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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
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GINÁSTICA LABORAL E TRABALHO: ELEMENTOS PARA UMA
DISCUSSÃO
JEZIEL ALVES REZENDE1 JOELMA CRISTINA DOS SANTOS2
Resumo: O presente trabalho apresenta reflexões que vêm sendo travadas para a elaboração de dissertação de mestrado e tem como objetivo principal analisar e refletir sobre a prevalência do uso da Ginástica Laboral (GL) como elemento para a saúde e aumento de produtividade do trabalho na empresa do setor sucroenergético BP Ituiutaba Bioenergia, localizada no município de Ituiutaba-MG. A ginástica laboral cumpre duas funções, se não antagônicas, pelo meno distintas, quando da visão do trabalhador e do empresariado. Dessa forma, busca-se conhecer o universo que envolve a realização da ginástica laboral na empresa BP Bioenergia. Até este momento, foram realizadas entrevistas com trabalhadores que praticam a ginástica laboral, com a finalidade de verificar o retorno advindo de tal atividade. De posse dos dados e informações levantadas, buscamos refletir sobre a utilização desta prática enquanto elemento ativo no processo de reestruturação produtiva do capital.
Palavras-chave: Ginástica Laboral; Precarização; Trabalho;
Abstract: The objective of this work is to reflect on the prevalence of the use of Workplace Gymnastics (GL) as an element for the health and growth of labor productivity, in companies of Ituiutaba-MG. The Workplace gymnastics fulfills two functions, if not antagonistic at least with different focuses, when the vision of the worker and the business. Search to know the universe of patios and agricultural fields of agro-industrial enterprises in the city of Ituiutaba-MG, when the application of GL. Interviews were conducted with employees who practice gym, with the purpose of verifying the return resulting from such activity. In possession of the data and information collected, we seek to reflect on the use of this practice while active element in the process of productive restructuring of capital. Key-words: Workplace Gymnastics; Precariousness; Work
1- Introdução
O presente trabalho visa refletir sobre o uso e prevalência da Ginástica
Laboral (GL) como um dos elementos do Programa de Saúde do Trabalhador (PST),
que, por sua vez, tem por finalidade definir os princípios, as diretrizes e as estratégias
a serem observados com ênfase na vigilância a saúde, visando a promoção e a 1 Acadêmico do Programa de Pós-graduação em Geografia do Pontal (Mestrado Acadêmico) da Faculdade de
Ciências Integradas do Pontal - Universidade Federal de Uberlândia (FACIP/UFU). E_mail de contato:
2
Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia da FACIP/UFU. E-mail de contato:
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proteção da saúde dos trabalhadores e a redução da morbimortalidade decorrente dos
modelos de desenvolvimento e dos processos produtivos.
Dentre os elementos que compõem o Programa de Saúde do Trabalhador
temos Ergonometria, Orientação nutricional, Atendimento médico, que em conjunto,
cumprem função social ao possibilitar melhoria da qualidade de vida do trabalhador,
mas que indiretamente contribuem para o aumento de produtividade do trabalho.
Para o presente estudo, o foco recai sobre a BP Biocombustíveis, localizada
do município de Ituiutaba-MG. A escolha por esta empresa, deve-se ao fato de que
atualmente é a única do setor sucroenergético presente no município em questão,
porém para a versão final da dissertação de mestrado, nosso foco é ampliado para
todas as empresas do setor sucroenergético da Microrregião Geográfica de Ituiutaba
(MG). Espeficamente sobre a prática da ginástica laboral na empresa BP
Biocombustíveis, esta recebe apoio e atendimento por parte da equipe do Programa
Ginástica na Empresa, sob a coordenação de educadores físicos da unidade SESI –
“Dolores Gomes da Silva” de Ituiutaba (MG).
Através de revisão bibliográfica, foi verificado que a Ginástica Laboral cumpre
duas funções, se não antagônicas, pelo menos com focos distintos, quando da visão
do trabalhador e do empresariado. Para o trabalhador é ela uma atividade de “pausa” e
socialização, além de elemento importante na redução de dores e agravos decorrentes
da precarização no trabalho. Para o empresário é mais uma atividade de cunho
ergométrico no intuito de aumentar a produção na medida em que serve como
manutenção temporária da máquina, “ máquina humana”. (PRATES, 2011).
A vivência do pesquisador como primeiro educador físico da unidade SESI –
C.A.T. “Dolores Gomes da Silva”, nos primórdios da década de 1990, e também como
consultor de outras empresas da Associação Comercial e Industrial de Ituiutaba –
ASCII, que já naquela época viam na GL, uma atividade interessante e importante no
processo de geração de lucro, visto contribuir para o aumento da produtividade do
trabalho, contribuíram para o despertar do pesquisador no que refere-se à
compreensão das teias, dos meandros e, por sua vez do entendimento dos resultados
obtidos a partir da prática da ginástica laboral nas empresas.
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No decorrer dos anos, em momentos diversos, sejam eles informais ou em
momentos de reflexão e estudos acadêmicos como docente do curso de Educação
Física da UEMG – Unidade Ituiutaba e, principalmente quando de seminários e
estudos no Programa de Pós Graduação (Mestrado em Geografia) da FACIP/UFU e
GEPEAT (Grupo de Estudos e Pesquisas Agrárias e Trabalho), contribuíram para a
formação de uma nova visão de mundo a respeito do trabalhador, e isto incitou a
busca por melhor entendimento da dinâmica que envolve o processo de implantação e
manutenção da Ginástica Laboral.
Vivemos atualmente a continuação de um processo de reestruturação
produtiva do capital, através da acumulação flexivel ( ANTUNES, 2000) que atinge
todos os setores da sociedade e, neste modelo que se apresenta, observamos
algumas vezes, certa perversidade para com o trabalhador, na medida em que o
capital, utiliza-se da captura da subjetividade operária, como elemento manipulador de
ações que o exploram, sem contudo que ele - o trabalhador - perceba sua real
situação.
Por parte do trabalhador, o cotidiano do trabalho sob o sistema de produção
flexível está levando-o à atitude resiliente. Assim como Cimbalista (2007), entendemos
a “subjetividade como um movimento dialético, no qual existe uma inter-relação do ser
humano consigo mesmo e o seu ambiente”, ora, sabe-se que o ambiente (de trabalho)
se apropria da subjetividade do indivíduo por meio das condições de trabalho adversas
ou precárias, exigindo dele o uso da resiliência, entendida como a qualidade humana
em enfrentar, fortalecer e vencer em condições de adversidade.
Diante das discussões apresentadas, urge conhecermos os elementos que
permeiam a relação capital x trabalho no contexto da realização da GL. Dessa forma,
com a finalidade de compreendermos esta questão na empresa BP Bioenergia, nos
utilizaremos dos resultados obtidos a partir de levantamento de dados de fonte
primária, em entrevistas realizadas com trabalhadores e gestores da referida empresa.
Vale lembrar, que de acordo com Harvey (1992), a compreensão do binômio
espaço-tempo é elemento de poder que atua sobre a estrutura dos padrões do
capitalismo, já que “ o fracionamento da produção, traz impactos no campo do uso da
mão-de-obra, ao torná-la a cada dia mais ultrapassada, em virtude do grande aparato
tecnológico, acelerando o temido desemprego estrutural”. Desta forma, a utilização da
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ginástica laboral é elemento importante a ser compreendido à medida que alivia
momentaneamente os sintomas, porém não é solução para as causas estruturais da
precarização do trabalho e do emprego.
Este artigo está dividido além desta introdução e das considerações finais, em
outras sessões que possibilitam uma teorização sobre a Ginástica Laboral e sua
função no processo de trabalho contemporâneo.
A sessão “Território enquanto importante categoria de análise na discussão da
ginástica laboral” versa sobre Território do ponto de vista relacional. No item “Ginástica
Laboral: recurso para Qualidade de vida no trabalho?” apresentamos algumas
referências sobre a caracterização da GL e sua possivel interferência na qualidade de
vida no trabalho. O Item “A precarização no Trabalho e a relação com a ginástica
laboral: alguns elementos para análise” apresenta algumas reflexões sobre a relação
entre a prática da ginástica laboral e a relação para com as questões relacionadas à
precarização no trabalho.
2-Território enquanto categoria de análise na discussão da ginástica laboral
Em uma abordagem geográfica, que vise à compreensão da complexidade
com que o espaço geográfico é apropriado por um determinado “grupo social”,
devemos nos apoiar em certas categorias de análise, bem como em alguns conceitos.
Consideramos o território, importante categoria de análise de nossos estudos e
firmamos entendimento como Haesbaert (2002, p. 82) quando este afirma que:
Todo conceito, como toda teoria, só tem validade quando referido a uma determinada problemática, a uma questão. Assim, o território é um dos principais conceitos que tenta responder à problemática da relação entre a sociedade e seu espaço.
Para análise da problemática que é determinada pelo uso da ginástica laboral
como elemento de estimulo e apoio à melhoria da qualidade de vida no trabalho, nos
apropriaremos do conceito de território, tendo como referência Raffestin (1993), ou
seja, numa perspectiva relacional, onde a questão do(s) poder(es) nos conduz à
análise e compreensão de relações que acontecem na sociedade, neste caso os
trabalhadores e a empresa.
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Entende-se o território relacional como expressão da multidimensionalidade da
apropriação e representação social do espaço (Coelho Neto, 2013), que gera variados
fatores, que influenciam as relações de poder, neste estudo, nos interessam,
especialmente as relações trabalhistas. O caráter relacional nos leva a entender o
“vivido territorial” (relações cotidianas e habituais segundo Rasffetin, 1993) dos homens
sendo assim uma qualidade subjetiva, que por meio do simbólico, permite a tomada de
consciência do espaço como “espaço próprio de cada um” e, ao mesmo tempo, do “eu”
como parte desse espaço, tecendo identidade e pertencimento ao território.
De acordo com Haesbart ( 2002) e Eduardo (2006), território relacional é um
conceito utilizado em análises que privilegiam a utilização do espaço e as relações
sociais afastando um pouco a idéia tradicional de que território consiste apenas em
uma divisão espacial e política.
No emaranhado social atual, cabe destacar que o(s) sentido(s) do trabalho na
contemporaneidade tem cumprido funções distanciadas da sua dimensão primeira,
visto que para Thomaz Jr (2002, p. 11), “o trabalho é a base fundante do auto-
desenvolvimento da vida material e espiritual”. Ainda de acordo com este autor, o
capital exerce sua gestão sobre o território como sua própria autogestão territorial.
Assim, entendemos que o capital tem poder de controle sobre as ações do
trabalhador. É de suma importância discutirmos e questionar os instrumentos e
discursos utilizados pelo capital como pretensos promotores de uma melhoria da
qualidade de vida no trabalho. Será neste caso a ginástica Laboral assim usada?
Seguindo o raciocinio de Thomaz Jr (2002), somos chamados a refletir sobre a
relação existente entre trabalho e território, pois:
[...] o processo de reestruturação produtiva do capital provoca um extenso conjunto de modificações no âmbito do trabalho e isso remete a profundas alterações no espaço e no território (enquanto categorias de uso interligado), portanto, nas diferentes escalas de análise. (p.6)
Ainda para discutir território enquanto importante categoria de análise em
nossos estudos, nos apoiamos também em Raffestin, que tece uma análise mais
política e econômica do território, tendo o cuidado de buscar um estudo do território
mais relacional.
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Contextualizando com a ginástica laboral, é possível observar que existe,
dentre os objetivos da ginástica laboral, um conflito de interesses - entre empresários
e trabalhadores - conflito este muitas vezes velado, sem contudo deixar de caraterizar
uma luta pelo terrirório, já que interesses multiplos estão em jogo.
No próximo item discutiremos a ginástica laboral, tentando compreender se é
de fato um recurso para maior qualidade de vida no trabalho ou apenas mais uma
armadilha com intenção de desviar a atenção dos efeitos deletérios da precarização.
3- Ginástica Laboral: recurso para Qualidade de vida no trabalho?
Analisando o ritmo de vida das pessoas desde o final do século XX e início do
século XXI, verificamos que a intensificação das atividades tem provocado um
descompasso entre o que o homem têm o e que ele gostaria de ter. Para minimizar
este problema são traçados objetivos e implantadas ações visando, inicialmente, à
melhoria da qualidade de vida das pessoas. Associa-se a ideia de que fatores como:
estado de saúde, longevidade, satisfação no trabalho, salário, lazer, relações
familiares, disposição, prazer e ate espiritualidade, sejam pontos importantes a serem
atendidos, e a isto chamam de “Qualidade de Vida”.
No caso específico deste estudo usaremos um conceito apresentado por
LIMONGI FRANÇA (1996, p. 15) quando ela coloca que: “ Qualidade de Vida no
trabalho é o conjunto de ações de uma empresa que envolve a implementação de
melhorias e inovações gerenciais e tecnológicas no ambiente de trabalho.”
Vale ressaltar que a referida " Qualidade de Vida no trabalho" teoricamente
ocorrerá a partir do instante em que se olha a empresa e as pessoas como um só
conjunto, um „todo‟.composto por partes que se encaixam dentro de uma visão
biopsicossocial, sendo este posicionamento o fator diferencial para a realização deste
conjunto de ações durante o trabalho na empresa.
Na busca por este conjunto de ações que possam favorecer a qualidade de
vida do trabalhador, muitas empresas procuram as atividades físicas e recreativas
como indutores de processos que conduzam à melhoria da saúde, maior socialização
entre os funcionários e principalmente prevenção de doenças por esforço repetitivo ou
decorrentes de mal funcionamento do sistema musculo-esquelético.
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Daí o uso da Ginástica Laboral como mais uma ferramenta disponível dentro
da ergonomia desenvolvida em uma empresa. Sendo ela uma atividade que envolve
trabalhadores nas mais diversas condições físicas e psicológicas, é necessário que
esta atividade seja orientada por profissionais preparados, sejam eles os Educadores
Físicos, nos casos gerais, ou os fisioterapeutas, nos casos específicos. A forma mais
comum encontrada é através da implantação de um Programa de Saúde do
Trabalhador, programa este existente em vários estados, inclusive em Minas Gerais,
como sub-projeto chamado de “Ginástica na Empresa”.
O Projeto “Ginástica na Empresa” é idealizado e conduzido pelo Serviço Social
da Industria (SESI), com intuito de possibilitar mudanças, fisiológicas, neuro motoras e
psicológicas, por intermédio de atividades físicas orientadas capaz de atenuar a
incidência de acidentes de trabalho, causados por esforço físico demasiado, em
postura errada e com movimentos repetitivos sem pausa.
Esses exercícios ou atividades de ginástica devem ser dosados de modo que
se obtenha uma boa oxigenação, além de promover maior disposição para o trabalho,
maior capacidades respiratórias, vitalidade muscular e mental, além de descontração
no ambiente. (LIMONGI FRANÇA, 1996)
Compartilhamos a ideias de Militão (2001) quando ele afirma que a Ginástica
Laboral possui diferentes objetivos, tanto para os funcionários como empresas. Para os
funcionários ela é entendida principalmente como uma atividade que proporciona:
Diminuição do sedentarismo e melhoria postural; Redução da sensação de fadiga, já possibilita pausa nas atividades; Melhoria da autoestima e da autoimagem; Combate às tensões emocionais e/ou decorrente do trabalho Melhoria das relações interpessoais ao serem realizadas em grupo; Possibilidade de pausa durante as atividades de trabalho;
O uso da GL por parte da empresa, evidencia foco bem diferenciado, onde
podemos destacar os seguintes objetivos:
Reduzir os gastos com afastamento e substituição de pessoal; Diminuir afastamentos médicos, acidente e lesões; Melhorar a imagem da instituição junto a funcionários e sociedade; Promover disposição e bem estar para a jornada de trabalho; Melhoria da atenção e concentração as atividades desempenhadas; Favorecer o relacionamento social e trabalho em equipe;
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Diante do apresentado, podemos afirmar que a Ginástica Laboral tem no seu
conjunto de atuação, condições para atuar junto ao trabalhador de forma benéfica,
mas, por outro lado, suscita questionamentos, visto que uma das hipóteses por nós
levantanda, é que a Ginástica Laboral é mais um dos instrumentos utilizados pelo
capital, visando o aumento da produtividade do trabalho. É neste contexto, que
avançaremos discutindo a precarização do trabalho e a relação com ginástica laboral.
4- A precarização no Trabalho e a relação com a ginástica laboral: alguns
elementos para análise
Os ritmos atuais de funcionamento das empresas são reflexos da atual fase do
modo de produção capitalista, onde as questões de cobrança por aumento da
produtividade e lucro afetam de forma negativa o ambiente de trabalho, contribuindo
cada vez mais para a existência e aumento de condições de trabalho precárias.
(THOMAZ JR, 2002); (ALVES, 2007); (SANTOS, 2009).
Importante neste caso conceituar o que é a precariedade, e como se
apresenta, seja como precarização do trabalho e precarização no trabalho, já que por
vez são consideradas iguais e, não necessariamente o são na prática.
A precariedade é uma condição histórico-ontológica de instabilidade e
insegurança de vida e de trabalho, condição que está muito presente no processo de
reestruturação produtiva do capital. ALVES (2007). Deste conceito deriva dois outros, a
saber: Precarização do Trabalho e Precarização no trabalho.
Para Thomaz Jr (2002), a precarização do trabalho constitui-se e afirma-se nos
diferentes arranjos que apresentam a diversidade de situações em que o trabalho sofre
com a informalidade, aumento da terceirização, da utilização do „part time‟, com a
flexibilização dos contratos, dentre outros.
Para Alves (2010, p. 02), a precarização do trabalho que ocorre hoje, sob o
capitalismo global,
[...] não seria apenas precarização do trabalho no sentido de precarização da mera força de trabalho como mercadoria; mas seria também, precarização do homem que trabalha, no sentido de desefetivação do homem como ser genérico.
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Ora, isto significa que o trabalho como função social é deteriorado na medida
em que a força de trabalho como mercadoria, passa a ser acrescida necessariamente
da desconstituição do ser humano.
Com relação à precarização no trabalho, temos como pontos a destacar as
condições em lócus, que envolvem ou afetam à rotina de trabalho de forma direta, o
que pode ser demonstrado através de carga horária excessiva, necessidades de
posturas não anatômicas, presença de metas cada vez maiores para serem cumpridas
na produção, pressões psicológicas, assédios e aliciamentos, dentre outros elementos.
Para Santos (2009), a precarização no trabalho é nítida em vários setores,
principalmente na agroindústria, e se apresenta na forma de desrespeito aos
trabalhadores como seres humanos, sendo que o trabalho que deveria ser fonte de
liberdade se torna forma de aprisionamento.
Foi com base neste referencial teórico de grandes pensadores sobre o
trabalho, que nos fomos a campo para procurar respostas.
Foram entrevistados 31 trabalhadores da BP Bioenergia, e nas entrevistas,
constatamos que a maioria dos entrevistados participa das sessões de Ginástica
Laboral, por entender seus benefícios. Verifica-se que vinte e cinco (25) entrevistados,
realizam e dizem sentirem-se beneficiados por executar a ginástica laboral, três (3) não
se sentem bem e dois (2) alegam não fazer as atividades. Gráfico(1).
Gráfico 1-Sentem se bem com a GL
Fonte: Trabalho de campo - Maio/2015
Por ser uma amostra aleatória e não probabilística, encontramos diferenças
entre os tipos de ginástica apresentado para cada setor, sendo que Dezoito (18)
entrevistados realizam a GL Preparatória e 13 entrevistados a GL Compensatória,
25
3 2
Sim
Não
Não executa aGL
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Interessante mencionar que no primeiro grupo, encontramos o pessoal de campo e no
segundo grupo, os operadores de máquinas e pessoal do escritório. (Gráfico 2)
Gráfico 2- tipos de ginástica laboral aplicadas
Fonte: Trabalho de campo - Maio/2015
Entre os benefícios destacados pelos trabalhadores estão: o aumento da
disposição física com 39% (12) dos entrevistados, e como benefício a disposição
mental temos 26% (8 entrevistados) que disseram ter mais ânimo e alegria para a
execução das tarefas do dia. As questões relacionadas ao aumento da concentração
para o trabalho foram apontadas por 23% (7 entrevistados), e a diminuição de
dor/doenças foi apontada por 13% (4 entrevistados), compondo ponto importante na
discussão, conforme gráfico 03.
Gráfico 3 – Reflexos da GL para/nos trabalhadores
Fonte: trabalho de campo - maio/2015
Cabe ressaltar que boa parte dos entrevistados tem percepção da função da
ginástica laboral para a empresa, ao entendê-la como capaz de provocar diminuição
dos acidentes e doenças temporárias (ex: DORT/LER), aumentar a socialização.
Outrossim, também consideram que a prática da ginástica laboral contribui para o
aumento da produtividade, à medida que deixa mais dispostos, física e mentalmente.
0
10
20
1
Preparatória
Compensatória
39%
26%
23%
13% Disposição
Animo/Alegria
Aumento concentração
Diminuição das dores
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Para este item temos que 74% (23) dos entrevistados entendem que „sim‟, é
vantajoso para a empresa, ao contribuir para o aumento da produtividade e apenas
36% (8) afirmam que a ginástica Laboral não tem relação com aumento da
produtividade. (Gráfico 4)
Gráfico 4 – GL é vantagem para a empresa
Fonte: trabalho de campo - maio/2015
Os dados apresentados tem embutido em seus significados, não apenas seus
valores quantitativos, mas refletem bem mais, pois a possibilidade da entrevista para
coleta dos dados, permite que cada resposta venha impregnada de sentimentos e
verdades, já que fogem à mera comunicação de simples fatos uma vez que apresenta
a GL como ao apoio ao trabalhador e por outro lado aumento da produtividade.
6 - Considerações Finais
Diante dos dados apresentados podemos perceber que o uso da Ginástica
Laboral está cumprindo de forma adequada sua função, ao fazer parte do Programa
Saúde do Trabalhador, como mais um dos elementos utilizados para propiciar uma
qualidade de vida no trabalho.
As diminuições das dores e dos sintomas das doenças advindas do trabalho
são bons indicativos de que há uma ação benéfica no uso da Ginástica Laboral. O
aumento da disposição e do "ânimo" para o trabalho também podem ser considerados
como pontos importantes no conjunto que forma a “qualidade de vida no trabalho".
O aumento da concentração e disposição, além da redução do número de
faltas e acidentes são elementos que reforçam o uso da ginástica laboral com o
aumento da produtividade, sendo portanto utilizada como importante ponto para a
reprodução do capital, em sua fase de reestruturação produtiva.
74%
36% Sim
Não
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Referências
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