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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
Rio de Janeiro
2018
Capitão de Mar e Guerra (FN) ALEXANDRE JOSÉ GOMES DÓRIA
LIÇÕES APRENDIDAS E OS MODELOS DE EMPREGO DAS FORÇAS ARMADAS EM OPERAÇÕES DE GLO.
Capitão de Mar e Guerra (FN) ALEXANDRE JOSÉ GOMES DÓRIA
LIÇÕES APRENDIDAS E OS MODELOS DE EMPREGO DAS FORÇAS ARMADAS EM OPERAÇÕES DE GLO.
Trabalho de Conclusão de Curso apre-sentado à Escola de Comando e Esta-do-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Es-pecialista em Política, Estratégia e Alta Administração Militar.
Orientador: Cel Art R1 CARLOS ALBERTO GUAYCURU VIZACO
Rio de Janeiro 2018
1
D696l Dória, Alexandre José Gomes.
Lições Aprendidas e os Modelos de Emprego das Forças Armadas em
Operações de GLO./ Alexandre Dória – 2018. 59 f. : il ; 30 cm.
Orientação: Carlos Alberto Guaycuru Vizaco
Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Ciências Milita-
res) - Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2018.
Bibliografia: f. 56 – 57
1. GARANTIA DA LEI E DA ORDEM. 2. GLO. 3. PACIFICAÇÃO. 4. Tí-
tulo.
CDD 355
2
Capitão de Mar e Guerra (FN) ALEXANDRE JOSÉ GOMES DÓRIA
LIÇÕES APRENDIDAS E OS MODELOS DE EMPREGO DAS FORÇAS ARMADAS EM OPERAÇÕES DE GLO
Trabalho de Conclusão de Curso apre-sentado à Escola de Comando e Esta-do-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Es-pecialista em Política, Estratégia e Alta Administração Militar.
Aprovado em de outubro de 2018
COMISSÃO AVALIADORA
____________________________________________________________ CARLOS ALBERTO GUAYCURU VIZACO – CEL ART R/1 – Dr Presidente
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
____________________________________________________________ PAULO ROBERTO BUENO COSTA – CEL ART R/1 – Dr Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
____________________________________________________________ FERNANDO LUIZ VELASCO GOMES – CEL ART R/1 – Dr Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
3
Aos meu pais, pelos exemplos de vida, integridade,
honestidade e de profissionalismo, que me serviram de
inspiração para seguir minha vida e optar por minha carreira
militar.
4
Não existe território em que a polícia não entre. Se houver
o mandado e a polícia desejar entrar, ela pode entrar com
maior dificuldade ou menor dificuldade. Quando ela pede
nosso apoio, nós entramos em qualquer lugar do Estado
(General de Exército Walter Souza Braga Neto – Coman-
dante Militar do Leste).
5
RESUMO
Atualmente temos em pauta a validade do emprego das Forças Armadas em
Operações de GLO. Este trabalho analisou as lições aprendidas e os modelos de
emprego das Forças Armadas em Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
Inicialmente foi exposto um breve histórico das Operações de GLO, que teve seu
início na década de 90, com a situação das Forças Armadas em apoio as Forças de
Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro na conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como ECO-92
(JUN92). Ao longo destes anos ocorreram outras operações de GLO, mas as
principais que foram abordadas neste trabalho foi a Operação São Francisco,
realizada no Complexo da Maré, de ABR de 2014 a JUN de 2015, e as Operações
Furacão realizadas de JUL de 2017 a FEV de 2018 pelo Comando Conjunto
(Marinha do Brasil, Exército Brasileiro e Força Aérea Brasileira) em apoio aos
Órgãos de Segurança Pública (OSP) do Estado do Rio de Janeiro, com sede no
Comando Militar do Leste, com a finalidade de combater a violência e o crime
organizado no Estado do Rio de Janeiro. Estas duas operações foram escolhidas
pois foram dois modelos diferentes de emprego das Forças Armadas em Operações
de GLO que ao serem analisadas teremos várias lições aprendidas. Em virtude da
origem do autor, os aspectos a serem abordados nesta pesquisa serão de grande
parte relativo ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil. Por fim será feita
também uma análise destes modelos para que possamos ter sugestões de melhoria
de emprego das Forças Armadas em operações de GLO.
Palavras-chave: GLO, Operações, Lições, Modelos.
6
ABSTRACT
We currently have the validity of the use of the Armed Forces in Law and Or-
der Assurance (LOA) Operations. This paper examined the lessons learned and the
employment models of the Armed Forces in Law and Order Assurance (LOA) Opera-
tions. Initially, a brief history of the Law and Order Assurance (LOA) Operations,
which began in the 1990s, was presented with the situation of the Armed Forces in
support of the Public Security Forces of the State of Rio de Janeiro at the United Na-
tions Conference on the Environment and Development, also known as ECO-92
(JUN92). During these years other operations of GLO occurred, but the main ones
that were approached in this work was the Operation São Francisco, realized in
Complex of the Maré, of ABR of 2014 to JUN of 2015, and the Operations Hurricane
realized of JUL of 2017 to FEV of 2018 (Brazilian Navy, Brazilian Army and Brazilian
Air Force) in support of the Public Security Organs (PSO) of the State of Rio de
Janeiro, with headquarters in the Eastern Military Command, with the purpose of
combating violence and organized crime in the State of Rio de Janeiro. These two
operations were chosen because they were two different models of the use of the
Armed Forces in Law and Order Assurance Operations that when analyzed we will
have several lessons learned. Due to the origin of the author, the aspects to be ad-
dressed in this research will be largely related to the Marine Corps of the Brazilian
Navy. Finally, an analysis of these models will also be done so that we can have
suggestions for improving the employment of the Armed Forces in Law and Order
Assurance (LOA) operations.
Key words: LOA, Operations, Lessons, Models.
7
LISTA DE FIGURAS Figura 1 Componentes do GptOpFuzNav............................................................ 18
Figura 2 Operações de GLO em apoio a Grandes Eventos e a Segurança Públi-
ca.............................................................................................................23 Figura 3 Organização Geral da FPac e do GptOpFuzNav-MARÉ........................25 Figura 4 As Comunidades da Maré e o posicionamento estratégico no Municí-
pio............................................................................................................26 Figura 5 Limites da Área de Operações da FPac................................................. 27 Figura 6 Distribuição das Facções Criminosas na Comunidade da Maré ........... 28 Figura 7 Organização do GptOpFuzNav-MARÉ....................................................28 Figura 8 Alterações na ZAç do GptOpFuzNav-MARÉ (MAI 14 e NOV 14)...........29 Figura 9 Distância entre a ZAç a e Área de Apoio utilizada pelo GptOpFuzNav-
MARÉ (GAp RIO – FAB).........................................................................31 Figura 10 Vista aérea da Área de Apoio utilizada pelo GptOpFuzNav-MARÉ
(GAp RIO – FAB).....................................................................................31 Figura 11 Área Metropolitana do Rio de Janeiro – Operações FURACÃO I a XV
(JUL 17 a JAN 18)...................................................................................38 Figura 12 Principais rotas de armas e drogas que abastecem o Estado do Rio
de Janeiro................................................................................................42 Figura 13 Operações de bloqueios de vias e principais acessos ao Estado do Rio
de Janeiro................................................................................................43 Figura 14 GptOpFuzNav empregado nas Operações FURACÃO I a V e VIII a
XIII.......................................................................................................... 44
8
ABREVIATURAS E SIGLAS
1° BPE 1° Batalhão de Polícia do Exército
11° BPE 11° Batalhão de Polícia do Exército
9° Bda Inf Mtz 9° Brigada de Infantaria Motorizada
AApLog Área de Apoio Logístico
ACISO Ação Cívico-Social
AD/1° DE Artilharia Divisionária da 1° Divisão de Exército
APOP Agente Perturbador da Ordem Pública
ApSvCmb Apoio de Serviços ao Combate
ARP Aeronave Remotamente Pilotada
BAnf Brigada Anfíbia
Bda Inf Pqdt Brigada de Infantaria Paraquedista
BtlInfFuzNav Batalhão de Infantaria de Fuzileiros Navais
C2 Comando e Controle
CASC Componente de Apoio de Serviço ao Combate
CCA Componente do Combate Aéreo
CCmdo Componente do Comando
CCT Componente do Combate Terrestre
CelOpInfo Célula de Operações de Informação
CGCFN Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais
CiaCmdo Companhia de Comando
CiaEngCmb Companhia de Engenharia de Combate
9
CIAGA Centro de Instrução Almirante Graça Aranha
CiaPol Companhia de Polícia
CmdoTrDbq Comando da Tropa de Desembarque
ComFFE Comando da Força de Fuzileiros da Esquadra
ComImSup Comando Imediatamente Superior
DAE Desativação de Artefatos Explosivos
DASC Destacamento de Apoio de Serviços ao Combate
DBM Doutrina Básica da Marinha
DPJM Delegacia Policial da Justiça Militar
DstLog Destacamento Logístico
DstPMERJ Destacamento da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro
DstSvPol-FEM Destacamento de Serviço de Polícia Feminino
ECO-92 Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento
ElmAnf Elemento Anfíbio
ElmAv Elemento de Aviação
EM Estado-Maior
EMA Estado-Maior da Armada
EMCFA Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas
EsqdCav Esquadrão de Cavalaria
FA Forças Armadas
FAB Força Aérea Brasileira
FAdv Força Adversa
10
FPac Força de Pacificação
FT Força Tarefa
FT OpEsp/COpEsp Força Tarefa de Operações Especiais do Comando de
Operações Especiais
GAp Grupo de Apoio
GC Grupo de Combate
GDS-11 Grupo de Segurança e Defesa da Ala 11
GE Guerra Eletrônica
GLO Garantia da Lei e da Ordem
GpCmdo Grupo de Comando
GptCT Grupamento de Combate Terrestre
GptOpFuzNav Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais
GruCAnf Grupo de Comandos Anfíbios
HS-1 Esquadrão de Helicópteros Anti-Submarino
ISPRJ Instituto de Segurança Público do Estado do Rio de Janeiro
Mdt O Mediante Ordem
MPM Ministério Público Militar
NBQR Nuclear Bacteriológica Química e Radiológica
OMAU Operações Militares em Ambientes Urbanos
ONG Organização não Governamental
OpEsp Operações Especiais
OrCrim Organização Criminosa
OSOP Órgãos de Segurança e Ordem Pública
11
PC Posto de Comando
PCTran Pontos de Controle de Trânsito
PNSP Plano Nacional de Segurança Pública
PPM Processo de Planejamento Militar
PR Presidente da República
PRF Polícia Rodoviária Federal
PVig Ponto de Vigilância
RE Regras de Engajamento
SARP Sistema de Aeronave Remotamente Pilotada
SL Sobre Lagarta
SR Sobre Rodas
UAnf Unidade Anfíbia
USMC United States Marines Corps
ZAç Zona de Ação
ZReu Zona de Reunião
12
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 14
1.1 O PROBLEMA ......................................................................................... 15
1.2 OBJETIVOS ............................................................................................. 15
1.2.1 Objetivo Geral ......................................................................................... 15
1.2.2 Objetivos Específicos ............................................................................ 15
1.3 VARIÁVEIS .............................................................................................. 16
1.4 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA .............................................................. 16
2 GRUPAMENTO OPERATIVO DE FUZILEIROS NAVAIS ...................... 18
2.1 ESTRUTURA BÁSICA DOS GptOpFuzNav ............................................ 18
2.1.1 Componente de Comando (CCmdo) .................................................... 18
2.1.2 Componente de Combate Terrestre (CCT) .......................................... 19
2.1.3 Componente de Combate Aéreo (CCA) ............................................... 19
2.1.4 Componente de Apoio de Serviços ao Combate (CASC) .................. 19
2.2 TIPOS DE GptOpFuzNav ........................................................................ 19
2.2.1 Brigada Anfíbia (BAnf) ........................................................................... 19
2.2.2 Unidade Anfíbia (UAnf) .......................................................................... 20
2.2.3 Elemento Anfíbio (ElmAnf) .................................................................... 20
2.2.4 Expansão e o Tipo do GptOpFuzNav empregados na GLO ............... 20
3 CRONOLOGIA DAS OPERAÇÕES DE GLO ......................................... 22
4 OPERAÇÃO SÃO FRANCISCO E SUAS LIÇÕES APRENDIDAS ........ 25
4.1 O GptOpFuzNav – MARÉ NA OPERAÇÃO SÃO FRANCISCO .............. 27
13
4.2 LIÇÕES APRENDIDAS NA OPERAÇÃO SÃO FRANCISCO ................. 34
5 OPERAÇÕES FURAÇÃO E SUAS LIÇÕES APRENDIDAS .................. 38
5.1 O GptOpFuzNav NAS OPERAÇÕES FURACÃO (I A XV) ...................... 43
5.2 LIÇÕES APRENDIDAS NAS OPERAÇÕES FURACÃO (I A XV) ........... 45
6 CONCLUSÃO........................................................................................... 53
REFERÊNCIAS........................................................................................ 56
14
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por finalidade analisar as lições aprendidas e os
modelos de emprego das Forças Armadas em Operações de Garantia da Lei e da
Ordem (GLO). Primeiramente abordamos um breve histórico das Operações de
GLO, que teve seu início na década de 90, com a situação das Forças Armadas em
apoio as Forças de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro na conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também
conhecida como ECO-92 (JUN92).
Ao longo destes anos ocorreram outras operações de GLO, mas as principais a
serem abordadas neste trabalho serão a Operação São Francisco, realizada no
Complexo da Maré, de ABR de 2014 a JUN de 2015, e as Operações Furacão
realizadas de JUL de 2017 a FEV de 2018 pelo Comando Conjunto (Marinha do
Brasil, Exército Brasileiro e Força Aérea Brasileira) em apoio aos Órgãos de
Segurança Pública (OSP) do Estado do Rio de Janeiro, com sede no Comando
Militar do Leste, com a finalidade de combater a violência e o crime organizado no
Estado do Rio de Janeiro.
A Operação São Francisco teve como principal característica de emprego a
duração e a ocupação da comunidade. Foi uma Força de Paz composta por tropas
da Marinha do Brasil e do Exército Brasileiro com suas áreas de responsabilidade
tática respectivas e que ficaram ocupadas com presença de tropa diariamente ao
longo de quatorze meses.
As Operações Furacão tiveram início em JUN de 2017 e foram estudadas até
FEV de 2018, quando o autor deste trabalho deixou de fazer parte do Comando
Conjunto das Operações. Este Comando Conjunto estava composto por tropas da
Marinha do Brasil, do Exército Brasileiro e da Força Aérea Brasileira e possuía
representantes de ligação da Polícia Civil e Militar do Estado do Rio de Janeiro,
Força Nacional, Polícia Rodoviária Federal e Agência Brasileira de Inteligência. As
principais características do método de emprego foram as ações de curta duração,
pontuais e em apoio aos Órgãos Públicos de Segurança do Estado do Rio de
Janeiro.
15
Estas duas operações foram escolhidas pois são dois modelos diferentes de
emprego das Forças Armadas em Operações de GLO que ao serem analisadas
tiveram várias lições aprendidas. Em virtude da origem do autor, os aspectos a
serem abordados nesta pesquisa serão de grande parte relativo ao Corpo de
Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil.
Por fim foi feita também uma análise destes modelos para que pudéssemos ter
sugestões de melhoria de emprego das Forças Armadas em operações de GLO.
Para isto este trabalho foi estruturado nos seguintes capítulos: 1) Introdução; 2)
Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais; 3) Cronologia das Operações de GLO;
4) Operação São Francisco e suas lições; 5) Operações Furacão e suas lições; e 6)
Conclusão.
1.1 O PROBLEMA
Dentro do cenário acima descrito, estudando os modelos e analisando as lições
aprendidas, chegamos a uma pergunta que seria:
O que poderia ser mudado ou qual a possível alteração na estrutura ou no
modelo de emprego das Forças Armadas em Operações de GLO para aumentar a
eficácias dos resultados?
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral
- Analisar a importância dos modelos de emprego das FFAA nas operações de
GLO usados na Operação São Francisco, no Complexo da Maré e nas Operações
Furacão, para que possamos ter melhorias na eficácia das ações
1.2.2 Objetivos Específicos
- Analisar as lições aprendidas na Operação São Francisco, no Complexo da
Maré;
16
- Analisar as lições aprendidas nas Operações Furacão em apoio aos Órgãos
de Segurança Públicos do Estado do Rio de Janeiro
1.3 VARIÁVEIS
Ao estudarmos o tema “Lições aprendidas e os modelos de emprego das
Forças Armadas em Operações de GLO”, identificamos duas variáveis para a
resposta do problema desta pesquisa. A variável independente foi As Forças
Armadas em Operações de GLO. E a variável dependente foi o modelo de emprego.
1.4 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA
A pesquisa realizada foi limitada a duas operações de emprego das Forças
Armadas em operações de GLO, devido as características marcantes dos
empregos.
A Operação São Francisco tem como característica principal do seu emprego a
duração e a presença constante na comunidade da Maré durante todo o período em
que foi realizada. Este tipo de emprego nos trouxe ensinamentos de grande valia,
apesar do desgaste maior.
As Operações Furacão empregaram um modelo bem diferente, comparado
com o usado na Operação São Francisco, caracterizado pela ação pontual e de
curta duração em apoio aos Órgãos de Segurança Pública do Estado do Rio de
Janeiro. Outro aspecto bastante relevante também foi a constituição de um Estado
Maior conjunto formado também com elementos de ligação da Polícia Civil e Militar
do Estado do Rio de Janeiro, da Força Nacional, da Polícia Rodoviária Federal e da
Agência Brasileira de Inteligência.
A pesquisa destes dois modelos de emprego das Forças Armadas em
operações de GLO, além das lições aprendidas, nos trouxe sugestões para
possíveis melhorias para o aumento da eficácia dos resultados já alcançados.
17
Não tenho dúvida que este tipo de operação permanecerá por algum tempo,
seremos solicitados ainda por diversas vezes e o estudo destas operações permitirá
que aprendamos para não cometer os mesmos erros.
18
2 GRUPAMENTO OPERATIVO DE FUZILEIROS NAVAIS
Este capítulo tem por finalidade explicar como é organizado um Grupamento
Operativo de Fuzileiros Navais (GptOpFuzNav), forma esta de como a tropa de
Fuzileiros Navais está sendo empregada nas atuais operações de Garantia da Lei e
da Ordem (GLO).
O GptOpFuzNav é uma forma de organização para o emprego de tropa de
Fuzileiros Navais, constituída para o cumprimento de missão específica e
estruturada segundo o conceito organizacional de componentes, que agrupa os
elementos constitutivos, de acordo com a natureza de suas atividades (fonte:
Marinha do Brasil – CGCFN-01 MANUAL DE FUNDAMENTOS DE FUZILEIROS
NAVAIS).
2.1 ESTRUTURA BÁSICA DOS GptOpFuzNav
Os GptOpFuzNav são constituídos, basicamente, pelos seguintes
componentes: Componente de Comando (CCmdo), Componente de Combate
Terrestre (CCT), Componente de Apoio de Serviços ao Combate (CASC) e
Componente de Combate Aéreo (CCA) (figura 1). Esta organização, em conjunto
com o Processo de Planejamento Militar (PPM), baliza a organização e o emprego
de cada componente.
2.1.1 Componente de Comando (CCmdo)
O CCmdo é formado pelo Comandante do GptOpFuzNav e seu Estado-Maior
(EM) Geral e Especial. Fazem parte ainda a esse componente destacamentos que
executam tarefas específicas relacionadas ao comando e controle (C2) em proveito
do Comando do GptOpFuzNav. Fica também responsável pelas ligações externas
Fig 1 - Componentes do GptOpFuzNav
19
do GptOpFuzNav (Comando Superior, Forças Amigas e agências não militares). O
Comandante do GptOpFuzNav é também o Comandante do CCmdo.
2.1.2 Componente de Combate Terrestre (CCT)
O comando do CCT possui EM Geral e Especial e concentra os meios de
combate e apoio ao combate necessários à execução das tarefas relativas a
conquista e manutenção do terreno, neutralização do inimigo e controle de áreas
terrestres. A estrutura logística do CCT é básica, atende somente ao
desencadeamento de sua capacidade de combate, cabendo ao CASC prover o
apoio de serviço ao combate necessário à sustentação do CCT. Há a possibilidade
de existir mais de um CCT, isto acontece devido a diversidade de tarefas impostas
ao GptOpFuzNav.
2.1.3 Componente de Combate Aéreo (CCA)
O CCA é o responsável em concentrar ou coordenar o emprego de meios para
o apoio aéreo, o controle aerotático e a defesa antiaérea do GptOpFuzNav como um
todo, além do apoio logístico de aviação.
2.1.4 Componente de Apoio de Serviços ao Combate (CASC)
O CASC é o responsável pelo apoio de serviço ao combate ao GptOpFuzNav,
por meio da execução das funções logísticas essenciais à sua operacionalidade,
exceto as atividades específicas de aviação.
2.2 TIPOS DE GptOpFuzNav
O tipo de GptOpFuzNav é determinado pelo valor de tropa que mobília o
componente que executa o esforço principal. Podemos ter os seguintes tipos:
2.2.1 Brigada Anfíbia (BAnf)
Uma BAnf possui um dos componentes integrado por dois ou mais elementos
de valor Batalhão, com capacidade média de durar na ação por até trinta dias sem
reabastecimento. A BAnf em que o esforço principal é exercido pelo CCT possui
efetivo aproximado de até sete mil militares.
20
2.2.2 Unidade Anfíbia (UAnf)
Uma UAnf possui como núcleo um dos componentes valor Batalhão,
capacidade média de durar na ação por até dez dias, sem reabastecimento, e
efetivo aproximado de até dois mil militares. Pode ser transportada integralmente em
meios navais, dimensionada e aprestada para emprego rápido, constitui importante
instrumento para rápida resposta a situações de crises.
2.2.3 Elemento Anfíbio (ElmAnf)
Uma ElmAnf possui como núcleo um dos componentes valor (máximo) de
Companhia de Fuzileiros, capacidade média de durar na ação por até cinco dias,
sem reabastecimento, e efetivo aproximado de trezentos militares. Pode ser
transportada integralmente em meios navais, dimensionada e aprestada para
emprego rápido, constitui importante instrumento para rápida resposta a situações
de crises, igualmente a UAnf.
2.2.4 Expansão e o tipo do GptOpFuzNav empregados na GLO.
A principal característica dos GptOpFuzNav é a sua capacidade de expandir.
Devido à necessidade de estar pronto para atuar rapidamente em qualquer crise, a
Força deslocada tem que possuir esta característica para poder empregar seu poder
de combate e expandir seu efetivo sem comprometer a continuidade da operação.
Devido a sua composição modular os GptOpFuzNav podem expandir ou serem
reduzidos, sem comprometer o cumprimento das tarefas, de forma eficaz e rápida,
mesmo com efetivos de outras Forças Armadas.
Um GptOpFuzNav pode iniciar uma operação com um tipo e terminar a mesma
operação mudando este tipo. Assim o CCT pode receber ou perder frações de
combate, subunidades ou até mesmo unidades, dependendo da evolução da
situação e a disponibilidade de meios.
Nos dois tipos de operações a serem analisadas neste trabalho, a Operação
São Francisco (Complexo da Maré) e as Operações Furacão (Área metropolitana do
Rio de Janeiro), o tipo de GptOpFuzNav empregado foi nível UAnf.
21
Este tipo foi escolhido pelas características existentes nos dois tipos de
operações, já que exigiam um aprestamento, emprego e deslocamento rápido para a
área de atuação, formando assim importante instrumento de imediata resposta a
situações de crise.
Nos capítulos referentes a estas operações, maiores detalhes e uma análise
mais profunda foi realizada.
22
3 CRONOLOGIA DAS OPERAÇÕES DE GLO
Antes de falarmos da cronologia das operações de GLO, vamos definir o que é
operação de GLO. De acordo com a Doutrina Básica da Marinha (EMA-305/2014),
podemos ver que:
A Operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) está contida
naquelas de Emprego Limitado da Força, na qual há o emprego esporádico
e limitado do Poder Naval, após esgotados os instrumentos destinados à
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio (...) Quando do emprego da MB em GLO poderá ser prestado
apoio logístico, de inteligência, de comunicação e de instrução, bem como
assessoramento aos órgãos governamentais (federais, estaduais e
municipais envolvidos(...)
Ao analisarmos esta definição da Doutrina Básica da Marinha (EMA-305/2014),
destacamos certas características fundamentais para o emprego de Operações de
GLO. Para que haja uma Operação de GLO é necessário que o emprego da Força
seja esporádico e limitado, após o esgotamento dos instrumentos destinados à
preservação da ordem pública. Assim sendo, salvo melhor juízo, as Forças Armadas
estão sendo empregadas em Operações de GLO desde 1992, quando houve esta
necessidade no apoio as Forças de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro
na conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento,
também conhecida como ECO-92 (JUN92).
As Operações de GLO estão acontecendo de duas maneiras, a primeira é em
apoio a grandes eventos e a segunda é em apoio a segurança pública (Figura 2).
APOIO A GRANDES EVENTOS APOIO A SEGURANÇA PÚBLICA
1992 – Eco 92 1994/95 – Operação Rio I e II
1997 – Operação Papa 2002 – Operação Eleições
1999 – Operação Cimeira 2003 – Operação Carnaval
2007 – Jogos Pan-americanos 2004 – Operação Acarí
APOIO A GRANDES EVENTOS APOIO A SEGURANÇA PÚBLICA
23
2011 - 5° Jogos Mundiais Militares 2006 – Operação Abafa
2012 – Rio +20 2007 – Operação Cimento Social
2013 – Jornada Mundial da
Juventude
2008 – Operação Guanabara e
Moscou
2013 – Copa das Confederações 2010 – Operação Arcanjo
2014 – Copa do Mundo de Futebol 2011 – Operação América
2016 – Jogos Olímpicos – Rio2016 2013 – Operação Libra
2014/15 – Operação São Francisco
2017/18 – Operação Furacão
Observando estas Operações de GLO, seja em Apoio a Grandes Eventos ou
em Apoio a Segurança Pública, vemos que todas possuíram estas características de
terem o emprego da Força esporádico, limitada e ter ocorrido devido a uma limitação
dos instrumentos destinados à preservação da ordem pública.
De todas esta operações estudamos duas, devido a certas características
marcantes, que são: Operação São Francisco (MARÉ) e Operação Furacão.
A Operação São Francisco teve como principal características a duração. Foi
uma Força de Paz composta por tropas da Marinha do Brasil e do Exército Brasileiro
com suas áreas de responsabilidade tática respectivas e que ficaram ocupadas com
presença de tropa diariamente ao longo de quatorze meses.
A Operação Furação teve como principal característica suas ações pontuais e
de curta duração. Podemos salientar também, salvo melhor juízo, fruto da
experiência de operações passadas a composição de um Comando Conjunto
composto por tropas da Marinha do Brasil, do Exército Brasileiro e da Força Aérea
Brasileira e de representantes de ligação da Polícia Civil e Militar do Estado do Rio
Figura 2 – Operações de GLO em apoio a Grandes Eventos e a Segurança Pública
24
de Janeiro, Força Nacional, Polícia Rodoviária Federal e Agência Brasileira de
Inteligência. Ficou bem caracterizada a interação entre estes órgãos.
O que podemos notar entre estas duas operações, são duas características
bem diferentes uma da outra, em quanto uma teve duração longa e em um ponto só,
14 meses e na Comunidade da Maré, a outra executou ações de curta duração em
diversas Comunidades na área metropolitana do Rio de Janeiro e Niterói.
25
4 OPERAÇÃO SÃO FRANCISCO E SUAS LIÇÕES APRENDIDAS
A Operação São Francisco foi autorizada pela Presidência da República, em
caráter temporal, atendendo a um pedido de apoio do Governo do Estado do Rio de
Janeiro no combate ao crime organizado. Esta tarefa foi oficializada através da
Diretriz Ministerial n° 9, assinada pelo então Ministro da Defesa Sr. Celso Amorim,
Diretriz esta que estabelecia as condições de emprego da tropa em Operação de
GLO, a constituição da Força de Pacificação (FPac) como uma Força Conjunta e as
limitações geográficas e temporais. Esta Operação teve a duração de quatorze
meses (ABR14 a JUN15) e se caracterizou pela sua duração e a presença
permanente da tropa na comunidade durante todo o período.
A Forca de Pacificação (Fig. 3) ficou o período todo sob o comando de um
oficial-general duas estrelas do Exército Brasileiro e era constituída por um Estado-
Maior composto por militares da Marinha do Brasil, Exército Brasileiro e Força Aérea
Brasileira, por uma célula de Operações de Informações (CelOpInfo), por três Forças
Tarefas (FT) nível batalhão de infantaria, um Grupamento Operativo de Fuzileiros
Navais nucleado por um Batalhão de Infantaria de Fuzileiros Navais (GptOpFuzNav),
uma FT de Operações Especiais (FTOspEsp), dois esquadrões de cavalaria
(EsqdCav), uma sobre rodas (SR) e outra sobre lagarta (SL), uma companhia de
engenharia de combate (CiaEngCmb), um elemento de aviação (ElmAv), um
destacamento logístico (DstLog), uma companhia de Comando (CiaCmdo) e um
destacamento da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (DstPMERJ).
Figura 3 – Organização Geral da FPac e do GptOpFuzNav-Maré
26
O Complexo da Maré é localizado na Zona Norte do Município do Rio de
Janeiro-RJ. Possui cerca de 130 mil habitantes (IBEGE 2010) e é o maior conjunto
de comunidades carentes totalizando quinze (15), chegando a mais de 43 mil
domicílios.
A localização do Complexo da Maré é estratégica, principalmente devido aos
grandes eventos internacionais que são realizados no Rio de Janeiro. Ao norte é
limitado pela Baía da Guanabara, a Oeste pela Avenida Brasil e a Leste pela Linha
Vermelha, além de ser cortada transversalmente pela Linha Amarela e pela Avenida
Brigadeiro Trompowski, que termina na Av. Brasil e Linha Vermelha, tornando-se
assim a mais importante conexão rodoviária urbana do município (Figura 4).
Figura 4 – As Comunidades da Maré e o posicionamento estratégico no município (O ANFÍBIO 2015)
27
A área de operações da FPac ficou limitada a noroeste pelo canal do Centro de
Instrução Almirante Graça Aranha (CIAGA), a leste pela Linha Vermelha, a oeste
pela Av. Brasil e a sudeste pelo canal de Manguinhos, conforme a figura 5.
4.1 – O GptOpFuzNav-MARÉ NA OPERAÇÃO SÃO FRANCISCO
A Força de Pacificação da Operação São Francisco operou no período de 05
de abril de 2014 a 30 de junho de 2015, com a responsabilidade de conduzir o
processo de pacificação da Maré (O ANFÍBIO 2015), para isto contava com quatro
peças de manobra, três FT nível batalhão de infantaria e um GptOpFuzNav
(nucleado por um BtlInfFuzNav), além dos apoios. A tropa neste período obedecia
um sistema de rodízio em que a cada dois meses havia o revezamento.
A Comunidade da Maré devido ao seu tamanho apresentava uma peculiaridade
que era a diversidade de organizações criminais existentes em sua área, como
podemos ver na figura 6.
Figura 5 – Limites da Área de Operações da FPac
28
O GptOpFuzNav sendo nucleado por um BtlInfFuzNav tinha o valor de uma
Unidade Anfíbia (UAnf) e se organizou com um Grupo de Comando (GpCmdo), um
Grupamento de Combate Terrestre (GptCT – valor batalhão) e um Destacamento de
Apoio de Serviços ao Combate (DASC – valor subunidade), chegando alcançar um
efetivo de até seiscentos militares (figura 7).
A missão do Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais – MARÉ era: “
Realizar a intervenção e o investimento sobre a Zona de Ação (ZAç); substituir as
tropas da PMERJ que estão operando na área; e conduzir operações de Garantia da
Legenda Milícia Comando Vermelho Terceiro Comando Puro UPP (Influência da ADA)
Parque União
Favela Roquete Pinto
Favela Praia de Ramos
Conj Nova Holanda (Tijolinho)
Rubem Vaz
Nova Holanda Parque Maré
Vila do João
Timbau Fogo Cruzado
Vila dos Pinheiros Salsa e Merengue
Conj Habitacional Baixa do Sapateiro
Parque Alegria
Caju e Parque Boa Esperança
GptOpFuzNav
GptCT(valorBtl)
DASC(valorSU)
OpEsp(GruCAnf)
Figura 6 – Distribuição das facções criminosas na Comunidade da Maré
Figura 7 – Organização do GptOpFuzNav-MARÉ
29
Lei e da Ordem (GLO), em conjunto com os Órgãos de Segurança e Ordem Pública
(OSOP), outras agências e órgãos governamentais e não governamentais, a fim de
contribuir para a preservação da ordem pública, incolumidade das pessoas e do
patrimônio, no Complexo da Maré.”
Devido as características do terreno e ao comportamento das facções
criminosas a Zona de Ação (ZAç) do GptOpFuzNav-MARÉ foi alterada duas vezes
ao longo da operação (figura 8)
A ZAç inicialmente atribuída ao GptOpFuzNav-Maré compreendia quatro (4)
comunidades, que eram Conjunto Esperança, Vila Pinheiro, Salsa e Merengue e Vila
do João, região esta que compreendia quarenta por cento (40%) de toda área
urbanizada do Complexo. Com o passar da Operação e com o propósito de melhor
distribuir a Zona de Pacificação entre as Peças de Manobra, foi cortada inicialmente
a Vila Pinheiro e posteriormente Salsa e Merengue, permanecendo vinte e cinco por
cento (25%).
O Grupamento recebeu o nome de Maré devido a localidade de atuação e
como foi um longo período de emprego houve o rodízio da tropa, recebendo no final
do nome a numeração de I a VIII. O primeiro GptOpFuzNav-MARÉ foi nucleado pelo
Comando da Tropa de Desembarque e sua organização foi estruturada em um
Grupo de Comando (GpCmdo), um Grupamento de Combate Terrestre (GptCT) e
um Destacamento Apoio de Serviços ao Combate (DASC). Os efetivos dos oitos
grupamentos chegaram a atingir seiscentos militares.
INÍCIO 1° ALTERAÇÃO – MAI 14
2° ALTERAÇÃO – NOV 14
Figura 8 – Alterações na ZAç do GptOpFuzNav-MARÉ (MAI14 e NOV14)
30
Por ser uma organização por tarefa a constituição e recursos dos grupamentos
foram definidos no planejamento, sempre levando em consideração a flexibilidade e
versatilidade com o máximo de capacidade. De uma maneira geral os
GptOpFuzNav-Maré foram constituídos por diversas naturezas e especialidades de
tropas, como de Infantaria (a quatro subunidades), Operações Especiais,
Comunicações, Guerra Eletrônica, SARP (Sistema de Aeronave Remotamente
Pilotada, denominação adotada para VANT-veículos aéreos não tripulados),
Blindados Sobre Rodas, Engenharia, Defesa NBQR, Desativação de Artefatos
Explosivos (DAE), Serviço de Polícia (com o uso de cães farejadores), Assessoria
Jurídica e Religiosa, Assuntos Civis, Comunicação Social, Apoio de Serviços ao
Combate (ApSvCmb), nas diversas funções logísticas, também houve a
incorporação com o controle operacional de uma aeronave SeaHawk (SH-16) do
Esquadrão de Helicópteros Anti-submarino (HS-1) da Força Aeronaval da Marinha
do Brasil, aeronave esta dotada de sensores e câmeras de multiemprego. Ao longo
do tempo da Operação São Francisco os GptOpFuzNav-Maré foram tendo
modificações para se adaptarem as mudanças das situações que se apresentavam,
tais quais como a incorporação de Destacamentos de Batedores Motociclistas, para
realização principalmente de escolta das viaturas blindadas PIRANHA e
Destacamentos Femininos para Inspeção de Pessoal.
Devido ao longo tempo da Operação, quase quatorze (14) meses, houve a
necessidade de serem empregadas tropas pertencentes ao Comando-Geral do
Corpo de Fuzileiros Navais (CGCFN) e seus Comandos (Comando do Pessoal de
Fuzileiros Navais e Comando do Material de Fuzileiros Navais), dos Grupamentos
dos Distritos (Belém, Ladário, Manaus, Natal, Rio de Janeiro, Rio Grande e
Salvador), que completaram os efetivos junto com as tropas da Força de Fuzileiros
Navais, estas sediadas no Rio de janeiro.
Devido a distância e para facilitar a execução das manobras, os meios de
Fuzileiros Navais foram movimentados e concentrados para a Seção de Transporte
de Superfície da Aeronáutica, subordinada ao Grupo de Apoio (GAP) da Força
Aérea Brasileira (FAB). Nesta Base Operacional foram estabelecidas as Áreas de
Apoio e Serviço ao Combate, a do Posto de Comando (PC) com suas respectivas
agências e do Grupamento de Combate Terrestre (GptCT). (Figura 9)
31
A grande vantagem do uso do Grupo de Apoio (GAp RIO-FAB) como base
operacional e logística (Fig. 10) foi a proximidade da ZAç do GptOpFuzNav-MARÉ,
isto facilitou em muito todo o tipo de apoio, seja na parte das operações, que foram
todas desencadeadas desta base, como também no revezamento de pessoal e
material durante todo o tempo de ocupação do Complexo da Maré pela tropa.
Área de responsabilidade do GptOpFN MARÉ
GAp RIO -FAB
1 Km / 2 min
Alojamentos e Paióis
Comando
Rancho
Fig. 9 – Distância entre a ZAç e Área de apoio utilizada pelo GptOpFuzNav-MARÉ. (GAp RIO-FAB)
Figura 10 – Vista aérea da área de apoio utilizada pelo GptOpFuzNav-MARÉ. (GAp RIO-FAB)
32
O GpOpFuzNav-MARÉ se viu diante de um conflito de Quarta Geração (este
conflito se revela pela assimetria entre os opositores e pela presença de opositores
não estatais), definição esta exposta pelo Professor Willian Lind1 (LIND, 1989). Tais
conflitos possuem as seguintes características: participação ativa de opositores não
estatais (APOP – Agentes Perturbadores da Ordem Pública) em um local incerto e
difuso; um complexo campo político em que questões de segurança se alinham às
de Defesa, ultrapassando a esfera militar, criando uma interdependência entre todos
os campos do Poder Nacional, levando as diversas agências públicas (Polícia,
Defesa Civil, Inteligência, dentre outras) a interagirem; atuação de Organizações
Não Governamentais (ONG) e grupos sociais diversos com bastante influência; os
meios de comunicação de massa e a informação digital com o uso irrestrito; o
“campo de batalha” sem uma linearidade; grande assimetria entre as tropas de
pacificação e seus oponentes; e espaço de manobra bem limitado para uma
enorme quantidade de ações de natureza distintas (ofensiva, defensiva, ACISO,
dentre outras). Estas características também foram abordadas por VISACRO em O
DESAFIO DA TRANSFORMAÇÃO (Revista Military Review, v.2/2011. P.49)
Taticamente o GptOpFuzNav-MARÉ teve um conflito moderno e prolongado, de
intensidade baixa mas com enfrentamentos pontuais, intensos e violentos, limitados
por regras de engajamento restritivas e ações descentralizadas. Neste ambiente
foram desenvolvidas ações táticas para proteger civis, no meio de civis, contra civis.
O Centro de Gravidade de toda a operação foi a própria população.
Pelo ponto de vista tático as ações do GptOpFuzNav confirmaram muito os
conceitos explicados pelo General do United States Marines Corps (USMC) Charles
KRULAK, no seu texto doutrinário “O Cabo Estratégico: Liderança na Guerra de Três
_____________ 1 William S.LIND nos anos 80 definiu três gerações dos Conflitos Modernos, a Primeira Geração de conflitos foi no período dos
séculos XVII a XIX e se destacou pela ordem e formalidade no campo de batalha e pela aplicação de exércitos nacionais. A
Segunda Geração foi marcante em meados do Século XIX, com a utilização pelos franceses, dos exércitos de massa e do
emprego maciço da Artilharia, caracterizando as batalhas pelo poder de fogo e atrito. A Terceira Geração teriam suas carac-
terísticas geradas por experiências da Primeira Guerra Mundial e das guerras de trincheiras. Assim sendo surgiu conflitos
dedicados a velocidade e para a manobra, como as “Blitzkrieg” desenvolvidas pelos alemães. LIND ao estudar conflitos a
partir dos anos 80, em especial a Primeira Guerra do Iraque, percebeu um novo tipo de conflito, os de Quarta Geração, que
tem como características a assimetria entre os opositores e pela presença de opositores não estatais.
33
Quarteirões”2. Neste tipo de conflito existem diversas frentes, de naturezas
diferentes, simultâneas e concentradas no mesmo espaço geográfico. A grande
parte das ações influenciam o nível superior e as decisões isoladas de nossos
militares, mesmo sendo de menor escalão, podem tomar vulto e ter consequências
em outros campos de decisão e outros níveis de influência na Operação
(KRULAK,1999).
As ações previstas para a manobra inicial do GptOpFuzNav, no dia 05 de abril
de 2014, foram todas desencadeadas da base operacional e logística, estabelecida
no GAp RIO-FAB, e foram divididas em três fases. A primeira fase foi a de bloqueio
e controle dos acessos à Zona de Ação (ZAç) do grupamento, a segunda foi o
avanço sobre a ZAç, com a ocupação, vasculhamento e substituição das Tropas da
PMERJ e a terceira foi o controle da ZAç e a execução das ações de GLO. Ressalta
salientar que as ações táticas foram executadas sem sobressaltos ou imperícias, já
que o planejamento foi realizado baseado em procedimentos preexistentes fruto de
ensinamentos adquiridos em outras Operações de Fuzileiros Navais, especialmente
em Operações Militares em Ambientes Urbanos (OMAU), Operações de Paz,
Operações Interagências, de Ajuda Humanitária e Contra “Forças Irregulares”. Esta
operação teve o faseamento da ação tática assemelhada ao de uma OMAU, com
inclusão de etapas posteriores, característica de GLO. Nos dias atuais, esta
Campanha com o cunho expedicionário seria de natureza de Operações de
Estabilização3, sendo assim desta experiência gerada na Comunidade da Maré,
gerou o seu primeiro grande legado doutrinário.
Com o término das duas primeiras fases, com o controle da área e a assim
tirando a liberdade da atividade dos APOP no interior da ZAç, o GptOpFuzNav
passou para a terceira e última fase da operação, que foi a GLO. Caracterizada
pelas atividades de patrulhamento, policiamento e assistência (Postos de Controle
_____________ 2 O General Charles Chandler KRULAK foi Comandante-Geral do USMC no período de 1995 a 1999 e autor do texto The
Strategic Corporal: Leadership in the Three Block War, publicado na Revista Marines Magazine em Janeiro de 1999 e na
Revista da Air Force University em 2006
3 O contexto aqui empregado para as Operações de Estabilização está diferente segundo o Glossário das FA (MD35-M-01).
Este contexto esta bem definido para US Navy, que em linhas gerais define como sendo “operações conduzidas para manter
ou restabelecer o ambiente de segurança (safety & security) e prover serviços públicos essenciais, infraestrutura de recons-
trução em emergências e assistência humanitária”(US NAVY, MCIP 3-33.02, versão 2014, p.1-4)
34
de Trânsito e Checagem de Pessoal e Viaturas, Segurança de Instalações Críticas,
Patrulhamento Ostensivo, Reconhecimento e Vigilância, Operações com
Caçadores4 para proteção da tropa, Ação Cívico-Social (ACISO), Apoio às ações de
órgãos de ordenamento e instituições públicas, apoio ao cumprimento de mandados
judiciais, ações de cerco e vasculhamento de áreas pontuais, e instrução,
adestramento e cooperação com a PMERJ (nos momentos finais da Operação com
o intuito de passar para a PMERJ o controle da ZAç). Para a condução da operação
com um ritmo ideal à manobra, foi utilizado um padrão tático baseado nos seguintes
fundamentos: 1) Presença permanente na ZAç para não ser necessário a
reconquista; 2) Poder de Combate variável na ZAç para gerar incerteza e
desconforto nos APOP; 3) Patrulhamento com tropas de diversas naturezas
(Blindada, Motorizada e a pé, com apoio de viaturas, cães, aeronaves e outros
meios), de maneira coordenada e simultânea; 4) Rapidez na Reação Proporcional; e
5) Operações baseadas na Inteligência.
Não podemos deixar de citar aqui os principais indicadores dos resultados da
Operação São Francisco, divulgado pelo Instituto de Segurança Público do Estado
do Rio de Janeiro (ISPRJ) na internet no site “G1”. Até a chegada da Tropa no
Complexo da Maré (ABR2014), a taxa anual de homicídios na área, que era de
21,29 mortes por 100 mil habitantes, caiu para 5,33 mortes (redução por volta de
75%), após a ocupação das tropas federais5. Segundo o Estado-Maior Conjunto das
Forças Armadas (EMCFA) foram executadas pela FPac mais de 550 prisões de
adultos e detido cerca de 250 menores. Ocorreram mais de 550 ocorrências com
apreensão de drogas, 58 armas e cerca de 4000 cartuchos, 60 automóveis e 100
motocicletas irregulares. Ainda foram realizados cerca de 106 autos de prisões em
flagrante e 121 detenções por crime militar6.
4.2 – LIÇÕES APRENDIDAS NA OPERAÇÃO SÃO FRANCISCO _____________ 4 Atiradores de precisão posicionados no terreno com a tarefa de prestar segurança ao deslocamento da tropa.
5 Fonte: Site G1. Disponível em: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/06/pm-assume-ocupacao-de-favelas-da-mare-
partir-desta-terca.html. Acesso em:03JUN2018.
6 Crimes Militares aqui descritos são, exclusivamente, aqueles enquadrados juridicamente no previsto da norma legal brasilei-
ra.
35
Fazendo uso dos Relatórios de Fim de Comissão dos GptOpFuzNav-MARÉ (do
I ao VIII)7 , podemos observar as lições aprendidas de maior importância:
a) Para compor o primeiro GptOpFuzNav-MARÉ foi escolhido como núcleo o
Comando da Tropa de Desembarque (CmdoTrDbq), proporcionando assim rapidez e
praticidade, o que veio a mostrar a principal finalidade que esta OM foi criada;
b) Ficou bem característico a importância do uso de Operações Interagências
em GLO, principalmente porque o GptOpFuzNav-MARÉ constituiu equipes de
Assuntos Civis, Jurídicos e de Comunicação Social, atividades estas que exigem
uma grande coordenação e dependência de outras Agências;
c) A coordenação com o setor jurídico, principalmente para expedir mandados
de vasculhamento, essenciais em GLO;
d) Para uma maior entendimento e coordenação de esforço, o Estado-Maior
Conjunto da FPac (ComImSup) deve possuir de forma adequada representantes de
todas as forças e agências participantes;
e) O uso de câmeras filmadoras pela tropa é de suma importância,
principalmente para respaldo jurídico e no uso correto da conduta;
f) A existência de um Grupo de Comandos Anfíbios (GruCAnf) subordinado
diretamente ao Comando do GptOpFuzNav mostrou-se de suma importância em
GLO, principalmente para: reconhecimento e vigilância, ações diretas, proteção da
tropa por ações de caçadores (atiradores de precisão), apoio aos Elementos de
Manobra em ações complexas e escoltas VIP na ZAç;
g) O uso de sensores tipo câmeras com capacidade de capitação
infravermelha e termal (câmeras tipo Forward Looking Infra-Red – FLIR) em
helicópteros e ARP e o uso de sensores de visão termal e noturna por ElmOpEsp e
pela própria Infantaria deram uma consciência da situação em excelentes condições
para as ações nos ambientes urbanos do Complexo da Maré;
h) As Operações de Apoio à Informação (OAI)8 foram muito importantes
devido a necessidade de angariar a simpatia da população local devido a coação _____________ 7 No decorrer da Operação São Francisco oito GptOpFuzNav passaram pelo Complexo da Maré.
36
realizada pelos APOP ao longo dos anos, além de realizar a medição e avaliação de
indicadores dentro da Comunidade da Maré;
i) A evolução do conforto da Base operacional e logística (GAp RIO-FAB) ao
longo da Operação foi de grande importância para a tropa, com o aluguel de tendas
climatizadas, contêineres tipo banheiro e escritório, local distinto para equipagem e
dormitório, enfatizando bem o conforto e a segurança. Não podemos deixar de
enfatizar nos primeiros momentos do combate o caráter expedicionário da tropa,
muito bem caracterizado no estabelecimento inicial desta base;
j) A importância do uso da Guerra Eletrônica (GE) na manobra do
GptOpFuzNav, já que os APOP empregavam intensamente o meio rádio-elétrico
para sua coordenação; e
k) Devido a descentralização das ações, a complexidade do terreno e a baixa
aceitabilidade de risco inerentes às operações de GLO em áreas urbanas, foi
constatado a necessidade de emprego de sistemas informacionais eficazes para
controle do posicionamento instantâneo da tropa facilitando assim o controle no
campo de batalha.
Durante a Operação São Francisco a FPac pôs a prova não só a tropa mas
também a credibilidade das Forças Armadas e a sua capacidade de responder aos
desejos da sociedade. Um dos grandes motivos da missão bem executada por parte
do GptOpFuzNav foi o rígido cumprimento das Regras de Engajamento balizando
assim a sua conduta. Com isto podemos observar que não houve nos oito
contingentes do GptOpFuzNav-MARÉ nenhuma vítima grave ou letal nos seus
efetivos, como também ocorrência de fatalidades entre a população inocente
causada por ação direta de ações da tropa demostrando assim o alto grau de
profissionalismo. Infelizmente não podemos de deixar de citar como respeito ao
Cabo (EB) Michel Mikami, companheiro de arma que veio a falecer devido a um
disparo feito por um APOP.
8 Operações de Apoio à Informação (OAI), nomenclatura empregada pela FPac, é o nome atual pelo qual é chamada as Ope-
rações Psicológicas (OpPsc) previstas na DBM (EMA – 305 2014 Rev-2).
37
A GLO estabelece para as Forças Armadas, e por consequência ao Corpo de
Fuzileiros Navais, a necessidade de um adequado preparo para o combate
integrado ao Poder Nacional, tomando o cuidado de não desviar de seus eixos
estruturais (Operações Anfíbias, Guerra de Manobra e GptOpFuzNav), motivo
principal de sua existência e motivo de sua particularidade comparando com as
demais forças militares brasileiras.
Por uma visão prática que coloca o conflito bélico simplesmente como
divergência de forças militares adversas, há uma tendência de ser descartada.
Assim para se opor aos futuros conflitos, temos que estar atentos as particularidades
do emprego e qualidades fundamentais. Em território nacional ou no exterior, nós
como parcelas do Poder Militar ajustáveis, variáveis, de caráter expedicionário, e
com profissionalismo, temos que nos apresentar como ferramentas extremamente
qualificadas. Com isto, o futuro apresenta-se como um cenário complexo, mas que
confirmará o prestígio, o orgulho, importância e destaque que o Corpo de Fuzileiros
Navais tem para a nossa Nação.
38
5 OPERAÇÕES FURAÇÃO E SUAS LIÇÕES APRENDIDAS
As Operações FURACÃO surgiram devido ao pedido de ajuda na segurança
pública do Governo do Estado do Rio de Janeiro ao Governo Federal, e foram
estudadas até FEV de 2018, quando o autor deste trabalho deixou de fazer parte do
Comando Conjunto das Operações, tendo participado das Operações FURACÃO I a
XV (Figura 11). Assim as Forças Armadas tiveram a seguinte missão:
“A fim de apoiar as ações e atividades do Plano Nacional de Segurança Pública
– Fase Rio de Janeiro, ficar em condições de realizar Operações de Inteligência e
Garantia da Lei e da Ordem, a partir de 28 JUL 17, na Região Metropolitana do Rio
de Janeiro, em cooperação com os Órgãos do governo federal, estadual e municipal,
na preservação da ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio, em
um quadro de normalidade institucional, mediante ordem do Presidente da
República, por meio de operações de curta duração, com objetivos pontuais muito
bem definidos.” (Apresentação do Comando Conjunto, Comando Militar do Leste –
JUL 17)
Ao analisarmos esta missão, vemos algumas diferenças da Operação São
Francisco (Complexo da Maré). A primeira é o tamanho da área de atuação, que é a
região metropolitana do Rio de Janeiro, a segunda é que as operações foram de
curta duração e terceira e última é que as operações foram em cooperação, apoio
aos Órgãos de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro.
Para executarem estas operações foi constituído um Comando Conjunto com
militares da Marinha do Brasil, Exército Brasileiro e Força Aérea Brasileira, e faziam
Figura 11 – Área metropolitana do Rio de Janeiro – Operações Furação I a XV (JUL17 a JAN18)
39
parte ainda do Estado-Maior deste comando elementos de ligação das Polícias Civil
e Militares do Estado do Rio de Janeiro, Força Nacional, Policia Rodoviária Federal
e Agência Brasileira de Inteligência.
Para as Operações FURACÃO I a XV as tropas estavam organizadas da
seguinte maneira:
a) Marinha do Brasil: Um Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais
(GptOpFuzNav) nível Unidade Anfíbia (UAnf), que possui como núcleo um dos
componentes valor Batalhão;
b) Exército Brasileiro: 9° Brigada de Infantaria Motorizada (9° Bda Inf Mtz);
Brigada de Infantaria Paraquedista (Bda Inf Pqdt); Artilharia Divisionária da 1°
Divisão de Exército (AD/1° DE); 1° Batalhão de Polícia do Exército (1° BPE); 11°
Batalhão de Polícia do Exército (11° BPE); Força-Tarefa de Operações Especiais do
Comando de Operações Especiais (FT OpEsp / COpEsp).
c) Força Aérea Brasileira: Grupo de Segurança e Defesa da Ala 11 (GDS –
11)
EFETIVOS EMPREGADOS
OPERAÇÕES FURACÃO I a XV
GU/G Cmdo/OM EFETIVOS (militares)
CCOpCj (MB / EB / FAB) 70
GUEs / 9° Bda Inf Mtz (EB) 3400
Bda Inf Pqdt (EB) 3000
AD / 1 (EB) 900
1° BPE (EB) 300
11° BPE (EB) 120
FT Op Esp / C Op Esp (EB) 90
40
GptOpFuzNav (MB) 800
GSD – 11 (FAB) 213
TOTAL 8893
Estes efetivos eram ativados mediante ordem e poderiam ser todos a uma ou
apenas algumas frações, sendo assim o efetivo total poderia chegar até a 8893
militares. Este Comando Conjunto era comandado por um general-de-divisão do
Exército Brasileiro e estava subordinado ao Comando Militar do Leste.
As Operações FURAÇÃO também contaram com os meios navais, para apoio
marítimo caso fosse necessário e aeronaves da Marinha, do Exército e da
Aeronaútica.
De junho de 2017 a janeiro de 2018 foram realizadas quinze operações
(FURACÃO I a XV), nas seguintes comunidades: Complexo da Maré, Complexo do
Lins, Complexo do Caramujo, Cidade de Deus, Juramento (Vila da Penha), Morro da
Providência, Chapéu Mangueira, Babilônia, Jacarezinho, Rocinha, Sapinho e Barro
Vermelho, Morro da Babilônia, Morro dos Macacos, Complexo do Salgueiro, Morro
do Barbante, Morro da Juariza e Mangueira. Algumas destas operações foram
executadas em locais repetidos ou podiam ser simultâneas em mais de uma
comunidade.
Estas operações tinham como principal tarefa o apoio aos Órgãos de
Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro. As tropas realizavam os cercos das
comunidades para prestar a segurança dos agentes (policiais civis e militares) para
que eles pudessem cumprir os mandatos de prisão, apreensão de drogas, armas,
munição e armamentos. Outro grande serviço que as tropas das Forças Armadas
prestavam durante estas operações era a garantia do funcionamento dos serviços
públicos como recolhimento de lixo, reparos na rede elétrica, na rede de esgoto,
entrega dos Correios e funcionamento do comércio e escolas.
Comparando a Operação São Francisco (Complexo da Maré) com as
Operações Furação, podemos chegar a duas principais diferenças. A primeira foi o
tempo de presença da tropa no terreno e a segunda a diversidade de comunidades
41
onde foram desencadeadas as operações. As ações eram pontuais e com tempo
determinado, de curta duração (máximo de 48 horas).
Devido ao trabalho do Estado-Maior conjunto com o levantamento de dados
pela inteligência e com os Órgãos de Segurança Públicos, Polícias Civil e Militares
do Estado do Rio de Janeiro, Força Nacional, Policia Rodoviária Federal e Agência
Brasileira de Inteligência, foi solicitado e aprovado a atuação das Forças Armadas
não só no município do Rio de Janeiro mas também no Estado do Rio de Janeiro,
ficando a missão assim redigida:
“Em apoio às ações do Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP), realizar
Operações de Inteligência e de garantia da lei e da ordem (GLO), no período
compreendido entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2018, no Estado do Rio de
Janeiro, em cooperação com os Órgãos dos governos federal, estadual e municipal,
na preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,
em um quadro de normalidade institucional, Mdt O do Presidente da República (PR),
por meio de operações de curta duração, com objetivos pontuais muito bem
definidos, a fim de contribuir para a melhoria dos índices de segurança pública no
Estado”.
Sendo assim as Operações Furacao mantiveram suas duas principais
características, ações pontuais e de curta duração, mas aumentou sua área de
atuação para o Estado do Rio de Janeiro, e contou principalmente com o apoio da
Polícia Rodoviária Federal, para a atuação nas rodovias federais. Para a execução
desta missão existiam duas principais tarefas: A primeira de bloqueio, controle e
fiscalização dos principais acessos terrestres ao Estado do Rio de Janeiro, em
cooperação com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e demais agências que
participam do Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP), a fim de contribuir no
combate a ilícitos transnacionais (particularmente o contrabando de armas e drogas)
e na diminuição dos índices de roubo de cargas; e a segunda de cerco,
desobstrução de vias, de controle de áreas-problema e vias urbanas específicas
(previamente definidas) e, Mdt O, ações dinâmicas de estabilização nas
Comunidades da região metropolitana da Capital, em apoio aos órgãos de
segurança pública (OSP) do Estado do Rio de Janeiro.
42
O trabalho conjunto do Estado-Maior, principalmente com a Polícia Rodoviária
Federal e as agências de inteligência, fizeram chegar as principais rotas de entrada
de armas e drogas no estado do Rio de Janeiro (Figura 12).
Estas principais rotas tem como via final a BR-116. Segundo a Polícia
Rodoviária Federal noventa por cento das apreensões de armas, munições e drogas
nos meses de janeiro a novenbro de 2017 foram feitas na BR-116.
Assim sendo a partir destes dados foi visualisada a necessidade de além de
atuar em comunidades da área metropolitana do Rio de Janeiro, atuar no fluxo
logístico para combater a ilícitos transnacionais (particularmente o contrabando de
armas e drogas) e na diminuição dos índices de roubo de cargas, para isto foram
selecionados os trechos de vias federais e estaduais com as tropas divididas da
seguinte forma: 1) BR-116 – Trecho da Baixada Fluminense – Bda Inf Pqdt e
Força Nacional; 2) BR-040 - Trecho da Baixada Fluminense – GptOpFuzNav,
GSD-11, Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Força Nacional; 3) BR-101 – Trecho Central (Av. Brasil) – Bda Inf Pqdt, 11° BPE e Força Nacional; 4) Vias no Complexo Chapadão-Pedreira – 9° Bda Inf Mtz, Bda Inf Pqdt, GptOpFuzNav, 11°
BPE e Força Nacional; 5) BR-101 – Trecho Norte (São Gonçalo) – AD/1, 1° BPE,
PRF, Força Nacional; 6) Arco Metropolitano – 9° Bda Inf Mtz, PRF, Força Nacional;
7) BR-101 – Trecho Norte – BR-393 e BR-492 – 9° Bda Inf Mtz e PRF; e 8) BR-
Figura 12 – Principais rotas de armas e drogas que abastecem o Estado do Rio de Janeiro
43
101 – Trecho Sul e RJ-465 – 9° Bda Inf Mtz. Além do emprego da tropa, já citada
acima, houve também o emprego e a integração dos meios aéreos (MB, EB, FAB e
PRF) e navais (MB). (Figura 13)
Estas operações aconteciam obedecendo as duas principais características das
Operações Furacão, eram pontuais e temporárias, e como foram acrescentadas da
tarefa de bloquear vias pré-determinadas, poderiam ocorrer simultâneamente com
as operações em comunidades ou isoladas, somente no bloqueio. Poderíamos dizer
que a partir de janeiro de 2018 houve um incremento nas Operações Furacão com
esta tarefa de bloqueio no intuito de atingir a logística do contrabando de armas e
drogas e do roubo de cargas.
5.1 – O GptOpFuzNav NAS OPERAÇÕES FURACÃO (I A XV)
O GptOpFuzNav participou das Operações FURACÃO I a V e das VIII a XIII,
para isto configurou-se da seguinte forma: nucleado por um BtlInfFuzNav tinha o
valor de uma Unidade Anfíbia (UAnf) e se organizou com um Grupo de Comando
Arco Metropolitano
GLO Rio em apoio ao PNSP – OPERAÇÕES DE BLOQUEIOS DE VIAS E PRINCIPAIS ACESSOS AO ESTADO RIO DE JANEIRO (TERRESTRES, MARÍTIMOS E AÉ-
REOS)
Figura 13 – Operações de Bloqueios de Vias e principais acessos ao Estado do Rio de Janeiro
44
(GpCmdo), um Grupamento de Combate Terrestre (GptCT – valor batalhão) e um
Destacamento de Apoio e Serviço ao Combate (DASC – valor subunidade),
chegando alcançar um efetivo de até oitocentos militares. Ainda possuía um
Destacamento de Operações Especiais (Grupo de Comandos Anfíbios – GruCAnf)
subordinado diretamente ao Comando do GptOpFuzNav (Figura 14).
As Operações FURAÇÃO que tiveram a participação do GptOpFuzNav
ocorreram nas seguintes localidades: Vias da região centro-sul da cidade do Rio de
janeiro – Cajú até São Conrado ( Op. FURACÃO I); Complexo do Lins (Op
FURACÃO II); Complexo do Caramujo (Op. FURACÃO III); Jacarezinho (Op
FURACÃO IV); Rocinha (Op. FURACÃO V); Morro dos Macacos (Op. FURACÃO
VIII); Rocinha (Op FURACÃO IX); Cidade de Deus (Op FURACÃO X); Complexo do
Salqueiro (Op FURACÃO XI e XII); e Comunidades da Mangueira, Tuiuti, Arará e
Mandela (Op FURACÃO XIII). Devido as operações serem pontuais e de curto
período, não houve a necessidade de haver uma base de apoio operativa e logística
aos moldes do que ocorreu na Comunidade da Maré. Em algumas operações houve
a necessidade da criação de um Grupo Tarefa Marítimo, nucleado pelo Grupamento
de Patrulha do Sudeste, para a execução do cerco marítimo, caso este ocorrido na
FURAÇÃO XI e XII. Este Grupo ficou subordinado ao Comando Conjunto da
Operação.
GptOpFuzNav
GptCT(valorBtl)
DASC(valorSU)
OpEsp(GruCAnf)
Figura 14 – GptOpFuzNav empregado nas Operações FURAÇÃO I a V e VIII a XIII
45
5.2 – LIÇÕES APRENDIDAS NAS OPERAÇÕES FURACÃO (I A XV)
Baseado em relatórios de fim de comissão dos GptOpFuzNav que participaram
das Operações FURACÃO I a V e VIII a XIII, podemos observar as seguintes lições
aprendidas de maior importância:
a) Segurança dos militares: Em todas as fases das operações, do
planejamento a execução, foi sempre considerada a segurança dos militares,
principalmente nos deslocamentos, no Posto de Comando (PC), na Área de Apoio
Logístico (AApLog), nas Zonas de Reunião (ZReu) e nas áreas com mais
probabilidade de confronto;
b) Regras de Engajamento (RE): Todos os militares envolvidos na operação
deverão ter o pleno conhecimento das regras de engajamento, principalmente no
que se relaciona ao procedimento com menores, mulheres e crianças (até 12 anos).
As RE evitam abusos, mas também salvam vidas quando a força é empregada de
forma correta e gradativamente;
c) Comportamento do Fuzileiro Naval: Exercer a autoridade com respeito a
população, com rigor e cortesia;
d) Cadeia de Evacuação: Devido os locais das operações serem de difícil
acesso e as pequenas frações (nível Grupo de Combate – GC) atuarem isoladas
todos deverão ter o conhecimento da Cadeia de Evacuação, principalmente os
motoristas;
e) Sigilo: A manutenção do sigilo é fundamental para o sucesso da operação;
f) Ocorrências: Devido a evolução rápida das ações durante as operações, as
ocorrências deverão ser informada o mais rápido possível ao PC Tático do CCmdo;
g) Apresentação militar: O militar deve atentar para a atitude militar, esta boa
atitude ajuda positivamente na percepção da sociedade;
h) Celulares: Restringir ao mínimo o uso de celulares durante as operações;
i) Uso de Câmeras: Usar ao máximo câmeras tipo GoPro para registrar
qualquer tipo de ações da tropa;
46
j) O uso de brucutu com estampas, desenhos ou grafismo é proibido;
k) Assim que estiver definida a área de ação deverão ser solicitadas cartas e
fotografias aérea, como também se possível o sobrevôo da Aeronave Remotamente
Pilotada (ARP);
l) Atenção para os procedimentos de sarqueamento (consulta inicial sobre
veículos roubados e mandados de prisão);
m) Recomendações para abordagem, revista, veículos roubados encontrados
na ZAç: Com as operações foram criados procedimentos para todas estas situações
citadas;
n) Comando e Controle: É de suma importância o Comando e Controle neste
tipo de operação, as comunicações são básicas para a coordenação das ações e
dos eventos, como também o cumprimento das tarefas na Hora-H coordenadas com
as demais Forças Amigas e com os Órgãos de Segurança Pública;
o) Emprego da ARP tático: O emprego do ARP tático deverá ser feito
somente com coordenação e autorização do CCmdo;
p) Durante as operações foi formada e colocada na ZAç a Delegacia Policial
da Justiça Militar (DPJM), para ajudar e apoiar nos procedimentos de prisões,
detenções e apreensões e por determinação do Ministério Público Militar (MPM),
toda operação deverá haver um Destacamento de Peritos Criminais na ZAç;
q) É de grande valia o uso do equipamento rádio SEPURA e os rádios APX
do sistema PACIFICADOR até o nível Grupo de Combate (GC) como ferramenta de
Consciência Situacional, facilitando muito o Comando e Controle da operação;
r) Nos deslocamentos para a área da operação evitar se possível trechos da
Linha Vermelha e Linha Amarela próximos a Comunidade da Maré. Ocorreram
casos de comboios serem atacados com pedradas, não sendo possível manter um
grupo de reação na parte final do comboio e manter militares de escolta das vtr
atentos e portando armamento menos letal;
s) Sempre que possível apoiar com vtr blindadas o deslocamento da tropa
nas comunidades, pois já houve casos da execução de tiros isolados contra a tropa;
47
t) Emprego do princípio da Segurança X Massa X Surpresa: O emprego do
princípio da massa tem garantido a segurança da tropa pois normalmente inibi a
reação por parte das Forças Adversas (FAdv), mas pode prejudicar o sigilo das
ações, prejudicando assim a surpresa. Assim sendo temos que medir a priorização
do Comando para cada operação para qual o princípio a ser utilizado;
u) O emprego de tropas de Operações Especiais (OpEsp) tem sido bastante
utilizado e valorizado principalmente por eixos não comumente utilizados (matas,
canais, praias, etc...), o que garante a surpresa. Podem ser empregados também
para o estabelecimento de Pontos de Vigilância (PVig) e Caçadores (atiradores de
precisão e para o investimento no interior das comunidades);
v) A interação da Inteligência Operacional entre o GptOpFuzNav e o
Comando da Força de Fuzileiros da Esquadra (ComFFE) tem facilitado muito a troca
e obtenção de dados da área de operação;
w) O emprego de cães da CiaPol ajudou bastante para encontrar explosivos e
entorpecentes, nas revistas nos Pontos de Controle de Trânsito (PCTran) e nos
vasculhamento de matas. A presença dos cães também inibi a tentativa de homizio
ou passagem deste tipo de material pelas posições ocupadas pela tropa; e
x) O emprego do Destacamento de Serviço de Polícia Feminino (DstSvPol-
Fem) tem sido amplo e de grande valia, devido as restrições legais e orientações do
Ministério Público.
Podemos observar que apesar das Operações FURACAO serem de
características diferentes da Operação São Francisco (Complexo da Maré),
enquanto a primeira realizou ações pontuais, com o tempo reduzido e em diversas
comunidades, e a segunda em uma só comunidade e por um tempo longo, os
ensinamentos aprendidos são em muito parecidos, diferenciandos alguns por
particularidades de cada operação.
As Operações FURACÃO tiveram como pontos fortes a minimização de efeitos
colaterais, a estabilização das comunidades, o apoio aos Orgãos de Segurança e
Ordem Pública (OSOP) complementando suas capacidades, redução dos índices de
criminalidade, aumento de apreensões de armas, drogas e recuperação de cargas
roubadas, dissuasão devido a demonstração de força perante as Organizações
48
Criminais (OrCrim) e ao Agentes Perturbadores da Ordem Pública (APOP),
Interoperabilidade e integração entre as FFAA e OSOP envolvidos e o emprego dos
princípios de massa, sigilo e surpresa da tropa. E pode-se dizer que houve
inconvenientes como uma reduzida liberdade de ação, devido a não declaração de
mecanismos constitucionais que facilitariam as operações, como também o
“engessamento jurídico” que dificultou a autorização de mandados coletivos. Outro
problema foi com a desorganização dos OSOP estaduais, em particular a PMERJ, e
por último o ineficaz regime de trabalho e corrupção de parcela significativa dos
integrantes dos OSOP.
O modelo das Operações FURACÃO em que as forças militares participaram
efetuando cercos, varreduras, apoio logístico e de Inteligência apresentaram alguns
problemas, como a eficácia dos cercos que é prejudicada pela dificuldade de
distinguir o elemento adverso desarmado do cidadão de bem, ou seja basta homiziar
seu armamento, muitas vezes na residência de pessoas inocentes e retirar-se da
comunidade cercada. Este tipo de problema pode ser minimizado com a distribuição
de listas com fotos e nomes de elementos adversos já procurados para a tropa com
o intuito de identificá-los. O vazamento de informações também compromete muito a
eficácia do cerco. Quanto ao apoio logístico vale salientar o apoio ao movimento,
transporte por meio dos nossos blindados, dando não só a segurança para nossas
tropas como também aos elementos dos Órgãos de Segurança Público. E no campo
da Inteligência utilizamos o Sistema de Aeronaves Remotamente Tripuladas (SARP)
e meios de guerra eletrônica, ajudando na ampliação de reconhecimento de áreas e
de dados sobre a localização e movimentação dos APOP.
Um importante aspecto a ser analisado é no campo jurídico. Pela Constituição
Federal de 1988, artigo 142, e o Decreto nº 3.897, de 24 de agosto 2001, que fixa as
diretrizes para o emprego das Forças Armadas na GLO, dão a esse tipo de
aplicação do poder militar um caráter absolutamente excepcional e episódico, o que
pode ser observado com maior precisão nos artigos 3º, 4º e 5º do referido Decreto.
Assim, a colocação das Forças Armadas em apoio às forças de segurança pública
não deixa de ser uma inversão da ordem natural entendida tanto pelo constituinte
quanto pela autoria do referido Decreto e, até certo ponto, oferece uma indicação de
que ainda não tenha ocorrido o imprescindível esgotamento desses instrumentos de
segurança pública. Senão, vejamos:
49
Art. 3º Na hipótese de emprego das Forças Armadas para a garantia da lei e da
ordem, objetivando a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, porque esgotados os instrumentos a isso previstos no art. 144 da Constituição
[grifo nosso], lhes incumbirá, sempre que se faça necessário, desenvolver as ações de
polícia ostensiva, como as demais, de natureza preventiva ou repressiva, que se incluem
na competência, constitucional e legal, das Polícias Militares, observados os termos e
limites impostos, a estas últimas, pelo ordenamento jurídico.
Parágrafo único. Consideram-se esgotados os meios previstos no art. 144 da
Constituição, inclusive no que concerne às Polícias Militares, quando, em determinado
momento, indisponíveis, inexistentes, ou insuficientes ao desempenho regular de sua
missão constitucional [grifo nosso].
Art. 4º Na situação de emprego das Forças Armadas objeto do art. 3º, caso
estejam disponíveis meios, conquanto insuficientes, da respectiva Polícia Militar, esta, com
a anuência do Governador do Estado, atuará, parcial ou totalmente, sob o controle
operacional do comando militar responsável pelas operações [grifo nosso], sempre que
assim o exijam, ou recomendem, as situações a serem enfrentadas.
§ 1º Tem-se como controle operacional a autoridade que é conferida, a um
comandante ou chefe militar, para atribuir e coordenar missões ou tarefas específicas a
serem desempenhadas por efetivos policiais que se encontrem sob esse grau de controle,
em tal autoridade não se incluindo, em princípio, assuntos disciplinares e logísticos.
§ 2º Aplica-se às Forças Armadas, na atuação de que trata este artigo, o
disposto no caput do art. 3º anterior quanto ao exercício da competência, constitucional e
legal, das Polícias Militares.
Art. 5º O emprego das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem, que
deverá ser episódico, em área previamente definida e ter a menor duração possível [grifo
nosso], abrange, ademais da hipótese objeto dos arts. 3º e 4º, outras em que se presuma
ser possível a perturbação da ordem, tais como as relativas a eventos oficiais ou públicos,
particularmente os que contem com a participação de Chefe de Estado, ou de Governo,
estrangeiro, e à realização de pleitos eleitorais, nesse caso quando solicitado.
Parágrafo único. Nas situações de que trata este artigo, as Forças Armadas
atuarão em articulação com as autoridades locais, adotando-se, inclusive, o procedimento
previsto no art. 4º.
No plano jurídico acontece tanto nas operações policiais quanto nas militares
de GLO, um nítido domínio dos direitos dos residentes, onde se incluem os APOP,
por sobre as necessidades operacionais e mesmo de segurança das forças
executantes. Assim contribui em muito para restringir a aplicação de seu poder de
combate e diminui em grande medida sua eficácia. Relativo ainda a este ponto
específico, a dificuldade na obtenção oportuna de mandados de busca e apreensão
50
é um grande óbice ainda não resolvido. A Constituição Federal, no seu Capítulo VI,
prevê o estatuto da intervenção, não necessariamente de caráter militar, que tem
como um de seus possíveis objetivos “pôr termo a grave comprometimento da
ordem pública” (artigo 34 inciso III). Uma vez estabelecida, a intervenção federal
aumentaria em grande medida a efetividade das operações, face à diminuição das
restrições legais ao emprego das forças. Contudo, sua decretação resultaria em
graves repercussões políticas, a começar pelo afastamento de autoridades eleitas.
Assim, dificilmente será adotada, exceto em um quadro de gravíssima convulsão
social, no mínimo comparáveis àquelas que originaram o conceito de GLO tal como
inicialmente imaginado pelo constituinte, no tocante à Constituição de 1988.
Um assunto bastante importante e que tem se tocado pouco pela imprensa e a
opinião pública e que é bastante sensível, é o grau de cumplicidade ou acomodação
das pessoas das diversas comunidades em relação às atividades criminosas ali
conduzidas, especialmente o narcotráfico. Esse grau de cumplicidade/acomodação
é muito alto e se configura como um grande fator de força para os APOP, pois
usualmente junto a eles estão familiares, amigos, cônjuges, namoradas, etc.., não
sendo normal que dessas pessoas derive qualquer tipo de apoio espontâneo às
forças militares e menos ainda às policiais. Estas pessoas mesmo não se
envolvendo na atividade criminosa propriamente dita, normalmente não negarão
esconderijo a esses criminosos, suas armas, seus narcóticos e seus recursos
financeiros e para agravar esta situação o bom andamento das atividades
criminosas impacta positivamente nos diversos pequenos comércios locais, os quais
são fortemente prejudicados quando a criminalidade é atingida. Podemos citar fatos
ocorridos nas operações FURACÃO, como a morte de um criminoso importante em
decorrência de operações policiais é seguida de manifestações, por vezes violentas,
de parte dos moradores da comunidade à qual ele pertencia, dizem que as pessoas
que participam desses atos estão ali obrigadas pelos comparsas do APOP, mas tem
sido possível observar a facilidade com que esses manifestantes são motivados a
realizar tumultos, sem a necessidade de qualquer tipo de ameaça ostensiva ou
velada, mais do que medo, esses APOP geram fascínio e respeito, não sendo fácil
romper esse círculo altamente vicioso. Outro fato também corriqueiro é o saque a
cargas de caminhões roubados. Em episódio registrados as emissoras de TV
conseguiram mostrar cenas, obtidas por meio de helicópteros, de moradores de uma
51
comunidade saqueando um caminhão dos Correios que havia sido trazido àquela
localidade por APOP. A quantidade de saqueadores era tal que nos leva a deduzir
que não se tratava apenas do bando de ladrões de carga, mas de muitos moradores
da localidade, o pior talvez seja o fato de que essas pessoas, mesmo sabendo
tratar-se de um crime, procederam sem nenhum pudor em suas ações.
Outro fator a dificultar o direcionamento das questões de segurança pública no
Rio de Janeiro é a polêmica em torno da possível descriminalização do tráfico de
entorpecentes, total ou parcial, o que seria um passo a mais no processo que se
iniciou com a descriminalização do consumo de drogas. Esta é uma discussão que
está ocorrendo em âmbito mundial e vem sendo incentivada por vários formadores
de opinião, alguns dos quais são, aberta ou ocultamente, usuários de narcóticos.
Nos países em que foi adotada essa liberação foi apenas parcial, normalmente
abrangendo apenas a maconha e outros derivados da erva Cannabis, não incluindo
a cocaína, seus derivados, drogas sintéticas e outros entorpecentes mais fortes.
Nesses países, em sua grande maioria, situados em um nível de civilização mais
alto do que o brasileiro, os resultados dessa descriminalização vêm sendo
questionados. Temos que levar em consideração que esta liberação do uso de
certas drogas não possa ser aplicada ao Brasil com as mesmas expectativas com
que foi implantada nesses outros lugares, devido ao fato de que, nesses países, os
APOP tem comportamento de hábitos diferentes como o uso de fuzis e outras armas
privativas das Forças Armadas, vivem em comunidades no alto de morros, cortadas
por vielas, onde as forças de segurança são constantemente emboscadas e sobre
as quais não se pode exercer um controle efetivo, mesmo que por curto período de
tempo. Desta forma se houver a legalização do comércio de maconha, continuarão
a praticar o tráfico dos demais narcóticos e, quando muito, complementarão seus
rendimentos com o roubo de cargas, sequestros relâmpagos e outras atividades
criminosas, o que, aliás, já fazem presentemente, não sendo razoável supor que
abandonarão o crime e se transformarão em trabalhadores honestos da noite para o
dia só porque houve a legalização da maconha.
Na verdade, hoje estamos pagando o preço de décadas de tolerância ao crime,
particularmente o narcotráfico, e da pouca disposição em combatê-lo em todas as
frentes possíveis e, salvo melhor juízo, muito tempo ainda passará até que medidas
efetivas e multidimensionais de enfrentamento a este grande mal comecem a
52
mostrar algum resultado. Até porque as queixas são inúmeras e estridentes, mas
pouco ou nada se tem feito para que as verdadeiras causas do problema sejam
atacadas. Talvez porque as perdas políticas, sociais e financeiras desse
enfrentamento não sejam compensados por benefícios diretos, sobretudo eleitorais,
às lideranças políticas, principalmente por se tratar de medidas difíceis, em muitos
aspectos impopulares, caras, de longa maturação e de resultado incerto e de difícil
mensuração.
53
6 CONCLUSÃO
Este trabalho teve como objetivo principal mostrar e analisar os dois principais
tipos de Operações de GLO realizadas pelas Forças Armadas e também ver as
lições aprendidas. Assim sendo foram vistas a Operação São Francisco, realizada
no Complexo da Maré, que teve como principais características a longa duração e a
atuação somente na Comunidade da Maré, e as Operações FURACÃO, que teve
como características a curta duração (máxima de 48 horas) e em várias
comunidades da área metropolitana do Rio de Janeiro e Niterói. Apesar de
características diferentes, tivemos muitas lições aprendidas similares como: a
importância do uso de Operações Interagências em GLO; a coordenação com o
setor jurídico, principalmente para expedir mandados de vasculhamento, essenciais
em GLO; o uso de câmeras filmadoras pela tropa é de suma importância,
principalmente para respaldo jurídico e no uso correto da conduta; a importância de
um Grupo de Comandos Anfíbios (GruCAnf) subordinado diretamente ao Comando
do GptOpFuzNav; a necessidade e importância do conhecimento das Regras de
Engajamento por todos componentes da tropa; o uso de sensores tipo câmeras com
capacidade de capitação infravermelha e termal (câmeras tipo Forward Looking
Infra-Red – FLIR) em helicópteros e ARP e o uso de sensores de visão termal e
noturna por ElmOpEsp e pela própria Infantaria deram uma consciência da situação
em excelentes condições para as ações nos ambientes urbanos; a importância do
uso da Guerra Eletrônica (GE); e devido a descentralização das ações, a
complexidade do terreno e a baixa aceitabilidade de risco inerentes às operações de
GLO em áreas urbanas, foi constatado a necessidade de emprego de sistemas
informacionais eficazes para controle do posicionamento instantâneo da tropa
facilitando assim o controle no campo de batalha. Tiveram outras lições mas as
acima expostas foram comuns aos dois tipos de operações aqui estudadas.
Após o estudo deste trabalho podemos chegar a algumas conclusões e indicar
propostas que serão de difícil implementação e de resultados em longo prazo.
As Forças Armadas em operações de GLO deveriam só ser empregadas no
previsto da legislação, assim sendo em situações muito pontuais, onde os
instrumentos de segurança pública considerados no artigo 144 da Constituição
estejam realmente esgotados, num quadro de absoluta convulsão social, ou em
54
situações especiais do tipo de grandes eventos, com a presença de chefes de
estado, de governo e outros importantes líderes mundiais. Não podemos deixar que
nossas Forças Armadas sejam interpretadas como uma Força Policial de “luxo” que
possam ser empregadas com um simples pedido em uma situação que aparenta um
possível colapso da área de segurança pública. Não podemos aceitar que qualquer
motivo seja suficiente para executar operações de GLO.
Nos moldes aqui apresentados, seja o de ocupação longa (Operação São
Francisco) ou de atuação em tempo pequeno (Operações FURACÃO) as operações
de GLO são incapazes de produzir qualquer efeito duradouro, podendo até a chegar
a ineficácia, sendo necessário também a atuação no campo estratégico e político da
segurança pública. As medidas de fato eficazes de combate à criminalidade no Rio
de Janeiro e em outras cidades brasileiras de maior porte passa bem longe da
atividade finalística das Forças Armadas e está em outros campos (jurídico, penal,
prisional, policial, social, educacional,...). No campo jurídico a integração da Força-
Tarefa (FT), recentemente criada pela Procuradoria Geral da República (PGR), à
estrutura de Inteligência disponível relacionada ao PNSP e às ações do Comando
Conjunto das FA ativado no Estado do Rio de Janeiro e incentivo a autorização, por
parte do judiciário, de emissão de mandados coletivos. Um setor que merece
atenção especial é o sistema presidiário, que necessita reformas totais, com novas
unidades tecnologicamente avançadas, afastadas dos grandes centros e em
quantidade e dimensões compatíveis com o tamanho e a periculosidade da
população presidiária do país, obviamente contando-se com agentes penitenciários
em quantidade e nível profissional adequados. O código penal e a lei de execução
penal deverão ser aplicadas de forma mais severa. E melhoria das forças de
segurança pública em todos os aspectos: moral, material, profissional e operacional.
Outro setor que deve-se atentar é nas fronteiras terrestres e marítima. Neste
campo o papel das Forças Armadas é de auxilio a repressão ao tráfico de armas e
entorpecentes sendo a Polícia Federal o principal ator neste campo de ação, apesar
do poder de polícia tenha sido concedido as Forças Armadas na faixa de fronteira
pela Lei Complementar nº 136/2010, que modificou a Lei Complementar nº 97/1999.
Finalizando sabe-se perfeitamente que não nos será possível negar ajuda em
momentos de crise. Sempre serão muitas e intensas as pressões políticas, sociais e
55
de mídia, mas deve-se evitar ao máximo essa forma de emprego e, quando
inevitável, atuar com a certeza de que nenhum efeito minimamente duradouro será
obtido e sempre procurando esclarecer a opinião pública a esse respeito.
As Forças Armadas, não devem cair na tentação de achar que são os
salvadores da pátria na questão da segurança pública e que o envolvimento em
GLO representará aumento de prestígio e a única solução. Sim, representa aumento
de prestígio até o dia em que: a sociedade comece a cobrar algo que não se possa
entregar, que é a solução real de seus problemas de segurança pública; ou quando
as pessoas façam contas a respeito dos vultosos recursos financeiros despendidos
nessas operações sem que ocorram avanços reais e a se perguntar se eles não
seriam mais bem aplicados na melhoria das forças de segurança pública; ou pior,
até que uma ação desafortunada leve a óbito crianças, mulheres e trabalhadores,
mesmo que eles estejam em ligação com o tráfico, por imposição ou por
conveniência. Então, todo esse possível prestígio se transformará em grande
ressentimento.
ALEXANDRE JOSÉ GOMES DÓRIA – CMG(FN)
56
REFERÊNCIAS
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JUN2005.
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Mangaratiba – RJ. 2014.
57
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emprego do GptOpFuzNav em uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
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