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2017 ECONOMIA Prof. Daniel Rodrigo Strelow Prof. José Alfredo Pareja Gomez de La Torre Profª. Tatiane Thaís Lasta

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Page 1: Economia - UNIASSELVI

2017

Economia

Prof. Daniel Rodrigo StrelowProf. José Alfredo Pareja Gomez de La TorreProfª. Tatiane Thaís Lasta

Page 2: Economia - UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2017

Elaboração:

Prof. Daniel Rodrigo Strelow

Prof. José Alfredo Pareja Gomez de La Torre

Profª. Tatiane Thaís Lasta

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

UNIASSELVI – Indaial.

330S914e Strelow; Daniel Rodrigo Economia / Daniel Rodrigo Strelow; José Alfredo Pareja Gomez de La Torre; Tatiane Thaís Lasta: UNIASSELVI, 2017.

269 p. : il ISBN 978-85-515-0049-1

1. Economia. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

Impresso por:

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III

aprEsEntação

Prezado acadêmico! Seja bem-vindo ao caderno de estudos de economia! Estamos iniciando uma nova disciplina neste curso, e nesta nova etapa vamos nos dedicar ao estudo da disciplina Economia. Nos dias de hoje, entender de economia tornou-se imprescindível para o profissional de qualquer área do conhecimento. Na atualidade, o conhecimento sobre os fenômenos econômicos se faz cada dia mais necessário, inclusive para a tomada de decisões, não apenas por questões profissionais, mas também para a vida pessoal de cada indivíduo. Compreender os grandes problemas econômicos, fazer análises e leituras cada vez mais precisas da realidade, compreender as grandes diferenças sociais talvez seja o desafio de bons profissionais de qualquer área do conhecimento. Afinal, economia está presente no nosso dia a dia e em quase tudo o que fazemos, mas será que todas as pessoas têm esta clareza? Ou mesmo sabem interpretar as notícias relacionadas às questões econômicas e como elas afetam a nossa vida? Por exemplo, diariamente assistimos aos noticiários e lemos nos jornais questões simples que envolvem a economia que nos afetam diretamente. Algumas dessas notícias são sobre o aumento dos preços, a inflação, o aumento de impostos por parte do governo, o aumento do desemprego, aumento do dólar, crise econômica, ajuste fiscal, entre outras. Você sabe interpretar estas notícias e como cada uma delas interfere na economia? E a consequência delas em nossas vidas? Por isso, este caderno, dedicado à disciplina Economia, tem a finalidade de auxiliá-lo no entendimento dessas questões, didaticamente o caderno está dividido em três unidades.

A Unidade 1 deste caderno consiste em uma introdução à economia. Esta unidade está dividida em cinco grandes tópicos. No Tópico 1, vamos estudar o conceito de economia, o problema da escassez dos recursos produtivos, as necessidades ilimitadas das pessoas. Estudaremos os problemas econômicos fundamentais, os bens de uma economia, os agentes econômicos, estudaremos de forma breve a grande divisão da teoria econômica entre microeconomia e macroeconomia. No Tópico 2, estudaremos os sistemas econômicos, como as sociedades capitalistas, socialistas e mistas organizam a sua produção e como lidam com os problemas econômicos. Já, no Tópico 3, vamos estudar a curva de possibilidade de produção. Nesse tópico elaboramos alguns exemplos e algumas aplicações da curva em uma sociedade. No próximo tópico, o quarto deste caderno, estudaremos o funcionamento de uma economia de mercado. Nele, você estudará como acontece a inter-relação entre os agentes econômicos de uma sociedade por meio dos fluxos, são apresentados os fluxos real e monetário, fluxo circular da renda em uma economia fechada

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e o fluxo circular da renda em uma economia aberta. Por fim, e não menos importante, apresentamos a você, estudante, o Tópico 5, em que trazemos a evolução do pensamento econômico ao longo do tempo, desde a antiguidade, mercantilistas, fisiocratas; a escola clássica (importante para compreender o pensamento econômico atual); o marxismo com Karl Marx, Keynes, os marginalistas, o neoclássico e mais atualmente, as correntes pós-keynesianas.

Na unidade 2 estaremos abordando questões de análise comportamental dos dois agentes fundamentais à atividade econômica. Isto é, o agente “família”, como consumidores; e agente “empresa”, como centros produtivos. Ao longo da unidade estaremos conhecendo como esses agentes interagem no mercado, se observando: a dinâmica tanto da demanda como da oferta, o preço de equilíbrio de um determinado produto no mercado, a análise comportamental da utilidade marginal, a análise tanto da receita marginal como dos custos marginais e a dinâmica da economia de escala. E por último iremos estudar as estruturas de mercado que atuam em uma economia de mercado, quesito importante de entender para iniciar seus estudos da unidade 3, a macroeconomia.

Para lhe ajudar a se organizar nos seus estudos esta unidade divide-se em quatro grandes tópicos, sendo estes: tópico 1 – a lei da procura e da oferta, tópico 2 – o preço ideal e o comportamento da procura e oferta, tópico 3 – a teoria marginal e o comportamento do produtor, tópico 4 – a receita marginal e estrutura de mercado. Todos esses conceitos microeconômicos são importantes para que você possa ter maiores fundamentos e assim compreender melhor a unidade 3, na qual você irá estudar conceitos Macroeconômicos de uma economia de mercado.

Na Unidade 3 deste Caderno de Economia iremos estudar a Macroeconomia, parte importante da teoria econômica. Nosso objetivo é conhecer os principais fundamentos da Teoria Macroeconômica e, para tanto, esta unidade divide-se em cinco grandes tópicos. No primeiro, iremos compreender as raízes históricas deste campo de estudo, bem como suas estruturas de análise, as políticas macroeconômicas e os seus principais objetivos. No segundo tópico, nossa atenção estará voltada para a Contabilidade Social, um conjunto de técnicas que permite a medição dos principais agregados macroeconômicos de um país. Os principais agregados macroeconômicos também serão objeto de nosso estudo. No terceiro tópico analisaremos os pressupostos da teoria da determinação da renda e do produto nacional no mercado de bens e serviços. Além disso, discutiremos o papel e a importância da moeda no conjunto da economia. No quarto tópico estudaremos os fundamentos do comércio internacional e das relações econômicas internacionais. Nesse sentido, temas relacionados à importação, à exportação, ao balanço de pagamentos e à taxa de câmbio serão objeto de nossa atenção. Por fim, no quinto tópico analisaremos o fenômeno da inflação, suas principais características e seu impacto no cotidiano.

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Além do caderno de economia como o principal subsídio para esta disciplina, ao longo dos estudos preparamos para você algumas bibliografias e vídeos didáticos que serão úteis para que você atualize os seus conhecimentos sobre o tema estudado. Além disso, ao final de cada tópico, elaboramos algumas atividades sobre os conteúdos abordados em cada tópico deste caderno para você fixar os conhecimentos.

Assim, esperamos que este caderno de estudos possibilite a você, acadêmico, compreender os principais conceitos da disciplina de Economia e sua relação com o dia a dia. Desejamos a você um ótimo aprendizado, e que ao final desta disciplina você consiga aplicar os conceitos e teorias no meio profissional que você atua, sendo cada vez mais assertivo nas suas escolhas e tomadas de decisões, bem como auxilie nas pequenas escolhas diárias na sua vida pessoal.

Aproveite este caderno de economia!

Desejamos bons estudos!

Daniel Rodrigo Strelow José Alfredo Pareja Gomez de La Torre Tatiane Thaís Lasta

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VI

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfi m, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE.

Bons estudos!

UNI

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

UNI

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sumário

UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO À ECONOMIA ............................................................................... 1

TÓPICO 1 - INTRODUÇÃO À ECONOMIA ................................................................................... 31 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 32 O QUE É ECONOMIA? ...................................................................................................................... 4 2.1 ECONOMIA COMO UMA CIÊNCIA SOCIAL ......................................................................... 4 2.2 A CIÊNCIA DA ESCASSEZ .......................................................................................................... 63 OS PROBLEMAS ECONÔMICOS FUNDAMENTAIS ............................................................... 8 3.1 BENS E SERVIÇOS EM UMA ECONOMIA ............................................................................... 94 OS RECURSOS PRODUTIVOS ....................................................................................................... 11 4.1 REMUNERAÇÃO DOS RECURSOS PRODUTIVOS ................................................................ 125 OS AGENTES ECONÔMICOS ......................................................................................................... 13 5.1 AS FAMÍLIAS .................................................................................................................................. 13 5.2 AS EMPRESAS ................................................................................................................................ 14 5.3 GOVERNO ....................................................................................................................................... 14 5.4 O RESTO DO MUNDO .................................................................................................................. 15 5.5 MERCADO ...................................................................................................................................... 156 A DIVISÃO DO ESTUDO DA ECONOMIA ................................................................................. 16LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 18RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 20AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 21

TÓPICO 2 - SISTEMAS ECONÔMICOS .......................................................................................... 231 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 232 O QUE É UM SISTEMA ECONÔMICO? ....................................................................................... 233 ECONOMIA CAPITALISTA OU DE MERCADO ........................................................................ 244 ECONOMIAS SOCIALISTAS OU PLANIFICADAS .................................................................. 265 ECONOMIAS MISTAS ...................................................................................................................... 28RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 30AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 31

TÓPICO 3 - CURVAS DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO .................................................. 331 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 332 A FRONTEIRA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO DE UMA EMPRESA TÊXTIL ....... 34 2.1 O CUSTO DE OPORTUNIDADE ................................................................................................. 37 2.2 O DESEMPREGO REPRESENTADO NA CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO ............................................................................................................................. 393 A CURVA DA POSSIBILIDADE EM NÍVEL DE UMA ECONOMIA ...................................... 40 3.1 ALTERAÇÕES NA CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO ..................................... 42 3.2 ALTERAÇÕES NA CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO: O CRESCIMENTO E O DILEMA ENTRE A ESCOLHA ENTRE BENS DE CONSUMO E BENS DE CAPITAL .............................................................................................. 44RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 47AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 48

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X

TÓPICO 4 - FUNCIONAMENTO DE UMA ECONOMIA DE MERCADO ............................... 491 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 492 O FLUXO REAL DA ECONOMIA ................................................................................................... 493 O FLUXO MONETÁRIO .................................................................................................................... 504 FLUXO CIRCULAR DA RENDA ...................................................................................................... 52 4.1 FLUXO CIRCULAR DA ATIVIDADE ECONÔMICA FECHADA SEM GOVERNO .......... 52 4.2 FLUXO CIRCULAR DA ATIVIDADE ECONÔMICA DE UMA ECONOMIA ABERTA .................................................................................................................... 545 VAZAMENTOS E INJEÇÕES NO FLUXO DE RENDA .............................................................. 56 5.1 VAZAMENTOS NO FLUXO CIRCULAR DA RENDA – A POUPANÇA ............................. 56 5.1.1 As injeções no fluxo circular da renda provenientes da poupança ................................. 57

5.2 VAZAMENTOS NO FLUXO CIRCULAR DA RENDA – OS TRIBUTOS .............................. 57 5.2.1 As injeções no fluxo circular da renda provenientes dos impostos ................................ 58

5.3 VAZAMENTOS NO FLUXO CIRCULAR DA RENDA – AS IMPORTAÇÕES ..................... 58 5.3.1 As injeções no fluxo circular da renda proveniente – caso das importações ................. 58

RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 61AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 62

TÓPICO 5 - A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO ................................................ 631 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 632 PRÉ-HISTÓRIA E ANTIGUIDADE CLÁSSICA ........................................................................... 633 IDADE MÉDIA .................................................................................................................................... 644 MERCANTILISMO ............................................................................................................................. 645 FISIOCRACIA ...................................................................................................................................... 66 5.1 OS FISIOCRATAS – CONTEXTO ................................................................................................. 676 A ESCOLA CLÁSSICA ....................................................................................................................... 68 6.1 PRINCIPAIS PRECURSORES DA ESCOLA CLÁSSICA: ADAM SMITH ............................. 70 6.2 PRINCIPAIS PRECURSORES DA ESCOLA CLÁSSICA: DAVID RICARDO ....................... 71 6.3 PRINCIPAIS PRECURSORES DA ESCOLA CLÁSSICA: JEAN-BAPTISTE SAY ................. 73 6.4 PRINCIPAIS PRECURSORES DA ESCOLA CLÁSSICA: THOMAS MALTHUS ................. 74 6.5 PRINCIPAIS PRECURSORES DA ESCOLA CLÁSSICA: JOHN STUART MILL ................. 757 MARXISMO .......................................................................................................................................... 768 OS ECONOMISTAS NEOCLÁSSICOS (OU MARGINALISTAS) ........................................... 799 KEYNESIANISMO .............................................................................................................................. 81 9.1 A ECONOMIA PÓS-KEYNES ...................................................................................................... 85RESUMO DO TÓPICO 5 ....................................................................................................................... 87AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 88

UNIDADE 2 - MICROECONOMIA ................................................................................................... 91

TÓPICO 1 - A LEI DA PROCURA E DA OFERTA .......................................................................... 931 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 932 CONCEITO DE MICROECONOMIA ............................................................................................. 933 LEI DA DEMANDA: O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ....................................... 95 3.1 COMPORTAMENTO DOS CONSUMIDORES .......................................................................... 96 3.2 VARIÁVEIS DA ESTRUTURA DA DEMANDA ....................................................................... 98 3.3 RELAÇÃO ENTRE QUANTIDADE PROCURADA E PREÇO DO PRODUTO ................... 1004 FUNDAMENTOS DA LEI DA OFERTA ......................................................................................... 103 4.1 O FATOR CUSTO DE PRODUÇÃO NAS QUANTIDADES OFERTADAS ........................... 106 4.2 FATOR PREÇO E A CURVA DA OFERTA ................................................................................. 108 4.3 A ESCALA COMPORTAMENTAL DOS PRODUTORES ........................................................ 109RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 111AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 112

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XI

TÓPICO 2 - O PREÇO IDEAL E O COMPORTAMENTO DA PROCURA E OFERTA ........... 1131 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1132 O PREÇO DE EQUILÍBRIO ............................................................................................................... 113 2.1 A INTERAÇÃO DA PROCURA E DA OFERTA ....................................................................... 113 2.2. O PREÇO DE EQUILÍBRIO .......................................................................................................... 1153 DESLOCAMENTOS DA CURVA DA PROCURA E/OU OFERTA ........................................... 118 3.1 ALTERAÇÃO NA ESTRUTURA DA OFERTA .......................................................................... 119 3.2 ALTERAÇÃO NA ESTRUTURA DA DEMANDA .................................................................... 1214 FUNDAMENTOS DA ELASTICIDADE DA PROCURA E DA OFERTA ............................... 122 4.1 A ELASTICIDADE DA PROCURA ............................................................................................. 123

4.1.1 Fatores que influenciam na elasticidade preço da procura .............................................. 123 4.1.2 Cálculo da elasticidade-preço da procura .......................................................................... 125

5 FUNDAMENTOS DA ELASTICIDADE DA OFERTA ................................................................ 128 5.1 FATORES QUE INFLUENCIAM A ELASTICIDADE-PREÇO DA OFERTA ........................ 129 5.2 COEFICIENTE DA ELASTICIDADE-PREÇO DA OFERTA .................................................... 130RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 133AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 134

TÓPICO 3 - A TEORIA MARGINAL E O COMPORTAMENTO DO PRODUTOR ................ 1371 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1372 FUNDAMENTOS DA UTILIDADE MARGINAL DECRESCENTE DO CONSUMIDOR ................................................................................................................................... 137 2.1 O PRINCÍPIO DA UTILIDADE MARGINAL DECRESCENTE DO CONSUMIDOR ............................................................................................................................... 138 2.2 A ESCOLHA NO MOMENTO DE CONSUMIR ........................................................................ 1403 LIMITAÇÕES PARA MAXIMIZAR A UTILIDADE MARGINAL ........................................... 142 3.1 CURVA DA INDIFERENÇA ......................................................................................................... 142 3.2 RESTRIÇÕES ORÇAMENTÁRIAS .............................................................................................. 145 3.3 REFLEXO DA RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA NO CONSUMO DO BRASILEIRO .......... 148RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 150AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 151

TÓPICO 4 - A RECEITA MARGINAL E ESTRUTURA DE MERCADO .................................... 1531 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1532 A RECEITA MARGINAL ................................................................................................................... 153 2.1 MAXIMIZAR AS VENDAS ........................................................................................................... 1543 ESTRUTURA DOS CUSTOS E A ECONOMIA DE ESCALA .................................................... 156 3.1 CUSTOS FIXOS E VARIÁVEIS ..................................................................................................... 157 3.2 ECONOMIA DE ESCALA ............................................................................................................. 159 3.3 CUSTOS MÉDIOS E CUSTOS MARGINAIS .............................................................................. 161 3.4 A MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO .................................................................................................. 1634 ESTRUTURA DE MERCADO ........................................................................................................... 165 4.1 CONCORRÊNCIA PERFEITA ...................................................................................................... 165 4.2 COMPETIÇÃO IMPERFEITA E CONCORRÊNCIA MONOPOLÍSTICA ............................. 166 4.3 OLIGOPÓLIO .................................................................................................................................. 167 4.4 MONOPÓLIO .................................................................................................................................. 168LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 170RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 172AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 173

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XII

UNIDADE 3 - MACROECONOMIA .................................................................................................. 175

TÓPICO 1 - INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA ................................................................... 1771 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1772 EVOLUÇÃO DA TEORIA MACROEOCONÔMICA .................................................................. 178 2.1 BREVE EVOLUÇÃO DA MACROECONOMIA ........................................................................ 1803 OBJETIVOS DA POLÍTICA MACROECONÔMICA .................................................................. 1814 OS INSTRUMENTOS DA POLÍTICA MACROECONÔMICA ................................................ 183 4.1 POLÍTICA FISCAL ......................................................................................................................... 184 4.2 POLÍTICA MONETÁRIA .............................................................................................................. 185 4.3 POLÍTICA CAMBIAL E COMERCIAL ....................................................................................... 186 4.4 POLÍTICA DE RENDAS ................................................................................................................ 1875 ESTRUTURAS DE ANÁLISE MACROECONÔMICA ................................................................ 188RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 190AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 191

TÓPICO 2 - NOÇÕES DE CONTABILIDADE SOCIAL ................................................................ 1931 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1932 A CONTABILIDADE SOCIAL ......................................................................................................... 193 2.1 ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DAS CONTAS NACIONAIS ............................................. 1953 MEDINDO A ECONOMIA A DOIS SETORES: FAMÍLIAS E EMPRESAS ........................... 196 3.1 O VALOR ADICIONADO ............................................................................................................. 200 3.2 A POUPANÇA AGREGADA (S), O INVESTIMENTO AGREGADO (I) E A DEPRECIAÇÃO ...................................................................................................................... 2014 MEDINDO A ECONOMIA A TRÊS SETORES: O GOVERNO ................................................ 204 4.1 CUSTO DE FATORES E PREÇOS DE MERCADO .................................................................... 205 4.2 A RENDA PESSOAL DISPONÍVEL E A CARGA TRIBUTÁRIA BRUTA E LÍQUIDA ....... 2065 MEDINDO A ECONOMIA A QUATRO SETORES: O SETOR EXTERNO ............................ 207 5.1 O PIB NOMINAL E O PIB REAL ................................................................................................. 209RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 211AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 213

TÓPICO 3 - A DETERMINAÇÃO DA RENDA E DO PRODUTO NACIONAL: O MERCADO DE BENS E SERVIÇOS E O MERCADO MONETÁRIO ............. 2151 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 2152 O MERCADO DE BENS E SERVIÇOS: A HIPÓTESE DO MODELO BÁSICO (KEYNESIANO) .................................................................................................................. 215 2.1 O EQUILÍBRIO MACROECONÔMICO .................................................................................... 217 2.2 COMPORTAMENTO DOS AGREGADOS MACROECONÔMICOS .................................... 2183 O MULTIPLICADOR KEYNESIANO DE GASTOS .................................................................... 2204 DETERMINAÇÃO DE RENDA E DO PRODUTO NACIONAL: O MERCADO MONETÁRIO ............................................................................................................ 222 4.1 OFERTA DE MOEDA: OS MEIOS DE PAGAMENTO ............................................................. 222 4.1.1 Criação e destruição de moeda ............................................................................................ 224

4.2 OFERTA DE MOEDA PELO BANCO CENTRAL ..................................................................... 224 4.3 O MULTIPLICADOR MONETÁRIO ........................................................................................... 225 4.4 A DEMANDA DE MOEDA .......................................................................................................... 226 4.5 TAXAS DE JUROS: NOMINAL E REAL ..................................................................................... 227 4.6 A MOEDA E A POLÍTICA MONETÁRIA .................................................................................. 228RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 230AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 232

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XIII

TÓPICO 4 - ECONOMIA INTERNACIONAL: O SETOR EXTERNO ........................................ 2331 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 2332 O COMÉRCIO INTERNACIONAL – ALGUMAS DEFINIÇÕES INICIAIS .......................... 234 2.1 INTERVENÇÃO GOVERNAMENTAL NO COMÉRCIO INTERNACIONAL – AS MEDIDAS PROTECIONISTAS ............................................................................................... 234 2.2 INTERVENÇÃO GOVERNAMENTAL NO COMÉRCIO INTERNACIONAL – RESTRIÇÕES E INCENTIVOS AO LIVRE-COMÉRCIO .......................................................... 2353 O BALANÇO DE PAGAMENTOS ................................................................................................... 2364 TAXAS DE CÂMBIO ........................................................................................................................... 239 4.1 OS REGIMES CAMBIAIS .............................................................................................................. 240 4.2 A DESVALORIZAÇÃO E A VALORIZAÇÃO CAMBIAL ....................................................... 2435 ALGUNS DETERMINANTES DAS IMPORTAÇÕES E DAS EXPORTAÇÕES .................... 244RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 246AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 247

TÓPICO 5 - INFLAÇÃO ........................................................................................................................ 2491 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 2492 O QUE É INFLAÇÃO? ........................................................................................................................ 249 2.1 A INFLAÇÃO DE DEMANDA .................................................................................................... 251 2.2 A INFLAÇÃO DE CUSTOS ........................................................................................................... 252 2.3 A INFLAÇÃO INERCIAL ............................................................................................................. 2533 OS PRINCIPAIS EFEITOS DA INFLAÇÃO .................................................................................. 253 3.1 EFEITOS NA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA ................................................................................ 254 3.2 EFEITOS SOBRE O BALANÇO DE PAGAMENTOS ................................................................ 255 3.3 EFEITOS SOBRE OS INVESTIMENTOS EMPRESARIAIS ....................................................... 255 3.4 EFEITOS SOBRE O MERCADO DE CAPITAIS ......................................................................... 2554 COMO COMBATER A INFLAÇÂO ................................................................................................ 2565 METAS INFLACIONÁRIAS NO BRASIL ...................................................................................... 256LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 259RESUMO DO TÓPICO 5 ....................................................................................................................... 265AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 266

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 269

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XIV

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1

UNIDADE 1

INTRODUÇÃO À ECONOMIA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir desta unidade você será capaz de:

• compreender os conceitos básicos da ciência econômica;

• compreender e avaliar os problemas econômicos básicos que impactam nas atividades econômicas e no cotidiano;

• entender e diferenciar as principais características dos sistemas econômicos;

• conhecer e interpretar a curva de possibilidade de produção;

• compreender o funcionamento de uma economia e sua relação com as ativi-dades produtivas, comerciais e de distribuição da renda de uma sociedade;

• conhecer a evolução do pensamento econômico e as suas principais correntes.

Esta unidade está organizada em cinco tópicos. Ao final de cada tópico você encontrará atividades que lhe darão uma maior compreensão dos temas abordados.

TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À ECONOMIA

TÓPICO 2 – SISTEMAS ECONÔMICOS

TÓPICO 3 – CURVAS DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO

TÓPICO 4 – FUNCIONAMENTO DE UMA ECONOMIA DE MERCADO

TÓPICO 5 – A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO

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2

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3

TÓPICO 1UNIDADE 1

INTRODUÇÃO À ECONOMIA

1 INTRODUÇÃO

Prezado acadêmico, daremos ínicio aos nossos estudos sobre introdução à economia. Nesta primeira unidade, a intenção é fazer com que você compreenda as conceituações básicas da economia presentes no nosso cotidiano.

Ao longo dos estudos, vamos fazer você perceber como a economia está presente no nosso dia a dia, em praticamente tudo o que fazemos. Embora todas as pessoas, diariamente, lidam com atividades de natureza econômica, poucas delas têm essa lucidez. Todos os dias, em telejornais, em periódicos, ou mesmo na internet, nos deparamos com diferentes questões econômicas que passam despercebidas. Alguns exemplos que podemos adiantar são os aumentos dos preços, cortes de gastos em períodos de crises e recessão econômica, ou ainda, de crescimento econômico em épocas prósperas. Poderíamos citar também as altas taxas de desemprego, taxas de câmbio, taxas de juros, alta nos impostos e tarifas públicas, a distribuição da renda e do produto, a inflação, entre outros. Exemplos mais simples, como a nossa diária relação de trabalho em troca de um salário no final do mês é uma relação econômica e política, o valor da passagem de ônibus, o valor dos alimentos, o valor da mensalidade da faculdade etc. É só começar a prestar atenção a nossa volta, e veremos que tudo o que nós compramos ou consumimos na forma de bens ou de serviços estão envoltas em várias relações econômicas e políticas. Esses são alguns temas centrais no estudo da ciência econômica, que aliás, é só ler um jornal para ver cada um desses termos, não é mesmo? O que todos esses termos econômicos e esses indicadores tem a ver com o nosso cotidiano?

O estudo e conhecimento sobre os assuntos econômicos faz-se mais necessário do que nunca, já que maior parte dos grandes problemas das sociedades contemporâneas, como a globalização, a desigualdade, as questões ambientais e outros complexos problemas têm uma ligação direta com os problemas de natureza econômica.

Neste primeiro tópico, vamos estudar o conceito de economia, o problema da escassez dos recursos produtivos, as necessidades ilimitadas, vamos estudar os problemas econômicos fundamentais, os bens de uma economia, os agentes

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

4

econômicos, estudaremos de forma breve a grande divisão da teoria econômica entre microeconomia e macroeconomia, que serão aprofundadas nas Unidades 2 e 3.

2 O QUE É ECONOMIA?

Para começarmos nossa disciplina, é importante buscar saber o que significa economia e qual a origem deste conceito. Em termos etimológicos, a palavra “economia” tem origem grega, sua divisão se dá por duas palavras: oikos, que significa casa; e nomos, que significa norma, lei. Assim, com a junção das duas palavras, temos oikonomia, que significa “administração da casa” ou “administração da coisa pública”. O senso comum costuma relacionar uma pessoa como sendo econômica, o que significa dizer que ela é cuidadosa com o gasto de dinheiro, ou cautelosa na administração de recursos que ela dispõe, geralmente a sua renda (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Será que economia refere-se somente a economizar ou a poupar dinheiro? Muitas pessoas acreditam que sim, mas este é um juízo equivocado. Durante esta unidade, levaremos você a compreender a economia, buscando exemplos e demostrando que a mesma está presente no nosso dia a dia, em praticamente todas as atividades do nosso cotidiano, e nas escolhas que fazemos quando gastamos a nossa renda.

A economia, ou ciência econômica, busca compreender como a sociedade

e os indivíduos utilizam os seus recursos, que são escassos, na produção de determinados bens e serviços. Estuda-se ainda a forma como esses bens são distribuídos entre as várias pessoas e grupos da sociedade, com a finalidade de satisfazer as necessidades de todos os indivíduos.

Os sujeitos devem fazer escolhas, as quais administrem bem os seus recursos, que já são escassos, de acordo com as suas necessidades (alimentação, saúde, educação, vestuário, habitação, transporte) que como citamos, são ilimitadas. Portanto, a ciência econômica preocupa-se com a alocação dos recursos de forma que não se comprometa as gerações futuras com o problema da escassez dos recursos (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

2.1 ECONOMIA COMO UMA CIÊNCIA SOCIAL

A ciência econômica procura estudar como a sociedade se organiza e de que forma administra seus recursos que são limitados (que tem um fim) com o propósito de produzir bens e serviços para atender às necessidades de toda a população que são ilimitadas. Assim, pode-se deferir a ciência econômica como sendo:

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TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

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a ciência social que estuda como as pessoas e a sociedade decidem empregar recursos escassos, que poderiam ter utilização alternativa, na produção de bens e serviços de modo a distribui-los em várias pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas (STONIER, 1971 apud PASSOS; NOGAMI, p. 5).

Para Samuelson (1988) apud Passos e Nogami (2012), a economia é o estudo de como as pessoas e a sociedade decidem empregar os recursos escassos. Resumidamente, a definição da economia para Passos e Nogami (2012) é “uma ciência social que tem por objeto de estudo a questão da escassez”. Assim temos que: “economia é, pois, a ciência que estuda as formas do comportamento humano resultantes da relação existente entre as ilimitadas necessidades a satisfazer e os recursos que, embora escassos, se prestam a usos alternativos” (STONIER, 1971, apud PASSOS; NOGAMI, p. 5, 2012).

A ciência econômica é uma ciência social e preocupa-se em estudar como a sociedade se organiza e de que forma administra seus recursos que são limitados, com o propósito de produzir bens e serviços e atender às necessidades das populações que são ilimitadas.

O senso comum geralmente tem a tendência de reduzir a ciência econômica ao seu viés puramente matemático, bancário e a gráficos, ou mesmo a relação mencionada anteriormente, em que economia consiste apenas em economizar dinheiro. Todavia, a ciência econômica pode ser considerada uma ciência social, pois é a ciência que estuda a organização e a distribuição dos bens, por consequência, o funcionamento das sociedades. É por meio da ciência econômica que estuda-se como os indivíduos e como a sociedade escolhe alocar os seus recursos produtivos da melhor forma possível, já que são escassos e tem a finalidade de satisfazer as necessidades de todas as pessoas dentro de uma determinada sociedade. Além disso, a ciência econômica preocupa-se com o comportamento das pessoas e como os indivíduos e as organizações tomam as decisões quanto à produção, troca de bens e consumos (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

A economia é, portanto, uma ciência social, pois se ocupa do comportamento humano e de estudar como as pessoas e as organizações na sociedade se empenham na produção de bens e serviços.

IMPORTANTE

NOTA

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

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2.2 A CIÊNCIA DA ESCASSEZ

O problema da escassez é um problema de todas as sociedades contemporâneas. Todos sabemos que o ser humano possui necessidades diárias para a reprodução material de sua vida, e que estão relacionadas ao consumo de mercadorias (bens e/ou serviços). Essas necessidades apresentam-se das mais variadas formas, é só observamos as nossas próprias necessidades, as primárias, que são: alimentação, saúde, educação etc. Desde as necessidades mais básicas até aquelas que podem facilitar a nossa vida, como produtos tecnológicos, celulares, computadores, carros etc. Assim, o consumo desses e de outros bens e serviços se torna uma condição de vida saudável, próspera e confortável na sociedade da qual fazemos parte.

É importante, também, diferenciar as necessidades humanas dos desejos. As necessidades envolvem tudo o que realmente precisamos para sobreviver, como alimentação, moradia, saúde, educação, roupas, sapatos. Já os desejos são roupas caras e de marca, perfumes importados, celular de última geração etc. A escassez está presente em nosso dia a dia, por exemplo, quando você percebe que seu salário não pode comprar para além de todas as suas necessidades e todos os seus desejos. Se você precisa comprar um automóvel para facilitar seu deslocamento para seu trabalho, ou mesmo para passeio, isso é sua necessidade. Seu desejo seria comprar uma Ferrari, mas como seus recursos (rendimentos) são escassos, você vai comprar um automóvel que esteja dentro do seu orçamento e que vai atender a sua necessidade.

Poderíamos nos perguntar: o que é a escassez e por que existe o problema

da escassez? A escassez significa que um determinado produto ou serviço não tem uma disponibilidade ampla no mercado. Quer dizer, não consegue se produzir determinado bem para todas as pessoas e, se ele é escasso, possivelmente seu preço é mais elevado e nem todas as pessoas poderão comprá-lo. Assim a escassez existe pelo fato de que as necessidades das pessoas são ilimitadas. Tente pensar quais produtos e serviços você precisa para sobreviver e se reproduzir em um mês do ano, por exemplo. Você precisa consumir incontáveis bens e serviços, como alimentos, roupas, casa, transporte, escola, precisa ir ao médico, ir à faculdade, precisa abastecer seu carro, enfim, a lista se tornaria imensa, por isso, se diz em economia, que as necessidades são infinitas e ilimitadas.

De outro lado, temos os recursos produtivos, (utilizados para a produção destes bens e serviços que utilizamos diariamente) que são máquinas, fábricas, terras, matérias-primas, entre outros, estes recursos são limitados, ou seja possuem um fim, possuem um limite. Por isso, os economistas costumam afirmar que as necessidades das pessoas são ilimitadas e os recursos são limitados, pelo simples fato de que não se consegue produzir todos os desejos de todas as pessoas (PASSOS; NOGAMI, 2012).

Surge do pressuposto de que as necessidades humanas são infinitas, ao passo que os bens ou os meios de satisfazê-las são sempre finitos. De acordo com as teorias econômicas neoclássicas, o homem pode produzir

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TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

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o suficiente de qualquer bem econômico para satisfazer completamente determinada necessidade, mas jamais poderá produzir o suficiente de todos os bens para atender simultaneamente a todas as necessidades. De acordo com essa definição, as ciências econômicas serviriam exatamente para gerir a escassez. Por outro lado, os bens econômicos são escassos porque normalmente se dispõem apenas de quantidades limitadas de recursos produtivos necessários para criar os bens em questão, recursos estes que compreendem, basicamente, o trabalho, a terra e o capital, mas o total dos bens econômicos que se podem produzir com tais recursos é bastante influenciado pela técnica e pelo grau de especialização, isso sem falar das complexas determinantes políticas que frequentemente afetam a produção e a distribuição dos bens. Assim, os economistas estudam também os processos produtivos pelos quais a escassez pode ser reduzida, empregando plenamente e de forma mais eficiente os recursos disponíveis, agilizando as formas de produção e distribuição dos bens em questão (SANDRONI, 1999, p. 211).

Assim, precisamos ter cuidado para que a escassez não seja confundida com pobreza. A pobreza, em termos simplistas, significa ter poucos e poder adquirir também poucos bens. Enquanto a escassez, significa que se tem mais desejos do que bens para satisfazê-los, ainda que hajam muitos bens. A questão da escassez está presente em todas as sociedades, seja rica ou seja pobre. Todavia, o problema difere se compararmos, por exemplo, países de terceiro mundo com países desenvolvidos. É claro que se experimenta uma escassez de maior quantidade de bens nos países em desenvolvimento. Já nos países desenvolvidos, como na Europa e Estados Unidos, estes podem ofertar uma quantidade maior de bem e serviços, por consequência, a escassez de bens é menor (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

FIGURA 1 – O PROBLEMA DA ESCASSEZ ILUSTRADO

FONTE: Os autores

O problema da escassez é um dos problemas básicos da ciência econômica. Como vimos no tópico anterior, a economia se preocupa em estudar como a sociedade se organiza e de que forma administra seus recursos escassos, com a finalidade de atender às inúmeras necessidades que são ilimitadas. Assim, justifica-se o estudo da economia justamente pela escassez dos recursos em relação às necessidades humanas, que são ilimitadas, é aí que faz sentido a ciência econômica,

NecessidadesHumanasIlimitadas

RecursosProdutivosLimitados

Escassez

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

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e justifica-se a preocupação em alocar e utilizar da forma mais racional e com maior eficiência possível todos os recursos disponíveis. Do problema da escassez surge a questão da escolha, uma vez que não se pode produzir tudo o que todas as pessoas desejam, e se criam, a partir disso, o que se chama na economia, problemas econômicos básicos ou fundamentais, o quanto produzir, para quem produzir e como produzir, por meio destes problemas econômicos básicos se decidem quais bens serão produzidos e quais necessidades vão ser atendidas (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

3 OS PROBLEMAS ECONÔMICOS FUNDAMENTAIS

Como vimos no tópico anterior, as necessidades humanas, em todas as sociedades, são ilimitadas e os recursos produtivos são limitados, aí confrontam-se com o problema da escassez, trata-se de um problema econômico central de qualquer sociedade dada a escassez de recursos, associada com a necessidade das pessoas que é ilimitada, originam-se os três problemas econômicos fundamentais que são: O que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir?

Um exemplo básico sobre os três problemas fundamentais seria pensar sobre a produção de carros importados, quem os comprará? Provavelmente será uma pequena parcela da sociedade que poderá adquirir esse bem, então não é viável produzi-lo em grande escala. Outro exemplo seria a produção de trigo, o que, quanto e para quem? O trigo é um dos elementos mais comuns na alimentação mundial, possivelmente a demanda por esse bem é alta e não é apenas uma camada da sociedade que detém o poder de adquirir o pão, mas praticamente todas as faixas de renda. Os produtores vão observar o que e quanto devem produzir, como e para quem, observarão, inclusive, qual público poderá adquirir o bem, e se este bem é ou não viável de produzir em uma sociedade, já que não faria sentido produzir um bem que ninguém pode pagar ou que ninguém tem necessidade ou desejo sobre ele (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

FIGURA 2 – PROBLEMAS ECONÔMICOS FUNDAMENTAIS DAS SOCIEDADES

FONTE: Os autores

Como produzir?

O que e quanto

produzir?

Problemas econômicos

básicos

Para quem produzir?

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TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

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O que e quanto produzir?Considerando que os recursos utilizados para a produção de bens e serviços

são escassos, a sociedade precisa fazer escolhas, o que vai produzir e quanto vai produzir.

Como produzir?Este problema se refere aos recursos que utilizará para produzir bens e

serviços. Em geral, os produtores tendem a escolher aqueles que tiverem um baixo custo para produzir bens e serviços.

Para quem produzir?Neste problema, a sociedade observará como as pessoas podem participar

da distribuição de bens e serviços. Neste ponto se leva em conta as rendas dos indivíduos, ou seja, quem pode pagar por determinado bem.

A forma como esses três problemas fundamentais serão tratados depende da forma de organização de uma determinada sociedade, que podem ser economias de mercado ou capitalistas, economias socialistas ou centralmente planificadas. Nas economias de mercado, por exemplo, espera-se uma maior condução desses problemas por parte das empresas privadas. Já nas economias planificadas, o protagonismo é do Estado na solução dos problemas (veremos mais adiante, no Tópico 2, os diferentes sistemas econômicos).

3.1 BENS E SERVIÇOS EM UMA ECONOMIA

Falamos até aqui do problema da escassez e dos problemas econômicos fundamentais. A escassez, em economia, significa a falta de algum bem ou serviço. Quando se diz que um bem é escasso, significa dizer que ele é raro no mercado, mas precisamos entender o que são os bens e serviços em uma economia. Por “bem” pode-se entender que é tudo aquilo que permite satisfazer determinada necessidade humana. Só faz sentido um “bem” ser procurado se ele satisfazer as necessidades, ou seja, porque ele é útil. Em economia, os bens são classificados em bens livres e bens econômicos.

Veremos a seguir as classificações:

• Os bens livres são os que existem em quantidade ilimitada e podem ser obtidos com pouco ou nenhum esforço humano. Exemplos: a luz solar e o ar que respiramos, estes são considerados bens, pois de certa forma eles atendem às necessidades humanas. São bens livres, pois não possuem preço ou pelo menos ainda não pagamos por isso!

• Bens econômicos são caracterizados pelo esforço humano para obtenção desse bem. E além disso, estes bens têm como característica básica um preço, além de serem escassos.

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

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Os bens econômicos são classificados em dois grandes grupos: bens materiais e bens imateriais ou serviços. Os primeiros são os bens materiais, ou seja, podem ser tangíveis, os quais podem ser atribuídos peso, altura etc. Exemplos desses bens são alimentos, roupas, livros. Os serviços são intangíveis, significa que não podem ser tocados nem medidos. Exemplos de serviços: atendimento médico, serviços de um advogado, serviços de transportadoras etc. A produção do serviço e o atendimento do mesmo são instantâneas. Uma importante característica é que os serviços não podem ser estocados, por exemplo.

Os bens materiais são classificados em bens de consumo e bens de capital. Os bens de consumo estão relacionados com a satisfação das necessidades humanas. Estes podem ser de uso “não durável” e desaparecem assim que são utilizados. Alguns exemplos são: alimentos, gasolina, bebidas. Já os bens de uso durável, ao contrário, são bens que podem ser utilizados por um maior período de tempo, por isso, duráveis. Exemplos são eletrodomésticos, móveis, livros, carros, computador, entre outros.

Os bens de capital são os bens que permitem a produção de outros bens, como máquinas, equipamentos, computadores, instalações etc.

Os bens de consumo e bens de capital são considerados bens finais, pois já passaram por todos os processos de transformações possíveis para serem colocados no mercado e à disposição da população, por isso são os ditos “bens acabados”. Além dos bens finais, existem ainda os bens intermediários, que são aqueles que ainda não foram finalizados, como vidros utilizados na produção de carros. Os bens podem ainda ser classificados em bens privados e bens públicos. Os bens privados referem-se àqueles produzidos de forma privada, como carros, computadores, celulares. Os bens públicos são aqueles fornecidos pelo Estado, são bens públicos: segurança, justiça, educação, saúde etc. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

FIGURA 3 – SÍNTESE DOS BENS DE UMA ECONOMIA

FONTE: Os autores

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TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

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4 OS RECURSOS PRODUTIVOS

Você aprendeu até aqui que os recursos para a produção de bens e serviços são limitados e que as necessidades das pessoas são ilimitadas. Estudamos que as necessidades são satisfeitas por meio de mercadorias, serviços e bens. Para produzir os bens que vimos acima, com exceção daqueles com preço zero, são necessários os recursos produtivos.

Os recursos produtivos, ou fatores de produção, são elementos utilizados no processo produtivo de bens (mercadorias) com a finalidade de satisfazer as necessidades humanas. Aqui entram os fatores que propiciaram a confecção das mercadorias, entre eles, o trabalho, os recursos naturais, as matérias-primas, os combustíveis, a energia, os equipamentos, entre outros. Os recursos produtivos de uma economia são classificados em trabalho, terra ou recursos naturais, capital, tecnologia, e capacidade empresarial.

Veremos a seguir, cada um deles de forma particular, bem como suas funções no sistema econômico.

• Terra (ou recursos naturais): como o próprio nome já deixa claro são os recursos naturais, as florestas, a energia solar, os recursos minerais, o solo, as águas etc. Boa parte destes recursos naturais são utilizados diariamente na produção dos bens econômicos. Todavia, o que algumas correntes de economistas e ambientalistas costuman alertar é que os recursos naturais também são limitados, ou seja, possuem um fim se não forem utilizados com a devida precaução.

• Trabalho: trata-se do valor humano necessário para a produção de determinado bem. O trabalho que consiste em esforço por parte de um ser humano, pode ser braçal, de força física ou mental despendida. Assim, o trabalho num sentido econômico, é um serviço prestado por determinada pessoa na sua área de atuação, podendo ser um médico, um agricultor, um pedreiro. Contudo, a força de trabalho e sua qualidade também são limitadas.

• Capital (ou bens de capital): é definido por um conjunto de bens utilizados no processo de produção de outros bens e não essencialmente para atender às necessidades das pessoas. Exemplos de capital são máquinas e equipamentos, estoques, instalações, edifícios, usinas, estradas de ferro etc. Quando se fala em capital é muito comum que nossa mente associe a ações ou ao dinheiro, porém, isso deve ser associado como capital financeiro. Poderíamos pensar em exemplos do nosso cotidiano para bens de capital:

Qual o capital de um taxista? Seu táxi e seu sistema de comunicação; Qual o capital de um pescador? Sua rede e bote para pescar. E de um médico? Seu conhecimento, ou seja, seu investimento educacional

na faculdade de medicina. Se tiver consultório médico, seu investimento em equipamento e local para atender seus pacientes.

• Tecnologia: na atualidade, a tecnologia tem papel fundamental na atividade econômica. As inovações tecnológicas têm papel fundamental na economia como um todo, por meio de inovações é possível alcançar um nível de crescimento e aumento de produtividade. Exemplos são os computadores, os smathphones etc,

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

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que acabam facilitando o acesso produtivo. • Capacidade empresarial: este fator de produção consiste na capacidade

empresarial, no “saber fazer” do empresário que exerce atividades e funções fundamentais no processo produtivo, pois é o empresário quem organiza todo o processo de produção e assume os riscos da produção dos bens e serviços que propõe-se a atender, resultando em lucros, ou nas perdas de seu investimento (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

4.1 REMUNERAÇÃO DOS RECURSOS PRODUTIVOS

Para a produção de qualquer bem ou serviço é necessário o empego dos recursos produtivos. Necessita de terra, de bens de capital que são necessários para produzir outros bens, além disso, o empresário, às vezes, não conta com todo o dinheiro para investir, sendo necessária a busca de dinheiro de terceiros para a aquisição de máquinas e equipamentos. E por fim, necessita de mão de obra para a produção de bens que virão a atender as necessidades humanas. Assim, o preço pago pela utilização dos serviços dos fatores de produção vai constituir a renda dos proprietários desses fatores.

Com relação ao trabalho, o trabalhador é o proprietário dos recursos, e a remuneração que ele recebe na forma de salários no final de cada período trabalhado constitui a sua renda – paga pelo dono da empresa –. Por exemplo, com relação à remuneração do fator terra (ou recursos naturais), geralmente se conhece duas formas de remuneração, através de arrendamento (aluguel por ceder a terra temporariamente a alguém) ou mesmo a venda para outro proprietário. Já a renda do capital são os juros. No caso de um empresário necessitar de mais dinheiro para investir na sua produção, ele buscará o capital na forma de empréstimos, e para usufruir desse dinheiro, em troca pagará juros ao banco. O lucro, por fim, consiste na remuneração pela capacidade empresarial. O quadro a seguir sintetiza o que descrevemos até aqui.

QUADRO 1 – FATORES DE PRODUÇÃO E SUA REMUNERAÇÃO

FATOR DE PRODUÇÃO TIPO DE REMUNERAÇÃO

Trabalho Salário

Terra (recursos naturais) Aluguel

Capital Juro

Tecnologia Royalties

Capacidade empresarial Lucro

FONTE: Adaptado de Vasconcellos e Garcia (2009)

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TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

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Para cada fator de produção ou recurso produtivo, haverá o pagamento pelos serviços prestados. Este pagamento corresponde a uma remuneração recebida por determinado serviço prestado. Por exemplo, o trabalhador trabalha o mês todo em troca de, no final de cada período, receber um salário. O salário corresponde à remuneração pelo trabalho e, consequentemente, a renda do trabalhador, o mesmo se dá com os demais fatores de produção. (PASSOS; NOGAMI, 2012). Todavia, é importante observar que os recursos produtivos têm como característica básica serem limitados ou escassos, ou seja, não existem em quantidade abundante para produzir todos os bens desejados pela sociedade. Os recursos naturais são finitos. Um exemplo é o petróleo, as terras adequadas para agricultura, recursos hídricos, minério de ferro etc. São matérias-primas que existem em quantidades infinitas. Mesmo as nações desenvolvidas têm esse tipo de limitação de recursos naturais.

5 OS AGENTES ECONÔMICOS

Você já parou para pensar que nós participamos de transações comerciais quase que diariamente? E as realizamos com diferentes agentes econômicos? Isso mesmo, ir ao supermercado, ir a um restaurante, comprar uma água, abastecer o seu automóvel, todas essas e outras mais, são transações que proveem de necessidades que temos de consumir determinado serviço ou produto, seja para a nossa sobrevivência, seja por lazer, ou mesmo pelo conforto. Tudo o que nós consumimos nos é oferecido por um prestador de serviços. Aí entra o que se conhece em economia como os agentes econômicos, que são todas as pessoas, as empresas, o governo todos estes agentes transacionam entre si dentro de um mesmo mercado. É muito simples, todos nós efetuamos transações (de compra e venda) com os diferentes agentes, é só observar o seu dia a dia. Vamos ver mais adiante cada um dos agentes especificamente, e ficará mais claro para você compreender como se dão as transações entre os agentes no mercado.

5.1 AS FAMÍLIAS

Na economia, quando se fala em famílias, refere-se a todos os indivíduos que exercem o papel de consumidores de bens e serviços, com a finalidade de atender as suas necessidades. O ato de comprar determinada mercadoria funciona como um voto a favor da escolha de produção dessa mercadoria, que depende do empresário para ser produzida. Caso as famílias reduzam o consumo e comprem menos mercadorias, o empresário deverá interpretar esta ação, por parte o consumidor, como um descontentamento e possivelmente por conta disso tentará alterar a qualidade da mercadoria oferecida, de modo a se ajustar às novas necessidades dos compradores e consumidores. Além do papel de consumidores, as famílias oferecem ao mercado os fatores de produção que são: terra, trabalho, capital, entre outros, que os oferece às empresas.

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

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5.2 AS EMPRESAS

A empresa, no âmbito da ciência econômica, é o termo utilizado para designar uma unidade produtiva que é responsável pela produção e comercialização de bens e serviços. A produção acontece por meio da aquisição dos fatores de produção das famílias (terra, trabalho) e das empresas, é da onde sai a maior parte das mercadorias na forma de bens e serviços, os quais servem para atender às necessidades das pessoas. Além disso, os empresários são aqueles que realizam os investimentos produtivos para ampliar a sua capacidade de produção, ou seja, para aumentá-la, utilizarão os investimentos para contratar e treinar trabalhadores e investir em novas máquinas e equipamentos.

Todavia, é bom ressaltar que a empresa não atua isolada, ou seja, as empresas não tomam decisões de forma independente. Geralmente, as decisões do empresariado são tomadas com base no padrão de comportamento de boa parte dos consumidores, bem como observam as suas necessidades: aí observa-se o comportamento das famílias que atuam como consumidores dos produtos que as empresas produzem.

Em resumo, podemos dizer que a empresa é responsável pelo uso e processo dos fatores de produção para satisfazer as necessidades e desejos das famílias (consumidores), e que uma das suas finalidades é a maximização do lucro.

5.3 GOVERNO

O Governo, ou Estado, desempenha um papel fundamental na economia de qualquer nação. Em sociedades capitalistas, como é o caso na maior parte do mundo, o Estado emerge justamente para corrigir as falhas do mercado, com a finalidade de interferir nas relações de mercado entre empresários e consumidores.

Todas as organizações estão de forma direta ou indireta sob o controle do governo, seja na esfera federal, estadual ou municipal. O governo tem o papel de intervir no sistema econômico com a finalidade de corrigir suas falhas. Além disso, concentra-se nas atividades de supervisão, regulação, oferta de bens públicos, redistribuição das riquezas.

Vejamos cada uma delas:

• Supervisão, regulação e regulamentação: diz respeito ao papel de legislador dos temas que dizem respeito aos assuntos econômicos de uma economia. É papel do Estado, neste caso, certificar-se do cumprimento de um conjunto de regras válidas para todos os agentes econômicos.

• A oferta de bens públicos: o Estado oferta bens e serviços com o dinheiro recolhido e redistribui por meio de arrecadação de tributos das famílias e das empresas. O bens públicos mais comuns são saúde, educação, escolas, universidades, iluminação pública, rodovias etc.

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TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

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• Redistribuição das rendas: em economias de mercado é comum desigualdades na distribuição das rendas e riquezas na população, o que traz graves consequências sociais, aí a necessidade de intervenção estatal, fazendo uma mais equitativa redistribuição das rendas por meio de tributos, auxiliando com trasferências e subsídios às famílias mais desprovidas.

• As falhas de mercado: o mercado possui falhas, ou seja, não consegue se autoajustar, situações de externalidades (por exemplo, uma empresa que polui o meio ambiente), ou ainda, em situações de concorrência imperfeita (o monopólio ou de monopsônio causam falhas de mercado), de modo que o Estado intervém para o ajuste de tais falhas (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

5.4 O RESTO DO MUNDO

Resto do mundo é o termo utilizado em economia para expressar as relações comerciais e de troca entre as diferentes nações. Atualmente, com o crescimento das relações comerciais entre os vários países, decorrente do processo de globalização, o Resto do Mundo pode ser visto como um quarto agente econômico. Os mercados externos podem atuar como consumidores das mercadorias produzidas pelo país. Ao mesmo tempo, as famílias de um país podem consumir mercadorias produzidas no exterior por meio de importação de produtos.

QUADRO 2 – AGENTES ECONÔMICOS E SUAS PRINCIPAIS FUNÇÕES AGENTES

ECONÔMICOS PRINCIPAL FUNÇÃO NA ECONOMIA

Famílias Consumo de bens e serviços.

Empresas Produção de bens e serviços.

Governo Satisfação das necessidades coletivas e redistribuição da renda.

Resto do Mundo Troca de bens, serviços e capitais.

5.5 MERCADO

O mercado não se trata especificamente de um agente econômico, mas é no mercado que a relação entre as famílias (consumidores) e as empresas (unidades produtivas) acontece. O mercado é um local físico ou não físico, onde se encontram compradores e vendedores para realizarem as trocas de bens e serviços. Concretamente são as feiras, lojas, bolsa de valores etc. No mercado, os compradores e vendedores confrontam os preços e as quantidades de um determinado bem que desejam trocar. Na definição de Sandroni (1999, p. 378), o termo mercado:

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

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designa um grupo de compradores e vendedores que estão em contato suficientemente próximo para que as trocas entre eles afetem as condições de compra e venda dos demais. Um mercado existe quando compradores que pretendem trocar dinheiro por bens e serviços estão em contato com vendedores desses mesmos bens e serviços. Desse modo, o mercado pode ser entendido como o local, teórico ou não, do encontro regular entre compradores e vendedores de uma determinada economia.

Em todo o mercado, o preço atua como mecanismo que regula as trocas. O comprador e o vendedor chegam a um acordo em relação ao preço de determinado bem. É importante ter em mente que o preço influencia na procura por um bem. Por exemplo, se determinado bem estiver com um preço baixo, possivelmente as pessoas comprarão mais desse bem, se ele estiver mais caro, as pessoas, no geral, tendem a substitui-lo por outro bem.

6 A DIVISÃO DO ESTUDO DA ECONOMIA

De forma muito introdutória, veremos as duas grandes divisões do estudo da teoria econômica, que se dividem em duas grandes áreas: a teoria microeconômica e a teoria macroeconômica.

A teoria microeconômica, ou microeconomia, é preocupada em examinar o comportamento econômico das unidades individuais que são representadas pelos consumidores, pelas empresas e pelos proprietários de recursos produtivos. A microeconomia estuda a interação entre as empresas e os consumidores, bem como a maneira pela qual a produção e preço são determinados em mercados específicos.

A microeconomia estuda o comportamento dos agentes econômicos individuais. Preocupa-se com o comportamento dos consumidores, das empresas, sua produção, seus custos; preocupa-se com a determinação de preços dos bens, dos serviços e fatores.

UNI

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TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

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A teoria macroeconômica, ou macroeconomia, estuda o comportamento da economia como um todo. A macroeconomia estuda os grandes agregados nacionais, tais como a produção total dos bens e serviços, o PIB, as taxas de inflação e desemprego, o total de poupança captada em um país, as receitas e despesas totais de determinada economia, os investimentos por parte do governo, o balanço de pagamento e as contas nacionais etc. (PASSOS; NOGAMI, 2012; ROSSETTI, 2003).

A macroeconomia estuda o comportamento do sistema econômico como um todo. Preocupa-se com o comportamento dos agregados nacionais: PIB, inflação, investimento agregado, poupança agregada, entre outros.

QUADRO 3 – MICROECONOMIA X MACROECONOMIA

CARACTERÍSTICAS MICROECONOMIA MACROECONOMIA

Visão Individual. Global.

Objetivo de estudosComportamento dos

indivíduos, das famílias, das empresas e do mercado.

Comportamento da economia como um todo.

Variáveis fundamentais de

estudo

Oferta e demanda, geração dos preços, o comportamento

do consumidor, produção das empresas, mercados

competitivos.

Produção total, nível geral de preços, emprego x

desemprego, taxas de juros, inflação, salários e taxas de

câmbio.

FONTE: Os autores

Caro acadêmico! Estudaremos mais adiante, com profundidade, a microeconomia e a macroeconomia, nas Unidades 2 e 3.

UNI

ESTUDOS FUTUROS

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

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RECURSOS ESCASSOS E NECESSIDADES ILIMITADAS: a sociedade está cada vez mais hipnotizada pelo marketing

Por Naiara Trajano dos Santos e Marçal Rogério Rizzo

Houve um tempo em que o homem não pensava que os recursos fossem escassos. A economia nem existia como ciência. Acontece, agora, que ela é tida como a ciência da escassez. Estuda como devem ser administrados os recursos. Também explica as "aparentes" necessidades ou carências materiais das pessoas. No entanto, o sistema capitalista parece querer omitir a tal escassez dos recursos, já que incentiva as compras mesmo que desnecessárias. Isso tudo ocorre em nome da manutenção da sociedade de consumo: renda, consumo, produção, impostos etc.

A sociedade está cada vez mais hipnotizada pelo marketing, publicidade, pela propaganda, e busca a felicidade no ato de comprar. Carências surgem a todo o momento, mesmo não necessitando. O anseio pela novidade vem sendo o motor propulsor da sociedade de consumo.

Um exemplo clássico para os tempos atuais que cabe bem nesta reflexão é o telefone celular. Parece que minuto a minuto a indústria lança um aparelho novo. Cria situações hilariantes, como a de nem mesmo quando se acaba de pagar o celular atual, surge um novo modelo e torna-o obsoleto.

Pela ótica da sociedade de consumo, a compra e a venda estão corretas, pois permitem a continuidade e manutenção da mesma. Contudo, toda visão fragmentada e descontextualizada merece desconfiança. O princípio básico da economia é a escassez, portanto, "os recursos são escassos e as necessidades ilimitadas", sendo assim, consumo de forma exacerbada gera endividamento, inadimplência e degradação ambiental.

Que pode pensar disso tudo o cidadão que é estimulado a consumir? Como avaliará as benesses materiais que o consumo lhes garante? O caso é muito simples: a economia do Brasil foi bombardeada com estímulos ao consumo e hoje vemos uma parcela considerável das famílias vivendo endividadas. Os dados demonstram falhas na condução dos orçamentos, das reais necessidades e dos desejos de consumo. Os recursos financeiros são insuficientes para tantas vontades e, diga-se de passagem, não somente os recursos financeiros, mas, inclusive, os naturais, dos quais ainda pouquíssimas pessoas se importam.

É lamentável que o status do "possuir algo" vem superando qualquer racionalidade. Excepcionalmente, até a ostentação vem ganhando força na sociedade atual. O “ter” tem sido mais importante que o “ser”. Se você tem, você é alguém; se você possui, te dá prazer, e se isso te dá prazer, você quer mais, ou seja: "quanto mais tem, mais quer". É tão trivial e verdadeira esta frase que o grau de endividamento da sociedade de consumo pode explicá-la.

LEITURA COMPLEMENTAR

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TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

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No entanto, o que fazer diante deste cenário? Nessa dinâmica, todo argumento contrário ao consumismo parece vazio. Isso torna o desafio ainda maior, já que ele tem que ser retroalimentado a todo momento. Contudo, na lógica do limite dos recursos ele não poderá se sustentar. É oportuno lembrar que uma parte considerável da população mundial vive ainda em condições subumanas. A par da questão da desigualdade social, há milhares de matérias publicadas sobre o assunto. Por outro lado, uma parcela considerável de pessoas fecha os olhos para o problema, uma vez que é inconveniente aos preceitos de quem vive numa zona de conforto pensar em diminuir seu nível de consumo em prol de uma sociedade mais justa e equânime. Certamente, não existe uma panaceia para a transformação imediata desta sociedade de consumo, mas é inegável que necessitamos urgentemente de medidas que visem a revalorização dos limites dos recursos e dos desejos materiais.

FONTE: Disponível em: <http://www.oregional.com.br/2013/12/recursos-escassos-e-necessidades-ilimitadas_306519>. Acesso em: 4 jan. 2017.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• A economia estuda a produção, a distribuição e o consumo de bens e serviços pelas pessoas e sociedades; também estuda os processos de acumulação de bens materiais, possibilitando assim entender a geração de riqueza pelas sociedades.

• Os fatores de produção e suas remunerações são, respectivamente, trabalho (salários); terra e/ou recursos naturais (aluguel); capital (juros); tecnologia (royalties) e capacidade empresarial (lucro).

• A economia pode ser entendida como a ciência da escassez.

• Os recursos produtivos são considerados escassos e as necessidades humanas são consideradas ilimitadas.

• As pessoas e a socidade precisam fazer escolhas para administrar bem os seus recursos produtivos escassos, de forma a evitar desperdícios e preservar a capacidade de crescimento do sistema econômico para as gerações futuras.

• Agentes econômicos são todos os indivíduos, empresas e órgãos públicos que participam de um mercado e possuem uma relação de troca de bens ou serviços.

• A ciência econômica divide-se em dois grandes campos teóricos: a macroeconomia e a microeconomia.

• A microeconomia tem por objetivo estudar o comportamento econômico das unidades individuais, que são representadas pelos consumidores, pelas firmas e pelos proprietários de recursos produtivos. Ela estuda a interação entre as firmas/empresas e consumidores, bem como a maneira pela qual a produção e preço são determinados em mercados específicos.

• A macroeconomia tem como objetivo estudar a determinação do nível geral de preços, do nível de produto, da taxa de salários, do nível de emprego, da taxa de juros, do volume de moeda, da taxa de câmbio. Estuda os grandes agregados e a economia como um todo.

RESUMO DO TÓPICO 1

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AUTOATIVIDADE

Prezado acadêmico, estamos chegando ao final do primeiro tópico que corresponde a uma introdução à economia. Chegando até aqui, é importante fixar alguns conceitos e teorias que estudamos e que serão importantes ao longo desta disciplina. Por isso, elaboramos algumas autoatividades para você testar seus conhecimentos. Desejamos bons estudos!

1 Estudamos os recursos produtivos das economias. Como vimos, eles são imprescindíveis para o processo de produção, de modo que, sem ele, não haveriam produtos ou serviços a nossa disposição. Cada recurso de produção tem, em economia, uma remuneração específica. Com base nisso, associe a primeira coluna de acordo com a segunda:

a) Trabalhob) Terra (recursos produtivos)c) Capitald) Tecnologiae) Capacidade empresarial

2 As necessidades das pessoas são ilimitadas e os recursos produtivos são limitados. Disto resulta o problema da escassez, isto é, de que não há quantidades suficientes de um produto ou serviço para satisfazer os desejos de todos. Desse problema central, surgem três outros problemas fundamentais estudados em economia. Com base nisso, cite e comente os três problemas básicos da ciência econômica.

( ) Juros( ) Aluguéis( ) Royalties( ) Lucros( ) Salários

3 Os economistas, muitas vezes, utilizam modelos para explicar a realidade socioeconômica. Vimos que fazem parte da economia os chamados agentes econômicos, que são: as famílias, as empresas, o governo e o resto do mundo. Com base em seus estudos, descreva a função de cada um destes agentes na economia.

4 Entende-se que um “bem” é tudo aquilo que nos permite satisfazer uma determinada necessidade. Assim, só faz sentido um “bem” ser adquirido se ele for útil, a fim de satisfazer as nossas necessidades. Com base no que você estudou, diferencie bens de consumo e bens de capital. Dê um exemplo para cada bem.

5 Estudamos de forma introdutória os dois grandes campos que subdividem a teoria econômica, a microeconomia e a macroeconomia. Com base no que você estudou, explique cada uma destas divisões.

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TÓPICO 2

SISTEMAS ECONÔMICOS

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Prezado acadêmico, no Tópico 1 iniciamos os estudos da disciplina de economia. Estudamos o que é economia, o problema da escassez, os problemas econômicos fundamentais, os recursos produtivos, os agentes econômicos, estudamos a grande divisão da teoria econômica, a microeconomia e a macroeconomia. Agora que você já domina as conceituações mais básicas da economia, podemos avançar nos estudos. O segundo tópico desta unidade tem por finalidade estudar os sistemas econômicos. Agora veremos como se dá a organização social das sociedades.

De início, precisamos entender o que é um sistema econômico. O sistema econômico nada mais é do que a forma como cada sociedade organiza a sua produção, ela pode ser uma economia de mercado ou capitalista, a maior parte das economias do mundo são economias de mercado, mas existem algumas experiências diferenciadas, como é o caso de Cuba, economia socialista ou planificada, e ainda existem os sistemas de economias mistas. Sobre cada um destes sistemas, vamos estudar nas próximas páginas.

2 O QUE É UM SISTEMA ECONÔMICO?

Conceito básico em economia é o de sistema econômico. Este pode ser definido como a forma na qual a sociedade se organiza nos termos econômicos e sociais para desenvolver as suas atividades econômicas e produtivas para atender às demandas e às necessidades da população. Os elementos básicos de um sistema econômico, segundo Vasconcellos e Garcia (2004), são:

• estoques de recursos produtivos ou os chamados fatores de produção (os quais incluem recursos produtivos, trabalho humano, capacidade empresarial), aí entram os fatores que veremos mais adiante, o capital, os recursos naturais e a tecnologia;

• o complexo de unidades de produção, constituídos pelas empresas; • o conjunto de instituições políticas, jurídicas, econômicas e sociais, as quais são

base para a organização da sociedade.

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

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Assim, toda economia opera segundo um conjunto de normas e regras, leis e regulamentos, e por isso é chamado de “sistema econômico”. De maneira geral, os sistemas econômicos podem ser classificados em dois grandes grupos: o sistema socialista ou de economia planificada; e o sistema capitalista ou de economia de mercado.

No primeiro caso, em economia planificada ou socialista, as questões econômicas são resolvidas por um órgão central, no qual predomina a propriedade pública dos meios de produção, que são os bens de capital, os recursos naturais, bancos, prédios etc. Um exemplo de uma economia planificada atualmente é Cuba.

Já o sistema capitalista, ou de economia de mercado, leva este nome justamente por ser regido pelas forças do mercado, na qual predomina a livre iniciativa e a propriedade privada dos meios de produção. Nas economias de mercado, que são boa parte dos países do mundo, as questões fundamentais são resolvidas por meio do mecanismo de preços e por meio da oferta e da demanda. Ressalta-se que mesmo com a livre iniciativa e o livre mercado no sistema capitalista, o Estado tem papel fundamental para o bom funcionamento da atividade econômica (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Veremos nos próximos tópicos a diferença de cada um desses sistemas.

O que é um sistema econômico? Este pode ser definido como a forma na qual determinada sociedade se organiza nos termos econômicos e sociais para desenvolver determinadas atividades econômicas e produtivas, com a finalidade de efetuar as trocas de bens e serviços para atender às necessidades ilimitadas das pessoas.

3 ECONOMIA CAPITALISTA OU DE MERCADO

Quando falamos em capitalismo, nos referimos ao sistema econômico e social predominante atualmente na maioria dos países. Basicamente, é um sistema de organização econômica baseado na propriedade privada dos meios de produção. A economia está baseada na separação entre trabalhadores livres, portadores de sua força de trabalho e em proprietários dos meios de produção. Os trabalhadores vendem sua força de trabalho aos proprietários dos meios de produção, em troca de salário. A intenção, neste processo, é a produção de mercadorias, visando a obtenção de lucro (SANDRONI, 1999).

Alguns elementos que caracterizam o sistema econômico são: a presença de capital, de propriedade privada dos meios de produção, a divisão do trabalho, a moeda e o lucro. Observe cada uma destas características a seguir:

IMPORTANTE

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TÓPICO 2 | SISTEMAS ECONÔMICOS

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• Capital: para o senso comum, capital é entendido como um grande montante de dinheiro. O conceito de capital na economia é mais abrangente, ele significa o conjunto de bens econômicos, como máquinas, equipamentos, fábricas, terras, matérias-primas, que são capazes de produzir outros bens e serviços. O capital, na sua forma física, é chamado de capital tangível. E o capital representado por documentos, ações e papéis chama-se capital intangível (SANDRONI, 1999).

• Propriedade privada: as economias capitalistas recebem este nome justamente porque o capital é essencialmente propriedade privada de alguém: o capitalista. É por meio da propriedade privada que o capitalismo se apropria de parte da renda gerada nas atividades econômicas, a partir disso surge a concorrência (SANDRONI, 1999).

• Divisão do trabalho: nas economias capitalistas é marca a especialização do trabalho, ou seja, a produção massiva de bens é possível graças à divisão do trabalho máximo de vantagem, suas aptidões em determinadas tarefas. A especialização dos processos produtivos tem a finalidade de dinamizar e tornar cada vez melhor um processo produtivo. O processo de divisão do trabalho faz com que cada trabalhador, de acordo com a sua especialidade, adquira uma maior agilidade no processo produtivo, acentue a sua agilidade dentro do processo de produção, o que faz com que a produtividade se eleve (SANDRONI, 1999).

• Moeda: juntamente com o capital e a especialização, a moeda vem a ser mais uma característica das economias capitalistas. Dentro de uma economia, a moeda tem algumas funções básicas, sendo estas: meio de troca, reserva de valor, unidade de conta e padrão para pagamentos. A moeda como meio de troca facilita as negociações em uma economia (SANDRONI, 1999).

• Preço: o preço está presente nas economias de mercado e expressa a relação de troca de um bem por outro bem. Em outras palavras, significa a quantidade em dinheiro que se dá em troca de algum bem ou mercadoria, representando assim o valor monetário da mercadoria ou serviço. Ainda em economias capitalistas de mercado, o preço tem função de assegurar a concorrência da economia como um todo. De acordo com o preço dos bens e serviços, as pessoas escolhem o que comprar e as empresas escolhem o que produzir (SANDRONI, 1999).

• Lucro: uma das finalidades dos empresários é, obviamente, obter lucros, retornos positivos sobre seu negócio, no qual foi investido capital. O lucro é a diferença entre a receita e o custo da produção. Um dos principais objetivos da empresa no capitalismo é obter lucros para seu proprietário (SANDRONI, 1999).

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

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Capitalismo é um sistema marcado pela propriedade privada dos meios de produção. Capital são os bens utilizados na fabricação de outros bens. Nas economias capitalistas ou de mercado é a oferta e demanda dos bens que determina o preço e organiza a produção.

4 ECONOMIAS SOCIALISTAS OU PLANIFICADAS

Nas economias planificadas ou socialistas apresentam-se três problemas básicos. Como nas economias capitalistas de mercado, todavia, a forma de resolvê-lo é que se distingue. Os problemas fundamentais, o que e quando produzir, para quem e como produzir, são decisões tomadas por órgãos planejadores centrais. Estes determinam tais questões, já que nas economias planificadas não há orientação pelo sistema de preços como nas economias de mercado. Um exemplo hoje ainda de economia planificada, é a experiência cubana. Nas economias socialistas o planejamento é formulado da seguinte maneira:

• Planejamento sobre as necessidades das pessoas a serem atendidas; • levantamento sobre os recursos e as técnicas disponíveis para a produção de

bens e serviços; • dada a premissa básica da economia, de que as necessidades são ilimitadas e

que os recursos são limitados, surge também a necessidade de selecionar quais destas necessidades humanas serão prioridades para se produzir, quando se decidir isto, se determina o que, quanto, como e para quem serão produzidos determinados bens e serviços para atenderem as necessidades dos indivíduos dentro de uma determinada sociedade (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Quem define esse planejamento e as prioridades do que será produzido

são os órgãos centrais planejadores. Nas economias socialistas, o sistema de preços não funciona como meio regulador, mas sim para facilitar os objetivos de produção estabelecidos pelo Estado. As características do funcionamento de uma economia socialista são: os preços e a organização da produção, os preços e a distribuição da produção, propriedade pública dos meios de produção (PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 2003).

Observe cada uma delas a seguir:

• Os preços e a organização da produção: ao contrário das economias de mercado em que o preço aparece como fundamental, no sistema socialista, ao contrário, não é a oferta e a demanda que definem os preços, mas sim, o órgão máximo de planificação central. Com base nas necessidades da população, consideradas prioritárias, é que vão se definir o que e quanto, como e para quem será produzido. Na produção em si, as fábricas são organizadas individualmente por um diretor

NOTA

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TÓPICO 2 | SISTEMAS ECONÔMICOS

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escolhido pelo órgão de planificação central, estas recebem as instruções deste órgão central sobre o que, quanto e como será produzido naquela fábrica, de acordo com a capacidade da mesma (lembrando que é propriedade coletiva, ou seja, todos os trabalhadores trabalham para a sociedade como um todo).

• Os preços e a distribuição da produção: os preços dos bens de consumo são determinados pelo governo com intuito de evitar qualquer excesso ou qualquer falta dele na produção.

• Propriedade pública: na economia socialista os meios de produção, as máquinas, os equipamentos, os edifícios, as matérias-primas, as terras e os bancos, todos são considerados de toda população que habita aquele país, tendo como característica a propriedade coletiva dos meios de produção.

Nas economias planificadas não existe a propriedade privada dos meios de produção. A oferta e demanda de bens e serviços, assim como os preços e salários estão sob responsabilidade de um órgão planejador central.

FIGURA 4 – DIFERENÇA ENTRE SOCIEDADES CAPITALISTAS E SOCIALISTAS

FONTE: Disponível em: <http://www.tocadacotia.com/wp-content/gallery/caracteristicas-do-socialismo/socialismo-19.jpg>. Acesso em: 5 jan. 2017

NOTA

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

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5 ECONOMIAS MISTAS

Outro modelo é o sistema chamado de economia mista. Neste sistema, umas parcelas dos meios de produção são pertencentes ao Estado, por meio das chamadas firmas públicas, e outra parcela pertence ao setor privado, são as firmas privadas. A solução dos problemas econômicos fundamentais, o que e quanto produzir, como e para quem nestas economias mistas, se dá na relação conjunta entre mercado e Estado. Com relação ao que e quanto produzir, o Estado, por meio de isenção ou redução de tributos e incentivos fiscais, pode indicar o que deve ser produzido naquela economia. Outro instrumento que o Estado utiliza é por meio do controle de crédito, por exemplo, naquelas atividades em que o Estado deseja fomentar haverá um maior incentivo ao crédito. Outra forma ainda do Estado intervir é por meio de suas empresas públicas, que são destinadas a garantir a produção dos bens e dos serviços que são fundamentais para o bem-estar coletivo, como saneamento básico, transporte, energia, entre outros. O Estado também executa grandes obras, como estradas e pontes, neste caso, o Estado necessita indiretamente do setor privado na produção dos insumos para estas grandes obras, como o cimento, o aço etc. Todavia, nas economias mistas o problema “o que e quanto produzir” se orienta pelo sistema de preços.

O problema de como produzir, em economias mistas, é resolvido de forma diferente segundo o setor público ou privado da economia. No setor público se resolve com o planejamento governamental, cuja função não é obter lucros, mas sim ao atendimento das necessidades da população. Já o contrário acontece no âmbito do setor privado, a questão é solucionada de acordo com o mercado e com os preços.

Nos sistemas mistos, a questão distributiva é análoga às economias de mercado pelo sistema de preço, como vimos anteriormente. Nas economias mistas, assim como nas economias de mercado, é marcada a concentração das rendas, e neste caso, o Estado oferece subsídios como ensino público, assistência médica, entre outros. Exemplos da ação do Estado nesse sentido são: seguro-desemprego, o estabelecimento de salários-mínimos, entre outros.

Um exemplo concreto das chamadas economias mistas ou modelo de social democracia são as experiências dos países nórdicos, como a Noruega, Dinamarca, Suécia e Finlândia. Estes países ostentam um alto índice de desenvolvimento humano, de longevidade e de educação, além de taxas de desemprego baixíssimas e taxas de inflação operando a 1%. Embora com o predomínio das leis de mercado e da propriedade privada nestes países, boa parte dos serviços públicos, como saúde e educação, são gratuitos, bancados pelo Estado, isso é possível devido a uma carga tributária altíssima. Para se ter ideia, na Dinamarca, a alíquota do imposto de renda chega a ser cerca 56%. Com níveis de desigualdade baixíssimos, estes países têm instituições fortes e são considerados os mais democráticos do mundo.

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TÓPICO 2 | SISTEMAS ECONÔMICOS

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Caro acadêmico, se você deseja conhecer mais sobre a experiência das economias mistas, também chamadas de social democracia, acesse o link com a reportagem: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/01/150128_noruega_democracia_chc_cc>.

Nas economias mistas prevalecem as “leis de mercado”, mas com forte atuação do Estado na economia.

NOTA

DICAS

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Sistema econômico nada mais é do que a forma como cada sociedade organiza a sua produção. Sistemas podem ser economia de mercado ou capitalista, economias planificadas ou socialistas, ou ainda, economias mistas.

• Economia capitalista ou de mercado é um sistema marcado pela propriedade privada dos meios de produção e comandado pelas forças de mercado.

• Economia planificada ou socialista é uma sociedade em que não existe a propriedade privada dos meios de produção. Os meios de produção são coletivos e o Estado comanda toda a atividade econômica.

• Nas economias mistas uma parcela dos meios de produção são pertencentes ao Estado por meio das chamadas firmas públicas, e outra parcela pertence ao setor privado, as firmas privadas. A solução dos problemas econômicos fundamentais, o que e quanto produzir, como e para quem, nestas economias mistas se dá na relação conjunta entre mercado e Estado.

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AUTOATIVIDADE

1 Com base nos estudos do Tópico 2, explique o que é um sistema econômico e quais são seus elementos básicos.

2 Os diferentes sistemas econômicos que se tem conhecimento são: as economias capitalistas ou de mercado, as economias planificadas ou socialistas, e as economias mistas, estas são diferentes formas de organização social. Com base nos estudos do Tópico 2, analise as afirmativas a seguir:

I - As economias de mercado ou capitalistas baseiam-se na separação entre trabalhadores livres, portadores de sua força de trabalho e em proprietários dos meios de produção. Os trabalhadores vendem sua força de trabalho aos proprietários dos meios de produção em troca de salário. A intenção, neste processo, é a produção de mercadorias, visando à obtenção de lucro.

II - Nas economias socialistas, análogas às economias de mercado, predominam a propriedade privada dos meios de produção e a divisão do trabalho.

III - Nas economias capitalistas os meios de produção, as máquinas, os equipamentos, os edifícios, as matérias-primas, as terras e os bancos, todos são considerados de toda população que habita aquele país, tendo como característica a propriedade coletiva dos meios de produção.

IV - Nas economias mistas, uma parcela dos meios de produção são pertencentes ao Estado por meio das chamadas firmas públicas, e outra parcela pertence ao setor privado, as firmas privadas.

V - Nas economias capitalistas o sistema de preços não funciona como meio regulador, mas sim para facilitar os objetivos de produção estabelecidos pelo Estado.

Analisando estas sentenças, assinale aquela com a sequência de afirmações corretas:

a) ( ) Apenas a sentença I está correta.b) ( ) As sentenças I e III estão corretas.c) ( ) As sentenças IV e V estão corretas.d) ( ) As sentenças II e IV estão corretas.e) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.

3 Neste Tópico 2 estudamos os diferentes sistemas econômicos. Com base no que você estudou, explique o funcionamento de uma economia capitalista de mercado e cite suas principais caracteristícas.

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5 Estudamos ainda o funcionamento das economias mistas no último item deste tópico, vimos alguns exemplos e de como acontece a junção de Estado e mercado nas economias ditas mistas e social democracia. A exemplo dos países nórdicos, descreva as suas características.

4 Sabendo que o funcionamento das economias ditas socialistas, nas quais o Estado aparece como o protagonista, explique o funcionamento de uma economia socialista e descreva as suas principais características.

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TÓPICO 3

CURVAS DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Prezado acadêmico, vamos dar início ao terceiro tópico desta unidade. Nela, vamos estudar a curva de possibilidade de produção. Esta curva representa graficamente o problema da escolha e da escassez de uma determinada empresa ou de uma determinada sociedade.

Nós estudamos no Tópico 1 desta unidade o problema da escassez, lembra-se? Vimos que a ciência econômica se preocupa com as ilimitadas necessidades humanas, bem como a limitação por parte dos recursos produtivos. Assim, o estudo da economia está ligado a uma questão central, a escolha. Deste problema surge na ciência econômica a curva de possibilidade de produção, que tem por finalidade ilustrar graficamente a escassez dos fatores de produção e das possibilidades de escolha. A curva de possibilidade de produção cria, graficamente, um limite para a capacidade produtiva de uma empresa, país ou sociedade.

A curva de possibilidade de produção representa a capacidade máxima de produção de uma empresa ou de uma sociedade, de acordo com os recursos produtivos disponíveis na empresa ou na sociedade naquele dado momento. A curva de possibilidade de produção representa uma lista de várias combinações de escolhas possíveis de bens que se quer produzir em uma economia ou em uma empresa. Veremos nos exemplos que quanto mais recursos forem investidos em um determinado bem, menos recursos teremos para investir na produção de outro bem.

A curva de possibilidade de produção é representada de forma simplificada em um gráfico em que cada eixo significa determinado bem. No gráfico, a curva de possibilidade de produção é representada por uma curva que une os eixos e os pontos referentes às quantidades máximas e às diferentes combinações possíveis de produzir de cada um dos bens. Veremos, ao longo deste tópico, o exemplo de uma empresa do ramo têxtil e a produção de dois bens: toalhas e cobertores. Veremos também a situação de eficiência e de desemprego, e como se aplica a curva de possibilidade de produção em uma sociedade e suas aplicações (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

2 A FRONTEIRA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO DE UMA EMPRESA TÊXTIL

Para iniciar, trazemos como exemplo uma empresa do ramo têxtil e sua curva de possibilidade de produção. Considerada uma empresa exemplo, possui uma determinada extensão de instalações, máquinas e equipamentos próprios para as atividades que ali são desenvolvidas e um número de pessoas empregadas nesta atividade produtiva. O empresário deverá optar por aquilo que ele vai produzir e como produzir. Fazendo a escolha, o empresário estará optando por como seus recursos produtivos serão alocados ao restante das combinações dos bens possíveis.

Por exemplo, ao escolher se especializar na produção de dois produtos, cobertores e toalhas, o empresário precisa decidir como organizar a produção, quantos trabalhadores utilizará para a produção de cada bem, se haverá espaço na empresa para a produção de um terceiro produto do ramo têxtil. No exemplo que estamos utilizando, em uma empresa hipotética, o empresário optaria pela produção de dois produtos: toalhas e cobertores.

Neste caso, se o dono da fábrica orientar a sua produção apenas para a produção de cobertores, não haverá recursos disponíveis para produção de toalhas. E de outro lado, se optar apenas pela produção de toalhas, não haverá recursos disponíveis para a produção de cobertores.

Assim, estamos diante de uma situação de escolha, aí podem existir outras possibilidades de solução que possam intermediar o problema, poder-se-á utilizar parte da produção para a produção de toalhas e parte para a produção de cobertores. O quadro a seguir ilustra as várias possibilidades de produção da empresa em exemplo hipotético e numérico (PASSOS; NOGAMI, 2012).

QUADRO 4 – AS POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO DE UMA EMPRESA

POSSIBILIDADES COBERTORES (UNIDADES) TOALHAS (UNIDADES)

A 0 8000B 1000 7500C 2000 6500D 3000 5000E 4000 3000F 5000 0

FONTE: Adaptado de Passos e Nogami (2012, p. 50)

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TÓPICO 3 | CURVAS DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO

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O quadro que você observou explicita as possibilidades de produção em escala numérica e com algumas possibilidades que refletem a opção do empresário pela produção dos dois bens. A opção A demonstra a opção pelo empresário em produzir apenas toalhas em sua fábrica e nenhuma quantidade de cobertores, e hipoteticamente produziria 8000 toalhas. A opção F demonstra o contrário, o empresário optaria por produzir apenas cobertores e produziria 5000 unidades. As possibilidades B, C, D e E representam as possibilidades do empresário caso optasse por produzir os dois bens, toalhas e cobertores, em suas instalações (PASSOS; NOGAMI, 2012).

GRÁFICO 1 – POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO DE UMA EMPRESA

FONTE: Adaptado de Passos e Nogami (2012, p. 50)

A representação gráfica da chamada curva de possibilidade de produção demonstra a possiblidade de produção da empresa entre toalhas e cobertores. Para isso, o gráfico é construído por um sistema de eixos cartesianos. O eixo das coordenadas (vertical) representará a quantidade de toalhas que a empresa poderá produzir. No eixo das abscissas (horizontal) representa-se a quantidade de cobertores que a empresa poderá produzir.

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

GRÁFICO 2 – A CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO DE UMA EMPRESA

FONTE: Adaptado de Passos e Nogami (2012, p. 50)

No ponto A, indica-se uma situação em que toda a capacidade produtiva da empresa está operando para a produção de toalhas. Nesse caso, a produção de cobertores fica zerada, pois todos os recursos produtivos estão sendo alocados para a produção das toalhas, permanecendo zerada a disponibilidade de recursos para a produção de cobertores. O ponto F indica outro extremo, ou seja, quando toda a capacidade produtiva da empresa está voltada para a produção de cobertores. Nesse caso, a produção de toalhas seria nula. Desta forma, os pontos B, C, D e E indicam outras possíveis combinações intermediárias de produção. Podemos, agora, unir os pontos de A até F. A curva resultante das combinações dos pontos no gráfico é a chamada Curva de possibilidades de produção. A curva demonstra todas as combinações possíveis da empresa, entre toalhas e cobertores. A representação gráfica do que foi descrito está acima, ilustrada no Gráfico 2.

As demais possibilidades de produção da empresa estão nos pontos B, C, D e E, são possibilidade de produção que alocam os recursos produtivos na produção dos dois bens: toalhas e cobertores. No ponto B da curva, a empresa opera com a capacidade de produzir 7.500 toalhas e 1000 cobertores. Já no ponto C, produziria 6500 toalhas e 2000 cobertores. No ponto D a empresa produziria 5000 toalhas e 3000 unidades de cobertores, e no ponto E produziria 3000 unidades de toalhas e 4000 unidades de cobertores. Perceba que cada vez que se aumenta a produção de um bem, diminui-se a produção de outro bem (PASSOS; NOGAMI, 2012).

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TÓPICO 3 | CURVAS DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO

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Sobre a curva de possibilidade de produção, assista ao vídeo disponível no link: <https://www.youtube.com/watch?v=zFlzrhPlRn0>.

No caso hipotético da empresa e sua possibilidade de produção, representada graficamente acima, a empresa estaria operando de maneira eficiente sempre que a produção de um bem fosse aumentada, e por consequência, fosse reduzida a produção de outro bem. O fenômeno chamado de eficiência produtiva da empresa acontece somente se a curva do gráfico estiver situada sobre a linha do ponto A até o F, que neste caso a produção de cobertores aumentará somente se houver uma diminuição na produção de toalhas.

Supondo que a empresa esteja produzindo no ponto D, a curva de possibilidade de produção estará produzindo 5000 toalhas e 3000 cobertores. Caso o empresário deseje aumentar a sua produção de cobertores, deverá operar no ponto E, neste ponto serão produzidas 4000 unidades de cobertores para 3000 unidades de toalhas. Todavia, este aumento só será possível se parte dos recursos, que antes eram alocados para a produção de toalhas, for agora alocada para a produção de cobertores. Nesse caso haverá, por consequência, uma diminuição da produtividade das toalhas de 5000 unidades para 3000 unidades, somente com a diminuição da produção das toalhas o empresáro conseguirá produzir mais cobertores (PASSOS; NOGAMI, 2012).

2.1 O CUSTO DE OPORTUNIDADE

O custo de oportunidade é o termo utilizado para expressar os custos que se referem às alternativas que foram sacrificadas para a produção de um determinado bem. Por exemplo, se o empresário estiver com a sua produtividade no ponto C da curva, estaria produzindo 6.500 toalhas e 2000 unidades de cobertores. Se o empresário quisesse aumentar a sua produção de cobertores para 3000 unidades que seria alcançada no ponto D do gráfico, o empresário deverá sacrificar 1500 unidades de toalhas para obter tal aumento. Assim, o custo de oportunidade das 1000 unidades a mais de cobertores, são o custo de produzir 1500 unidades a menos de toalhas. Para elevar a produtividade de cobertores para mais 1000, foi necessária uma diminuição da produção de toalhas sucessivamente, passando do ponto que seria D no gráfico, para o ponto E.

DICAS

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

Voltando ao termo “custo de oportunidade”, este é um termo importante na teoria econômica, pois faz a relação básica entre a questão da escassez e da escolha. Basicamente, o custo de oportunidade significa uma melhor alocação dos recursos para a produção de um bem que poderia gerar um melhor ganho no uso alternativo dos recursos. Assim, temos que a transferência dos fatores de produção de determinado bem para a produção de outro bem, implica um custo de oportunidade, e isto significa o sacrifício de deixar de produzir parte de um bem para produzir mais de um outro bem.

Poucos observam, mas passamos a vida fazendo escolhas justamente porque existe a escassez dos fatores de produção para suprir todas as necessidades humanas que são ilimitadas, de modo que o ser humano se obriga a optar por atender a determinadas necessidades e não todas, deixando assim, necessidades que não serão atendidas. Assim, o ser humano é submetido a fazer escolhas diariamente. Na ciência econômica, toda vez que fazemos a opção por uma determinada escolha e não outra, diz-se que ela implica em um custo de oportunidade.

Um exemplo corriqueiro seria a opção por jogar basquete, ao fazer tal escolha, você opta por não fazer qualquer outra atividade que lhe traria os mesmos benefícios ao mesmo tempo. Outro exemplo, ao optar por fazer um curso superior, você deixa de fazer uma série de coisas que possivelmente gostaria de fazer no mesmo tempo despendido nesta escolha, como por exemplo, ler, ir ao cinema, assistir televisão etc. Se você optou em ocupar seu tempo estudando, você deixa de lado as demais atividades, pois acredita que esta atividade foi a melhor e mais racional escolha que poderia ter feito, mesmo que obrigando-se a sacrificar outras, isso chama-se na ciência econômica, de custo de oportunidade.

Os custos não devem ser considerados absolutos, mas iguais a uma segunda melhor oportunidade de benefícios não aproveitada, ou seja, quando a decisão para as possibilidades de utilização de A exclui a escolha de um melhor B, podem-se considerar os benefícios não aproveitados decorrentes de B dos custos de oportunidade, assim, o custo de oportunidade é o termo utilizado para expressar os custos que se referem às alternativas que foram sacrificadas (PASSOS; NOGAMI, 2012; ROSSETTI, 2003).

Custo de oportunidade representa o sacrifício em deixar de produzir um bem para elevar a produção de outro bem.

NOTA

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TÓPICO 3 | CURVAS DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO

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2.2 O DESEMPREGO REPRESENTADO NA CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO

Continuando com o exemplo da empresa, podem ocorrer casos em que ela esteja operando abaixo da sua capacidade, sendo assim, os fatores de produção estarão ociosos, gerando por consequência o desemprego de parte dos trabalhadores. Ao observarmos o gráfico a seguir, isso ocorre precisamente localizado no interior da curva de possibilidade de produção, especificamente no ponto G. Neste ponto, a produção de ambos os produtos, cobertores e toalhas, podem ser aumentadas até chegarem ao desenho da curva, utilizando esses fatores de produção que são ociosos no ponto G. Com o aumento na produção de cobertores e a mesma quantidade de toalhas, poderemos passar do ponto G para o ponto C, ou para o ponto E com uma maior produção de cobertores e a mesma de toalhas, ou no ponto D com o aumento de ambos os produtos.

GRÁFICO 3 – CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO NO CASO OCIOSO

FONTE: Adaptado de Passos e Nogami (2012, p. 50)

Existem ainda pontos que podem localizar-se fora da curva de possibilidade de produção, tais como o ponto H, descrito na ilustração. Estes pontos são inatingíveis, já que envolvem uma combinação da elevação de dois produtos, em que a empresa não poderá produzir por ter os fatores de produção e tecnologias necessários. Estes pontos localizados para além da curva de possibilidade de produção serão alcançados somente se houver um aumento de tecnologia, fatores produtivos, ou ainda, por meio de inovação tecnológica que possa vir a viabilizar uma maior produção de determinado produto. No caso da empresa, um exemplo

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

de aumento de produtividade por meio de tecnologia, ou ainda por meio da aquisição de novas máquinas e equipamentos que possibilitem mais rapidez nas atividades e uma maior produtividade na empresa poderiam alcançar o ponto H (PASSOS; NOGAMI, 2012).

3 A CURVA DA POSSIBILIDADE EM NÍVEL DE UMA ECONOMIA

Até agora trabalhamos com a curva de possibilidade de produção em um exemplo hipotético de uma empresa do ramo têxtil, com fatores de produção e tecnologia e que hipoteticamente trabalha-se com a produção de apenas dois bens, o que resultaria em uma determinada curva de possibilidade de produção, como vimos acima. Agora, veremos como se comporta a curva de possibilidade de produção em nível de sociedade.

Em uma economia de mercado não se produzem apenas duas mercadorias, como no exemplo hipotético de uma empresa que produz apenas toalhas e cobertores. Sabemos que são produzidos diariamente milhares de produtos, desde que estes contenham os fatores produtivos necessários. Já estudamos também que lidamos diariamente com escolhas e com o problema da escassez, sabemos que os recursos são escassos e estes serão distribuídos entre inúmeras possibilidades de produção de bens e serviços em uma determinada sociedade. Assim surge o dilema da ciência econômica mais uma vez, a escolha! Para simplificar o entendimento, estudaremos uma economia hipotética que produza apenas dois bens econômicos: alimentos e automóveis.

Vamos imaginar que essa sociedade tenha disponível uma quantidade fixa de fatores de produção, uma quantidade fixa de trabalhadores e uma quantidade fixa de empresas e instrumentos necessários à produção (terra, trabalho, capital etc.). Quanto ao grau de conhecimento e à tecnologia, este permanecerá constante, sendo imutável durante nossa análise. Vamos supor também que a mão de obra empregada e os demais fatores produtivos podem ser empregados na produção de alimentos e na produção de automóveis em diferentes combinações de ambos (PASSOS; NOGAMI, 2012).

No quadro, segue um exemplo das possibilidades de produção de alimentos e automóveis na economia em questão.

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TÓPICO 3 | CURVAS DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO

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QUADRO 5 – POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO DE UMA ECONOMIA HIPOTÉTICA

ALTERNATIVAALIMENTOS (EM

MILHÕES DE TONELADAS)

AUTOMÓVEIS (UNIDADES)

CUSTO DE OPORTUNIDADE

A 0 500 50B 1 450 100C 2 350 150D 3 200 200E 4 0

FONTE: Adaptado de Passos e Nogami (2012, p. 53)

Se fossem empregados todos os recursos disponíveis na produção de automóveis, obteríamos um total máximo de 500 unidades. Assim, a produção de alimentos seria igual a zero, já que todos os fatores produtivos estariam voltados para a produção de automóveis e a produção de alimentos ficaria inviável. Se observarmos o quadro, isso aconteceria no ponto A.

No caso contrário, se voltássemos todos os recursos produtivos para a produção de alimentos, a produção desta economia hipotética seria de 4 milhões de toneladas de alimentos, em contrapartida, a produção de automóveis ficaria igual a zero, pois todos os fatores de produção estariam alocados para a produção dos alimentos. Esta alternativa se daria no ponto E do quadro acima, com a produção de 4 mil toneladas de alimentos e nenhuma unidade de automóveis.

Por outro lado, poder-se-ia trabalhar com as demais combinações dos dois bens, alocando parte dos recursos produtivos para a produção de alimentos e também de automóveis, o que geraria várias alternativas de produção, como as descritas em B, C e D no quadro acima, por exemplo. O ponto G apenas será alcançado se houver um aumento na produção ou a implementação de uma tecnologia que permita o aumento da produtividade, a exemplo do ponto H da empresa têxtil (PASSOS; NOGAMI, 2012).

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

GRÁFICO 4 – CURVA DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO DE UMA ECONOMIA

FONTE: Adaptado de Passos e Nogami (2012)

A representação gráfica da curva de possibilidade de produção de uma sociedade que hipoteticamente produz dois bens – alimentos e automóveis – dar-se-ia da forma demonstrada, sendo que o eixo horizontal representa a produção de alimentos e o eixo vertical representa a produção de automóveis.

Como vimos anteriormente, no exemplo da empresa, o custo de oportunidade apresenta-se também em termos de uma sociedade. Conforme o exemplo que estamos utilizando, em uma sociedade produtora de automóveis e alimentos, para produzir mais alimentos deve-se abdicar uma parte da produção de automóveis, para que assim possam alocar mais fatores de produção para a produção de alimentos. Estamos novamente frente a frente com o custo de oportunidade. Observa-se ainda que os custos de oportunidade podem ser crescentes, quando uma sociedade sacrifica quantidades cada vez maiores de um bem para aumentar a produção de outro bem. Este custo de oportunidade está representado no gráfico nos pontos 100, 150 e 200. Cada vez que a sociedade deseja produzir mais toneladas de alimentos, ela terá que sacrificar a produção de automóveis.

3.1 ALTERAÇÕES NA CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO

As alterações na curva de possibilidade que localizam-se à direita da curva de possibilidade de produção, neste caso o ponto G, não eram possíveis de serem alcançadas, dada a condição tecnológica e a disponibilidade limitada de fatores de produção. Todavia, podem ocorrer mudanças quanto à capacidade de produção, devido a diferentes fatores ao longo do tempo, como um aumento de inovações

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TÓPICO 3 | CURVAS DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO

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tecnológicas. Neste ponto ocorrerá um aumento nas instalações e no número de fábricas, de trabalhadores e instrumentos de produção, entre outros, que vão determinar a mudança e o aumento da possibilidade de produção da economia que se dá por meio de constantes inovações tecnológicas. A curva de possibilidade de produção deslocar-se-á para a direita, como podemos observar no gráfico a seguir.

GRÁFICO 5 – DESLOCAMENTO DA CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO

FONTE: Adaptado de Passos e Nogami (2012, p. 56)

Como podemos visualizar, a curva de possibilidade de produção está completa no ano de 2010, operando com as suas combinações abaixo do ponto G. Já no ano de 2016, a curva alcança o ponto G. Esta mudança na curva de possibilidade de produção ocorre devido aos progressos tecnológicos, invasões implementadas pela empresa que possibilitem o aumento da produtividade. No caso da produção de automóveis, a inovação tecnológica tem papel fundamental. A introdução de novas tecnologias e o aperfeiçoamento das linhas de montagem podem causar mudanças na curva de possibilidade de produção. Assim, como a questão da produção de alimentos, que podem ser por meio de fertilizantes ou mesmo tecnologias que possibilitem uma maior produtividade de determinada cultura por hectares, causando assim, um aumento na produtividade deste bem.

Na produção dos dois bens, automóveis e alimentos, poderá ocorrer mudanças na curva de possibilidade de produção de ambos. Todavia, a inclinação será maior naquele bem em que as possibilidades de produção forem mais favoráveis na direção de um bem do que na de outro (PASSOS; NOGAMI, 2012).

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

GRÁFICO 6 – DESLOCAMENTO DA CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO FAVORÁVEL À PRODUÇÃO DE ALIMENTOS

FONTE: Adaptado de Passos e Nogami (2012, p. 57)

No gráfico acima ocorre um caso em que o progresso tecnológico foi mais favorável para a produção de alimentos do que automóveis, por exemplo. Partimos agora para o último ponto deste tópico sobre a curva de possibilidade de produção.

3.2 ALTERAÇÕES NA CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO: O CRESCIMENTO E O DILEMA ENTRE A ESCOLHA ENTRE BENS DE CONSUMO E BENS DE CAPITAL

Nós já vimos que a produção de bens e serviços tem a finalidade de atender às necessidade ilimitadas das pessoas, são os bens de consumo, mas não produzem somente para as pessoas, são produzidos também bens com a finalidade de produzir outros bens, estes são os chamados bens de capital. Todavia, sabe-se que as instalações, as máquinas e equipamentos, assim como os demais bens de produção sofrem depreciação, deterioram-se à medida que são utilizados na produção ao longo do tempo. De modo que faz-se necessária a produção de mais bens de capital com a finalidade de substituir aqueles já desgastados, a fim de manter a capacidade produtiva. Para compreendermos melhor a situação, observe o caso no gráfico a seguir:

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TÓPICO 3 | CURVAS DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO

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GRÁFICO 7 – CURVA DE POSSIBILIDADE DE PORDUÇÃO ENTRE BENS DE CONSUMO E BENS DE CAPITAL

FONTE: Adaptado de Passos e Nogami (2012, p. 58)

No gráfico acima, no eixo horizontal estão representados os bens de consumo, e no eixo vertical os bens de capital. O ponto A refere-se ao ano de 2010 e representa uma situação atípica, na qual são utilizados todos os recursos na produção unicamente de bens de capital. Neste ponto, a economia produz muitas máquinas e equipamentos para a utilização em fábricas e não produz nenhum bem de consumo, o que não é interessante para a maior parte da população, já que esta tem demanda por bens de consumo (como roupas, alimentos, eletrônicos etc.).

Já o ponto B representa outra situação atípica, todos os fatores de produção estão alocados para a produção de bens de consumo. Neste ponto, a produção de bens de consumo tem função de atender às demandas da população. O que acontece neste ponto é que somente produz-se bens de consumo e nenhum bem de capital está sendo produzido. Esta situação atípica também não é interessante em termos de uma sociedade, pois com o passar do tempo as máquinas, equipamentos e instalações vão ficando obsoletas e desgastadas, e necessitam ser substituídas por outras para que a capacidade produtiva não fique ociosa. Pois, se ocorre a defasagem das máquinas e equipamentos e se não houver a substitução, isto acarretará em consequências, como um declínio na produção também de bens de consumo, causando uma diminuição no atendimento das necessidades das pessoas. Portanto, o ideal, em uma economia, é que não ocorra nenhuma dessas situações extremas, já que quem sentirá as consequências será toda a sociedade.

Fica claro, portanto, que uma sociedade, além de produzir bens de consumo e também bens de capital, não serve só para substituir eventualmente os equipamentos obsoletos, mas também para manter e ampliar a capacidade produtiva de uma economia. No ponto C do gráfico, indica que nesta economia está se produzindo bens de consumo e bens de capital. Este ponto permitirá a produção de máquinas e equipamentos e a produção de bens de consumo, o que seria o

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

ponto ideal. No ano de 2016 ocorre um deslocamento da curva de possibilidade de produção para a direita, alcançando o ponto D, aí pode-se observar que houve um aumento na possibilidade de produção tanto dos bens de capital como dos bens de consumo. Fica claro que é necessário um sacrifício no consumo presente para que no futuro se ampliem as possibilidades (PASSOS; NOGAMI, 2012).

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• A curva de possibilidade de produção ilustra graficamente a escassez dos fatores de produção e cria um limite para a capacidade produtiva de uma empresa, país ou sociedade.

• O custo de oportunidade significa o sacrifício de deixar de produzir um bem para produzir mais de outro bem.

• Estudamos a curva de possibilidade de produção em uma sociedade hipotética com a produção de apenas dois bens, automóveis e alimentos, e observamos suas várias possibilidades de produção com auxílio do gráfico e da curva.

• Além disso, estudamos também as mudanças na curva de possibilidade de produção que ocorrem devido ao aumento nas instalações e no número de fábricas, de trabalhadores e pelas inovações tecnológicas.

• As consequências que ocorrem em uma economia, entre optar pela produção apenas de bens de consumo ou somente de bens de capital. Vimos que o ponto ótimo se situa quando a economia consegue produzir ambos os bens para atender à sociedade.

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1 Um conceito importante em economia refere-se ao custo de oportunidade, já que faz referência à relação básica entre o problema da escassez e a escolha dos agentes econômicos. Com base no que vimos, disserte sobre este conceito.

AUTOATIVIDADE

2 A ciência econômica se preocupa com o problema da escassez. Dessa maneira, podemos dizer que a economia é a ciência das escolhas, afinal, busca-se satisfazer as inúmeras necessidades das pessoas, com a disponibilidade limitada de recursos. Com base nestes pressupostos, surge um conceito importante, relacionado à curva de possibilidade de produção. Disserte sobre ele.

3 Neste tópico, estudamos a curva de possibilidade de produção e suas aplicações. Com base nos estudos sobre este tema, explique por que em uma economia deve-se produzir tanto bens de consumo como bens de capital, e quais são as consequências de produzir apenas um dos bens.

4 Estudamos as alterações que podem ocorrer na curva de possibilidade de produção devido a um aumento na capacidade produtiva. Estas alterações ocorrem por diferentes fatores. Explique em que situações ocorrem essas alterações na curva de possibilidade de produção.

5 Estudamos, neste tópico, casos nos quais a empresa pode estar operando abaixo da sua capacidade produtiva. Explique em que situação isso ocorre.

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TÓPICO 4

FUNCIONAMENTO DE UMA ECONOMIA DE

MERCADO

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Prezado acadêmico, bem-vindo ao Tópico 4! Neste tópico, nosso objetivo será conhecer o funcionamento de uma economia de mercado. Como acontece a inter-relação entre os agentes econômicos? Como se dá a remuneração dos fatores de produção? Qual sua relação com o mercado? De que forma interferem na economia como um todo?

No Tópico 1 desta unidade, conhecemos os agentes econômicos que compõem uma economia, lembra-se? São as famílias, as empresas, o governo e o resto do mundo. Estes agentes econômicos relacionam-se entre si no mercado. Na ciência econômica, isso pode ser resumido por meio de fluxos, esquemas que demonstram o funcionamento de uma economia de forma simplificada.

Quando se fala em “fluxo circular da renda de uma economia”, parece soar estranho de início, mas trata-se de algo simples. Se prestarmos atenção na nossa rotina mensal, ou até mesmo diária, praticamente tudo o que compramos ou vendemos se realiza por meio de transações de compra e venda de mercadorias e de serviços. Isso, de forma simplória, é o fluxo das atividades econômicas, que nada mais é do que as atividades que realizamos diariamente. São tão costumeiras que fazemos de forma automática e não refletimos sobre a mesma. O fluxo circular da renda busca ilustrar de forma simples como os indivíduos, as famílias, as empresas e o resto do mundo transacionam entre si. É importante que você os compreenda, pois na macroeconomia serão aprofundadas as relações entre os agentes econômicos (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

2 O FLUXO REAL DA ECONOMIA

O primeiro e mais simples fluxo real da economia consiste em uma economia hipoteticamente simples e composta apenas por dois agentes: as famílias e as empresas. Nesse esquema, as famílias são detentoras de força de trabalho e dos fatores produtivos que oferecem para as empresas, já as empresas, para fazer sua produção de bens e serviços, necessitam de mão de obra. Assim, as empresas remuneram as famílias pela mão de obra e fatores de produção oferecidos na forma de salários. Com os salários as famílias adquirem poder de compra, indo ao mercado e comprando os bens e serviços dos quais necessitam que são ofertados pelas empresas. Esta é a relação mais básica de uma economia, representada na figura a seguir:

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

FIGURA 5 – FLUXO REAL DA ATIVIDADE ECONÔMICA

FONTE: Adaptado de Passos; Nogami (2012) e Vasconcellos; Garcia (2004)

No fluxo real da economia acontece um movimento dos recursos produtivos de bens e serviços entre dois agentes econômicos, as famílias e as empresas. Nesse caso, a relação de troca entre ambos é dupla, quer dizer que um depende do outro. As famílias ofertam mão de obra e fatores de produção, as empresas, por outro lado, demandam contratar mão de obra, além de matérias-primas e insumos para a produção de bens, serviços e mercadorias que serão disponibilizadas no mercado. Em troca de ofertar a mão de obra às empresas, as famílias recebem a remuneração pelo trabalho na forma de salários, ou ainda, no caso de possuírem terras, recursos naturais e terrenos, receberão como rendimento os aluguéis, mas isso já está relacionado com o fluxo monetário que veremos na sequência (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

3 O FLUXO MONETÁRIO

O fluxo monetário são todas as transações financeiras que acontecem entre os agentes econômicos. Toda vez que um serviço, um bem ou uma mercadoria é passada de um agente para outro, é efetuado o pagamento por meio de moeda que media as trocas. É só pensar nas nossas transações diárias, por exemplo, você trabalha para determinada empresa, que no final de cada período tem o compromisso de pagar seu salário, que vem a ser a sua remuneração que lhe permite ir ao mercado e comprar os bens, mercadorias e serviços dos quais necessita (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

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TÓPICO 4 | FUNCIONAMENTO DE UMA ECONOMIA DE MERCADO

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FIGURA 6 – FLUXO MONETÁRIO

FONTE: Adaptado de Passos; Nogami (2012) e Vasconcellos; Garcia (2004)

Assim, o fluxo monetário busca demonstrar como se dá a remuneração entre os agentes, nesse caso, as famílias e as empresas. A remuneração paga às famílias, na forma de salários, criam a renda e o poder de compra e consumo pelas famílias. As famílias, por sua vez, têm necessidades que são ilimitadas e que são satisfeitas pelo consumo de mercadorias na forma de bens e serviços. Essas mercadorias são produzidas pelas empresas, as quais são adquiridas pelas famílias por meio de pagamentos.

É importante frisar que o fluxo monetário da economia só se torna possível com a presença de moeda (meio de troca/reserva de valor), que é utilizada para remunerar os fatores de produção e para pagar os bens e serviços. Identifica-se além do fluxo real da economia que representa, por um lado, o envio dos recursos produtivos das famílias para as empresas, e por outro lado, o envio das mercadorias (bens e serviços) das empresas para as unidades familiares. De forma resumida, o fluxo monetário envolve o pagamento de bens e serviços por parte dos compradores, às empresas, e a consequente remuneração dos fatores de produção, às famílias (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Você consegue perceber como a economia está no nosso cotidiano em praticamente todas as atividades que desenvolvemos? Todos estamos inseridos nos fluxos da economia em quase tudo o que compramos, por exemplo, as atividades mais simples do nosso cotidiano, como ir à padaria comprar pão, ir ao mercado, pagar a mensalidade da faculdade, entre outros.

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

4 FLUXO CIRCULAR DA RENDA

Vimos até agora o fluxo real e o fluxo monetário de uma economia. No próximo ponto, vamos compreender como ocorre a interligação entre o fluxo real e monetário, que resulta no que se conhece em economia, como o fluxo circular da renda. Primeiramente, trazemos o fluxo circular da renda em uma economia fechada, e posteriormente, um exemplo de uma economia aberta e com governo.

4.1 FLUXO CIRCULAR DA ATIVIDADE ECONÔMICA FECHADA SEM GOVERNO

O fluxo circular da renda, representado na figura a seguir, surge da interligação dos fluxos reais e dos fluxos monetários de uma economia e busca demonstrar a forma como ela se movimenta e como os agentes transacionam entre si.

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TÓPICO 4 | FUNCIONAMENTO DE UMA ECONOMIA DE MERCADO

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FIGURA 7 – FLUXO CIRCULAR DA RENDA DE UMA ECONOMIA FECHADA SEM GOVERNO

FONTE: Disponível em: <https://financasfaceis.files.wordpress.com/2010/03/fluxo_renda2.png>. Acesso em: 5 jan. 2017.

O fluxo circular da renda ilustra de forma simplificada como em uma economia de mercado ajusta os preços à oferta e à demanda das famílias e a oferta e a demanda das empresas. Neste fluxo, são dois agentes econômicos que transacionam entre si: as famílias e as empresas. E são dois mercados que compõem este fluxo: o mercado de bens de consumo e serviços e os recursos produtivos.

Ao observarmos a parte de cima do fluxo, as famílias anseiam em satisfazer as suas necessidades, as quais serão atendidas pela aquisição de diferentes bens, produtos e serviços. Isso é a procura das famílias por atender as suas diferentes necessidades. É só pensarmos em nós mesmos, do que geralmente temos necessidades? São alimentos, roupas, serviços médicos etc. De outro lado, os

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

serviços que uma família pode comprar depende muito de sua renda. Assim, quanto maior for a renda da família, mais bens, produtos e serviços ela poderá comprar. Já as empresas têm como finalidade maximizar os seus lucros, fazem isso colocando bens, produtos e serviços no mercado para que as famílias possam adquirir.

Por meio desta relação entre a oferta e a procura, tem-se a formação dos preços em economias de mercado (lembra-se do Tópico 2?). É por meio das quantidades demandadas de determinado produto que o empresário vai saber se deve produzir mais ou menos de um determinado bem. É a solução do problema econômico: “o que produzir”! Assim, cria-se um fluxo real (no esquema, observe a flecha vermelha) de bens, produtos e serviços das empresas para as famílias. E de outro lado, cria-se um fluxo monetário (no esquema, a flecha azul) das famílias para as empresas como pagamentos pelos produtos comprados (PASSOS; NOGAMI, 2012).

A parte de baixo do esquema do fluxo circular da renda mostra como se formam os preços dos recursos produtivos no mercado de fatores de produção. Neste caso, as famílias são proprietárias dos recursos de produção e os ofertam no mercado de fatores de produção. As famílias ofertam terra, trabalho, capital, capacidade empresarial. As empresas estão no mercado justamente demandando estes recursos de produção. Assim, novamente temos uma relação de oferta e demanda, agora invertido na parte de cima do fluxo, de modo que as famílias ofertam e as empresas demandam.

Neste ponto do fluxo se dará a formação dos preços que vai assinalar aos produtores a outra questão econômica fundamental a ser solucionada: “como produzir”. Tem-se um fluxo real de recursos das famílias para as empresas. As empresas, ao comprarem os recursos produtivos, vão pagar as famílias em unidades monetárias na forma de salários, aluguéis, juros e lucros, o que resulta num fluxo monetário das empresas para as famílias (PASSOS; NOGAMI, 2012; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Sobre o fluxo circular da renda, assista ao vídeo disponível no link: <https://www.youtube.com/watch?v=glSmM4dqhK0>.

4.2 FLUXO CIRCULAR DA ATIVIDADE ECONÔMICA DE UMA ECONOMIA ABERTA

No subtópico anterior, estudamos o fluxo circular da renda em uma economia sem governo. Agora estudaremos o fluxo de uma economia aberta. Abordaremos, também, a presença de um terceiro agente na economia: o governo.

DICAS

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TÓPICO 4 | FUNCIONAMENTO DE UMA ECONOMIA DE MERCADO

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Nesta situação, temos três agentes econômicos ofertando e demandando bens e serviços. E são novamente dois mercados que compõem este fluxo: o mercado de bens de consumo e serviços e os recursos produtivos. Você já estudou o fluxo circular da renda entre as famílias e as empresas no tópico anterior, a diferença é que agora o governo aparece como o terceiro agente econômico.

FIGURA 8 – FLUXO CIRCULAR DA RENDA MODELO COM GOVERNO

FONTE: Adaptado de Passos; Nogami (2012) e Vasconcellos; Garcia (2004)

Como vimos, as famílias precisam atender as suas necessidades, e para isso vão ao mercado de bens e serviços nos quais as empresas ofertam os bens. De outro lado, as empresas demandam no mercado de fatores de produção os quais as famílias são proprietárias. Assim, as empresas efetuam o pagamento às famílias por meio de recursos monetários, e as famílias, com esta renda, podem ir ao mercado de bens consumir os produtos e serviços dos quais necessitam para satisfazer suas necessidades (novamente ocorre o fluxo real representado no esquema pela flecha preta e o fluxo monetário representado pela flecha vermelha). Neste caso, ainda uma parte da renda das famílias vai ser destinada ao pagamento de impostos ao governo. Estes tributos serão utilizados para financiar gastos no mercado de fatores e no mercado de bens.

Em uma economia com governo, este também demanda recursos ou fatores de produção. São os serviços que o governo adquire e os utiliza para produzir outros bens e serviços públicos, que podem ser: alimentação, materiais escolares, a saúde pública, as escolas, as universidades, a segurança, entre outros. Estes serviços o governo disponibiliza (oferta) para as famílias e para as empresas

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

de forma pública e gratuita. Além disso, o governo também dispõe de alguns fatores de produção como terras, que arrenda ou vende no mercado de fatores de produção.

Por outro lado, pode-se registrar os gastos do governo, que são as transferências que realiza na forma de auxílios financeiros, na forma de programas sociais, ou ainda subsídios para as empresas, lembrando que o que financia boa parte das transferências do governo são os tributos na forma de impostos e taxas (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Caro acadêmico, estudaremos mais profundamente o papel do governo na economia na unidade dedicada ao estudo da macroeconomia.

5 VAZAMENTOS E INJEÇÕES NO FLUXO DE RENDA Agora que você estudou o fluxo circular da renda com governo, vamos

avançar no estudo e entender os vazamentos e as injeções no fluxo de renda e uma economia. Os vazamentos no fluxo circular da renda correspondem à parcela da renda das famílias que não se destinam diretamente ao consumo. Podemos apontar três: a poupança (S), os impostos (T) e as importações (M). Já as injeções no fluxo circular da renda são os mecanismos que compensam estes vazamentos. São mecanismos que permitem o retorno desta renda e seu reinvestimento na economia. Vejamos melhor como isso acontece.

5.1 VAZAMENTOS NO FLUXO CIRCULAR DA RENDA – A POUPANÇA

Na teoria keynesiana a renda adquirida pelas famílias deve ser gasta com o consumo, como já vimos. Todavia, se isso não for possível, as empresas não terão como vender todos os bens e serviços (mercadorias) produzidos, o que gerará uma crise de superprodução. Nesta situação há uma diminuição das receitas, e consequentemente, dos lucros da empresa, havendo uma tendência à diminuição de seu quadro de funcionários, redução da renda da sociedade e, por consequência, diminuição do consumo. Neste caso, a economia se encontraria em um momento de retroalimentação negativa, ou um ciclo vicioso, sendo que as vendas estimulariam as demissões e essas, por consequência, novas quedas nas vendas e assim sucessivamente.

ESTUDOS FUTUROS

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TÓPICO 4 | FUNCIONAMENTO DE UMA ECONOMIA DE MERCADO

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De outro lado, é importante observar que nem todas as pessoas gastam o total da sua renda. Algumas famílias conseguem deter uma parte da sua renda como poupança. É importante observar que nos países de terceiro mundo, nos quais os salários e as rendas são baixas, o nível de poupança tende a ser reduzido. A poupança representa um vazamento de recursos do fluxo circular da renda, e esses recursos, para evitar uma crise, devem ser reinventados na economia.

5.1.1 As injeções no fluxo circular da renda provenientes da poupança

O papel de recolher os investimentos na forma de poupança é do mercado financeiro. Por meio dos bancos comerciais e demais entidades financeiras efetua-se o recolhimento dessas rendas não gastas ou poupadas. O mercado financeiro coloca esses recolhimentos à disposição dos agentes econômicos na forma de empréstimos e cobra taxas de juros pela transação.

As famílias (ou indivíduos) que têm recursos financeiros de sobra são estimulados a aplicá-los no mercado financeiro em troca de uma remuneração. É justamente por meio desse mecanismo que o mercado financeiro recolhe o que se chama de vazamentos do fluxo circular da renda, que ocorre devido a “uma sobra” nos rendimentos das famílias.

Ao recolher estes rendimentos, o mercado financeiro os oferece em forma de empréstimos, que serão utilizados por empresários para estimular os investimentos. Assim, o recurso é injetado novamente no fluxo circular da renda. Podemos observar assim a importância da poupança, no sentido de financiar os empréstimos e investimentos.

5.2 VAZAMENTOS NO FLUXO CIRCULAR DA RENDA – OS TRIBUTOS

Boa parte dos rendimentos das famílias não é gasta com consumo e também não é poupada. Uma parte considerável da renda das famílias é gasta com o pagamento de impostos ao governo. Isso representa mais um vazamento do fluxo circular da renda.

Se as famílias pudessem optar ou se não existissem os impostos, os indivíduos poderiam fazer outra coisa com este dinheiro (como comprar mais mercadorias). Caso o montante de impostos cobrados pelo governo não retornasse para a economia, alguns problemas poderiam ocorrer. Dentre eles, uma desaceleração econômica, fazendo diminuir a demanda por bens e serviços. Se isso prevalecer por um longo período, poderia acarretar numa séria recessão, e é claro, em altos níveis de desemprego.

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

5.2.1 As injeções no fluxo circular da renda provenientes dos impostos

Os impostos recolhidos pelo governo são injetados novamente no fluxo circular da renda. Depois de recolher o dinheiro das famílias e das empresas, eles são investidos na sociedade de várias formas. Por exemplo, com a realização de obras de infraestrutura, construção de escolas, universidades, investimento em saúde, entre tantas outras despesas públicas. Além disso, o governo compra insumos, é responsável pelo pagamento do funcionalismo público, realiza a transferência às famílias por meio de programas sociais e políticas públicas, paga as aposentadorias etc. Estas e outras atividades do governo se resumem a seus gastos, mas também significam injeções na economia dos recursos anteriormente retirados.

Assim, é necessário um equilíbrio tanto do volume de impostos recolhidos como de gastos do governo. Se os gastos do governo forem maiores do que a sua arrecadação, o governo (igual a qualquer pessoa) estará em dívida. Se o contrário acontecer, ou seja, se houver uma maior arrecadação do que os gastos (ou seja, se sobrar dinheiro na conta do governo) ele consegue reduzir a sua dívida (se ele tiver alguma).

5.3 VAZAMENTOS NO FLUXO CIRCULAR DA RENDA – AS IMPORTAÇÕES

Além da poupança e dos impostos, existe outro vazamento do fluxo circular da renda: os gastos das famílias com as mercadorias importadas. A compra de mercadorias produzidas fora do país favorece a produção naquele determinado país e desestimula a produção no país de domicílio. Importando produtos, o indivíduo envia parte da sua renda para o exterior. Por outro lado, se a demanda por mercadorias importadas for muito grande, é possível que a demanda por mercadorias nacionais caia e algumas empresas quebrem.

5.3.1 As injeções no fluxo circular da renda proveniente – caso das importações

Para este vazamento, o governo dispõe de injeções de recursos. Nesse caso, existem as injeções de recursos no fluxo circular da renda que decorrem das exportações. Quando determinado país exporta mercadorias, ele atrai renda externa. Essa renda estimulará a demanda agregada e provocará um aquecimento na atividade econômica dentro do país.

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TÓPICO 4 | FUNCIONAMENTO DE UMA ECONOMIA DE MERCADO

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Por outro lado, se o volume de exportações for muito maior que o de importações, a tendência é ocorrer inflação, devido ao fato de que a produção nacional poderá não dar conta de suprir a elevação no consumo interno, que se originarão do excesso de renda resultantes das exportações. A seguir, podemos analisar um resumo do fluxo circular da renda, dos respectivos vazamentos e injeções.

FIGURA 9 – FLUXO CIRCULAR DA RENDA COM OS VAZAMENTOS E AS INJEÇÕES

FONTE: Adaptado de Froyen (2001) e Passos; Nogami (2012)

Conforme ilustrado no esquema acima, os vazamentos do fluxo circular da renda são três: a poupança (S), os impostos (T) e as importações (M). Depois de estudar até aqui, você ainda pode se perguntar como isso acontece, ou como na prática acontecem os vazamentos no fluxo de renda. Imaginemos que o seu salário seja R$ 3.000,00. Segundo a premissa keynesiana, para que a economia funcione de forma equilibrada, você deveria gastar todo o seu salário, certo?

Todavia, você sabe que parte do seu salário será retido em forma de impostos (pagamento de imposto de renda e contribuição previdenciária, por exemplo). Suponhamos que o valor gasto com isso seja de R$ 200,00. Assim, seu salário real será de R$ 2.800,00, que foi o que sobrou após ter pago os tributos.

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

Além disso, você pode optar por guardar parte do seu salário na poupança. Suponhamos então, que você guarde mais R$ 200,00 mensais, pois deseja comprar um automóvel no futuro. Tomando esta decisão, você estará optando por não consumir ou não gastar parte da sua renda. Seu salário, que era de R$ 3.000,00, agora é de R$ 3.000,00 – 200,00 – 200,00.

Com dinheiro sobrando, você decide comprar um computador. Acontece que ele é importado da China. Digamos que você parcelou sua compra, cuja parcela é de R$ 200,00 mensais. Temos então, um gasto com importação no valor de R$ 200,00 (por mês). Essa parte do seu salário não está sendo gasta dentro do país de origem, mas sim, no exterior.

No final das contas, do seu salário inicial sobrou R$ 2.400,00 para gastar com bens e serviços na economia de seu país. O restante (impostos + poupança + importação) corresponde a vazamentos no fluxo de renda.

Imagine que muitas pessoas fizeram transações parecidas com a sua. Então, teremos um valor bem maior de vazamento no fluxo de renda. Se não for feito nada para corrigi-los, a economia nacional poderá enfrentar alguns problemas relacionados à desaceleração: muitas empresas encontrarão problemas para vender seus bens e serviços, e possivelmente terão de reduzir a produção. Isso poderá ocasionar desemprego.

Para que isso não aconteça, o governo cria mecanismos ou gastos que compensem cada um dos vazamentos. Isso denomina-se injeções na economia. Conforme a ilustração acima, pode-se observar que as injeções são constituídas por investimentos (I) que visam compensar a poupança, os gastos do governo (G) que compensam a arrecadação de impostos (T) e as exportações (X) que têm a finalidade de se igualar às importações (M). Tudo isto para que a economia se mantenha equilibrada.

Acabamos de ver como é importante o governo no fluxo da renda. Essa gestão de injetar novamente os vazamentos é dinamizada por meio da gestão das políticas econômicas feitas pelo governo, que iremos aprofundar na Unidade 3 deste caderno.

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RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você aprendeu que:

• Como ocorre o funcionamento de uma economia de mercado por meio do fluxo real, fluxo monetário e fluxo circular da renda, além disso, estudamos os vazamentos e injeções do fluxo circular da renda.

• Os fluxos acontecem por meio da relação dos agentes econômicos e se dá no

mercado.

• O fluxo real da economia é o mais simples dos fluxos e é composto por famílias e empresas, qual as famílias ofertam os fatores de produção no mercado e as empresas demandam.

• No fluxo monetário, estudamos como acontecem as remunerações dos agentes econômicos. O fluxo monetário representa o envio de recursos financeiros das empresas para as famílias. As familias, com a remuneração, têm poder de consumo para a compra de bens de consumo produzido pelas empresas e disponibilizados no mercado pelas mesmas.

• O fluxo circular da renda surge da interligação dos fluxos reais e dos fluxos monetários de uma economia e busca demonstrar a forma como ela se movimenta e como os agentes transacionam entre si.

• Os vazamentos no fluxo circular da renda correspondem à parcela da renda das famílias que não se destinam diretamente ao consumo. Podemos apontar três: a poupança (S), os impostos (T) e as importações (M).

• As injeções no fluxo circular da renda são os mecanismos que compensam estes vazamentos e são feitos por meio de investimentos, gastos do governo e exportações.

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AUTOATIVIDADE

1 Ao analisar o funcionamento de uma economia de mercado fechada e sem governo, observa-se o fluxo real e monetário. Ambos os fluxos buscam ilustrar como ocorrem as interligações entre os agentes econômicos em uma economia. Com base nisso, explique como se dá o funcionamento destes fluxos em uma economia.

2 Em uma economia, o fluxo circular da renda surge da interligação dos fluxos reais e dos fluxos monetários. Sua finalidade é demonstrar a forma como se movimenta determinada economia e como os agentes econômicos transacionam entre si. Com base no que você estudou, explique o funcionamento do fluxo circular da renda.

- Em uma economia fechada:

3 No fluxo circular da renda acontecem os chamados vazamentos, que correspondem à parcela da renda das famílias que não se destinam diretamente ao consumo. Descreva quais são os vazamentos e o que se pode fazer para compensá-los.

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TÓPICO 5

A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO

ECONÔMICO

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Prezado acadêmico, neste Tópico 5 vamos estudar a evolução do pensamento econômico, estudaremos desde a pré-história, antiguidade clássica e Idade Média, passando pelas ideias mercantilistas e fisiocratas, posteriormente à escola clássica, marxismo, keynesianismo e os economistas pós-keynesianos. Bons estudos!

2 PRÉ-HISTÓRIA E ANTIGUIDADE CLÁSSICA

A rigor, não se pode admitir a existência de um pensamento econômico até o fim da Idade Média. Até então, a economia era tão pouco relevante que não exigia pensar-se sobre ela. Mesmo assim, reconhece-se que, entre outros, Aristóteles na Grécia Antiga, e Santo Agostinho e São Tomás de Aquino na Idade Média, referiram-se a temas econômicos.

Algumas ideias econômicas fragmentárias apareceram na antiguidade grega, mas ligavam-se à política e à filosofia. Aliás, foram os gregos os primeiros a utilizarem a palavra oikonomia. Porém, não representou um pensamento econômico mais elaborado, já que se tratava de conhecimentos práticos de administração doméstica.

Caro acadêmico, o termo oikonomia provém do grego e significa “cuidado com a casa”: oikos equivale à casa e nomos é o mesmo que cuidado.

Entre os romanos, algumas preocupações econômicas também tiveram lugar, mas como ocorreu com os gregos, não chegou a representar um pensamento econômico geral. Mesmo que as trocas fizessem parte de sua organização social, a preocupação dos romanos ligava-se à política.

NOTA

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

3 IDADE MÉDIA

Ainda na Idade Média, principalmente entre os séculos XI ao XIV, a atividade econômica, as trocas regionais e inter-regionais foram ganhando cada vez mais força. As trocas se generalizaram, surgiram as corporações de ofício, a divisão entre campo e cidade se acentuou, entre outras características.

Podemos dizer que o pensamento medieval tinha um caráter prático e dependente da moral cristã. Neste sentido, a igreja procurava moralizar todas as ações das pessoas. E o mesmo ocorria com a prática econômica. Neste período, esta instituição reconheceu a dignidade do trabalho, condenou as taxas de juros (usura), pregou o “justo preço”, a moderação e o equilíbrio dos atos econômicos.

4 MERCANTILISMO

O mercantilismo foi uma doutrina econômica que surgiu entre o fim da Idade Média e a época de triunfo do laissez-faire, portanto, entre 1500 e 1770, época de expansão comercial e marítima de nações europeias. Podemos apresentar como seus representantes, Jean-Baptiste Colbert (1619-1683) e Sir William Petty (1623-1687). A grande preocupação destes pensadores era entender como tornar uma nação mais rica.

FIGURA 10 – REPRESENTANTES DO MERCANTILISMO

FONTE: Disponível em: <http://history.info/on-this-day/1619-jean-baptiste-colbert-the-minister-who-tried-to-increase-his-countrys-wealth/>; <http://alchetron.com/William-Petty-1072258-W>. Acesso em: 5 jan. 2017.

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TÓPICO 5 | A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO

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Os mercantilistas consideravam que a riqueza de uma nação provinha da acumulação de metais preciosos: ouro e prata. Estes teriam origem, em grande parte, no comércio externo, mais precisamente, nos saldos que um país acumulava metais preciosos recorrente das trocas comerciais de bens com outros países. Podemos dizer que esta é a base do pensamento mercantilista. Por isso mesmo, a fim de aumentar o estoque de metais preciosos, defendiam um maior estímulo ao comércio exterior por meio de uma balança comercial favorável.

O contexto histórico do surgimento do mercantilismo foi marcado pela desintegração do feudalismo e pela formação do capitalismo mercantil, como já dissemos, entre o século XVI e fins do século XVIII. Em resumo, podemos destacar as seguintes transformações ocorridas neste período histórico:

I. Transformações intelectuais: foi um período de mudanças na forma de se pensar o mundo. O método científico (ligados à observação e à experiência) tomava o lugar das antigas maneiras de explicar a realidade, as produções artísticas e literárias se modificaram, entre tantas outras.

II. Transformações religiosas: cresceu o processo de laicização do pensamento, ganharam maior evidência os argumentos que exaltavam o individualismo, até restrições a algumas práticas econômicas (como a cobrança de juros e o lucro) perderam força.

III. Transformações no padrão de vida: os padrões de vida da população também se modificaram. A preocupação com o material, pelo desejo de bem-estar difundiram-se (melhor alimentação, casas confortáveis, viagens, troca de experiências).

IV. Transformações políticas: neste período houve o aparecimento do Estado moderno, que coordenava os recursos materiais e humanos e que foi aglutinador das forças da nobreza, do clero, dos senhores feudais, da burguesia.

V. Transformações geográficas: a navegação e seu aprimoramento permitiram a descoberta de “novos mundos” (Américas, por exemplo).

VI. Transformações econômicas: todas as mudanças também se refletiram no aumento do afluxo de riquezas, surgiram novos centros de comércio, cidades se avolumavam, intensificou-se o processo de exploração das colônias, ente outros.

O mercantilismo surgiu como uma doutrina capaz de substituir os preceitos feudais, promover o nacionalismo, dar importância aos mercadores, e ainda, justificar a política de expansão marítima e militar, característica desta época histórica.

Resumidamente, podemos destacar como princípios do mercantilismo

IMPORTANTE

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

FONTE: Os autores

Embora o mercantilismo não se configure como uma análise científica dos fenômenos econômicos, alguns de seus preceitos foram importantes para as posteriores formulações do pensamento econômico. Dentre estes preceitos, a preocupação por uma análise estatística dos problemas econômicos, a análise sobre as funções da produção e dos riscos assumidos pelos empresários nas tentativas de explicitar o circuito econômico, no método empirista e nos preceitos de administração pública (proibição da saída de metais preciosos, da entrada de mercadorias estrangeiras, intervencionismo na indústria, protecionismo etc.).

5 FISIOCRACIA

A Fisiocracia foi uma doutrina econômica liberal que teve seu auge no século XVIII. Formulou, pela primeira vez, de maneira sistemática e lógica, uma teoria do liberalismo econômico. Mais precisamente, apareceu na França no final da época mercantilista, tendo seu início determinado em 1756. A escola fisiocrata durou pouco e já em 1776 havia perdido muita força, principalmente com o advento das ideias que viriam a ser a base do pensamento econômico clássico.

• Acumulação de ouro e prata como fonte da riqueza. As nações deveriam promover ações que permitissem a acumulação destes metais.

• O nacionalismo. Era preciso uma nação poderosa, aglutinadora de forças. A nação deveria promover exportações e acumular riquezas as custas de seus vizinhos. Isso implicava em militarismo, dominação de rotas comerciais, captura de colonias.

• O comércio exterior e protecionismo. O comércio exterior deeria ser estimulado, por meio da balança comercial favorável. Internamente, era preciso proteger as matérias-primas e os bens manufaturados. Além disso, era necessária uma política capaz de restringir a saída de matérias-primas.

• O colonialismo. Defendia-se uma política de dominação e exploração de colônias e de monopólio do comércio colonial em benefício próprio, ou seja, da metrópole (Política colonial mercantilista).

• Comércio Interno e incremento da população. De certa maneira, se estimulava o comércio interno, porém, através de concessões de monopólio e privilégios comerciais. Favoreciam uma população numerosa, fornecedora de mão de obra barata e abundante. Não preocupava-se com seu bem-estar.

• Grande intervenção do Estado. As atividades econômicas tinham forte controle e direção do Estado. Este concedia privilégios de monopólios a setores ligados ao comércio externo. A livre entrada no comércio interno era restringida.

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TÓPICO 5 | A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO

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Assim como os mercantilistas, os fisiocratas queriam entender como uma nação poderia tornar-se rica. Só que para eles, a fonte das riquezas de um país estava na terra. Sem a provisão de matérias-primas da natureza não se geraria qualquer valor. Podemos ressaltar como principais representantes desta corrente de pensamento, o médico francês François Quesnay (1694-1774) e Anne-Robert-Jacques Turgot (1727-1781).

FIGURA 11 – REPRESENTANTES DA FISIOCRACIA

FONTE: Disponível em:<https://global.britannica.com/biography/Francois-Quesnay>; <http://en.chateauversailles.fr/history/court-people/louis-xvi-time/anne-robert-jacques-turgot>. Acesso em: 6 jan. 2017.

5.1 OS FISIOCRATAS – CONTEXTO

A fisiocracia surgiu como uma reação ao mercantilismo no momento histórico de muitas contradições, marcado pela dissolução dos últimos resquícios feudais e de ascensão da burguesia.

Por um lado, o comércio se consolidou, o uso de moeda (em detrimento do escambo) se generalizou, grandes cidades surgiram, as primeiras indústrias se desenvolveram, novos métodos de produção ganharam lugar, bem como a consolidação de uma classe de comerciantes – a burguesia – como protagonistas dos processos socioeconômicos.

Do outro lado, como resquícios da velha ordem sociopolítica, havia muito controle governamental sobre as atividades mercantis. As atividades econômicas (ligadas ao comércio, agricultura, indústria) eram sobrecarregadas de impostos, tarifas e pedágios. A nobreza e o clero ainda gozavam certo prestígio e se beneficiavam das riquezas geradas pela sociedade.

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

Os ideais fisiocratas ganharam força neste contexto, sendo base tanto para as reivindicações da nova classe emergente, a burguesia, quanto para a ascensão do pensamento econômico liberal.

Podemos resumir os preceitos da fisiocracia do seguinte modo:

FONTE: Os autores

6 A ESCOLA CLÁSSICA

Podemos datar o início da Escola Clássica em 1776, e seu marco foi a publicação da obra “A Riqueza das Nações”, de Adam Smith, neste mesmo ano. Este pensador é considerado uma espécie de “pai” da ciência econômica. É a partir dos estudos feitos por Adam Smith que se tem um pensamento econômico mais elaborado. Com base nisso, outros economistas irão explicar a realidade de várias formas, como mostraremos neste tópico. Dessa maneira, diferentemente do mercantilismo e da fisiocracia, podemos dizer que as premissas da Escola Clássica são precursoras da teoria econômica moderna.

• Terra (agricultura/natureza) como fonte de riqueza. Somente a agricultura era produtiva, pois criava excedentes. A indústria e o comércio eram úteis, mas, estéreis, pois reproduziam o valor consumido (matéria-prima e produtos de subsistência).

• Ideia de ordem natural. As sociedades humanas estavam sujeitas a leis da natureza. As atividades humanas deveriam estar em comunhão com estas leis.

• Intervenção mínima do Estado. Economicamente, o direito natural das pessoas era desfrutardo seu próprio trabalho. Assim, o Estado não deveria intervir nos assuntos econômicos além do mínimo: proteger a vida e a propriedade, mantento a liberade.

• Oposição às restrições feudais, mercantilistas e governamentais. Deveria existir liberdade de negócios interna e livre-comércio no exterior. Laissez-faire, laissez-passer, que significa "deixar fazer, deixar passar"

• Impostos deveriam ser cobrados apenas dos propretários de terras. Como a agricultura era a fonte de riqueza, somente os donos das terras deveriam pagar os impostos (os nobres e a igreja eram donos das terras, neste período histórico).

• Oposição ao consumo de luxo. Os fisiocratas consideravam o consumo de luxo uma barreira à acumulação de capital.

• Consideração da economia como um todo integrado. Esta premissa é bem descrita na Tableau Economique, de Quesnay. Basicamente, divide a sociedade em três classes: os proprietários de terra (nobreza e clero), os produtores (agricultores) e as "classes estéreis" (demais cidadãos). Assim, existiria uma circulação de renda entre essas três classes: proprietários e produtores compravam produtos e serviços dos demais grupos. Essa renda retornava com a negociação dos produtos agrícolas.

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TÓPICO 5 | A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO

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A doutrina clássica também é conhecida como liberalismo econômico. Sendo assim, são seus pilares: a) a liberdade pessoal; b) a propriedade privada; c) a iniciativa industrial e controle individual da empresa; d) a doutrina do laissez-faire, laissez-passer.

A expressão “laissez-faire, laissez-passer” quer dizer “deixar fazer, deixar passar”. Essa expressão era uma espécie de “palavra de ordem” do liberalismo econômico, cujo intento era a absoluta liberdade de produção de comercialização dos produtos e serviços. Surgiu ainda com os fisiocratas (século XVIII) e foi defendida primeiramente de uma forma mais radical na Inglaterra. Tal postura econômica diferia completamente daquela mercantilista. Com o advento e consolidação do capitalismo, tornou-se importante mecanismo do liberalismo econômico, no que diz respeito às críticas à intervenção do Estado na economia (SANDRONI, 1999).

Ao pensarmos em colocar um fim na supremacia desta escola, podemos citar o ano de 1871, com os trabalhos de W. Stanley Jevons e Carls Menger. Estas formulações viriam a ser conhecidas como teoria neoclássica.

Os economistas clássicos consideravam naturais as categorias como dinheiro, capital, lucro, salário, propriedade privada, entre outras, uma vez compreendidas, elas se eternizariam. Suas principais ideias devem ser entendidas em seu contexto histórico, já que ganharam corpo em meio à desestruturação do antigo regime feudal. Como vimos anteriormente, é um período de grandes transformações: culturais, religiosas, políticas, econômicas, científicas, entre tantas outras.

O liberalismo econômico expressou o ideário da burguesia no período em que ela estava na vanguarda das lutas sociais, conduzindo o processo que derrubaria o antigo regime (feudalismo). Além do mais, as ideias desta escola ganharam força no século XVIII, quando a Inglaterra assumiu a supremacia no comércio e indústria. Período este, da Revolução Industrial.

Resumidamente, são princípios da Escola Clássica:

a. Princípio do “laissez-faire, laissez-passer” e crença no autoajuste do mercado: para os economistas clássicos, o melhor governo era aquele que menos governava. Por isso, defendiam o Estado mínimo, com poucas funções e que não intervisse na economia. As forças de mercado, livre e competitivo, deveriam orientar a produção, a troca e a distribuição das mercadorias e serviços. Para estes pensadores, a economia se ajustava automaticamente e tendia ao equilíbrio.

b. Harmonia de interesses: os clássicos sustentavam que o indivíduo, ao buscar satisfazer seu próprio interesse, acaba servindo aos interesses da sociedade. Isso, é claro, em uma economia concorrencial.

IMPORTANTE

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

c. O trabalho como fonte de valor: para os clássicos, a fonte da riqueza estava no trabalho. Além disso, eles ressaltavam a importância de todas as atividades econômicas no processo de geração de riqueza: a agricultura, o comércio, e principalmente, a indústria.

d. Objetivavam a promoção do máximo crescimento e desenvolvimento econômico: isto, de certa maneira, estava associado à crença de que os indivíduos, supostamente, tinham como desejo inato acumular riquezas como um fim em si mesmo.

e. Noção da economia como um todo e regida por leis naturais: os clássicos viam a economia como um todo interligado. Além disso, acreditavam existir leis naturais que a regiam. Assim, era importante descobri-las.

f. Partiam de um método de análise: um dos grandes legados dos clássicos foi ter oferecido um método de análise da economia, bem como das leis que dela fazem parte.

6.1 PRINCIPAIS PRECURSORES DA ESCOLA CLÁSSICA: ADAM SMITH

Adam Smith é considerado o fundador da Escola Clássica e como vimos anteriormente, é tido, por muitos, como o “pai” da economia moderna. Ele nasceu em 1723, na Escócia, onde viveu quase toda a sua vida. Veio a falecer em 1790. Frequentou as universidades de Glasgow e Oxford entre 1737-1746. Lecionou em Glasgow entre 1751 e 1764. Ficou dois anos na França, entre 1764 e 1766, onde teve contato com muitos pensadores e filósofos, dentre os quais destaca-se o contato com o fisiocrata Quesnay. Em 1776 publicou sua obra mais importante: An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations – A Riqueza das Nações.

FIGURA 12 – ADAM SMITH

FONTE: Disponível em: <http://www.biography.com/people/adam-smith-9486480>. Acesso em: 6 jan. 2017.

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TÓPICO 5 | A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO

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Smith se distinguiu daqueles que trataram de temas econômicos antes dele, como os fisiocratas e os mercantilistas. Isso dada a sua formação acadêmica e pela vastidão de conhecimentos. Além do mais, elaborou um modelo abstrato completo e relativamente coerente da natureza, da estrutura e do funcionamento do sistema capitalista. Notou que havia ligações entre as principais classes sociais, entre os setores de produção, a distribuição da riqueza, da renda, o comércio, a circulação da moeda, questões relativas aos preços e ao processo de crescimento econômico das nações (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004; HUNT, 2005).

O trabalho de Adam Smith é vasto, mas podemos destacar algumas ideias:

• O trabalho como fonte das riquezas das nações.• A importância da divisão do trabalho: isso quer dizer a especialização dos

trabalhadores em uma etapa específica do processo produtivo de determinada mercadoria. A divisão do trabalho, para ele, era estimulada pela ampliação dos mercados e era um elemento gerador de aumento da produtividade, e com isso, da própria riqueza (pois o trabalhador se especializa em uma atividade, poupava-se tempo e se abria espaço para o uso das máquinas).

• A ideia da “mão invisível” e da autorregulação do mercado/economia: Adam Smith sustentava ser necessário deixar agir a livre concorrência, de modo que os agentes econômicos encontrariam o equilíbrio de maneira natural, através de uma “mão invisível”. Com esta teoria defendia que todos os agentes, na busca por lucrar ao máximo, acabavam promovendo o bem-estar de toda a sociedade. É como se uma mão invisível orientasse as ações do mercado e da economia sem a necessidade propriamente da atuação do Estado para isso. Portanto, via o mercado, única e exclusivamente, como regulador das decisões econômicas de uma nação. Uma das passagens de seu famoso livro ilustra esses pressupostos: "não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu autointeresse” (SMITH,1996, p. 22).

• A defesa do laissez-faire, laissez-passer - não intervenção do Estado: como considerava que o mercado e a economia se ajustavam automaticamente, defendia que o Estado não intervisse na economia. O Estado deveria apenas a) proteger contra-ataques externos; b) estabelecer a justiça; c) construir obras e instituições necessárias à sociedade (não lucrativas); d) emitir papel moeda; e) controlar a taxa de juros, em alguns casos.

• Enfatizava o crescimento e o desenvolvimento, que seriam ocasionados pela divisão do trabalho, pelo aumento da produtividade e pela ampliação dos mercados.

6.2 PRINCIPAIS PRECURSORES DA ESCOLA CLÁSSICA: DAVID RICARDO

Outro importante pensador da Escola Clássica da economia foi David Ricardo (1772 -1823). Filho de um rico capitalista inglês, Ricardo fez fortuna ainda jovem operando na bolsa de valores. No campo da economia política, sua obra

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

máxima foi “Princípios de economia política e de tributação”, publicada em 1817. Após Adam Smith, tornou-se a principal figura das ideias desenvolvidas pela Escola Clássica. Ele demonstrou as possibilidades da utilização do método abstrato e enfatizou temas relacionados à distribuição da renda (OSER; BLANCHFIELD, 1987; HUNT, 2005).

FIGURA 13 – DAVID RICARDO

FONTE: Disponível em: <https://historyofeconomicthought.wikispaces.com/Sabol,+Ashley+-+David+Ricardo%E2%80%99s+Influence+on+Economic+Methodology>. Acesso em: 6 jan. 2017.

É claro que o trabalho deste pensador é vasto, porém destacamos três ideias: a teoria do valor-trabalho, teoria das vantagens comparativas e a teoria da renda da terra.

• Teoria do valor-trabalho: partido das ideias de Adam Smith, Ricardo aprimorou a tese de que todos os custos se reduziriam aos custos de trabalho. Sendo assim, o valor de uma mercadoria era determinado pela quantidade de trabalho nela incorporada. E esse tempo de trabalho incluía o tempo de trabalho na elaboração do bem, acrescido do trabalho incluído nas matérias-primas, acrescido do trabalho incluído nos bens de capital.

• Teoria das vantagens comparativas: esta teoria foi elaborada a partir dos estudos de Ricardo sobre o comércio internacional. Ela consistia na demonstração de que os países deveriam se especializar na produção de bens que eram mais capazes de produzir. Mesmo que um país seja mais eficiente do que outro na produção de todos os bens, esse país deve se especializar e exportar o produto cujo custo é comparativamente o mais baixo. E da mesma maneira deve importar o que tiver o custo relativo (de produção interna) mais caro. Seguindo esta lógica, haveria vantagens para ambas as economias. Por isso, denominam-se estes preceitos de teoria das vantagens comparativas (OSER; BLANCHFIELD, 1987 ; HUNT, 2005).

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TÓPICO 5 | A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO

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• Teoria da renda da terra: com esta teoria, Ricardo considerava duas hipóteses: primeiro, que a terra tinha diferenças quanto a sua fertilidade. Dessa maneira, existiam espaços mais férteis e outros menos férteis. Portanto, o uso das terras poderia se ordenar a partir da terra mais fértil para a menos fértil. A segunda hipótese é que a concorrência sempre igualaria a taxa de lucro dos fazendeiros capitalistas, que arrendavam as terras dos proprietários (HUNT, 2005).

Prezado acadêmico, (assista ao vídeo e saiba um pouco mais sobre a teoria das vantagens comparativas de David Ricardo, disponível no link: <https://www.youtube.com/watch?v=tHifBMcozR0&t=7s>.

6.3 PRINCIPAIS PRECURSORES DA ESCOLA CLÁSSICA: JEAN-BAPTISTE SAY

Jean-Baptiste Say (1767 - 1832) é considerado um seguidor das ideias de Smith, apesar de que sua pretensão era corrigir os equívocos deste pensador. Formou o que ficou conhecido como corrente liberal otimista, também denominada como Escola Liberal Francesa. Sua principal obra foi o “Tratado de economia política”, publicada em 1803.

Para Say, o preço ou valor de troca de qualquer mercadoria era dependente de sua utilidade. Rejeitando assim, a ideia de que era o trabalho o formador de preço das mercadorias. Enquanto Ricardo havia colocado no centro dos fenômenos de produção a propriedade fundiária e a renda, Say enfatizou a indústria.

FIGURA 14 – JEAN-BAPTISTE SAY

FONTE: Disponível em: <http://alchetron.com/Jean-Baptiste-Say-1103404-W>. Acesso em: 6 jan. 2017.

IMPORTANTE

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

Outros importantes argumentos deste pensador dizem respeito a sua crença no autoajuste do mercado, e consequentemente, no equilíbrio total da economia, em que todos os recursos (inclusive o trabalho) seriam plenamente utilizados, correspondendo a uma situação de pleno emprego da capacidade produtiva da economia. Esses pressupostos ficaram conhecidos como a Lei de Say (HUNT, 2005).

Caro acadêmico, o preceito principal da Lei de Say é que toda oferta cria sua própria demanda. Assim, de acordo com estes pressupostos, nunca poderia existir uma demanda insuficiente ou um excesso de mercadorias na economia. De forma isolada, caso algum ramo da indústria fosse acometido por superprodução (erros de cálculo etc.), haveria outros setores com escassez. A queda nos preços num setor e aumento em outros levariam as firmas a realocar a produção, levando ao equilíbrio.

6.4 PRINCIPAIS PRECURSORES DA ESCOLA CLÁSSICA: THOMAS MALTHUS

Thomas R. Malthus (1766 - 1834) ficou famoso pela publicação da obra “Ensaio sobre o princípio da população”, em 1798. Nela se expressam os argumentos da teoria malthusiana da população. Outra obra que mereceu destaque foi “Princípios de economia política”, publicada em 1820.

FIGURA 15 – THOMAS R. MALTHUS

FONTE: Disponível em: <http://www.estudopratico.com.br/a-vida-e-o-legado-de-thomas-malthus/>. Acesso em: 6 jan. 2016.

IMPORTANTE

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Com relação à teoria malthusiana da população, este pensador acreditava que o crescimento da população iria superar a capacidade produtiva da terra, o que geraria fome e miséria. Para ele, a população, quando não controlada, aumentava geometricamente (1, 2, 4, 8, 16, 32, ...). Por outro lado, a produção de alimentos aumentava aritmeticamente (1,2,3,4,5, 6, ...). É claro que, por esta ótica, a “conta não fechava”, já que uma parcela da população iria passar por dificuldades de sobrevivência. Mais tarde esta teoria foi superada, já que Malthus não considerou o papel das inovações tecnológicas no processo produtivo.

Outros importantes argumentos deste autor foram algumas críticas à lei de Say. Entre elas, a que tentava demonstrar que o nível de atividade de uma economia dependia da sua demanda efetiva (segundo a lei de Say, esse nível de atividade seria influenciado pela oferta (OSER; BLANCHFIELD, 1987 ; HUNT, 2005).

6.5 PRINCIPAIS PRECURSORES DA ESCOLA CLÁSSICA: JOHN STUART MILL

Outro importante nome da Escola Clássica foi John Stuart Mill (1806 - 1873). Seguidor de Ricardo, tentou integrar a teoria do valor-trabalho com a perspectiva utilitarista, que via a utilidade como formadora dos preços. Sua principal obra foi “Princípios de economia política com algumas de suas aplicações à filosofia social”, publicada em 1848.

FIGURA 16 – JOHN STUART MILL

FONTE: Disponível em: <https://global.britannica.com/biography/John-Stuart-Mill>. Acesso em: 6 jan. 2017.

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

Mill reformulou a teoria do valor-trabalho de David Ricardo. Embora o trabalho ainda figurasse como o mais importante determinante do valor, não era único. Para este pensador, a teoria do valor-trabalho seria válida caso a razão entre capital e trabalho fossem as mesmas em todas as fábricas. Sendo assim, os custos para a produção seriam proporcionais ao trabalho incorporado em todos os tipos de mercadorias.

É comum dizer que Mill foi o sintetizador do pensamento clássico. Além do mais, afirmava que a superprodução generalizada de bens poderia ocorrer em uma economia, mas seria uma condição temporária, o que reforça a ideia de que os mercados se autorregulavam. Também concordava que os princípios da produção de riqueza baseavam-se em leis naturais, ou seja, imutáveis. Mas as leis de distribuição dependiam parcialmente das instituições humanas, portanto, sujeitas a modificações (OSER; BLANCHFIELD, 1987 ; HUNT, 2005).

7 MARXISMO

O contexto que se seguiu à Revolução Industrial e à consolidação do modo capitalista de produção foi marcado por inúmeros problemas socioeconômicos. Por um lado, se havia superado por completo os resquícios do feudalismo. A consolidação do novo modo de produção, com base na indústria, acarretou inúmeros problemas, entre eles: pobreza das massas, desemprego, super exploração, inchaço das cidades, poluição, desigualdades, entre muitos outros (OSER; BLANCHFIELD, 1987).

Neste contexto, Karl Marx, com auxílio de Friedrich Engels, formulou uma crítica à economia política clássica como forma de entender a realidade, e mais do que isso, engajar-se em transformá-la.

Filho mais jovem de uma família judaica, Karl Marx (1818 - 1883) nasceu em Trier. Sua formação inicial foi em Filosofia, cujo título obteve em 1841. Em parceira com seu amigo Engels publicou diversas obras, entre elas: “A Sagrada Família”, “O Manifesto Comunista” e “A Ideologia Alemã”.

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TÓPICO 5 | A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO

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FIGURA 17 – KARL MARX

FONTE: Disponível em: <http://quotesgram.com/img/karl-marx-quotes-socialism/15166276/>. Acesso em: 6 jan. 2017.

Porém, a obra mais importante de Marx foi “O Capital”, resultado de 40 anos de pesquisas e de esforço intelectual. Marx faleceu antes da publicação dos dois últimos volumes desta obra, que foram editados e publicados por seu amigo Engels. Nesta vasta obra é realizada uma crítica aos clássicos da economia (pressupostos de Adam Smith e os demais que o sucederam) e é claro, se constrói cientificamente uma profunda análise do modo capitalista de produção.

Marx e Engels interessaram-se em compreender a realidade social de seu tempo (capitalismo em seu contexto histórico) e descobriram que esta era condicionada pela crescente influência do capital.

A grande crítica de Marx aos autores da Escola Clássica é que lhes faltava a perspectiva histórica (embora essa crítica não se dirigisse propriamente a Adam Smith). Na opinião de Marx, se tivessem estudado história com mais cuidado, teriam descoberto que “a produção é uma atividade social” e que esta, por isso, assume diferentes formas e modos, dependendo da organização social (HUNT, 2005, p. 297). Por isso, podemos dizer que uma das características deste pensador era justamente não conceber os fenômenos socioeconômicos através de leis naturais e eternas. Isto é, estes fenômenos são produtos das ações humanas, e, portanto, não se repetem em todos os momentos históricos. E isso é diferente do pensamento clássico, que muitas vezes procurava dar um sentido de naturalidade ao modo de produção capitalista.

Marx também sustentava a ideia de que a base econômica da sociedade (forças produtivas e relações de produção) condicionam o restante, como o Estado, as leis (direito), as ideologias, a cultura, a religião, entre outros.

Vejamos a seguir mais algumas ideias de Marx:

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

• O capital como relação social: Marx não concebia o capital apenas como um conjunto de máquinas, equipamentos, estradas etc. Para ele, o capital era uma relação social, uma relação de produção que surgiu com o aparecimento de duas classes sociais distintas: uma que se apropria dos meios de produção, ou seja, a burguesia, e outra que tinha apenas a sua força de trabalho para vender, isto é, os trabalhadores.

• Mercadoria como valor de uso e valor de troca: para este pensador, o preço das mercadorias era definido pelo tempo de trabalho socialmente necessário a sua produção. As mercadorias tinham valor de uso (que corresponde à utilidade dela, para que ela serve) e valor de troca (isto é, a possibilidade de ser trocada/vendida por outra). Vale dizer ainda que Marx também considera como mercadorias a força de trabalho e o dinheiro (OSER; BLANCHFIELD, 1987).

• O conceito de mais-valia: este corresponde ao trabalho excedente e não pago, que é apropriado pelo dono dos meios de produção. A mais-valia é produzida no processo de produção e finalizada na circulação, isto é, quando a mercadoria é vendida. Por exemplo, imagine uma facção, com cinco trabalhadores, cuja produção mensal é de 100.000 camisetas, em 20 dias trabalhados. Para cobrir os custos de salário destes cinco trabalhadores, é necessária a produção de 25.000 camisetas, que são produzidas com cinco dias de trabalho. Portanto, em cinco dias de trabalho, os trabalhadores já produziram o suficiente para sua subsistência. O restante da produção, ou seja, o valor das 75.000 camisetas restantes (e os 15 dias de trabalho restantes) ficam com o patrão. Em três dias, eles produzem um número de camisetas que Marx fazia distinção, ainda entre a mais-valia relativa e a mais-valia absoluta. Esta última está ligada à exploração do trabalhador através de métodos intensivos para aumentar o volume da produção. Entre eles: superjornada de trabalho (muito além das oito horas), ritmo acelerado da produção, vigilância do processo produtivo. E é claro, sem pagar a mais por isso. Já a mais-valia relativa tem ligação com o uso da tecnologia no processo produtivo. A produção não se eleva devido ao aumento da jornada de trabalho, maior produtividade individual, mas sim, aumento devido às melhorias tecnológicas, que aceleram o processo de produção. Porém, mesmo com mais mercadorias produzidas por trabalhador, não se repassa aumento em seus rendimentos (MARX, 1987).

• Exército industrial de reserva: corresponde ao contingente de trabalhadores sem emprego. Para Marx, um contingente de desempregados era uma característica do modo de produção capitalista, e, portanto, muito importante para a continuidade do processo de acumulação de capital. O exército industrial de reserva era produto do capitalismo e agia como um regulador dos salários. Além disso, era necessário à medida que deixava à disposição mão de obra complementar (MARX, 1987).

• Acumulação de capital: este processo é a força motriz do modo de produção capitalista. É o processo de valorização do valor. No processo de produção, o dinheiro inicialmente investido na produção de mercadorias, ao final do processo, retornava com acréscimo (por exemplo, pensemos em um capitalista que tenha investimento de R$ 1.000,00 na produção de 10.000 lápis. Após a produção e venda, teve um retorno de R$ 2.500,00. Logo, aos R$ 1.000,00 iniciais foram acrescidos outros R$ 1.500,00). No processo de acumulação, parcela do excedente criado (para Marx, através da mais-valia) era reinvestida no processo produtivo novamente.

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TÓPICO 5 | A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO

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• Acumulação primitiva: contrariando os economistas clássicos, Marx sustentava que a origem do modo de produção capitalista se dava através do processo de acumulação primitiva e não por conta de um esforço pessoal de algumas pessoas. Este processo nada mais era do que o processo de separação do produtor direto (o trabalhador) da propriedade das condições de seu trabalho, um processo que transforma, por um lado, os meios sociais de subsistência e de produção em capital, e por outro, os produtores diretos em trabalhadores assalariados (MARX, 1987). A acumulação primitiva era caracterizada por processos violentos e permitiu a superação dos entraves feudais e a ascensão do capitalismo. Marx analisou o caso da Inglaterra e chamou a atenção para a expropriação violenta das terras dos camponeses e suas características: violência, ação do Estado, legislação, entre outros (MARX, 1987).

8 OS ECONOMISTAS NEOCLÁSSICOS (OU MARGINALISTAS)

A “ciência econômica” neoclássica (também conhecida como marginalismo) passou a exercer forte influência em inúmeros âmbitos nas últimas décadas do século XIX, até a crise econômica dos anos 1930 e a publicação da Teoria Geral, de Keynes. Período este de consolidação da Revolução Industrial, e, portanto, do capitalismo.

Marcado por inúmeras mudanças e também pelo crescimento de problemas socioeconômicos, como o desemprego, por oscilações econômicas e até mesmo por guerras. Cresceram também os movimentos teóricos de negação aos preceitos clássicos, os movimentos socialistas, movimentos sindicais, entre outros.

Em apertada síntese, os neoclássicos defenderam que a economia devesse funcionar livre de qualquer intervenção, submetida apenas aos mecanismos de mercado, isto é, às leis da oferta e procura. De certa maneira, eles fizeram uma releitura do trabalho dos economistas clássicos, incorporando novos preceitos (OSER; BLANCHFIELD, 1987).

São importantes representantes neoclássicos: Léon Walras (1834 - 1910), W. S. Jevons (1835 - 1882), Carl Menger (1840 - 1921), A. Marshall (1842 - 1924), V. Pareto (1848 - 1923).

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

FIGURA 18 – ECONOMISTAS NEOCLÁSSICOS

FONTE: Os autores

QUADRO 6 – IDEIAS DOS ECONOMISTAS NEOCLÁSSICOS

1

A abordagem neoclássica/marginalista privilegiava a microeconomia. Neste sentido, os agentes econômicos, de maneira individual, assumiam o centro das discussões. A abordagem marginalista não se preocupava com a economia agregada, mas sim, com a tomada de decisão individual, com as condições de mercado para um único tipo de bens, com a formação de preços, com as decisões das empresas, com a produção e custos das empresas isoladas, com a maximização do lucro, entre outros.

2

Defendia a ideia laissez-faire, laissez-passer, isto é, de que os mercados se autorregulavam, e, portanto, o Estado não deveria intervir na economia. Sem interferências nas leis econômicas (que para eles, eram naturais), se alcançariam os benefícios sociais máximos.

3A ideia de equilíbrio na economia. Como os marginalistas sustentavam que os mercados se autorregulavam, afirmavam que a economia tendia sempre ao equilíbrio. Sendo assim, as crises seriam apenas temporárias.

4Enfatizam o lado da oferta. Para os marginalistas, era a oferta que determinava a demanda.

5

A ideia da concorrência perfeita. Os economistas neoclássicos baseavam sua análise em um sistema econômico pautado pela concorrência perfeita. Neste sentido, existiriam muitos compradores, muitos vendedores (empresários pequenos, individualistas e independentes), produtos homogêneos e preços uniformes. Assim, nenhum agente econômico teria a capacidade de influenciar os preços de mercado. Além disso, as decisões eram pautadas pela racionalidade e pelo pleno acesso à informação.

6

A ideia de utilidade marginal. A utilidade de cada bem relacionava-se a sua capacidade de satisfazer as necessidades humanas. À medida que se consome um bem, diminui a satisfação ou a utilidade de cada unidade adicional consumida desse bem.

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TÓPICO 5 | A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO

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7

Defesa da racionalidade nas decisões dos indivíduos. Os marginalistas defendiam que os indivíduos seriam racionais quanto as suas decisões. Indivíduos e empresas buscavam a alocação ótima de recursos. Além disso, sustentavam que as pessoas buscavam maximizar o prazer e minimizar o desprazer.

FONTE: Adaptado de Oser e Blanchfield (1987)

9 KEYNESIANISMO

John Maynard Keynes (1883 - 1946) foi um dos mais notáveis economistas da primeira metade do século XX. É considerado o pioneiro da macroeconomia. Discípulo do economista marginalista Alfred Marshal, estudou e lecionou em Cambridge. Tinha grandes preocupações com as implicações práticas das teorias econômicas. Não foi por acaso que se tornou crítico dos conceitos da ortodoxia marginalista, portanto, de seu próprio mestre (Marshal).

Keynes não se destacou apenas como economista. Foi um homem de negócios, diretor de companhias de seguro e investimento, assessor de grande influência do Tesouro Britânico, diretor do Banco da Inglaterra (equivalente ao nosso Banco Central). Foi produtor teatral, editor e colecionador de livros raros, articulista da imprensa. Politicamente, tinha ligação com o Partido Liberal Inglês. Inclusive, representou a Inglaterra na Conferência de Bretton Woods, em 1944, de onde se originaram o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (VICECONTI; NEVES, 2005).

FIGURA 19 – JOHN MAYNARD KEYNES

FONTE: Disponível em: <http://www.ministry-of-information.com/john-maynard-keynes-really-warren-buffet-day/>. Acesso em: 14 jan. 2015

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

Seria John Maynard Keynes quem explicaria a crise dos anos 1930 e demonstraria que os neoclássicos falharam ao ignorarem a necessidade de uma “regulação macroeconômica” do Estado. A contribuição de J. M. Keynes foi imortalizada na publicação de uma das obras mais influentes do século XX: a “Teoria geral do emprego, do juro e da moeda” (1936). Nestas páginas, descreveu o princípio da demanda efetiva.

Prezado acadêmico, a crise de 1929, conhecida como a “Grande Depressão”, foi o período de maior crise econômica de nível mundial do século XX. Ela teve início em 1929, cujo ápice foi a quebra da bolsa de valores de Nova York. No primeiro momento, atingiu a economia norte-americana, a Europa, em seguida, os países latino-americanos, asiáticos e africanos.

Podemos dizer que é a partir de Keynes que o estudo da macroeconomia ganhou maior relevância. Anteriormente, outros economistas contribuíram com discussões acerca do desempenho da economia como um todo, como Adam Smith, Malthus, Karl Marx e F. List. Contudo, Keynes é considerado o fundador da teoria macroeconômica, em suas tentativas de explicar a crise econômica que atingia o mundo e a propor medidas para sair dela.

Prezado acadêmico, embora Keynes seja considerado o “pai” da macroeconomia, o economista polonês Michal Kalecki chegou aos mesmos resultados, também por volta dos anos 1930. Enquanto Keynes baseou sua investigação nos pressupostos da economia neoclássica, Kalecki partiu dos pressupostos marxistas.

Como se evidenciou antes, as ideias de Keynes ganharam força após os anos de 1930, justamente no calor da crise de 1929. Foi um período caracterizado pelo desemprego em massa, crescimento lento das economias (ou nenhum), excesso de produção, concentração de riquezas, dentre tantos outros problemas macroeconômicos. Sem contar que a primeira metade do século XX foi marcada por duas grandes guerras mundiais.

No âmbito da ciência econômica havia uma crise justamente porque a doutrina dominante – a neoclássica/marginalista – não dava conta de explicar os problemas da nova realidade socioeconômica, muito menos de apresentar soluções para estes problemas.

IMPORTANTE

NOTA

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TÓPICO 5 | A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO

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O pensamento de Keynes deu origem a uma “corrente” dentro das ciências econômicas: o keynesianismo. Este pensamento inaugurou uma modalidade de intervenção do Estado na economia, que não atingia totalmente a autonomia da iniciativa privada. Como em sua origem procurava reverter os efeitos da crise econômica, defendia a adoção de políticas capazes de solucionar os problemas de desemprego pela intervenção estatal, desestimulando o entesouramento por meio da redução da taxa de juros e aumento dos investimentos públicos. Em consequência disso, aumentam-se os investimentos em atividades produtivas (SANDRONI, 1999).

Algumas ideias:

I. O princípio da demanda efetiva: o princípio da demanda efetiva/agregada atentava para a proporção da renda gasta em consumo e investimento. Para Keynes, era a demanda, ou seja, as necessidades dos indivíduos que influenciaria na oferta. Sendo assim, para promover o equilíbrio macroeconômico com emprego, faz-se necessário atentar para o lado da procura. Um dos fatores fundamentais pelo volume de emprego era o nível de produção nacional de determinada economia, que era determinado pela demanda efetiva (VASCONCELLOS; GARCIA, 2009).

Caro acadêmico, a demanda efetiva/agregada corresponde à demanda por bens e por serviços que possuem capacidade de pagamento. São menores que as necessidades do conjunto da população, pois se referem às necessidades que a população efetivamente possa pagar (SANDRONI, 1999).

II. Ênfase na macroeconomia: a ênfase do keynesianismo está nos grandes agregados macroeconômicos: emprego, demanda efetiva, produto interno bruto, inflação, taxa de juros, nível de consumo agregado, entre outros.

III. Contrário à Lei de Say: para os keynesianos, o mercado não se autorregulava sempre. Dessa maneira, era necessária a intervenção estatal (através de gastos públicos) para estimular a demanda efetiva da economia e reequilibrá-la.

IV. Preocupação com o curto prazo: o pleno emprego era apenas uma das tantas situações possíveis em uma economia, e ao contrário dos neoclássicos, era possível alcançar o equilíbrio de uma economia com desemprego no mercado de trabalho. Seria possível, de acordo com Keynes, alcançar o equilíbrio do produto nacional de uma economia sem o pleno emprego dos recursos produtivos. Segundo os pressupostos keynesianos, a economia pode encontrar seu nível de equilíbrio mesmo com um nível alto de desemprego, que vai permanecer assim até que haja intervenção do governo através de uma política adequada de investimentos e de incentivos, capazes de sustentar a demanda efetiva, bem como manter os níveis de emprego e renda em alto ritmo. Assim, com cada elevação da renda, cresce

IMPORTANTE

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

também o consumo e o investimento. E para que isto aconteça, faz-se necessário que o Estado tenha instrumentos de política econômica, sejam de regulação da taxa de juros, de expansão dos gastos públicos, de investimentos por meio de empréstimos, entre outros (SANDRONI, 1999; OSER; BLANCHFIELD,1987).

Caro acadêmico, o pleno emprego de uma economia corresponde a uma situação em que todos os recursos disponíveis (emprego, por exemplo) estão sendo utilizados de forma plena na produção dos bens e dos serviços, o que garante o equilíbrio das atividades produtivas.

QUADRO 7 – DIFERENÇAS BÁSICAS ENTRE O PENSAMENTO NEOCLÁSSICO E O KEYNESIANO

NEOCLÁSSICOS KEYNESIANISMOA oferta determina a demanda. A demanda determina a oferta.

O equilíbrio de uma economia baseava-

se no pleno emprego dos recursos

produtivos.

É possível alcançar o equilíbrio sem o pleno

emprego dos recursos produtivos.

Propõe soluções de longo prazo para os

problemas econômicos.

Propõe uma análise e solução de curto

prazo.Ênfase na microeconomia. Ênfase na macroeconomia.

A crença na autorregulação do mercado.

O mercado não se autorregula sempre,

sendo necessária a intervenção do Estado

na economia, com base em uma política de

estímulo à demanda efetiva.

Contrário à intervenção do Estado na

economia.

Favorável à intervenção do Estado na

economia, em casos de crise econômica e

de necessidade de resoluções de outros

problemas macroeconômicos.FONTE: Adaptado de Vasconcellos e Garcia (2009)

NOTA

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TÓPICO 5 | A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO

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9.1 A ECONOMIA PÓS-KEYNES

Principalmente a partir dos anos 1970, a corrente keynesiana, então hegemônica na explicação da realidade econômica, perdeu espaço. Alguns problemas assolavam as economias mundiais e os preceitos de Keynes não eram capazes de solucioná-los. Dentre estes problemas, a falta de crescimento econômico e a ocorrência do fenômeno da estagflação.

A estagflação pode ser entendida como uma situação de estagnação econômica, com baixos ou mesmos índices negativos de crescimento, combinado com altos níveis de inflação e desemprego.

Uma corrente que ganhou evidência foi o monetarismo, que tem como importante pensador Milton Friedman. O pensamento monetarista é tido como uma espécie de antítese do pensamento keynesiano. Para eles, era preciso deixar a preocupação com a demanda e enfatizar a oferta. O Estado deveria se afastar da economia e deixar as forças de mercado funcionar. Teria que haver inversão de ênfase entre aspectos estruturais e conjunturais (PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 2003; OSER; BLANCHFIELD, 1987).

Retomando alguns preceitos neoclássicos, os monetaristas afirmavam que a economia de mercado se autorregulava. Assim, eram totalmente contrários à intervenção do Estado. Para eles, problemas como a inflação, e mesmo as flutuações econômicas, tinham raízes na oferta de moeda, ou seja, de ordem monetária. Entendiam, assim, que a moeda, ou melhor, o controle de estoque de moeda na economia era a variável mais importante na determinação da demanda agregada de um país.

Para os monetaristas, controlar o estoque de moeda, com o intuito de manter uma oferta monetária estável, era o que permitiria um controle do processo inflacionário, e é claro, levaria as economias ao equilíbrio. Sua ênfase também era em políticas de longo prazo, diferentemente do keynesianismo (PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 2003; OSER; BLANCHFIELD, 1987 ).

Podemos dizer que algumas medidas dos monetaristas resultaram positivamente nos países centrais, mas de maneira efêmera. Nos países periféricos, as políticas monetaristas fracassaram: o afastamento do Estado e a liberalização dos mercados produziram ainda mais a concentração de riquezas e problemas socioeconômicos.

NOTA

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ECONOMIA

Outra escola que ganhou evidência entre os anos de 1970 e 1980 foi a das expectativas racionais, conhecida também como os novos clássicos. Os principais postulados dessa escola eram parecidos com a dos monetaristas: a) defendiam que a economia se autorregulava; b) que o Estado não deveria interferir no mercado; c) deveria haver controle da oferta de moeda; d) sustentavam a ideia das expectativas racionais, ou seja, de que os agentes econômicos fundamentavam suas expectativas futuras de forma racional.

Para os novos clássicos, as pessoas teriam acesso a inúmeras informações econômicas. Sendo assim, compreendiam o funcionamento da economia, bem como os impactos de políticas monetárias e fiscais. Com isso, conseguiam prever as ações do governo quanto ao uso da política econômica. Esta então, tornar-se-ia ineficaz.

Por fim, podemos citar os novos keynesianos, que buscam analisar a realidade com base em uma releitura dos principais postulados de Keynes. Procuram fazer isso, com base em um esquema teórico mais sólido. Além destes, vale citar os institucionalistas, que incorporaram à discussão dos agregados macroeconômicos novos elementos: o papel da tecnologia e das instituições, para eles, muitas instituições sociais e de poder que influenciam na formação dos preços e na alocação de recursos na economia. Assim, o mercado não seria o único a influenciar os preços e as demais variáveis econômicas (PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 2003).

IMPORTANTE

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RESUMO DO TÓPICO 5

Neste tópico, você aprendeu que:

• Os mercantilistas consideravam que a riqueza de uma nação provinha da acumulação de metais preciosos: ouro e prata. Estes teriam origem, em grande parte, no comércio externo, mais precisamente, nos saldos que um país acumulava nas trocas com outros países.

• Os fisiocratas queriam entender como uma nação poderia tornar-se rica. Para eles, a fonte das riquezas de um país estava na terra.

• Podemos datar o início da Escola Clássica em 1776, e seu marco foi a publicação da obra “A Riqueza das Nações”, de Adam Smith, neste mesmo ano. Aliás, este pensador é considerado uma espécie de “pai” da ciência econômica.

• Princípio do “laissez-faire, laissez-passer” e crença no autoajuste do mercado. Para os economistas clássicos, o melhor governo era aquele que menos governava.

• Uma das principais ideias de David Ricardo é a teoria das vantagens comparativas.

• Lei de Say é a que toda oferta cria sua própria demanda. Assim, de acordo com estes pressupostos, nunca poderia existir uma demanda insuficiente ou um excesso de mercadorias na economia.

• Malthus acreditava que o crescimento da população iria superar a capacidade produtiva da terra, o que geraria fome e miséria.

• Karl Marx fez duras críticas à Escola Clássica, a grande crítica de Marx aos autores da Escola Clássica é que lhes faltava a perspectiva histórica.

• A abordagem neoclássica/marginalista privilegiava a microeconomia. Neste sentido, os agentes econômicos, de maneira individual, assumiam o centro das discussões.

• John Maynard Keynes foi um dos mais notáveis economistas da primeira metade do século XX. É considerado o pioneiro da macroeconomia.

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AUTOATIVIDADE

Prezado acadêmico, estamos chegamos ao final do quinto tópico que corresponde aos estudos sobre evolução do pensamento econômico. É importante fixar alguns conceitos e teorias que estudamos e que vão ser importantes ao longo desta disciplina. Por isso, elaboramos algumas atividades para você testar seus conhecimentos. Desejamos bons estudos!

1 É a partir do final do século XVIII que a ciência econômica é reconhecida como tal. Antes disso, existiram vários pensadores que tentaram entender a realidade socioeconômica do seu tempo, porém, não se configuravam como uma análise científica dos fenômenos econômicos. Desde o final do século XVIII, com os chamados pensadores clássicos, formulam-se análises científicas dos problemas estritamente relacionados à economia. A partir disso, a evolução do pensamento econômico torna-se cada vez mais rica, fazendo surgir novos paradigmas para a compreensão da realidade. Com base em seus estudos sobre a evolução do pensamento econômico, associe a primeira coluna com a segunda:

( a ) Adam Smith( b ) John Maynard Keynes( c ) Fisiocratas( d ) Karl Marx( e ) Mercantilistas

2 Não existe um consenso entre os economistas sobre o papel do Estado na economia. Essa questão é muito atual, mas também, remete ao passado, ou seja, ao longo da evolução do pensamento econômico, as escolas de pensamento se posicionaram quanto ao papel do Estado na economia. Com base nisso, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as sentenças falsas:

a) ( ) Para os economistas clássicos, o Estado deveria intervir na economia para corrigir desequilíbrios e crises.

b) ( ) Os autores neoclássicos eram contrários à intervenção do Estado na economia. Para eles, o mercado se autorregulava.

c ) ( ) O keynesianismo inaugurou uma modalidade de intervenção do Estado na economia, que não atingia totalmente a autonomia da iniciativa privada.

d) ( ) Os chamados economistas monetaristas consideravam importante a participação do Estado na economia, principalmente para garantir o pleno emprego.

( ) Princípio da demanda efetiva.( ) A acumulação de riquezas se dava

pela acumulação de metais preciosos.( ) Desenvolveu o conceito de mais-valia.( ) Desenvolveu o conceito de mão

invisível.( ) A fonte de riquezas estava na terra.

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3 Ao longo dos séculos, os economistas criaram muitas teorias sobre os fenômenos socioeconômicos. Mesmo apresentando diferenças entre elas, todas contribuíram e continuam contribuindo para o entendimento da realidade, que é complexa. Com base nos estudos acerca dos principais pensadores econômicos, analise as afirmativas a seguir:

I - Com a ideia da “mão invisível”, Adam Smith sustentava ser necessário deixar agir a livre concorrência, como uma forma de alcançar o equilíbrio natural entre os agentes econômicos. Para ele, os agentes econômicos, ao buscarem satisfazer suas necessidades individuais, acabavam satisfazendo o bem-estar da sociedade. Haveria uma espécie de “mão invisível” que orientava as ações do mercado, sem a necessidade da intervenção estatal.

II – Foram os neoclássicos que formularam uma consistente crítica à economia política clássica, bem como uma análise profunda do modo capitalista de produção. Entre as noções que podemos destacar destes pensadores estão a ideia de acumulação primitiva, de mais-valia e a necessidade de se levar em conta a perspectiva histórica na análise econômica.

III - Dentre os postulados do keynesianismo, podemos destacar a Lei de Say. Esta vai preconizar que a oferta determina a demanda de uma economia. Sendo assim, Keynes acreditava no princípio do laissez-faire, laissez-passer.

IV – Karl Marx formulou a ideia de exército industrial de reserva, que corresponde a um contingente de desempregados. Esse contingente de desempregados é característica do modo de produção capitalista, inclusive, sendo peça importante para a continuidade do processo de acumulação de capital.

Analisando estas sentenças, assinale aquela com a sequência de afirmações corretas:a) ( ) Apenas a sentença I está correta.b) ( ) As sentenças I e III estão corretas.c) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.d) ( ) As sentenças II e IV estão corretas.e) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.

4 John Maynard Keynes (1883 - 1946) foi um dos mais notáveis economistas da primeira metade do século XX. Além disso, é considerado o pioneiro da macroeconomia. Com base nos estudos deste tópico, disserte sobre os principais pressupostos do Keynesianismo.

5 No último item deste tópico, você estudou os economistas que surgiram após Keynes, que ficaram conhecidos como pós-keynesianos. Descreva quais são estas correntes e quais seus postulados.

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UNIDADE 2

MICROECONOMIA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir desta unidade você será capaz de:

• entender a dinâmica da Lei da Demanda e da Oferta conforme os preços de mercado;

• perceber o comportamento da elasticidade-preço da demanda e da oferta;

• compreender o comportamento do consumidor nas suas decisões econô-micas;

• compreender o comportamento das receitas e dos custos das empresas;

• saber identificar as características das Estruturas de Mercado.

Esta unidade está dividida em quatro tópicos. Ao final de cada tópico você encontrará atividades que lhe darão uma maior compreensão dos temas abordados.

TÓPICO 1 – A LEI DA PROCURA E DA OFERTA

TÓPICO 2 – O PREÇO IDEAL E O COMPORTAMENTO DA PROCURA E OFERTA

TÓPICO 3 – A TEORIA MARGINAL E O COMPORTAMENTO DO PRODUTOR

TÓPICO 4 – A RECEITA MARGINAL E ESTRUTURA DE MERCADO

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TÓPICO 1

A LEI DA PROCURA E DA OFERTA

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Na Unidade 1, estudamos sobre os fundamentos da ciência econômica, quais são os agentes econômicos, o fluxo real e econômico da economia, fatos relevantes de história econômica, entre outros conceitos importantes para seu entendimento da ciência econômica. Agora, nesta unidade, iremos nos focar na microeconomia, parte de ciência econômica que estuda sobre o comportamento tanto do consumidor como da empresa, conforme as leis naturais do mercado, mas antes disso, vamos rever brevemente sobre os três questionamentos básicos de análise das prioridades econômicas de qualquer sistema econômico, isto é:

• O que e quanto produzir?• Como produzir?• Para quem produzir?

Esses questionamentos são peça-chave para iniciar nosso estudo da análise microeconômica, assim como para o estudo da análise macroeconômica da Unidade 3. Na análise microeconômica, desses três questionamentos fundamentais, devemos observar que a microeconomia se concentra no estudo e pesquisa do comportamento do consumidor e da empresa conforme a dinâmica própria do mercado.

2 CONCEITO DE MICROECONOMIA

A microeconomia analisa o comportamento tanto do consumidor como da empresa, ela faz todo um estudo analítico das atividades econômicas dos agentes econômicos que interagem no mercado para satisfazer suas necessidades, sejam de consumo, no caso das famílias, sejam de produção, no caso das empresas. Em uma economia de mercado, essas atividades econômicas acontecem na dinâmica da troca comercial por meio da precificação de todos os bens e serviços a serem procurados pelos agentes no mercado.

Assim, o “mercado” atua como mediador de troca dos interesses dos agentes econômicos. Os consumidores procuram bens e serviços precificados no mercado para satisfazer suas necessidades e desejos. Enquanto isso, as empresas (centros produtivos) procuram no mercado recursos produtivos, precificados, para dar conta de suas necessidades de produção, e assim dar conta das necessidades

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UNIDADE 2 | MICROECONOMIA

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e “desejos” do consumidor. Isso quer dizer que tanto os interesses econômicos de consumir como de produzir encontram-se no mercado por meio de uma estrutura de preços bem definida e dinâmica.

Podemos dizer que a microeconomia analisa o comportamento individual dos agentes econômicos essenciais para uma economia de mercado, isto é, o comportamento das famílias (consumidores) e das empresas (centros produtivos e de comercialização). Se fizermos uma analogia, veremos que a microeconomia pode ser vista como o comportamento individual das árvores, plantas e organismos vivos que fazem parte de uma grande floresta, isto é, a flora e fauna desta em função das necessidades do ecossistema como um todo. E o ecossistema de toda a floresta é o agregado “macro” de toda a flora e fauna, gerando um sistema vivo interdependente, ou seja, analogicamente, a macroeconomia.

Nesta unidade, estudaremos o comportamento individualizado, tanto dos consumidores como das empresas, em função dos fatores econômicos. Antes de iniciarmos nossos estudos, não devemos confundir microeconomia com a análise da gestão empresarial, ou seja, com a “administração de empresas”, segundo Vasconcellos (2011, p. 29):

Deve ser observado que a Microeconomia não tem seu foco específico na empresa (não deve ser confundida com Administração de Empresas), mas no mercado no qual as empresas e consumidores interagem, analisando os fatores econômicos que determinam tanto o comportamento do consumidor quanto o comportamento da empresa.

Assim como expõe o autor Vasconcellos (2011), o foco da microeconomia é o mercado, os fatores econômicos e comportamentais tanto dos consumidores como das empresas servem como grande apoio para a administração e comercialização dos bens e serviços das atividades produtivas. Através do entendimento comportamental, tanto do consumidor como da empresa, pode-se analisar:

• Como os diferentes níveis de preços praticados no mercado levam as famílias a consumir um maior ou menor volume de um determinado produto ou serviço.

• Como os diferentes níveis de preços praticados no mercado levam as empresas a oferecer mais, ou inclusive menos, de um determinado produto ou serviço.

• Quais são os motivadores que levam as famílias a consumir determinado produto ou serviço? Isto é, motivadores que visam satisfazer suas necessidades e/ou “desejos”.

• Quais são os motivadores que levam as empresas (entidades produtivas) a oferecer no mercado um determinado produto ou serviço aos consumidores? Devemos observar que o motivador em comum, para todas as empresas, é a geração de lucro.

Acabamos de ver quais os objetivos principais motivam os centros produtivos (empresas) a produzir o que as famílias consomem. E no contexto da empresa, porque o lucro é o motivador comum? O porquê disso?

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TÓPICO 1 | A LEI DA PROCURA E DA OFERTA

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Se você observar, o lucro gerado pelas empresas vem a ser a “renda” do dono/acionista das empresas, que por sua vez leva essa renda disponível (lucro do acionista) para sua família, ou seja, uma parte da geração de lucro vira renda familiar dos acionistas para satisfazerem as necessidades/desejos de suas famílias. Outra parte será destinada aos novos investimentos.

Em resumo, por meio da microeconomia, podemos visualizar e analisar o comportamento econômico dos agentes econômicos essenciais para uma economia de mercado pelas ações dos consumidores que procuram satisfazer suas necessidades. Análise que leva para o estudo da lei e comportamento da “procura”. Também pelas ações dos produtores durante o processo produtivo e distribuição, visando satisfazer as necessidades dos consumidores e gerar lucro. Análise que leva para o estudo da lei e comportamento da “oferta”.

Para iniciarmos nossa análise econômica, vamos começar com os fundamentos da lei da procura e da oferta conforme os mercados específicos de atuação, ou seja, vamos estudar a lei da procura e da oferta desde uma ótica de análise individual, se considerado o mercado como espaço de troca comercial entre os agentes. Por exemplo, poderíamos analisar o comportamento de procura e oferta de sapatos no mercado brasileiro.

Eis o porquê da microeconomia ser a análise comportamental individual dos agentes econômicos, levando em consideração que todas as condições econômicas de análise ficaram constantes. Esta condicional é conhecida como “coeteris paribus”, fundamental à análise microeconômica. A expressão “coeteris paribus” vem do Latim e quer dizer: todas as demais condições ficam constantes. Segundo Vasconcellos (2011, p. 29): [...] para poder analisar um mercado isoladamente, supõe todos os demais mercados constantes. Ou seja, supõe que o mercado em estudo não afeta nem é afetado pelos demais. ”

Essa condição “coeteris paribus” tem como objetivo básico verificar o impacto de variáveis econômicas isoladas, independentemente dos efeitos das outras. Exemplo: se desejamos identificar o efeito isolado de uma variação de preço sobre a procura de pão, a observação deverá ser feita independentemente do efeito de outras variáveis que afetam a procura desse produto, tais como: a renda do consumidor, outros gastos, qualidade do produto em si, preferências de pães especiais etc.

3 LEI DA DEMANDA: O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

O primeiro passo para aprofundarmos na análise microeconômica é entendendo a lei da procura (ou demanda) e de como o consumidor se comporta conforme as condicionais de preços no mercado e de fatores econômicos específicos que se apresentam. O que é a lei da procura? Em poucas palavras, podemos dizer que é o comportamento natural dos seres humanos no momento de procurar, comprar e consumir um determinado produto no mercado, conforme os níveis de preços apresentados.

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UNIDADE 2 | MICROECONOMIA

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Vamos supor que após um longo dia de serviço, voltando para casa, você deseja comprar cinco pães de queijo na padaria de seu bairro, e por questões específicas, o pão de queijo apresenta um desconto promocional de 25%. Será que você levará somente cinco pães ou levará mais dois? Se sua vontade e fome forem grandes, provavelmente levará sete pães. Concorda?

É exatamente essa a análise da lei da demanda (procura), que estuda nosso comportamento de comprar e consumir um determinado produto conforme preços estabelecidos pelo mercado. Então, a procura de determinado produto define-se como as diversas possibilidades de quantidades que os consumidores estarão dispostos e aptos a adquirir em função dos preços praticados no mercado em um determinado período de tempo e em função da utilidade (satisfação intrínseca) deste produto para o consumidor.

No exemplo do pão de queijo, exposto acima, você considerou levar mais dois pães em função de uma queda do preço durante um determinado tempo promocional; sua fome, isto é, a utilidade intrínseca de consumir esse produto.

Essa utilidade intrínseca de consumir é própria de cada pessoa e vai se manifestando de maneiras diferentes em cada indivíduo, porém mais cedo ou mais tarde, será manifestada. Isto é uma das bases de análise comportamental do consumidor e da lei da procura, o conceito de utilidade do consumidor “[...] baseia-se na Teoria do Valor Utilidade. Supõe-se que, dada a renda e dados os preços de mercado, o consumidor, ao demandar um bem ou serviço, está maximizando a utilidade ou satisfação que ele atribui ao bem ou serviço. É também chamada de Teoria do Consumidor” (VASCONCELLOS, 2011, p. 33).

“Os fundamentos da análise da demanda ou procura estão alicerçados no conceito subjetivo de utilidade. A utilidade representa o grau de satisfação ou bem-estar que os consumidores atribuem a bens e serviços que podem adquirir no mercado” (VASCONCELLOS, 2011, p. 31).

3.1 COMPORTAMENTO DOS CONSUMIDORES

Conforme vimos no exemplo do pão de queijo, analisando o padrão geral de comportamento do consumidor, podemos dizer que quanto mais barato for o preço de um determinado produto, maior será a quantidade de procura deste em um determinado mercado. Isto quer dizer que a quantidade de produto a ser consumida é inversamente proporcional ao nível dos preços. Essa proporcionalidade invertida é justificada no comportamento racional do consumidor, vinculada aos níveis de preços dos produtos e serviços oferecidos pelas empresas no mercado. Este comportamento possui as seguintes características: o preço como limitante ao consumo; o fator da escolha de produtos substitutos; e a utilidade decrescente ou marginal.

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TÓPICO 1 | A LEI DA PROCURA E DA OFERTA

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O preço como limitante ao consumo: o consumo de um produto está vinculado ao nível de preços deste no mercado. Assim, quanto maior o preço, menor será o volume de consumidores dispostos e efetivamente “aptos” para comprar e consumir um determinado produto, exemplo: diferentes situações ocorrem quando o macarrão da marca “Macarrones” fica mais caro ou mais barato:

• No valor de R$ 2,50 haverá MAIOR procura, ou seja, maior quantidade de unidades consumidas.

• No valor de R$ 3,50 haverá uma MENOR quantidade de pessoas aptas em adquirir. Os compradores serão aqueles que têm uma renda um pouco maior do que a média da população.

• No valor de R$ 5,00, só as pessoas que realmente gostam dessa marca e que têm maior nível de renda estão aptas a comprar. Assim, as quantidades vendidas no mercado serão bem menores se compararmos a procura desse produto quando seu preço está em R$ 2,50.

O fator da escolha de produtos substitutos: se um produto está caro demais para um determinado grupo de consumidores, logo estes terão a tendência de procurar produtos semelhantes. Em termos econômicos, quer dizer que quando o nível de preços de um determinado produto aumentar, os consumidores diminuem a procura deste produto, em contrapartida, aumentam a procura de produtos semelhantes ou similares, ou seja, o consumidor rapidamente possui a tendência à substituição por outro que seja mais barato, exemplo: se a laranja está ficando mais cara, o consumidor poderá substitui-la pela maçã. Voltando para nosso exemplo do macarrão:

• Ao preço de R$ 2,50, ninguém vai se preocupar em trocar o consumo para outra marca, pois é um preço considerado barato pelos consumidores.

• Ao preço de R$ 3,50, as pessoas irão pensar duas vezes antes de comprar e talvez mudem sua escolha de compra para outra marca, e inclusive, procurem outro tipo de carboidrato, tal como arroz ou batata.

• Ao preço de R$ 5,00, somente as pessoas que realmente têm vontade e/ou têm renda disponível para isso irão comprar.

A utilidade marginal decrescente: o que acontece quando você come a primeira bolacha do pacote? Ela será bem gostosa, ou seja, a utilidade intrínseca, a satisfação desta primeira unidade será bem alta. E a segunda unidade? Também será gostosa, mas menos do que a primeira. A satisfação em consumir vai diminuindo conforme comemos mais, concorda? Ou seja, a utilidade ou satisfação de consumir vai decrescendo à medida que consumimos e adicionamos mais uma unidade. Esta situação é conhecida, na economia, como a utilidade marginal decrescente. Assim, no contexto do comportamento da procura, quanto maiores forem as quantidades consumidas, menores serão os graus ou níveis de sua utilidade marginal (ou satisfação). Isto quer dizer que quando um consumidor possui apenas uma unidade de um produto qualquer, o grau de utilidade (satisfação) a ele atribuído é elevado, mas à medida que o consumidor tem à disposição mais unidades desse mesmo

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UNIDADE 2 | MICROECONOMIA

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produto, a utilidade (satisfação) atribuída a cada unidade adicional certamente irá decrescer, podendo chegar até níveis negativos. O consumo adicional desse produto traz utilidades marginais decrescentes.

Esse último elemento do comportamento do consumidor – a utilidade marginal decrescente – é fundamental para realizar uma análise aprofundada da relação preço/consumo. Neste sentido, o consumidor possui a tendência de comprar e consumir unidades adicionais se os preços registrarem baixas, caso contrário, ele não estará interessado em adquirir novas unidades desse produto. Comparativamente, se você levar para casa 400 gramas de queijo colonial especial que possui um preço de R$ 60,00 o quilo, no momento de consumi-lo provavelmente fará um consumo moderado. Assim, cada pedaço consumido terá uma utilidade marginal decrescente alta, pois se comer demais sua consciência lhe dirá que é caro exagerar na ingestão desse produto.

Em contrapartida, 400 gramas de queijo padrão, que possui um preço de R$ 25,00 o quilo, no momento de consumi-lo, provavelmente você irá comer maiores quantidades em relação ao queijo “colonial especial”, ou seja, sua utilidade marginal será menor, precisando de maiores unidades de consumo para que seu consciente ou fome lhe digam: chega de consumir!

Em resumo, mantidas inalteradas as demais condições “Coeteris Paribus”, quanto mais se elevarem os preços de um produto qualquer, menores serão as quantidades que os consumidores estarão dispostos e aptos em adquirir. Isso levando em consideração os três fatores de comportamento do consumidor, isto é: o preço como limitante ao consumo; o fator da escolha de produtos substitutos; e a utilidade decrescente ou marginal da satisfação inerente para cada indivíduo que consumir um determinado produto/serviço.

3.2 VARIÁVEIS DA ESTRUTURA DA DEMANDA

Qual a estrutura da procura dos bens e serviços que as famílias precisam e/ou desejam adquirir? Em termos de análise, podemos dizer que a procura de um determinado produto/serviço está determinada conforme a sua estrutura comportamental socioeconômica, sendo os elementos desta estrutura:

a) Riqueza e distribuição da renda: em uma economia de mercado, as famílias possuem renda disponível para o consumo. Algumas possuem maior renda disponível (renda familiar da classe média-alta e alta), outras possuem renda média (renda familiar da classe média) e outras possuem menor renda disponível (renda familiar da classe média-baixa e baixa). Essas diferenças da renda familiar da população geram diversos produtos a serem procurados em função da renda disponível.

b) Preço de bens substitutos: o consumidor, conforme sua renda, se achar caro demais um produto, terá a tendência natural de procurar produtos substitutos/

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TÓPICO 1 | A LEI DA PROCURA E DA OFERTA

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semelhantes que possam satisfazer sua necessidade/desejo. Exemplificando: se a safra de arroz ficou abaixo do normal, provavelmente o preço desse produto no mercado aumentará e alguns consumidores trocarão parcialmente o consumo desse carboidrato por outro, aumentando a procura de outros carboidratos, tal como a batata ou mandioca.

Se o preço das passagens de ônibus entre São Paulo e Florianópolis aumentarem, provavelmente a procura de passagens para esse destino diminuirão, aumentando os serviços substitutos, tal como as passagens aéreas para esse destino.

c) Fatores de temporada e climáticos: se, por ventura, houver uma seca prolongada, a safra de uma série de produtos agrícolas (arroz, trigo, feijão, mandioca etc.) será prejudicada, logo, haverá escassez e preços altos destes produtos. Considerando os fatores de temporada, existem produtos de estação tanto por fatores de hábitos do consumidor como dos ciclos produtivos, exemplificando: a procura de brinquedos aumenta drasticamente no Dia das Crianças (12/outubro) e no Natal, certo? Logo, as empresas irão ofertar maiores volumes de brinquedos nessas épocas, assim como irão aumentar os preços dos brinquedos.

A oferta de fruta de estação aumenta drasticamente quando é a época dessa fruta, como o pêssego no final do ano. Como o consumidor sabe que nessa época haverá oferta dessa fruta, a procura pela fruta aumentará.

d) Propaganda: atualmente, a maioria das empresas brigam pela diferenciação de seus produtos no mercado, assim, o meio para criar uma diferenciação efetiva é a propaganda. Com isso, as empresas podem criar hábitos específicos e preferências pelo consumo de marcas determinadas.

e) Hábitos e preferências do consumidor: a utilidade (satisfação) no consumo de produtos/serviços é intrínseca para cada indivíduo e cada cultura. Com certeza, no Brasil existe preferência pelos pratos que possuam feijão, entretanto, um consumidor europeu possui o hábito de acompanhar seu prato de almoço com batata, ervilhas e/ou brócolis e não com feijão.

f) Expectativas: As expectativas possuem um grande papel no momento de consumir. Se os consumidores têm a expectativa que haverá falta de água, provavelmente irão se abastecer de água potável além do necessário.

g) Disponibilidade de crédito de consumo, parcelas, taxa de juros e diversos prazos: para produtos de linha branca (fogões, geladeiras, lavadoras de roupa etc.), smartphones, veículos, casas, entre outros, a procura está vinculada às facilidades de crédito disponível. Se no mercado financeiro a oferta do número de parcelas aumentar de 48 para 60 meses para a compra de um carro, o valor da parcela/mês irá diminuir e provavelmente haverá um número maior de pessoas adquirindo um carro novo ou seminovo.

Observe que todos os fatores expostos acima fazem parte da estrutura e comportamento da procura de um determinado produto. Alguns desses fatores terão um maior peso na decisão do consumidor e outros terão um menor peso. Assim, a estrutura da procura de um determinado produto/serviço fica em função dessas variáveis, interpretando economicamente da seguinte maneira:

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QUADRO 8 - ESTRUTURA ANALÍTICA DA DEMANDA

FONTE: Adaptado de Rossetti (2003, p. 411)

3.3 RELAÇÃO ENTRE QUANTIDADE PROCURADA E PREÇO DO PRODUTO

Agora que já temos uma visão da estrutura da procura, podemos analisar o comportamento das quantidades procuradas de um determinado produto em função do nível de preços praticados no mercado. Como padrão geral, podemos dizer que as quantidades efetivamente procuradas mudam inversamente proporcional à medida que os preços oscilam no mercado, isto quer dizer que:

• Quanto mais baixo for o preço de determinada mercadoria, maior será a quantidade efetivamente procurada.

• Quanto mais alto o preço de determinada mercadoria, menor será a quantidade efetivamente procurada.

Qual pode ser o motivo desse comportamento do consumidor, que leva para uma relação inversa das quantidades demandas em relação ao preço? Isso acontece pelos efeitos de substituição e dos níveis de renda disponíveis que reagem diretamente no comportamento do consumidor no momento de comprar e consumir. Segundo Vasconcellos (2011, p. 38):

Efeito substituição: o bem fica relativamente mais barato aos concorrentes, fazendo com o que a quantidade demandada aumente.Efeito renda: com a queda de preço, o poder aquisitivo do consumidor aumenta e a quantidade demandada do bem, tende normalmente, a aumentar. Isto é, ao cair o preço de um bem, mesmo com sua renda não variando, o consumidor pode comprar mais mercadorias.

Esse comportamento econômico e racional do consumidor é representado por meio da Lei da Procura, que possui uma tendência padrão inversamente proporcional ao nível de preços praticados no mercado, conforme podemos observar:

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TÓPICO 1 | A LEI DA PROCURA E DA OFERTA

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GRÁFICO 8 - COMPORTAMENTO DA CURVA DA DEMANDA

FONTE: Disponível em: <http://pt.slideshare.net/miltonh/demanda-e-oferta-201101>. Acesso em: 2 dez. 2016.

No gráfico acima podemos observar claramente o comportamento do consumidor conforme os níveis de preços mudam. Para exemplificar, imagine que o produto exposto no gráfico é pão de queijo, ofertado em uma lanchonete de aeroporto. Se o preço for de R$ 8,00 a unidade, logo haverá 100 unidades (quantidade) efetivamente compradas e consumidas do produto; se o preço for de R$ 6,00 a unidade, logo haverá 200 unidades (quantidade) efetivamente compradas e consumidas do produto; e se o preço for de R$ 4,00 a unidade, logo haverá 400 unidades (quantidade) efetivamente compradas e consumidas do produto.

Devemos observar que nesses níveis de consumo expostos acima existe toda uma estrutura comportamental da procura do “pão de queijo”, na qual os hábitos e renda disponível do consumidor possuem um peso alto. Será que um francês está disposto a consumir a mesma quantidade de pão de queijo, com certeza não, pois ele possui outros hábitos de consumo diferentes ao do brasileiro, ele possui o hábito de consumir o famoso “croissant francês”.

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FIGURA 16 – HÁBITOS DE CONSUMO DIFERENTES EM FUNÇÃO À CULTURA

FONTE: Disponível em: < http://deboranogueira.com. br/tag/croissant/>; <http://www.peixeurbano.com.br/vitoria/juninho-do-pao-de-queijo/pao-de-queijo-e-cafe-expresso>. Acesso em: 5 out. 2016.

Na figura exposta, podemos observar um elemento em comum entre os dois hábitos de consumo inerentes às culturas ocidentais, o café! Logo, podemos dizer que, levando em consideração esse hábito específico (pão de queijo e/ou croissant) e renda disponível, o consumidor estará disposto a comprar e consumir uma determinada quantidade de produto em função do nível de preço desses produtos no mercado. Como podemos observar, no comportamento da curva da procura, exposta anteriormente.

Qual seria a análise comportamental da curva da procura em termos matemáticos? Podemos interpretar a lei da procura por meio da seguinte função:

QUADRO 9 – FUNÇÃO DA LEI DA PROCURA

QD = f (P), onde

QD é a quantidade de produto demandado (procurado) em um mercado e tempo específico.f (P) é a quantidade procurada em função do nível de preço praticado no mercado.

FONTE: Adaptado de Rossetti (2003, p. 411)

A função básica da procura quer dizer que as quantidades procuradas (QD) dependem do nível de preço (P), mediante um mercado e tempos específicos. Para colocar em contexto a função da procura, vamos estudar o comportamento das quantidades demandadas de pão de queijo no mercado de lanchonetes, supondo uma grande área urbana, observando o seguinte comportamento:

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TÓPICO 1 | A LEI DA PROCURA E DA OFERTA

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QUADRO 10 – COMPORTAMENTO DA PROCURA EM FUNÇÃO DOS NÍVEIS DE PREÇO

FONTE: O autor

Podemos observar que à medida que o preço vai aumentando, as quantidades procuradas tornam-se menos expressivas. Isto é, cada vez menos pessoas estão dispostas a consumi-lo, logo, deixando de efetivar a compra. Isso acontece porque o preço vai superando a perspectiva de satisfação (utilidade) em função de sua “renda disponível”. Este raciocínio do comportamento do consumidor reflete na curva da procura tipicamente decrescente conforme as oscilações dos preços.

Essa função indica qual a intenção de procura dos consumidores quando os preços variam, com tudo o mais permanecendo constante. Ou seja, ela revela o desejo, a intenção de compra do consumidor, mas não a compra efetiva. A compra efetiva é um único ponto da escala apresentada (VASCONCELLOS, 2011, p. 38).

Assim, a lei da procura determina que o comportamento da curva da procura possui um padrão decrescente, delineando que as famílias (consumidores) reagem inversamente proporcional ao nível de preços praticados no mercado.

Esse raciocínio do consumidor reflete o fato de que a renda disponível é de fato limitada, e quanto maiores forem os preços, menores serão as quantidades efetivamente procuradas.

4 FUNDAMENTOS DA LEI DA OFERTA

Acabamos de analisar os elementos mais importantes da lei da procura, mas para que as famílias possam efetivamente consumir é necessário que as empresas possam produzir e ofertar bens e serviços às famílias por meio do mercado. Assim como as famílias, que possuem o interesse em satisfazer suas necessidades e

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UNIDADE 2 | MICROECONOMIA

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desejos, as empresas também possuem seu interesse no momento de ofertar bens e serviços no mercado. Qual é esse interesse? Todas as empresas possuem um interesse em comum, a geração de lucro para a geração de renda de seus donos/acionistas.

Antes de adentrarmos no interesse de produzir e vender das empresas, devemos observar que a oferta de bens e serviços é o resultado final das atividades e processos produtivos dos centros de produção que as empresas possuem. Desde uma perspectiva microeconômica, a oferta em si de um determinado produto é definida da seguinte maneira: a oferta é a capacidade de oferecer, por parte das empresas, uma determinada quantidade de produto em função do nível de preços praticados no mercado em um determinado período, se considerando os seguintes elementos:

• a disponibilidade de recursos produtivos;• a capacidade produtiva de processar esses recursos visando a produção em

massa de bens e serviços;• a capacidade de infraestrutura produtiva e tecnológica;• a capacidade de distribuição e logística das empresas para que esses produtos

possam ser “efetivamente” ofertados no mercado às famílias.

Assim como a estrutura da procura, a oferta também possui sua própria estrutura. Desde uma perspectiva bem diferente, principalmente a de produzir e gerar lucro! Nesse sentido, como um todo, a produção dependerá dos fatores da produção, infraestrutura e recursos produtivos, certo? No entanto, os elementos dessa estrutura são diferentes, conforme podemos ver na função geral da oferta:

( )si i m nq f P, ,P ,T,A= π .

QUADRO 11 - VARIÁVEIS DA FUNÇÃO GERAL DA OFERTA DE BENS E SERVIÇOSsiq Quantidade efetivamente ofertada de um produto/serviço.iP Preço do produto/serviço.

mπ Preço dos fatores da produção, isto é, mão de obra, recursos naturais, recursos de bens de capital, matéria-prima e insumos.

nP Preço dos outros n produtos substitutos na produção, exemplificando: Tanto o queijo como o iogurte vêm de uma mesma matéria-prima, o

leite!

T Tecnologia e capacidade produtiva, isto é, o know-how (saber fazer), capacidade de gestão e nível de tecnologia da empresa, em função disso haverá maior nível de competitividade (produtividade).

A

Fatores climáticos e ambientais, exemplificando:• Perante uma boa época de chuva haverá uma melhor colheita de

arroz e feijão, logo, haverá uma quantidade maior desses produtos a serem ofertados no mercado.

• Se houver uma época de seca prolongada, os agricultores com certeza terão uma safra bem menor, logo, haverá uma quantidade menor desses produtos a serem ofertados no mercado, certo?

FONTE: Adaptado de Rossetti (2003, p. 426)

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TÓPICO 1 | A LEI DA PROCURA E DA OFERTA

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De todos os elementos da estrutura de oferta, devemos prestar especial atenção a nP (preço dos outros n produtos substitutos na produção). Voltando para nosso exemplo do queijo e do iogurte: se estivermos analisando a produção desses produtos em uma indústria de laticínios, iremos observar que ambos vêm de uma mesma matéria-prima, o leite. Ambos produtos possuem níveis de preços diferentes no mercado. Vamos supor que o quilo de queijo está em R$ 30,00 e que o litro de iogurte está em R$ 7,00. Em função desses preços, a empresa possui uma determinada quantidade de produto sendo ofertado no mercado, vamos supor que a empresa oferta à semana 500 quilos de queijo, logo, a empresa terá uma receita (venda) de R$ 15.000 por semana, isto é, R$ 15.000 = 500 quilos x R$ 30,00. Se consumir 2.000 litros de iogurte, logo, a empresa terá uma receita (venda) de R$ 14.000 por semana, isto é, R$ 14.000 = 2.000 litros x R$ 7,00.

Para poder ofertar essas quantidades de produto ao mercado, a empresa precisa de 7.000 litros de leite à semana, isto é, para produzir um quilo de queijo é necessário de 10 litros de leite, logo, serão necessários 5.000 litros de leite para produzir os 500 quilos de queijo por semana 5.000 litros = 500 quilos x 10 litros. Para produzir 2.000 litros de iogurte é necessário a mesma quantidade, ou seja, de um litro de leite será produzido um litro de iogurte. Há mais um insumo no processo de produção do iogurte, os lactobacilos ou bactéria do bem do iogurte.

Agora, aqui vem a análise de produtos substitutos na produção. Se por algum motivo, nas condições do mercado o preço do iogurte aumentar de R$ 7,00 para R$ 9,00, será que a empresa irá desejar aumentar as quantidades de iogurte ofertadas? Com certeza sim! Porém, vamos supor que a empresa só pode adquirir 7.000 litros de leite, esta é a sua máxima capacidade. O que ela irá fazer, qual será a escolha de “custo de oportunidade”? A empresa irá fazer uma análise de produção e provavelmente aumentará a produção e quantidade de iogurte ofertado no mercado, mas em detrimento (perda) da produção de queijo. Lembre-se que só pode adquirir de seus fornecedores 7.000 litros de leite semanal. Eis uma análise de “custo de oportunidade” ou escolha: o fator nP (preço dos outros n produtos substitutos na produção), neste caso, é um determinante o aumento na produção de iogurte irá substituir a diminuição na produção de queijo, pois o preço do iogurte está mais atrativo para se produzir.

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FIGURA 17 – OFERTA DE QUEIJO E DE IOGURTE

FONTE: Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/afp/2015/05/28/suica-desvenda-misterio-dos-buracos-em-seus-queijos.htm>; <http://receitarapida24h.blogspot.com.br/2013/07/receita-de-iogurte-natural-clique-aqui.html>. Acesso em: 7 out. 2016.

Como podemos observar, a função geral da oferta determina o nível da quantidade ofertada de um produto em função direta às oscilações de preços do mercado. Ao contrário da procura, na lei da oferta, quanto menores os preços de uma mercadoria determinada, menores também serão as quantidades de produto ofertadas no mercado, pois menor será o incentivo por parte dos produtores em ofertar o produto no mercado. Entretanto, quanto maiores os preços, maiores também serão as quantidades ofertadas no mercado, como no caso do iogurte, quando o preço sobe de R$ 7,00 para R$ 9,00 o litro. A empresa fica incentivada em aumentar as quantidades de litros de iogurte a serem ofertados no mercado.

4.1 O FATOR CUSTO DE PRODUÇÃO NAS QUANTIDADES OFERTADAS

Existe um elemento fundamental na relação quantidade ofertada e preço de venda de uma mercadoria no mercado, o fator custo de produção/quantidade ofertada versus o preço de venda. Esta relação, custo/quantidade versus preço, fica refletida no comportamento da lei da oferta, a qual podemos interpretá-la por meio da seguinte função matemática:

Tendência da curva da Lei da Oferta si

i

q 0P

∆>

Desta função, temos que siq∆ é a variação da quantidade ofertada no mercado

que fica em função de iP∆ , ou seja, as variações das quantidades ofertadas vão se determinando em função da variação do preço de produto no mercado. Em outras palavras, o motivador da oferta diz que quanto maior o preço, maior será a oferta; e quanto menor o preço, menor será ela. Deste modo, se o preço de um produto aumentar no mercado, estimula as empresas a produzirem maiores quantidades, pois haverá maior receita (venda), tendo maior potencial de gerar lucro.

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TÓPICO 1 | A LEI DA PROCURA E DA OFERTA

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Talvez você esteja se perguntando, o que quer dizer isso, “maior que zero” (> 0)? O maior que ZERO quer dizer que se a variação das quantidades, em função da oscilação do preço, for menor que ZERO, logo a empresa não estará incentivada em mudar as quantidades ofertadas, pois o nível de preço no mercado está baixo demais. Qual o motivo disso?

O motivo é que se o preço de venda da mercadoria for menor que os custos de produção, não haverá incentivo para produzir. Segundo Samuelson, Nordhaus e Taylor (2012, p. 42), “um dos principais elementos básicos da curva de oferta é o custo de produção”. Quando os custos de produção de um produto estão baixos em relação ao preço de mercado, é rentável para os produtores fornecerem uma quantidade grande.

Os custos de produção são determinados de maneira direta pelos preços dos fatores de produção, dos processos produtivos e dos avanços tecnológicos. Quanto menores os preços dos fatores de produção e “melhor” for a tecnologia aplicada ao processo produtivo, menores serão os custos unitários de um determinado produto, logo, haverá incentivo em aumentar as quantidades ofertadas em função do nível de preços praticados no mercado. Isso porque, ao ter menores custos unitários “dado um nível de preço”, terá maior “potencial de lucro”. Nesse contexto, a tecnologia possui um papel fundamental, pois os avanços tecnológicos nos processos produtivos geram os seguintes incentivos:

• Avanços tecnológicos nos processos de produção geram processos mais produtivos, nos quais a produtividade “hora/homem” aumenta drasticamente.

• Avanços tecnológicos geram constantes inovações e novas invenções, um ciclo virtuoso, que vai se refletindo na produção de produtos com menores quantidade de recursos básicos e por meio de processos bem mais rápidos (menos tempo na cadeia produtiva).

O resultado disso é que de fato o avanço tecnológico gera um aumento considerável na capacidade efetiva de ofertar produtos e serviços. Este fator aumenta drasticamente a fronteira de produção. Além do fator tecnológico, e conforme mencionamos anteriormente, o fator “produtos substitutos no processo produtivo” é fundamental na determinação das quantidades ofertadas, fator representado como o elemento nP (preço dos outros n produtos substitutos na produção) da estrutura da lei da oferta. Você lembra da produção de iogurte versus produção de queijo? Segundo Samuelson, Nordhaus e Taylor (2012, p. 42):

Se o preço de um substituto de produção aumentar, a oferta de outro substituto diminuirá. Por exemplo, as empresas de automóveis costumam fazer vários modelos diferentes de carro na mesma fábrica. Se existir mais demanda por um modelo, e o seu preço aumentar, eles trocarão mais linhas de montagem para fazer esse modelo, e a oferta dos outros modelos cairá.

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4.2 FATOR PREÇO E A CURVA DA OFERTA

Neste momento, já podemos identificar claramente a relação nível de preço e quantidades ofertadas, e tudo o que implica no comportamento da estrutura da oferta de um determinado produto. Agora, vamos exemplificar isto por meio da nossa análise do pão de queijo de lanchonete, assim, vamos analisar o comportamento da quantidade ofertada em função às oscilações do preço, conforme o seguinte quadro:

QUADRO 12 – COMPORTAMENTO DA OFERTA E OS NÍVEIS DE PREÇO

FONTE: O autor

Observe que neste caso de comportamento da oferta, o interesse da empresa em colocar uma quantidade determinada de produto é exatamente ao contrário do interesse de compra por parte do consumidor. No caso exposto do pão de queijo, no extremo de preço de R$ 1,00 pela unidade, a quantidade ofertada será de apenas 3.500 unidades. E a quantidade procurada pelo consumidor será de 12.500 unidades; no extremo de preço de R$ 5,50 pela unidade, a quantidade ofertada será de 12.500 unidades e a quantidade efetivamente procurada pelo consumidor será de apenas de 3.500 unidades. Apresenta-se um interesse contraposto que será determinado pelo “preço de equilíbrio”. Preço que irá refletir o “encontro” das quantidades interessadas em adquirir, por parte dos consumidores, e das quantidades em ofertar, por parte da empresa. Ficou curioso? A seguir, abordaremos a definição do preço de equilíbrio no mercado.

Como podemos interpretar em um gráfico o comportamento do interesse em ofertar, por parte da empresa? Por meio da Curva da Lei da Oferta. A curva da Lei da Oferta reflete o fato que à medida que o preço aumentar, de igual maneira as ofertas também irão aumentar, se tornando quantidades bem mais expressivas. Este comportamento podemos observar no seguinte gráfico:

QuantidadesOfertadas

Preço porUnidade

Nível de Preçopor Unidade

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TÓPICO 1 | A LEI DA PROCURA E DA OFERTA

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GRÁFICO 9 – CURVA TÍPICA DE OFERTA

FONTE: Disponível em :<http://pt.slideshare.net/miltonh/demanda-e-oferta-201101>. Acesso em: 7 out. 2016.

A curva mostra um comportamento óbvio, se o quilo de maçã estiver R$ 10,00 haverá uma oferta bem maior de maçã, e se o preço estiver R$ 4,00 haverá menor quantidade de produto ofertado no mercado. De maneira geral, podemos observar que os preços e as quantidades ofertadas caminham na mesma direção.

4.3 A ESCALA COMPORTAMENTAL DOS PRODUTORES

A condição da curva da oferta está plenamente justificada na condição básica do produtor. Devemos observar novamente que o principal interesse econômico em comum, para todas as empresas, é a geração de lucro. Geração esta que vai se aprimorando à medida que as empresas conseguem melhorar a produtividade de suas atividades. Assim, o comportamento lógico das empresas nos diferentes níveis de preços explica-se pelos seguintes elementos:

• Na estrutura de custos de produção e na capacidade e interesse intrínseco das empresas em aprimorar seus custos. Isto é, tentar gerar o menor custo possível por unidade produzida e efetivamente ofertada ao mercado.

• Na capacidade de produção e gestão da produção.• Na capacidade de inovar e aplicar novas tecnologias.• Na capacidade de vender e distribuir.

Se adicionarmos aos elementos expostos acima uma melhora consistente dos preços no mercado, gerará um grande estímulo à mobilização de recursos adicionais, logo, maiores quantidades a serem ofertadas. Essa “mobilização

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de recursos” será refletida no incentivo das empresas em investirem nos seus negócios, exemplificando: com o aumento do interesse do público em consumir alimentos “funcionais” ou mais saudáveis, os preços de alimentos integrais vêm aumentando no mercado. A perspectiva de um preço melhor ficou na cabeça dos produtores, incentivando-os a investir mais nesse tipo de produto, pois essas “boas perspectivas” ativam o potencial de gerar lucro por parte das empresas, fazendo um efeito de ciclo positivo de investimentos no setor de alimentos “funcionais”.

Assim, nessa oscilação de preços e quantidade de oferta, é que de fato acontece a dinâmica da lei da oferta. Isso significa que os incentivos para o aumento das quantidades produzidas estão fundamentados na expansão dos níveis de preços, ou seja, essa expansão no preço é que torna possível uma elevação dos lucros empresariais, encorajando aos produtores no sentido de maiores níveis de produção e investimento. Em resumo, mantidas inalteradas todas as demais condições Coeteris Paribus, quanto maior for o nível de preço de um produto qualquer, maior será também a quantidade ofertada, por período de tempo determinado. O que vai acontecer quando as duas curvas se encontrarem? Haverá um preço de equilíbrio no mercado entre o interesse de consumir e o interesse em ofertar de um determinado produto.

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RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico você estudou que:

• O foco da microeconomia é o mercado, os fatores econômicos e comportamentais tanto dos consumidores como das empresas.

• O conceito “coeteris paribus” tem como objetivo básico verificar o impacto de variáveis econômicas isoladas, independentemente dos efeitos das outras.

• A procura de determinado produto define-se como as diversas possibilidades de quantidades que os consumidores estarão dispostos e aptos em adquirir, em função dos preços praticados no mercado.

• O comportamento do consumidor possui as seguintes características: o preço como limitante ao consumo; o fator da escolha de produtos substitutos; e a utilidade decrescente ou marginal.

• As quantidades efetivamente procuradas mudam inversamente proporcional à medida que os preços oscilam no mercado.

• A oferta é a capacidade de oferecer, por parte das empresas, uma determinada quantidade de produto em função do nível de preços praticados no mercado. Quanto maior o preço, maiores serão as quantidades ofertadas no mercado.

• A capacidade de ofertar dependerá dos fatores da produção, da infraestrutura e dos recursos produtivos.

• Os custos de produção são determinados de maneira direta pelos preços dos fatores de produção, dos processos produtivos e dos avanços tecnológicos.

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AUTOATIVIDADE

1 Determine qual o comportamento do consumidor na procura de bens e serviços em função do preço, e quais as características racionais do consumidor.

FONTE: Disponível em: <https://enciclopediaeconomica.wordpress.com/2012/12/10/curva-da-procura/>. Acesso em: 8 dez. 2016.

5 Como pode ser definida a oferta de determinado produto e quais os elementos que devem ser levados em consideração?

2 Determine quais as variáveis compõem a estrutura da Procura e qual a equação da Lei da Demanda.

3 Quais são os dois motivos da reação inversa das quantidades demandadas em função do preço? E qual é a fórmula matemática da Lei da Demanda?

4 O que indica a curva de procura?

6 Qual a função geral da oferta e quais as variáveis que determinam as quantidades ofertadas?

7 Determine como é representado o comportamento das empresas por meio da Lei da Oferta.

8 Qual é um dos principais fatores da curva da oferta? Explique sua importância.

9 Como os avanços tecnológicos podem influenciar na curva da oferta?

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TÓPICO 2

O PREÇO IDEAL E O COMPORTAMENTO DA

PROCURA E OFERTA

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

No primeiro tópico, estudamos sobre a lei da procura e da oferta e sobre os fundamentos comportamentais, tanto da curva da procura como da oferta. No entanto, faltou observar como é que os interesses dos consumidores e dos produtores representados por meio da curva da procura e da oferta vão se encontrar, e assim, determinar o preço ideal ou de equilíbrio no mercado.

2 O PREÇO DE EQUILÍBRIO

Devemos observar que na dinâmica do mercado, os consumidores e os produtores reagem diferentemente às variações dos preços, ou seja, eles possuem interesses conflitantes ou contrapostos. Isso ocorre porque os consumidores procuram o preço mais baixo possível para suprir suas necessidades, maximizando sua utilidade ou satisfação. Outro motivo é porque os produtores buscam um preço alto para a venda de seus produtos, dentro de suas possibilidades de ofertar. Assim, eles conseguem maximizar a geração de lucro.

Nesse contexto, acontece um processo de negociação natural e constante na dinâmica do mercado, no qual tanto os consumidores como os produtores conseguem definir “um ponto de encontro”, acordando assim, o preço ideal. Nesse preço ideal são estabelecidas tanto as quantidades demandadas como as quantidades produzidas, em função de um determinado nível de preço de mercado e das estruturas da procura e da oferta de um determinado produto.

2.1 A INTERAÇÃO DA PROCURA E DA OFERTA

Nesse processo de negociação natural do mercado, devemos avaliar “como” a dinâmica do mercado determina o preço de equilíbrio entre essas duas grandes forças conflitantes. Essa avaliação é feita por meio da análise de situações extremas, uma observa o comportamento da procura e da oferta quando o preço estiver bem baixo, e a segunda quando o preço estiver bem alto.

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UNIDADE 2 | MICROECONOMIA

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a) Preço baixo: se os preços forem muito baixos, os consumidores ficam tentados em comprar maiores quantidades. Porém, nesse nível de preços, os produtores podem ter pouco estímulo em vender essas quantidades, levando essa condição para um desequilíbrio de mercado, apresentando duas situações:

• Demanda maior que a oferta: os consumidores querendo comprar maiores quantidades e os produtores querendo ofertar menores quantidades, o que vai acontecer? Desabastecimento, pois os consumidores disputam as poucas mercadorias ofertadas. Com esse desabastecimento aumenta a disponibilidade dos consumidores em pagar mais um pouco.

• Oferta menor que a demanda: observando o desabastecimento, os produtores ficam tentados em elevar os preços, até finalmente encontrar um ponto de encontro de preço “ideal”.

b) Preço alto: se os preços forem altos em relação ao preço ideal, os consumidores compram menores quantidades em relação às quantidades que os empresários desejam vender, forçando-os a ofertar seus produtos/serviços num preço menor. Condição de mercado que apresenta as seguintes características:

• Demanda menor que a oferta: ao se apresentar um preço alto, existem menores quantidades efetivamente procuradas, logo, os consumidores compram menos e as empresas acumulam estoques.

• Oferta maior que a demanda: ao ter menos vendas e estoques se acumulando, os empresários baixam os preços até encontrar um preço que esteja dentro das condições naturais da estrutura dessa oferta e demanda.

Observe que quando o preço está abaixo do preço ideal, apresenta-se uma situação de excesso de procura (ou demanda), logo, haverá desabastecimento do produto no mercado. Quando o preço está acima do preço ideal, apresenta uma situação de excesso de oferta, logo, haverá acumulação de estoques por parte das empresas. Ambas situações podemos observar no seguinte gráfico:

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TÓPICO 2 | O PREÇO IDEAL E O COMPORTAMENTO DA PROCURA E OFERTA

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GRÁFICO 10 – PONTO DE EQUILÍBRIO, EXCESSO DE OFERTA E DEMANDA

FONTE: Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/1784027/>. Acesso em: 8 out. 2016.

No momento de se apresentar excesso de oferta, as empresas acumulam estoques, elas fazem queima destes estoques promovendo descontos e, efetivamente, baixando o preço da mercadoria. Isto acontecerá até que a própria dinâmica do mercado exponha o preço de equilíbrio. Entretanto, se existir preço muito baixo, haverá excesso de consumidores comprando, e os empresários ficarão sem estoques, incentivando-os para aumentar os preços. Esse aumento de preço acontecerá até achar o ponto de equilíbrio.

2.2. O PREÇO DE EQUILÍBRIO

Agora já podemos identificar economicamente uma situação óbvia de mercado, isto é, com um preço baixo mais consumidores desejam comprar, logo, pouco estoque nas empresas; e com um preço alto menos consumidores desejam comprar, logo, alto estoque nas empresas. Como podemos determinar o preço ideal no sobe e desce de preços?

Como princípio da lei da procura e da oferta, o preço de equilíbrio irá acontecer quando as quantidades ofertadas forem iguais às quantidades procuradas. Nesse encontro de nivelamento de quantidades procuradas e

Excesso de demanda

Excesso de oferta

Q1

D1 Of1

E

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ofertadas acontece o ponto de equilíbrio, no qual a dinâmica própria do mercado leva à fixação de um preço de equilíbrio. Isso serve para harmonizar o permanente conflito de interesses entre os produtores e os consumidores.

Lembra-se de nossa análise do pão de queijo e como reagem tanto os consumidores como as empresas às oscilações do preço? Agora vamos conferir qual será o preço de equilíbrio do pão de queijo nesse suposto mercado de lanchonetes:

QUADRO 13 – ANÁLISE DE QUANTIDADES E PREÇO DE EQUILÍBRIO

FONTE: O autor

Ao observarmos os dados apresentados, para níveis de preço abaixo de R$ 3,50, há um excesso de demanda, ou seja, quantidades procuradas maiores às quantidades ofertadas, logo, falta de estoque (desabastecimento). Entretanto, para níveis de preço acima de R$ 3,50, há um excesso de oferta, ou seja, quantidades procuradas menores às quantidades ofertadas, logo, acumulação de estoques. E se olharmos bem nesse preço de R$ 3,50, tanto as quantidades procuradas como as ofertadas serão iguais!

Nesse preço de R$ 3,50 haverá 8.000 unidades de pão de queijo, negociando-se nesse mercado de uma maneira “harmoniosa”, sem apresentar excesso de demanda nem excesso de oferta. Por que o preço de equilíbrio é de R$ 3,50 e não de R$ 4,00 ou de R$ 3,00? Isso acontece em função das condições bem específicas da estrutura tanto da procura como da oferta desse mercado (pão de queijo), assim, existe todo um comportamento de interesse de consumir e ofertar conforme vão acontecendo as variações de preço. Desse modo, podemos dizer que o preço de equilíbrio sincroniza por parte dos consumidores, o desejo e a capacidade real de compra, e do lado da oferta satisfaz a estrutura de custos e lucro. Não esqueça que essas condições vão se manifestando livremente na dinâmica de mercado. No caso específico do pão de queijo, a condição de equilíbrio será de R$ 3,50 e as quantidades, tanto procuradas como ofertadas, serão de 8.000 unidades.

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TÓPICO 2 | O PREÇO IDEAL E O COMPORTAMENTO DA PROCURA E OFERTA

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GRÁFICO 11 – PONTO DE EQUILÍBRIO ENTRE O PREÇO E QUANTIDADES DO MERCADO DE PÃO DE QUEIJO/LANCHONETES

FONTE: O autor

Observe no gráfico que essa situação de equilíbrio não acontece para os demais níveis de preços. Quando o preço se situa ao nível de R$ 2,50, as quantidades procuradas elevam-se para 9.800, porém, essa procura efetiva não será atendida, pois as quantidades ofertadas nesse preço serão de 6.200 unidades. Solução de mercado? Aumentar o preço até o nível de R$ 3,50, ou seja, o preço de equilíbrio entre as quantidades ofertadas e procuras serão de 8.000 unidades! Devemos nos lembrar também que nos preços mais baixos e mais altos do preço de equilíbrio, não há incentivos nem para ofertar nem para procurar, neste sentido:

•Nos preços mais baixos, abaixo de R$ 3,50, embora seja estimulante para os consumidores, não incentiva os produtores, pois venderão gerando menor lucro.

•Nos preços mais altos, acima de R$ 3,50, embora seja lucrativo para as empresas, inibe as quantidades efetivamente procuradas.

Eis o motivo dos interesses contrapostos que vão se negociando coletivamente no mercado até se conseguir um preço que seja de muito acordo entre as partes. Isto é, entre os consumidores que efetivamente procuram um produto e os produtores que efetivamente ofertam no mercado. Condição de preço que fica em função das condições de estrutura específicas tanto da procura como da oferta de um mercado específico, no caso analisado do mercado de pão de queijo.

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3 DESLOCAMENTOS DA CURVA DA PROCURA E/OU OFERTA

Devemos observar que tanto as curvas da procura como da oferta são dinâmicas, e qualquer mudança que acontecer nos elementos que fazem parte da estrutura desta podem alterar o comportamento das curvas, por consequência, mudar o preço de equilíbrio. Lembra quais são os elementos que fazem parte da estrutura das curvas, estudadas no tópico anterior? Caso não lembre, volte ao tópico anterior para rever.

Agora, levando em consideração essas estruturas, vamos exemplificar mudanças nos elementos que fazem parte delas. Assim, para efeitos de análise, vamos supor que essas estruturas (tanto da procura como da oferta) estão vinculadas ao mercado de aparelhos celulares, no qual se estabelece um preço de equilíbrio entre o procurado e ofertado de R$ 400,00; estabelece-se uma quantidade de equilíbrio de 6.400, entre o procurado e ofertado no mercado, em função desse nível de preço de R$ 400,00.

Acima ou abaixo desse preço de R$ 400,00, conforme as condições da estrutura das curvas da procura e oferta desse produto, apresenta-se excesso de oferta e excesso de procura, respectivamente. A seguir podemos observar o comportamento desse mercado em função dos níveis de preço.

QUADRO 14 – PREÇO DE EQUILÍBRIO E COMPORTAMENTO DAS CURVAS DA PROCURA E OFERTA

FONTE: O autor

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TÓPICO 2 | O PREÇO IDEAL E O COMPORTAMENTO DA PROCURA E OFERTA

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Do exposto no quadro e no gráfico podemos observar que nesse mercado específico de aparelho celular, o preço e quantidades de equilíbrio é de R$ 400,00 e 6.400 unidades, respectivamente. O que irá acontecer se as condições da estrutura da oferta ou da demanda mudar? Haveria um deslocamento de uma, ou das duas curvas, isto é, da curva da procura e/ou da oferta.

3.1 ALTERAÇÃO NA ESTRUTURA DA OFERTA

A estrutura da oferta pode mudar se qualquer um dos elementos que fazem parte dela mudarem, ou seja, dos elementos da ( )s

i i m nq f P, ,P ,T,A= π . Vamos supor que mπ (fatores da produção) mudaram e os custos de produção ficaram mais caros, pois houve aumento dos insumos importados que fazem parte do processo produtivo, em função de uma alta da taxa de câmbio do dólar americano (US$). O resultado desta situação será uma condição menos favorável da oferta e de um deslocamento da curva da oferta à esquerda, portanto, um preço de equilíbrio maior.

E se houver um US$ (dólar americano) mais barato? Ou seja, uma baixa na taxa de US$. Nesta situação, puxa os custos de produção para baixo, pois os insumos importados estão sendo adquiridos em um preço relativamente menor. O resultado disto seria uma melhor condição da estrutura da oferta, logo, um deslocamento da curva da oferta à direita e, portanto, um preço de equilíbrio menor. Aliás, condição que aconteceu no mercado de câmbio no ano 2012, quando o dólar estava na média em R$ 1,80 para a compra de US$ 1,00.

Voltando ao contexto de um US$ mais caro, a curva da oferta irá se deslocar à esquerda, e o preço de equilíbrio dos celulares ficará em um patamar maior. Vamos dar uma conferida na situação original de um preço de equilíbrio e para uma nova situação, considerando um aumento nos custos e deslocamento da curva de oferta à esquerda.

Lembra quando o dólar (US$) estava barato? No ano 2011 o dólar estava em uma média de R$ 1,70, com isso a importação de insumos estava bem mais barata. Disponível em: <http://www.idealsoftwares.com.br/indices/dolar2011.html>. Acesso em: 8 dez. 2016.

UNI

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QUADRO 15 - PREÇO DE EQUILÍBRIO E DESLOCAMENTO DA OFERTA À ESQUERDA

FONTE: O autor

GRÁFICO 12 – DESLOCAMENTO DA CURVA DA OFERTA

FONTE: O autor

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TÓPICO 2 | O PREÇO IDEAL E O COMPORTAMENTO DA PROCURA E OFERTA

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No gráfico, podemos observar claramente que um deslocamento à esquerda da curva da oferta representará um aumento do preço de equilíbrio, em contrapartida, um deslocamento da curva da oferta à direita representará uma diminuição do preço de equilíbrio. Desses dados apresentados podemos observar também que em função de um custo maior de produção, conforme o aumento do custo de aquisição de insumos importados, a capacidade de ofertar aparelhos celulares no mercado tem um impacto negativo. Deste modo, as quantidades ofertadas foram reduzidas, conforme o nível de preços. Em termos microeconômicos, houve um deslocamento da curva da oferta à esquerda.

Levando em consideração os dados expostos acima, tanto da procura como da oferta do exemplo, o preço de equilíbrio passou de R$ 400,00 e a quantidade de 6.400 unidades, tanto procuradas como ofertadas para R$ 500,00 e a quantidade de 5.000 unidades, tanto procuradas como ofertadas, ou seja, com o aumento dos custos as empresas estão dispostas a vender menores quantidades conforme o nível de preços do mercado. Assim, o encontro dos interesses dos que desejam comprar e das empresas que desejam ofertar acontecerá em um novo patamar de preço. Novo preço, que não haverá nem excesso de oferta e nem excesso de demanda, ou seja, harmonia de mercado.

3.2 ALTERAÇÃO NA ESTRUTURA DA DEMANDA

Assim como na curva da oferta, se houver um deslocamento da curva da demanda tanto à esquerda como à direita, haverá mudanças no preço de equilíbrio no mercado, mas a dinâmica será igual à da oferta? O preço de equilíbrio nesta situação muda sim, mas no sentido contrário de como acontece na curva da oferta, isto é, se houver mudanças na estrutura da demanda que gerem maior quantidade de produto procurado para cada um dos diferentes níveis de preços, logo, a curva da demanda irá se deslocar à direita e o preço de equilíbrio aumentará; se houver mudanças na estrutura da demanda que gerem menor quantidade de produto procurado para cada um dos diferentes níveis de preços, logo, a curva da demanda irá se deslocar à esquerda e o preço de equilíbrio diminuirá.

Você lembra quais dos elementos fazem parte da curva da demanda? São: ( )d

iq f pi, ps,pc, R,G .= A seguir vamos analisar e exemplificar mudanças no elemento R (Renda do consumidor), se considerarmos o aumento da renda disponível das famílias:

•Maior renda: se houver aumento da renda do consumidor, supondo aumento geral do salário classe média, haverá maior capacidade real de consumir, aumentando as quantidades procuradas em cada um dos preços dos produtos ofertados. O resultado disso é um deslocamento da curva da procura à direita, portanto, um preço de equilíbrio maior, pois haverá maiores quantidades procuradas para cada um dos possíveis preços da curva da demanda.

•Preferências para um smartphone em detrimento de um celular comum: se o consumidor começar a preferir comprar mais um smartphone de última geração,

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a procura por celulares comuns cairá, ou seja, mudança nos hábitos de consumo resultarão num deslocamento da curva da procura à esquerda, portanto, um preço de equilíbrio menor, pois haverá menores quantidades procuradas para cada um dos possíveis preços da curva da demanda.

Agora, exemplificando o exposto, vamos supor que no mercado de celulares houve uma mudança positiva na renda disponível para a compra efetiva desses aparelhos. Essa mudança no comportamento do consumidor irá fazer com que a curva da demanda apresente um deslocamento à direita, mas de quanto? Levando em consideração os dados apresentados no quadro abaixo, o novo preço de equilíbrio mudará de R$ 400,00, demandando e ofertando a quantidade de 6.400 unidades. E para R$ 500,00, demandando e ofertando a quantidade de 7.800 unidades. Observe o novo comportamento da demanda desse produto e seu novo preço e quantidades de equilíbrio:

QUADRO 16 - PREÇO DE EQUILÍBRIO E DESLOCAMENTO DA DEMANDA À DIREITA

FONTE: O autor

Como você pôde observar, o preço aumentará e as quantidades procuradas aumentarão também. Isso acontece porque neste exemplo, de fato, houve deslocamento da curva da demanda para a direita em função de um aumento da renda do consumidor, conforme estudaremos adiante.

4 FUNDAMENTOS DA ELASTICIDADE DA PROCURA E DA OFERTA

O termo de elasticidade está diretamente vinculado à sensibilidade das quantidades procuradas e ofertadas no mercado. No caso da elasticidade da procura, analisaremos a “sensibilidade” nas quantidades procuradas de um determinado produto em função direta do nível de preço praticado no mercado.

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TÓPICO 2 | O PREÇO IDEAL E O COMPORTAMENTO DA PROCURA E OFERTA

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Nesse sentido, devemos nos perguntar: quão sensível pode ser a procura e a oferta de um produto ou serviço em função do nível de preço?

Para responder a esse questionamento, estudaremos a seguir como reagem a procura e a oferta em função às variações dos preços praticados no mercado. Exemplificando: se o quilo de queijo aumentar de preço em 20%, será que as quantidades demandadas terão uma variação negativa maior que essa variação de preço? Pois quanto maiores os preços, menores as quantidades procuradas, certo? Assim, será que a queda na demanda desse produto fica maior que o aumento (20%)?

Com certeza alguns consumidores comprarão os produtos substitutos (relacionados), tal como o iogurte, e pensarão duas vezes antes de gastar, mas outros continuarão comprando. Neste exemplo, temos um caso de demanda elástica. Se o sal aumentar de preço em 40% (bem maior que o do queijo), será que as quantidades demandadas terão uma variação negativa maior que da variação do preço? Com certeza a demanda continuará quase igual, pois primeiramente, uma alta no preço do sal não vai impactar no orçamento familiar e, em segundo lugar, não há produto substituto do sal. Portanto, as quantidades de sal procuradas se mantêm quase iguais. Neste exemplo, temos um caso de demanda inelástica.

Desses dois exemplos, podemos compreender que as variações das quantidades demandadas em função do preço podem ter vários níveis de sensibilidade nos preços. Isso em economia é conhecido como elasticidade das quantidades procuradas e ofertadas, em função direta do nível de preço praticado no mercado. Quanto maior for a sensibilidade de um produto às variações do preço, maior será sua elasticidade!

4.1 A ELASTICIDADE DA PROCURA

Em condições gerais, os consumidores podem consumir maiores quantidades quanto menor for o preço de um determinado produto. Logo, uma curva padrão de procura elástica mostra que uma subida repentina no preço gera uma alteração para menores quantidades procuradas, isto é, em proporção maior à variação do preço. A seguir podemos observar como é a curva da procura sob duas condições, elástica e inelástica.

4.1.1 Fatores que influenciam na elasticidade preço da procura

Há duas situações extremas de curva da demanda, uma inelástica e a outra elástica. Por que isso acontece e quais condições particulares de cada bem ou serviço que influenciam nas quantidades procuradas para que elas sejam mais elásticas ou mais inelásticas às variações dos preços? Lembram dos exemplos do

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UNIDADE 2 | MICROECONOMIA

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queijo e do sal expostos acima? A resposta está lá, mas vamos dar uma aprofundada nisso, analisando todos os fatores que fazem com que uma procura seja elástica ou inelástica.

a) Fator 1 - A existência ou não de substitutos para o produto: os produtos que não têm substitutos ou similares apresentam uma curva de procura tipicamente inelástica, pouco sensível ao preço. Porém, à medida que passam a existir substitutos, o grau de elasticidade-preço aumenta. Isto é, quanto maiores opções de substitutos, maior será também a elasticidade da demanda, logo, maior sensibilidade aos preços. Produtos que podemos considerá-los inelásticos, tais como o Diesel dos caminhões, que não pode ser trocado por outro combustível, em curto prazo, assim, terá uma demanda inelástica, pois não é sensível às variações dos preços. Caso o preço do óleo diesel aumentar, os transportes pesados e urbanos precisarão manter a oferta de seus serviços, tanto faz se o preço do diesel está mais caro. Também podemos citar novamente o sal de cozinha, que não há substitutos para este produto.

Produtos que têm substitutos: estes tipos de produtos podem ser supridos por outros que tenham características similares, com a capacidade de suprir a necessidade ou desejo procurado. Portanto, podem apresentar uma demanda tipicamente elástica, como decidir entre o consumo entre manteiga e margarina. Se o preço da manteiga aumentar demais, a necessidade de consumir será trocada pela margarina. Em épocas de crise, e hoje por questões ambientais, a carne está ficando cara demais, mudar para uma dieta com maior peso de proteína vegetal seria a solução. Nestes exemplos existem diversas alternativas diante da perspectiva do poder de escolha do consumidor.

b) Fator 2 - Importância do produto no orçamento familiar e a periodicidade com que ele é adquirido: produtos como o sal de cozinha, canela em casca e o cravo-da-índia tendem a ser inelásticos, pois as quantidades procuradas são relativamente pequenas e de pouco peso no orçamento familiar. Se o preço do sal aumentar de R$ 1,70/quilo para R$ 2,50, será que esse novo valor irá impactar no orçamento familiar? Com certeza não, pois uma família consome, no máximo, um quilo por mês, se não menos, assim o valor relativo de um quilo é baixo. Podemos dizer que a procura do sal será pouca, ou quase nada, sensível às alterações de preços, ou seja, é bem inelástica.

c) Fator 3 - A essencialidade do produto: os bens considerados essenciais à subsistência humana tendem a ter uma curva de procura menos elástica do que os bens considerados supérfluos. Desse raciocínio podemos ter dois tipos de produtos: os essenciais e os não essenciais.

Produtos essenciais: aqui podemos citar o uso de combustíveis que têm pouca sensibilidade no preço, por ser um produto essencial para se deslocar, ou seja, a sua demanda é maioritariamente inelástica.

Produtos supérfluos: no outro extremo dos essenciais temos os supérfluos, ou produtos que não são essenciais à vida humana em sociedade, nem possuem

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peso no orçamento básico das famílias. Assim, se ficarem muito caros haverá um menor número de pessoas com disponibilidade em comprar. A exemplo disso, temos as viagens turísticas, ou uma garrafa de vinho. Portanto, são produtos considerados altamente elásticos ou sensíveis ao preço.

d) Fator 4 - Horizonte de consumo: se um produto terá vários anos de uso, inclusive décadas, os consumidores antes de comprá-lo terão mais tempo de fazer uma análise para comparar ofertas e preços no mercado. Logo, os consumidores terão mais formas para substitui-lo quando o preço aumentar. Esta condição faz com que o produto apresente uma procura mais sensível aos preços, ou seja, mais elástica, a exemplo disso, temos os carros, apartamentos, casas, entre outros.

Assim, podemos observar que a sensibilidade das quantidades procuradas, ou seja, a elasticidade de um produto dependerá dos fatores expostos acima, levando em consideração que existem produtos que podem apresentar um ou uma combinação desses fatores. Como também devemos considerar que existem vários graus de elasticidade. Esse nível ou grau de elasticidade em microeconomia pode ser medido, se observarmos o comportamento da curva da demanda e o peso dos fatores expostos acima.

Portanto, cada produto ou cada classe de produtos têm uma curva de procura própria e diferenciada, indicando assim quão diferentes podem ser suas sensibilidades às variações de preços. Para certos produtos, uma pequena alteração nos preços pode provocar uma alteração muito acentuada nas quantidades procuradas, logo, um alto grau de elasticidade. Para outros, pode acontecer exatamente o contrário, mesmo uma alteração muito acentuada nos preços não possui grande impacto nas quantidades procuradas, portanto, um baixo grau de elasticidade ou demanda tipicamente inelástica.

4.1.2 Cálculo da elasticidade-preço da procura

Conforme foi visto, podemos observar que existem vários graus de elasticidade, condição de análise que é interpretada matematicamente por meio da função da elasticidade da demanda, sendo esta:

Є= Modificação percentual do preço

Modificação percentual da quantidade procurada Є= Variação % de Q procuradaVariação % do preço

A função matemática da elasticidade exposta acima apura o grau de sensibilidade das quantidades procuradas em função à variação do preço desta. Vamos supor a seguinte situação:

Um produto (x) teve uma variação de seu preço no mercado de R$ 10,00 para R$ R$ 12,50, isto representa uma variação percentual de 25% no preço, ou

seja, 25% = ( R$1 2,50R$1 0,00

-1) x 100.

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Levando em consideração esse novo preço de mercado, foi observado que os consumidores diminuíram a quantidade consumida, de 1.000 unidades para 700 unidades, isso representa uma variação percentual de menos 30% na quantidade

procurada, ou seja, - 30% = ( 7001000

-1) x 100.

Com esses dois cálculos da variação percentual, podemos apurar o grau de elasticidade, nesse caso:

Є= Variação % de Q procuradaVariação % do preço Є= 30

25%% Є= 1,20

Assim, o grau de elasticidade desse produto em específico será de 1,20. Em termos econômicos, isso quer dizer que se o grau de elasticidade for maior que “um”, como neste caso de 1,20, esse produto apresenta uma elasticidade elástica. Se observarmos, a variação das quantidades procuradas é MAIOR que a variação no preço apresentado. A seguir, estudaremos as três grandes classificações dos graus da elasticidade da demanda (procura).

Tipos de elasticidade-preço da procura: existem três grandes grupos de elasticidade: Procura Elástica, Elasticidade Unitária e Procura Inelástica.

a) Procura elástica: neste caso, um aumento das quantidades procuradas é mais do que proporcional à redução relativa dos preços, logo Є > 1,0 Є MAIOR QUE UM.

Ex.: se temos uma queda de 25% no preço de uma mercadoria, isto poderia representar um aumento de 45% nas quantidades procuradas, ou seja: Є= 1,8 Є= 45

25%% . Neste caso, como Є > 1,0, logo, é uma procura elástica.

b) Elasticidade unitária: neste caso, a variação relativa das quantidades procuradas é exatamente proporcional à variação relativa dos preços. Logo Є = 1,0.

Ex.: uma queda de 25% no preço de uma mercadoria implica num aumento de 25% no seu consumo. Neste caso, Є= 1,0. Apresentando uma procura unitária, pois: Є = 1,0.

c) Procura inelástica: neste caso, a variação relativa das quantidades procuradas é menos do que proporcional à variação relativa dos preços. Logo Є < 1,0.

Ex.: uma queda de 15% no preço de uma mercadoria implica num aumento de 10%

no seu consumo. Neste caso, Є= 0,67 Є= 1015

%%

. Assim, a procura será inelástica, pois: Є < 1,0.

Podemos observar estes coeficientes da procura elástica, unitária e inelástica, por meio do seguinte gráfico:

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GRÁFICO 13 – COMPORTAMENTO DA CURVA DA PROCURA E SUA ELASTICIDADE

FONTE: Disponível em: <http://unipvirtual.com.br/material/MATERIAL_ANTIGO/mix_marketing/modulo8/mod_8.html > Acesso em: 9 out. 2016.

Podemos observar no gráfico como a curva da demanda tende a ser mais horizontal à medida que se apresenta uma condição de maior elasticidade. Entretanto, quanto menor for a elasticisade, mais vertical será a curva da demanda, a exemplo disso temos o sal, o consumo de energia elétrica, o diesel, entre outros. E quanto maior for a elasticisade, mais horizontal será a curva da demanda, a exemplo disso temos uma garrafa de vinho, uma caixa de chocolate, um carro etc.

A seguir vamos observar o comportamento de uma série de produtos com seu histórico de elasticidade da economia dos Estados Unidos. Aqui podemos visualizar uma série de produtos e serviços com seu grau de sensibilidade para o consumidor norte-americano.

QUADRO 17 – GRAUS DE ELASTICIDADE DE DEMANDA DE PRODUTOS E SERVIÇOS NOS ESTADOS UNIDOS

Bem ou ServiçoElasticidade de

PreçoTomates 4,60Ervilhas 2,80

Jogo legalizado 1,90Serviços de Táxis 1,24

Móveis 1,00Cinema 0,87Sapatos 0,70

Serviços Legais 0,61Seguro Médico 0,31

Viagem de ônibus 0,20Energia residencial 0,13

FONTE: Samuelson, Nordhaus e Taylor (2012)

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Desta tabela do consumidor norte-americano podemos observar que:

Estimativas de elasticidade-preço da demanda mostram uma grande variação. As elasticidades geralmente são altas para produtos cujos substitutos próximos já estão disponíveis, como tomates e ervilhas. Elasticidades baixas de preço existem para aqueles produtos como a energia, que são essenciais para a vida diária e que não têm substitutos próximos (SAMUELSON; NORDHAUS; TAYLOR, 2012).

Como expõem os autores Samuelson, Nordhaus e Taylor (2012), a procura por bens e serviços essenciais com pouca substituição apresenta uma elasticidade baixa (ou inelástica), tais como serviços legais: quando você precisa de um advogado para um processo legal não há escolha, tem que ser feito; viagem de ônibus: as pessoas precisam se deslocar; energia residencial: as famílias precisam da energia para suas necessidades básicas do lar; entre outras. Se observarmos, quanto mais próximo a “1,00” (UM) menos inelástica será a procura, tal como os serviços legais; quanto menor de “1,00 (UM) mais inelástica será a procura, tal como o consumo de energia elétrica.

5 FUNDAMENTOS DA ELASTICIDADE DA OFERTA

Assim como a elasticidade da procura, a elasticidade da oferta mostra o “nível” de sensibilidade das “variações” das quantidades em função das “variações” dos preços praticados no mercado, mas desta vez do lado da oferta dos bens e serviços produzidos pelas empresas. Diante disso, a curva da oferta expõe como mudanças no nível dos preços, tanto para cima quanto para baixo; incentiva para uma alteração, também para cima ou para baixo das quantidades ofertadas no mercado. As empresas também reagem imediatamente às mudanças dos preços, mas será que esse comportamento das quantidades ofertadas será aproximadamente igual para todas as mercadorias ofertadas no mercado? Certamente não! Dependerá muito da capacidade de mudar a curto prazo as quantidades ofertadas por parte das empresas, apresentando assim, elasticidades diferentes da oferta para os diversos bens e serviços ofertados.

Esse comportamento não necessariamente é igual, aliás, cada oferta é diferente. Comportamento este que depende de alguns fatores da produção e distribuição. Veremos alguns exemplos de como poderia reagir a produção e oferta de alguns bens diferentes no mercado:

•Se houver um acréscimo no preço de mercado do pão, uma padaria poderia aumentar a produção, logo, com as quantidades ofertadas imediatamente poderão comprar maiores quantidades de insumos (farinha, ovos, óleo etc.).

•Se houver um acréscimo no preço de mercado de carros novos, uma montadora de carros não teria a capacidade de aumentar a produção “imediatamente”, é necessário combinar novas ordens de compra com os fornecedores, inclusive muitas peças dos veículos são importadas, demorando vários meses para que um aumento das compras tenha efeito.

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Resultado: ao contrário da padaria que, aliás, tem a capacidade de aumentar a oferta de um dia para outro, o aumento da produção e da oferta de veículos novos irá demorar vários meses. Portanto, nesses dois casos expostos acima, há diferentes graus possíveis de sensibilidade das quantidades ofertadas em função do preço.

Esse fato leva a diferentes coeficientes de elasticidade-preço da oferta, assim, podemos dizer que para certos produtos, uma pequena alteração nos preços pode provocar uma grande alteração nas quantidades ofertadas, isso a curto prazo. Para outros, mesmo uma alteração muito acentuada nos preços não é capaz de provocar grandes modificações nas quantidades ofertadas, isso a curto prazo.

5.1 FATORES QUE INFLUENCIAM A ELASTICIDADE-PREÇO DA OFERTA

O que pode influenciar a elasticidade da oferta? Para responder a isso, devemos ver que há diferentes graus de elasticidade dos diversos bens e serviços ofertados, vimos os dois casos extremos: a oferta de pão e de carros novos. Diante disso, podemos dizer que os diferentes graus de sensibilidade (elasticidade) acontecem por vários motivos, ou “fatores da produção”, sendo resumidos em dois grandes grupos: o fator tempo, para aumentar a produção; e o fator disponibilidade de recursos produtivos.

Como o fator tempo pode influenciar no aumento da capacidade de produção? Existem casos em que não há condições de suprir, a curto prazo, um aumento das quantidades ofertadas, em função das variações observadas nos preços, como no exemplo da produção de carros. Nesses casos, somente depois de vários meses – inclusive anos (ex.: nova usina elétrica) – será possível suprir essa chance de aumentar a produção. Esse aumento da produção demanda de novos investimentos (recurso de bens de capital), exemplificando:

•No caso do aumento da produção de carros ofertados, uma montadora de carros teria que comprar e instalar novos galpões e equipamento industrial, isso pode demorar pelo menos um ano. Diante do exposto, podemos dizer que a oferta de novos carros é considerada como inelástica, uma vez que os produtores não reúnem todos os fatores de produção de maneira imediata, com vistas de aumentar as quantidades ofertadas na proporção desses aumentos de preços. Somente poderiam fazê-lo no período de, pelo menos, um ano. Assim, a oferta de veículos pode ser considerada como inelástica, pois a capacidade de aumento nas quantidades ofertadas demora muito em função do tempo de ofertar novas quantidades produzidas.

•No caso do aumento da quantidade de pão ofertado, uma padaria pode aumentar a sua produção/bem a curto prazo, em semanas. O padeiro poderia comprar um novo forno industrial e em questão de dias a sua produção instalada aumentaria sem maiores problemas. Diante disso, a oferta de pão pode ser definida como elástica, uma vez que os produtores reúnem, sim, todos os

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fatores da produção para fazer acontecer o aumento da produção em função de tempos curtos. Assim, a oferta de pão é elástica, pois a capacidade de aumento nas quantidades ofertadas demora quase nada em função do tempo de ofertar novas quantidades produzidas.

O segundo grande fator que impacta na elasticidade da oferta é a disponibilidade de recursos produtivos, recursos natural, humano e de capital financeiro. Quanto maior a rapidez de adquirir (disponibilidade) esses recursos, maior será também a elasticidade das quantidades ofertadas no mercado, logo, mais elásticos serão os coeficientes de elasticidade-preço da oferta.

Se voltarmos para nossos exemplos da produção de carros e pão, temos que a indústria de carros, embora poderia ter na sua montadora capacidade de aumentar a sua produção, será que teria disponíveis todos os insumos para aumentar a produção em questão de dias? A resposta é NÃO. Teria que combinar com seus fornecedores quantidades maiores de todas as peças que fazem parte do carro, logo, a oferta de carros seria inelástica, uma vez que os produtores não reúnem as condições de comprar imediatamente todos os insumos e assim aumentar as quantidades ofertadas em função do fator tempo. E será que o padeiro tem disponível todos os insumos para aumentar a produção em questão de dias? A resposta é SIM, pois teria que apenas aumentar a compra de farinha, ovos, leite, margarina, entre outros, disponíveis imediatamente no mercado, assim, a oferta de pão é elástica, uma vez que os produtores reúnem as condições para comprar imediatamente os insumos necessários e aumentar as quantidades ofertadas em função dos aumentos de preços.

Outro fator importante a ser considerado no fator disponibilidade de recursos é o recurso humano. No caso da montadora de carros ou de uma indústria farmacêutica, o recurso humano para realizar as operações é considerado altamente qualificado, logo, demora mais tempo a contratação desse tipo de profissional. Inclusive, quando forem contratados, geralmente os profissionais devem passar por uma fase de treinamento e capacitação interna. Entretanto, no caso de uma padaria, a contratação e capacitação do recurso humano é bem mais rápido. Assim, o fator do nível de conhecimento do profissional influencia também no coeficiente da elasticidade da oferta.

5.2 COEFICIENTE DA ELASTICIDADE-PREÇO DA OFERTA

Como acabamos de observar, os diversos bens e serviços ofertados no mercado possuem elasticidades da oferta diferentes. Essas diferenças na elasticidade mudam conforme as condições das particularidades dos fatores da produção, o que pode ser representado matematicamente por meio do coeficiente da elasticidade-preço da oferta. Essa função calcula a sensibilidade da quantidade ofertada conforme a variação de preço, relação que pode ser interpretada matematicamente através da seguinte função:

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€o = Modificação percentual da quantidade ofertadaModificação percentual do preço Єo = Variação % de Q ofertada

Variação % do preço

A função matemática da elasticidade exposta acima apura o grau de sensibilidade das quantidades ofertadas em função da variação do preço, a exemplo disso, pense que um produto (x) teve uma variação de seu preço no mercado de R$ 10,00 para R$ R$ 12,50, isto representa uma mudança percentual de 25% no preço, ou seja, 25% = ( R$1 2,50

R$1 0,00 -1) x 100.

a) Esse novo preço do produto faz aumentar de 1000 unidades as quantidades ofertadas, quando o preço estava em R$ 10,00, para 1350 unidades quando o preço mudou para 12,50. Isso representa uma variação percentual de mais 35% na quantidade ofertada, ou seja, + 35% = ( 1350

1000 -1) x 100.

b) Agora, com esses dois cálculos da variação percentual, podemos apurar o grau de elasticidade, neste caso:

Є= Variação % de Q ofertadaVariação % do preço

Є= 35%25% Є= 1,40

Assim, o grau de elasticidade desse produto, em específico, será de 1,40. Em termos econômicos isso quer dizer que se o grau de elasticidade for maior que um, como neste caso de 1,40, esse produto apresenta uma elasticidade tipicamente elástica. Se observarmos, a variação das quantidades procuradas é MAIOR que a variação no preço apresentado. A elasticidade da oferta é classificada em três grupos: oferta elástica, elasticidade unitária e oferta inelástica.

• Oferta Elástica: a expansão relativa das quantidades ofertadas é mais do que proporcional ao incremento relativo dos preços, logo, € > 1,0, maior que UM. No exemplo exposto acima a elasticidade da oferta é elástica, pois Є= 1,40.

• Oferta de Elasticidade Unitária: a expansão relativa das quantidades ofertadas é proporcional ao aumento relativo dos preços, logo, € = 1,0. Ex.: um aumento de 35% no preço de uma mercadoria implica num acréscimo de 35% de sua oferta, logo, € = 1,0 Є= 35%

35% .

• Oferta Inelástica: a expansão relativa das quantidades ofertadas é menor do que proporcional ao incremento relativo dos preços, logo, € < 1,0, menor que UM. Ex.: um aumento 25% no preço de uma mercadoria implica num incremento de só 10% na sua oferta. Neste caso, €= 0,4 Є= 25%

10% .

Podemos observar esses coeficientes por meio dos seguintes gráficos:

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UNIDADE 2 | MICROECONOMIA

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GRÁFICO 14 – COEFICIENTES DA ELASTICIDADE PREÇO DA OFERTA

FONTE: Disponível em: <http://dmandayoferta.blogspot.com.br/2013_03_01_archive.html> Acesso em: 12 out. 2016.

Observe como a curva da oferta tende a ser mais horizontal à medida que apresenta uma condição de maior elasticidade. Quanto menor for a elasticidade, mais vertical será a curva da oferta, exemplo extremo: a oferta de energia elétrica leva alguns anos para aumentar a oferta desse serviço em função do alto grau de investimento e demora em poder aumentar as quantidades de kWh ofertadas. Quanto maior for a elasticisade, mais horizontal será a curva da oferta, exemplo extremo disso: a oferta de pastéis em uma lanchonete, pois leva só algumas horas para aumentar a oferta deste produto.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você estudou que:

• O preço de equilíbrio irá acontecer quando as quantidades ofertadas foram iguais às quantidades procuradas.

• Tanto na demanda quanto na oferta de qualquer bem ou serviço podem acontecer deslocamentos da curva (demanda e/ou oferta). Isto acontece quando as estruturas da demanda e/ou oferta mudam.

• A elasticidade da procura analisa a “sensibilidade” das quantidades procuradas de um determinado produto em função direta do nível de preço praticado no mercado.

• Os fatores que fazem com que uma procura seja elástica ou inelástica são a existência ou não de substitutos para o produto; produtos que têm substitutos; a importância do produto no orçamento familiar; a essencialidade do produto; e horizonte de consumo.

• A elasticidade da oferta analisa a “sensibilidade” das quantidades ofertadas pelas empresas de um determinado produto em função direta do nível de preço praticado no mercado.

• Os fatores que fazem com que uma determinada oferta seja elástica ou inelástica são as condições dos “fatores da produção”, sendo resumido em dois grandes grupos: o fator tempo – para aumentar a produção –; e o fator disponibilidade de recursos produtivos.

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AUTOATIVIDADE

1 Como acontece o preço de equilíbrio entre consumidores e produtores?

Qual seria o preço de equilíbrio entre a procura e oferta de leite?

3 Considerando o mercado de leite integral, se as pessoas começarem a preferir consumir leite semi-integral, o que vai acontecer com a demanda de leite integral?

a) Para onde vai se deslocar a curva da procura?b) Será que preço de equilíbrio também mudará?c) Faça um gráfico interpretando isso.

4 A exemplo do leite, mas agora do lado da oferta, o que poderá acontecer à oferta desse produto se o inverno fosse muito rigoroso? Haverá uma queda na produção de leite, ou seja, os produtores produzirão menores quantidades, assim, seus custos de produção aumentarão.

a) Para onde vai se deslocar a curva da oferta? b) Será que preço de equilíbrio também mudará?c) Faça um gráfico interpretando isso.

2 Vamos supor que a quantidade de leite integral procurada no Vale do Itajaí está entre 75.000 e 110.000 litros/dia, apresentando o seguinte comportamento de consumo e oferta em função do preço.

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5 Se houver uma melhora no clima, portanto, maior disponibilidade de alimento e água para as vacas, o que vai acontecer com a estrutura da oferta do leite?

a) Para onde vai se deslocar a curva da procura? b) Será que o preço de equilíbrio também mudará?c) Faça um gráfico interpretando isso.

6 Como seria a elasticidade-preço de um produto quando existir vários produtos substitutos?

7 Quais os fatores que influenciam a elasticidade-preço da demanda (procura)?

8 Determine qual o significado de elasticidade-preço da oferta e exponha os graus de sensibilidade da oferta.

9 Como é caracterizada a elasticidade ofertada da energia elétrica? Como se explica esse comportamento?

10 Como é caracterizada a elasticidade oferta do pão? Como se explica esse comportamento?

11 Como funcionam os fatores que determinam a elasticidade-preço da oferta? Exponha situações de fator tempo e disponibilidade de recursos.

12 Com um aumento na produção de leite, o quilo de queijo teve uma queda drástica no seu preço passando de R$ 22,00 para R$ 14,00. Quando o preço estava em R$ 22,00 as quantidades procuradas eram de 1.000 quilos, e após a queda do preço para R$ 14,00 as quantidades procuradas aumentaram para 1.500 quilos. Levando em consideração esses dados determinar a elasticidade desse produto, e se ele é elástico ou inelástico.

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TÓPICO 3

A TEORIA MARGINAL E O COMPORTAMENTO DO

PRODUTOR

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Na dinâmica microeconômica existem dois principais agentes (além do Estado), isto é, as famílias, consumidores; e as empresas, centros produtivos e de comercialização. Nos tópicos anteriores estudamos sobre a lei da procura e da oferta e do comportamento da estrutura dessas duas curvas com sua respectiva elasticidade (sensibilidade relativa) conforme as oscilações dos preços. Em termos de análise do comportamento, tanto do consumidor como da empresa, a microeconomia analisa tanto o incentivo ao consumo quanto a produção de um determinado produto. Esta análise de mensurar o comportamento dos agentes é feita por meio da teoria marginalista da utilidade marginal, tanto do consumidor quanto da empresa.

2 FUNDAMENTOS DA UTILIDADE MARGINAL DECRESCENTE DO CONSUMIDOR

Como podemos medir o comportamento racional do consumidor no momento que ele satisfaz uma necessidade ou desejo específico? Esse motivador do consumidor pode ser medido por meio do conceito da maximização da satisfação (utilidade) que cada consumidor possui intrinsicamente.

Nesse sentido e em termos de análise comportamental, os consumidores sempre procuram maximizar suas necessidades e desejos através de um raciocínio lógico e sistemático no momento de executar a compra de um determinado produto. Esse comportamento é subjetivo para cada pessoa, mas padronizando, o consumidor sempre procura potencializar sua satisfação (utilidade) no momento da escolha de comprar um determinado bem ou serviço. Qual o limite na constante procura de potencializar a utilidade de consumo?

O limite ao consumo está diretamente ligado à renda disponível e à utilidade marginal. Limite refletido no comportamento racional do consumidor, analisado por meio das três variáveis da escolha de consumir um determinado produto, sendo: o preço, o efeito substituição e a utilidade marginal.

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UNIDADE 2 | MICROECONOMIA

a) O preço: serve como obstáculo à compra, ou seja, como limite ao nível de gasto, visando satisfazer uma necessidade específica, tal como o almoço durante os dias de serviço. O consumidor de classe média, no horário de almoço, poderá escolher um restaurante de preço relativamente baixo: R$ 14,00 pelo buffet livre. O consumidor de classe média alta, no horário de almoço, poderá escolher um restaurante de preço médio alto: R$ 20,00 ou mais.

b) O efeito substituição: o fator substituição serve como escolha para satisfazer uma necessidade específica, por exemplo, termos vontade de assistir a um filme, logo: podemos ir ao cinema, alugar um filme, procurar filmes disponíveis na TV ou assistir na internet. A escolha dependerá muito do preço e da renda disponível do consumidor para cada uma das opções, mas observe que todas satisfazem a vontade de assistir a um filme.

c) A utilidade marginal: o fator saciedade varia conforme se consomem unidades adicionais de um produto. Assim, à medida que se consomem unidades adicionais, o fator satisfação (utilidade) da última unidade irá diminuir também. Isso é conhecido como “utilidade marginal”, ou seja, a análise da utilidade no acréscimo de mais uma unidade. Por exemplo, se estamos com vontade de comer pipoca durante o filme, podemos comer uma porção, logo mais uma, e mais uma... Até simplesmente não termos mais vontade, ficamos saciados e paramos de consumir.

A utilidade marginal é precisamente o último fator que faz parte dos principais elementos dos fundamentos de análise microeconômica, conceito conhecido como A Teoria Marginalista. Este conceito econômico foi desenvolvido pelo economista neoclássico William Stanley (1835-1882), exposto na sua principal obra: Theory of Political Economy. A teoria marginal baseia-se no poder da escolha, ao adicionar mais uma unidade, eis que o nome de marginal, neste contexto, quer dizer adicionar mais uma unidade.

2.1 O PRINCÍPIO DA UTILIDADE MARGINAL DECRESCENTE DO CONSUMIDOR

A teoria marginal tem como base o poder da escolha, e no caso do princípio da utilidade marginal, devemos observar que para o consumidor, “utilidade” significa satisfação intrínseca de cada indivíduo. Assim, no princípio da utilidade marginal decrescente do consumidor, ela possui como base de análise o poder de decidir, de adicionar mais uma unidade à satisfação de consumir um produto determinado. Segundo Samuelson, Nordhaus e Taylor (2012):

Considere que o consumo da primeira unidade de sorvete lhe dará certo grau de satisfação ou utilidade. Agora, imagine que você consome uma segunda unidade. A sua utilidade total aumenta porque a segunda unidade lhe dá alguma utilidade adicional. E o que aconteceria com uma terceira e uma quarta unidade do mesmo bem? Se tomasse muitos sorvetes, você acabaria por ficar doente em vez de aumentar a sua satisfação ou utilidade.

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TÓPICO 3 | A TEORIA MARGINAL E O COMPORTAMENTO DO PRODUTOR

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Segundo o exposto pelos autores, fica claro que à medida que o consumo de sorvete é maior, nossa satisfação total aumenta também, mas a utilidade de cada pequena unidade adicional vai diminuindo, até que tenhamos que escolher se adicionamos mais uma unidade ou não, em função de sua percepção de satisfação total. Este raciocínio nos leva ao conceito da utilidade marginal decrescente, que diz:

[...] à medida que uma pessoa consome cada vez mais de um bem, a utilidade adicional, ou marginal, diminui. Para compreender essa lei, recorde, primeiro, que a utilidade tende a aumentar quando se consome mais de um bem. Contudo, ao consumir cada vez mais, a utilidade total crescerá a uma taxa cada vez menor. Isso é o mesmo que dizer que a sua utilidade marginal (a utilidade adicional acrescentada pela última unidade consumida do bem) diminui com o aumento do consumo de um bem (SAMUELSON; NORDHAUS; TAYLOR, 2012).

Assim, à medida que aumentamos o consumo de mais uma unidade, a utilidade total aumenta, porém, a utilidade marginal (a última unidade consumida) decresce. É precisamente a utilidade marginal que nos dará a percepção para escolher se continuamos consumindo ou não um determinado bem. A teoria marginalista do consumidor está sustentada nos seguintes princípios:

a) A utilidade de um produto pode ser percebida: isto quer dizer que a satisfação pode ser mensurada em termos relativos para cada consumidor. Apesar de que cada consumidor possui gostos e preferências específicas, ele percebe um grau subjetivo de utilidade em cada um dos produtos e serviços a serem consumidos. Grau de utilidade que pode ser comparado e medido como o grau de utilidade atribuído para outros produtos semelhantes. Por exemplo, um consumidor pode ter preferência pelas frutas, mas destas, poderia preferir a maçã. Portanto, poderia dar um grau de utilidade maior ao consumir maçã, em detrimento (perda) das outras frutas. Esse fato das preferências do consumidor é refletido na disponibilidade em pagar mais um pouco pelo quilo de maçãs.

b) A utilidade total de um produto/serviço é acumulativa: ela é acumulativa até o ponto de saturação. Isso significa que todo produto/serviço, por melhor que esse seja, há um limite. No momento de consumir unidades adicionais, o grau de satisfação total vai acumulando até chegar à saturação. Porém, o grau de utilidade marginal em cada unidade adicional consumida vai diminuindo. Por exemplo, pela manhã uma pessoa pode gostar muito de seu cafezinho, então a primeira xícara será muito boa, se atribuirmos um grau de satisfação subjetiva a “5”. A segunda xícara será boa, se atribuirmos um grau de satisfação de “3”, acumulando um grau total de “8” 5 +3. Já a terceira xícara dá para tomar, mas talvez seja a última, se atribuirmos um grau de satisfação de “2”, acumulando um grau total de “10”. Se o consumidor não deseja consumir mais café, esse será o nível de utilidade (maximização) desse produto. Assim, a escolha será de parar de consumir na xícara nº 3, para outro consumidor será na nº 2, e para outro poderia ser na nº 4, ou seja, é uma percepção de satisfação individual.

Assim, à medida que a utilidade marginal vai se aproximando para ZERO, no caso de nossa análise na terceira xícara, vai se aproximando também do limite de unidades adicionais a serem consumidas.

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UNIDADE 2 | MICROECONOMIA

c) Produtos “complementares” – a utilidade total também é acumulativa: isso significa que se um consumidor tiver a sua disposição diversos produtos complementares a serem consumidos, o seu grau de satisfação poderá ser ainda maior. Se no café da manhã o consumidor tem à disposição pão de queijo, logo, ele poderá acompanhar seu café com esses pães. Deste modo, seu grau de satisfação total será maior, e com certeza poderá ser ainda maior do que o grau de satisfação consumindo só com café.

d) A utilidade pode estar sujeita a comparações racionais: no momento de satisfazer uma necessidade específica o consumidor atribui graus de satisfações relativas em função dos produtos disponíveis e suas preferências. Para compreender melhor isso, vamos analisar de novo o exemplo do café da manhã, se o consumidor tiver a alternativa de consumir entre duas opções:

Opção 1: Café e pão de queijo. Opção 2: Chá inglês e torrada com manteiga e mel.

Qual delas ele poderá escolher? Depende, se ele é brasileiro, com certeza a opção 1 poderá lhe trazer um maior grau de satisfação, se ele é britânico, provavelmente o chá com torrada será a escolha.

e) O consumidor reflete no momento de maximizar a sua satisfação: o consumidor sempre buscará consumir uma combinação de produtos, ou seja, produtos e serviços complementares, no exemplo do café da manhã: café, leite, suco, pão de queijo, torrada, chá etc. Assim, a decisão de consumir será racional, fazendo com que suas escolhas sejam levadas em consideração. O grau máximo de satisfação é relativo, a ser obtido em cada um dos produtos, levando em consideração a sua renda disponível.

2.2 A ESCOLHA NO MOMENTO DE CONSUMIR

No momento de comprar, o consumidor terá várias opções ou escolhas, levantando a dúvida de qual produto levar para casa. Nessa dúvida, o consumidor poderá comprar o produto que lhe poderia trazer um maior grau de satisfação relativa, gerando expectativas de como vai consumi-lo. Por exemplo, se ele precisar comprar algum tipo de carboidrato e possui somente duas alternativas, qual levará para casa?

• Batata: grau de satisfação 8, preço R$2,00/quilo.• Mandioca: grau de satisfação 10, preço R$2,50/quilo.

Segundo o exposto, o consumidor tem preferência pela mandioca, e em função de sua renda disponível, talvez esteja tentado a comprar a mandioca, embora seja um pouco mais cara, pois esse produto pode lhe gerar maiores expectativas em função da satisfação relativa que o consumidor esteja procurando.

Vamos supor acompanhar um feijão com mandioca e não com batata. Qual

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TÓPICO 3 | A TEORIA MARGINAL E O COMPORTAMENTO DO PRODUTOR

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será a quantidade de mandioca consumida? O consumidor irá fazer uma análise intrínseca de quantidade versus satisfação. Assim, um fator importante que pode determinar a escolha são os acréscimos da utilidade marginal, isto é, o acréscimo da utilidade marginal decrescente. Em termos relativos, sempre o grau de utilidade adicional da última unidade de um produto será menor que o grau de utilidade das unidades previamente consumidas, lembrando que o grau de utilidade total vai acrescentando.

Voltando ao exemplo do café da manhã, a primeira xícara de café teve um grau de utilidade 5, lembrando que 10 é o grau de saturação, claro, deste exemplo. As unidades seguintes tiveram graus decrescentes até chegar ao limite de saturação 10, assim:

1ª xícara grau 5, utilidade total 5 0+ 5 = 5.2ª xícara grau 3, utilidade total 8 5+3 = 8.3ª xícara grau 2, utilidade total 10 8 + 2 = 10.

Podemos observar que nesse exemplo houve um grau de utilidade total de 10, e três utilidades marginais (decrescentes) que foram se adicionando à utilidade total final. E se aumentarmos pão de queijo ao nosso café, será que nossa utilidade total será maior? Com certeza a satisfação (utilidade) desse café da manhã será bem maior, se comparar com o consumo só de café. Observe o quadro:

QUADRO 18 – UTILIDADE MARGINAL E TOTAL DE CAFÉ DA MANHÃ COM PÃO DE QUEIJO

Porções Consumidas

(café + pão de queijo) Utilidade Marginal Utilidade Total0 0 01 10 102 6 163 4 204 0 20

FONTE: O autor

Observe que a utilidade total dependerá da somatória de cada uma das utilidades marginais e de cada um dos produtos “complementares” a serem consumidos. Lembre-se que essa maximização do café da manhã também dependerá da capacidade de consumo, que, aliás, depende diretamente do nível de renda disponível do consumidor.

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UNIDADE 2 | MICROECONOMIA

A expressão Utilidade Marginal é utilizada para indicar a utilidade adicionada pela última unidade de um produto ou serviço.

Em termos de comportamento geral, qual será a última unidade de consumo de um determinado produto? O consumidor irá parar de consumir quando sua percepção de utilidade (satisfação) marginal for igual a “ZERO”. No caso exposto acima, a escolha de parar de consumir será na porção nº 4, quando a utilidade marginal será de ZERO. Eis um exemplo simples do princípio da Utilidade Marginal Decrescente e da Escolha do consumidor. Lembre-se de que esses valores são subjetivos e dependem da percepção individual da utilidade (satisfação) intrínseca de cada pessoa.

3 LIMITAÇÕES PARA MAXIMIZAR A UTILIDADE MARGINAL

Os dois grandes limitantes para a maximização da utilidade total dependem das seguintes variáveis: preços e renda disponível. Quanto maior a renda do consumidor, maior será sua capacidade de consumir produtos diferenciados, visando satisfazer suas necessidades e desejos. Voltando ao café:

• Uma família de classe média poderá satisfazer sua necessidade de café da manhã do dia das mães com café, pães de queijo, ovos, frutas e diversos tipos de pães no lar.

• Uma família de classe média alta poderá satisfazer esse mesmo café da manhã do dia das mães indo para um restaurante especial, no qual a família será bem servida. No entanto, haverá um preço maior para o consumo desse café da manhã “especial”.

Neste exemplo, podemos observar como uma necessidade específica pode terminar em escolhas de consumo diferenciados, em função do preço desse bem/serviço e do nível da renda familiar.

3.1 CURVA DA INDIFERENÇA

Lembrando dos limitantes ao consumo – preços e renda disponível – existem diversas opções de escolha para que o consumidor possa satisfazer suas necessidades e desejos. Neste contexto, os conceitos da Escola Marginalista consideram que o consumidor pode atingir um mesmo grau de satisfação com diferentes combinações de produtos e quantidades. Imagine que uma família de renda média tem no seu orçamento anual o seguinte leque de possibilidades de consumo:

ATENCAO

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TÓPICO 3 | A TEORIA MARGINAL E O COMPORTAMENTO DO PRODUTOR

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• Produto Y: 12 saídas de lazer ao ano para almoçar fora de casa nos domingos em família. Aliás, produto mais caro que X.

• Produto X: 20 saídas de lazer para passear e tomar café/sorvete nas tardes em família. Aliás, produto mais barato que Y.

Agora, a família irá consumir tanto o produto Y como o produto X, mas quanto maior o consumo de Y menor será o consumo de X, e assim vice-versa, certo? A família tem uma renda disponível que limita seu consumo. Este comportamento pode ser representado por escalas de indiferença.

QUADRO 19 – ESCALAS DE INDIFERENÇA

FONTE: Rossetti (2003)

Interpretando o quadro de Rossetti (2003), vamos relacionar esses valores para nossa análise da família. Quando a família consumir e mudar de opção (A) para (B), ela deixa de adquirir duas unidades de Y mais caras, mas com maior utilidade e passa a consumir mais cinco unidades de X mais baratas, mas com menor utilidade, ou seja, a família pode compensar a redução do consumo de Y com maiores volumes de consumo de X, pois é uma escolha mais barata, levando como resultado para: taxas marginais de substituição decrescentes de produtos que satisfazem uma necessidade em específico, neste caso: lazer em família.

Devemos nos lembrar que essa compensação de consumo relativo entre Y e X não é constante, porque para manter um grau de satisfação marginal positivo o consumidor precisa compensar a perda de menos duas unidades de Y com maiores cinco unidades de X. E se observarmos, na segunda alternativa haverá

Pares de combinações indiferentes

Taxas Marginais de Substituição

Produtos Variações nas Quantidades

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UNIDADE 2 | MICROECONOMIA

uma combinação de menos duas unidades de Y com mais dez unidades de X, dado que o consumidor precisará compensar essa perda com maiores volumes de X, pois ele possui uma utilidade relativa menor e assim é necessário maior volume de consumo para compensar a perda de consumo de Y (produto mais caro).

Em função do comportamento do consumidor, exposto pelo autor Rossetti (2003) e analisado por meio do exemplo da “família”, podemos dizer que a perda no consumo de Y é linear, isto é, de duas em duas unidades. Entretanto, o aumento no consumo de X é exponencial, isto é, 5, 10, 20, 30, e assim sucessivamente.

A análise que acabamos de estudar pode ser explicada por meio da teoria da escassez relativa de um produto mais caro em função de outro mais barato que cause satisfação (utilidade) semelhante.

Nesse sentido, numa primeira fase, a substituição do consumo de Y pode ser compensada com somente cinco unidades adicionais de X. À medida que Y vai se tornando escasso (limite na renda disponível), no raciocínio do consumidor, ele passa a dar mais atenção ao valor relativo desse produto em si, ou seja, pode ter mais valor relativo, como exemplo: almoçar com a família num domingo, ao ar livre, num restaurante que tenha jardins e jogos para as crianças, se comparar com uma saída simples para tomar café e/ou sorvete. O valor gasto nesse almoço será bem maior que passear e tomar um sorvete numa tarde, portanto, para que a família possa compensar essa perda relativa de valor (ao deixar de almoçar juntos num restaurante) e se autoconvencer em mudar de opção, será necessária uma maior proporção de consumo das unidades de X.

Esse raciocínio subjetivo e individual do consumidor pudemos visualizar no quadro acima, e por meio da curva da indiferença desses dois produtos, conforme veremos a seguir:

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TÓPICO 3 | A TEORIA MARGINAL E O COMPORTAMENTO DO PRODUTOR

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GRÁFICO 15 – CURVA TÍPICA DE INDIFERENÇA

FONTE: Rossetti (2003)

Essa é uma interpretação gráfica da Teoria da Escassez relativa de um produto em função de outro, a teoria da Curva de Indiferença. Interpretação gráfica que sintetiza as preferências do consumidor ao se comparar dois produtos semelhantes, mas com graus de utilidade diferentes. No caso da família, utilidade de lazer em família entre almoçar fora nos domingos, produto Y mais caro; e saídas curtas em família para tomar café e/ou sorvete, produto X mais barato.

3.2 RESTRIÇÕES ORÇAMENTÁRIAS

Todos nós, como consumidores, temos diversos desejos de consumir alguma coisa. O simples desejo de consumir não significa que o consumidor terá as condições financeiras de executar esse “desejo”. Devemos observar que no momento de comprar, o consumidor precisa ter renda disponível para isso. O

Unidade de Y

CURVA TÍPICA DE INDIFERENÇA

Unidades de X

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UNIDADE 2 | MICROECONOMIA

consumidor é limitado pela restrição orçamentária de seu poder aquisitivo. Nesse sentido, ele poderá comprar uma combinação de produtos e serviços cujo valor total esteja dentro de seus limites de renda, ou seja, cujo valor não possa implicar um gasto além de suas capacidades financeiras.

Lembra-se dos limitantes ao consumo: renda disponível e preços? A renda disponível está ligada à restrição orçamentária e os preços estão ligados ao preço unitário de determinado produto. Desse modo, o segundo limitante que determina a escolha das quantidades de bens/serviços a serem consumidos será o preço unitário. É precisamente esse preço unitário e a restrição orçamentária que determinam a quantidade máxima a ser consumida dos bens/serviços oferecidos no mercado. Em síntese, há dois fatores que devem ser levados em conta pelo consumidor no momento de consumir:

• Renda disponível e seu vínculo direto às restrições orçamentárias.• Preços com seu vínculo direto ao preço unitário relativo ofertado no mercado.

Assim, em função de suas preferências, cada consumidor tem sua própria capacidade de escolha relativa, isso conforme suas necessidades, desejos com vínculo direto à restrição orçamentária e preço unitário. Esse poder de escolha vinculando à restrição orçamentária e preços pode ser interpretado por meio da reta de restrição orçamentária, conforme o gráfico a seguir:

GRÁFICO 16 – RETA DA RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA

FONTE: O autor

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TÓPICO 3 | A TEORIA MARGINAL E O COMPORTAMENTO DO PRODUTOR

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Podemos observar como a reta da restrição orçamentária impõe um limite ao consumo em função da renda disponível. Por meio da renda disponível, a família possui um horizonte de consumo representada pela reta da restrição orçamentária, e horizonte de consumo que tem vínculo direto com a preferência de consumo representada pela “curva da indiferença”. E se houver uma mudança na renda disponível do consumidor? Haverá um deslocamento da reta da restrição orçamentária se houver aumento da renda disponível, logo, a reta da restrição orçamentária irá se deslocar à direita, conforme pudemos observar no gráfico exposto anteriormente. Isto quer dizer que o consumidor apresentará um comportamento de consumir maior volume dos produtos a serem comparados na reta orçamentária. Porém, se houver diminuição da renda disponível, a reta da restrição orçamentária irá se deslocar à esquerda. Isso quer dizer que o consumidor apresentará um comportamento de consumir menor volume dos produtos a serem comparados na reta orçamentária.

E como podemos analisar a reta da restrição orçamentária com a “curva da indiferença”? A curva da indiferença representa a preferência de consumo, assim, se acrescentamos à reta da restrição orçamentária, a análise microeconômica poderá analisar o potencial de consumo “efetivo” do consumidor entre duas escolhas de produto.

Para exemplificar, vamos supor uma cesta nº 1 (X1) e cesta nº 2 (X2). Nesse sentido, considerando as necessidades humanas como ilimitadas, a preferência de consumo – curva da indiferença – visa melhorar o grau de satisfação, mas limitado pela renda disponível – reta da restrição orçamentária. Este princípio é, aliás, a base do marketing, isto é, análise de mercado dos produtos a serem oferecidos ao consumidor, levando em consideração suas preferências.

E se a reta da restrição orçamentária se deslocar à direita (mais renda disponível), será que a curva da indiferença irá se deslocar também? A resposta é sim. A curva da indiferença também irá se deslocar, refletindo a preferência do consumidor com uma melhor renda disponível para gastar. Na teoria marginalista, isso pode ser interpretado através de “curvas de indiferença superiores”, ou seja: Vai se deslocando à medida que muda também a renda disponível.

Assim, quando o consumidor tem uma melhora na sua renda, ele muda as combinações possíveis dos produtos a serem comparados, puxando logo para acima e para a direita a curva de indiferença, em função de seu novo limite de renda disponível representado pela reta da restrição orçamentária.

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UNIDADE 2 | MICROECONOMIA

GRÁFICO 17 – DESLOCAMENTO DA CURVA DA INDIFERENÇA E A ESCOLHA DO CONSUMIDOR ENTRE DOIS PRODUTOS: X2 E X1

FONTE: Adaptado de Rossetti (2003, p. 459)

3.3 REFLEXO DA RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA NO CONSUMO DO BRASILEIRO

Se formos comparar a renda disponível do ano 2014 do brasileiro com a renda dele há mais de 20 anos, podemos dizer que a sua renda vem aumentando bastante. Esse aumento da renda disponível representa um deslocamento da reta da restrição orçamentária da família brasileira à direita, puxando para a direita também a curva da indiferença.

Isso quer dizer que à medida que vem aumentando a renda, as preferências de consumo do brasileiro vêm mudando e aumentando também. Exemplificando: entre dois produtos de escolha que servem para um mesmo objetivo, o de se mobilizar, como moto e carro, o que vem acontecendo? Com maior renda, houve uma mudança na decisão de comprar mais carros versus motos. Maior renda representada por um deslocamento da reta da restrição orçamentária entre

Curvas de Indiferença

Escolha ótima

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TÓPICO 3 | A TEORIA MARGINAL E O COMPORTAMENTO DO PRODUTOR

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comprar moto ou carro à direita. Entretanto, a curva da indiferença entre a escolha de comprar moto ou carro também vem se deslocando à direita, apresentando uma nova escolha ideal entre essas duas opções.

O consumo da família brasileira vem aumentando durante as últimas décadas, em um aumento constante de famílias entrando na classe média (classe C), aliás, hoje ela representa mais de 50% da população, ou seja, mais de 100 milhões de pessoas, e com perspectivas de atingir os 120 milhões até o ano 2025. Isso representa um boom no consumo de diversos produtos diferenciados, comida industrializada, linha branca (geladeiras, fogões, lavadoras, micro-ondas etc.), celulares, veículos, entre outros.

Devemos considerar, claro, que com a forte crise econômica do ano 2015 e 2016, houve uma queda na renda disponível da família brasileira. O resultado disso, em termos microeconômicos, é um deslocamento temporal à esquerda da reta da restrição orçamentária e mudanças na curva de indiferença também para a esquerda, refletindo o novo comportamento do consumidor (durante o tempo da crise), com menor renda disponível no momento de fazer sua escolha de comprar, como exemplo, a escolha de comprar moto versus carro.

Levando em consideração que a crise acaba e logo vem de volta a grande tendência do mercado brasileiro, aumento da renda disponível da classe média, e isto para um país com mais de 200 milhões de pessoas é um enorme atrativo para empresas grandes, médias e pequenas. Empresas que fazem grandes investimentos em pesquisa para analisar justamente isso, o comportamento de seus potenciais consumidores em função de suas preferências, curva da indiferença; e de sua renda disponível, reta da restrição orçamentária. Eis um elo entre o marketing das empresas e os conceitos microeconômicos do comportamento do consumidor.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você estudou que:

• O motivador do consumidor pode ser medido por meio do conceito da maximização da satisfação (utilidade) que cada consumidor possui intrinsicamente.

• Um fator importante que pode determinar a escolha de que “consumir” é o acréscimo da utilidade marginal, isto é, o acréscimo da utilidade marginal decrescente.

• Os dois grandes limitantes para a maximização da utilidade total dependem das seguintes variáveis: preços e renda disponível.

• A teoria da curva de indiferença interpreta as preferências do consumidor ao se comparar dois produtos semelhantes, mas com graus de utilidade diferentes.

• O consumidor é limitado pela restrição orçamentária de seu poder aquisitivo.

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AUTOATIVIDADE

1 Determine qual é a análise comportamental do consumidor e qual é o limite às satisfações dos consumidores.

2 Quais os determinantes no comportamento racional do consumidor?

3 Por que a utilidade marginal é decrescente?

4 Como o consumidor maximiza o seu grau de satisfação?

5 Quais as limitações para maximizar a utilidade marginal? Cite um exemplo de escolha comparativa, entre uma família de classe média e classe alta.

6 Qual a relação entre utilidade marginal e preços diferenciados?

7 Como pode ser interpretado o conceito da curva da indiferença?

8 Como pode ser interpretado o conceito de Restrição Orçamentária?

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TÓPICO 4

A RECEITA MARGINAL E ESTRUTURA DE

MERCADO

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Assim como o consumidor, o produtor também procura maximizar seus interesses, mas qual seria esse interesse? O lucro, isto é, as empresas estão constantemente procurando potencializar a sua rentabilidade. Lucros que o produtor procura manter e maximizar ao longo do tempo. Esse interesse de maximizar a rentabilidade é feito por meio de um processo contínuo de aprimoramento das vendas, dos custos, ampliação de mercado, qualidade, inovação, entre outros. E em termos econômicos e no contexto da teoria marginalista, o produtor, assim como o consumidor, também reage racionalmente na procura constante de seu interesse, no caso das empresas, de maximizar seus lucros. Esta análise é feita por meio da teoria marginal das receitas e economia de escala, conforme veremos a seguir.

2 A RECEITA MARGINAL

O que representa a receita marginal em termos da teoria marginalista? Representa o que irá acontecer com as receitas totais se vendermos mais uma unidade. É obvio que se vendermos mais uma unidade, as receitas (vendas) totais irão aumentar também, mas como podemos fazer para conseguir vender mais uma unidade? A resposta é direta e simples: será reduzindo o preço de venda. Assim, sob perspectiva da teoria marginalista, na empresa existem duas análises de vendas: a Receita Total e a Receita Marginal.

A receita total é a quantidade de unidades vendidas durante um período de tempo vezes o valor unitário, exemplo:

TABELA 1 - VENDAS DE FEIJÃO

Unidades vendidas Preço unitário por quilo Receita total

1.500 R$ 4,50 R$ 6.750,00FONTE: O autor

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UNIDADE 2 | MICROECONOMIA

A receita marginal será a receita adicional de mais um bloco de unidades vendidas, fruto de uma redução do preço unitário de venda.

TABELA 2 - VENDAS DE FEIJÃO E A RECEITA MARGINAL

Unidades adicionais vendidas

Unidades vendidas

Preço unitário por quilo

Receita total acumulada

Receita marginal

1500 R$ 4,50 R$ 6.750,00100 1600 R$ 4,30 R$ 6.880,00 R$ 130,00

FONTE: O autor

Podemos observar que no momento de reduzir o preço do feijão, o produtor poderia vender mais 100 unidades de produto. Isso representa mais R$ 130,00 de receita marginal, pois esse aumento de R$ 130,00 representa a receita marginal de ter conseguido vender mais 100 unidades.

2.1 MAXIMIZAR AS VENDAS

A maximização das vendas é atingida quando se vende a maior quantidade de unidades possíveis, mas para poder vender maiores quantidades é necessário reduzir o preço de venda. Assim, segundo a análise marginalista, para que a empresa possa potencializar ao máximo sua venda, ela deverá fazer uma análise de redução dos preços, levando em consideração a lógica da Lei da Demanda, que diz que a procura por um produto é inversamente proporcional ao preço, ou seja, quanto menor o preço, maior as quantidades vendidas. Eis a aplicação desta lei no momento de maximizar as vendas de uma empresa.

Aplicando esta teoria da maximização da receita por meio da receita marginal, a seguir vamos observar esse comportamento marginal de maneira gradativa. Supondo a venda de almoços no centro comercial de uma cidade.

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TÓPICO 4 | A RECEITA MARGINAL E ESTRUTURA DE MERCADO

155

TABELA 3 – COMPORTAMENTO DA RECEITA E RECEITA MARGINAL

Preço de VendaQuantidades

Vendidas de

almoços

Preços

Unitários

Receita

TotalReceita Marginal

+100 Unitária700,00 19,00 13.300,00

800,00 18,00 14.400,00 1.100 11,00900,00 17,00 15.300,00 900 9,00

1.000,00 16,00 16.000,00 700 7,001.100,00 15,00 16.500,00 500 5,001.200,00 14,00 16.800,00 300 3,001.300,00 13,00 16.900,00 100 1,001.400,00 12,00 16.800,00 -100 -1,00

FONTE: O autor

Observe que a receita marginal apura-se da diferença entre as quantidades vendidas de um nível de preços e o seguinte (quando o preço unitário cai R$ 1,00). Exemplo: entre o nível de 900 almoços vendidos e 1.000, quando o preço do almoço cai de R$ 17,00 para R$ 16,00, gerando uma receita marginal de R$ 700,00 = R$ 16.000 - R$ 15.300; e uma receita marginal unitária de R$ 7,00 = R$ 700,00 / 100 observe que esses 100 representam os 100 almoços vendidos a mais após o preço ter baixado R$ 1,00.

À medida que o preço do almoço cai, a procura aumenta, assim, a venda aumenta, gerando aumentos decrescentes na receita marginal e total. Também podemos observar que o acréscimo dessa receita marginal vai diminuindo à medida que reduz o preço, ou seja, a receita adicional gerada em função da queda do preço cai, e vai caindo até que a receita marginal se torne negativa. No exemplo exposto, a partir do preço de R$ 13,00 é que, aliás, a receita total para de crescer e se torna negativa, quando o preço do almoço passa para os R$ 12,00. Assim, podemos dizer que a receita marginal tem o potencial de gerar vendas maiores, sempre e quando a receita marginal – da última unidade vendida – for igual ou maior que ZERO. A partir do momento que a receita marginal for menor que ZERO, a receita total começa a ser menor também. Isto quer dizer que nesse nível de receita marginal igual a zero, uma queda dos preços não irá gerar vendas maiores. No exemplo exposto, a maximização das receitas irá acontecer quando o preço estiver em R$ 13,00 e volume efetivamente procurado e vendido estiver em 1.300 unidades, gerando uma receita total de R$ 16.900,00 almoços vendidos e uma receita marginal de apenas R$ 1,00.

Será que com a maximização das receitas haverá lucros maiores? A resposta é: “depende”, pois para isso devemos analisar a estrutura de custos do negócio, neste caso, a venda de almoços. Lembre-se de que receita, ou venda, não

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UNIDADE 2 | MICROECONOMIA

é sinônimo de “lucro”, para apurar o lucro devemos saber quais são os custos para gerar essas vendas.

Lucro (+) Receitas Totais (-) Custos e Gastos Totais

O lucro é o fruto da diferença entre a receita total e custo total. Os empresários sempre procuram uma diferença positiva entre receita total e o custo total, a grande questão é como fazer uma análise de maximização dos lucros. Essa maximização pode ser feita por meio de uma melhora nas receitas totais, maximizando as vendas; uma melhora nos custos totais, minimizando os custos, ou uma combinação desses dois fatores, receitas e custos, sendo esta a melhor combinação para se obter a maximização do lucro.

3 ESTRUTURA DOS CUSTOS E A ECONOMIA DE ESCALA

Mesmo que uma empresa possa maximizar as vendas, ela deve acompanhar essa análise das vendas com o comportamento dos custos à medida que vão aumentando as quantidades produzidas e vendidas. Devemos observar que nem sempre o lucro será maximizado quando as vendas forem elevadas ao máximo, pois muitas vezes, para vender mais, devemos reduzir o preço unitário do produto a ser ofertado.

Vamos analisar esse raciocínio no seguinte exemplo, supondo a venda de camisetas. Neste exemplo, a maximização das vendas será quando as receitas atingirem as 1.000 unidades e o preço de venda for de R$ 11,00/unidade.

QUADRO 20 – MAXIMIZAÇÃO DA RECEITA, VENDA DE CAMISETAS

FONTE: Adaptado de Rossetti (2003)

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TÓPICO 4 | A RECEITA MARGINAL E ESTRUTURA DE MERCADO

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Observe que as receitas serão maximizadas ao vender entre 1.000 e 1.100 unidades. Desta análise sistemática da maximização das vendas, como poderemos saber em que nível os lucros também serão maximizados? Observando o comportamento dos custos fixos e variáveis à medida que vão aumentando as receitas e as quantidades produzidas.

3.1 CUSTOS FIXOS E VARIÁVEIS

Toda empresa possui custos fixos e variáveis. Os custos fixos estão ligados aos gastos que não mudam, tipo aluguel, depreciação; e os variáveis estão ligados diretamente aos materiais incorporados ao produto, deste modo podemos definir:

a) Custos fixos: definidos como aqueles que não aumentam em função do aumento da produção, sempre dentro de um potencial produtivo, ou seja, em função da capacidade instalada. Isso quer dizer que se a empresa estiver produzindo uma só unidade ou 1000 unidades, esses custos deverão ser pagos periodicamente, não estão ligados diretamente ao produto produzido. Assim, não vão mudar, pois são FIXOS, e os custos fixos são necessários para manter o potencial produtivo pronto para ser usado. Exemplo de custos fixos: aluguel, amortização do equipamento, folha de pagamento, gastos administrativos, entre outros.

b) Custos variáveis: definidos como aqueles que vão se acrescentando à medida que vão aumentando as unidades produzidas, eles fazem parte direta dos materiais incorporados no produto. Desse modo, quanto maior forem as unidades produzidas, maiores serão os custos variáveis.

Os Custos Variáveis estão diretamente vinculados ao processo produtivo em si, tais como: insumos, mão de obra direta e custos de energia. Vamos supor que os custos variáveis para produzir um quilo de pão seja de R$ 3,50 (farinha, óleo, sal, fermento etc.) e que para manter a capacidade produtiva é necessário de R$ 1.100 de custos fixos, temos:

• Produzindo 10 quilos, o custo variável total será de R$ 35,00 R$ 3,50/kg x 10 kg.

• Produzindo 150 quilos, o custo variável total será de R$ 525,00 R$ 3,50/kg x 150 kg.

• E o custo fixo? Fica igual. Ele sempre se mantém em R$ 1.100, seja produzindo 10 quilos ou 150 quilos!

Partindo desse conceito de custo fixo e variável, veremos agora o comportamento de ambos em nossa análise das camisetas, levando em consideração o comportamento de custos realizado pelo autor Rossetti (2003, p. 464):

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QUADRO 21 – CUSTOS FIXOS E VARIÁVEIS CONFORME AUMENTA A PRODUÇÃO

FONTE: Adaptado de Rossetti (2003, p. 464)

Podemos observar que os custos fixos não se alteram conforme aumenta a produção, eles ficam constantes em R$ 2.000,00. Esses custos fixos são fundamentais para manter um potencial produtivo de até 1000 unidades em produção, acima disso deve-se aumentar a capacidade instalada, ou seja, para produzir acima dessas 1000 unidades/mês, será necessário alugar mais um galpão, comprar mais um equipamento etc.

Enquanto isso, os custos variáveis vão mudando conforme aumenta a produção. Assim, à medida que se produz maiores unidades, maiores quantidades de insumos e energia (ligada ao processo produtivo) serão necessários para aumentar a produção. E claro, se você acrescentar o aumento dos custos variáveis aos custos fixos, logo, o custo total irá aumentar também, acompanhando o aumento da produção.

Esse aumento do custo total vai aumentando em menor proporção, em relação ao aumento do custo variável, porque existe uma proporção não constante recorrente da somatória dos custos fixos + custos variáveis e à medida que vai aumentando a produção. No caso de uma padaria, teríamos:

Produzidas

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TÓPICO 4 | A RECEITA MARGINAL E ESTRUTURA DE MERCADO

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QUADRO 22 – COMPORTAMENTO DO CUSTO UNITÁRIO E FIXOS E VARIÁVEIS

FONTE: O autor

Nesse caso, a partir dos 60 quilos é que a capacidade instalada chega ao seu máximo potencial, mas a maximização dos custos acontece nos 40 quilos ao dia de produção e não aos 60 quilos. Nesse nível de 40 quilos é que acontece o menor custo unitário possível dentro dessa capacidade instalada. Nesse sentido, se você observar no quadro, à medida que vai aumentando a produção, a escala de otimização dos custos unitários para cada nível produtivo vai apresentando um comportamento decrescente de redução de custos unitários recorrentes do aumento na produção, e exatamente quando a escala de custos se torna negativa é que os custos param de ser otimizados, isto é, a partir dos 40 quilos. Isto é conhecido como economia de escala, conforme estudaremos a seguir.

O aumento nos custos, a partir dos 40 quilos, acontece porque à medida que vai se aproximando do potencial máximo de produção, vai forçando também a capacidade produtiva. Todos nós temos o potencial de trabalhar até 16 horas por dia, mas eventualmente. Se fizermos isso todos os dias, com certeza iremos incorrer em gastos adicionais, tal como medicação para não ficar doente de tanto trabalhar. Igual acontece em um centro produtivo, se forçar ao máximo o potencial produtivo, logo, terá que incorrer em gastos extras (maior manutenção de equipamento, horas extras etc.), refletindo nos custos.

3.2 ECONOMIA DE ESCALA

Em termos econômicos, a economia de escala é um fenômeno de comportamento natural dos custos, e sua lógica diz que a capacidade instalada começa a ser aproveitada quando há aumento nas quantidades de unidades produzidas. Isso significa que os recursos produtivos são aproveitados próximos a sua máxima capacidade instalada, devido ao fato de que com uma maior produção

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UNIDADE 2 | MICROECONOMIA

o custo fixo será diluído em um maior número de unidades, conseguindo dividir esse custo fixo em uma maior quantidade de unidades.

Assim como no exemplo da padaria, podemos observar que os custos fixos são de R$ 90,00 ao dia. Se em um dia forem produzidos 20 kg de pão, o custo fixo

unitário seria de R$ 4,50, isto é: R$ 4,50 = R$ 90,0020 kg

; e 60 kg de pão, logo, o custo fixo

unitário seria de R$ 1,50, isto é: R$ 1,50 = R$ 90,0060 kg

.

Observe que os custos fixos foram aproveitados próximos a sua capacidade máxima instalada quando a produção atingir os 60 kg/dia de pão, conseguindo assim diluir os custos fixos de R$ 90,00/dia em uma maior quantidade produzida.

Vejamos mais um exemplo: Uma empresa de ônibus faz o percurso Blumenau – Florianópolis (Estado de Santa Catarina), todos os dias saindo de Blumenau às 7 horas. Vamos supor que a capacidade máxima de passageiros é de 100 pessoas, logo, em função dos seguintes custos, teríamos os seguintes graus de economia de escala:

Antes de continuar, devemos saber o significado de “amortização/depreciação”. Quando uma empresa faz investimentos em bens duráveis, tal como o caso do ônibus, esse bem irá sofrer desgaste ao longo de sua vida útil, perdendo seu valor gradativamente. Assim, a amortização/depreciação considera esse desgaste como um gasto a ser amortizado ao longo da prestação de serviço desses bens duráveis. Adiante, nas disciplinas de contabilidade e gestão financeira, você terá a oportunidade de se aprofundar nesse conceito.

IMPORTANTE

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TÓPICO 4 | A RECEITA MARGINAL E ESTRUTURA DE MERCADO

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Assim como no comportamento dos custos fixos da padaria, neste caso, quando o ônibus transportar 50 passageiros, os custos fixos de R$ 1.070 serão diluídos em 50 passageiros, resultando em um custo unitário de R$ 21,40 ( 1.070

50R$

passageiros). E

quando o ônibus atingir sua máxima capacidade instalada, o custo fixo irá atingir o

valor de R$ 10,70.

Podemos observar claramente que há uma redução de custos unitários à medida que vamos nos aproximando da capacidade máxima instalada, conseguindo um maior lucro pelo serviço de transporte. Nesse exemplo simples, o interessante é observar a escala de redução de custos unitários à medida que vamos nos aproximando do potencial. No exemplo do ônibus, podemos observar que quando o número de passageiros aumentar de 50 para 75, a escala de redução de custo unitário passa de R$ 21,40 para R$ 14,27, ou seja, uma economia de escala de R$ 7,13 (R$ 21,40 – R$ 14,27). Quando o número de passageiros aumentar de 75 para 100, a escala de redução de custo unitário passa de R$ 14,27 para R$ 10,70, ou seja, uma economia de escala de R$ 3,57 (R$ 14,27 – R$ 10,70). À medida que vai aumentando a produção, a economia de escala vai reduzindo, neste exemplo passa de R$ 21,40 para R$ 7,13 e finalmente para R$ 3,57. Isto acontece porque a proporcionalidade dos custos fixos que estão se diluindo nas unidades produzidas é cada vez menor.

Exatamente a mesma análise pode ser aplicada para qualquer tipo de negócio. Só que num processo industrial, conforme vão produzindo maiores volumes os custos totais vão aumentando também, diferente do caso do serviço de ônibus, que praticamente tem só custos fixos. Isso é decorrente do fato que num processo industrial existem custos variáveis a serem apurados, insumos necessários para fabricar cada unidade produzida. Em termos da teoria microeconômica, a economia de escala acontece quando as máquinas e equipamentos passam a operar próximo de sua capacidade máxima de produção, horizonte produtivo. Desta forma, os custos desses equipamentos e dos trabalhadores são diluídos num volume bem maior de produção. Portanto, diminuindo o acréscimo proporcional dos custos por unidade produzida dentro de um quadro de custos totais. Segundo Samuelson, Nordhaus e Taylor (2012, p. 99):

Retornos crescentes de escala (também chamados de economia de escala) ocorrem quando um aumento de todos os fatores produtivos leva a um aumento mais do que proporcional do nível de produção. Estudos de engenharia têm determinado que muitas atividades industriais se beneficiam de pequenos retornos crescentes de escala para fábricas até atingirem a grande dimensão das fábricas modernas.

3.3 CUSTOS MÉDIOS E CUSTOS MARGINAIS

A teoria da economia de escala ficaria incompleta se não acrescentássemos o conceito de custos médios e custos marginais ao processo produtivo industrial. Qual será a diferença entre custos médios unitários e custos marginais? Para

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responder a essa pergunta, vamos observar o seguinte quadro, que demonstra o comportamento dos custos por cada unidade adicional produzida. Utilizaremos a análise de comportamento de custos do autor Rossetti (2003, p. 466), e para exemplificar, vamos supor que essa análise faça parte de nosso estudo de produção de camisetas, exposto previamente:

QUADRO 24 – COMPORTAMENTO DO CUSTO TOTAL, MÉDIO E MARGINAL

FONTE: Adaptado de Rossetti (2003, p. 466)

O custo médio é sinônimo de custo unitário, e o custo marginal é o acréscimo marginal nos custos recorrentes do aumento marginal das unidades produzidas. Esse aumento marginal na produção representa mais um bloco de aumento na produção, no exemplo exposto acima, a análise faz uma escala marginal de 100 em 100 unidades de aumento na produção e o impacto disso sobre os custos totais, unitários e marginais. A seguir veremos como foi feito o cálculo desses custos, considerando o nível de produção de 600 unidades.

Sabe-se que os custos variáveis neste nível são de R$ 8,50 e que o custo fixo é de R$ 2.000,00, portanto, o Custo Variável Total representa o custo dos insumos incorporados em cada unidade vezes o volume produzido, isto é: R$ 5.100,00 = 600 x R$ 8,50. O Custo Total representa a somatória do custo fixo + custo variável total, isto é: R$ 7.100 = R$ 2.000,00 + R$ 5.100,00. O custo unitário neste nível de produção, de 600 unidades, será de quanto? Simples, devemos dividir o custo total pelo número de unidades, isto é: R$ 11,83 = R$ 7.100,00 / 600 unidades.

O custo marginal neste nível de produção, de 600 unidades, será de R$ 800,00, mas como podemos apurar esse valor? Simples, devemos observar que a última escala de produção comparativa foi em 500 unidades, logo após, devemos determinar qual foi o impacto no aumento dos custos desse aumento gradativo de produção de mais 100 unidades (600 – 500). Desse modo, o custo total na escala de produção de 500 unidades é de R$ 6.300, e o custo total na escala de produção de 600 unidades é de R$ 7.100. Agora, devemos apurar a diferença entre os custos destes dois níveis de produção, isto é: R$ 800 = R$ 7.100 – R$ 6.300,00. O custo marginal unitário neste nível de produção de 600 unidades será de R$ 8,00, pois ao passar de 500 para 600 unidades houve um aumento dos custos marginais de R$

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800,00, portanto, o custo marginal deverá ser dividido por essas mais 100 unidades produzidas, isto é: R$ 8,00 = R$ 800 / 100. Podemos concluir que o custo marginal representa o acréscimo marginal no custo em vistas de produzir mais uma escala de produção.

O quadro exposto anteriormente é uma representação do cálculo da análise que acabamos de fazer, porém, para todos os níveis de produção. Qual o objetivo disso? Observar o comportamento dos custos, especialmente o marginal, para assim identificar em que nível a empresa otimiza seus custos. Antes de atingir as 400 unidades de produção, o custo marginal vem decrescendo, mas a partir das 500 unidades de produção, o custo marginal volta a crescer.

Nas 400 unidades podemos observar que o custo unitário marginal será o menor possível de todas as escalas de produção analisadas. Isso quer dizer que os custos marginais serão otimizados quando o acréscimo marginal parar de diminuir e em seguida começar a aumentar a partir do seguinte aumento na escala de produção. Coincidentemente, isso acontece exatamente nas 400 unidades! Ou seja, os custos serão maximizados nesse nível de produção, nem antes nem depois.

A explicação para isso está nas 400 unidades, pois a empresa terá maior custo marginal. A partir desse nível terá que pagar uma maior proporção de custos variáveis por unidade produzida, como horas extras, maior gasto em manutenção de equipamento, entre outros. Assim como o impacto de diluir os custos fixos em um maior volume de produção é cada vez menor a partir das 400 unidades. Esse aumento dos custos é um sintoma de “começar” a atingir o potencial de produção, ou seja, a empresa a partir das 400 unidades estará ampliando sua capacidade produtiva sem necessariamente gerar menores custos médios (por unidade), refletindo isso em um aumento no custo marginal.

Em termos microeconômicos, quer dizer que até as 400 unidades a empresa consegue obter economia de escala crescente, isto é, custos marginais decrescentes e otimização do custo unitário. Ultrapassando as 400 unidades, a empresa passa a incorrer em economias decrescentes de escala, ou seja, para continuar ampliando a sua produção terá que forçar e aumentar seus custos variáveis por unidade produzida.

3.4 A MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO

Acabamos de observar que a empresa maximiza seus custos marginais na escala de produção de 400 unidades, mas será que nesse nível os lucros também podem ser otimizados? Dificilmente, pois a otimização do lucro depende também do preço unitário de venda do produto em análise. Assim, para buscar a maximização do lucro, devemos combinar entre a análise da otimização das vendas e dos custos, isto é, da receita marginal e custos marginais, identificando a escala ideal na qual acontece a “diferença positiva” maior possível entre a receita total e os custos totais, ou seja, o maior lucro potencial. Podemos exemplificar por meio do seguinte quadro:

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QUADRO 25 – MAXIMIZAÇÃO DA RENTABILIDADE (LUCRO POTENCIAL)

FONTE: Adaptado de Rossetti (2003)

Observe que a maximização do lucro nem sempre bate com a maximização dos custos, nem com a maximização das receitas. A maximização das receitas, segundo o primeiro quadro deste tópico, fica na venda de 1.000 unidades e com uma receita total de R$ 11.000 (1.000 x R$ 11,00), isto é, quando a receita marginal estava se aproximando a R$ 0,00. A maximização do custo marginal fica em 400 unidades produzidas, isto é, quando o custo marginal atinge seu menor nível.

Se você observar, o maior lucro potencial da análise fica em 600 unidades produzidas, ponto no qual a receita marginal será igual ao custo marginal, no quadro exposto isso acontece porque tanto a receita marginal quanto o custo marginal são iguais a R$ 8,00. Mera coincidência? Dificilmente, pois o encontro da receita marginal e do custo marginal é um fato do comportamento do processo produtivo e de sua ligação à maximização das vendas.

Na análise exposta, quando acontece a maximização das vendas, acontece nas 1.000 unidades produzidas, mas nesse nível de vendas “máximas” o lucro será de menos R$ 4.620,00, ou seja, há prejuízo. A maximização do custo marginal acontece nas 400 unidades produzidas, mas nesse nível de custos mínimos por unidade o lucro será de apenas R$ 980,00. Longe do potencial máximo de lucro que é de R$ 1.900,00, quando a produção atingir as 600 unidades.

Portanto, ao realizar uma análise cruzada entre as receitas e os custos, devemos observar que a partir de determinado volume de unidades produzidas, a dinâmica de aumento dos custos é maior que o ritmo de crescimento da receita. É exatamente sob esta ótica que a teoria marginalista determina a maximização do lucro potencial, que acontece quando: O nível de maximização do lucro será exatamente no ponto em que a Receita Marginal e o Custo Marginal se encontram em um mesmo nível, ou seja, são iguais.

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Ao fazer essa análise de processos de custos e de receitas, o empresário poderá potencializar sua rentabilidade, e assim atuar racionalmente, otimizando a geração de lucro, levando em consideração uma capacidade instalada predeterminada. Desse modo, o empresário deve cruzar tanto a análise de custos quanto a análise de vendas para poder potencializar seu negócio e seus lucros. A análise de custos apresentada considerou um comportamento constante, sem alterar as demais variáveis, ou seja, é conhecido em economia como Coeteris Paribus.

Agora, se a empresa realizar investimentos em marketing e propaganda, provavelmente poderá vender maiores quantidades em cada um dos níveis de preço de venda e custos analisados, portanto, maior potencial de lucro poderá existir em cada uma das escalas de produção observadas, ou seja, estará mudando o comportamento do consumidor, ficando ele disposto a pagar mais um pouco, maximizando assim ainda mais as receitas e o lucro da empresa. Eis um dos motivos do investimento tão grande das empresas em marketing.

4 ESTRUTURA DE MERCADO

Até agora, estudamos tanto o comportamento do consumidor quanto do produtor em função do encontro desses agentes econômicos no mercado, mas como podemos analisar o mercado diante de uma perspectiva econômica? Em uma análise ideal, a relação comercial entre os principais agentes econômicos deveria acontecer em condições “perfeitas”. Isso significa perfeita harmonia entre famílias (consumidores) e empresas, mas isso não acontece sempre, devido aos seguintes fatores: número de empresas e consumidores atuantes; tipos de mercadorias a serem oferecidas; produtos gerais e/ou diferenciados; e barreiras de acesso para novas empresas ao mercado. Esses fatores podem influenciar tanto o consumidor quanto o produtor, levando à análise dos diferentes modelos de mercado presentes hoje, formando a concorrência perfeita e a concorrência imperfeita, visto que esta última se desdobra em concorrência monopolística, oligopólio e monopólio.

4.1 CONCORRÊNCIA PERFEITA

A concorrência perfeita acontece quando há grande volume de empresas e consumidores. Assim, os produtos oferecidos são perfeitamente substituíveis entre diversas outras alternativas, ou seja, não há nenhum tipo de diferenciação significativa entre as mercadorias a serem ofertadas no mercado, tal como acontece nas feiras livres.

No mercado ideal as empresas e os consumidores têm conhecimento total das condições do mercado. Os consumidores têm pleno conhecimento de todos os preços ofertados pelas empresas. E as empresas possuem a escolha de entrar e sair livremente, pois não existem barreiras, qualquer produtor está apto a entrar no mercado, no qual não há complicações no momento de vender seus produtos, tal como uma feira livre.

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Nesse tipo de mercado devemos observar que as compras e ofertas são realizadas individualmente, tanto consumidores como empresas não possuem a força suficiente para modificar os preços dos produtos. Isso significa que o Consumidor, se quiser aumentar o volume demandado, não terá a capacidade de interferir nos preços gerais praticados, pois o volume de suas compras não vai alterar (mudar) a estrutura de preços do mercado. Porém, se a grande comunidade de consumidores aumentarem a demanda de um determinado produto, com certeza haverá uma mudança na estrutura de preços, o que é conhecido como as forças das massas (coletivas) de um determinado mercado.

O Produtor, se quiser modificar seus preços, não terá as condições individuais de elevar, ou ter o poder de modificar os preços praticados em função de seus interesses. Porém, se a grande comunidade de produtores desse produto/serviço aumentarem a oferta, com certeza haverá uma mudança na estrutura de preços.

Na vida real, praticamente não há um “mercado perfeito”. O mercado que mais pode se aproximar são as feiras livres. Outro exemplo, próximo a isso, é a oferta de pão francês nas padarias de bairro, nas quais o produto ofertado é mais ou menos padrão e o consumidor conhece perfeitamente qual o preço oferecido. Em síntese, na competição perfeita, existe grande número de empresas e compradores; os produtos são perfeitamente substitutos entre si; as firmas e consumidores tem pleno conhecimento do mercado; as firmas podem entrar e sair livremente do mercado; as compras e vendas são realizadas individualmente e não têm a capacidade de modificar os preços dos produtos. Segundo Samuelson, Nordhaus e Taylor (2012, p. 133):

A concorrência perfeita é o mundo dos tomadores de preço. Uma empresa perfeitamente competitiva vende um produto homogêneo (idêntico ao produto vendido pelas outras empresas da mesma atividade). Essa empresa é tão pequena em relação ao seu mercado que não pode influenciar o equilíbrio de preços; apenas pode aceitar o valor dado.

4.2 COMPETIÇÃO IMPERFEITA E CONCORRÊNCIA MONOPOLÍSTICA

Nesse mercado existe grande volume de consumidores e empresas, nele não existem barreiras para que as empresas possam oferecer seus produtos no mercado. Situação bem parecida à concorrência perfeita, mas qual será a diferença? A diferença é que nesse caso os produtos oferecidos são diferenciados entre si, ou seja, as empresas têm condições de criar condições de diferenciação, tais como marcas diferenciadas de macarrão, de chocolates, de queijos, entre outros. Nesses produtos as empresas procuram se diferenciar por meio de qualidade e funcionalidade.

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Essas características fazem com que o consumidor possa distinguir esses produtos entre as diferentes ofertas das empresas. Assim, considerando que os produtos são diferenciados, as empresas têm condições de determinar preços diferenciados também em função da percepção valor/satisfação que os consumidores possam perceber desse produto em específico. Segundo Samuelson, Nordhaus e Taylor (2012, p. 151), “na concorrência monopolística um número elevado de vendedores produz bens diferenciados”. Essa estrutura de mercado faz lembrar a concorrência perfeita pelo fato de existirem muitos vendedores, nenhum dos quais têm uma grande parcela de mercado.

Podemos observar que essa diferenciação não leva para preços muito elevados entre bens e serviços semelhantes ofertados pelas empresas. Nesse sentido, os produtos oferecidos pelas empresas poderiam ser substituídos facilmente, caso o preço cobrado fosse considerado, pelo consumidor, acima de sua utilidade (satisfação) marginal e do padrão marca/qualidade desse produto. Exemplos disso: pão de forma ofertado com marcas e diferenciações de qualidade, integral, 7 grãos, fofinho etc. Outro exemplo pode ser a oferta de camisetas de marcas diferenciadas.

Em síntese, na competição imperfeita existe o grande número de firmas e compradores; os produtos oferecidos pelas firmas são diferenciados entre si; e as firmas podem entrar e sair livremente do mercado.

4.3 OLIGOPÓLIO

Nesse tipo de mercado existe um grande número de consumidores, mas a oferta do produto é feita por um número reduzido de grandes empresas. Podemos dizer que o grande setor industrial brasileiro, em sua grande maioria, possui sintomas de mercados oligopolistas. Podemos citar vários exemplos, um deles é o setor bancário brasileiro, no qual existem poucos e grandes bancos comerciais que controlam mais do 80% do mercado; existindo diversas instituições financeiras de pequeno porte ofertando serviços bancários no nível regional, mas que não possuem condições para atingir os grandes mercados nacionais.

Os produtos ofertados nos oligopólios podem ter qualquer das seguintes características:

•Homogêneos, tais como cerveja, alumínio, suco etc. Aqui podemos citar inclusive grandes produtores de commodities a nível global, assim como os países produtores de petróleo da década de 1970.

•Diferenciados, tais como automóveis, aparelhos celulares, grandes empresas de comunicação, geladeiras, serviços bancários, entre outros.

Uma das características dos oligopólios é que, em condições normais, a entrada de novas firmas é muito difícil, pois as empresas precisam de grandes volumes de investimentos em processos produtivos e em tecnologia de última geração. Pode ser mera coincidência, mas as pessoas que retém grandes volumes

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de riqueza, ao redor do mundo, possuem empresas em áreas chaves, com um alto nível oligopolista, empresas das áreas de comunicações, sistemas de informação, indústria alimentar, setor farmacêutico e setor energético.

A tendência de um oligopólio é que as empresas que fazem parte têm a tendência de se comunicar entre si e se organizar de “maneira informal”, e, às vezes, podem se organizar de maneira formal para fixar políticas de preços relativamente padronizadas, visando manter lucros acima dos preços que poderiam ser fixados em uma livre concorrência. Esse tipo de prática, de se organizar para impor preços é conhecido como cartel.

Observe que nos oligopólios, a concorrência entre as empresas vai continuar, não por meio de preços, mas através de marketing, atendimento, pós-venda, qualidade etc. A indústria automobilística do Brasil pode ser um exemplo disso.

Quando existe oligopólio, as empresas têm as condições de impor um determinado preço. Nesta situação, apesar do preço alto, os consumidores não têm as condições de escolher outros produtos, mas de continuar consumindo os ofertados pelas empresas. Em síntese, em um oligopólio, há poucas firmas de grande porte e milhares de compradores; os produtos oferecidos pelas firmas podem ser homogêneos ou diferenciados; e é difícil a entrada de novas firmas no mercado.

4.4 MONOPÓLIO

Nos monopólios, o produtor retém o poder de negociação frente a milhares de consumidores, isto é, uma única empresa possui as condições de produzir e ofertar um determinado bem ou serviço à sociedade. A empresa monopólica determina o preço em função de seu interesse de gerar o maior lucro possível. Nesta estrutura de mercado, não há escolha para o consumidor, mas de consumir e comprar os bens e serviços de uma única empresa. É quase impossível para empresas novas iniciarem atividades nos mercados de monopólio, as portas de entrada nesses setores estão praticamente fechadas. Segundo Samuelson, Nordhaus e Taylor (2012, p. 151), hoje:

A maioria dos monopólios persiste em virtude de alguma forma de regulação ou proteção estatal. Por exemplo, uma empresa farmacêutica que descobre um novo medicamento fantástico pode ter garantida uma patente que lhe dá o controle monopolista sobre esse medicamento durante um certo número de anos.

Em um mercado monopólico existem várias barreiras, sendo classificadas como monopólio natural, patentes, controle de matérias-primas básicas e monopólio institucional.

a) Monopólio natural: estrutura pela qual o produto a ser oferecido é único e a formação de uma nova empresa fica praticamente inviabilizada, isso decorrente

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dos altos investimentos e das condições da oferta do produto. Imagine o mercado de energia elétrica sendo oferecido por várias empresas, ou mercado de serviços de transporte público de uma cidade. Pela condição da oferta e procura o monopólio vem a ser natural. Aqui, podemos citar empresas de fornecimento de energia elétrica e empresas de transporte público. Normalmente as empresas de um monopólio natural são estatais ou são fortemente regulamentadas pelo Estado.

b) Patentes (direitos de propriedade intelectual): as empresas, para se diferenciar e ganhar espaço de mercado, estão constantemente inovando e fazendo investimentos em tecnologia, e muitas vezes conseguem inventar e produzir, comercialmente, produtos únicos. Para se protegerem de cópias de sua invenção, as empresas (aliás, pessoas também) têm o direito de registrar a patente de invenção como propriedade intelectual. Um exemplo de patentes são os remédios desenvolvidos pelas farmacêuticas para o tratamento de doenças crônicas, tipo diabetes. Outro exemplo é a invenção de processos industriais que ajudam a aprimorar custos e reduzir tempos de fabricação em diversas áreas da economia.

c) Controle de matérias-primas básicas: a empresa monopólica possui o controle das fontes de onde esses recursos naturais são extraídos, tais como reservas de petróleo e jazidas de minerais. O pré-sal é um exemplo disso, o estado brasileiro é o único que tem o direito de extrair petróleo e gás, mas pode fazer parcerias e consignações com outras empresas.

d) Monopólio institucional: nesta situação, o Estado determina que um determinado setor da economia é estratégico, logo, o Estado determina quem será a empresa que irá ofertar o bem e/ou serviço. No geral, é uma empresa estadual ou empresa privada e/ou mista operando sob a proteção de uma licitação pública. Sob a proteção do Estado e pela força de lei, não há possibilidade da entrada de empresas novas.

Em síntese, no monopólio, existe uma só firma e milhares, ou milhões, de pequenos compradores; não existe um produto substituto próximo, sendo impossível para o consumidor escolher, mas terá que consumir o bem e/ou serviço ofertado pela empresa; é praticamente impossível para novas firmas entrarem no mercado.

Os monopólios e oligopólios, em mãos da empresa privada, geram grandes riquezas e poder econômico, aqui no Brasil e em qualquer país do mundo. É por isso que os países possuem órgãos públicos que fazem o controle desse tipo de empresa. Aqui no Brasil, o órgão público responsável é o Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE – (http://www.cade.gov.br/).

A seguir você fará uma interessante leitura sobre os monopólios ao final do século XIX e começo do século XX, nos Estados Unidos, e como o excesso de poder econômico dessas empresas fez com que esse país tivesse que desenvolver órgãos de controle específicos para os oligopólios e monopólios.

Parabéns, chegamos ao final da segunda unidade! Convido você a iniciar a última unidade, nela, abordaremos questões da macroeconomia e o papel do

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Estado nas atividades econômicas, analisando como milhares de empresas e consumidores atuam nas atividades econômicas como um todo, gerando agregados a serem analisados nas grandes questões econômicas, tais como índices de produtividade, renda nacional, desemprego, inflação, nível da taxa de juros, gasto público etc. É importante para a análise macroeconômica o conhecimento sobre mercados, consumidores e produtores, a qual você acabou de estudar nesta unidade de estudos, e para finalizar, convido você a ler a seguinte leitura complementar, que aborda a grande pergunta econômica: qual o valor gerado na cadeia produtiva pelo recurso humano?

LEITURA COMPLEMENTAR

MONOPÓLIOS DA IDADE DE OURO

Em decorrência das modificações das leis e dos hábitos, os atuais monopolistas nos Estados Unidos têm pouca semelhança com os brilhantes inventivos, sem escrúpulos e, muitas vezes, desonestos barões da Idade de Ouro (Gilded Age, 1870-1914). Figuras lendárias como Rockfeller, Gould, Vanderbilt, Frick, Carnegie, Rothschild e Morgan, com o seu dinamismo, criaram novos setores como o das ferrovias ou do petróleo, promoveram o seu financiamento, desenvolveram o oeste dos Estados Unidos, destruíram seus concorrentes e transmitiram fortunas fabulosas aos seus herdeiros.

Nas últimas três décadas do século XIX, os Estados Unidos desfrutaram de um forte crescimento econômico aceitado por uma extraordinária ganância e corrupção. Daniel Drew era um criador de vacas, negociante de cavalos e dono de ferrovias que dominava o truque de “engordar” o gado com “água” (watering the stock). Esta prática consistia em fazer o seu gado passar sede até chegar ao matadouro; induzia então uma grande sede com sal e fazia o gado saciar-se de água imediatamente antes de ser pesado. Mais tarde, os ricos iriam também “engordar suas ações” inflacionando o valor de suas ações.

Os construtores de ferrovias da fronteira oeste dos Estados Unidos estão entre os empresários menos escrupulosos de que se tem notícia. As ferrovias transcontinentais foram construídas com a concessão de vastos terrenos federais, ajudados por “luvas” e ofertas de ações a numerosos membros do congresso e do governo. Pouco depois da guerra civil, o matreiro Jay Gould, das ferrovias, tentou monopolizar o suprimento de ouro dos Estados Unidos e, com isso, a oferta de moeda do país. Gould, mais tarde, promoveu a sua ferrovia descrevendo o trajeto de sua linha norte – em que cai neve na maior parte do ano – como um paraíso tropical, cheio de laranjais, bananais e macacos. Por volta do final do século, todos os subornos, concessões de terras, “aguamento” de gado e promessas fantásticas levaram à criação do maior sistema ferroviário do mundo.

A história de John D. Rockefeller simboliza os monopolistas do século XIX. Ele vislumbrou riqueza na nascente indústria petrolífera e começou a instalar

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TÓPICO 4 | A RECEITA MARGINAL E ESTRUTURA DE MERCADO

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refinarias de petróleo. Era um gestor meticuloso e pensou em trazer ordem aos desordeiros dos poços de petróleo. Começou a comprar concorrentes e consolidou a sua posição no setor ao persuadir as empresas ferroviárias a concederem-lhe grandes descontos secretos e a darem-lhe informação sobre os seus concorrentes. Quando os concorrentes não se alinhavam, as ferrovias ao lado de Rockfeller se recusavam a embarcar seu petróleo e até o derramavam na terra. Por volta de 1878, John D. controlava 95% dos oleodutos e das refinarias de petróleo nos Estados Unidos. Os preços subiram e se estabilizaram, a concorrência ruinosa terminou, e atingiu-se o monopólio.

Rockefeller criou uma maneira engenhosa para se assegurar o controle sobre seus aliados. Foi o cartel em que os acionistas cediam as suas ações e depositários (“trustees”) que geriam o setor de modo a maximizar o lucro. Outros setores imitaram o Standard Oil Trust, e, logo, os cartéis estavam implantados nos setores de querosene, açúcar, uísque, chumbo, sal e aço.

Essas práticas irritaram de tal modo as pessoas ligadas ao setor agrário e os populistas, que foram publicadas leis de defesa da concorrência. Em 1910, a Standard Oil Corporation foi dissolvida na primeira grande vitória dos progressistas contra o “Grande Capital”. Ironicamente, Rockfeller lucrou de fato com a dissolução, porque o preço das ações da Standard Oil disparou quando foram vendidas ao público.

Os grandes monopólios geraram grandes riquezas. Enquanto, em 1861, havia três milionários nos Estados Unidos, em 1900 havia 4 mil (1 milhão de dólares na virada do século XIX para o XX é equivalente a cerca de 100 milhões nos dólares de hoje).

A riqueza enorme gerou o consumo conspícuo (do inglês “conspicuous consumption”, um termo introduzido na economia por Thorstein Veblen em The Theory of the Leisure Class, 1899). Tal como os papas e aristocratas europeus de outras eras, os barões norte-americanos quiseram transformar as suas fortunas em monumentos duradouros. A riqueza foi gasta na construção de palácios principescos, como Marble House (Casa de Mármore), que ainda pode ser vista em Newport, Rhode Island; na aquisição de vastas coleções de arte que formaram o núcleo central dos grandes museus norte-americanos como o Metropolitam Museum of Arts de Nova York; e no lançamento de fundações e universidades com as que têm o nome de Stanford, Carnegie, Mellon e Rockfeller. Muito depois dos seus monopólios privados terem sido desmoronados pelo governo, ou tomados por concorrentes, e muito depois da sua riqueza ter sido largamente dissipada pelos seus herdeiros e tomada por uma nova geração de empresários, a herança filantrópica dos barões saqueadores continua a moldar as artes, a ciência e a educação nos Estados Unidos.

FONTE: SAMUELSON, Paul Anthony; NORDHAUS, William D.; TAYLOR, Robert Brian (Tradutor). Economia. 22. ed. Rio de Janeiro, McGraw-Hill, 2012.

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RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você estudou que:

•A receita marginal será a receita adicional de mais um bloco de unidades vendidas.

•A receita marginal é decrescente, levando em consideração uma queda do preço unitário e maiores volumes de vendas. Segundo a teoria marginalista, a maximização das vendas acontece quando a receita marginal se aproxima a zero.

•Os custos fixos estão ligados aos gastos que não mudam, como o aluguel, depreciação; e os variáveis estão ligados diretamente aos materiais incorporados ao produto.

•Os custos variáveis são aqueles que vão se acrescentando à medida que vão aumentando as unidades produzidas, eles fazem parte direta dos materiais incorporados no produto.

•A economia de escala é um fenômeno de comportamento natural dos custos, e sua lógica diz que a capacidade instalada começa a ser aproveitada quando há aumento nas quantidades de unidades produzidas.

•O custo médio é sinônimo de custo unitário produzido e o custo marginal é o acréscimo marginal nos custos recorrentes do aumento marginal das unidades produzidas.

•A teoria marginalista determina que a maximização do lucro potencial acontece quando o nível de maximização do lucro será exatamente no ponto em que a receita marginal e o custo marginal se encontram em um mesmo nível, ou seja, são iguais.

•A concorrência perfeita acontece quando há grande volume de empresas e consumidores e não há nenhum tipo de diferenciação significativa entre as mercadorias a serem ofertadas no mercado.

• Na concorrência monopolística existe grande volume de consumidores e empresas, mas os produtos oferecidos são diferenciados entre si.

•No Oligopólio existe um grande número de consumidores, mas a oferta do produto é feita por um número reduzido de grandes empresas.

•Nos monopólios, uma única empresa possui as condições de produzir e ofertar um determinado bem ou serviço à sociedade.

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AUTOATIVIDADE

1 Qual a diferença entre receita total e marginal?

2 Segundo a análise marginalista, como pode se potencializar as vendas e qual a relação disso com a lei da demanda?

3 A receita marginal sempre gera receitas totais maiores? Determine em que ponto as vendas são otimizadas.

4 Na tabela a seguir, escolha o nível de quantidades vendidas, no qual poderá se maximizar as receitas, aplicando o conceito de receita marginal.

5 O ponto em que é gerado a maximização das receitas é de fato o ponto de maximização dos lucros? Explique.

6 Como pode ser definido o conceito de Economia de Escala? Cite um exemplo.

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9 Seguindo a análise da padaria e considerando a tabela a seguir, determine em que nível de produção a empresa potencializa seu lucro. Explique por que o nível em que o lucro é maior não é quando o custo unitário é o menor.

10 Determine quando uma empresa pode potencializar o lucro.

Comportamento

7 Qual a diferença entre custo médio por unidade produzida e custo marginal?

8 Observando a seguinte tabela, determine qual é o custo médio e qual é o custo marginal no nível que a padaria maximiza seus custos.

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UNIDADE 3

MACROECONOMIA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir desta unidade você será capaz de:

• compreender os fundamentos da Teoria Macroeconômica;

• conhecer as principais políticas macroeconômicas e os principais agrega-dos macroeconômicos;

• entender o papel da Contabilidade Social para o registro dos principais agregados macroeconômicos de uma economia;

• conhecer os pressupostos da teoria da determinação da renda e do produ-to, pelo lado real da economia;

• analisar o papel e a importância da moeda no contexto da economia;

• conhecer os fundamentos do comércio internacional e das relações econô-micas internacionais;

• analisar o fenômeno da inflação e compreender os seus principais impac-tos na economia e na vida das pessoas.

Esta unidade está organizada em cinco tópicos. Ao final de cada tópico você encontrará atividades que lhe darão uma maior compreensão dos temas abordados.

TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA

TÓPICO 2 – NOÇÕES DE CONTABILIDADE SOCIAL

TÓPICO 3 – A DETERMINAÇÃO DA RENDA E DO PRODUTO NACIO-NAL: O MERCADO DE BENS E SERVIÇOS E O MERCADO MONETÁRIO

TÓPICO 4 – ECONOMIA INTERNACIONAL: O SETOR EXTERNO

TÓPICO 5 – INFLAÇÃO

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TÓPICO 1

INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Prezado acadêmico, bem-vindo à terceira unidade do caderno de estudos de economia. Nesta unidade, vamos estudar a macroeconomia, uma das divisões da teoria econômica, lembra-se? Você já viu isso brevemente na Unidade 1 e agora vamos aprofundar. Iremos estudar, nesta Unidade 3, a evolução teórica da macroeconomia, suas estruturas de análise e os principais objetivos da política macroeconômica.

Inicialmente, é importante compreender que a macroeconomia é a parte da teoria econômica que tem por objetivo estudar o comportamento do sistema macroeconômico como um todo. Seu objeto de estudo são as relações entre os grandes agregados, como o PIB (Produto Interno Bruto), a renda nacional, o nível de emprego, a inflação, o desemprego, o consumo agregado, a poupança agregada, os investimentos totais, a balança de pagamentos, entre outros. Dito de outra maneira, é o estudo da economia de uma forma mais abrangente.

Ao estudar esses agregados, a macroeconomia deixa para um segundo plano o comportamento das unidades individuais e dos mercados específicos, que são estudados pela microeconomia. Este subcampo fornece princípios que permitem a mensuração da atividade econômica geral e de um determinado sistema econômico, já que trabalha com relações estatísticas e diversas variáveis agregadas. Além da ferramenta de análise, é um instrumento que auxilia na previsão do comportamento das economias.

Vale dizer, ainda, que apesar das diferenças entre a microeconomia e a macroeconomia, não existe uma espécie de conflito entre elas, já que ambas são consideradas as duas grandes áreas da Teoria Econômica. Dito isso, especificamente, quando surgiu esse ramo da teoria econômica?

Veremos melhor no decorrer deste tópico. Bom estudo!

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UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

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2 EVOLUÇÃO DA TEORIA MACROEOCONÔMICA

Podemos dizer que a macroeconomia ganhou maior relevância a partir dos anos 1930, em meio à Grande Depressão, iniciada em 1929, principalmente com a publicação da obra “Teoria geral do emprego, do juro e da moeda”, em 1936, de John Maynard Keynes. Anteriormente, outros economistas contribuíram com discussões acerca do desempenho da economia como um todo, como Adam Smith, Malthus, Karl Marx e F. List. Contudo, Keynes é considerado o fundador da teoria macroeconômica, em suas tentativas de explicar a crise econômica que atingia o mundo e ao propor medidas para sair dela.

Prezado acadêmico, a crise de 1929, conhecida como a “Grande Depressão”, foi o período de maior crise econômica, em nível mundial, do século XX. Ela teve início em 1929, cujo ápice foi a quebra da bolsa de valores de Nova York. No primeiro momento, atingiu a economia norte-americana e a Europa, depois, os países latino-americanos, asiáticos e africanos (SANDRONI, 1999).

Prezado acadêmico, embora Keynes seja considerado o “pai” da macroeconomia, o economista polonês Michal Kalecki chegou aos mesmos resultados, também por volta dos anos 1930. Enquanto Keynes baseou sua investigação nos pressupostos da economia neoclássica, Kalecki partiu dos pressupostos marxistas.

A crise econômica que seguiu nos anos 1930 causou uma série de problemas socioeconômicos, dentre eles, elevados índices de desemprego. Até este período, a preocupação dos economistas em estudar os problemas “macro” da economia não tinha muita notoriedade, particularmente, a questão do nível de emprego. Isso porque a corrente hegemônica de economistas tinha como base os pressupostos clássicos, baseados na Lei de Say. Isto é, sustentavam que a oferta guiava a demanda e que o mercado se autorregulava, encontrando assim, o equilíbrio de forma natural.

Assim, para estes pensadores, tanto a crise econômica como os problemas dela advindos (dentre os quais, o desemprego e a superprodução) seriam temporários, de modo que a economia encontraria, naturalmente, seu equilíbrio, com base nas forças do próprio mercado. De certa maneira, esses pressupostos subestimaram os efeitos da crise de 1929 e, portanto, já não apresentavam soluções capazes de atenuar os problemas da depressão econômica.

IMPORTANTE

NOTA

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TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA

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A crise que se seguiu nos anos 1930 mostrou as limitações dessa teoria, que presumia o equilíbrio automático da economia. Keynes, a partir de estudos sobre o emprego e os ciclos econômicos, superou tais conceitos e sugeriu formas para atenuar a crise. Ele apontou justamente o contrário do que preconizavam os economistas clássicos: evidenciou que a demanda era responsável por guiar a oferta (pois, para Keynes, as necessidades dos indivíduos é que influenciariam na oferta) e comprovou que o nível de emprego de uma economia estava ligado a sua demanda efetiva, que corresponde àquela proporção da renda direcionada a gastos com o consumo e com o investimento (PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 2004; NOGAMI; PASSOS, 2012).

Com isso, negou que a solução para a crise econômica encontrava o “autoequilíbrio” do mercado. O “remédio” proposto para sair da depressão econômica foi uma política macroeconômica de estímulo à demanda efetiva/agregada da economia, ou seja, com políticas de intervenção do Estado na economia de um país, do lado da demanda agregada, através de gastos e investimentos em atividades produtivas (como a construção de obras públicas, subsídios a setores estratégicos da indústria, aumento do crédito, redução da taxa de juros, entre outros).

Podemos dizer que a demanda efetiva/agregada é a demanda por bens e por serviços que possuem capacidade de pagamento. Refere-se às necessidades que a população efetivamente possa pagar (SANDRONI, 1999).

As principais preocupações de Keynes se concentraram nos grandes agregados econômicos de curto prazo (os clássicos defendiam o longo prazo). Além disso, sustentou que a situação de pleno emprego era apenas uma das tantas situações possíveis em uma economia. Ao contrário dos clássicos, dizia ser possível alcançar o equilíbrio de uma economia com desemprego no mercado de trabalho. Inclusive, sem o pleno emprego dos recursos produtivos.

Caro acadêmico, o pleno emprego de uma economia corresponde a uma situação em que todos os recursos disponíveis (emprego, por exemplo) estão sendo utilizados de forma plena na produção dos bens e dos serviços, o que garante o equilíbrio das atividades produtivas (SANDRONI, 1999).

IMPORTANTE

NOTA

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UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

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Foi justamente a partir do trabalho de Keynes que a teoria macroeconômica ganhou evidência e se desenvolveu profundamente, principalmente no pós-Segunda Guerra. Mais e mais, os economistas estavam preocupados em compreender as variáveis que influenciavam o desempenho da economia, em seus vários âmbitos (PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 2004; NOGAMI; PASSOS, 2012).

2.1 BREVE EVOLUÇÃO DA MACROECONOMIA

Os pressupostos defendidos por Keynes influenciaram muitos governos no direcionamento de suas políticas de planejamento econômico, bem como economistas em suas análises da realidade. No primeiro caso, por exemplo, podemos citar o famoso New Deal, programa de recuperação econômica do presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt (1933 - 1939). A convicção que se tinha era de que o capitalismo poderia ser salvo das crises, desde que o Estado intervisse na economia. No segundo caso, a explicação dos problemas macroeconômicos tornou-se cada vez mais complexa, fazendo surgir várias escolas de pensamento. Dentre elas, os keynesianos, os monetaristas, os novos clássicos, os neokeynesianos e os institucionalistas (PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 2004).

Como o nome sugere, os keynesianos baseavam suas análises na obra de Keynes e defendiam seus principais pressupostos. Tentavam demonstrar que as economias capitalistas se caracterizavam pela incapacidade de alcançar o nível de pleno emprego, devido às falhas de mercado. E assim, a recomendação era de intervenção do Estado via políticas de gastos públicos, fiscal e monetária.

No período que se sucedeu à Segunda Guerra Mundial, as formulações keynesianas dominaram o debate econômico e se difundiram pelo mundo, sendo adotadas por inúmeros governos. De fato, a adoção destas políticas contribuiu para o crescimento da economia por alguns anos, sem distúrbios graves.

Porém, a partir dos anos 1970, tornou-se recorrente entre muitos países a ocorrência do fenômeno da estagflação, que nada mais é do que uma situação de estagnação econômica, com baixos ou mesmos índices negativos de crescimento, combinado com altos níveis de inflação e desemprego. Neste período, a corrente keynesiana de explicação dos problemas macroeconômicos perdeu espaço. Ganhou força, então, o chamado monetarismo (cujo importante pensador é Milton Friedmann), rotulado como uma espécie de antítese do pensamento keynesiano.

Os monetaristas preconizavam que a economia de mercado se autorregulava, não havendo necessidades de intervenção por parte do Estado. Para esta corrente de pensamento, o problema da inflação era essencialmente de ordem monetária. Da mesma maneira, entendiam que as flutuações econômicas resultavam, em sua maior parte, de alterações na oferta monetária. Logo, a moeda era a variável mais importante na determinação da demanda efetiva/agregada da economia (PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 2004).

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TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA

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Dessa maneira, o controle do estoque de moeda, ou melhor, uma oferta monetária estável, permitiria um controle do processo inflacionário e também serviria para manter a economia em equilíbrio. Apenas no curto prazo mudanças na política monetária poderiam estimular a demanda efetiva, no longo prazo geraria inflação.

Também nos anos 1970 e 1980 ganhou força a escola das expectativas racionais, conhecida como os novos clássicos. Analogamente aos monetaristas, defendiam que a economia se autorregulava e, portanto, políticas de intervenção por parte do Estado acabavam sendo ineficazes. Sustentavam o controle da oferta de moeda, bem como a ideia das expectativas racionais, isto é, de que os agentes econômicos fundamentam suas expectativas futuras de forma racional.

Segundo estes pensadores, os indivíduos têm acesso a muitas informações no campo econômico, desde o entendimento da economia até a devida compreensão dos impactos de políticas monetárias e fiscais. Assim, conseguem prever as ações do governo no que diz respeito à política econômica, tornando-as ineficazes (PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 2004).

Mais recentemente, a escola dos novos keynesianos vem analisando a realidade com base nos principais pressupostos de Keynes, porém, a partir em um esquema teórico mais sólido. Evidentemente, sustentam que a economia capitalista não se autorregula e que o pleno emprego dificilmente pode ocorrer, pois tanto os salários como os preços não são tão flexíveis. Defendem que os governos estabeleçam políticas de estabilização.

Por fim, os institucionalistas trazem novos elementos para a discussão dos agregados macroeconômicos. Dentre eles, o papel da tecnologia e das instituições. Para estes pensadores, existe um grau elevado de abstração em determinadas correntes do pensamento econômico. Além disso, sustentam que existem muitas instituições sociais e de poder que influenciam na formação dos preços e na alocação de recursos na economia. Para eles, o mercado é apenas uma dessas instituições e, sendo assim, é preciso levar em consideração, nas análises, todas as outras estruturas organizacionais que influenciam a formação de preços e demais setores da economia (NOGAMI; PASSOS, 2012).

3 OBJETIVOS DA POLÍTICA MACROECONÔMICA

Como já mencionado, a macroeconomia preocupa-se com os grandes agregados econômicos. As políticas macroeconômicas têm por principais objetivos alcançar um alto nível de emprego, a estabilidade de preços, a distribuição de renda e o crescimento econômico. As questões relacionadas ao emprego e à inflação são preocupações centrais das políticas chamadas de estabilização, e são geralmente preocupações de curto prazo. Já as questões relativas ao crescimento econômico e à distribuição de renda abrangem aspectos estruturais e, assim, são geralmente de longo prazo.

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UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

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Vejamos melhor os principais objetivos da política macroeconômica:

I. Alto nível de emprego: as discussões sobre desemprego datam de 1930 e permitiram um aprofundamento do debate sobre a macroeconomia. Keynes foi quem forneceu os instrumentos necessários para que a economia em recessão recuperasse seu nível de emprego. Antes de 1930 o desemprego não era preocupação frequente dos economistas. Isto porque predominava o pensamento dos economistas liberais que acreditavam nos pressupostos do livre mercado, sem a interferência do Estado na atividade econômica. Eles acreditavam que “uma mão invisível” seria capaz de guiar os mercados ao pleno emprego. A inexistência de uma política econômica levou à quebra da bolsa de Nova York em 1929, uma recessão geral que atingiu boa parte dos países no ano seguinte. Com a contribuição de Keynes, as bases da economia moderna foram lançadas, e com elas, as políticas macroeconômicas e a intervenção do Estado na economia. Com isso, a busca por elevados níveis de emprego tornou-se um dos objetivos das políticas macroeconômicas (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Prezado acadêmico, o Balanço de Pagamentos (BP) corresponde ao registro contábil de todas as transações econômicas realizadas entre os agentes econômicos de um país com o exterior, ocorridas em um determinado período de tempo. Veremos mais sobre o Balanço de Pagamentos no Tópico 4.

II. Estabilidade de preços: a inflação ocorre quando há um aumento generalizado nos níveis gerais de preços. Por que a inflação pode vir a ser uma questão preocupante? Como veremos mais adiante, a inflação traz consequências negativas sobre a distribuição da renda, sobre os investimentos, sobre o setor produtivo e sobre o balanço de pagamento. Assim, um dos objetivos da política macroeconômica é a busca pela estabilização dos preços.

III. Distribuição de renda: na última década, o Brasil experimentou uma retomada do seu crescimento, especialmente entre 2004 - 2005. A política governamental adotada neste período, somada à conjuntura econômica mundial favorável, principalmente no que se refere à demanda de commodities (principalmente por parte da China), favoreceu a distribuição de renda entre os mais pobres e fortaleceu o mercado interno, já que impulsionou o consumo por parte das classes mais baixas. Isso possibilitou um maior crescimento da economia.

ESTUDOS FUTUROS

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TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA

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FIGURA 18 – DISTRIBUIÇÃO DESIGUAL

FONTE: Disponível em: <http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/01/distribuicao-de-renda-e-concentracao-da-riqueza-no-brasil.html>. Acesso em: 9 jan. 2017.

Neste período, o mercado interno se fortaleceu atraindo mais capitais do exterior, impulsionando o crescimento econômico. Todavia, o Brasil ainda é um dos países mais desiguais do mundo. Basta atentar para as diferenças regionais e de renda entre a população, por exemplo. Tendo estas preocupações em vista, a política macroeconômica tem fundamental importância como um mecanismo capaz de orientar a redistribuição das rendas de maneira mais equitativa.

IV. Crescimento econômico: quando se fala em crescimento econômico, estamos nos referindo ao crescimento da renda nacional per capita e do aumento da capacidade produtiva de uma economia. Em outras palavras, significa colocar à disposição de todos uma quantidade maior de mercadorias, bens e serviços. O crescimento de um país é medido pelo Produto Interno Bruto (conheceremos melhor este indicador no próximo tópico). Promover o crescimento de uma economia é umas das preocupações das políticas macroeconômicas (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

4 OS INSTRUMENTOS DA POLÍTICA MACROECONÔMICA

Vimos até aqui que as políticas macroeconômicas têm alguns objetivos, que são a estabilidade de preços, o alto nível de emprego, a distribuição da renda e o crescimento econômico.

Como o governo atinge tais objetivos, na prática? Para dar conta destes objetivos, o governo faz uso dos instrumentos de política macroeconômica. Dentre eles, destacam-se: a Política Fiscal, a Política Monetária, a Política Cambial e Comercial e a Política de Rendas. É através destes instrumentos que o governo intervém na economia, com o objetivo de atingir as metas macroeconômicas (controle da inflação, fomento ao emprego, distribuição de renda, crescimento econômico) (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

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UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

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Vejamos cada uma delas:

FIGURA 19 - OBJETIVOS E INSTRUMENTOS DA POLÍTICA ECONÔMICA

FONTE: Adaptado de Nogami; Passos (2012) e Vasconcellos; Garcia (2004)

4.1 POLÍTICA FISCAL

A política fiscal refere-se às ações do governo quanto aos seus gastos e receitas. Corresponde aos instrumentos utilizados para a arrecadação dos tributos (política tributária) e para o controle de gastos (política de gastos).

FIGURA 20 – TRIBUTOS

FONTE: Disponível em: <https://institutomiguelcalmon.files.wordpress.com/2012/12/carg-tributaria1.jpg>. Acesso em: 9 jan. 2017.

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TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA

185

Como essa política intervém na economia? Por meio da política fiscal o governo pode estimular a demanda agregada (estimular o consumo, fomentar o crescimento econômico e o emprego) ou contraí-la (desestimular o consumo, “frear” a capacidade produtiva).

Para estimular a demanda, o governo deve utilizar algumas medidas de política fiscal expansiva. Entre eles, diminuindo os impostos (por exemplo, a redução do IPI para compra de automóveis e eletrodomésticos) e aumentando os seus gastos (por exemplo, investimentos em obras de infraestrutura, transferências para a população, subsídios ao setor privado, entre outros). Isso irá fomentar – acelerar – a economia e fomentar o crescimento econômico.

Já para contrair a demanda agregada, o governo deve fazer uso de uma política fiscal restritiva. Dentre seus mecanismos estão o aumento dos impostos (por exemplo, aumentando a taxa do IPI e outros tributos) e a contração dos gastos públicos (reduzir o valor das transferências, dar menos subsídios, realizar menos obras de infraestrutura). Com tais medidas, o consumo é retraído e a economia irá “desacelerar”. Inclusive, estas ações de política fiscal restritiva são utilizadas como mecanismo de combate à inflação (NOGAMI; PASSOS, 2012; VICECONTI; NEVES, 2005).

4.2 POLÍTICA MONETÁRIA

A política monetária representa a atuação do governo sobre a quantidade de moeda. Os instrumentos desta política são: o controle da emissão de moeda, as reservas compulsórias, a operação de mercado aberto (compra e venda de títulos públicos), redescontos e regulamentação do crédito e da taxa de juros. Seu propósito é controlar a liquidez do sistema econômico, deixando em posse dos agentes econômicos mais moeda ou menos moeda.

FIGURA 21 – MÁQUINA DE DINHEIRO

FONTE: Disponível em: <https://encrypted-tbn2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQdM2tupRe3Jxk37-u-4AoS3MclxySltmlSEUJqUFo_VyK61rF0LQ>. Acesso em: 9 jan. 2017.

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UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

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Caso o governo precise contrair o volume de moeda em posse dos agentes econômicos, ele deve lançar mão de uma política monetária contracionista. Dentre os mecanismos utilizados (através da autoridade monetária, ou seja, o Banco Central) estão o aumento da taxa do depósito compulsório (porcentagem do volume dos depósitos captados pelos bancos que necessariamente precisa ser depositado no Banco Central, como reserva para eventuais desequilíbrios) e a venda de títulos públicos na operação de mercado aberto (ao vender títulos, o governo “retira” dinheiro da economia). Com essas ações, haverá diminuição do estoque de moeda na economia, “desacelerando-a”, já que as pessoas irão consumir menos. Inclusive, estas medidas são utilizadas para controlar a inflação.

Agora, se o governo precisa aumentar o estoque de moeda na economia, ele adotará mecanismos de política monetária expansiva. Assim, irá diminuir a taxa do depósito compulsório e comprar títulos públicos nas operações de mercado aberto. Estas duas ações irão aumentar o estoque de moeda nas mãos dos agentes econômicos. Isso irá fomentar a demanda agregada (isto é, as pessoas irão consumir mais) e o desenvolvimento econômico (NOGAMI; PASSOS, 2012; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

4.3 POLÍTICA CAMBIAL E COMERCIAL

As políticas cambial e comercial são aquelas que atuam sobre as variáveis relacionadas à economia internacional. A política cambial diz respeito à atuação do governo nas taxas de câmbio. O governo, juntamente com o Banco Central, pode optar por taxas de câmbio fixas (determinadas pelo Banco Central) ou taxas flexíveis (determinadas pelo mercado de divisas). Já a política comercial refere-se aos instrumentos utilizados para incentivar ou desestimular e para incentivar ou controlar as importações (NOGAMI; PASSOS, 2012; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Caro acadêmico, chamamos de divisas a disponibilidade de moeda estrangeira que uma nação dispõe. O termo em si compreende desde a própria moeda estrangeira que o país dispõe, além de letras de câmbio, ordens de pagamentos, saldos em contas no exterior, entre outros ativos.

Caro acadêmico, no último tópico desta unidade iremos estudar mais sobre os regimes de taxas cambiais.

UNI

ESTUDOS FUTUROS

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TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA

187

4.4 POLÍTICA DE RENDAS

Por meio da política de rendas, o governo intervém de forma direta na economia, formando rendas. Em outras palavras, essa política diz respeito ao conjunto de medidas cuja finalidade é a redistribuição de renda e a promoção da justiça social. Por meio dela, o governo exerce controle direto sobre a remuneração dos fatores de produção (que são os salários, os aluguéis, os juros, o lucro), bem como sobre os preços. O grande objetivo, com o uso desta política, é fazer com que os salários tenham um real aumento no seu poder de compra. Por outro lado, se quer evitar a inflação e favorecer o processo de redistribuição das rendas.

Para fazer este controle, o governo se utiliza da política fiscal, monetária e cambial. A política do salário-mínimo no Brasil e o congelamento dos preços e salários são medidas de políticas de cunho anti-inflacionário (NOGAMI; PASSOS, 2012; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

QUADRO 26 – RESUMO DOS INSTRUMENTOS DA POLÍTICA MACROECONÔMICA

POLÍTICA OBJETIVO

Política fiscal

A política fiscal é a política responsável pelos

instrumentos que o governo tem para arrecadar os

tributos e controlar os seus gastos.

Política monetária

A política monetária representa a atuação do governo

sobre a quantidade de moeda. Os instrumentos desta

política são: emissão de moeda, reservas compulsórias,

operação de mercado aberto (compra e venda de

títulos), redescontos e regulamentação do crédito e da

taxa de juros. Seu propósito é controlar a liquidez do

sistema econômico.

Política cambial/comercialAs políticas cambial e comercial são as que atuam sobre

as variáveis relacionadas à economia internacional.

Política de rendas

A política de rendas é um conjunto de medidas que

tem por finalidade buscar a redistribuição de renda e a

justiça social.

FONTE: Adaptado de Nogami; Passos (2012) e Vasconcellos; Garcia (2004)

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UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

188

5 ESTRUTURAS DE ANÁLISE MACROECONÔMICA

As estruturas de análise macroeconômicas dividem-se em cinco mercados: o mercado de bens e serviços; o mercado de trabalho; o mercado monetário e de títulos; o mercado de divisas.

Vejamos melhor cada um deles, bem como seu funcionamento:

a) O mercado de bens e serviços: é onde se efetua a agregação de todos os bens e serviços produzidos pela economia durante certo período de tempo, definindo o produto nacional. Este mercado é o responsável por determinar o nível de produção agregada e o nível geral de preços. São quatro grandes setores que fazem parte deste mercado: os consumidores, as empresas, o governo e o setor externo. Neste mercado, a condição de equilíbrio se dá quando a oferta agregada de bens e serviços é igual à demanda agregada de bens e serviços. As variáveis deste mercado são nível de renda e do produto, o nível de preços, o consumo agregado, a poupança agregada, o investimento agregado, as exportações globais e as importações globais.

b) O mercado de trabalho: onde se realiza a compra e a venda de serviços de mão de obra, se estabelecem salários e o nível de emprego. A demanda de mão de obra depende de dois fatores: a taxa de salário real, que significa custo para as empresas, e do nível de produção desejado pelas empresas. Neste caso, a condição de equilíbrio é dada por: oferta de mão de obra = demanda de mão de obra. As variáveis determinantes são: nível de emprego e taxa de salários monetários (NOGAMI; PASSOS, 2012; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

c) O mercado monetário: mercado em que são realizadas as operações financeiras. Afinal, todas as transações da economia são feitas por intermédio do uso de moeda. Serve, inclusive, como instrumento de política monetária. O Banco Central influencia decisivamente na oferta de moeda, o que impacta também na demanda. O equilíbrio deste mercado se dá quando: oferta de moeda = demanda de moeda. As principais variáveis são a taxa de juros e o estoque de moeda. Vale dizer ainda que a demanda e a oferta de moeda determinam a taxa de juros da economia.

d) O mercado de títulos: no mercado de títulos, os agentes superavitários emprestam para os deficitários (título do governo, ações etc.). Normalmente, o mercado de títulos e o monetário são analisados conjuntamente e ele também tem importância na formação da taxa de juros. Neste mercado, a condição de equilíbrio é: oferta de títulos = demanda de títulos. A variável, importante neste caso, é o preço dos títulos (normalmente este mercado é analisado juntamente ao mercado monetário).

e) O mercado de divisas: é onde se realizam as operações de compra e venda de moedas estrangeiras. Como a economia mantém transações com o resto do mundo, existem mercados de divisas ou de moeda estrangeira. A oferta de divisas depende das exportações e da entrada de capitais financeiros, enquanto que a demanda se determina pelo volume das importações, das saídas de capitais e das obrigações financeiras a serem pagas no exterior. A variável, importante

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TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA

189

neste caso, é a taxa de câmbio. A condição de equilíbrio, neste caso, é: ofertas de divisas = demanda de divisas (NOGAMI; PASSOS, 2012; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

QUADRO 27 – RESUMO DOS MERCADOS E DE SUAS VARIÁVEIS DETERMINANTES

MERCADOS VARIÁVEIS DETERMINANTES

Mercado de bens e serviços

Produto nacional, nível geral de preços, consumo

agregado, poupança agregada, investimento agregado,

exportações e importações.

Mercado de trabalho Nível de emprego e taxa de salário.

Mercado monetário Taxa de juros e o estoque de moeda.

Mercado de títulos Preço dos títulos.

Mercado de divisas Taxa de câmbio.

FONTE: Adaptado de Nogami; Passos (2012) e Vasconcellos; Garcia (2004)

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Neste tópico, você aprendeu que:

• A macroeconomia é a parte da teoria econômica que tem por objetivo estudar o comportamento do sistema econômico como um todo.

• A macroeconomia estuda os grandes agregados da economia, como a renda nacional, o produto interno bruto, a inflação, o desemprego, o consumo agregado, o investimento agregado, entre outros.

• Foi a partir do trabalho de Keynes que a teoria macroeconômica ganhou evidência e se desenvolveu profundamente, principalmente no pós-Segunda Guerra. Mais e mais os economistas estavam preocupados em compreender as variáveis que influenciavam o desempenho da economia, em seus vários âmbitos.

• A macroeconomia tem por principais objetivos: alcançar um alto nível de emprego, a estabilidade de preços, a distribuição de renda e o crescimento econômico.

• Os principais instrumentos para alcançar os objetivos macroeconômicos são: a política fiscal, a política monetária, a política cambial e comercial e a política de rendas.

• As estruturas de análise macroeconômicas dividem-se em cinco mercados: o mercado de bens e serviços, o mercado de trabalho, o mercado monetário, o mercado de títulos e o mercado de divisas.

RESUMO DO TÓPICO 1

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1 A teoria econômica pode ser dividida em dois grandes campos de estudos: a microeconomia e a macroeconomia. A primeira estuda o comportamento dos agentes econômicos tomados individualmente. Já a segunda se preocupa com os grandes agregados econômicos. Com base nas características que diferenciam estes dois campos de estudo, analise as sentenças abaixo e marque com um X aquela que expressa melhor o campo de estudo da macroeconomia:

a) ( ) O estudo sobre o comportamento do consumidor de uma cidade.b) ( ) O percentual de desemprego de uma economia.c) ( ) A evolução dos preços do saco de feijão de uma região produtora.d) ( ) O nível de vendas do comércio de uma cidade.

2 Podemos dividir a análise macroeconômica em cinco estruturas básicas: o mercado de bens e serviços; o mercado de trabalho; o mercado monetário e de títulos; o mercado de divisas. Com base nas características de cada um deles, associe a primeira coluna com a segunda:

( a ) Mercado de bens e serviços( b ) Mercado de trabalho( c ) Mercado monetário( d ) Mercado de títulos( e ) Mercado de divisas

( ) A principal variável é a taxa de câmbio.( ) A principal variável é o preço dos títulos.( ) O equilíbrio é dado quando: oferta mão de obra = demanda de mão de

obra.( ) O equilíbrio é dado quando: oferta agregada de bens e serviços = demanda

agregada de bens e serviços.( ) As principais variáveis são a taxa de juros e o estoque de moeda.

3 Através das políticas macroeconômicas, o governo intervém na economia objetivando alcançar o equilíbrio das principais variáveis, como a estabilidade de preço, a distribuição de renda, o crescimento econômico e o elevado nível de emprego. Com base nisso, analise as afirmativas a seguir e classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Fazendo uso dos mecanismos da política fiscal expansiva o governo irá “desacelerar” a economia.

( ) A política cambial e comercial diz respeito à atuação do governo na formação da taxa de juros básicos da economia.

AUTOATIVIDADE

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192

( ) Caso seja necessário diminuir o volume de moeda em mãos dos agentes econômicos, o governo deve fazer uso de uma política monetária contracionista.

( ) Com a política de rendas o governo objetiva estimular as exportações e desestimular as importações.

Analise as sentenças e assinale a que contém a sequência correta:a) ( ) F – V – V – Fb) ( ) F – F – V – V c) ( ) F – F – V – F d) ( ) V – F – V – F

4 A macroeconomia é a parte da teoria econômica que se preocupa com os grandes agregados da economia. Podemos dizer que este campo de estudo ganhou mais relevância a partir da crise de 1929, principalmente com John Maynard Keynes. Antes disso, a corrente marginalista, que priorizava uma análise microeconômica, era hegemônica nas análises econômicas. Disserte acerca da importância de Keynes para a evolução da macroeconomia.

5 Um dos instrumentos da política macroeconômica é a política fiscal. A política fiscal refere-se às ações do governo quanto aos seus gastos e receitas. Podemos dizer que existem dois “tipos” de política fiscal: a expansiva e a restritiva. Com base nisso, responda:

a) O que vem a ser uma política fiscal restritiva?b) O que vem a ser uma política fiscal expansiva?

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193

TÓPICO 2

NOÇÕES DE CONTABILIDADE SOCIAL

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Prezado acadêmico, bem-vindo ao Tópico 2 deste caderno de economia, conheceremos algumas noções de contabilidade social. É muito comum assistirmos aos noticiários da TV ou mesmo lermos nos jornais, informações sobre o desempenho da economia. Fala-se sobre o produto nacional, sobre a renda nacional, sobre poupança, investimentos e tantos outros agregados macroeconômicos.

Você já se perguntou como as pessoas fazem para medir o desempenho econômico de um país? A resposta é simples, através de uma metodologia denominada de contabilidade social. Através dela, são medidos os agregados macroeconômicos, através do registro contábil da atividade produtiva de um país em um determinado período (geralmente em um ano).

É a contabilidade social que permite a medição do desempenho da economia, e é claro, permite também evidenciar as relações que existem entre os agregados macroeconômicos. Além de dar uma noção do desempenho da economia, as informações resultantes da contabilidade social tornam-se imprescindíveis para que os governos possam formular melhor as políticas econômicas. Conhecer melhor os elementos da contabilidade social é o esforço que faremos neste tópico. Bons estudos!

2 A CONTABILIDADE SOCIAL

A contabilidade social (ou contabilidade nacional) refere-se ao registro contábil da atividade econômica de um país, em um determinado período de tempo, geralmente um ano. É um conjunto de técnicas que permite a “medição” do desempenho econômico de um país, melhor dizendo, dos principais agregados macroeconômicos: produto interno bruto, poupança agregada, investimento agregado, importações, exportações, consumo agregado, entre outros.

Podemos citar dois sistemas de medição dos agregados econômicos utilizados (ambos com modelos e manuais organizados pela ONU): o sistema de contas nacionais e a chamada matriz de relações intersetoriais (que também recebe

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194

UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

o nome de matriz insumo – produto ou matriz de Leontief). Vale dizer que estes sistemas de medição se desenvolveram no pós-segunda guerra (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Quanto ao sistema de contas nacionais, ele foi criado pelo economista inglês Richard Stone e considera, na análise, apenas as transações de bens finais de uma economia. Os bens intermediários não entram na quantificação. O método contábil utilizado é o das partidas dobradas, descriminando, por meio de contas específicas, as transações macroeconômicas das famílias, das empresas, do governo e do setor externo (PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 2004; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Caro acadêmico, entendemos por bens finais aqueles que são vendidos para o consumo final. Por exemplo: o pão, vendido na padaria, é um produto final. Já os produtos intermediários são aqueles utilizados durante o processo produtivo para a produção do produto final. Eles são transformados ou consumidos durante o processo produtivo. Utilizando o mesmo exemplo do pão como bem final, podemos citar como bens intermediários o trigo e o fermento. Ficou curioso? Adiante iremos abordar um caso bem didático sobre este assunto.

Quanto à matriz de relações intersetoriais, ela foi desenvolvida pelo economista russo Wassily Leontief e, em sua matriz de quantificação, leva em consideração tanto as transações agregadas de bens finais, quanto as transações agregadas de bens intermediários.

A utilização desta metodologia permite o acesso a informações mais detalhadas, justamente porque permite uma análise entre os vários setores da economia. Como é mais detalhada, também necessita de uma variedade maior de dados se comparado ao sistema de contas nacionais. E para isso, os censos demográficos contribuem decisivamente.

No Brasil, a partir do ano de 1999, os dois sistemas foram integrados seguindo a metodologia da ONU. É claro que o sistema de contas nacionais, operacionalmente, permite o acesso aos principais agregados macroeconômicos de maneira mais rápida, se comparado à matriz de Leontief, que necessita de dados mais detalhados, geralmente coletados nos censos (PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 2004; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

NOTA

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TÓPICO 2 | NOÇÕES DE CONTABILIDADE SOCIAL

195

2.1 ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DAS CONTAS NACIONAIS

Como vimos anteriormente, através das contas nacionais podemos registrar e quantificar os agregados macroeconômicos de uma maneira sistemática e coerente. Os agregados, tomados em conjunto, representam a medida oficial do fluxo do produto e da renda de um país. No Brasil, a responsabilidade por organizá-las é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na elaboração das contas nacionais, alguns princípios básicos são levados em consideração, dentre eles:

I. São contabilizadas apenas as transações de bens e serviços finais: na contabilização são excluídos os bens e serviços intermediários. Quanto aos custos tomados para a análise, são os referentes à remuneração dos fatores de produção. Portanto, não entram na conta os custos de matérias-primas e bens intermediários.

II. A produção corrente do próprio período é medida: ou seja, não entram na contabilização os valores das transações com bens produzidos em anos anteriores. Por exemplo, se você revendeu, em 2016, um automóvel ano 2013, esta transação não será incluída no cálculo da contabilidade nacional de 2016. Isso porque a produção deste automóvel já foi computada em 2013 (ano de sua fabricação e venda no mercado).

III. As transações medidas sempre se referem a um fluxo por unidade de tempo: sempre que os agregados macroeconômicos são contabilizados, leva-se em consideração um período de tempo, geralmente um ano. Há casos de estimativas trimestrais, por exemplo. Porém, são amostras parciais.

IV. Não se consideram as transações puramente financeiras: estas transações não entram na contabilização por se configurarem como transferências financeiras entre aplicadores e tomadores. E isso não configura um acréscimo à produção real da economia, por exemplo, os empréstimos, depósitos bancários e as transações em bolsa de valores. Essas transações entrariam na contagem caso tivessem sido investidas no processo produtivo da economia, ocasionando alteração da renda e da riqueza de um país.

V. Neutralidade da moeda: a moeda é tratada como uma unidade de medida (padrão que permite agregar bens e serviços diferentes) e como instrumento de troca (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Além destes princípios, as contas nacionais, de um modo geral, compõem-se de cinco contas básicas, descritas a seguir:

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196

UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

FIGURA 22 – AS CINCO CONTAS BÁSICAS DAS CONTAS NACIONAIS

FONTE: Adaptado de Nogami; Passos (2012)

Prezado acadêmico, você pode conhecer mais sobre as contas nacionais do Brasil acessando o site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segue o link que o levará diretamente para a página das contas nacionais brasileiras: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/contasnacionais/2013/default.shtm>.

3 MEDINDO A ECONOMIA A DOIS SETORES: FAMÍLIAS E EMPRESAS

Como vimos, para mensurar a atividade econômica, tomam-se como parâmetro os valores das transações econômicas de bens e serviços realizadas durante um ano. Iremos começar vendo como se mede a produção de uma economia, através de um modelo composto por apenas dois agentes: as famílias e as empresas.

DICAS

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TÓPICO 2 | NOÇÕES DE CONTABILIDADE SOCIAL

197

Basicamente, podemos mensurar as atividades econômicas de um país a partir de três óticas: 1) ótica do produto; 2) ótica da despesa; 3) ótica da renda. Os dois primeiros referem-se à produção e venda dos bens e dos serviços finais. São ainda medidas no mercado de bens e serviços. Já sob a ótica da renda leva-se em consideração a remuneração dos fatores de produção. A renda é medida no mercado de fatores de produção (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004). Tendo isso em mente, três conceitos destacam-se para medir a atividade econômica: o de Produto Nacional (PN), o de Despesa Nacional (DN) e o de Renda Nacional (RN).

O produto nacional (PN) corresponde ao valor monetário de todos os bens e serviços finais, gerados por uma economia durante determinado período de tempo (geralmente um ano) e medidos a preço de mercado. Este conceito demonstra o valor do produto pela ótica do produto (de quem produz e vende). Seguindo as regras gerais, que apresentamos antes, não entram nesta conta os bens intermediários (PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 2004).

De maneira prática, para contabilizar o produto nacional (PN), basta multiplicar as quantidades produzidas de cada bem e serviço pelo seu preço e depois somar seus resultados.

A fórmula fica assim:

Para exemplificar, pensemos em uma economia hipotética que produz apenas cinco bens finais por ano: a) vinho; b) livros; c) celulares; d) camisetas; e) cadeiras. A tabela a seguir condensa as informações desta economia:

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198

UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

TABELA 4 – MEDINDO O PRODUTO NACIONAL (PN)

BEM PREÇO ($) QUANTIDADE (ANO)

a - Vinho 10,00 300

b - Livro 15,00 200

c- Celular 300,00 700

d - Camisetas 25,00 550

e - Cadeira 50,00 350

FONTE: Adaptado de Nogami e Passos (2012)

Como fazer para calcular o PN dessa economia? Simplesmente, utilizando a fórmula:PN = ∑ pi x qiPN = (10,00x 300) + (15,00 x 200) + (300,00 x 700) + (25,00 x 550) + (50,00 x 350)PN = $ 3.000,00 + $ 3.000,00 + $ 210.000,00 + $ 13.750,00 + $ 17.500,00PN = $ 247.250,00 (portanto, temos que o produto nacional desta economia é de

$ 247.250,00).

Tendo compreendido este conceito, passemos para o de despesa nacional (DN), que é o gasto realizado pelos agentes econômicos com o produto nacional. Essa medição é pela ótica da despesa (de quem compra).

Como a despesa nacional (DN) corresponde aos gastos das famílias, o seu valor é idêntico ao valor do produto nacional (PN). A única mudança é a ótica de análise: como vimos, a DN baseia-se pelo lado de quem compra (DN = C [consumo]), enquanto que o PN se baseia pelo lado da produção, isto é, de quem produz e vende (PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 2004; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004). Considerando o exemplo anterior, o consumo (C) total da economia foi de R$ 247.250,00.

Caro acadêmico, estes conceitos estão sendo abordados levando em consideração uma economia a dois setores, ou seja, composta apenas pelas famílias e pelas empresas. No caso da despesa nacional (DN), se considerássemos uma economia a quatro setores, isto é, com os demais agentes econômicos (famílias, empresas, governo, setor externo), a fórmula seria mais completa: DN = C + I + G + (X – M). Onde C é o consumo das famílias; I corresponde às despesas com investimento das empresas; G são os gastos do Governo; X são as exportações; M são as importações. Assim, o produto nacional é vendido a todos os agentes da economia.

IMPORTANTE

Page 213: Economia - UNIASSELVI

TÓPICO 2 | NOÇÕES DE CONTABILIDADE SOCIAL

199

A terceira ótica de medição do resultado econômico de um país é o da renda nacional (RN), que corresponde aos pagamentos feitos aos recursos de produção utilizados no período (um ano) para gerar a produção nacional. É a soma de todas as remunerações: do trabalho (salários), do capital (juros), da terra (aluguéis) e da capacidade empresarial (lucro).

Isto é:

A renda nacional (RN) sempre apresentará o mesmo resultado que o do produto nacional (PN) e a despesa nacional (DP). A grande diferença está na ótica da análise de cada uma (PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 2004; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004; NOGAMI; PASSOS, 2012).

Para exemplificar, retomemos o exemplo anterior. Acrescentamos, na Tabela 5, os dados do PN e os gastos com a remuneração dos fatores de produção. Vejamos como se procede ao cálculo do produto então, desde a ótica da renda.

TABELA 5 – MEDINDO A RENDA NACIONAL (RN)

BEMSALÁRIO

(R$)JUROS

(R$)ALUGUÉIS

(R$)LUCROS

(R$)RENDA

(R$)PREÇO

(R$)QUANTIDADE

(ANO)

VALOR DOS BENS

FINAIS (R$)

A - Vinho 1.400,00 400,00 500,00 700,00 3.000,00 10,00 300 3.000,00B - Livro 1.300,00 300,00 600,00 800,00 3.000,00 15,00 200 3.000,00

C- Celular 100.000,00 25.000,00 3.5000,00 50.000,00 210.000,00 300,00 700 210.000,00

D - Camisetas

5.500,00 2.000,00 3.000,00 3.250,00 13.750,00 25,00 550 13.750,00

E - Cadeira 6.800,00 2.500,00 3.000,00 5.200,00 17.500,00 50,00 350 17.500,00

TOTAL 115.000,00 30.200,00 42.100,00 59.950,00247.250,00

(RN)- -

247.250,00 (PN)

FONTE: Adaptado de Nogami e Passos (2012)

Basicamente, para descobrirmos a renda nacional (RN), bastou somarmos os pagamentos feitos aos fatores de produção utilizados em cada bem desta economia hipotética: total dos salários pagos na produção dos bens + a soma dos juros pagos na produção dos bens + a soma dos aluguéis pagos na produção dos bens + soma dos lucros pagos na produção dos bens. A coluna seis nos mostra o resultado da renda nacional (RN): R$ 247.250,00.

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200

UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

Se atentarmos para a última coluna, veremos que o resultado do produto nacional (PN) obtido através da fórmula descrita anteriormente (PN = ∑ pi x qi) é igual ao da RN, isto é, os mesmos R$ 247.250,00. E é bom ressaltar novamente que o fato de se considerar apenas os bens finais, excluindo os bens intermediários destas contagens, contribui para esta igualdade. Afinal, tudo o que a empresa recebe ao vender os seus bens finais ela gasta com a remuneração dos fatores de produção.

Por isso, estas três óticas de medição do resultado de uma economia nos revelam uma identidade muito importante nas contas nacionais:

3.1 O VALOR ADICIONADO

Alguns problemas podem surgir com a medição do produto de um país. Dentre eles, o problema da dupla contagem (ou mesmo múltipla contagem), isto quer dizer que, algumas vezes, pode não ser descontado o valor dos bens e serviços intermediários no cálculo final. O cálculo do produto ficaria distorcido.

Para evitar este problema, utiliza-se o conceito de valor adicionado, permitindo deixar de lado da contabilização o valor dos bens e serviços intermediários. O valor adicionado corresponde ao valor que é adicionado ao produto da economia em cada estágio produtivo. Seria a renda que cada setor do processo produtivo agregou ao produto nacional. Por exemplo, ao computar o valor final de um livro, teríamos que descontar o preço do papel, da tinta, da cola e de tantos outros produtos utilizados no processo de produção deste bem (PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 2004; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004; NOGAMI; PASSOS, 2012).

Para encontrar o valor adicionado, subtrai-se do valor bruto da produção (receita de vendas) a compra de bens e de serviços intermediários:

Prezado acadêmico, o conceito de valor adicionado corresponde ao cálculo do que cada ramo de atividade adicionou ao valor do produto final, levando em conta cada etapa do processo produtivo. É o valor bruto da produção menos o valor de bens intermediários adquiridos no processo produtivo.

NOTA

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TÓPICO 2 | NOÇÕES DE CONTABILIDADE SOCIAL

201

Utilizando esta técnica, para encontrarmos o produto final da economia, basta somarmos o valor adicionado em cada estágio da produção. Para exemplificar, imaginemos que o produto nacional do país Verde seja composto apenas pela produção de pães. Os dados da tabela a seguir descrevem esta economia.

Vejamos como se procede para encontrar o produto final da economia Verde com auxílio do valor adicionado.

TABELA 6 – CALCULANDO O VALOR ADICIONADO

FONTE: Adaptado de Nogami e Passos (2012)

No nosso exemplo, temos três estágios de produção. Supomos que os produtores de trigo não adquiram bens de outras firmas. Sendo assim, eles vendem sua produção a uma empresa que irá processar o trigo por R$ 2.800,00. Neste primeiro estágio, o valor adicionado é de R$ 2.800,00 (R$ 2.800,00 - $ 0,00). No segundo estágio, outra empresa processa o trigo e vende a farinha a uma padaria por R$ 4.000,00. Portanto, o valor adicionado nesta segunda etapa foi de R$ 1.200,00 (R$ 4.000,00 - R$ 2.800,00). Nesse valor adicionado está considerado os salários, gastos do processo da elaboração da farinha, juros, aluguéis e o lucro do moinho.

Por fim, a padaria vende aos consumidores toda a produção de pães por R$ 5.600,00 (este é o valor do produto final). Nesta terceira etapa, o valor adicionado foi de R$ 1.600,00 (R$ 5.600,00 - R$ 2.000,00). A soma dos valores adicionados em cada etapa totaliza então R$ 5.600,00 (última coluna), igual ao produto final desta economia.

3.2 A POUPANÇA AGREGADA (S), O INVESTIMENTO AGREGADO (I) E A DEPRECIAÇÃO

Além das transações com bens e serviços de consumo corrente, precisamos considerar três elementos importantes. O primeiro deles é que as famílias não gastam toda a sua renda comprando mercadorias e serviços, elas também poupam para o futuro. Neste sentido, é importante atentarmos para o conceito de poupança.

Page 216: Economia - UNIASSELVI

202

UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

A segunda é que as empresas não produzem apenas bens de consumo final para o consumo. Elas produzem também bens de capital que aumentam a capacidade produtiva da economia. E isso requer que consideremos o conceito de investimento.

Em terceiro lugar, devemos considerar que os bens de capital se desgastam no processo produtivo. O conceito de depreciação se evidencia com esta situação.

A poupança é o ato de não consumir no período, deixando para um consumo futuro. Portanto, a poupança agregada (S) corresponde à parcela da renda nacional (RN) que não é consumida no período.

De toda a renda recebida pelas famílias, a parcela que não for gasta com consumo (C) será denominada poupança agregada (S):

Entendemos por investimento agregado (I) o gasto com todos os bens produzidos (bens de capital, bens de consumo, bens intermediários) e não consumidos no período, que irão, portanto, aumentar a capacidade produtiva da economia. Conhecido também por taxa de acumulação do capital, é composto pelo investimento em bens de capital acrescido da variação de estoques de todos os bens que não foram consumidos no período (PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 2004; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004):

Prezado acadêmico, chamamos de bens de capital (bens de produção) aqueles utilizados para a produção de outros bens e que não se desgastam totalmente no processo produtivo. Por exemplo, as máquinas, os equipamentos, as instalações.

O conceito de investimento agregado (I) envolve produtos físicos, dessa maneira, investimentos em ações, por exemplo, não se configuram um investimento no sentido econômico. Isso ocorre porque esse tipo de investimento figura apenas como uma transferência financeira: é uma transação ocorrida na bolsa de valores e que não aumenta por si mesma a capacidade produtiva da economia. Agora, se este tipo de investimento for utilizado no processo produtivo (compra de equipamentos, máquinas, aumento das instalações, entre outros), aí teremos uma situação de investimento.

NOTA

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TÓPICO 2 | NOÇÕES DE CONTABILIDADE SOCIAL

203

Os chamados investimentos em ativos de “segunda mão” (máquinas usadas, imóveis usados etc.) não entram na contabilidade do investimento agregado. Esta ação se configura apenas como uma transferência de ativos. Como estes bens foram produzidos em anos anteriores, já foram computados.

Por fim, a depreciação corresponde ao desgaste do capital da economia em um determinado período de tempo. São as máquinas e equipamentos que se desgastam e que se tornam obsoletos no processo de produção. Para garantir a continuidade do processo produtivo, há a necessidade de repô-los. Daí se tem que a depreciação é a parte do produto destinada à reposição destes bens desgastados e obsoletos (PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 2004; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

FIGURA 23 – A DEPRECIAÇÃO

FONTE: Disponível em: <https://www.linkedin.com/pulse/um-grande-vil%C3%A3o-chamado-deprecia%C3%A7%C3%A3o-rodrigo-calvi-parisi>; <http://contabeissemsegredos.com/depreciacao-a-reducao-do-valor-dos-bens/>. Acesso em: 9 jan. 2017.

Ao considerarmos o conceito de depreciação, podemos diferenciar o investimento bruto e o investimento líquido. O primeiro corresponde ao investimento considerando a depreciação. O segundo desconta a depreciação. Assim:

Analogamente, podemos também diferenciar o produto nacional (PN) entre produto nacional bruto (PNB) e produto nacional líquido (PNL). O PNB considera o total geral de bens e serviços finais produzidos pela economia, incluindo a depreciação. Já o PNL considera o total geral de bens e serviços finais produzidos, descontando a depreciação.

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204

UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

4 MEDINDO A ECONOMIA A TRÊS SETORES: O GOVERNO

A contabilidade social também organiza os agregados relacionais ao governo ou setor público, entendido desde a esfera federal, estadual, municipal. Dois importantes conceitos passam a ser analisados: o de receita fiscal e o de gastos públicos.

A receita fiscal corresponde ao total de dinheiro que o Estado arrecada. O governo arrecada dinheiro e compõe sua receita fiscal através dos tributos. Basicamente, os tributos são constituídos por: 1) impostos; 2) taxas; 3) contribuições de melhoria; 4) empréstimos compulsórios; 5) contribuições especiais (NOGAMI; PASSOS, 2012).

Prezado acadêmico, os IMPOSTOS são os tributos por excelência, servem para compor a receita do Estado e permitir que cumpra suas funções com a sociedade. Ele é arrecadado e não tem uma finalidade previamente estabelecida. Podemos classificá-los entre impostos diretos e impostos indiretos. Os impostos diretos são aqueles que afetam a riqueza dos contribuintes, incidindo de forma direta sobre a riqueza e a renda. Exemplos: imposto de renda (IR), imposto sobre a propriedade territorial urbana (IPTU), imposto sobre a propriedade de veículos automotores (IPVA). Já os impostos indiretos estão relacionados com a produção e comercialização, incidindo, portanto, mercadorias e serviços. Geralmente, a firma que recolhe o imposto pode transferir o ônus para terceiros. Exemplos: imposto sobre produtos industrializados (IPI), imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS), imposto sobre serviços (ISS) (NOGAMI; PASSOS, 2012).

Os gastos do governo são as despesas que ele tem, seja com atividades-fim (como educação, saúde etc.) ou com e atividades-meio (como pessoal, material de consumo etc.).

Passando os gastos governamentais para as contas nacionais, temos um agrupamento de três tipos de gastos:

1. Gastos dos ministérios e autarquias: estas receitas derivam de dotações orçamentárias. Os serviços que o governo disponibiliza à sociedade não tem um preço definido pelo mercado. O produto gerado pelo governo se mede através: a) das suas despesas correntes ou de custeio, que são os gastos com salários, manutenção da máquina administrativa, entre outros; b) das despesas de capital, que correspondem a gastos com infraestrutura, obras públicas etc.

2. Gastos das empresas públicas e sociedades de economia mista: a receita destas empresas é considerada no setor de produção, dentro das contas nacionais. Elas aparecem junto com as empresas privadas e não com o governo (pois vendem

NOTA

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TÓPICO 2 | NOÇÕES DE CONTABILIDADE SOCIAL

205

seus bens e serviços no mercado, como as empresas privadas). Um bom exemplo é a Petrobrás.

3. Gastos com transferências e subsídios: nas contas nacionais, estes gastos aparecem como transferência e não são contabilizados como parte da renda nacional. Isso porque representam apenas uma transferência do setor público para o privado (empresas e famílias), portanto, não existe aumento da produção. Como exemplo, podemos citar as bolsas de estudo, aposentadorias, bolsas de erradicação da pobreza e fome, subsídios a setores empresariais, entre outros (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

A administração das receitas e despesas do governo pode conduzir a duas situações:

1) Superávit público: ocorre quando a arrecadação supera o total dos gastos públicos; e

2) Déficit público: ocorre quando os gastos do governo superam a sua arrecadação.

Quanto à situação de déficit público, ele pode ser de três tipos.

QUADRO 28 – TIPOS DE DÉFICIT PÚBLICO

Déficit primário

ou fiscal

Leva em consideração a diferença entre arrecadação e despesas no

período (do ano em exercício). Não se leva em consideração a correção

monetária e cambial e os juros da dívida contraída em outros anos.

Déficit

operacional

Corresponde à diferença entre arrecadação e despesas no período,

acrescido dos juros da dívida passada.Déficit nominal

ou total

Leva em consideração o déficit total, ou seja, inclui a dívida atual mais

os juros, correção monetária e cambial das dívidas passadas.FONTE: Adaptado de Nogami e Passos (2012)

4.1 CUSTO DE FATORES E PREÇOS DE MERCADO

Quando compramos uma mercadoria, geralmente ela possui um preço de mercado acima do valor equivalente à remuneração dos fatores de produção (terra, trabalho, capital, capacidade empresarial). Isso acontece porque nesse preço incluem-se os impostos indiretos cobrados pelo governo.

Existem outros casos em que o preço que pagamos por uma mercadoria é inferior ao seu custo de produção. Nesta situação, o governo concedeu subsídios a esta produção. Um exemplo: imaginemos um produto essencial para as pessoas, como um alimento: o feijão. Neste caso, o governo poderia subsidiar os produtores de feijão para que possam vendê-lo com um preço abaixo do custo de produção (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

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206

UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

Essas duas situações revelam dois conceitos importantes: o de custo de fatores e o de preços de mercado. Por custo de fatores, entendemos o que a empresa paga em termos de remuneração aos fatores de produção (salários, juros, aluguéis, lucros).

Já o preço de mercado, que é o preço final de venda, adiciona ao custo dos fatores de produção (valor dos salários, aluguéis, juros e lucros pagos no processo produtivo) os impostos indiretos e subtrai os subsídios. Para chegarmos a um agregado a preços de mercado (como produto nacional líquido [PNL]), precisamos somar esse agregado e o custo de fatores aos impostos indiretos, para depois subtrair os subsídios. Portanto: PNL a preços de mercado = RNL a custo de fatores + impostos indiretos – subsídios (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004). Simplificando:

O mesmo raciocínio vale para descobrimos os agregados em termos brutos, como por exemplo, partindo do produto nacional bruto (PNB) e da renda nacional bruta (RNB). Neste caso, encontraríamos o produto nacional bruto a preços de mercado, ao invés de PNLpm, como na fórmula acima.

Caro acadêmico, no uso desse conceito utilizamos apenas os impostos indiretos. Os impostos diretos não entram nesta quantificação, pois incidem sobre os proprietários e não sobre as empresas.

4.2 A RENDA PESSOAL DISPONÍVEL E A CARGA TRIBUTÁRIA BRUTA E LÍQUIDA

Basicamente, o conceito de renda pessoal disponível mede quanto da renda gerada no processo produtivo fica em poder das famílias. Dessa maneira, a partir da renda nacional líquida a custo de fatores – RNLcf – (que é o somatório dos salários, aluguéis, juros e lucros pagos no processo produtivo e é líquida, pois já foi descontada a inflação) se subtraem: os lucros retidos pelas empresas (irão usar para investimentos e não estão, de imediato, à disposição das famílias); os impostos diretos; as contribuições previdenciárias; as demais receitas correntes do governo. A isso, adicionam-se as transferências feitas pelo governo às famílias (como bolsas, pensão, aposentadoria) (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004). Resumindo, para fazer a “conta” da renda pessoal disponível:

ATENCAO

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TÓPICO 2 | NOÇÕES DE CONTABILIDADE SOCIAL

207

Chamamos de carga tributária bruta o total da arrecadação fiscal do governo (por meio dos tributos). Uma parte destes retorna para a iniciativa privada em forma de subsídios e transferências. Ao deduzirmos da carga tributária bruta os subsídios e as transferências ao setor privado, encontramos a carga tributária líquida.

5 MEDINDO A ECONOMIA A QUATRO SETORES: O SETOR EXTERNO

A contabilidade social também leva em consideração as relações de uma economia com o setor externo, ou seja, com o resto do mundo. Na contabilização delas, ganham relevo os conceitos de: importação, exportação, renda líquida dos fatores externos, produto nacional bruto e produto interno bruto. Vejamos cada um deles.

Podemos definir as importações como as compras de mercadorias e serviços realizadas por agentes econômicos de um país no exterior (outros países). Por exemplo, se você comprar um video game dos Estados Unidos.

Já as exportações são as vendas de mercadorias e serviços dos agentes econômicos de um país para o exterior (outros países). Por exemplo, a soja que as empresas brasileiras vendem para a China (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

A renda líquida dos fatores externos é o resultado que se obtém ao subtrair da renda recebida do exterior (RR), a renda enviada ao exterior (RE). Para esclarecer melhor, a renda recebida do exterior (RR) refere-se à renda que recebemos devido à produção das empresas nacionais no exterior. Já a renda enviada ao exterior (RE) é o resultado das transferências de rendas de estrangeiros obtidas no Brasil e enviadas a seu país de origem (remessa de lucros, royalties etc.) (NOGAMI; PASSOS, 2012). Sendo assim, temos que:

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UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

Tendo entendido esses agregados, nos ocupemos do produto nacional bruto e do produto interno bruto. O produto nacional bruto (PNB) corresponde ao valor de mercado de todos os bens e serviços finais, pertencentes aos nacionais, produzidos na economia em um dado período de tempo (geralmente um ano), independente do território econômico em que esses recursos foram produzidos. Inclui os milhares de bens e serviços produzidos por uma economia: gasolina, carros, computadores, bebidas, serviços médicos, de educação, entre tantos outros.

O Produto Interno Bruto (PIB) corresponde ao valor agregado de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território econômico de um país (também no período de um ano), independentemente da nacionalidade dos proprietários das unidades produtoras desses bens e serviços. Incluem-se os milhares de bens e de serviços produzidos por uma economia. Por não considerar a nacionalidade dos proprietários das unidades produtivas, não entra na conta do PIB o resultado da renda líquida dos fatores externos (RLFE) (NOGAMI; PASSOS, 2012).

Qual é a grande diferença entre estes dois agregados?

Como dissemos antes, o PNB leva em consideração o valor agregado de todos os bens e serviços finais produzidos por uma economia, independentemente do território econômico em que estes recursos foram gerados. Por exemplo, no cálculo do PNB brasileiro, leva-se em conta o que foi produzido apenas pelas empresas brasileiras, tanto aquelas que estão instaladas no Brasil, como aquelas que estão instaladas em outras partes do mundo (mas pertencem a brasileiros).

O PIB considera apenas o valor agregado de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território de um país, independentemente da nacionalidade dos donos das empresas. Por exemplo, no cálculo do PIB brasileiro, leva-se em consideração a produção realizada dentro das fronteiras nacionais, tanto das empresas brasileiras, como das multinacionais (que estão instaladas em nossas fronteiras).

Dessa maneira, a grande diferença entre estes dois agregados pode ser resumida: na conta do PNB entram as contas da renda líquida dos fatores externos (rendas recebidas do exterior subtraídas das rendas enviadas ao exterior). Já na conta do PIB não entram estas contas, ou seja: PNB = PIB + RLFE. Dessa maneira, caso as rendas recebidas do exterior forem maiores que as enviadas, o PNB será maior que o PIB. Do contrário, se as rendas recebidas forem menores que as rendas enviadas, o PNB será menor que o PIB (NOGAMI; PASSOS, 2012).

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TÓPICO 2 | NOÇÕES DE CONTABILIDADE SOCIAL

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Caro acadêmico, você pode conferir os valores do produto interno bruto brasileiro no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. É possível visualizar os dados em termos de país, de Estado, municípios, e mesmo através de recortes regionais. O link para acesso é: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?z=p&o=32&i=P&c=5938>.

5.1 O PIB NOMINAL E O PIB REAL

O PIB nominal mede o valor da produção aos preços prevalecentes no período em que o bem é produzido. Já o PIB real mede o valor da produção em qualquer período aos preços de um ano-base. Nos dá uma estimativa da variação real ou física na produção entre anos específicos. É o PIB descontado da inflação ocorrida no período.

Esses conceitos são muito importantes, pois ao verificarmos o real aumento do PIB de um ano, com relação aos anos anteriores não temos a clara certeza se a variação ocorreu devido a um aumento/diminuição nos preços ou por um aumento/diminuição nas quantidades do produto, ou ainda, se devido aos dois. Se ele variou apenas devido ao aumento/diminuição nos preços, não ocorreu, de fato, aumento do produto nacional.

Assim, é preciso separar as partes da variação do produto que correspondem a um aumento definitivo da produção daqueles que se referem apenas ao aumento de preços. E como os economistas fazem para separar o crescimento de preços de crescimento reais do produto?

Fazem-no tomando os preços de determinado ano como base (ano-base) e os utilizam para medir o PIB de diferentes anos. Isso significa, na prática, transformar uma série nominal em uma série real (ou deflacionada) (NOGAMI; PASSOS, 2012).

Para isso, usa-se como parâmetro um índice de preço (ou deflator), que representa o crescimento da inflação no período. A fórmula é a seguinte:

PIB nomialPIB real x 100

Índice geral de preços=

DICAS

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210

UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

1.097.392,00PIB real x 100117,3

PIB real 935.543,05

=

=

Como você observou, dividimos o PIB nominal de 2011 pelo índice geral de preços (117,3) e multiplicamos o resultado por 100. O PIB real de 2011, medido a preços do ano-base de 2010 foi de R$ 935.543,05.

Caso quiséssemos verificar a evolução do PIB (de 2010 para 2011) em termos percentuais, sem termos “descontado” a inflação do período, estaríamos cometendo um erro. Aparentemente, isto é, sem “descontar” a inflação, o PIB

nominal cresceu 32,92%: (

R$ 1.097.392,00R$ 825.629,20 -1) x 100. Este é o crescimento nominal do

PIB. Agora, em termos reais, isto é, descontando a inflação do período, o PIB real da

economia Verde cresceu 13,31%: (

R$ 935.543,05R$ 825.629,20 -1) x 100. Este é o crescimento real

do PIB. Assim, a evolução do PIB real de nossa economia não é 32,92%, mas sim, 13,31%.

No ano-base, o índice sempre terá o valor de 100. Nos anos seguintes, mostrará as variações a partir desta base. Vejamos como fazer isso com auxílio de um exemplo: tomemos como ponto de partida o ano de 2010, este será nosso ano-base. Neste ano, o PIB do país Verde foi de R$ 825.629,20. Como nosso ano-base é 2010, o índice deste ano é 100. No ano de 2011, o PIB do país Verde chegou a R$ 1.097.392,00. Em 2011 ainda, a variação no nível geral de preços foi de 17,3%, portanto, nosso índice-base (que era de 100) passará a ser de 117,3 (100 + 17,3). Com base nesses dados, precisamos usar a fórmula para descontar a inflação do período e conhecer o PIB real de 2011, medido a preços do ano-base 2010. Assim, na fórmula:

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211

Neste tópico, você aprendeu que:

• A contabilidade social (ou contabilidade nacional) refere-se ao registro contábil da atividade econômica de um país, em um determinado período de tempo, geralmente um ano. É um conjunto de técnicas que permite a “medição” do desempenho econômico de um país, melhor dizendo, dos principais agregados macroeconômicos.

• O conceito de produto nacional (PN) corresponde ao valor monetário de todos os bens e serviços finais gerados por uma economia durante determinado período de tempo (geralmente um ano).

• O conceito de despesa nacional (DN) é o gasto realizado pelos agentes econômicos com o produto nacional.

• A renda nacional (RN) corresponde aos pagamentos feitos aos recursos de produção utilizados no período (um ano) para gerar a produção nacional.

• O conceito de valor adicionado corresponde ao cálculo do que cada ramo de atividade adicionou ao valor do produto final, levando em conta cada etapa do processo produtivo. Essa técnica permite quantificar o produto da economia sem levar em conta os bens intermediários.

• A poupança agregada (S) corresponde à parcela da renda nacional (RN) que não é consumida no período. O investimento agregado (I) é o gasto com todos os bens produzidos e não consumidos no período, que irão aumentar a capacidade produtiva da economia.

• O superávit público ocorre quando a arrecadação supera o total dos gastos públicos. Já o déficit público ocorre quando os gastos do governo superam a sua arrecadação.

• O produto nacional bruto (PNB) corresponde ao valor de mercado de todos os bens e serviços finais, pertencentes aos nacionais, produzidos na economia em um dado período de tempo (geralmente um ano), independente do território econômico em que esses recursos foram produzidos.

• O produto interno bruto (PIB) corresponde ao valor agregado de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território econômico de um país (um ano), independentemente da nacionalidade dos proprietários das unidades produtoras desses bens e serviços. Não leva em conta o resultado da renda líquida dos fatores externos.

RESUMO DO TÓPICO 2

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• O PIB nominal mede o valor da produção aos preços prevalecentes no período em que o bem é produzido. Já o PNB real mede o valor da produção em qualquer período aos preços de um ano-base. É o PIB descontado da inflação ocorrida no período.

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AUTOATIVIDADE

1 A contabilidade social é um mecanismo utilizado para medir o nível de atividade econômica de um país. Duas maneiras utilizadas para isso se dão através da metodologia do produto nacional bruto (PNB) e do produto interno bruto (PIB). Qual a diferença entre estes dois indicadores?

2 Para medir o aumento real no PIB de uma economia é necessário descontar a inflação do período. Suponha que o PIB nominal da economia do país Verde foi de R$ 13.000,000 em 2011. No ano seguinte, isto é, em 2012, chegou a R$ 18.000,000. Sendo que o índice de preços do período foi de 115 (tendo como ano-base 2011), qual o PIB real de 2012 (a preços de 2011)?

a) ( ) R$ 18.000,00 b) ( ) R$ 16.250,55 c) ( ) R$ 15.652,17d) ( ) R$ 17.550,21

3 Existem algumas maneiras utilizadas para se medir a atividade econômica de um país. Dentre elas, destacam-se os conceitos de renda nacional (RN), produto nacional (PN) e despesa nacional (DN). Tendo em vista as características desses três conceitos, analise as sentenças a seguir e classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Estas três óticas de medição da produção de uma economia sempre resultarão em valores diferentes.

( ) Se calcularmos o resultado econômico de um país com base na renda nacional, estaremos levando em conta os pagamentos feitos aos recursos de produção.

( ) O conceito de produto nacional (PN) nos mostra o valor da produção de uma economia pela ótica do produto, isto é, de quem produz e vende.

( ) A despesa nacional (DN) é o gasto dos agentes econômicos com o produto nacional.

Analise as sentenças e assinale a que contém a sequência correta:a) ( ) F – V – V – F b) ( ) V – V – V – F c) ( ) F – V – V – V d) ( ) V – F – V – F

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4 Alguns problemas podem surgir na medição do produto da economia, como por exemplo, o problema da dupla contagem, ou seja, pode não ser descontado o valor dos bens intermediários no cálculo do produto final. Para corrigir esse problema, utiliza-se o conceito de valor adicionado. Disserte sobre este conceito.

5 A contabilidade social é o registro contábil da atividade econômica de um país, realizado geralmente, no período de um ano. Com auxílio desta metodologia é possível conhecer os principais agregados macroeconômicos, desde o produto nacional, a poupança agregada, o consumo agregado, as receitas e as despesas públicas, o detalhamento das relações econômicas com o resto do mundo, entre outros. Com base na contabilização dos agregados macroeconômicos estudados, associe a primeira coluna com a segunda:

(a) Depreciação(b) Déficit público(c) Renda pessoal disponível(d) Investimento agregado(e) Renda líquida dos fatores externos

( ) Ocorre quando o governo gasta mais do que arrecada.( ) Parcela da renda gerada no processo produtivo que fica em poder das

famílias.( ) Resultado da subtração: renda recebida do exterior (RR) – renda enviada

ao exterior (RE).( ) Máquinas e equipamentos que se desgastam no processo produtivo.( ) É composto pelo investimento em bens de capital mais a variação de

estoques não consumidos no período.

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TÓPICO 3

A DETERMINAÇÃO DA RENDA E DO PRODUTO

NACIONAL: O MERCADO DE BENS E

SERVIÇOS E O MERCADO MONETÁRIO

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Prezado acadêmico, bem-vindo ao Tópico 3 da nossa unidade. Neste tópico, vamos estudar a determinação da renda e do produto nacional em dois mercados: o mercado de bens e serviços e o mercado monetário. Você já estudou a macroeconomia no Tópico 1 e a contabilidade social no Tópico 2. É importante diferenciar as duas antes de darmos continuidade.

A contabilidade social trabalha com informações reais de uma economia. Por meio de dados é calculado o produto nacional, a renda nacional, o investimento, o consumo etc. Já a macroeconomia formula políticas econômicas com a finalidade de atuar sobre previsões de cenários econômicos.

A seguir, primeiramente abordaremos alguns conceitos importantes da determinação da renda e do produto nacional no mercado de bens e serviços. Depois, abordaremos no mercado monetário.

Bons estudos!

2 O MERCADO DE BENS E SERVIÇOS: A HIPÓTESE DO MODELO BÁSICO (KEYNESIANO)

A partir da análise do mercado de bens e serviços, as hipóteses do modelo keynesiano são: a economia com desemprego; o nível geral de preços é constante; ótica de curto prazo; oferta agregada potencial fixada a curto prazo; o princípio da demanda efetiva/agregada.

Vejamos melhor cada uma delas:

I. Economia com desemprego de recursos (subemprego): o modelo macroeconômico, conhecido como modelo básico, foi criado por Keynes na grande recessão de 1930, período em que a taxa de desemprego alcançava altos níveis em vários países do mundo. Ao contrário do modelo clássico, o modelo keynesiano passou a considerar o desemprego e a hipótese de que a economia

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UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

216

poderia operar abaixo do pleno emprego. Nesse caso, uma parcela das empresas estaria operando abaixo da capacidade máxima e um contingente de trabalhadores estaria desempregado (NOGAMI; PASSOS, 2012; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004). Devemos observar que com a grande depressão, a maioria das empresas da época passou a operar bem abaixo de seu real potencial. Algumas, inclusive, abaixo de 40% de sua capacidade de produção. Nesse contexto, um incentivo do lado da demanda agregada foi muito bem-vindo.

II. Nível geral de preços constantes: constatada a economia com desemprego e, no caso de um aumento de demanda, as empresas procurarão elevar a produção e não os preços, até mesmo porque estão em capacidade ociosa (NOGAMI; PASSOS, 2012; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

III. Curto prazo: o modelo keynesiano básico analisa a determinação da renda no curto prazo. Vai analisar o papel da política macroeconômica na estabilização dos preços e da atividade econômica. O curto prazo é definido como o período em que ao menos um dos fatores de produção permanece constante. A suposição do modelo é a de que o estoque de recursos produtivos (que são terra, capital, capacidade empresarial, trabalho) não se altera no curto prazo. O que muda é apenas o grau de utilização deste estoque (NOGAMI; PASSOS, 2012; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

IV. Oferta agregada potencial fixada a curto prazo: a oferta agregada (OA) é relativa à produção de bens e serviços finais de uma economia, colocados à disposição da população em um determinado período de tempo. A oferta agregada varia em função de ter fatores de produção disponíveis, como mão de obra, estoque de capital e nível tecnológico. Faz-se necessário diferenciar a oferta agregada potencial e a oferta agregada efetiva. A oferta agregada potencial diz respeito à produção máxima da economia, quando todos os fatores de produção estão operando em pleno emprego. Neste caso, toda a população estaria empregada (não havendo nenhuma capacidade ociosa) e a tecnologia disponível estaria totalmente empregada. A oferta agregada efetiva significa que toda produção está sendo colocada no mercado. Neste caso, a produção atende a demanda que o mercado deseja, mesmo apresentando capacidade ociosa (NOGAMI; PASSOS, 2012; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

V. Princípio da demanda efetiva/agregada: a demanda efetiva/agregada (DA) é a soma de todos os gastos planejados dos agentes macroeconômicos: a despesa das famílias com bens e consumo (C); gastos das empresas com investimentos (I), gastos do governo (G) e despesas líquidas de setor externo importações e exportações (X – M). Assim, temos a equação:

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TÓPICO 3 | A DETERMINAÇÃO DA RENDA E DO PRODUTO NACIONAL: O MERCADO DE BENS E SERVIÇOS E O MERCADO MONETÁRIO

217

Como vimos anteriormente, a oferta agregada potencial não muda no curto prazo. Dado o estoque dos recursos de produção, as alterações do nível de equilíbrio de renda e do produto deve-se exclusivamente às variações da demanda agregada de bens e serviços. Dito de outra forma, as flutuações da demanda agregada são as responsáveis pelas variações do produto e da renda nacional, no curto prazo. Este é o chamado princípio de demanda efetiva (NOGAMI; PASSOS, 2012; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Caro acadêmico, o princípio da demanda efetiva que prioriza o papel da demanda agregada na condução de políticas macroeconômicas, inviabilizou a defesa das teorias clássicas, especialmente a Lei de Say, que preconizava que a “oferta criava a sua própria procura”.

2.1 O EQUILÍBRIO MACROECONÔMICO

O equilíbrio macroeconômico é atingido quando a oferta agregada se iguala à demanda agregada de bens e serviços: OA = DA. Isto pode ocorrer mesmo quando a economia estiver abaixo do pleno emprego. Mesmo nesta situação, a produção agregada atende à demanda agregada.

O objetivo do modelo keynesiano é encontrar o equilíbrio em pleno emprego. Isto quer dizer, fazer com que o equilíbrio entre oferta e demanda agregada coincida com o produto de pleno emprego.

Sendo assim, os mecanismos de política econômica devem ser utilizados para elevar a demanda agregada. Por exemplo, aumentar os investimentos em infraestrutura, incentivar o consumo, fomentar as exportações, entre outros (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Caro acadêmico, o equilíbrio macroeconômico é atingido quando a oferta agregada se iguala à demanda agregada de bens e serviços: OA = DA.

NOTA

UNI

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UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

218

2.2 COMPORTAMENTO DOS AGREGADOS MACROECONÔMICOS

Para que as políticas macroeconômicas surtam efeitos, é necessário levar em conta as relações entre os grandes agregados da economia. Com isso, é possível conhecer as variáveis que afetam o seu comportamento, e fica mais claro o modo pelo qual as autoridades econômicas poderão intervir sobre eles.

Vejamos algumas variáveis que afetam o consumo agregado, a poupança agregada e o investimento agregado.

a) Consumo agregado: o consumo total de uma economia sofre a influência de uma série de fatores, como a renda nacional, estoque de riqueza, o patrimônio, taxas de juros, a disponibilidade de crédito e a expectativa sobre a rentabilidade das aplicações. Todavia, estudos demonstram que a tomada de decisão, no que se refere ao consumo de boa parte da população, é influenciada pela renda nacional disponível, que é a parcela da renda que efetivamente os consumidores podem gastar. Assim, há uma relação entre a renda disponível e o consumo da população (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004). A expressão desta relação dá-se da seguinte forma:

Em que: C= consumo agregado; RND = renda nacional disponível.

Um conceito importante que Keynes criou foi a chamada propensão marginal a consumir. A propensão marginal a consumir representa a variação esperada de consumo decorrente da renda que se dispõem. Em outras palavras, é a propensão ao consumo que as pessoas têm de acordo com a variação de seus rendimentos (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Variação no consumo agregado CPr opensão marginal a consumirVariação na renda nacional disponível RND

=

Como um exemplo, imagine que a propensão marginal a consumir de uma economia seja de 0,8. Caso ocorra um aumento da renda nacional de R$ 100.00,00, o consumo irá aumentar em 0,8, isto é, em R$ 80.000,00 (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

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TÓPICO 3 | A DETERMINAÇÃO DA RENDA E DO PRODUTO NACIONAL: O MERCADO DE BENS E SERVIÇOS E O MERCADO MONETÁRIO

219

b) Poupança agregada: a poupança agregada é a chamada parte residual da renda nacional disponível. É a parte da renda que não é gasta no consumo. Expressa-se da seguinte forma:

Em que: S= poupança agregada;RND= renda nacional disponível.

Tem-se ainda a propensão marginal a poupar, que se trata da variação da poupança e da renda disponível. A relação se estabelece de forma idêntica à da propensão marginal a consumir que vimos a pouco. A propensão marginal a poupar está diretamente ligada com a questão da renda disponível (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

c) Investimento agregado: trata-se do aumento no estoque do capital que leva, por consequência, ao crescimento da capacidade produtiva (o investimento acontece por meio de uma melhoria nas instalações, construções, novas máquinas e equipamentos etc.). Os investimentos podem ser interpretados tanto no curto quanto no longo prazo. No curto prazo, este é visto como um gasto imprescindível para crescimento da capacidade produtiva. Neste ponto, talvez seja bom acrescentar: investimentos de curto prazo tal como estoque, considerando perspectiva no aumento das vendas. A produção ou oferta agregada será afetada apenas no longo prazo, já que é necessário um certo período de tempo entre o investimento (em infraestrutura, equipamentos etc.), aumento da capacidade produtiva e um aumento real na quantidade produzida (o que seria a maturação do investimento). Dito de outra forma, no curto prazo o investimento afeta apenas a demanda agregada (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

O investimento é uma importante variável em economia, pois torna-se a principal variável para explicar o crescimento da renda nacional. De forma geral, o investimento agregado determina-se por dois fatores básicos: a taxa de rentabilidade esperada e a taxa de juros do mercado.

A taxa de rentabilidade esperada calcula-se a partir de uma estimativa de retorno sobre o capital investido. Já na taxa de juros do mercado, o empresário vai pesar duas contas: se aplicando na empresa teria mais retorno do que por meio de aplicações financeiras, ou então, caso as taxas sejam atrativas no mercado, o empresário pode achar interessante tomar empréstimos para realizar o investimento. Sendo que nos dois casos citados, quanto maior a taxa de juros no mercado, menor será o investimento nos bens de capital (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

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UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

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Prezado acadêmico, o investimento corresponde ao aumento no estoque do capital que leva, por consequência, ao crescimento da capacidade produtiva. Este investimento acontece por meio de uma melhoria nas instalações, construções, novas máquinas e equipamentos etc.

3 O MULTIPLICADOR KEYNESIANO DE GASTOS

O multiplicador keynesiano de gastos ou de despesas, como o próprio nome diz, foi criado por Keynes. O multiplicador demonstra que se uma economia está com recursos desempregados (ou seja, não está operando à plena capacidade), haverá a possibilidade de incentivar a demanda agregada, que ocasionará um aumento na renda nacional, de uma forma mais que proporcional ao aumento da demanda.

Este fato acontece, pois em uma economia que opera em desemprego, qualquer “injeção” que se fizer tende a provocar um efeito multiplicador nos diferentes setores da economia (essas injeções podem ser provenientes de exportações, gastos do governo, entre outros).

Quando ocorre o aumento de renda em um setor, na economia, por exemplo, significa que os trabalhadores daquele setor ganharão rendimentos maiores, assim como os empresários. As rendas recebidas serão gastas em outros setores da economia (alimentação, vestuário, lazer e tantos outros bens e serviços) e assim, sucessivamente. Por isso, recebe o nome de “multiplicador”: as injeções de renda na economia acabam sendo gastas em diversos setores. Esses, ao receberem a renda, gastam em outros setores. E assim sucessivamente, fazendo a economia “girar” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Um exemplo prático do efeito do multiplicador keynesiano seria imaginar um gasto por parte do governo na construção de estádios para a copa do mundo. Imaginemos o gasto de R$ 100 milhões. Para a construção acontecer, o governo contratará construtoras, trabalhadores, engenheiro, entre outros. Este fato fará com que aumente a produção da construção civil, transformando-se em renda, tanto para os trabalhadores da construção civil quanto para os capitalistas, donos das empresas. Um aumento na renda do setor de construção civil implica em gastos por parte dos trabalhadores e dos empresários em outros setores, como por exemplo, alimentação, compra de bens e serviços em geral. Esta dinâmica acabará por movimentar vários setores da economia.

Todavia, os gastos dependem da propensão marginal a consumir e a poupar. Imaginando que a propensão marginal a consumir seja igual a 0,8 e a propensão marginal a poupar seja 0,2, os trabalhadores e capitalistas da construção civil gastarão o total de R$ 80 milhões e pouparão R$ 20 milhões. Os trabalhadores

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TÓPICO 3 | A DETERMINAÇÃO DA RENDA E DO PRODUTO NACIONAL: O MERCADO DE BENS E SERVIÇOS E O MERCADO MONETÁRIO

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Caro acadêmico, o multiplicador keynesiano demonstra que, se em uma economia que está com recursos desempregados houver um aumento na demanda agregada, este ocasionará um aumento na renda nacional mais que proporcional ao aumento da demanda.

e capitalistas dos setores que receberam os gastos dos agentes da construção civil também gastarão com renda recebida. Ao final do processo, vai resultar em um aumento da renda e do produto nacional superior ao gasto inicial do governo, que foi de R$ 100 milhões.

A multiplicação depende muito das propensões, tanto de consumir quanto de poupar. Quanto mais elevada for a propensão a consumir das pessoas, mais se gastará com bens e serviços, e maior será o efeito multiplicador. Já, quanto maior for a propensão a poupar, menor o efeito multiplicador (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

O multiplicador keynesiano (k) é expresso da seguinte maneira:

Podemos citar ainda o multiplicador dos gastos e dos investimentos (kι) e o de gastos de governo (kg). Fórmula do multiplicador dos investimentos:

E a fórmula do multiplicador dos gastos:

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UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

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4 DETERMINAÇÃO DE RENDA E DO PRODUTO NACIONAL: O MERCADO MONETÁRIO

É difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar em moeda. Afinal de contas, ela está presente no cotidiano. Não por acaso, ela tem grande importância para a economia. Afinal, você sabe o que vem a ser a moeda?

Basicamente, podemos definir a moeda como um ativo financeiro de aceitação geral, utilizado para intermediar as transações econômicas, para o pagamento dos bens e serviços do dia a dia. A moeda tem um “curso forçado”, isto é, sua aceitação é garantida por lei (VASCONCELLOS, 2011).

Podemos distinguir três grandes funções da moeda:

I. Meio de troca: a moeda serve para intermediar as trocas de bens e de serviços distintos. Sem o uso da moeda, as trocas teriam que ser diretas, isto é, trocas de mercadorias por mercadorias (escambo).

II. Unidade de medida: permite expressar em unidades monetárias os valores de todos os bens e serviços que são produzidos pela economia. É possível expressar o preço de cada mercadoria, e ainda fazer comparação entre elas.

III. Reserva de valor: a moeda pode ser guardada para uso posterior, servindo como forma de poupança.

Caro acadêmico, é necessário entendermos dois conceitos importantes sobre a moeda: a) moeda escritural; b) moeda manual. A moeda escritural também é chamada de moeda bancária e corresponde ao total de depósitos à vista nos bancos comerciais. Já a moeda manual corresponde ao total de moeda em poder do público, isto é, das pessoas e das empresas (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

4.1 OFERTA DE MOEDA: OS MEIOS DE PAGAMENTO

A moeda também é uma mercadoria e, por isso, seu preço é determinado pela oferta e pela demanda. A oferta de moeda é o mesmo que meios de pagamento, que significa o estoque de moeda de liquidez imediata disponível ao setor privado não bancário.

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TÓPICO 3 | A DETERMINAÇÃO DA RENDA E DO PRODUTO NACIONAL: O MERCADO DE BENS E SERVIÇOS E O MERCADO MONETÁRIO

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Caro acadêmico, quando se fala em liquidez imediata da moeda, quer dizer que ela pode ser utilizada de maneira imediata para efetuar transações. A liquidez da moeda é a sua capacidade de ser um ativo disponível e aceito para as mais variadas transações, de forma imediata (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Tradicionalmente, os meios de pagamento (M) se compõem pelo saldo do papel-moeda em poder do público (PP) mais o saldo dos depósitos à vista (DV) nos bancos comerciais, públicos e privados. Então: M = PP + DV.

O papel-moeda, em poder do público, é chamado de dinheiro ou moeda manual (são as moedas metálicas e as cédulas). Já os depósitos à vista correspondem ao ativo com maior liquidez, depois da moeda manual, pois é possível fazer retirada de depósitos à vista sem demora. Basta, apenas, acessar uma rede bancária.

Na literatura econômica, este conceito de meios de pagamento (PP + DV) é chamado de M1. Ele tem liquidez total e não rende juros. Além destes, dependendo do objetivo, utilizam-se outras definições de meios de pagamento, os chamados meios de pagamento ampliados: M2, M3 e o M4 (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004; NOGAMI; PASSOS, 2012).

QUADRO 29 – MEIOS DE PAGAMENTO AMPLIADO

M1

A moeda em poder do público + os depósitos à vista nos bancos comerciais.

Estes não rendem juros.

M2

M1 + os depósitos para investimentos + os depósitos de poupança + títulos

privados (depósitos a prazo, letras cambiais, hipotecárias e imobiliárias).

M3

M2 + os fundos de renda fixa + operações compromissadas com títulos

federais

M4 M3 + títulos públicos federais, estaduais e municipais.

FONTE: Vasconcellos (2011)

Com base nesses conceitos, chamamos a atenção para dois fenômenos: o da desmonetização e o da monetização.

A desmonetização ocorre, principalmente, em processos inflacionários e há uma diminuição do M1 com relação aos demais meios de pagamento. Isso quer dizer que as pessoas preferem ficar com pouca moeda que não rende juros, e utilizam a maior parte que tem em aplicações financeiras. Já o processo de monetização ocorre, geralmente, quando a inflação diminui e há um aumento do M1, isto é, as pessoas ficam com mais dinheiro “na mão”.

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UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

224

Outro conceito importante é o de base monetária, que é composto pelo papel-moeda emitido e pelas reservas bancárias. É bom atentar que fazem parte das reservas bancárias: 1) os encaixes bancários (moeda corrente guardada no próprio banco); 2) as reservas voluntárias do Banco Central, que se destinam a atender o excesso de pagamentos diante dos recebimentos na compensação de cheques; 3) as reservas compulsórias recolhidas pelo Banco Central (estas sobre os depósitos à vista) que servem para garantir a segurança mínima do sistema bancário.

4.1.1 Criação e destruição de moeda

Dizemos que há criação de moeda quando o saldo dos meios de pagamento, no conceito de M1, se altera. Com a criação, acontece um aumento na oferta de moeda e com a destruição, uma diminuição.

Representam criação de moeda, por exemplo: a troca de dólares por reais no Banco Central (realizada por exportadores); os empréstimos dos bancos comerciais ao setor privado; depósitos a prazo (não é considerado meio de pagamento [M1]) (VASCONCELLOS, 2011).

Representa destruição da moeda, por exemplo: a venda de dólares do Banco Central para importadores (O BC recebe de volta reais); o resgate de um empréstimo bancário.

Não representam nem criação, nem destruição de moeda: depósitos à vista (é apenas transferência de moeda do público para depósito); saque por meio de cheque (é apenas transferência de moeda escritural para manual) (VASCONCELLOS, 2011).

4.2 OFERTA DE MOEDA PELO BANCO CENTRAL

O Banco Central tem a função básica de controlar a oferta de moeda e, para isso, utiliza alguns instrumentos de política monetária, que são:

a) Controle das emissões de moeda: o poder de emitir moeda (notas e moedas metálicas) é monopólio do Banco Central. Assim, compete a ele manter em circulação o volume necessário para que a economia tenha um desempenho equilibrado.

b) Depósitos compulsórios (reservas obrigatórias): os bancos comerciais são obrigados a reter uma parcela de seus depósitos como depósitos obrigatórios na conta do Banco Central. Sendo assim, eles não poderão utilizar estes recursos para empréstimos ou outros tipos de aplicação. É um importante instrumento de política monetária: caso o Banco Central deseja diminuir os meios de pagamento, basta aumentar a taxa de reservas compulsórias. Esta é uma ação de política monetária contracionista. Assim, os bancos comerciais terão menos dinheiro disponível para o público. Do contrário, se o Banco Central desejar

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aumentar o volume de meios de pagamento da economia, basta reduzir a taxa dos compulsórios. Esta ação corresponde a uma política monetária expansionista (VASCONCELLOS, 2011).

Caro acadêmico, além dos depósitos compulsórios, os bancos comerciais já guardam uma parcela de seus depósitos de forma voluntária no Banco Central. São os chamados depósitos voluntários e destinam-se a cobrir eventuais necessidades de movimento de caixa e de compensação de cheques.

c) Open market: as operações de mercado aberto correspondem às compras e vendas de títulos governamentais, realizadas pelo Banco Central, no mercado de capitais. Ao comprar títulos, o Banco Central “injeta” moeda na economia. Já ao vender títulos, ele “retira” moeda da economia. Por exemplo, se o governo comprar seus próprios títulos, ele estará pagando em “dinheiro”, logo, injetando dinheiro na economia. Agora, se vender seus títulos, ele estará entregando um “papel” (promessa de pagamento) e recolhendo dinheiro da economia.

d) Política de redescontos: como o Banco Central é o “banco dos bancos”, ele empresta aos bancos comerciais. Podemos distinguir dois tipos de redescontos: o redesconto de liquidez (ou normal), que objetiva socorrer os bancos de eventuais problemas de liquidez. E o redesconto especial (ou seletivo), que ocorre quando o Banco Central abre uma linha de crédito específica aos bancos comerciais, tentando incentivar setores específicos da economia. Em todos estes casos, o Banco Central cobra uma taxa de juros, chamada taxa de juros de redesconto. Quanto mais baixa for esta taxa, com relação ao montante de redesconto, maior será o estímulo para que os bancos comerciais emprestem recursos.

e) Regulamentação e controle de crédito: outra maneira que o Banco Central tem para interferir no sistema financeiro é através da regulamentação e controle do crédito, alcançada por meio da política de juros, controle de prazos e por um conjunto de regras quanto ao financiamento destinado aos consumidores (VASCONCELLOS, 2011).

4.3 O MULTIPLICADOR MONETÁRIO

Os bancos comerciais podem aumentar os meios de pagamento por meio da multiplicação da moeda escritural, ou ainda, via depósitos à vista. Quando um banco comercial recebe um deposito à vista, ou mesmo em conta corrente, isso representa um fundo disponível que poderá ser movimentado a qualquer momento pelo titular da conta. Porém, o banco não precisa manter todos estes recursos captados para as possíveis movimentações dos correntistas. Ele irá armazenar

IMPORTANTE

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UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

226

apenas a quantia referente aos depósitos compulsórios, aos depósitos voluntários e demais armazenamentos que servem para cobrir eventuais necessidades. O que sobra ele pode emprestar a outros clientes.

Seguindo este raciocínio, o cliente que contrair um empréstimo neste banco fará um depósito desta quantia novamente na rede bancária (neste banco ou em outro). Como aconteceu anteriormente, da quantia deste novo depósito o banco irá reter uma parte para as obrigações (compulsórios) e irá emprestar o que sobrar para outro cliente. Este, por sua vez, fará o mesmo processo: irá depositar a quantidade emprestada na rede bancária. E assim irá ocorrer com outros clientes e bancos, num ciclo que sempre se repete sucessivamente. Através desse processo os bancos comerciais aumentam a oferta de moeda (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Caro acadêmico, vale dizer que apenas os bancos comerciais efetuam empréstimos como suas obrigações de depósitos à vista e, portanto, podem criar a oferta de moeda. Estas instituições têm permissão para emprestar os depósitos recolhidos do público. Já os chamados intermediários financeiros, ou as instituições não bancárias (que são as financeiras, os bancos de investimentos), apenas transferem recursos de aplicadores para tomadores e as suas obrigações não são consideradas meios de pagamento. Portanto, não são autorizadas pelas autoridades monetárias a manterem depósitos (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Vejamos, em um exemplo prático, como funcionaria o multiplicador: suponhamos que os bancos devam recolher uma alíquota de 40% como reservas. O depósito que você fez foi de R$ 200,00. Destes R$ 200,00, serão destinados R$ 80,00 para as reservas compulsórias; e, para empréstimos, outros R$ 120,00. Estes R$ 120,00 retornam ao banco na forma de um novo depósito à vista. Dos R$ 120,00, agora R$ 48,00 viraram reservas e R$ 72,00 serão novamente emprestados. Neste terceiro ciclo, R$ 28,80 será destinado às reservas obrigatórias e R$ 43,20 irão ficar disponíveis para novos depósitos. Este ciclo irá se repetir inúmeras vezes.

O que aconteceu nesse processo foi que os R$ 200,00 iniciais do depósito multiplicaram-se. Gerou uma sequência de depósitos nos valores de: R$ 120,00; R$ 72,00; R$ 43,20, e assim por diante. O que aconteceu foi o aumento da oferta de moeda (VASCONCELOS, 2011).

4.4 A DEMANDA DE MOEDA Os agentes econômicos demandam moedas. A demanda de moeda pelas

pessoas corresponde à quantidade de moeda que o setor privado não bancário detém: seja em posse do público, seja nos cofres das empresas ou nos depósitos à

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TÓPICO 3 | A DETERMINAÇÃO DA RENDA E DO PRODUTO NACIONAL: O MERCADO DE BENS E SERVIÇOS E O MERCADO MONETÁRIO

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vista nos bancos comerciais. Este dinheiro está “parado”, isto é, não está rendendo juros (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

De uma forma geral, podemos apontar três grandes razões pelas quais demanda-se moeda em uma economia:

1. Para transações: todas as pessoas precisam de dinheiro “em mãos” para as transações rotineiras. É necessário ter dinheiro para pagar a alimentação, o transporte, o aluguel, a faculdade.

2. Para precaução: as pessoas e também os empresários precisam estar precavidos. Dessa maneira, é preciso ter “dinheiro em mãos” para fazer pagamentos inesperados ou cobrir algum atraso em recebimentos esperados.

3. Por especulação: a moeda tem liquidez imediata, o que é ideal para viabilizar novos investimentos de maneira rápida. Muitos investidores mantém uma reserva de moeda e aproveitam as oportunidade de mercado para realizar novos investimentos, tendo em vista maiores retornos em termos de lucro (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Tanto a demanda por transação quanto a demanda por precaução dependem muito do nível de renda dos indivíduos. Pela lógica, quanto maior a renda, maior a necessidade da moeda para transações e por precaução. No que diz respeito à especulação, quanto maior for o rendimento dos títulos, menor vai ser a quantidade de moeda que o investidor irá reter em sua carteira de investimentos (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

4.5 TAXAS DE JUROS: NOMINAL E REAL

A taxa de juros influencia diretamente no comportamento dos agentes econômicos. Por exemplo, por parte das empresas, se as perspectivas quanto à trajetória das taxas de juros forem pessimistas, os empresários tenderão a manter níveis baixos de estoque e de capital no presente (levando em conta o aumento de seus custos de manutenção futura). A decisão de investimento também poderá ser adiada, caso as taxas estiverem muito elevadas. Os empresários optarão, então, por aplicar os recursos no mercado financeiro (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Para os consumidores, uma taxa de juros baixa significa maior poder de compra. Do contrário, uma taxa de juros elevada significa perda no poder de compra. Por isso mesmo, sempre quando as autoridades governamentais pretendem “desaquecer” a demanda, elevam as taxas de juros, justamente porque esse ato contribui para inibir o consumo e torna mais “caro” o custo do financiamento de bens de consumo. Pessoas com maior capacidade de renda podem, em uma situação dessas, buscar investimentos em poupança ou em outros ativos. Como veremos no Tópico 5, a elevação da taxa de juros pode ser um instrumento para inibir a inflação.

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UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

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Podemos apontar ainda uma relação da taxa de juros com o setor externo. Os movimentos dos capitais financeiros estão condicionados às diferentes taxas de juros dos diversos países, buscando sempre as melhores opções.

No mercado, observamos a taxa de juros real e a taxa de juros nominal. Esta última se constitui em um pagamento expresso em porcentagem e, portanto, mede o preço que é pago ao poupador pela sua decisão de poupar. Já a taxa de juros real irá descontar a inflação. Ela irá medir o retorno de uma aplicação em quantidades de bens (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

4.6 A MOEDA E A POLÍTICA MONETÁRIA

Tomando como parâmetro uma economia operando abaixo do pleno emprego dos recursos produtivos, como a política monetária pode contribuir para reverter esta situação, no curto prazo?

Para elevarmos o nível de atividade e de emprego de uma economia no curto prazo, lançamos mão de uma política monetária expansionista. Isso significa tomar as seguintes atitudes econômicas:

a) aumentar as emissões de moeda (na medida exata das necessidade dos agentes econômicos, senão, ocasionará inflação);

b) diminuir a taxa do compulsório;c) operar no mercado aberto recomprando títulos (isso eleva a quantidade de

moeda na economia);d) diminuir as regulações quanto ao mercado de crédito, como exemplo,

aumentando os prazos de empréstimo ou aumentando o montande de crédito disponível aos consumidores.

Essas atitudes aumentarão a quantidade de moeda na economia e elevarão o nível de renda real, o consumo, a demanda agregada e do nível de atividade.

Agora, imaginemos uma situação de inflação de demanda. Como a política monetária pode ajudar a amenizar (ou mesmo resolver) este quadro?

Basicamente, o uso do mecanismo da política monetária terá que objetivar a retirada de moeda da economia, desacelerando a demanda agregada. Entre estes mecanismos estão:

a) controle das emissões de moeda pelo Banco Central;b) operar no mercado aberto vendendo títulos do governo (isso retira dinheiro de

circulação);c) elevar a taxa de compulsório dos bancos comerciais;d) tornar mais rígidas as regulações do mercado de crédito, como por exemplo,

diminuindo os prazos de empréstimo e aumentando as exigências para o acesso de financiamentos.

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TÓPICO 3 | A DETERMINAÇÃO DA RENDA E DO PRODUTO NACIONAL: O MERCADO DE BENS E SERVIÇOS E O MERCADO MONETÁRIO

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Através destes mecanismos, haverá menos moeda à disposição das empresas e das famílias, inibindo o consumo. Isso irá retrair a demanda agregada, pressionando os preços para baixo.

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RESUMO DO TÓPICO 3Neste tópico, você aprendeu que:

• No mercado de bens e serviços estudamos as hipóteses do modelo básico keynesiano, que são: a economia com desemprego de recursos, o nível geral de preços constantes, o curto prazo, a oferta agregada potencial fixada ao curto prazo e o princípio da demanda efetiva.

• O princípio da demanda efetiva prioriza o papel da demanda agregada na condução das políticas macroeconômicas. Esse conceito inviabilizou a defesa das teorias clássicas, especialmente a Lei de Say, de que a “oferta cria a sua própria procura”.

• O equilíbrio macroeconômico é atingido quando a oferta agregada se iguala à demanda agregada de bens e serviços: OA = DA.

• Estudamos que a propensão marginal a consumir representa a variação esperada de consumo decorrente da renda que se dispõe.

• A poupança agregada é a chamada parte residual da renda nacional disponível. É a parte da renda que não é gasta no consumo.

• A propensão marginal a poupar corresponde à variação da poupança e da renda disponível. A relação se estabelece de forma idêntica à da propensão marginal a consumir, que vai igualmente variar conforme a renda disponível.

• Os investimentos são o aumento no estoque do capital que leva, por consequência, ao crescimento da capacidade produtiva. Este investimento acontece por meio de uma melhoria nas instalações, construções, novas máquinas e equipamentos etc.

• No mercado monetário estudamos a moeda. Esta pode ser definida como um ativo financeiro de aceitação geral, utilizado para intermediar as transações econômicas, para o pagamento dos bens e serviços do dia a dia.

• A moeda tem três funções básicas: ser meio de troca, unidade de conta e reserva de valor.

• O Banco Central tem a função básica de controlar a oferta de moeda e, para isso, utiliza alguns instrumentos de política monetária: controle das emissões de moeda, depósitos compulsórios (reservas obrigatórias), operações de open market e política de redesconto.

• Os bancos comerciais podem aumentar os meios de pagamento por meio da multiplicação da moeda escritural, ou ainda, via depósitos à vista.

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• Vimos que as pessoas, de modo geral, demandam moedas e basicamente os motivos são três: demanda-se para transações, por precaução e para especulação.

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AUTOATIVIDADE

1 Os agentes econômicos precisam de moeda. Em economia, podemos distinguir três grandes razões pelas quais demanda-se moeda. Quais são elas? Explique cada uma.

2 Podemos definir a moeda como um ativo financeiro de aceitação geral que é utilizado para intermediar as transações econômicas, enfim, para o pagamento dos bens e serviços do cotidiano. Em economia, dizemos que ela tem três funções básicas. Quais são elas? Explique cada uma.

3 A demanda agregada corresponde à soma de todos os gastos planejados dos agentes econômicos, analisados de forma agregada. De que se compõe a demanda agregada de uma economia?

4 Na análise do mercado de bens e serviços, leva-se em consideração as hipóteses do modelo keynesiano: economia com desemprego; o nível geral de preços constante; ótica do curto prazo; oferta agregada potencial fixada ao curto prazo; o princípio da demanda efetiva/agregada. Com base nestas hipóteses, analise as sentenças e assinale V para verdadeiro e F para falso:

( ) O curto prazo define-se por um período em que ao menos um dos fatores de produção permanece constante.

( ) A oferta agregada é a soma de todos os gastos planejados dos agentes macroeconômicos.

( ) Podemos resumir a demanda agregada: DA = C + I + G + (X – M).( ) No caso de uma economia com desemprego, se ocorrer um aumento da

demanda, as empresas elevarão a produção e não os preços, já que estão com capacidade ociosa.

Analise as sentenças e assinale a que contém a sequência correta:a) ( ) F – V – V – F b) ( ) V – F – V – F c) ( ) V – F – V – V d) ( ) F – F – F – V

5 Ao estudarmos o mercado de bens e serviços, a partir da hipótese do modelo básico, o multiplicador keynesiano de gastos ganha evidência. O que ele significa?

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TÓPICO 4

ECONOMIA INTERNACIONAL: O SETOR

EXTERNO

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Prezado acadêmico, bem-vindo ao Tópico 4 desta terceira unidade de estudos sobre a macroeconomia. Nosso objetivo é estudar os fundamentos do comércio internacional e das relações econômicas internacionais.

Para compreendermos o “funcionamento” de uma economia nacional, também é necessário entendermos as interações que ela mantém com o setor externo, isto é, com as economias estrangeiras. São inúmeras as relações que uma economia nacional contrai com o “setor externo”, incluindo exportações, importações, tomadas de empréstimos, concessão de empréstimos, recepção de investimentos produtivos e/ou especulativos, realização de investimentos no exterior etc.

A formação da economia internacional está relacionada com a expansão geográfica de Portugal e Espanha, a partir de 1492. O acesso de portugueses e espanhóis as terras da África, das Índias e das Américas representa um marco sem igual. Se relembrarmos o que estudamos no tópico sobre história econômica, veremos que, desde cedo, os economistas se preocupavam com questões relacionadas ao comércio internacional.

Por exemplo, o argumento mercantilista era de que um país enriqueceria à medida que obtivesse saldos comerciais positivos, acumulando metais preciosos. Mais adiante apareceu a teoria das vantagens absolutas, para a qual contribuiria Adam Smith. Ainda nos marcos da economia clássica, David Ricardo também defendeu o livre-comércio e a teoria das vantagens comparativas.

Em estudos mais recentes, avançou-se a contribuição de David Ricardo no contexto da teoria neoclássica (modelo HOS). Porém, desde o final do século XVIII tem havido crescentes críticas à tese do livre-comércio. Duas formulações críticas mais recentes ao argumento do livre-comércio são: a Tese Prebisch-Singer e a Teoria da Troca Desigual. Enfim, a busca pelo entendimento das relações existentes entre as nações é uma das questões que permeiam os estudos dos economistas.

O comércio internacional é a primeira e mais importante relação que uma economia nacional busca com outras economias nacionais. Deve-se dar a devida atenção a ele. Contudo, é preciso ampliar a análise e considerar as outras transações,

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UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

que requer considerar registros globais, como o balanço de pagamentos. Como essas transações envolvem moeda estrangeira, também necessita-se considerar a taxa de câmbio. Conhecer melhor estes conceitos é o que pretendemos neste tópico.

Bons estudos!

2 O COMÉRCIO INTERNACIONAL – ALGUMAS DEFINIÇÕES INICIAIS

É muito comum ouvirmos falar em comércio internacional, mas o que significa? Basicamente, corresponde ao conjunto de trocas de mercadorias e de serviços realizados entre agentes econômicos de diferentes países, num certo período de tempo. E o que são as trocas comerciais?

Entendemos por trocas comerciais, as vendas (exportações) e as compras (importações) de mercadorias e de serviços, realizadas pelos agentes econômicos (empresas, governos, famílias) no contexto de um dado mercado (neste caso, internacional), num certo período de tempo.

As conceituações de exportações e de importações já foram vistas anteriormente. Para relembrar: as exportações são as vendas de mercadorias de agentes econômicos de um país para agentes de outro país, por exemplo, as empresas brasileiras que vendem café para os Estados Unidos. E as importações são as compras de mercadorias realizadas por agentes econômicos de um país de agentes de outro país, por exemplo, um automóvel comprado na Alemanha ou um chocolate na Suíça.

Assim como as atividades econômicas entre os agentes econômicos residentes de um país sofrem influência do governo, no comércio internacional também ocorre a intervenção governamental. Isso ocorre por meio da política comercial internacional, que corresponde aos instrumentos pelos quais o governo intervém no comércio internacional, possibilitando o incremento/redução das exportações ou o incremento/redução das importações (NOGAMI; PASSOS, 2012). Geralmente, o que leva os governos a intervirem no comércio internacional são as condições da economia do país. De acordo com o cenário dos principais agregados macroeconômicos e, visando o equilíbrio destes, torna-se importante implementar ações com relação ao incentivo ou ao desestímulo do comércio internacional.

2.1 INTERVENÇÃO GOVERNAMENTAL NO COMÉRCIO INTERNACIONAL – AS MEDIDAS PROTECIONISTAS

Existem casos em que se torna importante a intervenção do Estado no comércio internacional, com a finalidade de restringir a entrada de determinados produtos no país. Estas medidas de restrição recebem o nome de medidas protecionistas. Por que os governos utilizam tais medidas? Vejamos:

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TÓPICO 4 | ECONOMIA INTERNACIONAL: O SETOR EXTERNO

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I. Para proteger a indústria nascente: determinados ramos industriais podem não estar em condições de sobreviver à competição externa. Sendo assim, ao menos temporariamente, serão protegidos por tarifas alfandegárias até alcançarem um desenvolvimento tecnológico e competitivo ideal.

II. Segurança nacional: envolve a proteção de setores industriais considerados estratégicos para o país.

III. Proteção ao emprego: a fim de proteger e mesmo criar mais empregos, o governo substitui as importações de determinados bens estrangeiros por bens fabricados no país. Ao estimular a produção interna, criam-se novos empregos.

IV. Combate a déficits comerciais: determinado país pode estar com sérios problemas no saldo das relações comerciais, isto é, o balanço das importações e exportações é negativo. Neste caso, medidas para impedir a entrada de mais produtos do setor externo ajudam a melhorar este quadro (NOGAMI; PASSOS, 2012).

2.2 INTERVENÇÃO GOVERNAMENTAL NO COMÉRCIO INTERNACIONAL – RESTRIÇÕES E INCENTIVOS AO LIVRE-COMÉRCIO

Dentre as restrições ao comércio internacional, podemos citar a barreira tarifária e a barreira não tarifária.

A barreira tarifária corresponde a um imposto adicionado ao preço internacional de determinada mercadoria, tornando-a assim, mais cara aos nacionais. Dentre as razões para isso, destacamos a intenção de proteger determinados produtos nacionais da concorrência externa, tornando-os mais competitivos. Por exemplo, imaginemos que o governo brasileiro adicione um imposto sobre as camisas importadas da China, tornando-as mais “caras” que as produzidas internamente. Assim, a indústria nacional de camisas se aqueceria. Outra razão para isso é o entendimento do governo de que determinados produtos não são essenciais à população. Alia-se a isso a necessidade de equilibrar a balança de exportação e importação.

As barreiras não tarifárias têm o mesmo objetivo da medida anterior, ou seja, dar mais competitividade aos produtos nacionais. Só que neste caso específico, não se aplica um imposto, mas sim, obstáculos quantitativos ou burocráticos, capazes de onerar, ou mesmo inviabilizar, determinadas importações. Um exemplo de obstáculos quantitativos são as cotas de importação. Assim, existe um limite para importar determinado produto. Um exemplo de obstáculo burocrático são os certificados sanitários.

Por outro lado, o governo pode incentivar o comércio internacional. Estes incentivos correspondem às formas adotadas pelo governo para tornar, artificialmente, o preço do produto nacional mais barato no exterior. Podemos citar incentivos fiscais às exportações, os incentivos de crédito (como subsídios para produção, financiamento a juros mais baratos) e os incentivos burocráticos

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236

UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

(eliminação de uma série de passos burocráticos que tornariam o processo de exportação mais custoso) (NOGAMI; PASSOS, 2012).

3 O BALANÇO DE PAGAMENTOS

Quando nos referimos às relações econômicas internacionais, precisamos atentar ao fato que isso não se restringe apenas ao fluxo de comércio de produtos, serviços e de rendas. Existem muitas outras transações que ocorrem entre os países, desde empréstimos, doações (dinheiro ou mercadorias), financiamentos, investimentos, entre muitos outros. Nesse sentido, é necessário um mecanismo para retratar todas estas transações. Este mecanismo é o balanço de pagamentos (BP).

O balanço de pagamentos (BP) corresponde ao registro contábil de todas as transações econômicas realizadas entre os agentes residentes e os não residentes de determinado país, ocorridas em um determinado período de tempo.

São registrados, assim, todos os fluxos de comércio, serviços, rendas, empréstimos, donativos, financiamentos, seguros etc., obtidos por um país, num certo período de tempo, ou seja, contabiliza todas as transações com mercadorias, serviços e capitais físicos e financeiros entre um país e o resto do mundo (NOGAMI; PASSOS, 2012; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Caro acadêmico, é importante não confundir o conceito de balanço de pagamentos (BP) com o de balança comercial. O BP registra todas as transações de um país com o resto do mundo. Já a balança comercial registra apenas as informações sobre importação e exportação de bens e serviços. A balança comercial, como veremos a seguir, faz parte do balanço de pagamentos.

Os dados contabilizados pelo balanço de pagamentos (BP) são viabilizados por um sistema contábil, pelo método das partidas dobradas (débito e crédito) e obedecem a um plano de contas, que veremos a seguir. São organizados por todos os países e obedecem às normas do Manual de Balanço de Pagamentos do Fundo Monetário Internacional (NOGAMI; PASSOS, 2012; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Até fevereiro de 2015, no Brasil, as séries históricas do BP eram organizadas conforme a quinta edição do Manual de Balanço de Pagamentos do FMI (BPM5). A partir desta data, passaram a ser organizadas com base na sexta edição do Manual de Balanço de Pagamentos e Posição Internacional de Investimento do FMI (BPM6) (BACEN, 2016).

IMPORTANTE

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TÓPICO 4 | ECONOMIA INTERNACIONAL: O SETOR EXTERNO

237

Analisemos a estrutura geral do balanço de pagamentos (BP), com as contas que o compõe:

QUADRO 30 – ESTRUTURA GERAL DO BALANÇO DE PAGAMENTO (BP)

A – BALANÇA COMERCIAL

• Importação (débito);

• Exportação (crédito).

B – (balança) SERVIÇOS E RENDAS

• Viagens internacionais;

• Transportes (fretes);

• Seguros;

• Serviços diversos (royalties, assistência técnica);

• Serviços governamentais (embaixadas);

• Rendas de capitais (juros, lucros, remuneração de trabalho, renda de investimento,

outros).

C – TRANSFERÊNCIAS UNILATERAIS CORRENTES

• Donativos em divisas ou mercadorias.

D – BALANÇO DAS TRANSAÇÕES CORRENTES OU SALDO EM CONTA

CORRENTE (Resultado líquido de A + B + C).

E – CONTA CAPITAL E FINANCEIRA

• Investimentos diretos líquidos (novas firmas estrangeiras);

• Reinvestimento (multinacionais já instaladas);

• Empréstimos e financiamentos (Banco Mundial, bancos privados, entre outros);

• Amortizações;

• Capitais de curto prazo;

• Outros investimentos.

F – ERROS E OMISSÕES

G – SALDO DO BALANÇO DE PAGAMENTOS (resultado líquido de D + E+ F)

H – VARIAÇÕES DAS RESERVAS (- G )

FONTE: Adaptado de Vasconcellos; Garcia, (2004) e Nogami; Passos (2012)

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238

UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

Caro acadêmico, não esqueça, chamamos de divisas a disponibilidade de moeda estrangeira que uma nação dispõe. O termo em si, compreende desde a própria moeda estrangeira que o país dispõe, além de letras de câmbio, ordens de pagamentos, saldos em contas no exterior, entre outros ativos.

De acordo com o quadro acima, observe melhor cada grupo de contas do balanço de pagamentos (BP):

a) Balança comercial: neste grupo, são registradas as exportações e importações de mercadorias.

b) Serviços e rendas: registram-se todos os serviços pagos e/ou recebidos pelo país. Os serviços de não fatores correspondem a pagamentos às empresas estrangeiras pela prestação de serviços, como fretes, seguros, lucros, transporte, viagens etc. Os serviços de fatores correspondem à remuneração dos fatores de produção externos, tais como juros, lucros, royalties, assistência técnica.

c) Transferências unilaterais correntes: esta conta é conhecida ainda como conta de donativos, registra as doações entre os países. Podem ser em dinheiro ou mercadorias.

d) Saldo das transações correntes: representa o resultado do somatório do balanço comercial, de serviços e rendas e das transferências unilaterais. Se o saldo for negativo, há poupança externa positiva, indicando que o país aumentou seu endividamento externo em termos financeiros, ou seja, “comprou mais bens e serviços do que vendeu”. Se o balanço corrente for positivo, há poupança externa negativa, indicando que “vendeu mais do que comprou”.

Caro acadêmico, o saldo das transações correntes é um conceito muito importante no que se refere às relações econômicas internacionais. Lembre que, sempre que ele for negativo, o país aumentou seu endividamento externo. A isso, dá-se o nome de poupança externa positiva. Agora, se o saldo for positivo, significa que não tem (ou diminuiu) dívida com o setor externo. A isso, dá-se o nome de poupança externa negativa.

e) Conta capital e financeira: são registradas as transações que produzem variações no passivo e no ativo externo do país, capazes de modificar sua posição de devedor ou de credor. Aparecem aí os investimentos diretos, as transações financeiras, como ações, quotas de participação governamental em organismos internacionais, títulos de outros países, empréstimos concedidos, empréstimos junto a órgãos e/ou bancos internacionais, entre outros.

UNI

ATENCAO

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TÓPICO 4 | ECONOMIA INTERNACIONAL: O SETOR EXTERNO

239

f) Erros e omissões: é um lançamento que permite o balanceamento final das contas, já que os lançamentos a crédito e a débito, efetuados no balanço de pagamentos, provêm de diferentes fontes de informação (Banco Central, Receita Federal etc.). Essa rubrica serve para compensar toda superestimação ou subestimação dos componentes registrados.

g) Saldo da balança de pagamentos: corresponde ao resultado das contas do balanço de pagamentos (BP): conta corrente, conta capital e financeira e erros e omissões.

h) Variação das reservas: este cálculo irá demonstrar a variação que ocorreu nas reservas internacionais (moeda estrangeira), a partir do acréscimo do resultado do ano corrente ao valor das reservas acumuladas em anos anteriores (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004; NOGAMI; PASSOS, 2012).

Prezado acadêmico, você pode analisar o comportamento do balanço de pagamentos (BP) brasileiro fazendo o download da série histórica no site do Banco Central. Acesse o link e confira: <https://www.bcb.gov.br/htms/infecon/Seriehist_bpm6.asp>.

4 TAXAS DE CÂMBIO

Tendo visto todos estes conceitos anteriores, passemos agora a analisar as características de uma variável muito importante na economia: a taxa de câmbio. Basicamente, a taxa de câmbio é o preço, em moeda nacional, de uma unidade de moeda estrangeira. É o preço de uma moeda em termos de outra (NOGAMI; PASSOS, 2012).

Para quaisquer transações que os agentes econômicos de um país realizarão com o resto do mundo, eles precisarão de moeda estrangeira. Evidentemente, há tantas taxas de câmbio quanto moedas estrangeiras. No caso brasileiro, a principal referência em termos de taxa de câmbio é a taxa entre o real e o dólar norte-americano. Apesar disso, podemos apontar o euro como uma moeda que vem ganhando espaço.

Caro acadêmico, você pode consultar a taxa de câmbio de inúmeras moedas estrangeiras no site do Banco Central. Aproveite a dica e confira algumas. O link para o portal é: <http://www4.bcb.gov.br/pec/taxas/port/ptaxnpesq.asp?id=txcotacao>.

DICAS

DICAS

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240

UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

Como a taxa de câmbio é um preço, ela também é influenciada pela oferta e demanda de divisas, ou seja, pela oferta e demanda de moeda estrangeira em um determinado país. Este é o principal determinante da taxa de câmbio.

Por exemplo, tomemos como parâmetro o valor do dólar americano em relação ao real. Imaginemos que, inicialmente, para comprar US$ 1,00 precisamos de R$ 2,50. Levando em consideração que a variação nesta taxa de câmbio dependerá da oferta e demanda da moeda estrangeira, temos que: caso haja um aumento expressivo do volume de dólares disponíveis na economia brasileira (devido ao aumento nas exportações, aumento nos investimentos diretos estrangeiros etc.), a tendência é que a taxa de câmbio diminua. Poderia então, ficar assim: US$ 1,00 = R$ 2,00. Agora, caso haja uma diminuição expressiva no volume de dólares disponíveis na economia brasileira (aumento nas importações, fuga de capitais estrangeiros etc.), a tendência é que a taxa de câmbio aumente. Poderia então, ficar assim: US$ 1,00 = R$ 3,00.

Quando falamos em oferta de divisas estrangeiras, ela depende:

a) do volume de exportações, pois as moedas estrangeiras recebidas nestas transações precisam ser trocadas por moeda nacional;

b) da entrada de capitais externos (também serão trocados por moeda nacional).

Quando falamos em demanda de divisas, ela depende:

a) do volume das importações. Quem importa do setor externo necessita de moeda estrangeira para pagar pelas mercadorias adquiridas;

b) da saída de capitais externos (NOGAMI; PASSOS, 2012).

Caro acadêmico, quando um agente econômico exporta alguma mercadoria ou serviço, o pagamento é realizado em moeda estrangeira. O importador estrangeiro remete estas divisas ao Banco Central (e não direto ao agente econômico específico), que fica com esta moeda estrangeira e paga a quantia equivalente em moeda nacional ao agente econômico exportador (NOGAMI; PASSOS, 2012).

4.1 OS REGIMES CAMBIAIS

Por regime cambial entende-se o modelo de taxa de câmbio que o país adota. Podemos classificá-los, de um modo geral, em dois grandes grupos: o regime de taxas fixas e o regime de taxas flutuantes de câmbio. Entre estes dois regimes existem sistemas intermediários, como o regime de bandas cambiais (no caso do regime de câmbio fixo) e o regime de flutuação suja ou dirty floating

IMPORTANTE

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TÓPICO 4 | ECONOMIA INTERNACIONAL: O SETOR EXTERNO

241

(no caso do regime de taxas flutuantes) (VASCONCELLOS, 2011). Vejamos as características de cada um deles.

No regime de câmbio fixo, o Banco Central fixa antecipadamente a taxa de câmbio com a qual o mercado deve operar. Assim, o Banco Central compromete-se a comprar e a vender as divisas a um preço fixado. Fixando a taxa, o país reserva-se ao direito de alterá-la em casos de desequilíbrio da balança de pagamentos.

As vantagens estão em facilitar a tomada de decisão dos agentes econômicos; permitir um maior controle da inflação; é possível usar este mecanismo para equilibrar o balanço de pagamentos. Entre as desvantagens, podemos citar a possibilidade de não escolher a “taxa correta”; gerar movimentos especulativos; perda do poder da política monetária.

Como dissemos anteriormente, existe um caso intermediário para este regime de câmbio fixo, que é o regime de bandas cambiais. Nele, a taxa de câmbio flutua dentro de um intervalo com limites máximos e mínimos, definidos pelo Banco Central. Esse regime foi adotado no Brasil no período posterior à implantação do plano real e vigorou até 1999 (VASCONCELLOS, 2011).

FIGURA 24 – MOEDA ESTRANGEIRA

FONTE: Disponível em: <https://pt.dreamstime.com/foto-de-stock-taxa-de-cmbio-image6934200>. Acesso em: 10 jan. 2017.

Já no regime de câmbio flutuante, o valor da taxa de câmbio é determinado livremente no mercado, mediante à oferta e à procura de divisas, sem nenhuma intervenção do Banco Central. Havendo excesso de oferta de moeda estrangeira, seu preço cai (valorização da moeda nacional). Havendo excesso de demanda por moeda estrangeira, seu preço sobe (desvalorização da moeda nacional).

As vantagens deste regime relacionam-se com a utilização do critério do mercado na determinação do preço da moeda estrangeira. Há ainda, maior espaço para a utilização da política monetária e mais proteção quanto a ataques

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242

UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

especulativos. As desvantagens relacionam-se à volatilidade da taxa, sujeita às alterações do mercado financeiro nacional e internacional, bem como a problemas ligados ao controle de processos inflacionários, ligados a grandes desvalorizações repentinas.

Neste regime, como dito anteriormente, também existe um regime intermediário, que é o da flutuação suja ou dirty floating. Podemos caracterizá-lo como um sistema misto, em que a taxa de câmbio continua sendo determinada pelo mercado, porém, o Banco Central intervém indiretamente, de modo a limitar sua instabilidade.

A forma de intervenção dá-se pela compra e venda de divisas no mercado, mantendo a taxa em um nível considerado adequado aos objetivos da política econômica. Por exemplo, se a taxa de câmbio estiver elevada demais, o Banco Central injeta (vende) dólares no mercado. Se a taxa estiver muito baixa, compra (retira) dólares do mercado. É o regime utilizado pela maioria dos países, inclusive no Brasil (VASCONCELLOS, 2011).

QUADRO 31 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS REGIMES CAMBIAIS

REGIME DE

CÂMBIO

PRINCIPAIS

CARACTERÍSTICASVANTAGENS DESVANTAGENS

CÂMBIO

FIXO

O Banco Central fixa a taxa

de câmbio.

O Banco Central é obrigado

a disponibilizar as reservas

cambiais.

Maior controle da

inflação.

Facilita tomada

de decisões

pelos agentes

econômicos.

Vulnerabilidade

a ataques

especulativos.

Política monetária

depende do volume

de divisas.

CÂMBIO

FLUTUANTE

A taxa de câmbio é

determinada no mercado,

mediante oferta e demanda

de divisas.

O Banco Central não é

obrigado a disponibilizar

reservas.

Maior proteção

contra-ataques

especulativos.

Política

monetária mais

independente do

câmbio.

Dependência à

volatilidade do

mercado financeiro

nacional e

internacional.

Maior dificuldade

de controle

das pressões

inflacionárias

advindas das

desvalorizações

cambiais.FONTE: Vasconcellos (2011)

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TÓPICO 4 | ECONOMIA INTERNACIONAL: O SETOR EXTERNO

243

Caro acadêmico, está curioso para saber como a taxa de câmbio influencia no seu cotidiano? Que tal assistir a um vídeo que trata deste tema? É muito fácil, basta você procurar pelo vídeo “Webdocumentário – Alô, Câmbio!” Aproveite!

4.2 A DESVALORIZAÇÃO E A VALORIZAÇÃO CAMBIAL

Um aumento no preço da moeda estrangeira é chamado de desvalorização cambial. Assim, a moeda nacional passa a valer menos em termos da moeda estrangeira. A desvalorização tende a estimular as exportações e a desestimular as importações. Isso, de certa maneira, faz aumentar o saldo da balança comercial e de serviços.

Usemos, como exemplo, o dólar norte-americano e o real. A desvalorização da taxa de câmbio estimula as exportações porque: por um lado, os compradores estrangeiros comprarão mais produtos brasileiros com a mesma quantia de dólares. Por outro, os exportadores nacionais receberão mais reais por dólar exportado. Assim, vender para o exterior torna-se um bom negócio.

Já as importações são desestimuladas: os brasileiros que precisam importar terão que pagar uma quantidade maior de reais por uma quantidade de dólar. Sendo assim, as mercadorias estrangeiras tornam-se mais caras, fazendo com que a demanda por elas diminua. Já os exportadores estrangeiros irão receber menos dólares por real (nas transações de mercadorias). Com isso, a tendência é que vendam menos (NOGAMI; PASSOS, 2004; VASCONCELLOS, 2011).

Outros efeitos podem ocorrer, como impactos inflacionários decorrentes do aumento dos custos de produtos essenciais importados. No que se refere aos fatores de produção de importados, a desvalorização implica no aumento dos custos de produção. Caso as firmas repassarem essa elevação dos custos ao preço final dos produtos, os preços internos se elevarão (NOGAMI; PASSOS, 2004; VASCONCELLOS, 2011).

Já o processo de valorização cambial ocorre quando há uma diminuição no preço da moeda estrangeira, tornando a moeda nacional mais “forte”. A moeda nacional passa, assim, a valer mais em termos de moeda estrangeira.

Quando ocorre um processo de valorização cambial, as importações são estimuladas e as exportações, pelo contrário, são desestimuladas.

Como a moeda nacional passa a valer mais em termos de uma moeda estrangeira, fica mais “barato” comprar mercadorias de outros países. Sendo assim, as importações tendem a aumentar. Por exemplo, imaginemos uma situação

DICAS

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244

UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

em que a taxa de câmbio entre o real e o dólar seja de R$ 4,00. Caso você queira comprar um notebook dos Estados Unidos, cujo preço seja de US$ 500,00, será preciso desembolsar R$ 2.000,00 (porque para comprar US$ 1,00 são necessários R$ 4,00. Logo, para comprar US$ 500,00 são necessários R$ 2.000,00). Agora, imaginemos uma situação de valorização cambial, em que o real passa a valer mais em termos de dólar: uma taxa de câmbio de R$ 2,00. Neste caso, para você comprar este mesmo notebook, terá que desembolsar bem menos que antes, ou seja, R$ 1.000,00 (para comprar US$ 1,00 são necessários R$ 2,00. Logo para comprar US$ 500,00 são necessários R$ 1.000,00). Como se percebe, a valorização do câmbio torna a moeda nacional mais forte e as mercadorias estrangeiras, por consequência, mais “baratas”. O conjunto das importações tende a ser estimulado.

Agora, com relação às exportações, os agentes econômicos nacionais que vendem ao exterior passam a receber quantidades menores de moeda estrangeira. Sendo assim, vendem menos para o resto do mundo. Tomemos como exemplo a situação descrita acima, cuja taxa de câmbio entre o real e o dólar era, inicialmente, de R$ 4,00. Nesta condição, os exportadores brasileiros recebiam R$ 4,00 para cada US$ 1,00 exportado (vendas para o exterior). Agora, em uma situação de valorização cambial, em que o real passa a valer mais em termos de dólar, estes mesmos exportadores receberão uma quantidade monetária menor: ainda em acordo com o exemplo anterior, caso a taxa de câmbio chegasse a R$ 2,00, os exportadores brasileiros passariam a receber apenas R$ 2,00 para cada US$ 1,00 exportado (e não mais R$ 4,00 como antes). Em uma situação destas, a tendência é que as exportações diminuam (NOGAMI; PASSOS, 2004; VASCONCELLOS, 2011).

O processo de valorização cambial também pode ser um instrumento de estímulo à competição entre produtos nacionais e internacionais, bem como servir de incentivo à modernização do parque industrial nacional (compra de bens de capital, redução de custos, melhoria na eficiência produtiva, entre outros). Pode, ainda, ajudar no controle da inflação, justamente por tornar a moeda mais “forte” e estimular a compra de produtos importados. Isso provoca uma maior competição entre os produtores nacionais, fazendo com que os preços caiam.

Desvantagens também podem ocorrer, como a falência ou queda no volume de crescimento de empresas despreparadas para competir internacionalmente. A própria redução das exportações (produto nacional fica mais caro para estrangeiros) pode aumentar o déficit na balança comercial (NOGAMI; PASSOS, 2004; VASCONCELLOS, 2011).

5 ALGUNS DETERMINANTES DAS IMPORTAÇÕES E DAS EXPORTAÇÕES

Já vimos as definições de importação e de exportação. Muitos são os elementos que influenciam, portanto, analisemos melhor algumas delas. Comecemos por alguns fatores que mantém influência sobre as importações:

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TÓPICO 4 | ECONOMIA INTERNACIONAL: O SETOR EXTERNO

245

a) Renda nacional: o aumento da produção e da renda interna demanda mais produtos importados (bens de consumo, matérias-primas, bens de capital, por exemplo). Há relação direta entre renda nacional e importação.

b) Taxa de câmbio (R$/US$): uma desvalorização cambial faz com que importadores paguem mais por produtos importados. Logo, se importa menos. Uma valorização, ao contrário, então, se importa mais.

c) Preços externos (do resto do mundo): uma elevação dos preços internacionais faz com que as importações diminuam. Uma diminuição tem efeito contrário.

d) Preços dos produtos produzidos internamente (R$): uma elevação dos preços dos produtos produzidos internamente estimulará as importações de produtos similares. Uma diminuição dos preços internos desestimulará a importação de produtos similares.

e) Barreiras tarifárias e não tarifárias à importação: barreiras ocasionam diminuição da importação de certas mercadorias. Quando não existem, irão estimular a importação (NOGAMI; PASSOS, 2004).

Agora, vejamos alguns fatores que influenciam as exportações de produtos e serviços:

a) Renda mundial: o aumento da renda mundial deverá estimular o comércio internacional e, consequentemente, as exportações nacionais. Com a queda na renda mundial, ocorre o contrário.

b) Taxa de câmbio (R$/US$): uma desvalorização cambial estimula as exportações, já que se recebe mais dólares por mercadoria exportada. Uma valorização tende a ter efeito contrário.

c) Preços externos: uma elevação dos preços externos dos produtos exportados elevará a exportação. Com uma diminuição, acontece o contrário.

d) Preços internos (R$): o aumento nos preços internos, dos fatores de produção em geral, pode diminuir a exportação, por tê-los encarecido.

e) Incentivos às exportações: incentivos aos exportadores, como isenção de impostos, financiamentos a juros mais baratos, subsídios, diminuição da burocracia, podem estimular a exportação. Acontecendo o contrário, pode inibir o volume de exportação (NOGAMI; PASSOS, 2004).

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246

Neste tópico, você aprendeu que:

• O comércio internacional corresponde ao conjunto de trocas de mercadorias e de serviços realizados entre agentes econômicos de diferentes países, num certo período de tempo.

• As exportações são as vendas de mercadorias de agentes econômicos de um país para agentes de outro país. E as importações são as compras de mercadorias do resto do mundo, realizadas por agentes econômicos nacionais.

• O balanço de pagamentos (BP) corresponde ao registro contábil de todas as transações econômicas realizadas entre os agentes residentes e os não residentes de determinado país, ocorridas em um determinado período de tempo.

• A taxa de câmbio é o preço, em moeda nacional, de uma unidade de moeda estrangeira. É o preço de uma moeda em termos de outra. Como ela é um preço, é influenciada pela oferta e demanda de divisas, ou seja, pela oferta e demanda de moeda estrangeira em um determinado país.

• Por regime cambial entende-se o modelo de taxa de câmbio que o país adota. Podemos classificá-los, de um modo geral, em dois grandes grupos: o regime de taxas fixas e o regime de taxas flutuantes de câmbio.

• No regime de câmbio fixo, o Banco Central fixa antecipadamente a taxa de câmbio com a qual o mercado deve operar, comprometendo-se a comprar e a vender as divisas a um preço fixado. Existe um caso intermediário para este regime de câmbio fixo, que é o regime de bandas cambiais. Nele, a taxa de câmbio flutua dentro de um intervalo com limites máximos e mínimos, definidos pelo Banco Central.

• No regime de câmbio flutuante, o valor da taxa de câmbio é determinado livremente no mercado, mediante à oferta e à procura de divisas, sem nenhuma intervenção do Banco Central. Existe um regime intermediário, que é o da flutuação suja ou dirty floating, caracterizado como um sistema misto, em que a taxa de câmbio continua sendo determinada pelo mercado, porém, o Banco Central intervém indiretamente, de modo a limitar sua instabilidade.

• Um aumento no preço da moeda estrangeira é chamado de desvalorização cambial. Assim, a moeda nacional passa a valer menos em termos da moeda estrangeira. Já o processo de valorização cambial ocorre quando há uma diminuição no preço da moeda estrangeira. Assim, a moeda nacional passa a valer mais em termos de moeda estrangeira.

RESUMO DO TÓPICO 4

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247

1 O comércio internacional é o conjunto de trocas de mercadorias e de serviços entre os residentes de diversos países. Quando atentamos para todas as relações econômicas internacionais, não podemos restringi-las apenas ao fluxo de produtos, serviços e rendas. É necessário atentar para todos os tipos de transações que ocorrem entre os países, que vão além destas citadas. Um mecanismo que retrata todas estas transações é o balanço de pagamentos.

Sobre ele, responda:a) O que vem a ser o balanço de pagamentos?b) Em síntese, quais contas o compõem?

2 Para podermos realizar qualquer tipo de transação com o resto do mundo (viagens internacionais, compra de produtos importados, por exemplo) precisamos de moeda estrangeira. Assim, precisamos trocar o dinheiro nacional por moeda estrangeira. E, para isso, faz-se necessária a taxa de câmbio. Afinal, o que vem a ser a taxa de câmbio? Dentre as alternativas, escolha a que estiver correta:

a) A taxa de câmbio é o preço, em moeda estrangeira, de uma unidade de moeda nacional.

b) A taxa de câmbio é o preço das reservas internacionais que um país dispõe.c) A taxa de câmbio é o preço, em moeda nacional, de uma unidade de moeda

estrangeira.d) A taxa de câmbio possui preço do ouro, comparado à moeda estrangeira.

3 Entende-se por regime cambial, o modelo de taxa de câmbio que o país adota. É possível classificar o regime cambial em dois grandes grupos: o regime de taxas fixas e o regime de taxas flutuantes. Existem, ainda, dois sistemas intermediários: o regime de bandas cambiais e o de flutuação suja. Com base nesses conceitos, associe a primeira coluna com a segunda:

(a) Regime de câmbio flutuante(b) Regime de bandas cambiais (c) Regime de câmbio fixo(d) Regime de flutuação suja

( ) É um sistema misto, em que a taxa de câmbio continua sendo determinada pelo mercado, mas o Banco Central intervém, para limitar sua instabilidade.

( ) A taxa é determinada pelo mercado, sem intervenção do Banco Central.( ) A taxa flutua dentro de um intervalo com limites mínimos e máximos,

determinados pelo Banco Central.( ) O Banco Central fixa, de maneira antecipada, a taxa de câmbio.

AUTOATIVIDADE

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248

4 As relações comerciais de um país com o resto do mundo são afetadas por inúmeros fatores, dentre eles, a valorização cambial e a desvalorização cambial. Com base nas características, tanto de um processo de valorização do câmbio quanto de uma desvalorização do câmbio, analise as sentenças a seguir e classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Um processo de valorização cambial tende a desestimular as exportações e a estimular as importações.

( ) Um processo de desvalorização cambial tende a estimular as importações e a desestimular as exportações.

( ) Com um processo de desvalorização cambial, a moeda nacional fica mais “forte”, se comparada à moeda estrangeira.

( ) Um processo de valorização do câmbio pode impactar negativamente as empresas despreparadas para competir internacionalmente.

Analise as sentenças e assinale a que contém a sequência correta:a) ( ) F – F – V – V b) ( ) V – F – F – V c) ( ) F – V – F – V d) ( ) V – F – V – F

5 Quando nos referimos ao balanço de pagamentos (BP) – a conta denominada “balanço das transações correntes (ou saldo em conta corrente)” – é muito importante analisar a condição de um país quanto a sua situação no comércio internacional. Tendo esta conta específica em mente, o que significa dizer que um país tem um saldo negativo em transações correntes?

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249

TÓPICO 5

INFLAÇÃO

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Prezado acadêmico, chegamos ao Tópico 5 do nosso Caderno de Estudos de Economia, e nosso objetivo será estudar o tema da inflação. Com certeza, você já ouviu falar sobre ou já sentiu os efeitos da inflação nos seus rendimentos mensais.

Frequentemente assistimos ao telejornal ou lemos notícias relacionadas aos índices de inflação. Afinal, este fenômeno causa preocupação em muitas pessoas, desde a dona de casa, que faz as compras no mercado, até os investidores, empresários e economistas.

Você sabe interpretar os motivos da uma alta na inflação? Por que ela ocorre em uma economia? Quais os efeitos na renda das pessoas? O que fazer para combatê-la? Estudar economia pode ajudar a responder a estes questionamentos. Tanto é verdade, que neste tópico estudaremos as principais características de um processo inflacionário. Veremos o conceito, os efeitos na economia, os tipos de inflação e também alguns mecanismos utilizados pelo governo para combatê-la.

Bons estudos!

2 O QUE É INFLAÇÃO?

A inflação é um fenômeno macroeconômico e pode ser definido como o aumento contínuo e generalizado do nível geral de preços de uma economia. Este processo generalizado de elevação dos preços resultará na perda de poder aquisitivo da população.

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UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

FIGURA 25 – DRAGÃO DA INFLAÇÃO E O PIB

FONTE: Disponível em: <http://www.emtempo.com.br/tags/dragao-da-inflacao/>. Acesso em: 10 jan. 2017.

É importante não confundir a inflação com os aumentos de preços sazonais ou por conta de uma escassez isolada de determinada mercadoria. Da mesma forma, uma elevação de preços de um conjunto de produtos ou sobre um setor de produção específico, não se configura como um processo inflacionário. Como dissemos anteriormente, a inflação é um aumento persistente e generalizado no nível geral de preços de uma economia (NOGAMI; PASSOS, 2012). Por exemplo, se houver aumento de apenas um dos produtos da cesta básica, o arroz, digamos, isto não se configura como um processo inflacionário. O aumento no preço, neste caso, pode ter ocorrido como resultado de outros fatores (como uma grave seca que tenha reduzido a quantidade ofertada desta mercadoria). Agora, se houver um aumento geral nos preços de todos os produtos da cesta básica, aí sim, estamos falando de inflação na economia. A inflação é o aumento generalizado dos preços (NOGAMI; PASSOS, 2012; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Caro acadêmico, não esqueça! Podemos definir a inflação como um aumento persistente e generalizado no nível geral de preços de uma economia. A inflação é considerada um fenômeno macroeconômico generalizado, já que os aumentos nos preços não ocorrem apenas sobre um conjunto de preços ou sobre um setor específico. Esse processo resulta na perda do poder aquisitivo da moeda.

Os processos inflacionários não são características exclusivas das economias em desenvolvimento, como é caso do Brasil. A inflação é um fenômeno que também acomete os países desenvolvidos. É possível distinguir, de um modo geral, três tipos: a inflação de demanda, a inflação de custos e a inflação inercial. Vejamos as características de cada um destes tipos nos subtópicos a seguir.

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2.1 A INFLAÇÃO DE DEMANDA

A inflação de demanda refere-se ao excesso de demanda agregada em relação à produção disponível de bens e serviços (oferta agregada). Em outras palavras, pode-se entender como sendo: dinheiro demais, muita procura e pouca oferta de bens e serviços. Basicamente, a população está com muito dinheiro e a economia está superaquecida, ao passo que o setor produtivo não consegue atender esta demanda por bens e serviços que a população necessita.

Quanto mais a economia estiver próxima do pleno emprego, maior é a tendência de aumento da inflação de demanda. Isso ocorre porque, em uma situação de pleno emprego dos recursos produtivos, a tendência é a redução da expansão da produção. Com menos produtos e serviços e uma procura aquecida por eles, a pressão sobre os preços é maior, elevando-os (NOGAMI; PASSOS, 2012).

Caro acadêmico, a inflação de demanda refere-se ao excesso de demanda agregada em relação à produção disponível. Significa muita procura e pouca oferta de bens e serviços, capazes de atender a todas as necessidades das pessoas. Os preços, consequentemente, sobem.

Para combater este tipo de inflação é preciso reduzir a demanda agregada por bens e serviços de uma economia. E para isso, o governo pode utilizar alguns instrumentos de política econômica, de modo que irá contrair a demanda agregada de duas maneiras: por meio de política fiscal restritiva e/ou por meio de uma política monetária contracionista.

Ao fazer uso de uma política fiscal restritiva, o governo deverá aumentar a carga tributária (cobrando alíquotas de impostos mais elevadas, ou mesmo, criando outras) e também deverá reduzir os seus gastos (realizar menos obras públicas, reduzir o volume de subsídios e das transferências, entre outros). Tais medidas irão “desaquecer” a demanda, isto é, as pessoas terão menos dinheiro para consumir. Ao inibir o consumo, haverá pressão para a queda nos preços dos produtos e serviços.

Ao utilizar medidas de política monetária contracionista, o governo deverá reduzir o volume de moeda disponível para os agentes econômicos. E isso se alcança aumentando a taxa de juros da economia, elevando a taxa dos depósitos compulsórios, vendendo títulos no mercado (ao vender título o governo “retira” dinheiro da economia), por exemplo. Com menos moeda nas mãos da população, o consumo será desestimulado, reduzindo a demanda agregada (NOGAMI; PASSOS, 2012; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

NOTA

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UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

2.2 A INFLAÇÃO DE CUSTOS

A inflação de custos pode ser associada a uma inflação tipicamente de oferta. Neste caso, os preços dos fatores produtivos, dos insumos para a produção de determinados bens aumentam e, por consequência, aumentam os preços dos produtos finais. Por exemplo, imaginemos um aumento nos preços do petróleo, que é o insumo básico tanto de vários produtos quanto de inúmeros setores industriais. A elevação dos custos deste insumo básico logo será repassada ao preço dos produtos que dele dependem.

No geral, o preço de um bem ou serviço está diretamente relacionado com os custos de produção do mesmo. Assim, se os insumos necessários a sua produção aumentam, possivelmente o preço deste bem aumentará também. Um exemplo que podemos utilizar é o aumento dos níveis salariais acima da própria inflação e dos índices reais de produtividade. As firmas logo repassarão este custo maior aos preços.

Outro exemplo relaciona-se à dependência de uma economia à importação de determinados produtos, como matérias-primas e insumos básicos. Caso ocorra uma elevação no preço destes produtos no mercado internacional, os custos de produção das empresas nacionais aumentarão. A tendência é que repassem esse aumento ao produto final (NOGAMI; PASSOS, 2012; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

Caro acadêmico, a inflação de custos provocada pelo aumento de custos dos fatores de produção diminui a oferta agregada. Neste caso, a demanda não se altera, mas os custos dos insumos importantes aumentam, sendo repassados ao preço dos produtos.

Outra explicação para a ocorrência da inflação de custos está associada ao que se chama de choques de oferta, que são as quedas na produção, ou seja, quando as empresas reduzem a produção significativamente. As quedas de produção ocorrem devido às greves de trabalhadores, falta de matéria-prima, ou ainda, decorrem de quedas de safras agrícolas (decorrentes de secas, granizos ou excesso de chuva, por exemplo). A redução da oferta destes bens elevará, por consequência, seus preços finais.

Um exemplo ocorreu nos anos 1970, com o petróleo. A organização responsável pela exportação do petróleo reduziu drasticamente sua produção. A consequência foi uma elevação generalizada nos preços para os países que o importavam, além do aumento nos custos de produção, acarretando no aumento dos preços. Além disso, houve o racionamento do combustível, reduzindo a

IMPORTANTE

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produção agregada e gerando desemprego. Isso resultou em um fenômeno chamado estagflação, que nada mais é do que uma situação de estagnação econômica, com baixos ou mesmos índices negativos de crescimento, combinado com altos níveis de inflação e desemprego.

Vale dizer que a atuação de firmas monopolistas ou oligopolistas também pode acarretar em uma situação de inflação de custos. Isto porque, por serem detentoras de uma parte considerável da oferta de determinados bens e serviços, podem adotar uma política de aumento de preços, a fim de obterem maiores lucros. Caso estas firmas atuem na produção de bens que servirão de insumos básicos a outras empresas, o encarecimento dos custos será repassado aos produtos finais.

Prezado acadêmico, a estagflação corresponde a uma situação de estagnação econômica com baixos ou mesmos índices negativos de crescimento, combinado com altos níveis de inflação e desemprego.

A política de combate à inflação de custos se dá por meio do controle direto dos preços, por meio de uma política salarial mais rígida, ou ainda, por meio de uma política de controle sobre os lucros das empresas (NOGAMI; PASSOS, 2012; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

2.3 A INFLAÇÃO INERCIAL

A inflação inercial ocorre quando os agentes econômicos passam a moldar as suas perspectivas relacionadas à taxa de inflação. Sendo assim, ao incorporar a taxa de inflação no comportamento dos agentes econômicos, ela passa a integrar contratos e acordos, perdurando por um longo período.

Por exemplo, se os preços vêm aumentando a uma taxa de 15% a algum tempo, os agentes econômicos miram as suas expectativas com base nesta taxa. Assim, diversas instituições adotarão esta inflação de 15% em todas as atividades que desenvolverão. Com isso, a tendência é que a inflação permaneça inalterada (NOGAMI; PASSOS, 2012).

3 OS PRINCIPAIS EFEITOS DA INFLAÇÃO

A inflação pode causar sérias distorções em uma sociedade. Dentre elas estão os efeitos sobre a renda, os efeitos sobre o balanço de pagamentos, os efeitos sobre os investimentos empresariais e os efeitos sobre o mercado de capitais. Vejamos melhor cada um deles.

NOTA

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3.1 EFEITOS NA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA

Dentre os efeitos da inflação, podemos citar a redução do poder aquisitivo da população que depende de um rendimento fixo e de prazos para reajuste nos salários. A maior parte da população encontra-se nesta situação: são os assalariados que, com o passar do tempo, veem seu salário ficar relativamente menor e com menos poder de compra.

Geralmente, em uma situação de inflação, quem mais perde são os trabalhadores de baixa renda. Os assalariados não têm condição de sustentar qualquer aplicação financeira que possa servir de saída em emergências no futuro, pois tudo o que recebem na forma de salário é unicamente utilizado para a sua subsistência.

FIGURA 26 – A INFLAÇÃO E A RENDA DO TRABALHADOR

FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-REcr-IGl4oU/TVhQe0SikFI/AAAAAAAAAn0/RVPyh_rw98A/s1600/alimentos_samuca_thumb%255B1%255D.jpg>. Acesso em: 10 jan. 2017.

Já aqueles que têm uma renda proveniente de aluguéis, também sentem a perda no rendimento real durante a situação de inflação. Todavia, estes são compensados pela valorização dos imóveis, que geralmente caminha à frente das taxas de inflação. Assim, no longo prazo, os proprietários destes imóveis geralmente nada sofrem, pois as propriedades (casas, apartamentos, salas comerciais etc.) são valorizadas no mesmo ritmo que o valor da moeda se deteriora. Os empresários desta categoria têm mais condições de repassar os aumentos de custos, garantindo com isso, seus lucros.

Podemos dizer que, quanto mais elevada for a taxa de inflação de um determinado país, mais alta será a sua desigualdade, pois este fenômeno afeta diretamente a distribuição das rendas (NOGAMI; PASSOS, 2012; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

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3.2 EFEITOS SOBRE O BALANÇO DE PAGAMENTOS

As elevadas taxas de inflação, com patamares superiores ao aumento dos preços praticados em nível internacional, tendem a tornar mais caro o produto nacional, relativamente ao produzido no exterior. Neste caso, provoca-se um estímulo às importações e um desestimulo às exportações. Isso acaba diminuindo o saldo positivo da balança comercial. A ocorrência constante deste processo resulta em saldos negativos no balanço de pagamentos.

Este fenômeno causa um verdadeiro ciclo vicioso, caso o país esteja enfrentando um déficit cambial. Nesses casos, as autoridades monetárias permitem uma desvalorização cambial (depreciando a moeda nacional) na tentativa de minimizar o déficit do câmbio, estimulando assim, a exportação dos produtos nacionais e desestimulando as importações.

Todavia, há importações que são necessárias, como por exemplo, o petróleo e os fertilizantes. Estes tendem a ter uma elevação no preço, pressionando os custos de quem utiliza os produtos importados. Assim, ocorre uma nova elevação dos preços, devido ao repasse da elevação dos custos dos produtos finais, reiniciando o processo (NOGAMI; PASSOS, 2012; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

3.3 EFEITOS SOBRE OS INVESTIMENTOS EMPRESARIAIS

Outro efeito negativo causado pelas altas taxas de inflação relaciona-se às expectativas sobre o futuro, especificamente no que se refere aos investimentos do setor privado. O setor empresarial é um dos mais sensíveis com relação à instabilidade e imprevisibilidade dos lucros. Dada a instabilidade, dificilmente o empresário tomará a decisão de investir na produção. Assim, a capacidade produtiva futura poderá ficar comprometida, bem como o nível de emprego (NOGAMI; PASSOS, 2012; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

3.4 EFEITOS SOBRE O MERCADO DE CAPITAIS

Em uma situação inflacionária, a consequência é a deterioração da moeda, as pessoas ficam desestimuladas a investir em aplicações no mercado de capitais. As aplicações na poupança e em títulos sofrem contração. Por outro viés, a inflação estimula a aplicação em bens como terras, casas, imóveis, que neste processo inflacionário tendem a valorizar-se.

Embora algumas pessoas ganhem com a inflação no curto prazo, pode-se dizer que, a longo prazo, é difícil alguém ganhar com o processo inflacionário. Mesmo que a inflação atinja, em um primeiro momento os trabalhadores assalariados, as empresas irão vender menos e o governo, em contrapartida, também vai arrecadar menos (NOGAMI; PASSOS, 2012; VASCONCELLOS; GARCIA, 2004).

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4 COMO COMBATER A INFLAÇÂO

Vimos até aqui algumas características da inflação e como este processo se manifesta na sociedade. Você pode estar se perguntando: o que se pode fazer para combater a inflação?

O processo inflacionário é um problema macroeconômico, e sem dúvida, afeta o bem-estar de toda a sociedade. O controle da inflação acaba sendo prioridade dos governos. O governo utiliza-se de duas formas de combate ao problema do processo inflacionário: por meio da contração de demanda e por meio do controle dos preços e salários.

A contração de demanda obtém-se por meio de políticas fiscais restritivas e políticas monetárias contracionistas. Por meio dessas medidas, se reduz o nível de demanda agregada, se reduz o nível de produção e de emprego em uma economia. Isso contrai a demanda, retraindo o consumo (a economia “desacelera”).

Já o controle de preços e salários trazem resultados positivos no curto prazo, mas no longo prazo tendem a criar uma inflação reprimida, ou seja, os preços até se elevam, mas muito pouco. Geralmente, é por meio destas medidas que o governo busca conter a inflação na economia.

5 METAS INFLACIONÁRIAS NO BRASIL

No Brasil, desde 1999, estabeleceu-se a chamada “meta de inflação”. São definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e o governo tem a tarefa de cumpri-la, tendo como um dos instrumentos, a taxa de juros.

As metas de inflação são públicas e o Banco Central do Brasil é quem executa as políticas necessárias para que as metas fixadas sejam cumpridas. É papel do Banco Central também informar de forma regular sobre as medidas tomadas para atingir as metas. As metas geralmente são atingidas mexendo-se nos juros da economia. Por exemplo, quando se tem a possibilidade de a inflação passar das metas preestabelecidas, os juros básicos da economia são elevados. O índice referência utilizado para a inflação no Brasil é o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE. O quadro a seguir traz as metas brasileiras de 1999 a 2018.

Caro acadêmico, você pode acompanhar as metas de inflação do Brasil entrando no site do Banco Central, disponível no link: <http://www.bcb.gov.br/Pec/relinf/Normativos.asp>.

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QUADRO 32 – HISTÓRICO DE METAS PARA A INFLAÇÃO NO BRASIL - 1999 A 2018

FONTE: Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/Pec/metas/TabelaMetaseResultados.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2017.

Existem alguns índices para medir a inflação no Brasil: IPC – FIPE, IGPM – FGV, ICV – DIEESE, INPC, IPCA. Porém, o índice oficial adotado pelo governo brasileiro é o IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo, do IBGE.

Prezado acadêmico, você sabe como são calculados os índices de inflação? Uma dica é assistir ao vídeo disponível no link: <https://www.youtube.com/watch?v=P2nUSwKo2cs>.

Abaixo segue um quadro com as taxas anuais de inflação no Brasil, de 1980 a 2015. Houve períodos com taxas estratosféricas no Brasil, fazendo com que o país mudasse várias vezes o seu padrão monetário. Em 1993, por exemplo, chegou a 2.477,15% ao ano, estabilizando-se após 1996.

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UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

Caro acadêmico, sobre a inflação na economia brasileira, indicamos o vídeo “Laboratório Brasil – 15 anos do Real”. Para fazer download deste documentário, basta acessar a página disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/materias/DOCUMENTARIOS/175503-LABORATORIO-BRASIL.html>. Ou então, para assisti-lo diretamente, basta acessar o link: <https://www.youtube.com/watch?v=3LHH7nigO6A>.

QUADRO 33 – INFLAÇÃO NO BRASIL - 1980 A 2015

DATA INFLAÇÃO IPC-A %a.a.1980 99,251981 95,621982 104,791983 164,011984 215,261985 242,231986 79,661987 363,411988 980,211989 1.972,911990 1.620,971991 472,71992 1.119,101993 2.477,151994 916,461995 22,411996 9,561997 5,221998 1,651999 8,942000 5,972001 7,672002 12,532003 9,32004 7,62005 5,692006 3,142007 4,462008 5,92009 4,312010 5,91

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2011 6,52012 5,842013 5,912014 6,412015 10,67

FONTE: Adaptado de <http://www.ipeadata.gov.br/Default.aspx>. Acesso em: 10 jan. 2017.

LEITURA COMPLEMENTAR

A máquina da desigualdade

Tânia Bacelar

Concentração dos meios de produção, orientação do mercado para a exportação e o consumo de luxo, atuação oligopolizadora do Estado, mentalidade senhorial das classes altas: esses quatro fatores estão na raiz dos abismos sociais e regionais, mas há sinais promissores de mudanças.

O Brasil aparece no cenário internacional como um exemplo de país capaz de realizar grandes avanços econômicos – colocando-se entre as mais importantes bases produtivas do mundo em desenvolvimento – sem deixar de ser uma sociedade fraturada, marcada por enormes diferenças de padrões de vida e de oportunidades entre seus habitantes. Ao mesmo tempo, esse país continental e magnificamente diversificado exibe acentuadas desigualdades entre suas regiões, expondo hiatos inaceitáveis.

Esse perfil foi-se estruturando ao longo de séculos e se exacerbou quando, no século XX, o país se urbanizou e industrializou de forma acelerada. Por quê? – devemos nos perguntar. Parecem existir algumas causas fundamentais.

Para explicar a produção (e reprodução) das desigualdades sociais, quatro causas merecem destaque. Primeiro, esse quadro tem a ver com a forma como a população do Brasil tem acesso aos meios de produção. A concentração da riqueza e a dificuldade de acesso aos meios de produção são traços históricos na formação brasileira. A terra, ativo fortemente concentrado em mãos de poucos, é um meio de produção importante em um país que se apresenta ainda hoje como uma das potências agroindustriais do planeta, e promete ser, no futuro próximo, um dos líderes mundiais da produção de energia com base na biomassa.

Passando da agricultura para a indústria, verifica-se que o perfil de acesso aos meios de produção necessários à atividade industrial também é muito concentrado. O Brasil está entre os países onde o padrão oligopolizado no setor secundário é dos mais fortes. Dos bens mais simples aos mais complexos, o perfil produtivo brasileiro tem a marca da concentração. Um intenso processo de

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oligopolização predominou na maioria dos setores industriais, e a ampliação recente do grau de desnacionalização só fortaleceu esse traço. Se a forma de organizar a produção é essa, a apropriação da renda gerada pela atividade industrial só pode ser concentrada.

Produção para o mercado externo e de elite

A segunda grande explicação é a orientação da produção, resultado do modelo de desenvolvimento seguido pelo país. Um modelo orientado para dois grandes mercados: o das elites e classe média alta brasileiras e o externo. O país foi capaz de apresentar grande dinamismo econômico no século XX, demonstrou uma enorme capacidade de dar respostas positivas a importantes desafios, mas confere desproporcional preferência a determinados mercados. O parque produtor foi montado para esses mercados, que são muito dinâmicos e, por isso, estimulam respostas tão eficientes. Porém, não se conseguiu gerar um parque produtor de bens de consumo de massa, nem sequer se construíram padrões de consumo semelhantes a países com renda e dinamismo muito menores. Por exemplo, o consumo médio de tecidos (metros por pessoa/ano) é muito pequeno, se comparado a países com níveis de renda semelhantes; o mesmo se repete nos casos de consumo de alimentos, calçados etc. Isso tem um significado: ainda existe um enorme espaço a construir no consumo de massa, que não foi priorizado até bem recentemente.

Esse mercado, no entanto, parece estar sendo descoberto nos anos recentes. Vários fatores vêm-se associando para isso. A inflação sob controle, mantendo o poder de compra dos consumidores, a ampliação significativa de programas de transferência de renda para as camadas mais pobres da sociedade, a adoção de uma política de recuperação do valor real do salário-mínimo, ao lado da forte expansão do crédito ao consumidor, são elementos que explicariam a ampliação do consumo da grande massa de brasileiros que vive da renda do trabalho.

Estudos recentes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram os avanços observados na redução dos desníveis de renda no país. Paes de Barros e outros, no Texto para discussão número 1304, publicado em 2007, estudam a redução do grau de desigualdade na remuneração do trabalho e mesmo na renda per capita, na última década. Segundo esses pesquisadores, exceto no que se refere à segmentação entre os chamados mercados formal e informal, todas as formas de discriminação declinaram no país, embora os diferenciais por gênero e por grau de segmentação formal-informal ainda sejam muito elevados (trabalhadores com idênticas características em postos de trabalho similares apresentam diferencial de 40%).

Por sua vez, Sergei Soares e outros, também do Ipea, no Texto para discussão número 1293, publicado em 2007, mostram com clareza o peso dos programas de transferência de renda na redução da concentração da renda do trabalho nos anos recentes, indicando que o impacto sobre a desigualdade equivale a 21% da queda de 2,7 pontos do índice de Gini calculado para a renda do trabalho gerada no país.

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Os dois estudos estariam a sinalizar um novo momento na vida brasileira, com indícios importantes de alteração do velho movimento de reprodução das desigualdades sociais aqui existentes.

Dados de pesquisa do IBGE sobre o comportamento das vendas no comércio varejista (PMC – Pesquisa Mensal do Comércio) mostram duas outras novidades: nos anos recentes, o consumo das camadas mais pobres cresce a taxas chinesas, puxando as vendas no varejo em todo o país, e a liderança nesse comportamento fica com os estados mais pobres do norte e do nordeste.

Estaria sendo desmontada uma velha tendência de reproduzir de forma ampliada as desigualdades sociais e regionais ou o movimento ainda não tem força suficiente para tal? Essa questão não encontra resposta clara e consensual, mas os dados são animadores, pelo menos no que se refere à renda do trabalho.

A terceira explicação está, certamente, no papel do Estado brasileiro. Na verdade, ele foi o grande agente promotor do desenvolvimento econômico, com concentração social e regional de renda, no Brasil do século XX. Quem patrocinou a oligopolização da base produtiva do país foi o Estado. Quem estimulou a orientação da oferta de bens para o exterior e para a demanda das classes de renda alta e média foi o Estado.

Aqui, ele não atua contra-arrastando as tendências naturais de uma economia capitalista. Atua consolidando, reforçando, essas tendências. Em livro de 1994 “Repensando a dependência”, Lídia Goldenstein faz duas observações muito importantes para compreender o papel desempenhado pelo Estado brasileiro na montagem de processos concentradores e geradores de desigualdades.

Ela diz, inicialmente, que aqui atuou um Estado desenvolvimentista – o que é inegável. Ele foi o grande patrocinador da expansão da atividade econômica nos anos recentes. Nesse mesmo período, o estado de bem-estar social se desenvolvia em outras áreas do mundo. Não foi esta a nossa opção. O Brasil nunca teve um Estado essencialmente provedor de educação, saúde, saneamento básico etc., mas teve um Estado que construía estradas, montava sistemas de comunicação, estatizava empresas para modernizá-las e ofertar insumos básicos muitas vezes a preços mais baratos que os custos de produção e assim por diante.

O Estado brasileiro foi o grande condutor do que os marxistas chamariam “desenvolvimento das forças produtivas”. Foi esta a tarefa principal que o Estado atribuiu a si próprio, especialmente na passagem do Brasil agrário-exportador para o Brasil urbano-industrial, no século XX. Essa orientação estratégica, aliás, aparece nos lemas dos diversos governos: “Fazer cinquenta anos em cinco”, de Juscelino Kubitschek, ou “construir o Brasil grande potência”, do período militar. Foram estes os grandes slogans que orientaram a presença do Estado na vida social do país. Por isso mesmo, tem-se um Estado muito ausente no campo social. Todos os meios, toda a energia, estavam concentrados na tarefa de construir a oitava economia industrial do mundo ou o Brasil grande potência.

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Além disso, o Estado desenvolvimentista brasileiro tem outra característica: é um Estado desenvolvimentista conservador. Mesmo no mundo capitalista, existiram Estados contemporâneos transformadores. Dois exemplos são muito interessantes. O Japão não é produto das livres forças do mercado, mas de uma articulação exitosa entre o Estado, os grandes grupos e a sociedade, que tinham um projeto a realizar. Qual foi a grande tarefa do Estado japonês? Disseminar o acesso à educação. Não foi o setor privado que fez isso, foi o Estado. O acesso generalizado a esse bem básico, a esse ativo cada vez mais estratégico que é o conhecimento, deu suporte à trajetória exitosa do Japão. O Estado japonês penetrou na sociedade e democratizou o acesso ao conhecimento. O Estado brasileiro nunca fez isso.

Em pleno século XXI, a revolução educacional ainda está por ser feita no Brasil. As elites nacionais não têm essa sensibilidade e o Estado sempre se negou a assumir a tarefa. Ele fez estradas, produziu energia, concedeu subsídios, financiou investimentos, mas não fez a revolução educacional que o Estado capitalista japonês promoveu.

O segundo exemplo é o da Coreia. Lá, o Estado fez a reforma agrária e ela serviu de base para o desenvolvimento industrial. O Estado interferiu nas relações de propriedade, mirando o ativo terra, e atuou para redistribui-lo. A partir da reforma agrária, estimulou a montagem do parque industrial que depois se internacionalizou. No Brasil, o Estado desenvolvimentista sempre fez o contrário: evitou enfrentar a questão fundiária, herdada de nossa formação colonial. Em todos os pactos políticos dominantes, os oligarcas estiveram presentes e impuseram essa orientação.

A reforma agrária sempre adiada

Não é à toa que, no Brasil, se montou uma fantástica base produtiva industrial e urbana, não se fez a reforma agrária, mas também não houve uma crise agrícola. Este é um país que consegue aumentar significativamente a produção agrícola, colocar cerca de 80% da população nas cidades em menos de meio século e ser um grande produtor de alimentos, sem fazer reforma agrária. Tal façanha foi possível porque a base agropecuária transbordou para o centro-oeste. Nessa região, foi preciso construir cidades, levar estradas, montar sistemas inteiros de comunicação e de armazenagem — tudo isso a custo elevado — para não mexer com a estrutura de propriedade nas áreas de ocupação já consolidada.

Eis aí uma marca do Estado brasileiro como agente histórico da produção de desigualdades, tanto sociais quanto regionais.

Em escassos momentos, o Estado desenvolvimentista brasileiro conduziu políticas regionais ativas e contribuiu para amenizar a trajetória da produção e reprodução das desigualdades entre as regiões ou assistiu suas empresas produtivas investirem na desconcentração da base industrial no amplo território do país.

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Em crise financeira agônica, desde o “choque dos juros”, dado pelos Estados Unidos no final dos anos 70, o Estado brasileiro se tornou deficitário e, endividado, ficou refém de seus credores. Passou, assim, a atuar como agente da concentração da renda nacional, na medida em que serve uma dívida interna que não para de crescer (embora sua relação com o PIB tenha diminuído nos anos recentes) e cuja rolagem só favorece os rentistas, credores dos títulos que o governo tem de emitir permanentemente.

A quarta grande explicação não é econômica, mas cultural. Trata-se da mentalidade das elites brasileiras. Às vezes, como economista, procuro entender por que um país dinâmico como este tem um salário-mínimo tão vergonhoso. Seria possível ter um salário-mínimo maior? Do ponto de vista econômico, sim. Nas fases de grande expansão econômica, em especial, a produtividade do trabalho cresceu muito e certamente comportaria um salário-mínimo muito maior. Mas a visão dos nossos dirigentes – públicos e privados – não é essa. Quem me deu tal certeza foi um grande psicanalista brasileiro, que disse ter aprendido, no seu consultório, a observar um grande problema da sociedade brasileira: somos herdeiros de quatro séculos de escravidão e menos de um século de libertação. E a visão dos que se situam no comando da sociedade ainda é a da escravidão, na qual o trabalhador é visto como alguém que existe para produzir.

Esta não é a visão das elites de todos os países capitalistas. Em muitos deles, se consegue ver o trabalhador como alguém que vai produzir e consumir. Percebe-se que é bom para o dinamismo econômico se o trabalhador tiver renda para consumir, porque isso amplia a economia de mercado. No Brasil, não. Dificilmente existirá no mundo outro país com margens de lucro tão fantásticas e padrões de remuneração do trabalho tão modestos. Por que a economia do Brasil cresceu tanto ao longo de várias décadas no século XX? Em parte, porque as margens de lucro eram elevadíssimas aqui.

Recentemente, um turista que esteve em Recife, hospedado num hotel quatro estrelas, com quase cem leitos e diária de 95 dólares, perguntou à telefonista quanto ela ganhava. A resposta: salário-mínimo. Na outra semana, ele foi à Europa e, coincidentemente, hospedou-se num hotel semelhante, de tamanho análogo e com diária de cem dólares. O faturamento nos dois empreendimentos, a plena capacidade, era, portanto, muito próximo. Nesse segundo caso, a telefonista ganhava muito mais. A margem de lucro associada a tamanha diferença é enorme, mesmo que se considere a existência de diferenciais nos impostos e na taxa média de ocupação. As elevadas margens de lucro estão impregnadas na nossa mentalidade empresarial. A longa experiência do período hiperinflacionário ajudou a consolidar tal distorção.

Uma questão de visão de mundo

O foco da diferença é muito mais profundo: está também na visão de mundo, na percepção que grande parte do empresariado tem de si mesma e do restante da sociedade brasileira. Tal diferença não tem explicação apenas econômica.

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UNIDADE 3 | CITAÇÕES E REFERÊNCIAS

Outro exemplo é o de um recifense que fez uma experiência no condomínio onde mora, servido por seis empregados que ganham um salário-mínimo por mês. Ele fez as contas e viu que seria possível duplicar o salário dos funcionários se cada morador se dispusesse a pagar um pequeno extra na taxa condominial. Levou essa proposta para a assembleia do condomínio – um prédio de luxo à beira-mar – e foi fragorosamente derrotado. O adicional devia equivaler a um lanche que aqueles moradores fazem quando voltam do cinema. Pois bem, as pessoas não quiseram pagar essa quantia por mês para duplicar o salário dos seus empregados.

A razão deve estar associada à mentalidade dos mais ricos, que é assimilada pela classe média e penetra fundo na sociedade. Essa visão está impregnada no tecido social e é muito difícil mudá-la.

Apesar dessas quatro “máquinas” de produção e reprodução de desigualdades, o Brasil vem mudando, muito lentamente, seu perfil estrutural: uma nação economicamente moderna e uma sociedade socialmente frágil. Os avanços na oferta do ativo conhecimento são lentos, mas a sociedade perece mais convencida de sua importância estratégica.

O auge da concentração regional foi atingido nos anos 70 do século passado. Diversos estudos têm mostrado o aumento do peso econômico de regiões como o centro-oeste e norte. E, nos anos recentes, de baixo crescimento médio da economia do país, o nordeste conseguiu revelar potenciais importantes e crescentemente valorizados, inclusive por grandes grupos transnacionais.

Embora o padrão herdado de desigualdades sociais e regionais seja muito elevado para se alterar num curto intervalo de tempo, observam-se novas tendências, em geral menos concentradoras. É um bom começo.

Uma observação final aponta para sinais de valorização da magnífica diversidade regional do país. No passado, a enorme concentração econômica domou a diversidade e um certo afã de ser São Paulo tomou conta do país. Nos anos recentes, as deseconomias de aglomeração ficaram evidentes na Grande São Paulo, e o país dá sinais de redescobrir a importância de sua heterogeneidade ambiental, econômica, social e cultural. E começa a pensar nisso como um trunfo. Essa visão pode ajudar a desmontar uma das “máquinas” de geração de desigualdades, tanto sociais como regionais. Políticas regionais de nova geração, embora incipientes, trabalham esse lado positivo da realidade nacional e aprendem a formular propostas em múltiplas escalas, dissecando em cada uma delas as forças concentradoras e homogeneizadoras e as que a elas se contrapõem, contribuindo para a desconcentração e a valorização da rica diversidade do país.

FONTE: Disponível em: <http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=61d>. Acesso em: 10 jan. 2017.

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RESUMO DO TÓPICO 5Neste tópico, você aprendeu que:

• A inflação é um processo de aumento persistente e generalizado no nível geral de preços de uma economia. A inflação é considerada um fenômeno macroeconômico generalizado, já que os aumentos nos preços não ocorrem apenas sobre um conjunto de preços ou sobre um setor específico.

• Estudamos os diferentes tipos de inflação: a inflação de demanda, a inflação de custos e a inflação de inercial.

• A inflação de demanda refere-se ao excesso de demanda agregada em relação à produção disponível. Significa muito dinheiro, muita procura e pouca oferta de bens e serviços.

• Vimos que a inflação de custos, provocada pelo aumento de custos, diminui a oferta agregada. Neste caso, a demanda não se altera, mas os custos dos insumos importantes aumentam, sendo repassados ao preço dos produtos.

• Dentre os efeitos da inflação, podemos citar a redução do poder aquisitivo da população que depende de um rendimento fixo. Já aqueles que possuem uma renda variável, e mesmo os especuladores, tendem a sentir menos os efeitos da subida geral de preços.

• Podemos citar ainda, o efeito do processo inflacionário sobre o perfil dos investimentos, podendo ser direcionados à especulação e não a projetos de longo prazo.

• Efeitos sobre o balanço de pagamentos também podem ocorrer, como o encarecimento dos preços internos em face dos externos, favorecendo as importações. Mesmo as políticas do governo para retrair a importação podem levar à elevação de produtos essenciais (petróleo, por exemplo). Assim, os custos internos de produção aumentam.

• Vimos que o governo é quem combate à inflação por meio de políticas de contração de demanda e de controle dos preços e dos salários.

• A inflação no Brasil é calculada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, calculado pelo IBGE.

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1 A inflação é um fenômeno que atinge muitas economias. Se ela não for controlada, resulta em inúmeros problemas socioeconômicos, principalmente para aqueles que têm uma renda fixa. Afinal, com a elevação dos preços, os salários “ficam menores” e as pessoas perdem o poder de compra. Um dos tipos mais comuns de inflação é a de demanda. Para controlar esse tipo de inflação, o governo pode utilizar alguns instrumentos de política fiscal e de política monetária. Com base nisso, responda:

a) Quais medidas de política fiscal devem ser tomadas para controlar a inflação de demanda?

b) Quais medidas de política monetária devem ser tomadas para controlar a inflação de demanda?

2 A inflação é um processo de aumento contínuo e generalizado dos preços de uma economia. Podemos distinguir três tipos de inflação: a de demanda, a de custos e a inercial. Sobre uma inflação de custos, ela pode ser provocada:

a) Por uma elevação dos gastos do governo.b) Por aumentos reais nos salários (acima da inflação e do aumento da

produtividade) e demais insumos produtivos.c) Por uma redução dos impostos cobrados pelo governo.d) Por uma redução do poder de compra dos consumidores.

3 A inflação está presente tanto em países em desenvolvimento, quanto nos países desenvolvidos. Este processo gera problemas econômicos, sociais e políticos. Quais efeitos a inflação provoca sobre a população que vive de renda fixa?

AUTOATIVIDADE

4 Imagine que você foi ao supermercado e percebeu que o preço do quilo de feijão aumentou. Apesar disso, os preços dos demais produtos continuaram iguais, ou seja, sem alteração. Nesse caso, podemos dizer que a taxa de inflação está aumentando?

5 A inflação resulta na perda do poder aquisitivo da moeda. Podemos distinguir três tipos de inflação: a de demanda, a de custos e a inercial. Sobre as características de cada um destes tipos, relacione a primeira coluna com a segunda:

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(a) Inflação inercial(b) Inflação de custos(c) Inflação de demanda

( ) Uma das explicações para sua ocorrência associa-se aos choques de oferta.( ) Refere-se ao excesso de demanda agregada em relação à produção disponível.( ) A taxa de inflação é incorporada ao comportamento dos agentes econômicos.( ) Para combatê-la é necessário diminuir os gastos do governo e aumentar a

carga tributária.

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