larissa figueiredo de oliveira-pissini · ao prof. dr. cleber alho, meu orientador, pela...
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UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO
DO ESTADO E DA REGIÂO DO PANTANAL – UNIDERP
LARISSA FIGUEIREDO DE OLIVEIRA-PISSINI
MORCEGOS (MAMMALIA: CHIROPTERA) DO PANTANAL DA NHECOLÂNDIA,
MATO GROSSO DO SUL
CAMPO GRANDE - MS
2008
LARISSA FIGUEIREDO DE OLIVEIRA-PISSINI
MORCEGOS (MAMMALIA: CHIROPTERA) DO PANTANAL DA NHECOLÂNDIA,
MATO GROSSO DO SUL
CAMPO GRANDE – MS
2008
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em nível de Mestrado Acadêmico em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional.
Orientação: Prof. Dr. Cleber José Rodrigues Alho Prof. Dr. Sílvio Jacks dos Anjos Garnés Profa. Dra. Vânia Lúcia Brandão Nunes
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UNIDERP
Oliveira-Pissini, Larissa Figueiredo de. Morcegos (Mammalia: Chiroptera) do Pantanal da Nhecolândia, Mato Grosso do Sul. / Larissa Figueiredo de Oliveira-Pissini. -- Campo Grande, 2008.
28f . : il. color. Dissertação (mestrado) - Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal, 2008.
“Orientação: Prof. Dr. Cleber José Rodrigues Alho” Contém 1 artigo científico.
1. Planície de inundação 2. Biodiversidade 3. Chiroptera 4.
Morcegos I. Título. CDD 21.ed. 574.5091
O49m
ii
DEDICATÓRIA
Dedico esta dissertação a meus pais,
Altamiro e Maria Aparecida.
Com muito amor...
iii
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Cleber Alho, meu orientador, pela disponibilidade, paciência e
dedicação ao longo da elaboração da dissertação.
Aos membros do comitê de orientação, Prof. Dr. Silvio Jacks e Prof.ª Dr.ª Vânia
Nunes, pela valiosa contribuição na elaboração da dissertação.
Ao Professor Dr. Ademir Kleber Morbek de Oliveira pelas sugestões no Exame
de Qualificação.
À Professora Dr.ª Mercedes Abid Mercante pelas valiosas sugestões no Exame
de Qualificação e na Defesa.
Ao Professor Dr. Marcelo Oscar Bordignon pelas importantes contribuições
para a melhoria do trabalho na Defesa.
À PROAD – UNIDERP pela bolsa concedida durante a realização do mestrado.
Ao Prof. Silvio Favero por me incentivar a ingressar no curso de Mestrado, pela
sua valiosíssima contribuição na elaboração da dissertação e por nunca me deixar
esquecer que a culpa é sempre minha.
À Cintia de Oliveira Conte, amiga Scheila, que esteve ao meu lado em todos os
momentos, sempre me apoiando e incentivando. Nunca me deixando desistir.
Ao Helder (Zé) pelo apoio e incentivo, mas principalmente pelos vários
momentos de descontração.
Ao Celso Ramão pela confecção do “cartograma temático” e pela paciência que
teve comigo nos momentos de lamentação.
iv
Ao Dr. Fábio Paes Barreto por me proporcionar os momentos serenidade
importantíssimos no decorrer do desenvolvimento da dissertação.
A todas as pessoas que se fizeram presentes, que se preocuparam, que foram solidárias,
que torceram por mim.
Ao meu esposo, Fabiano, pelo companheirismo, amor e compreensão.
Por último, é com grande alegria que agradeço à minha família pelo constante
apoio e incentivo. Em especial aos meus Pais, pois sem eles e sua ajuda
incondicional, este trabalho nunca poderia ter sido desenvolvido.
v
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO GERAL ..............................................................................................1
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................................4
CAPÍTULO 1 - DIVERSIDADE DE ESPÉCIES E ESTRUTURA DE COMUNIDADES
DE QUIRÓPTEROS DO PANTANAL DA NHECOLÂNDIA, MATO GROSSO DO
SUL .............................................................................................................................6
RESUMO.....................................................................................................................7
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................8
2 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................9
2.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO......................................................9
2.1.1 FAZENDA GUANABARA .................................................................................11
2.1.2 FAZENDA SANTA TEREZINHA ......................................................................11
2.1.3 FAZENDA CAMPO NETA................................................................................11
2.2 AMOSTRAGEM DA QUIROPTEROFAUNA .......................................................11
2.3 ANÁLISE DOS DADOS.......................................................................................13
2.4 TRATAMENTO ESTATÍSTICO ...................................................................................... 13
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................15
4 CONCLUSÕES. .................................................................................................... 22
ABSTRACT...............................................................................................................23
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................22
INTRODUÇÃO GERAL
Os morcegos são considerados os mais diversos e geograficamente
dispersos mamíferos existentes no planeta, ocorrendo em praticamente todos os
ambientes, excetuando as calotas polares e algumas ilhas oceânicas isoladas
(KUNZ; PIERSON, 1996).
Constituem um dos grupos de mamíferos mais diversificados quanto aos
hábitos alimentares e desempenham um importante papel na composição de
comunidades e ecossistemas. Destacando a intensa participação dos
nectarívoros/polinívoros e dos frugívoros como vetores de pólen e sementes,
favorecendo diretamente a reprodução das espécies vegetais. Além disso, os
morcegos contribuem para a manutenção das populações de insetos, já que a
maioria das espécies tem hábito alimentar insetívoro (TADDEI, 1996; REIS et al.,
2007). Todos os grupos tróficos podem ser observados entre os morcegos,
excetuando os saprófagos (REIS et al., 2007).
Dentre todos os mamíferos, os morcegos possuem a segunda maior
diversidade de espécies, ficando atrás apenas dos roedores, e são distribuídos em
18 famílias, 202 gêneros e 1.120 espécies (REIS et al., 2007). No Brasil, são
conhecidos nove famílias, 64 gêneros e 167 espécies de morcegos (REIS et al.,
2007) e no Pantanal 62 espécies (ALHO, 2003).
O Pantanal é uma planície sedimentar, formada no período quaternário,
inundada sazonalmente, havendo durante o ano um período muito bem definido de
seca e outro de cheia. Estende-se por cerca de 138.000 km2 de extensão, sendo
preenchida com depósitos aluviais dos rios da Bacia do Alto Paraguai (ALHO et al.,
2000; SILVA et aI., 2000; MAMEDE; ALHO, 2006). Está situada no centro da
América do Sul, e é compartilhado pelo Brasil, Bolívia e Paraguai. A área de
inundação varia de 11.000 a 110.000 km2 com média de 53.000 km2 (ALHO;
GONÇALVES, 2005).
Por ser uma área inundável muito grande, recebendo influência biogeográfica
de biomas vizinhos distintos (Cerrado, Amazônia e Chaco), o Pantanal apresenta
diferenças climáticas, de tipos de solo, nos graus e período de inundação e na
qualidade da água. Todas essas diferenças influenciam também a formação das
2
paisagens locais que, por sua vez, constituem diferentes tipos de pantanais ou sub-
regiões (ALHO; GONÇALVES, 2005), reconhecidas pelas populações locais e
adotadas pela comunidade científica.
Tal influência, associada às variáveis abióticas como clima, solo, padrões de
inundação e drenagem, determina a ocorrência de diferentes unidades ambientais.
Portanto, esses aspectos são considerados na subdivisão das sub-regiões
zoogeográficas do Pantanal(ALHO, 2003).
Silva e Abdon (1998) adotam 11 sub-regiões: Cáceres, Poconé, Barão de
Melgaço, Paraguai, Paiaguás, Nhecolândia, Abobral, Aquidauana, Miranda,
Nabileque e Porto Murtinho.
O Pantanal da Nhecolândia representa a área de maior expressão geográfica
na planície pantaneira, aproximadamente 26.921 km², situada à margem esquerda
do rio Taquari (ABDON et al., 1998). Limita-se ao norte e ao sul, respectivamente,
pelos rios Taquari e Negro, a leste pela escarpa da Serra de Maracaju e a oeste pelo
rio Paraguai, ocupando basicamente a parte sul do leque aluvial do rio Taquari
(ADÁMOLI, 1987).
O reconhecimento da importância do Pantanal está no artigo 225 da
Constituição Brasileira promulgada em 1988, que o considera como patrimônio
nacional. Recebeu também o crédito do Programa das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) como “Reserva da Biosfera”, desde o ano
2000, e foi designado também como sítio Ramsar (ALHO; GONÇALVES, 2005).
Porém a região pantaneira está sujeita também à ação antrópica, que
constitui um risco para a manutenção do meio. Um exemplo de fator adverso é o
desmatamento, que reduz o hábitat natural da biodiversidade local e modifica a
paisagem, propiciando ainda o assoreamento, a modificação na qualidade da água e
outros fatores deletérios ao ecossistema natural que comprometem o equilíbrio da
cadeia alimentar. A enorme quantidade de plantas anuais que crescem na época de
cheia, morrem e se decompõem na estação seca, formam detritos, alimentos para
uma grande variedade de invertebrados como crustáceos, moluscos, insetos e
pequenos peixes, todos servindo de alimento para outros animais (ALHO;
GONÇALVES, 2005).
As comunidades de morcegos podem sofrer declínio em número de espécies
e de indivíduos, devido a alterações antrópicas em seus hábitats. Esse declínio pode
comprometer a estrutura das comunidades ecológicas de morcegos em diversos
3
níveis tróficos, uma vez que várias espécies têm hábitos alimentares diferenciados,
mantendo, em muitos casos, uma complexa interdependência associada a várias
espécies de plantas (PEDRO, 1995).
O Brasil é o quinto maior país do mundo e ocupa quase metade da América
do Sul, sendo o primeiro país em diversidade biológica (MITTERMEIER et al., 1997
apud COSTA et al., 2005), acolhendo cerca de 14% da biota mundial (LEWINSOHN;
PRADO, 2002 apud COSTA et al., 2005). Ele abriga a maior diversidade de
mamíferos, com mais de 530 espécies descritas, sendo que existem ainda muitas
espécies novas a serem descobertas e catalogadas, principalmente espécies de
roedores, de marsupiais e de morcegos (COSTA et al., 2005).
A maior ameaça para os pequenos mamíferos é sem dúvida a escassez de
conhecimento científico básico, principalmente de taxonomia, sistemática,
distribuição e história natural (COSTA et al., 2005).
A conservação efetiva da biodiversidade requer um mínimo de conhecimento
sobre os alvos dessa proteção – o que é verdadeiro especialmente para roedores,
marsupiais e morcegos, que perfazem dois terços da diversidade de mamíferos no
país (COSTA et al., 2005).
Tendo em vista a importância ecológica dos morcegos e a atual situação de
fragmentação do Pantanal, ressalta-se, assim, a necessidade de estudos intensivos
em áreas consideradas críticas, em especial aquelas situadas em ecossistemas
relativamente frágeis, como o Pantanal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABDON, M.M.; POTT, V.J.; SILVA, J.S.V. Avaliação da cobertura por plantas
aquáticas em lagoas da sub-região da Nhecolândia no Pantanal por meio de dados
LANDSAT E SPOT. Pesquisa agropecuária brasileira, v.33, número especial,
p.1675-1681, 1998.
ADÁMOLI, J. Fisiografia do Pantanal. In: ALLEM, A.C.; VALLS, J.F.M., Recursos
forrageiros nativos do Pantanal Mato-Grossense. Brasília:
EMBRAPACENARGEN, p. 23-26, 1987.
ALHO, C.J.R. Conservação da Biodiversidade da Bacia do Alto Paraguai.
Campo Grande: Ed. UNIDERP, 2003, 449p.
ALHO, C.R.J.; STRÜSSMANN, C.; VASCONCELLOS, L.A.S. Indicadores da
magnitude da diversidade e abundância de vertebrados silvestres do Pantanal num
mosaico de hábitats sazonais. In: SIMPÓSIO SOBRE RECURSOS NATURAIS E
SÓCIO-ECONÔMICOS DO PANTANAL, 3, 2000, Corumbá. Anais... Corumbá:
Embrapa - Pantanal, 2000. CD – ROM.
ALHO, C.J.R.; GONÇALVES. H.C. Biodiversidade do Pantanal – Ecologia &
Conservação, Campo Grande: Ed. UNIDERP, 2005, 135p.
COSTA, L.P.; LEITE, Y.L.R.; MENDES, S.L.; ALBERT, D.D. Conservação de
mamíferos no Brasil. Megadiversidade, v.1, n.1, p. 103-112, 2005.
KUNZ, T.H.; PIERSON, E. Bats of the World: an introduction. p. 1-46. In: Walker´s
Bats of the World. ed. The Johns Hopkins University Press: Baltimore and London,
287 p. 1996
5
MAMEDE, S.; ALHO, C.J.R. Impressões do Cerrado e Pantanal - Subsídios para
a observação de mamíferos silvestres não voadores. Campo Grande: Editora
UNIDERP, 2006. v. único. 192 p.
PEDRO, W.A. Fragmentação de habitat e a estrutura de uma taxocenose de
morcegos em São Paulo (Brasil). Chiroptera Neotropical, v.1, n.1, p. 4-6, 1995.
REIS, N.R.; PERACCHI, A.; PEDRO, W.A.; LIMA, I.P. (Eds). Morcegos do Brasil.
Londrina: Nélio R. dos Reis, 2007, 253p.
SILVA, J.S. V.; ABDON, M.M. Delimitação do Pantanal brasileiro e suas sub-regiões.
Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 33, n.especial, p.1703-1717, 1998.
SILVA, M.P.; MAURO, R.; MOURÃO, G.E.; COUTINHO, M. Distribuição e
quantificação de classes de vegetação do Pantanal através de levantamento aéreo.
Revista Brasileira de Botânica, v. 23, n. 2, p. 143-152, 2000.
TADDEI, V.A. Sistemática de Quirópteros. Boletim do Instituto Pasteur, v. 1, n. 2,
p. 3-15, 1996.
CAPÍTULO 1
DIVERSIDADE DE ESPÉCIES E ESTRUTURA DE COMUNIDADES DE
QUIRÓPTEROS DO PANTANAL DA NHECOLÂNDIA, MATO GROSSO DO SUL
Larissa Figueiredo de Oliveira-Pissini1
1Bióloga e mestranda em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional – UNIDERP.
Avenida Afonso Pena 1557, CEP 79020-000, Campo Grande – MS, Tel. (67) 9232-
9844. E-mail: [email protected]
7
RESUMO
Os morcegos são importantes na regulação dos ecossistemas tropicais, agindo
como dispersores de sementes, polinizadores e reguladores de algumas populações
animais. Além disso, este grupo é um indicador de níveis de alteração no ambiente e
bom material de estudo sobre diversidade. As informações disponíveis sobre
morcegos do Pantanal da porção do Estado do Mato Grosso do Sul e de áreas
adjacentes ainda são escassas. O material estudado é resultado de 18 expedições
de campo, realizadas na Fazenda Santa Terezinha, localizada no município de
Aquidauana e nas Fazendas Guanabara e Campo Neta, situadas no município de
Corumbá, totalizando um esforço amostral de 64.776,2 m2.h. Determinou-se a
abundância, a riqueza, a riqueza esperada, a diversidade e a eqüitabilidade das
espécies, bem como a similaridade e a correlação dos locais amostrados. Foram
identificadas 30 espécies pertencentes a quatro famílias, sendo Phyllostomidae e
Molossidae as mais numerosas. As espécies mais abundantes foram Noctilio
albiventris, Molossus molossus e Artibeus planirostris. Há expectativa de registro de
aproximadamente mais sete espécies para a região. As comunidades de morcegos
dos ambientes estudados do Pantanal da Nhecolândia apresentaram o índice de
diversidade em torno de H’= 2,3, padrão de diversidade observado em outros
ambientes tropicais. A estrutura trófica da comunidade é predominantemente
composta de espécies insetívoras e frugívoras, semelhante ao observado em outras
áreas do Pantanal do Mato Grosso do Sul.
Palavras-Chave: Planície de inundação, Biodiversidade, Chiroptera, Morcegos.
8
1 INTRODUÇÃO
Os morcegos são importantes na regulação dos ecossistemas tropicais,
representando, em algumas áreas, 40 a 50% das espécies de mamíferos
(PATTERSON; PASCUAL, 1972; TIMM, 1994), sendo determinantes na diferença
dos padrões de diversidade de mamíferos entre regiões tropicais e temperadas
(EISENBERG, 1981 apud MIRETZKI, 2003). À medida que partilham os recursos,
em especial os alimentares, os quirópteros influenciam a dinâmica dos ecossistemas
naturais, agindo como dispersores de sementes, polinizadores e reguladores de
algumas populações animais. Além disso, este grupo é um indicador de níveis de
alteração no ambiente e bom material de estudo sobre diversidade (FENTON et al.,
1992).
As informações disponíveis sobre morcegos no Pantanal da porção do Estado
do Mato Grosso do Sul ainda são escassas; destacam-se os registros de ocorrência
mais recentes, encontrados por Longo et al., 2007, Camargo e Fischer, 2005 e
Taddei et al. (2000; 2001; 2003). As informações mais abrangentes são referentes
às regiões de Aquidauana e Nhecolândia, nas quais já foram relacionadas 31
espécies de cinco famílias (LEITE et al., 1998; 2000) incluindo observações sobre a
diversidade, abundância e estrutura trófica das comunidades de Chiroptera.
Considerando que a quiropterofauna do Pantanal ainda é pouco conhecida,
este trabalho tem como objetivo caracterizar a diversidade, estrutura trófica da
comunidade e relações de abundância das espécies de Chiroptera do Pantanal da
Nhecolândia.
As hipóteses de trabalho a serem aqui investigadas são: 1) as comunidades
de morcego dos ambientes do Pantanal da Nhecolândia seguem o padrão de
diversidade de outros ambientes neotropicais? 2) a estrutura da comunidade,
particularmente a estrutura trófica, difere ou não dos ambientes encontrados em
outras sub-regiões do Pantanal Sul Mato-grossense?
9
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Caracterização da área de estudo
As atividades de campo foram desenvolvidas na sub-região do Pantanal da
Nhecolândia, Estado do Mato Grosso do Sul, Brasil.
Para Silva e Abdon (1998) a sub-região da Nhecolândia agrega áreas dos
municípios de Rio Verde de Mato Grosso, Aquidauana e Corumbá.
A Nhecolândia é caracterizada por ser uma área de extenso alagamento
pluvial com presença de capões (mancha de vegetação de forma geralmente
elíptica, apresentando de 1-3 m de elevação) (DAMASCENO JÚNIOR et al., 1999),
cordilheiras (paleodiques aluviais, geralmente não inundáveis, que se erguem a
cerca de 3 metros acima da planície, cobertos por vegetação arbórea do tipo
cerradão, cerrado ou mata semidecídua) (RATTER et al., 1988) e numerosas lagoas
(permanentes ou temporárias) denominadas baías. Algumas lagoas têm alta
salinidade e pH alcalino, por isso são denominadas salinas. Ocorrem também cursos
d’água, denominados corixos, que permanecem inundados o ano todo ou boa parte
dele, assim como as vazantes (TNC, 2003; ALMEIDA et al., 2006).
Na região predomina a Savana Gramíneo-Lenhosa, Savana Florestada,
Savana Arborizada, segundo o sistema fisionômico-ecológico do IBGE (1992)
(SILVA et al., 2000). Na região ainda ocorrem babaçuais (Orbignya oleifera Burret)
(TNC, 2003).
Neste trabalho foram realizadas coletas em três áreas, sendo: Fazenda
Guanabara (GNB) (18°14’06,5”S; 55°45’00,9”W), Fazenda Santa Terezinha (STA)
(19°22’38,5”S; 56°3’20,5”W) e Fazenda Campo Neta (CPN) (18°45’38,8”S;
56°17’48,3”W) (Figura 1).
10
GOIÁS
Chapada dos Guimarã
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PARAGUAI
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MARACAJU
PANTANAL DE CÁCERES
PANTANAL DE POCONÉ
PANTANAL DO BARÃO DE MELGAÇO
PANTANAL DO PARAGUAI
PANTANAL DE PAIAGUÁS
PANTANAL DA NHECOLÂNDIA
PANTANAL DO ABOBRAL
PANTANAL DE AQUIDAUANA
PANTANAL DE MIRANDA
PANTANAL DO NABILEQUE
PANTANAL DE PORTO MURTINHO
Faz.Gua n abara
BOLÍVIA
Faz.
Faz.Ca m p o Net a
St a Terezinh a
CAPITAIS
LEGENDA
Loc a is am ost rados
RIOS
BACIA DO PANTANAL
Figura 1 – Cartograma temático do Pantanal e suas sub-regiões, segundo classificação de Silva e Abdon (1998). Em destaque os locais amostrados.
11
2.1.1 Fazenda Guanabara (GNB)
Localizada no município de Corumbá, à margem esquerda do rio Taquari, no
limite entre as regiões do Pantanal da Nhecolândia e do Pantanal do Paiaguás. O
sitio de coleta situa-se a 800 m da margem do rio em meio a vazantes formadas pela
dinâmica de canais de avulsões dos diques marginais em épocas de cheia. A
vegetação do entorno é constituída por matas arbóreas densas, mas com diversas
manchas por processo natural e de antropização, com altura média de 20m e
Diâmetro da Altura do Peito – DAP superior a 30cm, constituindo em parte o que
vem a ser a mata ciliar desse trecho do Rio Taquari.
2.1.2 Fazenda Santa Terezinha (STA)
Localizada no município de Aquidauana, na porção sul do Pantanal da
Nhecolândia. Situa-se em meio a baías, corixos e vazantes. Há a presença de
grande quantidade de salinas na região. Na região predomina a Savana Gramíneo-
Lenhosa, Savana Florestada e Savana Arborizada, apresentando diversas manchas
decorrentes de processo de antropização.
2.1.3 Fazenda Campo Neta (CPN)
Localizada no município de Corumbá, na porção central do Pantanal da
Nhecolândia, à margem direita do Rio Capivari, que é intermitente em grande parte
do ano. Situa-se em meio a baías, corixos e vazantes. Há a presença de salinas na
região. Na região predomina a Savana Gramíneo-Lenhosa, Savana Florestada,
onde ocorrem babaçuais (Orbignya oleifera Burret) e Savana Arborizada,
apresentando diversas manchas decorrentes de processo de antropização.
2.2 Amostragem da quiropterofauna
O material estudado é resultado de 18 expedições de campo com 125 noites
de amostragem, realizadas por diferentes grupos de coletores, no período de maio
de 1997 a janeiro de 2003, totalizando um esforço de coleta de 64.776,2 m2.h
12
seguindo os critérios de Straube e Bianconi (2002). O detalhamento das coletas dos
locais amostrados está representado no Quadro 1.
Quadro 1 – Relação das coletas realizadas no período de maio de 1997 a janeiro de 2003 em três áreas localizadas no Pantanal da Nhecolândia.
Locais amostrados
Esforço de coleta Número de expedições
Noites de amostragem
GNB 1.051,5 m2.h 1 6
CPN 11.032,1 m2.h 5 26
STA 52,242,6 m2.h 12 93
TOTAL 64.776,2 m2.h 18 125
Os exemplares de morcegos encontram-se depositados na coleção científica
do Laboratório de Chiroptera da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e
da Região do Pantanal – UNIDERP.
Os animais foram capturados com o auxílio de redes de neblina ("mist nets"),
com 7,0 X 3,0 m, armadas, a alturas que variaram de 3,0 a 7,0 m, junto a fontes de
alimentos, em possíveis rotas de vôo e nas saídas de abrigos diurnos das colônias.
Pelo fato de ter sido utilizado apenas o método de redes-de-neblina, os dados
apresentados não descrevem de forma completa a quiropterofauna do Pantanal da
Nhecolândia, uma vez que diversas espécies de quirópteros, como os
representantes das famílias Emballonuridae, Vespertilionidae e Molossidae, não são
facilmente capturados em redes-de-neblina (SIMMONS; VOSS, 1998). No entanto, a
utilização de redes-de-neblina constitui o método mais utilizado para inventários de
morcegos na região Neotropical, o que permite a comparação deste estudo com a
maioria dos demais desenvolvidos nesta região.
Os exemplares foram amostrados nas seguintes unidades de paisagem:
cordilheiras (interior e borda), capões (interior e borda), formações homogêneas de
Babaçu (Orbignya oleifera Burret) denominadas regionalmente de Babaçual, matas
de galeria (mata ciliar) e bordas de campos inundáveis. Foram amostradas ainda
áreas antropizadas nas sedes das fazendas e proximidades.
13
A fixação dos animais foi efetuada com o uso de formol a 10%, injetado na
cavidade abdominal. Para a preservação definitiva, foram mergulhados em álcool
70º G.L. e armazenados em frascos de vidro. Cada exemplar recebeu um número de
coleção e os dados relacionados ao local e data de coleta foram anotados no
catálogo geral da coleção.
A identificação das espécies seguiu os critérios de Vizotto e Taddei (1973),
Taddei (1983), Anderson (1997), Lopez-González et al. (2001), Gregorin e Taddei
(2002), Vicente et al. (2005) e Reis et al. (2007).
2.3 Análise dos dados
Para quantificar as espécies encontradas foi determinada a riqueza de
espécies.
A abundância relativa de espécies de cada área foi calculada pela divisão do
total de exemplares capturados, pelo esforço de captura, adaptando-se o proposto
por Aguirre (2002).
Os indivíduos foram categorizados de acordo com seus hábitos alimentares
preferenciais, seguindo Reis et al. (2007). Os hábitos adotados foram: (1) insetívoros
(2) frugívoros, (3) nectarívoros, (4) hematófagos, (5) onívoros, (6) carnívoros e (7)
piscivoros.
2.4 Tratamento estatístico
Para o tratamento estatístico foram utilizados apenas os dados referentes às
Fazendas Santa Terezinha e Campo Neta. A amostra da fazenda Guanabara não foi
incluída nos cálculos estatísticos, devido o baixo esforço de coleta, para não levar a
conclusões errôneas.
A riqueza esperada foi calculada pelo método de estimativa de riqueza de
Jackknife (J) e a diversidade pelo método de Shannon-Wienner (H’) com a utilização
das seguintes equações (KREBS, 1989):
Riqueza esperada
−+=
if
if 1
SSJ1obs
14
onde:
J= estimativa de riqueza de Jackknife;
Sobs= Riqueza observada;
S1= número de espécies presentes em somente um agrupamento;
fi = número de agrupamentos que contêm a i-ésima espécie de um agrupamento.
Diversidade
( )∑−= pipi log2H' onde:
N
np i
i = = proporção de indivíduos da i-ésima espécie, e
ni= número de indivíduos da i-ésima espécie;
N= número total de indivíduos amostrados.
Para analisar a riqueza de espécies, foram confeccionadas curvas de
rarefação de espécies em relação ao número de indivíduos capturados.
O índice de eqüitabilidade de Shannon (E), utilizado para verificar se houve
ou não dominância na comunidade analisada, foi calculado pela equação (KREBS,
1989):
maxH
H'e = onde )(log
2s=
maxH
H’= índice de diversidade de Shannon
s = total de espécies amostradas
Obs:Os valores sempre estarão situados entre 0 e 1 e, quanto mais próximos de 1,
maior será a igualdade.
Para determinar a semelhança entre as áreas amostradas, em termos de
composição de espécies, foi utilizado o índice de similaridade de Sørensen (S). Cuja
equação é (KREBS, 1989):
( )ba
2cS
+= onde:
15
a= número total de espécies presentes em uma das amostras;
b= número total de espécies presentes na outra amostra;
c= número total de espécies comuns a ambas as amostras.
O Teste de Correlação de Pearson foi utilizado para verificar a correlação (p)
entre abundância e os fatores abióticos e bióticos dos locais amostrados.
Para a análise estatística foram utilizadas os softwares Estimates® (COWELL,
2006) e BioEstat 4.0® (AYRES et al., 2005).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram coletados 1.676 exemplares de Chiroptera, sendo identificadas 30
espécies pertencentes a quatro famílias, sendo: Phyllostomidae (n=13), Molossidae
(n=9), Vespertilionidae (n=6) e Noctilionidae (n=2). STA apresentou maior riqueza,
compreendendo 26 espécies do total de 1272 indivíduos. Em seguida CPN, com 20
espécies do total de 371 indivíduos. GNB apresentou menor riqueza,
compreendendo 10 espécies do total de 33 indivíduos (Tabela 1).
Considerando que existem 167 espécies de morcegos registradas para o
Brasil (REIS et al., 2007) e 62 para o Pantanal (ALHO, 2003), as espécies
encontradas no presente estudo correspondem a 18% e 48,8% do total de morcegos
registradas no Brasil e no Pantanal, respectivamente.
As famílias Phyllostomidae e Molossidae apresentaram maior número de
espécies. No mundo, Phyllostomidae é representada por 161 espécies, das quais 90
ocorrem no Brasil e Molossidae, por 86 espécies, das quais 26 registradas no Brasil
(GREGORIN; TADDEI, 2002; REIS et al., 2007).
Segundo Bredt e Silva (1998), Phyllostomidae é a família mais diversificada,
tanto em número de espécies quanto no hábito alimentar de seus representantes. A
diversidade de espécies pertencentes a esta família e a ocupação de diferentes
nichos têm, por conseqüência, um maior número de espécies registradas. Os
filostomideos são endêmicos da região Neotropical e o grupo geralmente é
predominante e de maior diversidade nas comunidades de mamíferos (HUMPHREY;
BONACCORSO, 1979; FENTON et al., 1992; KOOPMAN, 1993).
Além disso, o método empregado tende a restringir a amostragem das
espécies desta família, uma vez que diversas espécies de morcegos, como os
16
representantes das famílias Emballonuridae, Vespertilionidae e Molossidae,
conseguem detectar as redes, ou voam em um estrato superior ao que as redes
conseguem abranger (KUNZ; KURTA, 1988).
Tabela 1 – Espécies de morcego e número de indivíduos capturados nos locais amostrados do Pantanal da Nhecolândia, MS, no período de 1997 a 2003.
Espécies GNB STA CPN Hábito alimentar
1 Noctilio albiventris Desmarest, 1818 - 364 75 Insetívoro
2 Molossus molossus (Pallas, 1766) 3 335 78 Insetívoro
3 Artibeus planirostris (Spix, 1823) 3 164 43 Frugívoro
4 Myotis nigricans (Schinz, 1821) 6 43 58 Insetívoro
5 Platyrrhinus lineatus (E, Geoffroy, 1810) - 77 25 Frugívoro
6 Cynomops abrasus (Temminck, 1827) - 40 2 Insetívoro
7 Molossus pretiosus Miller, 1902 - 22 17 Insetívoro
8 Glossophaga soricina (Pallas, 1766) 7 21 7 Nectarívoro
9 Sturnira lilium (E. Geoffroy, 1810) 3 30 - Frugívoro
10 Eumops auripendulus (Shaw, 1800) - 7 25 Insetívoro
11 Myotis albescens (E. Geoffroy, 1806) 4 21 6 Insetívoro
12 Molossops temminckii (Burmeister, 1854) 1 19 8 Insetívoro
13 Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767) - 24 1 Onívoro
14 Noctilio leporinus (Linnaeus, 1758) - 24 - Piscívoro
15 Cynomops planirostris (Peters, 1866) - 20 - Insetívoro
16 Lophostoma silvicolum d’Orbigny, 1836 2 12 1 Insetívoro
17 Eptesicus furinalis (d’Orbigny, 1847) - 9 3 Insetívoro
18 Myotis simus Thomas, 1901 - 12 - Insetívoro
19 Lasiurus ega (Gervais, 1856) - 3 6 Insetívoro
20 Promops centralis Thomas, 1915 - - 9 Insetívoro
21 Diaemus youngi (Jentink, 1893) - 6 2 Hematófago
22 Phyllostomus discolor Wagner, 1843 - 6 1 Onívoro
23 Eumops glaucinus (Wagner, 1843) - 6 - Insetívoro
24 Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758) 3 - - Frugívoro
25 Chrotopterus auritus (Peters,1865) - 2 1 Carnívoro
26 Myotis riparius Handley, 1960 - - 3 Insetívoro
27 Artibeus lituratus (Olfers, 1818) - 2 - Frugívoro
28 Promops nasutus (Spix, 1823) - 2 - Insetívoro
29 Chiroderma villosum Peters, 1860 1 - - Frugívoro
30 Desmodus rotundus (E. Geoffroy, 1810) - 1 - Hematófago
Total 33 1.272 371
17
A espécie mais abundante foi Noctilio albiventris (1) seguida por Molossus
molossus (2), Artibeus planirostris (3), Myotis nigricans (4) e Platyrrhinus lineatus (5)
(Figuras 2 e 3). Juntas, estas espécies representaram cerca de 70% da comunidade,
com a abundância relativa variando de 0,0068 a 0,0016 indivíduos/m2.h (Figura 3).
Chiroderma villosum e Desmodus rotundus, estão representadas por apenas
um indivíduo.
Analisando a abundância relativa das três áreas amostradas de forma isolada
(Figura 4), é possível observar que em STA, N. albiventris (1) é a espécie mais
abundante seguida por M. molossus (2), A. planirostris (3), P.lineatus (5) e M.
nigricans (4). Em CPN, M. molossus (2) é a espécie mais abundante, seguida por N.
albiventris (1), M. nigricans (4), A. planirostris (3), P.lineatus (5) e E. auripendulus
(10). Em GNB, G. soricina (8) é a espécie mais abundante, seguida por M. nigricans
(4) e M. albescens (11).
Alho (2003) relata que os morcegos do Pantanal estão em geral bem
adaptados aos ambientes modificados pelo homem, habitando forros das casas e
outras construções. Segundo Leite et al. (2000), a presença de água, os diversos
abrigos construídos ou naturais e a grande concentração de insetos, atraídos pela
iluminação artificial em áreas antropizadas, favorecem a presença de espécies
insetívoras como N. albiventris, M. molossus e M. nigricans.
Figura 2 – Representantes das espécies de morcegos mais abundantes do Pantanal da Nhecolândia, MS. A: N. albiventris, B: M. molossus, C: A. planirostris, D: Myotis nigricans e E: Platyrrhinus lineatus. Fotos: Márcio Menegheli.
AAA BBB
CCC DDD EEE
18
0,0000
0,0010
0,0020
0,0030
0,0040
0,0050
0,0060
0,0070
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
Espécies
Abundância relativa (indivíduos/m
2 .h)
Figura 3 – Abundância relat iva das espécies de Chiroptera coletadas no Pantanal da Nhecolândia, MS, no período de 1997 a 2003.
0,0000
0,0010
0,0020
0,0030
0,0040
0,0050
0,0060
0,0070
0,0080
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
Epécies
Abundância relativa (indivíduos/m
2.h)
STA CPN GNB
Figura 4 – Abundância relativa das espécies de Chiroptera das três áreas amostradas no Pantanal da Nhecolândia, MS, período de 1997 a 2003.
19
O estimador de riqueza de espécies de Jackknife (J) entre as duas áreas
apresentaram, J=36,6 para STA e J=37,33 para CPN, indicando uma expectativa de
serem registradas mais 10 espécies para a primeira área e 17 para a segunda.
Para STA, a curva de rarefação (Figura 5) apresentou forte tendência à
estabilização ao final da amostra, quando o desvio padrão foi próximo de zero
(0,028) indicando que, teoricamente, todas as espécies possíveis foram registradas.
Para CPN, a curva de rarefação (Figura 6) não se estabilizou ao final da
amostra, onde o desvio padrão foi de 0,103, indicando que ainda não foram
encontradas todas as espécies que ocorrem na região.
O fato de não terem sido capturadas todas as espécies que ocorrem na
região estudada, mostra a necessidade de maiores esforços e também a
importância da associação de diferentes técnicas de amostragem para um inventário
mais completo da quiropterofauna do Pantanal da Nhecolândia.
Figura 5 – Curva de rarefação de espécies baseada no número de espécies observadas e número de indivíduos coletados da Fazenda Santa Terezinha (STA). As linhas azuis representam o desvio padrão.
20
Figura 6 - Curva de rarefação de espécies baseada no número de espécies observadas e número de indivíduos coletados da Fazenda Campo Neta (CPN). As linhas azuis representam o desvio padrão.
Os valores para o índice de diversidade Shannon-Wiener encontrados para
STA e CPN foram H’=2,30 bit.indivíduo-1 e H’=2,33 bit.indivíduo-1, respectivamente,
não havendo diferença significante entre a diversidade de espécies dos locais.
Pedro e Taddei (1997) discutem que a diversidade de Shannon-Wiener, cuja
base logarítma é a mesma utilizada neste trabalho, é em torno de H’= 2,0 em grande
extensão da Região Neotropical (e.g. CRUZ et al., 2007 – H’ entre 1,85 e 2,92,
ESBÉRARD, 2003 – H’ entre 1,87 e 2,19, PEDRO et al., 2001 – H’= 2,26, PEDRO;
TADDEI, 1997 – H’= 2,11, ).
Esses valores demonstram que embora a STA tenha apresentado os maiores
valores para riqueza e abundância, CPN apresenta maior riqueza estimada e
diversidade.
Os dados obtidos pelo índice de eqüitabilidade, E=0,68 para STA e E=0,756
para CPN, indicam a existência de espécies dominantes nas amostras, com maior
dominância encontrada para STA. As espécies dominantes, N. albiventris e M.
molossus, são comuns para as duas áreas, também por influência da coleta próxima
a saída de abrigos diurnos.
21
O índice de similaridade entre STA e CPN foi de 78,3% (S=0,783), indicando
que os ambiente são relativamente homogêneos, apresentando 18 espécies
compartilhadas do total de 28 amostradas para as duas áreas.
A semelhança entre os ambientes é mais uma vez confirmada pela
correlação, onde p=0,8782, ou seja, há 87,82% de correlação entre as áreas.
Quanto à estrutura de comunidade, os morcegos insetívoros foram os mais
abundantes, com 16 espécies (53,3%), seguidos pelos frugívoros, com 6 (20,0%)
(Figura 5).
A predominância das espécies insetívoras é semelhante ao observado em
outras áreas do Pantanal sul mato-grossense por Leite et al. (1998 e 2000) que
registraram 61,9% de espécies insetívoras e 23,8% de espécies frugívoras para os
pantanais de Aquidauana e Nhecolândia e 55% de espécies insetívoras e 24% de
frugívoras para o Pantanal da Nhecolândia.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Insetívoros Frugívoros Hematófagos Onívoros Carnívoros Nectarívoros Piscívoros
Figura 5 – Freqüência de espécies coletadas por guilda alimentar no Pantanal da Nhecolândia, MS, período de 1997 a 2003.
Os padrões de estrutura trófica de áreas do Pantanal também são
semelhantes ao encontrado por McNab (1971) para algumas regiões do México,
22
Trinidad e Suriname, onde os insetívoros permaneceram entre 50% e 61% e as de
fitófagos entre 24% e 37%.
Segundo Pedro (1998) há uma tendência de o número de espécies
insetívoras aumentarem proporcionalmente, na medida em que aumenta o tamanho
do fragmento florestal, ou seja, à medida que aumenta a integridade do hábitat.
Como a região ora estudada trata-se de uma grande área, confirma-se a
predominância do hábito alimentar insetívoro.
Segundo Leite et al. (1998), a composição da estrutura trófica observada
coloca em evidência o papel dos morcegos como elementos de grande importância
para a estabilidade ambiental, exercendo um importante papel no controle de insetos
noturnos e na dispersão de sementes.
4 CONCLUSÕES
Foram registradas 30 espécies de morcegos, onde Phyllostomidae e
Molossidae foram as famílias com o maior número de espécies registradas. Tendo
ainda a expectativa do registro de mais cerca de sete espécies para o Pantanal da
Nhecolândia.
As espécies mais abundantes foram Noctilio albiventris, Molossus molossus e
Artibeus planirostris. Mas os dados aqui apresentados não descrevem por completo
a quiropterofauna do Pantanal da Nhecolândia, uma vez que diversas espécies de
quirópteros, como os representantes das famílias Emballonuridae, Vespertilionidae e
Molossidae, não são facilmente capturados em redes-de-neblina.
As comunidades de morcego dos ambientes do pantanal da Nhecolândia
seguem o padrão de diversidade observado em outros ambientes neotropicais.
As espécies insetívoras e frugívoras predominaram, sendo semelhante ao
observado em outras áreas do Pantanal do Mato Grosso do Sul.
23
ABSTRACT
BAT DIVERSITY AND COMMUNITY STRUCTURE IN THE PANTANAL OF
NHECOLÂNDIA, MATO GROSSO DO SUL
Bats are important in regulating the tropical ecosystems, acting as seed dispersers,
pollinators and regulators of some animal populations. Moreover, this group is an
indicator of levels of change in the environment and nice material to study diversity.
Available scientific information on bats in the Pantanal of Mato Grosso do Sul and
adjacent areas are still scarce. Studied specimens were the result of 18 sampling,
carried out at Fazenda Santa Terezinha, in the Aquidauana county, Fazenda
Guanabara and Fazenda Campo Neta, both in the Corumbá county, totaling an effort
sample of 64.776,2 m2.hours. It was determined the species richness, abundance,
expected richness, diversity and species equitability of species and the similarity and
the correlation among the sampling sites. Thirty species belonging to four families
were identified, and Phyllostomidae and Molossidae were the most abundant. The
most abundant species were Noctilio albiventris, Molossus molossus and Artibeus
planirostris. There is expectation of record of approximately seven more species to
the region. The bat communities of environments studied the Pantanal of
Nhecolândia showed the index of diversity around H '= 2.3, standard of diversity
observed in other tropical environments. The trophic structure of the community is
predominantly composed of species insectivorous and frugivorous, similar to that
seen in other areas of the Pantanal of Mato Grosso do Sul.
Keywords: Floodplain, Biodiversity, Chiroptera, Bats.
24
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