história de catilina 05

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Carlos Biasotti “QUOUSQUE TANDEM ABUTERE, CATILINA, PATIENTIA NOSTRA?” (Cicero, Oratio Prima in Catilinam, I, 1) 2010

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História de Catilina 05

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Page 1: História de Catilina 05

Carlos Biasotti

“QUOUSQUE TANDEM ABUTERE, CATILINA, PATIENTIA NOSTRA?”

(Cicero, Oratio Prima in Catilinam, I, 1)

2010

Page 2: História de Catilina 05

São Paulo, Brasil

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“QUOUSQUE TANDEM ABUTERE, CATILINA, PATIENTIA NOSTRA?”

(Cicero, Oratio Prima in Catilinam, I, 1)

I. As palavras que servem de título a este breve ensaio proferiu-as o célebre orador romano Marco Túlio Cícero, no dia 8 de novembro do ano 63 a. C., no templo de Júpiter Estátor, onde, na condição de Cônsul, reunira o Senado para denunciar a conjuração de Catilina, “homem audacioso e temerário”(1), que pretendia subverter os fundamentos das instituições políticas e sociais de Roma.

Quatro orações pronunciou o notável tribuno contra o demagogo, conhecidas pelo nome de “Catilinárias”, termo que passou a designar toda a “acusação enérgica e eloquente”.(2)

Segundo o historiador Salústio, “Lúcio Catilina, de nobre ascendência, foi de grande força de alma e de corpo; porém de má e depravada índole. (...) Depois da tirania de Sila, um desenfreado desejo o assaltara de escravizar a república; e como o reino obtivesse, não olhava por que meio”.(3)

Catilina e seus sequazes foram, por decisão do Senado, condenados à pena última.

1(

(

) Plutarco, Varões Ilustres, 1944, p. 167; trad. Mário Gonçalves Viana; Editora

Educação Nacional; Porto.

2(

(

) Caldas Aulete, Dicionário Contemporâneo, 2a. ed.; v. catilinária.

3(

(

) Obras, 1945, p. 36; trad. Barreto Feio; Editora Cultura; São Paulo.

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Por haver descoberto e reprimido a conjuração de Catilina, o povo concedeu a Cícero o título de Pai da pátria (“Pater patriae”).

Os esbirros do triúnviro Marco Antônio, seu inimigo figadal, contra quem havia proferido “uma longa série de catorze discursos conhecidos pelo nome de Filípicas”(4), puseram termo à vida do máximo orador romano, cortando-lhe a cabeça e as mãos, que foram pregadas no rostro, ou tribuna dos oradores, em Roma.

“Cícero foi morto a 7 de dezembro do ano 710 da fundação de Roma, isto é, 44 anos antes da nossa era: tinha a idade de 63 anos, 11 meses e 5 dias”.(5)

4(

(

) Arlindo Ribeiro da Cunha, “In Catilinam”, 1943, p. CLIII; Livraria Cruz; Braga.

5(

(

) Cezar Zama, Três Grandes Oradores da Antiguidade, 1896, p. 571; Bahia.

5

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II. Exemplo clássico de exórdio “ex abrupto”(6), aquele tópico de Cícero — “Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?” —, vertido em vulgar, significa: Até quando enfim, Catilina, abusarás da nossa paciência?(7)

Cai a lanço transcrever aqui a narração de Narciso José de Morais acerca do fato histórico:

“No momento em que os exércitos da república colhiam na Ásia, com Pompeu, troféus brilhantes, Roma ficou exposta de repente a um perigo terrível.

O ascendente dos cavaleiros tornara-se insuportável e, enquanto que ostentavam em Roma suas fortunas

6(

(

) “Exórdio improviso ou abrupto é aquele em que o orador, arrebatado por uma

impetuosa paixão, abala inesperadamente os ouvintes. (...) subitamente inflamado pela presença duma pessoa ou dum objeto, o orador começa logo a trovejar na assembleia. Assim contra Catilina investe de súbito o orador romano (na I Cat.): Até quando enfim, Catilina, hás de abusar da nossa paciência?” (A. Cardoso Borges de Figueiredo, Retórica, 1875, pp. 48-49; Coimbra).

Manoel da Costa Honorato, pelo mesmo feitio: “Exórdio veemente ou ex abrupto é aquele em que o orador entra bruscamente em matéria, apodera-se das disposições de seu auditório e entrega-se, desde o princípio, aos movimentos apaixonados, como fez Cícero, entrando repentina e audaciosamente no senado romano, onde exprobrou a Catilina por achar-se também nesse recinto, dizendo: Até quando, ó Catilina, abusarás de nossa paciência?” (Compêndio de Retórica e Poética, 1879, pp. 30-31; Rio de Janeiro).

De igual teor, a lição de M. Fábio Quintiliano: “(...) como o mesmo Cícero também já tinha praticado contra Catilina: Até quando abusarás, ó Catilina, da nossa paciência?” (Instituições Oratórias, 1888, t. I, p. 259; trad. Jerônimo Soares Barbosa; Imprensa Real da Universidade; Coimbra).

Finalmente, o erudito Francisco de Pina: o exórdio repentino ou veemente, “quando o orador, com toda a veemência, sai com uma proposição inopinada; como aquela de Cícero na primeira Oração contra Catilina: Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?”(Arte de Retórica, 1776, p. 54; Lisboa).

7(

(

) Assim traduziu Napoleão Mendes de Almeida, latinista exímio, o conhecido lugar de Cícero (cf. Gramática Latina, 29a. ed., p. 371; Editora Saraiva; São Paulo).

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escandalosas, uma população inteira, arruinada pela usura, errava na Itália, esperando só um chefe para se sublevar.

O momento era favorável para tentar qualquer empresa audaciosa; Catilina aproveitou-o. Era homem de têmpera superior, mas profundamente corrompido. Tinha-se tornado centro de todos os devassos arruinados, de todos os que esperavam restabelecer a sua fortuna sobre as ruínas da cidade. Catilina chegou a fazer desta turba um partido, uma sorte de exército pronto para todas as violências e para todos os atentados.

Afastado do consulado, resolveu, por meio duma conspiração, degolar os cônsules, uma parte dos senadores, e apoderar-se do poder.

Nada tinha ainda transpirado da conjuração prestes a rebentar, e era uma vez Roma, se uma mulher, Fúlvia, não tivesse tudo descoberto a Cícero. Este fez então lançar o famoso decreto: Caveant consules...”(8), que se promulgava nos dias de crise e perigo.

III. Diversamente do português — em que os vocábulos têm uma sílaba tônica(9), marcada, quando necessário, com o

8(

(

) “Caveant consules... Que os cônsules tomem cuidado. Fórmula com a qual o Senado Romano, nas grandes crises, investia os cônsules do poder ditatorial: Caveant consules ne quid detrimenti respublica capiat. Que os cônsules tomem cuidado para que a república não sofra algum dano” (Arthur Rezende, Frases e Curiosidades Latinas, 1955, p. 83; Rio de Janeiro).

9(

(

) Sílaba tônica – “(...) aquela sobre a qual recai o acento tônico da palavra, isto é,

aquela cujo tom predomina” (Napoleão Mendes de Almeida, Gramática Metódica da Língua Portuguesa, 29a. ed., p. 50; Edição Saraiva).

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sinal diacrítico, por exemplo: intrépido, trôpego, júri, recém, rubrica, avaro, misantropo, etc. —, no latim as sílabas pronunciam-se conforme a quantidade (breves ou longas). A quantidade de uma sílaba é o tempo que se gasta na sua prolação. A sílaba longa equivale a duas breves.

Para indicar a vogal breve emprega o latim o sinal ˘ (braquia)(10); a vogal longa, um traço horizontal -

(mácron). Assim: mēnsă, vīrtūs, jūdĭciārĭus.

Aqui vem a ponto o reparo de Júlio Comba, mestre em latim e insigne humanista:

“Acentuação. a) O acento latino não cai nunca sobre a última sílaba: amor (amor) pronuncia-se ámor. b) Nas palavras de mais de duas sílabas o acento cairá na penúltima, se esta for longa; cairá na antepenúltima, se a penúltima for breve: Amabāmus (amávamos), pronuncia-se amabámus; Oceănus (Oceano) pronuncia-se océanus; circumdăbĭtis (circundareis) prouncia-se circumdábitis” (Gramática Latina, 4a. ed., p. 18; Editora Salesiana Dom Bosco).

Autores modernos, para efeitos didáticos e por obviar a dificuldades em estabelecer os sinais indicativos da quantidade silábica — braquia ( ˘ ) e mácron ( - ) —, têm

“Acentuação prosódica é a maior intensidadde de tom de uma sílaba em relação às outras do mesmo vocábulo. A sílaba mais acentuada diz-se predominante ou tônica. Tão relevante é o papel do acento tônico, que a este chamou Max Müller a alma e o centro de gravidade da palavra” (Osório Duque Estrada, A Arte de Fazer Versos, 1914, p. 62; Francisco Alves & Cia.).

10(

(

) Representação gráfica da braquia: “(...) pequena curva com a concavidade para

cima ( ˘ )” (cf. Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 11a. ed.; v. braquia).

8

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usado o acento agudo para assinalar a sílaba tônica da palavra latina.

Em suma: embora os escritores romanos nenhum acento gráfico empregassem — pois nem os sinais de longa e breve eram de rigor —, pareceu bem que, para atender às conveniências do estudo, se introduzisse o costume de marcar as palavras latinas com o acento agudo ( ´ ), como têm praticado sujeitos de nomeada e raro saber. Obrou nesta conformidade José Lodeiro, ao recorrer à notação léxica (acento agudo) para ressaltar a sílaba tônica das palavras da bela sentença do poeta Ênio: “Amícus cértus in re incérta cérnitur”(Pequeno Dicionário de Frases Latinas, 1946, p. 23; Edição Tabajara; Porto Alegre). Tradução: O amigo verdadeiro conhece-se nas ocasiões precisas.

(Isto em ordem à pronúncia; que, escrita a frase em latim, o uso do acento será de todo o ponto escusado: “Amicus certus in re incerta cernitur”).(11)

11(

(

) A prática de acentuar graficamente a sílaba tônica de palavra latina tem sido adotada

por gramáticos e filólogos de pulso, como forma de se evitarem constantes solecismos prosódicos (“silabadas”).

Na verdade, à luz do pragmatismo que hoje parece orientar as ciências, importa mais saber, por exemplo, que na palavra “labore” — da expressão “pro labore” (pelo trabalho) — a sílaba tônica é a penúltima (“labóre”), do que declarar, pela craveira latina, a quantidade (breve ou longa) de suas sílabas...

Outro tanto, em referência ao advérbio “ubinam”, empregado por Cícero: “Ubinam gentium sumus?” (1a. Cat., cap. IV). Em que parte do mundo estamos? Atenta a quantidade de suas vogais, a palavra é marcada com a braquia ( ˘ ): “ŭbĭnăm”. Como a devemos pronunciar, porém?! Aqui é que está o busílis!

Eis por que autores de obras latinas, por amor da exação da pronúncia, têm optado pelo sinal de acento agudo ( ´ ) para marcar a sílaba tônica da palavra, como fez o abalizado Júlio Comba: “Úbinam (...)” (op, cit., p. 201). E outros mais: Mílton Valente, Gramática Latina, 82a. ed.; Ludus (Curso de Latim), 61a. ed.; Livraria Selbach; Porto Alegre; Júlio Comba, Gramática Latina, 4a. ed.; Programa de Latim (vols. I e II), 2003;

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IV. “Abútere” ou “Abutére”?

F. R. dos Santos Saraiva (Dicionário Latino-Português, 9a. ed.; v. ăbūtŏr) traz os tempos primitivos do verbo que, em nosso vernáculo, significa abusar: “Ăbūtor, ăbūtĕrĭs, ăbūsŭs sum, ăbūtĭ”.(12)

De par com essa forma típica depoente, registra a seguinte, que averba de arcaica: “Ăbūtŏ, ăbūtĭs, ăbūtĕrĕ”. É seu paradigma o verbo “légere”, da 3a. conjugação.

A dar-se o caso que “abutere” — que consta da frase de Cícero — estivesse no modo infinitivo (presente), havia-se de pronunciar “abútere” (abusar). Mas — e aqui bate o ponto! —, a forma verbal que empregou O Príncipe da Eloquência Romana foi “a da segunda pessoa do singular do futuro imperfeito do indicativo. Cícero emprega-a frequentemente (...)” (Maximiliano Augusto Gonçalves, Tradução das Catilinárias, 2a. ed., p. 22; Livraria H. Antunes Ltda.; Rio de Janeiro).(13)

Editora Salesiana Dom Bosco; Diurnal Monástico (latim – português), 1962; Edições “Lumen Christi”; C. Torres Pastorino, Latim para os Alunos, 1963; J. Ozon Editor; G. Campanini – G. Carboni, Vocabolario Latino-Italiano, 1957; Torino; V. César da Silveira, Dicionário de Direito Romano, 1957; 2 vols.; José Bushatsky, Editor; São Paulo, etc.

12(

(

) O Vocabolario Latino-Italiano, de G. Campanini – G. Carboni, pondo a mira em dar a conhecer ao leitor, “prima facie”, a escorreita prosódia das formas verbais, apresenta-as deste modo: “Abútor, abúteris, abúsus (a, um) sum, abúti”.

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A forma verbal “abutere” — da fulminante invectiva de Cícero contra Catilina —, portanto, não admite, pelos regulares cânones gramaticais, senão a pronúncia “abutēre”, pois é longa a penúltima sílaba.

Daqui a razão por que mestres de latinidade, no intento de prevenir “estridentes silabadas” — na frase do preclaro João Ravizza(14) —, soem grafar a palavra com acento agudo: “abutére”.

Em suma: “Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra”? Até quando enfim, Catilina, abusarás da nossa paciência?

V. Cícero, cujo nome estará eternamente associado aos homens de pensamento, aos artistas da palavra e aos cultores do Direito, é “o maior vulto da literatura latina”(15) e, junta-mente, o espelho dos oradores e advogados.

Ilustrou, com infinitos exemplos, o poder imenso da palavra e expôs aos advogados, em soberbas lições, a arte de patrocinar causas judiciais e obter com a oratória triunfos singulares.

A leitura atenta e aturada de seus discursos haverá de descobrir aos que fazem profissão da vida forense as excelências da doutrina e os princípios que regem o exercício 13(

(

) Assim entende esse lugar a generalidade dos latinistas: Mílton Valente, Gramática Latina, 82a. ed., p. 148; A. J. da Silva D’Azevedo, “Humanitas”, 4a. ed., p. 77; Nicolau Firmino, As Catilinárias, 4a. ed., p. 67; José Cretella Júnior, Latim para o Colégio, 1950, pp. 152-153; Vandick Londres da Nóbrega, A Presença do Latim, 1962, vol. III, p. 44; José Pinheiro, Selecta Latina, 1960, vol. II, p. 284, etc.

14(

(

) A Morfologia Latina, 1934, p. 5.

15(

(

) Augusto Magne, Selecta Latina, 1914, p. 333.

11

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da defesa e a técnica da argumentação à face dos pretórios da Justiça.

Ler Cícero, mesmo em tradução, é faiscar em terreno de inesgotáveis tesouros, que nenhum espírito culto e ávido de saber costuma desdenhar.

Que seja isto superior a toda a dúvida, para logo o conhecerá aquele que se detiver na leitura de seus lapidares discursos forenses, v.g.: Oração em Defesa de Róscio Amerino(16), “Pro Milone” (em favor de T. Ânio Milão)(17), “Pro Ligario” (em favor de Quinto Ligário)(18), “Pro

16(

(

) Orçava Cícero pelos 27 anos de sua idade quando defendeu Róscio Amerino, acusado de parricídio.

17(

(

) “(...) a obra-prima da sua eloquência. Como diz um velho autor, cada parte é perfeita no seu gênero; admira-se a majestade do exórdio, a clareza da narração, a conexão das provas, o vigor dos pensamentos; finalmente o patético lastimoso, que é como a alma da peroração” (Arlindo Ribeiro da Cunha, “In Catilinam”, 1943, p. CXL; Livraria Cruz; Braga).

18(

(

) Dos primores desta oração disse tudo Plutarco, ao escrever: “Quinto Ligário foi

processado como inimigo de César, e Cícero encarregou-se de o defender. Sabendo disto, César disse aos seus amigos: Que mal pode haver em deixarmos falar Cícero? Há já muito tempo que não o ouvimos. O cliente dele é um homem pérfido, é meu inimigo; já está condenado de antemão. Mas Cícero impressionou extraordinariamente o juiz, desde o começo de seu discurso; à medida que ia falando, excitava paixões tão contraditórias, dava à sua linguagem uma tal doçura e encanto, que houve quem visse César mudar muitas vezes de cor, e revelar, na fisionomia, os diversos sentimentos que lhe agitavam a alma. Quando, por fim, o orador falou na batalha de Farsália, César, não podendo dominar os nervos, começou a tremer, e deixou cair os papéis que tinha na mão. Cícero, vencendo o ódio do julgador, obrigou-o a absolver Ligário”(Varões Ilustres — Demóstenes e Cícero —, 1944, p. 230; trad. Mário Gonçalves Viana; Editora Educação Nacional; Porto).

Por fim, o juízo crítico do tradutor, em nota de pé de página:

“Este discurso é, com efeito, uma peça oratória admirável, e o triunfo de Cícero, alcançado em condições tão adversas, é um dos mais assombrosos exemplos do poder convincente e avassalador da palavra falada” (Idem, ibidem).

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Murena” (por Licínio Murena), Em Defesa do Poeta Árquias, “Pro Marcello”(19), Catilinárias, Verrinas, etc.

VI. Textos Antológicos de Cícero

l. “Justitia omnium est domina et regina virtutum” (De Officiis, III, 6).

A justiça é a senhora e rainha de todas as virtudes.

2. “Cedant arma togae” (De Off., I, 21).

Cedam as armas à toga.

3. “Dubitando ad veritatem pervenimus” (Tusculanae Disputationes, I, 30, 73).

Duvidando chegamos à verdade.

4. “Deum non vides tamen Deum agnoscis ex operibus suis” (Tusc. Disp., I, 29).

Não vês Deus, mas tu o conheces pelas suas obras.

5. “Errare malo cum Platone quam cum istis vera sentire”(Tusc. Disp., I, 17, 39).

Prefiro errar com Platão a ter razão com esses.

6. “Historia vero testis temporum, lux veritatis, vita memoriae, magistra vitae, nuntia vetustatis”(De Oratore, II, 9, 36).

19(

(

) “Pela elegância de estilo, viveza de sentimentos e habilidade nos elogios feitos ao Senhor do Mundo, é, no gênero, uma das obras mais perfeitas que a antiguidade nos legou” (Arlindo Ribeiro Cunha, op. cit., p. CXLVI).

13

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A História é a testemunha dos tempos, a luz da verdade, a vida da memória, a mestra da vida, a mensageira da antiguidade.

7. “Summum jus, summa injuria” (De Off., I, 10, 33).

Justiça excessiva torna-se injustiça.

8. “Patria est communis omnium parens”(Cat. , I, 7).

A pátria é a mãe comum de todos nós.

9. “Praeterita mutare non possumus” (In Pisonem, XXV, 59).

Não podemos mudar o passado.

10. “Verae amicitiae sempiternae sunt” (De Amicitia, IX, 32).

As verdadeiras amizades são eternas.

11. “Imago animi vultus” (De Orat., III, 59).

O rosto é o espelho da alma.

12. “Nihil difficile amanti puto” (Orator, X, 39).

Penso que nada é difícil para quem ama.

13. “Cujusvis hominis est errare; nullius, nisi insipientis in errore perseverare” (Phil., XII, 5).

É próprio do homem errar; mas só do ignorante perseverar no erro.

14. “Cum tacent, clamant” (Cat. I, VIII).

O silêncio deles é uma eloquente afirmação.

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15. “Habes somnum imaginem mortis” (Tusc. Disp., III, 3, 6).

Tens o sono, imagem da morte.

16. “Accipere quam facere praestat injuriam” (Tusc. Disp., V, 19, 56).

É melhor sofrer que cometer injustiça.

17. “Nihil tam absurdum dici potest, quod non dicatur ab aliquo philosophorum”(De Divinatione, I, 58).

Não há coisa, por mais absurda, que já não tenha sido afirmada por algum filósofo.

18. “Nemo igitur vir magnus sine aliquo afflatu divino unquam fuit” (De Natura Deorum, II, 167).

Nenhum grande homem ainda existiu, sem que nele houvesse uma como centelha divina.

19. “Optimus est enim orator, qui dicendo animos audientium et docet, et delectat, et permovet” (De Optimo Genere Oratorum, I, 3).

É ótimo orador aquele que, falando, não só instrui, como deleita e comove os ouvintes.

20. “Ut enim magistratibus leges, ita populo praesunt magistratibus; vereque dici potest magistratum legem esse loquentem, legem autem mutum magistratum”(De Legibus, III, 2).

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Como as leis guiam os magistrados, assim os magistrados o povo. Poder-se-ia dizer em verdade que o magistrado é a Lei falando, e a Lei o magistrado mudo.

21. “Consuetudo quasi altera natura” (De Finibus Bonorum et Malorum, V,25).

O hábito é quase uma segunda natureza.

22. “Amicitia magis elucet inter aequales (De Amic., XXVII, 10l).

A amizade mais reluz entre os iguais.

23. “Haec igitur lex in amicitia sanciatur, ut neque rogemus res turpes nec faciamus rogati” (De Amic., XII, 40).

Seja esta a primeira lei da amizade: não pedir aos amigos nem fazer-lhes senão coisas honestas.

24. “Nihil est enim quod studio et benevolentia vel amore potius effici non possit” (Ad Familiares, III, 9).

Nada existe que se não possa fazer com dedicação, bondade e amor.

25. “Notatio Naturae et animadversio peperit artem” (Orator, LV, 183).

Da observação atenta da Natureza nasceu a arte.

26. “Si hortum in bibliotheca habes, deerit nihil” (Ad Familiares, IX, 4).

Se tens um jardim ao lado da biblioteca, nada aí faltará.

27. “Mendaci ne verum quidem dicenti creditur” (De Divinatione, II, 146).

16

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O mentiroso não é acreditado ainda quando diz verdade.

28. “Quid est sanctius, quid omni religione munitius, quam domus uniuscujusque civium?” (Pro Domo Sua, 109).

Que há de mais sagrado nem mais santo em toda a religião que a casa do indivíduo?

29. “Nihil est aliud bene et beate vivere, nisi honeste et recte vivere” (Paradoxa, XV).

Viver bem não é outra coisa que viver reta e honestamente.

30. “Judicium hoc omnium mortalium est, fortunam a Deo petendam, a ipso sumendam esse sapientiam” (De Natura Deorum, III, 36).

É opinião comum dos mortais que a fortuna provém de Deus; a sabedoria, essa devemos procurar em nós mesmos.

31. “Perjuri poena divina exitium, humana dedecus” (De Legibus, II, 22).

A pena divina reservada ao perjúrio é a destruição; os homens castigam-no com a infâmia.

32. “Meminerimus etiam adversus infimos justitiam esse servandam” (De Off., I, 13, 41).

Lembremo-nos de que também em relação às pessoas da última esfera devemos praticar justiça.

33. “Nemo doctus unquam mutationem consilii inconstantiam dixit esse” (Ad Atticum, XVI, 7).

Nenhum douto jamais averbou de inconstância o mudar de parecer.

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34. “Omnium rerum principia parva sunt” (De Finibus, V, 58).

Os princípios de todas as coisas são pequenos.

35. “Mens et animus et sententia civitatis posita sunt in legibus” (Pro Cluentio, LIII, 146).

O espírito, a alma e a sabedoria de um povo residem nas suas leis.

36. “Mihi omne tempus est ad meos libros vacuum, nunquam sunt illi occupati” (De Republica, I, 9).

Para os meus livros tenho sempre tempo, e eles estão sempre livres para mim.

37. “Honos praemium virtutis” (Brutus, LXXX).

O louvor é o galardão do mérito.

38. “Fundamentum est justitiae fides, id est, dictorum conventorumque constantia et veritas” (De Off., I, 7).

O fundamento da justiça é a boa-fé, a saber, a firmeza e sinceridade nas palavras e contratos.

39. “Aliud est male dicere, aliud accusare. Accusatio crimen desiderat, rem ut definiat, hominem notet, argumento probet, teste confirmet. Maledictio autem nihil habet propositi, praeter contumeliam” (Pro Caelio, III, 6).

Uma coisa é acusar ou denunciar, outra dilacerar uma reputação. A acusação requer a descrição do fato criminoso e a indicação do autor, instruída a causa com argumentos e

18

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testemunhas. A maledicência, ao revés, não arma a outro fim que ofender a honra alheia.

40. “In plerisque rebus mediocritas optima est” (De Off., I, 36).

Em muitas coisas a mediania é ótima.

41. “Memoria est thesaurus omnium rerum et custos” (De Orat., I, 18).

A memória é tesouro e custódia de todas as coisas.

42. “Homo praeclara quadam ratione generatus est a supremo deo”(De Leg., I, 22).

O homem é gerado de um deus supremo por uma recôndita razão.

43. “Nil honestum esse potest quod justitia vacat” (De Off., I, 19).

Nada pode ser honesto, que não se conforme com a justiça.

44. “Cavendum est ne major poena quam culpa sit” (De Off., I, 24).

Cumpre atender a que seja a pena proporcional à culpa.

45. “Prudentia est locata in delectu bonorum et malorum” (De Fin., V, 23, 67).

Consiste a prudência em discernir o bem do mal.

46. “Ratio docet et explanat quid faciendum fugiendumve sit” (De Off., I, 28).

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A razão ensina e explica o que se deve fazer e o que se deve evitar.

47. “Breve enim tempus aetatis, satis longum est ad bene honesteque vivendum” (De Senectute, XIX, 70).

Breve é a duração da vida, mas bastante longa para viver bem e honestamente.

48. “Nihil est veritatis luce dulcius” (Academica, II, 31).

Nada é mais doce que a luz da verdade.

49. “In omni re vincit imitationem veritas” (De Orat., III, 57, 215).

Em todas as coisas, a verdade vence a imitação.

50. “Veritas vel mendacio corrumpitur, vel silentio” (De Off., I, 23).

A verdade corrompe-se com a mentira ou com o silêncio.

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Bibliografia:

1) Arthur Rezende, Frases e Curiosidades Latinas,1955;

2) Renzo Tosi, Dicionário de Sentenças Latinas e Gregas, 2000; trad. Ivone Castilho Benedetti; Martins Fontes;

3) Ettore Barelli e Sergio Pennachietti, Dicionário das Citações, 2001; trad. Karina Jannini; Martins Fontes;

4) Marco Túlio Cícero, Diálogos, 1911; trad. Duarte de Resende; Livraria Garnier, Irmãos;

20

Page 21: História de Catilina 05

5) Napoleão Mendes de Almeida, Dicionário de Questões Vernáculas, 1a. ed.; Editora Caminho Suave Ltda.;

6) Mílton Valente, A Ética Estoica em Cícero, 1984; Editora da Universidade de Caxias do Sul;

7) José Lodeiro, Pequeno Dicionário de Frases Latinas, 1946;

8) Paulo Rónai, Não Perca o seu Latim, 1980; Editora Nova Fronteira.

9) Cicero, Laelius (seu De Amicitia), 1987; trad. Nicola Flocchini; Milano;

10) Cicéron, Lettres Familières, 1935; Garnier; Paris;

11) Cicerone, L’Oratore, 1968; Giannicola Barone; Mondadori; Milano;

12) L. de Mauri, Flores Sententiarum, 1990; Hoepli; Milano;

13) Cícero, Da Velhice e da Amizade, 1964; trad. Tassilo Orpheu Spalding; Editora Cultrix; São Paulo.

VII. Outros “Cíceros”

Em todas as nações civilizadas houve oradores que, por discursarem com suma elegância perante assembleias, à maneira do gênio da tribuna romana, passaram à posteridade com o cognome de “Cícero”.

1. Dom Jerônimo Osório (1506-1580), bispo de Silves, autor de numerosas obras em língua latina — “De Regis Institutione et Disciplina” (Da Instituição Real e sua Disciplina, 1944; trad. Antônio J. da Cruz Figueiredo; Edições Pro Domo; Lisboa); “De Rebus Emmanuelis Gestis” (Da Vida e Feitos de el-Rei D. Manuel, 1944, 2 tomos; trad. Francisco Manuel do Nascimento (Filinto Elísio); Livraria

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Civilização – Editora; Porto); “De Gloria” (Tratado da Glória, 2005; trad. A. Guimarães Pinto; Imprensa Nacional – Casa da Moeda; Portugal); “De Justitia” (Tratado da Justiça, 1999; trad. A. Guimarães Pinto; Imprensa Nacional – Casa da Moeda; Portugal), etc. —, “é geralmente conhecido pelo Cícero Lusitano” (Aubrey F. G. Bell, O Humanista Dom Jerônimo Osório, 1933, p. 9; trad. Antônio Álvaro Dória; Imprensa da Universidade; Coimbra).

2. Pe. Antônio Vieira (1608-1697) — “mestre Vieira, o grande”, como lhe chamou Rui (Réplica, nº 332) — foi cognominado “O Cícero Português”:

a)“Começou em segundo lugar o nosso Túlio Português o seu discurso” (André de Barros, Vida do Apostólico Padre Antônio Vieira, 1746, p. 400; Oficina Silviana; Lisboa);

b)“Seus compatriotas o cognominaram Cícero Lusitano; e de fato merece esta honrosa distinção” (Biografia Universal, vol. 48; apud Luís Gonzaga Cabral, Vieira Pregador, 1936, p. 415; Livraria Cruz; Braga).

3. José Estêvão (1809-1862), insigne tribuno português:

a) “(...) por duas vezes mostrou que era no foro rival de Cícero(...)” (Joaquim Simões Franco, Discursos Parlamen-tares de José Estêvão Coelho de Magalhães, 1878, p. X; Imprensa Comercial; Aveiro);

b) “Morreu o Deus da palavra, assim escreveu o nosso primeiro jornalista, consagrando um artigo ao passamento do grande tribuno português, do Cícero do nosso parlamento, José Estêvão Coelho de Magalhães” (J.A. de

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Ornelas; apud Camilo Castelo Branco, Correspondência Epistolar, 1968, t. II, p. 168; Parceria A. M. Pereira Ltda.; Lisboa).

4. Emílio Castelar (1832-1899), grande orador espanhol:

“Seu mestre foi Cícero. E, como o tribuno romano, procurava vestir as suas ideias com roupagens rutilantes” (Hélio Sodré, História Universal da Eloquência, 3a. ed., vol. II, p. 388; Editora Forense; Rio de Janeiro).

5. Daniel Webster (1782-1852), “o americano mais eloquente”:

“Cícero seduziu-o. Leu seus discursos com delírio e satisfação. Decorou muitos trechos de sua preferência, os quais costumava repetir, em voz alta” (Hélio Sodré, op. cit., p. 414).

6. Belisário Roldan (1873-1911):

“Todavia, forçoso é reconhecer que melhor lhe caberia o título de Cícero argentino” (Idem, ibidem, p. 526).

7. Também ao nosso Rui (1849-1923) foi dado o epíteto não só de “Águia de Haia”, senão ainda (e com assaz de razão) de “Cícero Brasileiro” (cf. Laudelino Freire, Rui, 1958, pp. 24 e 99):

a) “Possuía como Cícero, como Vítor Hugo, em grau insólito, o dom da amplificação e desenvolvimento das ideias” (Antão de Morais, Rui Barbosa, 1923, p. 40);

b) “E Rui Barbosa amou os livros, amou-os como se deve amar às coisas dignas de amor. Nisto era ainda igual a Cícero, que os estimava entranhadamente, e tinha a sua

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biblioteca como a alma da casa” (Homero Pires, Rui Barbosa e os Livros, 1949, p. 18; Casa de Rui Barbosa).

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VIII. Juízos, Notícias e Curiosidades acerca de Cícero

1. “Patérculo afirmou: o gênero humano desaparecerá da terra antes de que a glória de Cícero desapareça de sua memória” (V. César da Silveira, Dicionário de Direito Romano, 1957, vol. I, p. 127).

2. “(...) aquele grande orador Marco Túlio, cume da oratória, ao qual entre todos os mortais foi reservada a palma da humana eloquência” (Heitor Pinto, Imagem da Vida Cristã, 1940, vol. I, pp. 31-32; Livraria Sá da Costa – Editora; Lisboa).

3. “Cícero é o maior vulto da literatura latina” (Augusto Magne, Antologia Latina, 3a. série, 1943, p. 151; Editora Anchieta).

4. “Santo Agostinho (De Magistro, V, 16: Quid in lingua latina excellentius Cicerone inveniri potest?” (Idem, ibidem, p. 155).

Que é o que se pode encontrar na língua latina superior a Cícero?

5. “Segundo Quintiliano, os contemporâneos de Cícero diziam ser ele o rei da barra (regnare in iudiciis); a posteridade, porém, afirma o mesmo gramático, não mais considerou Cícero como nome de um homem, mas como o símbolo da eloquência: apud posteros vero id consecutus, ut Cicero iam non hominis nomen, sed eloquentiae habeatur (Inst. X, 1, 112)” (Bernardo H. Harmsen, Cícero – Antologia, 1959, p. 10; Editora Vozes).

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6. Cícero: “O mais alto entendimento que tem honrado a nossa espécie” (Rui, Obras Completas, vol. XXXVIII, t. II, p. 66).

7. Cícero: “O maior orador político de todos os tempos e de todas as literaturas. De tal forma que Santo Agostinho chegou a dizer que, se pudesse viajar de volta ao passado, teria desejado acima de tudo presenciar duas coisas: Jesus Cristo pregando às multidões e Cícero discursando no Senado” (João Paixão Neto, Literatura Latina, 1995, p. 63; Editora Teresa Martin).

8. “Magna erat Ciceronis facundia: lapides lamentari coegisset. Grande era a eloquência de Cícero: teria feito chorar as pedras” (E. Ragon, Primeiros Exercícios de Latim, p. 156).

9. “Marco Túlio, que ilustrou a filosofia latina e meteu o mundo em admiração com sua rica língua e alta eloquência...” (Heitor Pinto, op. cit., vol. IV, p. 258).

10. “Dizem que S. Jerônimo, por causa de Cícero, levou uma sova dos anjos” (Heitor Pinto, op. cit., vol. IV, p. 258; nota de rodapé).

11. Visão que teve São Jerônimo: “Então o que presidia disse-me: Estás a mentir. É ciceroniano que tu és, mas não cristão” (in Tratado da Imitação, de Dionísio de Halicarnasso, 1986, p. 26; Raul Miguel Rosado Fernandes et alii; Centro de Estudos Clássicos das Universidades de Lisboa).

12. Cícero: “Cicer, em latim, significa grão de bico” (Plutarco, Vidas dos Homens Ilustres – Demóstenes e Cícero –, 3a. ed.; trad. Sady-Garibaldi).

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13. “Cícero quer dizer ervilha, e Marco Túlio tomou esse nome porque um dos seus ascendentes apresentava na ponta do nariz uma protuberância que lembrava um grão de ervilha, e recebera esse apelido. Cícero chegou certa vez a mandar gravar num vaso de prata o seu nome Marco Túlio a que mandou se ajuntasse, gravado, um grão de bico ou ervilha” (Alfredo Xavier Pedroza, Compêndio de História da Literatura Latina, 1947, p. 58; Imprensa Oficial; Recife).

14. “Sabendo da sorte que o esperava, o Orador resolvera dirigir-se ao Oriente, aos arraiais de Bruto, e chegou a pôr-se a caminho. Depois de muitas hesitações, voltou, porém, a uma das suas casas da Campânia e, quando ia de liteira em direção ao mar, foi surpreendido por Popílio, tribuno militar, e Herênio, que, por ordem de Antônio, lhe cortou a cabeça com que pensara as Filípicas e as mãos com que as escrevera.

Aquela cabeça singular foi colocada, entre as duas mãos, no meio dos esporões da tribuna do Forum.

Contam que Fúlvia, esposa de Antônio, que se dizia ofendida pelo defunto Orador, quisera exercer nela a sua vingança de mulher. Tomou-a com ambas as próprias mãos, pousou-a nos joelhos e extraiu-lhe a língua, que ia espicaçando com o bico duma agulha” (Arlindo Ribeiro da Cunha, “In Catilinam”, 1943, p. CLXI; Livraria Cruz; Braga).

15. Refere Pantaleão de Aveiro que se achara na cidade de Zante, ilha da Grécia, a sepultura de Marco Túlio Cícero, e dentro dela “dois vasos de vidro muito maciço”: guardava um “a cinza de seu corpo”; no outro “haviam estado as

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lágrimas dos amigos”. Tinham estes frascos seus letreiros. O das cinzas: “Urna cinerum”; o das lágrimas: “Urnula lachrymarum amicorum” (cf. Itinerário da Terra Santa, 1927; pp. 19-20; Imprensa da Universidade).

l6. “Petrarca não se consolava de haver perdido o De Gloria, de Cícero, dádiva com que o brindara o jurisconsulto Raimond Soranzo, e que ele emprestara ao seu velho mestre Convennole, que, sempre sem recursos, o dera em penhor a um desconhecido. Mais que Petrarca, foi o patrimônio mental da humanidade atingido desse grave deslize, só em virtude de um empréstimo fatal. E assim em nenhuma parte nem no comércio dos livros no século, nem nas coleções dos conventos, nem nas das idades modernas, se encontrou jamais o extraviado livro de Cícero” (Homero Pires, Rui Barbosa e os Livros, 1949, p. 99).

17. Em seu imortal Poema, Dante colocou Cícero no primeiro Círculo (IV, 141): “entra com Virgílio no Limbo (...); continuando, vão dar a um senhoril castelo, dentro do qual estanceiam os sábios da antiguidade, que, embora pagãos, tiveram vida virtuosa”.

“(...) e Túlio, por muito estimado por Dante, que do seu livro De Amicitia serviu-se como de guia para introduzi-lo nas partes mais íntimas da filosofia, inspirando-lhe todo o amor por esta ciência (...). É Cícero por ele recomendado, não só como insigne entre os filósofos, e oradores, mas como virtuoso cidadão, por ter contra Catilina defendido a liberdade romana (...)” (A Divina Comédia de Dante Alighieri – O Inferno –, 1886, pp. 113 e 127; trad. Joaquim Pinto de Campos; Imprensa Nacional; Lisboa).

18. Numa livraria, pergunta o cliente à vendedora:

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— A senhora tem o livro As Catilinárias de Cícero?

E a vendedora (sem dissimular radiante ignorância):— Infelizmente, não! Arte Culinária só temos a de Dona

Benta!

19. “Mitto tibi navem prora puppique carentem”. Envio-te uma nave sem proa nem popa.

Saudação que Cícero mandou a um amigo. Com efeito, se de “navem” tirarmos a proa e a popa – o n e o m –, ficará “ave”, isto é, “bom dia!” (cf. Arthur Rezende, Frases e Curiosidades Latinas, 1955, p. 416; Rio de Janeiro).

20. Na Capital do Estado de São Paulo tem Cícero seu monumento, no Largo do Arouche. Executou-o Galimberti Poletti, arquiteto e escultor. Guilherme de Almeida, “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, compôs-lhe a seguinte inscrição:(20)

20(

(

) Cf. O Monumento a Cícero, de Galimberti Poletti, 1961, p. 3; “Graeca & Latina”; Editora Sociedade Brasileira de Expansão Comercial Ltda.

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A RENOVAR NO BRONZE PERENE A TUTELAR

E UNIVERSAL IMAGEM DE MARCO TÚLIO

CÍCERO, UM DIGNO ARTISTA — O CONDE

HUBERTO GALIMBERTI POLETTI DE ASSANDRI

— MODELOU ESTA IMAGEM DO SUPREMO

MODELADOR DA “LINGUA MATER”,

BUSCANDO EXPRIMIR-LHE DA MENSAGEM

O ALCANCE, DA ELOQUÊNCIA A ALTURA,

DO ESTILO A ELEGÂNCIA, DO HOMEM A

VERDADE E, JUNTO A ESTE MARCO

ESPIRITUAL DA LATINIDADE, A

UNIÃO NACIONAL DE CULTURA

GRECO-LATINA,

QUE O ERIGIU,

FAZ POR UM INSTANTE — “CEDANT TEMPORA

TOGAE” — PARAR A “CIDADE QUE NÃO PARA”.

“MACTE”.

SÃO PAULO, XQI – VII – MCMLX

Guilherme de Almeida(*)

____________

(*) A placa de bronze, em que estava gravado o elogio histórico de Cícero, mãos criminosas furtaram para sempre! É bem o caso, pois, de exclamar com o excelso Orador: “O tempora, o mores!”.

CB

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Busto de Cícero

(Museo Capitolino, Roma)

Fig. 1

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Cícero e Catilina

Mural de Cesare Maccari (1840-1919);Palazzo Madama (Senado Italiano), Roma

Fig. 2

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Estátua de Cícero

(Largo do Arouche; São Paulo, Brasil;Escultor: Galimberti Poletti)

Fig. 3

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