menina do mar
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A Menina do Mar
Sophia de Mello Bryner Andresen
Obra adaptada
Era uma vez uma casa branca nas dunas…
Nessa casa morava um rapazito que passava os dias a brincar na praia.
Na maré vazia as rochas apareciam…
Na maré vazia as rochas apareciam…
Cober tas de limos,
De búzios,
De anémonas,
De lapas,
De algas,
E de ouriços.
Havia poças de água, rios, caminhos, grutas, arcos,
cascatas.
Em Setembro veio equinócio. Vieram as marés vivas, ventanias,
nevoeiro, chuvas, temporais.
Cer ta noite, as ondas gritaram tanto, uivaram tanto… E o
rapazinho pensava que … se travava de uma imensa batalha.
De manhã quando acordou estava tudo calmo.
Então foi brincar para as rochas
Aconteceu de repente uma coisa extraordinária: ouviu umas
gargalhadas muito esquisitas…
O rapaz, louco de curiosidade…Deu um salto e agarrou a menina.
A Menina do Mar pensou que o rapaz ia fritá-la,
mas o rapazinho só queria ser seu amigo.
Ela parou de gritar, limpou as lágrimas, penteou e alisou os
cabelos com os dedos das mãos, que fizeram de pente, e disse:
- Vamos sentar-nos os dois naquele rochedo e eu conto-te tudo.
-Eu sou a Menina do Mar. Os meus amigos são o …
polvo
o caranguejo
e o peixe
- Vivemos numa gruta.
- O polvo arruma a casa, o caranguejo é o cozinheiro e o peixe
não faz nada porque não tem braços, nem mãos.
- Tu nunca foste ao fundo do mar e não sabes como lá
tudo é bonito.
Há florestas de algas
Jardins de anémonas
Prados de conchas
Há cavalos-marinhos suspensos na água com um ar espantado.
Há flores que parecem animais
E animais que parecem flores
Posso passear pelo mar
todo e fazer tudo quanto
eu quero e ninguém me faz
mal porque eu sou a
bailarina da Grande Raia.
E a Grande Raia é dona destes mares.
- Tenho tanta curiosidade desta terra… amanhã traz-me uma
coisa da terra – pediu a Menina do Mar.
No dia seguinte o rapaz trouxe-lhe uma Rosa.
A Menina do Mar ficou encantada.
No dia seguinte.
- Bom-dia – disse a Menina do Mar – O que é que me
trouxeste hoje?
- Uma caixa de fósforos
- Não é lá muito bonita –
disse a Menina..
O rapaz abriu a caixa e
acendeu o fósforo.
A menina deu palmas de alegria e pediu para tocar no fogo.
- Isso – disse o rapaz – é impossível. O fogo é alegre
mas queima.
O rapaz soprou o fósforo e o fogo apagou-se.
- Tu és bruxo – disse a
menina – sopras e as
coisas desaparecem.
-O fogo é assim. Enquanto é pequeno qualquer sopro o apaga.
Mas depois de crescido pode devorar…
florestas
e cidades
- As coisas da terra são esquisitas e diferentes – disse a
Menina do Mar – Ah! Como eu gostava de ver isso.
- Vem comigo – disse o rapaz – eu levo-te à terra e
mostro-te coisas lindas.
No dia que se seguiu a Menina do Mar, quando o rapaz se
aproximou deles, perguntou-lhe o que trouxera da terra.
- Hoje trago-te uma coisa que é bonita e tem lá dentro
alegria. Chama-se Vinho.
E a Menina bebeu o vinho, riu e disse:
- É bom e é alegre.
Agora já sei o que é o sabor da primavera,
do verão
e do Outono.
Já sei o sabor dos frutos.
Já sei o que é a frescura
das árvores.
Já sei como é o calor de uma montanha ao sol.
Leva-me a ver a terra.
-Tenho uma ideia – disse o
rapaz – Amanhã trago um
balde e encho-o com
água do mar e algas.
- E tu pões-te dentro do balde
para não secares e eu
levo-te comigo a ver a terra.
No outro dia, o menino chegou com o balde e encontrou-a a
chorar acompanhadas com os seus amigos.
Ela explicou que os búzios tinham ouvido a conversa e tinham ido
contar à grande Raia que ficou furiosa …
… e tinha mandado os polvos para ver tudo e não a
deixar ir com ele.
Que no dia seguinte a ia mandar para uma
praia muito distante.
O rapaz, ao ouvi-la,
meteu-a rapidamente
dentro do balde e pôs-se
a correr, mas os polvos
rodearam-no e
com os seus braços
agarraram-no nas pernas,
no corpo e ele
caiu sem sentidos.
MENINO TRISTE (Ivone Boechat)
Quando acordou não viu ninguém e foi para casa triste.
Numa manhã de nevoeiro apareceu uma gaivota com um frasco no
bico.
Aproximou-se do menino atirou-lhe o frasco e disse que vinha da
par te da menina e que ela queria que ele fosse ter com ela ao
fundo do mar, pois estava com muitas saudades.
Ele só tinha que beber o que estava lá dentro e assim já podia
viver como ela, dentro e fora da água.
O rapaz bebeu e sentiu-se for te e leve.
Um golfinho apareceu para o levar agarrado à sua
cauda. Feliz despediu-se da gaivota.
Nadaram sessenta dias e sessenta
noites.
Viram muitas coisas bonitas e
interessantes …
… até que, chegaram a uma ilha com uma gruta, aí, o
golfinho disse-lhe que lá dentro estava a menina.
Estavam todos tristes e
calados,
mas quando o viram
ficaram muito contentes.
A menina dançou,
o polvo fez o pino,
o caranguejo deu
cambalhotas e o
peixe saltos mor tais.
e
Ela explicou que um dia o rei dos mares deu uma festa e a
convidou para dançar, mas como ela estava triste dançou mal,
então os búzios para a defenderem da fúria do rei contaram tudo
e que tinha sido a grande raia a culpada.
O rei com pena dela tinha dado à gaivota o frasco com o suco
das anémonas para lho entregarem e assim ele poder ir ter com
ela ao fundo do mar.
E assim ficaram juntos e felizes para sempre.