as turvações da inocência

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rw€q.ru@rm espebvrim: IisÍa senrarc, srrrge "PoesÍn 'I'otln", tle Herberto Hehler, o se.guula edição naAssírio &.Aluim. Srto quirr/rerrtrrs c selenÍo esei.spágürrn, c off esp oruletn u uil tle emn lirtros rerrrirlo srecsta óa pafie. nwnóric u,I) o rest o, toruo detwlo o queJìm tlo kulo rhuertlutlc dewn poder seuüo,não ó pxtk: úueflïilur - 0u r t o nn escrar€ Etluurda I' nul o Codlrc no texto soln'e u shie tb poenrus 'oí)s Selos", rprr., nuoJiuiu putle tlu edíçuo unl erior, " nn o é p ossírcl rcnr1t reentlet' d e foru - arrrrlilirrarlerr te, A íuúca coarprnerr.sdo óu dnnçu tkt pr óp riu ilú digibilkh tl (, W e se.fï n 1xil atr ua 1t aluura - corpo ã t:otpooo, Heúeno Hekler ese reúeu0 eut raist utyrc pul ilic anns p0r0 fffÌrn re.r'i.va qrre depois tl e s a 1x u' e c eu, " Lta e stl a Guliza", Itoi u qn'op ósito tlu outru etlição tle o'P oesia '[ o tkf ', S obre este lh:ro, soln'e os eqtúuorcs do srr nenli.snro e tla p síc análi se, sobrc o terrfucl eutó strofu tlo srrcessoo sobre u soli(lão plaie.túria tle un poenm. Solrca.s nmaçõestla inocônciae amorte tlaalnn, i:t ,,.-,::' ru8UCo ASTuntt+Ço DAII\OCEI\ICIA HERBERTO HELDER e repente há m lim, muitas fo lhas, pmmas, filó€sde inageng ritmos, símbolos - Son um autor de folheioa Um dia alguém pergunúoÈme: por- que úo reúne tudo? Dc facto,por- que úo ? E apalecemn Ìim, ese Ìim "Pmia'l'ula". O que me rurprendeu náo foi o volme, enfim, não táo gmde omo is, ontudo pe mim púprio de tm mpcsm inmpcmd4 úo loio rclmedovolume ma sua fom ura4 a ffião iniern4 is, clam, m- prundeu+e bastante. .- Surprundcu< üer alcançado una fomam? - [mvw m Fxma deüdo à swpeita deque enqmtoo mvemma.Ìgo vai aconter, m ois fimúdável, aìgoque nostrruforu- rá" que hansfomrmá tudo. Corno m inÍãnci4 qmdo*fie àportademquarioobruoeva- zio. l'ie+duranteu minutolmbrislevm- ta* nm mnJins da obsuidade m rtemoi- úo no a, m luz, m iluminaç.áo talvez? Es tamos pmnüEpam o asntimml,o. Ouho minu- to, cino, dez,a.li, diarüe do uúacio ru1rm e msrudor: nãoaontee mda. Poder+'ia * pem'lnr dia inteirc, dic seguidc À vues pá- m* no ureio de m jardim ou de m lnque ou deurm avenidadwrta. Sâo wiantes doquarlo. Acontro o mcmo, querodiren úo acontc m- da Asuspeita apemdeque nGaguÌdatm* pecie de graç rctimte, m dom retiente. Ou onüempÌa+ m ros1o, a.Ìguém que* am4 m *r imediaüo; ou então m msb dmnhaido, defendìdo. Pemros: é m üda nov4 ma for- ça now e pmfmd4 é tm paisgem misierios4 prcfunda e now que se relaciona intimente omtro: vai rcvelar-*e. E a outra pessoa olha para ús prdida rns prspectivas inqúctas da nosa contemplaçáo. E reomeça*. O mesrno, sempre. Nada Por isso surpreendzu*e a, diga- moq coerêrcia vertial dovolunc,eoseu ompri- meniodeond4 a m-bia da música reiüerada Por- queosfolhetos, ada penra eda spetaüm s aita, náo onduim a guaÌquer revelaçáo em iorno cla qua.l * organirc um... um sisteÍnâ ... podereidizer: msisrem?..., úo, náo: mim- gem, m metáfom geml Ssia cta ieoú obw sin de mmúçoq de espemq a mesrnâ anm- úçáq a mmm esper4a perguntarepetid4 se- ria a ronÉnciao quedammidade eüta.lidade aoonjmto?O çe lherìavaapmíel rslidade? -Quìeraaprgmta? - Nm houveneúlm rcs1osta, múum rewlago. Náo*iquelerguta ea - Escreve* por is, por uÌna sps mça? - ChamJhe eçemnça.. dnmemeÌhe mt6... bem, atençao, srpeita, tentação... Ewe ú tnn fomm um form legivel e apeziguado Ë ms momenios m porta do quarto, no parque, m ruava{ deftontedorosioapamido. Ewü pam hÉs numa espécie de engolfamnto memo riaì. Náoconsegui mrìa, foi mntinrro no quato, nojardim,àfrentedroffi úbitas. M6onÌÌe- çoagtrmaexistênúde umpergunta inesgotá- ve1 que se fomuÌa, * assimpos düer, pelaob- jwtivago dos anedoru evasircs,dff alusões, dmsimisremoüos. - E para que sewiu escrtver se todâ a ontabilidade acabaai m mmpergun- tarorentc? - Náosolmo temadauhlidade,porqug pergmlo:emqueâmbiìoéútiÌrejaoque for? In- üer€s meslr resuìtado: o de queem mim, u- pr:mdrre em gmmátia, ern pauta, há rm expectativa ardente, ìm ardeníeperyunta*m resposta, uro perplexidade ardenÍ,e quemeon- edem m enho. m mnto de vista mbre a de bmdadadasois,oisuenhifirgaspandim- te, nos dim, no ms dos dim, entrífugm pan tnt, nG inslânts rmis derm da mernóri4 áto mm fosfomndo no eótio fÌuo da memória E entáo eu ei: respim nts pergunta,rapirc m Nrita dessâ lrrgunlâ. QuaJquer mposta *ria m em. Como eu prúpüo zugui algures: m er- rcdmmusas disaÍcìas -Querdiru?.- - Quere m dizer que qualquerrcsposta se ria uma mgânú, um em pan m multadm da acção. O oneito eÌebre, o elebénimo, de queo pero é um objc{o - bom, l,omou* um lugaronm, já nem requer * pem niw, di- -Ìo lnda agente:m ymmúoobjrtos-, om * * mneito stabeleu+ nm teneno nóvel, movediço, sim oblectns, mõ omo pmÉÌìtos, orrúmenbse instrumentos:* máwn, oslr*i- dog aspeltse tribuaspintadro,m$stôe; mplu- ma, ru m, m pedru nigim E prátim *nr pre o m quedelc * fu, uro mtrxtâ nwi- ria ao dmfio dm oiru ou à ua resisténcia e inércia, No entanü0, repare,ou actwos >>

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Auto-entrevista de Herberto Helder

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Page 1: As Turvações da Inocência

rw€q.ru@rm fÇ espebvrim:

IisÍa senrarc, srrrge "PoesÍn'I'otln",

tle Herberto Hehler,

o se.guula edição na Assírio

&.Aluim. Srto quirr/rerrtrrs c

selenÍo e sei.spágürrn,

c off esp oruletn u uil tle e mn

lirtros rerrrirlo sre csta ó a

pafie. nwnóric u, I) o rest o,

toruo detwlo o queJìm tlo

kulo rhuertlutlc dewn

poder seuüo,não ó

pxtk: úueflïilur - 0u r t o nn

escrar€ Etluurda I' nul o

Codlrc no texto soln'e u shie

tb poenrus 'oí)s Selos", rprr.,

nuoJiuiu putle tlu edíçuo

unl erior, " nn o é p ossírcl

rcnr1t re entlet' d e foru -

arrrrlilirrarlerr t e, A íuúca

coarprnerr.sdo ó u dnnçu tkt

pr óp riu ilú digibilkh tl (, W e

se.fï n 1xil atr u a 1t aluura -

corpo ã t:otpooo,

Heúeno Hekler ese reúeu0

eut raist u tyrc pul ilic anns

p0r0 fffÌrn re.r'i.va qrre depois

tl e s a 1x u' e c eu, " Lta e s tl a

Guliza", It oi u qn'op ósito tlu

outru etlição tle o'P oesia'[ o tkf ', S obre este lh:ro,

soln'e os eqtúuorcs do

srr nenli.snro e tla p síc análi se,

sobrc o terrfucl eutó strofu tlosrrcessoo sobre u soli(lão

plaie.túria tle un poenm.

Solrca.s nmaçõestla

inocônciae amorte tla alnn,

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ASTuntt+ÇousDAII\OCEI\ICIA

HERBERTO HELDER

e repente há m lim, muitas folhas, pmmas, filó€sde inagengritmos, símbolos

- Son um autor de folheioaUm dia alguém pergunúoÈme: por-que úo reúne tudo? Dc facto, por-que úo ? E apalecemn Ìim, ese

Ìim "Pmia'l'ula". O que me rurprendeu náofoi o volme, enfim, não táo gmde omo is,ontudo pe mim púprio de tm mpcsminmpcmd4 úo loio rclmedovolume ma suafom ura4 a ffião iniern4 is, clam, m-prundeu+e bastante.

.- Surprundcu< üer alcançado unafomam?

- [mvw m Fxma deüdo à swpeitadeque enqmtoo mvemma.Ìgo vai aconter,m ois fimúdável, aìgo que nos trruforu-rá" que hansfomrmá tudo. Corno m inÍãnci4qmdo*fie àportademquarioobruoeva-zio. l'ie+duranteu minutolmbrislevm-ta* nm mnJins da obsuidade m rtemoi-úo no a, m luz, m iluminaç.áo talvez ? Estamos pmnüE pam o asntimml,o. Ouho minu-to, cino, dez, a.li, diarüe do uúacio ru1rm emsrudor: não aontee mda. Poder+'ia *pem'lnr dia inteirc, dic seguidc À vues pá-m* no ureio de m jardim ou de m lnque oude urm avenidadwrta. Sâo wiantes do quarlo.Acontro o mcmo, quero diren úo acontc m-da Asuspeita apemdeque nGaguÌdatm*pecie de graç rctimte, m dom retiente. OuonüempÌa+ m ros1o, a.Ìguém que* am4 m*r imediaüo; ou então m msb dmnhaido,defendìdo. Pemros: é m üda nov4 ma for-ça now e pmfmd4 é tm paisgem misierios4prcfunda e now que se relaciona intimenteomtro: vai rcvelar-*e. E a outra pessoa olhapara ús prdida rns prspectivas inqúctas danosa contemplaçáo. E reomeça*. O mesrno,sempre. Nada Por isso surpreendzu*e a, diga-moq coerêrcia vertial do volunc,eoseu ompri-meniode ond4 a m-bia da música reiüerada Por-que os folhetos, ada penra eda spetaüm saita, náo onduim a guaÌquer revelaçáo emiorno cla qua.l * organirc um... um sisteÍnâ ...podereidizer: msisrem?..., úo, náo: mim-gem, m metáfom geml Ssia cta ieoú obwsin de mmúçoq de espemq a mesrnâ anm-úçáq a mmm esper4 a perguntarepetid4 se-ria a ronÉnciao quedammidade eüta.lidadeao onjmto?O çe lhe rìavaapmíel rslidade?

-Quìeraaprgmta?- Nm houve neúlm rcs1osta, múum

rewlago. Náo*iquelerguta ea- Escreve* por is, por uÌna sps

mça?- ChamJhe eçemnça.. dnmemeÌhe

mt6... bem, atençao, srpeita, tentação... Eweú tnn fomm um form legivel e apeziguadoË ms momenios m porta do quarto, no parque,m ruava{ deftontedorosio apamido. Ewüpam hÉs numa espécie de engolfamnto memoriaì. Náo consegui mrìa, foi mntinrro no quato,nojardim,àfrentedroffi úbitas. M6onÌÌe-çoagtrmaexistênúde umpergunta inesgotá-ve1 que se fomuÌa, * assim pos düer, pela ob-jwtivago dos anedoru evasircs, dff alusões,dmsimisremoüos.

- E para que sewiu escrtver se todâ a

ontabilidade acabaai m mmpergun-tarorentc?

- Náo solmo temadauhlidade, porqugpergmlo: em queâmbiìoéútiÌrejaoque for? In-üer€s me slr resuìtado: o de que em mim, u-pr:mdrre em gmmátia, ern pauta, há rmexpectativa ardente, ìm ardeníe peryunta *mresposta, uro perplexidade ardenÍ,e que me on-edem m enho. m mnto de vista mbre a debmdadadasois,oisuenhifirgaspandim-te, nos dim, no ms dos dim, entrífugm pantnt, nG inslânts rmis derm da mernóri4 átomm fosfomndo no eótio fÌuo da memória Eentáo eu ei: respim nts pergunta, rapirc mNrita dessâ lrrgunlâ. QuaJquer mposta *riam em. Como eu prúpüo zugui algures: m er-

rcdmmusas disaÍcìas-Querdiru?.-- Quere m dizer que qualquer rcsposta se

ria uma mgânú, um em pan m multadmda acção. O oneito eÌebre, o elebénimo, deque o pero é um objc{o - bom, l,omou* umlugaronm, já nem requer * pem niw, di--Ìo lnda agente:m ymmúoobjrtos-, om ** mneito stabeleu+ nm teneno nóvel,movediço, sim oblectns, mõ omo pmÉÌìtos,orrúmenbse instrumentos:* máwn, os lr*i-dog aspeltse tribuaspintadro,m$stôe; mplu-ma, ru m, m pedru nigim E prátim *nrpre o m que delc * fu, uro mtrxtâ nwi-ria ao dmfio dm oiru ou à ua resisténcia einércia, No entanü0, repare, ou actwos >>

Page 2: As Turvações da Inocência

êsp6l6l/llvror ]fl ,."*r.*..**,*

E l{ r R E 'ü:: : l ' : ' i í1l i ' . . i '

>> rw zom do quotidimo de onde náo foi afu-gentado o mmvilhoso ou existem oubas mnas,um quotidiano da mvilh4 e entáo o pcma érm oblmto mrr4ado de trxlem magnífim, ter-rífins: Jnsto no síl,io erto, no instab @rto, Fgunrìo a ngm <r:rkr, promove um derCcrn euro onìem que situm o mundo nm ponüo ex-lrerm o mudoaobaeomla Aliás úoémc-tanìente m objeto, o poema, m um uüemíüo:dc fonr parw rrm objwto, tem m wru qualidadeLangíveis, úo é porcm rnda pen sr üsto mspam mmeìar, Mmejmelo. Acçao, üemos aqu+la lenzrqcnta  aopo é a nrrm pergunta à mlü-dadr:: e a rcsposll enmntmela aí: m repcnti-m desnìem luminro em rclta, morden daac-çio nspnrlida ynr uma qspríie de motim, umdmlrumcntode tudo:o mundo tomrem fac-to no\o no FEma, 1nr virtlde do Frerna - umareaìidade nova. Quando apenas re diz que o pemaé rur oÌrjdn, crnfundrc, simplifim; pa-rre realmente um obir{o, sim, mm porque omundo, peìa acçáo danv foma cheia de prderu,s enmntm ncÌa iwito:é registo e multado dmpnlem. D temos su foru: a fom que vernos,ei-la: mpira. pukl movre - é o mundo tmpfrrnnado ern poder da palavn1 em prlam objerii-va inrentatì4 em imaÌidade objctin Se dizemm simplesrnente: é m obleto- irerimm noelenor de emblemm que nc rcdeia um equívmmeÌindrov, lnrque um obirtÕ pode sr út-il oudmmtirp, e a poesia náo o pode *r nma E ir-m.euve.

Qumdoolho Jum* lim, vejo que náo fa-briquei ou mnstruí ou afeiçei objatos - stmpaìarrrs náo srplem o mwno modo de f.ur *,v{oquemü apemw pcm4 m pero emmmm: dmrie a üda inteim bmdi em kdrom dis1fm o msmo aparelhq a msm mfurim. Fui um inrunie, porque ú * onegueis om inmência E e a inmência é um condi

@o imtrstituírel de mândaìo, ma hansparen-te e môbiliadom fmiÌiaidade oma tera. oetitui tanÌtÉm um m;s: pois há um aìJm enoue w slre: as oisas ludibrirenm. ludibriá-mencs ms oiw; a inmência dewú ter-ncoleruido m üda eshrpend4 um hmüto: o trem üomo pmporcionado mmo pm lwitação;rcr. trw: m missimplmacime facüos póximcomo irusLuti-nrc e ompleio oúwimenbo. Emasim, foi ruim. mmador,mvomdemoníaes,o abisrno junüo à dmç. a noile que s vai iroi-numdo a toda a aÌtun e Ìargw da lu, tudo ismúvade a inmência- e entáo já úo ubemm m-da, por exernplo: *ú inente a nns inmârcia?A inrcência é um ctâdo clandstino m ditadmdo mundo; tem * derastutâ, iem de mm aücdasas üorpea pam lutareropar; *du reoia-nrras, responde à remória om a memória a ufala mmtn o demoníam enhetese om a faladennníaa E temm sim a im6nú envolviclamttxu@dâguerr4eéoguereircquemaìi-menta a guer4 é ele que alimenta o outm guer-reim, a rnrbm Na vendade a inocncia úo existe, úo existe o demoníao, snão mmo partes di-úmìru de m poder, e náo exprimo aqui nenhu-ma ideia moral, polític4 institucionaì, m umaideia da ondem dro ois, forçs e expressóes. Amagia. re mino tãoompluo de @er,é m m-wnenl,o mtuml mdmmitio, mcoordem-da dcurença de níveis da omiência fomuÌa-çm do derjo, dornínim da mÌidade, debates daperw orn a realidade. O objaio que eu agiüomortifemente é um m mbígua Como eeu estiw metido numa cpÉcie de guem m-üa: a ninln inmência é anwina

- A sua mncpçáo da prresia asntaportanto m ideiadoswíciodem pods.

- O 1nÌer de danmpor a polam do mmrlo,quem dizer: a roìlidade, emlxm úo eibamos doque w tmta, ist o: pvJere rcalidade. NãoémmpÌetamenie inteligírcÌ: ú l*rubemm no e mm o ac-to de efcl.ivr esç poder mbre rs realidade; noactn de srita. no acto de sbemia" no acto debrardir o objttto fuiom que mmos em palaua,cnr rÌiirncr(lenuríaote ìttuutc. no nreiorìa ntir-lìu dt' imrgcrrs cm que tudo r apernla. Mas este gxìer, que ó um g)dcr lrágio, ongÌtì Ìis-os: muiLsrrzcvim+o feitiçrorntrao firitiei-ro -- uns enkltluctem, outros suicicliun-*, hátamlxim aqu:les oue fitm misleriownente Ìnu-.lq. ,,u estriÌr'is. e aqucLs ainda que r pxm m

wltas a falu, o pior, m morios mnom: atimpcin pan cima ctes, *rim rois bontm m-cúede Omé puim inüoxiru+oma paixáodo perigo, denmlver+ a genie denho dmpaixão: porque o otm e a pmta s mndem emrwde Íìomta frndmde nin4 temdepoisdarigu Apaixáoé a moml da pmia:arísquema o@ s querem enüender; ilisquem o corpo,asn medid4 * pretendem dmbú o enho doorpo; e sir4 mivluem mbretudo o mme peswI pom ouvirem o nore de baptimo mmo o emdo nome datera. De rorte quee tal @eréo da pópria pamo: ninguém onegue awntu-ru€ na pffiia olffiionmdo objatos - e!â-hns,stahretas jóiaE derem *rilimúm, olhmde lms maternu, imporláveis oim que nosontemplam, moI.w de er rcim contempÌa-do. E então é nmária ma nobrea indizível,por ueurplo: firu de frente m olhm rotemos,lmninm, e c ncs olhm fim elcinadm - oepisodio, onhairrmno mtigos: dizia+ que mdosegaw qucm molhre. Reficreaes nobrea: omo sdeixísmcde*r nc m*moqmapliede impasibilidadeenqwto*mi firodo egu na íÌorutadm lffi

-Náoó um poum cnfátim, is?- E muito enfiriio om um míriío msler-

no. Náo mu modemo, eú. Âênfmzubtinla porum lado o truicüerextrcmo da fxsiaeporoutma ila mtureziì cxtÌcmanente dúbia de onitietl*tn údr r: r e oiadorir, c o segnxloju bilatoúo tleu duplicidade; zubìiúa tambem, mdalos-

menúe, o sntido nãeint elm'tual, supemcional,orpoml do podu da imaginago pctia panmima o uiwm e identifiqr tudo mm tudo. Anilhra modem tomoue inepaz de tal ênfm,pois trata-* de m aillm alimentada pelo m-cionaÌismo, a investigaçáo, o utilitarismo. Se spediràculhm moderu pammmidmospíri-üo enfriiio da magh, a ideniifm@o do noso cor-Do com a mtéú e tr fomm. tnda a modemid*ãe dmba Porque o espíriüo eúitim uisbe pelambtrac$o dc elemenüos em çe se funda mqitun Eforçoo ir longqamreóndidcdoìem-po, irbeber m noitesmrltas. Prc que a fisic4agor4 Õmeçaa trâbalhtrno *ntidoda perguta

@tia: m oi*s hâm entre si rela@ de misü*rio. náo relaóc de mus e efeito. Abm mi-úoatraí6 ãaúffidadq inqutindo, seguindoadilE.

-Nâo * pmpôso walimolmlrroertmprincipioo implícitm rcênfa-g?

-Osrmlim foi umequívm, umsmde equívm Breton, que principim pelm reverêncàs parisiem a Valéry, ei de repente em\Ìem,1úe-wadevoruodr. Freud.VaÌéryrepesenta aquib mamo que gde scruir de insullomltm qualquer pcsw: vx€ é um intelatualfirnm! Quanio à psiaráli*, eis a doutrim porexcelênciaomptora da uralldade: o mrìo piortìe lazer pergrntas; úo perguntas detinadm aobter rspstas Enorntmrenos no címÌo È.cludo da modemid^rtle. Em Freud vê-re lom o

PiSU("0

mitólogo impm, o miador de fiopa aprioústi-ms. Es{ava dstimdo a farer srÌa Vê* neìetambém o torhrm burgus austrÍm do mmqodo sârrlo,e aindaporcimajudeu, um bugureju-deu em onIìiio om o momìismo judaim. EsLrvadestinadoaenwrero tudo. O tim de intfl(tuâlaemplamenle, implaavelmen-te, sinislramen-íe pronüo pan oneber um sistem hmilis àglobal degmdago modem. Breion devomu<.Quqndo talanm a D. H- larence do "mmplexode Fdipo"- que, mje* outrc nore, é algomuiüo misextem e prcfimdo, mais urmplexo, embretudo mis exaltanüe, e fundmentalmentereligim-ele tapoumouvidm: em m pmfar-çáo! Pu.leria ter prctestado; úo mmmpam a s'ralidade das grudes a.liançs humaaç. ni rdstrum a tem\ náo tmgam grbrta à tcnalPoisengolìuaquilohrdo,oouho, Breton. Talvezs peLiìN que6tam empatumdo. Náo oüvaFoi a Mu, que ao te mpo pamia mris opiprruque hoi, e do'omu< também. Agom tinlmmomatcrialimo diaìéctio, a luta de clss, a mas-lalia: tínhamm a exultacão mnomicisLl 0n-quzurto e pmtiaw a retririq do mor e da lìber-dade. Deitamm+ ainda m mpa de leguresumas espaiarim leve; o edíver esqúsilo, a s-aitaautoruátie (tamica para qjuda a rcloúo doinomiente fuudimo. dizia*). os delírim si-muìadm, o m oblrtirc, ete, aspecìuim Ieres,huquc. Prcnta a mwir, a mpa Breíon em umsrgento mcheirc, m mrgento iruível e pe-rempiorio. Ou omim daçilq hxlm, ou len-m m hombas; ea a hopa llem, prutou aI-gum sewigx inrcluntárim. Arüaud alniou+ nadiriplim do regimento para deserttr num edroloum; algum referêrcim urealistas fomúteis,àdistâacia,panMichau I\doemiqurea origìnalidade dm apíriüos origimis. Ár1aud eMichauagm em dusou trêcnlhemdruda mixórdia e fom-s om elas, prepamm osu festim mirífio: náo há mda m izuuim deles queuibaamrcho. Algm mis em looç, ernfala cb:angein Táo longe! Em outrm mpas,ouhos fstim. Tmbém m houve intmgáveis,Ionge, m rrc e omo tanto das mpas obriga-iorim E, moDeug isso passorrce hátanüoüem-po!Ambou

Sente* um hemormto na palawa dm-de a origem, dede m invmçoc e impmçisdm leitieirog dc xamãs, dm himfanteg eshemor dmprc de sbiúo e um dia mpare;wmpre mim ao longo da histíria da palaw; dew m wrealismq numa épm sm hemr,ter dito que ele uislia: dguns sunealistas, nmmuiüos, num úo muilos, tinhm m p6 olffi-dc sbre a linha sísmie que atmw a t€rrq evê* çe hemim dc pa àobeç4asra palarmheniambm furimenúeenfática

- Infim que para si a pmsa, a driÍâhorircntal, náo Jmvi esse mácter twl-siw,mágico,rcligioso.

-Náoaisle pm Aremque * refinmmmiüos, em pmm rem, que pretendem en-sim. Náo há nada a eminu embom haja fudo aaprender Açilo que s aprende m do noropúprio eminq vem da pergunta; váo-se apren-dendo, pelm aperas, pela imobilidade às portas,pela invisibilidade dm ffit s depis de lìstos tãprometedomente, pela emenda sressiva pelainmnìa smim dm olhc e da figum@. *m-pre, vãre aprendendo empre as meiru dapergunta Um pergunta em pergwtás, m p.Fm em pcrrc, um rebarbatin onstelaçâo deobjm,tos ofirmkx. Aprende-se que a perguntar dclm om aluz inerente; iÌLmim a si m*m4g pergunta onstrìar; emina a si mesm, aolongo de si mesm4 cesülos de ser dotadadsqlu pam fom e para denho. lcio rcrmm desdeque peruba que úo estáo a responder. Álgruxso stmordiüirim niquirc interrogatirc:"Ulis", "Filhm e Amtes", "O Doutor Fawio", "O Prwl', "AMortedeVugÍio", "OSomea Fúria". "DebaüodoVuÌcáo". "AobmaoNegm", "bÌita", "Diuio do kdrão", todm os rçmanm de Ojline omo se f69m um si, aìlurrsoutm, mts, âgua Os rcmm de AgrrstilaBesu-Luís. pnnenumm menmmdrs. gocrrtre nrh m qnc úniru miquim üvrudeprgrn-tar. ExisÍem rorroes imçrenJoireis, quar trxl<nG rcrme @nkmponirm úo inrpcrrÌoireis.Comoé imperdo4wl a roioria dm 1remm porttr

Page 3: As Turvações da Inocência

4 1ËRÇr+€q.Í@ìs Jl espehl/lifos

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gu66desteseolo.Abqndimnáohânada PBciso ir lá atnás, voua Can@ monerus, a Ba-beÌe Siáo, a ese pema lÍrico, espirihral, wdodnrodo Os hnÍadm, tálsobemoque *orfuldeomamisnotrepergmta Bastameparao tenp inteiroempaìamporú:gum

-Nmepemmvsmmme?- Sou m auüor de folhebs, eho que inter-

rogativoq e sobretudo m múto interrogativoleitor de pergmtas Mais nada.

. -Basúapmumaüda?- Nen si * 5656 paa rrmr s{2deira

mrte. Nada é mficimte para s morren Ou é s-ficienüe quzar m olhm om m de m Ìm m-term OubÌandirNpequenoobjectoelécbico,mbom eja tão pequmo e a noite portodmm Ia-dos do quario pareça intemiúveì. Conhei mhomem, m psiquiaha desconiente - sáo ram,6 psiquiatras descontentes, onheç+cs muitoontente a ganhãpan enlmçem as psms,rende tanto com a poÌitic4 trat†de polític4 asinistra polítie dc tratamenüos -, úw ntmiÌlt4 6ie, dmntenüe, adomva falarde etreìas,mmteÌa@,sabiatudo, rm er4 digãmos, esüÈlamente inedutÍvel: súw ontra a ordem eÌete. Mandou zubstituir o tedo do qrnrto de dor-mir porwúíbadaom m sisteroeÌe'hóni-m de mrgx elcteq dsÌoedm, tndm, relatiw-menüe à eírutun mtuÌal, auónomm enhe siAli ema lua rus sro fasc e m Umeo Crwirodo SuÌ e a streìa Arctm: m sislero de tec:laspemútia under aquilo que * desejm. O quevigomva em m m dele, mele. Talw pudos"emorer. De facto mom m náo *i de que ma-neim inüerior mom. Nme * mbe aquiìo quebasta TuÌvs basüe m perì4 um coisa míni-m, üv4 nosa, uma cois mb-reptíú para em-punhr dimüe do impìaaíreImrdo dm formassteriores. Tmbem pode mr que mda baste. Enww tanio faz ffierw mì]me ou (rupoem ou aperc uir pema, ou ler ou mendao ulu rotronómio ou tmter+ pamdo no meiodemjudim húmidoeslencios,ànoite. Atepo-de wed* que a morte úo mja basünte. E istom e ÌnreÌToganw.

- Os outros estão envolvidm m peFguntâ?

* Dependedo sítiode ondee faz apergu-ta Eíquemdiga: nâoesoaoparamouhogou:ointerlmtoré inÌmìizáveÌ. Osqítim rc+ondemqum wnpre à pergmta que náo etí aÌi pmqrnlquer mposta Coúe aquelas ençú(ffi"anrlxs de m" em que o prrcia, sïtrÁ1ânentenum lugu anante, m valc rdedo por monta-rüm, algo sim, pmfere a palam, e Ì4o o m adevohe ru *pande? E a oúmuçao de fca Claro, h'dta+ de m artíficio formal, pois o 1remonfirro+ a si mmo, em si nmo. O frcto deúowtm vozalheiadeouho. meúm "awda mhtm", a vu dcvaìee montanluq srgereque a participçao nâo peúene aos homeru, que* ru *labelffiu tm troe hm E dsúemodo a mhreza" ercando e oúmmdo o poem4 mnluimdw om ele, tomo omo queentrado m si, mnskrmarcnte mlitário.

Todm m pem sâo ançoa de o, pm-m rr onfrrodm. De que sítio e lanqa a voz,que çnm deonfimnç"íose pretende?A 6nfir-roção, empre, do poero a si mam e em simamo. Mm que rm s utilim pam obterss mnfirroção?A foméoonteúdo, uhr*,o 6tmtagem do eco repwnta a atihrde totaÌdo aul,or pemte *ntìdos do su pem m rnti-dmdo poem nommdo,a üdabmimüàHá quem * pon-ha no enho de câmm m-tes: emmschegmdetodmcìados:mrcspetasmóüms, o èxito, o eru,a mortedaaÌm

Num pmm ffiito apos o clamor elogim a"Undu the Volmo", MaloÌrn lowry diz que outru é um stástrofe üeníveì, pior que o in-endio da nm çv; chama*lhe-dançao: dizque dcvom a ro da a.lm; ele, o gfurifiedo, teriapreferido soçobru m noil,e. "t\udir-me, $, pa-m smpre, m obruidade, m noiie":

Aglóriaé omo rm üenível caláshofe,/piorquea w inendiad4 enqwtr/s abate a-na-vemmtr4 o fragor/da destruigo ropemüe*eü vez mis depw/ e tu mnüempÌas tudoaqúlo, ime/rstemunha da dançaoJ/ Comombebedeina glóriadmm/a-v daalma,Fvela que tmbalhsb,fnm oim poue pan eìa

- /aì, qucia que ese beijo h-aiçoeim nune ti-vess/molhado a minhâ face queria/fundir*e,m, pam sempre, naobcuidade, mnoite.

E omeça entáo a entrever* que a voz súodirige prcpdâÌnmte a alguém mas pmraonstituir* nm ordem da alru: pm@ mig-mag fomuìa m voto redentor Porque alguémsqrtadenhodopcm quefalaemin$âroi4que pode ou não pmlongr-se pan o uüeriu, ésÌn peÌa wz mmo avc é slm pelo íntìmoouü-do que a rebe. E enfátbo, is{o, sim; não é mcdrru nem racionnÌ nem mrhmm, ou melhormesmo que srtÍm; nada tem a vo om os"tesd.emmhm do tempo";pertene m prodígiosda afDÌq aG eu d€6a.d$ e Ì[email protected]üommudo,opoemesperafudodelemeno6o€qúvoco,embüasejaoeqúvmaquiìoquesffi ntra raisà mãodo mudo.

- O poema sle enÍáo mhado m simesrq moútruossm€ntemlitário?

- Náo üem pres4 @e bem eryera que omquem da m mìicìao, pcwi forçs erparoi-m besúntes, fa{an{ sirdali Mas ou leram-{ inteüomocenho mmho earmado àrcI-ta omo m orpo ürc ou náo levu nad4 nemm 6'agmento. E o que mútas m e faz é on-h:abandw hndm: leva-se a perte trada deÌem parte emda cle nís pâm qualquq parôe em-da: filmfu mod poìític4 psiroáìir*, linguÍ*i-ca simboÌogb literatw Onde ctÁl o mrpo e aüdadebeamintegrilade?Onde,aslidáopammtaraslidáod8quú w? Porqueóúrigaório diaê-b: poue garie iem ouvidm pum. OumámlimPq lswpGmépoderfuèÌo,refa-zêJo; eisoespelho, omagioújedodoroúai-menüo, o cbjcto activo de aiaçao do rosüo. O ecovisual s qwtoa mstos foseaperre tê-lc fom ever Porque o mosbado e o wto sáo a tolalidadedaqúloquese urofae vê-o mme areveÌaqáo.

-Nãoómdstino-Só ésegw que a pergut4 apmr4 o

pem reimidente, sistalim nlm gmdert:m banslúcid4 m blm de quartrc. Talvssja t"ilqÌ'ili?ador qwdo olhado deftonte, alino dráo, do tumnho da lm paru rcr inin-úerruptammte.A lu vmdedmto, fudaeagu-ü e aguda Ìu tenwhe. Ereüou+ de nm, aw aistaÌina fu rdim re14 me da nosmmg rrodaIwro E mhomdoapm-üps biogrífim, qwdo m ágm envolvem ahistória a úda a obm da obra. vwmm tudo:mremmdaquilo,levadm parào abiffi pelo ir-rewivel Imcúmítrlo, m pm miorqueostra-balhc c m dim. E quem sbe s úo veremos en-tao, ah'avêdoaista.Ì rqular, Ìimpidammteg m-fimaplaedaonlìsáodo mwdo?I$oémper-gut4 agonAlimentãnmdeÌ4 também nmalimentamos deìa Aquiìo que faremoq oh sin; éisquem faz edcfa, avidaçe fazemog anemüdampergutateÌepritia MommdeÌa.

&'tk ìbdÈ,*tuË'*#iÍ *"s$:Ëir:i*:#.i# ;i"r;,t. ",.s..r,r*

AnÁo-SEPaRABTLTDADE

EDUARDO PRADO COELHO

(Sobre a série de pems

. "Os Selos", 1989)

Fil oderá o leitor ser sensível à erube-lll rância gestual ou à exaltação cro-| | mátie das palavras, mas é prová-El veÌ que experimente alguma per-

plexidade em relaçáo ao que essas pala-vrm "querem dizer". Em primeiro Ìugar,porque aparentemente náo "querem".

Nenhum esforço, nenhum arco tens deexpressividade. Tudo acontece antes dosujcito * como fugo, respiraçáo, inmnc-dio. A serenidadc absoÌuta de um "eu di-go" ou um "eu vejo" deriva do facto de o"eu" w inscrever num percurso de dicçáoou visáo que o precede e o excede. Trata--se de coloer o corpo no ângulo exactoda corrente de ar. Trata-se de coìocar avoz no fio de luz que lhe concede as >>

JÃ À vENDA NAs tIvRARIAs

Um romonce diferente, onqe

os controdicões humonos se desenhom.

A histório terno, límpido

e solidório de umo odvogodo que troto

de um divórcio compromeledor,

opoio um omigo com reputoçõo desconfortóvel,

folho todos os tentolìvos

de ojudor os oulros,

supero o morte de um enle querido,

pÍocuro um componheiro,

e ocobo por descobrir que o Íelicidode nôo é,

ofinol, um sonho justo.

PRESENTE DE NATAT DA CONTEXTO

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Page 4: As Turvações da Inocência

a 4elpelal/lferc3 J2! ang em. r mm ro

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>> modulacôc douradas. Mm nada dis-to exclui um prcdigiom trabalho. Nenhu'ma faciìidade de inspiraçáo, antes o zeloabsoluto de sobreviver pela respiraçáoúltima. "Enche-se por si mesmo, / umcopo: visáo e mistério e idioma / imacula-do".

Remrem: "únal a substância / de al-guém que pôs a máo no fogo é igual àsubstância do fogo / enquanto grita". Re-parem: "'Deus eú em tudo? pergutoua criançâ, Deus / é o obo de açuer quese dislve todo no leite ttdo. / bebem"'.Toda a pmsia de Herberto Helder pueceenunciar o que a fisica quântim designacomo o príncipio da nÃo-seprabilidade.O que aqui trorre náo t€m a ver mm acena que se desenroÌa entre dois Ímansque se sustentam na sua atracçáo reciproca. Porque, neste câso, qumto mâioré a distância que os separa no espaço,menor é a força que os mantém ligados."Com os sistemas quânticos a situaçáo équalitativamente diferente, porque, sedois deles interagem e depois se sepa-ram, a função de onda do sistema queeles formam nÁo dein de permanecer in-reparável tanto I gmde distância mmoa fraca distância". Isto escreve Bernardd'Espagnat em "Un Atome de Sagesm".Para acrescentr, páginas adiante: "douo nome de Deus à realidade 'em si'ou'intrinseca' ou'independente': isto é, aessa Substância cujâ existência é nees-sário admitìr se queremos explicar asaparências e os seus retornos", Ou, sepreferirem: Deus é o cubo de açúcar.Ìancado no leiie. Deus dissolv+se nele.Mas todos os eÌementos desse açúcu semantêm regidos pela mesma funçáo deonda. Por isso, seja o que for que aconte"

ça numa partícula dissolvida desse aÇú-mr, ubemos que um ta.l acontecer s re-percute em quâlquer outrâ partÍcula des-se âçritr - dess diüna doçura ou vio-lência.

O mesmo nas palavras, claro. Toda atradição nos diz que podemos aproximá--las se nersistirem entre elas nexos desemelhànça que fundamentam a rodadc meúforas. Isto é. se funcionarem co-mo ímans. Em Herberto llelder, as pala-vras disperms funcionam como sistemasquânticos: quaisquer palavras que se"desentranhem" do mesmo caos inicialsustentam entre si relações que ultrapas-sm a sramátie estabilizada das analo-gias. Olue o texto instiiui é esu funçãode onda que as torna definit ivamentenao seDamvels.

Más há nais: do divino açúar dirsol-vido no leite, poderíamos dizer, simplifi-cando o erc, que Íì€, no sbor quente dabetrida, num ponto a partícula A e noutroa partícula B. It'Ías isto é fácil. No proces-so (mgrado) da dismÌuçáo, as partículassão indiscerníveis: em qualquer ponto,elas sáo A e B, e assim por diante. Sáopar t Ícu las que se não par t i cu la r izam.Scm identidade, não individualizáveis.anLerioÌes à gmmetria das putes. Straw-son, no seu livro "Individuals", procuraem certo ponto imaginar uma linguagemsem particulares, além rla relaçáo sr{eito--predicado. Encontra um exemplo: "chove". E pergunta: "quem chove?". DirÍa-mos: "enchese por si mesmo, um copo"(obsewese como aqui a vírgula é precio-sa. ouebrando a sintaxe). Strawson con-clui que uma tal linguagem é insuporhi'veì. O discurso métim de Herberto llel- ãs coroas de diamantes, as luvm de ouro

("Rosto que Deus, / à volta dissolvido,deixe arrancar-re a luva que desabrocha/ do caos unânime") - táo caldeado ocanto que nos transmuda em mundo /áureo" . .

"Poesia Toda", HeÍbeÍto HelderAssiÍio & Alvim

576 pgs., 3750$00

der suporta a inseparabilidade desia lin-guagem. Nem A nem B. Apenas movt-mentos de onda, fluxos, inÍlexóes, dispa-ros em txlas as direcçôes. E a paisagemcomo ün acunìular de estampidos.

De início, o "mos unânime". Porque"Deus era potência, Deus era unidaderítmica". O que a l inguagem produz é

uma activacáo desse mos. Donde vem es-ta força abioluta? Da memória animal,ìeopardos e leóes, da "frase africana",dos "nós de erne" que en€roçam o cor-po. Pouo a pouco, tmdos pelo uber es-trangulado das palawas (das imagens,dos mns, dos gestos da dança), formam--se lugares de pregnância viva. Ou, sepreferirem, anjos. Mas "ninguém pintaos anjos mm uma força, as formas dessaforça / por exemplo: mpram os átomos, /acendw o mbelo, máos faímm: ada /cois que tmm es / ois faíu".

Cmpreender o discurso poético deHerberto Helder tem a dificuldade pri-meira de nos impor o salto para o interior desta rede de espmmnentos e bati-das que é a circulaçáo activa de modulosde linguaçm. Náo é possível mmpreen-der de fora - analit icamente. Mas,quando se vai por dentro, a única com-preensáo é a dança da própria inteìigibi-l idade que se faz palavra a palavra -

corpo a corpo.Contudo, é possíveÌ aprender alguns

fragmentos mais densos desta sintaxealucinada. Estudu, por uemplo, os precessos de pr*ipitaçáo, quando o medofaz subir o coração à boe "e o chifre pelocoraçáo dentro", a "máo, e a veia até àgarganta". "Depois a comente aumentâdepois o coraçáo aumenta / depois cadaobjftto sumenta abrasado: é um coraçáo/ apenas que / qumdo se toca os perigosde mortc".

Estudar, por exemplo, os momentosem que a pulsaçáo dos órgáos faz queeles transpirem pm a superficie do cor-po. na areia húmida da pele e dos vesti'dos: sáo os "vestidm pulmonms", a su"volta anatomica dm cores", qumdo ela,a porLadora dos sinais do amor, "avança"timda mlo bafo dos vestidos". anuncià-

ção de'iprimaveras ampliadas" se "osvestidos transbordam de vento".

Estuda ainda os movimentos rever-síveis, quando é a fÌoresta,que é chmadapara Junto do Iogo, quando e o logo quegrita na queimadura da máo, quando "aimagem devora quem a agana".

Estudar as torçóes do corpo quandoum membm desgumdo e moga um direito de mberania e impõe a sua própriaprovislria ordem: "assistir ao braço quetorcendo / la(asse o mrpo todo num um-biso incande*ente".-

Ou estudar as fórmulas de âmorossconcentrações de energia. Entáo "comeq:a ferver a luz como uma / coroaçáo, arealeza / do poema animal - lmpardo eleão". Agora "monç5g dg ver a pintur4respira-se / em a cara, à porta o lspar-do entoa o poema da criaçáo. / Um anel,flora e pessoas, mmos nós, um anel, umaobra. / Máo na máo por aí começamos afundir-nos / bloco vagarom desde a raiz /blmo de ouro". "Porque do ouro extraídoàs mvernas apuro um ho / fmhete o ros-to no ho puro. / Com uma trama pode ü-dir-se a máscara / moldar o tronco deduas pessoas numa estreìa única / po-dem-se fazer com ouro do abismo / osmembros que tem uma estrela pâra an-dar até à porta. Ury nó de dois / Ìaçado àmão, abrmdora". E nese momento queo emaranhado mundo se suspende, estar-recido, e se formam m fìguras redentormda circularidade: as rodm voltadas paracima, as roúceas, os rostos, os planetasgirando com I noite universal no meio,

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l o í r u t c r . l C t r L r a A u 6 t c ^ '