dificuldades e transtornos de aprendizagem
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Módulo 2
por que o aluno não aprende?
Dificuldades e Transtornos de Aprendizagem
“Quase que nada sei, mas desconfio de muita coisa.”
Guimarães Rosa(1908 – 1967)
4 5
• Dificuldades de aprendizagem.
• Transtornos específicos de aprendizagem.
• Transtorno global de aprendizagem.
• Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
Nestemódulo,serãodiscutidasasváriasrazõespelasquaisumacriança
nãoaprende,apontandoossinaisquediferenciamasdificuldadesesco-
laresdostranstornosdeaprendizagem.Tambémserãoapresentadasas
principaiscaracterísticasdostranstornosespecíficosdeaprendizageme
deoutras condiçõesquepodemafetarde formasecundáriaoprocesso
aprendizagem.
Apresentação Conteúdo
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O que são as dificuldades de
aprendizagem?
Por que alguns aluno
s apresentam
dificuldades para aprender a ler
e escrever que persist
em ao longo
dos anos escolares?
É mesmo necessário um sistema
de classificação diagnóstica para
“rotular” os alunos?
Essas são as questões que irão
nortear o Módulo 2.
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Identificando o problema para aprender:Dificuldades versus transtornos de aprendizagem
Cadaalunotemumperfildistintodeaprendizagem,comovimosnoMódu-
lo1,masdiferentesalunospodemapresentardificuldadesparaaprender
ematividadesdamesmanatureza,porexemplo,transformarasletrasem
sons(i.e.,decodificar).
Quandoumalunonãoconsegueaprendercomoseuscolegasemsaladeaula,
costumamosdizerqueeletemumadificuldadedeaprendizagem.Esteéum
termobastantegenéricoe se refere aumadefasagemna aquisiçãoe/ou
automatizaçãodeumaoumaiscompetências,semcausaevidente.A priori,
quandousamosotermodificuldade de aprendizagemnãoestamosfazendo
referênciaàorigemdadificuldade,nemàssuascaracterísticas,masapenasa
umsintoma;estamosdizendoqueháalgoquenãoestábemnoprocessode
aprendizagemdaquelealuno.
Quandoaprofundamosa investigaçãosobreaorigemeascaracterísticas
dasdificuldadesdosalunosdefasadosemsaladeaula,podemosidentificar
doisgrandespadrões.
Oprimeiropadrão,quedenominamosdificuldade de aprendizagem,resulta
dainfluênciadecondiçõesoueventostransitóriosnavidadoalunoqueestão
interferindonegativamentenoatodeaprender.Podesermudançadeescola,
trocadeprofessor,nascimentodeumirmão,separaçãodospais,perdade
umafamiliar,faltadesono,problemasdesaúde,entreoutros.
Existeumsegundopadrãoquesecaracterizapelocaráterinatoepersisten-
tedasdificuldadesparaaprender.Sãodificuldadesquesempreestiveram
presentesnavidaescolardoaluno;ouseja,seobservarmosohistóricoda-
quelealuno,vamosnotarqueele sempreestevesignificantementedefa-
sadonaaprendizagemdeumaoumaisáreasdoconhecimento,semuma
causaevidente,comoumadeficiênciaintelectualousensorial.Essesegun-
dopadrãocaracterizaoquechamamosdetranstorno de aprendizagem.
Amaioriadostranstornosdeaprendizagemsósãoidentificadosquandoa
criançaingressanaescola,masoolharatentodafamíliaedosprofessores
doensinoinfantilpoderiamauxiliarnaidentificaçãoprecocedoscasosmais
graves.
Otranstorno de aprendizagempodeserespecíficoparaumadeterminada
competência(porexemplo,paraleituraeescritaouparaaaritmética)ou
pode envolver múltiplas competências, atrapalhando diversos processos
cognitivosenvolvidosnaaprendizagem.Nesseúltimocaso,estamosdiante
deumtranstorno global de aprendizagem.
Emboraotranstornoglobaldeaprendizagemtenha impactosignificati-
vonoprocessodeaprendizagem,oresultadodaavaliaçãodasalterações
cognitivasencontradasnãoconfiguraumadeficiênciaintelectual.Entre-
tanto,ostranstornosglobaisdeaprendizagemestãogeralmenterelacio-
nadosaatrasosimportantesdodesenvolvimentodalinguagemedeou-
trasfunçõescognitivas.
Portanto,quandoestamosdiantedeumalunoqueestáemsituaçãode
defasagemdeaprendizagem,podemossuspeitardeumadificuldadeou
deumtranstornodeaprendizagem.Somenteumaavaliaçãoespecializa-
davaipoderdefinirecaracterizaranaturezaeagravidadedoproblema,
masissonãoimpedequeoprofessorestejaatentoatodososalunosque
nãoestejamacompanhandoseuscolegasemsaladeaulaeofereça-lhes
ajuda.Emtodaavaliaçãomultidisciplinardaaprendizagem,aobservação
doprofessoréfundamentalparaajudaradefiniranaturezaeaimplicação
dasdificuldadesencontradas.Paraajudarmosessealunode formamais
eficaz,precisamoscaracterizarbemsuasáreasdedificuldadeetambém
seustalentos.
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Antesdeentrarmosnaquestãoespecíficadosdiagnósticosdasdificulda-
desdeaprendizagem,queremosproporumparalelocomumasituaçãoque
muitosdevocêsjádevemtervivido.
Imaginequeseufilho/sobrinho/primo,estácomfebreevocê,muitopreo-
cupado,rapidamenteolevaparaumpronto-socorroafimdeidentificaro
porquêdafebree,claro,tratá-loomaisrápidopossível.Osmotivospelos
quaistemosfebresãoosmaisvariados:vãodesdeumainfecçãoporvírus
oubactéria, atédoençasneoplásicas (comocâncer)oucardiovasculares.
Comoafebreéapenasa“pontadoiceberg”,ouseja,éamanifestaçãoclí-
nicaqueconseguimosver,precisamos identificarascausaspara traçaro
tratamentomaisadequado.
Nocasodasdificuldadesdeaprendizagem,oraciocíniosegueamesmali-
nha.Doisalunospodemapresentardificuldadesmuitosemelhantesdelei-
tura e escrita (apontado iceberg),mas as causasdessasmanifestações
seremdiferentes.
A característica dimensional das dificuldades de aprendizagem
Aidentificaçãodascausasportrásdo“nãoaprender”podemnospermitir
elaborarumdiagnóstico,quenadamaisédoqueumsistema de classifi-
caçãoutilizadoparadescreverosmaisdiversosfenômenos(porexemplo,
divisãodasespéciesdeplantaseanimaisnabiologia).SegundoFletcher,
Lyon,FuchseBarnes(2009),asclassificaçõessãosistemasquepermitem
queumconjuntomaiorsejadivididoemsubgruposmenoresemaishomo-
gêneos.Esseprocessoéumaoperacionalizaçãoquefacilitaaidentificação
deperfis distintos de aprendizagem,oquenaprática,contribuiparaopla-
nejamentodeatividadeseestratégiasmaisadequadasparacadaindivíduo.
Porque os perfis diferentes podem favorecer ou diminuir a eficiência da
aprendizagem, sobretudo a aprendizagem acadêmica. Independente do
perfildeaprendizagem,seacriançapossuiralteraçõescognitivasqueafe-
tem sistematicamente o seu processo de aprendizagem, podemos estar
diantedeumtranstornodeaprendizagem.Porexemplo,algumaspessoas
têmmemóriaoperacional,piordoqueoutraseissonãotemimpactosignifi-
cativoemseucotidiano,masseumalunotiverumadificuldadesignificativa
dememóriaoperacionalelepodetermuitadificuldadeparaaprenderregras
ortográficas,compreendertextoslongosourealizaroperaçõesaritméticas,
entreoutrastarefas.(Oconceitodememóriaoperacionalserádetalhadono
Módulo4–emlinhasgerais,éamemóriaresponsávelpeloarmazenamento
temporáriodainformaçãonecessáriaparaodesempenhodediversastare-
fascognitivas,entrecálculo,leitura,conversaçãoeplanejamento.)
Diantedoalunoquenãoestáconseguindoaprender,éimportanteidentifi-
caranaturezadoseuproblema.Apontaradificuldadeémenosnocivodo
queoduroestigmadealunoburro,incapazoupreguiçoso.Oalunoquenão
consegueaprendertemconsciênciadesuasdificuldadesequerserajudado.
Aoevitarmosaidentificaçãoeacaracterizaçãodanaturezadasuadificulda-
de,estamoscomprometendoseuprocessodeaprendizagem,oqueequiva-
le,narealidade,aomitirajuda.
Portanto, identificar e diagnosticar adequadamente são importantes recursos para que juntos – pais, professores e especialistas – possamos oferecer uma ajuda mais efi-ciente e eficaz.
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Ostranstornosdeaprendizagemsemanifestamcomoumcontinuumenão
comocategoriadicotômicaclara–estecontinuumrepresentaavariabilida-
deentreos indivíduos.Considereaclassificaçãodaobesidade;estapode
variardesdeumalertade sobrepesoàobesidademórbida.Adiferençaé
queocontinuumdaobesidadeutilizaatributosabsolutos,comopesome-
didoemquilogramaseaalturamedidaemmetros.Nocasodaaprendiza-
gem,diversascaracterísticasnãoconcretas,comoashabilidadescogniti-
vas,estãoemjogo,oquetornaatarefaaindamaisdifícil.
O caráter dimensional dos transtornos de aprendizagem
Para fazerumaanalogia, vamos imaginarquecadaumadasdiversasha-
bilidades envolvidas no processo de aprender está representada em um
eixoquevaide–(inabilidade)até+(domíniototal).Então,comosomos
diferentes,estamossituadosempontosdistintosdoeixo.Poderíamosdizer
que nosso perfil geral de aprendizagempode ser representado por uma
imagemmultidimensional,emquecoexistemdiversoseixosrepresentando
asdiferenteshabilidadesenvolvidasnoatodeaprender.
Operfildehabilidadesdaspessoaspodeserrepresentadoporumapaleta
decoresqueindicaseuspontosfortesefracos.Coresfortesrepresentam
asáreasdemaiorhabilidadeecores fracasasáreasdemaiordificuldade
e,consequentemente,maiorvulnerabilidade.Amaioroumenorhabilidade
para aprender estará relacionada ao fato de a pessoa dispor demais ou
menoshabilidadeshistoricamenterequisitadasparaosucessonomeioaca-
dêmico,quenotadamenteprivilegiaamemóriaoperacional,avelocidade
doprocessamentodainformaçãoeashabilidadeslinguísticas.
Vamosanalisaraaprendizagemdeumacompetênciabásicacomoaleitura.
Existemdiversashabilidadesnecessáriasparaqueumleitorsejaconsidera-
doumleitorcompetente,masvamosnosdeteraquiàsquestõesdadeco-
dificaçãoedacompreensão.
Podemosdefinirquatro perfis distintos de aprendizagem da leituraapartir
doesquemaextraídoeadaptadodeCarrol,Broyer-Crance,Duff,Hulme&
Snowling(2011).
Na figura, o eixo horizontal representa a habilidade de decodificar pala-
vras,quevaria(seguindodaesquerdaparadireita)desdeumasignificativa
dificuldadeatéumadecodificação fluente. Jáoeixovertical representaa
habilidadedecompreendera informação,quevaria (decimaparabaixo)
desde uma compreensão muito boa até uma dificuldade significativa de
compreensão.
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Estegrupodecriançasnãoapresentadificuldadeparalerecompreender.
Ouseja,conseguedecodificaraspalavrasdemaneiraadequada,semgran-
deesforço cognitivo, oquepermiteque amemóriade curtaduração se
ocupedosignificadodoqueestásendolido.
Acompetênciadaleituradeveconsiderarafaixaetáriadacriançaedoado-
lescente.Éesperadoque,no iníciodoprocessodealfabetização,oaluno
saibaosignificadodepalavrasmaisfrequentementeutilizadasnodiaadia
ecompreendasituaçõesmaisexplícitas,expressõesclaras.
Comopassardosanosescolares,éesperadoqueoalunoaumenteseuvo-
cabulário,consigafazer inferênciase iralémdoconteúdoexplícito,com-
preendametáforas,expressõescomduplosentidoeironias.Oaperfeiçoa-
mentodanossalinguageméconstanteaolongodanossavida.
Perfil “bom leitor” quadrante superior direito
Estesalunosdecodificampalavraseoutextosdeformaruim e lenta.Como
aleituraexigegrandeesforçocognitivo,amemóriadecurtaduraçãodes-
ses alunos fica sobrecarregada e, consequentemente, a compreensão do
conteúdolidoficaprejudicada.Sãoaquelesalunosqueapresentamdesem-
penho de leitura inesperadamente abaixo damédia, pois aparentemente
não apresentam causa conhecida que justifique a dificuldade em leitura,
comotranstornossensoriais,déficitintelectual,distúrbiosemocionais,des-
vantagenseconômicaseouinstruçãoinadequada.
Uma importantecaracterísticadessesalunoséqueelesnãotêmprejuízona
compreensãooraldoconteúdoseoutrapessoalerotextoemvozalta.Ouseja,
ficaclaroquenão é uma dificuldade de compreensão em si,masumadeficiên-
ciaparadecodificarocódigoescrito,queconsequentementeprejudicaacom-
preensãodoqueestásendolido.Essassãoascriançasqueestãoem“situação
derisco”paraumtranstorno específico (ou funcional) de aprendizagem.Nes-
senossoexemplo,otranstornoespecíficoemquestãoseriaotranstornode
leitura(tambémconhecidocomodislexia).Outrostranstornosespecíficosde
aprendizagemsãoadiscalculiaeadisgrafia,queserãovistosaseguir.
Perfil “leitor de risco para o transtorno
específico de aprendizagem da
leitura ou dislexia” quadrante superior esquerdo
Os alunos com dificuldades de decodificação geralmente apresentam
déficits no processamento fonológico, por isso, as atividades devem
priorizar o ensino explícito da relação entre a letra (grafema) e o
som (fonema). Atividades que estimulam a percepção dos sons e as
características formais da linguagem oral são bastante recomenda-
das. Veremos estratégias para incentivar o bom ouvinte e estratégias
de comunicação no Módulo 3.
Noquadrante inferior esquerdoestãoaquelesalunosqueapresentamdéfi-
cits mais globais de linguagem,ouseja,tantoadecodificaçãocomoacom-
preensãosãoruins.Noquadrante inferior direitoestãoosalunosqueapre-
sentamdificuldadeparacompreenderapesardeconseguiremdecodificar
demaneiraadequadae,emalgunscasos,atémanterumaleiturafluente.
Osalunosqueseenquadramnessesquadrantes inferioressediferenciam
dosalunossituadosnosquadrantessuperiores,poismesmoqueoutrapes-
soaleiaotextoemvozaltaparaeles,acompreensãodoconteúdodotexto
aindaestaráprejudicada.Essadificuldadeparacompreenderpodedecorrer
de lacunas em diversos domínios da linguagem, que vão desde aspectos
fonológicos a aspectos pragmáticos.Essesdomíniosserãomaisbemexplo-
radosnoMódulo3.Sabemosquecadaindivíduoéúnico,masgeralmente,
paraaquelesqueseencaixamnoquadrante inferior esquerdo, os déficits
de linguagem são mais amploseprovavelmenteabrangem,emalgumgrau,
todososdomínioslinguísticos.Jáosquesesituamnoquadrante inferior di-
reito,possivelmente,apresentamumadificuldademaisfocadaemaspectos
semânticos e/ou pragmáticos.
Essegrupode indivíduoscomperfilderiscoparaumtranstorno global de
aprendizagem é bastante heterogêneo. Uma característica comum é que
apresentamatrasonodesenvolvimentodeumoumaisdomínioslinguísticos.
Essascriançastambémpodemapresentardificuldadesemoutrasáreasda
aprendizagemcomoaaritméticaeocálculo.É importanteobservarque
nãoestamosnosreferindoacriançascomdeficiênciaintelectuale,sim,a
criançascomumperfilmaisabrangentededificuldades.Porisso,chama-
mosoquadrodetranstorno global da aprendizagememcontraposiçãoao
transtorno específico de aprendizagem,queenvolvedomíniosmaisrestri-
tosdedificuldadescognitivas (porexemplo, adificuldadepara realizara
associaçãoentre letrase sons,característicado transtornoespecíficoda
leituratambémconhecidocomodislexia).
Mas,porquealgumaspessoastêmumtranstornoglobaldeaprendizagem?
Namaioriadoscasos,ocorreumasomatóriadecircunstânciasquenãofa-
voreceoplenodesenvolvimentodosmúltiplosaspectoscognitivos,meta-
cognitivos e afetivos envolvidosnoatode aprender, entre eles: atenção,
percepção,linguagem,memória,planejamento,abstração,processamento
dainformação.
É importante enfatizar que o objetivo aqui não é que vocês professores
passemadiagnosticarostranstornos de aprendizagem,masqueconsigam
identificarotipodadificuldadedoalunoepossamreconhecerascrianças
queestejamem“situaçãoderiscopotencial”paraterumquadrodetrans-
tornodeaprendizagem.Apartirdessaidentificação,vocêtambémpoderá
planejareadotaratividadesqueatendammelhorademandadeaprendi-
zagemdaqueleindivíduoe,emalgunscasos,realizarumencaminhamento
paraumaavaliaçãoespecializada.
Perfil “aluno de risco para o transtorno global de aprendizagem” quadrante inferior direito e esquerdo
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Muitas crianças brasileiras crescem em situação de pobreza e não dis-
põemdecondiçõesdemoradia,nutriçãoehigieneadequadas.Também
nãocontamcomfatoresdeproteçãocomoosvínculosafetivosfamiliares
e estímuloparaodesenvolvimentoda fala eda linguagem.A tudo isso
soma-semuitasvezesaexposiçãoaoestresseeàviolência
Afaltadepré-natal,adesnutrição,aalimentaçãoinadequada,asdoenças
nãotratadas,ousoeabusodeálcool,detabacoededrogascomococaína
e crack são considerados comportamentosmaternos de risco e podem
influenciar negativamente o desenvolvimento do feto.Muitos desses ca-
sosresultamnonascimentodebebêsprematuros,combaixopesoemal-
formaçõesfísicas.Nocasodacocaína,algunsbebêsapartirdosegundo
diadevidajáapresentamsinaisdeabstinênciacomofebre,irritabilidade,
sudorese,tremoreseconvulsões.Emoutraspalavras,océrebrodobebê
necessita de boas condições de saúde e nutrição para seu crescimento
saudável.
Interface meio ambiente versus desenvolvimento
Afaltadecuidadosadequadosduranteagestaçãoeduranteosprimeiros
meses de vida pode afetar negativamente o desenvolvimento do cére-
broinfantil,alémdeaumentaraocorrênciadedoençasfísicasementais.
Criançasnessascondiçõesestãoemsituaçãoderiscoparaatrasosglobais
dodesenvolvimento.
Éporissoqueoacompanhamentopré-nataleoscuidadosadequadosnos
primeirosmeseseanosdevidasãoessenciaisparagarantirodesenvolvi-
mentoinfantilsaudável.
Umaoutraetapaimportanteparaodesenvolvimentosaudáveldobebêé
aprenderalidarcomoestresse.Entretanto,vivergrandepartedotem-
posobestressenãoésaudável.Situaçõesdeestresseativamreaçõesde
alertanocorpoenocérebro–umasériedemodificaçõesocorrem,como
aceleraçãodobatimentocardíacoeaumentodadescargadeadrenalina.
Quandodiantedeumasituaçãodeestresse,acriançalogoéassistidapor
umcuidador,osníveisdeestressesereestabelecemeoorganismovolta
afuncionarnormalmente.Mas,nãoéissoqueaconteceemsituaçõesde
negligênciaeabuso.Nessescasos,osistemadeestressepermaneceativo,
mesmonaausênciadeumperigoreal.Talmecanismosobrecarregaosis-
temaemocionaldocérebro,enfraqueceasconexõesentreosneurôniose
asconsequênciasmuitasvezesperduramatéavidaadulta.
Omeio ambiente é responsável por proporcionar experiências que irão
estimularefortalecerasconexõesentreosneurônioslocalizadosemdi-
ferentesregiõesdocérebro,porexemplo,quandoobebêvêumobjeto
eoadultonomeiaoobjetoparaobebê.Essasimplessituação favorece
as conexões entre um som e uma imagem ainda desconhecidos para a
criança.Maistarde,ascriançasentenderãoqueomesmoobjetopodeser
representadoporumafotoouumdesenho,eaindaporalgunstraçosnas
páginas (i.e., letras). Esta é abasedodesenvolvimentoda linguageme
maistarde,daleitura.
A interação com adultos que proporcionam experiências
e oferecem retorno por meio do olhar, da repetição e da apre-
sentação de novos estímulos é essencial para o desenvolvimento
saudável do cérebro da criança, desde o nascimento.
Conversar e ler para as crianças mesmo antes de elas começarem
a falar é importante, porque favorece a construção de “pontes”
entre as diferentes partes do cérebro. Quanto mais pontes,
mais fácil será o caminho da aprendizagem.
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Anomenclaturatranstornoéumaterminologiatécnicautilizadanaáreada
saúde.Umdosobjetivosdeseuusoédescreverdemaneiraclaraesistema-
tizadaumasériedecaracterísticascomunsaumgrupodepessoas,alémde
auxiliarnacomunicaçãoentreprofissionaisdediversasáreas.
Otermotranstorno de aprendizagemrepresentaumaconceituaçãoteórica.
Envolveocomprometimentoemumoumaisdosseguintesdomínios:leitu-
ra, expressão escrita e matemática.Nogeral,sãopessoasqueapresentam
dificuldadesnãoesperadasnessesdomíniosapesardenãoapresentaremde-
ficiênciaintelectual,deestarem–pelomenosinicialmente–motivadaspara
aaprendizagemedecontaremcomcondiçõesadequadasdeensinagem.
Resumirconceitoseideiasamplasemnomesmaisespecíficoséumprocesso
naturaldoserhumano.Quandodescrevemosumalunocomo“bagunceiro”ou
“terrível”,estamosresumindoumasériedecomportamentosobservadosem
umapalavra.Assim,quandodizemosqueumapessoaapresentatranstorno
de aprendizagem,estamosreunindodiversasdificuldadesespecíficasemum
termo.Jáadificuldade de aprendizageméumdescriçãomaisgenérica,ampla
enãosistematizada,quepodeenglobarperfisbastantedistintosdealunos.
Fletcher,Lyon,Fuchs&Barnes(2009)consideramquecincoperfisdepreju-
ízosacadêmicossãoosmaisfrequentementeidentificados.Cadaperfilapre-
sentaumprejuízomaissobressalente,oquenãoquerdizerqueumamesma
pessoanãopossaterprejuízoemmaisdeumdessesdomínios.
Entendendo o termo transtorno de aprendizagem
Principal dificuldade Prejuízo acadêmico
Leitura Reconhecimentodepalavraseortografia
Leitura Compreensão
Leitura Fluênciadeleituraeautomaticidade
Matemática Cálculos,resoluçãodeproblemas
Escrita Grafia,ortografiae/ouproduçãotextual
Adaptado de Fletcher, Lyon, Fuchs & Barnes (2009).
Quandohásuspeitadequeumacriançapossuaumtranstornodeaprendi-
zagem, recomenda-sequeseja realizadaumaavaliação diagnósticamul-
tidisciplinarenvolvendodiferentesespecialistascomformaçãonaáreada
aprendizagem (médicos, fonoaudiólogos, psicólogos, neuropsicólogos e
psicopedagogos).
Na perspectiva atual sobre o processo diagnóstico dos transtornos de aprendizagem, três componentes são considerados essenciais:
1) Avaliação embasada nos pressupostos da resposta à intervenção (do inglêsResponsetoIntervention-RTI);
2) Avaliação do desempenho em habilidades específicas, como as descritas na tabela anterior (coluna “prejuízo acadêmico”);
3) Avaliação de fatores contextuais, que envolvem desde o histórico médico da criança e de sua família, assim como dados sobre o desenvol-vimento global da criança e questões sobre o comportamento dentro e fora da escola.
22 23
ÉummétododeintervençãoacadêmicadesenvolvidonosEstadosUnidos
para oferecer assistência precoce e sistemática aos alunos que estejam
apresentandodificuldadespara aprender. Estádivididoem trêsníveisou
camadas.Inicialmente,érealizadaumasondagemcomtodososalunosde
umasalae todos recebem instruçõesparaatividadesespecíficas.Emum
segundomomento,realiza-seumanovaavaliaçãoeaquelesqueapresenta-
remalgumadefasagemrecebeminstruçõeseatividadesmaisdirecionadas
paraasuadificuldade.Realiza-se,então,umaterceiraavaliaçãoe,nocaso
dosalunoscujasdificuldadespersistam,faz-seumencaminhamentopara
oreforçoindividualdentrodaescolae,emhavendonecessidade,parauma
avaliaçãocomumprofissionalforadaescola.
RTI Resposta à Intervenção
Hámuitosanospesquisadoresvemtentandoachararespostaaestapergunta,e
oquesesabeatéhojeéqueostranstornosdeaprendizagemdecorremdeuma
somatóriadefatores.Nocampodosestudosgenéticos, jáfoi identificadoum
componentedeherdabilidade,ouseja,aprobabilidadedepaiscomtranstornos
deaprendizagemteremfilhoscomestemesmoprejuízoémaior.Alémdessaob-
servaçãodemaiorprevalênciadevidoàproximidadedeparentesco,tambémfo-
ramrealizadosmuitosestudoscomgêmeosmonozigóticos(quecompartilham
100%dacomposiçãogenética)edizigóticos.Osresultadosindicamqueacon-
cordânciaémaiornosgêmeosmonozigóticos,oquereforçaateoriagenética.
Umaoutralinhadeinvestigaçãosãoosestudosqueutilizamtécnicasdeneu-
roimagemparaexaminarocérebro.Demodogeral,osresultados indicam
queopadrãode funcionamentocerebral daspessoas com transtornosde
aprendizagemédiferentedasdemais.Existemáreascerebraisimportantes
paraaleituraquesãomenosativadas.Porexemplo,aregiãodolobotempo-
raldohemisférioesquerdo,importanteregiãoparaoprocessamentofono-
lógico,émenosativada(funcionacommenosintensidade)empessoasque
têmtranstornosdeaprendizagem.Porisso,essestranstornossãoconheci-
doscomoalteraçõesdoneurodesenvolvimento.
Ostranstornosdeaprendizagemdecorremdeumasomatóriadeeventos
e sofrem influênciadagenéticaedas condiçõesdagestaçãoedonasci-
mento.Deumaformageral,podemosdizerquenessaspessoasocérebro
funcionadeummododiferentedasdemais,interferindodeformanegativa
naaprendizagemformal.
Os transtornos específicos de aprendizagempodem ser divididos em três
grandesgruposcombasenosprincipaisprejuízosapresentados:
• Transtornoespecíficodeleitura.
• Transtornoespecíficodaescrita.
• Transtornoespecíficodashabilidadesmatemáticas.
Vale lembrar que ummesmo indivíduo pode apresentar dificuldades em
mais de um domínio. Na realidade, em 40% dos casos de transtorno de
aprendizagem,existeacombinaçãodemaisdeumadificuldadeespecífica
(chamamosissodecomorbidade).
O que causa o transtorno de aprendizagem?
Tipos de transtornos de aprendizagem
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Transtorno Específico da Leitura ou Dislexia
Adislexia é um transtornoespecíficoda leitura epersistente, sendouma
alteraçãodoneurodesenvolvimento.Écaracterizadoporumfracodesem-
penhonaleitura,quenãoéesperado,poisoalunotemadequadainstrução
educacional,alémdehabilidade intelectualesensorialpreservadas(Peter-
son&Pennington,2012).Onometranstornoespecíficoéutilizadoparaen-
fatizarqueodéficiténadecodificaçãoenãonacompreensão.
A dislexia é uma condição hereditária com alterações genéticas, que re-sultam em alterações no padrão neurológico de recebimento e processa-mento das informações.
Ocorre em pessoas que têm visão e audição normal ou corrigida, e que não apresentam problemas psíquicos ou neurológicos graves (como a epilepsia) que possam justificar, por si só, as dificuldades escolares.
O termo dislexia refere-se a um transtorno específico, por isso não deve ser usado para referir-se a qualquer dificuldade de aprendizagem.
26 27
Transtorno de Escrita ou Disgrafia
Asdificuldadesnaescritapodemenvolvertrêsdimensões:grafia,ortografia
eprodução textual.
Adificuldadenagrafiaafetaalegibilidadedeletras,palavrasetextos.Geral-
mentesãodecorrentesdedéficitsemhabilidadesmotorasfinas,movimento
sequencialeplanejamentomotor.Essadificuldadenaáreamédicarecebeo
nomededisgrafia.
Grafia
28 29
Pessoas que apresentam transtornos de leitura frequentemente também
apresentamemalgumgraudedificuldadenaescrita.Apesardadificuldade
emleituraeescritamuitasvezescaminharemjuntas,pesquisascomadultos
mostramquenãosãoomesmofenômeno.Estudosrealizadoscompessoas
adultasquesofreramlesãocerebralmostramquedependendodaregiãoem
quealesãoocorreu,adificuldadepodeserbemespecíficanaleitura(chama-
daalexia)ounaescrita(agrafia).
Habilidadesortográficasdependemdehabilidadeslinguísticasqueenvolvem
mapeamento fonológico,ortográfico,alémdehabilidadede integraçãovi-
suomotora.Étambémnecessáriocapacidadedememóriaparaarmazenaras
regrasortográticasdoidiomaeaescritadepalavrasirregulares.
Naáreadasaúde,aspessoasquetêmsignificativadificuldadenessesdomí-
nios,apresentamdisortografia.Nadisortografia,aescritaémarcadaporer-
rosqueenvolvemarepresentaçãodaortografia.Algunserrosfazemparte
doprocessodeapropriaçãodosistemaortográficodalíngua–fasedeaqui-
siçãodaescrita–e,porisso,devemserinvestigadascomcautela.Asaltera-
çõesquandopersistentesenãomaisesperadasparaoanoescolare idade
podemindicarumtranstornoespecíficodeescrita(Zorzi,1998;Mousinho,
2003;Capellinietal.,2004;Zorzi,2006).
Ortografia
Aprodução textualéumdomíniomaisamplo,querequerhabilidadede“con-
tarhistória”.Poressemotivo,émuitoimportantequeacriançadesdeoensino
infantil sejaestimuladaacontarhistóriascomcomeço,meioe fim;comca-
racterísticasdepessoaselugares(adjetivos)eimpressõessubjetivas.Opapel
doadultoououtracriançacommaiorcompetêncialinguísticaéodeumme-
diador,apresentandoperguntasnorteadorasparaessediscurso,como“Onde
vocêfoi?”ou“Quemestavacomvocê?”(veremosmaisdetalhesnoMódulo3).
Aproduçãotextualdosalunoscomtranstornodeexpressãoescritaébastan-
teempobrecidaemtermosdedetalhes,organizaçãoecoerênciadorelato.
Muitasvezesnecessitamdasperguntasnorteadorasparaorientaraprodu-
çãodeumtexto.
Até o 3o ano é comum que as crianças façam confusões ortográficas, porque a relação com sons e palavras impressas ainda não está dominada por completo.
Produção Textual
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A literaturaespecializadaaindaestáembuscadeummelhorentendimen-
todostranstornosdamatemática,emboratenhamsidorealizadosgrandes
avanços nos últimos anos, particularmente graças às pesquisas de Shalev
(2003),Dehaene(2004),Butterworth(2005)eChinn(2007),entreoutros.
Provavelmente, hámais alunos com transtorno específico das habilidades
matemáticasemsuasaladeauladoquevocêsupõe.Sevocêtemalunosque
leemosnúmerosde tráspara frente, têmdificuldadeparadizer ashoras,
confundempartescomotodo,têmdificuldadedeacompanharpontuação
emum jogoe têmdificuldadepara lembrar fatosmatemáticos,conceitos,
regras,fórmulas,sequênciaseprocedimentos,elespodemterumtranstorno
específicodashabilidadesmatemáticas.
Os termos transtornoespecíficodashabilidadesmatemáticas ediscalculia
sãocomumenteempregadosparafazerreferênciaàsdificuldadesnashabi-
lidadesmatemáticaseenvolvemdiversos sistemascognitivos.Mais recen-
temente também foi introduzido o termo discalculia do desenvolvimento
(Butterworth,2005)para fazer referência aos transtornosdematemática
envolvendooconceitodosensonumérico,danoçãodalinhanuméricaeda
representaçãonuméricadeumadeterminadaquantidade(Dehaene,1997).
Otranstornoespecíficodashabilidadesmatemáticaspode-seapresentariso-
ladamenteouemcombinaçãocomoutrostranstornosespecíficosdeapren-
dizagem,comoadislexia,porexemplo.
Hojesabemosque,damesmaformacomoacontececomaleitura,odomí-
niodamatemáticapodeserdecompostoemdiferenteshabilidades.Existem
habilidades extremamente complexas como resolução de problemas, que
dependemdeoutrascompetênciascomocompreensãode textoeconhe-
cimentodevocabuláriomatemático(porexemplo:“maisque”,“tirar”,“do-
brar”etc.)eoutrasquesedesenvolvemmuitoprecocementeeparecemnão
depender da linguagem, como o senso numérico (conhecimento intuitivo
sobreadistribuiçãodosnúmerosnalinhanuméricaesuarelaçãocomamag-
nitudequeelesrepresentam).
Essashabilidadessãoregidaspordiferentessistemasnocérebro,especiali-
zadosemprocessamento numéricoedecálculos.Geralmente,essasregiões
trabalhamjuntasparaintegrarasdiferentesinformaçõesdemodoadar-lhes
sentido.Aexecuçãobem-sucedidadequalqueratividadematemáticatam-
bémrequerdomíniodeoutrashabilidadescognitivascomoatenção,organi-
zação,capacidadedealterarconjuntosememóriaoperacional.
Transtornos de habilidades matemáticas ou discalculia
Éimportanteressaltarque,mesmonapresençadessasdificuldades,osindi-
víduoscomtranstornodashabilidadesmatemáticastêminteligênciadentro
ouacimadamédia(Dehaene,2004)enãoraroapresentamváriaspotenciali-
dades,taiscomo:linguagemoral,escritadepoesia,áreasdaciênciaquenão
envolvamdiretamenteamatemática(porexemplo,conceitosdabiologiae
química),criatividadeeartesvisuais.
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OTDAHnãoéumtranstornodeaprendizagem,maspodeinterferirnega-
tivamentena aprendizagem. Ele é um transtornodo comportamentoque
secaracterizapordesatenção,hiperatividadeeimpulsividade.Teminíciona
infânciaefrequentementeacompanhaapessoaportodaasuavida.Paraque
aaprendizagemocorra,osprocessosligadosàatençãodevemestarpreser-
vados e íntegros.Diferentes áreas e circuitos cerebrais participamde for-
maintegradaparaamanutenção,seleçãoealternânciadofocodeatenção,
oquepropiciaaaprendizagem.Quandoissonãoacontece,apessoaétida
como“esquecida”:esquecerecadosoumaterialescolar,aquiloqueestudou
navésperadaprovaetc.O“esquecimento”éumadasprincipaisqueixasdos
paisedosprofessores.
Quandoacriançasededicaafazeralgoestimulanteoudoseuinteresse,con-
seguepermanecermaistranquilaeatenta.Issoocorreporqueoscentrosde
prazernocérebrosãoativadoseconseguemdarum“reforço”nocentroda
atençãoqueéligadoaele.Ofatodeumacriançaconseguirficarconcentrada
emalgumaatividadenãoexcluiodiagnósticodeTDAH.
O TDAH é um diagnóstico clínico, realizado por médicos, de preferência em equipe interdisciplinar.
Alguns dos sintomas já são observados antes dos 7 anos de idade.
Os prejuízos decorrentes dos sintomas devem ocorrer em pelo menos três locais diferentes (por exemplo, em casa, na sala de aula e na escola de esportes).
Existe clara evidência de prejuízo significativo no funcionamento acadêmico, social ou ocupacional.
Outros transtornos que podem interferir na aprendizagem
Transtorno do déficit de atenção
e hiperatividade (TDAH)
AtríadesintomatológicaclássicadoTDAHcaracteriza-sepordesatenção,
hiperatividadeeimpulsividade.
Adesatençãoémaisfrequentenosexofeminino;ahiperatividadepodenão
ocorrereexisteelevadataxadeprejuízoacadêmico.
Oshiperativossãomaisagitadoseimpulsivosemrelaçãoaosubtipoanterior
eporissogeralmentesãomaisrejeitadospeloscolegas.
Desatenção
Hiperatividade
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Nestegrupo,observamoselevadograudeprejuízoacadêmico,maiorpre-
sençadesintomascomportamentaisemaiorprejuízonofuncionamentoglo-
balquandocomparadoaosoutrosdoissubtipos.
Impulsividade
As pessoas com TDAH podem necessitar de acompanha-mento médico e em alguns casos são prescritos medi-camentos para minimizar alguns sintomas, tais como a excessiva desatenção e a impulsividade.
Precisamosestaratentoseintervirprecocementenoscasosdosalunosque
nãoconseguemaprender.Otranstornodeaprendizagemcomprometenão
apenasodesempenhonaescola,mastambémavidasocialeofuturoprofis-
sionaldapessoa.
Osentimentodenãopertencimentoaoambienteescolarqueexperimentaa
criançacomumtranstornodeaprendizageméextremamentelimitanteem
termosdoplanejamentodesuasfuturasaçõesnavidaadulta.Apóspassar
anosafiorepetindoumahistóriadefracasso,semferramentasparaprogre-
dir,énaturalqueoindivíduosinta-sevencidopelosseus“limites”.
Neste módulo, introduzimos os conceitos de dificuldade e transtorno de
aprendizagem.Adificuldadeétransitóriaedecorredeeventospontuaisna
vidado indivíduo,taiscomomudançadeescola, faltadeadaptaçãoauma
determinadametodologiadeensino,problemasfamiliares,etc.Otranstor-
nodeaprendizagemtemnaturezaneurológica,éinato,permanenteemui-
tasvezes temcaráterhereditário.Exemplosde transtornosespecíficosde
aprendizagemsãoadislexia,adiscalculiaeadisgrafia.
Independentedanaturezadosproblemasapresentadospeloaluno(dificul-
dadeoutranstornodeaprendizagem),existemformasdeajudá-los.Asele-
çãodamelhorformavaidependerdaidentificaçãodaseveridadeedaboa
caracterizaçãodesuasdificuldades:estratégiasindividualizadasemsalade
aula,acompanhamentoporespecialistasdasaúde,orientaçãofamiliar,etc..
Poressemotivo,oprofessorépeçafundamentalnosuporteàidentificaçãoe
caracterizaçãodosperfisdehabilidadesedificuldadesdeseusalunos.Onão
aprenderé fontedeansiedadee frustraçãoparaacriançaenãopodemos
deixá-ladesamparadanesseprocesso.
Conclusão
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“A alma respira através do corpo, e o sofrimento, quer comece no corpo ou numa imagem mental, acontece na carne.”
António Damásio(1944)
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