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Especial Formatura UnipalmaresO Raiar da Liberdade ........................................................................... 8Luiz Inácio Lula da Silva ..................................................................... 16José Vicente ........................................................................................... 22Depoimentos ........................................................................................ 24Celebrando Palmares ............................................................................ 36Repercussão na mídia ........................................................................... 58

Entrevista InternacionalJohn Maxwell ...................................................................................... 62

Mercado de TrabalhoFalar bem em público ............................................. 64

Gerenciamento de carreira ........................................ 68Resiliência ........................................................................ 70

EmpreendedorismoDa cocada ao software ......................................................... 72

Afro-cachaça ............................................................................. 74

PolíticaUm negro na Casa Branca ....................................................... 76Eleições nos E.U.A. ................................................................. 78O imperialismo ......................................................................... 80O adeus de Fidel ...................................................................... 82

TurismoPedra do Sal .......................................................................................... 84

TecnologiaT.V. Digital ........................................................................................... 88

Plural100 anos de imigração japonesa ......................................................... 90

CulturaAgenda Cultural .................................................................................... 92Primeira bailarina negra ....................................................................... 94

EconomiaÉtica na competitividade ...................................................................... 96Exemplo do Oriente ............................................................................ 98O dia em que o mundo parou ........................................................... 100

PerfilPérola negra ......................................................................................... 102Prata da casa ....................................................................................... 104

Cidadania21 de Março ......................................................................................... 106Dia dos Direitos Humanos ................................................................. 107

Responsabilidade SocialRede Riachuelo ................................................................................... 108

Afirmativa Plural é uma publicação da Afrobras - Sociedade AfroBrasileira de Desenvolvimento Sócio Cultural e da Universidade daCidadania Zumbi dos Palmares - Centro de Documentação, com peri-odicidade bimestral. Ano 5, Número 23 - Rua Padre Luís Alves deSiqueira, 640 - Barra Funda - São Paulo/SP - Brasil - CEP 01137-040 -Tel.(55-11) 3392-6005.Conselho Editorial: José Vicente, Ruth Lopes, Raquel Lopes,Francisca Rodrigues, Cristina Jorge, Nanci Valadares de Carvalho, Fran-cisco Canindé Pegado do Nascimento, Humberto Adami, FeliceCardinali, Sônia Guimarães. Direção Editorial e Executiva: Jorna-lista Francisca Rodrigues (Mtb.14485 - [email protected]);Redação e Publicidade: Maximagem Mídia Assessoria em Comuni-cação ([email protected]) Tel.(11) 3392-1862.Editora: Zulmira Felício (Mtb. 11.316 - [email protected]);Redação: Fotografia: J. C. Santos, Vandercy Júnior, José Nascimentoe divulgação. Colaboradores : Juçara Braga, Rodrigo Massi([email protected]), Rosenildo Gomes Ferreira([email protected]), Ana Luiza Biazeto, DanielaGomes e Douglas Kawaguchi (estagiário). Secretária de redação:Taise Oliveira. Capa: Foto J. C. Santos, trabalhada eletronicamentepela Alvo Propaganda.Editoração eletrônica: Alvo Propaganda e Marketing ([email protected]). Impressão e Acabamento: Vox Gráfica.

A revista Afirmativa Plural é uma publicação da Afrobras/Unipalma-res. A Editora não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos arti-gos e matérias assinadas. A reprodução desta revista no todo ou emparte só será permitida com autorização expressa da Editora e comcitação da fonte.

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Equipe editorial da revista Afirmativa Plural: DanielaGomes, Taise Oliveira, Zulmira Felicio e FranciscaRodrigues.

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Na noite do dia 13 de marçode 2008, o Brasil viveu uma situa-

ção inédita: a colação de grau de 126alunos, 90% deles negros autodeclara-

dos, 30% empregados nas maiores insti-tuições financeiras do País através de um

convênio firmado entre estas empresas e aUnipalmares. O evento ocorreu em São Pau-

lo, mas deve se espalhar pelo País.Para chegar neste dia, o caminho não foi fácil,

nem para a instituição – primeira da América La-tina a ter em seu quadro discente 90% de negros,

nem para os alunos. Mas não foi uma situação novanem estranha para o negro brasileiro, acostumado a

enfrentar um leão por dia. Tanto não é nova que asdificuldades foram contornadas uma a uma, e chega-mos nesta noite venerável: 13 de março de 2008.

alunos da Unipalmares é a ver-dadeira Abolição e dá o exemplo doque devia ter sido feito pelas autorida-des da época – Educação para todos, omelhor caminho para a valorização e inclu-são do negro. Aí sim, teríamos a verdadeiraliberdade e não seria preciso hoje, termos co-tas ou qualquer outro tipo de ação afirmativapara tentar tirar o negro do fosso onde se encon-tra, e nem esta colação teria sido um dos mais re-volucionários acontecimentos da história do Brasilnem tomado as proporções que tomou, com a im-prensa de quase todo o mundo presente, querendoregistrar tal fato histórico.A colação foi especial, por ser a primeira de muitasque virão e contou com a presença da autoridade má-xima do Brasil, o presidente da República, Luíz Inácio

Como diz o magnífico Reitor José Vicente, a Univer-sidade da Cidadania Zumbi dos Palmares, fundeadano acesso universal, na excelência do ensino e pro-moção da inclusão ao mercado de trabalho, na cultu-ra do diálogo inter-racial, da valorização da diversi-dade racial, sinaliza um novo tempo, caminho, espe-rança e uma nova possibilidade frente ao notório eterrível quadro de exclusão e discriminação queinexoravelmente vitima o negro brasileiro.Os canudos dos formandos da primeira turma

da Unipalmares são verdadeiras cartas dealforria, que levam ao caminho da liberdade

plena, disse um dos maiores atores brasilei-ro presente à cerimônia de colação de grau,

Milton Gonçalves, com a voz embarga-da de emoção.

A 60 dias da comemoração dos 120anos da Abolição da Escrava-

tura, a formatura da pri-meira turma de

Lula da Silva, acompanhado de seus diversos minis-tros, mas, mais do que ministros, apoiadores e amigosdo projeto Unipalmares.A primeira colação foi especial, e todas que virão, se-rão mais ainda, pois mostrarão um número crescen-te de negros bem informados, mudando de patama-res nas esferas sociais, trazendo melhor qualidadede vida para si, para os seus e mostrando que omovimento não parou com esses 126 formandos,sinalizando que muitos negros estão mudando acara do Brasil.

Valeu, Zumbi!

Sem Educação,não há Liberdade!

Francisca RodriguesEditora Executiva

Carta de alforria!Carta de alforria!Carta de alforria!Carta de alforria!Carta de alforria!

ditorial

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especial formatura unipalmares

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raiardaPor: Ana Luiza Biazeto e Daniela Gomes, especial para Afirmativa Plural

Unipalmares forma a primeira turma

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iberdadelFevereiro / Março 2008 ! Revista Afirmativa Plural 7

e celebra a diversidade no Brasil

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Quinta-feira, 13 de março, 21h, Giná-sio do Ibirapuera lotado. O público vêa história acontecer diante dos própri-os olhos. Na platéia, uma mistura deanônimos e famosos. Um olhar subje-tivo permite avistar sentados em umadas extremidades o advogado e aboli-cionista, Luiz Gama, acompanhado damãe Luíza Mahin, líder da Revolta dosMalês. No lado oposto, o almiranteJoão Cândido, que comandou a Revol-ta da Chibata. Nas cadeiras da frente,estão sentados o escritor Machadode Assis e os engenheiros irmãosRebouças. Nota-se que juntas vierama compositora e pianista ChiquinhaGonzaga, a heroína Anastácia, MãeMenininha do Gantois, com toda suareligiosidade, e a guerreira Dandara,que comandava o quilombo ao lado dolíder Zumbi. Ele também está presente,no entanto, em cima do palco, em posi-ção de destaque como não poderia dei-xar de ser. O anfitrião da noite, Zumbi,está à frente de um novo Palmares.Reunidos em uma grande festa estãotodos que trabalharam, levaram açoi-tes, lutaram durante 500 anos para queo Brasil mudasse e para que todos osseus filhos fossem aceitos.Pela primeira vez na história do País eapós 120 anos da Abolição da Escra-vatura, o Brasil vê 110 negros, de umaturma de 126 formandos, conseguiremao mesmo tempo um diploma univer-sitário. Vitória dos alunos, da Univer-sidade da Cidadania Zumbi dosPalmares, do povo negro e do Brasil.O Hino Nacional abre oficialmente acolação de grau dos alunos. O bradoretumbante de um povo heróico maisuma vez se faz soar e, desta vez, na pre-sença de autoridades como o presiden-te da República, Luiz Inácio Lula daSilva, a primeira-dama, Marisa Letícia

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Lula da Silva, os ministros Edson Santos(Igualdade Racial), Fernando Haddad(Educação), Márcio Fontes (Cidades),Orlando Silva (Esporte), Miguel Jorge(Desenvolvimento, Indústria e ComércioExterior), o governador de São Paulo,José Serra, o prefeito de São Paulo,Gilberto Kassab, o senador José Sarneye o deputado Paulo Renato Souza.Na comemoração, que contou com a atrizIsabel Fillardis e o cantor Simoninha comomestres de cerimônia, as apresentações decapoeira e maculelê, dança de origem afro-indígena, simbolizaram a africanitude doevento. Os cantores Sandra de Sá, Mar-tinho da Vila, Biro do Cavaco, VanessaJackson e o grupo gaúcho Papas na Lín-gua também contribuíram para que a noi-te fosse ainda mais entusiástica.No cair das cortinas do palco, os alu-nos das histórias que se intercalam, eque encontraram em uma iniciativa pi-oneira a resposta aos seus anseios, cho-ram a conquista que o líder americanoMartin Luther King já traduziu atravésda frase “Livres enfim, Graças a Deustodo poderoso, somos livres enfim”.

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“Sou eu orgulho de Zumbi...”Trecho da música 300 anos, de Altay Veloso

Chegar a este dia representa paraaqueles que se formam muito mais doque a conquista de um diploma, é oinício de um futuro cheio de promes-sas e mudanças. Como assegurou oator Milton Gonçalves, com a vozembargada de emoção, “os canudosdos formandos da primeira turma daUnipalmares são verdadeiras cartasde alforria, que levam ao caminho daliberdade plena”.Acreditar no pioneirismo da universi-dade, se ver refletido em cada irmãona sala de aula, enfrentar o medo dodesconhecido e as críticas por seremos primeiros e até então únicos alunosda universidade, lutar para a cada diaprovar o seu valor.Os sentimentos acima foram vivencia-dos pelos formandos. Para a Ana PaulaConceição, escolher a Unipalmares foium desafio. Primeira filha a entrarnuma graduação, decidiu procurar auniversidade ao ver um comercial natelevisão e, apesar do pioneirismo,

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rece na televisão e também não é vistoem números representativos nos ór-gãos públicos, além de ter, na maioriados casos, baixa escolaridade. A quan-tidade de alunos desta etnia que se for-ma na primeira turma de administra-dores da universidade representa paraele uma grande realização. “Dentre tan-tos ensinamentos, durante o curso, fo-mos instruídos para a aquisição de umaconsciência crítica e para avaliar o quea mídia nos coloca”, conta ele, que ago-ra cursa Direito na mesma instituição.

“Ver minha coroa onde eusempre quis pôr, de turbante,chofer, uma madame nagô”

A vontade expressa pelo rapper ManoBrown, dos Racionais MC’s, na músi-ca Da ponte para cá é sinônimo do senti-mento de cada um que observa mãesque lutam sozinhas para criar os filhos.Durante a formatura, é possível ver narealização dos formandos o orgulhodos pais, que na maioria das vezes,mesmo em uma família numerosa, conseguem ver a primeira geração dediplomas universitários.

Beca, capelo, diploma na mão, paraVanda Rodrigues, ver a filha Fabianaconcluir a universidade traz à tona aemoção de se sentir duas vezes vito-riosa. “É a mistura da realização pes-soal, com a de ser afrodescendente.Nós lutamos muito para chegar aqui”.José Pedro Leite sorri e enche os olhosd’água, afinal a filha mais velha Raquel“mostra o quanto nossa gente é capaze precisa, para vencer, apenas de opor-tunidade”. A vinda do presidente Lula,patrono da turma, é, segundo ele, umincentivo a mais para todos os alunosque estudam na Unipalmares. E a for-matura da filha, um estímulo para o ir-mão e os familiares que ainda não in-gressaram no ensino superior.

“Já raiou a liberdade nohorizonte do Brasil”

Nunca a frase do Hino da Indepen-dência fez tanto sentido para cada a-frobrasileiro. Ver os filhos de Zumbigraduados traz a reflexão do quantohouve crescimento e vitória. No en-tanto, há também a percepção do queainda deve ser feito. Motivados pela

apostou no projeto. Na época, comoauxiliar de escritório, a aluna precisoude adiantamentos de salário para pa-gar a matrícula e as primeiras mensali-dades até conseguir uma bolsa de es-tudos. A mudança de vida começouquando conseguiu, através de um pro-fessor, um estágio numa empresa ondefoi efetivada e continua até hoje. “Mesinto vitoriosa. Eu comecei trabalhan-do em uma empresa familiar e hojeestou numa multinacional”, afirma.Ver-se com o diploma na mão foi du-rante anos um sonho distante paraFabiana Cristina. Criada pela mãe, jun-to com a irmã mais nova, ela desejavacursar uma universidade, mas acredi-tava que a condição financeira seria umimpedimento. A oportunidade chegouquando soube da criação da Unipalma-res através de uma prima. Com o in-centivo da família, buscou um novorumo. Trabalha atualmente numa ins-tituição financeira - algo que não pas-sava pelos seus planos - e orgulha-seao dizer que é uma administradora.Wagner Gil, 31 anos, percebeu desdemuito jovem que o negro pouco apa-

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necessidade de mudança na situação donegro brasileiro, os dirigentes daAfrobras – Sociedade Afro Brasileirade Desenvolvimento Sócio Cultural -perceberam que a inclusão desta po-pulação viria através da educação emesmo sem recursos decidiram iniciaro projeto, que resultou nos 126 forman-dos de Administração. O reitor da uni-versidade, José Vicente, exalta que “paraque houvesse esta noite, muitos traba-lharam, dentre eles autoridades, empre-sários, personalidades comuns, artistas”.De acordo com ele, a generosidade detodos os colaboradores permitiu a cria-ção de um espaço que dignifica os nos-sos antepassados. “Esta instituição deensino superior valoriza a nossa traje-tória histórica e nossa identidade. Per-

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mite que nós, negros, nos vejamos re-fletidos nos colegas de sala, assimcomo nos professores”.A formatura é, segundo o reitor, a hon-ra e a glória. “O nosso exército estápronto e formado. Que Deus permitaque muitos outros Zumbis sejam gra-duados e que tantas outras Unipalma-res se instalem pelo País”.E a seguir, José Vicente enche o peitopara o grito de reverência, orgulho egratidão: “Valeu, Zumbi!”.É latente a consciência da contínuabatalha. O desbravar dos que viveramem gerações anteriores e não tiveram aliberdade se perpetua pelas próximasgerações. Estas que estão por vir, vãoexperimentar um Brasil melhor, comtoda sua diversidade respeitada.

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Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da SilvaLuiz Inácio Lula da Silva

Só quero lembrar ao nosso com-panheiro, governador José Serra,que ele homenageou três meninas– uma menina de quase 60 anos quese formou – que são funcionáriasdo estado de São Paulo. Só quero

te lembrar que agora elas vão te pedir aumento porque me-lhoraram e vão querer... Essa é a vantagem das pessoasestudarem. O Serra citou o nome de vocês, e vocês nãoesqueçam nunca.

Mas eu quero autoridades presentes. Cumprimentar o nos-so querido companheiro José Vicente, reitor da Unipalma-res. Cumprimentar os paraninfos Geraldo Alckmin eBenedita da Silva. Cumprimentar todos os homenageados.Cumprimentar as nossas queridas e queridos formandos, ede coração, agradecer por ter sido escolhido patrono destagloriosa primeira turma de formandos da Unipalmares.Mas, sobretudo, eu quero cumprimentar os pais de vocês.Quero dizer, meu caro José Vicente, que eu trabalhei a sema-na inteira em um discurso para hoje à noite. Imaginava que

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iria falar por volta de 8h30, 9h da noite. Nem quando eu eraoposição eu fazia discurso à meia-noite e meia. Eu estou per-cebendo que nós chegamos em uma hora em que fazer umdiscurso lido, de 40 minutos, é acordar com o ronco de al-guns companheiros e companheiras. Eu queria pedir licençaaos pais e aos formandos para contar dois casos. Dois casosque, certamente, marcam a vida de milhões de meninas emeninos deste País que, ao terminar o ensino fundamental,ao terminar o 2º grau e prestar vestibular para estudar emuma universidade, se deparam com dois graves problemas.

Primeiro, a competitividade para entrar em uma escola públi-ca federal, é sempre muito difícil. São muitos alunos e poucasvagas. Segundo, para entrar em uma universidade particular,são muitas vagas e pouco dinheiro para pagar os cursos. Eupenso que nós vamos reverter isso porque, se Deus quiser,ao terminar o nosso mandato em 2010. [...].Eu queria homenagear vocês na figura de duas alunas destaturma; duas jovens negras, orgulhosas de sua origem, que nãoaceitaram o preconceito como justificativa para o confisco deseus direitos. Suas vitórias são respostas a todos que tentam

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Elaine de Moura

convencer a juventude pobre de que aesperança foi privatizada, mercantiliza-da e ficou cara demais para existir emsuas vidas.A primeira história é da Elaine DuarteDamião de Moura. Ela é a primeiraprova de que quando a gente quer,quando a família vive em harmonia,quando o pai e a mãe desejam, as coi-sas acontecem. Elaine tem 23 anos, equando conta sua história devida ela mesma se entusiasma,ri e comemora ao mesmo tem-po, com razão. Parece que foiontem, ainda. Sua mãe, donaMarilene, dizia à filha prostra-da no quarto, resolvida a desis-tir da faculdade: “Elaine, a gentecome sopa de pedra, mas vocêvai para a faculdade”. Sopa depedra, a família não chegou aexperimentar, mas Elaine engo-liu a angústia seca das muitasmanhãs em que viu o irmão me-nor chorando de fome logocedo. “Pão”, ele pedia pão, dizela, com a voz embargada. Nempensar. Não havia pão no caféda manhã na casa do vigia de-sempregado, Valdemar, e dedona Marilene.Valdemar catava papelão na rua,mas nas ruas da periferia deCotia, na grande São Paulo,onde moram, não havia papelão sufi-ciente para o pão e a mensalidade dafaculdade da filha. A mãe voltava a di-zer: “A gente come sopa de pedra”. Osamigos e alguns primos de Elaine, queenveredaram por outros caminhos, ga-rantiam que tudo aquilo era uma gran-de bobagem. Elaine ouvia os pessimis-tas, calada. Diziam eles: “Isso não vaidar em nada. Você acaba o estudo, e daí?Vai ficar na mesma, como nós”. Então,

a roda começou a girar na vida de Elaine,num ritmo que ela tenta reproduzir,embaralhando palavras e sensações.No segundo ano da faculdade, o bancoItaú abriu um concurso para estagiári-os, uma dúzia de vagas, 176 inscritos.Elaine se inscreveu. No dia 5 de abrilde 2005 veio o resultado, e ela gritava:“Passei, passei”, conta, comemorandoe vivenciando o tempo tão curto e de

tantas mudanças. No dia 11 de janeirodeste ano, a antiga estagiária foi con-tratada, com carteira assinada pelo Ban-co. Nesse meio tempo, casou-se. Na fa-culdade aprendeu algo que já sabia, masda qual não tinha consciência. As duascoisas não se confundem, como elamesma explica. Diz ela: “Eu sabia queera negra, claro, mas não sabia o signi-ficado de ser negro. Na faculdade con-vivi com pessoas que tinham uma per-

cepção maior da história e, ainda porcima, tive aula sobre a identidade afro.Isso muda tudo, porque se transformaem consciência e auto-estima. “O or-gulho de ser negra eu conquistei na fa-culdade”, diz ela sorridente. Elaine nãotem dúvida de que este é o caminho paraevitar que tantos jovens sejam captura-dos pelo mundo das drogas e do crime,como ainda acontece na periferia onde

mora. “Exemplos práticoscomo o meu são recentes, dizela, mas aos poucos vou viraruma referência e o caminho vaificar claro. Escola, oportunida-de e consciência” . Elaine falaemprestando à voz a mesmafirmeza da mãe, que dizia: “agente come sopa de pedra, masa gente vai”. Meus parabéns,querida Elaine. Parabéns.A outra história, é da nossaAndressa Amaral Santos. Opai de Andressa, senhor Nel-son, é funileiro quando temtrabalho. Dona Solange, a mãe,é diarista e faz faxina no blocoda Cohab em Carapicuíba,onde a família tem cinco filhos,e onde os cinco filhos sempremoraram. Aos sete anos, Andressa jávendia frutas na vizinhançapara ajudar na casa. A primei-

ra boneca ganhou quando já tinha maisde 15 anos de idade. Mas a história maisbonita é a dela mesmo. Andressa foiatendente em casa de pão de queijo emorou na favela do Jaguaré, morou coma tia para ficar mais perto da escola eeconomizar o dinheiro da passagem.Ela ri da infância atribulada em umacasa onde havia um par de tênis, úni-co, que ia duas vezes por dia à escola.De manhã, nos pés da caçula, que vol-

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tava correndo para entregar o sapatopara Andressa ir à tarde. Matriculada,por necessidade, no período da tarde.Difícil é recordar as noites frias deCarapicuíba, quando dona Solange arecebia na volta da faculdade, apenascom um copo de água na mão e lágri-mas nos olhos. Era tudo o que tinhana casa. Mas no dia seguinte, senhorNelson e a esposa reuniam os filhos àmesa vazia para reafirmar a decisão danoite anterior. Diziam os pais: “vocêcontinua Andressa. A gente passa fome,mas no dinheiro da condução e o damensalidade ninguém mexe”. Andressatem orgulho de lembrar dos pais, senhorNelson e dona Solange, lutando sozi-nhos para criar a família em um peque-no apartamento na periferia de SãoPaulo. Só Deus sabe a dor que passa-ram na travessia de tantas noites deincerteza. Mas, de manhã, eles nuncafraquejavam porque, no fundo, tinhamuma esperança de que a solução para afamília e para o Brasil é a escola.A formatura de hoje é o fecho de ouroque dá razão à persistência do senhorNelson e da dona Solange, porque hou-

ve uma vitoriosa. A filha, agora, é fun-cionária contratada do Bradesco. Tor-nou-se uma mulher altiva e indepen-dente, que nunca aceitou ser chama-da de moreninha nos ambientes de tra-balho. “Moreninha, não”, diz ela. “Sounegra, com orgulho”, avisa aos distra-ídos. Foi assim que ganhou o apelidocarinhoso de “pérola negra”.No Natal de 2007, resolveu dar umpresente a si e a toda família. Não oprimeiro, mas um para redimir a au-sência de tantos outros no passado.Ela comprou um carro zero, mas logofoi avisando, com a chave na mão: “opróximo passo é fazer pós-graduaçãono exterior”.Eu estou falando isso, Andressa, e ébom que o ministro da Educação meescute, que os companheiros da Capesescutem, porque a chance de fazer umcurso no exterior não é tão difícil quan-do a pessoa tem a vontade que você tem.Senhor Nelson e dona Solange agorasão outras pessoas. Mantêm a fé e es-tão cheios de confiança. Na verdade,passaram a sonhar tanto quanto a filhae até voltaram a estudar, animados com

o acerto de sua própria receita para ofuturo dos filhos e do Brasil.Meus amigos e minhas amigas,Eu fiz questão de ler essas duas cartascitando essas meninas, a Elaine eAndressa, sabendo que possivelmenteseja a vida de outras meninas e de ou-tros meninos. Eu espero que a im-prensa que cobriu este evento consi-ga retratar nos jornais e nos documen-tários a beleza e a cara, destas meni-nas e destes meninos, que receberamo seu canudo. Muitas vezes, o povonão consegue nem conquistar a auto-estima, porque algumas pessoas nãoquerem deixar.Quando mostram o negro na televisão,normalmente, é sendo preso pela polí-cia. Agora, eu espero que mostrem acara destes jovens se formando, quecontem a história dos pais para formarestes, nós vamos poder mostrar à so-ciedade que o negro não está apenasno mundo da criminalidade, que apare-ce na televisão. Existem outras coisasimportantes que o negro faz, que o po-bre faz neste País e que muitas vezesnão têm o espaço necessário. Se mos-

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trarem o sucesso de vocês, nós vamosmexer com a auto-estima de outros jo-vens, na idade de vocês, que não tive-ram possivelmente o carinho que vocêstiveram dentro de casa. O que aconte-ceu com vocês só pode acontecer se afamília estiver unida, se tiver uma mãeou um pai que mantenha as rédeas da

casa. Se a família estiver desagregada éhumanamente impossível, é quase umato de heroísmo um jovem vencer navida se a família não estiver unida, por-que todos nós, bem ou mal, somos acara do que os nossos pais são, não ape-nas no físico, mas no comportamento.É por isso que eu digo sempre, gover-nador José Serra, que durante muitotempo nós discutimos os problemaseconômicos, não pensávamos e nãoimaginavamos que a desagregação da

estrutura famíliar era tão grave quantoa questão econômica neste País. Eudigo isso porque fui criado, com oitoirmãos, por uma mãe analfabeta. E to-dos conseguiram se transformar emcidadãos porque tinham uma mãe parase espelharem, porque tinham na mãerespeito.

Eu penso que o que vocês estão fazen-do aqui, na Unipalmares, é um exemploextraordinário. Nós não queremos di-vidir universidades de negros e de bran-cos, nós não queremos cota, 30 para um,40 para outro. O que nós queremos eprecisamos é construir um País em quetodos, sem distinção de cor e de origemsocial, tenham a mesma oportunidadede sentarem nos bancos das universi-dades deste País. Quando isso aconte-cer, não haverá disputa de cotas.

Eu era chamado de radical, meu caroPaulo Renato, na década de 80, por-que eu dizia que o Brasil seria o paísdos nossos sonhos no dia em que ofilho da faxineira estivesse sentado, nomesmo banco da escola, ao lado dofilho da sua patroa. Aí, sim, nós esta-remos criando uma nação justa, uma

nação solidária, em que as pessoas nãosejam discriminadas nem pelo berçoe nem tampouco pelo sobrenome, emuitos menos pela cor ou pelo credoreligioso. O que vocês estão fazendo aqui naUnipalmares é um exemplo extraordi-nário, meu caro ministro FernandoHaddad, da Educação, meu caro go-vernador José Serra, meu caro prefei-to Kassab, o que nós precisamos re-fletir é: onde nós entramos, sem atra-

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Fevereiro / Março 2008 ! Revista Afirmativa Plural 21

palhar o que eles já fizeram, para ajudá-los a fazer muito mais.Só o fato de sabermos que uma gran-de parte de vocês estão trabalhandonos bancos, temos de acreditar que oBrasil começa a mudar, porque nãoviamos um negro em um banco hámuito tempo, a não ser que fosse para

depositar dinheiro para o seu patrão.Não viamos um negro dentista, umnegro médico e poucos negros advo-gados. Eu me lembro do esforço queeu fiz para encontrar um negro paralevar para a Suprema Corte deste País.Isso terá de mudar, e vocês viram aqui,pelo pronunciamento do Governador,do Prefeito, dos Ministros. Eu achoque vocês, no fundo, no fundo, comesta formatura, estão nos dando umalição de vida e muito mais do que isso

estão dando uma lição de vida aosoutros que ainda não chegaram ao ní-vel que vocês chegaram, de que nãovale a pena desistir nunca e vale a penaacreditar.Aos pais da Elaine e Andressa que, cer-tamente, são os pais dos outros, eu que-ria dizer que nós temos milhões de pais

e mães como vocês, que colocaram osfilhos no mundo e que darão a vidapara que estes tenham o que vocês nãotiveram. Eles alcançaram, eles têm o di-ploma, têm uma profissão, têm um em-prego. Agora, não percam a bondadeda alma, ajudem os irmãos de vocês aconseguirem o que vocês conquista-ram, e ajudem os pais de vocês a senti-rem cada dia mais a alegria de ter ven-cido na vida.Não existe espaço para desistir, na vida.

Eu digo sempre o seguinte: se desistirvalesse a pena, eu não seria presidenteda República. Eu perdi três eleições con-secutivas, teimei e cheguei à Presidên-cia da República. Portanto, neste País,se persistirmos, vencemos. Eu queriaterminar dizendo a todos vocês, for-mandos, que valeu a pena viver até o

dia de hoje para assistir este aconteci-mento. Eu acho que não tem, na histó-ria da América Latina, com exceção deCuba, não tem no Brasil um momentohistórico em que tenhamos tantas pé-rolas negras e tantos diamantes negrosformados em umamesma noite.Que Deus os aben-çoe por toda vida,e que Deus aben-çoe os seus pais.

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Para que houvesseesta noite muitos emuitos trabalharam.Para que houvesseesta noite autorida-des, empresários,personalidades, pes-

soas comuns, artistas negros brasilei-ros, pessoas de toda natureza trabalha-ram juntos para que chegássemos jun-tos para que chegássemos neste lugare nesta noite.Eu conversava com o presidente Lulae dizia que se ele tivesse ganhado a elei-ção da primeira vez, talvez ele não ti-vesse a oportunidade de estar na for-matura da primeira turma, porque hácinco anos isto não existia. E talvezmuitos de nós, que estávamos traba-lhando para este dia, estaríamos nosporões da Polícia Federal, como sub-versivos e não conseguiríamos dar umpasso adiante.A generosidade de todos permitiu quecriássemos um espaço que dignificasseos nossos antepassados, permitiu quenós criássemos uma instituição de en-sino superior que valorizasse a nossatrajetória histórica, nossa identidade.Permitiu que pela primeira vez, diferentedo nosso ministro da Educação, nóspudéssemos ter ao lado um do outro,em cada carteira da sala de aula, muitomais do que um estudante, um jovemnegro. Nós temos muitos espelhos, as-sim como nós tínhamos muitos espe-lhos também entre os professores queestão no quadro técnico.Eu quero agradecer todos os empresá-rios, porque se hoje a Elaine e tantosoutros - são 30% deles que trabalhamnos bancos - estão empregados é por-que houve uma pessoa que teve a gran-deza e sensibilidade de relacionar todosestes empresários e dizer para eles que

era importante abrir este espaço para osnegros brasileiros. Eu faço isso na pes-soa do ministro Miguel Jorge: Deus lheabençoe. Quero fazê-lo na pessoa do Dr.Gabriel Ferreira, presidente da Confe-deração Nacional dos Bancos: QueDeus lhe abençoe. Quero agradecer oDr. Lázaro Brandão, o Dr. RobertoSetúbal, o Dr. Pedro Salles, que esteveconosco agora. Agradeço, enfim, todosos bancos brasileiros que hoje possu-em nos seus quadros 400 jovens daUniversidade da Cidadania Zumbi dosPalmares. Estes que saem empregadossão os primeiros de muitos.Mas este empreendimento pode serampliado, Senhor Presidente, pode serlevado para os demais empresários.Seria importante que os governos mu-nicipal, estadual e federal, instigassem,incentivassem as empresas que contra-tam serviços públicos, que participamda licitação. Que elas prevejam a pos-sibilidade do jovem negro também es-tar aí envolvido.Aliás, o governador Serra estava aquidizendo que foram lançadas, agora, 12mil vagas para estagiários no governode São Paulo, e eu dizia que se não fi-zermos um corte para privilegiar o ne-gro, não haverá negros dentre os 12 milestagiários. Nós precisamos de um rit-mo que mantenha o negro nos espaçosde prestígio dos cargos.Eu quero dizer que foi preciso esta his-tória, foi preciso que se dispusessem aajudar, mas foi fundamentalmente in-dispensável que as pessoas acreditassem.Que os jovens daqui de trás [refere-seao palco] e os pais deles acreditassem.Hoje, Senhor Presidente, é muito sa-tisfatório estar aqui com todas estasautoridades, falando da importância daUnipalmares, mas o senhor não sabecomo foi colocar a primeira carteira e

reunir 200 jovens negros no mesmolocal. Quantas vezes na nossa Washing-ton Luis (rua do primeiro campus) asviaturas da polícia passavam quase pa-rando. Quantas vezes tirava-se a car-teirinha da Unipalmares e todos per-guntavam: “Que faculdade é esta? Istoexiste mesmo?” E quantas vezes tan-tos jovens guardavam esta carteirinhade volta. Pois hoje nós temos a honrae a glória de estar com o nosso exérci-to pronto e formado.Quero agradecer em nome de todos auma personalidade que foi cara paratodos nós: o ex-governador de SãoPaulo, Alckmin. Ele, numa determina-da oportunidade disse: “Agora, o ne-gro brasileiro tem voz”. Isto foi quan-do pela primeira vez os estudantes daUnipalmares se reuniram no Memorialda América Latina. Agora, o negro bra-sileiro continua tendo voz e mais for-te, Senhor Presidente.Eu quero a vocês que me deram a hon-ra, que confiaram na nossa determina-ção de trabalho, dizer que me sintohonrado e feliz de estar à frente desteprocesso até hoje. Sinto-me honradode todas as noites pelos corredores ter-mos nos encontrado para nos abraçar-mos, discutirmos, debatermos, maspara, fundamentalmente, continuar-mos juntos.Que Deus abençoe cada um de vocês.Que Deus permita que este sonho quevocês vivem hoje possa ser vivenciadopor jovens que os tenham como espe-lhos, para que eles também tenham aquem puxar. Quero dizer a todos ospais - os quais muitos deles já foramao meu gabinete, me telefonaram, paradizer da alegria de ter um filho no ban-co Bradesco, no Itaú, no HSBC, noReal, enfim - que valeu a pena, porquese nos foi depositada a confiança, es-

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José VicenteJosé VicenteReitor da Unipalmares

tes jovens retribuíram com a garra e adeterminação.Nesta noite, estamos a 60 dias da co-memoração dos 120 anos da Aboli-ção da Escravatura. Os negros donosso início de milênio estão certa-mente mais conformados, porque

nós conseguimos acender mais umacentelha de esperança.Que Deus permita que tantos outrosZumbis sejam formados e que tantasoutras Unipalmares se instalem pelopaís. E eu queria pedir que nós, comoúltimo gesto de grandeza, de generosi-

dade, brindásse-mos em bom somaquilo que nós a-prendemos a falare a fazer nos qua-tro anos: Valeu,Zumbi!

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“José Serra

Quero cumprimentar os formandos e familiares, os membros do corpo docente,

funcionários da Unipalmares. A Unipalmares tem uma coisa muito especial: ela

se volta também à inserção social, cultural e econômica da comunidade negra

no nosso País, na nossa sociedade. Isto é o que ela tem de muito especial.

E por isso é que reúne tanta cooperação e é realmente uma iniciativa que hoje -

se demonstra - deu certo, através dessa formatura.

E corresponde a muito do que nós queremos para o desenvolvimento social,

para o desenvolvimento econômico do nosso Estado de São Paulo. Por isso, eu

quero dizer ao reitor que já contou, conta e vai contar com o nosso apoio para a

consolidação e expansão desta universidade.

Eu queria fazer uma sugestão aqui, José Vicente. Que vocês organizem um

curso de administração pública. Porque isso faz muita falta na Prefeitura, no

Estado e também no Governo Federal. Para isso, terá todo o apoio do Governo

do Estado e – tenho certeza – também da Prefeitura e do Governo Federal.

[...] Mas queria concluir dando os meus melhores votos para todos os forman-

dos de hoje, que agora ingressam no mercado de trabalho. Meus parabéns aos

formandos que também trabalham no governo do estado e, através de vocês, a

toda esta turma de formandos.

governador de São Paulo

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Hoje é um dia histórico, nós só

vamos compreender a importância

desta data daqui alguns anos,

quando pudermos olhar e observar

que a experiência da Unipalmares é

a experiência de formar não só

profissionais para atuar no mercado

de trabalho em vários setores, mas

é a experiência que vai formar parte

da elite do Brasil. A elite brasileira é

formada nas universidades e a

população negra sempre esteve fora

desse segmento, e a Unipalmares

surge para abrir esse segmento. Eu

fico muito feliz em viver esse

momento de construção de um País

diferente para que os

afrodescendentes possam de fato

ter a chance de participar do poder.

A população negra precisa de

direitos, saúde, educação,

habitação, mas precisa, sobretudo,

participar do poder político, porque

só assim poderá elevar a sua auto-

estima, e motivar outros a buscarem

e construírem um futuro diferente.

Hoje é um dia histórico.

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”“

Fernando Haddadministro da Educação

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Cursei Direito, Agronomia e Filosofia na Universidade de São Paulo.

Durante os quinze anos que passei como aluno não tive um único amigo

negro em sala de aula. Hoje, a cor da universidade vai se alterando à

medida que as oportunidades educacionais vão sendo equalizadas. Os

privilegiados desta turma que se forma são os brancos, porque diferente

de mim, puderam conviver com os negros. Através de iniciativas como

esta, vamos ter um Brasil cada vez mais coeso, justo e igual,

conscientes que esta igualdade é na diversidade.

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A formatura da Unipalmares é a

realização de um grande sonho. O

José Vicente é um sonhador! Um

sonhador que consegue fazer o

sonho virar realidade. O Brasil está

dando um exemplo para o mundo,

acendendo um farol, uma grande

luz mostrando o caminho da

inclusão social pela educação,

dando oportunidades, dando

esperança, dando vida,

promovendo igualdade, ajudando a

resgatar uma grande dívida social

que o País tem com seu próprio

povo, os afrodescendentes.

Eu acompanhei essa semente

desde o comecinho quando o José

Vicente tinha dificuldade até de

mobiliário, da reforma do prédio,

das bolsas de estudo, da escola da

família, do projeto Guri. Eu sei a luta

que foi a concretização deste sonho,

que serve de exemplo para o Brasil

e para outras nações. Nós vemos a

alegria dos estudantes, a garra

deles, a luta que eles tiveram nas

suas famílias. Então eu diria que

essa é a verdadeira história do

Brasil, uma história de luta, de garra,

de determinação, de amor. Esta é

uma noite inesquecível de grande

emoção e de grande significado.

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aldo

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O mundo vai conhecer que esse país tomou uma das grandes iniciativas e a

Unipalmares é a responsável por isso. É impressionante como isso traz uma

responsabilidade para os gestores públicos, quando você tem numa iniciativa

de uma personalidade como o José Vicente que coloca o poder público diante

de uma constatação “eu fiz, porque vocês não podem fazer muito mais?”. Eu

fiz 66 anos anteontem, eu não pensei que fosse ver isso, uma formatura com

maioria de negros, e a Unipalmares traz para a gente essa luz que nós temos

com afinco, que é levar a Unipalmares para os 26 estados e Distrito Federal.

Imediatamente eu falei com o Ministro da Educação, eu quero me responsabili-

zar para que no estado do Rio de Janeiro nós tenhamos uma extensão da

Unipalmares. Esse é o meu dever, é o dever de todos nós que ali estamos. Eu

gostaria muito de ter os meus netos aqui, porque a Unipalmares não é uma

questão só dos afrodescendentes. Foi bonito ouvir na leitura que o presidente

fez aquela moça dizer, ‘eu sabia que era negra, mas eu não tinha a consciên-

cia do que é ser negra’.

A Unipalmares faz a diferença é o que eu posso dizer.

Benedita da Silvasecretária estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, paraninfa

”28 Revista Afirmativa Plural ! Fevereiro / Março 2008

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”Gilb

erto

Kas

sab

Tenho acompanhado pessoal-

mente as atividades da Universi-

dade da Cidadania Zumbi dos

Palmares. É uma Universidade

que veio para ficar, uma institui-

ção independente, com ensino

de qualidade e que está inserida

em um dos grandes modelos de

educação do Brasil. Acho que a

Unipalmares chegou para so-

mar com as diversas outras

iniciativas que procuram dar

oportunidade a todos em nossa

cidade. A Unipalmares é um

exemplo expressivo de qualida-

de, de trabalho de inclusão, não

só na educação, mas no mer-

cado de trabalho e na socieda-

de de um modo geral.

A Unipalmares nos traz muita

alegria e orgulho. Acredito que

todos aqui presentes estão

emocionados e orgulhosos

desses jovens que consegui-

ram conquistar e realizar seus

sonhos.

Parabéns a todos!

prefe

ito de

São

Pau

lo

Fevereiro / Março 2008 ! Revista Afirmativa Plural 29

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A solenidade de formatura da 1ª turma da Faculdade de Administração da

Unipalmares foi um dos mais lindos espetáculos de cidadania de que partici-

pei. Os telões na platéia mostravam a viva emoção de que estavam tomados

os formandos, lágrimas que se misturavam com sorrisos e olhares cheios de

esperança por uma conquista que a todos parecia impossível. Vendo aqueles

jovens negros com suas becas e vestimentas próprias daquele momento

único, pude constatar o elevado significado da obra realizada pela Afrobras,

que optou pela educação como o melhor caminho para a valorização huma-

na e inclusão social do negro.

Merece o nosso aplauso, em especial das autoridades, esse louvável, exem-

plar e bem sucedido empreendimento da Zumbi dos Palmares. Ele provou o

quanto se pode avançar no desenvolvimento humano através da combinação

de esforços e recursos na busca da promoção da cidadania como a oportu-

nidade de estudar, conhecer, aprender, enfim, educar-se e poder exercer na

sua plenitude, os direitos e garantias fundamentais do indivíduo, ou seja, o

acesso ao progresso e bem-estar social.

g

“diretor-presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras

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Gabriel Jorge Ferreira

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Para que os escravos libertos

pudessem integrar as ativida-

des econômicas, culturais e

sociais de nosso País, deveri-

am ter acesso aos bem de

educação. Hoje, 120 anos

depois da abolição, esta dívida

ainda não foi coberta e a

sociedade civil também é

responsável por buscar um

caminho para saná-la. Cumpri-

mento o reitor da Unipalmares,

José Vicente, e a todos que

foram fundamentais para esta

experiência inédita e original na

história do nosso País. Ide em

frente, pois muitos jovens

ainda irão usufruir os benefíci-

os da Unipalmares.

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Parece que foi ontem que vimos, com alegria, curiosidade e imensa expectati-

va, a criação da Unipalmares, a primeira universidade no Brasil construída

venalmente sob os princípios da liberdade, da igualdade e da fraternidade, no

sentido de dar oportunidades iguais àqueles que desiguais são.

É uma honra e um prazer insubstituíveis eu estar aqui, com meu coração de

75 anos, e posso ainda dizer que é um dos momentos mais marcantes da

minha vida. Vocês, formandos, representam o verdadeiro orgulho da raça.

Vossos canudos, tão arduamente conquistados, são vossas verdadeiras

cartas de alforria. Espero que agora, com vossos diplomas, tão merecidamen-

te, vocês possam encontrar, para vocês e para todos nós, brasileiros, o cami-

nho, a estrada da liberdade plena, o cumprimento constitucional da igualdade

perante a lei, o fim da busca, nesta nossa interminável, laboriosa e cheia de

glória diáspora, a nossa Canaã, a NOSSA Terra Prometida.

Obrigado, de coração, por enfim, me libertarem também dos grilhões da

ignorância aos quais fomos todos acorrentados no passado.

Livres, enfim. Obrigado, meu Deus, estamos livres, enfim!

atorçMilton Gonçalves

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A Universidade da Cidadania

Zumbi dos Palmares, institui-

ção superior de caráter comu-

nitário, traz consigo o compro-

misso de incluir, ensinar, pre-

parar os estudantes, não para

competirem entre si, e sim

para compreenderem melhor

o Brasil e sua condição no

Brasil miscigênico, conside-

rando-se isonomia e

equidade. É da pluralidade

que o País deveria extrair a

essência da sua unidade, o

que ainda não ocorre como

deveria. A Unipalmares é uma

instituição diferente por que

faz, realiza, por que acredita

que alguns dos “pluralismos”

da sociedade brasileira ser-

vem mais “para inglês ver” do

que para a construção da

democracia orgânica que a

nação aspira.

Essa formatura mostra e

comprova a excelência desse

projeto que só tende a cres-

cer. Parabéns José Vicente,

parabéns formandos da Uni-

palmares. Que vocês tenham

muito sucesso em suas novas

vidas.

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Fevereiro / Março 2008 ! Revista Afirmativa Plural 33

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A formatura da primeira turma da Universidade da Cidadania Zumbi

dos Palmares é um evento de significação máxima para a identidade

cultural brasileira. A iniciativa é tão corajosa, como meritória e fruto

da mais elogiada abertura para o coletivo. A Unipalmares é um

resgate permanente da nossa história, no sentido afirmativo.

Que vocês formandos, venham fazer um corpo vivo, uma realidade

na nossa sociedade. O Brasil será bem melhor com os alunos

aplicando a Constituição em todos os sentidos – direitos e deveres.

“”

ministro do Supremo Tribunal Federal

yCarlos Ayres Britto

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3 6 Revista Afirmativa Plural ! Fe v e re i ro / M a r ç o 2 0 0 8

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elebrando

almares

Baile de gala encerra ascomemorações daformatura da primeiraturma da Unipalmares

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Vestidos como príncipes e princesas,os formandos da Unipalmares celebra-ram sua coroação como administrado-res. A apoteose das comemorações daprimeira turma de formandos aconte-ceu no dia 15 de março com a realiza-ção do baile.Pais, professores, amigos, personalida-des e até mesmo os representantes dasinstituições parceiras da Afrobras, co-memoraram juntos a realização dessesonho coletivo.A temática africana cuidadosamente es-colhida trouxe desde garçons vestidoscom turbantes e jabaladás, passandopelo cardápio feito com pratos típicosafricanos e afrobrasileiros, até a deco-ração das mesas com estátuas africa-nas remetiam à todos a grandeza pre-sente do outro lado do oceano.Com tratamento vip para os filhos deZumbi, durante toda a festa todos pude-ram participar de cada momento e des-frutarem tudo que era oferecido no local.Demonstrando a pluralidade brasileiraa festa não deixou de lado a tradiçãodas cerimônias de formatura, com aapresentação de músicas variadas, aBanda Época animou a pista de dan-ça, por volta das 2h da manhã pais epadrinhos orgulhosos tiveram a opor-tunidade de conduzir os formandos

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durante a execução da tradicional val-sa. Em reconhecimento ao trabalhorealizado pela comissão de formatu-ra, cada membro teve seu nome cita-do e a manifestação da admiração egratidão dos presentes.Mas como não poderia deixar de ser,em uma festa tão peculiar, o tradicio-nalismo logo cedeu lugar aos ritmospreferidos dos formandos que ao somda black music tocada pelo DJ Chocomantinham a pista de dança lotada.Por volta das 4h da manhã, uma dasmaiores atrações da noite foi o Quin-teto em Branco e Preto, que fez todomundo sambar relembrando sambasclássicos que fizeram parte do cotidia-no e da história do povo negro.O dia já começava a amanhecer quan-do a bateria da Vai-Vai entrou no pal-co e criou um clima de carnaval ao can-tar sambas-enredo que marcaram épo-ca e fizeram sucesso ao serem levadospara a avenida.Em cada rosto que começava a se pre-parar para voltar para casa estava presentemuito mais do que o cansaço de umanoite em claro e a alegria da comemora-ção, mas sim a expressão da realizaçãode um sonho com mais de 300 anos.

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!

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Quero parabenizar todos os formandos da Unipalmares.Essa primeira turma deve ter muito orgulho desse diploma,pois, além de garantir um futuro profissional, tem valor

adicional: eles entraram para a história da Universidade. Damesma forma, nós, do Bradesco, temos muita satisfaçãopor ter apoiado a escola desde o seu início. Consideramos a

Unipalmares um exemplo para toda a sociedade brasileira.Pensamos que a inclusão social é um direito de todos.

Márcio Cypriano, presidente do banco Bradesco

“ ““ “Essa Universidade está fazendo um trabalho

extraordinário, pois está abrindo locais de treinamentoem que esses alunos não teriam essa oportunidade,jamais. É louvável o trabalho que José Vicente e sua

equipe têm feito através da Afrobras.

Adib Jatene, diretor-geral do HCor

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““A Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares realiza umtrabalho espetacular que, particularmente, superou as minhas

expectativas. Surpreendi-me. Ela faz a inclusão social no ensinosuperior como pouquíssimas instituições no mundo. Destacoainda, a importante relação – teoria e prática – que a Unipalmares

desenvolve, propiciando aos seus alunos o estágio emimportantes organizações e preparando-os para o mercado detrabalho. Parabéns.

Paulo Renato Souza, deputado federal, ex-ministro da Educação

Quero cumprimentar os formandos da primeira

turma da Universidade da Cidadania Zumbi dosPalmares. Este é um marco para o Brasil, e ficarána história como um importante passo na luta

contra o racismo e a xenofobia. São alunos quefarão a diferença em nossa sociedade.

Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio doEstado de São Paulo

““

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É sempre motivo de prazer e orgulho vermos um ciclo

importante da vida ser finalizado, principalmente quandoum novo mais desafiante se inicia. Assim é umaformatura acadêmica. Ter participado no processo de

formação de estudantes da primeira turma do curso deAdministração da Unipalmares por meio do nossoPrograma de Capacitação de Afrodescendentes foi um

ganho para todos.

Fernando Perez , diretor-executivo de Recursos Humanos do Banco Itaú

“ “especial formatura unipalmares

“ “42 Revista Afirmativa Plural ! Fevereiro / Março 2008

Participo a Vossa Magnificência que o

Senado Federal, a requerimento dosSenhores senadores Paulo Paim eCristovam Buarque inseriu, em Ata da

Sessão de 19 de março do corrente ano,Voto de Aplauso pela comemoração daformatura da 1ª turma da Unipalmares.

Tenho a certeza de que os seus formandosirão contribuir para o desenvolvimento deum país mais justo e sem preconceitos.

Senador Garibaldi Alves Filho, presidente doSenado Federal

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especial formatura unipalmares

A formatura da primeira turma da Unipalmares é um passoimportante dentro da qualificação de mão-de-obra eprincipalmente para romper barreiras internas dentro de

cada pessoa. É um trabalho fantástico de qualificação quevem sendo realizado pela Instituição.

José de Castro Rudge, vice-presidente de Pessoas e Comunicação doUnibanco

“ “Para o HSBC tem sido um enorme prazer participarda construção da Universidade da Cidadania Zumbi

dos Palmares. Estamos envolvidos de várias formas eagora comemoramos com todos os parceiros estemarco importante da formatura dos primeiros alunos.

Essa primeira turma significa muito para toda asociedade porque inaugura um novo tempo em queestaremos todos ainda mais atentos na valorização e

promoção da diversidade em tudo que somos efazemos. Parabéns a todos.

Emilson Alonso, presidente do HSBC Bank Brasil

“ “Fevereiro / Março 2008 ! Revista Afirmativa Plural 43

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especial formatura unipalmares

44 Revista Afirmativa Plural ! Fevereiro / Março 2008

Esta formatura da primeira turma da

Unipalmares é algo que eu espereiminha vida inteira. Com 47 anos decarreira e mais de 60 anos eu espero

que o povo negro brasileiro tenhaconsciência de saber que tem o seuespaço, tem o seu mundo e que você

pode. E tomara que Deus ajude queesse espaço se abra para nós sermos oque somos, seres humanos.

Neuza Borges, atriz

A formatura da Unipalmares representauma maturidade do nosso povo e quando

eu falo povo, não é só o negro, mas oBrasil num todo, porque a partir dessemomento alguma coisa há de mudar.

Thobias da Vai-Vai

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especial formatura unipalmares

Fevereiro / Março 2008 ! Revista Afirmativa Plural 45

Para mim é como se o dever tivesse

sido cumprido. Minha alma estálavada com essa formatura, pois hojea Unipalmares é uma realidade. Senti-

me um pouco mãe de todos eles(alunos) e obviamente fiqueiemocionada porque é uma vitória e

das mais importantes.

Deise Nunes, ex-Miss Brasil

Um dia histórico para todo o Brasil de grande significado:uma turma de formandos de afrobrasileiros. Imagine queemoção que deve ter sido para esses formandos, receber

o diploma da mão do presidente Lula!Maria Ceiça, atriz e superintendente de Promoção da Igualdade Racialdo Rio de Janeiro

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especial formatura unipalmares

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É muito fácil falar que a educação é a saída para

todos, que o caminho do negro é a educação, mas émuito difícil realizar isso. Então acho que a realizaçãoda formatura é você conseguir ter a idéia, ter o

sonho, converter pessoas, chamar ajuda nasociedade e no final das contas passarem para afase da comemoração que é o que estamos fazendo

hoje. Mas é preciso que essas idéias não fiquem sóem São Paulo e não fiquem só nas grandes capitais,mas passem para todas as cidades do Brasil.

Humberto Adami, presidente do Instituto da Advocacia Racial eAmbiental – IARA

Celebramos o mérito e a dedicação detodos os 126 profissionais de

administração recém-formados ecumprimentamos a Unipalmares, nafigura do reitor José Vicente, pelo

notável exemplo que nos proporciona.Acredito que estas são manifestaçõeseficazes de luta contra o racismo, em

favor da plena igualdade entre todos osseres humanos. Meus parabéns!

Arlindo Chinaglia, presidente da Câmara dosDeputados

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especial formatura unipalmares

Fevereiro / Março 2008 ! Revista Afirmativa Plural 47

É com imenso prazer que nós da CamisariaColombo vos parabenizamos pelo maravilhoso

trabalho realizado e agora, mais do que nuncaconcretizado frente a Unipalmares. Estamosorgulhosos em fazer parte deste projeto e acima

de tudo, estamos felizes em assistir ocrescimento exponencial de suas conquistas.Através de ações como estas, de pessoas como

vocês, os brasileiros se conscientizam daimportância de ações para a construção de umasociedade mais justa com oportunidades para

todos. Esperamos que esta seja a primeira demuitas turmas de formandos da Unipalmares.Parabéns por mais esta conquista.

Álvaro Jabur Maluf Jr. e Paulo Jabur Maluf

“A frase mais bonita, emblemática, e verdadeira

desta noite foi dita pelo presidente Lula: ‘aAmérica Latina nunca viu uma noite comoessa’. Eu acho que tivemos uma noite especial

e toda a ancestralidade estava aqui presente,todos eles comemoraram e disseram assim’obrigado meus netos, obrigado meus filhos,

valeu a nossa dor, o nosso sofrimento, tragampara esse País a nossa alma, o nosso espírito,ele precisa disso’.

Altay Veloso, compositor e cantor

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especial formatura unipalmares

“ “48 Revista Afirmativa Plural ! Fevereiro / Março 2008

Parabenizo a formaturada 1ª turma de alunos daFaculdade de

Administração daUnipalmares.

Ivone Sallun Maksoud,presidente da Associação doSanatório Sírio - Hospital doCoração

Aproveito a oportunidade para transmitiraos formandos minhas congratulaçõespelo término de uma etapa e formular

votos de sucesso na nova carreira.

Romeu Tuma, senador“

“ “O Partido Socialista Brasileiro - PSB noEstado de São Paulo, manifestacongratulações aos formandos da

Unipalmares e à primeira turma formada poresta instituição, que é vanguardista por suaessência e fundamentos.

Pedro Marcello, secretário especial da ExecutivaEstadual do PSB/SP

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“Agradeço o honroso convite e o parabenizo por estavitória na luta contra o preconceito e a favor de uma

sociedade igualitária no Brasil. Ao formar sua primeiraturma, a Unipalmares coloca no mercado 126 novosprofissionais livres de uma história de exclusão e de

baixa auto-estima, orgulhosos de sua etnia. Sãohomens e mulheres munidos de um diploma que ésinônimo de qualidade. Com acesso à educação de

qualidade o Brasil vence preconceitos edesigualdades. É o que a Unipalmares faz. É aconquista dos novos bacharéis da universidade, aos

quais desejo sucesso e realizações.

Marta Suplicy, ministra do Turismo

“ “Fevereiro / Março 2008 ! Revista Afirmativa Plural 49

especial formatura unipalmares

O Citi está empenhado em colaborar com aformação profissional desses jovens, pois temos aconvicção de que estamos escrevendo com a

Unipalmares um novo capítulo da história do Brasil.

Henrique Szapiro, superintendente de RH e AssuntosCorporativos do Citibank

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Querido José Vicente,Nossos cumprimentos pela formatura da ‘Primeira

Turma de Alunos da Faculdade de Administração daUnipalmares’! Temos orgulho de perceber que umsonho foi transformado em realidade – e mais – em

um exemplo que merece todo respeito e admiraçãode todo cidadão da ‘terra Brasil’! Parabéns!!!

Milú Villela, presidente do Instituto Faça Parte

especial formatura unipalmares

Informo que requeri à Douta Presidência

da Câmara Municipal de Diadema queseja registrado na ata da presentesessão, Voto de Congratulações à

Universidade da Cidadania Zumbi dosPalmares, pela formatura da sua primeiraturma e que a referida homenagem seja

extensiva a todos os formandos.

Manoel Eduardo Marinho, vereador da CâmaraMunicipal de Diadema

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Fevereiro / Março 2008 ! Revista Afirmativa Plural 51Fevereiro / Março 2008 ! Revista Afirmativa Plural 51

Agradeço a gentileza do conviteaproveitando a oportunidade para

parabenizar os formandos por maisesse degrau acadêmico conquistado,e desejar significativas realizações

profissionais e pessoais em suascarreiras.

Hélio Costa, ministro das Comunicações

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Caros parceiros da Unipalmares,O dia de hoje, da formatura da 1ª turma de alunos

de Administração, é um grande marco na históriada Diversidade e do Ensino Brasileiro.Fico muito feliz de acompanhar de perto esse

esperançoso momento.Que venham outras muitas turmas de alunos!

Fábio C. Barbosa, presidente do Banco Real

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Este evento é, sem dúvida alguma, marcohistórico na conquista da igualdade e da

liberdade pelo povo brasileiro. É exemplo aser seguido posto que valoriza o estudo, aeducação e o saber como ferramentas de

ascensão social e de respeito à vida. De fato,sem educação não há liberdade.Parabéns Afrobras, Unipalmares e Formandos.

Massami Uyeda, ministro do Superior Tribunal de Justiça

É com alegria e emoção que recebemos a notícia da formatura daprimeira turma de Administração da Unipalmares. Em nome do

COGEIME – Instituto Metodista de Serviços Educacionais e daRede Metodista de Educação, cumprimentamos o prezado Reitor,as lideranças educacionais e os formando (as) da UNIPALMARES,

desejando-lhes as bênçãos do Deus criador da vida, no exercícioda cidadania e na realização profissional, de modo diferenciado,na sociedade brasileira.

Reverendo Luis de Souza Cardoso

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Requeri junto à Câmara Municipal deMatão, votos de congratulações à

Universidade da Cidadania Zumbi dosPalmares e a todo seu corpo docente ealunos pela brilhante iniciativa de formar

126 alunos de baixa renda no curso deAdministração com um percentual deaproximadamente 90% de alunos

declarados negros.

José Edinardo Esquetini, presidente da CâmaraMunicipal de Matão - SP

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Senhor Reitor,Quero registrar minha grande satisfação por ter

sido lembrado para participar da solenidade edesejar aos acadêmicos sucesso nesta nova eimportante etapa da vida.

Um forte abraço a todos os presentes à cerimônia.

Joaquim Barbosa, ministro do Supremo Tribunal Federal

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Magnífico Reitor Dr. José Vicente,Não fossem as obrigações jurisdicionais a me fixarem em Brasília,imensa seria a honra de aplaudir os formandos da primeira turma

de alunos da Unipalmares e de enaltecer, por tal vitória, a admirávelUniversidade da Cidadania Zumbi dos Palmares. São eventoscomo esse, a comprovar os avanços sociais e o aperfeiçoamento

democrático do país, que corroboram a fé dos brasileiros numfuturo realmente promissor para todos.Receba as minhas mais entusiasmadas congratulações e transmita

aos formandos os votos de profícua e exemplar carreira.

Marco Aurélio Mello, ministro do Supremo Tribunal Federal

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Informo que requeri à mesadesta Augusta Casa Legislativa,

aprovar e encaminhar a presenteMoção de Aplausos eCongratulações à Unipalmares,

pela inédita formatura da 1ªturma de Administração.

Fábio José Menezes Bueno, presidente da Câmara Municipal, e Oswaldo Laranjeira Filho,vereador, de Tatuí - SP

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Cumprimento Vossa Excelência eformulo votos de sucesso na

realização da cerimônia de formaturada primeira turma de alunos daFaculdade de Administração da

Unipalmares.

Carlos Alberto Menezes Direito, ministro doSupremo Tribunal Federal

Magnífico Reitor da Universidade da Cidadania Zumbi dos

Palmares.Informamos que nos termos regimentais, foi consignadonos ANAIS desta Casa voto de júbilo e congratulações com

a Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares, pelaconclusão de curso da 1ª Turma do Curso deAdministração, marco importantíssimo na vida da

Universidade.

Antonio Carlos Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de São Paulo eAurélio Nomura, vereador/SP

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Transmitimos nossos cumprimentos pela

honrosa conquista da formatura da 1ª turma dealunos da faculdade de Administração daUnipalmares.

Cordiais Saudações

Antônio Carlos Kfouri, superintendente-executivo, eLuiz de Almeida Mota, assessor daAssociação do Sanatório Sírio-Hospital do Coração

Parabenizando os formandos, envio

meus cumprimentos desejandosucesso ao evento, na certeza de quea educação é o principal caminho

para chegar ao futuro desejado portodos nós.

Sidney Beraldo, secretário de Estado da GestãoPública de São Paulo

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Impedido de comparecer aproveitoa oportunidade para agradecer oconvite e para solicitar que seja o

portador dos meus cumprimentosaos formandos, que nessemomento vencem uma importante

etapa de suas vidas.

Bruno Caetano, secretário de Comunicaçãodo Estado de São Paulo

Quero demonstrar todo o nosso apreço aos formandos e

às formandas, neste momento tão especial, que consisteem proporcionar a igualdade entre mulheres e homens.Nesta data tão expressiva, deixo aqui sinceros votos

para que vocês possam trilhar essa nova etapa de vidacom muito brilhantismo, ética e competência.

Nilcéa Freire, ministra da Secretaria Especial de Políticas para asMulheres

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repercussão

na mídia

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mídia

O evento da primeira Formatura daUnipalmares foi amplamentedivulgado na mídia impressa e nas

principais emissoras de TV e Rádio

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mídia

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mídiamídia

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mídia

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entrevista internacional

uma receita de

ucesso

Por: Daniela Gomes, especial para Afirmativa PluralS

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Ao pensarmos em um mapa do tesou-ro, com certeza teremos na mente aimagem de um papel amarelado pelotempo com uma caveira desenhada emum ponto da rota e um x vermelhomarcando o lugar, mas muito além daimaginação, todos nós pensamos emencontrar uma receita de sucesso.Mais de 12 milhões de livros vendidosem todo o mundo e o título de maiorguru de liderança da atualidade fazemcom que o autor americano JohnMaxwell seja o responsável por mos-trar a grandes líderes e empresários omais moderno mapa do tesouro.Durante os eventos de lançamento noBrasil do seu mais novo livro intitulado“O Livro de Ouro da Liderança”,Maxwell mostrou pela primeira vez aopúblico brasileiro quais os segredospara se tornar um bom líder. Em seus livros ele procura mostrarque liderança nada mais é do que acapacidade de influenciar pessoas eque isso não está ligado ao cargo quese ocupa, mas sim aos valores que seagrega ao outro.Se pensarmos em grandes líderes do

século passado, temos três nomes quemarcaram época, e que nunca foramgovernantes: Madre Teresa, Gandhi eMartin Luther king. “Luther King nuncafoi senador ou ocupou um grande cargopolítico, mas em qualquer lugar do mun-do quando eu digo a frase “Eu tenho umsonho” todo mundo sabe quem disse eo que ela representa”, declara.O conceito de que líderes se formamsozinhos e que o exercício da lideran-ça deve ser feito de cima para baixo,modelo que foi exercido no mundointeiro durante anos, hoje não é mais omodelo de liderança aceito.“Quando vejo um líder controladorpercebo que ele não é muito bom paraa liderança. O novo estilo de liderançaé aquele que trabalha em equipe, essaé a liderança do futuro”. Maxwell citacomo exemplo a corrida presidencialnorte-americana. “Eu estava assistin-do o canal CNN esses dias e vi os doisprincipais candidatos do partido demo-crata Hillary Clinton e Barack Obama.Enquanto Hillary demonstra uma lide-rança de cima para baixo o tempo todoatravés do uso de expressões como “eu

vou mudar isso, ou eu vou fazer aqui-lo”, Obama demonstra o oposto, aoouvir as pessoas e acreditar que um denós não é melhor que todos nós jun-tos, isso provavelmente é um diferen-cial que fará com que ele seja escolhi-do pelo partido”.É possível detectar a vocação de umapessoa para a liderança ainda na in-fância. “Ao observar crianças em umjardim de infância vemos que exis-tem aquelas que comandam as brin-cadeiras, são crianças com potencialpara a liderança.”O autor aproveita ainda para usar umexemplo de sua vida para mostrar comoos pais podem treinar essa capacidadenos filhos. Maxwell conta que quandocriança via que os amigos recebiam di-nheiro dos pais para fazerem os servi-ços domésticos. Um dia pediu ao paique fizesse o mesmo e recebeu umanegativa como resposta. Seu pai, ain-da, complementou: “serviço domésti-co é sua obrigação apenas por viver emfamília, se fosse para pagar você deveà sua mãe o dinheiro pela hospedagemdurante os nove meses de gravidez,

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entrevista internacional

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Fevereiro / Março 2008 ! Revista Afirmativa Plural 63

John Maxwell

além do sustento que ela te dá”. Toda-via, o pai tomou uma atitude que in-fluenciou em sua educação: começoua pagar os filhos uma mesada por li-vros que liam. “Há alguns anos foipublicada uma lista contendo os 25 li-vros que toda pessoa deveria ler, des-ses, eu havia lido 19, destaca.Apesar de alguns países ainda incentiva-

rem apenas os homens para a liderança,a capacidade para liderar não está condi-cionada ao gênero. As mulheres têm atémais potencial do que os homens para aliderança, pois contam com a intuição.“O líder é aquele que vê mais que osoutros, tem um olhar mais amplo e en-xerga primeiro. Em termos de intuiçãoas mulheres estão em vantagem”.

Formado em teologia, a vocação deMaxwell começou com o treinamentode líderes evangélicos nas igrejas de suadenominação. “Eu me formei pastor.Durante 25 anos, acompanhei o cres-cimento dessas igrejas e comecei a es-crever livros para ensinar aos pastorescomo liderar.”

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mercado de trabalho

Por: Reinaldo Polito, mestre emCiências da Comunicação, palestrantee professor de expressão verbal

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Quase todas as atividades profissionaisexigem comunicação eficiente e desem-baraçada. Quem não sabe se comuni-car tem suas chances reduzidas paraobter sucesso na carreira.Nem sempre foi assim. Quando come-cei como professor dessa matéria, sabe

o que algumas pessoas diziam sobrequem falava em público? Isso é coisade gente metida, vaidosa, que quer apa-recer. Principalmente quem falava maltinha essa opinião.Com a abertura política do País e aconseqüente abertura econômica, o

mundo corporativo teve de se movi-mentar. Não só os políticos, advoga-dos, professores, religiosos e mais umaou outra atividade precisavam falardiante de grupos, mas sim profissio-nais de todas as áreas.Com a chegada das grandes empresas

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Fevereiro / Março 2008 ! Revista Afirmativa Plural 65Fevereiro / Março 2008 ! Revista Afirmativa Plural 65

mercado de trabalho

estrangeiras, especialmente as ameri-canas, falar bem passou a ser sinôni-mo de lucro. A experiência dessas or-ganizações dizia que o executivo quese expressa bem em público conse-gue transmitir a mensagem de formamais clara, mais direta, mais assertiva,

mais persuasiva.A partir daí houve uma verdadeira re-volução nos hábitos das organizações.Os executivos que até então saíam daminha escola com o livro de oratóriaencapado, para que ninguém soubesseque eles estavam fazendo um curso

para aprender a falar melhor, passarama dar destaque a essa preparação emseus currículos.Houve um caso marcante que foi odivisor de águas na tomada de cons-ciência sobre a importância de o exe-cutivo falar bem em público. Esse fato

Reinaldo Polito

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mercado de trabalho

66 Revista Afirmativa Plural ! Fevereiro / Março 2008

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Quase todas as atividades

profissionais exigem comunicação

eficiente e desembaraçada. Quem

não sabe se comunicar tem suas

chances reduzidas para obter

sucesso na carreira.

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realmente provocou um alvoroço nascorporações.No comecinho dos anos 1980, PeterSchrer, que era o presidente da Kibon,deu uma entrevista à revista “Exame”dizendo como conseguiu sucesso emsua carreira profissional.Ele contou que, ao participar de umworkshop nos Estados Unidos, pro-movido pela General Foods, aprovei-tou para conversar com os psicólogose fazer uma avaliação das suas com-petências. Aconselharam-no a procurarprofissionais que pudessem ensiná-loa falar bem em público, pois precisa-va aprimorar sua co-municação.De acordo com seu re-lato, ao retornar aoBrasil optou pelo nos-so curso. Revelou à re-vista que em poucas se-manas aprendeu a or-ganizar o raciocínio deforma lógica, estrutu-rada e concatenada, aparticipar com maiseficiência das reuniões,a falar de improviso, afalar com desenvoltu-ra e desembaraço.A reação do mercadofoi surpreendente. Finalmente um dosmais destacados executivos do País re-velava sem constrangimentos em en-trevista para uma revista do porte daExame que freqüentara uma escolapara aprender a falar bem.Pouco tempo depois, Léo WallaceCochrane Júnior, que era o vice-presi-dente do Banco Noroeste e presidenteda Febraban, deu entrevista semelhan-te ao jornal “Folha de S.Paulo”. Tam-bém nesse caso contando, com deta-lhes, como foi parar na nossa escola.

Esses depoimentos de executivos bem-sucedidos tiveram o mérito de rompercom aquele preconceito velado quedesmotivava as pessoas a procurar aju-da para aperfeiçoar a comunicação.Embora a história do aprendizado daarte de falar em público tenha se trans-formado nos dias de hoje, ainda hápessoas que não atentaram para a im-portância da boa comunicação oral.Talvez você mesmo nunca tenha pen-sado na seriedade deste assunto, masnão há alternativa: para se sair bem emqualquer carreira que tenha abraçadoé essencial que saiba falar bem. Trata-

se de uma habilidade tão importanteque sem ela você não conseguirá valo-rizar tudo o que aprendeu estudandoou trabalhando.Vamos imaginar que você ainda estejaestudando e graças a um bom “paitro-cínio” consiga se dedicar apenas à vidaescolar - se pensa que vai poder ficarcom a boquinha fechada o tempo todo,está muito enganado.Cada vez mais as escolas exigem queos alunos apresentem oralmente seustrabalhos, e, se a comunicação for de-

ficiente, poderá até comprometer anota de avaliação. Significa que já aodar os primeiros passos a comunica-ção tem de funcionar.Agora vamos supor que já tenha deixa-do de engatinhar e que esteja procuran-do um emprego. Piorou! Você vai par-ticipar de dinâmicas de grupo, entre-vistas e para ter sucesso dependerá es-sencialmente da boa comunicação.Ufa! Conseguiu se encaixar no merca-do de trabalho, agora é relaxar. Quenada! Quanto mais você crescer nahierarquia da empresa, mais depende-rá da eficiência da sua comunicação.

À medida que for seaproximando dotopo da pirâmide,mais participará dereuniões, de proces-sos de negociação,fará apresentaçõesde projetos, de pla-nos de trabalho -sempre falando esendo avaliado pelasua comunicação.E atenção para estanotícia importante:se não fizer exposi-ções orais de boaqualidade, perderá as

posições que conquistou ou, no míni-mo, não continuará crescendo.Enfim, qualquer caminho que tenhaescolhido ou venha a escolher sempredependerá da boa qualidade da comu-nicação para progredir e se realizar.Mais cedo ou mais tarde, e, com certe-za, muito mais cedo do que imagina,você precisará estar com a comunica-ção bem afiada.Por isso, não espere mais para aperfei-çoar essa competência tão importantepara sua carreira e para sua vida.

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mercado de trabalho

gerenciamentoarreira:

Por : Dinamar Makiyama,diretora do grupo Makiyama deselvolvimento

e

Para que possamos refletir sobre esteassunto faz-se necessário que façamosum retrocesso no cenário do mercadode trabalho das duas últimas décadas.Há duas décadas nossas empresas es-tavam em uma posição de “conforto”no que tange a concorrência no mer-cado internacional, a maioria de nos-sas empresas traçavam um caminho debusca do seu diferencial de negócioem preço, produtos exclusivos, estrutu-ra física diferenciada e localização estra-tégica, quem não se lembra das grandesfilas para comprar em estabelecimentosque tinham poder de negociação e as-sim conseguir grandes lotes de produ-tos por preços menores e com isto re-

alizar grandes vendas promocionais emque até se fazia necessário definir o nú-mero mínimo de compra(s).Quem desta geração que não se lem-bra dos passeios de domingo com afamília para conhecer as grandes lojas,muito bem estruturadas e muito bemlocalizadas.O papel desempenhado pelos profis-sionais neste cenário resumia-se aapoio, pessoas eram vistas como “Re-cursos Humanos”.Recurso este capaz de apoiar, tornarpossível o negócio, porém sem a ne-cessidade de participar da estratégia donegócio, papel operacional.“Não precisa pensar, precisa saber fazer”.

Mas, as situações mudaram, a políticamudou, nosso país mudou e como con-seqüência desta mudança vieram aabertura de mercado, ampliou-se a con-corrência, chegaram empresas fortes ecom capacidade de impactar em nossomercado, a concorrência ficou muitomais acirrada e foi preciso rever con-ceitos e reavaliar a estratégia.Os diferenciais do negócio como pre-ço, estrutura e localização caíram porterra, a concorrência ganhou força, po-der de negociação, as margens e a lu-cratividade reduziram, a exclusividadequase desapareceu. A localização deixoude ser um diferencial, grandes shoppingsse instalaram e muitos concorrentes

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mercado de trabalho

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Dinamar Makiyama

passaram a conviver lado a lado, novasestratégias de negócio foram desenha-das com o objetivo de se manter no mer-cado e os fatores antes consideradoscomo diferenciais deixaram de ser. Re-cursos Humanos ganham um novo pa-pel dentro das organizações, pessoasdeixam de ser apoio e passam ser dife-rencial competitivo, percebe-se que se-rão as pessoas certas nos lugares certosque farão a diferença neste novo mer-cado competitivo.Os olhos do mercado se voltam paraas pessoas e para suas competências,as empresas reavaliam suas descriçõesde cargo, definem novas estratégias, le-vantam as competências necessáriaspara realizar tais estratégias, redefinemos perfis dos profissionais que devemfazer parte de suas equipes.Surge por volta da última década umagrande quantidade de vagas disponíveisno mercado e um número altíssimo decandidatos que não atendem o perfilexigido.Há boas vagas, há candidatos, porémnão há candidatos que atendam ao per-fil solicitado.Não se investiu em educação, não seinvestiu em treinamento, não se inves-tiu em formação técnica e não se in-vestiu em capacitação. Quem não in-vestiu? Todos não investiram, empre-sas e governos, a sociedade não inves-tiu em nenhum destes itens.Diante desta realidade e da urgência dese resolver a situação, algumas empre-sas que queriam estar à frente no mer-cado juntamente com suas áreas inter-nas de Recursos Humanos, assumirampara si a tarefa de desenvolverem com-petências e investirem no desenvolvi-mento de seus profissionais.Áreas de T&D (Treinamento e De-senvolvimento) ganharam destaque

dentro das organiza-ções. Consultores eempresas focadasem desenvolvimentode talentos tiveramum boom no merca-do, programas detrainee foram conso-lidados em quase to-das as grandes orga-nizações.Na maioria não foia melhor solução oua solução ideal, masfoi a solução encon-trada no momento.Hoje nos depara-mos com um cená-rio um pouco maisfavorável, porémnossas decisões dopassado nos trouxe-ram algumas conseqüências.Muitos profissionais que hoje estão nomercado ou que estão entrando, se en-cantam com as empresas que assumempara si a responsabilidade sobre o de-senvolvimento do profissional, assu-mindo uma posição cômoda e confor-tável sobre o gerenciamento de suaprópria carreira.Esta transferência de responsabilidadeleva o profissional “empregado” a sesentir muitas vezes em uma zona deconforto porque conseguiu fazer par-te de uma grande ou boa organização.É necessário repensar ou já pensarquando se conquista a vaga ou quandotemos expectativas de crescimento pro-fissional, que precisamos assumir onosso próprio desenvolvimento, nãopodemos esperar que nos carreguempela mão e nos dêem o direcionamento,precisamos assumir as rédeas de nos-so desenvolvimento e de nossa carrei-

ra e para isto faz-se necessário plane-jar onde se quer chegar e não ficar àmercê das possibilidades de desenvol-vimento oferecidas pelas empresas.Conhecer-se mais profundamente, ana-lisar o perfil pessoal x profissional, per-ceber e reconhecer esta intima ligação,identificar o ponto inicial. Projetar o quese quer em função não só do desejo, mastambém da análise do cenário externo,das oportunidades e das tendências domercado, definir as ações necessáriaspara alcançar os objetivos traçados, cur-sos, especializações ou até um novoemprego e realizar um processo cons-tante de auto-avaliação. E, através desteauto conhecimento, determinar o cami-nho profissional a ser seguido.Mudar o olhar em relação à organiza-ção, vê-la como agente de oportunida-des e apoio, nunca como único respon-sável pelo seu futuro e por seus sonhosprofissionais.

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mercado de trabalho

esiliência:é possível suportar

adversidades e

trabalho?noPor: Ricardo Piovan, consultor organizacional

rNa frase “A dor é inevitável. O sofrimen-to é opcional” de Carlos Drumonnd deAndrade define sabiamente o sentimen-to que está por detrás da resiliência. Sa-bemos hoje que o ambiente corporati-vo, muitas vezes de forma insana, exi-ge metas complexas, acúmulo de tra-balho baseado na lei de fazer mais commenos, sem contar com os proble-mas econômicos que interferem nosrecursos necessários para executar-mos nossas tarefas. Mas aí vem a lu-

cidez poética de Drumonnd, ondefica claro que muitas vezes não po-demos evitar estes problemas, maspodemos declarar intimamente quenão iremos sofrer com este processoe sim utilizá-los como desenvolvi-mento pessoal e profissional.Conta a história que um homem todosos dias ia até uma padaria para comprarseu café da manhã, e sempre era recebi-do com tratamento grosseiro e rudepelos atendentes, mas ele retribuía com

um sorriso e agradecia imensamente osserviços prestados. Um dia um amigopresenciando a cena questionou o cole-ga, perguntando como ele pode ser tãopolido e amigável perante aquela situa-ção. Nosso resiliente professor respon-deu prontamente: “Não quero que elesdecidam o meu estado de espírito”.Este é o centro da questão, não pode-mos permitir que pessoas ou fatos de-terminem o nosso estado emocional.Na história acima vimos claramente o

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mercado de trabalho

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Ricardo Piovan

poder que muitas vezes entregamos aooutro, oferecendo a eles a decisão decomo devemos nos sentir. Este poder émuito grande para ser dado às pessoas,e a única forma de mudar este compor-tamento é exercitá-lo ao inverso, man-tendo este poder consigo e não permi-tindo perder seu controle emocional.Precisamos compreender também queas pressões e problemas no trabalho nosdesenvolvem, tornando-nos pessoascom mais recursos e experiência para

suportar novos desafios ainda maiscomplexos. No tempo dos nossos paisnão havia tanta concorrência, comoenfrentamos hoje, portanto aquela épo-ca não exigia que eles buscassem o cons-tante desenvolvimento pessoal e profis-sional. Hoje a história é completamentediferente, precisamos ler constantemen-te e participarmos de palestras e treina-mentos para nos tornarmos pessoas me-lhores e com mais recursos.Há um bom tempo fiz um treinamen-

to sobre como “transcender os seus li-mites”, e uma frase me marcou inten-samente: “Deus abençoe meus concor-rentes, pois eles me fazem buscar oconhecimento para superá-los”.Ser resiliente, portanto, é ter o controleemocional perante as adversidades, nãopermitindo que os acontecimentos e atémesmo as pessoas ditem o seu estado dehumor. Ser resiliente é superar as dificul-dades e fazer delas o combustível paranos tornamos melhores e melhores.

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empreendedorismo

No período da escravidão no Brasil,não era raro – visto os relatos de his-toriadores – o abuso sexual sofridopelas mulheres negras. Tongo, um ho-mem bravio, foi o escravo que adotouna senzala o filho (ou a filha, um deta-lhe que o tempo talvez não esclareça)da tataravó de Ana Paula, violentadadurante este momento perverso doPaís. Tongo deu o nome à criança e tam-bém ao sobrenome de várias gerações.Esta e outras histórias são contadas portios e avós de Ana Paula Tongo que,disposta a não perder o contato comseus ancestrais, ouve atenta àqueles quepodem lhe oferecer uma referência his-tórica. Para ela, “reconhecer-se no tem-po é sinônimo de crescimento”.Aos 30 anos, Ana Paula parece ter cres-

cido rápido. É diretora comercial daBitável Tecnologia, empresa que fun-dou com o irmão Flávio em 1999, ediretora de tecnologia do Centro dasIndústrias do Espírito Santo – Jovem(Cindes-Jovem), cujo objetivo é de-senvolver o empreendedorismo nosjovens. E mais, foi convidada recen-temente para ser conselheira de Ino-vação Tecnológica da Federação dasIndústrias do Espírito Santo.As conquistas começaram no Morro daCapixaba, em Vitória, Espírito Santo,onde nasceu e morou até os 17 anos.Ciente da falta de dinheiro para “extra-vagâncias”, aos 12 anos saiu para ven-der cocada e ganhar dinheiro para ir aum parque de diversões. Nascia aí umavisão empreendedora.

No Ensino Médio, fez simultaneamen-te o Magistério e o Curso Técnico deMetalurgia, no Centro Federal de Edu-cação Tecnológica do Espírito Santo,antiga Escola Técnica Federal do Es-pírito Santo. “No primeiro, estudava demanhã e no outro à noite. Tinha as tar-des para estudar para ambos”, conta.Fez Turismo na graduação. Logo noprimeiro ano do curso entrou para aAiesec, maior organização formadapor jovens universitários de todo omundo. Foi durante dois anos coor-denadora do Programa Internacionalde Aprendizado de Línguas, que se-gundo ela, “era um projeto ousado,com objetivo de fazer o intercâmbioentre estudantes brasileiros e estudan-tes de língua inglesa”.

cocadaadoftware

Por: Ana Luiza Biazeto, especial para Afirmativa Plural

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empreendedorismo

Ana Paula, após planejar e executar oprojeto, foi uma das universitárias a sairdo País para estudar inglês. Passou doismeses em Quebec, no Canadá. “Nasminhas condições financeiras não te-ria como fazer esta viagem. Percebi,então, que era possível determinar umameta e alcançá-la”.Os méritos continuavam a aparecer-lhe.Ao retornar do Canadá, tornou-se di-retora de marketing da Aiesec da suacidade e estagiou numa agência de via-gem, de onde saiu para ingressar nocheck-in da TAM.Ainda na universidade, optou por afas-tar-se da empresa aérea para dedicar-se à bolsa de um ano de iniciação cien-tífica do Conselho Nacional de Desen-volvimento Científico e Tecnológico(CNPq), através da qual estudou a re-lação entre o Turismo e a Internet.

Protótipo em vigor

Da criatividade, disposição e de parce-rias com alunos e professores do cur-so de Ciências da Computação, surgiuo protótipo do Bitável Gerenciador deProjetos, Obras e Serviços, um dosprodutos da Bitável Tecnologia, que éum software utilizado por clientes detodas as áreas.O software permite ao cliente daBitável Tecnologia acompanhar on-lineo desenvolvimento de projetos, obras,serviços e processos de venda ou com-pra. Ao fornecedor do serviço é possí-vel planejar, controlar e atualizar infor-mações sobre a execução de projeto,serviço ou venda. “Os benefícios sãotransparência, comodidade ao cliente,redução de custos e aumento de con-trole”, explica a diretora comercial eenfatiza que “além do gerenciador on-line, a Bitável desenvolve hospedagemde sites, oferece treinamento e cursos

na área de gerenciamento de projetos.Além disso, faz softwares por enco-menda, sob medida, de acordo com anecessidade e realidade do cliente”.Para este ano, uma nova conquista. “ABitável ganha uma filial em São Pau-lo”, comemora a diretora e acrescentaque “parceiros comercial e técnico sãobem-vindos e podem fazer cadastro nosite da empresa”.Por vezes, os irmãos e sócios Ana Paulae Flávio Tongo, engenheiro eletricista,encontravam durante a prospecção declientes a nítida certeza do racismo bra-sileiro. “Já causamos impacto nos clien-tes, por vender um trabalho intelectual

Informações sobre a empresa:http://www.bitavel.com/

e não operacional, onde o negro aindaé comumente encontrado. Às vezes per-guntavam se éramos representantes daempresa”, diz a empreendedora.Um pouco além do que imaginavam ospais, a pedagoga e o sargento aposen-tados, que não sabiam onde a caçulapoderia chegar, Ana Paula traça e cum-pre objetivos fundados na força damulher negra. Certamente, a realezavinda da tataravó, aquela que com oapoio do escravo Tongo transmitiu nosangue a força do povo negro.

Ana Paula

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empreendedorismo

o fro-é a minhaachaçac

empreendedorismo“a

só com o estudo é possível ficar equilibrado nagangorra que é o mercado empreendedor”

Por: Ana Luiza Biazeto, especial para Afirmativa Plural

Empreender ainda não é um hábitocomum a todos os brasileiros, a nãoser que a escola desta “arte” esteja den-tro de casa. Mário Nelson Carvalho,presidente da Gomes Carvalho e Cons-truções Ltda, aprendeu a empreender.Ótimo observador viu o empenho dopai - comerciante da lavoura do fumo- e da mãe - que trabalhava na confec-ção de roupas - nos trabalhos que ge-riam, em São Gonçalo dos Campos,

(cerca de 100 quilômetros de Salvador),onde ficou até os 16 anos.Com o pai notou que uma das vanta-gens de ser empreendedor é determi-nar os próprios projetos, mas tambémpercebeu tantas outras responsabilida-des, como trabalhar com a previsibili-dade e organização. “Na lavoura, meupai esperava tanto o sol quanto a chu-va e a cada ano o clima poderia mudare ele deveria ter alternativas para o plan-

tio. Por isso, é fundamental viver hojee estar conectado com o que está porvir”, explica.Através desta cultura familiar, Carva-lho sempre almejou ser dono do pró-prio negócio e sabia, de acordo com aorientação dos pais, que isto se torna-ria mais viável através dos estudos. Fezo Ensino Médio no Colégio Central,escola pública de Salvador, graduou-seem Economia e fez diversas pós-gra-

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empreendedorismo

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Mário Nelson

duações, de Engenharia Econômica aPsicologia do Trabalho, dentre outras.E é com esta experiência acadêmica queele garante que “só com o estudo épossível ficar equilibrado na gangorraque é o mercado empreendedor”.No tradicional Grupo Góes Cohabita,em Salvador, ficou durante 25 anos.Começou como estagiário e chegou atéa direção. Este caminho percorrido foiprimordial para adquirir experiênciasna construção civil e partir para o pró-prio empreendimento, a Gomes Car-valho e Construções Ltda, inauguradaem 1995 em Brasília e Salvador.

Afro-empreendedorismo

De acordo com Carvalho, o empreen-dedorismo surge de uma questão cul-tural, que se manifesta de formas dis-tintas: nas famílias de origem européia,as crianças discutem o assunto, são in-centivadas a tal, e nas famílias negras adiscussão maior é como arrumar umemprego. “Nós temos competênciapara além de conseguir um emprego.Podemos empreender, somos criativose a comunidade jovem negra precisasaber disso”, alerta.Uma das maiores missões da Associa-ção Nacional dos Coletivos de Empre-sários e Empreendedores Afro-brasi-leiros (Anceabra), na qual Carvalho édiretor institucional, é chamar a aten-ção para a classe empreendedora ne-gra que sai da universidade rumo aomercado de trabalho, vinda, por exem-plo, da Unipalmares e das universida-des federais.“Nós queremos participar de todas asáreas, inclusive da economia e do PIBbrasileiro, e para isso precisamos doapoio de órgãos institucionais e da cria-ção de medidas específicas que estimu-lem o negro a empreender, que incen-

tivem o afro-empreendedorismo”.Além de ampliar a visão empreende-dora nas famílias e jovens negros, ou-tra alternativa para esta população é de-senvolver nos alunos dos ensinos In-fantil e Fundamental um conjunto decompetências que os tor-nem capazes de tomardecisões, traçar planos eorganizar os recursos ne-cessários para chegaremao sucesso. “Não adiantaensinar este universo dosnegócios somente dentrodas escolas particulares,afinal, as crianças negrasgeralmente estão no en-sino público”, alerta.De forma didática, Car-valho distingue o empre-endedor do empresário:“o primeiro executa ouparticipa da execução doprojeto, ele faz; o outro,administra recursos hu-manos e materiais, elefaz fazer.”Segundo o presidente daGomes Carvalho, o em-preendedorismo sempreexistiu, no entanto era um “branco-empreendorismo”. “O dono da oficinamecânica nunca foi visto como empre-endedor, nota-se que ele normalmenteé negro. Já o dono da padaria, um bran-co, é considerado como tal”, atenta.Há 15 anos Mário Nelson discute esteassunto e diverte-se dizendo: “o afro-empreendedorismo é a minha cachaça.”

Hotelaria do baiano

As políticas afirmativas para o afro-em-preendedorismo já começaram no tu-rismo de Salvador. Está em andamen-to o Receptivo para o Afro-turista

(Reatur), da Gomes Carvalho e Cons-truções Ltda. “O objetivo é que afro-empreendedores desta cidade predomi-nantemente negra construam hotéis epousadas com qualidade, luxo, digni-dade e que recebam o turista com a

nossa alegria baiana”, diz ele, que pre-tende atuar no Turismo de Hotelaria.Segundo ele, o Reatur é uma necessi-dade de mercado, pois a hotelaria deSalvador segue os modelos europeu eamericano e não tem o perfil do povobaiano. Além disso, a iniciativa tam-bém será uma oportunidade para opovo negro.Enquanto empreendedor e militantena questão racial, aos 60 anos, Carva-lho vive as vitórias do negro, exalta efaz crer que “as conquistas deste povosão irreversíveis e nada e ninguémpoderá detê-las”.

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política

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Por: Michael Kepp,jornalista

egroum

egrocasana

branca

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política

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Alguns amigos brasileiros me pergun-taram recentemente de que maneiraBarack Obama poderia ter chancesgrandes de se tornar o próximo pre-sidente dos Estados Unidos, em umasociedade racista na qual os negros sãouma minoria da população (13%). Aquestão me fez perceber que a com-plexa sociedade norte-americana nãoé fácil de compreender, para os estran-geiros. Se, como diz Jobim, “o Brasilnão é para principiantes”, tampoucoo são os EUA.Ao contrário do Brasil, respondi a es-ses amigos, os negros e brancos norte-americanos tendem a manter a distân-cia, socialmente. Eles não interagemmuito, seja nos ônibus ou nos bares,raramente formam amizades inter-raciais e há poucos casamentos mis-tos. Por quê? Uma história de segre-gação racial e mútuo preconceito osmantém separados. Mas, ao mesmotempo, os ambientes de trabalho norte-americanos estão se tornando mais emais integrados.Desde o movimento pelos direitos ci-vis, nos anos 60, os negros dos EUAmelhoraram sua situação econômicae formaram uma robusta classe mé-dia. Isso permitiu que atingissem po-sições de poder — como governado-res de Estados ou presidentes de em-presas — anteriormente reservadasaos brancos. À medida que os bran-cos transferiam poder à classe médianegra, ao longo dos últimos 40 anos,eles começaram a se sentir mais con-fortáveis com essa transferência —sobretudo quando os negros que re-cebem o poder se sentem confortá-veis consigo mesmos.Obama é um desses negros. O movi-mento pelos direitos civis também obeneficiou, embora ele não provenha

de suas fileiras. E porque ele não em-prega a retórica veemente desse movi-mento, não parece ameaçador aos bran-cos. Essas razões explicam por que eletem o apoio não só de muitos eleitoresbrancos como de líderes de seu parti-do no Senado, onde ele está há apenastrês anos.Uma das razões para que Obama te-nha vencido a primária de seu partidoem Iowa, Estado com população 98%branca, e para que ele tenha quase der-rotado Hillary Clinton nas primárias deNevada e New Hampshire, onde a com-posição demográfica é semelhante, é ofato de ele próprio não dar destaque aofator raça. Só na Carolina do Sul, ondeos negros são 50% do eleitorado do seupartido, a raça influenciou sua esmaga-dora vitória.Porque Obama passou parte de sua in-fância na Indonésia, ele não é cego àmaneira pela qual outros povos enxer-gam os EUA. É por isso que se opôs àguerra no Iraque bem antes que ela seiniciasse. É por isso que ele deseja sua-vizar as divisões dentro do país e aque-las entre os EUA e o resto do mundo,pondo fim à guerra. Sua visão multi-cultural faz dele o perfeito arauto des-sa mensagem inspiradora.De certa maneira, Obama é o SidneyPoitier da política norte-americana.Poitier foi o primeiro ator negro a es-trelar em papéis criados deliberada-mente para desafiar os estereótipos ra-ciais. Em “Adivinhe Quem Vem paraJantar”, filme de 1963, ele interpreta ummédico que supera as objeções dos paisda mulher com quem pretende se ca-sar. Como? O fato de que ele tenhaestudado em Harvard e planeje tra-balhar com os pobres ajuda (foi isso,aliás, que Obama fez ao se formar emHarvard). Mas o principal motivo para

que os conquiste é a maneira pela qualse define. Como ele diz ao seu pai, umhomem de classe operária: “Você sedefine como homem de cor, e eu medefino como homem”.Obama é um dos muitos negros apre-ciado pelos brancos (e por pessoas deoutras raças) porque desafia os estere-ótipos raciais. Outro exemplo é ChrisRock, humorista que permite aos bran-cos rir sobre a cultura negra enquantoao mesmo tempo conta piadas quepermitem aos negros rirem sobre a cul-tura branca. Outro caso é o de MorganFreeman, que sempre encarna perso-nagens dignos, e interpretou Deus em“O Todo-Poderoso”, filme de 2003.Para perceber até que ponto isso re-presenta uma quebra de precedentes,imagine se, no filme “Deus é Brasilei-ro”, também de 2003, o papel do Cria-dor fosse interpretado não por Antô-nio Fagundes mas por um ator negro.Caetano Veloso disse certa vez queNova York não é os EUA, mas que umacidade tão multirracial e multicultural sópoderia existir nos EUA. O mesmo po-deria ser dito sobre Obama. Ele não ésinônimo dos EUA, mas apenas nosEUA, país em que os brancos predo-minam, o racismo tem raízes profun-das e os ambientes de trabalho se tor-naram mais integrados racialmente,um negro poderia ser presidente.

Michael Kepp, jorna-lista norte-americanoradicado há 25 anosno Brasil, é autor dolivro de crônicas ‘So-nhando com Sotaque- Confissões e Desa-

bafos de um Gringo Brasileiro‘ (ed. Record).site: www.michaelkepp.com.brTradução: Paulo Migliacci

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política

A problemática deste artigo se insereno universo das prévias para eleger ocandidato a presidente dos EstadosUnidos pelo partido democrata que irádisputar as eleições presidenciais emnovembro de 2008. Destacamos paraanálise as questões raciais e de gênero,representados simbolicamente peloscandidatos democratas Hillary R.Clinton e Barack Obama.O partido democrata americano passapor um momento de grande euforia

marcado pelas disputas entre o candi-dato e senador Barack Obama e a tam-bém senadora e ex-primeira dama dosEUA Hillary Clinton. Não haverianada de surpreendente nessa disputacaso não fossem observadas duasgrandes particularidades: BarackObama poderá se tornar o primeironegro presidente dos EUA, enquantoHillary poderá se tornar a primeiramulher a ocupar a presidência ameri-cana. Assim, ambos se apresentam

como uma grande novidade para opovo americano.O processo eleitoral dos EUA é muitodiferente do modelo brasileiro. No Bra-sil, com a redemocratização e fim daditadura militar, optou-se pelo pluripar-tidarismo atuante com pelo menos cin-co partidos políticos relevantes, ou seja,neste modelo, vários partidos podemapresentar seus candidatos ao passoque nos EUA o sistema é praticamen-te bipartidário.

Por: Prof. Dr. Almir Volpi,- diretor da Graduação, Extensão e Pesquisa da Unipalmares e Prof. Ms. Fernanda M.F. dos Anjos,coordenadora de Pesquisa da graduação e da pós-graduação da FACCE – UNIMES

questão de raça ou de gênero?

nosleiçõese EUA:

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política

As questões americanassobre raça e gênero

Hillary Rodham Clinton representapara a história da mulher, no geral, epara as relações do gênero femininocom o poder político, em particular,uma conquista sem igual.A História está repleta de exemplos delíderes do sexo feminino. Apenas paralembrar as contemporâneas de Hillary,podemos mencionar a primeira-minis-tra Indira Gandhi, que foi governanteda Índia entre 1966 e 1977 e, depois,de 1980 a 1984, quando foi assassina-da; Golda Meir foi a primeira-ministrade Israel entre 1969 e 1974; MargaretThatcher, a dama de ferro, considera-da a precursora das políticas liberaisque se firmaram internacionalmentedurante os anos 80, governou o ReinoUnido como primeira-ministra por 11anos (1979 a 1990); a primeira repre-sentante do sexo feminino a governarum país de maioria muçulmana foiBenazir Bhutto que assumiu o governodo Paquistão como primeira-ministra de1988 a 1990 e foi assassinada recente-mente em um atentado terrorista.Hillary tornou-se primeira-dama dosEUA em janeiro de 1993, quando Billfoi eleito para o cargo de Presidente daRepública norte-americana. É a senado-ra mais jovem de seu país representan-do o estado de Nova Iorque desde 3 dejaneiro de 2001. Em campanha para ocargo de presidente dos Estados Uni-dos, Hillary representa mais do que umademocrata pleiteando o poder político.O rival de Hillary Clinton nas urnastambém carrega a responsabilidade doineditismo: Barack Obama poderá, sevencer as eleições, tornar-se o primei-ro presidente negro dos EUA. BarackHussein Obama Jr. nasceu em

Honolulu (Havaí) em 04 de agosto de1961. Filho de pai queniano e mãe ame-ricana graduou-se em Ciência Políticaainda no Havaí. Na Universidade deHarvard diplomou-se em Direito em1991. Foi o primeiro afro-americano aser presidente da Harvard Law Review.Entrou para o Senado norte-america-no representando o estado de Ilinóis.Obama é o único senador descenden-te de africano na atual legislatura.

Conclusão

Mesmo que as mulheres tenham che-gado aos mais altos cargos públicos emseus países (Ex: Angela Merkel na Ale-manha; Michele Bachelet no Chile) oumesmo que políticos negros (o que nãoé raro na maioria dos países africanos,exceção feita à presidente da LibériaEllen Johnson Sirleaf que além de mu-lher é negra) tenham ascendido à pre-sidência, essas idéias ganham maior no-toriedade especificamente por se tra-tar dos EUA, o maior e mais bem ar-mado Estado do mundo tanto nos que-

sitos bélicos como econômicos.As divergências centram-se nas politi-cas públicas em relação a saúde, em-prego e na política externa quanto àguerra no Iraque e imigração. Não sedeve esquecer que ambos candidatospertencem ao mesmo partido, portan-to, as macrovisões não devem realmen-te divergir muito.Ainda que as questões de raça e gêne-ro sejam dimensões amplamente rele-vantes para todos, não podemos esque-cer que o arcabouço dessa discussãoservirá apenas durante as prévias paraa escolha do candidato do partido de-mocrata norte-americano. Assim queo escolhido seja definido, o embatepassa do ambiente partidário para oambiente do Estado, ou seja, as ques-tões que até então eram conjunturais einternas ao partido passam a ser estru-turais, que podem produzir mudançasna correlação de forças e nas questõesde “ordem mundial” e aí, a partir denovembro de 2008, saberemos quem seráo futuro presidente norte-americano. !

Fernanda dos Anjos e Almir Volpi

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política

Há quase três mil anos tem-se o regis-tro do primeiro tratado bilateral entrepovos, referente ao acordo de paz en-tre o rei dos Hititas, Hatusil III eRamsés III, faraó egípcio. A partir deentão, três mil anos de civilização, oDireito Internacional evolui e hojeapresenta um aspecto de normativida-de complexa e que procura dar contada diversidade de regimes e interessesdos diversos estados (Resek, 2002).Nesse sentido, o século XX dá um sal-to histórico com a criação da ONU, em1949. Com a codificação do direito dostratados tem-se uma forma de legitimarsua legitimidade. Isso é formalmente ex-presso no Tratado de Viena, 1964.

A geopolítica mundial configuradaprincipalmente sob o signo de estados-nações, efetivamente da primeira me-tade do século XX, se propondo comoforma ideal para a modernidade, per-passa as décadas até o século XXI.Agora, com inspiração da sugestivanova ordem proposta nos anos de1990, com o fim da bi-polarização en-tre os poderes estadudinense e soviéti-co, o capitalismo dá as cartas, inclusiveno que se refere às normatividades ju-rídicas internacionais.Os Estados Unidos anseiam impor anecessidade de uma homogeneizaçãoque leve em conta uma proposta dehegemonia de seus padrões políticos

sobre o globo, do seu ideal econômicocapitalista liberal, da sua concepçãoocidental de democracia e da dissemi-nação, enfim, do seu modo de vida. Opoderio econômico, bélico e a indús-tria cultural dos Estados Unidos lhesgarantem uma forma de negociar comvantagem junto aos organismos inter-nacionais, quando não impor seus inte-resses. Informalmente faz valer se modusvivendi, usando termo caro ao direito.Por outro lado, outras nações, de algu-ma forma, e de maneira mais local, la-butam por sua auto-afirmação e aspi-ram uma posição de império. O globoé potencialmente uma colônia.O advento de uma superpotência eco-

e o direito

Omperialismoiinternacional

Por: Vânio Flávio Dias Ferreira, mestre em Ciências Sociais e professor da Unipalmares

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política

nômica e militar com líderescom síndrome de Alexandreculmina, não obstante os pro-tocolos e as observações de trâ-mites legais e diplomáticos eainda negociações diversas ecomplicadas, no medo e numacriatividade cruel de resistên-cia: o terrorismo. O terrorismoislâmico é a forma mais visívele anunciada porque é tambéma mais resistente e organizada.Tem em pauta uma éticafundamentalista-religiosa queremete a outras, étnicas e polí-ticas. E, a rigor, salvo nossa ig-norância, há uma inoperânciajurídica eficaz que concilie es-sas diferenças, o que é natural diantede uma força invisível.O ataque terrorista à ilha de Manhattan,nos Estados Unidos em setembro de2001, é citado em exaustão e é umaimagem afixada em nossas mentes pelopoder dos audiovisuais. Inconteste quejá é um marco histórico dos mais rele-vantes. Através da mídia construiu-seuma comoção mundial. Um ato de ex-trema barbárie. Claro que diante das ví-timas é um episódio lamentável, po-rém foi supervalorizado e tornou-seum grande pretexto para legitimar apolítica intervencionista e bélica daterra do Tio Sam.A eliminação das Torres Gêmeas éexemplo de uma criatividade de resis-tência pautada no terror. Um ato plane-jado meticulosamente onde o maior in-vestimento, além da energia pensante,foi a própria vida dos militantes islâmi-cos, que serão resgatados, segundo suaprópria crença, em uma outra dimen-são, onde serão felizes e recompensados.O Iraque do ex-ditador SaddamHussein, executado por enforcamen-

to, cujo procedimento do julgamentofoi questionado no mundo inteiro, tam-bém se incluiu no eixo maligno no indexbushiano. A intervenção dos EstadosUnidos e Grã-Bretanha no Iraque nãofoi consenso quanto à validade, à ne-cessidade e nem mesmo quanto à legi-timidade. A Carta das Nações Unidasde 1945, que reza a necessidade deaprovação de um Conselho de Segu-rança é violada. Segundo o KoffiAnnan, em entrevista à rádio BBC,divulgada por vários órgãos da impren-sa no Brasil, a invasão foi mesmo ilegal:“Eu tenho indicado que ela (a invasão)não está em conformidade com a carta(de normas) da ONU do nosso pontode vista, e, do ponto de vista da carta, elafoi ilegal”, disse ele. Annan ressaltou quea decisão de realizar qualquer ação con-tra o Iraque deveria ter sido tomada peloConselho de Segurança da ONU, nãounilateralmente por um estado-membro,como os Estados Unidos.“Eu sou um daqueles que acredita quedeveria ter havido uma segunda reso-lução, porque o Conselho de Seguran-

ça indicou que, se o Iraquenão colaborasse, haveria con-seqüências”, explicou.Também está previsto nasconvenções de Haia, 1907, odireito de isenção do conflito,ou seja, neutralidade. Comprepotência, foi declarado pe-los aliados: “quem não estáconosco, contra nós estão”. Sóum estado poderoso e que sesabe poderoso ousaria tal afir-mação. O que isto significa noâmbito do direito e da diplo-macia é subestimado. Embora odireito à neutralidade tem pre-valecido, a maioria dos casos,por certo, foi uma neutralidade

passiva, sob medo e sob tensão.A guisa de opinião, notamos que, dian-te dos conflitos de interesses que pau-ta a história da humanidade, o direitosurge como forma de regulamentaresses conflitos, através dos seus instru-mentos convencionais. É uma propostade convergir. No entanto não é um ins-trumento com força absoluta, haja vistaa própria dinâmica histórica que fazemergir sujeitos diferentes, com pode-res diferentes. Na época atual não háum instrumento de sansão eficaz emcaso de violações, isso no que tangeaos mais poderosos. Parece semprehaver um limite na jurisdição interna-cional nos diversos âmbitos: na econo-mia, no trabalho, na guerra etc. quesempre esbarra em interesses particu-lares. Daí certa crise da ONU, que nomínimo deve reavaliar seu papel. Qualo verdadeiro esforço quando se pensanuma sociedade internacional, numaunião das nações com tal rol de adesão? Visao bem universal ou é a soma de interes-ses distintos que em última instância pre-valece o bem do mais forte? !

Vânio Flávio Dias Ferreira

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política

adeuso de

idelPor: Humberto Dantas,doutor em CiênciaPolítica pela USP; eSérgio Praça, jornalistae doutorando em CiênciaPolítica pela USP

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política

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O guru do socialismo deixa a cena política, masa cultura gerada em torno de sua aura não seesgotará facilmente.

Sérgio Praça

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Humberto Dantas

Um líder pode ser definido em poucaspalavras. Mas Fidel não pode ser con-siderado um líder qualquer. Longe de serunanimidade, divide as opiniões como aGuerra Fria separou o mundo entre osque o amam e o odeiam. Quem compre-ende a política tem opinião marcantesobre o presidente dos discursos longose do pulso firme. É impossível ser indi-ferente a Fidel Castro.Após 49 anos no poder, o término deseu mandato não ocorreu por moti-vações revolucionárias ou eleitorais. Olíder cubano deixou o comando porquestões de saúde, relacionadas à doen-ça que o afastou do poder há meses. Suaestada à frente da ilha causou colapsos

econômicos. Cuba se orgulha de seus in-dicadores sociais, dignos de respeito, mastransparece a pobreza e uma série de pro-blemas relacionados à liberdade e ao co-mércio clandestino de diversos produ-tos e serviços.A saída de Fidel Castro não parece re-presentar uma mudança radical nos ru-mos da realidade social, política e eco-nômica da ilha. Primeiro porque seu ir-mão Raúl, cinco anos mais novo, foieleito presidente. Além disso, diversos líderes políticos co-munistas defendem os ideais socialistasque parecem habitar Cuba. As alteraçõ-es, se ocorrerem, seguirão o ritmo lentodas mudanças das últimas décadas, que

Um defensor de Fidel enfatizou: Podenão ser sob o conceito liberal, em que aescolha de representantes e a participa-ção da sociedade foram fundadas sobreo princípio da propriedade privada. Masé uma democracia social, onde o acessoaos serviços públicos é garantido de for-ma mais equilibrada e menos desigual?.É possível imaginarmos que a saída deFidel deixará saudades em alguns. Fideltem carisma.E apesar de Max Weber afirmar em suaclássica reflexão sobre os três tipos purosde dominação legítima, que a dominaçãocarismática é a mais difícil de ser transmiti-da, Fidel se amparou em princípios legais,constituídos sobre uma revolução, paratransmitir o comando. A história se encar-regará das mudanças a longo prazo.

manterão o país sob as condições impos-tas por seu principal inimigo político: osEstados Unidos. Nesse, por sinal, Cubavirou tema do debate à sucessão deGeorge W. Bush, e a prepotência imperanas falas de republicanos e democratas.No Brasil, as relações com Cuba devemmanter o ritmo da aproximação dos úl-timos anos, sobretudo no que dependerde Lula e da admiração que o PT guardapelo exemplo hipnótico de Fidel. O gurudo socialismo deixa a cena política, masa cultura gerada em torno de sua auranão se esgotará facilmente. Para que te-nhamos uma idéia de sua presença, emum recente curso de formação políticaoferecido a um partido de esquerda, afir-mamos que Cuba não era uma nação de-mocrática do ponto de vista político.

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turismo

Área de tradição no samba carioca, aPedra do Sal, no pé do morro da Con-ceição, região portuária no centro doRio de Janeiro, vem experimentando

uma nova onda de rodas de samba coma presença de jovens sambistas que dãocontinuidade à história daquele peda-ço do Rio Antigo que muito conta so-

bre a presença negra na cidade de SãoSebastião do Rio de Janeiro.Pesquisador dedicado da Música Po-pular Brasileira e das culturas resultan-

no centro do

pedra do sal,pequena áfrica

rioencravada

Por: Juçara Braga, especial para Afirmativa Plural

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turismo

tes da diáspora africana, o escritor ecompositor Nei Lopes refaz a trajetó-ria de homens e mulheres que deramforma ao samba urbano do Rio, sendoboa parte dessa história desenrolada naárea onde está encravada a Pedra do Sal.Ali, no trecho que se estende da Pedraà Praça XI, na Cidade Nova, incluindoos bairros da Saúde e do Estácio, TiaCiata, João da Baia na, Donga, Amor,Mano Elói, Tata Tancredo, Pixinguinha,Aniceto do Império, Sinhô, Heitor dosPrazeres e muitos outros fincaram osalicerces do que, hoje, se denominasamba de raiz. A região – denominadaPequena África pelo jornalista e pes-quisador da MPB Roberto Moura –,segundo Nei, “era repleta de zungus,

casas coletivas ocupadas por negrosescravos e forros”.A expressão informa Nei, teve origemna impressão do compositor Heitordos Prazeres que achava a Praça XI desua época “uma África em miniatura”.É Nei quem refaz, no ótimo livroSambeabá, o samba que não se aprende naescola (Ed. Folha Seca), os calços e per-calços que levantaram os atabaques naregião central do Rio.Baianos do Recôncavo migraram parao Vale do Paraíba na primeira metadedo Século XIX atraídos pelo apogeudo café e, dali foram expulsos pelodeclínio da monocultura por volta de1860. O caminho natural foi a sede doimpério que já servira de destino a ou-

tros baianos “fugidos da forte repressãodesencadeada após a grande insurreiçãode negros mulçumanos (malês) ocorridaem Salvador em 1835”.Tia Ciata (Hilária Batista de Almeida),baiana de Santo Amaro da Purificação,moradora da Praça XI, onde, hoje, háuma escola municipal com seu nome, eraa grande agregadora das rodas musicaisque aconteciam em sua casa, rolandosamba no terreiro e chorinho na sala.Na segunda metade do Século XIX,segundo Nei Lopes, a comunidadebaiana começou a estruturar-se no Rio,ocupando a Pequena África e “dandoorigem a ranchos carnavalescos e ou-tras manifestações tradicionais”.Ali, as rodas eram animadas por per-

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educaçãoturismo

sonagens como Donga, autor de PeloTelefone, primeiro samba gravado emdisco no Brasil. Foi na Pequena Áfri-ca, informa o pesquisador, que se es-tabeleceram os primeiros Candombléscariocas. No livro Guimbaustrilho(Dantes Editora), Nei Lopes observaque a região, na opinião de estudiosos,“funcionava como um grande liquidi-ficador, processando a matéria-primada arte ‘selvagem’ dos negros para serconsumida pelas camadas ‘civilizadas’da sociedade brasileira”.Tata Tancredo, freqüentador da área,nome pouco conhecido pelas novasgerações, segundo Nei, é autor do pri-meiro samba de breque – estilo consa-grado por Moreira da Silva – de que setem notícia, Jogo Proibido. Co-autor do

sucesso carnavalesco General da Banda,Tata fundou a Federação Brasileira deEscolas de Samba e a ConfederaçãoUmbandista do Brasil.Consolidavam-se, na Pequena África,na primeira metade do Século XX, duasmarcas centrais da cultura carioca, osamba e os cultos afro-brasileiros quesedimentaram a multidiversidade daterra de São Sebastião do Rio de Janei-ro. Foi ali também que a culinária deorigem africana deu os primeiros pas-sos na cidade.A Pedra do Sal, ponto de desembar-que de negros africanos, “escravosque garimpavam o sal da Prainha”,na opinião de Nei Lopes, “é um lu-gar místico para a cultura negra e osamantes do samba e do choro e pode

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Pedra do Sal hoje:2a feira – Batuque na Cozinha4a feira – Samba na Fonte (roda de novoscompositores)Rua Argemiro Bulcão, 38, Gamboa, apartir de 18h00Ingresso: gratuito

ser considerada núcleo simbólico daPequena África”.Hoje, o Largo da Prainha abriga as ro-das de samba do bloco carnavalescoEscravos da Mauá e a Pedra do Sal,distante 100 metros, é cenário paranovas rodas com jovens sambistas queresgatam a história daquele pedaço doRio Antigo que muito conta sobre apresença negra na cidade de São Se-bastião do Rio de Janeiro.

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A TV Digital será um importante ins-trumento de inclusão social que che-gará a todos os municípios até dezem-bro de 2013. Hoje, no Brasil, existemcerca de 55 milhões de aparelhos detelevisão com tecnologia analógica, emaproximadamente 43 milhões de domi-cílios. É previsto que dezembro de 2009todas as capitais brasileiras terão canaisdigitais, até porque em junho de 2016o sistema analógico será desativado.Segundo Hélio Costa, Ministro das Co-municações, em entrevista à revistaAfirmativa Plural, todos os brasileiros,pobres ou ricos, terão acesso à TV Di-gital. As emissoras de São Paulo já es-tão transmitindo em sinal digital desdedezembro. O Ministério já consignoucanais digitais também nas cidades doRio de Janeiro e Belo Horizonte. Anova tecnologia digital é superior aomodelo atual, o analógico, tem a ima-gem mais definida, parecida com umatela de cinema, e ainda conta com umsom limpo, sem ruídos. “Este é o ca-minho para o Brasil crescer verdadei-ramente – desenvolver tecnologia na-

cional de ponta com condições de com-petir no mercado internacional”.Afirmativa Plural - Qual é a idéiado senhor sobre a TV Digital?Hélio Costa: À medida que nós con-seguimos implantar a TV Digital noPaís, que começou a funcionar em de-zembro em São Paulo, nós vamos li-berar 10 canais. Esses canais normal-mente são mantidos como reserva nosistema analógico e não vamos maisprecisar deles. Seis serão destinados àTV pública. Já temos a TV Senado; aTV Câmara; a Radiobrás, que é doExecutivo. O projeto está sendo for-matado pela Secom (Secretaria de Co-municação Social da Presidência daRepública). Assim, vamos criar as TVsCultural e da Cidadania, além de umaexclusiva para a Educação. A primeiravai abrigar as TVs comunitárias e uni-versitárias que hoje funcionam em ca-nal pago. Estamos democratizando es-ses canais, que representam diretamen-te a comunidade.Afirmativa - Por que foi escolhido opadrão japonês?

Hélio Costa: Nós fizemos todos ostestes e escolhemos o padrão japonês,pois foi o único que atendeu à exigên-cia do decreto de transferência de tec-nologia, garantia de uma TV aberta egratuita para toda a população, intera-tividade e portabilidade.Além disso, não houve cobrança deroyalties e ferramentas brasileiras foramincorporadas, assegurando assim o de-senvolvimento tecnológico nacional.A decisão passou por um comitê comrepresentantes da sociedade e outrointegrado por onze ministros que sebasearam em pesquisas de 22 consór-cios. Esses consórcios reuniram cemuniversidades, como USP, UFMG eMackenzie, envolvendo mais de miltécnicos, professores, cientistas e en-genheiros.Afirmativa – Quanto foi investido naprodução do software responsávelpela interatividade?Hélio Costa: Investidos R$ 5,7 mi-lhões do Fundo para o Desenvolvi-mento Tecnológico das Telecomunica-ções – Funttel, no desenvolvimento

digitaltvfará inclusão social?

tecnologia

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tecnologia

genuinamente nacional do Ginga,software responsável pela interativida-de do Sistema Internacional de TVDigital. A primeira fábrica brasileiraespecializada na produção do progra-ma já está em funcionamento em JoãoPessoa (PB) e Natal (RN).Afirmativa – Fale sobre as inova-ções que o sistema oferece comoa interatividade, a mobilidade e aportabilidade.Hélio Costa: Na primeira, o cidadãose comunicará com a emissora de TVusando o controle remoto. Ele pode-rá, por exemplo, ver o jogo de futebolpor diversos ângulos no mesmo canal.Ao mesmo tempo, será possível parti-cipar de enquetes, fazer perguntas,acessar e-mails e comprar a camisa do

time sem se levantar do sofá. A TVpoderá ser operada como um compu-tador, com acesso à Internet e, no fu-turo próximo, o telespectador terá apossibilidade de montar a própria pro-gramação. O cidadão deixará de sermero espectador para ser um partici-pante ativo. Quanto à portabilidade emobilidade, com a TV Digital, pode-se ver o mesmo jogo pela tela do celu-lar, sem pagar nada por isso. Tambémé possível assistir à programação emmovimento, no interior de veículos, porexemplo. No futuro, cada celular po-derá ser um receptor móvel de TV Di-gital, com acesso à internet. Num pe-ríodo de 5 a 10 anos, o mercado deve-rá movimentar em torno de R$ 100bilhões em investimentos na substitui-

Hélio Costa, ministro das Comunicações

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ção de televisores, celulares, aparelhosportáteis com TV, sistemas de trans-missão e na produção de conteúdo.Afirmativa – Além da TV Digitalimplantada em 2007, qual outro pro-jeto do ministério?Hélio Costa: A Rádio Digital será de-finida este ano, alavancando a indús-tria e revitalizando todas as freqüênci-as, como a AM. Porém, o que eu con-sidero mais importante é a conexão debanda larga à internet nas 142 mil es-colas públicas federais, estaduais emunicipais. Este projeto começa ago-ra em 2008 e esperamos, em três anos,atingir 90% dos estudantes do ensinopúblico. Ao mesmo tempo, vamos le-var a internet banda larga a todos os5.565 municípios do País.

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plural

Mesmo com a concorrência da celebra-ção dos 100 anos da chegada da famí-lia real, o centenário da imigração ja-ponesa alcançou um destaque surpre-endente na atenção do público e damídia neste ano. Citando apenas algunsexemplos: ganhou uma reportagemespecial de 45 páginas na revista Vejaem dezembro; foi homenageado coma minissérie Haru e Natsu - que conta-va a história da imigração, exibida emhorário nobre na Band - e foi tema deum extenso graf fiti no “Túnel daPaulista”, como é conhecido o Com-plexo Viário Rebouças - Consolação -Paulista, provavelmente o local commaior visibilidade da arte de rua na ci-dade de São Paulo.E não era para menos. Quando o na-vio Kasato Maru aportou em Santos, nodia 18 de junho de 1908, trouxe as 165famílias pioneiras de uma imigraçãoque tornaria o Brasil o país com a mai-or população de japoneses fora do Ja-pão. Hoje, são cerca de 1,5 milhão de

pessoas, das quais 1 milhão vivem noestado de São Paulo.O destino favorito dos japoneses, po-rém, na verdade não era o paraíso quevislumbravam quando passaram doismeses cruzando o oceano, entoando acanção Hotaru no Hikari (“À luz dosvaga-lumes”) e o Hino do Japão. Naépoca, em meio a uma grave crise naeconomia japonesa, cartazes prometiamque os “soldados da fortuna” que vies-sem suprir a demanda por mão-de-obranos cafezais brasileiros acumulariam, em3 anos, fortuna suficiente para retorna-rem ao Japão e abrirem um negócio. Noentanto, ao chegarem, depararam-secom um duro trabalho na lavoura queera recompensado com salários que,descontadas as despesas com a viagem,alimentação e remédios, resultavam emquase nada – isto quando as contas nãofechavam em negativo. Com dívidascrescentes e sem falar a língua ou co-nhecer as leis locais, a situação não eramuito diferente da de escravos.

A situação só melhorou uma décadamais tarde, quando começaram a tra-balhar em “lavouras de parceria”: des-matavam e preparavam para o plantioa terra de um proprietário, ficavam coma primeira colheita e depois a devolvi-am. A partir de então, começaram aconstruir alguma estrutura financeira.Apesar do preconceito por serem es-trangeiros, os japoneses, conhecidospor sua grande disposição ao trabalho,iniciavam uma admirável trajetória deascensão social. Com arraigados valo-res de nacionalismo e família, sonhavamver seus descendentes cursando uma fa-culdade. E tanto fizeram, que consegui-ram: no final da década de 70, os nipo-descendentes eram 2,5% da populaçãode São Paulo, mas representavam 13%dos aprovados na Universidade de SãoPaulo (USP), 16% no Instituto Tecno-lógico de Aeronáutica (ITA) e 12% naFundação Getulio Vargas (FGV).Hoje, as carreiras favoritas escolhidaspelos jovens descendentes são as tradi-

migraçãojaponesa: 100anos de Brasili

Por: Douglas Kawaguchi, especial para Afirmativa Plural

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plural

Mais sobre o Centenário daImigração Japonesa:

Associação para Comemoração do

Centenário da Imigração Japonesa:

www.centenario2008.org.br

Abril no Centenário da Imigração

Japonesa:

www.100anosjapaobrasil.com.br

Aliança Cultural Brasil-Japão:

www.acbj.com.br

Comissão Nacional Organizadora das

Comemorações do Centenário da

Imigração Japonesa no Brasil:

www.japaocentenario.mre.gov.br

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Grupo teatral 1980 em turnê nacional de homenagem ao centenário

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ocionais, como direito, engenharia e me-dicina. A partir dos anos 90, muitos des-cendentes começaram também a reali-zar o fluxo inverso da imigração: partirem busca de melhores oportunidadesna terra do Sol nascente, hoje uma dasmais fortes economias do mundo.No entanto, a inspiradora trajetória desucesso destes imigrantes em terrasbrasileiras está longe de retratar um paíscom igualdade de oportunidades. Bas-ta lembrarmos de um povo trazido aopaís há bem mais que cem anos, e quefoi escravizado, não por uma década,mas por séculos, e que ainda está amilhas de uma situação digna em nos-sa sociedade. Enquanto, hoje, muitosnipo-descendentes buscam oportuni-dades no refluxo imigratório, os afro-descendentes, caso optassem pela mes-ma saída, encontrariam na terra de seusancestrais um continente desolado peloneocolonialismo europeu do séculoXIX – a segunda versão do colonialis-mo que os trouxera como mercadoriapara a América séculos antes, crimepelo qual jamais foram indenizados.De qualquer forma, esperamos queuma terra com tamanha diversidade depovos, raças e origens possa, um dia,oferecer respeito, dignidade e igualda-de de condições a todos eles.

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Agenda CulturalO melhor da programação em artes e cultura

Por Rodrigo Massi - [email protected]

Dando continuidade ao projeto que homenageia es-critores de língua portuguesa, o Museu da Língua Por-tuguesa apresenta a mostra “Gilberto Freyre – Intér-prete do Brasil”, com acervo da Fundação GilbertoFreyre, do Recife. A exposição é um tributo à vida e aobra do escritor, e pensador pernambucano GilbertoFreyre (1900-1987), autor de clássicos como “CasaGrande e Senzala” e “Sobrados e Mucambos”. Onde:

Museu da Língua Portuguesa. Praça da Luz, s/n°. Quando: De terça a domingo, das 10h às 18h. Até 4 de maio. Ingressos: R$4,00 (estudantes pagam R$2,00). Aos sábados a entrada é gratuita. Mais informações: (11) 3326-0775.

“Templos e Palácios Japoneses”. No contexto comemorativo do cente-nário da imigração japonesa para o Brasil, o Governo do Estado de SãoPaulo exibirá mostras e oficinas culturais nas sedes dos três palácios esta-duais: Palácio dos Bandeirantes, Palácio Boa Vista (Campos do Jordão) ePalácio do Horto. A primeira mostra do Projeto Heranças Culturais acon-tece no Palácio dos Bandeirantes. Estão presentes na exposição maquetesde templos e palácios japoneses provenientes do acervo do Consulado-Geral do Japão em São Paulo. Onde: Palácio dos Bandeirantes. AvenidaMorumbi, 4500. Quando: De 5 de março a 08 de junho de 2008. Entra-da gratuita. Mais informações: no site www.acervo.sp.gov.br ou pelotelefone (11) 2193-8282.

Exposições

Cinema

“Santiago”. O documentário de João Moreira Salles, estreado em 24/8/2007, foi realizado a partir de entrevistas feitas com omordomo argentino Santiago Badariotti Merlo, de 80 anos, que trabalhou na antiga residência da família Moreira Salles, na Gávea,no Rio de Janeiro, hoje sede do Instituto Moreira Salles. Onde: Cine Bombril. Avenida Paulista, 2073 (Conjunto Nacional). Sala1. Quando: De segunda a domingo, às 18:20min. Mais informações: (11) 3285-3696. Ingressos: R$ 11,00 (quarta, excetoferiados), R$ 13,00 (segunda, terça e quinta, exceto feriados) e R$ 17,00 (sexta a domingo e feriados).

cultura

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cultura

ercedesprimeira bailarinanegranegranegranegranegra do Teatro

Municipal, éreverenciada noCarnaval carioca

Por: Juçara Braga, especial para Afirmativa Plural

aptista,Com sua história publicada em um li-vro (2007) e sendo enredo do GrêmioRecreativo Escola de Samba Unidos deCubango no Carnaval do Rio de Janei-ro este ano, a bailarina MercedesBaptista, cuja idade é um mistério en-tre 82 e 86 anos, vê consolidado o re-conhecimento ao longo trabalho queprestou à dança afro-brasileira e à afir-mação da cultura negra no Brasil.Nascida em Campos, no norte flumi-nense, Mercedes chegou ao Rio emdata incerta com a mãe, Ignácia, queveio trabalhar como empregada do-méstica. A menina foi matriculada emuma escola, desde então, acalentandoo sonho de ser artista, como narra opesquisador e professor de História daArte da Dança, Paulo Melgaço, no li-vro Mercedes Baptista, a criação da

identidade negra na dança, editado pelaFundação Cultural Palmares.Ainda adolescente, Mercedes come-çou a trabalhar. Passou por uma tipo-grafia, uma fábrica de chapéus e a bi-lheteria de um cinema. Em 1945, elaentrou no curso de balé clássico e dan-ça folclórica do Serviço Nacional deTeatro do Rio. Sua primeira apresen-tação pública aconteceu no TeatroGinástico Português.Dali em diante, a dança seria companhei-ra cotidiana e aliada em sua luta por re-conhecimento. Ela começou a estudarna Escola de Danças do Teatro Munici-pal e a trabalhar no Cassino Atlântico.Em 1947, apresentou-se no Municipalcom o grupo de dança da casa no baléQuebra Nozes. No ano seguinte foi ad-mitida como bailarina profissional no

Corpo de Baile, tornando-se a primeirabailarina negra naquele Teatro.Isto não significava, entretanto, que to-das as portas estavam abertas. Mercedes,segundo relata Melgaço, era discrimina-da e tinha poucas chances de subir aopalco do Municipal. Em função dissocomeçou a abrir outros caminhos. Apro-ximou-se do Teatro Experimental doNegro, criado por Abdias Nascimento,e orientou a organização do balé infan-til organizado por esse grupo. Em 1950,chegou a Nova Iorque com uma bolsapara estudar num centro de pesquisasobre a dança negra.Ao final do período foi convidada paralecionar no México, mas acabou vol-tando ao Brasil em busca de segurançano trabalho de bailarina profissional noTeatro Municipal. Na bagagem trouxe

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cultura

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Mercedes Baptista

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a experiência adquirida no contato comdiferentes vertentes da cultura negra ededicou-se ao conhecimento sobre osrituais afro-brasileiros, começando peloCandomblé.Da mistura do balé clássico e modernocom as danças populares e os rituais re-ligiosos, Mercedes criou sua própriadança afro-brasileira. Em 1952 come-çou a dar aulas e formou seu própriogrupo de dança, apresentando-se em te-atros, cinemas e eventos de Carnaval.O Ballet Folclórico Mercedes Baptistalevou sua arte a váriospaíses da Europa eAmérica Latina. Na dé-cada de 1970, em vôosolo, Mercedes viajouvárias vezes aos EUApara dar aulas de dançae, por fim, criou, no Rio,uma academia de dançasétnicas.Bailarina e coreógrafa,Mercedes criou coreo-grafias para novelas emusicais da televisãobrasileira, montou vári-os espetáculos e levouseu grupo a diversosdesfiles de escolas desamba. Durante muitosanos, a “mãe da dançaafro-brasileira” abraçoue foi abraçada pelo Sal-gueiro onde desfilou ecriou coreografias quemarcaram época. Elacriou também para aBeija-Flor e saiu vitori-osa do Carnaval de 1989com o enredo ...Liberda-de, liberdade, abre asasas sobre nós..., da Im-peratriz Leopoldinense.

Este ano, a Acadêmicos de Cubango,levou a grande dama da dança afro-brasileira para a avenida com o enre-do “Mercedes Baptista, de passo apasso, um passo”. Mercedes emocionouo público e foi ovacionada, mas a Cuban-go, apesar de ter, segundo os críticos,o melhor enredo no grupo de acessoA, não conseguiu o melhor efeito e aca-bou rebaixada para o grupo de acessoB. A falta de recursos teria sido um dosobstáculos da agremiação para desen-volver seu Carnaval.

De qualquer forma, a escola de Niteróimarcou presença na Sapucaí como umaagremiação dedicada à valorização dacultura brasileira. Este ano, como ex-plica o carnavalesco Wagner Gonçal-ves, o objetivo foi “compor uma óperaafro-brasileira” em um contexto per-meado pela “luta em defesa da culturanegra”. A proposta não saiu vitoriosana avenida, mas ganhou o Estandartede Ouro de melhor samba-enredo doGrupo A, concedido pelo jornal OGlobo.

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economia

O Brasil não pode esmorecer na lutacontra a pirataria. É inegável que mui-tos avanços verificaram-se nesse pro-cesso. No entanto, é preciso fazer pre-valecer o marco legal - a lei nº 9.279,de 14 de maio de 1996 -, que reguladireitos e obrigações relativos à pro-priedade industrial. Para melhor com-preender a natureza do ‘inimigo’ a sercombatido, é importante saber quenosso País não se caracteriza comoprodutor de produtos falsificados. Mas

é um grande consumidor. Estima-seque cerca de 80% dos produtos pirate-ados que circulam no mercado brasi-leiro venham da China, Coréia e Para-guai. Fica clara, portanto, a ação prio-ritária para mitigar o problema: fiscali-zação e repressão, começando pela ten-tativa de impedir o ingresso ilegal des-sas mercadorias.Claro que tal tarefa não é fácil nesteBrasil continente, com quase 11 milquilômetros de fronteiras, com sete

diferentes países. Por isso mesmo, noentender da Fiesp/Ciesp (Federação eCentro das Indústrias do Estado de SãoPaulo), também é necessário conferirmais competitividade, em termos depreços, aos produtos, serviços e pro-dução intelectual legais. Esta lição decasa exige a diminuição na carga tribu-tária, com impacto direto no custo daprodução, inibindo o contrabando, estenefasto algoz da economia formal, dasempresas e dos trabalhadores.

Por: Paulo Skaf, presidente da Federação e Centro das Indústrias de SãoPaulo (Fiesp/Ciesp)

competitividade

ressupostospdéticos

e

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economia

O combate ao grave problema deve sereficaz, articulado e capaz, portanto, defazer frente a toda a organização quepermeia esse tipo de crime. Não bastaprender os ambulantes e camelôs não-legalizados que vendem, essa imensagama de itens (eletrônicos, brinquedos,óculos, relógios, dvd´s...), pois essa“mão-de-obra” é abundante e sua subs-tituição dá-se de modo muito rápido.É preciso reduzir a relação custo-bene-fício da compra de um produto pirata.Outra medida na luta contra a pirata-ria é a mobilização da sociedade, poisa responsabilidade não é apenas do

governo. Exemplo da importância des-sa postura cívica encontra-se em açõesda própria Fiesp/Ciesp. Está direta-mente relacionada ao seu trabalho aretirada de nosso País, em 2007, da lis-ta prioritária de nações que violam pro-priedade intelectual e são complacen-tes com a pirataria, elaborada pelo Es-critório de Representação Comercial(USTR) dos Estados Unidos. A medidacoroou uma série de esforços, que con-taram e contam com ativa participaçãoda entidade. Cabe lembrar que esse em-penho, anteriormente, já havia ajudado amanter nossas exportações no Sistema

Geral de Preferências norte-americano.A guerra da Fiesp contra a pirataria foidesencadeada no início de 2005, quan-do fizemos visitas a distintos órgãos degoverno dos Estados Unidos, inclu-indo o Departamento de Comércio.Também realizamos, em São Paulo, oseminário “O Brasil Contra a Pirata-ria”, com a presença do senador NormColeman, presidente do Subcomitêpara o Hemisfério Ocidental da Comis-são de Relações Exteriores do Senadoe o embaixador norte-americano emnosso país, John Danilovich.Em 2006, a Fiesp treinou 400 agentesaduaneiros da Receita Federal, em 14portos do Brasil, capacitando-os a re-conhecer produtos falsificados. Em2007, o projeto teve continuidade,abrangendo mais nove portos, quatroaeroportos e cinco áreas de fronteiraseca. Essa parceria da entidade com aReceita Federal, o Conselho Nacionalde Combate à Pirataria do Ministérioda Justiça (CNPC/MJ) e a CâmaraAmericana de Comércio já apresentaresultados substantivos, com a apreen-são de 160 mil pares de tênis, avaliadosem R$ 20 milhões, 46 toneladas de mer-cadorias contrabandeadas de origemchinesa e sete containeres com 70 to-neladas de produtos falsificados, avali-ados em R$ 18 milhões.A desoneração tributária de 1,5% doPIB, resultante do fim da CPMF em2007, bandeira defendida pela Fiesp/Ciesp, que promoveu ampla mobiliza-ção em prol dessa conquista, é outroexemplo do quanto a sociedade pode edeve fazer. Precisamos deixar cada vezmais claro que compensa preconizar olegal e o ético como valores inalienáveisde nossos setores produtivos e pressu-postos de nosso modelo de inserçãocompetitiva na economia globalizada!Paulo Skaf !

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riente

Uma das mais antigas civilizações co-nhecidas na história e o país mais po-puloso do mundo, a China tem mos-trado a sua nova face. A cada dia amídia traz novos destaques como de-senvolvimento e crescimento econômi-co de modelo socialista e sede dasOlimpíadas em Beijing 2008, são retra-tadas com a intenção de mostrar umpouco mais sobre essa nova potência quetem servido de exemplo para os paísesem desenvolvimento, entre eles o Brasil.O presidente da Câmara de Comér-cio e Indústria Brasil-China, CharlesTang, explica à Revista Afirmativa Plu-ral, entre outras coisas, o porquê des-sa visibilidade e qual seria o caminhopara o Brasil.

Membro do Instituto Fernand Braudelde Economia Mundial; Bacharel pelaCornell University e Doutor pelaUniversidade de Sorbornne; Tang foipioneiro ao montar a primeira empre-sa de leasing no Brasil.Afirmativa Plural - A mídia e a so-ciedade como um todo têm se mos-trado extremamente interessadosem saber mais sobre a China. A queo senhor atribui esse interesse?Charles Tang – Isso acontece porqueo crescimento chinês é uma coisa espe-tacular, sem paralelos na história. O quea Europa levou 200 anos para conse-guir com a revolução industrial, a Chi-na fez em 20 anos e foi uma propostaque quando surgiu, todos duvidavam.

Afirmativa - Como se dá hoje a rela-ção comercial entre o Brasil e a China?Charles Tang – Brasil e África sãohoje as últimas fronteiras para os pro-dutos chineses, o mercado consumidorainda é pequeno. Mas nós temos nota-do nos últimos anos um aumento sig-nificativo do número de produtos im-portados pelo Brasil, principalmente nosetor de maquinários. Com o crescimen-to da economia brasileira e a impossibi-lidade de atender a demanda no setor,os empresários estão investindo na com-pra de máquinas fabricadas na China.Afirmativa - Uma das questões res-saltadas ao falar do crescimentoeconômico chinês é a de que a ma-nufatura na China utiliza trabalho

exemplo

do

economia

Por: Daniela Gomes, especial paraAfirmativa Plural

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economia

escravo. Qual é a realidade do tra-balhador hoje no país?Charles Tang – Nós temos na Chinaum programa de justiça social que ge-rou a forma de inclusão mais rápida jávista na luta pelos Direitos Humanos,400 milhões de pessoas foram incluí-das econômica e socialmente no país.Temos leis de proteção ao trabalhadore o salário mínimo de um trabalhadorchinês, é equivalente a US$140 men-sais, que se levarmos em conta o custode vida no país é quatro vezes maiordo que o poder aquisitivo de um brasi-leiro que ganha cerca de US$ 180 men-sais. Nós sabemos que ainda falta atin-gir uma parcela muito grande da po-pulação, mas as taxas de crescimentode cidades menores e mais afastadastêm tido o mesmo crescimento que foiapresentado por cidades como Pe-quim e Xangai nos últimos anos. Na-quela época, não havia dinheiro paraativar esse crescimento, hoje será mui-to mais fácil.Afirmativa - Qual seria a receita paraque o Brasil, assim como a Chinaatingisse o crescimento econômico?Charles Tang – Eu costumo dizer queo Brasil reúne mais condições do quea China e o Japão para ser o maior ti-gre de exportação do mundo, mas paraisso é necessário criar uma visão deprosperidade e um novo modelo de de-senvolvimento. A China adotou a filo-sofia de prosperidade a qualquer cus-to, com isso sacrificamos algumas coi-sas como o meio ambiente, mas hojecom uma economia estabilizada e comdinheiro nós podemos resgatar aquiloque deixamos de lado. O Brasil infeliz-mente adotou uma filosofia de pobre-za e isso se agravou com a adoção demodelos econômicos errados.

Afirmativa - Sediar os jogos olím-picos em 2008, o que representapara o país?Charles Tang – É o anúncio de nos-sa volta como uma nação economica-mente importante no mundo. Nóssempre fomos uma economia forte,talvez a primeira economia a surgir,então essa é uma maneira de mostrarao Mundo uma China moderna.Afirmativa - E como o povo chinêsestá reagindo a este evento?Charles Tang – O povo chinês está ex-tremamente adaptado, feliz e confiantedo seu futuro, pois ele sabe que há 20anos a situação era totalmente diferente.Afirmativa - Existe algum projetode intercâmbio cultural e educaci-onal entre o Brasil e a China?Charles Tang – Nós temos um pro-jeto antigo que éo de levar filmesbrasileiros parao Festival Inter-nacional de Ci-nema de Xangai,que é hoje umdos mais impor-tantes do mun-do. Com isso, le-vamos tambémalguns atoresbrasileiros paraconhecer o país.Na área da edu-cação nós temosinteresse em re-alizar intercâm-bios com insti-tuições brasilei-ras, a própria câ-mara oferece ocurso de manda-rim, que tem

sido muito procurado e nós já envia-mos duas estagiárias para a China.Afirmativa - A Universidade Zum-bi dos Palmares tem uma temáticadiferenciada. Existe a possibilida-de de algum intercâmbio entre osalunos da Unipalmares e universi-dades chinesas?Charles Tang – Seria extremamenteinteressante conhecer uma universi-dade como essa e realizar algum tipode trabalho em parceria. A China hojetem priorizado seu relacionamentoeconômico com a África, os investi-mentos na África hoje são gigantes-cos, pois a China necessita dos recur-sos naturais da África e em troca dis-so tem financiado e construído ainfra-estrutura de países africanos,para que haja desenvolvimento. !

Charles Tang

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Por: Rosenildo Gomes Ferreira, repórterda revista IstoÉ Dinheiro

economia

Quem tem mais de 35 anos por certose lembra da época em que os executi-vos do Citigroup (que opera no Brasilcom a marca Citibank) vinham ao Paísdar lições de como o governo brasilei-ro deveria conduzir a economia. O re-ceituário, muito em voga na década de1980, incluía as normas ditadas pelomanual do Fundo Monetário Interna-cional (FMI): controle de gastos e nadade se aventurar em investimentos semperspectiva de retorno. O time de en-gravatados do Citi era recebido emBrasília (DF) com tapete vermelho.Afinal, tratava-se dos principais credo-res da dívida externa brasileira.Quase 30 anos depois, o Citi, que preco-nizava austeridade, se vê às voltas comum dos maiores prejuízos de sua histó-ria. A crise do chamado subprime, omercado de hipotecas que reúne deve-dores de alto risco, causou perdas de US$18 bilhões à instituição americana. A fa-tura teve de ser coberta pelos acionistas.Ao sul da linha do Equador, o Brasilmostrava que conseguiu não apenasfazer a lição de casa, como gostam defalar os economistas, como tambémvive um dos melhores períodos de suahistória recente. A dívida externa estáequacionada, o Produto Interno Bru-to (PIB) deve crescer na faixa dos 5%pelo terceiro ano consecutivo, e a ge-

ração de emprego cresceu 7,4%, em2007, atingindo a maior marca desde2002. Sem falar no inédito fortaleci-mento do real frente ao dólar.Mas isso, contudo, não deve ser o bas-tante para blindar o País de uma criseque ameaça tragar boa parte das eco-nomias desenvolvidas. O comporta-mento errático do Ibovespa, índice quemede a valorização dos papéis negoci-ados na Bolsa de Valores de São Paulo(Bovespa), mostra que, ao contrário doque gostaríamos, o Brasil está sim nazona de risco. Em um mundo globali-zado, países periféricos como o Brasilcostumam “pegar pneumonia” todavez que as economias desenvolvidasdão um espirro. Foi assim em 1998com a crise asiática, em 1999 com acrise russa e em 2001 com os atenta-dos de 11 de setembro.Desta vez, a crise tem seu epicentro namaior nação do planeta, os EstadosUnidos. As medidas de emergência(corte nas taxas de juros e a edição deum pacote de estímulo ao consumo,orçado em US$ 150 bilhões) se mos-traram insuficientes para quebrar ainércia da economia americana ou mes-mo para reduzir o pânico que tomouconta dos mercados na Europa e na Ásia.Prova disso foi que em apenas uma se-mana o valor das empresas negociadas

nas bolsas de valores ao redor do mun-do caíram US$ 9,1 trilhões. E nada indi-ca que a sangria tem prazo de acabar.Mas o que eu, você e os demais cida-dãos comuns podemos fazer para nosprevenir desse verdadeiro tsunami fi-nanceiro. A primeira dica dos especia-listas é manter a calma. Serenidade eágua de coco, dizem os sábios, não fa-zem mal a ninguém. O ideal é renego-ciar e/ou eliminar rapidamente as dí-vidas sobre as quais pesam juros ele-vados. Sair do cheque especial, deixaro cartão de crédito em casa e apertar ocinto podem ser boas saídas. Aquelaverba prevista para o jantarzinho ro-mântico do final de semana pode, edeve, ser direcionada para uma aplica-ção conservadora. Pode ser a caderne-ta de poupança ou compra de cotas defundos de investimentos lastreados emtaxas de juros, por exemplo. Afinal, emum cenário de crise externa, com bi-lhões e trilhões de dólares e euros mi-grando rapidamente de um lugar paraoutro, é bem melhor agir como a for-miga do que como a cigarra.E, claro, torcer para que o “avião Bra-sil” consiga atravessar as turbulênciase atinja, o mais rápido possível, o céude brigadeiro.

em que omundoparouOdia

Rosenildo Gomes Ferreira

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perfil

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É gratificante reconhecer que passei por

diversas situações difíceis. Hoje estou

formada e empregada

negrérola

Por: Zulmira Felicio, editora

”“

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perfil

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Andresa Amaral Santos

O vestido e os preparativos para a for-matura de Andresa Amaral Santos fi-caram prontos há muito tempo. E aslágrimas de alegria contidas e reserva-das para o grande dia. Motivos ela ti-nha de sobra, aluna recém-formada docurso de Administração da Unipalma-res e escrituraria do Bradesco, há dezmeses, sintetiza sua batalha nos estu-dos e no emprego na pa-lavra-chave: “Acreditar,ter fé em Deus e não de-sanimar jamais”.Andresa ainda se emo-ciona quando se recor-da das dificuldades parachegar à Unipalmares.Durante dois anos, seutempo se dividia entre afaculdade e o estágio naPrefeitura Municipal deJandira. O sacolejar dotrem durante uma horade percurso não era piordo que percorrer 30 mi-nutos a pé, à noite, daestação até a favela, olha-va para as pessoas quepassavam de carro porela e pensava: “um dia,vou ter meu carro”. Mas,o dinheiro só dava mes-mo para a passagem detrem e olhe lá.A situação se complicouainda mais terminado operíodo do estágio. Desempregada,participou da seleção de um banco, masnão passou. Três meses desemprega-da, e com a auto-estima lá embaixo, to-mou parte do processo seletivo doBradesco. Entrou em Recursos Huma-nos, departamento que sempre lhe cau-sou fascínio. Ao lado de Regina MateusTonato, sua chefe, “pude contribuir le-

vando o histórico da Unipalmares e osassuntos que tratavam do negro”. Otrabalho empreendido por Andresa lherendeu, inclusive, o apelido de Pérola,herdado com orgulho. “Eu apliquei oteste aos estagiários na primeira turmaem 2005. Hoje da Unipalmares, somam90. Foram dois anos de contratos comefetivações”, completa a escriturária

que até então era a única negra do de-partamento que abrigava cerca de 15funcionários.Andresa sempre acreditou na possi-bilidade de mudar o rumo de sua his-tória. Com esse pensamento ao ou-vir o anúncio do vestibular da Uni-palmares, através de uma emissora derádio, enquanto atendia um freguês

numa casa de pão de queijo, não tevedúvidas. Rumou para São Paulo, em-bora conhecesse apenas as redonde-zas de Carapicuíba, onde residia.“Quatro anos atrás ninguém conheciaa Unipalmares. Hoje, as pessoas aindaquestionam se é uma faculdade para ne-gros. Digo que não. Aqui é um espaçoda diversidade, onde se aprende a ver-

dadeira eqüidade. A Unipalma-res é como se fosse uma mãeacolhe todos os seus filhos.Nessa instituição aprendi a nos-sa história, com profundidadee hoje tenho outro raciocínio,uma maneira diferente de pen-sar que, inclusive, influenciouminha família”. Aos 25 anos, aúnica formada numa família decinco irmãos (somente um maisvelho), influenciou o pai, Nel-son, 45 anos, a terminar o 2ºgrau e ingressar na Unipalma-res no ano passado no cursode Direito. Recentemente, amãe Solange, 46 anos, domésti-ca, concluiu a primeira série doensino médio.“A nossa formatura teve umimpacto muito grande na socie-dade”, diz Andresa que conti-nua firme no estudo do idio-ma Inglês e se prepara para ini-ciar o curso de pós-graduação,em 2009. A Pérola Negra con-sidera uma honra narrar suas

conquistas: “Hoje tenho o meu car-ro, entretanto reconheço que nadadisso seria possível sem a Unipalma-res. Ela é a chave do meu sucesso,do meu conhecimento, de um bomemprego, de uma vida melhor paraos meus pais. É como uma mola pro-pulsora que irá me projetar até paraestudar no exterior”, aspira.

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perfil

Vencer os obstáculos que a vida ofere-ce, superá-los e nunca desistir. Essa é amensagem do jovem Hélio Alexandrinodos Santos, 26 anos, recém contratadopelo Itaú no início deste ano (até entãona condição de trainee, desde 2005), dei-xa aos futuros alunos da Unipalmares.Já sentindo saudades dos professores,colegas e da própria instituição de en-

sino, “Onde sempre me senti em casa”,Santos reconhece que conclui um ci-clo da sua vida. E, juntamente comoutros formandos, cogita a possibili-dade de constituir um grupo dentro daUnipalmares para deixar um legado aosnovos alunos. “Uma espécie de ir-mandade de pensadores”, um núcleode estudos avançados que possa contri-

rataCasa

abuir para que esses alunos enfrentemmais facilmente as dificuldades que seapresentam no dia-a-dia e não desistamdo curso. “As dificuldades surgem e nãosão poucas, principalmente de ordemfinanceira”, diz ele que sempre estudouem escola pública, morava no Butantã,e levava uma hora e meia de ônibus, parachegar a Unipalmares.

dPor: Zulmira Felicio, editora

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Mas, o ambiente de ensino acolhedorservia de porto seguro: “Nunca vi ne-nhuma ocorrência ou mau comporta-mento tanto da parte dos alunos ouprofessores”. A identificação com aUnipalmares, o ideal, a convivência e oaprendizado, tudo isso serviu de basepara sua vida pessoal e profissional.“Tentei aproveitar ao máximo, partici-pei de tudo, da academia de dança aoseventos que aconteciam na instituição.Tive essa grande oportunidade e agar-rei, aproveitei ao máximo.”Pessoalmente, muito do que aprendeutransmitiu para sua família que é cons-tituída de cinco irmãos. Hoje a famíliaé mais consciente e reconhece até adedicação do filho para se formar Ad-ministrador. De tal modo, Santos con-tribuiu para que os irmãos entendes-sem que a saída para uma vida maisdigna se faz através da educação. “Umdeles estuda Autocad e uma sobrinhaacaba de ingressar na Unipalmares nocurso de Direito”, comemora.Também no campo profissional, o co-nhecimento adquirido na Unipalmaresserviu de base para seu desenvolvimen-to no Itaú. Recorda-se que, no iníciose sentiu deslocado. Mas, com o pas-sar do tempo foi se integrando.Atualmente, morando numa casa mui-to melhor, maior e mais aconchegantena Vila Matilde, na Zona Leste, junta-mente com a esposa Andréia, 25 anos(também aluna do 3º ano do curso deAdministração da Unipalmares), e a fi-lha Dandara (um ano) Santos reconhe-ce o salto que deu na vida graças aUnipalmares. Satisfeito com a família,os estudos e o emprego comenta:“Hoje tenho qualidade de vida. Isso setraduz em acesso aos cuidados médi-cos e odontológicos, através de um pla-

no de saúde extensivo à minha esposae filha. Nunca mais entrei num hospi-tal da rede pública. Também disponhode uma previdência privada”, diz.Na busca de uma vida melhor ainda emais sólida, Santos pretende dar con-

tinuidade aos estudos e fazer uma pós-graduação em Informática. “E num fu-turo próximo me tornar professor naUnipalmares que tanto admiro. Quero seruma prata da casa”, confidencia.

perfil

Hélio Alexandrino dos Santos

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data de reflexãomarço:

cidadania

Freqüentemente somos indagadosquanto a datas comemorativas: por queou para que um dia específico para falarde Discriminação Racial, sendo que to-dos os dias deveriam ser voltados paraa luta contra toda e qualquer forma deDiscriminação.

Acredito que tais questionamentos atéfaçam sentido. No entanto é necessá-rio lembrar que se é essencial termosum dia determinado pelo cronograma,certamente é porque ainda externamossinais que nos apontam que por maisque tenhamos avançado na convivên-cia social, ainda utilizamos de meiosque discriminam e excluem homens,mulheres e crianças.Em 21 de março de 1960 em Sharpville,Transvaal, na África do Sul, 20 mil ne-gros protestavam pacificamente contraa lei de Segregação Racial. Tropas doexército mataram 67 pessoas e ferirammais de 180. A Organização das Na-ções Unidas instituiu em memória dasvítimas deste massacre, esta data comoDia Internacional de Luta pela Elimi-nação da Discriminação Racial.Não é um dia de festa, mas sim de refle-xão, discussão e ações efetivas. Dia de

recordar que temos a responsabilida-de de combater o racismo, a discrimi-nação racial e o compromisso comocidadãos de utilizarmos instrumentosnacionais e internacionais para reafir-marmos o direito à liberdade, para quetodos os cidadãos possam viver emuma sociedade que respeite a diversi-dade e proporcione dignidade e igual-dade a todos.Combater a discriminação e o precon-ceito cotidiano, facilitar a tomada deconsciência e o cultivo à tolerância sãoos principais desafios do século XXI.Neste processo de busca por justiçasocial estamos todos no mesmo bar-co. Ora ensinamos, ora aprendemos.São faces da mesma cena, cujo prota-gonista principal é o ser humano, comsuas possibilidades e limitações, duali-dades que precisam buscar parceiros naconstrução do humano.

Por: Maria Célia Malaquias, mestre em Psicologia Social, coordenadora do Núcleo de Apoio Psicológico da Unipalmares

21 de

!Maria Célia Malaquias

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A África do Sul celebra o Dia dos Di-reitos Humanos em 21 de março, umdos mais significativos feriados emnosso país. Este também é o Dia In-ternacional contra a DiscriminaçãoRacial. Se vocês conhecem a nossa his-tória saberão que no dia 21 de marçode 1960 muitos negros oprimidos fo-ram mortos em Sharpville, Transvaal(atualmente Gauteng). No mínimo, ses-senta e sete pessoas foram assassina-das a tiros e cento e oitenta foram feri-das por policiais quando estes abriramfogo contra a multidão que protestavapelo fim das leis discriminatórias depasse. Tais leis exigiam que todas aspessoas negras vivendo ou trabalhan-do nas cidades, ou em seu redor, car-regassem sempre um documento (cha-mado de passe). Caso a exigência nãofosse cumprida, as pessoas seriam pre-sas e mandadas para áreas rurais, lon-ge das cidades onde viviam.Quando o governo democraticamenteeleito assumiu o poder em 1994, o ex-presidente Nelson Mandela em seu dis-curso de posse disse: “Nunca, nunca enunca esta linda terra passará pelaopressão de um pelo outro e sofrerá aindignidade de ser a escória do mun-do. Que a liberdade reine. O sol nuncase porá sobre tão gloriosa realizaçãohumana. Deus abençoe a África!”.A Comissão Sul-Africana de DireitosHumanos é uma instituição governa-

mental criada para assegurar a democra-cia constitucional através da promoçãoe proteção dos direitos humanos, cui-dando das violações desses direitos eprocurando reparar tais violações. Estainstituição é também de fundamentalimportância na promoção dos direitosindividuais de todos os sul-africanos.Para reafirmar a nossa posição contra

o racismo a África do Sul sediou aConferência Mundial contra o Racis-mo (WCAR) em Durban, em 2001. Apróxima conferência será realizadanovamente na África do Sul em 2009.O governo e o povo da África do Sulestão compromissados com uma socie-dade não-racial, não apenas na Áfricado Sul, mas em todo o mundo.

Por: Lindiwe Zulu, embaixadora daÁfrica do Sul no Brasil

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educação

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responsabilidade

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sPor: Zulmira Felicio, editora

responsabilidade social

“Aqui se um gestor acha que não pre-cisa de uma pessoa com deficiência emsua equipe, ele não conhece a empresaonde trabalha”, enfatiza Rogério W.Rocha de Oliveira, responsável pela im-plantação do Núcleo de Responsabili-dade Social do departamento de Re-

cursos Humanos da Riachuelo, desde 2004. Com o apoio da dire-toria, ele se diz satisfeito com os resultados que vem colhendo, apartir do momento em que plantou a sementinha da diversidadena empresa.A idéia foi bem aceita, mas Oliveira só podia contar com Deuspara colocar na prática os objetivos. Os 23 anos de dedicação àRiachuelo também conferiam mérito ao Administrador de Em-presas. Pediu apoio voluntariado aos funcionários da matriz, nazona norte de São Paulo. Inicialmente, 40 pessoas se dispuseram atrabalhar com crianças carentes da comunidade. A ênfase destina-se às casas-abrigos onde o trabalho consiste em educar (em váriasvertentes do ensino: da música ao entretenimento e à reciclagem)

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crianças abandonadas ou que sofrerammaus tratos, de zero a 17 anos. As cri-anças em creches (de zero a 6 anos) tam-bém recebem apoio do grupo. Das 100crianças assistidas quando do início doprograma hoje somam 1.700 e o corpode voluntário engrossou para 280 (ma-triz e 14 lojas) distribuídos em vários es-tados. “A previsão para este ano é agre-gar mais 10 lojas e aumentar esse núme-ro para 480”, entusiasma-se Oliveira.

Lista de Talentos

O programa de voluntariados foi umasurpresa também para os funcionáriosenvolvidos. “Na realidade, culminou nadescoberta de uma lista de talentos:quem tinha dom para ministrar músicafoi se aperfeiçoando nessa atividade eassim por diante”. Na prática, a Riachu-elo fornece todo o material de apoio,doa 4 horas/mês de cada funcionárioque está presente semanalmente na casa.Também fornece mercadorias para quea entidade possa realizar bazar e rever-ter a renda em benefício próprio.Antes do projeto de voluntariado com-pletar um ano, Oliveira que atualmen-

te conta com sua assistente, SimoneMorcelli, deu início ao Programa de In-clusão Social (de Pessoas com Deficiên-cia - PCD´s) no mercado de trabalho,em março de 2005.Tanto uma ação quanto a outra tive-ram o planejamento das consultoriasMarlene PensaValle e Apoena Social.Esta última desenvolveu todo o mape-amento de cargos para que a Riachuelodesse passo firme na contratação de

PCD´s. Enquanto, a Apoena Social em-penhava-se no estudo, a Riachuelo atu-ava junto às ONGs na escolha do pro-fissional. “Chegamos a fazer ações demarketing que envolveu a emissão dequatro milhões de extratos dos nossosclientes com anúncios para o preenchi-mento dos cargos”.Mais uma vez, os resultados reforçamo sucesso da iniciativa: das 38 pessoascom deficiência admitidas em 2005,esse número atingiu 525 pessoas emdezembro do ano passado.

Caridade só no voluntariado

Por terem benefícios e salários iguaisaos demais funcionários, os PCD´s têm

metas a serem cumpridas. Com idadeentre 20 a 25 anos, esses funcionáriossão cegos, surdos, mentais (leve, mo-derada e severa), físicos e múltiplos.Sendo, que no último ano, a empresaacrescentou ao seu quadro as pessoascom deficiência severa.Rampas de acesso, software própri-os, capacitação de líderes e o estudode LIBRAS – Língua Brasileira de Si-nais estão entre as ferramentas ne-

cessárias para que todos possam de-senvolver as suas funções. “A direto-ria entende que isso é um investimen-to e a meta é atingir muito mais doque a cota (5%) estabelecida pela leina contratação de pessoas com defi-ciência”- comemora Rogério - capazde contar relatos e mais relatos dasexperiências que vivencia no seu dia-a-dia e que o impulsionam cada vezmais. Consciente de que ainda hámuito que fazer, Oliveira não medeesforços até porque, no seu íntimo(tem um irmão portador de deficiên-cia leve), sabe que basta uma opor-tunidade. “Talentos todos têm, é ne-cessário descobrir”.

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