grandes culturas - cultivar 162

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Novembro de 2012

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Missão quase impossível..............28A árdua tarefa de controlar o mofo-branco em áreas de soja infestadas pelo fungo causador da doença

Destaques

Índice

Diretas 04

Corda-de-viola em cana-de-açúcar 06

Espaçamento e população de plantas no feijoeiro 09

Aminoácidos levógiros (L) e dextrógiros (D) 12

Eventos - Top Ciência 2012 14

Sistemas de Apoio à Decisão para diagnóstico de doenças 16

Capa - Os desafios para produzir soja em áreas de várzea 20

Os efeitos da dessecação em áreas de cultivo de soja 24

Manejo do complexo de lagartas em soja 26

Mofo-branco em soja 28

Viagem técnica a áreas de arroz e soja dos EUA 31

O uso de produtos de controle hormonal na agricultura 34

Controle do percevejo castanho em algodão 36

Prevenção da resistência de daninhas a herbicidas 38

Coluna ANPII 40

Coluna Agronegócios 41

Mercado Agrícola 42

Risco calculado...................................20Produzir soja em áreas de várzea é possível e rentável. Mas produtores precisam manejar de forma correta aspectos como drenagem, nutrição e escolha de cultivares

Expediente

Cultivar Grandes Culturas • Ano XIV • Nº 162 • Novembro 2012 • ISSN - 1516-358X

Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: [email protected]

Grupo Cultivar de Publicações Ltda.CNPJ : 02783227/0001-86Insc. Est. 093/0309480Rua Sete de Setembro, 160, sala 702Pelotas – RS • 96015-300

DiretorNewton Peter

[email protected]

Assinatura anual (11 edições*): R$ 173,90(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 17,00Assinatura Internacional:US$ 130,00Euros 110,00

Nossos Telefones: (53)

Nossas capas

O perigo é castanho....................36De que forma manejar o percevejo castanho, praga favorecida pelo sistema de cultivo em algodoeiro adotado no cerrado

Corda fora de tom.......................06Como realizar o manejo da popular corda-de-viola, planta daninha que infesta canaviais brasileiros

Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

• Geral3028.2000• Assinaturas:3028.2070• Redação:3028.2060

• Comercial:3028.20653028.20663028.2067

REDAÇÃO• Editor

Gilvan Dutra Quevedo• Redação

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• Design Gráfico e DiagramaçãoCristiano Ceia

• RevisãoAline Partzsch de Almeida

MARKETING E PUBLICIDADE• Coordenação

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CIRCULAÇÃO• Coordenação

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Natália RodriguesFrancine MartinsClarissa Cardoso

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GRÁFICAKunde Indústrias Gráficas Ltda.

Charles Echer

Diretas

04 Novembro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Antônio Carlos Zem

ParceriaA FMC Corporation acaba de cele-brar acordo de parceria de pesquisa e desenvolvimento para o registro de um novo fungicida da Isagro S.p.A. As duas empresas desenvolverão juntas o produto, da classe das carboxamidas. Para o presidente da FMC Corporation América Latina, Antônio Carlos Zem, essa parceria só favorece o agribusiness mundial. “Mais um fungicida que vai chegar para o mercado e completar ainda mais o nosso amplo portfólio. Estamos alinhados com o futuro e atentos em desenvolver novas tec-nologias para facilitar o dia a dia do produtor e beneficiar a agricultura mundial”, afirmou.

ParticipaçãoA Basf participou da 38ª edição do Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras, em outubro, em Minas Gerais. A empresa apresentou solu-ções para a cultura, como o Sistema AgCelence Café, um modelo de manejo integrado composto pelo uso sequencial dos fungicidas Cantus, na colheita dos frutos ou pré-flo-rada, Comet, na pós-florada, e por último o Opera. “A participação em eventos como este é extremamente positiva, já que nos possibilita enten-der as necessidades dos agricultores, compartilhar técnicas e apresentar soluções ao cafeicultor”, afirmou o gerente de Cultivo Café da Basf, Daniel Andrade Vieira.

Novos rumosO atual gerente de Marketing de Inseticidas e Tratamento de Se-mentes para América Latina, Odanil M. de Campos Leite, acaba de ser nomeado gerente global de Marketing e Portfólio de Fungicidas para Hortaliças, da Syngenta. A partir de 1º de janeiro o executivo ficará sediado em Basiléia, na Suíça. Será responsável pelo portfólio de fungicidas composto por Chlorothalonil, Fludioxonil, Cyprodinil, Mandipropamid, Mefenoxam, Fluazinam e outros. No Brasil, Leite foi responsável pelo desenvolvimento e introdução de importantes produtos no mercado, como Priori Xtra e Avicta Completo, além

LaboratórioFoi lançada em outubro a pedra fundamental do Laboratório de Pesquisa e Desenvolvi-mento para América Latina da área de Saúde Ambiental da Bayer CropScience. A previsão é de que a nova estrutura seja inaugurada no primeiro trimestre de 2013, com uma área de mil metros quadrados, dez vezes maior que a estrutura atual. Abrigará salas para a criação de insetos, ensaios, aplicações, dentre outras funcionalidades. “Sem dúvida este será o labo-ratório mais completo e moderno para pesquisa e desenvolvimento de soluções voltadas ao controle de pragas urbanas, florestais e de grãos armazenados, não só na Bayer CropScience, mas também do nosso mercado”, avaliou o diretor de Marketing e Inovação da área de Saúde Ambiental da Bayer CropScience para América Latina, Luis Fernando Macul.

Soja na várzeaA Plantécnica, revenda Syngenta para a região de Pelotas, no Rio Gran-de do Sul, realizou seminário sobre Soja na Várzea, no município de Arroio Grande, no final de setembro. O evento buscou esclarecer aos produtores sobre manejo da água no solo, controle de doenças e plantas daninhas em áreas de várzea. Palestraram no evento os pesquisadores Ricardo Balardin e Sylvio Bidel Dornelles, da Universidade Federal de Santa Maria, o engenheiro agrônomo e consultor Rafael Ramos, além de integrantes da equipe técnica da Syngenta.

Daniel Andrade Vieira

de globalmente pelo Vibrance, o mais novo fungicida em tra-tamento de sementes da em-presa. Durante os últimos 2,5 anos, apoiou a implementação da estratégia de Inseticidas e de Tratamento de Sementes, liderando projetos como o do Thiamethoxam para a Améri-ca Latina. Leite é engenheiro agrônomo e mestre em Pro-dução Vegetal pela Esalq/USP e possui MBA em Marketing pela FEA/USP.Odanil Leite

Luis Fernando Macul

Tabela 1 - Redução da infestação de arroz-vermelho (Orysa) e capim-arroz (ECHCG) em soja cultivada em área de várzea, em função de herbicidas aplicados em pré-emergência, na média de duas doses e em duas épocas de avaliação

Redução da infestação (Valor percentual)(1)

ORYSA78,5 ab43,7 cb61,3 b88,2 a33,3 c61,2 b

ECHCG100,0 a45,7 c

81,0 ab97,3 a70,1 b78,3 ab

Herbicidas

ClomazoneFlumioxazin

SulfentrazoneS-metolachlorPendimethalin

Trifluralin

Estádio V4

ORYSA77,5 ab37,5 c64,1 b91,8 a38,1 c60,0 b

ECHCG100,0 a51,2 b86,6 ab100,0 a67,8 b75,8 ab

Estádio V6

(1) Estádio V4 - ORYSA (38,8 plts m-2), ECHCG (6,1 plts m-2); estádio V6 - ORYSA (28,2 plts m-2), ECHCG (6,3 plts m-2).

CorreçãoOs valores corretos da Tabela 1 do artigo “Papel Renovado” são estes e não os publicados à página 34 da edição 160.

Cana-de-açúcar

06 Novembro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Fora de tomFavorecidas pela colheita mecanizada, plantas daninhas como a corda-de-viola são um desafio importante a ser

manejado pelos produtores. Ipomoea hederifolia, Ipomoea quamoclit, Ipomoea nil, Ipomoea grandifolia, Ipomoea

purpurea, Merremia cissoides e Merremia aegyptia estão entre as principais espécies presentes nos canaviais brasileiros. A aplicação de herbicidas, associada a outras alternativas integradas, é uma das estratégias que se destacam pela

eficiência no controle e baixo custo de aplicação

O sistema de colheita de cana crua proporcionou modificações im-portantes em relação às plantas

daninhas por reduzir a movimentação do solo e eliminar distúrbios causados pela queimada, além da introdução da colhedora como agente disseminador de dissemínulos e da manutenção de uma camada de palha sobre o solo (Kuva et al, 2008). A palha que permanece na superfície altera a luminosi-dade, a temperatura e a umidade do solo, favorecendo o desenvolvimento de plantas daninhas com hábito de crescimento trepa-dor nos canaviais, como as cordas-de-viola. Com isso, os produtores de cana-de-açúcar têm encontrado dificuldades em manter a população dessas plantas em níveis de infestação que não prejudiquem a cultura (Azania et al, 2011).

A presença dessas plantas no agroe-cossistema da cana-de-açúcar está entre os principais fatores bióticos responsáveis pela interferência no desenvolvimento e na produtividade da cultura (Kuva et al, 2003), podendo reduzir a produtividade em mais de 80% (Silva, 2006). As perdas ocorrem, principalmente, na quantidade e na qualida-de do produto colhido, redução no número de cortes viáveis e aumento dos custos de produção (Procópio et al, 2004).

Nas áreas de colheita de cana crua, tem se destacado um conjunto de espécies de cordas-de-viola, dentre as quais se sobressa-em: Ipomoea hederifolia, Ipomoea quamoclit, Ipomoea nil, Ipomoea grandifolia, Ipomoea. purpurea, Merremia cissoides e Merremia aegyptia (Silva et al, 2009).

As cordas-de-viola são nativas da Amé-rica do Sul e possuem ciclo biológico longo, acarretando problemas na colheita, uma vez que seus ramos se entrelaçam no colmo da cultura (Kissmann & Groth, 1999) dificul-tando o corte mecanizado, comprometendo o rendimento das máquinas e a qualidade do produto (Correia & Kronka Jr, 2010).

Ainda, por ocasião da colheita, seus frutos e suas sementes podem ser encon-trados ligados à planta-mãe, favorecendo a disseminação das sementes pela colhedora, em média e longa distâncias (Silva et al, 2009).

Na busca por alternativas que reduzam a disseminação das plantas daninhas, o ma-nejo integrado (rotação de culturas associa-da ao controle químico) apresenta-se como boa alternativa para reduzir a entrada de sementes nas áreas agrícolas e a viabilidade das sementes, mantendo suas populações em níveis insuficientes para causar danos econômicos. A rotação da cana-de-açúcar com o amendoim, nas áreas de reforma, é uma atividade economicamente viável, re-presentando uma alternativa à complemen-

José

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a

tação da adubação mineral e à manutenção da fertilidade do solo, além de auxiliar no controle de plantas daninhas, permitindo o controle de muitas espécies de plantas daninhas que vegetam em sincronismo com as culturas (Paes & Rezende, 2001).

O uso de herbicidas apresenta-se como uma das opções mais eficientes e econômi-cas de controle, principalmente em extensas áreas de plantio com alta infestação de plan-tas daninhas, durante períodos chuvosos ou mesmo sob irrigações, quando outros métodos são de baixa eficiência (Silva et al, 2006).

O uso de produtos à base de imazapique tem aumentado devido ao amplo espectro de atuação sobre diferentes plantas da-ninhas e, ainda, a eficiência de aplicação quando se utilizam baixas dosagens (Tam; Evans; Dahmer, 2005). O imazapique, do grupo das imidazolinas, é um herbicida ini-bidor da enzima acetolactato sintase - ALS (Devine et al, 1993) e atua impedindo a síntese de aminoácidos ramificados essen-ciais ao desenvolvimento das plantas e dos microrganismos (Vargas et al, 1999).

O conhecimento e o monitoramento de plantas daninhas são importante ferramenta para a tomada de decisões sobre o momento ideal para um controle eficiente e de baixo custo, assegurando o sucesso na atividade.

Diante do exposto, pesquisadores da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCAV-Unesp) - Campus de Jaboticabal, conduziram um experimen-to com o objetivo de avaliar a influência da aplicação de doses de imazapique em sete espécies de cordas-de-viola em pré e pós-emergência.

Com o objetivo de reduzir o banco de sementes dessas espécies em áreas de reno-vação de canaviais, utilizando amendoim como cultura de sucessão, realizou-se a apli-cação de imazapique seguindo as indicações para a cultura do amendoim.

No estudo realizado pelos pesquisado-res foram utilizadas as seguintes espécies de cordas-de-viola: Ipomoea grandifolia, Ipomoea hederifolia, Ipomoea nil, Ipomoea purpurea, Ipomoea quamoclit, Merremia aegyptia e Merremia cissoides.

O produto foi aplicado nas seguintes doses: 2,8; 1,4; 0,7; 0,35; 0,175; 0,0875; 0,0g. ha-1 i.a. A aplicação do imazapique em pré-emergência foi realizada no dia da semeadura e, em pós-emergência, foi aos 21 dias após a semeadura das cordas-de-viola.

O efeito do herbicida sobre as diferentes espécies de cordas-de-viola foi avaliado se-gundo a escala de Alam (1974), aos 21 dias após a aplicação, em pré e pós-emergência. As notas de controle atribuídas foram de 0% a 100%, sendo: 0-40% (nenhuma a pobre), 41-60% (Regular), 61-70% (Suficiente), 71-80% (Bom), 81-90% (Muito Bom) e 91-100% (Excelente).

A aplicação de imazapique em pós-emergência apresentou maior eficiência so-bre Merremia cissoide, controlando-a em até 98,33%. Já a aplicação em pré-emergência, o controle chegou a 85% utilizando a dose de 2,8g. ha-1 i.a.

Para Merremia aegyptia, a aplicação em pós-emergência proporcionou maior eficiência, controlando até 85% das plan-tas. Em pré-emergência, a aplicação nas doses de 1,4g e 2,8g. ha-1 i.a. proporcionou controle de até 83,33%. Para Ipomoea hederifolia foram observados controle de até 99% em pós-emergência e 98% em pré-emergência.

Todas as doses foram eficientes no controle de Ipomoea purpurea em pós-emergência, controlando-a em até 75%. Já em pré-emergência, a dose de 2,8g. ha-1 i.a. proporcionou controle de até 81,67%.

Para Ipomoea grandifolia todas as doses proporcionaram controle, chegando a 90% em pós-emergência. Em pré-emergência, foram observados controles de até 80%.

Para Ipomoea nil, todas as doses testadas foram eficientes, proporcionando controle de até 86% em pós-emergência. Já a aplica-ção em pré-emergência, a dose 2,8g. ha-1 i.a. também controlou 86% das plantas.

As doses de 0,35 e 2,8g. ha1 i.a. em pós-emergência proporcionaram controle de até 100% para Ipomoea quamoclit. Já em pré-emergência, foram observados controles de até 88%, com a dose de 2,8g. ha1 i.a.

Plantas adultas de Ipomonea hill , I. hederifolia e I. grandiofolia,espécies comuns em áreas de colheita de cana crua

A cana-de-açúcar destaca-se como uma das culturas de maior impor-

tância na economia brasileira. O Brasil é considerado o principal produtor mundial de açúcar e etanol, conquistando um es-paço cada vez maior no mercado externo através do biocombustível como alterna-tiva energética (Mapa, 2012).

Estima-se que a produção da cana-de-açúcar para a safra 2011/2012 a 2021/2022 terá um acréscimo significativo de 30,5%, passando de 607.852 para 793.206 tone-ladas (Mapa, 2012). Ainda nesse período, o Brasil deverá manter a liderança no co-

CANA e plANtAS dANINhASmércio mundial em açúcar.

O aumento da área cultivada com cana-de-açúcar intensificou a preocupa-ção com os impactos ambientais e sociais causados pela cultura, levando à proibição da queimada em canaviais no estado de São Paulo. Segundo esquema de restrições legais progressivas, a queimada estará proibida até o ano de 2021 em áreas com possibilidade de mecanização total da colheita e até 2031 para as demais áreas (Decreto nº 47.700 de 11/3/2003, que regulamenta a Lei nº 11.241 de 19/9/2002).

07www.revistacultivar.com.br • Novembro 2012

Fotos Unesp

08 Novembro 2012 • www.revistacultivar.com.br

CC

Considerações finaisO uso de imazapique nas doses

citadas em pré e pós-emergência pro-porcionou controle eficiente das cor-das-de-viola. O controle, na aplicação em pré-emergência, foi mais eficiente para Ipomoea hederifolia, seguida de I.

quamoclit, I. nil, Merremia cissoide, M. aegyptia, I. purpurea e I. grandifolia. Por outro lado, o controle, na aplicação em pós-emergência foi mais eficiente para I. quamoclit, seguida de I. hederifolia, M. cissoide, I. grandifolia, I. nil, M. aegyptia e I. purpurea.

A palhada na superfície do solo favorece o surgimento de plantas daninhas como a corda-de-viola

Gráficos

Anne Elise Cesarin, Willians César Carrega, Cárita Liberato do Amaral, Daniel Primiano Ferrarezi e Pedro Luis da C. Aguiar Alves, Unesp

Une

sp

CC

09www.revistacultivar.com.br • Novembro 2012

Feijão

População e espaço

O aprimoramento das técnicas de manejo das plantas nas áreas de cultivo do feijoeiro constitui-se

em fator preponderante para a elevação do rendimento de grãos dessa cultura. Dentre as técnicas de manejo recomendadas, Grafton et al (1988) destacam a adequação da população e do espaçamento de plantas como impor-tante para uma melhor utilização da água, nutrientes e radiação solar. Segundo Adams e Weaver (1998), a adequação da população e o espaçamento entre plantas promovem ajuste das relações ambiente-planta para a expressão máxima da produtividade.

A melhoria do desempenho produtivo da cultura do feijão comum associada à obten-ção de novas cultivares com características agronômicas desejáveis vem aumentando com o passar do tempo, o que evidencia maior preocupação com a interação entre genótipos e ambientes, com as diferenças no comportamento das linhagens e das cultivares, em diversos locais, anos agrícolas e épocas de semeadura (Carbonell et al 2001). Para o cultivo de feijoeiro em período de inverno é importante o estudo do desenvolvimento da cultura conduzida sob diferentes espaça-

mentos devido à competição entre plantas por nutrientes e água.

Tendo em vista a importância da escolha de cultivares e dos espaçamentos de cultivo, estudo objetivou avaliar o desenvolvimento de duas cultivares de feijoeiro, em cultivo de inverno sob diferentes espaçamentos no mu-nicípio de Cassilândia, Mato Grosso do Sul.

CaraCterístiCas das CultivaresA cultivar IPR Juriti é do grupo carioca,

que apresenta hábito de crescimento inde-terminado e porte ereto. O tempo médio até o florescimento é de 42 dias e o ciclo médio de 89 dias da emergência à colheita (Iapar, 2011).

A cultivar IAC Tunã apresenta hábito de crescimento indeterminado, com guia curta a longa, com hastes tingidas de violeta, flores de cor violeta, porte ereto, semiereto, vagens na coloração amarela manchada de roxo a amarelo-marmorizado de roxo, podendo mostrar algumas listras nessa tonalidade, na maturação fisiológica. Na colheita, a cor das vagens é creme a creme com manchas roxas, podendo em alguns casos ser quase imperceptíveis. As sementes são de forma

esférica e com tegumento de cor preta. Seu ciclo é de aproximadamente 90 dias, atingindo uma produção média de 2.800kg/ha (Castro; ITO, 2006).

Material e MétodosO experimento ocorreu no municí-

pio de Cassilândia, região do Bolsão Sul Mato-grossense, nas coordenadas de latitude 19º06'48" sul e na longitude 51º44’03" oeste, a uma altitude de 470 metros. O trabalho foi conduzido a campo na área experimental da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems), Unidade Universitária de Cassilândia (UUC).

O preparo do solo foi realizado no dia 8 de maio de 2011 e constou de uma aração e duas gradagens.

Foram coletadas subamostras da parte superficial do solo antes do preparo do solo, a profundidade de 0-20cm para realização de análise do solo. De acordo com as caracterís-ticas químicas do solo da área experimental (Tabela 1), realizou-se adubação de semeadura no dia 6 de junho com a dose de 250kg/ha do formulado 04-14-08.

A semeadura foi realizada manualmente

População e espaço

Rafael Leonardo Pereira

Espaçamento correto e adequação da quantidade de plantas entre as linhas são fundamentais para a melhor utilização de água, nutrientes e radiação solar na cultura do feijão. Prestar atenção a essas técnicas de manejo pode proporcionar maior desenvolvimento das lavouras, o que

consequentemente resultará em melhores níveis de produtividade

Espaçamento correto e adequação da quantidade de plantas entre as linhas são fundamentais para a melhor utilização de água, nutrientes e radiação solar na cultura do feijão. Prestar atenção a essas técnicas de manejo pode proporcionar maior desenvolvimento das lavouras, o que

consequentemente resultará em melhores níveis de produtividade

10 Novembro 2012 • www.revistacultivar.com.br

de vagens por planta. Foram debulhadas as vagens de dez plantas de cada parcela e as sementes contadas. Massa de 100 grãos: foram separados 100 grãos de uma parcela e pesados em uma balança com 0.01g de precisão.

A primeira avaliação se deu quando as plantas se encontravam com exatos 30 dias após a semeadura (DAS), onde se avaliaram estande inicial, altura de plantas, matéria verde e seca.

A segunda avaliação ocorreu quando as plantas se encontravam com 72 DAS, onde foram avaliados os mesmos parâmetros da primeira avaliação.

A terceira avaliação ocorreu quando as plantas se encontravam com 93 DAS, onde foram avaliados os mesmos parâmetros das duas primeiras avaliações, porém, realizou-se também a contagem de vagens por planta.

resultados e disCussãoA temperatura ideal para o cultivo do feijão

se situa entre valores mínimos, ótimos e máxi-mos de 12°C, 21°C e 29°C, respectivamente (Embrapa, 2000). O experimento em campo atingiu índices de temperatura máxima entre 29,6ºC e 12,6°C e temperatura mínima entre 27,5ºC e 11,2°C, valores consideráveis para o cultivo do feijoeiro. O índice de precipitação no período foi muito baixo, o que prejudicou o desenvolvimento da cultura, uma vez que o rendimento do feijoeiro é bastante afetado pelo estresse hídrico. De acordo com Zimmermenn e Teixeira (1996), o feijoeiro é muito sensível tanto a geadas quanto a altas temperaturas. Também as condições de seca durante as épo-cas críticas, do florescimento ao enchimento da vagem, são muito prejudiciais.

Para as médias de estande não houve dife-rença significativa entre as cultivares avaliadas, porém para espaçamentos ocorreu em todas as avaliações. Houve redução no número de plantas por hectare entre todas as avaliações realizadas, totalizando um número de 312

no dia 7/6/2011 nos espaçamentos de 45cm e 80cm das cultivares de feijão Juriti e Tunã. O experimento constou de 16 parcelas com seis linhas de semeadura e cinco metros de comprimento.

Foi utilizado o delineamento em blocos casualizados, com quatro repetições em fato-rial 2 x 2, totalizando quatro tratamentos e 16 parcelas. Os dados foram transformados por raiz quadrada de x + 0.5 de acordo com Banzatto e Kronka (2006). Foi realizada análise de variância e para comparação das médias e verificação dos efeitos de cultivares e espaçamentos, com utilização do teste de Tukey, a 5% de probabilidade. Empregou-se o programa Sanest (Zonta; Machado, 1991) para realização das análises estatísticas.

Foram realizadas duas capinas manuais na área, para controle de plantas daninhas evitando maior competição com as plantas de feijão. A primeira foi realizada com 30 DAS e a segunda 51 DAS, período em que havia uma grande incidência de plantas daninhas.

Devido à incidência de ataques de pragas como a Diabrotica speciosa realizou-se a aplicação do ingrediente ativo (i.a) diafen-tiurom, com dose: 0,5kg/ha do p.c. ou 250g/ha do i.a.

Foram estudados variáveis, estande ini-cial, altura de planta, produção de matéria seca aos 30, 72 e 93 dias após a semeadura e também no momento da colheita, estande final. Após a colheita serão avaliados os parâmetros, o número total de vagens por planta e vagens secas e verdes, o número de sementes por vagens, a massa de 100 grãos e produtividade. Estas avaliações fo-ram realizadas da seguinte forma: Estande Inicial: foram contadas as plantas em um metro da linha central de cada parcela aos 20 dias após a semeadura. Altura de Plan-tas: foram medidas dez plantas de uma das linhas centrais de cada parcela. Foi utilizada régua graduada em centímetros. Produção de matéria seca: foram utilizadas as mesmas dez plantas que foram empregadas para a altura. As dez plantas foram submetidas à secagem por 24 horas em estufa a 65°C e posteriormente pesadas em balanças com 0.01g de precisão. Estande Final: foram contadas as plantas em um metro da li-nha central de cada parcela na ocasião da colheita. Número de vagens por planta: foram colhidas dez plantas de uma das linhas centrais de cada parcela e contadas as vagens verdes e secas de cada planta. A soma das vagens verdes e das vagens secas

resultou no número total de va-gens. Número de sementes por vagens: foram utilizadas as dez plantas colhidas empregadas para determinação de número

A adequação entre o espaçamento e a população deplantas tem reflexos na expressão da produtividade

MOg dm-3

14

Tabela 1 - Características químicas do solo da área experimental

P (resina)mg dm-3

4.0

pH CaCl2

4.5--- mmolc dm-3 ---

K

0.5

Ca

9.0

Mg

5.0

H+Al

24

SB

18

CTC

38.5

V%38

Femg dm-3

13

M%29

plantas/ha, 640 plantas/ha no espaçamento de 45cm e 171,66 plantas/ha no espaçamento de 80cm aos 30 DAS; aos 72 DAS no espaçamen-to de 45cm obteve valores de 243,42kg/ha e no espaçamento de 80cm, 133,39kg/ha; e com 93 DAS os valores foram de 219,10 plantas/ha no espaçamento de 45cm e 119,55 plantas/ha no espaçamento de 0,80m. Este fato pode ser atribuído às condições climáticas descritas ocorridas durante o ciclo da cultura.

De acordo com Urchei et al (2000), para avaliar os efeitos de sistemas de manejo sobre as plantas de feijão, a análise de crescimento é fundamental, pois descreve as mudanças na produção vegetal em função do tempo, o que não é possível com simples registro do rendimento. Nesse estudo foram realizadas avaliações aos 30, 72 e 93 DAS permitindo acompanhamento dos efeitos dos espaça-mentos entre plantas para as cultivares Tunã e Juriti.

Para as médias de matéria verde para o fator cultivares, em todas as avaliações não houve diferença significativa entre as cultiva-res analisadas. Entre os espaçamentos ocorreu diferença significativa nas avaliações 30 DAS e 93 DAS, sendo que na primeira avaliação aos 30 DAS, no espaçamento de 45cm a média foi de 635,86kg/ha, enquanto o de 80cm obteve uma média de 1.117,48kg/ha, a avaliação com 93 DAS à média de 45cm foi de 1.633,48kg/ha, já o espaçamento de 80cm apresentou uma média de 2.942,94kg/ha.

De acordo com os resultados obtidos para produção de matéria seca, não houve diferença significativa em relação às cultivares, porém em relação aos espaçamentos na avaliação aos 30 DAS e 93 DAS ocorreu diferença significa-tiva, sendo que na avaliação com 30 DAS com o espaçamento de 45cm obteve-se uma média de 80,95kg/ha e no espaçamento de 80cm uma média de 169,14kg/ha, para a avaliação

O número de sementes por vagem foi contabilizado durante o experimento

Fotos Rafael Leonardo Pereira

com 93 DAS a média com o espaçamento de 45cm foi de 863,76kg/ha, e com o espaçamen-to com 80cm foi de 1.228,24kg/ha.

Arf et al (1996), em trabalho realizado para estudo do efeito de diferentes espaçamen-tos obteve resultados médios de matéria seca de 7,03g por planta no espaçamento de 0,30 x 0,80 (m), valores superiores aos obtidos neste estudo aos 93 DAS. Shimada et al (2000), uti-

lizando o espaçamento de 0,45m obtiveram valores de produção de matéria seca de 3,38g por planta, valores inferiores aos observados neste estudo considerando-se o número de plantas por hectare.

Urchei et al (2000) em estudo do cresci-mento de cultivares de feijoeiro sob irrigação em plantio direto e convencional não ob-servaram diferença na produção de matéria seca em relação aos espaçamentos, sendo que os espaços utilizados pelos autores foram de 0,25m e 0,50m. Ainda de acordo com os mesmos autores as diferenças na produção de matéria seca podem ser observadas apenas a partir de 37 DAE quanto ao efeito dos sistemas de preparo do solo. Neste estudo observamos diferenças estatísticas quanto aos espaçamen-tos estudados já aos 30 DAS.

Quando comparadas as cultivares, não houve diferença significativa em nenhuma das avaliações. Para avaliações de espaçamentos houve diferença significativa nas avaliações com 30 DAS e 93 DAS. Com 30 DAS o valor médio para o espaçamento de 45cm foi de 16,19cm, e com espaçamento de 80cm a média foi de 19,57cm. As médias para 93 DAS para espaçamento de 45cm foi 23,34cm e para espaçamento de 80cm a média foi de 30,25cm. Os valores mostraram que, conforme houve aumento de espaçamento, ocorreu também

o aumento de altura de plantas, resultados também observados por Horn et al (2000).

De forma geral, o espaçamento de 80cm possibilitou incremento para matéria verde, matéria seca e altura de plantas. Bertolin et al (2008) também observaram maior produção de matéria verde e maior altura de plantas no espaçamento superior estudado (50cm) em relação ao espaçamento inferior (30cm) para guandu (Cajanus cajan).

ConClusõesA avaliação do crescimento do feijoeiro

é importante para observação dos efeitos de espaçamentos e cultivares de feijoeiro.

Em relação aos parâmetros avaliados, a cultivar Juriti obteve melhor desenvolvimento comparada à cultivar Tunã, e o espaçamento de 0,80m resultou em melhor comportamento das cultivares comparado com o espaçamento de 0,45m.

O período de cultivo estudado, sem utili-zação de irrigação, não pode ser recomendado para o município de Cassilândia.

Trabalho foi conduzido no município de Cassilândia, no Bolsão Sul Mato-grossense

Rafael Leonardo de S. Pereira,Danila Comelis Bertolin,Cristhy Willy Silva Romero eLeticia Serpa dos Santos,Univ. Est. de Mato Grosso do Sul

CC

12 Novembro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Nutrição

O potencial de uso dos aminoáci-dos na agricultura ganha novos contornos com o avanço das

tecnologias de produção e do conhecimento dos efeitos dessas moléculas no metabolismo vegetal. Até bem pouco tempo, a utilização dos aminoácidos nas formulações fertilizantes, especialmente para a aplicação foliar, relacio-nava-se exclusivamente ao seu efeito como agente quelante/complexante orgânico, ou aditivo, classificado como composto natural na legislação vigente. Isso por que, na absorção de nutrientes, quando um íon está quimicamente ligado a um aminoácido, seu transporte pela membrana celular é facilitado, possibilitando absorção mais rápida do que de quantidades equivalentes do íon na forma livre. Entretanto, resultados de pesquisas e relatos de resultados de campo têm demonstrado que o efeito dos aminoácidos vai além dos processos de absor-ção dos nutrientes contidos nas formulações fertilizantes.

Os aminoácidos sintetizados pelas plantas, além da função estrutural, estão relacionados à síntese de vitaminas, de enzimas, de hor-

mônios e da clorofila. Alguns também estão envolvidos no transporte e armazenamento de nutrientes, como o glutamato, a glutamina e a asparagina, relacionados ao metabolismo do nitrogênio. Para o entendimento da ação dos aminoácidos aplicados às plantas, ou seja, exógenos, é necessário distinguir os “L” dos “D” aminoácidos, que na bioquímica, se diferenciam pelo desvio do plano de luz polarizada (isomeria óptica).

Aminoácidos que desviam a luz para a direita são chamados dextrógiros (D), quando o desvio se dá para a esquerda, são chamados levógiros (L). A importância dessa distinção reside no fato de que um aminoácido dextró-giro (D) e um levógiro (L) são imagens espe-culares uma da outra, sendo a disposição dos átomos crucial na determinação da atividade biológica, pois a mesma substância pode ou não apresentar efeito biológico, dependendo do desvio do plano de luz polarizada. Assim, os aminoácidos biologicamente ativos são sempre os levógiros (L), os dextrógiros (D) não têm atividade biológica.

Os organismos vivos são compostos por

100% de L-aminoácidos que, após a morte, ao entrarem em decomposição, começam a se transformar em dextrógiros (D). Sendo assim, os aminoácidos em geral provenientes de processos fermentativos, sintetizados por microrganismos, possuem a configuração “L”. Destaca-se o aminoácido ácido L-glutâmico, obtido através da fermentação do melaço da cana-de-açúcar pela bactéria Corynebacterium glutamicum.

No metabolismo vegetal, o ácido L-glu-tâmico é sintetizado pelo sistema glutamina sintetase/glutamato sintetase (GS/Gogat) e atua como substrato para reações de transa-minação, originando outros aminoácidos. Na aplicação exógena do ácido L-glutâmico, sua absorção e metabolização (participando como precursor da síntese de clorofila) são bem descritas na literatura. O efeito da aplicação foliar desse aminoácido, contribuindo para o aumento da emissão de folhas, volume de raí-zes e elongação celular em espécies hortícolas, foi relatado em diversos trabalhos recentes.

A Figura 1 apresenta a imagem da parte aérea e das raízes de mudas de orégano (planta

O “L” da questãoQuando o assunto é aminoácidos algumas distinções são necessárias como diferenciar levógiros (L) dos dextrógiros (D). Entre os biologicamente ativos se destaca o ácido L-glutâmico, obtido a partir da fermentação do melaço da cana-de-açúcar pela bactéria Corynebacterium glutamicum

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ção

utilizada como modelo em pesquisas com aminoácidos, devido ao seu rápido cresci-mento e diferenciação) em função das doses e frequências de aplicação de solução contendo ácido L-glutâmico (produto MIQL005/11, com 300g/L de ac. L-glutâmico).

A expansão foliar e radicular pode ser atri-buída ao ácido L-glutâmico aplicado às folhas, pois, quando absorvido pelas plantas, ocorre a conversão em glutamato, reação catalisada pela enzima α-ácido glutâmico descaboxilase, podendo atuar nos mecanismos de crescimen-to relacionados ao metabolismo do N. Outra observação em estudos recentes é de que a aplicação do ácido L-glutâmico promoveu o aumento da atividade da enzima redutase do nitrato, relacionada com a conversão do N-nítrico a amoniacal.

O papel do ácido L-glutâmico na síntese de clorofila foi descrito no final dos anos 70, indicando que esse aminoácido, quando aplicado às plantas, serve de esqueleto carbô-nico, convertido a ácido aminolevulírico, nas etapas iniciais da síntese do pigmento. Essa observação justifica o aumento do teor de clorofila em plantas que receberam aplicação via foliar de solução contendo o aminoácido (MIQL005/11, 300g/L de ac. L- glutâmico).

Alterações no teor relativo de clorofila em plantas de feijoeiro submetidas à aplicação foliar de ácido L-glutâmico, indicando a ab-sorção e metabolização do aminoácido e seu efeito na síntese de clorofila.

Outra perspectiva de utilização dos L-aminoácidos, relaciona-se à resposta das plantas aos estresses abióticos, especialmente aos que induzem a reações oxidativas, como o estresse hídrico e o salino. Na prática, é pos-sível relacionar o amarelecimento das folhas das plantas, como, por exemplo, do feijoeiro

submetido à restrição hídrica, como resultado do estresse oxidativo, em que espécies reativas de oxigênio (H2O2, O2-) promovem a degrada-ção das membranas celulares dos cloroplastos, induzindo a clorose. As plantas, em resposta a esse tipo de estresse, produzem o aminoácido prolina, que em parte limita a degradação das membranas celulares.

Identificou-se que a aplicação foliar do ácido L-glutâmico pode promover o aumento da concentração de prolina em folhas de plantas de feijoeiro submetidas a períodos de restrição hídrica, reduzindo a clorose.

13www.revistacultivar.com.br • Novembro 2012

Alterações no teor relativo de clorofila em plantas de feijoeiro submetidas à aplicação foliar de ácido L-glutâmico

O potencial de uso dos L-aminoácidos vai muito além do efeito desses compostos na absorção foliar de fertilizantes, podendo atuar na promoção do crescimento vegetal e nas respostas aos estresses oxidativos. Cabe a pesquisa científica contribuir para a melhor elucidação dos mecanismos fisiológicos en-volvidos na metabolização dos L- aminoácidos aplicados às plantas, referenciando a utilização desses compostos provenientes de processos naturais, com vistas a uma agricultura cada vez mais sustentável.Átila Francisco MógorUniversidade Federal do Paraná

Figura 1 - Imagem obtida por meio do programa computacional WinRhizo®, da parte aérea e das raízes de mudas de orégano em função de diferentes doses e frequências de aplicação do produto MiQl005/11, com 300g/l de ac. l-glutâmico. Curitiba, 2012

Fotos Átila Mógor

CC

A Basf realizou em outubro a 7ª edição do Top Ciência, fórum de pesquisa e tecnologia organizado

anualmente pela companhia. A premiação de 23 trabalhos desenvolvidos ao longo do último ano, o lançamento de uma rede social especí-fica para o setor agrícola, o anúncio de cinco novas patentes e a apresentação do conceito do novo fungicida Xemium estiveram entre os destaques do evento, que reuniu mais de 400 participantes em Campinas, São Paulo.

Com o foco em novas tecnologias a Basf aproveitou o evento para anunciar uma rede social voltada para o segmento agrícola, batizada de “Porteira”. O ambiente irá ao ar em abril de 2013 e os integrantes convidados poderão montar um perfil pessoal e técnico, elencando os temas de preferência, para que recebam assim informações personalizadas e tenham acesso a notícias, artigos técnicos, cotações, bate-papo, a um mapa integrado, com uma área visual de acordo com as cultu-ras escolhidas, entre outros recursos. “Além disso, o participante poderá ter contato direto com um engenheiro agrônomo, para sanar suas dúvidas sobre pragas e doenças em sua lavoura”, explicou o vice-presidente sênior da

Unidade de Proteção de Cultivos da Basf para a América Latina, Eduardo Leduc.

O Top Ciência também anunciou cinco novas patentes. Assim, os pesquisadores tiveram a oportunidade de ter seus projetos divulgados, com o reconhecimento dos seus direitos de propriedade. Quatro das patentes divulgadas derivam de uma patente submetida em 2011, tendo como inventores pesquisadores de quatro universidades na busca da sinergia entre diferentes herbicidas e fungicidas em diversas culturas. A quinta patente submetida refere-se ao efeito sinér-gico fungicida e inseticida da composição de específicos extratos de plantas.

O conceito do novo fungicida da Basf, que conta com o componente ativo Xemium, foi apresentado durante o Top Ciência. O produto tem como alvo a cadeia respiratória mitocondrial e poderá ser aplicado em diversas culturas, tanto em hortaliças e frutas quanto em grandes culturas. O lançamento está previsto para 2013.

Participaram do evento pesquisadores de universidades do Brasil e da América Latina, consultores, distribuidores e parceiros da Basf. Os trabalhos concorrentes ao prêmio Top Ciência foram divididos em painéis técnicos em seis temáticas: cereais/cereais de inverno, perenes, oleaginosas, hortifruti, herbicidas

e Non Crop. O evento contou, também, com palestra do ex-presidente da república Fernando Henrique Cardoso, que destacou a importância da pesquisa e da produção intelectual, com o relato de suas experiências pessoais, profissionais, como professor em uni-versidades no Brasil e na Europa e percepções da realidade brasileira e do exterior.

COnECTIVIdAdEOutro destaque da Basf foi o Digilab 2.0,

que tem como diferencial a disponibilidade para tablets. Neste ambiente, o serviço irá dispor também de uma lupa acoplada sem fio, que proporciona o aumento em até 200 vezes para visualização de pragas, doenças e ervas daninhas na lavoura. Já o Digilab para computador também teve novidades, com a apresentação de dois módulos novos: um para nematoides, no qual será possível, a partir da análise dos sintomas das raízes, chegar a um diagnóstico; e outro para Non Crop. Os serviços estarão à venda a partir de dezembro deste ano. A Basf elencou também durante o evento o aplicativo para smartphone, o AgroNews, com notícias do mercado agrícola e informações sobre o clima.

PreMiaçãoNesta edição, o Top Ciência obteve mais

de 390 trabalhos inscritos, sendo aproxi-madamente 230 de instituições brasileiras e quase 160 de universidades da América Latina. Destes, foram reconhecidos os 23 melhores (veja vencedores no Box), que ganharam uma viagem para a Alemanha e Israel. A comissão julgadora elegeu as pes-quisas em cerca de 20 cultivos analisados, entre eles: soja, milho, arroz, feijão, trigo, girassol, café, algodão, cana-de-açúcar, citros, amendoim e hortifruti e também na área Non Crop, que é voltada para pragas em ambientes não agrícolas. Em 2012, o prêmio já passou pela Argentina, em julho, pelo México, em agosto, pela Colômbia, em setembro, e encerrou-se no Brasil.

Foco na ciênciaBasf reúne mais de 400 participantes em premiação de trabalhos desenvolvidos

para o aumento da produtividade no campo de forma sustentável

Eventos

14 Novembro 2012 • www.revistacultivar.com.br

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BRASILCereais e Cereais de InvernoInstituição: Universidade Federal de UberlândiaOrigem: Uberlândia (MG)Título do trabalho: Contribuição da

VeNCedoreSProteção foliar e dos Efeitos Fisiológicos dos Fungicidas na Produção e Partição de Fotoassimilados (Matéria Seca) na Cultura do MilhoAutor: Césio Humberto de Brito

Instituição: Universidade Federal de Santa Maria Origem: Santa Maria (RS) Título do trabalho: Produtividade do milho (Zea mays (L.) em função do controle da mancha

15www.revistacultivar.com.br • Novembro 2012

da folha (Phaeosphaeria maydis), exercido pela aplicação de Abacus HC (Piraclostrobina + Epoxiconazol) associado com Mo.Autor: Ivan Dressler Costa

Instituição: CWR Pesquisa Agrícola LTDAOrigem: Palmeira (PR) Título do Trabalho: Manejo da mancha salpicada do trigo e benefícios AgCelence do Fungicida Opera (Piraclostrobina + Epoxiconazol) com ou sem adjuvante na produtividade da culturaAutor: Eduardo Gilberto Dallago

Instituição: Universidade Estadual do Centro-Oeste Origem: Guarapuava (PR)Título do Trabalho: Posicionamento da aplicação do fungicida Opera como forma de maximizar a produtividade e rentabilidade econômica da cultura do milhoAutora: Jaqueline Huzar Novakowiski

Perenes

Instituição: Fundação ProcaféOrigem: Campinas (SP)Título do Trabalho: Vigor vegetativo comparativo entre as estrobilurinas do Comet (Pyraclostrobi-na), Oranis (Picoxystrobina), Flint (Trifloxistrobi-na) e Amistar (Azoxystrobina) na formação do cafeeiro irrigado por gotejamento.Autor: Roberto Santinato

Instituição: Sagra AgrícolaOrigem: Carmo do Parnaíba (MG)Título do Trabalho: Cultura do café: 10 anos de estudos da produtividade do cafeeiro (2001 – 2011) e avaliações do efeito potencializador do Sistema AgCelence da Basf influenciando na bebida do café.Autor: Marcelo de Melo Linhares

Instituição: Coopercitrus – Cooperativa de Produtores Rurais/OlímpiaOrigem: Pindorama (SP)Título do Trabalho: Avaliação da uniformidade de brotação das gemas, enraizamento e controle de podridão abacaxi com as gemas posicionadas no sulco de plantio a 0º, 90º e 180ºAutor: Marcos Antonio Zeneratto

Instituição: JM Bioanálises Origem: Botucatu (SP)Título do Trabalho: Controle da ferrugem ala-ranjada em cana-de-açúcar e o efeito fisiológico promovido pela aplicação de Opera®Autor: Junior Cesar Modesto

Instituição: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp/SP)Origem: Jaboticabal (SP)

Título do Trabalho: Controle alternativo de Colletotrichum acutatum e C. gloeoporioides, agentes causais da Podridão floral dos citros, num contexto pós-benzimidazóisAutor: Antonio de Goes

Instituição: Coopercitrus – Cooperativa de Pro-dutores Rurais/JalesOrigem: Jales (SP) Título do trabalho: Efeito AgCelence de Comet em plantas novas de citrosAutor: Nelcir Alves de Oliveira

Oleaginosas

Instituição: Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – Esalq/USPOrigem: Piracicaba (SP)Título do trabalho: Sistema de Apoio à Tomada de Decisão para Aplicações de Fungicidas com Base no Monitoramento Meteorológico das Culturas da Soja e do TomateAutor: Paulo C. Sentelhas

Instituição: Vieira Assunção Consultoria Origem: Tangará da Serra (MT)Título do trabalho: Efeito do Sistema AgCelence no controle de doenças na cultura da soja e seu benefício na qualidade nutricional dos grãosAutor: Paulo Sérgio de Assunção

Instituição: Instituto Phytus Origem: Santa Maria (RS)Título do trabalho: Aplicação isolada ou combi-nada de Roundup Ultra e Comet e seus efeitos contributivos nos Sistema AgCelence no RS e em MTAutor: Marcelo Madalosso

Instituição: Universidade Federal de Uberlândia (UFU)Origem: Uberlândia (MG)Título do trabalho: Eficácia biológica dos produ-tos Standak Top, Comet e Opera em soja para controle de Meloidogyne javanica e Pratylenchus brachyurusAutor: Maria Amélia dos Santos

Instituição: Fundação ChapadãoOrigem: Chapadão do Sul (MS)Título do trabalho: Aplicação de fungicidas no controle da ramulária na cultura do algodão cultivado em sistema adensadoAutor: Germison Vital Tomquelskqui

Instituição: Universidade Estadual de Maringá (UEM)Origem: Maringá (PR)Título do trabalho: Atividade de enzimas antioxi-dantes em folhas de plantas de soja tratadas com glyfosate e piraclostrobina

Autor: Tadeu Takioshi Inoue

Hortifruti

Instituição: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp/Botucatu – SP)Origem: Botucatu (SP)Título do trabalho: Efeito da piraclostrobina + metiran na produção e na incidência do vira cabeça na cultura do tomateiroAutor: Marcelo Agenor Pavan

Instituição: Coopercitrus – Cooperativa de Produtores Rurais/TaquaritingaOrigem: Taquaritinga (SP)Título do trabalho: Efeito AgCelence do Comet (piraclostrobina) no ciclo de maturação da manga, variedade Tommy Atkins, comparado aos tratamentos competidoresAutor: Valentin Ocimar Gavioli

Instituição: Takao HoshinoOrigem: Itapetininga (SP)Título do trabalho: Efeito AgCelence na cultura da batata – cultivar atlantic sob condições climá-ticas adversas (Solanum tuberosum L.)Autor: Felipe de Campos Vieira

Instituição: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp/Botucatu – SP)Origem: Botucatu (SP)Título do trabalho: Efeitos fisiológicos de fungi-cidas no desenvolvimento de plantas de melão rendilhado, cultivadas em ambiente protegidoAutora: Ana Claudia Macedo

Herbicidas

Instituição: Milton Ide Consultoria Agrícola S/C LTDAOrigem: Luis Eduardo Magalhães (BA)Título do trabalho: Efeito do herbicida Heat na desfolha da cultura do algodão (Gossypium hirsutum)Autor: Milton Akio IdeInstituição: Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – Esalq/USPOrigem: Piracicaba (SP)Título do trabalho: Heat – Inovação tecnológica no manejo de plantas daninhas em cana-de-açúcarAutor: Pedro Jacob Christoffoleti

Non CropInstituição: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp/SP)Origem: Jaboticabal (SP)Título do trabalho: Ecotoxicidade do herbicida imazamoxi para organismos não alvos e eficáfia no controle de marcófitas aquáticas submersasAutor: Claudinei da Cruz

16 Novembro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Tecnologia

A grande variedade de condições de manejo, como a irrigação, o aden-samento e a exploração de novas

áreas de cultivos, como o cerrado, proporciona grande variabilidade nos sintomas das doen-ças, pragas, nematoides e demais anomalias que possam afetar as culturas de interesse econômico. Esse cenário dificulta, em muitos casos, a correta diagnose e consequentemente compromete a resolução do problema. Nor-malmente, especialistas são necessários para fornecer o conhecimento sobre uma diagnose, entretanto, muitas vezes, um especialista em determinada área é escasso no mercado ou não se encontra disponível para realizar a diagnose (Mahaman et al, 2003).

Para a diagnose de doenças, por exemplo, o conhecimento pode estar disponível aos agricultores e extencionistas na forma de livros, apostilas, vídeos e também na forma de programas de computador (Travis & Latin, 1991). Sendo assim, com a enorme difusão da informática na sociedade atual os Sistemas de Apoio à Decisão (SAD) possuem enorme potencial para contribuir na diagnose de anomalias na agricultura, sejam por fatores patogênicos ou não.

O SAD é uma ferramenta para auxiliar os não especialistas na tomada de decisões. A ferramenta utiliza o conhecimento humano capturado em computador para resolver pro-blemas inerentes a especialistas. É um auxiliar

inteligente, um consultor para diversos usuá-rios e um meio de preservar o conhecimento, tornando-o acessível a todos (Uchôa, 2007).

Neste trabalho serão considerados Siste-mas Especialistas (SE) e Sistemas de Apoio à Decisão (SAD) como uma única ferramenta, visto que ambos desempenham o mesmo pa-pel funcional e o que os difere são elementos computacionais irrelevantes para o presente estudo.

Os SAD começaram a surgir comercial-mente entre 1980 e 1981. A primeira compa-nhia formada exclusivamente para produzi-los foi a Intelli Genetics, no campo de engenharia genética e com técnicos oriundos do Projeto de Programação Heurística da Universidade de Stanford. Recentemente, muitas empresas – como a brasileira iLab Sistemas Especialistas, têm explorado esta tecnologia. Embora SAD e peritos reais possam em alguns casos de-sempenhar tarefas idênticas, as características de ambos são criticamente diversas. Mesmo havendo algumas vantagens evidentes dos SAD, não poderão substituir os peritos em todas as situações devido a algumas limitações inerentes (Savaris, 2002).

Segundo Edward-Jones (1993), a utili-zação de SADs para diagnose e manejo de doenças, como, por exemplo, do cafeeiro, é justificável devido aos seguintes motivos:

• Um especialista humano em determi-nada área é escasso no mercado, assim, seu

conhecimento pode ser preservado no SAD para uso futuro;

• O conhecimento do especialista pode ser disseminado por um programa de compu-tador para não especialistas em outras regiões geográficas onde, até então, não era possível a solução de alguns problemas;

• Para enriquecer as conclusões sobre uma determinada decisão, podendo, desta forma, concentrar-se em outros pontos básicos de um determinado problema;

• O SAD pode ser utilizado como ferra-menta de treinamento e, então, proporcionar mais conhecimento ao especialista dentro do seu domínio.

No meio científico é comum pesquisa-dores que deixaram de divulgar seu conhe-cimento ou não houve que os precedesse. Com o emprego de SADs pode-se perpetuar o pensamento destes cientistas e, além disto, com a rede internacional de computadores divulgar de forma rápida os resultados da pesquisa (Pozza, 1998).

Nos SADs o conhecimento é representado em chaves dicotômicas por árvores de conhe-cimento hierárquicas e dividido em módulos e submódulos, de acordo com o raciocínio do especialista, para facilitar o desenvolvimento do sistema.

Entre os SAD desenvolvidos para a diag-nose de doenças, um exemplo que apresenta fotografias coloridas dos sintomas para facilitar

Ajuda virtualSistemas de Apoio a Decisão (SAD), através de computadores, são uma ferramenta a

mais para auxiliar produtores no diagnóstico e manejo de doenças na agricultura

Ajuda virtualSistemas de Apoio à Decisão (SAD), através de computadores, são uma ferramenta a

mais para auxiliar produtores no diagnóstico e manejo de doenças na agricultura

Jact

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a interação com o usuário é o Muskmelon Disease Management System (MDMS), desenvolvido por Latin et al (1990) para o diagnóstico e manejo de 17 desordens em melão. Contém 28 fotografias coloridas, que auxiliam o usuário na tomada de decisão, em seu diagnóstico final. Outros sistemas utilizam, em vez de fotografias, desenhos e gravuras de sintomas. É o caso do Diana e do Foreshealth, respectivamente, para a diagnose de doenças em abacaxi (Perrier et al, 1991 e 1993) e para diagnose, avaliação da severidade e manejo de doenças em árvores de florestas de madeira de lei (Nash et al, 1992).

A base de conhecimento dos SADs de-senvolvidos para a diagnose de doenças tem informações provenientes da literatura e de entrevistas realizadas com especialistas na área com o auxílio de engenheiros do conhecimen-to, exemplo disto é o SAD construído por Boyd e Sun (1994), para a diagnose de doenças da batata. O trabalho envolveu dois engenheiros do conhecimento e cinco especialistas. Neste caso o conhecimento obtido foi representado em chaves dicotômicas por árvores de conhe-cimento hierárquicas e dividido em módulos de acordo com o estádio de crescimento da

planta, e estes em submódulos, de acordo com o órgão da planta.

O Diana (Perrier et al, 1993), o Calex/Peaches (Plant et al, 1989) e o Doctor Citrus (Uchôa, 2007) também utilizaram submó-dulos divididos conforme o órgão da planta. O Doctor Coffee (Pinto, 2001) possui regas divididas em módulos de acordo o estádio de crescimento da planta. Fayet (1987), em seu sistema para diagnose de 50 desordens do cravo, dividiu seus módulos, segundo a etiologia: I) doenças causadas por fungos, bactérias ou vírus; II) problemas causados por insetos, nematoides ou ácaros, e III) doenças causadas por erros de cultivo.

Atualmente, os SADs para a diagnose e manejo de doenças devem fornecer um nível de confiança a ser depositado na conclusão, como uma alternativa para o tratamento da incerteza, baseado em modelos matemáticos ou na simples intuição do especialista (Wa-terman, 1986). O SAD para a diagnose de doenças da soja (Michalski et al, 1983) baseia-se em fatores multiplicativos, ou seja, a cada resposta, o sistema atribui um número, que é multiplicado por outro, da próxima resposta, até uma conclusão, com determinado nível de

certeza ou confiança. Nash et al (1992) utili-zaram a teoria da probabilidade bayesiana para o cálculo da incerteza. Porém, outros autores preferem a utilização de fatores de confiança atribuídos somente à conclusão final, segundo a intuição do especialista, por ser este modelo mais fácil de ser manejado, por não depender de modelagem matemática e pode se aproxi-mar mais facilmente da realidade na natureza (Jackson, 1990).

Entre os sistemas para manejo de doen-ças destacam-se o Psaoc (Travis et al, 1992) e o Morecrop (Cu & Line, 1994). O Penn State Apple Orchard Consultant (Psaoc), desenvolvido por Travis et al (1992) para o manejo de pomares de maçã, foi construído em computadores Macintosh e emprega um SAD baseado em “Frames”. Atualmente é um dos SADs mais bem construídos e validados para o manejo de uma cultura, por incorporar o conhecimento de várias áreas da ciência agrí-cola. Para construir a base de conhecimentos consultaram-se especialistas em fitopatologia, entomologia, fruticultura, engenharia agrícola, meteorologia agrícola, economia agrícola e sociologia rural. São oito as doenças incluídas no sistema. Dados climáticos e característi-

18 Novembro 2012 • www.revistacultivar.com.br

na tela do computador o produtor tem acesso a informações que podem auxiliá-lo na diagnose e tomada de decisão

cas das variedades utilizadas no pomar são empregados para determinar o potencial de desenvolvimento da doença.

O “Morecrop” (Managerial Options for Reasonable Economical Control of Rusts and Other Pathogens) foi construído com o objetivo de apoiar a previsão e o manejo de 16 doenças do trigo no noroeste do Pacífico, nos Estados Unidos (Cu & Line, 1994). As informações da base de conhecimentos basearam-se em mais de 30 anos de pesquisa em manejo e epidemiologia de doenças do trigo (Line, 1993). O sistema, além de possuir ampla base de conhecimentos, tem boa inter-face com o usuário, em ambiente Windows, fácil de ser manejado.

No Brasil, como exemplo de sucesso no desenvolvimento da tecnologia, Pozza et al (1997), construíram um SAD para diagnós-tico de doenças do tomateiro, o "TomEx", que engloba 37 doenças do tomateiro para a realização de diagnósticos. Foram consultados dois especialistas para adquirir o conhecimen-to. O SAD completo contém 78 perguntas, 87 fotografias e 116 regras.

Nos últimos anos é possível destacar alguns trabalhos que foram publicados des-crevendo desenvolvimentos de protótipos de SAD, entre eles Semaça (Silva, 2002), desenvolvido para auxiliar o diagnóstico de doenças que geralmente atacam a cultura da maçã. Ainda para auxílio à diagnose, o Dr. Seed (Alves, 2006), é um sistema para auxiliar na detecção de fungos em análises de sanidade de sementes. Este SAD possui opções que permitem auxiliar a identificação de 46 fungos de importância econômica que ocorrem em sementes de algodão, arroz, cenoura, feijão, girassol, milho, soja, sorgo e trigo, submetidas ao teste de incubação em papel de filtro (blotter test).

Não só para diagnose, os SAD vêm sendo usados na agricultura, Passos (2005) desen-volveu um sistema especialista para identi-ficação de espécies de nematoides do gênero Ditylenchus, demonstrando a versatilidade de aplicações dos SAD.

O Erosy (Fernandes et al, 2002), que é um sistema de apoio ao processo de avaliação

de impactos ambientais de atividades agro-pecuárias, na sua validação mostrou-se um instrumento viável para efetuar a avaliação da aptidão agrícola das terras, por apresentar um índice de concordância, em nível de grupo, de aproximadamente 75% com especialistas consultados.

Portanto, os SAD constituem uma ferramenta eficaz e consagrada no processo de diagnose. A correta identificação pode influenciar na recomendação fitossanitária mais adequada a cada ocasião de forma a possibilitar um uso mais racional de insumos agrícolas, evitando problemas de poluição ambiental e obtenção de maiores lucros por parte dos agricultores. Diante disto os Sistemas de Apoio à Decisão são uma ferramenta que vem agregar na ativi-dade agrícola e como tal deve ser utilizada e explorada sempre que possível.

Leandro Alvarenga Santos,Paulo Estevão de Souza eEdson Ampélio Pozza,Universidade Federal de Lavras

CC

20 Novembro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Capa

Risco calculadoCom cotações favoráveis o cultivo de soja ultrapassa fronteiras tradicionais e alcança cada vez mais áreas utilizadas para o plantio de arroz, no sul do Rio Grande do Sul.

Na safra 2012/13 a oleaginosa atingirá 250 mil hectares de várzea, o que representa um desafio, principalmente por conta das características do solo e do excesso

hídrico. Entraves que podem ser devidamente manejados com atenção a aspectos como drenagem, oferta de nutrientes adequada e escolha correta de cultivares

O cultivo de soja em solos arrozei-ros do Rio Grande do Sul tem aumentado nos últimos anos.

Na safra 2012/13 estima-se que a cultura irá ocupar 250 mil hectares, 90 mil a mais que na anterior (Irga, 2012). O interesse em plantar soja nestas áreas surgiu do benefício de redução do banco de sementes de plantas daninhas do arroz, especialmente o arroz-vermelho, com a expectativa de ganhos no cultivo deste cereal na safra subsequente. No entanto, os resultados de pesquisa mostram

que com manejo adequado o cultivo de soja em solos arrozeiros não apenas contribui para a limpeza da área para o arroz, mas também favorece o aumento e a diversificação da renda da propriedade.

A recente valorização da soja tem aumen-tado a intenção de cultivo da espécie nas áreas orizícolas, o que é visto com entusiasmo por alguns e com muita apreensão por outros. Os solos arrozeiros constituem ambiente muito desafiador para as culturas de sequeiro de uma forma geral, devido aos episódios frequentes e

severos de excesso hídrico (EH), resultantes da baixa condutividade hidráulica destes solos, característica que os fazem aptos ao cultivo do arroz irrigado. O EH ocorre quando o volume de água que chega ao solo por precipitações pluviométricas ou por irrigação é superior à quantidade de saída do sistema por drena-gem, o que resulta no preenchimento dos poros com água, expulsando o ar, reduzindo drasticamente a oferta de oxigênio para a manutenção da respiração aeróbica dos seres vivos deste ambiente, incluindo as raízes de

plantas que ali habitam. A falta de oxigênio para a respiração dos

tecidos das raízes leva à redução da produção de energia no interior das células, desencade-ando um processo metabólico que resulta em grande consumo de fotoassimilados na etapa fermentativa da respiração, com prejuízo na alocação de biomassa para o desenvolvimento e produção das plantas, além do acúmulo

de metabólitos secundários com grande po-tencial tóxico nas células, que precisam ser neutralizados. Os danos às plantas dependem da severidade e do período de privação de oxigênio a que as raízes são submetidas, mas os prejuízos na lavoura são reflexos da redu-ção da acumulação de biomassa e morte de plantas, ocasionando perdas acentuadas do rendimento de grãos.

O desenvolvimento de espécies de sequei-ro em solos arrozeiros depende principalmente de evitar o EH. O cultivo de soja nestes solos é possível, como provam inúmeros casos consolidados de rotação soja x arroz irrigado no Rio Grande do Sul, desde que sejam ado-tadas medidas que evitem e/ou reduzam este estresse. A primeira recomendação é adequar o ambiente de cultivo, garantindo condições de

Drenos e canais coletores mantidos limpos e desimpedidos

Fotos Irga

22 Novembro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Irga

drenagem, acidez e fertilidade de solo corretos à cultura. A outra exigência é utilizar cultivares mais tolerantes ao excesso hídrico.

Entre os principais pontos de manejo que maximizam a frequência de sucesso no cultivo de soja em solos arrozeiros podem ser destacadas a correta drenagem, a adequação da fertilidade, a escolha de cultivares e a atenção ao controle de plantas daninhas.

dREnAGEMGarantir boa drenagem superficial, de

forma que as poças de água eventualmente formadas não perdurem mais de 24 horas, é condição primordial para assegurar o sucesso do empreendimento. O primeiro passo é a escolha da área, principalmente para aqueles que vão começar na cultura. Recomenda-se a utilização de áreas que naturalmente favorecem a drenagem, como as partes mais altas da propriedade, que apresentem algum desnível, evitando áreas de cotas muito baixas em que o escoamento de água é muito lento. A semeadura da soja em microcamalhões é uma alternativa para facilitar a drenagem da lavoura e evitar danos de excesso hídrico em áreas com dificuldade de drenagem. Resulta-dos de avaliações conduzidas pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) indicam que esta forma de semeadura é promissora para a maioria dos solos cultivados com arroz irrigado no Rio Grande do Sul.

Os drenos e os canais coletores devem es-tar limpos de vegetação e não assoreados. Esta condição deve ser mantida preferencialmente durante o ano todo, pois assim fica assegurado que a área estará drenada e em condições de ser semeada na melhor época, mesmo em anos de primavera chuvosa. Paralelamente, solos bem oxigenados permitem a continuidade da atividade microbiana que degrada moléculas de herbicidas, afastando a possibilidade de ocorrência de fitointoxicação da soja por resíduos de herbicidas utilizados na lavoura

de arroz na safra anterior. A montagem da malha de drenos em cada talhão depende de vários fatores, como propriedades físicas do solo, declividade etc, impondo uma solução para cada área.

adeQuação da fertilidade do solo Há grande diversidade dos atributos de

fertilidade dos solos arrozeiros dentro e entre as regiões (Vedelago et al, 2012 no prelo), com o predomínio de solos ácidos e com baixa oferta de nutrientes para o desenvolvimento da soja. A calagem correta exerce papel central na adequação do solo, pois além de corrigir a acidez, que prejudica o desenvolvimento das plantas e a fixação simbiótica de nitrogênio, regula a disponibilidade dos nutrientes em geral. A maioria dos solos arrozeiros neces-sita de doses de calcário superiores a 3,2t/ha (PRNT 100%) para atingir o pH de referência para o cultivo de soja, que é 6,0. Em média, estes solos também apresentam baixo teor de fósforo disponível. Na Planície Costeira Externa, que apresenta menor restrição desse nutriente, apenas 21% dos solos apresentem faixas de fósforo superiores ao valor de sufici-ência. A situação do potássio é menos crítica do que a do fósforo, sendo que em média 46% destes solos apresentam o teor deste nutriente em níveis de suficiência, embora com grande variação entre as regiões.

esColha de Cultivares Existe grande variação para a tolerância

ao EH entre as cultivares comerciais de soja (Figura 4). Em áreas sabidamente com maior dificuldade de drenagem, o uso de cultivares mais tolerantes deve estar aliado a sistemas de drenagem superficial eficientes. O sucesso da lavoura jamais deverá depender exclusiva-mente da tolerância da cultivar, pois mesmo as mais tolerantes são impactadas pelo EH através de perda de rendimento de grãos. O grupo de maturação também deve ser conside-

rado na escolha de cultivares, pois um aspecto importante para o sistema de rotação com o arroz é a colheita da soja em solo seco para evi-tar a formação de rastros com a colheitadeira, e desta forma evitar a mobilização do solo antes da semeadura do arroz. A maior frequência de chuvas no outono ocorre a partir da segunda metade da estação, neste sentido a escolha de cultivares de ciclo tardio passa a representar um risco aos objetivos propostos.

Controle de Plantas daninhasAs atuais estratégias de controle de

plantas daninhas no cultivo de soja nas áreas orizícolas são voltadas mais para a redução do banco de sementes das lavouras com o objetivo de cultivos futuros de arroz, do que propriamente focadas nos resultados da soja. De fato, é comum observar lavouras com alta infestação de plantas daninhas durante o período crítico de interferência (estádios V3 a V6) em que o controle das daninhas será realizado em estádios mais adiantados do desenvolvimento da cultura. Esta estratégia ocasiona a chamada “perda invisível”, ou seja, o produtor consegue limpar a lavoura após a aplicação do herbicida, mas boa parte do potencial de rendimento da lavoura foi perdida devido ao atraso no momento correto do controle das plantas daninhas. Além disto, as plantas daninhas também estarão mais

Cultivares comerciais de soja registradas para o cul-tivo na região 101 do Rio Grande do Sul com maior tolerância ao eh e respectivos grupos de maturação relativa. eea/irga, safra 2011/12

Grau de reação ao EH

ToleranteToleranteToleranteTolerante ToleranteToleranteToleranteToleranteTolerante

Mediamente ToleranteMediamente ToleranteMediamente ToleranteMediamente ToleranteMediamente ToleranteMediamente ToleranteMediamente Tolerante Mediamente ToleranteMediamente ToleranteMediamente ToleranteMediamente ToleranteMediamente ToleranteMediamente ToleranteMediamente Tolerante

Cultivar

BRS 243 RRBrs estância rr

dom Mário 5.8i Apolo RRFundacep 57 RRFundacep 59 RRFundacep 64 RRFundacep 66 RR

Syn 1059 RRTMG 1067 RR

A 6411 RGBrasmax Energia RRBrasmax Potência RR

Brasmax Turbo RRBRS 246 RRBRS 255 RR

BRS Pampa RRCd 214 RRCd 219 RRCd 235 RR

FPS netuno RRfPs urano rr

FTS Arapoty RRFundacep 65 RR

Grupo de Maturação Relativa

6,96,15,56,77,56,96,05,96,76,25,36,75,87,26,77,76,78,26,46,36,26,45,9

Lavoura de soja com alta população de plantas daninhas durante período crítico de competição da cultura

herbicidas residuais em pré-emergência com a aplicação de glifosato no início do período crítico de interferência (estádio V3). Para mais detalhes indicamos os artigos da revista Culti-var Equação possível, de novembro de 2011, e O papel renovado dos herbicidas residuais, de setembro deste ano. A soja cultivada nas áreas orizícolas não está isenta das incidências de pragas e moléstias que corriqueiramente ocorrem na cultura em zonas tradicionais, sendo que seu controle fitossanitário deve ser realizado com base em uma estratégia de monitoramento, seguindo as recomendações para a cultura.

O cultivo de soja em solos arrozeiros é uma atividade de risco e o sucesso desta ação depende de um processo construtivo que, entre outros aspectos, pressupõe a capacitação do produtor e seus colaboradores na cultura e a aquisição de conhecimento da espécie e as suas necessidades, garantindo com isto a adoção de práticas de manejo que possibilitem a obtenção de altos rendimentos aliados aos inúmeros benefícios que incidem sobre o arroz irrigado semeado na sequência. Cláudia Erna Lange,Anderson Vedelago,Augusto Kalsing eValmir Gaedke Menezes,Irga

CCVariabilidade genética para a tolerância ao excesso hídrico

entre cultivares comerciais de soja no Rio Grande do Sul

desenvolvidas no momento da aplicação do herbicida, exigindo doses mais altas para o seu controle, podendo desencadear fitointoxicação na soja, principalmente nos locais de repasse.

Uma estratégia de manejo interessante para conciliar os objetivos de reduzir o banco de sementes e potencializar o rendimento de grão de soja é a combinação da aplicação de

24 Novembro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Soja

Quando dessecarA dessecação da soja é prática utilizada em áreas de produção de grãos para controlar plantas

daninhas e auxiliar no controle de problemas de haste verde/retenção foliar. Resultados positivos do emprego dessa estratégia também têm sido observados em relação à preservação

da qualidade de sementes de soja. O momento correto de aplicar o dessecante tem papel importante nesse processo, bem como a busca por mais alternativas viáveis, principalmente no Rio Grande do Sul, onde o herbicida paraquat acaba de ter sua comercialização e uso proibidos

Com a busca pela maior otimiza-ção da área agrícola para alcan-çar elevadas produtividades, os

ciclos de cultivo têm se tornado cada vez mais curtos. O intuito de dois cultivos anuais e também a questão da ocorrência da ferrugem têm levado produtores de soja a optar por cultivares com potencial para elevadas produtividades e também ciclos de cultivo reduzidos. Neste sentido, tendo a soja uma maturidade fisiológica desu-niforme, o uso de herbicidas dessecantes para antecipação da colheita, tem sido uma ferramenta frequentemente utilizada pelos produtores. De acordo com a Embrapa (2011), a dessecação da soja é uma prática que pode ser utilizada somente em área de produção de grãos, com o objetivo de controlar as plantas daninhas ou unifor-mizar as plantas com problemas de haste verde/retenção foliar. No entanto, diversos resultados positivos têm sido obtidos em relação à eficácia de dessecantes quanto à preservação da qualidade de sementes de soja (Durigan, 1980; Lacerda et al, 2003; Pelúzio et al, 2008; Kappes et al, 2009).

É sabido que, uma vez atingida a

maturidade fisiológica no campo, período em que as sementes alcançam o máximo valor de matéria seca e os maiores valores de germinação e vigor, quanto mais tempo demorar a colheita, maior a exposição destas sementes a condições adversas de umidade e temperatura. A deterioração manifesta-se no decorrer do tempo, ocasionando reflexos negativos no vigor. A rapidez com que ocorre a perda de qualidade das sementes após a maturidade fisiológica é função da espécie, da cultivar e das condições impostas às se-mentes no campo, após a colheita e durante as operações de beneficiamento e armazena-mento (Marcandalli et al, 2011).

O herbicida paraquat, inibidor do fotossistema 1 das plantas, é um produto com ação de contato, ou seja, que não apresenta translocação na planta, reco-mendado para a dessecação pré-colheita pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Há que se regis-trar, contudo, que esse ingrediente ativo teve sua comercialização e uso proibidos no Rio Grande do Sul.

O paraquat ocasiona rápida secagem de todas as partes verdes da cultura e das

plantas daninhas, e deste modo, permite maior eficiência da colhedora e redução de perdas na operação de colheita (Hamer; Hamer, 2003). A recomendação existente é de que a aplicação do herbicida seja feita na maturação fisiológica da lavoura, ou seja, estádio R8, quando o grão “desliga-se” da planta mãe e está completamente formado. Entretanto, surgem questionamentos se a antecipação para o estádio R7 acarretaria em perdas de produtividade ou, ainda, compro-metimento da qualidade da semente.

Com o objetivo de avaliar o efeito da época de aplicação de paraquat como herbi-cida dessecante na pré-colheita da soja, so-bre a produtividade e a qualidade fisiológica de sementes da cultura, foi conduzido um experimento no município de Jaboticaba, região do Médio Alto Uruguai do Rio Gran-de do Sul, no ano agrícola 2010/2011.

A cultivar de soja utilizada foi Energia RR (Brasmax Genética), semeada no siste-ma de semeadura direta, com espaçamento de 0,45m entre linhas, no dia 29/10/2010. A densidade de semeadura foi de 250.000 plantas/ha e a adubação química utilizada foi 250kg/ha da fórmula 0-18-18 (NPK).

A dessecação da soja é prática utilizada em áreas de produção de grãos para controlar plantas daninhas e auxiliar no controle de problemas de haste verde/retenção foliar. Resultados

positivos do emprego dessa estratégia também têm sido observados em relação à preservação da qualidade de sementes de soja. O momento correto de aplicar o dessecante tem papel

importante nesse processo, bem como a busca por mais alternativas viáveis, principalmente no Rio Grande do Sul, onde o herbicida paraquat acaba de ter sua comercialização e uso proibidos

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O delineamento experimental foi o completamente casualizado, com quatro repetições. Os tratamentos consistiram em três épocas de dessecação, que corres-ponderam a três estádios da cultura, R6 (vagens com granação de 100% e folhas verdes); R7.1 (início a 50% de amareleci-mento de folhas e vagens) e R7.3 (plantas com mais de 76% de folhas e vagens ama-relas) (adaptado de Ritchie et al, 1977), bem como de um tratamento testemunha, que não recebeu aplicação do herbicida dessecante. As aplicações foram realizadas quando a cultura estava nos estádios R6 (111 dias após a semeadura - DAS), R7.1 (119 DAS) e R7.3 (124 DAS).

O paraquat foi aplicado na dose de 240g/i.a./ha, acrescido de espalhante adesivo na proporção de 0,01% v/v. Os tratamentos foram aplicados com pulverizador costal pressurizado a CO2, com 200L/ha de vo-lume de calda. A colheita foi realizada em uma área útil de 5,4m², sendo todos os tratamentos colhidos no mesmo dia e, pos-teriormente, determinou-se a produtividade de grãos, corrigidos 13% de umidade.

O rendimento de grãos da soja foi significativamente afetado pela dessecação pré-colheita, nos dois primeiros estádios

A soja é a mais importante ole-aginosa cultivada no Brasil e

no mundo, com grande importância na produção de alimentos. Seu alto teor de proteínas proporciona múltiplas utiliza-ções e usos industriais não tradicionais, como para a produção de biodiesel, tintas, vernizes, entre outros, o que aumenta a demanda pelo produto. A soja representa,

A SojAainda, importante fonte de matéria-prima para a indústria e alimentação animal, com ampla adaptação às condições brasileiras. Deste modo, o Brasil ocupa a posição de segundo maior produtor mundial de soja, com uma produção aproximada da ordem de 75 milhões de toneladas produzidas na safra 2010/11, em 24,2 milhões de hecta-res (ha) cultivados (Embrapa, 2011).

(Figura 1). Com a aplicação de paraquat no estádio R6, a redução na produtivida-de foi de aproximadamente 35% quando comparada à testemunha, que produziu 4220,6kg/ha. Quando a dessecação ocorreu no estádio R7.1, a redução na produtivida-de de grãos foi menor, porém ainda signi-ficativa, produzindo 3667,8kg/ha, ou seja, 13% a menos que a testemunha. Já, para a dessecação no estádio R7.3, não houve diferença significativa para a produtividade de grãos quando comparada à testemunha, porém, mostrou-se superior aos demais tratamentos avaliados, obtendo-se uma produtividade média de 4075,7kg/ha. Trabalho conduzido por Freitas (1984), utilizando 400g i.a/ha de paraquat em operação pré-colheita na cultivar de soja IAC-8, em épocas estabelecidas segundo os estádios reprodutivos R6, R7 e R8, verifi-cou que a aplicação do produto no estádio R7, permitiu antecipação de 18 dias na colheita em relação à época normal, sem prejuízos à produção de grãos.

A maior redução na produtividade de grãos da soja observada na dessecação realizada em R6 se deve, possivelmente, ao fato de a planta ainda estar translocando fotoassimilados para a semente e, com a

aplicação do dessecante, houve uma pa-ralisação deste fornecimento e como con-sequência, decréscimo na produtividade. Demais estudos realizados também detec-taram reduções significativas de produção da soja quando o dessecante foi aplicado no estádio R6 (Lacerda, 2001; Pelúzzio, 2008). O estádio R6 na soja é considerado como principal período de acúmulo de massa seca pelas sementes e, deste modo, qualquer fator não favorável à fotossíntese nas folhas neste estádio pode influenciar negativamente a produtividade de grãos. Dessecação na soja, cultivar Energia RR, realizada a partir do estádio R7.3, ou seja, quando as plantas apresentavam mais de 76% de folhas e vagens amareladas, mos-trou-se eficiente em garantir a antecipação da colheita, sem afetar significativamente a produtividade de grãos.

A operação de dessecação pré-colheita da soja com uso de paraquat traz vantagens como a uniformização da lavoura, favore-cendo a antecipação da colheita, ou seja, a retirada de campo dos grãos/sementes que podem sofrer perdas de qualidade devido à exposição às condições ambientais adversas. Porém, deve-se observar o estádio correto da soja para esta operação, na busca de evitar perdas na produtividade de grãos.

Ressalta-se que, recentemente, pa-raquat teve sua comercialização e uso proibidos no Rio Grande do Sul. Todavia, seu custo ainda é acessível se comparado a outras opções em fase de pesquisa como alternativas para dessecação pré-colheita. A pesquisa precisará trazer novas opções viáveis ao produtor.

Área experimental no município de Jaboticaba, Rio Grande do Sul, na safra 2010/11

25www.revistacultivar.com.br • Novembro 2012

figura 1 – Produtividade de grãos de soja, cultivar energia rr, sob efeito de aplicação de paraquat como dessecante (240g i. a ha-1), em diferentes estádios pré-colheita. Jaboticaba, rs, 2010/11. *letras semelhantes não diferem entre si, pelo teste de duncan a 5%

Mateus Gallon, Fabiane Lamego, Claudir Basso e Stela Maris Kulczynski,UFSM/Cesnors

CC

26 Novembro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Soja

Na cultura da soja há um comple-xo de espécies de lagartas que podem atacar a cultura desde

sua germinação até o período reprodutivo da lavoura. O nível populacional desses insetos, principalmente em anos mais quentes e secos, pode aumentar rapidamente e, assim, causar perdas significativas na produtividade se não manejados corretamente.

As principais lagartas que ocorrem no início do desenvolvimento da lavoura de soja (pragas iniciais) são a lagarta-rosca (Agrotis ipsilon) e a lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus), cuja ocorrência está associada a períodos de estiagem no início do desenvol-vimento da cultura. Estas lagartas matam as plantas no começo de seu desenvolvimento, cortando-as rente ao solo como a lagarta-rosca ou broqueando-as na região do caule como a lagarta-elasmo. Não é raro também encontrar lagartas do gênero Spodoptera com o mesmo hábito da lagarta-rosca, principalmente quan-do houve uma infestação prévia de espécies desse gênero em gramíneas que antecederam a soja ou serviram como cultivo de cobertura no inverno. Apesar de ocorrência mais esporádica, quando ocorrem em grande número, essas lagartas podem causar prejuízos significativos pela redução no estande de plantas.

As espécies de lagartas de maior impor-tância na soja são a lagarta-da-soja

(Anticarsia gemmatalis), e o complexo de lagar-tas falsas-medideiras que, à exceção do

estado do Rio Gran-de do Sul, é composto

em mais de 90% pela espécie Chrysodeixis includens. Essas lagartas desfolham a lavoura, reduzindo a área fotossintética da planta e consequentemente sua produtividade. É im-portante salientar, entretanto, que a planta de soja tolera naturalmente uma boa quantidade de desfolha (30% no período vegetativo e 15% no período reprodutivo) sem qualquer redução de produtividade. Além dessas es-pécies há também outras lagartas que estão se tornando mais comuns nos últimos anos, devido à expansão de culturas hospedeiras na mesma região agrícola e principalmente ao crescimento desordenado e abusivo do uso de agroquímicos na cultura da soja que, com isso, tem eliminado o controle biológico natu-ral dessas pragas. Em consequência, passam de pragas secundárias para pragas-chave em algumas regiões.

Entre essas pragas estão as lagartas do gênero Spodoptera, conhecidas como lagarta-das-vagens como, por exemplo, S. cosmioides e S. eridania, e a lagarta-da-maçã Heliothis virescens, comum no algodoeiro. Essas lagartas além de se alimentarem das folhas ingerem também vagens da soja e, por isso, quando ocorrem em grande número são muito pre-judiciais à produtividade da lavoura.

Existem, também, outras espécies de lepidópteros que podem ser encontradas, usu-almente em baixa população, se alimentando da soja, mas que raramente exigem medidas de controle específicas. Entre essas lagartas de ocorrência mais esporádica estão a lagarta-maruca (Maruca vitrata), a broca-das-axilas (Crocidosema aporema) e a lagarta-enroladeira (Omiodes indicata).

Complexo manejado

O ataque de lagartas é responsável por graves prejuízos à cultura da soja. Manejar esses insetos exige, além da escolha correta de inseticidas e da observação da dose recomendada, atenção a aspectos como hora de realizar a aplicação, nível

de dano e momento adequado para iniciar o controle. A liberação do comércio de variedades Bt, prevista para a safra 2013/14, se transformará em um instrumento a mais para os

sojicultores realizarem o combate dessas pragas

ainda continuarem sendo uma ameaça à pro-dutividade. Vale ressaltar que para preservar a tecnologia da soja Bt o produtor terá que plantar 20% de sua área com soja não Bt para funcionar como área de refúgio e assim pro-duzir insetos suscetíveis ao Bt. Nessa área de refúgio o produtor utilizará o MIP-Soja e não deverá empregar produtos à base de Bt. Isso irá evitar ou pelo menos retardar que insetos naturalmente resistentes sejam selecionados. A seleção de insetos resistentes pode compro-meter e até inviabilizar o uso da tecnologia. Outro ponto importante a ser destacado no panorama de lagartas na soja é que mesmo com a liberação e o cultivo da soja Bt, é de grande importância que os mais diferentes métodos de controle sejam desenvolvidos e continuem disponíveis para o sojicultor, visto que a integração de diferentes controles de forma harmônica é de crucial importância para o sucesso do manejo de pragas na soja. Por isso, mesmo na era da biotecnologia e da soja Bt, inseticidas, controle biológico e as de-mais táticas de controle de pragas disponíveis continuarão sendo de grande importância no combate às pragas da soja.

27www.revistacultivar.com.br • Novembro 2012

Fotos A. F. Bueno

CC

O manejo das lagartas que causam preju-ízos na cultura da soja geralmente é feito por meio de aplicação de inseticidas, mas o sucesso do controle depende da correta identificação da espécie. Só assim é possível escolher o inseticida correto e a dose apropriada. Por exemplo, o metoxifenozide (inseticida regu-lador de crescimento) necessita de 90ml do produto comercial por hectare para controle de A. gemmatalis. Caso na área esteja ocorrendo a C. includens a dose do inseticida por hectare, de acordo com dados de pesquisa, precisa ser alterada para 150ml para ter boa eficiência. Por outro lado, se a praga que estiver ocorrendo for a Spodoptera frugiperda, outros inseticidas serão mais adequados para utilização. Esse exemplo ilustra como é importante não apenas constatar a ocorrência de lagartas na lavoura, mas também identificar quais são as espécies presentes.

Além de escolher o inseticida e a dose cor-reta, o sucesso do manejo de lagartas depende da aplicação do controle na hora certa, quando a população de pragas estiver no chamado nível de ação. Aplicações de inseticidas muito cedo ou muito tarde geralmente têm resul-tados desastrosos no manejo dessas pragas e trazem mais malefícios do que benefícios. Portanto, o controle de lagartas desfolhadoras deve ser iniciado quando se observar 30% ou mais de desfolha no período vegetativo. Esse nível deve ser reduzido para 15% no período reprodutivo da lavoura quando a planta é mais sensível ao desfolhamento. Com relação ao nú-mero de lagartas desfolhadoras, os inseticidas devem ser aplicados quando for observada a média de 20 lagartas ou mais (lagartas maiores ou iguais a 1,5cm) por pano de batida que deve ser realizado em no mínimo um ponto a cada dez hectares. Vale salientar que quanto maior o número de pontos amostrados mais precisa será a amostragem realizada. Para lagarta-das-vagens, o controle deve ser tam-bém iniciado se o número de vagens atacadas for igual ou superior a 10%, mas não existe

ainda uma metodologia para avaliação dessas vagens (número de vagens e quantos pontos por hectare que precisam ser amostrados, por exemplo).

Em geral, os inseticidas mais indicados para o controle de lagartas na soja são aqueles que conseguem aliar boa eficiência no controle das pragas-alvo com alta sele-tividade aos insetos benéficos (abelhas e insetos predadores e parasitoides de pragas). Os inseticidas do grupo dos regulares de crescimento de insetos (os inseticidas po-pularmente conhecidos como “fisiológicos”) e alguns novos grupos de inseticidas como as diamidas e espinosinas são, usualmente, seletivos aos inimigos naturais e por isso mais indicados no controle de lagartas na soja. Para controle de A. gemmatalis ainda existe a possibilidade de o produtor utilizar o baculovírus anticarsia, que é altamente seletivo aos insetos benéficos e seguro ao homem e ao meio ambiente.

Uma grande e mais recente novidade no manejo de lagartas na cultura da soja é a liberação da soja Bt para cultivo no Brasil que provavelmente estará sendo comercializada e, portanto, disponível ao agricultor na safra 2013/2014. Essa primeira geração de soja Bt promete bom controle dos principais lepidóp-teros que atacam a cultura (A. gemmatalis, C. includens e H. virescens) apesar de lagartas importantes como o complexo Spodoptera

À esquerda desfolha provocada pelo ataque de lagartas em soja e à direita adulto da Spodoptera cosmioides

Da esquerda para a direita os pesquisadores Gabriela, Bueno, Bortolotto e Aline

Vagem de soja danificada pelo ataque de lagartas

Adeney de Freitas Bueno, Orcial Ceolin Bortolotto,Aline Farhat Pomari eGabriela Vieira Silva,Embrapa Soja

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28 Novembro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Soja

Quase impossívelCombater o mofo-branco na cultura da soja é uma missão árdua e difícil. Mas práticas culturais, medidas preventivas e a correta utilização do controle químico auxiliam no manejo e na redução da incidência dessa doença, cuja importância cresce a cada dia nas áreas de cultivo da oleaginosa

Entre os principais fatores limi-tantes na produção de soja estão as doenças. Destaca-se, nesse

contexto, a podridão branca da haste ou mofo-branco, causada pelo fungo Sclero-tinia sclerotiorum (Lib.) de Bary, conside-rada um fitopatógeno muito destrutivo. Sobrevive na forma de escleródios no solo e em restos culturais, podendo germinar na forma de micélio ou de apotécio. Para tanto, depende de condições de tempera-tura amena e alta umidade (normalmente acima de 70% e temperatura ao redor de 20ºC). Os apotécios produzem ascósporos que podem ser liberados durante várias se-manas. São responsáveis pela infecção das plantas de soja, resultando em podridão das hastes, folhas, flores e vagens.

O ambiente ideal para o desenvolvi-mento da doença é a alta umidade relativa e temperaturas entre 10°C e 21°C. Depen-dendo da ocorrência das condições ideais para o patógeno nos estádios inicias da cultura, pode ocorrer tombamento pré e pós-emergente de plântulas de soja. Essas condições de alta umidade e temperatura amena são observadas durante a cultura da soja, principalmente, sob condições de ex-cesso de precipitação aliado a temperaturas moderadas. Como sintomas característicos têm-se a podridão úmida coberta por um micélio branco cotonoso na superfície do tecido do hospedeiro. Inicialmente são manchas de anasarca que, posteriormente, evoluem para coloração castanho-claro e logo desenvolvem abundante formação de micélio. Em alguns dias, o micélio transforma-se em uma massa compactada,

Estrutura de resistência do fungo Sclerotinia sclerotiorum composto por massa de hifas (escleródio)

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rígida e de coloração escura (escleródios), que pode ser formada externamente na superfície da planta, além do interior da haste e de vagens infectadas.

A doença se torna a cada dia mais im-portante na cultura da soja, chamando a atenção de produtores e pesquisadores em países como Brasil e Estados Unidos, onde causou perdas de mais de cinco milhões de toneladas somente nos últimos anos.

Erradicar o fungo S. sclerotiorum de áreas infestadas é uma tarefa quase impos-sível, mas algumas práticas podem auxiliar no manejo integrado do mofo-branco. Destacam-se a densidade de semeadura, o espaçamento de plantas, o sombreamento da lavoura, a arquitetura da planta e a utilização de palhada densa (que repre-senta uma das principais ferramentas no controle físico por agir sobre a germinação dos escleródios e reduzir a formação de apotécios). Em áreas com ocorrência da doença recomenda-se fazer rotação e su-cessão da soja com culturas como milho, aveia branca ou trigo e eliminar plantas daninhas hospedeiras do patógeno. A uti-lização de sementes certificadas diminui os riscos de introdução do patógeno na área,

assim como a realização do tratamento das sementes com fungicidas.

Para o controle químico existem alguns relatos sobre resultados inconsistentes. Em geral, as doenças causadas por fungos formadores de escleródios apresentam grande limitação de combate provavel-mente devido às dificuldades em se realizar uma aplicação com boa cobertura das plantas e contato adequado do fungicida com os escleródios, assim como coincidir a aplicação com a liberação dos ascósporos. No entanto, alguns fungicidas são consi-derados muito eficientes para o controle do mofo-branco, com recomendação de aplicação durante a fase de florescimen-to. O uso de fungicidas pode auxiliar no manejo da doença como uma medida emergencial de controle, principalmente devido à flexibilização das épocas de apli-cação, quando comparado aos métodos de controle cultural.

Foram desenvolvidos ensaios com ob-jetivo de avaliar a eficiência de fungicidas no controle do mofo-branco na cultura da soja em condições de campo. Os estudos foram conduzidos no município de Mauá da Serra, Paraná, com a cultivar de soja BRS 283, sob sistema de plantio direto, após aveia na safra 2009/10 e depois trigo na safra 2010/11.

Inicialmente, na área experimental, foi avaliado o número de escleródios/m2 superficialmente e sua viabilidade em meio de cultura Neon.

A área experimental foi subdividida em parcelas de 4,0m x 6,0m (24m2), to-talizando uma área de 768m2. O delinea-mento experimental do ensaio ocorreu em blocos casualizados com oito tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos e as doses utilizados foram T1 (testemunha),

T2 (fluazinam 1,0L de produto formu-lado/ha), T3 (procimidone 1,0kg de p.f./ha), T4 (iprodione 1,0L de p.f./ha), T5 (tiofanato metílico 1,0L de p.f./ha) e T6 (carbendazim 1,0L de p.f./ha), T6 (car-bendazin – 1,0L de p.f./ha), T7 (cloreto de benzalcônio – 1,5L de p.f./ha + fluazinam – 1,0L de p.f./ha) e T8 (produto comercial à base de Trichoderma harzianum – 0,2kg de p.f./ha). As aplicações foram realizadas

Corpo de frutificação aberto (apotécio) do fungo Sclerotinia sclerotiorum

Cultivo de soja altamente infestado pelo mofo-branco

29www.revistacultivar.com.br • Novembro 2012

Ciro Hideki Sumida,Douglas Casaroto Peitl,Felipe André Araújo,Fabiana Tibolla eMarcelo Giovanetti Canteri,Univ. Estadual de Londrina

30 Novembro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Sintomas severos do mofo-branco em planta de soja

com auxílio de um pulverizador costal pressurizado com CO2. As aplicações dos fungicidas foram realizadas no estádio R1 e 15 dias após. Aos 95 dias após a semeadura realizaram-se as avaliações de incidência e severidade do mofo-branco e aos 120 dias, a colheita manual.

Na safra 2009-10 (Figura 1) observou-se concentração de inóculo inicial na área experimental de aproximadamente 20 escleródios/m2 com 95% de viabilidade. Nessa safra, todos os tratamentos foram eficientes no controle do mofo-branco quando comparados (p<0,05) à testemu-nha (79,5% de incidência), com exceção do tratamento com Trichoderma harzia-num (61,9% de incidência). Os tratamen-tos mais eficientes foram procimidona (21,3%), mistura de fluazinam + cloreto de benzalcônio (21,3%) e fluazinam (22,5% de incidência), que apresentaram redução da incidência de 73,1%; 73,1% e 71,6%, respectivamente, em comparação à testemunha. Para severidade do mofo-branco, a testemunha apresentou 73,9%, diferindo-se estatisticamente (p<0,05) dos tratamentos procimidona (7,8%), flu-azinam + cloreto de benzalcônio (11,5%),

fluazinam (13,6% de severidade) e com redução da severidade de 89,4%; 84,4% e 81,5%, respectivamente. Os melhores resultados de produtividade foram obser-vados nos mesmos tratamentos fluazinam + cloreto de benzalcônio (3,2 mil kg/ha), fluazinam (3,1 mil kg/ha), procimidona (3,0 mil kg/ha), além do carbendazim (3,0 mil kg/ha), que foram superiores (p<0,05) aos demais. Observou-se cor-relação negativa forte entre incidência x produtividade e severidade x produ-tividade, demonstrando que à medida que a aplicação dos tratamentos diminui a incidência e severidade da doença, a produtividade aumenta.

Na safra 2010-11 observou-se concen-tração de inóculo inicial de 11 escleródios/m2 com 83% de viabilidade e os resultados foram semelhantes à safra 2009-10 em relação à incidência e à severidade, onde os tratamentos com fluazinam, procimidona e mistura de fluazinam + cloreto de ben-zalcônio se sobressaíram aos demais. Não foram observadas diferenças significativas de produtividade entre os tratamentos. Provavelmente porque a incidência e se-veridade da doença não atingiram níveis que pudessem influenciar a produtividade, causando perdas. No entanto, assim como no ensaio 1, observou-se correlação negati-va forte entre incidência x produtividade e severidade x produtividade.

A eficiência do controle do mofo-branco por meio de fungicidas depende principalmente da época e modo de aplicação. As pulverizações devem ser realizadas uniformemente, com boa dis-tribuição nos tecidos da planta e atingindo a superfície do solo, onde germinam os apotécios. A pulverização é recomendada preventivamente no florescimento, quando normalmente podem surgir os primeiros apotécios. Deve ser realizada quando há histórico da doença na área e as condições forem favoráveis. Além disso, a qualidade da aplicação do fungicida é tão importante quanto a época, porque é preciso atingir as partes inferiores da planta e a superfície do solo, além de proteger as flores para uma maior eficiência.

Devido à falta de cultivares resistentes à doença, a utilização do controle químico por meio da aplicação de fungicidas, tem sido um método eficiente para redução do mofo-branco. O uso de fungicidas se torna ainda mais importante quando outras medidas não são suficientes para assegurar o controle. CC

As médias seguidas da mesma letra na coluna de mesma cor não diferem significativamente entre si pelo teste de Scott-Knott, a 5% de probabilidade de erro.

figura 1 - incidência e severidade do mofo-branco na cultura da soja tratadas com diferentes fungicidas nas safras 2009/10 e 2010/11

Foto

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A soja (Glycine max (L.) Merril) é uma das leguminosas mais

cultivadas no mundo, devido ao seu alto teor de proteína, emprego na extração de óleo para alimentação humana e produção de biodiesel.

A produção mundial da cultura da soja é de aproximadamente 263,5 milhões de toneladas, sendo o Brasil o

SojA No BrASIlsegundo maior produtor, responsável por cerca de 28% desse volume, com produção de 74,5 milhões de toneladas. Entre os estados brasileiros, o Mato Grosso é o maior produtor com 20,4 milhões de toneladas, em seguida o Paraná com 15,4 milhões de toneladas e Rio Grande do Sul com 11,6 milhões de toneladas (Epagri).

31www.revistacultivar.com.br • Novembro 2012

Empresas

(Irga), Valmir Menezes. A armazenagem na propriedade é

outro fator que chama a atenção. “Tem importância reconhecida pelos produ-tores com quem conversamos. É um investimento que em quatro ou cinco anos se paga. No Brasil, ainda se usa muito pouco os programas de governo para esse setor”, aponta Marchesan.

A topografia mais plana e investi-mentos em irrigação realizados ao longo de muitos anos também favorecem os norte-americanos. “Os produtores do Arkansas e do Mississipi, além de terem um relevo naturalmente mais plano que a maior parte das lavouras de arroz do Rio Grande do Sul investiram há mui-tos anos em sistematização das áreas com uma declividade suficiente para a melhoria da drenagem da lavoura. Esse é um diferencial e que pode trazer benefícios para a orizicultura brasileira. Outro benefício é a redução do custo de mão de obra na irrigação do arroz irrigado, que tem crescido bastante e a sistematização das áreas possibilitará uma otimização da mão de obra”, opina o pesquisador da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Luis Avila.

No Brasil alguns investimentos esbarram em particularidades. Mais de 60% das lavouras de arroz no Rio

Busca fértilPesquisadores gaúchos participam de visita técnica a

universidades e lavouras de soja e arroz no Sul dos EUA

O ciclo positivo vivido pela agricultura brasileira, com cotações aquecidas e o cres-

cente aumento de demanda por alimen-tos e energia, tem feito com que a busca por novas tecnologias e métodos de cul-tivos se intensifique. Contexto em que visitas técnicas de pesquisadores e pro-dutores a áreas agrícolas de outros países ganham força. Aprender e estabelecer comparações a partir da experiência de realidades que extrapolam as fronteiras do País são algumas das possibilidades de quem adota esse instrumento.

Com esse objetivo um grupo de pro-dutores e pesquisadores gaúchos partiu em julho para o Meio Sul dos Estados Unidos. Batizada de Mundo Agro Ar-roz, a viagem técnica, promovida pela Syngenta, percorreu universidades e lavouras de soja e de arroz em Houston, El Campo, College Station, Stoneville e Stuttgart. O rigor no cumprimento

das recomendações de manejo esteve entre os aspectos que mais chamaram a atenção do grupo.

Não se trata de importar modelos e aplicá-los no Brasil, sem critérios, adequação e estudo de viabilidade. “Temos que conhecer e achar o nosso jeito de fazer”, alerta o pesquisador da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Enio Marchesan.

A infraestrutura melhor em logística e armazenagem ainda é um dos grandes trunfos dos Estados Unidos em rela-ção ao Brasil. Além de estradas muito boas, com asfalto literalmente dentro das lavouras, o país norte-americano conta com eficiente sistema de trans-portes, que integra ferrovias, hidrovias e diminui a dependência de caminhões. “Aqui temos o alto custo Brasil, um fator que foge da capacidade de intervenção dos produtores”, lembra o pesquisador do Instituto Rio Grandense do Arroz

32 Novembro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Grande do Sul são arrendadas, o que limita o emprego de recursos. “Tem de haver acordo entre proprietário e arrendatário. Em caso de sistematiza-ção de área, precisa haver desconto no arrendamento para esse investimento. O produtor necessita perceber que a sistematização reverte em melhoria na área”, aponta Marchesan.

A terceirização de serviços nos EUA é outra experiência interessante. Há empresas que realizam semeadura, adubação, tratamentos de sementes. “O produtor chega lá, encomenda e a reven-da providencia”, relata Marchesan.

O tratamento de sementes industrial nos Estados Unidos também é bastante utilizado. “No Brasil ainda contamos com maquinetas rudimentares”, lembra Valmir Menezes, do Irga.

A realização de pesquisas nos Estados Unidos também tem formato diferencia-do. Os produtores são responsáveis por subsidiar os custos, ao contrário do Bra-sil, em que o maior investimento nessa área é governamental. Em contrapartida os agricultores opinam, organizados através de comitês, e definem o tipo de assunto a ser pesquisado.

O cuidado com a tecnologia e o respeito rigoroso às recomendações téc-nicas também têm projetado o produtor norte-americano no manejo fitossani-tário. “No Brasil temos problemas com arroz vermelho resistente a herbicidas imidazolinonas, por exemplo. Lá é diferente e a resposta para isso reside na rotação de culturas e observação ri-gorosa das recomendações de manejo”, sinaliza Marchesan.

O uso da rotação de culturas, não só como vantagem técnica, mas como estratégia de geração de mais renda, também se destaca. “Um dos aspectos mais marcantes do sistema produti-vo de arroz americano é a rotação de culturas, que impacta positivamente diversos aspectos do sistema. Um dos benefícios diretos é a diversificação da fonte de renda do agronegócio, outro a otimização do uso de recursos como água e nutrientes. Além disto, a rotação de herbicidas entre os cultivos permite o manejo das plantas daninhas e a re-dução da presença de plantas daninhas resistentes a herbicidas”, assinala o professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Luis Avila.

Em arroz, o aumento no uso de híbridos também chama a atenção. As-pectos de qualidade, que tem um grande peso no Brasil, não são tão priorizados pelo mercado atendido pelos produto-

Produtor brasileiro Luiz Carlos Cardoso Terra teve a oportunidade deencontrar e trocar experiências com o orizicultor Tom Roth, de Arkansas

res norte-americanos. Os problemas de qualidade não são tão visíveis em arroz parboilizado, por exemplo. “Lá os produtores trabalham com a possibili-dade de utilizar menos fungicida, até menos fertilizantes, mas no Brasil não funciona exatamente assim”, lembra Marchesan.

Na comercialização de arroz, os produtores norte-americanos estão organizados em grandes cooperativas. “Adotam um sistema semelhante ao do Uruguai”, relata Valmir Menezes, do Irga. O pesquisador lembra, ainda, que os orizicultores dos Estados Unidos tra-balham com produto para exportação, enquanto no Rio Grande do Sul o foco principal é o mercado interno.

O peso da responsabilidade por pro-blemas ambientais parece não ser um fardo tão pesado nos ombros dos produ-tores norte-americanos, comparado com o desafio enfrentado pelos brasileiros. “Ficou muito claro nessa visita que há leis ambientais, mas na hora de produzir o que predomina é a produção”, opina o professor Jerson Guedes, da UFSM. Uma particularidade relatada pelo do-cente é de que em lavouras dos EUA ainda se utiliza queima da palhada, para supressão de pragas e invasoras, além de intenso preparo do solo. “Em muitos estados a queima chega a 100%”, explica Guedes.

Valmir Menezes, do Irga, lembra que nos Estados Unidos a questão ambien-tal está mais focada em outros fatores, como tratamento de esgoto, por exem-plo. “Primeiro elemento de poluição é a indústria, depois esgoto urbano. Lá, em quarto lugar vai aparecer a agricultura. Temos que ter essa preocupação, mas não focar somente no produtor. Outro aspecto é que ao invés de penalizar o agricultor, os Estados Unidos, a exem-plo da Europa, oferecem benefícios para quem realiza práticas agronômicas corretas”, frisa.

A oferta maior de máquinas entre os norte-americanos também chama a aten-ção. “O esforço para realizar as operações é bem menor porque a mecanização al-cança quase tudo”, relata Jerson Guedes. Internet e redes sociais para fóruns de discussões agrícolas também são utili-zadas de forma intensiva no País, tanto para troca de informações como também para disseminação de tecnologia.

“Estamos honrados por conseguir organizar essa viagem, que favorece o intercâmbio de informações e experiên-cias entre os produtores e pesquisadores responsáveis pela produção de arroz no mundo, contribuindo para a renovação tecnológica da agricultura brasileira”, avaliou a gerente de Marketing de Cul-turas Locais no Brasil Andressa Lemos, da Syngenta. CC

34 Novembro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Ciência

hormônio vegetal - Composto orgânico, não nutriente de ocorrência natural produzido pela planta e que em baixas concentrações promove, inibe ou modifica processos fisiológicos do vegetal.reguladores vegetais - substâncias sintéticas ou naturais que, aplica-das às plantas, possuem ações similares aos hormônios vegetais.Bioestimulantes - Mistura de reguladores vegetais ou de regu-ladores vegetais com outros compostos de natureza bioquímica diferente, como aminoácidos, nutrientes e vitaminas.

Quadro 1 – Classificação dos produtos

A fisiologia vegetal é um dos campos da ciência agronômi-ca que têm promovido gran-

des avanços nos últimos anos através do advento de modernas técnicas como a produção de plantas por cultura de tecidos, manipulação genética e biotec-nologia. (Costa, N.L. - 2010).

Com o desenvolvimento da bio-tecnologia, bioquímica e da fisiologia vegetal, novos compostos têm sido identificados nos vegetais, sendo que os avanços tecnológicos têm propiciado a síntese de novas moléculas, que se mos-tram eficientes quando aplicadas nas plantas, para a sua proteção e aumentos em produtividade. Esses agroquímicos de controle hormonal (biorregulado-res, bioestimulantes e bioativadores), além de fitoquímicos antiestressantes, complexantes e condicionadores do sistema solo-planta, têm adquirido crescente importância na agricultura. O não aproveitamento desses produtos poderá restringir a evolução do manejo

dos cultivos e a maior economicidade do sistema de produção agrícola (Castro, 2010).

Para se evitar a generalização e até mesmo a banalização do termo “bioes-timulantes”, alguns conceitos devem ser melhor compreendidos (Mógor, 2010), como indicado no Quadro 1.

Espera-se que os bioestimulantes, ao serem aplicados às plantas de diversas formas, apresentem efeitos semelhantes aos hormônios vegetais, alterando a qualidade, o crescimento, a produção e a qualidade.

A utilização de bioativadores, que

tem por objetivo aumentar o potencial produtivo das plantas, é uma prática de uso crescente na agricultura moderna e amplamente difundida em países altamente tecnificados como Estados Unidos, Espanha, Chile, México e Itá-lia. Os bioativadores proporcionam me-lhor equilíbrio fisiológico, favorecendo uma melhor aproximação ao potencial genético da cultura. Essas substâncias, quando aplicadas às plantas, modificam

Aplicação mecanizada de bioestimulante em unidade sucroalcooleira

Agricultura bioestimulada

Amplamente empregado em países com alto nível de tecnificação agrícola, o uso de produtos de controle hormonal cresce no Brasil. Contudo, essa expansão é dificultada por entraves e dúvidas que precisam ser sanados para que seu uso proporcione avanço tecnológico e mais produtividade nos cultivos

Agricultura bioestimulada

Fotos Luiz Carlos Ferreira da Silva

Amplamente empregado em países com alto nível de tecnificação agrícola, o uso de produtos de controle hormonal cresce no Brasil. Contudo, essa expansão é dificultada por entraves e dúvidas que precisam ser sanados para que seu uso proporcione avanço tecnológico e mais produtividade nos cultivos

A agricultura no Brasil é, histori-camente, umas das principais

bases da economia do país, desde os primórdios da colonização até o século 21, evoluindo das extensas monocultu-ras para a diversificação da produção.

Vários fatores levaram a essa evolu-ção, tais como a melhoria dos insumos utilizados (sementes, adubos, corre-tivos etc), elevação da produtividade das lavouras e outros. O crescimento do setor permitiu que a agricultura passasse a representar grande par-

ModerNIzAção AGríColA No BrASIlcela do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

O setor agrícola brasileiro tem possibilidade de continuar amplian-do sua produção. A pesquisa atua na busca de novas tecnologias que proporcionem esse objetivo.

Com a modernização da agricul-tura, vários avanços nas técnicas de cultivo têm sido obtidos, com o ob-jetivo de atenuar os fatores limitantes da produção, tais como clima, pragas e doenças.

ou alteram vários processos metabólicos e fisiológicos específicos. (Costa, N.L. - 2010)

Apesar de já terem sido feitos alguns estudos com o uso de bioestimulantes em diferentes culturas, os resultados obtidos até agora têm sido controversos, sendo necessárias, portanto, novas pes-quisas para melhor validação dos efeitos destes produtos na agricultura, uma vez que seu uso tem sido propagado em várias regiões do mundo (Vasconcelos, 2006).

No Brasil, o uso de bioativadores começa a ser explorado e vários expe-rimentos têm demonstrado aumento quantitativo e qualitativo na produti-vidade (Serciloto, 2002). Esse emprego, na agricultura, vem se tornando prática viável com o objetivo de explorar o po-tencial produtivo das culturas (Silva, 2011).

Bioest imulante é , atualmente, “moda” na agricultura brasileira e exis-tem à disposição no comércio inúmeros produtos compostos por substâncias naturais que apresentam, segundo seus produtores, potencial de ação nos processos fisiológicos, ou seja, ação bio-

estimulante. Contudo, são necessárias algumas considerações:

• O termo “bioestimulante” não é contemplado pela legislação. Em sua maioria, esses produtos são registrados como fertilizantes para aplicação via foliar, via irrigação localizada, aplica-ção no sulco de plantio ou aplicados às sementes. Os produtos contendo reguladores vegetais sintéticos, ou a sua mistura, são registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci-mento (Mapa) na classe “Regulador do Crescimento Vegetal”, na Legislação dos Agrotóxicos (Mógor, 2011).

• O registro desses produtos para uso no território nacional é dificultado pela demora, burocracia e grau de exigências por parte de órgãos governamentais (Mapa, Ibama e Anvisa). Embora pro-dutos compostos por extratos vegetais, extratos de algas, aminoácidos, polis-sacarídeos, ácidos húmicos e fúlvicos, entre outros, já estejam classificados na legislação de várias formas, como fertili-zantes minerais, orgânicos, organomine-rais, agentes quelantes e aditivos, suas propriedades biológicas não podem ser divulgadas por questão de legislação,

muito embora estejam liberados para uso pelo Mapa. Tal fato constitui-se em barreira para a aplicação dessa técnica no país. (Nunes, 2010).

Outro aspecto relevante diz respeito à diferenciação da ação desses produtos, definindo o que é resultante de efeito bioestimulante do que é causado unica-mente por ação nutricional. A resposta a essa questão deverá ser obtida através de estudos científicos desenvolvidos nas universidades e órgãos de pesquisas especializados.

É necessário, portanto, que esforços sejam direcionados no sentido de solu-cionar as dificuldades e dúvidas relacio-nadas a esses produtos de controle hor-monal, pois sua não utilização poderá comprometer os avanços tecnológicos que proporcionem maiores produções e economicidade no setor agrícola.

Luiz Carlos Ferreira da Silva,Miguel Ângelo Maniero,José Carlos Casagrande eRubismar Stolf,Univ. Federal de São CarlosSonia Maria de Stefano Piedade,Esalq/USP

CC

Operação manual de aplicação de bioestimulante em experimentação agrícola no plantio de cana

Algodão

36 Novembro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Várias espécies de pragas ocorrem ao longo do período de cultivo do algodoeiro e da soja, danificando

estruturas vegetativas e reprodutivas das plantas. Essas pragas são favorecidas pelas ca-racterísticas do sistema de produção utilizado no cerrado em que determinadas espécies de insetos se estabelecem como pragas-chave co-muns às culturas agrícolas predominantes.

Nos últimos anos as pragas de raízes têm assumido papel de destaque no cenário agrícola do cerrado brasileiro, com prejuízos significativos, que exigem esforço redobrado por parte dos produtores, ocasionando au-mento do custo de produção com a aquisição de inseticidas para seu controle, que muitas vezes não apresentam o efeito esperado.

Uma das principais pragas de solo, vulgar-mente conhecida por percevejo castanho da raiz, pertence à família Cydnidae, subfamília Scaptocorinae, sendo representada por duas espécies predominantes nas culturas do algo-dão e da soja, que são Scaptocoris castanea Perty e S. carvalhoi Becker. Além dessas, outras qua-tro espécies de Scaptocorinae ocorrem no País: S. minor Berg, S. buckupi Becker, Atarsocoris gisellae (Carvalho) e A. macroptera Becker.

BioeCologiaS. castanea e S. carvalhoi são espécies

polífagas que atacam diversas culturas de valor econômico, como algodão, milho, soja, arroz e pastagens, presentes tanto no sistema de cultivo convencional como no de plantio direto.

As duas espécies de Scaptocoris têm sido

observadas com frequência em cultivos anuais e pastagens em condições de degradação que propiciam a infestação de outras áreas pró-ximas (Embrapa 2000). Segundo Miranda (2011) esse aumento ocorre devido à proxi-midade de áreas agrícolas onde se praticava pecuária com pastagens e ocorreu a substi-tuição pela agricultura. No estado de Goiás, aproximadamente 3% a 5% da área potencial de cultivo apresenta focos de infestação com incidência crescente do inseto (Braga Filho et al, 2003), com mortalidade de plantas de até 30%. Outro fator é a expansão dos cultivos de segunda safra com espécies hospedeiras das pragas, que favorecem a manutenção das populações em níveis elevados.

Por serem insetos de solo, tanto sua forma jovem como adulta têm hábito subterrâneo, alimentando-se da seiva das raízes e oca-sionando desenvolvimento limitado, seca e

morte da planta. Plantas amareladas com porte reduzido em forma de reboleiras ou pela presença de odor exalado no momento do preparo do solo denunciam a presença do percevejo castanho. Em alto grau de infestação podem atingir vastas áreas de cultivo, levando a necessidade de realizar replantio (Ávila; Xavier; Gomes, 2009).

Na fase jovem o percevejo tem coloração branca, e os adultos cor marrom-clara, com aproximadamente 8mm de comprimento, e são observados no solo em diferentes camadas. A cópula ocorre no solo, nas reboleiras, onde ninfas também estão presentes (Fernandes, 2009). Cada fêmea pode produzir em média 250 ovos em um período de incubação de 14 dias, com a fase ninfal de quatro a cinco meses e os adultos de cinco a sete meses.

Nos períodos mais secos os insetos se concentram nas camadas mais profundas do solo, buscando ambientes com maior umidade para sua sobrevivência e retornando para a superfície quando as condições de umidade estão altas, entre os meses de dezembro e janeiro. É nesse período que ocorre a disper-são para outras áreas cultivadas por meio de revoadas.

ControleDevido à capacidade de polifagia e à

gama de hospedeiras disponíveis, as medidas de controle são limitadas. As técnicas de combate utilizando produtos químicos vêm sendo realizadas de forma predominante, mas sem grande sucesso, uma vez que os produtos de ação sistêmica se translocam, mas não se acumulam nas raízes, e produtos

Castanho manejadoAs características do sistema de produção utilizado no cerrado favorecem a incidência de pragas

na cultura do algodão. É o caso do percevejo castanho, cuja presença tem aumentado nas lavouras durante as últimas safras. O controle do inseto deve associar práticas culturais, biológicas e químicas

tolerância das plantas por meio da utilização de gesso, adubos sulfurados e inseticidas no controle do percevejo castanho da raiz, em experimento realizado em santa helena de goiás (go) na fundação goiás safra 2009/2010

que diz que uma planta bem nutrida resiste melhor ao ataque de pragas e doenças.

Miranda (2011) demonstrou a influência de compostos sulfurados sob a população de percevejo castanho em algodão, constatando que fontes de enxofre na forma de gesso agrí-cola, sulfato de amônia promovem a tolerância das plantas de algodoeiro ao ataque do perce-vejo castanho, uma vez que tais compostos induzem a planta a suportar ao ataque da praga a través do melhor desenvolvimento radicular.

O controle biológico com o emprego de inimigos naturais se mostra promissor, no entanto, ocorre em baixa frequência e é prejudicado pela não seletividade dos in-seticidas e fungicidas aplicados para outros fins. A utilização de fungos dos gêneros Metarhizium, Beauveria, Paecilomyces, apresentara desempenho satisfatório S. castanae. Estudos mostram que a pulve-rização de Metarhizium anisopliae sobre as pastagens apresentou algum controle sobre S. carvalhoi. Outra medida que vem sendo estudada é a utilização de feromônios, mas segundo Fernandes (2009) os estudos são iniciais.

O sucesso para o controle integrado do percevejo castanho da raiz deverá ser obtido através da associação de práticas culturais, biológicas e químicas. CC

37www.revistacultivar.com.br • Novembro 2012

Tabela 1 - Princípio ativo, doses comerciais do produto químico utilizados no ensaio de controle químico de percevejo castanho da raiz

AplicaçãoTratamento de sementes

Pulverização no sulcoSulcoSulco

Tratamento de sementesPulverização no sulco

-

Produtividade Média (@/ha)123,1120

110,889,9102102

111,3

Princípio ativoImidaclopride

FipronilAldicarbTerbufós

ThiametoxamCarbofuranTestemunha

fonte: Ávila & gomes 2001.

dose0,6 l/100kg

0,15 l/ha0,5 kg/ha15 l/ha

0,3 l/100kg3 l/ha

-

Tabela 2 - Inseticidas indicados para o controle do percevejo castanho no algodoeiro

FormulaçãoSuspensão concentradaSuspensão concentrada

Pó dispersívelSuspensão concentrada

GranuladoPó dispersível

Forma de Aplicaçãono sulco de plantio ou sobre solo após semeadurano sulco de plantio ou sobre solo após semeadura

Tratamento de sementesno sulco de plantio ou sobre solo após semeadura

no sulco de plantioTratamento de sementes

Principio ativoCarbofuran

FipronilImidacloprideImidaclopride

TerbufósTiametoxam

Fonte: Miranda; nascimento; Carvalho, 2011.

dose3l/ha

150l/ha600 ml/100kg sementes

500ml/ha13 a 20 kg/ha

300g/100kg sementes

1) Avaliar o histórico da praga na localidade. Áreas problemáticas deverão ser monitoradas.

2) Abrir trincheiras nas áreas da pro-priedade logo após as primeiras chuvas antes do plantio. Detectar os focos e mapear a propriedade, definindo as áreas de atenção.

3) Em áreas de manejo convencional do solo, efetuar bom preparo de solo (uma aração e três gradagens) para o plantio. Em áreas de plantio direto, seja na implantação ou na reforma (áreas de mais de sete anos), efetuar subsolagem após a colheita.

4) Corrigir a acidez do solo conforme análise e usar gesso como fonte de en-xofre, o qual favorece o desenvolvimento radicular e a exploração de maior volume de solo, conferindo maior capacidade de tolerância à planta ao ataque do inseto. Em solos arenosos, a quantidade de gesso deve ser entre 500kg/ha a 1.000kg/ha e em solos argilosos pode ser aplicado até 2.000kg/ha.

5) Implantar culturas de menor custo de produção nas áreas com o inseto (dimi-nuindo o risco do investimento). Exemplo

perCeVejo CAStANho sorgo, milho, girassol.

6) Antecipar o plantio nas áreas infes-tadas (para permitir o escape do sistema radicular ainda pouco desenvolvido das plantas ao ataque da praga).

7) Além do tratamento de sementes, aplicar inseticidas no sulco da semeadura ou em aplicação sobre o solo logo após a germinação.

8) Ao efetuar as adubações de co-bertura, optar pelo sulfato de amônia (doses de até 250kg/ha) nos focos da praga. Assim como o gesso, o sulfato de amônia vai acelerar o desenvolvimento da planta e sua capacidade de suportar o ataque da praga.

9) Controlar as plantas daninhas, eliminando plantas hospedeiras como corda-de-viola, joá, leiteiro, guanxuma e milheto-tiguera.

10) Manter a área em pousio na entressafra ou com cobertura de legumi-nosa. Em áreas infestadas, evitar o uso do milheto como a planta de cobertura. O milheto é altamente favorável ao aumento da população do percevejo castanho. Opções ao milheto; guandu + sorgo; mucuna + sorgo.

de ação de contato não atingem o alvo com precisão, necessitando ainda de condições de umidade no solo propícias para um bom efeito do produto.

Entretanto, estudos realizados por Ávila & Gomes (2001), demonstram que o au-mento na produtividade média do algodão é influenciado pela aplicação de inseticidas nas sementes e no sulco de plantio (Tabela 1). Rava et al (2000) verificaram diferentes níveis de mortalidade de percevejo castanho aos 37 dias de idade da planta com aplicação dos produtos fipronil 200g/ha, endosulfan 3L/ha, terbufos 40kg/ha e vamidothion 2L/ha, atingindo níveis que chegaram a 85% de controle do percevejo castanho da raiz.

A aplicação de inseticidas no sulco de semeadura ou nas sementes pode proteger significativamente no estande inicial e garan-tir o desenvolvimento normal das plantas de algodoeiro com significativas médias de pro-dutividade. Os produtos carbofuran, fipronil, imidacloprid, terbufós e tiametoxam (Tabela 2) se mostram como alternativas no manejo do percevejo da raiz no algodoeiro.

Alguns estudos vêm mostrando maior tolerância da planta e redução no nível popu-lacional do percevejo castanho, por meio do

uso de medidas que aumentem a fertilidade do solo e que promovam um melhor aprovei-tamento dos nutrientes, através do melhor desenvolvimento radicular e vegetativo da planta. O que confirma a lei da trofobiose

José Edinilson Miranda,Luis Carlos Pinheiro Lins eJosé Bruno Malaquias,Embrapa AlgodãoEdson Hirose,Embrapa SojaVânia Lucia do Nascimento,Fundação Goiás

38 Novembro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Plantas daninhas

O surgimento de plantas daninhas resistentes ocorre pela pressão de seleção, pelo uso contínuo do

mesmo herbicida ou do mesmo modo de ação ao longo de anos. Algumas plantas daninhas tolerantes sobrevivem e são selecionadas, pas-sando a se multiplicar e disseminar-se, domi-nando rapidamente áreas cada vez maiores.

No Brasil, como em muitos outros países, a resistência de plantas daninhas a herbicidas ocorre em virtude da atividade agrícola inten-siva e a falta de informações sobre o assunto tende a agravar a situação. A resistência de plantas daninhas ou de biótipos resistentes a herbicidas vem crescendo cada vez mais no Brasil por diversos fatores. Uma das principais causas é o uso repetitivo de herbicidas de mes-mo modo de ação, ocorrendo em diferentes sistemas de produção e regiões do País, bem como em uma diversidade de espécies de plantas daninhas.

A Bayer CropScience, uma das empresas que têm se dedicado ao estudo desse problema, ressalta a importância do manejo integrado de plantas daninhas, que não está baseado apenas no controle de resistência da planta já instalada, mas também na integração de diferentes práticas que, de forma conjunta, ajudam a reduzir a competitividade das plantas daninhas e limitam sua disseminação.

A solução para a questão da resistência não vem somente de um setor da sociedade, ou seja, depende de um conjunto de ações que deve ser adotado por todos que atuam

de forma direta na agricultura e no setor produtivo.

Nos últimos anos diversas espécies de da-ninhas se destacam nas lavouras como Conyza spp, Euphorbia heterophylla, Bidens pilosa e as resistentes a inúmeros modos de ação como EPSPs (Enzima 5-enolpiruvilshikimate-3-fosfato sintase) e ALS (Enzima Acetolactato sintase). Outras importantes plantas daninhas vêm ganhando espaço nos campos e se tor-nando problemas como a Digitaria insularis (capim amargoso), resistente a EPSPs e Conyza spp (buva).

Após a aplicação de um determinado herbicida, o produto atua no manejo de uma população de plantas daninhas presentes na área, controlando os indivíduos suscetíveis e podendo selecionar os com resistência.

O controle inicialmente é bom, porque os indivíduos portadores de resistência natural são poucos, dentro das populações normais em áreas agrícolas. Contudo, se a aplicação de herbicida de um mesmo ingrediente ativo for realizada de forma repetitiva na mesma área, ou do mesmo mecanismo de ação, ocorre a sobrevivência dos indivíduos naturalmente resistentes, levando a um aumento de propor-ção, até que o tratamento herbicida utilizado se torne ineficaz. (Nicolai, 2011)

MAnEJO dE dAnInHASO manejo de plantas daninhas tem como

finalidade diminuir sua interferência nas culturas agrícolas, além de reduzir o banco

de sementes de plantas invasoras na área, diminuindo assim as populações resistentes e evitando a introdução e o aumento de plantas daninhas.

Os diferentes modos de ação de herbicidas para o manejo de plantas daninhas têm se mostrado muito eficientes para o controle de resistência na mesma safra e sobre um mes-mo alvo. Especificamente para o controle de Conyzas spp (buva), a principal recomendação é utilizar aplicações sequenciais de produtos sistêmicos de ação total (normalmente o glifosato e o 2,4-D) e, na sequência, o uso de herbicida de contato, o herbicida da Bayer CropScience à base do princípio ativo glufo-sinato de amônio, para a dessecação da buva remanescente e/ou resistente.

Para casos como Digitarias insularis (capim amargoso), resistentes a EPSPs em áreas de soja, por exemplo, indica-se o uso de diferentes modos de ação como fenoxaprop, inibidor da ACCase. Dentro de sistemas de manejo da cultura do milho convencional aplicações de herbicida seletivo de diferente modo de ação como tembotrione, HPPDs, é uma alternativa atrativa para o controle de plantas daninhas na cultura.

Em sistemas de rotação de culturas e áreas com alta infestação de plantas daninhas, sejam de difícil controle ou as resistentes, a adoção da tecnologia LibertyLink® (cultura do algodão), que proporciona à planta tolerância ao herbi-cida à base de glufosinato de amônio, tem se mostrado muito importante e usual, dentro

Na luta para conter e prevenir a resistência de plantas daninhas a herbicidas, a diversidade é palavra-chave. Utilizar herbicidas residuais e com diferentes modos de ação, realizar

rotação de culturas e de tecnologias, além de adotar o manejo adequado da área de cultivo estão entre as estratégias conjuntas necessárias para vencer esse desafio

Ações diversificadas

Buva resistente a herbicidas EPSPs Aplicação de produto à base de glufosinato de amônio

deste cenário de resistência.

Modos de açãoGlufosinato de amônio: a amônia é for-

mada naturalmente pelas plantas por meio de fotorrespiração, redução de nitratos e me-tabolismo de aminoácidos. Esta combina com o ácido glutâmico para formar a glutamina, reação catalisada pela glutaminasintetase. O glufosinato de amônio inibe a ação desta enzima, causando acúmulo de amônia (NH3), forte toxina para as células. Paralelamente a fotossíntese também é inibida.

Herbicida com princípio ativo glufosinato de amônio é altamente eficaz no controle de plantas daninhas, inclusive no sistema de plan-tio direto. É aplicado na segunda etapa (pós-emergência), quando é recomendado o uso de um dessecante para fazer a semeadura.

Também é indicado para a cultura ge-neticamente modificada e tolerante, como o algodão LibertyLink®. Age por contato, como inibidor da glutaminasintetase.

Tembotrione: quando a biossíntese dos carotenoides é inibida, a clorofila é destruída por fotoxidação e as plantas afetadas apresen-tam-se descoloridas ou albinas. A elevação da intensidade luminosa aumenta drasticamente

A palavra-chave para dominarmos a resistência das plantas daninhas

aos herbicidas é a diversidade, com a di-versificação das nossas ações. Precisamos diminuir a pressão de seleção sobre as plantas daninhas com diferentes ações, como, por exemplo:

• Utilizar herbicidas com diferentes modos de ação;

• Adotar táticas de diversidades nos sistemas agrícolas;

• Uso de herbicidas residuais;• Aplicar herbicidas em diferentes

momentos da cultura, optando por her-bicidas pré-emergentes, pós-emergentes e herbicidas de dessecação;

• Rotação de culturas e tecnologias (culturas tolerantes);

• Alterar a sequência de culturas culti-vadas na mesma área;

• Utilizar as doses devidamente re-comendadas de herbicidas, não utilizar subdoses;

• Aplicar herbicidas no estádio de desenvolvimento correto das plantas

dIVerSIdAde é o futurodaninhas;

• Fazer o manejo de área, mantendo uma cobertura vegetal durante o intervalo entre as culturas;

• Realizar uma boa dessecação da co-bertura vegetal, de tal forma a eliminar todas as plantas daninhas presentes na área, antes de se iniciar um novo ciclo de cultura;

• Controlar as plantas daninhas antes de produzirem sementes;

• Evitar ao máximo a disseminação de sementes de plantas daninhas por meio de máquinas agrícolas;

• Diferentes programas de controle de plantas daninhas;

• Os agricultores devem se manter bem informados, procurar assistência técnica especializada nesta frente, se-guir rigorosamente as recomendações existentes e considerar que é melhor investir um pouco mais nas técnicas de manejo de plantas daninhas, antes que se tornem resistentes em sua proprie-dade e o seu sistema produtivo fique economicamente inviável.

a ocorrência dos sintomas.Herbicida à base de tembotrione é capaz

de controlar as plantas daninhas que com-petem com a cultura do milho, conforme estudos realizados por importantes entidades de pesquisa do Brasil.

Fenoxaprop-p-etílico: ao inibirem a enzima ACCase, presente nos cloroplastos, os herbicidas desse grupo não somente blo-queiam a síntese de lipídeos, mas também comprometem a formação e a manutenção das membranas lipoproteicas das células e organelas, bem como provocam a despola-rização da membrana celular, causando-lhe danos, afetam a raiz e o meristema apical de plantas daninhas.

Herbicida com ingrediente ativo fenoxa-prop-etílico tem potencial para controlar as plantas daninhas monocotiledôneas (folhas es-treitas), seletivas para diversas culturas, como a soja. Também apresenta alta performance no controle de gramíneas resistentes a EPSPs.

A Bayer CropScience possui herbicidas com os ingredientes ativos glufosinato de amô-nio, tembotrione e fenoxaprop-p-etílico.

Plantas reportadas como resistentes no Brasil

Mecanismo de açãoInibidores de ACCase

inibidores de alsinibidores de als

inibidores de als/inibidores do fotossistema iiInibidores de ACCaseInibidores de EPSPsInibidores de EPSPsInibidores de EPSPsinibidores de als

inibidores de als/inibidores de ePsPsinibidores de als

Inibidores de ACCaseInibidores de EPSPsAuxinas sintéticas

inibidores de als/auxinas sintéticasAuxinas sintéticas

Inibidores de ACCaseinibidores de als/Protox

inibidores de alsinibidores de als

Inibidores da EPSPsinibidores de als

inibidores de aCCase/inibidores de aCCaseinibidores de alsinibidores de alsinibidores de alsinibidores de als

inibidores de als /nitrilas

ano/relato2010199319962006199720052005201020112011200020022008199920091999200320042006200120032010201020062004200119992009

EspécieAvenua fatuaBidens pilosa

Bidens subalternansBidens subalternans

Brachiaria plantagineaConyza bonarensisConyza canadensisConyza sumatrensisConyza sumatrensisConyza sumatrensisCyperus difformisdigitaria ciliaris

digitaria insularisEchinochloa crus-galliEchinochloa crus-galli

Echinochloa crus-pavonisEleusine indica

Euphorbia heterophyllaEuphorbia heterophylla

Fimbristylis milacealolium multiflorumlolium multiflorumlolium multiflorum

Oryza sativaParthenium hysterophorus

Raphanus sativusSagittaria motevidensisSagittaria motevidensis

(Weed Science, 2012)

nome comumAveia

Picão-pretoPicão-pretoPicão-preto

Capim-marmeladaBuvaBuvaBuvaBuvaBuva

JunquinhoCapim-colchão

Capim-amargosoCapim-arrozCapim-arrozCapim-arroz

Capim-pé-de-galinhaamendoim-bravo/leiteiroamendoim-bravo/leiteiro

CominhoAzevémAzevémAzevém

Arroz vermelholosna brancanabiça/nabo

SagitáriaSagitária

Thiago de Oliveira eJohann Reichenbach,Bayer CropScience

39www.revistacultivar.com.br • Novembro 2012

CC

40 Novembro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Coluna ANpII

Esforços somados

Dentro do programa ABC, que tem por objet ivo diminuir as emissões de

carbono pela agricultura brasileira, a Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) é um dos cinco eixos condu-tores. A ideia é incorporar no mínimo mais cinco milhões de hectares ao uso do nitrogênio biológico, diminuindo, desta forma, a utilização de fertili-zantes nitrogenados que, como se sabe, contribuem sobremaneira para a emissão de gases de efeito estufa, além de trazer um custo mais elevado

e técnicos agrícolas das entidades ligadas à assistência técnica, como Emater, cooperativas, consultores, administradores de fazendas etc. Para mostrar o funcionamento da tecno-logia haverá a instalação de campos demonstrativos em polos agrícolas de importância, bem como está prevista a realização de dias de campo, uma excelente ferramenta para difusão de tecnologias, em fazendas de for-madores de opinião. Todos os demais recursos de mídia serão utilizados para uma ampla difusão da tecnolo-

Solon de AraujoConsultor da ANPII

próprias empresas produtoras e das revendas, espalhadas por todo o país participarão de treinamentos especí-ficos, com o objetivo de uniformizar a linguagem a ser usada na transmissão dos conhecimentos, das técnicas de uso, das expectativas com o emprego dos inoculantes. Todo este grupo de profissionais, já conhecedores das técnicas da FBN, trabalhará em conjunto com os demais participantes do projeto, em uma iniciativa única no mundo, confirmando a posição do Brasil como o país que mais e melhor

Projeto envolve diversos segmentos da agricultura para divulgar e estimular o uso de inoculantes nas lavouras brasileiras

A Embrapa organizou um projeto específico para esta finalidade, denominado “Inoculantese a sustentabilidade da agricultura: bom para o agricultor, bom para o Brasil”

para o agricultor e potenciais riscos ao ambiente.

A Embrapa organizou um pro-jeto específico para esta finalidade, denominado “Inoculantes e a susten-tabilidade da agricultura: bom para o agricultor, bom para o Brasil”, com o objetivo de envolver diversos segmen-tos da agricultura nesta importante tecnologia para o agronegócio brasi-leiro. A finalidade do projeto é divul-gar, tanto na agricultura empresarial como na familiar, as vantagens do uso de inoculantes, levando ao maior uso deste insumo biológico, em especial nas culturas onde se emprega pouco inoculante, como é o caso do feijoeiro e do caupí, embora outras culturas também sejam contempladas.

O projeto tem a duração de três anos e um orçamento de aproxi-madamente R$ 1.600.000,00 para realizar ações de divulgação e difusão da tecnologia em todo o território nacional. Serão realizados treina-mentos específicos para agrônomos

gia, incorporando milhões de hectares ao uso de inoculantes.

Devido à importância do projeto, a ANPII foi convidada a participar desde as primeiras reuniões, contri-buindo com sua visão de mercado e da abrangência da tecnologia, bem como acoplando suas atividades de divulgação ao projeto da Embrapa. Ao todo, no correr dos três anos, a ANPII contribuirá, financeiramente, com aproximadamente 20% do valor do projeto.

Mas além da contribuição finan-ceira, a ANPII fornecerá os inoculan-tes para os campos demonstrativos e para os dias de campo, possibilitando, assim, um inoculante institucional, sem prevalência de marcas e sem a individualização das empresas, realmente dentro do espírito asso-ciativo. Mas tão importante quanto a contribuição financeira e de pro-dutos, será o engajamento de toda a rede de distribuição das empresas no projeto. Centenas de vendedores das

utiliza a fixação biológica do nitrogê-nio no mundo.

Estas parcerias entre entidades públicas e empresas, no caso presente uma associação de empresas, repre-senta um sensível avanço na formu-lação e execução de políticas, pois o afastamento e a falta de diálogo entre serviço público e o setor privado têm sido, ao longo dos tempos, um dos grandes obstáculos para um maior desenvolvimento do Brasil. No caso deste projeto, que desde seu início teve a parceria como um de seus pon-tos básicos, certamente os resultados serão muito mais consistentes para a difusão da estratégica tecnologia da FBN, atingindo resultados mais rápidos e mais consistentes do que se cada um trabalhasse de forma independente. CC

Coluna Agronegócios

41www.revistacultivar.com.br • Novembro 2012

Bioplásticosutilizados na atualidade.

inovações teCnológiCasApesar da embalagem plástica permitir

a preservação dos alimentos, contribuindo para minimizar os resíduos orgânicos, o au-mento exponencial de seu uso gerou preocu-pações ambientais, especialmente na gestão de resíduos. Em decorrência, programas de pesquisa se encontram em curso, com o objetivo de desenvolver plásticos biodegradá-veis, de base biológica. Por "biodegradáveis" entenda-se materiais que se desintegram por ação de microrganismos, em um ambiente úmido, produzindo dióxido de carbono, água e resíduos sólidos, que nada mais são que substâncias orgânicas normalmente encontradas na natureza. Esse ambiente propício é tipicamente encontrado no solo, permitindo a reciclagem de um material sem alterar a composição da biosfera.

Embora seja possível produzir plásticos

volvidas incluem torná-los menos porosos a gases, vapores e voláteis; diminuir sua sensi-bilidade à água, umidade e calor; e aumentar a sua vida de prateleira, sem perder a biode-gradabilidade. Neste contexto, a nanotecno-logia traz oportunidades significativas para desenvolvimento de nanocompósitos de base biológica, melhorando as propriedades dos bioplásticos. A sinergia entre microrganismos geneticamente modificados para produzir bioplásticos, associados com nanocompósitos que melhorem suas propriedades, plasma a senda a ser trilhada no futuro próximo.

Além de nanoargilas, outros nano-compósitos, nanotubos de carbono, fios de celulose biodegradável (CNW) ou nanoestruturas obtidas por eletrofiação, podem ser adicionados à razão de 1%-7% em peso aos bioplásticos. O objetivo é me-lhorar características como propriedades mecânicas, estabilidade ao calor, proteção contra radiação ultravioleta, condutivida-

Décio Luiz GazzoniO autor é engenheiro,

pesquisador da Embrapa Soja

No médio prazo, alguns setores do agronegócio apresentarão taxas de crescimento da de-

manda acima da produção de alimentos - o principal mercado atual - como será o caso de agroenergia, flores e plantas ornamentais e de biomassa para a indústria de química fina, visando à elaboração de bioprodutos. A química verde, com uso da biomassa como insumo, deverá substituir gradualmente a petroquímica.

Logo, cumpre analisar o estado da arte e as perspectivas futuras do mercado de bioprodutos, que se encontra em fase com os critérios de desenvolvimento sustentável e de busca de utilidades para a vida moderna, com menor impacto ambiental. Condizente com essa macrotendência, à agricultura está reservado o papel de diminuir o consumo de petróleo não apenas no setor de com-bustíveis, como também no suprimento de matéria-prima para a indústria química.

Nas últimas décadas aumentou significativamente a utilização de plásticos, que nada mais são que polímeros sintéticos, derivados do petróleo

Examinemos um exemplo em particular, em que o petróleo pode ser substituído por biomassa. Nas últimas décadas aumentou significativamente a utilização de plásticos, que nada mais são que polímeros sintéticos, derivados do petróleo. Atualmente, a maior aplicação para os plásticos é no setor de embalagem e, dentro dele, o maior volume se destina à embalagem de alimentos. O crescimento avassalador de seu uso deve-se à flexibilidade, leveza e baixo custo e às suas adequadas propriedades térmicas e mecâni-cas, permitindo processos industriais inte-grados. Assim, na mesma linha industrial, embalagens plásticas podem ser produzidas, enchidas, etiquetadas e lacradas de maneira contínua.

No entanto, os polímeros têm limitações para certas aplicações, como a sua perme-abilidade para substâncias de baixo peso molecular, originando oxidação de alimentos, além da contaminação por componentes tóxicos do plástico, afetando sua qualidade e segurança. Inicialmente, as embalagens de plástico constituíam-se de camada única de materiais flexíveis ou semirrígidos. Porém, as demandas mercadológicas induziram inovações tecnológicas que permitiram pro-duzir os complexos polímeros multicamada,

biodegradáveis a partir de petróleo (como PCL, PVOH ou EVOH), o sentimento do-minante é que a indústria deve buscar os in-sumos na biomassa, especialmente resíduos e efluentes da indústria de alimentos. Entre os materiais de base biológica, três grupos são os mais importantes. O primeiro é representado pelos polímeros diretamente extraídos de biomassa (polissacarídeos como quitosano, amido e celulose); proteínas (farelo de soja, glúten e zeína); e lipídios (triglicéridos ou ácidos graxos). Um segundo grupo constitui-se de monômeros derivados de biomassa, incluindo termoplásticos obtidos de óleos vegetais, como o ácido poliláctico (PLA) e o biopolietileno produzido com bioetanol. O terceiro grupo compõe-se de polímeros naturais ou produzidos por microrganismos modificados geneticamente, tais como po-lihidroxialcanoatos (PHA) e polipeptídios similares à elastina.

nanoteCnologiasApesar do significativo potencial dos

bioplásticos para substituir derivados de petróleo, ainda há necessidade de aprimorar algumas propriedades para expandir suas aplicações, particularmente em embalagens de alimentos. As melhorias a serem desen-

de, maleabilidade e porosidade. Os estudos mostram que a adição de nanocompósitos não altera outras propriedades desejáveis dos bioplásticos, como transparência e flexibilidade. Também é possível reduzir a “migração” de substâncias compo-nentes dos plásticos para os alimentos, provocando sua contaminação, bem como desenvolver tecnologias de “embalagens ativas”, diminuindo a taxa de oxidação dos alimentos, a eliminação do oxigênio no interior da embalagem, e as propriedades antimicrobianas.

Em síntese, existe um vasto mercado a ser conquistado pelos bioprodutos, sendo os bioplásticos apenas um exemplo. A mudança da matéria-prima, do petróleo para biomassa, encontrará forte respaldo social, em virtude dos ganhos ambientais. Para o agronegócio significa uma enorme oportunidade de oti-mizar o aproveitamento integral de produtos agrícolas, em especial de resíduos e efluentes resultantes do seu processamento, portanto, sem competição direta pelo uso de recursos na produção de alimentos. CC

Coluna Mercado Agrícola

Olhos voltados para a América do Sul

TRIGO - O mercado do trigo tem se mostrado firme, com perdas importantes na produção do leste europeu. Com as cotações internacionais em crescimento e limitação de vendas do produto do leste europeu, o grão importado deve alcançar números acima dos 400 dólares por tonelada para os importadores brasileiros. O que certamente irá deixar o trigo nacional bem valorizado, com cotações que tendem a se manter com potencial de negociação acima dos R$ 600,00 por tone-lada. Mesmo que o país se encontre na fase de maior oferta, porque a colheita está fechando agora, os efeitos do bom mercado deverão ser sentidos pelos produtores de fevereiro em diante.

algodão - O mercado indica que a nova safra virá com mais fôlego para os produtores brasileiros, porque há queda na produção mundial de mais de 124 mi-lhões de fardos do ano passado para pouco mais de 116 milhões de fardos apontados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) neste último mês. Junto a isso, tudo indica que a China, maior produtora e consumidora, terá safra de 31,5 milhões de fardos contra os 33,5 milhões de fardos do ano passado, seguindo com grandes importações, na casa de 11 milhões de fardos. Ao mesmo tempo o país começa com estoques altos de 30,2 milhões de fardos e deve fechar com 36,6 milhões de fardos. Dessa forma poderá controlar as compras e limitar fortes altas nos indicativos. A safra dos EUA chega com números maiores que os do último ano e também servirá de limitante de alta. O Brasil, de acordo com o USDA, terá uma safra de 6,5 milhões de fardos contra os 8,7 milhões de fardos do último ano. Isso pode dar apoio ao mercado regional e limitar a queda nas cotações, porque uma boa parte da safra já vem com contratos de exportação efetivados.

eua - A safra está fechada e já se começa a especular sobre a nova colheita. Com

MilhoSafra com plantio atrasado O plantio da primeira safra do milho anda em

ritmo lento e tudo aponta que seguirá com atraso. Inicialmente, devido à falta de chuvas e agora, no final de outubro, por conta de precipitações fortes que prejudicaram a entrada de máquinas nos campos. O milho plantado já passou por uma fase de geadas, que castigaram as plantas. Agora as lavouras se encontram em bom desenvolvimento, mas o certo é que a área cairá em favor da soja. Isso servirá para obter, nesta colheita, números que inicialmente giram entre 30 milhões de toneladas e 35 milhões de toneladas, contra cerca de 34,5 milhões de toneladas colhidas no ano passado. O mercado está totalmente atrelado às exportações e em outubro girava entre R$ 32,00 e R$ 33,00 a saca de 60 quilos, nos portos.

SOJASem soja para negociar segue firme no Brasil O mercado da soja segue sem disponibilidade do

grão livre. Desta forma, as poucas ofertas que aparecem conseguem formar as cotações locais de maneira que o vendedor tenha maior influência sobre os números, com cenário pouco atrelado ao mercado externo. A safra nova (para entrega nos portos em abril) avançou pouco nas últimas semanas, porque os produtores negociaram muito entre os meses de abril e julho de 2012 (em média aproximadamente 45% da safra foi negociada e

em alguns estados, como o Mato Grosso, o percentual chegou a 60% da safra já comercializada). Os volumes menores negociados ficaram com o Sul, com produtores querendo cotações maiores. Muitos que deixaram para negociar parte da safra nova em outubro e novembro esperavam por cotações acima dos níveis de R$ 80,00 a saca, que se negociou inicialmente nos portos para entrega em abril. Mas nas últimas semanas os indicativos giraram entre R$ 66,00 e R$ 68,00 pela saca, nos portos. Distante dos valores almejados, mas ainda assim muito acima da média dos últimos quatro anos (que perma-neceram com indicativos abaixo dos R$ 40,00 por saca). A cultura segue com boas condições e tudo aponta para recorde, com o Brasil colhendo acima de 80 milhões de toneladas, o que pode dar ao país, pela primeira vez, o posto de maior produtor mundial de soja.

feijãoCom oferta menor que demanda segue firme O mercado do feijão registrou um bom ano em 2012

e caminha para continuar assim em 2013. Isso porque houve forte queda no plantio da primeira safra e uma boa parte das lavouras do Sul do país sofreu com o frio no primeiro plantio. Desta forma as ofertas deverão seguir abaixo da demanda e o mercado se manterá forte. Até mesmo o feijão tipo Preto, que tinha pressão altamente negativa por conta de importações da Argentina e da China, agora conta com boas perspectivas, já que as cotações dos importados chegam a ultrapassar a faixa

dos R$ 140,00 por saca, o que dá fôlego para o produto nacional crescer. Os patamares do feijão Preto e do Carioca têm oscilado entre R$ 115,00 e R$ 180,00 a saca (e até acima para o nobre Carioca), com a escassez do produto.

ARROzCom pouco espaço para novos avançosO mercado do arroz foi bastante positivo neste ano.

Depois de muito tempo os produtores obtiveram lucros e as cotações avançaram forte. Houve indicativo entre R$ 37,00 e R$ 44,00 pagos pela saca no mês de outubro, com pouco espaço para grandes avanços. Isso porque novembro é o ultimo mês de compra das indústrias, que normalmente trabalham com o produto beneficiado até o final da primeira quinzena de dezembro. Assim, tudo indica que seguirá com cotações firmes, mas sem expectativa de novos avanços. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ainda tem muito arroz para comercializar e tudo aponta que irá vender e limitar novas altas. A safra mostra o plantio com ritmo menor que a media histórica devido a chuvas em demasia em outubro (ao contrário do que ocorria em 2011, quando a seca trouxe perdas). A área deverá fechar com queda frente ao ano anterior, mas a produção, principalmente a gaúcha, se encaminha para ser maior e com mais quali-dade, porque os produtores deverão investir em melhor tecnologia e buscar ganhos maiores. Tudo aponta que os produtores terão um bom ano pela frente.

CURTAS E BOASindicativos que os EUA irão plantar 39,4 milhões de hectares de milho em 2013, com potencial de colher 371,3 milhões de toneladas (o que seria a safra deste último ano se o clima fosse favorável). Para soja a indicação de área está em 32,3 milhões de hectares e safra de 93,9 milhões de toneladas. Ambas as projeções necessitam de clima favorável para se concretizar. É bom lembrar que nos últimos dois anos o país passou por inundação e seca.

chIna - A demanda chinesa continuou forte em 2012 e tudo aponta que manterá o mesmo ritmo de demanda em 2013. Isso porque o país está crescendo em torno de 7,5% ao ano (abaixo dos 10% dos bons anos anteriores). Contudo, os 7,5% projetados para este novo ano representa um avanço econômico e de recursos muito maior do que eram os 10% anteriores. Hoje cresce um pouco menos sobre uma economia muito maior e desta forma seguirá como principal apoio para o sucesso do agronegócio brasileiro.

meRcOsul - Se consolida como segundo principal bloco de países exportadores de alimentos do mundo, somente atrás dos EUA e podendo nesta nova safra superar o país norte-americano. Isso porque a seca ceifou uma grande fatia da produção dos EUA. Além disso, o prognóstico é de crescimento da demanda de grãos na região. Destaca-se o milho para etanol na Argentina, que possui lei para obrigar a adição de 5% do biocombustível à gasolina. A mesma tendência deve ser seguida pelo Paraguai, que poderá deixar de exportar milho para ser fornecedor de etanol de milho ao Brasil em poucos anos. A Argentina tende a multiplicar a produção de etanol nestes pró-ximos anos e assim terá menor volume de grãos para exportar. Ao mesmo tempo o país seguirá se consolidando como grande produtor e exportador de biocombustíveis, como já ocorre na exportação de biodiesel.

42 Novembro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Vlamir [email protected]

A safra dos Estados Unidos está com a colheita praticamente fechada, com perdas que superam a marca dos 100 milhões de toneladas de milho e nada menos que dez milhões de toneladas de soja. Com esse cenário o mercado caminha para novos avanços nestes últimos meses de 2012. De agora em diante os olhos voltam-se para os campos da América do Sul, que tem um começo de safra de boas condições, com chuvas regulares e em bom volume na maior parte das regiões, o que consequentemente tende a resultar em alto potencial de colheita. Como o clima é um fator importante para o mercado e nada garante que o fato de ter começado bem resultará em fechamento positivo, há ainda um longo tempo para acompanhar a safra que está se desenvolvendo para apontar que as perdas ocorridas nos EUA possam ser contornadas no lado debaixo do Equador. Já é líquido e certo que as perdas com o milho americano não serão compensadas na América do Sul, que no máximo irá colher uma safra igual à do último ano. Com isso, o panorama mundial de grande aperto e pouca oferta será mantido, com fôlego para a continuidade das cotações em alta. Já no caso da soja, as projeções começam com o Brasil entre 80 milhões de toneladas e 85 milhões de toneladas contra 65,8 milhões de toneladas colhidas neste último ano. A Argentina divulgou estimativa projetando entre 55 milhões de toneladas e 58 milhões de toneladas contra os 42 milhões de toneladas colhidas no último ano. O Paraguai, que colheu apenas 3,8 milhões de toneladas nesta safra, agora aponta para níveis entre dez milhões de toneladas e 12 milhões de toneladas. Desta forma, o quadro da soja poderá ser compensado com sobras pela produção da América do Sul. Mas o mercado já trabalha com números parecidos com estes. Desta forma, de agora em diante se o clima apresentar alguma mudança com a presença de seca ou de excesso de chuvas, trará ainda mais apelo positivo às cotações de Chicago. Novamente o setor da soja estará nas mãos do grande comprador, que é a China, que mostra enorme fome de grãos e sinaliza que seguirá comprando forte em 2013. Desta forma o caminho bom do agronegócio começa sem alterações, frente ao já registrado no Brasil nos últimos dois anos.