jornal papiro - no bar do chaguinha

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p a p i r o * EDIÇÃO TRAZ 7 NOMES entrevistados pelos alunos em Fortaleza * CONFIRA Versões ampliadas no Blog Fato: www.agenciafatofa7. wordpress.com CHAGUINHA No Bar do * UM DOS SETE ENTREVISTADOS DO PAPIRO Arte Válber/ Foto Iago Alencar

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Entrevistas: no bar do Chaguinha

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Page 1: Jornal Papiro - No bar do Chaguinha

papi ro * EDIÇÃO TRAZ 7 NOMES entrevistados pelos alunos em Fortaleza

* CONFIRAVersões ampliadas no Blog Fato: www.agenciafatofa7.wordpress.com

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* UM DOS SETE ENTREVISTADOS DO PAPIRO

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*EDITORIAL

Waldonys: papi ro2

A disciplina Práticas de Jornalismo Impresso 1 realiza desde 2008

entrevistas baseadas no método ¨diálogo possível¨, adotando o debate de temas a partir de trajetórias de vida. Em 2011, as turmas trabalharam com os temas comunicação, no turno manhã, e artes, na turma da noite. Para o tema comunicação foram entrevistados o radialista Almino Menezes e comentarista esportivo Wilton Bezerra. Para o tema artes foram entrevistados o roteirista Thiago Daniel, o músico Waldonys e o ator e diretor teatral Silvero Pereira.

Assim como nos semestre anteriores – publicação em www.agenciafatofa7.edu.br - Cada entrevista contou com equipe de produção específica, tratando cada uma, após escolha dentro do tema, de pauta, produção, captação, transcrição e edição, mediante supervisão do professor Danilo Patrício, responsável pela disciplina. Confiram. Boa leitura!

Papiro especial apresenta entrevistas com histórias de vida

SANFONEIRO, CANTOR, COMPOSITOR, EMPRESÁRIO, AVIADOR. ENTRE TANTOS TALENTOS, UMA OUTRA FACE GANHA DESTAQUE, A DE CONTADOR DE CAUSOS. O MÚSICO ABRIU AS PORTAS DE SEU ESTÚDIO E RECEBEU A NOSSA EQUIPE PARA NOS FALAR SOBRE A TRAJETÓRIA E A CARREIRA.

O contador de causos

Mávio - A descoberta de tocar sanfona e a descoberta da música foi mais uma coisa intuitiva de criança, brincando, ou naquela época você já tinha noção que era esse caminho que queria seguir?Waldonys - A música é um dom divino, que vem lá de cima, às vezes você encontra pessoas autodidatas, que nunca frequen-taram um conservatório e que é um musi-co espetacular. Eu vivia entre sanfoneiros, por conta do pai (Seu Eurides), que toca e tal. Então assim, eu comecei por conta de um grupo que meu pai tinha e ele ensaiava todos os dias, era um grupo de brincadei-ra.

Yara - Waldonys, na sua adolescência ti-nha mais o movimento do rock. Como foi esse teu diferencial, porque um menino que gostava de forró, logo nessa época que era o auge do rock?Waldonys - Eu era um extraterrestre. Nas festas do colégio as pessoas me chama-vam. Mas assim, não era normal, por isso que tem a história do Seu Luiz Gonzaga, sobre extinção do forró. Porque era brega! “Que é isso! Você vai tocar forró, sanfona!” Os meus primos e o pessoal do colégio di-zia: xiii esse cara num tá com nada. “Vai tocar guitarra, Paralamas do Sucesso, ou qualquer coisa.”

Mávio - Daí você foi pro Conservatório (de Música). Você conheceu seu Luiz Gonzaga antes de se aperfeiçoar, adquirir mais téc-nica, quando foi o encontro e como é que foi esse encontro com Luiz Gonzaga? Waldonys - Seu Luiz (Gonzaga) me co-

nheceu por conta do Dominguinhos. Ele teve a informação por Dominguinhos, que me conheceu em Mossoró, mas só me conheceu como gente, mas como músico ele veio me conhecer aqui em Fortaleza, tocando. Seu Luiz veio, em uma passagem aqui em Fortaleza, veio aqui em casa. Foi quando eu toquei para ele. Pouco tempo depois ele veio de novo e eu ganhei a sanfona.

Yara - A Dona Joana (mãe de Waldonys) nos falou que você era um “menino de sorte”. Você disse que teve conta-to com Dominguinhos e pensava que ia ser difícil, mas na verdade não foi mui-to. Você acha que hoje é mais difícil esse contato, para as pessoas que estão começando? Waldonys - Hoje estamos em outros tempos. Para o cara começar hoje ele vai ter dificuldade, porque você tem sempre um sonho né, seja de montar uma ban-da ou ser artista, ser famoso. Mas até tu provar para todo mundo, até tu conse-guir juntar um público teu, isso leva tanto tempo, que vocês não têm ideia. O sonho quando vai virando realidade, fica mais di-fícil de ser encarado.Lylla - Você teve muita influência de Domin-guinhos, Luiz Gonzaga, mas quando você começou, esbarrou com alguém por inveja ou por não dar oportunidade para novos artistas, que não queriam te ajudar?Waldonys - Sempre tem né. Mas esse tipo de gente age muito por trás. É o velho” tapinha nas costas”. Ai você tira de letra. Porque existe um outro lado da moeda

Waldonys: capacete e sanfona na vida.

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* EXPEDIENTE

Pesquisa - Yara Barreto, Mávio Braga, Jefferson Oliveira, Lyla Lima

Produção - Yara Barreto, Mávio Braga, Jefferson Oliveira, Lyla Lima

Pré-entrevista - Yara Barreto, Mávio Braga

Captação - Yara Barreto, Mávio Braga, Jefferson Oliveira, Lyla Lima

Transcrição - Yara Barreto, Jefferson Oliveira, Lyla Lima

Edição - Lylla Lima, Yara Barreto, Mávio Braga, Jefferson Oliveira

Revisâo: Danilo Patrício

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também. Quando você vem com padri-nhos como Luiz Gonzaga e Dominguinhos facilita e dificulta. Porque tudo que você conseguir, aonde você conseguir chegar, ainda vai ter alguém falando assim:mas também... Não é porque você tem talento, é porque você é afilhado ou porque é filho de num sei quem.

Yara – Quando você viajou pela primeira vez para o exterior, você sofreu algum pre-conceito por ser brasileiro e nordestino lá? Waldonys – Por incrível que pareça isso acontece e rola muito mais por aqui. Quan-do eu entrei no grupo da Marisa Monte. Tudo carioca. Aí eu cheguei e fui caindo na graça deles. E o que é que aconteceu: A Marisa começou a abrir muito pra mim, sabe? E isso também foi uma “arte” dana-da. E por que a Marisa tá dando crédito pra esse cara aí? Aí eu tinha que...

Mávio – Ter jogo de cintura...Waldonys – Total cara. Tiveram alguns shows aqui no Brasil que ela saía do pal-co e me deixava. ´Oh, agora eu vou tomar uma aguazinha aqui e o Waldonys vai...´ (lembra Marisa falando) Aí eu: pá. (Ela) Le-vantava a bola e eu chutava. E os caras me acompanhando pô... Eu disse “cara isso vai ficar complicado. Tem uma hora que es-ses caras vão dizer ‘peraí. Nós estamos sendo pagos pra acompanhar a Marisa.”

Yara – Eu vi uma entrevista do Fagner e ele disse uma vez que a Elis Regina, pode--se dizer, é a madrinha dele, que ela ajudou muito na carreira. A Marisa Monte pode--se dizer isso também ou...Waldonys – Não tenha dúvida. Eu devo muito a ela. Tenho uma gratidão muito grande por ela. Nós nos demos muito bem.

Jefferson – Sobre a questão do canto foi Fagner que incentivou, deu esse incentivo pra cantar?Waldonys – Não, foi Luis Gonzaga que, vi-sionário como era, vislumbrando já a histó-ria da música instrumental que não tem o seu espaço merecido, pegou e disse com essas palavras: ‘É bom você começar a cantar, porque se não você vai morrer de fome’.Lylla – E a questão de adaptar a maneira de cantar? Porque você fala que foi apren-dendo a cantar no estúdio, né? Ouvindo a sua voz, ouvindo demo.Waldonys – Tu tava lá também é?(risos). É isso mesmo. Eu fiz impostação de voz.

Estudei com uns professores aqui, mas não desmerecendo todos os professores, o que me ajudou muito foi o estúdio, foi o computador. No apartamento eu tenho um estúdio e isso me ajudou muito. Por-que eu comecei a ver com uma fonoaudi-óloga também o meu ouvido, onde é que a minha voz se encaixa melhor.

Jefferson – O seu repertório: “Quem não dança, dança”( 1º CD,1993), ‘Aprendi com o rei’( 4º CD/2001) e outros dos seus álbuns, se percebe que é um reper-tório rebuscado. Qual o processo que você faz de selecionar?Waldonys – Eu recebo muitas músicas. Hoje nós temos muito compositores e muita música. E você também tem que ter muito cuidado porque os compositores querem te enganar. Enganar no sentido que a música é um plágio. Então é um tra-balho muito difícil, que eu pego as músi-cas e vou ouvindo e vendo como é que é, o que se encaixa melhor comigo. Porque tem que se encaixar. Por que tem música bonita e tal, mas num casa com a pessoa.

Mávio - Agora recentemente você lançou uma música em homenagem a Fortaleza, que mostra um pouco dessa sua paixão pela cidade e da escolha de viver e morar aqui, de repente ir pra outro estado, que te desse mais oportunidade. Fala um pou-co sobre isso?Waldonys – Eu gravei e é “A mais bela”. E tiveram algumas pessoas que disseram assim “aí num sei que, porque tá falando da Fortaleza bela”. Num tem nada a ver, não é jingle político. Eu viajei muito. Fique um tempo em São Paulo, morei nos Es-tados Unidos e gosto demais de avião e gosto demais de Fortaleza. Então deu um casamento perfeito. Porque o avião me leva a todo lugar rapidinho e eu não pre-ciso, como antigamente, você tinha que morar no eixo Rio-São Paulo. Era um mal necessário. Fico, viajo, faço temporadas, mas sair de Fortaleza me agrada não.

Yara – Sobre a gravação do clipe com a esquadrilha da fumaça, foi ideia sua? Waldonys – Foi total! (risos). A mãe, a família não sabia. Eu disse: rapaz eu te-

nho uma música que eu gravei, fiz uma roupagem nova. Mostrei o áudio. “Cara, é meu sonho um videoclipe com vocês” e quando eles viram disse “Waldonys, que massa, só que a esquadrilha não é nossa, a esquadrilha é da Força Aérea. A ordem tem que vir lá do pessoal de Brasília, auto escalão”. Mas conseguimos. Tome grava-ção e fazendo as manobras. E foi mais de uma semana tocando e voando, tocando e voando, repete a manobra que o céu não tava muito não sei o que, o foco.

Lylla - Sobre a sua saúde, a sanfona, sabemos que ela é pesada e o Luiz Gon-zaga teve problemas de saúde. Quais são as medidas que você toma, se você cuida da sua saúde. Já está sentindo alguns sintomas?Waldonys - Sinto, eu sempre sinto. No São João então, o bicho pega. Nos últimos três meses estou cuidando um pouquinho em praticar atividade física, porque eu não fa-zia nada. E eu vou completar 40 anos, e só jogava porrinha. Mas, respondendo, a coluna sente e sofre. Não tem jeito, você vai ter problemas e eu sou acompanhado por um dos melhores médicos daqui. Ele disse que hérnia de disco todo mundo vai ter, mas que cirurgia é o último caso.

Yara - Sobre os incentivos do Governo, porque se tem vários projetos, o “Férias no Ceará” é um deles. Você pode falar um pouco sobre isso?Waldonys - Os caras bolam um projeto, “Fé-rias no Ceará”. Trazem Skank, Paralamas do Sucesso, Biquíni Cavadão, que eu não tenho nada contra, são inclusive meus amigos al-guns deles, mas junto a isso, poderiam fazer um festival forró, pop rock e tal, e colocar gente daqui também. Porque acho legal que valoriza. Porque os turistas vêm para cá, eles

querem ver a cultura daqui.

Mávio - Na nossa pesquisa, a gente aca-bou descobrindo uma coisa, que muita gente não conhece. Seu lado mágico.Yara - Tem outro lado também, a fama de namorador.Waldonys - Eu? (gargalhada) É que eu ti-nha uma coleção de aliança. Era uma por-rada! Pois é né, a mágica, é o seguinte. O meu avô gostava muito de fazer mágica nos aniversários. Era o show de mágicas do Vovô. Então, eu acho que eu herdei isso dele. Eu comecei a ver e comecei a me encantar, pelo ilusionismo. Mas assim, eu brinco de mágica com os meninos e gosto mais de mágica de salão.

Lylla- Você já pensou em colocar essa má-gica em algum show?Waldonys - É boa dica. E acho que no próximo DVD né? Colocar alguma coisa. Porque tem a ver. Porque tem a ver comigo.

Yara - Falando em teatro. Porque você es-colheu o Teatro José de Alencar para ser o palco do seu DVD?Waldonys - O teatro José de Alencar é a maior casa de cultura do estado do Ceará. Então porque gravar no teatro? As pes-soas iriam ficar sentadas. Pô, mas forró? No teatro? Mas eu pensei: o forró que eu faço, é um forró mais cultural. Vem des-sa escola Gonzaguiana, eu tenho um lado músico, instrumentista. E as pessoas sen-tadas fica um coisa mais formal. Porque, eles estão ali para te ver, e não para be-ber, dançar, paquerar.

“O SONHO quando vai virando realidade, fica mais difícil de ser encarado”.

“FOI LUÍS GONZAGA, que, visionário como eravislumbrando já a história da música instrumental disse: ‘É bom você começar a cantar, porque se não você vai morrer de fome’.

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Com simplicidade e bom humor. Foi assim que Wilton Bezerra, radialis-tas e comentarista esportivo dos

mais renomados do Ceará, nos recebeu em seu apartamento para um bate papo descontraído sobre carreira, rádio e seu assunto preferido: Futebol.

Construiu cedo sua carreira, iniciada com apenas 16 anos, e hoje, com 62 anos e muita bagagem, tanto no rádio como na TV. Foi contratado pelo Sistema Verdes Mares para participar de um programa esportivo, a Grande Jogada, ao lado de outros comentaristas de Fortaleza. Quan-do perguntamos se esse reconhecimento não veio tarde de mais, ele responde que aconteceu na hora. Leitor de Oscar Wilde, recorre ao escritor para lembrar que “a cada bela impressão que deixamos, con-quistamos um inimigo”.

Wilton Bezerra, além do profissional, do comentarista esportivo, é um grande pai e avô. Um amigo que ainda frequenta com certa disposição os jogos estaduais. Fã de Nelson Rodrigues e um “contador de estória”, segundo o radialista Messias Alencar, que com ele trabalhou.

Gabriela - Em 1958, tem uma memória muito importante que lembra sua infân-cia?Wilton - Foi o acompanhamento da Copa do Mundo, que o Brasil consagrou-se campeão mundial pela primeira vez. Foi a geração de Garrincha, Didi, Vavá, Pelé, Zagalo, Nilton Santos. Essa Copa, ela des-pertou para a meninada e para a geração nova o interesse por duas coisas: futebol e rádio. No meu caso, futebol e rádio en-travam paralelamente um ao lado do ou-tro. E aí foi o pontapé. A gente continuou se aprimorando, escutando rádio, vendo como era que se fazia, até entrar nele profissionalmente.Gabriela - Como é a diferença de fazer rádio antigamente pra hoje?Wilton - Uma enorme diferença em termos de condições técnicas, tecnologicamente

Wilton Bezerra

rádio porque o rádio tem essa vantagem sobre a televisão. Ele prepara melhor o profissional. O profissional que começa hoje na televisão tem todo o tipo de am-paro. A visão. Rádio num tem nem minuto de silêncio. Se você parar de falar sai do ar. Rádio é você e você, é a sua voz, é a sua conversa, é seu improviso, é sua cria-tividade. Dentro do estúdio de rádio você não tá vendo nada, tá vendo paisagem ne-nhuma. E você cria no imaginário do pes-

falando, é uma diferença abissal. Naque-la época já se tinha gravadores, mas não se tinha muitos recursos. Os programas ao vivo, as novelas, que eram raras, elas tinham que ser gravadas na hora. Não ti-nha aquela estrutura. A televisão também passou por isso. A TV Ceará aqui (em For-taleza) foi pioneira, de todas as suas pro-duções, programas de humor, novela ou ‘o contador de história’, todos eram feitos ao vivo, correndo o risco de errar. E não tinha negócio de ‘pára’, como hoje: ‘come-ça de novo’, lá não tinha. Era uma coisa realmente muito difícil. Já hoje você grava tudo, você faz e refaz, tem o computador. Era uma coisa muito difícil pelo recurso. O gravador era arcaico, grande, de rolo, uma fita de rolo, que era usado pra trans-missões esportivas. Era usado, pra gravar comercial, gravar programação da rádio. Muito poderoso esse gravador, mas era tudo muito na criatividade mesmo, muito diferente de hoje.

Lara: O Senhor considera o profissional de antes mais capacitado do que o de hoje, principalmente por antes ele passar por várias etapas e hoje ele ser mais segmen-tado?Wilton - Hoje as facilidades são maiores por causa da informação. A informação hoje abunda, os meios são os mais va-riados possíveis. Mas eu acho essencial dizer que o que alimentou a televisão, e todo mundo sabe disso, foi o rádio. Quem forneceu os artistas, os locutores, os ro-teiristas, os operadores para a televisão foi o rádio, o essencial da informação radiofônica. Ele foi fundamental e ainda hoje. Grandes comunicadores vieram do

O comentarista que joga com a verdade”Fo

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soal uma festa como tinha no programa Varadão da Fazenda, um programa de forró do interior. Ele criava aquele papo como se tivesse conversando com vá-rias pessoas. Por isso que eu acho que a passagem pelo rádio foi essencial para a formação de grandes profissionais. Prova que, na televisão de hoje: Edilmar Norões, veio do rádio, um dos grandes nomes da televisão cearense, um dos fundadores da TV Ceará, que foi o João Ramos, tam-bém veio do rádio. Wilson Machado veio do rádio. E muitos.

João - Nós vimos em uma entrevista que o senhor concedeu, que compartilhou um momento com um ex-atacante da seleção de 1958, o Mazola. Queria saber qual foi a reação que o senhor teve de dividir a mesa de transmissões com ele, já que era o seu começo, a sua ascensão no rádio esportivo, e porque desde criança você já se declarava fã do Mazola, segundo a en-trevista.Wilton - Não, há um equívoco. Eu inclusi-ve falei com o rapaz que fez essa matéria. Isso não foi desse jeito. Como eu podia ser fã do Mazola se nunca o vi jogar? Ele per-guntou sobre a copa e falou ‘eu vi na tele-visão que o senhor disse que ouviu o Bra-sil ganhar da Áustria por 3x0, Mazola fez dois gols’. Eu disse ‘pois é, rapaz, Nilton Santos fez um gol e Mazola fez dois.’ Eu não conhecia Mazola e nem acompanha-va direito futebol. Depois, Garrincha, Didi, Vavá, Pelé, Zagalo ficaram nomes familia-res a todo brasileiro. Na copa de 1986, na México, no jogo do Itália, a gente fazia uma pré-jornada. Alguns jogos tinham muita significação. Os jogos principais do Brasil, a gente fazia uma pré-jornada, entrevista-va, gravava e botava, antes do jogo e no jogo principal botava quem era o dono da rede, que pagava o dinheiro maior, que era a Tupi de São Paulo e outros. No local da imprensa pra jornal, televisão, rádio, tinha um local especial. Tinha internet, você ti-nha comunicação, tinha cabo, você tinha monitor na sua frente. Se fosse transmi-tido pro rádio você já tinha tudo pronto na sua frente, era só pegar o microfone. Era toda uma estrutura. Então em 1986 eu fui pra copa. Coisa que em 1958 parecia algo inatingível ir pra fora do país a uma copa. A gente fica até pensando que é mentira. Então aí, em 1986, eu ia sempre para um local onde ficavam João Ubaldo Ribeiro, escritor, Luiz Fernando Veríssi-mo, que comentava, Armando Noguei-ra. Ficava ouvindo eles trocando idéia. E eu tava sentado lá quando de repente

chegou o (jogador português) Eusébio, uns dos grandes jogadores de todos os tempos. Sentou lá e chegou transmitin-do para uma emissora italiana, o Mazola, que nessa época já era colunista esporti-vo na Itália e era muito considerado.

João - Nós notamos pelas informações, que o senhor tinha relatado que o amor da camisa dos jogadores se perdeu no decor-rer desse tempo. Eu queria saber se tem algum jogador na atualidade que o senhor encontra esse referencial de paixão pelo esporte, não só pelo mercantilismo, que existe nesse mundo futebolístico.Wilton - Olhe, esse futebol em que os atle-tas tinham laços de apreço, amizade e vín-culos fortes com os clubes, acabou. Ainda há remanescentes, caras que pararam de jogar: Roberto Dinamite, Zico. Esse pesso-al é desse tempo, em que havia uma afi-nidade entre os profissionais e os clubes. Não era época dos grandes contratos, o futebol não havia sido mercantilizado. Essa fase chamada de romântica desapareceu, porque foi galopante a mercantilização do futebol. Os negócios no futebol subiram de tal maneira que hoje o futebol é um negócio milionário. A FIFA é um dos maio-res negócios do mundo, financeiramente falando. Mesmo que haja algum gesto de beijar escudo, que é uma hipocrisia, que é uma cretinice. O futebol evoluiu no mundo, empresarialmente, no reino do entreteni-mento passou a ser espetáculo, cada vez mais os estádios são estúdios de televisão, e nós estamos caminhando agora para o futebol de torcida virtual. Os estádios dimi-nuindo suas capacidades. Ao número que diminui, aumenta o preço do ingresso. Nos últimos tempos nós acompanhamos que o jogador não tem nem desejo de defender a seleção do seu país. Hoje o negócio deve tá ruim porque eles tão vendendo gato por lebre: jogadores sem a menor condição fí-sica, uns verdadeiros pneus velhos, já com um tempo de uso, e vendendo a um públi-co que compra tudo. É a força da grana.

Lara - Essa discussão remete também há outra polêmica, que é aquela do ‘Clube dos 13’, da questão das negociações das emissoras com os clubes, e a gente que-ria saber a tua opinião acerca disso.Wilton - Olha, há uma dificuldade muito grande pra saber quem tem razão nisso, não é? Porque a formação do Clube dos 13 é tudo que a CBF não gostaria de en-frentar. A CBF, ela tem verdadeiro pavor quando os times falam numa liga inde-pendente porque assim tirariam poderes

* EXPEDIENTE

Captação: Dayanne Feitosa, Gabriela Farias, João Bosco, Lara Costa, Liane Braga, Virgínia Farias, Laís Souza

Transcrição: Dayanne Feitosa, Gabriela Farias, João Bosco

Perfil: Gabriela Farias

Edição/Ventilações: João Bosco

Revisão: Danilo Patrício

da CBF, é ela é a dona do futebol. Então é uma guerra de poder. Ela que negocia, ou negociava quase que totalmente, os valo-res que os clubes foram descobrindo que eram irrisórios. O futebol valia muito mais. Eu acho que cada clube tem seu departa-mento jurídico, promocional, especial pra tratar desse assunto. Porque deixar que a CBF desenhe o destino deles, se eles podem fazer isso? Então, essa questão do ‘Clube dos 13’ é uma briga política, é uma briga de poder, entendeu. Então infelizmente o futebol caminha para esse tipo de situação que para os românticos e para os mais puristas não é bem o que a gente gostaria de ver.

Dayanne - A gente fez uma entrevista com o radiallista Messias Alencar, e ele até co-mentou também que não sabe até hoje, ele trabalhou durante 30 anos com o se-nhor, e não sabe até hoje qual time que o senhor torce.Wilton - É porque eu nunca fui de demons-trações demagógicas, pra aferir audiên-cia. Eu acho isso desonesto. Não adianta a gente descer a maiores comentários porque se não eu vou esculhambar até com quem eu trabalho, aí não dá certo. Eu num tô mais pra brigar com nada não. Aí eu num gosto não. O rádio daqui tem muita deficiência e essa história de abra-çar uma bandeira... Quando eu cheguei aqui, me disseram: ‘Escolha um time e vista uma camisa, se não você vai morrer de fome’. E eu digo: ‘Como?’, ‘Ou você é Fortaleza, ou você é Ceará. Aqui não tem meio termo’, aí eu digo: ‘É mesmo?’ Pois eu vou ficar na coluna do meio, eu num sou nem um nem outro. E me procuraram pra trabalhar... Eu sou comentarista de fu-tebol. Foi essa a posição da qual não me arrependo nunca. E não perdi não, ganhei e muito.

Gabriela - Tem programas, que o senhor tem que dar boletins que são coisas mais curtas, programas já na TV, que são co-mentários mais extensos, como é que o senhor se adequa a essa linguagem edito-rial de cada empresa?Wilton - Não, no esporte, não tem.Pelo me-nos comigo isso nunca aconteceu ,“Linha Editorial” .Eu sempre fui, dentro do modelo de se fazer rádio aqui, um cara a apreciar os fatos do dia, as notícias que vão che-gando, ou os acontecimentos que a gente toma, passa a saber. E aí a gente vai anali-sando ao sabor, ou melhor, de acordo com o desenrolar, vai dando opiniões sobre o

jogo, sobre os acontecimentos, sobre a estrutura dos dirigentes. E muito sobre as partidas, porque no rádio e na televisão, afora transmissão, você tem durante toda semana agora tem futebol quarta, terça... aquilo que a gente chama de subproduto. Subproduto é tudo que aquele jogo gerou, digamos assim. O desenvolvimento dos as-suntos: o que aquela partida gerou, o que o resultado gerou, quem jogou bem, quem jogou mal, e assim vai.

Gabriela - Sobre esse novo jornalismo esportivo que tá acontecendo agora, que veio através do Tiago Leifet ano passado (copa de 2010), essa coisa mais animada, o que é o senhor tá achando disso?Wilton - Eu acho que a descontração dele é boa. É uma coisa nova. Eu acho que os programas não precisam ser sisudos. Mas tem que ser uma coisa divertida, mais inteligente, sem exageros. Sem ex-cessos, por que um programa levado na brincadeira de mais pode ter reflexos ne-gativos. Há quem goste e há quem des-goste. Então acho que deve manter um certo controle,um certo cuidado só. Um certo equilíbrio,pra também num tornar a coisa muito vulgarizada. Mas eu vejo, o nosso radio esportivo e a nossa televisão, ela é peculiar. Nós temos um radio, nós fazemos uma comunicação esportiva di-ferente do resto do Brasil. As coisas aqui são mais espontâneas. São mais alegres, nós não temos aquela rigidez editorial. Eu sempre vi essa grande diferença, muito grande. Aqui a gente é mais aberto. Diz coisas até impensáveis em outras pra-ças. Porque se a gente chegar fazendo no Rio de Janeiro comentário do jeito da gente, os caras ficam besta,doidos ,por que é o espírito deles. O cronista do sul ele tem mais solenidade e eu acho que nós tamo certo aqui. Precisa de mais um pouco de humor, um pouco mais de ale-gria na comunicação.

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Esse vai ser um “falador” quando fi-car grande – dizia a avó do menino, que, já faladorzinho, lia em voz alta

e brincava de celebrar missa. O menino, hoje com 70 anos, é uma das vozes mais conhecidas do rádio cearense.

O comunicador, político, torcedor (....) – homem de muitas falas - Almino Mene-zes abriu as portas do seu escritório e de sua intimidade. Abaixo você encontra descontração, seriedade, empolgação e serenidade, além de surpresas que esca-param à pauta. Pode entrar...

Lara - O senhor morou no bairro São João do Tauape. Nasceu lá e passou parte da infância lá. Hoje ainda existe alguma rela-ção com o bairro e com os moradores?Almino Menezes - Existe do ponto de vista de comunicação. Eu recebo telefonemas, reivindicações, através dos meus progra-mas de rádio. Ainda tenho esse laço. E vou aqui, acolá matar a saudade. Gosto de pas-sar lá. Por curiosidade, pra ver como está o progresso. Se evoluiu... Problemas de segu-rança, de saneamento. Eu sempre procurei ajudar essa parte aí de lixo, de limpeza do bairro. Eu sempre fiz isso através do rádio. Então, eu procuro ver como está a adminis-tração, que infelizmente não está nada boa, a administração pública, municipal, estadu-al, e também a federal. Então eu gosto de procurar ver isso aí pra comentar inclusive nos meus programas o que está faltando. Mesmo quando as pessoas não ligam, não interferem... Eu procuro interagir, procuro ouvir as opiniões das pessoas.Liane - Seu Almino, a gente sabe que o pai do senhor era bodegueiro, e que o se-nhor ajudava-o muito. Como foi que sur-giu o seu interesse pelo rádio?Almino - O rádio foi depois da bodega, eu não era bodegueiro, quem era bodegueiro era meu pai. Eu ajudava como minha mãe ajudava. Nós todos ajudávamos e a gente sempre tinha um “horariozinho” pra ficar

“Onde há um rádio ligado não há solidão”

lá quando ele não podia. Mas aí passou pela minha mente que eu sempre gos-tei, eu nasci com esse fascínio. O rádio é um fascínio!(com entusiasmo). Existe ain-da hoje. Continua sendo um fascínio. Eu sempre fui fascinado pelo rádio. Então é uma paixão que eu tenho na minha vida. E eu gostava de falar alto, gostava de fazer brincadeiras como todo menino. De ela-borar sermões, de celebrar uma missa. Minha mãe levava muito a gente pra igre-ja, nós éramos católicos, somos católicos ainda. E eu sempre gostei de ouvir ser-mões. Eu falava e lia em voz alta. Ouvia os locutores de rádio naquele tempo. Ouvia emissoras da Bahia, Pernambuco, do Rio, de São Paulo, Ceará, daqui de Fortaleza. E eu achava bonito, e me deu aquela vo-cação, por isso que até minha avó pater-na dizia na frente de todo mundo: “Esse menino ainda vai ser um falador quando crescer”. Ela já achava que eu ia ser um

Almino Menezes

locutor, ela dizia que eu ia ser um falador. Porque eu gostava de ler em voz alta, de fazer discurso, ler manchete de jornais. E eu acabei entrando no rádio nos anos 1950, em 1959, por aí.

Laís - O senhor tinha objetivos quando co-meçou no rádio?Almino - Ter uma profissão como todos nós queremos, que vocês estão queren-do ter a profissão de vocês, é um direi-to. Então, como o rádio estava surgindo, era uma força naquele tempo, existiam sindicatos... E nós tínhamos certa segu-rança. O radialista já tinha uma força, já era muito respeitado. E eu queria ter uma profissão para poder sobreviver. O meu objetivo era servir a comunidade, servir as pessoas, como eu sempre fiz. Ter a minha parte de divulgar as coisas, de querer ajudar sempre, informando as coi-sas certas e erradas, criticando, fazendo as denúncias das coisas erradas, da ad-ministração pública estadual, federal ou municipal. E também, claro, que o objeti-vo principal era esse: de fazer aquilo que a gente gosta, que era a comunicação. Informar os ouvintes, ajudar as famílias, através do receptor que é o rádio. Nós, como emissores das mensagens, eu era um emissor e sou ainda emissor, nós so-mos emissores das mensagens. E quem capta essas mensagens? São os ouvin-tes, que são os receptores, são aqueles que ligam o radinho ou a televisão. Então, eu procurei ser objetivo nesse sentido, mas também ter a minha profissão, ter a minha segurança profissional e econô-mica, para poder tocar a vida para frente como fiz até hoje.

Liane - Como foi conciliar a faculdade, o rádio, e o amor pelo futebol com a família?Almino - E a política? (risos). Não foi fá-cil não viu (enigmático). Muita estrada. Muitas horas de perseguições para con-

“O MEU NOME foi indicado pelo Executivo Estadual e eu fiquei fora do rádio por incompatibilidade de horários”.

“ELE MERECEU, mas do que justa essa singela homenagem que eu prestei ao Chanceler Edson Queiroz”.

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* EXPEDIENTE

Entrevista com Almino Menezes dia 18/04/2011.

Produção, redação, edição e texto final: Laís Brasil, Lara Costa, Liane Braga e Virgínia Farias.

Texto de Abertura: Lara Costa.

Participação: Gabriela Farias, João Bosco, Laís Brasil, Lara Costa, Liane Braga, Rafael Siqueira e Virgínia Farias.

Fotos: Danilo Patrício, Liane Braga e acervo pessoal.

Revisão: Danilo Patrício.

Veja mais no Blog fotos e entrevista ampliada.

* BASTIDORES

Almino é membro do Conselho Deliberativo do Ceará Sporting Clube.

No fim da pré- entrevista, realizada no dia seis de abril de 2011, Almino nos convidou para tomar um café na praça de alimentação do Shopping Del Paseo.

Almino nos recebeu em sua sala comercial, localizada na Torre do Shopping Del Paseo.

Almino é casado com Lêda e juntos tem três filhos: Almino Jr, Eugênio e Juliana.

O escritório de Almino possui vários objetos do seu time do coração: o Ceará Sporting Clube.

Almino se formou em Direito pela Unifor em 1985, já casado e com filhos.

Almino procurou em várias pastas a cópia do seu Projeto de Lei.

No seu escritório há uma rede.

Almino começou no rádio aos 19 anos.

Suas paixões, segundo ele, estão nesta ordem: família, Ceará Sporting Clube, rádio e política.

Almino é o mais velho de cinco irmãos.

Almino gosta de frequentar o cinema do Dragão do Mar, e seus gêneros preferidos são: ação, clássicos, drama, antigos, suspense, máfia, guerra e comédias.

Quando criança, Almino gostava muito de jogar bola e cuidar do balcão da bodega do seu pai.

Vai a quase todos os jogos do Ceará Sporting Clube, dentro e fora do estado.

A primeira Rádio em que trabalhou foi a Rádio Uirapuru.

Almino, de acordo com sua avó, sempre foi um “falador”.

No fim da entrevista, a equipe de produção presenteou Almino com um ovo de páscoa para Almino. E as cores da embalagem não poderiam ser outras: preto e branco.

Dona Lêda, esposa de Almino, serviu água e auxiliou a equipe durante a captação da entrevista.

Almino, na pré-entrevista, deu um convite dos seus 70 anos à equipe de produção.

Almino tem um gosto especial por fotografias.

seguir os objetivos. Perseguição no bom sentido viu! Então eu tive que dividir meu tempo pra poder somar tudo isso. Dividir pra somar, tá certo? (risos) Quem é que é matemático ai? (risos)

Laís - Quando o senhor foi deputado, fez algo em prol do esporte?Almino - Eu aprovei. Têm comissões da As-sembleia ligadas ao esporte, eu fui mem-bro. Sempre participei, sempre votei. Sem-pre apoiei. Os projetos de lei, o deputado vota os projetos, a favor ou contra. Sempre apoiei pedindo mais dinamismo, mais con-dições para os clubes locais, para o futebol cearense, mais segurança para o torcedor.

Lara - Como foi ser recebido na política pelos torcedores do Ceará e pelos torce-dores do Fortaleza? Almino - Bom, primeiramente eu nunca liguei futebol com a política pra chegar aonde eu cheguei. Eu nunca usei, explo-rei o voto de futebol com a política. Eu ti-nha voto dos ouvintes de rádio, isso aí eu sempre tive. Inclusive dos torcedores do Fortaleza, Ceará, Ferroviário. Têm amigos meus que votaram em mim sendo torce-dores do Fortaleza. Eu nunca explorei, nunca liguei diretamente isso.

Liane - Em 1983, por um projeto de lei do senhor, foi inaugurado um monumento em homenagem ao Edson Queiroz (indus-trial e empresário da comunicação), lá na praça da imprensa. Ele foi importante na sua vida de radialista?Almino - Foi (entusiasmo), como foi pra toda economia do Ceará. Ele tá sempre citado, tem uma homenagem a ele lá num museu no Rio de Janeiro. Um dos grandes empresários, o Edson tá sendo sempre homenageado, não só aqui no Brasil, como em outros países, pelo empreendedor que ele sempre foi, pois sempre teve muito ar-rocho, dinamismo empresarial, sempre se preocupou com a economia do Ceará.

Virginia - No rádio o senhor foi muito prestativo, e defensor das pessoas mais necessitadas. Teve até uma época que o senhor começou a distribuir cestas bási-cas do lado de fora da rádio. Como foi a reação dos colegas de trabalho e do seu chefe a partir disso?Almino - Eu comecei distribuindo bolsas que eu recebia de colégios e de cursinhos. Como o meu programa era campeão de audiência, eu sempre fui um dos campe-ões da época do ibope, de toda pesquisa de rádio, e então os cursinhos me davam bolsas, me autorizavam. Eu distribuía bol-sa integral, meia-bolsa, 50% de abatimen-to ou 30%, tinha até bolsa integral, como eu já falei. E então as pessoas iam lá bus-car, ligavam, davam o nome, moças e ra-pazes de Fortaleza, e também do interior do Estado. Inclusive tem uma senhora que foi, não sei se ainda é diretora da Univer-sidade de Fortaleza (Unifor), e ela chegou em um determinado local, em um restau-rante, estava com o seu marido e me cha-maram. E ela disse que ganhou uma bolsa de estudos que eu dei. Ela formou-se, fez o cursinho com esta bolsa. Hoje ela é, se não me engano, Promotora de Justiça, promotora ou é juíza, não me lembro bem. Sei que essa bolsa foi concedida na Rádio Verdes Mares, na praça da imprensa, de frente ali hoje o Canal 10.

Liane - Tem em um capítulo falando so-bre o Senhor, o livro da Márcia Vidal Nu-nes (professora da UFC - Comunicação). O título é Rádio e Política: do Microfone ao Palanque. Nesse livro ela fala que o senhor participou da comissão de apro-vação do transporte gratuito aos defi-cientes físicos, e que foi autor da lei da gratuidade do transporte coletivo para os idosos. Porém, no final do capitulo,

“EU GRAÇAS A DEUS não preciso do rádio pra sobreviver. Eu sou aposentado, sou advogado, posso até ganhar meus honorários como advogado porque eu sou inscrito na Ordem do Advogados do Brasil (OAB)”.

ela fala que o senhor apoiou a lei dos ido-sos, e que foi iniciativa de outro deputado (César Neto). Eu gostaria que o senhor esclarecesse essa questão. O professor Danilo lê o primeiro trecho do livro: “O ido-so de 65 anos não paga mais transporte coletivo. E hoje está em todo o Brasil este projeto, implantado na constituição fe-deral pelo deputado federal César Neto, que pediu a Almino o projeto, recebendo toda a sua assistência. Para Almino, “foi uma grande alegria ter conseguido essa grande vitória para todos os idosos bra-sileiros.” Almino - Foi, isso é verdade. Ele (César Neto) era deputado federal e eu era esta-dual. O César Neto levou e inseriu na cons-tituição (Federal de 1988). Ele era consti-tuinte naquele ano. Isso aí é verdade.

Liane - No final ela (Professora Márcia Vi-dal Nunes) fala: “O desempenho de Almino Menezes na Assembléia Legislativa foi dos mais fracos. Praticamente não conseguiu aprovar nenhum projeto, limitando-se a apoiar o passe livre dos idosos nos trans-portes coletivos, iniciativa de outro deputa-do.” Eu queria que o senhor esclarecesse.Almino - Não, a iniciativa foi minha. Tem a lei. Vou ver se eu tenho a cópia da lei para dar pra vocês. Aí ela está sendo injusta comigo. Não está sendo correta não. Eu apresentei esse projeto em 1984. Proje-to de lei. É um comentário, mas ela está mal informada. Ela está sendo injusta comigo aí, porque não é desse jeito não. Vou ver se eu acho a cópia para dar pra vocês aqui (a cópia do projeto foi apre-sentada ao final da entrevista).

“EU NÃO SOU CONTRA a rede CBN (Central Brasileira de Notícia), rede Globo... Eu sou a favor, acho bacana. Hoje é a globalização”.

“EU SEMPRE fui fascinado pelo rádio”.

Page 8: Jornal Papiro - No bar do Chaguinha

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Impaciente. Tranquilo. Inteligente. Car-los Tursi, teólogo alemão que veio ao Brasil pela primeira vez em 1983, é

um filósofo inquieto. Em sua vasta produ-ção intelectual, é notória a presença de elementos da Teologia da Libertação. O contato com grandes pensadores e o di-álogo constante com o passado, ora re-visto e reanalisado, ora criticado. Quando “todo mundo já fez o que tinha que fazer”, Tursi demonstra-se um homem de es-perança. Não a de um ingênuo final feliz, mas esperança no sentido daquilo que faz, constrói no mundo.

Preparativos da fala: São 18 horas. Nos corredores da Faculdade 7 de Se-tembro, o inquieto convidado da turma de Práticas de Jornalismo Impresso I veste chapéu de palha e sandália de cou-ro. Rumo ao studio de rádio do Curso de Jornalismo, onde concedeu entrevista. Aliados às roupas simples, mas não mui-to gastas, retratam o homem que des-de cedo viu no contato com o próximo a salvação para uma humanidade. Da Ale-manha para o Brasil, movimenta-se ativa-mente na cidade, na práxis social, nas pe-daladas de bicicleta e no conhecimento, como nas aulas que ministra no Viva e no Seminário Teológico da Prainha. Na “te-ologia das cenas cotidianas”, Carlos Tursi constrói e reconstrói a realidade sob a óptica atenta de alguém sensível ao que a maioria não vê. Humanizar antes. Orar depois. Vamos conferir!

Thiago - A sua vinda para o Brasil teve como principal intuito aprofundar-se na Teologia da Libertação? Como se deu esse processo?Carlos - Eu vim ao Brasil sensibilizado por um trabalho de um grupo de jovens da

minha paróquia. E em 1983, nós assumi-mos, na Alemanha ainda, um trabalho de arrecadação de recursos para uma aldeia de pescadores em Mundaú, litoral oes-te a 150km de Fortaleza-Ceará. Eu vim com uma turma de jovens da Alemanha e com o vigário. Éramos nove. Passamos um mês aqui no Ceará. Em 84, eu retor-nei nas férias a Mundaú e, em 86, eu tentei uma bolsa de estudo para o Brasil. Em 85, eu tinha conhecido o cardeal Aloí-sio Lorsheider, ex-presidente da Conferên-cia Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB, em Frankfurt, e ele celebrou uma missa lá, em alemão, e contou coisas aqui do Brasil. Aí me apresentei pra ele e ma-nifestei vontade de estudar teologia no Brasil. E ele possibilitou minha vinda e estadia aqui.

Thiago - Por que você não seguiu com o sacerdócio?Carlos - Eu casei! Muito simples.

Thiago - Você acha que se pode vivenciar uma espiritualidade ecumênica do coleti-vo?Carlos - É, eu diria que nós temos que distinguir dois níveis, o nível da prática, e o nível da direção das igrejas, da hie-rarquia, vamos dizer assim, da cúpu-la de cada Igreja, não só da católica. O ecumenismo não tem problema, porque atingidos somos todos nós, então há um ecumenismo das lutas sociais, da luta ecológica, estamos compreendendo na prática cada vez mais que estamos sen-do todos ocupantes do mesmo barco, se afundar, afundaremos todos, todos juntos. No nível prático dos movimentos, acho que tem um ecumenismo, mas no nível da teoria, na direção das igrejas, o

Carlos Tursiintensidade de ações e palavras para verter o mundo

Fotógrafo: Hum

berto

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* EXPEDIENTE

Pauta, Produção e transcrição: Filipe Queiroga, Ana Paula Ximenes, Thiago Silveira e Patrícia Montenegro

Captação: Rones Maciel, Filipe Queiroga, Ana Paula Ximenes, Thiago Silveira e Patrícia Montenegro

Edição: Ana Paula Ximenes

Revisão e supervisão: Danilo Patrício

* BASTIDORES

momento não é propício.

Thiago - Se percebe nos jovens sacerdo-tes um distanciamento cada vez maior das causas sociais. O que causa esse dis-tanciamento?Carlos - O que fazem os novos movimen-tos devocionais: eles separam o profano do sagrado. Eles levam você para o retiro. Mas os maiores chamados não é lá que você recebe não, esse é um equivoco, os maiores chamados que você recebe é no mundo, através do mundo. Então, a verdadeira espiritualidade cristã, ela per-cebe no chamado, no encontro com as pessoas e com as realidades. Um bando

intensidade de ações e palavras para verter o mundo

de pardais era importante pra Jesus. Os lírios do campo. O sol, a chuva. São gran-des temas de uma teologia do mundo. O que nós precisamos é de uma teologia mundana, tá me entendendo? Então, nes-se sentido, a separação que se faz hoje entre profano e sagrado, e procurando o chamado de Deus no retiro, num céu, num convento, em Guaramiranga, na ser-ra... Você diz: o carnaval de uns é carna-val profano, é sem Jesus, o dos outros é com Jesus, ali é o carnaval de Deus. Você cria um paralelismo na sociedade e na própria igreja que te impossibilita, te incapacita de sentir o chamado ao seu lado, onde você menos espera, por que você está sempre esperando ocasiões e lugares especiais. Então eu acho essa re-almente uma espiritualidade alienante e, literalmente, não é bíblica. Por isso que você vê: as igrejas estão cheias e o mun-do tá indo às favas. O mais importante é amar e ser amado. Fazer uma experi-ência séria e concreta de amor. E não um amor sentimental, um amor relação, compromisso. Construção de algo dura-douro. Não só entre pessoas, mas com o mundo.

Patrícia - Carlos, além da visão de muitas pessoas que só veem o domingo como momento para lembrarem-se de Deus, quais outros pontos a teologia da liberta-ção deveria influenciar no comportamen-to da sociedade?Carlos - Eu acho que, em primeiro lugar, o que uma teologia deve fazer, além de reconduzir a espiritualidade devocio-nal que hoje está troando, é reconduzir a base bíblica. O que nós vivemos hoje, que certos pregadores se permitem fa-zer, não tem mais nada a ver com essa espiritualidade bíblica, que é histórica. O chamado de Deus emerge dentro da his-tória, não num plano metafísico. O proble-ma todo da teologia é esse. De fazerem as pessoas perceberem que quanto mais os pregadores, evangelizadores, se con-vidam a fechar os olhos, a se afastar do mundo, de esquecer seus compromissos e tudo mais, mais eles te levam para um refúgio espiritual em que você pode fazer tudo, menos ouvir a voz de Deus, ouvir o clamor da realidade. Por exemplo, uma planta: “me regue! Cuide de mim”, isso é chamado de Deus. Então a grande pedida do teólogo é fazer com que as pessoas não sejam apenas levadas pelo clero, a experimentar Deus na hóstia, mas tam-bém no pão que come em casa quando é partilhado com a família. Eu chego à noite

em casa, eu tenho três filhos. Os meno-res já estão na cama, que no outro dia tem colégio cedo, aí me ouvem e correm: “papai! papai!”. Eles já tinham escovado os dentes, a minha mulher fica uma fera: “Volta pra cama! Por que tu fala alto?!” O mais velho senta, a gente abre uma cajuína. Eles começam a contar coisas da escola. Eu pergunto, ele responde. Os dois pequenos vêm, fazem aquela zoada. Daqui a pouco a minha mulher vem tam-bém. São 10 e meia da noite, mas é o melhor momento. Isso pra mim é o altar (ênfase!). Aqui eu tenho tempo. O dia já foi, já dei minha aula, todo mundo já fez o que tinha que fazer. Agora é pura graça! Risos, piada, problema também. Isso co-mendo e bebendo. Os melhores momen-tos são esses, e não na igreja.

Filipe - Qual sua opinião sobre os frequen-tes casos de homossexualidade e pedofi-lia na igreja Católica, estourando escân-dalos recentes?Carlos - São duas coisas diferentes. Ho-mossexualidade no clero e pedofilia. Nem sempre pedofilia é homossexual e não existe só na igreja. Esse conceito de ho-mossexualismo hoje vem mudando um pouco (para homossexualidade), embora a Igreja trate isso como doença. Então muitos jovens hoje que têm tendência ho-mossexual sentem-se atraídos pelo ideal do padre. Como não têm muita clareza sobre o que são ainda, confundem isso com vocação religiosa. Eu não vou me ar-riscar com números, mas o percentual homossexual no Clero, em Fortaleza, por exemplo, é enorme. Uma das opiniões for-madas que eu tenho é que a Igreja sabe disso e é hipócrita ao dizer para a socie-dade que está selecionando os candidatos e aconselhando candidatos homossexuais a desistirem do sacerdócio. Isso é com certeza uma mentira! É tapar o sol com a peneira. Eu não tenho nenhum problema com os homossexuais, eu tenho proble-ma é com esse discurso hipócrita! Agora, com relação à pedofilia, é muito mais com-plicado. Por que a gente não sabe nem as causas dessa tara de se sentir excitado apenas com crianças. O pedófilo é um do-ente! Se não tem cura, tem tratamento. Agora, a leviandade com que as autori-dades religiosas trataram esses casos, transferindo padres para outros postos, isso não se desculpa.

Ana Paula - Pra gente finalizar, vendo que discutimos bastante sobre essa questão de ser crítico, de ter um pensamento

político-social, pensar no todo e no indiví-duo, você acredita na construção de um mundo novo, na chamada civilização do amor? Carlos - Eu tenho esperança no ser hu-mano. Você disse civilização do amor. Eu não sei se vamos contagiar todo mundo. Eu só sei de uma coisa: de geração em geração, a maioria se deixa impressionar pelo mundo. A grande maioria acha boni-to as religiões e o que elas têm a dizer, mas no fundo nunca acreditou que funcio-nasse. Agora, a minoria sempre existiu. De geração em geração, houve cristãos, budistas, até ateus, que construíram o que Santo Agostinho chamou de cidade do amor, a cidade de Deus. E outros dia-riamente construindo a cidade do cão. Eu faço teologia das cenas cotidianas. Então eu creio na possibilidade do ser humano ser tocado pela graça. Eu não falo para todos. Você nunca fala para todos, você fala para alguns. E alguns falam pra ti. Eu não sei se algum dia iremos derrotar o capitalismo. Eu sei que o que fazemos de alternativo cotidianamente e coletivamen-te vai valer à pena. Eu vou fechar dizendo o seguinte: Esperança não é a certeza de que uma coisa terminará bem. Isso é oti-mismo. O otimista sempre acha que vai terminar bem. O pessimista tem certeza que vai terminar mal, o esperançoso é uma pessoa completamente diferente. Ele não é nem otimista, nem pessimista. Essas são duas opções vulgares. Quem tem esperança é um sujeito que tem cer-teza de que aquilo que faz tem sentido, in-dependentemente de como vai terminar. Esperança é a certeza do sentido, não a certeza do final feliz.

1. Tursi trouxe sua própria caneca para beber água. Não utilizou copo descartável, como sempre. Economia de vários copos plásticos por mês.

2. Tursi compartilhou a garrafa de água a ele destinada com os entrevis-tadores. “A água não é só minha, é de todos”, disse.

3. Sério, Tursi chegou bem antes do horário combinado. Inquieto, ele não disfarçou a impaciência para o início da entrevista. No entanto, após ini-ciarmos o diálogo, rapidamente a ex-pressão ranzinza se transformou em algo concentrado, revirando a memó-ria pelas lembranças que vieram.

4. Tursi fala fluentemente português. Sua fluência, invejável para qualquer estrangeiro, surpreendeu a todos. Principalmente por sua língua-mãe ser o alemão.

5. Por vezes, Tursi se exaltava nas respostas. Nessas situações, de for-ma direta, ele respondia na lata. Um exemplo: quando questionado do por-que de ter abandonado a batina, uma vez que ele entrou para o Seminário. “Por que casei”, foi a resposta, e não se falou mais nisso.

Page 10: Jornal Papiro - No bar do Chaguinha

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S ilvero Pereira, com apenas 28 anos de idade, já é considerado um dos grandes atores de Fortaleza. O teatro

está em sua mente e coração. As inquietudes transformam-se em arte no palco. Vive de po-lêmica no teatro e polemiza no teatro para viver. Encontra-se a essência de Silvero num recôndito secreto: como nas linhas e entreli-nhas escritas por Caio Fernando Abreu, es-critor e jornalista. Românticos, dramáticos e entregues. Caio, escreveu sobre sexualidade, solidão, morte e o medo. No conto Dama da Noite, Silvero usou estes sentimentos, para construir sua trilogia: Uma Flor de Dama, Ca-baré da Dama e Engenharia Erótica - Fábrica de Travestis. Misturam-se. O efeito é constru-tivo, polêmico e elucidativo.

Mimosa Pessoa - Silvério, quando você deci-diu ser artista?[Silvero Pereira]: Quando saí de Mombaça, interior do Ceará, aos 13 anos de idade, para vir pra Fortaleza, ingressei na antiga Escola Técnica, em 1997, para fazer o ensino mé-dio. Foi nesse local e ano que tive o verdadeiro contato com as artes. Era obrigado a partici-par das aulas de teatro em Mombaça. Era chato. Não havia dedicação dos professores. Uma atividade cansativa. Mas, foi no primeiro dia de aula, na Escola Técnica, que eu me in-teressei. Fui ao auditório e toda a equipe se apresentou. O diretor apresentou a compa-nhia de teatro da escola, chamada Dionisyos, e aí eu lembro que eu não achei muito baca-na a iniciativa e pensei: ‘puxa, lá vem essas coisas chatas que sempre acontecem. ’Mas quando a companhia começou encenar eu fiquei fisgado. Lembro que saí do auditório, para ir à “Casa de Teatro” me inscrever em teatro.

Mimosa Pessoa - Como foi você se descobrir homossexual? Isso lhe causou alguns precon-ceitos por familiares?Silvero Pereira - Desde pequeno sempre soube da minha opção sexual. Por conta da opressão social, escolar, familiar e religião,

prendi isso. Quando resolvi aceitar, eu me senti liberto. Já tinha rompido com a família. Morava só e permiti me aceitar. Sei que eles sabem, porque apareço no jornal ou na tele-visão travestido. Mas não tenho contato. Foi uma opção de não me relacionar mais com a minha família.

Mimosa Pessoa - E sobre suas inspirações? Em quem você se inspira como ator?Silvero Pereira - Eu trabalhei com pratica-mente todos os diretores de teatro da cidade. Considero o Paulo Ess o meu pai do teatro. É uma figura que está muito presente nas mi-nhas ações. Mas as experiências que tenho são mistas, com as outras relações que eu tive com outros diretores. Então, eu reconhe-ço os outros diretores no meu trabalho.

Mimosa Pessoa - Como você elabora seus trabalhos?Silvero Pereira - Sempre faço um trabalho a partir de temas que me inquietam. Na co-munidade do Tapuio pude assistir a realidade das meninas que engravidavam e a discrimi-nação aos travestis. Tinham os travestis que se vestiam à noite e homossexuais que não se vestiam de mulher, mas passavam batom e blush pra saírem à noite. Um leque de va-riedades. Esses rapazes saíam com homens casados, que tinham namoradas. E de dia esses mesmos homens faziam piadas, de-bochavam dos travestis. Isso começou a me incomodar profundamente. Daí quando tive, mais contato com a obra do escritor Caio Fernando Abreu, chamada “Dama da Noite”, eu estava terminando o ensino médio e tinha uma matéria sobre literatura contemporâ-nea. Eu me encontrei com esse conto e com a minha inquietação. Este foi o motivo para fazer um processo. E agora seriam as traves-tis que eram marginalizadas. Isso veio para minha formação enquanto artista. Defina o Silvero? Eu diria que o Silvero trabalha com aquilo que o inquieta.

Mimosa Pessoa - O Caio Fernando Abreu é

Silvero PereiraEntre o viver e o interpretar de Silvero Pereira

Foto: Reginaldo D

uarte

Silvano Pereira durante entrevista na FA7.

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dramático e se entrega de corpo e alma em tudo o que faz. Você é como ele?Silvero Pereira - Eu não monto Caio. Mas existe a “relação”. Eu não falo de sexo. Eu falo de contato, afeto, carinho. E o Caio sempre toca nisso porque sempre foi uma pessoa que sentia falta nessas relações. A maioria dos problemas decorre dessa falta de amor. Eu estou fazendo três espetáculos depois do ponto chamado relação. Porque esses três trabalhos estão lá? Não estão lá aleatoria-mente. Estão porque estes trabalhos falam de pessoas que chegaram num determinado momento das suas vidas, conheceram esse momento, romperam, e seguiram em frente. Eu penso exatamente isso. Porque o Silvero se enxerga assim: alguém que viveu uma in-fância paupérrima, que comeu clara no almo-ço e gema no jantar pra poder se sustentar, mas rompeu este período e se superou. É o que Caio fala sobre essas relações. O romper está relacionado com pessoas com quem você viveu, que te apoiaram.

Mimosa Pessoa - Em “Engenharia Erótica” os atores são travestis na vida real. Qual foi o critério para escolher o elenco? Por que pre-valeceram atores cuja vida real e as persona-gens se misturavam?Silvero Pereira - Não existem travestis. Eram atores. A peça significava representatividade. Eu havia assistido a várias peças que não eram satisfatórias e nem a classe se sentia representada. A grande preocupação era de grande responsabilidade porque queria causar questionamentos. E que questiona-mento seriam esses: História e condição de vida. Pra ser fiel e responsável me senti na obrigação de fazer um laboratório. Consistia em pesquisar sobre a condição de vida de um travesti, de um transexual. Mas eu achei mui-to pouco sobre isso, sobre o movimento gay, lésbica, bissexual e travesti (LGBT). Depois da literatura, eu passei para a parte corpo a corpo, a parte das entrevistas. E a questão é que as travestis já não suportam ser objeto de estudo. Para acontecer esse contato, não queria ser entrevistador, mas amigo. Saía pra beber, pagava a conta para ter mais aproxi-mação com elas, tudo informal. Conversava e questionava. Nada de registro gravado, eram as impressões e observações que eu nota-va. Como é a paquera, pra onde vão depois da conversa. Aí chegava em casa e fazia o relatório. Passei a sair com elas travestido. Eu passei a ser também abordado pelos ra-pazes e a ser xingado.

Mimosa Pessoa - Você se montou também no interior de travesti ou foi só aqui? [Silvero Pereira] Me montei para encenar em

diversos lugares do Cariri (sul do Ceará). Notei é que os travestis no interior são menos discri-minados que em Fortaleza. Não me relaciono, e ainda critico a forma como as travestis fa-lam, como são travestidas. Na boate gay eu sofria preconceito das próprias travestis, mas não sofria dos heterossexuais. Frequentava o banheiro feminino sem problemas. Mas na bo-ate gay eu via muita discriminação. Noto que a capital tem um falso moralismo por sermos da capital. Aqui, sofro agressão verbal quando me monto de Gisele Almodóvar (a persona-gem que ele encena em Engenharia Erótica – Fábrica de Travestis).

Mimosa Pessoa - De acordo com Carri Cos-ta e Ricardo Guilherme (diretores e atores de teatro cearenses), na palestra sobre teatro realizada na semana passada na Livraria Cultura, houve a crítica que os diretores de teatro fazem peças para os próprios artistas, isso é verdade?Silvero Pereira - Fazemos teatro para 0,2% de fortalezenses. É culpa do Governo do Es-tado e da Prefeitura de Fortaleza. O conhe-cimento do teatro através da educação não chega de uma forma decente. Fui convidado a dar aula de dança no Liceu de Aquiraz. Ali é uma escola modelo. Um espaço gigantesco, com auditório com capacidade de 350 luga-res, poltronas acolchoadas, tapete vermelho. Tudo o que não se vê em Fortaleza.

Mimosa Pessoa - Carri Costa também citou que a cidade não tem ídolos, precisamos criar os nossos para que nossas raízes fi-quem mais fortes. Você acha mesmo que Fortaleza não tem ídolos?Silvero Pereira - O sul só tem ídolo porque existe TV e aí o ator cai no popular. Muita gente faz TV, como a Fernanda Montene-gro e a Marília Pêra, para bancar o teatro que faz. Mas de fato não temos ídolos. A gente teve o Paulo Autran, Bibi Ferreira, que fazia radionovela, mas na TV nunca apareceu muito. O Iuri Yamamoto e a Herê de Aquino (diretores e atores cearenses), para o pessoal do teatro, são ídolos. Des-sas pessoas transcendem o pensamento. Eu considero o Carri Costa um dos melho-res atores desse estado. É admirável.

Mimosa Pessoa - O que você pensa do investimento da verba pública no cenário teatral cearense? Quanto é investido no seu espetáculo?Silvero Pereira - Incomoda muito para mim e para a classe artística, como uma Secre-taria de Cultura do Estado se queixa de um edital de um milhão de reais, há duas edições passadas, para as companhias de teatro da-

* EXPEDIENTE

Produção: Izolda Ribeiro, Suyanne Rocha, Thicianna Moraes e Mimosa Pessoa

Repórteres: Izolda Ribeiro, Suyanne Rocha e Mimosa Pessoa

Decupagem: Izolda Ribeiro

Edição: Izolda Ribeiro, Thicianna Moraes e Mimosa Pessoa

Diagramação: Izolda Ribeiro, Thicianna Moraes e Mimosa Pessoa

Revisão: Izolda Ribeiro, Thicianna Moraes, Mimosa Pessoa e Danilo Patrício

Fotos: Rinaldo Duarte

qui, com muita briga entre classe artística, fóruns, briga na imprensa, panfletagem, gre-ve e, depois de todo esse movimento, o se-cretário ceder, e, na edição seguinte, fazer um edital de R$370 mil alegando que não tem dinheiro. Meses depois se dá R$600 mil para uma só companhia (Teatro Oficina), que é o dobro de um edital de incentivo para as companhias locais

Mimosa Pessoa - Como você enxergou a ma-téria que saiu no Jornal Hoje sobre o teatro do Ceará, onde se destaca o estereótipo de que o Ceará é a terra de humoristas?Silvero Pereira - Fizeram uma matéria sobre as diversas coisas que acontecem no Nor-deste. E o nordeste se resume a Ceará, Bahia e Sergipe. E a Bahia se resume ao grupo de teatro Olodum. Nós já temos o estigma de que todos somos humoristas. Não fazemos outra coisa que não seja humor. Eles pegam imagens de pessoas rindo, comendo pizza dentro de uma casa de show de humor, aí acaba a matéria. Como se estivesse dizendo que no Ceará só existe show de humor. Já é difícil pra gente convencer os sulistas que aqui existe um teatro.Todo mundo acha que o teatro do Ceará é o teatro de terra batida, é o teatro Patativa do Assaré, do agreste que sofre. E quando você vai lá fazer algo diferen-te, eles ficam apavorados perguntando: ‘Puxa, lá faz teatro? E ainda por cima, aqui mesmo. As pessoas não vão muito ao teatro porque acham que é aquilo. E a matéria deu maior reforço dessa imagem. Eu acho uma culpa da Prefeitura e do Governo da não valorização disso.

Mimosa Pessoa - Muitas pessoas dizem que você é “uma explosão de criatividade”. Você se vê dessa forma?Silvero Pereira - Engraçado porque quan-do era aluno de teatro, meu professor dizia que eu era um ator inteligente, mas um ator sem talento. Dizia que eu resolvia os problemas facilmente, resolvia racional-mente, que isso era valioso porque eu tinha objetivo. O grande valor do teatro é isso: é técnica, porque como você vai repetir vá-rias vezes sem técnica? O talento não de-fine ninguém. Mas depois me tornei uma pessoa intuitiva. Consciente do que faria e passei a ouvir a intuição. Mas acredito que meu trabalho só acontece quando submeto e me permito submergir. A coisa só acon-tece se você se aprofundar no problema. A intuição só vem por conta da dedicação.

Mimosa Pessoa - No palco, você sendo per-sonagem, sempre passa a impressão de ser exuberante, expansivo, dinâmico. Pesso-

* BASTIDORES

Silvero chegou à Faculdade quieto, observando tudo ao redor: alunos, professores, barulhos... Ao encontrar a equipe de produção, abriu um sorriso sincero, de encontro a alguém que transmitia conforto. Seus olhos expressavam traços de insegurança, apesar de uma bem estudada descontração, contrastavam com sua condição de entrevistado da noite. Sem barreiras e preparado para as várias indagações que “invadiriam” sobre sua vida, sobre seu trabalho, abriu as portas e janelas do seu coração.

almente, é o contrário, de ser uma pessoa contida, um pouco tímida, discreta. Como acontece essa transformação?Silvero Pereira - É exatamente isso. Sou uma pessoa assim, calma. A Gisele já tem uma vida própria. Quando eu me transformo, eu sinto que eu vou dar uma palestra. Simples-mente sai. Já não ensaio mais o papel. Eu che-go e faço. Muitas vezes eu digo para os meus alunos, do “Princípios Básico de Teatro”, que não existe ator que entra em transe. Que o ator precisa ficar só para ele se incorporar. A Gisele existe há nove anos. Como se trata de um processo de laboratório, e dentro do processo passei a colocar minhas experiên-cias, acabou se tornando uma peça dramáti-ca. Era meio que uma terapia pra mim. Não existe construção de personagem de se em-prestar ao personagem. Você enquanto ator, a partir das suas experiências, se coloca na situação. Não existe construção de persona-gem. E aí gera um nó nas pessoas.

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Seu Chaguinha, como é conhecido por seus amigos e clientes, fundou comércio em Fortaleza, em 1956.

Inicialmente, o estabelecimento funcio-nava como mercadinho, nos moldes dos antigos secos e molhados. Com o passar do tempo, foi ganhando cara de bar, nota-bilizando-se também pela culinária da fa-mília. Consolidou-se como opção de lazer no Benfica, na Gentilândia, coração afetivo do bairro, abrindo ao público nas noites de sexta, até uma hora da manhã, e aos sá-bados, até 15h. A música, concebida no encontro de amigos, também é uma das atrações do local, que, através do dono, adverte apenas para a ´dosagem´ no uso de palavrões. Nos outros dias da semana, com exceção do domingo, Seu Chagas

está no estabelecimento para afazeres como a leitura do jornal, arrumações da semana e a conversa com os amigos. Foi em um desses dias, em uma manhã de se-gunda-feira, que ele recebeu os alunos de Práticas de Impresso, concedendo a pri-meira entrevista da disciplina. Confiram!

Sérgio - Vamos começar por sua saída do Piauí?Chaguinha - Eu morava em Batalha, do Piauí. Eu tinha dois cunhados que traba-lhavam aqui (em Fortaleza). Trabalhava um deles no Banco dos Proprietários, na (Avenida) João Pessoa. Ele é mais velho do que eu (brinca com o entrevistador Sér-gio), alcançou o Banco dos Proprietários? Ali, onde é o hoje o bingo na Barão do Rio

Branco, onde um dos meus cunhados tra-balhava. O outro trabalhava na Texaco. O meu sogro adoeceu no Piauí, e eu mora-va lá, eu era comerciante lá. Meu sogro adoeceu e eu tive que vir com ele aqui pra Fortaleza, pra fazer o tratamento (Pau-sa emocionada). Cheguei, nós ficamos no apartamento de meus cunhados. Eu, meu sogro e eles dois. O apartamento era grande. Tinha rede, tinha cama, fomos ao médico, que pediu uns exames, pra saber o que ele tinha. Com 30 dias que nós está-vamos aqui em Fortaleza, aí o médico deu alta. ´Seu Zé´, o nome dele era Seu Zé, ´se quiser já pode voltar para o seu Piauí´. Rosa - Como foi o crescimento do seu comércio?

Do bar e da vida com o

¨SEXTA-FEIRA CHEGOU/ VOU LEVAR MEU AMOR/

LÁ NO BAR DO CHAGUINHA¨ CANÇÃO DE MANOEL NOBRE, ENTOADA POR ELE NO BAR E

NO BAIRRO

Chagas da Gentilândia

Chaguinha - À proporção que o cliente vi-nha procurando eu ía anotando. Aí meu cunhado vinha, à noite, e vinha para cá, cinco horas da tarde. Quando ele saía do banco, vinha bater aqui, onde eu estava.

Caricatura de Valber: fregueses viram músicos às sextas e sábados.

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Ele passou a fazer refeição comigo. Deixou o hotel onde ele morava, onde ele morava não, onde ele fazia refeição, e veio fazer refeição comigo aqui. Isso aí… essa…. Isso eu devo a ele. (conta emocionado). Aí ele levava de volta, quando ele saía do banco, ele ía bater na (Rua) Governador Sampaio (Centro de Fortaleza). Aí fazia as compras, tudo que tava anotado ele trazia. Nesse tempo o transporte era feito em jipe, ou então em carroça, ele preferia de jipe (pi-garreia). A gente comprava três vezes por semana, por incrível que pareça, que aí a venda começou a aumentar, a freguesia começou a aumentar, as cadernetinhas chegando: ´Seu Chagas, eu moro aqui´..., Por que isso aqui tudo (Gentilândia) era fun-cionário. Olhe, quando não era da estrada de ferro, era do correio, era funcionário da prefeitura. Quando nós iniciamos, em (19)56, já foi bairro feito pela família Gentil, pelo João Gentil. Isso aqui foi a primeira vila, construída aqui no Estado do Ceará (bate na mesa), pela família Gentil, em 1931. No ano que eu nasci, eles estavam construindo isso aqui, tá certo? (entusiasmo). A casa deles de veraneio era ali onde hoje é a Uni-versidade (UFC), ali era quando era final de semana, a família toda vinha de lá, pra li, pra passar o fim de semana. Isso era um quarteirão quadrado, a casa do meio, não sei quantas suítes. E aí o pessoal diz, não sou eu não, tô só informando o que eu ouvi dos mais antigos aqui, que aí a turma gos-tava de jogar um baralhinho (ri, em alusão à estória difundida que a família Gentil en-trara em decadência pelos insucessos de alguns no jogo de cartas). Sérgio - O senhor pegou um empréstimo para abrir sua mercearia?Chaguinha - Foi lá (no Banco) onde ele (o cunhado) arranjou o empréstimo pra mim. E ele não foi o fiador não, porque não po-dia, teve que ser o fiador um colega dele, pra validar tudo pra mim… E aí a vida con-tinuou… Trabalhamos mais um ano e cres-ceu a clientela. E nós passamos a fazer um tira gosto, passamos a assar um cara-zinho (peixe cará), um negócio… Todo dia era um tira-gosto diferente. (Quando ) eu comecei, a mesa era a calçada: eu botava uma caixa de cerveja ali em cima da calça-da e a cadeira aqui na coxia. Então a mesa era uma caixa de cerveja lá. Essa turma da escola industrial, que hoje é uma faculda-de né? (Instituto Federal Tecnológico, na Av. 13 de Maio). Sérgio - Seu Chagas, a sua esposa é ce-arense?

* EXPEDIENTE

Produção, captação e transcrição: Mônica Andrade, Janaina Arruda, Vanessa Freitas, Sérgio Alencar, Cícero Lacerda e Rosa Nascimento

Edição: Tiago Fernandes

Editoração da versão e Supervisão: Danilo Patrício.

lugar de encontro, esse lugar de diversão, esse lugar onde os amigos se encontram, né, claro que eles querem que permaneça durante muito tempo.Chaguinha - Eles ficaram com raiva por-que eu mudei o piso (risos), tirei um balcão que tinha ali, que a turma, os mais antigos se sentavam aqui (apontando)… Sérgio - Seu Chaguinha, sobre o cliente ideal, o senhor tem?Chaguinha - É, só tenho o ideal, porque eu selecionei, só ficou o ideal, porque os que não servem não ficam não, só tem ideal…

Sérgio - Seu Chaguinha, como é que o senhor considera seus clientes. Eu que-ria saber o que o senhor pensa dos seus clientes?Chaguinha - Olhe… Com raras as exce-ções, por que no meio de trigo nasce joio, o senhor sabe disso né… Sérgio - Quer dizer que seus clientes, as-sim, são todos amigos?Chaguinha - Exatamente! Meus clientes hoje, hoje são todos… Mais é na amizade. Quando aparece algum cliente aqui dife-rente, quando aparece algum cliente aqui diferente… que eu não conheço… Sérgio - O senhor acha que trabalhar aqui é perigoso?Chaguinha - Todos nós temos que ter experiência na vida no dia-a-dia, principal-mente numa violência que nós temos hoje. Chega um sujeito aqui que eu nunca vi, diz ´o senhor me vende um gole de cacha-ça´. Rapaz, me desculpa, tô saindo para casa, tô saindo para almoçar, tal. Eu não fico porque eu não conheço a pessoa, viu Sérgio, e eu não vou enfrentar um batente sem necessidade. E a gente é que tem que ativar estas coisas viu, sei lá se esse cara num é assaltante, pensa que eu tenho di-nheiro aqui e tal, num vai me assaltar por 10 reais que eu tenho no bolso?

Chaguinha - Não, é piauiense…Lacerda - Seu Chagas, como o senhor mesmo relata, o comércio sempre vinha dando lucro né...Chaguinha - (interrompe) Rapaz, pra mim foi… Olhe, se fosse hoje, se fosse hoje eu jamais tinha condição de ter conseguido o que eu consegui na vida. Rapaz, eu pagava aluguel da bodega, pagava aluguel da casa que eu morava, e tinha que dar educação aos meninos. Meus filhos sempre estuda-ram em colégio particular.

Mônica - Seu Chaguinha, pelo senhor ter perdido seu pai muito cedo, o senhor pro-curou estar mais presente na vida dos seus filhos?Chaquinha - Eles sempre viveram comigo, eles só saíram do nosso convívio, depois que se casaram. O Chico foi simbora pra São Paulo por necessidade, ele se formou--se em computação. Apareceu uma opor-tunidade lá e ele foi pra lá, e até hoje ele trabalha lá. O Chico… o Chico hoje trabalha numa empresa que é prestadora de servi-ços, que tem mais de 50 mil funcionários (ênfase)… A empresa precisa de 10, 15, 20, 30 funcionários, telefona pra lá (ges-ticula telefonando): “Nós tamo precisando de…”, Porque hoje o pessoal é tudo tercei-rizado, inclusive você sabe que o Governo aqui, a maioria dos funcionários é tercei-rizado né? Sérgio - Seu Chagas, e me diga uma coisa, como é a sua vida fora do bar?Chaguinha - Rapaz, minha vida fora do bar

é uma vida… Muito calma viu. Eu não gosto de beber, só bebo se for em casa. Num sou desses camaradas que dia de folga sai de casa pra ir beber nos bares, não, eu gosto de ficar em casa… Eu tenho lá minha cervejinha na geladeira, tenho meu aperitivo, tenho meu whisk, no dia que eu quero beber whisk eu bebo whisk, no dia que eu quero beber uma cachacinha com uma coca-cola, minha mulher prepara o tira gosto, bota ali na mesa, aí eu fico tomando. Também só é três. Começo 11 horas (e) vou até a hora do almoço, geral-mente o almoço lá em casa é uma hora da tarde. Depois que eu acabo de almoçar cumpade, eu só bebo água, não tem quem faça… Pra sair pra fora de casa, como eu já lhe disse, só vou se for aniversário, só vou se for pra praia, se for pra um convite de um aniversário na sua casa, na casa de qualquer pessoa, eu vou… A gente… Lá eu bebo o que tiver. Eu bebo rum montila, eu bebo cerveja… Rosa - Sempre tem seresta aqui? Termina que horas?Chaguinha - Logo começam a dançar, fica animado aí (apontando para as mesas), até um hora da manha (às sextas). Come-ça oito horas (da noite e vai) até uma hora da manha, aí na maior tranquilidade.Chico Lira (fotógrafo presente com a equi-pe): A seresta que o senhor fala é um pa-godinho de mesa né? Lacerda - É (na verdade roda musical de ritmos diversos), agora esse ponto, esse

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V ideomakers. Uma palavra estranha para algumas pessoas. Estes indiví-duos fazem vídeos! Aqui no Ceará, já

temos algumas pessoas que se destacam no meio. Thiago Daniel é um destes, que acumu-la prêmios com os trabalhos desenvolvidos.

Com apenas 19 anos, ele dava início à carreira. Tudo começou quando Thiago fez um curso para estudar cinema em uma ONG, proposto pela escola. Surgia ali uma paixão pelo audiovisual. O jovem mostrava talento desde cedo. Logo ganhou o prêmio Ceará Cinema e Vídeo, com o curta metra-gem “Romualdo de Aluguel”. Foi ganhando credibilidade e participou do roteiro do curta “Cine Holiúdy – O Artista Contra O Caba do Mal”, que ganhou muitos prêmios, tanto na-

Thiago DanielConstruindo outros olhares com o audiovisual

cionais quanto internacionais. Foi premiado no festival do Ministério da Cultura, o Minc. Neste curta, Thiago fez parceria com Halder Gomes, diretor já conhecido e premiado no meio.

Por intermédio também de ONGs, partici-pou do programa Megafone, exibido na TVC. Atuava como redator e diretor do programa.

Thiago Daniel nos conta que é um verda-deiro amante de cinema, que faz seu trabalho ¨por prazer¨. Ele foi picado pelo vermezinho do cinema e quando isso acontece, como ele nos conta, você não larga mais essa paixão.

José Augustiano - O que você fazia antes do audiovisual?Thiago Daniel - Bem, antes de entrar no au-

diovisual eu era estudante do ensino médio e não tinha nenhuma outra formação, apenas ideías que eu ia fazer para o vestibular, mas nada profissional.

José Augustiano - Aos 19 anos, você en-tra para esse meio participando de um projeto de uma ONG, “Fábrica de Ima-gens”. Conte um pouco sobre as experiên-cias dessa época.Thiago Daniel - Na época eu fazia o segundo ano do ensino médio e estudava pela manhã. Veio a proposta na escola de estudar cine-ma, fazer um curso técnico oferecido por uma ONG, de um ano.

José Augustiano - Depois que você iniciou

na Fábrica de Imagens, logo na sequência você já estava em outra ONG, já na posição de assistente de direção. Como você avalia isso?Thiago Daniel - Nesse ano que eu passei de formação nessa primeira ONG, “Fábrica de Imagens”, eu consegui conquistar o meu primeiro prêmio, de Ceará de Cinema e Ví-deo. Assim eu conquistei uma credibilidade junto aos professores que davam aula pra mim na instituição. Logo depois de encerra-do o curso, uma professora minha chamada Michelline Helena, fez um convite para eu ir para outra ONG, “Encine”, que trabalha com o programa “Megafone”. Lá eu auxiliava na assistência de direção e na criação de rotei-ros para o programa. Eu passei um ano e

Equipe do premiado “Romualdo de Aluguel”

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meio exercendo essas duas atividades.

José Augustiano – Logo após ter passado por todo esse processo de formação nes-sas ONGs, de que forma essa sua experi-ência contribuiu para a realização de seus trabalhos? Seus prêmios têm relação com essas mudanças?Thiago Daniel - Não tem uma ligação tão di-reta com a mudança de uma instituição pra outra com os prêmios. Foi mais pra mim mesmo, eu compreender que eu já não era mais apenas um aluno, já estava começan-do a tratar como algo profissional. Estava começando a pagar as minhas contas. Eu estava assumindo uma responsabilidade de dirigir e roteirizar um programa que era veiculado pela TVC. Eu estava inserido num programa que era exibido semanalmente. Era outra dinâmica de trabalho e isso me ajudou a como dinamizar o meu tempo nas direções, na feitura de roteiros.

José Augustiano - As pessoas acabam rotu-lando os jovens que passaram um processo de formação em ONGs como “meninos de projeto”. Como você encarou essa questão?Thiago Daniel - Esse termo foi muito usado na época. Eu cheguei a fazer um projeto de documentário com esse título. Na época (2002), tinham três instituições aqui em For-taleza que focavam na formação unicamente de jovens realizadores. Quando esses meni-nos saiam dessas instituições, eram rotula-dos “meninos de projeto”, por que só se man-tinham pelos projetos. Então pra gente era uma grande dificuldade, por que a gente não era apenas meninos de projeto. A gente era formado para ir para o mercado de trabalho.

Guilherme Paiva - Você foi convidado por Halder Gomes, que já é um diretor vetera-no e com vários prêmios, para participar do roteiro de “Cine Hóliudy”. Como foi feito esse convite?Thiago Daniel - “Cine Hóliudy” foi um dos pri-meiros roteiros que eu escrevi. Foi em 2003. O Halder já era conhecido aqui em Fortaleza e tem uma parceria muito forte com a Mi-chelline Helena, que era minha professora na época. Quando a Michelline viu que eu já ti-nha conquistado o meu primeiro prêmio, que eu já estava investindo em ser um roteirista, ela já foi me convidando a participar dessas realizações. Um desses convites foi pra par-ticipar do “Cine Hóliudy”, onde participou com a gente o Halder, o dono da ideia. Num dia só a gente conseguiu roteirizar o curta. Ali foi uma experiência legal porque logo em seguida ele já colocou esse roteiro no festival do Ministério da Cultura, o Minc de 2004,

que foi premiado. Foi extremamente legal por que foi meu primeiro roteiro em 35 mm, em película. Foi um salto por que eu já não estava mais escrevendo roteiro apenas para vídeo, como eu tinha sido premiado, mas já escrevia roteiro em 35mm. Pra um currículo de um roteirista, isso é bem legal. Guilherme Paiva - O “Cine Hóliudy” virou um longa e estreará nos cinemas no segundo semestre deste ano. Você teve algum tipo de participação nesse projeto?Thiago Daniel - Não, e essa é uma história bem engraçada. Na época que teve o su-cesso do “Cine Hóliudy”, foram muitas pre-miações, o Halder já fez o convite pra gente roteirizar o longa. Mas como a gente já esta-va envolvido com outros projetos, a gente foi adiando. Aí o Halder acabou chamando outro roteirista, que tomou conta do projeto e aca-bou fazendo o longa.

Guilherme Paiva - Em “Romualdo de Aluguel” você tem participação como roteirista e dire-tor. Que pontos positivos você agrega a essa junção? Thiago Daniel - Às vezes quando o roteiris-ta escreve, tem um vício que a gente tenta se livrar que é se apegar a nossas estórias. Por exemplo: a gente escreve uma estória,

ela fica bela pra nossa vista e quando a gente entrega para o diretor, ele faz o que ele quiser dela. Então, eu tava muito apegado. Era extre-mamente importante eu dirigir o meu próprio roteiro. O benefício em você escrever e dirigir é por que você pode idealizar aquilo que você tem na cabeça. É colocar a ideia e tentar o movimento de câmera, conduzir a equipe, pensar na montagem de fazer esse vídeo.

Guilherme Paiva - Quando você estava es-crevendo o roteiro de Romualdo, você já al-mejava fazer faculdade de jornalismo. Como o curso tem contribuído para o seu trabalho de videomaker?Thiago Daniel - Eu não só almejava fazer jor-nalismo como também desejava fazer várias outras faculdades. Pretendia fazer geografia, pretendia fazer química. Mas eu pensei no jornalismo principalmente na questão da es-crita, de estar ligado ao documental, retratar a verdade. Existe o experimental, a ficção, o documentário e o documentário ficcional, e foi uma das coisas que me fez optar por estudar jornalismo: a questão de ser muito parecido com a pesquisa do documentário.[Thiago é apaixonado pelo experimentalismo. Segundo ele, esse gênero foge dos clichês, não segue regras. Apresenta inovações, ex-perimentos. É você começar a assistir e não saber o final.]

Amanda Rodrigues - Em uma visita ao Sha-lom, um companheiro seu disse que você é um “consagrado”. Você pode explicar me-lhor o que é isso? [Pelo que pudemos per-ceber na comunidade, Thiago é conhecido e bem popular no local]Thiago Daniel - Eu sou consagrado a partir da vivência dentro da comunidade Shalom. Lá tem toda uma regra de vida a se cumprir, de obediência, de pobreza, de castidade. Pelo tempo de vivência, você vai se identificando com aquilo, e a comunidade vai te conhe-

cendo como um membro. Como eu já tô há muito tempo na vivência, e livremente opto por isso, então eu caminhei num caminho de consagração divina. [Ao falar de sua religião e do Shalom, Thiago segura seu crucifixo].

Amanda Rodrigues - No final do semestre passado, você se recusou a participar de um debate sobre a legalização no aborto na Faculdade 7 de Setembro, por conta da sua religião. No cinema acontece o mesmo? A religião interfere no seu trabalho?[Durante a pergunta, Thiago se mostra sur-preso com a lembrança do fato]Thiago Daniel - Eu tenho que fazer sempre um filtro sobre como é que eu vou retratar. Não é que minhas estórias não vão ter ce-nas de violência, de sexo. Mas a minha forma de retratar já se modifica. Eu não banalizo violência, não banalizo sexo. Eu tento mostrar com um novo olhar. Com a religião eu tento conduzir melhor a forma como eu mostro as minhas ideias. Por exemplo, se eu for fazer um documentário ou uma ficção retratan-do a exploração sexual, ou fazer retratando o uso de drogas, eu já vou dando um olhar mais contido. Não é que eu vou omitir, mas eu não preciso escrachar. Eu posso causar esse mesmo impacto sugerindo. [Thiago tenta lembrar de um cena para exemplificar, mas o toque de um celular o interrompe].

Amanda Rodrigues – Atualmente, acho que 80% dos filmes têm cenas de sexo, de violên-cia, de drogas. Alguns roteiristas e diretores dizem que é por que dá audiência. Você acha que precisa disso para um filme se dar bem?Thiago Daniel – Infelizmente, hoje em dia existem duas formas de se produzir filme. Existe a forma comercial, que você vai apelar para todos os detalhes que vai fazer audiência, e existe a forma autoral. O autor faz do jeito que ele quer. Mas a realidade é que hoje em dia o filme é do produtor. São raros os filmes realmente do diretor. E o problema é que o produ-tor está ligado à venda, ele quer vender o produto. É uma coisa muito comercializa-da. É um grande problema por que, vamos dizer que 70% das obras hoje em dia são assim, querem prender seu espectador não pelo conteúdo, mas pela forma como ele já está automaticamente ligado àque-la cena. [Ao debater sobre o fato de as obras estarem diretamente influenciadas pela lei do lucro, Thiago se mostra bem apreensivo com relação às futuras obras perderem totalmente sua essência.].

Guilherme Paiva - Como você caracteriza a situação do cinema cearense atualmen-

Thiago Daniel e equipe na gravação do programa “Megafone”

“ÀS VEZES quando o roteirista escreve, tem um vício que a gente tenta se livrar que é se apegar a nossas estórias.”

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te? Essa denominação “cinema cearense” surge como um ato de orgulho ou apenas para despertar pena?Thiago Daniel – Não é bem o cinema cearen-se, é o cinema nordestino. O cinema nordesti-no ele foi tratado há muito tempo como o ci-nema da estética da fome, da pobreza, e ficou marcado no Brasil e no exterior. “Ah, cinema nordestino tá falando do que?” Tá falando dis-so. Sendo que há um tempinho tenta-se fazer algo diferente, mostrar essas realidades com outro viés. Hoje, posso dizer que já há uma desmistificação muito grande em relação a isso, não que esteja 100%, mas já tem assim.

José Augustiano - A gente sabe que fazer produções cinematográficas requer um cus-to muito alto e aqui no Ceará não é diferente. Você enfrentou essa dificuldade?Thiago Daniel - Temos que fazer uma di-ferença: existe vídeo e existe cinema. São duas linguagens que financeiramente são completamente diferentes. Quando eu escrevo um roteiro, ele pode ser usado tanto pro vídeo quanto pro cinema, mas quando você vai dirigir, é uma outra for-ma, uma outra linguagem. Com o vídeo você pode pegar uma fita de TV e pode gravar 60 minutos. E ela custa R$15,00. Com o cinema não. Com o cinema você vai trabalhar com uma lata de negativo que custa R$200,00, R$250,00, que grava só quatro minutos, e ali você não pode gravar por cima. Você queimou aquele negativo ali, pronto, você tem que comprar outra lata. Com o vídeo, você pode passar por cima. Para cinema, você tem que ensaiar pra gravar um ou dois takes valendo, por que você não vai ter dinheiro pra custear um negativo.

José Augustiano - Qual a diferença de traba-lhar com vídeos e trabalhar com produções cinematográficas?Thiago Daniel - No cinema é um pouco complicado por que você ou vai depender de editais de financiamento ou conhece pessoas, ter amigos que podem ceder um negativo pra você gravar, tudo bem. Pra ví-deo não. Pra vídeo você pega um celular e faz um vídeo. Você instala um programa básico no seu computador de edição e está lá, seu vídeo editadinho. Então o custo é bem mais simples. O problema é que o vídeo vicia a pessoa que está fazendo, vi-cia no erro. Você tem que trabalhar vídeo com o mesmo olhar de cinema, e não er-rar tanto. O grande problema é esse, que fazer vídeo é fácil? É barato? É, mas vicia a pessoa que tá fazendo a sempre querer

fazer mais, repetir determinada cena, errar quantas vezes quiser.

José Augustiano - Você acha que sem a aju-da dos editais você teria conseguido realizar os seus trabalhos?Thiago Daniel - Bom, por exemplo, o “Cine Hóliudy”, que foi feito em 35 mm, era inviável fazer sem recurso, por que tem um elenco muito grande, tem cenas em locais muito di-ferentes. Agora tem histórias mais simples que dá para fazer sem recurso nenhum. Agora o importante é a mensagem que você está passando, a ideia que você está pas-sando com o seu roteiro. O que importa é a história que você está fazendo, por que pode ser uma porcaria e eu tenho o dinheiro pra fazer em 35 mm, em cinema, em película. Vai continuar sendo a mesma porcaria, só vai ter uma imagenzinha boa. Então a gran-de diferença é essa, você ter uma história realmente boa.

José Augustiano - Atualmente a tecnologia tem permitido que várias pessoas tenham acesso a ferramentas que possibilite a pro-dução de peças audiovisuais. Você acha que isso interfere na qualidade das produções?Thiago Daniel - É, têm esses dois problemas. É positivo por que qualquer um agora pode ter uma ideia e fazer. Você pode pegar o seu celular e fazer o que quiser, principalmente

agora, que tem celulares de 10 megapixels como câmera. Agora o problema é de viciar a pessoa em não prezar pela perfeição.

José Augustiano - Como você lida com a questão do reconhecimento?Thiago Daniel - O reconhecimento é meio complicado por que eu tenho o reconheci-mento das pessoas que trabalham comigo, eu tenho reconhecimento das pessoas que viram o vídeo, mas não é aquele reconhe-cimento assim: “ah, o cara é um cineasta”, por que eu não sou. Eu sou um videomaker, eu trabalho com vídeos. Isso no estado do Ceará tá engatinhando ainda. Só agora você tem a graduação em cinema, em audiovisu-al. Mas o reconhecimento fica muito restrito ainda, tá engatinhando.

Equipe gravando o curta “Romualdo de Aluguel”

Guilherme Paiva - E por que você ficou nesse ramo?Thiago Daniel - Eu me esforço por que eu faço o que eu gosto. Se eu não gostasse, eu tinha saído fora, tinha continuado ten-tando fazer geografia, química. Como diz uma professora minha: “cara, a pessoa que estuda cinema ela tem que ser pica-da pelo vermezinho do cinema, por que se não, ela não fica, vai seguir outras áreas”. Eu acho que eu fui, por que até hoje estou, desde 2002, e não pretendo deixar.

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Pesquisa: Amanda Rodrigues, José Augustiano, Guilherme Paiva e Lucas Mota

Fotografia: Amanda Rodrigues

Transcrição: Guilherme Paiva

Edição: José Augustiano e Guilherme Paiva

Captação: Amanda Rodrigues, José Augustiano, Guilherme Paiva, Thicianna Moraes, Mimosa Pessoa e Mávio Braga

Revisão: Danilo Patrício

“O PROBLEMA é que o vídeo vicia a pessoa que está fazendo, vicia no erro. Você tem que trabalhar vídeo com o mesmo olhar de cinema, e não errar tanto.”