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SEGUNDA-FEIRA, 18 DE OUTUBRO DE 2010 PRESIDÊNCIA: BUZEK Presidente (A sessão tem início às 17H05) 1. Reinício da sessão Presidente. – Declaro reaberta a sessão do Parlamento Europeu, que tinha sido interrompida em 7 de Outubro de 2010. 2. Aprovação da acta da sessão anterior: Ver Acta 3. Comunicações da Presidência Presidente. – Para começar, quero informar-vos sucintamente sobre quatro assuntos. Foi com enorme satisfação que soube da atribuição do Prémio Nobel da Paz a Liu Xiaobo. Este paladino dos direitos humanos continua preso em consequência da sua acção pacífica em prol da liberdade de expressão na China. Registamos com apreço os passos mais recentes das autoridades chinesas no sentido da adopção de padrões políticos, económicos e sociais do mundo livre. Não são, porém, suficientes e, por isso, reiteramos os nossos apelos à libertação de Liu Xiaobo, Hu Jia, galardoado com o Prémio Sakharov, e outros defensores dos direitos humanos. O Parlamento Europeu manter-se-á vigilante em defesa dos direitos humanos. Em segundo lugar, o Parlamento Europeu promove, ao longo desta semana, uma série de eventos relacionados com o Dia Internacional pela Erradicação da Pobreza, que se celebrou ontem e a que se referem os distintivos que muitos de nós estamos a usar. Na sequência dos debates em plenário dedicados a este tema, quero convidar-vos para uma cerimónia que se realizará amanhã, às 14H45, na Ágora Bronisław Geremek e que contará com a participação do Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon. Em terceiro lugar, assinalamos hoje o quarto Dia Europeu contra o tráfico de seres humanos. É um problema que levamos muito a sério. Presentemente, estamos a negociar uma proposta de directiva relativa à prevenção e luta contra o tráfico de seres humanos. Em quarto lugar, e por último, queria convidar-vos para a sessão de apresentação de um balanço intercalar do meu mandato como Presidente do Parlamento, que terá lugar na quarta-feira, ao meio-dia. Trata-se de uma resenha do trabalho desenvolvido pelo Parlamento Europeu ao longo deste período, com especial incidência nos êxitos obtidos, bem como das minhas iniciativas pessoais, onde nos encontramos e como nos situamos numa União Europeia que sofreu transformações, a imagem do Parlamento Europeu e a cooperação com outras instituições. Penso que, a meio do meu mandato, esta informação vos era devida. 4. Assinatura de actos adoptados em co-decisão: Ver Acta 5. Composição das comissões e delegações : Ver Acta 6. Entrega de documentos: ver Acta 1 Debates do Parlamento Europeu PT 18-10-2010

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SEGUNDA-FEIRA, 18 DE OUTUBRO DE 2010

PRESIDÊNCIA: BUZEKPresidente

(A sessão tem início às 17H05)

1. Reinício da sessão

Presidente. – Declaro reaberta a sessão do Parlamento Europeu, que tinha sidointerrompida em 7 de Outubro de 2010.

2. Aprovação da acta da sessão anterior: Ver Acta

3. Comunicações da Presidência

Presidente. – Para começar, quero informar-vos sucintamente sobre quatro assuntos.Foi com enorme satisfação que soube da atribuição do Prémio Nobel da Paz a Liu Xiaobo.Este paladino dos direitos humanos continua preso em consequência da sua acção pacíficaem prol da liberdade de expressão na China. Registamos com apreço os passos mais recentesdas autoridades chinesas no sentido da adopção de padrões políticos, económicos e sociaisdo mundo livre. Não são, porém, suficientes e, por isso, reiteramos os nossos apelos àlibertação de Liu Xiaobo, Hu Jia, galardoado com o Prémio Sakharov, e outros defensoresdos direitos humanos. O Parlamento Europeu manter-se-á vigilante em defesa dos direitoshumanos.

Em segundo lugar, o Parlamento Europeu promove, ao longo desta semana, uma série deeventos relacionados com o Dia Internacional pela Erradicação da Pobreza, que se celebrouontem e a que se referem os distintivos que muitos de nós estamos a usar. Na sequênciados debates em plenário dedicados a este tema, quero convidar-vos para uma cerimóniaque se realizará amanhã, às 14H45, na Ágora Bronisław Geremek e que contará com aparticipação do Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon.

Em terceiro lugar, assinalamos hoje o quarto Dia Europeu contra o tráfico de seres humanos.É um problema que levamos muito a sério. Presentemente, estamos a negociar uma propostade directiva relativa à prevenção e luta contra o tráfico de seres humanos.

Em quarto lugar, e por último, queria convidar-vos para a sessão de apresentação de umbalanço intercalar do meu mandato como Presidente do Parlamento, que terá lugar naquarta-feira, ao meio-dia. Trata-se de uma resenha do trabalho desenvolvido peloParlamento Europeu ao longo deste período, com especial incidência nos êxitos obtidos,bem como das minhas iniciativas pessoais, onde nos encontramos e como nos situamosnuma União Europeia que sofreu transformações, a imagem do Parlamento Europeu e acooperação com outras instituições. Penso que, a meio do meu mandato, esta informaçãovos era devida.

4. Assinatura de actos adoptados em co-decisão: Ver Acta

5. Composição das comissões e delegações : Ver Acta

6. Entrega de documentos: ver Acta

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7. Petições: ver acta

8. Perguntas orais e declarações escritas (entrega): Ver Acta

9. Declarações escritas caducadas: Ver Acta

10. Seguimento dado às posições e resoluções do Parlamento: ver Acta

11. Ordem dos trabalhos

Presidente. – Segue-se na ordem do dia o exame do projecto definitivo de ordem do diado presente período de sessões, elaborado pela Conferência dos Presidentes na sua reuniãode 14 de Outubro de 2010, nos termos dos artigos 130.º e 131.º do Regimento. Forampropostas as seguintes alterações:

Relativamente a segunda-feira:

Não foram propostas alterações.

Relativamente a terça-feira:

Não foram propostas alterações.

Relativamente a quarta-feira:

Recebi, do Grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia, um pedido de adiamento da votaçãodo calendário dos períodos de sessões relativo a 2012 para um dos próximos períodos desessões do Parlamento. Não contestam a votação, mas preferiam que ela se realizasse numadata posterior. A proposta será apresentada por um representante do Grupo dos Verdes.Alguém está preparado para falar?

Daniel Cohn-Bendit, em nome do Grupo Verts/ALE. – (FR) Peço desculpa, SenhorPresidente, mas estava a receber informações sobre a situação na Bélgica e, por isso, nãoouvi com atenção todas as suas palavras.

Se bem percebi, está em questão a votação do calendário para 2012. Senhor Presidente,as discussões sobre o calendário para, repito, 2012 prosseguem, tanto no nosso grupocomo noutros.

Por não se tratar de um texto legislativo, não haverá debate nem será possível introduziralterações. Limitar-nos-emos a votar o calendário. Pedimos que a votação seja adiada porum período de sessões, ou seja, para o período de sessões do próximo mês em Estrasburgo,para podermos conferenciar com os outros grupos e explorar a possibilidade de ensaiarmosuma reformulação do calendário.

Francesco Enrico Speroni, em nome do Grupo EFD. – (IT) Senhor Presidente, o Parlamentonunca votou um calendário com tamanha antecedência. Ainda assim, nada há deextraordinário no caso, porque o calendário é em tudo semelhante aos anteriores, nãohavendo qualquer alteração assinalável.

Contrariamente ao que disse o senhor deputado Cohn-Bendit, é possível propor alterações,e tanto o é que – como me informam através do correio electrónico – alguns deputadostencionam fazê-lo. Não vejo motivo para adiar a votação, tanto mais que o calendário só

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produzirá efeitos em 2012 e, assim sendo, não nos faltarão oportunidades para, como énossa prerrogativa, introduzirmos as alterações que venham a ser consideradas necessárias.

(O Parlamento rejeita o pedido)

Relativamente a quinta-feira:

Não foram propostas alterações.

(A ordem dos trabalhos fica estabelecida)

12. Calendário dos períodos de sessões: Ver Acta

13. Melhoria da segurança e da saúde das trabalhadoras grávidas, puérperas oulactantes no trabalho - Trabalhadoras precárias (debate)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia a discussão conjunta dos seguintes relatórios:

- (A7-0032/2010) da deputada Edite Estrela, em nome da Comissão dos Direitos da Mulhere da Igualdade dos Géneros, sobre a proposta de directiva do Parlamento Europeu e doConselho que altera a Directiva 92/85/CEE do Conselho relativa à implementação demedidas destinadas a promover a melhoria da segurança e da saúde das trabalhadorasgrávidas, puérperas ou lactantes no trabalho (COM(2008)0637 – C6-0340/2008 –2008/0193(COD)), e (A7-0264/2010) da deputada Britta Thomsen, em nome da Comissãodos Direitos da Mulher e da Igualdade dos Géneros, sobre as trabalhadoras precárias(2010/2018(INI)).

Edite Estrela, relatora . − Em primeiro lugar quero agradecer ao relator-sombra e à relatorado parecer da Comissão do Emprego a colaboração e o trabalho que, em conjunto,conseguimos realizar. Uma palavra de agradecimento também é devida a muitasorganizações não governamentais e sindicatos, aos peritos que participaram no workshopde apresentação do estudo de impacto financeiro, aos secretariados da comissão FEMM edo meu grupo político, ao Policy Department do Parlamento Europeu e aos meus assistentes.Foram todos incansáveis e demonstraram grande profissionalismo e muita competência.

Esta directiva já tem dezoito anos e está desactualizada. O processo de revisão tem sidolongo e atribulado. Chegou o momento de o Parlamento Europeu se pronunciar sem maisadiamentos indo ao encontro das expectativas e necessidades das famílias europeias.

As propostas aprovadas pela comissão FEMM asseguram o duplo objectivo decorrente doalargamento da base jurídica: defender a segurança e a saúde das trabalhadoras grávidas,puérperas ou lactantes no local de trabalho e promover a igualdade de género e a conciliaçãoentre a vida familiar e a vida profissional e, ao mesmo tempo, vão contribuir para travar odeclínio demográfico das últimas décadas.

Há 100 anos a população europeia representava 15% da população mundial. Em 2050não deve representar mais de 5%. O envelhecimento e consequente redução da populaçãoactiva põem em causa a sustentabilidade dos sistemas de segurança social e o própriocrescimento económico. Por isso a maternidade não pode ser encarada como uma doençaou um encargo para a economia, mas como um serviço prestado à sociedade.

A duração da licença de maternidade nos 27 Estados-Membros varia entre as 14 e as 52semanas e o pagamento da licença é também muito variado, sendo já paga a 100% em 13países. Eu sei que a actual conjuntura económica não favorece o aumento da despesa social,

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mas este é um bom investimento no nosso futuro colectivo e não tem os elevados custosque muitos andam a apregoar. O estudo de impacto financeiro conclui que os custos daproposta da comissão FEMM serão totalmente cobertos se esta contribuir para aumentar,em apenas 1%, a participação das mulheres no mercado de trabalho. São propostasequilibradas e exequíveis na linha das recomendações da Organização Internacional doTrabalho e da Organização Mundial de Saúde.

Vinte semanas é um período de tempo adequado para ajudar as mulheres a recuperar doparto, encorajar a amamentação e permitir o estabelecimento de laços sólidos entre a mãee a criança. Um prazo mais longo poderia afectar a reinserção das mulheres no mercadode trabalho. O pagamento a 100% é justo porque as famílias não devem ser penalizadasfinanceiramente por terem os filhos que desejam e os filhos de que a Europa necessita paraenfrentar o desafio demográfico.

O direito à licença de paternidade é já reconhecido em 19 Estados-Membros, remuneradoem 80 ou 100%. O envolvimento dos pais na vida da criança contribui para o saudáveldesenvolvimento físico e psicológico desta. Este é um direito dos pais e das crianças.

Ao longo de todo o processo manifestei a minha total abertura para um consenso alargadoe espero o apoio daqueles que se preocupam com o bem-estar das mulheres, das famíliase das crianças para este relatório. Em coerência com os objectivos da Estratégia Europeia2020, não há nenhuma justificação para que, a partir de 2020, a licença de maternidadenão seja de 20 semanas pagas integralmente. Por isso peço o vosso apoio para as alterações126, 127 e 128 e, pela mesma razão, não posso apoiar as alterações que visam reduzir, deforma escandalosa, os direitos das famílias.

Britta Thomsen, relatora. – (DA) Senhor Presidente, o nosso debate de hoje é sobre ascondições de trabalho das mulheres porque, no mercado de trabalho, as condições paraos homens e para as mulheres são diferentes. As mulheres estão muito atrás dos homensno que respeita a salários e pensões e ao exercício de cargos executivos e de direcção.Precisamos, mais do que nunca, de iniciativas da UE tendentes a melhorar a posição dasmulheres no mercado de trabalho, para podermos ter uma Europa em conformidade comos ditames do Tratado. Temos de garantir às mulheres – tanto em Portugal como na Polónia,na Bélgica ou na Bulgária – a igualdade de tratamento no mercado de trabalho.

Um diploma legal da UE novo e avançado em matéria de licença de maternidade será umpasso da maior importância no sentido da plena igualdade. Há muitas e boas razões paraadoptarmos uma nova legislação sobre a licença de maternidade na Europa. A principal éo risco de a UE se confrontar, a breve trecho, com uma crise demográfica – uma crise quepoderá ser pelo menos tão grave como a crise económica em que ainda estamosmergulhados. Pura e simplesmente, as mulheres da UE não estão a ter filhos em númerosuficiente. Para mantermos a nossa competitividade no futuro e continuarmos a crescer,ou seja, para mantermos o nosso nível de prosperidade, é preciso que nasçam mais criançasna UE. E, para isso, precisamos de legislação em matéria de licença de maternidade queincentive as famílias a terem filhos.

Uma norma comum exigente em matéria de licença de maternidade é imprescindível paraa criação de um verdadeiro mercado interno. O mercado interno não deve ter a ver apenascom produtos baratos – é igualmente importante que garanta níveis sociais elevados paraos trabalhadores. Não podemos manter as disparidades nas condições de concorrência,porque elas tornam vantajoso o agravamento das condições de trabalho das mulheres, queserão vítimas de dumping social.

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Os pais também devem ter direito a uma licença de paternidade de duas semanas compagamento do salário por inteiro. Se queremos a igualdade entre homens e mulheres,temos de perceber que a licença de paternidade dá aos homens a possibilidade dedesempenharem, também eles, um papel muito importante. Será um benefício para aigualdade, para as crianças e, sobretudo, para os próprios pais.

Dizem-nos os representantes de grupos de interesses ligados a associações profissionaisque isto é uma loucura e que não nos podemos dar ao luxo de adoptar uma legislação maisavançada em matéria de licença de maternidade. Atrevo-me a afirmar que o exacto contrárioé que é verdadeiro. Não nos podemos dar ao luxo de dispensar uma legislação nova eavançada em matéria de licença de maternidade. O que está em causa é a saúde e a segurançadas mulheres e crianças da UE. Algo, portanto, com que não devemos brincar.

Temos de aumentar a participação das mulheres no mercado de trabalho em toda a UE. Oobjectivo da Estratégia “Europa 2020” é a integração de 75% das mulheres no mercado detrabalho. Tendo em conta que, como sabemos, apenas 60% das mulheres exercemactualmente actividades remuneradas, trata-se de um enorme desafio. Seja como for, temosde o vencer, e a disponibilização de boas estruturas de acolhimento de crianças é, semdúvida, o caminho a seguir. Outra iniciativa igualmente importante é a manutenção dopagamento do salário por inteiro durante a licença de maternidade. Para haver maismulheres a entrar no mercado de trabalho, temos de impedir que sejam discriminadas.

Outro passo importante no sentido de garantir mais igualdade no mercado de trabalho éo relatório sobre as trabalhadoras precárias, de que fui relatora. Infelizmente, a actualsituação levou a que as mulheres se tenham tornado amplamente maioritárias neste tipode empregos. Sobretudo as que trabalham em casas particulares sujeitam-se a condiçõesextremamente precárias, entre as quais avultam a pouca ou nenhuma estabilidade noemprego, a situação de exclusão em relação ao sistema de segurança social, o elevado riscode discriminação e a má qualidade dos ambientes de trabalho. Não podemos permitir quehaja mulheres a trabalhar em tais condições. A UE deve, portanto, ajudar osEstados-Membros a promoverem a substituição dos empregos precários por empregoscom condições de trabalho dignas. Tardámos a prestar a devida atenção a essas mulheresvulneráveis, mas espero que a Comissão leve a sério este relatório e ajude a proteger algunsdos cidadãos mais desamparados da UE.

Maroš Šefčovič, Vice-Presidente da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, é-me muito gratopoder substituir a Vice-Presidente Reding no importante debate desta noite, em que vãoser apreciados dois relatórios muito oportunos sobre questões fulcrais do domínio dosdireitos fundamentais e da igualdade entre homens e mulheres. Gostaria de, em nome daComissão, agradecer muito sinceramente a ambas as relatoras, senhoras deputadas Thomsene Estrela, que fizeram um excelente trabalho.

Ambos os relatórios dizem respeito à situação tantas vezes difícil das mulheres no mercadode trabalho da UE. A participação das mulheres é decisiva para a consecução do nossoambicioso objectivo de atingir uma taxa global de emprego de 75% até 2020, mas nãoaumentará se não estiverem garantidos os direitos fundamentais das trabalhadoras. É istoque vamos debater esta noite.

Deixem-me começar pelas trabalhadoras precárias. Nos últimos anos avançámos bastantena integração das mulheres no mercado de trabalho. Como é sabido, é mais provávelencontrar uma mulher num emprego precário do que um homem. Certos tipos de trabalhoprecário executado por mulheres, como o trabalho doméstico remunerado e a prestação

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de cuidados, são totalmente invisíveis no mercado de trabalho. Se as mulheres não tiveremempregos dignos, não serão financeiramente independentes e, não o sendo, não terãocontrolo sobre a sua vida.

Temos de atacar as causas que explicam a maior probabilidade de as mulheres teremempregos precários: os estereótipos, as desigualdades na partilha das obrigações e tarefasfamiliares e domésticas, e a desvalorização das profissões maioritariamente exercidas pormulheres. Temos também de integrar no mercado de trabalho o número cada vez maiorde trabalhadoras migrantes, tantas vezes vítimas de exploração na economia subterrânea.A nossa nova estratégia em matéria de igualdade cobre todas estas questões, mas temosde lançar mão de todos os instrumentos disponíveis para avançar na sua aplicação.

Permitam-me que faça agora algumas observações acerca da Directiva relativa àstrabalhadoras grávidas.

A existência de normas mais exigentes em matéria de licença de maternidade ao nível daUE é, sem dúvida, um factor decisivo para a saúde e a segurança de mãe e filho, bem comopara o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho, a alteração dosmodelos familiares e a redução dos constrangimentos demográficos.

Entre os principais pontos das propostas da Comissão contam-se a extensão da duraçãoda licença de maternidade por mais quatro semanas, para dar cumprimento àsrecomendações da Organização Internacional do Trabalho, a promoção do aumento dossubsídios, a flexibilização das regras no sentido de permitir que as mulheres trabalhem atépouco antes da data prevista para o parto, e o reconhecimento do direito de pedir umhorário de trabalho flexível.

Com tudo isto, a Comissão pretende proteger os direitos laborais das mulheres, dar-lhestempo suficiente para recuperarem do parto e criarem laços com os seus filhos, eproporcionar-lhes segurança financeira durante a licença de maternidade.

Queria, por isso, felicitar a senhora deputada Estrela pelo seu trabalho na elaboração desterelatório, que é muito completo e melhora, em vários aspectos, a proposta original daComissão.

Devo dizer, desde já, que a Comissão está inteiramente de acordo com a importância queé atribuída ao papel dos pais. O reforço da licença parental operado pela nova directivaadoptada no início deste ano constitui um avanço significativo. No entanto, a inclusão dalicença de paternidade no âmbito da directiva relativa à maternidade não se coaduna como objectivo global que temos em vista nem com a base jurídica da proposta. Esta baseia-seno artigo 153.º, no respeitante à saúde e segurança das trabalhadoras grávidas no trabalho,e no artigo 157.º, que permite a intervenção da UE no domínio da igualdade de remuneraçãoentre homens e mulheres.

Dito isto, quero adiantar que a Comissão vai reexaminar esta questão. A Comissão está arealizar uma análise custo/benefício aprofundada sobre o assunto tendo em vista umapossível iniciativa autónoma neste domínio. A Comissão não pode igualmente aceitar asrestrições ao direito que assiste às mulheres de recusarem trabalho nocturno.

Quanto à duração da licença e aos pagamentos que as mulheres devem receber no decursoda mesma, gostaria de dizer o seguinte. Ao longo dos últimos meses, a Vice-PresidenteReding encontrou-se com vários ministros, que asseveraram que os regimes nacionais daslicenças funcionam bem e que as actuais restrições financeiras não permitem aumentar a

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duração nem a compensação, mas a Comissão deixou bem clara a sua indisponibilidadepara baixar o nível de ambição desta proposta.

Nestas circunstâncias, cumpre-me esclarecer que a Comissão tenciona fixar o nível mínimode protecção tendo em conta as diferentes modalidades de conciliação e licenças pormotivos familiares adoptadas nos Estados-Membros. A Comissão considera que a suaproposta pode ser uma boa base de entendimento para um acordo entre o Parlamento eo Conselho. A Comissão quer ainda agradecer ao Parlamento a introdução de algumasalterações que reforçam ou clarificam as propostas.

Em resumo, o objectivo da proposta deve ser o reforço da protecção da saúde e segurançadas mulheres, a melhoria das suas perspectivas de emprego e a regressão do envelhecimentodemográfico. Aguardo com grande expectativa as vossas contribuições e sugestõesrelativamente a estes temas tão importantes.

PRESIDÊNCIA: ANGELILLIVice-Presidente

Rovana Plumb, relatora de parecer da Comissão do Emprego e dos Assuntos Sociais. – (RO)Senhor Comissário, Senhoras e Senhores Deputados, quero dizer-vos, na qualidade derelatora de parecer da Comissão do Emprego e dos Assuntos Sociais, que a nossa intençãofoi contribuir, através das melhorias apresentadas no presente relatório, para as políticastendentes a aumentar a taxa de emprego e a melhorar as condições de saúde e segurançano trabalho.

Mas quando falamos dos objectivos da Estratégia “Europa 2020”, temos de pensar naspessoas – neste caso, as mulheres – e colocá-las em primeiro lugar. A nova abordagem queestamos a adoptar é a da necessidade de acabar com a penalização da maternidade,atendendo sobretudo ao declínio da taxa de natalidade, para não falar no envelhecimentoe no empobrecimento da população, que criam problemas muito prementes relativamenteà sustentabilidade dos regimes de segurança social.

Todas as medidas que propomos se destinam a proteger as mulheres no trabalho, tantodurante a gravidez como no puerpério. As medidas propostas no relatório são tambémum investimento no futuro da Europa. Queremos que a licença de maternidade fiquegarantida e seja integralmente remunerada. Tenhamos presente a necessidade de acabarcom a penalização da maternidade na União Europeia do século XXI e de garantir àsmulheres todas as condições próprias de um trabalho digno.

Thomas Händel, relator de parecer da Comissão do Emprego e dos Assuntos Sociais. – (DE)Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, é certo que, nos últimos anos,avançámos bastante no domínio da igualdade entre homens e mulheres, mas ainda hámuitas mulheres que se vêem obrigadas a aceitar empregos pouco qualificados. Não setrata apenas das tradicionais tarefas domésticas. A desregulação dos últimos anos levou àsubstituição de muitos empregos que obrigavam à inscrição na segurança social porempregos com condições de trabalho atípicas, precárias e instáveis. As mulheres foramespecialmente afectadas. A tendência do emprego na Europa entre 2000 e 2010 apontapara uma quota de 60% composta por empregos precários e atípicos, dois terços dos quaisocupados por mulheres. As mulheres vêem-se muitas vezes impedidas de participardemocraticamente nas organizações por terem contratos a tempo parcial e com condiçõesprecárias. As mulheres da actual geração estão muito mais empenhadas e têm melhor

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formação do que as das gerações anteriores. Não obstante, ganham, em média, menos 25%que os homens.

A Comissão do Emprego e dos Assuntos Sociais analisou o assunto em profundidade eformulou algumas boas propostas sobre a questão do emprego feminino: inclusão nossistemas de segurança social independentemente da situação profissional, criação deestruturas de acolhimento de crianças, compatibilização das pensões de reforma e dossistemas sociais com as exigências de uma vida autónoma, e organização do trabalho emconformidade com os princípios do “trabalho de qualidade”. No essencial, tudo isto constado relatório sobre as trabalhadoras precárias. A Comissão do Emprego está satisfeita comos resultados deste trabalho e insta o Parlamento a aprovar o relatório apresentado.

Anna Záborská, em nome do Grupo PPE. – (SK) O presente relatório é já a segunda tentativade formulação da posição do Parlamento em relação às normas mínimas de protecção dasmães na União Europeia.

Há divergências de opinião entre quase todas as 27 delegações dos sete grupos. É o queacontece no meu grupo, o dos democratas-cristãos. Muitos deputados tentaram até hojeinformar-se sobre as consequências da nossa decisão para as economias dos respectivospaíses, porque o estudo já referido abrange apenas 10 Estados-Membros. Estou na políticahá 20 anos, mas poucas vezes me vi perante situações tão complexas como esta. A vidahumana começa no corpo da mãe e, por isso, temos de proteger a saúde desta tanto antescomo após o parto. O facto de a protecção da mãe dar origem a despesa social não podetornar-se um obstáculo à contratação de uma mulher. As condições de mãe e trabalhadoranão devem ser incompatíveis. Se dissermos às mulheres jovens e com formação que devemter filhos, mas não provarmos o nosso reconhecimento pela sua maternidade e não lhesdermos a possibilidade de cuidarem deles, nunca conseguiremos inverter a evoluçãodemográfica.

A protecção da mãe deve ter em conta a figura do pai, a estrutura natural da família, e anecessidade que o recém-nascido tem do amor materno. Os bebés não são apenas futuroscontribuintes fiscais. Pessoalmente, concordo com as exigências máximas propostas norelatório. Defendo igualmente medidas de apoio à reintegração das mães que decidamregressar ao mercado de trabalho. É, porém, despropositado falar da protecção das mãesem articulação com a igualdade de oportunidades. Em minha opinião, seria preferível quea Comissão tivesse apresentado uma proposta que correspondesse a uma visão globalsobre a gravidez, o parto e os cuidados de saúde subsequentes. A Directiva em apreçopoderá vigorar por duas décadas; o debate de hoje é apenas o início de um processo dedecisão longo e difícil. Gostava de saber se tencionamos avaliar a evolução social eeconómica do futuro pela bitola da nossa actual conjuntura financeira. Tudo isto está hojeem jogo.

Marc Tarabella, em nome do Grupo S&D. – (FR) Senhora Presidente, Senhor Comissário,Senhoras e Senhores Deputados, embora o senhor Comissário, falando em nome daComissária Reding e da Comissão, tenha expressado as reservas desta última quanto àinclusão da licença de paternidade no texto do diploma, gostaria de usar hoje a palavrasobretudo em nome de todos os pais europeus que ainda não têm direito a essa licença.

A natureza não nos concedeu o direito de dar à luz, mas poderá a sociedade privar-nos dodireito de partilhar os primeiros tempos de vida dos nossos filhos? Não nos esqueçamosde que os pais também são progenitores. A sociedade deve permitir-nos que acompanhemos

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tão de perto quanto possível os nossos filhos e filhas, para podermos criar laços especiaiscom eles desde o seu nascimento.

Apelo, por isso, a todos os deputados para que votem esmagadoramente a favor dainstituição da licença de paternidade de duas semanas com direito à remuneração porinteiro em toda a União Europeia. Aproveito para apelar também à Comissão Europeia eao Conselho para que nos apoiem, e insisto: como podem opor-se ao nosso pedido dereconhecimento de um novo direito dos pais a nível europeu?

Peço também a todos os deputados que aprovem na íntegra o relatório da senhora deputadaEstrela. Quanto aos que recorrem ao argumento da crise económica para recusar, àsmulheres, uma licença de maternidade com uma duração mais razoável e, sobretudo, umacompensação adequada, e aos homens a licença de paternidade, pergunto-lhes muitodirectamente o seguinte: por que razão põem em causa os direitos sociais adquiridos sempreque há uma crise económica?

Não percebem que os custos económicos serão integralmente compensados pelo acréscimoda participação das mulheres no mercado de trabalho, a redução da discriminação, aigualdade entre homens e mulheres, uma melhor conciliação entre a vida profissional e avida familiar e, portanto, por benefícios económicos concretos a longo prazo?

Por último, e tendo em mente os que querem sacrificar os pais e as mães no altar da criseeconómica, repito: quando estão em causa direitos fundamentais, não podemos pensarem economias. Esta é também uma luta por uma sociedade mais humana e, nestes temposde crise, a família é cada vez mais o nosso último reduto contra as contrariedades da vida.

Siiri Oviir, em nome do Grupo ALDE. – (ET) Senhor Comissário, Senhoras e SenhoresDeputados, há anos que o Parlamento Europeu vem apelando, com regularidade, à protecçãodas trabalhadoras grávidas e à actualização da legislação sobre a licença de maternidade.A directiva relativa a este assunto está em vigor há 18 anos. O futuro da Europa em termosdemográficos não é animador e, por isso, em 2008, na sequência de um debate sobre asituação, aprovámos nesta Câmara uma resolução em que pedíamos a adopção de medidasrelativas à duração e protecção da licença de maternidade, após nos termos certificado deque, com uma política adequada, seria possível fazer inflectir a curva da fertilidade secriássemos um contexto financeiro e psicológico favorável à família.

O Tratado da União Europeia, na versão actualmente em vigor, dá ao Parlamento uma basejurídica para a adopção da Directiva em apreço. Falámos muito sobre a igualdade deoportunidades entre homens e mulheres e a igualdade de direitos no mercado de trabalho,e é evidente que uma licença de maternidade mais longa e a licença de paternidade são umavanço nesse sentido. É um facto que a gravidez e o parto são uma sobrecarga para o corpoda mulher. A Directiva visa a protecção da saúde da mulher. Para o efeito, é importanteque a mãe disponha de um período de licença que permita o seu restabelecimento e lhepermita amamentar os filhos, favorecendo a saúde e o desenvolvimento destes.

Gostaria de dizer algumas palavras sobre a licença de paternidade. Não deve ser o pai aajudar a criança nesta altura? Apoio a introdução de uma licença de paternidade com umacompensação idêntica à da licença de maternidade. Os nossos concidadãos queixam-se-nosmuitas vezes de que a legislação da União Europeia é complicada – não percebem o queeles querem dizer? Em vez de a complicar ainda mais, podemos incluir na Directiva queregula a licença de maternidade uma outra licença com uma duração coincidente com adaquela. Quanto aos custos: é certo que estamos a atravessar uma crise económica, ou

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melhor, a sair dela, mas isso não justifica uma recusa tão obstinada em relação àcompensação da licença de maternidade pelo montante que seria apropriado no séculoXXI. A análise demonstrou que, para compensar os custos, basta aumentar a taxa deemprego das mulheres em 1%.

Raül Romeva i Rueda, em nome do Grupo Verts/ALE. – (ES) Senhora Presidente, os ventosnão sopram de feição para a maternidade e muito menos para a paternidade.

E não sopram porque algumas forças políticas e alguns sectores empresariais continuamarreigados à concepção anacrónica de que ter filhos é uma responsabilidade exclusiva dasmulheres.

Pois bem, Senhoras e Senhores Deputados, não é assim. De modo nenhum. Trata-se deuma responsabilidade social e deve ser solidariamente assumida por toda a sociedade. Édisto que estamos hoje a falar. O que estamos a discutir é isto: quem tem de arcar com aresponsabilidade e os custos de se ter filhos, que têm de ser também o nosso futuro?

Só as mulheres podem engravidar e dar à luz, é certo. Não é isso que está em causa. O queestamos aqui a discutir é o facto de só as mulheres prejudicarem a sua vida profissional esó elas carregarem esse fardo na sua vida pessoal.

No final da legislatura anterior, tivemos uma oportunidade para dar um passo de gigantenesta matéria a nível europeu, mas perdemo-la porque um número significativo dedeputados ao Parlamento – a ala mais conservadora da Câmara: alguns sectores do Grupodo Partido Popular Europeu (Democratas-Cristãos) e do Grupo da Aliança dos Democratase Liberais pela Europa, algumas delegações, não todas – se opôs. Essa a razão por que asmães não têm, já hoje, mais direitos. Não o esqueçamos.

Estamos hoje perante uma nova oportunidade para resolver parte do problema. O relatórioda senhora deputada Estrela, já aprovado na Comissão dos Direitos da Mulher e da Igualdadedos Géneros, constitui uma boa base de compromisso e consenso que, em minha opinião,devemos aprovar na quarta-feira, quando votarmos.

Concede mais direitos às trabalhadoras europeias grávidas, garante a manutenção dos seussalários, obriga os pais a assumirem as responsabilidades que lhes cabem e, além disso,garante que as grávidas não perdem direitos se se deslocarem entre países da União Europeia.Tudo isto é importante e, por isso, não devemos descurar nenhum destes pontos, seja porque motivo for.

Penso que, se alguns destes pontos fundamentais forem excluídos em resultado da votaçãode quarta-feira, devemos deixar claro, para nós e para os pais europeus, que isso nãoaconteceu por acaso e que o argumento da crise económica não pode ser utilizado apropósito de um assunto tão importante.

Existe uma crise, é óbvio, e temos de assumir as nossas responsabilidades. Mas as mãesnão têm culpa nenhuma. Será fácil entendê-lo se percebermos que não estamos a falar deum custo, mas sim de um investimento. É um investimento no futuro e em sociedadesmuito mais saudáveis.

É isto que estará em causa na votação de quarta-feira. Vou votar a favor do relatório dasenhora deputada Estrela e espero que a maioria desta Câmara faça exactamente o mesmo,porque, se isso não acontecer, estaremos a pôr em risco quer a saúde das mães trabalhadoras,quer o Estado-providência por cuja instituição na Europa tanto nos batemos.

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Marina Yannakoudakis, em nome do Grupo ECR. – (EN) Senhora Presidente, um conhecidoempresário disse uma vez que, se for demasiado longe, a legislação sobre igualdade acabapor reduzir a probabilidade de as mulheres conseguirem emprego.

As empresas não podem perguntar às mulheres se pensam vir a ter filhos e, por isso,resolvem o seu problema da forma mais simples: não as contratam. Infelizmente é esta acrua realidade que tenho de contrapor à licença de maternidade com carácter obrigatórioe direito à remuneração por inteiro, prevista neste relatório.

Juntemos a isso o impacto económico nas PME – 2,6 mil milhões de libras esterlinas noReino Unido e 1,7 mil milhões de euros na Alemanha – e ficaremos com uma ideia clarasobre o perigo que este relatório representa na actual conjuntura económica.

Seria muito diferente se, muito simplesmente, a cláusula referente à maternidade fosseretirada. O relatório reconduzir-se-ia ao seu âmbito originalmente previsto, ou seja, o dasaúde e segurança das trabalhadoras grávidas ou puérperas.

Peço aos deputados da Comissão dos Direitos da Mulher e da Igualdade dos Géneros quese cinjam aos aspectos essenciais e façam o que convém às mulheres. As mulheres têm deter opções. E, para fazerem escolhas, precisam dos instrumentos adequados. Osempregadores devem ter a possibilidade de apoiar as mulheres sem pôr em risco aviabilidade das empresas. Por sua vez, os Estados-Membros devem reforçar as suaseconomias, para criarem mais oportunidades.

O Grupo ECR apresentou uma proposta de alteração que resolve muitos dos problemascriados pela licença de maternidade com carácter obrigatório e direito à remuneração porinteiro, e queria pedir a todos os deputados que aprovem essa alteração e tornem esterelatório exequível.

A UE não existe para fazer engenharia social com as suas políticas. A ideia de que a licençade maternidade remunerada incentivará as mulheres a terem filhos é ingénua. Os filhossão para toda a vida. E os custos também. Não me venham portanto dizer que a populaçãovai aumentar se concedermos uma licença de maternidade de 20 semanas com direito àremuneração por inteiro.

Este relatório tem muitas falhas. A avaliação de impacto pedida pelo Grupo ECR provou-o.Resta saber se o vamos corrigir nesta fase ou se o devolvemos para ser reformulado.

Eva-Britt Svensson, em nome do Grupo GUE/NGL. – (SV) O debate sobre a Directivarelativa à licença de maternidade e o relatório de iniciativa sobre as trabalhadoras precáriasaflora a justificação fundamental de todo o trabalho em prol da igualdade. Dar às mulheresas oportunidades e as condições que lhes permitam sustentarem-se a si próprias constituia plataforma para a igualdade em todos os domínios políticos. Na próxima quarta-feirateremos oportunidade de abrir caminho à plena participação das mulheres no mercadode trabalho.

Lamento que, em 2010, ainda estejamos a falar de licença de maternidade, e não de licençaparental. Para mim, é óbvio que as crianças têm direito à assistência de ambos osprogenitores, e penso que também devíamos consultar a Convenção sobre os Direitos daCriança a propósito deste assunto. Estamos a discutir os direitos das mães e dos pais, mastemos de discutir também o direito – o direito incondicional – da criança a uma relaçãoestreita com ambos os progenitores.

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Falámos com voz grossa sobre os custos desta licença, num tom muito diferente do queutilizámos quando debatemos, por exemplo, os milhões de euros de apoio aos bancos e àindústria automóvel. Pergunto-me por vezes se não será mais fácil aceitar os custos emdomínios em que os homens são tradicionalmente maioritários do que a propósito dasquestões relacionadas com a igualdade e com o direito da criança à assistência de ambosos progenitores.

Penso também que a questão dos custos tem sido discutida sem se ter em conta os benefíciosindividuais e socioeconómicos que a presente proposta pode proporcionar. Falou-se muitodas perspectivas futuras em termos de demografia e disse-se que estão a nascer muitopoucas crianças. Pois temos agora uma oportunidade para tentar criar as condições quepermitam que nasçam mais crianças.

O Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde e eu própriaapoiamos as propostas das senhoras deputadas Estrela e Thomsen, que apoiámos naComissão dos Direitos da Mulher e da Igualdade dos Géneros, onde melhorámos aspossibilidades.

Antevejo alguns problemas nos Estados-Membros onde, actualmente, o regime da licençaparental é bastante mais favorável. Preferiria que esta legislação conferisse direitos em vezde impor uma obrigação a um dos progenitores. Gostaria igualmente que as normas daConvenção sobre os Direitos da Criança e o direito da criança à assistência de ambos osprogenitores tivessem muito maior destaque.

Existem também, em alguns Estados-Membros, problemas relacionados com os níveis dascompensações. Alguém disse neste debate que, actualmente, os empregadores perguntamàs mulheres em idade fértil se tencionam ter filhos. Espero que no futuro, num futuro muitopróximo, se passe a fazer a mesma pergunta aos pais, porque, repito, as crianças são umassunto que diz respeito a ambos os progenitores. É algo que temos de levar muito a sério.

Mara Bizzotto, em nome do Grupo EFD. – (IT) Senhora Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, o caminho que nos separa de uma Europa respeitadora das mulheres é aindalongo e difícil. As estatísticas são muito claras: a crise global abateu-se sobre o mercado detrabalho e pôs duramente à prova o emprego feminino, que decresceu mais 0,7 pontospercentuais em 2008. Apesar das provocações que, a propósito da igualdade deoportunidades e da igualdade no emprego, alimentam periodicamente a europropaganda,que está cada vez mais desacreditada, até hoje ainda não foram adoptadas medidas concretasque permitam a plena realização das mulheres enquanto trabalhadoras e enquanto mães.

A Europa do futuro tem de repensar radicalmente o seu modelo de protecção social, e nãoapenas de lhe mudar o rótulo de tempos a tempos. A Directiva que actualiza o regime dalicença de maternidade é positiva, mas a decisão de tratar à margem dessa matéria, nomesmo relatório, a questão complementar e igualmente importante da licença depaternidade é inconsequente.

O reforço da integração das mulheres não é apenas um valor moral; é também um objectivoestratégico para a sustentabilidade do tão apregoado modelo social europeu, que, por faltade resultados, continua a não me convencer.

Edit Bauer (PPE). – (HU) A proposta relativa à licença de maternidade é, intrinsecamente,um diploma sobre saúde e segurança, e o principal motivo por que a directiva de 1992tem de ser alterada no que respeita às condições de vida das mães é o facto de a OrganizaçãoInternacional do Trabalho ter adoptado, em 2000, uma convenção internacional que fixa

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em 18 semanas a duração mínima da licença de maternidade. Entretanto, porém, e devidoà conjugação entre a licença de maternidade e a licença parental, assistiu-se a umdesenvolvimento tão diversificado – quer quanto à duração da licença de maternidade,quer em relação ao financiamento e aos montantes dos subsídios – dos diferentes sistemasde saúde que hoje é quase impossível encontrar um denominador comum. Apesar dasboas intenções de todos nós, os que se sentam à direita e os que se sentam à esquerda nestaCâmara, não conseguimos chegar a uma decisão que seja bem acolhida por todos e cadaum dos Estados-Membros.

A solução óptima teria sido cingirmo-nos às questões da saúde e da segurança nestaproposta e deixar o reforço da igualdade de oportunidades para outro diploma. Quandoaqui apresentei o relatório sobre disparidades salariais entre homens e mulheres, chameia atenção para a situação de desvantagem das mães que regressam ao mercado de trabalhoapós o nascimento do primeiro filho. Por conseguinte, a igualdade de oportunidadestambém é uma questão difícil, mas temos de a resolver. No entanto, e uma vez que os paise as mães não podem desempenhar as mesmas tarefas no decurso do trabalho de parto,ou seja, o pai não pode dar à luz um filho, provavelmente teremos de encontrar soluçõespara a igualdade de oportunidades noutros domínios. Esta questão tem de ser resolvida, etemos de ir avançando, mas não nesta Directiva. Perdemos a oportunidade de actualizara conjugação entre a licença parental e a licença de maternidade.

Silvia Costa (S&D). – (IT) Senhora Presidente, Senhor Comissário, penso que o Parlamentotem hoje uma grande oportunidade para reafirmar que a maternidade é um valor social,que a protecção da saúde de mãe e filho deve ser reforçada, que as trabalhadoras não devemser discriminadas no acesso e na manutenção do emprego por serem mães, e que a prestaçãode cuidados aos filhos deve ser mais bem repartida entre ambos os progenitores.

Apesar da actual crise – como já foi sublinhado –, temos de retomar uma observação feitapelos economistas mais avançados: a avaliação de impacto que foi efectuada mostra anecessidade de uma abordagem mais global e a longo prazo. Os custos imediatos, quepoderão ser repartidos ao longo do tempo, são um investimento social e económico nobem-estar acrescido das crianças, na redução das doenças e no aumento da participaçãodas mulheres no mercado de trabalho.

São muitos os que afirmam que o número de trabalhadoras não aumentará e a suaqualificação e formação não melhorará se não houver um novo sistema de protecção sociale não for facilitada a conciliação entre a vida profissional e a vida familiar: estou inteiramentede acordo com as relatoras, senhoras deputadas Estrela e Plumb, a quem agradeço o difíciltrabalho que realizaram, e agradeço também a todos os deputados que se esforçaram porencontrar uma plataforma comum.

Concordo igualmente com o regime especial que, suponho eu, muitos de nós desejávamose que proporcionará às mães, nos casos de crianças com deficiências e nos de adopção ouparto múltiplo, maior facilidade em conseguir um horário de trabalho flexível, a inversãodo ónus da prova em caso de violação da lei e o reforço da protecção contra osdespedimentos. Conjuntamente com outros deputados, propus também que, a propósitoda obrigatoriedade de um período de seis semanas de licença de maternidade após o parto,fosse inserida uma cláusula de salvaguarda relativamente aos países cuja legislação prevêtambém um período obrigatório antes do parto.

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Em conclusão, espero agora que, ao longo dos próximos dois dias, nos mantenhamosdispostos a encontrar uma plataforma comum, para não perdermos também esta excelenteoportunidade de adoptar a Directiva nesta legislatura.

Antonyia Parvanova (ALDE). – (EN) Senhora Presidente, quando falamos de partilhaequitativa das responsabilidades familiares entre homens e mulheres – e, no fundo, de umasociedade mais justa que defenda os superiores interesses das crianças através de políticasde conciliação –, devemos ter presente que estamos aqui, nesta Câmara, em representaçãodos cidadãos e não dos pontos de vista do Conselho. Tenho notado que, ultimamente,anda por aí muita gente das Representações Permanentes dos Estados-Membros a tentarinfluenciar os deputados, o que considero inadmissível em termos regimentais e à luz doprincípio da independência dos deputados eleitos.

Tem sido alegado que a extensão da licença de maternidade agrava os custos nos sectorespúblico e privado num período de crise económica, mas a verdade é que estamos a falarde apenas 0,01% do PIB, ou seja, 2 mil milhões de euros. Fiz entretanto uma comparaçãocom os orçamentos militares dos países que foram referidos. Na verdade, esses orçamentosaumentaram 3 mil milhões de euros de um ano para o outro, mas nem nesta Câmara, nemnos parlamentos nacionais foi feito qualquer reparo.

Contudo, numa altura em que a incerteza económica é cada vez maior e em que enfrentamosalterações demográficas, é fundamental apoiar políticas de licença flexíveis que possamajudar a inverter a actual tendência demográfica. Devemos assumir um compromissoconjunto no sentido de promover a integração das mulheres de toda a Europa no mercadode trabalho e de respeitar as suas opções de vida, traduzidas numa maior participação dasmulheres nesse mercado, dando mais valor à infância e à necessidade de facilitar aconciliação entre a vida familiar e a vida profissional.

Para concluir, gostaria de deixar bem vincado que o sistema de protecção social europeue as medidas previstas nesta Directiva são uma vantagem e não um ónus para o mercadoeuropeu.

Marije Cornelissen (Verts/ALE). – (EN) Senhora Presidente, as alterações propostas poralguns deputados – não todos, felizmente – dos grupos ALDE, PPE e ECR revelam que elesvenderam a alma a interesses corporativos de vistas curtas e aos representantes deEstados-Membros que não têm consideração pelos direitos das mulheres. Se essas alteraçõesforem aprovadas, a vida das futuras mães e pais da UE não será mais fácil.

Se a licença não for adequadamente recompensada, só as mulheres cujos empregos sãodispensáveis se sentirão incentivadas. Caros Colegas da direita, estais a contribuir para aperpetuação do modelo tradicional do homem que sustenta a família e que tem a seu ladoe sob o seu domínio a sua mulherzinha com o seu empregozito. Com efeito, nestes casospouco importa o valor da compensação. Mas as mulheres independentes cujo contributofinanceiro é indispensável para o sustento da família preferirão regressar ao trabalho depoisdo período obrigatório de seis semanas – se o período restante for mal pago –, tenham ounão hemorragias, e não poderão pensar em amamentar os filhos para lhes proporcionaremum bom começo de vida.

Espero sinceramente que aqueles que pretendem, de facto, melhorar a vida das mães e dospais ganhem esta votação. A presente Directiva pode ser a base de uma política de mercadode trabalho moderna para uma sociedade em envelhecimento. O futuro precisa de políticossuficientemente corajosos para terem opiniões próprias, que consigam ver um pouco mais

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longe e que anseiem por uma sociedade com muito mais mães trabalhadoras e muito maispais a cuidarem dos filhos. O futuro dispensa bem os que cedem assim que osadministradores das empresas, que só pensam no próximo relatório financeiro, e osministros nacionais, que só pensam nas próximas eleições, começam a pressionar.

Tadeusz Cymański (ECR). – (PL) O significado da presente Directiva transcende a questãoda igualdade de oportunidades para as mulheres e da ajuda às mulheres no período damaternidade. Devemos olhar para esta questão num contexto social e económico maisalargado e a mais longo prazo. Parece um pouco paradoxal que, por tentarmos protegeras actuais práticas de gestão financeira, o que é compreensível e lógico, possamos sofrergrandes perdas em termos económicos e financeiros nas gerações futuras.

Muitos peritos consideram que um dos principais problemas da Europa, talvez mesmo omais importante, é o colapso demográfico. Os avanços na medicina, a melhoria dascondições de vida e a quebra no crescimento natural da população apontam para umaEuropa muito envelhecida e muito cara no futuro. O custo actual da prestação de cuidadosaos mais velhos está estimado em cerca de 2% do PIB europeu. As razões para a quebra nocrescimento demográfico são muito complexas e vão para além dos problemas sociais eda segurança material. No entanto, é inquestionável que as novas propostas contidas nestaDirectiva constituirão um incentivo muito importante que ajudará muitas mulhereseuropeias a decidirem ter filhos.

Senhora Presidente, o nível de apoio às trabalhadoras grávidas nos diferentes países europeusvaria bastante. A importância da Directiva em apreço será mais evidente nos países emque o âmbito da protecção é inadequado e o apoio às famílias muito baixo ou mesmoinexistente, mesmo em relação a crianças mais velhas. É por isso que quero agradecer atodos os que colaboraram na elaboração desta Directiva, sobretudo pela solidariedade quedemonstram para com as mulheres de outros países, que poderão enfrentar o futuro commais esperança. Quanto às crianças, é óbvio que querem uma mãe feliz e sem receio de vira perder o emprego e não poder, por isso, alimentá-las ou educá-las. Renovo os meusagradecimentos e fico a contar com um acordo para a votação de quarta-feira. Muitoobrigado.

Jacky Hénin (GUE/NGL). – (FR) Senhora Presidente, estes relatórios apontam no bomsentido e merecem ser muito mais publicitados. As mulheres ocupam 85% dos empregosa tempo parcial não desejados e 80% dos empregos mal remunerados. Ganham menos27% do que os homens. Metade delas recebe uma pensão inferior a 600 euros. A maiorparte dos casos conhecidos de falsas declarações ou trabalho não declarado refere-se amulheres. Ainda hoje, em pleno século XXI, vêm ao nosso conhecimentos casos deescravatura na Europa, e todos eles envolvem mulheres.

Tudo o que for possível fazer para acabar de vez com as práticas vergonhosas em relaçãoàs mulheres no local de trabalho e na sociedade tem de ser feito. Mas a boa vontade nãochega. As vantagens esperadas são tão grandes e as sanções em que incorrem relativamentetão pequenas que – falemos com franqueza – há “patifes” que não hesitam em continuara explorar seres humanos como se fossem apenas gado. É da máxima urgência fazer comque os Estados-Membros assumam as suas responsabilidades e exigir as sanções maisseveras para os que se consideram acima da lei.

Giancarlo Scottà (EFD). – (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,quero chamar a vossa atenção para um sector em que as condições de trabalho damão-de-obra feminina continuam a ser precárias. Refiro-me ao sector agrícola, um sector

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onde as mulheres prestam especial atenção à inovação, bem como à revitalização detradições e à conservação do património agrícola, mantendo vivo o mundo rural. Noentanto, as trabalhadoras deparam com uma série de obstáculos na sua actividadeprofissional, tendo de conciliar a vida profissional com a vida familiar.

No seu relatório, a senhora deputada Thomsen refere um número que nos dá que pensar:no sector agrícola, 86% das trabalhadoras têm empregos a tempo parcial. Além disso, aentrada de mulheres jovens neste sector é muito difícil e, por isso, é frequente encontrarmosmulheres com mais de 65 anos a gerir explorações agrícolas. Por outro lado, há mulheresque assumem a posição de parceiros auxiliares, ou seja, trabalham na exploração agrícolado marido de modo absolutamente informal e sem remuneração adequada.

Considero, pois, necessário, proteger as mulheres e o seu emprego num sector em que otrabalho é muitas vezes temporário e sazonal, apoiá-las no domínio da saúde e segurança,e garantir que recebem uma remuneração justa e um reconhecimento adequado pelo seutrabalho.

Licia Ronzulli (PPE). – (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, quandofalamos de conciliação, estamos a referir-nos às iniciativas que, tendo em consideração asnecessidades da família e as necessidades dos trabalhadores e trabalhadoras, permitemalcançar um equilíbrio entre a vida profissional e a vida familiar. Falamos, pois, demecanismos de apoio sem os quais as mulheres que trabalham por prazer, por ambiçãoou, principalmente, por necessidade enfrentam um dilema e acabam por abandonar oemprego. Regressar ao mercado de trabalho depois de ter saído dele é ainda mais difícil.Esta situação gera, por um lado, um forte sentimento de frustração e, por outro, grandessacrifícios económicos.

O texto hoje em debate propõe numerosos mecanismos de apoio para as trabalhadoras,proporcionando a base de segurança jurídica que dará às mulheres a liberdade de escolhae, consequentemente, um verdadeiro equilíbrio entre a vida profissional e a vida familiar.Quero também salientar um outro aspecto que diz respeito à posição das trabalhadorasprecárias: como já aqui foi dito, as mulheres continuam a suportar a desigualdaderelativamente a oportunidades de trabalho, qualidade do trabalho e remuneração. Apropósito da qualidade de trabalho, importa assinalar que, muito frequentemente, asmulheres não reportam abusos e são coagidas a aceitar emprego à margem da lei paraobterem rendimento suficiente que lhes permita sustentar a família. É tempo de pôr fim aesta situação.

Assim, é necessário controlar a má conduta dos empregadores em relação às trabalhadoras.Todas as infracções devem ser processadas e punidas sem restrições. O nosso compromissotem de continuar a avançar no sentido das políticas sociais, que são cada vez mais justas eeficazes.

Zita Gurmai (S&D). – (EN) Senhora Presidente, o relatório que estamos agora a discutiré crucial para os pais e filhos na Europa, bem como para a Europa enquanto comunidade.As disposições deste acto legislativo contribuem para que todas as mulheres na Europatenham os mesmos direitos e assistência mínimos quando decidem ter filhos. Asseguram,por outro lado, que as mulheres que decidem ter filhos não são financeiramente penalizadasna sua escolha de serem mães, por tentarem conjugar essa escolha com a sua carreira.

Um factor muito importante é o desafio demográfico que a Europa enfrenta. As taxas denatalidade decrescentes e o envelhecimento da população e, em consequência, a queda na

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mão-de-obra estão a colocar uma grande tensão na manutenção do crescimento económico,especialmente numa altura de crise.

A solução passa por encorajar as mulheres a não terem filhos ou por seguir o modeloamericano em que as mulheres não recebem nenhum ou quase nenhum apoio e têm deregressar ao trabalho ainda antes de terem recuperado do parto? Se assim é, então digoque não. Não ter filhos é mais dispendioso para a comunidade a longo prazo. As mulherestêm de recuperar do parto para estarem prontas a entrar novamente no mercado de trabalho.Dar-lhes 18 semanas é o mínimo e não devem ser prejudicadas por isso através de cortesdirectos ou indirectos.

Em 24 dos 27 Estados-Membros, são os governos e não as empresas que contribuem paraa licença de maternidade. Estas não querem investir nas jovens mulheres que recrutarame formaram? Devemos ter responsabilidade social. Sabendo que a UE e os seusEstados-Membros despenderam grandes quantidades de dinheiro no salvamento de bancos,temos de perguntar por que razão as economias de dinheiro têm de ser sempre feitas àcusta das mulheres. Deve ser igualmente possível para os pais terem dispensa para passaremalgum tempo com os filhos recém-nascidos.

Falamos muito de partilha de responsabilidades, e agora podemos fazer alguma coisa aesse respeito. Alguns de nós consideram que isso não é aceitável. Espero que o senhorComissário Šefčovič nos mostre uma posição transparente e progressista nesta matéria.

Elizabeth Lynne (ALDE). – (EN) Senhora Presidente, o objectivo da Directiva em apreçosempre foi, muito justamente, o de estabelecer normas mínimas de protecção dastrabalhadoras grávidas ou lactantes. Penso, porém, que algumas das alterações propostaspela Comissão dos Direitos da Mulher e da Igualdade dos Géneros e pela Comissão doEmprego e dos Assuntos Sociais vão longe demais.

Não têm em consideração as diversas tradições nos vários Estados-Membros. Alguns paísestêm a licença de maternidade, outros têm também a licença de paternidade e outros aindatêm a licença parental. São pagas de formas totalmente diferentes e a taxas variáveis –algumas através dos sistemas de segurança social, outras pelas empresas e outras ainda poruma combinação entre estes. Não devemos arruinar alguns sistemas que são muito positivos.

As minhas alterações procuram responder à dificuldade de chegar a uma solução queconvenha a todos os Estados-Membros. A introdução da integralidade do salário iria, emminha opinião, impedir a contratação de muitos jovens – em particular de mulheres jovens.Congratulo-me com o facto de a segunda avaliação de impacto ter sido, pelo menos, maisdetalhada do que a primeira. Como é do vosso conhecimento, essa avaliação referia que,no caso de integralidade do salário, o custo para os dez Estados-Membros seria superior a7 mil milhões de euros por ano. A questão não chegou a ser analisada relativamente aosrestantes 17 Estados-Membros, mas assumo que o custo da introdução da integralidadedo salário nestes países seria igualmente problemático.

No que diz respeito ao período de licença obrigatório, sempre considerei que cabe à mãedecidir qual o período de dispensa e qual o momento em que o pretende ter. Nas décadasde 1960 e 1970, lutámos pela igualdade de direitos para as mulheres – não para que estesfossem ordens – e parece que estamos a andar para trás e não para a frente.

Andrea Češková (ECR). – (CS) Receio bem que se estejam a confundir duas coisas muitodiferentes no que diz respeito à protecção das mulheres: as condições de emprego dasmulheres trabalhadoras e a situação jurídica das trabalhadoras independentes, ou

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empresárias. Quanto às mulheres trabalhadoras, podemos falar em geral sobre protecção,principalmente durante a gravidez e o puerpério, ao abrigo do direito do trabalho. Não épossível proteger as trabalhadoras independentes ao abrigo do direito do trabalho, pois,em termos gerais, este não se aplica no seu caso. Por outro lado, as mulheres empresáriasempregam homens e outras mulheres também, pelo que fiquei escandalizada com o factode a Directiva que, inicialmente, deveria dizer respeito apenas à protecção das trabalhadorasgrávidas e puérperas, passar a aplicar-se, por força das alterações, também às empresárias.É impossível, não só na prática, mas ainda do ponto de vista jurídico. Assim, esperosinceramente que o Parlamento não adopte as alterações que, lamentavelmente, foramtambém aprovadas por grande maioria na Comissão dos Direitos da Mulher e da Igualdadedos Géneros e que, em minha opinião, nada têm a ver com a Directiva em apreço, pois nãose podem aplicar às empresárias.

Joe Higgins (GUE/NGL). – (EN) Senhora Presidente, o relatório da senhora deputadaEstrela procura melhorar as condições de trabalho das trabalhadoras grávidas, puérperasou lactantes, um objectivo que apoiamos convictamente.

Ora, contrapondo uma crise aguda no capitalismo europeu e mundial, tem de haver oprofundo receio de que os trabalhadores vulneráveis, em particular, sejam penalizados porcertos empregadores que procuram manter os lucros e por governos empenhados noprocesso de redução da despesa social e dos serviços públicos.

Muitas mulheres da classe trabalhadora sofrem uma grande exploração, através dos níveissalariais que são muito inferiores aos dos homens, por exemplo, e do trabalho precário.Existe o perigo real de as trabalhadoras grávidas ou puérperas, cuja posição é maisvulnerável, serem vítimas de discriminação nas actuais circunstâncias. Concordamosplenamente em tornar explícito o direito da mulher de regressar ao mesmo trabalho, deter uma licença de maternidade de 20 semanas e de haver uma licença de paternidadeaceitável. Devemos também apoiar a manutenção a 100% do nível de rendimento.

Todavia, não podemos contar apenas com a lei. Deve haver uma organização sindical forteem todos os locais de trabalho que possa garantir em termos concretos o direito dasmulheres de regressar ao trabalho após o parto, sem receio de discriminação.

Elisabeth Morin-Chartier (PPE). – (FR) Senhora Presidente, Senhor Comissário, Senhorase Senhores Deputados, acompanhei esta questão de muito perto tanto na Comissão doEmprego e dos Assuntos Sociais como na Comissão dos Direitos da Mulher e da Igualdadedos Géneros. É a segunda vez que se tenta estabelecer normas mínimas para a UniãoEuropeia, e faz agora quarenta anos que luto, na minha vida profissional, pela igualdadeentre homens e mulheres, pela integração das jovens mulheres através de programas deformação e a sua integração na sociedade mediante a sua integração no mercado de trabalho.É de igualdade que estamos a falar: igualdade entre homens e mulheres.

Contudo, no relatório da deputada Estrela – basta ouvir as intervenções que hoje foramfeitas – todas as questões possíveis foram abordadas. Cada um chega com o seu pequenocontributo e quer acrescentar um ponto a outro ponto. Acabamos por obter uma miscelâneasem significado, quando nos deveríamos concentrar na saúde e segurança das mulheresgrávidas no trabalho, da mesma forma, é certo, que teremos de nos concentrar na igualdadede remuneração entre homens e mulheres.

A licença dos bebés é a única coisa que não foi abordada no presente relatório. Querodizer-vos o seguinte: votar hoje a favor de uma licença de maternidade de vinte semanas

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com integralidade do salário é irresponsável e demagógico. Insisto para que sejam tomadasmedidas eficazes de forma a que isso não se vire contra as mulheres. Quanto maisprolongarmos a licença de maternidade sem dar prioridade ao regresso das mulheres aolocal de trabalho e à necessidade que têm de conciliar a vida familiar e a vida profissional,e quanto mais prolongarmos a licença de maternidade sem tomar medidas que as protejamno local de trabalho, mais trabalhamos contra elas.

O facto é que, quando fazemos política, o nosso dever é sermos corajosos e responsáveis,e dizer a verdade. Quem vai pagar? Quais dos nossos Estados-Membros podem pagar esteaumento? Que empresas podem pagar? No final, as mulheres vão ver-se presas na armadilhade um texto que deixamos espalhar-se em todas as direcções e que se virará contra elas.Apelo à vossa responsabilidade. Temos um fardo pesado para o futuro.

(Aplausos)

(A oradora aceita responder a duas perguntas “cartão azul” das deputadas Marije Cornelissen eAnneli Jäätteenmäki, nos termos do artigo 149.º, n.º 8, do Regimento)

Marije Cornelissen (Verts/ALE). – (EN) Senhora Presidente, a senhora deputadaMorin-Chartier não foi a única a dizer isto. Alguns oradores afirmaram que a licença dematernidade de 20 semanas reduziria as oportunidades das mulheres no mercado detrabalho.

Gostaria de lhe perguntar de onde vem essa ideia, porque, se olhar para o estudo, bemcomo para o que se passa na Suécia, Noruega, Islândia ou Bulgária, pode ver com toda aclareza que uma participação feminina extremamente elevada no mercado de trabalho écompatível com um período de licença de maternidade adequadamente longo.

Elisabeth Morin-Chartier (PPE). – (FR) Senhora Presidente, gostaria de focar dois pontosem resposta a esta observação.

O primeiro é o de que não existe uma ligação matemática entre a duração da licença dematernidade e a taxa de fertilidade, e, para o provar, basta-me referir a situação da França,que tem actualmente uma licença de maternidade de 14 semanas e uma das taxas denatalidade mais elevadas da Europa.

O segundo ponto da minha resposta é que, por cada filho que nasce, aumenta a diferençaentre a vida profissional das mulheres e a dos homens. Por cada filho que tem, em cadaperíodo de licença de maternidade, a mulher reduz em primeiro lugar as suasresponsabilidades profissionais – a menos que haja uma iniciativa em contrário da empresaou do sector público. Com o segundo filho, as mulheres reduzem as horas de trabalho, econtinuam a fazê-lo sempre que têm filhos, enquanto os homens, pelo contrário, aumentamas suas responsabilidades profissionais a cada novo filho. Logo, do ponto de vistaprofissional, as diferenças acentuam-se ao longo das carreiras.

Peço-vos, pois, que estejam atentos ao que se passa na realidade, tanto no sector públicocomo no privado.

Anneli Jäätteenmäki (ALDE). – (FI) Senhora Deputada Morin-Chartier, a senhora aceitaa dualidade de critérios em que todos os trabalhadores da União Europeia, os da Comissão,do Conselho, do Parlamento e dos grupos políticos que o integram manteriam aintegralidade do salário durante as 20 semanas de licença de maternidade, propondo, aomesmo tempo, que tal não acontecesse com outras pessoas? Penso que as mães devem

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estar em pé de igualdade em toda a Europa, e que não devemos aceitar a dualidade decritérios ou a duplicidade de Janus.

Elisabeth Morin-Chartier (PPE). – (FR) Senhora Presidente, não disse que defendíamosa duplicidade de critérios. A Comissão Europeia apresentou uma proposta de 18 semanas.Nós propomos a introdução de uma cláusula de ligação. É uma base inteiramente possível,mas há uma diferença entre o que é possível e a utopia de propor vinte semanas comintegralidade do salário, entre o que é viável e o que se pode prometer no Parlamento masnão será aceite nem pelo Conselho, nem pelos parlamentos nacionais.

Se, na quarta-feira, votarmos a favor do relatório da senhora deputada Estrela e as 20semanas, o Parlamento Europeu será contrariado três vezes: a primeira pelo Conselho, quenão poderá dar o seu apoio – os Estados-Membros não poderão dar o seu apoio; a segundapelos parlamentos nacionais – estes, com os seus orçamentos, não poderão dar o seu apoio;e a terceira pelas mulheres, quando perceberem que trabalhámos contra elas.

Emine Bozkurt (S&D). – (NL) Senhora Presidente, temos de apoiar as mães e os pais naaltura de maior agitação nas suas vidas. Deve ser-lhes proporcionada paz e tranquilidadeque lhes permita participar plenamente, desde o início, na vida dos filhos; amamentar erecuperar totalmente do parto; poder arregaçar as mangas mais uma vez após a licença eparticipar plenamente na vida profissional. Mães, pais, sindicatos, organizaçõesnão-governamentais (ONG) – todos anseiam por isso.

Injustamente, os opositores atribuem um preço às mulheres: a sociedade europeia cadavez mais envelhecida não pode incorrer em mais custos. Contudo, para que a nossasociedade se mantenha viável no futuro, temos de investir agora nas mulheres enquantotrabalhadoras e na melhoria da conciliação entre a vida profissional e a vida pessoal.Evidentemente, é importante que a licença de maternidade seja remunerada na íntegra.Por que razão devem as mulheres, em virtude de serem as únicas biologicamente capazesde dar à luz, aceitar um corte na remuneração durante a licença?

Dizemos que consideramos importante que homens e mulheres possam alcançar umequilíbrio saudável entre a vida profissional e a vida pessoal, que haja igualdade deoportunidades para as mulheres no local de trabalho, pelo que temos de acabar com asquezílias e assumir a responsabilidade conjunta. Não devemos deixar que sejam as mãese os pais a sofrer.

Nadja Hirsch (ALDE). – (DE) Senhora Presidente, a questão que nos devemos colocar équal o objectivo da Directiva em apreço? Existe um acordo relativamente generalizado deque se deve proteger a saúde das futuras mães e das puérperas. O grande debate diz respeitoaos domínios em que o aspecto da igualdade deverá igualmente ser incluído. Por outrolado, enquanto Parlamento Europeu, devemos estar cientes, ainda, de que estamos a adoptaruma directiva que estará em vigor não apenas por cinco anos, mas talvez durante ospróximos 20 ou 25 anos. Espero, contudo, que, dessa forma, as condições de trabalho dasmulheres sejam substancialmente melhores e que as empresas estejam dispostas a contratarjovens mães – especialmente devido à escassez de mão-de-obra qualificada – e, sobretudo,construam também a infra-estrutura adequada para esse fim. Devemos ter igualmente emmente esta perspectiva.

Apesar disso, percebo que, actualmente, não temos uma maioria disposta a adoptar esteponto de vista. Face a esse cenário, atingiremos provavelmente o momento em quechegaremos a um acordo de meio-termo de dezoito semanas, de uma taxa mais elevada

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de contribuições patronais ou de manutenção do pagamento de 75% do salário, o que, narealidade, representará uma melhoria para alguns países europeus em particular.

Um ponto muito mais importante e que vai além da vertente da licença de maternidadesão as condições de enquadramento à volta das famílias jovens. Falamos de estruturas deacolhimento de crianças; na Alemanha, por exemplo, ainda não existem em númerosuficiente. Isso seria uma verdadeira política de igualdade que oferece às mulheres apossibilidade de regressarem ao trabalho.

Julie Girling (ECR). – (EN) Senhora Presidente, é tão típico dos Verdes ridicularizaremos que se atrevem a discordar. Nós atrevemo-nos a discordar de uma pequena parte destaspropostas; logo, devemos ser ridicularizados. Elogio o vosso empenho nestas propostas– na verdade, concordo com a maior parte delas – mas há uma ou duas partes de quediscordo. Logo, posso elogiar o vosso empenho, mas não a vossa tolerância. Voltem daquia 30 anos e dêem-me lições sobre a promoção dos direitos das mulheres quando tiveremtrabalhado sobre este tema tanto quanto eu já trabalhei.

Recuso-me a ser classificada como retrógrada. Há aspectos destas propostas que sãoretrógrados: a ideia de que as mulheres europeias devem ter mais bebés europeus nummundo sobrepovoado é socialmente retrógrada. Impor, no Reino Unido, uma licença dematernidade de 20 semanas com integralidade do salário – não consigo explicar agora onosso sistema com rapidez suficiente – é financeiramente retrógrado. Um númerodesproporcional de mulheres que, no Reino Unido, auferem remunerações mais elevadasreceberá grande parte dos 2 mil milhões de libras esterlinas adicionais. Não irão para asmulheres com salários mais baixos a quem, julgo, todos gostaríamos de ajudar em primeirolugar.

Portanto, onde está o progresso? Os Estados-Membros estão em melhor posição paradecidir sobre estes detalhes; deve aplicar-se o princípio da subsidiariedade.

(Aplausos)

Christa Klaß (PPE). – (DE) Senhora Presidente, Senhor Comissário, as mães necessitamde protecção especial. Relativamente a esse aspecto, estamos de acordo nesta Assembleia.Ter um filho é exigente em termos físicos e emocionais e é um acontecimento marcantepara qualquer mulher. As mudanças físicas, as novas condições de vida e, sobretudo, operíodo de restabelecimento e recuperação – tudo isto torna essencial a protecção adequadada maternidade. É algo a que a sociedade tem de prover. Não há, pois, qualquer discussãoquanto ao princípio. O debate diz respeito à forma como isso se faz e em que condições.Não nos devemos esquecer que, a este respeito, a UE estabelece uma norma mínima e é daresponsabilidade dos Estados-Membros aplicar, organizar e custear a licença de maternidade.Não começamos do nada.

Os Estados-Membros organizaram a respectiva licença de maternidade de formas muitodiversas, completando-a, nalguns casos, com a licença parental para incluir os pais. Ospais têm de assumir responsabilidades familiares – estamos a falar não de licença, mas dearcar com as responsabilidades que a criação dos filhos e a vida familiar acarretam. Contudo,a licença de paternidade não faz parte da licença de maternidade; pelo contrário, devesempre fazer parte da licença parental. Nem tampouco os pais ficam doentes emconsequência de um parto. Felicito todos os Estados-Membros que instituíram a licençade paternidade; de igual modo, Senhor Comissário, apraz-me ouvir a proposta da Comissãoque acabou de ser anunciada. Não podemos permitir que a importante questão da licença

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de maternidade seja diluída no prolongamento da licença de paternidade. A licença dematernidade tem a ver com a saúde. Nenhuma mãe fica doente durante 20 semanas, e aslactantes não são doentes.

Temos a responsabilidade para com as mulheres que participam na vida profissional detornar a licença de maternidade compreensível. Propomos 18 semanas no total, estandoas últimas quatro sujeitas à variação nacional dos níveis de prestações pecuniárias efectuadas.Isto está estabelecido nas alterações 115 e 116, as quais exorto os deputados a apoiar.

Adicionalmente, solicito aos Estados-Membros que explorem as oportunidades de ofereceràs famílias e às mães mais prestações, que poderão ser adoptadas a título voluntário. Asmães estão a construir o futuro e precisam de todo o apoio que lhes pudermos dar.

Antigoni Papadopoulou (S&D). – (EL) Senhora Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, se aprovarmos o relatório da senhora deputada Estrela, estaremos, no fundo,a dar satisfação às reivindicações de milhões de mulheres no sentido de uma maior protecçãodas trabalhadoras grávidas, puérperas ou lactantes e dos seus filhos. Se aprovarmos aextensão da licença de maternidade para 20 semanas e da licença de paternidade para 2semanas com direito ao salário por inteiro, estaremos a ajudar a União Europeia a recuperarda crise internacional e a retomar o crescimento económico, porque estaremos a facilitara conciliação entre a vida profissional e a vida familiar. Se protegermos as trabalhadorascontra o despedimento durante a gravidez e nos seis meses subsequentes, estaremos acontribuir para a consecução do objectivo estratégico da UE de elevar para 75% a taxa departicipação das mulheres no mercado de trabalho até 2020.

Se aprovarmos o relatório da senhora deputada Thomsen, estaremos a tentar proteger astrabalhadoras relativamente aos empregos precários, que perpetuam as disparidadessalariais entre homens e mulheres, impedem o desenvolvimento profissional e aumentamo risco de as mulheres perderem as sua regalias sociais e sindicais e o seu direito a umapensão.

O voto a favor destes dois relatórios é um voto a favor de uma Europa mais equilibrada,descentralizada e social, e da igualdade entre homens e mulheres.

Gesine Meissner (ALDE). – (DE) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,estamos hoje a falar das condições de trabalho das mulheres na Europa, que queremosmelhorar. Referir-me-ei, especificamente, ao relatório da senhora deputada Thomsen – deque fui relatora-sombra –, ou seja, ao tema das “trabalhadoras precárias”.

Estamos no Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social. Sabe-se que a pobrezaatinge desproporcionadamente as mulheres. Naturalmente, não podemos de forma algumapermitir que esta situação se mantenha. A pobreza das mulheres pode resultar de váriascausas. Pode advir do facto de as mulheres não serem tão bem remuneradas como oshomens. Essa não é, porém, a única causa. É mais frequente as mulheres interromperema carreira, quando, por exemplo, têm filhos e tiram uma licença para os criar. São tambémas mulheres quem executa os trabalhos menos qualificados. A questão é especialmentegrave no caso das mulheres com condições de trabalho precárias, porque, muitas vezes,têm contratos de trabalho irregulares ou nem sequer os têm, não estão abrangidas porqualquer sistema de protecção e têm pouco acesso à informação. A situação éparticularmente grave no caso das mulheres oriundas da imigração. Isto pode conduzir àperpetuação da pobreza, de modo que continuam pobres até à velhice.

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Temos de quebrar este círculo vicioso, que penaliza mais as mulheres do que os homens.Uma das vias para o conseguir é a educação e formação. Todas as mulheres – todas asraparigas –, seja qual for a sua origem, devem obter uma qualificação e ter acesso a umaprofissão que de facto lhes garanta condições de vida condignas. A aprendizagem ao longoda vida deve ser genericamente acessível às mulheres. É igualmente necessário que hajamais mulheres e raparigas nas profissões mais bem remuneradas. Muitas delas sãoprecisamente as profissões em que o predomínio dos homens é mais acentuado.

Por outras palavras: acesso à educação a todo o custo e acesso aos sistemas de segurançasocial – eis a forma de se conseguirem muitas melhorias para as mulheres.

Joanna Katarzyna Skrzydlewska (PPE). – (PL) Na actual conjuntura económica e socialda Europa, é difícil estabelecer normas mínimas em matéria de duração e compensaçãoda licença de maternidade. O mínimo proposto é superior ao nível de protecção que alegislação nacional de alguns países garante actualmente às grávidas. Por um lado, aindanos debatemos com as consequências da crise: os governos dos diferentes países estão aaumentar os impostos e a introduzir cortes drásticos na despesa, e a taxa de desempregocontinua elevada. Por outro lado, temos de enfrentar o problema da queda da taxa denatalidade, do crescimento natural negativo e do consequente envelhecimento da população.Num futuro não muito longínquo, estaremos sob a ameaça da insuficiência dos sistemasde pensões ou, eventualmente, da sua rotura total.

Para este tipo de situações, não existem soluções gratuitas nem soluções fáceis. Apesar detudo, temos de compreender que, se investirmos nas mulheres e lhes criarmos condiçõesfavoráveis, estaremos a encorajá-las a ter filhos. É evidente que, só por si, uma licença dematernidade mais longa e integralmente paga não chega. É também necessário adoptarsoluções fiscais favoráveis às famílias e criar emprego estável. Neste caso, não temosalternativas. Se não investirmos agora nas famílias, não será possível aumentar o númerode europeus profissionalmente activos daqui a 30 anos. É por isso que necessitamos denormas mínimas equitativas e justas em matéria de duração e compensação da licença dematernidade na Europa. Estamos a dar às mulheres a possibilidade de escolherem edecidirem sobre a maternidade.

Jutta Steinruck (S&D). – (DE) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, oque me parece faltar neste debate é a necessária distinção entre a transposição nacionalnos Estados-Membros e o que há a fazer a nível europeu. Todos sabemos que temos de terem conta as características específicas de cada país. No entanto, devo dizer que, no querespeita ao debate na Alemanha, por exemplo, sei perfeitamente como este país poderiapôr em prática as propostas contidas neste relatório. O que nos interessa aqui é a criaçãode normas mínimas a nível da UE para as condições de enquadramento social das mulheres.Estamos sempre prontos a fazer referências à OIT a propósito do trabalho de qualidade,da protecção no trabalho e da protecção da saúde, e por isso pergunto-me: porque nãoneste caso?

Quanto ao debate sobre os custos, queria lembrar a todos os deputados a este Parlamentoque, na Alemanha – e noutros países europeus –, a directiva de luta contra a discriminaçãodeu origem a enormes pressões por parte das empresas. Falava-se de uma avalanche decustos, de empresas que abririam falência e de encargos para a economia e para os própriostrabalhadores. Sabendo o que aconteceu posteriormente, perguntamo-nos: quais dessasprevisões se confirmaram? Nenhuma delas. Este debate e esta pressão recordam-me imenso

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esses tempos. Por último, apelo-vos a que ponham a economia de lado e se concentremnas pessoas.

Não sou mais uma que vem para aqui pregar. Disse que defendo uma Europa social. Paramim, isso inclui as mulheres. E nesta matéria, as mulheres precisam da nossa ajuda.

Sari Essayah (PPE). – (FI) Senhora Presidente, a Comissão dos Direitos da Mulher e daIgualdade dos Géneros aprovou uma série de alterações à proposta original de directivada Comissão.

Infelizmente, a comissão ignorou completamente, nas suas alterações, o princípio dasubsidiariedade no que respeita à repartição dos custos. A tentativa de harmonização daregulamentação sobre a licença de maternidade em 27 Estados-Membros distintos redundounuma proposta confusa. Acresce que, misturada com tudo isto, encontramos uma propostade licença de paternidade, que, atenta a base jurídica, nem sequer se enquadra no âmbitoda directiva, como, felizmente, o senhor Comissário deixou bem claro logo no início. Alicença de paternidade deve ser regulamentada em articulação com a licença parental, enão com a licença que tem vista a recuperação após a gravidez e o parto.

As propostas apresentadas pela Comissão dos Direitos da Mulher e da Igualdade dosGéneros também ignoram os sistemas avançados de licença de maternidade e de licençaparental existentes noutros países, nomeadamente os nórdicos. As propostas da comissãoconfundem estes sistemas de licença parental, que oferecem liberdade de escolha a nívelnacional, e, em determinados aspectos, prejudicariam mesmo o bem-estar de mãe e filho.Se, por exemplo, conforme prevê a proposta da comissão, as mães só começarem o períodoobrigatório de seis semanas de licença de maternidade após o parto, existe um riscoacrescido para as grávidas no local de trabalho, devido à iminência do parto, bem comopara os filhos. As mães não conseguirão trabalhar oito horas por dia até ao fim da gravideze, portanto, a proposta terá como consequência um acréscimo de casos de baixa por doençaantes do parto.

Em contrapartida, a proposta da comissão ignora os regimes nacionais em que a licençade maternidade surge estreitamente relacionada com uma licença parental bastante maislonga, porque não está previsto o direito à remuneração por inteiro. Na Finlândia, porexemplo, os pais podem cuidar dos filhos em casa até, em média, aos 18 meses de idade,e temos recursos para isso porque os custos são repartidos, em proporções diferentes, porempregadores, trabalhadores e contribuintes. Se a totalidade dos custos recaísse sobre osempregadores, as mulheres veriam certamente reduzidas as suas oportunidades de empregoe seriam prejudicadas enquanto trabalhadoras.

Olle Ludvigsson (S&D). – (SV) O que importa agora é que encontremos soluções flexíveisrelativamente aos pontos polémicos desta Directiva. Também precisamos de umaperspectiva de conjunto. Como queremos que a Europa esteja daqui a 10 anos em termosde igualdade? Deste ponto de vista, é óbvio que os regulamentos propostos levarão a umavanço no domínio da igualdade entre homens e mulheres.

A igualdade entre homens e mulheres e a perspectiva da igualdade entre homens e mulheresserão melhoradas. Será possível cumprir o objectivo fixado na Estratégia “Europa 2020”de elevar para 75% a taxa de emprego das mulheres. A sociedade será seguramentebeneficiada por existirem mais mulheres empregadas. Haverá mais e melhores incentivosa que se tenha filhos e a que se constitua família, o que poderá contrariar o envelhecimentoda população europeia.

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Não nos esqueçamos, pois, desta perspectiva de conjunto nos nossos debates.

Astrid Lulling (PPE). – (FR) Senhora Presidente, normalmente o tempo traz sabedoria.Infelizmente, este segundo relatório, que foi aprovado por maioria na Comissão dos Direitosda Mulher e da Igualdade dos Géneros e que estamos a debater agora neste Parlamento, 17meses depois do primeiro, não confirma essa asserção. Na sua versão actual, este segundorelatório é tão confuso e contraproducente e está tão sobrecarregado de texto que não seenquadra num diploma legislativo como o que foi devolvido à comissão em Maio de 2009.

Estamos há dois anos a tentar reforçar a protecção da maternidade. Se aprovarmos esterelatório tal como está, perderemos pelo menos outros tantos a discutir com o Conselhoem co-decisão, mas a verdade é que a proposta inicial da Comissão, de 2008, era razoável.Melhorava significativamente a situação nos Estados-Membros onde a duração e acompensação da licença de maternidade são inferiores às previstas em alguns países; alicença de 20 semanas com direito à remuneração por inteiro paga pelo Estado é muitorara.

Não nos esqueçamos de que, neste caso, o objectivo é a fixação de limiares mínimos, e deque não podemos impor soluções radicais aos 27 Estados-Membros. Com efeito, paraincentivar as trabalhadoras e, sobretudo, as altamente qualificadas a terem filhos, é maisimportante o direito a um período de licença relativamente curto mas pago na íntegra doque uma licença de 20, 30 ou mais semanas sem essa regalia. As propostas constantes dorelatório da senhora deputada Estrela são contraproducentes do ponto de vista daempregabilidade das mulheres e dificilmente poderão ser financiadas pelos governos eempresas de alguns Estados-Membros. Mais vale dar um passo concreto e imediato nadirecção certa do que fazer promessas para daqui a 10 anos.

Não vou votar a favor deste relatório na sua versão actual e peço a todos os deputados querejeitem as alterações que nada têm a ver com a protecção da maternidade, como asdisposições relativas às trabalhadoras independentes. Há apenas quatro meses, votámosnesta Câmara uma directiva sobre a licença de maternidade das trabalhadoras independentes.

O mesmo se diga em relação à licença de paternidade, Senhor Deputado Tarabella, emboraeu seja a favor. Os belgas podem adoptar a licença de paternidade de 20 semanas comdireito à remuneração por inteiro já amanhã, se tiverem governo; nada os impede de ofazer. Acontece também – é outro ponto a ter em consideração – que os parceiros sociaisestão a discutir uma directiva sobre a licença de paternidade. Aguardemos as suasconclusões, para que o processo possa decorrer do modo como decorreu no caso da licençaparental: é assim que deve ser.

Peço aos meus colegas para votarem a favor das alterações que restringem a duração dalicença a 18 semanas e das alterações devidamente ponderadas que foram apresentadaspelo grupo a que ambas pertencemos, Senhora Presidente.

(A oradora aceita responder a uma pergunta “cartão azul” do deputado Marc Tarabella, nos termosdo artigo 149.º, n.º 8, do Regimento)

Vasilica Viorica Dăncilă (S&D). – (RO) A eliminação de qualquer forma de discriminaçãoem todas as esferas da vida social e económica é uma condição necessária da protecçãodos direitos humanos e do bem-estar de todos dos cidadãos. A aplicação do princípio daigualdade de oportunidades para homens e mulheres e a promoção do envolvimento dasmulheres na vida económica e social como participantes de pleno direito devem serpreocupações constantes. Penso que esta perspectiva deve ser integrada na política agrícola

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comum, para garantir uma representação justa e equitativa. Poderá igualmente garantir aaplicação efectiva de várias políticas a nível europeu em todos os sectores de actividade,designadamente na agricultura.

Tendo em conta que o princípio da igualdade entre homens e mulheres é promovido pelalegislação europeia e constitui um dos requisitos fundamentais da Estratégia “Europa 2020”,considero adequado que esta questão também seja considerada no domínio da agricultura,o que requer a utilização de novos instrumentos de promoção desse princípio. Apoio quero relatório da senhora deputada Estrela, quer o da senhora deputada Thomsen; amboschamam a atenção para os problemas das mulheres e ambos estão relacionados com amaternidade e as condições de trabalho, que são aspectos importantes da vida de todas asmulheres e de todos os que devemos demonstrar a nossa solidariedade para com elasrelativamente aos seus problemas.

Marc Tarabella (S&D). – (FR) Senhora Presidente, agradeço à senhora deputada Lullingter aceitado a minha pequena interrupção. Queria apenas esclarecer que, na Bélgica, ospais já têm direito a 10 dias de licença paga. É assim em 19 dos 27 países da União Europeia,embora as compensações variem.

Queria apenas saber se a senhora deputada é a favor ou contra uma harmonização alinhadapor cima a nível europeu. É certo que duas semanas não é muito, mas já é aceitável: duassemanas para todos os pais europeus, para poderem partilhar as tarefas do acolhimentoaos novos membros da família. Gostaria de saber se é a favor ou contra esta harmonização.Agradeço desde já a sua resposta, Senhora Deputada Lulling.

Astrid Lulling (PPE). – (FR) Senhora Presidente, claro que sou a favor, SenhorDeputado Tarabella. Sou a favor de uma directiva europeia, mas penso que este assuntonão cabe no âmbito da Directiva em apreço, que diz respeito à protecção das mulheres ecrianças. Como referi, os parceiros sociais estão em conversações sobre uma directivarelativa à licença de paternidade.

Penso que devemos aguardar os resultados. Teremos então uma proposta sólida, como ada licença parental, que, por acaso, acabámos por melhorar, embora não tenha ficadoperfeita. Julgo que este é o caminho certo. Penso, aliás, que os parceiros sociais tambémdevem ser incumbidos de elaborar propostas neste domínio, porque são eles que estão emmelhor posição para o fazer. Sou a favor, portanto. E felicito-o: poderá melhorar a situaçãona Bélgica.

Queria apenas dizer-lhe, a si e às mulheres que não conseguem, de todo, compreender queuma directiva europeia é um conjunto de regras mínimas, e não máximas, que todos podemir mais além, mas que é importante dar aos países que estão aquém – muito aquém – das18 semanas uma oportunidade para se adaptarem.

Aliás, estou em crer que, se nos tivesse cabido a nós, a mim e ao senhor deputado, elaborareste relatório, há muito que teríamos adoptado nesta Câmara, em co-decisão com oConselho, as medidas correctas.

Thomas Mann (PPE). – (DE) Senhora Presidente, agora já sei o que fazer para alterar eprolongar o tempo de uso da palavra. A Comissão do Emprego e dos Assuntos Sociaispretende uma licença de maternidade de 18 semanas, o que excede em quatro semanas operíodo amigavelmente acordado na Alemanha. A Comissão dos Direitos da Mulher e daIgualdade dos Géneros quer 20 semanas com direito à remuneração por inteiro, mais duassemanas de licença de paternidade e mais a extensão às trabalhadores independentes. O

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que foi completamente escamoteado foi o facto de, segundo a Comissão, as 20 semanasrepresentarem um custo adicional de 2 mil milhões de euros por ano em França e de 2,85mil milhões de euros no Reino Unido. No caso da Alemanha, os custos adicionais foramcalculados em cerca de 1,7 mil milhões de euros. Às vezes convém pensar nos custos.

Recentemente, tivemos acesso a um estudo conjunto das comissões EMPL e FEMM quecontinha imensos erros. Algumas prestações como os subsídios de maternidade naAlemanha não foram incluídas. O quadro de referência do subsídio parental alemão estavaincorrecto. As estimativas de custos encomendadas por alguns Estados-Membros nãoforam devidamente consideradas. Não é possível prosseguir uma política responsávelnestes termos. A Alemanha é um caso exemplar: durante o período da licença parental,continuam a ser pagos dois terços do salário até um máximo de 14 meses. Por conseguinte,a licença de maternidade de 14 semanas prolonga-se por 170 semanas. A Alemanhatorna-se assim a campeã europeia da protecção dos lactentes e necessita, por isso, de umacláusula de isenção na Directiva em apreço.

Foi por essa razão que, conjuntamente com 50 dos meus colegas do Grupo do PartidoPopular Europeu (Democratas-Cristãos), propus uma alteração, que é apoiada pelosConservadores e Reformistas Europeus e por grande parte do Grupo da Aliança dosDemocratas e Liberais pela Europa. Queremos que os sistemas nacionais sejam devidamenteconsiderados. Esperamos que, na votação de quarta-feira, a maioria desta Câmara nosapoie, para que a razão possa prevalecer. Queremos que as mães tenham uma protecçãoadequada, mas se se for longe de mais, mormente por motivos ideológicos, tornar-se-á umenorme obstáculo à contratação de mulheres – o que devemos de eliminar, e não multiplicar.

Anna Hedh (S&D). – (SV) O presente relatório provocou reacções muito fortes em váriosEstados-Membros, e muitos políticos tentaram cavalgar a onda desancando esta iniciativada UE. As pessoas esquecem-se de que se trata de uma revisão de uma directiva já existente.Podem pensar o que quiserem sobre o que deve e o que não deve ser regulamentado a nívelda UE, mas, como disse, já há uma directiva, e nós podemos melhorá-la.

A questão da igualdade entre homens e mulheres ganhou maior relevância com a entradaem vigor do Tratado de Lisboa, e cabe-nos a nós promovê-la. Sabemos hoje que nosEstados-Membros cujas regras em matéria de licença de maternidade são eficientes há umaelevada percentagem de mulheres empregadas. Esta situação contrasta com a dos paísescom regras menos exigentes e funcionais.

Se a Directiva em apreço for aprovada, ser-nos-á mais fácil alcançar a meta definida naEstratégia “Europa 2020”. É certo que a proposta contém alguns pontos controversos, maso que importa é que podemos melhorá-la. Os críticos alegam que a proposta é demasiadoonerosa, mas estou convencida de que o reforço da igualdade é vantajoso para a sociedade.

Barbara Matera (PPE). – (IT) Senhora Presidente, Senhor Comissário, Senhoras e SenhoresDeputados, hoje, este Parlamento, que representa 27 Estados, decidiu, com coragem eobstinação, abordar uma vez mais uma questão delicada, mas de interesse actual para ocrescimento social dos nossos países. Estamos perante um relatório que afecta as políticassociais, de emprego e económicas dos nossos Estados, mas que diz igualmente respeito atoda a Europa no seu desejo de se desenvolver em uníssono.

O relatório Estrela, na sua forma debatida e alterada, segue convictamente o princípio deconciliação da vida privada e da vida profissional, assim como da igualdade deoportunidades, e consequentemente do progresso saudável e equilibrado. Garantir um

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limiar mínimo de protecção dos princípios referidos em toda a Europa significa melhorara qualidade de vida das nossas famílias, não apenas das nossas mulheres, e por conseguintea nossa qualidade de vida; é este aspecto que estamos a encarar com convicção e com oscompromissos adequados.

É necessário um equilíbrio nos fins, assim como nos meios escolhidos, e temos desalvaguardar a posição das mulheres no mercado de trabalho e as prerrogativas dos Estadosna execução das suas políticas. Jean Monnet ensinou-nos a evoluir através de pequenospassos. Comecemos então a dar esses pequenos passos, sem receio de que outros os sigam.

Vilija Blinkevičiūtė (S&D). – (LT) Actualmente, é de facto muito importante obter umamelhor conciliação da vida profissional e da vida familiar através da procura de crescimentoeconómico, de bem-estar e de competitividade no domínio da igualdade de género. Tendoem conta o declínio acentuado da taxa de natalidade em quase todos os Estados-Membros,temos de adoptar medidas para criar as melhores condições possíveis para as mães criaremfilhos e terem uma verdadeira oportunidade de regresso ao mercado de trabalho. Instoigualmente os Estados-Membros e os deputados ao Parlamento Europeu a encontraremoportunidades e a coordenarem o custo do subsídio de maternidade e do abono de família,a fim de garantir que as mulheres não se tornam uma mão-de-obra mais dispendiosa doque os homens. A partilha de responsabilidades familiares e a possibilidade de conceder odireito a duas semanas de licença de paternidade aos homens criariam maioresoportunidades de regresso ao mercado de trabalho e reforçariam as relações familiares.Assim, estou convicta de que um período alargado de licença de maternidade facilitariaainda a obtenção de melhores taxas de natalidade, particularmente tendo em conta que anossa sociedade está em rápido envelhecimento.

Anne Delvaux (PPE). – (FR) Senhora Presidente, a meu ver, a necessidade de prolongara licença familiar é evidente: o aumento do limiar mínimo da licença de maternidadeconstitui uma medida de progresso, uma vantagem, e não devemos ser totalmentedemagógicos ao comparar o impacto económico com uma vantagem qualitativa difícil dequantificar.

Contudo, o problema é constituído essencialmente por duas vertentes: a primeira é ocontexto económico, sem dúvida, mas não é razão suficiente para deixar milhões de famíliasem situação difícil nas próximas décadas; a segunda são os vazios legais do relatório, poiso texto contém vários tipos de licença familiar com bases jurídicas incompatíveis.Consideremos, nomeadamente, a licença de adopção que surge no texto a par das licençasde maternidade e de paternidade.

Pessoalmente valorizo, enquanto mãe adoptiva e em nome de todas as mulheres querepresento, a vontade de lhes conceder os mesmos direitos das mães biológicas. Sou, defacto, o que a senhora deputada Morin-Chartier designou como o pequeno pacote adicionala acrescentar ao relatório Estrela.

Apesar de o objectivo ser efectivamente melhorar a saúde e os direitos das mulheres – detodas as mulheres – no mercado de trabalho, as mães adoptivas, que são mães comoquaisquer outras, merecem os mesmos direitos e a mesma protecção no trabalho. Comoquaisquer outras, são mães por direito próprio, o que, além disso, se aplicaindependentemente de a criança adoptada ter ou não menos de 12 meses; temos de evitaro tipo de discriminação presente no texto.

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Quanto à adopção, lamento o facto de o texto ser tão pouco pormenorizado. Nem sequerinclui quaisquer conclusões da avaliação de impacto Ramboll. Nenhum destes aspectosfoi tratado da melhor forma, o que constitui claramente um ponto fraco. Não obstante,apesar desta reserva, apoiarei o relatório da senhora deputada Estrela porque,independentemente de considerações económicas, existem homens e mulheres que têmde assumir melhor as suas responsabilidades parentais numa sociedade que abdica cadavez mais da sua responsabilidade na educação dos seus jovens, e temos igualmente o deverde garantir que as pessoas não são obrigadas a escolher entre sacrificar os filhos peloemprego, ou o emprego pelos filhos.

Por fim, não somos deputados ao Conselho, mas sim ao Parlamento. Se enquantorepresentantes eleitos directamente não formos ambiciosos, digam-me então: quem o será?

Sylvie Guillaume (S&D). – (FR) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,muito se disse, especialmente nos últimos instantes. No entanto, os diversosdesenvolvimentos e controvérsias recentes em torno do relatório da senhora deputadaEstrela demonstram um aspecto: actualmente ainda é muito difícil abordar com serenidadea questão da igualdade de género e, em particular, do melhor equilíbrio entre a vidaprofissional e a vida familiar.

Este texto legislativo teve – perdoem-me a expressão – um período de gestação difícil,principalmente porque ainda é necessária uma mudança considerável de atitudes nestedomínio. As avaliações de impacto são sem dúvida necessárias para garantir umentendimento amplo das questões em causa. Contudo, têm de ser entendidas com clareza,e com prudência. Permitam-me que acrescente que as suas conclusões contraditóriasconstituem prova evidente deste facto.

Seria claramente disparatado não abordar a questão dos possíveis custos de certas alteraçõesapresentadas. No entanto, seria igualmente disparatado não considerar os benefíciossocioeconómicos de médio e de longo prazo no que respeita à saúde das mães e das crianças,ou no que respeita à igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho. Alémdisso, considero que o nosso debate merece mais do que certas caricaturas e certosestereótipos que ainda se ouvem actualmente.

PRESIDÊNCIA: SILVANA KOCH-MEHRINVice-Presidente

Regina Bastos (PPE). - A Europa está envelhecida e com baixíssimas taxas de natalidade.Estes factores representam enormes desafios para a União Europeia aos quais devemos darrespostas concretas. Esta constatação tem sido consensual durante este debate entre nós,apesar das diferentes visões que esta discussão tem estado a evidenciar.

Em Portugal, por exemplo, a taxa de natalidade não assegura a renovação das gerações erevela uma realidade que compromete o futuro. Esta situação ocorre no meu país comoocorre na maioria dos Estados-Membros da União Europeia. Estou segura de que políticasmais flexíveis no que respeita à licença de maternidade poderão ajudar a inverter estastendências. Devemos enviar às famílias uma mensagem consequente de apoio àmaternidade, com medidas concretas para uma melhor conciliação da vida profissional,privada e familiar. As mulheres devem ser protegidas para poderem optar por ter filhossem terem que deixar o mercado de trabalho. A realização deste desafio é essencial sequisermos atingir os objectivos económicos e sociais da Estratégia Europa 2020 e combatero envelhecimento demográfico.

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Em Portugal, por exemplo, a licença de maternidade é já remunerada a 100% durante 120dias, de forma a tentar contrariar a tal baixa de natalidade de que sofremos. Defendo assim,que o salário das mulheres deve ser assegurado durante a licença de maternidade nos moldesapresentados no relatório em discussão. Permitir que cada Estado-Membro, até 2020, crieas condições que garantam um objectivo de pagamento integral do salário durante a licençade maternidade, parece um procedimento sensato.

Finalmente saúdo a relatora Edite Estrela, pela sua persistência na defesa das medidas quevisam proteger as famílias, contribuindo em paralelo para contrariar o envelhecimento dapopulação.

Iratxe García Pérez (S&D). – (ES) Senhora Presidente, penso que todos estamos cientesda responsabilidade que o Parlamento tem de assumir actualmente na revisão da directivarelativa às condições de trabalho das mulheres; uma directiva que começámos a discutirna legislatura anterior e onde, devido a vários pontos de vista e dificuldades, não obtivemosprogressos.

É por isso que afirmo hoje que temos de assumir essa responsabilidade, no âmbito dosnossos diferentes pontos de vista, a fim de progredirmos na igualdade de direitos entrehomens e mulheres e de melhorar as condições de vida das mulheres no mercado detrabalho.

Esta directiva não se limita ao número de semanas da licença de maternidade, pois tenhoa certeza de que todos concordamos em que 14 semanas não são suficientes e de queprecisamos de prolongar a sua duração. No entanto, para além do número de semanas,trata-se de considerar que o despedimento de uma mulher que foi mãe é um despedimentosem justa causa, ou que a licença de paternidade é concedida em benefício da saúde de umamãe trabalhadora.

Não compreendo a razão para as pessoas dizerem que a licença de paternidade não beneficiaa saúde das mães trabalhadoras. É claro que beneficia. A possibilidade de a mãe e o paipartilharem o trabalho de cuidar dos filhos nos primeiros dias de vida é essencial efundamental para progredir em termos de igualdade entre homens e mulheres. Existempaíses como a Espanha que já instituíram uma licença de paternidade independente etransferível.

Temos de possibilitar que os homens assumam responsabilidades a par das mulheres paraprogredirmos no rumo que estamos a definir. Considero este aspecto importante.

Gostaria de agradecer à relatora, senhora deputada Estrela, pelo trabalho efectuado e pelaresponsabilidade do Parlamento de …

(A Presidente interrompe a oradora)

Godfrey Bloom (EFD). – (EN) Senhora Presidente, há cerca de cinco anos e meio, causeium certo furor por sugerir que qualquer pequeno empresário no seu juízo perfeito cometeriauma loucura se empregasse uma mulher em idade fértil.

Desde então, a situação piorou ainda mais, pois a tendência de favorecimento dosempregados em relação aos empregadores ficou completamente descontrolada. Um doscidadãos do meu círculo eleitoral de York escreveu-me no ano passado dizendo que oproblema não está na contratação de mulheres em idade fértil, mas que qualquer pequenoempresário que empregue seja quem for só pode estar louco.

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Estamos perante uma situação extraordinária, não é verdade? Temos mulheres jovensdesesperadas por um emprego, por trabalhar em empresas, especialmente em pequenasempresas – que são a força motriz da economia do Reino Unido – e temos empregadoresque estão demasiado aterrorizados para as contratar. Eis o nosso problema. Estamos atornar – aqui neste local em que os nossos deputados têm tão pouca experiência comercial– quase impossível às pequenas empresas contratarem mulheres jovens, apesar de odesejarem.

Costumava pensar que se tratava de um tipo de conspiração chinesa em que este Parlamentopraticamente impossibilitava o funcionamento das economias europeias, e que nosbastidores os chineses estavam a criar uma situação tão má que acabaríamos por ter deimportar tudo da China. Bem, apresento aqui outra teoria, nomeadamente que talvez asmulheres que, nas comissões parlamentares, na Comissão e neste Parlamento estão adificultar tanto a contratação de mulheres jovens pelas pequenas empresas tenham aintenção de aumentar as suas próprias possibilidades.

Suponho que quando o eleitorado, com razão, olhar para elas e as afastar daqui a uns anospela sua incompetência e estupidez, só conseguirão regressar ao mercado de trabalho porserem de meia-idade ou por estarem quase na terceira idade. Não terão concorrência. Éessa a minha teoria. Não concebo outra explicação sensata para este tipo de interferênciaridícula entre empregadores e empregados. Se a consideram uma teoria estranha, acreditemque, depois do que aqui se diz a respeito das alterações climáticas, nada é demasiadoestúpido para este Parlamento.

Salvatore Iacolino (PPE). – (IT) Senhora Presidente, não há dúvida de que o acto de trazera debate este projecto de legislação ao Parlamento após 18 meses de trabalho intensodeveria ser louvado. É claro que um projecto desta natureza se caracteriza por sensibilidadesdiversas, dado que as leis correspondentes nos Estados-Membros são profundamentediferentes. De qualquer forma, o âmbito inovador da medida é um resultado que deveriaser valorizado, assim como a afirmação do princípio da centralidade da família e a garantiade um maior nível de protecção social para as mulheres, incluindo mulheres em situaçãoespecial, como as puérperas.

Deve igualmente ser garantida a coerência na protecção das mulheres que deram à luz – eafirmo-o apesar de considerar que o âmbito regulatório desta medida é mais amplo do quese previa originalmente – na medida em que deveria ser salientado que na Europa, e emmuitos Estados-Membros, ainda existe uma diferença considerável entre a protecçãoconcedida ao parto e aos nascituros.

Esta actividade tem de ser conciliada claramente com a necessidade de eliminar os abusosdos empregadores e não necessita de se limitar ao âmbito das alterações – algumas dasquais, na minha opinião, tornam esta legislação demasiado inflexível na globalidade –começando com a licença de paternidade, que parece rebuscada tendo em conta que setrata de uma medida criada fundamentalmente para a protecção das mulheres.

Não há dúvida quanto à necessidade de poderar devidamente o problema das trabalhadorasimigrantes e das trabalhadoras domésticas, que constituem outro elemento desta questão– o projecto de legislação sobre trabalhadoras precárias – num mercado flexível e adaptável,onde as mulheres, especialmente agora, têm de ser vistas como um recurso ao serviço dacomunidade.

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Nicole Sinclaire (NI). – (EN) Senhora Presidente, os empregadores do Reino Unido e oGoverno do Reino Unido estão a instar os deputados britânicos ao Parlamento Europeu avotarem contra as propostas de prolongamento do período de licença de maternidadeintegralmente remunerado de 14 para 20 semanas – apesar de eu considerar que se tratade pura hipocrisia por parte dos Conservadores que, em comissão, apresentaram umaalteração que solicitava 24 semanas remuneradas. De facto, a hipocrisia não parece terlimites.

A Federação de Pequenas Empresas do Reino Unido referiu que estes planos não sãosuportáveis e que custariam 2,5 mil milhões de libras por ano às empresas britânicas. Atéo governo de coligação do Reino Unido, que inclui o Partido Liberal Democrata, se opõea estas alterações. As alterações propostas irão custar até 2 mil milhões de libras ao ReinoUnido, num momento em que os trabalhadores dos sectores público e privado estão a serdespedidos para poupar montantes muito inferiores.

Estas alterações podem igualmente ser contraproducentes, uma vez que, segundo o Governobritânico, serão os trabalhadores melhor remunerados quem mais beneficiará e ostrabalhadores com salários mais baixos quem menos beneficiará. Estas alterações, por maisbem-intencionadas que sejam, na realidade terão o efeito de atrasar o processo de obtençãode igualdade para as mães trabalhadoras. Além disso, estas alterações encorajarão osempregadores a preferirem os candidatos masculinos aos femininos.

Senhora Presidente, existem outras formas de reforçar os direitos das trabalhadoras lactantes,como sistemas de licença mais flexíveis. Temos também de respeitar as várias diferençassociais e culturais dos diversos Estados-Membros. Não podemos limitar-nos a aplicar umasolução uniforme a todos. As famílias trabalhadoras dependem muito da criação de umalegislação adequada para viverem, trabalharem e criarem filhos no mundo real, e não numaEuro Disney utópica.

Estas alterações estão a ser propostas no momento errado e beneficiam as pessoas erradas.Numa altura em que os governos de toda a UE procuram reduzir a despesa pública, ossenhores tencionam aumentar os custos do emprego, que afectarão um sector onde asmulheres estão representadas desproporcionalmente e, por isso, mais expostas àpossibilidade de reduções de postos de trabalho. O Reino Unido já possui os melhores,mais justos e mais generosos padrões de licenças de maternidade e de paternidade. As mãesdo Reino Unido, actualmente, têm direito a seis semanas com 90% do salário, seguidas de33 semanas de licença de maternidade remuneradas com um valor fixo de 125 libras porsemana.

Votarei em prol dos interesses dos cidadãos britânicos. Seguirei o conselho do Governode Sua Majestade e votarei contra as alterações do subsídio de maternidade.

Ria Oomen-Ruijten (PPE). – (NL) Senhora Presidente, depois de ouvir tudo o que aquifoi dito nesta sessão plenária, estou convicta de que a igualdade de tratamento entre homense mulheres – que, de facto, exigiu muita coragem e esforço, assim como quantias avultadas– não foi atingida. Dirijo-me não só a vários colegas do meu próprio grupo – que, acrescento,abandonaram a sala – mas também a outros. É este o meu primeiro comentário.

A minha segunda observação refere-se ao envelhecimento e à estrutura etária pesadíssimada nossa sociedade. Trata-se de uma questão extremamente importante no que diz respeitoà Europa e, como tal, é fundamental facilitar a parentalidade. Destaco nomeadamente a

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óptima entrevista da Ministra das Finanças francesa, senhora Lagarde, sobre a posição dasmulheres no local de trabalho. De facto, espero que sejamos fiéis a estes princípios.

O meu terceiro comentário é que a igualdade de tratamento constitui um compromissopara uma Europa social. Afirmámos que, nesta Europa social, os homens e as mulherestêm de beneficiar de uma igualdade de oportunidades no mercado de trabalho e têm aindade poder ter filhos. Actualmente, estamos todos a visar 18 semanas, e neste momentochegámos mais ou menos a acordo em relação a estas 18 semanas, mas ainda não sabemoscomo as iremos financiar.

Não tenho quaisquer objecções ao compromisso apresentado pelo meu próprio grupo deestabelecer um máximo de 75% para essas quatro semanas. Mas oponho-me ao facto deo compromisso em questão também incluir uma ligação às despesas de saúde. É aí quereside a minha maior objecção, pois cria a oportunidade de países como o Reino Unido ea Irlanda – em França esses custos são fortemente subsidiados – evitarem os 75% que têmde continuar a ser pagos. Por conseguinte, pergunto-me se poderíamos talvez rejeitar essaparte do compromisso. Isso significaria que poderíamos apresentar aqui uma posiçãoconsolidada com fortes probabilidades de obter uma maioria no Conselho.

Pascale Gruny (PPE). – (FR) Senhora Presidente, Senhor Comissário, Senhoras e SenhoresDeputados, necessitamos de legislação europeia que proteja a saúde das mulheres grávidase das mulheres puérperas ou lactantes, e temos de dar resposta ao problema demográficocom que nos deparamos, assim como de fomentar e aumentar as taxas de natalidade naEuropa. No entanto, este progresso não pode servir de desincentivo à contratação demulheres.

Gostaria de salientar três aspectos. Em primeiro lugar, saúdo a proposta da ComissãoEuropeia sobre a segurança e a saúde das trabalhadoras grávidas, puérperas ou lactantesno trabalho. De facto, gostaria de destacar o título, que é o quadro jurídico desta directiva,pois existe uma tendência exagerada para esquecermos o sentido exacto deste texto.Referimo-nos aqui a mulheres porque, até prova em contrário, os homens não podem darà luz.

O debate tende a dispersar-se em resultado da referência à licença de paternidade ou parental.Vamos resolver primeiro o problema das mulheres, ao concentrarmo-nos na sua saúdequando dão à luz. Temos de criar garantias efectivas para proteger a saúde destas mulheresno mercado de trabalho. As licenças de paternidade e parentais serão tratadas noutradirectiva.

Em segundo lugar, o debate centra-se no número de semanas. Actualmente, o períodomédio de licença situa-se em 14 semanas. A Comissão Europeia está a propor 18 semanase o relatório 20. Obviamente, enquanto mulher e mãe de três filhos, quero que as mãespossam ficar o máximo de tempo possível com os seus bebés. Contudo, coloca-se entãoa seguinte questão: quem é que vai pagar este aumento de 14 para 20 semanas? O Estado?As empresas?

Estou convicta de que o aumento médio de 14 para 18 semanas constitui um grandeprogresso europeu e um verdadeiro investimento da nossa economia no sentido dapromoção de um crescimento das taxas de natalidade na Europa. É provável que as vintesemanas tenham um impacto negativo no emprego feminino: conduzirão a umabrandamento na sua contratação. As empresas e os nossos Estados não podem suportareste enorme encargo financeiro adicional num momento de crise.

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Em terceiro lugar, temos de dar maior prioridade à melhoria das estruturas de acolhimentode crianças para que as mães possam atingir um equilíbrio entre a vida profissional e a vidafamiliar. Foram obtidos poucos progressos neste domínio, apesar de muitos apelos porparte do nosso Parlamento. Assim, não sejamos contraproducentes e não enviemos asmulheres novamente para casa.

Elena Băsescu (PPE). – (RO) Gostaria de aproveitar esta oportunidade para transmitir asminhas condolências à família de Maricica Hăhăianu. Esta enfermeira romena de 32 anostinha ido para Itália em busca de um emprego melhor. Perdeu a vida na semana passadadepois de ter sido atacada por um jovem italiano numa estação de metro de Roma.

Considero que as condições precárias de emprego têm de se tornar uma preocupação paraa Europa. As mulheres estão concentradas em empregos de baixa remuneração erepresentam a grande maioria dos trabalhadores a tempo parcial da União Europeia. Noentanto, existem alguns casos em que o impacto da crise sobre as mulheres que participamno mercado de trabalho foi limitado. Na Roménia, nomeadamente, a proporção de mulheresque conseguiram emprego continuou a aumentar durante 2009.

Tenho de destacar a situação difícil das mulheres que trabalham no estrangeiro. Muitasvezes exercem a sua actividade ilegalmente e não usufruem de quaisquer direitos. …

(A Presidente interrompe a oradora)

Rovana Plumb (S&D). – (RO) Tenho de me referir novamente à directiva relativa àlicença de maternidade. Ouvi muito atentamente este debate e gostaria de afirmar quequem está contra esta proposta, e refiro-me ao prolongamento da licença de maternidadee à remuneração integral, só pode recorrer a um argumento – o económico. Contudo, esteúltimo é simplista porque, para além do défice, estamos a lidar com pessoas. Não estãocientes de que o relatório resultará em maiores benefícios, tanto para os empregados comopara os empregadores. Refiro-me de facto também aos empregadores, no sentido de uminvestimento no futuro.

Além disso, esses opositores não percebem que, na realidade, a penalização da maternidadee do seu conceito num momento em que a taxa de natalidade está em declínio, para nãofalar do envelhecimento e do empobrecimento da população, tem um impacto nasustentabilidade dos sistemas de segurança social.

Frédérique Ries (ALDE). – (FR) Senhora Presidente, também ouvi atentamente tudo oque foi dito até agora e noto que, como sucede muitas vezes, podemos pecar por excesso.Os argumentos que estão a ser apresentados para justificar esta superlicença de maternidade– 20 semanas, das quais seis têm de ser gozadas antes do parto e duas após, remuneradasintegralmente – não são convincentes. Claramente não é com uma medida isolada destetipo que a Europa vai responder aos desafios complexos da demografia e do empregofeminino.

Será que alguém pensa seriamente que as pessoas decidem ter um filho, um bebé, para tirarpartido de cinco meses de licença em vez de quatro meses e meio? Por outro lado, nãocreio que negar a liberdade de escolha às mulheres melhore a sua situação. Além disso,não esqueçamos os efeitos, os danos colaterais das decisões que tomamos. Proteger asmulheres significa essencialmente não abusar nas nossas exigências e, assim, não abrircaminho a novas formas de discriminação na contratação inicial e no regresso ao trabalho,como confirmam, por exemplo, os peritos da OCDE e da União das Classes Médias.

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Sou, por isso, a favor da licença de 18 semanas, do princípio da licença de paternidade e,é claro, do progresso dos Estados-Membros neste domínio.

Franziska Katharina Brantner (Verts/ALE). – (DE) Senhora Presidente, gostaria apenasde abordar uma questão breve quanto ao reconhecimento dos períodos de licença parentalem cada país. O senhor deputado Mann e os seus colegas também apresentaram alteraçõesa este respeito, incluindo a alteração 115, com uma primeira parte dedicada, na realidade,ao debate da possível contagem das quatro semanas.

Infelizmente, está associada na segunda parte da alteração – que passo a ler para sertotalmente clara – ao facto de a remuneração poder ser a média da remuneração para as18 semanas da licença de maternidade, a qual será pelo menos 75% do último saláriomensal ou do salário mensal médio tal como estipulado de acordo com o direito nacional,e condicionada a um limite estabelecido nos termos da legislação nacional. Na realidade,esta parte da alteração significa que estamos a desistir de uma harmonização europeia noque se refere ao financiamento neste domínio e de quanto as mulheres recebem duranteeste período. Não é aceitável. Teria muita pena se esta alteração fosse aprovada na totalidadeporque, em última análise, não estamos a desistir da harmonização a nível europeu, maspretendemos redobrá-la para criar uma melhoria para todos os homens e mulheres.

Cornelia Ernst (GUE/NGL). – (DE) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,deveríamos perguntar-nos o que de facto pretendemos obter com todo este debate. Estamosa tentar gerar uma pequena melhoria na igualdade e um pequeno apoio para as famíliasda forma menos dispendiosa possível? É claro que compatibilizar a vida familiar com oemprego custa dinheiro. Limito-me a perguntar aos colegas deputados da Alemanha: oque representa um gasto de mil milhões de euros na Alemanha quando, simultaneamente,estamos a conceder 450 mil milhões de euros em garantias bancárias? O que pretendemosna realidade neste domínio? A remuneração integral da licença parental é muito correcta.Como poderia ser de outro modo? Não é tempo livre, não são férias; trata-se de trabalhoque as pessoas estão a realizar.

É claro que queremos o alargamento deste período para 20 semanas, pois acreditamos quese trata da única forma de contemplar este trabalho.

Além disso, não pretendemos apenas gerar um pouco mais de igualdade na vida profissional.Queremos igualdade total, para mulheres e homens. Precisamos de tomar medidas drásticasse a tencionamos obter, nomeadamente por meio de um salário mínimo estabelecido porlei em todos os Estados-Membros.

Angelika Werthmann (NI). – (DE) Senhora Presidente, a questão da protecção àmaternidade devia continuar a competir aos Estados-Membros devido às diferenças culturaisna Europa. A Áustria tem 16 semanas de protecção à maternidade. O seu prolongamentocustaria, por cada semana adicional, 17,4 milhões de euros por ano. Tornar as 20 semanasobrigatórias custaria mais de 60 milhões de euros à Áustria. Os custos adicionais seriamainda superiores se cada pai dispusesse igualmente de duas semanas de licença depaternidade remunerada.

Sejamos claros nas nossas deliberações: em primeiro lugar, trata-se de uma decisãototalmente pessoal por parte dos pais e, em segundo lugar, considero que esta medidaconstitui um risco de maior discriminação contra as mulheres em idade fértil. Isso poderialevar a um aumento das condições precárias de trabalho, a que 31,5% das mulheres em

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situação de emprego remunerado já se encontram sujeitas. Põe-se a questão: é mesmo issoque queremos?

Seán Kelly (PPE). – (GA) Senhora Presidente, realizámos aqui um excelente debate estanoite e, em geral, foram apresentados muitos bons argumentos neste Parlamento. Eramargumentos idealistas, mas a senhora deputada Estrela merece ser louvada por os apresentar.No entanto, temos igualmente de ser práticos e realistas. Tenho as minhas dúvidas. Seaprovarmos todas estas sugestões, é possível que as mulheres jovens, em especial, nãoconsigam encontrar emprego. Estou a considerar esta questão enquanto pai. Tenho duasfilhas e quero que tenham as mesmas hipóteses de conseguir emprego que os rapazes. Éisso o mais importante! Na Irlanda, estamos numa situação difícil em matéria de finanças.20% dos jovens estão desempregados. Estão a ser encerradas por dia quatro pequenas emédias empresas e estamos perante o nosso pior orçamento de sempre. Assim, apesar deconter muitas sugestões positivas, estas talvez se adeqúem mais a um momento futuro.Não creio que sejam praticáveis actualmente.

Marita Ulvskog (S&D). – (SV) Foi um debate muito interessante. Penso que demonstraque existe uma possibilidade de chegarmos a um compromisso para podermos tomar umadecisão neste domínio.

Considero que seria muito positivo se conseguíssemos obtê-lo e, naturalmente, é necessárioque avancemos com o pressuposto de que temos sistemas diferentes. Ocorreram diferentesníveis de progresso nos vários Estados-Membros.

Venho da Suécia, onde a licença parental é superior a um ano, com um nível elevado deremuneração e onde o pai é obrigado a usufruir de parte da licença parental.

Não considero que seja possível atingir algo de tão positivo para os homens, mulheres ecrianças, assim como para o nível de participação das mulheres no mercado de trabalho,a nível da UE. Contudo, temos de obter uma directiva mínima que nos permita chegar aacordo.

Elżbieta Katarzyna Łukacijewska (PPE). – (PL) Centrando-me na questão da actividadeprofissional das mulheres, gostaria de considerar dois grupos etários: o primeiro grupo,que já foi muito discutido hoje, é o das mulheres jovens altamente qualificadas que nãoconseguem encontrar emprego devido ao facto de os empregadores recearemfrequentemente os custos associados à gravidez e à licença de maternidade.

O segundo grupo é o das mulheres com mais de 50 anos, que são consideradas menosprodutivas e menos criativas. Segundo as estatísticas, as mulheres com idadescompreendidas entre 59 e os 60 anos representam apenas 25% dos empregados nestafaixa etária. A percentagem de mulheres com mais de 60 anos que ainda trabalham é aindainferior. É por isso que, quando discutimos a precariedade das mulheres trabalhadoras,devíamos considerar ambos os grupos e fazer tudo ao nosso alcance para auxiliar asmulheres a encontrar o seu primeiro emprego, a regressar ao trabalho depois da licençade maternidade e a melhorar as suas qualificações.

(A Presidente interrompe a oradora)

Izaskun Bilbao Barandica (ALDE). – (ES) Senhora Presidente, os objectivos destainiciativa são a melhoria da saúde e da segurança das trabalhadoras grávidas ou puérperase a aplicação de medidas destinadas a equilibrar a vida familiar e a vida profissional.

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As mulheres europeias estão hoje de olhos postos no Parlamento Europeu e esperam queaprovemos as medidas modernas exigidas pelo século XXI. Necessitamos, por conseguinte,de discutir a possibilidade da licença de 20 semanas, remunerada na integralidade do salárioda mãe – incluindo as trabalhadoras independentes – e a possibilidade de os pais teremuma licença após o nascimento, estabelecendo uma igualdade entre homens e mulheresno usufruto dessa licença. Esta questão não diz apenas respeito a mulheres.

A discussão do custo da licença de maternidade não é apenas mais um castigo para asmulheres; demonstra uma falta de responsabilidade, tendo em conta a crise da taxa denatalidade e o envelhecimento da população na Europa neste momento, que contribuitambém para o desenvolvimento da crise económica.

Já vos ocorreu perguntar, por exemplo, qual é o custo do absentismo na Europa? Não ouviuma única palavra a este respeito. Temos a oportunidade de progredir na igualdade entrehomens e mulheres, não desapontemos os cidadãos da Europa.

Maroš Šefčovič, Vice-Presidente da Comissão. – (EN) Senhora Presidente, gostaria deagradecer a todos os senhores deputados por participarem neste debate importante,estimulante e, a meu ver, apaixonante.

Apesar de abordarmos estas questões a partir de perspectivas diferentes, a maioria estaráde acordo no que respeita a vários aspectos. A licença de maternidade não deveria serpenalizada; temos de trabalhar afincadamente para obter uma igualdade de remunerações;e temos de estudar muito cuidadosamente as consequências económicas das decisões queaqui tomarmos.

Vários senhores deputados referiram-se à questão da licença de paternidade ou parental.Gostaria apenas de lembrar-lhes que a recém-aprovada directiva relativa à licença parentalconcede aos pais um mínimo de oito meses por filho. Pela primeira vez, temos um estímulojurídico para que os pais a nível da UE usufruam da licença.

Se o pai não assumir a sua responsabilidade, perder-se-á um mês de licença. Esta directivaentrará em vigor brevemente e continuaremos a trabalhar com base neste progresso eanalisaremos com atenção novas propostas sobre a licença de paternidade.

Como referi nos meus comentários iniciais, estamos actualmente a estudar a situação eapresentaremos em breve os nossos resultados.

Permitam-me que sublinhe o estímulo para que os pais participem na parentalidade comum comentário pessoal. Tive a sorte de estar presente no nascimento de dois dos meustrês filhos. É claro que, durante o período que passei no hospital, o máximo que pude fazerfoi pôr um ar corajoso e fingir que não estava preocupado nem assustado e tentar dar omaior apoio moral possível à minha mulher. Por vezes, no entanto, foi a minha mulher eas amáveis enfermeiras que tomaram conta de mim, para que eu pudesse dar esse apoiomoral! Nunca esquecerei os momentos muito importantes após o parto e os primeirosdias em que pude ajudar a minha mulher com o recém-nascido.

É evidente que não são apenas as mães que necessitam de estabelecer laços com orecém-nascido. Os pais têm a mesma necessidade e temos de os encorajar, de alterar opadrão paternal e de criar condições para que os pais possam estabelecer laços com os seusrecém-nascidos.

Quanto aos relatórios que discutimos hoje, e no que respeita ao relatório da senhoradeputada Thomsen sobre trabalho precário, ouvi atentamente tudo o que foi dito. Posso

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garantir-vos que a Comissão apoiará medidas para melhorar as condições de trabalho dastrabalhadoras precárias através da supervisão das políticas de emprego nacionais e, emparticular, dos Fundos Estruturais.

No que respeita ao trabalho exaustivo da senhora deputada Estrela sobre a proposta daComissão de uma directiva relativa a uma licença de maternidade reforçada, estamos defacto a tentar obter um equilíbrio muito difícil. Necessitamos de garantir os direitosfundamentais das trabalhadoras, mas não devemos dar um pretexto aos Estados-Membrospara interromperem estas negociações tão importantes. É preciso estudarmos os modelosque nos proporcionam uma elevada taxa de emprego e, simultaneamente, taxas de fertilidadeelevadas.

Nesta senda, a Comissão saúda as alterações que se destinam à manutenção do mínimo de18 semanas de licença, estabelecem um nível alternativo de remuneração, mantêm areferência à baixa por doença e permitem que outros tipos de licença sejam contabilizadoscomo licença de maternidade.

Tudo isto com a condição de não fomentar um enfraquecimento da protecção existente.Os retrocessos neste domínio não podem constituir uma opção para a União Europeia.

Tenho fortes esperanças de que o Parlamento e o Conselho consigam chegar a acordo. Aposição da Comissão tem como objectivo conciliar as posições das duas instituições e criaruma base sólida para uma discussão futura.

A melhoria das condições das mulheres na Europa tem de ser o nosso derradeiro objectivo.As mulheres contribuem enormemente para a sociedade e a sociedade tem de encontraruma forma de as recompensar.

Miroslav Mikolášik (PPE). – (EN) Senhora Presidente, receio que tenha sido dada apalavra a muitos colegas deputados que chegaram sem dúvida depois de mim e deste meucolega. Pedimos a palavra logo quando o Presidente Buzek deu início a este ponto, peloque protesto pela sua injustiça na gestão das intervenções no procedimento “catch the eye”.

Presidente. – Agradeço muito o seu pedido de intervenção. Como já referi, havia maispedidos de intervenção do que seria possível incluir. Tínhamos 19 pessoas a querer intervirnum período de apenas cinco minutos. Por conseguinte, tentei dar uma hipótese deintervenção às pessoas que constam das listas que tenho em meu poder.

É evidente que os seus comentários serão exarados em acta. Tentaremos ser muito rígidosnos debates seguintes para que todo o procedimento seja o mais justo possível.

Edite Estrela, relatora . − Senhora Presidente, Senhor Comissário, quero agradecer-lhe asensibilidade que revelou na sua intervenção inicial e na sua intervenção final, agradecer-lheo seu testemunho pessoal. Acho que é muito importante, associado aos testemunhos deoutros homens, de deputados que também intervieram neste debate, que vão certamentecontribuir para alterar determinados preconceitos, para mudar os estereótipos que aindaexistem na nossa sociedade.

Por isso é que é importante que nós, também nesta directiva, aproveitando a dupla basejurídica que também visa promover a igualdade de género e a conciliação entre a vidafamiliar e a vida pessoal, introduzamos a licença de paternidade, porque um dos estereótiposque existe na sociedade é que a mulher é associada à função reprodutiva e o homem éassociado à função produtiva. Ora, tanto as mulheres como os homens são pais, são mães,são trabalhadores e, portanto, têm direito à realização profissional e têm também direito

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a acompanhar as crianças desde o seu nascimento. Já não está cá uma deputada do ReinoUnido que interveio, gostaria de lhe perguntar se David Cameron é mais do que os outroscidadãos europeus, que também gostariam de usar a licença de paternidade e que sãodiscriminados em, pelo menos, oito Estados-Membros.

Nós estamos num processo ainda de primeira leitura e, portanto, vamos ter oportunidadede melhorar, em conjunto com a Comissão e com o Conselho, estas propostas e tambémgostaria de agradecer aos colegas esta participação, este consenso muito generalizado queme parece muito importante.

Vivemos de facto tempos difíceis, mas é nestas alturas que as sociedades mais precisam dedecisores audazes, porque, como lembrou há milhares de anos o poeta romano Horácio,"Quem tem medo das tempestades acaba a rastejar".

Britta Thomsen, relatora. – (DA) Senhora Presidente, gostaria de agradecer aos meuscolegas deputados pelos seus comentários ao meu relatório sobre as trabalhadoras precáriase à Comissão pela sua disponibilidade em adoptar iniciativas que melhorem esta situação.

Como salientaram muitos deputados, as mulheres constituem a grande maioria dostrabalhadores com más condições de trabalho e salários baixos. Isso não significa apenasque as mulheres na Europa ganham menos do que os homens, mas também que as mulheresrecebem pensões inferiores às dos homens, e veremos muito mais mulheres pobres naEuropa do futuro, pois o casamento já não constitui uma segurança financeira automáticana velhice.

O grupo mais vulnerável no mercado de trabalho europeu é o das imigrantes. Neste grupo,existe um elevado nível de exploração, particularmente entre os 11 milhões de mulheresque efectuam trabalho doméstico. Este grupo inclui ainda trabalhadoras “au pair”. “Au pair”significa “em igualdade”, mas muitas das mulheres que vêm das Filipinas e das repúblicasda antiga União Soviética para trabalharem como “au pairs” não procuram um intercâmbiocultural. Vêm para ganhar dinheiro, e esta situação é explorada em muitos locais da Europacomo forma de obter mão-de-obra barata. Gostaria de instar a Comissão a investigar estasituação. Não deveríamos permitir que este tipo de exploração seja legal na Europa. Porisso, temos de ser mais rigorosos no que diz respeito ao regime “au pair”.

As diferenças salariais entre homens e mulheres começam, segundo as próprias estatísticassalariais da Comissão, quando se tem filhos. Se queremos obter uma igualdade total entrehomens e mulheres no mercado de trabalho, as mulheres têm de ser remuneradasintegralmente durante a licença de maternidade e os homens têm de participar nos cuidadosaos filhos, usufruindo para tal da licença de paternidade.

Presidente. – Está encerrado o debate.

A votação do relatório Estrela terá lugar na quarta-feira, 20 de Outubro.

A votação do relatório Thomsen terá lugar na terça-feira, 19 de Outubro.

Declarações escritas (Artigo 149.º)

Sergio Berlato (PPE), por escrito. – (IT) A igualdade entre homens e mulheres representaum dos princípios fundamentais da União Europeia. Já foi enunciada no Tratado deMaastricht em 1992, alguns anos depois, no Tratado de Amesterdão (1997) e na actualestratégia da UE para 2010-2015. A agenda social da União Europeia inclui, nas suasprioridades, a necessidade de promover políticas destinadas ao apoio da conciliação da

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vida profissional e da vida familiar das mulheres. Neste contexto, na minha opinião, amaternidade é um direito absolutamente fundamental para efeitos de estabilidade social.

A União Europeia enfrenta actualmente um problema demográfico resultante das baixastaxas de natalidade e do aumento constante da proporção de idosos. Considero que amelhoria das disposições destinadas à promoção do equilíbrio entre a vida profissional ea vida familiar das mulheres faz parte da resposta a este declínio demográfico. Reconheçoa importância da criação de uma maior protecção contra o despedimento durante o períodoentre o início da gravidez e os meses imediatamente após a licença de maternidade.

Por conseguinte, apoio as alterações introduzidas com este objectivo, incluindo, emparticular, o direito de a mulher regressar ao seu emprego ou de lhe ser atribuído um cargoequivalente.

Zuzana Brzobohatá (S&D), por escrito. – (CS) O principal objectivo do relatório é amelhoria da segurança e da saúde das trabalhadoras grávidas, puérperas ou lactantes notrabalho. Pessoalmente, considero que a proposta mais importante é o prolongamento daduração mínima da licença de maternidade de 14 semanas para 20 semanas, que contribuirápara uma melhoria da saúde e do estado psicológico da mãe, pois poderá assim dedicar-seplenamente ao seu filho. O prolongamento da duração mínima da licença de maternidadefomentará também o aleitamento materno, que tem um claro impacto positivo na saúdeda criança e da mãe. Na minha opinião, é igualmente importante a actual proposta de quea remuneração da licença de maternidade seja o valor integral do salário da trabalhadora– isto é, o salário médio mensal – ou pelo menos 85%. Estas medidas são suficientes paragarantir que as famílias, especialmente as famílias monoparentais, estejam protegidas dodeclínio para níveis abaixo do limiar de pobreza e da exclusão social. Parte do relatóriodedica-se ao estatuto tradicional das mulheres. As mulheres, ao contrário dos homens,ainda são as principais responsáveis pelos cuidados prestados à criança e a outrosdependentes, e muitas vezes são forçadas a escolher entre a maternidade e a progressãoprofissional. É, por conseguinte, particularmente importante que as novas formas de licençaparental não reflictam nem reforcem os estereótipos sociais existentes. A proposta só afectaa República Checa no que diz respeito ao valor da remuneração da licença de maternidade,e não quanto à sua duração.

Corina Creţu (S&D), por escrito. – (RO) As mulheres são as vítimas preferidas da recessãodevido a despedimentos que afectam principalmente empregos precários. Quem é maisafectado pelos despedimentos, reduções de salário e abusos por parte dos empregadoressão as mulheres que exercem trabalho doméstico remunerado, que prestam cuidados eque possuem contratos temporários. O trabalho doméstico representa quase um décimodo valor total de empregos nos países desenvolvidos, o que representa um grupo numerosode cidadãos, especialmente mulheres, em situação vulnerável. Esta situação encoraja umtratamento abusivo por parte dos empregadores, especialmente quando os trabalhadoressão imigrantes de Estados-Membros mais recentes da União Europeia, como a Roménia,ou de países terceiros.

Considero que a eliminação de restrições de emprego para cidadãos romenos e búlgarostem de ser a primeira medida para pôr termo a um comportamento discriminatório, queainda lhes impõe um estatuto inferior e precário na maioria dos Estados-Membros maisantigos. O exemplo trágico da enfermeira romena que foi morta recentemente numaestação de metropolitano italiana, sob o olhar indiferente dos transeuntes, tem de servirde aviso contra os perigos da discriminação colectiva e da estigmatização, que podem ter,

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como neste caso, consequências imprevisíveis e extremamente graves. Gostaria igualmentede exortar a que o período mínimo de licença de maternidade seja prolongado para 20semanas, a fim de que as mulheres possam ter o tempo de que necessitam para cuidardevidamente dos filhos.

Proinsias De Rossa (S&D), por escrito. – (EN) Apoio este relatório que procura prolongaras licenças de maternidade na UE até 20 semanas com remuneração integral e introduzirduas semanas de licença de paternidade remunerada. É essencial que os governos apoiemas recomendações do PE no Conselho Assuntos Sociais de 2 de Dezembro. Uma oposiçãoa esta medida terá o efeito de excluir muitas mulheres do mercado de trabalho, perdendo-seassim um recurso valioso. Em vez de penalizar as mulheres por terem filhos, a UE tem deas apoiar e de as auxiliar a obter um melhor equilíbrio entre a vida profissional e a vidafamiliar. Melhores licenças de maternidade são um investimento na futura qualidade dasaúde da nossa sociedade. As primeiras semanas de vida dos recém-nascidos são essenciaispara o desenvolvimento da confiança, das capacidades sensoriais e cognitivas, e dos laçoscom ambos os pais. Também foi demonstrado por estudos que medidas sociais como alicença de maternidade contribuem para o aumento da taxa de emprego feminino em 3 a4%. A melhoria da licença de maternidade e a criação da licença de paternidade remuneradaconstitui um investimento sensato. A avaliação de impacto desta medida demonstrou queum simples aumento de mais de 1% na participação feminina no mercado de trabalhocobriria os custos de 20 semanas de licença de maternidade remunerada e de duas semanasde licença de paternidade remunerada.

Jim Higgins (PPE), por escrito. – (EN) Nos últimos 50 anos, as mulheres europeias fizeramenormes progressos no sentido da igualdade de género. Entre os objectivos mais importantesatingidos está a entrada das mulheres no mercado de trabalho. Contudo, a excessivarepresentação das mulheres em empregos “atípicos” é extremamente preocupante e gostariade repetir as exortações do relatório à Comissão para encorajar os Estados-Membros a“proceder a um intercâmbio de boas práticas e a utilizar plenamente as oportunidades deco-financiamento oferecidas pelos Fundos Estruturais... para garantir um maior acesso aestruturas de acolhimento de crianças e idosos de qualidade e a preços módicos, para queas mulheres não sejam forçadas a assumir estas tarefas a título informal”. Além disso,“realça... a necessidade de assegurar que os empregos precários na área dos cuidadosdomésticos sejam transformados, na medida do possível, em empregos dignos e a longoprazo”. Já há muito tempo que o trabalho precário é motivo de preocupação; no entanto,a actual crise económica e financeira tornou a questão do trabalho precário, especialmentea questão das mulheres em empregos precários, muito urgente, e insto a Comissão a tomarmedidas para proteger as mulheres em situação vulnerável empregadas em circunstânciasprecárias.

Anneli Jäätteenmäki (ALDE), por escrito. – (FI) Os discursos introdutórios destacamgrandemente a necessidade de promover o estatuto das famílias. A promoção da igualdadeé uma prioridade das estratégias de emprego. É altura de tomar medidas no que diz respeitoàs famílias. As famílias requerem acções concretas e uma melhor coordenação da vidaprofissional e da vida familiar. As taxas de emprego e de natalidade entre as mulheres sãosuperiores nos países onde bons sistemas de licenças familiares e de serviços de cuidadosa crianças aliviam o peso que resulta de ter filhos. Os bons exemplos incluem a Suécia, aDinamarca, a Islândia e a Finlândia. Assim, é possível conjugar a participação das mulheresno mercado de trabalho com taxas de natalidade elevadas, o que deveria ser apoiado pelaUE. Apoio a proposta da Comissão dos Direitos da Mulher e da Igualdade dos Géneros de

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uma licença de maternidade de 20 semanas remunerada integralmente. As mulheres e asfamílias não deveriam ser penalizadas por terem filhos. Para além de instar à remuneraçãointegral, a proposta de directiva sugere ainda que a licença de maternidade conte para otempo de serviço aquando do cálculo de pensões. Esta questão faz parte da exortação daUE à igualdade de remunerações. Se a directiva for aprovada, diminuirá o fosso salarialentre mulheres e homens. Esta directiva melhorará também o estatuto dos nascimentosmúltiplos e das famílias adoptivas, assim como das famílias com crianças com deficiência.Com efeito, é difícil conceber uma razão para não se apoiar a proposta de directiva comas alterações apresentadas pela Comissão dos Direitos da Mulher e da Igualdade dos Géneros.Uma melhor coordenação da vida familiar e da vida profissional promove o bem-estar dasfamílias, o emprego e o desenvolvimento económico.

Eija-Riitta Korhola (PPE), por escrito. – (FI) Somos unânimes quanto à necessidade deconceder uma protecção especial às mulheres grávidas ou puérperas na sociedade e nomercado de trabalho. Trata-se, em última análise, da unidade básica da sociedade, do reforçodo estatuto da família. Não obstante, discordamos quanto ao tipo de legislação que devede facto ser criado para atingir este objectivo nos Estados-Membros. Apoio a posição daComissão de que o período mínimo da licença de maternidade deveria ser aumentado emtoda a União das actuais 14 semanas para 18 semanas, com remuneração equivalente àdas baixas por doença, no mínimo. Seria uma melhoria significativa para a Europa. Quando,além disso, consideramos as alterações efectuadas no ano passado à licença parental,podemos concluir que a protecção à família está a melhorar na UE. A Comissão dos Direitosda Mulher e da Igualdade dos Géneros, no entanto, aprovou alterações que não respeitamas diferenças entre sistemas nacionais ou realidades financeiras. Os Estados-Membrospossuem sistemas de licença de maternidade substancialmente diferentes. Agrupá-los numúnico pacote resultaria em má legislação e violaria o princípio da subsidiariedade. Porexemplo, na Finlândia, a licença de maternidade, aliada a uma licença de paternidade e aum longo período de licença parental que dura mais de seis meses, constitui um sistemaamplo, com um encargo financeiro partilhado por várias entidades. Este sistema tem umacomponente adicional: a possibilidade de uma licença de cuidados à criança, durante aqual o contrato de trabalho não é interrompido. Os custos da licença de maternidade de20 semanas com remuneração integral, agora proposta, aumentariam na Finlândia de 30milhões de euros, actualmente, para 80 milhões de euros. Em muitos Estados-Membros,significaria ainda custos superiores. Na actual situação económica, esta proposta só poderesultar de uma total ausência de responsabilidade orçamental. Na perspectiva da igualdade,também considero preocupante o cenário assustador em que as oportunidades de empregodas mulheres poderiam, de facto, diminuir se os empregadores fossem sobrecarregadoscom os enormes custos daí decorrentes.

Jiří Maštálka (GUE/NGL), por escrito. – (CS) Já passaram 15 anos desde a adopção daPlataforma de Acção de Pequim. Este documento descreve o estatuto da mulher no mundoe recomenda medidas para o melhorar. Salienta as condições de trabalho das mulheres,especialmente nos domínios da economia, da saúde e da educação. O Parlamento Europeue o Conselho adoptaram várias directivas para executar essas recomendações. Com basenos resultados, que aparentemente foram em grande medida positivos, foram tomadas eapresentadas mais medidas para execução nos Estados-Membros no roteiro para a igualdadeentre homens e mulheres para 2006-2010. O relatório anual emitido em Fevereiro peloParlamento Europeu sobre a igualdade entre homens e mulheres para 2009 refere que, emresultado da crise económica e dos cortes orçamentais nos países da UE, ocorreram perdasde postos de trabalho, especialmente entre as mulheres. As mulheres submetem-se

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frequentemente a pressões por parte dos empregadores, o que favorece particularmenteas cadeias multinacionais de venda a retalho. O volume de trabalho teve um efeito nocivopara a saúde, para a vida familiar, para os horários de trabalho e para a formação dasmulheres. Há poucos empregadores dispostos a criar condições favoráveis para osempregados conciliarem a vida profissional e a vida familiar. As condições de trabalhomais difíceis são as das mulheres imigrantes. Os obstáculos que enfrentam incluem barreiraslinguísticas, ambientes de trabalho com que não estão familiarizadas, tradições familiaresou culturais, etc. A crise impediu a obtenção de muitos dos objectivos estabelecidos. OInstituto Europeu para a Igualdade de Género deveria avaliar imediatamente a situaçãoactual, e a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu deveriam tomar medidas concretaspara deter a degradação do estatuto da mulher.

Erminia Mazzoni (PPE), por escrito. – (IT) A longa gestação (um termo apropriado nestecaso) desta proposta de directiva deve-se ao conflito entre quem deseja incluir objectivosimpossíveis no documento a fim de lhe conceder uma natureza simbólica e aqueles cujoúnico objectivo era o progresso da nossa sociedade através da promoção de certos direitosna prática. No final, o compromisso não cumpre plenamente os requisitos de protecçãoidentificados: a protecção da saúde das grávidas; a garantia de igual tratamento para astrabalhadoras, incluindo trabalhadoras independentes; e a maior partilha deresponsabilidade de cuidados às crianças entre os pais. No entanto, os novos elementosincluídos – o prolongamento da licença de maternidade até 18 semanas e as 6 semanas delicença de maternidade obrigatória após o parto; a introdução da remuneração integralcom base nos rendimentos anteriores da mulher; o aumento da protecção contra odespedimento; e a criação do direito a solicitar flexibilidade na organização do trabalho,independentemente da opção de os Estados-Membros estabelecerem diferentes limites ede manterem disposições mais favoráveis – significam que estamos de facto a progredir.Votei a favor desta resolução, apesar de não partilhar sequer da opinião do meu grupo noque respeita a muitas alterações, numa tentativa de salientar a importância fundamentaldas medidas associadas à saúde e à protecção no trabalho.

Siiri Oviir (ALDE), por escrito. – (ET) Já há muito tempo que a desigualdade de génerono mercado de trabalho é uma questão muito importante para a UE, e há anos que estatenta encontrar uma solução. Contudo, actualmente não podemos sequer assinalardesenvolvimentos positivos neste domínio. Assim, nomeadamente segundo dados Eurostat,o número de mulheres em situação de emprego precário – ou seja, trabalhadoras a tempoparcial – aumentou significativamente, atingindo 31,4%, enquanto o mesmo valor paraos homens é de 8,3%. Considero razoável atribuir este facto à actual crise económica efinanceira, que exacerbou ainda mais os problemas das mulheres em situação de trabalhoprecário. Para mim, o emprego precário não constitui apenas um motivo para a diferençade remuneração entre homens e mulheres, mas também um obstáculo a oportunidadesde carreira. Como a proporção de mulheres com emprego precário é demasiado elevadaneste momento e, por isso, as consequências nocivas referidas têm um enorme efeito nasituação dessas mulheres, considero que a UE deveria reforçar as disposições legais no quediz respeito ao trabalho temporário e a tempo parcial. Talvez assim estejamos um dia emposição de afirmar que a UE garantiu igualdade de direitos para homens e mulheres e aboliua discriminação de género no mercado de trabalho.

Sirpa Pietikäinen (PPE), por escrito. – (FI) Senhoras e Senhores Deputados, gostaria deagradecer à senhora deputada Estrela pelo seu relatório louvável sobre a alteração à directivado Conselho relativa à implementação de medidas destinadas a promover a melhoria da

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segurança e da saúde das trabalhadoras grávidas, puérperas ou lactantes no trabalho. Asreformas enunciadas no relatório são importantes para a melhoria dos direitos e dobem-estar dos cidadãos da UE e para a criação de uma concorrência mais saudável nomercado interno. A União Europeia necessita de uma política social coerente. Aharmonização dos regimes de licença de maternidade constitui uma medida importanteno sentido de uma Europa mais social. O relatório propõe um período de licença dematernidade de 20 semanas remunerado integralmente. Aumentar-se-iam assim asprestações de maternidade em muitos países da UE. Já se demonstrou que um período delicença de maternidade longo e bem remunerado tem um impacto positivo na participaçãodas mulheres no mercado de trabalho. A maior contribuição das mulheres para o mercadode trabalho depressa cobriria os custos desta reforma, que muitos consideramincomportáveis. Melhores prestações de maternidade aumentam ainda as taxas denatalidade. Uma Europa em envelhecimento necessita de contribuintes para manter asegurança do fornecimento de serviços no futuro. A exortação à remuneração integral dalicença de maternidade constitui também uma medida importante para diminuir asdiferenças de rendimentos entre mulheres e homens. Um período de licença de maternidadejá não significaria menores rendimentos para as mulheres e, por conseguinte, a remuneraçãointegral dessa licença aumentaria o valor do cálculo de pensões das mulheres. Na Europaactual, as mulheres mais idosas constituem um grupo particularmente afectado pelapobreza.

Daciana Octavia Sârbu (S&D), por escrito. – (RO) A maioria dos empregos precáriossempre foi assumida por mulheres. Já há muito que se fala de melhorar as condições detrabalho das mulheres, mas infelizmente nada está a mudar. Neste contexto, gostaria dechamar a vossa atenção para o sofrimento dos trabalhadores sazonais que colhem morangosem Espanha. Conheço esta situação através de inúmeras reclamações que recebi detrabalhadoras romenas ou de sindicatos, mas igualmente pela minha experiência directano terreno. Todos os anos, milhares de romenas deslocam-se a Espanha durante um períodode três a cinco semanas para colherem morangos. Algumas são muito frequentementevítimas de abusos por parte dos empregadores. Os contratos originais são substituídos porcontratos em espanhol, que elas não percebem. Muitas vezes não lhes são concedidosseguros de saúde, e são até forçadas a suportar esse custo pessoalmente. O seu trabalho,por vezes, exige que colham morangos que foram pulverizados com pesticidas, semqualquer equipamento protector. No entanto, não se podem queixar, pois receiam serdespedidas e repatriadas. Alertei a Comissão Europeia para a situação destas trabalhadorasatravés de perguntas que submeti solicitando uma directiva que regulamentasse os direitosdos trabalhadores sazonais na União Europeia. Contudo, recebi a resposta de que a questãonão se encontra na sua lista de prioridades. É por isso que volto a instar a Comissão paraapresentar uma proposta legislativa neste domínio.

Olga Sehnalová (S&D), por escrito. – (CS) O apoio às mulheres na conciliação dascondições da vida profissional e da vida familiar constitui um dos maiores desafios da eramoderna. O valor ou a duração da licença de maternidade decerto não determinam adecisão de constituir família ou de ter um filho. Não obstante, as condições em que setomam essas decisões são importantes. Trata-se do nível de segurança de que as mulheresusufruem no período em que podem dedicar-se à maternidade, em tranquilidade e semreceios, durante as primeiras semanas e meses. É ainda uma manifestação da importânciaque a sociedade atribui a estas mulheres. Revela se consideramos a maternidadeessencialmente um obstáculo lamentável na vida profissional das mulheres, que estãosujeitas às condições difíceis do mercado de trabalho, ou se a sociedade é capaz de conceder

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a protecção necessária às mulheres. Se uma maior protecção das mulheres no mercado detrabalho no contexto do parto e da maternidade representa essencialmente um encargofinanceiro que a sociedade europeia não está disposta a suportar, então temos de ponderaros valores desta sociedade. Trata-se de uma questão de prioridades sociais.

Edward Scicluna (S&D), por escrito. – (EN) Muitos oradores referiram-secompreensivelmente ao impacto económico do prolongamento da licença de maternidadede 14 para 20 semanas. Infelizmente, os custos são muitas vezes mencionados porque sãofáceis de quantificar. No entanto, também os benefícios podem ser quantificados. Comefeito, um tema que tem sido bastante investigado quantitativamente é o impacto da licençade maternidade remunerada nas taxas de participação das mulheres em idade produtivana força de trabalho. Um dos estudos econométricos mais respeitados do BCE demonstraclaramente que as taxas de participação das mulheres em idade produtiva na força detrabalho aumenta sempre com licenças de maternidade remuneradas de até 43 semanas.Só para além desse limite é que o aumento será afectado activamente. Para muitosEstados-Membros com licenças de maternidade de duração próxima do mínimo legal eem que, consequentemente, a participação feminina é baixa, um prolongamento da licençade maternidade remunerada é benéfico a nível económico. Para estes Estados-Membros,o custo do prolongamento da licença de maternidade constituirá um bom investimento enão um encargo.

14. Revisão do Acordo-Quadro sobre as relações entre o Parlmento Europeu e aComissão - Adaptação do Regimento do Parlamento ao Acordo-Quadro revistosobre as relações entre o Parlamento Europeu e a Comissão (debate)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia a discussão conjunta dos seguintes relatórios:

- (A7-0279/2010) do deputado Rangel, em nome da Comissão dos AssuntosConstitucionais, referente à revisão do Acordo-Quadro sobre as relações entre o ParlamentoEuropeu e a Comissão Europeia (2010/2118(ACI)), e

- (A7-0278/2010) do deputado Rangel, em nome da Comissão dos AssuntosConstitucionais, sobre a adaptação do Regimento do Parlamento Europeu aoAcordo-Quadro revisto sobre as relações entre o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia(2010/2127(REG)).

Paulo Rangel, relator . − Primeiro, a respeito destes dois relatórios, gostaria decumprimentar e dar aqui testemunho público, que já dei na Comissão dos AssuntosConstitucionais, do trabalho notável que fizeram os colegas Lehne, Swoboda,Roth-Behrendt, Diana Wallis e Rebecca Harms, que integraram a equipa do Parlamento,de deputados, que negociou com a Comissão este acordo-quadro.

Queria também registar a grande abertura e espírito de colaboração altamente construtivodo Presidente da Comissão, e depois de empossada a nova Comissão, do Comissário Šefčoviče das suas equipas. Creio que se conseguiu um trabalho notável que conduziu a um acordohistórico que é um acordo que representa o primeiro framework agreement depois daassinatura do Tratado de Lisboa e o primeiro framework agreement que tem uma base directa,uma base expressa nos Tratados, mais precisamente no artigo 295.º do Tratado sobre oFuncionamento da União Europeia.

Eu queria dizer que este acordo cria, de facto, uma relação de grande transparência e degrande dinamismo, até de alguma intimidade, na relação entre o Parlamento e a Comissão

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e representa essencialmente um compromisso, um equilíbrio entre a visão das duasinstituições sobre o novo papel que a cada uma delas cabe depois do Tratado de Lisboa.

Creio que o trabalho da nossa equipa negocial foi, de facto, muito positivo porque seconseguiu dar tradução, neste acordo-quadro, àquelas que são as novas competências eàquele que é o reforço de poderes que resulta do Tratado de Lisboa. Isto vale para oprocedimento legislativo e para a programação ou planeamento, nomeadamente, porexemplo, só para dar dois exemplos, no envolvimento do Parlamento no programa detrabalho da Comissão ou, por exemplo, nas questões que estão relacionadas com o uso desotf law naquelas que são competências legislativas do Parlamento por meio da Comissão.

Numa segunda linha, um aspecto muito importante é o reforço dos poderes de controloe de escrutínio do Parlamento, seja quanto ao detalhar, ao especificar das regras de eleiçãodo presidente e do corpo de comissários, seja, por exemplo, quanto à presença doParlamento em questões como a remodelação ou como o eventual afastamento de umcomissário ou, por exemplo, como a audição dos directores das agências regulatórias oubem assim o acompanhamento das negociações internacionais. Em todas estas dimensõeshouve, de facto, uma consagração de poderes que são poderes que resultam do Tratado deLisboa.

Muito importante também é o acesso à informação e, em particular, o acesso àquela queé a informação classificada ou àquela que é a informação confidencial e, para além disso,a própria troca de informação e troca de pontos de vista entre os responsáveis do Parlamentoe os responsáveis da Comissão. Por exemplo, nós sabemos que hoje já é possível aoComissário responsável pelos assuntos constitucionais e ao Presidente da Comissãoparticiparem nas partes relevantes da Conferência de Presidentes ou, por exemplo, que hávárias plataformas de diálogo entre a Conferência de Presidentes, a Conferência dosPresidentes das Comissões, o Presidente do Parlamento, o Presidente da Comissão e oColégio de Comissários, todos eles expressos. Mesmo a presença da Comissão no Parlamentotambém foi reforçada, nomeadamente, através da aplicação da question hour não só aoPresidente da Comissão, mas também aos comissários.

Eu diria por isso que, no respeito profundo pelo Tratado de Lisboa e pelo seu novo equilíbriode poderes e no respeito profundo pela ideia de separação de poderes, nós temos aqui umacordo clarificador que vem tornar actual, vem tornar vivo, vem tornar aplicável o Tratadode Lisboa.

Maroš Šefčovič, Vice-Presidente da Comissão. – (EN) Senhora Presidente, é com grandeprazer que participo no vosso debate sobre o Acordo-Quadro revisto sobre as relaçõesentre as nossas duas instituições. Estou muito satisfeito por a resolução que votaremos naquarta-feira recomendar que o Parlamento apoie o Acordo-Quadro. Será assim concluídocom sucesso um processo que teve início há quase um ano com a entrada em vigor doTratado de Lisboa.

Gostaria de aproveitar esta ocasião para manifestar o meu sincero agradecimento e gratidãoao senhor deputado Lehne e a todo o grupo de trabalho: à senhora deputada Diana Wallis,à senhora deputada Dagmar Roth-Behrendt, à senhora deputada Rebecca Harms, ao senhordeputado Hannes Swoboda e, é claro, ao nosso relator, senhor deputado Paulo Rangel.Trabalhámos com grande entusiasmo, com muita intensidade e as nossas discussões forammuito construtivas, e muito francas.

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É evidente que o aumento dos direitos e das competências do Parlamento ao abrigo donovo Tratado influenciaram em muitos aspectos as relações de trabalho entre as nossasinstituições. Esta situação reflectiu-se na resolução do Parlamento de 9 de Fevereiro de2010 e nas declarações do Presidente Barroso proferidas a esse respeito nesse mesmo dia.É por isso muito importante o facto de, com o Acordo-Quadro revisto, as nossas instituiçõesirem beneficiar agora de uma base sólida e acordada formalmente para as relações mútuas,e de poderem iniciar a execução de todos os elementos do Acordo na prática diária. EsteAcordo-Quadro revisto baseia-se no anterior Acordo-Quadro de 2005 que, como vimos,constituiu um instrumento muito eficaz para a gestão das relações entre as nossasinstituições.

Foi neste espírito de cooperação bem-sucedida que iniciámos as nossas negociações sobrea revisão do Acordo-Quadro em Março. Considero que deveríamos estar muito satisfeitoscom o resultado. À semelhança do vosso relator, senhor deputado Rangel, também soude opinião que esta revisão é um progresso significativo que aprofundará as relações entreas nossas instituições e que criará soluções práticas em consonância com o aumento decompetências do Parlamento decorrentes da entrada em vigor do Tratado de Lisboa. Édesta forma que estamos a pôr em prática a relação especial entre a Comissão e o ParlamentoEuropeu.

Permitam-me que destaque alguns elementos que constituem um progresso efectivo. OAcordo estabelece normas e um calendário para um diálogo intensificado e estruturadoentre as nossas instituições que permite a importante cooperação do Parlamento noprocesso de preparação de programas de trabalho da Comissão, como parte do seucontributo para a programação da União.

Estipula normas sobre a forma como a Comissão informará o Parlamento da negociaçãoe celebração de acordos internacionais. Adapta as normas sobre a transmissão de informaçãoclassificada ao Parlamento às normas internacionais, tornando assim mais fácil informaro Parlamento a respeito de, por exemplo, negociações internacionais.

Estabelece normas para aumentar a informação disponibilizada ao Parlamento sobre otrabalho de peritos ao serviço da Comissão.

Espero que fomente o nosso diálogo e a nossa coordenação quanto ao planeamento dosperíodos de sessões do Parlamento, ao assegurar a presença de Comissários.

Apesar de o Acordo ainda não estar em vigor, já executámos alguns dos seus elementosimportantes. Vou apenas referir alguns exemplos da preparação do programa da Comissãopara 2011. Em 7 de Setembro, o Presidente Barroso proferiu no Parlamento o seu discursosobre o estado da União, e assisti à Conferência de Presidentes com informações sobre osavanços na preparação do programa de trabalho da Comissão.

Em 7 de Outubro, o Colégio e a Conferência de Presidentes das Comissões reuniu-se noedifício Berlaymont. Além disso, o Presidente Barroso participará novamente na Conferênciade Presidentes do Parlamento na quarta-feira.

Todo este processo destina-se a intensificar o diálogo político entre as nossas instituiçõese, a meu ver, criámos aparentemente os instrumentos adequados a esse fim no nossoAcordo-Quadro.

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Como sabem, as negociações do Acordo-Quadro revisto foram longas e exigiram umgrande esforço por parte de ambas as instituições a fim de obter um texto quecorrespondesse aos interesses e preocupações das duas instituições.

Também sabíamos que para várias vertentes das nossas relações – nomeadamente aprogramação da União, criada pelo Tratado de Lisboa – teríamos de envolver igualmenteo Conselho.

Como o Conselho tinha decido não participar nas negociações do Acordo-Quadro revisto,tivemos o cuidado de não antecipar o debate de questões que tivessem de ser acordadascom o Conselho.

Os negociadores de ambas as partes efectuaram assim esforços sinceros para respeitarplenamente o equilíbrio das instituições, enunciado nos Tratados, e o compromisso dasua cooperação leal.

Este aspecto é evocado repetidamente no Acordo e a Comissão está, além disso, fortementeconvencida de que o texto obtido, por vezes após negociações difíceis, respeita de factoplenamente os direitos e as competências de cada instituição da UE e está à altura doescrutínio jurídico.

Contudo, algumas vozes consideram que o Acordo-Quadro vai longe demais e que nãose pode excluir a possibilidade de contestação jurídica do Acordo ou de circunstânciasespecíficas da sua execução.

Neste contexto, a Comissão salienta que a proposta de resolução sobre a adopção da revisãodo Acordo-Quadro estabelecerá oficialmente a própria interpretação do Parlamento dotexto acordado.

Sobre alguns aspectos importantes, esta interpretação vai para além do texto acordadoapós discussões sensíveis. Trata-se nomeadamente das disposições referentes à informaçãodo Parlamento das negociações de acordos internacionais e da inclusão de deputados aoParlamento Europeu como observadores das delegações da União em conferênciasinternacionais, assim como das definições e condições para a aplicação de instrumentosjurídicos não-vinculativos (“soft law”).

Quando questionou esta abordagem na Comissão de Assuntos Constitucionais, a Comissãofoi informada de que estas interpretações destinavam-se, com efeito, a registar os objectivosiniciais do Parlamento e de que apenas o texto do Acordo-Quadro tinha, em si, valorjurídico.

Para evitar qualquer ambiguidade, é neste sentido que a Comissão entende a interpretaçãodo texto pelo Parlamento.

A Comissão apoia firmemente todos os compromissos que efectuou no Acordo e tencionaaplicá-lo seguindo o texto acordado. Permitam-me que esclareça que a Comissão não estarávinculada a qualquer interpretação unilateral deste Acordo-Quadro. O texto doAcordo-Quadro na forma em que foi negociado irá, na prática, conceder-nos todas aspossibilidades necessárias à obtenção de soluções no interesse do Parlamento e da Comissão,sem descurar os direitos e os interesses de outras instituições.

Neste espírito, continuaremos a pôr em prática a parceria especial entre as nossas duasinstituições e, simultaneamente, a cooperar lealmente com todas as instituições.

Aguardo interessadamente a assinatura do Acordo e o sucesso da sua execução.

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Íñigo Méndez de Vigo, em nome do Grupo PPE. – (ES) Senhora Presidente, perfazem-seagora 18 anos desde que passei a fazer parte deste Parlamento. Nessa altura, o ParlamentoEuropeu era um parlamento consultivo. Era um parlamento sem quaisquer poderes.

No processo que decorreu nos últimos 18 anos, vimos o Parlamento passar de umparlamento consultivo a um órgão plenamente co-legislativo. O nosso amigo, FranciscoLucas Pires, que testemunhou este processo, afirmou que tinha passado de um parlamentodeliberativo a um parlamento legislativo.

Assim, o texto que iremos aprovar na quarta-feira é o culminar das negociações entre aComissão e o Parlamento sobre o Acordo-Quadro.

Confesso que quando digo à minha família que vou a Estrasburgo participar no debate doAcordo-Quadro entre o Parlamento e a Comissão tenho de lhes dar uma explicação bastantepormenorizada. Tudo porque, obviamente, estes aspectos não existem nos parlamentosnacionais nem a nível nacional, pelo que as pessoas não entendem a necessidade de umacordo entre a Comissão e o Parlamento para a execução dos tratados.

No entanto, esse acordo é indispensável. É indispensável por um motivo muito simples,que o senhor deputado Rangel e o senhor Vice-Presidente da Comissão Šefčovič já referiram:porque queremos ser eficientes.

O Acordo-Quadro procura essencialmente remover todos os obstáculos práticos quepoderiam surgir em termos de legislação, de controlo parlamentar e de códigos de conduta.

Acredito, por conseguinte, que se trata de um bom exemplo de democracia europeia.Trata-se de democracia “consensual” em vez da democracia “conflituosa” que temos nosnossos países.

Numa democracia consensual, o procedimento inteligente consiste em encontrar soluçõespara quaisquer problemas que possam surgir. Deste modo, o Acordo-Quadro é uminstrumento para impedir problemas futuros e concretizar o conteúdo dos tratados. Umavez que temos um novo tratado, o Tratado de Lisboa, faz sentido executá-lo.

Gostaria de felicitar o senhor deputado Rangel e a equipa que liderou, assim como aComissão Europeia, porque considero que obtiveram um acordo muito razoável. Ao lero conteúdo do Acordo, somos inevitavelmente surpreendidos pelas vozes que se ouvemem alguns parlamentos nacionais questionando se constitui uma ameaça aos poderes doConselho.

Francamente! O Conselho é sem dúvida o outro co-legislador. Queremos de facto legislar,e estamos a fazê-lo com grande intensidade e sucesso com o Conselho de Ministros. Somosco-legisladores em pé de igualdade. Não necessitamos de obter qualquer tipo de vantagem,por pequena que seja. Queremos é que este processo seja eficaz, e acredito que o Acordonos ajudará a concretizá-lo.

Permita-me dizer-lhe, senhor Vice-Presidente Šefčovič, que pegou o touro pelos cornos –uma expressão muito relacionada com a tauromaquia no meu país – quando afirmou quea interpretação dos artigos 6.º e 7.º da resolução constitui a interpretação do Parlamentoquanto aos acordos internacionais e às conferências internacionais. Não creio que esteaspecto seja estranho. Estamos aqui a falar do facto de o Parlamento ser informado e departicipar através da Comissão e de negociações, nada mais. Qual o objectivo? O objectivoé sabermos o que foi feito na Comissão quando aqui o aprovamos.

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Consequentemente – e terminarei aqui a minha intervenção, Senhora Presidente – felicito-osa ambos. Acredito que se trata de um bom augúrio: como dizem no filme Casablanca – “éo início de uma bela amizade”.

Ramón Jáuregui Atondo, em nome do Grupo S&D. – (ES) Senhora Presidente, gostariade reafirmar o que foi até agora dito por todos os oradores neste debate.

Para além das dificuldades técnicas que este Acordo possa causar, considero que estamosa falar de algo mais importante, algo que temos de considerar a par da reforma do Regimentoque efectuámos há alguns meses, no seguimento da entrada em vigor do Tratado de Lisboa.Este Acordo-Quadro e o novo Regimento são dois elementos essenciais da nova estruturademocrática europeia.

Estou convicto de que, com a reforma do Regimento e o Acordo-Quadro, este novo papelque o Parlamento assume através do Tratado de Lisboa, de ser uma câmara legislativa, estáa adquirir uma base, uma estrutura para funcionar de modo razoável. Tudo porque – comojá foi referido – o mais relevante é que este Parlamento tem agora o papel importante dediscutir e acordar com a Comissão a nova legislação para a União Europeia.

Para esse efeito, temos agora um novo Regimento e um Acordo-Quadro que estabeleceigualmente todos os elementos que constituem a nossa relação. Neste âmbito, gostaria desalientar a importância, entre outras, das funções de controlo que este Parlamento exercesobre a Comissão.

Senhor Vice-Presidente da Comissão Šefčovič, considero que deveríamos, em última análise,considerar um mecanismo que contemple a presença da Comissão neste Parlamento, comoconsta do Acordo. Poderia incluir, nomeadamente, a presença conjunta dos Comissáriospara responderem a perguntas directas. Deveria ser esse o nosso procedimento pararesponder directa e imediatamente à relação política que mantemos.

Quanto à vossa interpretação dos números 7 e 8, gostaria de referir que a compreendo.Compreendo-a porque é verdade que este Parlamento não necessita estritamente de fazerparte das negociações, mas também devem compreender que, enquanto Parlamento,manifestámos um desejo, uma posição inicial e uma posição futura sobre a forma comoesta Câmara deveria enquadrar-se nas negociações internacionais.

Andrew Duff, em nome do Grupo ALDE. – (EN) Senhora Presidente, ouvimos com grandeinteresse o Senhor Comissário Šefčovič, que pareceu mais interessado em apaziguar oConselho do que em atacar seriamente a posição do Parlamento. Julgo que é bastantecorrecto, pois se o Conselho – que vejo não estar ainda aqui presente esta noite – estivessemuito interessado em fazer parte deste Acordo-Quadro, já o poderia ter feito.

Enquanto Parlamento, sabemos que ao pôr em prática o Tratado de Lisboa temos de exerceros nossos novos poderes com discrição e responsabilidade. Estamos também empenhadosem potenciar o poder da União nas negociações internacionais através de um desempenhoeficaz por parte da Comissão. Gostaria de salientar em particular a necessidade de oPresidente Barroso proceder à revisão do Código de Conduta dos Comissários, especialmentequanto às declarações financeiras. Aquando do processo de aprovação da Comissão BarrosoII pelo Parlamento, expusemos determinadas fragilidades de que tínhamos conhecimento.

Ryszard Czarnecki , em nome do Grupo ECR. – (PL) O nosso colega espanhol, senhordeputado Méndez de Vigo, referiu que tinha grandes dificuldades em explicar à família asrelações jurídicas e processuais muito específicas entre os órgãos da União Europeia. É

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mais paciente do que eu. Eu nem sequer tento discutir esta questão com a minha mulher,pois é demasiado complicada. Creio que o Tratado de Lisboa acabou por se revelar algosemelhante a um encontro com uma pessoa desconhecida, o que significa que não é positivonem adequado só agora estarmos a começar a definir as competências dos órgãos individuaisda União. É tarde, mas como diz o provérbio, “mais vale tarde do que nunca”. Não falemosde amizade, como propõe o senhor deputado Mendéz de Vigo. Falemos antes de relaçõesmais práticas e de contactos mais simples entre a Comissão, o Conselho e o ParlamentoEuropeu. É melhor do que falar de amizade. Muito obrigado.

Morten Messerschmidt, em nome do Grupo EFD. – (DA) Senhora Presidente, tambémeu gostaria de aproveitar esta oportunidade para agradecer o bom trabalho efectuado pelosenhor deputado Rangel em várias partes deste relatório. O facto de obtermos maisinformações da parte da Comissão constitui sem dúvida uma evolução. O facto de serdestacado que necessitamos de controlo parlamentar, assim como de uma melhorcooperação mútua, constitui sem dúvida uma evolução.

Contudo, num domínio – aquele que foi mais relevante hoje e no debate anterior – hámotivos para manifestar desilusão. Trata-se, é claro, da política externa comum, um domínioem que o senhor deputado Rangel não merece qualquer censura, mas existem razões paracriticar todo o percurso efectuado neste âmbito desde a entrada em vigor do Tratado deLisboa. Eu pertencia ao Folketing, o Parlamento dinamarquês, quando a Dinamarca foipersuadida a dizer “sim” ao Tratado de Lisboa, na condição de este não conduzir a umaperda de soberania. Foi-nos prometido por todas as autoridades oficiais da UE que essaperda de soberania não ocorreria, e agora observamos que o Parlamento Europeu estámuito claramente a assumir um poder no domínio da política externa que não se pretendiaoriginalmente. É bastante lamentável porque muitos europeus, incluindo, sem dúvida, osfranceses, os holandeses e os irlandeses, que tiveram a oportunidade de dizer “não” adeterminada altura, entraram nesta cooperação com a expectativa de que a política externaconstituiria um domínio em que manteriam a sua soberania. Agora vemos que tudo serátratado através de uma interacção entre a Comissão e o Parlamento Europeu, e que oConselho será totalmente afastado. É deveras lamentável.

Andrew Henry William Brons (NI). – (EN) Senhora Presidente, vou resistir à tentaçãode rejeitar automaticamente, por ser insidioso ou inútil, qualquer acordo entre os doisgrupos de apoiantes do “projecto”, como é designado. Tentarei julgá-lo pelos seus méritose deméritos.

A equipa negocial do Parlamento tem a missão de aumentar o poder e a influência dessainstituição, e tem sido relativamente bem-sucedida. Seria errado negá-lo. Conseguiramassegurar uma igualdade de tratamento entre o Parlamento e o Conselho, um deverredobrado de a Comissão considerar iniciativas legislativas do Parlamento, períodos deperguntas com a Alta Representante, envolvimento em negociações internacionais, e muitomais.

No entanto, esta questão tem outra faceta. A igualdade entre o Parlamento e o Conselhotem de resultar numa redução relativa do poder desta última instituição, que representa –ainda que mal no caso do meu país – os interesses dos Estados-Membros. Além disso, opoder do Parlamento é exercido desproporcionalmente pelos líderes dos grandes grupospolíticos e pelos presidentes das comissões. Os deputados comuns destes grupos não têmmais poder individual do que os deputados não inscritos.

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A promessa de participação nas negociações internacionais também constava do acordode 2005, mas o Parlamento foi tratado com desdém. Não fomos informados da identidadedo supervisor do acordo de transferência de dados financeiros para os Estados Unidos, equando membros da Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos Internosquestionaram a necessidade de secretismos, o representante da Comissão recusou-se aresponder e interpretou mal, ou fingiu interpretar mal, a pergunta.

Salvatore Iacolino (PPE). – (IT) Senhora Presidente, também eu gostaria de felicitar osnegociadores pelo resultado positivo obtido, além do mais, em relativamente pouco tempo.A prova, a confirmação tangível do diálogo construtivo interinstitucional é concedida poreste Acordo que, estamos certos, será aprovado na quarta-feira e ratificado de imediato.

Este Acordo potencia, sem dúvida, a centralidade do papel do Parlamento Europeu,claramente pretendida com o Tratado de Lisboa, e estabelece uma cooperação próximaentre as instituições – o trabalho intenso dos negociadores encaminha-se nitidamente nessesentido. Não há dúvida de que o Parlamento confia na Comissão e tem certamente deavaliar, através de um escrutínio constante, as actividades que são criadas para os programasaprovados e os resultados tangíveis obtidos. Saúdo o Código de Conduta dos Comissários,assim como o requisito de fornecimento de informações, incluindo informaçõesconfidenciais.

Não concordo com algumas alterações que, na minha opinião, se desviam do sentidoestabelecido, apesar de, na globalidade, serem em certa medida coerentes com o objectivodo texto acordado. Estou igualmente convicto de que, graças a este relatório, é possívellegislar melhor e efectuar melhores avaliações de impacto no que diz respeito a propostaslegislativas específicas.

Saúdo o trabalho efectuado em matéria de agências e acredito que a primazia da políticatambém depende de uma maior disponibilidade para cooperar com o Parlamento porparte das direcções-gerais da Comissão.

Por fim, espero que a Comissão execute o Acordo, quando finalizado, sem burocracias.

Zita Gurmai (S&D). – (EN) Senhora Presidente, congratulo-me por ver que o novoAcordo-Quadro constitui uma melhoria e um aprofundamento significativos das relaçõescom a Comissão, e que a parceria especial reflecte o novo poder do Parlamento Europeuao abrigo do Tratado de Lisboa. Em resultado do trabalho excelente da Comissão e doGrupo de Trabalho, as soluções práticas incluídas no Acordo revisto proposto aperfeiçoamsubstancialmente a programação e os procedimentos legislativos, o escrutínio parlamentar,as obrigações de fornecimento de informação, assim como a presença da Comissão noParlamento. Bem-vindo, Senhor Comissário Šefčovič!

Permitam-me que vos chame a atenção para dois aspectos em particular. Considero aparticipação do Parlamento nas negociações internacionais uma medida muito positiva,pois facilita o consentimento por parte do Parlamento e concede uma maior previsibilidadeao processo. Na minha opinião, um dos elementos mais importantes é o seguimentoconcedido a pedidos de iniciativa legislativa formulados pelo Parlamento. Saúdo o factode a Comissão se comprometer a apresentar um relatório sobre o seguimento concretodado a todos os pedidos de iniciativa legislativa no prazo de três meses após a sua aprovação;a Comissão apresentará uma proposta legislativa no prazo de um ano, o mais tardar, ouincluirá a proposta no seu programa de trabalho para o ano seguinte. Caso não apresente

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uma proposta, a Comissão dará explicações pormenorizadas ao Parlamento dos motivospara tal.

Enquanto relatora para a Iniciativa de Cidadania Europeia, espero que o seguimento dospedidos de cidadãos seja igualmente tratado com o devido respeito. Congratulei-me porver o grande apoio deste relatório na respectiva comissão. Creio que a sessão plenáriaseguirá a linha acordada entre a Comissão e o Grupo de Trabalho do Parlamento Europeu.Parabéns pelo vosso trabalho e os meus sinceros agradecimentos.

Trevor Colman (EFD). – (EN) Senhora Presidente, o Acordo-Quadro sobre as relaçõesentre a Comissão e este Parlamento criadas pelo Tratado de Lisboa – na realidade, aConstituição da UE – conduz, supostamente, a um processo de governo mais democrático.Na verdade, não passa de uma ilusão de democracia num local onde é inexistente.

Os pontos que se seguem são importantes. O Tratado de Lisboa não tem qualquer autoridadedemocrática ou moral sobre o Reino Unido, onde o povo britânico foi persuadidoardilosamente pela classe política no poder a abster-se de dar o seu veredicto a este Tratado.As chamadas “alterações” a este acordo não diminuirão, de forma alguma, o poder e aactividade de uma Comissão que não é eleita nem responsabilizada, apoiada pela conivênciadeste Parlamento. Na prática, as actividades da UE continuarão, como sempre, a decorrerem salas recônditas e a portas fechadas.

A seu tempo, a recomendação será para que se vote decididamente contra estas propostas,pois só reconheceremos o Tratado de Lisboa quando, e se, for submetido à aprovação dopovo britânico. É isso a verdadeira democracia.

Monika Flašíková Beňová (S&D). – (SK) Congratulo-me por podermos discutir oAcordo-Quadro revisto sobre as relações entre o Parlamento Europeu e a Comissão Europeiana reunião de hoje. Esta revisão corrobora e dá forma à posição mais forte do ParlamentoEuropeu após a adopção do Tratado de Lisboa. Gostaria hoje de salientar pessoalmente oacordo obtido entre a Comissão e o Grupo de Trabalho do Parlamento Europeu sobre arevisão do Acordo-Quadro e de lhe agradecer, Senhor Vice-Presidente, pelo seuenvolvimento pessoal.

Permitam-me que teça alguns comentários a propósito do Acordo-Quadro. A posiçãoreforçada do Parlamento Europeu cria uma União Europeia mais democrática. Enquantorepresentantes eleitos dos cidadãos dos Estados-Membros, participaremos na aprovaçãode legislação europeia e teremos um maior controlo sobre a Comissão. A Comissão será,nomeadamente, obrigada a submeter-nos relatórios sobre as disposições concretas deseguimento adoptadas para qualquer pedido de iniciativa legislativa. A Comissão seráigualmente obrigada a pedir a nossa aprovação se desejar alterar o Código de Conduta dosComissários. Saudamos ainda prontamente o facto de, com base no Tratado, o ParlamentoEuropeu dispor de informações melhores e mais transparentes sobre a celebração deacordos internacionais. As disposições referidas não são as únicas; o Acordo-Quadrorevisto inclui muito mais disposições semelhantes e acredito convictamente que levarãoa uma cooperação mais estreita e eficaz entre ambas as instituições, além de representaremuma execução coerente do Tratado de Lisboa.

Em conclusão, gostaria de destacar um domínio essencial: a cooperação oportuna doParlamento face a pedidos decorrentes da Iniciativa de Cidadania Europeia constitui umadisposição significativa que, no âmbito do Acordo, garantirá um contacto próximo entreo Parlamento Europeu e os cidadãos.

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Hannes Swoboda (S&D). – (DE) Senhora Presidente, em primeiro lugar gostaria deagradecer ao senhor deputado Rangel pelo seu relatório e ainda, é claro, ao SenhorComissário Šefčovič pelas negociações que efectuámos. Este último não foi um parceirode negociações fácil, mas foi justo. Considero que obtivemos um bom resultado. Esteresultado específico constitui, naturalmente, a base da nossa cooperação e, apesar de ainterpretação apresentada pelo senhor deputado Rangel ser talvez demasiado ampla,permite-nos manter a concentração nos nossos objectivos.

Subsiste agora, para além da abertura e da transparência entre os nossos dois organismos,a necessidade de convencer o Conselho – que não se encontra aqui presente – de que, setrabalhamos bem juntos, não tem de ser necessariamente em prejuízo do Conselho.Infelizmente, o Conselho por vezes comporta-se como uma criança a quem foi retiradoum brinquedo e que está perturbada e ofendida. Em vez se sentir ofendido e de ameaçarqueixar-se, o Conselho deveria trabalhar connosco para obter o melhor para os cidadãosdo nosso continente. Se desejamos parecer fortes aos olhos do mundo exterior – e a políticaexterna comum, os acordos comerciais comuns, entre outros, constituem um aspectoimportante desta questão – então seria melhor trabalharmos juntos.

Kader Arif (S&D). – (FR) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, comotodos sabemos, e como acabou de ser referido, o Tratado de Lisboa reforça os poderes doParlamento. No entanto, poucos de nós estão cientes da mudança radical que origina, emparticular no domínio da política comercial, que sigo atentamente.

Ao abrigo do Tratado de Lisboa, o Parlamento ratificará todos os acordos comerciaisinternacionais. Este aspecto já está a causar uma grande celeuma, e as discussões do AcordoComercial Anticontrafacção (ACTA) e do acordo de comércio livre com a Coreia do Sulconstituem apenas um primeiro sinal desta situação. No entanto, os socialistas e osdemocratas da Comissão do Comércio Internacional queriam ir para além do permitidopelo Tratado. Sou o seu porta-voz e, apesar do cepticismo de alguns e da oposiçãodemonstrada por outros, transmiti uma mensagem clara: se o Parlamento é chamado aratificar qualquer acordo comercial, terá de estar envolvido desde o início do processo. Oque costumava parecer idealista constitui agora um elemento essencial das nossas relaçõescom a Comissão, pois seremos consultados exaustivamente a propósito dos mandatos denegociação. Saúdo este facto.

Insto, por conseguinte, a Comissão e o Conselho a continuarem a respeitar o espíritocomunitário e a vontade democrática que estão no cerne do Tratado. Exorto igualmenteos meus colegas deputados – uma vez que sofremos de uma espécie de síndroma deEstocolmo quando se trata da Comissão e do Conselho – a fazerem uso de todos os seusdireitos, porque são os direitos de todos os cidadãos.

Guido Milana (S&D). – (IT) Senhora Presidente, a revisão do Acordo entre o Parlamentoe a Comissão estabelece a base para uma melhor colaboração entre as duas instituições.Foram efectuados fortes progressos quanto a procedimentos, programação legislativa,escrutínio parlamentar, requisitos de fornecimento de informação e à presença da Comissãono Parlamento. Contudo, a questão que desejo salientar mais vigorosamente é a evoluçãoobtida em matéria do carácter interinstitucional e das relações internacionais.

O papel concedido ao Parlamento não deve ser considerado reforçado: é um requisito.Esperamos que ninguém ponha em causa que permitir a presença de observadores doParlamento Europeu em conferências internacionais bilaterais e multilaterais não constituimais do que um acto de responsabilidade. De facto, negar o estatuto de observadores a

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deputados ao Parlamento Europeu em acordos bilaterais – como, por exemplo, em acordosde pesca – priva as negociações de um conhecimento pleno desse domínio, sobretudotendo em conta que o Parlamento terá subsequentemente de manifestar a sua opinião.

Não creio que seja possível evitar estes requisitos, pois isso resultaria na rejeição de acordosbilaterais por parte do Parlamento que, por norma, não podem ser alterados e que, naausência de uma parceria, tornariam o voto uma mera formalidade.

Zuzana Roithová (PPE). – (CS) Congratulo-me por a Comissão Europeia reconhecerque, para o futuro da União ser bem-sucedido, é muito importante que o processo detomada de decisões seja mais democrático. Trata-se, por conseguinte, do reforço do papeldo Parlamento Europeu. Saúdo o facto de o novo Acordo de cooperação com a ComissãoEuropeia reforçar a importância do Parlamento para além do estipulado pelo Tratado deLisboa. Congratulo-me por o Acordo permitir estudos de impacto mais pormenorizadose uma melhor resposta por parte da Comissão aos requisitos políticos do ParlamentoEuropeu. É particularmente importante que a Comissão melhore de facto o acesso dosdeputados aos documentos, incluindo a propostas de acordos internacionais. Este aspectojá aqui foi referido. A sua ratificação não pode ser apenas uma formalidade, como sucedefrequentemente nos parlamentos nacionais. Necessitamos da informação pertinente comantecedência para podermos influenciar o seu conteúdo à medida que progredimos. OConselho, que se sente ofendido, deve habituar-se ao facto de, no futuro, ter de cooperarmuito melhor com o Parlamento Europeu.

Jaroslav Paška (EFD). – (SK) O Tratado de Lisboa implica novas tarefas e obrigações parao Parlamento Europeu e para a Comissão Europeia.

É louvável que, menos de um ano após a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, tenhamosà nossa frente a revisão do Acordo-Quadro sobre a cooperação reforçada das tarefas comunsà Comissão Europeia e ao Parlamento Europeu. O acordo mútuo sobre os procedimentoscomuns contribuirá decerto para impedir possíveis mal-entendidos na tomada de decisõesconjuntas. No entanto, a União Europeia foi constituída com base num acordo entreEstados-Membros que nos delegaram – ao Parlamento Europeu, assim como à UniãoEuropeia – parte das suas competências. Assim, o Tratado de Lisboa acarretou, em certosdomínios, a obrigação de cooperação com os parlamentos nacionais. A forma correctadessa cooperação deve ser o passo seguinte na definição da cooperação no seio da UniãoEuropeia. É isto que gostaria de solicitar, Senhor Comissário.

Franz Obermayr (NI). – (DE) Senhora Presidente, na UE, o Parlamento e a Comissãoservem de legisladores e têm um mandato democrático, directo no caso do ParlamentoEuropeu, pelo menos indirecto no caso do Conselho. Contudo, a Comissão, que não temqualquer tipo de mandato democrático, continua a ser o único órgão capaz de propornormas comunitárias – mesmo apesar do Tratado de Lisboa. Sinto, por isso, que aindasubsistem muitas falhas neste domínio.

Se pretendemos que o Parlamento Europeu exerça o seu direito de iniciativa com eficiência,a obrigação de fornecimento de informação tem de ser devidamente ampliada. O novoinstrumento da Iniciativa de Cidadania Europeia deveria incluir o Parlamento no processolegislativo assim que possível, pois este organismo representa os cidadãos.

O fluxo de informação entre a Comissão, por um lado, e o Parlamento, por outro, tambémcarece de um reforço no domínio das relações internacionais. Não se pode permitir que a

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política externa da UE seja da responsabilidade exclusiva de um Serviço Europeu de AcçãoExterna que está relativamente alheado dos cidadãos.

Elena Băsescu (PPE). – (RO) Considero que este novo acordo melhorará significativamenteas relações entre o Parlamento e a Comissão Europeia entre 2010 e 2015.

O momento da revisão da base jurídica desta cooperação é oportuno, pouco tempo depoisde o Tratado de Lisboa entrar em vigor. As novas normas definem claramente aresponsabilidade política de ambas as instituições e reforçam os poderes que o ParlamentoEuropeu adquiriu recentemente no processo de tomada de decisões.

Com base no princípio de igualdade de tratamento, o Parlamento exercerá os mesmosdireitos que o Conselho em termos de acesso a documentos legislativos ou orçamentais.Além disso, o papel de destaque que o Parlamento desempenhará na redacção do programade trabalho anual da UE reforça o envolvimento dos cidadãos no estabelecimento dasprioridades das políticas europeias.

Krisztina Morvai (NI). – (HU) Segundo a sabedoria bíblica, toda a árvore boa dá bonsfrutos e toda a árvore má dá maus frutos. O Tratado de Lisboa foi assinado em circunstânciasditatoriais, o que significa que não pode ter quaisquer consequências democráticas. Foiimposto aos Estados-Membros, pelo menos à Hungria, o meu país de origem, emcircunstâncias manifestamente ditatoriais e antidemocráticas, pois é um tratado que retirouvários poderes de decisão aos cidadãos quanto ao seu próprio futuro e, sub-repticiamente,os entregou a Bruxelas. Em virtude do direito natural, o Tratado de Lisboa é obviamenteinválido, pelo menos em relação à Hungria – em primeiro lugar, devido a uma incapacidadede discutir e reconciliar este tratado tão significativo com os cidadãos, o público e as váriasorganizações civis, e em segundo lugar porque foi aprovado sem que se tivesse qualquerideia do conteúdo do texto. Perdeu-se assim a relevância democrática deste tratado ditatorial.

Maroš Šefčovič, Vice-Presidente da Comissão. – (EN) Senhora Presidente, em primeirolugar, gostaria de agradecer a todos os oradores, especialmente àqueles que manifestaramapoio ao Acordo-Quadro, pois considero que se trata de um manual muito importantesobre como poderemos cooperar e trabalhar juntos mais positivamente no futuro.

Gostaria de salientar mais uma vez a minha gratidão ao Grupo de Trabalho do ParlamentoEuropeu, porque passámos muito tempo juntos. Tivemos 11 rondas de negociação muitointensas, mas este trabalho árduo compensou e penso que hoje podemos de facto celebrarum excelente acordo.

É claro que ouvi muito atentamente os comentários dos senhores deputados e as suasperguntas, por vezes reflectindo preocupações a respeito do acordo obtido.

Assim, gostaria de começar por salientar que é um princípio importante para a Comissãoter-se estabelecido que seriam mantidas as práticas de cooperação bem-sucedidas entre asnossas instituições. Isso significa que o Acordo-Quadro revisto não deve conduzir a qualquerretrocesso nas práticas bem-sucedidas. Na verdade, espero que a execução doAcordo-Quadro resulte em melhorias claras em todos os casos.

Dito isto, ambas as partes reconheceram durante as negociações que irão encontrardificuldades na sua interpretação, mas manifestaram igualmente uma disponibilidade paraexecutar o Acordo-Quadro revisto da forma mais construtiva possível, e posso garantir-lhesque a Comissão se compromete a esse procedimento.

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Estou convicto de que a prática demonstrará que muitas das preocupações manifestadashoje não se concretizarão. Além disso, algumas das expectativas que excedem ascompetências atribuídas pelos tratados a cada instituição serão corrigidas. Em resposta àsolicitação referente às minhas declarações sobre o Código de Conduta, permitam-meigualmente confirmar que a Comissão apresentará em breve uma proposta de revisão doCódigo de Conduta e, nos termos do Acordo-Quadro, solicitará atempadamente o parecerdo Parlamento, conforme prometido nas negociações.

Em conclusão, permitam-me destacar que, se descobrirmos problemas, voltaremos areunir-nos e a procurar soluções. Com efeito, já agendámos uma revisão do Acordo-Quadropara finais de 2011, o que nos concederá muitas oportunidades para corrigir eventuaiserros que possam ter sido cometidos.

Neste sentido, aguardo ansiosamente a oportunidade de colaborar convosco com baseneste Acordo-Quadro revisto e espero que o apoiem na quarta-feira.

Acredito e espero que este espírito positivo também prevaleça em geral nas relações entretodas as instituições da União Europeia, porque é o que os cidadãos esperam de nós e é oque devemos concretizar.

Paulo Rangel, relator . − Eu queria terminar com base naquilo que foi aqui discutido aolongo deste debate. Queria terminar salientando o seguinte: um dos grandes objectivosdeste acordo-quadro foi o de, em matéria legislativa ordinária e em matéria orçamental,colocar o Conselho e o Parlamento numa posição que seja uma posição de equal footing,portanto uma posição paralela, e foi também o de, nas restantes matérias, respeitar obalanço e equilíbrio de poderes que resulta do Tratado de Lisboa, respeitar o princípio daseparação dos poderes para melhor poder o Parlamento Europeu – fora das matériasorçamentais e fora das matérias legislativas ordinárias – exercer o seu controlo político.

Eu creio que esta clarificação, que este desenvolvimento que trouxe o framework agreement,que trouxe o acordo-quadro, creio que este desenvolvimento é bom para ambas asinstituições. Torna mais claras, mais transparentes as suas relações.

Mas é bom também para as outras instituições, e designadamente para o Conselho, porqueo Conselho fica agora com uma base clara, com uma clara impressão, com uma visão nítidade como se vão processar as relações entre o Parlamento e a Comissão, depois daquelesque foram os avanços do Tratado de Lisboa. E, portanto, por mais que numa reacção àsvezes emotiva o Conselho faça ou dirija críticas ao acordo-quadro, a verdade é que vaichegar o tempo em que ele reconhecerá que foi um avanço positivo para todas as instituiçõese vai chegar o tempo em que nós teremos não o acordo-quadro feito a dois, mas finalmente,como os cidadãos europeus esperam, um acordo-quadro feito a três instituições, todas asquais poderão, enfim, representar a sua visão sobre a letra e o espírito do Tratado de Lisboa.

Saúdo a Comissão por esta abertura que manifestou ao longo de todo este processo.

Presidente. – Está encerrado o debate.

A votação terá lugar quarta-feira, 20 de Outubro de 2010.

Declarações escritas (Artigo 149.º)

Rafał Trzaskowski (PPE), por escrito. – (PL) Quando iniciámos a discussão do novoacordo interinstitucional há um ano, salientámos que, face ao fortalecimento do ParlamentoEuropeu resultante do Tratado de Lisboa, era chegado o momento de concedermos um

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novo teor à nossa cooperação com a Comissão. Eu próprio referi nessa altura que oParlamento tinha evidentemente ganho com o Tratado de Lisboa em detrimento daComissão, mas que o essencial se decidiria nos pormenores, e que o sucesso na transposiçãoda letra do Tratado para disposições específicas do Acordo-Quadro por parte dos nossosnegociadores dependeria desses pormenores. Hoje, temos essas disposições e conseguimosincluir as disposições que criámos na resolução da sessão plenária de Fevereiro – os meusparabéns, por isso, aos nossos negociadores e ao relator da Comissão dos AssuntosConstitucionais, senhor deputado Rangel. Esperemos que, apesar da fricção inicial entrenós e a Comissão quanto à interpretação das disposições negociadas, o Acordo contribuapara uma cooperação mais eficiente e efectiva entre as nossas instituições.

15. Transferência de dados pelos Estados-Membros para os Estados Unidos combase em memorandos de entendimento (debate)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia a discussão conjunta das seguintes perguntasorais:

– (O-0149/2010) apresentada à Comissão pelos deputados Sophia in ’t Veld e AlexanderAlvaro, em nome do Grupo da Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa, e BirgitSippel, em nome do Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas noParlamento Europeu, sobre a Transferência de dados para os Estados Unidos por parte deEstados-Membros com base em memorandos de entendimento (B7-0555/2010),

– (O-0160/2010) apresentada à Comissão pelos deputados Rui Tavares e Marie-ChristineVergiat, em nome do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda NórdicaVerde, sobre a Transferência de dados para os Estados Unidos por parte de Estados-Membroscom base em memorandos de entendimento (B7-0558/2010), e

– (O-0168/2010) apresentada à Comissão pelo deputado Jan Philipp Albrecht, em nomedo Grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia, sobre a Transferência de dados para os EstadosUnidos por parte de Estados-Membros com base em memorandos de entendimento(B7-0561/2010).

Sophia in 't Veld, autora. – (EN) Senhora Presidente, serei breve. Penso que a perguntaoral é bastante explícita. Trabalhamos actualmente num pacote PNR. A Comissão preparoutrês projectos de mandatos de negociação com os Estados Unidos, o Canadá e a Austrália.Entretanto, contudo, os Estados-Membros estão a negociar bilateralmente com os EstadosUnidos a transferência de dados pessoais, ou melhor, estão a dar acesso a bases de dadoseuropeias aos EUA, inclusive a dados de passageiros.

Antes de este Parlamento tomar uma posição sobre qualquer proposta PNR ou AcordoPNR, precisamos de saber qual é a situação. Se os Estados-Membros estão a estabeleceracordos bilaterais com os Estados Unidos para a transferência de dados PNR, entãopergunto-me o que fazemos aqui neste Parlamento.

Também me disseram – mas não existe forma de o confirmar, pois as negociações bilateraise os acordos bilaterais são confidenciais – que podem estar envolvidos dados PNR decidadãos de países terceiros ou de cidadãos da UE em voos com destinos que não os EstadosUnidos e, como tal, não abrangidos por um possível acordo UE-EUA. Necessitamos de umesclarecimento a esse respeito antes de retomarmos as conversações sobre PNR.

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Por fim, Senhor Comissário, no fim-de-semana passado deparei-me com outro aspecto deque não tinha sido informada e que pode ser relevante para este debate. Trata-se de umprograma chamado Controlo de Segurança Único (One Stop Security) que a Comissão está,aparentemente, a negociar com a Administração para a Segurança dos Transportes dosEUA. Este programa incluiria a abolição de controlos de segurança para norte-americanosque viajem para a Europa e vice-versa.

Considero muito estranho que os controlos de segurança a cidadãos europeus que viajampara os Estados Unidos se estejam a tornar cada vez mais rígidos – temos até de pagar opedido que efectuamos no sistema electrónico de autorização de viagem (ESTA) – e que,simultaneamente, a Comissão Europeia esteja a negociar a abolição de controlos desegurança para norte-americanos que viajem para a Europa.

Já é a altura de a Comissão Europeia nos informar pormenorizadamente sobre este programae o estado das suas negociações, e gostaria de saber – em conclusão à minha intervenção– se é verdade que os Estados Unidos impuseram as condições de segurança quepossibilitariam este programa.

PRESIDÊNCIA: Stavros LAMBRINIDISVice-Presidente

Birgit Sippel , autora. – (DE) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, o Tratadode Lisboa já foi referido muitas vezes hoje. Gostaria de dizer algo de positivo a seu respeito.A maioria dos cidadãos considera agradável podermos viajar numa Europa sem fronteiras,podermos movimentar-nos livremente na Europa com propósitos académicos, profissionaisou de lazer. No entanto, ao fazê-lo, deixamos naturalmente um rasto de dados à nossapassagem. Já há muito tempo que os nossos dados não estão apenas armazenados numEstado-Membro, mas disseminados por toda a União Europeia. É exactamente por estemotivo que é positivo termos poderes superiores a nível europeu neste domínio – daprotecção de dados dos cidadãos europeus – pois os nossos cidadãos esperam, com muitarazão, que os seus dados estejam bem protegidos em toda a Europa, e não esperam quegrandes volumes de dados sejam transmitidos desnecessariamente, talvez até a paísesterceiros.

Como podemos, enquanto União Europeia – e vou ser muito explícita: enquanto ParlamentoEuropeu, Conselho Europeu, conjuntamente com os Estados-Membros – garantir estaprotecção quando negociamos, enquanto União Europeia, com países terceiros atransferência de dados (quais os dados necessários, os fins para que podem ser utilizadose as garantias necessárias à protecção desses dados) se, simultaneamente, osEstados-Membros negoceiam separadamente a transferência de dados com países terceiros?Em especial porque nem sequer sabemos de que dados estão a falar, que normas desegurança estão a ser respeitadas, se ocorrem duplicações na transferência de dados, nemse estão a ocorrer transferências de dados que não permitiríamos a nível europeu.

Há outro aspecto que os Estados-Membros talvez não estejam a ponderar suficientemente.Se um Estado-Membro negociar com um país terceiro, como posso eu garantir – comopode esse Estado-Membro específico garantir – que apenas os dados dos seus próprioscidadãos são de facto transferidos, ou se são transferidos quaisquer dados? Possuímosactualmente bases de dados na União Europeia que recolhem todo o tipo de dados sobreos cidadãos num ponto central a que muitas autoridades dos países europeus têm acesso.Ou seja, se os meus dados estiverem algures no país A e esse país decidir transferi-los, os

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meus dados serão também transferidos para um país terceiro? Não pode ser este o valoracrescentado na União Europeia que, justificadamente, negociámos no Tratado de Lisboa.Também os Estados-Membros devem registar o novo equilíbrio de poder entre asinstituições, tomar medidas em conformidade e respeitar as normas que estipulam que aprotecção de dados é uma questão europeia. Temos de garantir, a nível europeu, que étransferido o mínimo possível de dados e apenas para fins estritamente definidos, e quetudo isto não é subvertido por iniciativas bilaterais.

Rui Tavares, Autor . − Senhor Presidente, caros Colegas, nós temos no último anodiscutido por várias vezes vários assuntos que estão ligados à protecção de dados, àprivacidade dos cidadãos europeus, e dizem-nos que, para garantir a segurança física doscidadãos que viajam, por exemplo, de avião, devemos ceder na segurança dos dados pessoaisdos cidadãos europeus, o que desde logo é uma troca que não só tem implicações jurídicascomo implicações políticas a que esta Casa tem que dar a sua atenção.

Sabemos que a casa aqui está a ser feita pelo telhado, que, de cada vez que temos umproblema, tentamos resolver esse problema. Tivemos SWIFT primeiro, agora PNR. Mas oque não estamos a fazer é a casa pelas fundações. Ou seja, não estamos primeiro adeterminar qual é o pensamento geral da Europa em termos de protecção de dados e depoisa aplicá-lo de forma horizontal a qualquer assunto e a qualquer parceiro internacional, sejaele como é hoje em dia os Estados Unidos, seja mais tarde a China, a Coreia do Sul, a ArábiaSaudita – qualquer dos parceiros internacionais que pedem o mesmo tipo de dados.

Evidentemente, ao trabalhar desta forma fragmentária e parcial, já estamos perante umquadro que é muitíssimo difícil, e o Parlamento Europeu tem tentado fazer sentido destequadro. Todos sabemos que ele deveria, portanto, ser ao contrário. Mas se a situação já émá, ela piora se se confirmarem as notícias de que alguns Estados-Membros têm negociadocom os Estados Unidos memorandos de entendimento que permitem a transferência directados dados dos passageiros que têm origem nesses Estados-Membros para os Estados Unidos.

Eu aqui quero que fique claro que não me queixo principalmente dos Estados Unidos. OsEstados Unidos são um nosso parceiro internacional, um país que tem muitas coisas aadmirar e com o qual temos princípios e interesses em comum, mas queixo-me sim, muitoclaramente, dos Estados-Membros que permitem quebrar com a negociação que nósdevemos ter ao nível europeu. É uma situação de deslealdade por parte dessesEstados-Membros, que não só mina as negociações que já estão em curso com os EstadosUnidos como mina o entendimento interinstitucional dentro da própria União Europeia.E mina também a possibilidade de mais tarde atingirmos um acordo com os Estados Unidos,um acordo-quadro de protecção de dados, aquele de que é relator o nosso colega Albrecht.

É também um tipo de atitude que gera efeitos imprevisíveis, pois se os Estados Unidos,hoje em dia, negoceiam Estado-Membro a Estado-Membro, o que é que impede os EstadosUnidos de mais tarde irem negociar companhia aérea a companhia aérea os dados doscidadãos, ou até através de uma abordagem directa, negociá-los individualmente nomomento da compra do bilhete?

Alguém tem de se levantar e defender os direitos de 500 milhões de cidadãos europeus. Aeste nível o Parlamento Europeu tem-no feito. É importante que a Comissão, osEstados-Membros e os Estados Unidos tenham consciência de que, no caso PNR, oParlamento tem o dedo no botão. E, como já o demonstrou aquando do caso SWIFT, oParlamento não tem medo de usar as suas prerrogativas, seja para interromper um acordo

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interino, seja para rejeitar um acordo permanente que não satisfaça as garantias deprivacidade e a segurança dos dados dos cidadãos europeus.

Jan Philipp Albrecht , autor. – (DE) Senhor Presidente, Senhores Representantes daComissão, exorto-os a levar muito a sério a nossa pergunta, porque a nossa preocupaçãoé a questão essencial – como acabou de ser referido – da validade de trabalharmos emdisposições para a protecção de dados quando, ao mesmo tempo, estão a ser negociadosacordos à revelia do Parlamento Europeu e, quiçá, até à revelia dos parlamentos nacionais,que invalidam essas normas.

Uma cooperação transatlântica estreita no domínio da segurança – toda a cooperaçãotransatlântica – é muito importante, em particular quando se trata da criação de uma zonade liberdade e de justiça. Porém, não podemos permitir que resulte numa garantia deinteresses colectivos de segurança em detrimento de liberdades individuais e de direitosfundamentais. Esta condição aplica-se particularmente à protecção de dados na cooperaçãointernacional.

Enquanto Parlamento, explicitámos repetidamente ao longo de muitos anos queconsideramos importante o facto de em todas estas medidas – na transferência de dadosPNR ou no acesso aos dados bancários SWIFT – existirem princípios de protecção de dadosaplicáveis em geral que possam igualmente ser executados a nível individual. Trata-se dealgo que é constantemente negligenciado. Por isso, enquanto Parlamento, explicitámosainda que pretendemos normas gerais que sejam aplicáveis a toda a UE e que sejamposteriormente acordadas com os Estados Unidos. Fui relator do Acordo-Quadro da UEcom os EUA e sinto-me compelido a dizer que é extremamente importante que estacondição, para além de se aplicar aos acordos UE por parte dos Estados-Membros, sejaválida igualmente para os acordos dos Estados-Membros. É óbvio que se trata de umdomínio em que os poderes são partilhados, ou seja, existirão sempre acordos bilateraisparalelos com os Estados Unidos. Não há nada de errado nessa situação, desde que, emprimeiro lugar, esses acordos não resultem numa diminuição ou subversão das normasacordadas conjuntamente a nível europeu – o motivo deste debate – e, em segundo lugar,respeitem o quadro jurídico em vigor.

Actualmente, no seguimento da entrada em vigor do Tratado de Lisboa, temos uma situaçãoem que o Parlamento Europeu foi, muito justamente, envolvido nestas questões, maspossuímos igualmente um quadro jurídico que estipula que, em caso de partilha de poderes,se foram aprovados regulamentos a nível comunitário – como para os dados PNR – entãoesse domínio está fora das competências dos Estados-Membros. Na minha opinião, osEstados-Membros não podem iniciar as suas próprias negociações com os EUA nestedomínio, porque isso subverte a nossa posição negocial quanto à protecção de dados.

Por conseguinte, insto-vos, enquanto Comissão Europeia, a intervir neste domínio no quediz respeito aos Estados-Membros e a transmitir à Presidência do Conselho que essasnegociações têm de ser canceladas e que, acima de tudo, a base jurídica aplicável após oTratado de Lisboa tem de ser clarificada. Parece-nos óbvio, enquanto Parlamento, que aUE tem de falar a uma só voz nas negociações, e que a Comissão – cujas propostas considerocorrectas em muitos casos – também deveria ser informada de que o seguinte princípiosimples tem de se aplicar sem excepção: temos de negociar a uma só voz, e não efectuarconstantemente novas negociações bilaterais.

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Maria Damanaki, Membro da Comissão. – (EN) As perguntas dos senhores deputados aoParlamento Europeu são bem-vindas. Gostaria de declarar à partida que a Comissão partilhada sua sensibilidade no que diz respeito à protecção de dados dos nossos cidadãos.

Permitam-me que aborde a questão desde o seu início. Talvez saibam que não se trata deuma questão nova. Em Agosto de 2007, os Estados Unidos modernizaram o Programa deIsenção de Vistos, acrescentando-lhe determinadas condições destinadas a reforçar asegurança. Temos de admitir que essas condições afectam todos os Estados-Membros daUE, quer pertençam ao Programa de Isenção de Vistos dos EUA ou não. Segundo essascondições, para um país aderir ou continuar a pertencer ao Programa de Isenção de Vistosteria de aceder a cooperar com os Estados Unidos no domínio do combate à criminalidade.Em particular, teria de efectuar um intercâmbio de informações desse domínio.

Esta nova lei levou a UE a seguir uma abordagem de duas vias, como já foi referido. Na viada UE, foram encetadas negociações entre a UE e os Estados Unidos quanto a determinadascondições de acesso ao Programa de Isenção de Vistos dos EUA que pertencem à esfera decompetências da UE. A via da UE contemplava o repatriamento de todos os cidadãosnacionais, a segurança de documentação de viagem e a segurança dos aeroportos. Estasquestões são da nossa competência.

A via bilateral, que ainda subsiste entre os EUA e Estados-Membros individuais, foi utilizadapara cumprir a condição imposta pelos Estados Unidos de cooperação ao nível de iniciativasde combate ao terrorismo e de partilha de informação. Para os Estados-Membros que aindanão pertencem ao Programa de Isenção de Vistos, a assinatura de acordos nestes domíniosconstitui um requisito para a adesão ao Programa de Isenção de Vistos. Temos de resolveresta questão.

Para os Estados-Membros que já pertencem ao Programa de Isenção de Vistos, essasnegociações ocorrem numa fase posterior, pelo que estão em situação mais fácil. Segundodados facultados pelos Estados-Membros, esta é a única forma de resolver o problema.Oito Estados-Membros assinaram memorandos de entendimento com os Estados Unidoscomprometendo-se a cooperar com esse país nesse domínio. Trata-se da República Checa,da Estónia, da Grécia, da Letónia, da Lituânia, da Hungria, de Malta e da Eslováquia. Eraeste o problema que procuravam resolver. Deste modo, estes oito Estados-Membrospuderam aderir ao Programa de Isenção de Vistos.

A Comissão compreende que os memorandos de entendimento não se destinavam aconstituir, em si, a base jurídica para o intercâmbio de dados entre os Estados Unidos e osEstados-Membros relevantes. Esses memorandos manifestam apenas a intenção de duaspartes possuírem disposições e acordos específicos que rejam o intercâmbio de dados. Eraesta a sua essência.

Tenho de sublinhar que as informações referentes ao conteúdo exacto dos memorandosde entendimento se encontram nos Estados-Membros. Refiro-me inclusive às categoriasde dados abrangidas pelos memorandos. Assim, se o Parlamento Europeu tenciona obtermais informações, deverá solicitá-las aos respectivos Estados-Membros.

Todavia, a Comissão – e passo agora à nossa responsabilidade – garantiu que os EstadosUnidos não solicitariam acordos bilaterais aos Estados-Membros sobre o intercâmbio dedados PNR, visto tratar-se de uma questão pertencente à esfera de competências da UE aoabrigo do respectivo acordo PNR entre a UE e os EUA. Foi este o nosso procedimento.

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Por fim, nas negociações do Acordo UE-EUA, ocorreu uma troca de cartas destinada aregistar que os requisitos jurídicos dos Estados Unidos para a participação continuada noPrograma de Isenção de Vistos tinham sido cumpridos em questões que pertencem à esferade competência da UE. Neste contexto, a Comissão explicitou que esta troca de cartas, quefaz parte das negociações em curso, não poderia conceder acesso à base de dados da UE.

Carlos Coelho, em nome do Grupo PPE . – Senhor Presidente, caras e caros Colegas, SenhoraComissária, ouvi as suas respostas e devo confessar que estou perplexo, porque a Comissãodiz, por um lado, que, se nós queremos mais informação, temos de ir bater à porta dosEstados-Membros – o que só pode ter uma interpretação, é que a Comissão diz que nãotem nenhuma capacidade de pressão sobre os Estados-Membros nem de intervenção nestamatéria –, mas depois diz que a Comissão foi pedir ao Governo americano que não pedissedados que comprometem o acesso às bases de dados europeias. Ora eu não percebo comoé que a Comissão achou mais fácil ir pedir ao Governo americano, em vez de estabelecercontactos com os Estados-Membros e com os governos dos Estados-Membros da UniãoEuropeia.

Devo confessar que isso para mim só tem uma explicação: traduz uma posição de fragilidadeda Comissão Europeia e significa que as preocupações que o Parlamento Europeu temapresentado relativamente a esta matéria fazem todo o sentido. Nós estamos preocupadosprimeiro com o facto de os Estados Unidos, aparentemente de forma impune, terem seguidouma estratégia de dividir para reinar; depois estamos preocupados com a circunstância devários Estados-Membros terem decidido alimentar relações bilaterais e negociações bilateraiscom alguma falta de solidariedade europeia. Mas estamos preocupados com a lógica dedemissão e desresponsabilização das Instituições europeias, que não nos dá nenhumacapacidade negocial acrescida.

A Europa nesta matéria tem que ter uma voz. Nós temos que garantir que, por via deacordos bilaterais, não há acesso a bases de dados. E o manto de segredo que rodeia estasnegociações, o facto de alguns membros dos Estados-Membros nem sequer aos parlamentosnacionais terem revelado o conteúdo dos memorandos de entendimento e o facto de esteParlamento Europeu continuar a não ter toda a informação sobre a matéria são razões defundo que justificam a nossa preocupação, que não fica nada resolvida com as respostasque a Sra. Comissária acabou de dar.

Alexander Alvaro, em nome do Grupo ALDE. – (DE) Senhor Presidente, gostaria demanifestar o meu sincero agradecimento ao Senhor Comissário, que está a responder aesta pergunta em nome da colega, Senhora Comissária Malmström. Ficamos muito gratospelo seu gesto. Para ser sincero, no entanto, penso que não estamos a trabalhar com basenos mesmos factos. A essência desta questão não é apenas a utilização das bases de dadosde ADN. Os meus colegas deputados evitaram referi-lo explicitamente: o pedido de dadosde ADN, o pedido de impressões digitais, o pedido de dados sobre condenações penais –e tudo por intermédio do sistema criado ao abrigo do Tratado de Prüm. Nesse aspecto,estamos a falar de uma vertente elementar da política comunitária.

Muito sinceramente, não é o que me preocupa aqui. Trata-se de algo que podemos comentar,podemos debatê-lo, podemos encontrar e discutir formas e meios, se assim o entendermos.O que me perturba é que o Conselho e a Comissão não tenham coragem de dizer aosEstados Unidos que o seu comportamento é inaceitável. Não se pode utilizar o Programade Isenção de Vistos para chantagear Estados-Membros – neste caso, a Áustria, que nemsequer é um Estado-Membro recente – dizendo: vamos retirar-lhes a isenção de vistos se

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não estiverem dispostos a ceder-nos estes dados. É interessante notar que umEstado-Membro da União Europeia não pode retirar unilateralmente a isenção de vistosaos Estados Unidos – como retaliação, por assim dizer – porque o acordo estipula que é aUE como um todo que concede a isenção de visto. O que me aborrece é o tom, e queninguém tenha a coragem de tomar uma posição e dizer que, apesar de desejarmos trabalharcom os EUA e manter uma parceria transatlântica, em qualquer boa relação – como emqualquer bom casamento – os bons modos e o respeito fazem parte integrante do seusucesso. É isto exactamente que esperamos da nossa relação com os cidadãos dos EstadosUnidos e com a política norte-americana, e gostaríamos que a Comissão e o Conselhodestacassem mais este aspecto.

Andreas Mölzer (NI). – (DE) Senhor Presidente, assim que o acordo SWIFT foi negociado,tornou-se claro que a noção de protecção de dados que nos tinham transmitido era, narealidade, um engodo embaraçoso para os europeus. Agora a minha opinião é oficial: osistema de supervisão da UE não se revelou – como eu previra – um placebo, um sedativopara os críticos, em poucos anos, mas sim em apenas alguns meses.

É evidente que os EUA não se preocupam minimamente com acordos. Mais uma vez, osEstados Unidos demonstraram que não estão interessados em parceiros, mas, quandomuito, em Estados que digam “sim” e “ámen” a qualquer acto omnipotente dostodo-poderosos EUA. Durante anos, tivemos de engolir em seco e viver com o facto de osEstados Unidos se servirem entusiasticamente dos dados bancários europeus e de, quandoinsistimos em normas europeias de protecção de dados num acordo e nomeámos umsistema de supervisão da UE, os EUA não terem tido problemas em aceder, poiscontinuariam a ter acesso incondicional aos dados através das portas travessas dabilateralidade.

Na minha opinião, não deveríamos esperar pelas próximas conversações transatlânticas,mas deveríamos pôr cobro a este pesadelo neste preciso momento.

Ernst Strasser (PPE). – (DE) Senhor Presidente, Senhora Comissária, Senhoras e SenhoresDeputados, gostaria de subscrever as palavras de um dos oradores que me antecederam.Congratulamo-nos com a sua presença neste Parlamento para fazer uma declaração,Senhora Comissária. Sei que esta não é a sua área de especialização. Contudo, devo dizerque a declaração da Comissão é extremamente insatisfatória. Aconteceu aqui uma coisapara a qual quero chamar a sua atenção.

Os principais grupos desta Câmara querem debater o princípio em causa. Estamosestarrecidos, para dizer o mínimo, com a passividade da Comissão. Passou-se o mesmono caso do acordo SWIFT. Na última sessão plenária, tivemos de dar conhecimento àComissão da existência da taxa de entrada de 14 dólares. Hoje, um colega deputadoperguntou muito a propósito: Que está a Comissão a fazer? Que estão os Estados-Membrosa fazer? Agora chegou ao meu conhecimento que decorrem mesmo discussões com oobjectivo de dar aos cidadãos americanos tratamento preferencial em relação aos europeus!

Devemos afirmar com toda a clareza que queremos ter um debate muito sério com aComissão sobre as questões fundamentais. Entre elas encontra-se, inevitavelmente, areciprocidade. Significa que, em vez de se permitir o acesso a dados europeus, esses dadosdevem ser recuperados através de um procedimento “push”. Trata-se de princípios queactualmente têm uma garantia ainda mais reforçada; e o mesmo se pode dizer dos direitosdos cidadãos – nomeadamente, o direito de cada cidadão de saber que dados a seu respeitoestão a ser utilizados, onde e como, e isto deve, naturalmente, basear-se num conceito

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europeu. O que estamos a ouvir aqui hoje é que a Comissão está, na realidade, a enfraquecera nossa posição negocial face aos EUA ao não coordenar a sua posição com a dosEstados-Membros e, em segundo lugar, ao não tomar ela própria medidas adequadas.

Quando começarão as negociações? Quando serão tomadas medidas? No caso do acordoSWIFT, a pressão do Parlamento resultou na sua conclusão em apenas um mês. Queremosver igual diligência no que se refere aos dados do PNR e aos dados em geral.

Zuzana Roithová (PPE). – (CS) Embora seja necessário combater o terrorismoenergicamente e com todos os meios disponíveis, não é possível, no contexto da cooperaçãointernacional nesta matéria, contornar os critérios democráticos que vigoram nas naçõesligadas pelo Atlântico. Estou, portanto, muito decepcionada por ter ficado demonstrado,no mais recente caso de relações contratuais bilaterais entre a União e os EUA, que aComissão e os Estados-Membros não aprenderam com os erros do passado e produzemacordos à revelia do Parlamento Europeu e dos parlamentos nacionais. O rápido acordoalcançado, que parece talhado à medida das necessidades da pré-campanha eleitoral dosEstados Unidos, põe em causa a legitimidade, a transparência e o controlo democrático.Além disso, estes acontecimentos têm lugar numa altura em que os EUA impuseram umataxa ao regime de isenção de visto para a União, regime esse que foi assinado com base naopinião pública europeia. Pessoalmente, não vejo problema na transferência de dadosseleccionados sobre cidadãos europeus, por exemplo, os passageiros aéreos, para paísesdemocráticos desenvolvidos, mas isso deve verificar-se no respeito de todas as disposiçõesjurídicas e com processos que possam ser analisados por entidades independentes,nomeadamente, deputados do Parlamento Europeu ou juízes.

Monika Flašíková Beňová (S&D). – (SK) A transferência de dados pessoais de cidadãosé sempre uma questão sensível, tanto numa perspectiva do direito civil como dos direitoshumanos.

A transferência de dados de cidadãos dos Estados-Membros da União Europeia para osEstados Unidos é justificada sobretudo pelos esforços que desenvolvemos em matéria decombate ao terrorismo e pelo interesse comum na segurança dos nossos cidadãos. É, semdúvida, uma causa nobre, mas por vezes sinto que em nome da guerra contra o terrorismoestamos gradualmente a destituir os nossos cidadãos da sua privacidade. Não pretendodesvalorizar as negociações entre a União Europeia e os Estados Unidos e mantenho aconvicção de que os EUA são o nosso principal aliado. No entanto, o mero facto de os EUAnegociarem individualmente e bilateralmente com os Estados-Membros, e não apenas coma União Europeia como um todo, fala por si.

A concluir, gostaria de apoiar os Estados-Membros que já concluíram um memorando.Isso aconteceu porque os países em questão já tinham relações com os Estados Unidos emmatéria de vistos e, uma vez que a União Europeia não estava a actuar como uma sóentidade, esses países não tiveram alternativa senão assinar os memorandos bilaterais.Contudo, acredito que a União Europeia não deixará o protagonismo para osEstados-Membros.

Jaroslav Paška (EFD). – (SK) Acredito firmemente que devemos continuar a desenvolveresforços para combater o terrorismo, que continua a representar uma grande ameaça parao mundo civilizado.

Porém, o tratamento dos dados pessoais de viajantes europeus sob o pretexto da prevençãoe do combate ao terrorismo parece descoordenado e desorganizado. Os Estados Unidos

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são o principal receptor de dados pessoais e reúnem dados relativos a cidadãos da UniãoEuropeia com base em acordos com a União Europeia e em acordos bilaterais com algunspaíses. Considero que esta abordagem dupla não deve continuar a ser tolerada. Devemosalterar as disposições em matéria de tratamento de dados pessoas dos cidadãos europeusde modo a impedir que o direito à protecção dos dados pessoais seja violado por processossemi-legais dos Estados-Membros. Nas nossas relações com os Estados Unidos, devemos,portanto, exercer o princípio de reciprocidade e fazer tudo o que estiver ao nosso alcancepara que as regras sejam aceitáveis também para nós, europeus, e que os dados europeusou os dados de cidadãos europeus sejam partilhados em conformidade com as normasvigentes na Europa.

Presidente. – Senhora Deputada Morvai, excepcionalmente, vou permitir a suaintervenção. Caros Colegas, a intervenção de um minuto não pode ser pedida no últimomomento. Se querem participar neste processo, por favor, levantem o braço com bastanteantecedência. Abro uma excepção porque, desta vez, não há muitos deputados na lista.

Krisztina Morvai (NI). – (EN) Muito obrigada, Senhor Presidente. Aceite como atenuanteo facto de aparentemente esta matéria importante não despertar muito interesse e, portanto,não estou a desperdiçar o tempo de muitos deputados.

Qualquer processo de protecção de dados ou qualquer procedimento que viole interessesfundamentais de protecção de dados deve estar relacionado com um objectivo claramenteidentificável e deve ter a capacidade de cumprir o objectivo justificável em causa. Segundoos EUA, qual é, exactamente, o objectivo justificável, e como poderá a transferência dedados pessoais cumprir esse objectivo? Por outras palavras, como vão ser utilizados essesdados? Esta é a minha primeira pergunta à Comissão.

Gostaria também de perguntar porque são utilizados dois níveis de escrutínio – um paraos Estados-Membros “antigos” e outro para os Estados-Membros “mais novos”, entre osquais se inclui o meu país, a Hungria. Porque seria um cidadão húngaro mais perigoso doponto de vista do terrorismo do que qualquer cidadão dos Estados-Membros “mais antigos”?Esta questão foi levantada durante as negociações, ou vai revelar-se problemática?

Sophia in 't Veld, autora. – (EN) Senhor Presidente, obrigada por me permitir pedir aclarificação de dois aspectos.

Fiquei bastante admirada por ouvir a Comissão declarar que a questão do programa deisenção de vistos é da competência apenas dos Estados-Membros – pelo menos penso quefoi isso que a senhora disse, Senhora Comissária. Em 2007, a Comissão Europeia começoupor afirmar que tinha competência exclusiva nesta matéria e acabaria por cedercompetências aos Estados-Membros. Estou correcta ao pensar que a Comissão Europeiamudou agora de opinião sobre as suas competências?

Em segundo lugar, Senhora Comissária, a senhora afirma que não há referência em qualquerdos memorandos de entendimento à transferência de dados contidos nos PNR. Bem, possodar-lhe uma cópia de um dos memorandos de entendimento onde os PNR são mencionados.Isso significa que a Comissão não sabe sequer o que se passa?

Vou clarificar uma coisa, Senhora Comissária. Este Parlamento decidiu adiar a votação dedois acordos PNR porque considerámos que podíamos confiar na capacidade da Comissãoem ser tão responsável enquanto instituição da UE como o Parlamento Europeu. Começoa interrogar-me se a Comissão merece de facto essa confiança. Espero que a SenhoraComissária não nos decepcione.

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(Aplausos)

Maria Damanaki, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, em primeiro lugar,gostaria de dizer que considero este debate muito interessante e que estou aqui para prestaresclarecimentos ao Parlamento, mas não posso aceitar as alegações de que a Comissão nãoé sensível à protecção dos dados dos cidadãos europeus, tal como não posso aceitar aalegação de que estou aqui apenas para substituir a minha colega, sem conhecimento damatéria ou dos acontecimentos. Na Comissão, todos sabemos muito bem – muito bemmesmo – o que se está a passar e posso dizer-vos que somos muito sensíveis à protecçãodos dados dos nossos cidadãos.

Passemos aos factos: devemos respeitar o Tratado de Lisboa ou não? Qual é a proposta doParlamento? Ignorar o Conselho? Ouvi-vos dizer, Senhoras e Senhores Deputados, comtodo o à-vontade, que gostariam que a Europa falasse a uma só voz sobre esta matéria.Estou de acordo: também gostaria que isso acontecesse.

Que preferem, então? Dizer à Comissão que ignore totalmente o Conselho? Gostaria deinformar-vos, Senhoras e Senhores Deputados – trata-se de factos e não de sonhos – quejá o solicitámos ao Conselho, como muito bem sabem, porque não é uma questão nova.Propusemos ao Conselho, em Maio último, que se o futuro acordo-quadro UE-EUA contiveralguma referência a dados pessoais, isso deve aplicar-se também aos dados dosEstados-Membros. Propusemos aquilo que todos referiram aqui.

Se houver acordo, será esse o procedimento. É o que se verifica. Mas se não houver acordocom o Conselho, que propõe o Parlamento que façamos? Dirigimo-nos aosEstados-Membros e dizemos que não podemos continuar? Pelo que entendi, essa é a vossaproposta, e a minha resposta é muito simples: temos de respeitar o Tratado de Lisboa.

Passando a outras questões muito interessantes: ouvi variadíssimas referências à base dedados europeia e à base de dados de Prüm. A minha resposta é que se os Estados-Membrostêm memorandos de entendimento e acordos bilaterais, poderão fornecer dados sobre osseus cidadãos. Não poderão fornecer dados da base de dados da UE ou da base de dadosde Prüm, e fui muito clara sobre esse ponto. Também fui muito clara ao dizer que apelámosaos Estados Unidos – enviámos correspondência e ainda estamos a negociar esta questão– para que aceitassem que os acordos bilaterais não podem aplicar-se aos dados PNR. Nãosignifica que os Estados-Membros não possam ter tentado negociar com os Estados Unidos,mas esta é a posição da Comissão.

Compreendo muito bem as preocupações do Parlamento, mas devemos avançar paranegociarmos melhor – da melhor forma possível – com os Estados Unidos e para criarmosnormas vinculativas para os Estados-Membros no âmbito deste acordo, porque é a únicamaneira de alcançarmos o que as senhoras e os senhores deputados querem alcançar. Éesta a maneira como podemos actuar, portanto a Comissão está a seguir este caminho:estamos neste momento a negociar com os Estados Unidos e estamos a tentar conseguirum acordo com carácter vinculativo para os Estados-Membros.

Foi por este motivo que pedimos ao Conselho que, se houver acordo e se nós conseguirmosproteger os dados na nossa via negocial – entre a UE e os Estados Unidos – o Conselho façao mesmo. O Parlamento tem mais alguma proposta baseada no quadro jurídico que temosde respeitar? Se é esse o caso, estou disposta a ouvi-la. Porém, se não existe uma tal proposta,por favor, compreendam, Senhoras e Senhores Deputados, que também nós somos muito

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sensíveis aos dados dos cidadãos e estamos a tentar protegê-los, mas tentamos igualmenterespeitar os Estados-Membros e o Conselho.

O processo está em marcha. Ouvi todas as preocupações do Parlamento e vou tê-las emconsideração. O que a Comissão pode fazer é dirigir-se ao Conselho e pedir que parem asnegociações com qualquer outro país. O que podemos dizer é que vamos negociar e depoisvamos tentar trazer o Conselho para a mesma via. É assim que podemos actuar.

Presidente. – Senhora Comissária, dado que estou por dentro da matéria, permita-mesimplesmente que sublinhe que praticamente todos os grupos políticos desta Câmaraexpressaram grandes preocupações, tal como ouviu. Existe um acordo PNR a serrenegociado e que será em breve apresentado. É extremamente importante para esteParlamento que a Comissão encare estas preocupações com gravidade e que não sintamoso desfasamento que sentimos, por exemplo com o acordo SWIFT.

No passado recente, também salientámos nestes debates as áreas cinzentas, que são muitoperigosas. Por exemplo, se cada Estado-Membro fornecer a um país terceiro os dados quecoloca nas bases de dados europeias – nomeadamente, Schengen – esse país terceiro poderárecolher todos os dados existentes na base de dados de Schengen. Embora não os obtenhadirectamente de Schengen, obtém-nos individualmente de cada Estado-Membro.

Neste contexto, tal como a Senhora Comissária referiu muito correctamente, estamosgratos pela veemência com que a Comissão está a proteger o pilar comunitário nestasituação. Permita-me que lhe peça que vele por que isso seja feito da melhor maneirapossível.

Maria Damanaki, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, concordo que temosde ter em conta todas as preocupações e que há uma área de inquietação.

Fui clara quanto a isso desde o início e gostaria que o Senhor Presidente o compreendesse.

A Comissão está a tentar encontrar vias legais que respeitem os tratados para resolver esteproblema, para proteger os dados e para tentar reforçar o pilar comunitário nesta situação.

No entanto, não é o nosso único pilar. Gostaria de recordar que compreendi todas aspreocupações. Gostaria que entendessem que pedimos um compromisso ao Conselho. Seconseguirmos garantir a protecção de dados no nosso acordo, já pedimos ao Conselhoque assuma esse compromisso.

É a única maneira legal de avançarmos neste processo.

Presidente. – Está encerrado o debate.

16. Convenção sobre a Futura Cooperação Multilateral nas Pescarias do Noroestedo Atlântico - Regime de controlo e de coerção aplicável na área da Convençãosobre a Futura Cooperação Multilateral nas Pescas do Atlântico Nordeste (debate)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia a discussão conjunta de:

- recomendação (A7-0262/2010) do deputado Jarosław Leszek Wałęsa, em nome daComissão das Pescas, referente à proposta de decisão do Conselho relativa à aprovação,em nome da União Europeia, da emenda à Convenção sobre a Futura CooperaçãoMultilateral nas Pescarias do Noroeste do Atlântico (11076/2010 - C7-0181/2010 -2010/0042(NLE)) e

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- relatório (A7-0260/2010) da deputada Carmen Fraga Estévez, em nome da Comissão dePescas, sobre a proposta de regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho queestabelece um regime de controlo e de coerção aplicável na área da Convenção sobre aFutura Cooperação Multilateral nas Pescas do Atlântico Nordeste (COM(2009)0151 -C7-0009/2009 - 2009/0051(COD)) .

(O Presidente salienta que os oradores devem respeitar rigorosamente o tempo de intervenção)

Jarosław Leszek Wałęsa, relator. – (PL) A convenção que tenho a honra de apresentarfoi assinada em Otava em 1978 e entrou em vigor em 1 de Janeiro de 1979. A Organizaçãodas Pescarias do Noroeste do Atlântico, ou NAFO, foi criada ao abrigo da convenção como objectivo de promover a conservação e a gestão racionais dos recursos haliêuticos epromover a cooperação internacional. As partes contratantes aprovaram emendas àconvenção nas reuniões anuais da NAFO em 2007 e 2008. Este documento introduzalterações de fundo à convenção com o principal objectivo de tornar a sua formulaçãoconforme aos textos de outras convenções à escala regional, bem como de instrumentosinternacionais, e incorporar conceitos actuais de gestão de pescas. A estrutura organizativafoi actualizada, foi introduzida uma repartição clara de responsabilidades entre as partescontratantes, Estados de pavilhão e Estados do porto, foi criado um processo decisóriomais coerente, o sistema de contribuições para o orçamento da NAFO sofreu uma reformae foi estabelecido um mecanismo de resolução de eventuais litígios entre as partescontratantes.

Tendo em conta os direitos de pesca concedidos à União Europeia nos termos da convenção,a ratificação das alterações propostas é do interesse da União. Portanto, devemos aceitarratificar as alterações à convenção. Contudo, gostaria de salientar, de forma clara e precisa,alguns problemas que surgiram durante a ratificação. Em primeiro lugar, as partescontratantes aprovaram alterações numa reunião anual da NAFO em 2007, que produziuuma versão inglesa. Em 2008, foi emitida uma versão francesa, mas o documento COM,que constitui a proposta da Comissão relativa à transposição para o direito comunitário,tem data de 8 de Março de 2010. Significa que o trabalho no documento demorou maisde dois anos. Semelhante demora não é aceitável e não deve repetir-se. Um processodecisório rápido é uma condição necessária para o funcionamento eficiente da União. Astrês instituições – Comissão, Conselho e Parlamento – devem encontrar uma soluçãoadequada para evitar atrasar o processo e realizar um dos principais objectivos do Tratadode Lisboa, isto é, simplificar e acelerar o processo decisório. O caso presente apresentadopara ratificação comprova que algo continua mal e são necessárias medidas urgentes pararectificar a situação. Em segundo lugar, gostaria de recordar aos presentes que o Tratadode Lisboa entrou em vigor em Dezembro de 2009. No contexto dos direitos adquiridosrecentemente, a Comissão das Pescas e o Parlamento Europeu devem estar adequadamenterepresentados em quaisquer negociações sobre futuras convenções internacionais. Em2007 e 2008, o Parlamento Europeu não esteve representado, por motivos óbvios. Contudo,a nossa instituição está pronta para ratificar o acordo no quadro das suas competências,mas, simultaneamente, devemos recordar ao Conselho e à Comissão os novos requisitosprocessuais e a necessidade de respeitarem as novas competências do Parlamento Europeu.

Carmen Fraga Estévez, relatora. – (ES) Senhor Presidente, permita-me que expresse aminha gratidão ao Conselho e à Comissão por terem alcançado este acordo excelente emprimeira leitura e gostaria de agradecer, em especial, a cooperação e a ajuda dos serviçosjurídicos das três instituições com vista à resolução dos problemas resultantes do novoprocedimento de comitologia resultante do Tratado de Lisboa.

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Considero que conseguimos um bom compromisso, especialmente porque representa umprogresso significativo relativamente à situação actual, embora, como acontece comqualquer compromisso, todas as partes tenham sido obrigadas a transigir e a adoptar umapostura flexível numa tarefa que foi particularmente complexa, dado que a proposta daComissão foi apresentada antes da entrada em vigor do Tratado de Lisboa. Isso significouque, simultaneamente, teve de ser adaptada à nova situação, nomeadamente no que serefere aos artigos 290.º e 291.º do Tratado, relativos a actos delegados e a actos de execução.

Uma vez que se trata de uma transposição para o direito da UE de recomendações emitidaspor uma organização de pesca regional – a Comissão de Pescas do Atlântico Nordeste(NEAFC) – que será seguida por muitas outras, o objectivo do Parlamento foifundamentalmente criar um mecanismo que permitisse a maior celeridade possível nastransposições, evitando que atrasos burocráticos internos nos impeçam de respondercorrectamente às nossas obrigações internacionais, como se tem verificado.

Portanto, na sequência do compromisso alcançado com o Conselho relativamente àssubsequentes alterações ao presente regulamento, a nova formulação do artigo 48.ºpermitirá à Comissão cumprir as obrigações impostas pela NEAFC e adaptar-se a novasrecomendações que poderão surgir no futuro, através da delegação de competências.

É verdade que a Comissão desejava a possibilidade de revisão de todos os artigos da propostaatravés de actos delegados, e o compromisso aceita que isso se verificará na maioria dosartigos, excepto em áreas como o registo das capturas, os transbordos, as inspecções ou ocontrolo das infracções: por outras palavras, essencialmente, questões relacionadas como controlo e a supervisão, que permanecerão fora do quadro do processo legislativoordinário.

Em qualquer caso, Senhora Comissária, o Parlamento compromete-se a alterar esteprocedimento se ficar demonstrado que a inclusão destes aspectos no âmbito do processolegislativo ordinário poderá pôr em causa o cumprimento das obrigações da União Europeiae, em especial, as obrigações da Comissão enquanto parte contratante da organizaçãoregional de pescas.

É pelos motivos expostos que consideramos que este compromisso representa umsignificativo passo em frente, não só no que diz respeito a esta proposta específica, mastambém no que se refere ao lançamento das bases de futuras discussões entre o Conselho,a Comissão e o Parlamento em matéria de política das pescas.

Maria Damanaki, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, a Comissão exorta oParlamento a dar o seu consentimento à aprovação de emendas à Convenção sobre a FuturaCooperação Multilateral nas Pescarias do Noroeste do Atlântico, designadas no seu todocomo Emenda à Convenção NAFO.

Gostaria de agradecer ao senhor deputado Wałęsa o importante contributo que nos deucom este relatório.

A emenda em causa revê a convenção para tornar a sua formulação conforme aos textosde outras convenções regionais e instrumentos internacionais. Incorpora conceitos actuaisem matéria de gestão de pescas, simplifica a estrutura da Organização das Pescarias doNoroeste do Atlântico (NAFO) e introduz uma definição clara das responsabilidades daspartes contratantes, dos Estados de pavilhão e dos Estados do porto, bem como um processodecisório mais coerente.

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Moderniza a fórmula que define as contribuições da NAFO e estabelece um mecanismode resolução de litígios entre as partes contratantes.

Esta alteração profunda contribuirá para que a UE cumpra as suas obrigações internacionaisem matéria de pesca sustentável e ainda para a promoção dos objectivos do tratado. Umaratificação célere da emenda será do interesse da UE e, portanto, recomendo-a aoParlamento.

Vou agora passar ao segundo relatório, relativo ao regime de controlo e de coerção aplicávelna área da Convenção sobre a futura Cooperação Multilateral nas Pescas do AtlânticoNordeste.

Quero agradecer à senhora deputada Fraga Estévez o seu trabalho neste relatório.Congratulo-me por constatar o forte apoio da Comissão das Pescas ao conteúdo destaimportante proposta.

A aplicação do regime de controlo e de coerção da Comissão de Pescas do AtlânticoNordeste (NEAFC) é uma medida fundamental para nos ajudar a gerir os recursos haliêuticosna região do Atlântico e para erradicarmos a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada(IUU).

Porém, devo salientar que a Comissão não está inteiramente satisfeita com o acordo globalalcançado entre o Parlamento e o Conselho durante o trílogo com a Comissão.

Estou, aliás, decepcionada com determinados resultados, em particular, no que se refereao artigo 48.º, relativo ao procedimento de alteração do regulamento.

A Comissão tem tentado obter poderes delegados mais adequados à transposição de futurasemendas ao regime. Passo a explicar o motivo – e gostaria que os senhores deputadosestivessem atentos porque teremos problemas idênticos no futuro.

Como sabem, a União Europeia necessita de aplicar este regime na íntegra porque estamosa tal obrigados pela Convenção NEAF. Ao abrigo da convenção, as emendas tornam-sevinculativas para nós, normalmente, 80 dias após a sua aprovação. Portanto, temos 80dias para as aplicar. Preocupa-me profundamente que os poderes limitados delegados àComissão pelos co-legisladores possam entravar a transposição atempada das emendaspara o direito da UE. Esta é a realidade e esta é a resposta às preocupações do senhordeputado Wałęsa sobre o calendário de execução.

Embora não seja minha responsabilidade subscrever o acordo, gostaria que tivessemconsciência do problema.

Em última instância, temos de evitar transformar a transposição das medidas da NEAFCnuma versão moderna do mito de Sísifo. Na actual situação, as medidas aprovadas pelaNEAFC no ano passado terão sido transpostas no momento em que o acordo global finalfor aprovado, mas no próximo mês a NEAFC aprovará muito provavelmente novasemendas, o que exigirá uma transposição efectiva para o direito da UE no início de 2011.

Logo, necessitamos de mais tempo para este processo.

Portanto, a Comissão considera que o presente regulamento não prejudica qualquer posiçãofutura da instituição no que se refere à aplicação dos artigos 290.º e 291.º do Tratado sobreo Funcionamento da União Europeia para a transposição de medidas da Organização deGestão de Pesca Regional.

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Além disso, a Comissão reserva-se o direito de propor emendas ao regulamento,aumentando o número de medidas a serem aprovadas por actos delegados ou actos deexecução.

Optaremos por essa via se a transposição através do processo legislativo ordinário resultarem atrasos que poderão comprometer o nosso dever de actuar em conformidade com asobrigações internacionais.

Entretanto, gostaria mais uma vez de agradecer à senhora deputada Fraga Estévez e aosenhor deputado Wałęsa pelos relatórios que elaboraram e à Comissão das Pescas pelotrabalho que realizou nestas importantes matérias.

Alain Cadec, em nome do Grupo PPE. – (FR) Senhor Presidente, Senhora Comissária,Senhoras e Senhores Deputados, vou falar sobretudo do relatório elaborado pela senhoradeputada Fraga Estévez. Trata-se de um relatório que dá hoje voz à nossa opinião e quetem uma importância fundamental no reforço do controlo no Atlântico Nordeste e dopapel do Parlamento Europeu enquanto co-legislador em matéria de política comum daspescas.

Efectivamente, uma das prioridades da Comissão das Pescas do Parlamento Europeu é lutarcontra a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada, que afecta directamente os nossospescadores e as indústrias europeias de pesca. São, de facto, vítimas da concorrência deslealde uma indústria de pesca clandestina. Armadores ilegais exploram tripulações mal pagase vendem produtos de pesca a preços muito baixos. O incumprimento do direito do mar,das convenções da Organização Internacional do Trabalho e do Regulamento “IUU” de1 de Janeiro de 2010 por parte desses operadores resultou na perda de competitividadedos armadores europeus em virtude dos custos laborais que têm de suportar. Queremosuma harmonização das normas no sentido ascendente e que os países terceiros apliquemas condições de trabalho que vigoram na União Europeia.

Os pescadores europeus cumprem também normas de gestão e controlo rigorosas quepromovem a preservação dos recursos e o desenvolvimento sustentável do sector europeudas pescas, mas as referidas normas não devem penalizar os nossos pescadores face àquelesque não as cumprem. Portanto, apelo ao reforço do controlo e à aplicação adequada dassanções sobre a pesca ilegal.

Tendo isto em conta, felicito a presidente da nossa comissão pelo relatório que elaborou,que sublinha que o regime de controlo adoptado pela Comissão de Pescas do AtlânticoNordeste (NEAFC) deve ser transposto para o direito europeu sem demora e, maisespecificamente, congratulo-me com a introdução do programa tendente a promover ocumprimento pelos navios das partes não contratantes. Este relatório também clarifica oâmbito do artigo 290.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia no que serefere aos actos delegados.

Congratulo-me ainda com a adição em anexo de três declarações que definem as condiçõespara a execução de actos delegados, que permitem a monitorização das competências deexecução da Comissão e a manutenção do equilíbrio institucional.

Recordo que o Parlamento, enquanto legislador, deve ter total liberdade para actuar emmatéria de delegação.

Ulrike Rodust, em nome do Grupo S&D. – (DE) Senhor Presidente, Senhora ComissáriaDamanaki, Senhoras e Senhores Deputados, congratulo-me por podermos aprovar um

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regulamento que representa mais um pequeno passo rumo ao objectivo da pesca sustentável,por nós partilhado. As organizações regionais de gestão de pesca são instituiçõesextraordinariamente importantes para uma boa gestão à escala mundial. Infelizmente, asnegociações são frequentemente difíceis e evoluem demasiado lentamente para pessoasimpacientes como eu. Temos, portanto, de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance parareforçar os poderes das organizações regionais de gestão de pesca.

Passo agora a comentar o resultado específico do relatório sobre a NEAFC. Fico muitosatisfeita com a nova decisão relativa ao controlo do Estado do porto no âmbito da NEAFC,bem como com as novas medidas que visam impedir a pesca ilegal. No entanto, foramnecessárias negociações intensivas com o Conselho e com a Comissão em matérias queparecem extremamente técnicas à primeira vista, mas que são importantes para o nossotrabalho futuro. Penso que chegámos a um compromisso que é aceitável para todas aspartes no que se refere aos actos delegados.

Também conseguimos chegar a acordo sobre o modo como futuras decisões no âmbitoda NEAFC serão transpostas para o direito da UE. Não é segredo, porém, que a Comissãonão ficou particularmente satisfeita com os resultados alcançados nesta matéria. Écompreensível. Não podemos permitir que a União Europeia demore anos a aplicar asdecisões da NEAFC. Tendo isto em conta, o Conselho e o Parlamento devem comprovarque são capazes de concluir um processo de co-decisão com celeridade quando necessário.

Por fim, gostaria de tecer algumas considerações sobre uma questão muito actual: o litígiocom a Islândia relativo à pesca da cavala. Já existe a NEAFC, que gere as águas internacionaisdo Atlântico Nordeste. Contudo, no caso de espécies migratórias como a cavala, tambémé necessário um acordo aplicável às águas territoriais. Como sabem, este continua a serum ponto de discórdia. Considero lamentável que, não obstante a generalidade dacooperação ter funcionado, ainda haja divergências tão grandes nesta matéria. E se déssemosàs organizações regionais de gestão da pesca autoridade para agir em águas costeiras – pelomenos, no que ser refere às espécies migratórias? Seria um passo radical, claro, mas éincontestável que merece ser apreciado.

Britta Reimers, em nome do Grupo ALDE. – (DE) Senhor Presidente, Senhora Comissária,Senhoras e Senhores Deputados, a Convenção sobre a Futura Cooperação Multilateral nasPescarias do Noroeste do Atlântico criou um organismo muito importante: a Organizaçãodas Pescarias do Noroeste do Atlântico, ou NAFO. O seu objectivo é a gestão racional e aconservação dos recursos haliêuticos no Noroeste do Atlântico. Desde então, a Convençãofoi alvo de emendas a fim de estar mais em conformidade com outras convenções regionais.Foram incorporados conceitos modernos, nomeadamente, o de gestão de recursos.Considero importante que a estrutura da organização tenha sido simplificada e que asobrigações das partes contratantes estejam claramente definidas. O estabelecimento deum processo de resolução de litígios também é positivo. As possibilidades de pescaatribuídas à União Europeia nos termos da Convenção são do interesse da UE. O Parlamentodeve dar a sua aprovação ao abrigo das novas competências que lhe foram atribuídas peloTratado de Lisboa.

Enquanto relatora-sombra do Grupo da Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa,felicito o senhor deputado Wałesa pelo relatório que apresentou a esta Assembleia.

Isabella Lövin, em nome do Grupo Verts/ALE. – (EN) Senhor Presidente, quero agradeceraos relatores, senhora deputada Fraga Estévez e senhor deputado Wałęsa, os relatórios queestamos hoje a debater.

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A Comissão de Pescas do Atlântico Nordeste (NEAFC) é uma organização regional degestão das pescas (ORP) muito importante para a Europa e para os ecossistemas do AtlânticoNorte. Uma avaliação independente do desempenho da NEAFC teve um resultado globalpositivo, o que nem sempre acontece com as ORP. Embora a NEAFC tenha um desempenhosuperior ao das outras ORP, a situação das principais unidades populacionais de peixes nazona da Convenção é crítica. O desempenho não pode ser avaliado no que se refere aosaspectos económicos e sociais, o que cria enormes incertezas quanto à concretização doobjectivo da Convenção. No entanto, as melhorias verificadas nos meios de controlo evigilância, bem como a aplicação de listas negras com navios que exercem actividades IUUe ainda as medidas relativas ao Estado do porto são realizações importantes.

Outro resultado da avaliação foi a instituição de um mecanismo de resolução de litígios;mas a UE demorou demasiado tempo a transpor esta matéria para legislação. As medidasem causa foram adoptadas pela NEAFC já em 2006 e só agora entraram em vigor. A UEdeve estar mais bem preparada para responder a novas situações e deve estar à altura dassuas responsabilidades internacionais.

O combate à pesca ilegal é cada vez mais importante. Em alguns pesqueiros, 30% da capturaé ilegal. À escala global, 11 a 26 milhões de toneladas de peixe, num valor estimado de 23mil milhões de dólares, são desembarcadas ilegalmente todos os anos. Estes valoresequivalem a cerca de um quinto da captura declarada mundial. A pesca ilegal prejudica emparticular a gestão sustentável da pesca em alto mar e em águas costeiras de países emdesenvolvimento, mas não só. Também tem consequências ambientais, sociais e económicasde vulto.

A entrada em vigor do regulamento sobre o regime de controlo e dos regulamentos sobrea pesca IUU oferece instrumentos importantes à UE. Na zona da Convenção sobre aConservação da Fauna e da Flora Marinhas da Antárctida, os operadores que exercem pescaIUU reagem às medidas de gestão destinadas a reduzir esse tipo de pesca alterandopesqueiros, portos, desembarques e Estados de pavilhão. Esta capacidade de adaptaçãoresultou numa “corrida ao armamento” entre os operadores IUU e as organizações degestão da pesca à escala nacional e internacional. Os mecanismos de observância de umaORP podem levar os navios IUU a mudarem de pesqueiro. Actualmente, os operadoresIUU mudam regularmente de Estado de pavilhão – o chamado flag hopping. Trata-se deuma prática que a UE tem de enfrentar.

A UE tem de ir mais longe. A existência de cooperação entre as ORP é fundamental, mastambém devemos tomar a iniciativa de elaborar um registo mundial de navios de pesca –incluindo todos os navios de apoio – que designe claramente o proprietário beneficiáriode uma embarcação. A UE deve assumir maiores responsabilidades na luta contra a pescaIUU a nível mundial.

Marek Józef Gróbarczyk, em nome do Grupo ECR. – (PL) Começo por felicitar os relatorespelos relatórios de enorme significado e importância por eles elaborados, sobretudo noque se refere à regulamentação das inspecções. Tendo em conta as situações verificadasem águas da União Europeia que não são inspeccionadas ou onde não se observam oscontrolos, devem ser tomadas medidas para que todas as águas pesqueiras da União Europeiasejam inspeccionadas.

Contudo, no âmbito das inspecções, deve salientar-se que não existe um regime uniformede distribuição de quotas ou de declaração de capturas nos Estados-Membros. As análisesapresentadas comprovam que nem mesmo a Comissão tem o know-how necessário neste

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domínio e, em mais de uma ocasião, as opiniões apresentadas pelos representantes daComissão revelaram-se contraditórias. Paralelamente, as agências consultivas regionaistambém não possuem esses conhecimentos. Vale a pena recordar a situação trágica dapopulação de arenque no Báltico Ocidental. Realizam-se inquéritos sobre as razões da crisedesde 2004. Ainda não foi encontrada uma explicação plausível. A omissão do problemado excesso de produção de farinha de peixe e de óleo de peixe é incompreensível.

A questão da Agência Comunitária de Controlo das Pescas, em Vigo, que por vezesapresentou relatórios de inspecção subjectivos, como no caso do Báltico Oriental, tambémdeve ser abordada. A inspecção de unidades de pesca industrial está atolada em controvérsia.Porém, uma questão fundamental neste momento é a construção do gasoduto do Norteda Europa, um caso em que os pescadores se encontram isolados na defesa dos seuslegítimos direitos e na reivindicação de direitos perdidos. Tudo isto nos obriga a realizaruma análise mais aprofundada, que deverá ser incorporada numa futura política comumdas pescas, e todos os relatórios deverão estar em conformidade com essa política.

Diane Dodds (NI). – (EN) Senhor Presidente, Senhora Comissária Damanaki, a senhoraestá a ter um final de dia atarefado, dado que já nos encontrámos na Comissão das Pescas.Em primeiro lugar, quero agradecer aos relatores os relatórios que apresentaram e reiteraros comentários de muitos colegas sobre as preocupações relativas à demora na resoluçãodestas matérias.

Contudo, quero aproveitar esta oportunidade no Parlamento para referir os acordos depescas de um modo mais geral e salientar a necessidade de cooperação de todas as partespara a sua concretização. Esta questão foi abordada pela senhora Comissária quandoafirmou que os acordos requerem o exercício de responsabilidade de todos os intervenientes.

Agora, imaginem que acabam de fazer um investimento multimilionário numa nova fábricacom tecnologia de ponta, que produz anualmente um produto de valor elevado com origemnum recurso renovável e sustentável e de acordo com as mais rigorosas normasinternacionais. Subitamente, o vosso vizinho decide rasgar o acordo e declararunilateralmente que vai ampliar enormemente a sua quota do recurso natural do qual ovosso negócio depende. Foi isso exactamente que aconteceu com o arenque e, em particular,com uma família de pescadores na Irlanda do Norte.

É claro que me refiro ao Acordo dos Estados Costeiros, celebrado entre a UE, a Noruega,a Islândia e as Ilhas Faroé. Senhora Comissária, ouvimos a sua intervenção econgratulámo-nos com a posição forte que assumiu nesta matéria em particular. Queremosreconhecer os seus esforços em nome desses pescadores, mas também queremos exortaro Parlamento e a Comissão a estarem firmemente ao seu lado enquanto negoceia umasolução para uma situação que se está a tornar muito difícil e tensa.

Seán Kelly (PPE). – (EN) Senhor Presidente, estão presentes três oradores da Irlanda: asenhora deputada Dodds, que já interveio, o senhor deputado Pat the Cope, que vai intervirdentro de momentos, e eu próprio. Nós três representamos quase toda a comunidadepiscatória da ilha da Irlanda. Há muitos anos que a pesca é importante para o nosso país.Temos comunidades costeiras maravilhosas que dependem da pesca, mas, como já aquiafirmei, nunca encontrei um grupo de pessoas tão desiludidas como aqueles pescadores.Isso deve-se às quotas, à pesca ilegal, à falta de rastreabilidade do peixe até ao garfo e, emparticular, a regulamentos que pecam por excesso de zelo e a sanções draconianas, bemcomo à concorrência desleal de peixe importado, de qualidade e origem duvidosas.

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Felizmente, os relatores abordaram algumas destas questões esta noite. Congratulo-meespecialmente com a proposta da Convenção sobre a Futura Cooperação Multilateral nasPescas do Atlântico Nordeste com o fim de impedir o desembarque em portos europeusde pescado congelado cuja legalidade não tenha sido confirmada pelo Estado de pavilhãodo navio. É uma medida muito importante e espero que seja aplicada com o mesmo zelocom que aplicámos os nossos regulamentos que afectaram as nossas comunidadespiscatórias.

Os relatores sublinharam que é importante que o Parlamento conserve o seu direito deescrutinar futuras alterações à Convenção, mas é igualmente importante que a Comissãoe o Parlamento trabalhem em estreita colaboração para conseguirem os melhores benefíciospossíveis para as nossas comunidades costeiras, que são, em grande medida, as nossascomunidades piscatórias.

A concluir, não devemos perder esta oportunidade de analisar as possibilidades em abertopara o desenvolvimento da aquicultura. Importa-se demasiado peixe para a União Europeiaque poderíamos nós mesmos produzir. Há, sem dúvida, uma grande oportunidade dedesenvolvimento da aquicultura nestes tempos de crise económica.

Josefa Andrés Barea (S&D). – (ES) Senhor Presidente, gostaria de agradecer à senhoraComissária Damanaki a sua presença no Parlamento e de felicitar os relatores, senhordeputado Wałesa e senhora deputa Fraga.

O relatório da senhora deputada Fraga resulta das recomendações relativas ao regime decontrolo aprovadas pela Comissão de Pescas do Atlântico Nordeste (NEAFC) em 2006,embora a Convenção tenha sido elaborada em 1982, e redefine as normas de controlo ecoerção aplicáveis aos navios nas zonas da Convenção. O relatório da senhoradeputada Fraga constitui o quadro jurídico incluído na proposta de regulamento paraaplicação das medidas a nível europeu.

As principais alterações são: a promoção do cumprimento das normas pelos navios daspartes não contratantes; um novo regime de controlo; a interdição do desembarque depescado congelado cuja legalidade não tenha sido confirmada; a conformidade com outrasconvenções; novas medidas em matéria de gestão das pescas; e novas medidas de combateà pesca ilegal.

Gostaria de salientar algo que outros deputados já realçaram. O relatório da senhoradeputada Fraga refere que as recomendações relativas ao regime de controlo foramaprovadas em 2006, não obstante a Convenção ter sido assinada em 1982, há 28 anos, e,por outro lado, a Convenção referida no relatório do senhor deputado Wałesa foi aprovadaem 1978, e penso que o relator disse que foi transposta em 1989. Por outras palavras,gostaria de expressar o meu desacordo relativamente ao método utilizado pela Comissãopara transpor as recomendações das organizações regionais de gestão de pesca.

Não só a pesca ilegal deve ser controlada através dos totais admissíveis de captura e quotas,como necessitamos de resolver o vazio jurídico que poderá resultar da carência detransposição da legislação.

Não basta transpor recomendações de outros regulamentos, porque essa solução reduz aclareza e a credibilidade. Além disso, põe em causa o processo legislativo ordinário e oequilíbrio institucional. As medidas adoptadas nas organizações regionais devem serincorporadas com eficiência e celeridade. O Parlamento tem sublinhado com frequênciaque as organizações regionais e os respectivos acordos têm prioridade.

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A ausência de conformidade com o direito da UE na transposição de decisões tomadaspelas organizações regionais é prejudicial para o Parlamento e desacredita a natureza doTratado de Lisboa.

A senhora Comissária declarou que em breve existirão novos acordos. Portanto, e emcurtas palavras, apelamos à Comissão para que seja célere e dinâmica na transposiçãojurídica dos acordos. Não permitamos que um vazio jurídico promova ilegalidades napesca.

Pat the Cope Gallagher (ALDE). – (EN) Senhor Presidente, antes de mais nada, gostariade felicitar ambos os relatores pelos relatórios que apresentaram e referir, em particular,o relatório da senhora deputada Carmen Fraga Estévez, que não suscitou controvérsia,uma vez que todas as partes acordaram um compromisso. O relatório visa garantir aconservação e a gestão racionais a longo prazo dos recursos haliêuticos no AtlânticoNordeste, bem como oferecer benefícios ambientais e sociais sustentáveis.

Gostaria de aproveitar a oportunidade para chamar a atenção para o litígio que se está averificar em relação ao arenque, dado que parte da unidade populacional é pescada na zonado Atlântico Nordeste. É importante que o referido litígio seja resolvido tão depressa quantopossível, dado que a pesca excessiva de arenque terá um impacto devastador em futurascapturas. É vital que a unidade populacional seja pescada de forma sustentável, e todas aspartes devem assinar um acordo nesse sentido. Tenho conhecimento de que as recentesnegociações em Londres foram inconclusivas, mas sublinho que serão retomadas napróxima semana. Desejo felicidades aos negociadores e espero que impere o bom senso.Senhora Comissária, julgo que vai avaliar a situação depois das negociações em26 de Outubro e congratulo-me com a posição firme que assumiu. Deve assegurar queesta unidade populacional gerida em conjunto se mantenha sã no futuro. A concluir, nãonos podemos dar ao luxo de repetir os erros verificados com o verdinho. Não podemosdizimar esta vigorosa população de arenque.

Ian Hudghton (Verts/ALE). – (EN) Senhor Presidente, ao dar o meu apoio aos relatóriosque estamos a debater, devo aproveitar a oportunidade para fazer alguns comentários decarácter geral sobre os acordos de pescas internacionais e multinacionais.

Para que os acordos entre nações que se dedicam à pesca tenham êxito, é indispensável aexistência de incentivos para que todas as partes cumpram as medidas de conservação queocasionalmente possam ser necessárias.

Também é forçoso que haja confiança nos pareceres científicos que servem de base aosplanos de conservação e gestão. Do ponto de vista da minha nação de pescadores, a Escócia,a política comum das pescas – o acordo internacional da própria UE – não tem tido muitoêxito.

O chamado plano de recuperação do bacalhau está a provocar devoluções de peixe emperfeitas condições e impõe uma combinação de limitação de quotas e de número de diasno mar que é quase inviável. O actual litígio relativo ao arenque – a pescaria de maior valorpara a Escócia –, que já aqui foi referido por outros oradores, tem implicações em todas asnegociações internacionais.

Para se manter acesa a esperança de êxito em acordos entre nações que se dedicam à pesca,não pode haver unidades populacionais ameaçadas por uma corrida unilateral à capturado peixe existente.

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Exorto a senhora Comissária a prosseguir o bom trabalho na procura de uma solução paraeste litígio. Sei que ficou consciente das fortes convicções dos escoceses em relação a estamatéria, na sua recente visita, mas apelo, em termos genéricos, para que a senhoraComissária tenha em mente a necessidade de garantirmos pareceres científicos sólidos emtudo o que tentarmos fazer, que tenhamos normas sensatas e viáveis no que se refere aosplanos de gestão – o que seria uma novidade no âmbito da PCP – e que possamos contar,acima de tudo, com incentivos para que os destinatários desses planos, isto é, ascomunidades piscatórias, cumpram as normas.

Daciana Octavia Sârbu (S&D). – (RO) A pesca ilegal, não declarada e não regulamentadadestrói comunidades das regiões costeiras, tem um impacto devastador sobre osecossistemas marinhos e representa uma ameaça para os recursos alimentares. É por estesmotivos que me congratulo com o acordo alcançado com o Conselho e considero quedemos um passo em frente na aplicação das recomendações da Comissão de Pescas doAtlântico Nordeste.

Reforçar as medidas de controlo e baseá-las em legislação sólida são passos essenciais paracumprirmos as obrigações que assumimos ao assinar o tratado e para proteger os recursosdo Atlântico, que são alvo, actualmente, de um excesso de pesca. No entanto, apesar dosprogressos registados, o âmbito de aplicação do regulamento não nos permite enfrentartotalmente os problemas relacionados com a pesca ilegal, não declarada e nãoregulamentada.

Todos sabemos que milhares de embarcações arvoram pavilhões de Estados que não queremou não conseguem aplicar a legislação internacional. Não são apenas as populações depeixe que sofrem, mas também o meio marinho. As condições de trabalho a bordo demuitas dessas embarcações são de autêntica escravatura.

Czesław Adam Siekierski (PPE). – (PL) As convenções sobre a futura cooperaçãomultilateral nas pescas no Atlântico Noroeste e Nordeste carecem de adequação aos desafiosactuais, razão pela qual os regulamentos necessitam de alterações. As alterações propostasdizem respeito: em primeiro lugar, à exploração racional das unidades populacionais; emsegundo lugar, a um método correcto de gestão das pescas e a métodos apropriados depesca; e, em terceiro e último lugar, à prevenção da pesca ilegal.

As alterações em causa promoverão um desenvolvimento sustentável das pescas a longoprazo, mas é necessária uma monitorização constante do processo de esgotamento dasunidades populacionais e dos processos de repovoamento a fim de se avaliar a situaçãoexistente e de se tomarem decisões adequadas neste domínio.

Elie Hoarau (GUE/NGL). – (FR) Senhor Presidente, durante as negociações dos acordosda Organização das Pescarias do Noroeste do Atlântico (NAFO), o chefe da delegação daUE comprometeu-se a tornar a ceder a quota francesa de pesca de bacalhau aos pescadoresde Saint Pierre e Miquelon. Essa retrocessão não consta no acordo NAFO.

Em nome dos pescadores de Saint Pierre e Miquelon, solicito confirmação da referidaretrocessão e da sua formalização. Creio que isso exigirá uma simples carta assim que osacordos NAFO forem definitivamente ratificados. Pode a senhora Comissária dar-nosalguns pormenores sobre esta matéria?

João Ferreira (GUE/NGL). - Senhor Presidente, Senhora Comissária, a cooperaçãomultilateral no domínio das pescas em águas internacionais é a condição para garantir asustentabilidade das pescarias com a preservação a médio e longo prazo dos recursos

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pesqueiros. A definição de medidas de conservação e de gestão de recursos ao nível dasorganizações regionais de pesca deve, naturalmente, ser acompanhada da definição dasmedidas que assegurem o seu efectivo cumprimento.

Somos, por isso, favoráveis a que se colmatem as falhas no sistema de controlo, em especialno que respeita às actividades de pesca ilegal, não declarada e não regulamentada. O controlodas actividades de pesca coloca hoje exigências acrescidas aos Estados-Membros, seja noâmbito da Política Comum das Pescas, seja no âmbito da cooperação multilateral, comoa transposição agora proposta vem demonstrar.

Este facto não deve ser ignorado pela Comissão. A necessária aquisição, desenvolvimentoou modernização de meios de controlo pode exigir um esforço financeiro considerável.Será por isso importante reflectirmos sobre os meios financeiros afectos às actividades decontrolo nos instrumentos legislativos disponíveis, concretamente no regulamento dasmedidas financeiras da PCP e, nomeadamente, revendo a taxa de co-financiamento máximaprevista neste domínio, que é actualmente de 50 %.

Franz Obermayr (NI). – (DE) Senhor Presidente, a conferência anual da NAFO efectuoualterações à Convenção de Otava de 1 de Janeiro de 1979. É importante que não percamosde vista as questões fundamentais nesta matéria: a utilização racional e a gestão sensatados recursos haliêuticos. Isto deve basear-se num conceito sustentável e ecológico paraque as pescas possam continuar a fornecer alimento às gerações futuras.

Os acordos pretendem, acima de tudo, preservar as pequenas empresas de pesca locais,com a sua estrutura familiar, e protegê-las da concorrência que recorre a métodos ilegais,bem como das frotas de grande escala que saqueiam os mares graças a uma vasta quantidadede equipamento electrónico e às artes de fundo. Resumindo, queremos ter uma indústriade pesca, mas não esta, que, com os seus impactos negativos, põe em perigo as estruturasde pequena escala – as estruturas locais. É necessário que criemos sustentabilidade para asgerações futuras, e devemos proteger e garantir esse objectivo por meios contratuais.

Maria Damanaki, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, gostaria de agradecermais uma vez aos dois relatores pelo excelente trabalho que fizeram, bem como a todosos senhores deputados pelas suas intervenções. Considero que se trata de relatórios muitoimportantes. As alterações propostas melhorariam drasticamente a situação, especialmenteno que se refere ao controlo e à nossa posição relativamente ao problema da pesca ilegal.

Concordo com todos os intervenientes em que temos de enfrentar o problema da pescailegal, porque destrói a sustentabilidade das unidades populacionais. Representa tambémum perigo grave para as nossas comunidades costeiras, porque se a sustentabilidade dasunidades populacionais falhar, as nossas comunidades costeiras não terão futuro. É muitoimportante garantirmos estes regimes de controlo. Os relatórios e as alterações relativasa esses regimes podem ajudar-nos muito.

Gostaria igualmente de sublinhar que compreendo que necessitamos de mais recursos –e talvez de mais financiamento – para que as normas sejam de facto correctamente aplicadas.Não é fácil enfrentar a presente crise, mas faremos o nosso melhor.

Gostaria de me concentrar um pouco mais no processo de co-decisão entre o Parlamento,o Conselho e a Comissão no contexto das alterações às decisões das ORP e da suatransposição para a nossa legislação. Partilho convosco a opinião de que as referidasorganizações regionais de gestão da pesca são muito importantes para a nossa política etemos de impulsionar a sua actividade para enfrentarmos a pesca ilegal à escala mundial.

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Também concordo que se garantirmos a aplicação dos nossos princípios a nível mundial,a sustentabilidade das pescas estará bastante mais assegurada.

Congratulo-me com as propostas de fomento da cooperação, bem como com a propostapara a criação de um registo internacional de navios de pesca, mas teremos de dar aindamuitos passos para chegarmos a essa fase.

Se queremos efectivamente impulsionar a cooperação internacional, temos de ser céleresna aplicação das decisões tomadas pelas ORP. É por isso que a Comissão pede mais poderesdelegados nesta matéria. Respeitamos o processo de co-decisão, compreendemos que ocontexto é novo e sabemos que o Conselho e o Parlamento decidirão que poderes nospodem dar nos termos do mandato da delegação. Porém, quero salientar que o problemanão é apenas da Comissão: está em jogo o bom nome da UE a nível internacional seatrasarmos a transposição das decisões das organizações regionais para a nossa legislação.É por este motivo que insistimos na necessidade de um melhor equilíbrio nesta matéria.

Concordo que necessitamos de equilíbrio entre as três instituições, mas necessitamos deum equilíbrio melhor, e estou preparada para participar em debates específicos com oParlamento a fim de conseguirmos uma transposição mais eficaz das medidas das ORPpara o direito da UE.

Jarosław Leszek Wałęsa, relator. – (PL) Quero agradecer a todos pelo debate de hoje.Vejo que estamos de acordo. As alterações que foram introduzidas mediante revisões àsconvenções são essenciais. Gostaria de agradecer à senhora deputada Fraga Estévez porpresidir à nossa comissão, mas, acima de tudo, gostaria de agradecer à senhora Comissária.Foi um prazer trabalhar consigo, Senhora Comissária. Obrigado pelas suas palavras e pelasgarantias que nos deu, e vejo que compreende a mudança na dinâmica do funcionamentodas instituições europeias. Não obstante, o facto de o Parlamento Europeu apenas poderratificar as alterações às convenções, espero vivamente que a partir de agora a cooperaçãoe as negociações prossigam como é desejável e que sejam rápidas, transparentes e eficientes.Obrigado, Senhora Comissária, pelas suas palavras, e confio em que a colaboraçãocontinuará a ser frutuosa no futuro.

Carmen Fraga Estévez, relatora. – (ES) Senhor Presidente, gostaria de dizer à senhoraComissária que considero que o exemplo dado pelo regulamento mais recente relativo àComissão de Pescas do Atlântico Nordeste (NEAFC), que vamos aprovar amanhã, não éum bom exemplo, porque aconteceu precisamente o que queríamos evitar.

A Comissão apresentou a proposta tardiamente, o procedimento foi alterado – passámosdo processo de consulta para o processo legislativo ordinário – e a proposta no seu conjuntofoi alterada em conformidade com o processo legislativo ordinário. É precisamente issoque estamos a impedir através deste compromisso. Com a nova formulação do artigo 48.ºdo regulamento – o artigo que prevê alterações do regulamento, no futuro, para transporas várias recomendações da NEAFC para o direito da UE – delegámos poderes, na maioriados artigos, à Comissão Europeia. Só mantivemos e preservámos o processo legislativoordinário em algumas áreas, nos termos do compromisso com o Conselho.

Portanto, demos um significativo passo em frente para que o processo funcione no futuro,mas ainda assim, Senhora Comissária, assumi aqui o compromisso público de que, se oprocesso não funcionar adequadamente e se formos impedidos de cumprir as nossasobrigações, o Parlamento estará disposto a rever o procedimento. Considero que fizemosum esforço considerável e penso que, como ponto de partida, é um passo significativo.

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Temos a certeza de que a Comissão saberá utilizar as novas competências que o Conselhoe o Parlamento lhe concederam.

Obrigada, Senhor Presidente e Senhora Comissária. Estou convicta de que este regime vaifuncionar muito melhor do que o anterior. É claro, Senhora Comissária, que os instrumentospara assegurar esse bom funcionamento estarão na sua mão.

Presidente. – Está encerrado o debate.

A votação terá lugar amanhã, terça-feira, 19 de Outubro de 2010, às 12H30.

(A sessão é suspensa durante alguns minutos)

Declarações escritas (artigo 149.º)

Luis Manuel Capoulas Santos (S&D), por escrito . – Enquanto eurodeputado portuguêse sendo Portugal um país com forte tradição pesqueira e interesses específicos na zona daNAFO, saúdo as alterações ao texto da Convenção por visar conferir melhores condiçõesde funcionamento a esta Organização Regional de Pescas.

A reestruturação promovida, ao concentrar a capacidade decisória num só novo órgão,bem como o novo processo de resolução de litígios, agilizará as tomadas de decisão internas.Novas definições introduziram orientações mais claras quanto a obrigações e direitos dasPartes, trazendo maior transparência à actividade pesqueira naquela zona.

Junto da NAFO a CE deverá pautar-se por uma postura pró-activa em articulação com asrestantes Partes Contratantes, procurando preservar as melhores relações com o Canadá,sem descurar a procura de diálogo e consensos com as demais Partes Contratantes destaOrganização e ainda entre os próprios Estados-Membros interessados nesta ORP.

Não obstante o papel essencial dos pareceres científicos, sobre os quais assentam decisõesque permitem uma gestão sustentável dos recursos marinhos e que têm demonstrado serum caso de sucesso no caso de algumas espécies pesqueiras, estas decisões devem serponderadas tendo em conta uma posição de equilíbrio que só pode ser sustentável sefundamentada em termos do seu impacto socioeconómico.

17. Intervenções de um minuto (Artigo 150.º do Regimento)

Presidente. − Seguem-se na ordem do dia as intervenções de um minuto sobre questõespolíticas importantes.

Íñigo Méndez de Vigo (PPE). – (ES) Senhor Presidente, em 14 de Fevereiro de 2008, emjeito de presente do dia de São Valentim, a Conferência dos Presidentes decidiu que osintergrupos só reuniriam à quinta-feira.

Desde então, temos tentado resolver este problema. Não conseguimos resolvê-lo. Agora,os intergrupos têm de se reunir num dia pouco conveniente. Quase nunca têm salas enunca dispõem de interpretação.

Intervenho hoje como presidente do Intergrupo “Pobreza e Direitos Humanos” e com ummandato da maioria dos intergrupos desta Assembleia; portanto, com um mandato dosdeputados que fazem parte desses intergrupos. Solicito formalmente à Conferência dosPresidentes que reconsidere e revogue a decisão de 14 de Fevereiro de 2008, repondo asituação anterior, em que os intergrupos tinham liberdade de escolha.

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Se não o fizer, informo com todo o respeito que apresentaremos a questão na sessãoplenária do Parlamento, que decidirá quem é soberano nesta casa que é o Parlamento.

Evgeni Kirilov (S&D). – (BG) Hoje, celebra-se o 85.º aniversário do Tratado de Angoráentre a Bulgária e a Turquia. Em causa estão os direitos de propriedade de quase350 000 búlgaros da Trácia, que foram expulsos da Turquia no início do século passado.Alguns deles ainda estão vivos e os seus descendentes são quase 800 000 indivíduos.

A questão da expropriação na Trácia foi debatida inúmeras vezes pelos dois países,nomeadamente, ao mais alto nível e em grupos de trabalho, mas sem qualquer resultado.A Turquia considera esses indivíduos pessoas deslocadas, mas numerosos factos históricose documentos, incluindo o Protocolo da Sociedade das Nações de 1926 relativo aoempréstimo concedido à Bulgária para os refugiados, atestam o seu estatuto de refugiados.

O Primeiro-Ministro Erdoğan já fez uma sugestão – as pessoas que tiverem documentoscomprovativos da propriedade devem recorrer aos tribunais turcos. Esses documentosexistem, mas é obsceno exigi-los a pessoas que na altura escaparam com vida por um fioe que já faleceram. Na sua resolução de 21 de Maio de 2008, o Parlamento Europeuconvidou a Turquia a aprofundar o diálogo com a Bulgária sobre esta matéria. Esperosinceramente que a boa vontade prevaleça, a bem das relações de boa vizinhança.

Ramon Tremosa i Balcells (ALDE). – (EN) Senhor Presidente, como talvez saiba, háuma clara assimetria no sector dos lacticínios no que se refere ao poder de negociação entreos agricultores e a indústria de distribuição. Essa assimetria e a volatilidade dos preços doleite acentuaram-se nos últimos anos, reduzindo os lucros e a previsibilidade para osprodutores de leite.

A fim de enfrentar este problema, dou o meu total apoio à criação de uma agência europeiade supervisão dos lacticínios, capaz de alcançar acordos mais benéficos em matéria devolumes e de preços do leite. Essa agência, supervisionada pela Comissão Europeia,determinaria as necessidades do mercado e estudaria regularmente a evolução dos custosda produção do leite. O sistema daria ao sector dos lacticínios um grau de estabilidade maiselevado, permitindo a redução dos actuais subsídios públicos.

Michael Cramer (Verts/ALE). – (DE) Senhor Presidente, na sexta-feira, 15 de Outubro,o Rheinische Post chamava à primeira página uma reportagem sobre o Comissário dosTransportes, Siim Kallas, que teria afirmado que a ligação ferroviária de alta velocidadeentre Paris e Bratislava era um eixo transeuropeu este-oeste extremamente importante eque a Comissão considerava que a sua construção era do maior interesse. Declarou aindaque o projecto Estugarda 21 era um elemento fundamental dessa linha principal.

Trata-se de um embuste? O coordenador do projecto, Péter Balázs, afirmou repetidamenteque, embora a linha faça parte dos projectos da RTE-T, as estações são uma questão nacional.Tendo em conta o financiamento limitado para o desenvolvimento da rede transeuropeiade transportes, as estações e todas as infra-estruturas associadas serão financiadas pelaspróprias autoridades municipais, regionais e nacionais.

Solicito ao senhor Comissário Kallas que confirme, através de uma declaração à imprensa,a posição que a Comissão adoptou até aqui e que afirme alto e bom som que a estaçãosubterrânea de Estugarda não será co-financiada pela União Europeia.

Marisa Matias (GUE/NGL). - Senhor Presidente, em Bruxelas a palavra de ordemactualmente é austeridade, austeridade e austeridade. E os resultados, infelizmente, estão

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bem à vista. Os planos de estabilidade e crescimento não são outra coisa se não um roubocolectivo aos trabalhadores e aos pensionistas, aos cidadãos europeus. Por alguma razãotemos assistido a uma onda de greves gerais sem precedentes por toda a Europa. PrimeiroGrécia, Espanha e França; em Novembro, já agendadas, Itália e Portugal, que terá a sua nodia 24. E isto é só o início.

Eu pergunto: quantas mais greves gerais, quantas mais manifestações, quantas mais vozesserá necessário ouvir para que se volte atrás, para que se quebre o consenso de Bruxelas,para que se respeitem as pessoas? Estas medidas não combatem a crise, têm-na antesaprofundado, e o que eu peço, Sr. Presidente, é que outras medidas mais justas sejamtomadas. Pergunto: De que é que estamos afinal à espera?

Nikolaos Salavrakos (EFD). – (EL) Senhor Presidente, segundo notícias da imprensagrega e informações de fontes governamentais gregas oficiais, as quais não foramdesmentidas, tem-se verificado um aumento preocupante do número de estrangeiros semdocumentos que entram na Grécia pelas fronteiras do norte. Graças à acção da Frontex,deu-se uma redução considerável do número de estrangeiros que entram pela fronteiramarítima do nordeste. Contudo, a agência não alcançou resultados similares na fronteiraterrestre setentrional, que é agora atravessada por milhares de estrangeiros, o que criouum problema na zona. Aparentemente, as detenções de estrangeiros na localidade fronteiriçade Orestiada subiram 640% num ano, contrastando com uma queda de 80% nas ilhas.

Se tal se confirmar, proponho ao Parlamento a aprovação de uma resolução de urgência:em primeiro lugar, convidando à criação de um posto da Frontex no lado turco do rioEvros; em segundo lugar, condenando a Turquia, que recebe generosos fundos da UniãoEuropeia destinados à imigração, mas que não está a cumprir as suas obrigações nos termosdo Protocolo de Ancara; e, em terceiro e último lugar, revendo o problema da imigraçãoilegal, que é um problema europeu.

Csanád Szegedi (NI). – (HU) Senhoras e Senhores Deputados, gostaria de intervir hojea propósito da catástrofe ocorrida na Hungria provocada por lama tóxica. Antes de maisnada, quero agradecer a todos aqueles que ajudaram as vítimas e os seus familiares nesteperíodo. O mais trágico neste desastre é que tudo o que aconteceu, e que infelizmenteresultou em várias mortes, podia ter sido evitado. A União Europeia tem o dever de prevenircatástrofes como esta. Para que isso aconteça, é fundamental rever os contratos deprivatização firmados na região da Europa Central, que constituem um autêntico saque eque deram poder a círculos financeiros pós-comunistas de carácter suspeito. Além disso,as empresas que foram tiradas ao povo ilegalmente devem, sempre que aplicável, sernacionalizadas . Os círculos financeiros a que me refiro já não ouvem os seus funcionários,e a suas práticas vorazes não cessam nem mesmo perante uma catástrofe ecológica. É poresta razão que peço a ajuda da União Europeia.

Alf Svensson (PPE). – (SV) As questões ligadas ao ambiente e ao clima afectam-nos atodos. Como sabemos, têm um alcance mundial. É por demais evidente que a UE tem deassumir o protagonismo na luta pela salvaguarda das nossas condições de existência.

Os especialistas em matéria ambiental afirmam que, depois da indústria, a origem maisimportante de deterioração climática e maior fonte de emissões são as lareiras e os fogõesprimitivos das cabanas e casebres de África, da Ásia e da América do Sul.

Algumas nações, que estão a atribuir importância à protecção do ambiente, tomaramfinalmente consciência deste facto. Actualmente, há fogões simples alimentados por energia

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solar, disponíveis por pouco dinheiro, que eliminam 95% das emissões tóxicas geradaspela combustão da hulha, do estrume e de outros combustíveis.

Os cálculos indicam também – e isto é o mais importante a salientar – que quase doismilhões de pessoas morrem prematuramente por inalarem os referidos gases.

Espero que a UE, juntamente com os Estados Unidos, que já demonstraram estarsensibilizados para o problema, assumam um interesse activo por este meio muito concretode salvar vidas e proteger o ambiente.

Iosif Matula (PPE). – (RO) Recentemente, foram dados passos específicos para reforçara segurança energética da União Europeia através do fornecimento de gás natural demúltiplas fontes, a fim de evitar uma nova crise do gás na Europa. Refiro-me à abertura dogasoduto Arad-Szeged, que liga a Roménia e a Hungria e que também beneficiou definanciamento europeu.

Significa que este investimento é não só uma história de sucesso, mas também um exemplode boa cooperação entre países da UE.

As interligações projectadas à escala europeia, a infra-estrutura geral para o transporte degás em ambos os sentidos, que estará concluída até 2014, bem como as jazidas de gás,oferecem a todos os países da região uma maior independência energética. O Estadoseuropeus poderão ajudar-se mutuamente na eventualidade de uma nova crise do gás.

Um aspecto igualmente importante é o facto de o preço do gás passar a ser estabelecido anível regional, e não por negociação com um único fornecedor. Espero que a conclusãodo gasoduto Arad-Szeged dê algum ímpeto não só ao projecto do gasoduto Nabucco, mastambém ao projecto AGRI, que servirá para transportar gás natural para a Europa atravésdo Azerbaijão, da Geórgia e da Roménia.

Alexander Mirsky (S&D). – (LV) Obrigado, Senhor Presidente. Gostaria de chamar aatenção para um momento interessante nos nossos trabalhos. Na quinta-feira, quase todosos deputados do Parlamento Europeu abandonam Estrasburgo às 13H30. Como é doconhecimento geral, um comboio especial é fretado para essa hora. Por favor, explique-meque lógica tem isto? Porque é que as votações em matéria de direitos humanos são às 16H00nas sessões plenárias? Porque marca votações, se sabe que 95% dos deputados nãoparticipam na sessão? É totalmente absurdo. Tenho a certeza de que a minha intervençãonão será ouvida. Também isso é lamentável, Senhor Presidente. Obrigado.

Daciana Octavia Sârbu (S&D). – (RO) A democracia está a ser violada na Roménia –um Estado-Membro da União Europeia – pelo partido do Governo, sem receio dasrepercussões. O Presidente da Câmara dos Deputados, uma das duas câmaras do Parlamentoromeno, contou os 80 deputados presentes na câmara e anunciou que o resultado dacontagem era de 170.

Nesse momento, uma lei que é fundamental para um grande número de cidadãos romenosfoi posta a votação. Tratava-se do projecto da nova lei relativa às pensões, que prevê oaumento excessivo da idade de reforma, determina a mesma idade de reforma para mulherese homens e faz um novo cálculo, que resulta numa redução em termos reais da pensão deum grande número de reformados.

Embora a oposição estivesse determinadamente contra as alterações em causa e não seencontrasse no hemiciclo no período de votação, as câmaras de imagem registaram a

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fraude. Porém, se a oposição e a comunicação social não tivessem protestado diariamentedesde essa data contra o acto relatado, a lei teria sido promulgada hoje pelo Presidente.

Olle Schmidt (ALDE). – (EN) Senhor Presidente, hoje, o Governo sueco recebeu umparecer jurídico relativo ao caso de Dawit Isaak, que está preso há nove anos na Eritreia.Dawit Isaak é um jornalista sueco que foi detido por exercer a sua liberdade de expressão.

Segundo o parecer jurídico, fundamentado na Convenção Europeia dos Direitos do Homem,a Suécia, os Estados-Membros da União Europeia e a UE têm o dever de usar todos os meiosdiplomáticos e jurídicos para garantir os direitos fundamentais de Dawit Isaak. A Eritreiaé um dos países mais pobres do mundo e depende da ajuda da União Europeia. Devemosexigir a libertação imediata de Dawit Isaak em troca de ajuda financeira.

Amanhã, o irmão de Dawit Isaak virá ao Parlamento Europeu reunir-se com o Presidentedo Parlamento e com o Comissário Piebalgs e entregar o parecer jurídico às instituiçõeseuropeias. Espero que este acto leve as instituições europeias a sentirem-se obrigadas aexercer mais pressão sobre o Presidente da Eritreia no sentido de libertar Dawit Isaak,salvando-lhe, assim, a vida.

Joe Higgins (GUE/NGL). – (EN) Senhor Presidente, em Setembro, estive uma semanano Cazaquistão, integrado numa delegação do Grupo da Esquerda Unitária Europeia doParlamento Europeu. O Cazaquistão, governado pelo Presidente Nazarbayev, é uma ditaduratotalitária onde os direitos humanos são sistematicamente reprimidos.

Encontrámo-nos com muitos grupos que lutam pelos direitos humanos, políticos e laborais.Ouvimos testemunhos arrepiantes de um regime monstruoso e de brutalidade extremaem muitas prisões cazaques; e indivíduos recentemente libertados descreveram a degradaçãogrotesca a que os reclusos são sujeitos, bem como os sistemáticos espancamentos selvagens,as violações brutais e outras torturas.

Tendo isto em conta, é vergonhoso que tenha sido atribuída ao Cazaquistão a presidênciada Organização para a Segurança e Cooperação na Europa em 2010, estando prevista umaimportante cimeira de Chefes de Estado da OSCE em Dezembro, na capital, Astana.Lamentavelmente, o Presidente Nazarbayev, que é responsável pelo pesadelo que relatei,estará em visita oficial à União Europeia na próxima semana e será recebido pelo Presidentedo Parlamento, Jerzy Buzek, pelo Presidente da Comissão, José Manuel Barroso, e poroutros responsáveis. Será recebido, evidentemente, em virtude dos gigantescos negóciosque as empresas da UE estão a fazer no Cazaquistão no domínio do petróleo e do gás, masexijo que os referidos responsáveis levantem a questão da grotesca degradação dos direitoshumanos e instem Nazarbayev a tomar medidas verificáveis para pôr cobro à situação.

Oriol Junqueras Vies (Verts/ALE). – (IT) Senhor Presidente, nas últimas semanas, maisde 30 Mapuche iniciaram uma greve de fome em protesto contra a militarização dos seusterritórios, que estão sujeitos a jurisdição mista civil e militar e à aplicação de legislaçãoanti-terrorista, que data do período da ditadura militar. Não obstante tudo isto, os doisgrupos maioritários deste Parlamento não acordaram numa proposta de resoluçãohumanitária de urgência.

A greve de fome terminou, mas as suas razões fundamentais permanecem, tal comoreconheceu em Abril o Relator da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dosPovos Indígenas.

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O Chile deve respeitar a Declaração Internacional sobre os Direitos dos Povos Indígenas ea Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, que prevê o direito de consultaprévia e o consentimento livre e informado desses povos em relação a toda a legislaçãoque afecte os seus direitos e interesses. O Parlamento Europeu deve tirar partido de todosos instrumentos políticos que tem ao seu dispor para que o Governo chileno respeite odireito internacional e os acordos que assinou com a União Europeia.

Dimitar Stoyanov (NI). – (BG) Era minha intenção expressar o meu ponto de vista sobreo debate que terá lugar na Assembleia Nacional da Bulgária a propósito do referendo quese vai realizar relativo à adesão da Turquia à União Europeia. Contudo, fiquei incomodadocom a intervenção do meu colega do outro lado da Assembleia, senhor deputado Kirilov,que citou praticamente palavra por palavra o discurso feito pelo presidente do meu partido,Volen Siderov, na Assembleia Nacional da Bulgária, há poucos dias.

Não obstante, gostaria de acrescentar alguma coisa ao que disse o senhor deputado Kirilovdisse. Caros Colegas, as pessoas que foram expulsas da Trácia Oriental não têm documentoscomprovativos dos direitos de propriedade. Abandonaram os seus filhos à morte, porquequando os bebés choravam, denunciavam a sua posição aos turcos que os perseguiam paraos matar.

A Turquia é um país que se orgulha do seu historial de genocídio e o acto de genocídiocometido em 1913, no qual 50 000 búlgaros foram massacrados e 300 000 foram expulsosda Trácia Oriental, foi o ensaio geral para o genocídio arménio, que não é reconhecidopelos otomanos. É por isso que a mensagem do partido “Ataque” é: “Sim” ao referendosobre a adesão da Turquia à União Europeia e “Não” à adesão da Turquia à União Europeia.

Theodoros Skylakakis (PPE). – (EL) Senhor Presidente, Jean-Claude Juncker afirmouontem que temos exercido pressão para que o Governo grego tome medidas adequadasdesde 2008, mas que não revelámos os problemas publicamente porque o Eurogrupo nãoé um órgão oficial. A Comissão fez saber que o défice grego relativo a 2009 é superior a15%, em contraste com a previsão de 5% em Maio de 2009.

Pergunto a mim próprio o seguinte: como é que dez pontos percentuais do PIB podempassar despercebidos? Não tinham os ministros das Finanças conhecimento do factoquando se reuniram no Ecofin, que era institucionalmente competente, em vez doEurogrupo? Portanto, o problema não foi tanto a incapacidade de fazer uma previsão, massim o cumprimento de critérios políticos. E não têm os cidadãos gregos, tal como oscontribuintes europeus, o direito de saber o que se passa? Em última análise, necessitamosde autoridades independentes para monitorizar os critérios financeiros e, acima de tudo,uma aplicação justa e automática das regras para todos.

Crescenzio Rivellini (PPE). – (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,a cimeira UE-China, realizada em 6 de Outubro em Bruxelas, terminou em tensão quandoa conferência de imprensa final foi laconicamente cancelada por motivos logísticos. Empano de fundo, havia um desacordo quanto à taxa de câmbio do yuan, considerado pelazona euro excessivamente baixa.

A União Europeia pediu ao Primeiro-Ministro chinês que valorizasse a sua moeda e pusessecobro a práticas comerciais desleais que, há muitos anos, alimentam guerras tarifárias,sublinhando que se tratava de uma condição básica para se debater a questão doreconhecimento da China como economia de mercado.

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Desde Junho, a moeda chinesa valorizou 2,15% face ao dólar, mas desvalorizou 9,4% faceao euro. São péssimas notícias para as exportações na zona euro, até porque a Europaparece ser a única potência sem mecanismos para desvalorizar a sua moeda.

Nas relações UE-China, estamos em desvantagem devido às diferenças no que se refere aosdireitos laborais e ao custo das matérias-primas, bem como em resultado das políticascomerciais proteccionistas e especulativas chinesas. É, portanto, impossível competir seo euro também estiver sobrevalorizado. Dentro de duas semanas, tentaremos fazer valerestes argumentos junto da delegação europeia.

Vasilica Viorica Dăncilă (S&D). – (RO) Num momento em que a questão da reduçãodo transporte de produtos alimentares a longas distâncias assume cada vez mais urgência,numa altura em que se promove a produção local e a adaptação às exigências do mercado,é essencial fomentar a produção de carne de ovino na UE.

É inaceitável que o mercado da UE seja fornecido de carne produzida a milhares dequilómetros de distância e a preços exorbitantes, enquanto os nossos produtores sãoobrigados a vender os seus produtos a preços ridículos e até a abandonar o sector.

A Roménia tem o quinto maior número de cabeças de gado ovino entre os Estados-Membrosda União Europeia, mas esse número caiu mais de 40%. Não obstante, a exportação decarne de ovino é uma parte importante da nossa economia.

Tendo em conta estes factos e considerando que, a longo prazo, as repercussões sociais,económicas e ambientais poderão ser graves, perdendo-se uma tradição ancestral, a Roméniaapoia a iniciativa da Irlanda e aguarda com expectativa medidas de apoio eficazes daComissão e do Conselho com vista a travar o declínio cada vez mais acentuado do sectorda carne de ovino na União Europeia.

Kriton Arsenis (S&D). – (EL) Senhor Presidente, em 2008, testemunhámos a pior crisealimentar das últimas décadas. O preço dos cereais disparou e, consequentemente, vastaspopulações passaram a sofrer de fome, sobretudo em África. Simultaneamente, tivemosos níveis mais elevados de produção de cereais. A responsabilidade deste paradoxo foiatribuída aos biocombustíveis. Mas acabou por se saber que a culpa era das sociedades decrédito, que, tendo concluído os seus jogos na Nasdaq e uma vez rebentada a bolha dosector imobiliário, voltaram a sua atenção para a dívida nacional e para o preço de bensalimentares essenciais, a fim de efectuar especulação.

Os referidos jogos empobreceram milhões dos nossos concidadãos de todo o mundo. Nãopodemos permitir que essas sociedades continuem a actuar impunemente, e é necessárioque definamos um enquadramento para elas a nível europeu e mundial.

Ilda Figueiredo (GUE/NGL). - Senhor Presidente, hoje é o Dia Mundial contra o Tráficode Seres Humanos, que nos deve merecer a maior atenção e exigir que se vá mais longe doque as meras palavras de circunstância perante a tragédia que atinge actualmente, eanualmente, centenas de milhares de pessoas só aqui na União Europeia, vítimas daescravatura moderna provocada pela fome e pela pobreza extrema que atinge mais de milmilhões de pessoas a nível mundial. Este é o lado mais negro da exploração capitalista edas sequelas do colonialismo e do neocolonialismo, onde várias potências europeias têmgrandes responsabilidades.

Por isso, há simbolismo e uma estreita ligação entre a comemoração, ontem, do Dia Mundialcontra a Miséria e, hoje, do Dia Europeu contra o Tráfico de Seres Humanos. Lutar contra

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a pobreza e contra o tráfico de seres humanos exige medidas globais, que passam por umaruptura com as políticas neoliberais, uma aposta decisiva na dimensão social das políticasmacroeconómicas, para garantir uma política de desenvolvimento e progresso social,como exigem os cidadãos, os trabalhadores, nas manifestações a que temos assistido nestaEuropa.

Franz Obermayr (NI). – (DE) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, hoje– 67 anos após a deposição do ditador Benito Mussolini – os monumentos fascistascontinuam a ser conservados, mantidos e extensamente recuperados no Tirol do Sul. Paraos tiroleses, é uma lembrança diária de uma injustiça que sofreram. Não é digno de umaEuropa unida do século XXI. Há uns anos, o Comissário Franco Frattini propôs uma lei deâmbito europeu destinada a proibir todos os símbolos nazis. A consequência lógica dessainiciativa contra os símbolos nazis seria a proibição dos monumentos fascistas no Tiroldo Sul, bem como a sua remoção. A proposta do Comissário Frattini não foi aceite; é tempode fazermos uma nova tentativa.

A Comissão deve tornar muito claro que uma violação dos direitos das minorias representauma violação dos valores da UE. O artigo 2.º do Tratado de Lisboa requer uma maiorclarificação. Além disso, devemos analisar o grau de protecção das minorias, e é necessáriauma definição oficial de sanções vinculativas.

Czesław Adam Siekierski (PPE). – (PL) A União Europeia declarou 2010 o Ano Europeudo Combate à Pobreza e à Exclusão Social. Em 17 de Outubro de 2010, realizaram-se 23comemorações do Dia Internacional da Erradicação da Pobreza, que tinha sido anunciadopela ONU. Nesse dia, em todo o mundo, organizaram-se eventos especiais a fim dedemonstrar solidariedade e empatia com as necessidades dos socialmente excluídos.

O Dia Internacional da Erradicação da Pobreza pretende, acima de tudo, consciencializaro público da necessidade de se eliminar a pobreza a nível mundial, particularmente, nospaíses em desenvolvimento, e salientar o facto de que o combate à pobreza é a nossaprioridade. É também importante que se dê mais atenção às causas e consequências dapobreza na Europa. Repito, na Europa. É por isso que a aplicação do programa da UniãoEuropeia de distribuição gratuita de alimentos aos mais pobres de entre nós, com um custoanual de 500 milhões de euros, é tão importante. A iniciativa de comemoração do DiaInternacional da Erradicação da Pobreza é muito útil, porque nos ajuda a ter noção daescala da pobreza a nível mundial e a procurar as causas e as soluções para o problema.Obrigado.

Sergio Gutiérrez Prieto (S&D). – (ES) Senhor Presidente, no Dia Internacional Contrao Tráfico de Seres Humanos para exploração social, foram revelados alguns números quenos devem fazer actuar enquanto líderes políticos.

Mais de 90% da prostituição na Europa tem origem em chantagem e extorsão. Em respostaa estes números, cumpre-nos perguntar se estamos a fazer tudo o que é necessário paraproteger a dignidade e a integridade de milhares de mulheres cujos direitos também estãoconsagrados na Carta dos Direitos Fundamentais que adoptámos com o Tratado de Lisboa.

Não estamos a falar da “mais antiga profissão do mundo”, mas da única forma de escravaturaque ainda não conseguimos erradicar da Europa. Países como a Espanha estão a envidaresforços significativos nesta matéria, levando traficantes a tribunal, sensibilizando o públicoe promovendo planos de reintegração para as mulheres vítimas desse tráfico. Mas isso nãobasta. A Europa deve ser um espaço único de acção e de empenho.

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Page 89: SEGUNDA-FEIRA, 18 DE OUTUBRO DE 2010€¦ · Alguém está preparado para falar? Daniel Cohn-Bendit, em nome do Grupo Verts/ALE. – (FR) Peço desculpa, Senhor Presidente, mas estava

A próxima directiva sobre este tipo de tráfico é uma oportunidade de actuarmos, ao nívelda procura, através da educação e, ao nível da oferta, dificultando a publicidade em todosos meios de comunicação social e aumentando a cooperação bilateral com países terceirosa fim de combater este flagelo na origem.

Temos uma oportunidade. Gostaria de chamar a atenção do Parlamento para esta questão,para que a nossa Assembleia se mantenha na vanguarda em matéria de direitos dos cidadãos.

Marc Tarabella (S&D). – (FR) Senhor Presidente, segundo os estatutos, a AutoridadeEuropeia para a Segurança dos Alimentos (AESA) é uma fonte independente de parecerescientíficos sobre riscos para a cadeia alimentar. Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, permitam-me que vos diga que tenho as minhas dúvidas em relação a essaindependência e que não sou o único.

Analisemos um exemplo concreto: muitos Estados, como a Dinamarca e a França, proibirama utilização de bisfenol A em biberões, dado que um grande número de estudos demonstroua sua nocividade. Todavia, a AESA continua a permitir a sua utilização em produtosdestinados ao consumo, numa violação flagrante do princípio de precaução.

A AESA aprovou também todos os pedidos de autorização de utilização de OGM que lheforam apresentados. Ao todo, foram apresentados 125 pedidos. Não vos parece estranho?Na semana passada, o Comissário responsável por esta área, o John Dalli, distanciou-se daAESA na questão do bisfenol A, e o Conselho tem solicitado informações sobre ofuncionamento da agência desde 2008.

Peço, portanto, como medida mínima e tão rapidamente quanto possível, uma audiçãoconjunta da AESA pela Comissão da Agricultura e Desenvolvimento Rural, a Comissãodo Ambiente, Saúde Pública e Segurança Alimentar e a Comissão do Mercado Interno eProtecção dos Consumidores, do Parlamento. Devemos dissipar as dúvidas que pairamsobre a AESA para garantir uma melhor protecção do público e da sua saúde, que está emcausa.

Cătălin Sorin Ivan (S&D). – (RO) A minha mensagem é dirigida ao Presidente doParlamento Europeu, Jerzy Buzek.

Dado que o Presidente Buzek visitou a Roménia há uns meses, assistiu à sessão plenáriado Parlamento romeno a apoiou o Governo do Partido Liberal (PDL) e as medidas deausteridade que este está a promover, quero dizer-lhe que a Roménia não tem Parlamentohá mais de um mês. Os trabalhos do Hemiciclo pararam há mais de um mês e deixaramde ser tomadas decisões, em consequência da aprovação fraudulenta da lei das pensões,tal como a minha colega Daciana Sârbu referiu.

Dado que o Presidente romeno, Traian Băsescu, não tomou posição sobre a questão, emuito menos desmentiu as práticas em apreço, uma vez que o PDL as apoia rotineiramente,a ponto de a fraude se tornar uma prática no Parlamento romeno, estou muito interessadoem saber se o senhor Presidente Buzek continua a apoiar o PDL e o poder na Roménia ese irá ao Parlamento romeno hoje apoiar o Governo Boc.

Slavi Binev (NI). – (BG) Considero que a União Europeia e todos nós estamos a envidaresforços para tirar a Europa da recessão. Alguns países estão a sair da recessão, mas, poralguma razão, noutros países ela está a aprofundar-se, infelizmente. Penso que a restauraçãoe a consolidação do mercado europeu se encontram entre as prioridades de todos osEstados-Membros.

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Por esse motivo, estou profundamente preocupado com a intenção da União Europeia deoferecer ao Paquistão um regime de comércio isento de direitos aduaneiros. Reconheçoque o Paquistão sofreu prejuízos em virtude de desastres naturais, mas não me parece queisso constitua uma justificação adequada para ameaçar o comércio europeu, especialmentena indústria têxtil.

Faço um apelo a este Parlamento em nome da Associação Búlgara dos Produtores eExportadores de Vestuário e Têxtil, cujos membros me dirigiram um pedido de ajuda parasalvar o sector na Bulgária. A Bulgária é um país pequeno, onde a recessão atinge agora oauge. Dar ao Paquistão acesso ao mercado europeu porá em perigo a produção de têxteise de vestuário na Bulgária.

Senhor Presidente, caros Colegas, durante uma recessão, na minha perspectiva, protegero mercado europeu deve ser duplamente uma prioridade, e o comércio isento de direitosaduaneiros com o Paquistão não é o caminho que devemos trilhar na Europa para sairmosda recessão.

Ioan Enciu (S&D). – (RO) Gostaria de sublinhar a gravidade da situação económica esocial que a Roménia atravessa. As medidas de relançamento adoptadas pelo Governoromeno são ineficazes e têm um carácter marcadamente anti-social. São um ataque aosdireitos humanos fundamentais, sobretudo nos sectores da saúde e da educação, e ao direitoa um salário condigno. Quais são os efeitos dessas medidas? Uma taxa de inflação de 8% ,a maior queda do PIB em toda a União Europeia, a paralisação da economia nacional, bemcomo protestos sem precedentes de oficiais da polícia, de professores, de reformados, defuncionários do Ministério das Finanças e de todas as confederações sindicais. Este Governoactua contra os interesses do povo romeno e está a prejudicar o estatuto dos romenosenquanto cidadãos europeus. A Comissão Europeia tem instrumentos adequados e dispõede mecanismos para acompanhar e ajustar as políticas financeiras dos Estados-Membros.A Comissão deve tomar posição sobre as medidas de austeridade aplicadas pelo Governoromeno, que violam direitos humanos fundamentais.

Zigmantas Balčytis (S&D). – (LT) No passado dia 10 de Outubro, deflagrou um fogono “Lisco Gloria” quando o navio fazia a ligação marítima entre Kiel e Klaipėda. Emboranão se tenham perdido vidas, o acidente chamou a atenção para as enormes dificuldadesem garantir a segurança dos passageiros dos ferry-boats. A informação fornecida pelastestemunhas demonstra que a tripulação não estava preparada para uma operação desalvamento, e os passageiros tiveram de cuidar uns dos outros. Além disso, o número depassageiros resgatados era mais elevado do que o registado na lista oficial de passageiros,o que suscita graves preocupações relativamente à segurança geral dos passageiros e a umapossível ameaça terrorista. Depois do 11 de Setembro, dedicou-se muita atenção, na UniãoEuropeia, à segurança dos passageiros aéreos. Este acidente alertou para o facto de que sedeve aplicar nos navios um sistema de controlo similar ao dos aviões e que é necessárioum estudo contínuo independente, tanto no que se refere às condições técnicas dasembarcações como às aptidões do pessoal responsável pela segurança dos passageiros.

Katarína Neveďalová (S&D). – (SK) Na semana passada, chefiei uma delegação deobservadores do Parlamento Europeu às eleições legislativas no Quirguizistão. Tivemosnumerosas reuniões com representantes de partidos políticos e de organizações de cidadãose também nos encontrámos com a Presidente interina, Roza Otumbayeva.

Embora durante a nossa missão nos tivessem garantido que o país estava claramenteempenhado numa mudança de regime para a democracia parlamentar e que a situação de

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segurança tinha acalmado, pouco depois da nossa partida de Bishkek, os distúrbiosrecomeçaram e os partidos começaram a contestar os resultados das eleições. Isto aconteceunão obstante as declarações de organizações internacionais de que as eleições noQuirguizistão tinham sido realizadas com relativa correcção. Num país em que o nível dasnormas sociais é deplorável e em que dezenas de milhares de pessoas se viram obrigadasa abandonar as suas casas, a luta pela posição de líder único recomeçou, e o país começaa inverter o rumo que vinha tomando.

Considero necessário exortar a União Europeia e o Parlamento Europeu a reforçarem oseu interesse pela região da Ásia Central, que vive actualmente uma enorme turbulência.Isto não se aplica apenas ao Quirguizistão, mas também aos recentes distúrbios noTajiquistão, e é quase redundante lembrar a proximidade do Afeganistão. É importanteque reforcemos o nosso interesse e a nossa presença na região para assegurarmos umfuturo melhor para todos nós.

Ivailo Kalfin (S&D). – (BG) Gostaria de chamar a vossa atenção para questões relacionadascom a ciber-segurança. Prevenir os riscos associados à rápida expansão da Internet é muitomais eficaz do que reparar os danos causados pelo seu uso abusivo. Isso requer uma sériede medidas.

Em primeiro lugar, o ciberespaço exige uma protecção que seja dinâmica e que não criemuros estáticos, mas antes que aposte na flexibilidade e na inovação proactiva. Em segundolugar, a legislação que rege a Internet deve aproveitar e não limitar as oportunidadesoferecidas pelas tecnologias da informação. Em terceiro lugar, é necessária uma coordenaçãohorizontal muito activa das várias instituições empenhadas na ciber-segurança. Em quartolugar, a ciber-segurança exige mecanismos muito activos e eficientes visando a cooperaçãoe coordenação internacionais.

Gostaria de encorajar a Comissão Europeia a demonstrar grande determinação e decisãopara, em futuras iniciativas legislativas, insistir na elaboração e execução de uma estratégiaeuropeia de ciber-segurança, bem como na criação de cargos ou de um mecanismo comvista a facilitar a coordenação horizontal de todas as comunidades e das políticas nacionaisnesta matéria.

Presidente. – Está encerrado o debate.

18. Futuro da normalização europeia (breve apresentação)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia o relatório (A7-0276/2010) do deputado EdvardKožušník, em nome da Comissão do Mercado Interno e da Protecção dos Consumidores,sobre o futuro da normalização europeia (2010/2051(INI)) .

Edvard Kožušník, relator. – (CS) O relatório que estamos a debater hoje é apresentadocomo precursor de um pacote sobre normalização que está a ser elaborado pela Comissão.Deverá promover uma revisão legislativa do actual quadro jurídico da normalizaçãoeuropeia, que utilizaremos para definir o desenvolvimento da normalização nas próximasdécadas. É, portanto, do interesse do Parlamento utilizar este relatório para transmitir àComissão e aos especialistas relevantes o nosso conceito do desenvolvimento futuro danormalização europeia.

A configuração do sistema de normalização europeia é fundamental para a exploraçãoplena do potencial do mercado interno, o aumento da competitividade da economia

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europeia e a realização da estratégia Europa 2020. Demos, portanto, toda a nossa atençãoa esta matéria na Comissão do Mercado Interno. Levámos a cabo debates intensos comtodas as partes interessadas, tanto a nível internacional e europeu como ao nível dasorganizações de cada um dos Estados-Membros. Ao procurar a melhor configuração paraa normalização europeia, fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para escutar osrepresentantes das pequenas e médias empresas, bem como os representantes dosconsumidores, das pessoas com deficiências, de ambientalistas e de outras organizaçõesque representam interesses das comunidades.

No decorrer das discussões sobre a futura configuração da normalização europeia,concluímos que a análise da concepção devia basear-se nos pontos fortes do sistemaexistente, que constitui uma base estável para desenvolvimento. Não podemos efectuaralterações radicais que poderiam enfraquecer os méritos fundamentais do sistema actual.Para que podermos obter um sistema de normalização europeia que funcione eficazmente,é necessário que os organismos que desempenharam um papel menos activo no processode normalização existente se aproximem de organismos nacionais mais fortes. Osorganismos nacionais de normalização fortes, capazes de comunicar eficazmente entre si,mas também com outras partes interessadas, são a base da estabilidade do sistema denormalização europeia.

No futuro, teremos de concentrar-nos também em promover uma maior participação daspartes interessadas no processo de normalização propriamente dito. O objectivo é que asnormas estabelecidas resultem de um amplo consenso e sejam, portanto, maisrepresentativas. Outro assunto abordado nesta longa discussão foi um acesso mais fácil àsnormas. Referiria, em particular, o procedimento de estabelecimento das normas. Estedeve corresponder à natureza dos seus beneficiários e utilizadores. Para facilitar a aplicaçãodas normas, é necessário que estas sejam mais compreensíveis e de utilização mais fácil.

Com a crescente liberalização dos serviços, é necessário pensar mais na normalização dessesector. Consideramos que é uma questão crucial para conseguirmos uma maiorconcorrência de serviços transfronteiras. O estabelecimento de normas europeias nosserviços é uma forma judiciosa de derrubar barreiras ao nível dos serviços no mercadointerno. A remoção dessas barreiras e o aumento da competitividade são uma forma demelhorar a transparência e a qualidade dos serviços europeus, bem como de promover aconcorrência, que anda de braço dado com a inovação. A inovação e as novas tecnologiassão o motor do crescimento económico no período pós-crise. O desafio que se põe ànormalização europeia é a consecução de uma colaboração estreita entre os criadores dasnormas, os inovadores, os académicos e os investigadores. Sem a participação intensivadestes quatro grupos no processo de estabelecimento das normas, a Europa terá dificuldadeem normalizar o seu conhecimento em matéria de economia assente num baixo nível deemissões de carbono, bem como em automóveis eléctricos, em nanotecnologia e nas TIC.A capacidade de converter as conclusões da investigação e desenvolvimento para o processode estabelecimento das normas determinará, em última análise, se o sistema europeu denormalização continuará a desempenhar um papel determinante num mundo globalizado.

Aqui chegado, quero agradecer a todos os meus colegas na comissão, mas também aosmeus colegas da Comissão da Indústria, da Investigação e da Energia, que participaramactivamente na elaboração deste relatório. Gostaria de salientar em particular quealcançámos um acordo conjunto com todos os grupos políticos sobre a forma final desterelatório.

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Lara Comi (PPE). – (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, antes demais nada, congratulo-me com o trabalho efectuado pelo relator e pelos relatores-sombra,que nos permitiu alcançar um bom equilíbrio entre as várias posições políticas. Este relatóriorepresenta uma mensagem política forte e clara para a Comissão Europeia e contémorientações importantes com vista à próxima revisão.

Constatámos que o sistema actual funciona bem e não necessita de alterações radicais. Asmelhorias que propusemos não são em prejuízo dos princípios nos quais o sistema actualse baseia, nomeadamente, o princípio da delegação nacional e a sua natureza privada evoluntária. Não obstante, é importante que o interesse público desempenhe um papel maisactivo e contribua para a criação de novas normas. Considero que a função das pequenase médias empresas é importante e relevante para o processo de normalização.

Este relatório é apenas o início: vamos continuar a trabalhar nos próximos meses para quea normalização europeia corresponda às necessidades económicas e sociais da Europa.

Zigmantas Balčytis (S&D). – (LT) Quero felicitar o meu colega pela preparação desteimportante relatório. A normalização é particularmente importante para a construção deum mercado interno comum, por garantir a competitividade empresarial da União Europeiae dos Estados-Membros por eliminar os obstáculos ao comércio. Apoio a iniciativa daComissão de preparar um pacote sobre a normalização, que espero que seja suficientementeamplo e contribua para a eliminação das deficiências existentes, que são um obstáculo àsegurança dos produtos e que criam níveis diferentes de protecção do consumidor entreEstados-Membros. O estabelecimento de normas uniformes à escala europeia éespecialmente importante no domínio das tecnologias em rápido desenvolvimento e dainovação. A fim de garantir não apenas a competitividade da União Europeia, mas tambéma protecção da saúde dos nossos cidadãos e a existência no mercado de produtos seguros,é necessário um universo de normas uniformes que sejam válidas e aplicáveis em todos osEstados-Membros.

Jaroslav Paška (EFD). – (SK) O sistema europeu de normalização faz parte de um sistemainternacional que estabelece normas e regulamentos homogéneos e de aplicação geralseguidos pelo sector de produção em todo o mundo.

À medida que o progresso social faz aumentar o conhecimento e altera as tecnologias, aorganização e a forma de vida, a normalização, que define regulamentos de utilização geral,deve ser também um processo activo aberto ao progresso. Se a União Europeia quer teruma economia realmente sofisticada e inovadora, não pode fugir a uma actividade crescenteno domínio do desenvolvimento de novas normas que facilitem a entrada no mercado denovas invenções científicas e tecnológicas. Nesta perspectiva, considero que é tempo deos mecanismos da normalização europeia, baseados sobretudo em tradições nacionais eem locais de trabalho nacionais, serem actualizados. Hoje, contudo, esses mecanismosdevem ser mais simples e mais eficazes.

Csanád Szegedi (NI). – (HU) Senhoras e Senhores Deputados, como representantes doJobbik, chamam-nos frequentemente eurocépticos, e reconhecemos que o somos. Olhamospara a UE com cepticismo, mas isso não quer dizer que não sejamos a favor da cooperaçãoentre os Estados-Membros da UE. É claro que nos opomos ao princípio dos Estados Unidosda Europa e somos a favor da Europa das nações, mas a normalização é tipicamente umamatéria na qual estamos de acordo com os outros grupos e que apoiamos. Porém, ouvimosmuitas vezes dizer que estamos permanentemente a protestar e a dizer “não, não, não” atudo. Ora bem, a normalização é uma matéria que também nós queremos facilitar e apoiar.

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Gostaria de exortar todos os Estados-Membros a apoiarem a normalização e os meuscolegas deputados a apoiarem o relatório do senhor deputado Kožušník. Por agora, é esteo domínio em que estamos de acordo.

Elena Băsescu (PPE). – (RO) A adopção de normas europeias pode ser um contributofundamental para facilitar o acesso das PME ao mercado único e consolidar a sua posiçãonesse mercado. Tendo isto em conta, as PME necessitam de produtos de empréstimosimples e normalizados, que permitam uma utilização rápida, com base num número dedocumentos reduzido e uma análise financeira simplificada. O sistema europeu denormalização deve encorajar e apoiar a inovação e estabelecer uma base comum para umaabordagem mais ampla da normalização. Também considero que seria útil aplicar-se comregularidade os princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade a nível europeu. Istoajudaria a consolidar o princípio “Think Small First” no âmbito das políticas públicas paraas PME. Neste contexto, também gostaria de referir que, na Roménia, foi aprovada umaportaria visando a execução de medidas de apoio à aplicação uniforme da legislação daUE, que harmoniza as condições de comercialização dos produtos.

Zuzana Roithová (PPE). – (CS) Este relatório será mais um estímulo para a Comissãorealizar cuidadosamente a harmonização das normas no mercado interno. Numa fase deliberalização progressiva do comércio global, trata-se de um instrumento de protecçãodos cidadãos europeus relativamente a produtos de baixa qualidade e não seguros,particularmente, provenientes dos países da Ásia. Agradeço aos meus colegas da comissãopor terem apoiado o texto que apresentei, que dá luz verde ao estabelecimento de normaspara sapatos infantis seguros. É tempo de actuarmos, porque a actual geração de criançaspadece de deficiências ortopédicas, fruto de sapatos chineses baratos, que são fisicamenteprejudiciais.

É surpreendente que tenhamos legislação europeia em matéria de brinquedos seguros,ainda que uma criança esteja em contacto com um brinquedo por pouco tempo, mas nãotenhamos normas adequadas para sapatos e chinelos que as crianças usam durante um diainteiro. Espero que a Comissão reaja a este apelo, que não é o primeiro, e tome as medidasapropriadas. Parece-me lamentável que o lobby industrial alemão e francês tenha triunfadoe que, nos comités internacionais de normalização, a União Europeia não fale a uma sóvoz, mas, pelo contrário, em 27 línguas.

Mitro Repo (S&D). – (FI) Senhor Presidente, parabéns por um excelente relatório. É umaboa base para o trabalho subsequente. A transparência e a democracia são muitoimportantes no processo de estabelecimento de normas, tal como uma maior participaçãodos actores sociais mais vulneráveis, dos consumidores e das organizações ambientais. Anormalização não pode tornar-se um campo de batalha das grandes empresas.

Congratulo-me por o relatório ter em conta o princípio da representação adequada, segundoo qual todas as posições das partes interessadas devem ser incluídas de forma adequada. Éigualmente importante que os actores sociais tenham uma representação mais forte. Naminha opinião, isso pode concretizar-se se tiverem direito de voto nos comités técnicos.Também é importante que se desenvolva uma segunda linha de produção. Espero que aComissão dê muita atenção a este aspecto.

Maria Damanaki, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, gostaria de felicitar orelator pelo relatório muito completo que elaborou e que colheu aprovação generalizada.Também quero agradecer às senhoras e aos senhores deputados que permaneceram no

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Parlamento até tão tarde para ajudar o Presidente nos seus deveres e também para apresentarideias e contributos muito construtivos para o debate.

Este relatório é um contributo precioso para o debate lançado pela Comissão Europeia hájá algum tempo. Chama a atenção para o futuro da normalização europeia: um elementocentral na realização do mercado interno e no aumento da competitividade das empresase um instrumento importante no fomento da inovação.

Ao longo da próxima década, a normalização europeia terá de se adaptar a novos desafiosem matéria energética, ambiental e social, tal como já referiram. Entre esses desafios,inclui-se a emergência de novas potências económicas, o desenvolvimento de tecnologias,as alterações climáticas, a gestão das emissões de carbono e as energias renováveis. Eisalguns dos novos factores que teremos de enfrentar.

Partilhamos da perspectiva do relator de que podemos trabalhar sobre o sistema existente.Constitui uma base sólida para desenvolvimento. Há, no entanto, aspectos que podem sermelhorados. O relatório apresenta uma série de propostas que visam melhorar o sistemano âmbito das suas fronteiras actuais. A Comissão congratula-se com a ênfase dada àimportância do princípio da delegação nacional. Simultaneamente, o relatório alerta parauma consequência negativa deste princípio: os actuais défices de participação dos actoressociais que representam os interesses da saúde e da segurança, dos consumidores e doambiente no processo de estabelecimento de normas. A participação de actores sociais éextremamente importante porque dá ao sistema um elemento significativo de legitimidadee responsabilização e, além disso, melhora a qualidade do consenso. A Comissão vaiexplorar formas práticas de garantir a filiação efectiva das organizações que representamactores sociais nos organismos europeus de normalização e de contribuir para umaparticipação mais equilibrada dos actores no processo de estabelecimento de normas.

A Comissão partilha a perspectiva de que, no que respeita ao papel central do princípio dadelegação nacional relativamente ao CENELEC, os organismos nacionais de normalizaçãosão actores fundamentais no modelo de normalização europeu. Todos os organismosnacionais de normalização devem, portanto, ter a capacidade de estabelecer uma plataformasólida para a criação de consensos. O relatório salienta diferenças significativas entre essesorganismos em termos de recursos, conhecimentos técnicos e empenhamento das partesinteressadas no processo de normalização. Os Estados-Membros têm melhorias a fazernesta matéria.

Embora o problema do acesso às normas não deva ser atribuído apenas aos preços dasnormas, a Comissão congratula-se com o apelo aos organismos nacionais de normalizaçãopara reduzirem os custos através de taxas especiais, da oferta de pacotes de normas a umpreço reduzido, bem como para investigarem outras maneiras de melhorar o acesso, emespecial para as PME.

A normalização europeia reveste-se de um enorme potencial para apoiar a legislação emmatéria de políticas públicas. Satisfaz-nos que o relatório reconheça esse potencial e salientea necessidade de abraçar novos domínios de desenvolvimento de normalização, como osserviços. Tal como o relatório sublinha, o novo modelo europeu deve contribuir para ainovação europeia e o desenvolvimento sustentável.

A concluir, gostaria de agradecer a todos os que participaram na elaboração deste relatóriomuito útil e inspirador.

Presidente. – Está encerrado o debate.

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A votação terá lugar quinta-feira, 21 de Outubro de 2010, às 12H00.

19. Ordem do dia da próxima sessão: Ver Acta

20. Encerramento da sessão

(A sessão é suspensa às 23H00)

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