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SALINIDADE NA GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE FEIJÃO-GUANDU (Cajanus
cajans (L.) Millspaugh)
SALINIDAD EN LA GERMINACIÓN DE LAS SEMILLAS DE FEIJÃO-GUANDU
(Cajanus cajans (L.) Millspaugh)
SALINITY IN TO GERMINATION OF FEIJÃO-GUANDU (Cajanus cajans (L.)
Millspaugh) SEEDS
Apresentação: Pôster
Andrei dos Santos Souza; Jamil Sousa Silva; Emanuelle Marques Coutinho3;
Mateus Pereira dos Santos; Gisele Brito Rodrigues
Introdução
A espécie Cajanus cajan (L.) Millspaugh, é uma leguminosa pertence à família
Fabaceae, subfamília Faboideae, conhecida popularmente no Nordeste Brasileiro como
feijão-guandú ou simplesmente andu. É uma planta rústica, adaptada à condições de
temperaturas elevadas e solos com baixa disponibilidade hídrica, não tolerando geada. Possui
alta taxa fotossintética, e eficiente mecanismo de fixação biológica de nitrogênio no solo,
podendo ser utilizado na adubação verde, recuperação de solos degradados, como fonte de
proteína e de fibra na alimentação animal (MARIN, SANTOS, 2008; MEDEIROS, 2013).
Um dos principais desafios que a agricultura tem enfrentado nos últimos anos é a
utilização racional da água na irrigação, principalmente quanto aos efeitos negativos da
salinidade, o que requer manejo adequado de irrigação e adoção de tecnologias que
possibilitem o cultivo de plantas nessas condições de alta concentrações de sais, a fim de
permitir que a cultura atinja a produtividade esperada, mantendo a qualidade dos seus
produtos (MEDEIROS et al., 2007).
Alguns estudos têm demonstrado que o aumento dos teores de sais no solo decorrentes
da irrigação utilizando água com elevada concentração de sais podem prejudicar o
desenvolvimento das plantas em consequência de alterações nas atividades fisiológicas da
cultura (BEZERRA et al., 2010; SILVA et al., 2013). Assim, o objetivo desse trabalho foi
avaliar o efeito de diferentes potencias osmóticos induzidos por NaCl no potencial
germinativo de sementes de Cajanus cajan.
Fundamentação Teórica
Algumas espécies de leguminosas, como o feijão-guandu (Cajanus cajan (L.)
Millspaugh), são frequentemente utilizadas em recuperação de solos degradados, pois
apresentam rápido crescimento, são tolerantes à diversas condições edafoclimáticas e
contribuem para a fixação biológica de nitrogênio no solo, levando à melhoria em sua
fertilidade (NOGUEIRA et al., 2012).
O feijão-guandu é uma planta de porte arbustivo, anual ou semiperene, podendo atingir
até quatro metros de altura, possui alta produção de biomassa e sementes, apresentando
importância econômica para países pertencentes aos Continentes Asiático e Africano, onde
seu consumo ocorre em grande escala. No Brasil, o cultivo dessa leguminosa é realizado
geralmente por pequenos agricultores, em pequenas áreas da Região Nordeste, onde é
consumido por uma pequena parcela da população ou empregado como fonte de proteína na
alimentação animal (AZEVEDO et al., 2007).
Fatores abióticos como temperatura, fotoperíodo, temperatura e umidade em condições
ideais, são essenciais para que ocorra a germinação de sementes, ademais a disponibilidade
hídrica é um fator limitante ao processo germinativo e consequentemente à produção
(BRASIL, 2009; CARVALHO, NAKAGAWA, 2012).
Nesse sentido, os estudos cujos objetivos são a tolerância à deficiência hídrica e
salinidade vem sendo desenvolvidos, uma vez que algumas espécies tem respondido de forma
distinta à estas condições de estresse (PONTE, et al., 2011), à exemplo dos estudos com
Salvia (Salvia splendens), desenvolvidos por Rosa et al. (2015), onde os autores observaram
que determinados potenciais osmóticos levaram à um aumento na porcentagem de plântulas
anormais. Metodologia
O experimento foi conduzido no Laboratório de Tecnologia e Produção de Sementes da
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, Campus Vitória da Conquista – BA.
Foram utilizadas sementes de feijão-guandú Cajanus cajans, cv. Caqui, provenientes do
município de Barreiras - BA.
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, sendo composto
por cinco potenciais osmóticos induzidos por NaCl (0,0; -0,2; -0,4; -0,6 e -0,8 MPa) com
quatro repetições de 25 sementes, totalizando 20 parcelas experimentais. Os potenciais
osmóticos utilizados foram calculados através da equação de Van’ t Hoff:
Ψs = - RTCs
Onde: Ψs= potencial osmótico (MPa), R = constante dos gases (0,8093 MPa mol-1 k-1),
Cs = concentração (mol L-1), para solutos iônicos que se dissociam em duas ou mais
partículas o valor de Cs deve ser multiplicado pelo número de partículas dissociadas, no caso
do NaCl este valor é 2, T = temperatura absoluta (°K).
O teste de germinação seguiu o protocolo descrito nas Regras de análise de sementes
(BRASIL, 2009). Sobre uma folha de papel Germitest® umedecido com as soluções salinas
na proporção de 2,5 vezes o peso do papel seco, as sementes foram distribuídas
uniformemente e recobertas por outra folha, estas foram enroladas e os rolos, acondicionados
em sacos plásticos vedados que foram mantidos em câmara B.O.D regulada à 25±0,3°C. A
contagem das sementes germinadas foi realizada diariamente, sendo consideradas germinadas
as sementes que apresentaram a protrusão da radícula maior ou igual a 5 mm (BRASIL, 2009).
As características avaliadas foram: Porcentagem de Germinação (% GER) e
Porcentagem de Sementes Mortas. Os resultados obtidos foram submetidos à análise de
variância e comparados pelo teste F à 5% de probabilidade, através do software livre R (R
DEVELOPMENT CORE TEAM, 2013).
Resultados e Discussões
Os resultados indicaram que não houveram diferenças significativas para porcentagem
de germinação (Tabela 1) de sementes de guandu cv. Caqui em função dos potenciais
osmóticos induzidos por NaCl. Esses resultados discordam dos resultados encontrados por
Pinheiro et al., (2013), que constataram redução do potencial germinativo de sementes de
feijão-guandu em potenciais osmóticos induzidos por NaCl mais negativos que -0,9 MPa,
além da inibição da germinação em potenciais menores que -0,3 MPa.
Tabela 1. Estimativa da porcentagem de sementes germinadas e mortas de Cajanuns cajans, submetidas à
estresse salino induzido por NaCl, Vitória da Conquista, BA, 2018.
Potencial salino (MPa) %Germinação % Sementes Mortas
%Germinação % Sementes Mortas
- 0,2 86,00 A 14,00 A
-0,4 90,00 A 10,00 A
-0,6 89,00 A 11,00 A
-0,8 82,00 A 18,00 A
Testemunha (0,0 MPa) 81,00 A 19,00 A
CV (%) 6,21 43,67
Médias seguidas de mesma letra maiúscula na coluna, não diferem entre si pelo teste F à 5% de probabilidade.
Fonte: Própria (2019)
Em relação ao percentual de sementes mortas, verificou-se que não houveram diferenças
significativas entre os potenciais osmóticos testados, todavia pode-se observar que na
testemunha obteve maior percentual de sementes mortas, e menor percentual de sementes
germinadas, os potenciais mais elevados podem ter inibido o crescimento de fungos na
semente. Esse resultado pode ser indicativo de presença de sementes contaminadas ou de
baixa qualidade fisiológica no lote. Conforme Santos et al. (1996), sementes com maior vigor
apresentam maior tolerância às condições de estresse, sendo capazes de continuar o processo
germinativo sem sofrer efeitos negativos promovidos por estresse no substrato.
Segundo Brunes et al., (2013), trabalhando com sementes de aveia-branca, a cultivar
Chiarasul foi mais afetada pela salinidade, demonstrando maior percentual de sementes
mortas em relação à cultivar Barbarasul. Esses dados indicam que, a qualidade fisiológica de
sementes pode estar ligada à características genéticas de cada espécie ou cultivar, resultando
em respostas diferentes na germinação quando as sementes forem expostas à salinidade.
A salinidade da água torna o potencial hídrico mais negativo, aumentando o gradiente
osmótico entre a solução e as sementes, prejudicando o processo de embebição, resultando no
decréscimo do processo germinativo (LOPES & MACEDO, 2008). Além disso, salinidade
pode provocar desequilíbrio na concentração de íons Na+ e Cl- no interior das células,
exercendo efeito tóxico à plântula em formação. As sementes quando expostas à salinidade
sofrem alterações em seu metabolismo e até mesmo redução na germinação e vigor
(PINHEIRO et al., 2013).
Conclusões
A salinidade induzida por NaCl não afetou de forma negativa a germinação de sementes
de Cajanus cajans cv. Caqui, indicando que a espécie apresenta tolerância ao estresse salino
em potenciais osmóticos de -0,2 a -0,8 MPa.
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