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UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA FACULDADE DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
CURSO DE GRADUACcedilAtildeO EM EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA
DOUGLAS ALVES
O ESPORTE E A LOacuteGICA CAPITALISTA
Piracicaba 2007
UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA FACULDADE DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
CURSO DE GRADUACcedilAtildeO EM EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA
DOUGLAS ALVES
O ESPORTE E A LOacuteGICA CAPITALISTA
Monografia apresentada na disciplina Trabalho de Conclusatildeo de Curso II na aacuterea de Pedagogia do Movimento Corporeidade e Lazer sob a supervisatildeo da Profordf Drordf Eline Porto como requisito parcial para conclusatildeo do curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica da Universidade Metodista de Piracicaba
Orientador ProfordmMs Rodrigo Batagello Orientador Colaborador Profordm Ms Ricardo Ducatti Colpas
Piracicaba 2007
Dedico aos meus amigos e amigas de infacircncia da rua projetada um Quitauacutena ndash SP um bom lugar muito obrigado pelas diversotildees brincadeiras respeito lealdade e amizade insubstituiacutevel
A professora Neuza que me ensinou a interpretar os primeiros textos e meus amigos e amigas da escola General Antocircnio de Sampaio Osasco - SP
A minha primeira treinadora de atletismo Faacutetima Aparecida Adatildeo e ao meu treinador Maacuterio Luiacutes de Almeida Leme que sempre me apoiaram nas pistas e nos estudos me ensinando o caminho justo e leal da vitoacuteria
Aos meus pais Paulino Modesto Alves e Maria das Graccedilas Alves pelo amor ensinamentos e apoio constante e incondicional
Ao meu irmatildeo Valdeci e sua famiacutelia pelo olhar carinhoso e atencioso
Agradecimentos
Aos meus amigos
Ricardo Forti pela amizade leal e intensa Pelos conselhos e companheirismo desde os
tempos de escola Por compartilhar comigo os mesmo desejos e sonhos de justiccedila igualdade e
por uma sociedade mais fraterna
Faacutebio Clementino pelo companheirismo ao longo desta caminha na vida esportiva e
acadecircmica cheia de obstaacuteculos duacutevidas e incertezas Pela troca de conhecimento pelos
sinceros elogios e por ser um amigo sempre presente
Edson Joseacute Modesto pelo respeito e confianccedila Pelos debates que fizemos ao longo
desse uacuteltimo semestre (tempos de monografia) dentro do ocircnibus sendo que estas discussotildees
contribuiacuteram em muito para a nossa formaccedilatildeo da ldquoconsciecircncia criacuteticardquo e atitudes
multiplicadoras e pelo seu compromisso com os menos favorecidos
Aos professores(as)
Rodrigo Batagello pela amizade e orientaccedilatildeo deste trabalho Por indicar-me os
instrumentos da teoria marxista para lutar contra o capitalismo
Ricardo Ducatti Colpas pela co-orientaccedilatildeo e pela amizade fraterna Pela socializaccedilatildeo
de conhecimentos e por se mostrar afetivamente compromissado pela transformaccedilatildeo
revolucionaacuteria da sociedade
Eline Porto por seus ensinamentos em sala de aula Pela admiraccedilatildeo carinho e respeito
que pode perceber durante minha passagem pela academia
Em especial
A todos meus colegas da Equipe de Atletismo de Piracicaba
Ao Professor Francisco Mauacuteri de Carvalho Freitas pela contribuiccedilatildeo que suas obras
revolucionaacuterias deram-me para transformar a Educaccedilatildeo Fiacutesica em especial a A MISEacuteRIA DA
EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA que tive o conhecimento quando esse trabalho estava sendo finalizado
Agrave minha famiacutelia e a Deus por me dar sauacutede e tempo para construir minhas coisas
[] os criadores do mito Homo Sportivus por falta de compromisso poliacutetico com a transformaccedilatildeo operaacuteria da sociedade e pela ausecircncia de uma cultura filosoacutefica marxista servem de ldquomoccedilos de recadosrdquo ldquomeninosshypropagandardquo para um ldquodispositivordquo poliacutetico que privilegia o supeacuterfluo dos ricos em detrimento do estritamente necessaacuterio dos pobres ou do proletariado de meacutedia e baixa renda Verdadeiramente satildeo serviccedilais de luxo do capitalismo agrave brasileira em ldquoreconstruccedilatildeo colloridardquo que perpetua a decomposiccedilatildeo e a degradaccedilatildeo coletiva da classe operaacuteria excetuando a aristocracia operaacuteria gerando um enorme exeacutercito de homens famintos e de marginais verdadeiros psicoacuteticos ensandecidos
Francisco Maacuteuri de Carvalho Freitas
RESUMO
O objetivo desse trabalho eacute estudar como ocorre processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte numa sociedade que assume os valores capitalistas Para tanto iremos utilizar os instrumentais teoacutericos oferecidos pela perspectiva marxiana Segundo o referencial teoacuterico adotado tentaremos demonstrar como o esporte pode ser considerado um instrumento poliacuteticoideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por uma minoria economicamente dominante Desse modo pretendemos demonstrar como a ideacuteia de competitividade superaccedilatildeo de limites etc refletem na realidade as expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado Dentro desse contexto abordaremos como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte e sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo onde os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam receber em troca um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Este trabalho seraacute desenvolvido atraveacutes de uma pesquisa qualitativa de cunho exploratoacuterio por meio do meacutetodo dialeacutetico delineada pela teacutecnica de pesquisa bibliograacutefica Palavras-chave capitalismo-marxismo mercantilizaccedilatildeo e esporte
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeOp07
1 - Conceitos Fundamentais do Pensamento Marxianop11
11 O trabalho animalp12
12 Caracteriacutesticas do trabalho humanop14
13 Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienadop20
14 Ideologiap24
15 Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestruturap25
2 - Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moedap30
21 O esporte moderno e seu uso poliacuteticop30
22 O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estadop35
23 O esporte e sua estrutura capitalistap39
3 - O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esportep46
31 Esporte-espetaacuteculo e sociedadep46
32 Mercantilizaccedilatildeo do esportep51
CONSIDERACcedilOtildeES FINAISp59
REFEREcircNCIASp61
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INTRODUCcedilAtildeO
Ao ingressar na universidade no ano de 2002 no curso de Licenciatura em
Matemaacutetica posso lhes dizer que foi neste momento da minha vida acadecircmica que me levou a
fazer este trabalho de conclusatildeo de curso fundamentado na teoria de marxiana Mas natildeo pelo
que aprendi dentro das salas de aulas mas fora delas
Sendo influenciado e persuadido pelo meu amigo Ricardo Forti que na eacutepoca era viceshy
presidente do Diretoacuterio Central dos Estudantes ndash DCE e pelo interesse que sempre tive em
participar de movimentos estudantis e poliacuteticos tive a oportunidade de atuar e participar em
vaacuterias frentes nesses movimentos tais como o Centro Acadecircmico de Matemaacutetica qual fui
vice-presidente e presidente participaccedilotildees no DCE e nos movimento negros entre eles
destaco o Nuacutecleo de Afrodescendente da Unimep ndash NADU ONG Afrobras (Sociedade Afro-
Brasileira de Desenvolvimento Soacutecio Cultural) e da Associaccedilatildeo dos Universitaacuterios negros e
negras de Piracicaba ndash AUEcirc sendo este uacuteltimo uma associaccedilatildeo que ajudei a construir E
posteriormente no C A de Educaccedilatildeo Fiacutesica em 2005
Mas de todos estes movimentos estudantis e poliacuteticos que participei um tem uma
importacircncia decisivo para minha formaccedilatildeo Destaco o 1ordm Encontro da Juventude do Campo e
da Cidade realizado na Mooca em 2002 cidade de Satildeo Paulo e organizado pelo Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra ndash MST Foi neste encontro que pude observar os debates
sobre a teoria de Marx onde todos ali presentes demonstravam o compromisso pela luta de
classes em especial para com os menos favorecidos
Outro fato que me marcou foi a forma na qual todos noacutes discutiacuteamos sobre as questotildees
que o mundo estava passando dentro de uma contexto capitalista Todos sentados no chatildeo em
forma de ciacuterculo Numa dessas rodas ouvi falar de Paulo Freire e sua preocupaccedilatildeo em
desenvolver nos cidadatildeos e cidadatildes a ldquoconsciecircncia criacuteticardquo
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Voltando aos dias de aula na universidade todas aquelas questotildees que vivenciei
naquele momento da roda de conversa passei a debater comigo mesmo tentando descobrir
onde e em que lugar poderia aplicaacute-las
Ainda sobre minha passagem pelo curso de Matemaacutetica conheci um estudante que
estava concluindo o curso de Filosofia o qual me chamou a atenccedilatildeo pelo seu compromisso
com alguns movimentos sociais seu nome Rodrigo Batagello
Passados dois anos e meio segundo semestre de 2004 transfiro-me para o curso de
Educaccedilatildeo Fiacutesica da mesma instituiccedilatildeo e em 2006 fazendo a disciplina de estaacutegio
supervisionado como componente obrigatoacuterio do curriacuteculo na aacuterea da Educaccedilatildeo Fiacutesica
escolar encontro as mesmas praacuteticas vividas por mim no encontro do MST sendo aplicadas
nas aulas de educaccedilatildeo fiacutesica As rodas de conversa as discussotildees sobre as questotildees da nossa
sociedade das relaccedilotildees sociais e sobre a aula em si
Durante o meu estaacutegio conheci o professor do Instituto Educacional Piracicabano ndash
Coleacutegio Piracicabano Ricardo Colpas e este me revelou a Educaccedilatildeo Fiacutesica revolucionaacuteria e
sua colaboraccedilatildeo na transformaccedilatildeo da realidade social atraveacutes da praacutetica corporal A
abordagem utilizada pelo professor a Criacutetico-Superadora estabelece criteacuterios para a
sistematizaccedilatildeo dessa disciplina no acircmbito da escola e se apresenta pautada num projeto
histoacuterico de sociedade que tem como princiacutepio a superaccedilatildeo da sociedade capitalista Esta
abordagem eacute fundamentada em Marx
Portanto a linha de estudo que tomaremos para o desenvolvimento deste trabalho eacute
construiacutedo graccedilas a um processo que tive no iniacutecio da minha vida acadecircmica e que hoje tenho
como professor orientador Rodrigo Batagello que atualmente ministra aulas de Filosofia e
Eacutetica no curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica da Unimep e como co-orientador o professor Ricardo
Colpas sendo ambos responsaacuteveis pela concretizaccedilatildeo desse meu sonho Ou seja discutir a
influecircncia do capitalismo no esporte
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Podendo ser observada as constantes transformaccedilotildees que vem ocorrendo no mundo
por conta de um sistema econocircmico contraditoacuterio que priva uma classe social por interesses
particulares em detrimento dos interesses de uma classe economicamente dominante acabam
influenciando as estruturas de uma sociedade a fim de manter os interesses dominantes
vigentes E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural que estaacute instituiacutedo na vida de muita
gente no mundo inteiro vem ao longo do tempo sendo influenciado por uma ideologia
dominante capaz de transformaacute-lo em mercadoria
A justificativa desse presente trabalho eacute buscar uma maior reflexatildeo sobre o esporte
inserido numa sociedade que assumiu os valores capitalistas a partir de um ponto de vista
criacutetico tentando compreender como o esporte faz sua relaccedilatildeo com esta sociedade de tal
forma que tudo o que se vecirc e consume faz parte de um ideal jaacute determinado
Portanto partindo de algumas inquietaccedilotildees levantamos algumas problematizaccedilotildees que
devem ser respondidas ao decorrer desse nosso trabalho satildeo elas 1) o esporte assume os
valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer preccedilo 2) o esporte pode ser
considerado como um instrumento ideoloacutegico do Estado 3) o esporte jaacute foi utilizado para fins
poliacuteticos 4) como quando e porque o esporte tornou-se mercadoria 5) qual a necessidade de
se entender a mercantilizaccedilatildeo do esporte num contexto de sociedade de consumo
No primeiro capiacutetulo estudaremos o conceito de trabalho na visatildeo marxiana
considerando as questotildees da divisatildeo social do trabalho trabalho alienado infra e
superestrutura e ideologia por fim um estudo da relaccedilatildeo da sociedade e do capitalismo bem
como suas definiccedilotildees num conceito marxiano para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista No segundo capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte
com o capitalismo levando em consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de
mercadorias pelos quais os meios de produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse
sistema capitalista reflete na realidade as expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo
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de produccedilatildeo determinado Aleacutem de assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e
rendimento a qualquer custo tambeacutem eacute utilizado como instrumento ideoloacutegico de Estado e
politicamente como elemento disciplinador higienista e alienador que emprega valores
nacionalistas e ateacute raciais Finalmente no terceiro capiacutetulo discutiremos como ocorre o
processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte levando em consideraccedilatildeo a sua transformaccedilatildeo em
espetaacuteculo e da influecircncia que a sociedade de consumo exerce sobre ele
O objetivo deste trabalho eacute estudar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte numa sociedade que assume valores capitalistas levando em consideraccedilatildeo a estrutura
de funcionamento do sistema capitalista a partir de uma perspectiva marxiana e assim
procurar estabelecer uma criacutetica em torno da mesmice que existe sobre o esporte Por
conseguinte tendo como metodologia o desenvolvido de uma pesquisa qualitativa de cunho
exploratoacuterio por meio do meacutetodo dialeacutetico delineada pela teacutecnica de pesquisa bibliograacutefica
(GIL 1996)
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1 - Conceitos Fundamentais do Pensamento Marxiano
ldquoA liberdade jamais seraacute dada pelo opressor Ela tem que ser conquistado pelo oprimidordquo
Martin Luther King
Partindo inicialmente da noccedilatildeo geral de que o objetivo amplo do marxismo eacute
interpretar a realidade para depois transformaacute-la consideramos que
[] o marxismo natildeo eacute uma teoria cientifica como as outras natildeo visa simplesmente descrever ou explicar mas visa transformar a realidade visa uma transformaccedilatildeo revolucionaacuteria Trata-se portanto de compreender a realidade para transformaacute-la revolucionariamente a partir de um ponto de vista de classe do ponto de vista das classes dominadas (LOumlWY 1998 18)
Esta compreensatildeo de transformar a realidade revolucionariamente parte do princiacutepio
de que quando as nossas ideacuteias sobre a sociedade visam transformaacute-la e quanto mais
entendemos a importacircncia desse processo de transformaccedilatildeo mais lutamos para que ele ocorra
(LOumlWY 1998)
Mesmo natildeo sendo um filoacutesofo a obra de Karl Marx exerceu grande repercussatildeo e
alcanccedilou uma importacircncia filosoacutefica capaz de influenciar diversas aacutereas como a histoacuteria
poliacutetica economia sociologia entre outras Os conceitos econocircmico-filosoacuteficos e ideacuteias
revolucionaacuterias marxianas foram fundamentais para o seacuteculo XX pois ofereceram o
instrumental teoacuterico necessaacuterio para uma profunda reconsideraccedilatildeo sobre os processos de
formaccedilatildeo da consciecircncia associando a produccedilatildeo da vida intelectual ao contexto da produccedilatildeo
da vida material e criaram as consideraccedilotildees necessaacuterias para libertar o homem do caacutercere no
qual a metafiacutesica lhe havia encarcerado Marx procurava atraveacutes da sua filosofia
contestadora criticar a modernidade pelo seu proacuteprio processo de desenvolvimento
combatendo os preconceitos as supersticcedilotildees e o falso saber provindo das antigas filosofias
(MARCONDES 1997)
Um dos conceitos fundamentais que Marx discute em sua teoria eacute o conceito de
trabalho considerando-o como relaccedilatildeo fundamental entre o sujeito e o objeto Segundo Marx
ldquoo trabalho eacute uma relaccedilatildeo invariante entre a espeacutecie humana e seu ambiente natural uma
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perpeacutetua necessidade natural da vida humanardquo (MARCONDES 1997 229) Contudo antes
de investigarmos em profundidade as caracteriacutesticas do trabalho humano eacute necessaacuterio
entendermos quais satildeo as diferenccedilas entre o trabalho humano e o trabalho animal
11 - O trabalho animal
A atividade dos animais que se encontram nos niacuteveis mais baixos da escala zooloacutegica
de desenvolvimento se caracteriza por ser um conjunto de accedilotildees instintivas orientadas por leis
bioloacutegicas como eacute o caso dos insetos Se observarmos com atenccedilatildeo uma aranha tecendo uma
teia natildeo podemos dizer que isto eacute um trabalho porque este ato natildeo possui histoacuteria ou seja
natildeo eacute modificado ao longo de sua vida Este ato de tecer uma teia com extrema habilidade eacute
padronizado e soacute eacute modificado se ocorrer uma evoluccedilatildeo de sua espeacutecie ou por algum tipo de
mutaccedilatildeo geneacutetica A construccedilatildeo de alguma coisa por parte do animal natildeo tem como finalidade
promover condiccedilotildees melhores de vida mas
[] em certas aves chamadas tendilhotildees o haacutebito de fazer ninhos tiacutepicos da espeacutecie eacute tatildeo fixo que apoacutes cinco geraccedilotildees em que essas aves eram criadas por canaacuterios ainda continuavam a construiacute-los como antes (ARANHA ARTINS 1993 03)
Os animais mamiacuteferos que se encontram em melhor colocaccedilatildeo na escala zooloacutegica ou
em niacuteveis mais altos passam a transcender suas accedilotildees instintivas para uma categoria de atos
inteligentes Um exemplo eacute quando se coloca o chimpanzeacute com fome dentro de uma jaula e
nela estatildeo penduradas bananas que o animal natildeo consegue alcanccedilar mas resolve este
problema quando pega o caixote e coloca-o debaixo das bananas para pegaacute-las ou seja a
partir de uma visatildeo global do ambiente o chimpanzeacute estabelece uma relaccedilatildeo entre o caixote e
a banana (ARANHA MARTINS 1993)
Para solucionar este problema o chimpanzeacute natildeo conta com uma accedilatildeo imediata mas a
soluccedilatildeo depende da sua capacidade intelectual de estabelecer uma relaccedilatildeo entre o caixote e as
bananas Assim a sua inteligecircncia o distingue do inseto contudo ainda se trata de um tipo de
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inteligecircncia concreta estabelecida no ato da situaccedilatildeo real e ldquomesmo que alguns animais
organizem sociedades mais complexas [] natildeo haacute nada que se compare agraves transformaccedilotildees
realizadas pelo homem enquanto criador da culturardquo (ARANHA MARTINS 1993 04)
Mesmo que um animal realize uma accedilatildeo transformadora que possa ser reconhecida
como um tipo especiacutefico de trabalho (por exemplo o joatildeo-de-barro que constroacutei sua casinha)
este trabalho natildeo eacute consciente e nem pode ser considerado criativo pois sempre que o joatildeoshy
de-barro ou qualquer outro animal criar resultados materiais estes resultados seratildeo iguais
para todos os sujeitos pertencentes a uma mesma espeacutecie Aleacutem disso as teacutecnicas e o
processo de construccedilatildeo tambeacutem seratildeo idecircnticos para os membros de uma mesma espeacutecie
situaccedilatildeo que nos forccedila a reconhecer que a accedilatildeo do indiviacuteduo natildeo pode ser considerada um ato
criativo ou reflexivo Jaacute o trabalho humano se caracteriza por ser uma accedilatildeo consciente capaz
de reproduzir e cria novas teacutecnicas a fim de transformar a natureza de acordo com a sua
necessidade humana e mudar a sua maneira de agir perceber pensar e sentir o mundo que o
cerca O trabalho humano eacute uma atividade consciente e transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio (ARANHA MARTINS 1993)
Os animais permanecem mergulhados na natureza e as espeacutecies vivem apenas o
presente de modo que o acuacutemulo de suas accedilotildees e experiecircncias natildeo se revertem em
aprendizado Isso significa que o trabalho animal natildeo estaacute submetido agrave mesma loacutegica que
preside a atividade humana que se desenvolve graccedilas ao movimento dialeacutetico produzido pelo
conflito entre consciecircncia e materialidade (ARANHA MARTINS 1993)
A accedilatildeo humana que transforma o mundo natural (realidade estritamente material) em
mundo cultural onde
[] cultura significa tudo o que o homem produz ao construir sua existecircncia as praacuteticas as teorias as instituiccedilotildees os valores materiais e espirituais Se o contato que o homem tem com o mundo eacute intermediado pelo siacutembolo a cultura eacute o conjunto de siacutembolos elaborados por um povo em determinado tempo e lugar Dada a infinita possibilidade de simbolizar as culturas dos povos satildeo muacuteltiplas e variadas (ARANHA MARTINS 1993 06)
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Esta questatildeo do trabalho pelo qual o homem transforma a natureza e a si proacuteprio
diferenciando-se dos demais animais seraacute desenvolvido no proacuteximo item
12 - Caracteriacutesticas do trabalho humano
A histoacuteria do desenvolvimento das teacutecnicas e dos processos de transformaccedilatildeo da
realidade se confunde com a histoacuteria do desenvolvimento da humanidade De acordo com
Dantas (1986) os homens tiveram que aprender a trabalhar desde a origem da humanidade
para sobreviverem e satisfazer suas necessidades produzindo e reproduzindo meios de
subsistecircncia Este trabalho praticado pelo qual o homem se distingue do trabalho animal eacute
criativo enquanto o do animal eacute simplesmente instintivo
De acordo com Carosi (1963) trabalho eacute a atividade transformadora onde se
empregam forccedilas humanas fiacutesicas e intelectuais com o objetivo de moldar o mundo natural
de acordo com as necessidades individuais ou coletivas de subsistecircncia Ou seja o trabalho
tornasse o emprego das energias humanas para diferenciar das accedilotildees de um animal e do
funcionamento de uma maacutequina pois eacute direcionado pela inteligecircncia e pela sustentaccedilatildeo da
vontade do homem
Conforme Braverman (1977) apoderar-se dos materiais da natureza assim como
ocorre com os vegetais que absorvem minerais e luz do sol e animais que se alimentam de
vida vegetal natildeo pode ser considerado trabalho Pois o trabalho eacute uma atividade que
transforma o estado natural desses materiais de modo que possam ser utilizados para
satisfazer as necessidades da espeacutecie humana
Para Braverman (1977) natildeo se trata agora de analisar as semelhanccedilas do trabalho
humano com o trabalho dos outros animais mas sim as diferenccedilas que os distanciam um do
outro Ao utilizar o termo trabalho para designar a atividade criativa peculiar do homem
Marx enfatiza que ldquonatildeo se trata aqui das primeiras formas instintivas animais de trabalhordquo
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(MARX 1996 297) Uma aranha realiza funccedilotildees que se assemelha a dos tecelotildees e a abelha
envergonha muitos arquitetos na construccedilatildeo de seus alveacuteolos Mas o que realmente distingue
o pior arquiteto humano da melhor abelha eacute que o humano cria em sua mente o corticcedilo antes
de transformaacute-lo em realidade No fim do processo o resultado sai de acordo com a
imaginaccedilatildeo na qual o trabalho teve no iniacutecio Ou seja o homem transforma o material de
acordo com sua vontade e imprime no real a forma de sua consciecircncia (MARX 1996)
O trabalho entendido aqui como uma atividade adequada a um fim distingue-se dos
animais que procuram apenas a satisfaccedilatildeo das suas necessidades bioloacutegicas Atraveacutes dele os
homens produzem sua proacutepria existecircncia mas antes de tudo
[] o trabalho eacute um processo entre o homem e a Natureza um processo em que o homem por sua proacutepria accedilatildeo media regula e controla seu metabolismo com a Natureza Ele mesmo se defronta com a mateacuteria natural como uma forccedila natural Ele potildee em movimento as forccedilas naturais pertencentes a sua corporalidade braccedilos e pernas cabeccedila e matildeo a fim de apropriar-se da mateacuteria natural numa forma uacutetil para sua proacutepria vida Ao atuar por meio desses movimentos sobre a Natureza externa e ao modificaacuteshyla ele modifica ao mesmo tempo sua proacutepria natureza Ele desenvolve as potecircncias nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forccedilas a seu proacuteprio domiacutenio (MARX 1996 297)
Por essa forma o trabalho humano eacute consciente e proposital Jaacute o trabalho dos outros
animais eacute instintivo Podemos observar quando uma largata completa a segunda metade de
seu casulo sem se importar com a primeira (BRAVERMAN 1977)
Carosi (1963) diferencia o trabalho do homem do trabalho animal pois o primeiro
possui capacidades para fazer algo atraveacutes de seus dons e ideacuteias para atingir o que tem que ser
feito enquanto que no animal nada disso pode ser observado Conforme Carosi (1963 588)
ldquodiz-se que o animal trabalha que a maacutequina trabalha mas eacute certamente um modo muito
improacuteprio de expressatildeo [] Eacute mais correto dizer que o animal e a maacutequina satildeo instrumentos
de trabalhordquo Pois desta forma o trabalho esta interiorizado na moralidade do homem de
forma que sua produccedilatildeo eacute uma virtude agrave medida que consegue as condiccedilotildees necessaacuterias
mediante o trabalho para si ou para os outros
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O homem consegue distinguir-se do animal pelo trabalho sendo este uma relaccedilatildeo
dialeacutetica da teoria com a praacutetica que possibilita ao homem desenvolver sua imaginaccedilatildeo e
habilidade uma vez que sua accedilatildeo eacute antecipada pelo pensamento conseguindo modificar um
objeto ao mesmo tempo em que sua accedilatildeo tambeacutem eacute alterada gerando o seu processo
histoacuterico onde o trabalho tornasse a condiccedilatildeo fundamental para o homem alterar a sua visatildeo
perante o mundo e a si mesmo (ARANHA MARTINS 1993)
Outro conceito fundamental para entendermos a diferenccedila entre o homem e o animal eacute
a sua condiccedilatildeo de trabalho a que cada um deles estaacute submetido Afinal ldquoo homem eacute um ser
que trabalha e produz o mundo e a si mesmo O animal natildeo produz a sua existecircncia mas
apenas a conserva agindo instintivamente []rdquo (ARANHA MARTINS 1993 05)
Sobre a necessidade e a utilidade do trabalho Carosi (1963 589) afirma que
O trabalho eacute aleacutem disso fonte de prosperidade tudo vem da natureza mas nada vem sem o trabalho Se a natureza fosse abandonada a si proacuteprio pelo homem ocioso natildeo lhe oferecia sequer o necessaacuterio para viver com o trabalho ela concede-lhe as maravilhas e comodidade do programa acima de suas necessidades (CAROSI 1963 589)
O trabalho humano armazenado ou exercido em ferramentas maquinarias ou em
animais eacute um recurso utilizado exclusivamente pela competecircncia humana para explorar a
natureza Assim como todos os processos vitais de um corpo humano como os muacutesculos
ceacuterebros satildeo inseparaacuteveis do indiviacuteduo o trabalho tambeacutem eacute uma propriedade inalienaacutevel do
indiviacuteduo humano Portanto tornasse impossiacutevel satisfazer as necessidades baacutesicas em lugar
de outra pessoa que natildeo seja si proacuteprio Entretanto quando um proprietaacuterio utiliza os serviccedilos
de um animal simplesmente canaliza a forccedila e suas resistecircncias naturais desse animal
Todavia ao utilizar abelhas para a produccedilatildeo de mel ou de carneiros para a produccedilatildeo de latilde o
proprietaacuterio soacute tira vantagens das condiccedilotildees bioloacutegicas das atividades dos animais Mas ao
utilizar a forccedila de trabalho do animal o homem ao mesmo tempo utiliza a sua para obter
atraveacutes do trabalho animal as miacutenimas condiccedilotildees variaacuteveis do trabalho concreto
(BRAVERMAN 1977) Sendo assim
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O que distingue a forccedila de trabalho humano eacute portanto natildeo sua capacidade de produzir um excedente mas seu caraacuteter inteligente e proposital que lhe daacute infinita adaptabilidade e que produz as condiccedilotildees sociais e culturais para ampliar sua proacutepria produtividade de modo que seu produto excedente pode ser continuamente ampliado (BRAVERMAN 1977 58)
Portanto eacute o homem que constroacutei e produz sua proacutepria histoacuteria transformando a
natureza e a si proacuteprio a partir de uma accedilatildeo humana e coletiva caracterizando o trabalho
como uma tarefa social onde todas as diferenccedilas que existem na sociedade satildeo fundamentais
para que se organizem na construccedilatildeo da vida social econocircmica e poliacutetica Mesmo a sociedade
sendo formada pelas relaccedilotildees sociais o homem natildeo perde a sua individualidade o que faz
com que se diferencie dos demais Todavia esta contradiccedilatildeo de viver numa sociedade que
opotildee a alienaccedilatildeo agrave liberdade eacute fundamental para manter a dialeacutetica em constante sintonia
(ARANHA MARTINS 1993)
Aleacutem do trabalho o homem possui outras condiccedilotildees que o diferencia do animal Um eacute
o ato voluntaacuterio e consciente da finalidade de seu uso e o outro eacute a fala O ato consciente
primeiramente existe antes como pensamento e este pode ser utilizado para atingir os fins
propostos pela livre vontade do agente Jaacute a fala e as palavras fazem parte da essecircncia do
universo humano distinguindo-o do animal pois este natildeo conhece a simbologia mas
somente os iacutendices que indicam sempre a mesma coisa especiacutefica Jaacute o siacutembolo aleacutem de ser
universal eacute flexiacutevel podendo uma palavra ter diversos entendimentos (ARANHA
MARTINS 1993)
A linguagem e a palavra determinam a condiccedilatildeo na qual o homem e o animal se
desencontram distanciando-o pelo fato da linguagem animal visar a adaptaccedilatildeo ao concreto
enquanto a linguagem humana interveacutem como uma forma abstrata Portanto mesmo quando
um animal conseguir solucionar um problema complexo a sua inteligecircncia ainda seraacute
concreta tratando-se de uma experiecircncia vivida no momento exato enquanto que para o
homem a linguagem por siacutembolos e abstrata permite distanciar-se do mundo e voltar para
transformaacute-lo (ARANHA MARTINS 1993)
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Ao dizer que o homem fala trabalha e pelo trabalho transforma a natureza e a si
proacuteprio nada disso teraacute sentido se natildeo enfatizarmos que a accedilatildeo do ser humano eacute uma accedilatildeo
coletiva Pois o trabalho eacute uma funccedilatildeo social e a palavra eacute um meio de diaacutelogo (ARANHA
MARTINS 1993)
Os estudos experimentais sobre o comportamento animal demonstram que eles natildeo
satildeo totalmente privados da capacidade de aprender e conceber ideacuteias de caraacuteter inicial ou
mesmo aprender a resolver os problemas mais simples que sejam portando
Assim uma criatura dotada de sistema nervoso tatildeo primitivo como a minhoca pode aprender a passar por um labirinto os chimpanzeacutes podem ser estimulados a inventar e fazer instrumentos tais como estender vara que lhes permitem atingir o alimento ou empilhar caixas para o mesmo fim (BRAVERMAN 1977 52)
Conclui-se que a diferenccedila entre o homem e o animal natildeo estaacute apenas em grau mas
em espeacutecie cujo haacute uma imensa distacircncia entre aprender as capacidades conceituais do ser
humano em comparaccedilatildeo aos animais mais adaptaacuteveis Ou seja aos animais natildeo foi possiacutevel
ensinar-lhes a capacidade de manipular representaccedilotildees simboacutelicas e a linguagem articulada
Sem a aprendizagem das capacidades simboacutelicas e da linguagem os animais permanecem
com o seu pensamento conceitual a um niacutevel rudimentar que natildeo pode ser transmitido atraveacutes
do grupo (BRAVERMAN 1977)
Aranha e Martins (1993) tambeacutem afirmam ao dizer que as diferenccedilas entre o homem e
o animal natildeo eacute apenas em grau pois enquanto o animal vive dentro da natureza o homem a
utiliza e transformaacute-a em uma possiacutevel cultural O entendimento de cultura para os
antropoacutelogos eacute tudo aquilo que o homem consegue produzir ao construir sua existecircncia
como por exemplo as praacuteticas as teorias os valores materiais entre outros
Portanto eacute pelo trabalho que o homem consegue construir sua proacutepria histoacuteria sendo
que o ldquotrabalho que ultrapassa a mera atividade instintiva eacute assim a forccedila que criou a espeacutecie
humana e a forccedila pela qual a humanidade criou o mundo como o conhecemosrdquo
(BRAVERMAN 1977 53)
19
Aranha e Martins (1993) afirmam que o processo de construccedilatildeo da humanidade se faz
pela relaccedilatildeo entre os homens e a sua consciecircncia emerge lentamente atraveacutes dos conflitos
entre essas relaccedilotildees Entatildeo sobre cai ao homem agrave responsabilidade de manter viva a dialeacutetica
atraveacutes de suas contradiccedilotildees sendo que o ser humano ao mesmo tempo em que eacute um ser
social tambeacutem possui uma individualidade que eacute fundamental para distingui-lo dos demais
ldquoPortanto a sociedade eacute a condiccedilatildeo da alienaccedilatildeo e da liberdade eacute a condiccedilatildeo para que o
homem se perca mas tambeacutem de se encontrarrdquo (ARANHA MARTINS 1993 07)
13 - Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienado
A transiccedilatildeo do periacuteodo do feudalismo para o capitalismo foi marcada pelo nascimento
das faacutebricas onde ocorria uma acumulaccedilatildeo de capital que permitia comprar mateacuteria-prima e
maacutequinas para ampliar o seu mercado Os artesatildeos vendo o forte crescimento das faacutebricas e
percebendo que era impossiacutevel competir contra elas tiveram que vender a sua forccedila de
trabalho em troca de um salaacuterio e se adequar a divisatildeo de trabalho que estabelecia ritmo e
horaacuterio (ARANHA MARTINS 1993)
Ainda em relaccedilatildeo ao trabalho como meio de subsistecircncia para a sobrevivecircncia do ser
humano Dantas (1986) afirma que num determinado periacuteodo esta concepccedilatildeo passou a ser
alheia ao trabalhador Como a divisatildeo do trabalho estava no iniacutecio de seu desenvolvimento o
trabalho era organizado e entendido como familiar onde todos os adultos tinham sua
participaccedilatildeo inclusive aos idosos onde cabia a responsabilidade de distribuir as funccedilotildees Os
materiais para a realizaccedilatildeo do trabalho aleacutem de serem poucos eram rudimentares mas
suficientes para conseguir produtos para suprir as necessidades de todos Ainda citando
Dantas (1986) seus estudos apresenta ter um entendimento da divisatildeo do trabalho a partir do
periacuteodo feudal onde houve um acirramento da separaccedilatildeo entre campo e cidade que foi
crucial para o desenvolvimento daquele fenocircmeno no seu formato moderno No campo o
20
trabalho tem como caracteriacutestica a servidatildeo e era realizado na terra sendo esta propriedade do
senhor Os servos eram responsaacuteveis pela produccedilatildeo de meios materiais para si e para os
senhores Jaacute na cidade a divisatildeo do trabalho se dava dentro das pequenas oficinas onde o
artesatildeo que era dono dos seus meios de produccedilatildeo e sua famiacutelia seus auxiliares que com suas
habilidades determinavam um produto final
De acordo com Catani (1984 20) ldquoa divisatildeo social do trabalho eacute outra condiccedilatildeo
preacutevia caracteriacutestica de uma sociedade capitalistardquo pois nessa sociedade todos realizam seus
trabalhos de formas especiacuteficas e particulares contudo ldquotodos dependem uns dos outros e isto
decorre na divisatildeo do trabalho no seio da produccedilatildeo mercantilrdquo (CATANI 1984 20)
Marx (1996) explica que a divisatildeo do trabalho na forma de cooperaccedilatildeo comeccedila a ser
desenvolvido na manufatura predominantemente porque o processo de produccedilatildeo capitalista
se estende do seacuteculo XVI ateacute o seacuteculo XVIII Ou seja diversos trabalhadores com ofiacutecios
diferentes uns dos outros reunidos em uma oficina para produzir um produto sendo que este
passe por ambas as matildeos ateacute o seu acabamento final O trabalho eacute realizado em colaboraccedilatildeo
uns com os outros
Braverman (1980) nos esclarece que a divisatildeo do trabalho que ocorre na oficina eacute
diferente do trabalho desenvolvido no interior da sociedade afirmando que
A divisatildeo do trabalho na sociedade eacute caracteriacutestica de todas as sociedades conhecidas a divisatildeo do trabalho na oficina eacute produto peculiar da sociedade capitalista A divisatildeo social do trabalho divide a sociedade entre ocupaccedilotildees cada qual apropriada a certo ramo de produccedilatildeo a divisatildeo pormenorizada do trabalho destroacutei ocupaccedilotildees consideradas neste sentido e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produccedilatildeo [] Ainda no capitalismo os produtos da divisatildeo social do trabalho satildeo trocados como mercadorias enquanto os resultados da operaccedilatildeo do trabalhador parcelado natildeo satildeo trocados dentro da fabrica como o mercado mas satildeo todos possuiacutedos pelo mesmo capital Enquanto a divisatildeo social do trabalho subdivide a sociedade a divisatildeo parcelada do trabalho subdivide o homem e enquanto a subdivisatildeo da sociedade pode fortalecer o indiviacuteduo e a espeacutecie a subdivisatildeo do indiviacuteduo quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas eacute um crime contra a pessoa e contra a humanidade (BRAVERMAN 1980 72)
21
Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
22
Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
23
servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
24
Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
29
dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
30
2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
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ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
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criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
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De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
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Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
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E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
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Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
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Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
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De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
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simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA FACULDADE DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
CURSO DE GRADUACcedilAtildeO EM EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA
DOUGLAS ALVES
O ESPORTE E A LOacuteGICA CAPITALISTA
Monografia apresentada na disciplina Trabalho de Conclusatildeo de Curso II na aacuterea de Pedagogia do Movimento Corporeidade e Lazer sob a supervisatildeo da Profordf Drordf Eline Porto como requisito parcial para conclusatildeo do curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica da Universidade Metodista de Piracicaba
Orientador ProfordmMs Rodrigo Batagello Orientador Colaborador Profordm Ms Ricardo Ducatti Colpas
Piracicaba 2007
Dedico aos meus amigos e amigas de infacircncia da rua projetada um Quitauacutena ndash SP um bom lugar muito obrigado pelas diversotildees brincadeiras respeito lealdade e amizade insubstituiacutevel
A professora Neuza que me ensinou a interpretar os primeiros textos e meus amigos e amigas da escola General Antocircnio de Sampaio Osasco - SP
A minha primeira treinadora de atletismo Faacutetima Aparecida Adatildeo e ao meu treinador Maacuterio Luiacutes de Almeida Leme que sempre me apoiaram nas pistas e nos estudos me ensinando o caminho justo e leal da vitoacuteria
Aos meus pais Paulino Modesto Alves e Maria das Graccedilas Alves pelo amor ensinamentos e apoio constante e incondicional
Ao meu irmatildeo Valdeci e sua famiacutelia pelo olhar carinhoso e atencioso
Agradecimentos
Aos meus amigos
Ricardo Forti pela amizade leal e intensa Pelos conselhos e companheirismo desde os
tempos de escola Por compartilhar comigo os mesmo desejos e sonhos de justiccedila igualdade e
por uma sociedade mais fraterna
Faacutebio Clementino pelo companheirismo ao longo desta caminha na vida esportiva e
acadecircmica cheia de obstaacuteculos duacutevidas e incertezas Pela troca de conhecimento pelos
sinceros elogios e por ser um amigo sempre presente
Edson Joseacute Modesto pelo respeito e confianccedila Pelos debates que fizemos ao longo
desse uacuteltimo semestre (tempos de monografia) dentro do ocircnibus sendo que estas discussotildees
contribuiacuteram em muito para a nossa formaccedilatildeo da ldquoconsciecircncia criacuteticardquo e atitudes
multiplicadoras e pelo seu compromisso com os menos favorecidos
Aos professores(as)
Rodrigo Batagello pela amizade e orientaccedilatildeo deste trabalho Por indicar-me os
instrumentos da teoria marxista para lutar contra o capitalismo
Ricardo Ducatti Colpas pela co-orientaccedilatildeo e pela amizade fraterna Pela socializaccedilatildeo
de conhecimentos e por se mostrar afetivamente compromissado pela transformaccedilatildeo
revolucionaacuteria da sociedade
Eline Porto por seus ensinamentos em sala de aula Pela admiraccedilatildeo carinho e respeito
que pode perceber durante minha passagem pela academia
Em especial
A todos meus colegas da Equipe de Atletismo de Piracicaba
Ao Professor Francisco Mauacuteri de Carvalho Freitas pela contribuiccedilatildeo que suas obras
revolucionaacuterias deram-me para transformar a Educaccedilatildeo Fiacutesica em especial a A MISEacuteRIA DA
EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA que tive o conhecimento quando esse trabalho estava sendo finalizado
Agrave minha famiacutelia e a Deus por me dar sauacutede e tempo para construir minhas coisas
[] os criadores do mito Homo Sportivus por falta de compromisso poliacutetico com a transformaccedilatildeo operaacuteria da sociedade e pela ausecircncia de uma cultura filosoacutefica marxista servem de ldquomoccedilos de recadosrdquo ldquomeninosshypropagandardquo para um ldquodispositivordquo poliacutetico que privilegia o supeacuterfluo dos ricos em detrimento do estritamente necessaacuterio dos pobres ou do proletariado de meacutedia e baixa renda Verdadeiramente satildeo serviccedilais de luxo do capitalismo agrave brasileira em ldquoreconstruccedilatildeo colloridardquo que perpetua a decomposiccedilatildeo e a degradaccedilatildeo coletiva da classe operaacuteria excetuando a aristocracia operaacuteria gerando um enorme exeacutercito de homens famintos e de marginais verdadeiros psicoacuteticos ensandecidos
Francisco Maacuteuri de Carvalho Freitas
RESUMO
O objetivo desse trabalho eacute estudar como ocorre processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte numa sociedade que assume os valores capitalistas Para tanto iremos utilizar os instrumentais teoacutericos oferecidos pela perspectiva marxiana Segundo o referencial teoacuterico adotado tentaremos demonstrar como o esporte pode ser considerado um instrumento poliacuteticoideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por uma minoria economicamente dominante Desse modo pretendemos demonstrar como a ideacuteia de competitividade superaccedilatildeo de limites etc refletem na realidade as expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado Dentro desse contexto abordaremos como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte e sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo onde os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam receber em troca um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Este trabalho seraacute desenvolvido atraveacutes de uma pesquisa qualitativa de cunho exploratoacuterio por meio do meacutetodo dialeacutetico delineada pela teacutecnica de pesquisa bibliograacutefica Palavras-chave capitalismo-marxismo mercantilizaccedilatildeo e esporte
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeOp07
1 - Conceitos Fundamentais do Pensamento Marxianop11
11 O trabalho animalp12
12 Caracteriacutesticas do trabalho humanop14
13 Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienadop20
14 Ideologiap24
15 Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestruturap25
2 - Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moedap30
21 O esporte moderno e seu uso poliacuteticop30
22 O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estadop35
23 O esporte e sua estrutura capitalistap39
3 - O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esportep46
31 Esporte-espetaacuteculo e sociedadep46
32 Mercantilizaccedilatildeo do esportep51
CONSIDERACcedilOtildeES FINAISp59
REFEREcircNCIASp61
7
INTRODUCcedilAtildeO
Ao ingressar na universidade no ano de 2002 no curso de Licenciatura em
Matemaacutetica posso lhes dizer que foi neste momento da minha vida acadecircmica que me levou a
fazer este trabalho de conclusatildeo de curso fundamentado na teoria de marxiana Mas natildeo pelo
que aprendi dentro das salas de aulas mas fora delas
Sendo influenciado e persuadido pelo meu amigo Ricardo Forti que na eacutepoca era viceshy
presidente do Diretoacuterio Central dos Estudantes ndash DCE e pelo interesse que sempre tive em
participar de movimentos estudantis e poliacuteticos tive a oportunidade de atuar e participar em
vaacuterias frentes nesses movimentos tais como o Centro Acadecircmico de Matemaacutetica qual fui
vice-presidente e presidente participaccedilotildees no DCE e nos movimento negros entre eles
destaco o Nuacutecleo de Afrodescendente da Unimep ndash NADU ONG Afrobras (Sociedade Afro-
Brasileira de Desenvolvimento Soacutecio Cultural) e da Associaccedilatildeo dos Universitaacuterios negros e
negras de Piracicaba ndash AUEcirc sendo este uacuteltimo uma associaccedilatildeo que ajudei a construir E
posteriormente no C A de Educaccedilatildeo Fiacutesica em 2005
Mas de todos estes movimentos estudantis e poliacuteticos que participei um tem uma
importacircncia decisivo para minha formaccedilatildeo Destaco o 1ordm Encontro da Juventude do Campo e
da Cidade realizado na Mooca em 2002 cidade de Satildeo Paulo e organizado pelo Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra ndash MST Foi neste encontro que pude observar os debates
sobre a teoria de Marx onde todos ali presentes demonstravam o compromisso pela luta de
classes em especial para com os menos favorecidos
Outro fato que me marcou foi a forma na qual todos noacutes discutiacuteamos sobre as questotildees
que o mundo estava passando dentro de uma contexto capitalista Todos sentados no chatildeo em
forma de ciacuterculo Numa dessas rodas ouvi falar de Paulo Freire e sua preocupaccedilatildeo em
desenvolver nos cidadatildeos e cidadatildes a ldquoconsciecircncia criacuteticardquo
8
Voltando aos dias de aula na universidade todas aquelas questotildees que vivenciei
naquele momento da roda de conversa passei a debater comigo mesmo tentando descobrir
onde e em que lugar poderia aplicaacute-las
Ainda sobre minha passagem pelo curso de Matemaacutetica conheci um estudante que
estava concluindo o curso de Filosofia o qual me chamou a atenccedilatildeo pelo seu compromisso
com alguns movimentos sociais seu nome Rodrigo Batagello
Passados dois anos e meio segundo semestre de 2004 transfiro-me para o curso de
Educaccedilatildeo Fiacutesica da mesma instituiccedilatildeo e em 2006 fazendo a disciplina de estaacutegio
supervisionado como componente obrigatoacuterio do curriacuteculo na aacuterea da Educaccedilatildeo Fiacutesica
escolar encontro as mesmas praacuteticas vividas por mim no encontro do MST sendo aplicadas
nas aulas de educaccedilatildeo fiacutesica As rodas de conversa as discussotildees sobre as questotildees da nossa
sociedade das relaccedilotildees sociais e sobre a aula em si
Durante o meu estaacutegio conheci o professor do Instituto Educacional Piracicabano ndash
Coleacutegio Piracicabano Ricardo Colpas e este me revelou a Educaccedilatildeo Fiacutesica revolucionaacuteria e
sua colaboraccedilatildeo na transformaccedilatildeo da realidade social atraveacutes da praacutetica corporal A
abordagem utilizada pelo professor a Criacutetico-Superadora estabelece criteacuterios para a
sistematizaccedilatildeo dessa disciplina no acircmbito da escola e se apresenta pautada num projeto
histoacuterico de sociedade que tem como princiacutepio a superaccedilatildeo da sociedade capitalista Esta
abordagem eacute fundamentada em Marx
Portanto a linha de estudo que tomaremos para o desenvolvimento deste trabalho eacute
construiacutedo graccedilas a um processo que tive no iniacutecio da minha vida acadecircmica e que hoje tenho
como professor orientador Rodrigo Batagello que atualmente ministra aulas de Filosofia e
Eacutetica no curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica da Unimep e como co-orientador o professor Ricardo
Colpas sendo ambos responsaacuteveis pela concretizaccedilatildeo desse meu sonho Ou seja discutir a
influecircncia do capitalismo no esporte
9
Podendo ser observada as constantes transformaccedilotildees que vem ocorrendo no mundo
por conta de um sistema econocircmico contraditoacuterio que priva uma classe social por interesses
particulares em detrimento dos interesses de uma classe economicamente dominante acabam
influenciando as estruturas de uma sociedade a fim de manter os interesses dominantes
vigentes E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural que estaacute instituiacutedo na vida de muita
gente no mundo inteiro vem ao longo do tempo sendo influenciado por uma ideologia
dominante capaz de transformaacute-lo em mercadoria
A justificativa desse presente trabalho eacute buscar uma maior reflexatildeo sobre o esporte
inserido numa sociedade que assumiu os valores capitalistas a partir de um ponto de vista
criacutetico tentando compreender como o esporte faz sua relaccedilatildeo com esta sociedade de tal
forma que tudo o que se vecirc e consume faz parte de um ideal jaacute determinado
Portanto partindo de algumas inquietaccedilotildees levantamos algumas problematizaccedilotildees que
devem ser respondidas ao decorrer desse nosso trabalho satildeo elas 1) o esporte assume os
valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer preccedilo 2) o esporte pode ser
considerado como um instrumento ideoloacutegico do Estado 3) o esporte jaacute foi utilizado para fins
poliacuteticos 4) como quando e porque o esporte tornou-se mercadoria 5) qual a necessidade de
se entender a mercantilizaccedilatildeo do esporte num contexto de sociedade de consumo
No primeiro capiacutetulo estudaremos o conceito de trabalho na visatildeo marxiana
considerando as questotildees da divisatildeo social do trabalho trabalho alienado infra e
superestrutura e ideologia por fim um estudo da relaccedilatildeo da sociedade e do capitalismo bem
como suas definiccedilotildees num conceito marxiano para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista No segundo capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte
com o capitalismo levando em consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de
mercadorias pelos quais os meios de produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse
sistema capitalista reflete na realidade as expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo
10
de produccedilatildeo determinado Aleacutem de assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e
rendimento a qualquer custo tambeacutem eacute utilizado como instrumento ideoloacutegico de Estado e
politicamente como elemento disciplinador higienista e alienador que emprega valores
nacionalistas e ateacute raciais Finalmente no terceiro capiacutetulo discutiremos como ocorre o
processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte levando em consideraccedilatildeo a sua transformaccedilatildeo em
espetaacuteculo e da influecircncia que a sociedade de consumo exerce sobre ele
O objetivo deste trabalho eacute estudar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte numa sociedade que assume valores capitalistas levando em consideraccedilatildeo a estrutura
de funcionamento do sistema capitalista a partir de uma perspectiva marxiana e assim
procurar estabelecer uma criacutetica em torno da mesmice que existe sobre o esporte Por
conseguinte tendo como metodologia o desenvolvido de uma pesquisa qualitativa de cunho
exploratoacuterio por meio do meacutetodo dialeacutetico delineada pela teacutecnica de pesquisa bibliograacutefica
(GIL 1996)
11
1 - Conceitos Fundamentais do Pensamento Marxiano
ldquoA liberdade jamais seraacute dada pelo opressor Ela tem que ser conquistado pelo oprimidordquo
Martin Luther King
Partindo inicialmente da noccedilatildeo geral de que o objetivo amplo do marxismo eacute
interpretar a realidade para depois transformaacute-la consideramos que
[] o marxismo natildeo eacute uma teoria cientifica como as outras natildeo visa simplesmente descrever ou explicar mas visa transformar a realidade visa uma transformaccedilatildeo revolucionaacuteria Trata-se portanto de compreender a realidade para transformaacute-la revolucionariamente a partir de um ponto de vista de classe do ponto de vista das classes dominadas (LOumlWY 1998 18)
Esta compreensatildeo de transformar a realidade revolucionariamente parte do princiacutepio
de que quando as nossas ideacuteias sobre a sociedade visam transformaacute-la e quanto mais
entendemos a importacircncia desse processo de transformaccedilatildeo mais lutamos para que ele ocorra
(LOumlWY 1998)
Mesmo natildeo sendo um filoacutesofo a obra de Karl Marx exerceu grande repercussatildeo e
alcanccedilou uma importacircncia filosoacutefica capaz de influenciar diversas aacutereas como a histoacuteria
poliacutetica economia sociologia entre outras Os conceitos econocircmico-filosoacuteficos e ideacuteias
revolucionaacuterias marxianas foram fundamentais para o seacuteculo XX pois ofereceram o
instrumental teoacuterico necessaacuterio para uma profunda reconsideraccedilatildeo sobre os processos de
formaccedilatildeo da consciecircncia associando a produccedilatildeo da vida intelectual ao contexto da produccedilatildeo
da vida material e criaram as consideraccedilotildees necessaacuterias para libertar o homem do caacutercere no
qual a metafiacutesica lhe havia encarcerado Marx procurava atraveacutes da sua filosofia
contestadora criticar a modernidade pelo seu proacuteprio processo de desenvolvimento
combatendo os preconceitos as supersticcedilotildees e o falso saber provindo das antigas filosofias
(MARCONDES 1997)
Um dos conceitos fundamentais que Marx discute em sua teoria eacute o conceito de
trabalho considerando-o como relaccedilatildeo fundamental entre o sujeito e o objeto Segundo Marx
ldquoo trabalho eacute uma relaccedilatildeo invariante entre a espeacutecie humana e seu ambiente natural uma
12
perpeacutetua necessidade natural da vida humanardquo (MARCONDES 1997 229) Contudo antes
de investigarmos em profundidade as caracteriacutesticas do trabalho humano eacute necessaacuterio
entendermos quais satildeo as diferenccedilas entre o trabalho humano e o trabalho animal
11 - O trabalho animal
A atividade dos animais que se encontram nos niacuteveis mais baixos da escala zooloacutegica
de desenvolvimento se caracteriza por ser um conjunto de accedilotildees instintivas orientadas por leis
bioloacutegicas como eacute o caso dos insetos Se observarmos com atenccedilatildeo uma aranha tecendo uma
teia natildeo podemos dizer que isto eacute um trabalho porque este ato natildeo possui histoacuteria ou seja
natildeo eacute modificado ao longo de sua vida Este ato de tecer uma teia com extrema habilidade eacute
padronizado e soacute eacute modificado se ocorrer uma evoluccedilatildeo de sua espeacutecie ou por algum tipo de
mutaccedilatildeo geneacutetica A construccedilatildeo de alguma coisa por parte do animal natildeo tem como finalidade
promover condiccedilotildees melhores de vida mas
[] em certas aves chamadas tendilhotildees o haacutebito de fazer ninhos tiacutepicos da espeacutecie eacute tatildeo fixo que apoacutes cinco geraccedilotildees em que essas aves eram criadas por canaacuterios ainda continuavam a construiacute-los como antes (ARANHA ARTINS 1993 03)
Os animais mamiacuteferos que se encontram em melhor colocaccedilatildeo na escala zooloacutegica ou
em niacuteveis mais altos passam a transcender suas accedilotildees instintivas para uma categoria de atos
inteligentes Um exemplo eacute quando se coloca o chimpanzeacute com fome dentro de uma jaula e
nela estatildeo penduradas bananas que o animal natildeo consegue alcanccedilar mas resolve este
problema quando pega o caixote e coloca-o debaixo das bananas para pegaacute-las ou seja a
partir de uma visatildeo global do ambiente o chimpanzeacute estabelece uma relaccedilatildeo entre o caixote e
a banana (ARANHA MARTINS 1993)
Para solucionar este problema o chimpanzeacute natildeo conta com uma accedilatildeo imediata mas a
soluccedilatildeo depende da sua capacidade intelectual de estabelecer uma relaccedilatildeo entre o caixote e as
bananas Assim a sua inteligecircncia o distingue do inseto contudo ainda se trata de um tipo de
13
inteligecircncia concreta estabelecida no ato da situaccedilatildeo real e ldquomesmo que alguns animais
organizem sociedades mais complexas [] natildeo haacute nada que se compare agraves transformaccedilotildees
realizadas pelo homem enquanto criador da culturardquo (ARANHA MARTINS 1993 04)
Mesmo que um animal realize uma accedilatildeo transformadora que possa ser reconhecida
como um tipo especiacutefico de trabalho (por exemplo o joatildeo-de-barro que constroacutei sua casinha)
este trabalho natildeo eacute consciente e nem pode ser considerado criativo pois sempre que o joatildeoshy
de-barro ou qualquer outro animal criar resultados materiais estes resultados seratildeo iguais
para todos os sujeitos pertencentes a uma mesma espeacutecie Aleacutem disso as teacutecnicas e o
processo de construccedilatildeo tambeacutem seratildeo idecircnticos para os membros de uma mesma espeacutecie
situaccedilatildeo que nos forccedila a reconhecer que a accedilatildeo do indiviacuteduo natildeo pode ser considerada um ato
criativo ou reflexivo Jaacute o trabalho humano se caracteriza por ser uma accedilatildeo consciente capaz
de reproduzir e cria novas teacutecnicas a fim de transformar a natureza de acordo com a sua
necessidade humana e mudar a sua maneira de agir perceber pensar e sentir o mundo que o
cerca O trabalho humano eacute uma atividade consciente e transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio (ARANHA MARTINS 1993)
Os animais permanecem mergulhados na natureza e as espeacutecies vivem apenas o
presente de modo que o acuacutemulo de suas accedilotildees e experiecircncias natildeo se revertem em
aprendizado Isso significa que o trabalho animal natildeo estaacute submetido agrave mesma loacutegica que
preside a atividade humana que se desenvolve graccedilas ao movimento dialeacutetico produzido pelo
conflito entre consciecircncia e materialidade (ARANHA MARTINS 1993)
A accedilatildeo humana que transforma o mundo natural (realidade estritamente material) em
mundo cultural onde
[] cultura significa tudo o que o homem produz ao construir sua existecircncia as praacuteticas as teorias as instituiccedilotildees os valores materiais e espirituais Se o contato que o homem tem com o mundo eacute intermediado pelo siacutembolo a cultura eacute o conjunto de siacutembolos elaborados por um povo em determinado tempo e lugar Dada a infinita possibilidade de simbolizar as culturas dos povos satildeo muacuteltiplas e variadas (ARANHA MARTINS 1993 06)
14
Esta questatildeo do trabalho pelo qual o homem transforma a natureza e a si proacuteprio
diferenciando-se dos demais animais seraacute desenvolvido no proacuteximo item
12 - Caracteriacutesticas do trabalho humano
A histoacuteria do desenvolvimento das teacutecnicas e dos processos de transformaccedilatildeo da
realidade se confunde com a histoacuteria do desenvolvimento da humanidade De acordo com
Dantas (1986) os homens tiveram que aprender a trabalhar desde a origem da humanidade
para sobreviverem e satisfazer suas necessidades produzindo e reproduzindo meios de
subsistecircncia Este trabalho praticado pelo qual o homem se distingue do trabalho animal eacute
criativo enquanto o do animal eacute simplesmente instintivo
De acordo com Carosi (1963) trabalho eacute a atividade transformadora onde se
empregam forccedilas humanas fiacutesicas e intelectuais com o objetivo de moldar o mundo natural
de acordo com as necessidades individuais ou coletivas de subsistecircncia Ou seja o trabalho
tornasse o emprego das energias humanas para diferenciar das accedilotildees de um animal e do
funcionamento de uma maacutequina pois eacute direcionado pela inteligecircncia e pela sustentaccedilatildeo da
vontade do homem
Conforme Braverman (1977) apoderar-se dos materiais da natureza assim como
ocorre com os vegetais que absorvem minerais e luz do sol e animais que se alimentam de
vida vegetal natildeo pode ser considerado trabalho Pois o trabalho eacute uma atividade que
transforma o estado natural desses materiais de modo que possam ser utilizados para
satisfazer as necessidades da espeacutecie humana
Para Braverman (1977) natildeo se trata agora de analisar as semelhanccedilas do trabalho
humano com o trabalho dos outros animais mas sim as diferenccedilas que os distanciam um do
outro Ao utilizar o termo trabalho para designar a atividade criativa peculiar do homem
Marx enfatiza que ldquonatildeo se trata aqui das primeiras formas instintivas animais de trabalhordquo
15
(MARX 1996 297) Uma aranha realiza funccedilotildees que se assemelha a dos tecelotildees e a abelha
envergonha muitos arquitetos na construccedilatildeo de seus alveacuteolos Mas o que realmente distingue
o pior arquiteto humano da melhor abelha eacute que o humano cria em sua mente o corticcedilo antes
de transformaacute-lo em realidade No fim do processo o resultado sai de acordo com a
imaginaccedilatildeo na qual o trabalho teve no iniacutecio Ou seja o homem transforma o material de
acordo com sua vontade e imprime no real a forma de sua consciecircncia (MARX 1996)
O trabalho entendido aqui como uma atividade adequada a um fim distingue-se dos
animais que procuram apenas a satisfaccedilatildeo das suas necessidades bioloacutegicas Atraveacutes dele os
homens produzem sua proacutepria existecircncia mas antes de tudo
[] o trabalho eacute um processo entre o homem e a Natureza um processo em que o homem por sua proacutepria accedilatildeo media regula e controla seu metabolismo com a Natureza Ele mesmo se defronta com a mateacuteria natural como uma forccedila natural Ele potildee em movimento as forccedilas naturais pertencentes a sua corporalidade braccedilos e pernas cabeccedila e matildeo a fim de apropriar-se da mateacuteria natural numa forma uacutetil para sua proacutepria vida Ao atuar por meio desses movimentos sobre a Natureza externa e ao modificaacuteshyla ele modifica ao mesmo tempo sua proacutepria natureza Ele desenvolve as potecircncias nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forccedilas a seu proacuteprio domiacutenio (MARX 1996 297)
Por essa forma o trabalho humano eacute consciente e proposital Jaacute o trabalho dos outros
animais eacute instintivo Podemos observar quando uma largata completa a segunda metade de
seu casulo sem se importar com a primeira (BRAVERMAN 1977)
Carosi (1963) diferencia o trabalho do homem do trabalho animal pois o primeiro
possui capacidades para fazer algo atraveacutes de seus dons e ideacuteias para atingir o que tem que ser
feito enquanto que no animal nada disso pode ser observado Conforme Carosi (1963 588)
ldquodiz-se que o animal trabalha que a maacutequina trabalha mas eacute certamente um modo muito
improacuteprio de expressatildeo [] Eacute mais correto dizer que o animal e a maacutequina satildeo instrumentos
de trabalhordquo Pois desta forma o trabalho esta interiorizado na moralidade do homem de
forma que sua produccedilatildeo eacute uma virtude agrave medida que consegue as condiccedilotildees necessaacuterias
mediante o trabalho para si ou para os outros
16
O homem consegue distinguir-se do animal pelo trabalho sendo este uma relaccedilatildeo
dialeacutetica da teoria com a praacutetica que possibilita ao homem desenvolver sua imaginaccedilatildeo e
habilidade uma vez que sua accedilatildeo eacute antecipada pelo pensamento conseguindo modificar um
objeto ao mesmo tempo em que sua accedilatildeo tambeacutem eacute alterada gerando o seu processo
histoacuterico onde o trabalho tornasse a condiccedilatildeo fundamental para o homem alterar a sua visatildeo
perante o mundo e a si mesmo (ARANHA MARTINS 1993)
Outro conceito fundamental para entendermos a diferenccedila entre o homem e o animal eacute
a sua condiccedilatildeo de trabalho a que cada um deles estaacute submetido Afinal ldquoo homem eacute um ser
que trabalha e produz o mundo e a si mesmo O animal natildeo produz a sua existecircncia mas
apenas a conserva agindo instintivamente []rdquo (ARANHA MARTINS 1993 05)
Sobre a necessidade e a utilidade do trabalho Carosi (1963 589) afirma que
O trabalho eacute aleacutem disso fonte de prosperidade tudo vem da natureza mas nada vem sem o trabalho Se a natureza fosse abandonada a si proacuteprio pelo homem ocioso natildeo lhe oferecia sequer o necessaacuterio para viver com o trabalho ela concede-lhe as maravilhas e comodidade do programa acima de suas necessidades (CAROSI 1963 589)
O trabalho humano armazenado ou exercido em ferramentas maquinarias ou em
animais eacute um recurso utilizado exclusivamente pela competecircncia humana para explorar a
natureza Assim como todos os processos vitais de um corpo humano como os muacutesculos
ceacuterebros satildeo inseparaacuteveis do indiviacuteduo o trabalho tambeacutem eacute uma propriedade inalienaacutevel do
indiviacuteduo humano Portanto tornasse impossiacutevel satisfazer as necessidades baacutesicas em lugar
de outra pessoa que natildeo seja si proacuteprio Entretanto quando um proprietaacuterio utiliza os serviccedilos
de um animal simplesmente canaliza a forccedila e suas resistecircncias naturais desse animal
Todavia ao utilizar abelhas para a produccedilatildeo de mel ou de carneiros para a produccedilatildeo de latilde o
proprietaacuterio soacute tira vantagens das condiccedilotildees bioloacutegicas das atividades dos animais Mas ao
utilizar a forccedila de trabalho do animal o homem ao mesmo tempo utiliza a sua para obter
atraveacutes do trabalho animal as miacutenimas condiccedilotildees variaacuteveis do trabalho concreto
(BRAVERMAN 1977) Sendo assim
17
O que distingue a forccedila de trabalho humano eacute portanto natildeo sua capacidade de produzir um excedente mas seu caraacuteter inteligente e proposital que lhe daacute infinita adaptabilidade e que produz as condiccedilotildees sociais e culturais para ampliar sua proacutepria produtividade de modo que seu produto excedente pode ser continuamente ampliado (BRAVERMAN 1977 58)
Portanto eacute o homem que constroacutei e produz sua proacutepria histoacuteria transformando a
natureza e a si proacuteprio a partir de uma accedilatildeo humana e coletiva caracterizando o trabalho
como uma tarefa social onde todas as diferenccedilas que existem na sociedade satildeo fundamentais
para que se organizem na construccedilatildeo da vida social econocircmica e poliacutetica Mesmo a sociedade
sendo formada pelas relaccedilotildees sociais o homem natildeo perde a sua individualidade o que faz
com que se diferencie dos demais Todavia esta contradiccedilatildeo de viver numa sociedade que
opotildee a alienaccedilatildeo agrave liberdade eacute fundamental para manter a dialeacutetica em constante sintonia
(ARANHA MARTINS 1993)
Aleacutem do trabalho o homem possui outras condiccedilotildees que o diferencia do animal Um eacute
o ato voluntaacuterio e consciente da finalidade de seu uso e o outro eacute a fala O ato consciente
primeiramente existe antes como pensamento e este pode ser utilizado para atingir os fins
propostos pela livre vontade do agente Jaacute a fala e as palavras fazem parte da essecircncia do
universo humano distinguindo-o do animal pois este natildeo conhece a simbologia mas
somente os iacutendices que indicam sempre a mesma coisa especiacutefica Jaacute o siacutembolo aleacutem de ser
universal eacute flexiacutevel podendo uma palavra ter diversos entendimentos (ARANHA
MARTINS 1993)
A linguagem e a palavra determinam a condiccedilatildeo na qual o homem e o animal se
desencontram distanciando-o pelo fato da linguagem animal visar a adaptaccedilatildeo ao concreto
enquanto a linguagem humana interveacutem como uma forma abstrata Portanto mesmo quando
um animal conseguir solucionar um problema complexo a sua inteligecircncia ainda seraacute
concreta tratando-se de uma experiecircncia vivida no momento exato enquanto que para o
homem a linguagem por siacutembolos e abstrata permite distanciar-se do mundo e voltar para
transformaacute-lo (ARANHA MARTINS 1993)
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Ao dizer que o homem fala trabalha e pelo trabalho transforma a natureza e a si
proacuteprio nada disso teraacute sentido se natildeo enfatizarmos que a accedilatildeo do ser humano eacute uma accedilatildeo
coletiva Pois o trabalho eacute uma funccedilatildeo social e a palavra eacute um meio de diaacutelogo (ARANHA
MARTINS 1993)
Os estudos experimentais sobre o comportamento animal demonstram que eles natildeo
satildeo totalmente privados da capacidade de aprender e conceber ideacuteias de caraacuteter inicial ou
mesmo aprender a resolver os problemas mais simples que sejam portando
Assim uma criatura dotada de sistema nervoso tatildeo primitivo como a minhoca pode aprender a passar por um labirinto os chimpanzeacutes podem ser estimulados a inventar e fazer instrumentos tais como estender vara que lhes permitem atingir o alimento ou empilhar caixas para o mesmo fim (BRAVERMAN 1977 52)
Conclui-se que a diferenccedila entre o homem e o animal natildeo estaacute apenas em grau mas
em espeacutecie cujo haacute uma imensa distacircncia entre aprender as capacidades conceituais do ser
humano em comparaccedilatildeo aos animais mais adaptaacuteveis Ou seja aos animais natildeo foi possiacutevel
ensinar-lhes a capacidade de manipular representaccedilotildees simboacutelicas e a linguagem articulada
Sem a aprendizagem das capacidades simboacutelicas e da linguagem os animais permanecem
com o seu pensamento conceitual a um niacutevel rudimentar que natildeo pode ser transmitido atraveacutes
do grupo (BRAVERMAN 1977)
Aranha e Martins (1993) tambeacutem afirmam ao dizer que as diferenccedilas entre o homem e
o animal natildeo eacute apenas em grau pois enquanto o animal vive dentro da natureza o homem a
utiliza e transformaacute-a em uma possiacutevel cultural O entendimento de cultura para os
antropoacutelogos eacute tudo aquilo que o homem consegue produzir ao construir sua existecircncia
como por exemplo as praacuteticas as teorias os valores materiais entre outros
Portanto eacute pelo trabalho que o homem consegue construir sua proacutepria histoacuteria sendo
que o ldquotrabalho que ultrapassa a mera atividade instintiva eacute assim a forccedila que criou a espeacutecie
humana e a forccedila pela qual a humanidade criou o mundo como o conhecemosrdquo
(BRAVERMAN 1977 53)
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Aranha e Martins (1993) afirmam que o processo de construccedilatildeo da humanidade se faz
pela relaccedilatildeo entre os homens e a sua consciecircncia emerge lentamente atraveacutes dos conflitos
entre essas relaccedilotildees Entatildeo sobre cai ao homem agrave responsabilidade de manter viva a dialeacutetica
atraveacutes de suas contradiccedilotildees sendo que o ser humano ao mesmo tempo em que eacute um ser
social tambeacutem possui uma individualidade que eacute fundamental para distingui-lo dos demais
ldquoPortanto a sociedade eacute a condiccedilatildeo da alienaccedilatildeo e da liberdade eacute a condiccedilatildeo para que o
homem se perca mas tambeacutem de se encontrarrdquo (ARANHA MARTINS 1993 07)
13 - Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienado
A transiccedilatildeo do periacuteodo do feudalismo para o capitalismo foi marcada pelo nascimento
das faacutebricas onde ocorria uma acumulaccedilatildeo de capital que permitia comprar mateacuteria-prima e
maacutequinas para ampliar o seu mercado Os artesatildeos vendo o forte crescimento das faacutebricas e
percebendo que era impossiacutevel competir contra elas tiveram que vender a sua forccedila de
trabalho em troca de um salaacuterio e se adequar a divisatildeo de trabalho que estabelecia ritmo e
horaacuterio (ARANHA MARTINS 1993)
Ainda em relaccedilatildeo ao trabalho como meio de subsistecircncia para a sobrevivecircncia do ser
humano Dantas (1986) afirma que num determinado periacuteodo esta concepccedilatildeo passou a ser
alheia ao trabalhador Como a divisatildeo do trabalho estava no iniacutecio de seu desenvolvimento o
trabalho era organizado e entendido como familiar onde todos os adultos tinham sua
participaccedilatildeo inclusive aos idosos onde cabia a responsabilidade de distribuir as funccedilotildees Os
materiais para a realizaccedilatildeo do trabalho aleacutem de serem poucos eram rudimentares mas
suficientes para conseguir produtos para suprir as necessidades de todos Ainda citando
Dantas (1986) seus estudos apresenta ter um entendimento da divisatildeo do trabalho a partir do
periacuteodo feudal onde houve um acirramento da separaccedilatildeo entre campo e cidade que foi
crucial para o desenvolvimento daquele fenocircmeno no seu formato moderno No campo o
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trabalho tem como caracteriacutestica a servidatildeo e era realizado na terra sendo esta propriedade do
senhor Os servos eram responsaacuteveis pela produccedilatildeo de meios materiais para si e para os
senhores Jaacute na cidade a divisatildeo do trabalho se dava dentro das pequenas oficinas onde o
artesatildeo que era dono dos seus meios de produccedilatildeo e sua famiacutelia seus auxiliares que com suas
habilidades determinavam um produto final
De acordo com Catani (1984 20) ldquoa divisatildeo social do trabalho eacute outra condiccedilatildeo
preacutevia caracteriacutestica de uma sociedade capitalistardquo pois nessa sociedade todos realizam seus
trabalhos de formas especiacuteficas e particulares contudo ldquotodos dependem uns dos outros e isto
decorre na divisatildeo do trabalho no seio da produccedilatildeo mercantilrdquo (CATANI 1984 20)
Marx (1996) explica que a divisatildeo do trabalho na forma de cooperaccedilatildeo comeccedila a ser
desenvolvido na manufatura predominantemente porque o processo de produccedilatildeo capitalista
se estende do seacuteculo XVI ateacute o seacuteculo XVIII Ou seja diversos trabalhadores com ofiacutecios
diferentes uns dos outros reunidos em uma oficina para produzir um produto sendo que este
passe por ambas as matildeos ateacute o seu acabamento final O trabalho eacute realizado em colaboraccedilatildeo
uns com os outros
Braverman (1980) nos esclarece que a divisatildeo do trabalho que ocorre na oficina eacute
diferente do trabalho desenvolvido no interior da sociedade afirmando que
A divisatildeo do trabalho na sociedade eacute caracteriacutestica de todas as sociedades conhecidas a divisatildeo do trabalho na oficina eacute produto peculiar da sociedade capitalista A divisatildeo social do trabalho divide a sociedade entre ocupaccedilotildees cada qual apropriada a certo ramo de produccedilatildeo a divisatildeo pormenorizada do trabalho destroacutei ocupaccedilotildees consideradas neste sentido e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produccedilatildeo [] Ainda no capitalismo os produtos da divisatildeo social do trabalho satildeo trocados como mercadorias enquanto os resultados da operaccedilatildeo do trabalhador parcelado natildeo satildeo trocados dentro da fabrica como o mercado mas satildeo todos possuiacutedos pelo mesmo capital Enquanto a divisatildeo social do trabalho subdivide a sociedade a divisatildeo parcelada do trabalho subdivide o homem e enquanto a subdivisatildeo da sociedade pode fortalecer o indiviacuteduo e a espeacutecie a subdivisatildeo do indiviacuteduo quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas eacute um crime contra a pessoa e contra a humanidade (BRAVERMAN 1980 72)
21
Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
22
Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
23
servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
24
Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
29
dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
30
2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
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ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
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criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
44
ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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Dedico aos meus amigos e amigas de infacircncia da rua projetada um Quitauacutena ndash SP um bom lugar muito obrigado pelas diversotildees brincadeiras respeito lealdade e amizade insubstituiacutevel
A professora Neuza que me ensinou a interpretar os primeiros textos e meus amigos e amigas da escola General Antocircnio de Sampaio Osasco - SP
A minha primeira treinadora de atletismo Faacutetima Aparecida Adatildeo e ao meu treinador Maacuterio Luiacutes de Almeida Leme que sempre me apoiaram nas pistas e nos estudos me ensinando o caminho justo e leal da vitoacuteria
Aos meus pais Paulino Modesto Alves e Maria das Graccedilas Alves pelo amor ensinamentos e apoio constante e incondicional
Ao meu irmatildeo Valdeci e sua famiacutelia pelo olhar carinhoso e atencioso
Agradecimentos
Aos meus amigos
Ricardo Forti pela amizade leal e intensa Pelos conselhos e companheirismo desde os
tempos de escola Por compartilhar comigo os mesmo desejos e sonhos de justiccedila igualdade e
por uma sociedade mais fraterna
Faacutebio Clementino pelo companheirismo ao longo desta caminha na vida esportiva e
acadecircmica cheia de obstaacuteculos duacutevidas e incertezas Pela troca de conhecimento pelos
sinceros elogios e por ser um amigo sempre presente
Edson Joseacute Modesto pelo respeito e confianccedila Pelos debates que fizemos ao longo
desse uacuteltimo semestre (tempos de monografia) dentro do ocircnibus sendo que estas discussotildees
contribuiacuteram em muito para a nossa formaccedilatildeo da ldquoconsciecircncia criacuteticardquo e atitudes
multiplicadoras e pelo seu compromisso com os menos favorecidos
Aos professores(as)
Rodrigo Batagello pela amizade e orientaccedilatildeo deste trabalho Por indicar-me os
instrumentos da teoria marxista para lutar contra o capitalismo
Ricardo Ducatti Colpas pela co-orientaccedilatildeo e pela amizade fraterna Pela socializaccedilatildeo
de conhecimentos e por se mostrar afetivamente compromissado pela transformaccedilatildeo
revolucionaacuteria da sociedade
Eline Porto por seus ensinamentos em sala de aula Pela admiraccedilatildeo carinho e respeito
que pode perceber durante minha passagem pela academia
Em especial
A todos meus colegas da Equipe de Atletismo de Piracicaba
Ao Professor Francisco Mauacuteri de Carvalho Freitas pela contribuiccedilatildeo que suas obras
revolucionaacuterias deram-me para transformar a Educaccedilatildeo Fiacutesica em especial a A MISEacuteRIA DA
EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA que tive o conhecimento quando esse trabalho estava sendo finalizado
Agrave minha famiacutelia e a Deus por me dar sauacutede e tempo para construir minhas coisas
[] os criadores do mito Homo Sportivus por falta de compromisso poliacutetico com a transformaccedilatildeo operaacuteria da sociedade e pela ausecircncia de uma cultura filosoacutefica marxista servem de ldquomoccedilos de recadosrdquo ldquomeninosshypropagandardquo para um ldquodispositivordquo poliacutetico que privilegia o supeacuterfluo dos ricos em detrimento do estritamente necessaacuterio dos pobres ou do proletariado de meacutedia e baixa renda Verdadeiramente satildeo serviccedilais de luxo do capitalismo agrave brasileira em ldquoreconstruccedilatildeo colloridardquo que perpetua a decomposiccedilatildeo e a degradaccedilatildeo coletiva da classe operaacuteria excetuando a aristocracia operaacuteria gerando um enorme exeacutercito de homens famintos e de marginais verdadeiros psicoacuteticos ensandecidos
Francisco Maacuteuri de Carvalho Freitas
RESUMO
O objetivo desse trabalho eacute estudar como ocorre processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte numa sociedade que assume os valores capitalistas Para tanto iremos utilizar os instrumentais teoacutericos oferecidos pela perspectiva marxiana Segundo o referencial teoacuterico adotado tentaremos demonstrar como o esporte pode ser considerado um instrumento poliacuteticoideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por uma minoria economicamente dominante Desse modo pretendemos demonstrar como a ideacuteia de competitividade superaccedilatildeo de limites etc refletem na realidade as expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado Dentro desse contexto abordaremos como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte e sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo onde os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam receber em troca um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Este trabalho seraacute desenvolvido atraveacutes de uma pesquisa qualitativa de cunho exploratoacuterio por meio do meacutetodo dialeacutetico delineada pela teacutecnica de pesquisa bibliograacutefica Palavras-chave capitalismo-marxismo mercantilizaccedilatildeo e esporte
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeOp07
1 - Conceitos Fundamentais do Pensamento Marxianop11
11 O trabalho animalp12
12 Caracteriacutesticas do trabalho humanop14
13 Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienadop20
14 Ideologiap24
15 Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestruturap25
2 - Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moedap30
21 O esporte moderno e seu uso poliacuteticop30
22 O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estadop35
23 O esporte e sua estrutura capitalistap39
3 - O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esportep46
31 Esporte-espetaacuteculo e sociedadep46
32 Mercantilizaccedilatildeo do esportep51
CONSIDERACcedilOtildeES FINAISp59
REFEREcircNCIASp61
7
INTRODUCcedilAtildeO
Ao ingressar na universidade no ano de 2002 no curso de Licenciatura em
Matemaacutetica posso lhes dizer que foi neste momento da minha vida acadecircmica que me levou a
fazer este trabalho de conclusatildeo de curso fundamentado na teoria de marxiana Mas natildeo pelo
que aprendi dentro das salas de aulas mas fora delas
Sendo influenciado e persuadido pelo meu amigo Ricardo Forti que na eacutepoca era viceshy
presidente do Diretoacuterio Central dos Estudantes ndash DCE e pelo interesse que sempre tive em
participar de movimentos estudantis e poliacuteticos tive a oportunidade de atuar e participar em
vaacuterias frentes nesses movimentos tais como o Centro Acadecircmico de Matemaacutetica qual fui
vice-presidente e presidente participaccedilotildees no DCE e nos movimento negros entre eles
destaco o Nuacutecleo de Afrodescendente da Unimep ndash NADU ONG Afrobras (Sociedade Afro-
Brasileira de Desenvolvimento Soacutecio Cultural) e da Associaccedilatildeo dos Universitaacuterios negros e
negras de Piracicaba ndash AUEcirc sendo este uacuteltimo uma associaccedilatildeo que ajudei a construir E
posteriormente no C A de Educaccedilatildeo Fiacutesica em 2005
Mas de todos estes movimentos estudantis e poliacuteticos que participei um tem uma
importacircncia decisivo para minha formaccedilatildeo Destaco o 1ordm Encontro da Juventude do Campo e
da Cidade realizado na Mooca em 2002 cidade de Satildeo Paulo e organizado pelo Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra ndash MST Foi neste encontro que pude observar os debates
sobre a teoria de Marx onde todos ali presentes demonstravam o compromisso pela luta de
classes em especial para com os menos favorecidos
Outro fato que me marcou foi a forma na qual todos noacutes discutiacuteamos sobre as questotildees
que o mundo estava passando dentro de uma contexto capitalista Todos sentados no chatildeo em
forma de ciacuterculo Numa dessas rodas ouvi falar de Paulo Freire e sua preocupaccedilatildeo em
desenvolver nos cidadatildeos e cidadatildes a ldquoconsciecircncia criacuteticardquo
8
Voltando aos dias de aula na universidade todas aquelas questotildees que vivenciei
naquele momento da roda de conversa passei a debater comigo mesmo tentando descobrir
onde e em que lugar poderia aplicaacute-las
Ainda sobre minha passagem pelo curso de Matemaacutetica conheci um estudante que
estava concluindo o curso de Filosofia o qual me chamou a atenccedilatildeo pelo seu compromisso
com alguns movimentos sociais seu nome Rodrigo Batagello
Passados dois anos e meio segundo semestre de 2004 transfiro-me para o curso de
Educaccedilatildeo Fiacutesica da mesma instituiccedilatildeo e em 2006 fazendo a disciplina de estaacutegio
supervisionado como componente obrigatoacuterio do curriacuteculo na aacuterea da Educaccedilatildeo Fiacutesica
escolar encontro as mesmas praacuteticas vividas por mim no encontro do MST sendo aplicadas
nas aulas de educaccedilatildeo fiacutesica As rodas de conversa as discussotildees sobre as questotildees da nossa
sociedade das relaccedilotildees sociais e sobre a aula em si
Durante o meu estaacutegio conheci o professor do Instituto Educacional Piracicabano ndash
Coleacutegio Piracicabano Ricardo Colpas e este me revelou a Educaccedilatildeo Fiacutesica revolucionaacuteria e
sua colaboraccedilatildeo na transformaccedilatildeo da realidade social atraveacutes da praacutetica corporal A
abordagem utilizada pelo professor a Criacutetico-Superadora estabelece criteacuterios para a
sistematizaccedilatildeo dessa disciplina no acircmbito da escola e se apresenta pautada num projeto
histoacuterico de sociedade que tem como princiacutepio a superaccedilatildeo da sociedade capitalista Esta
abordagem eacute fundamentada em Marx
Portanto a linha de estudo que tomaremos para o desenvolvimento deste trabalho eacute
construiacutedo graccedilas a um processo que tive no iniacutecio da minha vida acadecircmica e que hoje tenho
como professor orientador Rodrigo Batagello que atualmente ministra aulas de Filosofia e
Eacutetica no curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica da Unimep e como co-orientador o professor Ricardo
Colpas sendo ambos responsaacuteveis pela concretizaccedilatildeo desse meu sonho Ou seja discutir a
influecircncia do capitalismo no esporte
9
Podendo ser observada as constantes transformaccedilotildees que vem ocorrendo no mundo
por conta de um sistema econocircmico contraditoacuterio que priva uma classe social por interesses
particulares em detrimento dos interesses de uma classe economicamente dominante acabam
influenciando as estruturas de uma sociedade a fim de manter os interesses dominantes
vigentes E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural que estaacute instituiacutedo na vida de muita
gente no mundo inteiro vem ao longo do tempo sendo influenciado por uma ideologia
dominante capaz de transformaacute-lo em mercadoria
A justificativa desse presente trabalho eacute buscar uma maior reflexatildeo sobre o esporte
inserido numa sociedade que assumiu os valores capitalistas a partir de um ponto de vista
criacutetico tentando compreender como o esporte faz sua relaccedilatildeo com esta sociedade de tal
forma que tudo o que se vecirc e consume faz parte de um ideal jaacute determinado
Portanto partindo de algumas inquietaccedilotildees levantamos algumas problematizaccedilotildees que
devem ser respondidas ao decorrer desse nosso trabalho satildeo elas 1) o esporte assume os
valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer preccedilo 2) o esporte pode ser
considerado como um instrumento ideoloacutegico do Estado 3) o esporte jaacute foi utilizado para fins
poliacuteticos 4) como quando e porque o esporte tornou-se mercadoria 5) qual a necessidade de
se entender a mercantilizaccedilatildeo do esporte num contexto de sociedade de consumo
No primeiro capiacutetulo estudaremos o conceito de trabalho na visatildeo marxiana
considerando as questotildees da divisatildeo social do trabalho trabalho alienado infra e
superestrutura e ideologia por fim um estudo da relaccedilatildeo da sociedade e do capitalismo bem
como suas definiccedilotildees num conceito marxiano para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista No segundo capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte
com o capitalismo levando em consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de
mercadorias pelos quais os meios de produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse
sistema capitalista reflete na realidade as expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo
10
de produccedilatildeo determinado Aleacutem de assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e
rendimento a qualquer custo tambeacutem eacute utilizado como instrumento ideoloacutegico de Estado e
politicamente como elemento disciplinador higienista e alienador que emprega valores
nacionalistas e ateacute raciais Finalmente no terceiro capiacutetulo discutiremos como ocorre o
processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte levando em consideraccedilatildeo a sua transformaccedilatildeo em
espetaacuteculo e da influecircncia que a sociedade de consumo exerce sobre ele
O objetivo deste trabalho eacute estudar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte numa sociedade que assume valores capitalistas levando em consideraccedilatildeo a estrutura
de funcionamento do sistema capitalista a partir de uma perspectiva marxiana e assim
procurar estabelecer uma criacutetica em torno da mesmice que existe sobre o esporte Por
conseguinte tendo como metodologia o desenvolvido de uma pesquisa qualitativa de cunho
exploratoacuterio por meio do meacutetodo dialeacutetico delineada pela teacutecnica de pesquisa bibliograacutefica
(GIL 1996)
11
1 - Conceitos Fundamentais do Pensamento Marxiano
ldquoA liberdade jamais seraacute dada pelo opressor Ela tem que ser conquistado pelo oprimidordquo
Martin Luther King
Partindo inicialmente da noccedilatildeo geral de que o objetivo amplo do marxismo eacute
interpretar a realidade para depois transformaacute-la consideramos que
[] o marxismo natildeo eacute uma teoria cientifica como as outras natildeo visa simplesmente descrever ou explicar mas visa transformar a realidade visa uma transformaccedilatildeo revolucionaacuteria Trata-se portanto de compreender a realidade para transformaacute-la revolucionariamente a partir de um ponto de vista de classe do ponto de vista das classes dominadas (LOumlWY 1998 18)
Esta compreensatildeo de transformar a realidade revolucionariamente parte do princiacutepio
de que quando as nossas ideacuteias sobre a sociedade visam transformaacute-la e quanto mais
entendemos a importacircncia desse processo de transformaccedilatildeo mais lutamos para que ele ocorra
(LOumlWY 1998)
Mesmo natildeo sendo um filoacutesofo a obra de Karl Marx exerceu grande repercussatildeo e
alcanccedilou uma importacircncia filosoacutefica capaz de influenciar diversas aacutereas como a histoacuteria
poliacutetica economia sociologia entre outras Os conceitos econocircmico-filosoacuteficos e ideacuteias
revolucionaacuterias marxianas foram fundamentais para o seacuteculo XX pois ofereceram o
instrumental teoacuterico necessaacuterio para uma profunda reconsideraccedilatildeo sobre os processos de
formaccedilatildeo da consciecircncia associando a produccedilatildeo da vida intelectual ao contexto da produccedilatildeo
da vida material e criaram as consideraccedilotildees necessaacuterias para libertar o homem do caacutercere no
qual a metafiacutesica lhe havia encarcerado Marx procurava atraveacutes da sua filosofia
contestadora criticar a modernidade pelo seu proacuteprio processo de desenvolvimento
combatendo os preconceitos as supersticcedilotildees e o falso saber provindo das antigas filosofias
(MARCONDES 1997)
Um dos conceitos fundamentais que Marx discute em sua teoria eacute o conceito de
trabalho considerando-o como relaccedilatildeo fundamental entre o sujeito e o objeto Segundo Marx
ldquoo trabalho eacute uma relaccedilatildeo invariante entre a espeacutecie humana e seu ambiente natural uma
12
perpeacutetua necessidade natural da vida humanardquo (MARCONDES 1997 229) Contudo antes
de investigarmos em profundidade as caracteriacutesticas do trabalho humano eacute necessaacuterio
entendermos quais satildeo as diferenccedilas entre o trabalho humano e o trabalho animal
11 - O trabalho animal
A atividade dos animais que se encontram nos niacuteveis mais baixos da escala zooloacutegica
de desenvolvimento se caracteriza por ser um conjunto de accedilotildees instintivas orientadas por leis
bioloacutegicas como eacute o caso dos insetos Se observarmos com atenccedilatildeo uma aranha tecendo uma
teia natildeo podemos dizer que isto eacute um trabalho porque este ato natildeo possui histoacuteria ou seja
natildeo eacute modificado ao longo de sua vida Este ato de tecer uma teia com extrema habilidade eacute
padronizado e soacute eacute modificado se ocorrer uma evoluccedilatildeo de sua espeacutecie ou por algum tipo de
mutaccedilatildeo geneacutetica A construccedilatildeo de alguma coisa por parte do animal natildeo tem como finalidade
promover condiccedilotildees melhores de vida mas
[] em certas aves chamadas tendilhotildees o haacutebito de fazer ninhos tiacutepicos da espeacutecie eacute tatildeo fixo que apoacutes cinco geraccedilotildees em que essas aves eram criadas por canaacuterios ainda continuavam a construiacute-los como antes (ARANHA ARTINS 1993 03)
Os animais mamiacuteferos que se encontram em melhor colocaccedilatildeo na escala zooloacutegica ou
em niacuteveis mais altos passam a transcender suas accedilotildees instintivas para uma categoria de atos
inteligentes Um exemplo eacute quando se coloca o chimpanzeacute com fome dentro de uma jaula e
nela estatildeo penduradas bananas que o animal natildeo consegue alcanccedilar mas resolve este
problema quando pega o caixote e coloca-o debaixo das bananas para pegaacute-las ou seja a
partir de uma visatildeo global do ambiente o chimpanzeacute estabelece uma relaccedilatildeo entre o caixote e
a banana (ARANHA MARTINS 1993)
Para solucionar este problema o chimpanzeacute natildeo conta com uma accedilatildeo imediata mas a
soluccedilatildeo depende da sua capacidade intelectual de estabelecer uma relaccedilatildeo entre o caixote e as
bananas Assim a sua inteligecircncia o distingue do inseto contudo ainda se trata de um tipo de
13
inteligecircncia concreta estabelecida no ato da situaccedilatildeo real e ldquomesmo que alguns animais
organizem sociedades mais complexas [] natildeo haacute nada que se compare agraves transformaccedilotildees
realizadas pelo homem enquanto criador da culturardquo (ARANHA MARTINS 1993 04)
Mesmo que um animal realize uma accedilatildeo transformadora que possa ser reconhecida
como um tipo especiacutefico de trabalho (por exemplo o joatildeo-de-barro que constroacutei sua casinha)
este trabalho natildeo eacute consciente e nem pode ser considerado criativo pois sempre que o joatildeoshy
de-barro ou qualquer outro animal criar resultados materiais estes resultados seratildeo iguais
para todos os sujeitos pertencentes a uma mesma espeacutecie Aleacutem disso as teacutecnicas e o
processo de construccedilatildeo tambeacutem seratildeo idecircnticos para os membros de uma mesma espeacutecie
situaccedilatildeo que nos forccedila a reconhecer que a accedilatildeo do indiviacuteduo natildeo pode ser considerada um ato
criativo ou reflexivo Jaacute o trabalho humano se caracteriza por ser uma accedilatildeo consciente capaz
de reproduzir e cria novas teacutecnicas a fim de transformar a natureza de acordo com a sua
necessidade humana e mudar a sua maneira de agir perceber pensar e sentir o mundo que o
cerca O trabalho humano eacute uma atividade consciente e transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio (ARANHA MARTINS 1993)
Os animais permanecem mergulhados na natureza e as espeacutecies vivem apenas o
presente de modo que o acuacutemulo de suas accedilotildees e experiecircncias natildeo se revertem em
aprendizado Isso significa que o trabalho animal natildeo estaacute submetido agrave mesma loacutegica que
preside a atividade humana que se desenvolve graccedilas ao movimento dialeacutetico produzido pelo
conflito entre consciecircncia e materialidade (ARANHA MARTINS 1993)
A accedilatildeo humana que transforma o mundo natural (realidade estritamente material) em
mundo cultural onde
[] cultura significa tudo o que o homem produz ao construir sua existecircncia as praacuteticas as teorias as instituiccedilotildees os valores materiais e espirituais Se o contato que o homem tem com o mundo eacute intermediado pelo siacutembolo a cultura eacute o conjunto de siacutembolos elaborados por um povo em determinado tempo e lugar Dada a infinita possibilidade de simbolizar as culturas dos povos satildeo muacuteltiplas e variadas (ARANHA MARTINS 1993 06)
14
Esta questatildeo do trabalho pelo qual o homem transforma a natureza e a si proacuteprio
diferenciando-se dos demais animais seraacute desenvolvido no proacuteximo item
12 - Caracteriacutesticas do trabalho humano
A histoacuteria do desenvolvimento das teacutecnicas e dos processos de transformaccedilatildeo da
realidade se confunde com a histoacuteria do desenvolvimento da humanidade De acordo com
Dantas (1986) os homens tiveram que aprender a trabalhar desde a origem da humanidade
para sobreviverem e satisfazer suas necessidades produzindo e reproduzindo meios de
subsistecircncia Este trabalho praticado pelo qual o homem se distingue do trabalho animal eacute
criativo enquanto o do animal eacute simplesmente instintivo
De acordo com Carosi (1963) trabalho eacute a atividade transformadora onde se
empregam forccedilas humanas fiacutesicas e intelectuais com o objetivo de moldar o mundo natural
de acordo com as necessidades individuais ou coletivas de subsistecircncia Ou seja o trabalho
tornasse o emprego das energias humanas para diferenciar das accedilotildees de um animal e do
funcionamento de uma maacutequina pois eacute direcionado pela inteligecircncia e pela sustentaccedilatildeo da
vontade do homem
Conforme Braverman (1977) apoderar-se dos materiais da natureza assim como
ocorre com os vegetais que absorvem minerais e luz do sol e animais que se alimentam de
vida vegetal natildeo pode ser considerado trabalho Pois o trabalho eacute uma atividade que
transforma o estado natural desses materiais de modo que possam ser utilizados para
satisfazer as necessidades da espeacutecie humana
Para Braverman (1977) natildeo se trata agora de analisar as semelhanccedilas do trabalho
humano com o trabalho dos outros animais mas sim as diferenccedilas que os distanciam um do
outro Ao utilizar o termo trabalho para designar a atividade criativa peculiar do homem
Marx enfatiza que ldquonatildeo se trata aqui das primeiras formas instintivas animais de trabalhordquo
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(MARX 1996 297) Uma aranha realiza funccedilotildees que se assemelha a dos tecelotildees e a abelha
envergonha muitos arquitetos na construccedilatildeo de seus alveacuteolos Mas o que realmente distingue
o pior arquiteto humano da melhor abelha eacute que o humano cria em sua mente o corticcedilo antes
de transformaacute-lo em realidade No fim do processo o resultado sai de acordo com a
imaginaccedilatildeo na qual o trabalho teve no iniacutecio Ou seja o homem transforma o material de
acordo com sua vontade e imprime no real a forma de sua consciecircncia (MARX 1996)
O trabalho entendido aqui como uma atividade adequada a um fim distingue-se dos
animais que procuram apenas a satisfaccedilatildeo das suas necessidades bioloacutegicas Atraveacutes dele os
homens produzem sua proacutepria existecircncia mas antes de tudo
[] o trabalho eacute um processo entre o homem e a Natureza um processo em que o homem por sua proacutepria accedilatildeo media regula e controla seu metabolismo com a Natureza Ele mesmo se defronta com a mateacuteria natural como uma forccedila natural Ele potildee em movimento as forccedilas naturais pertencentes a sua corporalidade braccedilos e pernas cabeccedila e matildeo a fim de apropriar-se da mateacuteria natural numa forma uacutetil para sua proacutepria vida Ao atuar por meio desses movimentos sobre a Natureza externa e ao modificaacuteshyla ele modifica ao mesmo tempo sua proacutepria natureza Ele desenvolve as potecircncias nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forccedilas a seu proacuteprio domiacutenio (MARX 1996 297)
Por essa forma o trabalho humano eacute consciente e proposital Jaacute o trabalho dos outros
animais eacute instintivo Podemos observar quando uma largata completa a segunda metade de
seu casulo sem se importar com a primeira (BRAVERMAN 1977)
Carosi (1963) diferencia o trabalho do homem do trabalho animal pois o primeiro
possui capacidades para fazer algo atraveacutes de seus dons e ideacuteias para atingir o que tem que ser
feito enquanto que no animal nada disso pode ser observado Conforme Carosi (1963 588)
ldquodiz-se que o animal trabalha que a maacutequina trabalha mas eacute certamente um modo muito
improacuteprio de expressatildeo [] Eacute mais correto dizer que o animal e a maacutequina satildeo instrumentos
de trabalhordquo Pois desta forma o trabalho esta interiorizado na moralidade do homem de
forma que sua produccedilatildeo eacute uma virtude agrave medida que consegue as condiccedilotildees necessaacuterias
mediante o trabalho para si ou para os outros
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O homem consegue distinguir-se do animal pelo trabalho sendo este uma relaccedilatildeo
dialeacutetica da teoria com a praacutetica que possibilita ao homem desenvolver sua imaginaccedilatildeo e
habilidade uma vez que sua accedilatildeo eacute antecipada pelo pensamento conseguindo modificar um
objeto ao mesmo tempo em que sua accedilatildeo tambeacutem eacute alterada gerando o seu processo
histoacuterico onde o trabalho tornasse a condiccedilatildeo fundamental para o homem alterar a sua visatildeo
perante o mundo e a si mesmo (ARANHA MARTINS 1993)
Outro conceito fundamental para entendermos a diferenccedila entre o homem e o animal eacute
a sua condiccedilatildeo de trabalho a que cada um deles estaacute submetido Afinal ldquoo homem eacute um ser
que trabalha e produz o mundo e a si mesmo O animal natildeo produz a sua existecircncia mas
apenas a conserva agindo instintivamente []rdquo (ARANHA MARTINS 1993 05)
Sobre a necessidade e a utilidade do trabalho Carosi (1963 589) afirma que
O trabalho eacute aleacutem disso fonte de prosperidade tudo vem da natureza mas nada vem sem o trabalho Se a natureza fosse abandonada a si proacuteprio pelo homem ocioso natildeo lhe oferecia sequer o necessaacuterio para viver com o trabalho ela concede-lhe as maravilhas e comodidade do programa acima de suas necessidades (CAROSI 1963 589)
O trabalho humano armazenado ou exercido em ferramentas maquinarias ou em
animais eacute um recurso utilizado exclusivamente pela competecircncia humana para explorar a
natureza Assim como todos os processos vitais de um corpo humano como os muacutesculos
ceacuterebros satildeo inseparaacuteveis do indiviacuteduo o trabalho tambeacutem eacute uma propriedade inalienaacutevel do
indiviacuteduo humano Portanto tornasse impossiacutevel satisfazer as necessidades baacutesicas em lugar
de outra pessoa que natildeo seja si proacuteprio Entretanto quando um proprietaacuterio utiliza os serviccedilos
de um animal simplesmente canaliza a forccedila e suas resistecircncias naturais desse animal
Todavia ao utilizar abelhas para a produccedilatildeo de mel ou de carneiros para a produccedilatildeo de latilde o
proprietaacuterio soacute tira vantagens das condiccedilotildees bioloacutegicas das atividades dos animais Mas ao
utilizar a forccedila de trabalho do animal o homem ao mesmo tempo utiliza a sua para obter
atraveacutes do trabalho animal as miacutenimas condiccedilotildees variaacuteveis do trabalho concreto
(BRAVERMAN 1977) Sendo assim
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O que distingue a forccedila de trabalho humano eacute portanto natildeo sua capacidade de produzir um excedente mas seu caraacuteter inteligente e proposital que lhe daacute infinita adaptabilidade e que produz as condiccedilotildees sociais e culturais para ampliar sua proacutepria produtividade de modo que seu produto excedente pode ser continuamente ampliado (BRAVERMAN 1977 58)
Portanto eacute o homem que constroacutei e produz sua proacutepria histoacuteria transformando a
natureza e a si proacuteprio a partir de uma accedilatildeo humana e coletiva caracterizando o trabalho
como uma tarefa social onde todas as diferenccedilas que existem na sociedade satildeo fundamentais
para que se organizem na construccedilatildeo da vida social econocircmica e poliacutetica Mesmo a sociedade
sendo formada pelas relaccedilotildees sociais o homem natildeo perde a sua individualidade o que faz
com que se diferencie dos demais Todavia esta contradiccedilatildeo de viver numa sociedade que
opotildee a alienaccedilatildeo agrave liberdade eacute fundamental para manter a dialeacutetica em constante sintonia
(ARANHA MARTINS 1993)
Aleacutem do trabalho o homem possui outras condiccedilotildees que o diferencia do animal Um eacute
o ato voluntaacuterio e consciente da finalidade de seu uso e o outro eacute a fala O ato consciente
primeiramente existe antes como pensamento e este pode ser utilizado para atingir os fins
propostos pela livre vontade do agente Jaacute a fala e as palavras fazem parte da essecircncia do
universo humano distinguindo-o do animal pois este natildeo conhece a simbologia mas
somente os iacutendices que indicam sempre a mesma coisa especiacutefica Jaacute o siacutembolo aleacutem de ser
universal eacute flexiacutevel podendo uma palavra ter diversos entendimentos (ARANHA
MARTINS 1993)
A linguagem e a palavra determinam a condiccedilatildeo na qual o homem e o animal se
desencontram distanciando-o pelo fato da linguagem animal visar a adaptaccedilatildeo ao concreto
enquanto a linguagem humana interveacutem como uma forma abstrata Portanto mesmo quando
um animal conseguir solucionar um problema complexo a sua inteligecircncia ainda seraacute
concreta tratando-se de uma experiecircncia vivida no momento exato enquanto que para o
homem a linguagem por siacutembolos e abstrata permite distanciar-se do mundo e voltar para
transformaacute-lo (ARANHA MARTINS 1993)
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Ao dizer que o homem fala trabalha e pelo trabalho transforma a natureza e a si
proacuteprio nada disso teraacute sentido se natildeo enfatizarmos que a accedilatildeo do ser humano eacute uma accedilatildeo
coletiva Pois o trabalho eacute uma funccedilatildeo social e a palavra eacute um meio de diaacutelogo (ARANHA
MARTINS 1993)
Os estudos experimentais sobre o comportamento animal demonstram que eles natildeo
satildeo totalmente privados da capacidade de aprender e conceber ideacuteias de caraacuteter inicial ou
mesmo aprender a resolver os problemas mais simples que sejam portando
Assim uma criatura dotada de sistema nervoso tatildeo primitivo como a minhoca pode aprender a passar por um labirinto os chimpanzeacutes podem ser estimulados a inventar e fazer instrumentos tais como estender vara que lhes permitem atingir o alimento ou empilhar caixas para o mesmo fim (BRAVERMAN 1977 52)
Conclui-se que a diferenccedila entre o homem e o animal natildeo estaacute apenas em grau mas
em espeacutecie cujo haacute uma imensa distacircncia entre aprender as capacidades conceituais do ser
humano em comparaccedilatildeo aos animais mais adaptaacuteveis Ou seja aos animais natildeo foi possiacutevel
ensinar-lhes a capacidade de manipular representaccedilotildees simboacutelicas e a linguagem articulada
Sem a aprendizagem das capacidades simboacutelicas e da linguagem os animais permanecem
com o seu pensamento conceitual a um niacutevel rudimentar que natildeo pode ser transmitido atraveacutes
do grupo (BRAVERMAN 1977)
Aranha e Martins (1993) tambeacutem afirmam ao dizer que as diferenccedilas entre o homem e
o animal natildeo eacute apenas em grau pois enquanto o animal vive dentro da natureza o homem a
utiliza e transformaacute-a em uma possiacutevel cultural O entendimento de cultura para os
antropoacutelogos eacute tudo aquilo que o homem consegue produzir ao construir sua existecircncia
como por exemplo as praacuteticas as teorias os valores materiais entre outros
Portanto eacute pelo trabalho que o homem consegue construir sua proacutepria histoacuteria sendo
que o ldquotrabalho que ultrapassa a mera atividade instintiva eacute assim a forccedila que criou a espeacutecie
humana e a forccedila pela qual a humanidade criou o mundo como o conhecemosrdquo
(BRAVERMAN 1977 53)
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Aranha e Martins (1993) afirmam que o processo de construccedilatildeo da humanidade se faz
pela relaccedilatildeo entre os homens e a sua consciecircncia emerge lentamente atraveacutes dos conflitos
entre essas relaccedilotildees Entatildeo sobre cai ao homem agrave responsabilidade de manter viva a dialeacutetica
atraveacutes de suas contradiccedilotildees sendo que o ser humano ao mesmo tempo em que eacute um ser
social tambeacutem possui uma individualidade que eacute fundamental para distingui-lo dos demais
ldquoPortanto a sociedade eacute a condiccedilatildeo da alienaccedilatildeo e da liberdade eacute a condiccedilatildeo para que o
homem se perca mas tambeacutem de se encontrarrdquo (ARANHA MARTINS 1993 07)
13 - Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienado
A transiccedilatildeo do periacuteodo do feudalismo para o capitalismo foi marcada pelo nascimento
das faacutebricas onde ocorria uma acumulaccedilatildeo de capital que permitia comprar mateacuteria-prima e
maacutequinas para ampliar o seu mercado Os artesatildeos vendo o forte crescimento das faacutebricas e
percebendo que era impossiacutevel competir contra elas tiveram que vender a sua forccedila de
trabalho em troca de um salaacuterio e se adequar a divisatildeo de trabalho que estabelecia ritmo e
horaacuterio (ARANHA MARTINS 1993)
Ainda em relaccedilatildeo ao trabalho como meio de subsistecircncia para a sobrevivecircncia do ser
humano Dantas (1986) afirma que num determinado periacuteodo esta concepccedilatildeo passou a ser
alheia ao trabalhador Como a divisatildeo do trabalho estava no iniacutecio de seu desenvolvimento o
trabalho era organizado e entendido como familiar onde todos os adultos tinham sua
participaccedilatildeo inclusive aos idosos onde cabia a responsabilidade de distribuir as funccedilotildees Os
materiais para a realizaccedilatildeo do trabalho aleacutem de serem poucos eram rudimentares mas
suficientes para conseguir produtos para suprir as necessidades de todos Ainda citando
Dantas (1986) seus estudos apresenta ter um entendimento da divisatildeo do trabalho a partir do
periacuteodo feudal onde houve um acirramento da separaccedilatildeo entre campo e cidade que foi
crucial para o desenvolvimento daquele fenocircmeno no seu formato moderno No campo o
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trabalho tem como caracteriacutestica a servidatildeo e era realizado na terra sendo esta propriedade do
senhor Os servos eram responsaacuteveis pela produccedilatildeo de meios materiais para si e para os
senhores Jaacute na cidade a divisatildeo do trabalho se dava dentro das pequenas oficinas onde o
artesatildeo que era dono dos seus meios de produccedilatildeo e sua famiacutelia seus auxiliares que com suas
habilidades determinavam um produto final
De acordo com Catani (1984 20) ldquoa divisatildeo social do trabalho eacute outra condiccedilatildeo
preacutevia caracteriacutestica de uma sociedade capitalistardquo pois nessa sociedade todos realizam seus
trabalhos de formas especiacuteficas e particulares contudo ldquotodos dependem uns dos outros e isto
decorre na divisatildeo do trabalho no seio da produccedilatildeo mercantilrdquo (CATANI 1984 20)
Marx (1996) explica que a divisatildeo do trabalho na forma de cooperaccedilatildeo comeccedila a ser
desenvolvido na manufatura predominantemente porque o processo de produccedilatildeo capitalista
se estende do seacuteculo XVI ateacute o seacuteculo XVIII Ou seja diversos trabalhadores com ofiacutecios
diferentes uns dos outros reunidos em uma oficina para produzir um produto sendo que este
passe por ambas as matildeos ateacute o seu acabamento final O trabalho eacute realizado em colaboraccedilatildeo
uns com os outros
Braverman (1980) nos esclarece que a divisatildeo do trabalho que ocorre na oficina eacute
diferente do trabalho desenvolvido no interior da sociedade afirmando que
A divisatildeo do trabalho na sociedade eacute caracteriacutestica de todas as sociedades conhecidas a divisatildeo do trabalho na oficina eacute produto peculiar da sociedade capitalista A divisatildeo social do trabalho divide a sociedade entre ocupaccedilotildees cada qual apropriada a certo ramo de produccedilatildeo a divisatildeo pormenorizada do trabalho destroacutei ocupaccedilotildees consideradas neste sentido e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produccedilatildeo [] Ainda no capitalismo os produtos da divisatildeo social do trabalho satildeo trocados como mercadorias enquanto os resultados da operaccedilatildeo do trabalhador parcelado natildeo satildeo trocados dentro da fabrica como o mercado mas satildeo todos possuiacutedos pelo mesmo capital Enquanto a divisatildeo social do trabalho subdivide a sociedade a divisatildeo parcelada do trabalho subdivide o homem e enquanto a subdivisatildeo da sociedade pode fortalecer o indiviacuteduo e a espeacutecie a subdivisatildeo do indiviacuteduo quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas eacute um crime contra a pessoa e contra a humanidade (BRAVERMAN 1980 72)
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Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
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Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
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servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
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Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
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satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
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O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
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E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
29
dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
30
2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
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frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
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ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
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criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
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De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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Agradecimentos
Aos meus amigos
Ricardo Forti pela amizade leal e intensa Pelos conselhos e companheirismo desde os
tempos de escola Por compartilhar comigo os mesmo desejos e sonhos de justiccedila igualdade e
por uma sociedade mais fraterna
Faacutebio Clementino pelo companheirismo ao longo desta caminha na vida esportiva e
acadecircmica cheia de obstaacuteculos duacutevidas e incertezas Pela troca de conhecimento pelos
sinceros elogios e por ser um amigo sempre presente
Edson Joseacute Modesto pelo respeito e confianccedila Pelos debates que fizemos ao longo
desse uacuteltimo semestre (tempos de monografia) dentro do ocircnibus sendo que estas discussotildees
contribuiacuteram em muito para a nossa formaccedilatildeo da ldquoconsciecircncia criacuteticardquo e atitudes
multiplicadoras e pelo seu compromisso com os menos favorecidos
Aos professores(as)
Rodrigo Batagello pela amizade e orientaccedilatildeo deste trabalho Por indicar-me os
instrumentos da teoria marxista para lutar contra o capitalismo
Ricardo Ducatti Colpas pela co-orientaccedilatildeo e pela amizade fraterna Pela socializaccedilatildeo
de conhecimentos e por se mostrar afetivamente compromissado pela transformaccedilatildeo
revolucionaacuteria da sociedade
Eline Porto por seus ensinamentos em sala de aula Pela admiraccedilatildeo carinho e respeito
que pode perceber durante minha passagem pela academia
Em especial
A todos meus colegas da Equipe de Atletismo de Piracicaba
Ao Professor Francisco Mauacuteri de Carvalho Freitas pela contribuiccedilatildeo que suas obras
revolucionaacuterias deram-me para transformar a Educaccedilatildeo Fiacutesica em especial a A MISEacuteRIA DA
EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA que tive o conhecimento quando esse trabalho estava sendo finalizado
Agrave minha famiacutelia e a Deus por me dar sauacutede e tempo para construir minhas coisas
[] os criadores do mito Homo Sportivus por falta de compromisso poliacutetico com a transformaccedilatildeo operaacuteria da sociedade e pela ausecircncia de uma cultura filosoacutefica marxista servem de ldquomoccedilos de recadosrdquo ldquomeninosshypropagandardquo para um ldquodispositivordquo poliacutetico que privilegia o supeacuterfluo dos ricos em detrimento do estritamente necessaacuterio dos pobres ou do proletariado de meacutedia e baixa renda Verdadeiramente satildeo serviccedilais de luxo do capitalismo agrave brasileira em ldquoreconstruccedilatildeo colloridardquo que perpetua a decomposiccedilatildeo e a degradaccedilatildeo coletiva da classe operaacuteria excetuando a aristocracia operaacuteria gerando um enorme exeacutercito de homens famintos e de marginais verdadeiros psicoacuteticos ensandecidos
Francisco Maacuteuri de Carvalho Freitas
RESUMO
O objetivo desse trabalho eacute estudar como ocorre processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte numa sociedade que assume os valores capitalistas Para tanto iremos utilizar os instrumentais teoacutericos oferecidos pela perspectiva marxiana Segundo o referencial teoacuterico adotado tentaremos demonstrar como o esporte pode ser considerado um instrumento poliacuteticoideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por uma minoria economicamente dominante Desse modo pretendemos demonstrar como a ideacuteia de competitividade superaccedilatildeo de limites etc refletem na realidade as expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado Dentro desse contexto abordaremos como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte e sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo onde os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam receber em troca um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Este trabalho seraacute desenvolvido atraveacutes de uma pesquisa qualitativa de cunho exploratoacuterio por meio do meacutetodo dialeacutetico delineada pela teacutecnica de pesquisa bibliograacutefica Palavras-chave capitalismo-marxismo mercantilizaccedilatildeo e esporte
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeOp07
1 - Conceitos Fundamentais do Pensamento Marxianop11
11 O trabalho animalp12
12 Caracteriacutesticas do trabalho humanop14
13 Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienadop20
14 Ideologiap24
15 Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestruturap25
2 - Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moedap30
21 O esporte moderno e seu uso poliacuteticop30
22 O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estadop35
23 O esporte e sua estrutura capitalistap39
3 - O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esportep46
31 Esporte-espetaacuteculo e sociedadep46
32 Mercantilizaccedilatildeo do esportep51
CONSIDERACcedilOtildeES FINAISp59
REFEREcircNCIASp61
7
INTRODUCcedilAtildeO
Ao ingressar na universidade no ano de 2002 no curso de Licenciatura em
Matemaacutetica posso lhes dizer que foi neste momento da minha vida acadecircmica que me levou a
fazer este trabalho de conclusatildeo de curso fundamentado na teoria de marxiana Mas natildeo pelo
que aprendi dentro das salas de aulas mas fora delas
Sendo influenciado e persuadido pelo meu amigo Ricardo Forti que na eacutepoca era viceshy
presidente do Diretoacuterio Central dos Estudantes ndash DCE e pelo interesse que sempre tive em
participar de movimentos estudantis e poliacuteticos tive a oportunidade de atuar e participar em
vaacuterias frentes nesses movimentos tais como o Centro Acadecircmico de Matemaacutetica qual fui
vice-presidente e presidente participaccedilotildees no DCE e nos movimento negros entre eles
destaco o Nuacutecleo de Afrodescendente da Unimep ndash NADU ONG Afrobras (Sociedade Afro-
Brasileira de Desenvolvimento Soacutecio Cultural) e da Associaccedilatildeo dos Universitaacuterios negros e
negras de Piracicaba ndash AUEcirc sendo este uacuteltimo uma associaccedilatildeo que ajudei a construir E
posteriormente no C A de Educaccedilatildeo Fiacutesica em 2005
Mas de todos estes movimentos estudantis e poliacuteticos que participei um tem uma
importacircncia decisivo para minha formaccedilatildeo Destaco o 1ordm Encontro da Juventude do Campo e
da Cidade realizado na Mooca em 2002 cidade de Satildeo Paulo e organizado pelo Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra ndash MST Foi neste encontro que pude observar os debates
sobre a teoria de Marx onde todos ali presentes demonstravam o compromisso pela luta de
classes em especial para com os menos favorecidos
Outro fato que me marcou foi a forma na qual todos noacutes discutiacuteamos sobre as questotildees
que o mundo estava passando dentro de uma contexto capitalista Todos sentados no chatildeo em
forma de ciacuterculo Numa dessas rodas ouvi falar de Paulo Freire e sua preocupaccedilatildeo em
desenvolver nos cidadatildeos e cidadatildes a ldquoconsciecircncia criacuteticardquo
8
Voltando aos dias de aula na universidade todas aquelas questotildees que vivenciei
naquele momento da roda de conversa passei a debater comigo mesmo tentando descobrir
onde e em que lugar poderia aplicaacute-las
Ainda sobre minha passagem pelo curso de Matemaacutetica conheci um estudante que
estava concluindo o curso de Filosofia o qual me chamou a atenccedilatildeo pelo seu compromisso
com alguns movimentos sociais seu nome Rodrigo Batagello
Passados dois anos e meio segundo semestre de 2004 transfiro-me para o curso de
Educaccedilatildeo Fiacutesica da mesma instituiccedilatildeo e em 2006 fazendo a disciplina de estaacutegio
supervisionado como componente obrigatoacuterio do curriacuteculo na aacuterea da Educaccedilatildeo Fiacutesica
escolar encontro as mesmas praacuteticas vividas por mim no encontro do MST sendo aplicadas
nas aulas de educaccedilatildeo fiacutesica As rodas de conversa as discussotildees sobre as questotildees da nossa
sociedade das relaccedilotildees sociais e sobre a aula em si
Durante o meu estaacutegio conheci o professor do Instituto Educacional Piracicabano ndash
Coleacutegio Piracicabano Ricardo Colpas e este me revelou a Educaccedilatildeo Fiacutesica revolucionaacuteria e
sua colaboraccedilatildeo na transformaccedilatildeo da realidade social atraveacutes da praacutetica corporal A
abordagem utilizada pelo professor a Criacutetico-Superadora estabelece criteacuterios para a
sistematizaccedilatildeo dessa disciplina no acircmbito da escola e se apresenta pautada num projeto
histoacuterico de sociedade que tem como princiacutepio a superaccedilatildeo da sociedade capitalista Esta
abordagem eacute fundamentada em Marx
Portanto a linha de estudo que tomaremos para o desenvolvimento deste trabalho eacute
construiacutedo graccedilas a um processo que tive no iniacutecio da minha vida acadecircmica e que hoje tenho
como professor orientador Rodrigo Batagello que atualmente ministra aulas de Filosofia e
Eacutetica no curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica da Unimep e como co-orientador o professor Ricardo
Colpas sendo ambos responsaacuteveis pela concretizaccedilatildeo desse meu sonho Ou seja discutir a
influecircncia do capitalismo no esporte
9
Podendo ser observada as constantes transformaccedilotildees que vem ocorrendo no mundo
por conta de um sistema econocircmico contraditoacuterio que priva uma classe social por interesses
particulares em detrimento dos interesses de uma classe economicamente dominante acabam
influenciando as estruturas de uma sociedade a fim de manter os interesses dominantes
vigentes E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural que estaacute instituiacutedo na vida de muita
gente no mundo inteiro vem ao longo do tempo sendo influenciado por uma ideologia
dominante capaz de transformaacute-lo em mercadoria
A justificativa desse presente trabalho eacute buscar uma maior reflexatildeo sobre o esporte
inserido numa sociedade que assumiu os valores capitalistas a partir de um ponto de vista
criacutetico tentando compreender como o esporte faz sua relaccedilatildeo com esta sociedade de tal
forma que tudo o que se vecirc e consume faz parte de um ideal jaacute determinado
Portanto partindo de algumas inquietaccedilotildees levantamos algumas problematizaccedilotildees que
devem ser respondidas ao decorrer desse nosso trabalho satildeo elas 1) o esporte assume os
valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer preccedilo 2) o esporte pode ser
considerado como um instrumento ideoloacutegico do Estado 3) o esporte jaacute foi utilizado para fins
poliacuteticos 4) como quando e porque o esporte tornou-se mercadoria 5) qual a necessidade de
se entender a mercantilizaccedilatildeo do esporte num contexto de sociedade de consumo
No primeiro capiacutetulo estudaremos o conceito de trabalho na visatildeo marxiana
considerando as questotildees da divisatildeo social do trabalho trabalho alienado infra e
superestrutura e ideologia por fim um estudo da relaccedilatildeo da sociedade e do capitalismo bem
como suas definiccedilotildees num conceito marxiano para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista No segundo capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte
com o capitalismo levando em consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de
mercadorias pelos quais os meios de produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse
sistema capitalista reflete na realidade as expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo
10
de produccedilatildeo determinado Aleacutem de assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e
rendimento a qualquer custo tambeacutem eacute utilizado como instrumento ideoloacutegico de Estado e
politicamente como elemento disciplinador higienista e alienador que emprega valores
nacionalistas e ateacute raciais Finalmente no terceiro capiacutetulo discutiremos como ocorre o
processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte levando em consideraccedilatildeo a sua transformaccedilatildeo em
espetaacuteculo e da influecircncia que a sociedade de consumo exerce sobre ele
O objetivo deste trabalho eacute estudar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte numa sociedade que assume valores capitalistas levando em consideraccedilatildeo a estrutura
de funcionamento do sistema capitalista a partir de uma perspectiva marxiana e assim
procurar estabelecer uma criacutetica em torno da mesmice que existe sobre o esporte Por
conseguinte tendo como metodologia o desenvolvido de uma pesquisa qualitativa de cunho
exploratoacuterio por meio do meacutetodo dialeacutetico delineada pela teacutecnica de pesquisa bibliograacutefica
(GIL 1996)
11
1 - Conceitos Fundamentais do Pensamento Marxiano
ldquoA liberdade jamais seraacute dada pelo opressor Ela tem que ser conquistado pelo oprimidordquo
Martin Luther King
Partindo inicialmente da noccedilatildeo geral de que o objetivo amplo do marxismo eacute
interpretar a realidade para depois transformaacute-la consideramos que
[] o marxismo natildeo eacute uma teoria cientifica como as outras natildeo visa simplesmente descrever ou explicar mas visa transformar a realidade visa uma transformaccedilatildeo revolucionaacuteria Trata-se portanto de compreender a realidade para transformaacute-la revolucionariamente a partir de um ponto de vista de classe do ponto de vista das classes dominadas (LOumlWY 1998 18)
Esta compreensatildeo de transformar a realidade revolucionariamente parte do princiacutepio
de que quando as nossas ideacuteias sobre a sociedade visam transformaacute-la e quanto mais
entendemos a importacircncia desse processo de transformaccedilatildeo mais lutamos para que ele ocorra
(LOumlWY 1998)
Mesmo natildeo sendo um filoacutesofo a obra de Karl Marx exerceu grande repercussatildeo e
alcanccedilou uma importacircncia filosoacutefica capaz de influenciar diversas aacutereas como a histoacuteria
poliacutetica economia sociologia entre outras Os conceitos econocircmico-filosoacuteficos e ideacuteias
revolucionaacuterias marxianas foram fundamentais para o seacuteculo XX pois ofereceram o
instrumental teoacuterico necessaacuterio para uma profunda reconsideraccedilatildeo sobre os processos de
formaccedilatildeo da consciecircncia associando a produccedilatildeo da vida intelectual ao contexto da produccedilatildeo
da vida material e criaram as consideraccedilotildees necessaacuterias para libertar o homem do caacutercere no
qual a metafiacutesica lhe havia encarcerado Marx procurava atraveacutes da sua filosofia
contestadora criticar a modernidade pelo seu proacuteprio processo de desenvolvimento
combatendo os preconceitos as supersticcedilotildees e o falso saber provindo das antigas filosofias
(MARCONDES 1997)
Um dos conceitos fundamentais que Marx discute em sua teoria eacute o conceito de
trabalho considerando-o como relaccedilatildeo fundamental entre o sujeito e o objeto Segundo Marx
ldquoo trabalho eacute uma relaccedilatildeo invariante entre a espeacutecie humana e seu ambiente natural uma
12
perpeacutetua necessidade natural da vida humanardquo (MARCONDES 1997 229) Contudo antes
de investigarmos em profundidade as caracteriacutesticas do trabalho humano eacute necessaacuterio
entendermos quais satildeo as diferenccedilas entre o trabalho humano e o trabalho animal
11 - O trabalho animal
A atividade dos animais que se encontram nos niacuteveis mais baixos da escala zooloacutegica
de desenvolvimento se caracteriza por ser um conjunto de accedilotildees instintivas orientadas por leis
bioloacutegicas como eacute o caso dos insetos Se observarmos com atenccedilatildeo uma aranha tecendo uma
teia natildeo podemos dizer que isto eacute um trabalho porque este ato natildeo possui histoacuteria ou seja
natildeo eacute modificado ao longo de sua vida Este ato de tecer uma teia com extrema habilidade eacute
padronizado e soacute eacute modificado se ocorrer uma evoluccedilatildeo de sua espeacutecie ou por algum tipo de
mutaccedilatildeo geneacutetica A construccedilatildeo de alguma coisa por parte do animal natildeo tem como finalidade
promover condiccedilotildees melhores de vida mas
[] em certas aves chamadas tendilhotildees o haacutebito de fazer ninhos tiacutepicos da espeacutecie eacute tatildeo fixo que apoacutes cinco geraccedilotildees em que essas aves eram criadas por canaacuterios ainda continuavam a construiacute-los como antes (ARANHA ARTINS 1993 03)
Os animais mamiacuteferos que se encontram em melhor colocaccedilatildeo na escala zooloacutegica ou
em niacuteveis mais altos passam a transcender suas accedilotildees instintivas para uma categoria de atos
inteligentes Um exemplo eacute quando se coloca o chimpanzeacute com fome dentro de uma jaula e
nela estatildeo penduradas bananas que o animal natildeo consegue alcanccedilar mas resolve este
problema quando pega o caixote e coloca-o debaixo das bananas para pegaacute-las ou seja a
partir de uma visatildeo global do ambiente o chimpanzeacute estabelece uma relaccedilatildeo entre o caixote e
a banana (ARANHA MARTINS 1993)
Para solucionar este problema o chimpanzeacute natildeo conta com uma accedilatildeo imediata mas a
soluccedilatildeo depende da sua capacidade intelectual de estabelecer uma relaccedilatildeo entre o caixote e as
bananas Assim a sua inteligecircncia o distingue do inseto contudo ainda se trata de um tipo de
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inteligecircncia concreta estabelecida no ato da situaccedilatildeo real e ldquomesmo que alguns animais
organizem sociedades mais complexas [] natildeo haacute nada que se compare agraves transformaccedilotildees
realizadas pelo homem enquanto criador da culturardquo (ARANHA MARTINS 1993 04)
Mesmo que um animal realize uma accedilatildeo transformadora que possa ser reconhecida
como um tipo especiacutefico de trabalho (por exemplo o joatildeo-de-barro que constroacutei sua casinha)
este trabalho natildeo eacute consciente e nem pode ser considerado criativo pois sempre que o joatildeoshy
de-barro ou qualquer outro animal criar resultados materiais estes resultados seratildeo iguais
para todos os sujeitos pertencentes a uma mesma espeacutecie Aleacutem disso as teacutecnicas e o
processo de construccedilatildeo tambeacutem seratildeo idecircnticos para os membros de uma mesma espeacutecie
situaccedilatildeo que nos forccedila a reconhecer que a accedilatildeo do indiviacuteduo natildeo pode ser considerada um ato
criativo ou reflexivo Jaacute o trabalho humano se caracteriza por ser uma accedilatildeo consciente capaz
de reproduzir e cria novas teacutecnicas a fim de transformar a natureza de acordo com a sua
necessidade humana e mudar a sua maneira de agir perceber pensar e sentir o mundo que o
cerca O trabalho humano eacute uma atividade consciente e transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio (ARANHA MARTINS 1993)
Os animais permanecem mergulhados na natureza e as espeacutecies vivem apenas o
presente de modo que o acuacutemulo de suas accedilotildees e experiecircncias natildeo se revertem em
aprendizado Isso significa que o trabalho animal natildeo estaacute submetido agrave mesma loacutegica que
preside a atividade humana que se desenvolve graccedilas ao movimento dialeacutetico produzido pelo
conflito entre consciecircncia e materialidade (ARANHA MARTINS 1993)
A accedilatildeo humana que transforma o mundo natural (realidade estritamente material) em
mundo cultural onde
[] cultura significa tudo o que o homem produz ao construir sua existecircncia as praacuteticas as teorias as instituiccedilotildees os valores materiais e espirituais Se o contato que o homem tem com o mundo eacute intermediado pelo siacutembolo a cultura eacute o conjunto de siacutembolos elaborados por um povo em determinado tempo e lugar Dada a infinita possibilidade de simbolizar as culturas dos povos satildeo muacuteltiplas e variadas (ARANHA MARTINS 1993 06)
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Esta questatildeo do trabalho pelo qual o homem transforma a natureza e a si proacuteprio
diferenciando-se dos demais animais seraacute desenvolvido no proacuteximo item
12 - Caracteriacutesticas do trabalho humano
A histoacuteria do desenvolvimento das teacutecnicas e dos processos de transformaccedilatildeo da
realidade se confunde com a histoacuteria do desenvolvimento da humanidade De acordo com
Dantas (1986) os homens tiveram que aprender a trabalhar desde a origem da humanidade
para sobreviverem e satisfazer suas necessidades produzindo e reproduzindo meios de
subsistecircncia Este trabalho praticado pelo qual o homem se distingue do trabalho animal eacute
criativo enquanto o do animal eacute simplesmente instintivo
De acordo com Carosi (1963) trabalho eacute a atividade transformadora onde se
empregam forccedilas humanas fiacutesicas e intelectuais com o objetivo de moldar o mundo natural
de acordo com as necessidades individuais ou coletivas de subsistecircncia Ou seja o trabalho
tornasse o emprego das energias humanas para diferenciar das accedilotildees de um animal e do
funcionamento de uma maacutequina pois eacute direcionado pela inteligecircncia e pela sustentaccedilatildeo da
vontade do homem
Conforme Braverman (1977) apoderar-se dos materiais da natureza assim como
ocorre com os vegetais que absorvem minerais e luz do sol e animais que se alimentam de
vida vegetal natildeo pode ser considerado trabalho Pois o trabalho eacute uma atividade que
transforma o estado natural desses materiais de modo que possam ser utilizados para
satisfazer as necessidades da espeacutecie humana
Para Braverman (1977) natildeo se trata agora de analisar as semelhanccedilas do trabalho
humano com o trabalho dos outros animais mas sim as diferenccedilas que os distanciam um do
outro Ao utilizar o termo trabalho para designar a atividade criativa peculiar do homem
Marx enfatiza que ldquonatildeo se trata aqui das primeiras formas instintivas animais de trabalhordquo
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(MARX 1996 297) Uma aranha realiza funccedilotildees que se assemelha a dos tecelotildees e a abelha
envergonha muitos arquitetos na construccedilatildeo de seus alveacuteolos Mas o que realmente distingue
o pior arquiteto humano da melhor abelha eacute que o humano cria em sua mente o corticcedilo antes
de transformaacute-lo em realidade No fim do processo o resultado sai de acordo com a
imaginaccedilatildeo na qual o trabalho teve no iniacutecio Ou seja o homem transforma o material de
acordo com sua vontade e imprime no real a forma de sua consciecircncia (MARX 1996)
O trabalho entendido aqui como uma atividade adequada a um fim distingue-se dos
animais que procuram apenas a satisfaccedilatildeo das suas necessidades bioloacutegicas Atraveacutes dele os
homens produzem sua proacutepria existecircncia mas antes de tudo
[] o trabalho eacute um processo entre o homem e a Natureza um processo em que o homem por sua proacutepria accedilatildeo media regula e controla seu metabolismo com a Natureza Ele mesmo se defronta com a mateacuteria natural como uma forccedila natural Ele potildee em movimento as forccedilas naturais pertencentes a sua corporalidade braccedilos e pernas cabeccedila e matildeo a fim de apropriar-se da mateacuteria natural numa forma uacutetil para sua proacutepria vida Ao atuar por meio desses movimentos sobre a Natureza externa e ao modificaacuteshyla ele modifica ao mesmo tempo sua proacutepria natureza Ele desenvolve as potecircncias nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forccedilas a seu proacuteprio domiacutenio (MARX 1996 297)
Por essa forma o trabalho humano eacute consciente e proposital Jaacute o trabalho dos outros
animais eacute instintivo Podemos observar quando uma largata completa a segunda metade de
seu casulo sem se importar com a primeira (BRAVERMAN 1977)
Carosi (1963) diferencia o trabalho do homem do trabalho animal pois o primeiro
possui capacidades para fazer algo atraveacutes de seus dons e ideacuteias para atingir o que tem que ser
feito enquanto que no animal nada disso pode ser observado Conforme Carosi (1963 588)
ldquodiz-se que o animal trabalha que a maacutequina trabalha mas eacute certamente um modo muito
improacuteprio de expressatildeo [] Eacute mais correto dizer que o animal e a maacutequina satildeo instrumentos
de trabalhordquo Pois desta forma o trabalho esta interiorizado na moralidade do homem de
forma que sua produccedilatildeo eacute uma virtude agrave medida que consegue as condiccedilotildees necessaacuterias
mediante o trabalho para si ou para os outros
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O homem consegue distinguir-se do animal pelo trabalho sendo este uma relaccedilatildeo
dialeacutetica da teoria com a praacutetica que possibilita ao homem desenvolver sua imaginaccedilatildeo e
habilidade uma vez que sua accedilatildeo eacute antecipada pelo pensamento conseguindo modificar um
objeto ao mesmo tempo em que sua accedilatildeo tambeacutem eacute alterada gerando o seu processo
histoacuterico onde o trabalho tornasse a condiccedilatildeo fundamental para o homem alterar a sua visatildeo
perante o mundo e a si mesmo (ARANHA MARTINS 1993)
Outro conceito fundamental para entendermos a diferenccedila entre o homem e o animal eacute
a sua condiccedilatildeo de trabalho a que cada um deles estaacute submetido Afinal ldquoo homem eacute um ser
que trabalha e produz o mundo e a si mesmo O animal natildeo produz a sua existecircncia mas
apenas a conserva agindo instintivamente []rdquo (ARANHA MARTINS 1993 05)
Sobre a necessidade e a utilidade do trabalho Carosi (1963 589) afirma que
O trabalho eacute aleacutem disso fonte de prosperidade tudo vem da natureza mas nada vem sem o trabalho Se a natureza fosse abandonada a si proacuteprio pelo homem ocioso natildeo lhe oferecia sequer o necessaacuterio para viver com o trabalho ela concede-lhe as maravilhas e comodidade do programa acima de suas necessidades (CAROSI 1963 589)
O trabalho humano armazenado ou exercido em ferramentas maquinarias ou em
animais eacute um recurso utilizado exclusivamente pela competecircncia humana para explorar a
natureza Assim como todos os processos vitais de um corpo humano como os muacutesculos
ceacuterebros satildeo inseparaacuteveis do indiviacuteduo o trabalho tambeacutem eacute uma propriedade inalienaacutevel do
indiviacuteduo humano Portanto tornasse impossiacutevel satisfazer as necessidades baacutesicas em lugar
de outra pessoa que natildeo seja si proacuteprio Entretanto quando um proprietaacuterio utiliza os serviccedilos
de um animal simplesmente canaliza a forccedila e suas resistecircncias naturais desse animal
Todavia ao utilizar abelhas para a produccedilatildeo de mel ou de carneiros para a produccedilatildeo de latilde o
proprietaacuterio soacute tira vantagens das condiccedilotildees bioloacutegicas das atividades dos animais Mas ao
utilizar a forccedila de trabalho do animal o homem ao mesmo tempo utiliza a sua para obter
atraveacutes do trabalho animal as miacutenimas condiccedilotildees variaacuteveis do trabalho concreto
(BRAVERMAN 1977) Sendo assim
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O que distingue a forccedila de trabalho humano eacute portanto natildeo sua capacidade de produzir um excedente mas seu caraacuteter inteligente e proposital que lhe daacute infinita adaptabilidade e que produz as condiccedilotildees sociais e culturais para ampliar sua proacutepria produtividade de modo que seu produto excedente pode ser continuamente ampliado (BRAVERMAN 1977 58)
Portanto eacute o homem que constroacutei e produz sua proacutepria histoacuteria transformando a
natureza e a si proacuteprio a partir de uma accedilatildeo humana e coletiva caracterizando o trabalho
como uma tarefa social onde todas as diferenccedilas que existem na sociedade satildeo fundamentais
para que se organizem na construccedilatildeo da vida social econocircmica e poliacutetica Mesmo a sociedade
sendo formada pelas relaccedilotildees sociais o homem natildeo perde a sua individualidade o que faz
com que se diferencie dos demais Todavia esta contradiccedilatildeo de viver numa sociedade que
opotildee a alienaccedilatildeo agrave liberdade eacute fundamental para manter a dialeacutetica em constante sintonia
(ARANHA MARTINS 1993)
Aleacutem do trabalho o homem possui outras condiccedilotildees que o diferencia do animal Um eacute
o ato voluntaacuterio e consciente da finalidade de seu uso e o outro eacute a fala O ato consciente
primeiramente existe antes como pensamento e este pode ser utilizado para atingir os fins
propostos pela livre vontade do agente Jaacute a fala e as palavras fazem parte da essecircncia do
universo humano distinguindo-o do animal pois este natildeo conhece a simbologia mas
somente os iacutendices que indicam sempre a mesma coisa especiacutefica Jaacute o siacutembolo aleacutem de ser
universal eacute flexiacutevel podendo uma palavra ter diversos entendimentos (ARANHA
MARTINS 1993)
A linguagem e a palavra determinam a condiccedilatildeo na qual o homem e o animal se
desencontram distanciando-o pelo fato da linguagem animal visar a adaptaccedilatildeo ao concreto
enquanto a linguagem humana interveacutem como uma forma abstrata Portanto mesmo quando
um animal conseguir solucionar um problema complexo a sua inteligecircncia ainda seraacute
concreta tratando-se de uma experiecircncia vivida no momento exato enquanto que para o
homem a linguagem por siacutembolos e abstrata permite distanciar-se do mundo e voltar para
transformaacute-lo (ARANHA MARTINS 1993)
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Ao dizer que o homem fala trabalha e pelo trabalho transforma a natureza e a si
proacuteprio nada disso teraacute sentido se natildeo enfatizarmos que a accedilatildeo do ser humano eacute uma accedilatildeo
coletiva Pois o trabalho eacute uma funccedilatildeo social e a palavra eacute um meio de diaacutelogo (ARANHA
MARTINS 1993)
Os estudos experimentais sobre o comportamento animal demonstram que eles natildeo
satildeo totalmente privados da capacidade de aprender e conceber ideacuteias de caraacuteter inicial ou
mesmo aprender a resolver os problemas mais simples que sejam portando
Assim uma criatura dotada de sistema nervoso tatildeo primitivo como a minhoca pode aprender a passar por um labirinto os chimpanzeacutes podem ser estimulados a inventar e fazer instrumentos tais como estender vara que lhes permitem atingir o alimento ou empilhar caixas para o mesmo fim (BRAVERMAN 1977 52)
Conclui-se que a diferenccedila entre o homem e o animal natildeo estaacute apenas em grau mas
em espeacutecie cujo haacute uma imensa distacircncia entre aprender as capacidades conceituais do ser
humano em comparaccedilatildeo aos animais mais adaptaacuteveis Ou seja aos animais natildeo foi possiacutevel
ensinar-lhes a capacidade de manipular representaccedilotildees simboacutelicas e a linguagem articulada
Sem a aprendizagem das capacidades simboacutelicas e da linguagem os animais permanecem
com o seu pensamento conceitual a um niacutevel rudimentar que natildeo pode ser transmitido atraveacutes
do grupo (BRAVERMAN 1977)
Aranha e Martins (1993) tambeacutem afirmam ao dizer que as diferenccedilas entre o homem e
o animal natildeo eacute apenas em grau pois enquanto o animal vive dentro da natureza o homem a
utiliza e transformaacute-a em uma possiacutevel cultural O entendimento de cultura para os
antropoacutelogos eacute tudo aquilo que o homem consegue produzir ao construir sua existecircncia
como por exemplo as praacuteticas as teorias os valores materiais entre outros
Portanto eacute pelo trabalho que o homem consegue construir sua proacutepria histoacuteria sendo
que o ldquotrabalho que ultrapassa a mera atividade instintiva eacute assim a forccedila que criou a espeacutecie
humana e a forccedila pela qual a humanidade criou o mundo como o conhecemosrdquo
(BRAVERMAN 1977 53)
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Aranha e Martins (1993) afirmam que o processo de construccedilatildeo da humanidade se faz
pela relaccedilatildeo entre os homens e a sua consciecircncia emerge lentamente atraveacutes dos conflitos
entre essas relaccedilotildees Entatildeo sobre cai ao homem agrave responsabilidade de manter viva a dialeacutetica
atraveacutes de suas contradiccedilotildees sendo que o ser humano ao mesmo tempo em que eacute um ser
social tambeacutem possui uma individualidade que eacute fundamental para distingui-lo dos demais
ldquoPortanto a sociedade eacute a condiccedilatildeo da alienaccedilatildeo e da liberdade eacute a condiccedilatildeo para que o
homem se perca mas tambeacutem de se encontrarrdquo (ARANHA MARTINS 1993 07)
13 - Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienado
A transiccedilatildeo do periacuteodo do feudalismo para o capitalismo foi marcada pelo nascimento
das faacutebricas onde ocorria uma acumulaccedilatildeo de capital que permitia comprar mateacuteria-prima e
maacutequinas para ampliar o seu mercado Os artesatildeos vendo o forte crescimento das faacutebricas e
percebendo que era impossiacutevel competir contra elas tiveram que vender a sua forccedila de
trabalho em troca de um salaacuterio e se adequar a divisatildeo de trabalho que estabelecia ritmo e
horaacuterio (ARANHA MARTINS 1993)
Ainda em relaccedilatildeo ao trabalho como meio de subsistecircncia para a sobrevivecircncia do ser
humano Dantas (1986) afirma que num determinado periacuteodo esta concepccedilatildeo passou a ser
alheia ao trabalhador Como a divisatildeo do trabalho estava no iniacutecio de seu desenvolvimento o
trabalho era organizado e entendido como familiar onde todos os adultos tinham sua
participaccedilatildeo inclusive aos idosos onde cabia a responsabilidade de distribuir as funccedilotildees Os
materiais para a realizaccedilatildeo do trabalho aleacutem de serem poucos eram rudimentares mas
suficientes para conseguir produtos para suprir as necessidades de todos Ainda citando
Dantas (1986) seus estudos apresenta ter um entendimento da divisatildeo do trabalho a partir do
periacuteodo feudal onde houve um acirramento da separaccedilatildeo entre campo e cidade que foi
crucial para o desenvolvimento daquele fenocircmeno no seu formato moderno No campo o
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trabalho tem como caracteriacutestica a servidatildeo e era realizado na terra sendo esta propriedade do
senhor Os servos eram responsaacuteveis pela produccedilatildeo de meios materiais para si e para os
senhores Jaacute na cidade a divisatildeo do trabalho se dava dentro das pequenas oficinas onde o
artesatildeo que era dono dos seus meios de produccedilatildeo e sua famiacutelia seus auxiliares que com suas
habilidades determinavam um produto final
De acordo com Catani (1984 20) ldquoa divisatildeo social do trabalho eacute outra condiccedilatildeo
preacutevia caracteriacutestica de uma sociedade capitalistardquo pois nessa sociedade todos realizam seus
trabalhos de formas especiacuteficas e particulares contudo ldquotodos dependem uns dos outros e isto
decorre na divisatildeo do trabalho no seio da produccedilatildeo mercantilrdquo (CATANI 1984 20)
Marx (1996) explica que a divisatildeo do trabalho na forma de cooperaccedilatildeo comeccedila a ser
desenvolvido na manufatura predominantemente porque o processo de produccedilatildeo capitalista
se estende do seacuteculo XVI ateacute o seacuteculo XVIII Ou seja diversos trabalhadores com ofiacutecios
diferentes uns dos outros reunidos em uma oficina para produzir um produto sendo que este
passe por ambas as matildeos ateacute o seu acabamento final O trabalho eacute realizado em colaboraccedilatildeo
uns com os outros
Braverman (1980) nos esclarece que a divisatildeo do trabalho que ocorre na oficina eacute
diferente do trabalho desenvolvido no interior da sociedade afirmando que
A divisatildeo do trabalho na sociedade eacute caracteriacutestica de todas as sociedades conhecidas a divisatildeo do trabalho na oficina eacute produto peculiar da sociedade capitalista A divisatildeo social do trabalho divide a sociedade entre ocupaccedilotildees cada qual apropriada a certo ramo de produccedilatildeo a divisatildeo pormenorizada do trabalho destroacutei ocupaccedilotildees consideradas neste sentido e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produccedilatildeo [] Ainda no capitalismo os produtos da divisatildeo social do trabalho satildeo trocados como mercadorias enquanto os resultados da operaccedilatildeo do trabalhador parcelado natildeo satildeo trocados dentro da fabrica como o mercado mas satildeo todos possuiacutedos pelo mesmo capital Enquanto a divisatildeo social do trabalho subdivide a sociedade a divisatildeo parcelada do trabalho subdivide o homem e enquanto a subdivisatildeo da sociedade pode fortalecer o indiviacuteduo e a espeacutecie a subdivisatildeo do indiviacuteduo quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas eacute um crime contra a pessoa e contra a humanidade (BRAVERMAN 1980 72)
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Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
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Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
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servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
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Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
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satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
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dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
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2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
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corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
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ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
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criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
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Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
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E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
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com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
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esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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[] os criadores do mito Homo Sportivus por falta de compromisso poliacutetico com a transformaccedilatildeo operaacuteria da sociedade e pela ausecircncia de uma cultura filosoacutefica marxista servem de ldquomoccedilos de recadosrdquo ldquomeninosshypropagandardquo para um ldquodispositivordquo poliacutetico que privilegia o supeacuterfluo dos ricos em detrimento do estritamente necessaacuterio dos pobres ou do proletariado de meacutedia e baixa renda Verdadeiramente satildeo serviccedilais de luxo do capitalismo agrave brasileira em ldquoreconstruccedilatildeo colloridardquo que perpetua a decomposiccedilatildeo e a degradaccedilatildeo coletiva da classe operaacuteria excetuando a aristocracia operaacuteria gerando um enorme exeacutercito de homens famintos e de marginais verdadeiros psicoacuteticos ensandecidos
Francisco Maacuteuri de Carvalho Freitas
RESUMO
O objetivo desse trabalho eacute estudar como ocorre processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte numa sociedade que assume os valores capitalistas Para tanto iremos utilizar os instrumentais teoacutericos oferecidos pela perspectiva marxiana Segundo o referencial teoacuterico adotado tentaremos demonstrar como o esporte pode ser considerado um instrumento poliacuteticoideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por uma minoria economicamente dominante Desse modo pretendemos demonstrar como a ideacuteia de competitividade superaccedilatildeo de limites etc refletem na realidade as expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado Dentro desse contexto abordaremos como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte e sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo onde os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam receber em troca um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Este trabalho seraacute desenvolvido atraveacutes de uma pesquisa qualitativa de cunho exploratoacuterio por meio do meacutetodo dialeacutetico delineada pela teacutecnica de pesquisa bibliograacutefica Palavras-chave capitalismo-marxismo mercantilizaccedilatildeo e esporte
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeOp07
1 - Conceitos Fundamentais do Pensamento Marxianop11
11 O trabalho animalp12
12 Caracteriacutesticas do trabalho humanop14
13 Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienadop20
14 Ideologiap24
15 Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestruturap25
2 - Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moedap30
21 O esporte moderno e seu uso poliacuteticop30
22 O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estadop35
23 O esporte e sua estrutura capitalistap39
3 - O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esportep46
31 Esporte-espetaacuteculo e sociedadep46
32 Mercantilizaccedilatildeo do esportep51
CONSIDERACcedilOtildeES FINAISp59
REFEREcircNCIASp61
7
INTRODUCcedilAtildeO
Ao ingressar na universidade no ano de 2002 no curso de Licenciatura em
Matemaacutetica posso lhes dizer que foi neste momento da minha vida acadecircmica que me levou a
fazer este trabalho de conclusatildeo de curso fundamentado na teoria de marxiana Mas natildeo pelo
que aprendi dentro das salas de aulas mas fora delas
Sendo influenciado e persuadido pelo meu amigo Ricardo Forti que na eacutepoca era viceshy
presidente do Diretoacuterio Central dos Estudantes ndash DCE e pelo interesse que sempre tive em
participar de movimentos estudantis e poliacuteticos tive a oportunidade de atuar e participar em
vaacuterias frentes nesses movimentos tais como o Centro Acadecircmico de Matemaacutetica qual fui
vice-presidente e presidente participaccedilotildees no DCE e nos movimento negros entre eles
destaco o Nuacutecleo de Afrodescendente da Unimep ndash NADU ONG Afrobras (Sociedade Afro-
Brasileira de Desenvolvimento Soacutecio Cultural) e da Associaccedilatildeo dos Universitaacuterios negros e
negras de Piracicaba ndash AUEcirc sendo este uacuteltimo uma associaccedilatildeo que ajudei a construir E
posteriormente no C A de Educaccedilatildeo Fiacutesica em 2005
Mas de todos estes movimentos estudantis e poliacuteticos que participei um tem uma
importacircncia decisivo para minha formaccedilatildeo Destaco o 1ordm Encontro da Juventude do Campo e
da Cidade realizado na Mooca em 2002 cidade de Satildeo Paulo e organizado pelo Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra ndash MST Foi neste encontro que pude observar os debates
sobre a teoria de Marx onde todos ali presentes demonstravam o compromisso pela luta de
classes em especial para com os menos favorecidos
Outro fato que me marcou foi a forma na qual todos noacutes discutiacuteamos sobre as questotildees
que o mundo estava passando dentro de uma contexto capitalista Todos sentados no chatildeo em
forma de ciacuterculo Numa dessas rodas ouvi falar de Paulo Freire e sua preocupaccedilatildeo em
desenvolver nos cidadatildeos e cidadatildes a ldquoconsciecircncia criacuteticardquo
8
Voltando aos dias de aula na universidade todas aquelas questotildees que vivenciei
naquele momento da roda de conversa passei a debater comigo mesmo tentando descobrir
onde e em que lugar poderia aplicaacute-las
Ainda sobre minha passagem pelo curso de Matemaacutetica conheci um estudante que
estava concluindo o curso de Filosofia o qual me chamou a atenccedilatildeo pelo seu compromisso
com alguns movimentos sociais seu nome Rodrigo Batagello
Passados dois anos e meio segundo semestre de 2004 transfiro-me para o curso de
Educaccedilatildeo Fiacutesica da mesma instituiccedilatildeo e em 2006 fazendo a disciplina de estaacutegio
supervisionado como componente obrigatoacuterio do curriacuteculo na aacuterea da Educaccedilatildeo Fiacutesica
escolar encontro as mesmas praacuteticas vividas por mim no encontro do MST sendo aplicadas
nas aulas de educaccedilatildeo fiacutesica As rodas de conversa as discussotildees sobre as questotildees da nossa
sociedade das relaccedilotildees sociais e sobre a aula em si
Durante o meu estaacutegio conheci o professor do Instituto Educacional Piracicabano ndash
Coleacutegio Piracicabano Ricardo Colpas e este me revelou a Educaccedilatildeo Fiacutesica revolucionaacuteria e
sua colaboraccedilatildeo na transformaccedilatildeo da realidade social atraveacutes da praacutetica corporal A
abordagem utilizada pelo professor a Criacutetico-Superadora estabelece criteacuterios para a
sistematizaccedilatildeo dessa disciplina no acircmbito da escola e se apresenta pautada num projeto
histoacuterico de sociedade que tem como princiacutepio a superaccedilatildeo da sociedade capitalista Esta
abordagem eacute fundamentada em Marx
Portanto a linha de estudo que tomaremos para o desenvolvimento deste trabalho eacute
construiacutedo graccedilas a um processo que tive no iniacutecio da minha vida acadecircmica e que hoje tenho
como professor orientador Rodrigo Batagello que atualmente ministra aulas de Filosofia e
Eacutetica no curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica da Unimep e como co-orientador o professor Ricardo
Colpas sendo ambos responsaacuteveis pela concretizaccedilatildeo desse meu sonho Ou seja discutir a
influecircncia do capitalismo no esporte
9
Podendo ser observada as constantes transformaccedilotildees que vem ocorrendo no mundo
por conta de um sistema econocircmico contraditoacuterio que priva uma classe social por interesses
particulares em detrimento dos interesses de uma classe economicamente dominante acabam
influenciando as estruturas de uma sociedade a fim de manter os interesses dominantes
vigentes E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural que estaacute instituiacutedo na vida de muita
gente no mundo inteiro vem ao longo do tempo sendo influenciado por uma ideologia
dominante capaz de transformaacute-lo em mercadoria
A justificativa desse presente trabalho eacute buscar uma maior reflexatildeo sobre o esporte
inserido numa sociedade que assumiu os valores capitalistas a partir de um ponto de vista
criacutetico tentando compreender como o esporte faz sua relaccedilatildeo com esta sociedade de tal
forma que tudo o que se vecirc e consume faz parte de um ideal jaacute determinado
Portanto partindo de algumas inquietaccedilotildees levantamos algumas problematizaccedilotildees que
devem ser respondidas ao decorrer desse nosso trabalho satildeo elas 1) o esporte assume os
valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer preccedilo 2) o esporte pode ser
considerado como um instrumento ideoloacutegico do Estado 3) o esporte jaacute foi utilizado para fins
poliacuteticos 4) como quando e porque o esporte tornou-se mercadoria 5) qual a necessidade de
se entender a mercantilizaccedilatildeo do esporte num contexto de sociedade de consumo
No primeiro capiacutetulo estudaremos o conceito de trabalho na visatildeo marxiana
considerando as questotildees da divisatildeo social do trabalho trabalho alienado infra e
superestrutura e ideologia por fim um estudo da relaccedilatildeo da sociedade e do capitalismo bem
como suas definiccedilotildees num conceito marxiano para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista No segundo capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte
com o capitalismo levando em consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de
mercadorias pelos quais os meios de produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse
sistema capitalista reflete na realidade as expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo
10
de produccedilatildeo determinado Aleacutem de assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e
rendimento a qualquer custo tambeacutem eacute utilizado como instrumento ideoloacutegico de Estado e
politicamente como elemento disciplinador higienista e alienador que emprega valores
nacionalistas e ateacute raciais Finalmente no terceiro capiacutetulo discutiremos como ocorre o
processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte levando em consideraccedilatildeo a sua transformaccedilatildeo em
espetaacuteculo e da influecircncia que a sociedade de consumo exerce sobre ele
O objetivo deste trabalho eacute estudar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte numa sociedade que assume valores capitalistas levando em consideraccedilatildeo a estrutura
de funcionamento do sistema capitalista a partir de uma perspectiva marxiana e assim
procurar estabelecer uma criacutetica em torno da mesmice que existe sobre o esporte Por
conseguinte tendo como metodologia o desenvolvido de uma pesquisa qualitativa de cunho
exploratoacuterio por meio do meacutetodo dialeacutetico delineada pela teacutecnica de pesquisa bibliograacutefica
(GIL 1996)
11
1 - Conceitos Fundamentais do Pensamento Marxiano
ldquoA liberdade jamais seraacute dada pelo opressor Ela tem que ser conquistado pelo oprimidordquo
Martin Luther King
Partindo inicialmente da noccedilatildeo geral de que o objetivo amplo do marxismo eacute
interpretar a realidade para depois transformaacute-la consideramos que
[] o marxismo natildeo eacute uma teoria cientifica como as outras natildeo visa simplesmente descrever ou explicar mas visa transformar a realidade visa uma transformaccedilatildeo revolucionaacuteria Trata-se portanto de compreender a realidade para transformaacute-la revolucionariamente a partir de um ponto de vista de classe do ponto de vista das classes dominadas (LOumlWY 1998 18)
Esta compreensatildeo de transformar a realidade revolucionariamente parte do princiacutepio
de que quando as nossas ideacuteias sobre a sociedade visam transformaacute-la e quanto mais
entendemos a importacircncia desse processo de transformaccedilatildeo mais lutamos para que ele ocorra
(LOumlWY 1998)
Mesmo natildeo sendo um filoacutesofo a obra de Karl Marx exerceu grande repercussatildeo e
alcanccedilou uma importacircncia filosoacutefica capaz de influenciar diversas aacutereas como a histoacuteria
poliacutetica economia sociologia entre outras Os conceitos econocircmico-filosoacuteficos e ideacuteias
revolucionaacuterias marxianas foram fundamentais para o seacuteculo XX pois ofereceram o
instrumental teoacuterico necessaacuterio para uma profunda reconsideraccedilatildeo sobre os processos de
formaccedilatildeo da consciecircncia associando a produccedilatildeo da vida intelectual ao contexto da produccedilatildeo
da vida material e criaram as consideraccedilotildees necessaacuterias para libertar o homem do caacutercere no
qual a metafiacutesica lhe havia encarcerado Marx procurava atraveacutes da sua filosofia
contestadora criticar a modernidade pelo seu proacuteprio processo de desenvolvimento
combatendo os preconceitos as supersticcedilotildees e o falso saber provindo das antigas filosofias
(MARCONDES 1997)
Um dos conceitos fundamentais que Marx discute em sua teoria eacute o conceito de
trabalho considerando-o como relaccedilatildeo fundamental entre o sujeito e o objeto Segundo Marx
ldquoo trabalho eacute uma relaccedilatildeo invariante entre a espeacutecie humana e seu ambiente natural uma
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perpeacutetua necessidade natural da vida humanardquo (MARCONDES 1997 229) Contudo antes
de investigarmos em profundidade as caracteriacutesticas do trabalho humano eacute necessaacuterio
entendermos quais satildeo as diferenccedilas entre o trabalho humano e o trabalho animal
11 - O trabalho animal
A atividade dos animais que se encontram nos niacuteveis mais baixos da escala zooloacutegica
de desenvolvimento se caracteriza por ser um conjunto de accedilotildees instintivas orientadas por leis
bioloacutegicas como eacute o caso dos insetos Se observarmos com atenccedilatildeo uma aranha tecendo uma
teia natildeo podemos dizer que isto eacute um trabalho porque este ato natildeo possui histoacuteria ou seja
natildeo eacute modificado ao longo de sua vida Este ato de tecer uma teia com extrema habilidade eacute
padronizado e soacute eacute modificado se ocorrer uma evoluccedilatildeo de sua espeacutecie ou por algum tipo de
mutaccedilatildeo geneacutetica A construccedilatildeo de alguma coisa por parte do animal natildeo tem como finalidade
promover condiccedilotildees melhores de vida mas
[] em certas aves chamadas tendilhotildees o haacutebito de fazer ninhos tiacutepicos da espeacutecie eacute tatildeo fixo que apoacutes cinco geraccedilotildees em que essas aves eram criadas por canaacuterios ainda continuavam a construiacute-los como antes (ARANHA ARTINS 1993 03)
Os animais mamiacuteferos que se encontram em melhor colocaccedilatildeo na escala zooloacutegica ou
em niacuteveis mais altos passam a transcender suas accedilotildees instintivas para uma categoria de atos
inteligentes Um exemplo eacute quando se coloca o chimpanzeacute com fome dentro de uma jaula e
nela estatildeo penduradas bananas que o animal natildeo consegue alcanccedilar mas resolve este
problema quando pega o caixote e coloca-o debaixo das bananas para pegaacute-las ou seja a
partir de uma visatildeo global do ambiente o chimpanzeacute estabelece uma relaccedilatildeo entre o caixote e
a banana (ARANHA MARTINS 1993)
Para solucionar este problema o chimpanzeacute natildeo conta com uma accedilatildeo imediata mas a
soluccedilatildeo depende da sua capacidade intelectual de estabelecer uma relaccedilatildeo entre o caixote e as
bananas Assim a sua inteligecircncia o distingue do inseto contudo ainda se trata de um tipo de
13
inteligecircncia concreta estabelecida no ato da situaccedilatildeo real e ldquomesmo que alguns animais
organizem sociedades mais complexas [] natildeo haacute nada que se compare agraves transformaccedilotildees
realizadas pelo homem enquanto criador da culturardquo (ARANHA MARTINS 1993 04)
Mesmo que um animal realize uma accedilatildeo transformadora que possa ser reconhecida
como um tipo especiacutefico de trabalho (por exemplo o joatildeo-de-barro que constroacutei sua casinha)
este trabalho natildeo eacute consciente e nem pode ser considerado criativo pois sempre que o joatildeoshy
de-barro ou qualquer outro animal criar resultados materiais estes resultados seratildeo iguais
para todos os sujeitos pertencentes a uma mesma espeacutecie Aleacutem disso as teacutecnicas e o
processo de construccedilatildeo tambeacutem seratildeo idecircnticos para os membros de uma mesma espeacutecie
situaccedilatildeo que nos forccedila a reconhecer que a accedilatildeo do indiviacuteduo natildeo pode ser considerada um ato
criativo ou reflexivo Jaacute o trabalho humano se caracteriza por ser uma accedilatildeo consciente capaz
de reproduzir e cria novas teacutecnicas a fim de transformar a natureza de acordo com a sua
necessidade humana e mudar a sua maneira de agir perceber pensar e sentir o mundo que o
cerca O trabalho humano eacute uma atividade consciente e transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio (ARANHA MARTINS 1993)
Os animais permanecem mergulhados na natureza e as espeacutecies vivem apenas o
presente de modo que o acuacutemulo de suas accedilotildees e experiecircncias natildeo se revertem em
aprendizado Isso significa que o trabalho animal natildeo estaacute submetido agrave mesma loacutegica que
preside a atividade humana que se desenvolve graccedilas ao movimento dialeacutetico produzido pelo
conflito entre consciecircncia e materialidade (ARANHA MARTINS 1993)
A accedilatildeo humana que transforma o mundo natural (realidade estritamente material) em
mundo cultural onde
[] cultura significa tudo o que o homem produz ao construir sua existecircncia as praacuteticas as teorias as instituiccedilotildees os valores materiais e espirituais Se o contato que o homem tem com o mundo eacute intermediado pelo siacutembolo a cultura eacute o conjunto de siacutembolos elaborados por um povo em determinado tempo e lugar Dada a infinita possibilidade de simbolizar as culturas dos povos satildeo muacuteltiplas e variadas (ARANHA MARTINS 1993 06)
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Esta questatildeo do trabalho pelo qual o homem transforma a natureza e a si proacuteprio
diferenciando-se dos demais animais seraacute desenvolvido no proacuteximo item
12 - Caracteriacutesticas do trabalho humano
A histoacuteria do desenvolvimento das teacutecnicas e dos processos de transformaccedilatildeo da
realidade se confunde com a histoacuteria do desenvolvimento da humanidade De acordo com
Dantas (1986) os homens tiveram que aprender a trabalhar desde a origem da humanidade
para sobreviverem e satisfazer suas necessidades produzindo e reproduzindo meios de
subsistecircncia Este trabalho praticado pelo qual o homem se distingue do trabalho animal eacute
criativo enquanto o do animal eacute simplesmente instintivo
De acordo com Carosi (1963) trabalho eacute a atividade transformadora onde se
empregam forccedilas humanas fiacutesicas e intelectuais com o objetivo de moldar o mundo natural
de acordo com as necessidades individuais ou coletivas de subsistecircncia Ou seja o trabalho
tornasse o emprego das energias humanas para diferenciar das accedilotildees de um animal e do
funcionamento de uma maacutequina pois eacute direcionado pela inteligecircncia e pela sustentaccedilatildeo da
vontade do homem
Conforme Braverman (1977) apoderar-se dos materiais da natureza assim como
ocorre com os vegetais que absorvem minerais e luz do sol e animais que se alimentam de
vida vegetal natildeo pode ser considerado trabalho Pois o trabalho eacute uma atividade que
transforma o estado natural desses materiais de modo que possam ser utilizados para
satisfazer as necessidades da espeacutecie humana
Para Braverman (1977) natildeo se trata agora de analisar as semelhanccedilas do trabalho
humano com o trabalho dos outros animais mas sim as diferenccedilas que os distanciam um do
outro Ao utilizar o termo trabalho para designar a atividade criativa peculiar do homem
Marx enfatiza que ldquonatildeo se trata aqui das primeiras formas instintivas animais de trabalhordquo
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(MARX 1996 297) Uma aranha realiza funccedilotildees que se assemelha a dos tecelotildees e a abelha
envergonha muitos arquitetos na construccedilatildeo de seus alveacuteolos Mas o que realmente distingue
o pior arquiteto humano da melhor abelha eacute que o humano cria em sua mente o corticcedilo antes
de transformaacute-lo em realidade No fim do processo o resultado sai de acordo com a
imaginaccedilatildeo na qual o trabalho teve no iniacutecio Ou seja o homem transforma o material de
acordo com sua vontade e imprime no real a forma de sua consciecircncia (MARX 1996)
O trabalho entendido aqui como uma atividade adequada a um fim distingue-se dos
animais que procuram apenas a satisfaccedilatildeo das suas necessidades bioloacutegicas Atraveacutes dele os
homens produzem sua proacutepria existecircncia mas antes de tudo
[] o trabalho eacute um processo entre o homem e a Natureza um processo em que o homem por sua proacutepria accedilatildeo media regula e controla seu metabolismo com a Natureza Ele mesmo se defronta com a mateacuteria natural como uma forccedila natural Ele potildee em movimento as forccedilas naturais pertencentes a sua corporalidade braccedilos e pernas cabeccedila e matildeo a fim de apropriar-se da mateacuteria natural numa forma uacutetil para sua proacutepria vida Ao atuar por meio desses movimentos sobre a Natureza externa e ao modificaacuteshyla ele modifica ao mesmo tempo sua proacutepria natureza Ele desenvolve as potecircncias nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forccedilas a seu proacuteprio domiacutenio (MARX 1996 297)
Por essa forma o trabalho humano eacute consciente e proposital Jaacute o trabalho dos outros
animais eacute instintivo Podemos observar quando uma largata completa a segunda metade de
seu casulo sem se importar com a primeira (BRAVERMAN 1977)
Carosi (1963) diferencia o trabalho do homem do trabalho animal pois o primeiro
possui capacidades para fazer algo atraveacutes de seus dons e ideacuteias para atingir o que tem que ser
feito enquanto que no animal nada disso pode ser observado Conforme Carosi (1963 588)
ldquodiz-se que o animal trabalha que a maacutequina trabalha mas eacute certamente um modo muito
improacuteprio de expressatildeo [] Eacute mais correto dizer que o animal e a maacutequina satildeo instrumentos
de trabalhordquo Pois desta forma o trabalho esta interiorizado na moralidade do homem de
forma que sua produccedilatildeo eacute uma virtude agrave medida que consegue as condiccedilotildees necessaacuterias
mediante o trabalho para si ou para os outros
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O homem consegue distinguir-se do animal pelo trabalho sendo este uma relaccedilatildeo
dialeacutetica da teoria com a praacutetica que possibilita ao homem desenvolver sua imaginaccedilatildeo e
habilidade uma vez que sua accedilatildeo eacute antecipada pelo pensamento conseguindo modificar um
objeto ao mesmo tempo em que sua accedilatildeo tambeacutem eacute alterada gerando o seu processo
histoacuterico onde o trabalho tornasse a condiccedilatildeo fundamental para o homem alterar a sua visatildeo
perante o mundo e a si mesmo (ARANHA MARTINS 1993)
Outro conceito fundamental para entendermos a diferenccedila entre o homem e o animal eacute
a sua condiccedilatildeo de trabalho a que cada um deles estaacute submetido Afinal ldquoo homem eacute um ser
que trabalha e produz o mundo e a si mesmo O animal natildeo produz a sua existecircncia mas
apenas a conserva agindo instintivamente []rdquo (ARANHA MARTINS 1993 05)
Sobre a necessidade e a utilidade do trabalho Carosi (1963 589) afirma que
O trabalho eacute aleacutem disso fonte de prosperidade tudo vem da natureza mas nada vem sem o trabalho Se a natureza fosse abandonada a si proacuteprio pelo homem ocioso natildeo lhe oferecia sequer o necessaacuterio para viver com o trabalho ela concede-lhe as maravilhas e comodidade do programa acima de suas necessidades (CAROSI 1963 589)
O trabalho humano armazenado ou exercido em ferramentas maquinarias ou em
animais eacute um recurso utilizado exclusivamente pela competecircncia humana para explorar a
natureza Assim como todos os processos vitais de um corpo humano como os muacutesculos
ceacuterebros satildeo inseparaacuteveis do indiviacuteduo o trabalho tambeacutem eacute uma propriedade inalienaacutevel do
indiviacuteduo humano Portanto tornasse impossiacutevel satisfazer as necessidades baacutesicas em lugar
de outra pessoa que natildeo seja si proacuteprio Entretanto quando um proprietaacuterio utiliza os serviccedilos
de um animal simplesmente canaliza a forccedila e suas resistecircncias naturais desse animal
Todavia ao utilizar abelhas para a produccedilatildeo de mel ou de carneiros para a produccedilatildeo de latilde o
proprietaacuterio soacute tira vantagens das condiccedilotildees bioloacutegicas das atividades dos animais Mas ao
utilizar a forccedila de trabalho do animal o homem ao mesmo tempo utiliza a sua para obter
atraveacutes do trabalho animal as miacutenimas condiccedilotildees variaacuteveis do trabalho concreto
(BRAVERMAN 1977) Sendo assim
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O que distingue a forccedila de trabalho humano eacute portanto natildeo sua capacidade de produzir um excedente mas seu caraacuteter inteligente e proposital que lhe daacute infinita adaptabilidade e que produz as condiccedilotildees sociais e culturais para ampliar sua proacutepria produtividade de modo que seu produto excedente pode ser continuamente ampliado (BRAVERMAN 1977 58)
Portanto eacute o homem que constroacutei e produz sua proacutepria histoacuteria transformando a
natureza e a si proacuteprio a partir de uma accedilatildeo humana e coletiva caracterizando o trabalho
como uma tarefa social onde todas as diferenccedilas que existem na sociedade satildeo fundamentais
para que se organizem na construccedilatildeo da vida social econocircmica e poliacutetica Mesmo a sociedade
sendo formada pelas relaccedilotildees sociais o homem natildeo perde a sua individualidade o que faz
com que se diferencie dos demais Todavia esta contradiccedilatildeo de viver numa sociedade que
opotildee a alienaccedilatildeo agrave liberdade eacute fundamental para manter a dialeacutetica em constante sintonia
(ARANHA MARTINS 1993)
Aleacutem do trabalho o homem possui outras condiccedilotildees que o diferencia do animal Um eacute
o ato voluntaacuterio e consciente da finalidade de seu uso e o outro eacute a fala O ato consciente
primeiramente existe antes como pensamento e este pode ser utilizado para atingir os fins
propostos pela livre vontade do agente Jaacute a fala e as palavras fazem parte da essecircncia do
universo humano distinguindo-o do animal pois este natildeo conhece a simbologia mas
somente os iacutendices que indicam sempre a mesma coisa especiacutefica Jaacute o siacutembolo aleacutem de ser
universal eacute flexiacutevel podendo uma palavra ter diversos entendimentos (ARANHA
MARTINS 1993)
A linguagem e a palavra determinam a condiccedilatildeo na qual o homem e o animal se
desencontram distanciando-o pelo fato da linguagem animal visar a adaptaccedilatildeo ao concreto
enquanto a linguagem humana interveacutem como uma forma abstrata Portanto mesmo quando
um animal conseguir solucionar um problema complexo a sua inteligecircncia ainda seraacute
concreta tratando-se de uma experiecircncia vivida no momento exato enquanto que para o
homem a linguagem por siacutembolos e abstrata permite distanciar-se do mundo e voltar para
transformaacute-lo (ARANHA MARTINS 1993)
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Ao dizer que o homem fala trabalha e pelo trabalho transforma a natureza e a si
proacuteprio nada disso teraacute sentido se natildeo enfatizarmos que a accedilatildeo do ser humano eacute uma accedilatildeo
coletiva Pois o trabalho eacute uma funccedilatildeo social e a palavra eacute um meio de diaacutelogo (ARANHA
MARTINS 1993)
Os estudos experimentais sobre o comportamento animal demonstram que eles natildeo
satildeo totalmente privados da capacidade de aprender e conceber ideacuteias de caraacuteter inicial ou
mesmo aprender a resolver os problemas mais simples que sejam portando
Assim uma criatura dotada de sistema nervoso tatildeo primitivo como a minhoca pode aprender a passar por um labirinto os chimpanzeacutes podem ser estimulados a inventar e fazer instrumentos tais como estender vara que lhes permitem atingir o alimento ou empilhar caixas para o mesmo fim (BRAVERMAN 1977 52)
Conclui-se que a diferenccedila entre o homem e o animal natildeo estaacute apenas em grau mas
em espeacutecie cujo haacute uma imensa distacircncia entre aprender as capacidades conceituais do ser
humano em comparaccedilatildeo aos animais mais adaptaacuteveis Ou seja aos animais natildeo foi possiacutevel
ensinar-lhes a capacidade de manipular representaccedilotildees simboacutelicas e a linguagem articulada
Sem a aprendizagem das capacidades simboacutelicas e da linguagem os animais permanecem
com o seu pensamento conceitual a um niacutevel rudimentar que natildeo pode ser transmitido atraveacutes
do grupo (BRAVERMAN 1977)
Aranha e Martins (1993) tambeacutem afirmam ao dizer que as diferenccedilas entre o homem e
o animal natildeo eacute apenas em grau pois enquanto o animal vive dentro da natureza o homem a
utiliza e transformaacute-a em uma possiacutevel cultural O entendimento de cultura para os
antropoacutelogos eacute tudo aquilo que o homem consegue produzir ao construir sua existecircncia
como por exemplo as praacuteticas as teorias os valores materiais entre outros
Portanto eacute pelo trabalho que o homem consegue construir sua proacutepria histoacuteria sendo
que o ldquotrabalho que ultrapassa a mera atividade instintiva eacute assim a forccedila que criou a espeacutecie
humana e a forccedila pela qual a humanidade criou o mundo como o conhecemosrdquo
(BRAVERMAN 1977 53)
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Aranha e Martins (1993) afirmam que o processo de construccedilatildeo da humanidade se faz
pela relaccedilatildeo entre os homens e a sua consciecircncia emerge lentamente atraveacutes dos conflitos
entre essas relaccedilotildees Entatildeo sobre cai ao homem agrave responsabilidade de manter viva a dialeacutetica
atraveacutes de suas contradiccedilotildees sendo que o ser humano ao mesmo tempo em que eacute um ser
social tambeacutem possui uma individualidade que eacute fundamental para distingui-lo dos demais
ldquoPortanto a sociedade eacute a condiccedilatildeo da alienaccedilatildeo e da liberdade eacute a condiccedilatildeo para que o
homem se perca mas tambeacutem de se encontrarrdquo (ARANHA MARTINS 1993 07)
13 - Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienado
A transiccedilatildeo do periacuteodo do feudalismo para o capitalismo foi marcada pelo nascimento
das faacutebricas onde ocorria uma acumulaccedilatildeo de capital que permitia comprar mateacuteria-prima e
maacutequinas para ampliar o seu mercado Os artesatildeos vendo o forte crescimento das faacutebricas e
percebendo que era impossiacutevel competir contra elas tiveram que vender a sua forccedila de
trabalho em troca de um salaacuterio e se adequar a divisatildeo de trabalho que estabelecia ritmo e
horaacuterio (ARANHA MARTINS 1993)
Ainda em relaccedilatildeo ao trabalho como meio de subsistecircncia para a sobrevivecircncia do ser
humano Dantas (1986) afirma que num determinado periacuteodo esta concepccedilatildeo passou a ser
alheia ao trabalhador Como a divisatildeo do trabalho estava no iniacutecio de seu desenvolvimento o
trabalho era organizado e entendido como familiar onde todos os adultos tinham sua
participaccedilatildeo inclusive aos idosos onde cabia a responsabilidade de distribuir as funccedilotildees Os
materiais para a realizaccedilatildeo do trabalho aleacutem de serem poucos eram rudimentares mas
suficientes para conseguir produtos para suprir as necessidades de todos Ainda citando
Dantas (1986) seus estudos apresenta ter um entendimento da divisatildeo do trabalho a partir do
periacuteodo feudal onde houve um acirramento da separaccedilatildeo entre campo e cidade que foi
crucial para o desenvolvimento daquele fenocircmeno no seu formato moderno No campo o
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trabalho tem como caracteriacutestica a servidatildeo e era realizado na terra sendo esta propriedade do
senhor Os servos eram responsaacuteveis pela produccedilatildeo de meios materiais para si e para os
senhores Jaacute na cidade a divisatildeo do trabalho se dava dentro das pequenas oficinas onde o
artesatildeo que era dono dos seus meios de produccedilatildeo e sua famiacutelia seus auxiliares que com suas
habilidades determinavam um produto final
De acordo com Catani (1984 20) ldquoa divisatildeo social do trabalho eacute outra condiccedilatildeo
preacutevia caracteriacutestica de uma sociedade capitalistardquo pois nessa sociedade todos realizam seus
trabalhos de formas especiacuteficas e particulares contudo ldquotodos dependem uns dos outros e isto
decorre na divisatildeo do trabalho no seio da produccedilatildeo mercantilrdquo (CATANI 1984 20)
Marx (1996) explica que a divisatildeo do trabalho na forma de cooperaccedilatildeo comeccedila a ser
desenvolvido na manufatura predominantemente porque o processo de produccedilatildeo capitalista
se estende do seacuteculo XVI ateacute o seacuteculo XVIII Ou seja diversos trabalhadores com ofiacutecios
diferentes uns dos outros reunidos em uma oficina para produzir um produto sendo que este
passe por ambas as matildeos ateacute o seu acabamento final O trabalho eacute realizado em colaboraccedilatildeo
uns com os outros
Braverman (1980) nos esclarece que a divisatildeo do trabalho que ocorre na oficina eacute
diferente do trabalho desenvolvido no interior da sociedade afirmando que
A divisatildeo do trabalho na sociedade eacute caracteriacutestica de todas as sociedades conhecidas a divisatildeo do trabalho na oficina eacute produto peculiar da sociedade capitalista A divisatildeo social do trabalho divide a sociedade entre ocupaccedilotildees cada qual apropriada a certo ramo de produccedilatildeo a divisatildeo pormenorizada do trabalho destroacutei ocupaccedilotildees consideradas neste sentido e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produccedilatildeo [] Ainda no capitalismo os produtos da divisatildeo social do trabalho satildeo trocados como mercadorias enquanto os resultados da operaccedilatildeo do trabalhador parcelado natildeo satildeo trocados dentro da fabrica como o mercado mas satildeo todos possuiacutedos pelo mesmo capital Enquanto a divisatildeo social do trabalho subdivide a sociedade a divisatildeo parcelada do trabalho subdivide o homem e enquanto a subdivisatildeo da sociedade pode fortalecer o indiviacuteduo e a espeacutecie a subdivisatildeo do indiviacuteduo quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas eacute um crime contra a pessoa e contra a humanidade (BRAVERMAN 1980 72)
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Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
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Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
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servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
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Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
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dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
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2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
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ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
39
conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
40
criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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RESUMO
O objetivo desse trabalho eacute estudar como ocorre processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte numa sociedade que assume os valores capitalistas Para tanto iremos utilizar os instrumentais teoacutericos oferecidos pela perspectiva marxiana Segundo o referencial teoacuterico adotado tentaremos demonstrar como o esporte pode ser considerado um instrumento poliacuteticoideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por uma minoria economicamente dominante Desse modo pretendemos demonstrar como a ideacuteia de competitividade superaccedilatildeo de limites etc refletem na realidade as expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado Dentro desse contexto abordaremos como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte e sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo onde os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam receber em troca um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Este trabalho seraacute desenvolvido atraveacutes de uma pesquisa qualitativa de cunho exploratoacuterio por meio do meacutetodo dialeacutetico delineada pela teacutecnica de pesquisa bibliograacutefica Palavras-chave capitalismo-marxismo mercantilizaccedilatildeo e esporte
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeOp07
1 - Conceitos Fundamentais do Pensamento Marxianop11
11 O trabalho animalp12
12 Caracteriacutesticas do trabalho humanop14
13 Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienadop20
14 Ideologiap24
15 Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestruturap25
2 - Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moedap30
21 O esporte moderno e seu uso poliacuteticop30
22 O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estadop35
23 O esporte e sua estrutura capitalistap39
3 - O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esportep46
31 Esporte-espetaacuteculo e sociedadep46
32 Mercantilizaccedilatildeo do esportep51
CONSIDERACcedilOtildeES FINAISp59
REFEREcircNCIASp61
7
INTRODUCcedilAtildeO
Ao ingressar na universidade no ano de 2002 no curso de Licenciatura em
Matemaacutetica posso lhes dizer que foi neste momento da minha vida acadecircmica que me levou a
fazer este trabalho de conclusatildeo de curso fundamentado na teoria de marxiana Mas natildeo pelo
que aprendi dentro das salas de aulas mas fora delas
Sendo influenciado e persuadido pelo meu amigo Ricardo Forti que na eacutepoca era viceshy
presidente do Diretoacuterio Central dos Estudantes ndash DCE e pelo interesse que sempre tive em
participar de movimentos estudantis e poliacuteticos tive a oportunidade de atuar e participar em
vaacuterias frentes nesses movimentos tais como o Centro Acadecircmico de Matemaacutetica qual fui
vice-presidente e presidente participaccedilotildees no DCE e nos movimento negros entre eles
destaco o Nuacutecleo de Afrodescendente da Unimep ndash NADU ONG Afrobras (Sociedade Afro-
Brasileira de Desenvolvimento Soacutecio Cultural) e da Associaccedilatildeo dos Universitaacuterios negros e
negras de Piracicaba ndash AUEcirc sendo este uacuteltimo uma associaccedilatildeo que ajudei a construir E
posteriormente no C A de Educaccedilatildeo Fiacutesica em 2005
Mas de todos estes movimentos estudantis e poliacuteticos que participei um tem uma
importacircncia decisivo para minha formaccedilatildeo Destaco o 1ordm Encontro da Juventude do Campo e
da Cidade realizado na Mooca em 2002 cidade de Satildeo Paulo e organizado pelo Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra ndash MST Foi neste encontro que pude observar os debates
sobre a teoria de Marx onde todos ali presentes demonstravam o compromisso pela luta de
classes em especial para com os menos favorecidos
Outro fato que me marcou foi a forma na qual todos noacutes discutiacuteamos sobre as questotildees
que o mundo estava passando dentro de uma contexto capitalista Todos sentados no chatildeo em
forma de ciacuterculo Numa dessas rodas ouvi falar de Paulo Freire e sua preocupaccedilatildeo em
desenvolver nos cidadatildeos e cidadatildes a ldquoconsciecircncia criacuteticardquo
8
Voltando aos dias de aula na universidade todas aquelas questotildees que vivenciei
naquele momento da roda de conversa passei a debater comigo mesmo tentando descobrir
onde e em que lugar poderia aplicaacute-las
Ainda sobre minha passagem pelo curso de Matemaacutetica conheci um estudante que
estava concluindo o curso de Filosofia o qual me chamou a atenccedilatildeo pelo seu compromisso
com alguns movimentos sociais seu nome Rodrigo Batagello
Passados dois anos e meio segundo semestre de 2004 transfiro-me para o curso de
Educaccedilatildeo Fiacutesica da mesma instituiccedilatildeo e em 2006 fazendo a disciplina de estaacutegio
supervisionado como componente obrigatoacuterio do curriacuteculo na aacuterea da Educaccedilatildeo Fiacutesica
escolar encontro as mesmas praacuteticas vividas por mim no encontro do MST sendo aplicadas
nas aulas de educaccedilatildeo fiacutesica As rodas de conversa as discussotildees sobre as questotildees da nossa
sociedade das relaccedilotildees sociais e sobre a aula em si
Durante o meu estaacutegio conheci o professor do Instituto Educacional Piracicabano ndash
Coleacutegio Piracicabano Ricardo Colpas e este me revelou a Educaccedilatildeo Fiacutesica revolucionaacuteria e
sua colaboraccedilatildeo na transformaccedilatildeo da realidade social atraveacutes da praacutetica corporal A
abordagem utilizada pelo professor a Criacutetico-Superadora estabelece criteacuterios para a
sistematizaccedilatildeo dessa disciplina no acircmbito da escola e se apresenta pautada num projeto
histoacuterico de sociedade que tem como princiacutepio a superaccedilatildeo da sociedade capitalista Esta
abordagem eacute fundamentada em Marx
Portanto a linha de estudo que tomaremos para o desenvolvimento deste trabalho eacute
construiacutedo graccedilas a um processo que tive no iniacutecio da minha vida acadecircmica e que hoje tenho
como professor orientador Rodrigo Batagello que atualmente ministra aulas de Filosofia e
Eacutetica no curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica da Unimep e como co-orientador o professor Ricardo
Colpas sendo ambos responsaacuteveis pela concretizaccedilatildeo desse meu sonho Ou seja discutir a
influecircncia do capitalismo no esporte
9
Podendo ser observada as constantes transformaccedilotildees que vem ocorrendo no mundo
por conta de um sistema econocircmico contraditoacuterio que priva uma classe social por interesses
particulares em detrimento dos interesses de uma classe economicamente dominante acabam
influenciando as estruturas de uma sociedade a fim de manter os interesses dominantes
vigentes E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural que estaacute instituiacutedo na vida de muita
gente no mundo inteiro vem ao longo do tempo sendo influenciado por uma ideologia
dominante capaz de transformaacute-lo em mercadoria
A justificativa desse presente trabalho eacute buscar uma maior reflexatildeo sobre o esporte
inserido numa sociedade que assumiu os valores capitalistas a partir de um ponto de vista
criacutetico tentando compreender como o esporte faz sua relaccedilatildeo com esta sociedade de tal
forma que tudo o que se vecirc e consume faz parte de um ideal jaacute determinado
Portanto partindo de algumas inquietaccedilotildees levantamos algumas problematizaccedilotildees que
devem ser respondidas ao decorrer desse nosso trabalho satildeo elas 1) o esporte assume os
valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer preccedilo 2) o esporte pode ser
considerado como um instrumento ideoloacutegico do Estado 3) o esporte jaacute foi utilizado para fins
poliacuteticos 4) como quando e porque o esporte tornou-se mercadoria 5) qual a necessidade de
se entender a mercantilizaccedilatildeo do esporte num contexto de sociedade de consumo
No primeiro capiacutetulo estudaremos o conceito de trabalho na visatildeo marxiana
considerando as questotildees da divisatildeo social do trabalho trabalho alienado infra e
superestrutura e ideologia por fim um estudo da relaccedilatildeo da sociedade e do capitalismo bem
como suas definiccedilotildees num conceito marxiano para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista No segundo capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte
com o capitalismo levando em consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de
mercadorias pelos quais os meios de produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse
sistema capitalista reflete na realidade as expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo
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de produccedilatildeo determinado Aleacutem de assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e
rendimento a qualquer custo tambeacutem eacute utilizado como instrumento ideoloacutegico de Estado e
politicamente como elemento disciplinador higienista e alienador que emprega valores
nacionalistas e ateacute raciais Finalmente no terceiro capiacutetulo discutiremos como ocorre o
processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte levando em consideraccedilatildeo a sua transformaccedilatildeo em
espetaacuteculo e da influecircncia que a sociedade de consumo exerce sobre ele
O objetivo deste trabalho eacute estudar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte numa sociedade que assume valores capitalistas levando em consideraccedilatildeo a estrutura
de funcionamento do sistema capitalista a partir de uma perspectiva marxiana e assim
procurar estabelecer uma criacutetica em torno da mesmice que existe sobre o esporte Por
conseguinte tendo como metodologia o desenvolvido de uma pesquisa qualitativa de cunho
exploratoacuterio por meio do meacutetodo dialeacutetico delineada pela teacutecnica de pesquisa bibliograacutefica
(GIL 1996)
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1 - Conceitos Fundamentais do Pensamento Marxiano
ldquoA liberdade jamais seraacute dada pelo opressor Ela tem que ser conquistado pelo oprimidordquo
Martin Luther King
Partindo inicialmente da noccedilatildeo geral de que o objetivo amplo do marxismo eacute
interpretar a realidade para depois transformaacute-la consideramos que
[] o marxismo natildeo eacute uma teoria cientifica como as outras natildeo visa simplesmente descrever ou explicar mas visa transformar a realidade visa uma transformaccedilatildeo revolucionaacuteria Trata-se portanto de compreender a realidade para transformaacute-la revolucionariamente a partir de um ponto de vista de classe do ponto de vista das classes dominadas (LOumlWY 1998 18)
Esta compreensatildeo de transformar a realidade revolucionariamente parte do princiacutepio
de que quando as nossas ideacuteias sobre a sociedade visam transformaacute-la e quanto mais
entendemos a importacircncia desse processo de transformaccedilatildeo mais lutamos para que ele ocorra
(LOumlWY 1998)
Mesmo natildeo sendo um filoacutesofo a obra de Karl Marx exerceu grande repercussatildeo e
alcanccedilou uma importacircncia filosoacutefica capaz de influenciar diversas aacutereas como a histoacuteria
poliacutetica economia sociologia entre outras Os conceitos econocircmico-filosoacuteficos e ideacuteias
revolucionaacuterias marxianas foram fundamentais para o seacuteculo XX pois ofereceram o
instrumental teoacuterico necessaacuterio para uma profunda reconsideraccedilatildeo sobre os processos de
formaccedilatildeo da consciecircncia associando a produccedilatildeo da vida intelectual ao contexto da produccedilatildeo
da vida material e criaram as consideraccedilotildees necessaacuterias para libertar o homem do caacutercere no
qual a metafiacutesica lhe havia encarcerado Marx procurava atraveacutes da sua filosofia
contestadora criticar a modernidade pelo seu proacuteprio processo de desenvolvimento
combatendo os preconceitos as supersticcedilotildees e o falso saber provindo das antigas filosofias
(MARCONDES 1997)
Um dos conceitos fundamentais que Marx discute em sua teoria eacute o conceito de
trabalho considerando-o como relaccedilatildeo fundamental entre o sujeito e o objeto Segundo Marx
ldquoo trabalho eacute uma relaccedilatildeo invariante entre a espeacutecie humana e seu ambiente natural uma
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perpeacutetua necessidade natural da vida humanardquo (MARCONDES 1997 229) Contudo antes
de investigarmos em profundidade as caracteriacutesticas do trabalho humano eacute necessaacuterio
entendermos quais satildeo as diferenccedilas entre o trabalho humano e o trabalho animal
11 - O trabalho animal
A atividade dos animais que se encontram nos niacuteveis mais baixos da escala zooloacutegica
de desenvolvimento se caracteriza por ser um conjunto de accedilotildees instintivas orientadas por leis
bioloacutegicas como eacute o caso dos insetos Se observarmos com atenccedilatildeo uma aranha tecendo uma
teia natildeo podemos dizer que isto eacute um trabalho porque este ato natildeo possui histoacuteria ou seja
natildeo eacute modificado ao longo de sua vida Este ato de tecer uma teia com extrema habilidade eacute
padronizado e soacute eacute modificado se ocorrer uma evoluccedilatildeo de sua espeacutecie ou por algum tipo de
mutaccedilatildeo geneacutetica A construccedilatildeo de alguma coisa por parte do animal natildeo tem como finalidade
promover condiccedilotildees melhores de vida mas
[] em certas aves chamadas tendilhotildees o haacutebito de fazer ninhos tiacutepicos da espeacutecie eacute tatildeo fixo que apoacutes cinco geraccedilotildees em que essas aves eram criadas por canaacuterios ainda continuavam a construiacute-los como antes (ARANHA ARTINS 1993 03)
Os animais mamiacuteferos que se encontram em melhor colocaccedilatildeo na escala zooloacutegica ou
em niacuteveis mais altos passam a transcender suas accedilotildees instintivas para uma categoria de atos
inteligentes Um exemplo eacute quando se coloca o chimpanzeacute com fome dentro de uma jaula e
nela estatildeo penduradas bananas que o animal natildeo consegue alcanccedilar mas resolve este
problema quando pega o caixote e coloca-o debaixo das bananas para pegaacute-las ou seja a
partir de uma visatildeo global do ambiente o chimpanzeacute estabelece uma relaccedilatildeo entre o caixote e
a banana (ARANHA MARTINS 1993)
Para solucionar este problema o chimpanzeacute natildeo conta com uma accedilatildeo imediata mas a
soluccedilatildeo depende da sua capacidade intelectual de estabelecer uma relaccedilatildeo entre o caixote e as
bananas Assim a sua inteligecircncia o distingue do inseto contudo ainda se trata de um tipo de
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inteligecircncia concreta estabelecida no ato da situaccedilatildeo real e ldquomesmo que alguns animais
organizem sociedades mais complexas [] natildeo haacute nada que se compare agraves transformaccedilotildees
realizadas pelo homem enquanto criador da culturardquo (ARANHA MARTINS 1993 04)
Mesmo que um animal realize uma accedilatildeo transformadora que possa ser reconhecida
como um tipo especiacutefico de trabalho (por exemplo o joatildeo-de-barro que constroacutei sua casinha)
este trabalho natildeo eacute consciente e nem pode ser considerado criativo pois sempre que o joatildeoshy
de-barro ou qualquer outro animal criar resultados materiais estes resultados seratildeo iguais
para todos os sujeitos pertencentes a uma mesma espeacutecie Aleacutem disso as teacutecnicas e o
processo de construccedilatildeo tambeacutem seratildeo idecircnticos para os membros de uma mesma espeacutecie
situaccedilatildeo que nos forccedila a reconhecer que a accedilatildeo do indiviacuteduo natildeo pode ser considerada um ato
criativo ou reflexivo Jaacute o trabalho humano se caracteriza por ser uma accedilatildeo consciente capaz
de reproduzir e cria novas teacutecnicas a fim de transformar a natureza de acordo com a sua
necessidade humana e mudar a sua maneira de agir perceber pensar e sentir o mundo que o
cerca O trabalho humano eacute uma atividade consciente e transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio (ARANHA MARTINS 1993)
Os animais permanecem mergulhados na natureza e as espeacutecies vivem apenas o
presente de modo que o acuacutemulo de suas accedilotildees e experiecircncias natildeo se revertem em
aprendizado Isso significa que o trabalho animal natildeo estaacute submetido agrave mesma loacutegica que
preside a atividade humana que se desenvolve graccedilas ao movimento dialeacutetico produzido pelo
conflito entre consciecircncia e materialidade (ARANHA MARTINS 1993)
A accedilatildeo humana que transforma o mundo natural (realidade estritamente material) em
mundo cultural onde
[] cultura significa tudo o que o homem produz ao construir sua existecircncia as praacuteticas as teorias as instituiccedilotildees os valores materiais e espirituais Se o contato que o homem tem com o mundo eacute intermediado pelo siacutembolo a cultura eacute o conjunto de siacutembolos elaborados por um povo em determinado tempo e lugar Dada a infinita possibilidade de simbolizar as culturas dos povos satildeo muacuteltiplas e variadas (ARANHA MARTINS 1993 06)
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Esta questatildeo do trabalho pelo qual o homem transforma a natureza e a si proacuteprio
diferenciando-se dos demais animais seraacute desenvolvido no proacuteximo item
12 - Caracteriacutesticas do trabalho humano
A histoacuteria do desenvolvimento das teacutecnicas e dos processos de transformaccedilatildeo da
realidade se confunde com a histoacuteria do desenvolvimento da humanidade De acordo com
Dantas (1986) os homens tiveram que aprender a trabalhar desde a origem da humanidade
para sobreviverem e satisfazer suas necessidades produzindo e reproduzindo meios de
subsistecircncia Este trabalho praticado pelo qual o homem se distingue do trabalho animal eacute
criativo enquanto o do animal eacute simplesmente instintivo
De acordo com Carosi (1963) trabalho eacute a atividade transformadora onde se
empregam forccedilas humanas fiacutesicas e intelectuais com o objetivo de moldar o mundo natural
de acordo com as necessidades individuais ou coletivas de subsistecircncia Ou seja o trabalho
tornasse o emprego das energias humanas para diferenciar das accedilotildees de um animal e do
funcionamento de uma maacutequina pois eacute direcionado pela inteligecircncia e pela sustentaccedilatildeo da
vontade do homem
Conforme Braverman (1977) apoderar-se dos materiais da natureza assim como
ocorre com os vegetais que absorvem minerais e luz do sol e animais que se alimentam de
vida vegetal natildeo pode ser considerado trabalho Pois o trabalho eacute uma atividade que
transforma o estado natural desses materiais de modo que possam ser utilizados para
satisfazer as necessidades da espeacutecie humana
Para Braverman (1977) natildeo se trata agora de analisar as semelhanccedilas do trabalho
humano com o trabalho dos outros animais mas sim as diferenccedilas que os distanciam um do
outro Ao utilizar o termo trabalho para designar a atividade criativa peculiar do homem
Marx enfatiza que ldquonatildeo se trata aqui das primeiras formas instintivas animais de trabalhordquo
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(MARX 1996 297) Uma aranha realiza funccedilotildees que se assemelha a dos tecelotildees e a abelha
envergonha muitos arquitetos na construccedilatildeo de seus alveacuteolos Mas o que realmente distingue
o pior arquiteto humano da melhor abelha eacute que o humano cria em sua mente o corticcedilo antes
de transformaacute-lo em realidade No fim do processo o resultado sai de acordo com a
imaginaccedilatildeo na qual o trabalho teve no iniacutecio Ou seja o homem transforma o material de
acordo com sua vontade e imprime no real a forma de sua consciecircncia (MARX 1996)
O trabalho entendido aqui como uma atividade adequada a um fim distingue-se dos
animais que procuram apenas a satisfaccedilatildeo das suas necessidades bioloacutegicas Atraveacutes dele os
homens produzem sua proacutepria existecircncia mas antes de tudo
[] o trabalho eacute um processo entre o homem e a Natureza um processo em que o homem por sua proacutepria accedilatildeo media regula e controla seu metabolismo com a Natureza Ele mesmo se defronta com a mateacuteria natural como uma forccedila natural Ele potildee em movimento as forccedilas naturais pertencentes a sua corporalidade braccedilos e pernas cabeccedila e matildeo a fim de apropriar-se da mateacuteria natural numa forma uacutetil para sua proacutepria vida Ao atuar por meio desses movimentos sobre a Natureza externa e ao modificaacuteshyla ele modifica ao mesmo tempo sua proacutepria natureza Ele desenvolve as potecircncias nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forccedilas a seu proacuteprio domiacutenio (MARX 1996 297)
Por essa forma o trabalho humano eacute consciente e proposital Jaacute o trabalho dos outros
animais eacute instintivo Podemos observar quando uma largata completa a segunda metade de
seu casulo sem se importar com a primeira (BRAVERMAN 1977)
Carosi (1963) diferencia o trabalho do homem do trabalho animal pois o primeiro
possui capacidades para fazer algo atraveacutes de seus dons e ideacuteias para atingir o que tem que ser
feito enquanto que no animal nada disso pode ser observado Conforme Carosi (1963 588)
ldquodiz-se que o animal trabalha que a maacutequina trabalha mas eacute certamente um modo muito
improacuteprio de expressatildeo [] Eacute mais correto dizer que o animal e a maacutequina satildeo instrumentos
de trabalhordquo Pois desta forma o trabalho esta interiorizado na moralidade do homem de
forma que sua produccedilatildeo eacute uma virtude agrave medida que consegue as condiccedilotildees necessaacuterias
mediante o trabalho para si ou para os outros
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O homem consegue distinguir-se do animal pelo trabalho sendo este uma relaccedilatildeo
dialeacutetica da teoria com a praacutetica que possibilita ao homem desenvolver sua imaginaccedilatildeo e
habilidade uma vez que sua accedilatildeo eacute antecipada pelo pensamento conseguindo modificar um
objeto ao mesmo tempo em que sua accedilatildeo tambeacutem eacute alterada gerando o seu processo
histoacuterico onde o trabalho tornasse a condiccedilatildeo fundamental para o homem alterar a sua visatildeo
perante o mundo e a si mesmo (ARANHA MARTINS 1993)
Outro conceito fundamental para entendermos a diferenccedila entre o homem e o animal eacute
a sua condiccedilatildeo de trabalho a que cada um deles estaacute submetido Afinal ldquoo homem eacute um ser
que trabalha e produz o mundo e a si mesmo O animal natildeo produz a sua existecircncia mas
apenas a conserva agindo instintivamente []rdquo (ARANHA MARTINS 1993 05)
Sobre a necessidade e a utilidade do trabalho Carosi (1963 589) afirma que
O trabalho eacute aleacutem disso fonte de prosperidade tudo vem da natureza mas nada vem sem o trabalho Se a natureza fosse abandonada a si proacuteprio pelo homem ocioso natildeo lhe oferecia sequer o necessaacuterio para viver com o trabalho ela concede-lhe as maravilhas e comodidade do programa acima de suas necessidades (CAROSI 1963 589)
O trabalho humano armazenado ou exercido em ferramentas maquinarias ou em
animais eacute um recurso utilizado exclusivamente pela competecircncia humana para explorar a
natureza Assim como todos os processos vitais de um corpo humano como os muacutesculos
ceacuterebros satildeo inseparaacuteveis do indiviacuteduo o trabalho tambeacutem eacute uma propriedade inalienaacutevel do
indiviacuteduo humano Portanto tornasse impossiacutevel satisfazer as necessidades baacutesicas em lugar
de outra pessoa que natildeo seja si proacuteprio Entretanto quando um proprietaacuterio utiliza os serviccedilos
de um animal simplesmente canaliza a forccedila e suas resistecircncias naturais desse animal
Todavia ao utilizar abelhas para a produccedilatildeo de mel ou de carneiros para a produccedilatildeo de latilde o
proprietaacuterio soacute tira vantagens das condiccedilotildees bioloacutegicas das atividades dos animais Mas ao
utilizar a forccedila de trabalho do animal o homem ao mesmo tempo utiliza a sua para obter
atraveacutes do trabalho animal as miacutenimas condiccedilotildees variaacuteveis do trabalho concreto
(BRAVERMAN 1977) Sendo assim
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O que distingue a forccedila de trabalho humano eacute portanto natildeo sua capacidade de produzir um excedente mas seu caraacuteter inteligente e proposital que lhe daacute infinita adaptabilidade e que produz as condiccedilotildees sociais e culturais para ampliar sua proacutepria produtividade de modo que seu produto excedente pode ser continuamente ampliado (BRAVERMAN 1977 58)
Portanto eacute o homem que constroacutei e produz sua proacutepria histoacuteria transformando a
natureza e a si proacuteprio a partir de uma accedilatildeo humana e coletiva caracterizando o trabalho
como uma tarefa social onde todas as diferenccedilas que existem na sociedade satildeo fundamentais
para que se organizem na construccedilatildeo da vida social econocircmica e poliacutetica Mesmo a sociedade
sendo formada pelas relaccedilotildees sociais o homem natildeo perde a sua individualidade o que faz
com que se diferencie dos demais Todavia esta contradiccedilatildeo de viver numa sociedade que
opotildee a alienaccedilatildeo agrave liberdade eacute fundamental para manter a dialeacutetica em constante sintonia
(ARANHA MARTINS 1993)
Aleacutem do trabalho o homem possui outras condiccedilotildees que o diferencia do animal Um eacute
o ato voluntaacuterio e consciente da finalidade de seu uso e o outro eacute a fala O ato consciente
primeiramente existe antes como pensamento e este pode ser utilizado para atingir os fins
propostos pela livre vontade do agente Jaacute a fala e as palavras fazem parte da essecircncia do
universo humano distinguindo-o do animal pois este natildeo conhece a simbologia mas
somente os iacutendices que indicam sempre a mesma coisa especiacutefica Jaacute o siacutembolo aleacutem de ser
universal eacute flexiacutevel podendo uma palavra ter diversos entendimentos (ARANHA
MARTINS 1993)
A linguagem e a palavra determinam a condiccedilatildeo na qual o homem e o animal se
desencontram distanciando-o pelo fato da linguagem animal visar a adaptaccedilatildeo ao concreto
enquanto a linguagem humana interveacutem como uma forma abstrata Portanto mesmo quando
um animal conseguir solucionar um problema complexo a sua inteligecircncia ainda seraacute
concreta tratando-se de uma experiecircncia vivida no momento exato enquanto que para o
homem a linguagem por siacutembolos e abstrata permite distanciar-se do mundo e voltar para
transformaacute-lo (ARANHA MARTINS 1993)
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Ao dizer que o homem fala trabalha e pelo trabalho transforma a natureza e a si
proacuteprio nada disso teraacute sentido se natildeo enfatizarmos que a accedilatildeo do ser humano eacute uma accedilatildeo
coletiva Pois o trabalho eacute uma funccedilatildeo social e a palavra eacute um meio de diaacutelogo (ARANHA
MARTINS 1993)
Os estudos experimentais sobre o comportamento animal demonstram que eles natildeo
satildeo totalmente privados da capacidade de aprender e conceber ideacuteias de caraacuteter inicial ou
mesmo aprender a resolver os problemas mais simples que sejam portando
Assim uma criatura dotada de sistema nervoso tatildeo primitivo como a minhoca pode aprender a passar por um labirinto os chimpanzeacutes podem ser estimulados a inventar e fazer instrumentos tais como estender vara que lhes permitem atingir o alimento ou empilhar caixas para o mesmo fim (BRAVERMAN 1977 52)
Conclui-se que a diferenccedila entre o homem e o animal natildeo estaacute apenas em grau mas
em espeacutecie cujo haacute uma imensa distacircncia entre aprender as capacidades conceituais do ser
humano em comparaccedilatildeo aos animais mais adaptaacuteveis Ou seja aos animais natildeo foi possiacutevel
ensinar-lhes a capacidade de manipular representaccedilotildees simboacutelicas e a linguagem articulada
Sem a aprendizagem das capacidades simboacutelicas e da linguagem os animais permanecem
com o seu pensamento conceitual a um niacutevel rudimentar que natildeo pode ser transmitido atraveacutes
do grupo (BRAVERMAN 1977)
Aranha e Martins (1993) tambeacutem afirmam ao dizer que as diferenccedilas entre o homem e
o animal natildeo eacute apenas em grau pois enquanto o animal vive dentro da natureza o homem a
utiliza e transformaacute-a em uma possiacutevel cultural O entendimento de cultura para os
antropoacutelogos eacute tudo aquilo que o homem consegue produzir ao construir sua existecircncia
como por exemplo as praacuteticas as teorias os valores materiais entre outros
Portanto eacute pelo trabalho que o homem consegue construir sua proacutepria histoacuteria sendo
que o ldquotrabalho que ultrapassa a mera atividade instintiva eacute assim a forccedila que criou a espeacutecie
humana e a forccedila pela qual a humanidade criou o mundo como o conhecemosrdquo
(BRAVERMAN 1977 53)
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Aranha e Martins (1993) afirmam que o processo de construccedilatildeo da humanidade se faz
pela relaccedilatildeo entre os homens e a sua consciecircncia emerge lentamente atraveacutes dos conflitos
entre essas relaccedilotildees Entatildeo sobre cai ao homem agrave responsabilidade de manter viva a dialeacutetica
atraveacutes de suas contradiccedilotildees sendo que o ser humano ao mesmo tempo em que eacute um ser
social tambeacutem possui uma individualidade que eacute fundamental para distingui-lo dos demais
ldquoPortanto a sociedade eacute a condiccedilatildeo da alienaccedilatildeo e da liberdade eacute a condiccedilatildeo para que o
homem se perca mas tambeacutem de se encontrarrdquo (ARANHA MARTINS 1993 07)
13 - Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienado
A transiccedilatildeo do periacuteodo do feudalismo para o capitalismo foi marcada pelo nascimento
das faacutebricas onde ocorria uma acumulaccedilatildeo de capital que permitia comprar mateacuteria-prima e
maacutequinas para ampliar o seu mercado Os artesatildeos vendo o forte crescimento das faacutebricas e
percebendo que era impossiacutevel competir contra elas tiveram que vender a sua forccedila de
trabalho em troca de um salaacuterio e se adequar a divisatildeo de trabalho que estabelecia ritmo e
horaacuterio (ARANHA MARTINS 1993)
Ainda em relaccedilatildeo ao trabalho como meio de subsistecircncia para a sobrevivecircncia do ser
humano Dantas (1986) afirma que num determinado periacuteodo esta concepccedilatildeo passou a ser
alheia ao trabalhador Como a divisatildeo do trabalho estava no iniacutecio de seu desenvolvimento o
trabalho era organizado e entendido como familiar onde todos os adultos tinham sua
participaccedilatildeo inclusive aos idosos onde cabia a responsabilidade de distribuir as funccedilotildees Os
materiais para a realizaccedilatildeo do trabalho aleacutem de serem poucos eram rudimentares mas
suficientes para conseguir produtos para suprir as necessidades de todos Ainda citando
Dantas (1986) seus estudos apresenta ter um entendimento da divisatildeo do trabalho a partir do
periacuteodo feudal onde houve um acirramento da separaccedilatildeo entre campo e cidade que foi
crucial para o desenvolvimento daquele fenocircmeno no seu formato moderno No campo o
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trabalho tem como caracteriacutestica a servidatildeo e era realizado na terra sendo esta propriedade do
senhor Os servos eram responsaacuteveis pela produccedilatildeo de meios materiais para si e para os
senhores Jaacute na cidade a divisatildeo do trabalho se dava dentro das pequenas oficinas onde o
artesatildeo que era dono dos seus meios de produccedilatildeo e sua famiacutelia seus auxiliares que com suas
habilidades determinavam um produto final
De acordo com Catani (1984 20) ldquoa divisatildeo social do trabalho eacute outra condiccedilatildeo
preacutevia caracteriacutestica de uma sociedade capitalistardquo pois nessa sociedade todos realizam seus
trabalhos de formas especiacuteficas e particulares contudo ldquotodos dependem uns dos outros e isto
decorre na divisatildeo do trabalho no seio da produccedilatildeo mercantilrdquo (CATANI 1984 20)
Marx (1996) explica que a divisatildeo do trabalho na forma de cooperaccedilatildeo comeccedila a ser
desenvolvido na manufatura predominantemente porque o processo de produccedilatildeo capitalista
se estende do seacuteculo XVI ateacute o seacuteculo XVIII Ou seja diversos trabalhadores com ofiacutecios
diferentes uns dos outros reunidos em uma oficina para produzir um produto sendo que este
passe por ambas as matildeos ateacute o seu acabamento final O trabalho eacute realizado em colaboraccedilatildeo
uns com os outros
Braverman (1980) nos esclarece que a divisatildeo do trabalho que ocorre na oficina eacute
diferente do trabalho desenvolvido no interior da sociedade afirmando que
A divisatildeo do trabalho na sociedade eacute caracteriacutestica de todas as sociedades conhecidas a divisatildeo do trabalho na oficina eacute produto peculiar da sociedade capitalista A divisatildeo social do trabalho divide a sociedade entre ocupaccedilotildees cada qual apropriada a certo ramo de produccedilatildeo a divisatildeo pormenorizada do trabalho destroacutei ocupaccedilotildees consideradas neste sentido e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produccedilatildeo [] Ainda no capitalismo os produtos da divisatildeo social do trabalho satildeo trocados como mercadorias enquanto os resultados da operaccedilatildeo do trabalhador parcelado natildeo satildeo trocados dentro da fabrica como o mercado mas satildeo todos possuiacutedos pelo mesmo capital Enquanto a divisatildeo social do trabalho subdivide a sociedade a divisatildeo parcelada do trabalho subdivide o homem e enquanto a subdivisatildeo da sociedade pode fortalecer o indiviacuteduo e a espeacutecie a subdivisatildeo do indiviacuteduo quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas eacute um crime contra a pessoa e contra a humanidade (BRAVERMAN 1980 72)
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Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
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Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
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servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
24
Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
29
dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
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2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
36
ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
38
natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
39
conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
40
criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
44
ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeOp07
1 - Conceitos Fundamentais do Pensamento Marxianop11
11 O trabalho animalp12
12 Caracteriacutesticas do trabalho humanop14
13 Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienadop20
14 Ideologiap24
15 Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestruturap25
2 - Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moedap30
21 O esporte moderno e seu uso poliacuteticop30
22 O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estadop35
23 O esporte e sua estrutura capitalistap39
3 - O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esportep46
31 Esporte-espetaacuteculo e sociedadep46
32 Mercantilizaccedilatildeo do esportep51
CONSIDERACcedilOtildeES FINAISp59
REFEREcircNCIASp61
7
INTRODUCcedilAtildeO
Ao ingressar na universidade no ano de 2002 no curso de Licenciatura em
Matemaacutetica posso lhes dizer que foi neste momento da minha vida acadecircmica que me levou a
fazer este trabalho de conclusatildeo de curso fundamentado na teoria de marxiana Mas natildeo pelo
que aprendi dentro das salas de aulas mas fora delas
Sendo influenciado e persuadido pelo meu amigo Ricardo Forti que na eacutepoca era viceshy
presidente do Diretoacuterio Central dos Estudantes ndash DCE e pelo interesse que sempre tive em
participar de movimentos estudantis e poliacuteticos tive a oportunidade de atuar e participar em
vaacuterias frentes nesses movimentos tais como o Centro Acadecircmico de Matemaacutetica qual fui
vice-presidente e presidente participaccedilotildees no DCE e nos movimento negros entre eles
destaco o Nuacutecleo de Afrodescendente da Unimep ndash NADU ONG Afrobras (Sociedade Afro-
Brasileira de Desenvolvimento Soacutecio Cultural) e da Associaccedilatildeo dos Universitaacuterios negros e
negras de Piracicaba ndash AUEcirc sendo este uacuteltimo uma associaccedilatildeo que ajudei a construir E
posteriormente no C A de Educaccedilatildeo Fiacutesica em 2005
Mas de todos estes movimentos estudantis e poliacuteticos que participei um tem uma
importacircncia decisivo para minha formaccedilatildeo Destaco o 1ordm Encontro da Juventude do Campo e
da Cidade realizado na Mooca em 2002 cidade de Satildeo Paulo e organizado pelo Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra ndash MST Foi neste encontro que pude observar os debates
sobre a teoria de Marx onde todos ali presentes demonstravam o compromisso pela luta de
classes em especial para com os menos favorecidos
Outro fato que me marcou foi a forma na qual todos noacutes discutiacuteamos sobre as questotildees
que o mundo estava passando dentro de uma contexto capitalista Todos sentados no chatildeo em
forma de ciacuterculo Numa dessas rodas ouvi falar de Paulo Freire e sua preocupaccedilatildeo em
desenvolver nos cidadatildeos e cidadatildes a ldquoconsciecircncia criacuteticardquo
8
Voltando aos dias de aula na universidade todas aquelas questotildees que vivenciei
naquele momento da roda de conversa passei a debater comigo mesmo tentando descobrir
onde e em que lugar poderia aplicaacute-las
Ainda sobre minha passagem pelo curso de Matemaacutetica conheci um estudante que
estava concluindo o curso de Filosofia o qual me chamou a atenccedilatildeo pelo seu compromisso
com alguns movimentos sociais seu nome Rodrigo Batagello
Passados dois anos e meio segundo semestre de 2004 transfiro-me para o curso de
Educaccedilatildeo Fiacutesica da mesma instituiccedilatildeo e em 2006 fazendo a disciplina de estaacutegio
supervisionado como componente obrigatoacuterio do curriacuteculo na aacuterea da Educaccedilatildeo Fiacutesica
escolar encontro as mesmas praacuteticas vividas por mim no encontro do MST sendo aplicadas
nas aulas de educaccedilatildeo fiacutesica As rodas de conversa as discussotildees sobre as questotildees da nossa
sociedade das relaccedilotildees sociais e sobre a aula em si
Durante o meu estaacutegio conheci o professor do Instituto Educacional Piracicabano ndash
Coleacutegio Piracicabano Ricardo Colpas e este me revelou a Educaccedilatildeo Fiacutesica revolucionaacuteria e
sua colaboraccedilatildeo na transformaccedilatildeo da realidade social atraveacutes da praacutetica corporal A
abordagem utilizada pelo professor a Criacutetico-Superadora estabelece criteacuterios para a
sistematizaccedilatildeo dessa disciplina no acircmbito da escola e se apresenta pautada num projeto
histoacuterico de sociedade que tem como princiacutepio a superaccedilatildeo da sociedade capitalista Esta
abordagem eacute fundamentada em Marx
Portanto a linha de estudo que tomaremos para o desenvolvimento deste trabalho eacute
construiacutedo graccedilas a um processo que tive no iniacutecio da minha vida acadecircmica e que hoje tenho
como professor orientador Rodrigo Batagello que atualmente ministra aulas de Filosofia e
Eacutetica no curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica da Unimep e como co-orientador o professor Ricardo
Colpas sendo ambos responsaacuteveis pela concretizaccedilatildeo desse meu sonho Ou seja discutir a
influecircncia do capitalismo no esporte
9
Podendo ser observada as constantes transformaccedilotildees que vem ocorrendo no mundo
por conta de um sistema econocircmico contraditoacuterio que priva uma classe social por interesses
particulares em detrimento dos interesses de uma classe economicamente dominante acabam
influenciando as estruturas de uma sociedade a fim de manter os interesses dominantes
vigentes E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural que estaacute instituiacutedo na vida de muita
gente no mundo inteiro vem ao longo do tempo sendo influenciado por uma ideologia
dominante capaz de transformaacute-lo em mercadoria
A justificativa desse presente trabalho eacute buscar uma maior reflexatildeo sobre o esporte
inserido numa sociedade que assumiu os valores capitalistas a partir de um ponto de vista
criacutetico tentando compreender como o esporte faz sua relaccedilatildeo com esta sociedade de tal
forma que tudo o que se vecirc e consume faz parte de um ideal jaacute determinado
Portanto partindo de algumas inquietaccedilotildees levantamos algumas problematizaccedilotildees que
devem ser respondidas ao decorrer desse nosso trabalho satildeo elas 1) o esporte assume os
valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer preccedilo 2) o esporte pode ser
considerado como um instrumento ideoloacutegico do Estado 3) o esporte jaacute foi utilizado para fins
poliacuteticos 4) como quando e porque o esporte tornou-se mercadoria 5) qual a necessidade de
se entender a mercantilizaccedilatildeo do esporte num contexto de sociedade de consumo
No primeiro capiacutetulo estudaremos o conceito de trabalho na visatildeo marxiana
considerando as questotildees da divisatildeo social do trabalho trabalho alienado infra e
superestrutura e ideologia por fim um estudo da relaccedilatildeo da sociedade e do capitalismo bem
como suas definiccedilotildees num conceito marxiano para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista No segundo capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte
com o capitalismo levando em consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de
mercadorias pelos quais os meios de produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse
sistema capitalista reflete na realidade as expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo
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de produccedilatildeo determinado Aleacutem de assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e
rendimento a qualquer custo tambeacutem eacute utilizado como instrumento ideoloacutegico de Estado e
politicamente como elemento disciplinador higienista e alienador que emprega valores
nacionalistas e ateacute raciais Finalmente no terceiro capiacutetulo discutiremos como ocorre o
processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte levando em consideraccedilatildeo a sua transformaccedilatildeo em
espetaacuteculo e da influecircncia que a sociedade de consumo exerce sobre ele
O objetivo deste trabalho eacute estudar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte numa sociedade que assume valores capitalistas levando em consideraccedilatildeo a estrutura
de funcionamento do sistema capitalista a partir de uma perspectiva marxiana e assim
procurar estabelecer uma criacutetica em torno da mesmice que existe sobre o esporte Por
conseguinte tendo como metodologia o desenvolvido de uma pesquisa qualitativa de cunho
exploratoacuterio por meio do meacutetodo dialeacutetico delineada pela teacutecnica de pesquisa bibliograacutefica
(GIL 1996)
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1 - Conceitos Fundamentais do Pensamento Marxiano
ldquoA liberdade jamais seraacute dada pelo opressor Ela tem que ser conquistado pelo oprimidordquo
Martin Luther King
Partindo inicialmente da noccedilatildeo geral de que o objetivo amplo do marxismo eacute
interpretar a realidade para depois transformaacute-la consideramos que
[] o marxismo natildeo eacute uma teoria cientifica como as outras natildeo visa simplesmente descrever ou explicar mas visa transformar a realidade visa uma transformaccedilatildeo revolucionaacuteria Trata-se portanto de compreender a realidade para transformaacute-la revolucionariamente a partir de um ponto de vista de classe do ponto de vista das classes dominadas (LOumlWY 1998 18)
Esta compreensatildeo de transformar a realidade revolucionariamente parte do princiacutepio
de que quando as nossas ideacuteias sobre a sociedade visam transformaacute-la e quanto mais
entendemos a importacircncia desse processo de transformaccedilatildeo mais lutamos para que ele ocorra
(LOumlWY 1998)
Mesmo natildeo sendo um filoacutesofo a obra de Karl Marx exerceu grande repercussatildeo e
alcanccedilou uma importacircncia filosoacutefica capaz de influenciar diversas aacutereas como a histoacuteria
poliacutetica economia sociologia entre outras Os conceitos econocircmico-filosoacuteficos e ideacuteias
revolucionaacuterias marxianas foram fundamentais para o seacuteculo XX pois ofereceram o
instrumental teoacuterico necessaacuterio para uma profunda reconsideraccedilatildeo sobre os processos de
formaccedilatildeo da consciecircncia associando a produccedilatildeo da vida intelectual ao contexto da produccedilatildeo
da vida material e criaram as consideraccedilotildees necessaacuterias para libertar o homem do caacutercere no
qual a metafiacutesica lhe havia encarcerado Marx procurava atraveacutes da sua filosofia
contestadora criticar a modernidade pelo seu proacuteprio processo de desenvolvimento
combatendo os preconceitos as supersticcedilotildees e o falso saber provindo das antigas filosofias
(MARCONDES 1997)
Um dos conceitos fundamentais que Marx discute em sua teoria eacute o conceito de
trabalho considerando-o como relaccedilatildeo fundamental entre o sujeito e o objeto Segundo Marx
ldquoo trabalho eacute uma relaccedilatildeo invariante entre a espeacutecie humana e seu ambiente natural uma
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perpeacutetua necessidade natural da vida humanardquo (MARCONDES 1997 229) Contudo antes
de investigarmos em profundidade as caracteriacutesticas do trabalho humano eacute necessaacuterio
entendermos quais satildeo as diferenccedilas entre o trabalho humano e o trabalho animal
11 - O trabalho animal
A atividade dos animais que se encontram nos niacuteveis mais baixos da escala zooloacutegica
de desenvolvimento se caracteriza por ser um conjunto de accedilotildees instintivas orientadas por leis
bioloacutegicas como eacute o caso dos insetos Se observarmos com atenccedilatildeo uma aranha tecendo uma
teia natildeo podemos dizer que isto eacute um trabalho porque este ato natildeo possui histoacuteria ou seja
natildeo eacute modificado ao longo de sua vida Este ato de tecer uma teia com extrema habilidade eacute
padronizado e soacute eacute modificado se ocorrer uma evoluccedilatildeo de sua espeacutecie ou por algum tipo de
mutaccedilatildeo geneacutetica A construccedilatildeo de alguma coisa por parte do animal natildeo tem como finalidade
promover condiccedilotildees melhores de vida mas
[] em certas aves chamadas tendilhotildees o haacutebito de fazer ninhos tiacutepicos da espeacutecie eacute tatildeo fixo que apoacutes cinco geraccedilotildees em que essas aves eram criadas por canaacuterios ainda continuavam a construiacute-los como antes (ARANHA ARTINS 1993 03)
Os animais mamiacuteferos que se encontram em melhor colocaccedilatildeo na escala zooloacutegica ou
em niacuteveis mais altos passam a transcender suas accedilotildees instintivas para uma categoria de atos
inteligentes Um exemplo eacute quando se coloca o chimpanzeacute com fome dentro de uma jaula e
nela estatildeo penduradas bananas que o animal natildeo consegue alcanccedilar mas resolve este
problema quando pega o caixote e coloca-o debaixo das bananas para pegaacute-las ou seja a
partir de uma visatildeo global do ambiente o chimpanzeacute estabelece uma relaccedilatildeo entre o caixote e
a banana (ARANHA MARTINS 1993)
Para solucionar este problema o chimpanzeacute natildeo conta com uma accedilatildeo imediata mas a
soluccedilatildeo depende da sua capacidade intelectual de estabelecer uma relaccedilatildeo entre o caixote e as
bananas Assim a sua inteligecircncia o distingue do inseto contudo ainda se trata de um tipo de
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inteligecircncia concreta estabelecida no ato da situaccedilatildeo real e ldquomesmo que alguns animais
organizem sociedades mais complexas [] natildeo haacute nada que se compare agraves transformaccedilotildees
realizadas pelo homem enquanto criador da culturardquo (ARANHA MARTINS 1993 04)
Mesmo que um animal realize uma accedilatildeo transformadora que possa ser reconhecida
como um tipo especiacutefico de trabalho (por exemplo o joatildeo-de-barro que constroacutei sua casinha)
este trabalho natildeo eacute consciente e nem pode ser considerado criativo pois sempre que o joatildeoshy
de-barro ou qualquer outro animal criar resultados materiais estes resultados seratildeo iguais
para todos os sujeitos pertencentes a uma mesma espeacutecie Aleacutem disso as teacutecnicas e o
processo de construccedilatildeo tambeacutem seratildeo idecircnticos para os membros de uma mesma espeacutecie
situaccedilatildeo que nos forccedila a reconhecer que a accedilatildeo do indiviacuteduo natildeo pode ser considerada um ato
criativo ou reflexivo Jaacute o trabalho humano se caracteriza por ser uma accedilatildeo consciente capaz
de reproduzir e cria novas teacutecnicas a fim de transformar a natureza de acordo com a sua
necessidade humana e mudar a sua maneira de agir perceber pensar e sentir o mundo que o
cerca O trabalho humano eacute uma atividade consciente e transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio (ARANHA MARTINS 1993)
Os animais permanecem mergulhados na natureza e as espeacutecies vivem apenas o
presente de modo que o acuacutemulo de suas accedilotildees e experiecircncias natildeo se revertem em
aprendizado Isso significa que o trabalho animal natildeo estaacute submetido agrave mesma loacutegica que
preside a atividade humana que se desenvolve graccedilas ao movimento dialeacutetico produzido pelo
conflito entre consciecircncia e materialidade (ARANHA MARTINS 1993)
A accedilatildeo humana que transforma o mundo natural (realidade estritamente material) em
mundo cultural onde
[] cultura significa tudo o que o homem produz ao construir sua existecircncia as praacuteticas as teorias as instituiccedilotildees os valores materiais e espirituais Se o contato que o homem tem com o mundo eacute intermediado pelo siacutembolo a cultura eacute o conjunto de siacutembolos elaborados por um povo em determinado tempo e lugar Dada a infinita possibilidade de simbolizar as culturas dos povos satildeo muacuteltiplas e variadas (ARANHA MARTINS 1993 06)
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Esta questatildeo do trabalho pelo qual o homem transforma a natureza e a si proacuteprio
diferenciando-se dos demais animais seraacute desenvolvido no proacuteximo item
12 - Caracteriacutesticas do trabalho humano
A histoacuteria do desenvolvimento das teacutecnicas e dos processos de transformaccedilatildeo da
realidade se confunde com a histoacuteria do desenvolvimento da humanidade De acordo com
Dantas (1986) os homens tiveram que aprender a trabalhar desde a origem da humanidade
para sobreviverem e satisfazer suas necessidades produzindo e reproduzindo meios de
subsistecircncia Este trabalho praticado pelo qual o homem se distingue do trabalho animal eacute
criativo enquanto o do animal eacute simplesmente instintivo
De acordo com Carosi (1963) trabalho eacute a atividade transformadora onde se
empregam forccedilas humanas fiacutesicas e intelectuais com o objetivo de moldar o mundo natural
de acordo com as necessidades individuais ou coletivas de subsistecircncia Ou seja o trabalho
tornasse o emprego das energias humanas para diferenciar das accedilotildees de um animal e do
funcionamento de uma maacutequina pois eacute direcionado pela inteligecircncia e pela sustentaccedilatildeo da
vontade do homem
Conforme Braverman (1977) apoderar-se dos materiais da natureza assim como
ocorre com os vegetais que absorvem minerais e luz do sol e animais que se alimentam de
vida vegetal natildeo pode ser considerado trabalho Pois o trabalho eacute uma atividade que
transforma o estado natural desses materiais de modo que possam ser utilizados para
satisfazer as necessidades da espeacutecie humana
Para Braverman (1977) natildeo se trata agora de analisar as semelhanccedilas do trabalho
humano com o trabalho dos outros animais mas sim as diferenccedilas que os distanciam um do
outro Ao utilizar o termo trabalho para designar a atividade criativa peculiar do homem
Marx enfatiza que ldquonatildeo se trata aqui das primeiras formas instintivas animais de trabalhordquo
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(MARX 1996 297) Uma aranha realiza funccedilotildees que se assemelha a dos tecelotildees e a abelha
envergonha muitos arquitetos na construccedilatildeo de seus alveacuteolos Mas o que realmente distingue
o pior arquiteto humano da melhor abelha eacute que o humano cria em sua mente o corticcedilo antes
de transformaacute-lo em realidade No fim do processo o resultado sai de acordo com a
imaginaccedilatildeo na qual o trabalho teve no iniacutecio Ou seja o homem transforma o material de
acordo com sua vontade e imprime no real a forma de sua consciecircncia (MARX 1996)
O trabalho entendido aqui como uma atividade adequada a um fim distingue-se dos
animais que procuram apenas a satisfaccedilatildeo das suas necessidades bioloacutegicas Atraveacutes dele os
homens produzem sua proacutepria existecircncia mas antes de tudo
[] o trabalho eacute um processo entre o homem e a Natureza um processo em que o homem por sua proacutepria accedilatildeo media regula e controla seu metabolismo com a Natureza Ele mesmo se defronta com a mateacuteria natural como uma forccedila natural Ele potildee em movimento as forccedilas naturais pertencentes a sua corporalidade braccedilos e pernas cabeccedila e matildeo a fim de apropriar-se da mateacuteria natural numa forma uacutetil para sua proacutepria vida Ao atuar por meio desses movimentos sobre a Natureza externa e ao modificaacuteshyla ele modifica ao mesmo tempo sua proacutepria natureza Ele desenvolve as potecircncias nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forccedilas a seu proacuteprio domiacutenio (MARX 1996 297)
Por essa forma o trabalho humano eacute consciente e proposital Jaacute o trabalho dos outros
animais eacute instintivo Podemos observar quando uma largata completa a segunda metade de
seu casulo sem se importar com a primeira (BRAVERMAN 1977)
Carosi (1963) diferencia o trabalho do homem do trabalho animal pois o primeiro
possui capacidades para fazer algo atraveacutes de seus dons e ideacuteias para atingir o que tem que ser
feito enquanto que no animal nada disso pode ser observado Conforme Carosi (1963 588)
ldquodiz-se que o animal trabalha que a maacutequina trabalha mas eacute certamente um modo muito
improacuteprio de expressatildeo [] Eacute mais correto dizer que o animal e a maacutequina satildeo instrumentos
de trabalhordquo Pois desta forma o trabalho esta interiorizado na moralidade do homem de
forma que sua produccedilatildeo eacute uma virtude agrave medida que consegue as condiccedilotildees necessaacuterias
mediante o trabalho para si ou para os outros
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O homem consegue distinguir-se do animal pelo trabalho sendo este uma relaccedilatildeo
dialeacutetica da teoria com a praacutetica que possibilita ao homem desenvolver sua imaginaccedilatildeo e
habilidade uma vez que sua accedilatildeo eacute antecipada pelo pensamento conseguindo modificar um
objeto ao mesmo tempo em que sua accedilatildeo tambeacutem eacute alterada gerando o seu processo
histoacuterico onde o trabalho tornasse a condiccedilatildeo fundamental para o homem alterar a sua visatildeo
perante o mundo e a si mesmo (ARANHA MARTINS 1993)
Outro conceito fundamental para entendermos a diferenccedila entre o homem e o animal eacute
a sua condiccedilatildeo de trabalho a que cada um deles estaacute submetido Afinal ldquoo homem eacute um ser
que trabalha e produz o mundo e a si mesmo O animal natildeo produz a sua existecircncia mas
apenas a conserva agindo instintivamente []rdquo (ARANHA MARTINS 1993 05)
Sobre a necessidade e a utilidade do trabalho Carosi (1963 589) afirma que
O trabalho eacute aleacutem disso fonte de prosperidade tudo vem da natureza mas nada vem sem o trabalho Se a natureza fosse abandonada a si proacuteprio pelo homem ocioso natildeo lhe oferecia sequer o necessaacuterio para viver com o trabalho ela concede-lhe as maravilhas e comodidade do programa acima de suas necessidades (CAROSI 1963 589)
O trabalho humano armazenado ou exercido em ferramentas maquinarias ou em
animais eacute um recurso utilizado exclusivamente pela competecircncia humana para explorar a
natureza Assim como todos os processos vitais de um corpo humano como os muacutesculos
ceacuterebros satildeo inseparaacuteveis do indiviacuteduo o trabalho tambeacutem eacute uma propriedade inalienaacutevel do
indiviacuteduo humano Portanto tornasse impossiacutevel satisfazer as necessidades baacutesicas em lugar
de outra pessoa que natildeo seja si proacuteprio Entretanto quando um proprietaacuterio utiliza os serviccedilos
de um animal simplesmente canaliza a forccedila e suas resistecircncias naturais desse animal
Todavia ao utilizar abelhas para a produccedilatildeo de mel ou de carneiros para a produccedilatildeo de latilde o
proprietaacuterio soacute tira vantagens das condiccedilotildees bioloacutegicas das atividades dos animais Mas ao
utilizar a forccedila de trabalho do animal o homem ao mesmo tempo utiliza a sua para obter
atraveacutes do trabalho animal as miacutenimas condiccedilotildees variaacuteveis do trabalho concreto
(BRAVERMAN 1977) Sendo assim
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O que distingue a forccedila de trabalho humano eacute portanto natildeo sua capacidade de produzir um excedente mas seu caraacuteter inteligente e proposital que lhe daacute infinita adaptabilidade e que produz as condiccedilotildees sociais e culturais para ampliar sua proacutepria produtividade de modo que seu produto excedente pode ser continuamente ampliado (BRAVERMAN 1977 58)
Portanto eacute o homem que constroacutei e produz sua proacutepria histoacuteria transformando a
natureza e a si proacuteprio a partir de uma accedilatildeo humana e coletiva caracterizando o trabalho
como uma tarefa social onde todas as diferenccedilas que existem na sociedade satildeo fundamentais
para que se organizem na construccedilatildeo da vida social econocircmica e poliacutetica Mesmo a sociedade
sendo formada pelas relaccedilotildees sociais o homem natildeo perde a sua individualidade o que faz
com que se diferencie dos demais Todavia esta contradiccedilatildeo de viver numa sociedade que
opotildee a alienaccedilatildeo agrave liberdade eacute fundamental para manter a dialeacutetica em constante sintonia
(ARANHA MARTINS 1993)
Aleacutem do trabalho o homem possui outras condiccedilotildees que o diferencia do animal Um eacute
o ato voluntaacuterio e consciente da finalidade de seu uso e o outro eacute a fala O ato consciente
primeiramente existe antes como pensamento e este pode ser utilizado para atingir os fins
propostos pela livre vontade do agente Jaacute a fala e as palavras fazem parte da essecircncia do
universo humano distinguindo-o do animal pois este natildeo conhece a simbologia mas
somente os iacutendices que indicam sempre a mesma coisa especiacutefica Jaacute o siacutembolo aleacutem de ser
universal eacute flexiacutevel podendo uma palavra ter diversos entendimentos (ARANHA
MARTINS 1993)
A linguagem e a palavra determinam a condiccedilatildeo na qual o homem e o animal se
desencontram distanciando-o pelo fato da linguagem animal visar a adaptaccedilatildeo ao concreto
enquanto a linguagem humana interveacutem como uma forma abstrata Portanto mesmo quando
um animal conseguir solucionar um problema complexo a sua inteligecircncia ainda seraacute
concreta tratando-se de uma experiecircncia vivida no momento exato enquanto que para o
homem a linguagem por siacutembolos e abstrata permite distanciar-se do mundo e voltar para
transformaacute-lo (ARANHA MARTINS 1993)
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Ao dizer que o homem fala trabalha e pelo trabalho transforma a natureza e a si
proacuteprio nada disso teraacute sentido se natildeo enfatizarmos que a accedilatildeo do ser humano eacute uma accedilatildeo
coletiva Pois o trabalho eacute uma funccedilatildeo social e a palavra eacute um meio de diaacutelogo (ARANHA
MARTINS 1993)
Os estudos experimentais sobre o comportamento animal demonstram que eles natildeo
satildeo totalmente privados da capacidade de aprender e conceber ideacuteias de caraacuteter inicial ou
mesmo aprender a resolver os problemas mais simples que sejam portando
Assim uma criatura dotada de sistema nervoso tatildeo primitivo como a minhoca pode aprender a passar por um labirinto os chimpanzeacutes podem ser estimulados a inventar e fazer instrumentos tais como estender vara que lhes permitem atingir o alimento ou empilhar caixas para o mesmo fim (BRAVERMAN 1977 52)
Conclui-se que a diferenccedila entre o homem e o animal natildeo estaacute apenas em grau mas
em espeacutecie cujo haacute uma imensa distacircncia entre aprender as capacidades conceituais do ser
humano em comparaccedilatildeo aos animais mais adaptaacuteveis Ou seja aos animais natildeo foi possiacutevel
ensinar-lhes a capacidade de manipular representaccedilotildees simboacutelicas e a linguagem articulada
Sem a aprendizagem das capacidades simboacutelicas e da linguagem os animais permanecem
com o seu pensamento conceitual a um niacutevel rudimentar que natildeo pode ser transmitido atraveacutes
do grupo (BRAVERMAN 1977)
Aranha e Martins (1993) tambeacutem afirmam ao dizer que as diferenccedilas entre o homem e
o animal natildeo eacute apenas em grau pois enquanto o animal vive dentro da natureza o homem a
utiliza e transformaacute-a em uma possiacutevel cultural O entendimento de cultura para os
antropoacutelogos eacute tudo aquilo que o homem consegue produzir ao construir sua existecircncia
como por exemplo as praacuteticas as teorias os valores materiais entre outros
Portanto eacute pelo trabalho que o homem consegue construir sua proacutepria histoacuteria sendo
que o ldquotrabalho que ultrapassa a mera atividade instintiva eacute assim a forccedila que criou a espeacutecie
humana e a forccedila pela qual a humanidade criou o mundo como o conhecemosrdquo
(BRAVERMAN 1977 53)
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Aranha e Martins (1993) afirmam que o processo de construccedilatildeo da humanidade se faz
pela relaccedilatildeo entre os homens e a sua consciecircncia emerge lentamente atraveacutes dos conflitos
entre essas relaccedilotildees Entatildeo sobre cai ao homem agrave responsabilidade de manter viva a dialeacutetica
atraveacutes de suas contradiccedilotildees sendo que o ser humano ao mesmo tempo em que eacute um ser
social tambeacutem possui uma individualidade que eacute fundamental para distingui-lo dos demais
ldquoPortanto a sociedade eacute a condiccedilatildeo da alienaccedilatildeo e da liberdade eacute a condiccedilatildeo para que o
homem se perca mas tambeacutem de se encontrarrdquo (ARANHA MARTINS 1993 07)
13 - Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienado
A transiccedilatildeo do periacuteodo do feudalismo para o capitalismo foi marcada pelo nascimento
das faacutebricas onde ocorria uma acumulaccedilatildeo de capital que permitia comprar mateacuteria-prima e
maacutequinas para ampliar o seu mercado Os artesatildeos vendo o forte crescimento das faacutebricas e
percebendo que era impossiacutevel competir contra elas tiveram que vender a sua forccedila de
trabalho em troca de um salaacuterio e se adequar a divisatildeo de trabalho que estabelecia ritmo e
horaacuterio (ARANHA MARTINS 1993)
Ainda em relaccedilatildeo ao trabalho como meio de subsistecircncia para a sobrevivecircncia do ser
humano Dantas (1986) afirma que num determinado periacuteodo esta concepccedilatildeo passou a ser
alheia ao trabalhador Como a divisatildeo do trabalho estava no iniacutecio de seu desenvolvimento o
trabalho era organizado e entendido como familiar onde todos os adultos tinham sua
participaccedilatildeo inclusive aos idosos onde cabia a responsabilidade de distribuir as funccedilotildees Os
materiais para a realizaccedilatildeo do trabalho aleacutem de serem poucos eram rudimentares mas
suficientes para conseguir produtos para suprir as necessidades de todos Ainda citando
Dantas (1986) seus estudos apresenta ter um entendimento da divisatildeo do trabalho a partir do
periacuteodo feudal onde houve um acirramento da separaccedilatildeo entre campo e cidade que foi
crucial para o desenvolvimento daquele fenocircmeno no seu formato moderno No campo o
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trabalho tem como caracteriacutestica a servidatildeo e era realizado na terra sendo esta propriedade do
senhor Os servos eram responsaacuteveis pela produccedilatildeo de meios materiais para si e para os
senhores Jaacute na cidade a divisatildeo do trabalho se dava dentro das pequenas oficinas onde o
artesatildeo que era dono dos seus meios de produccedilatildeo e sua famiacutelia seus auxiliares que com suas
habilidades determinavam um produto final
De acordo com Catani (1984 20) ldquoa divisatildeo social do trabalho eacute outra condiccedilatildeo
preacutevia caracteriacutestica de uma sociedade capitalistardquo pois nessa sociedade todos realizam seus
trabalhos de formas especiacuteficas e particulares contudo ldquotodos dependem uns dos outros e isto
decorre na divisatildeo do trabalho no seio da produccedilatildeo mercantilrdquo (CATANI 1984 20)
Marx (1996) explica que a divisatildeo do trabalho na forma de cooperaccedilatildeo comeccedila a ser
desenvolvido na manufatura predominantemente porque o processo de produccedilatildeo capitalista
se estende do seacuteculo XVI ateacute o seacuteculo XVIII Ou seja diversos trabalhadores com ofiacutecios
diferentes uns dos outros reunidos em uma oficina para produzir um produto sendo que este
passe por ambas as matildeos ateacute o seu acabamento final O trabalho eacute realizado em colaboraccedilatildeo
uns com os outros
Braverman (1980) nos esclarece que a divisatildeo do trabalho que ocorre na oficina eacute
diferente do trabalho desenvolvido no interior da sociedade afirmando que
A divisatildeo do trabalho na sociedade eacute caracteriacutestica de todas as sociedades conhecidas a divisatildeo do trabalho na oficina eacute produto peculiar da sociedade capitalista A divisatildeo social do trabalho divide a sociedade entre ocupaccedilotildees cada qual apropriada a certo ramo de produccedilatildeo a divisatildeo pormenorizada do trabalho destroacutei ocupaccedilotildees consideradas neste sentido e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produccedilatildeo [] Ainda no capitalismo os produtos da divisatildeo social do trabalho satildeo trocados como mercadorias enquanto os resultados da operaccedilatildeo do trabalhador parcelado natildeo satildeo trocados dentro da fabrica como o mercado mas satildeo todos possuiacutedos pelo mesmo capital Enquanto a divisatildeo social do trabalho subdivide a sociedade a divisatildeo parcelada do trabalho subdivide o homem e enquanto a subdivisatildeo da sociedade pode fortalecer o indiviacuteduo e a espeacutecie a subdivisatildeo do indiviacuteduo quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas eacute um crime contra a pessoa e contra a humanidade (BRAVERMAN 1980 72)
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Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
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Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
23
servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
24
Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
29
dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
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2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
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ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
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criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
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De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
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Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
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E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
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De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
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parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
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simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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7
INTRODUCcedilAtildeO
Ao ingressar na universidade no ano de 2002 no curso de Licenciatura em
Matemaacutetica posso lhes dizer que foi neste momento da minha vida acadecircmica que me levou a
fazer este trabalho de conclusatildeo de curso fundamentado na teoria de marxiana Mas natildeo pelo
que aprendi dentro das salas de aulas mas fora delas
Sendo influenciado e persuadido pelo meu amigo Ricardo Forti que na eacutepoca era viceshy
presidente do Diretoacuterio Central dos Estudantes ndash DCE e pelo interesse que sempre tive em
participar de movimentos estudantis e poliacuteticos tive a oportunidade de atuar e participar em
vaacuterias frentes nesses movimentos tais como o Centro Acadecircmico de Matemaacutetica qual fui
vice-presidente e presidente participaccedilotildees no DCE e nos movimento negros entre eles
destaco o Nuacutecleo de Afrodescendente da Unimep ndash NADU ONG Afrobras (Sociedade Afro-
Brasileira de Desenvolvimento Soacutecio Cultural) e da Associaccedilatildeo dos Universitaacuterios negros e
negras de Piracicaba ndash AUEcirc sendo este uacuteltimo uma associaccedilatildeo que ajudei a construir E
posteriormente no C A de Educaccedilatildeo Fiacutesica em 2005
Mas de todos estes movimentos estudantis e poliacuteticos que participei um tem uma
importacircncia decisivo para minha formaccedilatildeo Destaco o 1ordm Encontro da Juventude do Campo e
da Cidade realizado na Mooca em 2002 cidade de Satildeo Paulo e organizado pelo Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra ndash MST Foi neste encontro que pude observar os debates
sobre a teoria de Marx onde todos ali presentes demonstravam o compromisso pela luta de
classes em especial para com os menos favorecidos
Outro fato que me marcou foi a forma na qual todos noacutes discutiacuteamos sobre as questotildees
que o mundo estava passando dentro de uma contexto capitalista Todos sentados no chatildeo em
forma de ciacuterculo Numa dessas rodas ouvi falar de Paulo Freire e sua preocupaccedilatildeo em
desenvolver nos cidadatildeos e cidadatildes a ldquoconsciecircncia criacuteticardquo
8
Voltando aos dias de aula na universidade todas aquelas questotildees que vivenciei
naquele momento da roda de conversa passei a debater comigo mesmo tentando descobrir
onde e em que lugar poderia aplicaacute-las
Ainda sobre minha passagem pelo curso de Matemaacutetica conheci um estudante que
estava concluindo o curso de Filosofia o qual me chamou a atenccedilatildeo pelo seu compromisso
com alguns movimentos sociais seu nome Rodrigo Batagello
Passados dois anos e meio segundo semestre de 2004 transfiro-me para o curso de
Educaccedilatildeo Fiacutesica da mesma instituiccedilatildeo e em 2006 fazendo a disciplina de estaacutegio
supervisionado como componente obrigatoacuterio do curriacuteculo na aacuterea da Educaccedilatildeo Fiacutesica
escolar encontro as mesmas praacuteticas vividas por mim no encontro do MST sendo aplicadas
nas aulas de educaccedilatildeo fiacutesica As rodas de conversa as discussotildees sobre as questotildees da nossa
sociedade das relaccedilotildees sociais e sobre a aula em si
Durante o meu estaacutegio conheci o professor do Instituto Educacional Piracicabano ndash
Coleacutegio Piracicabano Ricardo Colpas e este me revelou a Educaccedilatildeo Fiacutesica revolucionaacuteria e
sua colaboraccedilatildeo na transformaccedilatildeo da realidade social atraveacutes da praacutetica corporal A
abordagem utilizada pelo professor a Criacutetico-Superadora estabelece criteacuterios para a
sistematizaccedilatildeo dessa disciplina no acircmbito da escola e se apresenta pautada num projeto
histoacuterico de sociedade que tem como princiacutepio a superaccedilatildeo da sociedade capitalista Esta
abordagem eacute fundamentada em Marx
Portanto a linha de estudo que tomaremos para o desenvolvimento deste trabalho eacute
construiacutedo graccedilas a um processo que tive no iniacutecio da minha vida acadecircmica e que hoje tenho
como professor orientador Rodrigo Batagello que atualmente ministra aulas de Filosofia e
Eacutetica no curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica da Unimep e como co-orientador o professor Ricardo
Colpas sendo ambos responsaacuteveis pela concretizaccedilatildeo desse meu sonho Ou seja discutir a
influecircncia do capitalismo no esporte
9
Podendo ser observada as constantes transformaccedilotildees que vem ocorrendo no mundo
por conta de um sistema econocircmico contraditoacuterio que priva uma classe social por interesses
particulares em detrimento dos interesses de uma classe economicamente dominante acabam
influenciando as estruturas de uma sociedade a fim de manter os interesses dominantes
vigentes E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural que estaacute instituiacutedo na vida de muita
gente no mundo inteiro vem ao longo do tempo sendo influenciado por uma ideologia
dominante capaz de transformaacute-lo em mercadoria
A justificativa desse presente trabalho eacute buscar uma maior reflexatildeo sobre o esporte
inserido numa sociedade que assumiu os valores capitalistas a partir de um ponto de vista
criacutetico tentando compreender como o esporte faz sua relaccedilatildeo com esta sociedade de tal
forma que tudo o que se vecirc e consume faz parte de um ideal jaacute determinado
Portanto partindo de algumas inquietaccedilotildees levantamos algumas problematizaccedilotildees que
devem ser respondidas ao decorrer desse nosso trabalho satildeo elas 1) o esporte assume os
valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer preccedilo 2) o esporte pode ser
considerado como um instrumento ideoloacutegico do Estado 3) o esporte jaacute foi utilizado para fins
poliacuteticos 4) como quando e porque o esporte tornou-se mercadoria 5) qual a necessidade de
se entender a mercantilizaccedilatildeo do esporte num contexto de sociedade de consumo
No primeiro capiacutetulo estudaremos o conceito de trabalho na visatildeo marxiana
considerando as questotildees da divisatildeo social do trabalho trabalho alienado infra e
superestrutura e ideologia por fim um estudo da relaccedilatildeo da sociedade e do capitalismo bem
como suas definiccedilotildees num conceito marxiano para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista No segundo capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte
com o capitalismo levando em consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de
mercadorias pelos quais os meios de produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse
sistema capitalista reflete na realidade as expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo
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de produccedilatildeo determinado Aleacutem de assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e
rendimento a qualquer custo tambeacutem eacute utilizado como instrumento ideoloacutegico de Estado e
politicamente como elemento disciplinador higienista e alienador que emprega valores
nacionalistas e ateacute raciais Finalmente no terceiro capiacutetulo discutiremos como ocorre o
processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte levando em consideraccedilatildeo a sua transformaccedilatildeo em
espetaacuteculo e da influecircncia que a sociedade de consumo exerce sobre ele
O objetivo deste trabalho eacute estudar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte numa sociedade que assume valores capitalistas levando em consideraccedilatildeo a estrutura
de funcionamento do sistema capitalista a partir de uma perspectiva marxiana e assim
procurar estabelecer uma criacutetica em torno da mesmice que existe sobre o esporte Por
conseguinte tendo como metodologia o desenvolvido de uma pesquisa qualitativa de cunho
exploratoacuterio por meio do meacutetodo dialeacutetico delineada pela teacutecnica de pesquisa bibliograacutefica
(GIL 1996)
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1 - Conceitos Fundamentais do Pensamento Marxiano
ldquoA liberdade jamais seraacute dada pelo opressor Ela tem que ser conquistado pelo oprimidordquo
Martin Luther King
Partindo inicialmente da noccedilatildeo geral de que o objetivo amplo do marxismo eacute
interpretar a realidade para depois transformaacute-la consideramos que
[] o marxismo natildeo eacute uma teoria cientifica como as outras natildeo visa simplesmente descrever ou explicar mas visa transformar a realidade visa uma transformaccedilatildeo revolucionaacuteria Trata-se portanto de compreender a realidade para transformaacute-la revolucionariamente a partir de um ponto de vista de classe do ponto de vista das classes dominadas (LOumlWY 1998 18)
Esta compreensatildeo de transformar a realidade revolucionariamente parte do princiacutepio
de que quando as nossas ideacuteias sobre a sociedade visam transformaacute-la e quanto mais
entendemos a importacircncia desse processo de transformaccedilatildeo mais lutamos para que ele ocorra
(LOumlWY 1998)
Mesmo natildeo sendo um filoacutesofo a obra de Karl Marx exerceu grande repercussatildeo e
alcanccedilou uma importacircncia filosoacutefica capaz de influenciar diversas aacutereas como a histoacuteria
poliacutetica economia sociologia entre outras Os conceitos econocircmico-filosoacuteficos e ideacuteias
revolucionaacuterias marxianas foram fundamentais para o seacuteculo XX pois ofereceram o
instrumental teoacuterico necessaacuterio para uma profunda reconsideraccedilatildeo sobre os processos de
formaccedilatildeo da consciecircncia associando a produccedilatildeo da vida intelectual ao contexto da produccedilatildeo
da vida material e criaram as consideraccedilotildees necessaacuterias para libertar o homem do caacutercere no
qual a metafiacutesica lhe havia encarcerado Marx procurava atraveacutes da sua filosofia
contestadora criticar a modernidade pelo seu proacuteprio processo de desenvolvimento
combatendo os preconceitos as supersticcedilotildees e o falso saber provindo das antigas filosofias
(MARCONDES 1997)
Um dos conceitos fundamentais que Marx discute em sua teoria eacute o conceito de
trabalho considerando-o como relaccedilatildeo fundamental entre o sujeito e o objeto Segundo Marx
ldquoo trabalho eacute uma relaccedilatildeo invariante entre a espeacutecie humana e seu ambiente natural uma
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perpeacutetua necessidade natural da vida humanardquo (MARCONDES 1997 229) Contudo antes
de investigarmos em profundidade as caracteriacutesticas do trabalho humano eacute necessaacuterio
entendermos quais satildeo as diferenccedilas entre o trabalho humano e o trabalho animal
11 - O trabalho animal
A atividade dos animais que se encontram nos niacuteveis mais baixos da escala zooloacutegica
de desenvolvimento se caracteriza por ser um conjunto de accedilotildees instintivas orientadas por leis
bioloacutegicas como eacute o caso dos insetos Se observarmos com atenccedilatildeo uma aranha tecendo uma
teia natildeo podemos dizer que isto eacute um trabalho porque este ato natildeo possui histoacuteria ou seja
natildeo eacute modificado ao longo de sua vida Este ato de tecer uma teia com extrema habilidade eacute
padronizado e soacute eacute modificado se ocorrer uma evoluccedilatildeo de sua espeacutecie ou por algum tipo de
mutaccedilatildeo geneacutetica A construccedilatildeo de alguma coisa por parte do animal natildeo tem como finalidade
promover condiccedilotildees melhores de vida mas
[] em certas aves chamadas tendilhotildees o haacutebito de fazer ninhos tiacutepicos da espeacutecie eacute tatildeo fixo que apoacutes cinco geraccedilotildees em que essas aves eram criadas por canaacuterios ainda continuavam a construiacute-los como antes (ARANHA ARTINS 1993 03)
Os animais mamiacuteferos que se encontram em melhor colocaccedilatildeo na escala zooloacutegica ou
em niacuteveis mais altos passam a transcender suas accedilotildees instintivas para uma categoria de atos
inteligentes Um exemplo eacute quando se coloca o chimpanzeacute com fome dentro de uma jaula e
nela estatildeo penduradas bananas que o animal natildeo consegue alcanccedilar mas resolve este
problema quando pega o caixote e coloca-o debaixo das bananas para pegaacute-las ou seja a
partir de uma visatildeo global do ambiente o chimpanzeacute estabelece uma relaccedilatildeo entre o caixote e
a banana (ARANHA MARTINS 1993)
Para solucionar este problema o chimpanzeacute natildeo conta com uma accedilatildeo imediata mas a
soluccedilatildeo depende da sua capacidade intelectual de estabelecer uma relaccedilatildeo entre o caixote e as
bananas Assim a sua inteligecircncia o distingue do inseto contudo ainda se trata de um tipo de
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inteligecircncia concreta estabelecida no ato da situaccedilatildeo real e ldquomesmo que alguns animais
organizem sociedades mais complexas [] natildeo haacute nada que se compare agraves transformaccedilotildees
realizadas pelo homem enquanto criador da culturardquo (ARANHA MARTINS 1993 04)
Mesmo que um animal realize uma accedilatildeo transformadora que possa ser reconhecida
como um tipo especiacutefico de trabalho (por exemplo o joatildeo-de-barro que constroacutei sua casinha)
este trabalho natildeo eacute consciente e nem pode ser considerado criativo pois sempre que o joatildeoshy
de-barro ou qualquer outro animal criar resultados materiais estes resultados seratildeo iguais
para todos os sujeitos pertencentes a uma mesma espeacutecie Aleacutem disso as teacutecnicas e o
processo de construccedilatildeo tambeacutem seratildeo idecircnticos para os membros de uma mesma espeacutecie
situaccedilatildeo que nos forccedila a reconhecer que a accedilatildeo do indiviacuteduo natildeo pode ser considerada um ato
criativo ou reflexivo Jaacute o trabalho humano se caracteriza por ser uma accedilatildeo consciente capaz
de reproduzir e cria novas teacutecnicas a fim de transformar a natureza de acordo com a sua
necessidade humana e mudar a sua maneira de agir perceber pensar e sentir o mundo que o
cerca O trabalho humano eacute uma atividade consciente e transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio (ARANHA MARTINS 1993)
Os animais permanecem mergulhados na natureza e as espeacutecies vivem apenas o
presente de modo que o acuacutemulo de suas accedilotildees e experiecircncias natildeo se revertem em
aprendizado Isso significa que o trabalho animal natildeo estaacute submetido agrave mesma loacutegica que
preside a atividade humana que se desenvolve graccedilas ao movimento dialeacutetico produzido pelo
conflito entre consciecircncia e materialidade (ARANHA MARTINS 1993)
A accedilatildeo humana que transforma o mundo natural (realidade estritamente material) em
mundo cultural onde
[] cultura significa tudo o que o homem produz ao construir sua existecircncia as praacuteticas as teorias as instituiccedilotildees os valores materiais e espirituais Se o contato que o homem tem com o mundo eacute intermediado pelo siacutembolo a cultura eacute o conjunto de siacutembolos elaborados por um povo em determinado tempo e lugar Dada a infinita possibilidade de simbolizar as culturas dos povos satildeo muacuteltiplas e variadas (ARANHA MARTINS 1993 06)
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Esta questatildeo do trabalho pelo qual o homem transforma a natureza e a si proacuteprio
diferenciando-se dos demais animais seraacute desenvolvido no proacuteximo item
12 - Caracteriacutesticas do trabalho humano
A histoacuteria do desenvolvimento das teacutecnicas e dos processos de transformaccedilatildeo da
realidade se confunde com a histoacuteria do desenvolvimento da humanidade De acordo com
Dantas (1986) os homens tiveram que aprender a trabalhar desde a origem da humanidade
para sobreviverem e satisfazer suas necessidades produzindo e reproduzindo meios de
subsistecircncia Este trabalho praticado pelo qual o homem se distingue do trabalho animal eacute
criativo enquanto o do animal eacute simplesmente instintivo
De acordo com Carosi (1963) trabalho eacute a atividade transformadora onde se
empregam forccedilas humanas fiacutesicas e intelectuais com o objetivo de moldar o mundo natural
de acordo com as necessidades individuais ou coletivas de subsistecircncia Ou seja o trabalho
tornasse o emprego das energias humanas para diferenciar das accedilotildees de um animal e do
funcionamento de uma maacutequina pois eacute direcionado pela inteligecircncia e pela sustentaccedilatildeo da
vontade do homem
Conforme Braverman (1977) apoderar-se dos materiais da natureza assim como
ocorre com os vegetais que absorvem minerais e luz do sol e animais que se alimentam de
vida vegetal natildeo pode ser considerado trabalho Pois o trabalho eacute uma atividade que
transforma o estado natural desses materiais de modo que possam ser utilizados para
satisfazer as necessidades da espeacutecie humana
Para Braverman (1977) natildeo se trata agora de analisar as semelhanccedilas do trabalho
humano com o trabalho dos outros animais mas sim as diferenccedilas que os distanciam um do
outro Ao utilizar o termo trabalho para designar a atividade criativa peculiar do homem
Marx enfatiza que ldquonatildeo se trata aqui das primeiras formas instintivas animais de trabalhordquo
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(MARX 1996 297) Uma aranha realiza funccedilotildees que se assemelha a dos tecelotildees e a abelha
envergonha muitos arquitetos na construccedilatildeo de seus alveacuteolos Mas o que realmente distingue
o pior arquiteto humano da melhor abelha eacute que o humano cria em sua mente o corticcedilo antes
de transformaacute-lo em realidade No fim do processo o resultado sai de acordo com a
imaginaccedilatildeo na qual o trabalho teve no iniacutecio Ou seja o homem transforma o material de
acordo com sua vontade e imprime no real a forma de sua consciecircncia (MARX 1996)
O trabalho entendido aqui como uma atividade adequada a um fim distingue-se dos
animais que procuram apenas a satisfaccedilatildeo das suas necessidades bioloacutegicas Atraveacutes dele os
homens produzem sua proacutepria existecircncia mas antes de tudo
[] o trabalho eacute um processo entre o homem e a Natureza um processo em que o homem por sua proacutepria accedilatildeo media regula e controla seu metabolismo com a Natureza Ele mesmo se defronta com a mateacuteria natural como uma forccedila natural Ele potildee em movimento as forccedilas naturais pertencentes a sua corporalidade braccedilos e pernas cabeccedila e matildeo a fim de apropriar-se da mateacuteria natural numa forma uacutetil para sua proacutepria vida Ao atuar por meio desses movimentos sobre a Natureza externa e ao modificaacuteshyla ele modifica ao mesmo tempo sua proacutepria natureza Ele desenvolve as potecircncias nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forccedilas a seu proacuteprio domiacutenio (MARX 1996 297)
Por essa forma o trabalho humano eacute consciente e proposital Jaacute o trabalho dos outros
animais eacute instintivo Podemos observar quando uma largata completa a segunda metade de
seu casulo sem se importar com a primeira (BRAVERMAN 1977)
Carosi (1963) diferencia o trabalho do homem do trabalho animal pois o primeiro
possui capacidades para fazer algo atraveacutes de seus dons e ideacuteias para atingir o que tem que ser
feito enquanto que no animal nada disso pode ser observado Conforme Carosi (1963 588)
ldquodiz-se que o animal trabalha que a maacutequina trabalha mas eacute certamente um modo muito
improacuteprio de expressatildeo [] Eacute mais correto dizer que o animal e a maacutequina satildeo instrumentos
de trabalhordquo Pois desta forma o trabalho esta interiorizado na moralidade do homem de
forma que sua produccedilatildeo eacute uma virtude agrave medida que consegue as condiccedilotildees necessaacuterias
mediante o trabalho para si ou para os outros
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O homem consegue distinguir-se do animal pelo trabalho sendo este uma relaccedilatildeo
dialeacutetica da teoria com a praacutetica que possibilita ao homem desenvolver sua imaginaccedilatildeo e
habilidade uma vez que sua accedilatildeo eacute antecipada pelo pensamento conseguindo modificar um
objeto ao mesmo tempo em que sua accedilatildeo tambeacutem eacute alterada gerando o seu processo
histoacuterico onde o trabalho tornasse a condiccedilatildeo fundamental para o homem alterar a sua visatildeo
perante o mundo e a si mesmo (ARANHA MARTINS 1993)
Outro conceito fundamental para entendermos a diferenccedila entre o homem e o animal eacute
a sua condiccedilatildeo de trabalho a que cada um deles estaacute submetido Afinal ldquoo homem eacute um ser
que trabalha e produz o mundo e a si mesmo O animal natildeo produz a sua existecircncia mas
apenas a conserva agindo instintivamente []rdquo (ARANHA MARTINS 1993 05)
Sobre a necessidade e a utilidade do trabalho Carosi (1963 589) afirma que
O trabalho eacute aleacutem disso fonte de prosperidade tudo vem da natureza mas nada vem sem o trabalho Se a natureza fosse abandonada a si proacuteprio pelo homem ocioso natildeo lhe oferecia sequer o necessaacuterio para viver com o trabalho ela concede-lhe as maravilhas e comodidade do programa acima de suas necessidades (CAROSI 1963 589)
O trabalho humano armazenado ou exercido em ferramentas maquinarias ou em
animais eacute um recurso utilizado exclusivamente pela competecircncia humana para explorar a
natureza Assim como todos os processos vitais de um corpo humano como os muacutesculos
ceacuterebros satildeo inseparaacuteveis do indiviacuteduo o trabalho tambeacutem eacute uma propriedade inalienaacutevel do
indiviacuteduo humano Portanto tornasse impossiacutevel satisfazer as necessidades baacutesicas em lugar
de outra pessoa que natildeo seja si proacuteprio Entretanto quando um proprietaacuterio utiliza os serviccedilos
de um animal simplesmente canaliza a forccedila e suas resistecircncias naturais desse animal
Todavia ao utilizar abelhas para a produccedilatildeo de mel ou de carneiros para a produccedilatildeo de latilde o
proprietaacuterio soacute tira vantagens das condiccedilotildees bioloacutegicas das atividades dos animais Mas ao
utilizar a forccedila de trabalho do animal o homem ao mesmo tempo utiliza a sua para obter
atraveacutes do trabalho animal as miacutenimas condiccedilotildees variaacuteveis do trabalho concreto
(BRAVERMAN 1977) Sendo assim
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O que distingue a forccedila de trabalho humano eacute portanto natildeo sua capacidade de produzir um excedente mas seu caraacuteter inteligente e proposital que lhe daacute infinita adaptabilidade e que produz as condiccedilotildees sociais e culturais para ampliar sua proacutepria produtividade de modo que seu produto excedente pode ser continuamente ampliado (BRAVERMAN 1977 58)
Portanto eacute o homem que constroacutei e produz sua proacutepria histoacuteria transformando a
natureza e a si proacuteprio a partir de uma accedilatildeo humana e coletiva caracterizando o trabalho
como uma tarefa social onde todas as diferenccedilas que existem na sociedade satildeo fundamentais
para que se organizem na construccedilatildeo da vida social econocircmica e poliacutetica Mesmo a sociedade
sendo formada pelas relaccedilotildees sociais o homem natildeo perde a sua individualidade o que faz
com que se diferencie dos demais Todavia esta contradiccedilatildeo de viver numa sociedade que
opotildee a alienaccedilatildeo agrave liberdade eacute fundamental para manter a dialeacutetica em constante sintonia
(ARANHA MARTINS 1993)
Aleacutem do trabalho o homem possui outras condiccedilotildees que o diferencia do animal Um eacute
o ato voluntaacuterio e consciente da finalidade de seu uso e o outro eacute a fala O ato consciente
primeiramente existe antes como pensamento e este pode ser utilizado para atingir os fins
propostos pela livre vontade do agente Jaacute a fala e as palavras fazem parte da essecircncia do
universo humano distinguindo-o do animal pois este natildeo conhece a simbologia mas
somente os iacutendices que indicam sempre a mesma coisa especiacutefica Jaacute o siacutembolo aleacutem de ser
universal eacute flexiacutevel podendo uma palavra ter diversos entendimentos (ARANHA
MARTINS 1993)
A linguagem e a palavra determinam a condiccedilatildeo na qual o homem e o animal se
desencontram distanciando-o pelo fato da linguagem animal visar a adaptaccedilatildeo ao concreto
enquanto a linguagem humana interveacutem como uma forma abstrata Portanto mesmo quando
um animal conseguir solucionar um problema complexo a sua inteligecircncia ainda seraacute
concreta tratando-se de uma experiecircncia vivida no momento exato enquanto que para o
homem a linguagem por siacutembolos e abstrata permite distanciar-se do mundo e voltar para
transformaacute-lo (ARANHA MARTINS 1993)
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Ao dizer que o homem fala trabalha e pelo trabalho transforma a natureza e a si
proacuteprio nada disso teraacute sentido se natildeo enfatizarmos que a accedilatildeo do ser humano eacute uma accedilatildeo
coletiva Pois o trabalho eacute uma funccedilatildeo social e a palavra eacute um meio de diaacutelogo (ARANHA
MARTINS 1993)
Os estudos experimentais sobre o comportamento animal demonstram que eles natildeo
satildeo totalmente privados da capacidade de aprender e conceber ideacuteias de caraacuteter inicial ou
mesmo aprender a resolver os problemas mais simples que sejam portando
Assim uma criatura dotada de sistema nervoso tatildeo primitivo como a minhoca pode aprender a passar por um labirinto os chimpanzeacutes podem ser estimulados a inventar e fazer instrumentos tais como estender vara que lhes permitem atingir o alimento ou empilhar caixas para o mesmo fim (BRAVERMAN 1977 52)
Conclui-se que a diferenccedila entre o homem e o animal natildeo estaacute apenas em grau mas
em espeacutecie cujo haacute uma imensa distacircncia entre aprender as capacidades conceituais do ser
humano em comparaccedilatildeo aos animais mais adaptaacuteveis Ou seja aos animais natildeo foi possiacutevel
ensinar-lhes a capacidade de manipular representaccedilotildees simboacutelicas e a linguagem articulada
Sem a aprendizagem das capacidades simboacutelicas e da linguagem os animais permanecem
com o seu pensamento conceitual a um niacutevel rudimentar que natildeo pode ser transmitido atraveacutes
do grupo (BRAVERMAN 1977)
Aranha e Martins (1993) tambeacutem afirmam ao dizer que as diferenccedilas entre o homem e
o animal natildeo eacute apenas em grau pois enquanto o animal vive dentro da natureza o homem a
utiliza e transformaacute-a em uma possiacutevel cultural O entendimento de cultura para os
antropoacutelogos eacute tudo aquilo que o homem consegue produzir ao construir sua existecircncia
como por exemplo as praacuteticas as teorias os valores materiais entre outros
Portanto eacute pelo trabalho que o homem consegue construir sua proacutepria histoacuteria sendo
que o ldquotrabalho que ultrapassa a mera atividade instintiva eacute assim a forccedila que criou a espeacutecie
humana e a forccedila pela qual a humanidade criou o mundo como o conhecemosrdquo
(BRAVERMAN 1977 53)
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Aranha e Martins (1993) afirmam que o processo de construccedilatildeo da humanidade se faz
pela relaccedilatildeo entre os homens e a sua consciecircncia emerge lentamente atraveacutes dos conflitos
entre essas relaccedilotildees Entatildeo sobre cai ao homem agrave responsabilidade de manter viva a dialeacutetica
atraveacutes de suas contradiccedilotildees sendo que o ser humano ao mesmo tempo em que eacute um ser
social tambeacutem possui uma individualidade que eacute fundamental para distingui-lo dos demais
ldquoPortanto a sociedade eacute a condiccedilatildeo da alienaccedilatildeo e da liberdade eacute a condiccedilatildeo para que o
homem se perca mas tambeacutem de se encontrarrdquo (ARANHA MARTINS 1993 07)
13 - Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienado
A transiccedilatildeo do periacuteodo do feudalismo para o capitalismo foi marcada pelo nascimento
das faacutebricas onde ocorria uma acumulaccedilatildeo de capital que permitia comprar mateacuteria-prima e
maacutequinas para ampliar o seu mercado Os artesatildeos vendo o forte crescimento das faacutebricas e
percebendo que era impossiacutevel competir contra elas tiveram que vender a sua forccedila de
trabalho em troca de um salaacuterio e se adequar a divisatildeo de trabalho que estabelecia ritmo e
horaacuterio (ARANHA MARTINS 1993)
Ainda em relaccedilatildeo ao trabalho como meio de subsistecircncia para a sobrevivecircncia do ser
humano Dantas (1986) afirma que num determinado periacuteodo esta concepccedilatildeo passou a ser
alheia ao trabalhador Como a divisatildeo do trabalho estava no iniacutecio de seu desenvolvimento o
trabalho era organizado e entendido como familiar onde todos os adultos tinham sua
participaccedilatildeo inclusive aos idosos onde cabia a responsabilidade de distribuir as funccedilotildees Os
materiais para a realizaccedilatildeo do trabalho aleacutem de serem poucos eram rudimentares mas
suficientes para conseguir produtos para suprir as necessidades de todos Ainda citando
Dantas (1986) seus estudos apresenta ter um entendimento da divisatildeo do trabalho a partir do
periacuteodo feudal onde houve um acirramento da separaccedilatildeo entre campo e cidade que foi
crucial para o desenvolvimento daquele fenocircmeno no seu formato moderno No campo o
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trabalho tem como caracteriacutestica a servidatildeo e era realizado na terra sendo esta propriedade do
senhor Os servos eram responsaacuteveis pela produccedilatildeo de meios materiais para si e para os
senhores Jaacute na cidade a divisatildeo do trabalho se dava dentro das pequenas oficinas onde o
artesatildeo que era dono dos seus meios de produccedilatildeo e sua famiacutelia seus auxiliares que com suas
habilidades determinavam um produto final
De acordo com Catani (1984 20) ldquoa divisatildeo social do trabalho eacute outra condiccedilatildeo
preacutevia caracteriacutestica de uma sociedade capitalistardquo pois nessa sociedade todos realizam seus
trabalhos de formas especiacuteficas e particulares contudo ldquotodos dependem uns dos outros e isto
decorre na divisatildeo do trabalho no seio da produccedilatildeo mercantilrdquo (CATANI 1984 20)
Marx (1996) explica que a divisatildeo do trabalho na forma de cooperaccedilatildeo comeccedila a ser
desenvolvido na manufatura predominantemente porque o processo de produccedilatildeo capitalista
se estende do seacuteculo XVI ateacute o seacuteculo XVIII Ou seja diversos trabalhadores com ofiacutecios
diferentes uns dos outros reunidos em uma oficina para produzir um produto sendo que este
passe por ambas as matildeos ateacute o seu acabamento final O trabalho eacute realizado em colaboraccedilatildeo
uns com os outros
Braverman (1980) nos esclarece que a divisatildeo do trabalho que ocorre na oficina eacute
diferente do trabalho desenvolvido no interior da sociedade afirmando que
A divisatildeo do trabalho na sociedade eacute caracteriacutestica de todas as sociedades conhecidas a divisatildeo do trabalho na oficina eacute produto peculiar da sociedade capitalista A divisatildeo social do trabalho divide a sociedade entre ocupaccedilotildees cada qual apropriada a certo ramo de produccedilatildeo a divisatildeo pormenorizada do trabalho destroacutei ocupaccedilotildees consideradas neste sentido e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produccedilatildeo [] Ainda no capitalismo os produtos da divisatildeo social do trabalho satildeo trocados como mercadorias enquanto os resultados da operaccedilatildeo do trabalhador parcelado natildeo satildeo trocados dentro da fabrica como o mercado mas satildeo todos possuiacutedos pelo mesmo capital Enquanto a divisatildeo social do trabalho subdivide a sociedade a divisatildeo parcelada do trabalho subdivide o homem e enquanto a subdivisatildeo da sociedade pode fortalecer o indiviacuteduo e a espeacutecie a subdivisatildeo do indiviacuteduo quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas eacute um crime contra a pessoa e contra a humanidade (BRAVERMAN 1980 72)
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Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
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Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
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servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
24
Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
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dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
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2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
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ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
38
natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
39
conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
40
criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
44
ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
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De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
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simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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8
Voltando aos dias de aula na universidade todas aquelas questotildees que vivenciei
naquele momento da roda de conversa passei a debater comigo mesmo tentando descobrir
onde e em que lugar poderia aplicaacute-las
Ainda sobre minha passagem pelo curso de Matemaacutetica conheci um estudante que
estava concluindo o curso de Filosofia o qual me chamou a atenccedilatildeo pelo seu compromisso
com alguns movimentos sociais seu nome Rodrigo Batagello
Passados dois anos e meio segundo semestre de 2004 transfiro-me para o curso de
Educaccedilatildeo Fiacutesica da mesma instituiccedilatildeo e em 2006 fazendo a disciplina de estaacutegio
supervisionado como componente obrigatoacuterio do curriacuteculo na aacuterea da Educaccedilatildeo Fiacutesica
escolar encontro as mesmas praacuteticas vividas por mim no encontro do MST sendo aplicadas
nas aulas de educaccedilatildeo fiacutesica As rodas de conversa as discussotildees sobre as questotildees da nossa
sociedade das relaccedilotildees sociais e sobre a aula em si
Durante o meu estaacutegio conheci o professor do Instituto Educacional Piracicabano ndash
Coleacutegio Piracicabano Ricardo Colpas e este me revelou a Educaccedilatildeo Fiacutesica revolucionaacuteria e
sua colaboraccedilatildeo na transformaccedilatildeo da realidade social atraveacutes da praacutetica corporal A
abordagem utilizada pelo professor a Criacutetico-Superadora estabelece criteacuterios para a
sistematizaccedilatildeo dessa disciplina no acircmbito da escola e se apresenta pautada num projeto
histoacuterico de sociedade que tem como princiacutepio a superaccedilatildeo da sociedade capitalista Esta
abordagem eacute fundamentada em Marx
Portanto a linha de estudo que tomaremos para o desenvolvimento deste trabalho eacute
construiacutedo graccedilas a um processo que tive no iniacutecio da minha vida acadecircmica e que hoje tenho
como professor orientador Rodrigo Batagello que atualmente ministra aulas de Filosofia e
Eacutetica no curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica da Unimep e como co-orientador o professor Ricardo
Colpas sendo ambos responsaacuteveis pela concretizaccedilatildeo desse meu sonho Ou seja discutir a
influecircncia do capitalismo no esporte
9
Podendo ser observada as constantes transformaccedilotildees que vem ocorrendo no mundo
por conta de um sistema econocircmico contraditoacuterio que priva uma classe social por interesses
particulares em detrimento dos interesses de uma classe economicamente dominante acabam
influenciando as estruturas de uma sociedade a fim de manter os interesses dominantes
vigentes E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural que estaacute instituiacutedo na vida de muita
gente no mundo inteiro vem ao longo do tempo sendo influenciado por uma ideologia
dominante capaz de transformaacute-lo em mercadoria
A justificativa desse presente trabalho eacute buscar uma maior reflexatildeo sobre o esporte
inserido numa sociedade que assumiu os valores capitalistas a partir de um ponto de vista
criacutetico tentando compreender como o esporte faz sua relaccedilatildeo com esta sociedade de tal
forma que tudo o que se vecirc e consume faz parte de um ideal jaacute determinado
Portanto partindo de algumas inquietaccedilotildees levantamos algumas problematizaccedilotildees que
devem ser respondidas ao decorrer desse nosso trabalho satildeo elas 1) o esporte assume os
valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer preccedilo 2) o esporte pode ser
considerado como um instrumento ideoloacutegico do Estado 3) o esporte jaacute foi utilizado para fins
poliacuteticos 4) como quando e porque o esporte tornou-se mercadoria 5) qual a necessidade de
se entender a mercantilizaccedilatildeo do esporte num contexto de sociedade de consumo
No primeiro capiacutetulo estudaremos o conceito de trabalho na visatildeo marxiana
considerando as questotildees da divisatildeo social do trabalho trabalho alienado infra e
superestrutura e ideologia por fim um estudo da relaccedilatildeo da sociedade e do capitalismo bem
como suas definiccedilotildees num conceito marxiano para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista No segundo capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte
com o capitalismo levando em consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de
mercadorias pelos quais os meios de produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse
sistema capitalista reflete na realidade as expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo
10
de produccedilatildeo determinado Aleacutem de assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e
rendimento a qualquer custo tambeacutem eacute utilizado como instrumento ideoloacutegico de Estado e
politicamente como elemento disciplinador higienista e alienador que emprega valores
nacionalistas e ateacute raciais Finalmente no terceiro capiacutetulo discutiremos como ocorre o
processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte levando em consideraccedilatildeo a sua transformaccedilatildeo em
espetaacuteculo e da influecircncia que a sociedade de consumo exerce sobre ele
O objetivo deste trabalho eacute estudar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte numa sociedade que assume valores capitalistas levando em consideraccedilatildeo a estrutura
de funcionamento do sistema capitalista a partir de uma perspectiva marxiana e assim
procurar estabelecer uma criacutetica em torno da mesmice que existe sobre o esporte Por
conseguinte tendo como metodologia o desenvolvido de uma pesquisa qualitativa de cunho
exploratoacuterio por meio do meacutetodo dialeacutetico delineada pela teacutecnica de pesquisa bibliograacutefica
(GIL 1996)
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1 - Conceitos Fundamentais do Pensamento Marxiano
ldquoA liberdade jamais seraacute dada pelo opressor Ela tem que ser conquistado pelo oprimidordquo
Martin Luther King
Partindo inicialmente da noccedilatildeo geral de que o objetivo amplo do marxismo eacute
interpretar a realidade para depois transformaacute-la consideramos que
[] o marxismo natildeo eacute uma teoria cientifica como as outras natildeo visa simplesmente descrever ou explicar mas visa transformar a realidade visa uma transformaccedilatildeo revolucionaacuteria Trata-se portanto de compreender a realidade para transformaacute-la revolucionariamente a partir de um ponto de vista de classe do ponto de vista das classes dominadas (LOumlWY 1998 18)
Esta compreensatildeo de transformar a realidade revolucionariamente parte do princiacutepio
de que quando as nossas ideacuteias sobre a sociedade visam transformaacute-la e quanto mais
entendemos a importacircncia desse processo de transformaccedilatildeo mais lutamos para que ele ocorra
(LOumlWY 1998)
Mesmo natildeo sendo um filoacutesofo a obra de Karl Marx exerceu grande repercussatildeo e
alcanccedilou uma importacircncia filosoacutefica capaz de influenciar diversas aacutereas como a histoacuteria
poliacutetica economia sociologia entre outras Os conceitos econocircmico-filosoacuteficos e ideacuteias
revolucionaacuterias marxianas foram fundamentais para o seacuteculo XX pois ofereceram o
instrumental teoacuterico necessaacuterio para uma profunda reconsideraccedilatildeo sobre os processos de
formaccedilatildeo da consciecircncia associando a produccedilatildeo da vida intelectual ao contexto da produccedilatildeo
da vida material e criaram as consideraccedilotildees necessaacuterias para libertar o homem do caacutercere no
qual a metafiacutesica lhe havia encarcerado Marx procurava atraveacutes da sua filosofia
contestadora criticar a modernidade pelo seu proacuteprio processo de desenvolvimento
combatendo os preconceitos as supersticcedilotildees e o falso saber provindo das antigas filosofias
(MARCONDES 1997)
Um dos conceitos fundamentais que Marx discute em sua teoria eacute o conceito de
trabalho considerando-o como relaccedilatildeo fundamental entre o sujeito e o objeto Segundo Marx
ldquoo trabalho eacute uma relaccedilatildeo invariante entre a espeacutecie humana e seu ambiente natural uma
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perpeacutetua necessidade natural da vida humanardquo (MARCONDES 1997 229) Contudo antes
de investigarmos em profundidade as caracteriacutesticas do trabalho humano eacute necessaacuterio
entendermos quais satildeo as diferenccedilas entre o trabalho humano e o trabalho animal
11 - O trabalho animal
A atividade dos animais que se encontram nos niacuteveis mais baixos da escala zooloacutegica
de desenvolvimento se caracteriza por ser um conjunto de accedilotildees instintivas orientadas por leis
bioloacutegicas como eacute o caso dos insetos Se observarmos com atenccedilatildeo uma aranha tecendo uma
teia natildeo podemos dizer que isto eacute um trabalho porque este ato natildeo possui histoacuteria ou seja
natildeo eacute modificado ao longo de sua vida Este ato de tecer uma teia com extrema habilidade eacute
padronizado e soacute eacute modificado se ocorrer uma evoluccedilatildeo de sua espeacutecie ou por algum tipo de
mutaccedilatildeo geneacutetica A construccedilatildeo de alguma coisa por parte do animal natildeo tem como finalidade
promover condiccedilotildees melhores de vida mas
[] em certas aves chamadas tendilhotildees o haacutebito de fazer ninhos tiacutepicos da espeacutecie eacute tatildeo fixo que apoacutes cinco geraccedilotildees em que essas aves eram criadas por canaacuterios ainda continuavam a construiacute-los como antes (ARANHA ARTINS 1993 03)
Os animais mamiacuteferos que se encontram em melhor colocaccedilatildeo na escala zooloacutegica ou
em niacuteveis mais altos passam a transcender suas accedilotildees instintivas para uma categoria de atos
inteligentes Um exemplo eacute quando se coloca o chimpanzeacute com fome dentro de uma jaula e
nela estatildeo penduradas bananas que o animal natildeo consegue alcanccedilar mas resolve este
problema quando pega o caixote e coloca-o debaixo das bananas para pegaacute-las ou seja a
partir de uma visatildeo global do ambiente o chimpanzeacute estabelece uma relaccedilatildeo entre o caixote e
a banana (ARANHA MARTINS 1993)
Para solucionar este problema o chimpanzeacute natildeo conta com uma accedilatildeo imediata mas a
soluccedilatildeo depende da sua capacidade intelectual de estabelecer uma relaccedilatildeo entre o caixote e as
bananas Assim a sua inteligecircncia o distingue do inseto contudo ainda se trata de um tipo de
13
inteligecircncia concreta estabelecida no ato da situaccedilatildeo real e ldquomesmo que alguns animais
organizem sociedades mais complexas [] natildeo haacute nada que se compare agraves transformaccedilotildees
realizadas pelo homem enquanto criador da culturardquo (ARANHA MARTINS 1993 04)
Mesmo que um animal realize uma accedilatildeo transformadora que possa ser reconhecida
como um tipo especiacutefico de trabalho (por exemplo o joatildeo-de-barro que constroacutei sua casinha)
este trabalho natildeo eacute consciente e nem pode ser considerado criativo pois sempre que o joatildeoshy
de-barro ou qualquer outro animal criar resultados materiais estes resultados seratildeo iguais
para todos os sujeitos pertencentes a uma mesma espeacutecie Aleacutem disso as teacutecnicas e o
processo de construccedilatildeo tambeacutem seratildeo idecircnticos para os membros de uma mesma espeacutecie
situaccedilatildeo que nos forccedila a reconhecer que a accedilatildeo do indiviacuteduo natildeo pode ser considerada um ato
criativo ou reflexivo Jaacute o trabalho humano se caracteriza por ser uma accedilatildeo consciente capaz
de reproduzir e cria novas teacutecnicas a fim de transformar a natureza de acordo com a sua
necessidade humana e mudar a sua maneira de agir perceber pensar e sentir o mundo que o
cerca O trabalho humano eacute uma atividade consciente e transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio (ARANHA MARTINS 1993)
Os animais permanecem mergulhados na natureza e as espeacutecies vivem apenas o
presente de modo que o acuacutemulo de suas accedilotildees e experiecircncias natildeo se revertem em
aprendizado Isso significa que o trabalho animal natildeo estaacute submetido agrave mesma loacutegica que
preside a atividade humana que se desenvolve graccedilas ao movimento dialeacutetico produzido pelo
conflito entre consciecircncia e materialidade (ARANHA MARTINS 1993)
A accedilatildeo humana que transforma o mundo natural (realidade estritamente material) em
mundo cultural onde
[] cultura significa tudo o que o homem produz ao construir sua existecircncia as praacuteticas as teorias as instituiccedilotildees os valores materiais e espirituais Se o contato que o homem tem com o mundo eacute intermediado pelo siacutembolo a cultura eacute o conjunto de siacutembolos elaborados por um povo em determinado tempo e lugar Dada a infinita possibilidade de simbolizar as culturas dos povos satildeo muacuteltiplas e variadas (ARANHA MARTINS 1993 06)
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Esta questatildeo do trabalho pelo qual o homem transforma a natureza e a si proacuteprio
diferenciando-se dos demais animais seraacute desenvolvido no proacuteximo item
12 - Caracteriacutesticas do trabalho humano
A histoacuteria do desenvolvimento das teacutecnicas e dos processos de transformaccedilatildeo da
realidade se confunde com a histoacuteria do desenvolvimento da humanidade De acordo com
Dantas (1986) os homens tiveram que aprender a trabalhar desde a origem da humanidade
para sobreviverem e satisfazer suas necessidades produzindo e reproduzindo meios de
subsistecircncia Este trabalho praticado pelo qual o homem se distingue do trabalho animal eacute
criativo enquanto o do animal eacute simplesmente instintivo
De acordo com Carosi (1963) trabalho eacute a atividade transformadora onde se
empregam forccedilas humanas fiacutesicas e intelectuais com o objetivo de moldar o mundo natural
de acordo com as necessidades individuais ou coletivas de subsistecircncia Ou seja o trabalho
tornasse o emprego das energias humanas para diferenciar das accedilotildees de um animal e do
funcionamento de uma maacutequina pois eacute direcionado pela inteligecircncia e pela sustentaccedilatildeo da
vontade do homem
Conforme Braverman (1977) apoderar-se dos materiais da natureza assim como
ocorre com os vegetais que absorvem minerais e luz do sol e animais que se alimentam de
vida vegetal natildeo pode ser considerado trabalho Pois o trabalho eacute uma atividade que
transforma o estado natural desses materiais de modo que possam ser utilizados para
satisfazer as necessidades da espeacutecie humana
Para Braverman (1977) natildeo se trata agora de analisar as semelhanccedilas do trabalho
humano com o trabalho dos outros animais mas sim as diferenccedilas que os distanciam um do
outro Ao utilizar o termo trabalho para designar a atividade criativa peculiar do homem
Marx enfatiza que ldquonatildeo se trata aqui das primeiras formas instintivas animais de trabalhordquo
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(MARX 1996 297) Uma aranha realiza funccedilotildees que se assemelha a dos tecelotildees e a abelha
envergonha muitos arquitetos na construccedilatildeo de seus alveacuteolos Mas o que realmente distingue
o pior arquiteto humano da melhor abelha eacute que o humano cria em sua mente o corticcedilo antes
de transformaacute-lo em realidade No fim do processo o resultado sai de acordo com a
imaginaccedilatildeo na qual o trabalho teve no iniacutecio Ou seja o homem transforma o material de
acordo com sua vontade e imprime no real a forma de sua consciecircncia (MARX 1996)
O trabalho entendido aqui como uma atividade adequada a um fim distingue-se dos
animais que procuram apenas a satisfaccedilatildeo das suas necessidades bioloacutegicas Atraveacutes dele os
homens produzem sua proacutepria existecircncia mas antes de tudo
[] o trabalho eacute um processo entre o homem e a Natureza um processo em que o homem por sua proacutepria accedilatildeo media regula e controla seu metabolismo com a Natureza Ele mesmo se defronta com a mateacuteria natural como uma forccedila natural Ele potildee em movimento as forccedilas naturais pertencentes a sua corporalidade braccedilos e pernas cabeccedila e matildeo a fim de apropriar-se da mateacuteria natural numa forma uacutetil para sua proacutepria vida Ao atuar por meio desses movimentos sobre a Natureza externa e ao modificaacuteshyla ele modifica ao mesmo tempo sua proacutepria natureza Ele desenvolve as potecircncias nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forccedilas a seu proacuteprio domiacutenio (MARX 1996 297)
Por essa forma o trabalho humano eacute consciente e proposital Jaacute o trabalho dos outros
animais eacute instintivo Podemos observar quando uma largata completa a segunda metade de
seu casulo sem se importar com a primeira (BRAVERMAN 1977)
Carosi (1963) diferencia o trabalho do homem do trabalho animal pois o primeiro
possui capacidades para fazer algo atraveacutes de seus dons e ideacuteias para atingir o que tem que ser
feito enquanto que no animal nada disso pode ser observado Conforme Carosi (1963 588)
ldquodiz-se que o animal trabalha que a maacutequina trabalha mas eacute certamente um modo muito
improacuteprio de expressatildeo [] Eacute mais correto dizer que o animal e a maacutequina satildeo instrumentos
de trabalhordquo Pois desta forma o trabalho esta interiorizado na moralidade do homem de
forma que sua produccedilatildeo eacute uma virtude agrave medida que consegue as condiccedilotildees necessaacuterias
mediante o trabalho para si ou para os outros
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O homem consegue distinguir-se do animal pelo trabalho sendo este uma relaccedilatildeo
dialeacutetica da teoria com a praacutetica que possibilita ao homem desenvolver sua imaginaccedilatildeo e
habilidade uma vez que sua accedilatildeo eacute antecipada pelo pensamento conseguindo modificar um
objeto ao mesmo tempo em que sua accedilatildeo tambeacutem eacute alterada gerando o seu processo
histoacuterico onde o trabalho tornasse a condiccedilatildeo fundamental para o homem alterar a sua visatildeo
perante o mundo e a si mesmo (ARANHA MARTINS 1993)
Outro conceito fundamental para entendermos a diferenccedila entre o homem e o animal eacute
a sua condiccedilatildeo de trabalho a que cada um deles estaacute submetido Afinal ldquoo homem eacute um ser
que trabalha e produz o mundo e a si mesmo O animal natildeo produz a sua existecircncia mas
apenas a conserva agindo instintivamente []rdquo (ARANHA MARTINS 1993 05)
Sobre a necessidade e a utilidade do trabalho Carosi (1963 589) afirma que
O trabalho eacute aleacutem disso fonte de prosperidade tudo vem da natureza mas nada vem sem o trabalho Se a natureza fosse abandonada a si proacuteprio pelo homem ocioso natildeo lhe oferecia sequer o necessaacuterio para viver com o trabalho ela concede-lhe as maravilhas e comodidade do programa acima de suas necessidades (CAROSI 1963 589)
O trabalho humano armazenado ou exercido em ferramentas maquinarias ou em
animais eacute um recurso utilizado exclusivamente pela competecircncia humana para explorar a
natureza Assim como todos os processos vitais de um corpo humano como os muacutesculos
ceacuterebros satildeo inseparaacuteveis do indiviacuteduo o trabalho tambeacutem eacute uma propriedade inalienaacutevel do
indiviacuteduo humano Portanto tornasse impossiacutevel satisfazer as necessidades baacutesicas em lugar
de outra pessoa que natildeo seja si proacuteprio Entretanto quando um proprietaacuterio utiliza os serviccedilos
de um animal simplesmente canaliza a forccedila e suas resistecircncias naturais desse animal
Todavia ao utilizar abelhas para a produccedilatildeo de mel ou de carneiros para a produccedilatildeo de latilde o
proprietaacuterio soacute tira vantagens das condiccedilotildees bioloacutegicas das atividades dos animais Mas ao
utilizar a forccedila de trabalho do animal o homem ao mesmo tempo utiliza a sua para obter
atraveacutes do trabalho animal as miacutenimas condiccedilotildees variaacuteveis do trabalho concreto
(BRAVERMAN 1977) Sendo assim
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O que distingue a forccedila de trabalho humano eacute portanto natildeo sua capacidade de produzir um excedente mas seu caraacuteter inteligente e proposital que lhe daacute infinita adaptabilidade e que produz as condiccedilotildees sociais e culturais para ampliar sua proacutepria produtividade de modo que seu produto excedente pode ser continuamente ampliado (BRAVERMAN 1977 58)
Portanto eacute o homem que constroacutei e produz sua proacutepria histoacuteria transformando a
natureza e a si proacuteprio a partir de uma accedilatildeo humana e coletiva caracterizando o trabalho
como uma tarefa social onde todas as diferenccedilas que existem na sociedade satildeo fundamentais
para que se organizem na construccedilatildeo da vida social econocircmica e poliacutetica Mesmo a sociedade
sendo formada pelas relaccedilotildees sociais o homem natildeo perde a sua individualidade o que faz
com que se diferencie dos demais Todavia esta contradiccedilatildeo de viver numa sociedade que
opotildee a alienaccedilatildeo agrave liberdade eacute fundamental para manter a dialeacutetica em constante sintonia
(ARANHA MARTINS 1993)
Aleacutem do trabalho o homem possui outras condiccedilotildees que o diferencia do animal Um eacute
o ato voluntaacuterio e consciente da finalidade de seu uso e o outro eacute a fala O ato consciente
primeiramente existe antes como pensamento e este pode ser utilizado para atingir os fins
propostos pela livre vontade do agente Jaacute a fala e as palavras fazem parte da essecircncia do
universo humano distinguindo-o do animal pois este natildeo conhece a simbologia mas
somente os iacutendices que indicam sempre a mesma coisa especiacutefica Jaacute o siacutembolo aleacutem de ser
universal eacute flexiacutevel podendo uma palavra ter diversos entendimentos (ARANHA
MARTINS 1993)
A linguagem e a palavra determinam a condiccedilatildeo na qual o homem e o animal se
desencontram distanciando-o pelo fato da linguagem animal visar a adaptaccedilatildeo ao concreto
enquanto a linguagem humana interveacutem como uma forma abstrata Portanto mesmo quando
um animal conseguir solucionar um problema complexo a sua inteligecircncia ainda seraacute
concreta tratando-se de uma experiecircncia vivida no momento exato enquanto que para o
homem a linguagem por siacutembolos e abstrata permite distanciar-se do mundo e voltar para
transformaacute-lo (ARANHA MARTINS 1993)
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Ao dizer que o homem fala trabalha e pelo trabalho transforma a natureza e a si
proacuteprio nada disso teraacute sentido se natildeo enfatizarmos que a accedilatildeo do ser humano eacute uma accedilatildeo
coletiva Pois o trabalho eacute uma funccedilatildeo social e a palavra eacute um meio de diaacutelogo (ARANHA
MARTINS 1993)
Os estudos experimentais sobre o comportamento animal demonstram que eles natildeo
satildeo totalmente privados da capacidade de aprender e conceber ideacuteias de caraacuteter inicial ou
mesmo aprender a resolver os problemas mais simples que sejam portando
Assim uma criatura dotada de sistema nervoso tatildeo primitivo como a minhoca pode aprender a passar por um labirinto os chimpanzeacutes podem ser estimulados a inventar e fazer instrumentos tais como estender vara que lhes permitem atingir o alimento ou empilhar caixas para o mesmo fim (BRAVERMAN 1977 52)
Conclui-se que a diferenccedila entre o homem e o animal natildeo estaacute apenas em grau mas
em espeacutecie cujo haacute uma imensa distacircncia entre aprender as capacidades conceituais do ser
humano em comparaccedilatildeo aos animais mais adaptaacuteveis Ou seja aos animais natildeo foi possiacutevel
ensinar-lhes a capacidade de manipular representaccedilotildees simboacutelicas e a linguagem articulada
Sem a aprendizagem das capacidades simboacutelicas e da linguagem os animais permanecem
com o seu pensamento conceitual a um niacutevel rudimentar que natildeo pode ser transmitido atraveacutes
do grupo (BRAVERMAN 1977)
Aranha e Martins (1993) tambeacutem afirmam ao dizer que as diferenccedilas entre o homem e
o animal natildeo eacute apenas em grau pois enquanto o animal vive dentro da natureza o homem a
utiliza e transformaacute-a em uma possiacutevel cultural O entendimento de cultura para os
antropoacutelogos eacute tudo aquilo que o homem consegue produzir ao construir sua existecircncia
como por exemplo as praacuteticas as teorias os valores materiais entre outros
Portanto eacute pelo trabalho que o homem consegue construir sua proacutepria histoacuteria sendo
que o ldquotrabalho que ultrapassa a mera atividade instintiva eacute assim a forccedila que criou a espeacutecie
humana e a forccedila pela qual a humanidade criou o mundo como o conhecemosrdquo
(BRAVERMAN 1977 53)
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Aranha e Martins (1993) afirmam que o processo de construccedilatildeo da humanidade se faz
pela relaccedilatildeo entre os homens e a sua consciecircncia emerge lentamente atraveacutes dos conflitos
entre essas relaccedilotildees Entatildeo sobre cai ao homem agrave responsabilidade de manter viva a dialeacutetica
atraveacutes de suas contradiccedilotildees sendo que o ser humano ao mesmo tempo em que eacute um ser
social tambeacutem possui uma individualidade que eacute fundamental para distingui-lo dos demais
ldquoPortanto a sociedade eacute a condiccedilatildeo da alienaccedilatildeo e da liberdade eacute a condiccedilatildeo para que o
homem se perca mas tambeacutem de se encontrarrdquo (ARANHA MARTINS 1993 07)
13 - Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienado
A transiccedilatildeo do periacuteodo do feudalismo para o capitalismo foi marcada pelo nascimento
das faacutebricas onde ocorria uma acumulaccedilatildeo de capital que permitia comprar mateacuteria-prima e
maacutequinas para ampliar o seu mercado Os artesatildeos vendo o forte crescimento das faacutebricas e
percebendo que era impossiacutevel competir contra elas tiveram que vender a sua forccedila de
trabalho em troca de um salaacuterio e se adequar a divisatildeo de trabalho que estabelecia ritmo e
horaacuterio (ARANHA MARTINS 1993)
Ainda em relaccedilatildeo ao trabalho como meio de subsistecircncia para a sobrevivecircncia do ser
humano Dantas (1986) afirma que num determinado periacuteodo esta concepccedilatildeo passou a ser
alheia ao trabalhador Como a divisatildeo do trabalho estava no iniacutecio de seu desenvolvimento o
trabalho era organizado e entendido como familiar onde todos os adultos tinham sua
participaccedilatildeo inclusive aos idosos onde cabia a responsabilidade de distribuir as funccedilotildees Os
materiais para a realizaccedilatildeo do trabalho aleacutem de serem poucos eram rudimentares mas
suficientes para conseguir produtos para suprir as necessidades de todos Ainda citando
Dantas (1986) seus estudos apresenta ter um entendimento da divisatildeo do trabalho a partir do
periacuteodo feudal onde houve um acirramento da separaccedilatildeo entre campo e cidade que foi
crucial para o desenvolvimento daquele fenocircmeno no seu formato moderno No campo o
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trabalho tem como caracteriacutestica a servidatildeo e era realizado na terra sendo esta propriedade do
senhor Os servos eram responsaacuteveis pela produccedilatildeo de meios materiais para si e para os
senhores Jaacute na cidade a divisatildeo do trabalho se dava dentro das pequenas oficinas onde o
artesatildeo que era dono dos seus meios de produccedilatildeo e sua famiacutelia seus auxiliares que com suas
habilidades determinavam um produto final
De acordo com Catani (1984 20) ldquoa divisatildeo social do trabalho eacute outra condiccedilatildeo
preacutevia caracteriacutestica de uma sociedade capitalistardquo pois nessa sociedade todos realizam seus
trabalhos de formas especiacuteficas e particulares contudo ldquotodos dependem uns dos outros e isto
decorre na divisatildeo do trabalho no seio da produccedilatildeo mercantilrdquo (CATANI 1984 20)
Marx (1996) explica que a divisatildeo do trabalho na forma de cooperaccedilatildeo comeccedila a ser
desenvolvido na manufatura predominantemente porque o processo de produccedilatildeo capitalista
se estende do seacuteculo XVI ateacute o seacuteculo XVIII Ou seja diversos trabalhadores com ofiacutecios
diferentes uns dos outros reunidos em uma oficina para produzir um produto sendo que este
passe por ambas as matildeos ateacute o seu acabamento final O trabalho eacute realizado em colaboraccedilatildeo
uns com os outros
Braverman (1980) nos esclarece que a divisatildeo do trabalho que ocorre na oficina eacute
diferente do trabalho desenvolvido no interior da sociedade afirmando que
A divisatildeo do trabalho na sociedade eacute caracteriacutestica de todas as sociedades conhecidas a divisatildeo do trabalho na oficina eacute produto peculiar da sociedade capitalista A divisatildeo social do trabalho divide a sociedade entre ocupaccedilotildees cada qual apropriada a certo ramo de produccedilatildeo a divisatildeo pormenorizada do trabalho destroacutei ocupaccedilotildees consideradas neste sentido e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produccedilatildeo [] Ainda no capitalismo os produtos da divisatildeo social do trabalho satildeo trocados como mercadorias enquanto os resultados da operaccedilatildeo do trabalhador parcelado natildeo satildeo trocados dentro da fabrica como o mercado mas satildeo todos possuiacutedos pelo mesmo capital Enquanto a divisatildeo social do trabalho subdivide a sociedade a divisatildeo parcelada do trabalho subdivide o homem e enquanto a subdivisatildeo da sociedade pode fortalecer o indiviacuteduo e a espeacutecie a subdivisatildeo do indiviacuteduo quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas eacute um crime contra a pessoa e contra a humanidade (BRAVERMAN 1980 72)
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Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
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Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
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servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
24
Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
29
dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
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2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
35
surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
36
ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
39
conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
40
criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
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simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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9
Podendo ser observada as constantes transformaccedilotildees que vem ocorrendo no mundo
por conta de um sistema econocircmico contraditoacuterio que priva uma classe social por interesses
particulares em detrimento dos interesses de uma classe economicamente dominante acabam
influenciando as estruturas de uma sociedade a fim de manter os interesses dominantes
vigentes E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural que estaacute instituiacutedo na vida de muita
gente no mundo inteiro vem ao longo do tempo sendo influenciado por uma ideologia
dominante capaz de transformaacute-lo em mercadoria
A justificativa desse presente trabalho eacute buscar uma maior reflexatildeo sobre o esporte
inserido numa sociedade que assumiu os valores capitalistas a partir de um ponto de vista
criacutetico tentando compreender como o esporte faz sua relaccedilatildeo com esta sociedade de tal
forma que tudo o que se vecirc e consume faz parte de um ideal jaacute determinado
Portanto partindo de algumas inquietaccedilotildees levantamos algumas problematizaccedilotildees que
devem ser respondidas ao decorrer desse nosso trabalho satildeo elas 1) o esporte assume os
valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer preccedilo 2) o esporte pode ser
considerado como um instrumento ideoloacutegico do Estado 3) o esporte jaacute foi utilizado para fins
poliacuteticos 4) como quando e porque o esporte tornou-se mercadoria 5) qual a necessidade de
se entender a mercantilizaccedilatildeo do esporte num contexto de sociedade de consumo
No primeiro capiacutetulo estudaremos o conceito de trabalho na visatildeo marxiana
considerando as questotildees da divisatildeo social do trabalho trabalho alienado infra e
superestrutura e ideologia por fim um estudo da relaccedilatildeo da sociedade e do capitalismo bem
como suas definiccedilotildees num conceito marxiano para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista No segundo capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte
com o capitalismo levando em consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de
mercadorias pelos quais os meios de produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse
sistema capitalista reflete na realidade as expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo
10
de produccedilatildeo determinado Aleacutem de assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e
rendimento a qualquer custo tambeacutem eacute utilizado como instrumento ideoloacutegico de Estado e
politicamente como elemento disciplinador higienista e alienador que emprega valores
nacionalistas e ateacute raciais Finalmente no terceiro capiacutetulo discutiremos como ocorre o
processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte levando em consideraccedilatildeo a sua transformaccedilatildeo em
espetaacuteculo e da influecircncia que a sociedade de consumo exerce sobre ele
O objetivo deste trabalho eacute estudar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte numa sociedade que assume valores capitalistas levando em consideraccedilatildeo a estrutura
de funcionamento do sistema capitalista a partir de uma perspectiva marxiana e assim
procurar estabelecer uma criacutetica em torno da mesmice que existe sobre o esporte Por
conseguinte tendo como metodologia o desenvolvido de uma pesquisa qualitativa de cunho
exploratoacuterio por meio do meacutetodo dialeacutetico delineada pela teacutecnica de pesquisa bibliograacutefica
(GIL 1996)
11
1 - Conceitos Fundamentais do Pensamento Marxiano
ldquoA liberdade jamais seraacute dada pelo opressor Ela tem que ser conquistado pelo oprimidordquo
Martin Luther King
Partindo inicialmente da noccedilatildeo geral de que o objetivo amplo do marxismo eacute
interpretar a realidade para depois transformaacute-la consideramos que
[] o marxismo natildeo eacute uma teoria cientifica como as outras natildeo visa simplesmente descrever ou explicar mas visa transformar a realidade visa uma transformaccedilatildeo revolucionaacuteria Trata-se portanto de compreender a realidade para transformaacute-la revolucionariamente a partir de um ponto de vista de classe do ponto de vista das classes dominadas (LOumlWY 1998 18)
Esta compreensatildeo de transformar a realidade revolucionariamente parte do princiacutepio
de que quando as nossas ideacuteias sobre a sociedade visam transformaacute-la e quanto mais
entendemos a importacircncia desse processo de transformaccedilatildeo mais lutamos para que ele ocorra
(LOumlWY 1998)
Mesmo natildeo sendo um filoacutesofo a obra de Karl Marx exerceu grande repercussatildeo e
alcanccedilou uma importacircncia filosoacutefica capaz de influenciar diversas aacutereas como a histoacuteria
poliacutetica economia sociologia entre outras Os conceitos econocircmico-filosoacuteficos e ideacuteias
revolucionaacuterias marxianas foram fundamentais para o seacuteculo XX pois ofereceram o
instrumental teoacuterico necessaacuterio para uma profunda reconsideraccedilatildeo sobre os processos de
formaccedilatildeo da consciecircncia associando a produccedilatildeo da vida intelectual ao contexto da produccedilatildeo
da vida material e criaram as consideraccedilotildees necessaacuterias para libertar o homem do caacutercere no
qual a metafiacutesica lhe havia encarcerado Marx procurava atraveacutes da sua filosofia
contestadora criticar a modernidade pelo seu proacuteprio processo de desenvolvimento
combatendo os preconceitos as supersticcedilotildees e o falso saber provindo das antigas filosofias
(MARCONDES 1997)
Um dos conceitos fundamentais que Marx discute em sua teoria eacute o conceito de
trabalho considerando-o como relaccedilatildeo fundamental entre o sujeito e o objeto Segundo Marx
ldquoo trabalho eacute uma relaccedilatildeo invariante entre a espeacutecie humana e seu ambiente natural uma
12
perpeacutetua necessidade natural da vida humanardquo (MARCONDES 1997 229) Contudo antes
de investigarmos em profundidade as caracteriacutesticas do trabalho humano eacute necessaacuterio
entendermos quais satildeo as diferenccedilas entre o trabalho humano e o trabalho animal
11 - O trabalho animal
A atividade dos animais que se encontram nos niacuteveis mais baixos da escala zooloacutegica
de desenvolvimento se caracteriza por ser um conjunto de accedilotildees instintivas orientadas por leis
bioloacutegicas como eacute o caso dos insetos Se observarmos com atenccedilatildeo uma aranha tecendo uma
teia natildeo podemos dizer que isto eacute um trabalho porque este ato natildeo possui histoacuteria ou seja
natildeo eacute modificado ao longo de sua vida Este ato de tecer uma teia com extrema habilidade eacute
padronizado e soacute eacute modificado se ocorrer uma evoluccedilatildeo de sua espeacutecie ou por algum tipo de
mutaccedilatildeo geneacutetica A construccedilatildeo de alguma coisa por parte do animal natildeo tem como finalidade
promover condiccedilotildees melhores de vida mas
[] em certas aves chamadas tendilhotildees o haacutebito de fazer ninhos tiacutepicos da espeacutecie eacute tatildeo fixo que apoacutes cinco geraccedilotildees em que essas aves eram criadas por canaacuterios ainda continuavam a construiacute-los como antes (ARANHA ARTINS 1993 03)
Os animais mamiacuteferos que se encontram em melhor colocaccedilatildeo na escala zooloacutegica ou
em niacuteveis mais altos passam a transcender suas accedilotildees instintivas para uma categoria de atos
inteligentes Um exemplo eacute quando se coloca o chimpanzeacute com fome dentro de uma jaula e
nela estatildeo penduradas bananas que o animal natildeo consegue alcanccedilar mas resolve este
problema quando pega o caixote e coloca-o debaixo das bananas para pegaacute-las ou seja a
partir de uma visatildeo global do ambiente o chimpanzeacute estabelece uma relaccedilatildeo entre o caixote e
a banana (ARANHA MARTINS 1993)
Para solucionar este problema o chimpanzeacute natildeo conta com uma accedilatildeo imediata mas a
soluccedilatildeo depende da sua capacidade intelectual de estabelecer uma relaccedilatildeo entre o caixote e as
bananas Assim a sua inteligecircncia o distingue do inseto contudo ainda se trata de um tipo de
13
inteligecircncia concreta estabelecida no ato da situaccedilatildeo real e ldquomesmo que alguns animais
organizem sociedades mais complexas [] natildeo haacute nada que se compare agraves transformaccedilotildees
realizadas pelo homem enquanto criador da culturardquo (ARANHA MARTINS 1993 04)
Mesmo que um animal realize uma accedilatildeo transformadora que possa ser reconhecida
como um tipo especiacutefico de trabalho (por exemplo o joatildeo-de-barro que constroacutei sua casinha)
este trabalho natildeo eacute consciente e nem pode ser considerado criativo pois sempre que o joatildeoshy
de-barro ou qualquer outro animal criar resultados materiais estes resultados seratildeo iguais
para todos os sujeitos pertencentes a uma mesma espeacutecie Aleacutem disso as teacutecnicas e o
processo de construccedilatildeo tambeacutem seratildeo idecircnticos para os membros de uma mesma espeacutecie
situaccedilatildeo que nos forccedila a reconhecer que a accedilatildeo do indiviacuteduo natildeo pode ser considerada um ato
criativo ou reflexivo Jaacute o trabalho humano se caracteriza por ser uma accedilatildeo consciente capaz
de reproduzir e cria novas teacutecnicas a fim de transformar a natureza de acordo com a sua
necessidade humana e mudar a sua maneira de agir perceber pensar e sentir o mundo que o
cerca O trabalho humano eacute uma atividade consciente e transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio (ARANHA MARTINS 1993)
Os animais permanecem mergulhados na natureza e as espeacutecies vivem apenas o
presente de modo que o acuacutemulo de suas accedilotildees e experiecircncias natildeo se revertem em
aprendizado Isso significa que o trabalho animal natildeo estaacute submetido agrave mesma loacutegica que
preside a atividade humana que se desenvolve graccedilas ao movimento dialeacutetico produzido pelo
conflito entre consciecircncia e materialidade (ARANHA MARTINS 1993)
A accedilatildeo humana que transforma o mundo natural (realidade estritamente material) em
mundo cultural onde
[] cultura significa tudo o que o homem produz ao construir sua existecircncia as praacuteticas as teorias as instituiccedilotildees os valores materiais e espirituais Se o contato que o homem tem com o mundo eacute intermediado pelo siacutembolo a cultura eacute o conjunto de siacutembolos elaborados por um povo em determinado tempo e lugar Dada a infinita possibilidade de simbolizar as culturas dos povos satildeo muacuteltiplas e variadas (ARANHA MARTINS 1993 06)
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Esta questatildeo do trabalho pelo qual o homem transforma a natureza e a si proacuteprio
diferenciando-se dos demais animais seraacute desenvolvido no proacuteximo item
12 - Caracteriacutesticas do trabalho humano
A histoacuteria do desenvolvimento das teacutecnicas e dos processos de transformaccedilatildeo da
realidade se confunde com a histoacuteria do desenvolvimento da humanidade De acordo com
Dantas (1986) os homens tiveram que aprender a trabalhar desde a origem da humanidade
para sobreviverem e satisfazer suas necessidades produzindo e reproduzindo meios de
subsistecircncia Este trabalho praticado pelo qual o homem se distingue do trabalho animal eacute
criativo enquanto o do animal eacute simplesmente instintivo
De acordo com Carosi (1963) trabalho eacute a atividade transformadora onde se
empregam forccedilas humanas fiacutesicas e intelectuais com o objetivo de moldar o mundo natural
de acordo com as necessidades individuais ou coletivas de subsistecircncia Ou seja o trabalho
tornasse o emprego das energias humanas para diferenciar das accedilotildees de um animal e do
funcionamento de uma maacutequina pois eacute direcionado pela inteligecircncia e pela sustentaccedilatildeo da
vontade do homem
Conforme Braverman (1977) apoderar-se dos materiais da natureza assim como
ocorre com os vegetais que absorvem minerais e luz do sol e animais que se alimentam de
vida vegetal natildeo pode ser considerado trabalho Pois o trabalho eacute uma atividade que
transforma o estado natural desses materiais de modo que possam ser utilizados para
satisfazer as necessidades da espeacutecie humana
Para Braverman (1977) natildeo se trata agora de analisar as semelhanccedilas do trabalho
humano com o trabalho dos outros animais mas sim as diferenccedilas que os distanciam um do
outro Ao utilizar o termo trabalho para designar a atividade criativa peculiar do homem
Marx enfatiza que ldquonatildeo se trata aqui das primeiras formas instintivas animais de trabalhordquo
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(MARX 1996 297) Uma aranha realiza funccedilotildees que se assemelha a dos tecelotildees e a abelha
envergonha muitos arquitetos na construccedilatildeo de seus alveacuteolos Mas o que realmente distingue
o pior arquiteto humano da melhor abelha eacute que o humano cria em sua mente o corticcedilo antes
de transformaacute-lo em realidade No fim do processo o resultado sai de acordo com a
imaginaccedilatildeo na qual o trabalho teve no iniacutecio Ou seja o homem transforma o material de
acordo com sua vontade e imprime no real a forma de sua consciecircncia (MARX 1996)
O trabalho entendido aqui como uma atividade adequada a um fim distingue-se dos
animais que procuram apenas a satisfaccedilatildeo das suas necessidades bioloacutegicas Atraveacutes dele os
homens produzem sua proacutepria existecircncia mas antes de tudo
[] o trabalho eacute um processo entre o homem e a Natureza um processo em que o homem por sua proacutepria accedilatildeo media regula e controla seu metabolismo com a Natureza Ele mesmo se defronta com a mateacuteria natural como uma forccedila natural Ele potildee em movimento as forccedilas naturais pertencentes a sua corporalidade braccedilos e pernas cabeccedila e matildeo a fim de apropriar-se da mateacuteria natural numa forma uacutetil para sua proacutepria vida Ao atuar por meio desses movimentos sobre a Natureza externa e ao modificaacuteshyla ele modifica ao mesmo tempo sua proacutepria natureza Ele desenvolve as potecircncias nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forccedilas a seu proacuteprio domiacutenio (MARX 1996 297)
Por essa forma o trabalho humano eacute consciente e proposital Jaacute o trabalho dos outros
animais eacute instintivo Podemos observar quando uma largata completa a segunda metade de
seu casulo sem se importar com a primeira (BRAVERMAN 1977)
Carosi (1963) diferencia o trabalho do homem do trabalho animal pois o primeiro
possui capacidades para fazer algo atraveacutes de seus dons e ideacuteias para atingir o que tem que ser
feito enquanto que no animal nada disso pode ser observado Conforme Carosi (1963 588)
ldquodiz-se que o animal trabalha que a maacutequina trabalha mas eacute certamente um modo muito
improacuteprio de expressatildeo [] Eacute mais correto dizer que o animal e a maacutequina satildeo instrumentos
de trabalhordquo Pois desta forma o trabalho esta interiorizado na moralidade do homem de
forma que sua produccedilatildeo eacute uma virtude agrave medida que consegue as condiccedilotildees necessaacuterias
mediante o trabalho para si ou para os outros
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O homem consegue distinguir-se do animal pelo trabalho sendo este uma relaccedilatildeo
dialeacutetica da teoria com a praacutetica que possibilita ao homem desenvolver sua imaginaccedilatildeo e
habilidade uma vez que sua accedilatildeo eacute antecipada pelo pensamento conseguindo modificar um
objeto ao mesmo tempo em que sua accedilatildeo tambeacutem eacute alterada gerando o seu processo
histoacuterico onde o trabalho tornasse a condiccedilatildeo fundamental para o homem alterar a sua visatildeo
perante o mundo e a si mesmo (ARANHA MARTINS 1993)
Outro conceito fundamental para entendermos a diferenccedila entre o homem e o animal eacute
a sua condiccedilatildeo de trabalho a que cada um deles estaacute submetido Afinal ldquoo homem eacute um ser
que trabalha e produz o mundo e a si mesmo O animal natildeo produz a sua existecircncia mas
apenas a conserva agindo instintivamente []rdquo (ARANHA MARTINS 1993 05)
Sobre a necessidade e a utilidade do trabalho Carosi (1963 589) afirma que
O trabalho eacute aleacutem disso fonte de prosperidade tudo vem da natureza mas nada vem sem o trabalho Se a natureza fosse abandonada a si proacuteprio pelo homem ocioso natildeo lhe oferecia sequer o necessaacuterio para viver com o trabalho ela concede-lhe as maravilhas e comodidade do programa acima de suas necessidades (CAROSI 1963 589)
O trabalho humano armazenado ou exercido em ferramentas maquinarias ou em
animais eacute um recurso utilizado exclusivamente pela competecircncia humana para explorar a
natureza Assim como todos os processos vitais de um corpo humano como os muacutesculos
ceacuterebros satildeo inseparaacuteveis do indiviacuteduo o trabalho tambeacutem eacute uma propriedade inalienaacutevel do
indiviacuteduo humano Portanto tornasse impossiacutevel satisfazer as necessidades baacutesicas em lugar
de outra pessoa que natildeo seja si proacuteprio Entretanto quando um proprietaacuterio utiliza os serviccedilos
de um animal simplesmente canaliza a forccedila e suas resistecircncias naturais desse animal
Todavia ao utilizar abelhas para a produccedilatildeo de mel ou de carneiros para a produccedilatildeo de latilde o
proprietaacuterio soacute tira vantagens das condiccedilotildees bioloacutegicas das atividades dos animais Mas ao
utilizar a forccedila de trabalho do animal o homem ao mesmo tempo utiliza a sua para obter
atraveacutes do trabalho animal as miacutenimas condiccedilotildees variaacuteveis do trabalho concreto
(BRAVERMAN 1977) Sendo assim
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O que distingue a forccedila de trabalho humano eacute portanto natildeo sua capacidade de produzir um excedente mas seu caraacuteter inteligente e proposital que lhe daacute infinita adaptabilidade e que produz as condiccedilotildees sociais e culturais para ampliar sua proacutepria produtividade de modo que seu produto excedente pode ser continuamente ampliado (BRAVERMAN 1977 58)
Portanto eacute o homem que constroacutei e produz sua proacutepria histoacuteria transformando a
natureza e a si proacuteprio a partir de uma accedilatildeo humana e coletiva caracterizando o trabalho
como uma tarefa social onde todas as diferenccedilas que existem na sociedade satildeo fundamentais
para que se organizem na construccedilatildeo da vida social econocircmica e poliacutetica Mesmo a sociedade
sendo formada pelas relaccedilotildees sociais o homem natildeo perde a sua individualidade o que faz
com que se diferencie dos demais Todavia esta contradiccedilatildeo de viver numa sociedade que
opotildee a alienaccedilatildeo agrave liberdade eacute fundamental para manter a dialeacutetica em constante sintonia
(ARANHA MARTINS 1993)
Aleacutem do trabalho o homem possui outras condiccedilotildees que o diferencia do animal Um eacute
o ato voluntaacuterio e consciente da finalidade de seu uso e o outro eacute a fala O ato consciente
primeiramente existe antes como pensamento e este pode ser utilizado para atingir os fins
propostos pela livre vontade do agente Jaacute a fala e as palavras fazem parte da essecircncia do
universo humano distinguindo-o do animal pois este natildeo conhece a simbologia mas
somente os iacutendices que indicam sempre a mesma coisa especiacutefica Jaacute o siacutembolo aleacutem de ser
universal eacute flexiacutevel podendo uma palavra ter diversos entendimentos (ARANHA
MARTINS 1993)
A linguagem e a palavra determinam a condiccedilatildeo na qual o homem e o animal se
desencontram distanciando-o pelo fato da linguagem animal visar a adaptaccedilatildeo ao concreto
enquanto a linguagem humana interveacutem como uma forma abstrata Portanto mesmo quando
um animal conseguir solucionar um problema complexo a sua inteligecircncia ainda seraacute
concreta tratando-se de uma experiecircncia vivida no momento exato enquanto que para o
homem a linguagem por siacutembolos e abstrata permite distanciar-se do mundo e voltar para
transformaacute-lo (ARANHA MARTINS 1993)
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Ao dizer que o homem fala trabalha e pelo trabalho transforma a natureza e a si
proacuteprio nada disso teraacute sentido se natildeo enfatizarmos que a accedilatildeo do ser humano eacute uma accedilatildeo
coletiva Pois o trabalho eacute uma funccedilatildeo social e a palavra eacute um meio de diaacutelogo (ARANHA
MARTINS 1993)
Os estudos experimentais sobre o comportamento animal demonstram que eles natildeo
satildeo totalmente privados da capacidade de aprender e conceber ideacuteias de caraacuteter inicial ou
mesmo aprender a resolver os problemas mais simples que sejam portando
Assim uma criatura dotada de sistema nervoso tatildeo primitivo como a minhoca pode aprender a passar por um labirinto os chimpanzeacutes podem ser estimulados a inventar e fazer instrumentos tais como estender vara que lhes permitem atingir o alimento ou empilhar caixas para o mesmo fim (BRAVERMAN 1977 52)
Conclui-se que a diferenccedila entre o homem e o animal natildeo estaacute apenas em grau mas
em espeacutecie cujo haacute uma imensa distacircncia entre aprender as capacidades conceituais do ser
humano em comparaccedilatildeo aos animais mais adaptaacuteveis Ou seja aos animais natildeo foi possiacutevel
ensinar-lhes a capacidade de manipular representaccedilotildees simboacutelicas e a linguagem articulada
Sem a aprendizagem das capacidades simboacutelicas e da linguagem os animais permanecem
com o seu pensamento conceitual a um niacutevel rudimentar que natildeo pode ser transmitido atraveacutes
do grupo (BRAVERMAN 1977)
Aranha e Martins (1993) tambeacutem afirmam ao dizer que as diferenccedilas entre o homem e
o animal natildeo eacute apenas em grau pois enquanto o animal vive dentro da natureza o homem a
utiliza e transformaacute-a em uma possiacutevel cultural O entendimento de cultura para os
antropoacutelogos eacute tudo aquilo que o homem consegue produzir ao construir sua existecircncia
como por exemplo as praacuteticas as teorias os valores materiais entre outros
Portanto eacute pelo trabalho que o homem consegue construir sua proacutepria histoacuteria sendo
que o ldquotrabalho que ultrapassa a mera atividade instintiva eacute assim a forccedila que criou a espeacutecie
humana e a forccedila pela qual a humanidade criou o mundo como o conhecemosrdquo
(BRAVERMAN 1977 53)
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Aranha e Martins (1993) afirmam que o processo de construccedilatildeo da humanidade se faz
pela relaccedilatildeo entre os homens e a sua consciecircncia emerge lentamente atraveacutes dos conflitos
entre essas relaccedilotildees Entatildeo sobre cai ao homem agrave responsabilidade de manter viva a dialeacutetica
atraveacutes de suas contradiccedilotildees sendo que o ser humano ao mesmo tempo em que eacute um ser
social tambeacutem possui uma individualidade que eacute fundamental para distingui-lo dos demais
ldquoPortanto a sociedade eacute a condiccedilatildeo da alienaccedilatildeo e da liberdade eacute a condiccedilatildeo para que o
homem se perca mas tambeacutem de se encontrarrdquo (ARANHA MARTINS 1993 07)
13 - Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienado
A transiccedilatildeo do periacuteodo do feudalismo para o capitalismo foi marcada pelo nascimento
das faacutebricas onde ocorria uma acumulaccedilatildeo de capital que permitia comprar mateacuteria-prima e
maacutequinas para ampliar o seu mercado Os artesatildeos vendo o forte crescimento das faacutebricas e
percebendo que era impossiacutevel competir contra elas tiveram que vender a sua forccedila de
trabalho em troca de um salaacuterio e se adequar a divisatildeo de trabalho que estabelecia ritmo e
horaacuterio (ARANHA MARTINS 1993)
Ainda em relaccedilatildeo ao trabalho como meio de subsistecircncia para a sobrevivecircncia do ser
humano Dantas (1986) afirma que num determinado periacuteodo esta concepccedilatildeo passou a ser
alheia ao trabalhador Como a divisatildeo do trabalho estava no iniacutecio de seu desenvolvimento o
trabalho era organizado e entendido como familiar onde todos os adultos tinham sua
participaccedilatildeo inclusive aos idosos onde cabia a responsabilidade de distribuir as funccedilotildees Os
materiais para a realizaccedilatildeo do trabalho aleacutem de serem poucos eram rudimentares mas
suficientes para conseguir produtos para suprir as necessidades de todos Ainda citando
Dantas (1986) seus estudos apresenta ter um entendimento da divisatildeo do trabalho a partir do
periacuteodo feudal onde houve um acirramento da separaccedilatildeo entre campo e cidade que foi
crucial para o desenvolvimento daquele fenocircmeno no seu formato moderno No campo o
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trabalho tem como caracteriacutestica a servidatildeo e era realizado na terra sendo esta propriedade do
senhor Os servos eram responsaacuteveis pela produccedilatildeo de meios materiais para si e para os
senhores Jaacute na cidade a divisatildeo do trabalho se dava dentro das pequenas oficinas onde o
artesatildeo que era dono dos seus meios de produccedilatildeo e sua famiacutelia seus auxiliares que com suas
habilidades determinavam um produto final
De acordo com Catani (1984 20) ldquoa divisatildeo social do trabalho eacute outra condiccedilatildeo
preacutevia caracteriacutestica de uma sociedade capitalistardquo pois nessa sociedade todos realizam seus
trabalhos de formas especiacuteficas e particulares contudo ldquotodos dependem uns dos outros e isto
decorre na divisatildeo do trabalho no seio da produccedilatildeo mercantilrdquo (CATANI 1984 20)
Marx (1996) explica que a divisatildeo do trabalho na forma de cooperaccedilatildeo comeccedila a ser
desenvolvido na manufatura predominantemente porque o processo de produccedilatildeo capitalista
se estende do seacuteculo XVI ateacute o seacuteculo XVIII Ou seja diversos trabalhadores com ofiacutecios
diferentes uns dos outros reunidos em uma oficina para produzir um produto sendo que este
passe por ambas as matildeos ateacute o seu acabamento final O trabalho eacute realizado em colaboraccedilatildeo
uns com os outros
Braverman (1980) nos esclarece que a divisatildeo do trabalho que ocorre na oficina eacute
diferente do trabalho desenvolvido no interior da sociedade afirmando que
A divisatildeo do trabalho na sociedade eacute caracteriacutestica de todas as sociedades conhecidas a divisatildeo do trabalho na oficina eacute produto peculiar da sociedade capitalista A divisatildeo social do trabalho divide a sociedade entre ocupaccedilotildees cada qual apropriada a certo ramo de produccedilatildeo a divisatildeo pormenorizada do trabalho destroacutei ocupaccedilotildees consideradas neste sentido e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produccedilatildeo [] Ainda no capitalismo os produtos da divisatildeo social do trabalho satildeo trocados como mercadorias enquanto os resultados da operaccedilatildeo do trabalhador parcelado natildeo satildeo trocados dentro da fabrica como o mercado mas satildeo todos possuiacutedos pelo mesmo capital Enquanto a divisatildeo social do trabalho subdivide a sociedade a divisatildeo parcelada do trabalho subdivide o homem e enquanto a subdivisatildeo da sociedade pode fortalecer o indiviacuteduo e a espeacutecie a subdivisatildeo do indiviacuteduo quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas eacute um crime contra a pessoa e contra a humanidade (BRAVERMAN 1980 72)
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Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
22
Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
23
servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
24
Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
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dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
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2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
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corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
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frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
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ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
40
criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
44
ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
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simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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10
de produccedilatildeo determinado Aleacutem de assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e
rendimento a qualquer custo tambeacutem eacute utilizado como instrumento ideoloacutegico de Estado e
politicamente como elemento disciplinador higienista e alienador que emprega valores
nacionalistas e ateacute raciais Finalmente no terceiro capiacutetulo discutiremos como ocorre o
processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte levando em consideraccedilatildeo a sua transformaccedilatildeo em
espetaacuteculo e da influecircncia que a sociedade de consumo exerce sobre ele
O objetivo deste trabalho eacute estudar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte numa sociedade que assume valores capitalistas levando em consideraccedilatildeo a estrutura
de funcionamento do sistema capitalista a partir de uma perspectiva marxiana e assim
procurar estabelecer uma criacutetica em torno da mesmice que existe sobre o esporte Por
conseguinte tendo como metodologia o desenvolvido de uma pesquisa qualitativa de cunho
exploratoacuterio por meio do meacutetodo dialeacutetico delineada pela teacutecnica de pesquisa bibliograacutefica
(GIL 1996)
11
1 - Conceitos Fundamentais do Pensamento Marxiano
ldquoA liberdade jamais seraacute dada pelo opressor Ela tem que ser conquistado pelo oprimidordquo
Martin Luther King
Partindo inicialmente da noccedilatildeo geral de que o objetivo amplo do marxismo eacute
interpretar a realidade para depois transformaacute-la consideramos que
[] o marxismo natildeo eacute uma teoria cientifica como as outras natildeo visa simplesmente descrever ou explicar mas visa transformar a realidade visa uma transformaccedilatildeo revolucionaacuteria Trata-se portanto de compreender a realidade para transformaacute-la revolucionariamente a partir de um ponto de vista de classe do ponto de vista das classes dominadas (LOumlWY 1998 18)
Esta compreensatildeo de transformar a realidade revolucionariamente parte do princiacutepio
de que quando as nossas ideacuteias sobre a sociedade visam transformaacute-la e quanto mais
entendemos a importacircncia desse processo de transformaccedilatildeo mais lutamos para que ele ocorra
(LOumlWY 1998)
Mesmo natildeo sendo um filoacutesofo a obra de Karl Marx exerceu grande repercussatildeo e
alcanccedilou uma importacircncia filosoacutefica capaz de influenciar diversas aacutereas como a histoacuteria
poliacutetica economia sociologia entre outras Os conceitos econocircmico-filosoacuteficos e ideacuteias
revolucionaacuterias marxianas foram fundamentais para o seacuteculo XX pois ofereceram o
instrumental teoacuterico necessaacuterio para uma profunda reconsideraccedilatildeo sobre os processos de
formaccedilatildeo da consciecircncia associando a produccedilatildeo da vida intelectual ao contexto da produccedilatildeo
da vida material e criaram as consideraccedilotildees necessaacuterias para libertar o homem do caacutercere no
qual a metafiacutesica lhe havia encarcerado Marx procurava atraveacutes da sua filosofia
contestadora criticar a modernidade pelo seu proacuteprio processo de desenvolvimento
combatendo os preconceitos as supersticcedilotildees e o falso saber provindo das antigas filosofias
(MARCONDES 1997)
Um dos conceitos fundamentais que Marx discute em sua teoria eacute o conceito de
trabalho considerando-o como relaccedilatildeo fundamental entre o sujeito e o objeto Segundo Marx
ldquoo trabalho eacute uma relaccedilatildeo invariante entre a espeacutecie humana e seu ambiente natural uma
12
perpeacutetua necessidade natural da vida humanardquo (MARCONDES 1997 229) Contudo antes
de investigarmos em profundidade as caracteriacutesticas do trabalho humano eacute necessaacuterio
entendermos quais satildeo as diferenccedilas entre o trabalho humano e o trabalho animal
11 - O trabalho animal
A atividade dos animais que se encontram nos niacuteveis mais baixos da escala zooloacutegica
de desenvolvimento se caracteriza por ser um conjunto de accedilotildees instintivas orientadas por leis
bioloacutegicas como eacute o caso dos insetos Se observarmos com atenccedilatildeo uma aranha tecendo uma
teia natildeo podemos dizer que isto eacute um trabalho porque este ato natildeo possui histoacuteria ou seja
natildeo eacute modificado ao longo de sua vida Este ato de tecer uma teia com extrema habilidade eacute
padronizado e soacute eacute modificado se ocorrer uma evoluccedilatildeo de sua espeacutecie ou por algum tipo de
mutaccedilatildeo geneacutetica A construccedilatildeo de alguma coisa por parte do animal natildeo tem como finalidade
promover condiccedilotildees melhores de vida mas
[] em certas aves chamadas tendilhotildees o haacutebito de fazer ninhos tiacutepicos da espeacutecie eacute tatildeo fixo que apoacutes cinco geraccedilotildees em que essas aves eram criadas por canaacuterios ainda continuavam a construiacute-los como antes (ARANHA ARTINS 1993 03)
Os animais mamiacuteferos que se encontram em melhor colocaccedilatildeo na escala zooloacutegica ou
em niacuteveis mais altos passam a transcender suas accedilotildees instintivas para uma categoria de atos
inteligentes Um exemplo eacute quando se coloca o chimpanzeacute com fome dentro de uma jaula e
nela estatildeo penduradas bananas que o animal natildeo consegue alcanccedilar mas resolve este
problema quando pega o caixote e coloca-o debaixo das bananas para pegaacute-las ou seja a
partir de uma visatildeo global do ambiente o chimpanzeacute estabelece uma relaccedilatildeo entre o caixote e
a banana (ARANHA MARTINS 1993)
Para solucionar este problema o chimpanzeacute natildeo conta com uma accedilatildeo imediata mas a
soluccedilatildeo depende da sua capacidade intelectual de estabelecer uma relaccedilatildeo entre o caixote e as
bananas Assim a sua inteligecircncia o distingue do inseto contudo ainda se trata de um tipo de
13
inteligecircncia concreta estabelecida no ato da situaccedilatildeo real e ldquomesmo que alguns animais
organizem sociedades mais complexas [] natildeo haacute nada que se compare agraves transformaccedilotildees
realizadas pelo homem enquanto criador da culturardquo (ARANHA MARTINS 1993 04)
Mesmo que um animal realize uma accedilatildeo transformadora que possa ser reconhecida
como um tipo especiacutefico de trabalho (por exemplo o joatildeo-de-barro que constroacutei sua casinha)
este trabalho natildeo eacute consciente e nem pode ser considerado criativo pois sempre que o joatildeoshy
de-barro ou qualquer outro animal criar resultados materiais estes resultados seratildeo iguais
para todos os sujeitos pertencentes a uma mesma espeacutecie Aleacutem disso as teacutecnicas e o
processo de construccedilatildeo tambeacutem seratildeo idecircnticos para os membros de uma mesma espeacutecie
situaccedilatildeo que nos forccedila a reconhecer que a accedilatildeo do indiviacuteduo natildeo pode ser considerada um ato
criativo ou reflexivo Jaacute o trabalho humano se caracteriza por ser uma accedilatildeo consciente capaz
de reproduzir e cria novas teacutecnicas a fim de transformar a natureza de acordo com a sua
necessidade humana e mudar a sua maneira de agir perceber pensar e sentir o mundo que o
cerca O trabalho humano eacute uma atividade consciente e transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio (ARANHA MARTINS 1993)
Os animais permanecem mergulhados na natureza e as espeacutecies vivem apenas o
presente de modo que o acuacutemulo de suas accedilotildees e experiecircncias natildeo se revertem em
aprendizado Isso significa que o trabalho animal natildeo estaacute submetido agrave mesma loacutegica que
preside a atividade humana que se desenvolve graccedilas ao movimento dialeacutetico produzido pelo
conflito entre consciecircncia e materialidade (ARANHA MARTINS 1993)
A accedilatildeo humana que transforma o mundo natural (realidade estritamente material) em
mundo cultural onde
[] cultura significa tudo o que o homem produz ao construir sua existecircncia as praacuteticas as teorias as instituiccedilotildees os valores materiais e espirituais Se o contato que o homem tem com o mundo eacute intermediado pelo siacutembolo a cultura eacute o conjunto de siacutembolos elaborados por um povo em determinado tempo e lugar Dada a infinita possibilidade de simbolizar as culturas dos povos satildeo muacuteltiplas e variadas (ARANHA MARTINS 1993 06)
14
Esta questatildeo do trabalho pelo qual o homem transforma a natureza e a si proacuteprio
diferenciando-se dos demais animais seraacute desenvolvido no proacuteximo item
12 - Caracteriacutesticas do trabalho humano
A histoacuteria do desenvolvimento das teacutecnicas e dos processos de transformaccedilatildeo da
realidade se confunde com a histoacuteria do desenvolvimento da humanidade De acordo com
Dantas (1986) os homens tiveram que aprender a trabalhar desde a origem da humanidade
para sobreviverem e satisfazer suas necessidades produzindo e reproduzindo meios de
subsistecircncia Este trabalho praticado pelo qual o homem se distingue do trabalho animal eacute
criativo enquanto o do animal eacute simplesmente instintivo
De acordo com Carosi (1963) trabalho eacute a atividade transformadora onde se
empregam forccedilas humanas fiacutesicas e intelectuais com o objetivo de moldar o mundo natural
de acordo com as necessidades individuais ou coletivas de subsistecircncia Ou seja o trabalho
tornasse o emprego das energias humanas para diferenciar das accedilotildees de um animal e do
funcionamento de uma maacutequina pois eacute direcionado pela inteligecircncia e pela sustentaccedilatildeo da
vontade do homem
Conforme Braverman (1977) apoderar-se dos materiais da natureza assim como
ocorre com os vegetais que absorvem minerais e luz do sol e animais que se alimentam de
vida vegetal natildeo pode ser considerado trabalho Pois o trabalho eacute uma atividade que
transforma o estado natural desses materiais de modo que possam ser utilizados para
satisfazer as necessidades da espeacutecie humana
Para Braverman (1977) natildeo se trata agora de analisar as semelhanccedilas do trabalho
humano com o trabalho dos outros animais mas sim as diferenccedilas que os distanciam um do
outro Ao utilizar o termo trabalho para designar a atividade criativa peculiar do homem
Marx enfatiza que ldquonatildeo se trata aqui das primeiras formas instintivas animais de trabalhordquo
15
(MARX 1996 297) Uma aranha realiza funccedilotildees que se assemelha a dos tecelotildees e a abelha
envergonha muitos arquitetos na construccedilatildeo de seus alveacuteolos Mas o que realmente distingue
o pior arquiteto humano da melhor abelha eacute que o humano cria em sua mente o corticcedilo antes
de transformaacute-lo em realidade No fim do processo o resultado sai de acordo com a
imaginaccedilatildeo na qual o trabalho teve no iniacutecio Ou seja o homem transforma o material de
acordo com sua vontade e imprime no real a forma de sua consciecircncia (MARX 1996)
O trabalho entendido aqui como uma atividade adequada a um fim distingue-se dos
animais que procuram apenas a satisfaccedilatildeo das suas necessidades bioloacutegicas Atraveacutes dele os
homens produzem sua proacutepria existecircncia mas antes de tudo
[] o trabalho eacute um processo entre o homem e a Natureza um processo em que o homem por sua proacutepria accedilatildeo media regula e controla seu metabolismo com a Natureza Ele mesmo se defronta com a mateacuteria natural como uma forccedila natural Ele potildee em movimento as forccedilas naturais pertencentes a sua corporalidade braccedilos e pernas cabeccedila e matildeo a fim de apropriar-se da mateacuteria natural numa forma uacutetil para sua proacutepria vida Ao atuar por meio desses movimentos sobre a Natureza externa e ao modificaacuteshyla ele modifica ao mesmo tempo sua proacutepria natureza Ele desenvolve as potecircncias nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forccedilas a seu proacuteprio domiacutenio (MARX 1996 297)
Por essa forma o trabalho humano eacute consciente e proposital Jaacute o trabalho dos outros
animais eacute instintivo Podemos observar quando uma largata completa a segunda metade de
seu casulo sem se importar com a primeira (BRAVERMAN 1977)
Carosi (1963) diferencia o trabalho do homem do trabalho animal pois o primeiro
possui capacidades para fazer algo atraveacutes de seus dons e ideacuteias para atingir o que tem que ser
feito enquanto que no animal nada disso pode ser observado Conforme Carosi (1963 588)
ldquodiz-se que o animal trabalha que a maacutequina trabalha mas eacute certamente um modo muito
improacuteprio de expressatildeo [] Eacute mais correto dizer que o animal e a maacutequina satildeo instrumentos
de trabalhordquo Pois desta forma o trabalho esta interiorizado na moralidade do homem de
forma que sua produccedilatildeo eacute uma virtude agrave medida que consegue as condiccedilotildees necessaacuterias
mediante o trabalho para si ou para os outros
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O homem consegue distinguir-se do animal pelo trabalho sendo este uma relaccedilatildeo
dialeacutetica da teoria com a praacutetica que possibilita ao homem desenvolver sua imaginaccedilatildeo e
habilidade uma vez que sua accedilatildeo eacute antecipada pelo pensamento conseguindo modificar um
objeto ao mesmo tempo em que sua accedilatildeo tambeacutem eacute alterada gerando o seu processo
histoacuterico onde o trabalho tornasse a condiccedilatildeo fundamental para o homem alterar a sua visatildeo
perante o mundo e a si mesmo (ARANHA MARTINS 1993)
Outro conceito fundamental para entendermos a diferenccedila entre o homem e o animal eacute
a sua condiccedilatildeo de trabalho a que cada um deles estaacute submetido Afinal ldquoo homem eacute um ser
que trabalha e produz o mundo e a si mesmo O animal natildeo produz a sua existecircncia mas
apenas a conserva agindo instintivamente []rdquo (ARANHA MARTINS 1993 05)
Sobre a necessidade e a utilidade do trabalho Carosi (1963 589) afirma que
O trabalho eacute aleacutem disso fonte de prosperidade tudo vem da natureza mas nada vem sem o trabalho Se a natureza fosse abandonada a si proacuteprio pelo homem ocioso natildeo lhe oferecia sequer o necessaacuterio para viver com o trabalho ela concede-lhe as maravilhas e comodidade do programa acima de suas necessidades (CAROSI 1963 589)
O trabalho humano armazenado ou exercido em ferramentas maquinarias ou em
animais eacute um recurso utilizado exclusivamente pela competecircncia humana para explorar a
natureza Assim como todos os processos vitais de um corpo humano como os muacutesculos
ceacuterebros satildeo inseparaacuteveis do indiviacuteduo o trabalho tambeacutem eacute uma propriedade inalienaacutevel do
indiviacuteduo humano Portanto tornasse impossiacutevel satisfazer as necessidades baacutesicas em lugar
de outra pessoa que natildeo seja si proacuteprio Entretanto quando um proprietaacuterio utiliza os serviccedilos
de um animal simplesmente canaliza a forccedila e suas resistecircncias naturais desse animal
Todavia ao utilizar abelhas para a produccedilatildeo de mel ou de carneiros para a produccedilatildeo de latilde o
proprietaacuterio soacute tira vantagens das condiccedilotildees bioloacutegicas das atividades dos animais Mas ao
utilizar a forccedila de trabalho do animal o homem ao mesmo tempo utiliza a sua para obter
atraveacutes do trabalho animal as miacutenimas condiccedilotildees variaacuteveis do trabalho concreto
(BRAVERMAN 1977) Sendo assim
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O que distingue a forccedila de trabalho humano eacute portanto natildeo sua capacidade de produzir um excedente mas seu caraacuteter inteligente e proposital que lhe daacute infinita adaptabilidade e que produz as condiccedilotildees sociais e culturais para ampliar sua proacutepria produtividade de modo que seu produto excedente pode ser continuamente ampliado (BRAVERMAN 1977 58)
Portanto eacute o homem que constroacutei e produz sua proacutepria histoacuteria transformando a
natureza e a si proacuteprio a partir de uma accedilatildeo humana e coletiva caracterizando o trabalho
como uma tarefa social onde todas as diferenccedilas que existem na sociedade satildeo fundamentais
para que se organizem na construccedilatildeo da vida social econocircmica e poliacutetica Mesmo a sociedade
sendo formada pelas relaccedilotildees sociais o homem natildeo perde a sua individualidade o que faz
com que se diferencie dos demais Todavia esta contradiccedilatildeo de viver numa sociedade que
opotildee a alienaccedilatildeo agrave liberdade eacute fundamental para manter a dialeacutetica em constante sintonia
(ARANHA MARTINS 1993)
Aleacutem do trabalho o homem possui outras condiccedilotildees que o diferencia do animal Um eacute
o ato voluntaacuterio e consciente da finalidade de seu uso e o outro eacute a fala O ato consciente
primeiramente existe antes como pensamento e este pode ser utilizado para atingir os fins
propostos pela livre vontade do agente Jaacute a fala e as palavras fazem parte da essecircncia do
universo humano distinguindo-o do animal pois este natildeo conhece a simbologia mas
somente os iacutendices que indicam sempre a mesma coisa especiacutefica Jaacute o siacutembolo aleacutem de ser
universal eacute flexiacutevel podendo uma palavra ter diversos entendimentos (ARANHA
MARTINS 1993)
A linguagem e a palavra determinam a condiccedilatildeo na qual o homem e o animal se
desencontram distanciando-o pelo fato da linguagem animal visar a adaptaccedilatildeo ao concreto
enquanto a linguagem humana interveacutem como uma forma abstrata Portanto mesmo quando
um animal conseguir solucionar um problema complexo a sua inteligecircncia ainda seraacute
concreta tratando-se de uma experiecircncia vivida no momento exato enquanto que para o
homem a linguagem por siacutembolos e abstrata permite distanciar-se do mundo e voltar para
transformaacute-lo (ARANHA MARTINS 1993)
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Ao dizer que o homem fala trabalha e pelo trabalho transforma a natureza e a si
proacuteprio nada disso teraacute sentido se natildeo enfatizarmos que a accedilatildeo do ser humano eacute uma accedilatildeo
coletiva Pois o trabalho eacute uma funccedilatildeo social e a palavra eacute um meio de diaacutelogo (ARANHA
MARTINS 1993)
Os estudos experimentais sobre o comportamento animal demonstram que eles natildeo
satildeo totalmente privados da capacidade de aprender e conceber ideacuteias de caraacuteter inicial ou
mesmo aprender a resolver os problemas mais simples que sejam portando
Assim uma criatura dotada de sistema nervoso tatildeo primitivo como a minhoca pode aprender a passar por um labirinto os chimpanzeacutes podem ser estimulados a inventar e fazer instrumentos tais como estender vara que lhes permitem atingir o alimento ou empilhar caixas para o mesmo fim (BRAVERMAN 1977 52)
Conclui-se que a diferenccedila entre o homem e o animal natildeo estaacute apenas em grau mas
em espeacutecie cujo haacute uma imensa distacircncia entre aprender as capacidades conceituais do ser
humano em comparaccedilatildeo aos animais mais adaptaacuteveis Ou seja aos animais natildeo foi possiacutevel
ensinar-lhes a capacidade de manipular representaccedilotildees simboacutelicas e a linguagem articulada
Sem a aprendizagem das capacidades simboacutelicas e da linguagem os animais permanecem
com o seu pensamento conceitual a um niacutevel rudimentar que natildeo pode ser transmitido atraveacutes
do grupo (BRAVERMAN 1977)
Aranha e Martins (1993) tambeacutem afirmam ao dizer que as diferenccedilas entre o homem e
o animal natildeo eacute apenas em grau pois enquanto o animal vive dentro da natureza o homem a
utiliza e transformaacute-a em uma possiacutevel cultural O entendimento de cultura para os
antropoacutelogos eacute tudo aquilo que o homem consegue produzir ao construir sua existecircncia
como por exemplo as praacuteticas as teorias os valores materiais entre outros
Portanto eacute pelo trabalho que o homem consegue construir sua proacutepria histoacuteria sendo
que o ldquotrabalho que ultrapassa a mera atividade instintiva eacute assim a forccedila que criou a espeacutecie
humana e a forccedila pela qual a humanidade criou o mundo como o conhecemosrdquo
(BRAVERMAN 1977 53)
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Aranha e Martins (1993) afirmam que o processo de construccedilatildeo da humanidade se faz
pela relaccedilatildeo entre os homens e a sua consciecircncia emerge lentamente atraveacutes dos conflitos
entre essas relaccedilotildees Entatildeo sobre cai ao homem agrave responsabilidade de manter viva a dialeacutetica
atraveacutes de suas contradiccedilotildees sendo que o ser humano ao mesmo tempo em que eacute um ser
social tambeacutem possui uma individualidade que eacute fundamental para distingui-lo dos demais
ldquoPortanto a sociedade eacute a condiccedilatildeo da alienaccedilatildeo e da liberdade eacute a condiccedilatildeo para que o
homem se perca mas tambeacutem de se encontrarrdquo (ARANHA MARTINS 1993 07)
13 - Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienado
A transiccedilatildeo do periacuteodo do feudalismo para o capitalismo foi marcada pelo nascimento
das faacutebricas onde ocorria uma acumulaccedilatildeo de capital que permitia comprar mateacuteria-prima e
maacutequinas para ampliar o seu mercado Os artesatildeos vendo o forte crescimento das faacutebricas e
percebendo que era impossiacutevel competir contra elas tiveram que vender a sua forccedila de
trabalho em troca de um salaacuterio e se adequar a divisatildeo de trabalho que estabelecia ritmo e
horaacuterio (ARANHA MARTINS 1993)
Ainda em relaccedilatildeo ao trabalho como meio de subsistecircncia para a sobrevivecircncia do ser
humano Dantas (1986) afirma que num determinado periacuteodo esta concepccedilatildeo passou a ser
alheia ao trabalhador Como a divisatildeo do trabalho estava no iniacutecio de seu desenvolvimento o
trabalho era organizado e entendido como familiar onde todos os adultos tinham sua
participaccedilatildeo inclusive aos idosos onde cabia a responsabilidade de distribuir as funccedilotildees Os
materiais para a realizaccedilatildeo do trabalho aleacutem de serem poucos eram rudimentares mas
suficientes para conseguir produtos para suprir as necessidades de todos Ainda citando
Dantas (1986) seus estudos apresenta ter um entendimento da divisatildeo do trabalho a partir do
periacuteodo feudal onde houve um acirramento da separaccedilatildeo entre campo e cidade que foi
crucial para o desenvolvimento daquele fenocircmeno no seu formato moderno No campo o
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trabalho tem como caracteriacutestica a servidatildeo e era realizado na terra sendo esta propriedade do
senhor Os servos eram responsaacuteveis pela produccedilatildeo de meios materiais para si e para os
senhores Jaacute na cidade a divisatildeo do trabalho se dava dentro das pequenas oficinas onde o
artesatildeo que era dono dos seus meios de produccedilatildeo e sua famiacutelia seus auxiliares que com suas
habilidades determinavam um produto final
De acordo com Catani (1984 20) ldquoa divisatildeo social do trabalho eacute outra condiccedilatildeo
preacutevia caracteriacutestica de uma sociedade capitalistardquo pois nessa sociedade todos realizam seus
trabalhos de formas especiacuteficas e particulares contudo ldquotodos dependem uns dos outros e isto
decorre na divisatildeo do trabalho no seio da produccedilatildeo mercantilrdquo (CATANI 1984 20)
Marx (1996) explica que a divisatildeo do trabalho na forma de cooperaccedilatildeo comeccedila a ser
desenvolvido na manufatura predominantemente porque o processo de produccedilatildeo capitalista
se estende do seacuteculo XVI ateacute o seacuteculo XVIII Ou seja diversos trabalhadores com ofiacutecios
diferentes uns dos outros reunidos em uma oficina para produzir um produto sendo que este
passe por ambas as matildeos ateacute o seu acabamento final O trabalho eacute realizado em colaboraccedilatildeo
uns com os outros
Braverman (1980) nos esclarece que a divisatildeo do trabalho que ocorre na oficina eacute
diferente do trabalho desenvolvido no interior da sociedade afirmando que
A divisatildeo do trabalho na sociedade eacute caracteriacutestica de todas as sociedades conhecidas a divisatildeo do trabalho na oficina eacute produto peculiar da sociedade capitalista A divisatildeo social do trabalho divide a sociedade entre ocupaccedilotildees cada qual apropriada a certo ramo de produccedilatildeo a divisatildeo pormenorizada do trabalho destroacutei ocupaccedilotildees consideradas neste sentido e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produccedilatildeo [] Ainda no capitalismo os produtos da divisatildeo social do trabalho satildeo trocados como mercadorias enquanto os resultados da operaccedilatildeo do trabalhador parcelado natildeo satildeo trocados dentro da fabrica como o mercado mas satildeo todos possuiacutedos pelo mesmo capital Enquanto a divisatildeo social do trabalho subdivide a sociedade a divisatildeo parcelada do trabalho subdivide o homem e enquanto a subdivisatildeo da sociedade pode fortalecer o indiviacuteduo e a espeacutecie a subdivisatildeo do indiviacuteduo quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas eacute um crime contra a pessoa e contra a humanidade (BRAVERMAN 1980 72)
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Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
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Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
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servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
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Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
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satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
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O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
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Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
29
dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
30
2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
36
ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
37
mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
38
natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
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criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
44
ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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11
1 - Conceitos Fundamentais do Pensamento Marxiano
ldquoA liberdade jamais seraacute dada pelo opressor Ela tem que ser conquistado pelo oprimidordquo
Martin Luther King
Partindo inicialmente da noccedilatildeo geral de que o objetivo amplo do marxismo eacute
interpretar a realidade para depois transformaacute-la consideramos que
[] o marxismo natildeo eacute uma teoria cientifica como as outras natildeo visa simplesmente descrever ou explicar mas visa transformar a realidade visa uma transformaccedilatildeo revolucionaacuteria Trata-se portanto de compreender a realidade para transformaacute-la revolucionariamente a partir de um ponto de vista de classe do ponto de vista das classes dominadas (LOumlWY 1998 18)
Esta compreensatildeo de transformar a realidade revolucionariamente parte do princiacutepio
de que quando as nossas ideacuteias sobre a sociedade visam transformaacute-la e quanto mais
entendemos a importacircncia desse processo de transformaccedilatildeo mais lutamos para que ele ocorra
(LOumlWY 1998)
Mesmo natildeo sendo um filoacutesofo a obra de Karl Marx exerceu grande repercussatildeo e
alcanccedilou uma importacircncia filosoacutefica capaz de influenciar diversas aacutereas como a histoacuteria
poliacutetica economia sociologia entre outras Os conceitos econocircmico-filosoacuteficos e ideacuteias
revolucionaacuterias marxianas foram fundamentais para o seacuteculo XX pois ofereceram o
instrumental teoacuterico necessaacuterio para uma profunda reconsideraccedilatildeo sobre os processos de
formaccedilatildeo da consciecircncia associando a produccedilatildeo da vida intelectual ao contexto da produccedilatildeo
da vida material e criaram as consideraccedilotildees necessaacuterias para libertar o homem do caacutercere no
qual a metafiacutesica lhe havia encarcerado Marx procurava atraveacutes da sua filosofia
contestadora criticar a modernidade pelo seu proacuteprio processo de desenvolvimento
combatendo os preconceitos as supersticcedilotildees e o falso saber provindo das antigas filosofias
(MARCONDES 1997)
Um dos conceitos fundamentais que Marx discute em sua teoria eacute o conceito de
trabalho considerando-o como relaccedilatildeo fundamental entre o sujeito e o objeto Segundo Marx
ldquoo trabalho eacute uma relaccedilatildeo invariante entre a espeacutecie humana e seu ambiente natural uma
12
perpeacutetua necessidade natural da vida humanardquo (MARCONDES 1997 229) Contudo antes
de investigarmos em profundidade as caracteriacutesticas do trabalho humano eacute necessaacuterio
entendermos quais satildeo as diferenccedilas entre o trabalho humano e o trabalho animal
11 - O trabalho animal
A atividade dos animais que se encontram nos niacuteveis mais baixos da escala zooloacutegica
de desenvolvimento se caracteriza por ser um conjunto de accedilotildees instintivas orientadas por leis
bioloacutegicas como eacute o caso dos insetos Se observarmos com atenccedilatildeo uma aranha tecendo uma
teia natildeo podemos dizer que isto eacute um trabalho porque este ato natildeo possui histoacuteria ou seja
natildeo eacute modificado ao longo de sua vida Este ato de tecer uma teia com extrema habilidade eacute
padronizado e soacute eacute modificado se ocorrer uma evoluccedilatildeo de sua espeacutecie ou por algum tipo de
mutaccedilatildeo geneacutetica A construccedilatildeo de alguma coisa por parte do animal natildeo tem como finalidade
promover condiccedilotildees melhores de vida mas
[] em certas aves chamadas tendilhotildees o haacutebito de fazer ninhos tiacutepicos da espeacutecie eacute tatildeo fixo que apoacutes cinco geraccedilotildees em que essas aves eram criadas por canaacuterios ainda continuavam a construiacute-los como antes (ARANHA ARTINS 1993 03)
Os animais mamiacuteferos que se encontram em melhor colocaccedilatildeo na escala zooloacutegica ou
em niacuteveis mais altos passam a transcender suas accedilotildees instintivas para uma categoria de atos
inteligentes Um exemplo eacute quando se coloca o chimpanzeacute com fome dentro de uma jaula e
nela estatildeo penduradas bananas que o animal natildeo consegue alcanccedilar mas resolve este
problema quando pega o caixote e coloca-o debaixo das bananas para pegaacute-las ou seja a
partir de uma visatildeo global do ambiente o chimpanzeacute estabelece uma relaccedilatildeo entre o caixote e
a banana (ARANHA MARTINS 1993)
Para solucionar este problema o chimpanzeacute natildeo conta com uma accedilatildeo imediata mas a
soluccedilatildeo depende da sua capacidade intelectual de estabelecer uma relaccedilatildeo entre o caixote e as
bananas Assim a sua inteligecircncia o distingue do inseto contudo ainda se trata de um tipo de
13
inteligecircncia concreta estabelecida no ato da situaccedilatildeo real e ldquomesmo que alguns animais
organizem sociedades mais complexas [] natildeo haacute nada que se compare agraves transformaccedilotildees
realizadas pelo homem enquanto criador da culturardquo (ARANHA MARTINS 1993 04)
Mesmo que um animal realize uma accedilatildeo transformadora que possa ser reconhecida
como um tipo especiacutefico de trabalho (por exemplo o joatildeo-de-barro que constroacutei sua casinha)
este trabalho natildeo eacute consciente e nem pode ser considerado criativo pois sempre que o joatildeoshy
de-barro ou qualquer outro animal criar resultados materiais estes resultados seratildeo iguais
para todos os sujeitos pertencentes a uma mesma espeacutecie Aleacutem disso as teacutecnicas e o
processo de construccedilatildeo tambeacutem seratildeo idecircnticos para os membros de uma mesma espeacutecie
situaccedilatildeo que nos forccedila a reconhecer que a accedilatildeo do indiviacuteduo natildeo pode ser considerada um ato
criativo ou reflexivo Jaacute o trabalho humano se caracteriza por ser uma accedilatildeo consciente capaz
de reproduzir e cria novas teacutecnicas a fim de transformar a natureza de acordo com a sua
necessidade humana e mudar a sua maneira de agir perceber pensar e sentir o mundo que o
cerca O trabalho humano eacute uma atividade consciente e transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio (ARANHA MARTINS 1993)
Os animais permanecem mergulhados na natureza e as espeacutecies vivem apenas o
presente de modo que o acuacutemulo de suas accedilotildees e experiecircncias natildeo se revertem em
aprendizado Isso significa que o trabalho animal natildeo estaacute submetido agrave mesma loacutegica que
preside a atividade humana que se desenvolve graccedilas ao movimento dialeacutetico produzido pelo
conflito entre consciecircncia e materialidade (ARANHA MARTINS 1993)
A accedilatildeo humana que transforma o mundo natural (realidade estritamente material) em
mundo cultural onde
[] cultura significa tudo o que o homem produz ao construir sua existecircncia as praacuteticas as teorias as instituiccedilotildees os valores materiais e espirituais Se o contato que o homem tem com o mundo eacute intermediado pelo siacutembolo a cultura eacute o conjunto de siacutembolos elaborados por um povo em determinado tempo e lugar Dada a infinita possibilidade de simbolizar as culturas dos povos satildeo muacuteltiplas e variadas (ARANHA MARTINS 1993 06)
14
Esta questatildeo do trabalho pelo qual o homem transforma a natureza e a si proacuteprio
diferenciando-se dos demais animais seraacute desenvolvido no proacuteximo item
12 - Caracteriacutesticas do trabalho humano
A histoacuteria do desenvolvimento das teacutecnicas e dos processos de transformaccedilatildeo da
realidade se confunde com a histoacuteria do desenvolvimento da humanidade De acordo com
Dantas (1986) os homens tiveram que aprender a trabalhar desde a origem da humanidade
para sobreviverem e satisfazer suas necessidades produzindo e reproduzindo meios de
subsistecircncia Este trabalho praticado pelo qual o homem se distingue do trabalho animal eacute
criativo enquanto o do animal eacute simplesmente instintivo
De acordo com Carosi (1963) trabalho eacute a atividade transformadora onde se
empregam forccedilas humanas fiacutesicas e intelectuais com o objetivo de moldar o mundo natural
de acordo com as necessidades individuais ou coletivas de subsistecircncia Ou seja o trabalho
tornasse o emprego das energias humanas para diferenciar das accedilotildees de um animal e do
funcionamento de uma maacutequina pois eacute direcionado pela inteligecircncia e pela sustentaccedilatildeo da
vontade do homem
Conforme Braverman (1977) apoderar-se dos materiais da natureza assim como
ocorre com os vegetais que absorvem minerais e luz do sol e animais que se alimentam de
vida vegetal natildeo pode ser considerado trabalho Pois o trabalho eacute uma atividade que
transforma o estado natural desses materiais de modo que possam ser utilizados para
satisfazer as necessidades da espeacutecie humana
Para Braverman (1977) natildeo se trata agora de analisar as semelhanccedilas do trabalho
humano com o trabalho dos outros animais mas sim as diferenccedilas que os distanciam um do
outro Ao utilizar o termo trabalho para designar a atividade criativa peculiar do homem
Marx enfatiza que ldquonatildeo se trata aqui das primeiras formas instintivas animais de trabalhordquo
15
(MARX 1996 297) Uma aranha realiza funccedilotildees que se assemelha a dos tecelotildees e a abelha
envergonha muitos arquitetos na construccedilatildeo de seus alveacuteolos Mas o que realmente distingue
o pior arquiteto humano da melhor abelha eacute que o humano cria em sua mente o corticcedilo antes
de transformaacute-lo em realidade No fim do processo o resultado sai de acordo com a
imaginaccedilatildeo na qual o trabalho teve no iniacutecio Ou seja o homem transforma o material de
acordo com sua vontade e imprime no real a forma de sua consciecircncia (MARX 1996)
O trabalho entendido aqui como uma atividade adequada a um fim distingue-se dos
animais que procuram apenas a satisfaccedilatildeo das suas necessidades bioloacutegicas Atraveacutes dele os
homens produzem sua proacutepria existecircncia mas antes de tudo
[] o trabalho eacute um processo entre o homem e a Natureza um processo em que o homem por sua proacutepria accedilatildeo media regula e controla seu metabolismo com a Natureza Ele mesmo se defronta com a mateacuteria natural como uma forccedila natural Ele potildee em movimento as forccedilas naturais pertencentes a sua corporalidade braccedilos e pernas cabeccedila e matildeo a fim de apropriar-se da mateacuteria natural numa forma uacutetil para sua proacutepria vida Ao atuar por meio desses movimentos sobre a Natureza externa e ao modificaacuteshyla ele modifica ao mesmo tempo sua proacutepria natureza Ele desenvolve as potecircncias nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forccedilas a seu proacuteprio domiacutenio (MARX 1996 297)
Por essa forma o trabalho humano eacute consciente e proposital Jaacute o trabalho dos outros
animais eacute instintivo Podemos observar quando uma largata completa a segunda metade de
seu casulo sem se importar com a primeira (BRAVERMAN 1977)
Carosi (1963) diferencia o trabalho do homem do trabalho animal pois o primeiro
possui capacidades para fazer algo atraveacutes de seus dons e ideacuteias para atingir o que tem que ser
feito enquanto que no animal nada disso pode ser observado Conforme Carosi (1963 588)
ldquodiz-se que o animal trabalha que a maacutequina trabalha mas eacute certamente um modo muito
improacuteprio de expressatildeo [] Eacute mais correto dizer que o animal e a maacutequina satildeo instrumentos
de trabalhordquo Pois desta forma o trabalho esta interiorizado na moralidade do homem de
forma que sua produccedilatildeo eacute uma virtude agrave medida que consegue as condiccedilotildees necessaacuterias
mediante o trabalho para si ou para os outros
16
O homem consegue distinguir-se do animal pelo trabalho sendo este uma relaccedilatildeo
dialeacutetica da teoria com a praacutetica que possibilita ao homem desenvolver sua imaginaccedilatildeo e
habilidade uma vez que sua accedilatildeo eacute antecipada pelo pensamento conseguindo modificar um
objeto ao mesmo tempo em que sua accedilatildeo tambeacutem eacute alterada gerando o seu processo
histoacuterico onde o trabalho tornasse a condiccedilatildeo fundamental para o homem alterar a sua visatildeo
perante o mundo e a si mesmo (ARANHA MARTINS 1993)
Outro conceito fundamental para entendermos a diferenccedila entre o homem e o animal eacute
a sua condiccedilatildeo de trabalho a que cada um deles estaacute submetido Afinal ldquoo homem eacute um ser
que trabalha e produz o mundo e a si mesmo O animal natildeo produz a sua existecircncia mas
apenas a conserva agindo instintivamente []rdquo (ARANHA MARTINS 1993 05)
Sobre a necessidade e a utilidade do trabalho Carosi (1963 589) afirma que
O trabalho eacute aleacutem disso fonte de prosperidade tudo vem da natureza mas nada vem sem o trabalho Se a natureza fosse abandonada a si proacuteprio pelo homem ocioso natildeo lhe oferecia sequer o necessaacuterio para viver com o trabalho ela concede-lhe as maravilhas e comodidade do programa acima de suas necessidades (CAROSI 1963 589)
O trabalho humano armazenado ou exercido em ferramentas maquinarias ou em
animais eacute um recurso utilizado exclusivamente pela competecircncia humana para explorar a
natureza Assim como todos os processos vitais de um corpo humano como os muacutesculos
ceacuterebros satildeo inseparaacuteveis do indiviacuteduo o trabalho tambeacutem eacute uma propriedade inalienaacutevel do
indiviacuteduo humano Portanto tornasse impossiacutevel satisfazer as necessidades baacutesicas em lugar
de outra pessoa que natildeo seja si proacuteprio Entretanto quando um proprietaacuterio utiliza os serviccedilos
de um animal simplesmente canaliza a forccedila e suas resistecircncias naturais desse animal
Todavia ao utilizar abelhas para a produccedilatildeo de mel ou de carneiros para a produccedilatildeo de latilde o
proprietaacuterio soacute tira vantagens das condiccedilotildees bioloacutegicas das atividades dos animais Mas ao
utilizar a forccedila de trabalho do animal o homem ao mesmo tempo utiliza a sua para obter
atraveacutes do trabalho animal as miacutenimas condiccedilotildees variaacuteveis do trabalho concreto
(BRAVERMAN 1977) Sendo assim
17
O que distingue a forccedila de trabalho humano eacute portanto natildeo sua capacidade de produzir um excedente mas seu caraacuteter inteligente e proposital que lhe daacute infinita adaptabilidade e que produz as condiccedilotildees sociais e culturais para ampliar sua proacutepria produtividade de modo que seu produto excedente pode ser continuamente ampliado (BRAVERMAN 1977 58)
Portanto eacute o homem que constroacutei e produz sua proacutepria histoacuteria transformando a
natureza e a si proacuteprio a partir de uma accedilatildeo humana e coletiva caracterizando o trabalho
como uma tarefa social onde todas as diferenccedilas que existem na sociedade satildeo fundamentais
para que se organizem na construccedilatildeo da vida social econocircmica e poliacutetica Mesmo a sociedade
sendo formada pelas relaccedilotildees sociais o homem natildeo perde a sua individualidade o que faz
com que se diferencie dos demais Todavia esta contradiccedilatildeo de viver numa sociedade que
opotildee a alienaccedilatildeo agrave liberdade eacute fundamental para manter a dialeacutetica em constante sintonia
(ARANHA MARTINS 1993)
Aleacutem do trabalho o homem possui outras condiccedilotildees que o diferencia do animal Um eacute
o ato voluntaacuterio e consciente da finalidade de seu uso e o outro eacute a fala O ato consciente
primeiramente existe antes como pensamento e este pode ser utilizado para atingir os fins
propostos pela livre vontade do agente Jaacute a fala e as palavras fazem parte da essecircncia do
universo humano distinguindo-o do animal pois este natildeo conhece a simbologia mas
somente os iacutendices que indicam sempre a mesma coisa especiacutefica Jaacute o siacutembolo aleacutem de ser
universal eacute flexiacutevel podendo uma palavra ter diversos entendimentos (ARANHA
MARTINS 1993)
A linguagem e a palavra determinam a condiccedilatildeo na qual o homem e o animal se
desencontram distanciando-o pelo fato da linguagem animal visar a adaptaccedilatildeo ao concreto
enquanto a linguagem humana interveacutem como uma forma abstrata Portanto mesmo quando
um animal conseguir solucionar um problema complexo a sua inteligecircncia ainda seraacute
concreta tratando-se de uma experiecircncia vivida no momento exato enquanto que para o
homem a linguagem por siacutembolos e abstrata permite distanciar-se do mundo e voltar para
transformaacute-lo (ARANHA MARTINS 1993)
18
Ao dizer que o homem fala trabalha e pelo trabalho transforma a natureza e a si
proacuteprio nada disso teraacute sentido se natildeo enfatizarmos que a accedilatildeo do ser humano eacute uma accedilatildeo
coletiva Pois o trabalho eacute uma funccedilatildeo social e a palavra eacute um meio de diaacutelogo (ARANHA
MARTINS 1993)
Os estudos experimentais sobre o comportamento animal demonstram que eles natildeo
satildeo totalmente privados da capacidade de aprender e conceber ideacuteias de caraacuteter inicial ou
mesmo aprender a resolver os problemas mais simples que sejam portando
Assim uma criatura dotada de sistema nervoso tatildeo primitivo como a minhoca pode aprender a passar por um labirinto os chimpanzeacutes podem ser estimulados a inventar e fazer instrumentos tais como estender vara que lhes permitem atingir o alimento ou empilhar caixas para o mesmo fim (BRAVERMAN 1977 52)
Conclui-se que a diferenccedila entre o homem e o animal natildeo estaacute apenas em grau mas
em espeacutecie cujo haacute uma imensa distacircncia entre aprender as capacidades conceituais do ser
humano em comparaccedilatildeo aos animais mais adaptaacuteveis Ou seja aos animais natildeo foi possiacutevel
ensinar-lhes a capacidade de manipular representaccedilotildees simboacutelicas e a linguagem articulada
Sem a aprendizagem das capacidades simboacutelicas e da linguagem os animais permanecem
com o seu pensamento conceitual a um niacutevel rudimentar que natildeo pode ser transmitido atraveacutes
do grupo (BRAVERMAN 1977)
Aranha e Martins (1993) tambeacutem afirmam ao dizer que as diferenccedilas entre o homem e
o animal natildeo eacute apenas em grau pois enquanto o animal vive dentro da natureza o homem a
utiliza e transformaacute-a em uma possiacutevel cultural O entendimento de cultura para os
antropoacutelogos eacute tudo aquilo que o homem consegue produzir ao construir sua existecircncia
como por exemplo as praacuteticas as teorias os valores materiais entre outros
Portanto eacute pelo trabalho que o homem consegue construir sua proacutepria histoacuteria sendo
que o ldquotrabalho que ultrapassa a mera atividade instintiva eacute assim a forccedila que criou a espeacutecie
humana e a forccedila pela qual a humanidade criou o mundo como o conhecemosrdquo
(BRAVERMAN 1977 53)
19
Aranha e Martins (1993) afirmam que o processo de construccedilatildeo da humanidade se faz
pela relaccedilatildeo entre os homens e a sua consciecircncia emerge lentamente atraveacutes dos conflitos
entre essas relaccedilotildees Entatildeo sobre cai ao homem agrave responsabilidade de manter viva a dialeacutetica
atraveacutes de suas contradiccedilotildees sendo que o ser humano ao mesmo tempo em que eacute um ser
social tambeacutem possui uma individualidade que eacute fundamental para distingui-lo dos demais
ldquoPortanto a sociedade eacute a condiccedilatildeo da alienaccedilatildeo e da liberdade eacute a condiccedilatildeo para que o
homem se perca mas tambeacutem de se encontrarrdquo (ARANHA MARTINS 1993 07)
13 - Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienado
A transiccedilatildeo do periacuteodo do feudalismo para o capitalismo foi marcada pelo nascimento
das faacutebricas onde ocorria uma acumulaccedilatildeo de capital que permitia comprar mateacuteria-prima e
maacutequinas para ampliar o seu mercado Os artesatildeos vendo o forte crescimento das faacutebricas e
percebendo que era impossiacutevel competir contra elas tiveram que vender a sua forccedila de
trabalho em troca de um salaacuterio e se adequar a divisatildeo de trabalho que estabelecia ritmo e
horaacuterio (ARANHA MARTINS 1993)
Ainda em relaccedilatildeo ao trabalho como meio de subsistecircncia para a sobrevivecircncia do ser
humano Dantas (1986) afirma que num determinado periacuteodo esta concepccedilatildeo passou a ser
alheia ao trabalhador Como a divisatildeo do trabalho estava no iniacutecio de seu desenvolvimento o
trabalho era organizado e entendido como familiar onde todos os adultos tinham sua
participaccedilatildeo inclusive aos idosos onde cabia a responsabilidade de distribuir as funccedilotildees Os
materiais para a realizaccedilatildeo do trabalho aleacutem de serem poucos eram rudimentares mas
suficientes para conseguir produtos para suprir as necessidades de todos Ainda citando
Dantas (1986) seus estudos apresenta ter um entendimento da divisatildeo do trabalho a partir do
periacuteodo feudal onde houve um acirramento da separaccedilatildeo entre campo e cidade que foi
crucial para o desenvolvimento daquele fenocircmeno no seu formato moderno No campo o
20
trabalho tem como caracteriacutestica a servidatildeo e era realizado na terra sendo esta propriedade do
senhor Os servos eram responsaacuteveis pela produccedilatildeo de meios materiais para si e para os
senhores Jaacute na cidade a divisatildeo do trabalho se dava dentro das pequenas oficinas onde o
artesatildeo que era dono dos seus meios de produccedilatildeo e sua famiacutelia seus auxiliares que com suas
habilidades determinavam um produto final
De acordo com Catani (1984 20) ldquoa divisatildeo social do trabalho eacute outra condiccedilatildeo
preacutevia caracteriacutestica de uma sociedade capitalistardquo pois nessa sociedade todos realizam seus
trabalhos de formas especiacuteficas e particulares contudo ldquotodos dependem uns dos outros e isto
decorre na divisatildeo do trabalho no seio da produccedilatildeo mercantilrdquo (CATANI 1984 20)
Marx (1996) explica que a divisatildeo do trabalho na forma de cooperaccedilatildeo comeccedila a ser
desenvolvido na manufatura predominantemente porque o processo de produccedilatildeo capitalista
se estende do seacuteculo XVI ateacute o seacuteculo XVIII Ou seja diversos trabalhadores com ofiacutecios
diferentes uns dos outros reunidos em uma oficina para produzir um produto sendo que este
passe por ambas as matildeos ateacute o seu acabamento final O trabalho eacute realizado em colaboraccedilatildeo
uns com os outros
Braverman (1980) nos esclarece que a divisatildeo do trabalho que ocorre na oficina eacute
diferente do trabalho desenvolvido no interior da sociedade afirmando que
A divisatildeo do trabalho na sociedade eacute caracteriacutestica de todas as sociedades conhecidas a divisatildeo do trabalho na oficina eacute produto peculiar da sociedade capitalista A divisatildeo social do trabalho divide a sociedade entre ocupaccedilotildees cada qual apropriada a certo ramo de produccedilatildeo a divisatildeo pormenorizada do trabalho destroacutei ocupaccedilotildees consideradas neste sentido e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produccedilatildeo [] Ainda no capitalismo os produtos da divisatildeo social do trabalho satildeo trocados como mercadorias enquanto os resultados da operaccedilatildeo do trabalhador parcelado natildeo satildeo trocados dentro da fabrica como o mercado mas satildeo todos possuiacutedos pelo mesmo capital Enquanto a divisatildeo social do trabalho subdivide a sociedade a divisatildeo parcelada do trabalho subdivide o homem e enquanto a subdivisatildeo da sociedade pode fortalecer o indiviacuteduo e a espeacutecie a subdivisatildeo do indiviacuteduo quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas eacute um crime contra a pessoa e contra a humanidade (BRAVERMAN 1980 72)
21
Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
22
Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
23
servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
24
Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
29
dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
30
2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
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frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
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ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
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criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
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De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
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Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
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E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
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com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
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Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
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simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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12
perpeacutetua necessidade natural da vida humanardquo (MARCONDES 1997 229) Contudo antes
de investigarmos em profundidade as caracteriacutesticas do trabalho humano eacute necessaacuterio
entendermos quais satildeo as diferenccedilas entre o trabalho humano e o trabalho animal
11 - O trabalho animal
A atividade dos animais que se encontram nos niacuteveis mais baixos da escala zooloacutegica
de desenvolvimento se caracteriza por ser um conjunto de accedilotildees instintivas orientadas por leis
bioloacutegicas como eacute o caso dos insetos Se observarmos com atenccedilatildeo uma aranha tecendo uma
teia natildeo podemos dizer que isto eacute um trabalho porque este ato natildeo possui histoacuteria ou seja
natildeo eacute modificado ao longo de sua vida Este ato de tecer uma teia com extrema habilidade eacute
padronizado e soacute eacute modificado se ocorrer uma evoluccedilatildeo de sua espeacutecie ou por algum tipo de
mutaccedilatildeo geneacutetica A construccedilatildeo de alguma coisa por parte do animal natildeo tem como finalidade
promover condiccedilotildees melhores de vida mas
[] em certas aves chamadas tendilhotildees o haacutebito de fazer ninhos tiacutepicos da espeacutecie eacute tatildeo fixo que apoacutes cinco geraccedilotildees em que essas aves eram criadas por canaacuterios ainda continuavam a construiacute-los como antes (ARANHA ARTINS 1993 03)
Os animais mamiacuteferos que se encontram em melhor colocaccedilatildeo na escala zooloacutegica ou
em niacuteveis mais altos passam a transcender suas accedilotildees instintivas para uma categoria de atos
inteligentes Um exemplo eacute quando se coloca o chimpanzeacute com fome dentro de uma jaula e
nela estatildeo penduradas bananas que o animal natildeo consegue alcanccedilar mas resolve este
problema quando pega o caixote e coloca-o debaixo das bananas para pegaacute-las ou seja a
partir de uma visatildeo global do ambiente o chimpanzeacute estabelece uma relaccedilatildeo entre o caixote e
a banana (ARANHA MARTINS 1993)
Para solucionar este problema o chimpanzeacute natildeo conta com uma accedilatildeo imediata mas a
soluccedilatildeo depende da sua capacidade intelectual de estabelecer uma relaccedilatildeo entre o caixote e as
bananas Assim a sua inteligecircncia o distingue do inseto contudo ainda se trata de um tipo de
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inteligecircncia concreta estabelecida no ato da situaccedilatildeo real e ldquomesmo que alguns animais
organizem sociedades mais complexas [] natildeo haacute nada que se compare agraves transformaccedilotildees
realizadas pelo homem enquanto criador da culturardquo (ARANHA MARTINS 1993 04)
Mesmo que um animal realize uma accedilatildeo transformadora que possa ser reconhecida
como um tipo especiacutefico de trabalho (por exemplo o joatildeo-de-barro que constroacutei sua casinha)
este trabalho natildeo eacute consciente e nem pode ser considerado criativo pois sempre que o joatildeoshy
de-barro ou qualquer outro animal criar resultados materiais estes resultados seratildeo iguais
para todos os sujeitos pertencentes a uma mesma espeacutecie Aleacutem disso as teacutecnicas e o
processo de construccedilatildeo tambeacutem seratildeo idecircnticos para os membros de uma mesma espeacutecie
situaccedilatildeo que nos forccedila a reconhecer que a accedilatildeo do indiviacuteduo natildeo pode ser considerada um ato
criativo ou reflexivo Jaacute o trabalho humano se caracteriza por ser uma accedilatildeo consciente capaz
de reproduzir e cria novas teacutecnicas a fim de transformar a natureza de acordo com a sua
necessidade humana e mudar a sua maneira de agir perceber pensar e sentir o mundo que o
cerca O trabalho humano eacute uma atividade consciente e transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio (ARANHA MARTINS 1993)
Os animais permanecem mergulhados na natureza e as espeacutecies vivem apenas o
presente de modo que o acuacutemulo de suas accedilotildees e experiecircncias natildeo se revertem em
aprendizado Isso significa que o trabalho animal natildeo estaacute submetido agrave mesma loacutegica que
preside a atividade humana que se desenvolve graccedilas ao movimento dialeacutetico produzido pelo
conflito entre consciecircncia e materialidade (ARANHA MARTINS 1993)
A accedilatildeo humana que transforma o mundo natural (realidade estritamente material) em
mundo cultural onde
[] cultura significa tudo o que o homem produz ao construir sua existecircncia as praacuteticas as teorias as instituiccedilotildees os valores materiais e espirituais Se o contato que o homem tem com o mundo eacute intermediado pelo siacutembolo a cultura eacute o conjunto de siacutembolos elaborados por um povo em determinado tempo e lugar Dada a infinita possibilidade de simbolizar as culturas dos povos satildeo muacuteltiplas e variadas (ARANHA MARTINS 1993 06)
14
Esta questatildeo do trabalho pelo qual o homem transforma a natureza e a si proacuteprio
diferenciando-se dos demais animais seraacute desenvolvido no proacuteximo item
12 - Caracteriacutesticas do trabalho humano
A histoacuteria do desenvolvimento das teacutecnicas e dos processos de transformaccedilatildeo da
realidade se confunde com a histoacuteria do desenvolvimento da humanidade De acordo com
Dantas (1986) os homens tiveram que aprender a trabalhar desde a origem da humanidade
para sobreviverem e satisfazer suas necessidades produzindo e reproduzindo meios de
subsistecircncia Este trabalho praticado pelo qual o homem se distingue do trabalho animal eacute
criativo enquanto o do animal eacute simplesmente instintivo
De acordo com Carosi (1963) trabalho eacute a atividade transformadora onde se
empregam forccedilas humanas fiacutesicas e intelectuais com o objetivo de moldar o mundo natural
de acordo com as necessidades individuais ou coletivas de subsistecircncia Ou seja o trabalho
tornasse o emprego das energias humanas para diferenciar das accedilotildees de um animal e do
funcionamento de uma maacutequina pois eacute direcionado pela inteligecircncia e pela sustentaccedilatildeo da
vontade do homem
Conforme Braverman (1977) apoderar-se dos materiais da natureza assim como
ocorre com os vegetais que absorvem minerais e luz do sol e animais que se alimentam de
vida vegetal natildeo pode ser considerado trabalho Pois o trabalho eacute uma atividade que
transforma o estado natural desses materiais de modo que possam ser utilizados para
satisfazer as necessidades da espeacutecie humana
Para Braverman (1977) natildeo se trata agora de analisar as semelhanccedilas do trabalho
humano com o trabalho dos outros animais mas sim as diferenccedilas que os distanciam um do
outro Ao utilizar o termo trabalho para designar a atividade criativa peculiar do homem
Marx enfatiza que ldquonatildeo se trata aqui das primeiras formas instintivas animais de trabalhordquo
15
(MARX 1996 297) Uma aranha realiza funccedilotildees que se assemelha a dos tecelotildees e a abelha
envergonha muitos arquitetos na construccedilatildeo de seus alveacuteolos Mas o que realmente distingue
o pior arquiteto humano da melhor abelha eacute que o humano cria em sua mente o corticcedilo antes
de transformaacute-lo em realidade No fim do processo o resultado sai de acordo com a
imaginaccedilatildeo na qual o trabalho teve no iniacutecio Ou seja o homem transforma o material de
acordo com sua vontade e imprime no real a forma de sua consciecircncia (MARX 1996)
O trabalho entendido aqui como uma atividade adequada a um fim distingue-se dos
animais que procuram apenas a satisfaccedilatildeo das suas necessidades bioloacutegicas Atraveacutes dele os
homens produzem sua proacutepria existecircncia mas antes de tudo
[] o trabalho eacute um processo entre o homem e a Natureza um processo em que o homem por sua proacutepria accedilatildeo media regula e controla seu metabolismo com a Natureza Ele mesmo se defronta com a mateacuteria natural como uma forccedila natural Ele potildee em movimento as forccedilas naturais pertencentes a sua corporalidade braccedilos e pernas cabeccedila e matildeo a fim de apropriar-se da mateacuteria natural numa forma uacutetil para sua proacutepria vida Ao atuar por meio desses movimentos sobre a Natureza externa e ao modificaacuteshyla ele modifica ao mesmo tempo sua proacutepria natureza Ele desenvolve as potecircncias nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forccedilas a seu proacuteprio domiacutenio (MARX 1996 297)
Por essa forma o trabalho humano eacute consciente e proposital Jaacute o trabalho dos outros
animais eacute instintivo Podemos observar quando uma largata completa a segunda metade de
seu casulo sem se importar com a primeira (BRAVERMAN 1977)
Carosi (1963) diferencia o trabalho do homem do trabalho animal pois o primeiro
possui capacidades para fazer algo atraveacutes de seus dons e ideacuteias para atingir o que tem que ser
feito enquanto que no animal nada disso pode ser observado Conforme Carosi (1963 588)
ldquodiz-se que o animal trabalha que a maacutequina trabalha mas eacute certamente um modo muito
improacuteprio de expressatildeo [] Eacute mais correto dizer que o animal e a maacutequina satildeo instrumentos
de trabalhordquo Pois desta forma o trabalho esta interiorizado na moralidade do homem de
forma que sua produccedilatildeo eacute uma virtude agrave medida que consegue as condiccedilotildees necessaacuterias
mediante o trabalho para si ou para os outros
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O homem consegue distinguir-se do animal pelo trabalho sendo este uma relaccedilatildeo
dialeacutetica da teoria com a praacutetica que possibilita ao homem desenvolver sua imaginaccedilatildeo e
habilidade uma vez que sua accedilatildeo eacute antecipada pelo pensamento conseguindo modificar um
objeto ao mesmo tempo em que sua accedilatildeo tambeacutem eacute alterada gerando o seu processo
histoacuterico onde o trabalho tornasse a condiccedilatildeo fundamental para o homem alterar a sua visatildeo
perante o mundo e a si mesmo (ARANHA MARTINS 1993)
Outro conceito fundamental para entendermos a diferenccedila entre o homem e o animal eacute
a sua condiccedilatildeo de trabalho a que cada um deles estaacute submetido Afinal ldquoo homem eacute um ser
que trabalha e produz o mundo e a si mesmo O animal natildeo produz a sua existecircncia mas
apenas a conserva agindo instintivamente []rdquo (ARANHA MARTINS 1993 05)
Sobre a necessidade e a utilidade do trabalho Carosi (1963 589) afirma que
O trabalho eacute aleacutem disso fonte de prosperidade tudo vem da natureza mas nada vem sem o trabalho Se a natureza fosse abandonada a si proacuteprio pelo homem ocioso natildeo lhe oferecia sequer o necessaacuterio para viver com o trabalho ela concede-lhe as maravilhas e comodidade do programa acima de suas necessidades (CAROSI 1963 589)
O trabalho humano armazenado ou exercido em ferramentas maquinarias ou em
animais eacute um recurso utilizado exclusivamente pela competecircncia humana para explorar a
natureza Assim como todos os processos vitais de um corpo humano como os muacutesculos
ceacuterebros satildeo inseparaacuteveis do indiviacuteduo o trabalho tambeacutem eacute uma propriedade inalienaacutevel do
indiviacuteduo humano Portanto tornasse impossiacutevel satisfazer as necessidades baacutesicas em lugar
de outra pessoa que natildeo seja si proacuteprio Entretanto quando um proprietaacuterio utiliza os serviccedilos
de um animal simplesmente canaliza a forccedila e suas resistecircncias naturais desse animal
Todavia ao utilizar abelhas para a produccedilatildeo de mel ou de carneiros para a produccedilatildeo de latilde o
proprietaacuterio soacute tira vantagens das condiccedilotildees bioloacutegicas das atividades dos animais Mas ao
utilizar a forccedila de trabalho do animal o homem ao mesmo tempo utiliza a sua para obter
atraveacutes do trabalho animal as miacutenimas condiccedilotildees variaacuteveis do trabalho concreto
(BRAVERMAN 1977) Sendo assim
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O que distingue a forccedila de trabalho humano eacute portanto natildeo sua capacidade de produzir um excedente mas seu caraacuteter inteligente e proposital que lhe daacute infinita adaptabilidade e que produz as condiccedilotildees sociais e culturais para ampliar sua proacutepria produtividade de modo que seu produto excedente pode ser continuamente ampliado (BRAVERMAN 1977 58)
Portanto eacute o homem que constroacutei e produz sua proacutepria histoacuteria transformando a
natureza e a si proacuteprio a partir de uma accedilatildeo humana e coletiva caracterizando o trabalho
como uma tarefa social onde todas as diferenccedilas que existem na sociedade satildeo fundamentais
para que se organizem na construccedilatildeo da vida social econocircmica e poliacutetica Mesmo a sociedade
sendo formada pelas relaccedilotildees sociais o homem natildeo perde a sua individualidade o que faz
com que se diferencie dos demais Todavia esta contradiccedilatildeo de viver numa sociedade que
opotildee a alienaccedilatildeo agrave liberdade eacute fundamental para manter a dialeacutetica em constante sintonia
(ARANHA MARTINS 1993)
Aleacutem do trabalho o homem possui outras condiccedilotildees que o diferencia do animal Um eacute
o ato voluntaacuterio e consciente da finalidade de seu uso e o outro eacute a fala O ato consciente
primeiramente existe antes como pensamento e este pode ser utilizado para atingir os fins
propostos pela livre vontade do agente Jaacute a fala e as palavras fazem parte da essecircncia do
universo humano distinguindo-o do animal pois este natildeo conhece a simbologia mas
somente os iacutendices que indicam sempre a mesma coisa especiacutefica Jaacute o siacutembolo aleacutem de ser
universal eacute flexiacutevel podendo uma palavra ter diversos entendimentos (ARANHA
MARTINS 1993)
A linguagem e a palavra determinam a condiccedilatildeo na qual o homem e o animal se
desencontram distanciando-o pelo fato da linguagem animal visar a adaptaccedilatildeo ao concreto
enquanto a linguagem humana interveacutem como uma forma abstrata Portanto mesmo quando
um animal conseguir solucionar um problema complexo a sua inteligecircncia ainda seraacute
concreta tratando-se de uma experiecircncia vivida no momento exato enquanto que para o
homem a linguagem por siacutembolos e abstrata permite distanciar-se do mundo e voltar para
transformaacute-lo (ARANHA MARTINS 1993)
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Ao dizer que o homem fala trabalha e pelo trabalho transforma a natureza e a si
proacuteprio nada disso teraacute sentido se natildeo enfatizarmos que a accedilatildeo do ser humano eacute uma accedilatildeo
coletiva Pois o trabalho eacute uma funccedilatildeo social e a palavra eacute um meio de diaacutelogo (ARANHA
MARTINS 1993)
Os estudos experimentais sobre o comportamento animal demonstram que eles natildeo
satildeo totalmente privados da capacidade de aprender e conceber ideacuteias de caraacuteter inicial ou
mesmo aprender a resolver os problemas mais simples que sejam portando
Assim uma criatura dotada de sistema nervoso tatildeo primitivo como a minhoca pode aprender a passar por um labirinto os chimpanzeacutes podem ser estimulados a inventar e fazer instrumentos tais como estender vara que lhes permitem atingir o alimento ou empilhar caixas para o mesmo fim (BRAVERMAN 1977 52)
Conclui-se que a diferenccedila entre o homem e o animal natildeo estaacute apenas em grau mas
em espeacutecie cujo haacute uma imensa distacircncia entre aprender as capacidades conceituais do ser
humano em comparaccedilatildeo aos animais mais adaptaacuteveis Ou seja aos animais natildeo foi possiacutevel
ensinar-lhes a capacidade de manipular representaccedilotildees simboacutelicas e a linguagem articulada
Sem a aprendizagem das capacidades simboacutelicas e da linguagem os animais permanecem
com o seu pensamento conceitual a um niacutevel rudimentar que natildeo pode ser transmitido atraveacutes
do grupo (BRAVERMAN 1977)
Aranha e Martins (1993) tambeacutem afirmam ao dizer que as diferenccedilas entre o homem e
o animal natildeo eacute apenas em grau pois enquanto o animal vive dentro da natureza o homem a
utiliza e transformaacute-a em uma possiacutevel cultural O entendimento de cultura para os
antropoacutelogos eacute tudo aquilo que o homem consegue produzir ao construir sua existecircncia
como por exemplo as praacuteticas as teorias os valores materiais entre outros
Portanto eacute pelo trabalho que o homem consegue construir sua proacutepria histoacuteria sendo
que o ldquotrabalho que ultrapassa a mera atividade instintiva eacute assim a forccedila que criou a espeacutecie
humana e a forccedila pela qual a humanidade criou o mundo como o conhecemosrdquo
(BRAVERMAN 1977 53)
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Aranha e Martins (1993) afirmam que o processo de construccedilatildeo da humanidade se faz
pela relaccedilatildeo entre os homens e a sua consciecircncia emerge lentamente atraveacutes dos conflitos
entre essas relaccedilotildees Entatildeo sobre cai ao homem agrave responsabilidade de manter viva a dialeacutetica
atraveacutes de suas contradiccedilotildees sendo que o ser humano ao mesmo tempo em que eacute um ser
social tambeacutem possui uma individualidade que eacute fundamental para distingui-lo dos demais
ldquoPortanto a sociedade eacute a condiccedilatildeo da alienaccedilatildeo e da liberdade eacute a condiccedilatildeo para que o
homem se perca mas tambeacutem de se encontrarrdquo (ARANHA MARTINS 1993 07)
13 - Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienado
A transiccedilatildeo do periacuteodo do feudalismo para o capitalismo foi marcada pelo nascimento
das faacutebricas onde ocorria uma acumulaccedilatildeo de capital que permitia comprar mateacuteria-prima e
maacutequinas para ampliar o seu mercado Os artesatildeos vendo o forte crescimento das faacutebricas e
percebendo que era impossiacutevel competir contra elas tiveram que vender a sua forccedila de
trabalho em troca de um salaacuterio e se adequar a divisatildeo de trabalho que estabelecia ritmo e
horaacuterio (ARANHA MARTINS 1993)
Ainda em relaccedilatildeo ao trabalho como meio de subsistecircncia para a sobrevivecircncia do ser
humano Dantas (1986) afirma que num determinado periacuteodo esta concepccedilatildeo passou a ser
alheia ao trabalhador Como a divisatildeo do trabalho estava no iniacutecio de seu desenvolvimento o
trabalho era organizado e entendido como familiar onde todos os adultos tinham sua
participaccedilatildeo inclusive aos idosos onde cabia a responsabilidade de distribuir as funccedilotildees Os
materiais para a realizaccedilatildeo do trabalho aleacutem de serem poucos eram rudimentares mas
suficientes para conseguir produtos para suprir as necessidades de todos Ainda citando
Dantas (1986) seus estudos apresenta ter um entendimento da divisatildeo do trabalho a partir do
periacuteodo feudal onde houve um acirramento da separaccedilatildeo entre campo e cidade que foi
crucial para o desenvolvimento daquele fenocircmeno no seu formato moderno No campo o
20
trabalho tem como caracteriacutestica a servidatildeo e era realizado na terra sendo esta propriedade do
senhor Os servos eram responsaacuteveis pela produccedilatildeo de meios materiais para si e para os
senhores Jaacute na cidade a divisatildeo do trabalho se dava dentro das pequenas oficinas onde o
artesatildeo que era dono dos seus meios de produccedilatildeo e sua famiacutelia seus auxiliares que com suas
habilidades determinavam um produto final
De acordo com Catani (1984 20) ldquoa divisatildeo social do trabalho eacute outra condiccedilatildeo
preacutevia caracteriacutestica de uma sociedade capitalistardquo pois nessa sociedade todos realizam seus
trabalhos de formas especiacuteficas e particulares contudo ldquotodos dependem uns dos outros e isto
decorre na divisatildeo do trabalho no seio da produccedilatildeo mercantilrdquo (CATANI 1984 20)
Marx (1996) explica que a divisatildeo do trabalho na forma de cooperaccedilatildeo comeccedila a ser
desenvolvido na manufatura predominantemente porque o processo de produccedilatildeo capitalista
se estende do seacuteculo XVI ateacute o seacuteculo XVIII Ou seja diversos trabalhadores com ofiacutecios
diferentes uns dos outros reunidos em uma oficina para produzir um produto sendo que este
passe por ambas as matildeos ateacute o seu acabamento final O trabalho eacute realizado em colaboraccedilatildeo
uns com os outros
Braverman (1980) nos esclarece que a divisatildeo do trabalho que ocorre na oficina eacute
diferente do trabalho desenvolvido no interior da sociedade afirmando que
A divisatildeo do trabalho na sociedade eacute caracteriacutestica de todas as sociedades conhecidas a divisatildeo do trabalho na oficina eacute produto peculiar da sociedade capitalista A divisatildeo social do trabalho divide a sociedade entre ocupaccedilotildees cada qual apropriada a certo ramo de produccedilatildeo a divisatildeo pormenorizada do trabalho destroacutei ocupaccedilotildees consideradas neste sentido e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produccedilatildeo [] Ainda no capitalismo os produtos da divisatildeo social do trabalho satildeo trocados como mercadorias enquanto os resultados da operaccedilatildeo do trabalhador parcelado natildeo satildeo trocados dentro da fabrica como o mercado mas satildeo todos possuiacutedos pelo mesmo capital Enquanto a divisatildeo social do trabalho subdivide a sociedade a divisatildeo parcelada do trabalho subdivide o homem e enquanto a subdivisatildeo da sociedade pode fortalecer o indiviacuteduo e a espeacutecie a subdivisatildeo do indiviacuteduo quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas eacute um crime contra a pessoa e contra a humanidade (BRAVERMAN 1980 72)
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Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
22
Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
23
servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
24
Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
29
dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
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2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
36
ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
38
natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
39
conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
40
criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
44
ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
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repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
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simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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inteligecircncia concreta estabelecida no ato da situaccedilatildeo real e ldquomesmo que alguns animais
organizem sociedades mais complexas [] natildeo haacute nada que se compare agraves transformaccedilotildees
realizadas pelo homem enquanto criador da culturardquo (ARANHA MARTINS 1993 04)
Mesmo que um animal realize uma accedilatildeo transformadora que possa ser reconhecida
como um tipo especiacutefico de trabalho (por exemplo o joatildeo-de-barro que constroacutei sua casinha)
este trabalho natildeo eacute consciente e nem pode ser considerado criativo pois sempre que o joatildeoshy
de-barro ou qualquer outro animal criar resultados materiais estes resultados seratildeo iguais
para todos os sujeitos pertencentes a uma mesma espeacutecie Aleacutem disso as teacutecnicas e o
processo de construccedilatildeo tambeacutem seratildeo idecircnticos para os membros de uma mesma espeacutecie
situaccedilatildeo que nos forccedila a reconhecer que a accedilatildeo do indiviacuteduo natildeo pode ser considerada um ato
criativo ou reflexivo Jaacute o trabalho humano se caracteriza por ser uma accedilatildeo consciente capaz
de reproduzir e cria novas teacutecnicas a fim de transformar a natureza de acordo com a sua
necessidade humana e mudar a sua maneira de agir perceber pensar e sentir o mundo que o
cerca O trabalho humano eacute uma atividade consciente e transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio (ARANHA MARTINS 1993)
Os animais permanecem mergulhados na natureza e as espeacutecies vivem apenas o
presente de modo que o acuacutemulo de suas accedilotildees e experiecircncias natildeo se revertem em
aprendizado Isso significa que o trabalho animal natildeo estaacute submetido agrave mesma loacutegica que
preside a atividade humana que se desenvolve graccedilas ao movimento dialeacutetico produzido pelo
conflito entre consciecircncia e materialidade (ARANHA MARTINS 1993)
A accedilatildeo humana que transforma o mundo natural (realidade estritamente material) em
mundo cultural onde
[] cultura significa tudo o que o homem produz ao construir sua existecircncia as praacuteticas as teorias as instituiccedilotildees os valores materiais e espirituais Se o contato que o homem tem com o mundo eacute intermediado pelo siacutembolo a cultura eacute o conjunto de siacutembolos elaborados por um povo em determinado tempo e lugar Dada a infinita possibilidade de simbolizar as culturas dos povos satildeo muacuteltiplas e variadas (ARANHA MARTINS 1993 06)
14
Esta questatildeo do trabalho pelo qual o homem transforma a natureza e a si proacuteprio
diferenciando-se dos demais animais seraacute desenvolvido no proacuteximo item
12 - Caracteriacutesticas do trabalho humano
A histoacuteria do desenvolvimento das teacutecnicas e dos processos de transformaccedilatildeo da
realidade se confunde com a histoacuteria do desenvolvimento da humanidade De acordo com
Dantas (1986) os homens tiveram que aprender a trabalhar desde a origem da humanidade
para sobreviverem e satisfazer suas necessidades produzindo e reproduzindo meios de
subsistecircncia Este trabalho praticado pelo qual o homem se distingue do trabalho animal eacute
criativo enquanto o do animal eacute simplesmente instintivo
De acordo com Carosi (1963) trabalho eacute a atividade transformadora onde se
empregam forccedilas humanas fiacutesicas e intelectuais com o objetivo de moldar o mundo natural
de acordo com as necessidades individuais ou coletivas de subsistecircncia Ou seja o trabalho
tornasse o emprego das energias humanas para diferenciar das accedilotildees de um animal e do
funcionamento de uma maacutequina pois eacute direcionado pela inteligecircncia e pela sustentaccedilatildeo da
vontade do homem
Conforme Braverman (1977) apoderar-se dos materiais da natureza assim como
ocorre com os vegetais que absorvem minerais e luz do sol e animais que se alimentam de
vida vegetal natildeo pode ser considerado trabalho Pois o trabalho eacute uma atividade que
transforma o estado natural desses materiais de modo que possam ser utilizados para
satisfazer as necessidades da espeacutecie humana
Para Braverman (1977) natildeo se trata agora de analisar as semelhanccedilas do trabalho
humano com o trabalho dos outros animais mas sim as diferenccedilas que os distanciam um do
outro Ao utilizar o termo trabalho para designar a atividade criativa peculiar do homem
Marx enfatiza que ldquonatildeo se trata aqui das primeiras formas instintivas animais de trabalhordquo
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(MARX 1996 297) Uma aranha realiza funccedilotildees que se assemelha a dos tecelotildees e a abelha
envergonha muitos arquitetos na construccedilatildeo de seus alveacuteolos Mas o que realmente distingue
o pior arquiteto humano da melhor abelha eacute que o humano cria em sua mente o corticcedilo antes
de transformaacute-lo em realidade No fim do processo o resultado sai de acordo com a
imaginaccedilatildeo na qual o trabalho teve no iniacutecio Ou seja o homem transforma o material de
acordo com sua vontade e imprime no real a forma de sua consciecircncia (MARX 1996)
O trabalho entendido aqui como uma atividade adequada a um fim distingue-se dos
animais que procuram apenas a satisfaccedilatildeo das suas necessidades bioloacutegicas Atraveacutes dele os
homens produzem sua proacutepria existecircncia mas antes de tudo
[] o trabalho eacute um processo entre o homem e a Natureza um processo em que o homem por sua proacutepria accedilatildeo media regula e controla seu metabolismo com a Natureza Ele mesmo se defronta com a mateacuteria natural como uma forccedila natural Ele potildee em movimento as forccedilas naturais pertencentes a sua corporalidade braccedilos e pernas cabeccedila e matildeo a fim de apropriar-se da mateacuteria natural numa forma uacutetil para sua proacutepria vida Ao atuar por meio desses movimentos sobre a Natureza externa e ao modificaacuteshyla ele modifica ao mesmo tempo sua proacutepria natureza Ele desenvolve as potecircncias nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forccedilas a seu proacuteprio domiacutenio (MARX 1996 297)
Por essa forma o trabalho humano eacute consciente e proposital Jaacute o trabalho dos outros
animais eacute instintivo Podemos observar quando uma largata completa a segunda metade de
seu casulo sem se importar com a primeira (BRAVERMAN 1977)
Carosi (1963) diferencia o trabalho do homem do trabalho animal pois o primeiro
possui capacidades para fazer algo atraveacutes de seus dons e ideacuteias para atingir o que tem que ser
feito enquanto que no animal nada disso pode ser observado Conforme Carosi (1963 588)
ldquodiz-se que o animal trabalha que a maacutequina trabalha mas eacute certamente um modo muito
improacuteprio de expressatildeo [] Eacute mais correto dizer que o animal e a maacutequina satildeo instrumentos
de trabalhordquo Pois desta forma o trabalho esta interiorizado na moralidade do homem de
forma que sua produccedilatildeo eacute uma virtude agrave medida que consegue as condiccedilotildees necessaacuterias
mediante o trabalho para si ou para os outros
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O homem consegue distinguir-se do animal pelo trabalho sendo este uma relaccedilatildeo
dialeacutetica da teoria com a praacutetica que possibilita ao homem desenvolver sua imaginaccedilatildeo e
habilidade uma vez que sua accedilatildeo eacute antecipada pelo pensamento conseguindo modificar um
objeto ao mesmo tempo em que sua accedilatildeo tambeacutem eacute alterada gerando o seu processo
histoacuterico onde o trabalho tornasse a condiccedilatildeo fundamental para o homem alterar a sua visatildeo
perante o mundo e a si mesmo (ARANHA MARTINS 1993)
Outro conceito fundamental para entendermos a diferenccedila entre o homem e o animal eacute
a sua condiccedilatildeo de trabalho a que cada um deles estaacute submetido Afinal ldquoo homem eacute um ser
que trabalha e produz o mundo e a si mesmo O animal natildeo produz a sua existecircncia mas
apenas a conserva agindo instintivamente []rdquo (ARANHA MARTINS 1993 05)
Sobre a necessidade e a utilidade do trabalho Carosi (1963 589) afirma que
O trabalho eacute aleacutem disso fonte de prosperidade tudo vem da natureza mas nada vem sem o trabalho Se a natureza fosse abandonada a si proacuteprio pelo homem ocioso natildeo lhe oferecia sequer o necessaacuterio para viver com o trabalho ela concede-lhe as maravilhas e comodidade do programa acima de suas necessidades (CAROSI 1963 589)
O trabalho humano armazenado ou exercido em ferramentas maquinarias ou em
animais eacute um recurso utilizado exclusivamente pela competecircncia humana para explorar a
natureza Assim como todos os processos vitais de um corpo humano como os muacutesculos
ceacuterebros satildeo inseparaacuteveis do indiviacuteduo o trabalho tambeacutem eacute uma propriedade inalienaacutevel do
indiviacuteduo humano Portanto tornasse impossiacutevel satisfazer as necessidades baacutesicas em lugar
de outra pessoa que natildeo seja si proacuteprio Entretanto quando um proprietaacuterio utiliza os serviccedilos
de um animal simplesmente canaliza a forccedila e suas resistecircncias naturais desse animal
Todavia ao utilizar abelhas para a produccedilatildeo de mel ou de carneiros para a produccedilatildeo de latilde o
proprietaacuterio soacute tira vantagens das condiccedilotildees bioloacutegicas das atividades dos animais Mas ao
utilizar a forccedila de trabalho do animal o homem ao mesmo tempo utiliza a sua para obter
atraveacutes do trabalho animal as miacutenimas condiccedilotildees variaacuteveis do trabalho concreto
(BRAVERMAN 1977) Sendo assim
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O que distingue a forccedila de trabalho humano eacute portanto natildeo sua capacidade de produzir um excedente mas seu caraacuteter inteligente e proposital que lhe daacute infinita adaptabilidade e que produz as condiccedilotildees sociais e culturais para ampliar sua proacutepria produtividade de modo que seu produto excedente pode ser continuamente ampliado (BRAVERMAN 1977 58)
Portanto eacute o homem que constroacutei e produz sua proacutepria histoacuteria transformando a
natureza e a si proacuteprio a partir de uma accedilatildeo humana e coletiva caracterizando o trabalho
como uma tarefa social onde todas as diferenccedilas que existem na sociedade satildeo fundamentais
para que se organizem na construccedilatildeo da vida social econocircmica e poliacutetica Mesmo a sociedade
sendo formada pelas relaccedilotildees sociais o homem natildeo perde a sua individualidade o que faz
com que se diferencie dos demais Todavia esta contradiccedilatildeo de viver numa sociedade que
opotildee a alienaccedilatildeo agrave liberdade eacute fundamental para manter a dialeacutetica em constante sintonia
(ARANHA MARTINS 1993)
Aleacutem do trabalho o homem possui outras condiccedilotildees que o diferencia do animal Um eacute
o ato voluntaacuterio e consciente da finalidade de seu uso e o outro eacute a fala O ato consciente
primeiramente existe antes como pensamento e este pode ser utilizado para atingir os fins
propostos pela livre vontade do agente Jaacute a fala e as palavras fazem parte da essecircncia do
universo humano distinguindo-o do animal pois este natildeo conhece a simbologia mas
somente os iacutendices que indicam sempre a mesma coisa especiacutefica Jaacute o siacutembolo aleacutem de ser
universal eacute flexiacutevel podendo uma palavra ter diversos entendimentos (ARANHA
MARTINS 1993)
A linguagem e a palavra determinam a condiccedilatildeo na qual o homem e o animal se
desencontram distanciando-o pelo fato da linguagem animal visar a adaptaccedilatildeo ao concreto
enquanto a linguagem humana interveacutem como uma forma abstrata Portanto mesmo quando
um animal conseguir solucionar um problema complexo a sua inteligecircncia ainda seraacute
concreta tratando-se de uma experiecircncia vivida no momento exato enquanto que para o
homem a linguagem por siacutembolos e abstrata permite distanciar-se do mundo e voltar para
transformaacute-lo (ARANHA MARTINS 1993)
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Ao dizer que o homem fala trabalha e pelo trabalho transforma a natureza e a si
proacuteprio nada disso teraacute sentido se natildeo enfatizarmos que a accedilatildeo do ser humano eacute uma accedilatildeo
coletiva Pois o trabalho eacute uma funccedilatildeo social e a palavra eacute um meio de diaacutelogo (ARANHA
MARTINS 1993)
Os estudos experimentais sobre o comportamento animal demonstram que eles natildeo
satildeo totalmente privados da capacidade de aprender e conceber ideacuteias de caraacuteter inicial ou
mesmo aprender a resolver os problemas mais simples que sejam portando
Assim uma criatura dotada de sistema nervoso tatildeo primitivo como a minhoca pode aprender a passar por um labirinto os chimpanzeacutes podem ser estimulados a inventar e fazer instrumentos tais como estender vara que lhes permitem atingir o alimento ou empilhar caixas para o mesmo fim (BRAVERMAN 1977 52)
Conclui-se que a diferenccedila entre o homem e o animal natildeo estaacute apenas em grau mas
em espeacutecie cujo haacute uma imensa distacircncia entre aprender as capacidades conceituais do ser
humano em comparaccedilatildeo aos animais mais adaptaacuteveis Ou seja aos animais natildeo foi possiacutevel
ensinar-lhes a capacidade de manipular representaccedilotildees simboacutelicas e a linguagem articulada
Sem a aprendizagem das capacidades simboacutelicas e da linguagem os animais permanecem
com o seu pensamento conceitual a um niacutevel rudimentar que natildeo pode ser transmitido atraveacutes
do grupo (BRAVERMAN 1977)
Aranha e Martins (1993) tambeacutem afirmam ao dizer que as diferenccedilas entre o homem e
o animal natildeo eacute apenas em grau pois enquanto o animal vive dentro da natureza o homem a
utiliza e transformaacute-a em uma possiacutevel cultural O entendimento de cultura para os
antropoacutelogos eacute tudo aquilo que o homem consegue produzir ao construir sua existecircncia
como por exemplo as praacuteticas as teorias os valores materiais entre outros
Portanto eacute pelo trabalho que o homem consegue construir sua proacutepria histoacuteria sendo
que o ldquotrabalho que ultrapassa a mera atividade instintiva eacute assim a forccedila que criou a espeacutecie
humana e a forccedila pela qual a humanidade criou o mundo como o conhecemosrdquo
(BRAVERMAN 1977 53)
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Aranha e Martins (1993) afirmam que o processo de construccedilatildeo da humanidade se faz
pela relaccedilatildeo entre os homens e a sua consciecircncia emerge lentamente atraveacutes dos conflitos
entre essas relaccedilotildees Entatildeo sobre cai ao homem agrave responsabilidade de manter viva a dialeacutetica
atraveacutes de suas contradiccedilotildees sendo que o ser humano ao mesmo tempo em que eacute um ser
social tambeacutem possui uma individualidade que eacute fundamental para distingui-lo dos demais
ldquoPortanto a sociedade eacute a condiccedilatildeo da alienaccedilatildeo e da liberdade eacute a condiccedilatildeo para que o
homem se perca mas tambeacutem de se encontrarrdquo (ARANHA MARTINS 1993 07)
13 - Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienado
A transiccedilatildeo do periacuteodo do feudalismo para o capitalismo foi marcada pelo nascimento
das faacutebricas onde ocorria uma acumulaccedilatildeo de capital que permitia comprar mateacuteria-prima e
maacutequinas para ampliar o seu mercado Os artesatildeos vendo o forte crescimento das faacutebricas e
percebendo que era impossiacutevel competir contra elas tiveram que vender a sua forccedila de
trabalho em troca de um salaacuterio e se adequar a divisatildeo de trabalho que estabelecia ritmo e
horaacuterio (ARANHA MARTINS 1993)
Ainda em relaccedilatildeo ao trabalho como meio de subsistecircncia para a sobrevivecircncia do ser
humano Dantas (1986) afirma que num determinado periacuteodo esta concepccedilatildeo passou a ser
alheia ao trabalhador Como a divisatildeo do trabalho estava no iniacutecio de seu desenvolvimento o
trabalho era organizado e entendido como familiar onde todos os adultos tinham sua
participaccedilatildeo inclusive aos idosos onde cabia a responsabilidade de distribuir as funccedilotildees Os
materiais para a realizaccedilatildeo do trabalho aleacutem de serem poucos eram rudimentares mas
suficientes para conseguir produtos para suprir as necessidades de todos Ainda citando
Dantas (1986) seus estudos apresenta ter um entendimento da divisatildeo do trabalho a partir do
periacuteodo feudal onde houve um acirramento da separaccedilatildeo entre campo e cidade que foi
crucial para o desenvolvimento daquele fenocircmeno no seu formato moderno No campo o
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trabalho tem como caracteriacutestica a servidatildeo e era realizado na terra sendo esta propriedade do
senhor Os servos eram responsaacuteveis pela produccedilatildeo de meios materiais para si e para os
senhores Jaacute na cidade a divisatildeo do trabalho se dava dentro das pequenas oficinas onde o
artesatildeo que era dono dos seus meios de produccedilatildeo e sua famiacutelia seus auxiliares que com suas
habilidades determinavam um produto final
De acordo com Catani (1984 20) ldquoa divisatildeo social do trabalho eacute outra condiccedilatildeo
preacutevia caracteriacutestica de uma sociedade capitalistardquo pois nessa sociedade todos realizam seus
trabalhos de formas especiacuteficas e particulares contudo ldquotodos dependem uns dos outros e isto
decorre na divisatildeo do trabalho no seio da produccedilatildeo mercantilrdquo (CATANI 1984 20)
Marx (1996) explica que a divisatildeo do trabalho na forma de cooperaccedilatildeo comeccedila a ser
desenvolvido na manufatura predominantemente porque o processo de produccedilatildeo capitalista
se estende do seacuteculo XVI ateacute o seacuteculo XVIII Ou seja diversos trabalhadores com ofiacutecios
diferentes uns dos outros reunidos em uma oficina para produzir um produto sendo que este
passe por ambas as matildeos ateacute o seu acabamento final O trabalho eacute realizado em colaboraccedilatildeo
uns com os outros
Braverman (1980) nos esclarece que a divisatildeo do trabalho que ocorre na oficina eacute
diferente do trabalho desenvolvido no interior da sociedade afirmando que
A divisatildeo do trabalho na sociedade eacute caracteriacutestica de todas as sociedades conhecidas a divisatildeo do trabalho na oficina eacute produto peculiar da sociedade capitalista A divisatildeo social do trabalho divide a sociedade entre ocupaccedilotildees cada qual apropriada a certo ramo de produccedilatildeo a divisatildeo pormenorizada do trabalho destroacutei ocupaccedilotildees consideradas neste sentido e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produccedilatildeo [] Ainda no capitalismo os produtos da divisatildeo social do trabalho satildeo trocados como mercadorias enquanto os resultados da operaccedilatildeo do trabalhador parcelado natildeo satildeo trocados dentro da fabrica como o mercado mas satildeo todos possuiacutedos pelo mesmo capital Enquanto a divisatildeo social do trabalho subdivide a sociedade a divisatildeo parcelada do trabalho subdivide o homem e enquanto a subdivisatildeo da sociedade pode fortalecer o indiviacuteduo e a espeacutecie a subdivisatildeo do indiviacuteduo quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas eacute um crime contra a pessoa e contra a humanidade (BRAVERMAN 1980 72)
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Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
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Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
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servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
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Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
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satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
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E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
29
dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
30
2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
35
surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
36
ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
38
natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
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criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
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com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
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esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
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De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
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Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
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parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
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objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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14
Esta questatildeo do trabalho pelo qual o homem transforma a natureza e a si proacuteprio
diferenciando-se dos demais animais seraacute desenvolvido no proacuteximo item
12 - Caracteriacutesticas do trabalho humano
A histoacuteria do desenvolvimento das teacutecnicas e dos processos de transformaccedilatildeo da
realidade se confunde com a histoacuteria do desenvolvimento da humanidade De acordo com
Dantas (1986) os homens tiveram que aprender a trabalhar desde a origem da humanidade
para sobreviverem e satisfazer suas necessidades produzindo e reproduzindo meios de
subsistecircncia Este trabalho praticado pelo qual o homem se distingue do trabalho animal eacute
criativo enquanto o do animal eacute simplesmente instintivo
De acordo com Carosi (1963) trabalho eacute a atividade transformadora onde se
empregam forccedilas humanas fiacutesicas e intelectuais com o objetivo de moldar o mundo natural
de acordo com as necessidades individuais ou coletivas de subsistecircncia Ou seja o trabalho
tornasse o emprego das energias humanas para diferenciar das accedilotildees de um animal e do
funcionamento de uma maacutequina pois eacute direcionado pela inteligecircncia e pela sustentaccedilatildeo da
vontade do homem
Conforme Braverman (1977) apoderar-se dos materiais da natureza assim como
ocorre com os vegetais que absorvem minerais e luz do sol e animais que se alimentam de
vida vegetal natildeo pode ser considerado trabalho Pois o trabalho eacute uma atividade que
transforma o estado natural desses materiais de modo que possam ser utilizados para
satisfazer as necessidades da espeacutecie humana
Para Braverman (1977) natildeo se trata agora de analisar as semelhanccedilas do trabalho
humano com o trabalho dos outros animais mas sim as diferenccedilas que os distanciam um do
outro Ao utilizar o termo trabalho para designar a atividade criativa peculiar do homem
Marx enfatiza que ldquonatildeo se trata aqui das primeiras formas instintivas animais de trabalhordquo
15
(MARX 1996 297) Uma aranha realiza funccedilotildees que se assemelha a dos tecelotildees e a abelha
envergonha muitos arquitetos na construccedilatildeo de seus alveacuteolos Mas o que realmente distingue
o pior arquiteto humano da melhor abelha eacute que o humano cria em sua mente o corticcedilo antes
de transformaacute-lo em realidade No fim do processo o resultado sai de acordo com a
imaginaccedilatildeo na qual o trabalho teve no iniacutecio Ou seja o homem transforma o material de
acordo com sua vontade e imprime no real a forma de sua consciecircncia (MARX 1996)
O trabalho entendido aqui como uma atividade adequada a um fim distingue-se dos
animais que procuram apenas a satisfaccedilatildeo das suas necessidades bioloacutegicas Atraveacutes dele os
homens produzem sua proacutepria existecircncia mas antes de tudo
[] o trabalho eacute um processo entre o homem e a Natureza um processo em que o homem por sua proacutepria accedilatildeo media regula e controla seu metabolismo com a Natureza Ele mesmo se defronta com a mateacuteria natural como uma forccedila natural Ele potildee em movimento as forccedilas naturais pertencentes a sua corporalidade braccedilos e pernas cabeccedila e matildeo a fim de apropriar-se da mateacuteria natural numa forma uacutetil para sua proacutepria vida Ao atuar por meio desses movimentos sobre a Natureza externa e ao modificaacuteshyla ele modifica ao mesmo tempo sua proacutepria natureza Ele desenvolve as potecircncias nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forccedilas a seu proacuteprio domiacutenio (MARX 1996 297)
Por essa forma o trabalho humano eacute consciente e proposital Jaacute o trabalho dos outros
animais eacute instintivo Podemos observar quando uma largata completa a segunda metade de
seu casulo sem se importar com a primeira (BRAVERMAN 1977)
Carosi (1963) diferencia o trabalho do homem do trabalho animal pois o primeiro
possui capacidades para fazer algo atraveacutes de seus dons e ideacuteias para atingir o que tem que ser
feito enquanto que no animal nada disso pode ser observado Conforme Carosi (1963 588)
ldquodiz-se que o animal trabalha que a maacutequina trabalha mas eacute certamente um modo muito
improacuteprio de expressatildeo [] Eacute mais correto dizer que o animal e a maacutequina satildeo instrumentos
de trabalhordquo Pois desta forma o trabalho esta interiorizado na moralidade do homem de
forma que sua produccedilatildeo eacute uma virtude agrave medida que consegue as condiccedilotildees necessaacuterias
mediante o trabalho para si ou para os outros
16
O homem consegue distinguir-se do animal pelo trabalho sendo este uma relaccedilatildeo
dialeacutetica da teoria com a praacutetica que possibilita ao homem desenvolver sua imaginaccedilatildeo e
habilidade uma vez que sua accedilatildeo eacute antecipada pelo pensamento conseguindo modificar um
objeto ao mesmo tempo em que sua accedilatildeo tambeacutem eacute alterada gerando o seu processo
histoacuterico onde o trabalho tornasse a condiccedilatildeo fundamental para o homem alterar a sua visatildeo
perante o mundo e a si mesmo (ARANHA MARTINS 1993)
Outro conceito fundamental para entendermos a diferenccedila entre o homem e o animal eacute
a sua condiccedilatildeo de trabalho a que cada um deles estaacute submetido Afinal ldquoo homem eacute um ser
que trabalha e produz o mundo e a si mesmo O animal natildeo produz a sua existecircncia mas
apenas a conserva agindo instintivamente []rdquo (ARANHA MARTINS 1993 05)
Sobre a necessidade e a utilidade do trabalho Carosi (1963 589) afirma que
O trabalho eacute aleacutem disso fonte de prosperidade tudo vem da natureza mas nada vem sem o trabalho Se a natureza fosse abandonada a si proacuteprio pelo homem ocioso natildeo lhe oferecia sequer o necessaacuterio para viver com o trabalho ela concede-lhe as maravilhas e comodidade do programa acima de suas necessidades (CAROSI 1963 589)
O trabalho humano armazenado ou exercido em ferramentas maquinarias ou em
animais eacute um recurso utilizado exclusivamente pela competecircncia humana para explorar a
natureza Assim como todos os processos vitais de um corpo humano como os muacutesculos
ceacuterebros satildeo inseparaacuteveis do indiviacuteduo o trabalho tambeacutem eacute uma propriedade inalienaacutevel do
indiviacuteduo humano Portanto tornasse impossiacutevel satisfazer as necessidades baacutesicas em lugar
de outra pessoa que natildeo seja si proacuteprio Entretanto quando um proprietaacuterio utiliza os serviccedilos
de um animal simplesmente canaliza a forccedila e suas resistecircncias naturais desse animal
Todavia ao utilizar abelhas para a produccedilatildeo de mel ou de carneiros para a produccedilatildeo de latilde o
proprietaacuterio soacute tira vantagens das condiccedilotildees bioloacutegicas das atividades dos animais Mas ao
utilizar a forccedila de trabalho do animal o homem ao mesmo tempo utiliza a sua para obter
atraveacutes do trabalho animal as miacutenimas condiccedilotildees variaacuteveis do trabalho concreto
(BRAVERMAN 1977) Sendo assim
17
O que distingue a forccedila de trabalho humano eacute portanto natildeo sua capacidade de produzir um excedente mas seu caraacuteter inteligente e proposital que lhe daacute infinita adaptabilidade e que produz as condiccedilotildees sociais e culturais para ampliar sua proacutepria produtividade de modo que seu produto excedente pode ser continuamente ampliado (BRAVERMAN 1977 58)
Portanto eacute o homem que constroacutei e produz sua proacutepria histoacuteria transformando a
natureza e a si proacuteprio a partir de uma accedilatildeo humana e coletiva caracterizando o trabalho
como uma tarefa social onde todas as diferenccedilas que existem na sociedade satildeo fundamentais
para que se organizem na construccedilatildeo da vida social econocircmica e poliacutetica Mesmo a sociedade
sendo formada pelas relaccedilotildees sociais o homem natildeo perde a sua individualidade o que faz
com que se diferencie dos demais Todavia esta contradiccedilatildeo de viver numa sociedade que
opotildee a alienaccedilatildeo agrave liberdade eacute fundamental para manter a dialeacutetica em constante sintonia
(ARANHA MARTINS 1993)
Aleacutem do trabalho o homem possui outras condiccedilotildees que o diferencia do animal Um eacute
o ato voluntaacuterio e consciente da finalidade de seu uso e o outro eacute a fala O ato consciente
primeiramente existe antes como pensamento e este pode ser utilizado para atingir os fins
propostos pela livre vontade do agente Jaacute a fala e as palavras fazem parte da essecircncia do
universo humano distinguindo-o do animal pois este natildeo conhece a simbologia mas
somente os iacutendices que indicam sempre a mesma coisa especiacutefica Jaacute o siacutembolo aleacutem de ser
universal eacute flexiacutevel podendo uma palavra ter diversos entendimentos (ARANHA
MARTINS 1993)
A linguagem e a palavra determinam a condiccedilatildeo na qual o homem e o animal se
desencontram distanciando-o pelo fato da linguagem animal visar a adaptaccedilatildeo ao concreto
enquanto a linguagem humana interveacutem como uma forma abstrata Portanto mesmo quando
um animal conseguir solucionar um problema complexo a sua inteligecircncia ainda seraacute
concreta tratando-se de uma experiecircncia vivida no momento exato enquanto que para o
homem a linguagem por siacutembolos e abstrata permite distanciar-se do mundo e voltar para
transformaacute-lo (ARANHA MARTINS 1993)
18
Ao dizer que o homem fala trabalha e pelo trabalho transforma a natureza e a si
proacuteprio nada disso teraacute sentido se natildeo enfatizarmos que a accedilatildeo do ser humano eacute uma accedilatildeo
coletiva Pois o trabalho eacute uma funccedilatildeo social e a palavra eacute um meio de diaacutelogo (ARANHA
MARTINS 1993)
Os estudos experimentais sobre o comportamento animal demonstram que eles natildeo
satildeo totalmente privados da capacidade de aprender e conceber ideacuteias de caraacuteter inicial ou
mesmo aprender a resolver os problemas mais simples que sejam portando
Assim uma criatura dotada de sistema nervoso tatildeo primitivo como a minhoca pode aprender a passar por um labirinto os chimpanzeacutes podem ser estimulados a inventar e fazer instrumentos tais como estender vara que lhes permitem atingir o alimento ou empilhar caixas para o mesmo fim (BRAVERMAN 1977 52)
Conclui-se que a diferenccedila entre o homem e o animal natildeo estaacute apenas em grau mas
em espeacutecie cujo haacute uma imensa distacircncia entre aprender as capacidades conceituais do ser
humano em comparaccedilatildeo aos animais mais adaptaacuteveis Ou seja aos animais natildeo foi possiacutevel
ensinar-lhes a capacidade de manipular representaccedilotildees simboacutelicas e a linguagem articulada
Sem a aprendizagem das capacidades simboacutelicas e da linguagem os animais permanecem
com o seu pensamento conceitual a um niacutevel rudimentar que natildeo pode ser transmitido atraveacutes
do grupo (BRAVERMAN 1977)
Aranha e Martins (1993) tambeacutem afirmam ao dizer que as diferenccedilas entre o homem e
o animal natildeo eacute apenas em grau pois enquanto o animal vive dentro da natureza o homem a
utiliza e transformaacute-a em uma possiacutevel cultural O entendimento de cultura para os
antropoacutelogos eacute tudo aquilo que o homem consegue produzir ao construir sua existecircncia
como por exemplo as praacuteticas as teorias os valores materiais entre outros
Portanto eacute pelo trabalho que o homem consegue construir sua proacutepria histoacuteria sendo
que o ldquotrabalho que ultrapassa a mera atividade instintiva eacute assim a forccedila que criou a espeacutecie
humana e a forccedila pela qual a humanidade criou o mundo como o conhecemosrdquo
(BRAVERMAN 1977 53)
19
Aranha e Martins (1993) afirmam que o processo de construccedilatildeo da humanidade se faz
pela relaccedilatildeo entre os homens e a sua consciecircncia emerge lentamente atraveacutes dos conflitos
entre essas relaccedilotildees Entatildeo sobre cai ao homem agrave responsabilidade de manter viva a dialeacutetica
atraveacutes de suas contradiccedilotildees sendo que o ser humano ao mesmo tempo em que eacute um ser
social tambeacutem possui uma individualidade que eacute fundamental para distingui-lo dos demais
ldquoPortanto a sociedade eacute a condiccedilatildeo da alienaccedilatildeo e da liberdade eacute a condiccedilatildeo para que o
homem se perca mas tambeacutem de se encontrarrdquo (ARANHA MARTINS 1993 07)
13 - Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienado
A transiccedilatildeo do periacuteodo do feudalismo para o capitalismo foi marcada pelo nascimento
das faacutebricas onde ocorria uma acumulaccedilatildeo de capital que permitia comprar mateacuteria-prima e
maacutequinas para ampliar o seu mercado Os artesatildeos vendo o forte crescimento das faacutebricas e
percebendo que era impossiacutevel competir contra elas tiveram que vender a sua forccedila de
trabalho em troca de um salaacuterio e se adequar a divisatildeo de trabalho que estabelecia ritmo e
horaacuterio (ARANHA MARTINS 1993)
Ainda em relaccedilatildeo ao trabalho como meio de subsistecircncia para a sobrevivecircncia do ser
humano Dantas (1986) afirma que num determinado periacuteodo esta concepccedilatildeo passou a ser
alheia ao trabalhador Como a divisatildeo do trabalho estava no iniacutecio de seu desenvolvimento o
trabalho era organizado e entendido como familiar onde todos os adultos tinham sua
participaccedilatildeo inclusive aos idosos onde cabia a responsabilidade de distribuir as funccedilotildees Os
materiais para a realizaccedilatildeo do trabalho aleacutem de serem poucos eram rudimentares mas
suficientes para conseguir produtos para suprir as necessidades de todos Ainda citando
Dantas (1986) seus estudos apresenta ter um entendimento da divisatildeo do trabalho a partir do
periacuteodo feudal onde houve um acirramento da separaccedilatildeo entre campo e cidade que foi
crucial para o desenvolvimento daquele fenocircmeno no seu formato moderno No campo o
20
trabalho tem como caracteriacutestica a servidatildeo e era realizado na terra sendo esta propriedade do
senhor Os servos eram responsaacuteveis pela produccedilatildeo de meios materiais para si e para os
senhores Jaacute na cidade a divisatildeo do trabalho se dava dentro das pequenas oficinas onde o
artesatildeo que era dono dos seus meios de produccedilatildeo e sua famiacutelia seus auxiliares que com suas
habilidades determinavam um produto final
De acordo com Catani (1984 20) ldquoa divisatildeo social do trabalho eacute outra condiccedilatildeo
preacutevia caracteriacutestica de uma sociedade capitalistardquo pois nessa sociedade todos realizam seus
trabalhos de formas especiacuteficas e particulares contudo ldquotodos dependem uns dos outros e isto
decorre na divisatildeo do trabalho no seio da produccedilatildeo mercantilrdquo (CATANI 1984 20)
Marx (1996) explica que a divisatildeo do trabalho na forma de cooperaccedilatildeo comeccedila a ser
desenvolvido na manufatura predominantemente porque o processo de produccedilatildeo capitalista
se estende do seacuteculo XVI ateacute o seacuteculo XVIII Ou seja diversos trabalhadores com ofiacutecios
diferentes uns dos outros reunidos em uma oficina para produzir um produto sendo que este
passe por ambas as matildeos ateacute o seu acabamento final O trabalho eacute realizado em colaboraccedilatildeo
uns com os outros
Braverman (1980) nos esclarece que a divisatildeo do trabalho que ocorre na oficina eacute
diferente do trabalho desenvolvido no interior da sociedade afirmando que
A divisatildeo do trabalho na sociedade eacute caracteriacutestica de todas as sociedades conhecidas a divisatildeo do trabalho na oficina eacute produto peculiar da sociedade capitalista A divisatildeo social do trabalho divide a sociedade entre ocupaccedilotildees cada qual apropriada a certo ramo de produccedilatildeo a divisatildeo pormenorizada do trabalho destroacutei ocupaccedilotildees consideradas neste sentido e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produccedilatildeo [] Ainda no capitalismo os produtos da divisatildeo social do trabalho satildeo trocados como mercadorias enquanto os resultados da operaccedilatildeo do trabalhador parcelado natildeo satildeo trocados dentro da fabrica como o mercado mas satildeo todos possuiacutedos pelo mesmo capital Enquanto a divisatildeo social do trabalho subdivide a sociedade a divisatildeo parcelada do trabalho subdivide o homem e enquanto a subdivisatildeo da sociedade pode fortalecer o indiviacuteduo e a espeacutecie a subdivisatildeo do indiviacuteduo quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas eacute um crime contra a pessoa e contra a humanidade (BRAVERMAN 1980 72)
21
Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
22
Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
23
servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
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Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
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dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
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2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
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ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
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criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
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De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
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Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
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E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
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Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
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esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
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De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
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simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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15
(MARX 1996 297) Uma aranha realiza funccedilotildees que se assemelha a dos tecelotildees e a abelha
envergonha muitos arquitetos na construccedilatildeo de seus alveacuteolos Mas o que realmente distingue
o pior arquiteto humano da melhor abelha eacute que o humano cria em sua mente o corticcedilo antes
de transformaacute-lo em realidade No fim do processo o resultado sai de acordo com a
imaginaccedilatildeo na qual o trabalho teve no iniacutecio Ou seja o homem transforma o material de
acordo com sua vontade e imprime no real a forma de sua consciecircncia (MARX 1996)
O trabalho entendido aqui como uma atividade adequada a um fim distingue-se dos
animais que procuram apenas a satisfaccedilatildeo das suas necessidades bioloacutegicas Atraveacutes dele os
homens produzem sua proacutepria existecircncia mas antes de tudo
[] o trabalho eacute um processo entre o homem e a Natureza um processo em que o homem por sua proacutepria accedilatildeo media regula e controla seu metabolismo com a Natureza Ele mesmo se defronta com a mateacuteria natural como uma forccedila natural Ele potildee em movimento as forccedilas naturais pertencentes a sua corporalidade braccedilos e pernas cabeccedila e matildeo a fim de apropriar-se da mateacuteria natural numa forma uacutetil para sua proacutepria vida Ao atuar por meio desses movimentos sobre a Natureza externa e ao modificaacuteshyla ele modifica ao mesmo tempo sua proacutepria natureza Ele desenvolve as potecircncias nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forccedilas a seu proacuteprio domiacutenio (MARX 1996 297)
Por essa forma o trabalho humano eacute consciente e proposital Jaacute o trabalho dos outros
animais eacute instintivo Podemos observar quando uma largata completa a segunda metade de
seu casulo sem se importar com a primeira (BRAVERMAN 1977)
Carosi (1963) diferencia o trabalho do homem do trabalho animal pois o primeiro
possui capacidades para fazer algo atraveacutes de seus dons e ideacuteias para atingir o que tem que ser
feito enquanto que no animal nada disso pode ser observado Conforme Carosi (1963 588)
ldquodiz-se que o animal trabalha que a maacutequina trabalha mas eacute certamente um modo muito
improacuteprio de expressatildeo [] Eacute mais correto dizer que o animal e a maacutequina satildeo instrumentos
de trabalhordquo Pois desta forma o trabalho esta interiorizado na moralidade do homem de
forma que sua produccedilatildeo eacute uma virtude agrave medida que consegue as condiccedilotildees necessaacuterias
mediante o trabalho para si ou para os outros
16
O homem consegue distinguir-se do animal pelo trabalho sendo este uma relaccedilatildeo
dialeacutetica da teoria com a praacutetica que possibilita ao homem desenvolver sua imaginaccedilatildeo e
habilidade uma vez que sua accedilatildeo eacute antecipada pelo pensamento conseguindo modificar um
objeto ao mesmo tempo em que sua accedilatildeo tambeacutem eacute alterada gerando o seu processo
histoacuterico onde o trabalho tornasse a condiccedilatildeo fundamental para o homem alterar a sua visatildeo
perante o mundo e a si mesmo (ARANHA MARTINS 1993)
Outro conceito fundamental para entendermos a diferenccedila entre o homem e o animal eacute
a sua condiccedilatildeo de trabalho a que cada um deles estaacute submetido Afinal ldquoo homem eacute um ser
que trabalha e produz o mundo e a si mesmo O animal natildeo produz a sua existecircncia mas
apenas a conserva agindo instintivamente []rdquo (ARANHA MARTINS 1993 05)
Sobre a necessidade e a utilidade do trabalho Carosi (1963 589) afirma que
O trabalho eacute aleacutem disso fonte de prosperidade tudo vem da natureza mas nada vem sem o trabalho Se a natureza fosse abandonada a si proacuteprio pelo homem ocioso natildeo lhe oferecia sequer o necessaacuterio para viver com o trabalho ela concede-lhe as maravilhas e comodidade do programa acima de suas necessidades (CAROSI 1963 589)
O trabalho humano armazenado ou exercido em ferramentas maquinarias ou em
animais eacute um recurso utilizado exclusivamente pela competecircncia humana para explorar a
natureza Assim como todos os processos vitais de um corpo humano como os muacutesculos
ceacuterebros satildeo inseparaacuteveis do indiviacuteduo o trabalho tambeacutem eacute uma propriedade inalienaacutevel do
indiviacuteduo humano Portanto tornasse impossiacutevel satisfazer as necessidades baacutesicas em lugar
de outra pessoa que natildeo seja si proacuteprio Entretanto quando um proprietaacuterio utiliza os serviccedilos
de um animal simplesmente canaliza a forccedila e suas resistecircncias naturais desse animal
Todavia ao utilizar abelhas para a produccedilatildeo de mel ou de carneiros para a produccedilatildeo de latilde o
proprietaacuterio soacute tira vantagens das condiccedilotildees bioloacutegicas das atividades dos animais Mas ao
utilizar a forccedila de trabalho do animal o homem ao mesmo tempo utiliza a sua para obter
atraveacutes do trabalho animal as miacutenimas condiccedilotildees variaacuteveis do trabalho concreto
(BRAVERMAN 1977) Sendo assim
17
O que distingue a forccedila de trabalho humano eacute portanto natildeo sua capacidade de produzir um excedente mas seu caraacuteter inteligente e proposital que lhe daacute infinita adaptabilidade e que produz as condiccedilotildees sociais e culturais para ampliar sua proacutepria produtividade de modo que seu produto excedente pode ser continuamente ampliado (BRAVERMAN 1977 58)
Portanto eacute o homem que constroacutei e produz sua proacutepria histoacuteria transformando a
natureza e a si proacuteprio a partir de uma accedilatildeo humana e coletiva caracterizando o trabalho
como uma tarefa social onde todas as diferenccedilas que existem na sociedade satildeo fundamentais
para que se organizem na construccedilatildeo da vida social econocircmica e poliacutetica Mesmo a sociedade
sendo formada pelas relaccedilotildees sociais o homem natildeo perde a sua individualidade o que faz
com que se diferencie dos demais Todavia esta contradiccedilatildeo de viver numa sociedade que
opotildee a alienaccedilatildeo agrave liberdade eacute fundamental para manter a dialeacutetica em constante sintonia
(ARANHA MARTINS 1993)
Aleacutem do trabalho o homem possui outras condiccedilotildees que o diferencia do animal Um eacute
o ato voluntaacuterio e consciente da finalidade de seu uso e o outro eacute a fala O ato consciente
primeiramente existe antes como pensamento e este pode ser utilizado para atingir os fins
propostos pela livre vontade do agente Jaacute a fala e as palavras fazem parte da essecircncia do
universo humano distinguindo-o do animal pois este natildeo conhece a simbologia mas
somente os iacutendices que indicam sempre a mesma coisa especiacutefica Jaacute o siacutembolo aleacutem de ser
universal eacute flexiacutevel podendo uma palavra ter diversos entendimentos (ARANHA
MARTINS 1993)
A linguagem e a palavra determinam a condiccedilatildeo na qual o homem e o animal se
desencontram distanciando-o pelo fato da linguagem animal visar a adaptaccedilatildeo ao concreto
enquanto a linguagem humana interveacutem como uma forma abstrata Portanto mesmo quando
um animal conseguir solucionar um problema complexo a sua inteligecircncia ainda seraacute
concreta tratando-se de uma experiecircncia vivida no momento exato enquanto que para o
homem a linguagem por siacutembolos e abstrata permite distanciar-se do mundo e voltar para
transformaacute-lo (ARANHA MARTINS 1993)
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Ao dizer que o homem fala trabalha e pelo trabalho transforma a natureza e a si
proacuteprio nada disso teraacute sentido se natildeo enfatizarmos que a accedilatildeo do ser humano eacute uma accedilatildeo
coletiva Pois o trabalho eacute uma funccedilatildeo social e a palavra eacute um meio de diaacutelogo (ARANHA
MARTINS 1993)
Os estudos experimentais sobre o comportamento animal demonstram que eles natildeo
satildeo totalmente privados da capacidade de aprender e conceber ideacuteias de caraacuteter inicial ou
mesmo aprender a resolver os problemas mais simples que sejam portando
Assim uma criatura dotada de sistema nervoso tatildeo primitivo como a minhoca pode aprender a passar por um labirinto os chimpanzeacutes podem ser estimulados a inventar e fazer instrumentos tais como estender vara que lhes permitem atingir o alimento ou empilhar caixas para o mesmo fim (BRAVERMAN 1977 52)
Conclui-se que a diferenccedila entre o homem e o animal natildeo estaacute apenas em grau mas
em espeacutecie cujo haacute uma imensa distacircncia entre aprender as capacidades conceituais do ser
humano em comparaccedilatildeo aos animais mais adaptaacuteveis Ou seja aos animais natildeo foi possiacutevel
ensinar-lhes a capacidade de manipular representaccedilotildees simboacutelicas e a linguagem articulada
Sem a aprendizagem das capacidades simboacutelicas e da linguagem os animais permanecem
com o seu pensamento conceitual a um niacutevel rudimentar que natildeo pode ser transmitido atraveacutes
do grupo (BRAVERMAN 1977)
Aranha e Martins (1993) tambeacutem afirmam ao dizer que as diferenccedilas entre o homem e
o animal natildeo eacute apenas em grau pois enquanto o animal vive dentro da natureza o homem a
utiliza e transformaacute-a em uma possiacutevel cultural O entendimento de cultura para os
antropoacutelogos eacute tudo aquilo que o homem consegue produzir ao construir sua existecircncia
como por exemplo as praacuteticas as teorias os valores materiais entre outros
Portanto eacute pelo trabalho que o homem consegue construir sua proacutepria histoacuteria sendo
que o ldquotrabalho que ultrapassa a mera atividade instintiva eacute assim a forccedila que criou a espeacutecie
humana e a forccedila pela qual a humanidade criou o mundo como o conhecemosrdquo
(BRAVERMAN 1977 53)
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Aranha e Martins (1993) afirmam que o processo de construccedilatildeo da humanidade se faz
pela relaccedilatildeo entre os homens e a sua consciecircncia emerge lentamente atraveacutes dos conflitos
entre essas relaccedilotildees Entatildeo sobre cai ao homem agrave responsabilidade de manter viva a dialeacutetica
atraveacutes de suas contradiccedilotildees sendo que o ser humano ao mesmo tempo em que eacute um ser
social tambeacutem possui uma individualidade que eacute fundamental para distingui-lo dos demais
ldquoPortanto a sociedade eacute a condiccedilatildeo da alienaccedilatildeo e da liberdade eacute a condiccedilatildeo para que o
homem se perca mas tambeacutem de se encontrarrdquo (ARANHA MARTINS 1993 07)
13 - Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienado
A transiccedilatildeo do periacuteodo do feudalismo para o capitalismo foi marcada pelo nascimento
das faacutebricas onde ocorria uma acumulaccedilatildeo de capital que permitia comprar mateacuteria-prima e
maacutequinas para ampliar o seu mercado Os artesatildeos vendo o forte crescimento das faacutebricas e
percebendo que era impossiacutevel competir contra elas tiveram que vender a sua forccedila de
trabalho em troca de um salaacuterio e se adequar a divisatildeo de trabalho que estabelecia ritmo e
horaacuterio (ARANHA MARTINS 1993)
Ainda em relaccedilatildeo ao trabalho como meio de subsistecircncia para a sobrevivecircncia do ser
humano Dantas (1986) afirma que num determinado periacuteodo esta concepccedilatildeo passou a ser
alheia ao trabalhador Como a divisatildeo do trabalho estava no iniacutecio de seu desenvolvimento o
trabalho era organizado e entendido como familiar onde todos os adultos tinham sua
participaccedilatildeo inclusive aos idosos onde cabia a responsabilidade de distribuir as funccedilotildees Os
materiais para a realizaccedilatildeo do trabalho aleacutem de serem poucos eram rudimentares mas
suficientes para conseguir produtos para suprir as necessidades de todos Ainda citando
Dantas (1986) seus estudos apresenta ter um entendimento da divisatildeo do trabalho a partir do
periacuteodo feudal onde houve um acirramento da separaccedilatildeo entre campo e cidade que foi
crucial para o desenvolvimento daquele fenocircmeno no seu formato moderno No campo o
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trabalho tem como caracteriacutestica a servidatildeo e era realizado na terra sendo esta propriedade do
senhor Os servos eram responsaacuteveis pela produccedilatildeo de meios materiais para si e para os
senhores Jaacute na cidade a divisatildeo do trabalho se dava dentro das pequenas oficinas onde o
artesatildeo que era dono dos seus meios de produccedilatildeo e sua famiacutelia seus auxiliares que com suas
habilidades determinavam um produto final
De acordo com Catani (1984 20) ldquoa divisatildeo social do trabalho eacute outra condiccedilatildeo
preacutevia caracteriacutestica de uma sociedade capitalistardquo pois nessa sociedade todos realizam seus
trabalhos de formas especiacuteficas e particulares contudo ldquotodos dependem uns dos outros e isto
decorre na divisatildeo do trabalho no seio da produccedilatildeo mercantilrdquo (CATANI 1984 20)
Marx (1996) explica que a divisatildeo do trabalho na forma de cooperaccedilatildeo comeccedila a ser
desenvolvido na manufatura predominantemente porque o processo de produccedilatildeo capitalista
se estende do seacuteculo XVI ateacute o seacuteculo XVIII Ou seja diversos trabalhadores com ofiacutecios
diferentes uns dos outros reunidos em uma oficina para produzir um produto sendo que este
passe por ambas as matildeos ateacute o seu acabamento final O trabalho eacute realizado em colaboraccedilatildeo
uns com os outros
Braverman (1980) nos esclarece que a divisatildeo do trabalho que ocorre na oficina eacute
diferente do trabalho desenvolvido no interior da sociedade afirmando que
A divisatildeo do trabalho na sociedade eacute caracteriacutestica de todas as sociedades conhecidas a divisatildeo do trabalho na oficina eacute produto peculiar da sociedade capitalista A divisatildeo social do trabalho divide a sociedade entre ocupaccedilotildees cada qual apropriada a certo ramo de produccedilatildeo a divisatildeo pormenorizada do trabalho destroacutei ocupaccedilotildees consideradas neste sentido e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produccedilatildeo [] Ainda no capitalismo os produtos da divisatildeo social do trabalho satildeo trocados como mercadorias enquanto os resultados da operaccedilatildeo do trabalhador parcelado natildeo satildeo trocados dentro da fabrica como o mercado mas satildeo todos possuiacutedos pelo mesmo capital Enquanto a divisatildeo social do trabalho subdivide a sociedade a divisatildeo parcelada do trabalho subdivide o homem e enquanto a subdivisatildeo da sociedade pode fortalecer o indiviacuteduo e a espeacutecie a subdivisatildeo do indiviacuteduo quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas eacute um crime contra a pessoa e contra a humanidade (BRAVERMAN 1980 72)
21
Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
22
Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
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servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
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Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
29
dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
30
2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
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ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
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criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
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De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
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E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
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com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
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esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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16
O homem consegue distinguir-se do animal pelo trabalho sendo este uma relaccedilatildeo
dialeacutetica da teoria com a praacutetica que possibilita ao homem desenvolver sua imaginaccedilatildeo e
habilidade uma vez que sua accedilatildeo eacute antecipada pelo pensamento conseguindo modificar um
objeto ao mesmo tempo em que sua accedilatildeo tambeacutem eacute alterada gerando o seu processo
histoacuterico onde o trabalho tornasse a condiccedilatildeo fundamental para o homem alterar a sua visatildeo
perante o mundo e a si mesmo (ARANHA MARTINS 1993)
Outro conceito fundamental para entendermos a diferenccedila entre o homem e o animal eacute
a sua condiccedilatildeo de trabalho a que cada um deles estaacute submetido Afinal ldquoo homem eacute um ser
que trabalha e produz o mundo e a si mesmo O animal natildeo produz a sua existecircncia mas
apenas a conserva agindo instintivamente []rdquo (ARANHA MARTINS 1993 05)
Sobre a necessidade e a utilidade do trabalho Carosi (1963 589) afirma que
O trabalho eacute aleacutem disso fonte de prosperidade tudo vem da natureza mas nada vem sem o trabalho Se a natureza fosse abandonada a si proacuteprio pelo homem ocioso natildeo lhe oferecia sequer o necessaacuterio para viver com o trabalho ela concede-lhe as maravilhas e comodidade do programa acima de suas necessidades (CAROSI 1963 589)
O trabalho humano armazenado ou exercido em ferramentas maquinarias ou em
animais eacute um recurso utilizado exclusivamente pela competecircncia humana para explorar a
natureza Assim como todos os processos vitais de um corpo humano como os muacutesculos
ceacuterebros satildeo inseparaacuteveis do indiviacuteduo o trabalho tambeacutem eacute uma propriedade inalienaacutevel do
indiviacuteduo humano Portanto tornasse impossiacutevel satisfazer as necessidades baacutesicas em lugar
de outra pessoa que natildeo seja si proacuteprio Entretanto quando um proprietaacuterio utiliza os serviccedilos
de um animal simplesmente canaliza a forccedila e suas resistecircncias naturais desse animal
Todavia ao utilizar abelhas para a produccedilatildeo de mel ou de carneiros para a produccedilatildeo de latilde o
proprietaacuterio soacute tira vantagens das condiccedilotildees bioloacutegicas das atividades dos animais Mas ao
utilizar a forccedila de trabalho do animal o homem ao mesmo tempo utiliza a sua para obter
atraveacutes do trabalho animal as miacutenimas condiccedilotildees variaacuteveis do trabalho concreto
(BRAVERMAN 1977) Sendo assim
17
O que distingue a forccedila de trabalho humano eacute portanto natildeo sua capacidade de produzir um excedente mas seu caraacuteter inteligente e proposital que lhe daacute infinita adaptabilidade e que produz as condiccedilotildees sociais e culturais para ampliar sua proacutepria produtividade de modo que seu produto excedente pode ser continuamente ampliado (BRAVERMAN 1977 58)
Portanto eacute o homem que constroacutei e produz sua proacutepria histoacuteria transformando a
natureza e a si proacuteprio a partir de uma accedilatildeo humana e coletiva caracterizando o trabalho
como uma tarefa social onde todas as diferenccedilas que existem na sociedade satildeo fundamentais
para que se organizem na construccedilatildeo da vida social econocircmica e poliacutetica Mesmo a sociedade
sendo formada pelas relaccedilotildees sociais o homem natildeo perde a sua individualidade o que faz
com que se diferencie dos demais Todavia esta contradiccedilatildeo de viver numa sociedade que
opotildee a alienaccedilatildeo agrave liberdade eacute fundamental para manter a dialeacutetica em constante sintonia
(ARANHA MARTINS 1993)
Aleacutem do trabalho o homem possui outras condiccedilotildees que o diferencia do animal Um eacute
o ato voluntaacuterio e consciente da finalidade de seu uso e o outro eacute a fala O ato consciente
primeiramente existe antes como pensamento e este pode ser utilizado para atingir os fins
propostos pela livre vontade do agente Jaacute a fala e as palavras fazem parte da essecircncia do
universo humano distinguindo-o do animal pois este natildeo conhece a simbologia mas
somente os iacutendices que indicam sempre a mesma coisa especiacutefica Jaacute o siacutembolo aleacutem de ser
universal eacute flexiacutevel podendo uma palavra ter diversos entendimentos (ARANHA
MARTINS 1993)
A linguagem e a palavra determinam a condiccedilatildeo na qual o homem e o animal se
desencontram distanciando-o pelo fato da linguagem animal visar a adaptaccedilatildeo ao concreto
enquanto a linguagem humana interveacutem como uma forma abstrata Portanto mesmo quando
um animal conseguir solucionar um problema complexo a sua inteligecircncia ainda seraacute
concreta tratando-se de uma experiecircncia vivida no momento exato enquanto que para o
homem a linguagem por siacutembolos e abstrata permite distanciar-se do mundo e voltar para
transformaacute-lo (ARANHA MARTINS 1993)
18
Ao dizer que o homem fala trabalha e pelo trabalho transforma a natureza e a si
proacuteprio nada disso teraacute sentido se natildeo enfatizarmos que a accedilatildeo do ser humano eacute uma accedilatildeo
coletiva Pois o trabalho eacute uma funccedilatildeo social e a palavra eacute um meio de diaacutelogo (ARANHA
MARTINS 1993)
Os estudos experimentais sobre o comportamento animal demonstram que eles natildeo
satildeo totalmente privados da capacidade de aprender e conceber ideacuteias de caraacuteter inicial ou
mesmo aprender a resolver os problemas mais simples que sejam portando
Assim uma criatura dotada de sistema nervoso tatildeo primitivo como a minhoca pode aprender a passar por um labirinto os chimpanzeacutes podem ser estimulados a inventar e fazer instrumentos tais como estender vara que lhes permitem atingir o alimento ou empilhar caixas para o mesmo fim (BRAVERMAN 1977 52)
Conclui-se que a diferenccedila entre o homem e o animal natildeo estaacute apenas em grau mas
em espeacutecie cujo haacute uma imensa distacircncia entre aprender as capacidades conceituais do ser
humano em comparaccedilatildeo aos animais mais adaptaacuteveis Ou seja aos animais natildeo foi possiacutevel
ensinar-lhes a capacidade de manipular representaccedilotildees simboacutelicas e a linguagem articulada
Sem a aprendizagem das capacidades simboacutelicas e da linguagem os animais permanecem
com o seu pensamento conceitual a um niacutevel rudimentar que natildeo pode ser transmitido atraveacutes
do grupo (BRAVERMAN 1977)
Aranha e Martins (1993) tambeacutem afirmam ao dizer que as diferenccedilas entre o homem e
o animal natildeo eacute apenas em grau pois enquanto o animal vive dentro da natureza o homem a
utiliza e transformaacute-a em uma possiacutevel cultural O entendimento de cultura para os
antropoacutelogos eacute tudo aquilo que o homem consegue produzir ao construir sua existecircncia
como por exemplo as praacuteticas as teorias os valores materiais entre outros
Portanto eacute pelo trabalho que o homem consegue construir sua proacutepria histoacuteria sendo
que o ldquotrabalho que ultrapassa a mera atividade instintiva eacute assim a forccedila que criou a espeacutecie
humana e a forccedila pela qual a humanidade criou o mundo como o conhecemosrdquo
(BRAVERMAN 1977 53)
19
Aranha e Martins (1993) afirmam que o processo de construccedilatildeo da humanidade se faz
pela relaccedilatildeo entre os homens e a sua consciecircncia emerge lentamente atraveacutes dos conflitos
entre essas relaccedilotildees Entatildeo sobre cai ao homem agrave responsabilidade de manter viva a dialeacutetica
atraveacutes de suas contradiccedilotildees sendo que o ser humano ao mesmo tempo em que eacute um ser
social tambeacutem possui uma individualidade que eacute fundamental para distingui-lo dos demais
ldquoPortanto a sociedade eacute a condiccedilatildeo da alienaccedilatildeo e da liberdade eacute a condiccedilatildeo para que o
homem se perca mas tambeacutem de se encontrarrdquo (ARANHA MARTINS 1993 07)
13 - Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienado
A transiccedilatildeo do periacuteodo do feudalismo para o capitalismo foi marcada pelo nascimento
das faacutebricas onde ocorria uma acumulaccedilatildeo de capital que permitia comprar mateacuteria-prima e
maacutequinas para ampliar o seu mercado Os artesatildeos vendo o forte crescimento das faacutebricas e
percebendo que era impossiacutevel competir contra elas tiveram que vender a sua forccedila de
trabalho em troca de um salaacuterio e se adequar a divisatildeo de trabalho que estabelecia ritmo e
horaacuterio (ARANHA MARTINS 1993)
Ainda em relaccedilatildeo ao trabalho como meio de subsistecircncia para a sobrevivecircncia do ser
humano Dantas (1986) afirma que num determinado periacuteodo esta concepccedilatildeo passou a ser
alheia ao trabalhador Como a divisatildeo do trabalho estava no iniacutecio de seu desenvolvimento o
trabalho era organizado e entendido como familiar onde todos os adultos tinham sua
participaccedilatildeo inclusive aos idosos onde cabia a responsabilidade de distribuir as funccedilotildees Os
materiais para a realizaccedilatildeo do trabalho aleacutem de serem poucos eram rudimentares mas
suficientes para conseguir produtos para suprir as necessidades de todos Ainda citando
Dantas (1986) seus estudos apresenta ter um entendimento da divisatildeo do trabalho a partir do
periacuteodo feudal onde houve um acirramento da separaccedilatildeo entre campo e cidade que foi
crucial para o desenvolvimento daquele fenocircmeno no seu formato moderno No campo o
20
trabalho tem como caracteriacutestica a servidatildeo e era realizado na terra sendo esta propriedade do
senhor Os servos eram responsaacuteveis pela produccedilatildeo de meios materiais para si e para os
senhores Jaacute na cidade a divisatildeo do trabalho se dava dentro das pequenas oficinas onde o
artesatildeo que era dono dos seus meios de produccedilatildeo e sua famiacutelia seus auxiliares que com suas
habilidades determinavam um produto final
De acordo com Catani (1984 20) ldquoa divisatildeo social do trabalho eacute outra condiccedilatildeo
preacutevia caracteriacutestica de uma sociedade capitalistardquo pois nessa sociedade todos realizam seus
trabalhos de formas especiacuteficas e particulares contudo ldquotodos dependem uns dos outros e isto
decorre na divisatildeo do trabalho no seio da produccedilatildeo mercantilrdquo (CATANI 1984 20)
Marx (1996) explica que a divisatildeo do trabalho na forma de cooperaccedilatildeo comeccedila a ser
desenvolvido na manufatura predominantemente porque o processo de produccedilatildeo capitalista
se estende do seacuteculo XVI ateacute o seacuteculo XVIII Ou seja diversos trabalhadores com ofiacutecios
diferentes uns dos outros reunidos em uma oficina para produzir um produto sendo que este
passe por ambas as matildeos ateacute o seu acabamento final O trabalho eacute realizado em colaboraccedilatildeo
uns com os outros
Braverman (1980) nos esclarece que a divisatildeo do trabalho que ocorre na oficina eacute
diferente do trabalho desenvolvido no interior da sociedade afirmando que
A divisatildeo do trabalho na sociedade eacute caracteriacutestica de todas as sociedades conhecidas a divisatildeo do trabalho na oficina eacute produto peculiar da sociedade capitalista A divisatildeo social do trabalho divide a sociedade entre ocupaccedilotildees cada qual apropriada a certo ramo de produccedilatildeo a divisatildeo pormenorizada do trabalho destroacutei ocupaccedilotildees consideradas neste sentido e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produccedilatildeo [] Ainda no capitalismo os produtos da divisatildeo social do trabalho satildeo trocados como mercadorias enquanto os resultados da operaccedilatildeo do trabalhador parcelado natildeo satildeo trocados dentro da fabrica como o mercado mas satildeo todos possuiacutedos pelo mesmo capital Enquanto a divisatildeo social do trabalho subdivide a sociedade a divisatildeo parcelada do trabalho subdivide o homem e enquanto a subdivisatildeo da sociedade pode fortalecer o indiviacuteduo e a espeacutecie a subdivisatildeo do indiviacuteduo quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas eacute um crime contra a pessoa e contra a humanidade (BRAVERMAN 1980 72)
21
Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
22
Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
23
servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
24
Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
29
dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
30
2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
36
ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
37
mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
38
natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
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criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
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Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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O que distingue a forccedila de trabalho humano eacute portanto natildeo sua capacidade de produzir um excedente mas seu caraacuteter inteligente e proposital que lhe daacute infinita adaptabilidade e que produz as condiccedilotildees sociais e culturais para ampliar sua proacutepria produtividade de modo que seu produto excedente pode ser continuamente ampliado (BRAVERMAN 1977 58)
Portanto eacute o homem que constroacutei e produz sua proacutepria histoacuteria transformando a
natureza e a si proacuteprio a partir de uma accedilatildeo humana e coletiva caracterizando o trabalho
como uma tarefa social onde todas as diferenccedilas que existem na sociedade satildeo fundamentais
para que se organizem na construccedilatildeo da vida social econocircmica e poliacutetica Mesmo a sociedade
sendo formada pelas relaccedilotildees sociais o homem natildeo perde a sua individualidade o que faz
com que se diferencie dos demais Todavia esta contradiccedilatildeo de viver numa sociedade que
opotildee a alienaccedilatildeo agrave liberdade eacute fundamental para manter a dialeacutetica em constante sintonia
(ARANHA MARTINS 1993)
Aleacutem do trabalho o homem possui outras condiccedilotildees que o diferencia do animal Um eacute
o ato voluntaacuterio e consciente da finalidade de seu uso e o outro eacute a fala O ato consciente
primeiramente existe antes como pensamento e este pode ser utilizado para atingir os fins
propostos pela livre vontade do agente Jaacute a fala e as palavras fazem parte da essecircncia do
universo humano distinguindo-o do animal pois este natildeo conhece a simbologia mas
somente os iacutendices que indicam sempre a mesma coisa especiacutefica Jaacute o siacutembolo aleacutem de ser
universal eacute flexiacutevel podendo uma palavra ter diversos entendimentos (ARANHA
MARTINS 1993)
A linguagem e a palavra determinam a condiccedilatildeo na qual o homem e o animal se
desencontram distanciando-o pelo fato da linguagem animal visar a adaptaccedilatildeo ao concreto
enquanto a linguagem humana interveacutem como uma forma abstrata Portanto mesmo quando
um animal conseguir solucionar um problema complexo a sua inteligecircncia ainda seraacute
concreta tratando-se de uma experiecircncia vivida no momento exato enquanto que para o
homem a linguagem por siacutembolos e abstrata permite distanciar-se do mundo e voltar para
transformaacute-lo (ARANHA MARTINS 1993)
18
Ao dizer que o homem fala trabalha e pelo trabalho transforma a natureza e a si
proacuteprio nada disso teraacute sentido se natildeo enfatizarmos que a accedilatildeo do ser humano eacute uma accedilatildeo
coletiva Pois o trabalho eacute uma funccedilatildeo social e a palavra eacute um meio de diaacutelogo (ARANHA
MARTINS 1993)
Os estudos experimentais sobre o comportamento animal demonstram que eles natildeo
satildeo totalmente privados da capacidade de aprender e conceber ideacuteias de caraacuteter inicial ou
mesmo aprender a resolver os problemas mais simples que sejam portando
Assim uma criatura dotada de sistema nervoso tatildeo primitivo como a minhoca pode aprender a passar por um labirinto os chimpanzeacutes podem ser estimulados a inventar e fazer instrumentos tais como estender vara que lhes permitem atingir o alimento ou empilhar caixas para o mesmo fim (BRAVERMAN 1977 52)
Conclui-se que a diferenccedila entre o homem e o animal natildeo estaacute apenas em grau mas
em espeacutecie cujo haacute uma imensa distacircncia entre aprender as capacidades conceituais do ser
humano em comparaccedilatildeo aos animais mais adaptaacuteveis Ou seja aos animais natildeo foi possiacutevel
ensinar-lhes a capacidade de manipular representaccedilotildees simboacutelicas e a linguagem articulada
Sem a aprendizagem das capacidades simboacutelicas e da linguagem os animais permanecem
com o seu pensamento conceitual a um niacutevel rudimentar que natildeo pode ser transmitido atraveacutes
do grupo (BRAVERMAN 1977)
Aranha e Martins (1993) tambeacutem afirmam ao dizer que as diferenccedilas entre o homem e
o animal natildeo eacute apenas em grau pois enquanto o animal vive dentro da natureza o homem a
utiliza e transformaacute-a em uma possiacutevel cultural O entendimento de cultura para os
antropoacutelogos eacute tudo aquilo que o homem consegue produzir ao construir sua existecircncia
como por exemplo as praacuteticas as teorias os valores materiais entre outros
Portanto eacute pelo trabalho que o homem consegue construir sua proacutepria histoacuteria sendo
que o ldquotrabalho que ultrapassa a mera atividade instintiva eacute assim a forccedila que criou a espeacutecie
humana e a forccedila pela qual a humanidade criou o mundo como o conhecemosrdquo
(BRAVERMAN 1977 53)
19
Aranha e Martins (1993) afirmam que o processo de construccedilatildeo da humanidade se faz
pela relaccedilatildeo entre os homens e a sua consciecircncia emerge lentamente atraveacutes dos conflitos
entre essas relaccedilotildees Entatildeo sobre cai ao homem agrave responsabilidade de manter viva a dialeacutetica
atraveacutes de suas contradiccedilotildees sendo que o ser humano ao mesmo tempo em que eacute um ser
social tambeacutem possui uma individualidade que eacute fundamental para distingui-lo dos demais
ldquoPortanto a sociedade eacute a condiccedilatildeo da alienaccedilatildeo e da liberdade eacute a condiccedilatildeo para que o
homem se perca mas tambeacutem de se encontrarrdquo (ARANHA MARTINS 1993 07)
13 - Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienado
A transiccedilatildeo do periacuteodo do feudalismo para o capitalismo foi marcada pelo nascimento
das faacutebricas onde ocorria uma acumulaccedilatildeo de capital que permitia comprar mateacuteria-prima e
maacutequinas para ampliar o seu mercado Os artesatildeos vendo o forte crescimento das faacutebricas e
percebendo que era impossiacutevel competir contra elas tiveram que vender a sua forccedila de
trabalho em troca de um salaacuterio e se adequar a divisatildeo de trabalho que estabelecia ritmo e
horaacuterio (ARANHA MARTINS 1993)
Ainda em relaccedilatildeo ao trabalho como meio de subsistecircncia para a sobrevivecircncia do ser
humano Dantas (1986) afirma que num determinado periacuteodo esta concepccedilatildeo passou a ser
alheia ao trabalhador Como a divisatildeo do trabalho estava no iniacutecio de seu desenvolvimento o
trabalho era organizado e entendido como familiar onde todos os adultos tinham sua
participaccedilatildeo inclusive aos idosos onde cabia a responsabilidade de distribuir as funccedilotildees Os
materiais para a realizaccedilatildeo do trabalho aleacutem de serem poucos eram rudimentares mas
suficientes para conseguir produtos para suprir as necessidades de todos Ainda citando
Dantas (1986) seus estudos apresenta ter um entendimento da divisatildeo do trabalho a partir do
periacuteodo feudal onde houve um acirramento da separaccedilatildeo entre campo e cidade que foi
crucial para o desenvolvimento daquele fenocircmeno no seu formato moderno No campo o
20
trabalho tem como caracteriacutestica a servidatildeo e era realizado na terra sendo esta propriedade do
senhor Os servos eram responsaacuteveis pela produccedilatildeo de meios materiais para si e para os
senhores Jaacute na cidade a divisatildeo do trabalho se dava dentro das pequenas oficinas onde o
artesatildeo que era dono dos seus meios de produccedilatildeo e sua famiacutelia seus auxiliares que com suas
habilidades determinavam um produto final
De acordo com Catani (1984 20) ldquoa divisatildeo social do trabalho eacute outra condiccedilatildeo
preacutevia caracteriacutestica de uma sociedade capitalistardquo pois nessa sociedade todos realizam seus
trabalhos de formas especiacuteficas e particulares contudo ldquotodos dependem uns dos outros e isto
decorre na divisatildeo do trabalho no seio da produccedilatildeo mercantilrdquo (CATANI 1984 20)
Marx (1996) explica que a divisatildeo do trabalho na forma de cooperaccedilatildeo comeccedila a ser
desenvolvido na manufatura predominantemente porque o processo de produccedilatildeo capitalista
se estende do seacuteculo XVI ateacute o seacuteculo XVIII Ou seja diversos trabalhadores com ofiacutecios
diferentes uns dos outros reunidos em uma oficina para produzir um produto sendo que este
passe por ambas as matildeos ateacute o seu acabamento final O trabalho eacute realizado em colaboraccedilatildeo
uns com os outros
Braverman (1980) nos esclarece que a divisatildeo do trabalho que ocorre na oficina eacute
diferente do trabalho desenvolvido no interior da sociedade afirmando que
A divisatildeo do trabalho na sociedade eacute caracteriacutestica de todas as sociedades conhecidas a divisatildeo do trabalho na oficina eacute produto peculiar da sociedade capitalista A divisatildeo social do trabalho divide a sociedade entre ocupaccedilotildees cada qual apropriada a certo ramo de produccedilatildeo a divisatildeo pormenorizada do trabalho destroacutei ocupaccedilotildees consideradas neste sentido e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produccedilatildeo [] Ainda no capitalismo os produtos da divisatildeo social do trabalho satildeo trocados como mercadorias enquanto os resultados da operaccedilatildeo do trabalhador parcelado natildeo satildeo trocados dentro da fabrica como o mercado mas satildeo todos possuiacutedos pelo mesmo capital Enquanto a divisatildeo social do trabalho subdivide a sociedade a divisatildeo parcelada do trabalho subdivide o homem e enquanto a subdivisatildeo da sociedade pode fortalecer o indiviacuteduo e a espeacutecie a subdivisatildeo do indiviacuteduo quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas eacute um crime contra a pessoa e contra a humanidade (BRAVERMAN 1980 72)
21
Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
22
Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
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servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
24
Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
29
dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
30
2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
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frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
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ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
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criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
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De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
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Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
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E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
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Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
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esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
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raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
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A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
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Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
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repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
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De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
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As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
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Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
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parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
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objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
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simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
REFEREcircNCIAS
ALTHUSSER Louis Aparelhos ideoloacutegicos de Estado 2ordf Ed Rio de Janeiro Graal 1985
ARANHA Maria Luacutecia de Arruda MARTINS Maria Helena Pires Filosofando introduccedilatildeo
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18
Ao dizer que o homem fala trabalha e pelo trabalho transforma a natureza e a si
proacuteprio nada disso teraacute sentido se natildeo enfatizarmos que a accedilatildeo do ser humano eacute uma accedilatildeo
coletiva Pois o trabalho eacute uma funccedilatildeo social e a palavra eacute um meio de diaacutelogo (ARANHA
MARTINS 1993)
Os estudos experimentais sobre o comportamento animal demonstram que eles natildeo
satildeo totalmente privados da capacidade de aprender e conceber ideacuteias de caraacuteter inicial ou
mesmo aprender a resolver os problemas mais simples que sejam portando
Assim uma criatura dotada de sistema nervoso tatildeo primitivo como a minhoca pode aprender a passar por um labirinto os chimpanzeacutes podem ser estimulados a inventar e fazer instrumentos tais como estender vara que lhes permitem atingir o alimento ou empilhar caixas para o mesmo fim (BRAVERMAN 1977 52)
Conclui-se que a diferenccedila entre o homem e o animal natildeo estaacute apenas em grau mas
em espeacutecie cujo haacute uma imensa distacircncia entre aprender as capacidades conceituais do ser
humano em comparaccedilatildeo aos animais mais adaptaacuteveis Ou seja aos animais natildeo foi possiacutevel
ensinar-lhes a capacidade de manipular representaccedilotildees simboacutelicas e a linguagem articulada
Sem a aprendizagem das capacidades simboacutelicas e da linguagem os animais permanecem
com o seu pensamento conceitual a um niacutevel rudimentar que natildeo pode ser transmitido atraveacutes
do grupo (BRAVERMAN 1977)
Aranha e Martins (1993) tambeacutem afirmam ao dizer que as diferenccedilas entre o homem e
o animal natildeo eacute apenas em grau pois enquanto o animal vive dentro da natureza o homem a
utiliza e transformaacute-a em uma possiacutevel cultural O entendimento de cultura para os
antropoacutelogos eacute tudo aquilo que o homem consegue produzir ao construir sua existecircncia
como por exemplo as praacuteticas as teorias os valores materiais entre outros
Portanto eacute pelo trabalho que o homem consegue construir sua proacutepria histoacuteria sendo
que o ldquotrabalho que ultrapassa a mera atividade instintiva eacute assim a forccedila que criou a espeacutecie
humana e a forccedila pela qual a humanidade criou o mundo como o conhecemosrdquo
(BRAVERMAN 1977 53)
19
Aranha e Martins (1993) afirmam que o processo de construccedilatildeo da humanidade se faz
pela relaccedilatildeo entre os homens e a sua consciecircncia emerge lentamente atraveacutes dos conflitos
entre essas relaccedilotildees Entatildeo sobre cai ao homem agrave responsabilidade de manter viva a dialeacutetica
atraveacutes de suas contradiccedilotildees sendo que o ser humano ao mesmo tempo em que eacute um ser
social tambeacutem possui uma individualidade que eacute fundamental para distingui-lo dos demais
ldquoPortanto a sociedade eacute a condiccedilatildeo da alienaccedilatildeo e da liberdade eacute a condiccedilatildeo para que o
homem se perca mas tambeacutem de se encontrarrdquo (ARANHA MARTINS 1993 07)
13 - Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienado
A transiccedilatildeo do periacuteodo do feudalismo para o capitalismo foi marcada pelo nascimento
das faacutebricas onde ocorria uma acumulaccedilatildeo de capital que permitia comprar mateacuteria-prima e
maacutequinas para ampliar o seu mercado Os artesatildeos vendo o forte crescimento das faacutebricas e
percebendo que era impossiacutevel competir contra elas tiveram que vender a sua forccedila de
trabalho em troca de um salaacuterio e se adequar a divisatildeo de trabalho que estabelecia ritmo e
horaacuterio (ARANHA MARTINS 1993)
Ainda em relaccedilatildeo ao trabalho como meio de subsistecircncia para a sobrevivecircncia do ser
humano Dantas (1986) afirma que num determinado periacuteodo esta concepccedilatildeo passou a ser
alheia ao trabalhador Como a divisatildeo do trabalho estava no iniacutecio de seu desenvolvimento o
trabalho era organizado e entendido como familiar onde todos os adultos tinham sua
participaccedilatildeo inclusive aos idosos onde cabia a responsabilidade de distribuir as funccedilotildees Os
materiais para a realizaccedilatildeo do trabalho aleacutem de serem poucos eram rudimentares mas
suficientes para conseguir produtos para suprir as necessidades de todos Ainda citando
Dantas (1986) seus estudos apresenta ter um entendimento da divisatildeo do trabalho a partir do
periacuteodo feudal onde houve um acirramento da separaccedilatildeo entre campo e cidade que foi
crucial para o desenvolvimento daquele fenocircmeno no seu formato moderno No campo o
20
trabalho tem como caracteriacutestica a servidatildeo e era realizado na terra sendo esta propriedade do
senhor Os servos eram responsaacuteveis pela produccedilatildeo de meios materiais para si e para os
senhores Jaacute na cidade a divisatildeo do trabalho se dava dentro das pequenas oficinas onde o
artesatildeo que era dono dos seus meios de produccedilatildeo e sua famiacutelia seus auxiliares que com suas
habilidades determinavam um produto final
De acordo com Catani (1984 20) ldquoa divisatildeo social do trabalho eacute outra condiccedilatildeo
preacutevia caracteriacutestica de uma sociedade capitalistardquo pois nessa sociedade todos realizam seus
trabalhos de formas especiacuteficas e particulares contudo ldquotodos dependem uns dos outros e isto
decorre na divisatildeo do trabalho no seio da produccedilatildeo mercantilrdquo (CATANI 1984 20)
Marx (1996) explica que a divisatildeo do trabalho na forma de cooperaccedilatildeo comeccedila a ser
desenvolvido na manufatura predominantemente porque o processo de produccedilatildeo capitalista
se estende do seacuteculo XVI ateacute o seacuteculo XVIII Ou seja diversos trabalhadores com ofiacutecios
diferentes uns dos outros reunidos em uma oficina para produzir um produto sendo que este
passe por ambas as matildeos ateacute o seu acabamento final O trabalho eacute realizado em colaboraccedilatildeo
uns com os outros
Braverman (1980) nos esclarece que a divisatildeo do trabalho que ocorre na oficina eacute
diferente do trabalho desenvolvido no interior da sociedade afirmando que
A divisatildeo do trabalho na sociedade eacute caracteriacutestica de todas as sociedades conhecidas a divisatildeo do trabalho na oficina eacute produto peculiar da sociedade capitalista A divisatildeo social do trabalho divide a sociedade entre ocupaccedilotildees cada qual apropriada a certo ramo de produccedilatildeo a divisatildeo pormenorizada do trabalho destroacutei ocupaccedilotildees consideradas neste sentido e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produccedilatildeo [] Ainda no capitalismo os produtos da divisatildeo social do trabalho satildeo trocados como mercadorias enquanto os resultados da operaccedilatildeo do trabalhador parcelado natildeo satildeo trocados dentro da fabrica como o mercado mas satildeo todos possuiacutedos pelo mesmo capital Enquanto a divisatildeo social do trabalho subdivide a sociedade a divisatildeo parcelada do trabalho subdivide o homem e enquanto a subdivisatildeo da sociedade pode fortalecer o indiviacuteduo e a espeacutecie a subdivisatildeo do indiviacuteduo quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas eacute um crime contra a pessoa e contra a humanidade (BRAVERMAN 1980 72)
21
Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
22
Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
23
servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
24
Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
29
dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
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2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
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corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
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lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
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frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
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ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
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criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
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De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
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Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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19
Aranha e Martins (1993) afirmam que o processo de construccedilatildeo da humanidade se faz
pela relaccedilatildeo entre os homens e a sua consciecircncia emerge lentamente atraveacutes dos conflitos
entre essas relaccedilotildees Entatildeo sobre cai ao homem agrave responsabilidade de manter viva a dialeacutetica
atraveacutes de suas contradiccedilotildees sendo que o ser humano ao mesmo tempo em que eacute um ser
social tambeacutem possui uma individualidade que eacute fundamental para distingui-lo dos demais
ldquoPortanto a sociedade eacute a condiccedilatildeo da alienaccedilatildeo e da liberdade eacute a condiccedilatildeo para que o
homem se perca mas tambeacutem de se encontrarrdquo (ARANHA MARTINS 1993 07)
13 - Da divisatildeo do trabalho e trabalho alienado
A transiccedilatildeo do periacuteodo do feudalismo para o capitalismo foi marcada pelo nascimento
das faacutebricas onde ocorria uma acumulaccedilatildeo de capital que permitia comprar mateacuteria-prima e
maacutequinas para ampliar o seu mercado Os artesatildeos vendo o forte crescimento das faacutebricas e
percebendo que era impossiacutevel competir contra elas tiveram que vender a sua forccedila de
trabalho em troca de um salaacuterio e se adequar a divisatildeo de trabalho que estabelecia ritmo e
horaacuterio (ARANHA MARTINS 1993)
Ainda em relaccedilatildeo ao trabalho como meio de subsistecircncia para a sobrevivecircncia do ser
humano Dantas (1986) afirma que num determinado periacuteodo esta concepccedilatildeo passou a ser
alheia ao trabalhador Como a divisatildeo do trabalho estava no iniacutecio de seu desenvolvimento o
trabalho era organizado e entendido como familiar onde todos os adultos tinham sua
participaccedilatildeo inclusive aos idosos onde cabia a responsabilidade de distribuir as funccedilotildees Os
materiais para a realizaccedilatildeo do trabalho aleacutem de serem poucos eram rudimentares mas
suficientes para conseguir produtos para suprir as necessidades de todos Ainda citando
Dantas (1986) seus estudos apresenta ter um entendimento da divisatildeo do trabalho a partir do
periacuteodo feudal onde houve um acirramento da separaccedilatildeo entre campo e cidade que foi
crucial para o desenvolvimento daquele fenocircmeno no seu formato moderno No campo o
20
trabalho tem como caracteriacutestica a servidatildeo e era realizado na terra sendo esta propriedade do
senhor Os servos eram responsaacuteveis pela produccedilatildeo de meios materiais para si e para os
senhores Jaacute na cidade a divisatildeo do trabalho se dava dentro das pequenas oficinas onde o
artesatildeo que era dono dos seus meios de produccedilatildeo e sua famiacutelia seus auxiliares que com suas
habilidades determinavam um produto final
De acordo com Catani (1984 20) ldquoa divisatildeo social do trabalho eacute outra condiccedilatildeo
preacutevia caracteriacutestica de uma sociedade capitalistardquo pois nessa sociedade todos realizam seus
trabalhos de formas especiacuteficas e particulares contudo ldquotodos dependem uns dos outros e isto
decorre na divisatildeo do trabalho no seio da produccedilatildeo mercantilrdquo (CATANI 1984 20)
Marx (1996) explica que a divisatildeo do trabalho na forma de cooperaccedilatildeo comeccedila a ser
desenvolvido na manufatura predominantemente porque o processo de produccedilatildeo capitalista
se estende do seacuteculo XVI ateacute o seacuteculo XVIII Ou seja diversos trabalhadores com ofiacutecios
diferentes uns dos outros reunidos em uma oficina para produzir um produto sendo que este
passe por ambas as matildeos ateacute o seu acabamento final O trabalho eacute realizado em colaboraccedilatildeo
uns com os outros
Braverman (1980) nos esclarece que a divisatildeo do trabalho que ocorre na oficina eacute
diferente do trabalho desenvolvido no interior da sociedade afirmando que
A divisatildeo do trabalho na sociedade eacute caracteriacutestica de todas as sociedades conhecidas a divisatildeo do trabalho na oficina eacute produto peculiar da sociedade capitalista A divisatildeo social do trabalho divide a sociedade entre ocupaccedilotildees cada qual apropriada a certo ramo de produccedilatildeo a divisatildeo pormenorizada do trabalho destroacutei ocupaccedilotildees consideradas neste sentido e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produccedilatildeo [] Ainda no capitalismo os produtos da divisatildeo social do trabalho satildeo trocados como mercadorias enquanto os resultados da operaccedilatildeo do trabalhador parcelado natildeo satildeo trocados dentro da fabrica como o mercado mas satildeo todos possuiacutedos pelo mesmo capital Enquanto a divisatildeo social do trabalho subdivide a sociedade a divisatildeo parcelada do trabalho subdivide o homem e enquanto a subdivisatildeo da sociedade pode fortalecer o indiviacuteduo e a espeacutecie a subdivisatildeo do indiviacuteduo quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas eacute um crime contra a pessoa e contra a humanidade (BRAVERMAN 1980 72)
21
Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
22
Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
23
servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
24
Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
29
dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
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2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
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ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
39
conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
40
criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
44
ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
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parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
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objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
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simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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20
trabalho tem como caracteriacutestica a servidatildeo e era realizado na terra sendo esta propriedade do
senhor Os servos eram responsaacuteveis pela produccedilatildeo de meios materiais para si e para os
senhores Jaacute na cidade a divisatildeo do trabalho se dava dentro das pequenas oficinas onde o
artesatildeo que era dono dos seus meios de produccedilatildeo e sua famiacutelia seus auxiliares que com suas
habilidades determinavam um produto final
De acordo com Catani (1984 20) ldquoa divisatildeo social do trabalho eacute outra condiccedilatildeo
preacutevia caracteriacutestica de uma sociedade capitalistardquo pois nessa sociedade todos realizam seus
trabalhos de formas especiacuteficas e particulares contudo ldquotodos dependem uns dos outros e isto
decorre na divisatildeo do trabalho no seio da produccedilatildeo mercantilrdquo (CATANI 1984 20)
Marx (1996) explica que a divisatildeo do trabalho na forma de cooperaccedilatildeo comeccedila a ser
desenvolvido na manufatura predominantemente porque o processo de produccedilatildeo capitalista
se estende do seacuteculo XVI ateacute o seacuteculo XVIII Ou seja diversos trabalhadores com ofiacutecios
diferentes uns dos outros reunidos em uma oficina para produzir um produto sendo que este
passe por ambas as matildeos ateacute o seu acabamento final O trabalho eacute realizado em colaboraccedilatildeo
uns com os outros
Braverman (1980) nos esclarece que a divisatildeo do trabalho que ocorre na oficina eacute
diferente do trabalho desenvolvido no interior da sociedade afirmando que
A divisatildeo do trabalho na sociedade eacute caracteriacutestica de todas as sociedades conhecidas a divisatildeo do trabalho na oficina eacute produto peculiar da sociedade capitalista A divisatildeo social do trabalho divide a sociedade entre ocupaccedilotildees cada qual apropriada a certo ramo de produccedilatildeo a divisatildeo pormenorizada do trabalho destroacutei ocupaccedilotildees consideradas neste sentido e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produccedilatildeo [] Ainda no capitalismo os produtos da divisatildeo social do trabalho satildeo trocados como mercadorias enquanto os resultados da operaccedilatildeo do trabalhador parcelado natildeo satildeo trocados dentro da fabrica como o mercado mas satildeo todos possuiacutedos pelo mesmo capital Enquanto a divisatildeo social do trabalho subdivide a sociedade a divisatildeo parcelada do trabalho subdivide o homem e enquanto a subdivisatildeo da sociedade pode fortalecer o indiviacuteduo e a espeacutecie a subdivisatildeo do indiviacuteduo quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas eacute um crime contra a pessoa e contra a humanidade (BRAVERMAN 1980 72)
21
Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
22
Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
23
servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
24
Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
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dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
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2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
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ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
39
conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
40
criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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21
Jaacute Marx (1964) afirma que a divisatildeo do trabalho eacute algo que possui um caraacuteter social
quando alienado Portanto
A divisatildeo do trabalho eacute a expressatildeo econocircmica do caraacuteter social do trabalho no interior da alienaccedilatildeo Ou entatildeo uma vez que o trabalho constitui apenas uma expressatildeo da atividade humana no seio da alienaccedilatildeo da manifestaccedilatildeo da vida enquanto alienaccedilatildeo da vida a divisatildeo do trabalho natildeo passa do estabelecimento alienado da atividade humana como uma atividade geneacuterica real ou como a atividade do homem enquanto ser geneacuterico (MARX 1964 220)
Carosi (1963) afirma que o trabalho humano pode ser fiacutesico como intelectual Mas o
trabalho intelectual e moral passa a ser mais nobre do que o trabalho material por
consequumlecircncia da divisatildeo social do trabalho que valoriza o trabalho intelectual diante do
braccedilal
O desenvolvimento do trabalho passa a ser realizado de tal forma que os
trabalhadores executam suas tarefas de forma parcelada alguns especializam no trabalhado
intelectual e outros no braccedilal Portanto essa execuccedilatildeo sobre a tarefa contribui para o
aumento da produtividade favorecendo o capitalismo O trabalhador natildeo cria natildeo pensa soacute
executa ou seja natildeo conhece a totalidade de seu trabalho
A divisatildeo social do trabalho eacute caracterizada pela separaccedilatildeo do trabalho intelectual e
trabalho manual (braccedilal) Aqui surge o que Marx denomina de trabalho alienado De acordo
com Chaui (2001) a relaccedilatildeo do trabalho do homem com a natureza natildeo eacute somente a
transformaccedilatildeo das coisas humanizadas e culturais mas sim
O que interessa eacute a divisatildeo social de trabalho e portanto a relaccedilatildeo entre os proacuteprios homens atraveacutes do trabalho dividido Essa divisatildeo comeccedila no trabalho sexual de procriaccedilatildeo prossegue na divisatildeo de tarefas no interior da famiacutelia continua como divisatildeo entre pastoreio e agricultor e entre estes e o comeacutercio caminha separando proprietaacuterios das condiccedilotildees do trabalho e trabalhadores avanccedila como separaccedilatildeo entre cidade e campo e entre trabalho manual e trabalho intelectual Essas formas de divisatildeo social do trabalho ao mesmo tempo que determinam a divisatildeo entre proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios entre trabalhadores e pensadores determinam a formaccedilatildeo das classes sociais e finalmente a separaccedilatildeo entre sociedade e poliacutetica isto eacute instituiccedilotildees sociais e Estado (CHAUI 2001 52)
22
Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
23
servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
24
Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
29
dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
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2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
35
surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
36
ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
39
conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
40
criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
44
ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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22
Na realidade as classes sociais satildeo as maneiras pelas quais os homens constroem suas
relaccedilotildees sociais que satildeo determinadas pelo modo de produccedilatildeo da sua existecircncia que eacute
separada no trabalho tendo como objetivo criar instituiccedilotildees que satildeo determinadas por ideacuteias
que escondem o real significado de suas relaccedilotildees Contudo ldquoas classes sociais satildeo o fazer-se
classe dos indiviacuteduos em suas atividades econocircmicas poliacuteticas e culturaisrdquo (CHAUI 2001
52)
O conceito de alienado surge quando Marx conserva o termo de alienaccedilatildeo de Hegel
mas criticando-o contra a sua concepccedilatildeo de afirmar que esse estava relacionado ao Espiacuterito
mas sim aos homens na sua existecircncia Portanto o trabalho se torna alienado quando o
proacuteprio trabalhador que faz o produto natildeo reconhece esse produto e nem o seu trabalho
(CHAUI 2001)
Um exemplo eacute o artesatildeo que antes de ter que vender sua forccedila de trabalho ele
encontrava atraveacutes do seu trabalho condiccedilotildees para produzir o seu proacuteprio meio de produccedilatildeo
e reconhecendo nesses produtos o seu trabalho Portanto as condiccedilotildees de trabalho dentro
desta infra-estrutura era um modo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
O trabalho alienado deve ser explicado inicialmente por um fato econocircmico e
contemporacircneo pois quanto mais riqueza um homem produz e maior for a sua extensatildeo o
trabalhador fica mais pobre e se transforma numa mercadoria barata em relaccedilatildeo ao nuacutemero de
bens que consegue produzir Contudo este objeto produzido pelo trabalho humano lhe opotildee
como um ser estranho natildeo pertencendo ao produtor Este fenocircmeno devesse a alienaccedilatildeo
(MARX 1964)
De acordo com Marx (1964 160) ldquoa alienaccedilatildeo do trabalhador no seu produto significa
natildeo soacute que o trabalho transforma em objeto assume uma existecircncia externa mas que existe
independente fora dele e a ele estranho []rdquo Um objeto eacute fruto de um produto que se
transforma numa coisa fiacutesica chamada de objetivaccedilatildeo do trabalho Isto representa a perda e a
23
servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
24
Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
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O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
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dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
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2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
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corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
36
ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
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criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
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De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
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Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
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E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
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com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
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3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
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Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
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esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
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raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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23
servidatildeo do objeto pois priva o trabalhador dos objetos mais necessaacuterios da vida como os do
trabalho
Chaui (2001) diz que o trabalho alienado ocorre quando o trabalhador natildeo pode
reconhecer o produto no valor de seu trabalho pois este natildeo depende uacutenica e exclusivamente
do trabalhador para suas finalidades reais mas sim do proprietaacuterio que oferece as condiccedilotildees
de trabalho
Por conseguinte Marx (1964) ao expor que a alienaccedilatildeo natildeo soacute se revela a niacuteveis de
resultado como por exemplo a alienaccedilatildeo do trabalhador e sua relaccedilatildeo com os produtos mas
ao processo de produccedilatildeo da sua atividade Contudo
[] se o produto do trabalhado eacute a alienaccedilatildeo a produccedilatildeo em si tem de ser alienaccedilatildeo ativa ndash a alienaccedilatildeo da atividade e a atividade da alienaccedilatildeo Na alienaccedilatildeo do objeto do trabalho resume-se apenas a alienaccedilatildeo na proacutepria atividade do trabalho (MARX 1964 162)
Portanto a alienaccedilatildeo do trabalho consiste em primeiro lugar esclarecer que o trabalho
natildeo pertence a natureza humana ou seja o trabalho eacute algo externo ao trabalhador Paralelo a
isso o homem durante o trabalho se sente fora de si chegando a concluir que o trabalhador
soacute se sente livre quando esta longe do trabalho ou quando realiza as funccedilotildees animais como
comer beber e procriar E finalmente transparecer ao trabalhador que o trabalho natildeo eacute seu
mas do outro (MARX 1964)
A transformaccedilatildeo que o trabalho alienado faz na vida geneacuterica do homem eacute de alienar
seu proacuteprio corpo e sua vida humana E a medida que esta alienaccedilatildeo vai se consolidando os
homens passam a se contrapor a si mesmo e com os outros A partir disso Marx (1964 166)
afirma que ldquoo homem se encontra alienado da sua vida geneacuterica significa que um homem esta
alienado dos outros e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humanardquo
24
Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
29
dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
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2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
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ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
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criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
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E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
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com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
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3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
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esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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24
Todavia a alienaccedilatildeo do homem faz com que ele se encontre consigo mesmo e se
relacione de acordo com o padratildeo que eacute determinado pela relaccedilatildeo do trabalho alienado
colocando todos em mesma situaccedilatildeo de alienaccedilatildeo (MARX 1964)
14 - Ideologia
O conceito de ideologia na perspectiva marxiana passa a ser de mesmo valor da ilusatildeo
falsa consciecircncia e concepccedilatildeo idealista na qual a realidade aparece invertida e as ideacuteias das
classes dominantes satildeo as determinantes na vida real Este conceito de ideologia implica em
ilusotildees que tornam a consciecircncia deturpada da realidade (LOumlWY 1998)
Segundo Marx (1983) as ideologias da classe dominante satildeo as ideacuteias dominantes
Portanto natildeo se pode compreender a ideologia sem antes tentar entender como ela esta
relacionada no contexto atual levando em consideraccedilatildeo a vida social das classes sociais e
seus aspectos poliacutetico sociais econocircmicos e religiosos (LOumlWY 1998)
Para Chaui (2001) a ideologia representa o ocultamento da realidade na qual os
homens vivem ou seja as condiccedilotildees que eles se encontram nem sempre satildeo frutos de suas
escolhas Estabelecem um modo de sociabilidade atraveacutes das instituiccedilotildees como a famiacutelia o
trabalho instituiccedilotildees religiosas entre outras Mas numa sociedade dividida em classes
levando a exploraccedilatildeo e a dominaccedilatildeo das outras faz-se necessaacuterio a classe dominante difundir
suas ideacuteias para legitimar sua supremacia tanto econocircmica poliacutetica e social Essas ideacuteias tecircm
como princiacutepio esconder dos homens como suas relaccedilotildees sociais satildeo produzidas e ocultar a
exploraccedilatildeo econocircmica e dominaccedilatildeo poliacutetica
Marx (1983 182) fala que ldquoas ideacuteias dominantes natildeo passam de expressatildeo ideal das
relaccedilotildees mateacuterias dominantes consideradas estas como ideacuteias daiacute as relaccedilotildees que fazem de
uma classe dominante portanto as ideacuteias de sua supremaciardquo E por conseguinte afirma que
O processo de produccedilatildeo da ideologia natildeo se faz ao niacutevel dos indiviacuteduos mas das classes sociais Os criadores das visotildees de mundo das superestruturas
25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
29
dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
30
2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
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corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
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frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
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ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
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criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
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esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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25
satildeo as classes sociais mas quem as sistematiza [] satildeo os representantes poliacuteticos ou literaacuterios da classe os escritores os lideres poliacuteticos etc satildeo eles que formulam sistematicamente essa visatildeo de mundo ou ideologia em funccedilatildeo dos interesses da classe (MARX apud LOumlWY 1998 95)
Esse processo ocorre devido a divisatildeo social do trabalho como visto acima onde
separa homens em proprietaacuterios e natildeo-proprietaacuterios Sendo os uacuteltimos explorados e
dominados a niacutevel econocircmico e poliacutetico Mas para que isso aconteccedila de fato a classe
dominante necessita de alguns instrumentos que satildeo o Estado e a ideologia De modo que as
ideologias da classe dominante sejam as ideacuteias dominantes na sociedade inteira fazendo com
que a classe que domina na infra-estrutura (econocircmica social e poliacutetica) tambeacutem domine na
superestrutura em plano espiritual das ideacuteias (CHAUI 2001)
Por fim a medida que entendemos como esta realidade social funciona faz-se
necessaacuterio a transformaccedilatildeo das nossas ideacuteias para lutarmos e transformarmos a realidade
(LOumlWY 1998)
15 ndash Capitalismo e divisatildeo da sociedade em infra-estrutura e superestrutura
O capitalismo ao longo da sua histoacuteria tem provocado profundas transformaccedilotildees
sociais nas grandes massas levando as pessoas a viverem numa sociedade miseraacutevel e
opressora dividida por classes e permeada por injusticcedilas que impedem que as pessoas tomem
consciecircncia da realidade a sua volta
Entatildeo faz-se necessaacuterio nesse trabalho estudar a relaccedilatildeo da sociedade e do
capitalismo bem como suas definiccedilotildees para melhor entendermos como se constituiu a
estrutura de uma sociedade capitalista sendo esta capaz de fazer com que milhares de pessoas
fiquem refeacutens e alienadas ao consumo ao passo de dar mais valor ao ter do que ao ser e
apontando para este fato a constituiccedilatildeo de uma sociedade de consumo que contribui para a
individualizaccedilatildeo das pessoas
26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
29
dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
30
2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
34
Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
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ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
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criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
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De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
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Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
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E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
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com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
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Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
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esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
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De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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26
O capitalismo e a sociedade se tratam de um assunto instigante que nos leva a estudar
como ocorre essa relaccedilatildeo estrateacutegica ideal para o triunfo da supremacia das classes
dominantes graccedilas ao controle que exercem sobre a classe trabalhadora que se encontra
alienada
Iniciaremos a nossa analise com a definiccedilatildeo de sociedade segundo Marx De acordo
com ele a estrutura da sociedade separada em niacuteveis determinados como infra-estrutura e
superestrutura representa a forma pela qual a base econocircmica estaacute relacionada e onde
ocorrem as forccedilas produtivas sendo tambeacutem representada por duas instacircncias que satildeo a
juriacutedico-poliacutetica e a ideologia Portanto podemos perceber que a estruturada da sociedade eacute
representada por uma base econocircmica chamada de infra-estrutura sendo que nela elevasse a
superestrutura Mas os andares superiores desse edifiacutecio natildeo se sustentam por si soacute por isso
se apoacuteiam sobre a base (infra-estrutura) (ALTHUSSER 1985)
Marx ao tentar esclarecer suas inquietaccedilotildees sobre a formaccedilatildeo da sociedade civil
tomou como objeto de suas investigaccedilotildees as relaccedilotildees juriacutedicas Em outras palavras as formas
histoacutericas de estado Ao longo dessa investigaccedilatildeo o filoacutesofo alematildeo percebeu que as formas
histoacutericas de estado natildeo podem ser explicadas por si mesmas e muito menos podem ser
reduzidas a uma simples conquista da evoluccedilatildeo do espiacuterito humano O que Marx conseguiu
identificar contudo foi que a organizaccedilatildeo de um determinado padratildeo de relaccedilotildees juriacutedicas
estaacute sempre condicionado pelo padratildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material
de uma determinada sociedade
Assim Ianni (1980 82) citando Marx diz ser ldquona produccedilatildeo social da proacutepria
existecircncia que os homens entram em relaccedilotildees determinadas necessaacuterias independentes de
sua vontaderdquo Estas relaccedilotildees na produccedilatildeo social determinam as forccedilas produtivas materiais
(infra-estrutura) que constituem a estrutura econocircmica da sociedade
27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
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dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
30
2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
35
surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
36
ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
37
mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
39
conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
40
criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
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objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
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simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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27
E eacute sobre esse alicerce que se eleva a superestrutura que por sua vez representa a
dimensatildeo juriacutedica e poliacutetica da sociedade e por conseguinte as formas de consciecircncia sociais
A constataccedilatildeo de que superestrutura nada mais eacute do que a reproduccedilatildeo simboacutelica das relaccedilotildees
de poder presentes na infra-estrutura implica no reconhecimento de que ldquonatildeo eacute a consciecircncia
dos homens que determina a realidade ao contraacuterio eacute a realidade social que determina sua
consciecircnciardquo (MARX apud IANNI 1980 83)
Enfim compreendendo profundamente os termos de infra-estrutura e superestrutura
veremos que o primeiro sustenta o segundo e este por sua vez domina o primeiro Soacute que de
uma forma ideoloacutegica para a sua sustentaccedilatildeo no poder
Vimos anteriormente que a sustentaccedilatildeo da superestrutura natildeo se da apenas com as
forccedilas produtivas e relaccedilotildees de produccedilatildeo que a base econocircmica desenvolve mas sim pela
divisatildeo social do trabalho onde uma classe economicamente dominante realiza o trabalho
intelectual e cedem os meios materiais para garantir a reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nisso podemos ver que a garantia da reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho vem desde a
Idade Meacutedia e a partir da Revoluccedilatildeo Industrial onde comeccedilou ocorrer a expansatildeo do
capitalismo e junto a ele o surgimento das maacutequinas Os artesatildeos natildeo podendo competir
contra o forte crescimento das maacutequinas e das faacutebricas tiveram que vender sua proacutepria forccedila
de trabalho pois os seus meios de produccedilatildeo jaacute natildeo eram mais sustentaacuteveis Visto separado de
seu meio de produccedilatildeo a alternativa encontrada pela classe trabalhadora foi depender da classe
dos proprietaacuterios e dos seus meios de produccedilatildeo (CATANI 1984)
Esta teoria sobre as estruturas da sociedade de infra e superestrutura desenvolve a
ideacuteia de construccedilatildeo civil que
Se constroacutei primeiro e o que vem por acreacutescimo o que sustenta e o que eacute sustentado o que se apoacuteia e o que serve de base Com isso entendida como metaacutefora a teoria da infra e da superestrutura reduz o Estado agraves relaccedilotildees mecacircnicas entre a infra-estrutura e a superestrutura de uma construccedilatildeo civil (ALBURQUERQUE apud ALTHUSSER 1985 20)
28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
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dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
30
2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
36
ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
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criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
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Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
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com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
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3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
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esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
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raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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28
Entatildeo esta metaacutefora de construccedilatildeo civil tem como primeiro objetivo a representaccedilatildeo
da base econocircmica e em seguida os andares da superestrutura que satildeo determinados pela
eficaacutecia da base ou seja eacute a base que determina a construccedilatildeo do edifiacutecio e seus andares
superiores (ALTHUSSER 1985)
Portanto estamos vivendo numa sociedade capitalista dividida por classes e cheia de
ideologias dominantes para controlar e alienar a classe trabalhadora
Hoje podemos constatar que a acumulaccedilatildeo de capital ocorre atraveacutes da exploraccedilatildeo da
forccedila de trabalho o que ocorria antigamente tambeacutem Conforme afirma Catani (1984) o
capitalismo
Significa natildeo apenas um sistema de produccedilatildeo de mercadoria como tambeacutem um determinado sistema no qual a forccedila de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca Para que exista Capitalismo faz-se necessaacuterio a concentraccedilatildeo da propriedade dos meios de produccedilatildeo em matildeos de uma classe social e a presenccedila de uma outra classe para a qual a venda da forccedila de trabalho seja a uacutenica fonte de subsistecircncia (CATANI 1984 08)
Ou seja com o texto citado acima podemos compreender que estaacute muito bem definido
que para obter capital eacute necessaacuterio ter concentrado um sistema onde os meios de produccedilatildeo
refletem na sociedade a divisatildeo de duas classes de tal modo que uma representa a burguesia
e detecircm os meios de produccedilatildeo e a outra a classe trabalhadora que vende sua forccedila de trabalho
para conseguir adquirir os miacutenimos bens necessaacuterios para sua sobrevivecircncia entre eles
roupas alimentaccedilatildeo casa educaccedilatildeo sauacutede etc
Enfim fazendo uma siacutentese sobre os conceitos fundamentais do pensamento
marxiano vimos que o trabalho humano eacute a soma do trabalho intelectual e trabalho braccedilal
sendo que este resultado eacute a construccedilatildeo de objetos culturais essenciais para a vida humana e
a divisatildeo social do trabalho ocorre devido o aumento da complexidade da organizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais que acaba provocando a dissociaccedilatildeo do trabalho humano nas duas dimensotildees
citadas acima E essa divisatildeo social reflete na infra-estrutura onde acontece a reuniatildeo dos
meios de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da vida material dividindo as classes em economicamente
29
dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
30
2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
34
Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
35
surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
36
ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
37
mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
38
natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
39
conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
40
criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
44
ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
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repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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29
dominante (para quem realiza o trabalho intelectual) e a classe economicamente dominada
(para quem realiza o trabalho braccedilal) Dessa base econocircmica elevasse uma superestrutura
onde a classe que domina na base material eacute a classe que deteacutem os meios de produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo da vida espiritual das ideacuteias na superestrutura Esta classe utiliza esses meios para
reproduzir as ideologias responsaacuteveis por mascarrar as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
que ocorre na infra-estrutura
Contudo o esporte eacute utilizado pela superestrutura como uma ideologia dominante
capaz de ocultar o processo de desenvolvimento das relaccedilotildees sociais fazendo com que as
pessoas permaneccedilam alienadas e dominadas das questotildees poliacuteticas econocircmicas e sociais E eacute
dentro dessa loacutegica que abordaremos o esporte no proacuteximo capiacutetulo dando destaque para sua
instrumentalizaccedilatildeo poliacutetico-ideoloacutegico e para sua estrutura que se assemelha as exigecircncias de
reproduccedilatildeo das forccedilas produtivas capitalistas
30
2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
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lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
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frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
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ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
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criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
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De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
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Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
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E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
44
ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
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com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
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raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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30
2 ndash Esporte e Capitalismo duas faces da mesma moeda
ldquoCriacutetico soacute pode ser o sujeito amoroso ou seja aquele que estaacute em condiccedilotildees de perceber afetivamente o drama
do mundordquo Carlos Rodrigues Brandatildeo
Nesse capiacutetulo abordaremos a relaccedilatildeo do esporte com o capitalismo levando em
consideraccedilatildeo que o uacuteltimo eacute um modo de produccedilatildeo de mercadorias pelos quais os meios de
produccedilatildeo satildeo apropriados e o esporte dentro desse sistema capitalista reflete na realidade as
expectativas e comportamentos tiacutepicos de um modo de produccedilatildeo determinado aleacutem de
assumir os valores do capitalismo na busca do lucro e rendimento a qualquer custo
Tambeacutem iremos sumariar como o esporte pode ser considerado um instrumento
ideoloacutegico atraveacutes do qual satildeo difundidos e reproduzidos os valores morais defendidos por
uma minoria economicamente dominante e o seu uso poliacutetico para esta constataccedilatildeo
21 O esporte moderno e seu uso poliacutetico
Para Bracht (2005) o esporte eacute um fenocircmeno mais expressivo da atualidade e que
direta ou indiretamente manteacutem uma relaccedilatildeo com milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro O
esporte expandiu-se tatildeo rapidamente que se transformou numa hegemonia da cultura corporal
de movimento
Segundo as consideraccedilotildees de Rubio (2002a) o esporte eacute um dos principais fenocircmenos
socioculturais e eacute capaz de refletir na sua proacutepria estrutura a forma pela qual a sociedade vem
se desenvolvendo e se organizando
O esporte moderno surge e assume sua caracteriacutestica competitiva em meados do
seacuteculo XVIII no acircmbito da cultura europeacuteia atraveacutes de um processo de esportivizaccedilatildeo das
atividades corporais das classes populares inglesas e da cultura da nobreza Ateacute o final desse
seacuteculo somente a aristocracia praticava esportes mas com a ascensatildeo da burguesia o esporte
se tornou uma atividade comum a outras camadas das classes sociais As atividades da cultura
31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
34
Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
35
surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
36
ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
37
mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
38
natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
39
conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
40
criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
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Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
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parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
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objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
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simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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31
corporal das classes populares inglesas representadas na sua maior parte pelos jogos com
bola tiveram inuacutemeras vezes sua praacutetica perseguida e reprimida pelo poder puacuteblico Mas foi
nas escolas puacuteblicas que os jogos adquiriram um focirclego para a sua permanecircncia pois neste
ambiente eles natildeo eram vistos como uma ameaccedila agrave propriedade e a ordem puacuteblica Eacute na
escola puacuteblica que os jogos vatildeo aos poucos assumindo a caracteriacutestica do esporte moderno
(BRACHT 2005 VALLE 2003)
O esporte dentro dessa cultura europeacuteia foi se desenvolvendo ateacute assumir
caracteriacutesticas baacutesicas como a competiccedilatildeo rendimento fiacutesico e teacutecnico recorde
racionalizaccedilatildeo e cientificizaccedilatildeo do treinamento Contudo estas caracteriacutesticas do fenocircmeno
esportivo contribuiram para que a cultural corporal de movimento se tornasse mais
esportivizada (BRACHT 2005)
De acordo com Valle (2003) o esporte desenvolveu e se expandiu durante o processo
de modernizaccedilatildeo ocorrido nos seacuteculos XIX e XX Dentre as principais caracteriacutesticas desse
processo destacamos a acentuada racionalizaccedilatildeo e secularizaccedilatildeo dos costumes a intensa
industrializaccedilatildeo e o grande impacto da aplicaccedilatildeo das tecnologias com particular impacto nas
aacutereas do transporte e da comunicaccedilatildeo em massa Foi nesse contexto que noccedilotildees como a de
rendimento e a de competiccedilatildeo comeccedilaram a ser introduzidas no esporte Tambeacutem foi nessa
ocasiatildeo que o esporte saiu da Inglaterra ele se estruturou e passou a ganhar todo o continente
europeu durante o seacuteculo XIX atingindo sua hegemonia no mundo inteiro no seacuteculo XX
Atualmente inuacutemeros tecircm sido os conceitos que o esporte vem adquirindo para
diferenciar sua praacutetica como por exemplo esporte de alto rendimento ou esporte educativo
No Brasil o conceito de esporte eacute representado por trecircs manifestaccedilotildees sendo elas 1) esportoshy
performance podemos dizer que eacute o esporte de alto rendimento pois visa a competiccedilatildeo o
lucro e o rendimento propriamente dito 2) esporto-participaccedilatildeo onde entra a questatildeo do
32
lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
34
Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
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ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
37
mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
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criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
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De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
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Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
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E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
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Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
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esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
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De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
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simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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______ O trabalho do atleta e a produccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo Revista Electroacutenica de
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lazer divertimento entre outros e 3) esporto-educaccedilatildeo vinculado ao esporte escolar e
universitaacuterio (BRACHT 2005)
O esporte de alto rendimento pode ter o seu sistema constituiacutedo da seguinte forma
a) possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiado pelo Estado []
b) possui um pequeno nuacutemero de atletas que tem o esporte como principal ocupaccedilatildeo
c) possui uma massa consumidora que financia parte do esporte-espetaacuteculo d) os meios de comunicaccedilatildeo de massa satildeo co-organizadores do esporte
espetaacuteculo e) possui um sistema de gratificaccedilatildeo que varia em funccedilatildeo do sistema
poliacutetico-societal (DIGEL 1986 apud BRACHT 2005 17)
Desta forma podemos perceber que o esporte de alto rendimento esta ligado as
questotildees que vai desde a detecccedilatildeo de talentos ateacute questotildees poliacuteticas passando por um
processo de massificaccedilatildeo por meios de comunicaccedilatildeo tratando o esporte como mercadoria
Esta forma de mercadoria pela qual o esporte de alto rendimento eacute transformado nada
mais eacute do que caracteriacutesticas dos setores produtivos e dos serviccedilos capitalistas que visam
obter fins lucrativos igual agraves leis do mercado (BRACHT 2005) Esta uacuteltima forma pela qual
o esporte eacute transformado veremos com mais aprofundamento no terceiro capiacutetulo como ocorre
essa mercantilizaccedilatildeo
Ateacute meados da deacutecada de 60 as teorias sobre o esporte natildeo destacavam a dimensatildeo
poliacutetica do esporte Mas esta situaccedilatildeo mudou drasticamente na deacutecada de 70 quando a criacutetica
soacutecio-filosoacutefica do esporte comeccedila a ser manifestada pelo movimento estudantil europeu
sendo a base dessa criacutetica o neomarxismo Este movimento eacute conhecido como Teoria Criacutetica
dos frankfurtianos da Escola de Frankfurt (BRACHT 2005)
Segundo Vaz (2005) a Teoria Criacutetica do Esporte surge e se desenvolve num contexto
histoacuterico divididos em dois momentos O primeiro momento estaacute relacionado com os Jogos
Oliacutempicos de Berlim realizado no ano de 1936 quando trecircs anos antes da sua realizaccedilatildeo
Adolf Hitler assume o poder como Chanceler do Reich em 1933 e defende o ideal da
supremacia da raccedila ariana E num segundo momento nos anos sessenta do seacuteculo passado os
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frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
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Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
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surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
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ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
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mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
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natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
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criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
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De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
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Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
44
ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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33
frankfurtianos passam a ter uma popularidade para aleacutem dos limites da academia com a
Teoria Criacutetica do Esporte Esta teoria estuda o esporte como o principal fator da analise e
reflexatildeo da criacutetica da cultura e da economia poliacutetica
Jaacute no Brasil as ideacuteias da Teoria Criacutetica em relaccedilatildeo ao esporte chegam num periacuteodo
onde a resistecircncia ditatorial persistia ao final dos governos militares E chega com um
discurso de renovaccedilatildeo para tentar superar o ensino tecnicista pedagoacutegico e por volta dos
anos setenta e oitenta encontrou na academia uma aacuterea do conhecimento para o seu
desenvolvimento criacutetico a Educaccedilatildeo Fiacutesica (VAZ 2005)
Algumas das teses da Escola de Frankfurt sobre a criacutetica do esporte pressupotildeem que
a) a tese da coisificaccedilatildeo ou alienaccedilatildeo Pressupotildeem que tanto a sociedade como os homens natildeo
satildeo o que satildeo determinados pela sua natureza e possibilidades Eacute um retrato das sociedades
industriais e do mundo do trabalho que transforma as relaccedilotildees sociais a partir de sua
racionalidade teacutecnica e da razatildeo instrumental e
b) a tese de repressatildeo e manipulaccedilatildeo Pressupotildeem que o sistema de dominaccedilatildeo repressatildeo e
exploraccedilatildeo ocorrem quando uma sociedade moderna estaacute altamente desenvolvida tecnoloacutegica
e industrializada (BRACHT 2005)
Aleacutem das contribuiccedilotildees da Teoria Criacutetica do Esporte sobre as teses de alienaccedilatildeo e
manipulaccedilatildeo o esporte passou por vaacuterios momentos histoacutericos e teve suas funccedilotildees ligadas a
interesses poliacuteticos das instituiccedilotildees sociais e do Estado Desde a Antiguidade podemos
observar que suas funccedilotildees estavam vinculadas as instituiccedilotildees militares educacionais e
religiosas Na Greacutecia Antiga a praacutetica esportiva contribuiacutea para a formaccedilatildeo do homem grego
e era desenvolvida nas escolas para formar jovens militares (SIGOLI DE ROSE JUNIOR
2004)
Eacute importante lembrar que o esporte na Antiguidade exercia um papel importante na
sociedade grega podendo ser destacado dois aspectos 1) o esporte representado pelos Jogos
34
Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
35
surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
36
ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
37
mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
38
natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
39
conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
40
criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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34
Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras entre as cidades gregas para a sua
realizaccedilatildeo e 2) o esporte considerado como um dos trecircs pilares da educaccedilatildeo ao lado da letras e
muacutesica sendo fundamental na formaccedilatildeo do homem grego (RUBIO 2002a)
Durante o Impeacuterio Romano onde ocorreram muitas conquistas territoriais e expansatildeo
externa a Repuacuteblica natildeo mencionava na eacutepoca uma poliacutetica social interna levando a
populaccedilatildeo a se rebelar Mas para conter esta iraacute do povo os imperadores decidiram por em
praacutetica a ldquoPoliacutetica do Patildeo e Circordquo Ou seja esta poliacutetica fazia com que os jogos puacuteblicos
tivessem suas realizaccedilotildees por um periacuteodo mais prolongado chegando ao nuacutemero de 175 dias
cerca de 5 meses e meio e sendo oferecidas cotas de patildees agrave populaccedilatildeo alienando-a das accedilotildees
poliacuteticas do Impeacuterio (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004)
Segundo os autores no final do seacuteculo XIX comeccedila a surgir as ligas e os campeonatos
e em contra partida levando um aumento de espectadores esportivos que enche os estaacutedios
nos finais de semana para assistir os jogos das equipes de suas respectivas faacutebricas passando
o esporte a ser utilizado como alienaccedilatildeo dos trabalhadores Nesse periacuteodo as faacutebricas
chegaram a formar vaacuterias equipes que tinham como principais jogadores seus funcionaacuterios
Os jogos entre as empresas representavam o ideal de fidelidade que o trabalhador deveria ter
perante sua empresa
Sobre o interesse das naccedilotildees em relaccedilatildeo ao esporte os autores afirmam que
Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefiacutecio proacuteprio na disputa de prestiacutegio internacional para seus respectivos regimes poliacuteticos Desde entatildeo os Jogos Oliacutempicos natildeo representam apenas a confraternizaccedilatildeo entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano mas tambeacutem a disputa de interesses poliacuteticos e econocircmicos de Estado e corporaccedilotildees (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 115)
Como jaacute citamos anteriormente neste capiacutetulo a Olimpiacuteada realizada em Berlim no
ano de 1936 eacute outro momento histoacuterico que podemos perceber o uso poliacutetico do esporte
Nessa eacutepoca a Alemanha era governada pelo nazismo de extrema direita que teve seu
35
surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
36
ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
37
mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
38
natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
39
conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
40
criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
44
ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
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objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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35
surgimento logo apoacutes a primeira guerra mundial Seu liacuteder supremo e totalitaacuterio era Adolf
Hitler
Esses Jogos tinham como objetivo ldquoexaltar a honra do povo alematildeo abalado pelas
imposiccedilotildees humilhantes do tratado de Versaillesrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 116)
O tratado de Versailles implicou aos alematildees a responsabilidade pelo conflito da primeira
guerra mundial e custou a eles pagar pesadas reparaccedilotildees que acabou levando a Alemanha a
uma grave crise econocircmica Contudo em 1936 ldquoos Jogos acabaram representando os
interesses de propaganda do governo totalitaacuterio e nazista e tornando-se um marco de
referecircncia da utilizaccedilatildeo do esporte para fins poliacuteticosrdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004
116)
Conforme os autores citado acima Adolf Hitler tinha como objetivo divulgar
internacionalmente o poder da Alemanha Nazista e de comparar a supremacia da raccedila ariana
no campo atleacutetico Fazendo uma siacutentese sobre o uso poliacutetico do esporte podemos ver que
A instrumentalizaccedilatildeo [poliacutetica] do esporte seguiu uma tendecircncia paralela ao desenvolvimento histoacuterico da sociedade mundial Foi utilizado pela burguesia como elemento disciplinar higienista e alienador no berccedilo da Revoluccedilatildeo Industrial procedimento do capitalismo Foi usado como ferramenta de propagando dos Estados inflamando valores nacionalistas e ateacute raciais como o caso da Alemanha nazista Tambeacutem serviu de instrumento de intimidaccedilatildeo poliacutetica estrateacutegica e ideoloacutegica durante a Guerra Fria [] Finalmente foi incorporado ao mercado mundial seguindo as tendecircncias neoliberais da globalizaccedilatildeo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 119 grifos nossos)
Podemos ver que as transformaccedilotildees que a sociedade sofre acabam influenciando
diretamente o acircmbito esportivo tornando-o susceptiacutevel as mudanccedilas da sociedade
22 - O esporte como instrumento ideoloacutegico do Estado
O esporte pode ser considerado um aparelho ideoloacutegico do Estado Para respondermos
a esta pergunta antes eacute necessaacuterio conhecermos a sua natureza e o lugar onde se cria as
relaccedilotildees sociais da praacutetica esportiva Pois o sistema esportivo estaacute baseado na forma
36
ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
37
mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
38
natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
39
conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
40
criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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36
ideoloacutegica de competiccedilatildeo princiacutepio este determinante na sociedade capitalista e tambeacutem
determinante da natureza humana que vive nesse tipo de sociedade Contudo a criacutetica que
Brohm constroacutei em torno da superestrutura ideoloacutegica do esporte num contexto de sociedade
burguesa e governos fascistas serve tambeacutem como critica ao esporte que eacute praticado e
desenvolvido em paiacuteses socialistas pois o esporte socialista prega a mesma ideologia do
esporte capitalista que satildeo voltados para o rendimento e a competitividade Sendo que ldquoas
sociedades chamadas socialistas satildeo sociedades capitalista de Estados totalitaacuterios nas quais a
superestrutura poliacutetica eacute basicamente a mesmardquo (PRONI 2002 55)
A relaccedilatildeo do esporte com o Estado significa antes de tudo para Bracht (2005)
compreender como se da a relaccedilatildeo do Estado com a sociedade civil de uma determinada
sociedade ou seja numa sociedade que assumiu valores do sistema capitalista o Estado tem
o interesse de transformar o esporte num instrumento ideoloacutegico do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo do capital
O esporte tambeacutem foi utilizado como arma ideoloacutegica durante a guerra fria que
envolveu duas grandes potecircncias mundiais os Estados Unidos e a Uniatildeo Sovieacutetica Este
conflito comeccedila logo apoacutes a segunda guerra mundial e se estendeu ateacute a segunda metade do
seacuteculo XX Dentro desse contexto ldquoo esporte foi usado como instrumento ideoloacutegico e de
propaganda por ocasiatildeo de competiccedilotildees internacionais e Jogos Oliacutempicos []rdquo (SIGOLI DE
ROSE JUNIOR 2004 117) e tambeacutem sendo utilizado com arma simboacutelica durante o
conflito o esporte transformou os campos de competiccedilotildees em verdadeiros campos de
batalhas pois ldquoas vitoacuterias esportivas foram usadas para reafirmar o prestiacutegio poliacutetico e a
soberania de cada regimerdquo (SIGOLI DE ROSE JUNIOR 2004 117)
Ou seja para mostrar a soberania do paiacutes um dos instrumentos utilizados para isso foi
o esporte pois quanto melhor fosse seu rendimento esportivo nas competiccedilotildees internacionais
37
mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
38
natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
39
conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
40
criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
44
ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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37
mais se mostrava que determinada naccedilatildeo era uma potecircncia em diversas aacutereas entre elas na
militar na economia poliacutetica e na esportiva
Proni (2002) citando Brohm faz uma criacutetica ao esporte moderno quanto a sua
utilizaccedilatildeo ideoloacutegica pelo Estado ostentando o poder privado da supremacia civil voltada
para o ato de manter a ordem estabelecida Esta ostentaccedilatildeo como um todo transmite os valores
e haacutebitos daqueles que estatildeo no poder para toda a sociedade O Estado natildeo soacute eacute visto como
um sistema governamental mas capaz de envolver em si todos os aparelhos poliacuteticos
culturais econocircmicos e ideoloacutegicos das classes hegemonicamente dominantes Por
conseguinte colocando as instituiccedilotildees privadas a serviccedilo da reproduccedilatildeo social
Nesse entendimento Proni (2002) afirma que Brohm segue a sua formaccedilatildeo marxista
fazendo uma comparaccedilatildeo da mercantilizaccedilatildeo do esporte com a loacutegica de organizaccedilatildeo
capitalista da sociedade e ao mesmo tempo recorrendo a definiccedilatildeo de ideologia de Althusser
para ponderar sobre o uso do esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado
O sistema esportivo eacute analisado por Brohm sob o conceito de ldquoprocesso de produccedilatildeo esportivordquo o qual se insere em um sistema de produccedilatildeo dado (capitalista) produzindo ldquomercadoriasrdquo muito particulares campeotildees espetaacuteculos recordes competiccedilotildees Ao mesmo tempo o esporte eacute estudado como uma instituiccedilatildeo social original ou melhor ldquoa instituiccedilatildeo da competiccedilatildeo fiacutesica que reflete estritamente a concorrecircncia econocircmica e industrialrdquo (PRONI 2002 34)
O esporte aleacutem de ser um fenocircmeno cultural que influecircncia a cultura corporal de
movimento torna-se uma expressatildeo hegemocircnica de interesse do Estado para garantir a
reproduccedilatildeo social atraveacutes da ideologia do esporte
Segundo Bracht (2005) ao falar sobre o conceito de hegemonia definida na
perspectiva de Gramsci a vecirc como uma cultura numa sociedade dividida por classes ou seja
o conceito de hegemonia esta acima dos conceitos de cultura e de ideologia que desenvolve
um processo de dominaccedilatildeo e valores da classe dominante atraveacutes das praacuteticas sociais
dominantes Por conseguinte ldquoo conceito de hegemonia permite portanto entender o esporte
38
natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
39
conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
40
criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
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E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
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com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
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Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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38
natildeo soacute como elemento de dominaccedilatildeo mas tambeacutem como resistecircncia cultural ou resistecircncia
poliacuteticardquo (BRACHT 2005 63)
Para responder uma de nossas problemaacutetica ao perguntar se o esporte eacute utilizado como
um aparelho ideoloacutegicopoliacutetico Althusser sendo citado por Proni (2002) nos da as seguintes
caracteriacutesticas funcionais
a) dissimular e encobrir as relaccedilotildees de produccedilatildeo gerando uma falsa consciecircncia das relaccedilotildees sociais
b) justificar e fazer uma apologia da situaccedilatildeo social existente c) ajudar a manter a ordem por meio de um conjunto coerente de
representaccedilotildees valores e crenccedilas atuando no plano imaginaacuterio d) potencializar as forccedilas produtivas e a reproduccedilatildeo do sistema de
reproduccedilatildeo e) e estruturar e alimentar a visatildeo de mundo cotidiano das massas
(ALTHUSSER apud PRONI 2002 54)
Segundo Proni (2002) o esporte natildeo soacute assume todas as funccedilotildees ideoloacutegicas visto
acima mas tambeacutem acaba fornecendo um modelo de comportamento social que serve para
comparar os rendimentos fiacutesicos e aumentar a sua competitividade a qualquer custo Assim
pode-se pensar que a ideologia esportiva eacute ldquouma capa superestrutural importante de modo de
produccedilatildeo capitalista monopolista de Estadordquo (BROHM apud PRONI 2002 54)
Assim como Vaz (2005) afirma sobre a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que esta
sintetizada da seguinte maneira de acordo com Brohm eacute
1 um aparelho ideoloacutegico do Estado que cumpre um triplo papel reproduz ideologicamente as relaccedilotildees sociais burguesas tais como hierarquia subserviecircncia obediecircncia etc segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional especiacutefica para a instituiccedilatildeo esportiva envolvendo competiccedilatildeo recordes e outputs em terceiro lugar ele transmite em larga escala o individualismo ascensatildeo social sucesso eficiecircncia etc 2 uma cristalizaccedilatildeo ideoloacutegica da competiccedilatildeo permanente que eacute representada como ldquopreparaccedilatildeo para as asperezas da vidardquo 3 eacute uma ideologia baseada no mito do progresso infinito e linear como se expressa na curva dos recordes 4 Finalmente o esporte eacute a ideologia do corpo-maacutequina ndash o corpo torna-se robocirc alienado pelo trabalho capitalista O esporte baseia-se na fantasia do ser ldquofitrdquo do corpo produtivo (BROHM apud VAZ 2005 10)
Para tentarmos sumariar algumas caracteriacutesticas que fazem do esporte de alto
rendimento um elemento importante aos olhos do Estado eacute que a sua organizaccedilatildeo eacute um
39
conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
40
criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
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esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
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raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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conjunto de atividades que conteacutem regras faacuteceis de entender ao contraacuterio das regras da
poliacutetica que satildeo muito complexas O esporte possibilita tambeacutem uma identificaccedilatildeo no niacutevel
de coletividade uma compensaccedilatildeo para o trabalho sucesso e prestiacutegio a niacutevel nacional entre
outros vaacuterios motivos (BRACHT 2005)
Embora a introduccedilatildeo da loacutegica capitalista e da ideologia no sistema esportivo seja a de
difundir o ideal burguecircs de democracia haacute uma contradiccedilatildeo entre a finalidade do sistema e do
seu modo de funcionamento pois enquanto um dos poacutelos visa a superaccedilatildeo de recordes e o
outro o exerciacutecio da cidadania E por outro lado a ideologia oliacutempica que prega a igualdade e
a fraternidade natildeo eacute exercida pela contradiccedilatildeo que existe entre o discurso e a praacutetica dentro
dessa loacutegica da organizaccedilatildeo esportiva (PRONI 2002)
23 ndash O esporte e sua estrutura capitalista
Iniciaremos nossa abordagem de acordo com Proni (2002) ao dizer que Brohm
preocupa-se com a organizaccedilatildeo capitalista que o esporte vem se estruturando e para isso
levanta algumas reflexotildees sobre as dimensotildees sociopoliacuteticas do esporte de forma que
questionam os valores esportivos associados a desvios ideoloacutegicos que reflete em seu
ambiente pois o mundo todo estaacute organizado em torno do capitalismo industrial que se
preocupa com o maacuteximo rendimento com a divisatildeo do trabalho com o movimento corporal
mecanizado e utilizando o esporte como aparelho ideoloacutegico do Estado transformando-o em
espetaacuteculo para fazer com que as massas se distraiam e natildeo tenham uma participaccedilatildeo criacutetica
na poliacutetica
Jaacute Bracht (2005) comeccedila sua criacutetica sobre a sociedade dominante pela sua formaccedilatildeo
social capitalista tardia e o esporte dentro dessa realidade serve como um elemento para
desviar a atenccedilatildeo dos conflitos sociais e poliacuteticos e amenizar as mesmas tensotildees sociais
fazendo com que as pessoas se conformem com suas condiccedilotildees de vida natildeo suportaacutevel Outra
40
criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
44
ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
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De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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40
criacutetica eacute a funccedilatildeo ideoloacutegica do esporte que prega a oportunidade e igualdade de chances
dentro de sua praacutetica Esta possibilidade de igualdade dentro da estrutura esportiva transmite a
ideacuteia de entendimento de uma sociedade que tambeacutem proporciona essas oportunidades
Contudo tal ideacuteia eacute a negaccedilatildeo dos princiacutepios da sociedade capitalista que estamos vivendo
Entatildeo faz necessaacuterio o esporte como conteuacutedo ideoloacutegico veicular um desinteresse poliacutetico
nas pessoas impedindo-as de formar uma consciecircncia criacutetica e posteriormente uma
participaccedilatildeo poliacutetica Assim a praacutetica esportiva nessa conjuntura reproduz as ideacuteias do
sistema capitalista de comportamento competitivo e de rendimento
Assim como afirma Proni (2002) Brohm propotildeem em seu livro ldquoSociologia Poliacutetica
do Esporterdquo um estudo de sociologia geral do esporte que se preocupa entender como a
estrutura de funcionamento do sistema esportivo se desenvolve histoacuterico e contraditoriamente
tendo como base na fundamentaccedilatildeo da teoria de Marx e estudando o esporte na sua totalidade
e complexidade cuja evoluccedilatildeo estaacute relacionada agrave contradiccedilotildees de sua proacutepria natureza Essa
contradiccedilatildeo pode ser compreendida no ldquocaraacuteter poliacutetico das instituiccedilotildees e agrave desfiguraccedilatildeo eacutetica
esportivardquo (PRONI 2002 36)
Este conceito de processo de produccedilatildeo esportiva visa dar uma reciprocidade da analise
estrutural e integraacute-la dentro dos sistemas socioeconocircmicos da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e poliacutetico
de formaccedilatildeo ldquoComo dissemos a especificidade do processo de produccedilatildeo esportivo esta na
finalidade das entidades esportivas produzir campeotildees em quantidade e qualidade para o
mercado ou para a olimpismordquo (PRONI 2002 35)
Um dos objetivos da sociologia poliacutetica do esporte eacute buscar entender as razotildees pelas
quais as formaccedilotildees sociais sejam elas evoluiacutedas ou em desenvolvimento adotaram os
modelos semelhantes da superestrutura esportiva que buscam a formaccedilatildeo e produccedilatildeo de
campeotildees e o maacuteximo de rendimento
41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
44
ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
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De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
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As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
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parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
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objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
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simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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41
De acordo com Proni (2002) o esporte acaba reproduzindo o modelo de sociedade
capitalista no acircmbito da organizaccedilatildeo da superestrutura ideoloacutegica por apresentar na sua
estrutura elementos idecircnticos da sociedade industrial como ldquoa) princiacutepio de rendimento b)
sistema de hierarquizaccedilatildeo c) princiacutepio de organizaccedilatildeo burocraacutetica e d) princiacutepio de
publicidade e transparecircnciardquo (PRONI 2002 41) Nesses moldes o esporte moderno direciona
o seu espetaacuteculo de rendimento produtivo e competitivo a existecircncia de uma sociedade do
espetaacuteculo
Antes de entendermos como funciona a loacutegica capitalista de organizaccedilatildeo do sistema
esportivo temos que levar em consideraccedilatildeo que o sistema esportivo eacute uma instituiccedilatildeo social
na qual todos os niacuteveis econocircmicos poliacuteticos ideoloacutegicos culturais etc se cruzam E como
o esporte eacute constituiacutedo de varias vertentes na qual determina a instacircncia de sua dominaccedilatildeo
como por exemplo no esporte de alto rendimento ou profissional a instacircncia predominante eacute
a economia no esporte militar estaacute presente a instacircncia poliacutetica na vertente do esporte
oliacutempico a ideologia e no esporte escolar e universitaacuterio a pedagogia (PRONI 2002)
Nessa sociedade capitalista e competitiva que vivemos atualmente os valores de
determinaccedilatildeo superaccedilatildeo de limites capacitaccedilatildeo e organizaccedilatildeo satildeo transmitidos a todo
momento para que as pessoas se dediquem mais e mais no mercado de trabalho E o discurso
esportivo envolve na sua cultura todos esses valores para alcanccedilar uma boa performance
dessa forma ldquotornando-se mais um atrativo para que o sujeito se prepare para a vida e o
mercado de trabalho competitivo que vivemos atualmenterdquo (VALLE 2003 10)
Esses valores satildeo vistos pela a autora como um discurso da sociedade contemporacircnea
que
[] preconiza atitudes como a determinaccedilatildeo o esforccedilo continuo a busca de limites que se coadunam perfeitamente com os ideais do esporte permitindo que esses jovens sintam atraveacutes de sua praacutetica que estatildeo preparando-se para sua vida futura e para o mercado de trabalho (VALLE 2003 20)
42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
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com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
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raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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42
Atraveacutes do esporte os princiacutepios da sociedade capitalista satildeo transmitidos na sua
maior parte para o puacuteblico jovem que satildeo os maiores consumidores das mercadorias e das
ideacuteias que estatildeo vinculados no esporte
Assim a estrutura do esporte eacute determinada de acordo com os princiacutepios da sociedade
capitalista mercantil que transforma a categoria esportiva especialista na produccedilatildeo da divisatildeo
social do trabalho buscando o maacuteximo rendimento para atingir o recorde na corrida contra o
reloacutegio fazendo do espetaacuteculo-esportivo uma mercadoria e medindo a produtividade do
esporte de acordo com o nuacutemero de atletas com niacuteveis internacionais e atraveacutes dos nuacutemeros
de medalhas conquistadas em eventos importantes como os Jogos Panamericanos Mundiais
e Olimpiacuteadas (PRONI 2002)
Mas para alcanccedilar esse rendimento a niacuteveis internacionais eacute preciso ter a natureza do
corpo sobre controle Vaz (1999) afirma sobre o entendimento da natureza que o nosso
corpo eacute visto como algo perigoso e que precisa ser dominado e domesticado para se tornar
menos ofensivo a civilizaccedilatildeo O corpo haacute de se tornar um objeto manipulado pelo
desenvolvimento das teacutecnicas que interveacutem nesse domiacutenio
Dentro desse desenvolvimento de teacutecnicas e discurso que satildeo legitimadores ao
controle do corpo o esporte eacute uma das formas mais importante para essa dominaccedilatildeo e
domesticaccedilatildeo do corpo Conforme diz Vaz (1999 92) ldquoo esporte parece de fato ter sido e
ainda ser um forte vetor a potencializar o domiacutenio do corpordquo
E no contexto de uma sociedade industrial e capitalista o princiacutepio de rendimento e
dominaccedilatildeo do corpo faz com que o homem realize o trabalho alienado para atingir um
determinado rendimento E o esporte dentro desse contexto eacute caracterizado como
a) um sistema de accedilatildeo coisificado e em conformidade com o trabalho b) como um instrumento de repressatildeo das necessidades c) como um fenocircmeno de manipulaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo que tal
adaptaccedilatildeo dar-se-ia por sua vez pelas funccedilotildees de compensaccedilatildeo socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo cumpridas pelo esporte (BRACHT 2005 29)
43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
44
ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
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De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
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Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
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simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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43
E para ilustrar melhor esta realidade da praacutetica esportiva que reproduz os ideais do
sistema capitalista recorremos a Rigauer apud Bracht (2005) que desenvolve uma relaccedilatildeo
entre o esporte de rendimento e o trabalho alienado para o entendimento de como os aspectos
dominantes da sociedade capitalista industrial como a disciplina autoridade rendimento
concorrecircncia entre outros que satildeo embutidos no esporte Esses aspectos satildeo mostrados da
seguinte forma
a) paralelismo entre as medidas de racionalizaccedilatildeo nos sistemas de accedilatildeo do esporte de rendimento e do trabalho
b) meacutetodos complexos de trabalho e treinamento c) a cientifizaccedilatildeo do trabalho e treinamento esportivo [] d) execuccedilatildeo repetitiva e sobrecarga satildeo caracteriacutesticas tanto do trabalho
como do moderno treinamento [esportivo] e) caraacuteter de mercadoria de ambos f) meacutetodos analiacuteticos de aprendizagem dos movimentos (RIGAUER apud
BRACHT 2005 33 grifos nossos)
As consequumlecircncias que surgem dessa tese de afinidade entre esporte e trabalho eacute a
loacutegica que ldquose esporte de alto rendimento eacute trabalho alienado e trabalho na sociedade
capitalista eacute trabalho alienado entatildeo alienaccedilatildeo tambeacutem eacute o que acontece no esporte de alto
rendimentordquo (BRACHT 2005 34) pois na tese do marxista ortodoxo o esporte eacute um mero
instrumento agrave reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho
Nesta relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho alguns aspectos satildeo importantes como
compreendermos sobre como a hegemonia do esporte se desenvolve ligado agrave reproduccedilatildeo da
forccedila de trabalho contribuindo para o sistema de produccedilatildeo capitalista Sobre esse
entendimento alguns autores dizem que o esporte quando tem sua funccedilatildeo relacionada aos
meios simples de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho estaacute ao mesmo tempo reforccedilando aos
trabalhadores as qualidades de disciplina persistecircncia e superaccedilatildeo etc isto eacute transmitindo
valores aos trabalhadores para serem submissos ao trabalho capitalista (BRACHT 2005)
Outra relaccedilatildeo entre o esporte e o trabalho eacute entendida durante o processo de
treinamento esportivo O corpo eacute visto como um objeto faacutecil de ser operacionalizado e ao
mesmo tempo ser comparado a uma maacutequina Pois assim como as maacutequinas o corpo deve
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
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com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
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esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
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raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
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De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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ser programado para reproduzir movimentos mecanizados e caso haja algum defeito no
corpo essas peccedilas podem ser substituiacutedas como satildeo as das maacutequinas (VAZ 1999)
Portanto o atleta sendo considerado como corpo-maacutequina assim como determina o
capitalismo estaacute em constante busca do melhor rendimento e para isso passa a exercer um
controle sobre seu proacuteprio corpo e submetendo-o a diversas teacutecnicas repetitivas para atingir o
aacutepice da performance esportiva Mas muitas vezes com medo de natildeo alcanccedilar esse objetivo
acaba sendo induzido a cometer alguns excessos como o uso de drogas e uma alta sobrecarga
de treinamento que podem ocasionar processos seacuterios de lesotildees e problemas de sauacutede em
imposiccedilatildeo ao discurso do esporte que satildeo difundidos como legitimadores da uniatildeo do
companheirismo do bem-estar entre outros ldquoimpera o desejo de vencer e competir a qualquer
custo mesmo que a despeito da sauacutederdquo (VALLE 2003 20)
Enfim ateacute este momento despejamos aqui um vasto pensamento fundamentado numa
teoria filosoacutefica que visa transformar a realidade revolucionariamente superando a sociedade
capitalista a qual vivemos E o esporte por ser um fenocircmeno sociocultural inserido nela
precisa ser entendido compreendido e transformado para que os verdadeiros ideais do
esporte sejam preservados
Buscamos nesse capiacutetulo estabelecer uma criacutetica entorno da mesmice presente no
esporte e no seu discurso atual para que seus praticantes natildeo sejam refeacutens de um modo de
produccedilatildeo determinado pelo sistema capitalista natildeo sejam viacutetimas das falsas ilusotildees de
igualdade e oportunidade que satildeo criados tanto pelo esporte como na sociedade e nem
reproduzem as formas de seleccedilatildeo e exclusatildeo individualismo e competitividade a qualquer
custo ateacute mesmo a utilizaccedilatildeo de outros meios que sejam imorais e antieacuteticos para atingir o
sucesso e o rendimento desejado
Sendo assim pode-se perceber que o esporte moderno surge a princiacutepio como
privileacutegio da classe burguesa como elemento alienador disciplinador e higienista e depois
45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
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simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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45
com o surgimento e expansatildeo do capitalismo torna-se mercadoria sendo este nosso proacuteximo
item a ser discutido no capiacutetulo seguinte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em
esporte-espetaacuteculo e a transformaccedilatildeo do atleta num novo tipo de trabalhador que vende sua
forccedila de trabalho regulado por leis de oferta e mercado
46
3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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3 ndash O Processo de Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
ldquoEnquanto eles capitalizam as imagens Eu socializo meus sonhosrdquo
Seacutergio Vaz
Neste uacuteltimo capiacutetulo iremos abordar como ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do
esporte levando em consideraccedilatildeo sua transformaccedilatildeo em espetaacuteculo e qual sua influecircncia
dentro de uma sociedade de consumo uma vez que o esporte caracterizado como uma
economia de mercado atrai milhotildees de pessoas pelo mundo inteiro que se tornam
consumidores de seus subprodutos Nesse sentido a induacutestria cultural capitalista transforma
as praacuteticas esportivas num modo de produccedilatildeo em espetaacuteculo para o consumo
Dentro desse contexto os atletas passam a vender sua forccedila de trabalho e esperam
receber um valor equivalente pela sua produccedilatildeo Enquanto que a sociedade de consumo
relacionada ao lucro determina as modas e criam falsas ilusotildees em seus consumidores
31 ndash Esporte-espetaacuteculo e Sociedade
Podemos de fato observar ao longo da histoacuteria a evoluccedilatildeo que o esporte vecircm
assumindo e que de certa forma sintetizamos neste trabalho mas lembrando que a histoacuteria
do esporte natildeo eacute objetivo principal deste estudo Contudo eacute de extrema importacircncia
recorrermos a algumas passagens para transcrevermos que desde os tempos antigo da Greacutecia
o esporte na representaccedilatildeo dos Jogos Oliacutempicos tinha o poder de interromper as guerras
entre as cidades gregas e os atletas recebiam em troca pelo seu desempenho esportivo
algumas regalias como por exemplo a isenccedilatildeo de impostos As formas de competiccedilatildeo nesta
eacutepoca era uacutenica e exclusivamente saber quem era o mais raacutepido o mais resistente e o mais
forte sem se preocupar com questotildees de tempo (horas minutos e segundos) e de distacircncia
(metros)
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Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
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esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
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raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
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A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
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Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
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repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
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De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
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As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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47
Jaacute nas Olimpiacuteadas modernas o recorde passa a ser importante e os atletas passam a ter
uma melhor orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos treinamentos para que cada vez mais consigam
diminuir seus proacuteprios recordes para vencer seus adversaacuterios sejam nas quadras campos ou
pistas Neste periacuteodo haacute um aumento da competitividade entre os paiacuteses especificamente
entre os paiacuteses capitalistas e socialistas As competiccedilotildees passam a ser mais organizadas e
comercializadas ideoloacutegica e politicamente pelos governos e cai sobre os atletas a
responsabilidade de representar seu paiacutes e o sistema econocircmico que ele exerce
Faccedilamos uma ressalva pois ateacute a deacutecada de 60-70 do seacuteculo passado o esporte ainda
se encontrava no sistema de amadorismo tornando-se muito difiacutecil nessas condiccedilotildees os
atletas ficarem ricos porque a relaccedilatildeo com o dinheiro e o desempenho esportivo natildeo era
praticado para preservar os ideais do Olimpismo Mas com a aboliccedilatildeo do amadorismo e com a
profissionalizaccedilatildeo do esporte a partir do seacuteculo setenta Rubio (2002a 140) afirma que neste
contexto pode ldquoconferir uma nova moral e portanto uma nova eacutetica ao Olimpismordquo Ou
seja a relaccedilatildeo do dinheiro com o rendimento esportivo passa a ser de extrema importacircncia e
inseparaacuteveis pois o esporte torna a ser uma opccedilatildeo de carreira profissional para as crianccedilas e
jovens que satildeo habilitados para o esporte (RUBIO 2002a 2002b)
Paes (2000 34) afirma que ldquoo desenvolvimento do esporte profissional tem-se
constituiacutedo em uma alternativa de mercado de trabalho tornando-se um fator gerador de
empregordquo E nem por causa disso o esporte deixa de apresentar seus aspectos positivos E
tal profissionalizaccedilatildeo ldquonatildeo desqualifica como esporte e sua legitimidade e dignidade devem
ser respeitadasrdquo (PAES 2000 34)
Com o processo de modernizaccedilatildeo mais evoluiacutedo no seacuteculo XX como a tecnologia os
meios de comunicaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeo no acircmbito esportivo ocorreu uma modificaccedilatildeo
na estrutura de competiccedilatildeo transformando-a em espetaacuteculo Segundo Lovisolo (2000) eacute
quase que impossiacutevel ter o atual esporte competitivo desvinculado com o espetaacuteculoshy
48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
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simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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48
esportivo uma vez que os meios de comunicaccedilatildeo elencaram o esporte como conteuacutedo de
mais-valia para a sua programaccedilatildeo E mais tornasse impossiacutevel pensar que o espetaacuteculo-
esportivo natildeo tem uma estrutura competitiva que envolve disputas entre equipes indiviacuteduos
propagandas entre outros
Para o esporte tornar-se cada vez mais espetaacuteculo foram modificas as regras de
algumas modalidades para que as exigecircncias das televisotildees fossem adotadas as quais Paes
(2000 34) ldquodestaca trecircs visualizaccedilatildeo promoccedilatildeo de incertezas sobre o resultado e em
algumas modalidades reduccedilatildeo do tempo de jogordquo Outro aspecto para esta espetacularizaccedilatildeo
foram os resultados que passaram a ser mais valorizados e a relaccedilatildeo que foi criada entre o
protagonista do espetaacuteculo e a figura espetacular do heroacutei no caso os atletas (RUBIO 2002b)
Pois o espetaacuteculo competitivo ou esportivo sem a presenccedila do mito do heroacutei ele perderia
forccedila e seria desinterresante (LOVISOLO 2000)
Conforme Di Giovanni (2005) tanto o esporte-espetaacuteculo como as praacuteticas corporais
nas uacuteltimas duas deacutecadas mostram um crescimento rumo ao campo de investimento
econocircmico E este crescimento pode ser atribuiacutedo ao seu envolvimento com a mass media e
com o forte desenvolvimento da induacutestria cultural que vem fabricando seus subprodutos
numa maior proporccedilatildeo se comparados aos anos anteriores
Jaacute Pires (2006) afirma que o processo de espetacularizaccedilatildeo do esporte teve iniacutecio da
adaptaccedilatildeo do esporte agrave linguagem da televisatildeo e da inclusatildeo das publicidades nos uniformes
dos atletas Depois foi a aprovaccedilatildeo das mudanccedilas de regras reduccedilatildeo de tempo de jogo e
imprevisibilidades nos resultados de algumas modalidades para que estas se encaixassem nos
horaacuterios da programaccedilatildeo televisiva O exemplo de maior sucesso e adaptaccedilatildeo das exigecircncias
televisivas foi sem duacutevida o voleibol
Rodrigues e Montagner (2006) denominam de esporte-espetaacuteculo o esporte de alto
rendimento pois este eacute transmitido por vaacuterios meios de comunicaccedilatildeo entre eles a miacutedia o
49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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49
raacutedio e a internet reproduzindo sua praacutetica nos campos do esporte educacional e do
participativo
O esporte-espetaacuteculo eacute a mercadorizaccedilatildeo do esporte cujo este tem o poder de
influenciar outras praacuteticas esportivas que estatildeo inseridas na sociedade Este fenocircmeno
introduzido numa sociedade de consumo reproduz os ideais desta de tal forma que difunde
seus sons imagens e informaccedilotildees para o consumo (RODRIGUES MONTAGNER 2006)
Nesse entendimento os autores afirmam que
Na perspectiva do esporte espetaacuteculo e sua interaccedilatildeo com a sociedade abordando aspectos como os meios de comunicaccedilatildeo e a mercadorizaccedilatildeo do esporte eacute possiacutevel apontar para um determinado segmento social ndash crianccedilas e adolescente ndash e para uma lsquoagecircnciarsquo de fomento esportivo ndash a escola atraveacutes da Educaccedilatildeo Fiacutesica ndash preocupando-se com a loacutegica do esporte espetaacuteculo o consumo de bens e entretenimento conduzidos por conceitos de marketing e administraccedilatildeo do esporte que vecircem nas crianccedilas e adolescentes ldquopotenciais consumidoresrdquo e a Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar que hoje na maioria das vezes funcionam como uma reprodutora desses aspectos sem desenvolver uma anaacutelise criacutetica sobre esse fenocircmeno (RODRIGUES MONTAGNER 2006 shy-)
Portanto o esporte chega num mundo contemporacircneo transformado em espetaacuteculo-
mercadoria para satisfazer as necessidades de uma sociedade de massa que estaacute na plenitude
do consumo a qualquer custo onde passa ser importante comprar o maacuteximo de produtos que
estatildeo na moda e deixar de lado o que realmente eacute essencial para a vida humana
Se olharmos para a moda do ponto de vista histoacuterico percebemos que ela natildeo eacute um
fenocircmeno que esteve presente em outras eacutepocas e civilizaccedilotildees A moda eacute um fenocircmeno que
estaacute presente no mundo ocidental moderno sem manter ligaccedilotildees especiacuteficas com um
determinado objeto E eacute a partir dos grupos aristocraacuteticos que ela comeccedila a expandir-se para
toda sociedade moderna (BARBOSA 2004)
Atualmente podemos perceber que a moda estaacute relacionada as determinaccedilotildees da
induacutestria cultural e no entanto utiliza o esporte para vender suas ideacuteias e adquirir o capital
necessaacuterio para manter-se sempre inovando os subprodutos dos esportes
50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
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repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
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De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
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Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
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parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
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objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
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simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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50
A definiccedilatildeo sobre a sociedade de consumo natildeo eacute muito simples pois a inexistecircncia de
definiccedilotildees precisas sobre ela entatildeo carece aos pesquisadores um estudo mais profundo para o
entendimento claro das instituiccedilotildees teoacutericas sobre a sociedade e a cultura de consumo uma
vez que muitos autores encontram dificuldades nessa pontuaccedilatildeo conceitual pois acabam
recusando as caracteriacutesticas socioloacutegicas e culturais Outros autores apontam sete temas para o
entendimento desse tipo de sociedade que satildeo
As origens histoacutericas da sociedade de consumo a identificaccedilatildeo entre a sociedade de consumo e o periacuteodo da produccedilatildeo em massa (mass production) a relaccedilatildeo entre consumo de massas e sociedade de consumo o papel de marketing e propaganda na sociedade de consumo e a questatildeo do controle e da manipulaccedilatildeo o consumo como um fator de estratificaccedilatildeo social a relaccedilatildeo entre sociedade de consumo e afluecircncia e por fim a relaccedilatildeo entre poacutes-modernismo e consumo (BARBOSA 2004 29)
De acordo com a autora citada acima a sociedade de consumo numa visatildeo marxista
estaacute relacionada agrave ordens de lucro que eacute capaz de criar nos consumidores falsa ilusatildeo de
prazer e satisfaccedilatildeo Por outro lado existe a ldquonecessidade de criar novos mercados e educar as
pessoas para serem consumidores criou mecanismos de seduccedilatildeo e manipulaccedilatildeo ideoloacutegicas
das pessoas atraveacutes do marketing e da propagandardquo (BARBOSA 2004 37)
O consumismo do qual estamos falando eacute a transformaccedilatildeo da sociedade de consumo
em sociedade de espetaacuteculo onde as mercadorias satildeo as responsaacuteveis pela individualizaccedilatildeo
das pessoas Eacute claro que concordamos que os indiviacuteduos satildeo diferentes e que cada um tem
sua individualidade e personalidade mas o que queremos dizer aqui eacute que esta
individualizaccedilatildeo natildeo se da a niacuteveis de caracteriacutesticas geneacuteticas cujos DNAs satildeo diferentes
mas sim da individualizaccedilatildeo para o egoiacutesmo da inveja ou seja o ter eacute mais importante do
que ser
Com isso demonstramos que ldquonuma sociedade dominada pela produccedilatildeo e consumo de
imagens nenhuma parte da vida pode continuar imune agrave invasatildeo do espetaacuteculo nem mesmo o
esporte com seus ideais de Olimpismordquo (VALLE 2003 06)
51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
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repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
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De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
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As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
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Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
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parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
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objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
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orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
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simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
REFEREcircNCIAS
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51
Nessa sociedade de espetaacuteculo podemos citar algumas de suas dimensotildees
fundamentada em Guy Debord (1931 ndash 1994) ao expressar que ldquotoda a vida das sociedades
nas quais reinam as modernas condiccedilotildees de produccedilatildeo se apresenta como uma imensa
acumulaccedilatildeo de espetaacuteculordquo (DEBORD 1997 13) Por isso o esporte de alto rendimento esta
inserido neste contexto por facilitar a intermediaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais entre as pessoas
sendo que ldquoo espetaacuteculo natildeo eacute um conjunto de imagens mas uma relaccedilatildeo social entre pessoas
mediadas por imagensrdquo (DEBORD 1997 14)
Portanto a espetacularizaccedilatildeo das coisas exerce influecircncia direta na sociedade
inclusive na sociedade de consumo onde todo e qualquer fenocircmeno que surge satildeo
modificados pela proacutepria sociedade como por exemplo os fenocircmenos poliacuteticos culturais
sociais econocircmicos e outros
32 - Mercantilizaccedilatildeo do Esporte
Podemos observar que tanto o fenocircmeno esportivo como as praacuteticas corporais jaacute na
segunda metade do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI vecircm sofrendo um intenso processo de
mercantilizaccedilatildeo de tal forma que sua transformaccedilatildeo em esporte-espetaacuteculo no atual mundo
contemporacircneo contempla esta globalizaccedilatildeo que o esporte vem alcanccedilando no mundo inteiro
em busca de investimentos e lucros
Para o esporte atingir a hegemonia do movimento corporal e das praacuteticas esportivas
descrevemos nos capiacutetulos anteriores que eacute necessaacuterio alienar e domesticar a natureza do
corpo humano atraveacutes de ideologias sendo estas ideologias dominantes para que se torne
possiacutevel a divisatildeo social do trabalho dentro do esporte assim como ocorre na sociedade
capitalista alienando seus trabalhadores e os atletas que passam a natildeo reconhecer mais as suas
potencialidades naturais de criatividade passando a reproduzir movimentos mecacircnicos e
52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
esporte pois as companhias de televisatildeo faziam um investimento muito alto para ter o direito
de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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52
repetitivos Portanto a hegemonia do esporte como sua transformaccedilatildeo em mercadoria faz
valer seu valor de troca de rendimento e lucro dentro da organizaccedilatildeo loacutegica capitalista
Neste contexto o esporte eacute visto como uma economia capitalista pois ldquonos uacuteltimos
dececircnios nas sociedades modernas tem ocorrido um intenso processo de associaccedilatildeo entre o
esporte e a atividade econocircmica [] tal como a constataccedilatildeo de clubes-empresas
patrocinadores milionaacuterios para algumas modalidades esportivas []rdquo (DI GIOVANNI 2005
165) Mas os investimentos parecem natildeo ter soacute atingido os clubes e outras modalidades
esportivas atingiram a maior festa esportiva do mundo os Jogos Oliacutempicos da era moderna
Um ldquocluberdquo formado por dirigentes magnatas cujo presidente do Comitecirc Oliacutempico
Internacional ndash COI com apenas uma uacutenica eleiccedilatildeo ficou no poder por mais de doze anos e
decidia com seus conselheiros onde seriam realizados os Jogos Oliacutempicos E para isso
gastavam rios de dinheiros para comprar votos dos noventas e poucos dirigentes do COI Este
clube segundo Simson e Jennings (1992 15) ldquoeacute uma das sociedades fechadas mais
poderosas lucrativa e secreta do mundo Por intermeacutedio do Clube um punhado de
lsquopresidentesrsquo nomeados comanda o esporte mundialrdquo
Isso demonstra que o monopoacutelio das praacuteticas esportivas natildeo estaacute apenas em niacutevel do
entretenimento ou da tecnologizaccedilatildeo mas sim das confederaccedilotildees federaccedilotildees e clubes que
controlam o esporte e junto da miacutedia amplia seu poder de comercializaccedilatildeo alcanccedilando uma
maior massa de consumidores e com a tecnologizaccedilatildeo tornam possiacutevel potencializar ao
maacuteximo o desempenho do esporte competitivo para atrair mais espectadores investidores e
consumidores
O COI tendo como presidente Juan Antonio Samaranch transformou os Jogos
Oliacutempicos numa marca mundial e num bom lugar para quem quisesse ganhar dinheiro com o
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de transmissatildeo dos Jogos (SIMSON JENNINGS 1992)
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
REFEREcircNCIAS
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Acesso em 15042007
53
De acordo com os senhores dos aneacuteis os Jogos Oliacutempicos que foram realizados em
Barcelona em 1992 houve um investimento por parte das companhias de televisatildeo
assombroso se comparado aos Jogos realizados em Roma em 1960 Os investimentos foram
Para os Jogos Oliacutempicos em Barcelona soacute as companhias de televisatildeo de todo o mundo concordaram em pagar um total de US$ 663 milhotildees A rede norte-americana NBC entrou com US$ 416 milhotildees A Uniatildeo Europeacuteia de emissoras US$ 90 milhotildees A NHK lidera um grupo de emissoras de televisatildeo japonesas bancando US$ 625 milhotildees O canal 7 australiano pagou quase US$ 34 milhotildees Mesmo com o caixa baixo o Leste Europeu contribuiu com US$ 4 milhotildees [] Na Olimpiacuteada de Roma em 1960 a televisatildeo pagou apenas US$ 1 milhatildeo (SIMSON JENNINGS 1992 23)
Isto prova que o fenocircmeno esportivo estaacute se tornando a menina dos olhos dos meios de
comunicaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo que a miacutedia televisiva eacute um aparelho ideoloacutegico em
funccedilatildeo do Estado que visa capitalizar as imagens e transmitir um pensamento jaacute determinado
contribuindo para o conformismo e alienaccedilatildeo das pessoas Os contratos feitos pelas
companhias de televisatildeo aleacutem de garantir sua participaccedilatildeo nos eventos esportivos visa
tambeacutem obter a exclusividade e ateacute certo monopoacutelio sobre algumas modalidades esportivas
Elas tambeacutem estatildeo em busca de telespectadores para engordar a sua audiecircncia
A nova forma do esporte no atual mundo contemporacircneo encontra-se num beco sem
saiacuteda pois ele estaacute cercado pelos oportunistas que podemos identificar sendo a miacutedia os
dirigentes de clubes esportivos e as marcas nacionais e multinacionais Todos esses
oportunistas satildeo capazes de transformaacute-lo em produto de valor de troca e valor de uso
Assim como lembra-nos Catani (1984) todos os produtos na sociedade capitalista
precisam ser trocados ou seja a troca passa a ser a subsistecircncia das pessoas dentro da
sociedade e o produto que eacute o resultado do trabalho humano torna-se mercadoria Com isso
afirmamos que cada mercadoria assume uma caracteriacutestica especifica de valor de uso Jaacute o
valor de troca corresponde agrave relaccedilatildeo em que os produtos satildeo trocados nas mesmas condiccedilotildees
por outros produtos para o valor de uso
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
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parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
REFEREcircNCIAS
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Acesso em 15042007
54
As instituiccedilotildees chamadas por noacutes de oportunistas satildeo instrumentos capazes de
mobilizar uma grande massa de pessoas equumlidistante em toda sua extensatildeo para em torno do
esporte mercantilizado e assim adquirir mais lucro para sua receita gerando o capital
Dentre as trecircs instituiccedilotildees que citamos acima a miacutedia eacute a que exerce maior influecircncia
sobre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte ldquoEssa mercadorizaccedilatildeo envolve duas
dimensotildees a) mercadorizaccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo e seus subprodutos b) a
mercadorizaccedilatildeo dos serviccedilos ligados agrave praacutetica esportivardquo (BRACHT 2005 111) Ou seja as
marcas e sejam elas nacionais ou multinacionais que patrocinam as equipes ou os eventos
esportivos que vatildeo desde os campeonatos de Vaacuterzea aos Jogos Oliacutempicos estatildeo ligados
diretamente com a miacutedia
Um exemplo eacute a hegemonia do refrigerante Coca-Cola que dominou por um periacuteodo
os Jogos Oliacutempicos se tornando a maior e a mais conhecida patrocinadora desse evento Ela
se tornou a bebida mais apreciada em todo o mundo estabelecendo uma via de matildeo dupla
com o mundo do esporte internacional Este longo histoacuterico comeccedila nos Jogos Oliacutempicos de
Roma em 1960 Esteve presente na cidade do Meacutexico em 1968 e natildeo faltou em Munique
(1972) em Montreal (1976) em Moscou (1980) mesmo com o boicote da delegaccedilatildeo norte-
americana nos Jogos na Ruacutessia em Los Angeles (1984) em Seul (1988) e em Barcelona no
ano de 1992 (SIMSON JENNINGS 1992)
Outra marca que se destacou dentro do maior evento esportivo foi a Adidas que ao
patrocinar a principal modalidade da Olimpiacuteada considerada a joacuteia da coroa oliacutempica o
atletismo conseguiu construir seu nome no mundo do esporte Na Olimpiacuteada de Berlim em
1936 um atleta norte-americano chamado Jesseacute Owens ganhou fabulosamente quatro
medalhas de ouro calccedilando Adidas sendo que a maioria dos campeotildees oliacutempicos que
aparecem em fotografias estatildeo acompanhados dessas trecircs listas nos calccedilado (SIMSON
JENNINGS 1992)
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
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objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
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Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
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60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
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Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
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Acesso em 15042007
55
Para Bracht (2005 111) tanto o esporte de alto rendimento quanto o de espetaacuteculo
que se organiza nos planos da economia de mercado modificando a cultura em mercadoria no
contexto da induacutestria do entretenimento precisa ser observada atentamente a partir da
economia da cultura Isto eacute a ideacuteia principal eacute fazer com que as pessoas construam sua
proacutepria cultura e natildeo simplesmente a consuma Com isso ldquopodemos captar a transformaccedilatildeo
que vem ocorrendo no plano da cultura corporal de movimento ai incluiacutedo o esporte [] com
o conceito de comercializaccedilatildeomercantilizaccedilatildeo ou entatildeo mercadorizaccedilatildeo do esporterdquo
(BRACHT 2005 92)
Dessa forma podemos responder a pergunta norteadora deste capiacutetulo que eacute como
ocorre o processo de mercantilizaccedilatildeo do esporte Contudo o processo de mercantilizaccedilatildeo
segundo Di Giovanni (2005)
[] reflete a complexidade da divisatildeo social do trabalho na sociedade urbano-industrial bem como os princiacutepios de organizaccedilatildeo da economia capitalista na qual a atuaccedilatildeo das ldquoleis de bronzerdquo que regem a concorrecircncia entre os produtos fazem com que passe a ocorrer a ldquoproduccedilatildeo pela produccedilatildeordquo o produtivismo que faz aumentar a massa de mercadorias aportada ao mercado bem como o surgimento de novos bens materiais ou culturais mercantilizados e a constituiccedilatildeo sempre renovada de novos mercados (DI GIOVANNI 2005 166)
Assim a competitividade no modo de produccedilatildeo de mercadorias no sistema capitalista
tem pressa em aumentar sua produtividade para conquistar os espaccedilos de suas concorrentes e
garantir um maior lucro pois o esporte transformou-se em objeto de consumo de massa
De acordo com Nozaki e Penna (2007) podemos identificar que no iniacutecio do seacuteculo
XXI o predomiacutenio das dimensotildees do esporte estatildeo ligadas ao sistema econocircmico de mercado
capitalista entre elas podemos citar
a) A espetacularizaccedilatildeo ligada ao acircmbito da mercadorizaccedilatildeo no contexto de um sistema que se colapsa pela superproduccedilatildeo de mercadoria
b) A fabricaccedilatildeo do esporte pelas grandes corporaccedilotildees adaptada ao mais alto grau de exploraccedilatildeo capitalista para a maximizaccedilatildeo dos lucros na Indoneacutesia a Nike chegou a pagar 040 centavos de doacutelar a hora utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tecircnis os quais natildeo satildeo fabricados em lugar nenhum nos EUA onde esta empresa tem sede Outro exemplo de modalidade de exploraccedilatildeo que vem se disseminando eacute a utilizaccedilatildeo de presidiaacuterios por
56
parte das grandes empresas nos EUA em troca de um pequeno salaacuterio (de US$ 002 a 200 a hora) eou de uma reduccedilatildeo de sua pena Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execuccedilatildeo de trabalhos (NOZAKI PENNA 2007 01)
Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
mercado capitalista assim como ocorre na sociedade onde a miseacuteria eacute produzida pela
exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
politicamente dominante
Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
elementos que estatildeo relacionados entre si satildeo elas a) as modalidades esportivas em si b) os
siacutembolos das equipes e dos eventos esportivos cujos ldquoos cincos aneacuteis interligados satildeo hoje
uma das mercadorias mais valiosas do mundo ndash em termos financeirosrdquo (SIMSON
JENNINGS 1992 131) e c) os atletas que passam a ser utilizados como outdoors ambulantes
Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
parte da cultura iraacute assumir um caraacuteter de mercadoria
Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
capitalista aparece como uma lsquoimensa coleccedilatildeo de mercadoriasrsquo e a mercadoria individual
como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
sistema capitalista determinando o modo de produccedilatildeo das instituiccedilotildees todos os elementos de
uma cultura seratildeo mercadorias e objeto de consumo
Assim como o trabalho humano eacute uma atividade transformadora atraveacutes da qual o
homem cria objetos culturais e cria a si proacuteprio satisfazendo suas necessidades a mercadoria
eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
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REFEREcircNCIAS
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Esta exploraccedilatildeo representa uma nova forma de valorizaccedilatildeo do esporte dentro do
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exploraccedilatildeo do capitalismo em favor do enriquecimento de uma minoria econocircmica e
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Outras dimensotildees da mercantilizaccedilatildeo do esporte que podemos destacar satildeo trecircs
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Contudo o esporte moderno ao longo da histoacuteria desenvolveu sua marca
mercadorizada e no entanto Bracht (2002) pergunta ateacute que ponto este elemento que faz
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Para Marx (1996 165) ldquoa riqueza das sociedades em que domina o modo de produccedilatildeo
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como sua forma elementarrdquo Por isso enquanto a nossa sociedade assumir os valores do
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eacute
Antes de tudo um objeto extremo uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espeacutecie A natureza dessas mercadorias se elas se originam do estocircmago ou da fantasia natildeo altera nada na coisa Aqui tambeacutem natildeo se trata de como meio de subsistecircncia isto eacute
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Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
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Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
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Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
REFEREcircNCIAS
ALTHUSSER Louis Aparelhos ideoloacutegicos de Estado 2ordf Ed Rio de Janeiro Graal 1985
ARANHA Maria Luacutecia de Arruda MARTINS Maria Helena Pires Filosofando introduccedilatildeo
agrave filosofia 2ordf ed Satildeo Paulo Moderna 1993
BARBOSA Liacutevia Sociedade de consumo Rio de Janeiro Jorge Zahar 2004
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______ Esporte histoacuteria e cultura In PRONI Marcelo Weishaupt LUCENA Ricardo
(orgs) Esporte histoacuteria e sociedade Campinas Autores Associados 2002 p191-205
BRAVERMAN Harry Trabalho e capitalismo monopolista degradaccedilatildeo do trabalho no
seacuteculo XX Rio de janeiro Zahar 1977
CATANI Afracircnio Mendes O que eacute capitalismo Satildeo Paulo Brasiliense 1984
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DI GIONANNI Geraldo Mercantilizaccedilatildeo das praacuteticas corporais o esporte na sociedade de
consumo de massa Revista Gestatildeo Industrial ISSN 1808-0448 v 01 n 01 p 164-173
2005 Disponiacutevel em
ltwwwpgcefetprbrppgeprevistarevista2005resumosVol1Nr1artigo12php-3kgt Acesso
em 17052007
GIL Antocircnio Carlos Como elaborar projetos de pesquisa Satildeo Paulo Atlas 1996
LOVISOLO Hugo Esporte competitivo e espetaacuteculo esportivo In MOREIRA Wagner
Wey SIMOtildeES Regina (org) Fenocircmeno esportivo no iniacutecio de um novo milecircnio
Piracicaba Editora Unimep 2000 p 15-40
62
LOumlWY Michael Ideologias e ciecircncia social elementos para uma anaacutelise marxista 12ordf ed
Satildeo Paulo Cortez 1998
MARCANDES Danilo Iniciaccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia dos preacute-socraacuteticos a Wittgenstein
4ordf ed Rio de Janeiro Zahar 1997
MARX Karl Processo de trabalho e progresso de valorizaccedilatildeo o processo de trabalho Cap
V In O capital Vol1 Satildeo Paulo Nova Cultura 1996 p 297-315 (Os economistas)
______ A mercadoria Cap I In O capital Vol1 Satildeo Paulo Nova Cultura 1996 p 165shy
208 (Os economistas)
______ Excertos de Ideologia Alematilde In FROMN Erich Conceito marxista do homem 8ordf
ed Rio de Janeiro 1983 p171-188
______ O prefaacutecio da contribuiccedilatildeo agrave criacutetica da economia poliacutetica In IANNI Octavio (org)
Marx ndash sociologia Satildeo Paulo Aacutetica 1980 p81 ndash 82 (Grandes cientistas sociais)
______ Manuscrito econocircmico-filosoacuteficos Lisboa Ediccedilotildees 701964
PAES Roberto Rodrigues Esporte Competitivo e Espetaacuteculo Esportivo Cap1 In
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PIRES Giovani De Lorenzi Miacutedia esporte e ilusatildeo FIESLA 2006 ndash Forum Internacional de
Esporte e Lazer ndash SESC Rio de Janeiro p01-11 2006 Disponiacutevel
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Acesso em 15072007
NOZAKI Hajime Takeuchi e PENNA Adriana Machado Jogos Pan-Americanos Rio de
Janeiro 2007 por traacutes das cortinas do grande espetaacuteculo Revista Digital Buenos Aires ano
12 n 110 p11 jul 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwefdeportescomefd110jogos-panshy
americanos-rio-de-janeiro-2007htmgt Acesso em 01102007
63
PRONI Marcelo Weishaupt Brohm e a organizaccedilatildeo capitalista do esporte In PRONI
Marcelo Weishaupt LUCENA Ricardo (orgs) Esporte histoacuteria e sociedade Campinas
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RODRIGO Eduardo Fantato MONTAGNER Paulo Ceacutesar Esporte-espetaacuteculo e sociedade
estudos preliminares sobre sua influecircncia no acircmbito escolar Revista Conexotildees Campinas -
SP v 1 n 1 p --- 2006 Disponiacutevel em
lthttpwwwunicampbrfefpublicacoesconexoesv1n15esportepdf -gt Acesso em
23062007
RUBIO Kaacutetia Do olimpo ao poacutes-olimpismo elementos para uma reflexatildeo sobre o esporte
atual In Revista Paulista de Educaccedilatildeo Fiacutesica Satildeo Paulo v 16 n 2 p 130-143 juldez
2002a Disponiacutevel em lthttpwwwuspbreefrpefv16n22002v16n2p130pdf -gt Acesso em
23042007
______ O trabalho do atleta e a produccedilatildeo do espetaacuteculo esportivo Revista Electroacutenica de
Geografiacutea y Ciencias Sociales Universidad de Barcelona ISSN 1138-9788 Depoacutesito
Legal B 21741-98 v VI n119(95) ago de 2002b Disponiacutevel em
lthttpwwwubesgeocritsnsn119-95htmgt Acesso em 23042007
SIGOLI Maacutercio Andreacute DE ROSE JUNIOR Dante A historia do uso poliacutetico do esporte In
Revista Brasileira Ciecircncias e Movimento Brasiacutelia v12 n 2 p 111-119 ju 2004
Disponiacutevel em lthttpwwwnoticiasucbbrmestradoefRBCM121220shy
202c_12_2_18pdf -gt Acesso em 17052007
SIMSON Vyv JENNINGS Andrew Os senhores dos aneacuteis poder dinheiro e drogas nas
Olimpiacuteadas Modernas Satildeo Paulo Best Seller 1992
VALLE Maacutercia Pilla do O esporte de alto rendimento produccedilatildeo de atletas no
contemporacircneo Site PSICOESPORTE p 01-22 2003 Disponiacutevel em
lthttpwwwpsicoesportecombrartigoshtm - 34k -gt Acesso em 06052007
64
VAZ Alexandre Fernandez Teoria Criacutetica do Esporte origens polecircmicas atualidade In
Revista Digital Esporte e Sociedade Rio de Janeiro v 1 n 1 p 01-23 marccedilojunho 2005
Disponiacutevel em lthttpwwwlazereefdufrjbrespsocpdfes102pdf -gt Acesso em
15042007
VAZ Alexandre Fernandez Treinar o corpo dominar a natureza notas para uma anaacutelise do
esporte com base no treinamento corporal Cadernos CEDES Campinas v 19 n 48 p 89shy
108 ago 1999 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfccedesv19n48v1948a06pdf -gt
Acesso em 15042007
57
objeto de consumo ou se indiretamente como meio de produccedilatildeo (MARX 1996 165)
Por conseguinte a mercantilizaccedilatildeo do esporte afeta as praacuteticas corporais que
envolvem relaccedilatildeo com o consumo no lazer e com a produccedilatildeo e consumo do esporte-
espetaacuteculo haja visto que o esporte no mundo contemporacircneo exerce um papel significativo
na economia mundial (BRACHT 2002)
Podemos perceber que no caso do esporte de alto rendimento ele segue uma loacutegica
mercantilista onde os eventos esportivos satildeo espetaacuteculos e os atletas produtos em exibiccedilatildeo
com alto potencial de atrair consumidores em massa
Dentro dessa perspectiva de mercantilizaccedilatildeo o esporte se assemelha as forccedilas
produtivas capitalistas que
transformam o corpo em instrumentos [] e o atleta profissional eacute um novo tipo de trabalhador que vende a um patratildeo sua forccedila de trabalho (capaz de produzir um espetaacuteculo que atrai multidotildees) eacute valor de troca de sua forccedila de trabalho regulado pelas leis de oferta e procura de mercado (RUBIO 2002b --)
Recentemente tivemos em nosso paiacutes (Brasil ano de 2007) a realizaccedilatildeo dos XV
Jogos Pan-Americanos e o III Jogos Parapan-americanos eventos estes que causaram muitas
confusotildees decorrentes das paralisaccedilotildees realizadas pelos trabalhadores das obras do Pan e
certa desconfianccedila sobre o seu orccedilamento com a utilizaccedilatildeo da maacutequina puacuteblica para
privilegiar a iniciativa privada
Estas questotildees deram-se justamente em torno dos lucros que estes espetaacuteculos
proporcionam sendo que
O processo de mercadorizaccedilatildeo do esporte evidencia-se natildeo apenas pela entrada do capital privado para o seu financiamento mas pela criaccedilatildeo de um mercado proacuteprio dos Jogos Ou seja os Jogos satildeo ao mesmo tempo a mercadoria a ser realizada como tambeacutem geram mercadorias a serem vendidas (NOZAKI PENNA 2007 04)
No caso dos trabalhadores foram realizadas trecircs paralisaccedilotildees que envolveram cerca de
150 pessoas para reivindicar melhores condiccedilotildees de trabalho e aumento salarial Jaacute o
58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
de investimentos onde para obterem-se maiores lucros e capital eacute necessaacuterio ter um grande
nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
processo de exploraccedilatildeo das condiccedilotildees de vida humana que se expande pelo mundo inteiro ou
seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
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(orgs) Esporte histoacuteria e sociedade Campinas Autores Associados 2002 p191-205
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DANTAS Joseacute Adalberto Mauratildeo Trabalho e ideologia Satildeo Paulo FAMD 1986
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Piracicaba Editora Unimep 2000 p 15-40
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Satildeo Paulo Cortez 1998
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V In O capital Vol1 Satildeo Paulo Nova Cultura 1996 p 297-315 (Os economistas)
______ A mercadoria Cap I In O capital Vol1 Satildeo Paulo Nova Cultura 1996 p 165shy
208 (Os economistas)
______ Excertos de Ideologia Alematilde In FROMN Erich Conceito marxista do homem 8ordf
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Marx ndash sociologia Satildeo Paulo Aacutetica 1980 p81 ndash 82 (Grandes cientistas sociais)
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Acesso em 15072007
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SP v 1 n 1 p --- 2006 Disponiacutevel em
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2002a Disponiacutevel em lthttpwwwuspbreefrpefv16n22002v16n2p130pdf -gt Acesso em
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Legal B 21741-98 v VI n119(95) ago de 2002b Disponiacutevel em
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VALLE Maacutercia Pilla do O esporte de alto rendimento produccedilatildeo de atletas no
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108 ago 1999 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfccedesv19n48v1948a06pdf -gt
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58
orccedilamento estipulado para as obras do Pan estava previsto em torno de R$ 475 milhotildees mas
encerrou-se com um montante de R$ 1284 bilhotildees (NOZAKI PENNA 2007)
Todo este investimento para a realizaccedilatildeo desses eventos faz parte da loacutegica capitalista
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nuacutemero de pessoas alienadas e acomodadas que natildeo questionam a realidade que estaacute sendo
formada em sua volta Pois as condiccedilotildees de vida a cada ano passam a ser mais miseraacuteveis e
em proporccedilatildeo a isso a violecircncia tambeacutem aumenta enquanto que o governo utiliza
politicamente o esporte como instrumento ideoloacutegico para combater e camuflar ao mesmo
tempo esta miserabilidade que estamos vivendo
Por isso a mercantilizaccedilatildeo do esporte e o sistema capitalista natildeo passam de um mero
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seja satildeo faces da mesma moeda que fortalece a supremacia das classes economicamente
dominantes E o esporte nesse sentido que eacute explorado acaba contribuindo para que a
superestrutura do esporte permaneccedila determinando o seu futuro mergulhando-o numa
economia de mercado que demonstra ser competitiva e desleal para os princiacutepios da vida
humana enquanto que os atletas e os consumidores permanecem na infra-estrutura
produzindo o espetaacuteculo e o consumo
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
planos poliacuteticos e ideoloacutegicos onde sua transformaccedilatildeo em mercadoria monopolizada eacute a
riqueza da superestrutura que satildeo formadas pelos os magnatas da miacutedia eletrocircnica dirigentes
e presidentes esportivos patrocinadores e pelos governantes que assumem e controlam o
destino do esporte Esses criam falsas ideologias para manter as pessoas alienadas em relaccedilatildeo
a suas condiccedilotildees de vida miseraacuteveis e introduz no esporte ideacuteias de superaccedilatildeo de limites
determinaccedilatildeo organizaccedilatildeo respeito sucesso sendo essas ideacuteias do sistema capitalista
Tambeacutem introduzem na sociedade valores de igualdade e oportunidade sendo que dentro
desse contexto o esporte eacute um reprodutor da competitividade a qualquer custo
Assim acreditamos que o monopoacutelio que se criou em torno do fenocircmeno esportivo
satildeo estrateacutegias para a fabricaccedilatildeo do espetaacuteculo que estaacute inserido na sociedade de consumo e
na oportuna situaccedilatildeo transformar a cultura na qual estamos vivendo Com isso o objetivo da
mercantilizaccedilatildeo do esporte passa em satisfazer as necessidades e desejos de seus
consumidores enquanto que a superestrutura que se criou sobre o esporte fica cada vez mais
rica
Podemos perceber que vivemos num mundo onde as culturas estatildeo em constante
transformaccedilatildeo por causa da expansatildeo do capitalismo e da sua contradiccedilatildeo que separa cada
vez mais as pessoas os povos gerando conflitos e guerras entre paiacuteses religiotildees entre outras
coisas
Neste mundo globalizado a ldquodemocraciardquo passa a ser determinada pelos paiacuteses
imperialistas que usam de seu poder e suas tecnologias avanccediladas para invadirem outros
paiacuteses com um falso discurso de lutar contra a ditadura e libertar o povo da tirania do
governo Mas sua real intenccedilatildeo eacute conquistar o petroacuteleo esquecendo das questotildees mais
60
simples e essenciais para a vida humana que eacute a de produzir alimentos para acabar com a
fome e produzir mecanismos para que a desigualdade social diminua significativamente
Contudo eacute por isso que o esporte como um fenocircmeno sociocultural institucionalizado
na vida das pessoas natildeo pode estar nas matildeos desses assassinos que promovem a guerra e nem
seguir suas estruturas ideologias capitalista de competiccedilatildeo a qualquer preccedilo Esta
mercantilizaccedilatildeo faz com que os ideais do esporte sejam corrompidos alastrando em seu
acircmbito a corrupccedilatildeo e a ganacircncia por poder e dinheiro
Eacute preciso que os professores e professoras de Educaccedilatildeo Fiacutesica estejam atentos a esses
instrumentos ideoloacutegicos que o Estado introjeta na Sociedade e que satildeo utilizados para a
manipulaccedilatildeo dominaccedilatildeo alienaccedilatildeo e repressatildeo das relaccedilotildees sociais afim de natildeo
reproduzirem nas escolas as mesmas falsas ilusotildees e alienaccedilotildees em seus alunos e alunas Que
atraveacutes de uma praacutetica revolucionaacuteria baseada nas discussotildees e reflexotildees criacuteticas sobre o
esporte as crianccedilas reconstruam seus ideais democraticamente voltados ao ideal da
humanidade e do companheirismo Lembrando que o outro sempre seraacute importante para a
praacutetica das atividades fiacutesicas e esportivas pois se deve jogar com e natildeo contra o outro
Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
social que se encontra dominada em detrimento dos interesses da classe dominante Onde
todos possam ter o direito de construir o espetaacuteculo de uma nova ordem de vida social mais
justa e fraterna Por isso faccedilamos das palavras do professor Florestan Fernandes nossas
palavras ldquoo educador que se nega no plano ideoloacutegico e poliacutetico se nega tambeacutem como
educadorrdquo
61
REFEREcircNCIAS
ALTHUSSER Louis Aparelhos ideoloacutegicos de Estado 2ordf Ed Rio de Janeiro Graal 1985
ARANHA Maria Luacutecia de Arruda MARTINS Maria Helena Pires Filosofando introduccedilatildeo
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(orgs) Esporte histoacuteria e sociedade Campinas Autores Associados 2002 p191-205
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DI GIONANNI Geraldo Mercantilizaccedilatildeo das praacuteticas corporais o esporte na sociedade de
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LOVISOLO Hugo Esporte competitivo e espetaacuteculo esportivo In MOREIRA Wagner
Wey SIMOtildeES Regina (org) Fenocircmeno esportivo no iniacutecio de um novo milecircnio
Piracicaba Editora Unimep 2000 p 15-40
62
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PAES Roberto Rodrigues Esporte Competitivo e Espetaacuteculo Esportivo Cap1 In
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emlthttpwwwnepefufscbrlabomidiaarquivosproducao2006giovanifiesla2006pdf -gt
Acesso em 15072007
NOZAKI Hajime Takeuchi e PENNA Adriana Machado Jogos Pan-Americanos Rio de
Janeiro 2007 por traacutes das cortinas do grande espetaacuteculo Revista Digital Buenos Aires ano
12 n 110 p11 jul 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwefdeportescomefd110jogos-panshy
americanos-rio-de-janeiro-2007htmgt Acesso em 01102007
63
PRONI Marcelo Weishaupt Brohm e a organizaccedilatildeo capitalista do esporte In PRONI
Marcelo Weishaupt LUCENA Ricardo (orgs) Esporte histoacuteria e sociedade Campinas
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RODRIGO Eduardo Fantato MONTAGNER Paulo Ceacutesar Esporte-espetaacuteculo e sociedade
estudos preliminares sobre sua influecircncia no acircmbito escolar Revista Conexotildees Campinas -
SP v 1 n 1 p --- 2006 Disponiacutevel em
lthttpwwwunicampbrfefpublicacoesconexoesv1n15esportepdf -gt Acesso em
23062007
RUBIO Kaacutetia Do olimpo ao poacutes-olimpismo elementos para uma reflexatildeo sobre o esporte
atual In Revista Paulista de Educaccedilatildeo Fiacutesica Satildeo Paulo v 16 n 2 p 130-143 juldez
2002a Disponiacutevel em lthttpwwwuspbreefrpefv16n22002v16n2p130pdf -gt Acesso em
23042007
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Geografiacutea y Ciencias Sociales Universidad de Barcelona ISSN 1138-9788 Depoacutesito
Legal B 21741-98 v VI n119(95) ago de 2002b Disponiacutevel em
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Revista Brasileira Ciecircncias e Movimento Brasiacutelia v12 n 2 p 111-119 ju 2004
Disponiacutevel em lthttpwwwnoticiasucbbrmestradoefRBCM121220shy
202c_12_2_18pdf -gt Acesso em 17052007
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Olimpiacuteadas Modernas Satildeo Paulo Best Seller 1992
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15042007
VAZ Alexandre Fernandez Treinar o corpo dominar a natureza notas para uma anaacutelise do
esporte com base no treinamento corporal Cadernos CEDES Campinas v 19 n 48 p 89shy
108 ago 1999 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfccedesv19n48v1948a06pdf -gt
Acesso em 15042007
59
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que o esporte se encontra atualmente no mundo contemporacircneo em
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60
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SIGOLI Maacutercio Andreacute DE ROSE JUNIOR Dante A historia do uso poliacutetico do esporte In
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Esta deve ser a nossa luta Luta contra este sistema contraditoacuterio que priva uma classe
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NOZAKI Hajime Takeuchi e PENNA Adriana Machado Jogos Pan-Americanos Rio de
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atual In Revista Paulista de Educaccedilatildeo Fiacutesica Satildeo Paulo v 16 n 2 p 130-143 juldez
2002a Disponiacutevel em lthttpwwwuspbreefrpefv16n22002v16n2p130pdf -gt Acesso em
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