nada é como parece (psicografia marcelo cezar - espírito marco aurélio)

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  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    NADA COMONADA COMONADA COMONADA COMO

    PARECEPARECEPARECEPARECE

    MARCELO CEZARMARCELO CEZARMARCELO CEZARMARCELO CEZAR

    Dedicamos este livro dupla

    Luiz Antonio

    Gasparetto e Calunga,

    por nos ensinar a enxergar

    alm.

    Afinal, nada como parece

    ser.

    Nosso

    muito obrigado.

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    SUMRIOSUMRIOSUMRIOSUMRIO

    Prlogo.......................................................................111. Os distrbios deAmauri.....................................172. Novos

    amigos.......................................................253. Os distrbios deCelina.......................................354. Aprendendo com os

    dissabores...........................43

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    5- Amigos do bem....................................................55

    6. Mais do quesintonia.......................................... 697. AjudandoCelina................................................. 858. Despertando novos valores................................999. Ajudaespiritual..................................................11110.0 incio dos

    conflitos.........................................12511. Um pouco mais deconfuso............................13912. De volta aopassado.......................................

    .15313. Laos deamizade.............................................16114. Mentirassinceras.......................................

    ..... 173

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    15- Planos devida................................................. 189

    16. Uniodesfeita.................................................. 19517. Caminhostortuosos........................................ 21318- Encarando asconsequncias...........................22319- Amparo dos amigosespirituais.....................23520. De volta ao presente.

    ..................................... 24521. Acertando osponteiros..................................26122. Surpresas edecepes....................................

    . 26923. Livrando-se: dasmgoas................................28524. Alcanando afelicidade.................................295

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    25.Eplogo............................................................. 303

    EPLOGOEPLOGOEPLOGOEPLOGONADA COMOPARECE_MARCELO CEZAR

    Os primeiros raios desol surgiam fortes eesparramavam-sevigorosos sobre a cidade.A brisa soprava suave,

    balanando as copas das rvores,produzindo os primeiros sons dodia misturado aos trinados dealguns pssaros que pulavamsaltitantes de galho em galho.

    Amauri abriu a janela doquarto e espreguiou-sedeliciosamente. Perpassou umolhar curioso para a rua, natentativa de encontrar algumrosto conhecido. Calculou ser

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    muito cedo, visto que o leiteiro eo rapaz do po corriam clerespara agilizar o servio de entrega

    nas portas das residncias. Como bom estar de volta suspirou.

    Era sua primeira manh emSo Paulo aps uma ausnciaque beirava os cinco anos.Enquanto seus olhos ainda

    inchados alcanavam as copasdas rvores alinhadas e floridas,formando um encantadorcorredor verde a perder-se devista no horizonte, lembrou-sesaudoso da poca em queconclura o cientfico e deixara oPas.

    Rodou nos calcanhares e comum gesto vago espantou asreminiscncias. Dirigiu-se at obanheiro, tomou uma duchademorada e reconfortante.Vestiu-se com apuro, apanhandodo armrio uma roupa esporte-chique e em seguida desceu parao desjejum.

    Na sala de almoo, encontrouo pai, a me e a irm adiantadosna refeio.

    No quisemos incomod-lofoi logo alteando a voz DonaChiquinha, como as damas da

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    sociedade a chamavam. Qual nada, me orespondeu, esboando um

    sorriso e beijando-lhe a testa Encontro-me bem-disposto.

    Vou tomar o caf e andar pelaredondeza. Isso mesmo, meu filho aquiesceu Eli. Nestes anosem que esteve fora, muita coisa

    mudou. So Paulo no pra decrescer. O Lima Tavares perderamtudo e a casa teve de ser vendida.E olha que por pouco nonamorei o filho deles, Wilson.Imagine em que situao euestaria agora? interveio Maria Eduarda, com

    sorriso mordaz nos lbios,Amauri nunca se interessarapelos fuxicos sociais.Ao ouvir os comentrios dairm, meneou a cabeanegativamente. Sentou-se, pegouo bule fumegante de caf,serviu-se e apanhou uma fatia debolo. Quais as novidades? Comoanda o pas sem Getlio?

    indagou, procurando daroutro rumo conversa.Eli pousou a xcara no pires e

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    considerou: Alguns setores dasociedade ainda se encontramchocados.

    Faz pouco mais de dois mesesque Vargas se suicidou; todavia,Caf Filho est desempenhandobem o papel de presidente. Getlio era tido em alta contana Europa, papai tomouAmauri. Seu pensamento foi

    destaque em toda a imprensa,principalmente em Portugal.Amauri ia continuar a conversacom o pai, porm Maria Eduardainterveio: O presidente se matou,problema dele. Acabou.Ademais, isso no me interessa,eu continuo viva.Estou mais indignada com o fatode termos perdido o concurso deMiss Universo. Amauri estavaestupefato. Como? O que disse? Voc acredita nisso,Amauri?insistiu MariaEduarda, colocando os cotovelos mesa, o que fez DonaChiquinha dirigir-lhe um olharreprovador.

    E que diferena isso faz?Estou mais preocupado com osrumos da nao do que com um

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    concurso de beleza. Tnhamos certeza de queManha Rocha iria ser coroada a

    mulher mais linda do mundo.Perdeu por ter duas polegadas amais nos quadris. Uma injustia! Ora, Maria Eduarda, voc dateno demasiada a essesacontecimentos!No existe essa histria de

    mulher mais linda do mundo. Lna Europa, a guerra mudoumuito os conceitos que aspessoas tinham em relao beleza. Os homens estointeressados em outros atributosdas mulheres. Quais? replicou a garota,com tom irnico. Inteligncia, minha irm. Eoutros valores que somente umaguerra capaz de despertar naspessoas.Chiquinha ia interferir, masmudou de idia. ObservandoMaria Eduarda, pensou aflita:"Meu Deus! Como ela se parececom minha irm! Ser quepassarei por todo aqueletormento de novo?

    Ser que Maria Eduarda vai noscobrir de vergonha como IsabelCristina?"

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    Amauri percebeu os olhos tristese sem brilho da me, mas nadadisse.

    Suas idias sempre eramdivergentes. Estava disposto arebater, mas achou por bempermanecer calado.Sua me parecia uma mulherinfeliz, desanimada. Continuouolhando aquele semblante

    carregado e pensou:"Ser que minha me ainda amameu pai? Ser que ela sempre foiassim? O que ser que fez comque ele sentisse atrao por ela.Cheguei a fazer tal pergunta minha tia, mas educadamenteela mudava o assunto.Bem, cada um com sualoucura.

    Meneou a cabea para oslados, levantou-se, pediu licenae foi caminhar por entre osquarteires do bairro deHigienpolis, ainda repleto decasares naqueles tempos.

    Aps andar um pouco,Amauri sentou-se num banco daPraa Buenos Aires. Recostou-sedisplicente e fechou os olhos por

    alguns instantes, aspirando aoaroma das flores. Abriu-osnovamente e vislumbrou a

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    figura de um conhecido seu,sentado em um banco prximo.Levantou-se e aproximou-se

    sorridente: Dr. Incio, quanto tempo!O homem assustou-se aprincpio. Olhou desconfiadopara Amauri. Quem voc?O rapaz procurou altear a voz:

    Sou eu, Amauri Bueno deCastro. Estive fora alguns anos.Voltei ontem de Portugal. Soufilho do Dr. Eli.Incio levantou-se de pronto. Meu Deus, como voccresceu! J um homem. Estcom quantos anos? Vinte e quatro. Voc tem a idade de Celina,minha filha. Acho que um ou dois mesesde diferena. E ela, como est!Incio crispou a face. Fitando umponto indefinido, olhos tristes,tomou: No sei. Afastei-me dos meus,separei-me. Se eu pudesse, dariamais assistncia a Celina.Ningum l em casa a

    compreende. Esto querendointern-la. Intern-la?

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    Sim. Ela apresenta distrbiosemocionais de vez em quando. E por que o senhor no

    intervm! Afinal de contas e opai. No posso. No tenho essedireito, estou separado.Ademais, Eullia vai ficarzangada se souber que andotratando de assuntos pessoais

    com estranhos. Mas o que fazer?Voc o nico em nosso meiocom condies de me ajudar. Eu? Por qu? Ora, voc estudou com Celinano ginsio, conhece minhafamlia. Lembro-me que, antesde partir para Portugal,frequentou nossa casa, e sempresimpatizei com voc, emboranossas famlias tenham cortadorelaes. V at minha casa,procure demov-los da idia deinternao. H outros recursos.Amauri pendeu a cabeanegativamente para os lados. No posso intervir. Dr. Incio.Estudei com sua filha, masminha me nunca aprovou nossaamizade.

    O senhor sabe que Dona Eulliatambm no fazia muita questode que eu l freqentasse.

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    E cheguei agora, faz anos queestou longe de todos. No seriauma boa idia.

    E, sim, V at l. Minha filhaprecisa de ajuda. Nada possoadiantar-lhe de incio, pois setrata de assunto muitontimoque esbarra nos preconceitossociais... Incio enrubesceu.

    Pigarreante tomou: No vailhe custar nada, meu rapaz. Oolhar de splica de Inciocomoveu o jovem. Est certo. No tenho o quefazer no momento e vou at suacasa. Mas sua esposa poder nome receber bem. Ano ser. Amauri pensou por uminstante- Berta continuatrabalhando com a famlia? Sim, continua. Bem, pelo menos ela semprefoi amvel comigo. E continuammorando na Avenida Anglica? Sim, na mesma casa. Agorapreciso ir. Conto com voc. Atmais ver.

    Aps as despedidas, Inciosaiu lentamente. Amauri

    condoeu-se com aquele homemde meia-idade, fisionomia triste,caminhando pela praa. Virou

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    na direo contrria e foi at ocasaro.

    No caminho, repudiava o

    matrimnio feito por interesse esuas danosas conseqncias.

    Perguntava-se em voz; alta:

    Por que as pessoas se casam

    por interesse? Qual a razo de se

    unirem sem amor! Depoisacontece o inevitvel: acabam se

    desquitando. D. Incio deve

    estar sofrendo muito com o

    preconceito. Imagino como

    Dona Eullia deva estar sesentindo.

    Foi ruminando os

    pensamentos at parar em frente

    a belssimo casaro. L, tocou a

    campainha. Em instantes, umacriada atendeu-o, sobriamente

    vestida, fitando-o com olhar

    perscrutador.

    Pois no? Gostaria de falar com DonaEullia. Ela est? Quem deseja falar?

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    Diga que sou Amauri Bueno

    de Castro. Vim por intermdio

    de...Antes que ele terminasse, a

    criada voltou-se e fechou a porta.

    Aps alguns instantes,

    apareceram na soleira Dona

    Eullia e seu filho, Murilo.

    O que deseja? Bom dia, Dona Eullia evirando o olhar para o jovem,tomou educado: Como vai,Murilo? Voc no o filho do Dr. Eli,? Eu mesmo. No estava em Coimbra,

    estudando? inquiriu Murilo,

    surpreso.

    Isso mesmo. Voltei ontem aSo Paulo. Eullia mostrava-se

    visivelmente contrariada, mas

    manteve a pose:

    Nossas famlias no mantmrelaes. O que quer de ns?

    Dar um recado. Eullia lanouum olhar percuciente ao rapaz.

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    Pensou por um instante eordenou: Abra o porto e venha at

    aqui.Amauri abriu o grande porto deferro preto, ricamentetrabalhado. Passou pelo jardim,contornou o chafariz e parou noprimeiro degrau da escada. Estou meio sem jeito, mas

    venho pedir-lhes um favor. E qual ? perguntouMurilo. Amauri passou a mopela nuca, mordeu os lbios.No sabia por onde comear. Bem, eu vim at aqui para

    pedir-lhes que no internemCelina numa clnica psiquitrica.Me e filho trocaram olharesassustados. Quem teria contado?Como a notcia havia vazado?Quem poderia ter sido to vil e

    querer colocar o nome da famliana lama? No sabemos do que estfalando. Nossas famlias soconhecidas, mas no lhe damos odireito de bisbilhotar. Seus paisno iro gostar de sua atitude.Celina teve algumas convulses,

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    mas passa bem sentenciouEullia. Desculpe, no sei em que

    situao ocorreu seu desquite,mas estive h pouco com o Dr.Incio, e ele me pediu esse favor.Eullia empalideceu. Suaspernas falsearam e ela iria aocho se no fosse sustentada por

    Murilo, que, atnito, gritou: O que isso? Como se atreve?

    Amauri no sabia o que dizer,tamanha a surpresa. Trmulo,continuou: No estou brincando.Encontrei-me com seu pai naPraa Buenos Aires h poucosinstantes e ele insistiu para queeu viesse at vocs eintercedesse a favor de Celina.Murilo descontrolou-se, quasedeixando a me ir ao cho. Antes

    que ele pudesse balbuciarqualquer palavra. Eulliadesfaleceu em seus braos.Amauri empalideceu eemudeceu. Virou-se para Murilopedindo, atravs de seus olhos

    assustados, uma explicao paraaquele inesperado mal sbito deEullia.

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    Murilo fixou seus olhos nos deAmauri. Ainda segurando a medesfalecida nos braos, e apsdeixar escapar uma lgrimafurtiva, tornou comovido: Isso no pode ser! Papaimorreu h um ano ... NADA COMO PARECE_MARCELOCEZAR

    CAPTULOCAPTULOCAPTULOCAPTULO 1111 (OS DISTRBIOS DE(OS DISTRBIOS DE(OS DISTRBIOS DE(OS DISTRBIOS DEAMAURIAMAURIAMAURIAMAURI)))) NADA COMO PARECE_MARCELOCEZAR

    Embora fosse um rapaz

    bonito, alto, trax largo,

    praticante de nado livre, olhos

    amendoados e cabelos

    castanhos, Amauri era tmido.

    No compreendia o que lhe

    ocorria. Desde O incio de suaadolescncia, sentia emoes

    estranhas. Os pais o levaram a

    consultrios mdicos, mas nada

    de anormal constava em seus

    exames. Diagnosticavamproblemas nervosos.

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    Temerosos de que o filho

    sofresse alguns distrbios

    desconhecidos e ressabiadoscom a competncia dos mdicos

    brasileiros, costume tpico de

    famlias abastadas naquela

    poca, os pais o enviaram para

    tratamento na Europa. Mesmo

    recebendo de renomados

    especialistas europeus o mesmo

    diagnostico dos mdicos

    brasileiros, Eli e Chiquinha

    insistiram que o filho fizesse o

    curso de Direito na universidade

    de Coimbra, em Portugal. Talvez

    l Amauri pudesse voltar a ser o

    rapaz sadio de outrora. Ele

    precisava ficar fora por um

    tempo, e Portugal era uma

    excelente escolha.

    Seus pais, pertencentes a um

    ncleo de famlias da elite

    paulistana, preferiam a distncia

    aos aborrecimentos de ter umfilho esquizofrnico, como era o

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    caso de Celina, a filha dos Sousa

    Medeiros, da mesma idade de

    Amauri e que causava vergonhae constrangimento aos pais.

    Amauri agora se sentia bem;

    o mal-estar e a depresso haviam

    cessado em Portugal e ele se

    julgava sadio novamente,

    sobretudo depois de conviver

    com sua tia Isabel Cristina, irm

    caula de Chiquinha. Ela via

    com naturalidade seus sintomas

    e havia lhe ensinado muitas

    coisas a respeito das leis da vida

    e da espiritualidade. A

    facilidade com que discorria

    sobre assuntos de cunho

    espiritual fascinava-o.

    O rapaz nunca soube o realmotivo da ida definitiva da tia aPortugal. No se falavam haviamuito tempo, e Chiquinha nopermitia que o filho se instalassena casa da tia. Ela insistiu queAmauri ficasse numa repblicaou alugasse uma casa nos

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    arredores da faculdade. Amauriconcordou e alugou pequenacasa prxima faculdade. Doismeses depois, sem que ningumsoubesse, entregou a casa emudou-se para a residncia desua tia Isabel Cristina.

    Amauri se deu bem com a tiadesde o primeiro instante. Poresta razo nunca questionou omotivo pelo qual Isabel Cristinavivia isolada dos familiares emterra estrangeira. Graas mentelarga e s sbias palavras da tia,

    ele pode ter acesso aoconhecimento daespiritualidade. Embora tendo acompanhia agradvel de IsabelCristina, no titubeou aograduar-se: fez as malas e

    regressou a So Paulo. Insistiuque a tia viesse junta, ao que elarespondia: No posso. O Brasil no mais lugar para mim. Mas a senhora toesclarecida, uma mulher

    fantstica.Adoraria ter sua companhia emSo Paulo.

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    No insista, Amauri. O Brasil,para mim, est morto. Estoumuito bem aqui em Portugal.Tenho minha casa, meus amigos.V e recomece sua vida. Talveztudo que lhe ensinei possaajud-lo a no cometer os errosque cometi no passado.

    Nada mais pde ele arrancarde Isabel Cristina. O que teriaacontecido entre ela e sua me?Porque no se falavam? Quaisforam os erros que ela cometera?Amauri estava imerso nesse

    emaranhado de pensamentosquando ouviu leve batida naporta. Sou eu, Maria Eduarda.Silncio. A jovem tomounovamente, com mais fora: Abra Amauri. Por favor...

    Em instantes, Amauri abriu aporta. Ele mal olhou para a irme estirou-se novamente na cama. Desse jeito no d n,Amauri... S porque voc teveum ataque semana passada no

    quer dizer que o mundo acabou.

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    Ele fitou a irm. Ia responder,mas no disse nada. Sentia-secansado. Alguns dias haviampassado desde o incidente comEullia e Murilo.

    A situao fora to

    inesperada que Amauri voltou

    para casa em estado de choque.

    Celina, ao inteirar-se do assunto,procurou antecipar-se e ligou

    para a casa do Dr. Eli contando

    o acontecido, j que Eullia

    recusava-se a falar com os

    amigos de outros tempos. MariaEduarda continuou;

    Celina louca e depravada,

    mas de vez em quando age com

    a razo. Ainda bem que aquela

    desmiolada ligou para c antesde Dona Eullia. Papai ficou

    mudo ao atend-la. Pelo seu

    rosto, deu para perceber que

    voc havia aprontado uma das

    boas.

    Mas eu vi o Dr. Incio

    retrucou Amauri.

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    Maria Eduarda suspirou,

    inclinou levemente a cabea para

    trs e balanou os cabelos paraos lados.

    Alucinao, ou talvez a

    mudana de clima. L em

    Portugal era quase inverno, aqui

    estamos era plena primavera.

    Voc mal havia chegado. Tudo

    contribuiu para esse surto.

    Amauri deu um salto e sentou-se

    na cama.

    Voc acha mesmo isso? Masfoi to real! No acho, tenho certeza. Ojovem voltou a deitar-se e cerrouos olhos. Ela insistiu: No adianta ficar desse jeito.

    Se continuar assim, mame

    voltar a sofrer dos nervos. Elano merece isso. Voc no mais

    criana. Se quiser minha ajuda,

    posso marcar uma consulta com

    o Dr. Antunes.

    Amauri voltou a abrir os olhos.Sua fisionomia distendeu-se

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    numa expresso de tristeza

    singular. Como provar que

    estava falando a verdade? Comomostrar irm e famlia que

    ele no estava louco? Aps

    sentido suspiro, disse relutante:

    Vou pensar no assunto. Pense logo. Parece-me que o

    convvio com tia Isabel Cristina

    em nada adiantou. Se bem que,

    pelo que ouvi de mame, ela no

    deve bater muito bem das idias.

    Amauri fitou-a assustado:

    Como sabe que fiquei unstempos morando com tia Isabel?

    A irm fez,ar de mofa.

    Ora, meu bem, sou excelente

    observadora. Em uma de suas

    cartas, voc se descuidou eanotou o endereo de tia Isabel

    no campo do remetente.

    Isso no prova que eu tenha

    morado com ela! Maria Eduarda

    riu-se.

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    Isso prova que no estou

    enganada. Eu disse que voc

    convivia com ela, mas pela suacara, sei que verdade. Ento

    voc morou com ela, no foi?

    Amauri procurou dissimular.

    Com gestos largos, retrucou:

    E qual o problema? Ela bacana, uma mulher de fibra. Mame no pensa assim.

    Tempos atrs a peguei

    conversando com papai no

    escritrio. Dizia estar feliz; de a

    vagabunda ter ido para longe.Claro que ao final da conversa

    descobri que a vagabunda em

    questo era tia Isabel Cristina.

    No posso acreditar que

    mame tenha falado isso! Mas falou, eu ouvi. Ela e

    papai no gostam de tia Isabel

    Cristina. Por qu? Nunca

    saberemos. Mas tambm no me

    interessa. No momento, o que

    desejo livrar-me dos

    comentrios. J estou ficando

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    preocupada, pois minhas amigas

    esto fazendo chacota na

    faculdade. Voc no tem odireito de denegrir a imagem de

    nossa famlia.

    Amauri deu novo salto da cama.No acreditava no que ouvia. O que me diz

    impressionante! Ento suapreocupao no comigo, mas

    com a reputao da famlia

    Bueno de Castro?

    E qual o problema? Dentro

    em breve vou arrumar um bompretendente e casar-me. Voc

    chegou a pouco, precisa inteirar-

    se das coisas. Papai tem o

    escritrio na cidade, bons

    clientes, o que nos d uma boavida, mais nada. Estou pensando

    no futuro, e herdaremos somente

    os galpes da Barra Funda. Isso

    muito pouco para mim, e ainda

    por cima terei de dividi-los comvoc. Eu quero mais.

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    E tendo um louco na famlia

    as coisas se complicam, isso?

    Maria Eduarda baixou os olhos.Amauri insistiu:

    Ento isso?Como voc

    ftil, minha irm. Espero que

    no sofra com essas iluses.

    Prefiro iluses a alucinaes.

    Pelo menos eu sou normal.

    Papai no teve de gastar uma

    fortuna para manter-me longe,

    temendo a desmoralizao de

    nossa famlia. Agora percebo o

    quo ingrato voc . Ao invs de

    nos agradecer, repudia-nos. Eu

    que me sinto indignada. Faa o

    que achar melhor.

    Maria Eduarda levantou-se de

    pronto, foi at a porta e, antes de

    sair, dirigiu um olhar

    fulminante ao irmo.

    Mas no se esquea de que

    farei qualquer coisa para

    arrumar um bom casamento.Estou interessada em Murilo,

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    filho de Dona Eullia. Afaste-se

    dele o quanto antes. Suas

    alucinaes da semana passadaquase puseram fim ao meu

    intento. No me cutuque, pois

    voc no tem noo do que sou

    capaz.

    A jovem terminou de falar em

    tom ameaador. Virou-se

    bruscamente e ao sair bateu a

    porta com fora.

    Amauri ficou olhando para a

    porta, ainda sem acreditar nas

    palavras da irm. Amuado, falou

    para si em alto tom:

    A louca e ela, no eu. O que

    acontece com esta famlia?

    Por que tanta preocupao com

    as aparncias? E isso que ocorre

    comigo? Ser que vou terminar

    meus dias num sanatrio?

    Lgrimas comearam a rolar por

    suas faces. Amauri estava

    desolado. Mal havia retornadoao Brasil e encontrava sua

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    famlia na mesma, e, pior, as

    alucinaes haviam voltado.

    Pensou em escrever para IsabelCristina, mas desanimou ao

    calcular o tempo que levaria

    para chegar a suas mos uma

    resposta. Sentindo-se impotente,

    jogou-se novamente sobre a

    cama e lembrou-se do episdio

    que culminara com sua ida a

    Portugal. Seu pai no se

    preocupava com sua educao,

    deixando essa tarefa ao cargo da

    me. Criada sob padres rgidos,

    Chiquinha enveredara pelo

    caminho da paixo passageira, e

    por pouco no cometera

    desatinos de maior gravidade.

    Assustada com tais

    acontecimentos do passado, ela

    procurava ser rgida na educao

    das crianas. Acreditava que,

    sendo duros, seus filhos no

    iriam cometer os deslizes que elacometera. Desta feita, por anos

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    tentara ignorar os acessos do

    filho, como a negar sua

    incompetncia de me.Durante muito tempo,

    conseguira esconder de Eli os

    problemas do filho. Se ele

    descobrisse, ela estaria

    assinando atestado de me

    fracassada. Ela no podia dar

    esse desgosto ao marido. Casar-

    se com Eli fora um presente de

    Deus. Ela o amara desde o dia

    em que seus olhos se

    encontraram. Mas o casamento,

    as obrigaes de famlia, tudo

    foi contribuindo para que os

    planos sonhados em cor-de-rosa

    perdessem o vio, a cor, e tanto

    ela quanto Eli foi distanciando-

    se dos sonhos de um casamento

    feliz conforme os anos iam

    passando. Tratava-se com

    respeito, mas com reserva.

    Chiquinha estava perdida, notinha mais o suporte das amigas

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    que tanto a ajudaram no

    passado. Encontrava-se sozinha.

    E agora o filho apresentava essesdistrbios. Ela tentara ocultar do

    marido a maior parte das crises,

    mas a morte de seu cunhado

    Adamastor fora o pice da crise,

    fazendo-os tomar a radical

    deciso de esconder Amauri da

    sociedade at que ele se curasse

    por completo, mesmo que

    corresse o risco de deix-lo viver

    na mesma cidade de Isabel

    Cristina, a irm de Chiquinha

    que j havia cometido srios

    desatinos no passado.

    Duas semanas aps a morte docunhado, Amauri passara a

    apresentar fortes dores no peito.Chiquinha e Eli correram porconsultrios e hospitais, mas ador persistira e nenhumdiagnstico fora conclusivo,Chiquinha tentara de tudo, e no

    auge do desespero, sem que Elitomasse conhecimento, levou o

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    menino at uma benzedeira,indicada por uma ex-empregadade sua casa.Ao chegar ao endereo indicado,num humilde casebre noCambuci, Chiquinha noconteve o pranto. Era-lheultrajante chegar a tal pontonovamente. Lembrou-se de queantes de seu casamento com Elihavia feito o mesmo, mas ficarato chocada com o que ouviraque preferiu nunca mais correratrs de videntes, cartomantes

    ou benzedeiras. Naquelemomento sentiu sua vaidade serameaada, mas no havia outrorecurso. Envergonhada esentindo-se humilhada, bateupalmas.

    Atendidos por uma simpticasenhora, me e filho foramconduzidos a uma salahumildemente decorada, pormconfortvel e harmoniosa. Asenhora fez com que Amauri se

    sentasse numa cadeira no meioda sala e pediu que Chiquinhase acomodasse em poltrona

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    prxima. Com vozpausada eserena, inquiriu me aflita: H quanto tempo o rapazsente essas dores? Mais ou menos dez dias.A senhora pediu que Amaurifechasse os olhos. Pousando amo em sua cabea, proferiuligeira prece, depois tornou: H um esprito colado a seu

    filho. No aceita a passagem etenta comunicar-se atravs domenino, pois sabe que ele captacom facilidade as energiasastrais.Antes de Chiquinha fazer

    qualquer pronunciamento,Amauri abriu os olhos eperguntou. Mas sempre que tive algumasensao diferente sentia enjoou mal-estar. Por que as dores nopeito?

    Voc tem o sexto sentido bemapurado, meu filho. Conseguecaptar com facilidade as energiasdo mundo invisvel. Esse senhora seu lado desencarnou vtimade ataque cardaco. Como no

    aceita essa nova realidade, suaconscincia o mantm preso sltimas impresses da vida na

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Terra. A dor que voc sente dele, e no sua. Chiquinhalevantou-se indignada: O que nos diz loucura!Somos conhecidos na cidade,portanto a senhora deve ter lidonos jornais ou ouvido no rdioque meu cunhado faleceu h dezdias vtima de ataque cardaco.Isso no passa de encenao.Diga l seu preo e vamosembora.A senhora nada disse. Fechou osolhos novamente, proferiu outra

    prece e ministrou um rpido eeficiente passe no garoto. Logodepois, ainda emanandoenergias de alto teor eimperturbvel ante a histeria deChiquinha, tocou levemente no

    ombro de Amauri. Sente-se melhor, meu filho? Sim, senhora. A dor passou. O esprito foi conduzido poramigos espirituais para um localde refazimento. Por ora voc est

    livre dessas impresses.No se esquea de estudar paraeducar esse sentido to especial.

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Como posso fazer isso? Freqentando uma boa casaesprita ou um grupo de pessoas

    que estude seriamente amediunidade e sua relao como mundo extra fsico. Chiquinhano agentou: Agora demais! Chega! Vocno tem o direito de bagunar acabea de meu filho. Centroesprita?! Isso e loucura, spodiam partir de genteignorante. D-nos logo seupreo, no quero mais ficar aqui. Eu no quero nada. No cobropor isso. Se quiser ajudar, podemandar alimentos para ascrianas carentes aqui do bairro.Amauri levantou-se e colocou-seentre as duas:

    Me! Por que essecomportamento? No v queestou bem?No sinto mais nada. Essasenhora me curou. No curei voc, meu filho.

    Este trabalho nunca podereirealizar. Cabe a cada saber lidarcom o invisvel. Eu somente

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    afastei com amor esse espritoem desespero. Se voc noeducar sua sensibilidade, trarnovas companhias invisveispara seu lado, sejam agradveisou no. Estude e, acima dequalquer coisa, faa tudo em suavida de acordo com o comandodo corao. Ouvir o corao estar em contato constante com aalma.Ainda olhando para Chiquinha,a senhora continuou: Anos atrs voc teve a chancede estudar e aprender sobre aespiritualidade, pois sabia queteria um filho que necessitariade orientao. Mas voc deixoutudo de lado, a fim de ocultar oque julgou ser um erro. Est nahora de largar o passado eperceber que a vida est lhedando uma nova chance.

    Amauri iria agradecer e beijar

    aquela humilde senhora, no

    fosse o puxo de mo de

    Chiquinha.

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Chega! Ela louca, meu filho,

    uma doidivanas! Como se atreve

    a falar de meu passado? Comoousa? Vamos embora desce

    lugar. E antes de bater a porta

    pousou os olhos injetados de

    fria sobre a mulher: Mesmo

    ouvindo tanta barbaridade aqui

    dentro, no deixarei de ajudar

    suas crianas. Amanh mesmo

    meu motorista trar

    mantimentos suficientes para

    alimentar todo o bairro. Com

    licena...

    Amauri abriu os olhos. Parecia

    estar revivendo tudo aquilo.

    Antes de afastar os pensamentos

    do passado, pode lembrar-se que

    um ms depois do episdio no

    Cambuci j estava de malas

    prontas e embarcando para

    Portugal. Suspirou resignado.

    No gostaria de viver tais

    sensaes novamente. Levantou-

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    se e passou a andar de um lado

    para o outro no quarto.

    Subitamente um pensamentocada vez mais forte foi tomandoconta de sua mente. At que,num estalo, parou e gritou: E isso! Aquela senhora e

    depois tia Isabel Cristina l em

    Portugal me disseram o mesmo,aprender mais sobre meu sexto

    sentido. E disso que preciso. Faz

    bastante tempo, mas lembro-me

    de que aquela simptica senhora

    atendia no Cambuci. Vou tentarach-la. Agora.

    Passou Glostora nos cabelos,pegou os culos escuros edesceu. Vai encontrar algum amigo;

    interpelou Chiquinha, ao pda escada.

    Vou, me. Acabei de marcar

    com um grupo do colgio.

    Vamos matar a saudade. Estou

    retornando sociedade.Chiquinha suspirou aliviada.

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Que bom, meu filho!

    Esqueamos os incidentes de

    semana passada. Agora voccomea uma nova fase.

    Amauri pousou leve beijo no

    rosto da me. Com expresso

    matreira, retrucou:

    A senhora est coberta de

    razo: agora comeo uma nova

    fase.

    Saiu para a rua e algum

    quarteiro depois, feliz e

    decidido, tomou o bonde com

    destino ao largo do Cambuci.

    NADA COMO

    PARECE_MARCELO CEZAR

    CAPTULO 2CAPTULO 2CAPTULO 2CAPTULO 2 (NOVOS AMIGOS)(NOVOS AMIGOS)(NOVOS AMIGOS)(NOVOS AMIGOS)

    NADA COMO

    PARECE_MARCELO CEZAR

    O fiscal informou: ltima parada. Vamos fazer a

    volta no largo e reiniciar aviagem. Aqueles quepermanecerem no carro tero de

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    picotarnovo bilhete.

    Amauri levantou-se e lanouolhares curiosos para os lados.Antes de saltar do bonde,perguntou ao condutor queportava sobre a cabea elegantebon e trajava impecveluniforme azulmarinho: Onde fica a Rua do Lava ps?

    O condutor tirou a mo daalavanca e num gesto largoindicou: E s seguir em linha reta. Ficalogo ali, no tem como errar.

    O rapaz desceu e seguiu asordens do condutor. Enquantoseguia em linha reta, forava seuarquivo de memria na tentativa

    de lembrar-se da casa e dasenhora que o ajudara anosatrs.

    Estava to absorto em seuspensamentos que no percebeuum desnvel nos

    paraleleppedos ao atravessar arua. Tropeou e caiu, sentindomuita dor no joelho.

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Maldito seja! bradou. Est doendo muito?

    Amauri continuou com as

    mos sobre o joelho machucado,mas seus olhos foramlentamente subindo, numatentativa de alcanar aquela docevoz. Alteou um pouco mais acabea e de sbito deslumbrou-se ao encontrar aquele par deolhos verdes serenos. Gaguejouao dizer: Um pouco. Deixe-me ajud-lo.

    A garota estendeu-lhe osbraos. Amauri levantou-secambaleante.

    Vamos at em casa.Precisamos dar um remendo nacala.Um pouco de mercrio nojoelho, mais um pedao de linhae uma agulha vo resolver seu

    problema. Imagine! No se preocupe.No quero dar-lhe trabalho.Nem ao menos a conheo. No seja por isso. Meu nome Lcia disse a moa, logoestendendo a mo.

    Amauri tirou os culos eestendeu a mo em deferncia. Prazer. Meu nome e Amauri.

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    Ento j nos conhecemos.Venha, moro logo ali naquelacasa.

    Amauri encantou-se com osdentes perfeitamenteenfileirados e que davam umtoque gracioso ao sorriso dela.

    Enquanto a acompanhava,no pde deixar de notar suasformas bem definidas, oscabelos castanhos penteados

    moda e o inebriante perfumeque seu corpo emanava.

    "Isso um colrio! Comopode uma beldade dessasestar neste lugar?", pensou.

    A moa percebeu os olharesgalanteadores do jovem e como

    a ler seus pensamentos tornoucom naturalidade: Faz pouco tempo que estamosmorando aqui. Foi muito durobaixar o nvel de vida quetnhamos, mas pelo menostemos um teto e boa vontadepara trabalhar e continuar aviver da melhor maneirapossvel. Afinal de contas, tudona vida no passa deexperincias, que, se bem

    aproveitadas, amadurecem oesprito.

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Desculpe, mas voc noparece pertencer a este lugar. Eto bonita! No me leve a mal,no se trata de um flerte, maspareceque a conheo.

    Ela abriu novamente seuslbios em largo sorriso. Fomos vizinhos de infncia.

    Morvamos perto de sua casa lem Higienpolis.Amauri parou de andar.

    Passou as mos pelos cabelos,como a tentar lembrar-se damoa. Espere um pouco. Voc no

    pode ser a filha de... Digenes de Lima Tavares? Aprpria. Desculpe volveu eleembaraado. Estive foramuito tempo. Fiquei sabendoque sua famlia perdeu tudo. Quase tudo. Ficamos com estacasa aqui respondeu Lcia,apontando para um assobradadona esquina. Wilson, meuirmo, trabalha na mercearia quefica no andar trreo. Pelo menostemos de onde tirar algumsustento. No temos aluguel

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    parapagar, e aumentamos a rendacom pequenos consertos deroupas que fao nas horas vagas.Mame tambm reservoualgumas horas e d aulas depiano. Seu pai era dono de fortunaconsidervel! Como perdeutudo? No sabemos ao certo. Nosltimos anos papai foi deixandotodos os negcios nas mos doDr.Rodolfo Nascimento e Silva.

    J ouvi comentrios negativosa respeito dele. Sim, mas o Dr. Rodolfosempre foi correto com papai. No acha estranho seu paiperder tudo? E o Dr. Rodolfo,como est?

    O Dr. Rodolfo muito nosajudou. Graas a ele ficamossabendo da existncia desteassobradado. Papai torrava odinheiro em cassinosclandestinos. Pelo que sei, o Dr.

    Rodolfo vive com dividendos dealuguis.

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Uma lgrima teimou emdescer pelo canto dos olhos deLcia. Amauri procuroucontemporizar: No precisa dizer mais nada.O que aconteceu com vocs delicado e s o tempo vai ajud-los a esquecer. E quanto a seupai? Lcia chorou. Amauri ficouquieto, de cabea baixa. Algunssegundos depois, a moa passouas mos pelos olhos midos elevemente inchados. Desculpe. Tudo ainda muito

    recente. Sofremos um durogolpe. Papai no agentou obaque e seu corao nosuportou ta-manha presso.

    Amauri tirou um leno de seu

    bolso e estendeu-o para Lcia.Com voz pigarreante,considerou: No sabia que as coisassucederam dessa maneira. Ssoube que vocs haviam perdido

    tudo. Afinal, nossas famliasnuncase falaram.

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    Lcia limpou os olhos eassuou o nariz.

    Quase fomos execrados nos

    jornais, e mame vem serecuperando aos poucos. umamulher digna e valente.Enfrentoutudo de cabea erguida, Ela attentou contatar as amigas do

    passado, Dona Chiquinha eDona Eullia, mas em vo. Asduas recusaram-se a receb-la.

    Amauri pousou o dedo noqueixo. Muito estranho o

    comportamento de minha me. No sabemos o que aconteceuno passado, por esta razo nopodemos julgar a atitude daspessoas. Sempre achei Dona Cora uma

    mulher extraordinria. E . Lcia parou na esquinae disse: Chegamos. Vamossubir. Vou arrumar sua cala,passar um pouco de mercrionesse joelho e lavar seu leno.

    No h necessidade. No, senhor, vamos. J ouviulamrias suficientes.

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    Creio que mame vai gostar desaber que conhecidos de outrostempos andam por aqui. E, por

    falar nisso, o que o trouxe ateste lugar?Amauri titubeou. Mordeu os

    lbios e por fim respondeu: Estou procura de umasenhora que me ajudou anosatrs.

    Ajudado por uma senhoraque mora por estes lados? Muitoestranho... Amauri ruborizou.Tentou dissimular: Era amiga de uma empregadanossa. Nem sei ao certo seu

    nome. Sei que mora numatravessa por aqui. Uma senhorademeia-idade, com voz pausada,sorriso bondoso. Por certo no aconhece, so poucas as

    referncias.Lcia voltou a sorrir. Moro aqui h quase um ano.Posso verificar. Sabe o nomedela, pelo menos? Amaurimeneou a cabea negativamente.

    No. Mas ainda me lembro dacasa e de seu rosto simptico. Seique por aqui.

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    canto da sala. Estancou o choroao notar que Amauri o fitavaincrdulo. Voc pode me ver?Amauri arregalou os olhos.Fechou-os e tentou fazer umaprece, mecanicamente. Digenestornou impaciente: Est me vendo? Amauri fezsinal afirmativo com a cabea. Ento me ajude, por favor.Diga que estou vivo que nomorri. Estou aterrorizado!Amauri aproveitou que nohavia ningum na sala e falouem tom baixo, com voz trmula:

    No me perturbe. Seu corpomorreu, mas voc continua vivo. Mas voc pode me ver, podecomunicar-se comigo. Sei que hpessoas com essa capacidade. Sme falam que estou em

    outra dimenso. Quero sairdaqui, voltar para minha famlia. Isso impossvel. No! Voc precisa me ajudar.Amauri estremeceu. Como? No sei, fale com minha

    esposa, ela pode me tirar daqui.Embora eu fique a seu lado,

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    suplicando que me oua, ela nome escuta. Finge que no me v.Digenes ia continuar no fosseuma dor aguda em seu peito aincomod-lo.Nesse momento, uma luz forte ebrilhante cresceu e um espritode aura reluzente apareceu nasala. Tocou-o no peito e

    imediatamente a dor cessou. Emseguida, disse: Venha comigo, chegou horade refazer-se. Toda vez que seligar sua famlia, a dor no peitovoltar. Seu perisprito

    ainda carrega as dores do infarto.Voc no est bem, precisa detratamento. Digenes respondeunervoso: No quero voltar para ohospital. Estou farto de tantos

    cuidados. Voc quem sabe.O esprito afastou-se um poucodeDigenes e a dor em seu peitovoltou com mais intensidade.Ele se atirou ao cho e suplicou;

    Pelo amor de Deus! Livre-medisto.

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Amauri, que antes se encontravaassustado e trmulo, aoreconhecer o esprito queacabara de chegar, levantou-sedo sofindignado. Alteou a voz,dizendo: Dr. Incio! Mas que papelome fez passar outro dia, no?

    Incio sorriu e respondeu: Desculpe meu filho, mas euno podia chegar at voc deoutra forma. Custava dizer que haviamorrido?

    No queria assust-lo. Somiti um detalhe. Detalhe este que fez seu filhoquase me esfolar vivo. Conversaremos com maiscalma em outra oportunidade.No momento preciso afastar

    Digenes. Sua mente perturbadaespalha energias que atrapalhama harmonia desce lar. E noprecisa mais me chamar dedoutor. Aqui no astral ficamosss com o nome, sem ttulos.

    Amauri ia responder, masIncio e Digenes sumiram num

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    piscar de olhos. A claridadeainda no havia cessado quandoLcia voltou da cozinhatrazendo numa pequena bandejaum copo de gua com acar. Desculpe a demora. Fuibuscar acar na mercearia lembaixo. Fui pelos fundos eajudei Wilson no caixa. Masnoto quehouve algo por aqui. Como assim? Voc estava plido e agoraparece corado, alm de zangado.Ouvi voc gritar. Estava falandosozinho?

    Amauri baixou a cabeaenvergonhado. Apanhou o copode gua, bebericou alguns golese sentou-se novamente. Estava reclamando comigomesmo deste mal-estar que meacompanha h anos. Mame sempre disse que todasensibilidade mal educada podeprovocar desequilbrios emnosso corpo fsico.Amauri surpreendeu-se.

    Sua me disse isso?

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Prazer em rev-lo, meu filho.Como vai voc? Muito bem, obrigado.

    Voc j um homem.Lembro-me de quando ainda eraum garoto e brincava perto denossa casa, faz tantos anos. EChiquinha, como vai? Continua sria como sempre.

    Cora imediatamente lembrou-sede Chiquinha e da amizadedelas e Eullia anos atrs; bemcomo do rompimento. Mas agorano queria voltar ao passado.Com delicado gesto, Cora

    espantou esses pensamentos evoltou a prestar ateno emAmauri. No vejo a senhora h tantosanos... Parece mesma, nomudou nada. Cora abriu umsorriso doce e franco. Muito obrigada. Qual a receita de tanta beleza? Procuro estar em paz comigomesma e mantenho meu coraoe minha conscincia ligados otempo todo no bem, nos

    verdadeiros valores do esprito.

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Amauri emocionou-se. Lciacontinuou: E com esta maneira de encarara vida que estamos enfrentandoos dissabores. Desculpe, Dona Cora. Mas, seeu soubesse que a senhora erato simptica e acessvel, euprocuraria estar mais prximo.

    E por que no o fez?Amauri coou a nuca, baixou osolhos. Cora compreendeu depronto: Se no quiser, no diga. Aquineste abenoado lar ningum fazo que no quer.

    Aqui procuramos dizer averdade, sem rodeios concluiu Lcia. Vocs esto certas retrucouAmauri mas mame tinhaimpresso errada a seu respeito.Vivia dizendo que a senhoraera petulante, queria ser a donada verdade, no gostava defreqentar a sociedade. Quetudo que aconteceu...Amauri pigarreou. Coracontinuou sustentando seu olhar

    e Lcia inquiriu: O que aconteceu...

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Aconteceu por castigo deDeus. Que a senhora estpagando por ter sido metida eesnobe Amauri ruborizou porcompleto. No precisa ficar desse jeito,meu jovem disseamorosamente Cora. Todostm o direito de pensar eidealizar as pessoas comoquisermos. Possumos a mente, ecom ela o dom de criar situaes,como tambm de enxergar osoutros de acordo

    com nosso senso de realidade. Mas a senhora me parece tobacana! Por que minha me temuma imagem negativa a seurespeito? No considero imagemnegativa e sim uma imagem que

    no condiz com a minhaverdade, mas com a verdadedela. Eu sempre tive o meu jeitode ser, nunca o perdi, seja porcausa do casamento ou dasociedade.

    Estava me esquecendo tomou Amauri. Meus

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    psames pela passagem de seu

    marido.

    Cora deixou que uma lgrimaescapasse de seus olhosamendoados. Lcia tocoucarinhosamente suas mos. Digenes sofreu a

    conseqncia de atitudes

    descabidas, disse ela por fim, Sempre o respeitei, mas ele

    jamais quis entender a verdade,

    nunca aceitou que existisse vida

    aps a morte do corpo fsico.

    Amauri estremeceu. Lembrou-sede que minutos antes havia

    encontrado o esprito de

    Digenes em desespero, por

    falta de elucidao. O rapaz

    mordeu os lbios. Lcia virou-se

    para a me:

    Porque papai nunca quis

    conversar sobre espiritualidade?

    Cora esclareceu:

    Tudo depende de como

    analisamos a situao. Seu pai

    era um tanto ganancioso e

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    acabou por associar-se a um

    grupo que

    ajeitava as roletas nas mesas doscassinos. Ganhou muito

    dinheiro, mas com o tempo foi

    se desligando e comando outro

    rumo.

    Nunca o julguei por isso. Era um

    bom homem, mas acreditava

    piamente que a vida devia ser

    aproveitada intensamente

    porque

    tudo se acabava com a morte.

    Acredita ento que ele no

    estava preparado para essa nova

    etapa? perguntou Amauri com

    interesse.

    Pode ser. Mas s o tempo vai

    poder serenar seu corao e sua

    conscincia. Oro muito por meu

    esposo, espero que ele logo

    encontre seu caminho. Afinal de

    contas, para quem nunca

    estudou reencarnao, fica difcilentender e perceber a verdade.

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Amauri sobressaltou-se.Imediatamente lembrou-se dasconversas com sua tia.

    A senhora falou emreencarnao? Sim, sempre acreditei na

    reencarnao, em vida aps a

    morte. Talvez por isso tenha sido

    repudiada pela sociedade.

    Amauri deixou a vergonha de

    lado. Ento Cora pensava como

    sua tia Isabel Cristina? Era

    inacreditvel! Com ar

    interessado,

    reinquiriu:

    Dona Cora, a senhora acredita

    que possamos ver ou nos

    comunicar com os mortos?

    Por certo, meu filho. Eu

    sempre acreditei. Infelizmente

    no possuo o canal da vidncia

    apurado. Nada vejo, somente

    sinto.

    Como assim?

    Percebo as energias ao redor.Todos podem desenvolver e

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    educar esse dom. E uma

    caracterstica natural do ser

    humano. Mame interrompeu Lcia

    , e por isso que vem sentindo

    arrepios aqui em casa?

    Sim, Mas muito estranho.

    No estou percebendo nada por

    ora. E virando-se para

    Amauri: Desculpe meu filho,

    mas

    desde que nos mudamos tenho

    sentido umas energias esquisitas

    em casa. A prece tem sido uma

    grande auxiliadora neste

    momento.

    Ultimamente estava

    insuportvel, uma energia de

    mgoa e tristeza imensas pairava

    no ar. Cheguei a pensar muitas

    vezes em Digenes. Mas o

    ambiente agora est calmo,

    parece que no h nenhuma

    energia perturbadora em nossolar.

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Enquanto continuavam a

    conversa, Amauri interessav-se

    mais e mais em saber sobre avida espiritual, porquanto o que

    Cora havia falado sobre o

    ambiente carregado condizia

    com os dizeres de Incio

    minutos antes. Amauri estava

    extasiado, pois Cora tinha uma

    desenvoltura natural, segura e

    carismtica de discorrer sobre o

    assunto, muito parecida com a

    de sua tia Isabel Cristina. No fim

    da tarde, mesmo a contragosto,

    ele se despediu das duas.

    No caminho para casa foi se

    lembrando de tudo que passara

    momentos antes. Esquecera-se

    inclusive de perguntar a Dona

    Cora

    sobre a benzedeira. Mas no

    faltaria oportunidade. Na

    prxima semana voltaria,

    pretextando aproximar-se deWilson.

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    J dentro do bonde, agradeceu

    mentalmente Incio, que,

    mesmo a distncia, recebeu oagradecimento e o devolveu com

    ondas de amor que Amauri

    imediatamente sentiu atravs de

    gostosa sensao de bem-estar.

    NADA COMO

    PARECE_MARCELO CEZAR

    CAPTULO 3CAPTULO 3CAPTULO 3CAPTULO 3 (OS DISTRBIOS DE(OS DISTRBIOS DE(OS DISTRBIOS DE(OS DISTRBIOS DE

    CELINA)CELINA)CELINA)CELINA) NADA COMO

    PARECE_MARCELO CEZAR

    Trancada por quase duassemanas no quarto, Celinaandava de um lado para o outrosem saber o que fazer. No posso continuar destejeito. Preciso sair no agentomais ser prisioneira.Ela estava desesperada. Desde

    que sua me descobrira que ela

    havia ligado para a casa de Eloi e

    Chiquinha, estava de castigo.Ela, uma mulher de vinte e

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    quatro anos, voluntariosa,

    encontrava-se atada sob a

    autoridade ferrenha de Eullia.Eullia era uma boa me.

    Sempre fora apegada a Murilo,

    trs anos mais novo que Celina.

    Era evidente sua predileo pelo

    filho. Celina era adorada por

    Eullia, mas seus distrbios

    emocionais deixavam me

    envergonhada e triste. Eullia

    acreditava

    que Celina fazia de propsito,

    para ganhar a ateno que ela

    dava a mais ao filho.

    Incio notara que a esposanaturalmente preocupava-semais com Murilo. Ele, por sua

    vez, passou a ficar mais prximoda filha, cobrindo-a de atenese carinho demasiados. Com suamorte, Eullia estava mesmo aponto de internar Celina, poisno sabia como lidar com osataques da menina.Mesmo depois da morte do

    marido, ela procurou ainda levar

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Celina a um psiquiatra que

    estava fazendo fama em

    Salvador, mas desistiu quandoele disse que a psiquiatria

    poderia ajudar a filha no

    equilbrio emocional, mas no

    no equilbrio espiritual.

    Eullia no sabia o que fazer,sentia-se impotente. Indignada edesanimada, voltou a So Paulocom a filha do mesmo jeito.Celina sentia ser amada, mas no

    aceitava a submisso aos

    tratamentos que sua me lheimpunha. Era ela quem deveria

    decidir pelo melhor tratamento.

    Ela tinha idade para escolher

    uma boa clnica ou um mdico,

    mas Eullia no permitia que a

    filha opinasse sobre isso.

    Decidia sempre o que era

    melhor para os filhos.

    Mas, afinal de contas, o queacontecia com Celina?

    Basicamente, o mesmo queocorria com Amauri. Celina era

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    dotada de extraordinria

    mediunidade. Incapaz de educ-

    la, por falta de conhecimentos, edotada tambm de extrema

    sensualidade, atraa para si

    companhias astrais cheias de

    lascvia e desejos sexuais.

    A menina, ao entrar em sintonia

    com essas entidades,

    transformava-se em outra

    pessoa. Arrumava-se da maneira

    mais sensual possvel e saa com

    destino ao centro da cidade, altas

    horas, procura de qualquer

    homem, sem distino de classe

    social, em

    troca de amor fcil. No fosse

    essa hipersensibilidade mal

    administrada ser confundida

    com esquizofrenia, Celina

    facilmente teria uma vida

    normal e sadia. Possua um

    corpo bem talhado, e seu rosto

    era muito expressivo: testa larga,

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    encimando olhos azuis

    indagadores e vivos.

    Eullia estava irredutvel. Aosaber que a filha ligara para a

    casa de Chiquinha, ficara

    furiosa.

    "Onde j se viu ligar para a casadaquela rameira?", pensava.

    Por este motivo, no permitiaque a filha sequer descesse paraas refeies e escondia as chavesdos carros da residncia paraque Celina no desse suasescapadas noturnas.

    Berta, a governanta, era umaalem de meia-idade que

    carregava no semblante uma

    expresso sria e na alma valores

    retos e ntegros. Respeitvel

    pelos partos de Murilo e Celina,era quem levava as refeies

    para a garota.

    Embora Berta estivesse ainda

    abalada com os horrores do

    nazismo, sentia muita saudade

    de seu povo, a quem no julgava

    ser

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    responsvel por tanta barbrie.

    Um homem sequioso de poder e

    gana eram capazes de colocar oprprio povo contra a

    humanidade.

    Hitler fez com que o mundo

    odiasse os alemes, e no Brasil,

    Berta no deixava de sofrer os

    ataques de algumas pessoas

    cegas na

    conscincia, que tratavam todo e

    qualquer alemo como cmplice

    do Fhrer.

    Berta estava havia anos noBrasil, mas no esquecia umacaracterstica atribuda aosgermnicos: a impessoalidade,muitas vezes confundida comfrieza de carter. Havia muito ela

    estava desconfiada das atitudesde Celina. Desde cedo, pedira aEullia que levasse a menina atum centro esprita que elafreqentava, prximo de casa.Dizia a Eullia que no haveria

    mdico no mundo que pudessecurar a menina.

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Na verdade, segundo Berta,Celina no apresentava nenhumproblema fsico, mas umdesequilbrio causado pela meducaode sua sensibilidade. Como erauma empregada e no tinhadireito a opinies, Berta faziasua parte. Toda a noite oravapelafamlia inteira e em especial porCelina. Era por causa dessa finabalvel da velha senhora queCelina, aos vinte e quatro anos,

    ainda no fora internada numsanatrio,Celina ouviu a porta abrir-se. Ol, minha menina foilogo dizendo Berta, com abandeja cheia de guloseimas,

    entre as quais uma deliciosatorta alem que s ela era capazde fazer. Uma linda moacomo voc precisa alimentar-sebem.Celina deixou a expressoamarrada de seu semblanteesvair-se por completo. Esbooulargo sorriso.

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Berta, gostaria que vocfugisse comigo.A empregada assustou-se.Arregalou os olhos. No diga uma coisa dessas,menina. Ningum se importa comigopor aqui, s voc.Depois quepapai morreu, no tenho foraspara continuar a viver nestelugar. Sua me a ama muito.Celina fez muxoxo. Imagine Berta. Voc no estna minha pele. Mame s temolhos para Murilo.

    Berta estremeceu. Ficaram poralguns instantes ruminando ospensamentos. Eullia iriadescontar na filha os dissaboresde seupassado triste? Ser que algum

    dia poderia olhar para a filha eesquecer que ela fora fruto deum desengano? A governantadivagou mais um pouco e tornouamvel: No bem assim. Sua me

    tem afinidades com Murilo.Entre voc e seu pai no ocorriao mesmo? Se fosse sua me a

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    morrer e no seu pai, talvez seuirmo estivesse sentindo omesmo que voc,no acha? Sei l, talvez. Voc meconfunde Berta. Vamos, passe-me logo essa torta. Estoufaminta. A menina precisa se cuidarmais.

    Celina suspirou. S confio em voc Berta. Nosei o que fazer. Consigo passarbem durante alguns dias, mas derepente sinto um desejoincontrolvel, meu corpo

    esquenta, sinto arrepios. Umaonda de obscenidades desfilapela minha mente...Celina desatou a chorar. Faziapouco mais de trs anos que elaera acometida por tais ataques.

    Ela tinha a sexualidade flor dapele e mal conduzida, afora quenaquela poca a mulher sofriareprimendas caso fosse livre naexpresso de seus sentimentos edesejos sexuais.

    Uma mulher decente era aquelaque se casava virgem e

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    entregava-se ao marido somentequando ele a procurava. Umaesposa moda era aquela queamava calada e fazia somente onecessrio; o resto, o marido queprocurasse pelos servios deumameretriz.Berta fitou-a com piedade.Sentou-se na cama e abraouCelina com fora. No esmorea minha filha.Vamos aprender juntas. Temosmuitas experincias para trocar.Celina empurrou-a com fora.

    No posso! No sou digna. Eusou uma vagabunda. Voc nosabe o que se passa comigo... Como no! Podemos sereducados e discretos, mas amenina Celina e boba se nosabe que todos aqui na casaestremecem quando voc saisorrateira durante a madrugada.Graas a Deus que voc aindano engravidou. Vire essa boca para l, Berta.Eu tomo meus cuidados. Escute querida, eu no acondeno. Como posso julg-la se

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    no estou na sua pele?Mas essasua maneira desordenada de saire aprontar por a no pode trazersomente uma gravidezindesejada. H tambm os riscosde uma doena venrea.Celina ia responder, mas foiacometida por forte onda. Doisespritos, um de traosmasculinos e outro de traosfemininos,ambos seminus e com operisprito enegrecido na regiodos genitais, abraavam-se

    moa e faziam gestos obscenos,sussurrando palavras de baixocalo em seu ouvido, que Celinaregistrava vivamente.Subitamente ela agarrou Berta. Venha, vamos nos divertir.Berta registrou a presena deenergias estranhas no quarto.Fechou os olhos e, mesmoagarrada por Celina, passou aorar mentalmente.Nesse momento o esprito deIncio adentrou o quarto.Ele se aproximou de Celina eBerta e beijou-lhes a face.

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Obrigado. A orao ajudou-me a chegar a este ambientecarregado.

    O casal de espritos fitou Inciocom estarrecimento. A mulherbradou: Ora, ora. Ento o filho da luz,o filho do Cordeiro veio at ns?O que ? L onde voc mora no

    h sexo? Esta carente? Poracaso quer um carinho?Ela tentou jogar-se sobre Incio,mas ele neutralizou as foras doesprito, lanando-lhe umacorrente magntica que a jogou

    no outro lado do quarto.O esprito em forma masculinaassustou-se de incio, mas logopassou a bradar: O que ? No gosta de prazere diverso? Venha conosco.disse, fazendo um gestoobsceno, colocando a mo entreos seus genitais avantajados edesfigurados.

    Incio meneou negativamentea cabea. Procurou serenar, visto

    que as ondas emanadas peloesprito eram muito fortes. Apssuspirar e ficar preso prpria

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    energia, centrando ospensamentos no bem, disse: No perteno a seu vale. Faoparte de uma colnia que estudaa sensibilidade e nos ajuda aeducar esse dom aguado emencarnaes sucessivas. Sei quevoc vem do Vale do Sexo, ecola-se minha filha para tirar-lhe os fluidos vitais. Vocpoderia fazer amor comqualquer desencarnado. Veja retrucou o esprito ,eu no estou aqui por acaso.

    Poderia atacar a velha a, mas ela ntegra nos pensamentos, nodeixa uma brecha para que eu ouminha companheira possamosatac-la. Sua mulher tambm osso duro de roer. Seu filho

    meio tonto. Alis, voc temfilhos bem esquisitos.Incio perdeu as foras. Estavahavia pouco tempo no astral eainda lhe era difcil manter-se naimpessoalidade. Falar de seus

    filhos deixava-o vulnervel. Osespritos voltaram a grudar-seem Celina.

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Emidio, responsvel pelasandanas de Incio na Terra,veio de imediato ao quarto. Comsua voz pausada e doce, pormfirme,tomou: Feche os olhos, Incio.Imagine uma luz dourada emsua fronte. Repita em voz alta:"Eu fico com minha energia,dentro demim. Eu me assumo e sou donode mim. Sou uno com o poder deDeus".

    Incio fechou os olhos e repetiucom vontade os dizeres deEmdio.O casal de espritos desgrudou-se de Celina. O ambientecomeou a ficar cada vez mais

    iluminado, toldando-lhes aviso.Ambos gritaram improprios aEmidio e saram raivosos.Sumiram atravessando a parededo quarto, enquanto

    vociferavam palavras de baixocalo.

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Incio olhou envergonhado paraEmdio. Desculpe-me. No tive

    inteno de atrapalhar suaagenda.Emidio respondeu ternamente; J disse que voc precisa oquanto antes se fortificar naimpessoalidade. Voc ainda levatudo para o plano pessoal, comose sentindo atacado com tudoque falam sobre voc ou os seus.Alm do mais, seus filhos soespritos amigos, cumprindo oprprio desejo de vencer astentaes. No se esquea de quej desencarnou e eles no somais filhos seus, mas de Deus.Se quiser ajud-los, pare com osmelindres.Incio baixou o semblante.Sentia-se envergonhado, masEmidio escava coberto de razo. Est certo, preciso melhorarno aspecto impessoal. Mas emmeu corao tenho o fundodesejo de ajudar minha filha... E qual o problema?Trabalhando em sua reforma

    interior, alterando suas crenas,voc pode melhorar seu padro

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    presos em conceitos antigos,

    arraigados? Veja o caso da dupla

    que saiu a pouco daqui. No porque estamos encarnados que

    somos piores ou mais fracos que

    os desencarnados. Tudo

    relativo na vida. Trate de alargar

    sua conscincia, Incio.

    Est certo, Emidio. Preciso

    alargar minha conscincia, afinal

    nada como parece, no

    mesmo?

    Emidio assentiu com a cabea.Emitiram ondas coloridas queforam diretamente para a regio

    cardaca e abaixo do umbigo de

    Celina, em lindos matizes

    coloridos que penetravam seu

    corpo e retiravam as energiaspesadas lanadas pelos espritos

    que ali estavam minutos antes.

    Aps alguns instantes, Emdio eIncio saltaram de banda rumo acompromissos assumidosperante a eternidade.

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    NADA COMOPARECE_MARCELO CEZAR

    CAPTULO 4CAPTULO 4CAPTULO 4CAPTULO 4 (APRENDENDO COM(APRENDENDO COM(APRENDENDO COM(APRENDENDO COMOS DISSABORESOS DISSABORESOS DISSABORESOS DISSABORES)))) NADA COMO PARECE_MARCELOCEZAR

    Cora jogou-se pesadamente

    no sof. Seus dedos formigavam.Estivera dando aulas por horas afio, sem pausa paradescanso.

    Lcia surgiu da cozinha, comfeies contrariadas nosemblante:

    Me! Precisa ir com maiscalma. No pode dar tantas aulasassim. Ainda temos a poupana.

    Cora passou a mo pela fronte,meneando a cabea de um ladopara o outro: Excedi-me por hoje. Estou meacostumando aos poucos a pegarno batente.Lcia enxugou as mos noavental e sentou-se ao lado dame.

    Voc trabalhou muito hoje. Voc tambm tem trabalhadomuito. Alm de ajudar seu irmo

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    para vocs tudo foi mais difcilainda, pois estavamacostumados ao luxo, a amigospertencentes alta sociedade,escolas de primeira linha, aulasde tnis, francs, ingls...Cora exalou leve suspiro. Lciacontinuou a fit-la. A mecontinuou;

    Lembra-se de quando amodista vinha nos visitar a cadaquinze dias? Lcia deu deombros. E da? Eu terminei o Normal epor opo no ingressei nauniversidade. Tanto eu quanto

    Wilson aprendemos e demosvalor ao que papai e voc nosderam. Aproveitamos osestudos, as professoras delnguas, enfim, fomos bemeducados. E tambm no sinto

    falta da modista. Alis, foi porcausa dela que aprendi acosturar. A senhora no serecorda de como eu ficava emcima para v-la fazendo oscortes, a costura, prestandoateno em tudo? Cora riu.

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Lembro-me como se fossehoje. Voc sempre foi muitoobservadora, sempre aprendeucom facilidade. Tenho a plenacerteza de que logo encontraruma maneira de desenvolverseus potenciais e crescerprofissionalmente. Estamos a pouco nosrecuperando. Faz um ano quepapai morreu. Logo poderei darnovo rumo em minha vida. E,quanto aos amigos da altasociedade, no se preocupe. Eu e

    seu filho puxamos a voc, ouseja, no sentimos falta algumado pessoal da alta. Infelizmente,a grande maioria se perde navaidade, nas aparncias. Prefiroficar equilibrada e lcida, sem

    me deixar envolver pelosditames sociais. Lcia, minha filha, impressionante como s estandono meio disso tudo percebemosque nada como parece.

    Precisamosestar com a mente aberta paraenxergarmos alm.

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Alm das aparncias, certo? Sim. Geralmente o pessoal domeio ao qual pertencamos

    sempre lutou para parecer ser oque no .Ficaram em silncio por algunsinstantes, at que Lcia lanounova pergunta me. O passado ainda mexe muitocom a senhora, no?Cora suspirou novamente e umapequena lgrima escorreu pelocanto dos olhos. Por acaso estou sendoindelicada em tocar no passado?Cora pendeu a cabea para olado, em sinal negativo. De maneira alguma. Lembraraqueles tempos s me trazalegria. As lgrimas recrudescem

    porque sinto saudade. Tenhocerteza de que a qualquermomento, mesmo que no sejanesta vida, poderei reatar aamizade com Eullia eChiquinha.

    Eu no quero ser intrometida,mas verdade que Dona Eullia

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    foi apaixonada pelo Dr.Rodolfo? Sim. Rodolfo era paqueradopor muitas moas. Eu o achavaum jovem bonito e atraente, massempre me senti atrada peloseu pai. Mas conte-me ento sobre oenvolvimento de Dona Eullia eo Dr. Rodolfo.Cora fechou os olhos e procuroudar margem ao passado, masuma voz doce e familiar trouxe-anovamente realidade. Ela abriu

    os olhos e distendeu largosorriso. Filho! Particularmente estavacom saudade de voc hoje.Venha e me de um beijo.

    Wilson correu at os braos dame. Abraou-a e beijou-lhe a

    face com ternura. Fechei a mercearia mais cedohoje. O movimento estava muitofraco.

    Cora ficou a fitar o filho.Como ele era lindo! Cabelos

    fartos e escuros, rosto quadradomarcado por expressesmsculas. Seus

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    olhos castanhos eram brilhantese sedutores. Possua um corpobem torneado, cujo porte altivocombinava perfeitamente comsua pele alva. Wilson era a cpiafiel do pai, Digenes, quandoeste fora moo. Wilson tirou-a dodeslumbre: O que foi? Nunca me viumais gordo? Ora, estou contemplando suabeleza. Olhar para voc, alm defazer bem para os olhos, traztambm recordaes deliciosasde seu pai. Voc se parece muitocom ele na poca em que nosconhecemos. Soube de histrias em quepapai fora disputado a tapas porvoc e Dona Chiquinha. Corafechou o cenho. De onde tirou essaidia?Quem lhe contou isso?Wilson e Lcia riram sorrateiros.Ele continuou sem pestanejar: Antes de a bomba estourar

    para o nosso lado, ouvi MariaEduarda, a filha de DonaChiquinha, fazendo comentrios

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    dessetipo. Disse que a senhora usoude todo tipo de recurso,inclusive macumba, para manterpapai preso a seus ps.Cora sempre equilibrada,naquele momento fez um gestode contrariedade. Voc ouviu isso? Isso e muito mais. MariaEduarda no tem papas nalngua. Desfere seu venenocontra tudo e todos. Achincalhaa mepelas costas, trata o pai e o irmocom indiferena. Nem parece dafamlia.Lcia interveio: Deixe de lado. Maria Eduardasempre foi assim. E o jeito dela.No adianta querermos que elamude o jeito de ser. Ela oque . Wilson fitou a irm detravs: Agora Maria Eduarda umahumilde filha de Deus. S

    porque o irmo freqentounossa casa, no vai querer agora

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    de-fend-la, no ? Claro que no! Eu fui amigadela. Voc que se derretia todo.Desde aquele tempo percebi ocarter de Maria Eduarda.Ela ia sempre a casa parapaquerar voc e s parouquando descobriu queestvamos na bancarrota.Sempre foi interesseira. Sdisse que ela o que . Coraaduziu: Devemos olhar as pessoas

    como so, e no comogostaramos que elas fossem.Ambos olharam para a me, e elacontinuou: No adianta ficaremadmirados, no a estou

    defendendo.Por que voc nunca comentounada comigo, meu filho? Porque estvamos cheios deproblemas. A morte de papai, afalta de dinheiro... Eram muitas

    as preocupaes. Achei melhorcalar. Lcia no se conteve:

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Me, tudo isso verdade?

    Voc disputou papai com Dona

    Chiquinha?Cora olhou para a filha

    angustiada. Passou a mo pela

    testa e sentou-se novamente no

    sof. Exalou novo suspiro e

    comeou a revelar parte de seu

    passado.

    Vivamos numa poca de

    ouro. Eram os loucos anos vinte,

    quando tudo era permitido. O

    fim da Primeira Guerra Mundial

    havia trazido um novo nimo,

    uma nova maneira de encarar a

    vida. Olema era romper com o

    passado, afinal de contas outra

    guerra poderia eclodir

    novamente. Era preciso

    aproveitar, divertir-se, viver o

    momento presente. Eu era muito

    amiga de Eullia,

    de Chiquinha e de sua irm,

    Isabel Cristina. Formvamos umbelo grupo de jovens, todos

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    pertencentes mesma classe

    social, exceto eu, que tinha sido

    aceita porque meus tiospagavam escola.

    Alm de ns, havia no grupo

    Digenes e Rodolfo. Eu e

    Chiquinha tnhamos uma queda

    por Digenes, enquanto Eullia

    era muito assediada por

    Rodolfo. Ele sempre apresentou

    um temperamento ambguo.

    Seus olhos enigmticos e seu

    sorriso seduziam a todos. Cora

    pausou. Wilson tomou a palavra:

    Nunca gostei do Dr. Rodolfo.

    Vocs podem dizer que ele nos

    ajudou que foi amigo e nos

    amparou na poca em que papai

    morreu, mas sei que h algo por

    trs daquele sorriso sedutor.

    Wilson baixou a cabea e

    pigarreou. J havia passado

    apertado com Rodolfo e

    procurou dissimular. Alteou acabea e fixou seus olhos nos da

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    me: Sei o que a senhora quer

    dizer sobre ele.

    Lcia considerou: Ora, creio que o Dr. Rodolfo

    tudo tenha feito pensando no

    lucro. Trata-se de um bom

    jogador. Cora concordou:

    Pode ser. Esse assunto no

    nos compete. Virou-se para

    Wilson e continuou: Eu sei o

    que quer me dizer. Rodolfo

    nunca teve escrpulos para

    conseguir o que quis. Mas no

    posso culp-lo pela morte de seupai. Lcia interveio:

    Se ele fosse um jogador de

    primeira, teria conseguido casar-

    se com Dona Eullia. Se ela era

    assediada por ele, qual o motivode no terem se casado?

    Cora pigarreou. Em seus olhos,por segundos, passaram flashesde um passado que noconvinha ser relembradonaquele momento. Procurando

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    dissimular, contou parcialmentea verdade. Eullia e Rodolfonamoravam. A famlia deleperdeu praticamente tudo com aquebra da bolsa de valores deNova York,em 1929. Eullia at que tentou,mas sua famlia nunca permiti-ria que a filha se casasse com umpobreto, Por essa razo suafamlia rompeu com o noivado.Rodolfo foi espezinhado eespicaado por muita gente.

    E por que no se casarammesmo assim? Cora deu deombros. So escolhas que fazemos.Wilson ficou mais interessado: Ora, me, se a senhora e DonaChiquinha disputou papai a

    tapas, como pode ela ter secasado com o Dr. Eli, sem maisnem menos? J disse, so escolhas. E nodisputamos seu pai a tapas.Nada fiz para ter seu pai a meu

    lado. Fomos unidos pelo amor,

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    mais nada. Wilson tomou, acontragosto: Tem gato nessa histria.Cora ruborizou. Pensamentosnegativos e densos de umpassado distante voltaram comfora. Reviveu todo aqueletormento. Passou a mo pelatesta como a afastar as cenasantigas.Levantou-se de pronto e, semresponder aos filhos, foi emdireo ao banheiro. Vocs no sabem do passado,no enxergam alm. No mesinto na obrigao de contar-lhesnada agora disfarou. Na verdade, o que maisnecessito no momento de umbom banho. Com licena.

    Wilson e Lcia olharam-se e,desconfiados, baixaram os olhospor instantes. Por que todosocultavam a verdade? Dentrodessashistrias mal contadas estaria

    chave para desvendar osmistrios do passado?

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    Sem dizer uma palavra, mas coma cabea cheia de indagaes, osirmos levantaram-se e,abraados, foram para a cozinhaadiantar o jantar. Em silncio,enquanto um ajudava o outro nopreparo do repasto, suas mentesdivagavam sobre aquele passadoobscuro, tentando imaginar oque de fato teria acontecido.Maria Eduarda estava sentadaem elegante poltrona, prximaao hall de entrada da confeitaria.Seu semblante demonstrava

    irritao e ansiedade.Em instantes, um homemmaduro, de belo porte e sorrisosedutor, fizeram-lhe a corte. Desculpe-me o atraso,querida.Maria Eduarda estendeu a mo

    para o cumprimento, meio acontragosto. J no era sem tempo. Comose atreve? No posso ficaresperando tanto assim. Estive preso a reunies. O

    trnsito est lento, no foi minha

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    inteno faz-la esperar. Porgentileza, vamos entrar?Levantaram-se e Maria Eduardadeixou-se levar pelos braosfortes e firmes do homem. Apsescolherem uma mesa discretanos fundos do salo, sentaram-se. Maria Eduarda foi taxativa: Sem mais delongas. Vocprometeu ajudar-me aconquistar Murilo. Por queainda no conseguiu umencontro para ns?O que est acontecendo que euno estou sabendo? O que isso? Est duvidando

    de mim? No fui eu quem lhecontou o passado dos seus? Poracaso acha que menti sobre suame? Maria Eduarda anuiu coma cabea. Sei Rodolfo, mas e da? No

    me interessa o passado deminha me. Sempre a acheireservada demais. Sabia queatrs daquele verniz semprehouve uma mulherinescrupulosa como eu. Tenho aquem puxar. Rodolfo meneou acabea.

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    No bem assim. Quandojovens, cometemos algunsdesatinos. Sua me foi umamoa como outra qualquer, cheiadeplanos, sonhos. Est certo, mas chega. Noquero que fale sobre minhame. Sei que vocs foramamigos no passado, e tambmno meinteressa por que estoafastados. Rodolfo olhou-aimpvido.

    Em sua casa sabem queestamos nos encontrando? Issopode ser prejudicial a voc.Maria Eduarda soltou um risoseco. No seja imbecil, meu caro.Tudo aqui gira pelo interesse.

    Eu quero uma aproximao comMurilo. Nem que primeiro eutenha de travar amizade comDona Eullia. Sei que ela loucapelo filho. Posso fazer o papelda garota ingnua que acha o

    filho dela interessante, mas quenunca lhe faria a corte. O queacha? Rodolfo pousou suas mos

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    nas de Maria Eduarda. Nesseinstante ela sentiu um calorpercorrer-lhe o corpo. Voc sabe que farei tudo para

    que fique com Murilo. E s uma

    questo de tempo. Logo estaro

    juntos. Vamos ganhar muito

    com essa unio. Como est indo

    com o advogado de Eullia? Sopa no mel. Mais um poucoe trarei tudo em suas mos. Voc formidvel.Maria Eduarda assentiu. Seucorpo arrepiou-se ao toque das

    mos de Rodolfo. Dou-lhe o prazo at a prximasemana. O tempo urge.Rodolfo continuou a fixar seusolhos nos dela. Est certo. Mas gostaria que

    terminssemos esse assunto emminha casa. Vamos? Maria

    Eduarda estremeceu.

    Agora? Sim. Por que no? Est agindo

    como se fosse nossa primeira

    vez.

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    desejava ir contra, mais a

    vontade de estar com ele

    aumentava.Prximo ao casal, o esprito de

    Incio tudo observava, com

    tristeza.

    Orou com fervor, mas a sombra

    escura, cheia de lascvia, no

    desgrudava um instante de

    Maria Eduarda e Rodolfo,

    potencializando os desejos

    ntimos de ambos, o que no

    permitia que a orao de Incio

    os beneficiasse, afastando essa

    energia nociva e sugadora. As

    energias da entidade

    misturavam-se s do casal

    encarnado, a tal ponto de ficar

    quase impossvel separar

    energeticamente uma vontade da

    outra.

    Antes de Incio partir, uma luz

    alva e brilhante fez-se presente

    no salo. Aos poucos a luz foitomando um contorno humano,

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    logo se transformando em

    delicada figura feminina. Ela

    tocou a fronte de Incio eimediatamente ele recarregou as

    energias vitais. Ordenou:

    No entre na mesma faixa queeles. Desculpe Laura, Mas se fui

    um pssimo marido, obrigandoEullia a casar-se comigo, agora

    preciso proteg-la da ambio

    desmesurada dessa doidivanas.

    Laura aproximou-se mais de

    Incio e tocou-lhe o ombro. Ningum vtima das

    circunstncias. Todos esto

    vivendo envoltos por faixas

    energticas distintas, como as

    ondas do rdio. O mesmoacontece com nossas relaes

    aqui na Terra. S que as ondas

    neste caso sero nossos

    pensamentos e o rdio sero as

    vrias pessoas que encontramosno caminho.

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    Mas aquela entidade sedenta

    por sexo est prejudicando

    Maria Eduarda. Sei que Rodolfosempre teve companhias desse

    tipo, mas ela no. Se ela

    sucumbir, como se ligar a

    Murilo?

    DE tempo ao tempo. Maria

    Eduarda um esprito

    ambicioso, forte, audacioso.

    Infelizmente ela est usando

    seus potenciais de uma maneira

    equivocada, deixando-se

    dominar pela vaidade e pelo

    orgulho. Graas s leis

    universais, temos a eternidade

    para consertar a situao.

    Antes de Incio rebater a

    questo, o esprito sbio de

    Laura concluiu:

    No julgue. Cada um livre

    para fazer o que bem entender.

    A energia sexual muito forte,

    talvez a de maiorresponsabilidade para o ser

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    humano. Control-la um dom,

    que vamos treinando durante as

    sucessivas encarnaes, dando asdiretrizes de seu uso. Energia

    sexual energia vital, que a vida

    nos deu para ser utilizada em

    outros campos at nossa etapa

    evolutiva. Utilizar essa energia

    no trabalho, nas relaes com as

    pessoas, no nosso dia-a-dia,

    um aprendizado que render

    muitos frutos bons no futuro.

    No sabia que o sexo era toimportante. Sempre pensei queele fosse desprezado aqui noastral. E como podemos desprezar aenergia de Deus? Incio, comoacontece reencarnao naTerra! Atravs da relao ntimaentre um homem e uma mulher. E como uma relao estvelentre duas pessoas dura tantotempo? Atravs de amor, respeito e

    sexo com prazer. Ento como condenar o usodo sexo, se ele nos foi dado para

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    criar, para gerar vida e paramanter a troca de energias sutisque somente a relao sexualpode oferecer? Desculpe. Estou encabulado.Nunca conversei com umamulher a esse respeito. No seja preconceituoso.Neste plano em que vivemos

    ainda carregamos os rgosgenitais em nosso corpo astral.Um dia teremos de reencarnar.Como poderamos viver semsexo aqui se teremos de utiliz-lo logo mais quando

    encarnados? Pensei que s pudssemosfazer sexo na Terra. As poucascoisas que ouvi a respeito desexo no mundo espiritualsempre foram de que os

    espritos no tm sexo, que atroca dessa energia feita deoutra maneira. Sim, absolutamente certo,mas em outras esferas, muitomaisadiantadas do que a nossa.Estamos vivendo muito prximodo orbe terrestre, e precisamosmanter as funes do sexo. A

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    nica diferena aqui no astral que no h rtulos. Os espritostm afinidades e se relacionam

    intimamente atravs da sintoniada alma. J percebi essa realidade. Ademais, Incio, opreconceito que tem feitoCelina sofrer na Terra. Ela estem desequilbrio pelo fato de

    no poderfalar abertamente sobre o quelhe acontece. Se fosse menosorgulhosa, poderia procurarajuda. Incio ruborizou: Voc agora vem me dizer queCelina culpada por ter aquelesdesejos? Que culpada por termediunidade? Vejo que voc precisaaprender muita coisa ainda, meuamigo.

    Laura levantou a mo, fazendomovimento de arco, postada aolado de Incio. Em segundos,surgiu em frente a ambos umatela, parecida com fino cristal,mostrando cenas que soavam

    familiares a Incio. Cenas depassado recente e distante, numvaivm frentico.

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    E agora, o que me diz? Todas essas cenas eram deCelina em outras vidas?

    Sim.Incio nada respondeu. Baixou acabea e, mos dadas com Laura,alaram vo, desaparecendoentre a multido que seespremia nas ruas estreitas e

    apinhadas de carros do centro deSo Paulo. NADA COMOPARECE_MARCELO CEZAR

    CACACACAPTULO 5PTULO 5PTULO 5PTULO 5 (AMIGOS DO BEM)(AMIGOS DO BEM)(AMIGOS DO BEM)(AMIGOS DO BEM)

    NADA COMO

    PARECE_MARCELO CEZAR

    Passava das quatro quandoAmauri deu mais uns passos esentou-se no mesmo banco daPraa Buenos Aires. A chuva

    tpica de vero j havia cado,deixando aquela tarde menosquente do que o costume. Ficoua contemplar o sol quecalmamente ia se pondo, comsuas fagulhas brilhantes e

    alaranjadas, tingindo o cu decores vibrantes.

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    Antero deu um sorriso marotoa Amauri.

    Achou que eu fosse um

    esprito?Amauri remexeu-senervosamente no banco. Comolhos arregalados, inquiriu: Como sabe? Percebi pela sua aura. Voc

    precisa estudar e entendermelhor os mecanismos damediunidade.Confesso estar atordoado.Tenho medo. No sei se estoufalando com gente viva ou

    morta. Sei que pode me tomarpor louco, mas esta a minharealidade. No se assuste. Passei por issoh alguns anos, mas com estudoe seriedade tenho entendidomelhor a vida espiritual.Como pode ver, sou de carne eosso, e me chamo Antero. Moroaqui perto. Nunca o vi antes. Mudei-me h pouco. Fiqueivivo, casei-me novamente emudei para c.

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    O senhor entende dessascoisas? Que coisas?

    De mediunidade,reencarnao, enfim, tudo que serefere vida espiritual. Por certo. Fundei com minhanova companheira um centro dedesenvolvimento espiritual aquiperto. H muita gente quenecessita e quer saber maissobre as leis da vida. Isso me assusta muito. Nogosto desses fanticos queseguem ordens s porque foramdadas por espritos. Tampouco

    aprecio rituais. Sem ofender...Antero aquiesceu: Voctem todo o direito depensar dessa forma. Vivemosnum pas onde as religies,filosofias de vida e crenas das

    mais diversas esto pulverizadasem todas as camadas dasociedade. O Brasil possui estavirtude, onde o catlico respeitao esprita, que respeita o judeu,que respeita o umbandista, que

    respeita o protestante, querespeita o muulmano, que por

  • 7/25/2019 Nada Como Parece (Psicografia Marcelo Cezar - Esprito Marco Aurlio)

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    sua vez respeita o crente, e por aiafora. Esta diversidade espiritualfaz com que tenhamosflexibilidade para entender,aceitar e respeitar todos oscaminhos qu