revista spectrum nº 04
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Bioterrorismo Tecnologia, Doutrina e Capacitacão: O Trinômio da Arma Aérea Revista do Comando-Geral do Ar Nº 04 - Novembro 2001TRANSCRIPT
Revista do Comando-Geral do Ar Nº 04 - Novembro 2001
Tecnologia, Doutrina e Capacitacão: O Trinômio da Arma Aérea
O Paradigma do Poder Aéreo Revisado
Emprego Militar do GPS
Bioterrorismo
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Spectrum
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ÍndiceExpediente
Comandante-Geral do ArTen.-Brig.-do Ar José Carlos Pereira
Conselho Editorial e RevisãoTen.-Cel.-Av. Narcelio Ramos RibeiroMaj.-Av. Ari Robinson TomaziniMaj.-Av. Fábio Durante Pereira AlvesMaj.-Av. Davi Rogério da Silva CastroCap.-Av. Carlos Alberto FernandesCap.-Av. Edson Fernando da Costa Guimarães
ColaboraçãoCentro de Comunicação Social da Aeronáutica(CECOMSAER)
Projeto Gráfico e FotolitosTachion Editora e Gráfica Ltda.Rua Santa Clara, 552 - Vila AdyannaTel/Fax: (12) 3921-0121 / 3922-4048 / 3922-3374CEP 12243-630 - São José dos Campos - SPe-mail: [email protected]
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Distribuição interna. Tiragem: 2.000 exemplares.
Os conceitos emitidos nas colunas assinadas são deexclusiva responsabilidade de seus autores. Estão au-torizadas transcrições integrais ou parciais das matéri-as publicadas, desde que mencionados o autor e a fontee remetido um exemplar para o COMGAR.
[email protected] (Internet)
Tecnologia, Doutrina e Capacitacão:
O Trinômio da Arma Aérea ........................................ 4
Estratégia de Ensino e Pesquisa em Guerra
Eletrônica no ITA........................................................ 8
O Paradigma do Poder Aéreo Revisado .................... 15
Tecnologias a serviço da superioridade
de informação .......................................................... 23
Emprego Militar do Sistema de
Posicionamento Global (GPS) .................................. 26
Aviões SIGINT e o Domínio da Informação:
As Respostas européias ............................................ 31
Bioterrorismo ........................................................... 33
O Oficial de Comunicação Social e as
Operações Aéreas .................................................... 35
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Spectrum
Brig.-do-Ar ROBERTO GERALDO PIMENTA RIBEIROComandante da Terceira Força Aérea
Editorial
Brig.-do-ArRoberto GeraldoPimenta RibeiroComandante da
Terceira Força Aérea
Neste último trimestre do ano em curso, arevista “Spectrum” reaparece, brindando-nos com a sua quarta edição. Na pereni-
dade da sua existência e do intercalado silêncio profí-cuo e germinador de “boas novas”, ressurge, comosempre o fez desde a sua criação, soprando-nos coma brisa renovadora do conhecimento, agregando no-vos valores à dinâmica do contínuo processo de evo-lução da nossa Força Aérea.
Juntos, pois, com “Spectrum”, vivemos os mo-mentos finais deste primeiro ano que marca, na histó-ria do homem, a abertura do tão propalado, profetiza-do, discutido e esperado terceiro milênio. Privilégio?Julgamos que sim, porquanto muitos no passado so-nharam com esta hora, fruto da própria ansiedade,imaginação e curiosidade que caracterizam o ser hu-mano na sua eterna fixação pelo futuro.
Da nossa parte, como integrantes do nosso Co-mando-Geral do Ar, vivemos o apostolado da nossamissão, a bordo dessa maravilhosa nave, a Força Aé-rea Brasileira, que, na sua luminosa trajetória, navegano rumo seguro do cumprimento da sua missão, adespeito de turbulências ou tempestades que, eventu-almente, possam se interpor à sua rota.
Temos, sim, o grande e honroso privilégio de vi-ver a nossa opção de vida, o sacerdócio da nossa pro-fissão, nessa doação ao elevado compromisso peloque acreditamos ser o melhor que podemos fazer, deforma honesta, em prol do nosso país.
No que tem sido a busca de uma contínua e fir-me evolução, a nossa Força Aérea move-se no senti-do de importantes e inadiáveis mudanças, tão neces-sárias à otimização dos seus meios e capacitação doseu pessoal, quanto imprescindíveis à sua adequaçãoao cenário dos próximos anos, com vistas à confron-tação com futuros e renovados desafios.
“Spectrum” tem sido parte intrínseca deste pro-cesso, visto que, no rol de uma legião de tantas outraspublicações de alto nível profissional, tem contribuí-do como elemento catalisador na renovação das idéi-as, na incessante procura de novos conhecimentos,no exercício salutar da reflexão e na firme determina-ção de levar adiante o incentivo pela prática da boadiscussão.
A par com o desenvolvimento que se observano campo do conhecimento técnico e especializado,que tem sido a marca de uma nova geração no con-texto da nossa instituição, o aprendizado tem se ex-pandido, igualmente, na área do comportamento, emnovas posturas na condução das diversas atividades.
Neste aspecto, as adversidades têmconstituído uma estimulante esco-la para o nosso pessoal. Aprende-mos, assim, a voar cada minuto ecada hora, com o preciosismo doartesão que multiplica os resultadosdo seu instrumento, cercado doscuidados devotados à última gotaque não pode derramar; aprende-mos muito, na exploração do ele-vado senso do profissionalismo.
Por tudo isso, a Força Aéreaestá viva e cresce, exatamente porencontrar-se no interior de cada umdaqueles que lhe devotam a sua fée os seus sonhos, no contraditóriodo que têm sido as inúmeras difi-culdades e restrições materiais porque passa na conjuntura atual.
Na verdade, o que se consta-ta é a conversão de todas essas coisas em estímulomultiplicador do pensamento e da criatividade. Cons-cientes de estarem hoje muito além da era do simples“pé-e-mão”, os nossos combatentes buscam respal-dar as suas habilidades no domínio do conhecimentoe da informação, vetores estes que os fazem especial-mente fortes e cada vez mais capazes para os duelosque estão por vir.
Crescendo, pois, estão os homens da nossa For-ça Aérea, atentos para os valores intangíveis que cons-tituem o lastro para toda e qualquer pretensão de po-der e de capacidade de dissuasão na era queadentramos. Desta forma, estarão aptos a dar o me-lhor sentido possível ao emprego dos nossos meios,na medida exata dos propósitos almejados e da capa-cidade de fazê-lo bem .
Nas páginas de “Spectrum” projetam-se, sazo-nalmente, fachos de luz da nossa inteligência e donosso pensamento. Desejamos, assim, que ela conti-nue, a cada edição, a nos presentear com esse encon-tro pelo campo do conhecimento profissional, possi-bilitando o estímulo gerador do nosso crescimentoorganizacional, doutrinário e operacional.
Nesse sentido, gostaria de, finalmente, relembraruma breve mensagem de um velho chefe militar bri-tânico, Maj. Gen. J. F. C. Fuller:
“Existe apenas uma maneira de se evitar a deca-dência – jamais parar de evoluir, jamais se tornar escra-vo do passado, jamais hesitar em tentar alguma coisanova devido ao receio de se cometer um erro.”
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Tecnologia, Doutrina e CapacitaçãoO Trinômio da Arma Aérea
Pensar sobre a guerra, entendê-la e des-
cobrir como lutar para vencer é muito
difícil, pois esse é um dos mais com-
plexos fenômenos produzidos pelos seres hu-
manos. Por esse motivo ela deve ser fragmen-
tada em partes componentes que possam ser
examinadas, estudadas e usadas.
Há várias maneiras de dividir a guer-
ra: quanto ao tamanho, intensidade, dura-
ção, geografia, nível, etc. No entanto, nota-
se que essas fragmentações não parecem
ser muito adequadas aos processos de aná-
lise, síntese e visualização dos principais
fatores que definem a capacidade de uma
força aérea.
Este artigo não é sobre tática ou um
específico sistema de arma, não é também
sobre uma determinada guerra. Ele é uma
abordagem sucinta sobre tecnologia, dou-
trina e capacitação de recursos humanos
(trinômio), como principais fatores que re-
tratam a capacidade de uma força aérea.
A TECNOLOGIAAs formas de cooperação, competição,
confli to e guerra mudam conforme a
tecnologia disponível no mundo. Essas mu-
danças influenciam a nossa maneira de ob-
servar, entender, decidir e agir, pois elas têm
impactos sobre a vida das pessoas, organi-
zações, estados e formas transnacionais de
crime ou terror.
Os futuristas Alvin e Heidi Toffler têm
enfatizado mudanças que ocorreram e po-
derão ocorrer em função da evolução
tecnológica (ondas e eras). Essas mudanças
também influem no preparo da arma aérea.
A expressão “cavaleiros do século do
aço” é bem apropriada para descrever o
quanto a arma aérea é dependente da
tecnologia, pois a aeronave e seus sistemas
de armas, os recursos de combate no solo e
de apoio são, na verdade, sistemas
O Tenente Coronel Narcelio
Ramos Ribeiro é piloto de pa-
trulha, concluiu o CFOAv em
1980 e exerce atualmente a
função de chefe do Centro de
Guerra Eletrônica do
COMGAR. Possui curso de
Guerra Eletrônica na Inglater-
ra (“Electronic Warfare
Directors”) e pós-graduação
em Planejamento Estratégico
e Qualidade Total pela
AEUDF (Brasília). O Ten.- Cel.
Narcelio tem trabalhos publi-
cados nas revistas da UNIFA
e O Patrulheiro.
Narcelio Ramos Ribeiro, Ten.-Cel.-Av. - COMGAR
tecnológicos.
Essas tecnologias, num conflito, pode-
rão estar presentes em maior ou menor pro-
porção em qualquer um dos
lados envolvidos . A questão,
portanto, é que o preparo da
arma aérea deve ser realiza-
do, considerando não apenas
os meios disponíveis na for-
ça amiga, mas, também,
aqueles passíveis de serem
utilizados pelo oponente.
O entendimento dessas
tecnologias requer também
capacidade de pesquisar e
desenvolver parte delas no
próprio país, caso contrário
poderá haver dificuldade
para acompanhar ou domi-
nar determinados conceitos
relativos ao conhecimento
dos meios utilizados pela
arma aérea.
Erros ocorrem quando
integrantes da arma aérea li-
mitam-se a ter conhecimen-
to apenas da tecnologia exis-
tente na sua Força, esquecen-
do-se de que os meios do inimigo nunca se-
rão iguais aos seus. A sabedoria popular re-
fere-se a esse comportamento como “olhar
somente para o próprio umbigo”.
Expressão como “vamos ter o pé no
chão”, às vezes, pode funcionar como uma
espécie de cortina, impedindo que a Força
perceba a necessidade de conhecer
tecnologias passíveis de serem utilizadas por
oponentes na cena de ação. Por outro lado,
deve-se evitar o modismo de só se interessar
pelas inovações tecnológicas, pois estilete
também é arma e, não raro, pode surpreen-
der o mundo.
A solução, nesse caso, é possuir pro-
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gramas de capacitação voltados para as ne-
cessidades da guerra, de pesquisa e desen-
volvimento de parte dessas tecnologias e uma
doutrina dinâmica.AAAAA DOUTRINADOUTRINADOUTRINADOUTRINADOUTRINA
A doutrina de uma força armada reflete a
maneira como seus integrantes percebem o
negócio denominado “defesa”, os princípios,
conceitos e as atividades que dão suporte às
ações a ela associadas.
Alguns dos mais importantes conceitos
relativos ao emprego da arma aérea referem-
se a centros de gravidade e superioridade aé-
rea.
A arma aérea, por pos-
suir características como
velocidade, penetração e
flexibilidade, pode ser em-
pregada contra qualquer
tipo de centro de gravida-
de e abreviar o término do
conflito. Esses centros va-
riam conforme o oponen-
te, a geografia e fase do embate, e são extre-
mamente dinâ-
micos.
O conceito
de centros de
gravidade é ao
mesmo tempo
importante e
muito difícil,
pois requer co-
n h e c i m e n t o ,
método, intui-
ç ã o ,
criatividade e
sorte para ga-
rantir que os al-
vos escolhidos causarão decréscimo na von-
tade de lutar do inimigo.
Esse conceito não é muito bem explora-
do pela maioria das forças aéreas. Essa defici-
ência ocorre devido a vários fatores, entre os
quais dois merecem destaques:
a)a maioria das forças aéreas limitam-
se a usar, apenas, a intuição e experiência
para escolher alvos considerados centros
de gravidade, não dando a devida impor-
tância à utilização de métodos, busca de
conhecimento e estímulo à criatividade; e
b) na hora da escolha de centros
de gravidade, a predominância do
etnocentrismo, na maioria das forças aé-
reas, impede que o inimigo seja visto como
um sistema diferente, um organismo vivo
com características próprias, que interage,
reage, pensa, surpreende, ataca e destrói
de modo singular.
Outro conceito importante dentro da
doutrina é o de superioridade aérea. Exis-
te quase que uma unanimidade de aceita-
ção, quanto à necessidade de se obtê-la no
início das ações. A favor desse comporta-
mento existe a história: “desde a invasão
da Polônia pela Alemanha em 1939, ne-
nhum país ganhou uma guerra diante de
inimigo com
superiorida-
de aérea, ne-
nhuma ofen-
s iva obteve
sucesso con-
tra oponente
que tinha o
controle do
espaço aéreo
e nenhuma
defesa aérea
conseguiu se
manter dian-
te de uma
força que tinha maioria qualitativa e (em
alguns casos) quantitativa no espaço” [1].
A questão, no entanto, é que as forças
aéreas que não são grandes poderão en-
“A doutrina de uma força ar-mada reflete a maneira comoseus integrantes percebem o ne-gócio denominado “defesa”, osprincípios, conceitos e as ativi-dades que dão suporte às açõesa ela associadas.”
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contrar situações em que não terão a su-
perioridade aérea. Nesse caso, adotar uma
postura epistemológica diante desse con-
ceito, ao invés de aceitá-lo como um
dogma, seria uma atitude que poderia re-
sultar em soluções surpreendentes.
A doutrina de uma força aérea retrata
também a maneira como seus integrantes
percebem os conceitos relativos ao poder
aéreo, as atividades a ele associadas e o
enfoque utilizado para capacitação de re-
cursos humanos.
A CAPACITAÇÃO DE RECURSOSHUMANOS
Todas forças aéreas no mundo capaci-
tam recursos humanos. Poucas, no entan-
to, atingem os níveis mais altos de conhe-
cimento nesse negócio denominado “de-
fesa”.
Isso ocorre devido a vários fatores,
dentre os quais alguns merecem destaque:
a)a maioria das forças aéreas limitam-
se a capacitar os recursos humanos visan-
do o desempenho das funções a bordo das
plataformas ou no solo, sem, contudo, con-
s iderar a necess idade de evolução,
melhoria constante, domínio do conheci-
mento, desenvolvimento de conceitos,
concepções, táticas, métodos, modelos e
procedimentos operacionais; e
b) poucas forças aéreas têm programa
de pós-graduação nos níveis de mestrado
e doutorado, principalmente nas áreas de
comando e controle, guerra eletrônica,
análise operacional, armamento aéreo,
logística e operações psicológicas.
O resultado desse desnível no enfoque
da capacitação de recursos humanos entre
forças aéreas de diferentes países é que
apenas um pequeno grupo delas gera a
quase totalidade dos conceitos, concep-
ções, táticas, modelos, métodos e, até mes-
mo, novos procedimentos operacionais,
enquanto que a maioria apresenta dificul-
dade para entender ou, até mesmo, copiar
a evolução que ocorre nessas áreas e que
afetam a maneira de aplicar a arma aérea.
Essa diferença é um dos principais fa-
tores que causam assimetria entre forças
aéreas, pois uma política de capacitação
de recursos humanos incompleta, sem pro-
grama de pós-graduação, pode criar depen-
dência doutrinária, corre o risco de deixar
a força conceptualmente fraca, com pou-
co entendimento de emprego e, mesmo
contando com recursos tecnológicos, não
elimina a possibilidade de cometer erros
amadores, por falta de concepção atuali-
zada.
Pós-graduar nas várias áreas da guerra
é, portanto, muito mais que uma simples
política de educação, é querer dividir com
as melhores forças aéreas o pódio do cam-
po de batalha.
Percebe-se, portanto, que tecnologia,
doutrina e capacitação de recursos huma-
nos são interdependentes
e formam os principais
pilares de sustentação de
uma força aérea.
A obtenção de
tecnologia depende de
quantidade significativa
de aporte financeiro e de
decisões que extrapolam
os limites de uma força aérea. A doutrina
e a capacitação de recursos humanos são
questões confinadas aos muros da caserna
e a opção de estabelecer ou não progra-
mas que permitam a uma força ficar entre
as melhores do mundo nessas áreas depen-
de da idéia de vitória de seus integrantes.
1 - WARDEN lll, John A. THE AIR CAMPAIGN: Planning forCombat. Washington: Pergamon-Brasseys, 1989
“Pós-graduar nas váriasáreas da guerra é, portanto,muito mais que uma simplespolítica de educação, é quererdividir com as melhores forçasaéreas o pódio do campo debatalha.”
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“O êxito de uma instituição depende da existência deideais básicos que a identifiquem, da livre adesão e
consciente manutenção desses ideais e da presteza comque seus profissionais corrijam e adaptem objetivos
táticos e operacionais, ante as imposições de um mundocontinuamente em evolução” [1].
Introdução
APolítica de Defesa Nacional adotada
pelo governo em 1996, que possibi-
litou a criação do Ministério da De-
fesa em 10 de junho de 1999, contém uma
vertente dedicada à área de Ciência e
Tecnologia com a seguinte finalidade: “Orien-
tar o desenvolvimento dos sistemas ou setores
de Ciência e Tecnologia das Forças Armadas,
de modo a produzir oportunidade de aprovei-
tamento do conhecimento obtido, em prol de
interesses comuns das Forças nas áreas de pes-
quisa, de desenvolvimento, da capacitação
tecnológica e fomento industrial, contribuin-
do, assim, para a consecução dos objetivos da
Política de Defesa Nacional”. Portanto,
notadamente entre 1996 e 10 de Junho de
1999, as atividades de Ciência e Tecnologia
(C&T), das Forças Armadas foram organizadas
objetivando alcançar um elevado nível de
compatibilização, indispensável para o êxito
da implantação da Política de C&T do Minis-
tério da Defesa, em um período reduzido após
a sua criação.
Em virtude da participação, indispensável
e com tendência crescente, do Instituto
Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em ativida-
des de ensino e pesquisa em áreas de interesse
da Defesa, faz-se necessário destacar algumas
das características e realizações deste Instituto
que possibilitaram a celebração, a partir de
1998, de cooperação acadêmica com o Co-
mando-Geral do Ar (COMGAR), através do
Centro de Guerra Eletrônica (CGEGAR).
O ITA, um dos cinco órgãos do Centro
Técnico Aeroespacial (CTA), localizado em São
José dos Campos – SP, é o órgão de ensino su-
Estratégia de Ensino e Pesquisa em Guerra Eletrônica no ITA
José Edimar Barbosa Oliveira - Professor Titular do ITA
perior do Comando da Aeronáutica que tem
por finalidade a formação de profissionais de
concepção com alto nível de qualificação e a
realização de pesquisas e ati-
vidades de extensão universi-
tária no campo das tecnologias
avançadas, prioritariamente as
de interesse aeroespacial.
Desde a sua fundação, há
aproximadamente meio sécu-
lo, o ITA tem primado pela
busca da excelência, um dos
pressupostos dos seus
idealizadores, com a convic-
ção de que as atividades de
ensino, pesquisa e extensão
conduzirão o progresso
tecnológico no sentido da
destinação constitucional da
Força Aérea Brasileira “de de-
fesa da pátria e garantia dos
poderes constitucionais e da
lei e da ordem”.
O ITA consolidou sua
competência em áreas que são
estratégicas para a Defesa por
meio de ações continuadas de
graduação e pós-graduação,
nas seguintes especialidades:
Engenharia Aeronáutica, Enge-
nharia Eletrônica, Engenharia
Mecânica-Aeronáutica, Enge-
nharia de Infra-Estrutura Aeronáutica e Enge-
nharia de Computação. Este Instituto, que é
amplamente reconhecido como expoente em
suas áreas de atuação, além de ter continua-
mente prestado elevada contribuição para a
evolução tecnológica e industrial do Brasil,
realizou inovações nas áreas de graduação e
pós-graduação que fazem parte da história vi-
toriosa do ensino de Engenharia no Brasil.
Quando solicitado em suas áreas de ex-
celência, o ITA criou cursos de graduação, pós-
O Professor Edimar realizou oscursos de graduação, UnB-76,mestrado, ITA-79, e PhD – McGillUniversity – Canadá – 86, todos naárea de Engenharia Eletrônica. Ini-ciou suas atividades no corpo do-cente do ITA em 1977 e em 1993,por meio de concurso público, as-cendeu ao nível de Professor Titu-lar da Divisão de Engenharia Ele-trônica. Suas atividades em ensinoe pesquisa e consultoria científicaad hoc, para várias organizações defomento à pesquisa, têm contribuí-do para a organização e execuçãode atividades de interesse da Comu-nidade Científica Nacional. Resul-tados de suas pesquisas já forampublicados em vários periódicosnacionais e internacionais. Desde1997 tem participado daestruturação da linha de pesquisaem Guerra Eletrônica no CTA e co-ordena o módulo técnico do CEAAEdesde a sua criação. Em 2000 foilaureado com a medalha de Honraao Mérito da Aeronáutica.
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graduação e especialização para o atendimen-
to de necessidades específicas e temporárias.
A iniciativa mais recente do ITA, referente
ao atendimento de solicitação da Força Aérea
Brasileira, em consonância com a atual Política
de Defesa Nacional, foi a criação do Curso de
Especialização em Análise de Ambiente Eletro-
magnético (CEAAE) [2]. Este curso, concebido
para a capacitação acadêmica dos órgãos
operacionais na área de Guerra Eletrônica, é
coordenado por meio de ações conjuntas do ITA
e do CGEGAR, segundo uma metodologia base-
ada em diretrizes do Comando de Aeronáutica.
Aqui se propõe analisar, de forma não
exaustiva, as ações na área de Ensino e Pesqui-
sa em Guerra Eletrônica no ITA desde a implan-
tação do CEAAE, há aproximadamente três anos.
Inicia-se com considerações sobre a organiza-
ção acadêmica do CEAAE a qual proporciona a
indispensável participação do COMGAR, prin-
cipalmente, por intermédio do CGEGAR e do
Grupo de Instrução Tática Especializada (GITE),
na execução de um modelo de ensino com gran-
de ênfase no atendimento das necessidades
operacionais na área de Guerra Eletrônica. Em
seguida, são apresentadas as ações delineadas
para consolidar o CEAAE e difundir a sua
metodologia de ensino e pesquisa à luz da po-
lítica de Ciência e Tecnologia para a Defesa
Nacional. Finalmente, investiga-se um mode-
lo, prospectivo, no qual o CEAAE constitui um
núcleo estratégico para a execução de ativida-
des de pós-graduação stricto sensu em Guerra
Eletrônica no CTA, em consonância com orien-
tações do Diretor deste Centro. Discute-se a
potencialidade deste modelo para se integrar
nas atividades dos setores de Guerra Eletrônica
dos Institutos do CTA, em um Programa Avan-
çado de Ensino e Pesquisa direcionado para as
necessidades operacionais dos Comandos Mi-
litares do Ministério da Defesa.Organização Acadêmica do CEAAE
A organização do CEAAE, concebida por
um Conselho Consultivo, constituído por pro-
fessores do ITA e oficiais do CGEGAR, respal-
da-se na parte da Doutrina de Defesa Brasilei-
ra que, em um dos seus itens, orienta ações
conjuntas envolvendo instituições de ensino e
pesquisa e organizações operacionais do Mi-
nistério da Defesa, com o objetivo de moder-
nizar os meios e a concepção de emprego, para
melhor defender os interesses do Brasil.
O CEAAE é organizado em dois módulos:
um módulo operacional, realizado no Grupo
de Instrução Tática e Especializada (GITE), em
Natal-RN, e um módulo técnico, o qual é rea-
lizado no ITA. A execução deste módulo, por
determinação da Reitoria do ITA, é atribuição
da Divisão de Engenharia Eletrônica (IEE). Para
fins de obtenção do certificado de Especialista
em Análise de Ambiente Eletromagnético, o
módulo operacional é pré-requisito para o
módulo técnico.
Como requisito do módulo técnico, cada
aluno desenvolve um trabalho científico, de-
nominado de Trabalho Individual (TI), cujo re-
latório técnico, devidamente documentado, é
avaliado mediante uma defesa oral, perante
uma Banca Examinadora, designada pelo Con-
selho Consultivo do CEAAE. A banca é cons-
tituída por pesquisadores e oficiais que atuam
nos setores da Guerra Eletrônica.
A elaboração e defesa oral do TI repre-
sentam uma parte expressiva da atividade de
execução da Doutrina na qual o CEAAE está
baseado, em função de:
·Cada TI abordar uma necessidade
operacional, delimitada pelo Grande Coman-
do ao qual o aluno está subordinado, em acor-
do com a coordenação do CEAAE;
·Cada TI ser supervisionado por um
Orientador do CEAAE, professor ou instrutor
militar, e um orientador externo, designado
pela coordenação do CEAAE e de acordo com
os critérios reconhecidos pelo ITA; e
·O desenvolvimento do TI contar com as
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infra-estruturas disponíveis nos Comandos Mili-
tares e nas empresas e organizações civis, que re-
alizam atividades na área de Guerra Eletrônica.
Os TI’s realizados revelam que o CEAAE já
proporcionou resultados, acadêmicos e
operacionais, que, inequivocamente, justificam
o acerto da sua criação respaldada em uma con-
cepção voltada para a consolidação de infra-es-
trutura apropriada para prover o aperfeiçoamen-
to, de forma continuada, do setor operacional
responsável pelas atividades em Guerra Eletrô-
nica. O sucesso deste empreendimento indica
que o CEAAE poderá ser utilizado como modelo
para outras áreas de interesse do Ministério da
Defesa. A título de
exemplificação, ressal-
tam-se as áreas de Co-
mando e Controle e
Análise Operacional
[3], [4].
Real izando-se
uma análise crítica das
atividades do CEAAE
observa-se que a con-
cepção acadêmica dos TI’s depende substanci-
almente do módulo técnico, ressaltando-se, por-
tanto, a sua função pedagógica. O módulo téc-
nico do CEAAE, sob responsabilidade da Divi-
são de Engenharia Eletrônica do ITA, tem o seu
currículo constituído por dez disciplinas, den-
tre as quais oito exigem apoio de laboratórios,
com as seguintes designações, nas quais a ter-
minologia EE denota Engenharia Eletrônica:
·EE-01 - Fundamentos de Microondas.
·EE-02 - Fundamentos de Antenas.
·EE-03 - Fundamentos de Fotônica.
·EE-04 - Probabilidade e Variáveis Aleatórias.
·EE-05 - Princípios de Telecomunicações.
·EE-06 - Sistemas de Comunicação, Na-
vegação e Vigilância.
·EE-07 - Comunicações Digitais.
·EE-08 - Processamento RADAR.
·EE-09 - Inteligência Artificial.
·EE-10 - Seminários e Visitas Técnicas.
Atualmente, as disciplinas são ministradas
por seis professores Doutores do ITA e dois ofi-
ciais Engenheiros Eletrônicos com mestrado no
ITA. O apoio para a operação dos laboratórios
fica a cargo de um sargento da FAB com co-
nhecimento em Guerra Eletrônica.
A organização do currículo do módulo
técnico do CEAAE tem possibilitado a execu-
ção da estratégia de Ensino e Pesquisa na área
de Guerra Eletrônica, com base nos seguintes
pressupostos:
·A formação acadêmica do aluno do
CEAAE deve ser fundamentada em conheci-
mentos consolidados
em disciplinas ministra-
das pelos quatro Depar-
tamentos de Ensino da
Divisão de Engenharia
Eletrônica do ITA; e
· As ativida-
des didáticas do CEAAE
devem, sempre que
possível, utilizar as
metodologias “top – down design” e “just in
time”.
O primeiro pressuposto, além de assegu-
rar que o currículo do CEAAE espelhe-se em
uma organização de ensino de engenharia con-
solidada, também facilita a sua integração na
estrutura funcional do ITA. Por outro lado, o
segundo pressuposto estabelece o perfil
operacional para as atividades didáticas, uma
vez que os cursos são organizados para
enfatizarem, em seus inícios, as características
de sistemas ou dispositivos com uma visão fun-
cional voltada para equipamentos de aplicações
operacionais. Esta metodologia recebe a deno-
minação de “top – down design”. Nesta abor-
dagem de ensino, os conhecimentos científicos,
nas áreas de eletromagnetismo, dispositivos ele-
trônicos, métodos matemáticos computacionais,
etc., são apresentados de forma integrada com
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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
o objetivo de proporcionar aos especialistas a
compreensão de procedimentos de projeto e
medidas eletrônicas e optoeletrônicas. Adicio-
nalmente, os conhecimentos e procedimentos
científicos de cada curso são aprofundados so-
mente quando são indispensáveis para a com-
preensão detalhada de informações específicas,
isto é, “just in time”. Os três anos de prática
pedagógica assim fundamentada foram utiliza-
dos para estruturar as disciplinas do módulo
técnico, que, atualmente, tem apenas um se-
mestre de duração.
No âmbito do módulo operacional, consti-
tuído pelo Curso Básico de Guerra Eletrônica
(CBGE), os resultados acadêmicos mais expressi-
vos são representados pelo aperfeiçoamento téc-
nico do seu conteúdo programático, dinamizado
pelo fato de que este módulo passou a constituir
o pré-requisito para o módulo técnico do CEAAE.
Esta evolução deve-se, essencialmente, aos esfor-
ços dos Instrutores do CGEGAR e GITE. Entretan-
to, alguns dos resultados obtidos em TI’s, bem
como a participação de professores e pesquisa-
dores do CTA como conferencistas, também têm
contribuído para a inserção de inovações acadê-
micas no CBGE. Deve ser ressaltado que o CBGE
além de constituir pré-requisito para o CEAAE que,
em média, tem tido oito alunos por ano, também
forma, anualmente, aproximadamente trinta ofi-
ciais dos três Comandos Militares.
A organização acadêmica do CEAAE, ora
descrita, referiu-se essencialmente aos três primei-
ros anos do CEAAE. Entretanto, em 5 de março de
2001, a Direção do CTA inaugurou as instalações
do Laboratório de Pesquisa em Guerra Eletrônica
e Vigilância Eletromagnética da Amazônia. Este
laboratório, que revela a determinação da Dire-
ção do CTA em consolidar a área de Guerra Ele-
trônica, terá grande impacto na organização do
CEAAE, quando toda a sua infra-estrutura estiver
operacionalizada. A análise da evolução do
CEAAE, à luz deste novo laboratório, será abor-
dada nas próximas seções.
Consolidação Estratégica do CEAAEEm atendimento à demanda apresentada, nos
últimos três anos o CEAAE possibilitou a especia-
lização em Guerra Eletrônica, para os três Coman-
dos Militares, conforme indicado na tabela I.
Considerando-se, como critério inicial, ape-
nas o número de especialistas capacitados com
conhecimento sobre Guerra Eletrônica, já se ob-
tém uma conclusão positiva sobre a contribuição
do CEAAE para a capacitação de setores
operacionais da Defesa Brasileira.
Entretanto, para mensurar a contribuição do
CEAAE deve ser adotada uma métrica mais ela-
borada que atribui importâncias para a doutrina e
o “know – how”, do modelo iteano de ensinar e
pesquisar, que foram sinteticamente apresentadas
anteriormente. Referindo-se à primeira seção, no
que tange à subordinação do ITA ao CTA, ressal-
ta-se que a métrica adotada deve levar em consi-
deração a infra-estrutura científica e tecnológica
e o complexo industrial, principalmente a parte
localizada nas proximidades de São José dos Cam-
pos, com o qual o CTA mantém contrato para de-
senvolver tecnologias para o setor aeroespacial.
À luz deste critério mais abrangente, torna-
se mais evidente a necessidade de consolidação
do CEAAE, principalmente por parte do
COMGAR, que necessita realizar a capacitação,
de forma continuada, dos seus setores
operacionais. A óptica do corpo docente do
módulo técnico do CEAAE também revela e atri-
bui uma grande importância estratégica para a
consolidação da especialização, tendo em vista
as seguintes assertivas:
Tabela 1
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○12
Spectrum
·O ITA, em atendimento à solicitação do
Comando da Aeronáutica, é uma das instituições
que tem como atribuição a realização de cursos
de especialização.
·O CEAAE possibilita a participação do ITA
em atividades de interesse operacional por meio
de atividade de ensino e pesquisa.
·Os alunos do CEAAE, por meio da execu-
ção de TI, podem exercer uma ação integradora
entre o ITA e os outros Institutos do CTA, em áreas
de interesse operacional.
·Os alunos do CEAAE, por meio da execu-
ção de TI, podem promover a participação do ITA,
em colaborações com indústrias autorizadas, em
atividades de interesse operacional do setor
aeroespacial.
·A orientação de TI pode proporcionar aos
professores do ITA a oportunidade para identificar
linhas de pesquisa, de interesse operacional, que
exijam o desenvolvimento de pesquisa avançada
em programa de pós-graduação stricto sensu. Em
particular ressalta-se o Programa Integrado de
Graduação e Mestrado (PIGM).
·Os professores responsáveis pelas discipli-
nas do CEAAE poderão atuar de forma integrada
segundo uma concepção que não é usual em
curso de graduação ou pós-graduação strictosensu.
Na avaliação do tempo necessário para efe-
tivar a consolidação do CEAAE deve-se levar em
consideração o perfil técnico-científico do corpo
discente colocado à sua disposição. Portanto, vá-
rias iniciativas estão sendo desenvolvidas, pelo
CTA e CGEGAR, com o objetivo de difundir o
modelo de ensino e pesquisa do CEAAE junto aos
órgãos de ensino e setores operacionais dos três
Comandos Militares.
Um aspecto importante para a continui-
dade de fluxo de candidatos para o CEAAE é
dar ao público-alvo o conhecimento de sua
existência e importância. A divulgação reali-
zada pela Revista Spectrum do Comando-Ge-
ral do Ar, editada semestralmente com tiragem
de 2000 exemplares (n° 03 / março / 2001),
tem contribuído para a fixação da importân-
cia da pós-graduação, lato-sensu e stricto sensuem Guerra Eletrônica. Uma abordagem,
prospectiva, bem estruturada de um programa
de pós-graduação, no ITA, foi apresentada no
primeiro número da Revista Spectrum.
Outra forma de divulgação, com grande
importância estratégica, tem sido a apresenta-
ção oral do TI pelo formando. Esta metodologia
atinge orientadores externos, e oficiais que
podem influenciar na designação de novos
candidatos para o CEAAE.
Mais ainda, em agosto de 2001, dias 28 e
29, foi realizado no CTA, o III Simpósio de
Guerra Eletrônica. Este evento possibilitou uma
divulgação muito ampla da Guerra Eletrônica,
inclusive junto a algumas indústrias, e contou
com a contribuição de vários ex-alunos do
CEAAE, por meio de apresentações técnicas.
Para finalizar, os Encontros de Centros de
Guerra Eletrônica dos Comandos Militares têm
proporcionado oportunidades para divulgações
de resultados operacionais e identificações de
necessidades operacionais em Guerra Eletrô-
nica.CEAAE como Dínamo de uma
Pós-graduação Stricto SensuAtualmente, as capacidades para conce-
ber e incorporar inovações em procedimentos
e tecnologias são critérios utilizados em orga-
nizações públicas e privadas como indicado-
res da competência para realizarem suas atri-
buições em uma sociedade continuamente em
evolução.
Esta sistemática já foi incorporada por or-
ganizações militares de vários países nos quais
a compreensão da “Revolution in the Military
Affairs (RMA)” – Revolução em Assuntos Mili-
tares – tem guiado programas de capacitação
de recursos humanos e de renovação das
equipagens. No Comando da Aeronáutica do
Brasil, a RMA tem recebido atenção conside-
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Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
rável, nos últimos anos, conforme demonstra-
do em artigo publicado na Revista Spectrum
de Agosto de 2000.
Um programa de pós-graduação strictosensu em guerra eletrônica, combinado com
o CEAAE, pode constituir um apoio expressi-
vo para a inserção das inovações necessárias
para a prática de uma RMA em atividades
operacionais no Brasil. Entretanto, é necessá-
rio que seja cuidadosamente estudada a natu-
reza de um programa de pós-graduação com
esta finalidade, para evitar a criação de um
curso de pós-graduação que se superponha aos
cursos já existentes no ITA. Não deve causar
nenhuma surpresa saber que este tema tem
ocasionado várias reflexões no ITA, onde pro-
gramas de pós-graduação, predominantemente
orientados para as pesquisas básicas, existem
desde meados dos anos sessenta e já proporci-
onaram resultados expressivos em várias áre-
as de pesquisa de interesse do setor
aeroespacial.
A gênese e a consolidação do modelo de
pós-graduação correntemente adotado pelo
ITA, inspiraram-se em uma concepção ampla-
mente utilizada por universidades norte-ame-
ricanas. Seus fundamentos são rediscutidos em
uma publicação recente [5].
A natureza e a organização da pós-gradu-
ação necessária em uma instituição que atua
como dínamo de uma RMA são questões atu-
ais em várias Nações avançadas.
A compreensão da relevância destas ques-
tões pode ser auxiliada pela representação
esquemática apresentada na Fig. 1, a qual fun-
damenta-se na extraordinária análise apre-
sentada por Donald E. Stokes em: Paster’s
Quadrant– Basic Science and Technological
Innovation [6].
De acordo com a representação
esquemática, a compreensão constitui o com-
bustível e o produto de uma pesquisa básica
pura (Pure Basic Research). Por outro lado,
em atividades de pesquisa aplicada e desen-
volvimento tecnológico a motivação e o re-sultado são a tecnologia disponível e a
tecnologia avançada, respectivamente. Uma
boa ilustração do primeiro tipo de pesquisa é
o trabalho de Niels Bohr, em Física Atômica,
já o segundo tipo é bem representado pelos
trabalhos de Thomas Edison. Em organizações
onde estas duas concepções de pesquisa,
identificadas pelas partes direita e esquerda
da Fig. 1, são executadas de forma indepen-
dente, têm sido observadas grandes dificul-
dades em realizar inovações e incorporações
em tecnologia e processos. A interface entre
estes dois modelos pode ser realizada, de for-
ma dinâmica, por meio da pesquisa básicainspirada em aplicações (Use-Inspired Basic
Research). Deve ser ressaltado que o modelo
apresentado na Fig. 1 é eminentemente dinâ-
mico e realimentado, uma vez que os resul-
tados obtidos, compreensão e tecnologiaavançada, iniciam um novo ciclo. O CTA re-
flete este modelo de sucesso.
A metodologia de ensino e pesquisa em
Guerra Eletrônica no ITA, perfeitamente inte-
grado ao CTA, pode ser enormemente acele-
rada pela prática do modelo ilustrado na Fig.
1, se o CEAAE, devidamente consolidado, for
utilizado como dínamo propulsor da ativida-
de de pesquisa básica inspirada em aplicações.
Neste modelo, ainda prospectivo, a responsa-
bilidade pela experiência em pesquisa básicaFigura 1
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○14
Spectrum
inspirada em aplicações ficaria a cargo da Pós-
graduação Stricto Sensu em Guerra Eletrôni-
ca, a qual poderá ser implementada a partir
do inicio de 2002. Finalmente, se apresenta-
dos resultados promissores, a pós-graduação
como um todo praticada no ITA, poderia ser
ampliada para realizar, não só a pesquisa bá-
sica, mas também pesquisa básica inspirada
em aplicações.
As ações já implementadas que estão ace-
lerando a implementação e a avaliação pro-
gressiva do modelo são: a inauguração do La-
boratório de Pesquisa em Guerra Eletrônica e
Vigilância Eletromagnética da Amazônia e a
celebração do Termo de Cooperação entre o
EMGAR e o CTA, em março de 2001, com cin-
co anos de duração.
A execução plena do modelo proposto
exige um quadro de pessoal capacitado para a
natureza do empreendimento científico e
tecnológico, conforme ilustrado na Fig. 1.
Entretanto, levando-se em consideração as
interdependências entre as várias atividades,
algumas soluções para os problemas decorren-
tes da falta de pessoal podem ser beneficiadas
pelas participações, na forma de professores
visitantes ou conferencistas, em tempo parcial
e períodos bem determinados, de vários ex-
alunos e oficiais, com formações científicas em
áreas afins, dos três Comandos Militares.
É oportuno ressaltar, mais uma vez, que a
implementação do programa de pós-gradua-
ção com a concepção ilustrada na Fig. 1 deve
ser realizada de acordo com um planejamen-
to que possibilite a prática, de forma continu-
ada, das ações que proporcionam resultados
inequívocos que indicam se os objetivos estão
sendo alcançados.
Finalmente, à luz da Política de C&T para
a Defesa Nacional, devem ser realizadas ges-
tões com o objetivo de transformar a atividade
de pós-graduação em Guerra Eletrônica no ITA
em uma atividade que integra a Estratégia de
Ensino e Pesquisa para a Defesa Nacional.
Considerações FinaisEste artigo, propositadamente escrito na
forma de um ensaio, tem a finalidade de apre-
sentar uma visão pessoal sobre ações e plane-
jamento estratégico para consolidar o Ensino
e a Pesquisa em Guerra Eletrônica no ITA. Ob-
viamente, as opiniões
aqui emitidas resultam
das colaborações de
inúmeros companhei-
ros de jornada, que,
certamente, reconhe-
cem no texto as marcas
de suas pegadas. Entre-
tanto, para evitar omis-
sões, não intencionais, não são feitas citações
nominais, exceto quando são inevitáveis.
Algumas das proposições apresentadas
merecem estudos mais aprofundados, quer
para validá-las ou substituí-las por sugestões
mais valiosas.
Referências Bibliográficas[1] Revista de Formados do ITA – Turma 96
[2] Ministério de Aeronáutica Portaria Nº 304
/ GM3. [sl:sn], Brasília, maio, 1998 (Cria-
ção do CEAAE no ITA)
[3] Comando da Aeronáutica. MCA500-3, Co-
mando e Controle na Guerra, [sl:sn], mar-
ço, 2000.
[4] Almeida, J. E. P., “Análise Operacional”,
Spectrum – Revista do Comando – Geral do
Ar, Nº 02 – Agosto de 2000 pg. 25-27 e 33.
[5] Zachary, G. P., “Endless Frontier – Vannevar
Bush, Engineer of The Americam Century”,
The Free Press, New York, NY, 1997.
[6] Stokes, D. E., “Pauster’s Quadrant – Basic
Science and Technological Innovation”,
Brooking Instituition Press, Washington, DC,
1997.
Fig. 2 - Ten.-Brig.-do-ArMarini na inauguraçãodo Laboratório dePesquisa de GuerraEletrônica e VigilânciaEletromagnética daAmazônia.
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Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
O Paradigma do Poder Aéreo Revisado
Com a criação do Ministério da Defe-
sa, a sociedade brasileira passou a dis-
cutir o papel das Forças Armadas.
Muito embora conste no artigo 142 da Consti-
tuição do Brasil a destinação das mesmas e a
Lei Complementar Nº 97 especifique as nor-
mas gerais a serem adotadas na organização,
no preparo e no emprego da Aeronáutica, ne-
nhum documento, mesmo no âmbito interno
da Aeronáutica clarifica exatamente quais são
as missões a cargo da Força Aérea. E para que
isso possa ser definido, faz-se necessária uma
revisão conceitual a respeito das possibilida-
des de emprego do Poder Aéreo nos dias atu-
ais.
No meio ambiente atual, o Poder Aéreo
pode ser aplicado de três diferentes modos, o
que sugere um novo paradigma para a Força
Aérea Brasileira no Século XXI. As operações
aéreas aqui descritas podem ser similares às
atuais em todas as três situações, mas o raci-
ocínio a ser empregado são totalmente dife-
rentes em cada uma delas. O paradigma pode
ser aplicado aos mais variados cenários, des-
de operações de manutenção de paz até a
guerra convencional em larga escala. Ele ul-
trapassa o tradicional divisor “estratégico-tá-
tico”, que tem se provado artificial e limitante,
já que a eficácia relativa de uma tarefa ou
missão específica é dependente das decisões
tomadas ao nível político do conflito. Por fim,
oferece a oportunidade de uma apropriada
revisão da antiga categoria de “operações in-
dependentes” [1].
PREPARAÇÃO DO MEIO AMBIENTEA primeira aplicação ou contribuição do
Poder Aéreo às operações conjuntas ou com-
binadas é preparar o meio ambiente para que
as forças de superfície possam ser desdobra-
das com maior eficácia.
Por exemplo, as Forças Aéreas Aliadas
o fizeram com sucesso antes do Desembar-
Carlos Roberto Liberato – Ten.-Cel.-Av.3SC31-EMAER
que da Normandia, em 1944 [2]. A Luftwaffe
falhou em fazê-lo em 1940 e a Operação “Sea
Lion” (invasão da Grã Bretanha) foi abando-
nada [3]. Na atualidade, com
as reformulações conceituais
inseridas pela Guerra do Gol-
fo, a “preparação aérea” terá
a mais alta prioridade [4]. En-
tre seus objetivos, estarão in-
clusos:
- Negar ao oponente ou
agressor a aplicação de sua
estratégia;
- Criar circunstâncias fa-
voráveis ao emprego de nos-
sa própria estratégia; e
- Reduzir o esforço de
combate das forças de super-
fície amigas e, assim, reduzir
os custos, os riscos e as bai-
xas.
A preparação do ambi-
ente de batalha pela Força
Aérea se dará pela
implementação das seguintes
características do Poder Aéreo: alcance, pe-
netração, precisão, versatilidade e capacida-
de de resposta oportuna [5]. Assim, reduzirá
a capacidade de combate do oponente ou
agressor pela destruição de seus suprimentos,
pelo bloqueio das rotas de ressuprimento e
de reforço, pela negação de sua capacidade
de manobra e concentração de forças, pela
ruptura em seu Sistema de Comando e Con-
trole, destruição de seus vetores aéreos e de-
fesas anti-aéreas, bem como pelo estabeleci-
mento de bloqueios e embargos.
Isso criará uma situação aérea favorável
ao desdobramento da força de superfície no
Teatro de Operações pelo estabelecimento do
domínio das informações, o que será obtido
por intermédio da vigilância e do reconheci-
mento e pela negação de oportunidades si-
O Ten.-Cel Liberato é pilotode Patrulha, concluiu o CFOV em1982 e exerce atualmente o cargode Adjunto da Seção de Comandoe Controle, Guerra Eletrônica e Sis-temas Operacionais da 3ªSubchefia do EMAER. Possui, en-tre outros, os cursos Básico e dePlanejamento de Guerra Eletrôni-ca (COMGAR), Electronic WarfareSpecialist Course (Inglaterra),Electronic Warfare Operations forStaff Officers Course (EUA) e Data-Link Net Management Course (Ale-manha).
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○16
Spectrum
milares ao oponente [6].
A necessidade dessa preparação pela
Força Aérea deverá ser identificada, juntamen-
te com a contribuição geral do emprego do
Poder Aéreo, antes do desdobramento das
forças de superfície, para que as operações
conjuntas ou combinadas possam ser levadas
a efeito. A preparação do terreno pela Força
Aérea, por exemplo, foi fundamental para a
vitória na Europa Ocidental, em 1944, na
Guerra do Golfo, em 1991 e na Bósnia, em
1995 [7].
APOIOA segunda contribuição do Poder Aéreo
às operações conjuntas ou combinadas é refe-
rente ao apoio das forças de superfície já des-
dobradas, nos mais variados níveis de intensi-
dade dos conflitos. Entre suas atividades, po-
dem ser listadas as seguintes [8]:
- Prover liberdade de ação às forças de
superfície pela negação da capacidade de in-
terferência aérea inimiga ou por mísseis;
- Evitar a interferência das forças de su-
perfície inimigas;
- Inibição da capacidade de manobra ini-
miga;
- Negação da capacidade de concentra-
ção de forças inimigas;
- Negação da capacidade de reconheci-
mento de forças inimigas;
- Ruptura na estrutura de Comando e
Controle inimiga;
- Prover a mobilidade necessária às for-
ças amigas;
- Prover o ressuprimento das forças ami-
gas;
- Prover o reconhecimento da frente de
batalha; e
- Prover o apoio de fogo amigo.
Se todas as demais atividades puderem
ser levadas a efeito com eficácia e eficiência –
incluindo os acertos no campo político do
conflito e o comprometimento das forças de
superfície – o apoio de fogo deverá ser uma
solicitação esporádica e somente em casos
extremos. Entretanto, ele permanecerá um po-
der de deterrência em muitas outras circuns-
tâncias.
Para o emprego do apoio aéreo em sua
máxima capacidade, diversos pré-requisitos
são essenciais. Podem ser citados:
- Conceitos, planejamento e treinamen-
to conjunto e combinado exaustivamente tes-
tados e executados;
- Designação conjunta dos alvos inimi-
gos – por exemplo, inclusão das forças especi-
ais e unidades de artilharia contra as defesas
áereas oponentes;
- Um Comandante único para todo o Te-
atro de Operações que, caso não seja um ho-
mem de Força Aérea, deverá possuir um úni-
co Assessor/Comandante de Força Aérea para
coordenar todas as operações aéreas no TO; e
- Meios múltiplos de transmissão-recep-
ção de dados ar-superfície que permitam as
comunicações em tempo tão próximo do real
quanto possível1 .
“OPERAÇÕES DISTINTAS”(OPERAÇÕES INDEPENDENTES)A terceira contribuição do Poder Aé-
reo é, atualmente, chamada de “Operações
Independentes”. Neste trabalho, ver-se-á
que o mais correto seria chamá-las de “Dis-
tintas”, o que, segundo a definição do “Di-
cionário Aurélio” é “que não se confunde,
isolado, diverso, diferente”, uma palavra
que explicita melhor o conceito.
Em alguns casos, a possessão de terri-
tório pode não ser a questão. Por sermos
um país de tradição pacifista, o Governo
pode não ter vontade de empregar o poder
1 Esses pré-requisitos forçarão a uma convergência teórica edoutrinária entre as Forças Singulares envolvidas nas operaçõesno nível operacional da guerra (Nota do Autor).
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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
militar na íntegra 2 [9]. Ou, usando exem-
plos externos, esse emprego pode ser puni-
tivo, como na Líbia, em 1986 ou preventi-
vo, como contra Osirak, no Iraque, em
1981. O Poder Aéreo moderno pode atacar
os pontos fortes ou fracos do oponente com
mais oportunidade (“pronta resposta”) além
do alcance ou capacidade das forças de
superfície amigas.
Até bem pouco tempo atrás, o “ataque
estratégico” era um instrumento “tosco”.
Hoje, nas “Operações Distintas” (Indepen-
dentes), as munições guiadas com precisão
(PGM – Precision-Guided Munitions) têm-
se transformado em um instrumento afiado
que, em muitas ocasiões, vêm sendo em-
pregadas no apoio direto da política. Essas
armas têm sido empregadas como meios de
deterrência ou coerção 3 [10]. No plano
político, podem ser colocadas ou retiradas
em coordenação com o uso da diplomacia
e outros meios de pressão (notadamente,
econômicos). Ações aéreas diretas, “Distin-
tas” (Independentes), podem ser levadas a
efeito em todos os níveis, desde uma res-
posta a atos terroristas até ataques a alvos
específicos em conflitos de larga escala.
Uma força aérea que é conhecida por
possuir meios de longo alcance, com ou sem
reabastecimento aéreo, de um país com um
governo que é conhecido por ter a determi-
nação de empregá-la, pode influenciar di-
retamente a política, pelo simples fato de
existir. Como disse, na década de 30 do sé-
culo passado, Roosevelt: “Se quer ser ouvi-
do, fale baixo, mas tenha uma bengala gros-
sa”. Um aumento no estado de alerta e a
convocação do pessoal de primeira linha
são, atualmente, o equivalente moderno da
mobilização levada a efeito no princípio do
Século XX. A grande diferença é que este
tipo de ação pode ser levado a efeito rapi-
damente como acompanhamento das pres-
sões diplomáticas [11]. É o equivalente aé-
reo da “existência da frota”, de Mahan,
exceto que a diplomacia já pode ser apoia-
da sem os gastos de um desdobramento de
superfície. Ou seja, “o poder de pressão
político-militar pode influir sem sair de seu
território”.
A capacidade de deterrência é relevan-
te como instrumento de indução a soluções
pacíficas, tanto seja ela nuclear como em
caso de confrontações convencionais. Na
Bósnia, a contribuição do Poder Aéreo foi
retardada por uma falta de consenso e de-
terminação política por parte da ONU. Con-
seqüentemente, os sérvios não se sentiram
inibidos ou coagidos a negociações sérias
até que a Operação “Deliberated Force”
fosse lançada em setembro de 1995.
DESIGNAÇÃO DE ALVOS NA GUERRALIMITADA
A habilidade do Poder Aéreo em ata-
car direta e independentemente com força
total um elemento crí t ico ou uma
vulnerabilidade distante pode ser explora-
da nos mais variados cenários, mas também
aqui há a necessidade de se reavaliar os
antigos hábitos da designação de alvos.
Por exemplo, se ataques à infra-estrutura
industrial ou econômica do inimigo forem au-
torizados, eles deverão ter um impacto instan-
tâneo. De outra forma, esses ataques serão
penalizados de maneira inaceitável pela pos-
2 Esse aspecto, tratado em “Beyond Gunboat Diplomacy:Forceful Applications Of Airpower In Peace EnforcementOperations”, tese de James O. Tubbs, de junho de 1995 para a“The School Of Advanced Airpower Studies”, se aplica ao casoda política externa brasileira (Nota do Autor).
3 O problema da oportunidade do emprego decisivo da forçapara desestruturar o ciclo decisório de um oponente é tratadocom detalhes em “John Boyd And John Warden: Air Power’sQuest For Strategic Paralysis”, tese de David S. Fadok, de junhode 1994 para a “The School Of Advanced Airpower Studies”(Nota do Autor).
4 As Operações “Linebaker” foram um exemplo típico de comoa interferência direta do Poder Político na escolha dos alvosimpediu a consecussão dos objetivos militares (Nota do Autor).
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○18
Spectrum
sibilidade do estabelecimento de uma oposi-
ção continuada dentro do limite de tempo dis-
ponível para as operações. Mesmo assim, es-
ses ataques devem levar em consideração a
reconstrução e o repovoamento do local após
o conflito. Em outras palavras, deverão ser con-
sistentes com os limites impostos pelas circuns-
tâncias políticas, o que pode ser frustrante para
as tripulações empregadas nas missões.
Um exemplo clássico desse fator ocor-
reu no Vietnã4 , onde as restrições políticas
impuseram campanhas graduais de bombar-
deio intermeadas com pausas diplomáticas, o
que foi explorado pelo Vietnã do Norte para o
reparo dos danos e reforço das defesas anti-
aéreas. A fraqueza apresentada pelos bombar-
deios não se encontra na tentativa de coorde-
nar o emprego da força com a diplomacia, mas
sim em permitir ao Vietnã do Norte explorar
as pausas nos ataques. Nas campanhas do fu-
turo, as negociações diplomáticas deverão
proibir expressamente a reconstrução ou o re-
forço militar – e serem utilizadas como instru-
mento de pressão política.
Agora, precisa-se enfatizar a oportunida-
de diplomática proporcionada pela aplicação
“distinta” (independente) do Poder Aéreo, es-
pecialmente com a precisão das PGM reque-
rendo um número menor de aeronaves atacan-
tes. E isso significa voltar a atenção ao
“gradualismo” ao invés da concentração de
forças – como usada na Tempestade no Deser-
to, mas em adição uma a outra 5 [12].
Existe pouca justificativa histórica, mes-
mo em uma guerra total, para campanhas de
bombardeio destinadas a destruir o moral da
população civil e, em conseqüência, exercer
pressão sobre o Governo inimigo. Quando
Trenchard afirmou que o impacto do bombar-
deio no moral era vinte vezes mais efetivo que
ataques aos meios materiais do oponente, essa
assertiva refletia o poder negligenciável das
bombas de 1918, ao invés do seu impacto de-
cisivo no moral das massas.
Desde então, “moral” e “força de vonta-
de” têm permanecido alvos irreais ou vagos.
Um governante autocrático permanecerá
intocado pelo sofrimento da população e irá
suprimir quaisquer reclamações. Uma popu-
lação democrática tenderá a responder como
os ingleses em 1940 ou os norte-americanos
após Pearl Harbor (ou mais recentemente após
os ataques ao World Trade Center). Nações
fanáticas, por sua vez, muito provavelmente,
serão tomadas por um espírito de vingança e
não de submissão.
Além do mais, ao se considerar ataques
contra a população civil, o “fator CNN” deve-
rá ser levado em consideração. Imagens de
mortes civis ou a miséria causada pelos ata-
ques podem fazer boa figura na mídia, mas
não no Poder Aéreo amigo. O bombardeio
indiscriminado ainda carrega a bagagem emo-
cional de Guernica, Dresden e Hiroshima. Um
ditador como Saddam Hussein terá ganhos
propagandísticos importantes das imagens de
destruição de depósitos de água potável, cen-
trais elétricas e outros serviços de utilidade
pública. Tal emprego do Poder Aéreo, prova-
velmente colocará em risco a Política da Na-
ção, especialmente se esta for dependente do
apoio internacional, mais do que ampliará seu
espectro de atuação.
A liderança do país oponente pode ser
um alvo produtivo e legítimo quando o pro-
cesso decisório é, indisputavelmente, autocrá-
tico. Mas, mesmo assim, há a necessidade de
se ter uma alternativa disponível e que seja fle-
xível, para que a posição do governo seja sus-
tentável e permita a assinatura de acordos de
paz. A imposição de uma derrota militar é,
geralmente, mais produtiva que a criação de
mártires.
5 O conceito de aplicação gradual do emprego é descrito emdetalhes em “Joint Operations in the Gulf War: An AllisonAnalysis”, tese de Paul Mason Carpenter, de junho de 1994 paraa “The School Of Advanced Airpower Studies” (Nota do Autor).
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Por todas essas razões, pode-se argumen-
tar que, em um futuro previsível, as “Opera-
ções Distintas” (Independentes) deverão estar
clara e diretamente associadas com a capaci-
dade militar oponente em atingir seus objeti-
vos políticos.
OPERAÇÕES DE BAIXA INTENSIDADEEm um conflito não-convencional, onde
um oponente ou beligerante não combate de
maneira tradicional, o Poder Aéreo pode negar
locais seguros aos insurgentes, inibir a concen-
tração de forças e negar as oportunidades e van-
tagens de uma escalada de nível no conflito.
Em missões de paz, o Poder Aéreo pode
receber a tarefa específica de reduzir a força
militar usada por um beligerante, de modo a
extrair concessões e forçar as condições de um
tratado de paz. Nessas circunstâncias, o Poder
Aéreo se torna um equalizador com uma rela-
ção custo-benefício muito favorável. Ele pode
ser rapidamente desdobrado para bases em
território fronteiriço e, igualmente, recolhido
sem as penalidades e custos decorrentes da
extração de forças de superfície. No meio tem-
po, pode ser mantido em variados níveis de
prontidão, apto a responder junto com as pres-
sões diplomáticas, mas sem os problemas de
se manter forças de superfície em um país hostil
durante um cessar-fogo. Pode permanecer em
suas bases, dentro do alcance de suas aerona-
ves, indefinidamente, com uma relação de cus-
to-benefício muito mais compensadora para os
longos períodos de tempo exigidos por forças
de manutenção de paz [6].
Em geral, o emprego do Poder Aéreo ofe-
rece as seguintes vantagens:
- Comprometimento mínimo de forças;
- Efeitos provocados facilmente
observáveis;
- Possibilidade de baixo índice de casua-
lidades;
- Custo reduzido;
- Exerce efeito residual; e
- Facilidade de extração em situações não
satisfatórias e imprevisíveis, ou mesmo em si-
tuação de assinatura de um cessar-fogo.
Se insurgentes, tropas irregulares ou pro-
vocadores receberem apoio externo, o Poder
Aéreo pode reforçar a pressão diplomática em
suas fontes. A apreensão ou interceptação de
indivíduos terroristas ainda permanecerá como
tarefa para as forças de segurança de superfí-
cie, mas qualquer patrocinador externo per-
manecerá vulnerável ao longo braço do Poder
Aéreo. Outro exemplo externo que abre um
bom precedente para o futuro foi a Operação
“El Dorado Canyon”, contra o General
Khadaffi.
Em todos esses cenários, os governos “ami-
gos” que forem intervir, perseguem objetivos
limitados, sensíveis ao custo e às baixas de pes-
soal em caso de envolvimento prolongado e às
implicações políticas e psicológicas da possibi-
lidade de derrota e humilhação. O Poder Aéreo
oferece uma resposta alternativa com a dura-
ção e localização do emprego à escolha do
governo “amigo”. Ações de polícia por Forças
Aéreas profissionais podem vir a ser requisita-
das contra crimes internacionais, tais como trá-Fig. 1 – Combate noturno nos céus de Londres, em 1940 – “Nunca, no campo dosconflitos humanos, tantos deveram tanto a tão poucos”!
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Spectrum
fico de drogas ou pirataria. A capacidade de
vigilância e reconhecimento pode ser amplia-
da. Plantações de drogas, laboratórios de
processamento, aeronaves e embarcações jun-
tamente com frutos altamente tangíveis de gan-
hos ilícitos, tais como mansões residenciais dos
chefes de cartéis, podem ser destruídos mesmo
quando estejam fora do alcance ou “inclina-
ção” das autoridades legais locais. Essas ativi-
dades não impedirão o crime internacional, mas
diminuirão o fluxo de mercado, reduzindo as
vantagens materiais obtidas por intermédio dele
e introduzirão em cena penalidades à altura da
brutalidade das próprias atividades ilegais.
O Poder Aéreo é particularmente apropri-
ado para operações humanitárias em resposta
a desastres naturais, em que não haja um
contencioso político em cena. Essas oportuni-
dades para demonstrações de boa vontade, au-
xílio, e aprovação pública deverão continuar
sendo utilizadas por forças aéreas que tenham
poucas oportunidades de combate para de-
monstrar seu valor e competência profissional.
Finalmente, um problema não relaciona-
do a qualquer ambiente específico vai reque-
rer a contribuição, de uma maneira ou de ou-
tra, do Poder Aéreo. A proliferação de armas
de destruição em massa pode ser restringida
por tratados internacionais. Se isso ocorrer,
como todos os demais tratados de controle de
armamento, vai-se precisar da monitoração e
vigilância por meios aéreos e espaciais. Se isso
não ocorrer, o Poder Aéreo poderá ultrapassar
os obstáculos causados por engodos, camu-
flagens, mobilidade e proteções. O ataque
preemptivo de Israel à instalação nuclear
iraquiana de Osirak oferece uma solução pre-
cedente ao problema em tela muito mais con-
troversa.
O NOVO “ESPAÇO” DE BATALHAQualquer que seja a natureza das ope-
rações onde seja empregado o Poder Aéreo
– na preparação, em apoio ou “Distintas”
(Independentes) e diretas – existe uma ca-
racterística que é comum a todas. O campo
de batalha do Poder Aéreo não é confinado
pela Linha de Contato entre as tropas de su-
perfície, pelas costas ou fronteiras. O “es-
paço” de batalha do Poder Aéreo é aquele
que a força aérea estabelecer e será restrito
apenas pelo alcance dos vetores a serem
empregados e pelas informações disponí-
veis. Este é um princípio que é válido para
qualquer força aérea [8].
Algumas vezes se discute que o des-
dobramento de forças de superfície demons-
tra um maior envolvimento de um governo
do que o emprego do Poder Aéreo. Isso per-
mite levantar dois pontos contrários a essa
assertiva. Primeiro (e, novamente, usando
um exemplo externo, à falta de um similar
nacional), as mortes dos “Marines” norte-
americanos em Beirute e das tripulações de
helicópteros na Somália – televisadas para
todo o planeta – rápida e tragicamente en-
cerraram aqueles “envolvimentos”. E, se-
gundo, é a percepção que o oponente pos-
sui a respeito da vontade de um governo
em permanecer “envolvido” que conta.
Uma resposta poderosa com risco reduzi-
do, provavelmente, terá um impacto muito
maior do que dar-lhe a oportunidade de
explorar as condições locais de modo favo-
rável.
O que precisa aqui ser enfatizado é
que, quanto maior a preocupação com a
possibilidade de ocorrerem baixas nas tro-
pas envolvidas, maior será a razão de se
explorar a vantagem tecnológica propicia-
da pelo emprego balanceado do Poder Aé-
reo e, assim, reduzir ao mínimo o tamanho
6 A questão da necessidade de obtenção da igualdadetecnológica é descrita em “The Future of NATO’s TacticalDoctrine”, tese de Linda E. Torrens, de junho de 1996 para a“The School Of Advanced Airpower Studies” (Nota do Autor).
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das tropas de superfície expostas às ações
do oponente. Isso significa explorar, em toda
a sua capacidade, o Poder Aéreo disponí-
vel estando preparado para aceitar algumas
perdas.
ATINGINDO A METANa preparação para tantas incertezas,
em um período de acelerado desenvolvi-
mento e proliferação da tecnologia, não
existem respostas fáceis. Superioridade
tecnológica não é um luxo: a oposição será,
cada vez mais, sofisticada, ainda que em
menor quantidade, em todos os níveis de
intensidade de conflito, em qualquer ponto
do “espaço” de batalha 6 [13]. Em virtual-
mente quaisquer circunstâncias previsíveis
e, principalmente, na Região Amazônica, a
Força Aérea terá que lidar com a possibili-
dade de inferioridade numérica, com as dis-
tâncias envolvidas, o acesso aos alvos, a
vulnerabilidade ao armamento do inimigo.
E para isso, a resposta é ter a superioridade
tecnológica, em particular o domínio da in-
formação e a economia de esforço.
CONCLUSÃOMuitas questões permaneceram
intocadas, entre as quais o balanceamento
entre o emprego de aeronaves tripuladas,
UAVs e satél i tes, bem como o
questionamento entre sistemas defensivos e
ofensivos. Mas, como já foi observado no
passado, não é a possessão de tecnologia,
mas o seu domínio intelectual que determi-
nará sua importância em um conflito.
Enquanto os novos vetores previstos
colocam a FAB no Século XXI, os conceitos
permanecem arraigados ao pensamento de
décadas passadas. As denominações “táti-
co” e “estratégico” são relíquias de confli-
tos dominados por campos de batalha (de
superfície) e combates internacionais
irrestritos.
Atualmente, em situações de emprego
restrito conjunto ou combinado, pode ser
criado um novo paradigma e uma nova es-
trutura conceitual, nos quais o Poder Aéreo
irá, nos mais variados cenários, preparar o
terreno para as forças de superfície, apoiá-
las ou operar “distintamente” contra alvos
além do alcance ou capacidade das forças
de superfície envolvidas.
Em um ambiente de circunstâncias e
resposta política imprevisíveis, o emprego
do Poder Aéreo pode oferecer uma propo-
sição altamente versátil, bem como politi-
camente atrativa.
Por fim, pode-se afirmar que o Poder
Aéreo oferece as vantagens de relação cus-
to-benefício favorável, risco mínimo, opor-
tunidade e possibilidade de baixas reduzi-
das nos mais variados cenários – se empre-
gado, algumas vezes antes, algumas vezes
conjuntamente e, algumas vezes, “distinta-
mente” das demais Forças Singulares. O
emprego do Poder Aéreo é uma opção que
deve estar disponível qualquer que seja o
tamanho e capacidade da Força Aérea Bra-
sileira.
“É costume nos países democráticos
censurar os gastos feitos com armamentosFig. 2 – Ciclo de Comando e Controle – de John Boyd.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○22
Spectrum
como conflitantes com as exigências dos
serviços sociais; existe uma tendência para
esquecer que o mais importante serviço so-
cial que um governo pode prestar a seu povo
é mantê-lo vivo e em liberdade.”
Sir John Slessor
Bibliografia1. Bucknan, Mark A., “Lethal Airpower
And Intervention”, junho de 1996, “The
School Of Advanced Airpower Studies”,
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2. “Homepage “ht tp: / /www.aero-web.org/history/wwii/d-day/2.html”, cap-
turada em 02 de maio de 2001.
3. Hoyt, Edwin P., “World at War – Volu-me Three - The Battle of Britain”, 1ª Edi-
ção, 1992, Avon Books, New York, New
York, Estados Unidos.
4. Aspin, Les, “Interim Report of theCommittee on Armed Services, House ofRepresentatives”, Chairman, Committee
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5. Holmes, James Michael, “TheCounterair Companion: A Short Guide ToAir Superiori ty For Joint ForceCommanders”, junho de 1994, “The
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6. Bullock, Harold E. , “Peace ByCommittee: Command And Control IssuesIn Multinational Peace EnforcementOperations”, junho de 1994, “The School
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8. Hamilton, Robert J., “Green and Bluein the Wild Blue: An Examination of theEvolution of Army and Air Force AirpowerThinking and Doctrine Since the VietnamWar”, junho de 1993, “The School Of
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9. Tubbs, James O., “Beyond GunboatDiplomacy: Forceful Applications OfAirpower In Peace EnforcementOperations”, junho de 1995, “The School
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10. Fadok, David S., “John Boyd And JohnWarden: Air Power’s Quest For StrategicParalysis”, junho de 1994, “The School
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11. Pray Jr., John I., “Coercive Air Strategy:Forcing A Bureaucratic Shift”, junho de
1994, “The School Of Advanced
Airpower Studies”, Maxwell Air Force
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12. Carpenter, Paul Mason, “JointOperations in the Gulf War: An AllisonAnalysis”, junho de 1994, “The School
Of Advanced Airpower Studies”, Maxwell
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13. Torrens, Linda E., “The Future of NATO’sTactical Doctrine”, junho de 1996, “The
School Of Advanced Airpower Studies”,
Maxwell Air Force Base, Montgomery,
Alabama, Estados Unidos.
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Spectrum
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As mudanças observadas na política ena situação de Segurança Brasileirados últimos anos têm alterado a for-
ma com que as Forças Armadas encaram seupapel dentro da sociedade. Paralelamente a es-tas mudanças, o desenvolvimento detecnologias associadas a sensores e a redes desensores tem modificado a forma pela qual osrecursos disponíveis podem ser empregados.Estas tecnologias permitem uma mudança deparadigma na estrutura hoje utilizada, centradana plataforma, para uma mais moderna, queemprega o conceito de Network CentricWarfare (NCW). Entre outros, dois excelentesartigos, tratando destes conceitos, foram pu-blicados por esta revista na edição de Agostode 2000, veja referências [1] e [2].
Esta mudança de abordagem traduz o fatode que, mantendo os sistemas de armas e plata-formas com seus próprios sensores para vigilân-cia, há a subtilização dos recursos disponíveis eo impedimento da chamada Superioridade deInformação, que pode ser definida como sendoo conhecimento de aspectos essenciais da situa-ção operacional das forças aliadas e das opo-nentes para ação rápida e precisa. Esta Superio-ridade, no entanto, não deve ser encarada comoprivilégio do Alto Comando e muito menos, es-tática. A qualquer escalão deve ser possível
acessar as infor-mações neces-sárias ao cum-primento damissão particu-lar atribuída eestas devem seralvo de constan-tes atualizações,refletindo os no-vos dados forne-
cidos pela rede de sensores e às reavaliações deseus graus de certeza.
Para dar suporte ao Comando Militar e per-mitir a Superioridade de Informação, a rede deComando e Controle deve conter funções para:avaliar os danos de batalha; avaliar a capacida-
de de comando do oponente; obter dados deinteligência sobre a localização, habilidade decombate e intenções do inimigo; analisar o ter-reno e a meteorologia; e ana-lisar a evolução da situaçãologística. [3]
A realização destas funçõesé complexa e requer o uso detecnologias avançadas, não sópara obtê-las, mas também paradisponibilizá-las aos usuários daRede (tendo como premissa bá-sica a abordagem de NCW).
Vários são os desafiostecnológicos a serem vencidospara se ter uma rede eficiente,tais como:
·A Superioridade de Infor-mação requer um sistema decomunicações rápido, confiávele seguro;
·Os sistemas de sensoresdevem ser capazes de detectar,acompanhar e identificar alvosmóveis e estáticos a grande dis-tância no ar, no solo e na super-fície e sob o mar; [4]
·As redes, sub-redes e usu-ários (sejam eles computadoresou pessoas) devem estarconectados;
·A fusão de dados deve es-tabelecer relações entre dadosobtidos por diferentes sensores,vindos de fontes emissoras e defaixas espectrais variadas; e
·A fusão de informaçõesdeve atribuir valores quantitati-vos a dados qualitativos e/oucom grau de incerteza associa-do.
Para lidar com esses desafios e visando,prioritariamente, atender às necessidadesoperacionais do Comando da Aeronáutica, oLaboratório de Pesquisa em Guerra Eletrôni-ca e Vigilância Eletromagnética da Amazônia,
Tecnologias a serviço da superioridade de informação
André Luiz Pierre Mattei, Maj.-Av. - CTAFábio Durante Pereira Alves, Maj.-Av. - COMGAR
O Maj.-Av. André Luiz PierreMattei é piloto de Patrulha, con-cluiu o CFOAv em 1987 e exerceatualmente as funções de GerenteTécnico dos programas PX e CLXna Vice-Direção do CTA, de Ins-trutor do CEAAE no InstitutoTecnológico da Aeronáutica, ITA,e de Coordenador Técnico da Ati-vidade de Pesquisa em Recepto-res de Guerra Eletrônica comProcessamento Óptico no Labora-tório de Guerra Eletrônica do ITA.
O Maj Pierre Mattei é Enge-nheiro Eletrônico e Mestre em Ci-ências pelo Instituto Tecnológicoda Aeronáutica.
Fig. 1 - Moduladoróptico integrado tipoMach-Zehnder
O Major Fábio Durante PereiraAlves é piloto de helicóptero es-pecializado em resgate, concluiuo CFOAv em 1986 e exerce atu-almente a função de adjunto aoCentro de Guerra Eletrônica doComando-Geral (CGEGAR). OMajor Durante é Engenheiro Ele-trônico e Mestre em Ciências peloInstituto Tecnológico de Aeronáu-tica.
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Spectrum
no ITA, mantém atividades científicas em al-gumas das principais tecnologias associadas auma rede de informações.
ComunicaçõesNa área de comunicações existe uma gran-
de gama de tecnologias envolvidas dependen-do do tipo de enlace considerado. Em uma con-figuração do tipo NCW podem ser emprega-das, entre outras, comunicações digitais eanalógicas, com e sem criptografia, enlaces naatmosfera e em fibras ópticas, na faixa de HF,V/UHF, microondas e óptica, em rede e ponto-a-ponto. Todas estas variáveis impõem a neces-sidade de dispositivos específicos para comporas partes do sistema de comunicações da rede.
É interessante ressaltar a importância dedispositivos eletroópticos e acustoópticos emredes e subredes interligadas através de nós queutilizam freqüências ópticas como portadoras.Estes dispositivos possuem características debaixo consumo, grande largura de banda, pe-queno volume e peso, além de altas velocida-des de chaveamento. Dado o volume de infor-mação a ser acrescentada e retirada (add-drop)nos nós da rede, dispositivos eletroópticos eacustoópticos desempenham um papel chaveem sistemas de C2 e Guerra Eletrônica. A Fig.1 mostra, esquematicamente, um dispositivomodulador eletroóptico integrado. Este tipo demodulador pode, por exemplo, modular a por-tadora óptica com um sinal na faixa de micro-ondas, o que possibilita desde a obtenção dealtíssimas taxas de transmissão de dados, até oenvio de um sinal radar para antenas remotas.Uma análise técnica e aplicações destastecnologias em Guerra Eletrônica pode serencontrada na referência [5].
SensoresAssim como nas comunicações, os
sensores são concebidos através de uma vari-ada gama de tecnologias, abordagens e arqui-teturas que variam não só com as necessida-des de uma aplicação específica, mas tambémcom o custo.
Na área de sensores, especialmente osaplicados à Guerra Eletrônica, uma análise in-teressante sobre as tecnologias associadas atu-almente pode ser encontrada em [6].
Tecnologias eletroópticas, MMIC(Monolithic Microwave Integrated Circuits) edigitais assumem a liderança nesta área capi-tal e, muito freqüentemente, podem ser encon-tradas trabalhando em conjunto dentro de ummesmo sensor.
Um exemplo, visto esquematicamente naFigura 2, é o processamento de sinais de RF(na faixa de 0,5 a 40 GHz) em um receptorRWR ou MAE. Estes receptores passivos po-dem tratar os sinais, inicialmente, em um cir-cuito MMIC, em seguida, em um processadoracustoóptico a Célula Bragg, por exemplo.Após passar por um conjunto de detectoresópticos, tratá-los em um circuito digital querealiza o deinterleaving computadorizado,disponibiliza os parâmetros dos sinais eletro-magnéticos pulsados.
No campo dos sensores ativos, pode-serealçar o caráter vital das antenas tipo phasedarray. Constituem-se, na verdade, em uma redede antenas, algumas vezes com milhares deelementos associados. A importância que vêmassumindo estas antenas advém do fato de sepoder controlar eletronicamente seu diagramade emissão. Aplicada em um radar ou em umsistema CME, pode-se iluminar diversos alvosao mesmo tempo ou evitar o uso de jamming
Fig. 2 - Analisador deespectro de potênciausando Célula Bragg.
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Spectrum
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pelo oponente, conforme o caso, através docontrole do número, posição e ganho de ló-bulos (beam forming). Em sistemas phasedarray utilizam-se tecnologias MMIC.eletroópticas e/ou digitais para o controle dafase e da amplitude do sinal eletromagnéticoemitido em cada um dos elementos da ante-na. [5] e [6]
Fusão de Dados e de InformaçõesA fusão de dados e de informações asse-
gura a chamada RMA (Revolution in MilitaryAffairs), veja referência [3], através da coinci-
dência temporaldas driving for-ces na aplicaçãodo poder aéreo:Concepção deEmprego eTecnologia, con-forme definidona referência[1].
A fusão dedados e de informações objetiva tratar e com-binar informações de várias fontes de forma aapresentar resultados em um formato de fácilinterpretação aos usuários. E, em concordân-cia com o grau de acesso permitido a um usu-ário particular, diversos dados ficam a disposi-ção na rede [4].
A Figura 3 mostra esquematicamente umaaeronave de C2 recebendo várias informaçõesde posição de um mesmo alvo, simultanea-mente, através de seu radar e enlace de dadoscom outras plataformas sensoras. Os dadospodem ser fundidos para aumentar a precisãoda informação.
A fusão de dados requer técnicas avança-das de Inteligência Artificial (IA), como as deredes Bayesianas e de lógica fuzzy. Estas sãonecessárias ao tratamento de informações comgrau de incerteza associado e muitas vezesqualitativas. A referência [7] realiza um estu-do introdutório sobre as aplicações de IA emsistemas C2.
Comentários FinaisRevolution in Military Affairs, Network
Centric Warfare, Comunicações, Sensores,Fusão de Dados, MMIC, Inteligência Artificiale Processamento Óptico: estes são exemplosde termos encontrados no ambientetecnológico atual na área de Defesa. Dominá-los, e não somente tê-los a disposição, é tare-fa que vem sendo realizada pela parceria CTA/COMGAR. Através de pesquisa e de desenvol-vimento, concepção de emprego e detecnologia estão sendo trabalhadas conjunta-mente para se obter a superioridade da Infor-mação.
Referências[1] Ribeiro, Narcélio R., “O Impacto das Con-
cepções e Tecnologias no Preparo e Empre-go da Força Aérea Brasileira”, RevistaSpectrum, p. 7-11, Agosto, 2000.
[2] Guimarães, Edson F. C., “Network CentricWarfare – Uma Revolução no Campo de Ba-talha”, Revista Spectrum, p. 14-16, Agosto,2000.
[3] Nilsson, Per, “From Brute Force toBrainpower”, Swedish Journal of MilitaryTech., 3, SEK45, p. 6-11, 2000.
[4] Isaksson, Bengt, “Sensors and SensorsSystems for Information Superiority”, SwedishJournal of Military Tech., 3, SEK45, p. 12-20,2000.
[5] Oliveira, José E. B., Alves, Fábio D. P., Mattei,André L. P., “Trends in Photonics Applied toElectronic Warfare at Brazilian Airforce”,Proc. of the Intern. Microwave andOptoelectronics Conf., Aug. 1999.
[6] Neri, Fellipo, and Pinto, Giuseppi, “The Ca-pital Importance of MMIC and EletroopticalProcessing in the Defense Equipment of theNew Millenium”, Anais do IX Simpósio Bra-sileiro de Microondas e Optoeletrônica,Agosto 2000.
[7] Harris, Christopher J., “Application of Artifi-cial Intelligence to Command & ControlSystems”, London: Peter Peregrinus Ltd, 1988.
Fig. 3 - Trêsinformações deposição podem serfundidas paraaumentar a precisão.
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Spectrum
OGPS vem ganhando mais e mais
adeptos desde seu batismo de fogo
na Guerra do Golfo e atualmente
pode ser considerado um recurso de utilidade
mundial. Essa evolução certamente não fazia
parte da sua concepção inicial, que tratava do
emprego de sistemas espaciais no auxílio à na-
vegação de aeronaves militares e mísseis
balísticos. Mas hoje, dez anos depois, presen-
ciamos um fenômeno de inversão em que as
aplicações civis do GPS tornaram-se tão im-
portantes que praticamente esquecemos sua
origem bélica.
Este artigo pretende apresentar a fragili-
dade do GPS frente à atuação de um sinal
interferidor (“jamming”) em um cenário tático
genérico. A baixa resistência do sistema nos
leva a perguntar quais seriam as alternativas
disponíveis para tornar o GPS minimamente
íntegro, confiável e disponível nas operações
militares. A resposta se seguirá mediante a des-
crição de algumas das técnicas mais relevan-
tes para a solução do problema.
Disponibilidade SeletivaEm maio do ano passado o governo ame-
ricano decidiu retirar o sinal S/A (“Selective
Availability” – Disponibilidade Seletiva) das
transmissões do GPS. Este sinal foi originalmen-
te concebido para introduzir um erro nas in-
formações geradas pelos satélites destinadas
ao público em geral, degradando a precisão
das medidas de posição e tempo. Com esse
erro proposital, os americanos pensavam estar
se protegendo da eventual aplicação do GPS
para guiamento de armas por países não alia-
dos (a política americana trata o GPS como
um recurso crítico de defesa, tanto quanto um
recurso comercial e científico). Entretanto, a
pressão exercida pela comunidade civil, que
passou a usar o GPS para as mais diversas apli-
cações e desejava um sistema tão preciso quan-
to possível, conseguiu fazer o Departamento
de Defesa americano (DoD) concordar com a
desativação do S/A.
Com esta decisão o Serviço de
Posicionamento Padrão (SPS –
“Standard Positioning
Service”), de uso civil, passou
a contar com uma precisão
bastante próxima da obtida
pelo Serviço de
Posicionamento Preciso (PPS –
“Precise Positioning Service”),
de uso exclusivo militar. Al-
guns resultados obtidos no
Centro Técnico Aeroespacial
(CTA) são apresentados na fi-
gura 1 e mostram que o erro
médio de posicionamento ge-
rado pelo GPS está entre 24,72
e 25,54 metros com S/A e 4,27
e 7,09 metros sem S/A, com
nível de confiança de 95% [2]. Além disso, os
erros de posicionamento sem o S/A têm uma
variância estacionária pequena (entre 0,16 e
0,36 metros), ao contrário dos erros de
posicionamento com S/A (variância entre 17,37
e 38,91 metros).
Figura 1: Comportamento dos Erros de Posição do GPS com esem S/A [2]
Emprego Militar do Sistema de Posicionamento Global (GPS)
Davi Rogério da Silva Castro, Maj.-Av. - CGEGAR
O Major Davi Rogério da Sil-va Castro é piloto de Ataque, con-cluiu o CFOAv em 1987 eatualmente é mestrando em Aná-lise Operacional na NavalPostgraduate School, EUA. É En-genheiro Eletrônico pelo InstitutoTecnológico de Aeronáutica (ITA)e possui o Curso Básico de Guer-ra Eletrônica.
27
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
A decisão de retirar o S/A, do ponto de
vista comercial, significa a possibilidade dos
americanos terem de volta grande parte do di-
nheiro aplicado no desenvolvimento com a
venda de receptores para o mundo todo. Os
Estados Unidos já investiram 21 bilhões de
dólares no GPS e têm uma despesa anual de
600 milhões de dólares com sua manutenção
[5]. Mas a concepção original do sistema é
militar, muitos recursos foram gastos nessa di-
reção (estima-se que 20.000 plataformas este-
jam equipadas com receptores GPS e outros
100.000 portáteis estejam com as tropas [1]).
Quais devem ser então as novas alternativas
para garantir acesso ao sistema pelas forças
militares americanas e negar seu uso aos ad-
versários?
NAVWARA primeira abordagem para resposta à
pergunta seria a separação dos sistemas civil e
militar. Isso tem sido levado em consideração,
principalmente no meio civil, que precisa ain-
da de garantias sólidas para continuar inves-
tindo na maciça utilização do sistema, mas é
uma solução cara e que levaria anos para ser
implementada. A suspensão do código S/A leva
a crer que os americanos estão realmente dis-
postos a manter o sistema atual. Portanto, de-
vemos esperar que o DoD empregue todos os
esforços na chamada “Navigation Warfare”
(NAVWAR).
A capacidade “anti-jamming” oferecida
pelos sistemas de espalhamento espectral tor-
na-se praticamente sem efeito no caso do GPS
(ver box “Breve descrição do GPS”). A distân-
cia entre transmissores e receptores é tão gran-
de que um interferidor não precisa de muita
potência para causar problemas. A figura a se-
guir mostra um cenário tático simplicado e os
principais fatores a serem considerados no cál-
culo da efetividade de uma ação de interfe-
rência:
Figura 2: Parâmetros envolvidos no cálculo da relação J/S emum cenário tático simplificado
Podemos tomar a fórmula (simplificada)
para cálculo da relação “jamming”/sinal em
dB para aproximar algumas relações entre dis-
tância do intereferidor e potência de transmis-
são requerida. Alguns valores típicos são: Pt +
Gt = 25 dBW, Ds = 11.000 NM = 20.372.000
m, Gr = 25 dB. Supondo ainda que o ganho
da antena do receptor na direção do “jammer”
é 8 dB, chegamos à conclusão que um trans-
missor de 100 W (20 dBW), com antena
omnidirecional (3 dB) é capaz de interferir nos
receptores civis que estiverem em um raio de
10 km. Este cálculo é apenas uma aproxima-
ção, mas já é possível ter uma idéia do que
pode ocorrer em um campo de batalha onde
estejam sendo utilizados interferidores bem
projetados.
Receptores GPS exibem diferentes níveis
de vunerabilidades a diferentes tipos de for-
mas de onda interferidora, seja de barragem,
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○28
Spectrum
Breve descrição do GPSO segmento espacial do sistema é constitu-
ído por 24 satélites que orbitam a Terra em um
período de 12 horas a aproximadamente 11.000
NM de altura [1]. Existem seis planos orbitais, igual-
mente espaçados de 60 graus, cada plano orbital
é ocupado por 4 satélites, permitindo, teoricamen-
te, uma visibilidade entre 5 e 8 satélites em qual-
quer parte do globo terrestre. Cada um dos satéli-
tes em órbita transmite a hora certa juntamente
com sua posição exata e outras informações. O
receptor, por possuir a hora sincronizada com o
que é difundido pelo satélite, computa o tempo
percorrido entre a transmissão e recepção do si-
nal e o converte em distância, a chamada “pseudo-
range”. A posição do receptor (x, Y, Z), tomando o
centro da Terra como origem, é calculada quan-
do quatro satélites estiverem visíveis.
É importante ressaltar que, dependendo da
geometria relativa dos satélites, o sistema de equa-
ções pode não ter solução. Por outro lado, se mais
de quatro satélites são observados simultaneamen-
te, existirá um conjunto de quatro que fornecerá a
solução com menor erro.
As freqüências portadoras utilizadas no link
satélite-receptor são conhecidas como L1
(1.575,42 MHz) e L2 (1.227,60 MHz) com pola-
rização circular à direita (RHCP, “right hand cir-
cular polarization”), o que diminui a dependên-
cia do receptor quanto ao aspecto de orientação
da antena e minimiza os efeitos da propagação
na atmosfera.
O receptor GPS processa um sinal extrema-
mente fraco (tipicamente –120 dBm a –136 dBm),
praticamente no mesmo nível de um ruído. Para
minimizar a dificuldade de se trabalhar com si-
nais dessa ordem de grandeza, é utilizada a técni-
ca de “espalhamento espectral”. Basicamente, o
sinal original é multiplicado por um sinal código
de freqüência mais alta, gerando o efeito de
“espalhamento”. O receptor recupera o sinal ori-
ginal a partir da combinação do sinal que chega
na antena com uma cópia do mesmo código usa-
do na transmissão.
As larguras de banda resultantes são 1,023
MHz para o sinal de aquisição (C/A, coarse
acquisition) e 10,23 MHz para o sinal de precisão
(P(Y), precision), este último criptografado, para
aplicação exclusiva militar. Ao compararmos es-
ses valores com a largura de banda necessária para
transmissão dos dados, apenas 50 Hz, percebe-
mos a origem do ganho de processamento resul-
tante do espalhamento. Ou seja: 43 dB para o
sinal C/A e 53 dB para o código de precisão. Com
este ganho de processamento, a potência do sinal
no receptor sobe para níveis mais tratáveis.
O código de espalhamento para o sinal C/A
tem período de repetição de apenas 1 ms, portan-
to fácil de ser sincronizado, modula a portadora
L1 e está disponível para todos que quiserem cons-
truir um receptor GPS. Já o código militar, que é
secreto e modula L1 e L2, tem período de 7 dias,
o que torna complicadíssima a tarefa de aquisi-
ção. Por essa razão, os receptores que trabalham
com o sinal P utilizam também o sinal C/A como
forma de viabilizar a sincronização no código mais
longo (ver figura abaixo). Cada satélite possui
um conjunto de códigos específico, por isso diz-
se que o sistema emprega CDMA (“Code Division
Multiple Access”), ou seja, acesso múltiplo por
divisão de códigos.
29
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
de ponto ou de varredura, modulada em am-
plitude, fase ou freqüência, etc. Essa
vulnerabilidade é extremamente dependente
do cenário, do modo de recepção e da antena
[4]. As principais técnicas disponíveis para
minimizar os efeitos da ação intencional
(“jamming”) e/ou de uma simples interferên-
cia são as seguintes:
a) Filtragem no Receptor (“frequency
domain filtering” e “temporal filtering”): redu-
zem em até 30 dB o efeito da interferência e
são de fácil implementação, mas inserem atraso
no processo de aquisição, atenuam o sinal GPS
e não conseguem fazer frente a interferência
faixa larga ou a múltiplos interferidores de var-
redura.
b) Filtragem Espacial (“spatial filtering”,
“null steering” e “beam steering”): a filtragem
no domínio espacial pode ser obtida pela adap-
tação eletrônica do diagrama de irradiação da
antena, pelo chaveamento e/ou cancelamen-
to de lóbulos etc. Esta técnica apresenta pro-
blemas de implementação principalmente de-
vidos aos tamanhos das “arrays” de antenas
(banda L), necessidade de sincronização com
a posição dos satélites para ajuste do aponta-
mento e dificuldade de se contrapor a vários
interferidores simultaneamente. Torna-se viá-
vel apenas para grandes plataformas, como
navios, por exemplo.
c) Cancelamento em amplitude ou fase
(“amplitude/phase cancellation”): nesta técni-
ca são empregados dois conjuntos de antenas
separados verticalmente que recebem, indivi-
dualmente, cópias do mesmo sinal defasado
em amplitude ou fase. A combinação dos dois
sinais permite a separação entre a interferên-
cia e o sinal do GPS. Como na técnica anteri-
or, não é efetiva contra vários interferidores
simultaneamente e é extremamente sensível à
variação de atitude da plataforma. Chega a
produzir de 20 a 30 dB de supressão de fontes
interferidoras.
d) Cancelamento em polarização
(“polarization anti-jam”): é a técnica mais in-
teressante do ponto de vista de independência
da atitude da plataforma, contraposição a múl-
tiplas fontes de “jamming” e facilidade de
implementação, mesmo em pequenos recep-
tores. Nesta técnica o circuito de recepção pro-
voca a anulação de todos os sinais que não
tiverem a mesma polarização do sinal do GPS,
ou seja, que não forem RHCP (“right hand
circularly polarized”). O resultado é a supres-
são de todo tipo de interferência, inclusive
banda larga. Chega a 40 dB de eficiência mas
provoca também a atenuação do sinal GPS.
e) Integração com plataforma inercial: o
acoplamento do GPS a um inercial (ou IMU/
INS, “Inertial measurement unit/Inertial
navigation system”) é a melhor solução para
emprego em plataformas com altas taxas de
manobrabilidade como mísseis e aeronaves de
caça. O conceito de integração pode conside-
rar a inicialização do GPS com informações
geradas pelo INS para aprimorar os tempos de
aquisição e rastreio ou pode ser usada a técni-
ca de filtragem de Kalman para fusão dos da-
dos provenientes dos dois sistemas. Nesta últi-
ma aplicação os dois sistemas trabalhariam si-
multaneamente fornecendo informações ao fil-
tro, que se encarregaria de utilizar somente as
informações mais relevantes.
ConclusãoNeste artigo foram discutidas as
vulnerabilidades do GPS sob o ponto de vista
das interferências intencionais (“jamming”) e
apresentadas algumas soluções técnicas que
atualmente vêm sendo publicadas nas fontes
abertas. Infelizmente, não foram encontradas
referências aos recursos que efetivamente es-
tão sendo implementados nas armas america-
nas. Vale comentar que as conferências sobre
o assunto, realizadas nos EUA, são de caráter
secreto.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○30
Spectrum
Apesar do título, as discussões se aplicam
também às situações de emprego civil do GPS.
Os requisitos quanto a integridade,
confiabilidade e disponibilidade de um siste-
ma de auxílio à aproximação e pouso, por
exemplo, são tão rigorosos quanto os de
guiamento de um míssil. Portanto, em nome
da segurança, os efeitos de interferência de-
vem ser levados a níveis muito próximos de
zero e medidas devem ser tomadas para pro-
teger o sistema.
Enfim, seja qual for a aplicação, militar
ou civil, uma dúvida deve estar sempre
norteando as decisões: o GPS é confiável?
Referências:[1] David Almeida Alcoforado,
“Confiabilidade do Sistema de Posicionamento
Global (GPS)”, Universidade Gama Filho, Rio
de Janeiro, 2000;
[2] L. C. L Rosa, F. Walter e D. R. Méndez,
“Efeito Imediato do Desligamento do S/A nos
Erros de Posicionamento de um Usuário do
Sistema GPS”, Divisão de Engenharia Eletrô-
nica do Intituto Tecnológico de Aeronáutica,
2000;
[3] Don Herskovitz, “GPS Insurance –
Antijamming the System”, Journal of Electronic
Defense, December 2000;
[4] Mario M. Casabona and Murray W.
Rosen, “Discussion of GPS Anti-jam
Technology”, Electro-Radiation Inc., Fairfield-
NJ, 1999;
[5] Dr. Stanley B. Alterman, “GPS
Dependence: A Fragile Vision for US Battlefield
Dominance”, Journal of Electronic Defense,
September 1995;
[6] Don Herskovitz, “And The Compass
Spun Round and Round – The Coming Era of
Navigation Warfare”, Journal of Electronic
Defense, May 1997;
[7] Rodolpho Vilhena de Moraes, Kevin
Theodore Fitzgibbon e Fernando Walter, “O
Sistema GPS”, Revista ITA Engenharia Vol. I,
nº 1, Outubro de 1994;
“Jargão do GPS”
DGPS – “Differential GPS”. Recurso que uti-liza estações de solo transmitindo sinais GPScomo se fossem satélites (“pseudolites”). O re-sultado é o aumento da precisão e confiabilidadeda informação de posição nas proximidades,permitindo, por exemplo, o pouso de precisão.
Galileo System – Sistema europeu para na-vegação por satélites de aplicação civil. Preten-de disponibilizar 30 satélites em órbita de 24.000km e entrar em operação a partir de 2008. Essesistema deve ser capaz de receber os sinais doGPS e do GLONASS e oferecer precisão de 4 mcom alta confiabilidade.
GLONASS – “GLObal NAvigation SatelliteSystem”. Sistema Russo de navegação por satéli-tes, semelhante ao GPS americano. Utiliza dife-rentes freqüências para cada um dos satélites desua constelação (FDMA, “Frequency DivisionMultiple Access”).
GNSS – “Global Navigation SatelliteSystem”.
NAVSTAR – “Navigation Satellite Timingand Ranging”.
NAVWAR – “Navigation Warfare“. Os con-ceitos de Guerra Eletrônica aplicados à navega-ção moderna foram resumidos no termoNAVWAR e são intimamente ligados às conhe-cidas Medidas de Proteção Eletrônica (MPE) e
pelas Contra-Medidas Eletrônicas (CME).
31
Spectrum
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Aviões SIGINT e o Domínio da Informação:As Respostas Européias
Thales International
Essenciais para o controle da informa-
ção, beneficiando-se das vantagens da
terceira dimensão, os aviões SIGINT
(Signal Intelligence) inserem-se, agora, num
sistema de “sistemas”. A respectiva concepção
está evoluindo para sistemas multimissões que
utilizam sensores eletromagnéticos e ópticos
complementares.
Para tal, devem levar em consideração a
evolução da ameaça.
A inteligência de sinais eletromagnéticos
é uma disciplina designada pelo acrônimo
anglo-saxão SIGINT (Signal Intelligence). A
SIGINT compreende a COMINT
(Communication Intelligence), a informação
sobre as comunicações radio, e a ELINT
(Electronic Intelligence) que se interessa por
radares. A descrição dessa aérea de
abrangência, permite perceber a contribuição
da SIGINT no controle da informação.
A importância da participação aérea na
gestão das crises e o desafio do domínio do es-
pectro eletromagnético em
qualquer ação militar fazem
da SIGINT um das peças es-
senciais da credibilidade da
política de Defesa na Europa.
Neste domínio os Norte Ame-
ricanos apresentam uma
quantidade impressionante de meios, sendo
exemplo disso o esquadrão de RC – 135 Rivet
Joint, e, ainda como o mostrou a atualidade re-
cente os EP3 – Aries. Portanto, de ambos os
lados do Atlântico, os conceitos operacionais
prevêem que esses aparelhos de informação
façam parte do sistema das Forças envolvidas.
De fato, a missão SIGINT vem apoiar muitas
funções operacionais essenciais: C4I SR, apoio
a operações de ataque em profundidade e do-
mínio dos meios terrestre, aéreo e marítimo.
Os Aviões SIGINT a serviço da Gestão das Crises.Um dispositivo SIGINT aerotransportado
compreende uma ou várias aeronaves tendo,
a bordo, uma carga útil de informações eletrô-
nicas, um segmento no solo para
processamento e tratamento da informação e
meios de ligação que permitam sua integração
em um esquema cooperativo.
Suas ações inserem-se numa continuida-
de operacional. Em tempo de paz, alertam para
a iminência de uma crise, dado que esta se
manifesta por um súbito aumento da ativida-
de radioelétrica. A missão principal torna-se,
então, a coleta de dados referentes à documen-
tação e localização. Em seguida, esta ativida-
de permite alimentar as bibliotecas dos siste-
mas de armamento e de guerra eletrônica de
autoproteção.
Em situação de crise, os aviões SIGINT
contribuem à proteção das Forças, para a in-
formação da zona de operação – em tempo
real – em proveito de um centro de comando,
à vigilância dos tratados e acordos de cessar-
fogo, ou ainda às operações de combate SAR.
Além disso, podem detectar atividades ilegais
que se revelam através da utilização de meios
de comunicações móveis. Oferecem uma am-
pla cobertura sobre a zona de operação, igno-
rando os obstáculos do relevo. O modo de in-
tervenção no cenário tático é dos mais discre-
tos: os sensores são passivos e as aeronaves
inserem-se na navegação aérea civil, a partir
do espaço aéreo internacional e, assim, em
total legalidade.
Sua versatilidade de utilização deve ser
realçada. Participando do ciclo “Observação,
Orientação, Decisão, Ação” o avião SIGINT
pode passar de uma missão estratégica para
uma missão tática, sem modificar o respectivo
sistema de missão. Mas, para tal, é necessário
primeiramente equipá-lo com sistemas de co-
municações protegidos para permitir que en-
tre em relação direta com os outros compo-
nentes do dispositivo, em particular com os
postos de comando das unidades de terra, com
Fig. 1 - Transall Gabriel
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○32
Spectrum
Continua na pág 38
os navios de superfície e, é claro com aviões
armados. A superioridade tecnológica de uma
força é medida, assim, pelo nível de desem-
penho dos respectivos sistemas SIGINT.
Uma frota SIGINT Européia modernizada.Na Europa, o SIGINT sempre foi uma pri-
oridade. Foi assim que, durante os tempos da
Guerra Fria, as forças Armadas Européias se
equiparam com aviões SIGINT para vigiar o
Pacto de Varsóvia. Hoje em dia, as frotas Eu-
ropéias, ou seja, cerca de vinte aviões, são as
herdeiras daquela rede SIGINT. Os aparelhos
SIGINT da Europa que trabalham em coope-
ração com os Estados Unidos, participaram das
operações da Guerra do Golfo e das várias cri-
ses dos Balcãs, onde sempre mostraram sua
importância. A titulo de exemplo, durante a
operação “Força Aliada” no Kosovo, os aviões
SIGINT estavam dispostos em cobertura dos
“raids” aéreos ofensivos. Sua missão consistia,
em acompanhar a atividade das Defesas Aére-
as adversas.
Na Europa, há que sublinhar os esforços
da Grã Bretanha e da França para disporem
dos meios aerotransportados SIGINT mais
modernos. Esses aviões têm uma particulari-
dade: os sistemas de informação eletrônica de
bordo foram desenvolvidos em plena sobera-
nia pelas respectivas industrias nacionais. A
Grã Bretanha equipou-se com três NIMROD
R1 que em 1995, se beneficiaram de um retrofitconfiado à RACAL (empresa recentemente li-
gada à THALES, antiga Thomson-CSF). Na
França, enquanto a década de 80 era dedicada
ao desenvolvimento de dois aviões TRANSALL
C-160 Gabriel, durante os anos 90, o esforço
incidiu no SARIGUE Nova Geração (NG), um
DC-8 totalmente dedicado a informação ele-
tromagnética. Desenvolvido pela THALES, o
sistema SIGINT do SARIGUE abrange a totali-
dade do espectro das freqüências. Estando em
serviço na Força Aérea Francesa, pode-se con-
siderar que esse aparelho é o mais recente, atu-
almente na Europa, dedicado a essa missão.
Nesta frota, pode-se considerar, os aparelhos
de patrulhamento marítimo (aviões Atlantique
e Nimrod R2), que transportam células SIGINT
simplificadas.
O Avião SIGINT multimissões.Parece que a tecnologia escolhida para
satisfazer as necessidades atuais é a dos avi-
ões SIGINT multimissões. São aparelhos equi-
pados com vários sensores complementares
(ELINT, COMINT, radar SAR de alta resolução,
óptica), e com vários meios de comunicação
para entrarem em relação com um centro de
exploração ou de comando. Em missão, a
complementaridade dos sensores é analisada
como segue: os sensores eletromagnéticos in-
terceptam e
localizam os
sinais interes-
s a n t e s ,
freqüentemente
a longa dis-
tância; em se-
guida, sua
identificação
e localização
precisa, é realizada graças ao sensor óptico de
bordo. A fusão das informações constitui a eta-
pa seguinte. Num terceiro tempo, e de acordo
com o alvo, o avião pode transmitir uma or-
dem de ataque, com transmissão da posição
exata da ameaça. Por outro lado, os meios in-
tegrados de autoproteção (detecção de mísseis,
jamming, chaff & flares ), podem também ser
acrescentados a esses aviões de informação.
Os novos desafiosSe for conveniente observar o lugar que
os aviões SIGINT ocupam atualmente dentro
de um dispositivo operacional, há que interes-
Fig. 2 - Sarigue NG
33
Spectrum
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Autilização de armas biológicas tem
sido documentada ao longo da his-
tória da humanidade. Os romanos an-
tigos, dentre outros, jogaram carne putrefata
em poços para envenenar seus adversários ao
beberem água. Na idade média, mais precisa-
mente no século XIV, os bárbaros utilizaram
catapultas e lançaram corpos de vítimas da
peste bubônica na cidade de Kaffa, um impor-
tante porto econômico que estavam atacan-
do. Desta ação, provavelmente, resultou uma
epidemia que se espalhou por toda a Europa
Oriental. Os conquistadores espanhóis e a In-
glaterra usaram a varíola, o sarampo e possi-
velmente outros agentes para ajudar a subju-
gar os americanos nativos, quase dizimando-
os[1]. Há fortes indícios de que a Alemanha
tenha utilizado agentes biológicos durante a I
Guerra Mundial. Durante a II Grande Guerra
o Japão, a Alemanha, os Estados Unidos e o
Reino Unido desenvolveram programas secre-
tos de armas biológicas e o Japão as utilizou
contra a Manchúria em 1938.[2],[3]
Há de se notar que qualquer agente bio-
lógico capaz de causar doença em seres hu-
manos pode ser considerado uma arma passí-
vel de ser utilizada em uma guerra ou em um
evento terrorista. Conseqüentemente, o con-
ceito mais amplamente difundido para este tipo
de arma é o que define arma biológica como
qualquer organismo ou toxina encontrado na
natureza, capaz de ser manipulado a fim de
incapacitar, matar ou abater um adversário.
Entretanto, o bioterrorismo não precisa ser
direcionado contra a vida humana propriamen-
te dita para ser efetivo, pode também atingir
fontes de água, animais, colheitas e alimentos
industrializados.
A lista de agentes biológicos atualmente
passíveis de utilização em um evento
bioterrorista fica em torno de 30, destacando-
se cinco como os mais prováveis de serem uti-
lizados: Bacillus anthracis, o agente do antraz;
Yersinia pestis, o agente da peste bubônica;
Brucella spp, o agente da brucelose;
Clostridium botulinum, produtor da toxina
botulínica, responsável pelo
botulismo; e a varíola. Outras
doenças importantes, passí-
veis de serem transmitidas por
armas biológicas são o
mormo, o tifo, as encefalites
virais e as febres
hemorrágicas (como por
exemplo o Ebola). Estes agen-
tes, com exceção do vírus da
varíola, podem ser encontra-
dos na natureza e causam
episódios ocasionais em ani-
mais e humanos.[4],[5]
O impacto de uma epi-
demia causada por uma arma
biológica depende das carac-
terísticas do patógeno ou da toxina utilizada,
do tipo de arma ou do sistema de propagação,
do local onde foi utilizada a arma e da veloci-
dade e eficácia da resposta defensiva do servi-
ço de saúde. Felizmente, as tentativas de ata-
ques com armas biológicas no século passado
produziram um número limitado de vítimas.
Contudo, estes eventos, em sua maioria, não
foram promovidos por armas biológicas desen-
volvidas por pesquisas tecnológicas patrocina-
das por uma nação.
A probabilidade de que uma arma bioló-
gica inicie uma epidemia em larga escala é
muito pequena na atualidade [4],[6], embora
não devamos subestimar os efeitos psicológi-
cos negativos provocados na população após
qualquer tentativa de bioterrorismo. Entretan-
to, tal assertiva não descarta a possível utiliza-
ção de uma arma biológica com alto poder de
destruição por uma nação, por um grupo ter-
rorista ou por pequenos grupos autônomos,
como por exemplo fanáticos religiosos, uma
vez que a tecnologia associada com a confec-
BIOTERRORISMO
Marcus Vinicius da Silva Coimbra, Cap.-Farm - HFAG
O Cap.-Farm. COIMBRA éMestre em Ciências (Microbiologiae Imunologia) pela UFRJ e Doutorem Ciências (Microbiologia eImunologia) pela UFRJ e VirginiaCommonwealth University –Medical College of Virginia, exer-cendo atualmente a função de Che-fe da Seção de Microbiologia e Bi-ologia molecular do Hospital deForça Aérea do Galeão.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○34
Spectrum
Bacilus anthracis
Continua na pág 38
ção de uma arma biológica é relativamente ba-
rata e fácil de ser obtida.[7],[8] Os agentes
microbianos necessários, como matéria-prima
da maioria das armas biológicas, estão ampla-
mente disponíveis e as instalações para desen-
volvimento destas armas requerem pouco es-
paço e não são facilmente indentificáveis.[9]
Destacando-se que a disseminação, mesmo de
organismos altamente controlados, como o
vírus da varíola, não é completamente impos-
sível.
Dentro desta realidade e face aos últimos
acontecimentos bioterroristas ocorridos nos
Estados Unidos, três eventos, em particular,
foram reavaliados e trouxeram ao conhecimen-
to geral a verdadeira possibilidade de uma ca-
tástrofe causada por uma arma biológica. Pri-
meiro, foram as investigações sobre a libera-
ção, em 1995, do gás sarim por um grupo de
religiosos fanáticos no metrô de Tóquio, que
revelaram que este grupo já havia tentado, por
pelo menos 9 vezes, matar milhares de pesso-
as na referida cidade utilizando armas bioló-
gicas.[10] Segundo, as revelações fornecidas
por dissidentes de um sofisticado programa de
armas biológicas, desenvolvido pela então
União Soviética, com o agravante de que pro-
jetos e equipamentos deste programa possam
ter tido o caminho de outras nações e/ou gru-
pos terroristas.[11] Finalmente, a série de acha-
dos após a Guerra do Golfo, em relação ao
poderio tecnológico do Iraque para o desen-
volvimento de armas biológicas. Este país, além
de desenvolver variações de patógenos e toxi-
nas, incluindo antraz e toxina botulínica, ad-
mitiu que tinha projetado bombas e mísseis
para disseminar esses agentes.[9]
Diante de tal perspectiva, há de se consi-
derar que o conceito de Guerra deve ser mo-
dificado ou pelo menos acrescentado de no-
vas variáveis, pois, diferentemente da guerra
convencional, onde há a necessidade de um
grande efetivo equipado para este fim ou mes-
mo da guerra nuclear, que se utiliza de uma
tecnologia cara e difícil de ser obtida, a guerra
biológica pode utilizar-se apenas de um espe-
cialista no assunto e poucos homens com dis-
posição ideológica de destruir o oponente ra-
cional. Tal cenário estabelece que um
superpoder militar, acrescido da utilização de
tecnologia de pon-
ta, não é mais sinô-
nimo de sucesso
em um conflito. As
nações que dese-
jam manter sua
hegemonia deve-
rão, também, in-
vestir em pesquisas
capazes de criar defesas contra os possíveis
agentes biológicos. Deverão, ainda, construir
um sistema de informações com profissionais
de diversas áreas capazes de avaliar os avan-
ços tecnobiológicos de diversos grupos inter-
nos e/ou externos, a fim de se ter o controle de
possíveis agentes que possam ser utilizados
como armas bélicas. E, acima de tudo, uma
nação deve se empenhar para que acordos
sejam realizados no sentido de eliminar qual-
quer arma de destruição em massa ou instala-
ções que possam produzi-las.
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Oficial de Comunicação Social? Achoque sei... Não é quem desempenhaaquela função, atribuída normal-
mente ao oficial mais moderno, que cuida doscartõezinhos de aniversário, organiza as festi-nhas e acaba fazendo as tarefas chatas que nãose encaixam em nenhuma outra seção da uni-dade? Agora me lembro, mas o que haveria deinteressante para se falar dele, em uma publi-cação como a Spectrum que trata de assuntosoperacionais importantes para a Força Aérea?
Se ao ler o título os seus pensamentos forammais ou menos parecidos com esses, permeadospor preconceitos já tão arraigados em nossa cul-tura organizacional, a leitura deste artigo certa-mente lhe dará a oportunidade de conhecer umaoutra face da atividade de Comunicação Social eseu envolvimento em um conflito armado. Basi-camente, mostrará como é possível utilizar os re-cursos de comunicação para conquistar o apoioda população civil, deixando planejadores e tri-pulantes livres para pensar e desempenhar açõesde combate.
A Comunicação Social em CombateAssim como em tempo de paz, são três as
atividades que podem ser desempenhadas pelaComunicação Social, durante um conflito: o Jor-nalismo, as Operações Psicológicas e as RelaçõesPúblicas.
O Jornalismo é responsável por alimentar osnoticiários com o desenrolar das atividades de-sempenhadas pelas Forças Armadas e contrapor-
O Oficial de Comunicação Social e as Operações Aéreas
Francisco Guirado Bernabeu, Cap.-Av. - CECOMSAER
se às especulações veiculadas pela mídia. O me-lhor exemplo sobre a importância dessa ativida-de está na Guerra do Vietnã, quando a opiniãopública dos Estados Unidos,informada sobre o desenrolardo conflito pelos meios de co-municação, pressionou o gover-no americano a abandonar asatividades de combate.
As Operações Psicológi-cas, por sua vez, têm comoobjetivo influenciar opiniões,atitudes e comportamentos doinimigo ou da população ini-miga e evitar, ainda, que nos-sas tropas sejam envolvidaspela propaganda adversária.Essa atividade tem sido larga-mente empregada nos últimosconflitos militares. Em Kosovo,os bombardeios sobre tropasde Slobodan Milosevich eramintercalados companfletagens, dando a opçãoaos soldados de renderem-seantes do próximo ataque. O artifício funcionoue a Força Aérea da OTAN economizou surtidase centenas de bombas não despejadas sobre oadversário.
Essas duas áreas, o Jornalismo e as Opera-ções Psicológicas, são intensamente exploradaspor forças aéreas, em coordenação com as outrasforças de superfície, existindo já uma volumosaliteratura. Sobre o emprego das Relações Públi-cas, porém, não existe muito a respeito, a não seras atividades praticadas por determinados exérci-
O Cap.-Av. Francisco é pilotode Busca e Salvamento, concluiu oCFOAv em 1989 e exerce atualmen-te a função de Adjunto da Divisãode Produção e Divulgação do Cen-tro de Comunicação Social da Ae-ronáutica. Possui os cursos de: Co-municação Social no Centro de Es-tudos de Pessoal, no Exército Brasi-leiro; Civil Affairs, no Exército dosEUA; Análise de Propaganda, na Se-cretaria de Assuntos Estratégicos; ePós-Graduação em Administraçãode Marketing, pela UniversidadeDom Bosco, Campo Grande-MS.
“Atenção unidades VJ: Deixem KosovoAgora a OTAN está usando o bombardeiro B-52 para lançar abomba MK-82, de 225 Kg, nas unidades VJ, em Kosovo. Cadaaeronave pode carregar mais que 50 dessas bombas!Essas aeronaves retornarão quantas vezes forem necessárias pararemover suas unidades de Kosovo e impedí-los de cometeratrocidades. Se vocês desejarem ver suas famílias novamente,abandonem sua unidade e equipamentos e saiam de Kosovo agora!”
“Milhares de bombas...e o desejo, capacidade e apoio do mundo para despejá-las nasua unidade”
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tos, denominadas Civil Affairs, ou Assuntos Civis.A fim de entender melhor o assunto, imagi-
ne uma tropa, avançando em determinada dire-ção, deparando-se com um civil, apanhado desurpresa pelas operações militares. A unidade res-ponsável por cuidar desse indivíduo e encaminhá-lo para um campo de refugiados será um Bata-lhão de Assuntos Civis. O objetivo principal des-sa unidade será fazer com que a população civil,inserida no contexto de um Teatro de Operações,interfira o mínimo possível nas operações milita-res, dando liberdade de atuação às tropas, nasações de combate.
Dessa forma, um Batalhão de Assuntos Civisterá por atribuição a montagem e o gerenciamentode campos de refugiados, a distribuição de ajudahumanitária e o estabelecimento de relações comentidades não-governamentais e autoridades lo-cais. Mas e se, durante o deslocamento, o exérci-to tomar uma cidade? Mais uma vez o Batalhãode Assuntos Civis estará presente, administrandoserviços essenciais como policiamento, transpor-te, saneamento básico, abastecimento de água evíveres, etc.
Na Guerra da Bósnia, grupos étnicos, autori-dades civis, organizações não-governamentais epessoas desabrigadas criavam pressões e defen-diam interesses diferentes, muitas vezes antagô-nicos. Esse cenário exigiu a presença de negocia-dores hábeis e experientes, encontrados entre osrecursos humanos que compõem as unidades deAssuntos Civis.
Muito bem, esse parece um assunto interes-sante para um Exército, mas qual a aplicação prá-tica nas operações da Força Aérea Brasileira?
Suponha que o Brasil seja engajado em umconflito bélico na região amazônica e que o Pri-meiro Grupo de Caça e mais duas ou três unida-des tenham que se deslocar para uma cidade daAmazônia com 10 mil habitantes (2.500 vivendona área urbana), oito indústrias, 12 estabelecimen-tos comercias e força policial composta por umsargento e três soldados (omitimos o nome da ci-dade, mas ela existe). A presença dos militares al-terará substancialmente a rotina da comunidade,pois a partir daquele momento a localidade po-
derá tornar-se alvo de ataques inimigos, já queexistirá um objetivo militar a ser destruído. Alguémterá que organizar a defesa civil da cidade ou pelomenos coordenar os trabalhos, no sentido de cons-truir abrigos antiaéreos; definir rotas de evacua-ção; identificar o posicionamento de recursos es-senciais, como pontos de abastecimento de águae de energia elétrica; levantar locais que poderãoabrigar refugiados, como escolas, ginásios, etc.Alguém deverá contatar autoridades locais a fimde conseguir apoio às necessidades administrati-vas das unidades deslocadas, buscar os meios decomunicação social da comunidade, propician-do um canal onde possam ser passadas orienta-ções à população, em caso de ataques aéreos, eaté transmitir mensagens codificadas a outras for-ças operando na região.
Mas porque a Força Aérea cuidaria desse tipode atividade?
Como nosso País possui diferenças regionaissignificativas, a estrutura de defesa civil varia demunicípio para município, dependendo de sualocalização no contexto nacional. Assim comodeterminadas comunidades ficarão totalmentedependentes de orientações militares, em caso deconflito, outras serão autônomas, chegando a to-mar a iniciativa para apoiar as atividades aéreas.De qualquer forma, é de fundamental importân-cia que uma unidade deslocada sinta-se bem aco-lhida em qualquer lugar onde opere, dentro doterritório nacional. Um gesto indispensável paracriar esse clima de confiança entre população eorganização militar é a observância das necessi-dades básicas da comunidade, principalmente asprovocadas pelo conflito.
Essa atividade se reveste de especial impor-tância caso o Brasil venha a combater um paísque utilize eficazmente as Operações Psicológi-cas. Um dos argumentos mais explorados em cam-panhas é a responsabilização do governo e dasforças armadas pelas dificuldades enfrentadas pelapopulação civil, procurando colocá-la sempre emposição contrária às forças legalmente constituí-das. Se existir um mínimo de ressentimento entrea população e as forças armadas, os objetivos dasOperações Psicológicas inimigas serão alcança-
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dos, criando dissidências e pressões internas. Se,porém, ambas as partes tiverem um firme relacio-namento, baseado na confiança e na observânciadas necessidades mútuas, a propaganda inimiganão encontrará um ambiente fértil para se instalare disseminar a desconfiança entre as diversas ins-tituições nacionais.
O que se propõe é que passemos a enca-rar mais profissionalmente o papel da Comuni-cação Social nas manobras que envolvam des-locamentos das unidades da Força Aérea. Po-demos promover a visita de oficiais a sedes deorganismos de Defesa Civil locais, levantar ascondições dos recursos do município que po-deriam ser utilizados em caso de conflito,catalogá-los e enviá-los a um banco de dadoscentral, trabalhando conjuntamente com o ór-gão central de Defesa Civil. Podemos, ainda,nos unir a organizações não-governamentais,como a Cruz Vermelha, promovendo missõesde assistência cívico-social, criando relaciona-mentos que, certamente, tornar-se-ão rotineirosem caso de guerra. Além de treinarmos para ocombate, estaremos auxiliando o Brasil a de-senvolver sua estrutura de Defesa Civil e forta-lecer suas instituições.
Em suma, se queremos que a populaçãoapóie as atividades da Força Aérea, esse apoiodeve ser conquistado. Os habitantes de qualquerlocalidade brasileira devem sentir que a FAB estápresente para trazer segurança à comunidade,apoiando-a em caso de problemas, e não vê-lacomo intrusa, responsável pela destruição e pelocaos, freqüentemente observados em conflitosarmados.
Nesse contexto, é importante que pessoalespecializado acompanhe as unidadesdeslocadas, estabelecendo o contato com a co-munidade. Para aqueles que argumentam quetais atividades não podem cair nas mãos de umoficial de comunicação social de unidade aérea,uma vez que ele é um piloto e todos os pilotossão importantes para o combate, uma observa-ção: estão certos. O CECOMSAER está repen-sando sua estrutura de comunicação social. Jámontou um grupo de trabalho que tem por obje-
tivo analisar como integrar essa atividade no pre-paro e no emprego da Força Aérea. Não só aestrutura está sendo repensada, mas também oplanejamento e a execução de atividades de Jor-nalismo e de Operações Psicológicas. Há pelomenos três anos a ECEMAR vem desenvolvendoo tema em seus cursos. As últimas manobrasmilitares que a Força Aérea realizou continhamem suas ordens de operações o anexo G, de Co-municação Social. Resta agora que essas ativi-dades sejam incorporadas à culturaorganizacional da Força Aérea, que surjam maispessoas interessadas em desenvolver conheci-mento, seja pela defesa de teses em cursos civisde pós-graduação, seja pelo desenvolvimento demonografias em cursos de carreira.
O assunto deste artigo é apenas a ponta deum iceberg. Muitas outras atividades podem serdesenvolvidas, apoiadas em ferramentas e no co-nhecimento produzido pela Comunicação Soci-al. Quer exemplos? O estudo da ascendência dosmeios de comunicação social no psicossocial deuma população, a ponto de influenciar uma For-ça Aérea na escolha dos centros de gravidade aserem bombardeados, como ocorreu em Kosovo.No mesmo conflito, as implicações na utiliza-ção de um avião – um C-130 da USAF, conheci-do por Comando Solo – equipado com emisso-ras de rádio e TV, na disseminação de propagan-da favorável às forças atacantes.
O mais importante, porém, em plena Erada Informação, quando o conhecimento repre-senta a fonte de poder entre as nações, é que oestudo e o aperfeiçoamento profissional sejamsemeados em solo fertilizado pela compreensãoe pelo estímulo institucional, permitindo o cres-cimento continuado e a colheita de frutos sabo-rosos em responsabilidade e ricos em compe-tência. Nessas condições, esperamos plantar asemente da Comunicação Social em Combate.
Aqueles que se interessarem em saber maissobre o assunto, contatem, por gentileza, o con-selho editorial da Spectrum ou o CECOMSAER,pelo telefone (61) 329-9683. Emitam sua opi-nião, transmitam sua dúvida ou solicitem maisinformações. Obrigado!
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BIOTERRORISMO(continuação)
Aviões SIGINT e o Domínio da Informação:As Respostas Européias
(Continuação)
sar-se também pela adaptação dos respectivos
sensores aos novos alvos. É assim que os mei-
os SIGINT devem agora processar as teleco-
municações digitais civis. Do lado da ameaça
radar, observam-se as seguintes evoluções:
maior discrição dos transmissores, agilidade
dos parâmetros, radar com modo de
imageamento, radares anti-furtivos. De fato, os
sistemas de informação eletromagnéticos de-
verão proporcionar uma maior sensibilidade,
um aumento das freqüências cobertas com
capacidade de extração, de rastreio e de aná-
lise melhoradas. Hoje em dia, há muita espe-
rança no desenvolvimento de tecnologia digi-
tais nos sistemas SIGINT para tratar desses no-
vos desafios.
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