crime organizaado

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINACENTRO DE CINCIAS JURDICAS

    CURSO DE PS-GRADUAO EM DIREITOTURMA ESPECIAL DE CHAPEC-MINTER

    Jos Ivan Schelavin

    AES DE CONTROLE DO CRIME ORGANIZADO:DIMENSES DO FENMENO E

    DESAFIOS AO SISTEMA PENAL BRASILEIRO

    Dissertao submetida ao Programa dePs-Graduao em Direito daUniversidade Federal de Santa Catarina

    para a obteno do Grau de Mestre emDireito.Orientador: Prof. Dr. Arno Dal Ri Junior

    Florianpolis2011

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    Catalogao na fonte elaborada pela Biblioteca daUniversidade Federal de Santa Catarina

    Schelavin, Jos Ivan,

    Aes de controle do crime organizado: dimenses dofenmeno e desafios ao sistema penal brasileiro. / Jos IvanSchelavin.2011.181 f. : il. color.

    Orientador: Dr. Arno Dal Ri JuniorDissertao (mestrado) Universidade Federal de SantaCatarina, Centro de Cincias Jurdicas, Curso de Ps-Graduaoem Direito, Turma Especial de Chapec - Minter, 2011.

    1. Aes de controle do crime organizado. 2. Crime organizado.3. Sistema penal brasileiro. I. Dal Ri Junior, Arno. II.Universidade Federal de Santa Catarina. Curso de Ps-Graduoem Direito. III. Ttulo.

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    Jos Ivan Schelavin

    AES DE CONTROLE DO CRIME ORGANIZADO:DIMENSES DO FENMENO EDESAFIOS AO SISTEMA PENAL BRASILEIRO

    Esta Dissertao foi julgada adequada para obteno do ttulo deMestre em Direito, e aprovada em sua forma final pelo Programa dePs-Graduao em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina.

    Florianpolis, SC, 28 de outubro de 2011

    _________________________________Prof. Luiz Otvio Pimentel, Dr.

    Coordenador do Curso

    Banca Examinadora:

    ________________________________________Prof. Dr. Arno Dal Ri Junior

    Orientador e Presidente da BancaUniversidade Federal de Santa Catarina

    ________________________________________Prof. Dr. Giovanni Olsson

    Membro da BancaUniversidade Comunitria da Regio de Chapec

    ________________________________________Prof. Dr. Silvana Terezinha Winckler

    Membro da BancaUniversidade Comunitria da Regio de Chapec

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    A todas as pessoas que, de alguma forma, ajudam a

    melhorar a sociedade, que tm o propsito de bem

    servir, mesmo quando no so servidas, exemplos

    de dedicao, amor ao prximo e de transformao.

    Que a lei de causa e efeito lhes renda mritos.

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeo ao orientador Professor Dr. Arno Dal Ri Junior que,

    pela sua postura atenta Academia, no mede esforos em ajudar etransformar. Agradeo entusiasmadamente pela forma dinmica ecomprometida com que aceitou o convite em me orientar. Foi numamar agitada que ajudou a encontrar um porto seguro para ancoraresta etapa da pesquisa.

    Agradeo Professora Dra. Silvana Terezinha Winckler, naCoordenao do Minter em Chapec, pois, com sua maestria, calma esolidariedade, ajudou a indicar o porto seguro na etapa de chegada.

    Agradeo a todos os Professores (as) do Programa de Mestradoem Direito da UFSC, pelas lies de conhecimento e de sabedoria.

    Agradeo Professora Dra. Maria Lucia Pacheco FerreiraMarques, do Centro de Ensino da Polcia Militar, por ter ajudado aestruturar o incio da pesquisa.

    Agradeo a MSc. Alexandra Tagata Zatti, pela amizade, apoio eincentivo frente o desafio do mestrado.

    Agradeo ao apoio e esprito de camaradagem de cada um doscolegas mestrando do Minter Chapec/2011.

    Agradeo aos Promotores de Justia do Ministrio Pblico deSanta Catarina Benhur Poti Betiolo, Fabiano David Baldissarelli e JulioAndr Locatelli, pela amizade, pelo emprstimo de fontes de consultas ediscusses sobre o fenmeno esse fenmeno criminoso.

    Agradeo aos colegas, integrantes da Fora Tarefa do Grupo deAtuao Especial de Combate s Organizaes Criminosas (GAECO-SC), policiais militares e civis, auditores da Fazenda Estadual, pelaamizade, perseverana de cada um e a fidelidade em bem servir em suasmisses.

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    A justia sem a fora impotente; a fora sem a

    justia tirana. A Justia sem a fora ser

    contestada, porque h sempre maus; a fora sem a

    justia ser acusada. preciso, pois, reunir a

    justia e a fora; e, dessa forma, fazer com que o

    que justo seja forte, e o que forte seja justo.

    (Blaise Pascal).

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    RESUMO

    SCHELAVIN, Jos Ivan. Aes de controle do crime organizado:

    dimenses do fenmeno e desafios ao sistema penal brasileiro. 181 fls.Dissertao (Mestrado em Direito) - Universidade Federal de SantaCatarina - Centro de Cincias Jurdicas - Curso de Ps-Graduao emDireito - Minter UFSC/Unochapec. 2011.

    O crime manifestao das sociedades e, atualmente, o crimeorganizado um fenmeno mundial. Esse tipo de crime, j conhecidonos sculos precedentes, ganhou novas caractersticas nas ltimasdcadas, pois a globalizao imprimiu caractersticas inditas na formade estruturao e ao das organizaes criminosas. A presente pesquisa

    busca retratar o fenmeno criminoso em sua forma organizada, com oobjetivo de, por meio de um levantamento-diagnstico, identificar ocrime organizado mundialmente, para, ento, analisar sua dimenso e osinstrumentos de controle no Brasil. O objeto deste estudo aindarecente demanda integrao com o sistema penal brasileiro, o que ainda um desafio. Esta pesquisa est estruturada em trs captulos. O

    primeiro tem o propsito de caracterizar o crime organizado como

    fenmeno dos Estados, multifacetado e com caractersticas especficas.No segundo captulo, apresentam-se as abordagens doutrinrias etcnico-jurdicas do crime organizado e o sistema brasileiro de combatea esse fenmeno. No captulo final, apontam-se elementos econtribuies para uma Poltica Criminal de melhor controle estatal docrime organizado. Trata-se de um esforo de confrontar o processo deorganizao da atividade criminosa e as deficincias dos mecanismos decontrole, propondo melhorias, em perspectiva sistmica(multidisciplinar e articulada), mediante a integrao dos entes estatais

    e, no mbito penal e processual penal, para melhorar a eficcia decontrole e combate nessa realidade criminosa.

    Palavras-Chave: Crime organizado. Organizao criminosa. SeguranaPblica. Poltica criminal.

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    ABSTRACT

    The crime is an expression of the societies and, currently, the organizedcrime is a worldwide phenomenon. This sort of crime, already known in

    previous centuries, incorporated new characteristics on the last decades,because the globalization inflicted inedited characteristics in thestructure and action of the criminal organizations. The present research

    pursuits delineate the criminal phenomenon in its organized way, withthe purpose of, throughout a diagnosis, identify the organized crimeworldwide, so, analyze its dimension and the control instruments inBrazil. The subject of the study is recent, demands integration with theBrazilian penal system, which is still a challenge. This research isstructured in three chapters. The first has the scope of feature theorganized crime as a phenomenon of the States, multifaceted and withspecific characteristics. On the second chapter, are presented doctrinaireand legal approaches of the organized crime and the Brazilian system tofight against this phenomenon. On the final chapter, are pointed outelements and contributions to a Criminal Policy in order to a better statecontrol of organized crime. It is an effort of confront the process of

    organization of the criminal activity and the deficiencies of the controlmechanisms, offering improvements, in systemic perspective(multidisciplinary and articulated), by the integration of the state assetsand, on the penal area, to increase the efficiency of control andengagement of this criminal reality.

    Keywords: Organized crime; Organized crime; Criminal organization;Public Security; Criminal policy.

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    LISTA DE ANEXO

    Anexo ARecomendaes do Conselho Nacional de Justia (CNJ) 172Anexo BResoluo n 18 de 24 de abril de 2007 ............................ 175Anexo CHC 91.661 - da Ministra Ellen Gracie. ............................. 178

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    LISTA DE SIGLAS

    ABIN Agncia Brasileira de Inteligncia

    ADA Amigos dos AmigosANP Agncia Nacional do PetrleoATAF Bureau de lcool, Tabaco e Armas de Fogo.CDL Comando Democrtico pela LiberdadeCF Contituio FederalCIASC Centro de Informtica e Automao de Santa CatarinaCIE Coordenadoria de Investigaes EspeciaisCNJ Conselho Nacional de JustiaCNMP Conselho Nacional do Ministrio PblicoCNPJ Conselho Nacional de Procuradores Gerais de JustiaCOAF Conselho de Controle de Atividades FinanceirasCPI Comisso Parlamentar de InquritoCRB Comando Revolucionrio Brasileiro da CriminalidadeCV Comando VermelhoDEA Administrao de Fiscalizao de DrogasDRACO Delegacia de Represso s Aes Criminosas

    Organizadas

    EC Emenda ConstitucionalENCCLA Combate Corrupo e Lavagem de Dinheiro eRecuperao de Ativos

    FBI Polcia Federal AmericanaFNSP Fora Nacional de Segurana PblicaGAECO Grupo de Atuao Especial de Combate s

    Organizaes CriminosasGNCOC Grupo Nacional de Combate s Organizaes

    Criminosas

    HC Habeas CorpusIBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

    Naturais RenovveisINTERPOL Organizao Internacional de Polcia CriminalLC Lei ComplementarMP Ministrio PblicoONU Organizao das Naes Unidas

    p.ex. por exemploPC Polcia CivilPCC Primeiro Comando da CapitalPEFRON Policiamento Especializado em Fronteira

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    PF Polcia FederalPGC Primeiro Grupo CatarinensePM Polcia MilitarRDD Regime Disciplinar DiferenciadoRICO Lei das Organizaes sob a Influncia de Extorso e

    CorrupoSENASP Secretaria Nacional de Segurana PblicaSTF Supremo Tribunal FederalSTJ Superior Tribunal de JustiaTC Terceiro ComandoTCP Terceiro Comando PuroTJ Tribunal de Justia

    TRF Tribunais Regionais FederaisUPP Unidade de Polcia Pacificadora

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Superior_Tribunal_de_Justi%C3%A7ahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Tribunais_Regionais_Federaishttp://pt.wikipedia.org/wiki/Tribunais_Regionais_Federaishttp://pt.wikipedia.org/wiki/Superior_Tribunal_de_Justi%C3%A7a
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    SUMRIO

    INTRODUO ................................................................................... 20

    1 O CRIME ORGANIZADO COMO FENMENO DOSESTADOS MULTIFACETADO E COMCARACTERSTICAS ESPECFICAS ............................................. 231.1 ANTECEDENTES HISTRICOS DO CRIMEORGANIZADO NO MUNDO ............................................................. 251.1.1 As mfias ..................................................................................... 271.1.2 Yakuza japonesa ........................................................................ 341.1.3 As trades chinesas ..................................................................... 371.1.4 Mfia russa ................................................................................. 411.1.5 Grupos africanos ........................................................................ 431.1.6 Grupos libaneses e afegos ........................................................ 451.1.7 Grupos americanos e cartis...................................................... 461.2 O CRIME ORGANIZADO NO CENRIO BRASILEIRO ........... 551.2.1 Antecedentes sobre organizaes criminosas no Brasil .......... 551.2.2 A situao atual das faces criminosas no Rio de Janeiro .... 611.2.3 As milcias cariocas .................................................................... 671.2.4 O primeiro comando da capital (PCC) .................................... 682 PERSPECTIVAS DOUTRINRIAS, TCNICO-JURDICAS E O SISTEMA DE CONTROLE DO CRIMEORGANIZADO NO BRASIL ............................................................ 722.1 A CONCEPO DOUTRINRIA E CONCEITUAL DOCRIME ORGANIZADO ...................................................................... 742.1.1 Caractersticas da criminalidade organizada .......................... 752.1.2 Concepo terica do agente na organizao .......................... 772.2 DEFINIES CONCEITUAIS E LEGISLAESBRASILEIRAS SOBRE O CRIME ORGANIZADO .......................... 802.2.1 A lei do crime organizado no Brasil ......................................... 872.3 SISTEMAS DE CONTROLE DO CRIME ORGANIZADOEXISTENTES NO BRASIL ................................................................. 902.3.1 Institutos da lei no controle do crime organizado ................... 922.3.1.1 Ao controlada ........................................................................ 932.3.1.2 Interceptao ambiental ............................................................ 942.3.1.3 Infiltrao policial ..................................................................... 95

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    2.3.1.4 Delao premiada ...................................................................... 962.3.1.5 A lei federal de proteo a vtimas e testemunhas..................... 972.3.1.6 Quebra de sigilo bancrio e fiscal ............................................. 982.3.1.7 Lei n 9.613/1998 combate lavagem de dinheiro ................ 992.3.1.8 Coleta de dados em meios de comunicao ............................ 1002.3.2 Sistema policial ......................................................................... 1012.3.3 As Foras Armadas .................................................................. 1052.3.4 Fora Nacional de Segurana Pblica (FNSP) ...................... 1092.3.5 Foras tarefas............................................................................ 1112.3.6 O Ministrio Pblico ................................................................ 1122.3.7 O Poder Judicirio ................................................................... 1152.3.7.1 Varas especializadas de justia para atuao no crime

    organizado ........................................................................................... 1173 VISO SISTMICA DE POLTICA CRIMINAL NOCONTROLE DO CRIME ORGANIZADO NO BRASIL ............. 1193.1 O ELEMENTAR PAPEL DO ESTADO NA DEFESA DASOCIEDADE ...................................................................................... 1223.1.1 Direitos fundamentaisdireito seguranapolticacriminal .............................................................................................. 1263.1.2 Eficincia processual-penal e garantias constitucionais ........ 1323.2 REESTRUTURAO POLICIAL ............................................... 1383.3 IMPORTNCIA DE FORAS-TAREFAS PARAREPRESSO DO CRIME ORGANIZADO ...................................... 1413.3.1 Foras tarefas com emprego das foras armadas .................. 1453.4 VARAS ESPECIALIZADAS DE JUSTIA NO CONTROLEDO CRIME ORGANIZADO .............................................................. 1463.5 RECOMENDAES PARA O CONTROLE DO CRIME

    ORGANIZADO .................................................................................. 1494 CONCLUSO ................................................................................ 152REFERNCIAS ................................................................................ 158ANEXO .............................................................................................. 171

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    INTRODUO

    A trajetria da humanidade est marcada por inmeros avanosque contriburam para melhorar a qualidade de vida das pessoas, mas,tambm, por fenmenos violentos, disputas, conquistas e escravido.Tribos e naes fizeram e fazem guerras, Estados cometem violaes adireitos, pessoas cometem crimes contra bens jurdicos tutelados. Ocrime imanente s sociedades e pode ser praticado de forma isolada,

    por grupos de pessoas ou at mesmo por entes Estatais.A presente pesquisa um esforo de retratar o crime em sua

    forma organizada e os meios de controle desse fenmeno criminoso noBrasil. Adota-se a estratgia de levantamento-diagnstico que, partindo

    do estudo da criminalidade organizada em mbito mundial, passa aabordar o contexto brasileiro e a estabelecer relaes entre essasterritorialidades do crime, suas caractersticas e alternativas deenfrentamento pelas foras estatais.

    O crime organizado, j conhecido nos sculos precedentes,ganhou novas caractersticas nas ltimas dcadas do sculo XX e

    princpio do sculo XXI. A globalizao ou mundializao da sociedadecontempornea imprimiu caractersticas inditas na forma deestruturao e ao das organizaes criminosas. Fatores como a

    ampliao das possibilidades de deslocamento de pessoas e demercadorias pelo mundo, aliados s tecnologias de informao,

    potencializaram o surgimento de novas organizaes, agora cominseres transnacionais.

    Como respostas, nos meios acadmicos e polticos, formulam-seteorias e estratgias visando a conhecer e combater a novacriminalidade. Os mecanismos tradicionalmente acionados pelosEstados, suas foras policiais e de inteligncia mostram-se insuficientes

    para dar conta das novas dinmicas da criminalidade mundialmenteenraizada.

    De forma geral, todos os pases encontram dificuldade de imporum sistema repressivo de controle, com o equilbrio das garantias dosindivduos e de um sistema penalizador.

    Nas ltimas dcadas, o fenmeno do crime organizado se tornoumuito evidente, fazendo com que organismos internacionais, como aOrganizao das Naes Unidas (ONU), realizassem convenes etratados sobre o tema. A maioria dos pases signatrios, a partir de

    ento, comearam a editar legislaes internas sobre crime organizadoou organizao criminosa. Nesse contexto, o Brasil, especialmente, em1995, editou uma lei sobre essa modalidade criminosa.

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    Dessa forma, trata-se de objeto de estudo ainda recente quedemanda integrao com o sistema penal brasileiro, visto que a leieditada alvo de crticas pelos doutrinadores, foi reformulada em 2001,mas ainda no trouxe uma conceituao do crime organizado e carece deregulamentaes de alguns dispositivos.

    O problema de pesquisa foi proposto nos seguintes termos: comoocorre o processo de estruturao do crime organizado e quais asdificuldades do Estado brasileiro para combater esse tipo deorganizao?

    Adotou-se o mtodo de abordagem dedutivo e o mtodo deprocedimento monogrfico, mediante reviso de literatura elevantamento documental nos bancos de dados policiais e demais

    informaes, apoiadas na atividade profissional deste pesquisador.A fim de alcanar o objetivo proposto, este trabalho estrutura-seem trs captulos. O primeiro captulo tem o propsito de caracterizar ocrime organizado como fenmeno dos Estados, multifacetado e comcaractersticas especficas. Apresenta-se um estudo que vai do geral(crime organizado mundial) para o especfico (crime organizado noBrasil) com o escopo de verificar as origens das organizaescriminosas e compreender o processo de organizao, suas estruturas ecaractersticas.

    No segundo captulo, objetiva-se apresentar abordagensdoutrinrias e tcnico-jurdicas do crime organizado e o sistema

    brasileiro de combate a esse fenmeno. Sero descritos os instrumentosde controle, desde as legislaes e seus institutos, os rgos que tmatribuies desse controle, as estratgias, entre outros, e analisadasalgumas correntes tericas sobre essa modalidade criminosa.

    No captulo final, sero apresentados elementos e contribuiespara uma Poltica Criminal de melhor controle estatal do crimeorganizado. Trata-se de um esforo para confrontar o processo deorganizao da atividade criminosa e as deficincias dos mecanismos decontrole, propondo melhorias, em perspectiva sistmica, multidisciplinare articulada, mediante a integrao dos mbitos penal e processual penale os rgos que atuam diretamente nessa realidade conflitiva.

    Parte-se do suposto de que a melhor poltica criminal aquelaque age e interage com as demandas sociais. Dessa forma, entende-seque a viso sistmica, que contempla a atuao de diferentes sujeitos aum s tempo, tem condies de enfrentar a criminalidade, tanto micro

    quanto macro, dado que uma pode ser decorrncia da outra, em ambosos sentidos.

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    As teorias de base que sustentam este trabalho, de algum modo,filiam-se ao que se convencionou designar criminologia crtica, muitoembora, como se trata de um fenmeno em construo, apoie-se emoutras correntes doutrinrias que visam adptao de um novo modelocriminolgico para fazer frente criminalidade organizada.

    No estudo sero consideradas as expresses sobre esse fenmenocriminoso, como: crime organizado, organizaes criminosas oufaces criminosas. Todos essas expresses, revelam uma identidadecriminosa com grau de sofisticao em nvel organizacional, que abarcatanto os aspectos relativos estrutura e s caractersticas da organizaocriminosa, quanto aos ilcitos penais associados atuao dessa.

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    1 O CRIME ORGANIZADO COMO FENMENO DOSESTADOS MULTIFACETADO E COM CARACTERSTICASESPECFICAS

    A criminalidade, tal qual a violncia, tanto age de formadesordenada, como produto de manifestaes individuais e isoladascomo resultado de aes coletivas, predeterminadas e vinculadas,estabilizadas para uma permanncia delitiva, com objetivos de busca demaior expresso de poder e de lucratividade. Uma dessas condies aorganizao, que uma forma de estabelecer objetivos definidos e de

    potencializar esses objetivos. Quando h associaes ouorganizaes para cometimento de delitos, pode resultar no termo

    conhecido comocrime organizado.Segundo Dias (2008), o fenmeno da criminalidade organizadatornou-se objeto de uma profuso j praticamente indominvel pelosestudos e de proclamaes das mais diversas ndoles, a partir dos maisvariados pontos de vista: scio-filosfico, scio-econmicos, histrico-culturais, poltico-internacionais, poltico-criminais, criminolgicos ou,de pura e simplesmente polticos.

    De tal forma, concebe-se, neste estudo, o crime organizado comofenmeno, devido ao fato de perpassar as diversas dimenses acima,

    bem como as questes simplesmente policial ou jurdica, masprincipalmente, tomando como referncia questes scio-polticas e aestabilidade econmica e o prprio Estado de Direito.

    A criminalidade organizada, fenmeno crescente, de significativarepercusso social, dissemina o medo e a insegurana entre as pessoas.

    No se limita s fronteiras e aos regimes dos pases, tampouco aospases ricos ou pobres, por vezes mascarada ou sem vtimasdeterminadas, desafio que enseja propostas e solues diversas,oferecendo maior dificuldade para anlise dos doutrinadores e atuaodo legislador para seu controle.

    Cada pas, cada poca, tem em seu contexto algum tipo deestrutura criminosa, constituda para atacar determinado segmentoeconmico lcito ou ilcito, que merece ser estudada, pois pode colocarem perigo, sob a perspectiva individual, um dos mais elementaresdireitos da pessoa: a vida. Na perspectiva meta-individual, pode pr emrisco um segmento econmico, uma comunidade, uma cidade ou mesmoum pas.

    Para compreender o fenmeno, precisa-se saber a sua dimenso esuas caractersticas. Para tanto, o estudo da criminalidade organizada,desde sua origem e processos de evoluo, nuances, foras ou at mitos

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    que a envolvem so importantes para propor polticas indutoras decontrole.

    Os efeitos da sociedade industrial e ps-industrial impulsionaramas relaes, especialmente aps a Segunda Guerra Mundial, com oavano tecnolgico e cientfico, fazendo com que a comunicao e,consequentemente, a informao, adquiriram uma velocidade toimediata a ponto de romperem certas barreiras de tempo e de espao.

    As formas organizadas para cometer crimes parecem ser antigas,amoldando-se s circunstncias de cada pas. Mas no h dvida de que,com o processo de globalizao,1 o fenmeno ficou muito maisacentuado.

    A globalizao tem transformado o modo de vida das sociedades

    e dos Estados, sendo as fronteiras entre os pases mais permeveis, e otrnsito de pessoas, mercadorias, servios e recursos cada vez maisgeis.

    Segundo Mathiasen2, a mesma lgica que facilita o comrcio e aintegrao entre os povos tambm implica mudanas radicais nadinmica do crime e da violncia. Lembrou este autor que, se por umlado, as facilidades advindas de ferramentas como a internetso muito

    bem-vindas, por outro, elas exibem um aspecto hostil, afinal as mesmastecnologias que possibilitam melhorias substantivas nas vidas das

    pessoas tambm so utilizadas por aqueles que burlam as leis, cometemcrimes e desafiam a justia.

    A compreenso dessa realidade demanda uma observao tocomplexa quanto a sociedade que a fomenta e que sofre asconsequncias dos riscos3 suplantados pelo avano tecnolgicocientfico.

    1 Segundo Giddens, globalizao a intensificao de relaes sociais mundiais que unemlocalidades distantes de tal modo que os acontecimentos locais so condicionados poreventos que acontecem a muitas milhas de distncia e vice-versa.

    2 Conforme Bo Mathiasen, representante regional para o Brasil e o Cone Sul do Escritrio dasNaes Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC). Disponvel em: . Acesso em: 30 mai.2011.

    3 Apesar de no se referir criminalidade, mas, com os estudos dos fenmenos emanados dasociedade moderna ao longo de seus processos de desenvolvimento, o socilogo alemolrich Beck, no incio da dcada de 80, concebe, por assim dizer, uma nova configurao

    para a sociedade contempornea, denominada sociedade mundial do risco e faz um

    parmetro entre modernidade e os riscos ambientais e sociais que o acompanham (BECK,1996). Tambm o autor Niklas Luhmann (1993) fez uma reflexo sobre o risco na sociedademoderna, in Sociologia del riesgo, principalmente envolvendo efeitos colaterais dastecnologias de risco.

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    Esses incrementos de tecnologias possibilitam, principalmente,trafegar dados mais rpidos, seja para se comunicar (internet, telefonescelulares), seja para transferir valores para lavar dinheiro (transfernciason line, etc.).

    Muitas vezes, os Estados demoram a se dar conta desses riscos e,somente quando diversos fatos acontecem, procuram dar respostas,agindo nas consequncias, adotando polticas repressivas, ante aausncia de uma poltica pblica capaz de prevenir.

    difcil estabelecer um marco para o crime organizado em nvelmundial, mas, pelo contedo histrico, possvel analisar que ele se deuem algum grau, acompanhando os processos histricos da colonizaodo sculos XV e XVI e de movimentos de transformao polticos e

    sociais, nos sculos XVII e XVIII.Este captulo tem o objetivo de enfatizar, no mundo dosacontecimentos, de uma forma genrica, a ocorrncia do fenmeno docrime organizado, no contexto dos cinco continentes, para ento analisaros indicadores e as caractersticas de sua ocorrncia no Brasil.

    1.1 ANTECEDENTES HISTRICOS DO CRIME ORGANIZADONO MUNDO

    O Mundo uma sociedade de Estados, os quais so pessoasjurdicas de direito pblico internacional, na medida em que participamde alguma forma da sociedade mundial. Como elemento essencial, osEstados devem ter soberanias para se diferenciar das demais pessoas

    jurdicas e ser reconhecidos como tais.Assim, cada Estado tem suas bases fundantes, suas caractersticas

    histricas, sociais, religiosas e econmicas, que o diferenciam em suaformao e sua expresso, com desdobramentos nos aspectos dacriminalidade.

    Tais caractersticas permitem uma diviso da sociedade emclasses, de modo que as condies socioeconmicas passam a ter umadinmica diferente. As interaes das pessoas, internamente e mesmoexternamente aos Estados so vetores de inclinao, em maior ou menorgrau, para prtica de atos criminosos. Desde os tempos antigos, houve

    prticas de subjugao das pessoas ou povos, por meio de guerras,escravido, explorao, pilhagens, saques, piratarias, contrabandos,entre outras.

    Como evoluo das sociedades e civilizaes, a criminalidade,conforme Durkhein (1899-1900), na Antiguidade, dividia-se em duascategorias: os denominados crimes religiosospraticados contra deuses,

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    autoridades e seus representantes, costumes e tradies; e osdenominados individuaiscomo o homicdio, o roubo, a violncia e asfraudes de vrias espcies.

    Com a evoluo das sociedades e a profissionalizao de algumascategorias de crimes, passaram a ser praticados por uma coletividade,incrementando-se a criminalidade humana e retraindo a criminalidadereligiosa. Dessa forma, alguns crimes passaram a ser praticados emgrupos (gangues, quadrilhas ou bandos).

    Praticamente todos os pases tiveram ou tm algum tipo deorganizao que selecionava ou seleciona pessoas para fins ilcitos, comobjetivos econmicos e de poder, que se moldam s circunstncias decada regio ou pas. Algumas vezes, na raiz histrica, trao comum

    dessas organizaes criminosas a ausncia de Estado e o abandono,imperando a lei do mais forte. difcil estabelecer um marco temporal da prtica criminosa

    organizada na antiguidade, mas civilizaes mais remotas como daMesopotnia, pelas guerras travadas, organizadas no tempo e espao,certamente utilizaram mtodos organizados, tanto para guerrear quanto

    para cometer violaes e subjulgao de povos. De forma mais recente,encontram-se gneses de organizaes criminosas na China Feudal e noJapo Feudal. Mais tarde, com a expanso das colonizaes e expanso

    da Europa pelos mares, nos continentes africanos, americanos easiticos, houve aes organizadas criminosas, cometidas por piratasingleses (corsrios), principalmente contra naus espanholas e

    portuguesas.Mundialmente, as prticas de comrcio, fortaleceram o

    surgimento de grupos criminosos, despertados pela cobia do lucro.Tambm os Estados imperialistas marcaram significativamente adinmica social de mercado e de domnios territoriais.

    Seguindo essa expanso imperialista, nos sculos XVI e XVII,devido aos carregamentos de metais preciosos e especiarias dasColnias para as Metrpoles, a pirataria, que era constituda por gruposde mercenrios organizados, utilizando-se de embarcaes, atuavam noroubo e comrcio clandestino de cargas, de riquezas, como especiarias,metais e outros bens oriundos das colnias.

    Zaffaroni (1996, p. 46) diz que crime organizado do sculopassado, refere-se a pretensos precedentes histricos e arrematapropugnando absolutamente intil buscar crime organizado na

    antiguidade, na idade Mdia, na sia ou na China, na pirataria, etc.Mas, para Denis Kenney e James Finckenauer, (apud FERRO,2009), a pirataria constitui uma manifestao original e primitiva do

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    crime organizado e pode ser atribuda aos esforos da Coroa Inglesa nosc. XVII para hostilizar e enfraquecer a Espanha e seus colonizadores enegociantes, uma vez que tanto britnicos quanto espanhis cedoreinvindicaram o continente norte-americano, de processo decolonizao recente, com seu rico suprimento de recursos naturais. Essaautora4 acrescenta que doutrinadores americanos taxativamentedefendem que a pirataria foi uma expresso americana primitiva docrime organizado. Aponta a presena de traos caractersticos dofenmeno entre os piratas, tais como a organizao hierrquica, a

    perpetuao, o cunho no ideolgico, a violncia, o quadro selecionadode seus membros, a busca de lucros a partir das atividades ilegais, acorrupo e a demanda do pblico pelas suas mercadorias e seu

    comrcio.A criminalidade na forma organizada, ao longo da histria,certamente acompanhou indicadores econmicos, como lei da e ofertae da procura. Tambm os indicadores poltico-sociais, comomovimentos que transformaram estruturas sociais e de modo de

    produo, como o do sistema feudal para o monrquico, e a queda deste,com os movimentos revolucionrios da Frana no sc. XVIII, bem comoos movimentos industriais, todos, de alguma forma, podem tercontribudo para a expanso do crime5.

    Inclusive, segundo Walter Maierovitch, (apudFERRO, 2009), no contexto de movimento social que, na Itlia, aparece o grupo maisrepresentativo das razes histricas do crime organizado, pela sualongevidade e importncia no cenrio da grande criminalidade: a mfiasiciliana.

    1.1.1 As mfias

    Na Itlia, a organizao conhecida modernamente como Mfiateve incio como movimento de resistncia contra o rei de Npole que,em 1812, baixou um decreto que abalou a secular estrutura agrria daSiclia, reduzindo os privilgios feudais e limitando os poderes dos

    prncipes. Naquela ocasio, camponeses contrataram uomini donore

    4 A autora Ana Luiza Ferro Procuradora de Justia do Estado do Maranho, fez um exaustivoestudo sobre Crime organizado e organizaes criminosas mundiais, principalmente, com

    base literria dos Estados Unidos.5

    Nas crises, pode-se fazer o inabitual: mudar estruturas em situaes em que normalmenteno se transformariam (LUHMANN, 2009, p. 180). Pega -se emprestada essa reflexo, nosentido que as transformaes sociais e tecnolgicas trazem oportunidades, dentre as quais,certas prticas criminosas.

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    para proteger as investidas contra a regio, os quais passaram aconstituir associaes secretas denominadas mfias (ARLACCHI,1997).

    A mfia italiana6 uma empresa criminosa com estrutura unitriae hierrquica, bem estruturada e com ramificaes internacionais,sempre com fins lucrativos, cujos membros so recrutados por meio dainiciao ou da captao, que recorre corrupo, influncia e violncia para obter o silncio e a obedincia de seus membros edaqueles que no o so para atingir seus objetivos econmicos e garantiros meios para atuar.

    Para Rodolfo Maia, a onorata societ configura o resultadoperverso de uma reao defensiva a sculos de condio de explorao

    dos camponeses sicilianos, decorrentes de inmeros fatores, entre osquais arrola-se: a) a no implementao da reforma agrria; b) aconservao dos latifndios improdutivos e da opresso feudal; c) aausncia de uma classe mdia e a rigidez do sistema regulador daascenso social; d) a absoluta falta da presena do Estado; e) a altainstabilidade poltica, aliada a sucessivas invases estrangeiras.

    Segundo o autor, trata-se das razes histricas do moderno crimeorganizado ocidental que se cristaliza nas respectivas organizaescriminosas (MAIA, 1997. p. 6-7).

    Conforme Cattani (apudSILVA, 2003), com o desaparecimentoda realeza e a unificao forada da Itlia, em 1865, camponeses

    passaram a resistir contra as foras invasoras, na luta pela independnciada regio, o que lhes possibilitou angariar a simpatia popular pelaatitude patritica. Por ocasio dessa unificao da Itlia, surgiu umaclasse de meeiros que gerenciavam as terras dos proprietrios ausentes econtrolavam os agricultores camponeses. Esses capatazes colocavam-se como representantes dos pobres sem representatividade, masacabavam por praticar atos de explorao.

    Entre os historiadores no h consenso quanto origem da mfiaitaliana. H autores que afirmam que ela surgiu no sculo XVII, outrosdizem que remonta poca de Napoleo e ainda h aqueles que a

    6 Para Jean Ziegler, o termo surgiu pela primeira vez na regio meridional da Siclia, no fim dosculo XVI, significando bravura e coragem. Posteriormente, no fim do sculo XIX, oshomens de honra eram contratados pelos senhores feudais para defenderem a ilha do reinode Npoles, sociedades secretas que adotaram o nome de mfia. (ZIEGLER, Jean. Os

    senhores do crime: as novas mfias contra a democracia. Traduo de Manoela Torres.Lisboa: Terramar, 1999. p. 44). Mas, segundo Ferro (2007), a origem do termo mfia estligada palavra de origem rabe, cujo significado proteo, devido proteo que se davana poca aos sicilianos que sofriam com a invaso rabe em seu territrio.

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    colocam no reinado das duas Siclias, dentro do Reino da Itlia, ondeteriam oferecido o trabalho para garantir a ordem, j que o Estado noconseguia afirmar a sua autoridade (MONTOYA, 2007).

    Segundo Mairovitch (1995), a mfia nasceu sombra dofeudalismo, como fora mantenedora da ordem no campo. Com otempo, especialmente depois da segunda guerra mundial, a mfiacomeou a sentir concorrncia do movimento sindical e passou aassassinar sindicalistas, transferindo-se, ento para as florescentescidades, disseminando intimidao e estabelecendo poder paralelo.

    Para Ferro (2009), a penetrao da Mfia no mundo poltico pelavia do clientelismo comeou pela Siclia e se difundiu na Itlia. Nadcada de 80 do sc. XIX, a extenso do sufrgio eleitoral e a instituio

    de cargos eletivos locais foram fatores favorecedores do clientelismo emtodo o sul da Itlia e, particularmente, da criminalidade organizada, naparte ocidental da Siclia, com o poder local cado no domnio dosmafiosos e os polticos de nvel nacional carecendo de apoio dessesmafiosos para se verem eleitos deputados. Considerando que Mfiainteressava votos e o controle dos aliados, as suas relaes com os

    polticos sicilianos, dos prefeitos de Palermo aos ministros de Roma,tornaram regra, de sorte que a organizao principiou a condicionar asautoridades pblicas polticos, magistrados e policiais , ganhando

    aceitao como presena normal.As principais organizaes da mfia italiana so conhecidas pelas

    nas expresses: a Cosa Nostra, da Siclia; a `Ndranghet, da Calbria; aCamorra, da Campnia.

    A expressiva imigrao italiana para os EUA possibilitou quejunto dela emigrassem pessoas ligadas Mfia.

    A Mfia americana conheceu sua estruturao a partir da dcadade 20, havendo, no entanto, registros acerca de sua atuao desde o fimdo sc XIX, quando lhe foi atribuda, no ano de 1890, a morte doCapito de Polcia Hennessey, em Nova Orleans. A organizao seentregou a diversas atividades ilcitas, a exemplo do jogo, prostituio,contrabando, venda ilegal de bebidas, proteo e trfico de drogas, tendocomo primeiro lder de maior expresso, em especial aps a Lei Seca,Guiseppe Masseria, posto depois ocupado por Slavatore Maranzano,Charles Lucky Luciano, Frank Costello, Vito Genevese, CarloGambino, Joe Bonanno, Joe Profaci, Mier Lansky e Bugsy Siegal,entre outros (BORGES, 2002).

    A mfia, muitas vezes, utilizou aes governamentais da maneiraque mais a beneficiasse. Um dos grandes impulsos da Mfia nos Estados

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    Unidos, o movimento Prohibition7, culminando na poca da famosaLei Seca, entre os anos de 1920 a 1933, com a Emenda Constitucionalque proibia a venda e distribuio de bebidas alcolicas, quando a mfiaangariou uma fortuna com seus bares e cassinos ilegais, enriquecendocriminosos como Al Capone. Alphonse Capone,8 organizou uma redede contatos, cooptando setores da sociedade civil e, principalmente,corrompendo autoridades pblicas. Montou uma rede de contrabando dedestilados e, quando as autoridades tentaram desmantelar o crimeorganizado, os mafiosos eram esporadicamente deportados comoindesejveis e, assim, voltavam para casa e armavam uma rede detrfico ilegal com seus contatos nos Estados Unidos.

    Aps a Segunda Guerra Mundial, a mfia exerceu na Itlia

    grande autoridade sobre camponeses e comerciantes e havia se tornadouma sociedade, mais ou menos secreta, com uma estrutura formal(famlias ligadas a um capo), alm de uma comisso executiva central, eseus membros impunham medo e respeito.

    A mfia obteve seu grande poder econmico graas aonarcotrfico. Comeou com o contrabando de cigarros nos anos 20 econtinuou no trfico de drogas, l pelos anos 70. Assim, deixa de seruma organizao provincial, para funcionar em nvel internacional,relacionando-se com mercados do mundo inteiro, iniciando a lavagem

    de dinheiro, devido aos lucros obtidos ilegalmente.Em outubro de 1984, foi desarticulada, no Brasil, a Conexo

    Pizza, sendo um dos lderes o mafioso italiano Tommaso Buscetta,conhecido por contrabando de herona do sudoeste asitico e lavagem dedinheiro em uma rede de pizzaria espalhadas pelo EUA, mas que teria

    passado exportao tambm de cocana a partir do Brasil, oriunda daColmbia, desde 1980.

    7 Cf. Lyman, citado por Ferro (2009, p.82), em 1826, foi fundada a Sociedade americana detemperana, na qual principiou colher votos de abstinncia, configurando o incio de ummovimento do temperance movement (movimento da temperana). A aprovao de muitasleis sobre bebidas alcolicas no impediu o uso de lcool no pas. O movimentoProhibition,de mbito nacional ou oNobble Experiment, outra designao pela qual ficou conhecido, eracapitaneado pelos proibicionistas, para quem o lcool consistia uma droga perigosa quedestrua vidas, famlias e comunidades, cabendo ao governo proibir a venda. As igrejas

    protestantes evanglicas fizeram forte campanha em prol da proibio do lcool.8

    A saga de levar Al Capone s barras dos tribunais dos clebres filmes:The Untouchables(os intocveis), de 1987), dirigido por Brian de Palma; The Godfther, direo: FrancisFord Coppola, produo: Albert S. Ruddy. Roteiro: Mario Puzzo e Francis Ford Coppola:Paramount Pictures, 1972, DVD.

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    Francesco Saverio Borreli,9 em palestra proferida em So Paulo,anotada por este pesquisador, afirmou que, entre 1980 e 1990, s emcrimes graves assassinatos, raptos e atentados com explosivos,aumentaram 212 % na Siclia, 305 % na Calbria e 415 % na Campnia.O balano das mfias Sicliaitalianas subiu a 1.202 mortos em 1988,1.200 em 1989 e 1.000 em 1990.

    A Mfia tinha uma habilidade em se misturar com a sociedadecivil, pelo uso da intimidao e da violncia, pelo nmero e estruturacriminal de seus adeptos, pela sua capacidade de ser sempre diversa eigual a si mesma. Assim, a corrupo, a conexo estrutural ou funcionalcom o Poder Pblico ou com agentes do Poder Pblico e a penetraono mundo dos negcios e das concorrncias pblicas esto nas razes

    dos maiores escndalos envolvendo a Mfia Siciliana, menos rural emais urbana e empresarial.Diante do crime organizado, a Itlia teve de se prover de uma

    legislao especial concedendo absolvio aos arrependidos quedenunciavam as atividades mafiosas, embora isso pudesse resultar namorte de familiares, como ocorreu com a famlia de Tommaso Buscetta,que fora toda morta. Uma lei, votada aps o assassinato do famosogeneral carabineiro Alberto Dalla Chiesa, transformando em crime a

    participao numa associao criminosa de tipo mfia,

    independentemente de qualquer outra ao criminosa, e d poderesextensivos aos magistrados (como a carreira de magistrados e

    promotores, nica na Itlia, no Brasil, seria equivalente aosPromotores de Justia) para procurar a origem dos fundos de quedispem os suspeitos e suas famlias.

    A guerra foi declarada mfia pelo Estado italiano, aps oassassinato dos juzes Giovanni Falconi ePaolo Borsellino (atuavam nacoordenao das aes polcia-justia). Conforme o magistrado italianoGiuliano Torone, consultor da Comisso antimfia do Parlamentoitaliano, do conselho da Europa e das Naes Unidas, o ponto originriodas investigaes judicirias que ficaram conhecidas como OperazioneMani PuliteOperao Mos-limpas,no perodo de 1992 a 1995, devido a diversos fatores, configurando o primeiro deles a descoberta deum caso muito simples de corrupo de um funcionrio pblico emfevereiro de 1992. Foram exaustivamente investigados importantes

    polticos que deixaram o parlamento italiano em 1994.Nessa poca foi

    9 Os dados foram divulgados por Francesco Saveriano Borreli, Procurador da Repblica daItlia, em abril de 1995, na Faculdade Metropolitana Unidas em So Paulo, o qual teveatuao na denominada operao mos limpas no Estado italiano.

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    criada uma espcie de procedimento judicial para os delinquentescomuns e outra distinta para aqueles ligados a organizaes criminosase, principalmente, uma empreendida luta contra a corrupo poltica. Em1992, primeiro em Milo e depois no resto da Itlia, a justiadesenvolveu processo judicirio que investigou subornos organizadosem todas as contrataes pblicas de bens e servios (GIUDICI, 2011).

    O Magistrado Giovani Falconi (1993) dizia que, para combater amfia, haveria de se utilizar do seguinte princpio:Conhec-la, isolaros presos mafiosos e efetiva aplicao da delao premiada.

    Na Itlia, no campo penal, em sntese, destacam-se alguns dosprocedimentos adotados: acentuado rigor repressivo com a criao denovos tipos penais, especialmente de carter associativo e aumento

    generalizado de penas, medidas de preveno de carter pessoal confisco de bens, por exemplo, priso preventiva automtica, em casosde crime organizado, fortalecimento do inqurito policial, valorizao dadelao premiada e controle penal mais rgido na circulao do dinheiro.

    Por exemplo, na Itlia, a lei antimfia tem uma norma especialreferente ao regime penitencirio ordinrio para criminosos perigosos.Ela leva em conta o perigo para a segurana e para a ordem pblica e do

    poder criminoso do detento.Consideradas de sucesso as medidas obtidas na Itlia foram

    baseadas em algumas premissas:-a sociedade se apresentou favorvel a lutar contra o crime;-foi criada uma estrutura de leis que tornaram possvel o

    controle;-a imprensa foi orientada sobre o crime organizado e sobre sua

    sofisticao;-foram desenvolvidos estudos sobre o assunto para manter

    informados os cidados; e-nas escolas, os programas de ensino se voltaram educao

    sobre o problema.Assim, a mfia italiana foi sendo controlada, embora no

    erradicada. Outras organizaes tipo das mfias italianas foram surgindoem outros pases como, por exemplo, no Leste Europeu, caso da mfia

    blgara e albanesa, formada por ex-lutadores, ex-policiais, quecontrolam casas noturnas. O exemplo de controle da mfia italianaserviu de modelo para todos os continentes.

    O autor Juarez Cirino dos Santos (apudBONATO, 2001, p. 224)

    dispe:

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    Objeto original do discurso italiano no ochamado crime organizado, mas atividade deMfia, uma realidade sociolgica, poltica ecultural secular da Itlia meridional: falar da

    Mfia como a Cosa Nostra siciliana, ou de outrasorganizaes de tipo mafioso, como a Camorra de

    Npoles, a Ndranghetta da Calbria, falar deassociaes ou estruturas empresariaisconstitudas para atividades lcitas e ilcitas, com ocontrole sobre certos territrios, em oposio devantagens econmica, na competio com outrasempresas e de poder poltico no intercmbio cominstituies do Estado, que praticariamcontrabando, trfico de drogas, extorso,assassinatos etc.portanto, organizaes possveisde definio como bandos ou quadrilhas, masinconfundveis com o conceito indeterminado decrimine organizzato, embora a criminologiaitaliana tambm utilize este conceito.

    Na opinio de Rinaldi (1998), refere-se Mfia aquelas

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    organizaes criminais que operam na regio da Sicilia ondehistoricamente nasceu o modelo de criminalidade organizada aquianalisado o termo Camorra que atua na regio da Campanha,Ndrangheta, as que operam na Calbria e, finalmente, Sacro CoronaUnita, fenmeno relativamente recente, a organizaes que atuam naPglia. O referido autor recorre s principais caractersticas dos mtodose dos mbitos de ao das organizaes de tipo mafioso, encontrado noRelatrio Cattanei da Commissione Parlamentare Antimfia de 1972,conforme trecho a seguir descrito:

    As caractersticas constantes da mfia so afinalidade e o lucro, obtido atravs de formas deintermediao e de insero parasitria, o usosistemtico da violncia e, sobretudo, a coligaocom os poderes pblicos. Outras caractersticasmencionadas seriam: a ao simultnea nos planoslcita e ilcita e a organizao interna voltada

    proteo da prpria atividade e que logra garantirformas de imunidade perante os poderes pblicos(RINALDI, 1998, p.12).

    Observa-se que, na Itlia, inicialmente, a mfia foi uma forma de

    protesto social que degenerou em extorso e condutas ilcitas que seespalharam pelo mundo.

    1.1.2 Yakuza japonesa

    Outra organizao criminosa de repercusso mundial, de patentecunho tnico, o Boryokudan, crime organizado japons, a organizaocriminosa denominada Yakuza, a qual tambm teve sua origem pormovimentos sociais e polticos.

    Conforme Sterling (1996), a Yakuza remonta aos tempos doJapo feudal do sculo XVII, cuja origem pode se dizer dos antigossamurais que queriam derrubar o Imperador. possvel encontrar suasrazes em 1612, quando uns 500.000 samurais ficaram sem trabalhodevido s mudanas sofridas no Japo. Durante o perodo Shogun10, aochegar a paz, essas pessoas de comportamento diferente, pelo modo dese vestir e corte de cabelo, dedicavam-se pilhagem, viajavam ao redor

    10 O termoshgunsignifica Comandante do exrcito, em portugus xogum, foi um ttulo edistino militar usado antigamente no Japo. Era concedido diretamente pelo Imperador.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Comandantehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Comandantehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ex%C3%A9rcitohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ex%C3%A9rcitohttp://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_portuguesahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Jap%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Jap%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Imperador_do_Jap%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Imperador_do_Jap%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Jap%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Jap%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_portuguesahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ex%C3%A9rcitohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Comandante
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    do Japo em pequenos grupos, furtando e saqueando pequenas vilas ecidadelas, a estilo de Robin Hood.

    Daquele grupo mtico-romntico, ainda segundo Sterling (1996),os Yakuzas transformaram-se nas organizaes criminosas do sculoXVIII, entre as quais estavam os Bakutos (jogadores profissionais), osTekiya (camels) e os Gurentais (aps segunda guerra). A palavrayakuza vem da verso japonesa da sequncia dos nmeros do baralho8, 9 e 3, sendo os mais baixos dos perdedores do popular jogo de cartasBlack Jackconhecido como Oicho Kabu, em japons. O termo serviapara descrever pessoas vistas como sem valor.

    A Yakusa se desenvolveu nas sombras do Estado para aexplorao de diversas atividades ilcitas (cassinos, prostbulos, turismo

    pornogrfico, trfico de mulheres, drogas e armas, lavagem de dinheiroe usura) e tambm legalizadas (casas noturnas, agncias de teatros,cinemas e publicidades, eventos esportivos), com a finalidade de dar

    publicidade s suas iniciativas. Com o desenvolvimento industrial doJapo durante o sculo XX, seus membros tambm passaram a dedicar-se prtica das chamadas chantagens corporativas, pela atuao dossokaiya (chantagistas profissionais) que, aps adquirirem aes deempresas, exigem lucros exorbitantes, sob pena de revelarem ossegredos aos concorrentes. Os integrantes da Yakuza sempre se

    beneficiaram dos costumes japoneses, em que o cidado se senteenvergonhado por figurar como vtima, aliado ao temor imposto pelosmembros da organizao, inibe a denncia.

    Na tradio Yakuza, segundo Montoya (2007, p. 40-1), haviaalgumas caractersticas especficas, como:

    Cortar o dedo (yubitsome): a ltima falange deum dos dedos da mo era cortada em cerimniacomo pedido de desculpas no caso de ter cometido

    alguma falta contra a organizao, porque, para osjogadores (Bakutos), significa uma fraqueza namo. Atualmente esse hbito foi substitudo pordar um presente no caso do integrante cometeralgum erro.Tatuagens (retratando samurais, drages eserpentes): significava prova de virilidade pelosofrimento de tatuar, s vezes, todo o corpo,tambm um rtulo de pertencer organizao.Ainda um sinal de protesto sociedade.Relao paterno-filial: semelhante mfiaitaliana, organizavam-se em famlias, com um

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    padrinho no topo e os membros no seio de um clcom irmos maiores, menores e filhos. Havia um

    juramento de lealdade e devoo com o gesto debeber numa taa do ayabum.

    O cdigo que orienta os membros da Yakuza, mesmo nos diasatuais, tem como fonte inspiradora os valores de justia, da fraternidade,do amor e do dever, conquanto, hodiernamente tenha sido inteiramenteabandonado o escopo da solidariedade social, conservando-se os traosmarcantes da violncia e da rigorosa estrutura de vrtice servindo demeta da eficincia delitiva. Guardando similaridade com organizaescomo as Mfias siciliana e americana, a Yakuza promove ritual deiniciao, compreendendo o juramento de fidelidade ao chefe e a trocade taas de saqu, sendo que a significao realada pelo fato de acerimnia transcorrer usualmente perante um templo xintosta, emreverncia a mais antiga religio dos japoneses (PELLEGRINI, 2008).

    Segundo Montoya (2007, p. 42), as seis regras sagradas quefazem da Yakuza uma organizao poderosa so:

    - nunca revelar os segredos da organizao;- no se envolver pessoalmente com drogas;-jamais desonrar a esposa ou os filhos de outros

    membros;- no se apropriar de dinheiro da quadrilha;- no falhar na obedincia aos superiores; e- no apelar lei ou polcia.

    No Japo, a taxa de criminalidade relativamente baixa, mas,dentre os pases desenvolvidos, o crime organizado foi significativo. A

    polcia reprimiu fortemente essas organizaes. Ocorre que, antes deuma lei japonesa, em 1992, os membros dessas organizaes no eram

    ilegais, nem constituam um estigma social. Segundo estimativas dapolcia japonesa, em 2001 havia 83.600 membros do Boryokudan,agrupados em trs gangues principais.

    Entretanto, Montoya (2007) afirma que o Japo um dos maioresmercados de metanfetaminas na sia, onde se estima que existam600.000 viciados e 2.18 milhes de usurios. Pases como a Coria so ocentro do trfico de drogas para a Yakuza, sendo a metanfetamina o

    principal produto.Segundo Denis J. Kenney e James Finckenauer, (apud FERRO

    2009, p. 539):

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    A Yakuza obviamente uma organizaocriminosa muito sofisticada, altamenteestruturada, bem disciplinada e complexa, que usaa violncia, corrupo, diversidade de atividades,

    lavagem de dinheiro e infiltrao de negcioslegtimos para realizar um amplo conjunto deempreendimentos lcitos e ilcitos. inquestionavelmente crime organizado em umaescala internacional.

    Montoya (2007) observa que a Yakuza apresenta umasofisticao para seus crimes, apesar de, num determinado perodo,chamar a ateno da polcia, pois estavam matando-se uns aos outros,

    mas, no geral, so discretos, apresentam-se com fachada derespeitabilidade como homens de negcios, com caractersticas deconsolidao de grupos menores, no sentido de que haja controle. NoJapo, h poucos crimes comuns, pois a situao pode vir a ser resolvida

    pela yakuza de forma cruel ou brutal e ela geralmente mais rpida emais efetiva do que os meios convencionais.

    Montoya (2007) diz que, em 1997, foi descoberta umaorganizao relacionada com o trfico de carros roubados que, depois deserem encomendados no Japo, eram transportados para a Rssia, onde

    existia grande demanda por carros estrangeiros. Por sua vez, os Russosfornecem diversos servios, como, por exemplo, lavagem de dinheiro,metanfetaminas, armas de fogo, prostitutas e bens roubados.

    Percebe-se que a Yakusa uma organizao criminosa bastanteantiga, cuja origem, tambm se deu por movimentos sociais e abandonodo Estado e, essa organizao persiste at os dias atuais, com expansointernacional.

    1.1.3 As trades chinesasAs Trades, originrias da China do incio do sc. XVII, quando

    surgiram como movimentos de apoio dinastia Ming, em resistnciados invasores Manchus da dinastia Tsing (MAIA, 1997), abraam omodelo da sociedade secreta com estrutura vertical e hierrquica queexerce tutela sobre a autonomia das conexes perifricas, visando aaumentar a sua agilidade e eficcia, ritos esotricos definidos e objetivos

    polticos temporrios.

    Primeiramente, tal sociedade conhecia diviso em lojas, as quaisexerciam a jurisdio em cada uma das 36 provncias chinesas(PELLEGRINI; COSTA JR. 2008).

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    A China at hoje bastante regionalizada e as pessoas de diversaspartes do pas comem alimentos diferentes e falam os mais variadosdialetos. Tambm as sociedades secretas, que remontam h mais de doismil anos antes de Cristo so muitas e diversificadas. As sociedadessecretas surgiram desde a poca em que os chineses foram dominados

    pelos mongis e os manchus serviram como grupos revolucionrios pararestaurar as regras chinesas. Assim, aumentou o poder colonial,obrigando a China a importar tecnologia, produtos manufaturados epio. Nas reas urbanas, essas sociedades comearam a agir mais comogngsters, participando de negcios com o pio, a prostituio e aproteo.

    Na discutida origem das Tradas, esto grupos como Turbantes

    Amarelos,, Bosques Verdes, Canelas de Ferro e Cavalos de Cobre, quefaziam uso de tticas ao estilo Robin Hoode recrutavam camponesespara suas fileiras. A trade emergiu desses bandos e era conhecida pordenominaes como a Sociedade Trs ou Sociedade do Cu a daTerra. Nome tirado dos ensinamentos filosficos de Confcio, assimchamadas, devido a seu smbolo, um tringulo eqiltero, cujos vrticesrepresentam os trs conceitos das China: o cu, a terra e o homem.Conf. LYMAN, (ApudFERRO, 2008).

    As Trades, fugindo de seus objetivos iniciais, adotavam o estilo

    Robin Hood, os saques em vilas, com disciplina estrita e com umahistria de perseguio poltica. Naquela poca, um grupo de monges

    budistas iniciou uma campanha contra as opresses da dinastiaManchu,transformando-se num bando de capangas a servio de polticossuspeitos e dos chamados senhores da guerra. Uma ltima mutaofaz dela um sindicato do crime que controla a maior parte das atividadesilegais na cidade deHong Kong, como o jogo e a prostituio. A antigaTrade, estritamente controlada pelos antigos, que pratica ritos deiniciao e privilegia valores como obedincia e a lealdade aos chefes, j

    passou. Doravante, fala-se em Trades, no plural, para designar umanebulosa de bandos de uma dezena de indivduos, dirigidos por jovensgngsteres, que s mantm suas gangues na proporo dos substanciaisbenefcios que lhes distribuem (STERLING, 1996).

    Todos esses bandos se matavam uns aos outros pelo controle dosterritrios e das diversas atividades ilegais. As Trades dominam boa

    parte do fornecimento de herona do mercado europeu, graas aosapoios de que dispem no seio das comunidades chinesas importantes

    de Londres e Amsterd.Outro destaque para a origem das Trades, foi por volta de 1644,cujo piv se encontrava em Hong Kong, que controlava a produo e a

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    difuso da herona produzida no Tringulo dourado Birmnia, Laos,Tailndia.

    A herona um produto semissinttico, derivado do pio,substncia extrada do leite da flor da papoula (Papaver somnioferumlinneau). O pio cultivado no Mxico e em naes asiticas, comoPaquisto e Afeganisto, mas principalmente no Tringulo Dourado.O pio era vendido em grande quantidade para a China pelos europeus.

    Os ingleses cultivavam o pio na ndia e vendiam-no em grandesquantidades na China. Isso fez com que o Imperador da China proibissea entrada e o declarasse ilegal em 1829, provocando grande contrabando

    para a Europa e os Estados Unidos. Apesar de ser considerada umadroga, a maior parte do mundo no a considerava ilegal at o sculo

    XIX. Quando os comunistas tomaram o poder na China fizeram opossvel para suspender o pio, na conhecida Guerra do pio.11.Com a declarao de Hong Kong como colnia britnica, em

    1842, os membros das trades migraram para essa colnia e paraTaiwan, onde incentivaram os camponeses a produzirem papoula para aextrao do pio. Em 1880, a Companhia Britnica das ndias orientaisdecidiu engajar a populao chinesa para a produo do pio, at entotrazido da ndia e pagar com produtos chineses (arroz, algodo e ch).Um sculo mais tarde foi novamente proibida a droga pelos chineses,

    mas as Trades continuaram a explorar o mercado negro da droga(STERLING, 1996).

    Em 1970, o trfico de drogas era fenmeno mundial, a droga eracomprada de grandes plantadores de pio no Sudeste Asitico, em

    pases como Tailndia, Vietn e Laos, atingindo a Europa porintermdio da organizao Unio Corsa e a Mfia Francesa de Marselha,que distribuam herona, morfina e cocana. Assim, essas faces senotabilizaram com a traficncia na Europa e at no Oriente Mdio, comoLbano e Ir, para ento atingir fortemente o mercado dos EstadosUnidos. Atualmente, grupos extremistas, como Talib e Al Quaedatambm cultivam a papoula com objetivos de obteno de lucros parafinanciar suas guerrilhas.

    11 Atingido pela proibio do pio na China, o Reino Unido decretou guerra contra a China nodia 3 de novembro de 1839. Nesta primeira Guerra do pio, em 1840, a Inglaterra enviouuma frota militar sia e ocupou Xangai. O imperador incitou os camponeses a caar osinvasores com enxadas e lanas, j que muitos dos soldados estavam viciados. A nicavantagem dos chineses contra os bem armados britnicos era a superioridade em nmero.

    Mesmo assim, perderam a guerra. Derrotada, a China assinou o Tratado de Nanquim, em1842, pelo qual foi forada a abrir cinco portos para o comrcio e ceder Hong Kong aosbritnicos (a colnia s foi devolvida administrao chinesa em 1997). Disponvel em:. Acesso em: 20 jun. 2009.

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    Segundo Maierovitch (apud PENTEADO, 1995), atualmente,conquanto atuam em diversos pases, as Trades tm como bases

    principais Hong Kong e Taiwan. A Trade posicionou-se em favor darevoluo republicana de 1911 e apoiou o General Chiang Kai Shekcontra Mao Tse Tung. Mao implantou o comunismo na China em 1949.

    Chiang Kai Chek fundou Taiwan.12 O retorno de Hong Kong aodomnio chins se deu em 1997. A tendncia a Trade intensificar suasoperaes ilcitas em Pequim.

    As Trades so uma organizao criminosa eminentementeinternacional. Segundo Montoya (2007), atualmente existem 50 tradesativas, com um total estimado de 300.000 membros, a maioria de etniachinesa. Atuam em extorso, transporte, construo e espetculos de

    lazer, imigrao ilegal, processamento e distribuio de drogas, jogoilegal, pirataria de marcas, CdeDvd, falsificaes de bebidas e cartesde crdito, divisas, componentes eletrnicos. Como existem mais de 60milhes de chineses espalhados pelo mundo, as Trades tm ligaescom a Mfia Russa, Italiana e a Yakuza, e pases como Alemanha,Holanda, Inglaterra, EUA, Austrlia, Brasil, Paraguai e outros. NoParaguai, h uma rede constituda por camels, por galerias e por feiras,que representam a parte visvel da globalizao dos ilcitos(contrabando, descaminho e pirataria), especialmente vindo da sia.

    Consoante Montoya (2007), Nos Estados Unidos existem gruposde crime organizado coreanos que trabalham estreitamente ligados comos japoneses e com as quadrilhas chinesas. Em 1986, O FBI, em umaoperao encoberta realizada em Nova York, consegui reunir evidnciasobre uma rede criminosa coreana dedicada extorso.

    A Coria do Norte esteve envolvida na produo e distribuio dedrogas, contrabando, lavagem de dinheiro, falsificao de moedaestrangeira, pirataria ilegal e trfico de ouro. O crescimento dacriminalidade entre a elite da Coria do Norte um reflexo da mudanade gerao na liderana de Pyongyang, em que uma linha conservadora

    12 No final da Segunda Guerra Mundial, com a rendio do Japo, a Repblica da Chinaacrescentou o grupo ilhas de Taiwan e Penghu sua jurisdio. Quando o Partido

    Nacionalista Chins, perdeu a guerra civil para o Partido Comunista da China em 1949, ogoverno da RC foi transferido para Taipei, em Taiwan, e a estabeleceu como sua capitaltemporria (tambm chamada de "capital da guerra" porChiang Kai-shek),[enquanto que oscomunistas fundaram a Repblica Popular da China (RPC) na China continental. Taiwan, emconjunto com Penghu, Kinmen, Matsu e outras ilhas menores, em seguida, tornou-se a

    extenso da autoridade da Repblica da China. Apesar de sua competncia abranger apenasesta rea, durante o incio da Guerra Fria a RC foi reconhecida por muitos pases ocidentais epelas Naes Unidas como o nico governo legtimo da China. Disponvel em:. Acesso em: 15 ago. 2011.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Guerra_Mundialhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Rendi%C3%A7%C3%A3o_do_Jap%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_de_Taiwanhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ilhas_Pescadoreshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Civil_Chinesahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Comunista_da_Chinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/1949http://pt.wikipedia.org/wiki/Taipeihttp://pt.wikipedia.org/wiki/Taiwanhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Chiang_Kai-shekhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_da_China#cite_note-wartime-capital-7#cite_note-wartime-capital-7http://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_da_China#cite_note-wartime-capital-7#cite_note-wartime-capital-7http://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_da_China#cite_note-wartime-capital-7#cite_note-wartime-capital-7http://pt.wikipedia.org/wiki/Comunismohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_Popular_da_Chinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/China_continentalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_de_Taiwanhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ilhas_Pescadoreshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Kinmenhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ilhas_Matsuhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Friahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mundo_ocidentalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Na%C3%A7%C3%B5es_Unidashttp://pt.wikipedia.org/wiki/Chinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Chinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Na%C3%A7%C3%B5es_Unidashttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mundo_ocidentalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Friahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ilhas_Matsuhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Kinmenhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ilhas_Pescadoreshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_de_Taiwanhttp://pt.wikipedia.org/wiki/China_continentalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_Popular_da_Chinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Comunismohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_da_China#cite_note-wartime-capital-7#cite_note-wartime-capital-7http://pt.wikipedia.org/wiki/Chiang_Kai-shekhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Taiwanhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Taipeihttp://pt.wikipedia.org/wiki/1949http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Comunista_da_Chinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Civil_Chinesahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ilhas_Pescadoreshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_de_Taiwanhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Rendi%C3%A7%C3%A3o_do_Jap%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Guerra_Mundial
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    foi substituda por um grupo de jovens, mais ligados a uma vida nova eluxuosa. A principal fonte de dinheiro para o crime organizado a

    produo e exportao de narcticos e metanfetaminas. Em 1998, umdiplomata da Coria do Norte no Egito foi preso com 506.000comprimidos de rohypnol, a maior apreenso desse tipo de droga jrealizada. Outra fonte de recursos ilegais a falsificao de notas de 100dlares, de etiquetas de marcas conhecidas e de CDs (MONTOYA,2007).

    Ressalta-se o estreitamento de laos com outros gruposcriminosos do Japo, como a Yakuza, que chegou a considerar oscoreanos como seus filiados. Do mesmo modo, os coreanos mantmrelaes comerciais com as Trades chinesas e com as quadrilhas russas.

    Tambm foram detectadas conexes com a Amrica Central, em pasescomo o Mxico, na Amrica do Sul e no norte da frica (MONTOYA,2007).

    Observa-se que as possveis origens dessa organizao criminosainternacional, tem forte vinculaao com as questes polticas erevolues ocorridas na China.

    1.1.4 Mfia russa

    Conforme Ferro (2009), a Mfia Russa apresenta faturamentoalcanando centenas de milhes de dlares, em processo de contnuaexpanso desde a derrocada do comunismo nos antigos domniossoviticos, conquanto seja anterior ao fenmeno, apresenta, em suacomposio, trs milhes de membros, integrando por volta de 5.700grupos, duzentos dos quais, pelo menos, ostentam estruturas bastantesofisticadas que permitem contatos comerciais em 29 pases. Suasconexes internacionais mais conhecidas incluem os Estados Unidos, oCanad, outros pases da ex- Unio Sovitica, a Mfia italiana, os cartiscolombianos e o Brasil.

    No rol das suas atividades principais, figuram trficos de todas asespcies, tais como matrias-primas, armas convencionais13 e armasnucleares do antigo Exrcito Vermelho, material nuclear e drogas, a

    prostituio, fraudes, a lavagem de dinheiro e vendas de produtosfalsificados no mercado negro (MAIEROVITCH, apud PENTEADO1995).

    13Por exemplo, a arma de fogo mais vendida no mundo para as guerrilhas e foras paralelas o fuzil de fabricao russa calibre 7,62mm AK-47 (Automatic Kalashnikov, 47 corresponde ao ano de sua fabricao 1947).

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    Em 1991, na Rssia, foi criada uma Lei de Propriedade, queconcedia igualdade legal para as que fossem privadas, estatais oumunicipais. Assim, muitos estudiosos dizem que a planificao doEstado criou facilidades econmicas e psicolgicas para odesenvolvimento do crime organizado ou o que se chama de MfiaVermelha. Houve deficincia do Poder Pblico para prover a todos,criando um mercado negro para suprir tal deficincia, principalmente em

    bens de consumo e servios, o que foi considerado uma necessidade eno uma ilegalidade. Em que pese j haver resqucio de crimeorganizado ainda no regime do comunismo fechado da antiga URSS,fato que desmistifica que crime dessa natureza fenmeno de pascapitalista, ainda que em menor escala.

    Como uma das caractersticas do crime organizado criar laoscom o Estado, houve vnculos do crime organizado com polticos paraproteo de operaes e obteno de lucros. Os lderes desse pas tentamcombater o crime organizado, mas ao mesmo tempo criam certamonopolizao dessa ilegalidade, atravs dos agentes de alto escalo do

    prprio Estado, como se evidenciou em matrias jornalsticas brasileirassobre corrupo de agentes do governo russo para credenciamento eliberao de exportaes de algum produto para aquele pas. Tambmalguns dos chefes e os principais membros da mfia russa eram ligados

    ao governo, podendo ser militares do ex-Exrcito Sovitico e ex-funcionrios KGB, que perderam seus lugares na reduo das foras,que comeou em 1993, aps o fim da Guerra Fria.

    Segundo Montoya (2007, p. 50), com o aumento da liberdade nogoverno de Gorbachev, ocasio em que ocorreu a abertura polticaGlasnost e com a queda do regime comunista na antiga UnioSovitica, a mfia vem ganhando espao pelo alto grau deespecializao e eficcia, expandidas pela Europa e Estados Unidos. Em1994, o governo de Yeltsin informou que entre 70 e 80 % dos negcios

    privados pagavam extorso aos bandos russos e que 80 % de todos osnegcios norte-americanos na Rssia tinham subornado pelo menos umavez os governantes russos. L o problema, ao que parece, no foram asreformas e sim a falta de estrutura legal para proporcionar segurananesse novo clima econmico e frear a corrupo.

    A estrutura da maioria das organizaes criminosas na Rssia sediferencia da mfia italiana. Por exemplo, na primeira, no dividida

    por unio de famlias, unidas por um cdigo de honra; h um chefe, mas

    sem uma estrutura formal rgida.Fontes jornalsticas internacionais apontam que o governo dePutin est interessado em combater o crime organizado, devido ao

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    impacto dele sobre os bens e recursos do Estado, alm de implicaessobre a economia real e o poder poltico russo. Dessa forma, vemcriando mecanismos de controle, como melhoramento nas atividades

    policiais e alteraes legislativas, embora sempre encontrando muitaresistncia no Parlamento daquele Pas, em razo de uma corrupoimpregnada no prprio Estado. Adverte Vicente Garrido et.al. que, naRssia, a criminalidade organizada se adapta rapidamente stransformaes sociais e do Estado (GARRIDO, 1999).

    Segundo Maierovicth, citado por Penteado (1995), a MfiaRussa, na mesma linha de cooptao mafiosa, faz uso da prestao defalsa atividade assistencial, o que granjeia respeitabilidade e

    proeminncia social para seus lderes, em patente indicao de seu fim

    maior de controle da sociedade.Por sua vez, Pellegrini e Costa Jr. (2008) registram a existnciade diversos grupos criminosos na Rssia, rigidamente hierarquizados,sob o slido controle de um lder, com a filiao frequentementedefinida por procedncia tica ou por ligaes pessoais, dos quais os

    principais seriam a Mfia chechene e a Organizao dos antigosesportistas.

    Entre os anos de 1988 e 1995, houve uma corrente imigratria demais de 650.000 cidados provenientes da Rssia e de outros Estados da

    ex- Unio Sovitica para o Estado de Israel, disseminando uma novafase de crime organizado neste pas.

    Embora se discuta se o fenmeno russo pode ser enquadrado nocontexto do crime organizado, pelas suas peculiaridades, acabam porclassific-lo como exemplo fundamental de uma rede criminosaorganizada, de carter internacional, com base tnica, conferindo ao queeles denominam de Mfia Russa os traos caractersticos do uso dacorrupo, do recurso violncia, da continuidade no tempo, da atuaoem mltiplos empreendimentos criminosos, da existncia de umaestrutura organizacional, da penetrao no mbito dos negcios lcitos eda sofisticao (KENNEY; FINCKENAUER, 1994).

    Observa-se que a mfia Russa, originou-se, sobretudo, devido smudanas ocorridas na transformao do regime poltico e as prticas decorrupo.

    1.1.5 Grupos africanos

    A instabilidade poltica e a desorganizao das autoridadesencarregadas de cumprir a lei, aproveitando-se da corrupo, sempre

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    foram fomentos das organizaes criminosas. Assim, tambm os pasesafricanos tm suas organizaes criminosas.

    Conforme aponta Montoya (2007), os nigerianos tm sido vistolevando herona para Kuala Lumpur, Malsia, Tailndia e para ndia,transformando o trfico de drogas na atividade mais lucrativa do crimeorganizado na Nigria. Os nigerianos so responsveis por significativacota de contrabando da herona que entra nos Estados Unidos,

    proveniente da China, uma vez que a Nigria faz negcios decontrabando de marfim e caf com a sia. A Nigria importante pontode entrada de cocana destinada frica do Sul, oriunda dos cartiscolombianos.

    O crime organizado da frica do Sul, da sia e da Europa utiliza

    os servios sul-africanos nos negcios que envolvem marfim,contrabando de armas, divisas e veculos, entre outras atividades. Aescolha desse pas como ponto de transbordo no casual, j que oscontrabandistas aproveitam a vulnerabilidade das fronteiras(MONTOYA, 2007).

    De acordo com relatrio do Departamento Americano Antidrogas(DEA), os colombianos estudam a possibilidade de utilizar a frica doSul como potencial cliente atacadista de cocana. Nesse sentido,

    pretendem aproveitar as possibilidades da demanda existente no

    mercado local. Em agosto de 1996, a polcia de Bogot prendeu umgrupo coreano, nigeriano e cidados da Libria e da Nambia quetentavam contrabandear cocana para frica do Sul. Por outro lado, ossindicatos do crime organizado do Japo, de Israel e da Rssia estariamtrabalhando na frica do Sul, aproveitando que a escassa vigilncia e afalta de controle por parte das autoridades desse pas propiciam arealizao de suas atividades (MONTOYA, 2007).

    Atualmente, existem diversos africanos, principalmentenigerianos, presos no Brasil em penitencirias paulistas, por trficointernacional de drogas, conforme noticiado no programa da profissoreprter da Rede Globo de Televiso no dia 09 de agosto de 2011.

    Alm disso, grupos da Somlia tm se dedicado a ataques piratas,embora no seja restrito somente Costa da frica. No ano de 2000, foiregistrado um total de 469 ataques pela regional Piracy Centre, emKuala Lampur, Malsia, representando um aumento de 56% comrelao a 1999 (MONTOYA, 2007).

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    A pirataria14 continua sendo, como antigamente, uma produtivafonte de renda de cobia das organizaes criminosas. Pode serdesenvolvida em diversas partes do mundo. Os piratas roubam bilhesde dlares por ano, chegando, inclusive, a matar, atacando a tripulao edeixando, s vezes, navios tanques deriva.

    A pirataria provoca um impacto econmico em termos de fraude,de cargas roubadas e atraso na viagem, o que faz com que, muitas vezes,os ataques no sejam denunciados, devido aos gastos que a denncia

    pode provocar em honorrios legais, perda de tempo e atrasos, alm dacredibilidade comercial, o aumento do seguro e as horas extras, tudo oque ir repercutir nas futuras operaes.

    Ademais, h de se considerar a violncia que uma ao desse tipo

    envolve, podendo gerar mortes e feridos a bordo, gerando um efeito detrauma psicolgico na tripulao. As pessoas a bordo podem serameaadas com armas, facas e faces; podem ser amarradas, espancadase privadas de seus pertences pessoais; podem ser lanadas ao mar em

    pequenos barcos salva-vidas e ficarem em alto mar durante vrios dias,tudo isso sem esquecer as vezes em que testemunham o assassinato deseus companheiros.

    Os piratas normalmente esto bem organizados e algumas vezescontam com bons equipamentos e constituem poderosos sindicatos. Na

    maioria dos casos, o crime organizado sequestra navios, troca suabandeira mediante fraude e o vende para um comprador desavisado. Acarga frequentemente vendida no mercado negro e geralmente necessrio pagar o resgate pelos tripulantes. Os atos de pirataria podemacontecer em diversos lugares do mundo, principalmente no sudoeste dasia (Filipinas, Tailndia, Indonsia, Siri Lanka e ndia), e guasafricanas (mais recente, os casos da Somlia) e Amrica do Sul, mas jforam registrados em lugares no tradicionais, como Peru e Ir.

    Nem sempre os protagonistas desses ataques esto ligados aocrime organizado ou organizao criminosa, embora na maioria o so. A

    pirataria facilitada quando no h patrulhamento na zona costeira e avigilncia no feita por foras especializadas.

    1.1.6 Grupos libaneses e afegos

    14 O Escritrio Martimo Internacional (Internacional Maritime BureauAMB define piratariacomo um ato de abordagem de qualquer nave com a inteno de cometer roubos ou outroscrimes, tendo capacidade para usar a fora no desenvolvimento dessa ao.

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    O Lbano foi, at pouco tempo atrs, um dos produtores eexportadores de haxixe. Inclusive, o dinheiro do Hezbolllah15, provinhado haxixe e do pio do Vale do Bekaa, no Lbano. Aps ter realizadoum bem sucedido trabalho contra a droga foi retirado da lista dosconsiderados produtores, embora ainda existam produtores em pequenaescala (MONTOYA, 2007).

    No Afeganisto, o cultivo da papoula, da qual se extrai o pio e,aps, num processo mais refinado, a herona, transformou-se no nicosustento para milhares de agricultores. De acordo com Relatrio das

    Naes Unidas, no fim de 1999, o Afeganisto concentravaaproximadamente 75% da produo global de pio, cujo destino

    principalmente a Europa pela rota Ir-Turquia. Nesse pas, existem trs

    tipos de grupos criminosos no negcio de narcticos: as mfias dasdrogas, as organizaes transnacionais e os grupos guerrilheiros(MONTOYA, 2007).

    O internacional Narcotic Control Boarddas Naes Unidas, emseu relatrio anual, expressa que 80% das apreenses de pio tm sidorealizadas pelas autoridades iranianas. Essa atividade conta com acontribuio de militares, de membros da guarda fronteiria e deencarregados de fazer cumprir a lei, os quais tm sofrido grandes perdasnessa luta, na qual j morreram aproximadamente 3.000 pessoas, devido

    ao armamento e boa organizao com que contam os contrabandistas.De acordo com as autoridades iranianas, em torno de 740 traficantesforam mortos em 1.000 procedimentos realizados somente em 1999(MONTOYA, 2007).

    Sabe-se que esses pases do Oriente Mdio, so extremamentergidos na represso ao trfico de droga, muitos deles utilizam a pena demorte nas condenaes do trfico de drogas.

    1.1.7 Grupos americanos ecartis

    Mfias americanas (US mfia de Nova York, Miami e Chicago)interagiram e interagem com as demais organizaes criminosas domundo, mfia talo-americanas, Yakuza, Trades, grupo Africanos, entreoutras. Tambm nos Estados Unidos existem muitas quadrilhas no estilogangues, especialmente para distribuio de drogas.

    15 Tambm conhecida como Partido de Deus uma organizao com atuao poltica e

    paramilitarfundamentalista islmica xiita sediada no Lbano; considerado um movimentode resistncia legtimo por todo o mundo islmico e rabe, devido invaso israelense doLbano de 1982m mas considerado movimento terrorista por muitos pases. Disponvel em:. Acesso em: 31 jul. 2011.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADticahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Paramilitarhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Fundamentalismo_isl%C3%A2micohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Xiismohttp://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADbanohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_de_resist%C3%AAnciahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_de_resist%C3%AAnciahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mundo_isl%C3%A2micohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mundo_%C3%A1rabehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_do_L%C3%ADbano_(1982)http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_do_L%C3%ADbano_(1982)http://pt.wikipedia.org/wiki/1982http://pt.wikipedia.org/wiki/1982http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_do_L%C3%ADbano_(1982)http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_do_L%C3%ADbano_(1982)http://pt.wikipedia.org/wiki/Mundo_%C3%A1rabehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mundo_isl%C3%A2micohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_de_resist%C3%AAnciahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_de_resist%C3%AAnciahttp://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADbanohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Xiismohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Fundamentalismo_isl%C3%A2micohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Paramilitarhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica
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    Segundo Montoya (2007, p. 89), os membros das gangues esto,atualmente, melhores instrudos e mais organizadas, escondem-se atrsde negcios legais e mantm estreitas ligaes com sindicatos do crimeda Amrica do Sul, na sia e na Europa.

    Aps a Segunda Guerra Mundial, com o desenvolvimentoeconmico dos EUA, as mfias italianas radicadas nos EUA passaram aatuar em diversas frentes criminosas, principalmente, no trfico deherona nos anos 60.

    O histrico do consumo de algumas drogas como a herona podeser observado at no fenmeno das guerras travadas pelos EUA. Aguerra do Vietn abriu portas para novas oportunidades de encontrarrotas para o trfico de herona proveniente de Laos, Camboja e da

    Tailndia. Isso permitiu romper vnculos que foravam os afro-americanos a comprarem herona dos importadores brancos nos EstadosUnidos, principalmente a Cosa Nostra (MONTOYA, 2007).

    Grupos criminosos americanos, apoiados por militares da ForasArmadas dos EUA, transportavam herona daquela regio, dentro doscrnios dos soldados mortos na guerra. A interao de agentes do Estadocom o crime organizado, no tocante ao trfico internacional de drogas,fica bem ilustrada no filme O Gansgster, produzido pela UniversalStudios, dirigido porRidley Scottem 2007. O referido filme, baseado

    em fatos reais, relata ainda que um tero das tropas americanasexperimentou pio ou herona em reas de lazer e descanso em Bankok,Saigon, Vietn e Tailndia.

    Segundo dados da ONU, os EUA so os primeiros em consumode entorpecente e, curiosamente, o pas que mais financia o combate,especialmente na Amrica do Sul.

    Os Estados Unidos foram o primeiro pas a tomar medidas duraspara represso do crime organizado. Em 1970, editaram a RacketeerInfluenced and Corrupt Organizations (RICO), ouLei das Organizaessob a Influncia de Extorso e Corrupo, passaram a considerar crimecontribuir para os objetivos gerais e lucro da mfia. A RICO amplia aatividade do Promotor de Justia, permitindo que num nico processofossem atingidos uma pluralidade de rus, integrantes de um grupo decrime organizado. Essa lei reprime padres de diversas condutascaractersticas do crime organizado e autoriza a apreenso dos produtose dos lucros de empresas ilegais. A Itlia, por sua vez, levou mais de dezanos para fazer sua prpria verso, aLei Rognoni-La Torre de 1982 (que

    recebeu o nome de seus autores). A partir de ento, a justia avanou nocontrole do combate mfia nesse pas (MONTOYA, 2007).

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    Na Amrica Central e do Sul, identificam-se tambmorganizaes criminosas na Jamaica, Panam, Venezuela, Peru e noBrasil, a maioria ligadas narcotraficncia, tanto na produo como nadifuso das rotas de trfico de, especialmente, cocana para os EUA eEuropa.

    Como maiores produtores de coca, esto os pases da Amrica doSul. A sua configurao administrativa e poltica e o favorecimento deoportunidades para investimentos em larga escala, provindos deintegrantes do mundo do crime organizado, componentes ativos daeconomia local, exercem marcadamente influncia na estrutura donarcotrfico internacional. Nesse cenrio, a Colmbia ocupa posio demaior relevo em relao s organizaes criminosas voltadas

    exatamente para o negcio de drogas, at mesmo pelo quase monopliosustentado pelos seus cartis, em toda a regio do continente, sobre aproduo e distribuio da droga (PELLEGRINI; COSTA JR., 2008).

    Os cartis colombianosos mais conhecidos so os deMedellne Cali, nome das cidades de localizao de suas respectivas basesoriginrias, dispondo de centenas de membros e de uma rgida estruturado tipo piramidal, constituem um caso parte entre as organizaescriminosas, pois, desde o princpio, se dedicam s drogas comoatividade motriz. Primeiramente a maconha e posteriormente a cocana,

    gerindo todo o ciclo, desde a etapa de produo at a distribuio emtodo o mundo. Possuem chefes de diversas famlias exercendo controlesobre reas geogrficas bem delimitadas. O agrupamento em cartis tem

    por objetivo to somente a maximizao das atividades e dos lucros.Suas conexes no plano internacional incluem as Mfias sicilianas eamericanas, as Trades e a Yakuza (MAIEROVITCH, 2011).

    Nos anos 80 houve uma expanso dos cartis colombianos para otrfico de cocana, principalmente, com rotas para os Estados Unidos. OBrasil foi alvo dessas rotas, como tambm um forte mercadoconsumidor dessa droga (hoje o Brasil o segundo em consumo dedrogas no mundo), fortalecendo as organizaes criminosas daquelescartis nas dcadas de 80 e 90.

    Os cartis colombianos, assim como os do Mxico, so osgrandes fornecedores de droga para os Estados Unidos. Para issoutilizam sete pases da Amrica Central, como a Nicargua e a CostaRica, que no passam de um corredor de trnsito controlado pelosgrandes traficantes da Colmbia e do Mxico (MAIEROVITCH, 2011).

    A rota de droga, do dinheiro e da violncia passa por Cuba, peloHaiti e pela Repblica dominicana, que esto abertos para a mfia domundo todo, a qual ajudada por Estados impotentes e com uma

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    legislao inexistente; a mesma situao pode ser encontrada tambmnas ilhas inglesas, americanas e holandesas do Caribe. Outras rotasseguidas pelas drogas passam pela Venezuela, pela Guina e peloSuriname (MAIEROVITCH, 2011).

    O Panam (ilhas Cayman) tem servido para lavar milhes denarcodlares. Tambm, desde a dcada de 70, os colombianosutilizam esse pas para atravessar drogas para Nicargua, Honduras e aGuatemala, a fim de chegar ao grande ponto de distribuio no Mxico.

    Em 1981, o general Noriega criou no Panam um centrofinanceiro internacional, liberando o sistema bancrio do controle doEstado e garantindo o anonimato das transaes por meio do sigilo

    bancrio. Existiam 2.000 sociedades annimas, uma para cada dez mil

    habitantes, fazendo com que o mencionado pas se transformasse naSua da Amrica Central. Ligado aos traficantes colombianos, PabloEscobar e Jorge Ocho, Noriega facilitou a instalao de um laboratrioqumico no Panam (MAIEROVITCH, 2011).

    Segundo reportagem publicada no jornal Dirio Catarinense(2006), na Colmbia atuaram, por muito tempo, as faces criminosasconhecidas como Cartel de Cali e Cartel de Medelln. Esse ltimo,liderado pelo criminoso Pablo Escobar, foi considerado a maiororganizao criminosa da Amrica do Sul, a primeira, efetivamente, a

    desafiar o Estado, inicialmente com furtos e roubos de carros,