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Plan EDIÇÃO#3 JULHO DE 2009 Revista despertar voluntário Lições de cidadania no discurso e na ação jovens Encontros discutem como educar melhor conhecimento As chuvas que desabrigaram 450 mil pessoas no Norte e Nordeste do Brasil trouxeram à tona um valor fundamental para a transformação social: a solidariedade www.plan.org.br

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Planedição#3 julho de 2009

Revista

despertar voluntário

Lições de cidadaniano discurso e na ação

jovens

Encontros discutem como educar melhor

conhecimento

As chuvas que desabrigaram 450 mil pessoas no Norte

e Nordeste do Brasil trouxeram à tona um valor fundamental

para a transformação social: a solidariedade

www.plan.org.br

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Compromisso reafirmadoA Plan realiza projetos de desenvolvi-

mento comunitário que garantem a

ativa participação das crianças e suas

famílias, nas áreas de saúde, educa-

ção, promoção dos direitos da criança

e apoio à geração de meios de vida

sustentáveis. Dado o estado de emer-

gência determinado pelas inundações

no Maranhão, a Plan prontamente

disponibilizou recursos humanos e fi-

nanceiros. Toda a equipe de programas

e administração tem trabalhado inten-

samente em São Luís e Codó com apoio

de nossos colaboradores. Em coordena-

ção com a Defesa Civil, com o governo

do estado e com as prefeituras, a Plan

destinou mais de R$ 500 mil em gêne-

ros de primeira necessidade, medica-

mentos, roupas, apoio ao transporte

Plan BrasilDiretor Nacional: Moacyr BittencourtGerente de Programas: Gualberto AldanaGerente de Finanças: Lisya SaidGerente de Recursos Humanos: Suzy VeruschkaGerente de Construção de Relacionamentos: Alexandre LimaGerente de Mobilização de Recursos: Flavia LangCoordenadora de Comunicação e Marketing: Cristina Bodas

Escritório NacionalEstrada da Batalha, 1200/38, Módulo 1, Prazeres, Jaboatão dos Guararapes/PE, CEP 54315-570 Tel.: 81 2119-7575 / Fax: 81 2119-7581

Escritório São PauloRua Carlos Petit, 161, cj. 81, Vila Mariana, São Paulo/SP, CEP 04110-000 Tel.: 11 5576-8625 / Fax: 11 5576-8624 [email protected]

Moacyr BittencourtDiretor Nacional

da Plan Brasil

de pessoas e manutenção de abrigos,

além dos investimentos na reconstru-

ção de residências e infraestrutura de

captação, armazenamento e distribui-

ção de água potável. A Plan também

contribuiu incessantemente para a di-

vulgação da situação das famílias. No

momento, a equipe da Plan e seus vo-

luntários trabalham no planejamento

do labor pós-emergência, articulando

parcerias para a reconstrução de mo-

radias, o restabelecimento de vias de

acesso e o apoio à economia familiar

dos afetados. Reafirma-se, assim, nosso

propósito de garantir que as crianças,

suas famílias e comunidades possam

retomar suas atividades regulares com

a consciência de seus papéis de ativos

agentes de desenvolvimento.

Plan

Como trabalhamosA Plan aposta no desenvolvimento

autônomo das comunidades em que atua.

O enfoque principal é nos direitos das

crianças e dos adolescentes, considerados

protagonistas desse processo.

Mobilização de recursosSua participação é fundamental para

manter nosso trabalho. Você pode

contribuir de várias formas: doando,

prestando serviços ou divulgando

nossos projetos. Entre em contato!

VisãoA visão da Plan é a de um mundo onde

todas as crianças realizem seu pleno

potencial, em sociedades que respeitem

os direitos e a dignidade das pessoas.

Quem somosA Plan nasceu em 1937 para dar suporte

a crianças afetadas pela Guerra Civil

Espanhola. Hoje é uma das maiores ONGs

internacionais de desenvolvimento,

trabalhando com 1,5 milhão de crianças.

Está presente em 66 países. MissãoA Plan trabalha para conseguir melhorias

duradouras na qualidade de vida das

crianças menos favorecidas de países

em via de desenvolvimento. Para isso,

baseia-se em processos que unam pessoas

de diversas culturas e acrescentem

significado e valor em suas vidas.

Diretor Executivo: Rodrigo PipponziDiretora Editorial: Roberta FariaDiretora de Arte: Claudia Inoue

Coordenação: Amanda Rahra e Cristina BodasEdição: Dilson BrancoReportagem: Larissa SorianoRevisão de texto: Eduardo ToaldoDesign e ilustração: Juliana Martinhago e Mariana Coan Produção: Laura Sobenes e equipes da Plan em São Luís (MA)Fotos: Christian Knepper, Leo Drumond / Agência Nitro e equipe PlanFoto de capa: Christian KnepperTratamento de imagens: Leandro MarcinariImpressão: Gráfica Ibep Papel: Reciclato 150 gr. (capa) e Reciclato 120 gr. (miolo)Tiragem: 3 mil cópias

PlanRevista

www.plan.org.br

A Plan no BrasilNo Brasil desde 1997, a Plan está presente

no Maranhão – nas regiões de São Luís

e Codó – e em Pernambuco – em Cabo

de Santo Agostinho e Jaboatão dos

Guararapes. Os projetos da organização

atendem mais de 75 mil crianças.

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Violência na escola: seu filho sofre?

tão temiDA peLos pAis, a violência

pode estar presente em um ambiente

tradicionalmente considerado seguro:

a escola. Apelidos maldosos, piadas

humilhantes e até agressões físicas

não são brincadeiras inofensivas.

o bullying, como é conhecido, pode

causar graves danos ao aprendizado

e à formação psicológica das crianças.

Combater essa ameaça exige a

participação de pais, professores e

alunos. o primeiro passo é identificar

o problema. Faça o teste e veja se seu

filho pode ser uma vítima.

1. Qual é o comportamento da criança em relação aos estudos e compromissos escolares?a) Frequentemente cria motivos para não ir às aulas ou falta sem avisar os pais. b) Às vezes inventa razões para evitar ter de ir à escola. c) Pode até resistir à ideia de ir às aulas, mas não tem problemas de frequência. 2. Como a criança se relaciona com a família? a) Não fala sobre si mesma e se torna agressiva com facilidade. b) Com frequência, faz birra. c) De forma normal; eventualmente, pode ser mal-educada.

Bullying, castigos corporais ou violência sexual: a cada dia, 1 milhão de crianças sofrem algum tipo de violência escolar. O dado faz parte de uma pesquisa mundial realizada pela Plan. O levantamento serviu de base para o lançamento da campanha Aprender Sem Medo, que pretende promover um esforço global pela paz nas escolas. No Brasil, o foco é o bullying. A ideia é mobilizar famílias, comunidades, escolas e governos em busca de soluções. Acesse o site oficial e participe: www.aprendersemmedo.org.br.

3. Como você avalia a autoestima do seu filho?a) Muito baixa: dificilmente acredita no próprio potencial. b) Baixa: não raro, seu comportamento é marcado pelo pessimismo. c) Normal: tem medos, mas não deixa de enfrentá-los.

4. Como seu filho se comporta quando é perguntado sobre a vida escolar?a) Fica irritado, grita e se isola.b) Troca de assunto instantaneamente.c) Às vezes demonstra algum desconforto.

5. Qual é a postura da criança em relação ao futuro?a) Não tem nenhuma motivação em seguir estudando nem de construir uma carreira profissional. b) Não traça planos muito ousados.c) Fala com naturalidade sobre o tema.

Qual foi a resposta que mais apareceu no seu teste? Confira o resultado abaixo.

Mais A É provável que seu filho seja vítima de bullying. Cheque na escola se é verdade e fale com os educadores para encontrar soluções. Se possível, busque ajuda de médicos e terapeutas.

Campanha global contra a violência nas escolas

Mais B Vale ficar atento a um possível estágio inicial de bullying. Quanto antes o quadro for identificado, mais fácil de resolvê-lo. Promova o diálogo e incentive o jovem a praticar esportes ou a participar de outros programas que estimulem o convívio social.

Mais C Pode ser uma implicância normal entre colegas. Mesmo assim, é válido conversar e mostrar à criança que só em um ambiente de convivência saudável é possível desenvolver todas as nossas habilidades.

A sala de aula muitas vezes serve de cenário para um tipo de agressão cujas cicatrizes

podem levar anos para sarar: o bullying. Aprenda a identificar possíveis vítimas

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COMUNIDADE

As fortes chuvas que recentemente atingiram o Norte e o Nordeste do país ressaltaram a importância de uma questão central na atuação da Plan: o trabalho voluntário

Tragédia e solidariedade

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Era madrugada quando Frankllinne Silva, de 21 anos, per-cebeu que a chuva, que caía desde a tarde na periferia de São Luís (MA), estava invadindo sua casa, feita de taipa.

Era preciso agir rápido. Ela pegou os dois filhos – um de 3 e outro de 1 ano –, um colchão, algumas roupas e foi buscar abrigo na casa da sogra. Assim que possível, voltou a sua rua para ajudar os vizinhos. “As pessoas estavam desesperadas, as famílias chorando porque tinham perdido tudo. Algumas casas foram levadas pela correnteza”, conta.

Frankllinne é uma das cerca de 450 mil pessoas que tive-ram de abandonar suas residências devido às enchentes que recentemente atingiram os estados do Norte e Nordeste do Brasil. A tragédia causou a morte de 64 pessoas, segundo o Ministério de Integração Nacional. Apesar do número de atin-gidos ser bem superior aos 80 mil afetados pelas inundações em Santa Catarina, no ano passado, a ajuda das demais regiões do país chegou de forma mais lenta e escassa. Segundo a De-fesa Civil do Maranhão, nas três primeiras semanas de campa-nha foram arrecadados apenas R$ 21 mil, em comparação aos R$ 3 milhões doados em sete dias para as vítimas catarinenses.

Um dos estados mais prejudicados foi o Maranhão: mais da metade dos municípios – 119 de um total de 217 – foi atingida. Cerca de 165 mil maranhenses tiveram de abando-nar suas casas – o maior número entre os estados afetados. “Toda nossa equipe parou suas atividades e foi às áreas de risco fazer o levantamento das vítimas com a Defesa Civil”, afirma Suelma Kzam, assistente técnica de saúde da Plan de São Luís. Desde o primeiro momento, foi fundamental a par-ticipação de voluntários da comunidade, como Frankllinne: “Por conhecer melhor as pessoas, eu ajudei a Plan e a Defesa Civil a localizar as áreas mais afetadas”, conta.

O Maranhão foi um dos estados que mais sofreram com as enxurradas: 165 mil pessoas tiveram que abandonar suas casas. Nas imagens, as ruas alagadas de Codó

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Tragédia e solidariedade

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Emergência e prevençãoConcluído o cadastramento, a Plan deu início à distribuição de kits com alimen-tos, material escolar, produtos de higiene, filtros de água, botijões de gás e fogões. Foram destinados mais de R$ 500 mil para ajudar cerca de mil famílias em todo o estado. “Essa é a ação emergencial, com duração de dois meses. Ela serve de base para um projeto de longo prazo, que se estenderá por dois anos”, afirma Suelma.

Foram selecionadas 200 famílias da região de São Luís para participar da For-mação de Agentes de Defesa Civil e Cida-dania, na qual os moradores aprenderão a prevenir, identificar e agir em situações de emergência. O projeto também inclui oficinas de prevenção de acidentes do-mésticos, preservação ambiental, auto-estima e perspectiva de futuro, protago-nismo juvenil e aproveitamento total de alimentos. “Mais do que ações de emer-gência, esse era um momento-chave para trabalharmos outras situações das quais essas famílias são vítimas”, diz Suelma.

Em Codó e Timbiras, onde a situação foi ainda mais grave do que na capital maranhense, as ações emergenciais inclu-íram, além das doações, oficinas de con-vivência comunitária pacífica, já que mui-tas famílias foram obrigadas a dividir o mesmo espaço em abrigos. “As dinâmicas também tratam de violência doméstica e da preparação psicológica para o retorno às casas. Cuidamos para que essa situa-ção não se torne tão traumática, princi-palmente para as crianças”, diz Patrícia Barroso, gerente da Plan em Codó. Agora que as famílias já voltaram para suas resi-dências, as oficinas continuam em pontos estratégicos das comunidades, como as-sociações de moradores e escolas.

Outra estratégia no interior do es-tado foi a capacitação das Comdecs (Comissões Municipais de Defesa Civil), ligadas às prefeituras. O treinamento, oferecido pelo assessor de emergências da Plan de Honduras, Dax Martinez, também se estendeu a professores, agentes comunitários de saúde, funcio-

nários da Plan e voluntários. “Dax ensi-nou, por exemplo, como formalizar uma comissão de atuação de emergência e quais os cuidados de higiene que se deve ter quando a água de uma enchen-te baixa, para evitar a disseminação de doenças”, diz Patrícia.

Um dos participantes foi o voluntário Marcelo Cenzala, de 28 anos, de Codó. Ele teve atuação importante no auxílio aos atingidos pelas chuvas na cidade. “Minha casa não foi afetada, mas quan-do você vê alguém passando dificuldade, sente vontade de ajudar. Fosse sábado, domingo, manhã, tarde ou madrugada, com chuva ou sol, eu pegava o barco e ia ajudar as pessoas a tirar as coisas das suas casas”, conta. Ele acredita que a ca-pacitação foi muito útil para a comunida-de: “Aprendemos o que fazer ao ver uma pessoa desmaiada, o que falar quando vir uma criança brincando na água suja, como se preparar para essas catástrofes. Acho que, se houver outra enchente, as pessoas estarão mais preparadas”, conta.

A ação emergencial da Plan incluiu a doação de alimentos e filtros, além

de capacitações sobre como diminuir os efeitos das próximas cheias

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A transformação deve ser feita

não por agentes externos, mas pela própria comunidade

Questão estratégicaA ação solidária de pessoas como Mar-celo e Frankllinne irrompe com beleza sobre um cenário de tanto sofrimento. “Essa situação trouxe à tona a questão da solidariedade, de as pessoas se ajudarem sem esperar nada em troca”, diz Patrícia. Mas o trabalho voluntário não é impor-tante apenas em momentos de emergên-cia. Na Plan, ele tem relevância estrutural. “O voluntariado é uma questão absoluta-mente estratégica para nossa proposta de desenvolvimento”, afirma Dov Ro-senmann, gerente da Plan em Cabo de Santo Agostinho (PE). “A gente entende que a transformação deve ser feita não por um agente externo, mas pela própria comunidade, por pessoas comuns. Essas pessoas participam de forma voluntária das oficinas que oferecemos e então se tornam multiplicadoras desse conheci-mento. São voluntárias da comunidade, não da Plan”, acrescenta Dov.

É o caso de Magali Araújo, de 46 anos, que atua como voluntária em projetos da Plan em Cabo desde os 34. Nessa época, nem sabia o que era um voluntário. “Então eu descobri que é al-guém que trabalha sem interesse, com coração, para o bem da sua comunida-de”, diz. Há cerca de dois anos, quatro jovens procuraram o diretor da escola para ajudá-los a formar uma banda. Ele pediu auxílio a Magali, que recorreu às orientações da Plan. Daí nasceu o pro-jeto A Música É Minha Vida, do qual Magali é vice-presidente. Hoje, a ban-da conta com 60 integrantes. “Quando eu os vi participando do desfile de 7 de Setembro, eu chorei. Um dos meni-nos tinha problemas em casa, e a mãe veio agradecer porque agora ele está se comportando, tirando boas notas. Isso faz a gente ficar contente, ver que nosso trabalho está valendo a pena, e dá força para seguir em frente.”

Com seu trabalho voluntário, Magali viu meninos se

tornarem músicos e teve a satisfação de se sentir útil

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Após audiência na Assembleia, a escola que André (à dir.) e seus amigos reivindicaram começou a ser construída

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jovens

Geração cidadã

Era mais uma reunião na Assembleia Legislativa do Maranhão. Em meio aos participantes, er gueu-se uma

voz condenando o absurdo de não haver uma escola de ensino médio na comu-nidade de Cidade Olímpica, na periferia de São Luís, onde vivem 65 mil pessoas. O discurso firme e articulado vinha de um garoto de 15 anos, André de Araújo. Havia meses ele e um grupo de amigos tentavam marcar essa audiência pública. “Eu nunca imaginei que um dia falaria lá na Assembleia. Foi uma experiência muito boa”, diz. Passados dois anos, a reivindicação foi parcialmente atendi-da. “Eles construíram o muro. Mas que-remos a escola pronta, com os professo-

res dentro, funcionando. Continuamos pres sionando o governo”, afirma.

André faz parte do projeto Protago-nismo Infanto-Juvenil, desenvolvido pela Plan em parceria com o Grupo de Apoio às Comunidades Carentes (Gacc). “So-mos um grupo de jovens que se reúne para discutir políticas públicas a favor da juventude”, resume André. “Visitamos escolas, grupos de dança e bandas, por exemplo, e conversamos com o pessoal sobre temas como a gripe suína, a crise mundial, saúde sexual, profissionaliza-ção, sobre como os jovens se veem no meio disso tudo, e discutimos o que po-demos fazer para atingir nossos sonhos”, explica André. “No início, eles precisa-

vam pedir espaço para falar. Hoje, são convidados por escolas e fóruns munici-pais, estaduais e até nacionais de discus-são de jovens”, diz Nerinalva Azevedo, assistente técnica em direitos das crian-ças da Plan em São Luís.

Se na capital maranhense os jo-vens foram até a Assembleia reivindi-car seus direitos, em Cabo de Santo Agostinho (PE) aconteceu o inverso: a sociedade convenceu a câmara dos vereadores a ir até ela. Uma vez por mês, acontece uma assembleia itine-rante em escolas, associações de mora-dores ou outros espaços públicos, com boa participação de jovens. Assim, a população, que muitas vezes não sabe

Juventude alienada? Que nada. Conheça histórias de meninos e meninas que não só lutam para serem ouvidos como põem a mão na massa para melhorar o lugar onde vivem

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Falando a mesma língua: Angélica auxilia jovens que vão ao posto de saúde com dúvidas sobre saúde sexual

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que as sessões são abertas ao público, comparece para cobrar seus represen-tantes. “A participação da população é muito boa. Tanto para eles, que se aproximam do poder público, quanto para nós, que assim ficamos sabendo, diretamente com a população, quais são suas necessidades”, diz o vereador José de Arimatéia Jerônimo.

Da reivindicação à açãoManter diálogo constante com os go-vernantes é fundamental para exercer um papel ativo nas políticas públicas. Mas é possível ir além, atuando na prá-tica. Quem dá um bom exemplo disso é o pessoal do projeto Saúde Sexual e Reprodutiva, das comunidades de Itaqui-Bacanga e Cidade Olímpica, am-bas em São Luís. Estudantes a partir de 12 anos passam por uma capacitação sobre doenças sexualmente transmissí-veis e métodos contraceptivos, e então repassam esse conhecimento para ou-tros adolescentes por meio de encon-tros em associações e panfletagens nas ruas. “Às vezes, os jovens se sentem intimidados em conversar com adultos sobre sexualidade. Quando é alguém da mesma idade que fala, eles ficam mais seguros”, diz a participante Angélica Soares da Silva, de 21 anos.

Realizado em parceria com a ONG Bem-Estar Familiar no Brasil (Bemfam), o projeto se encerra no segundo se-mestre de 2009. A última etapa é a permanência dos participantes em uni-dades de saúde, para que auxiliem no atendimento aos jovens que procuram a rede pública. A experiência já foi re-alizada em uma unidade, e os resulta-dos foram animadores. “Os diretores e médicos dos postos nos recebem muito bem. Brincamos que viramos celebrida-des lá!”, diverte-se Angélica.

André e seus amigos do Protagonis-mo Infanto-Juvenil também se orgulham de pôr a mão na massa. Após realizar um levantamento para identificar os prin-cipais problemas da Cidade Olímpica,

eles decidiram centrar esforços contra a desnutrição infantil. Passaram por uma capacitação e começaram a visitar famí-lias, ensinando a produzir o composto alimentar conhecido como multimistura. “Nós percebemos que há uma carência enorme de atendimento a essas famílias por parte do poder público. Então parti-mos para a prática”, diz André.

Com o fim do projeto, em julho, os jovens protagonistas pretendem seguir com suas próprias pernas. “Estamos bus-cando orientação da Plan e do Gacc para fundar nossa própria ONG, para manter e ampliar a atuação. Criar uma nova vi-são da juventude toda, não só da Cidade Olímpica”, afirma André, sem limites para sonhar – nem para agir.

“Quando o projeto acabar, queremos fundar nossa própria ONG, para manter

e ampliar nossa atuação”

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Em uma escola primária de Codó (MA), a aluna Waldelice Cruz estava ansiosa, com um cartaz nas mãos.

Era a primeira vez que ela apresentava um texto em voz alta, na frente dos colegas. “Senti medo, vergonha, mas foi legal de­mais”, conta. “Se tiver que fazer de novo, eu faço”. Waldelice tem 32 anos e é mãe de três filhos. Ela parou de estudar aos 16, quando casou, pois o marido a proibiu de ir à escola. Este ano, com o apoio dos fi­lhos, da mãe e do companheiro – que ao ver o gosto da mulher pelo estudo, mu­dou de ideia – ela voltou. Está cursando a 3ª e a 4ª séries do programa de jovens e adultos do colégio municipal São Luís.

A apresentação oral de Waldelice fez parte de uma das atividades realizadas pela Plan durante a Semana de Ação Mundial de Educação para Todos, que

aconteceu de 23 a 29 de abril. A semana é uma iniciativa da Campanha Global pela Educação (GCE), com apoio da Unesco. Cerca de 250 alunos, de sete escolas de Codó, participaram das oficinas, que dis­cutiram a importância da alfabetizacão de jovens e adultos. “Quando a gente lê, está vendo o mundo, a vida das pessoas. E eu acho isso muito bonito”, afirma Waldelice.

Troca de experiênciasTão importante quanto assegurar a edu­cação a quem não teve oportunidades na infância é garantir a qualidade do ensino das crianças. Esse foi o objetivo do II Se­minário de Professores dos 1º e 2º Ciclos da Rede Municipal de Educação de São Luís, realizado pela Plan em parceria com a prefeitura da capital maranhense, em 6 de junho. Um dos temas discutidos foi

a violência escolar, contra a qual foi lan­çada a campanha Aprender Sem Medo (leia mais na página 3). Mas o objetivo principal foi a troca de experiências so­bre como a leitura e a informática podem aprimorar o ensino.

Uma das iniciativas compartilhadas foi o projeto Corujinhas do Saber, da escola Roseno de Jesus Mendes. “Na hora do in­tervalo, a gente distribui livros por vários espaços da escola, até no gramado ao lado da quadra de esportes, para mostrar que a leitura pode ser feita em todos lugares”, explica a professora Verônica Machado.

A maioria dos participantes do semi­nário é ligada ao projeto Letramento e Alfabetização, que acaba no fim deste ano. “O encontro é uma forma de perpe­tuar os resultados do projeto”, diz a pro­motora comunitária Bianka Marques.

A melhoria do ensino fundamental por meio da leitura e da informática e a importância de garantir o direito à educação a adultos não alfabetizados foram os temas

de dois encontros realizados no último trimestre no Maranhão

Em seminário em São Luís (MA), Verônica contou a outros

professores como desperta em seus alunos o prazer de ler

Educação em todas as idades

conhecimento

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Ganhadores do Oscar fazem doação Os produtores do filme Quem Quer Ser um Milionário?, grande vencedor do Oscar 2009, doaram cerca de US$ 750 mil para a Plan. O dinheiro será usado em programas para melhorar a vida de crianças que moram nas comunidades mais pobres de Mumbai, na Índia, onde se passa a história do filme. Danny Boyle, o diretor, disse que as crianças mais pobres de Mumbai deveriam se beneficiar do sucesso do filme, assistido por multidões e premiado em todo o mundo.

Contra a violência sexualMais de 400 pessoas, na maioria crianças e adolescentes, alunos de escolas públicas, participaram de uma caminhada contra a violência sexual, no dia 18 de maio, em Codó (MA). Os manifestantes empunharam faixas e bandeiras e distribuíram panfletos a fim de chamar a atenção da sociedade para o problema. O ato foi organizado pelo Conselho Tutelar de Codó, com o apoio da Plan e de outras instituições, e marcou o encerramento da Semana de Enfrentamento à Violência.

Atletas unidos pelas criançasIker Casillas, goleiro do Real Madrid e capitão da seleção espanhola de futebol, lançou campanha mundial, junto à Plan, para reduzir a pobreza infantil. Ele pretende mobilizar 100 mil “goleiros solidários”. O dinheiro arrecadado será destinado ao combate à violência escolar, que afeta mais de 350 milhões de crianças em todo o mundo por ano. Ao melhorar a educação, criam-se condições para a transformação social. A campanha já conta com o apoio de outros craques espanhóis, como o ex­jogador do Real Madrid Emilio Butragueño e o tenista vencedor de cinco Grand Slams Emilio Sánchez Vicario.

De olho no lixoDiagnosticar e propor soluções aos problemas ambientais e sociais ligados ao lixo: este foi o objetivo do I Seminário de Gestão do Lixo para a Inclusão Social de Codó e Timbiras (MA), realizado em 19 e 20 de junho. Estiveram presentes catadores, secretários municipais e pesquisadores da Fundação Agente, que propuseram saídas para as deficiências sanitárias das cidades. Também foram abordadas iniciativas para melhorar as condições de trabalho dos catadores. Realizado em parceria com as prefeituras, o evento faz parte do projeto Gestão e Beneficiamento do Lixo.

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