os desafios dos sistemas públicos de pensões em portugal · o risco de conflito de gerações os...
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Nota Introdutória
O presente documento resulta de uma parceria entre a Nova Finance Center, Knowledge Center da Nova School of Business and Economics, e a Mii Finanças, empresa especializada em Planeamento Financeiro Individual e Preparação da Reforma (Pensões).
O documento tem como objectivo principal elevar, junto da sociedade Portuguesa, a notoriedade da informação
básica sobre o regime do Sistema de Pensões em vigor, e dos potenciais impactos dos desequilíbrios existentes
deste Sistema.
Esperamos dar um contributo para reduzir a diferença entre a percepção generalizada na população e a
situação real do Sistema Publico de Pensões em vigor, sendo este desfasamento também visível na população
de maior literacia financeira. Esperamos assim contribuir para evitar o extremar de posições entre gerações que,
obviamente, dificulta o encontro de uma solução urgente, holística e duradoura, capaz de mobilizar as diferentes
gerações e de iniciar o caminho do reequilíbrio do sistema.
Este documento utiliza indicadores, estimativas e exemplos, e identifica correlações e implicações criticas, de
forma a enquadrar esta problemática numa perspectiva macro. Neste sentido, o documento não desenvolve
análises detalhadas, nem recorre a amostragens alargadas e minuciosas, as quais serão certamente importantes
numa fase de desenvolvimento de potenciais soluções e sua implementação, mas que não iriam alterar o
entendimento global que os leitores poderão reter sobre o actual equilíbrio, ou desequilíbrio, do sistema.
De igual modo, também não se considera no documento o impacto das medidas tomadas pelas entidades
governamentais nos anos recentes, pois pelo seu carácter temporário geral não acarretam alterações estruturais
do sistema.
1
Insuficiência das contribuições face aos benefícios
Tendência estrutural para se agravar a situação financeira
O Sistema Público de Pensões em Portugal:
Índice
Necessidade urgente de um acordo inter-geracional
2
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
18%
20%
1977 1982 1987 1992 1997 2002 2007 2012
O peso no PIB dos custos com os sistemas públicos de pensões
em Portugal tem crescido significativamente
Fonte: Pordata, Banco de Portugal, Estudo Avaliação Actuarial do Regime de Pensões da CGA de 2013 (Prof. Doutor Jorge Miguel Bravo)
Custos da Segurança Social (SS) e Caixa Geral de Aposentações (CGA) como %
do PIB
7%
9%
14% 10%
13%
19%
Custos com Pensões (SS + CGA)
Custos Totais (SS + CGA)
Desemprego, Doença e
Outras Prestações da SS
3
0
5
10
15
20
25
30
35
40
2013 2014 2015 2020 2030
Até 2030, prevê-se que a despesa com os sistemas públicos de
pensões cresça cerca de 2,3% ao ano
Evolução estimada dos custos com pensões na CGA e Segurança Social
Segurança Social
CGA
Fontes: Banco Portugal, Estudo Avaliação Actuarial do Regime de Pensões da CGA de 2013
% d
a D
esp
esa
do
Est
ad
o
4
€-
€5
€10
€15
€20
€25
1992 2002 2012
Mil
Milh
õe
s d
e E
uro
s (€
) Contribuições
No caso específico da Segurança Social*, as contribuições
cobrem já menos de metade dos seus custos
Fonte: Pordata (1992), Banco de Portugal (2002,2012)
Custos da Segurança Social vs. Contribuições para a Segurança Social
RSI, Assitência Social,
Subsídios familiares, etc..
Outras Despesas SS
Desemprego e Formação
Baixa e Doença
Pensões
O diferencial é coberto por outras rubricas do Orçamento do Estado (ex: emissão de divida, parcelas do IVA)
* Doravante trataremos apenas da Segurança que afecta a generalidade dos contribuintes. Entende-se auq a CGA se encontra numa
situação pior relativamente à Segurança Social, porém o plano encontra-se fechado a novas adesões.
5
A capacidade do Orçamento de Estado* continuar a pagar
deficits crescentes da Segurança Social é cada vez menor
Fonte: Pordata, OCDE, Eurostat
$20.000
$22.000
$24.000
$26.000
$28.000
$30.000
$32.000
$34.000
25% 28% 31% 34% 37% 40%
Hungria
Eslovénia
Estónia
Portugal
Polónia
Rep. Checa
Israel
N. Zelandia
Grécia
Espanha
Eslováquia
Coreia do Sul
Carga Fiscal
(Receita de Impostos e Contribuições em % do PIB)
PIB
pe
r C
ap
ita
(e
m U
SD
)
Índice de Carga Fiscal (Países da OCDE com PIB/Capita similar, Ano 2011)
Evolução da Dívida Pública Portuguesa (Total em % PIB)
A estes indicadores acresce um crescimento praticamente nulo do PIB entre 2003 e 2013 (média de -0.1%/ano
contra uma média de 0.8%/ano da Zona Euro)
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
140%
199
5
199
7
199
9
200
1
200
3
200
5
200
7
200
9
201
1
124%
54%
108%
55%
* Entende-se que as principais fontes de receita para o OE são as receitas fiscais e aumentos de dívida
6
15,0%
2,5
1,6
10
-0,5
-0,5%
Despesa em
Pensões1 (%PIB)
Portugal apresenta fragilidades em indicadores chave para o
equilíbrio estrutural de um sistema de pensões
Número de
Empregados por
Pensionista,
Taxa Natural de
Crescimento
(por mil)
Crescimento
Annual Médio
PIB 2007-2012
Irlanda Irlanda
Fonte: OCDE, Eurostat, FMI
Portugal
Portugal
Portugal
Portugal2,
Espanha
Irlanda 7,1%
Irlanda2 -2,9%
Espanha Espanha
Espanha 1,8
2,0 11,4%
Suécia 11,5% Suécia 1,8 Suécia 2,3
Suécia 2,6%
Divida Pública
Total em % PIB
123% Portugal Irlanda 117%
Espanha 84%
Suécia 38%
Notas:
1. Para comparação com outros países utilizou-se a mesma fonte para todos os países (Eurostat) que é diferente das fontes anteriores
utilizadas para Portugal. Assim, os valores diferem devido a metodologias diferentes de cada base de dados.
2. Ao contrário de Portugal, a Irlanda teve um forte crescimento económico anterior ao periodo analisado (a Irlanda teve uma média
de 1.2%/ano entre 2003-2013 contra a média Portuguesa de -0.1%/ano)
País UE Legenda:
7
Portugal apresenta uma tendência negativa em indicadores
chave estruturais
-2,0
-1,5
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
1,0
1,1
1,2
1,3
1,4
1,5
1,6
1,7
1,8
1,9
199
2
199
3
199
4
199
5
199
6
199
7
199
8
199
9
200
0
200
1
200
2
200
3
200
4
200
5
200
6
200
7
200
8
200
9
201
0
201
1
201
2
Tax
a N
at.
Cre
scim
en
to (
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r m
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Rá
cio
Em
pre
ga
do
s/R
efo
rma
do
s
Fonte: Pordata
8
Taxa Natural de Crescimento
Empregados/Reformados
Rácio de trabalhadores/Reformado e de Natalidade
A evolução de indicadores conjunturais tende também a
agravar a estabilidade do sistema de pensões em Portugal
Crescimento Económico e
Desemprego Taxas de Migração
-10%
0%
10%
20%
30%
1983 1988 1993 1998 2003 2008 2013
-4%
-2%
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012
Fonte: Pordata
9
Crescimento Nominal do PIB
Taxa de Desemprego
Imigração
Emigração
Saldo Migratório
Em Portugal o nível de poupança nacional tem sido negativo,
com alguma melhoria nos últimos anos
-15%
-10%
-5%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Irlanda
Suécia
Espanha
Portugal
Poupança = PIB - Consumo Privado - Consumo do Estado – Formação Bruta de Capital Fixo (Investimento)
Evolução da Poupança Interna
Po
up
an
ça
Na
cio
na
l (e
m %
do
PIB
)
10
Fonte: Eurostat
Insuficiência das contribuições face aos benefícios
Tendência estrutural para se agravar a situação financeira
Índice
Necessidade urgente de um acordo inter-geracional
O Sistemas Público de Pensões em Portugal:
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Legalmente, 46% das contribuições totais para a Segurança
Social são destinadas ao financiamento da Reforma por Idade
Desagregação da taxa contributiva legal Segurança Social
Fonte: Mii Finanças; INE; Legislação Portuguesa
34,75%
Notas:
*. Total da soma da contribuição do trabalhador (11%) mais a da entidade patronal (23,75%), que é igual a 34,75%
** De acordo com a desagregação da taxa contributiva legal, o custo total referente à reforma por idade é de 16,1%
(Cerca de 46% da taxa contributiva total de 34,75%)
% d
o c
ust
o t
ota
l sa
lari
al
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Total* Reforma por idade** Outros
16,1%
18,65%
46%
54%
Doença, desemprego, invalidez,...
12
As pensões actuais em pagamento são significativamente
superiores às contribuições efectuadas pelos seus beneficiários
Fonte: Análise Mii Finanças, INE
Exemplo: pensionista com carreira média/administrativa
Técnico
Pressupostos:
- Pensionista com carreira intermédia - Idade de Reforma: 65 Anos - Carreira Contributiva: Completa - Taxa de Inflação: 3% - Taxa de Rendimento do Período
Activo: 4% - Taxa de Juro Técnica da Renda
Vitalícia: 3%
16,1%
38% 1000 €
420 €
+ 580 €
Valor Actual
Valor com base nas
contribuições
efectuadas
Pensão Mensal
% % do total do salário que descontou
Legenda:
% % do total do salário que deveria ter descontado para ter reforma actual
Valor mensal adicional assumido pelo sistema, face ao valor que o pensionista teria direito caso se considerasse apenas o valor das suas contribuições
13
O sistema actual de pensões é regressivo, favorecendo as
carreiras superiores
Fonte: Análise Mii Finanças, INE
Exemplo: pensionista com carreira superior
Quadro Superior
Pressupostos:
- Quadro Superior - Idade de Reforma: 65 Anos - Carreira Contributiva: Completa - Taxa de Inflação: 3%
- Taxa de Rendimento do Período Activo: 4%
- Taxa de Juro Técnica da Renda Vitalícia: 3%
16,1%
46% 2500 €
870 €
Pensão Mensal
Vs. no caso anterior de um pensionista com carreira intermédia (Técnico)
+ 580 €
% % do total do salário que descontou
Legenda:
% % do total do salário que deveria ter descontado para ter reforma actual
+ 1630 €
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Valor Actual
Valor com base nas
contribuições
efectuadas
A percepção sobre o nível necessário de poupança individual
para a reforma é geralmente muito afastada da realidade
€-
€500
€1.000
€1.500
€2.000
€2.500
€3.000
30 33 36 39 42 45
Fonte: Cálculos e experiência Mii Finanças
€-
€50.000
€100.000
€150.000
€200.000
€250.000
€300.000
€350.000
€400.000
€450.000
€500.000
55 58 61 64 67 70
€312mil
65
60 anos
65 anos
70 anos
Reforma aos:
Idade Actual Idade da Reforma
Pressupostos: Taxa de Inflação - 3%; Taxa de Rendimento do Periodo Activo - 4%; Taxa de Juro Técnica da Renda Vitalícia - 3%
Por cada 1000€/mês que se pretenda obter de reforma (Renda Vitalícia) :
Capital necessário à data da reforma (valores à data actual)
Poupança mensal necessária
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Insuficiência das contribuições face aos benefícios
Tendência estrutural para se agravar a situação financeira
Índice
Necessidade urgente de um acordo inter-geracional
O Sistemas Público de Pensões em Portugal:
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A ruptura do sistema de pensões público em Portugal
A incapacidade de Portugal continuar a aumentar divida e carga fiscal
forçará o país a iniciar o reequilibro do seu sistema de pensões no curto prazo
O sistema público de pensões encontra-se em ruptura e estruturalmente com
tendência para agravar a sua situação financeira no curto e médio prazo
• Existe um deficit crescente no sistema;
• Aumenta a proporção de beneficiários com reformas de maior valor;
• Aprofundam-se a maioria dos desequilíbrios estruturais existentes (ex: demografia);
• Sendo um Sistema de Repartição as contribuições não foram acumuladas;
• A própria base do Sistema (reforma muito superior ao valor das contribuições
efectuadas) agrava o desequilíbrio do mesmo.
• A “onda de choque” será tanto maior quanto mais tarde se iniciar a reestruturação
do sistema.
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O risco de conflito de gerações
Os actuais pensionistas sentem-se injustiçados e inseguros:
Os actuais contribuintes (em especial os jovens) encontram-se desmobilizados:
• São um dos sectores mais débeis da população;
• Foram criadas expectativas de valores de reforma ao longo de décadas que
promoveram: poupança baixa e a criação de níveis de despesas fixos;
• A maioria tem a convicção (errada) que a sua reforma corresponde ao valor
económico das contribuições que efectuaram durante a carreira;
• As suas contribuições pagaram despesas com a anterior geração (sistema de
repartição) e esperam receber agora idêntica solidariedade.
• Pagam parte significativa dos deficits crescentes da Segurança Social (via contribuições, impostos e acumulação de dívida pública)…
• …vendo reduzido os seus rendimentos actuais e sem perspectiva futura…
• …organizam-se crescentemente sob formas contratuais que minimizam as suas contribuições para o sistema ou imigram.
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A necessidade de um acordo inter-geracional e holístico
A reestruturação do sistema de pensões é socialmente complexa
A necessidade de informar e mobilizar as diferentes gerações:
A necessidade de uma estratégia que seja holística e que assegure a
coerência entre as diferentes variáveis
• Que seja politicamente e socialmente abrangente; • Que as medidas tomadas movam (directa ou indirectamente) as várias variáveis na
direcção correcta; • Que gere confiança e mobilize as gerações contribuintes, que proteja as camadas sociais
mais frágeis e reduza a incerteza dos pensionistas.
• Aumento da notoriedade pública sobre o custo efectivo de uma pensão e sobre a
necessidade da poupança para a reforma (mesmo nas gerações mais jovens); • Reconhecimento que todas as gerações têm muito a perder se não houver consenso,
especialmente a geração pensionista, e todas vão ter que ceder uma parte.
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