new comemorações desfiles fora de lisboa primeiro do plano · 2017. 6. 12. · deformidade...

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01-05-2017 Portugal greves Evolução do número de greves 127 Avisos prévios de greve Variação anual Variação trimestral 1895 2011 2012 2013 2014 2015 Trabalhadores abrangidos Em milhares 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2011 2012 2013 2014 2015 130 100 FONTE. MEAI, RONDAM INFOGRAFIA IN Avisos de greves sobem no primeiro trimestre do ano em relação a 2016 PARALISAÇUS Nem só de desfiles vão ficar marcadas as celebrações nacionais do Dia do Trabalhador. Para hoje, estão convocadas duas greves. Uma dos tripulantes de cabina da SATA, que se prolonga até amanhã. E outra dos trabalhadores dos supermercados, que reivindicam o gozo do feriado, melhores salá - rios e o respeito pelos seus direitos. Aliás, maio vai ser um mês carregado de paralisa- ções. Para dia 26, deverá haver uma dos fun- cionários públicos, entre 10 e 11 será a vez dos médicos e os trabalhadores dos aeroportos também prometem parar durante a visita do Papa Francisco a Portugal. O mês é um reflexo da tendência de 2017, em que se registaram mais 23 pré-avisos de greve (123) face a idén tico período do ano passado, em que se totali zaram 100, segundo dados da Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho. Ain da assim, os últimos dois anos estão longe do pico de 2012, ano em que se totalizaram 1895 pré-avisos de greve. Número que desceu até 2014 (619 pré-avisos de greve). Em 2015, regis tou-se uma ligeira subida. Foram 811 os pré- avisos de greve. Mas, no ano passado, as para lisações quase desceram para metade (488). Ontem, o secretário-geral da CGTP. Arménio Carlos admitia voltar à luta, ameaçando com uma greve nacional. H.C.E P. A. pré-avisos de greve no setor empresarial es- tatal, no primei- ro trimestre do ano. pré-avisos de greve no setor privado entre- gues , no primei- ro trimestre de 2017 Primeiro Plano Dia Internadonal do Trabalhador Comemorações Desfiles fora de Lisboa Este ano, a UGT não concentra as festividades do 1° de Maio em Lisboa. A central sindical estará, hoje, em Viana do Castelo, onde promove uma marcha solidária sob o lema "Crescimento, emprego, mais justiça social", com a participação do secretário-geral, Carlos Silva. Já a CGTP mantém o tradicional desfile entre o Martim Moniz e a Ala- meda D. Afonso Henriques (Lisboa), que encerrará com o discurso do líder Arménio Carlos, embora marque a data em 40 localidades. No Porto, o comício sindical é nos Alia- Hermana Cruz e Pedro Araújo [email protected] Os homens ganham, em média, mais 16,5% do que as mulheres. Segundo estatísticas do Ministério do Trabalho, relativas a 2015, as mulheres auferem em média 824,99 euros enquanto os homens ganham 990,05 euros. As desi- gualdades salariais são uma reali- dade visível em quase todos os se- tores da economia e uma das maiores preocupações ao assina- lar-se, hoje, o 1.° de Maio. Em se- tores como o da saúde e apoio so- cial, as desigualdades salariais en- tre homens e mulheres atingem os 27.31%. Nas atividades artísticas e desportivas, chegam aos 55.49%. "No geral, as mulheres ainda são usadas como mão de obra mais barata e mais precária, ape- sar de, muitas vezes, até terem mais qualificações. A lei não está a ser cumprida", denuncia Fátima Mercês, da CGTP, lamentando, por isso, que, em setores como o da produção automóvel, as mulheres ganhem menos 26,51% do que os homens e menos 24,89% na In- dústria transformadora. "São questões culturais muito antigas. É o combate de unia dé- cada", concorda o secretário-ge- ral da UGT, Carlos Silva, defenden- do intransigentemente a fórmula "para trabalho igual, salário igual". cuja aplicação acabaria com a si- tuação da consultadoria onde as mulheres auferem menos 24,56% do que os homens ou da indústria têxtil onde a diferenciação sala- rial, em função do sexo, atinge os 22,99% e nas atividades financei- ras e de seguros os 21,05%. Persistem muitas resistências Para a CGTP e UGT, é preciso "afe- rir o valor do trabalho" e acabar com situações que levem a uma diferenciação salarial, algumas in- diretas como os critérios usados nas avaliações internas das em- presas, onde itens como a dispo- nibilidade, flexibilidade e assidui- Calçado Assinado acordo que visa a igualdade salarial Dois anos após o setor corti- ceiro ter alcançado a igualdade salarial, é a vez do calçado. Um contrato coletivo entre a Asso- ciação Portuguesa dos Indus- triais de Calçado, Componen- tes, Artigos de Pele e seus Su- cedâneos e a Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores Têxteis, Lanifícios, Vestuário, Calçado e Peles de Portugal vai permitir um aumento do salá- rio de 3,45%. Mas as mulheres vão receber mais 4,5 ou 5,3% para que funções iguais te- nham remunerações idênticas. dade penalizam as mulheres que ainda são quem mais faltam no caso de doença na família. "Tem de haver um espaço de negociação efetiva, ao nível da contratação coletiva. Tem de exis- tir sempre contratação coletiva para se alterarem as regras do jogo", defende Fátima Mercês. "É preciso enfrentar o fosso entre as matérias que na negociação cole- tiva podem promover a desigual- dade", concorda Carlos Silva. Porém, para o professor de Eco- nomia da Universidade do Minho Miguel Portela, os sindicatos têm alguma responsabilidade. "Sus- peito que uma parte da discrimi- nação está no contrato coletivo. O que estão os sindicatos a fazer para se acabar com essa discrimi- nação?", questiona, sugerindo que volte a ser obrigatório que as em- presas afixem a listagem do qua- dro de pessoal e dos salários. "As empresas deviam ser multadas por violarem a lei", acrescenta, apontando o dedo à Autoridade para as Condições do Trabalho. "As resistências dos patrões ainda são muitas e também não vemos as mulheres a exigirem igualdade salarial", aponta Virgí- nia Ferreira, socióloga, lamentan- do que se mantenha uma situação que é "milenar". Para a socióloga, era importante, por exemplo, que se começasse a valorizar o esfor- ço mental tanto quanto o físico.• 1° de Maio No setor artístico e desportivo, a desigualdade salarial atinge os 55%.. Sindicatos exigem que se cumpra a lei e prometem reforçar a negociação coletiva Homens ganham mais 16,5% do que as mulheres

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Page 1: New Comemorações Desfiles fora de Lisboa Primeiro do Plano · 2017. 6. 12. · deformidade "pectus excavatum", mais conhecida por "peito de sapa-teiro", que consiste em ter o osso

01-05-2017

Portugal greves Evolução do número de greves

127

Avisos prévios de greve

Variação anual

Variação trimestral

1895

2011 2012 2013 2014 2015

Trabalhadores abrangidos Em milhares

2012 2013 2014 2015 2016 2017 2011 2012 2013 2014 2015

130 100

FONTE. MEAI, RONDAM INFOGRAFIA IN

Avisos de greves sobem no primeiro trimestre do ano em relação a 2016

PARALISAÇUS Nem só de desfiles vão ficar marcadas as celebrações nacionais do Dia do Trabalhador. Para hoje, estão convocadas duas greves. Uma dos tripulantes de cabina da SATA, que se prolonga até amanhã. E outra dos trabalhadores dos supermercados, que reivindicam o gozo do feriado, melhores salá -rios e o respeito pelos seus direitos. Aliás, maio vai ser um mês carregado de paralisa-ções. Para dia 26, deverá haver uma dos fun-cionários públicos, entre 10 e 11 será a vez dos médicos e os trabalhadores dos aeroportos também prometem parar durante a visita do Papa Francisco a Portugal. O mês é um reflexo da tendência de 2017, em que se registaram mais 23 pré-avisos de greve (123) face a idén tico período do ano passado, em que se totali zaram 100, segundo dados da Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho. Ain da assim, os últimos dois anos estão longe do pico de 2012, ano em que se totalizaram 1895 pré-avisos de greve. Número que desceu até 2014 (619 pré-avisos de greve). Em 2015, regis tou-se uma ligeira subida. Foram 811 os pré-avisos de greve. Mas, no ano passado, as para lisações quase desceram para metade (488). Ontem, o secretário-geral da CGTP. Arménio Carlos admitia voltar à luta, ameaçando com uma greve nacional. H.C.E P. A.

pré-avisos de greve no setor empresarial es-tatal, no primei-ro trimestre do ano.

pré-avisos de greve no setor privado entre-gues, no primei-ro trimestre de 2017

Primeiro Plano

Dia Internadonal do Trabalhador

Comemorações Desfiles fora de Lisboa

Este ano, a UGT não concentra as festividades do 1° de Maio em Lisboa. A central sindical estará, hoje, em Viana do Castelo, onde promove uma marcha solidária sob o lema "Crescimento, emprego, mais justiça social", com a participação do secretário-geral, Carlos Silva. Já a CGTP mantém o tradicional desfile entre o Martim Moniz e a Ala-meda D. Afonso Henriques (Lisboa), que encerrará com o discurso do líder Arménio Carlos, embora marque a data em 40 localidades. No Porto, o comício sindical é nos Alia-

Hermana Cruz e Pedro Araújo [email protected]

► Os homens ganham, em média, mais 16,5% do que as mulheres. Segundo estatísticas do Ministério do Trabalho, relativas a 2015, as mulheres auferem em média 824,99 euros enquanto os homens ganham 990,05 euros. As desi-gualdades salariais são uma reali-dade visível em quase todos os se-tores da economia e uma das maiores preocupações ao assina-lar-se, hoje, o 1.° de Maio. Em se-tores como o da saúde e apoio so-cial, as desigualdades salariais en-tre homens e mulheres atingem os 27.31%. Nas atividades artísticas e desportivas, chegam aos 55.49%.

"No geral, as mulheres ainda são usadas como mão de obra mais barata e mais precária, ape-sar de, muitas vezes, até terem mais qualificações. A lei não está a ser cumprida", denuncia Fátima Mercês, da CGTP, lamentando, por isso, que, em setores como o da produção automóvel, as mulheres ganhem menos 26,51% do que os homens e menos 24,89% na In-dústria transformadora.

"São questões culturais muito antigas. É o combate de unia dé-cada", concorda o secretário-ge-ral da UGT, Carlos Silva, defenden-do intransigentemente a fórmula "para trabalho igual, salário igual". cuja aplicação acabaria com a si-

tuação da consultadoria onde as mulheres auferem menos 24,56% do que os homens ou da indústria têxtil onde a diferenciação sala-rial, em função do sexo, atinge os 22,99% e nas atividades financei-ras e de seguros os 21,05%.

Persistem muitas resistências Para a CGTP e UGT, é preciso "afe-rir o valor do trabalho" e acabar com situações que levem a uma diferenciação salarial, algumas in-diretas como os critérios usados nas avaliações internas das em-presas, onde itens como a dispo-nibilidade, flexibilidade e assidui-

Calçado Assinado acordo que visa a igualdade salarial

Dois anos após o setor corti-ceiro ter alcançado a igualdade salarial, é a vez do calçado. Um contrato coletivo entre a Asso-ciação Portuguesa dos Indus-triais de Calçado, Componen-tes, Artigos de Pele e seus Su-cedâneos e a Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores Têxteis, Lanifícios, Vestuário, Calçado e Peles de Portugal vai permitir um aumento do salá-rio de 3,45%. Mas as mulheres vão receber mais 4,5 ou 5,3% para que funções iguais te-nham remunerações idênticas.

dade penalizam as mulheres que ainda são quem mais faltam no caso de doença na família.

"Tem de haver um espaço de negociação efetiva, ao nível da contratação coletiva. Tem de exis-tir sempre contratação coletiva para se alterarem as regras do jogo", defende Fátima Mercês. "É preciso enfrentar o fosso entre as matérias que na negociação cole-tiva podem promover a desigual-dade", concorda Carlos Silva.

Porém, para o professor de Eco-nomia da Universidade do Minho Miguel Portela, os sindicatos têm alguma responsabilidade. "Sus-peito que uma parte da discrimi-nação está no contrato coletivo. O que estão os sindicatos a fazer para se acabar com essa discrimi-nação?", questiona, sugerindo que volte a ser obrigatório que as em-presas afixem a listagem do qua-dro de pessoal e dos salários. "As empresas deviam ser multadas por violarem a lei", acrescenta, apontando o dedo à Autoridade para as Condições do Trabalho.

"As resistências dos patrões ainda são muitas e também não vemos as mulheres a exigirem igualdade salarial", aponta Virgí-nia Ferreira, socióloga, lamentan-do que se mantenha uma situação que é "milenar". Para a socióloga, era importante, por exemplo, que se começasse a valorizar o esfor-ço mental tanto quanto o físico.•

1° de Maio No setor artístico e desportivo, a desigualdade salarial atinge os 55%..

Sindicatos exigem que se cumpra a lei e prometem reforçar a negociação coletiva

Homens ganham mais 16,5% do que as mulheres

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01-05-2017

Trabalhadores ainda têm cinco lutas para travar

Para o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, são cinco "as questões funda-mentais" por conquistar: valorização do trabalho; combate ao desemprego e à precariedade; melhor distribuição da ri-queza; política fiscal mais favorável ao trabalhador por conta de outrem; e me-lhores serviços de saúde e educação.

82,2% por cento da população portuguesa trabalha por conta de outrem. Em 1998 eram 71,1 por cento, de acordo com dados do INE agora divugados.

José Matos

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Dolfini Machado [email protected]

► Apesar de ser impossível gene-ralizar, a arte de fazer bem um tra-balho tem pontos comuns numa indústria tradicional e noutra tec-nológica. José Matos. de 65 anos, e Manuel Gomes, de 32, são opostos na forma de trabalhar. Mas ambos concordam que estar desatento à evolução industrial ou tecnológica é deixar-se ficar para trás.

José domina como poucos a arte quase manual de afiar talheres numa cutelaria. Manuel é exímio a criar, através do computador. pró-teses personalizadas. Ambos são fundamentais nas respetivas em-presas, pese embora um esteja no fim e outro no início da carreira.

José Matos já vê a reforma a aproximar-se. Tem 55 anos de tra-balho, a maioria passados a afiar fa-cas na cutelaria Herdmar, em Bar-co. Guimarães. Apesar de ser uma das fábricas de talheres mais mo-dernas do país, o trabalho de fun-cionários como José Matos ainda é precioso.

A poucas centenas de metros dali, no Parque de Ciência e Tecno-logia de Barco, está Manuel Gomes. O jovem, natural de Celorico de Basto em início de carreira, não dispensa a tecnologia. "Sem com-putador ou Internet nada disto era

possível", assegura. Trabalha na iSurgical3D. de fabrico de próteses personalizadas para quem tem a deformidade "pectus excavatum", mais conhecida por "peito de sapa-teiro", que consiste em ter o osso do tórax para dentro.

De volta à cutelaria, a 1968. Foi o ano em que José Matos pôr o pri-meiro pé na Herdmar. Foi para lá fazer tesouras de cortar frango: Hoje, é ele que passa todas as facas numa lixa automática que faz o fio cortante. Em dois segundos põe uma faca a cortar. Mas nem sem-pre foi assim: "Antes o trabalho era muito manual. era duro e demora-va mais tempo, puxava muito pelo físico". Sem máquinas, luvas e tan-tas condições como hoje. José as-segura que, se nada tivesse muda-do, "estes novos de hoje já não con-seguiam".

Menos esforço físico, e sem lu-vas, é feito por Manuel Gomes en-quanto desenha as próteses. Re-cebe-as por computador graças a TAC ou scans feitos por médicos de Portugal. Inglaterra e Espanha. depois desenha a prótese. fabrica--a e encaminha-a personalizada à deformidade do paciente. "Atra-vés dos programas que temos, conseguimos prever como é que vai ficar", explica. Pelo facto de ser personalizada, a prótese da iSur-gical3D consegue resultados me-

lhores no tratamento e cirurgia. É tudo graças à inovação, que

hoje é constante. José e Manuel no-tam-no e concordam com a evolu-çào. O cutileiro recorda como fo-ram estranhas as mudanças do fi-nal da década de 80 quando apare-ceram as primeiras máquinas e as condições de higiene e segurança no trabalho. O engenheiro mecâ-nico da área da saúde sente o mes-mo, mas em 2017. "É preciso estar

Um entrou no mundo tabelai quando nein se falava de tecnologia; o outro não conhece ama realidade

atento às inovações porque um pormenor pode melhorar muito o produto final ou o método", acres-centa.

A iSurgical3D ainda é uma em-presa pequena e o futuro de Ma-nuel é ajudá-la a evoluir e expan-dir-se para mercados como o Bra-sil. Quer continuar a trabalhar ali, a melhorar o corpo dos pacientes: "É uma satisfação multo grande ver o resultado na pessoa". •

Emprego No dia em que se comemora mais um de

Maio fomos ver como é a realidade numa empresa tecnológica e numa tradicional. Dois percursos, a mesma luta

Caminhos diferentes _para atingir a mesma meta

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01-05-2017