notícias de israel - ano 28 - nº 10

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www.Beth-Shalom.com.br OUTUBRO DE 2006 • Ano 28 • Nº 10 • R$ 3,50 BETH-SHALOM O massacre de Lisboa Pág. 17

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• Já/Ainda Não? • As Raízes do Nazismo • As Origens do “Revisionismo Histórico” • O massacre de Lisboa • A psicologia dos atentados por homens-bomba • Críticas à liderança israelense

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www.Beth-Shalom.com.br OUTUBRO DE 2006 • Ano 28 • Nº 10 • R$ 3,50 BETH-SHALOM

O massacre de Lisboa

Pág. 17

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É uma publicação mensal da ““OObbrraaMMiissssiioonnáárriiaa CChhaammaaddaa ddaa MMeeiiaa--NNooiittee”” comlicença da ““VVeerreeiinn ffüürr BBiibbeellssttuuddiiuumm iinn IIssrraaeell,,BBeetthh--SShhaalloomm”” (Associação Beth-Shalom paraEstudo Bíblico em Israel), da Suíça.

AAddmmiinniissttrraaççããoo ee IImmpprreessssããoo::Rua Erechim, 978 • Bairro Nonoai90830-000 • Porto Alegre/RS • BrasilFone: (51) 3241-5050 Fax: (51) 3249-7385E-mail: [email protected]

EEnnddeerreeççoo PPoossttaall::Caixa Postal, 168890001-970 • PORTO ALEGRE/RS • Brasil

FFuunnddaaddoorr:: Dr. Wim Malgo (1922 - 1992)

CCoonnsseellhhoo DDiirreettoorr:: Dieter Steiger, Ingo Haake,Markus Steiger, Reinoldo Federolf

EEddiittoorr ee DDiirreettoorr RReessppoonnssáávveell:: Ingo Haake

DDiiaaggrraammaaççããoo && AArrttee:: Émerson Hoffmann

Assinatura - anual ............................ 31,50- semestral ....................... 19,00

Exemplar Avulso ................................. 3,50Exterior: Assin. anual (Via Aérea)... US$ 28.00

EEddiiççõõeess IInntteerrnnaacciioonnaaiissA revista “Notícias de Israel” é publicadatambém em espanhol, inglês, alemão,holandês e francês.

As opiniões expressas nos artigos assinadossão de responsabilidade dos autores.

INPI nº 040614Registro nº 50 do Cartório Especial

OO oobbjjeettiivvoo ddaa AAssssoocciiaaççããoo BBeetthh--SShhaalloomm ppaarraaEEssttuuddoo BBííbblliiccoo eemm IIssrraaeell éé ddeessppeerrttaarr eeffoommeennttaarr eennttrree ooss ccrriissttããooss oo aammoorr ppeelloo EEssttaaddooddee IIssrraaeell ee ppeellooss jjuuddeeuuss.. Ela demonstra oamor de Jesus pelo Seu povo de maneiraprática, através da realização de projetossociais e de auxílio a Israel. Além disso,promove também CCoonnggrreessssooss ssoobbrree aa PPaallaavvrraaPPrrooffééttiiccaa eemm JJeerruussaalléémm e vviiaaggeennss, com aintenção de levar maior número possível deperegrinos cristãos a Israel, onde mantém aCasa de Hóspedes “Beth-Shalom” (no monteCarmelo, em Haifa).

ISRAELNotícias de

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7

15

4 Prezados Amigos de Israel

Já/Ainda Não?

HHOORRIIZZOONNTTEE

• O massacre de Lisboa - 15• A psicologia dos atentados por homens-bomba - 17• Críticas à liderança israelense - 20

As Raízes do Nazismo

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índice

As Origens do “Revisionismo Histórico”

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44 Notícias de Israel, outubro de 2006

“Já há tempo demais que habito com osque odeiam a paz. Sou pela paz; quando,porém, eu falo, eles teimam pela guerra”(Salmo 120.6-7).

A guerra no Líbano terminou, mas agora apergunta é: quem foi realmente o vencedor? Arespeito, não existe uma resposta definitiva. Semdúvida, porém, o Hizb’allah (Partido de Alá) levouum golpe bastante duro: ele ficará enfraquecidopor muito tempo e não se recuperarárapidamente. Mas também para Israel a guerratrouxe surpresas e certa desilusão. Muitasfraquezas e falhas foram reveladas e agora énecessário encontrar soluções para elas. O xequeNasrallah, líder do Hizb’allah, deu a entender quenão esperava uma reação israelense tão dura aosequestro dos soldados judeus. Segundo ele,mesmo assim o Hizb’allah não arrefecerá em sualuta contra Israel no futuro, mas apenas adaptarásua estratégia à nova situação.

A guerra terá influências também sobre aorganização terrorista palestina Hamas, que estáconsiderando o Hizb’allah como seu exemplo. OHamas deve reconhecer que os constantesataques a Israel com mísseis causa mais prejuízosdo que vantagens à sua causa. Por isso,certamente os inimigos de Israel vão procurarnovos meios de ação contra o Estado judeu.

Na luta contra Israel, a propaganda temimportância fundamental. Durante esse conflitorecente, Israel foi novamente apresentado comoagressor cruel através de imagens de refugiados eruínas. Os leitores e telespectadores já tinhamesquecido quem realmente havia iniciado oconfronto. Ao mesmo tempo, parece que ninguémse interessava pelo fato de que o lançamento demilhares de mísseis do Hizb’allah contra Israel sópoderia ser interrompido por meio debombardeios maciços. Apenas através dessesataques, o governo libanês, que sempre deu apoioao Hizb’allah, foi obrigado a agir e a concordarcom as condições para um cessar-fogo.

Entretanto, agora a pergunta decisiva é: o queacontecerá no futuro? As tropas internacionaisserão a garantia de uma solução duradoura? Umcontingente de paz pode resolvertemporariamente a situação, mas uma soluçãogenuína somente poderá ser alcançada através deum acordo de paz entre Israel e o Líbano. Porém,o primeiro-ministro libanês, Fuad Siniora, já deu aentender que o Líbano será o último país a fazer a

paz com Israel, apesar do primeiro-ministroisraelense, Ehud Olmert, ter lhe oferecidonegociações de paz por diversas vezes e derealmente não existirem empecilhos para a pazentre Israel e o Líbano.

Isso mostra que o Líbano faz parte da Frentede Rejeição a Israel liderada pelo Irã e apoiadapela Síria. Outro fenômeno também representamotivo de preocupação: a indisposição contraIsrael está aumentando constantemente nomundo islâmico. Até mesmo um país como aTurquia, que até agora mantinha boas relaçõescom o Estado judeu, mudou de tal maneira suasatitudes que Israel preferiu não ter soldadosturcos participando das tropas da ONU junto àsua fronteira.

As palavras do Salmo 120.6-7 descrevem bem aatual situação: “Já há tempo demais quehabito com os que odeiam a paz. Sou pelapaz; quando, porém, eu falo, eles teimampela guerra”. Jesus disse sobre osacontecimentos que antecederiam a Sua volta:“...não vos assusteis, porque é necessárioassim acontecer” (Mateus 24.6). Para nós,esses eventos são um sinal claro da Sua vinda.

Unido com vocês nessa maravilhosa esperança,saúdo com um sincero

Shalom!

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55Notícias de Israel, outubro de 2006

O Dispensacionalismo Progressi-vo tornou-se publicamente conheci-do através do livro Dispensationa-lism, Israel and the Church (O Dis-pensacionalismo, Israel e a Igreja),de Craig Blaising e Darrell Bock,publicado em 1992. Dois outros li-vros, Progressive Dispensationalism(Dispensacionalismo Progressivo) eThe Case for Progressive Dispensatio-nalism (A Defesa do Dispensaciona-lismo Progressivo), escritos respecti-vamente por Blaising/Bock e RobertSaucy, foram publicados em 1993.

O slogan que expressa a crençabásica do Dispensacionalismo Pro-gressivo é: “Já/Ainda Não”. Ele re-presenta a perspectiva teológica quedefende a idéia de que, num senti-

do, o Reino de Deus, predito noAntigo Testamento, “já” está pre-sente aqui; contudo, noutro senti-do, “ainda não” [está].

Seu ensino fundamentalOs dispensacionalistas progressivos

alegam que o Reino “já” se encon-tra aqui num sentido espiritual. Nomomento em que Cristo subiu aoscéus e se assentou à direita do Paino trono celestial, assumiu o gover-no espiritual sobre a corporação dossantos, a Igreja. Desse modo, afir-mam os dispensacionalistas progres-sivos, Ele estabeleceu uma forma es-piritual do futuro Reino de Deus pre-dito no Antigo Testamento.

Entretanto, o futuro Reino deDeus predito no Antigo Testamen-to “ainda não” está aqui no senti-do político. Essa forma de Reinosó será estabelecida quando Cristovoltar a este mundo, por ocasiãode Sua Segunda Vinda, para exer-cer o governo de Deus sobre todaa terra.

O Antigo Testamento revela queo Messias se assentará no trono deDavi, Seu antepassado, no momen-to em que inaugurar o futuro Reinode Deus. Essa revelação, associada àcrença de que Cristo já estabeleceuuma forma espiritual do futuro Rei-no de Deus ao assentar-se à direitado Pai no trono celestial, induz osdispensacionalistas progressivos à

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conclusão de que o trono celestial éo mesmo que o trono de Davi.

Tal perspectiva, em essência, é amesma dos teólogos aliancistas quese denominam pré-milenistas histó-ricos. No que diz respeito a isso, oDispensacionalismo Progressivo dáum passo na direção da TeologiaAliancista, afastando-se do Dispen-sacionalismo tradicional (posiçãoem que cremos), o qual afirma quenenhum aspecto do futuro Reinode Deus, predito no Antigo Testa-mento, se encontra presente agora enão se manifestará até que Cristovolte à terra na Sua Segunda Vinda,após a Grande Tribulação.

Os problemas inerentesO primeiro problema: A argu-

mentação dos dispensacionalistasprogressivos quanto ao lugar do tro-no de Davi é crítica. Eles afirmamque este se localiza no céu. Porém,o trono de Davi não pode ser equi-parado ao trono de Deus no céu porvárias razões. Em primeiro lugar,porque diversos descendentes de

Davi se assentaram no seu trono,mas apenas um descendente de Da-vi, Jesus Cristo, está assentado parasempre no trono celestial (Hb 12.2).

Em segundo lugar, porque o tro-no de Davi foi estabelecido notranscurso da vida desse rei (2 Sm3.9-10). Em comparação, se Deussempre tem exercido o governo so-bre Sua criação, é evidente que Seutrono celestial foi estabelecido mui-to tempo antes do estabelecimentodo trono de Davi (Sl 93.1-2).

Em terceiro lugar, porque a de-claração que Deus faz a Seu Filho,“O teu trono, ó Deus, é para todo osempre” (Hb 1.8), parece demons-trar que Deus, o Pai, identifica otrono de Jesus como algo diferentedo Seu próprio trono no céu.

Em quarto lugar, porque o tronode Davi era na terra, não no céu. Da-vi e os respectivos descendentes quese assentaram no seu trono exerce-ram um governo terreno e nunca go-vernaram no céu, nem do céu. Poresse motivo, o trono de Davi é tam-bém chamado de “o trono de Israel”pelo próprio Davi (compare 1 Rs

1.30 com 1 Rs 2.4) e por Salomão(Jr 33.17; compare 1 Rs 3.6 com 1Rs 8.20). Em comparação, a Bíbliaespecifica que o trono de Deus estáno céu (Sl 11.4; Sl 103.19).

Em quinto lugar, porque as Es-crituras descrevem o trono celestialcomo o trono de Deus (Lm 5.19;At 7.49; Hb 8.1; 12.2; Ap 7.15;12.5; 14.5). A Bíblia nunca chamao trono de Deus, localizado no céu,pelo designativo “trono de Davi”.

Em sexto lugar, porque, compa-rativamente, a descrição bíblica dotrono de Davi indica que o tronopertence a Davi. Quando Deus fa-lou com Davi acerca desse trono,referiu-se ao mesmo como “o teutrono” (2 Sm 7.16; Sl 89.4; 132.12).Nas ocasiões em que Deus fez men-ção do trono de Davi a outras pes-soas, utilizou as expressões: “o seu[de Davi] trono” (Sl 89.29,36; Jr33.21), e “o trono de Davi” (Jr17.25; Jr 22.2,4,30).

Em sétimo lugar, porque o textode Apocalipse 12.5 revela que oMessias, na Sua ascensão ao céu,foi “arrebatado para Deus até ao seutrono”, não para o trono de Davi.

Em oitavo lugar, porque váriasdécadas após assentar-se no tronode Deus, Cristo estabeleceu umadistinção entre esse trono e aqueleno qual se assentará no futuro, oSeu trono (Ap 3.21).

O segundo problema: No finaldo artigo que escrevi sobre a Teolo-gia Aliancista (publicado na edição6/06), apresento várias razões pelasquais afirmo que nenhuma manifes-tação ou forma do futuro Reino deDeus, predito no Antigo Testamen-to, foi estabelecida neste mundo apartir do instante em que Cristo seassentou no trono de Deus. Alémdaquelas, outra razão é a parábolaque Jesus proferiu a Seus discípulos(Lc 19.11-27), “visto... lhes parecerque o reino de Deus havia de manifes-tar-se imediatamente” (Lc 19.11).

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Jesus demonstrou que partiria para o céu, por um período de tempo, a fim de receber a posse do futuro Reino de Deus predito no Antigo Testamento. Depois derecebê-la, Ele voltaria à terra para estabelecer o referido Reino. Portanto, o futuroReino de Deus só poderia ser estabelecido na ocasião da Segunda Vinda de Cristo.

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Por intermédio dessa parábola, Jesus demonstrouque partiria para o céu, por um longo período detempo, a fim de receber a posse do futuro Reino deDeus predito no Antigo Testamento. Depois de re-cebê-la, Ele voltaria à terra para estabelecer o referi-do Reino. Portanto, o futuro Reino de Deus só po-deria ser estabelecido na ocasião da Segunda Vindade Cristo, um longo tempo depois de Sua ascensãoao céu. (Israel My Glory)

Renald E. Showers é autor, professor e conferencista internacionala serviço de The Friends of Israel.

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Em julho de 2005, Elliot Stein, um jovem de 23anos do Brooklin, Nova York, jantava com sua namo-rada num restaurante à beira-mar em Nova Jersey.Após o jantar, o senhor Stein recebeu a conta e ficouchocado com o que viu. Na nota estavam rabiscadas asseguintes palavras: casal judeu.

Ao reclamar, disseram-lhe que a anotação fora feitapara que a garçonete identificasse a mesa do casal.Mais tarde naquele mês, a mesma anotação apareceuem seu extrato do cartão de crédito. A ProcuradoriaGeral de Nova Jersey abriu uma investigação a respeito.

Quatro anos antes desse incidente, o embaixador daFrança na Grã-Bretanha, Daniel Bernard, participoude um jantar festivo em Londres, durante o qual se re-

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feriu ao Estado de Israel como“aquele paisinho de m****”.1

Será que esses incidentes sãomeras aberrações isoladas? Se vocêfizer uma pesquisa pela internet embusca da expressão anti-semitismoverá que não são. O mundo temtestemunhado um aumento alar-mante no número de incidentes an-ti-semitas, inclusive ataques contracemitérios, sinagogas, empresas eestabelecimentos comerciais de ju-deus. Segundo uma recente pesqui-sa feita pela Anti-Defamation League(Liga Antidifamação), doze paíseseuropeus são fortemente anti-semi-tas.2 Em agosto de 2005, o papaBento XVI ratificou tais constata-ções ao declarar que “hoje em dia,lamentavelmente, estamos testemu-nhando o surgimento de novos in-dícios de anti-semitismo”.3

A comunidade judaica ao redordo mundo observa com muita preo-cupação esse clima que relembra aAlemanha nazista antes do Holo-causto. Naquela época, as ocorrên-cias, aparentemente isoladas, eramapenas o prenúncio do que estavapor vir: o anti-semitismo da pior es-pécie que se podia imaginar – a ani-quilação planejada de 6 milhões dejudeus. O mesmo sentimento quelevou ao Holocausto está ressurgin-do na atualidade.

O legado de Martim Lutero

Dois fatos indiscutíveis per-meiam as Escrituras Sagradas: (1)Deus escolheu o povo judeu paraser o Seu povo; (2) Ele decidiu dara esse povo um território específi-co (a terra de Israel) por direitoperpétuo.

Infelizmente, surgiu uma certateologia que rejeita esses fatos. Talteologia segue o seguinte pensa-mento: Em virtude do povo judeuter rejeitado a Jesus como seu

Messias, ele perdeu o direito àspromessas que lhe foram feitas.Essa concepção originou-se em321 d.C. durante o reinado deConstantino, o qual declarou oCristianismo como religião oficialdo Império Romano. Muitos criamque os judeus eram semelhantes aJudas, que traiu Jesus. Judas foiamaldiçoado. Então, chegaram àconclusão de que os judeus sãoamaldiçoados e de que Deus, por-tanto, os rejeitou e não quer maissaber deles.

Essa teologia alega que Deus es-colheu um outro povo (a Igreja) eum outro lugar: Roma. Até a gran-de emancipação ocorrida no séculoXVIII, a Igreja [Católica] chegoumesmo a incentivar os gentios aagirem contra os “assassinos deCristo”. Durante anos a Igreja [Ca-tólica] ensinou que os judeus eraminimigos odiosos de Deus e rebel-des, culpados pelo assassinato doFilho de Deus. Esses “cristãos” ins-tigaram reinos a elaborar leis queobrigassem o povo judeu a usar em-blemas distintivos em suas roupas,

a viver separados dos gentios emguetos e, se necessário, a serem ex-pulsos para que a ordem social fos-se preservada.

A história eclesiástica está reple-ta de exemplos de clérigos que ridi-cularizaram o povo judeu; Inácio,Justino Mártir, João Crisóstomo eGregório de Nissa são apenas al-guns deles. Eles criam que o peca-do dos líderes judeus de exigir amorte de Jesus passou ao povo ju-deu para sempre.

De todos os líderes da Igreja,verdadeiramente nascidos de novo,que assumiram tal posição, nenhumcausa mais tristeza do que MartimLutero, o grande reformador nasci-do na Alemanha. Embora tenha es-crito muitos tratados maravilhosospara benefício dos crentes em Cris-to, Lutero era um anti-semita feri-no. Em seu livro intitulado On theJews and Their Lies (Quanto aos Ju-deus e Suas Mentiras), ele retratouos judeus como “peçonhentos”,“vermes miseráveis” e “bichos no-jentos”,4 além de incentivar a vio-lência contra eles:

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Uma teologia surgida em 321 d.C. alega que Deus rejeitou Israel e escolheu um outro povo (a Igreja) e um outro lugar: Roma.

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O que nós, cristãos, devemos fa-zer com os judeus, esse povo rejeita-do e condenado? Incendiar suas si-nagogas ou suas escolas e [...] enter-rar e cobrir de entulho tudo o quenão for destruído pelo fogo, paraque ninguém mais veja uma pedraou as cinzas deles [...]. Eu recomen-do que suas casas sejam arrasadas edestruídas [...] que todos os seus li-vros de oração e escritos talmúdicos[...] sejam confiscados, [...] que seusrabinos sejam proibidos de ensinar[...] Recomendo a suspensão do sal-vo-conduto para os judeus nas estra-das [... e] que todos os seus valoresem dinheiro, bem como seus tesourosem ouro e prata, sejam confiscados.5

O que o levou a escrever de ma-neira tão desprezível? Ele cria que“depois do Diabo, não há inimigomais cruel, mais venenoso e violen-to do que um verdadeiro judeu”.6

As críticas violentas de Lutero con-tra os judeus foram muitas vezes re-cicladas como justificativa para oanti-semitismo. Elas ainda são usa-das até hoje.

A obsessão pelonacionalismo

Quando Napoleão levou a Françaà vitória contra a Alemanha no finaldo século XVIII, os franceses ocupa-ram o território alemão por vinte ecinco anos. Durante esse tempo, elespropagaram os ideais do Iluminismo,que davam ênfase à razão, ao pro-gresso do conhecimento, à liberdadee à justiça para todos os cidadãos.

Os judeus na Alemanha se tor-naram beneficiários do pensamento“iluminista”. O povo alemão, comódio da ocupação francesa, ofen-deu-se com os benefícios estendi-dos ao povo judeu. Entre os ale-mães surgiram dois filósofos, ambosferrenhos nacionalistas:

Conhecido como o pai do nacio-nalismo alemão, Johann Gottlieb

Fichte ensinava filoso-fia na Universidade deBerlim. Ele considera-va os judeus comocorruptos, uma amea-ça à riqueza da heran-ça e às habilidades dopovo alemão. Caracte-rizava a comunidadejudaica como “um po-deroso Estado [que]se estende por quasetodos os países da Eu-ropa, o qual tem in-tenções hostis e se en-volve constantementeem disputas com to-dos os outros países”.7

Com a morte deFichte em 1814, omanto nacionalistanão poderia ter caídosobre ninguém maisdo que Georg Wi-lhelm Friedrich He-gel. Para Hegel, o Es-tado (a Alemanha) eratudo e servia comoum purificador moral.Transcendia a importância de qual-quer indivíduo. Hegel ainda diziaque todo cidadão alemão tinha aresponsabilidade e o dever de servirao Estado.

A partir de então, os judeus fo-ram vistos como “os outros”, estra-nhos ao Estado alemão. Os símbo-los alemães foram usados publica-mente contra os judeus emmanifestações. Em 1819 estoura-ram violentos distúrbios anti-semi-tas e as multidões cantavam em co-ro: “Morte e destruição a todos osjudeus!”8

A barreira de separação entre ju-deus e alemães aumentou. Os ale-mães foram desafiados a adotar oVolk (povo), um conceito que in-corporava a essência germânica.Maior do que apenas o povo, maiordo que a terra, a cultura ou a tradi-

ção, o Volk personificava a alma dopovo alemão, seu senso de partici-pação e seu destino comum.

A mentalidade do Volk, associa-da à postura religiosa de que o Po-vo Escolhido de Deus fora amaldi-çoado na condição de assassino deCristo, instilou medo no povo ju-deu e fez com que ele estivessesempre sob suspeita.

Christian Lassen (1800-1876),professor da matéria de CivilizaçõesAntigas na Universidade de Bonn,afirmou categoricamente que o po-vo semita é inerentemente “interes-seiro e exclusivista”.9 O filósofo ale-mão Paul Lagarde (1827-1891)descreveu os judeus como uma bac-téria patogênica:

Uma pessoa teria que ter um cora-ção tão duro quanto o couro de umcrocodilo para não sentir pena dos

99Notícias de Israel, outubro de 2006

Quando Napoleão levou a França à vitória contra a Alemanha no final do século XVIII, os franceses

ocuparam o território alemão por vinte e cinco anos.Durante esse tempo, eles propagaram os ideais do

Iluminismo, que davam ênfase à razão, ao progresso do conhecimento, à liberdade e à justiça

para todos os cidadãos.

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pobres e explorados alemães e [...]para não odiar os judeus e despre-zar aqueles que – desprovidos desentimento humano – defendem essesjudeus ou são muito covardes parapisar e esmagar essa gente usuráriaaté a morte. Com vermes parasitas ebactérias não se negocia, nem de-vem tais vermes e bactérias ser ins-truídos; eles precisam ser extermina-dos completamente o mais rápidopossível.10

Dois importantes livros tambémacenderam mais as chamas do sen-timento antijudaico. Foundations ofthe 19th Century (Fundamentos doSéculo XIX), de C. S. Chamber-lain, sempre foi considerado “a Bí-blia dos racistas”.11 Chamberlainexercia grande fascínio sobre asmassas com suas “provas” falsifica-das a respeito da superioridade da

raça ariana e dizia que os judeus “sealimentavam deles [dos alemães] esugavam – em todos os níveis so-ciais – a sua força vital”.12

No livro Foundations of the 19thCentury, ele escreveu que: (1) os ju-deus eram hostis e corrompiam acivilização; (2) Os arianos eram osresponsáveis por todas as contribui-ções importantes para a civilização;(3) Jesus não tinha sido judeu, masariano. (4) A análise da fisionomiaera uma ciência legítima capaz depredizer o caráter por traços físicos.

Esse livro vomitava jargões reli-giosos anti-semitas que, na maioriadas vezes, eram citações dos escri-tos de Martim Lutero. Publicadoem 1895, o livro chegou à marca de28 edições até 1942, “com mais de250 mil conjuntos de dois volumes”vendidos, segundo escreveu David

A. Rausch em A Legacyof Hatred (Um Legadode Ódio).13 Duas pes-soas extremamente ver-sadas no livro deChamberlain foram oKaiser (imperador) Gui-lherme II e, mais tarde,Adolf Hitler.

A segunda obra lite-rária de maior relevân-cia foram Os Protocolosdos Sábios de Sião (vejaartigo a respeito na edi-ção 8/06). Essa pouca-vergonha sinistra afir-mava que havia (e queainda há) uma conspira-ção judaica para assu-mir o controle do mun-do. Originalmente escri-to por Maurice Joly em1864 para delinear o de-sejo de Napoleão decontrolar o mundo, o li-vro foi, mais tarde, frau-dulentamente forjadopara se transformar nosinfames Protocolos, atra-

vés da substituição da palavra fran-cês e suas correlatas, pelo termo ju-deu e seus semelhantes. Essa obrainfluenciou profundamente o povoalemão, levando muitas pessoas acrer no engodo de que um grupo dejudeus agia secretamente para seapoderar da Alemanha e do mun-do. Em 1927, Henry Ford, o mag-nata da indústria automobilística,publicou trechos extraídos dos Pro-tocolos dos Sábios de Sião no jornalThe Dearborn Independent.

Tais pensamentos levaram àproliferação das opiniões anti-se-mitas na Alemanha. Em 1879, ohistoriador alemão Heinrich vonTreitschke publicou uma série deartigos anti-semitas, o último de-les intitulado: “The Jews Are OurMisfortune” (“Os Judeus São aNossa Desgraça”).14 O livro deleinstigou 250 mil pessoas a fazeremum abaixo-assinado exigindo queos judeus fossem proibidos de as-sumir cargos governamentais ou deensino.15

Os políticos locais começaram autilizar essa plataforma ideológicaanti-semita em suas campanhas, aodeclararem que protegeriam a Ale-manha do perigo representado pe-los judeus, os quais, segundo eles,contaminavam a sociedade. Reque-rimentos circularam no intuito decoibir a imigração judaica. Em1890, Hermann Ahlwardt conquis-tou um assento no Reichstag (o Par-lamento alemão) embasado na pla-taforma política-ideológica de queos judeus eram uma epidemia decólera, bacilos patogênicos e feraspredadoras.

Em resposta, os judeus tentaramdemonstrar sua lealdade aos ale-mães. O Judaísmo Reformado (libe-ral) tinha começado na Alemanha,em parte como uma maneira dosjudeus manterem sua identidade ju-daica, aparentando, todavia, um jei-to de ser mais gentílico. Muitos ju-

1100 Notícias de Israel, outubro de 2006

O Kaiser (imperador) alemão Guilherme II era extremamente versado no livro de Chamberlain. Mais tarde, o mesmo ocorreu com Adolf Hitler.

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deus procuraram ser menos distin-tivos no seu caráter judaico e come-çaram a se misturar na sociedade aolevar uma vida mais contextualiza-da, preservando, porém, a sua iden-tidade.

A amargura da derrotaEm 28 de junho de 1919, derro-

tada e humilhada depois de umaguerra terrivelmente custosa, a Ale-manha foi forçada a assinar sua ren-dição em Versalhes, na França. Ascondições de paz impostas peloTratado de Versalhes, obrigaram aAlemanha a abrir mão da ideologiado Volk que tão ardentemente ado-tara, bem como levaram os alemãesa admitir que foram os únicos cul-pados por aquela que posterior-mente ficou conhecida como a IGuerra Mundial. A Alemanha foiobrigada a reduzir seu exército para100 mil homens, teve que devolverterritórios e pagar indenizações. Aregião da Alsácia-Lorena foi resti-tuída à França; os territórios con-quistados por Otto von Bismarckforam devolvidos à Bélgica, Dina-marca e Polônia. Indenizações fo-ram fixadas no valor de 132 bilhõesde marcos de ouro, “ou cerca de 33bilhões de dólares, uma soma prati-camente impossível de ser paga poreles”.16

A sexta parte de toda a popula-ção de judeus da Alemanha, aproxi-

madamente 100 mil pes-soas, lutou bravamentepelo seu país na guerra e12 mil deles perderam suavida. Entretanto, a culpapela derrota foi colocadanos judeus. Circularamacusações de que os sol-dados judeus não lutarampela Alemanha, mas simpara “assumir o controleda nação”.17

Em conseqüência daderrota, [o imperadorGuilherme II abdicou] e aforma de governo adotadana Alemanha passou a sera República de Weimar.Enquanto alguns alemãesaceitaram essa nova repú-blica, outros ficaramamargurados pela humi-lhação sofrida em Versa-lhes. Um dos soldadosque sobreviveram à guerraachou o gosto da derrotaamargo demais; o nomedele era Adolf Hitler.

O caos econômicoEm virtude das pesadas indeni-

zações que tinham de ser pagas, aeconomia alemã cambaleou. A in-flação subiu como um foguete parao espaço. Em 1919, nove marcosalemães valiam um dólar. Por voltade 1923, esse mesmo valor equiva-

lia à assom-brosa quantiade 4,2 tri-lhões demarcos.

O presi-dente Paulvon Hinden-burg conse-guiu renego-ciar o paga-mento dasindenizações

com os Aliados e estabelecer medi-das de controle da inflação pelaemissão de uma nova moeda, oReichsmark. O país começou a pro-gredir. Apesar do clima anti-semita,os judeus também prosperavam. En-tão aconteceu a quebra das bolsas devalores em 1929. O incidente geroudesemprego, que produziu desâni-mo, que criou ressentimento e fezcom que todos visassem os judeus.

Em muitos círculos religiosos,sociais, políticos e acadêmicos, aprópria existência do povo judeu setornou a desculpa para todos osproblemas da Alemanha. Os ale-mães acreditavam que se conseguis-sem resolver o “problema” judeu,todos os seus outros problemas de-sapareceriam.

O país foi preparado para dar asboas-vindas a um líder imbuído doorgulho da mentalidade do Volk,que o livraria daquelas criaturas

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A Alemanha foi preparada para dar as boas-vindasa um líder imbuído do orgulho da mentalidade doVolk, que a livraria daquelas criaturas traiçoeiras

(os judeus). Em 1933, surgiu um homem determinado a fazer exatamente isso.

Seu nome era Adolf Hitler.

Recomendamos os livros:

Pedidos: 0300 789.5152www.Chamada.com.br

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traiçoeiras. Esses “inimigos” doReich tinham que ser identificados,isolados e eliminados sem que aAlemanha se sentisse culpada. Em1933, surgiu um homem determi-nado a fazer exatamente isso. Seunome era Adolf Hitler.

Mais de meio século se passoudesde que Hitler empreendeu esfor-ços na tentativa de exterminar osjudeus do mundo. No entanto, em2001 um diplomata europeu de altoescalão não teve o mínimo escrúpu-lo de chamar Israel de “aquele pai-sinho de m****”. Na Europa, hojeem dia, as sinagogas são novamentedepredadas e os judeus espancadosnas ruas. Dois jovens em Nova Jer-sey foram discriminados como “ca-sal judeu” e essa expressão designa-tiva acabou registrada no extratooficial do cartão de crédito. À me-

dida que o anti-semitismo aumenta,será que não é justo perguntar se omundo contempla a linha do hori-zonte à espera de outro líder quetente fazer o mesmo novamente?(Israel My Glory)Steve Herzig é diretor de The Friends ofIsrael nos EUA.

Notas:1. “Anti-Semitic French Envoy Under Fire”, pu-

blicado em 20 de dezembro de 2001 no sitewww.newsearch.bbc.co.uk/1/hi/world/euro-pe/1721172.stm.

2. “ADL Survey in 12 European Countries FindsAnti-Semitic Attitudes Still Strongly Held”, pu-blicado em 7 de junho de 2005 no sitewww.adl.org/PresRele/ASint–23/4726–13.htm.Os resultados da pesquisa também estão dis-poníveis nesse site.

3. McHugh, David, “Pope Warns of Increasein Anti-Semitism”, publicado em 19 deagosto de 2005 no site www.apnews.-myway.com/article/2050819/D8C2T1MO0.-html.

4. Rausch, David A., A Legacy of Hatred, Chi-cago: Moody Press, 1984, p. 29.

5. Luther, Martin, On the Jews and Their Lies(de 1543), traduzido da obra original porMartin H. Bertram, publicado em Luther’sWorks, no tópico “The Christian in So-ciety”, pelos editores Franklin Sherman eHelmut T. Lehman, Filadélfia: FortressPress, 1971, 47:268.

6. Dawidowicz, Lucy S., The War Against theJews, 1933-1945, Nova York: BantamBooks, 1975, p. 29.

7. Katz, Jacob, From Prejudice to Destruc-tion: Anti-Semitism, 1700-1933, Cambrid-ge, Mass: Harvard University, 1980, p. 60;citado por Rausch, p. 33.

8. Rausch, p. 34.9. Dawidowicz, p. 41.

10. Ibid.11. Rausch, nota 5, p. 43.12. Langer, Howard J., The History of the Holo-

caust: A Chronology of Quotations, North-vale, N.J.: Jason Aronson Inc., 1997, p. 20.

13. Rausch, p. 43. 14. Bauer, Yehuda, A History of the Holocaust,

Nova York: Franklin Watts, 1982, p. 47.15. Ibid.16. Lutzer, Erwin W., Hitler’s Cross, Chicago:

Moody Press, 1995, p. 30. Disponível emportuguês: A Cruz de Hitler, Editora Vida.Pedidos: www.Chamada.com.br ou 0300789.5152.

17. Rausch, p. 47.

1122 Notícias de Israel, outubro de 2006

Engana-se quem associa a negação do Holocausto com a extrema-direita. O Revisionismo nasceu entre os comunistas e é a esquerdaa sua maior propagadora nos dias de hoje.Em dezembro de 2003, quando saiu finalmente a sentença do Supremo Tribunal Federal contra Siegfried Ell-

wanger, toda a imprensa nacional se referiu ao editor gaúcho de livros anti-semitas como “editor de extrema-direi-ta”. Para quem não sabe, Ellwanger, também conhecido como S. E. Castan, é o proprietário da Editora Revisão,

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dedicada exclusivamente à publica-ção de propaganda nazista e de ma-terial que nega a matança de mi-lhões de judeus durante a SegundaGuerra Mundial.

Ellwanger e sua editora sãoadeptos do Revisionismo Histórico,um movimento pretensamente aca-dêmico que se dedica a tentar pro-var que o Holocausto judeu duran-te a Segunda Guerra Mundial nãopassou de uma invenção. Alegamque Hitler e seus asseclas na verda-de eram umas flores de bondade eque tudo o que se publica sobre oassunto é parte de uma grandeconspiração midiática de domina-ção mundial por malvados judeus.As “descobertas” (perdoem-me pe-lo excesso de aspas, mas elas sãoinevitáveis) seriam fruto de “revi-sões” de depoimentos e pesquisas,daí eles se chamarem de “revisio-nistas”. Em resumo, trata-se deuma mixórdia sem nenhuma sus-tentação histórica, tratada com odevido desprezo por todos os pes-quisadores sérios.

De fato, a associação entre neo-nazismo e extrema-direita é auto-mática e ambas as expressões sãoencaradas como sinônimos. Até serprocessado e condenado em todasas instâncias jurídicas, S. E. Castanagregou em torno de si um peque-no grupo de jovens que agiram emPorto Alegre em pequenos putchesanti-semitas nos anos 80 e 90. Me-rece plenamente o epíteto de nazis-ta. Mas o dito “revisionismo” (queeu prefiro chamar de negacionis-mo), por mais fraudulento e mal-intencionado, tem também a suahistória. E vale a pena conhecê-la.

A primeira vez em que se publi-cou material que negava a existên-cia de campos de extermínio ergui-dos pelos nazistas foi na França, nadécada de 50. Não por acaso, aFrança foi o país que menos lutoucontra a ocupação alemã durante a

guerra. O Regime de Vichy foi, defato, cúmplice voluntário das bar-baridades nazistas e a França tam-bém foi o berço do Affaire Dreyfus(1), a terra de Gobineau (2) e deÉdouard Drumont (3).

“Franceses nazistas”, pensará oleitor a esta altura. Errado. Curio-samente, não foram ex-colaboracio-nistas os primeiros negacionistas,mas justamente o contrário. PierreGuilleume, militante do grupotrotskista SOB (“Socialismo ouBarbárie”) e posteriormente funda-dor da dissidência Pouvoir Ouvrier,ao lado de Serge Thion, proprietá-rio de uma pequena casa editorachamada La Vieille Taupe (“A VelhaToupeira”), foram os primeiros pu-blicadores de livros anti-semitas ba-seados nessas teorias negacionistas.A estrela da “Velha Toupeira” eraum membro da Resistência, PaulRassinier, militante comunista eque usava sua condição como sal-vo-conduto.

Rassinier alegava que ao ser cap-turado pelos nazistas fora testemu-nha do tratamento dispensado aosseus prisioneiros. E que nunca tes-temunhara maus-tratos a nenhumjudeu enquanto esteve preso. Logo,todos os testemunhos que atesta-vam a matança nos campos de ex-termínio nazistas seriam falsos. Ofato de que foram os soviéticos queprimeiro chegaram aos campos eregistraram a matança não afetavaRassinier, pois como trotskista elepoderia duvidar dos relatos “stali-nistas” do Holocausto. Para ostrotskistas franceses, o sionismo eraa consolidação dos planos explicita-dos em Os Protocolos dos Sábios deSião[a], velha fraude produzida pelapolícia secreta czarista e apresenta-da como uma compilação de “pla-nos judaicos de dominação mun-dial”.

Mas Paul Rassinier não era umcaso isolado. Tampouco agia por

conta própria. Alguns milhares dequilômetros a Leste da França,mais precisamente em Moscou,nascia a “sionologia”, uma pretensaciência sócio-política (bem ao gostomarxista) e adotada como políticaacadêmica oficial na União Soviéti-ca, onde as teses negacionistas econspiratórias eram a base para aprodução de farto material contraIsrael.

Em 1963, Trofim K. Kichko(posteriormente agraciado com umdiploma pelo Partido Comunista daUcrânia) publicou pela Academiade Ciências da Ucrânia O Judaísmosem Maquiagem, livro que parte deum trecho de Os Protocolos dos Sá-bios de Sião para afirmar que “o ex-pansionismo e a crueldade israelen-ses estão determinados no Talmu-de”. Em 1969, Yuri Ivanovpublicava Cuidado! Sionismo!, umtosco panfleto onde o sionismo eraapresentado como “uma ideologiade organizações conectadas para aprática política da burguesia judaica

1133Notícias de Israel, outubro de 2006

Raissinier alegava que ao ser capturadopelos nazistas fora testemunha do

tratamento dispensado aos seus prisioneiros. E que nunca

testemunhara maus-tratos a nenhum judeu enquanto esteve preso.

Page 14: Notícias de Israel - Ano 28 - Nº 10

e fundida com as esferas monopo-listas nos EUA”. A partir do livrode Ivanov, as obras “sionológicas”foram consideradas leitura obriga-tória na formação de quadros políti-cos e militares da União Soviética enos países sob sua esfera de influên-cia. Disseminados pelos formandosda Universidade dos Povos PatriceLumumba[b], os livros anti-semitassoviéticos formaram gerações demilitantes de esquerda que assimi-laram e reproduziram a visão ex-pressada pela terceira edição da“Grande Enciclopédia Soviética”sobre o sionismo:

O sionismo é um postulado rea-cionário, chauvinista, racista e anti-comunista. A Organização SionistaInternacional é detentora de grandesfundos financeiros monopolistas queinfluenciam a opinião pública ociden-tal capitalista e serve como frenteavançada do colonialismo.

O rompimento entre os soviéti-cos e o movimento sionista ocorreu

ainda antes da independência doEstado de Israel, em 1948. JosefStalin desejava desencorajar o sio-nismo com a criação do Birobidjão,uma república soviética onde os ju-deus deveriam se instalar e perma-necer, sempre tutelados sob a som-bra da influência de Moscou. Stalintambém usou o sionismo e a recen-te fundação de Israel como pano defundo de seu último grande expur-go, a “Conspiração dos Médicos”.

Mesmo depois da morte de Sta-lin, a União Soviética continuoufrontalmente contra Israel, emborao movimento sionista tenha sidomajoritariamente formado por mili-tantes socialistas e por pessoas desólida formação marxista. Após aGuerra dos Seis Dias, em 1967,quando Israel venceu uma coalizãode oito países sob a direta influên-cia política da União Soviética, asionologia encontrou um territórioperfeito para se disseminar.

Não é exagero afirmar que osurgimento dos grupos terroristasárabes e a sionologia se retroali-mentaram. Yasser Arafat foi trei-nado pelo serviço secreto do les-te europeu[c] e Mahmoud Abbas,ex-militante do Fatah e atual presi-dente da Autoridade Palestina, éformado em história pela EscolaOriental de Moscou e autor de umlivro negacionista, publicado emárabe sob o patrocínio soviético nadécada de 70.

Uma das táticas mais presentesentre os sionologistas para se res-paldarem é a utilização de autoresjudeus. Já nos anos 60 eram esco-lhidos membros dos partidos comu-nistas de origem judaica para em-prestarem seus nomes às publica-ções. Essa prática perdurou e gerouo surgimento de intelectuais de es-querda como Noam Chomsky eNorman Finkelstein, que sem se-rem negacionistas seguem a linhamestra da sionologia de demoniza-

ção do sionismo e da identidade ju-daica. Curiosamente, até os maisferrenhos negacionistas citamChomsky e Finkelstein como fontespara suas idéias.

O encontro entre negacionistas,comunistas e terroristas que formoua sionologia não impediu que mili-tantes neonazistas absorvessem odiscurso sionológico. A verdade éque ao se comparar o discurso neo-nazista com o discurso de boa par-cela da esquerda não se encontra-rão muitas diferenças. O negacio-nismo e a sionologia fazem partedos discursos tanto de esquerdistasilustres, como José Saramago e os jácitados Chomsky e Finkelstein,quanto de verdadeiros expoentes daextrema-direita, como Lyndon La-Rouche, malgrado seu passado demilitante trotskista.

Curiosamente, ultra-direitistas eultra-esquerdistas colaboram entresi quando o objetivo é o anti-semi-tismo. Comunistas como Rassinierusam de sua ideologia para separarseu discurso das lembranças nazis-tas, enquanto os nazistas usam acolaboração de judeus comunistascomo salvo-conduto para escapa-rem da acusação de anti-semitismo.

Seguidores brasileiros de Sieg-fried Ellwanger mantêm várias pá-ginas eletrônicas onde se encontramlinks, tanto para sites onde a ma-tança de judeus é exaltada quantopara textos acadêmicos de esquerdaonde se pode ver Norman Finkels-tein “protestando contra o uso ca-pitalista das indenizações de guer-ra”. E no meio dessa mixórdia [há]várias “provas” de que não houvenem matança e nem expropriaçãode bens de judeus. A propósito, Ell-wanger nunca se apresentou nemcomo neonazista e nem como es-querdista.

Mas o maior eco da sionologiapode ser visto hoje nas ações e nosdiscursos do atual líder iraniano,

1144 Notícias de Israel, outubro de 2006

Mahmoud Abbas, ex-militante do Fatah e atual presidente da Autoridade Palestina, é formado em história pelaEscola Oriental de Moscou e autor deum livro negacionista, publicado emárabe sob o patrocínio soviético na década de 70.

Page 15: Notícias de Israel - Ano 28 - Nº 10

Mahmoud Ahmadinejad, que de-clarou em dezembro de 2005 que“o Holocausto é um mito”:

Fabricaram uma lenda sob o no-me de “massacre dos judeus”, e dãomais importância a isso do que aDeus, à religião e aos profetas.

Ahmadinejad vem afirmandoque “a lenda” é o que manteriauma suposta opressão do Ocidentecontra os países islâmicos e com is-so vem desafiando a comunidadeinternacional ao fomentar o terro-rismo e insistir em adquirir a tecno-

logia necessáriapara a constru-ção de armasde destruiçãoem massa. Fo-ra do mundoislâmico, a li-nha de frenteque apóia asreivindicaçõesde Ahmadine-jad tem sido –como sempre –a esquerda, ca-da vez mais en-cantada pelodiscurso siono-logista.

No momen-to em que vemos o empenho deuma boa parcela da opinião públicamundial em atacar Israel enquantoesse país se defende das covardesagressões de grupos terroristas, aemergência do discurso negacionis-ta e sionologista demonstra o suces-so que seus criadores obtiveram ecomo o Terror se aproveita dele. Ofato do negacionismo e da sionolo-gia não serem necessariamente umacriação da extrema-direita não anu-la o fato de que esta também fazuso deles. Mas a ligação automática

que mormente se faz é inexata. Anegação do Holocausto é criaçãodos acadêmicos comunistas e é aesquerda a sua maior useira e vezei-ra nos dias de hoje. (extraído dewww.MidiaSemMascara.com.br)

Victor Grinbaum é jornalista no Rio de Janeiro.

Notas:[a] http://www.midiasemmascara.com.br/arti-

go.php?sid=1548[b] http://www.midiasemmascara.com.br/arti-

go.php?sid=266[c] http://www.midiasemmascara.com.br/arti-

go.php?sid=2086

Notas do Autor:(1) O Caso Dreyfus em 1894, foi a falsa acu-sação que o oficial francês de origem judaicaAlfred Dreyfus sofreu por ser espião dos ale-mães. Baseado em documentos forjados pornacionalistas franceses, um tribunal militarcondenou Dreyfus ao degredo na Ilha do Dia-bo. Graças a uma campanha movida pelo es-critor Émile Zola, Dreyfus foi novamente julga-do e desta vez inocentado. Foi cobrindo o Ca-so Dreyfus que o jornalista austríaco TheodorHerzl criou o sionismo.(2) Joseph Arthur de Gobineau (1816 –1882), escritor e diplomata francês e autor doTratado sobre a desigualdade das raças hu-manas, publicado em 1853 e considerado oprimeiro livro de teoria racista.(3) Édouard Drumont (1844 – 1917), autorde La France Juive (“A França Judia”), emque defendia a expulsão dos judeus do país,baseado na teoria de que estes seriam cons-piradores e traidores antinacionalistas. Foi umdos principais propagadores de libelos anti-Dreyfus.

1155Notícias de Israel, outubro de 2006

O maior eco da sionologia pode ser visto hoje nas ações e nosdiscursos do atual líder iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, quedeclarou em dezembro de 2005 que “o Holocausto é um mito”.

Há pouco mais de 500 anos,incitada por clérigos fanáticos,uma multidão perseguiu, torturoue matou milhares de judeus con-versos. A matança durou três dias,de 19 a 21 de abril de 1506.

Os dramáticos fatos ocorreram du-rante o reinado de D. Manuel I, noveanos após o rei ter decretado a con-versão forçada dos judeus em Portu-gal. Após sua expulsão da Espanha,em 1492, pelos reis católicos, mais de

90 mil judeus tinham sido admitidosem Portugal por D. João II. Proeminen-tes membros da comunidade judaicacastelhana haviam negociado com orei a acolhida dos exilados em trocade vultosos impostos de entrada.

O grande abalo na vida dos ju-deus teve início quando o sucessor deD. João II, D. Manuel I, contratou ca-

O massacre de Lisboa

Page 16: Notícias de Israel - Ano 28 - Nº 10

samento com Dª Isabel, princesa deEspanha. Fazia parte do contrato nup-cial uma cláusula que exigia a ex-pulsão dos “hereges” (mouros e ju-deus) de todo o território português.O rei viu-se diante de sério dilemapois não queria perder a riqueza eos talentos judaicos, que tanto bene-fício traziam a Portugal. [Entretanto,]às vésperas do casamento, assinou odecreto que previa, em um prazo dedez meses, a expulsão dos “hereges”de Portugal.

Para os judeus, restava uma únicaalternativa: a conversão ao cristianis-mo [catolicismo]. O rei tinha esperan-ças que muitos se batizassem, aindaque apenas “pro forma”. Mas a maio-ria dos judeus, que fugira da Espanhajustamente para não abandonar suafé, decidiu então, abandonar Portugal.O rei, no entanto, diante dessa possi-bilidade de grande evasão de capital

do país junto com a população judai-ca, publicou um novo decreto proibin-do a partida dos judeus de Portugal eforçando-os a se converterem. Em ou-tubro de 1497, os que ainda não ohaviam feito, foram brutalmente arras-tados à pia batismal.

A grande maioria, porém, conti-nuou a praticar o judaísmo em segre-do. D. Manuel tentou, em vão, promo-ver a integração da massa de conver-sos à população de cristãos-velhos. Oscristãos-novos, como eram tambémchamados, continuavam a ser identifi-cados pelos demais como judeus.

Inicia-se a violênciaRespeitados cronistas da época re-

gistraram os trágicos acontecimentosde abril de 1506. Entre eles se desta-cam o rabino Salomão Ibn Verga; Sa-muel Usque, erudito judeu português

nascido pouco antes domassacre; Damião de

Góis, historiador, emsua “Crônica de D. Ma-nuel I” (Cap. II-1); Gar-cia de Resende e, noséculo XIX, os historia-dores portugueses Ale-xandre Herculano eOliveira Martins. O nú-mero das vítimas é in-certo; sabe-se que aci-ma de 300 conversosforam queimados. Se-gundo Damião de Góis,mais de 1.900 morre-ram; para Herculano,tal número teria ultra-passado os 2.000. Sa-muel Usque e Garciade Resende afirmamque as mortes chega-ram a mais de 4.000.

Os acontecimentosse desenrolaram comrapidez e violência.Naquele abril de 1506o ar pesava de tensão e

incerteza; a peste e a fome assolavamLisboa desde outubro do ano anterior.A partir de janeiro, a situação piora-ra, mais de cento e trinta indivíduosmorriam por dia e preces públicas pe-diam o auxílio divino. D. Manuel e suacorte haviam fugido para Abrantespor causa da peste, deixando a cida-de praticamente sem controle, tãopoucas eram as autoridades remanes-centes na sede do governo.

A violência explodiu em 19 deabril de 1506, domingo de Pascoela,na semana seguinte à Páscoa. NoMosteiro de São Domingos, enquantoos fiéis rezavam pelo fim das desgra-ças, alguém jurou ter visto um clarãoiluminar o altar – “fato” logo interpre-tado como sinal de milagre, quiçáuma mensagem de misericórdia. Entreos presentes, alguns manifestaram in-credulidade. Damião de Góis relata:“Entre eles, um cristão-novo que teriaafirmado que lhe parecia (haver) umacandeia acesa...”. Imediatamente seacendeu contra ele a indignação doscrentes, incitada pelos frades domini-canos. O converso foi calado e espan-cado até a morte por uma massa enfu-recida que, em seguida, queimou oque lhe restava do corpo. Um fradeexcitava o povo, atraído pelo tumulto,com violentas declarações, enquantooutros bradavam: “Herege! Herege!”

O rabino Salomão Ibn Verga, emsua obra Sefer Shebet Yehudah (Livrodo Cetro de Judá), escrito em Portugalpouco depois do massacre, afirma queo suposto “milagre” nada mais foraalém de um artifício propositalmenteplanejado pelos dominicanos. Seu ob-jetivo único era atiçar a fúria do povocontra os conversos. Escreve o rabinoIbn Verga: “Fizeram um crucifixo ococom uma abertura atrás, recoberto devidro, na frente, por onde passavamuma vela, fazendo supor e alardeandoque a chama emergia do crucifixo; en-quanto isso, o povo se prostrava, aosbrados de ‘Vede o grande milagre!”’A partir daí, três dias de massacre se

1166 Notícias de Israel, outubro de 2006

Horizonte

A legenda da gravura diz: “Da Contenda Cristã, queRecentemente Teve Lugar em Lisboa, Capital dePortugal, Entre Cristãos e Cristãos-Novos ou Judeus, Por Causa do Deus Crucificado”.

Page 17: Notícias de Israel - Ano 28 - Nº 10

1177Notícias de Israel, outubro de 2006

Horizonte

sucederam, com a violência se alas-trando rapidamente pela cidade. Astripulações dos navios do Tejo se jun-taram à multidão nos saques à cidade.

Em bandos, as massas iam à caçados conversos. Quando encontrados,eram espancados até a morte, arrasta-dos sem piedade pelas ruas, às vezesainda vivos, até às fogueiras construí-das nos bairros da Ribeira e do Rossio.E os sinos conclamavam os fiéis à ma-tança. Os frades incitantes prometiama absolvição dos pecados dos últimoscem dias para quem matasse os “here-

ges”. Os judeus eram torpemente acu-sados de serem o motivo da profundaseca e da peste que assolavam o país.

As cenas eram [de multidões] en-sandecidas; pelas ruas corria o san-gue enquanto pairava no ar um fortecheiro de carne queimada. Logo noprimeiro dia pereceram mais de qui-nhentas pessoas. Nada parecia acal-mar as massas; a violência grassava,desenfreada. Os conversos tiveramsuas casas invadidas e saqueadas; suagente, massacrada, violada, queima-da, indistintamente, quer fossem ho-mens, mulheres, crianças ou idosos.Os recém-nascidos eram arrancadosdos braços das mães e atirados contraa parede. Além disso, vinganças pes-soais e roubos corriam soltos em meioao caos que imperava na cidade. Sóno terceiro dia a violência cedeu –não porque a turba se tivesse acalma-do, mas, como escreve Góis, porquejá não tinham a quem matar, pois to-dos os cristãos-novos, escapados dafúria insana, foram postos a salvo porpessoas honradas...” D. Manuel I esta-va a caminho de Beja quando se ini-ciou o massacre. Alertado dos aconte-cimentos, despachou seus magistradospara pôr fim ao banho de sangue.

As tropas e os oficiais da Coroachegaram a Lisboa para restaurar aordem, com poderes especiais paracastigar os envolvidos no massacre.Foram confiscados os bens dos culpa-

dos, muitos dos quais acabaram pre-sos e enforcados, entre eles seus insti-gadores, os frades dominicanos. Háindícios de que o Convento de S. Do-mingos tenha ficado interditado du-rante oito anos, como punição real.

O Massacre de Lisboa e, trintaanos depois, o estabelecimento da In-quisição com a entrada em vigor doTribunal do Santo Ofício Inquisitorialem território luso, fizeram milhares deconversos abandonar o país. Algunsforam para o Norte da Europa, ondefundaram comunidades sefarditas emAmsterdã, Hamburgo, Antuérpia, en-tre outras. Houve também os que re-tornaram ao Oriente, estabelecendo-se na Turquia, bem como em outrospaíses e na Terra Santa.

O Massacre de Lisboa em 1506caiu no esquecimento. Hoje são pou-cos os historiadores que lhe fazem re-ferência. Em abril de 2006, meio milê-nio após os terríveis acontecimentos,os judeus de Portugal recordaram onefasto episódio. (extraído dewww.morasha.com.br)

Bibliografia:– Artigos de I a IX sobre os “500 Anos: Omassacre de Lisboa”, publicados no sitehttp://ruadajudiaria.com– Artigo de Ana Marques Gastão “Velas naPraça do Rossio pelo Pogrom de Lisboa”, pu-blicado no jornal Diário de Noticias no dia 16de abril de 2006.– Revista Tikvá n.º 57, 6º ano.

D. Manuel I estava a caminho de Beja quandose iniciou o massacre. Alertado dos aconteci-mentos, despachou seusmagistrados para pôr fimao banho de sangue.

Pierre Rehov é um cineastafrancês que já tinha feito seis do-cumentários sobre a intifada (rebe-lião) durante viagens ocultas a ter-ras palestinas. Seu filme mais re-cente, “Suicide Killers”[“Assassinos Suicidas”, lançado

nos Estados Unidos no começo de2006], é baseado em entrevistascom familiares de assassinos suici-das e com homens-bomba cujosatentados fracassaram, numa ten-tativa de descobrir os motivos quelevam essas pessoas a cometer tal

tipo de atentado. Após um debatena rede de TV americanaMSNBC, Pierre Rehov aceitouresponder algumas das minhasperguntas.

Pergunta: O que o inspirou aproduzir “Suicide Killers”, seu sé-timo filme?

Resposta: Eu comecei a trabalharcom vítimas de ataques suicidas parafazer um filme sobre PTSD (Perturba-ção Pós-traumática do Stress) e fiqueifascinado pela personalidade daquelas

A psicologia dos atentadospor homens-bomba

Page 18: Notícias de Israel - Ano 28 - Nº 10

pessoas que perpetravam esse tipo decrime, considerando as descrições queas vítimas faziam repetidamente deles.Especialmente pelo fato de esses ho-mens-bomba estarem sempre sorrindoum segundo antes de se explodirem.

– Por que esse filme é particu-larmente importante?

– As pessoas não compreendem acultura devastadora que se escondepor detrás desse fenômeno inacreditá-vel. Meu filme não é politicamente cor-reto, pois ele aborda o problema real:mostra a verdadeira face do Islã. Elemostra e acusa uma cultura de ódio,na qual pessoas sem qualquer educa-ção sofrem uma lavagem cerebral detal ordem que sua única solução na vi-da passa a ser matar a si mesmos e aoutros em nome de Alá, cuja palavra,segundo lhes disseram outros homens,tornou-se sua única segurança.

– Que tipo de percepção íntimavocê adquiriu a partir do filme? Oque você sabe agora que outrosespecialistas não sabem?

– Eu cheguei à conclusão de queestamos vivendo uma neurose ao nívelde uma civilização inteira... Nesse ca-so, estamos falando de crianças e jo-vens que vivem suas vidas em purafrustração... Como o Islã descreve o

céu como um lugar onde tudo será fi-nalmente permitido – e promete 72virgens a esses garotos frustrados –matar outras pessoas e matar a simesmos para alcançar a redenção tor-na-se a única solução.

– Como foi a experiência deentrevistar os homens-bombafrustrados em seus ataques, osseus familiares e as vítimas sobre-viventes dos atentados?

Foi uma experiência fascinante eaterradora ao mesmo tempo. Você es-tá lidando com pessoas aparentementenormais, de muito boas maneiras, comsua lógica própria e que, até certoponto, pode fazer sentido – já queelas estão convencidas de que o quedizem é verdade. É como lidar com asimples loucura, entrevistando pessoasnum sanatório: o que elas dizem é,para elas, a mais absoluta verdade.Eu ouvi uma mãe dizendo: “Graças aAlá, meu filho está morto”. Seu filhohavia se tornado um shahid (mártir), oque para ela era uma fonte de orgulhomaior do que se ele tivesse se tornadoum engenheiro, um médico ou um ga-nhador do Prêmio Nobel. Esse sistemade valores é completamente invertido,sua interpretação do Islã valoriza amorte muito mais do que a vida. Vocêestá lidando com pessoas cujo únicosonho, cujo único objetivo é realizaraquilo que elas acreditam ser seu des-tino: ser um shahid ou parente de umshahid. Eles não vêem as pessoas ino-centes que são assassinadas, eles en-xergam apenas os “impuros” que têmde destruir.

–Você disse [no debate ante-rior na MSNBC] que os homens-bomba experimentam um mo-mento de poder absoluto, acimade qualquer punição. Seria a mor-te o poder supremo?

– Não a morte como um fim, mascomo uma passagem para o “além-vi-da”. Eles buscam a recompensa queAlá lhes prometeu. Eles trabalham pa-ra Alá, a autoridade máxima, acima

de toda e qualquer lei dos homens. As-sim, eles experimentam esse momentoúnico e ilusório de poder absoluto, emque nada de mau pode atingi-los poiseles se tornaram a espada de Alá.

– Existe um perfil típico dapersonalidade de um homem-bomba? Descreva essa psicopato-logia.

– A maioria são jovens entre 15 e25 anos que carregam inúmeros com-plexos, geralmente complexos de infe-rioridade. Eles certamente foram dou-trinados religiosamente. Geralmentenão têm uma personalidade bem de-senvolvida. São usualmente idealistasbastante impressionáveis. No mundoocidental, eles facilmente se tornariamviciados em drogas – mas não crimi-nosos. É interessante, eles não são cri-minosos porque eles não enxergam obom e o mau como nós enxergamos.Se eles tivessem crescido na culturaocidental, eles detestariam a violência.Mas eles batalham constantementecontra a ansiedade da própria morte.A única solução para essa patologiatão profundamente arraigada é querermorrer e ser recompensado numa vidaapós a morte, no paraíso.

– Os homens-bomba são moti-vados principalmente por convic-ção religiosa?

– Sim, esta é a única convicção queeles possuem. Eles não agem assim pa-ra conquistar um território, ou para en-contrar liberdade, ou mesmo dignidade.Eles apenas seguem Alá, o juiz supre-mo, e aquilo que ele manda que façam.

– Todos os muçulmanos inter-pretam a jihad (guerra santa) e omartírio da mesma maneira?

Todos os muçulmanos religiososacreditam que, no final, o Islã prevale-cerá sobre a terra. Acreditam que asua é a única religião verdadeira enão há qualquer espaço, em suasmentes, para interpretações. A princi-pal diferença entre muçulmanos mode-rados e extremistas é que os modera-dos não acreditam que irão testemu-

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Mulher-bomba com seu filho.

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nhar a vitória absoluta do Islã duranteo tempo de suas vidas e, assim, elesrespeitam as crenças dos outros. Osextremistas acreditam que a realiza-ção da profecia do Islã e seu domíniosobre todo o mundo, como descrito noCorão, é para os nossos dias. Cadavitória de Bin Laden convence 20 mi-lhões de muçulmanos moderados a setornarem extremistas.

– Descreva-nos a cultura queforja os homens-bomba.

– Opressão, falta de liberdade, la-vagem cerebral, miséria organizada,entrega a Alá do comando sobre a vi-da cotidiana, completa separação en-tre homens e mulheres, ...destituiçãode qualquer tipo de poder às mulherese total encargo dos homens de zelarpela honra familiar, o que diz respeitoprincipalmente ao comportamento desuas mulheres.

– Quais as forças sócio-econô-micas que sustentam a perpetua-ção dos homens-bomba?

– A caridade muçulmana é geral-mente um disfarce para a assistência aorganizações terroristas. Mas deve-seobservar igualmente que países como oPaquistão, a Arábia Saudita e o Irã, quetambém dão apoio às mesmas organi-zações, utilizam-se de métodos diferen-tes. O irônico, no caso dos terroristassuicidas palestinos, é que a maior partedo dinheiro chega através do apoio fi-nanceiro fornecido pelo mundo ociden-tal, doado a uma cultura que, no fim dascontas, odeia e rechaça o Ocidente (sim-bolizado principalmente por Israel).

– Existe uma rede de incentivofinanceiro para as famílias dos ho-mens-bomba? Em caso positivo,quem faz os pagamentos e qual opeso desse incentivo sobre a deci-são [de animar um filho a se tor-nar um assassino suicida]?

– Havia um incentivo financeiro àépoca de Saddam Hussein (US$25.000 por família) e Yasser Arafat(valores menores), mas isso já é passa-do. É um erro acreditar que essas fa-

mílias sacrificariam seus filhos por di-nheiro. Entretanto, os próprios jovens,que são muito presos às suas famílias,costumam encontrar nessa ajuda fi-nanceira uma outra razão para se tor-narem homens-bomba. É como com-prar uma apólice de seguro e, depois,cometer suicídio.

– Por que tantos homens-bom-ba são jovens do sexo masculino?

– ...a sexualidade é fator sobera-no. Também o ego, pois esse é um ca-minho certo para se tornar um herói.Os shahid são os cowboys ou os bom-beiros do Islã. Ser um shahid é um va-lor positivamente reforçado nessa cul-tura. E qual criança nunca sonhou serum cowboy ou um bombeiro?

– Qual o papel desempenhadopela ONU nessa equação terrorista?

– A ONU está nas mãos dos paísesárabes, dos países do Terceiro Mundoou de antigos regimes comunistas. Éuma instituição de mãos atadas. AONU já condenou Israel mais vezes doque qualquer outro país do mundo, in-cluindo os regimes de Fidel Casto, IdiAmin ou Kadafi. Agindo dessa forma,a ONU deixa sempre o caminho livre,já que não condena abertamente asorganizações terroristas. Além disso,através da UNRWA [Agência das Na-ções Unidas de Assistência aos Refu-giados da Palestina] a ONU está dire-tamente conectada a orga-nizações terroristas como oHamas, que representa65% de todo seu aparelha-mento nos assim chama-dos campos de refugiadospalestinos. Como formade apoiar os países ára-bes, a ONU vem manten-do os palestinos nessescampos, na esperança do“retorno” a Israel, pormais de 50 anos – fazen-do, assim, com que sejaimpossível assentar essamassa populacional queainda vive em condições

deploráveis. Quatrocentos milhões dedólares são gastos anualmente, subsi-diados principalmente por impostosdos EUA, para sustentar 23.000 fun-cionários da UNRWA, muitos dosquais sabidamente pertencem a orga-nizações terroristas (sobre esse assun-to, consulte o meu filme “Hostages ofHatred” [Reféns do Ódio]).

– Você disse anteriormente queum homem-bomba é, simultanea-mente, uma “bomba estúpida” euma “bomba inteligente”. Podeexplicar o que isso significa?

– Diferentemente de um artefatoeletrônico, um homem-bomba tem, atéo último segundo, a capacidade demudar de idéia. Na verdade, ele é

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Foto de meninos vestidos comocombatentes no “Festival da Criança

Palestina” no Iêmen (publicada no site do Hamas).

Homens-bomba suicidas posando com o Corão.

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nada mais que uma plataforma polí-tica representando interesses alheiosa si mesmo – ele apenas não se dáconta disso.

Como podemos dar um fim na per-versidade desses ataques suicidas e doterrorismo em geral? Parando de serpoliticamente corretos e parando deacreditar que essa cultura é uma vítimada nossa. O islamismo radical hoje ésimplesmente uma nova forma de nazis-mo. Ninguém tentava justificar ou des-culpar Hitler na década de 1930. Nóstivemos que destruí-lo para que fossepossível a paz com o povo alemão.

– Esses homens têm viajadoem grande número para fora desuas regiões nativas? Com ba-se em sua pesquisa, você diriaque estamos começando a as-sistir a uma nova onde de ata-ques suicidas fora do OrienteMédio?

– Cada novo ataque terrorista bemsucedido é considerado uma vitóriapelos radicais do Islã. Em todos os lu-gares para onde o Islã se expande háconflitos regionais. Agora mesmo hámilhares de candidatos ao martírio fa-zendo fila nos campos de treinamento

da Bósnia, do Afeganistão, do Paquis-tão. Dentro da Europa, centenas demesquitas ilegais preparam o próximopasso da lavagem cerebral em jovensrapazes perdidos, que não conseguemencontrar uma identidade satisfatóriano mundo ocidental. Israel está muitomelhor preparado para lidar com essasituação do que o resto do mundo ja-mais estará. Sim, haverá mais ataquessuicidas na Europa e nos EUA. Infeliz-mente, isso é apenas o começo. (An-drew Cochran, “The AntiterrorismBlog” – extraído de www.DeOlhoNa-Midia.org.br)

Durante a guerra no Líbano, osisraelenses ficaram unidos, mas lo-go depois surgiram as críticas.Mesmo que o exército tenha com-

batido com sucesso, Israel pareceter perdido essa guerra.

À primeira vista, parece que Israelganhou todas as batalhas e alcançou

seus objetivos estratégicos antes docessar-fogo. Entretanto, diante dasmaciças críticas que surgiram entre oscidadãos após o fim da guerra, asopiniões a respeito parecem ser diver-gentes. Aparentemente, a maioria dosisraelenses acredita que o país ganhouas batalhas, mas perdeu a guerra.

A opinião pública israelense contavacom uma guerra de curta duração. De-sejava-se ver as Forças de Defesa de Is-rael (FDI) em ação, observando seu po-tencial posto em prática e alcançandouma vitória gloriosa. Isso corresponde àfama do espírito lutador das FDI. A res-peito, os israelenses recordam especial-mente a Guerra dos Seis Dias em 1967,mas lembram também como foram ca-pazes de reverter a situação após o ata-que-surpresa dos vizinhos árabes em1973 (na Guerra do Yom Kippur).

Como nada disso aconteceu naguerra de 2006 e logo ficou claro queos combatentes do Hizb’allah (Partidode Alá) eram não apenas terroristas,mas soldados iranianos bem treinadose equipados, a opinião pública israe-lense mudou. O resultado: os líderespolíticos e militares sofrem pesadascríticas e ouve-se constantemente aacusação de que não foi Israel, e simo Hizb’allah, que ganhou essa guerra.(Zwi Lidar)

Críticas à liderançaisraelense

Batalhas ganhas – guerra perdida?

Manifestantes israelenses exigem investigações sobre a condução da guerra no Líbano.