Bem, o que mais causa esplenomegalia?' É claroque existem vários fatores que podem causar a hipertrofia dobaço, mas esse era o único motivo que ele conhecia", contao Dr. Sotos.

A "disponibilidade", ou a quantidade de atenção populardispensada a determinado assunto, também pode afetar as

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percepções comuns sobre várias ameaças à saúde. Eis umteste popular: diga qual o tipo de câncer que mata maismulheres nos Estados Unidos todos os anos. A respostamais comum é câncer de mama, mas a resposta correta écâncer de pulmão.

Segundo estimativas de 2006 da Sociedade Americana deCâncer, o câncer de pulmão mata mais de 72 mil mulheres porano em comparação com as 41 mil mortes causadas pelocâncer de mama. No entanto, como o câncer de mama recebemais atenção da mídia e do público em geral do que o câncerde pulmão, muitas pessoas acreditam que ele seja o principalresponsável pelas mortes por câncer.

A HEURÍSTICA DA REPRESENTATIVIDADE

Informações adicionais ajudam os médicos a fazer odiagnóstico correto, não é? Bem, nem sempre. Às vezes,informações extras podem ser motivo de distração eobscurecer fatos importantes.

A heurística da Representatividade é o que nos leva apressupor que alguém que pertence a determinado grupocompartilha características semelhantes com outros daquelegrupo. Em um contexto médico, essa heurística pode levarum médico a superestimar ou subestimar a probabilidade dedeterminado diagnóstico.

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No início do episódio "Daddy's Boy" quando o Dr. Houseouviu que o paciente era um estudante universitário queacabara de se formar, ele rapidamente partiu do pressupostode que a queixa tinha alguma relação com farrasdescomunais. Ele extrapolou o conceito do grupo, deuniversitários se formando, para o indivíduo, que estavadoente por uma causa totalmente diferente.

A profissão é uma informação muito importante sobre opaciente. No entanto, é preciso ter cuidado para que aheurística da Representatividade não aumente a importânciade determinado fato em detrimento de outras pistas.

Digamos que um voluntário que presta assistênciainternacional e viaja freqüentem ente para a África e umfornecedor local de refeições prontas cheguem ao hospitalqueixando-se de vômito, diarréia, fadiga e febre. Pode sernatural pressupor que as causas sejam diferentes: ou seja,que o voluntário esteja exposto a vários patógenos exóticose que o fornecedor passe a maior parte do dia de trabalho nacozinha de seu estabelecimento. O

exame no voluntário internacional inclui verificar a presençade amebas e outras criaturas asquerosas, enquanto o dofornecedor envolve verificar a presença da bactériasalmonela, porque ele manipula frangos crus.

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No entanto, se os médicos que atenderem esses pacientesconsiderarem que saber a profissão deles é mais importantedo que perguntar sobre suas atividades recentes,provavelmente não descobrirão que ambos comeram ostraem um bar no hotel em que o voluntário estava hospedado,que, por acaso, situava-se bem em frente ao escritório doúltimo cliente atendido pelo fornecedor. Nesse caso, asostras transmitiram o vírus de Norwalk de um cozinheiroinfectado. As queixas dos pacientes não tinham relaçãoalguma com sua ocupação.

ANCORAGEM E AJUSTE

Ao tentar fazer estimativas rapidamente ou com informaçõesincompletas, nossos pressupostos iniciais muitas vezesinfluenciam os resultados.

Por exemplo, as pessoas tendem a imaginar que uma série decálculos que começam com um número grande terá umresultado maior do que uma série semelhante que começacom um número pequeno. Em um teste, Tversky e Kahnemanusaram as seguintes equações: lx2x3x4x5x6x7x8=?

8x7x6x5x4x3x2xl=?

As pessoas que calcularam a equação começando com 1chegaram a números médios menores do que as quecalcularam a equação começando com 8, embora o resultado

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de ambas seja o mesmo.

Outra maneira comum de ver o efeito da Ancoragem e doAjuste no julgamento humano é fazer perguntas do tipo"Qual a freqüência do resfriado comum? Você acha que umaestimativa de que trinta por cento das pessoas ficaramresfriadas no inverno passado é alta ou baixa demais?". Emseguida, faça a mesma pergunta com uma ligeira alteração:"Você acha que uma estimativa de que setenta por cento daspessoas ficaram resfriadas no inverno passado é alta oubaixa demais?" Em geral, as estimativas serão mais altas nogrupo de pessoas que responderam à segunda pergunta,porque suas mentes se fixam na estimativa mais alta que éproposta como ponto de partida.

Um médico pode ter de resistir à armadilha da Ancoragem edo Ajuste, dependendo da ordem em que determinadainformação ou resultado de teste torna-se disponível. Porexemplo, se o resultado de determinado teste sangüíneolevar o médico a acreditar que é quase certo que o pacienteesteja com a doença em questão, mas um segundo testecolocar em dúvida esse diagnóstico, o médico tenderá amanter o diagnóstico original, não o contrário (que seria ocaso, se a ordem dos testes fosse inversa, ou seja, se elerecebesse o resultado questionando o diagnóstico emprimeiro lugar).

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EM BUSCA DE CONFIRMAÇÃO

Uma característica recorrente da natureza humana é atendência de enfatizar informações que confirmem nossascrenças e descontar os fatos contraditórios.

Na hipótese de um fornecedor de refeições prontas queapresenta problemas de estômago, se o médico acredita quea salmonela foi a causa do quadro, a admissão, por parte dofornecedor, de que ele havia manipulado carne de frangocrua teria um peso muito forte.

Do mesmo modo, o médico poderia desconsiderar o fato deque outros colegas do fornecedor não contraíram a doença,supondo que tenham sido mais cuidadosos em sua higienepessoal.

Se o quadro branco tiver cumprido sua missão de ajudar osmédicos a organizar todas as informações provenientes deexames e testes, e a propor e comparar diagnósticosdiferenciais por meio de sintomas e sinais -, o resultado deveser um diagnóstico que ultrapassa o limiar de tratamento.

Evidentemente, dar o nome certo à doença não é algo queencerra a batalha. A meta é preservar ou restaurar a saúdedo paciente. O tratamento voltado à cura ou ao manejo eficazda condição é o tema do próximo capítulo.

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CAPÍTULO 6

Vamos fazer você se sentir melhor

Para o Dr. House, a caçada é tudo.

Diante do quadro branco, em "Daddy ' s Boy" ("Queridinhodo Papai", 2-05), ele afirma: "Tenho certeza de quevoltaremos a nos encontrar". Ele está falando sobre adoença e não do paciente. Seu foco é fazer o diagnósticocerto; curar os pacientes que lotam os hospitais parece serum subproduto fortuito. Para o Dr. House, um final felizsignifica desmascarar a doença. Para os pacientes, asituação é exatamente inversa, é claro. A causa é menospreocupante do que a cura. Finais felizes para os pacientessignificam tratamentos bem-sucedidos.

Em "Control" ("Controle", 1-14), o Dr. House interessou-sepessoalmente pelo desfecho do transplante de coração desua paciente. O cirurgião deu a boa notícia ao final daoperação: "Ela vai viver mais do que todos nós".

Embora nem todo paciente do seriado volte para casacompletamente curado, a média da equipe é invejável. Umavida longa e saudável é o prognóstico mais comum, graçasao tratamento eficaz possibilitado pelo diagnóstico correto.Na verdade, as chances de plena recuperação podem serrelativamente boas para o tipo de paciente de House; ou

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seja, jovens e normalmente saudáveis, exceto por umaestranha e ameaçadora enfermidade.

Quando o problema é de exposição externa, como umpesticida, ou uma infecção tratável, ou mesmo um tumorlocalizado, remover ou erradicar a causa da doença poderestaurar a saúde. O mesmo vale para vítimas de trauma,como pessoas envolvidas em acidentes de carro ou aquelasque quase se afogam e são rapidamente ressuscitadas.Assim que a crise passa, a vida volta praticamente ao normalapós um período de reabilitação.

Mesmo os receptores de corações transplantados, muitasvezes, vivem longos anos bem. Já existem transplantadosque vivem com seus novos corações há mais de vinte anos.

Entre os receptores mais jovens (a paciente em "Control"tinha 32 anos), mais de duas em cada três pessoas têm umasobrevida de pelo menos cinco anos. Uma pesquisa feitacom pacientes submetidos a transplante de coração realizadadez anos após a cirurgia mostra que, em geral, todosestavam vivendo bem. Entretanto, esses pacientes precisamtomar medicação imunossupressora para evitar a rejeiçãodos órgãos transplantados, e os efeitos colaterais de longoprazo dessas drogas se fazem sentir nos níveis físico eemocional.

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Ipeca & corações partidos

O xarope de ipeca era um medicamento básico para se ter emcasa. Era quase que universalmente recomendado para otratamento de emergência, a fim de induzir vômito em casode intoxicações.

Mas a ipeca também tem um histórico de abuso por parte depessoas com distúrbios alimentares, como bulimia nervosa.Essas pessoas usam a droga para purgar alimentos de seusestômagos após comer muito. O distúrbio alimentar e ocomportamento de purga são bastante agressivos ao corpo.A ipeca tem os próprios riscos.

No episódio "Control" ("Controle", 1-14), uma alta executivavinha escondendo sua bulimia e o abuso de ipeca até umproblema cardíaco quase matá-Ia. Existem vários relatos naliteratura de graves lesões ou até mesmo mortes causadaspelo abuso de ipeca por pessoas que sofrem de distúrbiosalimentares.

Ipeca, ou ipecacuanha, é uma planta nativa da América doSul. A palavra deriva da língua tupi dos índios da região.Com o uso crônico, a ipeca danifica o tecido muscular.

Quando ocorre lesão no músculo do coração, essa condiçãoé chamada de cardiomiopatia. O

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resultado pode ser insuficiência cardíaca.

De acordo com o Cecil Textbook of Medicine, a morte súbitapor insuficiência cardíaca é um dos riscos do abuso deipeca. O livro afirma que a morte é incomum, mas é difícilchegar a números conclusivos.

Como a ipeca é vendida sem prescrição médica, osfabricantes não mantêm um registro dos problemas comoocorre com os medicamentos com prescrição, por isso nãohá meio de saber exatamente quantas pessoas foram vítimasdo abuso da planta, ou morreram por causa disso. Aindaassim, existem alguns relatos de centros de intoxicação eoutros. Em 2003, uma apresentação submetida ao FDA comoparte de uma revisão da condição de medicamento "debalcão" dessa planta indicou que seis dos 17 casos detoxicidade por ipeca que foram investigados envolverammulheres com distúrbios alimentares que abusaram dasubstância. Suas idades variavam entre 19 e 35 anos. Cincodelas apresentaram sinais de miopatia. Uma sofreu paradacardíaca causada por emetina, um dos componentesquímicos da ipeca.

Quatro dessas mulheres morreram por causa da toxicidadeda ipeca. Uma sofreu danos cardíacos permanentes. Só umase recuperou. As pessoas que abusam da ipeca podem terresultados anormais em eletrocardiogramas ou testes de

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enzimas musculares. A ipeca também pode ser detectada emrastreios toxicológicos do sangue, urina e tecidos.

A paciente em House recebeu um transplante de coraçãoporque a ipeca causara danos irreparáveis a seu coração.Existem alguns relatos na literatura médica de que ospacientes podem se recuperar do uso abusivo de ipeca,incluindo o caso de uma paciente cuja função cardíacavoltou ao normal dez dias após o abuso ter sidointerrompido.

O autor do relatório apresentado ao FDA sobre danos emortes causados pela ipeca recomendou a realização deestudos adicionais para avaliar a extensão do problema.

Também aconselhou mudar o rótulo nas embalagens deipeca para evidenciar os riscos potencialmente graves àsaúde e alertar sobre a possibilidade de abuso. Ele afirmouque o FDA deveria até mesmo passar a exigir prescriçãomédica para o uso do medicamento.

Depois de ter descoberto que o uso abusivo de ipeca era acausa da lesão cardíaca de sua paciente, o Dr. Houseinformou-a sobre os problemas causados pelo uso habitualdo produto, mas disse que era ótimo para fazer uma criançavomitar depois de ingerir acidentalmente um frasco deaspirinas.

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A Academia Americana de Pediatria, que há décadasconcorda com essa perspectiva, mudou sua visão em 2003.A Academia adotou a nova política afirmando que a ipecanão deve ser mais mantida em casa como tratamento deemergência em casos de intoxicação.

"Embora pareça fazer sentido induzir vômito após a ingestãode uma substância potencialmente tóxica, nunca foi provadasua eficácia na prevenção da intoxicação.

Pesquisas recentes não conseguiram demonstrar efeitosbenéficos para as crianças tratadas com ipeca. Esse é oprincipal motivo pelo qual essa política mudou", afirmou aAcademia em sua declaração.

Em geral, os índices de sobrevida após o tratamento deproblemas graves de saúde diminuem à medida que ospacientes envelhecem, porque outras doenças tendem aaparecer.

No entanto, o principal fator é a saúde geral, não meramentea data de nascimento do paciente. Por exemplo, pesquisasrecentes sobre importantes cirurgias cardíacas indicam que,se a saúde total do paciente for levada em consideração, aidade isoladamente tem pouco efeito nas taxas de sobrevida.

As estatísticas de transplantes de coração sustentam essavisão. Um receptor de um transplante cardíaco na faixa dos

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30 anos, como a paciente do episódio "Control" ("Controle",1-14), tem praticamente setenta por cento de chances deestar vivo cinco anos mais tarde.

Entretanto, a média de cinco anos de sobrevida paratransplantados cardíacos na faixa dos 50-60 anos é até maisalta, embora estatisticamente a diferença seja próximademais. Os transplantados com mais de 65 anos têm índicesde sobrevida ligeiramente abaixo de cinco anos, porém, maisuma vez, a diferença não é significativamente relevante.

Assim, quando o Dr. House se envolveu em uma discussãocom o comitê de transplantes do hospital em defesa de umpaciente de 65 anos no episódio "Sex Kills" ("Sexo Mata", 2-14), a premissa do debate estava fora de questão. O Dr.House censurou o comitê por não valorizar o pacientesimplesmente por causa de sua idade. Ainda assim, osespecialistas em transplantes afirmam que, embora o focoapenas na idade do paciente seja uma simplificaçãoexcessiva do processo, a cena tinha algo de verdadeiro,porque a falta de doadores de órgãos força as equipesmédicas a fazer escolhas difíceis sobre quem receberá ounão um transplante. Como o paciente do Dr. House em "SexKills" parecia gozar de ótima saúde, a não ser pela infecçãobacteriana que lesionou seu coração, poderia serconsiderado um ótimo candidato para transplante.

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Assim que o paciente é considerado um bom candidato, aidade não é um dos critérios básicos para alocar os órgãosque se tornam disponíveis. O principal fator é se o possívelreceptor já está doente a ponto de depender de uma máquina(como um dispositivo ventricular) para fazer parte ou todo otrabalho do coração doente. O outro fator crítico é o grau deproximidade do doador com o receptor. Quanto mais rápidafor a transferência, melhor será o resultado; um coraçãodoado não pode sobreviver fora do corpo mais do que cercade quatro horas.

O roteiro desse episódio dá uma reviravolta quando sedescobre que ninguém quer o coração de uma vítima deacidente de carro do Hospital-Escola Princeton-Plainsboro,porque os resultados dos testes indicaram que ela estavacom hepatite C incurável. Assim, o Dr.

House parte para provar que o resultado dos testes estavaerrado. Ele sustenta que a vítima com morte cerebralprovavelmente tivera outro tipo de infecção, que ele poderiacurar, tornando o transplante seguro.

Embora o pressuposto do episódio pareça estranho emacabro, ou seja, de que o Dr.

House teria de "curar" uma mulher morta para salvar a vidade sua paciente, na verdade esse tipo de tratamento é feito o

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tempo todo. Existem protocolos detalhados para otratamento de doenças infecciosas e outras condições queafetam os órgãos de potenciais doadores. Os especialistasem transplante afirmam que tratar os potenciais doadores,mesmo após a morte cerebral, é uma estratégia vital paraenfrentar a terrivelmente escassa oferta de órgãos doados.

Um grupo revisou as principais opções de tratamento em umartigo chamado "Care of the Potential Organ Donor", que foipublicado no New England Journal of Medicine.

"Cuidar do doador representa basicamente cuidar, ao mesmotempo, de vários receptores. O manejo médico atentogarante que o maior número de órgãos possa ser recuperadona melhor condição possível para proporcionar os melhoresdesfechos para os pacientes. As terapias existentes parecemmelhorar a obtenção de órgãos", afirmam os autores.

O artigo observa que as infecções não necessariamenteeliminam a possibilidade de doação de órgãos. Além disso,as estatísticas de transplantes indicam que os receptores deórgãos de doadores com infecções bacterianas têm asmesmas chances de sobrevivência a longo prazo que osdemais receptores.

Embora as infecções bacterianas possam ser tratadas comantibióticos, não há cura rápida para vírus como os da

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hepatite B ou C. O receptor de um órgão infectado comhepatite tende a desenvolver a infecção, que pode não sercurável. Isso significa, conforme afirmou o Dr. House, queum teste positivo de hepatite C inutilizaria o coração de umdoador doente, certo? Não necessariamente. A infecção porhepatite B ou C pode ser tratada. Um paciente pode aceitarmelhor a ameaça a longo prazo da lesão ao fígado causadapela hepatite do que a morte por insuficiência cardíaca emuma semana, que era o destino que aguardava a paciente doepisódio.

Existem algumas infecções que são consideradas "contra-indicações absolutas" para a doação de órgãos. Essasincluem HIv, sarampo, raiva, um tipo de vírus que podecausar câncer nas células sangüíneas (vírus da leucemia-linfoma das células T), dentre outras. Um desses vírusrealmente poderia inviabilizar as opções de transplante, amenos que o Dr. House encontrasse uma solução única.Considerando que a falta de órgãos de doadores significa amorte precoce de muitos pacientes, as equipes e ospacientes de transplantes podem muito bem aceitar órgãospossivelmente infectados com hepatite C.

Os especialistas em transplantes usam o termo "critériosampliados" quando falam sobre órgãos que não sãoperfeitos, mas que ainda podem ajudar a estender a vida dospacientes à espera do transplante. No cálculo dos

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transplantes, os órgãos de uma pessoa jovem e saudávelque de repente sofre lesões fatais, de um acidente de carroou ato de violência, podem ser considerados "ideais". Noentanto, quando um trágico acidente de carro encurta a vidade pessoas mais velhas que talvez tenham problemascrônicos de saúde, seus órgãos ainda podem ter um valorconsiderável. Os especialistas em transplantes pedem aosindivíduos e às suas famílias para que sempre considerem apossibilidade de doação, porque a carência de órgãos émuito grande.

Restaurar completamente a saúde pode significar esperardemais depois de chegar tão perto da morte, mas a escolhado melhor tratamento é fundamental para dar ao paciente amelhor oportunidade de cura. Freqüentemente, selecionar otratamento pode ser tão desafiador quanto fazer odiagnóstico correto; sempre existem incertezas econcessões.

Nos casos de pacientes típicos com enfermidades típicas, osmédicos podem consultar volumes cheios de conselhos erecomendações compilados com base na experiência clínicae em estudos científicos. Mas o termo "típico", muitas vezes,não descreve os pacientes do Dr.

House. Freqüentemente, ele e sua equipe precisam abrircaminhos novos; assim, podem buscar tratamentos

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experimentais.

Tratamento experimental

Em "Maternity" ("Maternidade", 1-04), quando um vírus seespalha por uma unidade neonatal, Foreman sugere usaruma droga antiviral experimental que ele afirma ter produzidoresultados positivos em um teste de laboratório. Em "MobRules" ("Nas Mãos da Máfia", 1-15), um caso grave dehepatite C é o inimigo. Chase sugere usar um medicamentoexperimental semelhante a certos tratamentos anti-retroviraispara HIV. Ele ressalta que o medicamento está sendo testadoem cães. Dessa vez, Foreman é cético, pois fica preocupadocom o fato de que a droga, que nunca foi testada emhumanos, possa ser letal.

Embora medicamentos experimentais, às vezes, sejamadministrados em situações de emergência, cabe o ceticismo.Só porque um novo medicamento surgiu não significa queele é melhor. Na verdade, a Pharmaceutical Research andManufacturers of America (PhRMA), associação americanade pesquisa e fabricação farmacêutica, que é umaentusiástica defensora dos benefícios dos novosmedicamentos, observa que, de cada 10 mil compostos queentram em fase de testes de laboratório, apenas um chegaráa ser usado clinicamente de forma regular. Isso significa umataxa de fracasso de 99,99 por cento. Portanto, é

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extremamente improvável, se não impossível, que ummedicamento que ainda esteja apenas em fase de testeslaboratoriais possa ajudar um paciente à beira da morte.

Os testes de laboratório dos medicamentos analisam como amolécula experimental afeta algum componente da doença.Por exemplo, será que vai matar ou enfraquecer uma bactériaou um vírus quando forem combinados em uma lâmina dolaboratório? O

medicamento se acopla a uma proteína essencial usada peladoença, de modo a bloquear o crescimento ou a capacidadeinfecciosa da doença, sugerindo, assim, que pode diminuir aprogressão no paciente? Essas são perguntas críticas, mascobrem apenas alguns aspectos de uma doença oucondição. Os testes de laboratório não são capazes deprever, com certeza, como determinada droga agirá emcontato com os processos biológicos incrivelmentecomplexos de uma pessoa viva.

Mesmo se a droga for aquela dentre 10 mil que conseguiráchegar do laboratório ao mercado, nos primeiros estágios dapesquisa, ninguém sabe ao certo a dose a ser usada emhumanos ou mesmo como administrá-la. Será que deve serinjetada, ingerida, ou administrada por infusão? Será que vaiinteragir com outros medicamentos? Quanto tempo devedurar o tratamento?

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As chances são melhores para medicamentos quedemonstram um resultado positivo em testes animais, comoo potencial tratamento contra hepatite indicado por Chaseem "Mob Rules". Entretanto, há uma resposta clássica anotícias de que um medicamento experimental curou ocâncer em ratos: "Vou recomendá-lo a todos os ratos queconheço que sofram de câncer".

Embora os testes em animais sejam muito mais informativosdo que os resultados dos testes de laboratório, existemenormes diferenças entre os animais e os humanos emtermos de como seu organismo metaboliza as drogas. Porexemplo, uma série de testes animais de um composto queestá de algum modo relacionado ao tipo de tratamentocontra a hepatite mencionado em "Mob Rules" demonstrougrandes diferenças na maneira como as diferentes espécieslidam com a droga. Os pesquisadores analisaram abiodisponibilidade, que é uma medida de quanta drogaefetivamente entra no fluxo sangüíneo. A biodisponibilidadevaria de vinte por cento em ratos para quatro vezes mais, desetenta a oitenta por cento, em cães e macacos rhesus. Emoutras palavras, mesmo depois de ajustar as doses paralevar em conta o tamanho e o peso dos diferentes animais, adose equivalente seria quatro vezes mais forte nos cães emacacos do que nos ratos. Se só houver dados disponíveisrelativos a estudos em animais, e se não for possível teracesso a informações críticas sobre biodisponibilidade e

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outros fatores, seria muito fácil administrar a dose errada deum novo medicamento a um paciente.

Uma agora infame história de primeira página do The NewYork Times, em 1998, falava com grande entusiasmo sobretestes de uma nova classe de medicamentos que haviameliminado tumores em camundongos. Esse artigo citava umfamoso cientista que previa a cura

para o câncer em dois anos. No entanto, as duas primeirasdrogas do novo tipo de medicamento, angiostatina eendostatina, que foram criadas para impedir a chegada desangue aos tumores em desenvolvimento, não produziramresultados imediatos ou drásticos quando foramadministradas a pacientes com câncer. Embora ospesquisadores continuem a estudar a angiostatina, aendostatina e outras drogas semelhantes, a experiênciafrustrante serviu de forte lembrete de que o fracasso é muitomais comum do que o sucesso no mundo dos tratamentosexperimentais.

Em "Babies e Bathwarer" ("Bebês e Banheiras", 1-18), o Dr.House afirmou que um medicamento dessa classe, chamadode drogas antiangiogênicas, ou inibidores de angiogênese,porque interferem no desenvolvimento de novos vasossangüíneos, conseguiu gerar remissões completas em trintapor cento dos pacientes de câncer. Entretanto, o progresso

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foi ilusório no combate contra o câncer de pulmão depequenas células que o paciente teve nesse episódio. Umensaio com um inibidor de angiogênese chamadoBevacizumab despertou muito interesse em 2005 após umatentativa, que também fez uso de quimioterapia padrão,gerando um índice de resposta de 27 por cento nospacientes com um tipo diferente de câncer, chamado decâncer de pulmão de não-pequenas células. Em média, ospacientes em terapia experimental sobreviveram por um ano;apenas dois meses a mais do que os pacientes quereceberam terapia normal. Dois meses de sobrevida adicionalpodem ser importantes, mas está muito longe de ser umacura.

Além das diferenças entre espécies no metabolismo dasdrogas, existem também diferenças vitais nas própriasdoenças. O câncer nos cães é muito semelhante, mas nãoexatamente igual, ao câncer em seres humanos. Além disso,as doenças em animais de laboratório freqüentemente sãoartificiais. Os tumores cancerosos em camundongos delaboratório podem ser criados, primeiro, em uma lâmina e,depois, injetados nos animais.

Muitos desses camundongos também não são "normais",pois foram desenvolvidos especialmente para fins depesquisa. Uma das raças mais famosas é chamada decamundongo

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"nu". São animais sem pêlos, como sugerido no nome; mas acaracterística mais interessante para os pesquisadores é queesses camundongos carecem de timo e não produzemcélulas T.

Sem esse componente crítico do sistema imune, oscamundongos não rejeitam os tumores de células humanas,permitindo que os pesquisadores realizem maisexperimentos. Outros camundongos também foram criadospara desenvolver espontaneamente vários tipos de câncer, afim de que os pesquisadores possam ver os efeitos dosnovos tratamentos.

Esses animais especiais de laboratório desempenham umpapel central na pesquisa médica, mas médicos e pacientesnão podem simplesmente concluir que o que é bom para umrato de laboratório é bom para uma pessoa.

Se o tratamento potencial passar por testes de laboratório edepois por testes animais, ainda assim, em geral, enfrentapelo menos três níveis de ensaios clínicos em humanos. Osensaios de Fase I são de segurança. Esses ensaios iniciais,em geral, envolvem pelo menos algumas dezenas devoluntários. Às vezes, são voluntários doentes, mas namaioria das vezes são pessoas saudáveis, já que o testeenvolve apenas segurança, não eficácia. A principalpergunta é: o novo tratamento causará efeitos colaterais

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inaceitáveis? Embora os resultados dos testes de Fase I àsvezes sejam chamados de "promissores" ou "encorajadores"os estudos não são projetados para demonstrar se otratamento efetivamente gera benefícios. Cerca de doisterços dos tratamentos experimentais passam pelos ensaiosde Fase I em humanos.

Os ensaios de Fase II são criados para determinar se otratamento experimental efetivamente funciona. A maiorparte dos medicamentos que chegam a esse estágio não vaialém, porque não corresponde às expectativas geradas pelostestes em laboratório e em animais.

O teste de Fase III, geralmente, é o maior ensaio clínico, quecoloca à prova o novo tratamento. Pode envolver milharesde pacientes em várias localidades, os quais sãoacompanhados durante meses ou anos. É nessa fase que ospesquisadores descobrem se os benefícios da nova drogacompensam os efeitos colaterais... e em que dose. Embora osmedicamentos sejam submetidos a anos de estudos antes dechegar a esse ponto, aqueles que entram na Fase III deensaios em humanos não podem ser considerados produtosacabados.

Na verdade, até três em cada quatro desses medicamentosnão chegam ao final do ensaio.

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Para aquele fármaco que consegue passar no grande teste,os ensaios clínicos de Fase III são, em geral, a última etapaantes que um fabricante requisite permissão ao FDA para acomercialização do produto novo; mas mesmo ensaios degrande porte não revelam tudo sobre os novosmedicamentos. As experiências da combinação de drogaspara emagrecer fen-fen (fentermina + fenfluramina), oanalgésico Vioxx e muitos outros medicamentos mostramque, mesmo quando as drogas parecem ser satisfatórias nosensaios que envolvem milhares de pessoas, quando elasentram em uso clínico efetivo os benefícios podem sermenores e os riscos maiores do que o esperado.

Ainda assim, para fins de argumentação, vamos dizer queexista uma droga experimental que possa ajudar um pacientedesesperado, mas que ainda não recebeu aprovação doFDA. Será que um médico poderia usá-la, caso parecesse sera única esperança para tratar o paciente?

Foreman disse que um de seus professores da faculdade deMedicina estava desenvolvendo antídotos contra a guerraquímica para os militares e que este seria o tratamento idealpara salvar os adolescentes que haviam sido expostos adoses potencialmente letais de pesticidas em "Poison"("Veneno", 1-08). Ele deu um telefonema e um lote foienviado imediatamente.

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Na verdade, pode acontecer. Não é fácil, nem comum, masainda assim é possível.

O FDA tem procedimentos para uso de emergência detratamentos experimentais, incluindo formulários parapreenchimento e envio. No entanto, os médicos podementrar em contato com uma autoridade do órgão a qualquermomento, 24 horas por dia, por telefone, a fim de obter umaautorização imediata, caso necessário. Os regulamentos doFDA autorizam especificamente o uso de drogasexperimentais em situações de emergência em que não hátempo para passar pelos canais normais. Em geral, a situaçãode emergência envolve um único caso. Os médicos, aindaassim, precisam preencher formulários e fornecerinformações quando cessada a emergência. Se quiserem usaro medicamento novamente em outros pacientes, o hospitalteria de submeter mais documentos e participar de um ensaioclínico ou estabelecer um procedimento formal para aplicardrogas experimentais a pacientes que não estão participandode ensaios clínicos.

Entretanto, mesmo que a aprovação do FDA não representeum problema, descobrir a existência de tratamentosexperimentais e depois obter amostras pode ser realmentealgo desafiador. Novas drogas, em geral, são segredos muitobem guardados pelas empresas farmacêuticas. Na verdade, écontra a lei para o FDA sequer admitir a existência de um

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novo medicamento, a não ser que o fabricante escolhadivulgar publicamente essa informação. E o FDA não seenvolve com a distribuição e o fornecimento domedicamento; isso cabe inteiramente ao fabricante ou aospesquisadores proprietários do produto. Pode haver umsuprimento extremamente limitado de um novo medicamentoe ele pode se destinar exclusivamente a pacientes emensaios clínicos.

Os pacientes interessados nas novas drogas sãoestimulados a participar de ensaios clínicos. O governofederal dos Estados Unidos mantém um site,clinicaltrials.gov, que lista muitos desses ensaios. Participarde um desses estudos não significa necessariamente ficarcurado. Alguns ensaios usam placebo ou pílulas falsas paraajudar a provar que os efeitos obtidos são realmentedevidos à droga em teste. Embora muitos afirmem que nãoquerem receber placebo, o fato é que, na maioria dosensaios, os pacientes do grupo placebo têm desfecho tãobom ou melhor do que os demais que recebem o novomedicamento. As novas drogas são chamadas de"experimentais" por um bom motivo: ainda não existecomprovação de sua eficácia... e elas podem gerar surpresasdesagradáveis.

Talidomida

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A "garota-propaganda" da regulamentação demedicamentos por parte do FDA nos Estados Unidos é atalidomida.

Na década de 1960, essa droga foi aprovada para uso emvários nações européias como sedativo. No princípio,parecia funcionar bem, com poucos efeitos colaterais. Noentanto, o produto não havia sido submetido aos exaustivosensaios em humanos que são realizados hoje em dia,incluindo estudos dos potenciais efeitos em um feto emdesenvolvimento. As conseqüências da falta de pesquisasforam trágicas. Cerca de 8 mil bebês nasceram sem braços oupernas, ou com nadadeiras em vez de braços.

Antes que o terrível índice de más-formações fossereconhecido, o fabricante da talidomida tentou forçar aaprovação da droga para venda nos Estados Unidostambém. No entanto, como observa um artigo do FDA, umacientista do órgão insistia na necessidade de mais testes. ADra. Frances Kelsey, Ph.D., não ficou satisfeita com osresultados em testes animais. Em seguida, a Europa registrouum aumento no número de casos de más-formações. No finaldas contas, alguns adultos também sofreram graves efeitoscolaterais, incluindo paralisia permanente das mãos e dospés.

Agora a talidomida está de volta... de certa forma. As

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propriedades que causam tantos danos aos fetos emdesenvolvimento podem ser úteis contra certas doenças. Nofinal da década de 1990, o FDA finalmente aprovou asvendas nos Estados Unidos, não para o uso original domedicamento como um sedativo. O órgão autorizou a vendade talidomida para tratar uma condição inflamatória que afetapessoas que sofrem de lepra, também chamada dehanseníase. O Dr. House encomendou um lote para tratar deum menino que sofria do doença no episódio "Cursed"("Amaldiçoado", 1-13). Cameron ficou chocado no início,reagindo ao estigma histórico do talidomida e à sua ligaçãocom terríveis defeitos de nascença. Mas o Dr. Houseargumenta que há poucas chances de que um menino de 12anos engravide.

As prescrições de talidomida são altamente controladas. Éum produto "tarja preta", com informações realçados na bulaque precisam ser distribuídas com o medicamento. Em linhasgerais, o alerta é o seguinte:

AVISO: RISCO DE GRAVES DEFEITOS DE NASCENÇA SEINGERIDO DURANTE A GRAVIDEZ. A TALIDOMIDAPODE CAUSAR GRAVES MÁS-FORMAÇÕES OU AMORTE DE

FETOS. O MEDICAMENTO NUNCA DEVE SER USADOPOR MULHERES GRÁVIDAS OU QUE

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VENHAM A FICAR GRÁVIDAS DURANTE SEU USO.MESMO UMA ÚNICA DOSE (UMA CÁPSULA

[50, 100 ou 200 mg]) INGERIDA POR UMA MULHERGRÁVIDA PODE CAUSAR GRAVES MÁS-FORMAÇÕESNO FETO.

A talidomida também pode ter benefícios potenciais paraalguns pacientes com degeneração macular e certas feridasque afligem os aidéticos.

Uma incrível nota histórica: a Dra. Kelsey não era umaavaliadora experiente do FDA quando resistiu à pressão dosfabricantes da talidomida. Ela trabalhava no órgão há poucotempo e a talidomida foi a primeira droga sob suaincumbência. Sua teimosia em exigir mais estudostransformou-a em uma lenda do FDA.

Na maioria dos casos do seriado, o tratamento é quasesempre direto e óbvio. Se for uma infecção, acabe com elacom um ataque de antibióticos ou antivirais. Se for umtumor, arranque-o fora. Em "TB or not TB" ('Tuberculose? ";2-04), o Dr. House está confirmando suas suspeitas de umtumor no pâncreas do paciente em uma cena... e, na cenaseguinte, o paciente tem alta hospitalar, inteiramenterecuperado.

Se for intoxicação ou envenenamento, remova a fonte.

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Bagulho contaminado

Em "Sports Medicine" ("Medicina Desportiva", 1-12), acombinação de ossos frágeis e quebradiços, problemas defertilidade e testículos retraídos, assim como problemasrenais em um jogador de beisebol profissional, deixouperplexos o Dr. House e sua equipe, até que ele observouque a esposa do paciente tinha problemas olfativos. Derepente, o envenenamento por cádmio, provavelmente porfumar maconha cultivada em solo contaminado, saltou parao topo da lista de possíveis diagnósticos.

Todas as peças do quebra-cabeça se encaixam. O cádmioestá ligado a perda óssea, problemas renais, testículosretraídos e sentido olfativo prejudicado. A maconha e outrasplantas podem tirar cádmio do solo e concentrá-lo. Inalarfumaça contendo cádmio pode levar o metal pesado tóxicopara dentro do organismo.

"Ai, ai"

Problemas ósseos ligados ao cádmio tornaram-se óbviosquando alguns pesquisadores descobriram a causa dadoença de "Itai-itai", no Japão, logo após a Segunda GuerraMundial. "Itai-itai" significa, literalmente, "Ai, ai". O termorefere-se à dor sentida por pacientes cujos ossos quebravamcom freqüência e que não consolidavam adequadamente. Os

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pacientes também apresentavam degeneração dos rins.

Por fim, os médicos correlacionaram a doença de "Itai-itai"com a contaminação ambiental generalizada das minas decádmio da região. Depois que controles ambientais foramimplementados e o ambiente foi limpo, os casos de "Itai-itai"diminuíram.

Os efeitos tóxicos do cádmio às vezes são chamados deforma adquirida da síndrome de Fanconi, que é um distúrbiohereditário. Os ossos perdem e ganham tecido ao longo denossa vida. O processo envolve um delicado equilíbrio. Noentanto, os rins dos pacientes com a síndrome de Fanconiexcretam importantes minerais, em vez de reabsorvê-los nofluxo sangüíneo. Quando cálcio ou outros importantesminerais se perdem dos ossos de maneira mais rápida do quesão substituídos, os ossos não crescem adequadamente efraturam.

Embora os pesquisadores tenham estabelecido a ligaçãoentre cádmio, contaminação ambiental e efeitos tóxicos emseres humanos há meio século, a ameaça não terminou. Ospesquisadores já viram problemas nos ossos, nos rins e emoutros órgãos resultantes de níveis de contaminação porcádmio bem menores do que os vistos na experiência doJapão.

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Por exemplo, a poluição causada por uma refinaria na Bélgicafoi relacionada com redução da densidade óssea, índicesmais altos de fraturas ósseas e uma diminuiçãoanormalmente acentuada da altura de homens e mulheresmais velhos. Acredita-se que as lesões ósseas vistas nacomunidade belga estejam relacionadas com lesões renaiscausadas pela poluição por cádmio.

Os estudos do Argonne National Laboratory, em Argonne,no estado norte-americano de IlIinois, sugerem que ostrabalhadores nas fábricas podem ser contaminados porníveis extremamente baixos de cádmio, níveis que atualmentesão legais. Os pesquisadores acreditam que mesmopequenas exposições ao cádmio podem acelerar a perdaóssea. Como a perda óssea, ou osteoporose, é um problemacomum em pessoas da terceira idade, os problemasapresentados por um operário mais velho, ou poraposentados de uma fábrica com a presença de cádmio,podem ser atribuídos à idade, quando, na verdade, podemfazer parte da exposição ao cádmio.

Outros estudos ligam os elevados níveis de cádmio atestículos reduzidos em homens. Existem também evidênciasde que o cádmio e outros metais pesados podem causardanos ao neuroepitélio olfativo, interferindo, assim, nosentido do olfato. Na verdade, alguns pesquisadoresafirmam que uma proporção significativa de casos de lesões

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ao olfato que atualmente estão listadas como "idiopáticas",ou sem explicação, pode ser causada por exposição aocádmio ou a outros metais.

É possível ser contaminado por cádmio mesmo que você nãotrabalhe nem viva perto de minas de cádmio, usinas ououtras fontes industriais de metais pesados. O cádmio estápresente na fumaça do cigarro. As fábricas de tabaco retiramo metal tóxico do solo e depois o fumo o transfere para ospulmões.

A exposição elevada a cádmio é um dos riscos de fumarqualquer marca de cigarro; no entanto, os níveis de cádmio eos riscos resultantes de lesões ósseas e renais parecem sermaiores com cigarros vendidos no mercado negro. Estudosna Jamaica, no Reino Unido e em outros paísesdocumentaram a presença de níveis mais altos de cádmio emcigarros ilícitos.

Um estudo na Jamaica revelou níveis de cádmio no tabacoequivalentes a cinqüenta vezes os níveis encontrados noscigarros comerciais. Os pesquisadores afirmam que os níveiselevados refletem as conhecidas altas concentrações decádmio no solo da região.

Evidentemente, a Jamaica também é conhecida por suaprodução de maconha. O

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risco de exposição ao cádmio pode ser maior em relação àmaconha do que ao tabaco. A planta Cannabis sativa pareceser extraordinariamente eficiente em retirar cádmio do solo.

Na verdade, a maconha ou o cânhamo podem serinstrumentos úteis para limpar locais de lixo tóxico. Porexemplo, em um conjunto de testes na Europa Oriental, oscientistas ambientais descobriram que as plantas demaconha são mais eficientes do que várias outras plantas emextrair metais pesados, particularmente o cádmio, de soloscontaminados.

Nos tratamentos médicos reais, as decisões de tratamentonem sempre são tão diretas quanto as do seriado. Será que acirurgia é melhor do que o tratamento medicamentoso? Seráque o tratamento deve ser agressivo, apesar dos riscos maisaltos de efeitos colaterais, ou conservador, mesmo que issosignifique mais incerteza sobre a solução do problema? Noscasos em que as opções de tratamento são experimentais ouprocedimentos alternativos, como os médicos tomam amelhor decisão por seus pacientes? Parte da resposta a essaquestão envolve outra pergunta: quais são as evidências?

Medicina baseada em evidências

O termo "medicina baseada em evidências" em geral gerauma resposta confusa.

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Afinal de contas, a medicina não é toda baseada emevidências? Surpreendentemente, a resposta é não; boaparte da prática médica moderna não tem provas científicasconcretas. Em vez disso, pode haver fortes indícios depesquisas ou pode haver um longo histórico de experiênciasclínicas para sustentar determinada linha de tratamento; ou,talvez, simplesmente pareça lógico.

Isso não quer dizer que o tratamento que não tenha passadopelos mais rigorosos ensaios clínicos controlados erandomizados não seja boa medicina. Afirma-sefreqüentemente que se a aspirina fosse lançada hoje comoum novo medicamento experimental, talvez não fosseaprovada, por causa dos riscos concretos de hemorragiapotencialmente ameaçadora ou de superdose tóxica, além dorisco de causar síndrome de Reye nas crianças. Mas aaspirina também ajuda milhões de pessoas a aliviar a dor epode reduzir substancialmente as chances de morte porataques cardíacos em pessoas que estejam em condições dealto risco.

No entanto, existem muitos exemplos de tratamentos quetodos "sabem" que funcionam, apesar da falta de evidênciascientíficas. Uma famosa revisão dos tratamentos cardíacosrealizada no início da década de 1990 revelou que, embora asinjeções de lidocaína fossem usadas rotineiramente paraprevenir fibrilações cardíacas perigosas, não havia estudos

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concretos para apoiar essa prática. O tratamento comlidocaína ainda é usado, mas existe um debate acirrado sobremétodos alternativos preferenciais.

Em outro caso, envolvendo uma terapia cardíaca bem aceita,a maioria dos médicos acreditava que determinado grupo dedrogas que comprovadamente ajudavam a controlaranormalidades no ritmo cardíaco eram úteis também aospacientes que tinham ligeiras arritmias. Tornou-se práticacorrente administrar essas drogas a pacientes queapresentavam pequenas arritmias detectáveis com monitorescardíacos, embora não estivessem sentindo sintoma algum.Em seguida, um grande ensaio envolvendo esses pacientesassintomáticos revelou que os pacientes que recebiam asdrogas populares chamadas encainida e flecaínida tinhammais chances de morrer do que os pacientes que recebiampílulas de placebo. Um dos pesquisadores que conduziu oensaio desses medicamentos antiarritímicos afirmou quemuitos de seus colegas zombaram da realização de testescientíficos caros sobre um tratamento que todos "sabiam"que funcionava. O debate terminou quando os resultadosmostraram que, nesse caso, o senso comum e a prática derotina estavam totalmente equivocados.

Os medicamentos ainda são usados para tratar pacientescom arritmias cardíacas mais graves, nos casos em que osriscos são menores do que os benefícios.

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De certo modo, a personalidade do Dr. House está bemenquadrada na doutrina da medicina baseada em evidências.Embora a maior parte das pessoas tenda a confiar nasopiniões de especialistas, ele demonstra pouco respeitopelas figuras de autoridade ou pelos conselhos deespecialistas, com base apenas em suas reputações. Ele nãoescolheria determinado tratamento simplesmente porquealgum especialista o considerou a melhor opção para o caso.

É exatamente assim que funciona a medicina baseada emevidências. A "opinião especializada" é considerada a menorforma de evidência possível; não é desprovida de valor, masé algo que só deve ser usado quando não houver outrosdados disponíveis. Afinal de contas, a opinião doespecialista pode não ser mais do que a soma do que umúnico médico lembra de sua experiência clínica, que estásujeita aos caprichos da memória e aos naturais vieseshumanos.

Na hierarquia das evidências, logo acima do parecer doespecialista vêm os "relatos ou séries de casos". Sãocoleções de experiências clínicas. São úteis para registrarfatos que ocorreram, mas têm muitos pontos fracos. Porexemplo, um relatório de Portugal ajudou o Dr.

House a resolver o caso de uma jovem que contraiu adoença do sono africana por transmissão sexual no episódio

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"Fidelity" ("Fidelidade", 1-07). Entretanto, esse relatório nãoapresenta informações sobre a freqüência em quedeterminado fato ocorre ou se o tratamento usado em umcaso necessariamente produzirá os mesmos resultados emoutros casos.

Mais acima na hierarquia estão os "estudosobservacionais". Esses são os tipos de estudo que recebemampla atenção quando parecem conectar atividades diáriascom certos riscos ou benefícios. Por exemplo, quem tomacafé corre mais ou menos risco de desenvolver determinadosproblemas de saúde? O uso intensivo de telefone celularestá associado a um risco maior de tumores cerebrais? Essasduas perguntas geraram muitas manchetes nos jornais, masos estudos por trás das notícias em geral não conseguiramoferecer respostas confiáveis. Um dos principais pontosfracos dos estudos observacionais é que eles podem serdescartados por fatores de confusão... ou podem confundircausa e efeito.

Um fator de confusão é algo que os pesquisadores nãoconsideraram que fosse o verdadeiro culpado. Por exemplo,os primeiros estudos realizados sobre os suplementosvitamínicos pareciam sustentar a hipótese de que trazembenefícios à saúde, sem levar em conta o fato de que muitaspessoas que tomavam vitaminas também consumiam dietasmais saudáveis e faziam mais exercícios do que as pessoas

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que não usavam vitaminas. Os estudos observacionaisprecisam ser muito cuidadosos sobre alegações de causa eefeito, porque os pesquisadores muitas vezes não sabem oque vem primeiro. Por exemplo, os adolescentes deprimidostêm maior probabilidade de ingerir álcool ou a ingestão deálcool causa depressão em adolescentes? Os estudosobservacionais não conseguem diferenciar esse tipo deproblema.

Agora chegamos à seara dos "ensaios controlados erandomizados". Em geral, são chamados de "padrão ouro"da ciência médica, porque, se forem criados e desenvolvidoscorretamente, poderão superar muitos problemasrelacionados com lembrança humana, observaçõessubjetivas, fatores confusos e outros desafios. Em bonsensaios controlados e randomizados, centenas e até milharesde participantes são distribuídos aleatoriamente para receberum ou outro tipo de tratamento, ou nenhum. Os tratamentosem geral são feitos de modo que nem os pacientes nem ospesquisadores sabem quem está recebendo o quê – são osassim chamados estudos duplo-cego.

Os ensaios controlados randomizados podem oferecerrespostas definitivas, mas existem limitações. Em geral, sãodispendiosos. Podem responder apenas a perguntaslimitadas, tais como se determinada droga é melhor do queoutra para pacientes com um conjunto específico de

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sintomas; um ensaio não pode informar como evitar adoença cardíaca ou o câncer. Além disso, não seria éticorealizar ensaios clínicos para responder a muitas perguntasimportantes. Por exemplo, existem indícios de muitosestudos observacionais de que as pessoas que bebem umpouco de vinho ou outras bebidas alcoólicas apresentamtaxas menores de doenças cardíacas do que as pessoas quenão bebem. No entanto, permanece a questão: existe maisalguma diferença entre as pessoas que bebem commoderação e as que não ingerem álcool? Um ensaiocontrolado randomizado poderia resolver a questão, mas umensaio robusto exigiria que algumas pessoas que não bebempassassem a beber – uma condição inimaginável.

Cura pelo uísque

No primeiro episódio da segunda temporada, "Acceptance"("Aceitaçõo"), House se vale das histórias de faroeste e usauma garrafa de uísque para curar a dor de seu paciente:nesse caso, intoxicação por metanol após ingerir fluido demáquina copiadora. Enquanto House e o paciente bebiam,ele explicava que o etanol, na forma de álcool em bebidas,liga-se ao ácido fórmico tóxico, que é um metabólito dometanol, permitindo que o corpo excrete o veneno.

Tecnicamente, a cura incrementada de House podefuncionar... e a dose recomendada de uísque com quarenta

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por cento de teor alcoólico seria cerca de quatro dosespadrão de 45ml para um paciente de noventa quilos,suficiente para deixá-lo embriagado demais para dirigir. Masa "cura pelo uísque" encaixa-se melhor em um bar do VelhoOeste do que em um hospital moderno, de acordo com osespecialistas em controle de agentes tóxicos.

O fomepizol é a terapia de primeira linha para intoxicação pormetanol. Em vez de tirar os produtos derivados tóxicos, umainfusão de fomepizol previne que o corpo metabolize ometanol em formaldeído e ácido fórmico.

A droga também é usada para tratar pessoas intoxicadas poretileno glicol, que é o principal ingrediente das substânciasanticongelantes de combustíveis de automóveis.

O que pode ser ainda melhor do que um ensaio controladorandomizado? Vários desses ensaios.

O topo da hierarquia da medicina baseada em evidências éocupado pelo que chamamos de revisão sistemática dosensaios controlados randomizados. As revisões sistemáticasseguem um protocolo cuidadoso para coletar informações devários ensaios e, em seguida, combinar todos os resultadosde modo que o produto final seja ainda mais confiável doque os resultados dos ensaios individuais. O métodoenvolve alguns métodos estatísticos extremamente

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sofisticados, mas as revisões sistemáticas podem revelar omelhor quadro disponível do estado da técnica emdeterminada área do saber.

Exemplos de revisões sistemáticas recentes incluem relatosde que as pílulas anticoncepcionais não causam ganho depeso e que o tratamento por esteróides para pacientes comlesões na cabeça acabam aumentando o risco de morte.

Informar profissionais e instituições de saúde sobre asevidências médicas é parte dos esforços contínuos paraevitar as denominadas "variações inexplicáveis" daassistência médica oferecida. A expressão é usada para fazerreferência aos casos em que determinado paciente, com certacondição de saúde recebe certo tipo de tratamento,enquanto outro paciente, praticamente idêntico, recebeassistência médica completamente diferente, sem umajustificativa clara. Muitas vezes, parece que a forma detratamento depende menos da condição do paciente do quedo local e da época em que determinada doença ocorre.

Dartmouth Atlas of Health Care

Para obter mais informações sobre o tipo de assistência quevocê tende a receber se for hospitalizado, talvez sejainteressante consultar o Atlas. Esses conselhos podemparecer estranhos, de início; afinal de contas, um ataque

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cardíaco em Peoria não é igual a um em Paducah, e um tumorem Tallahasse não é igual a outro em Tempe? Em geral, aresposta é sim, as condições médicas são iguais. Noentanto, de acordo com o Dartmouth Atlas of Health Care,o tipo de assistência oferecida pode ser bem variável, pormotivos pouco relacionados com a ciência.

O Dartmouth Atlas Project é administrado pelo Centro deCiências Clínicas de Avaliação do Dartmouth MedicalSchool, em Hanover, New Hampshire. Os pesquisadoresinvestigam bancos de dados de assistência médica para teruma idéia do que os médicos estão fazendo... e por que ofazem.

Um dos achados mais consistentes - e assustadores - de seutrabalho é que o local em que o paciente é atendido, muitasvezes, é mais importante do que a condição clínicaapresentada. Por exemplo, se você é uma mulher com câncerde mama em estágio inicial, a ciência indica que umanodulectomia conservadora e um tratamento por radiaçãosão tão eficientes quanto a retirada do seio por mastectomia.Entretanto, com base nos dados do início da década de 1990,embora metade das mulheres em algumas regiões do paístenha sido tratada com cirurgias que preservaram os seios,em outras regiões, quase todas as pacientes foramsubmetidas a mastectomias.

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Existem, é claro, condições em que o tratamento é bastanteconsistente. Quando alguém cai e quebra o quadril, a ida aohospital é praticamente garantida. Existem relativamentepoucas variações em internações por fratura de quadril nasdiferentes regiões dos Estados Unidos, e essas variaçõesestão fortemente ligadas às taxas de fraturas dos quadris emsi. Uma observação interessante: as pessoas no sul do país,da Carolina do Norte até o Novo México, tendem a quebrarmais os quadris do que as pessoas de outras partes dosEstados Unidos. O motivo é desconhecido.

Mas os pesquisadores do Dartmouth Atlas afirmam que aresposta médica a uma fratura do antebraço envolve umprocedimento bem diferente. Embora as fraturas doantebraço sejam bem dolorosas e as opções de tratamentopareçam bem diretas, pacientes em algumas partes dosEstados Unidos têm quase o dobro de chances de seremhospitalizados do que em outras partes do país, onde otratamento ambulatorial é feito na sala de emergência ou noconsultório médico.

Os achados do Dartmouth Atlas indicam que os médicos ehospitais têm culturas e hábitos de sua comunidade local;ou seja, suas decisões de tratamento tendem a seguirpadrões locais consistentes do que a aderir a padrõesobjetivos e universais.

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Existem três principais categorias do que os pesquisadoresdo Dartmouth Atlas chamam de "variação inexplicável":

1. Subutilização do tratamento efetivo

2. Abuso do tratamento sensível a preferências

3. Uso exagerado de tratamentos sensíveis à oferta

Um exemplo da primeira categoria, a subutilização dotratamento efetivo, é a falta de conformidade com arecomendação enfática de que, a todo paciente quesobrevive a um ataque cardíaco, deve ser receitadamedicação betabloqueadora. Nenhuma região dos EstadosUnidos apresenta um índice de cem por cento. Nas"melhores" regiões, oitenta por cento dos sobreviventes deataques cardíacos recebem alta do hospital com prescriçõesde betabloqueadores. Em outras regiões, essa taxa deprescrição é de dez por cento apenas.

O tratamento para o estágio inicial do câncer de mama é umexemplo do abuso do tratamento sensível a preferências.Nesse tipo de situação, há mais de uma opção de tratamento,e a ciência não favorece especificamente uma ou outraopção. Idealmente, os pacientes escolhem sua opção.Entretanto, a análise de Dartmouth indica que a preferênciado médico, e não a do paciente, quase sempre vence. Pareceque o Dr. House não é o único médico que pensa que sabe

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melhor do que os pacientes o que eles desejam.

A terceira categoria de variação inexplicável na medicinarefere-se à tendência de médicos e hospitais permaneceremocupados. Os sistemas de assistência médica, em vez de semostrarem sensíveis à demanda, ou seja, em vez derealizarem mais ou menos procedimentos conforme aumentaou diminui a necessidade, tendem a sempre operar próximo àcapacidade máxima. Assim, quanto mais leitos de hospitalestiverem disponíveis, mais provavelmente um paciente seráadmitido. Quanto mais máquinas de ressonância magnéticaem uma comunidade, mais exames serão realizados.

Evidentemente, oferecer mais possibilidades de assistênciamédica seria muito bom, se salvasse mais vidas e reduzisse osofrimento. Infelizmente, os dados do Dartmouth Atlas einformações de muitas outras fontes indicam que mais nemsempre é melhor quando se trata de assistência médica. Naverdade, mais assistência médica pode ser pior para ospacientes.

Cada teste, cada medicamento e cada procedimento podemgerar erros ou afetar os pacientes. Assim, quanto maior onúmero de procedimentos, maiores serão os erros e osdanos causados. Além disso, quando aumenta a oferta, osmédicos e os hospitais atendem a todos os pacientes.Depois de cuidar dos pacientes urgentes, eles passam a

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atender aqueles com necessidades moderadas e, em seguida,tratam dos pacientes menos graves. Por exemplo, dobrar onúmero de cardiologistas em uma comunidade tende adobrar o número de consultas médicas a esse especialista,sem qualquer relação direta com o número de pessoas comdoenças cardíacas na comunidade. Quando os médicos dequalquer especialidade começam a tratar de pacientes quenão têm tanto a ganhar, porque não estão tão doentes assim,expondo-os aos riscos de um teste ou procedimento, abalança pode pender para o lado errado.

Essa preocupação não é apenas hipotética. As análisesrealizadas pelos pesquisadores do Dartmouth Atlas e outrosdemonstram que, à medida que aumenta a capacidade dohospital, o número de óbitos não diminui como esperado. Naverdade, o número de casos de morte aumenta emcomunidades com mais leitos hospitalares disponíveis percapita.

Houve alguns estudos no passado que tentaram testar a"intensidade" da assistência médica do mesmo modo comouma nova droga seria estudada: com um ensaiorandomizado.

Em um estudo, um grupo de pacientes deveria fazerconsultas periódicas, enquanto o outro seria acompanhadoapenas por telefone. Havia maior probabilidade de os

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pacientes que compareciam à clínica para encontrospessoais serem internados e até mesmo morrerem.

Em outro teste, os pesquisadores estudaram os pacientesque receberam alta de nove centros médicos para veteranosapós tratamentos de diabete, doença pulmonar obstrutivacrônica ou insuficiência cardíaca congestiva. Os pacienteseram designados randomicamente para receberacompanhamento padronizado ou assistência ambulatorialintensiva. A esperança era de que a maior assistênciaoferecida mantivesse os pacientes em casa e evitasse outrainternação. No entanto, verificou-se o oposto. Os pacientesque recebiam acompanhamento mais freqüente tinham maiorprobabilidade de voltar ao hospital do que aqueles querecebiam menos cuidados. Curiosamente, os pacientes"intensivos" reportaram que estavam mais satisfeitos comsua assistência.

É claro que maior assistência é realmente melhor em muitasocasiões. No entanto, a mera suposição de que mais ésempre melhor não é verdadeira sempre, quando se trata deassistência médica.

Os pesquisadores do Dartmouth Atlas e de outros institutosrecomendaram várias estratégias para tornar a prática médicamais alinhada com as evidências científicas e com ospadrões recomendados: mas a tarefa não é fácil, porque

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desafia antigas tradições, crenças e culturas médicas locais.

Larvas e sanguessugas

Provavelmente não existe um tratamento com tradiçãomédica tão longa quanto a sangria por sanguessugas, queestá vivendo um período de renascença, embora com umpropósito diferente do que na Antigüidade. Colocar 10 millarvas sobre a barriga queimada de alguém pode parecertortura medieval, mas é exatamente isso que o Dr. Housedeterminou que fosse feito em "Distroctions" ("Distrações",2-12).

Um artigo no periódico Advances in Skin & Wound Careindica que as larvas desempenham um importante papel namedicina norte-americana desde o início do século XX,quando um cirurgião chamado William Baer tentou aplicar aspequenas criaturas rastejantes a feridas crônicas de criançascom osteomielite que é um tipo de infecção óssea.

Funciona assim: as larvas se alimentam de tecidos mortos,por isso retiram o tecido que não está cicatrizando e quepode estar servindo de cultura para bactérias nocivas. Esseprocesso é chamado de desbridamento. Quando o corpo dopaciente não consegue limpar o tecido morto por si só, odesbridamento pode ser feito por meio cirúrgico, com autilização de bandagens, para ajudar a remover as camadas

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de tecido morto com enzimas, ou com o auxílio de larvas. Assecreções das larvas também têm propriedades benéficas.

As larvas são reguladas pelo FDA como dispositivosmédicos. Há um fornecedor comercial em Irvine, no estadonorte-americano da Califórnia, que envia as larvas emrecipientes estéreis aos médicos em todo o país. As larvasvêm acompanhadas de especificações muito semelhantes àsbulas de medicamentos, com informações sobre a dosagemadequada, o modo de administração, indicações e contra-indicações, incluindo uma notação de que as larvas sãoconsideradas um item "de uso único". Ah, a especificaçãotambém alerta para o fato de que é preciso ficar atento paranão deixar as larvas escaparem.

As larvas usadas para desbridamento são as de mosca-varejeira. Como as moscas-domésticas, as varejeiras estãodentre os tipos comuns de moscas encontrados em muitasresidências. As moscas-varejeiras têm tórax de cor metálicabrilhante, diferenciando-se das moscas domésticas pretas.

Embora as larvas que apareceram no seriado tenham sidosimplesmente colocadas sobre a queimadura do paciente, asinstruções de uso das larvas médicas afirmam que elasdevem ser reunidas em uma gaze estéril umedecida, queentão é aplicada como curativo sobre a ferida. Além disso,as larvas da televisão eram muito maiores do que as

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geralmente usadas para o desbridamento de feridas, que sãorecém-chocadas e minúsculas.

O uso de larvas médicas pode continuar a crescer em partepor causa da epidemia de obesidade. Como a obesidade levaà diabete, que, por sua vez, causa lesões aos vasossangüíneos e aos nervos, é provável que mais pessoasdesenvolvam ulcerações.

Essas feridas muitas vezes são de difícil cicatrização. Aslarvas médicas podem poupar alguns pacientes daamputação, ajudando-os a limpar essas feridas persistentes.

As sanguessugas são outra variedade de "animaisrastejantes" que, como as larvas, evocam repulsa,fascinação e interesse crescente por seu uso médico. Assanguessugas também são tecnicamente consideradasdispositivos médicos quando usadas para cuidados compacientes, de acordo com o FDA.

As sanguessugas são animais inteiramente diferentes. Elasestão relacionadas com minhocas. A sanguessugamedicinal, Hirudo medicinalis, suga o sangue de animais.Para manter o sangue fluindo, elas injetam umanticoagulante na picada. Essa capacidade de evitar acoagulação do sangue foi o que atraiu os médicos duranteséculos.

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As sanguessugas e as sangrias são mencionadas em algunsdos primeiros textos médicos da Grécia Antiga. No entanto,o tipo de sangria praticado por milhares de anos acabousaindo de moda há cerca de um século. A prática atual aplicao mesmo tratamento, só que com um propósito inteiramentediferente.

Em vez de drenar o sangue com base na crença de que setrata de um procedimento terapêutico, o uso moderno dassanguessugas está estritamente ligado a evitar o coagulaçãopara preservar o fluxo sangüíneo. As sanguessugas sãousadas com freqüência em cirurgias reconstrutivas.

O anticoagulante que as sanguessugas produzem, ohirudina, é eficaz durante várias horas. Algumassanguessugas são colocadas no local de um enxerto detecido, ajudando a manter as veias abertas. Ajustando onúmero de sanguessugas e mordidas, os médicos podemmanter um fluxo sangüíneo constante e contínuo durantealguns dias, até que novos vasos tenham crescido no tecidoenxertado.

No entanto, o tratamento com sanguessuga envolve algumrisco. As sanguessugas transportam uma bactéria em seuintestino que é essencial à sua saúde, mas que pode infectaro paciente.

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A hirudina, o princípio ativo encontrado na saliva dasanguessuga, pode ser produzida pelas empresasfarmacêuticas. Os pesquisadores estão testando o produtocomo uma alternativa a outros anticoagulantes. Entretanto, ofato de que a hirudina previne a coagulação durante muitashoras - que é a característica que torna as sanguessugasatraentes para cirurgias reconstrutivas - pode apresentarrisco grave de sangramento descontrolado em outrassituações.

Apesar de seus benefícios no uso médico controlado, assanguessugas ainda incomodam muito na natureza. Porexemplo, os médicos no Paquistão reportaram um casoincomum de anemia tão grave que o paciente precisou detransfusão de sangue. Por fim, a fonte do problema foiidentificado: uma sanguessuga havia se alojado dentro donariz do paciente.

Agency for Healthcare Research and Quality

Dentre os grupos que tentam reduzir as variaçõesinexplicáveis na assistência médica está a Agency forHealthcare Research and Quality (AHRQ), uma pequenaparte do gigante Departamento Norte-Americano de Saúde eServiços Humanos. O pessoal da AHRQ

(pronuncia-se "arc") descreve o trabalho da agência como

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sendo o de patrocinar e conduzir

"pesquisas que forneçam informações baseadas emevidências sobre desfechos clínicos, qualidade e custos,uso e acesso a serviços de saúde".

Basicamente, o órgão tenta descobrir o que funciona ou não... e depois divulga os resultados. Por exemplo, um relatóriorecente concluiu que, quando uma mamografia ou um examede mama encontra algum nódulo, algumas alternativas àbiópsia do seio, tais como exames de ressonância magnética,ainda não são precisas o suficiente para afirmar comsegurança se as mulheres estão ou não com câncer. Outroestudo patrocinado pela AHRQ

lançou dúvidas sobre a esperança de que as dietas com altoteor de ácidos graxos ômega- 3

podem reduzir o risco de câncer.

Como parte de sua função como diretora da AHRQ a Dra.Carolyn M. Clancy, tenta direcionar os médicos para utilizartratamentos baseados em dados puramente científicos. Àsvezes, isso significa estimular o uso de diretrizes edesaconselhar os médicos a seguir apenas seus instintos ousimplesmente reproduzir os mesmos métodos do passado.No entanto, a Dra.

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Clancy não se considera uma mera burocrata que tentalimitar a ação de individualistas espirituosos como o Dr.House.

"Um enfoque baseado em evidências para prover assistênciamédica deriva de estudos de grupos de pacientes", afirma aDra. Clancy, observando que os pacientes do seriado nãofazem parte dos casos típicos. "Todos os pacientes têmaspectos únicos e idiossincráticos, e todos nós, creio eu,gostaríamos de ter um médico que levasse em conta nossascaracterísticas exclusivas quando defrontados comproblemas incomuns. O seriado consegue fazer isso demaneira brilhante".

Realmente, a Dra. Clancy afirma que, mesmo em um sistemade assistência médica que cada vez mais tenta coletar eaplicar as melhores evidências, há sempre a necessidade domédico que segue a própria iniciativa em qualquer casoespecífico.

Ela lembra o conselho de um pesquisador em qualidade deassistência médica: "Ele afirmou: 'Não importa o queaconteça em um sistema de qualidade, sempre é bom teralguém que quebre as regras quando for apropriado'. Oprotocolo do hospital talvez diga para você fazer X, Y e Z,mas você sabe que algum outro procedimento vai funcionarmelhor para esse paciente e você vai querer alguém que o

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defenda, que defenda particularmente aqueles que têmalguma característica incomum ou alguma faceta particularde sua doença. Acho que todos nós queremos isso e que ossistemas devem ser capazes de promover isso, quando for ocaso", afirma a doutora.

Mas, quando a ciência é clara, a Dra. Clancy quer que elaseja usada. Uma das maneiras de fazer isso acontecer épromover o uso de recomendações, diretrizes ou listas quepossam ajudar os médicos a aplicar os resultados dapesquisa médica - conhecimento que não só é produto dadedicação e do esforço de pesquisadores, mas também frutode trabalho voluntário altruísta de inúmeros pacientes queparticiparam de ensaios clínicos e de outros estudos.

"Certamente, os médicos, como todos, prefeririam sercompletamente autônomos; ainda assim, como grupo,quando confrontados com evidências de que sua maneirapouco sistemática de trabalhar está surtindo efeitosnegativos, eles são flexíveis a mudanças", afirma a Dra.Clancy.

Nos casos raros apresentados pelo seriado, as normas ediretrizes, muitas vezes, não se aplicam, precisamente porquesão casos inusitados, em que os médicos estão navegandopor águas desconhecidas, fazendo o melhor possível cominformações incompletas e pouca orientação aplicável da

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literatura médica.

"Diagnósticos raros e pacientes incomuns continuam adespertar o interesse dos médicos", reconhece a Dra.Clancy. No entanto, a maior parte dos erros médicosacontece na rotina diária.

Ninguém critica o Dr. House, ou qualquer outro médico navida real, se ele se esforçar em um caso bizarro e nãoconseguir salvar o paciente. No episódio "Histories"("Histórias", 1-10), o diagnóstico de raiva foi dado tardedemais. Mesmo assim, não houve alvoroço. No entanto, oDr. House ficou encrencado quando os colegasdesconfiaram que ele talvez tivesse usado inadvertidamenteuma seringa com a dose errada de epinefrina e quase matadouma freira com uma grave reação alérgica no episódio"Damned If You Do" ("Se Correr o Bicho Pega", 1-05).

Nesses deslizes e na falta de assistência adequada emcondições comuns que a Dra.

Clancy e outros especialistas em qualidade de saúde vêemoportunidades para os maiores ganhos.

"Não podemos perder de vista o fato de que boa parte doque não funciona no sistema de assistência médica ocorrede modo bastante sistemático, incluindo todas asespecialidades, em que sabemos qual é a resposta certa mas

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ainda não encontramos um meio de aplicá-la de formarotineira", afirma.

Em um dos primeiros episódios de House, o paciente tinhase intoxicado por causa de um remédio que estava tomandopara tosse. Supostamente, as pequenas pílulas amarelasserviriam para aliviar a tosse, mas na verdade eram pílulaspara gota. Confusão na hora de prescrever um medicamentoé apenas uma das muitas possibilidades que os profissionaisde saúde têm de cometer erros. Infelizmente, outro tipocomum de erro foi ilustrado em

"Control" ("Controle", 1-14), quando Chase testou o fluxosangüíneo na perna de um paciente, percebendo tardedemais que havia testado na perna errada. O erro foicorrigido sem maiores problemas para o paciente. Noentanto, quando um cirurgião opera o membro errado, asconseqüências podem ser irreversíveis.

Atualmente, recomenda-se que, antes que o paciente sejaanestesiado para uma operação de joelho, por exemplo,observe alguém escrever em uma das pernas com tintaindelével os seguintes dizeres: "OPERE ESTA PERNA" e, naoutra,"NÃO OPERE ESTA PERNA".

Pode parecer tolice, mas é um passo simples que pode evitarum erro terrível. Na verdade, em "Three Stories' ("Três

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Histórias", 1-21), há uma cena em que House e Stacyapareceram escrevendo nas pernas dele, antes da cirurgia aque ele foi submetido para remover o músculo lesionado dacoxa.

Dr. Garrancho

Os médicos têm a reputação de ter uma péssima caligrafia.No entanto, o Dr. House tem uma letra muito legível quandoescreve no quadro branco. Os garranchos do Dr. Wilson sãodiferentes. No início do episódio "Daddy's Boy"("Queridinho do Papai", 2-05), o Dr.

House chega tarde, por isso Wilson está no quadro brancoanotando os sintomas do paciente. Cameron, Chase eForeman se esforçam para tentar entender o que está escrito.

Quando as receitas médicas estão ilegíveis, isso representamais do que apenas um aborrecimento. O FDA, aAssociação Médica Americana e outros grupos considerama má caligrafia um aspecto importante que põe em risco asegurança do paciente. Barbara Getty concordaenfaticamente com essa opinião. Ela e sua colega IngaDubay fazem seminários para os profissionais de assistênciamédica nos Estados Unidos, denominados "Receita parauma boa caligrafia". Getty afirma que, apesar da proliferaçãode computadores, ainda não vivemos em um mundo

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inteiramente eletrônico.

"A caligrafia ainda é importante. É possível comprovar issoem qualquer consultório.

Basta observar suas pequenas anotações. São todas feitas àmão, não?", ela reflete. "Meu pedido especial às professorasprimárias: 'Por favor, ensinem caligrafia.' Elas acham que nãotêm tempo suficiente ou têm medo de tentar, mas não é tãodifícil assim."

Em seu seminário e em um caderno de caligrafia, Getty eDubay ensinam um estilo de escrita em itálico para enfatizara legibilidade. Não é tão rebuscado quanto a letra cursivoque a maioria de nós aprendeu na escola.

"Se você eliminar as voltinhas em sua caligrafia", Gettydeclarou para uma turma de médicos, "pode não ficar bonita,mas certamente será mais legível."

Getty espera que ao melhorar os garranchos dos médicosesteja contribuindo para melhorar a segurança dospacientes.

Evidentemente, muitas instituições de assistência médicapassaram a adotar sistemas computadorizados, em parte,para tentar eliminar os erros causados por caligrafia malinterpretada. Quando os pedidos médicos passarem a ser

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feitos por computador, não haverá mais essa preocupação,mas, como todos que usam computador sabem, as máquinasgeram preocupações novas e próprias.

Um estudo voltado à identificação de problemas associadosa um sistema computadorizado de registro de receitasmédicas encontrou quase 25 maneiras de o sistema criarriscos de erro na medicação. Dentre os problemas, destacam-se: às vezes, era difícil ver a lista completa das receitas dopaciente; os atendentes, ao usar o sistema erroneamente,acreditavam que ele continha todas os informaçõesimportantes, quando, na verdade, ainda havia dados críticosem registros de papel; a configuração das telas decomputador, às vezes, permitia que as receitas fosseminseridas duas vezes ou que os médicos entrassem cominformações conflitantes sem perceber.

Pesquisadores e outros especialistas afirmaram que, em vezde analisar apenas os problemas que os sistemas decomputadores podem resolver, como a caligrafia ruim, aatenção e as pesquisas deveriam ser direcionadas aos novosproblemas que podem surgir quando os métodostradicionais forem substituídos pela alta tecnologia.

Erros médicos de todos os tipos, de origem inteiramentehumana ou assistidos por computador, acontecem com maisfreqüência do que deveriam.

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Errar é humano

Em 2000, o prestigiado Instituto de Medicina dos EstadosUnidos chamou a atenção do público com um relatório quedestacava o número de erros médicos. O relatório, intituladoTo Err is Human: Building a Safer Hea/th System, afirmaque, na extrapolação dos resultados dos estudos locais paraa nação inteira, foi revelado que entre 44 mil e 98 mil norte-americanos morrem todo ano devido a erros médicos.

"Mesmo segundo as estatísticas mais baixas, as mortes porerro médico superam o número atribuído à oitava principalcausa de morte. Mais pessoas morrem por ano comoconseqüência de um erro médico do que de acidentes decarro (43.458), câncer de mama (42.297) ou Aids (16.516) ",afirmou o relatório.

Os autores enfatizaram que, embora os médicos e outrosprofissionais de saúde estejam envolvidos com os errosmédicos, eles também são essenciais para a solução doproblema.

"O comitê acredita que o ímpeto para melhorar a segurançado paciente é a motivação intrínseca daqueles que fornecemassistência médica, moldados pela ética, pelas normas epelas expectativas da profissão".

Quando Chase não conseguiu perceber o sinal de um

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problema fatal em "The Mistake"

("O Erro", 2-08), um comitê de revisão colocou a culpa pelamorte do paciente em seu erro.

Especialistas na melhoria da qualidade da assistência médicatêm uma visão diferente das causas e soluções para amaioria dos erros médicos, procurando, de modo maisabrangente, em cadeias de eventos ou em ambientes detrabalho, em vez de colocar a culpa apenas em um errocometido por um só indivíduo.

Muitas das recomendações do comitê do Instituto deMedicina estavam centradas na necessidade de relatar oserros e usar grupos de supervisão, protocolos e outrasabordagens sistemáticas para reduzir o dano que, não poracaso, às vezes ocorre quando seres humanos falíveisoferecem assistência médica, que em geral é algoextremamente complexo.

Outro relatório do Instituto de Medicina, publicado no anoseguinte, insistiu na importância de recomendar mudançasabrangentes no modo como a assistência médica éconduzida.

Problemas de segurança são inaceitavelmente comuns, masa solução mais eficaz não é intimidar os profissionais dasaúde, exigindo que se esforcem mais em suas funções.

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Médicos, enfermeiros e assistentes já fazem o possível paradesempenhar bem sua tarefa. Na verdade, a coragem, adedicação e o compromisso desse pessoal hoje são osúnicos meios concretos de interromper o fluxo de erroslatentes em nossos sistemas de assistência médica. A saúdetem problemas de segurança e qualidade porque confia emsistemas de trabalho ultrapassados.

- Crossing the Quality Chasm: A New Health System for the21st Century (2001)

O Dr. House pode encolerizar-se contra mais uma forma decercear sua liberdade de exercer a medicina da maneira queele considera adequada, mas os dias em que o médico podiadominar e fazer o que bem entendesse na prática diária seforam, se é que algum dia existiram.

Desfechos

Um mantra dos esforços para melhorar a qualidade daassistência médica é "desfechos, desfechos, desfechos".Quais são os resultados para os pacientes? Eles morrem ouvivem? Se viverem, qual será sua qualidade de vida?

O Dr. House está centrado na crise do momento. Asreferências, quando existem, ao que acontece com ospacientes depois são mínimas. Às vezes, como no caso damulher grávida com câncer de pulmão em "Babies e

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Bathwater" ("Bebês e Banheiras", 1-18), ou do universitáriointoxicado por radiação em "Daddys Boy" ("Queridinho doPapai", 2-05), eles morrem. Às vezes, como a meninagordinha de 10 anos que sofreu um ataque do coração em

"Heavy" ("Uma Questão de Peso", 1-16) e depois foi tratadacom sucesso para a doença de Cushing, eles saem dohospital melhores do que nunca. De vez em quando, comoem

"Hunting" ("A Caçada", 2-07), o mistério imediato - nessecaso, cistos no fígado - é resolvido, mas o paciente aindaenfrenta um grave problema; ele teria de viver comHIV/Aids.

No entanto, a impressão geral no final dos episódios é deque os pacientes vivem felizes para sempre, como apersonagem que recebeu o coração transplantado em"Control"

("Controle", 1-14), quando o médico afirmou que ela aindateria muito que viver.

O desfecho mais comum para pacientes do mundo real estáno meio-termo; ou seja, após uma crise, em geral, háimportantes problemas de saúde que precisam ser tratados.Vale a pena fazer uma análise de uma das dramáticasconquistas da medicina moderna.

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Entre 1950 e o final do século XX, o número de mortes pordoenças cardíacas caiu em mais da metade, levando emconta o envelhecimento da população. Evidentemente,todos morrem por algum motivo, mas as chances de morrerde doença cardíaca em qualquer idade específica são muitomenores hoje em dia do que décadas atrás. Assim, aprobabilidade de um homem de 50 anos morrer do coraçãohoje em dia é muito menor do que em 1950. Existem muitosmotivos para esse avanço. O fato de que menos pessoasfumam provavelmente é o principal motivo. Dieta e atividadefísica também são importantes. Mas a medicina tem seuquinhão de crédito. Em termos de prevenção, o tratamentode pressão alta e colesterol elevado ajuda a retardar aprogressão da doença cardíaca.

Se você sofrer um ataque cardíaco ou uma parada cardíacarepentina hoje em dia, o sistema médico está mais preparadodo que nunca. Desfibriladores externos automáticos,bombeiros, policiais e outros profissionais treinados paraoferecer os primeiros socorros, ambulâncias com UTI móvele outros fatores significam que os pacientes podem receberchoques capazes de fazer seus corações voltarem a bater noritmo normal imediatamente, sem esperar chegar ao hospital.Medicamentos que rompem coágulos e tratamentos deangioplastia de emergência podem limpar bloqueios erestaurar o fluxo sangüíneo até o músculo do coraçãorapidamente, prevenindo, assim, boa parte do dano de um

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ataque cardíaco. Um número muito maior de pessoas hojevolta a levar uma vida normal logo após um ataque cardíaco.

No entanto, esses sobreviventes não ficam curados.

O processo subjacente da doença que levou ao ataquecardíaco ainda existe, mesmo após o ataque ter cessado.Uma crise de saúde grave em geral transforma a pessoa empaciente para o resto da vida. Consultas médicas, receitas,programas para mudar seu estilo de vida, tudo isso se tornaparte da nova rotina do indivíduo.

As pessoas que sofreram sérios ataques cardíacos têm riscoaumentado de desenvolver insuficiência cardíaca, o quesignifica que seus corações não podem mais bombear osangue de modo tão eficaz quanto deveriam. Assim, emboratenham sido salvas de uma ameaça, permanecemvulneráveis. Mesmo com a medicina salvando mais pessoasde ataques cardíacos, o número de internações por causa deinsuficiência cardíaca congestiva nos Estados Unidosdobrou nos últimos 15 anos para 1 milhão de casos por ano.Mesmo aqueles pacientes que conseguem se livrar dasinternações muitas vezes têm de tomar um coquetel depílulas e fazer consultas freqüentes ao médico.

O progresso contra o câncer também traz novas questões. Aboa notícia é que o índice de mortes causadas por câncer

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ajustado por idade nos Estados Unidos está caindo. Comoocorre com as doenças cardíacas, as campanhas antifumo nopaís merecem todos os elogios.

No entanto, os tratamentos também melhoraramespecialmente para os tipos de câncer na infância.

Cerca de 1milhão de norte-americanos desenvolvem câncertodos os anos, sem incluir lesões de pele secundárias ecomuns. Ao mesmo tempo, o número de sobreviventes decâncer está crescendo. Mais de 10 milhões de norte-americanos foram diagnosticados como portadores decâncer e sobreviveram à crise imediata. Entretanto, emmuitos casos, a palavra

"cura" pode pintar um quadro mais bonito do que elerealmente é. Os sobreviventes de câncer, com freqüência,levam consigo o peso dos efeitos da doença e de seutratamento. Em geral, permanece o risco aumentado dedesenvolver os sintomas novamente, levando, portanto, amaior necessidade de monitoramento e acompanhamento.

O sucesso contra o câncer normalmente é medido pelaanálise da proporção de pacientes que ainda estão vivoscinco anos após o diagnóstico. A taxa de sobrevida apóscinco anos é uma medida útil, mas também tem seus pontosfracos. O fator mais importante que determina a

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sobrevivência após cinco anos não é o tratamento, mas otipo de câncer. Poucos pacientes com diagnóstico de câncerde pulmão ainda estarão vivos após cinco anos, em parteporque a doença, em geral, já está em estado mais avançadoquando é descoberta. Por outro lado, quase todos oshomens diagnosticados com câncer de próstata vivem pelomenos mais cinco anos, na maioria dos casos, porque ocâncer de próstata se desenvolve muito lentamente.

É importante fazer distinção entre sobrevida geral, sobrevidalivre da doença e sobrevida sem progressão. A sobrevidageral conta todos que ainda estão vivos, sem levar em contaa gravidade da doença. A sobrevida livre da doença estámais próxima ao que a maioria das pessoas pensa quandoouve a palavra "cura" e conta apenas os pacientes que nãoapresentam traços detectáveis de câncer. A sobrevida livrede progressão é um termo que está crescendo emimportância: conta os pacientes cujos cânceres não pioraramdesde que começaram a ser controlados. À medida que maiscasos de câncer são tratados, em vez de completamenteerradicados, a sobrevida livre de progressão se tornará umpadrão mais comum. Isso é parte da mudança dementalidade: deixar de encarar o câncer como uma criseaguda e passar a considerá-lo uma doença crônica com aqual as pessoas podem viver durante muitos anos ou atémesmo décadas.

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Uma armadilha comum de usar a taxa de sobrevida de cincoanos como medida do sucesso é o efeito peculiar do "viésde antecipação do diagnóstico". Quando a mamografiatornou-se um procedimento rotineiro, as taxas de sobrevidade cinco anos para câncer de mama aumentaram. O mesmoocorreu após a introdução do exame de sangue PSA paracâncer de próstata. Em ambos os casos, o principal motivopara o aumento na sobrevida de cinco anos não foi o fato deque os pacientes necessariamente morriam depois, mas sim ode seus tumores terem sido descobertos antes, dando inícioà contagem de cinco anos antes. A detecção precocerealmente pode ajudar as pessoas a viverem mais, mastambém pode significar tão-somente que elas tiveram a mánotícia sobre a doença antes e que vão passar mais tempocomo pacientes, sem alterar significativamente o dia de suamorte. A alegação freqüente de que a detecção precoce éfundamental para melhorar a sobrevida dos pacientes comcâncer deve ser considerada pelo menos com algumceticismo; isso só ocorre quando o tratamento efetivamenteajuda os pacientes a viverem mais do que a data provável desua morte, caso o câncer não tivesse sido detectadoprecocemente, em vez de apenas aumentar as estatísticas desobrevida de cinco anos, movendo as datas de início dacontagem.

Esses dois pequenos exemplos de doença cardíaca e câncerrefletem uma tendência abrangente. Estamos vivendo uma

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importante fase de transição na saúde. Crises repentinas dotipo retratado no seriado estão diminuindo. A medicina estámudando o foco, deixando de responder a episódios agudose alinhando-se para fazer o manejo constante de condiçõescrônicas. Estamos vivendo mais tempo, mas são crescentesos casos de problemas de saúde, que vão de artrite acolesterol alto, insuficiência cardíaca ou diabete.

Vida e morte

O Dr. House gosta de deixar bem claro que se a equipe fizero diagnóstico errado ou seguir o tratamento incorreto, opaciente morrerá. Bem, no final das contas, todos nósmorremos, mas em geral isso acontece cada vez mais tardehoje em dia.

No início do século XX, um bebê nascido nos EstadosUnidos tinha uma expectativa de vida de 47 anos, em média.Um bebê nascido no início deste milênio pode esperar viver,em média, cerca de 77 anos. Isso representa três décadas amais de vida.

Entretanto, esses números podem ser enganosos. Não éverdade que, há um século, as colunas dos obituáriosestivessem cheias de nomes de pessoas que morreram com40 e poucos anos. Mortes na infância, muitas vezes dedoenças infecciosas, eram rotineiras. Em 1900, um em cada

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três óbitos era de uma criança com menos de 5 anos. Asmuitas vidas excessivamente curtas acabaram diminuindo aexpectativa média de vida. Em 1997, as crianças com menosde 5 anos representavam apenas um em cada setenta óbitos.

Mas qual é a participação de médicos e da medicina nesseaumento de 30 anos de expectativa de vida médio dos norte-americanos? O desenvolvimento da vacina contra a pólio nadécada de 1950 talvez tenha sido a principal descoberta damedicina do século XX, mas o drástico declínio do númerode mortes na infância por doenças infecciosas começou bemantes desse importante evento. Na verdade, em 1950, aexpectativa de vida já havia aumentado para 68 anos, maisde dois terços do aumento total durante o século XX. Águamais limpa, maior fartura e maior qualidade dos alimentos,melhores condições habitacionais e outras melhorias nascondições de vida e sociais da população proporcionarammaiores benefícios. O saneamento básico e bons órgãos desaúde pública, juntamente com melhores condições de vida,evitam um número muito maior de mortes prematuras que umexército de clones do Dr. House poderia evitar. Depois delevar todos esses fatores em conta, muitas estimativasafirmam que a medicina é responsável por apenas cincoanos, ou cerca de um sexto, desse aumento da expectativade vida que ocorreu no último século.

A expectativa de vida ao nascer não é a única medição.

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Também é importante analisar o outro lado da vida... aterceira idade, quando tudo se torna mais difícil e passamosa depender mais do sistema de saúde. Um norte-americanomédio que fez 65 anos em 1950

poderia esperar viver cerca de mais 14 anos. Em 2000, oamericano médio de 65 anos tem uma expectativa de vida demais 18 anos. Esse é um aumento de apenas quatro anosdurante o último meio século.

Enquanto isso, o preço pago aos planos de saúde estádisparando. Em 1960, os gastos per capita com assistênciamédica eram menos de 150 dólares. Em 2000, os gastos comassistência médica por pessoa eram mais de 4.600 dólares.As projeções para a próxima década são assustadoras. Em2015, a previsão é de que os gastos com saúde nos EstadosUnidos dobrem praticamente para um total de quatro trilhõesde dólares ao ano. Isso significa que, quando se avalia tudoque é produzido na nação, o Produto Interno Bruto,incluindo carros, alimentos, entretenimento, habitação,educação e assim por diante, vinte por cento de toda aprodução econômica, ou um dólar em cada cinco, serãodirecionados à assistência médica.

Parte do aumento está relacionada com o envelhecimento dopaís; mas não tanto quanto se imagina. Um importantemotivo pelo qual os gastos com saúde estão aumentando

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envolve todos os novos medicamentos e dispositivosutilizados por médicos como o Dr.

House em suas batalhas pessoais contra a doença e a morte.

Os aparelhos de ressonância magnética e tomografiacomputadorizada utilizados pelo Dr. House e sua equipe...Os exóticos novos fármacos que conseguem obter paraaplicar em seus pacientes... Tudo isso custa dinheiro e todosos norte-americanos pagam parte disso mesmo sem nuncaterem tido uma doença grave. Cerca de setenta por centodos gastos com assistência médica são consumidos emnome de apenas dez por cento das pessoas do país.

As descobertas e os experimentos que surgiram por meio doNational Institutes of Health (NIH) nas últimas váriasdécadas ajudaram a impulsionar o enorme crescimento doconhecimento e da tecnologia médica, incluindo a ciênciapor trás de muitos dos medicamentos e dispositivosdisponíveis aos médicos nos hospitais. O Dr. Elias Zerhouni,diretor do NIH, é um dos principais defensores da pesquisabiomédica. No entanto, em uma entrevista recente comBarbara Culliton, editora-adjunta do periódico HealthAffairs, ele afirmou que a direção da pesquisa médica devemudar.³

______________________

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³ De "Extracting Knowledge from Science: A Conversationwith Elias Zerhouni", Barbara J. Culliton, Health Affairs,publicado on-line em 9 de março de 2006. Disponível emwww.healthaflairs.org, acessado em 9 de março de 2006.

"Se analisássemos a equipe médica cuidando de um pacienteem 1960, provavelmente veríamos um médico e umaenfermeira e o trabalho em meio expediente de uma pessoano laboratório - duas pessoas e meia. Hoje em dia, paraoferecer a assistência atual, estamos falando de 17, 18 ou atémesmo 19 pessoas por paciente, por visita. Hoje em dia, umpaciente tende a receber atendimento de equipes deradiologia e patologia, mais um residente ou outroespecialista, e medicamentos, além de serviços deadministração, cobrança e outros. A assistência médicatornou-se uma atividade que cresceu para um tipo depersonalização em massa, com muitos testes e consultas",afirmou o Dr. Zerhouni à entrevistadora do periódico.

"A maneira mais cara de praticar a medicina é seguir essesprocedimentos, em que toda interação pode envolver atévinte pessoas. Assim, os custos de transação são enormes.

Minha visão é que temos de fazer mudanças significativas,não apenas nas beiradas", ele acrescentou.

"Se quisermos transformar a medicina, temos de fazer algo

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que vá além do paradigma da cura: espere até ficar doente evenha me ver, e farei o possível. Essa é a realidade há 5 milanos. Agora, temos de fazer algo diferente."

O Dr. Zerhouni afirma que deveríamos procurar ir além demeramente tratar a doença, além até mesmo da meraprevenção, para tentarmos medidas preemptivas contra asprincipais disfunções em nosso organismo que acabamgerando as doenças. Ele admite que os pesquisadores estãoapenas começando a vislumbrar como essa medicinapreemptiva poderia funcionar. No entanto, o Dr. Zerhouniafirma que a medicina não pode simplesmente continuarseguindo o mesmo paradigma de sempre, ou seja, travandointensas e desesperadas batalhas contra doençasavançadas, que é a especialidade do Dr. House.

"Se continuarmos praticando a medicina que conhecemoshoje em dia por mais 25

anos, teremos perdido o jogo" afirmou o Dr. Zerhouni para oHealth Affairs.

Uma visão global

Até agora estamos revisando estatísticas apenas para osEstados Unidos. Em outros países, existem muitassemelhanças e diferenças em relação aos Estados Unidos. Ocusto da assistência médica está aumentando em todas as

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nações desenvolvidas. Mas os Estados Unidos têm agrande liderança, gastando mais do que o dobro por pessoado que qualquer outra nação industrializada. Infelizmente,não parece que estamos recebendo o bônus da longevidadepor esse investimento extra. Os Estados Unidos vêmperdendo constantemente posições no ranking deexpectativa de vida. Estamos atrás de dezenas de outrasnações... e a diferença entre os Estados Unidos e o México épequena.

Ainda assim, mesmo que o modelo médico de alta tecnologianão tenha produzido uma utopia em termos de saúde, sevocê fosse atingido por um mistério médico, não gostaria deter alguém como o Dr. House testando todo o poder de seuarsenal de diagnóstico e tratamento em seu caso? Vamos vercomo nos sentiríamos como paciente do Dr. House.

CAPÍTULO 7

Zelo pelo paciente

O ponto forte do Dr. House é sua capacidade dediagnosticar... não suas habilidades de comunicação oucapacidade de trabalhar em equipe. Definitivamente, ele nãoé parte da equipe porque é divertido ou pelo zelo que tempelos pacientes. Na verdade, o Dr. House tenta evitar aomáximo o contato com o paciente.

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A paciente do primeiro episódio critica sua atitude anti-social e a relaciona com a dor crônica e com sua deficiênciapor conta da perna lesionada.

"Você se esconde no seu consultório, recusa-se a ver ospacientes porque não gosta da maneira como as pessoasolham para você. Você quer descontar suas desilusões navida com todo mundo", diz a paciente depois de o Dr. Housefinalmente aceitar vê-Ia.

Quando o generoso patrocinador e presidente do conselhoEdward Vogler pressiona a Dra. Cuddy para que explique porque o Dr. House continua na equipe, ela defende suacapacidade, não seu apelo pessoal.

"Ele inferniza você. Oito anos de casa, e ele nunca fez nadapor você, nunca sequer ouviu você", afirma Vogler em "MobRules" ("Nas Mãos da Máfia", 1-15).

"Ele pode mudar", responde Cuddy.

"Ele não mudou em oito anos. Ou ele não pode mudar ouvocê não pode mudá-lo.

Você não tem a menor idéia de quantas vezes ele já mentiupara você, desbancou sua autoridade, fez você parecer umatola diante dos outros médicos."

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"Sim, eu o odeio, e aqui estou eu, tentandodesesperadamente proteger seu emprego."

A qualificação técnica é de suma importância na hora delidar com os casos médicos difíceis. No entanto, os médicosdevem ser curandeiros, não apenas mecânicos que poracaso entendem de corpos humanos.

Os editores de um livro médico renomado, HarrisonśPrinciples of Internal Medicine, 16º edição, citam seuspredecessores que editaram a primeira edição:

"Não há maior oportunidade, responsabilidade ou obrigaçãopara um ser humano do que se tornar médico. Ao cuidar dosque sofrem, os médicos precisam de qualificação técnica,conhecimento científico e entendimento humano. Tato,simpatia e compreensão são sentimentos esperados nomédico, pois o paciente não é meramente uma coleção desintomas, sinais, funções desordenadas, órgãos lesionadose emoções perturbadas. [O paciente] é humano, está commedo e tem esperanças de encontrar alívio, ajuda etranqüilidade."

O Dr. House parece ter pouco interesse em algo além dacoleção de sintomas e sinais que seus pacientes apresentamao chegarem ao hospital.

Os editores atuais afirmam que os médicos devem ser

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confiantes, mas não arrogantes.

O Dr. House parece ter problemas em ficar do lado certo dalinha que divide os dois atributos.

Uma pesquisa publicada no Journal of Family Practice, em2001, que analisou os fatores que levam os pacientes aconfiarem em seus médicos, verificou que cuidado econforto são tão importantes quanto competência técnica.As habilidades de comunicação, tanto em termos do que omédico diz quanto em sua capacidade de ouvir, tambémestão fortemente relacionadas com a satisfação do paciente,de acordo com essa pesquisa.

Dando a má notícia

As habilidades de comunicação dos médicos são colocadasà prova quando eles precisam dar uma má notícia a seupaciente. Apresentar o diagnóstico de uma doença queameaça a vida do paciente ou dizer a alguém que otratamento provavelmente não terá sucesso é difícil para osmédicos. É algo que eles não estão preparados para fazer.

Quando parece que o tratamento contra intoxicação porradiação não vai funcionar quase no final do episódio"Daddy's Boy" ("Queridinho do Papai", 2-05), Wilson temdificuldade em lidar com o prognóstico ruim. Ele diz ao paido paciente que seu filho, provavelmente, não conseguirá

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combater as infecções que estão se espalhando pelo corpodo rapaz. Wilson não consegue dizer com todas as letrasque o jovem está morrendo. Não vemos se um dos médicosefetivamente dá a má notícia ao pai. Em vez disso, a últimapalavra do episódio é do pai, quando diz ao filho que ele vaificar bom.

No primeiro episódio da segunda temporada, "Acceptance"("Aceitação"), Cameron passa boa parte do tempo tentandorefutar a existência de um câncer de pulmão que, no fundo,ela sabe que vai matar sua paciente. Wilson e House pedemque Cameron diga a verdade à paciente. Ela sequer diz àpaciente que o câncer de pulmão é uma possibilidade,enquanto houver alguma chance de ser outro diagnósticoqualquer.

Na vida real, dar a má notícia ao paciente não é fácil também.A faculdade de Medicina e outros tipos de treinamentoestão quase inteiramente centrados na cura e no manejo dasdoenças. A morte não só é má notícia para o paciente;muitos médicos também sentem uma espécie de fracassopessoal. Um dos principais especialistas em câncer depulmão afirma que é difícil recrutar jovens médicos nessecampo, em parte, porque a maioria dos pacientes morre apósum período relativamente curto de tempo.

Somente nos últimos anos alguns programas começaram a

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treinar os jovens médicos a dar más notícias. Ummédico/pesquisador que conduziu oficinas sobre o temaafirma que esse tipo de treinamento pode ajudar a aumentaros níveis de confiança dos médicos. Ele afirma que muitosdos conselhos envolvem medidas simples, como garantir umambiente confortável e particular para dar a notícia. "Dê aeles um aviso", explica. "Por exemplo: 'O que vou dizer émuito grave e sinto muito ter de dar essa notícia a você.Agora é um bom momento para conversarmos sobre oassunto', para que o paciente possa reunir suas energiasemocionais e preparar-se para ouvir o que você tem a dizer".

Outros especialistas recomendam o que chamam de estilo decomunicação 'centrado no paciente'; em que o médico écuidadoso ao monitorar o modo como o paciente estárecebendo a notícia, para garantir que ele entende o que estásendo dito e não fica chocado por ouvir demais e de maneiraexageradamente rápida. Depois de testar três tipos decomunicação com estudantes que imaginavam como eles sesentiriam se fossem pacientes ouvindo notícias ruins,pesquisadores de Zurique, na Suíça, informaram que acomunicação centrada no paciente obteve melhor resposta.Eles afirmaram que os pacientes tendem a não responder tãobem a declarações diretas que se limitam a apresentar osfatos médicos sem considerar os sentimentos do paciente.Da mesma forma, um tom extremamente emocional queenfoca o quanto a notícia é triste também tem suas

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desvantagens.

"A pesquisa demonstrou que se a notícia ruim forcomunicada de modo ruim, pode causar confusão, afliçãoduradoura e ressentimento; se a comunicação for bem-feita,poderá auxiliar na compreensão, na aceitação e no ajuste";afirmam os professores Lesley Fallowfield e Valerie Jenkins,ambos doutores em filosofia da Universidade de Sussex, naInglaterra, que escreveram um artigo fazendo uma revisão dapesquisa sobre o modo como os médicos dão uma mánotícia a seus pacientes.

A boa comunicação com os pacientes é parte importante nooferecimento de uma boa assistência, mas também podeservir aos interesses do médico. Há um velho ditado que diz:

"Quem é bonzinho não é processado"

Em um relatório sobre erros médicos e reclamações depacientes no Journal of the American Medical Association,o Dr. Gerald Hickson e seus colegas comentaram que "ospacientes atendidos pelos médicos com o maior número deprocessos judiciais eram os que mais reclamavam que seusmédicos não ouviam suas queixas, nem retomavam suasligações, ou eram arrogantes e pouco respeitosos".

Parece uma descrição do Dr. House, não é?

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No final do episódio "Poison" ("Veneno", 1-08),a mãe de umpaciente está empurrando o filho em uma cadeira de rodasem direção à saída do hospital quando passam pelo Dr.House e por Foreman. O filho ficara inconsciente duranteboa parte do episódio.

"Quem são eles?", o menino pergunta. "Ah, são os idiotasarrogantes que salvaram sua vida", responde a mãe.

Sabendo que o Dr. House era um idiota arrogante quando ocontratou, a Dra. Cuddy afirmou que havia separado 50 mildólares anuais para despesas com processos judiciais. Noentanto, ela provavelmente estava se referindo ao trabalhojurídico de rotina, não aos pagamentos de queixas por errosmédicos, que são em média muito mais elevados do que isso.

É importante observar que, embora as indenizações por errosmédicos possam ser extremamente altas para obstetras,neurocirurgiões e certos especialistas, e o montante médiodos pagamentos venha subindo juntamente com todos osdemais custos na medicina, o custo total dessasindenizações ainda representa uma pequena parte dosgastos com a saúde. Uma análise recente na publicaçãoHealth Affairs indica que, quando você distribui pelapopulação todas as indenizações por erro médico, elasprovavelmente acrescentam um dólar por mês ou pouco maisde 12 dólares ao ano aos gastos com assistência médica per

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capita.

Juramento de Hipócrates

Vamos voltar aos ideais da medicina. A declaração maisfamosa, evidentemente, é o Juramento de Hipócrates. Noentanto, você talvez se surpreenda ao saber que, embora omédico da Grécia Antiga, Hipócrates, tenha dito algo do tipo"Não faça mal", essas palavras não estão na versão clássicado juramento em si.

Versão clássico do Juramento de Hipócrates

Eu juro, por Apoio médico, por Esculápio, Hígia e Panacea, etomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas,cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa quese segue: estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que meensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, comele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus própriosirmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidadede aprendê-la, sem remuneração nem compromisso escrito;fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto doensino meus filhos, os de meu mestre e os discípulosinscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só aestes.

Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo meupoder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a

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alguém.

A ninguém darei por comprazer nem remédio mortal nem umconselho que induza à perda. Do mesmo modo, não darei amulher alguma substâncias abortivas.

Conservarei imaculadas minha vida e minha arte. Nãopraticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado;deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam.

Em toda casa, ai entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo dano voluntário e de toda sedução,sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres oucom os homens livres ou escravizados.

Aquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão eno convívio da sociedade eu tiver visto ou ouvido, que nãoseja preciso divulgar, conservarei inteiramente secreto.

Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me sejadado gozar felizmente da vida e de minha profissão, honradopara sempre entre os homens; se dele eu me afastar ouinfringi-lo, o contrário aconteça.

- Tradução do grego, de Ludwig Edelstein, de

The HíppocratIc Oath: Text, Translation, and InterpretatIon

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(Baltimore: Johns Hopkins Press, 1943)

Os jovens médicos, em geral, prestam juramento quando seformam em Medicina, mas não há uma versão padronizada.Prestar juramento é uma prática relativamente recente. O Dr.

Howard Markel, Ph.D., escreveu no New England Journalof Medicine que, em 1928, apenas uma em cada cincofaculdades de Medicina na América do Norte prestavajuramento nas cerimônias de formatura. Agora, nos EstadosUnidos os juramentos são praticamente universais nasfaculdades de Medicina.

Por exemplo, os formandos da Classe de 2004 da Faculdadede Medicina da Yale University adotaram o seguintejuramento modificado:

Juramento de Médico da Yale University

Eu, solenemente, juro consagrar minha vida ao cuidado dosdoentes, à promoção da saúde e a serviço da humanidade.

Praticarei minha profissão com consciência e dignidade. Asaúde e a dignidade de meus pacientes serão minha primeirapreocupação. Respeitarei os segredos a mim confiados. Nãopermitirei que concepções de gênero, religiosas, nacionais,raciais, de orientação sexual ou sociais intervenham entremeu dever e meus pacientes.

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Respeitarei o direito dos pacientes de participar ativamentedas decisões que os afetarem. Ajudarei meus pacientes atomar decisões que coincidam com seus próprios valores ecrenças.

Tentarei aumentar minha competência constantemente erespeitar aqueles que ensinam e ampliam nossoconhecimento por meio da pesquisa. Tentarei prevenir ecurar as doenças.

Quando for qualificado para instruir, terei prazer emtransmitir meus conhecimentos, mantendo meus colegas namais alta estima e encorajando a avaliação crítica mútua denosso trabalho.

No espírito daqueles que me inspiraram e ensinaram,procurarei aumentar constantemente meus conhecimentos,minha compreensão e qualificação, e trabalharei junto ameus colegas para promover todos os aspectos válidos naantiga e honrada profissão médica. Manterei a honra e asnobres tradições da medicina. Meu comportamento seráhonrado e equilibrado, e refletirá a justiça para todos.

Se cumprir este juramento e não violá-lo, poderei aproveitara vida e a prática da profissão. Faço estas promessas, solenee livremente, pela minha própria honra. Que minha féfortaleça minha resolução.

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- Faculdade de Medicina da Yale University, 2004

Em 2002, um grupo de sociedades e fundações médicas nosEstados Unidos e na Europa publicou o assim chamado"Physician Charter", ou a Declaração do Médico. Os autoresafirmam que a declaração tem o objetivo de atender aosdesafios da prática médica no novo milênio.

A declaração está baseada em três princípios fundamentais:

Princípio da primazia do bem-estar do paciente. Esteprincípio baseia- se na dedicação a servir o interesse dopaciente. O altruísmo contribui para a confiança, fator centralà parceria entre médico e paciente. As forças de mercado, aspressões da sociedade e as exigências administrativas nãodevem comprometer este princípio.

Princípio da autonomia do paciente. Os médicos precisamrespeitar a autonomia do paciente. Os médicos devem serhonestos com seus pacientes e delegar a eles o poder detomar decisões bem informadas sobre seu tratamento. Asdecisões dos pacientes sobre o tipo de tratamento querecebem são essenciais, desde que alinhadas com a ética eque não levem a um atendimento inadequado.

Princípio da justiça social. A profissão médica devepromover a justiça no sistema de saúde, incluindo a justadistribuição de recursos de assistência médica. Os médicos

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devem trabalhar ativamente para eliminar a discriminação nasaúde pública, quer se baseie em raça, gênero, statussocioeconômico, etnia, religião ou qualquer outra categoriasocial.

- "Medical Professionalism in the New Millennium: APhysician Charrer", um projeto da ABIM Foundation, ACP-ASIM Foundation e European Federation of InternalMedicine, conforme publicado em Annals of InternalMedicine, 5 de fevereiro de 2002

O Dr. House parece colocar o bem-estar do paciente emprimeiro lugar, independentemente das forças de mercado oudas pressões sociais, e ele, certamente, sente apenasdesprezo pelas exigências administrativas.

Em "Acceptance" ('Aceitação', 2-01), ele luta para encontrara cura para um assassino condenado, apesar das dúvidas deForeman sobre se o paciente valia aquele esforço todo. O

Dr. House instiga Foreman com perguntas sobre como osmédicos devem decidir quais pacientes merecem que tipo detratamento. Ele pergunta se um pedófilo mereceria receberantibióticos mas não uma ressonância magnética,mostrando, assim, como os médicos podem ser sugados semsentir por armadilhas morais, caso tentem julgar o "valor" deseus pacientes.

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Médicos e Execuções

Os médicos, muitas vezes, ficam de plantão nas execuçõesde prisioneiros condenados nos Estados Unidos. Mas aAssociação Médica Americana tem uma visão sombria dosmédicos que facilitam o cumprimento da pena de morte.

De acordo com as políticas de ética médica da Associação,os médicos não devem participar das execuções em qualquerposição oficial. Podem dar tranqüilizantes para aliviar aansiedade do prisioneiro, mas apenas se este solicitar.

A política da Associação afirma que os médicos não devemnem mesmo declarar que determinado prisioneiro está morto.Por que não? Em parte, porque o método de execução podenão funcionar da primeira vez. O médico teria então dedeterminar se e como a execução deve prosseguir. De acordocom relatos da imprensa, em 1984, um prisioneiro condenadoà execução na cadeira elétrica na Geórgia não morreu nahora. Ele se debatia enquanto os executores preparavamoutro choque. Depois que dois médicos declararam que oprisioneiro ainda estava vivo, ele foi eletrocutado. Desdeentão, o estado norte-americano da Geórgia mudou a práticade eletrocução para injeção letal.

Além disso, de acordo com a Associação, quando existemdúvidas sobre a imputabilidade de um prisioneiro, não cabe

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ao médico fazer essa determinação, embora ele possaoferecer sua opinião médica como parte do processo judicial.Se um prisioneiro for declarado inimputável, os médicos nãotêm obrigação de fornecer tratamento para restaurar acompetência, a menos que a sentença de morte seja alteradaantes do início do tratamento.

Oposição semelhante à participação dos médicos e deoutros profissionais de assistência médica em casos de penade morte vem do Colégio Americano de Médicos, daAssociação Americana de Saúde Pública e de outrosgrupos. As políticas dessas organizações não sãoobrigatórias. Não há unanimidade entre os médicos comrelação à pena de morte e alguns participam do processo.

O desprezo por regras e restrições administrativas do Dr.House parece ilimitado. No episódio "Hunting" ("ACaçada", 2-07), o fato de um pedido para realizar um testedifícil criar embaraços administrativos parece fazer com queo Dr. House sinta-se mais inclinado a realizá-lo. QuandoCameron sugere o teste, o Dr. House ri nervosamente aoimaginar a quantidade de papel que Cuddy terá de assinar.

O princípio da justiça social também se encaixa bem com avisão de mundo do Dr.

House. Em "Histories" ("Histórias"; 1-10), Foreman fica

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reticente em relação a uma mulher sem-teto que foi levada aohospital depois de desmaiar em uma batida policial. Mas oDr.

House entra direto no caso, com o mesmo fervor quedemonstra para descobrir a origem da dor em um pacienteabastado. Na verdade, um fervor ainda maior.

Em "Cursed" ("Amaldiçoado"; 1-13), um menino apresentador e problemas de respiração que parecem pneumoniacomum para o Dr. House. Cuddy convence-o a se interessarpelo caso... e ele pressente a influência do dinheiro.

"A maneira como você ignora minha pergunta... uau, elessão realmente endinheirados!", zomba House.

Mas e o princípio da autonomia do paciente? Bem, um índicede dois em três não é ruim. Quando se trata de violar odireito dos pacientes de decidir o que querem fazer, mesmoque não seja o que ele recomenda, o Dr. House tem umalonga lista de exemplos.

Durante uma cena em flashback em "Three Stories" ("TrêsHistórias"; 1-21), House e Stacy estão discutindo o melhortratamento para sua perna lesionada.

"Se fosse o caso de outro paciente, o que vocêrecomendaria?", pergunta Stacy.

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"Eu diria que é escolha do paciente"; responde o Dr. House.

"O quê? Sem chance! Você os intimidaria até que elesdecidissem fazer o que você considera certo".

Dr. Schwarzenegger-Welby

"Ele é uma espécie de dr. Schwarzenegger-Welby. Estámunido de todas as armas, mas também é como os antigosmédicos de 1955, que faziam tudo sozinhos". É assim que obioeticista Arthur Caplan, Ph.D., descreve o modo como oDr. House destrói as doenças com os últimos medicamentose dispositivos disponíveis na medicina moderna, ao mesmotempo em que ignora propositadamente as restrições dosregulamentos e da burocracia, evocando os antigos médicosdas décadas passadas.

House sente compaixão, só que de modo relutante. Suaversão do velho Dr. Marcus Welby concentra toda suaatenção no único paciente à sua frente, sem o calor e a auraque cercavam o ator que interpretava o médico na televisãopara uma geração anterior.

Como diretor do Centro de Bioética da Universidade daPensilvânia na Filadélfia, o Dr. Caplan é versado nasobrigações e responsabilidades que os médicos têm paracom seus pacientes e colegas. Sua avaliação é direta sobre apouca habilidade social e o freqüente desprezo pelos

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sentimentos e desejos dos outros demonstrado pelo Dr.House.

"Um médico assim teria uma carreira muito curta", afirma."Estaria tão ocupado se defendendo nos tribunais que nãoteria tempo para clinicar, porque estaria sendo acusado dementiras, de falta de transparência, de não atender àssolicitações diretas de pacientes competentes e também denão exercer a medicina de acordo com as práticas médicasnormalmente aceitas."

"House é uma espécie de iconoclasta que pode fazer tudoisso sozinho. No entanto, não existe uma pessoa assim. Eleseria considerado intolerável pelos colegas, um idiotacompleto. Para trabalhar na medicina moderna, é preciso terhabilidades sociais."

House viola constantemente as orientações de seuspacientes. No episódio "DNR"

("Ordem para Não Ressuscitar"; 1-09), ele salva um pacienteque assinou uma declaração para "não ressuscitar" e depoisdescarta as objeções de seus colegas, declarando que querpraticar medicina, em vez de debater questões éticas.Entretanto, ética e medicina são inseparáveis. O objetivo damedicina não é simplesmente manter corações batendo epulmões bombeando por mais tempo, mas sim servir aos

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interesses do paciente.

O Dr. Caplan ressalta que a doença é do paciente, não domédico. No mundo real, os pacientes, muitas vezes, não serecuperam; em geral, não enfrentam escolhas simples ediretas entre vida e morte. O desafio regular para um médicoé auxiliar o paciente a administrar uma doença e, por fim, amorte, de meios que sejam consistentes com os valores dopaciente.

Mas será que o sucesso não serve de desculpa para boaparte do comportamento de House... e não admiramos amaneira inteligente e eficaz como ele consegue vencer aburocracia e os entraves administrativos? Não queremosque nossa assistência médica seja mais parecida, com aversão que é retratada no seriado?

"Não, nós detestaríamos", afirma o Dr. Caplan."Reinventamos a medicina por volta de 1960. E as pessoasnão gostaram. Sentiram-se diminuídas. Sentiram-seintimidadas.

Sentiram que não faziam parte de decisões cruciais,"

O Dr. Caplan concorda que se um médico realmente tivesseo registro praticamente perfeito de diagnósticos corretos ecuras aparentemente miraculosas, como as do Dr. House,talvez conseguisse escapar com seu comportamento

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inadequado, jeito relaxado de se vestir e insubordinação.Mas não existe um médico assim. No mundo real, os médicossão falíveis, as opções de tratamento não são ideais e ascuras dramáticas são poucas e esporádicas.

Existem fortes motivos pelos quais a medicina deixou paratrás a era em que médicos independentes eram mestresinquestionáveis de seus domínios.

"Será que as pessoas gostariam que houvesse menosburocracia, papelada e menos advogados? Sim, masrealmente não gostariam de viver em um mundo em que omédico toma todas as decisões e basicamente descarta opaciente e seus colegas. A medicina hoje é praticada emequipe e exige muita cooperação"; afirma o Dr. Caplan.

Os pacientes querem que seus médicos recomendem quaistestes ou opções de tratamento são melhores. E muitospacientes querem que seus médicos dêem as cartas. Afinalde contas, eles estão pagando pela especialização médica.Embora a ciência e a experiência clínica sejam componentesnecessários do processo de tomar uma decisão, nãoconstituem o único fator nessa equação.

Quando uma mulher com dor no tórax por causa de umadoença cardíaca tem de decidir entre tomar pílulas paraaliviar a condição ou submeter-se a uma cirurgia de

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revascularizaçáo do miocárdio que pode fazê-la se sentirmelhor e melhorar sua vida diária, a paciente é a única queconsegue reunir os fatos médicos e combiná-los com seusvalores e crenças, para decidir se as potenciais recompensasadicionais da cirurgia compensam os riscos de complicaçãoou mesmo o risco de morte.

Quando um homem fica sabendo que tem câncer de próstatae que a cirurgia ou a radiação podem reduzir as chances de adoença se espalhar, mas que os médicos não podem prevercom confiança se ele vai ou não viver mais tempo por contadisso - e que o tratamento, provavelmente, vai deixá-loimpotente e talvez com incontinência urinária -, os médicosnão devem impor suas crenças sobre os valores relativos daqualidade ou quantidade de vida.

Infelizmente, os pacientes talvez nem recebam asinformações básicas que lhes permitiriam tomar uma decisãoinformada. De acordo com um estudo no Annals of InternalMedicine, publicado em 2004, menos de dez por cento dosmateriais educacionais fornecidos para pacientes com câncerde próstata descrevem todas as opções de tratamento.Mesmo quando os materiais pelo menos mencionavam todasas opções, não apresentavam informações abrangentessobre os riscos e benefícios cada tratamento. A cada ano,nos Estados Unidos, quase 250 mil homens precisam decidiro que fazer depois de receber um diagnóstico de câncer de

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próstata. Parece que poucos recebem as ferramentasadequadas para exercer seu direito de tomar decisõesmédicas bem fundamentadas.

Consentimento informado

Em vez de simplesmente concordar com a recomendação domédico, os pacientes devem assinar um termo deconsentimento informado, o que significa que não sóconcordam com a decisão, como também compreendem qualserá a opção de tratamento a ser seguido. Se questionadosmais tarde, os médicos não terão a desculpa de dizer que o"pobre coitado assinou o formulário; não é minha culpa seele não entende o que está escrito!". Que pena que essanorma não se aplique a contratos de empréstimos e ainstalações de softwares de computador!

De acordo com uma declaração da Associação MédicaAmericana, o processo de comunicação que leva aoconsentimento informado para determinado procedimentomédico não é apenas um ideal ético; é exigido por lei emtodos os estados norte-americanos. Embora oconsentimento informado tenha um longo histórico na éticamédica, a história jurídica tem apenas cinqüenta anos.

Os médicos, em geral, querem que os pacientes entendamquais são suas opções médicas, mas comunicar com eficácia

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as informações necessárias pode ser um desafio.

Em "Paternity" ("Paternidade", 1-02), Foreman tentouconversar com os pais do paciente sobre uma opção detratamento, mas desistiu.

- Confirmamos que o problema é esse vírus mutante - emseguida, Foreman diz mais para o final do episódio. - Otratamento para panencefalite esclerosante subaguda éinterferon intraventricular. Implantamos um reservatório deOmmaya sob o couro cabelo, que está conectado a umcateter ventricular e direciona o antiviral diretamente para ohemisfério esquerdo.

- Você quer que autorizemos isso? Nem consigo entender oque você está dizendo! -

diz o pai do paciente.

- Bem, o antiviral... Bem, desculpe, posso explicar da melhormaneira possível, mas a hipótese de que vocês realmentevão compreender o tratamento para a condição de seu filho eassinar um termo de consentimento informado é, a meu ver,meio absurda - afirma Foreman. -

Eis o que vocês precisam saber: é perigoso, pode matá-lo,mas vocês deveriam aceitar.

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Nesse caso, Foreman parece desistir antes mesmo de tentar.Muitos médicos obtêm consentimento informado de seuspacientes para o uso de reservatórios de Ommaya a fim deadministrar drogas diretamente ao cérebro do paciente. Aseguir está o exemplo de um termo de consentimento de umensaio para terapia contra o câncer:

Procedimento cirúrgico

Duas a seis semanas após a conclusão da radioterapia, vocêserá submetido a um procedimento cirúrgico para colocar umtipo especial de cateter ou tubo no meio do tumor localizadoem seu cérebro. Esse cateter se chama reservatório deOmmaya modificado. A única parte do cateter que vocêconseguirá ver ou sentir estará sob o couro cabeludo.

Riscos associados com o reservatório de Ommaya

Infecção

Ruptura da membrana, que pode resultar na substituição doreservatório O medicamento interferon é usado como rotinapara tratar hepatite e outras doenças.

Introduzir o fármaco diretamente nos espaços do cérebro,denominados ventrículos, é um pouco incomum, mas essetratamento intraventricular não parece ser uma situaçãoextraordinariamente complexa.

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A atitude fatalista sobre o consentimento informadoassumida por Foreman nesse episódio do seriado parece tersido "criada para chocar... pelo menos espero que essetenha sido o caso e que ninguém trate seus pacientes dessamaneira"; afirma o Dr. Craig Campbell.

O Dr. Campbell é neurologista pediátrico no ChildrensHospital of Western Ontário e da University of WesternOntario, em London, no Canadá.

Embora nunca tenha realizado o procedimento, pois não écirurgião, o Dr. Campbell foi co-autor de um estudo sobre apanencefalite esclerosante subaguda e seu tratamento noCanadá, recentemente publicado em BMC Pediatrics. Eleafirma que o procedimento de inserir um reservatório deOmmaya não deve ser difícil de explicar aos pacientes ou aseus pais. A seleção do interferon ou de qualquer outrofármaco é mais complicada, principalmente porque existempoucas evidências concretas sobre que tratamento funcionamelhor nesses casos.

"Em grande medida, os tratamentos médicos têm uma baseempírica ou, na melhor das hipóteses, [baseiam-se] emestudos observacionais que levam a uma grande dose deincerteza sobre a melhor estratégia de manejo. Entretanto,considerando que a doença tem um desfecho devastador,seria esperado que os pacientes recebessem a terapia

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agressiva do mesmo modo que os pacientes no relatório quepublicamos. Minha experiência clínica ao longo dos anosmostra que, com alguma paciência e explicação cuidadosa, oconsentimento informado pode ser alcançado mesmo diantedas decisões mais complexas"; afirma o Dr. Campbell.

O Dr. Michael Vassilyadi, neurocirurgião da Universidade deOttawa e do Children's Hospital of Eastern Ontario emOttawa, no Canadá, lembra de um procedimento semelhanteao descrito no seriado. "Era o caso de uma menina de 6 anoscom histórico de sarampo"; lembra o Dr. Vassilyadi. Amenina desenvolveu convulsões mioclônicas como as quechamaram a atenção do Dr. House. A medicaçãoanticonvulsivante e os fármacos antivirais orais nãoestabilizaram a condição da menina, por isso a equipe médicadecidiu tentar o tratamento com interferon intraventricular.

"Expliquei o procedimento ao pai da paciente, assim como osriscos e as complicações, que incluíam infecção, hemorragiaintracraniana e derrame, que poderiam criar futuradeterioração neurológica"; afirmou o Dr. Vassilyadi.

"Assim que o procedimento foi claramente apresentado aopai, com o uso de ilustrações bastante úteis, elecompreendeu bem a situação e consentiu. O que énecessário é bastante tempo para dar todas as explicaçõesem um ambiente agradável, com todos os presentes

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confortavelmente sentados, e tempo suficiente para permitirque o procedimento seja bem entendido e que todos osriscos envolvidos no processo sejam bem avaliados,incluindo tempo para responder às perguntas dos pais comtoda a atenção possível".

O Dr. Vassilyadi também observa que o procedimentocirúrgico para a inserção de um reservatório de Ommaya érelativamente direto para um neurocirurgião pediátricomédio.

Além de pintar um quadro assustador e incompleto para ospais do paciente em

"Pacernity", Foreman, aparentemente, nunca ofereceu aospais informações sobre alternativas à terapia com interferonque ele recomendara. Existem várias drogas diferentes quesão usadas para tratar panencefalite esclerosante subaguda.Mesmo quando um médico acredita que uma opção émelhor, o paciente precisa saber quais são os prós e oscontras das várias opções, para ser capaz de tomar umadecisão realmente bem informada.

Embora pareça que a maioria dos médicos seja capaz deexplicar essa estratégia de tratamento aos pacientes, a cenailustra desvantagens mais amplas das atuais práticas deconsentimento informado. Muitos pacientes, particularmente

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aqueles com baixo nível de instrução ou que falam inglêscomo segundo idioma nos Estados Unidos, têm dificuldadede compreender até mesmo informações e conceitos médicosde rotina.

Um artigo publicado em um periódico da SociedadeAmericana de Câncer citou um estudo que reportou que ospacientes com baixos níveis de instrução em geral nãoentendem termos básicos como rastreio, cólon, tumor... ouaté mesmo cura.

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dosEstados Unidos (CDCs), juntamente com outras instituiçõesde saúde do país, recomendam que os formulários deconsentimento devem ter o nível de leitura e compreensãode um aluno da sétima série do Ensino Fundamental.Alcançar esse padrão, sem simplificar demais asinformações, representa um desafio difícil.

Uma pesquisa publicada no New England Journal ofMedicine verificou que os formulários de consentimento emgeral são mais difíceis de entender do que o esperado. O Dr.

Michael K. Paasche-Orlow, mestre em Saúde Pública, e seuscolegas pesquisaram sites de mais de cem faculdades deMedicina nos Estados Unidos e compararam os padrões delegibilidade conforme os centros de ensino com exemplos de

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modelos de formulários de consentimento tambémencontrados nos mesmos sites das faculdades de Medicina.Em geral, os formulários eram quase três vezes mais difíceisde ler do que o esperado. Ou seja, se a norma da escola eraque o formulário de consentimento deveria ter sido escritopara o nível de um aluno da sétima série do EnsinoFundamental, o modelo fornecido aos pesquisadores naescola exigiria que os pacientes tivessem condições de lercomo alunos do nono ano.

Quando o comitê da Associação Médica Americanapublicou um relatório sobre o nível de conhecimento emsaúde no Journal of American Medical Association que,entre outras recomendações, determinava que os médicosdeveriam compartilhar mais as informações quanto àsnecessidades dos pacientes, alguns leitores rapidamenteapontaram que a própria página da publicação intitulada"Patient Page"; ou página do paciente, em geral, exigia umnível de leitura de Ensino Médio, superando em muito acapacidade de leitura do adulto médio dos Estados Unidos.Os membros do comitê reconheceram o problema. Elesafirmaram que estavam revisando a "Patient Page" parafacilitar sua leitura.

Mesmo quando os médicos conseguem explicar bem osfatos e as alternativas para que os pacientes entendam suasopções, muitas vezes existe um cabo-de-guerra entre as

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táticas médicas agressivas e os valores pessoais... entrefazer todo o possível para vencer a doença e moderar aintensidade da batalha, para satisfazer outras preocupaçõesou aspirações do paciente.

Esse difícil equilíbrio entra em foco no final da vida. Umarevisão dos principais hospitais dos Estados Unidosrealizada por pesquisadores do Dartmouth Medical Schoolrevela grandes variações na quantidade de remédiosempregados durante os seis meses finais na vida dospacientes. Em alguns hospitais, os pacientes tinham, emmédia, menos de dez dias de internação durante os seismeses finais de vida, enquanto em outros hospitais a médiada permanência era de quase um mês inteiro.

Todos os hospitais contavam com equipes excepcionais quesupostamente tinham conhecimentos equiparáveis sobre ascapacidades e as limitações dos tratamentos médicos. Asestatísticas dos hospitais foram ajustadas para levar emconta idade, sexo e doença dos pacientes.

Houve uma variação também muito grande com relação aolocal da morte. Se tiverem opção, os pacientes preferemvoltar para casa quando se torna aparente que o tratamentohospitalar intensivo continuado não vai causar melhorassubstanciais em sua saúde ou longevidade.

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Apesar de terem substancialmente as mesmas opçõesmédicas disponíveis, as escolhas com relação a continuar otratamento agressivo até o final ou passar os dias finais comamigos e a família em um ambiente familiar eram muitodistintas em diferentes hospitais. Em alguns centros, cincoem cada seis pacientes vão para casa, enquanto em outroshospitais mais da metade prefere ficar no hospital.

As escolhas sobre o cuidado a ser recebido no final da vidae de quando é o momento de lançar mão do arsenal detecnologia médica moderna são fruto das crenças e dosvalores dos pacientes, e de como esses valores sãohonrados pelos médicos.

Enquanto isso, o Dr. House parece não estar muitopreocupado com os valores dos pacientes, se foremcontrários a seu julgamento.

No primeiro episódio, a paciente estava cansada de serbombardeada por tratamentos exaustivos, um após o outro.

- Quero simplesmente morrer com um pouco de dignidade -afirmou.

O Dr. House explode:

- Não existe isso! Nossos corpos sucumbem, às vezes aos 90anos, às vezes antes de nascermos, mas sempre acontece e

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em nenhum momento existe dignidade. Eu não me importo sevocê consegue andar, ver ou fazer sua higiene pessoal. Ésempre feio, sempre! -

ele grita para a paciente.

Em "Damned lfYou Do" ("Se Correr o Bicho Pega"; 1-05), apaciente, uma freira, deseja sair do hospital.

- Essa doença é uma prova de minha fé - ela afirma. - Se forvontade de Deus me levar, não importa onde eu esteja. Euaceito isso.

O Dr. House não gosta de ver seus conselhos rejeitados eparte para a ofensiva.

- Será que alguém acredita no que você diz? Você não estáaceitando. Está fugindo, como sempre faz, aliás - ele afirma.

"Em primeiro lugar, a atitude do Dr. House com seuspacientes nunca seria tolerada em qualquer organização, ecertamente não em Princeton. Esse comportamento étotalmente absurdo", afirma Joanne Ritter-Teitel, Ph.D. eenfermeira registrada. A Dra. Ritrer-Teitel é enfermeira-chefedo Centro Médico universitário em Princeton, no estadonorte-americano de Nova Jersey, bem perto do hospital-escola fictício de Princeton-Plainsboro, onde o Dr. Housetrabalha.

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Ela afirma que pacientes e familiares deveriam procuraroutros especialistas ou outros administradores hospitalares,exigindo ações mais enérgicas contra qualquer médico queagisse como o Dr. House.

"Não me importa que tipo de cura o sujeito realiza. EmPrinceton, ou em qualquer outro hospital hoje em dia, essetipo de comportamento nunca seria tolerado. Nunca. Eleseria enviado a um centro para médicos perturbados. Eleseria enviado a todos os tipos de treinamento possíveis pararesolver esse comportamento; isso não seria tolerado";afirma a doutora.

O Dr. House não só é rude e áspero; ele chega até a mentirpara conseguir que determinado paciente concorde em fazerum teste ou siga uma linha de tratamento.

Em "Poison" ("Veneno", 1-08), o Dr. House deseja adotar umtratamento experimental e potencialmente perigoso. A mãedo paciente não está convencida. Assim, ele pede queChase finja ser um cientista do CDC para evitar que a mãe dopaciente receba uma segunda opinião que possa diferir desua própria perícia.

Em "Detox" ("Desintoxicação", 1-11), o Dr. House tem umalógica complicada para recomendar um tratamento arriscado.No entanto, em vez de respeitar a capacidade do pai do

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paciente de compreender sua linha de raciocínio, o Dr.House determina que Cameron minta para o pai; assim, eleaderirá ao tratamento e dará seu consentimento.

Embora mentir aos pacientes seja uma clara violação dosprincípios éticos, deixá-los alheios a essas informaçõesinfelizmente é uma prática comum. Em 1999, o Dr. Clarence H.

Braddock III, mestre em Saúde Pública, e seus colegaspublicaram uma análise no Journal of the American MedicalAssociation que reportou que poucos médicos parecemenvolver seus pacientes em processos de tomada dedecisões clínicas. Os pesquisadores investigaram mais demil encontros entre médicos e pacientes envolvendodezenas de médicos e cirurgiões. De acordo com os padrõesdos pesquisadores, menos de uma decisão em cada dezenvolveu o paciente por completo. Dentre os mais deduzentos encontros entre médicos e pacientes queenvolveram decisões complexas, somente uma decisão levouem conta as idéias do paciente por completo.

Para o Dr. House, a escolha certa está sempre clara e acimade qualquer debate. Ele acredita que sabe mais do que seuspacientes e que conhece bem seus interesses. Apesar deseu juramento de médico, o Dr. House, aparentemente,sente-se justificado para fazer o que for preciso para que ospacientes se dobrem à sua vontade.

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Mãe ou feto?

Pesar os riscos e os benefícios do tratamento de câncer édifícil o suficiente para qualquer paciente, mas, quando setrata de uma mulher grávida, a complexidade e o trauma detomar qualquer decisão se multiplicam.

Em "Babies and Bathwater" ("Bebês e Banheiras", 1-18),uma jovem com sintomas neurológicos e outros sinaisdescobre que está sofrendo de uma síndromeparaneoplásica causada por câncer de pulmão de pequenascélulas. Ela não é fumante. Além disso, está grávida de 28semanas. Wilson aconselha a realização de uma cesarianaimediatamente, para que a mãe possa iniciar o tratamentocom quimioterapia e radiação.

Embora esses casos sejam raros, efetivamente ocorrem.

O Dr. John C. Ruckdeschel, diretor do Barbara AnnKarmanos Câncer Institute de Detroit, no estado norte-americano de Michigan, afirma que as síndromesparaneoplásicas são o primeiro sinal de câncer de pulmão emcerca de cinco por cento dos casos que ele atende.

"São síndromes muito confusas. Eu tive pacientes muitojovens, com menos de 30

anos, que não eram fumantes", afirma o Dr. Ruckdeschel. "É

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algo que acontece e que os médicos têm uma tendência ruimde ignorar, porque não estão procurando esses casos. Osnão fumantes podem ter câncer de pulmão, principalmente asmulheres."

Ele afirma que os pacientes são em geral fumantes passivosem casa ou no trabalho, embora, às vezes, a causa do câncernunca seja determinada.

Em média, o Dr. Ruckdeschel afirma que os pacientes comcâncer de pulmão que apresentam síndrome paraneoplásicacomo os primeiros sintomas da doença têm prognóstico piordo que outros pacientes com câncer de pulmão.

Ele encontra mulheres grávidas com câncer algumas vezespor ano. Na verdade, esses casos são encaminhados aespecialistas nos grandes centros de tratamento de câncerpor causa da complexidade tanto do tratamento em si quantodas escolhas pessoais que as pacientes precisam fazer.

Felizmente, no mundo real, pacientes e cônjuges raramenteprecisam escolher entre a vida da mãe e a sobrevivência dofeto. No terceiro trimestre de gestação, depois de cerca de 27semanas, em geral, é razoavelmente seguro iniciar otratamento sem risco substancial para o feto.

"Os dados sugerem que, se a gestação chegou ao terceirotrimestre, as chances de haver problemas cognitivos ou de

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desenvolvimento significativos para o feto são muito baixas.No primeiro ou no segundo trimestres, a probabilidade émaior", afirma o Dr.

Ruckdeschel. "O que tendemos a fazer em caso de câncerque exige tratamento imediato, sem possibilidade de esperade um ou dois meses, é tratar a mãe com o bebê no úteronesse estágio, monitorando para identificar sinais de algumaperturbação do feto. Desse modo, existe a chance de chegarao fim da gestação normalmente. Eu não me sentiriaobrigado a fazer uma cesariana imediatamente, em caso deuma gravidez no terceiro semestre."

O Dr. Ruckdeschel afirma que ele e seus colegas já usaramcom sucesso quimioterapia relativamente agressiva duranteo terceiro trimestre. Mesmo a radioterapia pode ser usada emuma mulher grávida, se o feixe puder ser focado para limitar aexposição do feto. Além disso, esperar um pouco, até mesmoalgumas semanas, é razoável na maioria dos casos de câncerdurante a gravidez. O Dr. Ruckdeschel afirma que o câncer éum processo longo.

"Uma semana ou duas não representam um problema comrelação à biologia geral do câncer", ele afirma. "Esperar umasemana será uma questão trivial nesse caso, se algum órgãovital não estiver sendo pressionado."

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A quimioterapia e a radioterapia são extremamente perigosaspara o feto no início da gravidez, em especial no segundomês de gestação, quando os principais órgãos estãocomeçando a se formar.

O Dr. Ruckdeschel afirma que, em todos os casos que jáatendeu, as pacientes no primeiro trimestre decidiraminterromper a gravidez. Mas esta nunca é uma decisão fácil.

"Todos esses casos são difíceis. São casos que exigemconhecer bem a paciente, conversar com ela e apresentarclaramente a situação: 'Existe uma alta probabilidade não sóde prejudicarmos o feto, mas de matá-lo", afirma o doutor.

"Você estará diante de uma jovem que está vivendo um dosmomentos mais felizes de sua vida, que não está esperandoreceber essa notícia e, de repente, seu mundo vem abaixo.No entanto, quando a sobrevivência da mãe entra em jogo enão há chances para o bebê, em geral o marido e a esposachegam à conclusão de que esta é a melhor decisão naquelemomento. Vão sofrer com isso e se sentir angustiados, mas,em geral, optarão por salvar a vida da mãe."

Se for possível adiar o tratamento ou se parecer que osriscos ao feto são aceitáveis, os pais normalmente optam pormanter a gravidez. Para pacientes com câncer de pulmão depequenas células, contudo, independentemente da decisão

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tomada, o prognóstico de longo prazo é ruim.

"Mesmo com tratamento, as chances de cura sãoprovavelmente menos de dois por cento. A chance de teruma remissão em um ou dois anos é boa, mas essespacientes não levarão uma vida normal", afirma o Dr.Ruckdeschel. "Quando uma situação assim atinge umapessoa jovem, ela deve se agarrar a qualquer chance de cura,por menor que seja, e isso faz todo sentido. Eu as estimulo aseguir em frente."

Outros tipos de câncer também são detectados em mulheresgrávidas. Um encontro recente de especialistas em nívelinternacional revisou estudos de câncer de mama durante agravidez. Os especialistas afirmaram que as pacientesgrávidas tiveram resultados tão bons quanto as não-grávidas. A maior parte dos casos de câncer de mama emmulheres grávidas é tratada com sucesso.

Em geral, a cirurgia de câncer de mama pode ser realizadadurante a gravidez. Vários fármacos quimioterápicos tambémforam usados, embora o tratamento possa ser adiado até agestação passar dos três meses. A radiação, em geral, só éusada depois do parto.

Normalmente, o câncer de mama não parece criar conflitosurgentes entre a saúde da mãe e a do feto.

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O obstetra Eytan R. Barnea, que co-editou o livro Câncerand Pregnancy, afirma que, quando uma gravidez chega aoterceiro trimestre, em geral é possível dar à luz se necessário,para evitar conflitos com o tratamento contra o câncer damãe.

"Decisões realmente difíceis sobre a sobrevivência do fetopodem ser tomadas cada vez mais cedo no processo", eleafirma. "Assim, quando a decisão de tratar o câncer da mãeou de tirar o feto primeiro é tomada, isso se resume a casosem que há viabilidade ou não. E

hoje em dia a viabilidade pode ser alcançado depois de 27 ou28 semanas."

O Dr. Barnea afirma que os riscos para o feto são maiores noinício da gravidez.

Preocupações sobre a toxicidade da quimioterapia ou daradiação são maiores durante a quinta até a oitavo semanade gestação. Se o tratamento não puder ser atrasado porpelo menos algumas semanas, então a interrupção dagravidez pode ser a única alternativa nesse ponto.

Durante o segundo trimestre, o feto tem maiores chances desuportar a quimioterapia, e mesmo a radioterapia é possível,se o feto puder ser protegido. Entretanto, nesse estágio degravidez, é preciso esperar pelo menos de oito a dez

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semanas para fazer o parto. O Dr. Barnea afirma que o câncercervical invasivo descoberto no meio da gestação poderepresentar uma escolha difícil.

"Eu nunca tive de tomar essa difícil decisão, mas existemcasos na literatura de mulheres com câncer cervical invasivoque precisam se submeter a uma histerectomia imediata einterromper a gravidez para iniciar a radioterapia. Seanalisarmos a literatura, veremos que essas são decisõesmuito difíceis", ele afirma.

Mesmo nos casos de câncer cervical, existem relatos detratamentos bem-sucedidos que permitiram que a gravidezcontinuasse ou que preservaram a fertilidade da mulher apóso tratamento. A maior parte dos casos de câncer cervicaldescobertos durante a gravidez ocorre nos primeirosestágios de gestação. Uma revisão do conhecimento médicoatual feita pela Dra. Carolyn Muller e pela Dra. Harriet Smith,do University of New Mexico Health Sciences Center,descobriram que "existem indícios significativos de que oatraso no tratamento do câncer em estágio inicial não tendea ter um efeito deletério para a mãe e que o atraso notratamento até a maturidade do feto em uma gravidezdesejada é um curso de ação razoável."

Entretanto, o relatório afirma que existem poucasinformações para orientar médicos e pacientes na hora de

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tomar decisões difíceis como essas em casos de câncer maisavançados. Felizmente, o câncer cervical avançado já é umacondição rara nos Estados Unidos e em outras naçõesdesenvolvidas graças ao exame de papanicolau. E o númerode casos no mundo todo pode cair drasticamente naspróximas décadas, por conta de uma nova vacina contra ostipos de papilomavírus humanos sexualmente transmissíveis,que são a principal causa de câncer cervical.

Deve-se observar que o Dr. House está tão disposto amentir para os colegas quanto para os pacientes. Em"Control" ("Controle"; 1-14), ele enganou um comitê detransplante de órgãos para fazer com que sua pacienteficasse no topo da lista de espera. Ele não informou aosmembros do comitê que o coração da paciente fora afetadopor causa do abuso de ipeca como parte de um distúrbioalimentar. Esses dados poderiam ter atrapalhado as chancesde a paciente conseguir um coração a tempo.

No final das contas, por causa de sua omissão, a paciente foicolocada na frente de outros que estavam esperando novoscorações. Como não existe um número suficiente de órgãosdoados para todas as pessoas que precisam deles, muitospacientes morrem todos os anos à espera de uma chamadaque nunca chega.

Assim, embora a paciente do Dr. House tenha recebido um

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coração novo e a chance de uma nova vida, alguém na filade espera não conseguiu.

O Dr. House também exagerou os fatos sobre sua pacientepara que ela fosse considerada para um tratamentoexperimental de câncer no episódio "Babies and Bathwater"

("Bebês e Banheiras"; 1-18). E, em "The Socratic Method"("O Método Socrático", 1-06), ele injetou álcool no tumor dofígado de sua paciente, desidratando-o e causando seuencolhimento temporário. O golpe enganou um cirurgião,fazendo-o acreditar que o tumor era menor e mais fácil deremover. O Dr. House conseguiu o que queria, mesmo que averdade tenha sido sacrificada.

Às vezes, o Dr. House viola a lei. Quando soube que suapaciente de 15 anos em "Skin Deep" ("A Top Model", 2-13)tivera relações sexuais com o pai, ele decidiu não informarimediatamente. Em Nova Jersey, quem quer que tenhamotivos para acreditar que houve abuso de menores temobrigação de informar o fato às autoridades. A penalidademáxima por não informar é seis meses de prisão.

Embora as leis variem de um estado para outro nos EstadosUnidos, os médicos e outros profissionais da saúde, emgeral, estão dentre as pessoas com obrigatoriedade deinformar crimes. Esses requisitos significam que, quando um

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médico suspeita de abuso infantil, tem o dever cívico deregistrar a ocorrência; não há espaço para preferênciaspessoais.

A desculpa do Dr. House foi que o pai também era pacienteseu e, portanto, qualquer informação dada pelo pai eraprivilegiada e não poderia ser revelada às autoridades.Mesmo que o pai tivesse sido seu paciente (uma alegaçãoquestionável), a confidencialidade entre médico e pacientenão impede o relato de casos de abuso de menores.

No episódio, Cameron contou a Cuddy sobre a alegação deincesto. Cuddy seguiu a lei e notificou as autoridades. Noentanto, o resultado não foi o que Cameron esperava.

Uma assistente social apareceu imediatamente e conversoucom o pai e depois com a filha. Passou por Cameron quandosaía.

- Essa foi rápida. O que vai acontecer? - perguntou Cameron.

- O que você achou que iria acontecer? - retruca a assistentesocial.

- O pai transou com ... - Camerou começou a dizer.

- Existem evidências médicas disso?

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- Ele admitiu.

- Ele afirma que essa conversa sequer existiu. Ela tambémnega. Tenho certeza de que sua intenção foi boa.

A assistente social vira-se e sai de cena, parecendodescartar as alegações como perda de tempo.

A alegação de que um pai manteve relações sexuais com suafilha de 15 anos não seria descartada de modo tão casual, deacordo com Andy Williams, porta-voz do Departamento deServiços Humanos de Nova Jersey. Embora possa realmenteser difícil provar abuso quando ambas as partes negam oevento, ele afirma que os investigadores normalmenteentrevistam todos os demais envolvidos que possam teralguma informação. Isso significa que o Dr.

House seria entrevistado, juntamente com outros membrosda família, amigos, professores, entre outros. Embora o Dr.House possa não ter seguido a obrigação de informar o fatoàs autoridades, Williams ressalta que ele não se lembra denenhum caso em que o médico tenha sido processado pornão reportar um caso de abuso de menores.

Além disso, quando a assistente pede a Cameron evidênciasmédicas, esta seria capaz de ter respondido que um exameseria capaz de mostrar que a menina era sexualmente ativa,servindo de algum suporte para as alegações de abuso,

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embora questionando as declarações da menina emcontrário.

Uma menina de 15 anos é jovem demais para consentir emmanter relações sexuais; isso é considerado estuproestatutário. Se a equipe responsável pelos casos de famíliasuspeitar que tenha ocorrido um crime, o relatório doinvestigador, provavelmente, será encaminhado àsautoridades policiais.

Conflitos de interesse

Um componente importante na colocação do bem-estar dopaciente acima de tudo é evitar conflitos com outrasinfluências, incluindo dinheiro ou prestígio. O atrito entre osideais da medicina e as pressões da indústria são cada vezmaiores.

O Dr. House captou uma faceta desses conflitos na batalhacom Edward Vogler em relação a um discurso. No episódio"Role Model" ("Modelo Exemplar"; 1-17), Vogler épresidente do conselho de administração do Hospital-EscolaPrinceton-Plainsboro e proprietário de uma empresafarmacêutica. Ele pede ao Dr. House que faça um discursoelogiando o novo fármaco contra doenças cardíacas que suaempresa está comercializando.

House resiste, em parte porque não concorda com o fato de

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que o novo medicamento seja melhor do que outrosremédios similares e mais baratos. Quando Vogler diz queterá de despedir um dos membros da equipe se House nãofizer o discurso, ele recua. Mais ou menos.

No final das contas, o senso de honestidade de House e suaaversão a receber ordens vencerão: ele ridiculariza omedicamento e desconcerta Vogler na frente de um públicoinfluente.

As empresas farmacêuticas e de dispositivos médicosapreciam o apoio recebido de médicos renomados. Elaspagam para que os médicos sejam consultores, façampalestras e escrevam artigos elogiosos e, às vezes, essespagamentos concorrem ou são mais altos do que os saláriosnormais dos médicos. Os Institutos Nacionais de Saúde dosEstados Unidos (NIH) vêm travando uma batalha pararevisar a política referente a pagamentos de terceiros. Umrelatório publicado no Los Angeles Times em 2003 deu inícioao debate sobre as políticas do NIH, quando publicou umalista de importantes pesquisadores que, além de seussalários como funcionários do governo, recebempagamentos de fontes externas que chegaram, ao longo deum período de vários anos, a centenas de milhares dedólares cada.

Quando uma política mais restritiva foi anunciada pela

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primeira vez, alguns importantes pesquisadores e outrosestudiosos reclamaram, afirmando que, se os limites de rendaexterna fossem rígidos demais, os cientistas talentososabandonariam o trabalho em órgãos governamentais epartiriam para o trabalho no setor privado. As normasrevisadas finais proíbem o fornecimento de consultoriaexterna para a indústria e restringem a quantidade de açõesem empresas do setor médico que os principais funcionáriose executivos do NIH podem ter.

As principais publicações médicas também estão analisandoa influência do financiamento por parte da indústria e outrosconflitos. Os editores dos periódicos estavam preocupadoscom o fato de que os artigos médicos submetidos a elestalvez não fossem exatamente o que aparentavam ser;exatamente como o discurso do Dr. House, que nãomanifestou suas verdadeiras idéias, mas o que alguém cominfluência financeira acima dele queria que ele dissesse.

Como os editores do Journal of the American MedicalAssociation escreveram em um editorial de 2005: "Anecessidade de transparência na hora de reportar conflitosde interesse financeiros dos autores e as relações entre ospesquisadores e as fontes de financiamento nunca forammaiores do que hoje, e é fundamental ajudar a manter aconfiança e a crença na integridade científica dos artigos depesquisa médica."

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Qualquer autor que pretende que um trabalho sejaconsiderado para publicação no periódico deve fornecer asseguintes informações:

Declaração Financeira: Assinale a(s) caixa(s) adequada(s) aseguir (aplica-se aos últimos cinco anos e ao futuropróximo):

( ) Não tenho interesses financeiros relevantes nestemanuscrito.

( ) Garanto que todo apoio financeiro e material para estapesquisa e trabalho estão claramente identificados nomanuscrito.

( ) Certifico que todas as minhas afiliações ou envolvimentofinanceiro (emprego, consultorias, honorários, titularidadeou opções de ações, perícias, concessões ou patentesconcedidas ou pendentes, royalties) com qualquerorganização ou entidade que tenha interesse ou conflitofinanceiro relativo ao assunto ou aos temas discutidos nomanuscrito estão inteiramente revelados aqui.4

Outras importantes publicações médicas agora têmrequisitos semelhantes. Não proíbem que o financiador dapesquisa tenha interesses comerciais, mas exigemtransparência.

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O Dr. House expressou preocupação sobre o papel dainfluência comercial na assistência médica assim que soubeque Vogler, chefe da empresa farmacêutica, tinha se tornadopresidente do Conselho de Administração do Hospital-Escola Princeton-Plainsboro.

Especificamente, ele se preocupou com a pressão existenteem recrutar pacientes para ensaios clínicos quebeneficiassem a empresa de Vogler. Em "Conrrol"("Controle", 1-14), o Dr.

House disse para a Dra. Cuddy que a influência de Voglerfaria o hospital começar a agir mais como uma empresafarmacêutica. Ele estava preocupado com o fato de osmédicos começarem a pressionar os pacientes a fazer aspiores opções.

Além da preocupação quanto à influência do marketing nosrelatórios de pesquisa médica, as publicações também estãopreocupadas com a tentativa dos chefões da indústria demascarar qualquer notícia ruim sobre seus produtos. O NewEngland Journal of Medicine criticou duramente ospesquisadores envolvidos no escudo do analgésico Vioxxdepois de ter sido revelado que a morte de alguns pacientesnão fora incluída em um artigo que reportava a pesquisapublicado no periódico. O Vioxx foi retirado do mercado pelafabricante Merck, após relatos de um aumento inesperado

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no número de mortes por ataque cardíaco entre os usuários.

_______________________

4:Responsabilidade do autor, declaração financeira,transferência de direitos autorais e reconhecimento, Journalof the American Medical Association 295 (1) (4 de janeirode 2006):111.

Os editores da publicação médica ficaram furiosos com ofato de que o artigo submetido pelos autores era positivo emlinhas gerais e não incluiu todos os dados sobre mortes depacientes. Os autores afirmaram que as mortes ocorreramapós uma data de corte predeterminada. No entanto, oseditores da publicação argumentaram que a falta dessesdados induziu os próprios editores e leitores a erro.

Outro modo de potencialmente distorcer as informaçõessobre um novo medicamento ou dispositivo é realizar váriosestudos de pesquisa, mas divulgar apenas os resultadosfavoráveis dos ensaios. Embora as empresas privadastenham a obrigação de seguir leis que regulam experimentoscom humanos, não existe qualquer requisito no sentido dedivulgar os resultados dos ensaios realizados.

Em 2004, um grupo que representa publicações médicas deponta, chamado Comitê Internacional de Editores dePublicações Médicas, anunciou uma nova política. Os

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ensaios clínicos precisam ser publicamente registrados comantecedência, caso os pesquisadores desejem que seusresultados sejam considerados para publicação. Dessemodo, as empresas não teriam como esperar para ver osresultados antes de decidir se iriam ou não revelar que umestudo estava em andamento. O requisito de registro doensaio clínico tem como objetivo ser mais uma ferramentapara combater a divulgação seletiva de informação favorávelaos produtos de determinada empresa.

É fato que as palestras de médicos renomados, como a queVogler pressionou o Dr.

House a fazer, e os estudos publicados em periódicosmédicos são essenciais para as campanhas de marketing dosfabricantes de fármacos e de dispositivos. Essas campanhassão bem financiadas e administradas por especialistas noassunto.

Em "Sports Medicine" ("Medicina Desportiva", 1-12),Foreman flerta com a representante de um laboratóriofarmacêutico. Ela também paga um ótimo jantar para orestante da equipe, fazendo sempre referência aos produtosde sua empresa.

"Se o paciente decidir seguir o caminho da diálise, temosalguns produtos que vocês deveriam conferir"; diz a

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vendedora. Em seguida, convida todo mundo para umaconferência médica em Bermudas, onde a programaçãointensa envolve muito sol e mergulho, com apenas uma curtapalestra para configurar uma viagem de "trabalho".

O Dr. House aparece de repente, dá uma desculpa para selivrar da representante por alguns momentos e depois diz àequipe que ela está usando a todos para chegar a ele,porque ele tem mais condições de influenciar quais drogassão usadas no hospital.

Em 2002, a Pharmaceutical Research and Manufacturers ofAmerica (PhRMA) adotou um código de marketingvoluntário para seus associados que limita, mas não proíbe,presentes aos médicos. Entretanto, afirma que essespresentes devem ser algo que traga benefícios aospacientes; por exemplo, algo útil para uma clínica, como umcalendário ou um modelo de um órgão do corpo humano.Entretanto, tacos de golfe não seriam apropriados. Viagens ediversão são aceitos, se relacionados com algum trabalho deconsultaria ou treinamento para oradores ou consultores. Ocódigo permite que os representantes de vendas paguem oalmoço (ou o jantar) para os médicos, como a situaçãoretratada no seriado.

De acordo com a indústria farmacêutica, mais de 25 bilhõesde dólares são gastos anualmente na promoção de

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medicamentos. A maior parte desse montante, cerca de 16

bilhões de dólares, corresponde ao valor de "amostrasgrátis" dadas aos médicos. Cerca de 6

bilhões de dólares por ano são destinados diretamente aosmédicos. Apesar do código de marketing voluntário, umartigo recente publicado no Journal of the AmericanMedical Association levantou dúvidas quanto às práticasde marketing e destacou como alguns desses bilhões sãogastos:

"A lista seguinte, embora não-exaustiva, indica as interaçõescom a indústria que precisam ser levadas em conta:presentes, mesmo itens relativamente pequenos, incluindorefeições; pagamento para participação em seminários econferências, incluindo atividades on-line; educação médicacontinuada gratuita para médicos; diária paga para participarde reuniões ou encontros; pagamento para participaçãocomo orador; fornecimento de serviços de ghostwriter;suprimento de amostras grátis; bolsas para projetos depesquisa e pagamento para relações de consultoria."

Os autores argumentaram que todos os presentes dados aosmédicos, independentemente do tamanho, devem serproibidos. E recomendam que o sistema de

"amostra grátis" deve ser substituído por vouchers dados

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diretamente a pacientes de baixa renda para que os médicosse libertem do esforço promocional.

A Associação Americana dos Estudantes de Medicinatambém adverte para o fato de que os estudantes deMedicina precisam resistir à tentação dos brindes ofertadospelos representantes de vendas da indústria, até mesmocanetas com logotipos ou sanduíches. O

projeto PharmFree da Associação tem como objetivo reduziro envolvimento da indústria na vida diária dos médicos.

Atitude ruim

Por que o Dr. House segue o próprio caminho e despreza asnormas dos outros? Será que é só porque ele sabe, ou pelomenos acredita ser mais esperto do que todos? Será queacertar o diagnóstico justifica passar por cima de váriospadrões éticos e jurídicos em busca da cura? É sua própriabússola moral que o leva a sabotar os lances de marketingdos vendedores de medicamentos e até mesmo seu própriochefe temporário, Edward Vogler?

Ou será que parte dessa rebeldia é abastecida pela dorangustiante do músculo de sua coxa aleijada?

O Dr. House explicou no primeiro episódio da série quesofreu um infarto. O paciente com quem conversava pensou

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que ele tivera um ataque cardíaco.

Infarto do miocárdio é o termo técnico que significa ataquecardíaco. Miocárdio refere-se ao músculo do coração. Uminfarto é uma área de tecido que morreu por falta de oxigênio.Em um infarto do miocárdio típico, uma das pequenasartérias que fornece sangue ao músculo do coração ébloqueada por um coágulo, muitas vezes onde uma placa decolesterol se acumulou dentro do vaso sangüíneo. Essesvasos sangüíneos não são os grandes, pelos quais ocoração bombeia sangue até os pulmões e o restante docorpo. O tratamento tem como objetivo restaurar acirculação, abrindo o coágulo ou desviando o bloqueio pormeio de um enxerto de um novo vaso sangüíneo no coração.

Os infartos agudos do miocárdio, ou IAMs, comonormalmente são chamados, são extremamente comuns.Todos os anos, nos Estados Unidos, mais de 1 milhão depessoas sofrem um infarto do miocárdio. No entanto, comopraticamente qualquer caso apresentado no seriado, osinfartos dos músculos esqueléticos, como o da coxa, sãoextremamente incomuns.

O Dr. House apresentou um pouco mais de detalhes sobre alesão de sua coxa no episódio "Three Srories" ("TrêsHistórias"; 1-21). Ele explicou que um exame de ressonânciamagnética revelou um aneurisma, que é uma saliência

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anormal no vaso sangüíneo. O sangue no aneurismacoagulou, interrompendo a circulação sangüínea até suacoxa, levando à dolorosa morte do músculo.

Foram necessários três dias para que os médicos chegassemao diagnóstico de infarto da coxa. Não é por acaso,considerando que esses infartos do músculo esqueléticonão só são muito raros, como também quase todos os casosobservados na literatura médica envolvem pacientes comdiabete ou anemia falciforme. O Dr. House não parece serportador de nenhuma dessas condições crônicas.

Qualquer que seja o mistério que cerca a causa de sua lesãona perna, o Dr. House deixa muito claro o nível de dorcausada. Talvez o consumo regular de Vicodin, que ele usapara combater a dor, também afete seu julgamento.

O efeito do Vicodin e de outros poderosos medicamentospara dor sobre sua atitude e seu desempenho é um temarecorrente no seriado. Será que o uso do medicamento éadequado ou será que ele já está viciado? Infelizmente, aincapacidade médica devido ao abuso de substâncias legaise ilegais, incluindo álcool, drogas ou remédios com receita, éum problema grave e real.

Dor, drogas e médicos incapacitados

Vicodin é o nome de marca de uma pílula que combina

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hidrocodona e paracetamol. A hidrocodona é uma drogaopióide, semelhante à morfina. Age nos receptores deopióides no cérebro, com o alívio da dor como um dosefeitos. Paracetamol é o nome genérico do analgésicopresente no Tylenol.

Eis alguns nomes de marca para a combinação dehidrocodona e paracetamol: Vicodin

Lortab

Anexsia

Norco

Co-Gesi

Panacet

Lorcet-HD

Zydone

Não há dúvidas de que a dor crônica severa do tipo queaflige o Dr. House é real e que o uso prolongado deanalgésicos pode auxiliar na resolução da dor de modo maisrápido do que o normal.

A Dra. Seddon R. Savage, mestre, diretora do Centro

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Dartmouth de Dependência, Recuperação e Educação emHanover, New Hampshire, afirma que muitas pessoas comdor crônica vivem bem apesar de fazerem uso contínuo deanalgésicos, incluindo opióides, por longos períodos detempo. Na verdade, quando a medicação é usadaadequadamente, esses pacientes reagem melhor do que semas drogas. Embora esses medicamentos sejam quimicamentesemelhantes à heroína e ao ópio, há pelo menos um estudoque indica que pessoas com dor não ficam alteradas com asdrogas da mesma forma que um viciado ficaria. Ela afirmaque o estudo coincide com a experiência clínica de muitosespecialistas em dor.

Um ponto crucial para compreender o uso de analgésicos éque a dose, por si só, não é o elemento mais importante.

"A dosagem não informa se a pessoa está dependente damedicação ou fazendo uso terapêutico da mesma. Existempessoas que precisam de doses pequenas da medicaçãopara obter uma resposta terapêutica, enquanto outrasprecisam de doses muito altas para ter uma respostasatisfatória"; afirma a Dra. Savage.

O aspecto importante a ser observado, segundo ela, são asreações dos pacientes.

Estão alertas? Seu humor está normal? Estão seguindo a

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prescrição ou aumentando as doses prescritas?

No caso de alguém que precisa de forte alívio da dor por umperíodo longo e indefinido, como o Dr. House, a Dra. Savageafirma que procuraria alternativas ao Vicodin, porque essemedicamento precisa ser tomado em intervalos de poucashoras.

"Se alguém sente dor 24 horas por dia e precisa tomarVicodin a cada três horas, terá níveis sanguíneos variáveis.Seus níveis sangüíneos aumentarão e diminuirão,especialmente se a pessoa estiver usando o medicamentosegundo seu próprio critério, sem seguir a prescrição. Tomaruma medicação com efeito mais prolongado uma ou duasvezes ao dia permitirá uma ótima estabilidade sangüínea, quealiviará a dor sem períodos de abstinência. Além disso, serámenos provável que tenham períodos de confusão ouincapacidade cognitiva em função da falta do remédio";afirma a Dra.

Savage.

Existe uma variedade de formulações de liberaçãoprolongada de morfina e outros analgésicos. Existemadesivos transdérmicos que liberam o medicamento demaneira lenta e constante durante o dia. Também existembombas de medicamentos, algumas pequenas o suficiente

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para serem colocadas sob a pele, que automaticamenteinjetam o medicamento no corpo do paciente.

Em geral, os especialistas em dor afirmam que osubtratamento da dor intensa é tão importante, e talvez maiscomum, do que o uso excessivo ou a dependência dosanalgésicos. Uma importante lição advinda das pesquisassobre a dor é guardar o medo da dependência em suasdevidas proporções.

"Há um medo saudável e um medo desnecessário"; afirma aDra. Savage.

"Vemos os dois aspectos presentes na cultura médica atual.Temos alguns médicos que realmente não temem usaropióides e que acreditam piamente que essas substânciasnão causam dependência quando o paciente sente dor. Essetipo de médico prescreverá a medicação semnecessariamente monitorar o paciente de perto e, às vezes,isso causa problemas. Por outro lado, existem médicos quenão receitam opióides de jeito nenhum porque acreditam quetodos ficarão viciados".

"De algum modo, ainda não encontramos o meio-termoadequado. Ainda vejo essa grande divergência de opiniões.O que precisamos é do reconhecimento saudável de quecerca de dez por cento da população apresenta distúrbios de

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dependência que se manifestam ao longo de suas vidas.Isso significa que cerca de uma em cada dez pessoas quetratamos terá um risco maior do que as demais dedesenvolver dependência da medicação".

Como todos os remédios, os analgésicos potentes, como oVicodin, apresentam riscos e benefícios. Pacientes e médicosprecisam respeitar o poder das drogas e monitorar seu uso, afim de maximizar os benefícios, limitando os riscos, inclusiveo de dependência.

Em 2001, a Associação Médica Americana, a SociedadeAmericana de Dor e mais de 12 outros grupos ligados àsaúde, juntamente com a Drug Enforcement Administration(DEA) dos Estados Unidos, divulgaram uma declaraçãoconjunta, denominada Promoting Pain Relief andPreventing Abuse of Pain Medications: A CriticalBalancing Act. Em parte, a declaração dizia:

O abuso de drogas é um problema sério. Aqueles quelegalmente fabricam, distribuem, prescrevem e fornecemsubstâncias controladas devem estar conscientes e respeitaro potencial inerente de abuso dessas substâncias.

Entretanto, centrar-se apenas no potencial de abuso dedeterminada droga poderia erroneamente levar à conclusãode que esses medicamentos devem ser evitados quando

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indicados para uso terapêutica - o que gera medo, em vez derespeito, por suas legítimas propriedades. Ajudar médicos,enfermeiros, farmacêuticos e outros profissionais da saúde,as autoridades que garantem o cumprimento da lei e opúblico em geral a terem mais consciência sobre o uso e oabuso de analgésicos permitirá que todos nós tomemosdecisões adequadas e ponderadas em relação ao tratamentoda dor.

A linha que separa o uso adequado do uso inadequado deanalgésicos e outros medicamentos ou o álcool de outrasdrogas não é obedecida por um número grande de médicostodos os anos. Isso não deveria surpreender ninguém.Afinal de contas, os médicos são humanos. Estudos sobremédicos indicam que eles fazem uso abusivo dedeterminadas substâncias na mesma proporção que pessoasde outras profissões; ou seja, um risco na proporção de umem cada dez. Com quase 600 mil médicos atuando nosEstados Unidos, talvez esse número chegue a 60 mil comalgum tipo de problema de abuso de determinada substânciaao longo de suas vidas.

Embora os médicos talvez não tenham maior propensão doque outras pessoas para se tornarem incapacitados devidoao abuso de substâncias, as conseqüências são muitograves.

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"Médicos como o Dr. House, com características narcisistase a idéia de que as regras são feitas para todo mundocumprir, menos ele, são comuns na profissão. Se a estapersonalidade narcisista, anti-social, rabugenta e arroganteacrescentarmos drogas, a situação torna-se crítica", afirma oDr. Anderson Spickard.

O Dr. Spickard é diretor médico do Centro de SaúdeProfissional em Nashville, no Tennessee, e professor demedicina e veterinária no Vanderbilt University MedicalCenter. Ele é co-autor do livro Dying for a Drink: What Youand Your Family Should Know About Alcoholism.

Apesar dos anos de instrução e experiência na prescrição demedicamentos, um médico como o Dr. House, tão qualificadona hora de fazer diagnósticos, talvez não consiga ver queestá no meio do furacão.

"Embora seja especialista em detectar e tratar doenças nospacientes, ele é totalmente inexperiente quando se trata doseu potencial para a dependência", afirma o Dr. Spickard.

A cada dois meses, o Dr. Spickard ajuda a dar um cursointensivo para um grupo de médicos sobre comoreconquistar o controle sobre os medicamentos deprescrição.

Esses médicos, em geral, estão proibidos de exercer a

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medicina porque prescreveram medicamentos inadequadosaos pacientes ou a si mesmos, ou tiveram problemas com oabuso de álcool. A maior parte daqueles com problemaspessoais com álcool e outras drogas já fez tratamento dereabilitação.

Os médicos que fazem o curso no Centro de SaúdeProfissional são avaliados e tratados cuidadosamente, senecessário. No entanto, antes de voltarem a exercer aprofissão, existem algumas lições importantes a aprenderpara reduzir as chances de recorrência: "Eles precisam terseus próprios médicos; essa é a condição número 1. É

incrível como é pequeno o número de médicos que têm seupróprio médico. Número 2: se tiverem um problema comnarcóticos, eles precisam ser acompanhados por um médicoque conheça o que o vício representa. Não são todos osmédicos que estão bem treinados na ciência da dependência.É uma especialidade. Número 3: é preciso evitar todos ostipos de medicamentos que alterem o humor, porque outrasdrogas no cérebro parecem acionar a ânsia de fazer usoexcessivo de analgésicos. Número 4: participar de reuniões eseguir os 12 Passos dos Narcóticos Anônimos"; aconselhao Dr. Spickard.

Embora o Dr. Spickard e seus colegas tenham ajudadocentenas de médicos a retomar à profissão nos últimos anos,

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existe um número muito maior de médicos que ainda estãoenfrentando esse problema.

"Sabemos que cerca de sete por cento dos formandos dedeterminada turma de médicos terão alguma dependência emalgum ponto de suas carreiras", afirma o Dr.

Spickard.

"Queremos que eles melhorem. Cada um deles acompanhade 1.500 a 3 mil pacientes. Alguns são cirurgiões, o queainda é mais assustador. Ou estão inserindo um cateter emsua carótida ou em seu coração. Essa é uma questãorealmente séria".

Os médicos têm acesso a drogas e têm a autoridade legalpara prescrevê-las. O

maior problema é quando tentam se auto-medicar.

"Um cirurgião de 40 anos apresentou forte dor nas costasque era compatível com um cálculo renal. Seu colega,especializado em medicina interna, foi visitá-lo em casa e lheaplicou uma injeção de meperidina, com alívio instantâneoda dor. O amigo deixou um frasco contendo 10 ml demeperidina (100mg/ml) com o paciente, juntamente cominstruções sobre como fazer a aplicação, caso a dor voltasse.A dor voltou, e o médico-paciente aplicou uma injeção de

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quatro em quatro horas, com o alívio imediato da dor. Oalívio foi tão imediato e prazeroso que ele se lembra de senti-lo mesmo depois de cessada a dor, após a saída do cálculorenal. O médico encomendou meperidina para ter em suamaleta e começou a se automedicar ao menor sinal dedesconforto. Logo, tornou-se dependente do medicamento ecomeçou a tirar a meperidina do estoque de produtos dopróprio consultório. Finalmente, foi confrontado por colegase pelo Comitê de Médicos Incapacitados e foi enviado àreabilitação".

Um ponto significativo dessa história é que o médico foiconfrontado e notificado. Em um artigo sobre médicosincapacitados, o Dr. Spickard observa uma declaração feitapelo Conselho de Saúde Mental da Associação MédicaAmericana no sentido de que "é responsabilidade ética domédico tomar ciência da incapacidade de um colega emexercer a medicina de modo adequado por problemas desaúde física ou mental, incluindo problemas com alcoolismoe dependência de drogas."

No episódio "Detox" ("Desintoxicação"; 1-11), a Dra. Cuddyconfronta o Dr.

House sobre o uso cada vez maior por parte de House domedicamento Vicodin. Em vez de notificar a ocorrência ouindicá-lo para avaliação, ela fez uma aposta de que ele não

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conseguiria ficar sem tomar o analgésico por uma semana. ODr. Spickard afirma que nunca recomendaria desafiar ummédico a ter uma crise de abstinência como forma de provarou descartar as suspeitas de dependência.

"Não, porque os sintomas de abstinência, comolacrimejamento, diarréia e outros, podem ocorrer com dosesmenores e, portanto, não servem de prova concreta dadependência. Parar de usar a substância não é letal; sóincomoda por causa desses sintomas. Não provainequivocamente se a pessoa está ou não viciada noproduto", afirma o doutor.

A dor, provavelmente, seria intensa. Não só a dor originalque levou ao uso da droga volta, mas seria aumentada pelaabstinência, deixando o paciente em estado muito pior doque antes do tratamento.

Embora parar de tomar o Vicodin não represente risco devida, interromper bruscamente o tratamento com algumasdrogas, como os benzodiazepínicos de ação lenta, podecausar sérias reações, incluindo convulsões.

Se não for possível determinar se existe dependência peladose do medicamento que está sendo consumido, comoentão descobrir? Quando a droga parece ser mais importantedo que os amigos, a família, o emprego ou outras facetas da

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vida, isso pode representar um vício.

"Tomar doses maiores do que o necessário para a condiçãoapresentada e sofrer com as conseqüências do uso oudependência e continuar com o mesmo comportamento. Ovício se define como o uso continuado do medicamento oudo álcool, apesar das conseqüências adversas"; afirma o Dr.Spickard.

Os sinais de alerta incluem perder compromissos, errar nasreceitas médicas, sentir raiva freqüente ou inapropriada, e terproblemas familiares, incluindo o divórcio.

O Dr. Spickard também observa que os médicos comproblemas de abuso de drogas podem procurar uma "curageográfica"; ou seja, mudar de instituição ou de cidade.

Esses médicos podem dizer, e acreditar, que seus problemasse devem aos supervisores ou às regras e regulamentos dohospital, e não à sua própria perda de controle sobre osremédios, o álcool ou outras drogas.

O problema com os médicos incapacitados tem recebidomuita atenção na profissão nos últimos anos. Atualmente,os hospitais reconhecem e respondem muito maisprontamente aos problemas potenciais, embora muitosmédicos com possíveis abusos de substâncias aindaconsigam se livrar.

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A resposta das administrações dos hospitais é motivada pormais do que o senso de obrigação para com os pacientes eseus colegas. As instituições de saúde que não agem podemestar sujeitas a penalidades.

"Qualquer administrador hospitalar tem de conhecer osregulamentos federais sobre o uso de drogas por parte dosmédicos, e saber que correm grande risco quando sabem queo sujeito está na instituição sem avaliação correta por partedo Comitê de Bem-Estar dos Médicos e do Programa deBem-Estar dos Médicos da instituição"; destaca o Dr.Spikcard.

O administrador hospitalar que deveria estarsupervisionando o Dr. House é a Dra. Lisa Cuddy, emboraela muitas vezes pareça estar apenas agüentando as pontas,em vez de administrando a operação. No próximo capítulo,vamos analisar como hospitais como o fictício Hospital-Escola Princeton- Plainsboro operam.

Identificação do médico incapacitado

CONDIÇÕES DE ALTO RISCO

• Histórico familiar de dependência em parentes de primeirograu;

• Acesso a medicamentos que alteram o humor,

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particularmente opióides, principalmente em anestesiologia;

• Colapso nervoso;

• Tensão incomum no trabalho.

COMPORTAMENTO DO VICIADO

• Uso de grande quantidade de álcool; embriaguezfreqüente;

• Reclamações médicas freqüentes sem evidência dediagnósticos médicos específicos (fadiga, insônia,indigestão, depressão);

• Autoprescrição de injeções opióides e de sedativoshipnóticos;

• Negligência pelas responsabilidades (perda decompromissos, atraso nos turnos);

• Crises freqüentes de raiva;

• Preocupações da equipe com o comportamento do colega;

• Promiscuidade sexual;

• Multas por dirigir sob a influência da droga.

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SINAIS DE VÍCIO

• Hálito alcoólico

• Marcha atáxica

• Fala embaralhada

• Tremores inexplicáveis

• Aspecto desgrenhado

• Sonolência

• Variações de peso inexplicáveis

• Humor deprimido

De: P G. O'Connor e A. Spickard, Jr. "Physicion Impairmentby Substance Abuse", The Medical Clinics of NorthAmerica 81 (4) (julho, 1997); 1037-53, Review.

____________________________________________________________________

CAPÍTULO 8

Nenhum médico é uma ilha

Quando Edward Vogler iniciou sua breve administraçãocomo presidente do conselho do Hospital-Escola Princeton-

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Plainsboro, ele fez uma pergunta à Dra. Cuddy:

"O que faz um Departamento de Medicina Diagnóstica?"

"Esse é o departamento do Dr. House" respondeu a Dra.Cuddy. "Ele lida com casos que os outros médicos nãoconseguem resolver."

Vogler fica perplexo com as idiossincrasias do Dr. House esente-se desafiado por sua resistência aos esforços doadministrador de gerenciar o hospital como qualquer outronegócio.

No entanto, mesmo relevando-se as peculiaridades do Dr.House, os hospitais não são como outros negócios. Osautores de um livro intitulado Health Care USA:Understanding Its Organization and Delivery destacaram aenorme complexidade dos hospitais modernos.

Centenas e até mesmo milhares de pessoas, muitas comaltíssima qualificação e experiência, trabalham juntas em umaorganização extremamente regrada, oferecendo serviçospersonalizados a outras pessoas cuja vida está em risco.

"Com tantos tipos de funcionários diferentes e tantossistemas e funções inter-relacionadas, é surpreendente quesequer consigam trabalhar", afirmam Harry Sulrz e KristinaYoung, autores do livro.

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Os hospitais norte-americanos nem sempre foram assim.Segundo Sultz e Young, nos primeiros anos após aindependência dos Estados Unidos, os hospitais eram umpouco mais do que centros de isolamento para pessoas comdoenças infecciosas. No século XVIII, os hospitais não eramlocais de cura, mas um meio de proteger o restante dacomunidade contra doenças infecciosas. Quem tinhadinheiro para pagar médicos particulares em geral eraatendido em casa.

Como o conhecimento médico e o exercício da profissãoevoluíram, e a sociedade mudou suas expectativas comrelação à assistência médica, os hospitais passaram porvárias transformações. De fato, foi somente no último séculoque as pessoas começaram a considerar os hospitaisinstituições capazes de oferecer serviços de atendimentomédico importantes. O

sistema de seguro-saúde moderno surgiu na década de 1930,com planos pré-pagos que garantiam determinado númerode dias de atendimento médico. Depois da Segunda GuerraMundial, os Estados Unidos viveram o boom da construçãode hospitais. Nas últimas décadas, o atendimento hospitalarvem-se tornando cada vez mais sofisticado e caro, fazendocom que os pequenos hospitais fechem suas portas econcentrando o atendimento de pacientes graves emgrandes instituições com condições de pagar pelos caros

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instrumentos que médicos como o Dr. House empregam comtanto fervor.

Existem duas maneiras principais de categorizar os hospitais:(a) de acordo com o tipo de serviço oferecido e (b) de acordocom sua estrutura de proprietários. Existem três tiposbásicos de propriedade hospitalar:

• Sem fins lucrativos: por exemplo, hospitais de propriedadede grupos ou fundações religiosas;

• Com fins lucrativos: hospitais que podem fazer parte deuma cadeia ou rede independente, mas com o objetivo defazer seus donos lucrarem;

• Hospitais públicos: essas instituições podem ser da redemunicipal, estadual ou federal, ou serem administradas porórgãos públicos, como os militares ou o Departamento deAssuntos de Veteranos de Guerra nos Estados Unidos, porexemplo.

Os tipos de serviços e o modo como os hospitais oferecemesses serviços não é tão simples de categorizar assim. Naverdade, os hospitais podem ser considerados estruturascriadas a partir de uma gama de programas oferecidos. Porexemplo, determinado hospital pode ter uma sala deemergência, um programa de transplante de coração eoferecer serviços psiquiátricos. Já outro hospital próximo

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talvez não disponha desses serviços específicos. Algunshospitais podem ser coligados com centros de pesquisa oucom faculdades de Medicina.

Hospital-Escola Princeton-Plainsboro

Onde o Hospital-Escola Princeton-Plainsboro se encaixanesse espectro Hospitalar?

Não parece ser um hospital público. Afinal de contas, a Dra.Cuddy ainda não foi sabatinada por uma comissão municipalou federal. Da mesma maneira, o hospital não parece integraruma rede afiliada a uma ordem ou fundação religiosa, poisnão existem símbolos religiosos no prédio.

Quer o hospital seja propriedade privada com fins lucrativosou uma fundação sem fins lucrativos, o Hospital-EscolaPrinceton-Plainsboro é único, uma vez que não há referênciaalguma a uma sede distante. Como o nome sugere, o hospitaltambém é um centro de treinamento para novos médicos.Entretanto, o Dr. House parece ter apenas contato eventualcom os estudantes...e os trata com o mesmo desprezo com oqual lida com suas obrigações clínicas.

Na verdade, na primeira temporada, os estudantes deMedicina apareceram com destaque em apenas doisepisódios. Em "Three Stories" ("Três Histórias"; 1-21), o Dr.House faz uma palestra para um auditório cheio, mas, para

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convencê-lo a substituir um professor doente, a Dra. Cuddyprecisa suborná-lo, prometendo folga. Depois, como quepara enfatizar seu desprezo pelo ensino, o Dr. House alternarapidamente entre as histórias de três pacientes com fortedor na perna. Ele até mesmo altera os detalhes em cadahistória, aparentemente para perturbar os estudantes.

Em "Histories" ("Histórias"; 1-10), dois estudantes aparecemem uma das histórias secundárias do episódio. O Dr. House,como sempre, é ríspido, designando lhes uma tarefa sempassar instruções detalhadas. Quando os alunos ficamconfusos porque o paciente conta histórias diferentes paracada um deles, o Dr. House zomba, aparentementeexasperado por sua incapacidade de reconhecer a condiçãorara que afetou a memória do paciente.

Embora o Hospital Princeton-Plainsboro seja consideradoum hospital-escola, o Dr.

House parece ter o mesmo apreço pelos estudantes que umpiloto de carro esporte tem por quebra-molas.

Quando um hospital não é um hospital?

Que instalação hospitalar aparece nas vistas aéreas doseriado fazendo-se passar pelo fictício Hospital-EscolaPrinceton-Plainsboro? Bem, na verdade, nenhuma. O prédioretratado na série é, na verdade, o Frist Compus Center da

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Universidade de Princeton. O

nome é em homenagem à família do líder do Senado norte-americano Bill Frist. O senador Frist, que também é médico, éex-aluno de Princeton.

Outros ex-alunos da Universidade de Princeton que nãovisitam o compus há algum tempo talvez não reconheçam oprédio logo de cara. O ângulo que em geral aparece noseriado enfatiza um anexo que foi feito ao antigo prédio doPalmer Physics Lab, construído há quase cem anos.

Em seguida, existe a relação entre o Dr. House e aadministração do hospital, que no seriado é exagerada etendenciosa, embora retrate a essência de alguns conflitosde longa data entre médicos e equipe administrativa. Nesseaspecto, os hospitais não são como outras empresas. Odiretor de um hospital, em geral, não tem controle total sobreos médicos que trabalham em sua instituição. Certamente, aDra. Lisa Cuddy não tem controle sobre o Dr.

House.

Edward Vogler não entende essa relação. Quando assumiu afunção de presidente do conselho de administração dohospital, criticou severamente a Dra. Cuddy pelo que, emsua opinião, era uma incapacidade dela de supervisionar oDr. House de modo eficiente. No episódio "Heavy" ("Uma

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Questão de Peso"; 1-16), ele tenta demonstrar seu poderordenando a House que despeça um de seus colegas. O Dr.House propõe, em vez disso, reduzir os salários de todospara economizar uma quantidade equivalente de dinheiro,mas Vogler rejeita a proposta.

A Dra. Cuddy não entende, porque ela acredita que o pontode Vogler seja economizar dinheiro. O Dr., House capta averdadeira intenção de Vogler ... demonstrar seu poder.Vogler confirma a percepção de House, afirmando queprecisa saber se House está disposto a fazer o que eledeterminar, por pior que seja, e que ele quer que Houseentenda e aceite seu papel subserviente. Evidentemente, oDr. House está determinado a manter sua estrela brilhandono hospital.

Bruce Traub, contador, tem uma perspectiva especial sobre adinâmica de administração retratada no seriado. Ele é oprincipal executivo financeiro do Centro MédicoUniversitário de Princeton, em Nova Jersey. Seu hospital-escola está bem perto do local fictício do Hospital-EscolaPrinceton-Plainsboro, e de muitas maneiras seriaconsiderado uma espécie de modelo para o hospital do Dr.House.

"Como muitas organizações, temos um presidente e um CEO.Além disso, temos membros eleitos da equipe médica e

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dentária que participam das decisões"; destaca Traub. Osrepresentantes são eleitos por médicos e dentistas, não pelaadministração.

"Essa é uma parte da liderança médica e odontológica dohospital. Nos diferentes departamentos, os chefes sãonomeados. Por exemplo, o chefe do Departamento deMedicina Interna, o do Departamento Cirúrgico, Psiquiátricoe assim por diante".

Essa hierarquia paralela da equipe médica é uma dascaracterísticas que diferenciam os hospitais de outrasempresas. Os chefes de departamento e os representantesdos médicos e dentistas mantêm reuniões pelo menos umavez por mês com os líderes da administração hospitalar.Embora trabalhem juntos para administrar a rotina dohospital, inclusive no que diz respeito ao comportamentodos médicos, a divisão das responsabilidades e daautoridade significa que os administradores simplesmentenão podem dar ordens ou tomar decisões unilaterais sobreaspectos que envolvem diretamente os médicos. Ainsistência de Vogler de que os médicos obedeçam, semquestionar, às suas instruções é algo que não faz parte darotina da maioria dos administradores hospitalares, por maisque sonhem com isso.

Além disso, na maioria dos hospitais do mundo real, embora

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os médicos trabalhem nas instalações hospitalares e utilizemseus serviços e outros recursos, em geral eles não sãofuncionários com o mesmo status dos atendentes ou dopessoal da manutenção. Ainda assim, como os médicosdecidem quem é admitido no hospital, eles são responsáveispor gerar recursos. Traub afirma que, de certo modo, osmédicos são a equipe de vendas do hospital.

"Temos controle limitado sobre nossa 'força de venda'; oque fazem ou como indicam pacientes para atendimento nohospital"; afirma Traub. "Investimos nosso dinheiro parafornecer a eles os recursos para que façam seu trabalho aquidentro; na verdade, eles ganham dinheiro cobrando asconsultas de seus próprios pacientes, e não recebendo umsalário do hospital. Assim, essa é uma relação exclusiva quenão acho que tenha paralelo em outros setores da indústria".

Isso não significa que os médicos estejam livres para fazer oque bem entenderem.

Para manter seus privilégios e continuar a trabalhar nohospital, os médicos devem seguir os estatutos eprocedimentos relacionados a aspectos importantes, comosegurança dos pacientes, e a questões secundárias, comoquando e onde usar jalecos brancos.

Jalecos brancos e gravatas "inúteis"

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Quando o novo presidente do conselho do Hospital-EscolaPrinceton- Plainsboro Edward Vogler vê o Dr. House pelaprimeira vez no episódio "Control" ("Controle", 1-14),observa que algo está errado. O Dr. House não está usandoseu jaleco branco. A Dra. Cuddy ignora a aversão de Housepelo jaleco, mas Vogler parece estar convencido de que nãodeve haver exceções para esse código de vestir.

O jaleco branco é um símbolo da medicina tão importantequanto o estetoscópio. No entanto, códigos de vestir queexigem que os médicos usem jalecos brancos não são tãocomuns quanto no passado. Em um comentário no Archivesof Internal Medicine, o gastrenterologista Lawrence J.Brandt brincou com os trajes cada vez mais casuais dosjovens médicos e estudantes de Medicina.

O Dr. Brandt escreveu que, ao se preparar para a palestraanual que faz para os estudantes de Medicina da Faculdadede Medicina Albert Einstein no Bronx, em Nova York,percebeu um nítido contraste com o corpo de alunos dopassado, do qual ele fizera parte, sempre arrumados em seusjalecos de um branco imaculado.

"Obviamente, esses jovens não estavam cientes ouresolveram ignorar o conselho de Hipócrates de que omédico deve ser 'limpo e bem vestido, ungido comungüentos perfumados', escreveu o Dr. Brandt. Em seguida,

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ele fez uma revisão da literatura médica, não sobre osachados de pesquisas recentes sobre questõesgastrenterológicas, mas de artigos sobre os códigos devestir e o traje médico. O Dr. Brandt encontrou uma ricacombinação de artigos que exploravam as dimensõespráticas e simbólicas do traje médico.

O jaleco branco é, ao mesmo tempo, símbolo de limpeza eautoridade perante pacientes e colegas. Como o Dr. Brandtobservou, os bolsos largos são úteis para carregarestetoscópios, livros de consulta ou os modernos PDAscheios de informações médicas recentes.

Contudo, nem todo esse simbolismo é benéfico. O fenômenoda "hipertensão do jaleco branco" é bem documentado. Otermo refere-se ao fato de que a pressão arterial de algumaspessoas é mais elevada quando são examinadas em umconsultório médico ou clínica em relação à pressão tirada emcasa, longe dos jalecos brancos. Na verdade, existe umapreocupação real de que a hipertensão do jaleco brancopode influenciar o tratamento de determinados pacientes. Emresposta, quando os médicos suspeitam que os pacientestêm pressão alta, cada vez mais os estão enviando para casacom monitores de pressão arterial, para ter um quadropreciso da pressão ao longo de um dia normal, e não apenasuma vez no consultório ou clínica. É claro que a hipertensãodo jaleco branco não é gerada apenas pela visão do jaleco

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branco. Provavelmente, envolve uma resposta psicológicaao estresse geral que algumas pessoas sentem quando estãodiante dos médicos em uma consulta.

Não há leis ou regulamentos que obriguem os médicos ausar jalecos brancos. A implementação dos códigos devestir varia de hospital a hospital: em alguns hospitais eoutros centros de assistência médica pode haver maiorcontrole, enquanto outros são mais informais.

No Centro Médico da Universidade de Stanford, naCalifórnia, o código de vestir de um dos programas afirma:

Os jalecos brancos deverão ser usados por todos osmembros da equipe médica que mantenham contato diretocom pacientes, exceto nas áreas em que outros trajes deproteção se fazem necessários, como na área de transplantede medula óssea, por exemplo. Em áreas ambulatoriais e naunidade de reabilitação, não há necessidade de usar osjalecos. Pergunte a seu instrutor clínico qual o trajeadequado para a área para a qual você será designado.

- Site do programa de residência em Reabilitação Clínica doHospital de Stanford

Evidentemente, as regras podem variar dependendo dostatus do usuário. As regras talvez sejam mais rígidas paraos estudantes. O Manual do estudante do Carolinas College

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of Health Sciences em CharIotte, na Carolina do Norte, nosEstados Unidos, afirma que os estudantes de Medicinadevem usar jalecos brancos estilo três quartos sobre suasroupas quando não estiverem usando outros trajes especiaisdo hospital.

O Dr. Brandt observou em seu comentário que as pesquisascom pacientes tendem a demonstrar que a maioria, senãotodos, prefere que seus médicos vistam jalecos brancos.

Algumas pesquisas indicam que os pacientes tendem aconfiar mais em um médico com jaleco branco.

Em sua conclusão, o Dr. Brandt escreveu:

"Parece que o traje de um profissional da saúde é importantepara pacientes em todos os níveis pessoais e geográficosestudados até o momento: jovens ou velhos, crianças ouseus pais, do Leste ou Oeste, do Norte ou Sul. Aparêncialimpa e arrumada, entretanto, é mais importante do que otraje. Dentre os itens de vestuário importantes, o nome nocrachá e o jaleco branco são os preferidos pelos pacientes.Em geral, os médicos são mais conservadores em suasopiniões sobre o traje do que os pacientes. Pessoas detodas as idades, em especial os idosos, tendem a preferir umtraje mais formal."

Alguns estudos, entretanto, levantam questões práticas. Às

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vezes os jalecos não são bem limpos, de acordo comestudos que encontraram vários micróbios nos jalecos dosmédicos. As gravatas estão sendo atacadas em outros. AAssociação Médica Britânica (BMA) criou uma polêmicaquando classificou as gravatas de "artigo inútil" que podefazer mais mal do que bem.

Um resumo do relatório da BMA afirma que:

"Certos trajes, como as gravatas, raramente são lavados,mas são usados diariamente, muitas vezes fora do ambientemédico. As gravatas não têm função benéfica noatendimento ao paciente e já demonstraram ser fonte decolônias de patógenos. São manuseadas com freqüênciapelo usuário e entram em contato com vários objetos. Asgravatas têm o potencial, portanto, de agir como vetores detransmissão de infecções associadas com o tratamentomédico."

Resumo da ópera: dispense as gravatas... lave a roupa comfreqüência e, quando possível, troque de roupa ao deixar aárea de atendimento ao paciente.

E por falar em lavar... os responsáveis pelas campanhas parareduzir o número de infecções hospitalares vivem batendona mesma tecla, insistindo na necessidade de osprofissionais de saúde sempre, sempre, lavarem as mãos

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entre um paciente e outro, para evitar a transmissão demicróbios. Essas campanhas tiveram um grau de sucessovariado. Em geral, os especialistas recomendam que ospacientes tentem ajudar na observância dessas normas,verificando se os médicos ou outros profissionais lavam asmãos antes de tocá-los.

Embora pareça difícil pedir isso ao médico ou enfermeiro, arecomendação é que não haja timidez nessa hora. O médicoprecisa lavar as mãos antes de atender o paciente.

Um episódio do seriado retratava a disseminação de umvírus letal na unidade neonatal. Em "Maternity"("Maternidade", 1-04), entretanto, a fonte da infecção nãoera um médico ou enfermeiro, mas uma voluntária que,inadvertidamente, havia passado o vírus de um bebê a outroao dar de presente bichinhos de pelúcia.

Ignorar um código de vestir é uma coisa, mas a maior partedos responsáveis pela administração hospitalar responderiarapidamente se um médico tentasse enganar o comitê detransplantes do hospital para favorecer seu próprio paciente,como fez o Dr. House em "Sex Kills" ("Sexo Mata", 2-14), ouse usasse uma injeção de álcool para reduzirtemporariamente o tamanho do tumor no fígado de seupaciente, para enganar um cirurgião e fazê-lo concordar emoperar o paciente, como ele faz em "The Socratic Method"

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("O Método Socrático", 1-06).

"Se tiver essa magnitude, a notícia se espalhará rapidamente.Em geral, é reportada para outros médicos, talvezdiretamente ao diretor"; afirma Bruce Traub.

O Centro Médico Universitário em Princeton recentementeacrescentou um médico ao grupo de administradores. Comona maioria dos hospitais, esse vice-presidente de AssuntosMédicos estará na linha de frente de qualquer potencial açãodisciplinar ou outras questões sérias que envolvam osmédicos.

Em"The Mistake" ("O Erro"; 2-08), Chase compareceuperante um "comitê de revisão por pares" que julgou seuprocedimento no caso de um paciente que morreu. Depoisde ouvir seu lado da história, o comitê concluiu que Chasementiu aos superiores e ao irmão do paciente. Mas osmembros do comitê levaram em conta o fato de que Chasehavia acabado de saber que seu pai falecera. Eles disseramque esse choque inesperado mitigou sua incapacidade defazer o acompanhamento adequado do paciente, por issomantiveram seus privilégios de continuar exercendo amedicina no hospital.

Em seguida, o comitê surpreendeu o Dr. House anunciandoque as alegações sobre sua conduta eram graves o

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suficiente para levar à restrição temporária de seusprivilégios. Durante um mês, Foreman ficou encarregado desupervisionar o Dr. House.

Nos hospitais de verdade, os médicos passam por umarevisão por pares e pelos administradores, de acordo com osestatutos e regulamentos estipulados pela equipe médica oupor outros.

No final das contas, existe um processo de governança",afirma Traub. "Se alguém não estiver agindo corretamente,comparecerá perante o Comitê Executivo dos médicos edentistas. Nós, como administradores, podemos solicitar quealgum tema seja levado à discussão perante o grupo, ou ummédico pode solicitar que ele compareça perante o grupo".

Vários tipos diferentes de grupos podem estar envolvidosna avaliação das ações dos médicos. Questões relativas àética podem ser levadas perante um comitê consultor queinclua membros da comunidade. O comitê de bioética, emgeral, não tem autoridade disciplinar direta, mas colaboracom o processo. Existem também comitês para melhorar odesempenho que podem se reunir a qualquer momento paraavaliar outros aspectos da prática médica.

Esses comitês e mesmo as principais autoridades médicas eos administradores não podem despedir de repente um

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médico sem o devido processo de investigação, mas, senecessário, podem tomar medidas rápidas para proteger ospacientes.

"O procedimento envolve uma série de reuniões eaudiências feitas em vários níveis até chegar ao conselho.Um médico pode ser suspenso, se tiver feito algoterrivelmente inseguro para o paciente. Essa suspensãolevaria a uma investigação. No entanto, é um processo justoem que os membros da equipe médica e outros especialistasdo departamento se reúnem para ouvir o médico sobreaquele tema específico" afirma a enfermeira registradaespecializada e Ph.D. Joanne Ritter-Teitel. Ela é a chefe deenfermagem do Centro Médico Universitário em Princeton,uma posição que integra a administração do hospital.

"Não é incomum encaminhar um médico paraaconselhamento ou para fazer um curso de comunicação";afirma. Conforme discutido anteriormente, às vezes essasindicações fazem parte da resposta a preocupações queenvolvem o possível envolvimento do médico com álcool ououtras drogas, incluindo medicamentos de prescrição, comoé o caso do Dr. House com o Vicodin.

O que é "terrivelmente inseguro"?

Que tal fazer experiências em um paciente comatoso? Em

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"Distractions"

("Distrações"; 2-12), o Dr. House injeta drogas em umpaciente que está em coma, para satisfazer sua curiosidadesobre a eficácia de um tratamento experimental contraenxaqueca.

Ele não faz segredo sobre sua conduta, demonstrando nãosentir vergonha quando a Dra.

Cuddy o interroga. Quando Cuddy percebe que ele induziu edepois tentou tratar uma enxaqueca em alguém inconscientee completamente incapaz de dar seu consentimento para tal,sente-se atônita. Ela pergunta ao Dr. House se ele já tinhalido algum guia sobre ética profissional; no entanto, ela nãotoma medida alguma, apesar de ter testemunhado umaviolação patente aos direitos de um paciente.

Depois de ignorar a agressão criminosa, a Dra. Cuddy passaa tratar do motivo que a levou a procurar House: ummemorando com sua assinatura... aparentemente forjada peloDr.

House. Ele não nega a falsificação e faz uma piadasexualmente sugestiva sobre a disciplina adequada.

O Dr. House novamente age de modo ultrajante, em diretaviolação aos procedimentos-padrão do hospital em relação à

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doação de órgãos, quando se impõe ao marido de umapaciente que está morrendo em "Sex Kills" ("Sexo Mata"; 2-14). Ele quer descobrir se a vítima de um acidente de carropode ser uma potencial doadora de órgãos para suapaciente.

Claramente, ele sabe que está agindo contra as regras,porque se disfarça para se aproximar do marido. Bem, para oDr. House, trata-se do supra-sumo da camuflagem: o jalecobranco.

Ele começa perguntando ao marido sobre o histórico dedoenças da vítima antes do acidente. O marido afirma que elateve uma febre de 38,5°C. À medida que o Dr. Housecontinua a investigar, o marido começa a se sentirexasperado e desnorteado, querendo entender a relaçãoentre a saúde geral da esposa e o tratamento para osferimentos sofridos com o acidente.

Em seguida, uma mulher se aproxima desse tenso par. Ela dizser coordenadora de doação de órgãos para a região sul deNova Jersey e começa dizendo que os órgãos da esposaserão tratados com cuidado e dignidade. O marido a encaraem estado de choque.

"Seus órgãos?! Laura morreu?"

É a vez da coordenadora de transplantes ficar chocada.

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"Lamento. Pensei ... Ela acaba de ser declarada morta. Eupensei que ele estava aqui para informá-lo", diz apontandopara o Dr. House.

O marido se volta para House. "O que você quer de mim?"

"Lamento sua perda, mas preciso do coração de suaesposa". Com essa resposta, o Dr.

House novamente demonstra que está preocupado apenascom seus pacientes, não com os de outros médicos.

A aproximação furtiva por parte do Dr. House ao marido dapaciente moribunda não só criou uma confusãodesconfortável e aumentou a angústia do marido, mastambém representou um exemplo quase perfeito de como nãoapresentar aos membros da família a possibilidade de doaçãode órgãos. "É evidente que o que ele está fazendo éincomum e inadequado"; de acordo com a declaração de umgrupo pró-doação de órgãos.

Doação de órgãos: melhores práticas

Em 2003, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dosEstados Unidos criou o plano de "Colaboração em Doaçãode Órgãos" para salvar vidas, aumentando o número dedoadores de órgãos.

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Um relatório do grupo afirmou que suas metas são:

• aumentar a taxa de conversão média de doadores elegíveisda média atual de 43

por cento para 75 por cento nos duzentos maiores hospitaisdo país;

• aumentar as doações em até 1.900 doadores por ano,

• aumentar o número de transplantes em 6 mil ao ano:

• ajudar a salvar a vida de milhares de pessoas todos osanos e evitar até 17 óbitos por dia.

Um caminho seguido para chegar a essas metas foi estudaralguns dos programas disponíveis nos Estados Unidos quedemonstram o maior índice de sucesso. A revisão incluiuuma avaliação do modo como os profissionais de saúdeabordam o assunto com os familiares das vítimas. O grupodescobriu que os programas atribuem a tarefa de comentar oassunto de doação de órgãos à várias pessoas. Algunsdeixam essa tarefa sob a responsabilidade de umrepresentante da organização regional de doação de órgãos.Outros programas atribuem essa delicada função aosmembros da equipe hospitalar. Apesar das diferentes visõessobre quem deve ter a responsabilidade principal, todosesses programas bem-sucedidos claramente tinham

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procedimentos bem definidos que envolviam

"colaboração estreita, bem compreendida e confiável".

As famílias precisam de tempo para pensar e se preparar paraa morte de seus entes queridos e para tomar a decisão sobrea doação de órgãos: assim, a equipe começa seu trabalhobem antes de o paciente morrer, conversando com a famíliapara conhecer sua dinâmica, como os membros da famíliaestão se sentindo e como estão lidando com a situação,procurando saber quais são suas necessidades.

O processo em geral não pode esperar até o potencialdoador ser declarado morto, porque normalmente há umintervalo muito breve para conseguir o consentimento dafamília e recuperar e transplantar os órgãos com sucesso.Mesmo quando o potencial doador assinou um cartão dedoação ou tem alguma notação na carteira de motoristaindicando sua concordância em ser doador de órgãos, afamília ainda tem o poder de veto no momento do óbito.Assim, as pessoas designadas para conversar com a famíliaprecisam estabelecer um relacionamento inicial. Começandoa criar laços antes mesmo de a morte do paciente ser certa, aequipe tem a oportunidade de demonstrar que sua principalpreocupação é com a vida do paciente e com asnecessidades da família... e que a doação de órgãos é umaquestão que surge depois de todas as tentativas de salvar o

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paciente.

O grupo que estuda as melhores práticas observou em seurelatório que o sistema funciona melhor quando as pessoasque são responsáveis por contatar a família sobre suaintenção de doar órgãos "não estão unicamenteinteressadas em 'obter o órgão em si', mas também em apoiaras famílias para que tomem uma decisão informada eadequada". Esse enfoque nas necessidades e nos desejosdas famílias é um traço que parece estranho ao Dr.

House.

Os programas com maior grau de sucesso na abordagemjunto às famílias com relação à doação de órgãos em geraldevem:

• trabalhar em equipe para escolher a(s) pessoa(s) certa(s)para abordar o assunto da doação e fazer o pedido;

• fazer a pergunta na hora certa, sem apressar a família, nãolançando a pergunta cedo demais. É importante atender ànecessidade da família e estabelecer laços de confiançaantes de discutir a possibilidade de doação;

• garantir que os encarregados de fazer a solicitação deórgãos à família tenham treinamento específico para fazer asperguntas da maneira correta.

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Seguir os procedimentos adequados pode ser algo bastantecompensador. O

relatório afirma que depois que um hospital de Houstoncriou um centro de doação de órgãos, com uma equipeespecializada, os índices de consentimento subiram de 48por cento para 68 por cento, e o número de doadores deórgãos durante períodos de tempo comparáveis subiu de 56para 79. Como os órgãos de um doador em geral vão paravários receptores, esse único hospital foi responsável porsalvar mais algumas dezenas de vidas ao seguir um processocuidadosamente planejado.

Em outras palavras, simplesmente aproximar-se e confrontaro marido de uma potencial doadora, como fez o Dr. House noepisódio "Sex Kills", em geral não é algo que funcione e,portanto, custará a vida de muitos pacientes que precisamdo transplante.

Embora a Dra. Cuddy pareça exasperada pela negligência emsérie do Dr. House, acaba ignorando um incidente atrás dooutro. É muito improvável que um administrador hospitalarno mundo real, em sua posição, simplesmente deixasse o Dr.House escapar, por mais que gostasse dele ou respeitassesua capacidade profissional. Na vida real, um hospital e seusadministradores podem sofrer sérias conseqüências nosEstados Unidos por permitir que um médico desrespeite as

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práticas em vigor. Várias instituições independentesmonitoram os hospitais e algumas têm autoridade para impormultas elevadas ou mesmo fechar determinadas instituiçõesmédicas. Os médicos não são os únicos com licenças dogoverno; os hospitais também são licenciados. Sem licença,o hospital não funciona.

Regras e responsabilidades

Em Nova Jersey, um hospital como o Centro MédicoUniversitário de Princeton, ou o fictício Hospital-EscolaPrinceton-Plainsboro, deve responder ao ConselhoCientífico e de Administração, ao Departamento de Saúde eServiços Humanos de Nova Jersey e a outras organizaçõesque monitoram e pagam pelo serviço de atendimento médicooferecido pelo hospital.

O Departamento de Saúde e Serviços Humanos de NovaJersey é o órgão de licenciamento para os hospitais noestado. Órgãos semelhantes atendem a esse objetivo emoutros estados.

De acordo com uma declaração do departamento, ele conduzdezenas de inspeções nos hospitais e outros centros deatendimento médico todos os anos. Além disso, odepartamento responde a reclamações. A avaliação incluirevisar prédios, equipamentos e pessoas. As políticas e os

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procedimentos hospitalares são examinados para garantirque estão em conformidade com as leis e os regulamentosestaduais. Os resultados das inspeções nas instalaçõesrealizadas pelos inspetores estaduais de Nova Jerseytambém podem afetar a elegibilidade do hospital no sentidode receber reembolso dos programas de assistência médicafederal, incluindo o Medicare, o programa de seguro-saúdecom cobertura para pessoas com 65 anos ou mais nosEstados Unidos.

Muitas das ações de regulamentação tomadas pelo estadocontra os hospitais estão listadas no site do departamento.Pequenas violações burocráticas, como não arquivar osrelatórios no momento certo, por exemplo, podem gerarmultas de algumas centenas ou mesmo alguns milhares dedólares. Problemas que afetem o atendimento dado aopaciente podem gerar multas ainda mais elevadas. Porexemplo, o departamento multou um hospital em mais de 22mil dólares em um caso recente em que ficou provado que ohospital deu alta a um paciente tuberculoso sem tomar asdevidas providências para evitar que ele infectasse outraspessoas na comunidade.

Como ocorre em outros estados norte-americanos, um órgãoestadual separado, o Conselho Estadual de ExaminadoresMédicos de Nova Jersey, administra as licenças e sançõeslegais contra médicos individuais, inclusive os que

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trabalham em hospitais.

Em "Failure to Communicate" ("Falha na Comunicação"; 2-10), o Dr. House e Stacy precisam viajar até Baltimore, noestado de Maryland, para responder a perguntas sobre suaqualificação para tratar pacientes inscritos no Medicaid, oprograma que ajuda a pagar pela assistência médica demilhões de norte-americanos de baixa renda. Stacy conseguefazer com que as dúvidas praticamente desapareçam,induzindo o investigador do Medicaid a concordar com ofato de que o tratamento dispensado pelo Dr. House aoscasos foi adequado, embora nem sempre se adequasse àsregras de reembolso do Medicaid. A resolução quaseinstantânea de uma investigação federal é uma agradávelfantasia. Os regulamentos federais de assistência médica eseu cumprimento certamente superam o código fiscal emtermos de complexidade...

quem quer que já tenha sido submetido a uma auditoria daReceita Federal norte-americana sabe que soluções simples,rápidas e favoráveis são muito raras.

Um elemento estranho na premissa desse episódio é que oDr. House iria a Baltimore para responder às perguntas.Supondo que a questão exigisse uma entrevista pessoal, eledeveria ter ido a Trenton, capital de Nova Jersey. Emborauma grande parcela dos fundos do Medicaid seja federal, o

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programa é administrado em larga escala pelos estados. Osestados são líderes em investigações contra fraudes doMedicaid.

Os conselhos e órgãos dos governos estaduais e federaisnão são os únicos aos quais os administradores hospitalaresprecisam prestar contas. Existem também os órgãos decredenciamento. Esses organismos incluem grupos quesupervisionam o ensino da Medicina.

O Hospital-Escola de Princeton-Plainsboro, provavelmente,precisaria atender aos padrões da Association of AmericanMedical Colleges para participar do ensino dos estudantesde Medicina. Em seguida, seria necessário umcredenciamento separado junto ao Conselho deCredenciamento de Centros de Ensino Médico para treinarestagiários e residentes médicos, formados em Medicina eainda no início de suas carreiras.

A Comissão Conjunta de Credenciamento das Organizaçõesde Assistência Médica desempenha um papel importante nomonitoramento da qualidade do tratamento hospitalar,embora não seja um órgão governamental e não tenhaautoridade reguladora. Embora a Comissão Conjunta nãotenha autoridade para punir os hospitais diretamente, osórgãos governamentais em geral confiam nos resultados dasinspeções e de seus relatórios. Por exemplo, um hospital com

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credenciamento da Comissão Conjunta talvez não preciseobter certificação separada do programa Medicare. Se osinspetores da Comissão Conjunta estivessem revisando ocredenciamento do Hospital-Escola Princeton-Plainsboro, oDr.

House, provavelmente, seria um problema.

Uma breve lista de preocupações em relação à sua condutapoderia incluir o seguinte:

• usar métodos de tratamento e realizar testes sem apermissão dos pacientes;

• mentir aos pacientes e colegas de trabalho;

• tratar mal e às vezes atacar pacientes e colegas que nãoconcordam com suas recomendações;

• estar sujeito à possível incapacidade em razão do usoindevido de Vicodin e outros analgésicos;

• desconsiderar a privacidade do paciente ao discutir osdetalhes de seus casos na clínica ou em outras áreaspúblicas;

• violar as instruções de "não ressuscitar" dadas pelospacientes;

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• violar as regras do hospital que regem o atendimento aospacientes com distúrbios do sistema imunológico, potenciaisdoadores de órgãos e outros;

• entrar na casa dos pacientes em busca de provas, sem adevida autorização.

"Seu comportamento pessoal é claramente exaltado,irreverente e às vezes até mesmo ilegal". Essa é a reaçãoinicial do Dr. Peter Angood a uma lista de incidentes deepisódios do Dr. House. O Dr. Angood é vice-presidente daComissão Conjunta de Credenciamento das Organizações deAssistência Médica e principal executivo de segurança dospacientes do Centro Internacional da Comissão Conjuntapara Segurança dos Pacientes.

"Nem um item sequer está condizente com as diretrizes decomportamento normal da equipe médica. Sempre que ummédico entra para a equipe de um hospital, passa por umprocesso de revisão e precisa comprovar sua formação,experiência e práticas"; afirma o Dr.

Angood. "É claro que o sujeito tem algum tipo dedependência. É evidente que ele tem total desrespeito pelaautoridade e hierarquia. Assim, seu comportamento pessoalestá bem distante da realidade".

O Dr. Angood afirma que a administração do hospital

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também é responsável.

"O outro componente é que o seriado retrata a tolerância porparte do hospital, que permite que o Dr. House continueagindo dessa maneira; isso simplesmente não aconteceria, enão acontece na vida real"; diz Angood. "Tenho 25 anos deexperiência e já assisti a mudanças no nível de tolerância emrelação ao que livremente é chamado de comportamentoabusivo ou perturbador. Hoje em dia, a tolerância ébaixíssima. Quase todas as instituições têm processosrigorosos de controle de recursos humanos e da equipemédica, não só para identificar esses indivíduos, mastambém para indicá-los a um terapeuta ou afastá-los porcompleto do sistema".

A Comissão Conjunta define normas, como a proteção daprivacidade dos pacientes.

Cabe a cada hospital e centro de atendimento médicodesenvolver e seguir procedimentos para estar sempre emconformidade com essas normas. É possível haver umalacuna de alguns anos entre cada visita ao local feita pelosinspetores da Comissão Conjunta, mas isso não significaque o Dr. House escaparia da notificação. Todos os anos, aComissão Conjunta recebe quase 15 mil reclamaçõesdiretamente de pacientes e até mesmo das equipeshospitalares. Quando uma reclamação é recebida, o hospital

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precisa responder.

A resposta ao comportamento como o que o Dr. Houseapresenta pode ser muito mais enérgica do que é retratadano seriado.

"Seria esperado que o hospital, por meio de seus comitês ouprocessos, vetasse esse tipo de comportamento específicoou o repreendesse ou o substituísse por outro no caso, ouainda o enviasse para treinamento [particular] ou oencaminhasse para instâncias superiores, suspendendoseus privilégios. Nada disso aparece no seriado, como se osadministradores do hospital, embora concordem com oaspecto de que seu comportamento é ultrajante ou contrárioàs normas, passassem a mão em sua cabeça, dizendo 'Bem, éo House'", afirma Margaret VanAmringe, vice-presidente derelações governamentais e de políticas públicas daComissão Conjunta. .

"Os hospitais devem revisar as competências da equipemédica periodicamente.

Assim, na vida real, ele seria chamado para revalidar seusprivilégios em revisões anuais.

Nessas revisões, os hospitais precisam usar informaçõespara decidir se o privilégio será renovado ou não. Portanto,se houver muitas reclamações sobre abuso de drogas ou

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suspeitas nesse sentido, ele provavelmente seria chamado aresponder a perguntas incisivas e submetido a umaavaliação médica", ela acrescenta.

A Comissão Conjunta muito raramente revoga ocredenciamento de um hospital. Em geral, a ameaça de perdero credenciamento e, subseqüentemente, o potencial dereceita dos seguros públicos e privados e de outrosprogramas é suficiente para motivar os administradores acumprir as recomendações da Comissão Conjunta. Emalguns casos, no entanto, os hospitais optam por abrir mãovoluntariamente de seu credenciamento junto à ComissãoConjunta. Os hospitais podem continuar funcionando,desde que consigam atender aos requisitos dos órgãos delicenciamento federais e às normas dos planos de seguro-saúde públicos e privados.

Trabalho em equipe

A diretora da Agência Federal de Pesquisa e Qualidade emAtendimento Médico dos EUA, Dra. Carolyn Clancy, lembrao final de uma série de slides de palestras muito utilizadospor seu predecessor, o Dr. John Eisenberg, que incluíaimagens de livros clínicos e outros instrumentos que osjovens médicos usam há muitos anos para aprender o ofício.

"O outro slide que fazia parte desse grupo era uma imagem

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do 'Homem de Marlboro'.

O Dr. Eisenberg dizia que o mito que cerca a formaçãomédica sempre foi o de que, assim que alguém conseguesuperar a fase de treinamento, estará pronto para partir rumoao horizonte e fazer o que bem entender com o paciente. Eisso é mentira, porque o exercício da medicina não é maisassim"; a Dra. Clancy recorda as palavras do Dr. Eisenberg.

Contrário ao tema recorrente do brilhantismo individual doDr. House, a medicina moderna é um esporte de equipe. ODr. House conta com seus colegas, Cameron, Foreman eChase, para fazer o trabalho pesado, mas essa equipe não écomo a da maioria dos hospitais.

Por exemplo, o Dr. David Gílbert, diretor de ensino médico doProvidence Portland Medical Center, em Portland, no estadonorte-americano do Oregon, afirma que as equipes demédicos são variadas e contam com vários colaboradores. ODr. Gilbert, que é especialista em doenças infecciosas, comoo Dr. House, afirma que seu hospital usa equipes queincluem um residente sênior, um residente do primeiro ano eum estudante de Medicina. Eles atendem qualquer pacienteque chegue ao hospital durante seu turno. Os médicos maisjovens são supervisionados pelos mais experientes econsultam vários especialistas. Dependendo do turno, cadaequipe médica pode atender de três a vinte pacientes ao

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mesmo tempo, e não um de cada vez.

Um aspecto central que o seriado consegue captar é umaimportante tendência na medicina: o número crescente demédicos especializados em tratar pacientes no hospital. O

trabalho do Dr. House é feito inteiramente dentro doambiente hospitalar. O Dr. House tem um consultório paraconsultas de rotina ou acompanhamento. Ele assume ocontrole durante a crise e envia os pacientes de volta a seusmédicos regulares.

"A visão antiga da medicina norte-americana era que seumédico habitual, como o Dr.

Marcus Welby, por exemplo, seria seu médico de todas ashoras; no consultório e no hospital.

Esse modelo não funciona mais tão bem, em parte porque osmédicos estão extremamente ocupados em seus consultóriose, em parte, porque, uma vez que o limiar para internaçãovem aumentando cada vez mais, os pacientes que sãoefetivamente hospitalizados tendem a estar realmentedoentes, com vários problemas ao mesmo tempo, muitasconsultas a especialistas, diferentes medicações e muitacomplexidade"; afirma o Dr. Robert Wachter. O Dr. Wachteré chefe do Serviço Médico do hospital da Universidade daCalifórnia. "A necessidade da presença constante de um

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especialista é responsável pelo valor atribuído ao médico deplantão. Eles conhecem bem o assunto e estão centradosnisso".

Há uma década, o Dr. Wachter e seu colega, o Dr. LeeGoldman, escreveram um artigo sobre como as mudanças noexercício da medicina estavam tornando impossívelsustentar o velho ideal do médico de ambulatório que atendea todos os seus pacientes, estejam eles em casa ou nohospital. Nesse artigo, publicado no New England Journalof Medicine, eles cunharam um termo para esse novo tipo demédico.

"Como resultado, prevemos o rápido crescimento de umanova espécie de médicos, que chamamos de 'hospitalistas'ou seja, especialistas em medicina de pacientes internados,que serão responsáveis por cuidar de pacienteshospitalizados da mesma maneira como os médicos deambulatório são responsáveis por cuidar dos pacientesambulatoriais", escreveram Wachter e Goldman no artigo.

Embora o Dr. House seja chamado de "diagnosticista" elerealmente é um hospitalista.

Como tal, ele está muito bem acompanhado atualmente.Embora o termo tenha sido inventado há apenas dez anosnos Estados Unidos, hoje em dia há cerca de 15 mil

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hospitalistas no país.

O Dr. Wachter foi o primeiro presidente eleito da Sociedadede Medicina Hospitalar (SHM), que está voltada ao mundodos hospitalistas.

A SHM adotou a seguinte definição oficial de "hospitalista":médicos cujo principal foco profissional é o tratamentomédico geral de pacientes hospitalizados.

- Declaração no site da Sociedade de Medicina Hospitalar

Os hospitalistas tiram o paciente das mãos de seu médico deambulatório ou de emergência que fez sua internação nohospital. Em seguida, após o necessário período dehospitalização, eles passam o paciente novamente aoscuidados do médico regular. Durante a permanência nohospital, o hospitalista assume a principal responsabilidadepelo cuidado do paciente.

"Claramente, nossa tarefa e nossa visão de mundo nãoconsistem em ir de encontro ou contrariar o que está sendofeito pelo médico de atendimento primário, mas muitas vezesa hospitalização tem seu próprio ritmo e peculiaridades. Aspessoas fazem muitas perguntas no início: 'Você estáseguindo as ordens do médico de assistência primária?'Muitas vezes, a resposta é não. De muitas maneiras, ainternação é uma entidade diferente", afirma o Dr.

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Wachter.

No Centro Médico UCSF, o Dr. Wachter supervisiona umaequipe composta por um residente, dois estagiários, doisestudantes de Medicina e um estudante de farmácia. Seuspacientes também são atendidos por um exército deenfermeiros e fisioterapeutas.

Periodicamente, esses pacientes serão atendidos pormembros de um grupo variado de sub-especialistas em áreascomo neurologia, endocrinologia, hematologia ou radiologia,ou qualquer outra 'ologia"

O Dr. Wachter afirma que os pacientes de hospital em geralnão têm idéia de que alguém tem autoridade central sobre amultidão de profissionais da saúde que passam por seusquartos. Essa tarefa de coordenar tudo e todos éresponsabilidade do hospitalista. Como os hospitalistas sãoum fenômeno relativamente novo na assistência médica, oDr. Wachter afirma que às vezes hesita em usar o título compacientes novos.

"Quando recebo novos pacientes, explico normalmente queserei o 'condutor da orquestra'", afirma o Dr. Wachter.

Ele também diz aos pacientes que receberão um formuláriopara preencher imediatamente antes de terem alta, "e umadas primeiras perguntas é: 'Você teve a impressão de que

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havia alguém no comando durante seu período deinternação?' e quero que você responda que sim, porqueessa pessoa sou eu", diz o Dr. Wachter, Ele diz que o termo"hospitalista" está se tornando cada vez mais conhecidoentre os norte-americanos. Ele estava dando a explicação deseu papel a um paciente, quando a esposa do paciente disse:"Ah, então você é um hospitalista"

Os hospitalistas estão se tornando estreitamentefamiliarizados com a cultura e as sutilezas dos seushospitais.

"Quando você fica lá o dia inteiro, sabe como o lugarfunciona. Quando não consegue encontrar a assistentesocial, já sabe onde ela costuma tomar café. O radiologistatalvez lhe deva um favor. Toda essa informalidade não podeser colocada em um organograma, mas é assim que funcionana vida real", afirma o Dr. Wachter.

O Dr. House sabe como as coisas funcionam. No episódio"The Mistake" ("O Erro"; 2-08), ele quer que um cirurgião detransplantes aceite um caso arriscado. Mas o cirurgião achaque o procedimento está fadado ao fracasso e recusa o caso.Em seguida, o Dr. House coloca seu conhecimento domundo hospitalar em prática... mas com um veio soturno queo Dr. Wachter certamente não toleraria. Ele ameaça contar àesposa do cirurgião sobre seus romances com as

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enfermeiras. O cirurgião cede à chantagem de House.

O melhor uso para o profundo conhecimento que umhospitalista adquire sobre a instituição e sua equipe é noestabelecimento de uma sólida colaboração, a fim deadministrar a enorme complexidade do atendimentohospitalar.

"Hoje em dia, existe uma apreciação muito mais profunda deque a medicina é resultado de um trabalho em equipe; e queos dias do doutor sabe-tudo que fazia proclamações queeram seguidas por todos precisam acabar o mais rápidopossível, porque não é assim que o sistema de saúdefunciona", afirma o Dr. Wachter.

"Passamos a reconhecer que, embora alguns desfechosestejam relacionados com o brilhantismo do médico,provavelmente essa não é a regra geral. A maioria dos casosdepende do bom funcionamento do sistema e do bomentrosamento entre todos os membros da equipe.

Essa é uma lição que outros setores aprenderam há muitosanos, e algo que a medicina levou algum tempo paraimplementar."

Enfermagem

A imagem da enfermagem é denegrida no seriado House.

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"Quando enfermeiras ou auxiliares de enfermagem aparecemem cena, são retratados como obstrucionistas ao brilhantemédico, ou como burocratas sem nada na cabeça queatrapalham sua ilimitada genialidade. Na vida real, o sistemanão funciona assim. Nenhum médico se sai bem sem contarcom enfermeiros em sua equipe; porque o trabalho em siresulta da ação de vários profissionais"; afirma a Dra.Clancy, diretora da AHRQ.

Essa atitude do Dr. House é bem captada no episódio "Spin"("Ciclista", 2-06). Ele dá a um paciente que não consegue selevantar uma injeção que momentaneamente restaura ocontrole muscular normal. O paciente levanta, mas depois, àmedida que vai passando o efeito da injeção, cai no chão. ODr. House olha para o paciente, mas não o ajuda a voltar aoleito.

"Foi exatamente por isso que criei as enfermeiras. Limpeza naAla 3!", berra o Dr.

House.

Se em vez de dominar o fictício Hospital-Escola Princeton-Plainsboro, o Dr. House estivesse praticando no CentroMédico Universitário em Princeton, ele teria de responder àchefe de enfermagem, a enfermeira registrada e Ph.D. JoanneRitter-Teitel.

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"Eu chamaria esse médico à minha sala e discutiríamos o quesignifica comunicação adequada. Eu explicaria que nãoaceitaria esse tipo de comportamento e que todos osmembros da equipe representam valores aos pacientes, querseja o porteiro, o atendente, a enfermeira ou o médico",afirma Joanne.

O tratamento dispensado pelo Dr. House às enfermeirastambém não repercute bem no Centro de Defesa daEnfermagem em Baltimore, Maryland.

"Essa é realmente uma visão muito limitada da enfermagem etende a mostrar apenas os aspectos pouco qualificados daprofissão", afirma a diretora executiva Sandy Summers,enfermeira registrada, mestre em Saúde Pública e emEnfermagem.

Em "Daddy's Boy" ("Queridinho do Papai", 2-05), Foremanestá examinando um paciente.

"Que cheiro é esse?", ele pergunta.

Quando ele puxa o lençol do leito, vê que o pacientemanchou os lençóis.

"Vamos precisar de uma enfermeira", diz Foreman,

"Sim, as enfermeiras fazem a higiene dos pacientes", afirma

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Summers. "Mas, assistindo ao seriado, você nunca ficasabendo que é possível encontrar sinais de uma doençagrave limpando as fezes de um paciente. Talvez seja umadoença hepática ou da vesícula biliar, ou mesmo algumsangramento intestinal ou parasita".

Na verdade, o tipo de parasita causador da doença dopaciente no primeiro episódio de House freqüentemente éidentificado por enfermeiras que limpam as fezes dospacientes.

Em "Three Stories" ("Três Histórias", 1-21), o Dr. House épaciente em uma cena em Fashback sobre o infarto queatingiu sua perna. Ele está em um leito do hospital quandotem os sintomas de um ritmo cardíaco anormal. O monitorcardíaco ao lado do leito está indicando o início de umbatimento rápido e perigoso, conhecido como taquicardiaampla e complexa ou taquicardia ventricular. Ele pede àenfermeira que lhe dê uma injeção, mas ela hesita. Quando omonitor soa o alarme, ele desmaia.

A Dra. Cuddy entra na sala e pergunta à enfermeira:

- O que aconteceu?

- Taquicardia ventricular - responde a outra.

A Dra. Cuddy parece surpresa ao ver que a enfermeira

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consegue reconhecer o quadro.

- Quem diagnosticou? - ela pergunta.

- Foi ele - diz a enfermeira, olhando para House.

"O que eles querem dizer com 'Foi ele'?", pergunta Summers."As enfermeiras sabem ler monitores cardíacos enormalmente o fazem de modo mais eficiente do que osmédicos.

As enfermeiras muitas vezes estão em posição de ensinar osmédicos, especialmente os mais jovens, sobre esses ritmoscardíacos e sobre como identificá-los. As enfermeiras vêemesses quadros todos os dias e, em geral, conseguemidentificá-los rapidamente".

Ela também afirma que, embora o Dr. House e seus colegasapareçam rotineiramente aplicando injeções e outrostratamentos aos pacientes, na realidade não é assim que ascoisas funcionam.

"Os médicos prescrevem os medicamentos, ou osenfermeiros graduados prescrevem a medicação e, emseguida, os demais enfermeiros fazem a administração aospacientes. É um princípio essencial de equilíbrio, ou seja,uma pessoa prescreve o medicamento e outra, a enfermeira,deve garantir que a medicação é adequada ao paciente, que

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não é algo que poderá reagir com outros remédios ingeridospor ele e que não causará importantes efeitos colaterais.

Elas garantem também que seja bem aplicado de formaintravenosa. Nos casos em que o paciente precisa de cincoaplicações intravenosas diferentes, com 25 medicaçõesdiferentes, pode ser bem complexo determinar quecombinação de medicamentos é compatível".

Summers destaca que os enfermeiros estão junto aopaciente, ou bem perto dele, durante todo o período deinternação. Avaliam a cor e a textura da pele, como opaciente está respirando, falando, conversando. São osenfermeiros que, literalmente, colocam as mãos no pulso deseus pacientes.

"Os médicos entram, ficam dois minutos com o paciente evão embora. As enfermeiras estão presentes 24 horas por diapara ajudar os pacientes a entender sua condição,observando-os a cada minuto para ver como estão indo. Opersonagem do Dr. House parece estar encarregado dessemonitoramento também, o que me parece totalmenteirrealista", afirma Summers.

As enfermeiras aparecem um pouco melhor em "Skin Deep"("Top Model", 2-13). O

coração do paciente para de bater no meio da noite. Quando

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os alarmes do monitor cardíaco soam, as enfermeirasrespondem rapidamente. Uma confirma a parada cardíacacom um estetoscópio, enquanto a outra prepara uma injeçãopara reanimar o paciente.

Summers afirma que a atitude geral do Dr. House para comos enfermeiros não é inteiramente ficcional. Ela afirma que osmédicos que tratam mal os enfermeiros são, em parte,responsáveis pela falta desses profissionais nos EstadosUnidos, criando condições de trabalho estressantes e quelevam à exaustão.

Como Summers se sentiria trabalhando com Dr. House? Suaresposta é surpreendente:

"Acho que seria um golpe de ar fresco comparado com osmuitos médicos com os quais temos de trabalhar", afirma aenfermeira."De fato, ele zomba dos colegas e diz coisashorrorosas para eles, mas pelo menos é inteligente; e issoseria um alívio para nós. Existem médicos que são bemdesagradáveis, depreciativos e arrogantes, sem nenhumsinal de sagacidade".

Levando os hospitais para uma nova era

Mesmo com a ênfase dos hospitais no trabalho em equipe eno valor de cada membro da equipe, o Dr. Wachter, doCentro Médico UCSF, afirma que este e outros hospitais têm

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a responsabilidade de liderar uma transformaçãofundamental no modo como os hospitais são estruturados eadministrados.

"Como hospitalista, você tem dois pacientes. Um é opaciente propriamente dito. O

outro é o próprio hospital. Parte de sua função, parte dovalor que você agrega, visa tornar o sistema melhor paratodos", afirma.

Quando Edward Vogler assumiu a presidência do conselhodo Hospital- Escola Princeton- Plainsboro, na primeiratemporada do seriado, declarou que queria mudar a forma deadministração do hospital. O clímax de sua campanha foiuma reunião do conselho convocada para despedir oDr.House.

"Gregory House é o símbolo de tudo que há de errado naindústria da saúde.

Desperdício. Insubordinação. Vaidade dos médicos, queagem como se fossem reis e como se o hospital fosse seufeudo particular. A assistência médica é um negócio; vouadministrá-la como um negócio. Assim, pretendo demitir oDr. Gregory House e encerrar sua ligação com este hospital,com vigência imediata", declara Vogler no episódio "Babiesand Bathwarer"

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("Bebês e Banheiras", 1-18).

Vogler não conseguiu se livrar do Dr. House, mas oselementos de seu discurso contra médicos arrogantesencontram eco em outros reformadores. Para o Dr. Wachrer,o personagem do Dr. House é um dinossauro.

"De algumas maneiras, é uma visão do passado do médicocomo espírito livre, iconoclasta, brilhante e virtuoso, que agepor conta própria, e do hospital como local que existeapenas para cumprir suas determinações. O personagem estáum pouco caricato, mas não está muito longe da maneiracomo os médicos no passado eram aculturados, a esperarque o sistema funcionasse. Muito francamente, do outrolado da moeda, vários administradores dedicavam-se parasatisfazer os médicos."

Ele afirma que, embora o seriado exagere a situação, osantigos incentivos do negócio hospitalar encorajavam essetipo de comportamento.

"É espantoso pensar nisso, mas era desse modo quefuncionava. O hospital era um tipo de hobby onde osmédicos compareciam e faziam seu trabalho. Como osmédicos geravam negócios, o trabalho do hospital eragarantir que eles estivessem bem satisfeitos, pois, se nãoestivessem, poderiam levar seu negócio para outro

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estabelecimento", afirma o Dr. Wachter.

O Dr. Wachter e outros afirmam que a medicina podeaprender preciosas lições com a história da indústriaaeroespacial.

De Yeager a Glenn

Logo depois da Segunda Guerra Mundial, Chuck Yeagertornou-se o primeiro homem a voar mais rápido do que avelocidade do som. Embora ele fosse apenas parte de umprojeto governamental de enormes proporções, aindapersonificava muitas das atitudes dos pilotos de prova dosprimórdios da aviação. Ele confiava muito em suacapacidade individual e em seus instintos para continuarvivo ao expandir os limites da aviação.

Dias antes de seu histórico vôo supersônico, Yeagerquebrou algumas costelas. Em vez de informar o caso, elemanteve segredo sobre sua lesão para garantir que não seriasubstituído na tentativa de quebrar o recorde. Por causa dalesão, ele não tinha como usar seu braço direito para fechar aescotilha do avião. Yeager confiou em um colega detrabalho, que serrou para ele um cabo de vassoura, para queele pudesse alcançar a escotilha com o braço esquerdo.

Yeager rompeu a barreira do som naquele dia, em 1946. Masa maneira como colocou seus interesses à frente de todos os

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demais no programa, quebrou as regras e enganou seussuperiores lembra muito a atitude do Dr. House. Em outraspalavras, o sucesso é a desculpa final. Esse mesmo tipo deorgulho individual também contribuiu para a morte de muitospilotos e passageiros naquela época.

O primeiro norte-americano a orbitar a Terra foi um tipomuito diferente de piloto.

John Glenn, que depois se tornou senador dos EstadosUnidos, não via a façanha individual como um fator decisivoentre o sucesso e o fracasso.

"Era uma visão muito diferente do que significava ser piloto.Você era parte da equipe", afirma o Dr. Wachrer. "Glenn éengenheiro. Ele confiava em listas de verificação.

Ele apreciava redundâncias no sistema. Ele não acreditavaque as pessoas são infalíveis; ele reconhecia que era partede uma equipe. "

"E de muitas maneiras a medicina está no ápice dessatransformação. Não tenho dúvidas de que o grande médicodo futuro será cada vez menos como o Dr. House e cada vezmais como John Glenn: certamente o líder de uma equipe,mas um jogador, um colaborador, alguém que pensa emsistemas, alguém que não acredita ser infalível, alguém querealmente reconhece que pode errar e que a única maneira de

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estar seguro é criando um sistema que antecipe e identifiqueos erros de todos".

A transformação da aviação não ocorreu apenas na proteçãoaos pilotos de testes; ela foi parte de avanços dramáticosocorridos na segurança do transporte aéreo. Na década de1950, a taxa de acidentes aéreos fatais para empresas aéreascomerciais era de cerca de um em cada 400 mil decolagens.Em outras palavras, em média, haveria cerca de 400 mil vôosseguros entre cada acidente. No final do século XX, a taxade acidentes fatais caiu para menos de um décimo dessetotal. Hoje em dia, existem quase 5 milhões de vôos segurospara cada acidente com vítimas.

Os pilotos comerciais de hoje não têm mais acuidade visualdo que os do passado.

Seus reflexos não são mais rápidos. É verdade que asaeronaves são construídas de modo mais seguro e melhorhoje em dia, mas um dos principais motivos para o aumentoda segurança é a mudança no sistema geral e nas atitudessobre o papel dos pilotos.

O Dr. Wachter afirma que teve a idéia das importantesdiferenças culturais existentes entre a aviação moderna e amedicina quando um grupo de pilotos de companhias aéreasvisitou o Centro Médico UCSF e acompanhou algumas

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cirurgias. Ele afirma que os pilotos ficaram impressionadoscom a habilidade dos cirurgiões e dos demais profissionaisenvolvidos, assim como pelo ritmo das cirurgias e pelasofisticada tecnologia médica. Em seguida, vieram algumasperguntas reveladoras.

"Eles perguntaram às enfermeiras: 'Como a sala de cirurgia épreparada para uma cirurgia de artroplastia do quadril ou derevascularização do miocárdio?' ou 'Qual é o processo paraobter o consentimento informado?' E as enfermeirasresponderam: 'Ah, para o Dr. Smith, fazemos assim. Para oDr. Jones, já é diferente'. Os pilotos ficaram surpresosporque disseram que seria inconcebível na aviação entrar nacabine de um 747 e dizer 'Quero que fique configurado dessemodo, porque gosto mais assim'. Eles reconheceram como oprocesso é fundamentalmente caótico e inseguro".

Hoje em dia, os pilotos aéreos estão dispostos a abrir mãode parte de sua liberdade individual e autoridade e aceitarnormas e uniformidade para reduzir o número de errospotencialmente fatais.

"Isso, evidentemente, seria estranho para House etotalmente contrário às suas crenças.

A maneira como estamos tentando formar novos médicos éexatamente oposta a essa visão de mundo' , afirma o Dr.

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Wachter.

Foreman diz:

- House! Você não pode fazer isso!

- Ah, se eu ganhasse 5 centavos cada vez que ouço isso... –responde o Dr. House.

Pilotos de prova que quebram as regras e vivem paracombater mais um dia certamente são muito maisinteressantes do que comandantes de jumbos.

Um renegado médico brilhante, como o Dr. House, quemarcha sobre a burocracia e a convenção médica em suabatalha individual para salvar seus pacientes, é muito maisinteressante do que os metódicos médicos que seguem asdiretrizes e os protocolos mais recentes, tentando nãocausar mais mal do que bem com seus testes e tratamentos.

No entanto, quando você entra em um avião para atravessaro país, está procurando diversão ou um vôo sem sustos queo leve de maneira segura para o destino informado em seubilhete? E se um dia precisar ser hospitalizado, com sua vidaem jogo, que tipo de médico você realmente vai querer queesteja no controle de seu caso?

EPÍLOGO

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O seriado House é um programa de televisão, uma sériedramática e divertida.

Embora seja ficção, as histórias personificam nossasesperanças e medos sobre a saúde e a doença, o conflito e asalvação. As tramas representam nosso conhecimento enossas crenças sobre o mundo... nesse caso, o mundo damedicina.

Depois de obter esta visão geral sobre alguns dos aspectosda medicina retratados no seriado, espero que você consigaentender um pouco melhor o que há de verdade nospersonagens representados e o que representa exageros,para ter o prazer de saborear com conhecimento de causa ocoquetel de realidade e fantasia que se descortina em cadaepisódio de House.

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Créditos: • nαndα e Michelle