eduardo chagas - a majestade da natureza em ludwig feuerbach

16

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Page 1: Eduardo Chagas - A Majestade Da Natureza Em Ludwig Feuerbach

PresId

ente d

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úb

lic,aLuiz inácio Lula da Silva

MIn

istro da E

du

caçãoFernando H

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UniversIdade P

ederal do C,eará

Reltor

Prof. Jesualdo Pereira Farias

VIce-R

eitor

Prof. Henry de H

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Editora U

PC

Diretor/E

ditorProf. A

ntônio Cláudio Lim

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ente

Prof. Antônio C

iáudio Lima G

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selheiros

Pror. Adelaide M

aria Gonçalves Pereira

Pror. Angela M

aria R. M

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Prof. Gil de A

quino FariasProf. Italo G

urgelProf. José Edm

ar da Silva Ribeiro

Srie P

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Prof. Odilio A

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Prof. Abel Lassalle C

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Prof. Cláudio B

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ilson Azevedo

Prof. Eduardo Jardim

Prof. Guido Im

aguire

Pror. Maria A

parecida P. Montenegro

Prof. Tarcisio Haroldo Pequeno

Hom

em e N

aturezaem

Ludw

ig Feuerbach

Fortaleza2009

Page 2: Eduardo Chagas - A Majestade Da Natureza Em Ludwig Feuerbach

A M

AJE

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E D

A N

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UR

EZ

A E

M L

UD

WIG

FE

UE

RB

AC

H

Eduard

o IT

Chagas*

Irei aqui desenvolver e explicar o conceito de na-tureza em

Feuerbach. C

onquanto ele não tenha empre-

endido, infelizmente, um

a formulação com

pleta de suaconcepO

o de natureza como urn todo, isto é, rid() tenha

deixado nenhuma filosofia da natureza explicita e acabada

e também

não tenha redigido nenhum escrito porm

enori-zado e sistem

atizado acerca da natureza, ha, todavia, emsua obra, é'm

diferentes passagens, uma abundância de

aforismos, eP

igramas, definitionen e reflexöes filosóficas

sobre a natureza. Assim

, o conceito de natureza de Feu-

erbach foi desdobrado, em sua obra, na verdade apenas

de maneira fragrt

ntada, mas ele esti, apesar disto, no

centro de sua filosofia. 0 desenvolvimento e a transform

a-çâo desse conceito perpassam

, de certa maneira, com

ofib condutor a totalidade da obra de F

euerbach, abremurn cam

inho para entender a sua filosofia como crítica

ao tefsmo (T

heismus) e ao idealism

o (Idealismus) e nos

permitem

trata-la sistematicam

ente.A

auséncia de uma sistem

atização, ou seja, de uma

precisão ou de uma clara posição no que se refere ao con-

ceito de natureza em Feuerbach encontra-se fundam

entadonisto: que a pretensão principal de sua filosofia é, com

oacim

a aludido, a crftica ao tefsmo (sobretudo ao C

ristia-

• Doutor em

Illosofia (Kassel, A

lemanha). P

rofessor-Doutor da G

raduacao e P6s-

eICIU

Udy20 oo uepartam

ento de fllosofia da Universidade F

ederal do Ceara - U

FC

eC

olaborador do Prograrna de POs-G

raduação da Faculdade de Educação (FA

CED

) daU

FC

. etchagas©uol.com

.br.

37

52

Page 3: Eduardo Chagas - A Majestade Da Natureza Em Ludwig Feuerbach

38

nismo) e ao idealism

o (especialmente ã filosofia de H

egel),os quais são deficitårios em

relação ã natureza, visto queeles não só abandonaram

, mas, sobretudo, m

enospreza-ram

a consideração da natureza. A falta em

Feuerbach deum

a reflexion decidida, explicitamente form

ulada sobre anatureza, pode, consequentem

ente, ser entendida, em prin-

cipio, como expressão da ausencia de um

a tematização da

natureza no teismo e no idealism

o em geral. A

cerca destaproblem

åtica deve ser aqui estabelecida, inicialmente, a tese

de que a natureza (Natur) em

Feuerbach possui o primado-

ante o espirito; ela é a primeira estrutura da existencia e

diante dela se põe o entendimento com

o algo secunclårio.P

ara Feuerbach, a natureza m

aterial, que existe, em sua

diferencialidade qualitativa, fora e independentemente

do pensar, é em face do espirito o prim

eiro, o originårio,o que produz tudo de si e não pode ser pensada com

oproduzida, pois ela acha seu sentido tão-som

ente em si

mesm

a. A natureza, entendida com

o totalidade, como

unidade orgånica, como harm

onia de causas e efeltos,com

o pressuposto necessårio para todos os objetos, fe-nôm

enos e criaturas, plantas e animais, inclusive para a

natureza humana, fornece a F

euerbach o fundamento de

sua critica ao teismo e ao idealism

o, isto é, ela é o motivo

de sua konfrontation com am

bos, os quais desconhecemcom

pletamente a autonom

ia e a independência danatureza, porque eles a concebem

meram

ente como obra

de um criador, ou com

o puro desdobramento e exterio-

rização da atividade do espirito. Em

ambos os sistem

asfoi a natureza tratada, portanto, não com

o um existente

objetivo, independente, autônomo, m

as deduzida apenascom

o uma grandeza dependente e inconsistente em

sim

esma. A

ssim com

preendido, mediante um

entendimento

da natureza que se baseia nas caracteristicas imanentes a

ela desenvolvimento continuo de intervenções, progresso

de evoluções e catåstrofes, imediaticidade, autonom

ia, regularidade universal (lei), exercida im

pessoal e logica-m

ente, necessidade, dinamicidade - Feuerbach form

ularå

não só sua critica ao teismo e ao idealism

o, como tam

bémalicerçarå, na m

aturidade, sua própria ética.A

natureza é, para Feuerbach, não só o que limita,

mas tam

bém a potencia que assegura ao hom

em a pos-

sibilidade, a condição para satisfazer suas necessidadesm

últiplas. Natureza, assim

diz ele, "é tudo o que se mostra

ao homem

, abstraido das sugestões supranaturalisticas dacrença deistica, im

ediatamente, sensorialm

ente como base

e objeto de sua vida." Em

bora a concepção de natureza deFeuerbach não seja atom

istico-mec.ånica, - já que para ele

a natureza não é nenhuma m

áquina, nenhuma pura "res

extensa", sem vida, nenhum

a grandeza lógico-matem

åtica,isto é, nenhum

universo que se movim

enta necessaria-m

ente segundo leis mecånicas são a ele "sensibilidade",

"vivacidade", "vitalidade", "fisicalidade", "exterioridade"conceitos-sim

ilares para a existencia material da natureza,

pois a naturezA que existe real, objetivam

ente, expressa suaexistencia m

aterial atrayés de efeitos fisicos, fenômenos

naturais, que existem não apenas idealm

ente no enten-dim

ento, mas constituem

também

para o homem

efeitossensiveis, ob,senrados sensivelm

ente. As teses fundam

entaisdo conceito de natureza em

Feuerbach contra o teismo e o

idealismo podem

ser sintetizadas assim:

A natureza é, em

primeira linha, um

a verdadedada aos sentidos. C

omo objeto dos sentidos, ela

não é um produto nem

da atividade de um puro

eu, do desenvolvimento do espirito, nem

do atoarbitrårio de um

Deus ficticio, sobrenatural, m

as,pelo contrårio, um

a essencia autônoma que existe

independentemente da consciencia hum

ana.

Natureza [...] é tudo o que tu vés e não se origina

das mãos e dos pensam

entos humanos. O

u, sequiserm

os penetrar na anatomia da natureza, ela

FBU

ERB

AC

H, L. V

orlesu

ngen

über d

as Wesen

der R

eligio

n. O

rganizado por Werner

Schuffenhauer.A

kademie V

erlag, 1967. OW

6, p. 104.

Page 4: Eduardo Chagas - A Majestade Da Natureza Em Ludwig Feuerbach

40

2F

2 lbidem., p. 105.

3 Ibidem., p. 104.

christlichen Altertum

s. Organizado por W

erner Schuffenhauer. B

erlin: Akadem

ieV

erlag, 1969, OW

7, p. 259.

o cerne ou a essência dos seres e das coisas cujosfenom

enos, exteriorizagoes ou efeitos, nos quaisexatam

ente sua essência e existência se revelam e

dos quais constam, não tern seu fundam

ento empensam

entos, intengies ou decisCies do querer, m

asem

forças ou causas astronômicas, cósm

icas, [...]quim

icas, fisicas, fisiológicas ou organicas;2

2. a natureza e incriada, eterna, nao deduzivel; elaé em

si mesm

a, existe apenas por Si e rid° por

meio de um

a outra essencia;3.

a natureza é necessaria. Forque eta é, é eta ne-

cessaria, e exatamente assim

como ela é, isto

é, correspondendo as suas próprias leis. Se, a

saber, tudo o que é, é necessariamente por m

eioda natureza, assim

nao tem sentido aceitar urn

espirito ou urn Deus criador que planeja para o

esclarecimento da natureza e, por fim

,4.

a natureza corresponde apenas a si mesm

a.

A palavra "natureza" designa a essencia de todas as

for9as, coisas e seres sensiveis que o homem

distingue desi com

o rid° humanas. "E

ntendo em geral sobre natureza",

assim esclarece Feuerbach,

[...] certamente com

o Spinoza, m

as rid° urn sercom

o o Deus supranaturalistico, que existe e age

corn vontade e razão, mas que atua som

ente con-form

e a necessidade de sua natureza; eta tido é param

im D

eus, como é para Spinoza, ou seja, urn ser

ao mesm

o tempo sobrenatural, transcendente, [...]

misterioso, sim

ples, e sim urn ser m

áltiplo, [...] real,perceptivel corn todos os sentidos.3

A natureza é, pois, apenas explicavel, quando se

reconhece que eta nao é nenhum ser abstrato, despojado

de existencia, mas a unidade da diversidade das coisas

que sao concretas; ou melhor, eta é a m

ultiplicidade dosexistentes singulares, e fora dela nada tern existencia real,a nao ser pensam

entos e representa95es.

Diante do teism

o e do idealism°, que deduzem

anatureza de D

eus ou do espirito, Feuerbach argumenta o

seguinte:1.a natureza precede o espirito e, por isso, é a baseorganica dele;

2.o espirito é, pelo contrario, produto da natureza,tam

bém funktion de urn órgao natural, do cére-

bro humano, ou seja, atividade que não esta fora

do corpo e dos sentidos, e3.

Deus, com

o criador da natureza, do mundo, é, em

- verdade, apenas o espfrito do homem

pensadouniversalm

ente. A aceitação de urn D

eus, de uma

crfacao espiritual da natureza, por assim dizer, de

uma transferencia das representa95es do espfrito

sobre a natureza esti em com

pleta oposicaoexistencia da natureza. "E

x nihilo nihil fir (donada nada vem

), isto é, uma lei da natureza e da

razao, válida universalmente. U

rn mundo, criado

em oposição a esta lei fundam

ental, é uma con-

tradição consigo mesm

o, uma contradição corn

todas as leis da natureza, é, em sintese, o m

undoinvertido da teologia, em

que o pensamento é

anterior a matéria, a coisa do pensar, ou seja, a

criança anterior a mae, a gram

a ao so1."4 Feuer-

bach pergunta: como se pode deixar surgir "seres

irracionais de um ser racional? C

omo pode urn

espfrito criar seres sem est:alto?" N

a verdade, se"um

Deus existe, é a existencia do m

undo inexpli-

41 51

Page 5: Eduardo Chagas - A Majestade Da Natureza Em Ludwig Feuerbach

42

-§1

cável, porque ela [seria] inteiramente supérflua."5

objeção teistico-idealista "como pode o hom

emsurgir da natureza, ou seja, o espirito da m

atéria",opõe Feuerbach o seguinte:

Responda-m

e, sobretudo, primeiro a pergunta:

como pode nascer do espirito a m

atéria? 11.1 näoachas para esta pergunta nenhum

a resposta, pelom

enos racional, assim tu reconheceräs que apenas

a resposta oposta conduz a ti para o objetivo."6

Não a dedução do espirito da natureza, m

as, pelocontrário, a deduktion da natureza do espirito,é, pois, um

problema insolúvel. Para Feuerbach,

racional começar com

a natureza e só daquipassar para o hom

em, para o espirito.

Os argum

entos, que se poderia apresentar para adefesa da tese feuerbachiana no que tange ao prim

ado danatureza e do nascim

ento do homem

dela, ou seja, de seuesclarecim

ento por ela, podem ser resum

idos assim:

1. A natureza não pode ter sido deduzida do espirito,

já que ela possui uma qualidade com

pletamente

diferente dele; mas o espirito pode ser deduzido

dela e esclarecido por ela, uma vez que o hom

em,

como criação da natureza, é a identidade de todas

as oposições, isto é, a unidade do espiritual como natural. 0 hom

em, no qual a natureza veio ã

consciéncia, sabe de si, conhece a si como unida-

de real, viva, do espirito e do corpo, de todas asqualidadés ativas e passivas, espirituais e sensi-vels. A

qui jaz para Feuerbach o verdadeiro cerneda unidade do pensar e do ser, pois o espiritohum

ano, como sujeito autônom

o,

5 FE

UE

RB

AC

tl, L. Vorlesungen über das W

esen der Rellgion. O

p. ciL, p. 161-162.

• ITO

,yr,tcJUC

Z4.41

CIA

LG

II C.1

glAllIA

"v

a •

ganizado por Werner Schuffenhauer. B

erlim: A

kademie V

erlag, 1971. OW

10, p. 179.

que jä näo tem fora de si de nenhum

a coisa e, porconseguinte, m

ais nenhum lim

ite, jä näo é sujeito'finito' - jä não é o eu, a que se contrapõe o obje-to - é o ser absoluto, cuja expressão teológica oupopular é a palavra D

eus. É, sem

dúvida, o mesm

osujeito, o m

esmo eu, com

o no idealismo subjetivo

- mas sem

limite-s; é o eu, m

as que jä näo parecetam

bém ser eu e, por conseguinte, tam

bém jä näo

se chama eu.7

0 espirito (o eu) não é, pois, apenas sujelto parasi, m

as também

simultaneam

ente predicado deum

a esséncia real; ou seja, ele não é, de modo

nenhum, por si m

esmo com

o tal, mas por si

como esséncia corporal, sensivel; pela corpo-

reidade ele estã aberto ã natureza, ao mundo,

- pois estar no corpo quer dizer nada mais do que

estar no mundo.

2. A riatureza não pode ser deduzida do espirito,

porque o inferior (o anterior) não pode ser es-clerecido e deduzido do superior (do posterior),m

as ante9, pelo contrário, o superior do inferior,com

o todo desenvolvimento prova. D

eduzir anatureza do espirito é, por conseguinte, ilógico,sem

sentido, pois por que se deve fazer passar osuperior por algo inferior, o kom

plex pelo sim-

plex, o "perfeito" pelo "imperfeito"? Feuerbach

advoga que a natureza produziu de si mesm

ao hom

em; ou seja, ela é a esséncia da qual o

homem

nasceu e pela qual se mantém

a suaexisténcia. A

natureza

[...] compreende o hom

em, é ela cuja aniquilaçäo

significa também

a própria aniquilaçâo da existénciahum

ana; somente através dela consiste o hom

em,

somente dela depende ele em

toda a sua atividade,

FEUER

BA

CH

, L. Grunricätze der P

hilosophte der Zulcunft. O

rganizado por Werner

Schuffenhauer. Berlin: A

kademie V

erlag, 1970. C1W

9, p. 299.

Page 6: Eduardo Chagas - A Majestade Da Natureza Em Ludwig Feuerbach

44

521

em todos os seus passos. A

rrancar o homem

danatureza significa o m

esmo que tirar os olhos da luz,

o pulmão do ar, o estom

ago dos alimentos e querer

fazer deles seres existentes por Si mesm

os.8

o homem

é urn produto da natureza, uma obra

dela; ele deve, por isso, trata-la e estimA

-la como

"sua mãe", com

o a fonte de seu ser. JA que ele

deve seu nascimento e sua m

anutenção apenasA

s forcas e efeitos naturais, depende ele, porconseguinte, da natureza; quer dizer, ele não énenhum

ser sem necessidade, m

as urn organis-m

o que pressupoe as determinaçoes da natureza,

Agua, ar, alim

ento etc.3. F

or fim, considerar o espirito com

o a premissa

da natureza é sem sentido, pois não se pode ser

indicado de onde ele toma a determ

inação paraa m

atéria. Não é, portant°, o espirito a origem

e a razão de ser da matéria; pelo contrA

rio, anatureza deve ser vista com

o o fundamento do

espirito, isto é, como um

fundamento que não

tern nenhum fundam

ento fora de si mesm

o. 0espirito pode desenvolver-se, assim

, apenas danaturez,a orgA

nica; na verdade, ele é, no homem

,o superior, pois, através dele, o hom

em diferen-

cia-se do anima1.

9 1st° não significa, de modo

FEUER

I3AC

H, L. V

orlesungen über das Wesen der R

eligion. Op. cit., p. 91.

9 Nos Principlos da Filosofia do ficturo, F

euerb

ach

chama a atencio para o fato de

que o homem

de nenhum m

odo se distingue do animal so pelo pensam

ento. "Sua

essêncla toda é, pelo contrário, o que o distingue do animal." E

le indica ainda: "0hom

em nä° 4 urn ser particular com

o o animal, m

as urn ser universal, par conse-guinte, não é urn ser lim

itado e cativo, mas urn ser ilim

itado e livre; corn efeito, auniversalidade, a ilim

ita9Ao e a liberdade são inseparáveis. E

esta liberdade também

não reside numa faculdade particular, no querer, na verdade, da m

esma m

aneira queesta universalidade M

c> Sc situa num

a disposição espedal da faarldade de pensar, naratho - esta liberdade, esta universalidade estende-se ao seu ser total. Sem

clOvida,

os sentidos animals sto m

ais apurados do que os humanos, rnas apenas em

relacãoa com

as determinadas, necessariam

ente conexas corn as necessidades do animal, e

são mais agudos Justarnente par causa desta determ

ination, desta limitação exclusiva

nenhum, que ele seja o prim

eiro de acordo corno desenvolvim

ento natural. 0 espirito, isto é, osuperior, o com

pleto, é, ao c,ontrário, resultado,sem

pre o ültirno, o posterior. No espirito hum

ano,a natureza atinge o A

pic,e de seu desenvolvimento;

af ela se torna urn ser pes,soal, autoconsciente,inteligivel; ou seja, no hom

em, a natureza tom

aconsciencia de si m

esma. 0 hom

em é, pois, um

ser qualitativamente diferente de todas as outras

formas de existencia na natureza."

Em

bora não haja em Feuerbach nenhum

a concep-ção uniform

e, homogenea e inequivoca da natureza, 6-nos

permitido constatar o seguinte: a referencia A

autonomia

da natureza (Selbständigkeit der Natur) é o fundam

ento dacritica, ou m

elhor, o cerne da reaktion feuerbachiana contrao teism

o e o idealismo, que se desdobra em

tres diferentesfases de desepyolvim

ento: 1. como aproxim

ação critica aopanteism

o (identidade da natureza corn Deus), 2. com

orecusa direta A

teologia cristã e A filosofia hegeliana (a natu-

reza como criação de D

eus ou como deduktion do espirito)

e 3. como critica p

grcial a religião da natureza (antropo-m

orfização ou personificação da natureza). Nos escritos de

juventude dos anos 20 e 30 do século XIX

, particularmente

a Dissertagdo sobre a R

azão (Dissertation über die V

ernunftou D

e Ratione una, universali und infinita) (1828), os Pen-

samentos sobre a N

orte e a Imortalidade (G

edanken iiber

a algo de determinado. 0 hom

em não tern o faro de urn aio de caça, de urn corvo;

mas apenas porque o seu olfato pode abranger todas as esp4cies de odores, por

isso é um sentido livre e indiferente a respeito de odores particulares. M

as onde umsentido se ergue sobre os W

rites da particularidade e de sua vinculação a necessidade,eleva-se ai a urns significação e dignidade autonom

as, teóricas: sentido universalo entendim

ento, sensibllidade universal é espiritualldade. Mesm

o os sentidos infe-riores, o olfato co paladar, se elevam

no homem

a atos espirituals." Cf. FE

UE

RB

AC

H,

L. druncisiitze der Philosophie der Zulcunft. Op

. cit., p.335-336.''' C

f. HO

ITH

ER

, J. Ludw

ig reuerba.chund seine materialistische W

eltanschauung In

p. 302-355, e JE

SS

III, M. I. D

ie materialistL

sche Philosophic ludw

ig reuerbachs.B

erlin, 1956. p. 3-41.

Page 7: Eduardo Chagas - A Majestade Da Natureza Em Ludwig Feuerbach

1

7bd und Unsterblichkeit) (1830), a Introdução à L

ogica eM

etafisica (Einleitung in die L

ogik und Metaphysik) (1829-

1930), a tïistória da Filosofia M

odema (G

eschichte derneueren Philosophie) (1835

-1936) e aApresentaçã o, D

esen-volvim

ento e Critica da Filosofia L

eibniziana (Darstellung,

Entw

iclung und Kritik der L

eibnizschen Philosophie) (1837),trata Feuerbach a natureza de um

ponto de vista panteista.P

artindo de um panteism

o que se orienta sobretudo emG

iordano Bruno, Jakob B

õhme e B

aruch Spinoza, ele tenta,já nesse periodo, restabelecer, em

face da depreciação danatureza pela religião cristã e em

oposição ã identidadeform

al de pensar e ser postulada pela filosofia hegeliana,um

a reconciliação entre ser e pensar, uma unidade entre

natureza (matéria) e D

eus (espirito). No panteism

o ele vé, naverdade, não só tal reconciliação, m

as também

a superaçãodo subjetivism

o e da personificação de Deus (de um

Deus

transcendente), e, por isso, o panteismo sinaliza para ele a

solução para os problemas filosóficos fundam

entais. Nem

cristianismo, nem

idealismo podem

solucionar adequada-m

ente tais problemas, porque eles não tém

formulado um

arelação adequada para a natureza. A

ssim com

o no idealismo,

em geral, tam

bém no cristianism

o o eu domina o m

undo ese considera com

o o Único ser espiritual que existe; nele estã

salvo apenas a pessoa, não a natureza, o mundo; centraliza-

do no eu, na pessoa, o cristianismo é apenas um

a religião,na qual se revela um

abandono completo da natureza, pois

nele foi consumado um

a separação entre a natureza e Deus.

Enquanto para o teism

o o espirito é imaterial, não sensivel,

transcendente, e Deus um

a esséncia absoluta que existepara si, personificada, extram

undana ou estranha ao mundo,

admite, ao contrário, o panteism

o, abstraindo aqui as suasdiferentes tradições, D

eus imerso na natureza; com

isto, elede,staca a unidade do m

undo com D

eus (com o espirito). Se

a caracteristica essencial do teismo é, por conseguinte, o

isolamento de um

a esséncia do pensamento, abstraida da

Em

sua obra anônima, Pensam

entos sobre Morte e

Imortalidade (G

edanken über 7bd und Unsterblichkeit ou,

resumidam

ente, Tbdesgedanken) (1830), o jovem

Feuerba-ch concebe D

eus panteisticamente, pois E

ste é, para ele,o ser que une a naturez,a e o hom

em, o todo do existente.

Portanto, Feuerbach concebe Deus não com

o sujeito, como

pessoa, isto é, como m

odelo, imagem

ou retrato da per-sonalidade hum

ana, o que seria, para ele, um ser superfi-

cial, sem profundidade, m

as como o todo, o fundam

entouniversal do kosm

os inteiro, isto é, não só do hom

em,

como tam

bém da natureza. E

m oposição ã tradição teista,

para qual Deus com

o pessoa absoluta, pura, representao espirito superior ou a autoridade sagrada, desprendidoda natureza, trata-se para o jovem

Feuerbach de conceberD

eus também

como natureza.

11 E

le defende, de maneira

radical, o panteismo:

Se censuras o puro panteism

o, porque ele fazde D

eus o todo, entšo tu deves se deparaf•coma reprovação de representar o pior panteism

o, opanteism

o particular. Pois, ao pensar Deus só sob

a determinhção do ser-em

-si e do saber-de-si ou,m

elhor, do ser-para-si, e, por conseguinte, só soba determ

inação da particularidade e da diferencia-lidade, então tu elevas, precisam

ente, o algo, nãocertam

ente o todo, mas o particular, ã condição

de absoluto.12

" Deus é nem

pura natureza, nem puro e.spirito, m

as Ele contém

ambos os m

omen-

tos necessariamente: natureza e espirito. C

f. AS

CH

ER

I, C. Feuerbachs B

ruch rnit derSpekulatton. Einleitung zur krtlischen A

usgabe uon ikuerbach: Notw

endigkett etnerVeranderung (1842). Frankfurt am

Main: E

uropa Verlag W

ien, 1969. p. 26 e 36: "OD

eus de IbdesgedanIcen é 'espiritd, tem em

sua esséncia ambos os polos: cons-

ciéncia e natureza." Em

7bdesgedanken, Deus náo é, com

o o referido autor escreveadiante, "um

a pessoa absoluta, diferente da natureza e em oposição a ela, m

as Ele

comprende em

sua esséncia também

a natureza [...). Deus é não apenas pessoa,

mas tam

bém natureza, tam

bém esséncia e substáncia e, enquanto tal, principio da

47 {1.1.3

12 FEUER

BACH

, L. dedanken über Tbd und Unsterblichkeit. O

rganizado por Wem

erS

chuffenhauer. Berlim

: Akadem

le Verlag, 2000. O

W 1, p. 213.

Deus no interior da natureza.

Page 8: Eduardo Chagas - A Majestade Da Natureza Em Ludwig Feuerbach

48

a4

"TU

nao podes agora", pergunta ele, então, ao ini-m

igo imaginario do panteism

o,

[...] elevar-te também

ao pensamento de que D

eusé tudo e, por sua vez, consciente de si; que E

le, aosaber de Si m

esmo, sabe tudo com

o Si e a si m

esmo

como tudo? M

c) podes também

unir o ser-para-side D

eus corn seu ser-todo.13

Abstraindo do panteism

o (Pantheismus), Feuerbach

designa todas as outras doutrinas de "egoism°, zelo de Si

mesm

o, vaidade, cobiga, mercenaria, idolatria"."

. Fara o

jovem Feuerbach, tido ha nenhum

a discrepancia entre Deus

e Natureza, pois se D

eus

"nio é pura e simplesm

ente pessoa absoluta, istourn puro quem

sem o que, um

a pessoa sem ser [...],

mas é pessoa e sim

ultaneamente ser", então ele,

"como D

eus, como pessoa autoconsciente, é urn ser

diferente de todos as seres", é também

"natureza".15

Assim

, para o jovem F

euerbach, Deus M

c, é urnsujeito puro, pois ele contém

em si tam

bém sua diferença,

que é, precisamente, a natureza. Se a natureza nao se en-

contrasse presente em D

eus, estaria a diferença, o impulso

da atividade, o comego e o principio da vida fora D

ele, e,assim

, Ele seria urn ser rid° absoluto, nao independente,

nao autonomo, sem

espirito. Deus é, portant°, nem

uma

personalidade pura, sem espirito, sem

alma, nem

uma natu-

reza pura, uma m

atéria ou colecao de objetos mortos, m

astotalidade, generalidade, universalidade. D

eus se diferenciade tudo aquilo que E

le nao é, mas E

le é tudo. "Ele é", com

adiz Feuerbach, "uno consigo e uno para si, na m

edida emele é uno corn o todo."

16Isto porque sua esséncia e seu ser

" Ibid

em., p

. 213.

p. 216.

Ibid

em., p

. 212.

constituem, precisam

ente, toda a esséncia e todo o ser, enao ser do algo, ser do particular, ser do singular. A

ssimcom

o Deus, é a natureza, tam

bém, totalidade, universali-

dade. Em

bora Deus e natureza contenham

, aqui, o mesm

oconteado, a saber, o todo, eles se diferenciam

pela forma

como o todo aparece. 0 todo, com

a esta em D

eus e é Deus

mesm

o, é urn ser uno, absoluto feito unidade, e, par isso,E

le é ser para si mesm

o, o ser do todo; o todo, como esta

na natureza e é natureza, é, ao contrario, a multiplicidade

organica dos objetos e dos fenômenos sensivelm

enteobservaveis, experim

entaveis. Nao se trata aqui, todavia,

apenas de uma diferensa puram

ente formal entre a uni-

, dade e a pluralidade, pois Deus com

a o todo universal sefundam

enta no fato de que Ele se m

anifesta nä.° som

entena unidade, m

as também

na diferença, nao apenas nauniversalidade, m

as também

na singularidade, porqueE

le representa nao so o limitado, bem

assim o ilim

itado.F

euerbach quer livrar o conceito de Deus de um

a con-cepcs ao subjetiva, que entende D

eus coma pessoa, para

fundamenta-lo no sentido panteista.N

uma clara oposi9ao a teologia m

onoteista-crista,que faz da esséncia hum

ana a origem de D

eus e da natu-reza urn produto da creatio ex nihilo, concebe o m

isticoJakob B

ohme a natureza (a m

atéria) corn inerente a Deus,

inseparavel dele. E Spinoza identifica D

eus corn a naturezam

esrna (dens sive natura) e esclarece esta coma a génese

do homem

; mediante a naturez,a (a substancia divina) ele

supera, então, a contradição de Descartes entre m

atéria(res extensa) e espirito (res cogitans). A

aproximação de

Feuerbach a essas formas de panteism

os, concebidas par13iihm

e e Spinoza, foi, contudo, superada posteriormente,

nos anos de 1836-1937, sobretudo em seu escrito contra

Spinoza. Em

oposição ao panteismo, no qual a natureza e

Deus foram

conc,ebidos corno idênticos e a matéria tratada

divino da extensio), Feuerbach quer nao mais um

a identi-

Page 9: Eduardo Chagas - A Majestade Da Natureza Em Ludwig Feuerbach

50

3

fikatio

n da substância com

a natureza, uma im

anéncia deD

eus no mundo, isto é, não m

ais um "D

eus siu

e natu

ra" (umD

eus que é tal como a natureza), com

o que designa95es dasubstância Ú

nica, infinita (Deus e naturez.a são um

= pan-teism

o), mas a separação entre D

eus e natureza, ou seja,a decisão "au

t Deu

s, aut n

atura" ( ou D

eus ou a natureza).O

nde Deus foi identificado, em

sentido abstrato, com a na-

tureza ou, ao contrário, a natureza objetiva confundida comD

eus, lã não estão nem D

eus nem a natureza. Isso significa:

ele quer esclarecer nem a natureza com

o algo divino, nemD

eus como algo im

anente ã natureza, mas, pelo contrário,

a natureza autônoma sem

Deus. S

ob a premissa, D

eusse m

anifesta na natureza, o panteismo venera a natureza,

diviniza o real, o que existe materialm

ente; por isso, elena verdade, um

a negatio

n da teologia, m

as baseadaainda em

posições teológicas. E,ssa censura de Feuerbach

se dirige contra todos aqueles que veem na natureza um

aexpressão de D

eus ou uma corporificação de um

a ideia.E

m verdade, teism

o e panteismo são, para ele, m

undosextrem

os, invertidos: no teismo, a diferença entre espirito

e natureza é absolutizada, porque o homem

diviniza aquiapenas a si m

esmo; no panteism

o, a natureza foi, ao in-vés, adorada, pois aqui o hom

em projeta na natureza sua

prõpria esséncia.A

natureza é, sim, o principlo, a esséncia, da filoso-

fia spinoziana. Mas a natureza de Spinoza não é nenhum

objeto da sensibilidade, nenhum exterior, externo, nenhum

outro visivel, manifesto, m

as uma esséncia abstrata, não

sensivel, metafisica, que não tem

nenhuma realidade fora

da substância (de Deus). A

natureza, deduzida por ele te-ológica ou m

etafisicamente com

o objeto de Deus, não

para se entender como natureza em

sentido qualitativo,objetivo e sensivel, pois ela está separada da divisibilida-de, da m

ultiplicidade e de todas as determinações que ela

contém em

sua realidade sensivel, objetiva. Ante Spinoza,

para quem a natureza

a expressão das qualidades internas de Deus, com

o sin-gularidade, perfeição, eternidade, universalidade etc., poisD

eus como substância é para ele a natureza infinita, pura,

não a natureza finita, "suja" ou "manchada", Feuerbach a

designa, em verdade, com

o fundamento e objeto sensivel,

qualitativo e material da vida hum

ana. Não hã em

Feuerba-ch um

dualismo entre natureza criadora e natureza criada,

entre natureza indeterminada e determ

inada, pois hã paraele, na realidade, apenas um

a natureza, à qual o homem

deve a sua existéncia. A position de Spinoza, segundo a qual

a natureza é indivisivel, simples, sem

diferença, expressatão-som

ente uma concepção ab,strata de natureza. Sob este

aspecto, poder-se-ia suscitar perante Spinoza as seguintesquestões: com

o se pode reduzir a natureza, ante a totalida-de de seus elem

entos, na forma de um

a simples substância?

Se a natureza divina não se apresenta nas plantas, nem nos

animais, nem

, pos homens, nem

no universo das coisasfinitas, que sentido se ergue, então, para se falar aindade natureza? C

omo pode um

a natureza finita, qualitativa,objetiva, na qual valem

, por exemplo, as leis pretensas da

natureza, ser ainda pensada na e com a natureza absoluta-

mente infinita? C

omj

é possivel uma natureza atem

poral,não externa, sim

ples e indivisivel determinar o com

posto,a pluralidade, isto é, a natureza realizada? A

tais questõesSpinoza não dã nenhum

resposta.A

ssim, evidencia-se aqui, na filosofia spinoziana,

uma falha que provém

da absoluta indiferença que a subs-tância tem

para a determinidade, e seus atributos são, por

isso, nela e em si indiferentes e infinitos. A

substância como

existéricia (como realidade ou com

o unidade) é deficiente,porque ela é existéncia pura, incondicionada e indeter-m

inada, e, com isso, falta a ela o principio da diferença,

da determinidade. N

este sentido, podemos afirm

ar que asubstância de Spinoza, apesar de sua relev'ãncia, não apre-senta ainda um

a solução adequada no que diz respeito â

51

fi

Page 10: Eduardo Chagas - A Majestade Da Natureza Em Ludwig Feuerbach

porque eta, do mesm

o modo com

o seus atributos, é tota-lidade sem

realidade, ou melhor, realidade abstrata, vazia,

sem conteádo e não concreta. Podem

os ainda verificar, já nocom

eço da etica de Spinoza, que o conceito de ambos os

atributos e sua relaçâo para a substAncia rem

etem a outro

problema, a saber, o pensam

ento e a extensáo apresentam-

se essencialmente diferentes entre si, pois o pensam

entonä .° pressupO

e a extensão e esta não aquele, já que cadaqual é para si m

esmo urn atributo absoluto: os atributos são

definidos como autonom

os e independentes um dos outros.

Se o pensamento e a extensão, porém

, WA

.° sac) identicos,expressam

, todavia, simultaneam

ente, a mesm

a substAncia,

como pode, então, a substA

ncia ser uma unidade? Já que

os atributos sac) distintos e, ao mesm

o tempo, constituem

aessencia da substA

ncia, entáo a substAncia possui, conside-

rada sob este Angulo, um

a essencia dupla, em si diferente.

Os dois atributos produzem

, evidentemente, na substA

nciaum

a separação que não e,stá em sintonia corn o conceito

da unidade da substAncia spinoziana.

Segundo Feuerbach, pertence a Spinoza o grandem

érito de haver submetido a oposição das partes e do todo,

do corpo e da alma, da natureza e do espfrito, a unidade

da substAncia, já que toda parte singular da substA

nciapertence a sua natureza. A

pesar disto, acentua Feuerba-

ch, e aqui em concordância corn H

egel, que Spinoza Ilk)tinha reconhecido a substA

ncia como espfrito e o espfrito

como substA

ncia, ou seja, não tinha determinado a subs-

tAncia com

o espfrito. For isso, etc não chegou não so aoprincfpio da unidade com

o também

ao da diferença e rid°encontrou a verdadeira unidade. A

objecão de Feuerbachcontra Spinoza consiste precisam

ente nisto, a saber, que aunidade de Spinoza não foi determ

inada suficientemente,

porque falta a eta a realidade da diferença, da determini-

dade. A filosofia de Spinoza é, na verdade, um

a filosofiada identidade, isto é, da identidade de D

eus e natureza, de

assim, carecem

ao conceito spinoziano de substAncia a

diferenca, o princfpio da autonomia, da autodeterm

inação,que se encontra, no entanto, expressam

ente na filosofialeibnizeana. Feuerbach ye, em

princfpio, na Doutrina das

Mônadas de L

eibniz, uma alternativa para a unidade entre o

espfrito e a matéria. Pertence a m

ônada espiritual a forma,

mas eta contern sim

ultaneamente em

si também

a matéria,

que é a sua representação obscura. Mas enquanto L

eibnizconsidera a m

atéria meram

ente como um

a representaçãoescura, confusa, F

euerbach a reconhece, pelo contrário,com

o o vfnculo positivo que liga o interior corn o exterior,•

as mônadas reciprocam

ente.S

eguindo a primazia da natureza, que tern seu

•fundam

ento em si m

esma, e sob a consideraçáo de sua

autonomia com

o objeção (Einw

and) ao tefsmo e ao idea-

lismo, ve-se, na segunda fase do pensam

ento de Feuerbach,o seu conceito

[ de natureza em conexão corn sua crftica

ao Cristianism

ut, ao mesm

o tempo, em

discussdo corn afilosofia hegeliana, isto é, o segundo perfodo de sua con-cepção de natureza que envolve, especialm

ente, os escritosde 1839-1943, com

o Ppm a C

ritica da Filosofia Ilegeliana(Z

ur Kritik der hegelschen Philosophic) (1839), A

Esséncia

do cristianismo (D

as Wesen des C

hristentums) (1841), 7'e-

ses Provisórias para uma R

eforma da Filosofia (V

orläufigeT

hesen zur Reform

der Philosophic) (1842), Necessidade

de uma R

eforma da Filosofia (N

otwendigkeit einer V

erän-derung der Philosophic) (1842) e Principios da Filosofia doFicturo (G

rundsätze der Philosophie der Zukunft) (1843). A

palavra natureza, náo no sentido da natureza humana, isto

é, como natureza do hom

em, do genero hum

ano, mas,

pelo contrário, no sentido da natureza, tat como ela é em

si me,sm

a, isto é, no sentido da natureza material, aparece

nas obras mencionadas, e isto é visfvel na obra principal de

Feuerbach, A E

sséncia do Cristianism

o, muito raram

ente.Feuerbach rid() desenvolve aqui nenhum

a teoria da nature-para defende-la contra

a•

a atitude cristá frente a eta.

Page 11: Eduardo Chagas - A Majestade Da Natureza Em Ludwig Feuerbach

54

2F

Feuerbach deixa claro que a teologia cristá se

relaciona negativamente perante a natureza. N

o cristia-nism

o, o homem

se concentra apenas em si m

esmo,

pois ele desliga-se da conexão com a natureza e faz de

si uma essencia absoluta e sobrenatural. A

separação danatureza, do m

undo, é, por conseguinte, o ideal essencialdo cristianism

o: o cristão (Christ) desdenha o m

undo,por exem

plo, pela sua fé no fim do m

undo; ele nega anatureza, pois esta significa a finitude, a transitoriedadee nulidade de sua existencia. E

ssa depreciação ou desva-lorização religiosa pela natureza tem

consequencias parao julgam

ento da natureza humana por parte da teologia,

pois esta condena também

a dimension natural-sensivel

da natureza do homem

e, diante desta, enaltece o espirito.E

ste entendimento negativo do cristão para com

a naturezatorna-se, por exem

plo, mui evidente não só na D

outrinada C

riação (Kreationslehre), m

as também

na Doutrina do

Pecado Original (E

rbsündeslehre), pois esta, fundada nodesdém

pela natureza, baseia-se num sentim

ento de culpacondicionado pela falha e fraqueza do hom

em e, por isso,

na negação de sua corporalidade, de sua sensibilidadepresa ã natureza. U

ma confirm

ação para isso acha-setam

bém nisso, "a saber, que o hom

em deve, de acordo

com o entendim

ento cristão, livrar-se precisamente de

sua natureza corporal (da "natureza transgredida") param

erecer e conseguir a vida eterna, sem as tentações e os

desejos da carne. Precisamente porque a natureza expres-

sa objetividade, necessidade, corporalidade, sensibilidade,ela o negativo, por assim

dizer uma prova dos lim

ites dainterioridade, do sentim

ento religioso, isto é, a barreiraconcreta que se opõe ã illusion de um

a existencia sobre-natural. D

este ponto de vista cristão, ela deve, portanto, serelim

inada, negada. Feuerbach argumenta que D

eus (o todosuprem

o, a esséncia sublime), o qual a fantasia religiosa

criou, é apenas uma representation fantasm

agórica do genero hum

ano, uma konstruktion subjetiva do hom

em,

abstraida de todas as fronteiras e restrições da natureza, e

a religião serve ao homem

de meio, com

o qual ele tentalivrar-se da natureza.

A ausencia da natureza em

sua obra fundamental

pode ser esclarecida da seguinte maneira: ela resulta de sua

ocupação com o cristianism

o que ignora completam

entea natureza e põe em

seu cume um

Deus pessoal, que cria

através do puro pensar e do querer a natureza, o mundo. E

mconsequencia disso, a natureza foi considerada não c,om

otal; ela experim

enta aqui, na verdade, nenhum tratam

entopróprio, independente, já que não hã no cristianism

o ne-nhum

a autonomia da natureza. 0 ãm

ago do cristianismo

não é, então, Deus na natureza, m

as, pelo contrário, Deus

ilimitado, livre dela e sobre ela; o cristão experim

enta, porexem

plo, a natureza, a sua necessidade e as suas leis per-m

anentes e continuas, apenas como barreira insuperável

que se opõe, como vim

os, ã sua pretensão a uma existencia

imaterial, sokg-enatural e transcendente. M

as o homem

semcorpo, despojado da m

atéria, da natureza, é meram

ente,com

o pensa Feuerbach, um

a personalidade abstrata, umabstraktum

, pois apenas a naturalidade, a natureza, ga-rante a essencia e a existencia do hom

em com

o homem

,do hom

em com

o pessoa. A reivindicação feuerbachiana de

um esclarecim

ento natural, fisico, da natureza e, do mesm

om

odo, de uma conexão do hom

em com

ela aponta paraum

a critica abrangente ao cristianismo, para um

a negationfundam

ental ãs imaginações e fantasias da teologia cristã,

na qual a natureza não tem nenhum

significado positivo.L

udwig Feuerbach considera que o hom

em é aquilo.

o que ele é apenas através da natureza, porque ele temnela o fundam

ento de sua existencia. Já que o homem

substancialmente um

a essencia sensivel, temporal, de ne-

cessidade, ele "não se deixa separar dela." "Sede", afirma

ele, "gratos à natureza!"" 0 cristianismo recusa a natureza,

porque ele ansela a uma vida atem

poral, extramundana,

17 FEUER

BA

CH

, L. Das W

esen des ChrL

stentums. O

rganizado por Werner 5chuffen-

hauer. Berlin: A

lcademie V

erlag, 1973. OW

5, p. 308.

55

3

Page 12: Eduardo Chagas - A Majestade Da Natureza Em Ludwig Feuerbach

56 54

sobrenatural. A vida "celestial", "assexuada", absolutam

entesubjetiva, é para o cristianism

o o caminho direto para um

avida "futura", ou seja, para a im

ortalidade pessoal. 0 cris-tianism

o diferencia "a vida do além" da vida real, tem

poral:a prim

eira representa a vida ilimitada, ao passo que a se-

gunda corresponde a vida escura, obscura, isto é, a vida dador e do torm

ento, porque ela esta presa, de acordo corno cristianism

o, aos "prazeres da came". "N

o céu é o cristãolivre daquilo que ele quer ser livre aqui, livre do instintosexual, livre da m

atéria, livre da natureza em geral."

18 0cristianism

o exclui do parad

ies todos os limites e todas as

adversidades que estejam ligados corn a sensibilidade, corn

a natureza. Ele arranca o homem

da natureza, pois o mundo

extern° contém p

er se urn contend° que contradiz, segundoa vontade do cristão, urn ideal de um

a vida absolutamente

ilimitada. 'R

ata-se aqui, na verdade, da absolutidade dosentim

ento religioso, isto é, da liberdade do crente ern facedos obstaculos da natureza, sem

a qual ele não consegueconceber D

eus como um

a essencia metafisica, sobrenatural

e sobrehumana. E

m sintese: no cristianism

o, o essencialou a essencia foi atribuida apenas a D

eus, e o inessencialou o conceito negativo constitui a natureza. A

filosofia deFeuerbach é exatam

ente o contrario do cristianismo: a na-

tureza é, para ela,

[...] o positivo [o essencial], Deus é o negativo [o não

essencial]. 0 mundo é autônom

o em seu ser, em

seusubsistir [...]. D

eus é aqui urn ser somente hipoté-

tico, derivado, não mais absolutam

ente necessario,original, m

as apenas urn ser surgido da necessidade[da dificuldade] de um

a razão restrita.19

Já que a natureza pressup6e de facto

urn sentidom

undano, profano, portant°, antiteológico e antinaturalista,que separa o hom

em de D

eus, o cristianismo concebe, por

la

Ibidem., p. 325.

isso, Deus com

o um ser infinito, absoluto, isto 6, com

o urnser particular para S

i, pensado fora e acima da natureza.

A essencia do D

eus cristão é, na verdade, nada mais

do que a essencia sensivel do homem

, a qual a natureza, (ou a m

atéria, o corpo, a came etc.) vale apenas com

o seu

r,ilim

ite ou sua negation, rata° pela qual ela deve ser supera-;.

• da. Eis porque poder-se-ia, sucintamente, asseverar: quem

é "contra o cristianismo", é "pela natureza"; isto é, quem

nega "o cristianismo", afirm

a "a natureza"." Ou ainda: quern

,quer "apenas o cristianism

o, não a ciencia da natureza", "éurn falso am

igo ou, antes, urn inimigo oculto da ciencia

,-da natureza". 21 Se D

eus (Gott) é no cristianism

o so uma

kessencia subjetivo-hum

ana, abstraida da natureza objetiva,com

o pode o homem

, nessas condi95es, vir para uma outra

essencia, diferente dele, não mais hum

ana? Ou m

elhor: seo hom

em (M

ensch) no cristianismo esta subm

etido a Deus,

r,o qual é indubitavelm

ente a e,ssencia de seu pr6prio espiri-,tz

to, como pixie ele, então, vim

para uma existencia objetiva,

exterior que é independente de seu espirito e se diferencia

Idele? A

limitação (ou a deficiencia) do cristianism

o consiste,

precisamente nistp, a saber, que ele não reconhece esta

outra essencia fisita, sensivel, natural (a natureza), a qual, o hom

em deve sua genese e m

anutenção, já que a natu-,,

reza (Natur) foi concebida pelo hom

em cristão com

o urnproduto ou de sua arbitrariedade subjetiva ou da criação de

,D

eus. A partir destes pressupostos deixa-se transparecer a

:hostilidade do cristianism

o a natureza, já que ele tern porobjeto apenas D

eus, pensado como urn ser absoluto fora

do homem

e da natureza.P'ara o cristianism

o, Deus esta, na verdade, repleto

de contend°, mas abstraido da vida real, pois "quanto m

aisvazia for a vida, tanto m

ais rico, mais concreto sera o D

eus.2*FEUBRBACH, L. O

ber das Wesen der Religion in Beziehung auf R. Ilayrns Peuerbach

und die Philosophic. Organizado por W

. Schuffenhauer. B

erlin: Alcadem

ie Verlag,

1971. OW

10, p. 333."

. Uber Philosophic und C

hristentum. O

rganizado por W. S

chuffenhauer.B

erlin: Alcadem

ie Verlag, 1969. O

W 8, p. 244.

57 z2

Page 13: Eduardo Chagas - A Majestade Da Natureza Em Ludwig Feuerbach

58 5,§-8

0 esvaziamento do m

undo real e o enriquecimento da di-

vindade é um único e m

esmo ato."

22 Porque a religião cristãvé em

Deus a satisfação (B

efriedigung) das necessidadesinternas do hom

em, ela retira, então, a vida dos lim

itespostos pela natureza e, com

isto, reduz as satisfações reaisdo hom

em a um

a satisfação puramente ilusória; ela se abs-

trai da natureza e se refere ao mundo e a tudo o que nele

apenas em sua aparéncia, não em

sua esséncia, porqueapenas D

eus constitui para ela a esséncia. A interioridade

(Innerlichkeit) pertence a seu conteúdo, razão pela qual areligião cristã ignora a natureza (N

atur) como instãncia da

exterioridade, da realidade, e conduz o crente, o fiel, a uma

vida segregada dela. Um

a vez que Deus é para ela um

aesséncia extram

undana, sobrenatural, ela, para ligar-se aD

eus, separa-se dos limites e das condições m

ateriais danatureza; assim

, da ideia da divindade não nos é permitido

deduzir e reconhecer nada de determinado na natureza.

Feuerbach demonstra, com

o visto, que o Deus cristão é o

próprio sentimento do hom

em livre de todas as contrarieda-

des, isto é, a própria esséncia da fantasia humana retirada

da natureza, mas colocada com

o uma esséricia objetiva.

A teologia cristã não estã, enfim

, interessada emum

esclarecimento fisico, natural do m

undo, fundado nafilosofia da natureza ou na ciéncia, porque o fundam

entode todas as colsas encontra-se, para ela, não na naturezaobjetiva, m

as em D

eus mesm

o. "A natureza, o m

undo, nãotem

para o cristão nenhum valor [...] 0 cristão só pensa

em si [...] ou, o que é o m

esmo, em

Deus."

23 A fé, segundo

a qual tudo foi deduzido de Deus, é basta e satisfaz per-

feltamente ã reflexion religiosa. E

m resum

o, tem-se aqui

claramente o principio caracteristico da teologia cristã, a

saber, que ela não possui em essencial nenhum

a base nanatureza: a natureza é a esséncia sensivel, objetiva, finita,colocada, em

princfpio, fora do espirito. A teologia cristã se

opõe ã natureza, porque ela (teologia) não tem consciéncia

de que Deus sem

a inclusão (Einschluss) do hom

em, que,

por sua vez, estã incluida na natureza, é nada. Pois como o

homem

é a e,sséricia de Deus e, sirnultaneam

ente, pertenceã natureza, assim

também

a natureza pertence ao homem

.Só por m

eio de,sta ligação do homem

com a natureza pode-

se superar a tendéncia antinatural, anticósmica, da teologia

cristã. A representação cristã de que a natureza m

esma, o

mundo, o universo, tem

um com

eço temporal, que, então,

• um dia não havia nenhum

a natureza, nenhum m

undo,um

a concepção limitada; ou m

elhor, ela é uma illusion

para querer explicar a natureza através da aceitação de umcriador, porque ela só pode ser deduzida e explicada desua esséncia, ou seja, de si m

esma. D

eduzir a natureza deum

ser abstrato, metaffsco, espiritual ou de D

eus, significainferir a cópia do original; ela não pode ser subordinada,isto é, subm

etida nem a D

eus (ã simplicidade da esséricia

divina), hetn ã vontade humana, porque ela se apóia em

leis fisicas e é o ãmbito da pluralidade e diferencialidade

qualitativa de todos os individuos. Ela é, portanto, um

ainstãncia (Instan

i z) ou grandeza (Orösse) independente de

Deus ou da consC

iéncia humana que, m

ediada pela sensi-bilidade (Sinnlichkeit), fornece a prova (Probe) e o critério(K

riterium) do m

undo exterior. Por causa de sua legalidade,ela tem

seu fundamento em

si e fornece ao homem

a con-tem

plação do mundo com

o mundo e, sim

ultaneamente, a

consciéncia de sua limitação. Pela natureza torna-se o ho-

mem

consciente de que sua existéncia depende dela, poiso que ele é deve ele a ela, um

a vez que ele sem ela é nada

e nada pode. Precisamente este aspecto da necessidade e

da dependéncia do homem

da natureza, da evidéncia danatureza externa com

o condition sine qua non da vida,que existe objetivam

ente fora do espirito, é o fundamento

material do nascim

ento da religião.

a natureza ao querer e ao bel-prazer do homem

, também

Z3 Ibid

em

., p. 4

85.

Page 14: Eduardo Chagas - A Majestade Da Natureza Em Ludwig Feuerbach

I0

no idealismo (particularm

ente em H

egel) a natureza estisubjugada ao espfrito. H

egel acredita que o espirito absolutose desdobra, se objetiva, na natureza, assim

a natureza étam

bém para ele não urn ser prim

eiro, autônomo, m

as algoposto, colocado, com

o que um outro ser concretizado do

espfrito. A natureza em

Hegel é, entio, apenas um

a ou-tra form

a fenoménica do espirito, um

a exteriorizasio ouobjetivação dele, ao passo que F

euerbach a entende rid°com

o uma degradation da ideia absoluta, nem

como o

alter ego do ego, mas sim

como natura naturans, com

oo fundam

ento indeduzfvel, imediato, incriado de toda

existencia real, que existe e consiste por si mesm

o. Contra

Hegel insiste ele, decididam

ente, nesta position, isto é, naim

ediaticidade da natureza e da experiéncia sensfvel dom

undo, e é mister cham

ar a atenção aqui para isto, a saber,que hi, neste ponto, um

a convergencia entre Feuerbach

e Schelling. Feuerbach, o antidotum do telsm

o e do idea-lism

o, pOe a naturez,a frente ao espfrito, pois ele entende

por natureza nâo o puro outro, que so através do espfritofoi posto com

o natureza, mas, prim

eiramente, a realidade

material que existe fora e independente do entendim

entoe é dada ao hom

em por m

eio de seus sentidos. Sob esta

condição pode-se conceber a natureza como garantia da

exterioridade mesm

a, como que urn existente fora de nós,

que nada sabe de si, pois nio é para Si, m

as so em si e

por Si mesm

o.

Partindo desse entendim

ento acerca da natureza,tern-se, na fa

se d

a c

oncepc

s io de natureza no pen-sam

ento de Feuerbach, nio se• os escritos fundamentais de

1846-1948, como A

Es.sencia da R

eligião (Das W

esen derR

eligion) (1846), Com

plementos e E

sclarecimentos para a

Esséncia dà R

eligido (Ergänzungen und E

rläuterungen zumW

esen der Religion) (1846), P

relegies sobre a Esséncia da

Religião (V

orlesungen fiber das Wesen der R

eligion) (1848),nos quais Feuerbach, apoiando-se na religido da natureza,

base e fundamento do hom

em e de todas as coisas, bem

como os S

ellS escritos m

aduros, como A

Fergunta pela Imor-

talidade sob o ponto de vista da Antropologia (D

ie Unster-

blichkeitsfrage vom Standpunkt der A

nthropologic) (1847),A

Ciência da N

atureza e a Revolução (D

ie Naturw

issenschaftund die R

evolution) (1850), 0 Segredo do S

acrificio ou 0liom

em é aquilo que com

e (Das G

eheimnis des O

pfersoder der M

ensch ist, was W

O (1860), Sobre E

spiritualismo

e Materialism

° (Clber Spiritualism

us und Materialism

us)(1866) e Fara um

a Filosofia Moral (Z

ur Moralphilosophie)

(1868), nos quais ele tenta fundir uma relação fundam

entalentre filosofia e ciencia da natureza. Se em

A E

ssência doC

ristianismo (D

as Wesen des C

hristentums) o fundam

entoe tam

bém o objeto da religião era ainda a esséncia m

oraldo hom

em, abstraida da natureza, quer Feuerbach agora,

nesses escritos maduros, superar todo discurso (oratio)

antropol§gic,o, teleologic° ou teológico em relação A

natu-reza, ou seja, obter a separasio da m

esma da reductio ad

hominem

, de todos os predicados humanos. A

ssim, ele fez

a si, par tarefa, defender,justificar e fundamentar a autono-

mia da natureza contra os esclarecim

entos e as deduçoesteológicas frentea ela. E

nquanto ele avaliava a relacio cristiem

relação a natureza, no todo, negativamente, porque a

natureza no cristianismo esti subm

etida arbitrariamente ao

afeto religioso, julga ele, agora, a religião da naturez,a (Na-

turreligion) parcialmente positivajá que ela tern par objeto

a natureza (o deus firsico) e, por isso, ela exerce uma função

importante no que diz respeito a um

a percemio adequada

da natureza. Mao obstante, nio se trata para F

euerbach,de m

aneira nenhuma, de defender a religido da natureza

em si, em

bora ela fica valer, de fato, a natureza, A m

edidaque ela pO

e no lugar da humanidade a natureza. Portant°,

ele trio esti interessado na religião da natureza como tal,

mas, m

eramente, em

sua funsio estratégica para a suaargum

entation contra o cristianismo e o ide,alism

o, pois

para a verdade dos sentidos, demonstra o significado da

Page 15: Eduardo Chagas - A Majestade Da Natureza Em Ludwig Feuerbach

62 529

sensibilidade e atesta o sentimento de finitude do hom

eme de sua dependência não de algo sobrenatural, m

as danatureza m

esma.

Apesar desta avaliação parcialm

ente positiva da reli-gião da natureza, chega Feuerbach, no entanto, ã conclusão -de que ela não concebe, no fundo, a natureza real, objetiva;pelo contrário, reflete-se tam

bém nela apenas a verdade

do homem

, pois o homem

religioso-natural v'è nela não anatureza, com

o ela é realmente, m

as a percebe tão-somente

como objeto de sua fé, de sua veneração religiosa ou de

sua imaginação. P

orque a natureza oferece ao homem

oque ele precisa, foi ela idolatrada com

o divina; a veneração(V

erehrung) ou divinização (Vergötterung) da natureza signi-

fica, por conseguinte, a sua antropomorfização, isto é, a sua

humanização pela religião, pois o valor, que o hom

em põe

na natureza, é apenas o valor que ele atribui a si mesm

o, ãsua própria vida. A

religião da natureza tem, na verdade, por

finalidade transformar a essência não sagrada, não hum

ana,da natureza num

a e.ssência sagrada, personificada. Mas,

assim com

o o panteismo, Feuerbach a critica, precisam

enteporque ela faz, através dessa transform

ation, da naturezaum

Deus. E

m oposição a isso, ele não vê a natureza com

oalgo sagrado, divino, isto é, com

o objeto religioso, tal como

ela aparece na religião da natureza, mas, pelo contrário,

como um

a essência objetiva que existe apenas por si mes-

ma, independentem

ente do homem

.

Com

o justificativa para este seu procedimento, pelo

qual ele quer livrar a natureza de todas as considerações re-ligiosas e antropológicas, vale a ele que a natureza é o enteque produz tudo de si e por si e, por conseguinte, não deveser vista com

o aquilo o que ela não é, isto 1. n

em co

mo

divina (em form

a do teismo); 2. nem

como hum

ana (emform

a do idealismo). A

natureza, para ele, sempre existiu,

quer dizer, ela existe por si e tem seu sentido apenas em

sim

esma; ela é ela m

esma, ou seja, nenhum

a essênciapois por detrás dela não se oculta, nem

se esconde nada

humano, nada divino, nenhum

absoluturn transcendental ouideal. 0 conceito de natureza designa tudo o que se m

ostrasensivelm

ente ao homem

como fundam

ento e essência desua vida; trata-se, pois, prim

eiro daquela essência (luz, ar,água, fogo, plantas, anim

ais etc.), sem a qual o hom

em não

pode nem ser pensado nem

existir. A natureza é, assim

, apluralidade de todas as coisas e seres sensivels que real-m

ente são. Em

bora haja neste ponto, como já m

enciona-do, um

a certa concord 'ãncia entre Feuerbach e Schelling,distancia-se, porém

, Feuerbach de S

chelling, pois paraFeuerbach a natureza é em

si e por si, mas não para si; ela

necessária e regida por leis próprias, sem espirito e sem

sujeito, isto é, o independente de toda essência humana

ou divina, o indeduzivel, o que consiste por si mesm

o, porassim

dizer a essência originária, primeira e últim

a. Assim

sendo, pode-se dizer que: 1. Por um lado, a natureza existe

per se (em si e por si) e age, em

principio, sem intenciona-

lidade (AbS:içht), sem querer (W

illen) ou saber (Wissen); ela

tem seu entendim

ento apenas no entendimento do hom

eme prova sua essencialidade m

ediante qualidades, conexões erela95es m

ateriais. 2. mas, por outro lado, para fazê-la a nós

é-nos dievitável que devamos em

pregar sobre elaanaloglas, expressões ou conc,eitos, com

o ordem, finalida-

de, sabedoria etc. Aquilo que o hom

em acredita reconhecer

na natureza como entendim

ento, espirito, que empresta a

ela uma teleologia, é, portanto, apenas um

a representaçãohum

ana. Assim

, no que tange a todas as aproxima95es ã

natureza trata-se para Feuerbach, meram

ente, de conceitosantropológicos, subjetivos, pois, na natureza, tudo acontecesob o fundam

ento da necessidade e hã nela apenas forças,elem

entos e seres naturals, isto é, leis naturais, às quais aexistência hum

ana estã submetida. Partindo da necessidade

e das leis da natureza, Feuerbach exclui dela todos os cri-térios hum

anos ou efeitos de Deus para a sua valorização

e postula, com isto, a sua autonom

ia. Precisamente este

oferece, na situação presente, pontos de referências para

Page 16: Eduardo Chagas - A Majestade Da Natureza Em Ludwig Feuerbach

64 5F

uma resisténcia contra toda explorasào arbitrária e brutal

da natureza a favor dos designios e desejos ilimitados do

homem

e, ao mesm

o tempo, fornece, consequentem

ente,sugestiies e contribuigies para urn debate frutffero sobrea crise ecológica atual.

Tend° ern vista tais posiçO

es, quer Feuerbach fun-dam

entar uma nova relação entre o hom

em e a natureza,

a qual ele ve realizada, em princfpio, na dependéncia

do homem

em relação a natureza. N

essa dependéncia(A

bhängigkeit), ele encontra uma clara designação para

a natureza como algo não hum

ano e, simultaneam

ente,com

o vfnculo que liga o homem

a eta. 0 homem

não é urnser sem

necessidade, ou seja, não é so espiritual (animal

rationale), mas tam

bém, sim

ultaneamente, um

a essên-cia sensfvel, ffsica, nascida, por isso ele é dependente danatureza e precisa dela para seu nascim

ento, desenvolvi-m

ento e autossustento. Ele tern o fundam

ento de sua vidanão em

si, mas, pelo contrA

rio, fora de si e est& portant°,

necessariamente rem

etido para uma outra esséncia (para

a natureza). A dependéncia do hom

em da natureza faz da

natureza para ele a causa do medo e da insegurança, pois

o homem

sabe que ele sem eta não pode ser. N

ão obstante,não se deve esquecer que a natureza é tam

bém urn sistem

ade leis, urn passivo potencial, frente ao qual o hom

em pode

reagir através da cultura (do desenvolvimento da ciéncia e

da técnica), podendo ser, pois, utilizada por ele a seu favor,em

bora o essencial da cultura consista nisto, a saber, queeta tam

bém se deixe determ

inar pela verdade da naturezados objetos.

Feuerbach vé a cultura realizada preponderante-

mente nas ciencias, e seu entusiasm

o para eta e para seum

étodo tinha ele jA m

anifestado nas suas obras, Teses Pro-

visc5rias para a Reform

a da Filosofia (VorläufigenT

hesen zurR

eform der Philosophic) e Principios da Filosofia do ficturo

(Grundsätzen der Philosophie der Z

ukunft), nas quais a liga-e da ciéncia da natureza representa para ele

uma alternativa a aliansa (A

llianz) feudal da filosofia corn ateologia e possibilita um

a conexão objetiva corn a natureza.N

esse empreendim

ento, Feuerbach almeja que a ciéncia da

natureza sirva de base a sua filosofia, porque ela forneceum

a contribuicão para a superação tanto das inconsistén-cias da filosofia especulativa quanto das inconsequénciasda fantasia e da im

aginação religiosa, a medida que ela,

em seu sentido antiteológico e antim

etaffsico, se ocupa nãocorn objetos arbitrários ou fenôm

enos sobrenaturais, mas

exclusivamente corn objetos ffsico-naturais, atribuindo as

suas causas imanentes a natureza. D

eve-se aqui chamar

a atençAo para o fato de que Feuerbach não era nenhum

cientista da natureza, pois, de acordo corn ele, as ciénciasda natureza, com

o a qufmica, a fisica, a biologia, a botA

nica,a fisiologia etc., conhecem

apenas a história da natureza,se lim

itam, corn isto, a urn elem

ento isolado da naturezae não tém

,..em oposição a filosofia, nenhum

acesso a tota-lidade da nätureza e da alm

a humana, ou seja, a esséncia

do homem

. Em

bora Feuerbach esteja convencido de queo hom

em é um

a esséncia natural e que sua existéncia, seunascim

ento e sua preservação pressuponham a natureza,

parece-lhe sem sentido um

a ciência ou uma filosofia da

natureza separada do homem

. Para ele, a natureza é, em

princfpio, não humana, externa ao hom

em, que é, no en-

tanto, esclarecida, conhecida, na medida em

que o homem

se apropria dela através de seu entendimento. E

is, portant°,os m

éritos considerAveis da concepção de natureza em

Feuerbach como urn essencial progresso frente ao tefsm

oe ao idealism

o, a medida que ela restitui a natureza o seu

valor, a sua majestade.