mcintyre, mcintyre & silvério(1999)_respostas de stress e recursos de coping nos enfermeiros

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McIntyre, McIntyre & Silvério(1999)_Respostas de Stress e Recursos de Coping Nos Enfermeiros

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  • 1. INTRODUO

    A maior parte dos estudos sobre stress ocupa-cional tm indicado que este est relacionadocom uma maior incidncia de problemas fsicose psicolgicos que podem conduzir a uma dimi-nuio da produtividade, taxas mais elevadas deabsentismo, acidentes de trabalho, erros de de-sempenho, invalidez e problemas familiares

    (Calhoun, 1980; Greenberg, 1987; Gunnardsdt-tir & Rafnsson, 1995; Lindstrom, 1992). No en-tanto, o sector da sade tem recebido menosateno dos investigadores do que outros secto-res, apesar das profisses de sade serem consi-deradas de alto risco em termos de stress ocupa-cional.

    A crena de que os profissionais da sade es-to imunes doena pelo facto de deterem co-nhecimentos no campo da sade encontra-se nabase de muitas das nossas ideias em relao ca-pacidade de resistncia destes profissionais.Contudo, sabemos que o conhecimento nosubstitui a necessidade de apoio, principalmentequando se trata de lidar com emoes, com sofri-mento e inclusive a morte (McIntyre, 1994;Smith, 1978). Outros estudos mostram que asinstituies de sade, especialmente os hospitaise os centros de sade, constituem ambientes detrabalho particularmente stressantes, contendocaractersticas organizacionais geralmente asso-ciadas com o stress, como nveis mltiplos deautoridade, heterogeneidade do pessoal, interde-pendncia das responsabilidades e especializaoprofissional (Calhoun, 1980; Rodrigo, 1995).

    Um modelo abrangente de stress ocupacionalaplicado s profisses de sade difcil de defi-nir uma vez que as fontes e consequncias do

    513

    Anlise Psicolgica (1999), 3 (XVII): 513-527

    Respostas de stress e recursos de copingnos enfermeiros (*)

    TERESA MENDONA McINTYRE (**)SCOTT ELMES McINTYRE (***)

    JORGE SILVRIO (****)

    (*) Este estudo foi apoiado pelo Centro de Estudosem Educao e Psicologia da Universidade do Minho.Gostaramos de agradecer aos alunos da Licenciaturaem Psicologia Bernardete Lima, Aldina Martins, Au-gusta Nogueira, Dulce Parente e Helena Pereira pelasua colaborao na recolha, codificao e entrada dedados. Tambm gostaramos de agradecer ao hospitalo apoio prestado e a todos os enfermeiros que partici-param no estudo.

    Toda a correspondncia em relao a este artigo de-ver ser dirigida Prof. Dra. Teresa McIntyre, Depar-tamento de Psicologia, Universidade do Minho, Cam-pus de Gualtar, 4700 Braga, Telef: 053-604254;e-mail: [email protected]

    (**) Departamento de Psicologia, Universidade doMinho, Portugal.

    (***) Instituto Superior da Maia, Portugal.(****) Departamento de Psicologia, Universidade

    do Minho, Portugal.

  • stress so mltiplas e por vezes difceis de distin-guir. Em geral, considera-se que as fontes destress podem ser intrnsecas ao trabalho, comocondies de trabalho pobres, ao indivduo, co-mo o seu nvel de ansiedade ou recursos de co-ping, e extrnsecas ao trabalho, como proble-mas familiares ou financeiros. As consequnciasdo stress ocupacional podem ser subjectivas (es-tado emocional), comportamentais (acidentes detrabalho), cognitivas (dificuldades de concentra-o), fisiolgicas (presso arterial elevada) eorganizacionais (conflitos laborais), entre outras.Os modelos iniciais do stress ocupacional foramdemasiado simplistas, concentrando-se nas con-sequncias ou nas fontes de stress (Ivancevich &Matteson, 1981), ou nos processos de respostafisiolgica ou psicolgica a estas (Selye, 1971).Cohen-Mansfield (1995) critica estes modelosconsiderando que eles presumem uma causalida-de linear das fontes pata o stress, para as conse-quncias.

    Os modelos interactivos mais recentes somais complexos e postulam que as diferenas in-dividuais nos nveis de stress ocupacional somediadas pelas estratgias pessoais de avaliaoe de coping (Lazarus & Folkman, 1984). Cohen-Mansfield (1995) prope um modelo abrangentedo stress ocupacional que tem em conta a com-plexidade de factores relacionados com o stressocupacional nas profisses de sade, assim comoas relaes complexas entre estes. Segundo estemodelo, as fontes de stress individual incluemexigncias e stressores relacionados com o tra-balho (a nvel institucional, do servio e do do-ente), as necessidades individuais (eg. auto-esti-ma e motivao), e stressores pessoais extra-tra-balho (dificuldades de vida). Estas fontes destress e necessidades interagiriam com os recur-sos ocupacionais, a personalidade do indivduo eos recursos pessoais extra-trabalho para produziro ajustamento pessoa-trabalho e o seu nvel destress ocupacional. Um ajustamento pobre resul-taria em respostas fisiolgicas e psicolgicasque, por seu lugar, afectariam as atitudes do in-divduo em relao ao trabalho e os seus com-portamentos no trabalho. O que distingue estemodelo dos outros o carcter interactivo e c-clico deste processo, isto , o ajuste ocupacionalmuda as fontes e recursos de stress pessoal eocupacional que, por sua vez, afectam o ajusta-mento ocupacional.

    Num artigo anterior McIntyre (1994) salien-tou que a maior parte da investigao realizadasobre o tema do stress nos profissionais de sadetem-se concentrado nas fontes de stress e respos-tas ao stress, particularmente nos sintomas sub-jectivos de stress (psicolgicos e psicossomti-cos), e no nos sintomas objectivos (psicofisiol-gicos e comportamentais). Os pases que tmrealizado mais estudos neste domnio so a Fin-lndia, a Noruega, a Inglaterra e os EstadosUnidos. As fontes de stress apontadas mais fre-quentemente pelos enfermeiros e mdicos nestespases foram a sobrecarga horria e a quantidadede trabalho, a rotina, ambiguidades e conflitos depapel, nvel elevado de responsabilidade, falta deautonomia ou controlo e trabalho por turnos(Gray-Toft & Anderson, 1981; Leppanen & Ol-kinuora, 1987; Lindstrom, 1992). As fontes so-cioemocionais de stress referidas com mais fre-quncia foram as exigncias emocionais do con-tacto com os doentes e suas famlias, assim co-mo o lidar com as situaes de doena terminal emorte (Chambers & Billig, 1984; Gray-Toft &Anderson, 1981; McCue, 1982; Leppanen &Olkinuora, 1987; Lindstrom, 1992; Michie, Ri-dout & Johnston, 1996). Em relao aos sinto-mas subjectivos do stress, um estudo Finlandsde 1987 (Leppanen & Olkinuora) revelou queentre 10 e 20% dos profissionais de sade apre-sentavam sintomas subjectivos de stress e que ossintomas psicossomticos (dores de estmago edo peito, cefaleias, nusea e fadiga) eram maisprevalentes do que os sintomas psicolgicos(ansiedade, depresso, irritao, etc.). Em geral,os estudos indicam variaes do tipo de sintoma-tologia de stress com a profisso de sade, o se-xo e a posio hierrquica. As consequnciaspsicolgicas severas, como a toxicodependncia,o alcoolismo, a ideao suicida e o suicdio soencontradas frequentemente nos Estados Unidos,Finlndia, Inglaterra, Pas de Gales e Islndia,chegando a atingir nveis superiores aos de ou-tras profisses e aos da populao em geral(Gray-Toft & Anderson, 1981; Gunnardsdttir &Rafnsson, 1995; Leppanen & Olkinuora, 1987;Olkinuora et al., 1992; Sue, Sue & Sue, 1990).

    Em contraste com os pases acima, existempoucos estudos feitos sobre o stress e os profis-sionais de sade em Portugal. Lucas (1987) reve-la que o nvel de absentismo para enfermeirosem Portugal o mais alto entre todos os pro-

    514

  • fissionais de sade e atribui esse resultado ao al-to nmero de habitantes por enfermeiro. Loff(1992), num estudo de 92 enfermeiras que esta-vam a receber tratamento psiquitrico (20% dopessoal dessa unidade de sade) verificou que82% apresentavam problemas psicolgicos re-correntes e 12% tinham feito tentativas de suic-dio. A autora no encontrou um efeito significa-tivo do tipo de unidade, especialidade ou tempona profisso mas relatou que a taxa de absentis-mo neste grupo era de 50%. Nogueira (1988),num estudo piloto sobre burnout e depresso em182 mdicos de carreira de Clnica Geral noNorte de Portugal, encontrou sintomas de bur-nout em 86.8% destes, encontrando-se 82% nafase 3 (sintomas crnicos). O estudo mais re-cente de Felcio e Pereira (1996) em 60 clnicosgerais em centros de sade do Sul de Portugal,revelou como principais fontes de stress a sobre-carga de trabalho e a falta de recursos tcnicos efsicos. Os autores tambm assinalaram que ossintomas comportamentais e cognitivos de stresseram mais frequentes do que os fsicos paraambos os sexos.

    Como foi apontado anteriormente (McIntyre,1994), os estudos Portugueses tm sido demasia-dos simplistas, por um lado porque se focamprincipalmente nas fontes organizacionais destress e negligenciam os factores socio-emocio-nais, por outro lado porque estudam as conse-quncias de stress sem tomar em considerao asvariveis pessoais que influenciam o seu im-pacto, como por exemplo os recursos de copingdo indivduo. Seria desejvel que, semelhanade pases como a Inglaterra e a Finlndia, se fi-zesse um estudo mais sistemtico do stress nosprofissionais de sade em Portugal, abrangendoas vrias profisses ligadas sade (como ostcnicos paramdicos e os administrativos), eque o prprio Ministrio da sade, atravs dassuas direces regionais, apoiasse este tipo deinvestigao.

    Este artigo descreve os resultados prelimina-res de um estudo alargado que tem como objecti-vo estudar as variveis relacionadas com o stressnos profissionais de sade Portugueses com basenum modelo de stress ocupacional abrangente einteractivo (Cohen-Mansfield, 1995). No estudoalargado pretende-se avaliar as fontes de stress,as respostas ao stress, os recursos de coping, os

    recursos desejados de coping, e vrias caracters-ticas profissionais e demogrficas, em trs cate-gorias de profissionais de sade de ambos de se-xos (mdicos, enfermeiros e paramdicos), emunidades diferentes (emergncia, cardiologia eoncologia), em situaes diferentes (hospitalversus centro de sade, tanto privado comopblico) e com pacientes diferentes (crnicos eno crnicos, internamento versus consulta ex-terna).

    Os resultados aqui relatados referem-se a umaamostra de 62 enfermeiros, na sua maioria fe-minina, que trabalham num hospital com pacien-tes crnicos internados. Apesar do facto de queeste estudo exploratrio, os autores esto par-ticularmente interessados em investigar a poss-vel relao entre as respostas ao stress por partedos enfermeiros e os recursos de coping dispon-veis e desejados por eles, e a relao entre estasvariveis e a sua experincia profissional (e.g.nmero de anos na profisso e posio hierr-quica).

    2. METODOLOGIA

    2.1. Amostra

    A amostra composta por 62 enfermeiros deambos os sexos que cuidam de pacientes crni-cos internados num hospital central urbano daregio Norte (unidades de cardiologia, reabili-tao e de medicina interna). As caractersticasdemogrficas e profissionais dos enfermeirosso apresentadas no Quadro 1. Embora a peque-na percentagem de sujeitos do sexo masculinoconstitua uma limitao do estudo (15.8%), osdados sero analisados e descritos para ambos ossexos conjuntamente. A idade mdia dos enfer-meiros foi 33.4 anos, 59.6% so casados e o n-vel mdio de habilitaes concludas de 12anos.

    Em relao s caractersticas profissionais,79.2% das enfermeiras pertencem ao nvel 1, isto, enfermeiras com bacharelato e com contactodirecto com os doentes. As restantes 24.1% per-tencem ao nvel 2, enfermeiras licenciadas oucom equivalncia a diploma de estudos superio-res e com funes de enfermeiras chefe. Estas

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  • 516

    QUADRO 1Caractersticas Demogrficas e Profissionais da Amostra (N = 62)

  • ltimas tm a seu cargo supervisionar cuidadosespecializados e gerir as unidades de tratamento.

    Apenas 23.6% das enfermeiras reportam queesto a receber presentemente qualquer tipo deformao profissional. A mdia dos anos servi-dos como enfermeira foi 9,8 com uma mdia de6.2 anos de servio no hospital actual. Aproxi-madamente 3/4 dos sujeitos fazem turnos noctur-nos (1.3 por semana), o que um valor superiorao descrito noutros pases (Kandolin, 1993).

    2.2. Instrumentos e Procedimentos

    Com o objectivo deste estudo, foi usado o se-guinte conjunto de instrumentos: um Question-rio Demogrfico, o Inventrio de Respostas eRecursos Pessoais (McIntyre, McIntyre & Silv-rio, 1995), uma adaptao Portuguesa do BriefPersonal Survey (Mauger, 1994) e o Inventriode Recursos para Lidar com o Stress, a versoPortuguesa do Coping Resources Inventory forStress de Matheny, Curlette, Aycock, Pugh &Taylor, 1987 (Verso Portuguesa de McIntyre,McIntyre & Silvrio, 1995).

    Inventrio de Respostas e Recursos Pessoais um instrumento de auto-relato de 99 itens

    com resposta de formato dicotmico desenvolvi-do inicialmente para avaliar as respostas destress e recursos de coping em contextos de cui-dados de sade. O inventrio constitudo poruma escala de Validade (Boa Impresso), noveescalas de Resposta de Stress que medem vriasmaneiras das pessoas reagirem ao stress (Nega-o, Mal Estar Fsico, Presso-Sobrecarga, Rai-va-Frustrao, Emocionalidade Disfrica, Perdade Controlo, Hostilidade, Culpa e Ineficcia) etrs Escalas de Recursos de Coping que avaliamas capacidades de confronto com o stress (ApoioSocial, Recursos Espirituais/Existenciais e Resi-lincia Psicolgica). Existem ainda trs ndicescrticos, abuso de lcool/drogas (4 itens); suic-dio (2 itens); e perda de controlo (15 itens).

    Inventrio de Recursos para Lidar com oStress (IRLS)Este inventrio foi utilizado para se obter

    uma anlise mais aprofundada dos recursos decoping dos sujeitos. O IRLS permite medir osrecursos de coping com impacto na reduo dosefeitos negativos do stress, diminuindo estes re-

    cursos a probabilidade de desencadeamento dasrespostas de stress. um instrumento de auto-relato composto por 280 itens com resposta dico-tmica que possibilita a obteno de um resul-tado global indicativo da eficcia dos recursos decoping do sujeito (CRES). Possui 5 escalas devalidade, 12 escalas primrias, 3 escalas comp-sitas e 16 itens de comportamentos de risco paraa sade (no includos nesta anlise). As 12 es-calas primrias so: Auto-revelao, Assertivi-dade, Confiana, Aceitao, Apoio Social, Li-berdade Financeira, Sade Fsica, Forma Fsica,Monitorizao do Stress, Controlo de Stress,Estruturao e Resoluo de Problemas. As trsescalas compsitas so Reestruturao Cogniti-va, Crenas Funcionais e Sociabilidade (Contmsobreposio de itens com as primrias).

    Questionrio DemogrficoO Questionrio Demogrfico, que foi desen-

    volvido pelos autores, inclui itens referentes scaractersticas sociodemogrficas dos sujeitos(eg. idade, sexo, estado civil, habilitaes lite-rrias), itens respeitantes s suas caractersticasprofissionais (eg. anos de servio, trabalho porturnos, formao e nmero de doentes), e doisitens que descrevem a avaliao das enfermeirasem relao s fontes de stress ocupacional e sestratgias consideradas desejveis para lidarcom o stress. Pediu-se s enfermeiras que atri-bussem um nmero de 1 a 22 (por ordem de-crescente de importncia) em relao a umalista de 22 fontes do stress e de 1 at 14 em rela-o a uma lista de estratgias de coping dese-jveis para lidar com o seu stress profissional.Estas duas listas foram desenvolvidas atravs deuma anlise de contedo dos dados de entrevis-tas efectuadas com enfermeiros destas unidadesde sade sobre o tema do stress ocupacional.

    Com vista anlise estatstica dos dados e de-vido ao nmero limitado de sujeitos, somente asvariveis demogrficas e profissionais com clu-las com o mnimo de 20 sujeitos foram conside-radas para a anlise. As variveis que preenche-ram este requisito foram idade, estado civil, fi-lhos e nmero de anos na profisso. Foi feitauma excepo em relao varivel categoriaprofissional devido a ter sido uma varivel rele-vante em estudos anteriores.

    Os inventrios foram distribudos pelos enfer-meiros chefes a todos os enfermeiros dessas

    517

  • unidades, dando-se um prazo de 15 dias para asua devoluo. A participao foi voluntria efoi garantida a confidencialidade das respostas,sendo os questionrios preenchidos devolvidosdirectamente aos investigadores.

    3. RESULTADOS

    3.1. Fontes de Stress Ocupacional

    As fontes de stress ocupacional apontadascom mais frequncia encontram-se descritas noQuadro 2. As primeiras cinco fontes de stress,

    identificadas por ordem decrescente de impor-tncia, foram as seguintes:

    1. Sobrecarga de trabalho2. Ms condies fsicas e tcnicas3. Carncia de recursos materiais, tcnicos e

    humanos4. Excessivo nmero de doentes por enfer-

    meiro5. Incapacidade de responder s exigncias

    emocionais do doente.

    Em termos de factores demogrficos modera-dores desta escolha, parece existir uma influn-cia da idade. Os enfermeiros mais novos (< 30anos) pontuaram mais alto a baixa remunerao

    518

    QUADRO 2Fontes de Stress Ocupacional Identificadas pelos Enfermeiros por

    Ordem Decrescente de Importncia (N = 62)

    Fontes de Stress Ocupacional M DP

    1. Sobrecarga de Trabalho 13.56 7.252. Ms Condies Fsicas e Tecnolgicas 12.96 6.443. Carncia de Recursos Humanos/Materiais e Tcnicos 12.75 7.094. Excessivo Nmero de Doentes/Enfermeiro 12.36 6.865. Incapacidade de Responder s Exigncias Emocionais do D. 12.16 5.266. Estado Clnico dos Doentes 12.11 5.727. Falta de Privacidade 11.82 4.808. Ambiguidade de Funes 11.67 5.649. Desumanizao do Tratamento/Atendimento 11.44 6.2410. Riscos para a Prpria Sade (Doenas Contagiosas, etc.) 11.41 5.2211. Conflitos Interpessoais no Trabalho 11.40 7.2812. Lidar com a Morte 11.39 6.6213. Falta de Autonomia 11.22 5.8314. Falta de Oportunidades de Promoo 11.04 6.0115. Exigncias Hierrquicas 10.72 6.7216. Baixa Remunerao 10.53 6.0917. Responsabilidades pelo Doente/Famlia 10.38 4.7418. Repetio/Rotina 10.29 5.6919. Fazer Horrio para os Turnos 9.92 8.7220. Conflito das Exigncias Profissionais, Familiares e Sociais 9.16 6.9421. Incerteza do Conhecimento Mdico 8.36 5.5922. Trabalho por Turnos 3.27 6.60

  • como fonte de stress (M = 14.3; M = 7.77,t = 4.07, p < .001). Por outro lado, o grupo maisvelho identificou a ambiguidade de papis comosendo uma fonte mais elevada de stress do queos mais novos (M = 13.79; M = 8.91, t = -3.39,p < .002). O facto de ter ou no ter filhos tam-bm teve um impacto significativo na identifica-o da responsabilidade pelo doente e prpriafamlia como fonte de stress. Os enfermeiros queno tm filhos atriburam uma importncia maisalta a essa fonte do que os sem filhos (M = 11.77;M = 9.24, t = 2.00, p < .042). Mais nenhumavarivel demogrfica ou profissional analisadateve um efeito significativo na identificao dasfontes de stress.

    3.2. Respostas de Stress

    Os resultados das respostas de stress das en-fermeiras, avaliadas pelo Inventrio de Respos-tas de Stress e Recursos Pessoais (IRRP) so

    apresentados no Quadro 3. As escalas de respos-ta ao stress e estratgias de coping foram ordena-das (por ordem decrescente) dividindo-se a m-dia de cada escala pelo respectivo nmero deitens para facilitar comparaes. As cinco res-postas de stress relatadas pelas enfermeiras fo-ram as seguintes:

    1. Ideao suicida2. Negao 3. Mal estar fsico4. Emocionalidade disfrica (depresso, tris-

    teza)5. Culpa

    Os valores mdios encontrados so seme-lhantes aos descritos por Mauger (1989), exceptopara emocionalidade disfrica que ultrapassa osvalores indicados por Mauger para um grupo dedoentes. Em relao a factores demogrficos eprofissionais, interessante notar que as enfer-meiras com filhos parecem experimentar menos

    519

    QUADRO 3Resultados do Inventrio de Respostas e Recursos Pessoais (IRRP) (N = 62)

    Escala/ndice Crtico* N. Itens M DP

    ValidadeBoa Impresso 3.00 1.53

    Resposta de Stress1. Ideao Sucida 2 0.88 0.322. Negao 4 1.43 0.983. Mal Estar Fsico 4 1.38 0.924. Emocionalidade Disfrica 26 7.49 6.745. Culpa 9 2.48 1.976. Hostilidade 12 2.98 2.147. Presso-Sobrecarga 7 1.55 1.738. Raiva-Frustrao 8 3.08 2.299. Droga/lcool 4 0.62 0.8010. Ineficcia 7 0.85 0.9911. Perda de Controlo 15 1.40 1.48

    Recursos Pessoais1. Falta de Apoio Social 7 0.93 1.232. Falta de Recursos Espirituais/Exist. 6 2.33 1.423. Resilincia Psicolgica 4 1.87 1.12

    * Ordenadas pela mdia corrigida

  • culpa como resposta ao stress do que as sem fi-lhos (M = 2.09; M = 3.17, t = 2.10, p < .042) e asenfermeiras chefe (enfermeiras em posies desuperviso ou Nvel 2), tendem a responder aostress com menos culpa em comparao com asque tm mais contacto directo com os doentes(M = 1.57; M = 2.70, t = 2.34, p < .026).

    3.3. Recursos para Lidar com o Stress (Co-ping)

    O Quadro 4 mostra que as seis estratgias decoping (as ltimas duas esto empatadas) maisusadas pelas enfermeiras para lidar com o stressso as seguintes:

    1. Apoio Social2. Estruturao capacidade de gerir e orga-

    nizar recursos como o tempo e a energia3. Liberdade Financeira liberdade de preo-

    cupaes financeiras4. Monitorizao do Stress conscincia do

    stress pessoal e do desenvolvimento detenso e de situaes de stress

    5. Sociabilidade 6. Confiana: confiana na capacidade da pes-

    soa ser capaz de enfrentar com xito umasituao de stress

    As estratgias de coping menos usadas foramas seguintes:

    1. Forma fsica2. Sade fsica3. Aceitao de si prprio, dos outros e do

    mundo4. Crenas funcionais crenas que ajudam a

    prevenir situaes de stress, i.e. no so r-gidas ou absolutas.

    Em geral, estes resultados corroboram osresultados das sub-escalas de recursos pessoaisdo IRRP que revelam igualmente o Apoio Socialcomo a estratgia preferencial para lidar com ostress.

    No Quadro 5 verifica-se que a categoria pro-fissional teve um efeito significativo no uso deestratgias de coping. O Coping Resource Effec-tiveness Score (CRES), uma indicao global das

    520

    QUADRO 4Resultados do Inventrio de Recursos para Lidar com o Stress (IRLP) (N = 62)

    Escala* N. Itens M DP

    1. Apoio Social 20 15.72 3.622. Estruturao 17 12.42 3.153. Liberdade Financeira 20 14.67 3.474. Monitorizao do Stress 20 13.73 4.645. Sociabilidade 21 13.95 4.275. Confiana 20 13.20 3.757. Reestruturao Cognitiva 20 12.83 4.398. Auto-Revelao 20 12.68 3.359. Assertividade 20 12.12 4.629. Controlo de Stress 20 12.12 3.609. Resoluo de Problemas 19 11.63 3.8612. Crenas Funcionais 22 12.80 3.9413. Aceitao 20 11.00 3.3514. Sade Fsica 20 6.92 3.2815. Forma Fsica 20 6.64 3.44

    CRES (Coping Resources Effectiveness Score) 187.25 40.88

    * Ordenadas pelas mdias corrigidas

  • capacidades da pessoa para lidar com o stress, significativamente mais elevado para asenfermeiras chefes do que para as que trabalhammais directamente com os doentes (M = 211.50;M = 180.51, t = -3.39, p < .002). As enfermeirasem funes de superviso tambm parecem termelhores estratgias de coping em termos deApoio Social, Confiana, Controlo de Stress, Es-truturao e Resoluo de problemas. Alm dis-so, ser casada e mais velha parece ter um im-pacto positivo na capacidade de usar a Estrutu-rao como uma estratgia de lidar com stress(t = -2.26, p < .029; t = -2.12, p < .041). Nenhu-ma outra caracterstica demogrfica ou profissio-nal avaliada esteve relacionada com as respostasao stress e as estratgias de coping usadas pelasenfermeiras.

    3.4. Recursos de Coping considerados Dese-jveis para Lidar com o Stress

    Um outro aspecto de coping que foi avaliadopelas enfermeiras foram os recursos que elasachariam teis para lidar com o stress no traba-lho (Quadro 6). As categorias mais indicadas porordem decrescente de relevncia foram as se-guintes:

    1. Tempo de Lazer2. Manter um bom relacionamento com os do-

    entes3. Melhorar os conhecimentos clnicos/prti-

    cos4. Grupos de discusso5. Fazer pausas no trabalho6. Reservar tempo livre para si prprio

    As estratgias menos recomendadas foram asseguintes:

    1. Beber bebidas alcolicas2. Fumar3. Arranjar desculpas

    A ordenao destas categorias parece ter umarelao com a idade das enfermeiras e os anosna profisso. Fazer pausas e melhorar os conhe-cimentos clnicos e prticos foram consideradosrecursos mais desejveis pelas enfermeiras maisvelhas (mais de 30 anos) (t = -2.60, p < .013,t = -2.62, p < .013) e as que tm 5 anos ou maisna profisso (t = -2.38, p < .022, t = -3.20,p < .003). Passar tempo com a famlia e os filhosparece ser uma estratgia mais favorecida porenfermeiras com menos de 5 anos na profisso(t = -2.07, p < .046).

    521

    QUADRO 5Resultados significativos dos Testes t para Amostras Independentes das Respostas ao Stress

    e Estratgias de Coping por Categoria Profissional (n = 57)

    Categoria Profissional

    Escala Nvel 1 Nvel 2

    M DP M DP t pInventrio de Respostase Recursos Pessoais

    Culpa 2.70 1.99 1.57 1.40 2.34 .026

    CRISApoio Social 15.31 3.65 17.50 2.85 - 2.31 .028Confiana 12.45 3.74 15.79 1.89 - 3.46 .002Controlo de Stress 11.17 4.66 14.71 3.89 - 2.81 .009Estruturao 11.97 2.88 14.50 2.93 - 2.83 .01Resoluo de Problemas 11.19 3.73 13.50 2.57 - 2.58 .015CRES 180.51 43.21 211.50 23.69 - 3.39 .002

  • 3.5. Relao entre as Respostas de Stress e osRecursos de Coping

    A relao entre as resposta de stress das enfer-meiras e os seus recursos de coping foi investi-gada pela computao de coeficientes de corre-lao de Pearson (ver Quadro 7). Os resultadosmostram correlaes negativas significativas en-tre a maioria das escalas de recursos de coping eas respostas de stress de culpa, hostilidade, per-da de controlo, sobrecarga/presso e raiva-frus-trao. Os resultados so menos consistentes pa-ra a emocionalidade disfrica (correlaes nega-tivas com apoio social, auto-revelao e resolu-o de problemas), ideao suicida (correlaesnegativas com monitorizao de stress e sadefsica) e mal estar fsico (correlao negativacom confiana). Estes resultados parecem indi-car que as primeiras respostas de stress possamestar mais relacionadas com um dfice globalnos recursos de coping do sujeito enquanto asrespostas de stress como a depresso e a suicida-lidade possam ter correlatos de coping mais es-pecficos. Esta hiptese apoiada pelas correla-es encontradas com o CRES (Coping Resour-ce Effectiveness Score).

    4. DISCUSSO E CONCLUSES

    As principais fontes de stress indicadas pelosenfermeiros Portugueses neste estudo so seme-lhantes s relatadas na literatura para mdicos eenfermeiros noutros pases, incluindo os estudosfeitos em Portugal (Felcio & Pereira, 1994;Lindstrom, 1992; Michie, Ridout & Johsnton,1996). As primeiras quatro fontes indicadas sode ordem organizacional (sobrecarga de trabalho,ms condies fsicas e tcnicas, carncia de re-cursos e um nmero excessivo de doentes), ten-do as fontes socio-emocionais sido classificadasabaixo da quinta posio.

    Existem muito poucos estudos que tm inves-tigado as fontes de stress em funo das caracte-rsticas da doena, como por exemplo o seu ca-rcter agudo ou crnico. A presso do tempo etarefas rotineiras tm sido apontadas como gran-des fontes de stress para enfermeiros psiqui-tricos e por aqueles que trabalham com deficien-tes fsicos, dois tipos de doena com carctercrnico (Kandolin, 1993; Leppanen & Olki-nuora, 1987). No entanto, no nosso estudo os re-sultados indicam que os enfermeiros Portugueses

    522

    QUADRO 6Estratgias de Coping consideradas Desejveis pelos Enfermeiros por Ordem Decrescente (N = 62)

    Recursos de Coping Desejveis M DP

    1. Tempo de lazer 9.11 4.492. Boa relao com os doentes 9.09 3.963. Melhorar o conhecimento clnico/prtico 9.04 3.224. Grupos de discusso 8.77 3.865. Pausas 8.76 3.776. Reservar tempo livre para si prprio 8.69 3.787. Falar com amigos 8.49 3.118. Passar tempo com a famlia e filhos 7.93 2.649. Levar trabalho para casa 6.34 3.1610. Beber bebidas com cafena (caf, ch, colas) 6.35 2.9411. Faltar ao trabalho 5.85 3.2912. Dar desculpas 5.69 4.1213. Fumar 5.04 3.9614. Beber bebidas alcolicas 4.51 5.23

  • 523

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    (N =

    62)

  • que trabalham com doentes crnicos no pare-cem ser diferentes em relao a outros profissio-nais de sade (mdicos ou enfermeiros que tra-balham com outros tipos de doentes) nas fontesde stress que identificam na sua profisso. in-teressante notar que estas fontes de stress, de ca-rcter predominantemente organizacional, noesto sob o controle directo destes profissionais,o que pode explicar o seu ranking elevado emtermos de stress e tambm reflectir os problemascontinuados existentes nas organizaes de sa-de Europeias e Americanas em termos de carn-cia de pessoal e de recursos materiais.

    Os dados deste estudo confirmam a sugestode Cohen-Mansfield (1995) e de outros autoresno sentido de se seleccionar variveis demogr-ficas e profissionais importantes quando se in-vestiga este tema. O nosso estudo mostra que aidade e o facto de se ter ou no ter filhos sofactores significativos no ranking atribudo sfontes de stress ocupacional. A valorizao dabaixa remunerao como fonte de stress porparte das enfermeiras mais jovens e da ambigui-dade de papis pelas mais velhas, poder re-flectir uma mudana de prioridades com a pro-gresso da carreira, das preocupaes mais ex-trnsecas (financeiras) para as mais intrnsecas aodesempenho da tarefa (ambiguidade de papel).Embora alguns autores tenham apontado o po-tencial stressante do papel duplo de uma mulherque combina responsabilidades familiares e la-borais (Dirkx, 1991; Michie, Ridout & Johnston,1996) nesta amostra de enfermeiros, na suamaioria feminina, as que tm filhos classificaramas suas responsabilidades pelos pacientes e fam-lia como menos stressantes do que as sem filhos(Uma transferncia de competncias da famliapara o trabalho?).

    As respostas ao stress mais prevalentes nestaamostra de enfermeiros, ideao suicida, nega-o, mal estar fsico, emocionalidade disfrica,e culpa, esto de acordo com a cultura mdicaPortuguesa que tende a favorecer expressesmais indirectas e internalizadas de stress psico-lgico, como a depresso e a somatizao(McIntyre, 1985). Os valores encontrados para adepresso so particularmente importantes econfirmam os de outros estudos feitos em Portu-gal (Loff, 1992; Nogueira, 1988). Problemas desade, ideao suicida e depresso tm sido pro-blemas apontados em enfermeiros e mdicos de

    outros pases, com valores que ultrapassam os dapopulao geral (Gunnarsdttir & Rafnsson,1995; Kandolin, 1993; Michie, Ridout &Johnston, 1996; Olkinuora et al., 1992). A faltade grupos de comparao nesta fase do estudo(outros profissionais, residentes da comunidade,etc.) no nos permite estimar a severidade desteproblema e generalizar estes dados para os pro-fissionais de sade que trabalham com doentescrnicos em Portugal. As enfermeiras com filhose aquelas em posies de chefia relataram menossentimentos de culpa do que as sem filhos oucom mais contacto directo com os doentes, o quepode sugerir uma conscincia menos severa daparte das enfermeiras com mais responsabilida-des familiares e profissionais. Os dados Portu-gueses contradizem os que foram divulgados noestrangeiro (Leppanen & Olkinuora, 1987) namedida em que nesses pases os enfermeiroschefes indicaram uma experincia de stress maisacentuada do que os seus subordinados namaioria das respostas de stress, o que no severificou na amostra estudada.

    Uma contribuio importante deste estudofoi uma anlise mais aprofundada dos recursosde coping das enfermeiras e da sua relao comas respostas de stress. O Apoio Social, a Estru-turao, a Liberdade Financeira, a Monitoriza-o do Stress, a Sociabilidade, e a Confiana fo-ram os recursos de coping mais usados pelas en-fermeiras portuguesas. Estes resultados no soinesperados se considerarmos que Portugal um pas em que os relacionamentos interpessoaisso um valor cultural (McIntyre, 1985; McInty-re, 1997). O que mais interessante salientar soos recursos menos usados, como por exemplo aForma Fsica, a Sade Fsica, o Controlo deStress, e a Resoluo de Problemas, estratgiaspara lidar com o stress mais usadas pelos enfer-meiros noutros pases (Kandolin, 1993). Esta di-ferena pode reflectir o nvel pobre de educaopara a sade em Portugal e uma falta de forma-o especfica nestas competncias por partedos profissionais de sade. Estes recursos re-flectem ainda uma viso mais humanizada eglobal da formao dos profissionais de sade(modelo biopsicosocial) que ainda no postaem prtica na formao mdica e de enfermagemno nosso pas. Os resultados sugerem ainda queas enfermeiras chefe possuem mais recursosglobais de coping e competncias especficas na

    524

  • utilizao do Apoio Social, Confiana, Controlode Stress, Estruturao e Resoluo de Proble-mas do que as suas subordinadas, o que parecedar credibilidade hiptese de que a formao//experincia ajuda os profissionais a lidar com ostress, alm de que os enfermeiros chefes so ge-ralmente os primeiros alvos das aces de for-mao.

    As estratgias que foram consideradas pelasenfermeiras como mais teis para lidar com ostress so de ordem individual (tempo de lazer) eorganizacional (grupos de discusso). Mesmoassim, parece que os enfermeiros mais velhos in-dicaram uma preferncia para solues mais or-ganizacionais, por exemplo, fazer pausas emvez de passar tempo com a famlia. Embora asenfermeiras considerassem que as chamadasestratgias escapistas ou de fuga (Leiter,1991) seriam menos teis para enfrentar o stressprofissional, uma percentagem considervel(44%) das enfermeiras admitiram beber ou fu-mar em resposta ao stress. interessante notarque no se verificaram praticamente nenhumascorrelaes significativas entre os recursos decoping usados efectivamente pelas enfermeiras econsiderados desejveis por estas (apenas 5 em135 correlaes possveis) o que indica umadiscrepncia entre estas duas fontes de informa-o e pode justificar esta diferenciao em estu-dos futuros.

    Como alguns estudos tm mostrado, existeuma relao slida entre as respostas de stress eos recursos de coping do sujeito (Kandolin,1993; Leiter, 1991; Spelten et al., 1993). O nos-so estudo revelou que esta relao varia conso-ante a resposta de stress considerada, com culpa,hostilidade, perda de controlo, presso-sobrecar-ga e raiva-frustrao apresentando uma relaomais forte com um dfice global de recursos decoping, enquanto a emocionalidade disfrica,ideao suicida, negao e mal estar fsico estorelacionadas com dfices especficos de coping.Uma vez que estas ltimas respostas de stressso as mais prevalentes na amostra portuguesa,estas correlaes podem sugerir estratgias im-portantes de interveno com esta populao.

    Apesar das limitaes que fazem parte dumestudo preliminar como este, como a pequenaamostra e a falta de grupos de comparao, osresultados foram ricos em termos da informaoprovidenciada sobre as variveis relacionadas

    com o stress nesta amostra de enfermeiras portu-guesas, confirmando a importncia de se usar ummodelo de stress ocupacional mais abrangentedo que os que se tm usado at agora, tanto emPortugal como no estrangeiro. A incluso de ca-ractersticas demogrficas e profissionais nestemodelo produziu resultados promissores, real-ando-se a importncia das variaes devido idade, ter ou no filhos e nvel profissional.

    As fontes de stress que foram mais apontadasindicam que h uma necessidade em Portugal deuma interveno ao nvel organizacional nosector da sade. Duas reas de interveno sosugeridas pelos dados: (a) o alargamento dosquadros com a abertura de mais vagas na rea desade para aliviar a carncia de recursos huma-nos e a sobrecarga de doentes (b) a atribuio demeios financeiros suficientes para a moderniza-o e melhoramento das condies fsicas etcnicas nas instituies de sade. Contudo, osresultados tambm indicam a necessidade deintervir mais ao nvel da formao profissional edo apoio psicolgico aos profissionais de sadedevido s sequelas biopsicolgicas do stressprofissional que os enfermeiros esto a sofrer,especialmente em termos da depresso e malestar fsico. Os nossos resultados sugerem queuma formao especfica na gesto do stress pro-fissional poderia ajudar a minimizar os efeitosnefastos do stress ocupacional atravs da promo-o de recursos de coping adequados. No re-cente o reconhecimento de que a reduo dostress profissional resulta numa melhoria daqualidade e quantidade do trabalho (Warp,1987).

    A importncia de uma gesto eficaz do stressocupacional como um recurso importante deuma organizao de sade, aponta a necessidadeda incluso de psiclogos no quadro dos hospi-tais e centros de sade, o que ainda constitui umrecurso raro em Portugal. Esperamos que esterelatrio preliminar e os que se seguiro do estu-do mais alargado, alertem o governo e as autori-dades competentes para a necessidade prementede avaliar o impacto do stress ocupacional nosprofissionais de sade em Portugal e providen-ciar o apoio necessrio implementao de in-tervenes psicossociais adequadas com vista preveno das sequelas negativas acima referi-das, aumentando-se assim a satisfao profis-sional e a qualidade dos cuidados prestados.

    525

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    RESUMO

    Neste artigo faz-se uma reviso da literatura sobreos modelos de stress ocupacional em contextos desade. So tambm apresentados os resultados preli-minares de um estudo mais alargado sobre as fontes destress, as respostas de stress e os recursos de copingnos profissionais de sade da regio Norte. Este artigorefere-se a uma amostra de 62 enfermeiros hospitalaresno Norte de Portugal. Os instrumentos usados foram oInventrio de Recursos para Lidar com o Stress, o In-ventrio de Respostas e Recursos Pessoais, apsadaptao e validao para Portugal pelos autores, eum questionrio demogrfico desenvolvido para oestudo. Os resultados indicam que as trs principaisfontes de stress para os enfermeiros so: sobrecarga dedoentes, sobrecarga de trabalho e ms condiesfsicas e tcnicas. Os enfermeiros respondem ao stresspredominantemente com ideao suicida, negao,sintomas fsicos e humor deprimido. Os recursos decoping mais utilizados por estes so o suporte social, acapacidade para organizar e gerir recursos, e a liber-dade financeira. Algumas variveis demogrficas eprofissionais, como o estatuto profissional, tm umimpacto significativo nas respostas ao stress e nosrecursos de coping utilizados. As respostas de stressencontradas, constituem reaces indirectas e poten-cialmente disfuncionais ao stress que podem afectarnegativamente, quer os profissionais de sade quer oscuidados prestados. Os resultados apontam para a ne-cessidade urgente de uma interveno psicolgica deapoio aos enfermeiros em Portugal.

    Palavras-Chave: Stress ocupacional, enfermeiros,coping.

    ABSTRACT

    This is a preliminary report of a larger study whichaims at determining the sources of stress, stressresponses and coping resources of Portuguese healthproviders using a comprehensive model of occupatio-nal stress. This sample is comprised of 62 Portuguesenurses of both sexes from regional hospitals in Nor-thern Portugal selected from units with chronically illpatients (e.g. rehabilitation). The subjects were giventhe Coping Resources Inventory for Stress, the BriefPersonal Survey and a brief demographic informationform. The two instruments were previously adaptedand validated for Portugal by the authors. The resultsindicate that the three main sources of stress forproviders are work load, poor physical and technicalconditions and patient overload. The providers res-ponded to stress predominantly with suicide ideation,denial, physical symptoms and depressed mood. Thecoping resources most reported were the extent ofsocial support, the ability to organise and manageresources, financial freedom and the ability to monitorstress. There was a significant impact of some demo-graphic and professional variables on the sources ofstress, stress responses and coping resources,especially the nurses professional status. The studyconfirmed previously found relationships betweenones stress response and availability of copingresources. The sources of stress found in the Portu-guese nurses are similar to those reported in othercountries for various health providers. The predomi-nant stress responses found (denial and physicalsymptoms), although well accepted in the Portuguesemedical culture, indicate indirect and potentiallydysfunctional reactions to stress which may adverselyaffect both the provider and the patient. These resultspoint to the urgent need for psychological interventionto support Portuguese health professionals.

    Key words: Occupational stress, nurses, coping re-sources.

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