paul claval - história da geografia

Upload: rita-michelutti

Post on 11-Jul-2015

1.833 views

Category:

Documents


25 download

TRANSCRIPT

  • 5/11/2018 Paul Claval - Hist ria da Geografia

    1/18

    . '. -. '. .. .f.~

    ' " 'lilt. .~c-tc 4 ! ! ! l f _ '

    Titulo original:Histoire de fa Geographie

    Presses Universitaires de FranceTraducao: Jose Braga CostaRevisao cientffica e tecnica:

    Maria Julia Ferreira e Jose Afonso Teixeira,do Departamento de Geografia e Planeamento Regional

    da Faculdade de Ciencias Sociais e Humanasda Univers idade Nova de Lisboa

    Capa: F.B.A.ISBN 10: 972-44-1343-8

    ISBN 13: 978-972-44-1343-3Deposito Legal n." 251888/06

    Paginacao: MarianoImpressao e acabamento:

    Grafica de Coimbrapara

    EDI

  • 5/11/2018 Paul Claval - Hist ria da Geografia

    2/18

    Capitulo V

    Alguns dos mvesugacores mais brilhantes do perfodoentre as duas provem dos pafses balticos (EdgardKant', 1902-1978 na Estonia) ou da Suecia (Sten de Geer,1886-1932, por ). Aescola holandesa segue 0exem-plo frances, explica a sua orientacao social precoce, e

    como a G~a-Bretanha, tambem precocemente~uuv"' ... u" ao ordenamento.',

    A geografia italiana tern algumasjJersonalidades marcan-te~ (0.Marinelli, 1874-1926; R. Almagia, 1884-1962), masa importancia que af tern as orientacoes tradicionais (0 estudodas viagens e dos mapas, por exemplo) permanece mais fortedo que nos outros lugares. Os modelos frances e alemao soforam assimilados de forma imperfeita. '

    Em Espanha, Portugal e na America Latina, a influenciafrancesa ~ preponderante, mas os estudos geograficos naoestavam ronda completamente inst itucionalizados. - ,

    Assim, 0 panorama que se pode tracar da geografia emmeados doseculo xx e feito de luzes e sombras. Os progres-S ? S sao consideravels mas existe uma inquietacao: a geogra-fia, tal como se desenvolveu desde 0 virar do seculo, conhe-ceu os seus maiores sucessos quando se ligou as paisagens e~s sociedades tradicionais. Numa altura em que a moderni-zacao se acelera, isso nao condena a disciplina a renovar-seou a desaparecer? , " '

    j

    102

    A Nova Geografia:as decadas de 1950 a 1970

    t6 0 ill d elLu ue a un ial a geografia desen-volveu-se sobretudo na Europa continental. Em regra, a Alema--., : ! n h ~ a ~ e ~ a ! : : F ! : : : : : r ~ i l ~ n c : a'J]cabe~ffilatTLQ_ffioyimen~A geografia brita-nica tinha uma importancia apreciavel mas na~ sedestacava peloseu modernismo. A situacao da investigacao universitaria eramais brilhante nos Estados Unidos, mas nao possuindo uma baseinstitucional suficiente, 0 seu imp acto permanecia limitado.Ap ar tj r d a d ec ad a d e 50~ renovacao da geografia provem cadavez mais dos programas desenvolvidos nas universidades dosEstados Unidos. da Gra-Bretanh\l e, em menor medida, doNort~da Eum Isso deve-se ao papel crescente do mundo anglo-sax6nic~ em todos as domfnios da vida internacional, inc1uindoas ciencias. 0que testemunha tambem as condicoes que preva-lecem nos campus universitarios ingleses au americanos: asideias novas encontram af eco imediato entre grupos dejovensinvestigadores que preparam as suas teses. A evolucao da disci-plina da,assim, lugar a discussoes apaixonadas; as modasinfluenciam-na. Quao longe se esta das transformacoes silen-ciosas a s quais as universitarios continentais estavamhabituados.

    10 3

    ~c__ ~ ~ - ~~iiiiiP;:==~-----------------------------------------------------------

  • 5/11/2018 Paul Claval - Hist ria da Geografia

    3/18

    HISTORIA DA A NOVA GEOGRAFIA: AS DECADAS DE 1950 A 1970

    Esta de estilo encontra urn te6rico, Thomas~para ele, na sucedem-se periodos di~~~rnormal~ e . . Durante ad,!l~gg.metade do secul'te urn acordo qta._~ pelas diferentes escolas nacionais urn conjunto deparadigmas proximos. Estes ja nao respondem aos problemascom os quais se debate a invest igacao. Sao exploradas novasvias. Os geografos aplicam imediatamente 0modelo de Kuhn:acolhem bern a revolucao que esta em curso . Na decada dea70 a situacao complica-se, pois as crises e as revolucoes mul-~l' , ~t ip lcam-se a ponto de perderem 0 seu sentido. E preciso teralgum dis tanciamento para poder organizar Istas mutacoes II Ique se contrapoem . . .

    I. Novas interrogacoes, urn novo contexto intelectualA sociedade ja nao pede aos geografos ensinamentos

    iguais aos do infcio do seculo. A febre nacionalista acalmou--se nos pafses industriais. Os domfnios com maior necess i-dade de conhecimentos e tecnicas passaram a ser a econo-mia e a organizacao social.o liberalismo do laissez-faire passa de moda com a GrandeDepressao: pode-se deixar milhoes de pessoas sem emprego ea miseria afectar grande parte da populacao? A Gra-Bretanhae confrontada desde 1920 com 0problema do subemprego nasbacias hulhfferas do Norte e do Oeste: 0aumento dos salaries,depois da guerra, arruinou a sua competitividade. Nadecadade 30,0 governo britanico lancou uma polftica de ordenamentodo territorio.Nos-Estados Ulima'S, a deterioracao de alguns ambientes,sob 0 efeito de uma exploracao nao controlada, motiva asintervencoes do poder federal: F.D. Roosevelt Ianca em 1933o programa do Tennessee Valley Authori ty para reabil itaruma regiao arruinada pela desarborizacao e erosao dos solos.

    104

    ,(

    As grandes barragens , des tinadas a regularizar os caudais,fomecerao a energia destinada a promocao da industria.

    A Alemanha nazi mostra, atraves da politic a de moderni-zacao das suas infra-estruturas de transporte, 0 que se pode (fazer para ti rar uma economia do marasmo e melhorar as l iga-

    - .;oescom os territories perifericos.A planificacao centralizada comeca, na URSS, no final dadecada de 20 e infcio dos anos 30. Sem se conhecerem ver

    dadeiramente as condicoes nas quais e realizada, no ocidentesobrestima-se a sua eficacia e as suas dimensoes geogrriticas.

    Aqueles que participaram na Segunda Guerra Mundislsonham construir uma sociedade mais justa e ma i s p ro spe redo que a do inicio do seculo. Toda a humanidade dew beneficiar do progresso. Estes homens de a cc ao p ed cm f cr rnmentas eficazes de planificacao econ6mica e espacial: t Gm ~sidade de uma ciencia que nao se contente em interprcta.evolucoes cOffiDlexa;depois de terem acontecido, mas mos-~tre em que sentido evoluem os sistemas geografico& Devetambem ~ todas as incidencias das medidas destinadas aruzer frente ou a acelerar~segundo 0caso, as transformag(k~s II -

    Desde 0 inicio do secu]o XI.que se aposta numa ~gra~a explicati~\ :.mas. dand~ enfase as relae.f ie!; h{~lUemJ .ImeJO a geografta ficO!! ImpedJda de cbegar a leis geraUlt (~sao asque permitem a previsao" Essa foi a causa 00 mnl"estwf,~Qortunou a disciplina e d o eco que nela enconlrou rapi~~damente a economia espacial. t: .Durante e apos a ~]]nda Guerra Mlln~ 0 contextemodifica profundamente a maneira de conceber os problemasda sociedade. 0 conflito conduz a aborda-los com mctodosnovos e a transpor, para 0mundo social, procedimentos desen-volvidos pelos engenheiros: esta e a essencia da invesliglwaooperacional. 0 progresso no conhecimento de sistemas inter-dependentes permite compreender 0 papel da retroaccao ( ) ~feedbacks) que as segura quase sempre a sua regulacao. Emuito natural tentar aplicar tais ideias ao mundo social. A

    (

    (,

    105

    I---::~

    '4i~

    ~~

    I ::- i,"" I~I ~I l

  • 5/11/2018 Paul Claval - Hist ria da Geografia

    4/18

    . . .44

    HISTORIA DA

    _'l,iiiiiiB.If

    A NOVA GEOGRAFIA: AS DECADAS DE 1950 A 1970

    humanos (*~ estes interessam em' aosA ideia de que e possfvel modelar os sistem:9a=se~co~m~-preender 0 seu funcionament~ qualquer que seja a sua natu-

    reza, expande-se nomundo anglo-saxonico, Em Franca, 0interesse vai sobretudo para as estruturas: neste caso, a ins-piracao vern da fonetica e das pesquisas de Ferdinand de ~Saussure 0857-] 9] ~, que, progressivamente, leva a remo-delacao da semiologia, da crftica literaria e da antropologia,

    ===. ~QS eSPeramencontrar uma ardem no mundoreaLPara a descobrirem prontificam-se a confiar nas matematic.as :estas eyolufra~e estao mais p' reparada~ do que no infcio doseculo para evidenciar as subti lezas das realidades sociais.A melboria dos .torna mais facil 0.g_mJ?!f!gae.a1goritm

  • 5/11/2018 Paul Claval - Hist ria da Geografia

    5/18

    HISTORIA DA GEOGRAFIA

    -se 0grande foco de .seguiu formas de atrair mais brilhantes dosdos Unidos e do Reino Unido. Edward L. Ullman (1912--1976), que ensina no departamento, e urn especialista dageografia dos transportes, das migracoes e dos fluxos. Estaconvencido que a fraqueza da geografia classica orovem do facto de fer negligenciad!! uma das duas vias reconhecidaspelos pioneiros, em particular Vidal de La Blache: deu enfase IIIas os homens e 0 uee'eu a circula- '"

    tornou-se mais acessivel grayas ajJuuu",,,,,av de obras de sfntese, como as de Edgar M. Hoover. (1948) e de Walter Isard (1955) nos Estados Unidos, deClaude Ponsard (1955; 1958) em Franca. Isard lanca a ideiade uma ciencia regional para servir de traco de uniao entre oseconomistas, os tecnicos de ordenamento, os urbanistas e osge6grafos. Estes descobrem, entao, a pertinencia, para os seustrabalhos, dos modelos classicos de'Iocalizacao;o de von Thti-nen (1826-1851) para as actividades agrfcolas, 0 de AlfredWeber (1868-1958) para a industria, 0 de August Losch(1906-1945), de 1938 a 1940, e de Walter Christal ler (1893--1969), de 1933 para as actividades terciarias, A teoria da loca-Iizacao fascina cada vez mais os ge6grafos pois respondeexactaIllente ao que lhes e pedido: permite a previsao,

    A descoberta da economia espacial podia orientar a oesquisa,geografica em duas direcy6es: 1) a do agrofundamento dos:moCIeloste6ricos conce15iQosperos eco~ormstas e.que a utiliza- ~yao~crus-resunatlos tla macroeconomla l

  • 5/11/2018 Paul Claval - Hist ria da Geografia

    6/18

    ~., . .. ... .. . .. . .. . .,.. .~. .. . .'~. .4. .. . -,.. . .. .

    HISTOR1A DA GEOGRAFIA

    que segue passo a passo os indivfduos ao longo da sua exis-tencia. Para compreender porque os rendeiros do SuI da Sue-cia adoptam uma tecnica nova, Hage reco" 0 iti-nerario que esta descreve no es 0 e no tempo. Os metade simulacao estatfstica mos am que 0esquema teorico assimconstrufdo nao e refutado ela realidade. E atraves do recursoaos ' . ',' e pela sua formulacao teorica quea abordagem de Hagerstrand se inscreve na nova geografia.

    Uma reflexao sobre a originalidade do novo movimentodesenvolve-se pouco depois. William Bunge (n. 1928) subli-nha 0 seusignificado em Theoretical Geography (1962). Em1953, urn investigador germano-americano, Fred K. Schae(1904~1953) tinha publicado nos AnniiIiO[theAssociation ofAmerican Geographers u artigo em que denunciava 0excepcionalismo em grafia: adepto do neo-positivismo

  • 5/11/2018 Paul Claval - Hist ria da Geografia

    7/18

    /

    lU i

    ' \ 1 ,IJ '';~!1 ::,,,

    IIII

    HISTORIA DA GEOGRAFIA

    que os ge6grafos af adoptam novas orientacoes, que justa-poem as antigas sem que esta coexistencia seja problematica.

    Nos:pa)SeS d e T es te ;_ageografia humana desenvolve-semal, por causa da ~.~~~~~~~U\pelo partido: muitosescapam anova inspiracao teorica.lectuais nunca foi tao nos outros paises deLeste, e , no fim da decada de 60,0 tinico pais socialista queja tinha esbocado a transicao para a

    existem pontos Ao reduzir a cidade assuas dimensoes funcionais, ao ver at apenas uma peca daengrenagem do sistema de comunicacao da sociedade,H5!uece-se da sua dim~nsao simb61ic~ limitando os meiospara estudar as suas paisagens e 0 seu aspecto monumental.A ecologia factorial das cidades evidencia as oposicoes dadistribuicao da riqueza, da estrutura demografica, da etnia audo estatuto que as caracterizam, mas permanece incapaz depropor/expliGac;oeS:}ilr~mati.vas~ou formas de modificar essasdistribuicoes, .

    Alguns capftulos da geografia sao deixados ao abandono:assim acontece com as estruturas agrarias e com a geografia,historica.consideradas demasiado ligadas ao passado, ou com

    112

    A NOVA GEOGRAFIA: AS DECADAS DE 1950 A 1970,geografia cultural que parece ter parado no momenta em quea difusao dos tipos de comportamento inspirados no modclo

    americana se generalizaram. Os estudos regionais quase dcsa-parecem no mundo anglo-sax6nico, onde a nova geografiaatribui pouca importancia a teoria dos conjuntos territoriais.

    A geografia fisica~a nao segue de vento em popa. Havia .latrafdo muito jovens investigadores no infcio dos anos 50 doseculo xx, gracas a geomorfologia climatica inspirada peJos tra-balhos alemaes (Julius Budel, 1903-1983) e franceses (JeanDresch, 1906-1994; Pierre Birot, 1909-1980; Jean Tricart, 19:202003): nao consti tuia eia uma forma de art iculacao do t'.studusintetico dos meios com a analise do relevo? Desdc ()inicin dosanos 60, as suas ambicoes pareciam exageradas. A nova geografia ffsica caracteriza-se, sobretudo, pelo recurso sislelllfitiCl)as simulacoes de Iaborat6rio, a experimentacao e aos mctodosmatematicos: estas orientacoes favorecem dois ramos cspccia-l izados, a geomorfologia - os modelos de erosao fluvial pro-gridem espectacularmente - e a c1imatologia dinamica. A bio-geografia prospera tambem como urn ramo especializado: e aaltura em que os geografos se familiarizam verdadeirarnentccom os trabalhos de geografia botanic a feitos par botanicos.

    A ecologia,fsta em plena mutacao, Apesar do impulseque the deram as investigacoes de Arthur Tawney (1Q15)entre as duas guerras, faltava-lhe urn principio unificador.Este e-lhe fomecido pela abordagem assente nas transfersn-cias de fluxos energeticos, concebida por Raymond I .indemannum artigo de 1942~A sintese sobre os Fundamentals of Eco-logy, public ada por Eugene P. Odum em 1957, ofcrece limnperspectiva apaixonante para a disciplina que acaba assim porse estruturar. 0desenvolvimento da urbanizacao, a multipli-cacao dos resfduos de toda a especie e a uti lizacao de produ-tos quimicos como 0DDT provocam desequilfbrios ecologiccos que comecam a inquietar a opiniao publica. Contudo,salvo algumas raras excepcoes, a geografia ffsica desinte-ressa-se destes problemas.

    .~

    113 I~

    ,, . _ _ . ._ _ 1

  • 5/11/2018 Paul Claval - Hist ria da Geografia

    8/18

    H IS TO RI A D A G EOG RA F IA

    III. A contestacao dos anos 70:geografia radical e geografia humanistaA corrente radical

    A procura social (*). modifica-se no fim de 60e inicio da de 70. A enfase no economicoparece rapidamente. A modade consumo: sera iitil estimular a procura seesta conduz a gigantescos desperdicios? A prosperidadequase geral dos pafses industrializados torna ainda mais into-leravel a miseria dos que, nestes, f icam exclufdos e a do Ter-ceiro Mundo.

    Por volta de 1970,a nova geografia anglo-saxonica centra 0seu interesse neste novo campo de investigacao. William Bungelanca, por exemplo, em ~69, uma expedicao para avaliar 0estado de pemiria em que vive 0ghetto de Fitzgerald, no seio daaglomeracao de Detroit. David Harvey abandona a reflexao epis-temologica e mobiliza todos os recursos que a economia liberaloferecer para estudar a pobrez,: em Social Justice and

    1972) recorre sucessivamente aos .~~~~~~~que the parecem mais aU~;4l!~""desenha-se umanova orientacao. A corrente radical trabalha prineipalmentesobre a cidade~Inspira-se muito nas analisesde f ilosofos esociologos marxistas franceses ou de expressao francesa,Henri Lefebvre (1901-1991) ou Manuel Castel ls (n. 1942) :Em Franca, onle 0marxismo tirlhTdeiX-a(Io e J e r seguido -pela maior parte dos geografos, estes trabalhos suscitam ape-nas urn interesse Jimi,tado.

    A/corrente radIcal naoe a iinica a desenvolver-se: a ideiade aplicar a teoria dos sistemas a nossa disciplina conheceurn grande sucesso. Nao se podera ass im conci liar ~geogra-

    (*) No sentido, mais amplo, da quest iio social (N. R.).

    114

    o espaco vivido, a experiencia dos lugarese a geografia humanista

    fia humana com a gcografia ffsica? 0 movimcnto dcscn-volve-se tanto na URSS (muitas vezes citada nas relerencias)como a ocidente e critic a 0 tiro de explicasrao causal gueprevalece na geografia desde 0 final do seculo XIX, guer ~ejade inspiracao naturalista ou proxima das ciencias s~Ciais Osinvestigadores depressa se encontram perdidos em camin'tlOs-,-".cujos sentidos se cruzam em todas as direccoes, traduzindoa dinamica de inumeraveis interaccoes: concluem que osmeios de medicao ou tratamento de que dispoem nao lhespermitem tratar 0 problema ... A montanha pariu urn rato.

    A nova geografia nao morreu. N asceu, no infcio dadecada de 60, em bases muito Iigadas a economia. Nao serapossivel aplicar a sociologia, a antropologia ou as cienciaspolfticas a ideia chave da revolucao dos anos de 60: a valo-rizacao dos efeitos da distancia no funcionamento dos gru-pos humanos (Claval, 1973; 1978)? Nao se pode fazer 0mesmo para os fluxos de materia ou de energia que os eco-logistas aprendem agora a analisar (Claval, 1974)? Esta pers-pectiva passa despercebida no mundo anglo-saxonico.

    Rapidamente sao denunciadas outras fraquezas na nova. geografia. Os homens nao tomam as suas decisoes em funcao~oque e 0 mundo, mas em funcao da ima!!em que tern dele.~~ a l iSiaOde Kenneth Boulding na sua obra The Image (1956).A margem da nova geografia, multiplicam-se os estudos sobrea pe~cepcao do espaco.Alguns trabalhos de urbanistas, comoKeVIn Lynch (The Image of the City, 1959) sao muito apre-c iados. Sob a influencia de Gilbert White (n. 1911) e inde-pendentemente de Boulding, urn grupo de geografos america-nos especializa-se na avaliacao de riscos: a multiplicacao dasgrandes barragen~ para regularizacao dos caudais dos rios ame-

    11 5

  • 5/11/2018 Paul Claval - Hist ria da Geografia

    9/18

    oi l

    HISTORIA DA GEOGRAFIA

    ricanos fortaleceu tanto a ideia que as inundacoes passam a ser,com elas, impossiveis, que a construcao daquelas se multiplicanas zonas perigosas: os estragos nunca foram tao importantes.

    A nova geografia depressa recupera esta corrente: 0 racio-cinio economico assenta na ideia de que os actores procurammaximizar os seus lucros. Nao se pode construir uma teoriaassente na ideia de que existem pessoas ter-minam quando atingem urn certo satisfacao?

    Entretanto, uma visao diferente geografia comeca al1Ia.~.,_. Esta presente desde 0 dos anos 50 em

    alguns 0britanico William Kirk (1921-1987), 0americana John K. (1891-1969) e 0 frances Eric Dar-del (1900-1968). E vai rnais longe nesta nova via.Historiador e geografo, .=i=~==:j~~ensina em estabeleci-mentos de ensino uma tese de historia- 0 que explica que tenha totalrnente ignorado pelosgeografos franceses quando a suaobra fundamental,L'Homme et la Terre, em 1952~nova visao da geografia.Protestante convicto, Dardel assenta a il1c,,,,,ir

  • 5/11/2018 Paul Claval - Hist ria da Geografia

    10/18

    -.~.~ - - . - . - - . - - - - - - - - - - - - - -

    Capitulo VIA geografia no mundo

    p6s-modemodos anos 60 e 70 do seculo xx, as transformacoesreflectem mais as transformacoes do mundo uni-

    "",. 'crt"'ri" do que as mutacoes do mundo exterior: a aceitacao done()-OOS11tIV1~SmlO e do estruturalismo e geral nas ciencias sociaisao tonga da decada de 60, e a viragem para a geografia radicale contemporanea das contestacoes queafectam todas as cienciassociais e que Alvin Gouldner passa em revista no inicio dadecada de 70, em The Impending Crisis of Western Sociology.. Hoje, a situacao e diferente. E diffcil ignorar 0 ambientequando 0 agravamento da poluicao aos nfveis local e regio-nal e a emergencia de ameacas globais mobilizam por todoo lado a opiniao publica. Nao se pode negligenciar as abor-dagens culturais num mundo abalado por crises motivadaspelo crescimento de novos nacionalismos ou fundamentalis-mos religiosos.Ja nao e possfvel fazer do marxismo a pana-ceia universal agora que esta consumada a falencia dos paf-ses do verdadeiro socialismo.

    Exist iam, no infcio dos anos 80, e ainda existem, gruposmais fechados de universitarios que recusavam estas eviden-

    119

  • 5/11/2018 Paul Claval - Hist ria da Geografia

    11/18

    cias: alguns ge6grafos anglo-saxonicos dos dois lados dooceano delei tam-se ern discussoes escolast icas sobre a evo-IU9ao do capitalismo e as contradicoes que 0 corroem: unsafirmarn que s6 acontecera pela oposicao do centro e da peri-feria, outros pelas novas formas da divisao do trabalho, oupela emergencia de modos de acumulacao flexfvel , As arvo-res escondem-lhes a floresta: a maior novidade

    ===-~ica e que os problemas espaciais tornam-se cadaimportantes na sociedade e no pensamento moaemosprova disso, a evolucao da socioIogia que , cornAnthony.Giddens, a pertinencia do espaco e uU;~U~

  • 5/11/2018 Paul Claval - Hist ria da Geografia

    12/18

    .cccf'4- ~I

    ((I".~rliII~,I

    HlSTORlA DA GEOGRAFIA

    Ravia a impressao, aolongo da decada de 60, que algu-~as materias da geografia ffsica se tinham tornado quase

    totalmente independentes do resto da disciplina. Esta tenden-cia ganha rigor: para seguir a evolucao das formas de erosaoou compreender a dinamica das massas de ar, 0 conjunto deconhecimentos a mobilizar e tao elevado que apela a grandesespecializacoes. Porem, ao mesmo tempo, o recurso agia moderna suscita 0 aparecimento de urn novo ",aUUWLVgeografia natural: este esta centrado no homem e anoia-seestudos energeticos e na ocorrencia mais ou menossituacoes 'extremas para renovar 0 estudo das L\,./L,ay,,J,,,"grupos com 0 seu ambiente.

    No mundo tradicional. os constrangimentos pesavamsobre as sociedades eram quase todos de nfvelloca~ os trans-portes eram tao dificeis e onerosos que para se alimentarem,vestirem ou abrigarem, as populacoes so podiam contar comos recursos proximos. Num mundo onde nao se sabia utili-zar formas de energia concentradas, ou apoiar as piramidesecologicas pela associacao de adubos ou de pesticidas (0mesmo e dizer produtos resultantes da utilizacao destas for-mas de energia), os limites de produtividade do ambientedepressa eram atingidos. Os dejectos ou efluentes da activi-dade humana ficavam nos locais e, por isso, a poluicao atin-gia niveis perigosos. ,

    A revolucao da mobilidade libertou os grupos humanosdos constrangimentos locais que outrora os reprimiam.produtos necessaries a vida osdejectos e as sao lancados para fora das areashabitadas. As da libertaram-se

    A GEOGRAFIA NO MUNDO POS-MODERNO

    diacao nao tern os mesmos efeitos que teria sobre urn cobertovegetal e nem as precipita~oes se podem infiltrar. Regional-mente, as alteracoes resultam de efluentes liquidos vertidosnas ribeiras e nos lagos ou infiltrados nos lencois freaticos: 0seu equilibrio fica comprometi~o. Rli formas de poluiQa~ glo~~que sao uma ameaca: efeito de estufa ou destruicao da'eamaoa do ozono.constrangimentos tern igualmente como lirnites, para

    de tecnicas, as capacidades de producao aTerra. Nao e por ser possivel fazer vir de longe

    COl l1SQ1me que 0 problema das relacoes das populacoes.."""" ..,0),," deixa de se por, Apenas mudou de escala.

    zeoaratia fisica poe, entao, em termos adaptadosmundo contemporaneo, QJ2roblema das reia-tlc~~~~~~~~~~'~~~!g~!'~:,~om as lnvestigacoes:: e evidente, mas os instru-

    (1~I.Ui:liI~ permitem evitar as armadilhas do ambienta-

    if

    Porem, tipos . 0 recurso asformas concentradas de energia permite uma tal acumulacaode homens que os ambientes. sao profundamente alterados.Sao-no localmente pela emissao de ar polufdo e de poeiras epela extensao de superficies construfdas ou estradas.Ai a irra-

    12 2

    ~v\.'lJH_a",de teledeteccao sao particularmente uteis paral " ' " i , t : a , _ v " ; , , de pesquisa assim criadas. Os sistemas de

    geografica aproveitam os progressos da infor-para por a disposicao dos investigadores, ou dos orga-

    ..LO"..,} l igados ao ordenamento, bases de dados cuidadosa-mente actualizadas e de uma riqueza que nao seria possfveloutrora. Tomar em consideracao situacoes complexas e agoramais facil,

    II. A crise da geografia radicalFoi a critic a radical que, ao longo dos anos 70, desviou

    muitos investigadores dos caminhos iniciados na decada de60. Em lugar de procurar estender 0 campo da nova geogra-fia no sentido dos sistemas de relacoes sociais ou polfticas,como se fez entao em Pranca, os geografos anglo-saxoes

    12 3

  • 5/11/2018 Paul Claval - Hist ria da Geografia

    13/18

    HISTORIA DA GEOGRAFIA

    apostaram quase tudo no desenvolvimento de urn corpo leo-rico marxista.A abordagem e tentadora: os comentadores de Marx sou-

    beram tirar da obra do mestre ideias simples e que parecemmostrar 0 essenciaLMas depressa surgem dificuldades. Naobra fundamental de Marx, 0Capital, praticamente nao Mreferencia ao espaco. Como mostrou Henri Lefebvre (1972),uma boa parte da reflexao que Marx desenvolve entre 0 finalda decada de 40 do seculo XIX e a publicacao do primeirotome do Capital tern como objectivo fazer desaparecer-asreferenciasao espaco como factor explicativo.para desanimar? Nao, respondem os marxistasexistem pistas possfveis, a das relacoes entre 0 e aperiferia, cedo explorada, por exemplo. POTem,parece, nofim dos anos 70, que isso nao era satisfatorio pois conduziua multiplicacao de interpretacoes contraditorias., . .

    David Harvey sente 0perigo e tenta actualizar 0Capital,sublinhando a forma como 0 espaco intervem na evolucao dassociedades em vias de modernizacao. Em T h e Limits to Capital(1982) permanece fiel a visao geral do processo de acumula-9ao concebido por Marx. Contudo, 0 estatuto das leis funda-mentais muda: trata-se de quadros tendenciais mas que nao per-mitem compreender em detalhe as formas de desenvolvimentoe a sua distribuicao. No fim de cada episodic de acumulacao,os equipamentos tornam-se obsoletos. 0.impulso para afrentepode nao fazer-se-nos sftios anteriores ~'llU.u-

  • 5/11/2018 Paul Claval - Hist ria da Geografia

    14/18

    II,i'i

    HISTORIA DA GEOGRAFIA

    com 0das arquitecturas sociais e as forrnas de poder para dese-nhar as redes que estruturam 0 espaco: desenvolve-se, assim,uma verdadeira teoria das redes (Claval, 1981; G. Dupuis,1984, 1985).

    Estas orientacoes sao ignoradas no mundo anglo-saxe-nico. Contudo, neste, o retorno a geografia regional e signi-ficativo. Deve-se a corrente humanista e a redescoberta dosentido doslugares. Esta tambem ligado a investigacao dosfactores que explicam, em detalhe, situacoes que a grandeteoria rnarxista nao consegue explicar. Os geografos radicestao assirn entre os primeiros a redescobrir aestudo de Derek Gregory (n. 1951) sobre a industriaffcios do Yorkshire (1982) ilustra-o bern.

    Na Suecia, Torsten Hagerstrand volta a sua iueia-cnaveada apreensao longitudinal, biografica, das "",,,.HUUUI"'~nas, para propor urn novo campo de investigacao.I1975), a Time Geography dos pafses de lingua ir'J;;L~''IUe utilizar a tecnica do budget-tempo e do paracornpreender como as actividades se desenrolam em exten-sao e em duracao, Os graficos que ilustram estas abordagenssao tao sugestivos que entusiasmaram muitos investigadores.o sociologo Anthony Giddens procurava conciliar os factosde estrutura e 0 l ivre-arbftrio dos actores da vida social : aover os indivfduos progredir nos solidos concebidos por Hag-gerstrand para apreender a duracao, rnedem-seos efeitos dosinv6lucros ern-que as suas vidas se inscrevem, mesmo que asnao determinem, no sentido estrito do termo. E para dar contadesta realidade que Giddens fala da importancia do locale.

    Muitos trabalhos recentes de geografia regional apresen-tam-se, no mundo anglo-saxonico, como urna ilustracao destatematica como fefu5ra, em 1991, Ron Johnson (n. 1941).Estas pesquisas perdem, contudo, pelo facto de t'....''u,...u,~~rem limitadas a uma 16gicadescritivato;

    A 6ptica do espaco vivido esc1arece 0 S'u!n111C2l00culacoes regionais. Classica em

    126

    Armand Fremont (1976), diversifica-se com as pesquisas deAugustin Berque (n. 1942) sobre 0 Japao (1982, 1986) ou asde Joel Bonnemaison (1940-1997) sobre Vanuatu (1986). Estaabordagem e adoptada de forma independente por Allan Pred(n. 1936) nos seus estudos sobre a Escania na Suecia meri-dional (1986). No perfodo que estuda, a viragem do seculo --'XVIII e 0 seculo XIX, as paisagens agrarias eas estruturassociais foram alteradas por uma serie de reformas que des-,~g:_-~tlruilram 0 openfield e 0 substitufram por quintas dispersas noTnPl"'-""C grandes propriedades. Esta analise classica de geo-

    e reavivada pela evocacao dos tipos de homemorerecercamponeses sem terra que pagam as despesas da

    grandes proprietaries cujo papel se reforca: vemo--Ios a viver 0 quotidiano. 0 mundo da Escania e com-preendido a partir dentro, no decurso desta fase de transi-~ao para a mooermaaceo interesse a da geografia regional toma formasvariadas. Traduz a de interpretar a r eestruturacao pro-funda que esta a 0mundo.

    e organizaeao regionalnovo contexto tecnologlco....,....uv.....vmais fecundo da nova geografia foi 0 de

    a analise das relacoes dos hornens com 0ambiente"tr,,,t,'~dos conjuntos de relacoes que tecem entre eles. A eco-

    espacial tinha dado enfase aos custos do transporte: etema que domina a maior parte das investigacoes durante

    os anos 60. Por detras dos movimentos materiais de bens edas deslocacoes de pessoas, ha fluxos de informacao.E a este aspecto da troca, sobretudo quando tern urn con-teiido socialou poli tico, que se consagra a reflexao teoricarealizada na Suecia (G. Tornqvist, n. 1933) e na Franca nosanos 70. A comunicacao torna-se urn dos elementos-chave na

    127

    f

  • 5/11/2018 Paul Claval - Hist ria da Geografia

    15/18

    HISTORlA DA GEOGRAFIA

    interpreta

  • 5/11/2018 Paul Claval - Hist ria da Geografia

    16/18

    ~ ~ - - - o ~ - - - - ~ - o .f

    mSTORIA DA GEOGRAFlA

    v . A geografia no momentoda queda dos muros(*)No infcio da decada de 80, conheciam-se as dificuldades

    e os vicios das economias sovieticas, mas ninguem ousariapredizer que 0bloco de Leste se iria desmoronar como que pormilagre, simplesmente porque;por erro, empregados subalter-nos abriram uma tarde a cortina de ferro, em Berlim! A agri-cultura produzia cereais, acucar, aves de capoeira, carne deporco em abundancia. Na URSS, a producao energetica erasemelhante ados Estados Unidos, a industria pesada era pode-rosa. Durante os anos 50, a URSS havia ultrapassado os Esta-dos Unidos na corrida ao espaco.Apesar de em seguida 0dina-mismo se ter reduzido, a qualidade do pessoal cientffico etecnico era reconhecida por todos. 0que explica entao a der-rocada do socialismo?o sistema era pesado e burocratico, toda a gente estava deacordo quanto a esse ponto, sobretudo os Sovieticos: desdeKhrutchev, nao tinham faltado tentativas de reforma para cor-rigir a economia. Por que razao estes esforcos permaneceramimiteis? Por causa da inferioridade dos Sovieticos no domfniodas comunicacoes e da sua incapacidade para se abrirem aomundo. Na optica marxista, as actividades materiais de trans-formacao eram as iinicas consideradas produtivas. Assim, eranormal que 0regime procurasse economizar nas despesas quejulgava imiteis. 0 sistema de transporte e comunicacao erasempre insuficiente para as necessidades de uma economia quese tornava cada vez mais complexa. 0defice era tanto maissensfvel quanta a planificacao exigia comunicacoes intensaspara centralizar as informacoes sobre as quais assentava e paradifundir as ordens.

    A planificacao illterditava tambem a abertura das regioes aocomercio internacional: era no seio dos espacos nacionais que

    (*) Terminologia que remete para a queda do Muro de Berlim. 1 3 tam-bern 0 titulo de urn l iv ro de estudos e ensa ios de Paul Claval (Pa ri s. .Ha r-mattan, 2000) (N. R.).

    130

    A GEOGRAFIA NO MUNDO POS-MODERNO

    o crescimento estava organizado. Desde 1945, a extensao dosocialismo tinha permitido uma especializacao acrescida dosprodutores.O Conselho de Assistencia Economica (Comecon)tinha oficialmente esta finalidade, mas ele nso era em nada 0equivalente, no Leste, ao Mercado Comum. Nao sao as barrei-ras aduaneiras que dificultam, de facto, as relacoes; a dificul-dade vem da impossfvel harmonizacao das polfticas nacionais.Isso retardou 0 desenvolvimento do mundo sovietico, A faltade um verdadeiro sistema de precos tornou impossfvel a libe-ralizacao do comercio e irnpediu os beneffcios das economiasque a especializacao multiplicava no Ocidente. A difusao rapidados resultados do progresso tecnico, que delas e consequencia,nao teve lugar.0desmoronamento dos pafses de Leste explica-sepela sua incapacidade de part icipar no movimento de mun-dializacao que se acelerou desde 0 infcio da decada de 60: osSovieticos foram incapazes de criar um sistema socialista mun-dial. 0desfasamento entre os paises liberais e os de economiaplanificada nao se reduziu: todos estavam conscientes, a Leste,que nao parara de crescer desde 1970.A situacao intemacional era dominada, desde 1945, pelosEstados Unidos e pela URSS. 0equilfbrio entre os dois resul-tava da posse da arma at6mica: cada urn deles era capaz deprovocar destruicoes macicas ao adversario, mas a sua resis-tencia nao podia reduzir-se a urn ataque tinico e macico deengenhos nucleares; a possibilidade de segundo ataque ligadoaos submarinos, que podiam lancar misseis, condenava 0adversario a sofrer tambem destruicoes macicas. A geopolf-tica reduzia-se a uma geoestrategia dos arsenais nuc1eares_.dadestruicao de rampas de lancamento e da velocidade, rapideze precisao dos mfsseis.

    A cena politic a mundial era dominada pelo equilfbrio dadissuasao: a reparticao real do poder estava profundamentetransformada. A Europa Ocidental, arruinada em 1945, tinhareencontrado a prosperidade. Os dois vencidos do confli tomundial, a Alemanha eo Japao, encontravam-se no 4. e no

    131

  • 5/11/2018 Paul Claval - Hist ria da Geografia

    17/18

    ~1jI

    HISTORIA DA GEOGRAFIA

    2. posto da economia mundial . 0 crescimento acelerado dospafses da Asia Ocidental e do Sudeste Asiatico deslocavaprogressivamente 0 centro degravidade do mundo das cos-tas do Atlantico para as do Pacffico.

    A reorganizacao domundo que devia ter resultado da dis-solucao dos grandes imperios coloniais nao teve lugar. Aospafses independentes pareciam oferecer-se apenas dois mode-los para a sua promocao: a via liberal e a via socialista. Ape-sar das suas diferencas, estas partilhavam algumas posicoes:o papel do Estado era, nos dois casos, promover prioritar ia-mente 0 crescimento economico de maneira a melhorar asituacao das populacoes e a assegurar-lhes 0maior bem-estar,Esta ideia, que inspirava os dois sistemas, estava ligada asfilosofias do progresso e da historia e havia nascido ja naepoca das Luzes na Europa enos Estados Unidos. .

    Os geografos estao conscientes do perigo que resulta'dasnovas formas da corrida aos armamentos: estas ja nao levamautomaticamente aos equilfbrios de dissuasao, Dao-se contada fragilidade dos equilfbrios polfticos iindifer~ntes as situa-~oes economicas reais. A geografia polftica reaparece emforca, com Yves Lacoste (n. 1929) e Paul Claval em Francae Peter Taylor (n. 1944) na Gra-Bretanha. A obra dos que,para la das modas, souberam consagrar-se aos grandes pro-blemas geograficos do mundo actual e finalmente apreciadade acordo com 0 seu valor. E 0 caso da de Jean Gottmann(1915-1994), centrad a na concentracao urbana e nas tensoesinternacionais.o desmoronamento do bloco sovietico poe tim ao equilf-brio fragil sobre 0qual assentava 0mundo desde 1945; poe emevidencia a crise que afectava as ideologias polfticas ociden-tais, em particular a-socfaITstaeexplica porque que nao houvemovimento de resistencia popular para as defender. 0 filosofoamericano Francis Fukuyama publica, em 1991, urn trabalhocom urn titulo provocador: 0 Fim da Historia. As cnticas' deque e alvo sao numerosas: 0mundo nao entrou numa fase de

    132

    A GEOGRAFIA NO MUNDO POS-MODERNO

    imobilidade, bern pelo contrariol Mas a tese de Fukuyama ternurn outro a1cance: na realidade 0 que anuncia e 0 tim das filo-sofias da historia que dominavam a civilizacao ocidental desdco seculo xvm.

    Desenhou-se urn vazio na esfera polftica: as justificacoesdo poder e do Estado que se admitiam desde ha dois seculosja nao sao aceites. Esta aberta a busca de ideologias de substi-tuicao: viramo-nos para 0 passado para construir 0 futuro.Alguns sonham com a destruicao das grandes formacoes poll-ticas e urn retorno aos regionalismos que restituirao ao mundoocidental a sua diversidade. Na Europa de Leste, onde 0 social ismo tinha durante muito tempo reprimido os sentimentosnacionais, estes ressurgem com uma virulencia tanto maiorquanta mais se alimentavam de referencias a epocas passadasgeralmente distantes e ignorarn voluntariamente as contingen-cias actuais. Fora dos pafses ocidentais, a adesao ao modelodemocratico e posta em causa - 0 que traduz a aceitacao queconhecem, urn pouco por todo 0 lado, os movimentos funda-rnentalistas.

    VI. 0 Iugar da geografia no mundo p6s-modernoNa Europa, as ideologias do progresso e da modernidade

    estavam ligadas as filosofias surgidas no infcio do seculo XVIIe consolidadas na epoca das Luzes. E comedo falar de pos--modernidade para qualificar a situacao que resulta da suacontestacao. 0 que mudou verdadeiramente foi a prerrogativaconferida ao tempo na leitura que se faz do mundo.

    o lugar da geografia no pensamento social era l imitadopor urn certo mimero de ideias aceites. 0 contrato social, taopopular desde os seculos XVII e xvnr, faz nascer os gruposhumanos de uma decisao tornada ao mesmo tempo por todosos membros de uma sociedade: 0 atrito da distancia e assimabolido no momento em que se constituem entidades sobera-

    13 3

    ff,{,f" . . . .. ,o J. .". .

    Ij' "