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PPGAC – ECA – USP Relatório Final de Pós Doutoramento Pesquisa: “Processos de criação e pedagogia da dança: configurações de um ideário relacional” Pós-doutoranda: Profa. Dra. Ana Maria Rodriguez Costas Docente Responsável: Profa. Dra. Maria Lúcia de Souza Barros Pupo Outubro, 2016

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PPGAC ECA USP

Relatrio Final de Ps Doutoramento Pesquisa:

Processos de criao e pedagogia da dana: configuraes de um iderio relacional

Ps-doutoranda:

Profa. Dra. Ana Maria Rodriguez Costas

Docente Responsvel:

Profa. Dra. Maria Lcia de Souza Barros Pupo

Outubro, 2016

2

Agradecimentos

Gostaria de registrar meu profundo agradecimento Profa. Dra. Maria Lcia de

Souza Barros Pupo, por sua seriedade e compromisso, pelos dilogos fundamentais

para o desenvolvimento desta pesquisa e por sua compreenso quanto s

adversidades que enfrentei nesses ltimos anos para realizar as atividades desejadas e

planejadas.

Agradeo Fapesp pela bolsa que possibilitou um breve perodo de dedicao

exclusiva s atividades de pesquisa.

Agradeo ao PPGAC da ECA/USP, aos colegas, aos funcionrios da secretaria e

da Comisso de Pesquisa.

Agradeo a Talita Bretas e Natlia Gresenberg, coordenadoras do Museu da

Dana que ao me convidarem para a exposio A dana no espao urbano

viabilizaram em grande parte a coleta de dados para esta e para outras possveis

etapas deste estudo. E, a Osmar Zampieri por todos os registros em vdeo.

Meus agradecimentos especiais aos artistas que abriram suas vidas e de seus

coletivos para me receber: Alex Ratton, Gal Martins e Uxa Xavier. E, ao tambm artista

e gestor, Marcus Moreno e a todos aqueles que atuam no Ncleo de Fomento Dana.

Por fim, agradeo tambm ao Instituto de Artes da Unicamp, ao DACO e ao

PPGADC que vem abrigando minhas atividades docentes e, especialmente, ao aluno

Eder Asa do Curso de Teatro, que transcreveu as entrevistas com o apoio da bolsa do

SAE (Servio de Atendimento ao Aluno) da Unicamp.

3

SUMRIO

1. Apresentao

2. Resumo

3. Propsitos iniciais e desafios enfrentados no percurso da pesquisa

4. Detalhamento das etapas e atividades realizadas

4.1. Pesquisa e reviso bibliogrfica

4.2. Mapeamento das vertentes relacionais

4.2.1. Editais, ncleos artsticos e seus projetos

4.2.2. As vertentes relacionais identificadas

4.2.3. A coleta de dados para a exposio A dana no espao urbano

4.2.4. Os ncleos artsticos escolhidos

4.2.5. Levantamento de dados sobre os 10 anos de Fomento Dana

4.3. Acompanhamento dos ncleos artsticos em seus processos de trabalho

4.3.1. Pesquisa em campo

4.3.2. Entrevistas

4.4. Outras interlocues

5. Resultados obtidos

5.1. Publicaes culturais

5.1.1. Danas para semearmos na cidade

5.1.2. Situ(aes). Caderno de reflexes sobre a dana in situ

5.2. Exposio A dana no espao urbano no Museu da Dana

5.3. Indicaes para a publicao Processos de criao e pedagogias: vertentes

relacionais na dana contempornea

5.3.1. Sumrio

5.3.2. Sumrio comentado

6. Sobre a disseminao e continuidade da pesquisa

6.1. Graduao e ps-graduao

6.2. Participao em eventos cientficos (ABRACE)

6.3. Prospeces

7. Bibliografia

8. Anexos

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1. Apresentao

O presente relatrio refere-se ao perodo de realizao da pesquisa de ps

doutoramento intitulada Processos de criao e pedagogia da dana: configuraes de

um iderio relacional.

No item 2, est inserido um resumo da pesquisa. No item 3 Propsitos iniciais e

desafios enfrentados no percurso da pesquisa procuro esclarecer os motivos que me

levaram a redimensionar alguns dos seus objetivos e a estender sua durao. No item 4

Detalhamento das etapas e atividades realizadas apresento as principais aes que

viabilizaram a pesquisa: a pesquisa e reviso bibliogrfica; a leitura de projetos e

levantamento dos ncleos artsticos agraciados pelo Programa de Fomento Dana da

cidade de So Paulo com vistas ao acompanhamento de processo de criao; a pesquisa

de campo junto aos trs ncleos artsticos escolhidos, a Cia Damas em Trnsito e os

Bucaneiros, a companhia Sansacroma e o grupo Lagartixa na Janela; as entrevistas com

artistas e com o gestor do programa de Fomento Dana da SMC/SP; as anlises

oriundas da articulao das aes anteriores; e, o que chamei de interlocues

aes no mbito de minha atuao na produo artstica e cultural relativa ao assunto,

que inicialmente no estavam previstas, mas que alimentaram a pesquisa. Devido s

prprias condies de desenvolvimento deste ps-doutoramento e por meus vnculos

com o cenrio descrito, houve uma produo continuada de resultados, expostos no

item 5, como Resultados obtidos. Por fim, no item 6 Sobre a disseminao dos

resultados da pesquisa no mbito da graduao e ps-graduao discorro sobre como

j vem acontecendo a disseminao dos resultados e estabeleo algumas prospeces

sobre sua continuidade. Concluindo, apresento no item 7 as referncias bibliogrficas

que compuseram todo o percurso investigativo e no item 8, os anexos.

5

2. Resumo

Empenhada em perscrutar a potncia das relaes entre arte, tica, esttica e poltica, a pesquisa em questo foi motivada por uma reflexo central: quais seriam, na atualidade, os potenciais da arte para configurar obras, proposies ou dispositivos que sensibilizem seus pblicos muitas vezes, coautores possibilidade de novas formas de viver e conviver socialmente. Nas ltimas duas dcadas de produo da dana contempornea, observa-se a reconfigurao de um iderio potico-esttico relacional (BOURRIAUD, 2009) norteando projetos de criao que passam a situar-se em zonas de experincia para alm das salas de ensaio e espaos teatrais, coabitando com uma diversidade de pblicos em diferentes contextos das cidades. Procurou-se observar quais as noes de corpo danante, os procedimentos tcnicos (expressivos e inventivos), as poticas que sustentam e se revelam nos processos abrigados em tais vertentes estticas, assim como nas demais aes culturais empenhadas por uma dana (e, portanto, por um corpo) que intenta relacionar-se. Com base nas investigaes em campo de trs ncleos artsticos agraciados pelo Programa de Fomento Dana da cidade de So Paulo a Cia Sansacroma, a Cia Damas em Trnsito e os Bucaneiros e o Grupo Lagartixa na Janela, e tendo em vista aspectos poticos, estticos, polticos e ticos perscrutados em seus projetos em ao, as observaes foram agrupadas em trs categorias distintas, modos de estar, modos de se relacionar e modos de transformar. Partindo da hiptese de que a trama tecida por essas vertentes configura tambm uma pedagogia, foram observados alguns dos princpios artstico-pedaggicas operadores indignao, porosidade e delicadeza de suas prticas, refletindo-se sobre as possveis reverberaes desses fundamentos no ensino da dana em diferentes contextos.

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3. Propsitos iniciais e desafios enfrentados no percurso da pesquisa

Nas ltimas duas dcadas de produo da dana contempornea, observa-se a

reconfigurao de um iderio relacional (BOURRIAUD, 2009) norteando projetos de

criao que passam a situar-se em zonas de experincia para alm das salas de ensaio

e espaos teatrais, coabitando com uma diversidade de pblicos em diferentes

contextos das cidades, fenmeno que pode ser observado nos projetos e nas prticas

artsticas, pedaggicas e culturais dos ncleos agraciados pelo Programa de Fomento

Dana da cidade de So Paulo, referencial emprico da pesquisa Processos de criao e

pedagogia da dana: configuraes de um iderio relacional. No conjunto dos

procedimentos tcnicos e mtodos de criao, nas performances e espetculos, nas

proposies e nos dispositivos estendidos a um pblico participante das aes

culturais propostas por grupos e companhias contemporneas, tal iderio potico-

esttico estaria fomentando (novas) pedagogias da dana, relevantes para seu ensino

em diferentes contextos, formais e no formais: eis a hiptese mobilizadora desta

investigao.

Seguindo essa perspectiva procurou-se observar como esse propsito relacional

corporifica-se nos procedimentos de criao, nos espetculos e nas demais aes

oriundas dos ncleos artsticos da dana contempornea na cidade de So Paulo,

revelando princpios e fundamentos de ordem pedaggica relevantes para a prtica e

para o ensino da dana na atualidade, considerando dois eixos de problematizao e

investigao:

1. As relaes estabelecidas entre dana e sociedade, considerando as

articulaes estabelecidas entre os aspectos potico-estticos e os aspectos polticos e

ticos.

2. As noes de corpo e as vertentes poticas que sustentam e simultaneamente

expressam o propsito relacional em dana; e os procedimentos tcnicos expressivos

e inventivos que o sustentam.

Inicialmente, pretendeu-se examinar a totalidade dos projetos fomentados1,

identificando e analisando aqueles que se direcionam para o propsito artstico

1 Neste caso, o perodo previsto para leitura dos projetos se encerraria em dezembro de 2015.

7

relacional, bem como mapeando-os em suas possveis vertentes e acompanhar

(cartografar) processos de criao, de grupos e companhias beneficiados pelo

programa, simultaneamente ao seu prprio curso.

Alm da leitura e anlise de projetos para a escolha dos ncleos artsticos

agraciados pelo Programa de Fomento Dana da cidade de So Paulo a serem

acompanhados, foram previstas as seguintes aes: levantamento e reviso

bibliogrfica; pesquisa de campo junto aos grupos e companhias envolvendo

observao de ensaios, apresentaes e outras atividades estendidas ao pblico; e,

entrevistas com os artistas e com membros da gesto cultural do programa.

O projeto Processos de criao e pedagogia da dana: configuraes de um

iderio relacional foi aprovado no Programa de Ps Graduao da ECA/USP em

outubro de 2013 com previso de trmino em outubro de 2015. Aps

encaminhamento de solicitao Fapesp, obtive uma bolsa de ps doutoramento para

o perodo previsto (24 meses), conseguindo assim meu afastamento (licena no

remunerada) da universidade privada em que atuava. No entanto, pude desfrutar da

bolsa durante quatro meses, de 01 de maro a 30 de junho de 2014 pois, em julho de

2014 foi homologado o resultado do Concurso Pblico para provimento de cargo de

Professor Doutor, nvel MS-3, no Departamento de Artes Corporais / Instituto de Artes

da Unicamp, no qual fui aprovada em 1o lugar. Com vistas a assumir um vnculo

empregatcio com a Unicamp, solicitei, previamente o cancelamento da bolsa junto

Fapesp, tendo sido atendida e concluindo assim meu vnculo com a ltima aps

entrega e aprovao do relatrio cientfico em janeiro de 2015.

Iniciei minhas atividades na Unicamp em julho de 2014, assumindo a docncia,

no ms de agosto, em cinco disciplinas distintas. Somado a esse quadro profissional, no

segundo semestre de 2014 acompanhei durante cinco meses a internao de minha

me em um quadro terminal, que se encerrou com seu falecimento em novembro do

mesmo ano.

Considerando esse histrico de acontecimentos tanto profissionais, como

pessoais solicitei a PPGAC e Comisso de Pesquisa a prorrogao da pesquisa

(prevista a se encerrar em outubro/2015) para o final do 1o semestre de 2016.

Se por um lado, como docente do Departamento de Artes Corporais do Instituto

de Artes da Unicamp, tenho conseguido articular meus interesses investigativos sobre

a configurao de um iderio relacional nos processos criativos e na pedagogia em

8

dana com minhas atuais prticas pedaggicas na graduao em dana e, no ltimo ano,

como pesquisadora e docente do Programa de Ps-Graduao em Artes, por outro lado,

como estou em perodo probatrio de trs anos (que se encerra em julho de 2017), tive

que assumir inmeras demandas de carter pedaggico e administrativo que

permitiram pouca dedicao pesquisa.

Enfim, tive que lidar com um redimensionamento sistemtico dos objetivos e do

plano de trabalho inicialmente proposto, procurando alcanar seus propsitos, mesmo

que, parcialmente. Neste sentido, considero a pesquisa temporariamente encerrada.

Isso ser melhor abordado nos resultados obtidos (item 5).

9

4. Detalhamento das etapas e atividades realizadas

Conforme exposto na apresentao este item est dedicado a descrever as

principais aes que viabilizaram a pesquisa.

4.1. Pesquisa e reviso bibliogrfica

Essa atividade atravessou quase integralmente a durao da pesquisa. O

principal propsito foi expandir o referencial terico por meio do mapeamento de

autores e publicaes de relevncia sobre a temtica da investigao. Alm da reviso

dos ttulos pr-selecionados para a elaborao do projeto de pesquisa, aconteceu o

levantamento e reviso de novos ttulos o que gerou uma bibliografia geral exposta no

item 7.

Ampliei o levantamento bibliogrfico apresentado no projeto de pesquisa inicial

direcionado ao eixo de problematizao e investigao da pesquisa sobre as relaes

estabelecidas entre arte/dana e sociedade em suas dimenses poticas, estticas,

polticas e ticas. Cumpre observar que alm da ampliao de ttulos de autores com os

quais j vinha trabalhando nesse caso, refiro-me a Nicolas Bourriaud (2009a, 2011a)

e Ileana Diguez (2011a) priorizei a aproximao de alguns novos autores e

perspectivas disciplinares, buscando fundamentos e contrapontos para refletir

criticamente sobre a prpria noo de relacional na arte. Destaco a seguir, as seguintes

publicaes:

ALICE, Tnia. Performance Ensaio: desmontando os clssicos. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2010.

ARDENNE, Paul. Un arte contextual: creacin artstica en medio urbano, en situacin, de intervencin, de participacin. Murcia: Murcia Cultural, 2006.

BEARDSLEY, John et al. Where the revolution began. Lawrence Halprin and Anna Halprin and the reinvention of public space. Washington, DC: Spacemaker Press, 2009.

BERNAL, scar Cornago. Ensayos de teora escnica sobre teatralidad, pblico y democracia. Madrid: Abada Editores, 2015.

BOURRIAUD, Nicolas. Radicante: por uma esttica da globalizao. Trad. Dorothe de Bruchard. So Paulo: Martins Fontes, 2011b.

____________________. Ps-produo: como a arte reprograma o mundo contemporneo.

10

So Paulo: Martins, 2009b.

CLAIR, Jean. La responsabilidad del artista: las vanguardias, entre el terror y la razn. Madrid: Visor, 1998.

DIGUEZ, Ileana. La prctica artstica en contextos de dramas sociales. Latin American Theatre Review, v. 45, n. 1, p. 75-93. Department of Spanish and Portuguese, University of Kansas, 2011.

DIGUEZ, Ileana (comp.). Des/Tejiendo Escenas. Desmontajes: procesos de investigacin y creacin. Cidade do Mxico: Universidad Iberoamericana, 2009.

FABRINI, Ricardo Nascimento. Arte relacional e regime esttico: a cultura da atividade dos anos 1990. R. Cient./FAP, Curitiba, v.5, p.11-24, jan./jun. 2010..

LEPECKI, Andr. Coreo-poltica e coreo-polcia. Ilha Revista de Antropologia. Programa de Ps-Graduao em Antropologia Social, Universidade Federal de Santa Catarina. v. 13, n. 1, 2, p. 041-060, 2013.

Considerando o eixo de problematizao e investigao da pesquisa sobre as

noes de corpo e as vertentes poticas que sustentam e simultaneamente expressam

o propsito relacional em dana, levantei as seguintes publicaes:

ALBRIGHT, Ann Cooper. Engaging Bodies: the politics and poetics of corporeality. Middletown, Connecticut: Wesleyan University Press, 2013.

BRODIE, Julie A.; LOBEL, Elin E. Dance and somatics: mind-body principles of teaching and performance. Jefferson, North Carolina, and London: McFarland, 2012.

BUCKWALTER, Melinda. Composing while dancing: an improvisers companion. Madison: Univ of Wisconsin Press, 2010.

LIMA, Daniella. Gesto: prticas e discursos / [Daniella Lima; organizao Daniella Lima, Mariana Aurlio, Slvia Soter; coordenao Adriana Maciel]. 1a edio. Rio de Janeiro: Cobog, 2013. 248p.

NAVERN, Isabel de, CIJA, Amparo (org.). Lecturas sobre danza y coreografa. Madrid: Artea Editorial, 2013.

OLSEN, Andrea. The place of dance: a somatic guide to dancing and dance making. Middletown, Connecticut: Wesleyan University Press, 2014.

SCHORN, Ursula; LAND, Ronit; WITTMANN, Gabriele. Anna Halprin: Dance-Process-Form. London and Philadelphia: Jessica Kingsley Publishers, 2014.

11

Com exceo da publicao espanhola Lecturas sobre danza y coreografa que

rene textos de vrios autores2, escolhidos pelas organizadoras aps consulta junto

pesquisadores e artistas do cenrio internacional da dana, as demais publicaes

esto dirigidas especificamente s relaes entre corpo, gesto, abordagens somticas,

improvisao e composio na dana contempornea. Essa seleo atendeu

especialmente a observao e anlise de dois dos ncleos artsticos selecionados para

a pesquisa de campo (o que abordarei mais adiante), a Cia Damas em Trnsito e os

Bucaneiros, cujos integrantes tm uma formao que remete genealogia da dana

ps-moderna americana, em especial, no contato improvisao e o grupo Lagartixa na

Janela, que alm de se apoiar nos Estudos do Movimento propostos por Rudolf Laban,

tambm trabalha as relaes entre as abordagens somticas associadas s tcnicas de

dana contempornea.

No foi possvel efetivar a ampliao bibliogrfica desejada para tratar de

algumas temticas especficas da Cia Sansacroma, como por exemplo a cultura negra, a

cultura nordestina e a dana negra. Isso com certeza nos levaria para uma perspectiva

dos estudos culturais e ps-coloniais que no estavam previstos em nosso escopo

inicial. A perspectiva descolonial na produo da cena contempornea da dana est

em evidncia, com a entrada de novos ncleos artsticos no Programa de Fomento

Dana no perodo deste estudo, em So Paulo. Questes como essas podero ser

abordadas na continuidade desta pesquisa.

Enfim, no trnsito dos dois principais eixos da pesquisa procurei pensar a noo

de uma pedagogia das artes do corpo e da dana que se efetiva em diferentes prticas

artsticas, mirando seus fundamentos e princpios que advm de prticas e

teorizaes da prpria dana em uma diversidade de contextos envolvendo

diferentes segmentos da sociedade. Nessa direo, a pesquisa se viu ampliada pelo

levantamento das seguintes publicaes:

CAMOZZATO, Viviane Castro; COSTA, Marisa Vorraber. Da pedagogia como arte s artes da pedagogia. Pro-posies, Campinas, SP, v. 23, n. 3, set/dez. 2013

2 Sally Banes, Ramsay Burt, Merce Cunningham, Bojana Cvejic, Christine Greiner, Ramiro Guerra, Bojana Kunst, Rudi Laermans, Susan Leigh Foster, Andr Lepecki, Laurence Louppe, Susan Manning, Lisa Nelson, Pedro G. Romero, Jos A. Snchez, Norbert Servos, Gerald Siegmund.

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CARDONA, Patrcia. La potica de la enseanza. In: Mapas e percursos, estudos de cena. Org.: MUNDIM, Ana Carolina; CERBINO, Beatriz; NAVAS, Cssia. Belo Horizonte: Associao Brasileira de Pesquisa e Ps-graduao em Artes Cnicas ABRACE, 2014.

CARDONA, Patrcia. La potica de la enseanza: una experincia. Del Valle, Mxico: Instituto Nacional de Bellas Artes / Centro Nacional de Investigacin, Documentacin e Informacin de la Danza Jos Limn / Quinta del Agua Ediciones, SA de CV, 2012.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignao cartas pedaggicas e outros escritos. Rio de Janeiro/So Paulo: Paz & Terra, 2014.

GAROIAN, Charles R. The prosthetic pedagogy of art: embodied research and practice. Albany, NY: State University of New York, 2013.

GAROIAN, Charles R. Performing pedagogy: toward an art of politics. Albany, NY: State University of New York, 1999.

ICLE, Gilberto. Pedagogia da arte: entre-lugares da escola. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2012. Volume 2. ICLE, Gilberto. Pedagogia da Arte: entre-lugares da criao. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2010.

LARROSA, Jorge. Tremores: escritos sobre experincia. Traduo: Cristina Antunes, Joo Wanderlei Geraldi. 1a. Ed. Belo Horizonte: Autntica Editora, 2014. (Coleo Educao: Experincia e Sentido)

RANCIRE, Jacques. O mestre ignorante: cinco lies sobre emancipao intelectual. Belo Horizonte: Autntica, 2010.

ST, Anu; VISKUS, Ele. Teaching dance in the 21st century: A literature review. European Journal of Social & Behavioural Sciences, The, v. 7, n. 4, p. 1194 1202, 2013.

Alm das atividades de levantamento bibliogrfico, busquei sistematicamente

um estudo mais vertiginoso (ainda em percurso), estabelecendo a interlocuo entre

alguns dos autores. Tomando como pano de fundo as relaes dana e sociedade na

contemporaneidade, procurei refletir sobre modos de estar, modos de se relacionar e

modos de transformar no mbito das poticas e estticas relacionais dos ncleos

artsticos que focalizei nesta pesquisa. Destas anlises, identifiquei alguns princpios

ou conceitos-chave operadores em suas prticas artstico-pedaggicas. Para tanto,

instaurei um dilogo entre:

1. A concepo de Agamben (2009) a respeito de que o contemporneo

aquele que percebe o escuro de seu tempo como algo que lhe concerne e no cessa de

interpel-lo, algo que, mais do que toda a luz, dirige-se direta e singularmente a ele, de

13

que aquele que recebe em pleno rosto o facho de trevas que provm do seu tempo

(pp. 63, 64) nos permite compreender algumas das motivaes que movem o iderio

relacional em foco neste estudo.

2. As noes de corpo, subjetividade contempornea e tica conforme

discutidas por SantAnna (2001), que aponta para a necessidade de no lugar da

dominao acontecerem relaes de composio na vida social, cotidiana,

sustentadas no na uniformidade de comportamentos, mas nas singularidades,

sustentadas por corpos que sabem estabelecer elos.

3. A concepo da arte e da esttica relacional de Bourriaud (2009), como

prtica artstica capaz de ser um campo frtil de experimentaes sociais, como um

espao parcialmente poupado uniformizao dos comportamentos cujas obras

esboam utopias de proximidade (p. 13).

4. As consideraes de Godard (2006a) sobre o espao fenomenolgico, o qual

difere do topos que real, geogrfico e mensurvel, por envolver uma construo

imaginria, de nosso relacionamento com o mundo, envolvendo por sua vez, a histria

pessoal (perspectivas, expectativas), o mbito sociolgico (relaes interpessoais,

culturais, sociais) e a prpria percepo da experincia geogrfica (relaes com o

topos, com os aspectos fsicos dos ambientes). Esse espao fenomenolgico

compreendido como um espao potencial (utpico, no-topos), de ao e de

imaginao: o que me d medo em um espao o temor do que pode acontecer nele. O

que me atrai em um espao que posso penetr-lo, ir para dentro dele (GODARD,

2006a, p. 34, traduo minha). Da, o autor discute a importncia que o contato com a

dana pode adquirir, pois danar uma forma de renegociar com e no espao, por

exemplo, a distncia entre as pessoas. No ato de danar, emergem possibilidades de

vetorizao espacial por meios dos corpos, dos gestos, dos movimentos, ampliando

nveis de percepo do prprio espao. Podemos pensar ento em um espao vivo,

dinmico, de ao e imaginao.

5. As consideraes sobre pedagogia da arte e da potica do ensino,

respectivamente de Icle (2012) e Cardona (2014). Rompendo com uma tendncia

dicotmica entre arte e (seu) ensino, Icle, prope que pensemos a Pedagogia da Arte

como uma prtica e uma experincia como um desdobramento da criao artstica.

A dimenso pedaggica inerente aos processos criativos da arte; na criao artstica

no se inventa apenas o que se quer dizer ou expressar, mas, tambm, a forma por

14

intermdio da qual isso toma lugar no mundo. (ICLE 2012: 11-12). Na mesma

perspectiva, mesmo que, em uma diferente enunciao, Cardona retoma a noo de

potica em Aristteles, a qual no implicaria apenas na arte da composio potica,

mas no estudo dos princpios e essncia da arte. A potica para a arte o que o

mtodo cientfico para as cincias. (CARDONA 2014: 15). Ou seja, o estudo de nossos

modos, maneiras de operar, de produzir arte. Da, chama ateno para a necessidade

de haver uma profunda associao entre potica e ensino da arte. Tais reflexes nos

apoiaram no enfrentamento de aspectos epistemolgicos da prpria arte/dana na

maneira como ela produz saberes no trnsito artstico-pedaggico.

Como procurei apontar, apesar dos fluxos e interrupes no percurso de

pesquisa, foi possvel exercitar aproximaes entre alguns dos referenciais tericos

dos eixos de problematizao e investigao capazes de aguar a observao e gerar

perspectivas de anlise nas atividades de campo.

4.2. Mapeamento das vertentes relacionais

Resultante de uma importante mobilizao dos artistas da dana a Lei

Municipal n 14.071, de 18/10/2005, instituiu o Programa Municipal de Fomento

Dana para a Cidade de So Paulo, atualmente em sua 21a edio. Cabe ressaltar que

aps oito anos da implantao do programa, o Projeto de Lei 236/2012, sancionado

em janeiro de 2014, estendeu para at 24 meses o tempo de durao dos projetos

aprovados, que at 2013 contavam com o mximo de 12 meses. Esta foi mais uma

grande conquista, para possibilitar a continuidade do trabalho de muitos grupos, bem

como permitir que mais projetos estejam em vigor ao mesmo tempo.

Tomando como base o texto do edital 2015/n.08 da Secretaria Municipal de

Cultura de So Paulo (SO PAULO, 2015) o programa destina-se ao projetos de dana

contempornea, a qual entendida como um modo de produo artstica que envolve

investigao, pesquisa e criao, no diretamente relacionadas a critrios biogrficos

de artistas ou categorizao da obra por estilo, contedo ou tcnicas. No que diz

respeito noo da pesquisa, se refere s prticas de pesquisa da linguagem cnica

coreogrfica, da dramaturgia em dana e investigao de parmetros tcnicos

15

corporais prprios no se aplicando pesquisa de cunho terico que tenha como

resultante ensaios, teses, monografias e semelhantes, a no ser quando tais produes

escritas estiverem organicamente (sic) vinculadas ao projeto artstico (SO PAULO,

2015).

Os projetos apresentados devem estar norteados pelos seguintes objetivos do

programa: 1. Apoiar a manuteno e desenvolvimento de projetos de trabalho

continuado3 em dana contempornea; 2. Fortalecer e difundir a produo artstica

da dana independente; 3. Garantir melhor acesso da populao dana

contempornea; 4. Fortalecer aes que tenham o compromisso de promover a

diversidade dos bens culturais, tendo em vista os modos singulares de pesquisa

artstica e a pluralidade de matrizes que podem nortear o trabalho de criao e

produo contemplados pela dana contempornea e independente (SO PAULO,

2015).

Os proponentes devem estar representados por pessoas jurdicas com sede no

Municpio de So Paulo, que representem ncleos artsticos sediados e com atividade

profissional no Municpio de So Paulo h no mnimo 3 (trs) anos. Ainda sobre as

condies de participao entende-se como ncleo artstico apenas os artistas e

tcnicos que se responsabilizem pela fundamentao e execuo do projeto, ou seja, os

profissionais estveis do grupo/companhia, que constituem uma base organizativa de

carter continuado. Os demais profissionais envolvidos, sejam artistas ou tcnicos

convidados, integram a ficha tcnica do projeto (SO PAULO, 2015). A definio do

Ncleo Artstico indicativa de questes sobre os modos de produo da dana

contempornea.

Ainda quanto s condies de participao, os projetos devero conter

inmeras informaes dentre as quais destacamos as que dizem respeito natureza

dos projetos: podero participar projetos de pesquisa continuada que envolvam

criao e/ou circulao de espetculo ou manuteno de ncleos e cias. e suas

respectivas pesquisas artsticas; e projetos que envolvam trabalhos de criao e/ou

circulao de espetculos (SO PAULO, 2015).

Os projetos que envolvam workshops, oficinas, palestras, atelis, cursos,

3 Conforme informado no prprio edital, entende-se por trabalho continuado um projeto que proponha aes contnuas de pesquisa e desenvolvimento de linguagem/trabalho artstico especfico, no restritas apenas criao de espetculo.

16

publicaes impressas e/ou audiovisuais destinadas a acervos pblicos e outras

contrapartidas artsticas/sociais e/ou educacionais devero conter especificaes

quanto ao tipo e durao, quanto ao pblico priorizado, quanto aos seu objetivo

artstico/pedaggico, assim como, informaes complementares necessrias para a

elucidao do projeto.

Alm dos dados cadastrais especificados, dos currculos do ncleo artstico e de

seus integrantes, os projetos devero conter apresentao, objetivos, justificativa, e

plano de trabalho, explicitando o desenvolvimento e a durao de suas etapas de

desenvolvimento. No caso dos projetos envolverem criao/circulao de espetculo,

devem ainda constar algumas informaes complementares, dentre as quais

destacamos, a proposta conceitual de encenao coreogrfica e a indicao do

conceito dos elementos cnicos. Acompanhando o projeto escrito, outros materiais

por exemplo, imagens em foto e vdeo podem ser anexados colaborando com sua

apresentao da pesquisa artstica.

Por fim, o edital (SO PAULO, 2015) apresenta os critrios para a seleo pela

Comisso Julgadora:

os objetivos estabelecidos pelo Programa expressos neste Edital;

planos de ao continuada que no se restrinjam a um evento ou uma

obra;

clareza e qualidade artstica das propostas apresentadas;

interesse cultural;

compatibilidade e qualidade em relao a prazos, recursos e pessoas

envolvidas no plano de trabalho;

contrapartida(s) artstica(s) e/ou educativa(s) e/ou social(ais) que

sejam pertinentes s proposies do projeto; como, por exemplo, work in

progress (apresentao de processo), workshops, oficinas, atelis

coreogrficos, palestras, cursos, residncias artsticas, admisso de aprendizes

em quaisquer dos ofcios envolvidos na realizao do projeto (danarinos,

iluminadores, produtores, ensaiadores), publicaes impressas e/ou

audiovisuais destinadas a acervos pblicos, etc.

o compromisso de temporada a preos populares, quando o projeto

envolver a produo de espetculos;

a dificuldade de sustentao econmica do projeto;

17

histrico artstico do grupo/ncleo artstico, que comprove a

continuidade da pesquisa proposta.

O referencial emprico desta pesquisa abarcou ncleos artsticos agraciados

pelo Programa de Fomento Dana do municpio de So Paulo. Neste sentido, um dos

procedimentos de investigao definido foi proceder leitura e anlise horizontal da

totalidade dos projetos contemplados desde a primeira edio do programa em 2007

reunidos no Acervo de Projetos do Ncleo de Fomento Dana, da Secretaria

Municipal de Cultura. E, por meio dessa ao, identificar e selecionar os ncleos

artsticos sob o recorte estabelecido: o propsito relacional em alguma das

proposies e aes que compem os projetos propostos.

Para essa leitura, priorizamos alguns dos itens estruturantes dos projetos: os

objetivos a serem alcanados e sua justificativa; indicaes sobre o processo de criao

na proposta conceitual de encenao coreogrfica 4 ; as demais aes artsticas,

pedaggicas e culturais que integram o projeto; o plano de trabalho; e, a ficha tcnica e

currculo dos componentes do ncleo artstico e dos seus convidados.

4.2.1. Editais, ncleos artsticos e seus projetos

Nos meses de abril e maio de 2014 visitei a diviso da Secretaria Municipal de

Cultura da cidade de So Paulo responsvel pelo Programa de Fomento Dana, sob a

coordenao de Marcus Vincius Moreno. Fui recebida gentilmente, contando com a

disponibilizao dos projetos e de acesso aos dados coletados pela equipe sobre o

desenvolvimento do programa. Cumpre observar que, aps a organizao da

publicao5 (SO PAULO, 2012) comemorativa dos primeiros cinco anos de sua

existncia, esta equipe segue organizando6 de forma sistemtica informaes sobre os

ncleos artsticos e os projetos contemplados e sobre algumas das aes desenvolvidas.

Com vistas identificao e seleo dos ncleos a serem estudados

verticalmente por meio de pesquisa em campo, priorizei a leitura detalhada dos

projetos selecionados na 16 Edio do Programa de Fomento Dana, cujo resultado 4 Esse item solicitado apenas para os projetos que envolvem circulao ou criao. 5 Conforme informei no projeto de pesquisa, participei como organizadora dessa publicao, a qual integra a bibliografia apresentada no item 7 deste relatrio. 6 Enquanto concluo esse relatrio, a equipe responsvel pelo Ncleo de Fomento Dana est organizando uma segunda publicao comemorativa dos 10 anos do programa onde ser apresentado um mapeamento de suas aes.

18

foi divulgado no dia 08 de abril de 2014, momento em que iniciei essa atividade. Ou

seja, os ncleos artsticos agraciados neste edital estariam em atividade no mnimo por

um semestre e no mximo por um ano a contar do momento em que seus contratos

fossem assinados junto Secretaria Municipal de Cultura, possibilitando assim, a

continuidade de minha ao em campo.

Procurei ainda ler os projetos selecionados na edio anterior do programa

(15 Edio, 2013) onde trs ncleos artsticos identificados em meu projeto inicial de

pesquisa como vertentes do iderio relacional, a Companhia Sansacroma, a Cia de

Dana Damas em Trnsito e os Bucaneiros e Cristian Duarte & Colaboradores haviam

sido contemplados. Mas, por motivo dos projetos estarem em andamento, naquele

momento, encontravam-se no setor responsvel pela prestao de contas da SMC;

assim, tive acesso apenas a alguns dados dos mesmos: ncleos artsticos

(proponentes), nome dos projetos, oramento aprovado e perodo de realizao

(cronograma).

Apesar da interrupo da bolsa no ms de junho de 2014, com vistas

continuidade da pesquisa realizei o levantamento dos projetos aprovados no 17a edital,

divulgado no dia 8 de outubro de 2014.

A seguir, apresento alguns dos dados coletados sobre a 15a, 16a e 17a edio do

Programa de Fomento Dana da cidade de So Paulo.

A 15 Edio (2013) do Programa Municipal de Fomento Dana contou com

uma comisso de seleo composta por Elaine Calux (Presidente), Marisa Lambert,

Mariana Muniz, Alexandra Itacarambi, Ana Teixeira, Ana Francisca Ponzio e Amaury

Cacciacarro. Durante um ms de trabalho, reuniu-se para analisar e discutir os 54

projetos apresentados, dos quais, 14 foram escolhidos, compondo um conjunto

indicativo da diversidade de pesquisas de linguagem em dana contempornea

desenvolvidas na Cidade de So Paulo. (FOMENTO DANA, 2013).

No quadro que segue abaixo, destaco em negrito os ncleos artsticos que

haviam sido apontados como possveis selecionados para o desenvolvimento deste

estudo.

Ncleo Artstico Projeto

Viver Ncleo de Dana Pesquisa e Criao

Desobra_Deja-v Projeto de Manuteno e Circulao/Criao

19

Maurcio de Oliveira & Siameses Albedo

Ncleo Entretanto A Soma Infinita de seus Possveis

Ncleo Artstico Vera Sala Dissincronias

Cristian Duarte & Colaboradores Lote #3

Ncleo Uxa Xavier Poemas Cinticos

J. Gar.Cia Dana Cotempornea Imprimatur (trilogia)

Balangandana Cia Ninhos

Cia Damas em Trnsito e os Bucaneiros Sobre Ruas e Rios

Cia Sansacroma Outras Portas, Outras Pontes

Ncleo Juanita Juanita

Key Zetta & Cia EXTENSO - o Corpo como Extenso do

Movimento

Cia Oito Nova Dana Entre Dois Tempos

Cia Borelli - Carne Agonizante Cia Borelli - Carne Agonizante

A Comisso de Seleo da 16 Edio (2014) do Programa Municipal de

Fomento Dana, composta por Maria Mommensohn (Presidente), Gaby Imparato,

Jussara Miller, Paula Petreca, Key Sawao, Mnica Bammann e Robson Loureno,

analisou 40 projetos, dentre os quais foram escolhidos 15, novamente, considerados

pelos responsveis do Programa, como um conjunto indicativo da diversidade no que

diz respeito s propostas de pesquisa de linguagem em dana contempornea

(FOMENTO DANA, 2014).

No quadro que segue abaixo, destaco em negrito os ncleos artsticos

identificados para compor ou recompor o conjunto daqueles selecionados para o

desenvolvimento deste estudo, o que irei discutir mais adiante.

Ncleo Artstico Projeto Taanteatro Companhia Trans

Insaio Cia de Arte Ecos

Fu Bu Myo In Corpo de Vento

20

Cia Fragmento de Dana Sem ttulo - desdobramentos

Sheila Ribeiro | Dona Orpheline Esboo para Heliporto manuteno e sustentabilidade

E Cia de Teatro e Dana Baleia e Outras Secas

Ncleo de Improvisao Sob o meu, o nosso peso Memria na Vila Maria Zlia

Grupo Musicanoar Corpos Transversos

Morena Nascimento Lama Manuteno de repertrio, formao e criao do trabalho de Morena

Nascimento

Cia Perversos Poliformos Circulao e Manuteno Imagem Nua e Outros Contos + nsia

...Avoa! Ncleo Artstico Entre Espaos: Relaes possveis no entorno com a rua

Marta Soares & Cia Deslocamentos II

Cristiane Paoli Quito Ladies da Inocncia Crueldade

Ncleo Cinematogrfico de Dana Resistncia: (De) Composio Progressividade de Uma Exploso

Kairoz Terreiro Coreogrfico

A Comisso de Seleo da 17 Edio do Programa Municipal de Fomento

Dana, composta Ana Francisca Ponzio (Presidente), Rosa Hrcules, Marianna

Monteiro, Paula Petreca, Elaine Calux, Z Maria Carvalho e Uxa Xavier, reuniu-se para

analisar e discutir os 43 projetos apresentados, dentre os quais foram escolhidos 11

(FOMENTO DANA, 2014). Aps oito anos da implantao do programa, o Projeto de

Lei 236/2012, sancionado em janeiro de 2014, estendeu para at 24 meses o tempo de

durao dos projetos aprovados, que at 2013 contavam com o mximo de 12 meses.

Esta foi mais uma grande conquista para possibilitar a continuidade do trabalho de

muitos grupos, bem como permitir que mais projetos estejam em vigor ao mesmo

tempo; por outro lado, um nmero de projetos menor foi contemplado, pois os

oramentos propostos pelos ncleos cresceram proporcionalmente ao tempo de

durao, o que no aconteceu no oramento global destinado pela Prefeitura Municipal

ao programa.

21

Novamente, no quadro que segue abaixo, destaco em negrito alguns dos

ncleos artsticos j identificados (com exceo do ncleo Trade_Cartogrfico) acima

para compor ou recompor o conjunto daqueles selecionados para o desenvolvimento

deste estudo. Apesar de no ter acessado os projetos, os destaques tomam como base o

conhecimento prvio do perfil da produo por exemplo, projetos anteriores,

contemplados em outras edies dessas companhias que vimos acompanhando no

cenrio artstico da cidade de So Paulo.

Ncleo Artstico Projeto Ncleo Marcos Moraes A cozinha Performtica ano II

Cia Damas em trnsito e os Bucaneiros

Memrias, Afetos e Bicicletas

Cia Carne Agonizante Carne Agonizante

Cristian Duarte e Cia Lote #4

Cia Sansacroma Sociedade dos Improdutivos

Trade_Cartogrfico Liminaridade | 5 movimentos

Ncleo Juanita Juanita

Grupo Zumb_Boys Ladro

J. Gar.Cia Dana Contempornea 10 Anos da J.Gar.Cia Dana Contempornea

Cia Druw Poetas da Cor

Key Zetta e Cia. SIM

4.2.2. Identificao das vertentes relacionais

Retomando algumas dos propsitos que moveram este estudo, sob a tica da

esttica relacional, nas leituras dos projetos contemplados pelo Programa de Fomento

Dana da cidade de So Paulo procurei identificar a ocorrncia de um iderio ou

propsito relacional no desenvolvimento dos processos de criao, das obras, das

demais aes artsticas, culturais e pedaggicas de grupos e companhias de dana

contempornea. Nessa perspectiva, no percurso desta atividade de pesquisa, foi

possvel identificar e ampliar a compreenso quanto a algumas vertentes poticas-

estticas relacionais.

22

No projeto inicial da pesquisa j haviam sido apontadas, a ttulo indicativo,

algumas vertentes, com base nos seguintes focos:

1) nos trnsitos entre centro e periferia, caso do Ncleo Artstico Luis Ferron, em seu projeto Sapatos Brancos, que estabeleceu dilogos entre as escolas de samba seus mestre-salas e porta-bandeiras e a dana contempornea; 2) na especificidade de uma comunidade, por exemplo, a Companhia Sansacroma em suas relaes com seu bairro de origem, o Capo Redondo; 3) na diversidade sociocultural nos fluxos de cidados ou na tendncia uniformidade dos corpos, nos espaos urbanos, como nas pesquisas da Cia de Dana Damas em Trnsito e os Bucaneiros ou do Avoa! Ncleo Artstico; 4) em demandas da prpria classe artstica, implicando em um movimento de carter mais endgeno, por exemplo, em proposies de Cristian Duarte & Colaboradores, envolvendo a residncia de artistas criando em sistema colaborativo.

Ampliando esse conjunto, quanto ao propsito relacional, observando-se as

inter-relaes pretendidas nos projetos do 16a edio do Programa de Fomento

Dana, foi possvel identificar algumas outras vertentes nas propostas dos seguintes

ncleos artsticos:

1) Problematizando o conceito de coreografia em sua dimenso poltica

(LEPECKI, 2005), propondo desenvolver um programa experimental (conforme

conceituado por Hlio Oiticica) e no uma obra, com base no trabalho de uma equipe

interdisciplinar de 05 artistas fixos e 10 artistas estruturantes (que se interessem em

alimentar o programa) o Terreiro Coreogrfico do ncleo artstico Kairoz, coordenado

por Daniel Kairoz, aponta para as relaes entre os espaos da prpria cidade e das

maneiras em que a dana nela se insere. A proposta instaurar na ao artstica um

espao pblico, discutindo o que vem a ser pblico, de fato. E de relacionar um terreno

baldio tombado do Grupo de Teatro Oficina, os dois bexigas separados pelo

Minhoco, transitando e religando-os com vrias proposies e interlocues entre

artistas e com os pblicos ali residentes.

2) Pautado pelo propsito de compreender relaes entre processos artsticos e

pedaggicos o projeto Entre Espaos: Relaes possveis no entorno com a rua do

ncleo artstico Avoa!, coordenado por Luciana Bortolotto, estrutura-se atravs de

quatro perguntas motrizes: como estruturar uma obra coreogrfica com uma

dramaturgia oriunda de processos relacionais? Que outras danas, corpos,

encontros/relaes podem nascer na e da adversidade que o espao urbano (de

23

grande circulao) oferece? O que cada espao da cidade possibilita no que diz respeito

qualidade dos encontros? Como potencializar a dana do grupo, o encontro entre

seus prprios corpos danantes com a arquitetura urbana e social? A pesquisa do

ncleo d um salto do formato solo (de projetos anteriores) para a formao de um

coletivo, da surgem questes relativas relao entre os componentes e destes com o

pblico nos espaos em que pretendem danar.

3) De maneira menos explcita, identifiquei no projeto Baleia e outras secas do

ncleo artstico E2 Cia de Teatro e Dana coordenado por Eliana de Santana, uma

vertente j observada em meu projeto inicial (refiro-me ao ncleo artstico Luis

Ferron) de relaes centro-periferia. Partindo da temtica do sujeito annimo na

sociedade contempornea, do sujeito margem, a companhia dirige diferentes aes

aos jovens/estudantes da periferia de So Paulo, argumentando sobre a necessidade

de acesso s produes de arte contempornea.

4) O projeto Deslocamentos II do ncleo artstico Marta Soares e Cia est

estruturado por diferentes propsitos relacionais, dentre os quais, destaco: que a obra

possa ser experienciada relacionalmente pelo pblico e que, para isso, os artistas

desenvolvam um vertiginoso trabalho corporal de cunho relacional (corpo a corpo). O

propsito que move a investigao pensar como o poder afeta o corpo na

contemporaneidade, atravs da biopoltica (PELBART, 2003), perscrutando esttica e

poeticamente a ao de ceder, deformar-se, no como resignao, mas como ato de

resistncia poltica.

No item 4.2.4., irei considerar as reverberaes da identificao dessas

vertentes relacionais como critrio de escolha dos ncleos artsticos escolhidos para

acompanhamento dos processos de trabalho.

4.2.3. A coleta de dados para a exposio A dana no espao urbano

No final do segundo semestre de 2014 o projeto LAOS VIRTUAIS DA DANA,

concebido pelo MUD (Museu da Dana) foi aprovado no 1o Edital Redes e Ruas lanado

pela Secretaria Municipal de So Paulo com o objetivo de fomentar projetos culturais

para os espaos pblicos de WiFi Livre e tele-centros.

O projeto LAOS VIRTUAIS DA DANA tinha como propsito a preservao da

memria da dana brasileira por meio da difuso de acervos histricos pelo portal

24

virtual MUSEU DA DANA . Alm disso, propunha um

programa artstico-pedaggico entendendo que o carter do edital a ocupao do

espao urbano seria o aliado ideal para a formao de pblico para a dana e para a

incluso digital.

Foram previstas as seguintes aes: [1] criao e desenvolvimento do portal

virtual Museu da Dana; [2] criao, desenvolvimento e o compartilhamento da

exposio virtual sobre a produo artstica em dana nos espaos pblicos da cidade

de So Paulo, com bailarinos e companhias de dana que desenvolveram seus

trabalhos artsticos atravs do Programa de Fomento Dana da Cidade de So Paulo;

[3] realizao de vivncias em dana, ministradas em espaos pblicos do WiFi Livre e

[4] realizao de encontros mediados em cinco tele-centros da capital.

Para a exposio virtual, a temtica definida pelas proponentes7 foi A dana no

espao urbano; considerando o mbito do edital Redes e Ruas municipal o recorte

adotado para a escolha dos artistas foi selecionar grupos e companhias de dana

contemplados pelo menos uma vez no Edital de Fomento Dana da cidade de So

Paulo. Por ser algum que colaborou com a criao do Museu da Dana, sua equipe,

sabendo do andamento da minha pesquisa, formalizou convite para que eu assumisse a

curadoria e a coordenao pedaggica das oficinas propostas.

Devo esclarecer porque, naquele momento, aceitei tal convite; havia uma clara

oportunidade de coletar dados8 para a pesquisa, de maneira que eu me certificasse

quanto escolha dos ncleos artsticos a serem acompanhados em seus processos de

trabalho e me aproximasse mais ainda de alguns com os quais j mantinha contato. E,

de fato, com a interrupo da bolsa da Fapesp por motivo de minha entrada na

Unicamp, a realizao desse projeto cultural viabilizou recursos para uma coleta de

dados de tal envergadura quantitativa e qualitativa que no teria sido vivel sem

sua realizao.

De janeiro junho de 2014 foram desenvolvidas as seguintes atividades:

7 Refiro-me as idealizadoras, fundadoras e coordenadoras do Museu da Dana: Natlia Gresenberg advogada formada pela PUC-SP e especialista em Direito Tributrio pela mesma instituio; e, Talita Bretas graduada em Dana com especializao em Produo Cultural pela Universidade Anhembi Morumbi. Ambas so Gestoras Culturais ps-graduadas pelo SENAC. 8 No item 5.2. destinado aos resultados da pesquisa irei detalhar alguns aspectos da exposio A dana no espao urbano.

25

a) Seleo de oito grupos e companhias fomentadas que tenham se dedicado ao

tema da exposio.

Foram convidados oito9 grupos e companhias contemplados por uma ou mais

edies do Programa de Fomento Dana da Secretaria Municipal de Cultura de So

Paulo, que desenvolveram projetos artsticos de investigao, criao e apresentao

no espao urbano. So eles: ...AVOA! Ncleo Artstico, Clia Gouva Grupo de Dana, Cia.

Artesos do Corpo, Cia. Damas em Trnsito e os Bucaneiros, Cia. Mariana Muniz de

Teatro e Dana, Cia. Sansacroma, Grupo Lagartixa na Janela e Ncleo Trade.

b) Elaborao de roteiros e realizao de oito entrevistas com durao entre 40 e

60 minutos a partir de roteiro estruturado.

A primeira tarefa foi elaborar um roteiro para a realizao das entrevistas,

considerando que essas seriam gravadas em vdeo por uma equipe profissional10, para

a edio de minidocumentrios.

Disponibilizo abaixo o roteiro enviado previamente aos entrevistados.

1) Qual foi sua motivao para desenvolver um projeto artstico em dana no espao urbano da cidade de So Paulo? Caso se adeque ao seu projeto: - Como foi (em sua trajetria artstica) MIGRAR do espao cnico teatral (ou mesmo, no convencional) para o espao pblico da cidade?

2) Partindo dessa premissa das relaes da dana com a cidade, no espao pblico

urbano, voc poderia falar a respeito do(s) projeto(s) [incluir nome] agraciado(s) pelo Fomento Dana da cidade de So Paulo? - Proposta da pesquisa de criao e da encenao coreogrfica (detalhar como

estava previsto o contato com o espao urbano no processo, na finalizao/apresentao do projeto, ou nos dois momentos)

- A equipe de trabalho, suas relaes - Processo de criao, mtodos, procedimentos - Referncias estticas, artsticas; dilogos com outras reas de conhecimentos - Dispositivos, proposies e obras resultantes - Demais aes artsticas, pedaggicas e culturais que integraram o projeto

3) Voc poderia detalhar mais especificamente em que locais pesquisou e/ou circulou

9 O montante de artistas convidados justifica-se pelo montante de recursos disponveis para produzir as aes previstas no projeto do MUD. 10 Osmar Zampieri foi o artista da dana e videomaker responsvel pela coordenao das captaes e edio dos minidocumentrios.

26

com o projeto [incluir nome]? Por que escolheu esses locais?

4) Quais foram as principais dificuldades, os desafios em desenvolver a pesquisa e/ou apresentar o trabalho artstico nesses locais? O contato com a realidade urbana, a presena in loco revelou surpresas e questes no esperadas na pesquisa? Quais?

5) Considerando que o espao urbano um conceito amplo, mas, que em sua concretude constitudo por relaes entre aspectos histricos, culturais, sociais, econmicos, polticos, estticos, entre outros, qual a cidade que voc encontrou? O que esses lugares (ou no-lugares) revelam sobre e espao urbano (ou, cidades?) da cidade de So Paulo?

6) Da mesma forma, o que e como a ao artstica do prprio projeto

escuta/revela/prope/(etc.) nesses e para esses espaos urbanos? Possveis tpicos: relaes entre pblico e privado (poder ou no ocupar espaos) relaes interpessoais (formas de viver e conviver no espao) relaes com as questes urbansticas (formas de viver o espao) etc.

7) Voc poderia abordar especificamente a relao estabelecida com os diferentes

pblicos que contataram no decorrer do projeto [incluir nome]? Qual (e como poderia nomear) o tipo de impacto do seu trabalho artstico nesse pblico, muitas vezes passante, transeunte nos espaos em que vocs se apresentaram?

8) Voc gostaria de abordar algum outro aspecto sobre o dilogo do seu trabalho artstico

em dana com o espao urbano?

9) Qual projeto voc est desenvolvendo no momento? O que move agora o grupo, a companhia no que diz respeito a esse percurso anterior de relaes entre dana e espao urbano? Para artistas que no esto nesse momento em pesquisa de criao envolvendo esse eixo de investigao: Voc tem vontade de voltar a trabalhar no espao urbano? Por que?

10) Voc poderia comentar o impacto destes projetos (relativos s relaes da dana e espao urbano) na sua trajetria artstica?

Antes da realizao das entrevistas, realizei a leitura de projetos, pesquisei os

sites e blogs das companhias e grupos convidados, e em alguns casos, conversei com os

entrevistados sobre as questes e, sobre como a entrevista aconteceria de fato no

momento da gravao.

As locaes para a realizao das entrevistas foram cuidadosamente escolhidas

em comum acordo com os grupos que indicaram locais da cidade onde desenvolveram

um ou mais projetos. Neste sentido, isso tambm nos possibilitou uma primeira

27

aproximao dos artistas em espaos de desenvolvimento dos seus processos de

trabalho. As locaes percorridas foram: Praa Marechal Cordeiro de Farias (Praa dos

Arcos); Av. Paulista (da Avenida Consolao ao MASP); Rua So Bento; Largo do So

Bento; Praa da Repblica; ruas do bairro do Capo Redondo; Praa Roosevelt; e, Largo

de Santa Ceclia.

Em mdia, as entrevistas tiveram a durao de 40 a 60 minutos. Uma cpia de

todo esse material udios e vdeos , na ntegra, encontra-se comigo, com autorizao

dos artistas, para utilizao na continuidade desta pesquisa.

c) Seleo de material visual (acervo de imagens dos grupos e companhias)

Alm das entrevistas para a elaborao de minidocumentrios e da solicitao

de imagens em vdeo do trabalho artstico, para a construo da exposio virtual foi

solicitado s companhias e grupos participantes os seguintes materiais:

1. Projeto aprovado no edital de fomento dana (apenas apresentao, objetivos,

contrapartidas e justificativa);

2. Uma apresentao (release) do grupo com, no mximo, 1500 caracteres;

3. Trs fotos emblemticas/representativas do grupo (para acompanhar sua

apresentao);

4. Sobre a relao do pblico com a dana, com o trabalho artstico:

At dez fotos que colocam em evidncia o pblico e sua relao com o

trabalho artstico;

Depoimentos do pblico (cartas, udios, desenhos, mensagens, vdeo,

etc.);

5. Sobre o processo de trabalho, pesquisa e criao:

At dez fotos que evidenciem a equipe de trabalho, suas relaes (momentos de encontro, reunio, visitas em locais, etc.);

At dez fotos que evidenciem aulas, treinamentos, preparao do grupo no espao urbano ou mesmo em outros espaos de trabalho;

Outros materiais utilizados na pesquisa referncias tericas, estticas, artsticas que estejam registrados em fotos, desenhos, escrita (dirios),

textos, etc. , que possam ser digitalizados ou que j estejam digitalizados;

At dez fotos de ensaios (momentos prvios s apresentaes);

28

Releases, flyers, crticas. 6. Sobre as demais aes artsticas, pedaggicas e culturais que integraram o

projeto

At dez fotos ou imagens que apresentem oficinas, workshops, rodas de

conversa, seminrios, mostra de filmes, grupo de estudos, publicaes,

etc;

7. Apresentaes do grupo nos diferentes espaos da cidade em que aconteceu a

circulao do(s) projeto(s)

At vinte fotos das apresentaes (do produto final, obra, dispositivo ou

proposio que finalizou o projeto) em que se evidenciem a esttica e

potica do grupo, assim como, em que podem ser vistos os espaos

escolhidos no projeto;

8. Listar os locais em que aconteceram as apresentaes de

espetculo/performance ou demais atividades e o nmero de apresentaes

nesses locais - considerando sempre, apenas os projetos que foram

contemplados pelo Fomento Dana.

Uma cpia de todo esse material encontra-se comigo, com autorizao dos

artistas, para utilizao na continuidade desta pesquisa.

d) Coordenao das aes educativas: oficinas em praas e/ou escolas pblicas.

Dentre as companhias e grupos participantes da exposio, alguns foram

convidados para realizar oficinas em praas e/ou escolas pblicas: o grupo Lagartixa na

Janela, a Cia Sansacroma, a Cia Damas em Trnsito e os Bucaneiros e a artista Clia

Gouveia. O artista da dana Jernimo Bittencourt foi convidado exclusivamente para

essa atividade do projeto, para coordenar uma oficina de Parkour na Praa Roosevelt,

tcnica muito estudada hoje por bailarinos que trabalham em espaos urbanos.

A partir das propostas dos artistas, minha tarefa foi auxiliar as coordenadoras

do projeto a pensar a organizao pedaggica das oficinas considerando os locais de

realizao e pblicos envolvidos.

Parte dos dados coletados compe a exposio A DANA NO ESPAO URBANO:

outras maneiras de estar e conviver na cidade de So Paulo que ser apresentada no

29

item 5.2.. Mas, uma outra parte significativa do material, ainda poder ser analisada e

integrada na continuidade desta pesquisa.

4.2.4. Os ncleos artsticos escolhidos

A escolha dos ncleos artsticos no se restringiu queles que trabalham apenas

sob o guarda-chuva site specif / in situ, intervenes urbanas, ou dana urbana ou,

dana contextual em suas performances artsticas (produto final), mas sim, considerei

aqueles cujo mote relacional figura em alguma das etapas ou aes do projeto

contemplado pelo edital do fomento dana.

A seguir, apresento os ncleos artsticos escolhidos e seus projetos, assim como,

os critrios que motivaram tais escolhas.

4.2.4.a. Cia. Damas em Trnsito e os Bucaneiros

A Cia. Damas em Trnsito e os Bucaneiros iniciou seus trabalhos em 2006 no

Estdio Nova Dana, referncia na formao de parte gerao da dana contempornea

em So Paulo, na segunda metade dos anos 1990, sob a direo de Alex Ratton Sanchez,

e tendo como criadores-intrpretes, Carolina Callegaro, Ciro Godoy, Clara Gouva, Laila

Padovan e Larissa Salgado.

Compartilhando interesses relacionados improvisao como possibilidade de

construo dramatrgica em dana, a companhia identifica-se desde seu incio, com a

criao produzida coletivamente. Dentre os trabalhos de preparao corporal do grupo,

destacam-se os fundamentos do contato improvisao, tcnica de dana estudada por

todos seus integrantes em suas formaes prvias.

Em sua trajetria, a companhia envolve-se profundamente na pesquisa sobre

improvisao em dana e em msica, mote tanto para criar, como para compor a

potica cnica e dialogar com o pblico. Alm das relaes entre dana e msica, em

seu projetos, passa a pesquisar como tais relaes podem acontecer nos espaos

pblicos da cidade, de maneira a que os artistas possam se relacionar com eles e seus

habitantes, evidenciando as relaes do indivduo com os espaos que ele habita e

com os coletivos dos quais faz parte. Assim, a companhia investiga maneiras de

construir uma relao mais ntima com o pblico, procurando diminuir o

distanciamento entre este, o artista e a obra (CIA DAMAS EM TRNSITO E OS

30

BUCANEIROS, 2016).

Compem seu repertrio o videodana Sobre ruas e rios (2014) e os

espetculos Espaos Invisveis (2013); Lugar do outro (2011), Duas Memrias

(2010), Ponto de fuga (2008) e Puntear (2007). A companhia foi contemplada no

6o, 9o, 11o, 13o, 15o e 17o Edital do Programa de Fomento Dana da cidade de So

Paulo e no PROAC Programa de Ao Cultural da Secretaria de Estado da Cultura de

So Paulo (2007, 2008, 2009 e 2012). Recebeu ainda, os prmios Funarte de Dana

Klauss Vianna (2006), Estmulo Dana Paulista da Secretaria de Estado da Cultura de

So Paulo (2008) e Denilto Gomes da Cooperativa Paulista de Dana, na categoria

criao para espaos especficos pelo espetculo Espaos Invisveis (2013).

Herdeiros11 da dana ps-moderna americana e da chamada nova dana

europeia, a Cia Damas em Trnsito e os Bucaneiros foi escolhida a partir da

identificao de um propsito relacional com a cidade e seus habitantes, construdo

por uma potica sensorial e cintica que mira a empatia cinestsica nas relaes com

seus pblicos.

4.2.4.b. Cia Sansacroma

Criada em 2002 pela atriz, danarina e coregrafa Gal Martins e tendo como

criadores-intrpretes permanentes Djalma Moura, Vernica Santos e Cia Coutinho, a

Cia Sansacroma um grupo de dana contempornea que tem como singularidade sua

origem e continua atuao na regio do extremo sul do municpio de So Paulo,

propondo a descentralizao e difuso da produo artstica na cidade.

Em seu processo de profissionalizao, no ano de 2006, a companhia teve apoio

do Programa VAI da SMC/SP e desenvolveu o projeto Devolvendo ao Povo em Forma

de Arte que resultou na criao do espetculo Imagens de um S-lano. Nos anos

seguintes, foi contemplada no 6o, 10o, 13o, 15o, 17o e 20o Edital do Programa de

Fomento Dana da cidade de So Paulo e no PROAC Programa de Ao Cultural da

11 Conforme dito na apresentao da companhia e na entrevista realizada com seu diretor, Alex Ratton, a Cia Damas em Trnsito e os Bucaneiros foi bastante influenciada pela Cia Nova Dana 4. Alex Ratton comeou a atuar profissionalmente e segue vinculado tambm a esta outra companhia que emergiu na efervecncia do extinto Estdio Nova Dana. Nesse estdio, ele vivenciou sua formao; estudou o Contato Improvisao com Tica Lemos e outras tcnicas da chamada Nova Dana com Adriana Grechi. Ambas as artistas fundadoras do Estdio Nova Dana junto Lu Favoretto e Telma Bonavita passaram pela School for New Dance Development (SNDO) na Holanda, antes de sediarem suas prticas e criaes em So Paulo. Em suas bases, tais tcnicas estabelecem um profundo dilogo com abordagens somticas do corpo.

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Secretaria de Estado da Cultura de So Paulo (Edital de Festivais de Arte Circuito

Vozes do Corpo, 2011; e, Edital de Culturas Negras Circulao do espetculo, 2013).

Recebeu o Prmio Denilto Gomes da Cooperativa Paulista de Dana, na categoria

Difuso da Dana (2013).

Dentre os coletivos profissionais solidamente constitudos, a Cia Sansacroma,

desde seu nascedouro est diretamente relacionada com a diversidade social, cultural,

corporal, envolvendo trnsitos entre centro e periferia. Com propsito relacional de

carter claramente sociocultural e poltico, seus projetos esto erigidos por temticas e

aes na prpria comunidade em dilogo com outros lugares (periferias e centro) da

cidade de So Paulo. Justifica-se a, minha escolha.

4.2.4.c. Grupo Lagartixa na Janela

Dirigido por Uxa Xavier artista e educadora da dana o Lagartixa na Janela

existe desde 2010. Tem como proposta pesquisar o territrio de criao e pedagogia

em dana contempornea para crianas. Em seu percurso, o grupo, que inicialmente se

reunia para a troca de experincias e prticas de aula para crianas, abriu um espao

inaugural de investigao e pesquisa de linguagem: aprofundar-se nas relaes e

interfaces entre a dana e o espao urbano, tendo o universo da infncia, a noo de

criana performer, a contemplao ao movimento e a delicadeza como eixos de sua

pesquisa. Como dimenso fundamental em seus projetos, as aes artstico-

pedaggicas do Lagartixa na Janela so pautadas pela ideia de que o processo de

criao e o pedaggico so indissociveis.

Em 2011, o grupo foi contemplado pelo PROAC Programa de Ao Cultural da

Secretaria de Estado da Cultura de So Paulo para criao da performance de dana

Poemas Cinticos, a qual circulou entre 2012 e 2013, em diversos espaos pblicos de

municpios do estado de So Paulo. Em 2014, criou a performance de dana Varal de

Nuvens com apoio do 15o Edital do Programa de Fomento Dana da Secretaria

Municipal de Cultura da cidade de So Paulo. Neste projeto realizou diversas aes

artstico-pedaggicas e publicou o livro Mapas para danar em muitos lugares, material

que pode ser utilizado na mediao, investigao e criao em dana.

Contemplado pela 19 edio (2015) do Programa Municipal de Fomento

Dana o projeto A potica dos encontros, do grupo Lagartixa na Janela, tem por

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propsito dar continuidade e aprofundar a sua pesquisa de linguagem em dana

contempornea para crianas, a partir de trs eixos: (1) universo e cultura da infncia;

(2) noo de criana performer; (3) esttica relacional em espaos pblicos. Dentre

as aes propostas, destacam-se as oficinas nomeadas de Encontros Poticos entre

crianas e a dana. Estes encontros acontecem em dois contextos distintos: um com

crianas do curso livre da Escola de Dana de So Paulo12 (EDSP) e outro, na Fundao

Padre Chico13, voltado a crianas que possuem deficincia visual. Segundo o grupo, a

ideia promover tais aes em diferentes contextos socioculturais gerando uma

aproximao do pblico com uma dana que no pertence s referncias miditicas,

contribuindo assim com a formao de plateias.

O grupo Lagartixa na Janela figura dentre os poucos grupos de dana

contempornea que conseguiram estruturao profissional e continuidade de pesquisa

relacionada ao universo e cultura da infncia. Por ser um coletivo com o qual estabeleci

relaes de parceria desde sua criao em 2010, primeiramente, hesitei em escolhe-lo;

mas, com meu afastamento de suas atividades permanentes por motivo de meus

prprios compromissos acadmicos, aps a realizao da exposio A dana no

espao urbano, decidi integra-lo na pesquisa. Alm de uma ateno especial (e no

restrita) infncia, o Lagartixa na Janela tem como um dos eixos centrais de sua

pesquisa a relao com os espaos pblicos da cidade. E, algo muito pertinente minha

investigao o trnsito (premeditado) entre a dimenso artstica e pedaggica, que

est na base do nascimento do prprio grupo, na trajetria de sua diretora Uxa Xavier,

e na formao das demais integrantes, todas bacharis e licenciadas em dana.

4.2.5. Levantamento de dados sobre os 10 anos de Fomento Dana

No final de 2011, por iniciativa do Ncleo de Fomento Dana, da Secretaria

Municipal de Cultura de So Paulo, integrei na condio de consultora da organizao

dos textos, uma equipe de trabalho que deu corpo a uma publicao comemorativa dos

cinco anos do Programa de Fomento Dana. A primeira parte da publicao

Aproximaes e Reflexes inclui artigos e ensaios fotogrficos realizados com ncleos

artsticos fomentados. Intitulada Inventrio, Diagnstico e Prospeco a segunda parte

12 Antiga Escola Municipal de Bailado, funciona h mais de 75 anos como escola pblica de formao em dana no municpio de So Paulo, vinculada SMC. 13 O Colgio Vicentino Padre Chico uma unidade educacional voltada prioritariamente pessoa com deficincia visual na perspectiva da incluso social.

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est dedicada memria e sistematizao de dados das diferentes edies,

abarcando todas as companhias contempladas, mapeando suas diferentes aes na

cidade de So Paulo.

Nesse primeiro mapeamento, que abarca 10 edies14 do programa em um

perodo de cinco anos possvel conhecer que 135 projetos foram selecionados,

correspondentes a 56 ncleos artsticos os quais foram responsveis pelo

desenvolvimento de 760 aes em 222 pontos15 das zonas oeste, leste, norte, sul e

centro. Alm da criao e circulaes dos espetculos, consideram-se como aes

ensaios abertos, cursos, oficinas, workshops, rodas de conversa, residncias, mostras,

exposies, publicaes, vdeo danas, criao e manuteno de plataformas digitais

[...]. (SO PAULO, 2012, p.135)

Com o resultado da 21a edio divulgado em setembro de 2016, o Programa

acaba de atingir a aprovao de mais 160 projetos, totalizando em aproximadamente

10 anos, 295 projetos. possvel afirmar que com esse volume de projetos o programa

tenha atingido um montante de mais de mil aes artsticas, pedaggicas e culturais

em diferentes zonas do municpio de So Paulo.

Nesses dez anos de programa, apesar de muitos grupos e companhias terem

projetos aprovados de forma a sugerir um certo rodzio entre os mesmos (o que no

deve ser confundido com a necessria continuidade e manuteno de alguns deles),

nota-se sim a ampliao para novos ncleos artsticos (compostos por companhias,

grupos, coletivos), de geraes mais jovens, ou mesmo, de artistas de experincia

consagrada como intrpretes atuantes em outros ambientes de produo da dana

por exemplo, artistas egressos de companhias estveis como o Bal da Cidade de So

Paulo ou a So Paulo Companhia de Dana , que passam a produzir seus prprios

trabalhos. Resultante ou no de embates entre pensamentos divergentes quanto

amplitude da lei, dos editais e quanto diversidade na composio das prprias

comisses julgadoras, ou fruto de um amadurecimento poltico dos artistas e dos

gestores, fato que observam-se novos agrupamentos sendo contemplados, como por 14 Aps essa publicao foram efetivadas mais duas edies 11a e 12a responsveis pela seleo de mais 30 projetos. No 2o semestre de 2013 ocorre a avaliao e seleo dos projetos da 13a edio. 15 Nesses pontos, sinalizados graficamente em um mapa especfico de cada regio da cidade, incluem-se: equipamentos culturais pblicos, privados e do terceiro setor incluindo museus, teatros, casas de cultura, sedes de ONGs, unidades do SESC, entre outros; escolas de dana, escolas pblicas e privadas da educao bsica, escolas tcnicas, faculdades e universidades; espaos pblicos e privados da cidade, tais como, praas, avenidas, viadutos, terminais de nibus, lojas de comrcio; e, espaos e sedes das companhias e grupos.

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exemplo, a Cia Treme Terra16, que esteve frente de embates acirrados contra

possveis modelos de dana predominantes nos processos de seleo.

Muitas questes mereceriam anlises mais sistemticas por parte de todos os

envolvidos artistas, poder pblico e demais beneficirios/usurios do programa:

quais as caractersticas dos ncleos e projetos que vem sendo contemplados? Quais

transformaes qualitativas esto sendo processadas nas produes artsticas em

dana a partir da continuidade das suas pesquisas? Est acontecendo (e, se sim, como)

a ampliao dos pblicos? Em uma tentativa de considerar de forma mais geral os

resultados do Programa de Fomento Dana, oriundos da diversidade de aes que

vem sendo desenvolvidas nesses 10 anos de existncia, gostaria de destacar alguns

tpicos que podero ser analisados com maior profundidade na continuidade desta

pesquisa:

- Alm da circulao dos espetculos, inmeras aes dos ncleos fomentados

so de cunho informativo e formativo, contribuindo direta ou indiretamente

com a iniciao e formao artstica em dana em diferentes cantos da cidade.

Em depoimento prestado pesquisa, o coordenador do Ncleo de Fomento

Dana, Marcus Moreno comentou que nos editais dos programas VAI 1 e VAI 2,

existe um crescimento intenso de encaminhamento de projetos em dana

oriundos de regies perifricas alcanadas por essas aes e por projetos como

o Vocacional Dana. E, a produo desses programas para jovens em processo

de profissionalizao termina reverberando a mdio e longo prazo, no prprio

programa de fomento; 16 Em material publicada em 26/07/2015 no Jornal O Estado de So Paulo intitulada Questo racial colocada em discusso na rea de dana a crtica de dana Helena Katz aborda um fenmeno relevante no histrico do Programa de Fomento Dana no municpio de So Paulo: o pleito de alguns grupos e companhias pela democratizao do referido programa e pela incluso de especialistas em cultura afro na comisso julgadora. A Cia. Treme Terra, sob direo de Joo Nascimento e Firmino Pitanga liderou esta mobilizao, argumentando que, aps inmeros projetos terem sido enviado sem aprovao no estaria havendo compreenso dos cdigos de dana com os quais trabalham e reivindicando uma produo em dana negra contempornea, que inclui o grupo no mbito da Lei 14071/05 (Lei de Fomento Dana). Dentre aqueles que divergem e contra argumentam defendendo o histrico de lutas pela lei e pelo referido programa, est o presidente da Cooperativa Paulista de Dana, Sandro Borelli. Segundo ele existem outras aes que deveriam ser priorizadas por todos os profissionais de dana, como por exemplo, a aprovao do PL Humberto Silva que possibilita circulao nacional e internacional dos grupos e companhias paulistanos e a prpria garantia da dotao oramentria do Fomento Dana para que a classe no tenha que lutar anualmente para ter seu oramento aprovado. J a Secretaria de Cultura Maria Rosrio Ramalho, insiste na necessidade do dilogo entre os diferentes envolvidos nessa zona de conflito, entendendo que no se trata de uma questo de ordem racial.

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- Em muitos dos projetos dos ncleos artsticos est previsto processo seletivo

para estagirios, aprendizes e jovens profissionais; isso significa abrir campos

de estgio e iniciao ao trabalho de novos profissionais egressos das

graduaes em dana;

- Incluso de novos sujeitos (pessoas com deficincia, por exemplo) como pblico

alvo e coparticipante nas prprias criaes artsticas (em alguns casos);

- Produo de materiais de cunho histrico (memria), reflexivo, didtico

produzidas pelos prprios artistas que abarcam questes importantes como o

ensino na educao no formal da dana; tal produo leva a uma reflexo

sobre papeis e relaes entre produo artstica e acadmica, por exemplo;

- A cidade tem sido colocada em foco de diferentes maneiras, explorando-se seus

mais diversos espaos pblicos e privados, numa busca intensa dos artistas da

dana por experimentos, aproximaes, interferncias, dilogos, que apesar de

nem sempre serem novos, no so mais to pontuais ou efmeros como quando

no havia o programa, mas, contnuos, e da, podero ganhar efetividade em

seus propsitos poticos, estticos, polticos e ticos.

4.3. Acompanhamento dos ncleos artsticos em seus processos de trabalho

Alm da leitura e anlise dos projetos para a identificao de possveis

vertentes relacionais, o outro procedimento fundamental para a pesquisa foi

acompanhar (cartografar) processos de criao beneficiados pelo programa,

simultaneamente ao seu prprio curso. Para isso, inicialmente estabeleci os seguintes

focos:

a verificao da coerncia e dos inevitveis ajustes entre o projeto e a sua

realizao;

o acompanhamento contnuo e sistemtico das etapas de trabalho em pauta,

focalizando:

as prticas de preparao corporal, laboratrios de investigao e

criao, ou seja, os procedimentos e os mtodos do trabalho artstico;

as aes por meio das quais tais prticas e procedimentos so

expandidos e compartilhados com pblicos especficos (especializados

ou no) ou pblicos diversos, sem escolha a priori;

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as obras artsticas resultantes (aspectos poticos e estticos);

as relaes de interlocuo com o pblico;

as escolhas quanto circulao e difuso do projeto artstico

desenvolvido;

as aes de avaliao do prprio grupo/companhia/coletivo quanto

efetivao dos objetivos do projeto.

4.3.1. Pesquisa em campo

Como dito anteriormente, devido s adversidades vividas no desenvolvimento

da pesquisa no foi possvel realizar todas as atividades previstas na amplitude

planejada. Assim, o acompanhamento dos ncleos artsticos, apesar de atender os

diferentes focos estabelecidos, aconteceu de maneira pontual, conforme apresento a

seguir.

4.3.1. a. Cia Damas em Trnsito e os Bucaneiros

Na condio de pesquisadora, meus primeiros contatos com a companhia

aconteceram em 2014, no perodo de finalizao do projeto Sobre Ruas e Rios,

contemplado na 15 Edio (2013). Depois, em 2015 no processo de organizao da

exposio A dana no espao urbano. Por fim, acompanhei no 2o semestre de 2015 e

1o semestre de 2016, algumas aes do projeto Memrias, Afetos e Bicicletas17

contemplado na 17 Edio (2015) do Programa Municipal de Fomento Dana.

Importante destacar que o plano de trabalho aprovado previa uma durao de 21

meses para o projeto, ou seja, quase dois anos.

Dentre as principais aes realizadas junto a essa companhia, destaco:

Leitura e anlise dos projetos Sobre Ruas e Rios e Memrias, Afetos e

Bicicletas;

Visitas sistemticas ao site da companhia e a sua pgina no facebook para

acompanhamento de agenda e eventos; 17 O projeto Memrias, afetos e bicicletas teve como objetivos remontar e circular com todo o repertrio da companhia, considerando seu aniversrio de 10 anos (janeiro de 2016).

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Espetculo Espaos Invisveis no Pao das Artes da USP (agosto, 2013);

Participao em ensaio preparatrio na Galeria Olido para a gravao de cenas

do videodana Entre Ruas e Rios nas ruas do centro de So Paulo: Estao do

Metr So Bento, Rua Boa Vista, Galeria do Caf Girondino, Rua So Bento, Largo

do So Bento (maio, 2014);

Espetculo Espaos Invisveis no SESC Pinheiros seguido de apresentao do

videodana Entre Ruas e Rios (maro, 2015);

Ensaio para a remontagem do espetculo Puntear no Centro de Referncia da

Dana como parte do desenvolvimento do projeto Memrias, Afetos e

Bicicletas (outubro, 2015);

Apresentao do espetculo Espaos Invisveis na Vila Zlia (maro, 2016)

como parte do desenvolvimento do projeto Memrias, Afetos e Bicicletas.

4.3.1. b. Cia Sansacroma

Como pesquisadora, nossos primeiros contatos com a companhia aconteceram

em 2014, no perodo de finalizao do projeto Outras Portas, Outras Pontes,

contemplado na 15 Edio (2013). Depois, em 2015 no processo de organizao da

exposio A dana no espao urbano. Por fim, acompanhamos no 2o semestre de

2015 e 1o semestre de 2016, algumas aes do projeto Sociedade dos Improdutivos

contemplado na 17 Edio do Programa Municipal de Fomento Dana.

Dentre uma extensa lista de aes, o projeto Sociedade dos Improdutivos

props a montagem de um espetculo (homnimo), que pretendia trazer tona as

questes da luta antimanicomial no pas, em especial, o processo de excluso de

pessoas portadoras de patologias psicolgicas, no mbito scio-produtivo do trabalho.

Associada pesquisa da Dana da Indignao (eixo central da potica e esttica do

grupo), com a orientao de Rodrigo Dias (ator, msico e psiclogo) a companhia deu

continuidade a um conjunto de aes iniciadas em projeto anterior (contemplado na

15o edio do Fomento Dana): desenvolveu atelis e vivncias coreogrficas, assim

como, atelis musicais para a investigao e criao da trilha (sob coordenao do

msico Cludio Miranda) na unidade do CAPS18 Jardim Ldia. Os encontros com os

18 Os Centros de Ateno Psicossocial CAPS, so unidades do sistema pblico de sade mental, voltadas ao atendimento intensivo e dirios de pessoas sob quadro de sofrimento psquico grave;

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usurios do CAPS fizeram parte da rotina dos integrantes da Cia, graas possibilidade

e abertura da gesto da instituio.

Dentre as principais aes realizadas junto a essa companhia, destaco:

Leitura e anlise dos projetos Outras Portas, Outras Pontes e Sociedade do

Improdutivos;

Visitas sistemticas ao blog da companhia e a sua pgina no facebook para

acompanhamento de agenda e eventos;

Participao no V Vozes do Corpo, na Fbrica de Cultura do Capo Redondo

(onde a companhia estava sediando parte de suas atividades), em uma roda de

conversa19 sobre Formao em Dana (maio, 2015);

Espetculo Sociedade dos Improdutivos, Funarte (dezembro, 2015);

Espetculo Sociedade dos Improdutivos na Casa de Teatro Maria Jos de

Carvalho, sede da Cia de Teatro de Helipolis; acompanhamento de ensaio e

preparao corporal prvia apresentao da companhia (janeiro, 2016);

Visita na Casa de Cultura de MBoi Mirim; encontro com a companhia e

realizao de entrevista (fevereiro, 2016);

Participao em ensaio da diretora Gal Martins e dois novos integrantes da

companhia na Funarte ocupada e realizao de entrevista (junho, 2016).

4.3.1. c. Grupo Lagartixa na Janela

Como disse anteriormente, tenho um longo histrico de colaborao com esse

ncleo artstico, desde sua criao. Na condio de pesquisadora, focalizei o perodo

de trabalho do grupo no projeto A potica dos encontros na 19 edio (2015)

Edio do Programa Municipal de Fomento Dana.

Dentre as principais aes realizadas junto a essa companhia, destaco:

Leitura e anlise do projeto A potica dos encontros;

possibilitam que os usurios permaneam junto s suas famlias e comunidades, pois so uma alternativa s internaes psiquitricas. 19 A artista e pesquisadora Sayonara Pereira tambm esteve como convidada.

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Visitas sistemticas ao blog da companhia e a sua pgina no facebook para

acompanhamento de agenda e eventos;

Duas visitas Fundao Padre Chico para acompanhar oficinas e apresentao

da companhia com grupo de alunos cegos e videntes (abril, 2016);

Acompanhamento da preparao corporal e da apresentao da performance

Varal de Nuvens na Creche da USP Clnicas (junho, 2016);

1o Compartilhamento dos resultados do projeto Poticas do Encontro para

participantes e convidados na Galeria Olido (julho, 2016)

SESC Santo Amaro (evento, mesa) junho, 2016

Performance e lanamento de exposio virtual no site do Museu da Dana, dos

resultados do projeto Poticas do Encontro - MIS (setembro, 2016)

4.3.2. Entrevistas

Neste item, apresento as entrevistas que foram realizadas exclusivamente para

a pesquisa; no esto includas aquelas realizadas para a exposio A dana no espao

urbano. Em geral, utilizei um roteiro previamente estruturado, mas suficientemente

aberto, tornando possvel adaptar sua ordenao conforme a elaborao do discurso

de cada entrevistado. Devido disponibilidade de todos os participantes em responder

detalhadamente s questes propostas, as entrevistas foram divididas em dois ou trs

encontros, por motivo de suas agendas.

Todas as entrevistas foram transcritas e encontram-se anexadas ao corpo deste

relatrio.

4.3.2.a. Entrevista com Alex Ratton