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GRUPO DE ATUAÇÃO ESPECIAL EM
GRANDES EVENTOS DO FUTEBOL - GFUT
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DACOMARCA
DE GOIÂNIA/GO
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, presentado pelos
Promotores de Justiça signatários, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, forte no art.
129, III, da Constituição Federal, art. 5o, I, da Lei n° 7.347/85, art. 40 do Estatuto do Torcedor, art.
25, IV, alínea "a", da Lei n° 8.625/93 e art. 46, VI, alínea "a", da Lei Complementar Estadual n°
25/98, vem ajuizar
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
com pedido de tutela antecipada
em desfavor da
FEDERAÇÃO GOIANA DE FUTEBOL - FGF, pessoa jurídica de direito
privado, com sede no Estádio Serra Dourada, ala sul, Av. Fued José
Sebba, n° 1.170, Jardim Goiás, em Goiânia/GO, CEP 74805-100,
representada por seu Presidente ANDRÉ LUIZ PITTA PIRES, podendo ser
localizado no endereço acima descrito, pelos motivos de fato e de direito a
seguir articulados.
RAMIRO C. MARTINS NETTO SANDRO H. S. H. BARROS MARIA CRISTINA DK MIRANDAPromotor deJustiça Promotor deJustiça Promotora deJustiça
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GRANDES EVENTOS DO FUTEBOL - GFUT///l\«Gnfetérls Público
do Estado do Goiás
1 - BREVE RESUMO DOS FATOS: LAUDOS CONSTATANDO IRREGULARIDADES NO
ESTÁDIO SERRA DOURADA: IMPOSSIBILIDADE DE REALIZAÇÃO DE JOGOS DO
CAMPEONATO DE 2016: SISTEMA DE TRINCAS PROSPERANDO TRANSVERSALMENTE E
LONGITUDINALMENTE
Conforme será detalhado no item a seguir, a liberação dos estádios de futebol
profissional depende da apresentação de quatro laudos:
(I) laudo de segurança, a cargo da Polícia Militar;
(II) laudo de vistoria de engenharia, acessibilidade e conforto, a cargo de
profissional legalmente habilitado e previamente cadastrado perante o respectivo Conselho
Regional;
(III) laudo de prevenção e combate de incêndio, a cargo do Corpo de
Bombeiros; e
(IV) laudo de condições sanitárias e de higiene, a cargo da autoridade
sanitária local.
Ainda, nos casos de estádios com capacidade igual ou superior a 40 mil lugares
(como o Serra Dourada), que tenham sofrido obras de ampliação ou adaptações que necessitem
de mudanças estruturais e também aqueles que tenham histórico de problemas estruturais, ainda
exige-se laudo de estabilidade estrutural.
Frise-se que não há escala de importância entre os laudos, pois que basta que
apenas um deles aponte irregularidades recomendando a não realização de jogos para embasar a
interdição do estádio, mesmo que todos os outros atestem a viabilidade da realização de jogos.
A partir da remessa desses laudos técnicos ao Ministério Público, conforme
determina o art. 23 do Estatuto do Torcedor, o Grupo de Atuação Especial em Grandes Eventos do
Futebol (com anuência da 12a PJ) instaurou diversos Procedimentos Administrativos com a
finalidade de acompanhar a fiscalização das condições de segurança dos estádios goianos, sendo
que o procedimento referente o estádio Serra Dourada ficou registrado sob o n° 201500447897
(Documento 1 - portaria de instauração).
Em 31/07/2015, foi realizada uma reunião com a participação do GFUT/MPGO,
do Batalhão de Eventos da Polícia Militar, da Federação Goiana de Futebol, do Ministério dos
Esportes, dos representantes dos clubes, das torcidas organizadas, das empresas responsáveis
pelo acesso ao estádio e da própria AGETOP, para debater a aplicação das regras do Estatuto do
RAMIRO C. MARINS NRTTO SANDRO H. S. H. BARROS MARIA CRISTINA DE MIRANDAPromotor deJustiça Promotor deJustiça Promotora deJustiça
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Torcedor. Nessa ocasião, dentre outras deliberações, restou definido que o Batalhão de Eventos
da Polícia Militar confeccionaria novo laudo de segurança do estádio Serra Dourada (Documento
2).
Outro desdobramento da reunião foi o envio, em 28/09/2015, de ofício conjunto
assinado por todos os participantes solicitando à demandada a imediata setorização do Estádio
Serra Dourada, como forma de minimizar diversos problemas ocorridos durantes os jogos,
sobretudo questões afetas à segurança dos torcedores (Documento 3). No entanto, a ré quedou-
se silente a respeito do pleito.
Enfim, sobreveio o laudo de segurança por parte do Batalhão de Eventos da
Polícia Militar (Documento 4), apontando o seguinte:
"[...] 12. Existem Monitores operacionais treinados para auxiliar na orientação dos
torcedores? Em que atividade? Quem é o responsável?
Não.
13. O estádio tem um Gerente de Segurança? (anexar currículo resumido)
Não.
[...] 16. Em quantos setores estão divididas as acomodações para o público?
O estádio não é setorizado.
[...] 27. existe uma área especifica, previamente designada, para abrigar a torcida
visitante? A área possui bilheteria, lanchonete, banheiros e acesso independente que
evite o encontro com torcidas locais?
Sim.
Observações: há necessidade de instalação de novos portões de acesso e bilheterias
tanto do lado norte quanto do lado sul.
[...] 30. Existem materiais perigosos (pedras, pedaços de calçadas, restos de obras,
hastes metálicas, outros), que possam ser utilizados em tumultos e confrontos de
torcedores?
È necessáriareforma conforme fotos (7, 8,9e 11) anexas.
[...] 36. Existe, no estádio, um posto policial em funcionamento em dias de jogo? O
lugar é adequado?
Sim. O local não é adequado.
37. Existe, no estádio, um juizado especial criminal em funcionamento em dias de
jogo?" O lugar é adequado?
RAMIRO C. MmpNS NRTTO SANDRO H. S. H. BARROS MARIA CRISTINA DEMIRANDAPromom/deJustiça Promotor deJustiça Promotora deJustiça
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Sim. O local não é adequado.
38. Existem áreas para vistorias, triagem de suspeitos e detenções provisórias no
estádio? Onde estão situadas?
Não há local adequado para tal procedimento.
[...] 43. Os locais reservados a torcedores sentados são numerados?
Não."
A respeito do item 43 transcrito acima, diga-se de passagem que o Estatuto do
Torcedor, vigente há mais de uma década, assegura o direito do torcedor partícipe de ocupar o
local correspondente ao número constante do ingresso (art. 22, II).
Várias foram as observações constantes do laudo de segurança da Polícia
Militar:
1. Colocar tela de proteção no muro acima do escapamento do gerador lado leste.
2. Fechar o estacionamento de serviço nas entradas das delegações.
3. Setorizar arquibancada lado leste e adequar novas entradas para torcidas
organizadas.
4. Disponibilizar escada removível para o acesso do policiamento à antiga geral nos
lados leste e oeste.
5. Instalar telas de proteção nas marquises da arquibancada lado leste e norte,
marquise das cadeiras lado oeste e marquise lado oeste localizada próxima às
tribunas.
6. Providenciar gradis metálicos para separação das torcidas na rampa principal de
acesso e platô superior, evitando o encontro e conseqüente confronto de torcidas
rivais.
7. Reformar os portões internos das arquibancadas lado oeste.
8. Reformar marquise lado oeste.
9. Reformar estacionamento da imprensa.
10. Proibir estacionamento de veículos de torcedores na via de acesso à entrada das
autoridades.
11. Reformar o piso e galeria lado norte, próximo ao portão de entrada de serviço.
12. Remanejar os veículos da imprensa localizados no platô superior junto à entrada
das cadeiras.
RAMIRO C. MOTINS NRTTO SANDRO H. S. H. BARROS MARIA CRISTINA DE MIRANDA
Promojp/de Justiça Promotor deJustiça Promotora deJustiça
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do Estado de Guias
Ao final, o laudo de segurança concluiu pela impossibilidade de realização de
jogos do Campeonato Goiano de 2016, in verbis:
"O estádio Serra Dourada não oferece condições para jogos do Campeonato
Goiano 2016, principalmente envolvendo as agremiações do Goiás Esporte Clube e
Vila Nova Futebol Clube. Conforme o item 44, é necessário reforma e adequações no
estádio para sua utilização no ano de 2016."
Com base na conclusão do laudo de segurança, o Ministério Público expediu
Recomendação à AGETOP (Documento 5) e à demandada (Documento 6) para que não fosse
liberado o estádio Serra Dourada enquanto os laudos técnicos a que se refere o art. 23 do
Estatuto do Torcedor não garantissem categoricamente a segurança do torcedor partícipe.
No entanto, nenhuma providência nesse sentido foi comunicada pela
AGETOP; a ré, por sua vez, limitou-se a dizer que "o estádio será utilizado no certame de
2016 apenas mediante a apresentação dos respectivos laudos" (Documento 7). Disse,
portanto, o óbvio. Ocorre que nenhuma providência concreta foi mencionada. Além do mais, trata-
se de um jogo de palavras, pois a preocupação do Ministério Público é muito mais do que a mera
apresentação de laudos: as restrições apontadas pelos órgãos fiscalizadores devem ser
efetivamente sanadas!
Como dito anteriormente, a conclusão do laudo de segurança do Batalhão de
Eventos da PMGO é suficiente para autorizar a interdição do estádio Serra Dourada enquanto as
pendências ali apontadas não foram sanadas, pois que colocam em risco a segurança do
torcedor. Não obstante, documentos técnicos de outros órgãos fiscalizadores corroboram a
precariedade do estádio e convergem para a necessidade de interdição do estádio.
Já em 15/07/2013 a Fundação Coppetec havia elaborado um relatório de
diagnóstico do estádio Serra Dourada, analisando separadamente as irregularidades relativas a
acessibilidade, engenharia, instalações elétricas, incêndio e pânico, segurança, conforto e
vigilância sanitária. Nessa ocasião, sérias irregularidades foram constatadas (Documento 8).
Acessibilidade
A sinalização do estacionamento é deficiente, algumas escadas não dispõem de
corrimãos cilíndricos; falta de mapa tátil, sinalização em Braile e guias de balizamento.
Il. MARTINSRAMIRO C. MARTINS NETTO SANDRO H. S. H. BARROS MARIA CRISTINA DE MIRANDA
Promotor deJustiça Promotor deJustiça Promotora deJustiça
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Engenharia
As anomalias observadas nos diferentes sistemas visitados têm um ponto em comum:
A FALHA GERENCIAL, o lodo empoça dentro das marquises, os SISTEMAS DE
TRINCAS QUE PROSPEROU TANTO TRANSVERSALMENTE QUANTO
LONGITUDINALMENTE NAS LAJES DAS MARQUISES. o arrasto de materiais que
vieram a formar expressivas estalactites com cores que mostram comprometimento
das armaduras, arrasto do lodo das poças indicando TRINCAS LARGAS, bolores
formados junto às frestas das trincas, lajes do piso levantadas. Tudo isso aponta na
direção de velhas falhas gerenciais.
Instalações elétricas e SPDA
Cabos pendurados sem calha perfurada, dissonantes com a norma ABNT NBR
-5410:2004; Uma das subestações conta com instalações improvisadas, estando em
desacordo com as Normas NR-10 e NBR-14039:2005 e OFERECENDO RISCOS, pois
o quadro geral não pode ser devidamente fechado. Quadros em mau estado de
conservação. Quadros sem barramento de condutor de proteção em desacordo com
as Normas NR-10 e NBR 5410:2004; Quadros de áreas molhadas não apresentam
disjuntores DR, para proteção contra choques elétricos, estando em desacordo com as
Normas NR-10 e NBR 5410:2004.
Vigilância Sanitária
A quantidade de sanitários e bebedouros é insuficiente para a capacidade do estádio
(Portaria do Ministério do Esporte 238/2010 - Anexo V; Manual de Recomendações
para a Segurança e Conforto nos Estádios de Futebol - FGV/2010; International
Plumbing Code (2003)). Os sanitários estão em péssimas condições de higiene, não
apresentando equipamentos como saboneteiras e toalhas de papel e alguns vasos não
estão com assentos (Foto 1) (Portaria do Ministério do Esporte 238/2010 - Anexo V;
Manual de Recomendações para a Segurança e Conforto nos Estádios de Futebol -
FGV/2010). Embora o posto médico esteja em boas condições, o gerenciamento dos
resíduos de saúde não é realizado adequadamente (Resolução RDC ANVISA
306/2004; Resolução CONAMA 358/2005). Embora só tivesse acesso a um dos bares,
ficou claro que a manipulação e acondicionamento de alimentos são realizados de
forma precária (Resolução RDC ANVISA 216/2004). As normas de boa prática na
manipulação de alimentos nos abres existentes não são seguidas pelos
manipuladores. Constata-se inclusive que os alimentos não são acondicionados
corretamente e as estruturas que os contém não estão em boas condições (Fotos 2 e
3) (Resolução RDC ANVISA 216/2004). Os reservatórios de água potável estão em
boas condições, mas não foi apresentado o laudo de limpeza do mesmo nem a
potabilidadeda água (Resolução RDCANVISA 216/2004; ABNT/NBR 5626/1998).
O Corpo de Bombeiros Militar, por sua vez, apresentou o Certificado de
RAMIRO C MARTINS NETTO SANDRO H.S. H. BARROS MARIA CRISTINA DE MIRANDAPromotor deJustiça PromotordeJustiça Promotora deJustiça
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Conformidade n° 135328/2014, de 08/01/2015 (Documento 9), aprovando o Estádio Serra
Dourada com restrições^ listando diversas irregularidades, tais como:
* inexistência de sistema de mangueiras e hidrantes;
* inexistência de sistema de sprinklers (chuveiros automáticos);
* guarda-corpos em desacordo com as normas de segurança contra incêndio e
pânico;
* inexistência de plano de ação para situações de evacuação do público;
* inexistência de opção de evacuação para o campo;
* inexistência de sistema de alarme de emergência.
Mais recentemente, em 06/12/2015, por ocasião do último jogo válido pela série
A do Campeonato Brasileiro de 2015 (Goiás x São Paulo), uma equipe de inspeção da Vigilância
Sanitária fizeram visita técnica no estádio Serra Dourada (Documento 10), constatando, dentre
outras irregularidades:
* infiltrações e vazamentos nos concretos de piso e teto;
* algumas áreas acesso interno ao estádio estão sem manutenção, na terra
batida, com acúmulo de água pluvial;
* as poucas saídas de água oriundas da lavagem do piso das plataformas,
encontram-se sem manutenção, entupidas e sem tampas, servindo de acúmulo de lixo;
* fiação elétrica exposta no chão com várias "gambiarras", oferecendo risco a
quem transita pelos locais;
* água servida sendo escoada a céu aberto para área externa do estádio, nos
locais que seriam jardins;
* infestação de pombos em todas as áreas internas do estádio, sendo inclusive
sobre os ambulantes que trabalham com alimentação e também sobre os transeuntes; ressalta-se
que foi observado vários ninhos com as aves e muita presença de fezes dos mesmos em todas as
áreas e andares;
* sanitários mal conservados, sujos e servindo de apoio para o serviço de
alimentação (lavatórios usados para lavagem de utensílios);
* alimentos produzidos sem as mínimas condições de higiene e processamento
são distribuídos ao público nas arquibancadas.
RAMIRO C. M^HTINS NETTO SANDRO H. S. H. BARROS MARIA CRISTINA DE MIRANDAPromojefr deJustiça PromotordeJustiça Promotora deJustiça
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A equipe de inspeção, por fim, concluiu que:
"Diante do todo observado, conclui-se que não existe nenhuma condição para a
existência dos ambulantes manipulando e comercializando alimentos dentro do
estádio. Talprática constitui-se de grande risco sanitário.
Mesmo os locais onde estão os permissionários legalizados, a situação também
confere risco sanitário devido as condições das estruturas físicas estarem
insatisfatórias.
A estrutura física do estádio está com avarias aparentes podendo ser detectadas
nas infiltrações e goteiras nos concretos, sendo recomendada uma avaliação por
técnicos da área de engenharia.
Deve ser implementado um programa de combate aos pombos, os quais são vetores
de graves patologias.
Os contratos dos permissionários necessitam ser avaliados, para se determinar a
responsabilidade das reformas na estrutura física, necessárias às adequações,
conforme as legislações sanitárias.
Faz-se necessária a avaliação do corpo de bombeiros, para averiguar a presença de
tantos botijões de gás e fiações elétricas expostas, todas próximas umas das outras.
A limpeza geral e manutenção de todas as áreas vistorias se apresentam deficientes.
Torna-se necessário a apresentação do contrato das empresas envolvidas em tais
procedimentos.
Diante da situação atual na capital, referente à infestação do mosquito Aedes
aegypti, torna-se urgente e imprescindível a tomada de medidas que impeçam o
acúmulo de água, bem como o surgimento de criadouros do mesmo".
Por fim, o Laudo de Vistoria de Engenharia datado de 03/04/2014 (Documento
11) já atestava diversas irregularidades que comprometiam a estrutura física do estádio, a saber:
*as vigas apresentam exposição de armadura em variados níveis;
* as juntas de dilatação apresentam desgaste no material elástico que as
compõem. Observa-se que houve uma tentativa de reparo com material inadequado;
* juntamente com o problema de desgaste de impermeabilização, constata-se a
existência de infiltrações nas peças estruturais. Tal situação aumenta a velocidade do processo
corrosivo das vigas;
* foram detectadas fissuras em alguns pilares, bem como desplacamentos do
concreto, corrosão e infiltração. Existe exposição da armadura, que provoca o processo de
corrosão;
RAMIRO C. lyftR/nNS NETTO SANDRO H. S. H. BARROS MARIA CRISTINA DE MIRANDAPromdtef deJustiça PromotordeJustiça Promotora deJustiça
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* as lajes, principalmente as de cobertura, passam por um processo avançado
de carbonatação (uma das principais razões de corrosão do aço do concreto), causados por
falhas na drenagem de águas pluviais, fissuras nas mesas e problemas na execução de reparos
das instalações hidrossanitárias etc.
Excelência, a situação do Serra Dourada é sabidamente caótica. Não há
nenhum laudo que ateste o perfeito funcionamento do estádio. Pelo contrário, diversas
autoridades atestam a necessidade de adequação do estádio, inaugurado em 09 de março de
1975 (há mais de 40 anos).
É preciso que se diga: quando se trata de segurança de edificações e do
público participante do evento, prevalece a idéia de que é preferível remediar do que
prevenir. Em outras palavras, privilegia-se uma solução paliativa e emergencial em
detrimento da precaução que deveria nortear a atuação das autoridades públicas e dos
demais responsáveis.
Infelizmente, a cultura brasileira é de que nenhuma medida precisa ser
adotada até que sobrevenha algum desastre. Pois foi com base nesse espírito postergador
que diversas tragédias ocorreram, como as 242 mortes na boate Kiss em Santa Maria/RS,
as 22 mortes pelo rompimento da barragem de Mariana/MG e as 07 mortes pelo
desabamento da arquibancada do estádio Fonte Nova em Salvador/BA, para citar apenas as
mais recentes.
Assim, com vistas a evitar que tragédias como essas tomem lugar em Goiás,
cumpre à Federação Goiana de Futebol evitar a utilização do Serra Dourada para as competições
que organizar, a fim de garantir a plena segurança dos torcedores participantes do espetáculo
futebolístico, até que os órgãos fiscalizadores atestem a plausibilidade técnica de utilização do
estádio sem restrições.
2 - DO DIREITO
Conforme o art. 42, § 3o, da Lei n° 9.615/98, que institui normas gerais sobre o
desporto, o espectador pagante, por qualquer meio, de espetáculo ou evento desportivo equipara-
se, para todos os efeitos legais ao consumidor, nos termos do artigo 2o do CDC. Assim, o meio
processual ora adotado afigura-se adequado, na medida em que "a defesa dos interesses e
direitos dos torcedores em juízo observará, no que couber, a mesma disciplina da defesa dos
RAMIRO C. MARTINS NKTTO SANDRO H. S. H. BARROS MARIA CRISTINA DE MIRANDA
Promotor de Justiça Promotor deJustiça Promotora de Justiça
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do Estado do Gaias
consumidores em juízo de que trata o Título III da Lei n° 8.078, de 11 de setembro de 1990" (art.
40 do Estatuto do Torcedor).
A legitimidade ativa do Ministério Público decorre do próprio perfil que lhe foi
constitucionalmente atribuído pelo art. 127, caput, porquanto se trata de instituição permanente
vocacionada para a defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis, dentre eles, a
segurança do torcedor partícipe, a teor do art. 13 da Lei n° 10.671/03:
Art. 13. O torcedor tem direito a segurança nos locais onde são realizados os eventos
esportivos antes, durante e após a realização das partidas.
A legitimidade passiva, por sua vez, justifica-se pelo fato de que a Federação
Goiana de Futebol é a entidade responsável pela organização do Campeonato Goiano,
cumprindo-lhe a tarefa de selecionar (após a indicação por parte dos clubes) as praças esportivas
onde serão realizados os jogos. Incumbe-lhe, ainda, encaminhar os laudos técnicos ao Ministério
Público, nos termos do art. 23 do Estatuto do Torcedor, transcrito abaixo.
No mais, a sistemática legal e regulamentar dos laudos técnicos está
consubstanciada, basicamente, em três pontos: (I) o art. 23 do Estatuto do Torcedor; (II) o Decreto
n° 6.795/09; e (III) a Portaria do Ministério do Esporte.
O art. 23 do Estatuto do Torcedor, atento às necessidades de segurança, exige
que, antes do início das competições, a entidade responsável pela organização apresente laudos
técnicos expedidos pelos órgãos e autoridades competentes pela vistoria dos estádios a serem
usados na competição. Eis o teor do dispositivo:
Art. 23. A entidade responsável pela organização da competição apresentará ao
Ministério Público dos Estados e do Distrito Federal, previamente à sua realização, os
laudos técnicos expedidos pelos órgãos e autoridades competentes pela vistoria das
condições de segurança dos estádios a serem utilizados na competição.
§ 1o Os laudos atestarão a real capacidade de público dos estádios, bem como suas
condições de segurança.
Conforme dissemos na abertura do item anterior, são 04 (quatro) os laudos
técnicos previstos no Decreto n° 6.795/09, conforme seu art. 2o, § 1o, in verbis:
RAMIRO C.MARTINS NETTO SANDRO H. S. H. BARROS MARIA CRISTINA DE MIRANDAProrrrotor deJustiça PromotordeJustiça Promotora deJustiça
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do Estado do Goiás
Art. 1o Este Decreto regulamenta o art. 23 da Lei n° 10.671, de 15 de maio de 2003, no
que concerne ao controle das condições sanitárias e de segurança dos estádios a
serem utilizados em competições desportivas.
Art. 2o A entidade responsável pela organização da competição apresentará ao
Ministério Público dos Estados e do Distrito Federal, previamente à sua realização, os
laudos técnicos expedidos pelos órgãos e autoridades competentes pela vistoria das
condições de segurança dos estádios a serem utilizados.
§ 1oOs laudos técnicos, que atestarão a real capacidade de público dos estádios, bem
como suas condições de segurança, serão os seguintes:
I - laudo de segurança;
II - laudo de vistoria de engenharia;
III - laudo de prevenção e combate de incêndio; e
IV - laudo de condições sanitárias e de higiene.
§ 2o Na hipótese de o estádio ser considerado excepcional por seu vulto, complexidade
ou antecedentes ou sempre que indicado no laudo de vistoria de engenharia, será
exigida a apresentação de laudo de estabilidade estrutural, na forma estabelecida pelo
Ministério do Esporte.
§ 3o O Ministériodo Esporte estabelecerá, em até cento e vinte dias a partir da vigência
deste Decreto, os requisitos mínimos que deverão ser contemplados nos laudos
técnicos previstos nos §§ 1oe 2o e indicará as autoridades competentes para emiti-los.
Os requisitos mínimos a serem contemplados nesses laudos técnicos, por sua
vez, são os previstos em Portaria expedida pelo Ministério do Esporte. Até 2015, vigia a Portaria
n° 238/2010 (Documento 12). A partir de janeiro de 2016, os laudos deverão observar a Portaria n°
290/2015 (Documento 13).
No que diz respeito especificamente ao estádio Serra Dourada, os quatro
laudos técnicos vêm, sistematicamente, apontando diversas irregularidades ao longo dos
anos, ainda que a conclusão seja pela aprovação do estádio, não se podendo fechar os
olhos para as influências externas que pressionam os órgãos para a liberação do estádio.
3 - DO PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA
O art. 12 da Lei da Ação Civil Pública prevê que o juiz poderá conceder mandado
liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.
RAMIRO C. MrfJjmNS NETTO SANDRO H. S. H. BARROS MARIA CRISTINA DK MIRANDAPromoterdeJustiça Promotor deJustiça Promotora deJustiça
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Ainda, o artigo 273 do Código de Processo Civil estabelece que o juiz poderá, a
requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido
inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e
haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação.
A verossimilhança das alegações decorre dos inúmeros laudos técnicos
apontando as mais variadas irregularidades no estádio Serra Dourada, notadamente o último
laudo de segurança confeccionado pelo Batalhão de Eventos da Polícia Militar, que conclui no
sentido de que o estádio não tem condições de receber jogos em 2016, bem como o relatório
de engenharia da Fundação Coppetec apontando que "os SISTEMAS DE TRINCAS QUE
PROSPEROU TANTO TRANSVERSALMENTE QUANTO LONGITUDINALMENTE NAS LAJES
DAS MARQUISES".
O fundado receio de dano de difícil reparação, por sua vez, é inerente às
conseqüências que podem advir da não observância das recomendações técnicas da PMGO, da
Vigilância Sanitária, do Corpo de Bombeiros e dos engenheiros responsáveis, podendo acarretar
desastres com vítimas fatais, situação com a qual o Poder Judiciário não pode ser
condescendente.
Assim, pelo menos até que sobrevenham os laudos técnicos a que se refere a
Portaria n° 290/2015 do Ministério do Esporte atestando a segurança do estádio e dos torcedores,
deve-se de imediato proibir a realização de jogos no estádio Serra Dourada.
4-DOS PEDIDOS
Ante o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS requer:
1 - seja deferida liminar, inaudita altera parte, a fim de cominar à ré a obrigação
de não fazer consistente em: (a) não utilizar o estádio Serra Dourada para jogos de futebol
profissional em competições organizados por si até que sobrevenham os quatro laudos técnicos
mencionados na Portaria n° 290/2015 do Ministério do Esporte aprovando o estádio sem
restrições; (b) subsidiariamente, caso os laudos técnicos apontem que o estádio está "aprovado
com restrições", não liberar o estádio Serra Dourada para jogos com público, até que as
mencionadas restrições sejam sanadas no prazo estipulado no respectivo laudo técnico;
2 - seja cominada ao representante legal da ré multa no valor de R$ 100.000,00
(cem mil reais) por jogo realizado em descumprimento da liminar, revertendo-se os valores ao
:. m$toRAMIRO C. MARTINS NETTO SANDRO H. S. H. BARROS MARIA CRISTINA DE MIRANDAPromotor de Justiça Promotor deJustiça Promotora de Justiça
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do Estsilo do Goiás
Fundo Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor - FEDC;
3 - a citação da ré, na pessoa de seu representante legal, para contestar,
querendo, a presente ação, no prazo que lhe faculta a lei, ciente de que a ausência de defesa
implicará revelia e reputar-se-ão como verdadeiros os fatos articulados nesta inicial;
4 - ao final, após a produção da mais ampla prova, seja julgado procedente o
pedido para confirmar a liminar e condenar a ré na obrigação de não fazer, consistente em (a) não
utilizar o estádio Serra Dourada para jogos de futebol profissional em competições organizados
por si até que sobrevenham os quatro laudos técnicos mencionados na Portaria n° 290/2015 do
Ministério do Esporte aprovando o estádio sem restrições; (b) subsidiariamente, caso os laudos
técnicos apontem que o estádio está "aprovado com restrições", não liberar o estádio Serra
Dourada para jogos com público, até que as mencionadas restrições sejam sanadas no prazo
estipulado no respectivo laudo técnico.
Por fim, protesta provar o alegado por todos os meio de direito admitidos, em
especial depoimento pessoal do representante legal da demandada e a realização de perícia
para avaliar as condições de segurança contra incêndio e pânico, estruturais, de vigilância
sanitária e higiene, acessibilidade, das instalações elétricas e SPDA no Estádio Serra
Dourada.
Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), para os fins de alçada.
Goiânia/GO, 18 de dezembro de 2015.
RAMIRO tPENEpO MARTINS NETTOPromotor de Justiça
Coordenador do GFUT
MARIA CRISTINA DE MIRANDA
Promotora de Justiça12a PJ de Goiânia - Consumidor
SANDRO HENRIQUE SILVA HALFELD BARROSPromotor de Justiça
GFUT/Organizaçâo e Segurança no Local do Evento
RAMIRO C. MARTINS NETTO
Promotor de JustiçaSANDRO H. S. H. BARROS
Promotor deJustiçaMARIA CRISTINA DE MIRANDA
Promotora deJustiça