trechos da poesia canção de mim mesmo (song of myself) - walt whitman

Post on 13-Feb-2017

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Seleção e adaptação de versos da poesia

CANÇÃO DE MIM MESMO

𝑑𝑜 𝑙𝑖𝑣𝑟𝑜 Folhas de Relva, 𝑑𝑒 𝑊𝑎𝑙𝑡 𝑊ℎ𝑖𝑡𝑚𝑎𝑛

www.nicholasgimenes.com.br

Eu celebro a mim mesmo, e canto a mim,

E o que assumo, tu assumes,

Pois todo átomo pertencente a mim também pertence a ti.

A atmosfera não tem o gosto da essência, não tem odor,

estou apaixonado por ela, Estou louco que entre em contato comigo.

A fumaça da minha própria respiração,

Minha expiração e inspiração, meu coração batendo,

sangue e ar passando por meus pulmões,

Alguns beijos leves, alguns abraços, um buscar de braços,

A sensação de saúde, o gorjeio ao meio-dia, a canção de mim

erguendo-me da cama e encontrando o sol.

Achaste que mil acres são demais? Achaste a terra grande demais?

Praticaste tanto para aprender a ler?

Sentiste orgulho por entenderes o sentido dos poemas?

Fica este dia e esta noite comigo

e possuirás a origem de todos os poemas,

Não mais possuirás coisa alguma de segunda ou terceira mão,

nem te nutrirás dos fantasmas que há nos livros,

Também não olharás pelos meus olhos,

Ouvirás todos os lados e saberás filtrar tudo por ti mesmo.

Nunca houve tanta iniciativa como agora,

Nem tanta juventude ou experiência como agora,

E nunca haverá tanta perfeição quanto agora,

Nem tanto céu ou inferno como agora.

Ímpeto e ímpeto e ímpeto,

Sempre o fecundante ímpeto do mundo.

A indiferença real ou fantasiada de um homem ou mulher que amo,

A doença de um parente ou de mim mesmo, ou a falha,

ou perda ou falta de dinheiro, ou depressões ou exaltações,

Estas coisas vêm a mim dias e noites e se vão de mim de novo,

Mas elas não são o meu Eu verdadeiro.

Entre o puxar e arrastar fica o que sou.

Fica divertido, complacente, compassivo,

Olhando de lado, curioso, o que virá a seguir,

Creio em ti minha alma, o outro que sou não deve se rebaixar a ti,

E não deves ser rebaixada ao outro.

Vagueia comigo na relva, solta a trava da garganta,

Nem palavras, nem música ou rima quero, nem hábito ou palestra,

nem mesmo os melhores,

Somente o sossego me agrada, o rumor de tua voz.

Lembro-me como uma vez deitamos certa manhã de verão, como

assentaste tua cabeça em meus quadris e gentilmente viraste para mim,

E abriste a camisa em meu peito e lançaste tua língua em meu coração,

Espalhaste a paz e conhecimento que superam todos os argumentos

Um menino disse 'O que é a relva?' trazendo-a para mim

Como podia responder ao menino? Não sei o que é, assim como ele.

Suponho que seja a bandeira do meu ânimo,

tecida em um tecido verde esperançoso

O que achas que foi feito dos jovens e velhos?

Estão vivos e bem em algum lugar,

O brotinho é a prova de que de fato não há morte, tudo avança

e se expande, nada entra em colapso,

Debruçado sobre os nichos ao lado e novos,

sem perder uma pessoa ou objeto,

Absorvendo tudo para mim mesmo e para esta canção.

A pressão de meu pé sobre a terra faz jorrar mil afeições,

Elas escarnecem do máximo que faço para descrevê-las.

Estou encantado com a experiência de crescer ao ar livre,

O que é mais comum, mais barato, mais próximo, mais fácil, sou Eu,

Sem pedir ao céu que baixe à minha boa vontade

Sou dos velhos e jovens, dos tolos tanto quanto dos sábios,

Desatento com os demais, sempre atento aos demais,

Maternal não menos que paternal, uma criança assim como homem,

Sinto-me em casa nas montanhas ou no mato,

Sinto-me em casa nas colinas de Vermount ou nos bosques do Maine,

Camarada de jangadeiros e carvoeiros, camarada de todos que

apertam mãos e oferecem bebida e comida,

Um aprendiz com os mais simples,

um professor dos mais pensativos,

De toda cor e casta sou, de toda classe e religião,

Ouviste que era bom ganhar o dia? Também digo que é bom cair,

Batalhas são perdidas com o mesmo espírito com que são ganhas.

Vivas àqueles que falharam!

Minha festa é para todos,

não terei uma só pessoa desprezada ou relegada,

Em todos enxergo a mim mesmo, em nenhuma vejo mais

do que eu sou, e nem um grão a menos,

Sou o poeta do Corpo e sou o poeta da Alma,

Os prazeres do céu estão comigo e as dores do inferno estão comigo,

O primeiro acrescento a mim mesmo e distribuo,

o segundo traduzo em uma nova língua.

Sou o poeta da mulher assim como do homem,

E digo que é tão bom ser uma mulher como ser um homem,

Tivemos fuga e censura o bastante

Ultrapassaste os demais? És o Presidente?

Isso é ninharia, eles irão além desse teu feito.

Sorri, ó terra voluptuosa de hálito fresco!

Sorria, teu amante vem vindo.

Tu mar! também me entrego a ti – entendo teu sentido,

Contemplo da praia teus curvos dedos convidativos,

Creio que te recusas a recuar sem me sentir,

Devíamos sair juntos, corro pra longe dos olhos da terra,

Recebe-me suavemente, me embala em ondulante adormecimento,

Este minuto que vem a mim depois de decilhões passados,

Não há nada melhor que ele agora.

Quem quer que degrade outro, degrada a mim,

Por Deus! Não aceitarei nada de que todos não possam ter sua

compensação nos mesmos termos.

Visão, audição, sensação, são milagres,

e cada parte e pedaço de mim é um milagre.

Divino sou por dentro e por fora, e torno sagrado o que quer que

toque ou que me toque,

Contemplar a aurora! A frágil luz desfaz as imensas sombras,

Também nos erguemos fascinantes e tremendos como o sol,

Encontramos o que é nosso, ó minha alma,

na calmaria e no frescor da alvorada.

FELICIDADE, (que quem me ouça ponha-se à procura dela hoje.)

Ouço o som que amo, o som da voz humana,

Ouço todos os sons correndo juntos, combinados, prosseguindo,

Sons da cidade e de fora da cidade, sons do dia e da noite,

Jovens falantes àqueles que gostam deles, o riso ruidoso

Ah, isso sim é música! - isso condiz comigo.

Por fim solto-me novo para sentir o enigma dos enigmas,

E a isso chamamos Ser.

O insignificante é tão grande quanto tudo mais,

(O que é menos ou mais que um toque?)

Lógica e sermões nunca convencem,

O sereno da noite penetra mais fundo em minha alma.

Acho que eu podia ir viver com os animais,

eles são tão plácidos e reservados,

Eles não se queixam de sua condição,

Não ficam acordados nas trevas nem lamentam seus pecados,

Nenhum está insatisfeito, nem ensandecido para possuir coisas,

Nenhum se ajoelha ao outro,

Nenhum é respeitável ou infeliz sobre toda a terra.

Solitário à meia-noite,

meus pensamentos longe de mim por um bom tempo,

Acelerando pelo espaço, acelerando pelo céu e pelas estrelas,

Sirvo-me do que é material e imaterial,

Tudo isso eu engulo, se torna meu,

Agonias são uma de minhas mudas de roupa,

Não indago da pessoa ferida como se sente,

eu mesmo me torno a pessoa ferida,

Nem um garoto é preso por furto sem que eu seja levado também

com ele, e com ele sou julgado e sentenciado.

Nem um paciente de cólera dá o seu último suspiro

sem que eu dê o meu último suspiro,

Basta! basta! basta! Por alguma razão estou atormentado.

Afastai-vos!

...

Descubro que estou à beira de cometer um erro comum.

Que eu pudesse esquecer os que zombam e os insultam!

Que eu pudesse esquecer as lágrimas que escorrem

e os golpes das clavas e martelos!

Homem ou mulher, queria dizer quanto gosto de ti, mas não posso,

E contaria o que está em mim e o que está em vós, mas não posso

Tu que estás aí, impotente, de pernas bambas,

Abre o lenço que cobre a tua boca até que eu sopre coragem

para dentro de ti,

Não pergunto quem tu és, isso não é importante para mim,

E em minha alma juro que nunca o negarei.

Lanço todos os homens e mulheres para frente comigo,

em meio ao Desconhecido.

Põe tua mochila nas costas, filho amado,

e eu farei o mesmo, e vamos logo,

Estás me perguntando algo também e posso ouvir você,

Respondo que não posso responder, deves encontrar respostas por ti

Deves habituar-te ao fulgor da luz e

de todos os momentos de tua vida.

Por muito tempo, tu te agarraste timidamente

a uma prancha na praia,

Agora quero que sejas um nadador ousado,

Para pular no meio do mar, te ergas novamente,

acenes para mim, grites e, sorrindo, agites teus cabelos.

Se puderes me entender, sobe para o cume das montanhas

ou segue para a praia,

O mosquito mais próximo é uma explicação,

e uma gota ou movimento das ondas é uma dica,

Nenhuma lugar fechado ou escola pode afinar-se comigo,

As criancinhas são nisso melhores do que eles.

Tenho dito que a alma não é mais que o corpo,

E tenho dito que o corpo não é mais que a alma,

E digo a qualquer homem ou mulher, deixe que sua alma fique

tranquila e íntegra perante um milhão de universos.

E digo à humanidade, não sejas curiosa sobre Deus,

Ouço e vejo Deus em todos os objetos e ainda assim

não compreendo Deus minimamente,

Vejo algo de Deus em cada hora das vinte e quatro,

e em cada momento,

Nos rostos de homens e mulheres vejo Deus,

e em minha própria face no espelho,

E quanto a ti, Morte, e tu, amargo abraço da mortalidade,

é inútil tentar me assustar.

Para o seu trabalho sem vacilo chega o parteiro,

E quanto a ti, Cadáver, acho que serás um bom adubo,

mas isto não me ofende,

Sinto o perfume doce das rosas brancas que irão crescer

Talvez eu devesse contar mais. Esboços!

Vedes, ó meus irmãos e irmãs?

Não é caos nem morte – é união – é vida eterna – é Felicidade.

Ouvinte que está aí! Que confidências tens para me fazer?

(Fala honestamente, ninguém mais te ouve,

e só fico apenas por mais um minuto.)

Contradigo a mim mesmo?

Muito bem então contradigo a mim mesmo,

(Sou vasto, contenho multidões.)

Concentro-me naqueles que estão próximos,

aguardo na porta.

Quem deseja andar comigo?

Se me quiseres de novo, procura-me sob as solas de tuas botas.

Falhando em me encontrar no começo não perde o ânimo,

Não me achando em certo lugar, procura em outro,

Estou em alguma parte, te aguardando.

www.NicholasGimenes.com.br

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