ideia design - edição 12

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Para a décima segunda edição da Revista iDeia Design, faremos um passeio pelo mundo das imagens, registradas por olhos perspicazes e sensíveis. Olhos de profissionais que se especializaram nos vários segmentos que ela oferece e que fazem de seu trabalho a forma de enxergar as coisas à sua volta.

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O registro de um momento nos proporciona eternizar incon-táveis instantes em nossas vidas. Pesquisadores atribuem a primeira foto feita no mundo ao francês Joseph Nicéphore, mas sua evolução não pode ser imputada apenas a uma pessoa.

As diversas tecnologias disponíveis hoje modificaram, e ain-da modificarão, nosso vínculo com o registro de momentos. Hoje, capturar situações do dia a dia através das lentes de uma câmera faz parte de nosso cotidiano. O uso do celular como máquina fotográfica mudou para sempre nossa rela-ção com a imagem. Porém, fotografar não é só um registro, é uma arte, requer sensibilidade especial, associada a téc-nicas incontáveis e ao domínio completo do equipamento e de softwares de edição.

Para a décima segunda edição da Revista iDeia Design, fa-remos um passeio pelo mundo das imagens, registradas por olhos perspicazes e sensíveis. Olhos de profissionais que se especializaram nos vários segmentos que ela oferece e que fazem de seu trabalho a forma de enxergar as coisas à sua volta.

Prepare-se para ver fotos incríveis, lugares, situações, mo-mentos, objetos, pessoas... tudo registrado de uma forma muito especial.

Abra bem os olhos e vamos!!!

Muita luz para todos nós!Camilo Belchior

EditorCamilo Belchior

Jornalista Responsável:Cilene Impelizieri 5236/MG

Jornalistas:Ana Cláudia Ulhôa

Pâmilla Vilas Boas

Projeto gráfico e coordenação gráfica

Cláudio Valentin

Capa:Marcelo Coelho

A Revista iDeia é uma publicação da Editora PlexuDesign, patrocinada pelo Grupo Loja Elétrica / Templuz, com

veiculação gratuita, não podendo ser vendida. Sua distri-buição é feita para um mailing seleto de profissionais das

áreas afins ao design e formadores de opinião.

Contato:[email protected]

Os artigos assinados são de exclusiva

responsabilidade dos autores e não refletem

a opinião da revista.

Expediente:

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48P&BGerman Lorca52FotoJornalismoEvandro Teixeira58FotoMemóriaLambe Lambe64FotoManipuladaPatrícia Azevedo70ProjetosSumisuraPousada Ouro Real82DicasInstagram86FotosDestaque

04ArquiteturaeUrbanismoCássio Campos Vasconcellos08FotografiaDocumentalMárcio Vasconcelos14FotoOlharMarcelo Coelho22FotografiadeModaMiro28Foto&DesignJeremy Webb35Foto&AmbienteJomar Bragança42FotografiadeProdutoDaniel Mansur

Foto

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04ArquiteturaeUrbanismoCássio Campos Vasconcellos08FotografiaDocumentalMárcio Vasconcelos14FotoOlharMarcelo Coelho22FotografiadeModaMiro28Foto&DesignJeremy Webb35Foto&AmbienteJomar Bragança42FotografiadeProdutoDaniel Mansur

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ArquiteturaeUrbanismo

Visto do alto, o mundo se descortina em imagens com formas imprevisíveis. A partir de suas incursões aéreas, o fotógrafo Cássio Campos Vasconcellos (1965), produz imagens que vão além de nossa percepção cotidiana das

cidades, paisagens e do humano. Em 2014, o fotógrafo lançou o livro e a exposição “Aéreas do Brasil”, com mais de 150 fotos registradas a 500

metros de altura, durante mais de 700 horas de voo de helicóptero. O livro é uma viagem por todo o território brasileiro, com paisagens reconhecíveis

e irreconhecíveis, como a praia de Ipanema, os arranha-céus paulistanos e plantações de laranjas que assumem aspectos inusitados.

Foto aérea de São Paulo da série “Aéreas do Brasil”

por Pâmilla Vilas Boas

Cidades imaginadas

O mundo imprevisível do fotógrafo Cássio Vasconcellos

Cássio Campos Vasconcellos

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ARQUITETURAeURBANISMO | Cássio Campos Vasconcellos

“Procuro sempre um afastamento da realidade. A fotografia parte do que existe, mas busco criar um outro clima. Tento trazer outra sensação e percep-ção, que não aquilo que estamos acostumados a ver. Esse é o trabalho de todos os fotógrafos, tentar captar algo a mais ou que não está tão forte em nossa percepção cotidiana”, revela.

No “Aéreas do Brasil”, a busca de Cássio foi pela presença humana na cena, ou o elemento urba-no mesmo em paisagens naturais. “A percepção do alto de um helicóptero é outra. Você está muito perto de tudo, sentindo. São marcas que se repetem em todos os lugares do mundo, o tipo de ocupação, as plantações e edificações”, relata.

Com 33 anos de carreira, seus trabalhos já foram exibidos mais de 180 vezes em 20 países. Nos últimos anos, o fotógrafo apresentou “Coletivos”, no Today Art Museum em Pequim (2013); “Itine-rant Languages of Photography”, em Princeton, New Jersey, Estados Unidos (2013); e “O Elogio da Vertigem: Coleção Itaú de Fotografia” no Maison Européenne de La Photographie em Paris (2012).

Vasconcellos também publicou livros como Pano-râmicas (2012), Aéreas (2010) e Noturnos São Pau-lo (2002). Ganhou vários prêmios, como o Con-rado Wessel de Arte (2011) e Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA – 2002), pela melhor exposição do ano, com a mostra “Noturnos São Paulo”. E suas imagens fazem parte das principais coleções do Brasil, como o MASP – Museu de Arte de São Paulo, e do exterior, na Bibliothèque Nationale (Paris, França) e no Museum of Fine Arts (Houston, Estados Unidos).

A obra “Coletivo (2008)” é um painel de 12 metros de extensão por 2,20 m de altura e revela outra vertente do trabalho do fotógrafo: as paisagens imaginárias. Em princípio, a impressão é de uma tapeçaria formada por milhares de pontos colo-ridos. Bem de perto é possível ver os veículos, re-cortados um a um, e reorganizados pelo fotógrafo numa disposição com padrões de repetição e cores que se torna um enigma ao espectador. A manipulação, o recorte e o rearranjo de elementos na criação de paisagens imaginárias e, ao mesmo tempo, passível de realidade, é

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ARQUITETURAeURBANISMO | Cássio Campos Vasconcellos

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recorrente na obra do fotógrafo. Cássio conta que realizou dois voos na Ceasa e que fez a foto de centenas de caminhões. “Eu recortei o caminhão no computador e fiz uma releitura da Ceasa. Cada carre-gador, a sujeira no chão, as barraquinhas. Cada elemento vem de uma foto diferen-te, são centenas de fotos para construir aquela imagem”, relata.

O fotógrafo explica que levou um ano para produzir a imagem do aeroporto, a partir de diversos sobrevoos em aeropor-tos do Brasil e dos EUA, com milhares de imagens diferentes. “Criei um aeroporto que não existe como tal. É tão rico em detalhes que as pessoas me perguntam onde fica. Mas é mesmo muito crível, está tudo dentro da escala e foi inspirado nos aeroportos que vemos hoje em dia, tudo lotado, o excesso, tudo acontecendo muito rápido, o mundo inteiro se conec-tando. A foto tem cinco metros de largura a 300 dpi, cada avião tem um nível de detalhe absurdo. Não se trata de uma foto ampliada, ela foi construída a partir de imagens e tem total definição”, revela. Ele acredita que o aeroporto é um retrato da humanidade atual e o único lugar que conecta fisicamente pessoas de todas as partes do mundo em questões de horas. “Não é simplesmente a loucura do aeroporto é a loucura do nosso mundo que está representada ali”, afirma.

Cidades noturnasPara o filósofo Nelson Brissac, organizador do projeto Arte/Cidade, a série “Noturnos (1998/2004)” de Cássio Vasconcellos pare-ce mostrar uma São Paulo que não existe. “Difícil reconhecer a cidade nessas ima-gens em que velhos tapumes e viadutos, fachadas descascadas e detritos pare-

Marginal do Pinheiros em São Paulo da série “Noturnos”. As fotos foram feitas com uma câmera polaroide.

Torre da TV Bandeirantes em São Paulo da série “Noturnos”. As fotos foram feitas com uma câmera polaroide.

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cem saídos de outro tempo, contrapostos à cidade atual. Edificações modernas, desertificadas, banhadas por uma luz oblíqua, criam um universo intensamente plástico, estranhamente cenográfico. Elementos urbanos que parecem abando-nados, sem função evidente, para sempre inacabados. Estruturas aparentemente gigantescas, emergindo da noite, tomam conta da paisagem urbana, o restante caindo na penumbra, na mais completa entropia”,( trecho da crítica publicada no site do fotógrafo - www.cassiovascon-cellos.com.br).

O trabalho, um dos mais premiados de sua carreira, foi feito com uma Polaroíde SX70, uma câmera de 1970, barata e extremamente simples. Apesar das cores fortes e impressionantes, o trabalho não contou com nenhuma ferramenta de ma-nipulação, já que as fotos saem na hora. “Apesar das pessoas verem o polaroíde como algo de baixa qualidade e que não dura, como todo equipamento, você tem que saber usar. Eu fiz meu trabalho mais extenso com vários prêmios, com uma câmera barata, simples, que não dá pra trocar de lente, nem regular o diafrag-ma. Eu saia à noite na cidade e o que eu tinha era o olhar, o ângulo, a máquina e o filme”, explica.

Para Cássio é papel do artista quebrar as regras dos dispositivos e desvendar as tecnologias para modificar e ampliar as possiblidades de uso. “Eles fazem a bula para você, mas o artista deve subverter, fazer o ‘errado’. Todas as minhas séries tem isso do erro, fazer teoricamente errado para desvendar o que está por traz da tecnologia. Eu não tenho regras nem preconceito, cada trabalho tem o seu caminho”, completa.

Obra “Redondos” da série “Múltiplos”

Cássio VasconcelosFoto: divulgação

Foto aérea do Rio de Janeiro da série “Aéreas do Brasil”

FOTOGRAFIADOCUMENTAL | Márcio Vasconcelos

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Nã Agotimé, a rainha negra, trouxe para o Brasil a me-mória de um clã mágico e místico que, desde tempos

imemoriais, cultuava os voduns. Ela saiu de Daomé, hoje Benim, na África, nos porões de um navio do tráfico

negreiro após ser vendida como escrava pelo novo rei de seu povo. Depois de uma passagem pela Bahia e o encontro com os Nagôs, a rainha chegou ao Mara-

nhão. Lá, ela voltou a ser rainha e fundou a “Casa das Minas” em meados do século XIX.

Inspirado pela história peculiar que deu origem ao tam-bor de Mina, o fotógrafo maranhense Márcio Vascon-

celos (1957) decidiu fazer o caminho inverso. Ele viajou ao Benin, acompanhado do antropólogo africano

Hippolyte Brice Sogbossi, para realizar uma pesquisa e documentação fotográfica da atual situação de terrei-ros e seus respectivos chefes. A pesquisa deu origem ao

projeto “Zeladores de Voduns: do Benin ao Maranhão (2010)”, exposição fotográfica sob a forma de portraits.

A mostra já passou pelos museus Casa de Nhozinho e de Artes Visuais, no Maranhão; no Casa do Benin, em

Salvador e no AfroBrasil, em São Paulo. “Esse foi um dos trabalhos mais premiados que tive. Quando penso em guardá-lo na gaveta, surge um convite para nova exposição em eventos de africanidade dentro e fora do Brasil”, afirma. O projeto foi ainda vencedor do 1º

Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras de 2010, da Fundação Cultural Palmares/Petrobras.

Márcio Vasconcelos é apaixonado pela cultura brasilei-ra, que tem raízes na diáspora africana. “Essa mão

de obra não foi apenas de corpos escravos, com eles

FotografiaDocumental

por Pâmilla Vilas Boas

Fotografia atemporal

A cultura afro-brasileira em destaque

Márcio Vasconcelos

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FOTOGRAFIADOCUMENTAL | Márcio Vasconcelos

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vieram também memória e cultura. A riqueza cultural do Brasil vem dos negros”, afirma. Se não fosse fotógra-fo, Márcio seria músico. “Sou um profundo apreciador da musica, sobretudo, da negritude e a forma como eles se expressam”.

Ele explica que, para além do documental, sua busca sempre foi por uma fotografia autoral, diferente, sobre o que nunca foi visto. “É muito fácil ir pra rua fotografar uma manifestação de cultura popular. É muita cor e muita beleza como num teatro a céu aberto. Agora, se você tem um cuidado mais artístico, ela vai se desta-car desse universo de muita gente fazendo a mesma coisa. Você vê uma foto minha e sabe que fui eu pelo movimento. Tem gente que diz que sente a música em minhas fotos”, relata.

Márcio cursou engenharia mecânica e educação física e, com o primeiro salário como funcionário do Banco do Brasil, comprou a primeira câmera profissional. Há vinte anos, saiu do banco e criou seu próprio estúdio para trabalhar exclusivamente com fotografia. Há mais de uma década vem se dedicando a registrar manifesta-ções da cultura popular e religiosa dos afro-descenden-tes no Maranhão. É autor do projeto “Nagon Abioton – Um Estudo Fotográfico e Histórico sobre a Casa de Nagô”, editado em forma de livro. Foi também vence-dor do XI e XIV Prêmio Funarte Marc Ferrez de Foto-grafia e do prêmio Conrado Wessel, com os projetos “Na Trilha do Cangaço – Um Ensaio pelo Sertão que Lampião pisou” e “Visões de um Poema Sujo”, inspirado na obra “Poema Sujo” do poeta Ferreira Gullar.

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FOTOGRAFIADOCUMENTAL | Márcio VasconcelosFo

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Imagem da série ”Zeladores de Voduns” sobre a saga de Nã Agotimé.

FOTOGRAFIADOCUMENTAL | Márcio Vasconcelos

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Fotografia de imersãoEle conta que fotografar espaços ritualís-ticos é um trabalho de conquista. Chega a ficar três meses sem pegar na câmera, apenas pesquisando e vivendo a realida-de que pretende retratar. “Tenho muito prazer nessa etapa de trabalho, nessa coisa de ser meio antropólogo. É quando a informação está para derramar que entro em campo. Quando, de tudo o que ouvi, já sei o que quero transformar em imagem”, revela. E esse intercâmbio com os pais e mães de santo, com os tambores e outras tradições, o tornou reconhecido e fez com que sempre fosse convidado para participar do calendário das mani-festações. São quase mil terreiros espalha-dos pelo Maranhão.

Com grande influência da antropologia, Márcio é sempre procurado por pesquisa-dores da área por seu enorme acervo de cultura popular. “Costumo ser solicitado no momento de conclusão de teses. Eles acham que o principal é escrever, mas entendem que só a escrita não é capaz de passar tudo o que viram em campo”.

Atualmente, em paralelo à pesquisa sobre a cultura negra, ele tem se dedicado a projetos de fotografia mais conceituais.

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1. Imagem da série “Visões de um poe-ma sujo”, trabalho inspirado no Poema

Sujo de Ferreira Gular

2. Imagem da série “Estética do Terreiro” , realizada nos Pajés de Negro, religião

praticada na Baixada Ocidental, borda oeste do Maranhão, nordeste do Brasil.

3. Imagem da série “Na trilha do Canga-ço”, um ensaio fotográfico pelo sertão

que Lampião pisou.

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3.

FOTOGRAFIADOCUMENTAL | Márcio Vasconcelos

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4. Imagem da série “Na trilha do Canga-ço”, um ensaio fotográfico pelo sertão

que Lampião pisou.

5- Imagem da série “Visões de um poe-ma sujo”, trabalho inspirado no Poema Sujo de Ferreira Gular

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FOTOGRAFIADOCUMENTAL | Márcio Vasconcelos

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No premiado “Na Trilha do Cangaço – Um Ensaio pelo Sertão que Lampião pisou”, Márcio reconstruiu o caminho feito por Lampião, desde onde nasceu até sua morte. Nesse caminho, registrou pessoas e paisagens que marcaram parte da história brasileira. Mais conceitual ainda é o trabalho que ele chamou de “Deslo-cação”, com pessoas nuas e cabeças de boi. “Esse trabalho mostra o desassossego do homem do campo e o bicho na terra. O bicho tá morrendo pela falta de água e pela escassez e o homem quer sair do campo pela falta de oportunidade. Penso no homem como ser híbrido. Essa deslo-cação desse bicho híbrido, que não sabe pra onde vai, acaba morrendo e voltan-do. Foge um pouco da documentação e da pesquisa”, ressalta.

Seu último trabalho “Visões de um poema sujo”, exibido em maio deste ano, trata de uma reinvenção fotográfica dos versos do livro de Ferreira Goulart, também maranhen-se, escrito durante seu exílio, em 1975. São 40 fotografias inspiradas na obra que registra e reinventa a cidade do poeta, que nasceu e viveu em São Luís nos anos 30 e 40 do século XX. Poema Sujo foi escrito de maio a outubro de 1975, quando Gullar estava exilado em Buenos Aires, durante a ditadura militar. “Há um relâmpago nos versos gullarianos, mesmo quando ele fala do lado obscuro da cidade, sua lama e podridão, seus mangues e obscenidades”, completa.

Márcio VasconcelosFoto: divulgação

FOTOOLHAR | Marcelo Coelho

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FotoOlhar

Desde criança, Marcelo Coelho possuía um fascínio imenso pela fotografia. Um de seus passatempos preferidos era recortar imagens e manchetes de revista para colar em um caderno e criar sua própria publicação. De acordo com o mineiro de Belo Horizonte, ele “não se sentia atraído por nenhum tema específico, mas sim pela linguagem estética”. Os ângulos, composição e a luz das fotos roubavam completamente sua atenção. Por isso mesmo, não foi espanto para ninguém quando, com apenas 11 anos, começou a dar seus primeiros cliques e fez da fotografia “uma forma de autoexpressão”.

Hoje, Coelho possui um estúdio com sede na capital mineira e filial nos Estados Unidos. Ao longo de sua carreira, se especializou em fotografia institucional e ensaios autorais, con-quistando grandes clientes, como Vale, Iveco, Grupo de Dança 1º Ato, Líder Aviação, HBO, Pioneer, Honda, Toyota, entre outros.

Em todos os seus trabalhos, o fotógrafo tenta criar um conceito forte e com traços bem autorais. Para mostrar como esse tipo de foto pode ser poética e humanizada, ele preparou uma seleção de imagens, que fez em suas viagens ao redor do mundo, para simples-mente fotografar ou para atender seus clien-tes. O tema escolhido foi o espaço urbano e a arquitetura, outras de suas paixões.

por Ana Cláudia Ulhôa

Ensaio Fotográfico

Marcelo Coelho trabalha

com fotografia institucional

e ensaios autorais.

Foto: Divulgação

Marcelo Coelho

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FOTOOLHAR | Marcelo Coelho

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Parque temático Gardens by the Bay, em Singapura.

FOTOOLHAR | Marcelo Coelho

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Hotel Marina Bay Sands, em Singapura, à noite.

Registro do cenário urbano de Singapura.

FOTOOLHAR | Marcelo Coelho

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Ruas de Tóquio, Japão.

FOTOOLHAR | Marcelo Coelho

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Hotel Marina Bay Sands, em Singapura.

FOTOOLHAR | Marcelo Coelho

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FOTOOLHAR | Marcelo Coelho

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Festa típica de São Luís do Maranhão.

Barcos atracados em Dubai.

FOTOOLHAR | Marcelo Coelho

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Hotel Burj Al Arab, em Dubai.

Vinícola Ceretto, na Itália.

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MiroFoto: divulgação

Foto da Smirnoff feita para a agência Proeme em 1978.

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FotografiadeModa

Em 1978, uma mulher cruza uma avenida. Saia vermelha com bolas brancas, salto alto, uma sacola cheia de objetos, dentre eles, uma garrafa de Smirnoff. Mesmo sendo uma foto da década de 70, ela ainda inspira modernidade e um conhecimento profundo da intuição feminina.

Miro é um dos nomes mais importantes da fotografia de moda no Brasil e construiu um trabalho que perpassa os maiores acontecimentos e transformações na cultura do país. Na década de 70, em Paris, fotografou para a revista francesa Elle, Le Nouveau, Photocinema da Austrália, Cláudia (do Brasil), dentre muitas outras. “O trabalho que considero mais marcante no início de minha carreira foi a foto da Smirnoff, que fiz para a agência Proeme, do Enio Mainardi”, afirma. Miro construiu uma estética inconfundível de sentimentos: dramaticidade e leveza, emoções profundas, o estranhamento e a beleza sublime na fotografia de moda.

Azemiro de Souza nasceu em 1949, em Bebedouro, no interior de São Paulo. O final de sua adolescência foi marcado por um período de grandes transformações no Brasil, representados pela emergência da Bossa Nova. Ele presenciou o endurecimento do re-gime militar, em 1968, época em que deixou Bebedouro para morar na capital paulista. Em 1969, o ainda Azemiro conseguiu uma vaga de laboratorista no estúdio do fotógra-fo José Daiola. Além da vaga, recebeu um nome mais fácil de pronunciar, Miro.

Em 1970, passou a assistente de fotografia e depois fotógrafo do estúdio. Nessa época, se aproximou do trabalho da fotógrafa francesa Sarah Moon, uma de suas maiores influências. Era o início da publicidade no Brasil. Seu interesse pelas artes, teatro, cinema e pintura influenciou sua formação estética. Outro acontecimento importante foi a ida para a agência Proeme, do publicitário Enio Mainardi, onde realizou diferentes parce-rias, incluindo com a diretora de arte, Magy Imoberdorf, da agência Lage Dammann &

por Pâmilla Vilas Boas

Uma estética irreversível

Miro

“Otimista às raias da irresponsabilidade, esse Miro. Sim, pois só um irresponsável se dispõe a alcançar esses momentos de verdade de pessoas tão diferentes (e tantas) como desta vez” (Marília Gabriela, em texto publicado no livro Máscaras, 1976)

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Clodovil

Irene Ravache

Maureen Naum Regina Guerreiro

Ana Hickman Magy Imoberdorf

Juscelino Kubitschek Marília Gabriela

FOTOGRAFIADEMODA | Miro

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Stabel. Ao longo da década de 1970, eles produziram cerca de 400 anúncios para a marca Lycra.

“Meu interesse por moda começou já com as fotos que fazia com a Magy e, em seguida, com a dedicação e obsessão da Regina Guerreiro (diretora de arte e par-ceira do fotógrafo na Vogue Brasil)”, afirma.

No mesmo período, Miro conheceu o diretor artístico da Elle francesa, Peter Knapp e, em sua primeira visita à redação da revista, saiu com a encomenda de produzir uma imagem e colorir manualmente em um dia. A partir disso, ele realizou diversos outros trabalhos para a revista. Na França, encontrou também com o fotógrafo Guy Bourdin, uma de suas grandes inspirações. De volta a São Paulo, em 1975, Miro lançou o livro e a exposição “Máscaras”, com 48 retratos em preto e branco de ce-lebridades como Juscelino Kubitschek, Elke Maravilha, Maysa, Orlando Vilas Boas, entre outros.

Em 1978, a revista Vogue foi lançada no Brasil e Miro foi convidado, já na terceira edição, para vários ensaios de moda na revista. O mais importante deles, como ressalta Miro, foi inspirado no universo lúdico do circo. O trabalho recebeu o prêmio de melhor editorial do ano. Outro trabalho importante foi com a atriz Tônia Carrero, no qual ela representava diferentes personagens. Nessa época, o fotógrafo projetava seus cromos em um vidro e refotografava. A técnica dava às imagens um aspec-to granulado.

Já na W/Brasil, começou em 1976 e se estendeu até meados dos anos 2000. Em 1991, fez a capa para a edição número 1 da revista Marie Claire. Em 1998, foi

Miro fotografou diversas personalidades ao longo da história

Carolina Ferraz

Maysa

Zaragoza

Regina Guerreiro

Magy Imoberdorf

Marília Gabriela

FOTOGRAFIADEMODA | Miro

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um dos fotógrafos convidados a participar do filme de lança-mento da revista Época. O trabalho foi vencedor do Gran Prix do Clio Awards de 2000.

Para Miro, o mais importante em sua trajetória foi o encontro com três pessoas: “José Daloia, com quem aprendi e observei durante quatro anos quando cheguei a São Paulo, em 1970; Magy Imoberdorf , diretora de arte, e mais tarde sócia da Lage Stabel e Dammann - que me abraçou e fizemos vários traba-lhos importantes, como o lançamento da Lycra no Brasil”. E, por estar fazendo trabalhos ligados à moda na publicidade, apareceu em minha vida Regina Guerreiro, assumindo a Vogue Brasil. Minha grande parceira e com quem aprendi muito sobre moda”, revela.

Artesão da luz“Eu acho que tudo que se faz é exatamente para contar uma história. E o grande lance de minha vida é poder contar uma história e isso eu aprendi com os fotógrafos que me serviram de referência no início de tudo e até hoje.” Miro sempre foi conhecido pelo cuidado e preciosismo em suas produções. Um verdadeiro artesão da luz, sempre apostou na manipulação artística, na magia e na descoberta de fotografar em analógi-co. Ele explica que, antes do surgimento do tratamento digital, existia o laboratorista, que também trabalhava com manipula-ção. Ele podia fazer várias manobras com o filme que estava sendo revelado ou com a ampliação fotográfica “tinha de tirar da magia dos banhos da revelação”, relata.

Talvez por ter vivenciado tão intensamente a fotografia como resultado de um processo artístico intenso, Miro considere que fotografar, hoje em dia, não seja mais um trabalho de fotógra-fo. “Atualmente, não mais se produz fotografia e sim imagens com pedaços de vários clicks”, afirma. Ele explica que um editorial de moda, hoje, conta com vários cargos e uma imensa especialização do trabalho.

Como um dos mais hábeis entre todos os artesãos de sua ge-ração, foi o que mais sofreu com essas adaptações ao mundo digital. “Nos anos 70, a foto que eu fazia e que seria publicada era exatamente um cromo sem interferências de ninguém”, completa.

Miro explica que, a partir de 2002, a falta de equipamentos e a ausência dos laboratórios forçaram os últimos fotógrafos paulis-tas que trabalhavam com o analógico, a usar o digital. E Miro foi o último a aderir definitivamente à tecnologia. “Não tinha escolha e decidi por uma câmera digital. Era necessário e fun-damental e, sem ser saudosista. Do contrário, eu vivi e comecei em outros tempos mais emocionantes, gratificantes e estimulan-tes do que estamos. E estou vivendo na fotografia hoje e não estou reclamando e nem posso. Só estou constatando que é uma pena para fotógrafos perderem a magia da fotografia de um dia após o outro. Uma novidade a ser descoberta!”, diz.

1. Imagem da campanha do Vectra/GM de 1996

2. Imagem de Cleo Pires para a ISTOÉ em 2007

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FOTOGRAFIADEMODA | Miro

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3. Capa da revista Vogue com a imagem de Tônia Carrero em 1981

4. Imagem feita para a revista francesa Elle em 1975

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“Halesworth Cut still life 23”, um exercício de simplicidade e de subversão do léxico visual.

Foto&Design

Delimitada por um quadro retangular, a fotografia pode comunicar diversas emoções com clareza e economia. Para o professor e fotógrafo Jeremy Webb, o desenvolvi-mento de uma verdadeira sensibilidade de design carrega a fotografia com energia e poder. Webb mora em Norwich, no Reino Unido, e atua como diretor de oficinas, docente, tutor à distância para várias instituições e ainda dedica-se tanto à fotografia analógica como digital. É autor dos livros “Creative Vision” e “O design da fotografia” e ganhou diversos prêmios por suas criações com Photoshop. Para ele, mais do que a re-gra dos terços, o design pode potencializar o uso da cor, forma, equilíbrio, luz e sombra, ingredientes indispensáveis para fotografias que marcaram época.

Como o Design pode trazer elementos criativos para a fotografia?Revista iDeia: Usado de forma criativa na fotografia, o design é um grande facilitador, permitindo aos fotógrafos usar a cor, forma, equilíbrio, luz e sombra, e todas as outras ferramentas, para transformar suas imagens em corredores de longa distância, em vez de apenas velocistas chamativos. Fotografia tem que trabalhar dentro dos limites de um quadro retangular e o arranjo do conteúdo desse quadro é o tema sobre o qual estou falando - os julgamentos sobre o que incluir ou excluir, ênfase e emoção podem ser co-municados com clareza e economia. É muito mais do que simplesmente repetir a regra dos terços. O desenvolvimento de uma verdadeira sensibilidade de design carrega a sua fotografia com energia e poder.

por Pâmilla Vilas Boas

O design da fotografia

Jeremy Webb

Jeremy Webb revela fundamentos do design e sua aplicação em fotografias inesquecíveis

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FOTO&DESIGN | Jeremy Webb

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Qual a importância da Câmera Obscura e da mágica da fotografia num mundo dominado pelo digital?DI: Para mim, a Câmera Obscura fica bem no centro da fotografia. O mais divertido da fotografia é trabalhar com jovens mostran-do-lhes como câmeras simples podem ser feitas a partir de uma caixa de sapato ou de uma lata. Essas câmeras pinhole simples são apenas versões menores da Câmera Obscu-ra. Toda a fotografia tem ingredientes chave semelhantes - uma câmara escura, um pequeno buraco numa extremidade, uma superfície de recepção no outro, e a capa-cidade da luz viajar em linhas retas. Esse é o mesmo princípio da digital SLR, mais recente e maior, ou de uma simples Box Brownie.

Às vezes, as leis do universo parecem tão complexas e misteriosas, outras vezes há uma espécie de bela simplicidade sobre como as coisas funcionam. Por exemplo, o olho vê o mundo da mesma forma que uma simples câmera - a luz que entra através da pupila (abertura) e a imagem é processada na superfície de recepção (sensor) na parte traseira. Às vezes, também, a imagem está de cabeça para baixo; na câmera e no olho, mas assim como os mecanismos internos da câmara invertem a imagem no sentido certo, da mesma forma o cérebro humano vira a imagem invertida do jeito certo. Pura magia! Isso é a fotografia de volta, despojada de seus princípios - o olho, a Câmera Obscura, o Box Brownie, a DSLR Nikon, todos eles contam com essas coisas simples.

“Merry-go-round 2 Thursford”, Jeremy fotografou sua filha em um parque de diversões.

A imagem “Covehithe 06 April 2015 Doggerland work in progress” é um trabalho em andamento. Atualmente, Jeremy está produzindo uma resposta fotográfica para Doggerland, área que uniu a Inglaterra ao norte da Europa cerca de 8500 anos aC.

FOTO&DESIGN | Jeremy Webb

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O digital fez a fotografia mais acessível, mas muito do hardware parece estar obcecado com clareza e precisão, isso é simplesmente a tecnologia alcançando seu destino e cum-prindo seu objetivo. Mas, percebo que muitos fotógrafos anseiam por uma forma mais simples, sem que inúmeras rodas de rolagem e menus fiquem no caminho de sua fotogra-fia. Às vezes o digital oferece uma tirania da escolha, quando limitações (em oposição a opções) podem abrir oportunidade criativa e potencial.

Qual a relação entre design, fotografia e emoção?DI: Para mim, uma imagem de sucesso (ou série de imagens) é aquela em que mostra claramente a intenção do fotógrafo e onde três fatores entram em jogo - Clareza, Força e Economia e esses são difíceis de definir com precisão. Mas, é tudo sobre como o conteú-do do seu quadro é organizado, e, por vezes, simplesmente comunica sua ideia com uma boa mistura desses três fatores, o que deixa o espectador com um “hit” emocional tão intenso quanto qualquer experiência artística, seja ela dança, teatro ou música.

São muitos os princípios de design que po-dem moldar nossa intensidade de envol-vimento com uma imagem fotográfica. O fotógrafo especializado reconhece essas for-ças poderosas e as combina intuitivamente, mesmo que o aprendizado e compreensão dessas forças tenha levado um tempo. Agora que a fotografia está verdadeiramente nas

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FOTO&DESIGN | Jeremy Webb

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“Scramble 08 from series Limited edition print” - A imagem faz parte de uma série que tem a intenção de mostrar uma explosão de cor, uma colisão entre digital e analógico, uma reação química caótica entre um mundo e outro.

“Old Boilers 12 Ely from series” - Uma série de imagens sobre velhas caldeiras vitoria-nas que Jeremy achou muito mais atraentes do que as fotos clássicas de vitrais ou tetos esculpidos da Catedral de Ely.

FOTO&DESIGN | Jeremy Webb

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mãos de todos, torna mais e mais difícil de serem vistas e apreciadas novamente, e novamente. Tão vasta é a maré de ima-gens dentro e fora de nossas vidas.

Como você usa a manipulação digital em suas criações artísticas? DI: Manipulação digital é, ao mesmo tempo, uma bênção e uma maldição. Não há dúvida de que os códigos de conduta e rigorosas diretrizes têm reduzido a quantidade de manipulação digital que se passa na mídia, mas onde a fotografia de arte está em causa, a manipulação da “verdade”, através de duplicidade digital, torna-se um assunto para explorar e isso é uma coisa boa.

Tento criar limites claros nos quais meu trabalho se divide entre a fotografia “em linha reta”, e um projeto ou portfólio impulsionado pela técnica digital mais expressiva. Sinto que é importante fazê-lo, porque ambos vêm de lugares diferentes. Minhas fotografias documentais ou “em linha reta” são específicas do local, mas gostaria de explorar o mundo digital de forma criativa - alterar pixels para produzir algo que a fotografia reta não pode. Mas é preciso ser claro em sua própria mente sobre sua intenção. Tem que ser discipli-nado e aceitar que, em uma ocasião, pode estar seguindo uma abordagem verdadeiramente fotográfica, e em outro momento, estar criando uma ilustração ou arte em projeto digital que utiliza o meio fotográfico como sua matéria-prima. É uma distinção importante a se fazer.

Como é trabalhar com fotografia analógi-ca e fotografia digital? As duas maneiras geram diferenças estéticas? Como um suporte pode influenciar o outro?DI: A maior diferença entre o mundo analógico e o digital é a velocidade da entrega. Janelas de visualização da câmera mostram um feedback instantâ-neo e você pode disparar centenas de imagens no espaço onde, antigamente, poderia disparar apenas dez.

Isso reduz a capacidade dos fotógrafos de cuidar do básico, para tratar cada imagem como uma tela sobre a qual sua obra-prima é criada - quando o tempo permite, é claro. OK, nem toda imagem que você tira é uma obra-prima, mas a velocidade pura de entrega digital, muitas vezes, encoraja os fotógrafos a disparar primeiro, pensar depois.

Uso o analógico e o digital, dependendo da natureza do trabalho. A tecnologia digital tem suas armadilhas. Câmeras atualmente são repletas de rodas de ro-lagem desnecessárias, modos de disparo, menus e os fabricantes, como muitos fotógrafos, tratam como se fossem mane-quins e assim embalam suas câmeras com funcionalidade Auto, como se estivessem tentando remover todas as possíveis “falhas” que podem nos frustrar, pobres fotógrafos! Às vezes, tenho que recuar para uma câmera de filme simples, que permite uma funcionalidade mais fluida e menos barreiras à utilização eficiente.

Jeremy WebbFoto: divulgação

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Vinícola Ceretto, na Itália.

Ensaio fotográfico para campanha publicitária de loja AXIS.Foto: Jomar Bragança

Foto&Ambiente

Ambientes com sombras, luz natural e ventos que dão um leve movimento a plantas e outros objetos que compõem a cena. Seja uma sala de estar, um escritório ou um quarto, Jomar Bragança faz questão de registrar cada espaço com o máximo de vida que ele oferece. É essa preocupação com a humanização e a rejeição à perfeição, que tornaram o mineiro de Itabira um dos nomes mais consagrados na área de fotografia de arquitetura e interiores.

Com quase 30 anos de carreira, Jomar já trabalhou para os prin-cipais arquitetos do Brasil e colaborou com diversas revistas, como Casa Vogue, Projeto, Arquitetura e Construção, Casa Cláudia, Arquitetura e Urbanismo, ArqDesign e a inglesa Wallpaper.

Hoje, o fotógrafo é proprietário da DPI Editora e se dedica também à fotografia autoral. No bate-papo com a equipe da Revista iDeia, Bragança fala sobre esse novo trabalho, conta um pouco sobre sua história e a boa fase que o setor de fotografia arquitetura e interiores se encontra.

por Ana Cláudia Ulhôa

Um mercadoem ascenção

Jomar Bragança

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Vinícola Ceretto, na Itália.

Revista iDeia: Quando e como você come-çou na fotografia?Jomar Bragança: Minha formação é em arquitetura, mas antes fiz cinema e já saí do curso muito interessado em fotografia. Comecei fotografando, principalmente, ar-quitetura. Com o crescimento da arquitetu-ra de interiores, passei a fotografar também interiores. Já são quase 30 anos.

Ri: Quando começou a fotografar profissio-nalmente?JB: Fiquei amigo de alguns arquitetos já formados, que começaram a me contratar. A partir daí um trabalho foi aparecendo e outros arquitetos também me contrataram. Depois teve esse boom de decoração, começaram a surgir revistas nessa área e a demanda por esse tipo de serviço passou a crescer mais do que em outras áreas.

Ri: E como está esse mercado hoje em dia?JB: Tirando os intercalços em nosso país, é um mercado crescente. A quantidade de revistas especializadas nessa área cresceu muito. Hoje, a arquitetura e, principalmen-te a decoração, despertam o interesse de muita gente. Podemos ver o número de lojas nessa área. Antes, era restrito a poucos que tinham uma situação financeira melhor. Hoje, está mais acessível.

Ri: Quais são seus principais clientes?JB: Principalmente arquitetos e algumas revis-tas. Publico um livro sobre interiores, voltado para o registro desses trabalhos. Esse livro sai de tempos em tempos e é um meio de informação muito interessante com relação ao que está se produzindo nessa área.

FOTOEAMBIENTE | Jomar Bragança

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Ensaio fotográfico dos produtos da loja AXIS.

Desfile do Minas Trend Preview com cenografia do Pedro Lázaro.

Foto

: Jom

ar B

raga

nça

Ri: Qual é o maior diferencial desse tipo de fotografia em relação às outras?JB: Acho que só o assunto é diferente. Esse tipo de fotografia, como qualquer outra, demanda experiência e conhecimento téc-nico. No caso de interiores, são questões bá-sicas para qualquer fotografia: iluminação, composição, dominar o que vai fotografar, entender o que está fotografando. Esses as-pectos são universais. Mas existem questões técnicas sobre como iluminar; tratar a luz, além das questões de espaço, volumetria e proporções. Acho que talvez sejam mais determinantes, a princípio, para a fotografia de interiores do que, por exemplo, para um fotojornalismo, uma fotografia de natureza, embora todos tenham que ter isso. Uma boa fotografia tem esses preceitos básicos. Eles têm que estar bem resolvidos para um resultado legal.

Ri: Existe um trabalho de pós-produção nessa área, como ocorre, por exemplo, com a fotografia de produto?JB: Sim, porque a pós-produção faz parte da fotografia digital. Tento minimizá-lo durante o processo de captura. Quer dizer, ele entra como um recurso e não como construção da imagem. Em alguns produtos você tem que utilizar mesmo. O processo de captura hoje ficou mais curto. Antes, gastava mais tempo fotografando e menos na pós-produ-ção. Quando fotografava com filme, tinha que resolver a fotografia naquele momento, não tinha como fazer nenhuma alteração depois. Hoje inverteu, é possível mudar a fotografia na pós-produção. Isso é até um problema para os fotógrafos. Acho que, à medida que o tratamento vai tomando

FOTOEAMBIENTE | Jomar Bragança

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Desfile do Minas Trend Preview.

Hall de um apartamento, projeto Pedro Lázaro.

Foto

: Jom

ar B

raga

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FOTOEAMBIENTE | Jomar Bragança

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FOTOEAMBIENTE | Jomar Bragança

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Residência em condomínio, projeto Luiz A. Lanza.

Arquitetura de interiores, projeto Piratininga Arquitetos.

FOTOGRAFIADOCUMENTAL | Márcio Vasconcelos

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FOTOEAMBIENTE | Jomar Bragança

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Quarto de uma residência.

Loft, projeto David Guerra.

FOTOEAMBIENTE | Jomar Bragança

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proporção e um peso maior no processo todo, o fotógrafo, enquanto o que define o olhar, vai perdendo espaço.

Ri: Como é o seu processo criativo?JB: Para fotografar arquitetura, busco informações como a incidência do sol, se existe e como é essa iluminação no local, que horário seria melhor fotografar, entre outras. Já a abordagem é muito subjetiva, é muito da empatia que você cria naque-le momento.

Ri: Que dicas daria para quem está come-çando?JB: Se formar como fotógrafo e depois procurar informações sobre essa área. Existem muitas revista e fotos sobre esse assunto. Ele pode também conversar para entender um pouco os processos.

Ri: No que você tem trabalhado atual-mente?JB: Há uns quatro ou cinco anos tenho investido muito na fotografia autoral. Tenho alguns trabalhos em galeria, alguns que tenho desenvolvido e talvez faça uma exposição este ano. Essa vertente aí tem crescido e tomado um espaço maior dentro do meu trabalho.

Ri: Qual será a temática? Tem alguma relação com o espaço urbano?JB: Não. Tem um pouco de relação com isso, mas não é ligado a esse trabalho de documentação. São trabalhos que venho desenvolvendo, ligados a uma percepção do tempo, sobre a estética do silêncio.

Jomar Bragança, fotógrafo mineiro

de ambiente e arquitetura.

Foto: Divulgação

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Exposição fotográfica Assis Horta - A Democratização do Retrato Fotográfico

através da CLT no Palácio do Planalto.

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FotografiadeProduto

Com 28 anos de carreira, o fotógrafo mineiro Daniel Mansur é hoje uma das referências no mercado de fotografia publicitária, editorial e corporativa. Além de atender as principais agências e empresas de Minas Gerais, seu trabalho já foi publicado em diversos livros e revistas, como “Através” do Inhotim, “Outros Lugares”, “Museu Observatório”, “Lições de Coisas” e “Exercício e Conversas” do Museu de Arte da Pampulha, Revista BH Convention and Visitors Bureau e na publicação da Petrobras “Velho Chico 500 anos”.

Depois de tantos projetos e experiências como fotógrafo de produto, Daniel explica como é feito esse tipo de fotografia, realiza uma análise das mudanças que ocorreram com o surgimento de novas tecnológicas e revela: “a fotografia de produto está morrendo”.

Revista iDeia: Como você começou na fotografia? Daniel Mansur: Formei-me em 1987 na PUC, em Publicidade. Minha professora, Regina Mota, foi uma de minhas incenti-vadoras, ao elogiar um de meus trabalhos finais. E isso ficou em minha cabeça. No quarto período, consegui um estágio em uma mineradora e uma de minhas funções era fotografar o dia a dia da comunicação interna. Então, fui tendo responsabilidade como fotógrafo e o estresse todinho de registrar um evento. No ambiente da escola, meus colegas e eu montamos um estúdio. Veio o Plano Cruzado e teve aquela onda de em-preendedorismo. Nesse momento, eu já estava contratado por essa mineradora. Mas, não quis nem saber, chutei o balde, montamos um laboratório no quintal da casa de minha mãe e, a partir daí, não parei mais.

Ri: Esse estúdio que vocês abriram já era o Pixel ou era outro?DM: Não, esse era o Versão Brasileira. Foi um momento muito interessante, porque

foi uma parceria com essa turma lá da PUC. O estúdio tinha um braço para vídeo e eu e o Cao Guimarães, na fotografia. O Versão Brasileira continua até hoje. É uma empresa estável, mas migrou para a parte de apoio logístico. Todo mundo está na área. Um dos sócios abriu uma produtora, o Cao virou um super cineasta, premiado mundialmente e, em 1993, abri o que hoje é o Estúdio Pixel.

Ri: Você trabalha muito com fotografia de produto. Quais são as especificidades dessa área?DM: O grande diferencial que um estúdio pode ter hoje em dia é o tratamento digital. Ele é intrínseco ao processo. Não existe mais uma fotografia de produto sem tratamento, até mesmo pela aplicação nas peças gráficas solicitadas pelo cliente. Uma coisa que está acontecendo cada vez mais é a diminuição da demanda pela fotografia de produto, por conta do 3D. Muitos clientes optam por partir logo para o 3D, porque, às vezes, o produto está em fase de desenvolvimento, princi-palmente a parte de embalagem, e o 3D

antevê tudo isso e já solta a foto paralela ao lançamento. Quando não é assim, re-cebemos um protótipo e temos que tratar as imagens.

Ri: Quando você recebe um produto, a fotografia é feita em estúdio. Como é esse processo? Quais cuidados o fotógrafo tem que ter?DM: O processo é observar bem a volumetria do produto e os detalhes do rótulo ou do acabamento, que têm que ser realçados na fotografia. Por exemplo, um frasco de perfume, muitas vezes, tem hot stamping. Então, é preciso buscar o dourado ou prateado que ele tem como efeito. Muitas vezes, esse frasco tem, ao mesmo tempo, uma superfície translúcida e um rótulo opaco e é preciso fazer duas fotos para depois fundi-las no software e conseguir o resultado ideal. No tempo do analógico, os fotógrafos eram mais exigi-dos in loco. Era preciso entregar o cromo praticamente pronto, então eram horas e horas de trabalho no set. Hoje em dia isso inverteu. O fotógrafo, acomodado com os recursos do software, gasta horas e ho-

por Ana Cláudia Ulhôa

Um setor em mudanças

Daniel Mansur

Daniel Mansur, fotógrafo mineiro no

mercado de fotografia publicitária,

editorial e corporativa.

Foto: Divulgação

FOTOGRAFIADEPRODUTO | Daniel Mansur

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ras no computador. Ele faz duas, três, quatro fotos, às vezes, e faz a fusão no computador.

Ri: Quais são os itens essenciais para fazer esse tipo de fotografia?DM: O item essencial são os difusores. Na fotografia de produto, você tem que ter bons difusores de luz. Lógico que, antes disso, você tem que ter uma boa luz. Um equipa-mento potente e um bom apoio no software, porque hoje em dia não tem mais jeito. Se falar pra algum cliente que não vai entre-gar a foto flutuando, ele nem aceita mais. Hoje, o estúdio virou um birô. Antigamente, existiam os birôs de tratamento. Atualmente, isso se fundiu e os estúdios tiveram que se adequar, a foto já sai do estúdio fotográfico tratada.

Ri: E como é essa relação com o cliente. O que eles pedem geralmente?DM: Temos a missão de retratar exatamente o que o consumidor vai encontrar nas lojas. Se for mobiliário, por exemplo, não pode-mos distorcer tons ou textura. Por isso, é uma fotografia extremamente técnica. A criativi-dade ocorre se encomenda permitir isso. Por exemplo, em uma foto de mobiliário, que é um produto 3D mais evidente, conseguimos, em um ângulo, fazer um diferencial - um ângulo mais arrojado, de baixo pra cima ou, mesmo se não for fazer a foto recortada, podemos usar uma textura. Isso já cria toda uma atmosfera de locação ou situação que o produto está inserido.

Ri: Você falou das dificuldades geradas por causa do 3D. Como vocês estão lidando com isso? Como está o mercado atualmente para a fotografia de produto?DM: Nos anos 1990, a fotografia de produto era o carro-chefe da maioria dos estúdios. Tinha muito encarte de supermercado, de sapataria, de vestuário, todos os estúdios trabalhavam intensamente. Com o digital, muitas empresas resolveram esse processo internamente, montando pequenos estúdios, fotografando de uma maneira alternativa e resolvendo os possíveis problemas no sof-tware. Se olharmos a proporção de serviço para um estúdio hoje em dia, veremos que a fotografia de produto está praticamente extinta. Eventualmente surge alguma coisa. Mas existem serviços que não têm jeito. Se o cliente for resolver internamente um look-book, ele está correndo risco. Então existe demanda ainda para lookbook, fotografia

Cerveja Backer de trigo.Foto: Daniel Mansur

FOTOGRAFIADEPRODUTO | Daniel Mansur

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para publicidade de produto. Quando a perfumaria não vai para o 3D, ela fica com os estúdios. Aqui em Belo Horizonte, principalmente. Em São Paulo, creio que diminuiu, mas ainda tem muita demanda, porque lá é muito especializado. Existem até estúdios refrigerados para fotografar sorvete. Aqui não é assim. No meu caso, por exemplo, trabalhamos muito com a indústria de calçados, perfumes e mobili-ário, mas é latente a diminuição. Inclusive a remuneração. Os custos hoje em dia estão comprimidos em função da con-corrência e do “eu faço também”. Tem muito cliente resolvendo internamente, com câmeras compactas, aí a agência assimila aquilo ali, retoca e os estúdios vão ficando meio de lado nesse processo. O que eu acho um absurdo.

Ri: Você acredita que é possível reverter isso ou não tem mais jeito?DM: É irreversível. É lógico que um bom fotógrafo vai continuar sempre tendo tra-balho, mas cada vez menos de produto. Existem situações, por exemplo, de ima-gens de móveis planejados que envolvem locação e que estão sendo resolvidos 100% em 3D. Essas coisas tendem a cres-cer. Mas, a fotografia de produto está em extinção. É lógico que vai demorar mais um tempo, temos mais uns dez anos de respiro.

Ri: E as outras áreas? Como está o merca-do de uma maneira geral para a fotogra-fia?DM: Ele está proporcional ao momento do país. Em momentos de crise, o marketing até funciona como propulsor, para tentar resolver aquilo ali, mas os grandes traba-lhos estão parados. Todas as empresas estão aguardando um pouco para ver o que vai acontecer e, paralelamente, a fotografia sente na pele essa redução. Nunca tinha visto isso, mas tem que ter otimismo.

Ri: A fotografia de produto usa muito os recursos de software. Nos conte um pouco sobre essa diferença do digital para o analógico.DM: A diferença é total. Antigamente, o fotógrafo tinha que realizar a foto pronta, não existia recurso. Olha que loucura, tem um recorte que é você deixar o produ-to flutuando. Antes, isso era feito com a tesoura mesmo. Se quisesse recortar, pegava o fotolito e recortava aquilo ali. É lógico que isso é ocorreu nos primórdios,

Banco do catálogo da marca de móveis Sava. Foto: Daniel Mansur

FOTOGRAFIADEPRODUTO | Daniel Mansur

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mas era muito bacana. A emoção de receber do laboratorista seu filme revelado e constatar se tinha tido sucesso ou não era enorme, porque tudo podia acontecer.

Até os próprios equipamentos eram mais rústicos. Existiam erros inerentes ao equipamento que só eram percebidos após a revelação. Acontecia, às vezes um problema de sincronismo ou mesmo interpreta-ção da fotometragem. Os fotógrafos que tinham um status mais avançado nessa época tinham polaroid. Confesso que não tive essa sorte. Quando comprei uma polaroid já existia o digital (risos). Mas era muito interessante. O coração disparava ao, pegar o filme e olhar contra a janela ou na mesa de luz. Não tinha coisa melhor do que ter aquele prazer de falar: Putz! Deu tudo certo! Porque era muito arriscado, principal-mente quando era um processo ensaístico.

Eu fazia banco de imagens para grandes indústrias, uma área totalmente inóspita de siderurgia ou mine-ração e tinha que ser um improviso, porque as coisas são flagrantes. Usava um equipamento de médio formato e tinha que fotometrar na mão, trocar lente. O digital é uma maravilha, você vê na hora. O estres-se desses registros flagrantes não existe mais. Hoje em dia, não tem jeito de errar, só se quiser. Você vê na hora, raciocina em função da foto, então acabou um pouco a poesia, mas entrou a magia do digital. Agora, o erro pode ser agregado como efeito e não como defeito. Antigamente, não tinha jeito, cada

clique custava dinheiro. Hoje, o experimentalismo aumentou demais. Você vê o Instagram, que coisa incrível. Apesar de não ter, vejo cada resultado de filtragem que antigamente era trabalhoso conseguir. Às vezes, fazia foto com seis filtros na frente da lente para chegar ao resultado que queria. Hoje, com quatro ações no software você faz o que levou anos e anos de experiência.

Ri: Você falou do Instagram. Como você vê essas possibilidades hoje em dia? DM: Isso é uma coisa muito preocupante, porque a mídia está mudando para o mobile. Os anúncios estão migrando para a mídia efêmera. Hoje em dia, você vai às recepções dos consultórios e está todo mundo em seu próprio celular, lendo suas próprias notícias, ninguém lê revista mais. Então se não vai imprimir, não é preciso um arquivo muito grande. Para que contratar um fotógrafo com uma câmera de 60MB se vai anunciar em uma rede social? Tem cliente, inclusive, que quer que a foto pareça não ser profissional, quer uma coisa mais rápida. Isso é outro fator que está agravando nosso mercado.

Vejo grandes fotógrafos que, praticamente, só tra-balham com celular, na área de fineart, mas daqui a pouco isso vai para os outros setores também. Por exemplo, fui fotografar um evento de entrega das casas do Minha Casa, Minha Vida e estava lá, com luz externa fotografando, assim como outro fotógrafo, com um tablet. Provavelmente, as fotos dele aten-

Qoy, marca mineira de chocolates.

Foto: Daniel Mansur

FOTOGRAFIADEPRODUTO | Daniel Mansur

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deram do mesmo jeito que as minhas, e melhor, porque estava com o cliente imediatamente. Eu tive que ir para o ho-tel, processar a foto, para depois mandar. É lógico que minha demanda não era jornalística e sim publicitária. Mas o cara estava lá com aquele tablet gigante e fazendo fotos lindas, porque os recursos e resultados desses aparelhos são impressio-nantes.

Ri: Pois é, mas não existe um diferencial?DM: Existe, mas a pessoa vai querer pagar 500 ou 50? Antes, as mídias eram defi-nitivas. As informações eram uma coisa maior, elas duravam. Hoje é efêmero. A foto vai para o Facebook e a pessoa cli-ca, curte e não quer saber mais daquilo. Enquanto estiver no mobile, as pessoas vão resolver internamente.

Antes, tinha aquela coisa, a foto ia ser reutilizada, talvez virasse um banner. Hoje em dia, o código de postura acabou com os outdoors da cidade então, estou reclamando como fotógrafo, as nossas demandas estão diminuindo. Não tem mais outdoor, os poucos painéis digitais que têm não precisam de uma super câmera para fazer. Há ainda um grande número de pessoas fotografando, é um fenômeno. E o que é mais agravante, a Canon lançou agora uma câmera 4K que filma para fazer comercial e o frame dela tem 12MB. Ou seja, a produtora vai fazer um VT com o Thiago Lacerda, vai filmar o cara lá na Orthocrin. Ele está perfeito naquela posição, com os olhos super brilhantes, e tum. Ela captura ali e pronto. Cara, eu não sei onde vai parar.

Ri: Para fechar, qual dica você daria para quem está começando? Não entre nessa área? (risos)DM: Se ela for apaixonada por foto de produto, diria para não ficar restrito a essa área, porque a demanda está diminuindo cada vez mais. Outra coisa importantíssi-ma é procurar um estúdio para virar assis-tente. Eu aprendi trabalhando e errando. Além disso, é fundamental ter uma rede de relacionamento, contatos sempre ajudam.

Poltrona Sava. Foto: Daniel Mansur

Móvel da marca Sava.Foto: Daniel Mansur

LU Z OFICIAL

2015

Templux_21x29,7_PaginaSimples_Expert_200715.indd 1 20/07/15 16:19

FOTOGRAFIADOCUMENTAL | Márcio Vasconcelos

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Foto “À Procura de Emprego”, 1951 - uma de suas imagens

mais conhecidas.

FOTOGRAFIADOCUMENTAL | Márcio Vasconcelos

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P&B

As imagens “Chuva na cidade” (1965), do fotógrafo paulista German Lorca, encarna o momento decisivo de Cartier Bresson, com uma leveza mágica, que representa sua reflexão estética dos acontecimentos cotidianos. Para ele, a fotografia aconte-ce para o fotógrafo num único instante, mas também pode ser montada. Como ocorre na imagem “Menina na Chuva”, de 1951, construída para um concurso de fotografia do Foto Cine Clube Bandeiran-te.

Com 93 anos de idade e mais de 70 como profissional, o ex-repórter fotográfico do Jornal Estado de São Paulo teve atuação decisiva na renovação fotográfica mo-derna no país. Imagens como “À procura de emprego” (1951) e “Troncos cruzados” (1955), se tornaram célebres na história da fotografia brasileira. Para muito além do modernismo, German, ao longo de sua carreira, mostrou um olhar atento às transformações da cidade de São Paulo e trouxe novas possibilidades de interação com a arte.

Em junho deste ano, Lorca realizou a ex-posição ‘Travessias’, na Galeria Millan, SP, reunindo vinte e duas fotografias produzi-das entre 1948 e 2014, contemplando sete

décadas de produção ininterrupta. O ar-tista é o único representante vivo do Foto Cine Clube Bandeirante, grupo fundado em 1939, que acompanhou o crescimen-to vertiginoso da capital paulista e trouxe uma iconografia própria para a cidade e novas possibilidades de experimen-tação. De lá saíram nomes importantes como Thomas Farkas, Geraldo de Barros, Eduardo Salvatore, Chico Albuquerque, Madalena Schwartz, José Yalenti, entre outros. “Comecei a participar de reuniões semanais, aos sábados e algumas quintas--feiras. Ali se apresentavam fotos feitas de viagens e se discutia os resultados desses trabalhos, com críticas e sugestões”, expli-ca Lorca.

Ele relata que, no Cine Clube, existiam níveis de classificação dos trabalhos, avaliados por uma comissão de membros do clube. “Participando ativamente dos concursos internos, fui melhorando meu ní-vel de resultados nas fotos apresentadas. Ser um amador era, realmente, para mim condição difícil, pois as despesas para manter esse hobby eram pesadas”, diz.

Primeira Rolleiflex O fotógrafo se formou em Ciências Contá-beis em 1940 e, com 18 anos, foi desen-

German Lorca

por Ana Cláudia Ulhôa e Pâmilla Vilas Boas

Poéticas em preto e

brancoCom mais de 70 anos de fotografia, German Lorca

fotografou o cotidiano em imagens históricas

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FOTOGRAFIADOCUMENTAL | Márcio Vasconcelos

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volvendo seu escritório de contabilidade. Com o passar do tempo, o casamento e nascimento dos filhos, Lorca sentiu ne-cessidade de registrar o crescimento das crianças. “Comprando a primeira máqui-na fotográfica de um amigo, gerente de uma loja de material e máquinas fotográ-ficas, obtive minhas primeiras orientações. Senti, nesse momento, que tinha alguma paixão pela fotografia”, revela.

Por influência do engenheiro, escritor e sertanista Manoel Rodrigues Ferreira, tio de sua esposa, German foi levado a apren-der fotografia com mais técnica. “Mas isso, naquela época, era difícil, pois não existiam escolas, somente cursos que ensi-navam técnicas de laboratório”, afirma.

No mesmo período do Foto Cine Clube Bandeirante, Lorca também fazia parte da Sociedade Geográfica Brasileira e foi convidado a fotografar a indústria mecâ-nica de um dos associados. “Fiz o trabalho com minha Rolleiflex e ganhei, em uma semana, mais do que ganhava em meu escritório contábil. Isso me fez pensar em mudar de atividade. Comecei a fazer reportagens sociais e fotos industriais, sem deixar de participar dos concursos de fotos do Cine Clube Bandeirantes. Com o passar do tempo desliguei-me do escritó-rio contábil e dediquei meu tempo como profissional de fotografia”.

Lorca começou fotografando casamen-tos e registrou a união da cantora Maysa e André Matarazzo em 1955, um dos acontecimentos mais importantes do ano em São Paulo. Ele montou um pequeno estúdio, que aos poucos foi se tornando

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1.

3. 4.

1. Foto “Chuva na cidade” de 1965.

2. Foto “Troncos cruzados” de 1955.

3. Imagem da série Geometria das

Sombras de 2014.

4. Obra “São Paulo cresce”.

5. A imagem Menina na Chuva, de 1951, foi

construída para um concurso do Cine Clube

Bandeirante.

FOTOGRAFIADOCUMENTAL | Márcio Vasconcelos

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maior, para atender a propaganda da in-dústria automobilística. Isso sem deixar de realizar exposições coletivas e individuais.

Luz e sombra“Geometria das Sombras” (2014) foi sua última série e apresenta a nova fotografia de German Lorca. Uma atenção para a relação sublime entre a geometria pro-duzida pela interação entre luz e sombra. Da primeira à última série do fotógrafo, é possível perceber seu apreço pelo cotidiano, pela força dos cenários triviais e pela poética do preto e branco.

Ainda em 2014, Lorca expôs fotos feitas em Nova York. O sonho de conhecer a ci-dade se realizou em 1966 e, desde então, ele retornou outras sete vezes para regis-trar e comprar equipamentos. Lá, produziu imagens do Empire State e do World Trade Center em diferentes ocasiões.

“Desenvolvemos o processo criativo com a observação e sentimentos do que ge-ralmente acontece no viver e passar dos anos. Não existe processo criativo, mas tão somente acontecimentos que nos dão uma emoção diferente ao observar o que surge diante de nossos olhos”, revela o fotógrafo.

Atualmente, Lorca fotografa com má-quina digital, mas ainda faz ampliações analógicas de seus trabalhos. Ele não perdeu nenhuma das fotos que fez até hoje, formando um imenso acervo de fo-tografias. “Não foi o início do modernismo, foi a liberdade de fotografar cenas que realmente acontecem e que são sempre atuais, por sua simplicidade e modéstia”, ressalta.

Retrato de German Lorca por Orlando Azevedo

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2.

5.

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Fotojornalismo

Os relatos de Evandro Teixeira sobre sua car-reira soam quase como uma aula de história. Prestes a completar 80 anos, o baiano se tornou um dos maiores nomes do fotojorna-lismo brasileiro, por ter registrado, de forma poética, alguns dos momentos que marca-ram a segunda metade do século XX. Entre eles a chegada do general Castello Branco ao Forte de Copacabana, durante o golpe de 1964; a passeata dos 100 mil e a queda do governo de Salvador Allende, no Chile.

No entanto, para mostrar seu talento e conseguir uma boa oportunidade, Evandro teve que ser bem persistente. Seu primeiro emprego foi em 1957, quando se mudou do interior da Bahia para Salvador e ingressou no Diário de Notícias. Com a ajuda de um ami-go, Teixeira arranjou uma carta de indicação e foi para o Rio de Janeiro trabalhar no Diário da Noite, do grupo Diários Associados.

Escalado para ser o “santo casamenteiro” do jornal, Evandro tinha como função sair pelas ruas do Rio e registrar os matrimônios que ocorriam naquele dia. O Diário da Noite tinha uma página dedicada a casamentos e a ordem era fazer quantos conseguisse e tivesse tempo. “Eu mesmo faria o texto e a legenda e, no dia seguinte, o Diário publica-ria”. A única recomendação que Evandro recebeu do diretor geral do grupo foi “pode ser rico, pobre, não importa, eu só não quero preto”, conta.

Logo no primeiro dia de trabalho, Teixeira deu sua primeira mancada. Ao passar pela igreja da Gávea, o fotógrafo encontrou uma alemã casando com um negro. Sem pensar duas vezes, fez vários cliques e voltou para a redação. Para tentar solucionar o problema, o laboratorista pegou o negativo e transfor-mou o noivo em um homem branco. Porém, o diretor geral descobriu e mandou chamar

o chefe da fotografia em sua sala. “Eu falei que não queria preto!” “Mas cadê o preto, senhor? “Até você quer me enganar. Pô! Olha aqui o cabelo dele. Manda esse baiano embora, é burro”, recorda.

Depois de passar um tempo desempregado, Evandro ganhou nova chance. O chefe de fotografia do Diário da Noite o convidou para clicar o baile de carnaval do Theatro Municipal. Sem conseguir chegar ao segun-do andar do prédio, onde ocorria o desfile das celebridades, Teixeira mais uma vez decepcionou. O fotógrafo só foi readmitido pela publicação quando registrou o desfile das escolas de samba com maestria e mu-dou a opinião do diretor dos Associados.

A partir daí, ele não parou mais. Em 1963 a qualidade de suas fotos o levou para o Jornal do Brasil, onde permaneceu até 2010, quan-do a publicação acabou com sua edição impressa e passou a dedicar-se apenas à versão digital.

De acordo com Evandro, não havia local melhor para se trabalhar. “O Jornal do Brasil foi o mais importante, o mais grandioso. Ele tinha Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resende, Antônio Callado, Artur Xexéo, Zuenir Ventura e grandes nomes da fotogra-fia. Enfim, o jornal era uma elite e um lugar no qual tinha plenos poderes para sugerir e fazer suas pautas. Tinha liberdade para viajar e fazer as coberturas”, ressalta.

Um dos fatos famosos que Evandro retratou pelo mundo foi o massacre da Guiana In-glesa. Em novembro de 1978, o fotojornalista foi até a cidade de Jonestown para contar, através de imagens, a história do suicídio coletivo comandado pelo americano Jim Jones no meio da selva guianense. Fundador da comunidade religiosa Templo do Povo,

Evandro Teixeira

por Ana Cláudia Ulhôa

Um olhar poético sobre a história

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Evandro Teixeira realizou trabalhos em diferentes comu-

nidades, com o objetivo de revelar a realidade, diversida-

de e beleza do Brasil. / Crédito: Evandro Teixeira

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Jones obrigou seus seguidores a tomar cianureto, alegando que aquele era o “dia do julgamento final”. De acordo com os dados da época, 913 pessoas foram mortas, entre elas mais de 270 crianças.

Dentre todas as cenas tristes que Evandro capturou com suas lentes, a que mais o marcou foi o falecimento de Pablo Neruda, em 1973. Segundo a versão oficial, o poeta chileno teria sido vítima de um câncer de próstata avançado. Mas, para o fotógrafo e alguns fãs do escritor, Neruda teria sito envenenado dentro da Clínica Santa Maria de Santiago por pessoas ligadas à ditadura de Augusto Pinochet. “Eu

diria que uma das coisas mais importantes de minha carreira foi ter sido o único foto-jornalista a ter fotografado Neruda morto no hospital. Foi um privilégio, por ter sido o único, e uma tristeza, por estar diante de um massacrado por Pinochet. Depois, no enterro, já estava todo mundo. Mas, foi emocionante ver o corpo do Neruda chegando, o exército cercando pra lá e pra cá e as pessoas declamando os poemas dele. Eu cheguei a chorar nesse dia”, lembra.

Teixeira também clicou muitos momentos felizes. Além de várias Copas do Mundo, Olimpíadas e visitas de papas ao Brasil, ele também produziu seis livros, entre eles Ca-nudos 100 anos. “Minha avó era da região

e eu passei minha infância escutando-a contar essa história (da Guerra de Canu-dos). Quando estudante, li Os Sertões e, quando jornalista, pude realizar o sonho de pesquisar e ficar lá quatro anos para fazer o livro, que publiquei em 1997, no centenário de Canudos. Lá, tive grandes momentos de alegria. Depois que publi-quei o livro, fiquei tão apaixonado pela história que todo ano, em outubro, volto lá, religiosamente”, afirma.

Para criar tantas imagens belas, o fotojor-nalista explica que não há um método. “É claro que quando vou fazer um trabalho que tem uma produção, vou imaginando, criando, tendo ideias. Mas, de um modo geral, as coisas surgem à minha frente.

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Então, acho que, nesse sentido, meu pro-cesso criativo é estar na rua, ver e sentir as coisas, ter um olhar muito especial e estar sempre com a câmera na mão”, diz.

No entanto, Evandro recorda que a prá-tica de andar pela cidade para buscar pautas é um processo que está cada vez mais distante de sua profissão. De acordo com ele, as novas tecnologias trouxeram facilidades que deixaram jornalistas e fotógrafos acomodados. “Fui cobrir os jogos da Copa do Mundo no Maracanã e fiquei ao lado de um fotógrafo da Reuters. O cara estava operando três câmeras ao mesmo tempo e mandando as fotos direto, sem olhar nenhuma imagem, sem saber o que estava fotografando. Isso não é prazeroso, você não sente a imagem que você está fazendo. Então, acho que perdeu um pouco da graça. Hoje, no jor-nal, você faz tudo por telefone. O repórter tinha que estar lá para cobrir a matéria e sentir as emoções de tristeza, alegria, daquilo que está acontecendo”, reclama.

Mesmo chateado com as modificações que sua área vem sofrendo, Teixeira afirma que jamais faria outra coisa em sua

1. Juscelino Kubitschek com sua

mãe, Júlia Kubitschek.

2. Discurso do presidente João

Goulart, no Comício da Central, a

favor da reforma agrária.

3. João de Regis, membro da

comunidade de Canudos.

4. Leonel Brizola recebendo Nelson

Mandela no Rio de Janeiro meses

depois da saída do líder sul-africano

da prisão.

5. Evandro Teixeira registrou várias

personalidades brasileiras do século

XX, entre elas Tom Jobim.

6. Enterro do poeta chileno

Pablo Neruda

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7. Visita do Papa Francisco ao Brasil no ano de 2013.

8. Militar no Estádio Nacional de Santiago, local usado como

centro de detenção, tortura e morte pela ditadura

de Pinochet, no Chile.

9. Desde o início de sua carreira, Evandro Teixeira clica os desfiles das escolas de samba e blocos de carnaval do Rio de Janeiro.

10. Cobertura da Copa do Mundo de 2014,

no Brasil.

vida. “Às vezes, as pessoas perguntam: E se você ganhasse na Loteria? Eu digo, ia ser fotógrafo mais ainda do que já sou. Iria sair com a sacola nas costas e sem destino, para fotografar o Brasil”.

O amor por sua profissão é tão grande, que até hoje con-tinua na ativa. Após sair do Jornal do Brasil, o fotojornalista passou a realizar palestras para estudantes, exposições e deu início a um livro sobre sua trajetória. Programada para ser lançada em novembro deste ano, a publicação conta com textos de Ruy Castro, Renato Lemos e um poema que Carlos Drummond de Andrade escreveu para seu colega de redação, ainda na década de 1980. Segundo o escritor, Evandro era “o único capaz de fotografar poesia”.

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Poema de Carlos Drummond de Andrade sobre Evandro Teixeira

Diante das Fotos de Evandro Teixeira“A pessoa, o lugar, o objetoestão expostos e escondidosao mesmo tempo só a luz,e dois olhos não são bastantepara captar o que se ocultano rápido florir de um gesto.

É preciso que a lente mágicaenriqueça a visão humanae do real de cada coisaum mais seco real extraiapara que penetremos fundono puro enigma das figuras.

Fotografia – é o codinomeda mais aguda percepçãoque a nós mesmos nos vai mostrandoe da evanescência de tudo,edifica uma penanência,cristal do tempo no papel.

Das luas de rua no Rioem 68, que nos restamais positivo, mais queimantedo que as fotos acusadoras,tão vivas hoje como então,a lembrar como a exorcizar?

Marcas de enchente e do despejo,o cadáver inseputável,o colchão atirado ao vento,a lodosa, podre favela,o mendigo de Nova Yorka moça em flor no Jóquei Clube,

Garrincha e Nureyev, dançade dois destinos, mães-de-santona praia-templo de Ipanema,a dama estranha de Ouro Preto,a dor da América Latina,mitos não são, pois são fotos.

Fotografia: arma de amor,de justiça e conhecimento,pelas sete partes do mundoa viajar, a surpreendera tormentosa vida do homeme a esperança a brotar das cinzas.”

Evandro Teixeira é um dos fotojornalistas mais impor-tantes do Brasil. Em mais de 50 anos de carreira, o profissional registrou fatos marcantes da história do Brasil e do mundo. Foto: Divulgação

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Atualmente, os poucos lambe-lam-bes que existem em Belo Horizonte trabalham com máquinas digitais e usam o equipamento antigo apenas para chamar a atenção dos clientes. Foto: Ana Cláudia Ulhôa

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Fotomemória

A primeira vez que Altino Thomaz entrou no Parque Municipal de Belo Horizonte/MG para trabalhar como lambe-lambe foi em 1958, quando tinha 12 anos. Ele foi levado por seu pai, que já fazia trabalhos como fotógrafo em festas infantis e viu na profissão de fotó-grafo ambulante uma ótima oportunidade para fazer dinheiro e criar sua família.

De lá até aqui, já se passaram 57 anos. O pai de Thomazinho, como é conhecido por seus clientes e colegas, criou três filhos, se aposentou e deixou o ofício nas mãos daquele que sempre o acompanhava. “Ele acha bom eu ter continuado, porque isso aqui foi a alavanca da vida dele. Tudo o que ele conseguiu foi com o trabalho de lambe-lambe. Nós somos três irmãos, uma é psicóloga, o outro é engenheiro e eu fiquei aqui”, afirma.

Segundo Abílio Águeda, doutor em Ciências Sociais pela UERJ e autor do estudo O fotógrafo lambe-lambe: guardião da memória e cronista visual de uma comu-nidade, desde o início do século XX até a década de 1960 essa atividade foi bem comum no Brasil e possuía um mercado considerável. “Uma das primeiras refe-rências sobre o surgimento desses profissionais no país são alguns anúncios publicados na revista Fon-Fon, em 1911, que divulgavam máquinas fotográficas do tipo ferrótipo. Os primeiros fotógrafos ambulantes que começaram a atuar no Brasil eram, em sua grande maioria, imigrantes, utilizando as máquinas que traziam

por Ana Cláudia Ulhôa e Pâmilla Vilas Boas

Um ofício para guardar na memória

Lambe Lambe

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de seus países de origem. A partir da década de 1930, uma geração de fotógrafos ambu-lantes brasileiros começou a predominar no cenário nacional”, explica.

Porém, na segunda metade do século XX, as coisas começaram a mudar. O desenvolvimen-to tecnológico e científico nesse período deu um salto e acabou afetando em cheio o setor de fotografia. Surgiram as primeiras máquinas analógicas portáteis e, logo depois, as câmeras digitais. Essas novidades geraram uma concor-rência cada vez maior para quem exercia o ofício de fotógrafo ambulante. “O surgimento de pequenos estúdios fotográficos nas grandes cidades, o aparecimento das cabines com má-quinas automáticas instaladas em estabeleci-mentos comerciais, e o acesso cada vez maior da população às câmeras portáteis automáti-cas de uso pessoal, foi reduzindo aos poucos a procura pelos serviços oferecidos pelos fotógra-fos lambe-lambes”, relata Águeda.

“Além das novas concorrências no campo fotográfico, mudanças nos usos sociais dos es-paços públicos nas grandes cidades a partir da década de 1980, também afetaram o ofício.

Atuando profissionalmente nas ruas, praças, largos e jardins públicos, a sensação de violên-cia e insegurança nos grandes centros urbanos do país modificou hábitos, costumes e formas de sociabilidade que se manifestavam nesses locais, questões que se refletem na procura pelos serviços dos lambe-lambes”, completa o pesquisador.

Altino viu tudo isso acontecer. Como seu pai, ele teve três filhos e, por muitos anos, conseguiu sustentar toda a sua família apenas com as fotos que fazia. Mas, com o passar do tempo, os fregueses foram se tornando escassos e ele se viu obrigado a fazer bicos de mecânico, consertando tratores em fazendas. “Diminuiu demais, porque hoje, com a tecnologia, todo mundo tira foto. Não fazemos mais fotografia para documento, e o que segurava a gente aqui durante a semana eram as fotos para do-cumento. Então, não compensa vir aqui duran-te a semana mais. Só compensa aos sábados e domingos, para tirar retrato de crianças no cavalinho, casais e família”, esclarece.

Atualmente, grande parte dos fotógrafos am-bulantes que atua no Parque Municipal de Belo

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1. Fotógrafo do Largo do Machado, Rio de Janeiro.

Foto: Arquivo Abílio Águeda.

2. Abílio Águeda é doutor em Ciências Sociais e

pesquisou o trabalho dos lambe-lambes no Brasil.

Foto: Arquivo Abílio Águeda.

3. Câmera lambe-lambe usada pelos fotógrafos do

Rio de Janeiro. Foto: Arquivo Abílio Águeda.

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Horizonte faz como Thomaz. Dos 12 que ainda restam ali, apenas cinco trabalham como lambe-lambes durante a semana.

Esse é o caso de João Pereira, que já está na profissão há 15 anos e não falta ne-nhum dia, mesmo com baixo movimento. “Domingo é mais ou menos, dia de sema-na que é devagar. O pessoal vem aqui só de passagem. Quem vai para a área hospitalar passa aqui, além das pessoas que só vêm para fazer caminhada de ma-nhã”. Mas ele garante que, independente das dificuldades, só vai parar quando morrer. “Eu realmente sou apaixonado pela fotografia”, declara.

Francisco Alves dos Reis, conhecido como Chico Manco, também tem muito amor por seu ofício. Ele lembra com carinho de quando chegou ao parque, aos 11 anos. “Tenho 52 anos de profissão. Comecei a trabalhar aqui em 1963. Era outro equipa-mento, máquina lambe-lambe, aquela antiga. Hoje em dia está modernizado e digitalizado”.

“Na lambe-lambe era tudo manual. A gente calculava tudo e tinha que saber a posição correta, por que não tinha flash, era uma caixa e um tripé. Ali a gente fazia tudo, era tipo um laboratório, já revelava o filme na caixa e fazia as cópias. E era tudo luz natural, a gente tinha que calcu-lar a luz para fazer a exposição certa. A luz de estúdio é igual, mas, a luz natural de 5 em 5 minutos, modifica. Além disso, era só preto e branco, quem queria colorido a gente coloria no pincel. Éramos verdadei-ramente artistas”, ressalta.

No entanto, quando o assunto é o futuro, Chico Manco não se mostra tão entusias-mado. “Hoje em dia, para trabalhar aqui, só quem já tem estrada e está há muito tempo, como a maioria de nós. Para quem está começando não dá não. Isso aqui já está em extinção”, lamenta. De acordo com Abílio Águeda, atual-mente a profissão de lambe-lambe é bem escassa e só se manteve em alguns locais porque, na transição do século XX para o XXI,os governos passaram a dar mais atenção para o registro das práticas culturais e para o patrimônio imaterial. O Decreto Federal nº 3.551, do ano 2000, e as regulamentações estaduais e munici-pais da legislação pertinente ao registro do

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4. Thomazinho com a câmera lambe--lambe usada por ele e o pai quando

começaram a trabalhar no parque.

5. João Pereira, fotógrafo ambulante do Parque Municipal de Belo Horizonte.

6. Fotos feitas pelos lambe-lambes do Parque Municipal de BH.

Fotos: Ana Cláudia Ulhôa

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patrimônio imaterial possibilitaram a elaboração de propostas preservacionistas do ofício do fotógrafo ambulante.

Em Belo Horizonte, o tombamento da profissão de lambe-lambe ocorreu em 2012. A cidade que pos-suía fotógrafos em vários pontos, como Praça Rui Barbosa, Praça da Estação e Praça Raul Soares, agora conta só com os profissionais que atuam no Parque Municipal.

Abílio afirma que a diminuição dos lambe-lambes em todo o Brasil é uma pena. Afinal, eles são extre-mamente importantes para a construção da me-mória social e local. “Através de suas fotografias é possível identificar mudanças e permanências em diversos aspectos da vida social cotidiana. Isso permitiu um mapeamento das transformações e estabilidades que afetam as tradições, hábi-tos, costumes, representações sociais, formas de sociabilidade, padrões de gosto, comportamento, arquitetônicos e urbanísticos das cidades, além dos diferentes usos, ocupações e apropriações do espaço público por diferentes grupos sociais”. Para o pesquisador, esses profissionais são verda-deiros “cronistas visuais e guardiões da memória”.

A origem do ofício e do nomeO doutor em Ciências Sociais pela UERJ, Abílio Águeda, explica que os primeiros fotógrafos ambulantes surgiram nas cidades europeias no ano de 1853. No início, sua atu-ação era principalmente em festas e feiras populares.

Segundo o pesquisador, o lambe-lambe apareceu de-vido ao desenvolvimento de um novo processo fotográ-fico, chamado ferrótipo. Ele consistia no uso de chapas de metal inquebráveis, com as quais era possível obter diretamente imagens em positivos. Esse recurso “bara-teou os custos da produção de fotografias e permitiu o acesso ao retrato fotográfico por grupos sociais que não podiam pagar os altos preços cobrados nos sofisti-cados estúdios fotográficos”, afirma.

Já o termo lambe-lambe foi cunhado no Brasil. Abílio conta que foram encontradas diversas versões. Mas, ao que tudo indica, esse nome foi dado ao fotógrafo am-bulante devido aos procedimentos adotados por eles na hora de fazer as fotos. “O fotógrafo lamberia com a língua tanto para acelerar os processos de revelação, de fixação e de secagem, como também para identi-ficar a textura do lado emulsionado com gelatina dos negativos, que seriam manipulados no escuro do inte-rior das máquinas”, revela.

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Foto da série “ A Memória” (1996)

FotoManipulada

A sujeira, a dobra, o amassado e o pisoteado. Foi justamente do impro-vável que a artista Patrícia Azevedo, professora da Escola de Belas Artes da UFMG, criou um de seus trabalhos mais conhecidos: “Santos Sujos: retrato do vazio (1998-2002)”. Inspirada na sujeira da política brasileira, coletava santinhos de campanhas eleitorais espalhados por Belo Hori-zonte. Com tudo reunido, ia para o laboratório trabalhar com técnicas pioneiras da fotografia. “As imagens se constroem graças aos desgastes e estragos sofridos pelos santinhos que, em contato com o papel foto-gráfico, compõem um retrato onde tudo se mistura e se esvazia, onde a face e as palavras encontram-se desfalecidas, borradas e destituídas de seu poder de representação” revela. A artista ressalta que os santinhos representaram uma grande ruptura em seu trabalho, uma vez que uniam uma técnica antiga, a presença e o espaço da cidade em um mesmo projeto. Impressas em off-set, as imagens foram reinseridas no espaço público de Belo Horizonte, em seu formato e circuito originais, como santinhos, e distribuídas pela artista e um grupo de amigos nos bairros do Centro e Savassi, bares, cinemas, ônibus, favelas e outros espaços públicos da cidade, na véspera das eleições.

Patrícia tem graduação e mestrado em Filosofia e foi se enveredando pela fotografia aos poucos. A artista não tem habilitação em artes e veio de um uso amador e apaixonado da fotografia. “Quando dei por mim estava trabalhando com fotografia, fiz vários documentários, eventos, retratos e, aos poucos, fui me enveredando em experiências próprias e fui mudando muito”, explica.

Em 1997, foi convidada a participar do evento “Arte e Cidade; a cidade e suas histórias”, curado pelo filósofo Nelson Brissac. A proposta era pro-duzir um trabalho em local desafiador: uma área industrial abandonada no centro de São Paulo. A artista então criou o projeto “Esquecimento” e explica que o desafio era recriar esse espaço através da composição de paisagens que figuram simultaneamente seu passado, pesquisado em arquivos públicos, e seu presente. Para falar do esquecimento, as mesmas imagens foram submetidas a um processo de corrosão orgâ-nica através de mofo, o que provocou uma alteração nos aspectos

por Pâmilla Vilas Boas

Fotografia e performance

Patrícia Azevedo

Uma artista, o dispositivo fotográfico e diferentes expressões performáticas e colaborativas.

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FOTOMANIPULADA | Patrícia Azevedo

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formais da fotografia e uma associação explicita à instabilidade do tempo em tudo que constitui vida, inclusive as imagens.

“Essa experiência me levou mais longe, já não me parecia bastante fazer montagens e colocar na parede de uma galeria. Foi um acontecimento transformador. A fotografia que eu vinha fazendo, que já incluía o outro, passou a incluir também algo bem real, o próprio espaço como uma pro-vocação”, explica.

Com essa proposta, Patrícia Azevedo e os artistas Murilo Godoy e Julian Germain, juntamente com jovens que vivem nas ruas de Belo Horizonte, pas-saram a fotografar juntos, com câmeras simples e filmes coloridos a rotina nas ruas e a diversida-de das paisagens urbanas. Com estratégias de criação compartilhada, o trabalho “No Olho da Rua (1995>2015>)”, se localiza não somente nas fotografias e textos produzidos, mas nos processos e relações que se estabelecem entre as pessoas, sem regras ou aulas de fotografia.

“O que constituímos ao longo de 17 anos não foi apenas um arquivo admirável a ser compar-tilhado, mas sim um modus operandi, plantando um olhar crítico sobre as relações estabelecidas. Trabalhamos um formato de documentário foto-gráfico, que subverte a estrutura, onde o sujeito (artista) captura o objeto (tema do documentá-rio). Misturamos essas figuras e lugares e não nos comportamos como caçadores, mas sim como propositores de outro esquema de produção e distribuição de bens artísticos”.

Registro da performance “What is possible” (2008) realizada em parceria com a artista inglesa Clare Charnley

Imagem da série “Santos Sujos: retrato do vazio (1998-2002)”

FOTOMANIPULADA | Patrícia Azevedo

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Patrícia explica que, ao longo do tempo, a relação com a fotografia foi se transformando entre os jovens e os artistas. “Eu me tornei mais desapegada com relação à imagem, a composição organizada e fico irritada com a estetização das imagens, me desinteres-sei pela sofisticação das câmeras, e passei a usar low tecnologia”, afirma.

Patrícia, Murilo Godoy e Julian Germain ainda desdo-braram esse trabalho em muitos outros, que tratam a fotografia de forma horizontal. O projeto foi realizado na cidade do Porto com moradores do bairro Vitória e com 90 jovens em escolas de Amsterdam, Den Haag, Zeist e Utrecht na Holanda. Já em parceria com a artista Clare Charnley (UK), Patrícia desenvolveu, entre outros, os trabalhos: “Conversation of Things (2008)”, “Leave Blank” (2009) e “What is Possible (2008)” que traduz a experiência de encontro e conversas entre duas figuras que ocupam localizações e planos dife-rentes. “Com a Clare me aventurei em outro tipo de experiência, usando a fotografia e o performar para a câmera”, explica.

Fotografia e memória“O lado de dentro, o lado de fora, e o outro lado da janela. A construção da memória se dá, muitas vezes, de forma desconexa. O retrato do filho se mistura ao retrato antigo do casal, aos quadros de paisagens e suas múltiplas temporalidades”. No trabalho “Memória (1996)”, Patrícia realizou fotocomposições de casas, construindo a imagem como memória e trazendo à tona a estética popular brasileira que se vê no interior das casas de família. O trabalho foi resultado da com-posição em laboratório de diferentes imagens para construir uma cena única. A artista ressalta que, desde esse primeiro trabalho, o processo e a performance já faziam parte da produção das imagens.

Para Patrícia, toda arte é contemporânea, já que o sujeito a experimenta no presente. Do ponto de vista tecnológico, apesar das grandes transformações

provocadas pelo digital, compartilhamos da mesma técnica do passado. As técnicas de montagem e a ideia de performar para a câmera vêm do início da fotografia, nos idos de 1850. Patrícia cita a famosa imagem “Os dois caminhos da vida” (1856) do fotógra-fo sueco Oscar Gustav Rejlander que elaborou uma fotografia usando uma montagem com 30 negativos e a performance de dezenas de pessoas. O objetivo do artista era demonstrar que a fotografia poderia ser comparada às artes “superiores”: escultura e pintura. No mesmo período, Julia Margaret Cameron (1815-1879) elaborava com os anjos em suas fotografias, em uma estética que mescla subjetividade e teatralidade. Henry Peach Robinson (1830-1901), inicialmente pintor e depois fotógrafo, construía flagrantes encenados. Como as exposições ainda eram muito longas, com cerca de 5 a 10 minutos, era impossível fotografar um flagrante.

No período conhecido como modernismo na fotogra-fia, vários artistas passaram a questionar a ideia de que, para ser considerada arte, a fotografia precisava se aproximar da pintura. Para eles, a fotografia era arte pelo próprio dispositivo, justamente o instantâneo, a potência de transformar o ordinário em algo mágico. Nesse período, os filmes também se tornaram mais rá-pidos. “Ao mesmo tempo, muitos outros artistas, como Man Ray e Geraldo de Barros, permaneceram fazendo montagens e desmontagens, paradigma construtivo que ganha corpo nas vanguardas históricas do início do século XX”, afirma.

O tratamento e a montagem eram manuais, mas sempre existiu. Atualmente, como ressalta Patrícia, as montagens estão com força total e, em especial, com o selfie. Com as ferramentas de edição nos computadores e celulares, todos são habilitados a montar e desmontar as imagens. A diferença entre o analógico e o digital, para Patrícia, está no fato de o fotógrafo ter acoplado às câmeras uma plataforma de distribuição, o que levou a uma completa transformação do ato fotográfico.

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PROJETOS | Sumisura

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Projetos

Quem passa pelo casarão da Rua Timbiras, nº 423, no Bairro Funcionários, em Belo Horizonte, e vê a fachada branca, com adornos e enormes janelas de madeira, nem imagina os espaços hi-tech que o imóvel abriga. Construída em 1915 pelo arquiteto Francisco Farinelli e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a residência está repleta de móveis com design arrojado, portas de segurança, esquadrias de elevada performance e recursos de automação. Todas instaladas ali para compor o novo showroom da Loja Sumi-sura, empresa especializada em consultoria de projetos arquitetônicos e desenvolvimento de soluções customizadas.

Antes de começar a receber clientes, a casa de 350m² passou por uma reforma que levou oito meses para ser concluída. De acordo com Pedro Paulo Duque Estrada, proprietário da Sumisura, o imóvel foi adquirido em “uma grande oportunidade no mercado imobiliário”, mas se encontrava bastante deteriorado. “Na verdade, parece que ela tinha recebido uma maquiagem de venda - estava tudo parecendo mais ou menos novo, mas quando pegamos para raspar a tinta; verificar o negócio, tivemos que refazer tudo”, conta.

por Ana Cláudia Ulhôa

Quando dois tempos se encontram

Sumisura

Loja une arquitetura do século XX e tecnologia do século XXI

PROJETOS | Sumisura

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Para comandar a restauração, Pedro con-tratou o arquiteto mineiro Gustavo Penna, que transformou a residência de oito cômodos e um anexo com cinco ambien-tes, em uma loja com homes, banheiros, cozinha, escritório e um jardim com um bar e uma área técnica, sem alterar as características principais da casa.

Duque Estrada garante que a fachada foi completamente preservada e as áreas internas sofreram pequenas mudanças, que não afetaram a volumetria da cons-trução. As molduras presentes em todo o imóvel foram mantidas e quase todas as partes de madeira foram conservadas da maneira como eram.

“As portas de passagem, marcos, aliza-res e forros de teto foram restaurados e reconstruídos em pinho de riga, que era a madeira da época. Hoje, nem tudo que você vê na casa com esse material é original. Muitos foram reconstruídos fiel-Porta Divelle no jardim

lateral da casa. Foto: Bárbara Dutra

PROJETOS | Sumisura

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mente ao desenho e perfil iniciais. A janela, por exemplo, estava com o madeirame todo bichado, então retiramos o marco com a janela da parede, mandamos para a mar-cenaria, onde fizeram uma nova com o mesmo desenho, proporção e detalhes da anterior. Fizemos isso em três ou quatro janelas e portas. O forro foi todo reconstruído. Para realizar esse trabalho, procuramos madeiras e sobras de outras casas de demolição”, conta Pedro.

Para valorizar o desenho da edifi-cação e sua ampla área externa, o empresário decidiu fazer também um projeto paisagístico. O respon-sável, Luiz Carlos Orsini, criou uma área de estar em meio às plantas, resgatando a ideia do jardim como um local de convivência. “Toda casa antiga tinha seu caraman-chão, onde as pessoas tomavam o chá da tarde, principalmente nos verões. Então, esse projeto somou--se ao arquitetônico e à nossa proposta de experiência sensorial

PROJETOS | Sumisura

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A mesa Byo Botticelli e a cadeira Nina Bianco dão um ar moderno à sala de

jantar do showroom. Foto: Bárbara Dutra

Quadro de cores no hall de entrada. Foto: Bárbara Dutra

PROJETOS | Sumisura

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de consumo em um ambiente prazeroso e acolhedor, onde ofere-cemos um serviço de chá da tarde com quitutes da culinária mineira”, lembra, Estrada.

Outro profissional integrado à equipe foi o arquiteto de interiores, Eraldo Pinheiro. De acordo com Du-que Estrada, esse é um parceiro de longa data. “Eraldo acompanha a Sumisura desde o início. Ele sempre assinou nossos projetos de interiores. Nada mais justo do que vir para uma casa maior e continuar tendo essa identidade”, diz.

Com o objetivo de dar um toque moderno à construção, Pinheiro abusou das cores e materiais. Em um mesmo ambiente ele reuniu peças de madeira, policarbonato, metal e tecido nos mais diversos tons. Proposta que se casou perfei-tamente com o clima tecnológico gerado pelos sistemas de ilumina-ção e automação disponibilizados pela Templuz e Live Automação.

PROJETOS | Sumisura

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Prateleiras com iluminação indireta na sala de jantar. Foto: Bárbara Dutra

Cabeceia iluminada e cama Byo no quarto de casal do showroom da loja Sumisura.Foto: Bárbara Dutra

PROJETOS | Sumisura

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O LED foi utilizado em quase toda a residência, que contou com uma ilumi-nação predominantemente indireta. O intuito foi o de proporcionar um clima sóbrio, caloroso, acolhedor e com foco no produto. Recursos multimídia também estão presentes nos principais cômodos da edificação. “A automa-ção teve como propósito aliar a co-municação ao conceito de produto. Então, toda a casa tem um sistema de áudio e, nos principais ambientes, temos televisores com o objetivo de comunicar vídeos institucionais das empresas que representamos. Nesses espaços, você também pode, junto ao arquiteto especificador, fazer a dis-cussão de projetos utilizando o sistema Airplay. Em qualquer sala, é possível emparelhar seu iPad com nosso mo-nitor e fazer a discussão do projeto”, destaca Pinheiro.

Mas, inserir todos esses equipamentos em uma construção histórica não foi nada fácil. Segundo Pedro, esse foi o maior desafio enfrentado. “A proposta sempre foi manter as premissas da casa tombada como patrimônio histó-rico, então é difícil inserir toda a parte tecnológica do século XXI dentro de uma casa antiga. Tivemos que refazer toda a parte elétrica, hidráulica e lumi-notécnica, além de realizar a instala-ção de ar condicionado”, esclarece.

Duque Estrada explica que, desde o momento em que decidiu mudar para um lugar mais amplo, houve o desejo de encontrar uma casa que estabe-lecesse um diálogo entre o antigo e o novo. “O negócio da Sumisura são portas de passagem, deslizantes e pi-votantes, revestimentos em vidro para piso e teto e esquadrias de exterior,

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Home 1 da loja com vetrina sem porta, painel movie e móvel baixo revestido em vidro.Foto: Bárbara Dutra

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tudo em alumínio e vidro com tecnologia italiana. Por ser um material de natureza hi-tech, procuramos estabelecer o sho-wroom em um local que proporcionasse uma discussão entre os tempos. Madeiras orgânicas, pé direito alto e adereços de decoração versus matérias-primas hi-end e ambiente criativo para os profissionais de arquitetura”.

Após a inauguração da loja, que ocorreu em junho deste ano e já recebeu a visita de diversos profissionais da área, Pedro Paulo tem como nova meta fazer a Sumi-sura crescer ainda mais. “Nosso desejo é sermos reconhecidos como uma empre-sa que tem produtos e, principalmente, serviços de qualidade para propor novas soluções”, afirma.Pedro Paulo Duque Estrada,

proprietário da Sumisura.

Foto: Divulgação

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Biblioteca com piso e janela restaurados com material e estilo idênticos ao original.

Foto: Bárbara Dutra

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Fachada da Pousada Ouro Real após a restauração. Esse imóvel já recebeu o prêmio de fachada mais bonita de Mariana. Foto: Daniel Mansur

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Conforto máximo em um espaço mínimo. Essa foi a proposta da designer de interiores, Raquel Brum, para o projeto da Pousada Ouro Real, inaugurada durante o mês de junho deste ano, na cidade de Mariana, Minas Gerais.

Adquirido em 2004 por Marisa e Altair Marchetti, o imóvel, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ficou nove anos alugado. Até que Altair, que trabalhava como engenheiro mecânico, se aposentou. A partir daí, a família decidiu transformar a residência em sua mais nova fonte de renda.

Para adaptar a construção aos padrões exigidos para uma pousa-da, os Marchetti contrataram uma equipe composta pela arquiteta Fernanda Danese, a paisagista Júnia Lobo e a designer de interiores Raquel Brum.

A restauração e adaptação de cada espaço duraram um total de dois anos. “É uma casa antiga totalmente reformada. Inclusive, teve que passar por reforços, pois existiam situações de paredes que esta-vam ameaçando desabar. Restauramos tudo, crescemos um pouco a casa e preservamos toda a história”, explica Raquel.

Os oito cômodos originais foram transformados em 15. Atualmente, o imóvel conta com uma recepção, oito apartamentos com suíte, cafe-teria, cozinha de apoio, lavabo, estar íntimo, espaço gourmet e uma área externa com sauna, spa e jardim.

por Ana Cláudia Ulhôa

No conforto de Mariana

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Área gourmet da Pousada Ouro Real.

No último andar da casa, foi criada um espaço de convivência com iluminação indireta para oferecer aos clientes um ambiente confortável e agradável.

FOTOEAMBIENTE | Jomar Bragança

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Porém, essa transformação não foi fácil. Brum lembra que não havia nenhuma suíte na edificação, existia apenas um banheiro e a lavanderia era “dessas de fundo de quintal”. Após redividir os ambientes, ainda faltaram alguns espaços importantes. “Não tínhamos tudo que uma pousada precisa-va, como o lugar para camas reservas, por exemplo. A saída foi usar o Bibox, porque o colchão reserva está sempre guardado debaixo de cada cama. Também não havia rouparia, mas fizemos um armário que dá o apoio à rouparia de cada espaço, em seu próprio ambiente. Também tivemos que criar um apoio de malas dos hóspedes”, detalha.

Outro objetivo do projeto foi preservar a história da construção, que consta nos registros do município desde 1810. Para isso, Raquel Brum manteve a fachada, as cores originais de grande parte da residência, os forros de madeira - em estilo saia e camisa - e as escadas. Em algumas paredes a tinta foi descascada para mostrar a pintura da época da construção do imóvel. O adobe também ficou aparente na parede que se encontra embaixo da escada, onde era o sótão. O lavabo conservou a capela de pedra-sabão e o muro feito pelos escra-vos. Além disso, permaneceram o anjo de pedra-sabão ao lado do lavabo, que funciona como um lavatório externo, e uma rosácea, também de pedra-sabão, que era um chafariz e hoje se encontra na área gourmet.

“Quando cheguei para começar o traba-lho, isso tudo estava separado para ir para a caçamba de lixo, já tinham tirado tudo. O anjinho, a rosácea e um poste que tem ao lado da sauna, que também é original. Aí peguei correndo e recuperei para usar na casa”, conta.

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Detalhe do spa e ]seu acabamento em madeira.

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Com o intuito de valorizar ainda mais as características de época do imóvel, Brum resolveu usar algumas peças e materiais mais modernos, criando um contraponto entre antigo e novo. Os quartos receberam armários e cabeceiras em MDF, a cafeteria ganhou cadeiras Eames de acrílico e a área gourmet foi montada com alguns toques de cores. “A casa é antiga, porém os banheiros foram restaurados. Tem banheiros novinhos, com características da história da casa com ladrilho, mas são atuais. As camas e rouparia de cama são de excelente qualidade. Eles investiram no que há de melhor para poder receber os hóspedes bem”, diz.

O projeto de iluminação, feito em parceria com a Templuz, também seguiu essa mesma linha. Na escadaria da entrada foram man-tidos uma arandela e um pendente originais do imóvel. Já nos quartos, onde o teto é de forro saia e camisa, foram usados penden-

A área gourmet recebeu um fogão à le-nha de cimento queimado para remeter à época de construção da casa.

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tes circulares coloridos. Raquel também trabalhou com trilhos e iluminação indireta para ressaltar escadas, paredes e plantas do jardim. O Led e as lâmpadas fluores-centes foram escolhidos para economizar energia e não danificar a construção histórica.

De acordo com Brum, de tudo o que foi feito na residência, o que mais deve chamar a atenção dos frequentadores é o conforto. “É uma região que quase não oferece isso. Na cidade, por exemplo, não há pousadas com tudo novo, banheiros, quartos, roupa de cama. Sem contar que os espaços ficaram muito acolhedores. A cafeteria e a área gourmet com spa, sauna e fogãozinho a lenha são muito agradáveis. Então, esses são os diferen-ciais. E, à noite, a iluminação ficou muito acolhedora, é um espaço gostoso de ficar, ele convida realmente”, afirma.

Raquel Brum, designer de interiores responsável pelo

projeto da Pousada Ouro Real.

Os quartos da pousada ganharam pro-dutos modernos e de primeira linha.

3.

Dicas

Já imaginou o que um bom Instragram pode fazer por você? Que tal flutuar no Mar Morto, andar de caiaque com golfinhos, segurar um canguru bebê ou provar comidas exôticas? O carioca de 26 anos, Paulo del Valle, fez tudo isso e um pouco mais. Depois de conquistar milhares de seguidores com fotos produzidas sem grandes pretensões, ele teve a oportunidade de tornar-se o que o mercado denomina hoje de professional instagrammer.

Segundo Paulo, tudo começou por acaso. Formado em design, del Valle começou sua carreira criando apps para smartphones e sites, mas nunca tinha tido qualquer experi-ência na área da fotografia. “Comecei a fotografar por causa do Instagram. Não era fotógrafo antes, foi o aplicativo que me despertou esse interesse”, conta.

Seu primeiro contato com a rede social de compartilhamento de fotos e vídeos foi há quatro anos. “Eu conheci o Instagram por indicação de um amigo, em janeiro de 2011, apenas três meses depois que a rede foi criada. Depois de quatro anos, e muitos se-guidores, várias oportunidades começaram a surgir e vi que era possível trabalhar com isso e torná-lo algo rentável”, explica.

por Ana Cláudia Ulhôa

As possibilidades de um bom Instagram

Instagram

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1. 2.

1. Paulo começou a ganhar destaque no Instagram ao

fotografar a sua cidade, o Rio de Janeiro.

2. Mar do Rio de Janeiro retra-tado por Paulo del Valle para o

seu Instagram.

3. Desde quando começou a usar a rede social Instagram,

Paulo teve como proposta apresentar o que há de mais

belo no Rio de Janeiro.

4. Uluru (Ayers Rock), monólito localizado no meio do deserto da Austrália que muda de cor

de acordo com a posição do sol.

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DICAS | Instagram

3.

No início, Paulo del Valle fazia registros de coisas aleatórias, seu perfil era repleto de imagens de árvores, plantas e pedras. Até que surgiu a ideia de clicar sua própria cidade. “Já que moro em um lugar lindo, comecei a usar meu iPhone para mostrar o Rio de Janeiro para todas as pessoas que me seguiam e assim fui notado”, diz.

Devido à qualidade das imagens produ-zidas pelo designer, o Instagram selecio-nou-o como um “usuário sugerido”. Dessa forma, todos que possuíam uma conta na rede social tinham acesso ao perfil do brasileiro, através da lista de sugestões que o aplicativo disponibiliza em sua área de busca.

Em apenas dois anos, Paulo conquistou mais de 200 mil seguidores, o que lhe rendeu várias propostas de empregos e viagens para os Estados Unidos, Austrália, Israel, Emirados Árabes Unidos, Canadá, Dinamarca, Inglaterra e Escócia.

“Hoje atuo como instagrammer profissio-nal, pois, graças ao número de seguidores e likes, tenho a chance de trabalhar com grandes marcas e organizações do setor de turismo, promovendo produtos e desti-nos”, revela.

De acordo com del Valle, a rotina desse tipo de profissional é quase 100% dedica-da à fotografia. “Passo parte da minha semana fotografando pelo Rio de Janeiro, seja para alimentar meu Instagram com novas fotos ou por estar trabalhando em alguma campanha. O restante, passo em casa, editando todas as fotos, escrevendo textos dos próximos posts e respondendo muitos e-mails”, esclarece.

Para quem vê a profissão de instagrammer como um sonho, Paulo del Valle afirma: “o mercado fora do Brasil já é bem grande e muitas marcas já usam instagrammers em campanhas. No Brasil, está caminhando aos poucos, mas isso deve aumentar cada vez mais”.

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Natália Boaventura, social media e consultora. Foto: Lúcio Fonseca

Paulo del Valle, professional instagrammer. Foto: Divulgação

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Se você realmente pensa em entrar para esse mercado ou gostaria apenas de dar um up em seu perfil, o desig-ner dá algumas dicas:

1. Ter um celular com uma boa câmera, que seja pelo menos de oito megapixels;

2. Ter paciência, bom senso de composição e evitar fotos contra luz;

3. Segurar o celular com firmeza para as fotos não saírem tremidas;

4. Evitar os filtros e utilizar muito dos recursos de edi-ção disponíveis, como brilho, contraste, saturação, realces, sombras, detalhe e outros. Alguns filtros do

Instagram tiram a beleza da foto e ela fica muito mais bonita se é editada manualmente, com esses recursos de edição que o próprio Instagram oferece;

5. Foco no tipo de conteúdo que quer postar - sejam paisagens, viagens, retratos, esportes ou outros. O ideal é focar naquilo que quer fotografar e manter uma frequência de boas fotos, evitando misturar a vida pessoal no meio. As pessoas vão te seguir por-que se identificam com aquilo. Se começar a postar sua vida pessoal, vai acabar perdendo seguidores, pois aquilo não interessa para algumas pessoas que não te conhecem.

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DICAS | Instagram

Além de ter belas imagens, o usuário do Instagram pre-cisa também postar textos adequados à linguagem da rede e saber aproveitar todos os recursos que ela ofere-ce. Por isso, a equipe da Revista iDeia também procurou a social media e consultora, Natália Boaventura, para dar alguns toques que podem ser importante tanto para pessoas comuns quanto para empresas:

1. As redes sociais pedem textos mais concisos, porque o conteúdo ali é consumido de forma rasa e dinâmi-ca. O ideal é que, se você quiser se aprofundar em um determinado tema, direcione seu público para um blog ou site, locais em que ele já espera um texto maior;

2. Não subestimar o poder de uma hashtag: ela faz toda diferença no grau de engajamento. De acordo com o Simply Measured, publicações com pelo menos uma hashtag obtêm 12,6% mais engajamen-to. O Instagram permite que sejam usadas até 30 por foto mas, obviamente, utilizá-las dessa forma é um grande erro. Recomenda-se a utilização de até cinco hashtags por postagem, de preferência as que sejam mais estratégicas e acrescentem alguma informação ao assunto abordado;

3. Os textos devem “conversar” com a imagem de forma criativa. O foco é a imagem, mas principal-mente o grid de fotos cuidadosamente arquitetado, que, separadas, têm um sentido, e, juntas, adquirem outro;

4. Além das imagens, não se esquecer dos vídeos. O stop motion é bem atrativo para a rede, por serem mais interessantes do ponto de vista estético e mais fáceis de o público compreender sua história no breve espaço de tempo disponível;

5. Acima de tudo, é importante conhecer seu público. A GE - General Eletric (@generaleletric), contrariando as linhas gerais de que a rede não facilita o com-partilhamento de conteúdos mais profundo, utiliza o Instagram para divulgar imagens e informações téc-nicas sobre seus produtos e serviços. E o conteúdo é muito bem aceito pelo público, que não só curte as fotos, mas comenta e participa ativamente das discussões. Não existem regras absolutas: é preciso estudar e, principalmente, testar.

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5. Akko Bahai Gar-dens, em Israel.

6. Burj Khalifa, arranha-céu de

Dubai.

7. Em suas viagens pelo mundo, Paulo

pôde clicar a ponte suspensa construída

no parque Lynn Canyon, localizado

no Canadá.

8. Grundtvigs Kirke, igre-ja localizada em Cope-

nhagen, Dinamarca.

9. Um dos trabalhos de Paulo é registrar pontos

turísticos famosos, como o Big Ben, em

Londres.

10. Em sua viagem pela Grã-Bretanha, Paulo mostrou também as

belezas naturais do lugar.

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Cristiano MascaroCristiano Mascaro (Catanduva-SP, 1944) começou sua carreira como repórter fotográfico da revista Veja. Porém, com o tempo, passou a desenvolver trabalhos autorais e se tornou fotógrafo independente. Formado em Arquitetura e Urbanismo pela USP, o eixo principal de sua obra é a arquitetura das cidades. Cristiano já ganhou três Prêmios Abril de Fotojornalismo, um Prêmio Especial Porto Seguro de Fotografia pelo conjunto de sua obra e participou, como arquiteto homenageado, da VI Bienal Internacional de Arquitetura e Design com a exposição O Brasil em X, em Y, em Z.

A imagem Chapéu Mexicano em Votorantim foi feita para o livro São Paulo (2000). Esse projeto surgiu quando Cristiano percebeu que seu estado não tinha uma publicação que o retratasse. Dessa forma, decidiu viajar um por ano e clicar as cidades e a vida cotidiana das pessoas. De acordo com Mascaro, na época, ele “ain-da trabalhava com uma excelente câmera Leica R6 e, enroladinho lá dentro, o insuperável filme Tri-X”.

“Tirar fotos é prender a respiração quando todas as faculdades convergem para a realidade fugaz. É organizar rigorosamente as formas visuais percebidas, para expressar o seu significado. É pôr numa mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração”.

Como lembra o fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson, a fotografia é mais do que um registro que se dá através de reações químicas. Fazer uma foto envolve raciocínio, sen-sibilidade e emoção. Pensando nisso, a equipe da Revista iDeia selecionou sete traba-lhos que traduzem, para leitor, o que é a arte de fotografar.

Fotos destaque

por Ana Cláudia Ulhôa e Pâmilla Vilas Boas

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Roberto LinskerRoberto Linsker (São Paulo, 1964) se formou em Geologia pela USP no ano de 1986, mas preferiu seguir o ca-minho da fotografia. Em 1987, iniciou seus primeiros trabalhos profissionais. Ao longo de sua carreira, colabo-rou com diversos veículos, como Folha de São Paulo, Folha da Tarde, Bravo, Marie Claire, Vogue e National Geographic Brasil. Entre as condecorações recebidas estão o Prêmio Senac de Jornalismo Ambiental, Prêmio Abril de Jornalismo e Prêmio Picture of the Year 2002. Roberto também é autor das coleções Brasil Aventura, Cuidados pela Vida, Tempos do Brasil, Fotógrafos Viajantes e Mar de Homens. Foi dessa última que nasceu a imagem O Curral de pesca de Bitupitá. Segundo o fotógrafo, ela foi feita em Bitupitá, a última praia do Ceará, e a ideia foi registrar a pesca artesanal da região, que é feita através da montagem de currais na água em épocas específicas do ano. “A primeira vez que tive contato com homens que entravam com suas canoas no mar e voltavam com seu sustento, fiquei muito admirado. Nós, na cidade grande, fazemos parte da engrenagem e têm pessoas que são um motor inteiro, fazem tudo. Nessa contemporaneidade, você não conhece mais esse processo, então quando encontra alguém autossuficiente, é uma coisa muito surpreen-dente. Meu trabalho está baseado no encantamento, no que me chama a atenção”, afirma o fotógrafo.

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Sergio Carbajo RodriguezViajar e conhecer pessoas são as grandes paixões do fotógrafo espanhol Sergio Carbajo (1981). Ele vive em La Garriga, Barcelona, é engenheiro de computação e trabalha como consultor e programador, combi-nando o trabalho com sua paixão por fotografia. Autodidata, sua imersão na fotografia ocorreu quando começou a viajar e experimentar diferentes culturas. Ele visitou vários países da Ásia e África, sendo a Índia o local mais visitado.

Em 2014, o fotógrafo se destacou em competições internacionais. Conquistou o primeiro lugar no Smithsonian Photocontest; foi finalista na secção Travel do Sony World Foto Awards e no concurso Journey to Ceilão, que lhe deu oportunidade de voltar ao Sri Lanka.

A obra Portrait of Suri tribe members foi fotografada em uma vila próxima de Kibish, na Etiópia. Trata-se de um portrait de um menino Suri saindo com seu pai para cuidar do gado. A foto ficou em primeiro lugar no con-curso Smithsonian Photocontest, realizado pelo instituto Smithsonian, cuja sede principal fica em Washington. A obra concorreu com mais de 50 mil fotografias.

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Nick NGPara Nick, a fotografia é uma extensão de sua infância interior, das lembranças de seu avô, um ourives, em uma área mal iluminada na Malásia. Foi a partir dessas memórias que Nick passou a buscar joias escondidas em suas viagens e a explorar lugares ocultos e áreas remotas. Nick nasceu na Malásia e comprou sua primei-ra câmera em 2008. Desde então, conquistou diversos prêmios como o Sony World Photography Award 2015, B&W Child Photo Competition; foi considerado o fotógrafo de viagens do ano pela TPOTY 2014, dentre outros. Atualmente, é o organizador da Royal Photographic Society da Grã-Bretanha (seção Malásia). A obra foi um dos destaques do Sony World Photography Award 2015, o maior concurso de fotografia do mundo, que recebeu, este ano, um total de 183.737 imagens.

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Kris WilliamsKris é um fotógrafo de paisagem que vive na ilha de Anglesey, localizada na extremidade noroeste do País de Gales. O fotógrafo aproveitou as múltiplas paisagens da ilha para mostrar as diferentes condições dra-máticas do local. Kris é reconhecido internacionalmente por seu trabalho em fotografia noturna e paisagens marinhas, e participa de uma variedade de publicações nacionais e internacionais. Ele foi pré-selecionado em prêmios como o Royal Observatory Greenwich Astronomy Photographer of the Year e o Outdoor Photo-grapher of the Year.

Suas obras sobre eventos meteorológicos, como a Aurora de North Wales, têm inspirado muitas pessoas a apreciar o céu noturno do lugar. Kris também leciona fotografia na ilha e em visitas guiadas pela Islândia.

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Berta TilmantaiteBerta Tilmantaite é uma jornalista multimídia da Lituânia e atualmente está percorrendo a América do Sul. Ela obteve seu mestrado em jornalismo internacional multimídia na Universidade de Bolton / Beijing, depois de se formar na Universidade de Vilnius, na Lituânia. Berta publicou o livro Azija be sienų, em cooperação com Paulius Mačiulevičius e Andrius Jančiauskas, em uma viagem de jornalismo e fotografia. Foi a vencedora do Sony World Photography Awards, prêmio nacional do Reino Unido em 2015 e considerada, também este ano, como uma das 30 fotógrafas mais importantes pelo PhotoBoite.com. Foi também a vencedora do Lithua-nian Press Photography 2014, com a foto história The Ice Road, dentre muitos outros prêmios. A obra retrata uma família almoçando num bote em Myanmar, no sul da Ásia. Berta acompanhou a viagem, que durou 24 horas. E, durante o percurso de três semanas pelo país, ela produziu o vídeo the handful of Myanmar.

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Cris BierrenbachCris Bierrenbach (São Paulo, 1964) é graduada em Cinema pela USP e trabalha atualmente desenvolvendo trabalhos autorais e foto-ilustrações para a coluna quinzenal da jornalista Eliana Cardoso no jornal Valor Eco-nômico. No início de sua carreira, atuou como fotógrafa da Folha de São Paulo e Revista da Folha. Depois, se tornou editora de imagem e fotógrafa do projeto gráfico da revista República. Também foi colaboradora em veículos como Elle, MarieClaire, Veja, Claudia Criativa, Vogue, Capricho, Interview, Bizz, Carta Capital, Jornal da Tarde, Jovem Pan, Universo Online, BOL, MTV, entre outros.

A obra Sem Título (Cílios) foi feita em 2008 e passou por várias cidades do Brasil com a exposição Coleção Itaú de Fotografia Brasileira. Cris Bierrenbach conta que nunca conseguiu pensar na fotografia de forma seriada, por isso essa e outras imagens foram feitas de forma solta. Ela conta ainda que o tema cabelo foi es-colhido porque “considero como uma de minhas pequenas obsessões, que descobri ter ao longo dos anos. Já tinha começado a fazer trabalhos assim há muito tempo. Sempre toco nesse assunto, fico um tempo sem fazer, depois retomo. Essa veio nessa sequência”, explica.