ofensa sexual: conceito, diagnÓstico e … · casos clínicos exemplificarão tais conceitos...
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OFENSA SEXUAL: CONCEITO, DIAGNÓSTICO E ABORDAGEM.
MARIA CRISTINA MILANEZ WERNER, MSc, LMFT
Diretora do IPHEM (Instituto de Pesquisas Heloisa Marinho); Conselheira da ATF/RJ
(Associação de Terapia Familiar do Estado do Rio de Janeiro); Psicóloga, Sexóloga,
Terapeuta de Casal e Família, Terapeuta em EMDR, Terapeuta em Ajuda Humanitária
Psicológica. Mestre em Psicologia Clínica pela PUC/RJ; Especialista em Terapia
Familiar Sistêmica pela Núcleo Pesquisas; Formação em Sexualidade Humana pelo
Instituto Persona/SP; Formação em EMDR pelo Instituto Ibero Americano de EMDR;
Formação em AHP pela ABRAPAH (Associação Brasileira de Programas de Ajuda
Humanitária Psicológica).
CONTATO: cristinawerner@globo.com
Avenida das Américas, 3301 – Bloco 1 – sala 211. Barra da Tijuca – Cep. 22.631-004
Rio de Janeiro – RJ – Brasil – Telefone (55) (21) 2431-4788 e (55) (21) 9977-5400
RESUMO: A Antropologia advoga, com maestria que, se objetivarmos modificar um
determinado comportamento precisamos, em primeiro lugar, modificar o discurso que
se aplica sobre ele. Com base nesta premissa antropológica, esta pesquisadora vem
propondo a mudança do emprego do vernáculo Abuso Sexual para Ofensa Sexual,
visando mudança de mentalidade, de compreensão e de abordagem deste fenômeno. Em
função da metacomunicação que a palavra Abuso Sexual transmite, se faz necessário
que ela seja substituída, com urgência, por Ofensa Sexual, em prol de adequada
proteção integral de crianças e adolescentes. São estes os principais motivos desta
substituição proposta: a manutenção da palavra Abuso, além de liberar o uso indevido
de corpos infantis e adolescentes para os adultos, não entra na ambiência da Ofensa, que
é a da dor física e emocional, o grande flagelo da violência sexual. Além disso, impede
um acolhimento adequado, tanto da Figura Ofendida quanto da Figura Ofensora, uma
vez que ser referido com Abusado e Abusador gera perda e repulsa social no convívio
de ambos, na sociedade. Além disso, juridicamente falando, para se referir a sujeitos,
nos “crimes contra a pessoa” utiliza-se o termo “vítima”; nos “crimes contra o
patrimônio”; o termo “lesado”; e nos “crimes contra a honra e contra os costumes”, a
palavra utilizada é “ofendido” e não abusado. E para a ampla compreensão do
diagnóstico da Ofensa Sexual, nas famílias, será necessária análise dos Estressores
Verticais, através da Transmissão Transgeracional; e dos Estressores Horizontais,
através da Triangulação Perversa. Para ilustrar a aplicabilidade destes conceitos, dois
casos clínicos exemplificarão tais conceitos chaves da Teoria Sistêmica.
PALAVRAS-CHAVE: ofensa sexual, abuso sexual, violência sexual, teoria sistêmica.
A linguagem é ação e por meio dela é possível criar novos objetos e produtos,
transformar o mundo, abrir ou fechar possibilidades e construir futuros diferentes,
segundo Silva (2008). Seguindo este espírito transformador da linguagem, esta autora,
baseado em seu trabalho de mais de 30 anos com crianças e adolescentes ofendidos
sexualmente, propõe que a palavra Abuso Sexual seja substituída por Ofensa Sexual,
em toda e qualquer situação que a primeira seja empregada, a fim de cessar os
equívocos que a primeira palavra meta-comunica; e para colher os benefícios que a
segunda oferece, especialmente em relação às crianças e adolescentes, as grandes
vítimas deste triângulo relacional perverso.
1- CONCEITO:
A proposta de mudança de nomenclatura, da troca de vernáculos, para lidar com
o fenômeno da violência sexual, no dia-a-dia, contra crianças e adolescentes, ampliaria
e auxiliaria a compreensão real dos fatos e dos danos causados a todos os personagens
envolvidos nesta trama de dor e de rotas alteradas. O objetivo, proposto por esta autora
é, ao mudar o vernáculo, mudar mentalidades, e ao mudar mentalidades, mudar a
maneira de agir, de lidar como o fenômeno e, ao fazê-lo, trazer mais proteção,
segurança e eficácia no auxílio e cuidados com a criança e adolescente e adequada
responsabilização e tratamento dos (das) ofensores (as). Esta premissa se baseia nos
estudos da Antropologia que nos mostra que, para modificar um comportamento,
precisa-se, primeiro, modificar o discurso que se faz sobre ele. Assim, de acordo com a
Antropologia, se não mudarmos a maneira de nos referirmos a um fenômeno, não
mudaremos mentes e em vão tentaremos modificar nossa forma de ver os fenômenos. A
linguagem e a forma como nos comunicamos, uns com os outros, é coisa séria e não
uma mera discussão vã de palavras. Einstein dizia que “uma mente que se abre a uma
nova ideia jamais voltará a seu tamanho original”. Trata-se, portanto, de disposição para
abrir-se para o novo, ampliar e crescer em uma nova forma de racionar, semanticamente
falando. Esta autora, baseando-se em seu trabalho clínico e como perita judicial, vem
propondo, desde a última década, a mudança do uso da palavra Abuso Sexual para
Ofensa Sexual (WERNER 2007, 2009, 2010, 2012), apoiando-se, além da
Antropologia, também na Linguística, que nos traz a noção dos atos e dos fatos
linguísticos. No curso Linguística Geral, sobre Ferdinand de Saussure, o Professor
Antônio Jackson de Souza Brandão1, nos traz:
A fala, ao contrário da língua, por se constituir de atos individuais, torna-se múltipla,
imprevisível, irredutível a uma pauta sistemática. Os atos linguísticos individuais são
ilimitados, não formando um sistema. Já os fatos linguísticos sociais, bem
diferentemente, formam um sistema, pela sua própria natureza homogênea. Vale
ressaltar, no entanto, que tanto o funcionamento quanto a exploração da faculdade da
linguagem estão intimamente ligados às implicações mútuas existentes entre os
elementos língua (virtualidade) e fala (realidade).
O que falamos e o que escrevemos têm implicação direta na sociedade. Não nos
damos conta do alcance e da real dimensão das palavras. Longe de ser vã a discussão
sobre elas; é sobremaneira prudente admitir o poder que a linguagem tem. Para
Echeverría:
“Através dela, vamos também construindo nossas identidades, tanto as individuais
quanto as coletivas. O que dizemos, o que calamos, vai progressivamente contribuindo
para definir como somos percebidos pelos demais e por nós mesmos”.
(Echeverría, 2001, p. 53)
Quando comunicamos algo com alguém, estabelecemos laços cognitivos,
afetivos, profissionais, sociais, religiosos, jurídicos, filosóficos, enfim, compromissos
que nos unem uns aos outros, de forma indelével, porque a palavra, uma vez
pronunciada, permanece e ganha domínio público. Silva (2008), citando Flores (1997,
p. 44) afirma que:
1 http://www.jackbran.pro.br/linguistica/curso_de_linguistica_geral.htm, em 26 jul. 2010 22:15:48 GMT.
Nada ocorre sem a linguagem, sendo necessário, portanto, para compreender qualquer
atividade organizacional, compreender os atos de falar e escutar (...) a linguagem não
deve ser compreendida apenas como um instrumento que utilizamos para representar
nosso pensamento, mas sim como conversações; especificamente “conversas para
ação” e “conversas de possibilidades”. (1997, p. 44)
Echeverría (1994) afirma que é a linguagem a chave para compreendermos os
fenômenos humanos, uma vez que somos constituídos pela e na linguagem e relações
sociais. Somos seres simbólicos porque temos linguagem, que nos procedeu ao
nascimento, e na qual nos inseridos, desde nosso nascimento biológico, tornando-se
seres sociais, como também apregoa Vigotsky e Bakhtin.
Citando Echeverría (2001), Silva (2008) nos esclarece que, no subdomínio da
linguagem existem competências que nos levam a falar e a escutar. No falar:
“cabe-nos distinguir diferentes ações que realizamos, cada uma das quais incide,
diretamente, na efetividade de nosso trabalho”. Chamamos a essas ações de “atos da
fala” ou de “atos linguísticos básicos”. Surgem, a partir daí, múltiplas competências
conversacionais concretas. Dentro delas estão incluídas, por exemplo, a maneira como
fazemos e fundamentamos nossos juízos. Silva (2008).
Bechara (2001) define atos linguísticos como sendo a realidade concreta da linguagem,
ou seja, o autor considera o ato linguístico como cada unidade de comunicação da
linguagem humana, quer uma palavra, quer uma frase.
Portanto, como psicóloga e pesquisadora, estou propondo um ato linguístico, que venha
constituir um fato linguístico, que tenha um papel político ousado: mudar mentalidades,
visando maior proteção de crianças e adolescentes em relação ao flagelo da ofensa
sexual.
1.2 - SUBSTITUINDO A PALAVRA ABUSO SEXUAL POR OFENSA SEXUAL:
Quando estudamos o fenômeno da Ofensa Sexual geralmente encontramos a
palavra Abuso Sexual. Acredito que a continuação da utilização deste termo cronifica
uma mazela social e afetiva e ratifica uma visão, machista e sexista, de que adultos,
especialmente os homens, têm direitos de uso sobre o corpo de mulheres e de crianças,
fato inaceitável na sociedade e na cultura atual. Vamos às definições da palavra abuso,
em alguns dicionários. Em Bueno, acharemos “uso excessivo, exorbitância de
atribuições”. Em Ferreira, também acharemos “uso excessivo”. Em Koogan & Houaiss,
abusar é “fazer uso desmedido” e abuso, “uso excessivo”. Na Wikipédia, pela internet,
também acharemos abuso indicando um “comportamento excessivo”. Parece-nos que a
definição de usar em excesso é o que se repete nestes e em vários dicionários
pesquisados. Também no senso comum, quando falamos em abusar de algo,
compreendemos que é “ir além a algo permitido ou esperado”. Assim, quando falando
que um sujeito “abusou da comida”, compreende-se que alguém comeu (fato lícito e
correto), porém foi além do que devia; isto é, comeu em excesso. Igualmente quando
mencionamos a expressão que uma pessoa “abusou da bebida”, compreende-se que
alguém bebeu (fato social e aceitável em comemorações), porém extrapolou nas doses;
isto é, bebeu em excesso. Igualmente podemos lembrar a fala “abusou dos gastos”,
quando se compreende que alguém foi às compras, que é fato necessário à manutenção
da vida, porém o fez de forma pródiga; isto é, gastou em excesso. Poderíamos fornecer
mais exemplos com “abusou da velocidade ao dirigir o carro”, “abusou do tempo na
conferência”, “abusou das solicitações” etc. Em todos estes exemplos verificaríamos
que abusar, ou usar em excesso, refere-se sempre a algo que é, ou lícito, ou necessário,
ou primordial, ou aceito socialmente, ou esperado, ou tolerado; enfim, algo que, se
extrapolado, parte de algo permitido, aceito, reconhecido, suportado; portanto, o
emprego do vernáculo “abuso” está correto e adequado. No trabalho com álcool e
drogas, por exemplo, é corrente o emprego das palavras Uso, Abuso e Dependência para
trabalhar as gradações de perdas na vida do usuário advindas do uso, do uso em excesso
(chamado corretamente de Abuso) ou da total dependência da substância psicoativa
eleita, o que é um bom e correto emprego do vernáculo abuso.
Se abusar, como foi mostrado até agora, é “usar em excesso”, com a Ofensa
Sexual este pensamento não é suportável e nem aceito, porque adultos que abusam de
crianças não tem o direito sequer de usá-las sexualmente, quem dirá usá-las em excesso!
Diferentemente de quem come, bebe álcool, gasta dinheiro, dirige em alta velocidade,
gasta muito tempo em alguma atividade, como dormir ou dar palestras, ou faz pedidos e
reclamações, etc., que pode usar todos estes itens e, de tempos em tempos, até abusar
dos mesmos, em ocasiões específicas, quem pratica atos libidinosos com crianças e
adolescentes não pode nem fazê-los, e muito menos, faze-los em excesso. Quando
afirmamos que um pai “abusou sexualmente de sua filha” não podemos admitir que ele
usasse a filha sexualmente, e que seu erro foi usá-la em excesso. Não. Seu erro foi
primário, foi usá-la, porque ele não tem sequer este direito. Se continuarmos a usar o
termo abuso sexual estaremos meta-comunicando, isto é, comunicando
subliminarmente – e as palavras têm poder, através de atos linguísticos, como vimos -
que “usar sexualmente pode, o que não pode é abusar”, o que pode gerar frases
danosas como “estupra, mas não mata”, “foi só uma vez”, “mas nem teve introdução do
pênis!”, “mas ela ainda é virgem, não rompeu nem o cabaço (hímen)!”, frases que esta
pesquisadora costuma ouvir no dia-a-dia do atendimento clínico ou em perícias
judiciais.
Preconizo o uso das palavras Ofensa Sexual ao invés de Abuso Sexual. Ofensa
é um termo mais apropriado, por que:
a) Em primeiro lugar, como vimos, a palavra abuso libera o uso, apesar de recriminar o
excesso do mesmo, enquanto que a palavra ofensa nada nos transmite sobre autorização
para usar, proibição para não usar ou liberação para usar excessivamente.
b) Em segundo lugar, a palavra ofensa já traz em si a noção da dor, mais
especificamente de sofrimento, tanto psíquico como físico, e não de um simples uso,
como a palavra abuso remete simplesmente remete, pois não faz alusão à dor.
c) Em terceiro lugar, as palavras abusado (a) e o abusador (a) carregam em seu bojo
preconceito e repulsa social; já ser referido (a) como ofendido (a) e a ofensor (a) muda a
forma de acolher e tratar as pessoas envolvidas neste triângulo relacional, mostrando
que ambos os vértices precisam de tratamento, para além dos procedimentos jurídicos
necessários nestas situações.
d) Em quarto lugar, juridicamente falando, para se referir ao sujeito, nos “crimes contra
a pessoa” o termo correto é “vítima”; nos “crimes contra o patrimônio”; o termo correto
é “lesado”; e nos “crimes contra a honra e contra os costumes”, o termo correto é
“ofendido” e não abusado.
Ofensa reme-nos à “lesão; injúria; ultraje; agravo; desconsideração;
menosprezo”, em Bueno; e também a “dano; desacato”, em Ferreira. Já em Koogan &
Houaiss, ofensa é “palavra, ação que fere alguém em sua dignidade; o próprio
sentimento ou ressentimento causado pela ofensa”. Ao trocarmos a ideia de uso por
dor, sofrimento entra-se na ambiência da ofensa, que sempre é carregada de muito
pesar, por fato tão danoso a todos: à criança ou ao adolescente (ofendido); a pessoa
praticante do ato (ofensor) e a pessoa, mais diretamente ligada à vítima, que não foi
capaz de impedir que a ofensa acontecesse (facilitador ou negligente). Apesar das
peculiaridades nas formas de pesar de cada um dos vértices deste triângulo familiar
perverso, há uma conexão entre estes sofrimentos, e o tratamento destas dores está
interligado. Vamos analisar cada um destes vértices, cada uma destas dores.
2- DIAGNÓSTICO:
a) O sofrimento do ofendido: é facilmente compreendido, pois seu corpo foi
violado, com lesões físicas mais ou menos agressivas, mas com lesões psicológicas
sempre profundas. A fronteira quebrada entre as gerações – entre pessoas que, pela lei
ou pelos costumes, não poderiam ter contato sexual e tiveram - é a mesma rompida,
independentemente da dimensão física ou numérica dos atos. Não se pode quantificar o
sofrimento pela quebra da confiança, da segurança, do respeito, do cuidar. Ainda não foi
criado um “dorômetro” ou um “sofriômetro” para quantificar a dor e o sofrimento de
quem sofre uma ofensa; quantificá-la pela extensão física é um dos maiores enganos
que um terapeuta pode fazer. Quando trabalho como profissional perita em ofensa
sexual [ver WERNER (2004 a), (2004 b), (2004 c) (2009)], no trabalho voltado para a
Justiça, visando à responsabilização penal (prisão) e civil (perda do poder familiar) do
ofensor, esta gradação nos interessa para o enquadramento legal no Código Penal
Brasileiro; mas quando nossa prática fica restrita à clínica [ver WERNER (2006a),
(2006 b), (2007) (2009)], o que se deve levar em consideração é que adentramos em
uma situação de alargamento de fronteiras, mesmo que a atuação do ofensor tenha sido
uma única vez, ou que a mesma tenha sido situações de masturbação e não de coito; o
trauma da perda da confiança é o mesmo; cada um sofre a seu modo e consegue lidar e
elaborar de acordo com sua capacidade de resiliência desenvolvida e trabalhada,
terapeuticamente. Há feridas que nunca conseguirão cicatrizar; outras serão elaboradas.
O EMDR tem se mostrado excelente ferramenta terapêutica para crianças, adolescentes
e adultos na prática clínica desta pesquisadora.
b) O sofrimento do ofensor: ao contrário, não é assim tão visível, e esta é a
terceira razão para que substituamos a palavra abuso por ofensa. Ser visto como
abusador traz uma marca muito mais forte do que ser referido como ofensor. A
sociedade tem tendência a rotular as pessoas com termos pejorativos, em situação de
doenças mentais, psíquicas ou emocionais. Assim, o esquizofrênico vira “o louco”; o
dependente químico se torna “o bêbado” ou “o maconheiro” e o abusador,
especialmente quando pedófilo, é visto como “tarado” e pervertido. Por mais difícil que
seja, é preciso olhar o (a) ofensor (a) como alguém doente emocionalmente, que precisa
de ajuda, e que provavelmente sofre dificuldade com seu autocontrole, que não funciona
adequadamente, a ponto de conseguir impedi-lo de partir para o “acting-out”, para
atuação direta com seu objeto de desejo, incestuoso e proibitivo. Seu centro regulatório
de comportamento não funciona como deveria, e será necessária a construção de alguns
mecanismos regulatórios de conduta, para que a pessoa do ofensor possa, de novo, vir a
conviver com a pessoa ofendida. Enquanto esta construção (de novas estruturas afetivo-
cognitivas) não ocorre, a terapia em grupo ou grupo reflexivo, com outros (as) ofensores
(as), têm se mostrado útil nesta aquisição, nos casos de incesto. Até lá, é necessário que
ofensor (a) e ofendido (a) fiquem distantes, fisicamente, um (a) do outro (a).
c) O sofrimento do (a) facilitador (a) ou do (a) negligente: é perceptível, mas,
como em um primeiro momento, as sensações iniciais são variáveis e influem na
percepção da própria dor. Em alguns casos, a descrença sobre o fato, e a total
incapacidade em perceber sua participação (mesmo que passiva) no mesmo, impede o
contato com o sofrimento, uma vez que não há assunção de culpa, no sentido da
corresponsabilidade pela ocorrência da ofensa sexual. Entretanto, às vezes se dá,
justamente, o contrário. Os sentimentos de raiva, indignação violenta e revolta, pelo
conhecimento do incesto são, muitas vezes, acompanhados de sentimentos de menos
valia, pela percepção, por parte da pessoa negligente ou facilitadora, de ter sido incapaz
de perceber tais fatos, mais precocemente, a fim de impedi-los ou de fazer cessar tais
danos às figuras dependentes. Nestes casos, o sofrimento é bem maior do que quando o
fato é, inicialmente, negado.
3- ABORDAGEM:
3.1 - A VERTICALIDADE NAS FAMÍLIAS COM OFENSA SEXUAL: A
TRANSMISSÃO TRANSGERACIONAL.
A constatação de situações transgeracionais de ofensa sexual nas famílias reforça a
necessidade da mudança da nomenclatura, a fim de que comecemos um novo discurso
verbal, na esperança de que o mesmo influencie práticas sociais diversas das que hoje
temos, em relação ao incesto. A mudança de nomenclatura sobre a ofensa sexual irá
influenciar novas práticas sociais, jurídicas, clínicas e terapêuticas, modificando a forma
de atuação dos profissionais que lidam com fato tão nefasto à família e à sociedade, e
que requer atenção nos três vértices do triângulo: ofensor (a), ofendido (a), facilitador
(a) (ou negligente).
Em muitas famílias atendidas, de classe popular, no ambulatório do GEAL/UFF (Grupo
Transdisciplinar de Estudos em Álcool e outras Drogas, da Universidade Federal
Fluminense), em parceria e apoio do IPHEM (Instituto de Pesquisas Heloisa Marinho);
ou as de classe média ou alta, em consultório particular, pudemos constatar que o
fenômeno ofensa sexual nas famílias atendidas não era, em grande parte delas, recente.
Parece haver uma autorização velada para que a ofensa sexual contra crianças e
adolescentes se perpetuem de uma geração à outra. Necessário se faz que esta
“jurisprudência” familiar seja apagada, e não mais escrita. Nestes casos, é necessário
que a terapia de família se estenda até quantas gerações se fizerem necessárias,
mobilizando a vinda, em consultório, não só do triângulo perverso
ofensor/ofendido/negligente, mas das famílias nuclear, de origem e ampliada, de acordo
com o desenrolar das sessões. Os fenômenos transgeracionais foram estudados
particularmente por Murray Bowen (1978) e Ivan Boszormeny-Nagy (1973), que nos
mostraram quão poderosas podem ser as forças familiares, movidas pelas memórias
multigeracionais. O caso clínico, a seguir, exemplifica este fenômeno transgeracional.
Caso Clínico A:
Adolescente Vítima de Ofensa Sexual: Mãe de adolescente de 12 anos procura o
GEAL/UFF, por orientação do Conselho Tutelar de uma cidade vizinha à Niterói,
Estado do Rio de Janeiro, Brasil, por denúncia por ela perpetrada, contra um tio-
paterno, que tentou bolinar sexualmente sua filha, sobrinha-neta do mesmo. A mãe
chegou muito nervosa e transtornada ao atendimento, exibindo um comportamento que
sugeria haver algo ainda mais denso, nos bastidores da família. Ao começarmos a
montar o genograma de sua filha, a mãe revive seu próprio drama familiar: ela foi
ofendida sexualmente pelo pai, dos oito aos dezoito anos, juntamente com suas outras
duas irmãs, mais jovens. Aquela oportunidade de atendimento foi catártica para ela, no
sentido de poder permiti-la elaborar, emocionalmente, os fatos que haviam acontecido,
há 23 anos. (naquela ocasião ela estava com 31 anos). Neste atendimento uma nova
significação foi trazida (conotação positiva), ao episódio da filha, visto como importante
para a revelação dos segredos da família e da fratria. Como o assunto começou a ser
comentado, novamente, tanto na família nuclear, de origem e ampliada, juntamente com
as providências domésticas, que começaram a ser tomadas na casa, a fim de evitar a
revitimização da adolescente – esta foi morar, temporariamente, com uma tia, em outra
cidade próxima - a avó também revelou ter sido ofendida, sexualmente, pelo padrasto,
após morte de sua mãe, quando passou a morar sozinha com ele. Neste caso, vemos três
gerações de ofensores sexuais: um bisavô, era padrasto da avó; um tio-avô paterno,
ofensor da adolescente; e um avô paterno, pai da mãe e das tias da adolescente, que
foram igualmente ofendidas. Também percebemos três gerações de mulheres ofendidas:
a avó materna; a mãe e as tias maternas; e a adolescente referida. O trabalho do
terapeuta familiar, em casos semelhantes a este, é o de trabalhar, junto à família, o
desmantelamento desta “tradição”, de homens violarem as mulheres da família. Neste
caso específico, havia um “motivo” alegado em comum: tanto o bisavô, padrasto da avó
materna, como o tio-avô paterno, que ofendeu a adolescente, ambos estavam “sem
mulher”: o primeiro estava viúvo e o segundo, separado. Ao invés de procurar parceiras
na sociedade, decidiram estes senhores, resolver suas carências sexuais e afetivas com
as mulheres jovens da família, como que este lhes fosse um direito inalienável, com o
gasto discurso de que “era apenas um carinho de tio com a sua sobrinha; não tem
maldade nisso” (sic).
Genograma:
GENOGRAMA A
DATA: JUNHO DE 2003 CRISTINAWERNER 2003
3.2 – A HORIZONTALIDADE NAS FAMÍLIAS COM OFENSA SEXUAL: A
TRIANGULAÇÃO PERVERSA
A constatação de situações incestuosas de ofensa sexual nas famílias também reforça a
necessidade da mudança da nomenclatura, a fim de que fique mais visível a violência
intrafamiliar e o sofrimento que elas causam a todos envolvidos. Um caso de ofensa
sexual reverbera em todos que dele participem ou tomem conhecimento. Não é possível
ficar imune a uma revelação de ofensa sexual. No filme “Sobre Meninos e Lobos”, a
ofensa extrafamiliar modificou as rotas de vida dos três garotos, amigos na ocasião em
que um deles foi ofendido, por uma figura religiosa: um tornou-se policial, combatendo
crimes; outro virou bandido, envolvendo-se com o submundo das drogas; e o ofendido
tornou-se justiceiro, saindo à noite para salvar vítimas de violência. Cada um, a seu
modo, lidou com a perda da inocência e da traição da confiança; que ficou agravada,
neste caso, pela origem do ofensor (um religioso, pertencente a um alto escalão na
hierarquia da igreja), pois comprometeu outra instituição forte, além da família, em
nossa sociedade, a igreja, gerando mais uma a perda: a da crença religiosa.
Nas muitas famílias que atendemos no ambulatório do GEAL/UFF/IPHEM, ou nas
demais, no consultório particular, pudemos constatar que o fenômeno ofensa sexual na
família precisa não de dois atores (ofensor e ofendido), mas de um terceiro: o
facilitador. Estes três elementos formam um triângulo, figura bastante estudada na
terapia de família, especialmente através de Murray Bowen (1971). Mas este triângulo,
por suas especificidades, forma um triângulo perverso, descrito por Jay Haley (1967),
citado por Miermont (1994), que escreve que os triângulos perversos apresentam um
funcionamento específico e são empregados, de maneira disfuncional, para “qualificar
as relações em certas famílias nas quais a hierarquia e a repartição de poder são
confusas, provocando inversões de posições em relação às fronteiras intergeracionais.”
(pág. 573). Sempre que estivermos diante de uma denúncia de uma ofensa sexual,
estaremos, necessariamente, diante, também, de outra forma de violência contra
crianças e adolescente: a negligência. A figura do negligente ou facilitador, aquele que
fecha o triângulo - que é a menor unidade emocional em uma família - também é uma
figura triste: ela não foi capaz de impedir a ofensa sexual, quer porque não suspeitou;
quer porque não preveniu o ofendido, quer porque não acreditou nos indícios que seus
sentidos captavam. De fato, admitir que o homem que se escolheu para companheiro,
prefere praticar atos sexuais com seus próprios filhos, sobrinhos ou netos, é uma
constatação extremamente dura e devastadora, para qualquer pessoa. Assim, enquanto
os fatos não forem gritantes demais, o ofensor e o ofendido formarão o bloco dos
“insiders”, enquanto a figura do facilitador/negligente assume a extremidade deste
triângulo perverso como o “outsider” da história. Quando, porém, acontece a revelação
da ofensa sexual, e sua devida crença e acolhimento, estas posições dentro do triângulo
se invertem: ofendido e facilitador tornam-se os “insiders” e o ofensor assume o outro
vértice do triângulo perverso, como o “outsider”.
Caso Clínico B:
• Criança e Adolescentes Vítimas de Ofensa Sexual: Família procurou
atendimento no GEAL/UFF por encaminhamento do Juizado e da Promotoria da
Infância e Juventude, de cidade vizinha à Niterói, Estado do Rio de Janeiro, Brasil, em
função do flagrante de uso e porte de maconha pelo filho de 15 anos. A família foi
encaminhada ao Ambulatório de Terapia de Família e Sexualidade porque a mãe do
adolescente relatou que o mesmo fora ofendido sexualmente pelo padrasto, assim como
suas outras duas irmãs, sendo uma enteada e a outra filha biológica. Com o decorrer das
sessões, foi revelado que outra filha biológica, a mais velha, do casamento anterior do
pai, também fora ofendida por ele. Este é um caso clássico de reincidência familiar de
incesto, com um “ofensor serial” pedófilo e com forte presença de violência doméstica,
por problemas ligados ao álcool e de comportamento, por parte do ofensor. Havia dois
focos sistêmicos – uso de álcool por parte do pai/padrasto e de droga, por parte do
adolescente referido, e a ofensa sexual, praticada pelo pai/padrasto - e quatro pacientes
identificados. Optamos por focar as questões sexuais e delegar as relativas ao uso de
álcool e droga às assistentes sociais e conselheiros químicos, que trabalhavam no
atendimento de dependência química. Iniciamos a abordagem familiar, focando,
inicialmente, a irmã do adolescente referido, de 13 anos, que se encontra grávida de
quatro meses, a fim de trabalhar elaborações na área da sexualidade e maternidade que
se avizinhava. Em seguida, foi trabalhada a fratria (o adolescente, a adolescente grávida
e a irmã de nove anos). O passo seguinte foi trabalhar o sofrimento da mãe, que não
soube perceber a ofensa sexual, que migrou de seu filho mais velho, até sua filha mais
nova, quando enfim deu-se conta do que ocorria à noite, em sua casa, quando
surpreendeu o companheiro ofendendo sexualmente sua própria filha, há de nove anos,
utilizando, para intimidá-la e para manter o silêncio, uma “peixeira” (tradicional faca
utilizada no Nordeste brasileiro), colada a seu pescoço, enquanto mantinha relações
sexuais com a criança. A mãe relata que rapidamente percebeu que estes episódios já
deviam acontecer a muito tempo. Optou por “fingir” que não viu a cena, com medo de
que a percepção, por parte do pai, de que ela tivesse visto a cena pudesse comprometer a
vida da filha. Na manhã seguinte, fugiu de casa com os quatro filhos, inclusive o mais
novo, um menino de cinco anos, que provavelmente seria a próxima vítima do pai, se a
mãe não tivesse quebrado o elo perverso da ofensa sexual, rompendo com seu papel
passivo e negligente; e assumido papel ativo e protetivo em relação aos seus quatro
filhos.
• Genograma
GENOGRAMA B
DATA: NOVEMBRO / 2003
Cristina Werner / 2003
CONCLUSÃO:
Sem a substituição da palavra abuso por ofensa, parte dos esforços que são envidados na
proteção de crianças e adolescentes, contra a violência sexual, tornar-se-ão inúteis se
continuarmos a meta-comunicar (a comunicar subliminarmente), a permissão de uso dos
corpos de crianças e adolescentes para o prazer equivocado de adultos com “erro de
alvo”, pela autorização de uso que a palavra abuso continua a permitir a cada vez que é
empregada, até por parte daqueles que pretendem proteger crianças e adolescentes.
REFERÊNCIAS:
1. BOSZORMENYI-NAGY, Ivan & FRAMO, James (1976). Terapia Familiar
Intensiva – aspectos teóricos y practicos. Traducción Francisco Gozález
Aramburo / revisión técnica Raymundo Macías Avilés, Miguel Foncerrada
Moreno & Roberto Derbez Muro – 1ª. ed. – México D.F.: Trillas. 569 p.
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