eu, augusto dos anjos - cdnbi.tvescola.org.br · só teve sua obra reconhecida na década de 1920,...
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TÍTULO DO PROGRAMA
Eu, Augusto dos Anjos
SINOPSE DO PROGRAMA
Doutor Tristeza e Poeta da Morte, esses são apelidos que marcaram o trabalho de Augusto dos
Anjos, um poeta que não colocava máscaras sobre a humanidade, sobre a dor e nem mesmo
sobre a morte. O documentário nos mostra a breve vida desse paraibano que morreu jovem e que
só teve sua obra reconhecida na década de 1920, quando o levante modernista brasileiro
identificou em seus versos alguns traços do movimento que transformaria a arte no Brasil. A
proposta de trabalho apresentada no programa Sala de Professor conduz para um projeto que
analisa o tempo histórico de Augusto dos Anjos e o coloca como um dos precursores do
modernismo brasileiro.
CONSULTORES
Daniela Pistorello – História
Rogério Muraro – Língua Portuguesa
TÍTULO DO PROJETO
Augusto dos Anjos e suas reminiscências contemporân eas
� APRESENTAÇÃO
O papel da disciplina de História na análise do documentário será o de
perceber como a poesia de Augusto dos Anjos pode servir como fonte
documental para a compreensão do conhecimento histórico, na medida em que
os temas sugeridos pelo poeta dizem respeito aos conteúdos escolares
ministrados, como por exemplo: a transição do século XIX para o século XX e os
temas advindos deste recorte como o escravismo, o coronelismo, o cotidiano da
sociedade, os discursos higienistas. Em Língua Portuguesa, a ideia é evidenciar
alguns aspectos específicos da obra desse autor, abordando-a, especialmente, a
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partir dos temas aos quais ele se refere e, além disso, a partir de determinados
elementos de versificação mais presentes em sua obra. Dessa forma, serão
conteúdos centrais a relação temática da poesia de Augusto dos Anjos com as
linhas filosóficas e com o cientificismo da época, além da forma do soneto e o
verso decassílabo, elementos estéticos que explorou de maneira muito frequente.
O trabalho em sala de aula e o Enem
Nesta proposta, trabalhamos com alguns dos conteúdos disciplinares
(objetos do conhecimento) listados na Matriz de Referência para o Enem 2013 e
com o desenvolvimento das seguintes competências e habilidades:
História
Conteúdo : Transição do século XIX para o XX: escravismo, coronelismo,
discursos higienistas, cotidiano do Brasil na República Velha.
Competência e habilidade : Área de Ciências Humanas e suas Tecnologias.
Competência de área 1: H1, H3.
Língua Portuguesa
Conteúdo: Estudo do texto: as sequências discursivas e os gêneros textuais no
sistema de comunicação e informação; Estudo do texto literário: relações entre
produção literária e processo social, concepções artísticas, procedimentos de
construção e recepção de textos; Estudo do texto argumentativo, seus gêneros e
recursos linguísticos: argumentação: tipo, gêneros e usos em Língua Portuguesa.
Competência e habilidade: Área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias.
Competência de área 1: H1, H3, H4.
Competência de área 5: H15, H17.
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Para obter a Matriz de Referência para o Enem, acesse o Anexo II do edital:
<http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/edital/2013/edital-enem-2013.pdf>.
Acesso em: 13 jul. 2014.
� UMA CONVERSA ENTRE AS DISCIPLINAS
Começaremos a apresentação deste projeto pela questão que norteará o
trabalho interdisciplinar: De que maneira a sociedade contemporânea se
relaciona com os temas tratados por Augusto dos Anjos no século XIX, como o
destino, a saúde, o escravismo, o pessimismo, o corpo doente, a morte?
A proposta está organizada de maneira que incluirá dois momentos
interdisciplinares. O primeiro deles, em que os professores conduzirão atividades
relacionadas a um levantamento de ideias a respeito dos temas tratados por
Augusto dos Anjos, se colocará logo no início do trabalho. O segundo, no qual os
professores prepararão os alunos para a realização de entrevistas e para a
produção de um painel, se dará no final da proposta. O trabalho disciplinar dos
professores ocorrerá depois do primeiro momento interdisciplinar e antes do
segundo e está detalhado nas sessões “Um olhar para o documentário a partir da
História” e “Um olhar para o documentário a partir da Língua Portuguesa”, ao final
do texto.
Atividade I
Como dissemos, a atividade se inicia de maneira interdisciplinar, com a
proposta de sensibilizar a turma para trabalhar com dois temas presentes na obra
de Augusto dos Anjos. Propomos inicialmente dois temas: i) pós-modernidade e o
desencantamento com o mundo da racionalidade, e ii) as práticas higienistas na
sociedade contemporânea. O professor pode escolher outros temas com base na
obra do poeta. Para desenvolver esta etapa, sugerimos os seguintes passos:
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1. Os professores utilizariam imagens para que a partir delas os temas sejam
debatidos. Exemplos: para o primeiro tema, mostrar matérias de jornais
que falem de depressão, dados sobre aumento da busca de psicólogos,
livros de autoajuda. Para o segundo tema, imagens que mostrem a busca
pelo corpo perfeito; dados sobre cirurgia plástica e informações sobre
eugenia.
2. Os professores proporiam, na sequência, que os alunos, em grupos de
quatro componentes, pesquisem manifestações artísticas que reflitam os
temas discutidos anteriormente. Eles poderão trazer para a sala de aula
poemas / canções / fotos / artes plásticas etc. Depois de realizada a
pesquisa, os alunos deverão expor para a turma o que pesquisaram e
justificar suas escolhas dizendo por que acham que a arte trazida para a
sala de aula reflete o pensamento da sociedade em relação aos temas
abordados. Esse é o mote para apresentar Augusto dos Anjos.
3. Os professores exibiriam, então, o documentário, de maneira integral ou
trechos pertinentes ao tema que desejam abordar.
Neste ponto da proposta, os professores passariam a trabalhar no âmbito
específico das suas disciplinas. O detalhamento desta etapa está contemplado no
final da ficha.
Atividade II
Depois do trabalho disciplinar, os professores se juntariam novamente
para dar continuidade à proposta. Neste momento a ideia é que os alunos, a
partir da análise de poemas, realizem entrevistas e produzam painéis a partir da
obra de Augusto dos Anjos. Para desenvolver esta etapa, sugerimos os seguintes
passos:
1. Os professores distribuem, para cada grupo, um poema com
determinado trecho grifado. Esclarecer para os alunos que o trecho
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grifado originará a(s) pergunta(s) a ser(em) feitas nas entrevistas na
rua. Sugere-se que os poemas utilizados sejam: “Último Credo”,
“Versos Íntimos”, “Psicologia do Vencido”, “Idealismo”, “Ricordanza
della mía gioventú”, “Poema Negro” e “Cismas do Destino”. Como
exemplo, selecionamos um trecho do poema “Versos Íntimos”:
“[...] Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.”
2. Após a leitura dos poemas, os grupos identificarão os principais
temas presentes no texto e, a partir dos grifos, deverão elaborar
duas questões que servirão para a realização das entrevistas.
Levando em conta o exemplo acima, as questões poderiam ser as
seguintes:
Você considera a terra, um lugar miserável? Por quê?
Você considera que os homens são feras? Por quê?
3. Para a realização das entrevistas, os alunos deverão ser
preparados, previamente, pelos professores. Aqui, sugerimos que
as intervenções do professor se deem no sentido de explicar aos
alunos como devem realizar as abordagens e como devem conduzir
as entrevistas. O professor deve orientar, por exemplo, que o aluno
se apresente e cumprimente o entrevistado, que contextualize a
entrevista e pergunte se pode realizá-la e se pode fazer a gravação.
É importante ainda que o aluno faça uma breve apresentação do
poeta. Os alunos devem também anotar os nomes e as idades dos
entrevistados.
4. De volta à sala de aula, após a realização das entrevistas, cada
grupo deve relatar sua experiência e resumir as principais respostas
que foram dadas. Como tarefa de casa, os alunos deverão
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transcrever os trechos mais relevantes e pesquisar imagens que
sejam representativas das respostas obtidas. Como produto final, os
alunos deverão produzir em sala de aula um painel contendo as
respostas transcritas, os trechos dos poemas e imagens que
dialoguem com esses textos. Nunca é demais ressaltar: o resultado
final do painel deve permitir a leitura da sociedade contemporânea à
luz da obra de Augusto dos Anjos, instigando os alunos a refletir
sobre as permanências e descontinuidades dos temas abordados
por esse poeta bem como a forma de escrever sobre esses temas.
Sugerimos que o painel seja confeccionado em papel pardo e nas
dimensões de 1 m x 1 m.
Material • Imagens; • Cópias dos poemas de Augusto dos Anjos; • Aparelhos para gravar entrevistas (celular ou câmera); • Materiais de papelaria para confecção do painel (papel pardo, cola, tesoura, outros).
Etapas • Sensibilização dos alunos por meio de imagens; • Pesquisa de manifestações artísticas; • Exibição do documentário; • Distribuição de poemas; • Elaboração das questões; • Realização e análise das entrevistas; • Elaboração de painel.
Veja mais... (Acesso em: 13 jul. 2014) • <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=10518&catid=225: sistemas>. - O portal do MEC disponibiliza as poesias do Augusto dos Anjos.
� UM OLHAR PARA O DOCUMENTÁRIO A PARTIR DA HISTÓRIA
O olhar que a História lançará sobre o documentário tem como principal
objetivo tratar as poesias de Augusto dos Anjos como um documento a partir do
qual se pode responder a questões da atualidade e entender o contexto no qual
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viveu o poeta a fim de perceber as permanências e rupturas do seu pensamento
na atualidade.
Após terem passado pela etapa interdisciplinar e, nela, terem sido
introduzidos no universo da poesia como uma manifestação artística de sua
época, ou, como uma fonte para se escrever a história, o professor pode começar
suas as atividades da disciplina retomando essa discussão, perguntando sobre
questões elementares e fundamentais para a construção do conhecimento
histórico:
• O que é História?
• Como se escreve a História?
• Quem escreve a História?
• Como a poesia se constitui numa fonte para se escrever a História?
A partir destas questões iniciais, distribuiremos poesias de Augusto dos
Anjos para que, a partir delas, possamos detectar elementos que nos permitam
pensá-la como documento histórico e abordar os conteúdos sugeridos.
Para exemplificar a atividade, sugerimos duas, “Ricordanza della mía
Gioventú” (1884-1914) e “Psicologia de um vencido” (1884 -1914). Lembramos
que as poesias utilizadas serão também analisadas pelo professor de Língua
Portuguesa, o que tornará os poemas mais familiares aos alunos.
A partir da poesia, sugere-se que os professores solicitem aos alunos que
respondam as questões:
• Quais os temas abordados na poesia?
• Como esses temas são tratados?
• Que tipo de linguagem o autor utiliza?
A partir das respostas dos alunos, alguns conteúdos de História podem ser
trabalhados, de modo que as aulas seguintes sejam dedicadas à exploração dos
seguintes temas, extraídos das poesias: uma visão antropocêntrica de homem,
ressaltando o papel da ciência do século XIX nesse processo; o pensamento
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filosófico de Auguste Comte e sua influência na construção do discurso sobre a
História; o surgimento do discurso médico no século XIX, as propostas higienistas
e a sociedade escravocrata.
No intuito de fornecer algumas ferramentas para o professor tratar dos
temas sugeridos, apresentamos algumas estratégias e abordagens que podem
ser utilizadas em sala de aula, lembrando que as referências sugeridas ao final
da ficha podem ser consultadas para enriquecer o trabalho.
Para tratar da visão antropocêntrica do homem e o papel da ciência no
século XIX, sugerimos que o professor inicie a discussão retomando o primeiro
parágrafo do Poema “Psicologia de um Vencido”:
“Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.”
Este parágrafo pode auxiliar a pensar sobre uma visão de homem à luz da
ciência, pois definir sua origem a partir da combinação do “carbono e do
amoníaco” é, no mínimo, problematizar, de alguma maneira, a visão teocêntrica
de mundo em prol de uma visão antropocêntrica. Isto é, no poema, está
contemplada uma discussão do final da Idade Média e início do Renascimento
que normalmente percebe a passagem de uma perspectiva filosófica e cultural
centrada em Deus a outra, centrada no homem, ainda que este modelo tenha
sido questionado por muitos autores que buscam a suposta continuidade entre a
perspectiva medieval e renascentista. De forma geral, cabe ao professor, sinalizar
ao aluno a presença de um discurso que introduz uma ideia de ciência, ainda que
bastante vaga para, em seguida, explicar o conceito de ciência no século XIX,
período no qual a ciência se consolidou. Seria interessante que o professor
fizesse referência a Charles Darwin e sua importância na compreensão da
evolução humana.
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Na sequência, seria muito importante que o professor fizesse menção ao
fato do quanto as ciências humanas sofreram a influência do pensamento
científico. Auguste Comte, por exemplo, teórico do século XIX, defendia que a
evolução natural deveria ter uma correspondência na evolução da sociedade; ou
seja, achava que a vida social podia ser analisada por meio de um modelo
científico. Ele foi o criador da Sociologia. Sua interpretação da história da
humanidade levou-o a considerá-la como um processo permanente de melhoria,
passando por estágios inferiores (fase teológica e fase metafísica) até alcançar
um patamar superior (fase positiva). Por isso foi denominada Positivismo a
doutrina que Comte elaborou entre 1830 a 1854, com ênfase especial no
conhecimento propiciado pela observação científica da sociedade. Esse
conhecimento tornaria possível o estabelecimento de leis universais para o
progresso da sociedade e indivíduos. Ainda que atualmente corrobore para a
escrita de uma História bastante conservadora e superada, seu pensamento teve
enorme impacto na concepção do documento histórico, no papel do historiador e
na neutralidade da história.
Os temas abordados anteriormente preparam a turma para a abordagem
de outro assunto dificilmente abordado nas escolas e que faz referência de forma
direta à obra de Augusto dos Anjos: o surgimento do discurso médico no século
XIX e as propostas higienistas.
Para introduzir o tema, o professor poderia perguntar para a classe por
que o poeta fala tanto de escatologia (decomposição, verme, podridão, morte
etc.).
Uma explicação possível seria o fato de Augusto dos Anjos ter vivido em
pleno século XIX, período no qual assistiu à consolidação da ciência moderna e à
instituição da medicina no Brasil.
Para abordar esse assunto, o professor poderia explicar o empenho, ao
longo do II Reinado, dos intelectuais médicos brasileiros para conseguir maior
prestigio e influência perante as autoridades do governo imperial. Afinal, crescia a
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preocupação dos administradores do Rio de Janeiro, com questões de
salubridade, na tentativa de combater as epidemias e embelezar a cidade,
superado o “atraso colonial.” Neste contexto, valeria a pena o professor trabalhar
com seus alunos a importância do surgimento da Junta Central de Higiene
Pública, em 1850, órgão criado pelo governo para ser o consultor sobre questões
de saúde pública. Outro aspecto que mereceria destaque seria ressaltar que as
questões de saúde pública estavam cada vez mais na ordem do dia, já que entre
os políticos e governantes daquele período, estava bastante presente a noção de
que havia um caminho de “civilização” e “aperfeiçoamento moral“ a ser buscado,
o qual só seria atingido pela solução dos problemas de higiene pública. E,
naquele momento, ninguém melhor que os detentores do conhecimento científico,
da técnica – principalmente os médicos – para indicar os caminhos a serem
guiados na administração do país.
Por fim, para abordar um tema muito caro à História do Brasil, a
escravidão, indicamos que o professor trabalhe com um trecho do poema
“Ricordanza della mía gioventú”:
“A minha ama-de-leite Guilhermina
Furtava as moedas que o Doutor me dava.
Sinhá-Mocinha, minha mãe ralhava...
Via naquilo a minha própria ruína!
Minha ama, então, hipócrita, afetava
Susceptibilidades de menina:
“- Não, não fora ela – “ E maldizia a sina,
Que ela absolutamente não furtava.“
A partir dele, o professor poderia solicitar aos alunos que identifiquem cada
um dos personagens que aparecem no poema; as relações entre os personagens
e, a partir daí, poderia tratar das contradições que aparecem nas relações sociais
marcadas pelo escravismo.
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Nesta etapa, os alunos já estão preparados para trabalhar em grupo
podem fazer a leitura dos poemas sugeridos e elaborar as questões para a
entrevista. Em História, especificamente, sugere-se que o professor continue
incentivando o aluno a perceber os poemas como documentos, e que repita o
exercício de ler o poema identificando quais os temas presentes e o contexto
histórico no qual o documento foi produzido.
Material • Poemas de Augusto dos Anjos.
Etapas • Discussão sobre história e documento; • Leitura geral dos poemas; • Leitura e interpretação de “Psicologia de um vencido”; • Discussão dos temas: antropocentrismo, ciência no século XIX, positivismo, práticas médicas, discursos higienistas e escravismo; • Leitura e interpretação de “Ricordanza della mía Gioventú”; • Escravismo e relações sociais.
� UM OLHAR PARA O DOCUMENTÁRIO A PARTIR DA LÍNGUA
PORTUGUESA
Logo na sequência da primeira etapa interdisciplinar, a proposta para o
professor de Língua Portuguesa é a que se apresenta nas atividades a seguir.
Atividade 1
Após terem realizado uma imersão nos temas que serão abordados ao
longo do trabalho, em particular em sua relação com o contexto contemporâneo,
o professor de Língua Portuguesa pode iniciar as atividades específicas da
disciplina retomando essa experiência introdutória e direcionando-a para o âmbito
da poesia. Assim, como primeira atividade, propomos que o professor traga para
a sala dois poemas do autor: um que mostre o olhar pessimista que ele tem sobre
a vida, e outro que exemplifique a evidência que dá aos vermes, como sujeitos de
um processo de degradação do mundo. Não será difícil escolhê-los, entre tantos
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presentes na obra do poeta, mas propomos que, por serem os primeiros a serem
lidos pela turma, eles sejam de fácil compreensão, a fim de que os alunos se
sintam confiantes e de que as dificuldades com a leitura possam ser gradativas.
Para esta atividade, sugerimos os poemas: “Psicologia de um vencido” e
“Idealismo”.
Antes de entregá-los aos alunos para a leitura, o professor pode dirigir à
sala perguntas como: “Vocês acham que é possível fazer poesia falando sobre
vermes e sobre coisas podres?” e “Vocês acham que um poeta pode não gostar
de amor e, inclusive, fazer poemas falando mal do amor?”. Perguntas como
essas são importantes para gerar estranhamento, especialmente nos alunos que
tenham, com relação à poesia, uma concepção idealizada de beleza.
Para a condução da leitura, o professor deve realizar procedimentos de
pré-leitura, em que, por exemplo, a partir dos títulos dos poemas e/ou de alguns
versos, os alunos possam antecipar sentidos possíveis para os textos. Em
seguida, o professor pode distribuir os poemas e deixar que, em duplas, os
alunos conversem um pouco sobre como os compreenderam. As folhas com os
poemas podem trazer, também, um pequeno glossário com os significados de
palavras sobre as quais os alunos, provavelmente, terão dúvidas. Depois, o
professor pode tomar a palavra para fazer, ele mesmo, uma leitura dos poemas.
Dessa forma, de maneira dialogada e recuperando as impressões dos alunos, o
professor pode pontuar, a partir desses poemas, alguns dos temas caros ao autor
e, em termos da versificação, elementos como a forma do soneto e o verso
decassílabo, ambos muito explorados por Augusto dos Anjos.
Atividade 2
Pensando em um trabalho de maior aproximação aos temas explorados
pelo poeta, será necessário aliar a leitura de novos poemas a uma passagem por
referências teóricas que ajudem os alunos a compreenderem a origem e as
razões do pessimismo de Augusto dos Anjos. Assim, será importante ampliar a
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percepção do contexto em que o poeta escrevia, especialmente do ponto de vista
filosófico-científico. No caso do contexto histórico, o professor parceiro neste
projeto dará suporte mas, se for possível conseguir também a contribuição de um
professor de Filosofia, isso pode ser de grande ajuda.
Quanto ao professor de Língua Portuguesa, ele pode utilizar alguns
trechos do documentário (por exemplo, dos 18’34’’ aos 19’48’’ e dos 22’01’’ aos
22’47’’), em que os especialistas apontam essas relações, mas, além disso, não
deve deixar de aproveitar a oportunidade para trabalhar com gêneros textuais
pertencentes à esfera acadêmica, o que contribuirá, inclusive, para que os alunos
se sintam desafiados diante de produções um pouco mais densas. Vale lembrar
que os conteúdos teóricos ou de caráter científico costumam chegar à escola
apenas pelos livros didáticos, nos quais estão reformulados com vistas ao
consumo escolar, o que nem sempre atende a um objetivo de preparação para o
ambiente universitário. Estamos pensando, aqui, especialmente em textos de
crítica literária, dentre os quais, muitos dos que tratam de Augusto dos Anjos
abordam, também, os conceitos filosóficos e os autores que foram lidos pelo
poeta e que acabaram por influenciar decisivamente a sua poesia.
Nesse sentido, exemplificamos uma possibilidade abaixo e trazemos, ao
final desta ficha, indicações de diferentes referências, como artigos e prefácios
publicados junto a antologias e a reedições da obra do poeta. Nesses estudos é
possível recortar trechos que relacionam a sua poesia com as concepções de
Haeckel, Spencer, Schopenhauer e Comte e trazer esses textos à sala de aula.
Além dessa abordagem a respeito dos textos de crítica literária, este
momento do trabalho também proporá um estudo de vocabulário presente nos
poemas escolhidos para serem estudados com os alunos.
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Estudos de textos teóricos: fichamento
O professor deverá selecionar textos teóricos, como trechos de artigos1 e,
também, poemas a serem lidos e estudados com os alunos. É importante que o
professor faça essas escolhas com cuidado para que o(s) texto(s) teórico(s)
traga(m) um conteúdo que ajude a dar suporte à compreensão dos poemas
escolhidos.
Em sala de aula, o professor deverá trazer cópias de um dos textos
teóricos e, também, dos poemas para os alunos. Inicialmente, lerá com os alunos
o texto teórico e, em seguida, procurará construir, com eles, um fichamento, seja
na forma de um esquema ou de tópicos, de maneira a sistematizar seu
conteúdo2. O objetivo, neste momento, é exercitar a produção desse gênero
acadêmico, ao mesmo tempo em que se oferece aos alunos subsídios para
compreender melhor os poemas de Augusto dos Anjos. Depois desse trabalho, o
professor pode trazer outros textos para que os alunos realizem seus fichamentos
sozinhos ou em duplas. Esta produção pode ser, também, utilizada para
avaliação.
Estudos de poemas
Com essas ideias sistematizadas, o professor poderá trabalhar com a
leitura de outros poemas. Indicamos para este estudo os poemas “O Deus-
verme"; o início de "As cismas do destino" (seis primeiras estrofes); "O último
credo"; "Versos íntimos" e dois trechos do "Poema negro”: as estrofes de 1 a 4 e
1 Como uma possibilidade para este momento, indicamos a primeira parte do artigo de Ferreira Gullar intitulado “Augusto dos Anjos ou vida e morte nordestina”, cuja referência completa inserimos no final desta ficha. O texto também está presente no site indicado na seção “Veja mais”. 2 No final desta ficha indicamos o livro Fichamento, de Rosana Morais Weg, que traz, de maneira muito didática, um passo a passo para a produção desse gênero. Como afirma autora, fichar “pode ser uma maneira de, organizadamente, ampliar os conhecimentos a respeito de determinado assunto” (p. 14)
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as estrofes de 5 a 93. Estes mesmos poemas, juntamente com os lidos
inicialmente e também, com os trabalhados na disciplina de História, serão os
mesmo a serem utilizados pelos alunos posteriormente, a fim de formularem as
perguntas para as entrevistas.
Esta leitura/interpretação dos poemas será feita em grupos de quatro
alunos. Cada grupo receberá, também, os poemas dos outros grupos, mas terá a
indicação a respeito de qual poema caberá ao seu próprio grupo. O grupo deverá
elaborar uma interpretação do poema, de maneira articulada com os
pressupostos teóricos vistos e, ao final, apresentará para a sala a sua leitura. A
proposta de que todos os grupos tenham todos os poemas é importante para
que, o momento da apresentação, todos possam acompanhar a leitura dos
colegas.
Trabalho com o vocabulário
Como a poesia de Augusto dos Anjos pode representar dificuldades de
leitura, em alguma medida, em virtude do vocabulário convocado pelo poeta,
propomos, também, atividades para explorar os significados de algumas das
palavras presentes nos poemas Com respeito a este ponto, não pretendemos nos
aventurar, no entanto, pela vasta terminologia científica de que o autor se vale em
suas composições, mas pensamos que é importante, ao estudá-las, incluir, entre
as atividades, algumas que explorem seu léxico, já que se trata de um
vocabulário de uso culto da época e que, hoje, provavelmente representaria
dificuldades mesmo aos leitores mais letrados de sua obra.
Assim, a fim de realizar a leitura dos poemas, o grupo precisará realizar
um trabalho de identificação dos significados de palavras desconhecidas. Para
isso, os poemas impressos nas folhas entregues aos alunos deverão estar com
uma lacuna no lugar das palavras que o professor julgar provavelmente
3 Além da obra Toda a poesia, que contém o conjunto dos poemas de Augusto dos Anjos e que indicamos ao final desta ficha; os poemas também podem ser encontrados no site Domínio Público.
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desconhecidas por eles. As palavras retiradas deverão estar relacionadas abaixo
dos poemas. Assim, além de procurar seus significados nos dicionários, os
alunos precisarão determinar de que verso elas fazem parte.
Material • Cópias de poemas e de textos teóricos.
Etapas • Estudos de dois poemas, a fim de um primeiro contato com a produção do poeta e com suas tendências de estilo; • Leitura de textos de crítica literária, com o objetivo de compreender as relações da poesia de Augusto dos Anjos com as linhas de pensamento filosófico-científico de sua época; produção de fichamentos; • Estudo e interpretação de novos poemas; estudo de vocabulário.
Veja mais... (Acesso em: 13 jul. 2014) • <http://jornaldaparaiba.com.br/euaugusto/>. - Coletânea de poemas, fortuna crítica, declamações realizadas, entre outros, por grandes nomes da música brasileira, além de poemas musicados e de quadrinhos baseados em poemas, além de outros materiais.
� BIBLIOGRAFIA, SUGESTÕES DE LEITURA E OUTROS RECURS OS
Livros e Revistas
ANJOS, Augusto dos. Toda a poesia . (Com estudo crítico de Ferreira Gullar). São Paulo: Paz e Terra, 1995. BOSI, Alfredo. “Augusto dos Anjos” em O pré-modernismo . São Paulo: Cultrix, 1967. (col. A literatura brasileira, v. 5). CHALHOUB, Sidney. Cidade febril . Cortiços e epidemias na Corte Imperial. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. GULLAR, Ferreira. ““Augusto dos Anjos ou vida e morte nordestina” em: ANJOS, Augusto dos. Toda a poesia . São Paulo: Paz e Terra, 1995.
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PAES, José Paulo. “Augusto dos anjos ou o evolucionismo às avessas” em: PAES, José Paulo (sel.). Os melhores poemas de Augusto dos Anjos. 4ª ed. São Paulo: Global, 2003 (col. Os melhores poemas, v. 19). SABINO, Márcia Peters. Augusto dos Anjos e a poesia científica . Juiz de Fora, 2006. Dissertação de mestrado. Disponível em <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/LinguaPortuguesa/marciapeterssabino.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2014. __________. “O positivismo na poesia de Augusto dos anjos” Revista Gatilho ,
Juiz de Fora, v.1, mar. 2005. Disponível em
<http://www.ufjf.br/revistagatilho/files/2009/11/positivismo.pdf>. Acesso em 13 jul.
2014.
SAMPAIO, Gabriela dos Reis. Nas trincheiras da cura . Campinas: Editora da
Unicamp, 2001.
SCHWARTZ, Lilian. O espetáculo das raças : cientistas, instituições e questão
racial no Brasil. 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
WEBER, Beatriz. As artes de curar: medicina, religião, magia e positivismo na
república rio-grandense, 1889-1928. Sana Maria: EDUSC, Editora da UFSM,
1999.
WEG, Rosana Morais. Fichamento . São Paulo: Paulistana Editora, 2006. (Col.
Aprenda a fazer).
Passeios e Visitas
• Memorial Augusto dos Anjos. Sapé, Paraíba.