revista u 4

32
www.auniao.com A REVISTA SEMANAL D´A UNIÃO edição 34.717 · 09 de abril de 2012 · preço capa 1,00 (iva incluído) A FESTA DOS RALIS LISBOA NÃO TEM CAPACIDADE PARA OS FILHOS QUE CRIA, PÁG. 06

Upload: jornal-a-uniao

Post on 16-Mar-2016

228 views

Category:

Documents


4 download

DESCRIPTION

Revista semanal do Jornal A União

TRANSCRIPT

Page 1: Revista U 4

www.auniao.com

A REVISTA SEMANAL D´A UNIÃO

edição 34.717 · 09 de abril de 2012 · preço capa 1,00 € (iva incluído)

A FESTA DOS RALIS

LISboA não tem cApAcIdAde

pARA oS fILhoS que cRIA, PÁG. 06

Page 2: Revista U 4

PUBLICIDADE

E-mail: [email protected] • Telefone: 295 540 910 • Fax: 295 540 919

Área Clínica Médicos

Análises Clinicas

Anestesiologia

Laboratório Dr. Adelino Noronha

Dr. Pedro Carreiro

Cardiologia Dr. Vergílio Schneider

Cirurgia Geral Dr. Rui Bettencourt

Cirurgia Vascular

Podologia

Dr. Fernando Oliveira

Drª Patrícia Gomes

Cirurgia Plástica Dr. António Nunes

Clínica Geral Dr. Domingos Cunha

Medicina DentáriaDr.ª Ana FanhaDr.ª Joana RibeiroDr.ª Rita Carvalho

Dermatologia Dr. Rui Soares

Endocrinologia Dr.ª Lurdes MatosDr.ª Isabel Sousa

Gastroenterologia Dr. José Renato PereiraDr.ª Paula Neves

Ginecologia/Obstetícia

Drª Paula BettencourtDrª Helena LimaDrªAna FonsecaDr. Lúcio Borges

Medicina Interna Dr. Miguel Santos

Medicina do Trabalho Dr.ª Cristiane Couto

Nefrologia Dr. Eduardo Pacheco

Neurocirurgia Dr. Cidálio Cruz

Neurologia Dr. Rui Mota

Neuropediatria Dr. Fernando Fagundes

Nutricionismo Dr.ª Andreia Aguiar

Otorrinolaringologia Dr. João MartinsDr. Rocha Lourenço

Pediatria

Doenças de Crianças

Dr.ª Paula Gonçalves

Dr.ª Patrícia Galo

Pneumologia Dr. Carlos Pavão

PsicologiaDr.ª Susana AlvesDr.ª Teresa VazDr.ª Dora Dias

Psiquiatria Dr.ª Fernanda Rosa

Imagiologia(TAC/ECOGRAFIA/Ressonância Magnética)

Dr.ª Ana RibeiroDr. Miguel LimaDr. Jorge Brito

Neuroradiologia (TAC/Ressonância Magnética) Dr.ª Rosa Cruz

Reumatologia Dr. Luis Mauricio

Terapia da Fala Dr.ª Ana NunesDr.ª Ivania Pires

Urologia Dr. Fragoso Rebimbas

Page 3: Revista U 4

09 abril 2012 / 03

Pascoaliza-TETEXTO / Marco de Bettencourt Gomes | [email protected]

Os tempos alternam-se com os tempos a fim de não haver monotonia. Primeiro a dança do Entrudo chocalheiro. Se-guiu-se o desfiar das contas de ave-marias rezadas com os pés dos romeiros no chão de vulcões adormecidos. E daqui a nada chegam ao terreiro toiros corridos à corda. Estas são as nossas ilhas e as nossas gentes. Açores.Não é dogma a ressurreição de Jesus mas é feriado nacio-nal. É a razão de fé, a salvação em esperança e a caridade para amar. Se Cristo não ressuscitou é vã a fé. Só que mui-to poucos são os que acreditam que Cristo ressuscitou. E menos ainda os que acreditam na ressurreição. Educados a ir à missa, a umas catequeses infantilizadas, a um ou ou-tro baptizado, a mais um ou outro casório, a uns quantos funerais, a picar o ponto por altura da festa lá da sua pa-róquia, talvez na missa do galo, quem sabe na páscoa e pronto. Muita religião e pouca fé.Todos os domingos são Páscoa. A festa da Igreja que se reúne em assembleia. A festa da Igreja bela que escuta a voz do belo esposo. A festa da Igreja que sobe para a sala do banquete aonde tudo está preparado com carnes suculentas e vinhos generosos. A festa da Igreja que cuida dos pobres com entranhas de Mamã. A festa na casa do Papá, na escola do Filho, na oficina do Espírito. Muita mis-sa e pouca eucaristia.O perfume da Páscoa não está gasto: é mal usado. O per-fume da Páscoa não está fora de moda: o gosto precisa ser educado. O perfume da Páscoa não se exauriu: a sua fragrância não inebria os sentidos. É urgente a Páscoa dos sentidos.

SUMÁRIO

FOTO / RICARDO LAUREANO / pág. 16

NA CAPA...

A poucos dias de mais um Rali Sical, a 31ª edição de um evento com tradições a nível nacional, a azáfa-ma nas garagens e os preparativos da ordem já to-maram conta das hostes motorizadas locais.De pilotos, de quem os apoia, de quem põe a festa dos ralis na estrada e de quem a acompanha quase com devoção. O desejo é que a Terceira nunca seja o “Allgarve” da modalidade… e isso os adeptos bem percebem o que quer dizer.

para além das conveniências 06

ferramentas 07

vem cá abaixo provar isto! 11palavras 13a santa transgressão 15

via jar d’aqui 26agenda 31

fotógrafo 23as lágrimas da mãe do mau ladrão 25ócios 28

no pagar está a questão 05

EDITORIAL / SUMÁRIO

arquivos em espaços online 10

mapa linguístico açoriano 14

antero de quental 21

Page 4: Revista U 4

CENTRO+PATRIMÓNIO=POLÉMICA

09 abril 2012 / 04

Os vereadores do PSD na Câmara Municipal de Angra do Heroísmo criticam a postura de Sofia Couto referindo que a presidente da au-tarquia tem tomado várias deci-sões importantes para o concelho sem dar conhecimento ao executi-vo camarário.António Ventura, líder dos sociais-democratas, refere o anúncio da construção de um Centro Interpre-tativo como o mais recente exem-plo dessa atitude.O vereador do PSD questiona tam-bém a utilidade da obra, pergun-tando se ” não será uma duplica-ção do que já existe no Museu de Angra”, advogando, como alter-nativa, a implementação de uma exposição permanente no Monte Brasil que englobe todos os aspec-tos da história da cidade.António Ventura não compreende igualmente como é que, semanas depois do PSD ter apresentado uma recomendação para que a CMAH atribua as adjudicações di-rectas a empresas locais, “a pri-meira obra anunciada seja entre-gue a alguém de fora, mesmo não estando em causa a competência de Siza Vieira”. Perante isto, António Ventura de-

António Ventura defende que o PS “Não devia anunciar mais obras para Angra enquanto não cumprir o que prome-teu”.

fende que o PS “não devia anunciar mais obras para Angra enquanto não cumprir o que prometeu”.Em relação à postura de Sofia Cou-to, o líder do PSD/Terceira recorda que “por muito menos retirámos funções à anterior presidente”, deixando o aviso que, se voltarem a acontecer situações em que a CMAH toma decisões sem dar co-nhecimento à oposição, o seu par-tido poderá voltar a fazer o mes-mo.Para além disso, António Ventu-ra afirma ter recebido relatos de “desentendimentos” entre os ve-readores do PS, algo que entende “está a atrasar a tomada de de-cisões importantes para Angra e mostra que a solução encontrada

REVISÃO

FUTURo cENTRo iNTERPRETaTiVo?

Page 5: Revista U 4

09 abril 2012 / 05

soFia coUTo coNFEssa TER “PENa” PEla FacTo do VEREadoR aNTóNio VENTURa aFiRmaR qUE o ExEcUTiVo a qUE PREsidE Não TEm dialoGado com a oPosição.

pelos socialistas continua a não ser a melhor para o concelho”. Artur Lima, vereador do CDS/PP, não alinha nas críticas do PSD, afirmando que o relacionamento deste executivo com a oposição “é totalmente diferente do anterior, tem procurado o entendimento institucional”, rejeitando qualquer acção para retirar competências a Sofia Couto.Quanto ao Centro Interpretativo o presidente dos “populares” lembra que foi o seu partido o primeiro a falar do assunto, congratulando-se pela presidente ter decidido avan-çar com uma obra que irá trazer “um grande salto qualitativo para a nossa cidade”.Sofia Couto confessa ter “pena” pela facto do vereador António Ventura afirmar que o executivo a que preside não tem dialogado com a oposição prometendo “fazer um esforço ainda maior” para que tal aconteça.Realçando que o vereador social-democrata nunca lhe comunicou pessoalmente esse mal-estar, a presidente da CMAH afirma que tem falado regularmente com os restantes vereadores, quer nas reuniões de câmara, quer em en-contros informais.Em relação ao assunto específico do Centro Interpretativo, a edil diz que o mesmo foi discutido num en-contro com vereadores da oposi-ção como o são “todos os assuntos relevantes para o concelho”.

NO PAGAR ESTÁA QUESTÃO

TEXTO / João Rocha / [email protected]

A associação do nome do conceituado arquitecto Siza Vieira ao futuro Centro Interpretativo do Património de Angra do Heroísmo é uma evidente mais-valia para a cidade.O que abre espaço à discussão tem a ver com os enquadramentos paralelos. Em primeiro lugar, a questão financeira.Numa autarquia com claras dificuldades financeiras, não deixa de ser um exercício económico complexo saber como conse-guirá levar a cabo, pelos seus próprios meios, empreitada de tão grande monta e à conta de que sacrifícios orçamentais noutras áreas.Depois, fazendo fé que a obra chegará a bom porto, será necessário definir as competências e funcionalidades (além da escolha de personalidades) do Centro Interpretativo a edificar na velha Casa dos Pamplonas.Sejamos claros: as questões patrimoniais do burgo angrense até agora têm servi-do muito mais para desunir do que para unir.Resta esperar (e desejar) que o talento de Siza Vieira seja suficiente para projec-tar um espaço de concórdia. Para bom interpretador…

SeRá neceSSáRIo defInIR AS

funcIonALIdAdeS do centRo

InteRpRetAtIvo

REVISÃO

Page 6: Revista U 4

09 abril 2012 / 06

EXPA-TRIA-DOSe A pá-tRIATEXTO / Tomaz Dentinho

os expatriados têm pátria mas a pátria pouco quer sa-ber deles. manda-os para fora com a missão atávica de aportuguesar o mundo mas no fundo não quer mudar por-tugal para o mundo; na ver-dade, os velhos do Restelo, mais as suas velhas dos des-terros, nunca tiveram muito a ver com mudanças; preferem passar o trabalho para os ou-tros, entregando Américas a espanhóis, Indonésias a ho-landeses, Índias a ingleses, e áfricas a chineses. e assim se transladam os portos de portugal: Lisboa, para não mudar, muda-se para Sevilha, Amesterdão e Londres, a baía

passa para nova Iorque, Lu-anda para a cidade do cabo, maputo para durban, Goa para bombaim, malaca para Singapura, macau para hong-Kong, nagasáqui para tóquio e timor para alguma coisa que apareça por estes lados, talvez timor. Lisboa não tem capacidade para os filhos que cria mas não há dúvida que os expatria para os sítios certos e no tem-po que parece ser oportuno.consigo pensar assim depois de um jantar de caranguejo no centro de Singapura, de uma galinha bem temperada ao som suave do mar das mo-lucas em díli e na animação do jet-lag de mais um primei-ro dia no oriente. É desastroso pensar portu-gal entre a Ajuda e o desterro a olhar o mar da palha, mas esse desastre é a nossa histó-ria de “ninguéns” expatriados e retornados, porque a pátria que pensaram e criaram lon-ge é sistematicamente vendi-da a outros por estrangeira-dos do desterro. o fado é que a esperança persegue-nos na permanên-cia da vocação dos sítios e na oportunidade dos tempos.

a HisTóRia PaRa AléM DAS COnvEnIênCIAS

TEXTO / Carmo Rodeia

Dentro de duas semanas os franceses são chamados a escolher o próxi-mo presidente. As sondagens variam e dão os dois principais candidatos à beira do empate. Mas François Hollande (Socialista) e Nicolas Sarkozy (actual presidente) têm pela frente a dama que confere o rosto humano aos piores princípios da extrema direita xenófoba, Marine Le Pen.Entre a luta titânica de Hollande contra o Acordo Fiscal, a súbita des-confiança de Sarkozy contra o Tratado de Schengen e a pregação de Marine a favor da saída da França da União Europeia, os franceses pre-ferem ouvir falar sobre o combate ao crescente desemprego e como recuperar o habitual e elevado poder de compra.Atenta está a Chanceler Merkel. O presidente em fim de mandato e can-didato à reeleição pode até ser já um “caso perdido”, mas não resolvido. Contra a natureza e a história, Sarkozy e Merkel protagonizaram uma aliança num eixo inexistente desde a fundação da União Europeia. Até podem defender princípios semelhantes: a não adesão da Turquia à União Europeia, uma visão neoliberal na abordagem aos problemas do velho continente ou a defesa dos seus interesses antes dos dos euro-peus, mas ambos os povos se odeiam. Há feridas que nunca serão sa-radas!O próprio Sarkozy, na campanha eleitoral de 2007, dizia que os fran-ceses deveriam invocar o patriotismo e a identidade com orgulho por não terem levado a cabo um genocídio, nem terem sido os inventores da “solução final”, como os alemães no tempo do nacional socialismo.Marine Le Pen opõe-se à imigração, propõe o regresso à pena de mor-te, denuncia a “casta de políticos” e insurge-se contra os eurocratas de Bruxelas. Ela pisa terrenos necessários para a reeleição de Sarkozy à pri-meira volta. Por causa disso, já o vimos defender o fim de Schengen. O que mais nos reservará a campanha? A história falará mais alto que um mero casamento político de conveni-ência. “Allez la France mais avec Qui?!”

REVISÃO / OPINIÃO

Page 7: Revista U 4

GADGETS DA SEMANA

lEGENda \\\

01// porque o calor está a

chegar (29€)

02// tem saudades dos 16

bits? (75€)

03// transforme o iphone

em disco externo (23€)

01//

02//

03//

Ps: i loVE YoUTEXTO / Paulo Brasil Pereira

Não vou falar de um filme, nem de um livro do Nicholas Sparks. Apesar do ro-mantismo da primavera, hoje o tema é a consola portátil da Sony que veio para mudar a VITA (do latim: vida) dos aman-tes dos videojogos. É a grande concorren-te da Nintendo 3DS, mas a Sony foi mais esperta que a Nintendo e disponibilizou mais de 30 jogos para a sua nova menina. Com a PS VITA pode deixar de jogar nos seu smartphone, pois pra já tem um desempenho igual ao do Iphone 4S mas como é obvio a qualidade gráfica dos jogos é incrivelmente boa. Assim não gasta a bateria do seu telefone caso necessite ligar para o takeaway, já que com este novo brinquedo não vai que-rer outra coisa senão jogar! Artilhe-se

bem de cartões de memória pois esta menina tem pouca “arrumação”. São 5 polegadas de ecrã táctil OLED multi-touch, agora com 2 analógicos, super leve, interacção com Facebook e Twit-ter (duhh), um painel táctil na traseira para facilitar a jogabilidade, realidade aumentada (usa as câmaras para jogar com imagens reais), e caso tenha os velhitos UMD’s da antiga PSP, a Sony está a criar o UMD passport para des-carregar versões digitais dos seus an-tigos jogos. Bom ou mau, o preço varia entre os 249€ e os 329€.É certo que ainda falta muito para o Natal... mas afinal o Natal é quando o homem quiser, né?PS: i VITA you

PUBlicidadE

FERRAMENTAS

www.PlaYsTaTioN.com

Dr.ª Maria Caxias | Licenciada e Especializada pela Universidade de Biologia e saúde

rua da rosa, n.º 19 | 9700-171 angra do Heroísmo | 912421188 | 295701623 | [email protected]

ProMoçãoMês DE aBriL

Consultas de Medicina Natural: 1.º Consulta 40€Seguintes 30€

CoNSultaS MaiSbarataS paraidoSoS eCriaNçaS 25€

osteopatia•Homeopatia•Homeopatia infantil•iridologia•acupunctura•Fitoterapia•Nutrição•

Educação alimentar•Emagrecimento•PNL – Programação •NeurolinguísticaPsicoterapia•reiki•

Page 8: Revista U 4

09 abril 2012 / 08

HIPERHIDROSEAXILAR

O QUE É: Sudação exagerada das axilas ou das palmas sem que exista alguma doença que o justi-fique (neurológica, endócrina ou outra).COMO SE DIAGNOSTICA: Na maioria dos casos o diagnóstico é evidente, mas a sudação excessi-va pode ser quantificada pesan-do compressas aplicadas na axila durante algum tempo, ou de for-ma mais grosseira, pela alteração de cor de químicos aplicados na pele.COMO SE TRATA: ANTITRANSPI-RANTES – Os que contém alumí-nio são os mais eficazes. Apenas tratam de forma eficaz um quarto das hiperhidroses.SIMPATICECTOMIA – A interrup-ção cirúrgica do sistema nervoso simpático efectuando um pequeno corte subaxilar permite, na maio-

ria dos casos, controlar a hiperhi-drose palmar. O principal defeito deste tratamento é que a maioria dos doentes passa a suar mais de outra localização.IONTOFERESE – Trata-se de apli-car uma corrente eléctrica a um meio líquido que contacta com a pele afectada. Resulta eficaz em apenas 1/3 das hiperhidroses axi-lares e palmares e obriga a aplica-ção trisemanal.TOXINA BOTULÍNICA – Esta subs-tância bloqueia a informação neuronal que determina a secre-ção pela glândula sudorípara. A aplicação faz-se por injecções na área a tratar. É tremendamente eficaz, quer na axila, quer na mão. Neste último caso é obrigatório que o médico esteja treinado em efectuar bloqueios loco-regionais, já que as outras técnicas de evi-tar a dor durante a aplicação não são tão eficazes. É um tratamento caro na medida em que tem que ser repetido duas vezes por ano (por vezes três no caso das axi-las) e as palmas exigem o dobro da quantidade de produto que as axilas.

* Dermatologista / Clínica Médica

da Praia da Vitória

“Os verdadeiros analfabetos são os que

aprendem a ler e não lêem”

Mário Quintana

Podendo ser visto como um universo lúdico e metafórico, de sonhos, sen-tidos e sentimentos, a poesia não é um processo contrário ao que nos circunda. Escrevê-la não se resume a ensejos de inspiração mas sim a um processo criativo e complexo que se ampara na realidade.

MERISTEMASTEXTO / Catarina Valadão

CIÊNCIA / OPINIÃO

SAIBA COMO TRATAR

O ODOR DAS AxILAS

TEXTO / Rui Oliveira Soares *

Page 9: Revista U 4

All Star trainer canvas HI

75,00€www.spartoo.pt/converse

Sanjo K100/3

24,75€loja.sanjo.pt

Adidas Originals Plimcana

75,00€www.spartoo.pt/adidas

09 abril 2012 / 09

A escrita da poesia dá ao poeta a opor-tunidade de falar simultaneamente para si e para o mundo, criando um meristema de sensações e interpre-tações segundo cada leitor. Esta tem sido desde sempre uma forma bela e satírica de decifrar em poucas pala-vras o que muitos sentem mas pou-cos averbam. Em verso, prosa, com ou sem rima, a poesia é perceptível e culta, instruindo-nos no presente, a nível intelectual e sentimental, mas também a nível histórico, contribuin-do para a nossa evolução.O leitor entra num mundo prazeroso

capaz de agregar a razão e a emo-ção, o que estimulará o seu pensa-mento, a criatividade e até a memó-ria. Embora muitas vezes se associe a leitura e escrita de poesia a pes-soas mais maturas, é um exercício aconselhável sobretudo a crianças e disléxicos.Somos uma nação de grandes poe-tas; cabe aos presentes escritores e leitores não fazer da poesia um vul-to do passado. Lê-la será uma forma de auto-conhecimento e de difusão de ideias. Ler é o meio mais simples de nos tornarmos ricos.

MONTRA

MONTRA / OPINIÃO

LeCoq Mexico Lea45,00€www.ufshoes.com

bota sanjooriginalem lona

Page 10: Revista U 4

A informação só tem valor se for partilhada. Documentos fechados a sete chaves não têm qualquer valor infor-macional. Vem isto a propósito da criação de diversos projetos de arquivos digitais (em blogs, facebook ou si-tes) que têm abundado no ciberespaço ulti-mamente. Páginas que publicam textos antigos ou, com mais incidência, fotografias antigas.São arquivos que se es-tão a criar, pois trata-se de projetos individuais e/ou coletivos que ge-ram informação no de-curso de uma atividade ou geram coleções cria-das para um determina-do fim. O suporte dessa informação é indiferen-te (suporte digital ape-nas ou suporte papel e reprodução digital), pois qualquer que seja não deixa de constituir-se como um arquivo. Ora, com base nessa premis-sa torna-se necessário uma pequena chamada de atenção a quem gere projetos desta natureza e pretende que eles ob-tenham algum nível de rigor e perdurem.É válida a ação e atitude de quem investiga, acha

PU

Bli

cid

ad

E

ARQUIVOSEM ESPA-ÇOSONLINETEXTO / Cristina Moscatel

e publica estas imagens e textos que nos fazem recuar no tempo e es-paço. São documentos que ganham vida e va-lor porque vêem a sua informação partilhada e divulgada. Mas aten-te-se aos dados que se associam, ou dever-se-ão associar, àquela informação a divulgar. Falamos de citação da fonte (de onde proveio o documento) e da des-crição do máximo de pormenores associa-dos ao mesmo (autor, proprietário, descrição de conteúdo e forma de aquisição por parte de quem difunde). Não se pense que é algo de outro mundo. Se a in-formação proveio de um blog cite o link res-petivo. Se a informação proveio de um particu-lar cite a fonte como tal, etc. Estes pequenos/gran-des pormenores tor-nam o projeto credível (apesar da informação veiculada poder não ser verídica).

SE A INFORMAÇÃO PROVEIO DE UM BLOG CITE O LINK RESPECTIVO. SE A INFORMAÇÃO PROVEIO DE UM PARTICULAR, CITE A FONTE COMO TAL, ETC.

CIÊNCIA

Page 11: Revista U 4

09 abril 2012 / 11

ÓSANTO CriSTO,vemCá AbAixOprOvAr iSTO!

TEXTO / Joaquim NevesParto do prin-cípio: como do que houver quando estou com fome. Três dias sem co-mer até comeria aqueles nervos e gorduras.

Agosto. O nevoeiro, meio-dia, lançava su-cessivos lençois de sombras. A fajã, em S. Jorge, para onde me dirigia, ainda não existia para mim. Húmido, frio, tagarelices, chuviscos, verde, risotas, pedra castanha, caminho estreito, não me surpreenderia se aparecesse um dinossauro, uma hora da tarde, luz, fajã, assombro, lagoa, igreja, obrigado Senhor meu Santo Cristo. Dos lugares mais lindos que já vi, passeio entre as casas e lagoa.Com mesmo muita, mas muita fome, com amigos almoçamos no Borges único res-taurante.As amêijoas estavam sublimes. Foram re-almente das melhores coisas que já comi. As cervejas engarrafadas e os refrigeran-tes também. Olhei para o meu prato pri-meiro, resultado da minha confiada esco-lha, bicuda grelhada, acompanhada com arroz, estrategicamente retirado do tacho para não desfazer a sua forma circular, envolta com gelatina de arroz confecio-nada com paciência desde o dia anterior. Tudo, arroz e bicuda gralhada aquecidos no micro-ondas. Minha prima, pediu alcatra. Não conhecia alcatra, quando olhei para o prato vi to-

MESA

caldEiRa & amEiJoas

Page 12: Revista U 4

PU

Bli

cid

ad

E

dos aqueles nervos gelatinosos, gorduras envolvidas num molho bege atomatado, alivei por não ter pedido aquilo. Para mi-nha surpresa, recusou-se a comer aquilo, nem pagar aquilo. À minha frente amigos mastigavam e engoliam hambúrgueres, que teria sido a melhor opção, aos do meu lado a refeição também não pare-cia correr bem. Mas a salada até estava, desconfiadamente, boa. A moça que nos serviu espero que seja de boa vontade. Na mesa ao lado, a turista loura e branquinha, deliciava-se com uma sopa de peixe, que fora pechinchar ao dono. Pessoalmen-te atendia dedicado à sua sopa, sendo para consumo próprio, não constava na ementa. Certamente só os restos no dia seguinte.Mas o lugar, o passeio, o assombro de tanta beleza, não me deixavam incomodar com o repasto. Além de mais, este restaurante passaria em qualquer Agência Secreta de Alimentos Esterilizados, para universal-mente transformarem alimentos, que os promove a real inter-união, com o consu-midor. Só admira-me a capacidade que algumas pessoas têm em explorar, des-leixadamente, desrespeitar o outro. Parto do princípio: como do que houver quando estou com fome. Três dias sem comer até comeria aqueles nervos e gorduras. Con-tudo não é justo nem sincero nem correto ser servido sem aviso prévio, pagar mais do que merece e detesto micro-ondas. As cervejas estavam bem fresquinhas. E as ameijoas estavam mesmo muito boas o que me leva a questionar se estavam? ou o que é que eu comi?Senhor Santo Cristo, vem cá baixo provar isto! obrigado. Podia vir um dinossauro e comer o Borges. Pode ser que fique extinto, o dinossauro.Ou haja algum Jagunço, que acabe com este.

Receita

SAbeR cAfÉ

MESA

a FomE É o mElHoR TEmPERo

Para quem quer saber, ao contrário da Senhora do café no mercado de Angra, que diz que não precisa de saber destas coisas, que ninguém bebe a não ser um café normal: Café, tem 1000 anos de história. Há 500 começou a ser consumido no mundo arábico. Há predominantemente dois tipos: o arrábida, mais consumido cresce en-tre os 600 e 2000m de altitude, e o robusta, até 600 m de altitude, mais forte, mais industrial. Os primeiros cafés públicos inspirados nas tertú-lias francesas do séc. XVII, espaços de animação cultural e artística, em Lisboa foram o Martinho da Arcada, Café Tavares, Café Nicola, Botequim Parras e os cafés Marrare.OLFACTO: coordena a nossa per-cepção de sabor e determina se gos-tamos ou não do que sentimos.SABOR: papilas gustativas percebem quatro tipos básicos de sabor: No fundo, o amargo; nas laterais, a aci-dez; no meio, o doce; e na ponta da língua, o sabor salgado.Tipos de café expresso simples sem pingos, cheirinhos ou música, com 6 gramas tem variações a partir de 1cl, a italiana só com pressão da água para libertar a gordura geralmente em chávena aquecida, curto 2cl cor-tado com água, normal 3cl, cheio 4cl e abatanado 6-8cl. Abatanado vem descrito no dicionário como café tipo expresso servido em chávena de chá. Abaixo a ignorância sobre o café em Portugal, tem cultura e arte, assuma-se.Café, sua história, evolução, só cabe num grande livro.

Page 13: Revista U 4

PU

Bli

cid

ad

E

coNCílIOTEXTO / Rui Goulart

cala o tempo no caminhona terra dos segredoso baloiço acorda o sonhoos olhos do infinito.

o brilho despregou o céunum canto ao universoo sorriso da terra ao Sulna opulência do silêncio.o cheiro cava a saudadeSobre as luzes do sem olhar

na estrada o peito dilataSão os gigantes da montanha.no concílio dos deuses ao altarflutua a criança ao fim do mundo.

PALAVRAS

lavandarias

RECOLHA GRÁTIS PARA SERVIÇOS SUPERIORES A 25€

D.A. - LavandariasIndustriais dos Açores,

Unipessoal Lda.

Rua da Palha, 25 • 9700-144 Angra do HeroísmoTelefone: 295 212 544 • Fax: 295 216 424

Page 14: Revista U 4

09 abril 2012 / 14

TEXTO / ACRA / Angra

O andar que comprou há três anos tem rachas nas paredes. O construtor recusa-se a repará-las; comprou um automó-vel em segunda mão e o vendedor diz-lhe que não tem direito a garantia; o casaco que enviou para a lavandaria voltou todo manchado. É informado que não há solução; um banco informa-o que lhe concede um crédito à

habi-tação. M a s impõe como c o n -dição a re-a l i -z a ç ã o de um seguro na companhia de seguros do mesmo grupo económico; recebeu em casa um livro que não encomendou. Mais tarde exigem-lhe o pagamento; um cartaz publicitário diz que a sua viagem de sonho inclui um passeio. Afinal, na agência de viagens des-cobre que se trata de um extra que terá de pagar à parte.Estas são apenas algumas das questões com que o consumidor se depara no seu dia-a-dia e para as quais existem soluções legais. Os seus direitos en-contram-se consagrados na lei, mas por vezes temos a sensação que eles não passam de palavras bonitas, sem qualquer reflexo no quotidiano do consumidor. Nada mais falso! Os seus direitos existem, mas de nada lhe servem se não os conhecer. Ao longo destas publicações sobre o “Guia dos Direitos do Consumi-dor” poderá saber como fazer valer os seus direitos. Mas atenção! Todos os consumidores estão protegi-dos pela legislação de defesa do consumidor sempre que compra um produto ou lhe é prestado um ser-viço para o seu uso privado. A relação de consumo pressupõe sempre a existência de um profissional, ou seja, uma pessoa ou empresa que lhe vende ou presta um serviço e que obtém lucros com essa ac-tividade.

maPa liNGUÍsTico açoRiaNo

TEXTO / Humberta Augusto / [email protected]

Acaba de ser disponibilizado, pelo Centro de Co-nhecimento dos Açores (CCA), no seu reformula-do portal (http://www.culturacores.azores.gov.pt/alea) o Atlas Linguístico-Etnográfico dos Açores (ALEAç).Neste projecto, da responsabilidade do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa (CLUL), parte integrante do Atlas Linguístico-Etnográfico de Portugal e da Galiza (ALEPG), são registados “fenómenos de morfofonologia” que registam ex-pressões e dizeres populares, como “currales/cur-rais, leitães/leitãs/leitões, curtumo/curtume”.O trabalho, que criou um “conjunto de mapas lin-guísticos, de carácter essencialmente lexical” foca, sobretudo, a realidade linguística açoriana sobre o mundo rural insular, nas suas actividades económi-cas tradicionais, como a criação de gado, o cultivo da vinha e do vinho, a tecelagem, a hortifruticul-tura, expressões designativas das alfaias agrícolas, entre outros ofícios e profissões, com referência ainda à fauna e flora marinhas.O CCA informa que está em “perspectiva”, em “de-terminado momento, uma publicação independen-te dos materiais recolhidos para o ALEPG nas nove ilhas do arquipélago, tendo as autoridades culturais insulares tomado a seu cargo essa publicação”.Na recolha de dados utilizada, assente na pergun-ta-resposta a questionário na conversa livre entre as populações e os investigadores, estão compila-das 440 horas de gravação de registos.

COM-SUMI-DORINFOR-MADO

RETRATO

ATLAS REGISTA “DIZERES”

Page 15: Revista U 4

PU

Bli

cid

ad

E

TEXTO / Teodoro Medeiros

Esta é a história de 2 pessoas que se amam. Ele chama-se João e ela Manue-la. Conheceram-se à distância, entre avistamentos casuais e outros já me-nos, quando ele começou a persegui-la. Isto aconteceu sem que se pudesse dizer que eram amigos ou chegados: nada disso, o João meteu na cabeça que havia de casar com ela porque sim.E como se dava a perseguição? À an-tiga, à moda dos bons velhos tempos das freguesias rurais: ele estaciona-va ao Domingo à noite diante da casa dela (não sei quinta-feira também) e esperava. Conversava com algum ami-go mais paciente e esperava. Esperou muito mas nunca desistiu. Uma vez, ela até saiu de casa, de propósito, para ir falar com ele e explicar-lhe que era melhor procurar outra porque não ti-nha hipótese nenhuma.Não sei ao certo quantos filhos têm: penso que 3. À moda antiga porque hoje este processo também está em transformação e já não é o que era. Voltando a eles: até hoje me pergunto se ele sabia o que fazia desde o início ou se teve sorte. Concordo que quan-do ela foi desencorajá-lo a pontuação dele já ia alta. Os amigos é que já não o acompanhavam e não acreditavam em bons resultados.Foi na missa de despedida de D. Aurélio Granada Escudeiro. Em 1996, tinha eu 20 anos. Éramos padres, seminaristas e povo que tinha acorrido à Igreja da Sé nesse dia. Eu, habitualmente sisu-do, deixei-me capturar pelo momento: mais de vinte padres estendendo as mãos para a consagração em simultâ-neo. Eles, simplesmente consagrados a Deus, rodeavam outro consagrado que, simplesmente, ia partir. Foi a beleza do momento, foi o peso emocional de que tudo nesta vida é simples, não sei ao certo. Sei que me comovi bastante e as lágrimas correram como uma fonte.

A Glória e o Miguel não se amam: na-moraram muito tempo e eram com-panheiros de festas e de aventuras. Davam-se muito bem e tinham men-talidade muito parecida. A Glória nutria os sentimentos mais fortes pelo seu namorado; sonhava com um futuro a 2 e resistia nesse sonho. Quase que resistiu para além da vontade dele por-que o perseguiu mesmo quando ele a rejeitou.Foi assim que ele já namorava com ou-tra e ela ainda esperava por ele e fazia-o saber a toda a gente. Mas não deu, ele não voltou atrás e ela capacitou-se disso dali a uns meses-anos. Foi duro, mas ela levantou o ego e o coração do chão onde eles estavam quase enter-rados já. Renasceu mais forte e pensou que não valia a pena vender a alma a ninguém. Mas foi duro e demorado.Reli recentemente que o Deus dos filó-sofos não é o mesmo do nosso Iéchua: é o deus apático (sem movimento in-terior) que não perderia tempo con-nosco, perfeito que seria em si mesmo. Vejo mais Deus nas histórias de amor que contei do que nas vias de S. Tomás: Deus vive intensamente aquilo que O move e arrisca-Se por quem deseja que O ame. Quem tem razão, Ele ou quem quer desistir? Acredito que Ele pare muitas vezes para rezar a nós.Ontem renovei as promessas sacer-dotais na Igreja da Sé, na missa cris-mal. Éramos mais de vinte, padres e D. António Sousa Braga, nosso Bispo. To-dos estendemos as nossas mãos para consagrar o pão e o vinho, um gesto vestido de beleza e majestade enxuta. Recordei-me daquela missa de há 16 anos e de como nunca se tem respon-dida a pergunta sobre Deus. Senti-me muito feliz por estar neste caminho há quase 12 anos. Agradeci a Deus ter transgredido o seu estatuto imutável por causa de nós.

A SAnTATRANSGRESSÃO

OPINIÃO

Page 16: Revista U 4

A FeStADOS

RAlIS!

DESTAQUE

CONSULTÓRIOS EMMadalenaAngra Praia Velas292623321295214980 295512025 295412538

MARCAMOS CONSULTASDE OFTALMOLOGIA

Page 17: Revista U 4

A FeStADOS

RAlIS!

A estrada interrompida e longas filas de car-ros estacionados significam, na ilha Tercei-ra, que ou há tourada ou há rali. A imagem é bem real e não há desporto que cative mais audiência entre nós, com uma afición dedi-cada e bem informada a seguir a par e passo todos os andamentos de cada prova. A pou-cos dias de mais um Rali Sical, a 31ª edição de um evento com tradições a nível nacional, a azáfama nas garagens e os preparativos da ordem já tomaram conta das hostes moto-rizadas locais. A realização, a cargo do Ter-ceira Automóvel Clube, encerra um passado de recordações bem vivas na memória de um povo que gosta de emoções, que as vive com intensidade, e que está sempre pronto para a festa. Tenha ela um laivo de ar fresco, es-paço para se comer e beber, e é só juntar os amigos para rumar aos troços, mesmo se já não há o frio das noites longas, as enormes classificativas onde tudo era esperado ou as assistências rápidas que “pulavam” de PEC em PEC para auxiliar os concorrentes. Hoje contam mais as eletrónicas e as evoluídas misturas de pneus, vêm mecânicos de fora e o vinil de corte substituiu os autocolantes cortados à mão. As exigências com a segu-rança duplicaram e, mesmo numa altura em que o dinheiro não abunda, apenas uma coi-sa se mantém inalterada: a dedicação. De pi-lotos, de quem os apoia, de quem põe a festa dos ralis na estrada e de quem a acompanha quase com devoção. Esse espírito é o que se espera os tempos não consigam mudar, tal qual se viu há uns dias em Fafe, num regres-so esporádico do Rali de Portugal ao norte do país, apenas numa prova de exibição. O de-sejo é que a Terceira nunca seja o “Allgarve” da modalidade…e isso os adeptos bem perce-bem o que quer dizer.

PU

Bli

cid

ad

E

DESTAQUE

TEXTO / Miguel de Sousa [email protected]

FOTOS / Ricardo Laureano / RL photo

Page 18: Revista U 4

É tão somente uma festa popular das grandes e, de há uns anos para cá, demo-cratizou-se com uma maior oferta, fruto do nascimento de uma nova competição de âmbito local. Longe vão os tempos das correrias para “fugir” à Polícia em meados dos anos de 1970, com as rea-lizações “piratas” a juntarem esforços para se poder acelerar longe e perto dos

olhares curiosos. Mas ralis vieram para ficar na Terceira, e mesmo quem lhes é indiferente tem de dar o braço a torcer, tal é a aceitação de adeptos e entidades perante uma modalidade com perigos, emoções e verdadeiras paixões. Foi em 1978 que a primeira prova oficial foi para a estrada, o então Rali Primavera, realizado a “31 de março, 1 e 2 de Abril”, como se ouvia no saudoso “spot” do Rá-dio Clube de Angra. A vitória de então, para a dupla Joaquim do Carmo/João Carlos Paes, em Datsun 240 Z, foi a pri-meira de muitas para uma atividade que dava os seus primeiros passos, pelas mãos de um jovem clube e com jovens obreiros, o TAC (Terceira Automóvel Clube), hoje consagrada instituição de utilidade pública e por onde já passaram centenas de dedicados colaboradores e outros tantos pilotos, navegadores e afins. Num folclore próprio das provas de estrada, mas também dos circuitos, das perícias, do todo-o-terreno das mo-tos e dos clássicos. Na Terceira é assim mesmo, tudo tem de ser compreendido para se viver com vontade, para se criar o gosto, para se admirar os melhores e saudar os esforçados, mesmo se os “fait-divers” e as discussões abundam e, por vezes, quase se sobrepõem às cau-sas inicais. Mas voltemos à estrada, às acelerações fortes e às travagens brus-cas de um desporto que se tornou rei e senhor dos fins-de semana em que se realiza, deixando para trás qualquer ou-tra ação em termos de povo e reboliço. Daqui por uns dias, e já depois dos ralis terem arrancado para a sua temporada terceirense com uma prova da taça do grupo central, é mais um “Sical” a contar, a prova mais mediática, a prova a que se brincava na escola, uma marca que se confunde com um rali e um rali que já é mais que essa mesma marca. Nove

classificativas em pisos de asfalto, com a saída a fazer-se do Litoral de Angra. Tão só a melhor super-especial citadina do país, que todos os anos alberga milhares de espetadores junto ao Castelo de São Sebastião, com a adulterada Baía das Descobertas ali ao lado, lembrando que estas paragens sempre foram palco de episódios movimentados.

Todos aguardam o primeiro carro na estrada e, com mais ou menos concor-rentes, os contrastes são os de sempre. Há os talentosos, os endinheirados, os que são espetáculo, os que cortam to-das as curvas a pensar no tempo final, e os grandes campeões. Todos recebem aplausos, pois todos contribuem para o colorido especial do rali na estrada. Mau grado as novas regras que lhes tiraram alguma “personalidade”, os ralis tercei-renses regem-se hoje pelos princípios internacionais, e não há quem não elo-gie a vontade com que se continuam a realizar, sendo a isso sempre incentiva-dos os seus organizadores. Mas o certo é que é o público conhecedor quem, de facto, serve de motivo para que a festa prossiga. Os ralis dão visibilidade, dão dinheiro, dão animação às localidades e até dão votos, daí que estejam mais que justificadas as sinergias que permitem essa emoção contínua na terra dos bra-vos e noutras que tais. Sem bairrismos balofos nem intenções escondidas, é no povo destas almas de Brianda e Violante que se mede a bitola do adepto açoriano dos ralis. A apreciação veio da boca de um campeão, e é tão mais certa quanto

DESTAQUE

09 abril 2012 / 18

DESTAQUE

Ralis ViERam PaRa FicaR

os Ralis dão VisiBilidadE

Page 19: Revista U 4

os títulos que o mesmo conquistou. Daí que toda esta prosa, mais do que ver-sar a parte desportiva ou as batalhas ao segundo que se adivinham para o próximo fim-de-semana, sirva também para homenagear essa mole humana que sustenta todo um mundo que hoje se partilha no imediato, se critica no mi-nuto seguinte e se enaltece na expres-são sequente. Esse mundo de estrelas como Leob, Sainz ou os malogrados McRae e Toivonen, estica-se até às nos-sas exigentes classificativas por ícones do passado como “Larama” ou Horácio Franco, os mais próximos “Licas” Pi-mentel e Gustavo Louro e as estrelas de hoje Ricardo Moura ou Fernando Mene-ses. Com uma claque abrangente e bem marcada, há uma coisa que distingue este desporto dos demais, mas que só se consegue explicar a quem aprecia um gancho bem manobrado ou uma contra-brecagem tirada ao centímetro. Afinal, coisas ao alcance de poucos, mas que todos podemos apreciar…

O MAIS ANTIGO DO PAÍSRealizado desde 1982, o Rali Sical vai para a sua 31ª edição, sendo a mais an-tiga prova desportiva em Portugal com a mesma denominação comercial. Uma aposta constante da Nestlé Portugal, correspondendo ao esforço constante do representante local Açoral, que ano após ano faz deslocar à ilha lilás o “es-tado maior” daquela multinacional, para aferir “in loco” a popularidade de que goza a modalidade entre nós. Os palcos da festa já foram vários, os troços de ter-ra já lá vão, e 2012 vai marcar o regresso à Praça Velha, embora numa nova con-figuração, antevendo-se que, por estes dias, Angra do Heroísmo será uma sala de visitas para mais um café “motoriza-do”, o único com tradições longas que se bebe no nosso país…

MOURA…QUEM MAIS? Campeão açoriano há quatro épocas consecutivas, faixas que juntou a títulos nacionais em 2010 (Produção) e 2011 (Absoluto), Ricardo Moura é novamen-te favorito a vencer na Terceira. Sem adversários à altura, o ponta-de-lança do Team Além Mar já lidera o campe-onato, depois da boa exibição no SATA Rali Açores, a prova do IRC, que este ano abriu a temporada regional. A se-guir a Moura adivinha-se uma luta re-nhida pelo pódio, com os seus colegas de equipa Ricardo Carmo e Luís Miguel Rego a terem de contar com Fernando Meneses, numa “guerra” que antecede a batalha da F3 e das duas rodas motri-zes, animação extra com que sempre se pode contar. Longe dos 52 inscritos de 2011 – e ainda mais das sete dezenas de há uns anos… -, o Rali Sical também sofre as agruras da crise, que nem isso retira o brilho que a prova sempre tem, com “lotes” de emoção e várias “estrelas” a prometer belas imagens. A ação está aí à porta!

Todos aGUaRdam o

PRimEiRo caRRo Na EsTRada

Page 20: Revista U 4

lEGENda \\\

01// conservas tradicionais

Tricana conserveiradelis-boa.pt02// água bling H20 sabo-resgourmet.pt/

02//

01//

04//03//

03// cerveja Sovina cerve-jartesanal.com/04// macarons portugue-

ses maison-macarons.com05// Produtos Boa Boca

Gourmet boaboca-gour-met.com

05//

PUBLICIDADE

LOJAS

Revista U

Rua da Rosa, 199700-144 Angra do Heroísmo

tel. 295 216 222fax. 295 214 030

email. [email protected]

DirectorMarco Bettencourt Gomes

EditorJoão Rocha

RedacçãoSónia Bettencourt, Humberta

Augusto, Renato Gonçalves

Design gráficoFrederica Lourenço

PaginaçãoElvino Lourenço, Ildeberto Brito

Colaboradores desta ediçãoAdriana Ávila, António Araújo, Carmo Rodeia,Catarina Valadão, Cristina Viveiros, Francisco Lopes, Frederica Lourenço, Joaquim Neves, José Júlio Rocha, Miguel de Sousa Azevedo, Paulo Brasil Pereira,Ricardo Laureano, Rogério Sousa, Rui Goulart,Rui Oliveira Soares, Teodoro Medeiros,Tomaz Dentinho

contribuintenº 512 066 981nº registo 100438

assinatura mensal: 9,00€preço avulso: 1€ (IVA incluído)

Tiragem desta edição 1600 exemplaresmédia referente ao mês anterior: 1600 exemplares

Page 21: Revista U 4

09 abril 2012 / 21

AnTERODEQuENTAL

Assim se expressa José Calvet de Ma-galhães sobre a origem de Antero de Quental: «Nessa mágica ilha de S. Miguel, coberta de prados verdes, de tufos de hortênsias azuis orlando os caminhos, de lagoas profundas e mis-teriosas e de vulcões adormecidos, nasceu, em 18 de Abril de 1842, Antero de Quental, um homem estranho, físi-ca e intelectualmente, cujo nome fica-ria na história como um dos grandes poetas nacionais».Antero de Quental, poeta da nossa gente, era filho de Fernando de Quen-tal, proprietário e descendente de uma família fidalga de S. Miguel, e de D. Ana Guilhermina da Maia, nascida em Setúbal e filha do desembargador Antero José Maia e Silva.O menino Antero nasceu na cidade de Ponta Delgada e foi baptizado na igre-ja matriz de S. Sebastião, no dia 2 de Maio de 1842 pelo pároco da terra. A infância decorreu em Ponta Delgada, em casa de seus pais. Frequentou o colégio particular «Liceu Açoriano», dirigido por Pedro de Alcântara Leite. No ano de 1852 foi para Lisboa para frequentar o Colégio do Pórtico de António Feliciano de Castilho, que vi-ria a ser encerrado em Abril do ano seguinte, pelo que regressou a Ponta Delgada. Continuou os seus estudos e em 1855 foi aprovado no exame de instrução primária. Nesse mesmo ano partiu novamente para a capital a fim de ingressar na Escola Académica de Lisboa. Em 1856 seguiu para Coimbra, onde frequentou o Colégio de S. Ben-to, dirigido pelo padre António Xavier Pinto Homem. Em 1858 matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coim-bra. Nos primeiros tempos na Lusa Atenas viveu em casa do seu tio, Filipe de Quental, que terminava o curso de Medicina. Depois passou a viver em casa de amigos. Filipe de Quental pos-suía uma enorme livraria, onde Antero descobriu Proudhon, o seu autor pre-ferido toda a vida. Era fechado no seu quarto que Antero escrevia os seus poemas, que publicou

em 1859 em revistas como “Prelúdios Literários” e “O Fósforo”. Foi também nos “Prelúdios” que editou o seu pri-meiro trabalho em prosa, intitulado “Educação das Mulheres”. Estava Antero no terceiro ano de Di-reito, em 1860, quando conheceu em Coimbra o seu conterrâneo Teófilo Braga, que se instalou em casa de Fili-pe de Quental. Ainda nesse ano, Ante-ro fundou a revista mensal “O Acadé-mico”, juntamente com João de Deus, Alberto Sampaio, Alberto Teles, entre outros. No verão organizou uma “Líri-ca Açoriana” com Alberto Teles.No ano de 1861, Antero publicou o seu primeiro livro, editado em Coimbra por Stenio (pseudónimo de Alberto Teles), sob o título “Sonetos de Antero”, com

TEXTO / L. Oliveira Marques /

SNPC

LITERATURA

ToRmENTo do idEal

Page 22: Revista U 4

09 abril 2012 / 22

21 poemas. Em 1861-1862 criou com outros a “Sociedade do Raio”. Em 1863 conheceu Eça de Queiroz, também ele estudante de Direito em Coimbra, pu-blicou o poemeto «Beatrice» e con-cluiu as suas «Odes Modernas», que só seriam publicadas em 1864. Tornou-se bacharel “nemine discre-pante” em Direito pela Universidade de Coimbra em 1864. Em janeiro do ano seguinte redigiu o opúsculo “De-fesa da Carta Encíclica de Sua Santi-dade Pio IX contra a chamada opinião liberal”. Escreveu ainda, em 1865, “Bom Senso e Bom Gosto: Carta ao Ex-celentíssimo Senhor António Feliciano de Castilho”, onde afirma que este havia praticado uma acção desonesta atacando o direito à independência da “Escola de Coimbra”, da qual o próprio Antero e Teófilo eram os principais protagonistas. A carta gerou grande polémica, dando origem a uma quan-tidade enorme de artigos e opúsculos a favor ou contra tal Escola. No ano de 1871 deu início às chamadas “Conferências Democráticas”, tam-bém chamadas “Conferências do Ca-sino”, com a colaboração de Eça, Adol-fo Coelho, Manuel de Arriaga, Oliveira Martins, José Falcão, Batalha Reis, en-tre outros que constituíam o chamado “Grupo do Cenáculo”. Os encontros, abertos a todos, procuraram tratar as grandes questões contemporâneas, religiosas, políticas, sociais, literárias e científicas. A 27 de Maio de 1871 An-tero proferiu a primeira conferência sobre “As Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos últimos Sécu-los”. Em Novembro desse ano mudou-se para o Porto onde viveu com o seu amigo Germano Meireles, que dirigia o “Primeiro de Janeiro”. Antero volta para Lisboa em 1872, uma vez que sua mãe e sua irmã tinham ido viver para a capital. A 13 de Fevereiro de 1873 foi proclamada a República espanhola e dez dias depois Antero publicou no “Pensamento Social” um artigo com o título «A República e o Socialismo», no qual tecia uma dife-

LITERATURA

Visão, dE VERa BETTENcoURT

mEmoRial Em PoNTa dElGada PRoJEcTado PoR caNTo da maia

rença entre o republicanismo e o so-cialismo. Em 1876 Antero recebeu um duro golpe com a morte súbita da mãe, de 65 anos, que pouco antes de falecer pediu o viático. A 1 de Julho de 1877 partiu para França, onde em Paris consultou o famoso médico Jean Mar-tin Charcot, que lhe diagnosticou uma histeria, receitando-lhe a hidroterapia como terapêutica. Antero só regres-sou da capital gaulesa em Dezembro de 1877, passando a residir primeiro em Lisboa, partindo depois para o Porto, onde ficou a viver em casa do seu amigo Oliveira Martins.No dia 11 de Setembro do ano de 1891 morreu Antero de Quental, suicidan-do-se no Largo de São Francisco, junto ao Convento da Esperança, em Ponta Delgada.

Page 23: Revista U 4

09 abril 2012 / 23

MALUCA ÉA TUA TIA!

A minha gracio-sidade joga às mil maravilhas com a natureza.“Olá, o meu nome é Gertrudes. Como uma imagem vale por mil palavras, os leitores já repararam que eu sou uma vaca.De qualquer modo, serei mais do que uma simples vaca feita ao bife. Tenho um toque especial. Sou fotogénica, nasci com veia de artista.O meu vizinho, Ricardo Laureano (RL), da Ribeira do Manuel Vieira, Santa Bárbara, reparou nestas quali-dades intrínsecas. Passa a vida a tirar-me fotografias. Faço as poses pretendidas e a magia sai em formato digital.O RL garante-me que tenho uma lista infindável de admiradores. As pesso-as já estão fartas de modelos escan-zelados.

A minha graciosidade joga às mil ma-ravilhas com a natureza. Favoreço mesmo o verde do pasto.Claro que há ciúmes entre a manada. O título de rainha do cerrado deixa muita vaca descontente e com dores de pata (ia escrevendo cotovelo…).Já começaram as piadas sobre a foto da revista. Há quem diga que estou com uma aparência maluquinha com a língua de fora. Dizem que eu sofro de BSE (a doença das vacas loucas).Para estas invejosas, apenas digo o seguinte: Maluca é a tua tia! O Laureano também não lhes liga ne-nhuma. O rapaz, além do talento para os bonecos, tem muito bom gosto. Ainda serei capa de uma revista de moda. Quanto ao resto da manada, vou vê-las todas em menus dos res-taurantes. E não serão certamente fotografias de corpo inteiro…”.

TEXTO / João Rocha

FOTO / Ricardo Laureano

FOTÓGRAFO

Page 24: Revista U 4

PUBLICIDADE

LivrariaSEA

LivrariaSEA

Livraria Obras Católicas

Rua Carreira dos Cavalos, 39 e 419700-167 Angra do Heroísmo • Telefone / Fax: 295 214 199

Page 25: Revista U 4

09 abril 2012 / 25

TEXTO / Pe. José Júlio Rocha

AS LÁGRIMAS DA MÃE DO MAu LAdRão

Às vezes ponho-me a pensar em como é a maneira de sofrer de uma mãe que vê um filho perder-se. O que é que ela sente por dentro. Que dores. Onde se concentram as ânsias. É que ele há mães e mães, bem me podem dizer. Mães que abandonam os filhos, mães que não gostam dos filhos, ou até mães que matam os próprios filhos. Mas tudo isso são, graças aos Céus, raridades, em-bora algumas delas não tão raridades como deviam ser. Amar o fruto das en-tranhas, seja ele quem for, é norma que admite poucas excepções, mesmo nos casos em que, como dizia acima, os filhos se perdem, se destroem, desbaratam a dignidade ou, pura e simplesmente, são infelizes.Conta-se que um pai mandou um filho comprar-lhe cigarros à loja (loje ou lo-jem, dizia-se, por aquelas bandas, naquele tempo) e o filho, de uns dez anos, mal saiu a porta, deparou com um grupo de miúdos – todos mais novos do que ele – a jogar ao berlinde (aos triques, também naquela altura e naqueles luga-res). Entusiasmado, porque sabia da poda, lá se reteve o rapazola a ensinar uns truques e parece que os ensinamentos duraram tempo demais. Isso chamou a atenção do iroso pai que, estranhando a demora, saiu à rua e viu o filho ainda na ida, de gatas, a fazer pontaria com um berlinde à frente do olho raso à terra. ZÁS, ferrou o pai um forte pontapé na barriga do filho que este deu meia volta, caiu, levantou-se, caiu outra vez e outra vez se levantou, vermelho ou branco, quem o viu não se lembra, mas disfarçando diante dos putos. E lá partiu a cam-balear e a disfarçar, a fingir estar bem, ao som do vozeirão do pai «Este filho da p... nunca me prestou p’ra nada». E esse filho, que era o mais velho de muitos, cresceu, como se depreende pelo exemplo, a toque de porrada e de berros: que não valia mesmo nada, nem ao pé da irmã, que na primeira classe, já sabia ler, enquanto ele já andava pela escola há anos e ainda não sabia se o bê era antes do á. Cresceu e foi-se desfazendo o rapaz. Era vê-lo a toque de pontapé e de soco, rua adentro, adiante do pai, ao entardecer dos dias de verão.A meio da sua adolescência, a mais envergonhada da paróquia, morre o pai, e o rapaz foi-se metendo nos copos, fumando cigarros, fumando outras coisas, outras coisas cheirando, e empurrando para dentro das veias outras coisas ainda. E – aí vem o cerne – ele tinha uma mãe. Queria-lhe bem, aquela mulher. Amava o primogénito das suas entranhas, o enjeitado da casa. E apertava a cara nas mãos cada vez que falava daquele filho. Quando, aos 30 anos, uma doença condenou o filho, a mãe perdeu a voz. O que mais impressionava nessa mãe, dizia-se, era o nunca ter repreendido o filho, mesmo quando ele chegava – e para o fim chegava todos os dias – a cair de bêbado. Nunca uma palavra de raiva, de revolta, de repreensão. Como se, desde o princípio, tivesse compre-endido tudo.Às vezes, os corações das mães são tão profundos como os oceanos calmos, enormes massas de água salgada de lágrimas, ou infinitas florestas de árvores de folhas que nunca caem, que sobem e descem montanhas sem saírem do mesmo lugar. Ou mesmo um rebanho de mil ovelhas que caminha na mesma direcção e de onde não sai um balido sequer.Como corre o sangue nessas mães cujo amor é uma prisão? Em que ponto exacto da alma sentem a dor mais aguda? Em que parte do corpo se traduz mais exactamente esse sofrimento? No ardor do ventre que gerou ou no secar dos seios que amamentaram? No nó na garganta que ensinou as primeiras pa-lavras ou na opressão no peito que trouxe ao colo?Onde estaria a mãe do mau ladrão na hora do Calvário? Se Maria tinha o con-solo do Filho de Deus inocente e se a mãe do bom ladrão tinha a paz do filho redimido, de que cor eram as lágrimas da última mãe?

OPINIÃO

Page 26: Revista U 4

PUBLICIDADE

viajar d’aquiTEXTO / Rogério Sousa

FOTO / António Araújo

as viagens foram feitas para todos os gostos e feitios: há-as de curta e de longa distância; de abrir e fechar de olhos e de eter-nidade, há-as coloridas e cheirosas, há-as inesque-cíveis e olvidáveis, há-as a sítios imaginários que só existem nos sonhos e a sítios reais que só não existem nos sonhos por estarem demasiado perto de nós. portanto, negli-genciáveis.

a proximidade tem destas coisas: só nos permite ver com clareza quando a ve-mos de binóculos. mas dias há em que nos é permitido ver os sítios reais de perto, ou de dentro, porque nem todos são visíveis a olho nu, embora próximos.

um dia, viajei ao interior da praça velha. não ao centro da praça velha, nem tão pouco ao âmago da sua história

(que facilmente se en-

contra no folhear de livros históricos, uma vez que está registada e docu-

mentada

mas ao seu interior.

ainda me lembro de per-correr os corredores dos paços do concelho, acom-panhado pelos restantes colegas de turma e amigos, e descer por uma entrada que ficava por debaixo da secretária de um dos ar-quitectos da câmara, e dar por mim debaixo da praça velha.

era escuro, lembro-me. mas ouvia-se nitidamente o som dos carros na cal-çada por cima das nossas cabeças, ao circularem ao longo da praça. percorre-mos o túnel onde estáva-mos mais uns metros,

(o chão era húmido, enterrando-se sob os

nossos pés

até chegarmos a uma pa-rede de terra que nos im-pediu de continuar. ainda assim, o som dos carros era nítido, e sentíamos as vibrações das pessoas que atravessavam a praça velha e observávamos o chão que pisávamos. nas escavações da rua do san-to espírito, contavam-nos, encontraram moedas an-tigas, moedas muito anti-gas que datavam do nosso povoamento. moedas que traçavam a nossa história

(e a da ribeira dos moi-nhos

e nos davam sentido como povo, como ilha, como ci-

PARTIDAS

Page 27: Revista U 4

dade. junto aos nossos pés haviam cacos, vidros sol-tos e enterrados no solo húmido. e pensava se não seriam restos dos cântaros que transportavam água da ribeira no princípio.

ouvíamos vozes abafadas, compassadas com a vibra-ção dos pés e dos pneus dos carros, e estávamos a ouvir as vozes dos nos-sos antepassados. o som não mais era o dos pneus dos carros mas sim o das rodas das carroças e das galochas das mulheres que vendiam mercadoria na praça.

de dentro da praça velha.

NAS ESCA-VAÇõES DA RUA DO SAN-TO ESPíRITO, CONTAVAM-NOS, ENCON-TRARAM MOE-DAS ANTIGAS, MOEDAS MUI-TO ANTIGAS QUE DATAVAM DO NOSSO POVOAMEN-TO. MOEDAS QUE TRAÇA-VAM A NOSSA HISTÓRIA

PARTIDAS

o cHão ERa HÚmido,

ENTERRaNdo-sE soB os Nossos PÉs

Page 28: Revista U 4

09 abril 2012 / 28

i am a fan of

SOVINA CERVEJAARTESANALMADE IN PORTO

TEXTO / Frederica Lourenço

Quando três amigos se juntam para criar uma coisa diferente e tendo em conta o seu sentido particular de marketing e sensibilidade em relação aos paladares mais exigentes, só po-dia dar em coisa boa.Vá, já se sabe que tudo o que tem imagem original e é associado a pes-soas giras é garantia de sucesso. E se juntarmos isso ao facto de que a malta da freguesia já estava farta de

comer sempre do mesmo onde quer que vá, temos a receita certa.A moda pegou com o aparecimento da Red Stripe www.redstripebeer.

com, aquela cerveja fixe que, mais do que boa, está na moda. E que só não é moda por cá porque é mesmo difícil encontrá-la à venda, em alternativa à Super Bock.Mas a vida de muitos estava prestes a mudar, quando o melhor jornal do mundo (I, leia-se) apresentou a So-vina: “Sovina é o nome de uma nova cerveja artesanal, feita no Porto e que, garantem os seus produtores, em qualidade, “é muito superior à cerveja industrial” a que o consumi-dor português está habituado.”De salientar que o nome surgiu “ape-nas porque soava bem e todas as ou-tras opções estavam tomadas e não por qualquer associação com o signi-ficado da palavra”.Ficamos logo com vontade de experi-mentar isto: Cerveja do Porto, artesa-nal e com uma garrafa giríssima?E então, aproveitando um almoço, lá se experimentaram as duas varieda-des disponíveis. Basicamente, tudo aprovado. Cerveja deliciosa e garrafa ainda mais. O preço ronda os três eu-ros, mas é possível comprar na fábri-ca a dois e levar para casa.www.sovina.pt

“é por tudo ter de acabarque tudo é tão belo.”

Charles Ramuz

AS MAIS vISTASONLINE

O CENTRO DE RADIO-TERAPIA DEVE FI-CAR LO-CALIZADO ONDE?

queStIonáRIo

aNGRa

P. dElGada

CARTOON

ÓCIOS / OPINIÃO

“Light It Up Blue” CÂMARA DA PRAIACHAMA A ATENÇÃO PARA O AUTISMO

CDS-PP exige ExPLICAÇõES“TRANSPARENTES” SOBRE RADIOTERAPIA

Page 29: Revista U 4

09 abril 2012 / 29

LAGOA NO InDIEO documentário experimental “Encounters with Lands-cape”, de Salomé Lamas, está seleccionado para as com-petições ‘Cinema Emergente’ e ‘Competição Nacional

Sete cIdAdeS

de Curtas Metragens’, no Festival Indie Lisboa 2012.O filme é resultado da Re-sidência Internacional de Pesquisa Cinematográfi-ca, “Shooting the Lands-cape”, realizada em De-

zembro nas Sete Cidades, em S.Miguel, numa iniciativa da Corredor Associação Cultural.A realizadora define este trabalho como “uma tentativa de filmar a paisagem, apercebo-me da capacidade de intelectualização do sublime”.A edição deste ano do Indie terá lugar entre 26 de Abril e 6 de Maio.

PANAZOREANfILm feStIvALA AIPA – Associação de Imigrantes nos Açores apre-senta de 14 a 21 de Abril a primeira edição do festival internacional de cinema Panazorean Film Festival.O certame irá ter lugar no Teatro Micaelense em Ponta Delgada contando com várias obras cinematográficas, desde curtas a longas-metragens de ficção, animação ou documentário dedicados à temática da migração e da interculturalidade.Reforçar o diálogo entre as pessoas de e em todo o mundo, mostrar a realidade em que vivemos e apos-tar na riqueza da diversidade cultural são os grandes objectivos deste festival. Durante esta semana a orga-nização pretende que o Panazorean seja um ponto de encontro para realizadores, produtores, especialistas sobre o tema e o público em geral debaterem e reflec-tirem sobre as migrações e o diálogo com o “outro”, estando previstas também exposições, debates e con-certos. O festival terá uma componente competitiva aberta a filmes internacionais, nacionais e dos Açores.

HYPER NoVa UTo-Pic EmPiRE. o título é extenso, futurista e deixa antever o que ai vem.Um espectácu-lo de dança con-temporânea onde dois astronautas irrompem no es-paço, transpor-tando-nos numa odisseia galáctica rumo ao futuro da humanidade. acompanh ando o desenrolar de uma perigosa mis-são, seguimos es-tas duas figuras ao longo do seu insólito e surpre-endente percurso num universo den-so e imersivo de sons, imagens e movimento.mergulhando nes-te universo fantás-tico, abraçamos a vertigem do pro-gresso, a atracção do desconhecido e a imperfeição do nosso retrato, imergindo cora jo-samente na pro-fundidade do Es-paço, destino final da Humanidade, lugar de todas as utopias e apoca-lipses. com música de Jonathan salda-nha, as interpre-tações de susana otero e andreas dyrdal e cenogra-fia de Pedro Rosa, o espectáculo es-tará na Praia da Vitória, auditório do Ramo Grande, a 14 de abril pelas 21h30.

CULTURA

EM DOCUMEnTÁRIO

Page 30: Revista U 4

PUBLICIDADE

DOMINIk EUlbERgTEXTO / Adriana Ávila

Nascido em 1978, vem até nós o alemão Dominik Eulberg. As suas primeiras aparições enquanto mú-sico e produtor foram em live acts, posteriormen-te em 2004 edita o seu primeiro trabalho “Flora & Fauna”. A sua sonoridade enquadra-se no Techno/Minimal e já com quatro álbuns editados até hoje, destaque para o seu produto mais fresco “Diora-

DIORAMAma”, lançado em 2011 pela editora Traum Schall-platten.Nomeado em 2004 pela primeira vez, dois anos depois é novamente destacado para os German Dance-Music-Awards nas categorias de melhor produtor e melhor remistura.

umA novA cApAA capa de “Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, um dos álbuns mais influentes da história da músi-ca, foi recriada pelo artista britânito Peter Blake.Na nova versão estão representados alguns dos íco-nes mais importantes do Reino Unido num estilo fiel ao original, criado em 1967 pelo próprio Peter Blake.

LEIA EM CASA“Álbum terceirense” da autoria de Carlos Enes, “As lendas no imaginário açoriano” de José Avelino Ro-cha dos Santos,” Já não vem ninguém” de Sidónio Bettencourt, “China: uma viagem entre o passado e o futuro” de Peter Hessler, “Ver Amália : os fil-mes de Amália Rodrigues” de Tiago Baptista, “Um homem muito procurado” de John Le Carré, “O crepúsculo do amor: viagens com Turguéniev” de Robert Dessaix são algumas das novidades já dis-poníveis no serviço de empréstimo domiciliário da Biblioteca de Angra do Heroísmo.

VÍdEo de estreiaOs October Flight lançaram o vídeo do seu single de estreia “Make you Mine”, realizado e produzido por Timothy Lima e Ruben Tavares. O single está dispo-nível para download gratuito no Facebook da banda.Os October Flight foram uma das bandas presentes na Canadian Music Week a representar Portugal na 30ª edição da maior feira da indústria musical norte-americana. Os October Flight preparam-se agora para o lançamento oficial de The Closing Doors.

CULTURA

Page 31: Revista U 4

09 abril 2012 / 31

Siza vieira

“memória

e Identidade”TEXTO / Francisco Lopes *

Ficamos a saber que vai desenvolver o projecto para o Centro Interpre-tativo de Angra do Heroísmo. Este projecto se for bem-sucedido, isto é, se passar do papel, a cidade terá de se preparar para o turismo cultural, um motivo acrescido para visitar An-gra do Heroísmo. Lembro que há já vários anos são promovidos roteiros pela Europa, exclusivamente para ver a obra do divinal arquitecto Siza Vieira. Além disso, será certamente uma referência da boa arquitectura e do melhor que no mundo ociden-tal se produz. Do autor da obra que aqui nascer, ficarão certamente boas referências, isso não tenho dúvidas. Siza não só influenciou várias gera-ções de alunos, como colegas. Mas é muito difícil de alcançar o seu nível! Não é fácil descodificar o método de projecto em Álvaro Siza, a análise à sua obra implica numa primeira fase, a abordagem ao território que a en-

volve.Estou certo que a intervenção ago-ra anunciada para a realização do Centro de Interpretação na casa dos Pamplonas, contribuirá decisivamen-te para uma necessária reflexão do centro histórico, incentivar e digni-ficar a qualidade do espaço público e da arquitectura, terá certamente um retorno garantido... O arquitecto Siza Vieira terá certamente uma bús-sola para a tarefa que lhe foi incum-bida, a de contribuir para a melhoria do património edificado e servir de referência para as actuais e futuras gerações.

* Arquitecto

XXXI RAlISICAlO mais antigo rali de Portugal volta às estradas da Terceira nos dias 13 e 14 de Abril para a XXXI edição do Rali Sical.

13/14 de AbRIL

Organizado pelo Ter-ceira Automóvel Clube, é a segunda prova do Campeonato dos Aço-res de Ralis contando ainda para o Troféu Regional Feminino de Ralis dos Açores, a Taça da Região Autó-noma dos Açores de

Ralis o Troféu Open Feminino de Ralis dos Açores e Taça dos Açores de RalisO rali deste ano será constituído por nove provas espe-ciais percorridas na tarde/noite de sexta-feira, dia 13 de Abril, e na manhã e tarde de sábado, 14 de Abril.A prova especial “Litoral/Sical” abre a prova na sexta-feira num percurso de três quilómetros pelas ruas de Angra.

o coliseu micae-lense recebe de 13 a 15 de abril o xix congresso do Psd/açores, onde Berta cabral será confir-mada como líder do partido e can-didata à presidên-cia do Governo Re-gional nas eleições para a assembleia legislativa Regio-nal, em outubro.a líder social-de-mocrata vai apre-sentar aos delega-dos a sua moção global de estraté-gica ‘criar opor-tunidades para todas as ilhas”, já apresentada pu-blicamente no mês passado e onde Berta cabral assu-miu a intenção do Psd em alcançar uma “maioria que permita a estabi-lidade governati-va”.

lITORAl A AbRIR

OPINIÃO / AGENDA

Page 32: Revista U 4