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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
WALDIANE ROCHA NARCISO
A PESSOA IDOSA E QUALIDADE DE VIDA NA CONTEMPORANEIDADE: A EXPERIÊNCIA DO PROGRAMA GENTE DE VALOR EM FORTALEZA-CE
FORTALEZA - CE 2014
WALDIANE ROCHA NARCISO
A PESSOA IDOSA E QUALIDADE DE VIDA NA CONTEMPORANEIDADE: A EXPERIÊNCIA DO PROGRAMA GENTE DE VALOR EM FORTALEZA-CE
Monografia submetida à aprovação da coordenação do Curso de Serviço Social do Centro de Ensino Superior do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Prof.ª Ms. Luciana Sátiro
Silva
FORTALEZA - CE 2014
WALDIANE ROCHA NARCISO
A PESSOA IDOSA E QUALIDADE DE VIDA NA CONTEMPORANEIDADE: A
EXPERIÊNCIA DO PROGRAMA GENTE DE VALOR EM FORTALEZA-CE
Monografia como pré- requisito para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FAC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores.
Data de Aprovação:____/____/______
BANCA EXAMINADORA
Prof.ª Ms. Luciana Sátiro
(Orientadora)
Prof.ª Ms. Ivna de Oliveira Nunes
Prof.ª Ms. Samara Hipólito da Conceição
Quero dedicar este trabalho aos meus pais Narciso e Neuma, que sempre me educaram com dignidade, mesmo diante das dificuldades e também ao meu lindo filho Miguel e o meu esposo Adriano que estão sempre presentes na minha vida.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço a Deus que não me abandonou em
nenhum momento, dando-me a cada dia força, sabedoria e determinação para
alcançar um sonho, derrubando todos os obstáculos que encontrei em meu
caminho.
Aos meus pais, Neuma e Narciso que sempre me apoiaram e
estiveram junto comigo nesta etapa tão importante para mim, segurando em
minhas mãos e não me deixando desistir jamais.
Ao meu querido e amado filho João Miguel, que chegou de repente
na minha vida me trazendo responsabilidades que até então não conhecia,
mas que com seu sorriso lindo me fez prosseguir e chegar até aqui.
Ao meu esposo Adriano que, nessas etapas finais, colaborou
bastante com o meu corre-corre, compreendendo-me e fortalecendo-me
sempre e cada vez que pensava negativo, nunca deixou que esse pensamento
fluísse.
À minha sobrinha, Laryssa Ingrid, a qual adotei como filha desde que
nasceu e que sempre colaborou comigo no meu caminhar acadêmico.
À minha querida orientadora, Luciana Sátiro, um anjo que Deus
colocou no meu caminho com sua sabedoria, profissionalismo e paciência, fez-
me acreditar que com perseverança e determinação tudo é possível.
Às minhas colegas de turma que estiveram sempre ao meu lado,
acompanhando minha rotina, problemas e angústias, encorajando-me e não
me deixando desistir jamais.
Em especial, à minha amiga Rosieli Almeida, que sempre nas horas
mais difíceis esteve comigo, aconselhando-me e dando-me empurrões quando
pensava em ficar para trás.
Também tenho que agradecer às minhas queridas colegas de
plantão que sofriam comigo e, quando ficava triste e preocupada, sempre me
deixavam com o astral lá em cima, além de vibrarem bastante com a minha
vitória.
Aos professores que fizeram parte da minha jornada acadêmica,
mesmo sabendo de todas as minhas dificuldades e limitações, nunca me
diminuíram, sempre acreditaram em mim.
Todos foram muito importantes, porém não posso deixar de
agradecer a dois professores maravilhosos os quais, em um determinado
momento da minha vida pessoal, me aconselharam e mostraram caminhos e
soluções para chegar até aqui: prof.ª Socorro Letícia e prof. Jeriel.
Também agradeço à Samara Hipólito e Ivna de Oliveira que fizeram
parte da minha banca examinadora e com sabedoria e profissionalismo
contribuíram para o amadurecimento do meu trabalho.
Meu muito obrigada de coração a todos que me ajudaram e que de
forma direta ou indiretamente colaboram para que esse momento fosse
concretizado.
LISTA DE ABREVIATURAS
BPC - Benefício de Prestação Continuada
CF/88 - Constituição da República Federal de 1988
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IMPARH - Instituto Municipal de Pesquisa, Administração e Recursos Humanos.
INSS - Instituto Nacional de Seguro Social
LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social
MDS - Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome
OMS - Organização Mundial de Saúde
PGV - Programa Gente de Valor
PNI - Política Nacional do Idoso
PSBS - Projeto Saúde Bombeiros e Sociedade
PNSI - Política Nacional de Saúde do Idoso
TABELA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Faixa Etária (PGV) ......................................................................... 44
Gráfico 2 - Nível de Escolaridade .................................................................... 45
Gráfico 3 - Opiniões sobre Qualidade de Vida ................................................ 48
RESUMO O presente trabalho teve como objeto de pesquisa compreender o que os idosos e os profissionais pensam sobre qualidade de vida na contemporaneidade, a partir da inserção no Programa Gente de Valor. Através de experiências vividas no programa pelos idosos participantes e pelos profissionais, procurando entender quais os motivos que os levam a participar do programa e analisando que impactos traz na vida dos interlocutores, entendo assim os limites e possibilidades que existentes. Para a elaboração deste trabalho utilizamos alguns autores que nos deram subsídios para fundamentar o debate de nossas categorias que são: envelhecimento e velhice; idoso e qualidade de vida. Alguns dos autores que nos auxiliaram foram: Minayo (1994); Neri (2007); Beauvoir (1990); Camarano E Pasinato (2004); Gontijo (2005). Para alcançar nossos objetivos, realizamos uma pesquisa qualitativa e como técnicas instrumentais utilizamos a observação simples, entrevistas semiestruturadas com cinco profissionais e questionário com trinta idosos. Construímos a analise a partir das interpretações das falas dos sujeitos pesquisados. Por se tratar de um grupo que antes eram somente de servidores aposentados e que hoje é um programa aberto ao público, como achados desta pesquisa, constatamos que os idosos participantes encaram a velhice como a melhor fase da vida e que esta é uma construção social. Podemos verificar ainda que o Programa em alusão está articulado a diferentes políticas públicas, mas percebemos ainda muitas fragilidades e necessidade de expansão de algumas ações para além do voluntariado, afinal observamos nesse campo que a sociedade assume a responsabilidade para que os processos sociais aconteçam, mas também exige do Estado essa responsabilidade. Dessa forma, promover uma melhor qualidade de vida para os idosos participantes do programa pesquisado. Palavras–chave: Envelhecimento e Velhice. Idoso e Qualidade de vida.
ABSTRACT This work has as object of research to understand what seniors and professionals think about quality of life in contemporary society, from the insertion in the People Program Value. Through experiences in the program by the elderly participants and professionals, seeking to understand the motives that lead them to participate in the program and analyzing impacts that brings in the lives of actors, so I understand that the existing limits and possibilities. To prepare this work we use some authors have given us grants to support the discussion of our categories are: aging and old age; Old and quality of life . Some authors have helped us: Minayo (1994); Neri (2007); Beauvoir (1990); Camarano And Pasinato (2004); Gontijo (2005). To achieve our goals we conducted a qualitative research and how instrumental techniques use simple observation, semi-structured interviews with five professional and questionnaire with thirty elderly. We built the analysis from the interpretations of speeches of the subjects . Since this is a group that were only retired servers and today is a program open to the public, as findings of this research, we found that elderly participants face old age as the best stage of life and that this is a social construction. We can also verify that the program is articulated in reference to different public policies, but we still see many weaknesses and need for expansion of some actions beyond voluntary, after all we observed in this field that the company takes responsibility for the social processes happen, but also requires the State that responsibility. Thus, promoting a better quality of life for elderly participants researched the program.
Keywords: Aging and Old Age. Elderly and Quality of life.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 12
2 PERCURSO METODOLÓGICO ................................................................... 17
2.1 Caminhos Metodológicos da Pesquisa .................................................. 17
2.2 Interlocutores da Pesquisa ...................................................................... 19
3 ELEMENTOS TEXTUAIS DO ENVELHECER: ANÁLISE DESSA
POPULAÇÃO NO BRASIL.......................................................................... 23
3.1 O Processo de Envelhecimento na Atual Conjuntura ........................... 23
3.2 Interface das Relações entre Sociedade e o(a) Idoso(a) Brasileiro(a) . 26
3.3 As Legislações Contemporâneas Destinadas ao Idoso no Brasil ....... 34
4 A INSTITUIÇÃO ............................................................................................ 41
4.1 Apresentando o Programa Gente de Valor ............................................ 41
4.2 A Chegada ao Campo .............................................................................. 42
4.3 Impactos Trazidos pelo Programa Gente de Valor na Vida dos Sujeitos
Participantes ............................................................................................ 44
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 55
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 58
APÊNDICES .................................................................................................... 61
ANEXOS .......................................................................................................... 66
É preciso saber viver
Quem espera que a vida Seja feita de ilusão
Pode até ficar maluco Ou morrer na solidão É preciso ter cuidado
Pra mais tarde não sofrer É preciso saber viver
Toda pedra do caminho Você pode retirar
Numa flor que tem espinhos Você pode se arranhar
Se o bem e o mal existem Você pode escolher
É preciso saber viver É preciso saber viver É preciso saber viver É preciso saber viver
Saber viver, saber viver! (Roberto Carlos e Erasmo Carlos)
12
1 INTRODUÇÃO
O processo de envelhecimento constitui um desafio para a
sociedade contemporânea. O fato de a população não estar preparada para
lidar com a inatividade, doenças e limitações físicas que atingem os idosos de
uma maneira geral.
Diante desse novo contexto social em que vivemos, o Estado atua
no sentido de criar políticas públicas para atender essas demandas, sendo
criadas leis como o Estatuto do Idoso, garantindo assim os direitos dos idosos,
a população tendo que aprender a respeitá-los.
A motivação para a realização desse trabalho de conclusão de curso
(TCC) deu-se em dois momentos. O primeiro foi a disciplina de Gerontologia,
no sexto semestre; e o segundo foi a visita feita ao Instituto Municipal de
Pesquisa, Administração e Recursos Humanos (IMPARH) para conhecermos o
Programa Gente de Valor, o qual a princípio foi criado para servidores
aposentados e posteriormente se estendeu para toda população idosa e quem
tivesse interesse em participar, minha mãe participa há quase dez anos, mas
não é servidora, ficou conhecendo através de amigas e se engajou para
participar. A partir de então, vimos a necessidade de compreender qual o
significado de qualidade de vida na contemporaneidade para os sujeitos
participantes do programa.
O foco principal desta pesquisa foi realizar um estudo para identificar
os diferentes significados que cada sujeito atribui à qualidade de vida na
contemporaneidade através de experiências vivenciadas pelas tantas
atividades oferecidas pelo Programa Gente de Valor, ministradas por
profissionais voluntários que fazem parte do programa.
Para entender melhor o tema da velhice e o significado de tal
convivência, foi preciso um trabalho de campo no referido programa e uma
busca teórica por fontes bibliográficas que puderam nos ajudar a entender o
processo de envelhecimento na contemporaneidade, analisando assim o papel
do Estado diante do novo cenário em que a sociedade assume a
responsabilidade através do voluntariado.
Segundo dados do IBGE (2010), a população idosa vem crescendo
muito nas últimas décadas, devendo aumentar ainda mais até 2025,
13
desencadeando assim muitos problemas para o Brasil, seja na área da
previdência social, saúde, educação, seja na criação de espaços de lazer,
exigindo a criação de estratégias para que possam ser solucionados tais
problemas.
Uma das estratégias a serem adotadas foi a criação de espaços nos
quais os idosos possam se inserir e desenvolver a sua sociabilidade, sua
autoestima e movimentos motores através de atividades físicas, esses espaços
são chamados de Centros de Convivência.
Desta forma, esses espaços são de fundamental importância para a
efetivação das políticas voltadas para os idosos, podendo estar ligados ou não
a organizações governamentais devendo funcionar de acordo com as políticas
e programas oficiais relacionados à temática.
Nesta perspectiva, entendemos que são várias as questões que
inquietam e desafiam os profissionais de serviço social no que permeiam toda
estrutura das políticas públicas voltadas para os idosos no Brasil. É a partir
dessa gama de elementos que buscaremos compreender os significados de
qualidade de vida na contemporaneidade, utilizando como experiência os
sujeitos participantes do Programa Gente de Valor.
Para darmos credibilidade à nossa pesquisa, foi necessário
trabalharmos algumas categorias que nos deram subsídios para entrarmos em
contato com o nosso objeto de estudo. São elas: velhice e envelhecimento,
idoso, qualidade de vida.
Sendo, portanto, o envelhecimento um fenômeno complexo que atrai
demandas que são também do serviço social, pois o fato dessa profissão
trabalhar diretamente com políticas públicas e direitos sociais é relevante à
compreensão desse fenômeno, visto que não podemos estudá-los de maneira
isolada, afinal a velhice é uma das expressões da questão social.
Segundo Barroco (2012), algumas competências do assistente
social é apreender criticamente os processos sociais de produção e reprodução
das relações sociais em uma perspectiva de totalidade e identificar as
demandas existentes na sociedade na perspectiva de formular resposta para o
seu enfretamento.
14
Os idosos na contemporaneidade em muitas famílias são de
fundamental importância, pois voltam a ser parte importante do processo de
formação na sociedade contemporânea.
A sociedade contemporânea exige que o idoso seja responsável por
cuidar dos netos, enquanto os pais trabalham, fazendo com que os idosos
deixem de aproveitar esta fase da vida que muitos consideram a melhor,
contribuindo assim com o desenvolvimento da sociedade a qual estão
inseridos.
Sabemos que muitos dos sujeitos que estão inseridos nessa
sociedade desigual procuram uma melhora na sua qualidade de vida, seja no
aspecto da saúde, sociocultural, seja relacionado ao lazer e etc.
E assim o Programa Gente de Valor e outros programas voltados
para os idosos, investem no fortalecimento de atitudes para idosos que
favorecem um estilo de vida ativo e saudável já que as pessoas estão vivendo
mais, que possam viver com uma boa qualidade de vida.
De acordo com Debert (1999), a criação de grupos de convivência e
de outras entidades destinadas aos idosos encorajaram a busca da
autoexpressão e a exploração de identidades de um modo que era exclusivo
da juventude, abrindo espaços para experiências inovadoras que pudessem
ser vividas coletivamente e indicando que a sociedade brasileira tornou-se mais
sensível aos problemas do envelhecimento.
Muitas são as inquietações sobre a temática, porém procuramos
nesta pesquisa respostas para algumas perguntas: como os idosos pensam
acerca do processo de envelhecimento na contemporaneidade? O programa é
uma estratégia que promove qualidade de vida para os idosos participantes?
Quais as motivações para a participação no programa?
Esse trabalho tem como principal objetivo compreender como a
pessoa idosa e os profissionais atribuem o significado de qualidade de vida na
contemporaneidade diante das experiências vividas no Programa Gente de
Valor, tendo grande relevância na compreensão das dimensões que envolvem
o envelhecimento contribuindo assim com o exercício profissional do assistente
social, sendo fundamental para a categoria a aproximação, desvelamento e
conhecimento da realidade social.
15
Diante de tudo que foi exposto, a monografia foi divida em quatro
capítulos, em que o primeiro apresenta o trabalho através da introdução; o
segundo descreve a metodologia utilizada na pesquisa; o terceiro referenciou a
parte teórica, discutindo com vários autores que abordam conceitos referentes
à temática em questão, como: Beauvoir (1990), Gil (2011), Minayo (1998), Neri
(2005), entre outros e no quarto apresentamos a instituição e as experiências
vividas através de relatos dos interlocutores, explicitando também as análises,
por último as nossas considerações finais.
O primeiro capítulo primeiro traz a introdução, em que são
apresentados todos os capítulos, mostrando para os leitores a síntese de todo
o trabalho.
No segundo, apresentamos o percurso metodológico, explicitando os
caminhos percorridos e apresentando de maneira sucinta os sujeitos da
pesquisa, dando ênfase as três fases da pesquisa apresentadas por Minayo
(1998). Fase exploratória, contendo os elementos da estrutura operacional da
pesquisa, mostrando a importância do trabalho de campo e de seus resultados
após dados coletados.
O terceiro capítulo - que tem como título: elementos textuais do
envelhecer - apresenta no decorrer dos seus tópicos o processo na atual
conjuntura, interface das relações entre a sociedade e idosos brasileiros e
políticas sociais destinadas aos idosos no Brasil, sendo utilizados autores que
falam das temáticas para nos dar subsídios ao nosso marco teórico.
No quarto e último capítulo, apresentamos a instituição, no caso o
nosso campo de pesquisa que é o Programa Gente de Valor, demonstrando
suas atividades ofertadas de maneira estatal ou por meio do voluntariado.
Buscando investigar por meio dos dados coletados os impactos que o
programa traz para a vida dos interlocutores. Ainda nesse capítulo foram
apresentadas as análises e resultados da pesquisa, através de reflexões sobre
a temática proposta.
Em seguida, finalizamos o trabalho apresentando nossas
considerações finais expondo reflexões a partir das análises de dados, tendo
como aspecto principal a concepção dos sujeitos pesquisados a respeito da
qualidade de vida na contemporaneidade apresentando os conhecimentos dos
idosos acerca dos seus direitos que foram conquistados ao longo da história.
16
Estamos certas que nosso trabalho não foi capaz de aprofundar
todos os aspectos que permeiam essa temática, mas despertará o interesse
para que outros pesquisadores possam ampliar e aprofundar o debate sobre
esse tema.
17
2 PERCURSO METODOLÓGICO
Apresentaremos, neste capítulo, o percurso metodológico da
pesquisa, explicitando os caminhos percorridos para alcançar os objetivos
expostos na pesquisa realizada com os idosos e profissionais que fazem parte
do Programa Gente de Valor.
2.1 Caminhos Metodológicos da Pesquisa
A natureza dessa pesquisa foi qualitativa, pois nos permitiu uma
maior compreensão da realidade posta como estudo, dando-nos a
oportunidade de ouvir os sujeitos participantes, já que pretendemos
compreender os processos subjetivos sociais, analisando os indivíduos através
de seus discursos.
Sobre esse aspecto, Minayo (1998, p. 22) esclarece que “a
abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados, das ações e
das relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações,
médias e estatísticas”.
Dessa forma, compreendemos que a pesquisa qualitativa nos
permitiu compreender a realidade a partir das falas dos sujeitos participantes,
identificar os costumes, experiências e opiniões. Segundo Minayo:
o método qualitativo é o que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os indivíduos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmo, sentem e pensam (MINAYO, 2010, p. 57).
A fase exploratória da pesquisa, de acordo com Minayo (1998, p. 26)
consiste na produção do projeto de pesquisa e de todos os procedimentos
necessários para preparar a entrada em campo. Em outras palavras, é a fase
que precisa de uma maior dedicação, pois é nessa fase em que escolhemos o
objeto a ser pesquisado e seus instrumentos de operacionalização.
O presente trabalho teve como objetivo geral compreender o que os
idosos e os profissionais pensam sobre qualidade de vida na
18
contemporaneidade, a partir da inserção no Programa Gente de Valor, no
sentido de conhecer como se dá esse processo entre os idosos e profissionais.
Como objetivos específicos, tivemos:
Traçar perfil socioeconômico dos participantes;
Identificar os motivos que levam os idosos a participarem do
Programa Gente de Valor;
Descrever os significados que os profissionais atribuem ao
voluntariado;
Avaliar junto aos interlocutores os impactos que o programa tem
trazido para suas vidas;
Pesquisar os limites e as possibilidades no Programa Gente de
Valor.
Realizamos uma análise documental para abordar dados qualitativos
de variadas fontes que segundo Gil (2002, p. 46) os documentos constituem
fonte rica e estável de dados, proporcionando-nos uma atenção maior porque
exige maior disponibilidade de tempo.
Utilizamos também a pesquisa bibliográfica com o objetivo de
fundamentar as análises a partir das obras de autores que estudaram os
aspectos que norteiam a referida temática. Segundo Gil:
a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. E é a partir dessa fundamentação da pesquisa bibliográfica que poderemos compreender melhor as categorias que escolhemos para analisar (GIL, 2012, p. 44).
Para o autor, a pesquisa documental parece bastante com a
pesquisa bibliográfica, sendo as duas diferenciadas pela origem das fontes,
pois a pesquisa documental traz material analítico que podem ser
reconstruídos de acordo com a finalidade da pesquisa. Já a pesquisa
bibliográfica traz conhecimentos de diferentes autores sobre um determinado
tema.
Entramos no trabalho de campo, de acordo com Minayo (1998, p.
26) é um momento relacional e prático de fundamental importância
exploratória, de confirmação e refutação de hipóteses e de construção de
teoria.
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Tivemos como campo de pesquisa o Programa Gente de Valor que
tem como responsável o Instituto Municipal de Pesquisas, Administração e
Recursos Humanos (IMPARH), órgão da administração indireta do Município
de Fortaleza.
2.2 Interlocutores da Pesquisa
A pesquisa foi desenvolvida com os 10 idosos participantes do
Programa Gente de Valor e 05 profissionais que trabalham na instituição de
maneira voluntária, sendo apenas uma servidora municipal.
O programa é composto por mais de 200 idosos escritos, por ser um
universo muito grande, definimos alguns critérios para concluirmos o número
da amostra a ser pesquisada. Um dos critérios utilizados foram os idosos que
estão há mais tempo no programa e um outro foram os idosos que participam
de mais de uma das atividades oferecidas pelo programa, sendo essas
atividades contempladas entre atividades físicas, lazer, dança, teatro,
informática e artesanato.
Para fazermos uma seleção para construir a amostra da pesquisa
utilizamos a amostragem por acessibilidade ou conveniência que, de acordo
com Gil (2011). Esse tipo de amostragem é utilizado nas pesquisas
exploratórias e qualitativas, permitindo que o investigador escolha aqueles
elementos mais acessíveis, aceitando que estes elementos possam ser os
representantes do universo em questão.
Desta forma, utilizamos a técnica de observação simples para que
sejam compreendidas as percepções dos aspectos gerais da realidade
vivenciada pelos idosos participantes e profissionais do Programa Gente de
Valor. Segundo Lakatos e Marconi (2003, p. 193) na observação simples ou
não participante o pesquisador toma contato com a comunidade, grupo ou
realidade estudada, mas sem integrar-se a ela: permanece de fora; para que
sejam compreendidas as percepções dos aspectos gerais da realidade
vivenciadas pelos idosos participantes e profissionais desse programa.
As técnicas utilizadas para coletas de dados foram questionários e
entrevistas semi-estruturadas, foram realizadas em Novembro de 2014, nas
dependências do IMPARH, através da aplicação de questionários contendo 15
20
questões objetivas acessíveis a pesquisa com 10 idosos que participam do
programa.
Segundo Gil:
o questionário é uma técnica de investigação composta por um conjunto de questões que são submetidas a pessoas com o propósito de obter informações sobre conhecimentos, crenças, sentimentos, valores, interesses, expectativas, etc. (GIL, 2011, p. 121).
E foram feitas entrevistas semiestruturadas com 05 dos profissionais
que fazem parte do programa, pois de acordo com Minayo (1994, p. 67) a
entrevista é o procedimento mais usual no trabalho de campo, tendo como
objetivo construir informações pertinentes para um objeto de pesquisa, e
abordagem pelo entrevistador, de temas igualmente pertinentes com vistas a
este objetivo.
Salientamos que todas as entrevistas foram gravadas e transcritas
de forma integral, logo após foi realizado a leitura cuidadosamente de cada
depoimento, procuramos identificar os aspectos mais significativos sobre a
temática de interesse.
Levamos em consideração todos os discursos que divergem e
convergem fazendo assim uma comparação entre as respostas dos
profissionais da referida instituição sobre a temática proposta.
Para compreendemos a realidade dos idosos participantes do
Programa Gente de Valor e dos profissionais que trabalham no programa
sejam funcionários contratados ou profissionais voluntários fizemos uma
pesquisa baseada no método hermenêutico dialético. Que conforme Minayo
(1994),
Nesse método a fala dos atores sociais é situada em seu contexto para melhor ser compreendida. Essa compreensão tem como ponto de partida, o interior da fala. E, como ponto de chegada, o campo da especificidade histórica e totalizante que produz a fala (MINAYO, 1994, p. 77).
No caso deste estudo, buscamos compreender como os idosos e
profissionais pensam sobre qualidade de vida na contemporaneidade a partir
da inserção no Programa Gente de Valor, através das interpretações das falas
desses sujeitos.
21
Assim, buscou-se interpretar o que os idosos e profissionais dizem,
ou seja, dar evidência às vozes dos sujeitos entrevistados na pesquisa. A
dialética nos permitiu abordar os significados e contradições do objeto, ou seja,
o que está por traz dos discursos e das falas dos entrevistados. Assim, os
significados e sentidos referem-se acerca da interpretação das falas, ou seja,
vivências e experiências.
Para darmos credibilidade a esta pesquisa foi necessário
trabalharmos algumas categorias que nos deram subsídios para entrarmos em
contato com nosso objeto de estudo que foram: Envelhecimento e velhice;
Idoso e Qualidade de vida.
É importante salientar que esse processo de envelhecimento traz em
si historicamente uma sabedoria dos mais velhos que eram sempre respeitados
pelos jovens pelo tempo de vida e de experiências.
Afinal a velhice é um processo natural, mais que com o passar do
tempo e por os idosos terem certas limitações eles passam por vários
preconceitos por parte da sociedade contemporânea, que exige cada dia mais
dos indivíduos, tornando-os seres egoístas e preconceituosos, passando a
considerar os idosos como pessoas incapazes e sem dar mais lucros ao
capital.
Dessa forma, com o oficio em mãos, com a autorização da
coordenadora do PGV e a colaboração dos idosos e profissionais que fazem
parte do programa realizamos nossa pesquisa sem obstáculos, sendo exigida
apenas uma cópia do trabalho final.
Utilizamos como símbolos para identificarmos os interlocutores da
pesquisa (ID) para idosos e (P) para profissionais, para manter sigilo e ética
como foram informados aos mesmos no início das entrevistas e dos
questionários.
Assim, esperamos que essa leitura possa ser prazerosa não só para
a banca examinadora, mas também para outros estudantes e profissionais
interessados por essa temática.
Neste sentido, acreditamos que essa pesquisa foi de grande
relevância para o Programa Gente de Valor, sendo importante para seu
fortalecimento diante de limites e possibilidades existentes no programa e a fim
22
de lutar por efetivação dos direitos dos idosos através das políticas públicas
que envolvem os idosos.
23
3 ELEMENTOS TEXTUAIS DO ENVELHECER: ANÁLISE DESSA POPULAÇÃO NO BRASIL
Neste capítulo abordam-se algumas definições de velhice e
envelhecimento, trazendo uma breve contextualização das mudanças sofridas
pelos idosos no Brasil e no mundo. Desta forma, faz-se necessário refletir
acerca do processo de envelhecimento no Brasil, a fim que se possa aprimorar
e levantar algumas reflexões sobre a temática. Apresentaremos também a
interfase das relações entre a sociedade e os idosos brasileiros, enfatizando as
legislações destinadas para os idosos ao longo da história.
3.1 O Processo de Envelhecimento na Atual Conjuntura
Antes de tudo faz-se necessário neste trabalho distinguir a
conceituação de velhice e envelhecimento, pois ambos consistem em
procedimentos destinados: envelhecimento é um processo vital inerente a
todos nós seres humanos. É uma etapa da vida, parte integrante de um ciclo
natural, constituindo como uma experiência única e diferenciada. A velhice
pode ser entendida como um estado do individuo com idade avançada que
sofreu com o processo do envelhecer. (NERI, 2001, p. 68).
Cabe ressaltar segundo a autora, que a velhice é considerada como
última fase do ciclo natural dos seres humanos. Sendo que a velhice tem uma
dimensão múltipla, que modifica a relação da pessoa com o tempo, gerando
mudanças em suas relações com o mundo e com sua própria história.
De acordo com Neri (2001, p. 69) a velhice é a última fase do ciclo
vital e é delimitada por eventos de natureza múltipla, incluindo, por exemplo,
perdas psicomotoras, afastamento social, restrição em papéis sociais e
especializações cognitivas.
Segundo Beauvior (1990), a velhice traz consigo uma deterioração
que é temida pelo indivíduo e que contraria a virilidade ou feminilidade que
tanto é de recusa dessa fase da vida que leva à involução senil, já que ela
representa aspectos relacionados à feiura, doença e impotência.
Sobre o envelhecimento Portella (2004, p. 11) conceitua:
Envelhecer é um processo tão natural e esperado quando nascer, crescer e mudar, mudar no sentido de sofrer transformações
24
acompanhadas de alterações, que vão da aparência física ao comportamento e aos papeis sociais, passado pelas experiências e relações estabelecidas ao longo dos anos (PORTELLA, 2004, p. 11).
O processo de envelhecimento é natural no ciclo de vida dos seres
humanos, cabe ressaltar que o envelhecimento traz consigo certas limitações,
diminuição da capacidade e degenerações física, mas que, em momento algum
isso devem servir de obstáculos para um envelhecer normal. Desta forma,
envelhecer depende do delicado equilíbrio entre as limitações e as
potencialidades do indivíduo, o qual lhe possibilitará lidar, com diferentes graus
de eficácia, com as perdas inevitáveis do envelhecimento.
É notório que os idosos na atualidade não costumam relacionar a
velhice a esses aspectos, pois os mesmos não se consideram velhos já que os
mesmos não se reconhecem nos aspectos citado anteriormente. Pois eles se
consideram pessoas ativas.
Vale ressaltar que envelhecer bem depende das chances do
indivíduo quanto a usufruir de condições adequadas da educação,
urbanização, habitação, saúde e trabalho durante todo o seu curso de vida,
além da convivência familiar, ou seja, dependendo da qualidade de vida.
Desta forma, segundo Salgado (2001, p. 84)
Num mundo tão globalizado e de mudanças tão rápidas, devemos entender que o envelhecimento não pode continuar sendo representado como um tempo derradeiro da existência humana. Apesar das perdas, sobretudo no tocante á rigidez física e a mudanças de papéis, o envelhecimento é um ciclo de vida onde a presença da maturidade favorece uma postura social de mais liberdade e de competência para autodeterminação. Essas condições são extremamente favoráveis para a vivência de experiências socialmente produtivas, diferenciadas das atividades econômicas anteriormente exercidas. A aproximação do idoso a grupos e o seu engajamento em causas sociais e políticas, ou mesmo em projetos culturais, são condições significativas para o fortalecimento do sentido humano de utilidade, e para a conquista de uma visibilidade como ser socialmente produtivo, combatendo imagens preconceituosas de inutilidade da velhice (SALGADO, 2001, p. 84).
Diante de todas essas transformações que marcam esse ciclo da
vida, percebemos que são vários os fatores que influenciam no envelhecimento
tais como econômico, biológicas, culturais, familiares entre outros. É preciso
que se criem meios que possam garantir que o idoso supere essas
25
dificuldades, e possa aceitar essa nova etapa da vida, buscando melhores
condições de vida, fazendo com que os idosos vivam uma velhice feliz e
saudável.
Salientamos que é através dos projetos e programas que a
população idosa encontra significados para um envelhecimento mais feliz, pois
os objetivos desses projetos e programas é resgatar a autoestima dessas
pessoas, levando a elas lazer, conhecimento sobre seus direitos, exercícios
físicos, educação, conhecimentos culturais e muito mais.
O envelhecimento populacional é um fenômeno que vem ocorrendo
em vários países. Diante desta constatação é preciso pensar em ações tanto
políticas como sociais para que possa dar conta das demandas trazidas pela
essa nova geração de idosos.
Segundo o Censo Demográfico (IBGE, 2010), de uma população de
190.755.799, 20.5900.599 de pessoas que têm mais de 60 anos contabilizam
20.590.059,9, o que corresponde a um percentual de 10,8 % de idosos. Desta
forma segundo a mesma fonte, em 2000 o percentual de idosos era de 8,6%.
O envelhecimento da população brasileira é um fato irreversível, e
que deverá se acentuar, no futuro próximo. Segundo Silva (2005) tal processo
de envelhecimento da população brasileira é irreversível e tem ocorrido numa
velocidade que supera o ritmo observado nos Estados Unidos e em pais da
Europa, existindo estimativas de que em 2025 os idosos constituirão 15% da
população do país.
No Brasil o processo de envelhecimento começou na década de 60
sendo marcado por uma velocidade de expansão sem procedentes. Desta
forma, percebemos que o processo de envelhecimento no Brasil estar
condicionado a vários indicadores demográficos, entre eles podemos citar as
questões socioeconômicas, culturais e os grandes avanços da Medicina.
Desta forma, segundo Neri (2001, p. 46 e 47), os idosos são aqueles
caracterizados pela duração do seu ciclo vital. Conforme o prolongamento
deste ciclo ocorre o aumento da heterogeneidade e isso significa que, na
prática, o pesquisador não deve trabalhar essa categoria de forma homogênea.
Devendo ser considerado o gênero, a classe social, saúde, educação, contexto
histórico e fatores da personalidade, sendo tais fatores importantes para
determinar a diferencia entre os idosos.
26
É importante salientar que a expectativa de vida da população vem
aumentando nas últimas décadas, isso graças os avanços na medicina, bem
como a melhora na área da educação e os investimentos ligados as políticas
sociais, sendo também importantes os fatores de desenvolvimento econômico
e tecnológico que vem contribuindo bastante para uma melhor qualidade de
vida da população, isso fez com que as pessoas passassem a viver mais e
mais.
Vale salientar que essas descobertas tecnologias vêm melhorando a
qualidade de vida da população de modo geral, percebemos também os
avanços nos cuidados como á saúde de modo particular. Outro ponto
importante a se destacar é o progresso inegável alcançado pela medicina,
entre esse processo podermos citar os novos medicamentos, e as novas
tecnologias de diagnostico, isso tudo colabora para um maior número de
pessoas envelhecendo com melhor qualidade de vida.
3.2 Interface das Relações entre Sociedade e o(a) Idoso(a) Brasileiro(a)
Na atualidade, a velhice não tem a mesma representação que tinha
em outros momentos da historia da humanidade, pois perdeu status ao longo
da evolução da cultura das sociedades.
Para Beauvoir (1990, p. 566), parte da sociedade considera os
velhos definitivamente inferiores, acreditando que estes não têm nada a perder
porque já perderam tudo. O preço que eles acabariam pagando por isso é um
amargo sentimento de decadência. Os adultos os tratam como crianças ou
como objetos.
Tanto Beauvoir (1990) quanto Bosi (1983) concluíram em suas obras
que, em relação à velhice, a sociedade formula uma série de clichês baseados
no fato de que, quando se considera o homem idoso um objeto da ciência, da
história e da sociedade, procede-se a sua descrição em exterioridade, isto é, o
idoso é descrito pelo outro e não por ele próprio. Entretanto, advertiu Beauvoir
(1990), ele é (...) um indivíduo que interioriza a própria situação e a ela reage.
Esse fato encerra a velhice em uma pluralidade de experiências individuais que
possibilita retê-la em um conceito ou noção ao investigá-la, deixando ao
alcance do pesquisador somente a possibilidade de confrontar as diferentes
27
experiências de envelhecimento umas com as outras, e a tentativa de
identificar as constantes e determinar as razões de suas diferenças.
Desta forma, os idosos deveriam ter uma atenção maior de seus
familiares, mas também deve ter um maior cuidado com a saúde dos mesmos.
Nesse sentido, as pessoas mais erram. Segundo a autora supracitada salienta
que ao tratarem com inferioridade a pessoa idosa, quando o correto é respeitá-
la e oferecer-lhe apoio.
De acordo com Ramos (2002), o tema velhice só teve consideração
após a solidificação do capitalismo, havendo uma necessidade de conhecer
cada fase biológica dos seres humanos (nascimento, crescimento,
amadurecimento e morte), o mesmo é claro tendo como principal objetivo
disponibilizar para o mercado de trabalho um homem ideal para atender as
necessidades do capital.
Assim, a velhice passou ser vista pela sociedade como etapa de
finalização da evolução humana não tendo nenhum valor simbólico para a
sociedade, sendo considerada como estado de decadência do ser humano.
O mundo globalizado somente reconhece o idoso como ser de
direitos pela dimensão cronológica. Desta forma, o estigma da velhice não se
refere apenas à idade que eles possuem, mais aos seus traços estigmatizados
estão ligados a outros valores depreciativos que estabelecem um modelo
padrão, vale aqui salientar que, a exemplo disso, temos a pobreza, a raça, a
obesidade, o desemprego, e patologias, entre outros.
Segundo Simone Beauvoir (1990, p. 16) coloca que o mundo fecha
os olhos aos velhos, assim como os delinquentes, as crianças abandonadas,
aleijados, aos deficientes, todos estigmatizados, nivelados em um mesmo
plano.
Desta forma, é possível perceber que a velhice vem sendo
considerado como algo ruim para a sociedade, pois representa a negação de
valores até então valorizados, pois a imagem da velhice não representa mais o
sinônimo de beleza, produtividade e o poder, sendo estes valores hoje
considerados próprios da juventude e por isso são almejados por muito.
Porém no decorrer da história podemos constatar que a sociedade
capitalista desde sempre procurou desvalorizar os idosos e que quando
observou que os mesmos ainda são capazes de dar lucros e de fortalecê-lo
28
através de seus custeios começaram a valorizar o idoso tornando-o assim um
ser consumista fazendo parte dessa sociedade capitalista, pois o fato de não
consumir faz com o mesmo se senta um estranho.
Houve uma época em que o cidadão passava a vida inteira
trabalhando e quando se aposentava tudo o que ele queria mesmo era
descansar. Passar o dia relaxando em casa, sem ter de cumprir com
obrigações ou seguir horários. A palavra de ordem era descanso. Mas o que
vem acontecendo ultimamente no segmento da velhice é uma sensível
mudança de comportamento, de um aposentado inerte e passivo para um
cidadão mais atuante. É um conceito que os profissionais de saúde costumam
chamar de envelhecimento ativo.
Sobre o envelhecimento ativo a OMS, destacar:
É o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida na medida em que as pessoas ficam mais velhas. Esta ideia de envelhecimento aplica-se tendo a indivíduos quantos a grupos populacionais. [...] O objetivo do envelhecimento ativo é aumentar a expectativa de uma vida saudável e a qualidade devida para todas as pessoas que estão envelhecendo, inclusive as que são frágeis, fisicamente incapacitadas e que requerem cuidados (GONTIJO, 2005).
Partindo dessa compreensão sobre envelhecimento ativo,
percebemos que a suposição de independência promove uma maior inserção
dos idosos na comunidade, através de grupos de convivência que aumenta a
autoestima, bem como promover a autonomia para a realização das atividades
físicas, bem como o fortalecimento de vínculos sociais e familiares, de amizade
e de lazer, sendo esses fatores considerados como principais determinantes
para que os idosos tenham um envelhecimento ativo.
Já no que diz a prática do envelhecimento ativo afirma que:
Permite que as pessoas percebam o seu potencial para o bem-estar físico, social e mental ao longo do curso da vida, e que essas pessoas participem da sociedade de acordo com suas necessidades, desejos e capacidades; ao mesmo tempo, propicia proteção, segurança e cuidados adequados, quando necessários (GONTIJO, 2005, p. 13).
29
O envelhecimento ativo da população nos traz uma série de
questões, tais como a saúde, educação, participação na sociedade e também
segurança, fatores esses que são de fundamental importância na hora de se
desenvolver as políticas públicas para as pessoas idosas.
É importante salientar que hoje existem grupos que vêm
organizando-se e apresentando tanto trabalho voluntário como projetos, como
alternativa criativa e concreta para aproveitar o potencial dos idosos, que são
as universidades da Terceira Idade. Algumas dessas estimulam e propõem, ao
idoso por meio da realização de atividades culturais, físicas, artísticas e sociais,
de acordo com suas habilidades, desejos e afinidades.
Com esses incentivos, muitos idosos encontram a possibilidade de
manterem-se ativos, principalmente após o momento da aposentadoria,
preenchendo o tempo disponível auxiliando outras pessoas. Assim sendo,
considera-se o programa como uma forma de ajuda mútua, onde os idosos que
o realizam assessoram a outras pessoas ao mesmo tempo em que se sentem
úteis e inseridos na sociedade, refletindo também, na saúde e na qualidade de
vida dos mesmos.
Nesse processo e fundamental a estimulação da autonomia que
segundo (GONTIJO, 2005, p. 14) é a habilidade de controlar, lidar e tomar
decisões pessoais sobre como se deve viver diariamente, de acordo com suas
próprias regras e preferências.
Manter a autonomia e independência durante o processo de
envelhecimento é uma meta fundamental para indivíduos e governantes. Além
disto, o envelhecimento ocorre dentro de um contexto que envolve outras
pessoas, amigos, colegas de trabalho, vizinhos e membros da família. Esta é a
razão pela qual a interdependência e a solidariedade entre gerações se tornam
uma via de mão-dupla, com indivíduos jovens e velhos, onde se dá e se recebe
são princípios relevantes para o envelhecimento ativo.
Salientamos que o Brasil está se transformando em país de idosos
tendo um efeito que se reflete na Previdência Social, trazendo para os idosos o
aprimoramento de vários benefícios, na Medicina muitos avanços aconteceram
através de vacinas e até mesmo tratamentos e no Turismo, pois o idoso tem
direito de passear pelo Brasil sem pagar passagem, tendo a sociedade que se
30
preparar para encarar essa transformação atento as necessidades e
respeitando o estilo de vida de cada um.
Chegada à aposentadoria pensa-se logo no que fazer com o tempo
livre, porém vincula-se esse tempo ao lazer, fazendo com que os idosos
associem sempre esse lazer à qualidade de vida, para Neri (1993, p. 9) “a
promoção da boa qualidade de vida na idade madura excede os limites da
responsabilidade pessoal e deve ser vista como um empreendimento de
caráter sociocultural”.
Com relação à qualidade de vida na contemporaneidade, podemos
destacar um interesse maior por essa temática, pois é uma categoria que antes
estava associada à saúde, ou seja, apenas ao bem estar físico e que nos dias
atuais perpassa, dando importância para a saúde mental e as condições de
vida do ser humano.
Por esse motivo, o conceito de qualidade de vida surgiu vinculado a
um movimento nas ciências humanas e biológicas, na intenção de valorizar
parâmetros mais abrangentes, do que exclusivamente, o controle de sintomas,
a diminuição da mortalidade ou o aumento da expectativa de vida
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1998).
Segundo a OMS (1998), o conceito de qualidade de vida é: “A
percepção do individuo da sua posição na vida, no contexto de sua cultura e
dos sistemas de valores da sociedade em que vive em relação aos seus
objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL
DE SAÚDE, 1998).
A qualidade de vida associa-se ao estilo de vida de cada indivíduo,
sendo levados em consideração vários aspectos sociais, econômicos,
emocional e cultural, fazendo com que cada um se encaixe aos padrões que a
sociedade exige no momento.
A qualidade de vida na velhice tem relação direta com a existência
de condições ambientais que permitam aos idosos desempenhar
comportamentos biológicos e psicológicos adaptativos, tendo assim relação
direta com o bem-estar percebido.
Ressaltamos que, quando os idosos gozam de independência e
autonomia, eles próprios providenciam arranjos para que seus ambientes se
tornem mais seguros, variados e interessantes. Se os idosos não dispõem de
31
possibilidades de manejo do próprio ambiente físico, é necessário que os
membros da família ou das instituições por eles frequentadas, no caso o
Programa Gente de Valor, cuidem desses aspectos. Tendo esses ambientes
que serem amigáveis, equipados e estruturados para que os idosos possam se
adaptar.
Neri (2007) afirma que é possível obter qualidade de vida na velhice
e que essa possibilidade se dá na proporção de uma adequada atuação de
fatores individuais e socioculturais. Levando em consideração as políticas
públicas e as legislações existentes a essa população.
Sendo, portanto a qualidade de vida relacionada ao envelhecimento
ativo, pois os dois estão relacionados a vários segmentos pertencentes a
sociedade como: bom convívio familiar; interação social; bem estar físico; bom
desempenho emocional e mental; independência financeira e autonomia.
A qualidade de vida além de ser uma percepção individual é um
processo que está sempre em mudanças, pois o indivíduo deve se estruturar
de acordo com sua necessidade e da sociedade vigente, sendo levado também
em consideração o aspecto da saúde que descreve como o idoso está se
cuidando mais, buscando uma boa qualidade de vida.
Com isso podemos analisar que historicamente a sociedade almeja
desde muito tempo a qualidade de vida na longevidade, por isso é desafiante
para a sociedade, pois a mesma está embutida no bem estar e satisfação nos
diversos aspectos, existindo uma avaliação através de elementos criteriosos
para definir o nível de qualidade de vida de cada individuo como: longevidade,
saúde biológica, satisfação, a produtividade, atividade, o status social e NERI
(2007) completa:
Avaliar a qualidade de vida na velhice implica na adoção de múltiplos critérios de natureza biológica, psicológica e sociocultural. Vários elementos são apontados como determinantes ou indicadores de bem estar na velhice: longevidade; saúde biológica; saúde mental; satisfação; controle cognitivo; competência social; produtividade; atividade; eficácia cognitiva; status social; renda; continuidades de papeis familiares e ocupacionais e continuidade de relações informais em grupos primários (principalmente rede de amigos) (NERI, 2007, p. 10).
Fazendo uma reflexão com a autora percebemos que a busca pela
qualidade de vida na sociedade contemporânea está ligada diretamente a
32
procura de uma vida mais saudável, dando sentido a vários aspectos
existentes em diversos segmentos da sociedade e são certas situações que
implicam nos relacionamentos interpessoais, assim quanto melhor se vive,
melhor qualidade de vida se tem, melhorando as condições sociais de vida dos
idosos contemporâneos.
Porém para que essa qualidade de vida aconteça é necessário que
a sociedade tenha uma consciência positiva dos idosos, tratando-nos como
indivíduos produtivos, pois os idosos brasileiros estão se tornando mais ativos
e assim há uma ampliação no mercado de trabalho.
Assim as políticas sociais só podem ser efetivadas a partir das
respostas que o Estado dá às expressões da questão social em vigor, no nosso
caso as políticas voltadas para garantir os direitos dos idosos.
O Estado por sua vez utiliza as políticas públicas como forma de
intervenção para atender as demandas da questão social, a velhice não deixa,
portanto, de ser uma expressão da questão social, pois resulta de
desigualdades causadas pelo próprio capitalismo que trata o idoso muitas
vezes como algo descartável que não serve mais, visando apenas prejuízos
nas áreas da saúde e previdência.
Segundo Netto (2001, p. 29), o que se quer destacar, nesta linha
argumentativa, é que o capitalismo monopolista, pelas suas dinâmicas e
contradições, cria condições tais que o Estado por ele capturado, ao buscar
legitimação política através do jogo democrático, é permeável a demandas das
classes subalternas, que podem fazer incidir nele seus interesses e suas
reivindicações imediatas.
O Estado historicamente sempre buscou a formação de um bem
estar social, expandindo as políticas sociais, porém se isenta de certas
responsabilidades passando para a sociedade um papel que deveria ser
cumprido por ele, lembrando que ao implementar essas políticas públicas o
Estado visa sempre atender as necessidades do sistema capitalista.
Através do voluntariado a sociedade sempre pensa em conquistar
um mundo melhor, tentando derrubar as barreiras das desigualdades, a
valorização do ser humano, buscando nesse trabalho um satisfazer pessoal ou
muitas vezes profissional.
33
O voluntariado existe no Brasil há aproximadamente cinco séculos,
tendo início historicamente na Santa Casa de Misericórdia, sendo sempre
associado a assistência social e as religiões (SILVA, 2003).
No Brasil, o trabalho voluntário é legislado pelo art. 1º da Lei nº
9.608 de 18 de fevereiro de 1998, na qual consta:
considera-se serviço voluntário, [...], a atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais,científicos, recreativos, ou de assistência social, inclusive mutualidade (BRASIL, 1998).
Para desenvolver o trabalho voluntário, não existe uma faixa etária,
porém esse trabalho é mais frequente com idosos ativos que por estarem
aposentados utilizam esse tipo de trabalho para ocupar seu tempo e se sentir
útil, exercitando suas mentes e dando oportunidades para outros idosos que
utilizam seus serviços voluntários.
Não existem no Brasil muitas pesquisas feitas acerca do trabalho
voluntário e suas consequências com relação ao bem estar das pessoas e a
melhoria da qualidade de vida para os indivíduos que o fazem e que recebem o
trabalho, por isso é uma temática de muita importância para nós acadêmicos e
profissionais de diversas áreas.
A sociedade contemporânea exige cada vez dos indivíduos, fazendo
com que os idosos não aceitem o processo de envelhecimento como algo bom
e natural, sentindo a necessidade de estarem sempre belos, frequentando
salões e participando sempre de atividades físicas para melhorarem a
aparência e a saúde.
Em 1960, foram implementados, no Brasil, como alternativa de
sociabilidade entre os idosos, os grupos de convivência, que segundo Ferrigno,
Leite e Abigalil (2006),
Eles têm como objetivos gerais a melhoria da qualidade de vida em todos os aspectos e o exercício da cidadania; já os objetivos específicos são: a socialização ou ressocialização no que se refere ao envelhecimento como processo que reconstrói as relações rompidas após muitos anos de desempenho de papéis estabelecidos- marido, pai, trabalhador, por exemplo - e que leva a aprender as obrigações e direitos de novos papéis - viúvo, avô, aposentado, etc. (FERRIGNO, LEITE E ABIGAIL, 2006, p. 17).
34
Esses grupos de convivência buscando sempre a socialiabilidade
entre os idosos trabalham sempre em coletivo, através de atividades que
possibilitem a participação no lazer, na saúde e no físico, sendo esse grupo
divido em profissionais de áreas diversas.
Sendo esses grupos muitas vezes um refugio para os idosos, pois o
fato de não mais terem com quem conversar, de todos se afastarem pensando
que não entendem mais de nada, querendo sempre resolver tudo sem deixar
se quer que esses idosos tornem atitudes ou possam dar opiniões, no grupo de
convivência acontece o oposto.
A sociedade civil acaba se tornando responsável para assumir o
papel não só do Estado, mas também da própria família que não tem mais
tempo para esses idosos, muitas vezes abandonam e os jogam a mercê do
mundo e das companhias dos grupos de convivência, sejam dos profissionais e
também dos idosos que os cercam.
3.3 As Legislações Contemporâneas Destinadas ao Idoso no Brasil
Para darmos início as legislações destinadas ao idoso no Brasil faz-
se necessário um resgate histórico a começar pela promulgação da Declaração
dos Direitos Humanos em que traz o conceito de cidadania.
Uma data importante relacionada aos direitos dos idosos foi 10 de
dezembro de 1948, dia que a Assembleia Geral das Nações Unidas promulgou
a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Esse documento afirma em seu
artigo 25, os universais direitos dos idosos:
Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde, bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança, em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora do controle (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, 1948).
Os direitos sociais no Brasil como: educação pública e universal, a
saúde e a assistência social, somente se materializaram na prática, mesmo
fazendo parte das legislações como constituições e Estatutos, pois são
fragilizados e consequentemente são atingidos pelo neoliberalismo,
35
dependendo da organização da sociedade civil de uma maneira geral, dando
impulso as políticas sociais através do movimento operário.
O aparato legal contempla os direitos sociais, mas a realidade desmistifica a letra morta da lei. O usufruto dos direitos sociais só pode ser garantido com na efetiva participação política da população através dos instrumentos de organização, de pressão e de denúncia (GOLDMAN, 2000, p. 26).
Segundo Covre (2003), a Constituição Federal é um instrumento que
deve ser utilizado pelos cidadãos com a perspectiva de encaminhamentos e de
conquistas de propostas que promovam a igualdade e, apesar da dificuldade
de se concretizar tudo que é deliberado nos direitos e deveres do cidadão, a
Carta Universal dos Direitos Humanos está presente nas Constituições de cada
país, embora uns a ressaltem mais que outros.
O fato de o país ocupar nas avaliações realizadas pela Organização
das Nações Unidas (ONU) uma das últimas posições para medir o grau de
desenvolvimento humano se dá por não priorizar segundo Ramos (2002):
Ações voltadas á erradicação da pobreza, da marginalização, da desigualdade social, da violência, através de políticas públicas consistentes e permanentes, como de saneamento básico, educação de qualidade, saúde preventiva, habitação (RAMOS, 2002, p. 59-60).
Ainda de acordo com Ramos (2002), durante o período de vigor das
primeiras constituições brasileiras, a preocupação fundamental dos
constituintes e governantes deveria ter sido com os direitos humanos
fundamentais, já que em decorrência desse descaso, grande parte da
população não conseguia nem alcançar a fase da velhice.
A Constituição Federal de 1988 dá importância significativa ao tema
velhice, seguindo as considerações de RAMOS (2002) que diz que é
necessário que entendamos que a constituição leva ao conhecimento de toda
sociedade, regras que são determinadas por valores que devem ser
compreendidos como fundamentais para o exercício real do poder.
De acordo com Ramos (2002), uma constituição é legitima e
verdadeira devendo ser elaborada pelos próprios cidadãos e estes, por sua
vez, devem ser sensatos o bastante para que percebam que a finalidade de
uma constituição incide em construir uma sociedade que tenha capacidade de
36
ampliar a justiça, a liberdade, o desenvolvimento, a igualdade e a democracia,
valores estes que são inseparáveis.
Assim, a importância dos valores indicados em uma constituição se
dá através das necessidades da sociedade por meio da ideia de que o ser
humano não deve ser vinculado ao sofrimento, e sim ao atendimento para suas
necessidades.
Muitas constituições aconteceram durante a trajetória do Brasil,
porém os idosos só começaram a ocupar espaços políticos em meados da
década de 1980 por meio das manifestações sociais de aposentados e
pensionistas e, ao se perceberem como protagonista do cenário histórico
fizeram exigências para participar da constituição de 1988.
Assim as políticas de proteção social aos idosos brasileiros só foram
consolidadas por meio da constituição de 1988, advindas e assinadas por
orientações da Assembleia de Viena, tendo com conclusão a conscientização
dos países da necessidade de incorporarem nos seus planos propostos de
ações que garantissem um envelhecimento saudável, ou seja, a sociedade
deveria ser trabalhada no sentido de adotar um conceito positivo e ativo de
envelhecimento, orientado ao desenvolvimento, em que acontece mudanças do
papel do idoso na sociedade (CAMARANO E PASINATO, 2004, p. 266).
O artigo 5º da constituição federal, diz que todos somos iguais perante a lei, embora neste artigo não esteja ligado diretamente a população idosa, podemos inclui- lá pois todos são seres humanos merecendo o devido respeito (CF, 1988).
Porém, RAMOS (2002), afirma que os artigos 229 e 230 fazem
referência direta à velhice quando dizem que:
Os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade; a família, a sociedade e o Estado tem o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem estar, garantindo-lhes o direito à vida; os programas de amparo aos idosos devem ser preferencialmente executados nos lares; aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes urbanos (RAMOS, 2002, p. 71)
Portanto, podemos constatar que a constituição de 1988, colocou a
velhice como algo relevante que precisa ser assistida e, sobretudo, continuar
37
buscando a cada dia a efetivação de seus direitos, através das longas batalhas
enfrentadas por todos os profissionais envolvidos na temática, inclusive os
assistentes sociais, que lutam incessantemente pela ampliação das políticas
públicas voltadas para os idosos.
De acordo com Camarano e Pasinato (2004), nesse período, surgem
instrumentos como planos de custeio e benefícios da Previdência Social
consentidos em 1991 e também a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS
(Lei nº 8.742, de dezembro de 1993), lei esta que possibilitou a organização de
vários programas e projetos, sendo interligados pelas três esferas do poder:
executivo, legislativo e judiciário.
O benefício de prestação continuada (BPC) foi concedido mediante
esta lei, aos indivíduos que tinham mais de 70 anos de idade, cujas famílias
possuíssem uma renda per capita menor que ¼ do salário mínimo. Tendo essa
idade diminuída para 67 anos em 1998 e para 65 anos em 2004.
Assim, seis anos após a promulgação da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, através de mobilizações de setores
representados pela sociedade civil e políticas públicas voltadas para os idosos,
surge aprovada a Política Nacional do Idoso - PNI (Lei nº 8.842, de 4 de janeiro
de 1994), dando continuidade as fundamentações da Constituição Federal de
1988, sendo os idosos portadores de direitos e tendo como principais diretrizes
que a norteiam:
Incentivar e viabilizar formas alternativas de cooperação intergeracional; atuar junto às organizações da sociedade civil representativas dos interesses dos idosos com vistas a formulação e avaliação das políticas, planos e projetos; priorizar o atendimento dos idosos em condição de vulnerabilidade por suas próprias famílias em detrimento ao atendimento asilar; promover a capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia; priorizar o atendimento do idosos em órgãos públicos e privados prestadores de serviços; fomentar a discussão e o desenvolvimento de estudos referentes à questão do envelhecimento (CAMARANO E PASINATO, 2004, p. 269).
As autoras demonstram que a PNI é uma política que objetiva
garantir os direitos dos idosos, estando relacionadas aos setores assistenciais
e articuladas com as diversas políticas ligadas ao idoso, tendo como principal
parceira a sociedade civil que assume de maneira voluntária um papel que
deveria ser pelo Estado.
38
Segundo Camarano e Pasinato (2004), a PNI consiste em um
conjunto de ações governamentais com o objetivo de assegurar os direitos de
cidadania dos idosos, entendo que esses indivíduos devem ter atendimento
diferenciado para cada uma de suas necessidades: físicas, sociais,
econômicas e políticas, sendo designada para sua coordenação e gestão a
Secretaria de Assistência Social do então MPAS, atualmente Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à fome (MDS). Foi criado também, o
Conselho Nacional do Idoso (CNDI), sendo implementado apenas em 2002.
A PNI define em seu Decreto de nº 1.948, de 3 julho de 1996, que
regulamentou a lei que os Centros de Convivência são locais destinados à
permanência diurna de idosos, onde são desenvolvidas atividades físicas,
laborativas, recreativas, culturais, associativas e de educação para a cidadania.
Segundo Teixeira (2008), a PNI, especificamente, trilha os novos
caminhos da política social, ou seja, os caminhos vinculados às diretrizes
internacionais que consideram o Estado apenas como instrumento regulador,
co-financiador, cujas atribuições com a proteção social devem ser repartidas
com a sociedade civil por meio de ações realizadas por Organizações Não
Governamentais (ONGs), família, comunidades ou entes municipais e que tem
como resultados programas pontuais que apresentam metas limitadas quando
comparadas ao aumento significativo do número de pessoas idosas.
Porém a autora nos faz refletir como o Estado cria meios para fazer
com que esses direitos fossem efetivados, enfatizando a importância do
conhecimento do processo de discussão e aprovação de cada legislação
especifica.
De acordo com Neri (2007), a aprovação do Estatuto do Idoso,
assim como a PNI, se deu através da pressão que setores organizados da
sociedade realizaram sobre os políticos em um longo processo.
Assim em 1º de outubro de 2003, após seis anos de tramitação no
Congresso Nacional, foi sancionada a Lei Federal nº 10.741, que instituiu o
Estatuto do Idoso com seus 118 artigos distribuídos sobre direito à saúde, à
educação, esporte, lazer e cultura, transporte e punições contra crimes
relacionados à pessoa idosa.
Regulamentando os direitos da faixa populacional brasileira com
idade igual ou superior a 60 anos. Esse documento apresenta leis e políticas
39
que haviam sido aprovadas e acrescenta subsídios que no decorrer da história
afirmam medidas para proporcionar bem estar aos idosos.
O Estatuto do Idoso mostra em seu conteúdo para a população
brasileira a regulamentação dos direitos dos idosos, podendo estes ao ter
conhecimento da lei revidar e criar autonomias que até então não existiam. O
Estatuto aponta em seu artigo 2º:
O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando-se-lhe, por lei ou outros meios, todas as oportunidades e felicidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade (BRASIL, 2003, p. 3 apud TEIXEIRA, 2008,
p. 289).
Sabemos que na sociedade contemporânea há uma diminuição de
oportunidades sociais para as pessoas idosas, mostrando que os jovens é que
são produtivos e os velhos incapazes, tendo que ser aproveitados para
investimentos do capital, ou seja, na era do consumo só serve para a
sociedade quem vive no mundo do consumo.
O parágrafo único do artigo 34º do Estatuto do Idoso propõe:
Aos idosos, a partir de sessenta e cinco anos, que não possuam meios para promover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o beneficio mensal de um salário mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) [...]. Parágrafo único. O beneficio já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas (BRASIL, 2003, p. 21).
Elencamos que através de nossas pesquisas compreendemos um
avanço nas leis e políticas voltadas para os idosos, desde a PNI até o Estatuto
do Idoso que é uma conquista brasileira, mas para que sejam concretizadas e
efetivadas essas leis depende de um conjunto de ações não só do Estado que
é o principal responsável, mas também da sociedade que acaba assumindo
uma responsabilidade para atender as necessidades dessa população idosa.
Mesmo nos dias de hoje com tantas maneiras de adquirir
informações, ainda existe uma parte da população leiga que não conhece seus
40
direitos, sabem que existe e que não são cumpridos, mas por apenas ouvirem
falar acabam sendo fragilizados e oprimidos pela sociedade contemporânea.
Elencamos assim que através do Estatuto do Idoso criam-se
espaços para efetivação das políticas públicas com o objetivo de garantir a
promoção da qualidade de vida dos idosos brasileiros contemporâneos.
41
4 A INSTITUIÇÃO
Como cenário para nossa pesquisa, escolhemos o Programa Gente
de Valor para compreendermos o conceito de qualidade na contemporaneidade
para cada participante do programa.
Dessa forma, apresentaremos neste capítulo um breve histórico do
programa e a seguir algumas informações inerentes à temática proposta
através de análises de relatos que nos possibilitaram um entendimento
diferenciado acerca do conceito de qualidade de vida na contemporaneidade.
4.1 Apresentando o Programa Gente de Valor
O Programa Gente de Valor fica situado na Avenida João Pessoa,
Bairro Damas no município de Fortaleza-Ceará. O PGV é conhecido por
desenvolver atividades como trabalhos em grupos, comemoração de festas
populares (carnaval, Páscoa, festas juninas, Natal, etc.), passeios ecológicos e
recreativos, ciclo de palestras, excursões, oficinas de artes, encontros, fóruns e
ciclos de debates, cursos artesanais, montagem de peças teatrais, curso de
dança de salão, informática, línguas, etc.
É importante ressaltar que o PGV vem justamente resgatar as
vivências na sociedade através de danças, teatro e de passeios turísticos para
melhor interação entre os idosos e a sociedade contemporânea, sendo
oferecidas atividades para melhorar a qualidade de vida.
O Programa Gente de Valor surgiu em Fortaleza através da Lei 8601
de 13 de Dezembro 2000. A objetivação dessa lei é valorização dos servidores
públicos municipais aposentados com as realizações de ações que permite sua
integração participativa na sociedade e tem como responsável o Instituto
Municipal de Pesquisas, Administração e Recursos Humanos (IMPARH), órgão
da administração indireta do município de Fortaleza.
Desta forma, vale ressaltar que o PGV é programa social destinado
aos aposentados e longevos do município de Fortaleza que objetiva valorizá-
los oferecendo-lhes um atendimento nas áreas sanitária, social e jurídica,
promovendo também atividades socioculturais, lúdicas e esportivas. O PGV
como assim é chamado, possibilita resgatar o sentido de unidade do
42
aposentado e longevo no plano psicossocial e espiritual, contribuindo para uma
melhor qualidade de vida.
Assim, a Prefeitura Municipal de Fortaleza reconhecendo a
necessidade de um melhor atendimento biopsicossocial à categoria de
aposentado e o esforço dos próprios profissionais, implementou um programa
de ações integradas visando a promoção humano-social.
Esse programa tem como missão promover o desenvolvimento das
ações socializadoras que venham a fortalecer o processo de participação e
integração social do aposentado e longevo. Tem como objetivo geral promover
o desenvolvimento de atividades socioculturais que estimulem o processo de
participação e integração do aposentado como ser social.
Desta maneira, o PGV é um espaço que possibilita viver o
envelhecimento, para além da atividade que está atrelada ao sujeito
fisicamente ativo. Possibilita formar e estruturar grupos operativos, terapêuticos
e de socialização, objetivando o crescimento e desenvolvimento do potencial
humano, o fortalecimento da identidade social e autoestima.
Com isso o trabalho com os idosos deve estimular também a
participação na vida social, cultural, espiritual e cívica, incentivando a
autonomia e a independência, adequando-se à heterogeneidade característica
dessa população idosa que se sente ativa e capaz mesmo estando
aposentados.
Atualmente, o PGV oferta as seguintes atividades: artesanato;
reflexologia; yogaterapia; dança de salão; curso de italiano e alongamento do
Projeto saúde Bombeiros e Sociedade - PSBS). Há um projeto para 2015 de
inclusão digital, curso de teatro e outras línguas.
4.2 A Chegada ao Campo
Para darmos início à pesquisa de campo passamos por um processo
de legitimação através de um oficio com pedido de autorização para pesquisa
de campo enviado pela faculdade, destinado ao Presidente do IMPARH que
logo assinou autorizando, passando para a coordenadora do PGV que nos deu
atenção e autonomia para que pudéssemos realizar nossa pesquisa, nos
orientando e nos dando direcionamentos para que acontecesse com sucesso.
43
Ao chegar ao programa, inicialmente, apresentamos o objetivo da
pesquisa e os participantes ficaram interessados e dispostos a colaborar. Logo
se acostumaram com minha presença, pois passamos a visitá-los em quase
todos os encontros e atividades que aconteciam no programa.
Todos os dias de segunda a quinta-feira acontecem atividades
diferenciadas, assim os idosos vivenciam variadas formas para desenvolverem
suas habilidades e momentos de interação, em que cada professor tem uma
maneira adequada para ministrarem as aulas.
A princípio pensamos em entrevistar vinte idosos e pelo menos dois
profissionais para coletarmos informações sobre o programa, porém através de
observações percebemos que se tratava de um universo muito extenso por ser
um programa com mais de duzentos idosos inscritos e que os profissionais não
são contratados pela prefeitura apenas a coordenadora é servidora, os demais
profissionais são voluntários.
Com isso despertou-nos o interesse em investigar o que os
profissionais pensam sobre o processo de voluntariado dentro do programa e
como esse trabalho pode melhorar a qualidade de vida desses idosos. Assim
nossa metodologia sofreu um processo de mudança em que tivemos que fazer
questionários com dez idosos e entrevistas com a coordenadora do programa
que é servidora, três professores voluntários e um dos bombeiros que
participam do programa.
As entrevistas foram realizadas no próprio campo da pesquisa, ou
seja, na sala do PGV ao término de cada atividade, usamos gravador com
autorização dos participantes através do termo de consentimento livre e
esclarecido, todos tiveram ciência sobre a importância da pesquisa e que foram
resguardados pela ética da pesquisa.
Os questionários também foram aplicados aos idosos ao termino de
cada atividade, todos dispostos e colaboraram de maneira satisfatória e
responderam a todas as perguntas com clareza e entendimento.
A pesquisa de campo nos proporcionou momentos muito
prazerosos, tanto nas falas dos interlocutores das entrevistas como através das
respostas advindas dos questionários com os idosos. São muitas histórias,
vivências e costumes e opiniões diferentes que nos faz refletir sobre a nossa
realidade.
44
4.3 Impactos Trazidos pelo Programa Gente de Valor na Vida dos Sujeitos
Participantes
Através da pesquisa de campo podemos observar aspectos que
estão embutidos na realidade da sociedade contemporânea, compreendendo a
dinâmica a que este grupo está relacionado através de experiências vividas no
Programa Gente de Valor.
Com os questionários analisados e distribuídos em tabelas podemos
organizar e analisar cada pergunta e cada resposta dando sentido as falas dos
sujeitos da pesquisa, através de reflexões feitas no mês de novembro de 2014.
Com relação ao perfil sócio econômico dos participantes podemos constatar
que dos dez idosos que responderam aos questionários, esse número é
equivalente a 10% do total de participantes do grupo, em que 90% são do
gênero feminino e apenas 10% são do gênero masculino. Roteiro contido no
final do trabalho (APÊNDICE A).
As perguntas foram destacadas em negrito para que o leitor possa
identificá-las e os sujeitos serão apresentados por ética como já foi citado
anteriormente ID para idosos e P para os profissionais.
Sendo a idade dos sujeitos variada entre 67 e 89 anos,
possibilitando uma compreensão mais concreta sobre o tema da qualidade de
vida na contemporaneidade a partir de opiniões de pessoas idosas.
Gráfico 1 - Faixa Etária (PGV)
Fonte: Própria Autora – Dados da pesquisadora, 2014
45
Conforme ilustrado no gráfico acima, observa-se 50% dos idosos
que participam do programa estão na faixa de 67 a 69 anos, em seguida temos
33% dos idosos estão na faixa entre 70 a 80 e por último temos17% os idosos
que estão entre 81 e 87 anos de idade.
Ao analisarmos o gráfico acima constatamos que os participantes do
programa são de várias idades com o mesmo objetivo que é melhorar a
qualidade de vida através dos momentos de movimentos e reflexões existentes
no programa.
Com relação à renda mensal, constatamos que todos os idosos que
participam do programa são aposentados por tempo de trabalho por terem
contribuído com INSS ou recebem o BPC pelo o fato de não possuírem renda
ou a renda familiar ser ¼ da renda per capita, além de alguns terem renda
extra com vendas de cosméticos, artesanatos etc. para completar o salário pelo
fato de ter que dar conta das despesas da casa quando são participantes e
muitas vezes responsáveis.
Quando perguntamos com quem moram dos dez idosos
questionados oito moram sozinhos, entre eles três atribuem isso a solidão, os
demais acham interessante o fato de terem autonomia e se sentirem úteis.
Outro fator importante na composição do perfil socioeconômico
desses idosos é o nível de escolaridade, mostrando que há uma diversidade de
condições financeiras e pelo pouco investimento em educação nas décadas
passadas, como mostra o gráfico a seguir.
Gráfico 2 - Nível de Escolaridade
Fonte: Própria Autora – Dados da pesquisadora, 2014
46
O gráfico anterior demonstra que o fato de o PGV ser um programa
voltado para os servidores aposentados 53% dos idosos questionados
concluíram o ensino fundamental que os mesmos chamam de ensino normal,
em seguida com 27% temos os idosos que concluíram o ensino médio, assim
temos o grau de analfabetismo com 13% e por fim temos com 7% os idosos
que concluíram o Ensino Superior.
Segundo dados do IBGE, a educação é um dos temas da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios – PNDA. A investigação desse tema capta
anualmente um conjunto de características sobre a escolarização alcançada
pela população e, em especial, sobre os estudantes, o que permite
acompanhar ao longo do tempo a situação do analfabetismo e da
escolarização no País, assim como o nível de educação da população.
Porém constatamos com as informações do IBGE que houve pouco
investimento em educação nas últimas décadas do século passado, o que ao
mesmo tempo nos deixa esperançosos ao fazer a projeção da velhice neste
aspecto dos atuais jovens, já que os índices de acesso à educação e a
informações melhoraram.
Com isso, podemos constatar que há um alto índice de idosos
participantes que concluíram o ensino fundamental, demonstrando assim que
existe um avanço na escolaridade da população, visto que o programa é
composto por mais de 50% de idosos servidores.
Ao abordar em nosso questionário o tema velhice, colocamos
algumas opções não para impor as respostas e sim para dar subsídios às
tantas respostas que podemos ouvir, pois na questão há um item de outros
para que se possam expressar a opinião de maneira natural.
Salientamos que com a intenção de alcançar os objetivos os quais
nos propomos fizemos perguntas em que a velhice foi amplamente abordada e
pudemos através das respostas como veremos como os idosos pensam,
enxergam e encaram a velhice através de suas falas, lembrando que a
identidade de cada um será preservada.
ID1 (72 anos): A velhice minha filha além de tudo isso ai que tá escrito, pra mim é uma sorte ter chegado até aqui porque minha vida é maravilhosa, adoro isso aqui, participo de tudo, não perco nada (ID1).
47
ID2 (82 anos): Não ligo pra esse negocio ai de preconceito, sei que o povo fala da gente que se diverte, gosta de dançar, mas não to nem ai por essa fase pra mim to aproveitando mais do que a minha adolescência, por agora não tenho o que perder, risos (ID2). ID3 (76 anos): Na minha opinião, a velhice é sabedoria são anos vividos que temos mais é que aproveitar, me sinto como uma jovem que a cada dia descobre coisas novas, sou muito vaidosa e procuro estar sempre bem para transmitir felicidade para quem está ao meu redor (ID3). ID4 (80 anos): Acho que a velhice é a melhor fase da minha vida, pois me sinto como se fosse uma jovem porque tenho garra, gosto de viver e me sinto muito bem. Não devemos nos preocupar com os preconceitos das pessoas, temos que ter em mente que a velhice não é doença, e sim saúde, comigo só tenho pensamentos positivos (ID4).
No questionário não existiu identificação, mas todos responderam de
maneira espontânea e a seguir apresentaremos duas opiniões sobre o que é
velhice para os idosos participantes do Programa Gente de Valor.
Segundo Beauvoir (1990, p. 345), o idoso “é também, um sujeito que
interioriza sua situação e que reage a ela.”. Observamos em nossa pesquisa
que os idosos que foram questionados apresentam a velhice positivamente,
encarando como algo natural ao ser humano, com alegria, satisfaça e orgulho
pelos anos de experiências vividos.
Como podemos constatar, a forma como cada um deles encara a
velhice dependendo muito da história que cada indivíduo, vivência, sua
condição de saúde, econômica. Podemos também identificar preconceitos até
mesmo por parte dos próprios idosos que recriminam um ou outro quando não
querem ou não conseguem realizar uma atividade, observamos certa
repressão.
A categoria velhice recebe diversas nomenclaturas, entre elas
terceira idade que segundo Debert (1999)
A invenção de terceira idade não pode também, ser reduzida aos indicadores de prolongamento de vida nas sociedades contemporâneas. Essa invenção requer(...) a existência de uma “comunidade de aposentados”, com peso suficiente na sociedade, demonstrando dispor de saúde, independência financeira e outros meios apropriados para tornarem reais as experiências de que essa etapa da vida seja propicia à realização e satisfação pessoal. (DEBERT, 1999, p. 162).
48
O fato de trazer terceira idade torna-se algo de vaidade, pois o fato
de não mais dizer velhice, faz com os idosos se sintam melhor, afinal a
comparação com o que é velho sempre mostra algo negativo ou que não serve
mais.
Já quando perguntamos sobre qualidade de vida na
contemporaneidade, apesar de respostas objetivas e direcionadas, também
tivemos surpresas nas opções outros, quando alguns relatos dizem que:
ID3 (77 anos): Esse negócio de qualidade de vida é coisa nova porque no meu tempo ou você vivia bem ou tinha uma vida muito ruim, sempre morei na cidade, sempre existiu dificuldade e mesmo assim todo mundo era feliz, com bucho cheio e com saúde (ID3).
ID4 (60 anos): Ah... qualidade de vida é ter uma vida cheia de alegria e poder desfrutar de todas as coisas boas que o mundo e o PGV oferece pra nós, sou feliz demais e quero viver muito mais, pois agora que estou começando a viver (ID4).
Gráfico 3 - Opiniões sobre Qualidade de Vida
Fonte: Própria Autora – Dados da pesquisadora, 2014
No gráfico, procuramos demonstrar as várias opiniões trazidas pelos
idosos com relação à qualidade de vida na contemporaneidade, de forma que
cada um tem sua maneira de sentir e expressar sua opinião de maneira livre e
espontânea. Porém dos dez questionados, 33% marcaram a opção que dizia
que qualidade de vida é ter saúde, 17% marcaram a opção que dizia que é
viver confortavelmente, 33% confirmam que qualidade de vida é ter um bom
convívio social e 17% nos mostram outras opções tão diferentes como vimos
anteriormente.
49
Com isso, ao analisarmos as respostas dadas pelos idosos sobre
qualidade de vida entre as opiniões no item de outros muitos temas surgiram
como: autonomia, autoaceitação do momento vivido, espiritualidade,
funcionalidade física, relações positivas e estados afetivos e a disponibilidade
de construir amizades.
Para mostrar os impactos que programa traz na vida dos
participantes, fizemos perguntas relacionadas ao cotidiano dos participantes
após a inserção no PGV e unanimamente, todos os questionados responderam
que a vida tinha melhorado muito, apresentando somente justificativas
positivas.
Ressaltamos que essa opinião foi respondida individualmente em
que tivemos respostas variadas com exemplos de como suas vidas mudaram.
Podemos observar nas falas a seguir.
ID7 (76 anos): Antes de participar do programa vivia deitada só assistindo TV., então uma amiga me convidou e estou aqui até hoje, não consigo me ver mais sem esse programa porque minha saúde melhorou e também minha disponibilidade física e mental (ID7).
ID8 (68 ANOS): Entrei no programa assim que me aposentei, sempre fiz caminhada, sempre gostei de me movimentar mesmo quando ainda trabalhava e o programa tem tudo que a gente precisa porque aqui a gente se diverte, se exercita e passeia bastante, além de se sentir feliz ainda fazemos amizades novas (ID8).
ID9 (72anos): Ah minha filha, depois que entrei no programa minha vida só tem melhorado, na minha família todos dizem que estou mais contente e confiante, quando estou aqui não vejo nem o tempo passar, o nosso lema é se divertir, divertir os outros também (ID9).
Com isso identificamos uma gratidão dos idosos para com os
professores que ministram as aulas, com a atenção e respeito, analisando o
limite de cada um com paciência. Os idosos agradecem os profissionais do
programa por disponibilizarem seu tempo livre para estarem com eles.
Com isso, constatamos nas falas que, embora esteja preconizado
nas legislações dos idosos, sendo uma das mínimas ações em que o Estado
materializa os direitos desses sujeitos ao lazer e à promoção da qualidade de
vida, tais ações são compreendidas por eles como um favor e, quando
relacionamos às mínimas ações, não desconsiderando o mérito do programa,
50
ao contrário, há muito o que se exaltar nas iniciativas como esta e reconhecer o
quanto ele representa para todos os idosos que participam, podendo observar
nos relatos dos mesmos.
Com relação às motivações que os levaram a fazer parte do
programa, estas são inúmeras, entre elas podemos citar: a melhora do ponto
de vista da saúde com disposição resultante das atividades físicas; a
sociabilidade promovida pelo programa com o aumento da rede de amigos da
mesma faixa etária, e com isso a troca de experiências, as conversas, as
risadas, tendo sido tudo isso constatado visualmente com a observação
simples realizada pela pesquisadora.
Porém ao analisar nossas entrevistas com os profissionais,
constatamos que muitas coisas estão por traz do Programa Gente de Valor.
Em suas falas observamos o descaso e a pouca importância que a prefeitura
dá ao programa e até mesmo aos idosos que participam.
Ao entrevistar a coordenadora (P!), perguntamos sobre histórico da
fundação, seus objetivos e missão até os dias atuais, nos mostrou que no
papel tudo é muito belo, existe uma equipe multidisciplinar contendo: psicólogo,
Assistente Social e professores para cada uma das atividades, funcionários
servidores da prefeitura, porém nada disso acontece, pois constatamos através
da observação simples e dos relatos dos profissionais que a realidade é outra.
PI: “O PGV sou eu, faço o que posso para conseguir tudo para meus queridos idosos, bato de frente com outros coordenadores e diretores para não acabar com esse programa, pois me sinto realizada em fazê-lo acontecer, às vezes até gastando do meu próprio bolso, é cansativo, desgastante, mais isso satisfaz meu ego profissional e pessoal (PI).
Nessa fala podemos observar que é muito complicado quando a
sociedade assume o papel do Estado, tentando resolver demandas que são
inerentes ao mesmo. Diante da dinâmica vivenciada no PGV temos que levar
em consideração muitos aspectos que existem no programa.
Salientamos a importância das palestras que são ministradas nas
reuniões que acontecem na última quarta-feira do mês, são realizadas por
profissionais de diversas áreas convidados para orientar, direcionar e até
51
mesmo incentivar os idosos para realizar a cidadania por parte dos
conhecimentos das legislações.
Perguntamos aos profissionais o que significa o voluntariado para
eles e a resposta de todos foi a satisfação pessoal, o compromisso de fazer o
bem aos outros. Podemos observar nas falas dos próprios sujeitos.
P2: “Para quem participa do projeto sabe como a pessoa que se doa, se sente bem em fazer aquilo com amor, para fazer aquela outra pessoa feliz, o voluntário hoje está em diversas áreas, começa a ser uma forma também de fazer com que a pessoa que participa do voluntariado se sinta melhor aumentando a sua qualidade de vida, quando você é carinhoso, trabalhando na questão de envelhecer com qualidade é muito importante, então voluntariado pra mim é amor, fico muito feliz em poder proporcionar momentos felizes ao próximo” (P2).
P3: “A forma que eu achei de ajudar as pessoas do programa foi através da dança, não só da dança, mas faço o trabalho voluntario de várias formas. Começou a iniciativa por mim, algumas reformas na sala, as festas ou eventos que acontecem dentro do programa, sempre sou um dos organizadores ativo e passivo de todas as formas lá quem ajuda sou eu, não desmerecendo ninguém, mas as pessoas que trabalham e recebem aqui às vezes não dão muito importância” (P3).
P4: “Bem já fui voluntário em outros projetos, voluntario é a doação do seu tempo, doação da vida para aprender com o outro. Eu acho que colégios deviam ter uma cadeira de voluntariado, pois a pessoa aprende a ser mais humano” (P4).
Podemos observar que a própria lógica capitalista faz com que os
indivíduos sejam alienados a ponto de não se reconhecerem quando estão se
fazendo útil na sociedade fazendo com que seja cumprido através da sua força
de trabalho o papel que deveria ser cumprido pelo Estado.
Ressaltamos que a forma de voluntário que acontece no programa
não é totalmente gratuita, pois os próprios idosos se reuniram para pagar uma
taxa que segundo eles é simbólica para não ficarem sem os seus momentos de
atividades. Podemos constatar isso nas falas dos próprios profissionais.
P3: “Eu não recebo pelo IMPARH, já recebi quando era a outra gestão era terceirizado eu recebia pela prefeitura, segundo os diretores tem um projeto em vista para eu receber pela instituição, mas por enquanto ainda nada, então os próprios alunos se reuniram e decidiram fazer uma cota para não ficar sem a dança pagam mensal uma taxa de vinte reais de manhã e vinte e cinco reais a tarde, de manhã é dança aeróbica e a tarde é dança de salão” (P3).
52
P4: “É na verdade o programa é da prefeitura, mas os professores são voluntários dentro do programa, agora é claro o PGV não espera diretamente por verbas, vai acontecendo. Ai tem varias atividades bingos, gincanas, rifas e outras coisas para que possa acontecer, como exemplo temos a reforma do galpão fomos nós mesmos que fizemos, eu e o professor de dança juntamente com outras pessoas vínhamos no fim de semana e com o dinheiro arrecadado compramos tinta, telha e outras coisas que faltavam e então deu certo, mas não tivemos ajuda nenhuma da prefeitura, alguns funcionários até nos ajudaram doando ventiladores” (P4).
Conforme Silva (2003), o trabalho voluntário é um produto histórico
que vem se desenvolvendo ao longo do tempo e está em contínua evolução.
As razões que levam as pessoas a procurá-lo são diversas e diferem conforme
a faixa etária.
Para os profissionais idosos que oferecem esse trabalho voluntário,
eles veem esse momento como uma forma de ocupar o tempo livre deixado
como um vazio após a aposentadoria.
Com relação ao trabalho voluntário, melhores condições de saúde e
qualidade de vida vai ao encontro da Teoria da Atividade, que aponta a
manutenção de atividades como um benefício e uma necessidade para
satisfação com a vida na velhice, enfatizando que os idosos requerem e
desejam níveis elevados de atividade social. Considera também que a pessoa
que envelhece em boas condições é aquela que permanece ativa e consegue
resistir a vários obstáculos, em especial ao engajamento social.
(ELIOPOULUS, 2005; SIQUEIRA, 2002).
Podemos observar o envolvimento pessoal que existe por parte dos
profissionais, porém as condições são precárias para que tudo possa acontecer
como deveria, pois os mesmos não esperando pela Prefeitura procuram ajudar
os idosos da melhor maneira possível e é claro sem causar prejuízos ou danos
para os mesmos.
Para os profissionais é muito importante fazer com que essas
atividades aconteçam, pois segundo os mesmos os idosos não podem parar o
movimento, afinal para eles a dança, a ginástica e as outras atividades
proporcionam benefícios necessários para envelhecer com qualidade.
Perguntamos ainda a opinião dos profissionais sobre qualidade de
vida e se o programa melhora a qualidade de vida dos participantes, então nas
53
falas podemos observar o que acontece com a população após a inserção no
programa.
P3: “Adoro quando chegam pra mim e dizem o quanto é importante está aqui e participar dessa dança. Chegam com cara de cansada, às vezes com dores e ao chegarem aqui e dançar, brincar, conversar faz com que se sintam bem, aumentando assim bastante a auto- estima deles e melhorando é claro com isso a qualidade de vida de todos que participam” (P3).
P2: “- a qualidade de vida pra mim ela é muito ampla, porque ela envolve não somente uma alimentação saudável, uma atividade física, um relacionamento bem sucedido é como você utiliza o dia a dia de sua vida com relação a você tentar minimizar o seu alto estresse. A qualidade de vida na minha opinião com relação ao programa e aos idosos que participam traz muitos benefícios, pois com a chegada da aposentadoria traz um pouco de sofrimentos para eles, afinal quando a pessoa deixa de trabalhar ou fazer qualquer atividade começam a se achar inútil e acabam ficando com depressão, e esse programa e outros que existem espalhados pelo Brasil relacionados aos idosos traz o resgate, reúne as pessoas além da atividade física que é prazerosa e que é de baixo impacto, é um atividade que não baixa tensão, a gente utiliza a dança que a muitos anos traz um bem estar com a vida, traz um bem psicológico. Os idosos precisam de pessoas para conversar, desabafar, aproveitam a música e dançam, aproveitam a reza, algumas choram, algumas sorrir. E nós professores orientamos sobre a importância de beberem e comerem frutas e verduras para dar energias. Hoje temos idosos mexendo em computadores, projetos culturais, vemos que a sociedade está começando a acordar e respeitar os idosos, porém não estão livres dos preconceitos” (P2).
P4: “O idoso a maioria que eu vejo tem família bem estruturada, pelo
menos as senhoras que estão no ioga todas têm família presentes e
isso é muito bom porque você trabalha essa questão do acolhimento,
do acompanhamento, mesmo as que moram sozinhas. Me sinto
muito bem a cada encontro, pois vejo como eles se sentem bem com
o exercício, com a minha presença e de todos os colegas. Vejo a
qualidade de vida nesse sentido bem-estar físico, mental, pessoal e
espiritual. A qualidade física deles é ótima eles têm energia, sinto
como se estivesse dando aula para adolescentes, nós professores
sempre nos reunimos para aprimorar nossas orientações sobre a
saúde e os direitos desses idosos” (P4).
Salientamos que não se pode aceitar a longevidade do ser humano
como a principal conquista da contemporaneidade, mas sim que esta venha
acompanhada de uma ativa participação da comunidade, com felicidade,
qualidade de vida e saúde (SILVESTRE; COSTA NETO, 2003). Porém para
alcançarmos isso precisamos encontrar respostas para as aparentes
contradições que existem entre velhice e o bem estar, entre idades avançadas
54
e saúde, buscando novos rumos para compreender o processo de
envelhecimento e os limites e possibilidades do desenvolvimento humano.
Coletamos informações sobre a opinião dos profissionais com
relação à sociedade contemporânea, como a mesma trata a velhice. As falas a
seguir vão descrever essas opiniões dos profissionais
P3: “Pra mim a sociedade trata a velhice como uma fase de preconceito, como se fosse um móvel velho, não pode tudo, uma escora na vida de todo mundo, dependente de babá, de uma empregada, um ser que esta ali para servir e não para ser aproveitado, aliás o preconceito começa dentro da própria família. Eu tenho admiração por muitas daqui do PGV que curtem a vida e que não ligam para as opiniões” (P3). P4: “Na verdade ainda falta muita cidadania, os próprios locais não são construídos para o acesso ao idoso, os ônibus são altos, o próprio cuidado como clinicas particular, mais isso vem da sociedade e não do setor publico, a própria sociedade coloca o idoso como uma pessoa a parte, dizem que não é importante investir, quando na verdade eles são a cabeça de tudo” (P4). P5: “Todos nós deveremos estar preparados para todos os tipos de comentários, então por esse motivo minha audição seleciona apenas comentários bons, fazendo com que os preconceitos não tomem conta de mim e das alunas que estão ao meu lado, pois o artesanato renova todas as nossas forças, quando produzimos e estamos nas feiras e as pessoas passam elogiando nosso trabalho, nos envaidece” (P5).
Assim chegamos à conclusão de que a sociedade contemporânea
tem várias faces e muitas maneiras de tratar a velhice, alguns veem o lado
positivo, respeitando e retribuindo ao idoso com cuidados os ensinamentos que
lhes foram proporcionados. Enquanto outros desprezam, desrespeitam e os
abandonam não só a família em si - mas toda a sociedade - não lhes dando
credibilidade, diante dos impactos sociais, tendo esse público que se buscar
estratégias para se sentir útil, nem que seja através de engajamento em
programas, como o PGV, o qual lhes façam sentir-se sociavelmente acolhidos
e dispostos, não tendo que se preocupar mais com a idade cronológica, e sim
psicossocial e motora.
55
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatamos, durante todo o processo de realização da nossa
pesquisa, que a velhice é um fenômeno que está ampliando espaços para que
possam atender as necessidades desse público através de estratégias para
promover a qualidade de vida, sendo formuladas legislações para garantir os
direitos desses idosos.
Assim percebemos que a velhice é compreendida como uma
construção social em que os sujeitos dependendo de sua condição
socioeconômica ou de saúde encaram a velhice, pois é por meio dessas
condições que este público pode se sentir incluso na sociedade, a qual cobra
desses indivíduos que eles devem ser ativos para que possam participar do
exercício de cidadania.
Nesse sentindo, podemos constatar o aumento dessa população no
Brasil, acompanhando e contextualizando essa temática, entendendo que são
muitas as necessidades para que se possa viver dignamente.
As políticas públicas voltadas para os idosos brasileiros ainda são
um assunto que está em segundo plano, mas, mesmo assim, as coisas vão
acontecendo sem critérios consistentes, com o esforço da própria sociedade
civil que não espera por verbas governamentais.
Salientamos que, mesmo com muitas dificuldades, os direitos são
garantidos através de vários segmentos como: habitação; transporte público;
saúde; previdência social; assistência social e medidas de proteção contra a
violência de diversas formas, seja verbal, física, seja, até mesmo, financeira.
Podemos constatar em nossa pesquisa que é necessária uma luta
constante para que sejam efetivadas essas políticas públicas, sendo, portanto,
um maior desenvolvimento de consciência da população em geral, porque os
idosos entenderam que é através de lutas e movimentos sociais é que se pode
avançar nas conquistas.
Diante de tudo que expomos, mediante a análise dos dados
coletados, constatamos que mesmo com tantos preconceitos e dificuldades os
idosos que participam do Programa Gente de Valor encaram a velhice de forma
positiva, apresentando para nós essa fase como a melhor da vida.
56
Nesse sentido, ao investigar os dados coletados observamos que
um dos principais motivos que levam os idosos a participarem é a
sociabilidade, pois no programa eles encontram amizades, divertem-se,
exercitam-se tanto mentalmente como fisicamente.
Ressaltamos que é necessária uma manutenção para uma boa
concepção de velhice, visto que, como vimos o fato de se ter uma
independência financeira, boa saúde e autonomia faz com que esses idosos
possam envelhecer bem e com mais qualidade de vida.
Com relação às informações coletadas e analisadas através das
entrevistas com os profissionais, constatamos que estes encaram o
voluntariado como algo bom e natural, tendo, no entanto, pouca criticidade
diante do papel do Estado para atender às necessidades dos idosos e até
mesmo deles próprios.
Vale ressaltar que os profissionais se envolvem afetivamente com os
idosos que participam do programa, fazem com que estes últimos fiquem à
vontade e sintam segurança e conforto, orientam e dão dicas sobre a saúde e
os direitos, por meio de palestras que acontecem mensalmente.
Assim, observamos em nossa pesquisa que os profissionais pensam
em melhorar a cada dia os movimentos motores e psicológicos dos idosos
participantes, através de diversas atividades para oferecer uma melhor
qualidade de vida, tendo os mesmos que se adaptar e atender a essas
demandas de acordo com as necessidades.
Quanto ao Programa Gente de Valor, vimos como um exemplo,
posto que é uma estratégia que, em relação ao segmento idoso, vem
melhorando muito a qualidade de vida dos que participam do programa, sendo
uma estratégia para valorização e respeito desses idosos aumentarem a
autoestima, autonomia e o bem-estar.
Vale ressaltar que ao analisarmos as entrevistas e os questionários
dos interlocutores pudemos entender que o Programa Gente de Valor traz
impactos importantes nas vidas desses sujeitos, os idosos aprendendo e
lutando por seus direitos, diante de uma sociedade capitalista que só exige do
idoso, sem, muitas vezes, lhe oferecer oportunidades. Já para os profissionais,
como citamos anteriormente, estes acreditam que o programa é importante e
contribui para melhorar a qualidade de vida dos idosos que participam, porém
57
fazem o programa acontecer, sem cobranças ou até mesmo sem lutarem pela
efetivação dos direitos que deveriam ser cumpridos pela Prefeitura, mediante o
repasse de verbas que deveriam ser direcionadas para o público-alvo.
Porém, devemos trazer tal contexto para a realidade do nosso
trabalho como assistentes sociais, pois é de grande relevância diante da
avaliação das políticas públicas direcionadas a um envelhecimento bem
sucedido e associada a uma velhice atuante, participativa e que se movimenta,
diverte-se através de momentos de atividades e lazer.
Salientamos ainda que os assistentes sociais devem orientar os
idosos, no sentido de sensibilizá-los para a participação e efetivação dos seus
direitos de acordo com a necessidade de cada um. Entretanto, muitas são as
novas imagens que os próprios idosos atribuem à velhice, como a ideia de
terceira idade, que é a nomenclatura mais recente para não ofender aos
velhos.
Com relação aos direitos dos idosos consideramos que o problema
grave nesse momento contemporâneo em relação a esses direitos não é mais
a questão de fundamenta-los e sim de buscar protegê-los, impedir que estes
sejam violados, pois temos ai uma quantidade enorme de artigos que protegem
os idosos nas legislações vigentes no País, no entanto maiores são os desafios
em relação à materialização dos mesmos no que diz respeito à promoção e
manutenção da dignidade dos idosos brasileiros, visto que é complicado de
fazer com que essa leis sejam cumpridas.
Desse modo, para finalizar, observamos através de nossa pesquisa
concluída que conseguimos alcançar nossos objetivos, dando subsídios para
que outras pesquisas que estejam relacionadas a essa temática possam se
desenvolver e ter um novo olhar sob esse novo modo de se obter qualidade de
vida na contemporaneamente.
58
REFERÊNCIAS
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IBGE: A síntese dos indicadores sociais 2010 – Uma analise das condições de vida da população Brasileira. Disponível em: <fttp://www.ibge.gov.br/home/estatistica/população/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2010/SIS 2010.pdf>. Acesso em: 23 out. de 2014. LAKATOS E. M. e MARCONI M. Metodologia do trabalho científico. 7ed. São Paulo, Atlas, 2007. MINAYO, Maria Cecília de Souza (org). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 8ªed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. ------------, M. C. S. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 9ªed. Petrópolis, RJ. Vozes, 1994. NERI, Anita Liberasso. Qualidade de Vida e Idade Madura. Campinas: editora Papirus, 7ª edição, 2007. ______A. L. Atitudes em Relação à Velhice In: NERI, Anita Liberalesso(Org.). Palavras Chaves em Gerontologia. 2. ed. Campinas: Alínea, 2005 _____ A. L. (org.). Qualidade de vida e idade madura. Campinas (SP): Papirus,1993. MOTTA, A.B. da (1999). As dimensões de gênero e classe social na análise do envelhecimento. Cadernos Pagu, 13, p. 191-221. ______A. L. (org) – Maturidade e Velhice: Trajetórias individuais e socioculturais - Campinas – SP: PAPIRUS - 2001. NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma analise do serviço social no Brasil, 5 ed. São Paulo: Cortez, 2001. PARCEIROS VOLUNTÁRIOS. Relatório Anual 2006. Porto Alegre: Parceiros Voluntários 2006. PORTELLA, M. R. Grupos de terceira idade: a construção da utopia do envelhecer saudável. Passo Fundo: UPF, 2004. 176 p. RAMOS, Paulo R. B. Fundamentos Constitucionais do direito à velhice. Santa Catarina: Letras Contemporâneas, 2002. SILVA, Antonio Carlos Ribeiro da. Metodologia da pesquisa aplicada à contabilidade –orientações de estudos, projetos, artigos, relatórios, monografias, dissertações, teses. São Paulo: Atlas, 2003. SILVESTRE, J.A.; COSTA NETO, M.M. A abordagem do idoso em programa de saúde da família. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v.19, n.3, p.839-847, mai/jun 2003.
60
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APÊNDICES
APÊNDICE A – Questionário Padrão
QUESTIONÁRIO COM OS IDOSOS PARTICIPANTES DO PROGRAMA
GENTE DE VALOR.
1 - Idade ( ) Sexo ( ) feminino ( ) masculino
2 - Qual é o seu nível de escolaridade?
( ) Analfabeto(a) ( ) Alfabetizado(a)
( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental completo
( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo
( ) Superior incompleto ( ) Superior completo
3 - Estado civil
( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Viúvo ( ) Divorciado ( ) União estável
4 - Quem mora com você?
( ) Mora sozinho ( ) Filhos ( ) Irmãos ( ) Companheiro(a)
( ) Amigos ( ) Outros parentes
5 - Quantas pessoas moram com você?
( ) Uma ( ) Duas ( )Três ( ) Quatro ( ) Mais de quatro
6 - Há quanto tempo participa do programa?
( ) Três meses ( ) Seis meses ( ) Um ano ( ) Dois ou mais
7 - Qual a frequência por semana vai ao programa?
( ) Uma vez ( ) Duas vezes ( ) Três vezes ou mais
8 - Após entrar no programa sua vida mudou?
( ) Não ( ) Pouco ( ) Razoável ( ) Muito Cite exemplos______________
9 - Após sua inserção no grupo de convivência, sua disposição física e mental
melhorou?
( ) Não ( ) Pouco ( ) Razoável ( ) Muito
10 - Quais as atividades do PGV você participa?
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( ) Dança ( ) Informática ( ) Curso de línguas ( )Teatro
( )Outras___________
11 - Qual seu interesse em participar do Programa Gente de Valor?
( ) Novas Amizades ( ) Melhoria do bem estar ( ) Realizar atividades de
lazer ( ) Apenas por distração ( ) Outros
12 - Como é a maneira dos professores ministrarem as aulas?
( ) São pacientes e tratam bem os idosos
( ) São desinteressados e apenas fazem por fazer
13 - Como você caracteriza qualidade de vida na contemporaneidade?
( ) Ter saúde ( ) Viver confortavelmente ( ) Ter um bom convívio social e
familiar ( ) Outros _______________
14 - Como caracteriza a velhice atualmente?
( ) Melhor fase da vida ( ) Fase de preconceitos ( ) Momento de descanso
( ) Outros _____________
15 - Você participa de outros programas relacionados a idosos? Se for sim,
diga quais.
( ) Sim --------------------------- ( ) Não
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APÊNDICE B – Entrevista com os profissionais
ENTREVISTA COM OS PROFISSIONAIS DO PROGRAMA GENTE DE
VALOR
1- Quando foi fundado o Programa Gente de Valor? Fale sobre a criação,
histórico e trajetória.
2- Quais os objetivos do Programa Gente de Valor?
3- Quais os recursos do Programa? De onde vem?
4- Com quantos idosos teve início o Programa?
5- Houve muitas mudanças desde o início até o atual momento?
6- Como acontecem as escolhas das atividades oferecidas pelo programa?
7- Quantos são os participantes ativos? Existe uma rotatividade ou são
sempre os mesmos?
8- Quais são as atividades mais frequentes que o programa oferece?
Existem preferências dos idosos por algumas atividades?
9- Quais são os temas que costumam discutir nas palestras que acontecem
no programa?
10- Que motivos levaram você a procurar o Programa Gente de Valor para
ofertar as aulas? Participa de outros programas ou projetos como
voluntário?
11- Diante dos direitos dos idosos, como fica o papel do Estado que se
utiliza do voluntariado para que seja cumprido? O que significa
voluntariado pra você?
12- No momento de transformação da sociedade como podemos retratar a
velhice na contemporaneidade? Em sua opinião como a sociedade trata
o idoso?
13- Qual o conceito de qualidade de vida na sua opinião?
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APÊNDICE C – Termo de Consentimento
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) Sr (a) para participar da Pesquisa “A pessoa idosa e a
qualidade de vida na contemporaneidade: A experiência do Programa Gente de
Valor em Fortaleza-Ce.”, sob execução das pesquisadoras Luciana Sátiro
(responsável) e Waldiane Rocha Narciso (participante), a qual pretende
compreender o significado de qualidade de vida na contemporaneidade para os
participantes e profissionais do programa.
Sua participação é voluntária e se dará por meio de entrevista, que
consiste em respostas a perguntas apresentadas ao sr(a) pela pesquisadora. A
entrevista será realizada na sala de coordenação do Programa Gente de Valor,
com duração aproximada de 30 minutos, no dia previamente marcado, de
acordo com a sua disponibilidade. Os depoimentos desta entrevista só serão
gravados com seu consentimento.
Não há riscos decorrentes da sua participação, e o Sr(a). possui a
liberdade de retirar sua permissão a qualquer momento, seja antes ou depois
da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo a sua
pessoa e nem a ligação com a Instituição.
Se o(a) sr(a) aceitar participar nos possibilitará contribuir com as
discussões sobre a pessoa idosa e a qualidade de vida na contemporaneidade.
Ressaltamos que tem o direito de ser mantido(a) atualizado(a) sobre os
resultados parciais da pesquisa. Esclarecemos que, ao concluir a pesquisa,
você será comunicado dos resultados finais.
Não há despesas pessoais para o(a) participante em qualquer fase do
estudo. Também não há compensação financeira relacionada à sua
participação. Se existir qualquer despesa adicional, ela será paga pelo
orçamento da pesquisa.
As pesquisadoras assumem o compromisso de utilizar os dados
somente para esta pesquisa. Os resultados da pesquisa serão analisados e
publicados, mas sua identidade não será divulgada, sendo guardada em sigilo.
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Em qualquer etapa do estudo, poderá contatar os pesquisadores para o
esclarecimento de dúvidas ou para retirar o consentimento de utilização dos
dados coletados com a entrevista: Luciana Sátiro e Waldiane Rocha Narciso.
Consentimento Pós–Informação
Eu,___________________________________________________________,
fui informado sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha
colaboração, e entendi a explicação. Por isso, eu concordo em participar do
projeto, sabendo que não vou ganhar nada e que posso sair quando quiser.
Este documento é emitido em duas vias que serão ambas assinadas por mim e
pelo pesquisador, ficando uma via com cada um de nós.
Data: ___/ ____/ ____
__________________________________
Assinatura do Participante
__________________________________ Assinatura do Pesquisador Responsável
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ANEXOS
ANEXO A - Algumas Fotos Que Mostram O Programa Gente De Valor
(PGV/2014)
Fonte: Acervo do próprio autor
Fonte: Acervo do próprio autor
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Fonte: Acervo do próprio autor
Fonte: Acervo do próprio autor
68
Fonte: Acervo do próprio autor
Fonte: Acervo do próprio autor