a inocência

32
Inocência Luiz Gonzaga Pinheiro

Upload: prefeitura-de-fortaleza

Post on 01-Jul-2015

120 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: A inocência

Inocência

Luiz Gonzaga Pinheiro

Page 2: A inocência

Oh inocência que eu

perdi entre

uma dor e outra

Page 3: A inocência

E cuja falta me angustia

Page 4: A inocência

A tua ausência me secou

os olhos

Page 5: A inocência

Cujos espelhos não te

refletem mais

Page 6: A inocência

Oh inocência dos

balbucios

Page 7: A inocência

Que as palavras corretas

me roubara

m

Page 8: A inocência

Inocência dos

primeiros passos

Page 9: A inocência

Que a passada firme foi

esmagando

Page 10: A inocência

Inocência do desapego

Page 11: A inocência

De não imaginar ciladas

Page 12: A inocência

De perceber borboletas e passarinhos

Page 13: A inocência

Nos canteiros

dos cemitério

s.

Page 14: A inocência

Inocência que cheirava a

jasmim

Page 15: A inocência

Que tinha a maciez

dos lençóis

bordados

Page 16: A inocência

Dos olhos vigilantes da minha

mãe

Page 17: A inocência

E dos açúcares da minha

avó

Page 18: A inocência

Inocência que via

nas imagens

dos santos

Page 19: A inocência

Nas falas dos

religiosos

Page 20: A inocência

Nos cachorros

vadios

Page 21: A inocência

Que se espalhav

a em cachos e em peles

sem cicatrizes

.

Page 22: A inocência

Mas o tempo

devorador

Page 23: A inocência

Roubou essa

inocência

Page 24: A inocência

Sua cartilha

sem poesia foi

me mostrando a mágoa

Page 25: A inocência

A revolta, a

estupidez humana

Page 26: A inocência

E eu, videira fértil, sequei

os frutos

Page 27: A inocência

Estanquei a fonte dos

risos

Page 28: A inocência

Mandei embora a gentileza

Page 29: A inocência

E me fechei na indiferenç

a do medo

Page 30: A inocência

E nunca mais voltei a ser eu mesmo.

Page 31: A inocência

Inocência

Oh inocência que perdi entre uma dor e outraE cuja falta me angustia

A tua ausência me secou os olhosCujos espelhos não te refletem mais

Oh inocência dos balbucios Que as palavras corretas me roubaram

Inocência dos primeiros passos Que a passada firme foi esmagando

Inocência do desapegoDe não imaginar ciladas

De perceber borboletas e passarinhos Nos canteiros dos cemitérios.

Inocência que cheirava a jasmimQue tinha a maciez dos lençóis bordados

Dos olhos vigilantes da minha mãeE dos açúcares da minha avó

Page 32: A inocência

Inocência que via nas imagens dos santosNas falas dos religiososNos cachorros vadios

Que se espalhava em cachos e em peles sem cicatrizesMas o tempo devorador Roubou essa inocência

Sua cartilha sem poesia foi me mostrando a mágoaA revolta, a estupidez humana

E eu, videira fértil, sequei os frutosEstanquei a fonte dos risosMandei embora a gentileza

E me fechei na indiferença do medoE nunca mais voltei a ser eu mesmo.