enquadramento metodológico dos processos de treino no futsal · prova de licenciatura barros, t....
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Enquadramento Metodológico dos
Processos de Treino no Futsal
Tiago Nuno Nogueira Durães Barros
Porto, 2007
Monografia realizada no âmbito da disciplina
de Seminário do 5º ano da Licenciatura em
Desporto e Educação Física, na área de
Desporto de Rendimento - Futebol, da
Faculdade de Desporto da Universidade do
Porto
Trabalho Orientado por: Mestre José Guilherme Granja de Oliveira Trabalho Realizado por: Tiago Nuno Nogueira Durães Barros
Porto, 2007
Enquadramento Metodológico
dos Processos de Treino no
Futsal
Prova de Licenciatura
Barros, T. (2007). Enquadramento metodológico dos processos de treino no
Futsal. Porto: Barros, T. Tese de Licenciatura apresentada à Faculdade de
Desporto da Universidade do Porto.
Palavras chave: Futsal, Periodização, Modelo de Jogo, Especificidade, Táctica.
I
Agradecimentos
Este trabalho não poderia ser realizado se para ele não tivesse contribuído
um conjunto de pessoas e instituições, que de uma ou outra forma nos apoiaram e
nos guiaram.
Assim, queria deixar aqui o meu agradecimento a todos a quantos
contribuíram para que este momento se concretizasse:
• Ao Mestre Guilherme Oliveira, pela sabia influência e orientação, bem
como pelo seu incentivo;
• Aos treinadores integrantes da amostra pela disponibilidade, empenho
e cedência de informações durante a entrevista;
• Aos responsáveis pelas instituições às quais me desloquei e que tão
bem me receberam;
• Ao Eduardo Queiroz que, por materializar em todos os sentidos o
conceito de uma verdadeira amizade, permitiu que nunca deixasse de acreditar;
• Ao Paulo Andrade, pelo apoio prestado e cedência de material
necessário, por tempo indeterminado;
• À minha família e amigos pelo apoio incondicional e paciência
demonstradas perante as faltas de presença sentidas e não cobradas;
• À Cátia por todo o carinho e companheirismo, pelos conhecimentos
postos incondicionalmente à disposição, e por ter partilhado a concretização de
um sonho, que, sem ela, teria sido incomparavelmente mais amargo;
II
Índice Geral
I. Agradecimentos............................................................................................I II. Indice Geral...................................................................................................II III. Indice de Anexos.........................................................................................IV IV. Resumo.........................................................................................................V 1. Introdução......................................................................................................1 2. Revisão da Literatura....................................................................................5
2.1 Futsal, afinal o que é?..............................................................................5
2.1.1 Futsal no universo dos JDC.....................................................5
2.1.2 Futsal: jogo táctico-técnico.......................................................6
2.1.3 Futsal: um jogo de ataque, defesa e transições.......................7
2.1.3.1 O processo ofensivo.................................................8
2.1.3.2 O processo defensivo...............................................9
2.1.3.3 Futsal: um jogo de transições..................................9
2.2. Necessidade de uma nova preocupação.............................................11
2.2.1 Conceito: Modelação Sistémica..........................................11
2.2.2 A Complexidade dos fenómenos........................................12
2.2.3 A dimensão táctica do jogo.................................................13
2.2.4 Pressupostos básicos da operacionalização do treino: modelos
no processo de treino........................................................................15
2.2.4.1 Concepção / Filosofia de jogo...................................15
2.2.4.2 Modelo de jogo: Comportamentos colectivos............16
2.2.4.2.1 Princípios e sub-príncipios de uma certa forma de
jogar........................................................................................18
2.2.4.3 A especificidade, dentro da especificidade do jogo...20
2.2.4.4 A “forma desportiva” dentro de uma certa forma de
jogar........................................................................................21
III
2.2.4.5 Os principios metodológicos que dão corpo à
estrutura da unidade de treino e ao padrão semanal, que se
repete ao longo da época.......................................................22
2.2.4.5.1 Princípio da progressão complexa.............22
2.2.4.5.2 Princípio da alternância horizontal em
especificidade.........................................................................23
2.2.4.5.2.1 – O desgaste “mental-emocional”.
Efeitos da concentraçao.........................................................24
2.2.4.5.3 Princípio das propensões...........................26
3. Enquadramento Metodológico...................................................................27 3.1 Caracterização da amostra...............................................................27
3.2 Metodologia......................................................................................27
3.3 Recolha de dados.............................................................................28
4. Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados..............................29 4.1 Como é que os treinadores vêm e dividem os momentos/fases do
jogo de futsal?...................................................................................................29
4.2 Táctica como requisito fundamental.................................................30
4.3 Modelo de Jogo – Concepção/filosofia.............................................33
4.4 Modelo de jogo – principios e sub-princípios como comportamentos
basilares do processo de treino.........................................................................35
4.5 O trabalho em “Especificidade”........................................................37
4.6 O conceito de forma desportiva?......................................................39
4.7 A Concentração – Desenvolvimento e recuperação........................41
4.8 Importância do treino e do seu planeamento...................................43
5. Considerações Finais.................................................................................47 6. Sugestões para futuros estudos..............................................................51 7. Bibliografia.................................................................................................53 8. Anexos........................................................................................................59
IV
Indice de Anexos
Anexo 1: Questões da Entrevista
Anexo 2: Entrevistas aos Treinadores
V
RESUMO
A teoria tradicional do treino transporta várias lacunas no que concerne à
metodologia a adoptar numa modalidade inserida nos jogos desportivos
colectivos. É para nós fundamental, a procura do esclarecimento dessa
problemática, dos conceitos de planeamento e programação na preparação das
equipas.
Com a realização deste trabalho monográfico pretende-se esclarecer algumas
questões relativas à Periodização Táctica, bem como relacionar se o trabalho
realizado nos clubes da primeira divisão nacional de Futsal está inserido com esta
nova abordagem metodológica.
No sentido de encontrar-mos respostas para as questões, traçamos objectivos
para o nosso estudo: analisar as metodologias utilizadas pelos treinadores durante
a periodização e o planeamento da época, bem como averiguar se a
especificidade e o modelo de jogo têm um papel fundamental. Saber o grau de
importância que dão aos princípios e sub-princípios de jogo e à recuperação na
periodização por eles delineada.
Para efeito, além de uma pesquisa bibliográfica e documental, recorreu-se à
realização de várias entrevistas abertas aos treinadores de seis equipas.
Deste modo, através do cruzamento da informação conclui-se que, a dimensão
táctica não é a gestora de todo o processo de treino, o conceito Especificidade
surge, muitas vezes, associado a dimensão física e dimensão técnica individual.
Concluiu-se ainda que o modelo de jogo é a base de todo o planeamento, mas
não parece estar muito bem definido. A importância concedida pelos treinadores à
recuperação mental é quase nula e continua a ser elevada relativamente ao
preparador físico.
Deste processo de reflexão, constata-se a necessidade de o Futsal procurar
uma nova teoria orientada para a Especificidade da modalidade.
Palavras chave: Futsal, Periodização, Modelo de Jogo, Especificidade, Táctica
6
Introdução
1
1. Introdução 1.1 Pertinência e âmbito de Estudo
Em Portugal, o Futsal tem, de uma forma gradual, conquistado um
reconhecimento desportivo, social e cultural inequívoco, edificado em resultados
desportivos internacionais relevantes.
Na nossa experiência profissional enquanto praticantes da modalidade,
deparamos com treinadores que privilegiavam a dimensão Física como a base
para um bom rendimento no jogo. Tivemos, ainda, treinadores que aplicavam
quantidades desproporcionais de exercícios apelando apenas à dimensão
Técnica, realçando, ao jogador, que para ter sucesso na carreira teria que ser um
“dotado” tecnicamente. Por fim, alguns treinadores abordavam a táctica como
forma mecanizada, amestrando jogadas estereotipadas no complexo processo
ofensivo e defensivo.
A nossa experiência profissional enquanto técnicos de Futsal, tem levantado
várias interrogações sobre aspectos ligados à metodologia de treino da
modalidade.
Sendo o Futsal considerado um Jogo Desportivo Colectivo não, podemos
deixar de falar na vertente táctico-técnica, pelo que nos surgem várias
problemáticas acerca da operacionalização e organização metodológica do treino,
aspecto que nos parece importantíssimo na construção e evolução qualitativa de
uma equipa, pelo que pensámos que uma reflexão neste sentido seria mais um
contributo para elevar a qualidade do nosso Futsal, dos nossos treinadores,
atletas, professores e mesmo dirigentes ligados à modalidade.
O nosso estudo levará a cabo uma análise das metodologias aplicadas no
treino no escalão Sénior no Futsal, em seis equipas da 1ª. Divisão Nacional.
Na primeira fase do trabalho procuraremos reunir um conjunto de opiniões de
autores exploradores do tema, finda qual passaremos a examinar as metodologias
Introdução
2
dos treinadores dos clubes da 1ª Divisão Nacional, processo através do qual
tentaremos reflectir acerca do estado actual do processo de treino no Futsal
Português.
Por estes motivos coloca-se como fundamental uma investigação a este nível.
É necessário implementar no Futsal uma metodologia que se preocupe com o
processo jogo como um todo, sem haver necessidade de o decompor em
dimensões (táctica, técnica, física e psicológica).
Esse conceito denomina-se Periodização Táctica e surge como uma forma de
entender e perceber o complexo fenómeno – Jogar.
Pensamos que o importante não é trabalhar apenas para a evolução do
jogador (individual), mas sim da equipa, para que esta jogue de forma coerente
com o Modelo de Jogo preconizado
1.2 Objectivos
O nosso estudo está centrado na alta competição a nivel nacional, escalão
senior, da 1ª Divisão Nacional.
Deste modo, através do cruzamento e sistematização da informação
proveniente da revisão bibliográfica e da entrevista realizada aos treinadores das
equipas, pretendemos construir um discurso lógico que permita reflectir um pouco
sobre questões do planeamento e periodização do treino, ou seja, saber quais as
metodologias utilizadas pelos treinadores e se vão de encontro aos objectivos da
Periodização Táctica. Até que ponto deveremos periodizar em termos físicos e
não dar maior importância à componente táctica, seguindo o Modelo de jogo
criado, cumprindo com todos os seus princípios? Onde a componente física e
todas as outras dimensão aparecerão arrastados pela componente táctica, sem
maximizar cada uma delas em separado. Para além destas questões existem
outras que pretendemos ver esclarecidas, e que estão relacionadas com a
Introdução
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periodização de treino, tais como: até que ponto a recuperação é importante e
está inserida nessa periodização? Será que a Especificidade e o Modelo de Jogo
deverá ser o principal pilar do treino?
Assim, será importante reflectir sobre um conjunto de questões fundamentais
para o processo de treino, que influencia o modo de jogar das equipas e se, de
facto, vão de encontro a esta nova abordagem metodológica.
1.3 Estrutura do trabalho
O presente estudo será estruturado em sete pontos.
O primeiro, Introdução, tem como objectivo apresentar e justificar a pertinência
do tema e do estudo, definir objectivos, descrever metodologia adoptada e explicar
a estrutura do trabalho.
No segundo ponto, denominado Revisão Bibliográfica, pretende-se confirmar o
Futsal como o modalidade desportiva, realizar uma síntese evolutiva dos conceitos
de periodização, explorar a importância do Modelo de Jogo adoptado os princípios
desse Modelo de Jogo e a importância da Especificidade.
O terceiro ponto, Enquadramento Metodológico, onde apresentaremos a
caracterização da amostra, a metodologia utilizada e a recolha de dados.
Com o quarto ponto, intitulado Apresentação, Análise e Discussão dos
Resultados, pretende-se apresnetar resultados, comparando-os com os conceitos
da revisão bibliográfica.
No quinto ponto, apresentar-se-ão as considerações finais do estudo.
No sexto ponto, serão apresentadas algumas sugestões para futuros estudos.
No sétimo ponto estará presente toda a bibliografia utilizada.
Introdução
4
Revisão da Literatura
5
2. Revisão da Literatura
2.1 Futsal: afinal o que é? 2.1.1 Futsal: no universo dos JDC Desde o seu aparecimento na década de 30 na América do Sul, o Futsal tem
evidenciado um enorme e claro desenvolvimento à escala nacional e mundial,
contudo Braz (2006) refere que o Futsal não apresenta um lugar de destaque na
pesquisa cientifica, tal como, o Futebol, Basquetebol, Andebol e Voleibol e como
tal, são escassas as informações relativas à modalidade em causa. Sousa (2002;
citado por Braz, 2006), defende que esta modalidade está inserida na
classificação dos jogos desportivos colectivos (JDC), pois apresenta
características comuns às outras demais modalidades deste grupo, que segundo
Bayer (1994) são: existência de uma bola, pela posse da qual lutam duas equipas;
espaço delimitado (terreno de jogo), onde se desenvolve o “confronto”; presença
de um alvo a atacar e outro a defender (balizas); cumprimento das regras de jogo
e a cooperação com os colegas de equipa e a oposição aos adversários. Também
Tavares (1996) considera o Futsal como um JDC quando as suas acções de jogo
possuem imprevisibilidade de natureza complexa, existindo vários componentes
(colega, adversário, bola, campo de jogo, regras) que se confrontam
constantemente.
O Futsal conquistou o seu espaço próprio no mundo dos JDC, pois tal como
refere Rodriguez (2000) esta modalidade procura características multifuncionais,
isto é, jogadores que saibam jogar em todas as posições (jogador polivalente), a
melhoria das acções táctico-técnicas, devido ao aperfeiçoamento (carga horária
de treinos mais elevada, os escalões de base com formação no Futsal), maior
velocidade de execução gestual e uma maior intensidade em jogo (somente
descanso no banco ou nos tempos mortos do jogo, permitindo aos seus jogadores
Revisão da Literatura
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uma maior continuidade nas acções de jogo). Em sintonia com esta ideia, Amaral
(2004) refere que, actualmente, fruto da especificidade táctica, do
aperfeiçoamento técnico e do desenvolvimento energético-funcionais, bem como
da proveniência dos jogadores dos escalões de formação, a ideia que o Futsal
seria um “parente pobre” do Futebol parece cada vez mais distante. Neste ponto é
importante referir que o Futsal é uma modalidade diferente do Futebol, pois
embora tenha adquirido características dete, também o fez relativamente a outros
desportos. Regras, técnicas, movimentações e rotações são características em
que o Futsal se apoiou para se afirmar como modalidade própria e que foram
evoluindo, ao longo dos tempos, as suas característica particulares, aumentando
assim a sua dinâmica de jogo (Braz, 2006). Tornou-se então necessário uma
melhor compreensão do jogo por parte dos jogadores, através do estabelecimento
de princípios de comunicação, concretizados através de acções motoras (técnica)
colectivas coordenadas (táctica).
2.1.2 Futsal: jogo táctico-técnico
Apesar de integrado no conjunto de modalidades que constituem os JDC, o
Futsal ainda não possui lugar de destaque na investigação científica. Assim,
poucos são os dados referentes às variáveis de jogo de Futsal (Sousa, 2002 e
Barbero, 2002; citados por Braz, 2006) facto que se constata quando se procede à
analise da literatura especializada.
Barbero (2002; citado por Braz, 2006), refere que o Futsal é, frequentemente,
considerado um desporto para jogadores de grande habilidade técnica, sendo de
vital importância o correcto dominio da bola, assim como a velocidade de
execução das diferentes acções técnicas. Isto levou a um exacerbada incidência
técnica no ensino do jogo, descuidando a aprendizagem de factores fundamentais
na compreensão do mesmo. Esta ideia é também partilhada por Garganta (2002)
Revisão da Literatura
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relativamente aos JDC, já que defende que a didáctica dos mesmos repousa
numa análise formal e mecanicista, e o Futsal não é excepção.
Segundo Osimani (2004) em Espanha, que apresenta um jogo tacticamente
evoluído, utiliza-se um método global, partindo do jogo, aglomerando conteúdos.
No caso do seleccionador nacional espanhol Lozano (2005; citado por Braz, 2006)
encoraja os seus jogadores a pensar, a tomar decisões e a encontrar soluções
para os problemas que o jogo lhes coloca, pelo que deste modo dificilmente será
limitado tacticamente.
Uma caracteristica da actividade dos JDC é que todas as acções realizadas
são essencialmente determinadas sob o ponto de vista táctico (Konzag, 1983),
sendo unânime, entre especialistas, a importância do factor táctico na resolução
dos problemas que o jogo coloca. Soluções essas que poderão surgir num número
quase infinito de respostas, e segundo Braz (2006) cabe ao treinador a orientação
das mesmas.
Para Dugrand (1989) a equipa deve ser vista como um todo, como um sistema
em que o objectivo de jogadores, em interacção dinâmica, está organizado em
função de um objectivo, nas diferentes fases do jogo. A equipa ganha indentidade
própria (Castelo 1994; Pinto, 1996) que lhe advém uma cultura organizacional
específica (linguagem táctica comum).
A táctica desempenha um papel fundamental, pois é entendida como um factor
integrador e simultaneamente condicionador (Pinto, 1996) de todos os outros
(técnicos, fisicos e psicológicos).
2.1.3 Futsal: Um jogo de ataque, defesa e transições
Para Teoduresco (1984) o jogo é caracterizado por uma luta da posse de bola,
entre o ataque e a defesa, dois processos perfeitamente distintos e entendidos
como processo ofensivo e defensivo (Castelo,1994). No entanto o mesmo autor
refere ainda que, apesar de serem processos sob uma oposição lógica, no fundo
Revisão da Literatura
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são, o complemento um do outro, significando que cada um deles está implicado
com o outro. A complementar esta ideia, Queiroz (1986) refere ainda que o jogo se
caracteriza pela aplicação de certos precedimentos antagónicos, de ataque e
defesa, tendo como objectivo o desiquilíbrio do sistema contrário, organizados e
ordenados num sistema de relações e inter-relações coerente e consequente a
que chamamos lógica interna do jogo.
Para melhor compreensão destes processos antagónicos, julgamos ser
importante realizar uma descrição sucinta de algumas das suas características.
2.1.3.1 O Processo Ofensivo
Segundo Teoduresco (1984), o processo ofensivo representa uma das fases
do jogo, sendo objectivamente determinado, pela equipa que se encontra de
posse de bola, com vista à obtenção do golo, sem cometer infracções às leis do
jogo.
Este mesmo conceito para Garganta (1997), abarca todas as acções
realizadas pelos jogadores pertencentes à equipa detentora da posse de bola, e
que ocorrem com base em objectivos, hierarquizados em função da finalidade do
jogo: manter a posse de bola, aproximar-se da baliza adversária e marcar golo, é
precisamente para este objectivo que, segundo Castelo (1996), os jogadores das
duas equipas, quando de posse de bola, direccionam as suas intenções e acções.
A fase ofensiva do jogo, para Kacani (1984), começa assim que a equipa
recupera a bola ao adversário e termina quando perde a sua posse, baseando-se
na cooperação de todos os jogadores na coordenação dos elementos das várias
formações, alternando ataques lentos e rápidos.
Revisão da Literatura
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2.1.3.2 O Processo Defensivo
O processo defensivo representa a fase do jogo na qual uma equipa luta pela
posse de bola, com vista à realização de acções defensivas, sem cometer
infracções e sem permitir que a equipa adversária obtenha golo (Teoduresco,
1984).
Para Castelo (1994) a fase defensiva caracteriza-se pelas acções de marcação
que exprimem a oposição do conjunto dos defesas através de comportamentos
táctico-técnicos individuais e colectivos, que visam essencialmente a anulação e a
cobertura dos adversários e espaços livres, concretizando o cumprimento dos
objectivos fundamentais da defesa: a defesa da baliza, impedindo a finalização e a
recuperação da posse de bola, retirando assim a iniciativa ao adversário.
Apesar de, na opinião de Castelo (1996), processo defensivo conter em si uma
acção negativa, onde, a equipa não poderá concretizar o objectivo do jogo, este
processo deverá ser encarado como uma forma de recurso, sendo abandonado
quando se recupera a posse de bola. Na conquista de uma vantagem importante,
o processo defensivo desempenhou o seu papel e, então, tem que desenvolver o
ataque aproveitando esse benefício, na qual a passagem rápida ao ataque é o
momento mais brilhante do processo defensivo, falamos, claro, das transições.
2.1.3.3 Um jogo de transições
Segundo Guilherme Oliveira (2004), alguns treinadores (Frade, 1989; Loius
Van Gaal citado por Kormelink & Seeverens, 1997; Mourinho, 1999; Valdano
2001; Guilherme Oliveira, 2003a) consideram que o jogo não tem apenas duas
fases, mas sim quatro momentos: organização ofensiva, organização defensiva,
transição defesa/ataque e transição ataque/defesa. O mesmo autor refere que,
Revisão da Literatura
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tem mais lógica fala-se em momentos de jogo do que em fases, pois ao considerar
que o jogo pode ter quatro momentos, eles deixam de aparecer sequencialmente,
como acontecia nas fases, e a ordem de apresentação é arbitrária.
Barreto (2003) refere que depois da destruição (defesa) é necessário construir
(atacar), e é esta capacidade de coordenar estes dois tempos distintos e diversos,
que muitas equipas tem dificuldade de realizar.
O treinador Mourinho (2003a) refere que os jogadores, nas transições, têm de
saber não só efectuar a melhor escolha como também adoptar a melhor posição.
Num sistema que se baseia muito num jogo posicional de linhas e triângulos para
uma perfeita cobertura do terreno de jogo nas suas diferentes fases, a equipa
quando tem posse de bola deve ter os seus jogadores sempre em posição de a
receber e quando não a tem, os jogadores devem apostar numa pressão,
coberturas e permutas.
Por sua vez, Vázquez (2003) afirma que as transições são “momentos-chave”
do jogo, assim, faz todo o sentido Couto (2006) referir que as equipas equilibradas
são as que melhor dominam os momentos transitórios. Já segundo Jesualdo
Ferreira (2003), as equipas terríveis são as que diminuem o tempo entre o ganhar
a bola e atacar e entre o perder a bola e defender. É este o segredo do jogo
actual. Mourinho (2003a) é também categórico quando diz que no futebol de hoje,
os dois momentos mais importantes são o momento em que se perde a bola e o
momento em que se ganha a bola.
Para Guilherme Oliveira (2004), o momento de transição ataque/defesa é
caracterizado pelos comportamentos que se devem assumir durante os segundos
após a perda da posse de bola. Por outro lado, este mesmo autor, refere que o
momento de transiçao defesa/ataque é caracterizado é caracterizado pelos
comportamentos que se devem ter nos segundos imadiatos à conquista da posse
de bola.
Assim sendo fica clara a importância das transições defesa-ataque e ataque-
defesa, onde podemos perceber que são decisivos na fluidez do “jogar”, sendo
Revisão da Literatura
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que a ideia é reorganizar rapidamente para poder aproveitar a desorganização
temporária do adversário.
2.2 Necessidade de uma nova preocupação...
“A preocupação é ter uma equipa a jogar de determinada maneira,
onde o padrão, as preocupações, são sempre jogar”
(Frade, 1989)
2.2.1 Conceito: Modelação Sistémica
“Devido à continua ligação entre prática e teoria atinge-se um estado superior de compreensão da
realidade do jogo, sendo possível proceder-se a uma sintese, ou seja, a uma generalização e
sistematização dos seus elementos fundamentais.”
(Teoduresco, 1984)
Moigne (1994) refere que o conceito de modelação sistémica aparece no
sentido de permitir perceber e tratar fenómenos complexos (jogo), sem
necessidade de os decompor analíticamente. Assim, segundo Guilherme Oliveira
(2002), se entendermos o conceito de modelação sistémica como periodização
“táctica”, este desenvolve-se para uma análise, conhecimento e modelização
reflectida do jogo, sem que para isso seja necessário a sua redução a aspectos
tácticos, físicos, técnicos e psicológicos. Reclama-se, então por uma modelização
(periodização) que revele suficientemente a inteligibilidade dos fenómenos para
que possa permitir a deliberação racionada, a invenção e a avaliação dos seus
projectos de acção (Moigne, 1994).
Para Moigne (1994), a modelação da complexidade permite aos jogadores e
treinadores interessados apropriarem-se dela cognitivamente, construindo a sua
Revisão da Literatura
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inteligência intencional. Segundo Moigne (1994), o modelizador constroi as
representações multidimensionais dos processos físicos e cognitivos no seio dos
quais intervém intencionalmente; representações ou modelos sobre os quais
exercerá o seu entendimento, a fim de elaborar e avaliar os projectos de acção
que pode considerar.
O método de modelação sistémica justifica-se por uma axiomática à qual o
modelizador deve incessantemente referir-se, se não quiser construir de uma
forma não consistente e se não pretender modelizar analiticamente cortando, e
destruindo a complexidade em vez de a conceber na sua potencialidade (Moigne,
1994).
2.2.2 A Complexidade dos fenómenos...
Segundo Moigne (1994) a complexidade caracteriza um sistema modelizável
susceptível de manifestar comportamentos que não sejam todos pré-determinados
(necessários) ainda que potencialmente antecipáveis (possíveis) por um
observador deliberado desse sistema. Esta definição sugere um método de
análise conceptual da complexidade instantânea de um sistema (uma “medida” de
complexidade), pela colocação em correspondência (Moigne, 1994):
do número de comportamentos possíveis desse sistema
(ponderados pela sua probabilidade de ocorrência);
com o seu número de comportamentos certos (pré-
determináveis).
Existe agora, um modo de representação dos fenómenos que não esgota, e
que não mutila, a ambiguidade, a imprevisibilidade, e por conseguinte, a
complexidade dos fenómenos: uma complexidade a partir de então concebível. É
preciso, considerando a exposição deste paradigma como adquirido, interpretá-lo
Revisão da Literatura
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agora em termos de método. Assim o método da complexidade é antes de mais
método de concepção de modelos complexos (Moigne, 1994).
Deste modo, conceber, é organizar; uma concepção é uma organização,
organizada e organizante. Precisamos de construir um modelo e lê-lo na sua
potencialidade organizadora, ou seja, tem de ser organizante se pretende dar
conta da complexidade apercebida (imprevisibilidade essencial) do fenómeno que
foi modelizado (Moigne, 1994).
A concepção de um modelo com o objectivo de intervir é avaliar a situação e
explorar modelos disponíveis até que, como que um puzzle, se possa
corresponder às casas do modelo às peças recortadas na análise. O que acontece
na prática é escolher um modelo antes e, de seguida, realizar o corte de forma a
que as peças se ajustem, “como que por acaso”, nas casas reservadas à sua
intenção (Moigne, 1994).
É o projecto do modelizador que, ao procurar interpretar as percepções que se
constroi do fenómeno, vai dar-lhe sentido, torná-lo inteligível, “compreendê-lo
projectivamente”: este projecto modelizador torna-se a “causa final” relativamente
à qual a representação será significativa (Moigne, 1994).
Neste sentido, é necessário entender o jogo como algo complexo, para o poder
perceber e analisar, não esquecendo que, a equipa obedece a uma ordem, isto é,
as suas partes estão ligadas entre si e sob alguma regra (Garganta, 1996) – a
dimensão táctica.
2.2.3 A dimensão táctica do jogo
Segundo Garganta (1997) o espaço de jogo dos JDC é estandardizado, tem
medidas fixas e é estável. O que varia é o espaço informacional, o organizacional,
em função da movimentação dos jogadores, da posse ou não da bola, da zona do
terreno ocupada e da velocidade de execução das tarefas.
Revisão da Literatura
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Assim a táctica não se traduz apenas numa organização das varáveis físicas
(tempo e espaço) do jogo mas implica, sobretudo, uma organização informacional.
Como tal, nos JDC não devem apenas ser consideradas as distâncias métricas,
mas também o espaço de interacção e a componente decisional (Moreno, 1994).
A magnitude de uma distância, nesses contextos, avalia-se não apenas na medida
das exigências do foro energético, ou físico, mas também pela dificuldade em
cobri-la, de acordo com as sucessivas configurações que o jogo apresenta
(Garganta, 1997). Ainda segundo o mesmo autor para que as acções tácticas
sejam eficazes, os jogadores devem eleger os espaços de jogo que permitam um
intercâmbio de funções entre os companheiros, ou seja, um complexo de relações
mútuas que se estabelece entre os jogadores, de acordo com as finalidades das
respectivas acções de jogo.
Numa partida, em cada acção a realizar, os problemas prioritários que se
colocam ao jogador são de natureza táctica (Garganta, 1997). Desta forma, são as
situações de jogo com a variabilidade, alternância e a aleatoridade que lhes é
inerente, que determinam a direcção dos comportamentos a adoptar pelos
jogadores, pelo que a estes é reclamada uma atitude táctica permanente
(Garganta, 1995). Os conhecimentos que o jogador dispõe, permitem-lhe orientar-
se prioritariamente para certas acções em detrimento de outras (Tavares, 1994).
Assim, o conceito de táctica pressupõe, segundo Teoduresco (1984), a
existência de uma concepção unitária da equipa (modelo) para tornar o jogo mais
eficaz, ou seja, é necessário um tema geral sobre o qual os jogadores concordam
e que lhes permite estabelecer uma linguagem comum Castelo (1994).
Revisão da Literatura
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2.2.4 Pressupostos básicos da operacionalização do treino: modelos no processo de treino
“Um reconhecimento: toda a acção de jogo contém incerteza.
Uma necessidade: realizar estratégias de comportamento,
como arte de agir em condições aleatórias e adversas”
(Frade, 1985)
2.2.4.1 Concepção / Filosofia de jogo “É absolutamente indispensável a existência de uma concepção, uma filosofia, uma teoria de forma
a “dar” um sentido, um horizonte ao processo de treino e de jogo”
(Frade, 1985)
A concepção/filosofia de jogo de um treinador está relacionada com a forma
como este entende o próprio jogo e que pretende que a sua equipa jogue (Frade,
citado por Leandro 2003). Assim, a forma como um treinador orienta a sua equipa
deverá estar relacionada com a sua filosofia de jogo. Reforçando esta ideia
Caçador (citado por Fernandes, 2003) refere que se o treinador não tiver ideias
perfeitamente definidas em relação ao que pretende do jogo e da equipa,
certamente não terá sucesso.
Segundo Leandro (2003) é de máxima importância para qualquer treinador a
concepção que o mesmo tem do jogo. No entanto, para que isso aconteça é
necessário ter o conhecimento de outras concepções. O que realmente se verifica
é que cada treinador tem uma concepção diferente, isso consequentemente terá
como resultado formas de jogar também elas diferentes. Como refere Mourinho
(2002c) quando um treinador vai para um clube, deve encontrar mais do que um
sistema táctico, um modelo, uma filosofia de jogo. Face a isto, um aspecto
fundamental é a tarefa do treinador de transmitir aos jogadores a sua ideia de
Revisão da Literatura
16
jogo, de forma organizada, com objectivos definidos. Por isso, Mourinho (citado
por Faria, 1999, pág. 44) salienta que “tudo passa por explicar aos jogadores
aquilo que eles têm de fazer”.
2.2.4.2 Modelo de jogo: Comportamentos colectivos
“O mais importante numa equipa é ter determinado modelo, determinados principios, conhecê-los
bem, interpretá-los bem, independentemente do facto de ser utilizado este ou aquele jogador. No
fundo é aquilo a que eu chamo de organização de jogo”
(Mourinho, 2002a)
“São comportamentos que nós queremos que a nossa equipa tenha em todos os momentos de
jogo. É uma forma de jogar,é “saber-se” aquilo que se tem de fazer permanentemente em todas as
circunstâncias de jogo ”
(Guiherme Oliveira citado por Tavares, 2003)
Para Frade (1997) o conceito de Periodização Táctica está directamente
relacionada com o modelo de jogo do treinador, pois constitui-se como um
pressuposto fundamental que dinamiza, baliza e orienta a definição de objectivos
e a selecção de meios e métodos mais adequados com vista à obtenção de
melhores rendimentos (Leal & Quinta, 2001). Desta forma o modelo de jogo pode
ser entendido como uma conjectura, um corpo de ideias em relação a uma
determinada forma de jogar, constituindo assim como o “perfil” de jogo da equipa
(Graça & Oliveira, 1994). Leandro (2003) refere também que cada concepção de
jogo produz um modelo de jogo próprio, uma vez que as ideias, inerentes a uma
determinada cultura de jogo, são também elas diferentes.
O modelo de jogo criado, deve, segundo Leal & Quinta (2001); Guilherme
Oliveira (1991); Castelo (1994) e Martins (2002), constituir-se por todo um
Revisão da Literatura
17
conjunto de atitudes e comportamentos que permitam caracterizar a organização
dos processos tácticos, suportados pelos principios de jogo, que o treinador
pretende que sejam adoptados pela sua equipa, tentando assim simplificar
realidades complexas, no entanto, o jogo é sempre mais complexo e completo do
que a sua reprodução através de um qualquer modelo (Garganta, 1996 & Araújo,
1998). O modelo de jogo caracteriza-se assim por ser uma referência, que se
deseja atingir, havendo, portanto a necessidade de construir o presente em
“função” do futuro a que se aspira, tratando-se de um processo que nunca está
concluido (Frade, 1985) e para a sua elaboração é necessário considerar-se não
apenas as caracteristicas desse modelo, mas também as caracteristicas morfo-
funcionais, sócio-culturais e psicológicas dos seus jogadores, assim como as
condições geográficas e climatéricas onde o clube se insere (Frade, 2001).
Os modelos de jogo devem reproduzir, de uma forma metódica e sistemática,
um sistema de relações que se estabelece entre os diferentes elementos duma
equipa numa determinada situação de jogo, definindo tarefas e comportamentos
táctico-técnicos exigíveis aos jogadores, em função dos seus níveis de aptidão e
capacidade (Queiroz, 1986). Desta forma todos os jogadores em campo devem
conhecer e saber o que fazer no que se refere a acções tácticas colectivas de
acordo com as referências numa relação permanente e ajustada entre eles de
modo a garantir eficácia colectiva (Vingada, 1989).
Para Guilherme Oliveira (2002) o modelo de jogo consubstancia-se na
construção de um conjunto de princípios de jogo referentes aos quatro momentos
de jogo (ataque, defesa e respectivas transições), idealizados pelo treinador, que
estão intimamamente relacionados com a organização estrutural utilizada,
servindo como uma referência para os jogadores na competição. Podemos,
portanto concluir que o modelo de jogo baseia-se na concepção/filosofia
idealizada pelo treinador, no que se refere a um conjunto de aspectos essenciais
para a organização dos processos ofensivo e defensivo, tais como métodos de
jogo ofensivos e defensivos, os princípios de jogo, os sistemas de jogo e todo um
Revisão da Literatura
18
conjunto de comportamentos que permitam definir a organização dos métodos
ofensivos e defensivos, individuais e colectivos da equipa (Araújo, 1998).
Os principios de jogo podem ser entendidos como padrões de comportamento que
orientam a actividade.
2.2.4.2.1 Principios e sub-princípios de uma certa forma de jogar
“Nós não treinamos exercícios, nós treinamos princípios.”
(Guilherme Oliveira citado Tavares, 2003)
Os principios e sub-principios de jogo assumem um papel fundamental na
caracterização dos modelos de jogo das diferentes equipas, logo como
consequência, na sua forma de jogar. Por outro lado, podemos referir que os
princípios de jogo, os sub-princípios, sub-princípios dos sub-princípios, são
comportamentos e padrões de comportamento que os treinadores desejam ver
revelados pelos seus jogadores, individual, em grupo ou colectivamente, nos
diferentes momentos de jogo, na procura de soluções mais eficazes (Guilherme
Oliveira, 2003b).
Castelo (1996) refere que os principios estabelecem um quadro de referências
para os jogadores, orientando o pensamento táctico dos mesmos, e
consequentemente, o comportamento táctico-técnico com vista à resolução
eficiente das diversas situações que a competição em si encerra. Nesta linha de
ideias, torna-se importante reforçar que os princípios são representativos do “todo”
que é o modelo de jogo, nunca podendo ser vistos de forma isolada (Barreto,2003)
pois só dessa forma, se tornarão representativos (Guilherme Oliveira, 2002).
Ainda segundo Frade (1998) o importante é que o processo de treino incuta na
equipa e não nos jogadores, uma determinada alteração ou transformação que
implica uma organização colectiva desses jogadores. Uma organização que
promova uma forma de jogar em termos defensivos e ofensivos. É portanto, a
Revisão da Literatura
19
articulação desses princípios e sub-princípios, nos diferentes momentos de jogo,
que revelarão a verdadeira dinâmica de uma equipa, ou seja, a sua organização
funcional (Guilherme Oliveira, 2003a).
No entanto, esta forma de jogar (organização) segundo Frade (1998, citado por
Rocha, 2000), não é apenas ter em acção uma equipa de cada lado e pô-los a
jogar, mas deverá ser uma aquisição de um determinado princípio ou a articulação
de um princípio com outro. A titulo de exemplo e segundo Barreto (2003), da
articulação de dois princípios, em momentos diferentes, podemos referir que o
“pressing alto” do F.C.Porto de José Mourinho, era feito de uma forma
pressionante (zona pressing), no meio campo do adversário. Assim, o “pressing
alto” da F.C.Porto era visto como um meio, criar dificuldades ao adversário, para
atingir um fim, a recuperação da posse de bola o mais rapidamente possivel.
No que se refere à aplicação prática dos princípios, no processo de treino,
segundo o treinador pode construir o seu modelo de jogo, operando tanto de uma
forma global sobre todos os princípios, como também de uma forma mais parcial
ou isolada, sobre apenas um ou alguns dos princípios. Neste ponto, Guilherme
Oliveira (2002) chama a atenção que, apesar de os poder desintegrar, esses
princípios devem manter a sua complexidade natural, para serem representativos
do “todo”. A corroborar esta ideia está Bondarchuk (1982) que refere que no treino
não se deve dividir analiticamente em preparação geral, específica, capacidades
condicionais, técnica, táctica, etc. O ideal é trabalhar tudo em simultâneo, com
base num conjunto de exercícios específicos de treino sempre tendo como base o
modelo de jogo. Assim, o modelo de jogo e os seus princípios determinam os
exercícios a adoptar, prevendo-se o grau de complexidade, dificuldade de
execução, exigências a nivel da coordenação motora, grau de estimulação
provocada e a sua especificidade (Bondartchuk, 1982).
Revisão da Literatura
20
2.2.4.3 A especificidade, dentro da especificidade do jogo
“Para o jogo ser jogo, o treino não pode ser outra coisa que não jogo”
(Guilherme Oliveira, 1991)
O conceito de especificidade pode-nos levar a várias interpretações, pois
segundo Freitas (2004) este tipo de especificidade não é aquela que advém da
caracterização das exigências fisiológicas, físicas ou mesmo da situacionalidade
das acções da modalidade, mas sim, uma especificidade que deve ser vista como
uma forma de estruturação intimamente relacionada com o modelo de jogo criado,
respectivos princípios e sub-princípios, todas as exigências específicas das suas
solicitações, aberta a todas as impresibilidades que a essência do próprio jogo
transporta (Guilherme Oliveira, 1991). Para este mesmo autor só se poderá
chamar de especificidade se houver uma permanente relação entre dimensões
psico-cognitivas, táctico-técnicas, físicas e coordenativas, em correlação constante
com o modelo de jogo criado e os respectivos princípios que lhe dão corpo”. No
fundo, Faria (1999), resume que é necessário mais do que uma especificidade-
modalidade, é necessário uma especificidade-modelo de jogo. Esta
“especificidade, devido às caracteristicas que o próprio jogo contém na sua
essência, é um “conceito aberto ao imprevisivel, ao aleatório, ao acaso” (Carvalhal
2001:67). Centra-se na procura da adequação dos efeitos do treino não só à
modalidade em causa mas fundamentalmente ao modelo de jogo, sendo essencial
que o objectivo final estaja sempre em visualização (Frade, 1985).
Para Frade (citado por Silva, 1998), a equipa deverá realizar o treino, ou
procurará fazer, o que conjectura como competição possivel, através de exercícios
mais ou menos complexos, com mais ou menos gente, num espaço maior ou
menor, etc, mas sempre sobrecondicionados a uma articulação de sentido,
treinando os princípios de determinada forma e sabendo coordenar isso e logo a
maximização da especificidade é conseguida no treino, com a acentuação de
princípios.
Revisão da Literatura
21
Guilherme Oliveira (1991) afirma que a especificidade tem de passar a ser uma
metodologia, uma forma de estar, uma filosofia de treino onde não basta afirmar
que a especificidade é importante, é necessário que este “princípio” se assuma
como o baluarte de toda uma metodologia adoptada.
Mas Pereira (1993) num estudo realizado, vai mesmo mais longe ao
demonstrar que a especificidade é mesmo uma metodologia a adoptar, no sentido
de uma rentabilização máxima das capacidades do jogador e da equipa.
A especificidade está relacionada com a operacionalização dos princípios, sub-
princípios e sub-princípios dos sub-princípios do modelo de jogo criado (Frade,
2001). Assim, segundo Guilherme Oliveira (2004), a especificidade condiciona e
direcciona tudo aquilo que deve ser feito no processo de treino, nomeadamente a
intervenção interactiva do treinador com o exercício e com os jogadores. O mesmo
autor vai ainda mais longe e afirma que, durante a operacionalização do processo
de treino, a postura do treinador vai influenciar no mesmo exercício, na mesma
equipa, diferentes graus de especificidade.
Para Frade (2001) o princípio da especificidade é um dos pressupostos que
orienta a Periodização Táctica.
Guilherme Oliveira (2004) refere que o conceito de especificidade não deve
estar relacionado só com a modalidade em causa, mas também tem de estar
ligado à singularidade da equipa e presente em todo o processo de intervenção,
ou seja, na criação, organização e operacionalização do processo de treino.
2.2.4.4 A “forma desportiva” de uma certa forma de jogar
Para Faria (1999) o conceito de forma desportiva aparece ligado ao modelo de
jogo e aos seus princípios, ou seja, a uma determinada e especifica forma de
jogar. A forma desportiva é uma derivação da contínua manifestação de
regularidades que a equipa possa expressar e que indicam a sua qualidade
(entenda-se identidade) (Frade, citado por Faria, 1999).
Revisão da Literatura
22
Segundo Silva (citado por Faria, 1999), a periodização deve atribuir
importância primordial à “estabilização da forma desportiva”, derivado de um longo
período competitivo. Completando esta ideia, Garganta (1992) refere que parece
ser mais correcto evitar grandes oscilações de forma, adoptando os chamados
“patamares de rentabilidade” em detrimento dos “picos de forma”. Estar em forma
é conseguir estar o menos abaixo possível daquilo que eventualmente seria um
máximo possível para um período bastante reduzido, durante o máximo de tempo,
isto é, o máximo de rendimento possivel para o tempo de competitição. Tudo isto
implica estabilizar rendimentos, regularidades, organização e adaptação (Frade,
citado por Vieira, 1993).
2.2.4.5 Os princípios metodológicos que dão corpo à estrutura
da unidade de treino e ao padrão semanal, que se repete ao longo da época
“Não é o treino que torna as coisas perfeitas,
mas antes o “perfeito” treino é que permite obter a perfeição”
(Frade, 2001)
2.2.4.5.1 Princípio da progressão complexa
Na ideia de Amieiro et al. (2006) este princípio diz respeito a uma
hierarquização dos principios e sub-princípios de jogo. Nada tem a ver com a uma
progressão do geral para o específico, do volume para a intensidade e nem do
aeróbio para o anaeróbio. Estamos, portanto, a falar de uma progressão como
pano de fundo duma aquisição de uma determinada forma “jogar”, que acontece,
pelo menos, em três níveis diferentes: ao longo da época, ao longo da semana
(tendo em conta o jogo passado e o próximo) e por fim ao longo de cada unidade
de treino, tornando-se assim, uma progressão complexa onde cada nível tem
relação com os demais.
Revisão da Literatura
23
Após a desintegração dos princípios em sub-princípios e sub-princípios dos
sub-princípios do modelo de jogo, torna-se necessário reintegrá-los, sempre
dentro de uma dinâmica do processo, de uma vivência hierarquizada dos
princípios de jogo (Amieiro et al., 2006), porém, para perceber a lógica estrutural
do padrão semanal na sua totalidade é necessário associar ao princípio da
progressão complexa o principio da alternância horizontal em especificidade.
2.2.4.5.2 Princípio da alternância horizontal em especificidade
“A estruturação da semana de treino e do que fazer em cada dia não está apenas relacionada com
os objectivos tácticos, mas também com o «regime físico» a priveligiar, na medida em que tenho
de ter em conta, por exemplo os aspectos da recuperação, nomeadamente no que diz respeito à
proximidade ou não do jogo anterior e do próximo. Portanto, num determinado dia o trabalho
táctico-técnico incide mais sobre a recuperação do último jogo, noutro dia, sobre aquilo que eu,
para simplificar, chamo de «força técnica», e assim sucessivamente.”
(Mourinho citado por Amieiro et al., 2006)
O principio metodológico acima referido é fundamental na concretização da
Periodização Táctica, funcionando como que um guia processual, pois para além
da aquisição hierarquizada do modelo de jogo criado e dos princípios que lhe dão
corpo, é necessária uma preocupação em manter uma regularidade semanal no
que diz respeito à alternância dos diferentes padrões de desempenho-
recuperação (Amieiro et al., 2006). Isto remete-nos para o tema da dinâmica das
cargas, onde Bondarchuk (1992) defende uma utilização, ao longo de toda a
época, de uma percentagem muito elevada de exercícios específicos com
intensidade elevada e volume constante. De acordo com esta ideia, Court (1992)
salienta que os exercícios específicos só produzem resultados positivos se
trabalhados a altas intensidades durante toda a época desportiva.
Revisão da Literatura
24
Para Carvalhal (2001), tudo é feito em alta intensidade, ou seja, velocidade em
concentração. O treino específico requer intensidades máximas, então o volume
deverá ser o das intensidades máximas acumuladas. Neste ponto, o mesmo autor
refere que a recuperação deve estar sempre presente entre os exercícios.
Segundo Silva (1993, citado por Vieira, 1993), devemos trabalhar
fundamentalmente acções de máxima intensidade instantânea, que tem a
vantagem de não ser tão desgastante assegurando, assim, uma fácil recuperação,
pois será importante estabilizar também as recuperações (Carvalhal, 2001).
Assim, Amieiro et al. (2006) referem que a recuperação se processa alternando o
padrão de contracção muscular dominante, realizando treinos mais descontínuos
e treinos menos descontínuos ao longo da semana (alternância horizontal),
sempre subordinados ao princípio da especificidade. Assim, estes autores
concluem que a lógica de distribuição dos conteúdos pelas diferentes unidades de
treino é assegurada pelo princípio da progressão complexa e da alternância
horizontal em especificidade, sempre tendo em consideração a recuperação e o
desgaste global, onde podemos inserir o “físico” e o “mental-emocional”, resultante
do grau de complexidade dos desempenhos.
2.2.4.5.2.1 – O desgaste “mental-emocional”. Efeitos da concentração
Como ponto de introdução, seria interessante procurar um entendimento
daquilo que é concentração; Silvério e Srebro (2002) defendem que a definição de
concentração comporta duas dimensões: por um lado, a capacidade de prestar
atenção à informação pertinente e ignorar a irrelevante e os estímulos
perturbadores e, por outro, a capacidade de manter essa atenção durante um
longo período de tempo. Assim sendo, e, para Freitas (2004), as informações
pertinentes para um jogador seriam as suas funções em campo, a posição da bola
Revisão da Literatura
25
e a posição e os movimentos dos seus colegas e adversários. As informações
irrelevantes e perturbadores seriam o ruido do público, fotógrafos, jornalistas e
pensamentos negativos e de insegurança.
A concentração tem, por isso, a ver com os mecanismos de atenção selectiva,
que pode ser interna ou externa (Cruz, 1996). O mesmo autor refere que o
elevado número de estímulos a que um jogador está sujeito no decorrer de um
exercício de treino ou num jogo propicía a que a eficiência das acções esteja
altamente dependente da capacidade de concentração, para que para que possa
assimilar e consolidar os comportamentos inerentes às suas funções em campo
(Lopes, 2005). Assim sendo, a concentração surge, segundo Frade (1990, citado
por Freitas, 2004), do agir em função de um propósito e é isso que faz crescer o
investimento emocional e a concentração – a verdadeira especificidade. A esta
perspectiva, Mourinho (2002b) acrescenta que uma das coisas que faz com que o
seu treino seja mais intenso é a concentração que exige, associado portanto a um
desgaste em termos emocionais (Fernandes, 2003). Ora, reconhecendo a
importância desse desgaste, resultante do jogar concentrado, impõe-se a
necessidade de um conceito de recuperação diferente do tradicional, ou seja,
daqueles que se reporta apenas à dimensão físiológica dos jogadores (Lopes,
2005). O mesmo autor, complementa referindo que desta forma importa que
durante a organização e gestão do processo de treino, na distribuição semanal
dos conteúdos, haja respeito pelas consequências que dimanam do facto de os
jogadores terem de estar concentrados (Lopes, 2005).
A este desgaste “mental-emocional”, Frade (2004) dá o nome de “fadiga
táctica” enquanto tradução da incapacidade de os jogadores estarem
concentrados nas acções que caracterizam a forma de jogar da sua equipa.
Revisão da Literatura
26
2.2.4.5.3 Princípio das Propensões
Quando se pretende aprender ou melhorar um determinado princípio ou sub-
princípios de jogo a melhor forma de o fazer é criando exercícios para os treinar.
Remetendo para o que diziam Goleman et al. (2002), é necessário criar um
espaço onde os velhos hábitos possam ser evitados e possam ensaiar o novo
comportamento. Frade (2004) considera que o exercício é uma configuração de
um determinado existir, ou seja, interessa que certas coisas que se prendem com
um princípio apareçam mais vezes que outras. Este autor considera, por isso, que
a configuração do exercicío e o tempo de acção devem ser propensos ao
aparecimento frequente de determinados comportamentos, levando a uma
aquisição do princípio. É aquilo a que Carvalhal (2001) designa por “exercícios
condicionantes”, pois segundo ele os exercícios condicionam o fazer. Se, por
exemplo, configurarmos um exercício onde uma equipa está reduzida ao seu
sector defensivo,estando constantemente a defender certamente que o
aparecimento de comportamentos relacionados com a organização defensiva de
sector defensivo está a ser exponenciado. E aí surgirão muitas oportunidades de
“moldar” esses comportamentos.
Jensen (2002) refere que a respeito do sucesso da recuperação
(eventualmente, no jogo) de memórias aprendidas, é sempre muito dependente do
estado, tempo e do contexto. Toda a aprendizagem é associada a dados
sensoriais: tais como visões, cheiros e localizações (Jensen, 2002). Então, para
Fernandes (2003), a exercitação deve decorrer num espaço “com significado”
(zona do campo, corredores, posicionamento dos colegas, áreas e linhas do
campo, etc), para que os jogadores tenham alguns referenciais (neste caso
visuais).
Enquadramento Metodológico
27
3 Enquadramento Metodológico
3.1 Caracterização da Amostra Sendo o objectivo deste trabalho aferir se as metodologias utilizadas, no alto
rendimento nacional de Futsal se enquadram dentro da metodologia “periodização
táctica”, apresentaremos entrevistas realizadas a seis treinadores de Futsal da 1ª
Divisão Nacional de Futsal:
Adil Amarante – Treinador do S.L.Benfica
Paulo Fernandes – Treinador do S.C.Portugal
Paulo Tavares – Treinador do G.D.Fundação Jorge Antunes
Luís Almeida – Treinador do Módicus – Sandim
Miguel Couto – Treinador do Junqueira
Joaquim Brito – Treinador da A.R.Freixieiro
Foram escolhidos estes treinadores, pois, pelo menos quatro das equipas, são
consideradas “profissionais” e duas “amadoras”.
Decidimos apresentar os resultados e as entrevistas em anexo, por uma
questão de confidencialidade, chamando os entrevistados por Treinador
A,B,C,D,E e F.
3.2 Metodologia
A técnica adoptada para a recolha de dados, foi uma entrevista aberta. Foi
utilizado um gravador Olympus – Pearlcorder J300 e cassetes Sony, com o
conhecimento e autorização dos entrevistados.
Tendo em vista a análise pormenorizada das entrevistas, estas foram
transcritas para o programa Microsoft Word do Windows XP Professional, através
de um computador portátil Sony Vaio VGN-S5HP.
Enquadramento Metodológico
28
Nas entrevistas, foi utilizado um guião de perguntas, por nós elaborado, que
durante a entrevista serviu de orientação para a realização da mesma. A
realização do guião, com base na parte teórica deste trabalho, sustentando-se
numa pesquisa bibliográfica e documental, tendo em vista a concretização dos
objectivos deste estudo, aplicou-se fundamentalmente pelo facto de ser um meio
precioso para uma condução clara e estruturada da entrevista.
Devido à problemática deste estudo ser muito recente no Futsal,
considerou-se que a utilização deste meio de recolha de dados, através de uma
entrevista, poderia fornecer elementos de reflexão importantes e variados em
termos de qualidade de conteúdo, pondo de parte a quantidade de conteúdo,
comparativamente a utilização de um inquérito.
As questões realizadas foram relativamente abertas, para que os
intervenientes pudessem expor os seus pontos de vista de uma forma clara e o
mais aprofundada possível. Em alguns casos foram adicionadas ao formulário
algumas perguntas, com o intuito de esclarecimento de ideias.
Na apresentação dos resultados serão transcritas as afirmações consideradas
mais importantes para o estudo. Para melhor contextualizar as referidas
afirmações, deve-se recorrer aos anexos, onde as entrevistas vêm reproduzidas
na integra.
3.3 Recolha de dados
A recolha de dados teve lugar nos meses de Abril e Maio de 2007. As
entrevistas foram realizadas após os treinos nos respectivos clubes ou em Hotéis
onde as equipas estagiavam.
Apresentação, Análise e Discussão de Resultados
29
4 Apresentação, Análise e Discussão de Resultados
A revisão da literatura efectuada permitiu identificar e esclarecer uma
orientação metodológica para o processo de treino em Futsal. Esta orientação
metodológica tem como designação “Periodização Táctica” e é defendida por
diversos autores, tendo sido o seu mentor o Professor Vítor Frade.
Na sequência deste conceito, remetemos para este ponto do trabalho, o
confronto das diversas opiniões expressadas pelos treinadores. Essas ideias e
concepções serão fundamentais no desenvolvimento deste trabalho monográfico,
permitirão esclarecer alguns conceitos.
Vamos, ao longo desta discussão, ter como núcleo central, os pressupostos
pelos quais se rege a Periodização Táctica, sendo esta que irá nortear toda a
discussão. A análise da amostra terá como objectivo, verificar se ao nível do alto
rendimento nacional, os intervenientes no processo de planeamento do treino se
aproximam desta realidade científica, teórica e necessariamente prática.
No desenvolvimento da discussão serão também analisados e apresentados
os resultados das entrevistas. O texto integral de cada uma das entrevistas poderá
ser consultado nos anexos.
4.1 Como é que os treinadores vêm e dividem os momentos/fases do jogo
de futsal?
Parece-nos fundamental, no sentido do organizarmos as ideias, começar por
tentar perceber como é que treinadores entrevistados vêm o jogo de futsal, e,
acima de tudo, como é que dividem as suas fases/momentos. Como referimos
anteriormente, a equipa deve ser vista como um todo, como um sistema
organizado em função de um objectivo, nas diferentes fases do jogo. Assim sendo,
a revisão da literatura, segundo alguns autores, sugere claramente que o jogo de
Apresentação, Análise e Discussão de Resultados
30
futsal apresenta quatro momentos: a organização ofensiva, a organização
defensiva, a transição defesa/ataque e a transição ataque/defesa.
Em relação a este tema, o treinador A refere que divide o jogo em “dois
grandes momentos: defensivo e ofensivo”, pois vê as transições como
“componentes não essenciais do modelo de jogo, que serão sempre
condicionadas pelo estudo do adversário”.
Por seu lado, o treinador B e D são de diferente opinião, afirmando que
dividem o jogo em quatro momentos: o ataque, a defesa e as respectivas
transições. Concordando com esta divisão, o treinador C é mesmo peremptório
afirmando que dá primazia à organização defensiva, depois a organização
ofensiva e todas as variantes que conduzem a esses mesmos princípios tanto
defensivos como ofensivos. E em seguida o processo de transição: ataque-defesa
e defesa-ataque.
Tendo em consideração todas as afirmações dos diferentes treinadores,
parece haver algumas divergências na maneira como dividem os momentos do
jogo. Obviamente que isto vai implicar diferentes maneiras de perceber o jogo.
4.2 A Táctica como requisito fundamental...
Seguindo a nossa bibliografia, verificamos a existência de quatro dimensões de
jogo: táctica, técnica, fisica e psicológica. Percebemos que, adoptando o conceito
de Periodização Táctica, a forma como as diferentes dimensões são abordadas
divergem, pois apoiando-nos na nossa revisão, percebemos que o jogo é
fundamentalmente táctico. Como é referido atrás, a táctica desempenha um papel
importante, pois é percebida como um factor integrador e simultaneamente
condicionador de todos os outros.
Apresentação, Análise e Discussão de Resultados
31
Quando confrontado sobre qual o requisito mais importante para um jogador
estar adaptado à forma de jogar da equipa, o treinador A refere que dá
importância à “situação táctica”, pois é “a base do seu modelo”. O treinador C
refere mesmo que o mais importante é contextualizar todo o trabalho em função
daquilo que pretende, dando mesmo um exemplo: ”se não tiver uma equipa
dotada de uma capacidade física interessante, não consegue trabalhar uma
defesa forte, trabalhar transições rápidas porque vai faltar velocidade. Por outro
lado, se analisar essas circunstâncias, vai ver que se tiver uma equipa
extremamente dotada de uma capacidade física, mas se não tiver raciocínio
táctico, quando roubam uma bola não sabem o que fazer com ela.” O treinador D
corrobora com o anterior, referindo que “trabalhamos todos eles de forma
integrada, dando maior enfâse aqueles que, em determinadas situações, sejam
mais importantes .Se estiver a trabalhar a componente do ataque organizado, já
tenho de dar muito maior enfâse à técnica e táctica. Na defesa, também já tem a
ver com a parte psicológica, principalmente se estivermos a trabalhar inferioridade
numérica defensiva e é muito importante o tipo de concentração, a parte volitiva
do atleta, portanto, vamos adaptando os princípios de acordo com as situações
mais específicas.”
Para o treinador E, o ênfase deve ser dado a todos, pois “fisicamente, toda a
gente sabe que numa modalidade destas se não estiver bem fisicamente, nem tão
pouco pensa. Por isso eu acho que todos eles são importantes, cada um na sua
área.” O mesmo treinador afirma também, que “a parte psicológica é uma parte
mais dificil.” De encontro com esta ideia vão as afirmações do treinador B, para
quem “o mais importante é o psicológico”, pois os jogadores tem capacidades
técnicas e tácticas praticamente idênticas.
Quando confrontado com esta questão, o treinador F, refere que “defender é a
atitude, o querer, depois, naturalmente, está o posicionamento.”
Mas fomos ainda mais longe, questionando acerca do papel do preparador
físico de cada treinador, onde podemos verificar uma grande variância nos
Apresentação, Análise e Discussão de Resultados
32
discursos dos diferentes treinadores, pois o treinador A, afirma que não tem
preparador físico. Pois na sua equipa técnica “não há nem treinador principal, nem
adjuntos, nem treinadores de guarda-redes, nem preparadores físicos. Há uma
equipa técnica e, esta equipa técnica, tem de trabalhar, de alguma forma, numa
simbiose total e em equipa. Se me perguntar se eu sou o líder da equipa, ou seja,
o porta-voz, sou. Mas a minha voz é um conjunto de opiniões.” Totalmente de
acordo com esta opinião está o treinador E, que diz que “nós trabalhamos em
equipa, em sintonia os três. Não há preparador, não há treinador principal, não há
adjunto. Cada um tem, como é óbvio, o seu papel dentro da equipa técnica, que
isso é que é uma equipa técnica, não é treinador e treinador adjunto ou
preparador.”
O treinador B concorda com esta ideia afirmando que na sua equipa também
não existe um preparador físico, pois “o treino é integrado em todos os aspectos”.
No entanto, nota-se um discurso um pouco diferente quando colocamos essa
questão ao treinador C, D e F. O primeiro refere que o seu preparador físico tem
um papel fundamental no trabalho específico ao nivel de flexibilidade, de força e
de velocidade. Vai mesmo mais longe e afirmando que o trabalho de força, que é
feito como complementação no ginásio, tal como o trabalho a nível de flexibilidade.
E do ponto de vista da velocidade, apesar de ser incluído no treino integrado
realiza também muitos estímulos de velocidade puros. O treinador D concorda
com o anterior e afirma que tem, de facto, um preparador físico, e justifica
afirmando, que “por muito que nós, treinadores, queiramos abranger muitas áreas,
acho que há áreas especificas. Não tendo eu um conhecimento académico da
componente física, optei por, absorver uma pessoa que de facto é especialista
naquilo que eu acho que é o trabalho do futsal, movimentos explosivos e
repetidos.”
Finalmente, para o treinador F, o preparador físico dele tem um trabalho
importante. “Ele faz treinos fantásticos, porque consegue integrar nos treinos dele,
na meia-hora que ele tem à tarde, consegue integrar aquilo que eu pretendo, ele
consegue fazer exercícios onde integra aquelas situações que falamos à pouco.”
Apresentação, Análise e Discussão de Resultados
33
Assim, e após analisar as afirmações dos diferentes treinadores podemos
reparar que são consensuais quanto à importância das quatro dimensões de jogo,
salientam alguns, contudo, que a componente psicológica é capaz, por si só, de
alterar o rumo dos acontecimentos, sendo um aspecto a ter em atenção.
No que diz respeito a ter uma das dimensões como núcleo central do
rendimento não existe concenso.
Existem, também diferentes concepções/ideias acerca do papel ou mesmo
existência de um preparador físico na equipa técnica. Sugerindo, desde já, uma
exacerbância sobre o trabalho analítico da capacidade fisica dos atletas.
4.3 Modelo de jogo – concepção/filosofia
Segundo a revisão da literatura é importante que o treinador tenha as ideias
bem definidas para que, o modelo de jogo criado, corresponda às suas ideias.
Assim, reportando à revisão bibliográfica, a concepção/filosofia de jogo de um
treinador está relacionada com a forma como este entende o próprio jogo e que
pretende que a sua equipa jogue. Logo, a forma como um treinador orienta a sua
equipa deverá estar relacionada com a sua filosofia de jogo, pois ela vai influenciar
o “guião” em todo o processo de treino.
Para o treinador A, o modelo de jogo da sua equipa está basicamente
alicerçado pelos sistemas que utiliza. No seu caso particular, usa dois sistemas
defensivos e ofensivos, fazendo algumas alternâncias pois tem jogadores que,
pela sua capacidade técnica, o permitem. Ainda segundo o mesmo treinador, cada
um “tem as suas ideias” mas “fica sempre condicionado à qualidade técnica dos
seus jogadores, principalmente numa primeira divisão nacional, patamar B”.
Questionado sobre este tema o treinador B afirma que o modelo de jogo criado
é um reajustamento às características não só dos seus jogadores, mas também às
Apresentação, Análise e Discussão de Resultados
34
equipas adversárias e finalmente às exigências do prórpio jogo. Sublinha ainda
que entende o “modelo de jogo como movimentação-base em termos ofensivos,
pois em termos defensivos a minha equipa está em constante adaptação às
estratégias adversárias”. A partir dessa movimentação-base tem várias soluções e
estratégias que pode utilizar.
Por sua vez, o treinador C afirma que deve ter um modelo de jogo global, que
seja maleável em função das características dos jogadores ou dificuldades que
surgem. Assim, modelo de jogo é “aquilo que se pretende dentro de uma equipa,
clube, tanto do ponto de vista ofensivo e defensivo”. Na sua concepção, este
modelo deve fornecer as bases para que, depois, possa trabalhar variantes no
sentido de se adaptar às dificuldades.
O treinador D refere que, “modelo de jogo são todos os princípios de jogo
adoptados, adaptados às características dos jogadores, tirando o máximo partido
deles em prol do colectivo”.
Para o treinador E o modelo de jogo é idealizado pela equipa técnica, olhando
um pouco às características dos jogadores, no sentido de tirar o melhor partido da
sua equipa. Este treinador entende o modelo de jogo em dois modelos: ofensivo e
defensivo, que são geridos por princípios em termos de ataque organizado e
defesa organizada. Dentro do modelo de jogo, podem funcionar em diferentes
sistemas que se vão adaptando consoante os adversários.
Para o treinador F o modelo de jogo da sua equipa previligia a posse de bola e
utiliza, maioritariamente, um sistema 3:1. Na criação do seu modelo de jogo, tenta
aproveita as características dos seus jogadores.
Apesar de apresentarem muitas dissemelhanças no entendimento do conceito
de modelo de jogo, pelas afirmações dos diferentes treinadores podemos
facilmente perceber que, de facto, ter um modelo de jogo definido é importante,
referindo, alguns, ser fundamental estar adaptado às caracteristicas dos jogadores
e do adversário. Assim sendo, uns treinadores não o distanciam de sistemas de
Apresentação, Análise e Discussão de Resultados
35
jogo. Já outros consideram ser todas as caracteristicas gerais evidenciadas por
uma equipa.
4.4 Modelo de jogo – princípios e sub-princípios como comportamentos
basilares do processo de treino Um outro aspecto determinante na operacionalização do processo de treino é o
estabelecimento de princípios e sub-princípios de jogo bem definidos, os quais se
caracterizam como linhas norteadoras de todo o processo.
Através da literatura verificamos também a existencia de princípios e sub-
princípios, sendo que os primeiros podem ser considerados como pilares da
organização da equipa nos diferentes momentos de jogo. Já os segundos podem
ser considerados como decomposições, desde que representativas do todo.
O treinador A refere que pede aos seus jogadores comportamentos como a
concentração e uma disponibilidade muito grande em perceber o jogo.
Para o treinador B “os princípios de jogo estão presentes para qualquer
adversário” e os comportamentos que quer que a sua equipa, no aspecto
defensivo, tenha em campo, serão comportamentos fortes em termos individuais,
de maneira a que não sejam precisas tantas ajudas, logo a sua equipa pode ser
mais pressionante. Já no aspecto ofensivo, previligia comportamentos que criem
superioridade numérica, evitem a inferioridade numérica e façam com que os seus
jogadores não percam a bola de maneira inocente. O mesmo treinador refere
também que não dá enfâse a nenhum comportamento pois são “inálteráveis e a
base, sem essa base não adianta trabalhar outras coisas”.
Segundo o treinador C o princípio mais importante, “tanto a nível ofensivo
como defensivo é a ocupação dos espaços. É ocupar o espaço de forma ordenada
Apresentação, Análise e Discussão de Resultados
36
e inteligente”, pois aborda os princípios de jogo “da seguinte maneira: primeiro a
organização defensiva, em seguida organização ofensiva e todas as variantes que
conduzem a esses princípios tanto defensivos como ofensivos. Depois o processo
de transição: ataque-defesa e defesa-ataque. Eu penso que é fundamental para
que a partir daí se consiga fazer variações do que se pretende dentro do aspecto
táctico.”
O treinador D, quando questionado acerca dos comportamentos que queria
que a sua equipa tivesse em campo divide-os nas diferentes fases, referindo que
“na defesa, pressão constante sobre o portador da bola”, “na transição ofensiva
ocupar, sempre que possível, os três corredores do jogo”, “no ataque organizado,
criar sempre dois apoios para o condutor da bola” e “na transição ataque-defesa,
tentamos criar o mais possível superioridade numérica”. O mesmo treinador
quando questionado se dividia os princípios de jogo respondeu afirmativamente
referindo também que estes eram “os nossos grandes princípios das diferentes
fases de jogo.”
Já o treinador E remete para o seu modelo de jogo os comportamentos que
quer que os seus jogadores tenham em campo, embora fique patente que há
comportamentos que variam consoante o seu adversário, pois “há defesas onde
nós temos de temporizar” como também “há defesas, quando perdemos a bola,
devemos atacá-la”. Remete o enfâse dado aos diferentes comportamentos para
uma estruturação do jogo dependendo do adversário. Refere mesmo que quando
“jogamos aqui em casa com uma equipa do meio da tabela, onde tem algumas
dificuldades a sair da pressão, nós temos uma estratégia para isso, que é
pressionar alto, muito alto, criar rapidamente o erro, onde recuperamos a bola
perto da baliza do adversário e tentamos fazer golo. “Se o adversário for o
Sporting, se for o Benfica ou se for o Freixieiro, se calhar temos de abordar o jogo
de uma forma diferente. Saber onde é que podemos pressionar e como é que
vamos sair de trás para a frente, onde é que vamos ganhar a bola, quem é que
vamos pressionar.”
Apresentação, Análise e Discussão de Resultados
37
O treinador F frisa que “o primeiro passe é fundamental para o sucesso”
principalmente em situação de vantagem numérica “naturalmente o
posicionamento dos alas contrários”.
Neste caso, e no que diz respeito aos principios de jogo e comportamentos que
os treinadores querem que os seus jogadores tenham em campo, nos diferentes
momentos de jogo, mais uma vez, quando questionados, os treinadores
demonstram uma notória divergência de opiniões e diferentes entendimentos dos
conceitos. Verificamos também que os treinadores que parecem ter os princípios
de jogo algo definidos são os treinadores D, C e E.
Será importante referir também que muitos treinadores referem que pedem
diferentes comportamentos com diferentes adversários.
4.5 O trabalho em “Especificidade” Tal como verificamos na revisão bibliográfica realizada, o conceito de trabalho
em especificidade que deve ser vista como uma forma de organização relacionada
com o modelo de jogo criado, respectivos princípios e sub-princípios, todas as
exigências específicas das suas solicitações. Este trabalho pode ser realizado
numa metodologia própria onde a especificidade seja um grande princípio, um dos
pressupostos orientadores da Periodização Táctica.
Para o treinador A o conceito de “trabalhar em especificidade,
fundamentalmente é trabalhar sobre todas as questões do treino, sobre todos os
elementos. E é fundamentalmente trabalhar o modelo de jogo, que está concebido
e tem de se trabalhar em especificidade o modelo de jogo. Continuo a dizer que é
trabalhar sobre todas as componentes e introduzi-las no modelo de jogo. Através
do modelo de jogo, nós trabalhamos todas as componentes que são fundamentais
para o rendimento do atleta.” Finaliza referindo que “depois temos aqui algumas
Apresentação, Análise e Discussão de Resultados
38
nuances, nomeadamente, a falta de tempo, que não me permitem trabalhar
estratégias e situações um bocado mais analíticas, que de alguma forma, vai
infuenciar a dificuldade em trabalhar em especificidade. Agora, se eu fosse
treinador de uma equipa profissional, trabalhava só em específicidade.”
Segundo o treinador B, a especificidade que desenvolve é mais evidente em
aspectos técnicos de alguns jogadores. “Temos desenvolvido principalmente a
finalização, que é uma das pechas, e alguns aspectos tácticos, principalmente.
Agora temos incidido em alguns jogadores que têm mais dificuldade.”
O treinador C refere que acha que para atingir o melhor nível dos jogadores,
tem de trabalhar em nível individualizado, nomeadamente na capacidade da força
muscular.Esse trabalho é feito pelo seu preparador físico que “trabalha com uma
máquina que nós temos lá no clube de cinesiologia”, onde faz medições de força
de membros individualizados, de musculatura agónica e antagonica, para
conseguir fazer um equilíbrio. Refere também que trabalha a flexibilidade e a
velocidade.
Já o treinador D e F caracterizam a importância da especificidade no trabalho
que é desenvolvido na parte final da semana, de acordo com o adversário.
Segundo o treinador E, o trabalho em especificidade é muito importante. “Há
trabalho específico que nós fazemos, com o guarda-redes e mesmo com alguns
jogadores que nós achamos que estão mal na finalização ou em alguns aspetos.
Em termos específicos, nós não podemos dizer que trabalhamos muito em termos
específicos.”
Assim sendo nota-se, nas afirmações de alguns treinadores, que existem
diferentes interpretações do conceito especificidade, sendo que, o treinador E, C e
B referiram que, para eles, o trabalho especifico seria mais analitico, em alguns
aspectos do jogo, nomeadamente nos treino dos guarda-redes, situações de
finalização e aspectos técnicos dos jogadores. Esta percepção do conceito não se
relaciona como conceito depreendido na literatura. Os restantes treinadores
Apresentação, Análise e Discussão de Resultados
39
revelaram que, para eles, trabalhar em especificidade é treinar em função do
próximo adversário.
4.6 O conceito de “Forma Desportiva”
Outro conceito é o da forma desportiva, onde e segundo a orientação da
Periodização Táctica, estar em forma é, conseguir o máximo de rendimento
possivel para o tempo de competitição. Obviamente que implica estabilizar
rendimentos, regularidades, organização e adaptação.
O treinador A entende o conceito de forma desportiva como a capacidade de
um atleta estar dentro das suas capacidades reais. “Ao longo de uma época,
sabemos que há atletas que sobem e descem de rendimento, podemos chamar a
isto forma desportiva. (...) A forma desportiva é o que o atleta melhor pode dar.
Estejam sempre no patamar onde dão sempre o máximo. Esta, para mim, é que é
a forma desportiva.”
Já o treinador B refere que entende “como a capacidade de um jogador
potencializar o que é trabalhado. Quantas mais vezes conseguir potencializar
essas situações, mais em forma está. Agora nós temos de adaptar isso às
caracteristicas do jogador. Neste caso, afirma que é importante a forma de jogar
estar adaptada a cada jogador.
Segundo o treinador C a forma desportiva da sua equipa aparece “quando
procura desenvolver determinadas capacidades, determinadas habilidades, no
preparatório e mantê-las dentro de um período competitivo.” Referindo mesmo,
que “se eu trabalhasse, por exemplo, no Brasil, onde nós temos competições
específicas, poderia trabalhar em cima de picos de forma, mas como aqui nós
temos uma calendário longo, nós temos um período competitivo de
aproximadamente dez a onze meses. Então é muito dificil de você trabalhar dentro
de um contexto de picos de forma.”
Apresentação, Análise e Discussão de Resultados
40
O treinador D corrobora com esta ideia e refere que “forma desportiva é desde
o primeiro jogo do período competitivo até ao último. Vamos manter a forma
desportiva o mais nivelada e por cima.” Afirma também que por vezes é dificil
manter essa forma principalmente “quando o plantel é curto”.
Para o treinador E a forma desportiva consegue-se através de um trabalho
padrão. “Nós funcionamos com o trabalho sempre igual. (..) tirando o pré-
peparatório, que é normal ser um pouco mais específico, a partir daí é com o pé
no acelerador. Não temos picos de forma, não temos alterações de nada. O
conceito é o trabalho daquilo que nós queremos que eles façam no jogo. Estas
semanas são planificadas.”
Com ideias um pouco distintas está o treinador F, para quem “essa forma
varia muito a parte psíquica. Um jogador-goleador, que está habituado ao longo
das épocas a marcar muitos golos. Ele pode estar a receber bem a bola, a passar
bem a bola, pode estar a assistir bem os companheiros, pode estar a criar jogadas
de fino recorte técnico, mas não está a marcar, então ele não está em forma,
porque não está a marcar golos. A forma de um goleador é o produto final, que
são os golos. Então só estão em forma quando, de facto, marcam golos.”
Todos os treinadores entrevistados concordam que estar em forma obviamente
que significa resultados positivos na competição, mas apenas o treinador C tenta
manter a forma dentro de um período competitivo e o treinador E, trabalhando de
um trabalho constante e o treinador D, tentando manter desde o primeiro jogo ao
último referem uma necessidade de estabilizar rendimentos, de regularidades
Apresentação, Análise e Discussão de Resultados
41
4.7 A Concentração – Desenvolvimento e recuperação
A concentração, segundo a revisão, é treinável através da especifícidade do
treino. Assim, as situações de treino tornam-se mais ou menos intensas consoante
o que pretendemos articular. Tudo tem de ser realizado numa intensidade de
concentração para que possa existir assimiliação dos principios de jogo.
Para o treinador A “a concentração é das coisas que mais se trabalha e que
mais dificuldades cria a um treinador.” Questionado acerca do método que utiliza
para trabalhar a concentração afirma que essencialmente dá aos seus jogadores
um problema, e dando-lhes sempre alguma coisa que os obrigue a pensar. “A
concentração para mim, é trabalhada essencialmente fazendo com que os meus
jogadores estejam a pensar coisas sobre o meu modelo de jogo. Ao estar-lhes a
dar isso, consigo em grande parte, que eles não se desviem daquilo que é
pretendido. Têm de estar atentos e concentrados naquilo que lhes vou estando
semrpe a dizer, ou seja, direcciono-lhes a concentração para o modelo de jogo e
para o que estão a fazer.“
Segundo o treinador B, a concentração pode ser trabalhada “através de
rotinas. Quanto mais rotinas nós temos, mais o jogador se adapta. Logo mais
sucesso, quanto mais sucesso, mais motivado e concentrado está.”
O treinador C trabalha a concentração através de vários exercícios que são
feitos dentro do ponto de vista táctico.
O treinador D concorda que a concentração pode ser trabalhada. Até vai mais
longe e afirma mesmo que “pode ser treinada. Nós utilizamos algumas técnicas
que possa por ao de cima essa concentração.” Quando questionado sobre essas
mesmas técnicas refere que utiliza “muitas das vezes situações que estão
incluídas no próprio jogo. Para mim, o treino tem de ser o mais parecido com o
jogo. Como é lógico, num treino propriamente dito, num treino normal, não
ocorrem dois tipos de pressão que há no jogo, o tempo e o resultado e é através
Apresentação, Análise e Discussão de Resultados
42
destes dois factores que nós trabalhamos os exercícios em que os jogadores
estão limitados pelo tempo ou estão subjugados ao resultado.”
O treinador E concorda que a concentração pode ser trabalhada. Afirma
mesmo que inventam alguns exercícios. “Alguns surgem do facto de interligar os
objectivos dos exercícios.” De modo a que sejam colocados e tal forma que os
“obrigue a pensar o que vão fazer a seguir, de forma a não se desligarem.” No
fundo, refere que trabalha na base de exercícios condicionados de forma a obrigar
os seus jogadores a pensar.
Para o treinador F, “a concentração tem muito a ver com a motivação.” Assim
sendo, refere que nos jogos contra equipas que estão em baixo na tabela
classificativa existe, por parte dos jogadores, um certo facilitismo dificil de
contrariar.
No que diz respeito à operacionalização da recuperação do esforço existem
algumas diferenças nas afirmações dos treinadores. Segundo o treinador A, não
lhes pode exigir nada e como, para ele, nao faz sentido um treino de recuperação
passadas 48 horas, o treino de segunda-feira é normal.
O treinador D concorda com esta ideia e refere que não utiliza o treino do dia
seguinte, pois treinar “24/36 horas depois do esforço físico e muito honestamente
já não há muito a recuperar.” Contudo, “fazemos sempre um trabalho de, pelo
menos, como tiveram um tempo anormal de paragem a seguir ao jogo, fazemos
apenas um trabalho de reaproximação ao esforço.” Curiosamente, este treinador
refere que pensa também na recuperação emocional dos seus jogadores fazendo,
em todos os treinos a seguir aos jogos, uma análise individual do jogo. Assim,
“cada jogador, olhos nos olhos de todos, fazer a sua análise do jogo, e fazer o seu
mea-culpa, o que teve bem e o que teve mal, penso que quando terminámos esta
fase, está tudo dito, já não tenho grandes coisas para dizer.”
Para o treinador C, no treino seguinte ao jogo, faz “uma avaliação rápida do
ponto de vista clínico”. Na fase seguinte, realiza “actividades recreativas onde se
faz essa suposta recuperação, mas já entrando no principio de resistência
aeróbia.” Conclui referindo que “trabalho de recuperação pura, não se faz.”
Apresentação, Análise e Discussão de Resultados
43
Para o treinador E, na recuperação, o tipo de alimentação é mesmo
fundamental: “quando jogamos fora nós damos muita importância aquilo que eles
comem depois dos jogos. Em casa não podemeos controlar muito. Eles sabem os
cuidados que devem ter a seguir ao jogo.” No treino de segunda-feira “fazem
alongamentos, dependendo se existe competição a meio da semana ou se
achamos necessário.”
Na opinião do treinador F, a recuperação é feita através de “cargas minimas”,
um “descanso activo”.
Todos os treinadores foram premptórios ao afirmar que a concentração é um
aspecto fundamental nos treinos e nos jogos, considerando mesmo que é
treinável.
Os treinadores A,D e E referem algumas medidas que podem estar
directamente relacionadas com a especificidade do treino como: “através de
rotinas”, “obrigando-os a pensar no modelo de jogo” e através de “exercícios
condicionados”.
Os treinadores C e F afirmam também que a trabalham através de “exercícios
técnicos e tácticos” e “aumentando a motivação”.
No que se refere à operacionalização da recuperação, apenas um utiiza uma
estratégia para recuperar mentalmente os seus jogadores. Para os restantes, toda
a recuperação ou não é feita, ou é feita sob o ponto de vista físiológico.
4.8 Importância do treino e do seu planeamento
Para finalizar, falamos na questão do treino para percebermos a importância
sua planificação, programação e periodização, pois é fundamental para se
perceber quais os principios metodológicos que poderão dar corpo a uma
estrutura da unidade de treino e mesmo do microciclo semanal.
Apresentação, Análise e Discussão de Resultados
44
Segundo o treinador A, o treino é mesmo fundamental na preparação de uma
equipa que esteja em competição, vendo nele um processo que permita aos
jogadores e treinadores criarem um colectivo. Nessa perspectiva, ainda segundo o
mesmo treinador, é “o treino que faz o jogo, onde os objectivos fundamentais do
treino colidem com os objectivos fundamentais do jogo, sendo que, a melhor
estratégia para a equipa atingir os objectivos fundamentais do treino é estar
preparada para todas as condicionantes que o adversário colocar”. O treinador B
corrobora com esta ideia, referindo mesmo que “o treino é um espelho daquilo que
os jogadores irão fazer no jogo”, pois trabalha no sentido de tentar tirar proveito
dos pontos mais frágeis do adversário.
Para o treinador C, “o treino é a base o trabalho planeado para a época”,
estando o treino e o jogo interligados, sempre tendo como base os objectivos
tácticos propostos e o planeamento efectuado. O treinador D acrescenta mesmo
que “o treino é a minha principal ferramenta de trabalho, onde a equipa
operacionalizo a minha forma de jogar”, tendo em conta que o jogo faz o treino e o
treino faz o jogo. Desta forma e utilizando um microciclo-padrão, que é regido por
objectivos fisicos, através de uma dicotomia intensidade/volume, segue uma
planificação onde vai dar maior enfâse aos seus principios de jogo. Em sintonia
com esta ideia, o treinador E refere que não diferencia muito o treino do jogo, pois
estão os dois interligados, mas que a melhor estratégia para se poder trabalhar é
uma planificação dos objectivos.
Para o treinador F a importância do treino é muito elevada, no sentido de criar
uma estratégia para o jogo. Para o mesmo treinador o jogo e o treino estão em
sintonia. No seu entendimento, a melhor estratégia para atingir os objectivos do
treino é ganhar no dia do jogo.
Todos os treinadores são consensuais ao referirem o treino como fundamental
na preparação da equipa inserida na competição. Mas, no entanto, apenas os
treinadores D e E referiram que trabalham com base num microciclo-padrão.
Parece-nos então existem algumas divergências no que se refere às estratégias
Apresentação, Análise e Discussão de Resultados
45
para atingir os objectivos fundamentais do treino, isto significa que poderá não
haver uma planificação nem preocupação acerca dos princípios metodológicos
que dão corpo à estrutura da unidade de treino e ao microciclo semanal.
Apresentação, Análise e Discussão de Resultados
46
Considerações Finais
47
5 Considerações Finais
Através da apresentação e discussão dos resultados conseguimos chegar a
algumas conclusões no que se refere à forma como os treinadores vêm o
processo de treino, no alto rendimento nacional de Futsal e se as suas
metodologias se enquadram dentro da do conceito da “Periodização Táctica”. A
saber:
Em relação à forma de ver e entender o jogo de futsal, dividindo-o nos
diferentes momentos/fases de jogo, não houve consenso entre os treinadores.
Três treinadores referiram que dividem em quatro fases; um treinador afirma que o
jogo está dividido em duas fases e os restantes não se pronunciaram sobre o
tema;
Os treinadores partilham da opinião que todas as dimensões do jogo –
táctica, técnica, fisica e psicológica – são fundamentais e devem ser todas elas
trabalhadas, embora um treinador ressalve que a dimensão mais importante é a
táctica e outro afirme que é a atitude. No que se refere à existência de uma
pessoa encarregue da parte fisica dos atletas, três treinadores referiram que não
fazia parte da sua equipa técnica, enquanto outros três afirmaram positivamente, o
que deixa transparecer, nestes casos, uma exacerbância do trabalho das
capacidades fisicas;
O entendimento, dos treinadores acerca da concepção/filosofia de jogo e
Modelo de Jogo não foi, na generalidade, muito claro. Há treinadores que referem
que modelo de jogo e sistemas de jogo serão a mesma coisa, sendo, em muitos
deles adaptado à equipa adversária;
Parece que existem treinadores que possuem os principios de jogo
melhor definidos que outros, daí que alguns treinadores não apresentem sub-
princípios também eles definidos;
Considerações Finais
48
Em relação à especificidade não existiu consenso na opinião dos
diferentes treinadores. Alguns treinadores referem mesmo que especificidade é o
treino das capacidades técnicas, treino das situações de finalização, treino da
força ou velocidade, treino dos guarda-redes ou mesmo em função do próximo
adversário. Apenas um treinador revelou entendimento de especificidade
correlacionada com o modelo de jogo;
De uma maneira geral, e de forma não muito clara, quase todos os
treinadores foram consensuais de que a forma desportiva seria o máximo de
resultados no máximo de tempo possível, na procura de um patamar de
rentabilidade;
Todos eles foram peremptórios ao considerarem a concentração um
aspecto fundamental para assimilar uma forma de jogar, considerando-a mesmo
treinável. Apenas um treinador não refere que ela pode ser trabalhada através da
especificidade do treino;
São unânimes em considerar importante uma recuperação do esforço
após um jogo, mas apenas no plano fisico pois apenas dois treinadores referem
um cuidado na recuperação mental dos seus jogadores;
Finalmente, todos os treinadores foram consensuais na atribuição da
importância do treino, mas sendo muito confusos no que se refere os objectivos
fundamentais do treino e a melhor estratégia para os atingir. Nenhum deles se
refere à necessidade de planear, periodizar e programar.
Verificamos, portanto que os treinadores apresentam opiniões divergentes na
análise dos mesmos temas. Provavelmente fruto da singularidade de cada
processo de treino, de cada filosofia de jogo e das diferentes condições.
No que se refere à aproximação da mais recente proposta de
operacionalização do treino, parece que os treinadores entrevistados não se
identificam com a Periodização Táctica. Isto porque referem, na sua maioria, que
todas as dimensões são importantes, e as integram no treino, mas não parecem
articulá-las em função daquilo que pretendem, não destacando a dimensão táctica
Considerações Finais
49
como gestora de todo o processo. Os treinadores entrevistados também não
parecem possuir um modelo, princípios e sub-princípios de jogo bem definidos
para a sua equipa, não revelando um entendimento da especificidade
correlacionada com o modelo de jogo criado. Todos os treinadores foram
consensuais na atribuição da importância do treino, mas nenhum deles se refere à
necessidade de planear, periodizar e programar, sugerindo que não existe
preocupaçao na organização dos princípios que dão corpo à estrutura da unidade
de treino e ao padrão semanal;
Em relação ao entendimento de forma desportiva, são unânimes em considerar
esse conceito como a melhor performance da equipa dentro do maior tempo
possível, não referindo porém, uma procura no sentido de estabilizar rendimentos.
Tendo em conta o atrás anúnciado, concluímos que o Futsal ainda procura por
uma nova abordagem metodológica, que fosse ao encontro da sua verdadeira
especificidade – a Periodização Táctica.
Considerações Finais
50
Sugestões para Futuros Estudos
51
6 Sugestões para Futuros Estudos
No término deste trabalho gostariamos de deixar aqui algumas sugestões
para futuras investigações:
Realizar o mesmo trabalho utilizando uma amostra mais significativa de
forma a obter resultados que se possam generalizar à divisão em causa;
Realizar um trabalho mais específico acerca duma preocupaçao na
organização dos princípios que dão corpo à estrutura da unidade de treino e ao
padrão semanal;
Realizar um trabalho mais aprofundado sobre princípios e sub-princípios
de jogo e a sua operacionalização no futsal.
Considerações Finais
52
Bibliografia
53
7 Bibliografia
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Anexos
59
8 Anexos
Anexo 1
Questões da Entrevista 1. O que pensa sobre o treino e qual a importância que dá ao treino?
2. Tendo em conta a sua perspectiva, considera que é o treino que faz o jogo ou
o jogo que faz o treino? Explique
3. Quais os objectivos fundamentais do treino? E qual a melhor estratégia para os
atingir?
4. O que entende por Modelo de Jogo?
5. Quando considera mais importante trabalhar essa forma de jogar?
6. No seu caso, o Modelo de Jogo que definiu para a sua equipa é reflexo da
filosofia de jogo?
6.1. Teve de efectuar alguns reajustamentos?
6.2. Se fez reajustamentos, quais foram as razões?
7. No seu entendimento do jogo e no Modelo de Jogo criado, considera
importantes as fases/momentos do jogo?
8. De uma forma simples, e, tendo em conta os momentos de jogo, quais são os
comportamentos que quer que a sua equipa tenha em campo?
9. Há comportamentos a que dê mais ênfase do que outros? Se sim, quais?
10. A forma de atacar e defender exige dos jogadores determinados requisitos ao
nível técnico, físico, táctico e psicológico. Entre estes requisitos a qual ou a
quais dá mais importância?
11. Qual o papel do preparador físico?
12. Hoje em dia fala-se muito no trabalho específico. Tendo em conta o seu
plenamento e preparação do treino, qual a importância do conceito e trabalho
em “especificidade”?
13. Ligado ao modelo de jogo e seus princípios, aparece o conceito de “forma
desportiva”. Na sua perspectiva, como é entendido?
14. Acha que a concentração pode ser trabalhada?
14.1. Se sim, como?
15. Após um jogo, como é que operacionaliza a recuperação do esforço?
Anexo 2
ENTREVISTA AO TREINADOR A
Tiago Barros (TB) – O que pensa sobre o treino e qual é a importância que dá ao treino? Treinador A (TA) – O treino vai ser fundamental no desenvolvimento e
preparação de uma equipa que, neste caso, está em competiçao. Portanto o treino
é um processo, que de alguma forma, permite aos jogadores e aos treinadores
poderem, de algum modo, criar um colectivo que supostamente irá por na
competição a qualidade adquirida nesse próprio treino. O treino é o fundamento do
jogo e o jogo é tudo aquilo que se faz no treino.
TB – Nessa perspectiva, é o treino que faz o jogo ou o jogo que faz o treino?
(TA) – Eu acho, fundamentalmente que o treino é que faz o jogo. Tudo é o
conjunto de situações provocadas pelo treino, essencialmente isso (...)
TB – E, para si, quais são os objectivos fundamentais do treino, e qual é a melhor estratégia para os atingir? (TA) – Os objectivos fundamentais do treino colidem todos com os objectivos
fundamentais do jogo, portanto, nós tentamos preparar no treino tudo aquilo que,
de alguma forma, se desenvolve no jogo com a particularidade (...) depois com o
estudo do adversário em termos de jogo e da competição em que a gente está
inserido. E a melhor estratégia é aproximar o mais possível o treino daquilo que a
gente pretende fazer no jogo, esse é, para mim, o objectivo fundamental do treino.
Depois passará por uma estratégia, muito também, em função do adversário que
nos vai aparecer no final do objectivo semanal, ao fim ao cabo. Depois passará
Anexo 2
também, e isso é um elemento fundamental, pelo campeonato que se joga, que
também, de alguma forma, tem particularidades que podem condicionar o treino,
não é?
Agora, o que me parece também é que, essencialmente no treino, o treino
que é muito mais vocacionado para a equipa que treina do que com quem se vai
jogar, portanto a minha preocupação fundamental é que a minha equipa, de
alguma forma, faça nos treinos todo o desenvolvimento que eu quero e que esteja
apetrechada estatégicamente no jogo possa funcionar. Esse é o objectivo que eu
traço, é preparar a minha equipa de forma a que esteja preparada para todas as
condicionantes que o adversário colocar e estarmos preparados para isso.
TB – E o que entende por Modelo de Jogo?
(TA) – Modelo de jogo essencialmente, para mim, baseia-se numa situação muito
simples. Eu, de alguma forma, trabalho (...) o nosso modelo de jogo é trabalhado
em dois sistemas: o sistema defensivo e o sistema ofensivo e depois ainda
consigo, de alguma forma, porque tenho jogadores com esse perfil, em poder
dentro destes sistemas ter alternâncias, tanto no ofensivo como no defensivo, e o
modelo de jogo, basicamente, ou por outra, o fundamento do modelo de jogo
baseia-se nos sistemas que, de alguma forma o componhem.
O sistema defensivo, depois poderemos mudar por alguns sistemas
defensivos, um, dois, três (...) eu tenho dois sistemas defensivos. Os sistemas
ofensivos temos dois de raiz e depois tem, de alguma forma, algumas nuances
tácticas e estratégicas que complementam esses prórpios sistemas. Isto é o meu
modelo de jogo, que está basicamente alicerçado em dois sistemas ofensivos e
dois defensivos.
Anexo 2
TB – Divide, portanto, o jogo em 2 grandes momentos: ofensivo e defensivo. Não considera as transições? (TA) – As transições e a estratégia, nomeadamente de lances de bola parada,
cantos, livres e lançamentos que são componentes do modelo de jogo, mas como
complemento. Não são o essencial, partilho que o essencial sejam os sistemas
defensivo e ofensivo. Serão condicionadas através do estudo do nosso adversário.
São elas a parte do treino em que nós lhe damos mais especificidade em relação
ao adversário que vamos encontrar. Estes poderão ser os detalhes importantes
dentro do modelo de jogo que, de alguma forma, podemos (..) priviligiar mais nas
tansições. Temos, como tu sabes, dois tipos de transiçao: a defesa-ataque e a
ataque-defesa. O que é que vai condicionar este tipo de estratégia? (..)
essencialmente a capacidade fisica do nosso adversário, o sistema ofensivo
utilizado pelo nosso adversário, o sistema defensivo, alguns pormenores em
relação ao guarda-redes adversário. Fundamentalmente as transições têm a ver
com o adversário.
TB – Tendo em conta esse modelo de jogo, quando é que considera ser mais importante trabalhar essa “forma de jogar”? (TA) – O modelo de jogo é a nossa cartilha. Eu acho que é, fundamentalmente,
uma coisa extremamente importante. A partir do primeiro momento da época
deve-se, de alguma forma, trabalhar o modelo de jogo e todo o trabalho deve estar
orientado em função do modelo de jogo. O modelo de jogo tem de estar presente
em todos os treinos e em todos os jogos.
Anexo 2
TB – Nesse caso, o modelo de jogo que definiu para a equipa é reflexo da sua filosofia de jogo ou tive de efectuar alguns reajustamentos?
(TA) – A um nível destes, estamos a falar de uma primeira divisão patamar B, há
essa condicionante. Um treinador tem, por obrigação, analisar os seus jogadores e
dentro da qualidade técnica existente no seu plantel deverá entao elaborar o
modelo de jogo que tenha reunidos as qualidades técnicas dos seus jogadores
para fazer um desenvolvimento do modelo de jogo, para que não crie problemas
depois em termos de o treinar. O treinador tem as suas ideias em termos de
modelo de jogo, mas fica sempre condicionado à qualidade técnica dos seus
jogadores.
TB – E quais são os comportamentos que quer que a sua equipa tenha em campo nas diferentes fases de jogo, que me falou à pouco que eram a defesa e o ataque? (TA) – Comportamentos deste jogo, passam por um factor que, para mim, é
extremamente importante, que é a concentração. Saber analisar todos os
comportamentos do nosso adversário, essencialmente isto. O jogador de futsal de
um nível razoável ou elevado se não tiver este tipo de comportamento, se não
souber analisar com quem é que está a jogar, essencialmente isto, não vai
perceber se, de facto, aquilo que vai por em jogo, em termos do modelo que lhe foi
apresentado a treinar, irá ter muitas dificuldades.
Então quais são os comportamentos que eu, de alguma forma, lhes peço?
Essencialmente, muita concentração e uma disponibilidade muito grande em
perceber o jogo. Depois estamos a falar de uma situação que é perceber se os
nossos jogadores, de alguma forma, têm uma leitura correcta com aquilo que o
treinador pede e aí é que vai, para mim (...) se nós tivermos jogadores que
percebam o jogo, vão perceber o meu modelo, se eu tiver tiver jogadores que não
Anexo 2
percebam o jogo, vaão ter dificuldades em interpretar o meu modelo, ou seja, vai
então entroncar naquilo que é o modelo que eu preparo para a minha equipa em
função dos meus jogadores. Logicamente que estes comportamentos que eles
vão ter que perceber que ao atacar um sistema defensivo, vão ter de interpretar
um sistema ofensivo que lhes propus no modelo e vice-versa.
Não precisamos de ir muito longe, vejamos, por exemplo, o Módicus –
Benfica, em que nós temos um situação que é o nosso sistema defensivo é de
todo solicitado devido à qualidade do Benfica, que tem um sistema ofensivo
extremamente agressivo e de grande qualidade. Se os meus jogadores não
conseguirem interpretar o sistema ofensivo que treinam, não conseguirem
interpretar aquilo que o adversário quer, vão ter muitas dificuldades. Para isso é
preciso ter grandes níveis de concentração, fundamentalmente este jogo passa
por concentração. Os atletas que praticam futsal devem ter padrões de
concentração elevados, devem ter uma disponibilidade física muito grande e
devem ter acima de tudo uma coisa muito importante neste jogo, que é serem
correctos com eles próprios, ou seja, um jogador não pode estar em défice dentro
de campo. TB – A forma de atacar e defender exige grandes requesitos a nível técnico, fisico, tactico e psicológico. E entre estes quais considera mais importantes?
(TA) – De alguma forma é um conjunto de situações, o que, de alguma forma, nos
preocupamos é que ele esteja com estes padrões de comportamento sempre
elevados. Agora, essencialmente uma grande disponibilidade para o jogo é
importante. Começa por aí. Depois, eu em termos de jogo, dou uma importância
essencialmente à situação táctica, ou seja, ao comportamento em relação àquilo
que os atletas teriam de fazer.
E porque é que é importante? É importante porque é essa a base do
modelo. E então se nós pedirmos aos atletas que estejam preocupados com que
Anexo 2
eles ponham em prática os sistemas por nós treinados, todas as outras
componentes irão estar num patamar bom, razoável para enfrentarmos o jogo.
Precisamos, de alguma forma, que os atletas também percebam de que, de facto,
todas estas componentes estão ligadas e são todas importantes para que, de
alguma forma, tenham sucesso.
TB – Qual o papel do seu preparador físico?
(TA) – Não tenho. Não tenho preparador, tenho adjunto. Eu sei que esta
terminologia (...) o Mourinho criou uma ruptura em termos de filosofia de trabalho
não foi? (...) As pessoas esquecem-se que o Mourinho trabalha uma situação que
já tinha trabalhado e aprofundou-a. O sr. Van Gaal já trabalha assim há 10 anos.
O futsal é um bocado isto. Porque é que fazes essa pergunta? Eu sei porque é
que tu fazes essa pergunta, porque há uma coisa que eu luto muito contra isso
que é a futebolização do futsal. E então é assim, assim como nós temos o modelo
de jogo, assim como nós temos (...) e eu não diferencio os meus jogadores,
começa na baliza e o resto dos jogadores. Eu não tenho nem defesas nem
atacantes. Tenho jogadores que me preocupo com a universalidade deles. Numa
equipa técnica, eu continuo a dizer que não há nem treinador principal, nem
adjuntos, nem treinadores de guarda-redes, nem preparadores fisicos. Há uma
equipa técnica e, esta equipa técnica, tem de trabalhar, de alguma forma, numa
simbiose total e em equipa. Se me perguntar se eu sou o lider da equipa, ou seja,
o porta-voz. Sou. Mas a minha voz é um conjunto de opiniões.
TB – Falou-me atrás em trabalho específico. Tendo em conta o planeamento e a preparação do treino, qual a importância deste conceito e do trabalho em “especificidade”? (TA) – Trabalhar em especificidade, fundamentalmente é trabalhar (...) sobre
todas as questões do treino, sobre todos os elementos (...) é fundamentalmente
Anexo 2
trabalhar o modelo de jogo, modelo de jogo está concebido e tem de se trabalhar
em especificidade o modelo de jogo. Continuo a dizer que é trabalhar sobre todas
as componentes e introduzi-las no modelo de jogo. Através do modelo de jogo,
nós trabalhamos todas as componentes que são fundamentais para o rendimento
do atleta. Eu procuro, de alguma forma, trabalhar sobre este ponto de vista.
Agora, que, de alguma forma, é dificil...é, porque nós treinamos 3 vezes por
semana. E depois temos aqui algumas nuances, nomeadamente, a falta de tempo,
que não me permitem trabalhar estratégias e situações um bocado mais
analíticas, que de alguma forma, vai infuenciar a dificuldade em trabalhar em
especificidade. Agora, se eu fosse treinador de uma equipa profissional,
trabalhava só em especificidade.
Eu trabalho consoante o meu contexto. TB – Ligado ao modelo de jogo e aos seus princípios, aparece o conceito de “forma desportiva”. Na sua perspectiva, como é que o entende?
(TA) – A forma desportiva é (..) o que é estar em forma? É estar dentro das
capacidades reais que um atleta pode desenvolver, essencialmente isto, ou seja,
nós, ao longo de uma época, sabemos que há atletas que sobem e descem de
rendimento, podemos chamar a isto “forma desportiva”. É lógico que uma equipa
como a minha, em que tem factores condicionantes dessa própria produção
desportiva, estamos a falar de estudantes universitários, esta semana só pude dar
dois treins porque eles têm a queima das fitas e são situações que eu percebo,
podia não perceber (...) mas não e isso (...) é o pai que está doente, é o cão que
não sei quê, é a namorada. Tudo isto condiciona o rendimento desportivo. O meu
trabalho influencia o rendimento desportivo, mas há outra parte em que eu não
consigo dominar para que o seu rendimento desportivo seja o melhor que eles
têm. A forma desportiva é o que o atleta melhor pode dar. Estejam sempre no
patamar onde dão sempre o máximo. Esta, para mim, é que é a forma desportiva.
Anexo 2
TB – Acha que a concentração pode ser trabalhada? Se pode, como?
(TA) – A concentração é das coisas que mais se trabalha e que mais dificuldades
cria a um treinador.
TB –...e como é que a trabalha? (TA) – Essencialmente dando-lhes problema (...) problema. E dando-lhes sempre
alguma coisa que os obrigue a pensar. A concentração para mim, é trabalhada
essencialmente fezendo com que os meus jogadores estejam a pensar coisas
sobre o meu modelo de jogo. Ao estar-lhes a dar isso, consigo em grande parte,
que eles não se desviem daquilo que é pretendido. Têm de estar atentos e
concentrados naquilo que lhes vou estando semrpe a dizer, ou seja, direcciono-
lhes a concentração para o modelo de jogo e para o que estão a fazer. Depois hà
situações que eu não consigo dominar, onde os atletas vêm treinar por obrigação,
sem vontade, pois a disponibilidade dos atletas nestas equipas, não é total.
TB – E após um jogo, como é que operacionaliza a recuperação do esforço? (TA) – Simples. Bom fim de semana para todos e façam o que vocês quiserem.
Não lhes posso exigir mais nada. Na segunda-feira temos treino, perfeitamente
normal. Acho que não faz sentido um treino de recuperação passadas 48 horas.
Tem o domingo descansados e segunda à noite treino. É assim que eu faço. É a
minha realidade.
Anexo 2
ENTREVISTA AO TREINADOR B
Tiago Barros (TB) – Miguel, o que pensas sobre o treino e qual é a importância que dás ao treino? Treinador B (TB) – O treino é o espelho daquilo que nós vamos fazer no jogo(..)
ou seja, nós temos de analisar as caracteristicas do jogo, quais são as
características da nossa equipa, tentá-las potencializar e ver os nossos erros e
isso só se consegue fazer através do treino. Através de muitas repetições, muitas
correcções, muitas paragens e só é possível durante o treino. Claro que durante o
jogo também se consegue fazer algumas rectificações, consegue-se desenvolver
bastantes aspectos mas o treino é o caminha para o sucesso do jogo.
TB – Nessa tua perspectiva, então, é o treino que faz o jogo ou o jogo que faz o treino?
(TB) – O treino depende do que nós fazemos no jogo, ou seja, das nossas
capacidades, nós vamos trabalhar aquilo que está bem, mas acima de tudo aquilo
que está mal. Só conseguimos analisar no jogo, esse é o nosso ponto de
avaliação, é o jogo, para ver se conseguimos estarmos a trabalhar bem, se a
nossa metodologia está a ser bem aplicada e isso só se consegue fazer através
do jogo, ou seja, um espelho daquilo que nós fazemos no jogo.
TB – E quais são os objectivos fundamentais do treino, e qual é a melhor estratégia para os atingir? (TB) – Eu tenho uma maneira diferente de muita gente de trabalhar. Eu tento
trabalhar sempre na perspectiva de conseguir tirar proveito dos pontos mais
frágeis do adversário. Nós estamos em constante adaptação à filosofia do
Anexo 2
adversário, mantendo sempre os nossos princípios, ou seja, o que eu previligio
mais são os meus princípios e dentro dessa base tentamos aproveitar conforme
as características do adversário
TB – ...mas é preciso ter em atenção também para não dar demasiada importância às características do adversário para não correres o risco de perderes o “fio à meada” aos teus princípios... (TB) – Não, os meus princípios de jogo estão presentes para qualquer adversário,
são sempre os mesmos, a movimentação-base é sempre a mesma, agora eu
posso prviligiar os apoios no meio, paralelas ou jogo profundo, sair 4:0 mas com
chegadas em 2:2 ou 3:1, conforme as características do adversário.
TB – E o que entendes por Modelo de Jogo?
(TB) – Modelo de jogo (..) modelo de jogo é a movimentação-base, no meu
entender. Em termos ofensivos, porque em termos defensivos nós temos de estar
em constante adaptação, não podemos, eu pelo menos, não entendo que posso
definir a nossa estratégia base como sendo sempre a mesma, porque vou
encontrar adversários diferentes, estratégias diferentes, isto está sempre em
constante mutação. Por isso é que o jogo tem paragens e nós aproveitamos
qualquer interrupção para dar-mos novos feedbacks ou novas orientações, ou
seja, temos de estar sempre em constante adaptação, agora, se nós temos os
nossos princípios, temos de definir se queremos defender as alas ou se queremos
defender o meio e a partir daqui, se estiverem bem definidos os principios vão-se
conseguir adaptar a essas novas directrizes, não é assim tão dificil.
Anexo 2
Esse é o meu ponto de vista, o meu modelo de jogo tem uma movimentação-base
a a partir dessa movimentação tenho várias soluções e estratégias que podemos
utilizar.
TB – Quando é que consideras ser mais importante trabalhar essa “forma de jogar”? (TB) – Como assim?
TB – ...se dás mais ênfase no período preparatório, no competitivo, etc? (TB) – Sempre. Sempre. Não há alterações, os principios de jogo podem-se ir
desenvolvendo, não podemos andar a alterar.
TB – ...os principios, então são trabalhados desde o primeiro dia de trabalho? (TB) – Desde o primeiro dia até ao final da época. E se conseguirmos alcançar
esses objectivos, vamos definir novos objectivos.
TB – O modelo de jogo que definiste para a equipa é reflexo da tua filosofia de jogo ou tiveste de efectuar alguns reajustamentos?
(TB) – É um reajustamento à minha equipa e às equipas adversárias. As
diferentes divisões, que eu já percorri, obrigam-nos a tomar diferentes estratégias.
A estatégia que nós conseguimos utilizar no ano passado na 2ª Divisão não tem
resultados aqui, na 1ª Divisão, ou seja, tem de haver, para além da adaptação dos
jogadores e da minha adaptação aos jogadores para tirar proveito das suas
caracteristicas, tembém tem de haver uma adaptação às exigências do próprio
jogo.
Anexo 2
TB – No teu entendimento do jogo e no modelo de jogo criado, consideras importantes as fases ou momentos de jogo?
(TB) – O jogo é dividido de momentos, de segundos, ainda para mais nesta
divisão, qualquer segundo, momento conta. TB – ...eu estava-me a referir ao ataque, defesa e respectivas transições... (TB) – Nós tentamos desenvolver tudo. Na tentativa de desenvolver, por exemplo,
a posse de bola, ai trabalhamos só o ataque e condicionamos a defesa, apesar
de, em face às características da minha equipa, eu trabalhar muito mais as
transições defesa-ataque e ataque-defesa, do que propriamente a posse de bola.
É a minha adaptação à equipa.
TB – Tendo em conta esses mesmos momentos de jogo, quais são os comportamentos que queres que a tua equipa tenha em campo?
(TB) – São muito variados, ou seja, eu acho que nas equipas, de um modo geral,
não estão muito bem trabalhadas no aspecto defensivo individual, ou seja, poucos
jogadores fortes no 1x1 em termos defensivos e uma das coisas que procurei
desenvolver este ano foi esse aspecto. Se nós formos fortes em termos individuais
não precisamos de tantas ajudas, logo vamos ser mais pressionantes, vamos ter
mais probabilidades de sucesso(..)
Nos aspectos ofensivos tentar sempre criar situações de superioridade
numérica, tento fazer com que não haja ataque sem inferioridade numérica, não
se perca a bola de uma maneira inocente.
Anexo 2
TB – E há principios a que dês mais ênfase do que outros? (TB) – Não. Dou importância a todos. São inalteráveis e a base, sem essa base
não adianta nada trabalhar outras coisas, no meu entender...
TB – A forma de atacar e defender exige grandes requesitos a nível técnico, fisico, tactico e psicológico. E entre estes quais consideras mais importantes? (TB) – O mais importante é o psicológico. A experiência que eu adquiri este ano é
que a diferença é a nível psicológico. Os jogadores tem boas capacidades
técnicas e táctico, praticamente idênticas, mas a nível psicológico isso já não
acontece. Precisamos de 10 oportunidades para marcar 1, e eles precisam de 3.
Isto vem não só através da maturidade, é da serenidade de outros factores, com
por exemplo as vitórias. O que eu acho mais importante desenvolver, não
descurando os outros aspectos é sobretudo o psicológico. É por isso que, apesar
de estarmos como estamos, nunca viramos a cara a nenhum jogo nem a ninguém
e lutamos até ao fim.
TB – Qual o papel do teu preparador físico?
(TB) – Nós no Junqueira não temos preparador físico. O treino é integrado em
todos os aspectos, ou seja, o fisico, táctico, técnico, está tudo integrado. É claro
que previligio algumas situações em relação a outras mas se nós treinarmos o
volume de treino que temos, chega perfeitamente para termos uma carga fisica
muito boa, ou seja, o Junqueira apesar de ter tido alguns altos e baixos, derivados
de lesões e de trabalho e isso faz com que a forma descresça um bocadinho.
Agora a nivel fisico não tenho tido grandes lesões, portanto não vejo necessidade
de ter um preparador fisico.
Anexo 2
TB – Ligado ao modelo de jogo e aos seus princípios, aparece o conceito de “forma desportiva”. Na tua perspectiva, como é que o entendes?
(TB) – Entendo como a capacidade de um jogador potencializar o que é
trabalhado. Quantas mais vezes conseguir potencializar essas situações, mais em
forma está. Agora nós temos de adaptar isso às caracteristicas do jogador.
TB –...no fundo é o jogador estar adaptado à forma de jogar... (TB) – Sim, assim como a forma de jogar está a adaptada a cada jogador(..) é
uma bola de neve...
TB – E após um jogo, como é que operacionaliza a recuperação do esforço? (TB) – Não tenho problemas porque os jogos são todos ao sábado. Temos folga
ao domingo e na segunda-feira começaos o trabalho normal.
TB – Fala-se muito no trabalho específico. Tendo em conta o planeamento e a preparação do treino, qual a importância deste conceito e do trabalho em “especificidade”? (TB) – A especificidade que tenho desenvolvido é mais evidente em aspectos
técnicos dealguns jogadores. Temos desenvolvido principalmente a finalização,
que é uma das pechas, e alguns aspectos tácticos, principalmente. Agora temos
incidido em alguns jogadores que têm mais dificuldade. É isso...
Anexo 2
TB – Achas que a concentração pode ser trabalhada? Se pode, como? (TB) – Através de rotinas. Quanto mais rotinas nós temos, mais o jogaodor se
adapta. Logo mais sucesso, quanto mais sucesso, mais motivado e concentrado
está. TB – ...mas as rotinas não acabam por criar um “facilitismo” no jogador por estar tão habituado? (TB) – Rotinas no principio não no exercício, ou seja, posso modificar o exercício
com um objectivo diferente... TB – ...falas de um aumento de complexidade no exercício? (TB) – Sim. Claro, se os jogadores já atingiram esse patamar, vamos andar para a
frente...
Anexo 2
Anexo 2
ENTREVISTA AO TREINADOR C
Tiago Barros (TB) – Prof, o que pensa sobro o treino e qual é a importância que dá ao treino? Treinador C (TC) – O treino é a base do nosso trabalho. Você quando faz um
planeamento de uma época desportiva tem, basicamente, o treino como a
prioridade daquilo que você prentende em cima daquilo que você vai realizar. O
treino é a base de todo o teu planeamento.
TB – E, tendo em conta essa perspectiva, considera que é o treino que faz o jogo ou o jogo que faz o treino? (TC) – Olha, nós podemos analisar dentro de duas perspectivas. A primeira delas,
você trabalha o treino em função daquilo que você vai ter no jogo e você faz o jogo
em função daquilo que você tem no treino. Porque se analisarmos as situações
você trabalha, no teu dia a dia, em função daquilo que você vai encontrar no
próximo final de semana ou no próximo jogo, né?(...) e na próxima semana você
vai trabalhar em cima daquilo que você encontrou naquele final de semana. Se
você teve um jogo com alguma nuance diferente, com alguma situação diferente
ou alguma abordagem táctica diferente, na semana seguinte ou no teu próximo
microciclo, de repente, você vai tentar adaptar aquilo que você teve no jogo dentro
da tua realidade do treino.
TB – E quais são os objectivos fundamentais do treino, e qual é a melhor estratégia, para o prof, para os atingir? (TC) – Olha, nós podemos analisar dentro do ponto de vista de traçar objectivos.
O primeiro dele é: o que vamos fazer? O porquê vamos fazer? E como vamos
Anexo 2
fazer?(..) Então é basicamente em cima disso que você organiza e planeia todo o
seu trabalho.
TB – ...no fundo estamos a falar duma programação, duma planificação e duma periodizaçao.... (TC) – Exacto. Excatamente. Isso tudo funciona em cima daquilo que você
pretende: objectivos a serem propostos, objectivos a serem cumpridos e como vão
ser cumpridos.
TB – ...e esses objectivos poderão ser objectivos fisicos, objectivos tácticos, objectivos técnicos ou outros objectivos? (TC) – Logicamente(...) quando você faz um programa, uma periodização, você
pretende(...) num primeiro momento um plano global e apartir de determinado
momento você vem trazendo para planos mais especificos daquilo que você
pretende, nê?(...) Você idealiza, entre aspas, um macrociclo com objectivos gerais
do que é que o clube ou aquilo que você pretende do qual você vem trazendo para
objectivos mais especificos daquilo que você pretende a médio prazo, ou seja,
coisas que nós fazemos dentro de mesociclos(...) que são(...) a palavra correcta
não seria isso, mas digamos, mesociclos especificos dentro daquilo que você
pretendo do aspecto táctico e depois você vem para coisas mais sucintas daquilo
que você faz no teu microciclo semanal, digamos assim, durante a tua semana. E
aí é que entra aquela questão que a gente estava conversando assim
informalmente, né?(...) Dentro da periodização táctica(..) Eu, para mim(...) existem
dois períodos numa época, que é você trabalhar período preparatório, período
competitivo. No período preparatório você dá a base toda daquilo que você quer
no trabalho a desenvolver. A partir do período competitivo você(...) eu,
desenvolvo mesociclos, entre aspas, com nuances do aspecto táctico daquilo
pretende, daquilo que você quer, dentro do contexto táctico. É isso que eu
Anexo 2
entendo por periodização tática, de você trabalhar em função de determinados
aspectos que você vai lapidando no teu dia a a dia e por ai fora.
TB – Em relação, agora ao Modelo de Jogo. O que entende por Modelo de Jogo? (TC) – Modelo de jogo, para mim, é aquilo que você pretende, dentro de uma
equipa, dentro de um clube(...) de você desenvolver determinados mecanismos
tanto do ponto ofensivo, como do ponto defensivo. Isso envolve n situações. Você
tem que ter um modelo de jogo, do ponto de vista ofensivo e um modelo de jogo,
do ponto de vista defensivo. E a partir dai você tem o modelo de jogo da equipa. É
lógico que, na minha concepção de ver as coisas, tenho de ter uma determinada
directriz de trabalho e posso te dar bases para que você a partir daí consiga
trabalhar n variantes para que isso se encaixe com as dificuldades que os
adversários vão-te impôr do ponto de vista ofensivo e do ponto de vista defensivo,
ou seja, no meu modelo defensivo eu tenho que estar enquadrado para quando eu
precisar de defender em pressão, defender em todo o campo, ter determinadas
soluções para enfrentar qualquer tipo de soluçao que o adversário tem nesse
sentido e para quando eu tiver de defender ou em inferioridade numérica ou em
situações de (...) que eu faça uma opção por defender em zonas mais recuadas
no terreno que eu também tenha soluções para fazer isso. E do ponto de vista
ofensivo eu tenho que ter , no meu modelo de jogo, no meu modelo ofensivo,
situações em que se enquadrem, do ponto de vista, para enfrentar qualquer tipo
de defesa que a equipa adversária me proporcione. Agora na última
intercontinental, por exemplo, nós tivemos uma situação em que uma equipa
brasileira veio com uma defesa em quadrantes em que aqui em Portugal não se
trabalha isso e nós tivemos dificuldades em trabalhar em cima dessa situação. E
aí é uma questão de você conseguir trabalhar ou montar o seu modelo de jogo
ofensivou em função daquilo que você vai enfrentar dentro de competições. Isso
Anexo 2
tudo depois é uma questão de adaptação, de você adaptar determinadas coisas
em função daquilo que você vai ter pela frente.
TB – Quando considera que é mais importante trabalhar essa forma de jogar?
(TC) – É sempre em função de você ter determinadas directrizes(...) obedecer a
determinadas directrizes e ter variantes para que elas enquadrem as dificuldades
que você vai encontrar, tanto do aspecto ofensivo como do defensivo.
TB – ...então essas dificuldades serão encontradas fim de samana a fim de semana, jogo a jogo, portanto será importante trabalhar essa forma de jogar durante o ano competitivo todo... (TC) – É lógico. Você desenvolve um modelo de jogo, que é o que falamos
anteriormente, e que esse modelo de jogo se enquadre dentro daquilo que você
vai encontrar perante a época desportiva, então, a cada microciclo você trabalha a
sua equipa em função daquilo que você vai enfrentar no próximo final de semana.
Mas não quer dizer com isso que você vai sair totalmente daquilo que você
planeou, porque você tem que tentar ter um modelo de jogo que englobe todas
essas situações. Você não pode a cada semana trabalhar uma situação, você tem
que ter um modelo de jogo global, em que, você consiga fazer determinadas
adaptações em cima daquilo que você vai pegar pela frente.
TB – No seu caso, o modelo de jogo que definiu para a sua equipa é reflexo da sua filosofia de jogo ou teve de efectuar alguns reajustamentos?
(TC) – Isso acontece no nosso dia a a dia, em função de caracteristicas de
jogadores, em função de determinadas limitações que você tem de plantel e por ai
fora. É por isso que eu refiro para você que nós temos de ter um modelo de jogo
Anexo 2
global e que esse modelo de jogo seja maleável em função das dificuldades que
encontramos(..) ou seja, caracteristicas de jogadores que nos chegam,
dificuldades às vezes em função de lesão e alguma coisa que acontece durante a
época e que você possa, de repente, adaptar determinadas situações em cima
daquilo que você pretende.
TB – No seu entendimento do jogo e no modelo de jogo criado, considera importantes as fases ou momentos de jogo?
(TC) – Lógico. Você deve de obedecer a determinados princípios do desporto. E
quem fala sobre futsal nós sabemos que existem os princípios de jogo que são
fundamentais dentro daquilo que você faz. Agora o mais importante disso tudo é
que os jogadores tenham conhecimento e tenham noção do que é que são esses
princípios de jogo. Ai a partir dai, é lógico você obedecendo esses princípios de
jogo pode fazer com que você tenha muito mais facilidade para desenvolver o teu
modelo de jogo ou qualquer coisa que você pretenda dentro do contexto de uma
equipa.
TB – E agora que me falou nos princípios de jogo, quais são os principios que o Prof. Adil defende ou que quer que a sua equipa tenha em campo em determinados momentos de jogo?
(TC) – Bom, aí existe uma grande questão que é a quastão às vezes da
terminologia, a forma como nós abordamos a terminologia ou determinadas coisas
que nós falamos dentro do futsal. Porque existe uma linguagem, às vezes, um
tanto ou quanto controversa dentro daquilo que você entende ou pretende dentro
do contexto do jogo. Eu, por exemplo, analiso o futsal dentro de contexto de
principio de jogo da seguinte maneira: primeiro a tua organização defensiva,
segundo a tua organização ofensiva e todas as variantes que conduzem a esses
principios tanto defensivos como ofensivos, depois o processo de transição:
Anexo 2
ataque-defesa e defesa-ataque, então, você obedecer a esses princípios e os teus
jogadores terem noção do que é que tem de fazer em cada fase desssas
situações, eu penso que é o fundamental para que a partir dai você consiga fazer
variações do que você pretende dentro do aspecto táctico. É lógico que muitas
vezes algumas dessas coisas que nós falamos dentro do contexto de vista, que
para alguns é princípios de jogo, para mim são movimentações básicas dentro do
futsal. Quando você fala, por exemplo, a nível de organização ofensiva em cima
de movimentos básicos como paralelas, diagonais e tal. Isso para mim não são
princípios, são movimentações básicas. Ai é que está aquela questão da
terminologia.
TB – ....mas em relação a esses princípios, e em relação aos diferentes momentos de jogo que me falou: o ataque, a defesa e as transições quais são os comportamentos que o Prof Adil quer que a sua equipa tenha em campo? (TC) – Basicamente, a primeira coisa que eu achoque um jogador de futsal deve
de ter e aquilo que a gente sempre vem defedendo ao longo do tempo, é a base
significa tudo, tanto a nivel ofensivo como defensivo na ocupação dos espaços. É
você ocupar o espaço de uma forma ordenada e inteligente. Você se mexer no
terrreno de uma forma ordenada e inteligente. E eu defendo uma coisa que eu
chamo de compactação, que não sei se é o termo que vocês usam aqui ou não, é
uma compactação ofensiva e defensiva. A tua equipa vale pelo conjunto e todos
tem de trabalhar em função (...) uns em função dos outros. Você trabalhar e fazer
o teu melhor em função daquilo que os teus colegas pretendem que você faça e
aquilo que você vai fazer para que teus colegas tenham condições para trabalhar
melhor. Eu defendo isso, na minha equipa a gente trabalha assim. Nos temos, por
exemplo, grandes jogadores, jogadores com uma capacidade técnica acima da
média, com uma inteligência táctica acima da média e é isso que nós
pretendemos dentro do nosso modelo de jogo, ás vezes criar situações para que
Anexo 2
esses jogadores possam colocar em prática, dentro daquilo que nós pretendemos,
a suas capacidades individuais.
TB – ....em relação a essas capacidades individuais, a forma de atacar e defender e as próprias transições exigem grandes requesitos a nivel técnico, fisico, tactico. E entre estes quais considera mais importantes?
(TC) – Dentro dessas circunstâncias nós não podemos generalizar as coisas ou
especificar as coisas, melhor dizendo, nós temos de trabalhar isso de uma forma
mais geral. Porque dentro do contexto desses princípios: primeiro, se você não
tiver uma equipa dotada de uma capcidade fisica interessante você não consegue
trabalhar uma defesa forte, trabalhar transições rápidas porque vai faltar
velocidade. Por outro lado, se você analisar essas circunstâncias você vai ver que
se você tiver uma equipa extremamente dotada de uma capacidade fisica mais se
não tiver raciocínio táctico, quando você rouba uma bola não sabe o que fazer
com ela e por ai fora. Então nós não podemos tratar isso de uma forma especifica.
Nós temos de tratar de uma forma geral. E é por isso que gente analisa a questão
do treino, e aí voltamos à sua questão inicial aqui, onde falamos da periodização
do treino, ou da periodização táctica ou até do ponto de vista que eu prefiro dizer,
daquela famosa questão do treino integrado, de você juntar todas as vertentes que
você tem de trabalhar ou todas capacidades motoras e as (..) capacidade técnicas
e tácticas do jogador dentro do contexto do treino. Para que você possa ter um
rendimento, para quando chegar nessa situação, por exemplo, que você me
propôs aqui, de que a minha equipa esteja a 100% do ponto de vista fisico, mas a
nivel de raciocinio táctico daquilo, que nós pretendemos, esteja a zero. Então acho
que nós temos de trabalhar isso dentro de um contexto(..) de quando você tiver
determinadas situações para enfrentar durante um jogo, você consigas resolvê-las
da melhor maneira possível.
Anexo 2
TB – Qual o papel do seu preparador físico?
(TC) – Olha aqui, nós entramos justamente naquela situação em que nós estamos
a falar do esquema do treino integrado. Eu, defendo a questão do treino integrado,
mas com algumas nuances, em cima de dois pontos de vista. Eu acho que você
consegue fazer ou realizar n coisas dentro do treino integrado, agora tem duas
vertentes que para você conseguir ter ou tirar o melhor proveitamento dos
jogadores você tem de trabalhar elas de forma especifica. E aí eu cito: por
exemplo o trabalho de força, que é o que nós fazemos num trabalho de
complementação a nivel de ginásio e ai que entra o trabalho do meu preparador
físico, temos o trabalho a nível de flexibilidade, que eu acho fundamental, para que
você desenvolva as outras capacidades motoras e até o trabalho de coordenação
e situações que vão-te favorecer dentro do ponto de vista a nível táctico e técnico
e fisico. E a última questão do ponto de vista da velocidade, apesar de que, na
velocidade nós incluímos a nivel do treino integrado muitas situações voltadas à
situação do jogo, mas fazemos também muitos estímulos de velocidade puros.
Porque eu acho que a velocidade em si, para você trabalhar ela ao melhor nível,
você tem de trabalhar ela de forma distinta, de uma forma pura e integrada, então
é isso que nós fazemos. O meu preparador fisico é fundamental dentro desses
aspectos, trabalhoao nivel de flexibilidade, de força e de velocidade.
TB – Falou-me à pouco em trabalho específico. Tendo em conta o planeamento e a preparação do treino, qual a importância des te conceito e do trabalho em “especificidade”? (TC) – Justamente o que te tinha falado. Praticamente respondi a essa pergunta
nas colocações que te dei anteriormente. Eu acho que para nós(..)
conseguirmos...para nós conseguirmos...atingir o melhor nível dos jogadores, você
tem de trabalhar, em algumas circunstâncias, em nível individualizado. Força, para
mim, por exemplo, é uma delas. Por exemplo, o nosso preparador físico trabalha
Anexo 2
com uma máquina que nós temos lá no clube de cinesiologia(...) de você fazer
medições de força de membros individualizados, de musculatura agónica e
antagonica, de você conseguir depois fazer um equilibrio a nivel de um trabalho
especifico em cima desses jogadores. E do ponto de vista da flexibilidade também,
porque a gente sabe perfeitamente que nem todos tem a mesma capacidade de
flexibilidade, de um jogador para o outro. E depois do ponto de vista de
velocidade, onde nós trabalhamos aspectos do ponto de vista de velocidade pura,
ne?(...) e depois de outros aspectos integrados onde a gente envolve a velocidade
de reacção e tal, dentro de nuances que nós temos no jogo, situações directas do
jogo.
TB – Ligado ao modelo de jogo e aos seus princípios, aparece o conceito de “forma desportiva”. Na sua perspectiva, como é que entende este conceito? (TC) – Ai está aquela questão de terminologia. Forma desportiva, o que é que
para você é forma desportiva...?
TB –...para mim, é ter uma equipa a pensar toda da mesma maneira nos diferentes momentos de jogo, a jogar bem, a ganhar os jogos, onde todos os jogadores estão adaptados à “forma de jogar” da equipa, numa rentabilidade estável... (TC) – Perfeito...é aquela questão de terminologia. Para mim, analisaria isso num
contexto individual, mas dentro dessa concepção que você tem de forma
desportiva eu acho que realmente é isso, né?(..) Você tem que trabalhar,
principalmente quando trabalhamos dentro do contexto de um desporto colectivo
como é o futsal, você tem de procurar agregar, todas as forças e as condições de
trabalho que você tem para que realmente e gente consiga alcançar o máximo de
rentabilidade dos jogadores que você tem à disposição.
Anexo 2
TB –...isto é, vai procurar “patamares de rentabilidade” e não picos de
forma”?
(TC) – Sempre, porque a partir do momento que você defende essa ideia de
Periodização Táctica, você não trabalha em cima de picos de forma, nè? A não
ser que esteja muito por fora do contexto do treino desportivo. Mas daquilo que eu
aprendi, daquilo que a gente vem acompanhando dentro do desenrolar do trabalho
a nivel da metodologia do treino, quando você fala em termos de periodização
táctica procura desenvolver determinadas capacidades, determinadas habilidades,
no preperatório e mantê-las dentro de um período competitivo. Então eu não
posso, por exemplo, dentro de um campeonato longo, como é o campeonato
português(...) já posso dizer para você o seguinte, se eu trabalhasse, por exemplo,
no Brasil, onde nós temos competições específicas, poderia trabalhar em cima de
picos de forma, mas como aqui nós temos uma calendário longo, nós temos um
período competitivo de aproximadamente dez a onze meses. Então é muito dificil
de você trabalhar dentro de um contexto de picos de forma, né?(...) com doze,
quinze atletas todos a atingir o pico de forma naquela fase(...) é muito complicado.
Então eu defendo a ideia que nós temos de trabalhar em cima da periodização
táctica mesmo. Você fazer um período preparatório, depois desenvolver o aqueles
mesociclos que eu digo, entre aspas, daquilo que se pretende dentro do ponto de
vista táctico, não do ponto de vista fisico, porque aqui você tem de trabalhar no
período preparatório e no período competitivo você tem de procurar manter um
nivel de capacidades motoras da tua equipa no melhor que puder.
TB - Acha que a concentração pode ser trabalhada?
(TC) – A...?
TB - ...concentração...
(TC) – Nós fazemos isso muito.
Anexo 2
TB - ...como?
(TC) – Através de n exercícios e n trabalhos que fazemos dentro do ponto de vista
táctico, até no desenrolar de exercícios técnicos e tácticos onde os jogadores o
máximo de atenção e concentração em todos os momentos. Para te citar um
exemplo simples aqui(...) por exemplo, n exercícios que nós fazemos em que
todos os jogadores trabalham com a mesma cor do equipamento. Isso obriga eles
a pensar o que estão a fazer ou com quem estão a jogar. Então essa é uma das
formas que tenho para trabalhar a concentração.
TB – E após um jogo, como é que operacionaliza a recuperação do esforço? (TC) – A gente trabalha da seguinte maneira: primeiro tem a fase natural de
recuperação que os jogadores tem com a folga. Depois, você faz uma avaliação
rápida no treino seguinte, digamos assim, ao jogo onde você faz uma avaliação
geral, do ponto de vista clínico(..) todos os jogadores passam pelo departamento
médico, onde fazem uma avaliação clínica, e a partir dai começam a trabalhar.
Geralmente, essa recuperaçao que você fala, nós fazemos do ponto de vista
recreativo, com actividades recreativas onde você faz essa suposta recuperação.
Apesar de que muitas vezes entramos directo ao trabalho que se pretende, porque
a nossa recuperação geralmente é feita em cima de trabalho de resistência
aeróbia(...) Recreativo, exercícios de brincadeita e tal, mas já entrando no principio
de resistência aeróbia. Aí você faz o relaxamento da “cabeça”. Agora trabalho de
recuperação pura, não se faz não.
Anexo 2
Anexo 2
ENTREVISTA AO TREINADOR D
Tiago Barros (TB) – O que pensa sobre o treino e qual é a importância que dá ao treino? Treinador D (TD) – O treino, para mim, é a minha principal ferramenta de
trabalho. É atraves do treino que eu operacionalizo a nossa forma de jogar.
TB – Falou-me agora no treino e no jogo, na sua perspectiva, é o treino que faz o jogo ou o jogo que faz o treino?
(TD) – As duas coisas. Primeiro porque dentro do jogo temos os princípios,
portanto e utilizo no jogo os princípios do nosso jogo, reartindo dentro dos 4
momentos de jogo, portanto, ataque, defesa e transiçoes ataque-defesa e defesa-
ataque e repartindo os princípios de cada uma destas situações, daí o interesse
do jogo em relação ao treino. A forma como eu trabalho, como eu operacionaliza,
a forma como eu vou do geral para o particular nestas fases, daí a importância do
treino em realação ao jogo.
TB – E quais são os objectivos fundamentais do treino, e qual é a melhor estratégia para os atingir?
(TD) – Nós não utilizamos nem macrociclos, nem mesociclos. Tenho microciclo e
dsó trabalho com eles e depois, como é lógico, as unidades de treino. Como o
microciclo que trabalho é igual do princípio ao fim da época, salvo raras exepções,
se temos jogos a meio da semana ou não. Já que, desde o primeiro dia da época,
a fase preparatória, até ao último treino, o período competitivo, tirando a
intensidade e volume, portanto temos essas duas variáveis, todo o tipo de trabalho
que faço na pré-época e exatamente o mesmo tipo de trabaho que faço durante o
Anexo 2
período competitivo, ou seja, divido (...) tenho objectivos próprios para cada dia da
semana, tenho objectivos próprios para o treino da manhã e o treino da tarde, já
que temos treino bi-diarios quase todos os dias e dái seguindo o nosso
planeamento semanal, é ai que eu vou utilizando um barómetro em relação às
cargas do dia anterior, se posso avançar ou se estabiliza, sempre olhando o
objectivo do dia seguinte. Não sei se me fiz entender.
TB –...utiliza, então, um microciclo-padrão... (TD) – Exatamente, onde a única coisa que vai mudando é (...) vamos ver (...)
inicio da época, vou dar um maior enfâse aos princípios correcto? Depois de eles
estarem assimilados por parte de todos os intrevenientes, não dou tanta
importância de uma forma particular, mas partindo já para situações do nosso
modelo de jogo, de uma forma mais geral.
Numa fase inicial trabalho mais o particular e à medida que já estão
adaptados áquilo que pretendemos vamos partindo para situações de jogo para o
geral.
TB –...falou-me à pouco numa alternância entre volume e intensidade. Isto quer dizer que esse tal microciclo rege-se pela forma física dos seus jogadores? (TD) – De dia para dia, ou seja, nós começamos a semana com maior volume e
menor intensidade e à medida que nos vamos aproximando do dia do jogo
baixamos o volume e aumentamos a intensidade, e é sempre com esta paramêtro
semanal que nós trabalhamos, tirando aquelas duas semanas iniciais, que
normalmente se trabalha mais em volume, mas dai para a frente o nosso patamar
é sempre o mesmo.
Anexo 2
TB – E o que entende por Modelo de Jogo? (TD) – Modelo de jogo é (...) todos os principios de jogo adoptados por nós, neste
caso, dentro da perspectiva das caracteristicas dos nossos jogadores, tirando o
máximo partido deles em prol do colectivo.
TB – isto quer dizer que o modelo de jogo que definiu para a equipa é reflexo da sua filosofia de jogo ou é também adaptado...
(TD) –...às caracteristicas dos nossos jogadores.
TB – Falou-me atrás nos 4 momentos de jogo: ataque, defesa e respectivas transições. Tendo em conta estes momentos, quais são os comportamentos que quer que a sua equipa tenha em campo? (TD) – Comportamentos em que aspecto?
TB –...princípios... (TD) – Tenho mesmo de os escalpelizar?
TB –...não, não. Os grande princípios... (TD) – Na defesa, pressão constante sobre o portador da bola, tentar equilibrar ao
máximo os dois corredores mais próximos da bola (...) nas transições, tentar
ocupar sempre (...) na transição ofensiva ocupar sempre que possível os 3
corredores do jogo, para que possamos conduzir a bola sempre no corredor
central, o tranporte da bola deve ser o mais rápido possível utilizando o menor
número de toques. No ataque organizado tentamos criar sempre 2 apoios para o
condutor da bola, um atrás e um central, ao mesmo tempo criar um movimento de
Anexo 2
apoio ou de ruptura no sistema deensivo adversário e na transição ataque-defesa
tentamos criar o mais possível superioridade numérica de forma a ocuparmos
racionalmente os espaços de forma a, primeiro, tentar conter o contra-ataque do
adversário, não conseguindo, tentando equilibrar o mais possível o nosso sistema
defensivo.
TB – Quando lhe perguntei acerca dos princípios, questionou-me se os tinha de escalpelizar, isto quer dizer que provavelmente divide ou sub-divide os princípios....
(TD) – Sim, exatamente (...) por isso perguntei se seria necessário escalpelizá-los
todos. De qualquer forma estes são os nossos grandes princípios das diferentes
fases de jogo.
TB – A forma de atacar e defender exige grandes requesitos a nível técnico, fisico, tactico e psicológico. E entre estes quais considera mais importantes? (TD) – De uma forma geral, trabalhamos todos eles de forma integrada, dando
maior enfâse aqueles em determinadas situações, por exemplo, nas transições, de
certeza absoluta que, para além da parte técnica, a parte fisica vai ser muito
importante, sejam elas ofensivas ou defensivas, as transições. Se estiver a
trabalhar a componente do ataque organizado, já tenho de dar muito maior enfâse
à técnica e táctica. Na defesa, também já tem a ver com a parte psicológica,
principalmente se estivermos a trabalhar inferioridade numérica defensiva e é
muito importante o tipo de concentração, a parte volitiva do atleta, portanto, vamos
adaptando os principios de acordo com as situações mais especificas
Anexo 2
TB – Falou-me agora na concentração. Acha que a concentração pode ser trabalhada? Se pode, como? (TD) – Claro que sim. Aliás pode ser treinada. Nós utilizamos algumas técnicas
que possa por ao de cima essa concentração. TB – ...quais? (TD) – Utilizamos muitas das vezes situações que estão incluídas no próprio jogo.
Para mim, o treino tem de ser o mais parecido com o jogo. Como é lógico, num
treino propriamente dito, num treino normal, não ocorrem dois tipos de pressão
que há no jogo, o tempo e o resultado e é através destes dois factores que nós
trabalhamos os exercícios em que os jogadores estão limitados pelo tempo ou
estão subjugados ao resultado. E eu penso que estes dois factores contribuem
bastante para trabalhar a concentração dos atletas. Esta semana, por exemplo,
treinamos bastante situações de bola parada e ruído exterior, para apelar ainda
mais à concentração. E tudo isso, não é mais nem é menos do que o apelar ao
trabalho da concentração dos nossos atletas. TB – Qual o papel do seu preparador físico?
(TD) – Eu, de facto, ao contrário dos meu outros colegas, não tenho treinador
adjunto, tenho, de facto um preparador fisico. E qual o papel dele? Eu acho, que,
por muitos que nós, treinadores, queiramos abranger muitas áreas, acho que há
áreas especificas. Não tendo eu um conhecimento académico da componente
física, optei por, absorver uma pessoa que de facto é especialista naquilo que eu
acho que é o trabalho do futsal, movimentos explosivos e repetidos (...) Fui buscar
uma pessoa que não sabia sequer o que era o futsal, mas que a grande
especialidade dele era exactamente trabalho com velocistas e em que se
Anexo 2
trabalhava imenso a explosão e para além disso também a forma como ele geria o
trabalho de base, de ginásio, na preparação da equipa que era o que me faltava
como componente principal para o meu trabalho técnico e táctico. E daí eu dizer
que, se calhar, 50% desta equipa é do preparador físico TB – Utiliza, então, o ginásio como complemento aos treinos?
(TD) – Exactamente.
TB – Fala-se muito no trabalho específico. Tendo em conta o planeamento e a preparação do treino, qual a importância deste conceito e do trabalho em “especificidade”?
(TD) – A forma como eu caracterizo e sub-divido todas as acções do meu modelo
de jogo. A importância da especificidade para mim é esta: quando eu falei à pouco
que nós tinhamos um microciclo-padrão, o trabalho que nós fazemos de segunda
a quinta-feira (...) trabalhamos o nosso modelo de jogo, trabalhamos a nossa
forma (...) alias o nosso trabalho de uma forma continuada, mas a partir, não sei
se isto vai responder à sua pergunta, a especificidade tem a ver essencialmente
(...) porque eu já trabalhei no inicio da semana dentro das caracteristicas dos
meus atletas, a parte do nosso modelo de jogo, mas depois a especificidade vai
de encontro às caracteristicas do adversário. Não seise lhe estou a responde rà
pergunta ou não. Ou seja, o meu trabalho na parte final da semana, foge um
bocado daquilo que é o nosso modelo de jogo e tento adptá-lo às caracteristicas
do adversário e aí trabalho especificamente. Da forma como poderemos jogar, em
relaçao às caracteristicas do adversário.
TB – Faz então um estudo do adversário? (TD) – Tenho que o fazer.
Anexo 2
TB – Não teme que isso seja prejudicial ao seu modelo de jogo? (TD) – Não, não é. Porque quando nós falamos que temos um modelo de jogo,
que temos um principio em que vimos a trabalhar ao longo do ano. A partir da 2ª
volta já todas as equipas sabem como atacamos e como defendemos e como é
lógico, tem de haver algumas alterações. Essas alterações nós fazêmo-las
semanalmente. A forma de eu atacar o adversário X não tem a ver com a forma de
eu atacar o adversário Y. Nós temos, 4 rotinas de ataque, posso-lhe chamar
assim, em que trabalhamo-las semanalmente, mas se calhar, para um adversário
não preciso detrabalhar em tanta quantidade as 4, mas vou utilizar mais 2, então
dou maior enfâse às 2. Quem diz para o ataque, diz para a defesa.
Semanalmente, nós trabalhamo-las todas no inicio da semana e quando vamos
trabalhar especificamente para um determinado adversário deixamos aquilo que
achamos que não vai ser tão necessário e concentramo-nos no especifico.
TB – Ligado ao modelo de jogo e aos seus princípios, aparece o conceito de “forma desportiva”. Na sua perspectiva, como é que o entende?
(TD) – Forma desportiva é desde o primeiro jogo do período competitivo até ao
último. Vamos manter a forma desportiva o mais nivelada e por cima. Sabemos
que às vezes não se consegue, principalmente quando o plantel é curto, os
jogadores mais utilizados quantitativamente não são (...) em número elevado, há
lesões. Mas tento sempre, e felizmente tenho conseguido isso, pôr mais ou menos
o Sporting numa forma desportiva (...) não temos picos, pronto...é isso. Quando
tento fazer isso, dei-me mal, por exemplo, temtamos fazer isso para a UEFA CUP,
para um ciclo onde vamos ter jogos muito concentrados com pouco tempo e
recuperação, mas não me tenho dado bem com isso, quando quero fazer grandes
alterações porque a equipa está rotinada.
Anexo 2
TB – E após um jogo, como é que operacionaliza a recuperação do esforço? (TD) – Depende. Por exemplo, nós não utilizams o treino do dia seguinte.
Treinamos, normalmente 24/36 horas depois do esforço fisico e muito
honestamente já não há muito a recuperar. Porque o jogador está habituado a
treinar às 10.30 da manhã e as 17.30 da tarde e no dia seguinte outra vez,
portanto o tempo de recupreação dele já está bem trabalhado. Mas fazemos
sempre um trabalho de, pelo menos, como tiveram um tempo anormal de paragem
a seguir ao jogo, fazemos apenas um trabalho de reaproximação ao esforço.
Emocionalmente, já agora, o tipo de trabalho que nós fazemos é simples. E
fazemos isto todos os treinos a seguir ao jogo, e acho que isto é o melhor que é,
cada jogador, olhos nos olhos de todos, fazer a sua análise do jogo, e fazer o seu
mea-culpa, o que teve bem e o que teve mal, penso que quando terminámos esta
fase, está tudo dito, já não tenho grandes coisas para dizer e penso que
psicologicamente o jogador (...) pode haver coisas mehores, mas esta tem dado
bons resultados.
Anexo 2
ENTREVISTA AO TREINADOR E
Tiago Barros (TB) – O que pensa sobre o treino e qual é a importância que dá ao treino? Treinador E (TE) – Primeiro, o trabalho aqui é feito pela equipa técnica, os três(...)
pelos três elementos, pensamos os três em conjunto. E aquilo que nós pensamos
do treino(...) nós não diferenciamos muito o treino do jogo, ou seja, aquilo que nós
planificamos durante toda a época, todos os exercícios são realizados e toda a
parte fisica e parte táctica passa com bola, toda ela desde o primeiro dia de
trabalho(...) e a filosofia, e os jogadores sabem disso, treino é jogo e jogo é treino.
É assim que nós pensamos e é assim que os jogadores começam a entender a
forma de trabalhar desta equipa técnica.
TB – Nessa sua perspectiva, então, considera que é o treino que faz o jogo ou o jogo que faz o treino? (TE) – Eu acho que estão os dois interligados, e é assim que nós pensamos, tanto
é que, nós temos variadíssimas situações de treino onde o cronómetro funciona,
onde são criadas situações de jogo onde os jogadores obrigatóriamente tem que,
funcionando dentro daquilo que está no modelo de jogo, tem que saber raciocinar,
saber pensar e saber executar rapidamente numa situação do jogo. Por isso é que
todo o trabalho que desenvolvemos parte muito de exercícios de jogo(...) de não
dividirmos o treino e o jogo com coisas diferentes. Eu acho que uma complementa
a outra e os atletas sabem perfeitamente disso e na forma como nós trabalhamos
os atletas tem obrigatoriamente de ver o treino e preparar-se para o treino
exactamente como se preparam para o jogo. Não há grande diferença daquilo que
fazemos durante a semana para o jogo, o pensamento é o mesmo.
Anexo 2
TB – Para si e para a sua equipa técnica, quais são os objectivos fundamentais do treino, e qual é a melhor estratégia para os poder atingir? (TE) – A melhor estratégia passa pela planificação, que é aquilo que nós
fazemos(...). Nós planificamos aquilo que queremos e a partir dai desenvolvemos
todo o nosso trabalho(...) e agora perdi-me na pergunta...
TB – ...quais são os objectivos fundamentais do treino, e qual é a melhor estratégia, que me disse que passa por uma planificação do treino... (TE) – O modelo de jogo está definido, tanto ofensivo como defensivo, e todo o
trabalho visa, fundamentalmente, que eles consigam ganhar rotinas, dentro do
próprio modelo de jogo, em termos ofensivos e defensivos (...) todo o treino se
baseia muito nisso e todo o treino, na sua grande maioria, 80 a 90% dos
exercícios que executamos aqui, obrigam os jogadores a pensar, ou seja, os
exercícios formam-se em cadeia. Nós temos situações de 1x1, 2x2, todos estes
exercícios são feitos, onde eles começam o exercício numa ponta do campo e
acabam na outra ponta do campo. Eles são capazes de arrancar com um 2x1 e se
calhar a seguir entrar numa outra fase do campo em 3x2. Isto obriga a que todos
os atletas estejam concentrados sempre que está um exercício a fazer,
independentemente de estarem dentro do campo ou não, porque eles executam
de uma forma para baixo e quando vêm em sentido contrário já executam outro
exercício. Tudo isto é feito de forma a que eles pensem, dentro do modelo de jogo
que nós temos definido, e estejam sempre concentrados ao máximo.
A tal situação de nós nunca querermos que eles percam a concentração, que é
das coisas mais importantes que existem no jogo. Isto tudo dentro da planificação
e tudo dentro daquilo que temos muito bem orientado e que eles também tem em
computador (...) sobre tudo aquilo que nós pensamos em termos de ataque,
contra-ataque, tudo isso está bem definido e os treinos passam exactamente por
Anexo 2
isso. É planificado desde o início da época e a partir daí funcionamos dentro
desses mesmos planos de trabalho
TB – Falou-me à pouco em Modelo de Jogo. O que entende por Modelo de Jogo? (TE) – Modelo de jogo(..) O modelo de jogo que nós temos aqui definido e muito
bem definido(...) nós temos dois modelos: modelo de jogo ofensivo e modelo de
jogo defensivo.
Aqueles princípios com que os jogadores têm que funcionar em termos de ataque
organizado e em termos de defesa organizada. Assim como, quando estamos a
falar na perca de bola, como é que defendemos, rapidamente como voltamos às
nossas posições e quando ganhamos as bolas, como é que partimos para o
contra-ataque, por onde e como(...) dependendo da situação da bola.
O modelo de jogo passa por ai. Depois o sistema que nós podemos
funcionar aqui na Fundação é o 4:0 e o 3:1, um 3:1 móvel, não temos 3:1 fixo, é
um 3:1 móvel, onde do 4:0 se passa para um 3:1 na parte final da parte ofensiva.
Por isso o modelo de jogo está extremamente bem definido, eles sabem o que
devem fazer entre jogar entre linhas ou não jogar entre linhas e a partir daí,
mediante também os nossos adversários, podemos partir em alguns jogos
mediante a defesa que o adversário faz , passarmos para o tal 3:1 móvel ou
mantermo-nos no 4:0. O modelo de jogo, nesse aspecto, está extremamente bem
definido. Todos eles tem muito bem dentro da cabeça, mesmo os novos, que já
chegaram e se conseguiram adaptar.
Depois os sistemas que podemos utilizar aqui, é uma questão de ver o adversário
com quem vamos jogar.
Anexo 2
TB – No seu caso, o modelo de jogo que definiu ou que a sua equipa técnica definiu para a equipa é reflexo da sua ou da vossa filosofia de jogo ou teve de efectuar alguns reajustamentos, mediante das caracteristicas dos jogadores que tinha e que foram aparecendo?
(TE) – Não. O modelo de jogo foi pensado por nós. Foi desenhado e a partir daí os
jogadores tiveram de se (...) para já estamos numa fase, eu estou no clube, vai
para a terceira época e isto de facto é importante falar porque dos jogadores
quando eu ca cheguei que eram 17, neste momento está cá um, o resto é tudo
novo. Isso foi uma remodelação enorme. Tínhamos uma equipa com muitos
nomes, com a maioria deles acima dos 30 anos e a opção passou por renovar
todo o plantel. Foi esta a grande chave que a direcção quis e quando nos
contratou foi remodelar todo este plantel. Isso tem os seus timings, nós finalmente,
este ano, começamos a acertar naquilo que queremos cá. Daí a importãncia do
modelo de jogo e da adaptação ao modelo de jogo, sabendo nós que no futuro, e
se calhar já na próxima época, é natural que dentro desse modelo de jogo
olhemos um poco às características dos jogadores, para poder criar aqui uma
simbiose melhor, e tirar partido melhor dos jogadores que cá temos.
TB – No seu entendimento do jogo e no modelo de jogo criado, considera importantes as fases ou momentos de jogo?
(TE) – São. No futsal há (...) nós aqui(..) é uma das pechas deste grupo que
existe.
Há uma fase, que eu acho que no futsal é extremamente importante e penso que
eles já começam a perceber, que é quando se perde a bola. É extremamente
complicado quando, no futsal com um campo tão pequeno, e se uma equipa não
está bem organizada, primeiro quando perde a bola como é que rapidamente
consegue defender e se não tem, geralmente paga a factura disso. O grupo é
jovem, jogadores de todos os sitios e mais alguns e depois cada um com o seu
Anexo 2
sistema de trabalho. Foi uma fase muito dificil, a Fundação passou dois anos
muito difíceis, para conseguir por toda esta gente a pensar da mesma forma e
penso que estamos neste momento a poder colher alguma coisa desse trabalho.
Dai eu dizer que a Fundação já o ano passado perdeu nos play-offs exactamente
porque quando perdíamos a bola não conseguiamos voltar rapidamente às
posições que devíamos e tapar o contra-ataque do adversário. Daí eu considerar a
fase mais importante do jogo, quando se perde a bola. TB – Falou-me à pouco que quer pôr os jogadores a pensar da mesma maneira, tendo em conta os momentos de jogo, quais são os comportamentos que quer que a sua equipa tenha em campo? (TE) – Os comportamentos eles sabem-nos e está no modelo de jogo. Utilizamos
a defesa zona/mista.
Eles sabem que, quando se perde a bola, atendendo a algumas situações (...) há
defesas onde nós sabemos temporizar, eles sabem quando é que o devem fazer.
Há defesas quando perdemos a bola, devemos atacá-la, dependendo da zona de
campo e se o jogador está perto ou se não está, e eles também sabem que devem
voltar às suas posições o mais rapidamente possível e utilizando o menos tempo
possível. Eles sabem para onde devem correr quando a bola é perdida, qual é a
posição que devem realmente ocupar dentro de campo e qual é a posição para
onde devem correr e que mais rapidamente vão lá chegar. Isso está bem definido,
neste momento a equipa faz isso, na minha opinião, em 80% do jogo fá-lo na
perfeição. Penso que nesse aspecto nós caminhamos bem e estamos bem.
TB – Dentro desses comportamentos que quer que a sua equipa tenha em campo, há alguns a que dê mais ênfase do que outros?
(TE) – Em termos defensivos?
Anexo 2
TB – ...em termos defensivos, ofensivos ou nas transições... (TE) – Todos os comportamentos são importantes, depende de como a equipa
está estruturada para o jogo. Neste momento nós temos(...) dependendo do
adversário, nós preparamos o jogo (...) imagine que jogamos aqui em casa com
uma equipa do meio da tabela, onde tem algumas dificuldades a sair da pressão.
Nós temos uma estratégia para isso, que é pressionar alto, muito alto, criar
rapidamente o erro, onde recupera-mos a bola perto da baliza do adversário e
tentamos fazer golo. É isso que geralmente esta equipa tem feito, durante grande
parte de campeonato(...) Temos tido bons resultados(...) depende depois do
adversário, se for o Sporting, se for o Benfica ou se for o Freixieiro, se calhar
temos de abordar o jogo de uma forma diferente. Saber onde é que podemos
pressionar e como é que vamos sair de trás para a frente, onde é que vamos
ganhar a bola, quem é que vamos pressionar. Esse trabalho é feito e é importante,
agora é importante aquilo que se faz durante a semana, é importante que eles
saibam aquilo que queremos, é importante que(...) eu dou-lhe um exemplo, o jogo
com o Freixieiro, onde nós alteramos a defesa, que raramente o fazemos, mas
achamos que o devíamos fazer devido a um jogador, que se chama Israel e que
cria graves problemas quando está bem. Optámos por fazer um trabalho diferente
durante a semana, onde os jogadores interpretaram bem, não pressionar a
primeira bola, mas pressionar a segunda (...) o mesmo jogador e a partir daí
começar a defesa. Isso trabalhou-se bem durante a semana e o Freixieiro acabou
por ser goleado aqui, muito por força disso, porque raramente conseguiu sair do
meio-campo e nós tivemos situações de finalização umas atrás das outras.
Depende das fases, somos nós que, durante a semana, e mediante o adversário
que temos, somos nós que pensamos como queremos agir e a partir daí acho que
as fases são todas importantes. No Freixieiro era essa: era ganhar a segunda bola
e onde é que iríamos colocar rapidamente e onde devíamos finalizar. Fizemos isso
bem e aos 4/5 minutos estava 4-0.
Anexo 2
TB – A forma de atacar e defender exige grandes requesitos a nível técnico, fisico, tactico e psicológico. E entre estes quais considera mais importantes?
(TE) – A todos (..) Fisicamente, toda a gente sabe que numa modalidade destas
se não estiver bem fisicamente, nem tão pouco pensa. Nem pensa. Por isso eu
acho que todos eles são importantes, cada um na sua área.
Na parte técnica e táctica, que é importante e penso que é um trabalho que se faz
durante todo o ano.
A parte física, sem comentários. Quem não estiver bem fisicamente acho que não
consegue cumprir os outros três.
A parte psicológica é uma parte mais dificil, a nossa média de idades é 21, temos
míudos de 17 anos aqui connosco (...) antes dos 20 anos temos cinco elementos e
a parte psicológica é dura de trabalhar porque há problemas de dentro do próprio
jogo, às vezes a forma de encarar um Benfica, se têm medo ou se não têm medo
de jogar.
Existem outros problemas que muitas vezes passam ao lado que mexem com o
jogador, às vezes o zangar com a namorada, são coisas que a nós já não diz
nada, mas que nós temos de estar atentos ao que se passa por fora e ao que se
passa por dentro. A parte psicológica é extremamente importante. Nós temos um
grupo de jovens e sentimos isso. Neste momento, 2 dos jogadores que chegaram,
em Dezembro, vieram com 26 e 27 anos exactamente por causa disso, são 2
elementos que vieram acrescentar maturidade à equipa e que se as pessoas
quiserem olhar, foi a primeira vez que conseguimos não perder com o Benfica,
não perder com o Sporting, batermo-nos de igual para igual e para quem viu os
jogos, viu uma equipa muito mais madura, muito mais adulta e que jogou o jogo
pelo jogo sem nunca baixar os olhos. Sem olhar para cronómetros, sem olhar para
camisolas e vamos ver quem é que é melhor dentro deste rectângulo. Por isso a
parte psicológica é extremamante importante, apesar de que eu acho que cada
vez mais (...) eu não sou formado, e cada vez mais (...) é uma área onde o Jorge
Anexo 2
Bráz está mais ligado e é uma área que eu acho que é extremamente importante.
Por vezes a parte psicológica arrebenta com toda uma época. Isto para não falar
dos convites de outros clubes e por aí fora... nunca mais parávamos...
TB – Qual o papel do seu preparador físico?
(TE) – Papel nenhum, porque nós trabalhamos em equipa, em sintonia os três.
Não há preparador, não há treinador principal, não há adjunto. Cada um tem,
como é óbvio, o seu papel dentro da equipa técnica, que isso é que é uma equipa
técnica, não é treinador e treinador adjunto ou preparador, chamem-lhe o que
quiserem. Cada um tem a sua área, o Bráz é muito forte no treino de guarde-redes
e eu tenho de me aproveitar disso(..) mas todo o trabalho que é feito, é feito pela
cabeça dos três, tudo! Falamos, não há lideres. Funcionamos em equipa, o Bráz
se tiver que chamar a atenção do Paulo Tavares, porque está qualquer coisa que
não esta a ser feito do plano de trabalho, pode e deve fazer. Foi o trato que nós
fizemos. Por isso acabamos por puxar os três uns pelos outros. Axo que esta
forma de trabalhar é importante e eu funciono muito na parte da táctica e por aí
fora, mas não faço nada sem falar com o Braz e com o Telmo. Tudo é feito
primeiro no papel, powerpoint, é apresentado aos jogadores e por isso todo o
trabalho é feito em sintonia com os três. Depois a parte fisica não é trabalhada à
parte, nós trabalhamos com bola desde o primeiro dia, todos os exercícios são
feitos com bola, desde a explosão, velocidade, tudo o que você possa imaginar é
feito com bola.
É um trabalho planificado de forma a querermos saber o que vamos trabalhar
durante a semana, na terça, quarta, quinta e sexta e é passado para o papel, por
isso o trabalho é feito pelos três e acho que é assim que deve funcionar uma
equipa técnica. Ninguém deixa adormecer ninguém. Quando alguém adormece
um pouco e às vezes facilita um bocado, porque já vamos com muitos meses de
trabalho, há sempre um dos três que dá um abanão, porque está a fugir um
bocado ao plano ou está a alterar alguma coisa que não se deve. Uma coisa nós
Anexo 2
temos ciente: o trabalho é planificado, é pensado pelos três(...) eu digo isto muitas
vezes: eu prefiro uma ideia não tão certa, mas que toda a gente pense por ela do
que uma ideia certa mas que cada um puxe pela sua cabeça. É assim que nós
funcionamos, está no papel, decidimos, treinamos e temos de cumprir
exactamente aquilo que está no papel.
É a única forma de depois medirmos isto tudo. Nestes 2 anos fizemos isso, correu
bem e por isso esta periodização antes do período “pré-competição”, não e?(..) e
sinceramente tem sido extremamente simples. Tem sido manter aquilo que já vem
de trás. É óbvio que tem algumas coisas novas, também para não entrar em
saturação, mesmo nos exercicios mas, muito sinceramente, não mudamos muito a
forma de trabalhar. Os jogadores já sabem em que linhas é que se cosem...
TB – Fala-se muito no trabalho específico. Tendo em conta o planeamento e a preparação do treino, qual a importância deste conceito e do trabalho em “especificidade”?
(TE) – É muito importante. Mas para isso temos de voltar atrás. Há trabalho
específico que nós fazemos, com o guarda-redes e mesmo com alguns jogadores
que nós achamos que estão mal na finalização ou em alguns aspetos. Há muito
trabalho a fazer aí, não há dúvida absolutamente nenhuma.
Em termos específicos, nós não podemos dizer que trabalhamos muito em termos
específicos. Sabemos a importância que tem, mas também sabemos que não se
constroí um plantel em 2 dias. De forma que, conforme eu lhe disse, eu quando cá
cheguei, tinha 17 jogadores e está cá 1, mas já entraram mais 12 e já sairam, por
isso foi uma remodelação enorme nestes 2 anos e com tudo isto baichamos o
orçamento a metade. Também é importante falar nisto. Muito do trabalho que nós,
no fundo ganhamos, foi modelo de jogo e por estes jogadores a pensar, no fundo
é isso.
O modelo de jogo da maneira que está desenhado, obriga-os a pensar, porque um
jogador decide a movimentação e o outro decide aquilo que deve fazer a seguir
Anexo 2
com a bola. Além disso foi onde nós perdemos(...) ganhamos muito tempo e há
trabalho específico a fazer, muito (...) não temos trabalhado muito porque
achamos que ainda não estamos lá. Algum desse trabalho tem sido feito,
principalmente com os guarda-redes. Mas muito sinceramente, é um trabalho em
que para o ano sim, vamos entrar a sério(...) em muitas áreas. Nestes 2 anos, não
nos deu sequer tempo para isso. É o primeiro ano que em Dezembro só saem 3
jogadores e a partir daí (..) este ano só foram 3, mas nos outros anos têm saído
aos 7 e 8. Isso tem sido penoso e nós demos prioridade ao modelo de jogo e a
restruturar tudo. Não tínhamos nada do que vocês possam ver aqui. Nada. Zero.
Quando cá chegamos não havia um plano de trabalho, um único e não havia
regras absolutamente nenhumas. Toda a gente ia no autocarro(...)estilo(...) iam
mais directores que jogadores, desde poder beber o que quisessem às refeições,
desde fumar dentro do autocarro. A partir daqui você pode ter uma ideia do que
apanhamos quando cá chegamos e os problemas que tivemos de enfrentar nestes
2 anos.
Tudo isto foi extremamente desgastante e área que nós apontamos como principal
foi organizar o clube, criar um plantel novo(...) implementar um modelo de jogo a
acho que a partir daqui começamos a ter um núcleo de 6/7 jogadores, um núcleo
forte, onde vamos apostar no futuro, trabalhando outras coisas. Isto é incrível mas
era o clube que se chamava de profissional que ainda hoje não é(...).
Felizmente, nestes 2 anos, com todo o trabalho que fizemos, com a época que
estamos a fazer este ano, a direcção começa a dar valor à qualidade no trabalho.
TB – Ligado ao modelo de jogo e aos seus princípios, aparece o conceito de “forma desportiva”. Na sua perspectiva, como é que o entende? (TE) – Forma desportiva como?
Anexo 2
TB – Basicamente, o treinador procura os chamados “patamares de rentabilidade”, na minha perspectiva, isto traduz-se e jogar bem e ganhar os jogos... (TE) – Nós funcionamos com o trabalho sempre igual, não há(..) tirando o pré-
peparatório, que é normal ser um pouco mais específico, a partir daí é com o pé
no acelerador. Não temos picos de forma, não temos alterações de nada. O
conceito é o trabalho daquilo que nós queremos que eles façam no jogo. Estas
semanas são planificadas. É pé no acelerador e só desacelaramos quando acaba
a época. Por vezes há jogadores que começam bem e depois caem um pouco,
mas depois levantam-se outra vez. Conforme nós começamos é conforme nós
acabamos. Temos algum trabalho mais específico devido ao trabalho de
resistência, dentro da primeira semana, a partir dai é pé no acelerador...
TB – Falou-me à bocadinho na concentração. Acha que pode ser trabalhada? (TE) – Eu acho que pode. Nós andamos a inventar alguns exercícios. Alguns
surgem do facto de interligar os objectivos dos exercícios. Estamos a fazer o 2x1 e
depois acabou, não fazem mais nada(...) Nós, cada vez mais, estamos a defender
um 2x1 e mal acaba tem de sair e entrar numa zona de campo para atacar 3x2, a
seguir outra vez até à linha de meio-campo onde vai atacar para 3. Enfim, eles
estão a ser colocados numa forma onde os obrigo a pensar o que vão fazer a
seguir, de forma a não se desligarem. Isto obriga a muito tempo, nós não somos
profissionais, nenhum de nós é profissional, obriga a muito tempo, muito tempo,
muito trabalho. Todos os exercícios tem de ter lógica.
Para mim é importantíssima a concentração. Já perdi jogos pela concentração, n
deles(..) Como é que deve trabalhar? Nós fazemos isso. É uma das área, onde
obrigatóriamente nos vamos ter de dedicar, porque já o ano passado, toda a gente
sabe que por vezes basta a desconcentração de um jogador para estragar aquilo
Anexo 2
que se fez em 39 minutos. Neste momento trabalhamos na base dos exercícios
condicionados, obrigá-los a pensar.
Aí rapidamente nós nos apercebemos se o jogador está co a cabeça cá ou não.
Se o exercício é defesa à zona e está um a fazer individual (..) pronto algo está
mal. É uma forma de os pôr a pensar.
TB – E após um jogo, como é que operacionaliza a recuperação do esforço, quer fisico, quer mental?
(TE) – Mental não lhe sei dizer(...) Aquilo que nós fazemos é (...) geralmente a
alimentação. Quando jogamos fora nós damos muita importância aquilo que eles
comem depois dos jogos. Em casa não podemeos controlar muito. Eles sabem os
cuidados que devem ter a seguir ao jogo. No domingo de manha não fazemos o
treino de recuperação, fazemos segunda-feira de manhã. Já não é a mesma
coisa, mas temos de ter pelo menos um dia para estar com a família.
Geralmente fazem alongamentos com o Telmo, dependendo se existe competição
a meio da semana ou se achamos necessário. A alimentação que nós achamos
que é importante, principalmente depois do jogo e durante o domingo. Eu sei que
há alguns que cumprem, outros não.
Isto é aquilo que nós fazemos, mas podemos fazer mais. Era muito importante
fazer estágio a seguir ao jogo. Nós não temos dinheiro para fazer antes e depois
muito menos. Achamos que é importante.
Anexo 2
ENTREVISTA AO TREINADOR F
Tiago Barros (TB) – O que pensa sobre o treino e qual é a importância que dá ao treino? Treinador F (TF) – O treino (...) a importância é (...) 100%. Treinar bem é 100%
para estar no jogo. É a partir do treino que criamos uma estratégia para o jogo, por
isso eu considero que é fundamental treinar bem. Treinar bem é estar concentrado
é ter os procedimentos correctos, para que no dia do exame, que é o jogo,
possamos exercitar aquilo que fazemos durante as unidades de treino.
O Freixieiro tem 2 unidades de treino diárias, com 2 horas em cada
unidade. Na segunda-feira fazemos na primeira unidade de treino um recuperação
do jogo de sabado ou domingo. É o inicio da semana, onde a carga fisica vai
tendo um aumento progressivo. É no treino de segunda-feira que, no início,
comentamos aquilo que se passou no jogo,o que temos que melhorar para
noutros jogos não cometermos os mesmos erros. É no inicio da semana que
vamos trabalhando aquilo que temos de fazer no próximo jogo.
Eu previligio as situações de jogo. Tudo o que vou encontrar no jogo é isso
que eu treino. Não existe sistematização no meu treino. Treino consoante o
adversário, consoante a estratégia que o treinador adversário vai implementar,
consoante os jogadores disponiveis desse mesmo adversário. Eu tenho o detalhe,
o pormenor e é nesse microcico, se você quiser, que nós nas unidades de treino
valorizamos a componente física meia hora e treinamos hora e meia em cada
unidade a parte táctica e aquilo que vamos encontrar no jogo.
No inicio da competição, naquele período preparatório, nós valorizamos
mais a componente fisica, para criar uma disponibilidade fisica, para que depois
aguente toda a época. Naturalmente, passados 15 dias, iniciamos a trabalhar a
componente técnico-táctica. É assim que elaboramos a época no Freixieiro.
Anexo 2
TB – Falou-me agora no treino e no jogo, na sua perspectiva, é o treino que faz o jogo ou o jogo que faz o treino?
(TF) – Olhe (..) nós treinamos para que tudo saia bem no jogo, portanto
dependentemente do jogo é aquilo que eu tenho de treinar, portanto, eu penso
que ambos estão em sintonia. No jogo sei que vou encontrar, por exemplo, um
adversário que me vai pressionar, naturalmente que eu durante as unidades que
tenho na semana, tenho de treinar as saídas de pressão. Tenho de ter mais horas
nesse detalhe. Eu penso que os dois estão agregados um ao outro.
TB – E quais são os objectivos fundamentais do treino, e qual é a melhor estratégia para os atingir? (TF) – Olhe, a melhor estratégia é no dia do jogo a equipa ganhar. Isso é a melhor
estratégia, tanto no plano desportivo, como no plano psiquíco é a melhor.
Naturalmente que as vitórias é o melhor preparo psiquíco que a equipa pode ter.
Além disso temos também o pagamento, que ao dia 15, o presidente vai pagando
tudo certinho e isso é fundamental, pois é a vida deles, e isso é importante, para
que eles estejam 100% a pensar no clube.
Existe um conhecimento das equipas adversárias, eu sei quando uma
equipa faz da estratégia do treinador o contra-ataque, eu sei qual é a equipa que
faz marcação na linha 1, linha 2 ou linha 3, uma equipa que vai pressionar, uma
equipa que gosta de ter a posse de bola, portanto em função do procedimento que
cada um vai ter é isso que eu faço durante as minhas unidades de treino.
Eu conheço o modelo de jogo do adversário, os protagonistas,
naturalmente os treinadores e em função desse modelo tenho de ter o antídoto
necessário para contrariar o sistema de jogo que vou encontrar.
Anexo 2
TB – E o que entende por Modelo de Jogo? (TF) – Modelo de jogo (..) qual o modelo de jogo da minha equipa?(...) É um
modelo de jogo em que previligio a posse de bola, é um modelo de jogo em que a
maior parte dos minutos utilizamos um sistema, o 3:1, é um modelo de jogo em
que os nossos jogadores procuram através de passes certos, jogadas de
estratégia (..) pronto através de velocidade (...)É nesse modelo de jogo, que eu
tenho para o futsal, naturalmente não vou dizer se está certo ou errado, porque
não sou o dono da verdade, agora gosto da forma que tenho a ideia do futsal.
Naturalmente os jogadores contratados é um função, naturalmente, em função do
modelo de jog que eu tenho aqui para a nossa equipa. Portanto, a ideia, que eu
tenho du futsal, aquilo que eu gosto, é esse o modelo de jogo que nós temos
implementado.
TB – Nesse caso, o modelo de jogo que definiu para a equipa é reflexo da sua filosofia de jogo ou tive de efectuar alguns reajustamentos?
(TF) – Por vezes, os jogadores são sempre contratados em função da ideia que se
tem para o modelo de jogo. Repare, eu há 7/8 anos valorizava mais o modelo de
jogo em que funcionava um sistema de 4:0, em que tinhamos muita posse de bola,
jogar a 2 toques, entradas sem bola, etc. Neste momento, tenho 2 jogadores com
caracteristicas inatas de pivôt (..) e naturalmente que eu tenho de mudar em
relação as caracteristicas, aproveitar, se quiser, as caracteristicas que tenho dos
jogadores e integrá-lo noutro sistema de jogo, que é o 3:1, que jogamos a maior
parte dos 40 minutos de jogo.
Anexo 2
TB – Quando é que considera ser mais importante trabalhar essa “forma de jogar”? (TF) – Olhe, eu trabalho (...) eu sou um treinador (...) não está em questão ser
melhor ou pior que os outros (..) mas trabalho muito o que vou encontrar.
Você chegou aqui à nossa quadra e viu eu a trabalhar situações que vou
encontrar amanhã. O papel do treinador é apresentar ao jogador aquilo que ele vai
encontrar, para que no dia do jogo, não surja uma situação nova. É obvio que no
momento de jogo, a inspiração do jogador, é isso que vai fazer a diferneça. Agora,
a obrigação do treinador é explicar aquilo que vamos encontrar no jogo.
É óbvio que um treinador não está dentro da quadra, limita-se a dizer aos
seus jogadores como as coisas vão acontecer do outro lado.
TB – No seu entendimento do jogo e no modelo de jogo criado, considera importantes as fases ou momentos de jogo?
(TF) – Sem dúvida, para mim o momento de jogo são os últimos 5 min. De cada
parte. É nos primeiros minutos, que o treinador pode até colocar um jogador novo
2/3. Onde ele pode experimentar um jogador que não tenha tanta regularidade. O
ritmo do jogo vai aumentando consoante os minutos vão passando, o estudo
mutúo que existe nos primeiros minutos da partida são fundamentais para o que o
treinador possa utilizar esse jogador 2/3 minutos.
O momento dificil (...) o momento, pronto, que o treinador tem de colocar a
melhor equipa em jogo, são de facto os últimos 5 minutos de jogo. Na minha
maneira de ver o futsal é o período crítico, onde existe maior desgaste e onde,
para mim, a maior parte dos jogos são ganhos nos últimos 5 minutos.
Anexo 2
TB – Há quem divida o jogo em 2 ou em 4 momentos: ataque, defesa e respectivas transições. Considera isso importante ou não? (TF) – É importante, mas isso está sempre dentro dos 40 minutos. Até o slogan do
futsal: ataque-contra-ataque responde a essa sua questão. Porque a federação foi
feliz ao criar esse tipo de marketing, porque uma quadra, 4 jogadores para cada
lado, e naturalmente, uma perda de bola dá lugar a uma vantagem numérica e
consegue depois haver ainda uma perda de bola e consegue-se um contra-
ataque. Existe desde o primeiro ao quadragésimo minuto situações dessas na
nossa modalidade. O ataque, ataques rápidos, contra-ataques muito mais
frequentemente do que no futebol de 11, sem dúvida.
TB – E quais são os comportamentos que quer que a sua equipa tenha em campo nesses diferentes momentos de jogo? (TF) – O primeiro passe é fundamental para o sucesso. Quando vamos em
vantagem numérica no primeiro passe e depois, naturalmente, o posicionamento
dos alas contrários. Tenho sempre a indicação aos meus jogadores que quando
roubam a bola, em situação de vantagem numérica, naturalmente, em situação
2x2, 2x1, que caminhem sempre em direcção ao meio para que os alas contrários
sejam sempre opção de quem conduz. E depois é só escolher o melhor
posicionamento e conseguir marcar golo, que é esse o objectivo do jogo.
TB – E há comportamentos a que dê mais ênfase do que outros?
(TF) – Não. Como lhe digo, de facto o primeiro passe é importantissímo na nossa
maneira entender o futsal, e nisso eu trabalho muito de forma a que eles o façam
bem.
Anexo 2
TB – A forma de atacar e defender exige grandes requesitos a nível técnico, fisico, tactico e psicológico. E entre estes quais considera mais importantes?
(TF) – A defender é a atitude, o querer, depois, naturalmente, está o
posicionamento. Se você pode, de facto, explicar os movimentos da equipa
adversária, a forma como eles jogam com pivôt de referência ou só a passar na
linha de pivôt. Agora, se o jogador não tiver, de facto, atitude, se naão quiser, um
termo mais popular, se não quiser, fica mais dificil para o treinador explicar o
posicionamento, como o jogador adversário se movimenta, como aparece.
Agora, primeiro lugar, na minha maneira de ver, na minha humilde opinião,
a atitude, o querer, porque defender é querer e depois, naturalmente, está o
posicionamento, estão as indicações do treinador e consoante a equipa adversária
se vai reger, como já lhe disse, as coberturas como se vão fazer consoante a linha
que estamos a marcar, se os adversários aparecem muito ao segundo pau, se
deixarmos de funcionar com coberturas estamos a valorizar o 1x1, estamos a dar
moral à nossa equipa, estamos a acreditar no trabalho realizado e não estamos a
dar moral à equipa adversária. Estamos sem receio de enfrentar o adversário. E,
portanto, varia muito com o adversário que vamos encontrar.
TB – Qual o papel do seu preparador físico?
(TF) – É fantástico. Ele faz treinos fantásticos, porque consegue integrar nos
treinos dele, na meia-hora que ele tem à tarde, consegue integrar aquilo que eu
pretendo, ele consegue fazer exercícios onde integra aquelas situações que
falamos à pouco. Por exemplo, ele consegue fazer exercícios de vantagem
numérica 3x2 e num roubo de bola ficar 2x1. Exercícios fantásticos para o treino
que o treinador vai fazer a seguir, portanto, existe uma sintonia entre um e outro
nas duas horas de treino, porque ele faz o treino em função daquilo que eu vou
fazer.
Anexo 2
TB – ...provavelmente tem um papel mais preponderante na pré-época... (TF) – Como já o disse, o período preparatório são 15 dias que ele fica com a
equipa, onde os jogadores não trabalham nada da parte técnico-táctica. São 15
dias (...) 15 dias que vão dar, de facto uma, regularidade, vão trabalhar, vão
substanciar esse trabalho que ele realizou e depois rege-se por uma manutenção
e depois rege-se por aqueles exercícios que ele vai fazendo integrado no treino
que eu faço. Por exemplo, se eu faço treinos de saída de pressão, que implica
muitos piques, então ele, nessa meia-hora faz um treino onde vai imperar muita
velocidade, então, existe uma sintonia daquilo que eu faço e, naturalmente, ele
sabe o que tem de fazer. É uma pessoa formada e ele integra aquele tipo de treino
para que de facto já cheguem às minhas mãos, já preparados, para que eu dê
tudo a 100 logo. TB – Fala-se muito no trabalho específico. Tendo em conta o planeamento e a preparação do treino, qual a importância deste conceito e do trabalho em “especificidade”? (TF) – Olhe (...) Para nós, como já lhe disse em relação ao inicio da nossa
conversa, eu trabalho muito as situações de jogo e a especificidade que você me
questiona (...) se eu trabalho as situações do jogo, estou a trabalhar em
especificidade que você me fala, porque se eu estou a trabalhar, se eu vou ter um
adversário amanhã, o caso do Sporting, um adversário que me pressiona,
naturalmente que eu esta semana valorizei o trabalho de saída de pressão(...) é
esta especificidade que me questiona. Trabalho muito a especificidade. Trabalhei
mais minutos nestas unidadades de treino, as saídas de pressão, portanto fui
específico. Trabalhei mais essa especificidade.
Anexo 2
TB – Ligado ao modelo de jogo e aos seus princípios, aparece o conceito de “forma desportiva”. Na sua perspectiva, como é que o entende?
(TF) – Essa forma varia muito a parte psíquica. Um jogador-goleador, que está
habituado ao longo das épocas a marcar muitos golos. Ele pode estar a receber
bem a bola, a passar bem a bola, pode estar a assistir bem os companheiros,
pode estar a criar jogadas de fino recorte técnico, mas não está a marcar (...) não
está a marcar (...) então ele não está em forma, porque não está a marcar golos. A
forma de um goleador é o produto final, que são os golos. Então só estão em
forma quando, de facto, marcam golos.
TB – Acha que a concentração pode ser trabalhada? Se pode, como?
(TF) – A concentração tem muito a ver com a motivação. A concentração, se o
jogador estiver motivado, se o jogador quiser, o jogador (...) por exemplo, a
responsabilidade do jogo (...) Nós somos uma equipa que estamos habituados a
ganhar, sabemos que se não estivermos em 7/8º lugar é complicado para o
presidente arranjar dinheiro. Até nisso nós temos de pensar, então nós temos de
motivar. Sabemos, por exemplo, quando vamos defrontar um clube que está em
baixo na tabela classificativa, por mais que nós queiramos, por mais que nós
queiramos mover os jogaodores para um grau altíssimo de concentração é-nos
muito dificil, mesmo que nós, tentamos transmitir aos jogadores a obrigatoriedade
de ganhar, tentamos transmitir aos jogadores que temas mais unidades de treino,
tentamos dizer aos jogadores que temos de ganhar para melhorar a nossa
posição na tabela, são seres humanos (...) Existe um certo facilitismo, ou mais
tarde ou mais cedo, se resolve o problema e depois não se resolve, depois a
gente quer, quer, quer e não consegue. Ao mesmo tempo que nós demos essa
facilidade, essas equipas vão crescer animicamente, vão acreditando que é
possível.
Penso que a concentração está ligada com a motivação.
Anexo 2
TB – ...e nos jogos que me diz que são, supostamente mais fáceis, como é que trabalha a motivação ou a concentração? (TF) – Olhe, tento, dentro da cabine, fazer-lhes ver esses valores que lhes
transmiti à pouco. Valorizar a classificação, tento transmitir isso. Agora, acontecem
as surpresas e já fui a uma acção de formação, com Javier Lozano, e surgiu essa
questão, e ele diz que o ser humano é complicado e é-lhe dificil trabalhar. É muito
mais fácil trabalhar quando são jogos importantes.
Nós tentamos explicar as dificuldades que podem surgir se nós não
ganharmos os jogos.
Posso também tentar dar oportunidade a outros jogadores, que jogam
menos tempo, tentá-los colocar em campo, no inicio de jogo, valorizando o
trabalho deles TB – E após um jogo, como é que operacionaliza a recuperação do esforço? (TF) – Olhe, nós jogamos ao sabado e treinamos na segunda-feira de manhã, em
que é o inicio das actividades de treino com uma recuperação activa. Primeiro
treino da semana e naturalmente que a carga é minima, mas sempre um
descanso activo, a trabalhar (...) mas sem cargas de resistência (...) nada disso.
Á tarde eu faço um comentário ao jogo que tivemos, faço um comentário às
situações, poucas, que vamos encontrar no próximo jogo. Consoante as unidade
vão passado, vou aumentando a carga até quinta-feira. Sexta-feira de manhã não
temos treino e de tarde trabalhamos aquilo que você viu, as situações de jogo.