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PARTIDO SOCIALISTA DOS TRABALHADORES UNIFICADO SEMINÁRIO TEÓRICO COMPARATIVO A PARTICIPAÇÃO DOS REVOLUCIONÁRIOS NAS ELEIÇÕES BURGUESAS BLOCO III – OS BOLCHEVIQUES E A TERCEIRA INTERNACIONAL FRENTE ÀS ELEIÇÕES E O PARLAMENTO (Terceiro, quarto e quinto dia) 1

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PARTIDO SOCIALISTA DOS TRABALHADORES UNIFICADO

SEMINÁRIO TEÓRICO COMPARATIVO

A PARTICIPAÇÃO DOSREVOLUCIONÁRIOS NAS ELEIÇÕES

BURGUESAS

BLOCO III – OS BOLCHEVIQUES E A TERCEIRA INTERNACIONAL FRENTE ÀS ELEIÇÕES E O PARLAMENTO

(Terceiro, quarto e quinto dia)

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BLOCO III – OS BOLCHEVIQUES E A TERCEIRA INTERNACIONAL FRENTE ÀS ELEIÇÕES E O PARLAMENTO

A) IMPORTÂNCIA DE PARTICIPAR DAS ELEIÇÕES E DO PARLAMENTO (QUANDO, PORQUE E PARA QUE PARTICIPAR; E QUANDO NÃO FAZÊ-LO)

O PARTIDO COMUNISTA E O PARLAMENTARISMO(Resolução do 2º Congresso da Internacional Comunista- 19 de julho a 07 de agosto de 1919)

(III)18º) Reconhecendo assim, em regra geral, a necessidade de participar nas eleições parlamentares e

municipais e de trabalhar nos Parlamentos e municipalidades, o Partido Comunista deve tratar a questãosegundo o caso concreto, inspirando-se nas particularidades especificas da situação. O boicote das eleições oudo Parlamento, assim como a saída do Parlamento, são admissíveis principalmente diante de condições quepermitam a passagem imediata à luta armada para a conquista do poder;

***

O BOICOTE À DUMA DE BULINGUIM E A INSURREIÇÃO – V.I. LeninPublicado no jornal Proletari1 nº 12, 16 (3) de agosto de 1905.[Obras Completas (OC), tomo 11, pág. 174-183]

O ‘boicote ativo’ é, conforme já dissemos, agitação, recrutamento, organização das forças revolucionáriasem escala aumentada, com energia duplicada, sob pressão triplicada. Porém este trabalho é inconcebível semuma clara, precisa e direta consigna. Tal consigna só pode ser a insurreição armada. (...)

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CONTRA O BOICOTE (*) - NOTAS DE UM PUBLICITÁRIO SOCIALDEMOCRATA(*) Referente à III DumaEscrito em 26 de junho (9 de julho) de 1907 no folheto “O boicote à III Duma”, editado em São

Petersburgo.[OC, tomo 16, págs. 1-39]

VIIResumimos. A consigna de boicote foi gerada por um período histórico especial. Em 1905 e no começo de

1906, o contexto objetivo apresentava à solução das forças sociais combatentes o problema da escolha docaminho imediato: o caminho revolucionário direto ou a virada monárquica constitucional. Nestascircunstâncias, o conteúdo da propaganda do boicote consistia principalmente na luta contra as ilusõesconstitucionalistas. A condição para o êxito do boicote era um amplo, geral, rápido e vigoroso ascensorevolucionário.

1 Proletari: Órgão central do POSDR criado no III Congresso, realizado em Londres sem a participação da fração menchevique. Foi editado de maioa novembro de 1905, continuando a linha da velha Iskra (A Faísca, primeiro jornal socialdemocrata fundado por Lênin em 1.900), que havia passadopara as mãos dos mencheviques depois do II Congresso do POSDR. Foram publicados 26 números. Posteriormente reaparece como o jornalclandestino da fração bolchevique. Teve circulação a partir de agosto de 1906 até novembro de 1909. Deixou de aparecer devido à nova reunificaçãotemporária da socialdemocracia russa em 1910.

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Em todos esses sentidos, a situação que se aproxima do outono de 1907 não suscita de modo algum anecessidade de tal consigna, nem a justifica.

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ESQUERDISMO, DOENÇA INFANTIL DO COMUNISMO – V.I. Lenin(“Ensaio popular sobre a estratégia e a tática marxistas”)12 de maio de 1920

A experiência russa nos apresenta uma aplicação feliz e acertada (1905) e outra equivocada (1906) doboicote por parte dos bolcheviques. Analisando o primeiro caso, concluímos: os bolcheviques conseguiramimpedir a convocação do parlamento reacionário pelo Poder reacionário, num momento em que a açãorevolucionária extraparlamentar das massas (particularmente as greves) crescia com rapidez excepcional, emque não havia nenhum setor do proletariado e do campesinato que pudesse apoiar de modo algum o Poderreacionário, em que a influência do proletariado revolucionário sobre as grandes massas atrasadas estavaassegurada pela luta grevista e pelo movimento camponês. É totalmente evidente que esta experiência éinaplicável às atuais condições europeias.

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LIÇÕES DE OUTUBRO – L. TrotskySetembro de 1924

(...) A Conferência Democrática2 (de 14 a 22 de setembro) e o Pré-Parlamento3 a que deu origem,assinalaram uma nova etapa no desenvolvimento das divergências. Mencheviques e socialistas revolucionáriosprocuravam ligar-se aos bolcheviques através da legalidade parlamentar burguesa. A direita bolcheviquesimpatizava com esta tática. Já vimos como os direitistas concebiam o desenvolvimento da revolução: ossoviets transferiam progressivamente as suas funções para as instituições qualificadas (municipalidades,zemstvos4, sindicatos e, finalmente, à Assembleia Constituinte), abandonando, por isso mesmo, a cena política.Pela via do pré-Parlamento, o pensamento político das massas deveria encaminhar-se para a AssembleiaConstituinte, coroamento da revolução democrática. Ora, os bolcheviques já estavam em maioria nos sovietesde Petrogrado e de Moscou; a nossa influência no exército crescia de dia para dia. Já não se tratava deprognósticos, nem de perspectivas, mas da escolha da via pela qual seria necessário enveredar.

A conduta dos partidos conciliadores na Conferência Democrática foi de uma baixeza lamentável. Noentanto, a nossa proposta de abandono ostensivo da Conferência, onde nos arriscávamos a ficar atolados,colidia com uma resistência categórica dos elementos de direita, dispondo ainda de uma grande influência nadireção do nosso Partido. As colisões neste caso serviram de introdução à luta sobre a questão do boicote dopré-Parlamento. A 24 de setembro, quer dizer, depois da Conferência Democrática, Lenine escrevia: "Osbolcheviques deviam retirar-se em sinal de protesto, a fim de não caírem na armadilha pela qual a Conferênciaprocura desviar a atenção popular das questões sérias.

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2 Conferência Democrática: Conferencia convocada em 12 de setembro de 1917 pelo Conselho Executivo Central (CEC) dos Sovietspara manter a coalizão entre este e o Governo Kerensky.3 Pré-Parlamento: Organismo surgido da Conferencia Democrática realizada pelo CEC dos Soviets de toda a Rússia em meados desetembro de 1917. O Pré-parlamento foi criado frente ao atraso na convocação da Assembleia Constituinte e para manter a coalizãoentre os Sovietes e o Governo Provisório de Kerensky, fortemente debilitado depois da tentativa de golpe encabeçado pelo próprioComandante em chefe das Forças armadas, Alexandre Kornilov (1881-1918).4 Zemstvo: administrações locais (hospitais, estradas, etc) dirigida pela nobreza nas províncias centrais da Rússia czarista. Suaatividade se desenvolvia sob o controle dos governadores e do ministro do interior.

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DO DIÁRIO DE UM PUBLICISTA - OS ERROS DO NOSSO PARTIDO - V. I. LENINSexta-feira, 22 de Setembro de 1917

Quanto mais se medita no significado da chamada Conferência Democrática, quanto mais atentamente se aobserva de fora - e de fora, dizem, vê-se melhor - mais firme se torna a convicção de que o nosso partidocometeu um erro ao participar nela. Devíamos tê-la boicotado. Perguntarão talvez qual a utilidade de analisartal questão. Não podes voltar ao passado. Mas esta objecção quanto à táctica do dia de ontem seria claramenteinconsistente. Sempre condenamos e, como marxistas, somos obrigados a condenar, a táctica daquele que viveo «dia a dia». Os êxitos momentâneos não nos bastam. Não nos bastam também em geral os planos para umminuto ou para um dia. Devemos verificar constantemente os nossos atos, estudando a cadeia dosacontecimentos políticos na sua totalidade, nas suas relações de causalidade, nos seus resultados. Analisando oserros do dia de ontem, aprendemos nós próprios a evitar os erros de hoje e de amanhã.

No país cresce claramente uma nova revolução, uma revolução de outras classes (em comparação com asque realizaram a revolução contra o czarismo). Nessa altura foi uma revolução do proletariado, do campesinatoe da burguesia em aliança com o capital financeiro anglo-francês contra o czarismo.

Agora cresce a revolução do proletariado e da maioria dos camponeses, isto é: do campesinato pobre contraa burguesia, contra o seu aliado, o capital financeiro anglo-francês, contra o seu aparelho governamentalencabeçado pelo bonapartista Kerenski5.

(…) A inter-relação das classes modificou-se. Nisto está o essencial.Não são as mesmas classes que se encontram «de um lado e do outro da barricada».Isto é o principal.(…) A experiência da nossa revolução esclarece-nos claramente como se deve abordar de modo marxista a

questão do boicote.(…) Basta refletir nestas lições da experiência, nas condições de uma abordagem marxista da questão do

boicote ou da participação, para nos convencermos da incorreção mais completa da táctica da participação na«Conferência Democrática», no «Conselho Democrático» ou pré-parlamento.

Podemos assim apresentar três situações: Agosto de 1905, Setembro de 1917, Junho de 1907, para explicarde forma mais evidente os fundamentos objetivos da táctica do boicote, a sua ligação com a inter-relação dasclasses. As classes oprimidas são sempre enganadas pelos opressores, mas o significado deste engano édiferente em diferentes momentos da história. Não se pode basear a tática no fato de que os opressores enganamo povo; é preciso determiná-la analisando no seu conjunto a inter-relação das classes e o desenvolvimento daluta tanto extraparlamentar como parlamentar.

A táctica da participação no pré-parlamento é errada, ela não corresponde à inter-relação objetiva dasclasses, às condições objetivas do momento.

Era preciso boicotar a Conferência Democrática, erramos todos ao não fazê-lo, mas o erro não se tornafalsificação. Corrigiremos o erro, se tivermos o desejo sincero de apoiar a luta revolucionária das massas, serefletirmos seriamente nos fundamentos objetivos da táctica.

É preciso boicotar o pré-parlamento. É preciso retirarmo-nos para o Soviete de deputados operários,soldados e camponeses, retirarmo-nos para os sindicatos, retirarmo-nos em geral para as massas. É precisochamá-las para a luta. É preciso dar-lhes uma palavra de ordem justa e clara: dispersai o bando bonapartista deKerenski e o seu pré-parlamento falsificado, essa Duma tseretelista-buliguinista. Mesmo depois dakorniloviada, os mencheviques e os socialistas-revolucionários não aceitaram o nosso compromisso, atransferência pacífica do poder para os Sovietes (nos quais não tínhamos ainda a maioria então), escorregaramnovamente para o pântano das transações sórdidas e infames com os democratas-constitucionalistas. Abaixo osmencheviques e os socialistas-revolucionários. Luta implacável contra eles. Sua expulsão implacável de todasas organizações revolucionárias. Nenhumas conversações, nenhumas relações com esses amigos dos Kichkine,amigos dos latifundiários e dos capitalistas kornilovistas.

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5 Kerenski, Alexandre (1881-1970). Integrante da ala direita dos socialistas revolucionários (SRs) russo. Depois da revolução defevereiro de 1917, foi ministro da Justiça, da Guerra e da Marinha e, finalmente, Chefe do governo provisório desde julho até aRevolução de Outubro. Em 1918 fugiu para o estrangeiro desenvolvendo uma campanha contra o Poder Soviético.

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Sábado, 23 de Setembro.

Trotski era pelo boicote. Bravo, camarada Trotski!O boicotismo foi vencido na fracção dos bolcheviques da Conferência Democrática.Viva o boicote!Não podemos, nem devemos, em caso algum, aceitar a participação. A fração de uma das Conferências não é

o órgão supremo do partido, e mesmo as decisões dos órgãos supremos estão sujeitas a uma revisão na base daexperiência da vida.

É preciso, a todo o custo, conseguir a decisão da questão do boicote tanto por um plenário do ComitéExecutivo como por um congresso extraordinário do partido. É preciso tomar agora a questão do boicote comoplataforma para as eleições para o congresso e para todas as eleições dentro do partido. É preciso levar asmassas a discutir a questão. É preciso que os operários conscientes tomem o assunto em suas mãos, conduzindoesta discussão e fazendo pressão sobre as «cúpulas».

(…) O erro do nosso partido é evidente. O partido combatente da classe avançada não teme os erros. O quedeveria temer seria a persistência no erro, uma falsa vergonha em o reconhecer e em o corrigir.

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O PARTIDO COMUNISTA E O PARLAMENTARISMO(Resolução do 2º Congresso da Internacional Comunista - 19 de julho a 07 de agosto de 1919)

(I)4º) Os Parlamentos burgueses, constituindo um dos principais aparelhos da máquina governamental da

burguesia, não podem mais ser conquistados pelo proletariado, assim como o Estado burguês em geral. A tarefado proletariado consiste em mandar para os ares a máquina governamental da burguesia, destruí-la, e com ela asinstituições parlamentares, sejam elas das Repúblicas ou das monarquias constitucionais;

5º) O mesmo vale para as instituições municipais ou comunais da burguesia, às quais é teoricamente falsoopor os órgãos governamentais. Na verdade, elas também fazem parte do mecanismo governamental daburguesia: elas devem ser destruídas pelo proletariado revolucionário e substituídas pelos Sovietes dedeputados operários;

6º) O comunismo se recusa a ver no parlamentarismo uma das formas da sociedade futura; ele se recusa aver nele a forma da ditadura de classe do proletariado; ele nega a possibilidade da conquista duradoura dosParlamentos; ele tem como objetivo a abolição do parlamentarismo. Ele só pode colocar a questão dautilização das instituições governamentais tendo em vista sua destruição. É nesse sentido, e unicamente nessesentido, que a questão pode ser colocada;

(II)10º) A luta das massas constitui um sistema de ações em via de desenvolvimento, que se avivam por sua

própria forma e conduzem logicamente à insurreição contra o Estado capitalista. Nessa luta de massa, chamadaa se transformar em guerra civil, o partido dirigente do proletariado deve, em regra geral, fortificar todas as suasposições legais, fazendo delas pontos de apoio secundários de sua ação revolucionária e subordinando-os aoplano da campanha principal, ou seja, a luta das massas;

11º) A tribuna do Parlamento burguês é um desses pontos de apoio secundários. Não se pode invocar contraa ação parlamentar a qualidade burguesa da instituição mesma. O Partido Comunista entra nele não paradesenvolver uma ação orgânica, mas para solapar do interior a máquina governamental e o Parlamento(exemplos: a ação de Liebknecht6 na Alemanha, a dos bolcheviques na Duma7 do Czar, a "Conferência

6 Liebknecht, Karl (1871-1919): Membro da socialdemocracia alemã desde 1900. Em 1908 foi eleito para a Câmara de Deputados daPrússia e, em 1912, passou ao parlamento alemão, sendo o único parlamentar que se opôs a votar, em 4 de dezembro de 1914, oscréditos para financiar a guerra. Dirigente da ala esquerda, por manifestar-s contra a guerra foi expulso do partido e encarcerado em1916-1918. Junto com Rosa Luxemburgo criou o Spartakusbund (Liga dos Espartaquistas) e, em 1 de janeiro de 1919, criou o PartidoComunista. Foi assassinado junto com Rosa de Luxemburgo depois do levante de janeiro de 1919.7 Duma de Estado: Órgão legislativo promulgado pelo Czar no Manifesto de 17 de outubro de 1905. Estava integrado por cúrias(colégios eleitorais) e era de votação indireta e não proporcional. Foram convocadas quatro Dumas de Estado: I Duma (de abril a

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democrática" e a ação no "Pré-parlamento" de Kerenski, na Assembleia Constituinte, nas municipalidades;enfim, a ação dos comunistas búlgaros8);

12º) Esta ação parlamentar, que consiste sobretudo em usar a tribuna parlamentar para fins de agitaçãorevolucionária, para denunciar as manobras do adversário, para agrupar em torno de certas ideias as massasque, principalmente nos países atrasados, consideram a tribuna parlamentar com grandes ilusões democráticas,deve estar totalmente subordinada aos objetivos e as tarefas da luta extraparlamentar das massas;

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ESQUERDISMO, DOENÇA INFANTIL DO COMUNISMO – V.I. Lenin(“Ensaio popular sobre a estratégia e a tática marxistas”)12 de maio de 1920

VII - Deve-se participar nos parlamentos burgueses?

(...) a ação das massas - uma grande greve, por exemplo - é sempre mais importante que a ação parlamentar,e não só durante a revolução ou numa situação revolucionária. (...)

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O PARLAMENTO E A LUTA PELOS SOVIETSCIRCULAR DO COMITÊ EXECUTIVO DA INTERNACIONAL COMUNISTAG. Zinoviev, Setembro de 1919.

O que queremos sublinhar, é que a verdadeira solução do problema, em qualquer dos casos, encontra-se forado parlamento, na rua. É hoje evidente que a greve e a insurreição são os únicos métodos decisivos de luta entreo Trabalho e o Capital. Eis porque os principais esforços de todos os camaradas devem estar concentrados notrabalho de mobilização de massas: construção do partido, criação de grupos nas associações profissionais e aconquista destas, organização dos Sovietes no decurso da luta, direção da ação de massas, agitação nas massas afavor da revolução. Esta é prioridade. As intervenções parlamentares e a participação nas campanhas eleitoraissão penas um meio secundário e nada mais.

Se é assim, e se o reconhecemos como tal, conclui-se que aqueles cujas opiniões sobre estas questõesdivergem não devem dividir-se por isso. A prática das prostituições parlamentares é tão repugnante que mesmoos melhores camaradas têm sobre ela preconceitos. É preciso destruí-los pouco a pouco, no decurso da lutarevolucionária. Por isso, insistimos junto de todos os grupos e de todas as organizações que travam uma lutaefetiva pelos soviets, à máxima união, apesar de desacordos sobre este ponto.

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junho de 1906, quando foi dissolvida pelo Czar), II Duma (de fevereiro a junho de 1907, sendo dissolvida pelo Czar quando osdeputados se negaram a caçar os 55 deputados socialdemocratas; posteriormente 35 deles foram presos e 25 condenados pelogoverno); III Duma (1907 a 1912, foi uma Duma reacionária, mas contou com uma forte representação bolchevique que teve 88% dosvotos da cúria operária.); IV Duma (1912 a 1917). Os bolcheviques obtiveram 100% das cúrias operárias das grandes cidades. Em1914, a fração dos deputados bolcheviques foram presos por se oporem à entrada Rússia na I Guerra. Uma fração dos deputados dessaDuma conformou o Governo Provisório depois da insurreição de Fevereiro. (Veja mais detalhes nas Notas Cronológicas ao final).8 Comunistas búlgaros: Segundo G. Zinoviev na circular do CE da IC de setembro de 1919: “Os comunistas búlgaros utilizaram comêxito a tribuna do parlamento para fins revolucionários. Nas últimas eleições, obtiveram 47 cadeiras. Os camaradas Kirkov, Kolarov eoutros líderes do movimento comunista búlgaro sabem forçar a tribuna parlamentar para servir à causa da revolução proletária. Umtrabalho “parlamentar” semelhante exige uma audácia e um temperamento revolucionário excepcionais. Efetivamente, os homensestão num posto particularmente perigoso. Minam a posição do inimigo em seu próprio campo; entram no parlamento não parareceber esta máquina em suas mãos, mas para ajudar as massas a fazê-la saltar desde fora.”

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O PARLAMENTO E A LUTA SOVIETSCIRCULAR DO COMITÊ EXECUTIVO DA INTERNACIONAL COMUNISTAG. Zinoviev,Setembro de 1919.

Que relação há entre o princípio dos soviets e o parlamentarismo. È preciso distinguir, aqui, com cuidado,duas questões que não tem entre elas nenhuma ligação lógica: a do parlamentarismo como forma desejável deorganização de Estado e a da utilização do parlamentarismo com o objetivo de contribuir para a Revolução. Oscamaradas confundem muitas vezes essas duas questões que não tem nenhuma ligação lógica entre elas.

(…) A questão da forma de poder proletário apresenta-se da seguinte forma. Desde já, é preciso derrubar ogoverno burguês dos reis, dos presidentes, dos parlamentos, das câmaras de lordes, das assembleiasconstituintes. Todas estas instituições são para nós inimigos viscerais que devemos aniquilar. Passemos agora àsegunda questão fundamental: Poderemos utilizar o parlamento burguês com o objetivo de desenvolver a lutarevolucionária de classe? Esta questão, como o dissemos mais acima, não tem nenhuma ligação lógica com aprimeira. Com efeito, podemos destruir uma organização entrando nela, e “utilizando-a”. Os nossos inimigos ocompreendem perfeitamente bem quando utilizam para seus próprios fins os partidos socialistas oficiais, ossindicatos etc.

Tomemos um exemplo. Os comunistas bolcheviques participaram para as eleições para a AssembleiaConstituinte. Participaram, mais dissolveram-na ao fim de 24 horas para realizar totalmente o poder dosSoviets. O partido bolchevique teve seus deputados na Duma de Estado do Czar. Terá reconhecido por isso aDuma como uma forma de organização de Estado ideal ou simplesmente admissível? Seria insensato supô-lo.Enviava os seus representantes para atacar também por esse lado o aparelho governamental do czarismo, paracontribuir para a destruição da própria Duma.

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ESQUERDISMO, DOENÇA INFANTIL DO COMUNISMO – V.I. Lenin(“Ensaio popular sobre a estratégia e a tática marxistas”)12 de maio de 1920

VII - Deve-se participar nos parlamentos burgueses?(...). Mesmo que não fossem "milhões" e "legiões", e sim uma simples minoria bastante considerável de

operários industriais que seguisse os padres católicos e de trabalhadores agrícolas que seguisse os latifundiáriose camponeses ricos (Grossbauern), poderíamos assegurar sem vacilar que o parlamentarismo na Alemanhaainda não caducou politicamente, que a participação nas eleições parlamentares e na luta através da tribunaparlamentar são obrigatórias para o partido do proletariado revolucionário, precisamente para educar os setoresatrasados de sua classe, precisamente para despertar e instruir a massa aldeã inculta, oprimida e ignorante.Enquanto não tenhais força para dissolver o parlamento burguês e qualquer outra organização reacionária,vossa obrigação é atuar no seio dessas instituições, precisamente porque ainda há nelas operários embrutecidospelo clero e pela vida nos rincões mais afastados do campo. Do contrário, correi o risco de vos converter emsimples charlatães.

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DISCURSO DE LENIN(II Congresso da IC, Julho de 1920)

O parlamento é um produto do desenvolvimento histórico, e não podemos eliminá-lo enquanto não formosfortes para dissolver esta instituição burguesa. Só como membro de um Parlamento burguês é que se pode, emdeterminadas condições históricas, lutar contra a sociedade burguesa e o parlamentarismo. O meio do qual aburguesia usa na sua luta, também, deve ser utilizado pelo proletariado, com fins totalmente diferentes. Nãopodeis afirmar o contrário, tereis de apagar a experiência de todas as revoluções no mundo.

(...). É preciso saber de que maneira é que se pode destruir o Parlamento. Se o podeis fazer pela via dainsurreição armada em todos os países, muito bem. Na Rússia mostramos a nossa vontade de destruir oParlamento burguês, não só em teoria, mas também na prática. Esqueceis que isso é impossível sem umapreparação relativamente longa e que, na maior parte dos países, é ainda impossível destruir o Parlamento deum só golpe. Nós somos, portanto obrigados a travar a luta no seio do próprio Parlamento para destruí-lo.

(...) Como revelareis às massas verdadeiramente atrasadas e enganadas pela burguesia o verdadeiro caráterdo Parlamento? Se não participais no Parlamento, como denunciareis cada manobra parlamentar, a posiçãodeste ou daquele partido? Se sois marxista, deveis reconhecer que na sociedade capitalista as relações entre asclasses e os partidos estão estreitamente ligadas. Como, repito, mostrareis tudo isso se não sois membros doParlamento (...)

Dizem que perdemos muito tempo ao participar na luta parlamentar. Haverá outra instituição que interessetanto todas as classes como o Parlamento? Não podemos criar isso artificialmente. Se todas as classes sãolevadas a participar na luta parlamentar, é porque os interessas e os conflitos de classe se refletem noParlamento. Se fosse possível organizar, de imediato, em todo lado, por exemplo, uma greve geral decisivacapaz de derrubar de um só golpe o capitalismo, a revolução estaria feita em vários países. Mas é preciso ter emconta a realidade, e o Parlamento é sempre a arena da luta de classes. (...)

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ESQUERDISMO, DOENÇA INFANTIL DO COMUNISMO – V.I. Lenin(“Ensaio popular sobre a estratégia e a tática marxistas”)12 de maio de 1920

VII - Deve-se participar nos parlamentos burgueses?A conclusão que se tira desse fato é absolutamente indiscutível: está provado que, mesmo algumas semanas

antes da vitória da República Soviética, mesmo depois dessa vitória, a participação num parlamentodemocrático-burguês, longe de prejudicar o proletariado revolucionário, permite-lhe demonstrar com maiorfacilidade às massas atrasadas a razão por que semelhantes parlamentos devem ser dissolvidos, facilita o êxitode sua dissolução, facilita a "supressão política" do parlamentarismo burguês. Não levar em consideração essaexperiência e pretender, ao mesmo tempo, pertencer à Internacional Comunista - que deve elaborarinternacionalmente a sua tática (não uma tática estreita ou de caráter estritamente nacional, mas exatamenteuma tática internacional) - significa incorrer no mais profundo dos erros e precisamente afastar-se de fato dointernacionalismo, embora este seja proclamado em palavras.

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AS PALAVRAS DE ORDEM DE UMA ASSEMBÉIA NACIONAL - L. TROSTKYEscrito em 2 de abril de 1930. Publicado no Boletim da Oposição, em maio de 1930.

Na Rússia, a Assembleia Constituinte só durou um dia. Por quê? Porque surgiu demasiadamente tarde; opoder soviético já existia e entrou em conflito com ela. Nesse conflito, a Assembleia Constituinte representavaa revolução de ontem. Mas suponhamos que o Governo Provisório burguês teria sido suficientemente decididopara convocar a Assembleia Constituinte em março ou abril. Seria isto possível? Com certeza, era. Os cadetesusaram todos os estratagemas legais para atrasar a convocação da Assembleia Constituinte na esperança de quea vaga revolucionária abrandasse. Os mencheviques e os socialistas revolucionários pegaram a deixa doscadetes. Se os mencheviques e os socialistas revolucionários tivessem cumprido uma conduta um pouco maisrevolucionária, podiam ter convocado a Assembleia Constituinte em poucas semanas. Deveríamos, nós osbolcheviques ter participado nas eleições e na própria Assembleia? Sem dúvida, porque fomos nós queexigimos o tempo todo, a convocação mais rápida da Assembleia Constituinte. O curso da revolução teria sidoalterado, com desvantagem para os operários, se a convocação da Assembleia fosse mais cedo? De modoalgum. Talvez vocês se lembram que representantes das classes possuidoras russas e, imitando-as, também osconciliadores, eram pelo adiamento de todas as questões importantes da revolução “até a AssembleiaConstituinte”, ao mesmo tempo que retardavam a convocação desta. Isto deu aos latifundiários e aoscapitalistas uma oportunidade para disfarçar, até certo ponto, os seus interesses proprietários na questão agrária,questão industrial, etc. Se a Assembleia Constituinte tivesse sido convocada, digamos, em abril de 1917, então,todos os problemas sociais teriam sido enfrentados nesse momento. As classes possuidoras teriam sidoobrigadas a por as cartas na mesa; o papel traiçoeiro dos conciliadores teria se tornado evidente. A fraçãobolchevique na Assembleia Constituinte teria ganho a máxima popularidade, o que teria ajudado a eleger umamaioria bolchevique no Soviets. Nestas circunstâncias, a Assembleia Constituinte não teria durado um só dia,mas, provavelmente, vários meses, o que teria enriquecido a experiência política das massas trabalhadoras e,em vez de atrasar a revolução proletária, a teria acelerado. Isto, em si, teria sido do maior significado. Se asegunda revolução tivesse ocorrido em junho ou agosto, em vez de outubro, o exército no front estaria menosexausto e enfraquecido e a paz com os Hohenzollerns9 podia ter sido mais favorável para nós. Mesmo supondoque a revolução proletária não surgisse nem um dia mais cedo por causa da Assembleia Constituinte, a escolado parlamentarismo revolucionário teria deixado a sua marca no nível político das massas, facilitandoenormemente as nossas tarefas após a Revolução de Outubro.

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ESQUERDISMO, DOENÇA INFANTIL DO COMUNISMO – V.I. Lenin(“Ensaio popular sobre a estratégia e a tática marxistas”)12 de maio de 1920

(...) Nós, bolcheviques, atuamos nos parlamentos mais contra-revolucionários e a experiência demonstrouque semelhante participação foi não só útil como necessária para o partido do proletariado revolucionário,precisamente depois da primeira revolução burguesa na Rússia (1905), a fim de preparar a segunda revoluçãoburguesa (fevereiro de 1917) e, logo em seguida, a revolução socialista (outubro de 1917). (...) Sabemos muitobem que a dissolução da Constituinte, por nós efetuada a 5 de janeiro de 1918, longe de ser dificultada, foifacilitada pela presença na Constituinte contra-revolucionária que dissolvíamos tanto de uma oposição soviéticaconsequente, a bolchevique, como de uma oposição soviética inconsequente, a dos social-revolucionários deesquerda. Os autores da tese confundiram-se totalmente e esqueceram a experiência de uma série de revoluções,talvez até de todas, experiência que confirma a singular utilidade que representa, por ocasião das revoluções,combinar a ação de massas fora do parlamento reacionário com uma oposição simpatizante da revolução (ou,melhor ainda, que a apoia, abertamente) dentro desse parlamento.

9 Hohenzollern: Dinastia que começou com Federico de Hohenzollern em 1415; se converteram em Duques da Prússia no começo doséculo XVII. Com Bismark chegaram a ser a família governante da Alemanha. A dinastia terminou com a abdicação do KaiserGuilherme II, em 9 de novembro de 1918.

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(…) Exatamente porque as massas atrasadas de operários e mais ainda - de pequenos camponeses estãomuito mais imbuídas de preconceitos democrático-burgueses e parlamentaristas na Europa Ocidental que naRússia, exatamente por isso, somente no seio de instituições como os parlamentos burgueses os comunistaspodem (e devem) travar uma luta prolongada e tenaz, sem retroceder diante de nenhuma dificuldade, paradenunciar, desvanecer e superar tais preconceitos.

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PROJETO DE DECRETO SOBRE A DISSOLUÇÃO DA ASSEMBLEIA CONSTITUINTEV. I. Lenin19 de Janeiro de 1918 - Escrito: a 6 (19) de Janeiro de 1918.Primeira edição: Publicado a 7 (20) de Janeiro de 1918 no n.° 5 do Pravda10.

A revolução russa, logo desde o início, deu vida aos Sovietes de deputados operários, soldados e camponesescomo organização de massas de todas as classes trabalhadoras e exploradas, única capaz de dirigir a luta destasclasses por sua completa emancipação política e econômica.

Durante todo o primeiro período da revolução russa, os Sovietes multiplicaram-se, cresceram e reforçaram-se, superando, graças à sua própria experiência, as ilusões da política de conciliação com a burguesia, e aaparência enganosa das formas do parlamentarismo democrático-burguês, chegando na prática à conclusão deque é impossível emancipar as classes oprimidas sem romper com estas formas e toda a política de conciliação.Esta ruptura foi a Revolução de Outubro, que entregou todo o poder nas mãos dos Sovietes.

A Assembleia Constituinte, eleita de acordo com as listas constituídas antes da Revolução de Outubro, era aexpressão da antiga correlação das forças políticas, quando estavam no poder os conciliadores e os democratasconstitucionalistas.

Ao votar nos candidatos do partido socialista revolucionário, o povo não podia então escolher entre ossocialistas revolucionários de direita, partidários da burguesia, e os de esquerda, partidários do socialismo.Deste modo, esta Assembleia Constituinte, que devia ser a coroação da república parlamentar burguesa, teveque obrigatoriamente atravessar o caminho da Revolução de Outubro e do Poder dos Soviets.

Ao dar o poder aos Sovietes e, através destes, às classes trabalhadoras e exploradas, a Revolução de Outubroprovocou a resistência desesperada dos exploradores, e na repressão dessa resistência revelou-secompletamente como o começo da revolução socialista. As classes trabalhadoras tiveram de se convencer pelaprópria experiência que o velho parlamentarismo burguês estava ultrapassado, que ele é absolutamenteincompatível com as tarefas da realização do socialismo, que só instituições de classe (como os Sovietes), e nãoinstituições nacionais gerais, podem vencer a resistência das classes possuidoras e de assentar as bases dasociedade socialista. Toda a renúncia a favor do parlamentarismo burguês e da Assembleia Constituinte, àplenitude do poder dos Sovietes, à República Soviética conquistada pelo povo, constituiria hoje um retrocesso ea falência de toda a revolução operária e camponesa de Outubro.

A Assembleia Constituinte, reunida em 5 de Janeiro, deu, em virtude das circunstâncias antes expostas, amaioria ao partido dos socialistas revolucionários de direita, ao partido de Kerenski, de Avxéntiev e deTchernov11. Naturalmente, este partido negou-se a aceitar para discussão a proposta absolutamente concreta,clara e inequívoca do órgão supremo do poder soviético, do Comitê Executivo Central dos Sovietes, dereconhecer o programa do Poder Soviético, de reconhecer a Declaração dos direitos do povo trabalhador eexplorado, de reconhecer a Revolução de Outubro e o Poder Soviético. Dessa maneira a AssembleiaConstituinte rompeu todos os laços entre ela e a República Soviética da Rússia. Era inevitável o abandono deuma Assembleia Constituinte como essa pelas frações dos bolcheviques e socialistas revolucionários deesquerda, que hoje constituem notoriamente a maioria esmagadora nos Sovietes e que gozam da confiança dosoperários e da maioria dos camponeses.

10 Pravda (Verdade): periódico bolchevique editado em Petersburgo entre maio de 1912 a julho de 1914, quando foi proibido peloczarismo. Voltou a ser editado depois da revolução de fevereiro de 1917.11 Chernov, Victor (1869-1938): um dos principais dirigentes dos socialistas revolucionários (SRs). Foi Comissário da Agricultura doGoverno Provisório em 1917. Ficou ao lado da contra-revolução na guerra civil e emigrou em 1921.

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Na realidade, os partidos dos socialistas-revolucionários de direita e mencheviques que sustentam fora dorecinto da Assembleia Constituinte a mais dura luta contra o Poder dos Soviets, chamam abertamente desdeseus órgãos de imprensa a derrubada deste poder qualificando de arbitrária e ilegal a repressão pela força dasclasses trabalhadoras, da resistência dos explorados, repressão necessária para emancipar-se da exploração,defendendo os sabotadores que servem ao capital, chegando até a lançar chamados descarados ao terror, que jácomeçaram a ser aplicados por «grupos desconhecidos». É evidente que o resto da Assembleia Constituinte nãopodia representar, por esta razão, mais que o papel de cobertura da luta dos contra-revolucionários peladerrubada do Poder Soviético. Por isso o Comitê Executivo Central decreta: Está dissolvida a AssembleiaConstituinte.

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A REVOLUÇÃO RUSSA - Rosa de Luxemburgo[1918]

IV - A dissolução da Assembleia Constituinte Em seu estudo intitulado “Da Revolução de Outubro ao Tratado de Brest-Litovsk”, Trotsky mesmo diz que o

golpe de Estado de outubro foi de fato a “salvação da Constituinte e da Revolução em geral”. “E quandodizíamos”, prossegue ele, “que a via de acesso para a Constituinte passava não pelo pré-parlamento deTseretelli12, mas pela tomada do poder pelos sovietes, éramos absolutamente sinceros”. E eis que depois dessasdeclarações, o primeiro ato de Lênin, no dia seguinte ao da Revolução de Outubro, foi precisamente dedissolver essa mesma Assembleia Constituinte, da qual a revolução deveria ser a via de acesso! Quais osmotivos que determinaram essa reviravolta? (...)

Uma vez que a Assembleia Constituinte tinha sido eleita muito tempo antes da reviravolta decisiva deoutubro e refletia, em sua composição, a imagem de um passado caduco e não do novo estado de coisas, aconclusão se impunha por si mesma: dissolver essa Constituinte envelhecida, natimorta mesmo, e convocar semdemora as eleições para uma nova Constituinte. Eles não podiam nem queriam confiar a sorte da Revolução auma Assembleia que representava a Rússia de Kerensky, o período de hesitação e coalizão com a burguesia.Perfeitamente! Então nada mais restava do que convocar imediatamente uma Assembleia surgida da Rússiarenovada e mais avançada. Em vez disso, da insuficiência particular da Assembleia Constituinte reunida emoutubro, Trotsky concluiu a inutilidade absoluta de toda Assembleia constituinte em geral, e foi até mesmo anegação do valor de toda representação popular surgida de eleições gerais, em período de revolução. (...)

E assim chegamos ao “mecanismo das instituições democráticas” em geral. Nesse ponto, pode-se objetarprimeiramente que essa apreciação das instituições representativas exprime uma concepção um tantoesquemática e rígida, que contradiz expressamente a experiência de todas as épocas revolucionárias do passado.Segundo a teoria de Trotsky, toda assembleia eleita não reflete as ideias, a maturidade política e o estado deespírito do eleitorado, uma vez por todas, mas somente no momento que vai às urnas. (...)

Tal concepção se acha em completa contradição com toda a experiência da história. Esta nos mostra que ofluido vivo da opinião popular banha constantemente os corpos representativos, penetra-os, dirige-os. (...)

Deveria essa ação viva e permanente das massas sobre os corpos eleitos parar exatamente em período derevolução, diante de esquemas rígidos, programas partidários e listas de candidatos? Pelo contrário! Arevolução cria, justamente, pela flama que a anima, essa atmosfera política vibrante, impressionante, na qual asvagas da opinião pública, pulso da vida popular, agem instantaneamente e do modo mais admirável sobre oscorpos representativos. É isso o que explica as cenas comoventes, bem conhecidas, do começo de todas asrevoluções, em que se vê os parlamentos reacionários ou bastante moderados, eleitos sob o velho regime porum sufrágio restrito, transformarem-se de súbito em porta-vozes heroicos da revolução, em órgãos dainsurreição.

(…) Certamente, toda instituição democrática, como aliás, todas as instituições humanas têm seus limites edefeitos. Mas o remédio inventado por Lênin e Trotsky, que consiste em suprimir a democracia em geral, é piordo que o mal que julgaram curar: com efeito, ele obstruiu a única fonte viva da qual podem sair os meios de

12 Tsereteli, Irakli (1882-1959): menchevique georgiano, deputado da II Duma. Depois da Revolução de Fevereiro ingressou comoMinistro dos Correios e Telégrafos no Governo Provisório.

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corrigir as insuficiências congênitas das instituições sociais, a saber, a vida política ativa, livre, enérgica, dasgrandes massas populares.

O sufrágio elaborado pelo governo dos Sovietes teve justamente em vista o período de ditadura doproletariado, a transição da sociedade burguesa capitalista para a forma de sociedade socialista. Segundo ainterpretação dessa ditadura, representada por Lênin e Trotsky, esse direito só é concedido aos que vivem deseu próprio trabalho, e negado aos demais. Ora, é claro que semelhante sistema eleitoral não tem sentido senãoem uma sociedade que se acha economicamente em condições de permitir a todos que quiserem trabalhar apossibilidade de viver, digna e decentemente, de seu próprio trabalho. É esse o caso da Rússia atual? Dadas asdificuldades enormes com que tem que lutar a Rússia, isolada do mercado mundial e privada de suas principaisfontes de matéria-prima, dada a desorganização espantosa da vida econômica, a desordem total das relações deprodução em consequência das transformações nas relações de propriedade na agricultura, na indústria e nocomércio, é claro que inúmeras vidas foram desenraizadas de um golpe, atiradas fora de seu caminho, semnenhuma possibilidade material de encontrar no mecanismo econômico qualquer emprego para sua força detrabalho. Isso não acontece somente com a classe dos capitalistas e proprietários latifundiários, mas tambémcom grandes camadas das classes médias e da própria classe operária. É certo que o desmantelamento daindústria provocou um refluxo em massa do proletariado das cidades para os campos, onde ele procura seempregar na agricultura. Em tais condições, é uma medida absolutamente incompreensível um sufrágio políticocuja condição econômica é a obrigação de trabalhar. Seu fim, segundo se diz, é de tirar os 22 direitos políticosapenas dos exploradores. Mas enquanto as forças produtivas são desenraizadas em massa, o governo dosSovietes vê-se obrigado, num grande número de casos, a devolver sem hesitação a indústria nacional aosantigos proprietários capitalistas. Assim, a utilização dos técnicos burgueses revelou-se indispensável. Outraconsequência desse fenômeno é que camadas crescentes do proletariado, como o exército vermelho, sãomantidas pelo Estado com os recursos dos fundos públicos. Na realidade, esse sistema priva de seus direitoscamadas crescentes da pequena-burguesia e do proletariado, para as quais o organismo econômico nãoapresenta nenhum modo de exercer a obrigação do trabalho.

Um sistema eleitoral que faz do direito do voto um produto utópico da imaginação, sem qualquer ligaçãocom a realidade social, é um absurdo. Eis porque isso não é um verdadeiro instrumento da ditadura doproletariado. É um anacronismo, uma antecipação da situação jurídica, que poderá se conceber numa economiasocialista já realizada, mas não no período transitório da ditadura proletária. (...)

Ao contrário, um sistema eleitoral que decreta a privação geral de direitos para vasta camada da sociedade,quando ele próprio não se acha em condições de lhes dar um lugar econômico dentro desse quadro, umaprivação de direitos que não é uma medida concreta tendo em vista um fim concreto, mas uma regra geral deefeito duradouro, não é uma necessidade da ditadura, mas uma improvisação inviável. Tanto para o Soviete,como espinha dorsal, quanto para a Constituinte e o sufrágio universal.

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B) ESTRATÉGIAS ELEITORAIS (OBJETIVO CENTRAL DA PARTICIPAÇÃO ELEITORAL)

O PARTIDO COMUNISTA E O PARLAMENTARISMO(Resolução do 2º Congresso da Internacional Comunista- 19 de julho a 07 de agosto de 1919)

(II)12º) (...) A participação em campanhas eleitorais e a propaganda revolucionária do alto da tribuna

parlamentar têm uma significação particular para a conquista política dos meios operários que, como as massastrabalhadoras do campo, permaneceram até o presente afastados do movimento revolucionário e da política.

14º) A campanha eleitoral em si mesma deve ser conduzida não no sentido da obtenção do máximo demandatos parlamentares, mas no sentido da mobilização das massas a partir das palavras de ordem da revoluçãoproletária. A luta eleitoral não deve ser algo relativo apenas aos dirigentes do Partido, o conjunto dos membrosdo Partido deve tomar parte nela; todo movimento das massas deve ser utilizado (greves, manifestações,efervescência no exército e na marinha etc...); se estabelecerá uma relação estreita com esse movimento; aatividade das organizações proletárias de massa será estimulada sem cessar;”

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A SOCIALDEMOCRACIA E OS ACORDOS ELEITORAIS (*)Escrito na segunda quinzena de outubro de 1906. Publicado em novembro de 1906 no encarte pela

editora Vperiod13, em Petersburgo[OC, tomo 14, pág. 75-100]

(*) Referente à II Duma

(…) Os socialdemocratas subordinam toda sua atividade parlamentar, integral e incondicionalmente, aosinteresses gerais do movimento operário e as tarefas especiais do proletariado na atual revolução, ademocrático-burguesa.

Disto se conclui, em primeiro lugar, que a participação dos socialdemocratas na campanha da Duma é decaráter completamente diferente dos outros partidos. Ao contrário deles, nós não consideramos esta campanhacomo um fim em si mesmo, nem sequer atribuímos a ela papel primordial. Ao contrário deles, nossa campanhase subordina aos interesses da luta de classes. Ao contrário deles, não lançamos o slogan do parlamentarismopara prosseguir com reformas parlamentares, mas a luta revolucionária pela assembleia constituinte. Alémdisso, travamos esta luta em suas formas mais elevadas que surgiram no desenvolvimento histórico das formasde luta nos últimos anos.

IIQue conclusão resulta do exposto, em relação ao sistema eleitoral? Em primeiro lugar, o seguinte: a nossa

principal tarefa, decisiva, é desenvolver a consciência de classe e organização independente, de classe, doproletariado, como a única classe verdadeiramente revolucionária até o fim, como o único líder possível de umarevolução democrático-burguesa vitoriosa. A nossa tarefa geral mais importante é, portanto, assegurar umapolítica de classe, independente, ao longo da campanha e durante toda a campanha da Duma. Ela não excluioutras tarefas, subtarefas, mas estas devem estar sempre subordinadas a esta principal tarefa, e colada a ela.Esta premissa geral, confirmada tanto pela teoria do marxismo como por toda a experiência dasocialdemocracia internacional, deve ser o nosso ponto de partida. (...)

13 Vperiod (Avante): semanário bolchevique ilegal que apareceu em Genebra de 22 de dezembro de 1904 a 5 de maio de 1905.Seguiu a linha da velha Iskra e cumpriu um papel fundamental na organização do III Congresso do POSDR (bolchevique).

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C) O PAPEL DO PROGRAMA E COMO APRESENTÁ-LO

RESOLUÇÕES DA VI CONFERÊNCIA (DE PRAGA) DE TODA A RÚSSIA DO POSDR- 5 a 17 (18 a 30) de janeiro de 1912 - [OC, tomo 21, págs. 147-154]

AS ELEIÇÕES À IV DUMA DE ESTADO

I(…) A principal tarefa do Partido nas eleições, assim como a da futura minoria socialdemocrata na própria

Duma, tarefa à que devem subordinar-se todas as demais, é a propaganda socialista de classe e a organização daclasse operária.

As principais consignas do nosso Partido nas próximas eleições devem ser:1) república democrática2) jornada de oito horas3) confisco de todas as terras dos latifundiáriosEm toda nossa agitação eleitoral é necessário explicar do modo mais claro possível estas reivindicações

partindo da experiência da III Duma e de toda a atuação do governo na esfera da administração tanto centralcomo local.

A propaganda de todas as demais reivindicações do programa mínimo social-democrata, a saber: sufrágiouniversal, liberdade de associação, eleição dos juízes e dos funcionários pelo povo, seguros do Estado para osoperários, substituição do exército regular pelo armamento do povo, etc., devem estar estreitamente vinculadascom a das três reivindicações mencionadas.

II5) Nenhum acordo eleitoral pode estar relacionado com a apresentação de uma plataforma comum, nem deve

impor aos candidatos social-democratas compromissos político algum, nem impedir aos socialdemocratas quecritiquem resolutamente o caráter contrarrevolucionário dos liberais, assim como o titubeio e a inconsequênciados democratas burgueses.

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A SOCIALDEMOCRACIA E OS ACORDOS ELEITORAISEscrito na segunda quinzena de outubro de 1906. Publicado em novembro de 1906 no encarte pela

editora Vperiod, em Petersburgo[OC, tomo 14, pág. 75-100]

VI(…) Notemos também que a campanha eleitoral, em geral, e no que diz respeito à celebração de acordos

eleitorais nas fases posteriores, os socialdemocratas deverão falar de forma simples e clara, em uma linguagemcompreensiva para as massas, descartando sem reservas a artilharia pesada de termos eruditos, palavrasestrangeiras, slogans prontos, definições e conclusões memorizadas e preparadas como receitas, mas que asmassas ainda não sabem ou entendem. Nós temos que saber como explicar as questões do socialismo e osproblemas da presente revolução russa sem frases grandiosas, sem retórica, mas com fatos e números.

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D) O CRITÉRIO PARA ELEGER OS CANDIDATOS E A RELAÇÃO ENTRE OS PARLAMENTARES E O PARTIDO

O PARTIDO COMUNISTA E O PARLAMENTARISMO(Resolução do 2º Congresso da Internacional Comunista - 19 de julho a 07 de agosto de 1919)

III – A tática revolucionária As seguintes medidas se impõem, a fim de garantir a aplicação efetiva de uma tática revolucionária no

Parlamento:1º) O Partido Comunista em seu conjunto e seu Comitê Central se asseguram, a partir do período

preparatório que precede as eleições, da sinceridade e do valor comunista dos membros do grupo parlamentarcomunista; ele tem o direito indiscutível de recusar todo candidato designado por uma organização, se ele nãotiver a convicção de que esse candidato fará uma política verdadeiramente comunista.

Os partidos comunistas devem renunciar ao velho hábito social-democrata de fazer eleger apenas osparlamentares “experimentados”, e, sobretudo, os advogados. De preferência, os candidatos serão tomadosentre os operários: não se deve temer designar simples membros do Partido sem grande experiênciaparlamentar.

Os partidos comunistas devem rebater com seu desprezo implacável os arrivistas que vêm a eles com afinalidade única de entrar no Parlamento. Os Comitês centrais devem aprovar apenas as candidaturas dehomens que, durante longos anos, tenham dado provas indiscutíveis de seu devotamento à classe operária.

2º) (…) Sobre todas as questões políticas importantes, o grupo parlamentar estará encarregado de dar asdiretrizes preliminares ao Comitê central.

O Comitê central tem o direito e o dever de designar ou recusar os oradores do grupo chamados a intervirsobre questões importantes e exigir que as teses ou o texto completo de seus discursos, etc, sejam submetidos àsua aprovação. Todo candidato colocado na lista comunista firma o compromisso oficial de renunciar a seumandato à primeira injunção do Comitê central, a fim de que o Partido tenha sempre a possibilidade desubstituí-lo; (...)

5º) Os deputados comunistas estão obrigados a subordinar toda sua atividade parlamentar à açãoextraparlamentar do Partido. A apresentação regular de projetos de lei puramente demonstrativos concebidosnão em função de sua adoção pela maioria burguesa, mas para a agitação e organização, deve ser feita segundoas indicações do Partido e de seu Comitê central;

6º) O deputado comunista está obrigado a se colocar à frente das massas proletárias, na primeira fila, bem àvista, nas manifestações e ações revolucionárias; (...)

8º) Todo deputado comunista no Parlamento está obrigado a se lembrar de que ele não é um “legislador”procurando uma linguagem comum com outros legisladores, mas um agitador do Partido enviado entre oinimigo para aplicar as decisões do Partido. O deputado comunista é responsável não perante a massa anônimade eleitores, mas perante o Partido Comunista legal ou ilegal;

9º) Os deputados comunistas devem ter no Parlamento uma linguagem inteligível ao operário, ao camponês,ao tintureiro, ao boiadeiro, de maneira que o Partido possa editar seus discursos em panfletos e reproduzí-losnas regiões mais recuadas do país;

10º) Os operários comunistas, mesmo os que cumprem seu primeiro mandato, devem, sem medo, subir àtribuna dos Parlamentos burgueses e não ceder espaço aos oradores “mais experimentados”. Em caso denecessidade, os deputados operários simplesmente lerão seus discursos, destinados à reprodução pela imprensae em panfletos;

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O GRUPO OPERÁRIO NA DUMA DE ESTADO (extratos) Escrito em 9 (22) de maio de 1906. Publicado em 10 de maio de 1906 no jornal Volná14 nº 13.[OC, págs. 93-97]

(…) Depois de mencionar esta importantíssima resolução, passemos a analisar o problema do grupo operáriona Duma. Ao se incorporar à Duma, Mijailichenko, chefe deste grupo, proclamou-se socialdemocrata. Com eleà frente, o grupo operário expressou sua clara aspiração de se afastar dos democratas-constitucionalistas e setransformar em grupo verdadeiramente socialdemocrata.

Tal aspiração merece a maior simpatia. No Congresso nos opusemos à formação de uma minoriaparlamentar oficial. Nossos argumentos estão expostos de forma precisa e detalhada na resolução quepublicamos ontem. Porém subentende-se que nossa opinião de que não é oportuno formar uma minoriaparlamentar oficial não nos impede, em absoluto, de apoiar toda aspiração de qualquer representante operário ase afastar dos democratas constitucionalistas e se aproximar dos socialdemocratas.

Porém da aspiração ao cumprimento da mesma há ainda certo trecho. Não basta se proclamarsocialdemocrata. É necessário aplicar a política operária verdadeiramente socialdemocrata. É claro quecompreendemos muito bem a difícil situação destes parlamentares em princípio de carreira. Sabemos muitobem que é preciso ser tolerantes com os erros de quem começa a percorrer o caminho que vai dos democratasconstitucionalistas aos socialdemocratas. Porém, só podem percorrê-lo até o final mediante uma crítica franca edireta desses erros. Dissimular que não se vê um desses erros seria um pecado imperdoável contra oproletariado em seu conjunto.

(…) Repetimos uma vez mais, para evitar que nossas palavras se interpretem mal intencionalmente: nãocriticamos a conduta do grupo operário com o objetivo de censurar seus membros, senão para ajudar odesenvolvimento político do proletariado e do campesinato russos. (...)

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E) TÁTICAS ELEITORAIS (CANDIDATOS PRÓPRIOS, ACORDOS COM OUTRAS CORRENTES, FRENTES ELEITORAIS, MANOBRAS ...)

A SOCIALDEMOCRACIA E OS ACORDOS ELEITORAIS (*)Escrito na segunda quinzena de outubro de 1906. Publicado em novembro de 1906 no encarte pela

editora Vperiod, em Petersburgo[OC, tomo 14, pág. 75-100]

(*)Trata da orientação geral para todas as fases das eleições para a II Duma

A campanha eleitoral para a II Duma é atualmente um tema de grande interesse para o POSDR. Especialatenção tem sido dada a questão dos “blocos”, ou seja, acordos eleitorais permanentes ou temporárias dasocialdemocracia com outros partidos. A imprensa burguesa "Cadete" - Rech15, Tovarishch16, Novi Put, Oko,etc. tenta por todos os meios convencer os trabalhadores da necessidade de um “bloco” (um acordo eleitoral)entre os socialdemocratas e dos cadetes. Alguns mencheviques socialdemocratas (Cherevanin em Nashe Dielo17

14 Volná (A Onda): diário bolchevique de Petersburgo que apareceu legalmente entre 26 de abril (9 de maio) a 24 de maio (6 de junho)de 1906, quando então foi suspenso pelo governo czarista. Foi editado num total de 26 números. 15 Rech (A Palavra): Jornal do Partido Cadete publicado em Petersburgo desde fevereiro de 1906 até outubro 1917, quando foiproibido pelo Comitê Militar Revolucionário do Soviet. Continuou sendo publicado sob outros nomes até 1918.16 Továrisch (O Camarada): foi um jornal burguês; apareceu em Petersburgo de 15 (28) de março de 1906 a 30 de dezembro de 1907(12 de janeiro de 1908). Formalmente, o jornal não era órgão de nenhum partido, mas de fato era porta voz dos democratasconstitucionalistas de esquerda. No jornal colaboraram também os mencheviques.17 Nashe Dielo (Nossa Causa): foi um órgão mensal dos mencheviques liquidacionistas, começou a ser publicado em janeiro de 1915em substituição à revista Nasha Zariá, que tinha sido fechada. Publicaram-se 6 números.

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e Tovarishch) também argumentam em favor de tais blocos, outros se opõem a eles (Martov em Tovarishch).Os socialdemocratas bolcheviques se opõem a tais blocos e só consideram admissível que, na fase final dacampanha eleitoral, seja alcançado acordos parciais sobre a distribuição dos assentos na proporção da forçaeleitoral dos partidos revolucionários e da força da oposição na votação primária. (...)

IIQue conclusão resulta do exposto, em relação aos acordos eleitorais? Em primeiro lugar, o seguinte: a nossa

principal tarefa, decisiva, é desenvolver a consciência de classe e organização independente, de classe, doproletariado, como a única classe verdadeiramente revolucionária até o fim, como o único líder possível de umarevolução democrática-burguesa vitoriosa. A nossa tarefa geral mais importante é, portanto, assegurar umapolítica de classe, independente, ao longo da campanha e durante toda a campanha da Duma. (...) Pode parecerque as principais tarefas do proletariado na revolução russa contradizem a essa premissa geral, por conta doseguinte: a grande burguesia, através dos outubristas, já traiu a revolução, ou propõe parar a revolução por meiode uma constituição (cadetes); a revolução só terá sucesso se o proletariado é apoiado pela parte maisprogressista e politicamente consciente do campesinato, cuja situação objetiva empurra a luta e não aoscompromissos, a terminar a revolução, e não freia-la. Disto se poderia deduzir que os acordos dossocialdemocratas com a democracia campesina são obrigatórios durante todo o período eleitoral.

No entanto, a premissa absolutamente correta de que o triunfo total de nossa revolução só é possível naforma de uma ditadura revolucionária democrática do proletariado e do campesinato, não resulta, de formaalguma, em tal conclusão. Resta demonstrar que o bloco com a democracia camponesa para todo o períodoeleitoral é possível e conveniente desde o ponto de vista das atuais relações entre os partidos (no nosso país ademocracia camponesa não está representada agora por um só partido, mas por vários) e do ponto de vista dosistema eleitoral vigente. Resta demonstrar que mediante um bloco com este ou aquele partido expressaremos edefenderemos melhor os interesses do campesinato realmente revolucionário se nosso partido conserva plenaindependência para criticar estes ou aqueles partidos democráticos camponeses para contrapor alguns elementosda democracia camponesa a outros. A premissa de que o proletariado está mais perto do campesinatorevolucionário, na revolução atual, conduz indiscutivelmente à “linha” política geral da socialdemocracia:marchar com a democracia camponesa contra a traidora “democracia” da grande burguesia (os cadetes). Masdisso se desprende que deve-se formar agora um bloco eleitoral com os enessistas (Partido Popular Socialista)ou com esseristas [Partido Socialistas Revolucionários, SRs]? Isto não pode ser dito por enquanto sem analisarem que se distinguem estes partidos um do outro e dos cadetes, sem analisar o atual sistema eleitoral com suasnumerosas etapas. A única coisa se desprende disto, de maneira direta e absoluta, é uma coisa: em nossacampanha eleitoral não podemos nos limitar em nenhum caso a contrapor de forma simples e abstrata oproletariado à democracia burguesa em geral. Pelo contrário, devemos dedicar a nossa atenção para estabeleceruma precisa distinção baseada nos fatos históricos de nossa revolução entre a burguesia monárquica-liberal e aburguesia democrática-revolucionária, ou, em termos mais concretos, entre os cadetes, os enessitas e osesserista. Somente se estabelecermos esta distinção poderemos determinar do modo mais exato quem os nossosaliados mais próximos. Mas não devemos esquecer, em primeiro lugar, que os socialdemocratas devemenxergar todo aliado procedente da democracia burguesa como um inimigo. Em segundo lugar, temos deexaminar, com cuidado, o que é mais vantajoso para nós: amarrar nossas mãos em um bloco comum com certosenessistas, por exemplo, ou manter nossa total independência, para, no momento decisivo, ter sempre apossibilidade de dividir os “trudoviques” apartidários em oportunistas (enessistas) e revolucionários (esseristas)contrapondo os primeiros aos segundos, etc.

Portanto, o argumento sobre o caráter proletário-campesino de nossa revolução não nos autoriza à extrair aconclusão de que seja necessário fazer um acordo em uma ou outra fase das eleições para a II Duma, com esteou aquele partido camponês democrático. Nem sequer é um argumento suficiente para restringir nas eleições aindependência do proletariado e menos ainda de renunciar a esta Independência de classe.

IIIPara chegarmos mais perto da solução do nosso problema, nós temos que examinar, em primeiro lugar, os

principais grupos de partidos nas eleições para a II Duma, e, em segundo lugar, examinar as característicasespecíficas do atual sistema eleitoral de hoje. (...)

Em relação aos partidos, a seguinte conclusão se aplica: nada de acordos na primeira fase, durante a agitaçãoentre as massas; na fase final, orientam-se todos os esforços para derrotar os cadetes durante a distribuição das

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bancadas por meio de acordos entre os socialdemocratas e os trudoviques e para derrotar os socialistaspopulistas por meio de acordos parciais entre os socialdemocratas e os socialistas revolucionários.

Será feita a crítica: enquanto você, bolcheviques, incorrigíveis utopistas, sonham em derrotar os cadetes,serão todos derrotados pelos centurionegristas, uma vez que os votos estarão dispersos! Certamente, ossocialdemocratas, os trudoviques e dos cadetes juntos derrotaram as Centúrias Negras, mas marchando emseparado, darão uma vitória fácil ao inimigo comum. Suponha que os centurionegristas obtiverem 26% dosvotos, os trudoviques e cadetes 25% e os socialdemocratas 24%. Serão eleitos os centutionegristas, ao menosque seja formado um bloco entre sociaisdemocratas, trudoviques e cadetes.

Esta é uma objeção muitas vezes levada a sério e, portanto, deve ser analisada cuidadosamente. Mas, paraisso, é preciso analisar o atual sistema eleitoral, ou seja, o atual sistema eleitoral na Rússia. (...)

IVNa Rússia as eleições para a Duma não são diretas, mas em várias etapas. Neste tipo de eleições, a divisão

dos votos só é perigosa na primeira etapa. Somente quando os votantes primários vão às urnas, ignoramos comose dividirão os votos; somente na agitação entre as massas atuamos “no escuro”. Nas etapas seguintes, duranteas eleições através de compromissários a batalha geral já está dada; resta apenas distribuir as cadeiras medianteacordos particulares entre os partidos que conhecem o número exato de candidatos e seus votos.

A primeira etapa do processo eleitoral é a escolha dos compromissários nas cidades, a eleição dosrepresentantes - um a cada dez famílias – nas aldeias e a eleição dos delegados para a cúria operária.

Nas cidades, falamos para uma grande massa de eleitores em cada unidade eleitoral (circunscrição, etc). Semdúvida existe aqui o perigo de que os votos se dispersem. É inegável que em algum lugar das cidades possamser eleitos compromissários das Centúrias Negras, exclusivamente por não existir um "bloco das esquerdas", ouexclusivamente porque os socialdemocratas, por exemplo, desviaram uma parte dos votos dos cadetes.Recorde-se que em Moscou, Gutchkov obteve 900 votos e os cadetes cerca de 1.400. Teria bastado que ossocialdemocratas tirassem 501 votos dos cadetes para que Gutchkov triunfasse. Não cabe dúvida alguma de quea população comum levará em conta este mecanismo tão simples; terão medo de dividir os votos e por isto seinclinará a votar no candidato mais moderado da oposição. Teremos aquilo que os ingleses chamam de eleição“triangular”, quando os pequenos setores urbanos temem votar num candidato socialista para não tirar votos doliberal, ajudando deste modo a vitória do conservador.

Como se proteger contra este perigo? Há apenas um caminho: chegar a um acordo na primeira fase, ou seja,uma lista comum de compromissários, na qual o número de candidatos de cada partido seja determinadomediante um acordo entre os partidos, antes da luta. Todos os partidos que entram neste acordo chamam a votarnesta lista comum.

Vejamos quais são os argumentos a favor e contra tal procedimento. Argumentos a favor: A agitação pode ser levada estritamente conforme a linha dos partidos. Que os

socialdemocratas critiquem o quanto quiserem os cadetes diante das massas, desde que mencionem: apesardisso, os cadetes são melhores do que as Centúrias Negras, e chegamos a um acordo sobre uma lista comum.

Argumentos contra: a lista comum está em flagrante contradição com toda a política independente de classedo Partido Social Democrata. Ao aconselhar as massas a votar numa lista comum de cadetes esocialdemocratas, inevitavelmente confundimos a clareza em relação às divisões de classe e políticas. Minamoso significado de princípios revolucionário geral de nossa campanha para garantir uma cadeira na Duma para umliberal? Submetemos a política de classe ao parlamentarismo em vez de submeter o parlamentarismo à políticade classe. Privámo-nos da possibilidade de fazer o cálculo de nossas forças. Perdemos o que há de permanente efirme em toda a eleição: o desenvolvimento da consciência e a coesão do proletariado socialista. Ganhamos oque é transitório, relativo e incerto: a superioridade dos cadetes sobre o outubrista.

Porque motivo temos de arriscar o conseqüente trabalho de educação socialista? Pelo perigo dos candidatosdas Centúrias Negras? Apenas 35 das 524 cadeiras da Duma correspondem a todas cidades da Rússia (6 em St.Petersburgo, 4 em Moscou, 2 para Varsóvia e outras 2 a Tashkent; as 21 cidades restantes, uma cadeira cadauma). Portanto, as cidades por si só não podem de modo algum influenciar substancialmente a composição daDuma. Além do mais, não podemos nos limiar a considerar de maneira puramente formal em que medida éaritmeticamente possível a divisão dos votos. Devemos examinar se realmente grande a probabilidade políticade semelhante dispersão. E tal exame demonstra que inclusive para as eleições para a I Duma, as CentúriasNegras obtiveram uma minoria insignificante de votos, e o caso “Guchkov” mencionado acima é exceção.

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De acordo com as estatísticas publicadas no Vestnik Kadetskoi Partii (nº. 7, de 19 de abril 1906), em 20cidades com direito a eleger 28 deputados para a Duma, dos 1.761 compromissários, 1.468 eram cadetes, 32progressistas, 25 apartidários, 128 outubristas, 32 do Partido Comercial e Industrial e 76 para o das direitas, ouseja, no total a direita obteve 236, menos de 15 por cento. Em 10 cidades, não foi eleito nenhumcompromissário das direitas; em três cidades, não mais de 10 compromissários das direitas (de um total de 80),em cada uma delas. É razoável, nestas circunstâncias, renunciar a luta por candidatos próprios, por candidatosde classe, por conta de um temor exagerado das Centúrias Negras? Tal política não pecará, inclusive do pontode vista estreito, prático, por falta de perspicácia, para não dizer por falta de firmeza nos princípios?

E um bloco com os trudoviques contra os cadetes?, nos perguntarão. Já nos referimos às peculiaridades dasrelações dos partidos com os trudoviques, com quem um bloco é indesejável e inconveniente. Nas cidades ondea classe operária é mais concentrada, não devemos renunciar, a não ser por uma necessidade imperiosa, à lançarcandidaturas socialdemocratas plenamente independentes. E essa necessidade imperiosa não existe. O fato deque exista um pouco mais ou um pouco menos de cadetes ou trudoviques (sobre tudo do tipo enessistas!) nãopossuem grande importância política, visto a mesma Duma só pode desempenhar, no melhor dos casos, umpapel secundário, acessório. No resultado das eleições para a Duma, tem importância decisiva não só ascidades, mas o campesinato, as assembleias provinciais de compromissários. Nas assembleias provinciais decompromissários, em troca, praticaremos nossa aliança geral com os trudoviques contra os democratas-constitucionalistas, e o faremos muito melhor e com mais acerto que na primeira fase das eleições no campo,sem infringir o menor de nossos princípios. Passemos agora às eleições no campo.

V(…) De tudo isto resulta que, nas fases iniciais da campanha no campo, ou seja, nas eleições de um

representante a cada dez famílias e dos delegados (às vezes, é provável que a eleição dos delegados, na pratica,seja quase igual à primeira fase eleitoral), não há necessidade de qualquer acordo eleitoral. É tão escassa aporcentagem de homens definidos politicamente, aptos para serem candidatos ao cargo de representantes porcada dez famílias ou delegados, que os social-democratas que souberam ganhar a confiança e o respeito doscamponeses (condição sem a qual é inconcebível qualquer candidatura séria) contarão com todas asprobabilidades para serem eleitos quase por unanimidade como representantes de cada dez famílias edelegados, sem necessidade de fazer acordos com outros partidos.

Nas assembleias de delegados poderemos nos guiar pelos resultados precisos das batalhas primárias, nasquais tudo foi decidido de antemão. Aqui é possível e necessário fazer acordos ... não “blocos”, naturalmentenão acordos permanentes e estreitos, mas acordos particulares sobre a distribuição das cadeiras. Aqui e aindamais nas assembleias de compromissários para a eleição de deputados para a Duma, junto com os trudoviquesdevemos derrotar os cadetes, e junto com os esseristas, derrotar os enessistas, etc.

VIA análise do atual sistema eleitoral, portanto, leva à conclusão de que, nas cidades, nas fases iniciais das

eleições, os blocos são particularmente desvantajosos e desnecessários. No campo, nos estágios iniciais (ouseja, na eleição dos representantes de um para cada dez famílias e de delegados) os blocos são desvantajosos ecompletamente desnecessários. Tem uma importância política decisiva as assembleias distritais de delegados eas assembleias provinciais de compromissários. Aqui, isto é, em fases posteriores, acordos parciais sãonecessários e possíveis, sem que violem princípios partidários: estará terminada a disputa ante as massas e não épreciso defender direta ou indiretamente uma política apartidária (nem mesmo declarar a sua legitimidade).Igualmente, não existe o risco de obscurecer a rígida política de independência de classe do proletariado18.

Vamos agora, primeiramente utilizando a perspectiva da aritmética formal, por assim dizer, examinar queformas estes arranjos eleitorais parciais assumirão nas fases posteriores.

Vamos arredondar percentuais, ou seja, a distribuição de compromissários (e de delegados, que estarãoincluídos) de acordo com os partidos, para cada 100 compromissários.

18 É interessante destacar que também na prática da socialdemocracia internacional ocorrem exemplos de diferente atitude frente aosacordos na etapa inicial e nas etapas finais das eleições. Na França, as eleições a senadores são feitas em duas etapas: os eleitoreselegem os comissários departamentais (provinciais) e estes, elegem os senadores. Os socialdemocratas revolucionários franceses, osguedistas, nunca admitiram nenhum acordo ou lista comum na primeira etapa; por outro lado, admitiram os acordos particulares naetapa final, ou seja, para a distribuição das cadeiras nas assembleias de compromissários departamentais. Os oportunistas, osjauresistas, fazem acordos ainda na etapa inicial.

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Para um candidato alcançar a vitória, é preciso reunir na assembleia de compromissários, pelo menos, 51votos de um total de 100. Daí as seguintes regras das táticas gerais de eleitores socialdemocratas deverá ser: umesforço para atrair um número suficiente dos eleitores democrático-burgueses que simpatizam com ossocialdemocratas, ou que sejam especialmente dignos de apoio, de modo que, juntamente com eles, derrota-se oresto e se assegura a eleição, em parte, dos socialdemocratas e, em parte, dos melhores eleitores democratasburgueses.

Vamos ilustrar esta regra com alguns exemplos simples. Suponha-se que de 100 eleitores são 49 dasCentúrias Negras, 40 são cadetes e 11 são socialdemocratas. Um acordo parcial entre os socialdemocratas e oscadetes é necessário para garantir a eleição de uma lista conjunta para os candidatos da Duma, com base, éclaro, na distribuição proporcional de cadeiras de acordo com o número de eleitores (ou seja, neste caso, ossocialdemocratas teriam direito a um quinto das cadeiras da Duma, dois de cada dez, e os cadetes os restantesquatro quintos, oito de cada dez).

Se existem 49 Cadetes, 40 trudoviques e 11 socialdemocratas, teríamos de chegar a acordo com ostrudoviques para derrotar os cadetes e alcançar um quinto dos lugares para nós mesmos, além dos quatroquintos restantes para os trudoviques. Neste caso, teríamos uma excelente oportunidade para verificar a firmezadas convicções democráticas dos trudoviques: se eles estão dispostos a ignorar completamente os cadetes ederrotá-los junto aos eleitores do partido dos operários ou, pelo contrário, escolham “salvar '' este ou aquelecadete, ou talvez se até mesmo preferem formar um bloco com os cadetes ao invés dos socialdemocratas. Aquitemos a possibilidade e o dever de provar à todo povo até aonde os elementos pequeno-burgueses estãogravitando em direção aos monarquistas burgueses ou ao proletariado revolucionário.

No último exemplo, os trudoviques estão em situação de vantagem óbvia se formarem um bloco com ossocialdemocratas, e não com os cadetes, já que, no primeiro caso, irão ficar com quatro quintos (4/5) dascadeiras e, no outro, apenas quatro nonos (4/9).

Ainda mais interessante seria o caso inverso, 11 cadetes, 40 trudoviques e 49 socialdemocratas. Neste caso, aperspectiva de uma vantagem óbvia empurra as trudoviques para um bloco com os cadetes: pois neste caso“nós” ganharemos mais cadeiras na Duma, eles dirão. Mas a fidelidade aos princípios da democracia e osinteresses das massas trabalhadoras, sem dúvida, requerem um bloco com os socialdemocratas, mesmosacrificando algumas cadeiras na Duma. Os representantes do proletariado devem levar em conta todos estescasos e seus semelhantes e explicar aos eleitores e o povo (os resultados dos acordos alcançados nas reuniões dedelegados e eleitores devem ser anunciados publicamente) a importância da perspectiva de um princípio nestaaritmética eleitoral.

No último exemplo também encontramos um caso em que tanto a perspectiva de uma vantagem óbvia comoas considerações de princípio incentivam os socialdemocratas a dividir os trudoviques. Se entre eles há,digamos, 2 socialistas revolucionários totalmente partidários, direcionaremos nossos esforços para atraí-los parao nosso lado, para ter 51 votos, o que nos permite derrotar todos os cadetes e todos as outros trudoviques menosrevolucionários. Se existe entre os Trudoviques2SRs e 38 Socialistas Populistas, vamos apresentar aoportunidade de ver quão os socialistas revolucionários permanecerão fiéis aos interesses da democracia e dasmassas trabalhadoras. Diremos: democratas republicanos contra os socialistas populistas, que consideram amonarquia admissível; votar pelo confisco das terras dos latifundiários e contra os socialistas populistas, queconsideram admissível sua indenização; votar para apoiar o armamento do povo e contra os socialistaspopulistas, que aceitam o exército regular. E então veríamos quem preferem os socialistas revolucionários: seos social-cadetes ou os socialdemocratas.

Chegamos, pois, a questão dos princípios políticos e ao significado desta aritmética eleitoral. Aqui nossodever é contrapor, à caça de cadeiras parlamentares, à defesa firme e conseqüente do ponto de vista doproletariado socialista e de quando interessa o triunfo total de nossa revolução democrático-burguesa. Nossosdelegados e compromissários social-democratas não dverão, de modo algum, nem sob nenhuma condição,esconder nossos objetivos socialistas, nossa posição estritamente de classe, como partido do proletariado. Masnão basta repetir a palavra “classista” para indicar o papel do proletariado como a vanguarda na revolução atual.Não basta expor nossa doutrina socialista e a teoria geral do marxismo para demonstrar o papel dirigente doproletariado. Para isso, além do mais, é preciso saber mostrar na prática, ao analisar os problemas candentes daatual revolução, que os membros do partido operário defendem os interesses desta revolução e sua vitória totalde um modo mais consequente, mais certeiro, mais determinado e mais idôneo do que todos os demais partidos.Não é esta uma tarefa fácil e preparar-se para cumpri-la é o dever primordial e fundamental de todo social-democrata que intervém na campanha eleitoral.

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Uma tarefa prática, pequena, porém proveitosa, será determinar as diferenças entre os partidos e as matizespartidárias nas assembleias de delegados e compromissários (bem como, é claro, ao longo da campanhaeleitoral). Por outro lado, neste terreno a vida se encarregará de dirimr muitos problemas questionáveis queinquietam o Partido Operário Social Democrata.

VIIResumindo:Quanto à tática geral da socialdemocracia nas eleições, devemos ter como ponto de partida a completa

independência de classe do partido do proletariado revolucionário.Somente em casos de extrema necessidade e condições bem definidas é que podemos nos apartar deste

princípio geral.As características específicas do sistema eleitoral russo e dos agrupamentos políticos entre a imensa massa

da população, o campesinato, não nos levam à conclusão destes casos extremos nas fases iniciais da campanha,ou seja, na eleição de compromissários nas grandes cidades, de representantes de cada dez famílias e delegadosnas aldeias. Nas grandes cidades, não existe tal necessidade porque aqui a importância das eleições não édeterminada pelo número total de deputados à Duma, mas porque os socialdemocratas se dirigem aos setoresmais amplos e concentrados da população, em virtude de que são os “mais socialdemocratas" devido à situação.

No campo, o baixo desenvolvimento político das massas, que não estão politicamente organizadas, suadispersão, a pouca densidade populacional e as condições objetivas em que são dadas as eleições levam aodesenvolvimento de organizações, associações, círculos, assembleias, ideias e aspirações apartidárias(revolucionárias apartidárias). Sob estas condições, nas fases iniciais das eleições, os blocos são completamentedesnecessários. O mais correto e conveniente para os socialdemocratas é ater-se ao estrito princípio partidário.

A tese geral sobre a necessidade de uma aliança entre o proletariado e o campesinato revolucionário,implica, portanto, considerar necessários os acordos particulares (do tipo: com os trudoviques contra os cadetes)só nas fases finais do processo eleitoral, ou seja, nas assembleias de delegados e compromissários. Ascaracterísticas específicas das divisões políticas entre trudoviques também depõem a favor desta solução.

Em todos estes acordos particulares, os socialdemocratas fazer estrita distinção entre os partidosdemocrático-burgueses e os diversos matizes existentes entre eles, de acordo com o grau de consequência efirmeza de suas convicções democráticas.

O conteúdo ideológico e político da campanha eleitoral e dos acordos eleitorais particulares estará naexplicação da teoria do socialismo e as palavras-de-ordem independentes da socialdemocracia na atualrevolução, tanto no que se refere às suas tarefas quanto às vias e meios para cumpri-las.”

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A CAMPANHA ELEITORAL DA SOCIALDEMOCRACIA EM PETERSBURGO (*)Escrito em 18 de janeiro de 1907. Publicado em Postle Rechi nº 2, janeiro de 1907 [OC, tomo 14, págs. 265-287]

(*) Trata-se de uma orientação para a primeira fase das eleições na cidade de Petersburgo relativas à II Duma

(...). Se reúne a Conferência da organização Social Democrata de São Petersburgo [Conferência urbana eprovincial da organização de Petersburgo do POSDR em 6 de janeiro de 1907]. Eleita por todos os membros doPartido Social Democrata com base nas discussões - se solicita a opinião geral sobre a questão dos acordos comos Cadetes -, esta Conferência mostra o predomínio indiscutível dos bolcheviques, tanto levando em conta osvotos impugnados de uma ou outra parte, como também se descontados ou contados sob quórum especial. Osmencheviques saem da Conferência e provocam a cisão. (...) Em verdade, a razão pela qual os mencheviquesprovocaram a cisão fica clara para todos: os socialdemocratas oportunistas abandonam o proletariado parapassar às filas da burguesia liberal, das organizações socialdemocratas operárias à de agrupamentos eleitoraisindefinidos, apartidários.

A Conferência não se abala pela deserção menchevique e prossegue com seus trabalhos. Em Petersburgo, hádisputas até entre os próprios bolcheviques: os chamados bolcheviques puros se opõem a acordos com

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quaisquer outros partidos. Os chamados bolcheviques dissidentes são favoráveis a um acordo com a democraciarevolucionária, com os trudoviques para quebrar a hegemonia dos cadetes sobre as massas trabalhadoras nãoesclarecidas da capital da Rússia.

Em certos casos, essas disputas entre os “puristas” e os “dissidentes” tornam-se críticas, mas, em verdade,todos os bolcheviques sabem perfeitamente que esse desacordo não os divide em questões de princípios, senãoque ajudava a examinar de maneira exaustiva e concreta todos os aspectos e probabilidades das eleições.

O proletariado socialista não pode negar às massas pequeno-burguesas não-socialistas o direito de segui-lopara libertá-las da influência dos cadetes. Depois de discutir a fundo, a Conferência adota a resolução de proporacordos aos socialistas revolucionários e ao Comitê do Grupo do Trabalho [trudoviques], um acordo sobre aseguinte base: duas cadeiras para a cúria operária, duas para os socialdemocratas e duas para os trudoviques.

Era a única decisão correta e possível em Petersburgo: não se podia subestimar a tarefa de derrotar oscadetes. Se existiam duas listas de esquerda, as Centúrias Negras não eram um perigo, mas poderia ser se asesquerdas continuassem se dividindo, se tornando impossível reunir a massa de eleitores. A proposta daConferência conservou a preponderância dos socialdemocratas intacta; a hegemonia ideológica e política dasocialdemocracia se afirmava em toda a pureza de seus princípios.

Em relação ao Partido Socialista Popular, a Conferência decidiu excluí-lo do bloco por considerá-lo semi-cadete e por sua atitude ambígua frente aos problemas fundamentais da luta fora da Duma. É bem sabido que,uma vez dissolvida a Duma, esse partido separou-se da pequena burguesia revolucionária e começou a pregarna imprensa legal por cautela e moderação.

É compreensível que os socialdemocratas revolucionários fossem obrigados a exigir dos socialistasrevolucionários que adotassem uma atitude definida em relação a tal partido, quer seja insistindo em suaexclusão (o que teria sido bastante viável se os mencheviques não houvessem trocado os socialistas peloscadetes no momento decisivo), ou, ao menos, eximindo-se de qualquer responsabilidade por semelhantes“trudoviques”.

(...) A ruptura causada pelos Mencheviques alimenta as esperanças de toda a burguesia liberal. A imprensacadete entra em júbilo pelo “isolamento” dos odiados bolcheviques, e pelo “corajoso” caminho tomado pelosmencheviques da revolução para o “bloco de oposição”. Rech, ao qual pertence essa última expressão,denominava já abertamente aos mencheviques e socialistas populistas o título de “partidos socialistasmoderados”. De fato, a impressão criada é a de que os cadetes arrastarão atrás de si toda a pequena burguesia(quer dizer, todos os trudoviques, incluindo os socialistas revolucionários) e todo o setor pequeno-burguês dopartido operário, isto é, os mencheviques.

Os bolcheviques prosseguem com tranquilidade seu trabalho independente. Estamos felizes - dizem eles -por nos isolar desta sujeira, da traição e vacilação da pequena burguesia. Não devemos subordinar nossas táticasà obtenção de postos. Declaramos: em qualquer situação, haverá três listas eleitorais em São Petersburgo: a dosCentúrias Negras, a dos Cadetes e a dos Social Democratas.

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A CAMPANHA ELEITORAL DO PARTIDO OPERÁRIO EM PETERSBURGO (*)Publicado em “Prostle Rechi” nº 1, 14 de janeiro de 1907[OC, tomo 14, págs. 254-261]

(*) Trata-se de uma orientação para a primeira fase das eleições na cidade de Petersburgo, relativas à IIDuma

Aqui está a resolução aprovada pela Conferência: Tendo em vista: 1) que a socialdemocracia, como partido de classe do proletariado, deve levar a cabo

obrigatoriamente uma campanha eleitoral independente, em todos os casos, salvo se ocorrer condições muitoespeciais e extraordinárias; 2) que os socialdemocratas de São Petersburgo, encabeçados pelo Comitê dePetersburgo, levaram a cabo até agora uma campanha eleitoral completamente independente, exercendo destemodo sua influência sobre todas as camadas da população trabalhadora, tanto sobre os que adotam um ponto devista proletário consequente, como sobre quem ainda não os conhece a fundo; 3) que no momento atual, duas

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semanas antes das eleições, já se perfila claramente que em São Petersburgo os partido de direita tem escassasprobabilidades, enquanto as dos cadetes (sobretudo devido à tradição) podem ser consideradas boas, ao PartidoOperário Social Democrata [POSDR] da Rússia se coloca, portanto, a tarefa particularmente urgente detencionar todas as forças para minar a hegemonia dos cadetes na capital, na qual toda Rússia concentra suaatenção; 4) que entre amplos setores da população trabalhadora mais pobre das cidades que ainda não aderiramao ponto de vista proletário e cujo voto pode influenciar nos resultados das eleições na cúria urbana, nota-sevacilação entre o desejo de votar nos partidos que se encontram à esquerda dos cadetes, isto é, de libertar-se dadireção da traidora burguesia monárquica liberal, e o desejo de se garantir, mediante o bloco com os cadetes,pelo menos alguns deputados trudoviques na Duma, e 5) que entre os vacilantes partidos do trabalho se observao desejo de justificar o bloco com os cadetes, como condição para obter uma ou, pelo menos, não mais de duascadeiras da capital, alegando como justificativa que os socialdemocratas não estão dispostos, sob nenhumacircunstância, a fazer acordos com os setores não-socialdemocratas da população pobre da cidade contra aburguesia liberal, a Conferência resolve:

1) comunicar sem demora ao Comitê de São Petersburgo do Partido dos Socialistas Revolucionários e aoComitê do Grupo de Trabalho que o Comitê de Petersburgo do POSDR está disposto a fazer um acordo comeles, com a condição de que eles não façam acordo algum com os democratas constitucionalistas; 2) ascondições do acordo serão as seguintes: total independência do partido no que se refere às consignas, osprogramas e a tática no geral. As 6 cadeiras da Duma serão distribuídas do seguinte modo: 2 corresponderão àcúria operária, 2 aos socialdemocratas, 1 aos socialistas revolucionários e 1 aos trudoviques; 3) a Conferênciaautoriza seu Comitê Executivo efetuar as negociações pertinentes, e 4) poderão fazer acordos dentro daprovíncia, sobre a base dos mesmos princípios, acordos locais com os socialistas e trudoviques.

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INFORME DA CONFERÊNCIA DA ORGANIZAÇÃO DE PETERSBURGO DO POSDR SOBREOS ACORDOS ELEITORAIS NAS ELEIÇÕES PARA A II DUMA DO ESTADO (*)

Publicado em “Proletari” nº 12 de 25 de janeiro de 1907[OC, tomo 14, pág. 253]

(*) Trata da orientação para a primeira fase das eleições na cidade de Petersburgo relativas à II Duma

BREVE COMUNICADO DE IMPRENSA 6 (19) de janeiro de 1907

O informante considera que as Centúrias Negras não representam um perigo em Petersburgo e que osDemocratas Constitucionalistas [cadetes] divulgam esse rumor para predispor os eleitores a votarem neles. Asocialdemocracia local enfrenta o problema de libertar as massas da população da capital da hegemoniaideológica dos Democratas Constitucionalistas. Camadas importantes da população pobre da cidade, decomposição semiproletária, ainda vacilam entre os cadetes e os socialdemocratas. Para reforçar a sua influência,os Democratas Constitucionalistas as subornam com cadeiras na Duma. Por essa razão, talvez, seja convenientechegar a um acordo com os partidos e grupos revolucionários democráticos a fim de minar, através de esforçosconjuntos, a influência dos Democratas Constitucionalistas. Mas, na opinião do informante, a necessidade e aspossibilidades práticas de um acordo, bem como as suas formas, devem ser resolvidas pelos militantes daorganização local que possuem a experiência prática.

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AS ELEIÇÕES PARA A DUMA E A TÁTICA DA SOCIAL-DEMOCRACIA RUSSA (*)Publicado em 27 de março de 1907, no “Die Neue Zeit19” nº 26, I. Band 190-1907.Publicado pela primeira vez em russo em 1922, nas obras de Lenin, tomo VIII. [OC, tomo 15, págs. 40 a 52]

(*) Trata do balanço da primeira fase das eleições nas grandes cidades relativas à II Duma

Durante as eleições para a II Duma, entre as duas alas da socialdemocracia - bolcheviques e mencheviques -foi desatada uma luta encarniçada em torno à questão de se fazer um bloco com os democratas-constitucionalistas ou com os trudoviques contra os democratas- constitucionalistas. Em Moscou, onde ospartidários dos bolcheviques são mais fortes, se constituiu um bloco de esquerda e os mencheviques fizeramparte dele. Em Petersburgo também os bolcheviques eram mais fortes e também ali se formou um bloco deesquerda para as eleições, porém os mencheviques não aderiram ao bloco e se retiraram da organização.Produziu-se uma cisão que ainda continua. Os mencheviques invocaram o perigo da reação da direita, isto é,temiam que nas eleições, a divisão de votos entre as esquerdas e os liberais pudessem dar o triunfo aos ultra-reacionários. Os bolcheviques afirmaram que tal perigo era uma invenção dos liberais, empenhados em colocara democracia pequeno-burguesa e a proletária sob a influência do liberalismo burguês. Os resultadosdemonstram que os votos dos esquerdistas e dos democratas-constitucionalistas, somados, superam em mais dodobro o total dos votos dos outubristas e dos monarquistas. (Nota: Segundo os cálculos do mesmo Smirnov, em16 cidades, onde se apresentaram às eleições 72.000 eleitores e se enfrentaram não 4, mas 2 (ou 3) listas, aoposição obteve 58,7 % dos votos e as direitas 21 %. Aqui também a primeira cifra supera em mais do dobro asegunda cifra. Aqui também o perigo dos ultra-reacionários foi um enganoso espantalho dos liberais, queandaram falando muito sobre o perigo da direita, ainda que em realidade o que eles temiam era o “perigo daesquerda” (expressão que transcrevemos do órgão dos democratas constitucionalistas ,o Rech). A divisão dosvotos da oposição não podia, em consequência, contribuir para o triunfo das direitas.

Esses dados – que compreendem a mais de 200.000 eleitores urbanos – assim como os dados da composiçãogeral da II Duma, demonstram que o verdadeiro significado político dos blocos dos socialdemocratas com osdemocratas-constitucionalistas não é, em absoluto, a eliminação do perigo ultrarreacionário (opinião que, aindaque fosse completamente sincera, é em geral falsa), mas, ao contrário, é a liquidação da política independenteda classe operária e a subordinação desta à hegemonia dos liberais.

A essência da discussão entre as duas alas da socialdemocracia russa consiste em decidir se se reconhece ahegemonia dos liberais ou se se tende a conseguir a hegemonia da classe operária na revolução burguesa.

Apesar das dificuldades sem precedentes com que se defrontou a sua agitação, as esquerdas conquistaram41.000 votos em 22 cidades com o primeiro acordo dos socialdemocratas com os trudoviques contra osdemocratas constitucionalistas, isto é, superaram os outubristas e obtiveram mais da metade dos votos dosliberais. Esta circunstância serviu aos bolcheviques como prova de que, nas cidades, a pequena-burguesiademocrática segue aos democratas constitucionalistas mais pela força do costume e pelas artimanhas dosliberais do que pela hostilidade à revolução.

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19 Die Neue Zeit (Tempo Novo): revista teórica do Partido Social Democrata alemão que apareceu em Sttutgart entre 1883 a 1923.Atéoutubro de 1917 foi dirigida por K. Kaustsky, e, em seguida, por H. Cunow

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PROBLEMAS DE PRINCIPIO DA CAMPANHA ELEITORAL (*)Publicado em “Proveschenie20” nº 1 e 2, dezembro de 1911 e janeiro de 1912.[OC, tomo 21, págs. 90-99]

VIAgora temos que abordar de cheio o problema do famoso “bloco de esquerdas”. Pode-se dizer sem exagero

que Yuri Chatsky e F. Dan21 lançam raios e centelhas contra o bloco de esquerdas; por parte do último dospolíticos mencionados, ele é tanto mais natural porque necessita ocultar de algum modo sua traição à causa dosoperários e à divisão da organização dos operários de Petersburgo na primavera de 1907, a fim de fazer umbloco com os democratas constitucionalistas! Porém a questão do bloco de esquerdas é um problema deprincípios interessante e importante, não falando apenas e nem tanto dos acordos eleitorais (sob a lei eleitoralexistente, se recorreu ao “bloco de esquerdas” muito poucas vezes na prática), quanto do caráter geral e doconteúdo de toda a propaganda e agitação eleitorais. “Obrigar” às mais numerosas massas democráticas do país(os camponeses e as capas afins da pequena burguesia não agrária) “a escolher entre os democratasconstitucionalistas e os marxistas” e aplicar uma linha de “ações conjuntas” dos operários e da democraciacamponesa, tanto contra o velho regime como contra a burguesia liberal vacilante e contrarrevolucionária, é abase e a essência da tática de “bloco de esquerdas” consagrada tanto pelo curso dos acontecimentos de 1905 (omovimento operário e camponês) como pelos votos dos grupos “trudovique” e operários nas duas primeirasDumas, pela atitude da imprensa dos diferentes partidos em relação aos problemas cardinais da democracia eaté pela posição no problema agrário do “grupo camponês” na III Duma (apesar de que nele há muitoselementos de direita!). É um fato conhecido que o projeto de lei agrária apresentado pelos 43 camponeses na IIIDuma é muito mais democrático que o projeto democrata constitucionalista, liberal, os mesmos democratasconstitucionalistas o admitiram!

Não cabe dúvida de que é precisamente neste sentido dos princípios gerais que os liquidadores rechaçam a“tática de bloco de esquerdas”. E também é indubitável que sua renúncia a esta tática constitui uma traição dacausa da democracia. Não houve no mundo um só movimento de liberação burguês que não haja dadoexemplos e mostras da tática de “bloco de esquerdas”, com a particularidade de que todas as vitórias dessemovimento estiveram sempre relacionadas com os êxitos desta tática, com a orientação da luta por estecaminho, a despeito dos titubeios e traições dos liberais. O que deu amplitude e força à revolução inglesa doséc. XVII e à revolução francesa do séc. XVIII foi precisamente “a tática do bloco de esquerdas”, precisamentea aliança da “plebe” urbana (=proletariado moderno) com o campesinato democrático. Marx e Engels falaramdele muitas vezes, não só em 1848, se não também muito depois.

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20 Proschenie (Ilustração): revista teórica mensal legal dos bolcheviques de Petersburgo, fundada por iniciativa de Lenin, sendopublicada entre dezembro de 1911 até junho de 1914. Substituiu a revista Mils (Pensamento) publicada em Moscou, fechada pelogoverno czarista.21 Dan, Fyodor (1871-1947): Líder socialdemocrata, dirigente menchevique internacionalista e membro do Comitê Executivo Centraldo Soviet de Petrogrado em 1917.

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RESOLUÇÕES DA VI CONFERÊNCIA (DE PRAGA) DE TODA A RÚSSIA DO POSDR5 a 17 (18 a 30) de janeiro de 1912 (*)[OC, tomo 21, págs. 147-154]

(*) Trata da orientação geral para todas as fases das eleições relativas à IV Duma

AS ELEIÇÕES À IV DUMA DE ESTADO

IA conferência estima que é absolutamente necessário que o POSDR participe na próxima campanha para as

eleições à IV Duma, que nosso Partido apresente seus candidatos independentes e que na IV Duma se formeuma minoria socialdemocrata, subordinada a nosso Partido como parte do mesmo.

A principal tarefa do Partido nas eleições, assim como a da futura minoria social-democrata na própriaDuma, tarefa a que se deve subordinar todas as demais, é a propaganda socialista de classe e a organização daclasse operária.

[O programa apresentado a seguir está na parte da apostila referente ao programa]

IIA linha tática geral do POSDR nas eleições deve ser a seguinte: o Partido deve pôr em prática uma guerra

implacável contra a monarquia czarista e os partidos dos latifundiários e dos capitalistas que a respaldam,denunciar ao mesmo tempo com firmeza as concepções contrarrevolucionárias dos liberais burgueses (com oPartido Democrata Constitucionalista à cabeça) e sua falsa democracia.

Na campanha eleitoral deve prestar-se especial atenção à tarefa de demarcar as posições que ocupa o partidodo proletariado da de todos os partidos não proletários, e esclarecer tanto a essência pequeno-burguesa dopseudo-socialismo dos grupos democráticos (principalmente os trudoviques, os populistas e os socialistas-revolucionários), como o prejuízo que causam à democracia vacilações dos mesmos nas questões relacionadascom a luta revolucionária consequente e massiva.

Enquanto aos pactos eleitorais, o Partido irá se a ter às resoluções do Congresso de Londres, e, porconseguinte:

1) na cúria operária apresentará em toda parte candidatos próprios e não admitirá nenhum acordo com outrospartidos ou grupos (liquidadores);

2) dada a grande importância que desde o ponto de vista da agitação tem o simples fato de que se apresentamcandidatos próprios dos socialdemocratas, é necessário procurar que na segunda assembleia de votantesurbanos, e sendo possível na cúria camponesa, o partido tenha candidatos próprios;

3) na segunda fase das eleições (veja-se o artigo 106 do Regulamento Eleitoral), durante a eleição decompromissários na segunda assembleia de votantes urbanos é admissível fazer acordos com os democratasburgueses contra os liberais e, logo, também com os liberais contra todos os partidos governamentais. Uma dasformas de acordo pode ser a confecção de listas conjuntas de compromissários para uma ou várias cidades,proporcionalmente ao número de votos obtidos na primeira volta das eleições;

4) nas cinco cidades (Petersburgo, Moscou, Riga, Odessa e Kiev), e nas que as eleições são diretas comsegunda volta, na primeira volta deve-se apresentar candidatos socialdemocratas próprios para a segunda cúriade votantes urbanos. Em caso de segunda volta, quando não exista o menor perigo por parte das centúrias-negras, tão somente são admissíveis os acordos com os grupos democráticos contra os liberais;

5) nenhum acordo eleitoral pode estar relacionado com a apresentação de uma plataforma comum, nem podeimpor aos candidatos socialdemocratas compromisso político algum, nem impedir aos socialdemocratas quecritiquem resolutamente o caráter contra-revolucionário dos liberais, assim como titubeio e inconsequência dosdemocratas burgueses;

6) na segunda etapa das eleições (nas assembleias de delegados dos distritos rurais, nas assembleiasprovinciais de votantes, etc.), sempre que o imponha a necessidade de fazer fracassar a lista das centúrias-negras e outubristas ou a lista do Governo em geral, se concertará acordos para a distribuição das cadeiras, emprimeiro lugar com os democratas burgueses (trudoviques, socialistas populares, etc.) e, logo, com os liberais(democratas constitucionalistas), sem partido, progressistas, etc..

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Page 28: SEMINÁRIO TEÓRICO COMPARATIVO

A SEGUNDA FASE DAS ELEIÇÕES NA RÚSSIA E AS TAREFAS DA CLASSE OPERÁRIA (*)Publicado em Zevsdá22 nº 25 (61), 3 de abril de 1912 [OC, tomo 21, págs. 251-257]

(*) Trata da relação entre os acordos e os sistemas eleitorais na Rússia e na Alemanha

(…) Segundo a lei de 3 de Junho de 1907 na Rússia não há segunda volta das eleições ao modo alemão,não há em geral “segunda volta” no sentido exato da palavra, mas só de eleições complementares ou novaseleições. Na Alemanha se procede à segunda volta para eleger a um dos dois candidatos que obtiveram o maiornúmero de votos nas eleições primárias. A segunda volta, no caso dos alemães, resolve exclusivamente qual dosdois candidatos que obtiveram mais votos deve ser eleito.

Na Rússia não ocorre nada semelhante. Segundo nossa lei, na segunda volta das eleições pode-se apresentarqualquer número de quaisquer candidatos. A rigor, não se trata de segunda volta, mas de novas eleições ousuplementares. Por isso são errôneas as referências ao exemplo da Alemanha.

(…) Surge a pergunta de que conclusões políticas em relação à nossa tática eleitoral pode extrair-se desteaspecto do Regulamento Eleitoral de 3 de Junho.

A primeira conclusão, principal e mais geral é a seguinte: nossa lei, diferentemente da lei alemã, oferece umcampo mais amplo para os acordos eleitorais na segunda volta. Na Alemanha só se pode falar de eleger o malmenor: os vencidos nas eleições primárias (e são todos os que ficaram excluídos da segunda volta) não podemter outra aspiração. E na Rússia, se nas eleições primárias não houve vencedores tão pouco há, falando comrigor, vencidos, pois cada qual pode provar a sorte em uma nova confrontação pela segunda vez, concertandoacordos de diverso tipo com um ou outro aliado.

Em particular, na Alemanha o candidato operário não pode aproveitar para si mesmo, quer dizer,diretamente, a luta entre os partidos burgueses de direita e os partidos burgueses de oposição; pode apoiar aoposição liberal contra a direita, se ambas têm quase a mesma força, porém não pode vencer ele mesmo no casode que seus adversários liberal e reacionário contem com forças equivalentes. Na Rússia este último é possível.

Daí a segunda conclusão. A lei eleitoral russa oferece à democracia operária na segunda volta um campomais amplo para a luta contra os liberais que a lei alemã. Na Rússia, tal como na maioria dos países da EuropaOcidental, predominam nas eleições duas alas (ou dois grupos de partidos) das classes possuidoras dominantes:os “conservadores” e os liberais, as centúrias negras e a “oposição”. Os operários lutam tanto contra uns comocontra outros. Ademais, as camadas populares atrasadas que despertam primeiro para a luta contra o feudalismoe o absolutismo, não compreendem de imediato suas tarefas na luta contra o capital e, geralmente, durante umtempo bastante longo seguem aos liberais. Por isso os partidos operários, ao reforçar sua influência, costumamganhar mais seguidores à custa do campo dos liberais que das direitas. Daqui os habituais gritos hipócritas “dosdemocratas constitucionalistas” de todos os países sobre os partidos operários fazerem o jogo da reação,debilitarem “a força geral do progresso”, etc., etc..

Na Alemanha, o candidato operário só pode medir suas forças com um liberal na segunda volta das eleições,no caso de que as direitas tenham sido derrotadas na primeira volta das eleições e estejam excluídas da segundavolta. Na Rússia, o candidato operário pode e, por conseguinte, deve competir na segunda volta das eleiçõescom um liberal, sempre que o candidato da direita haja obtido nas eleições menos votos que o liberal. Dito emoutros termos: quando se realizam eleições de segunda volta na Alemanha, o operário só pode lutar contra oliberal “um a um”, enquanto na Rússia se pode, também na segunda volta, dar “combate triangular”, quer dizer,com candidatos da direita, liberais e operários. Por conseguinte, na Rússia podem dar-se durante a segundavolta das eleições mais casos nos que as massas operárias estejam interessadas em fazer que saia eleito seucandidato.

Chegamos à terceira conclusão. Dadas as divisões políticas atuais, na segunda volta das eleições se abre naRússia um campo muito amplo para o chamado bloco de esquerdas em todas aquelas cúrias e em todas aquelasetapas nas que os liberais são mais fortes que os ultra-reacionários (estes últimos incluem, naturalmente, toda adireita, tanto os nacionalistas como os outubristas, quer dizer, todos os partidos governamentais sem exceção).Sempre que nas eleições primárias os liberais sejam mais fortes que os ultra-reacionários, e os candidatosoperários sejam mais débeis que os liberais, é aí obrigatória – tendo presente tanto os objetivos políticos daorganização da democracia em geral como a necessidade de levar os candidatos operários à Duma – a união dosoperários com a democracia burguesa (populistas, trudoviques, etc.) contra os liberais.

22 Zevzdá (A Estrela): periódico legal bolchevique publicado em Petersburgo entre 16 (29) de dezembro de 1910 a 22 de abril de1912.

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A CAMPANHA PARA AS ELEIÇÕES DA IV DUMA DE ESTADO (*)Publicado em”Zevsdá”, nºs 33,34,36 1 (37); 10, 17, 31 de dezembro de 1911 e 6 de janeiro de 1912.[OC, tomo 21, págs. 40-61]

(*) Trata das táticas para a terceira fase das eleições para a IV Duma, ou seja, a fase final, em que ocorre aeleição dos deputados.

IV. Conclusões baseadas na experiência das eleições à III Duma(..) Vejamos, por exemplo, a província de Kázan. Está representada na III Duma por 10 deputados

distribuídos por igual entre a direita e a oposição: 5 direita (4 outubristas e um nacionalista) 5 liberais (1progressista, 2 democratas constitucionalistas e 2 muçulmanos). Não há trudoviques nem socialdemocratas.

Contudo, a julgar pelos dados da província de Kázan, temos que reconhecer que os democratas têm aliprobabilidades bastante sérias. (...)

Os democratas constitucionalistas se viram obrigados a votar em pessoas de direita. Dada a precária maioriados liberais, antes assinalada, entre os compromissários, os democratas operários terão um campo de açãofavorável: poderão aproveitar as discordâncias entre os latifundiários e os capitalistas para organizar as forçasda democracia em geral e para levar à Duma à socialdemocratas e à trudoviques, em particular.

Se, por exemplo, entre os compromissários tivesse havido 57 homens de direita, outros tantos liberais e só 3democratas ( 2 operários socialdemocratas e um trudovique camponês), só isso teria permitido aos 3 democrataseleger para a Duma a um socialdemocrata, sem falar já da compensatória tarefa de reunir as forças democráticasque estes 3 teriam podido abordar, considerando que haviam 33 compromissários camponeses. Supomos quepoderiam ser 3 os democratas por ser o mínimo exigido pela lei (artigo 25 do Regulamento eleitoral) paradesignar os candidatos por nota escrita, já que o candidato que não tenha 3 votos não pode apresentar-se àeleição. Fica claro, por suposto, que a quantidade de três que exige a lei poderia conformar-se por dois liberaisque se unissem a um democrata, sempre que os liberais não “evoluam” (na direção de Veji) até o extremo deque ainda na assembleia eleitoral provincial prefiram um outubrista a um socialdemocrata.

Em caso de empate entre a direita e os liberais, um só democrata, votando ora com a direita contra os liberaisora com os liberais contra a direita, pode impedir a eleição à Duma de qualquer candidato, e assim conseguir(de acordo com o artigo 119 do regulamento eleitoral) um intervalo, cuja duração, segundo o artigo mencionadofixa a própria assembleia, porém que não pode passar de 12h, e conseguir um acordo entre os liberais e osdemocratas na condição de que os últimos sejam levados para a Duma.”

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ESQUERDISMO, DOENÇA INFANTIL DO COMUNISMO (Ensaio popular sobre a estratégia e a tática marxistas) – V.I. Lenin12 de maio de 1920

IX - O Comunismo de Esquerda na Inglaterra (…) Os comunistas ingleses devem, na minha opinião, unificar seus quatro partidos e grupos (todos

muito débeis e alguns extraordinariamente débeis) num Partido Comunista único, baseado nos princípios daIII Internacional e da participação obrigatória no parlamento. O Partido Comunista propõe aos Henderson 23

e Snowden24 um "compromisso", um acordo eleitoral: marchemos juntos contra a coalizão de LloydGeorge25 e os Conservadores, repartamos os postos no parlamento proporcionalmente aos votos dados pelosoperários ao Partido Trabalhista ou aos comunistas (não nas eleições, mas numa votação especial)conservemos a mais completa liberdade, de agitação, propaganda e ação política. Sem esta última condiçãoé impossível, naturalmente, fazer a aliança, pois seria uma traição. Os comunistas ingleses devemreivindicar e alcançar a mais completa liberdade, que lhes permita, desmascarar os Henderson e Snowden,23 Henderson, Arthur (1863-1935). Secretário Geral do Partido Laborista. Foi Secretário do Interior no primeiro gabinete laborista deMac Donald e Secretario das Relações Exteriores no segundo. Presidiu a II Internacional entre 1923 e 1929. 24 Snowden, Philip (1864-1937): Membro da ala direita do Partido Laborista Independente da Grã Bretanha. Integrou o governo deMac Donald em 1924. 25 Lloyd George, David (1863-1945): dirigente do Partido Liberal britânico. Ministro do reino Unido entre 1916 e 1922.

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de modo tão absoluto como o fizeram (durante 15 anos, de 1903 a 1917) os bolcheviques russos em relaçãoaos Henderson e Snowden da Rússia, isto é, os mencheviques.

Se os Henderson e Snowden aceitarem a aliança nessas condições, sairemos ganhando, pois o que nosinteressa não é, absolutamente, o número de cadeiras no parlamento. Não é esse o nosso objetivo; nesse pontoseremos transigentes (enquanto os Henderson e, sobretudo, seus novos amigos - ou seus novos amos - osliberais que ingressaram no Partido Trabalhista, correm atrás disso mais que de qualquer outra coisa). Teremosganho porque levaremos nossa agitação às massas num momento em que o próprio Lloyd George as terá"irritado', e ajudaremos não só o Partido Trabalhista a formar mais depressa o seu governo, como também asmassas a compreenderem melhor toda nossa propaganda comunista, que realizaremos contra os Henderson semnenhuma limitação, sem nada silenciar.

Se os Henderson e Snowden repelirem a aliança conosco, nessas condições, teremos ganho ainda mais, poisteremos mostrado na hora às massas (levem em conta que inclusive dentro do Partido Trabalhista Independente,puramente menchevique, completamente oportunista, as massas são partidárias dos Soviets) que os Hendersonpreferem sua intimidade com os capitalistas à união de todos os trabalhadores. Teremos ganho imediatamente ante amassa, a qual, sobretudo depois das explicações brilhantíssimas, extremamente acertadas e úteis (para o comunismo)dadas por Lloyd George, simpatizará com a idéia da união de todos os operários contra a coalizão de Lloyd Georgecom os conservadores. Teremos ganho desde o primeiro momento, pois teremos demonstrado às massas que osHenderson e Snowden receiam vencer Lloyd George, receiam tomar o poder sozinhos e aspiram a conseguir emsegredo o apoio de Lloyd George, que estende a mão abertamente aos conservadores contra o Partido Trabalhista. (...)

X - Algumas Conclusões (…) As divergências entre os Churchill26 e os Lloyd George de um lado - tipos políticos que existem em todos os

países com peculiaridades nacionais ínfimas - e, de outro, entre os Henderson e os Lloyd George, não têmabsolutamente nenhuma importância e são insignificantes do ponto de vista do comunismo puro, isto é, abstrato, aindaincapaz de ações políticas práticas, de massas. Mas, do ponto de vista dessa ação prática das massas, tais divergênciastêm extraordinária importância. Saber levá-las em conta, saber determinar o momento em que amadureceramplenamente os conflitos inevitáveis entre esses "amigos", conflitos que debilitam e extenuam todos os "amigos"tomados em conjunto, é o trabalho, a missão do comunista que deseje ser não só um propagandista consciente,convicto e teoricamente preparado, como também um dirigente prático das massas na revolução. É necessário unir amais absoluta fidelidade às ideias comunistas à arte de admitir todos os compromissos práticos necessários, manobras,acordos, ziguezagues, retiradas, etc., para precipitar a ascensão ao poder político dos Henderson (dos heróis da IIInternacional, para não citar nomes desses representantes da democracia pequeno-burguesa que se chamam desocialistas) e seu malogro no mesmo; para acelerar seu fracasso inevitável na prática, o que educará as massasprecisamente em nosso espírito e as orientará precisamente para o comunismo; para acelerar os atritos, as disputas, osconflitos e a separação total, inevitáveis entre os Henderson, os Lloyd George e os Churchill (entre os mencheviques eos social-revolucionários, os democratas constitucionalistas e os monárquicos; entre os Scheidemann27, a burguesia, ospartidários de Kapp28, etc.) e para escolher acertadamente o momento de máxima dissensão entre todos esses"baluartes da sacrossanta propriedade privada", a fim de esmagá-los por completo, mediante uma resoluta ofensiva doproletariado, e conquistar o poder político.

(…) Em todos os casos e em todos os países, porém, o comunista está se temperando e cresce; suas raízessão tão profundas que as perseguições não o debilitam, não o extenuam, mas, pelo contrário, reforçam-no. Sófalta uma coisa para que marchemos rumo à vitória com mais firmeza e segurança; que os comunistas de todosos países compreendamos em toda parte e até o fim que em nossa tática é necessária a máxima flexibilidade. Oque falta atualmente ao comunismo, que cresce magnificamente, sobretudo nos países adiantados, é essaconsciência e o acerto para aplicá-la na prática. (...)26 Churchill, Winston (1874-1965): dirigente político do Partido Conservador. Em 1940 foi Primeiro-Ministro e Ministro da Defesado governo de coalizão entre conservadores, liberais e laboristas. 27 Scheidemann, Phillipp (1865-1939): Dirigente socialdemocrata alemão. Membro de sua ala direita durante a guerra e a revoluçãoalemã. Junto a Ebert proclamou a república alemã em 1918. Em 1919 Scheidemann foi nomeado chanceler. Impulsionou a repressão àrevolução alemã de 1919. 28 Partidários de Kapp: seguidores do alemão Kapp de ideias ultranacionalistas e partidário da monarquia. Liderou o golpe de estadomonárquico-militar na Alemanha, chamado "putch de Kapp", efetuado pela reacionária camarilha militar alemã. Os conspiradoresprepararam o golpe de Estado em evidente conivência com o governo socialdemocrata. Em 13 de março de 1920 os golpistasdeslocaram unidades militares para Berlim e, não encontrando resistência do Governo, declararam-no derrubado e formaram um novogoverno. Os operários berlinenses responderam ao golpe de Estado com a greve geral. O Governo Kapp caiu em virtude da pressãooperária, retornando ao Poder os socialdemocratas, que seguiram uma política de repressão aos operários.

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ESQUERDISMO, DOENÇA INFANTIL DO COMUNISMO(Ensaio popular sobre a estratégia e a tática marxistas) – V.I. Lenin 12 de maio de 1920

V- O comunismo “de esquerda” na AlemanhaMais adiante, o autor do panfleto acusa o “CC” do Partido Comunista de procurar uma coalização com o

Partido Social Democrata Independente da Alemanha29, de ter levantado “a questão do reconhecimento, emprincípio, de todos os meios políticos” de luta, entre eles o parlamentarismo30, somente para ocultar suasverdadeiras e principais intenções de coligar-se com os independentes.

VIII - Nenhum compromisso? (…) É fácil, por conseguinte, compreender que o ataque dos esquerdistas alemães ao Comitê Central do

Partido Comunista da Alemanha, em virtude deste admitir a ideia de um bloco com os "independentes"("Partido Social Democrata Independente da Alemanha", os kautskistas) pareçam-nos carecer de seriedade eque vejamos neles uma demonstração evidente da posição errada dos "esquerdistas". Na Rússia também haviamencheviques de direita (que participaram do governo de Kerenski), equivalentes aos Scheidemann daAlemanha, e mencheviques de esquerda (Martov), que se opunham aos mencheviques de direita e equivaliamaos kautskistas alemães. (...)

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FRANÇA NUMA ENCRUZILHADA – L. Trotsky28 de março de 1936

Um princípio elementar da estratégia marxista é que a aliança do proletariado com a pequena-burguesia dascidades e do campo deve realizar-se unicamente na luta irredutível contra sua representação parlamentartradicional. Para ganhar o camponês para o operário, é preciso separá-lo do político radical que o submete aocapital financeiro. Do contrário, a Frente Popular, complô da burocracia operária com os piores exploradorespolíticos das classes médias, é simplesmente capaz de matar a fé das massas nos métodos revolucionários elançá-las nos braços da contra-revolução fascista.

Ainda que seja difícil acreditar, alguns cínicos tratam de justificar a política da Frente Popular fazendoreferência a Lenine que, segundo parece, mostrou que não se pode prescindir de "compromissos" e,especialmente, de acordos com outros partidos. Para os atuais chefes da Internacional Comunista, ultrajarLenine se tornou uma regra: espezinham a doutrina do fundador do partido bolchevique e em seguida vãoprostrar-se diante do seu mausoléu, em Moscou.

Lenine começou sua tarefa na Rússia czarista, onde não apenas os operários, os camponeses e os intelectuaiscombatiam o antigo regime, mas também amplos meios burgueses. Se, de um modo geral, a política da FrentePopular pudesse ter justificação, ela só seria imaginável num pais que ainda não tivesse feito sua revoluçãoburguesa. Os senhores falsificadores poderiam indicar em que fase, em que momentos e em que circunstânciaso partido bolchevique realizou na Rússia algo semelhante à Frente Popular? Que façam trabalhar suas meningese pesquisem nos documentos históricos!

29 Partido Social Democrata Independente da Alemanha (USPD, em alemão). Partido centrista fundado em abril de 1917, a partir deuma ruptura com o Partido Social Democrata Alemão (SPD, em alemão). O USPD dividiu-se em 1920, no Congresso de Halle. Umaparte considerável, sua ala esquerda, fundiu-se em dezembro do mesmo ano com o Partido Comunista da Alemanha (KPD, emalemão). A ala direita manteve-se como USPD até 1922, quando então regressou ao SPD. A Liga dos Espartaquistas (Rosa de Luxemburgo, K. Liebnecht, Paul Levi, F. Mehring, Clara Zetkin, e outros) foram parte daconstituição do USPD e permaneceram nele até a revolução de novembro de 1918. Logo em seguida romperam para fundar emdezembro do mesmo ano o Partido Comunista Alemão (KPD). 30 Contra a posição de Rosa de Luxemburgo, o KPD boicotou as eleições para a Câmara e as Eleições para a Assembléia Constituinte,ocorridas em 19 de janeiro (2 de fevereiro teve eleições complementares para os soldados que estavam no front). Sem a concorrênciado KPD, o USPD alcançou 7,6% dos votos, elegendo 4 deputados. Nas eleições de 6 de junho de 1920, o USPD dá um novo saltoobtendo 17,9% dos votos. O Partido Comunista dessa vez se apresenta, mas obtém apenas 2,1% dos votos. No “Esquerdismo ...” ,escrito em abril de 1920, visando uma aproximação com a ala esquerda do USPD, Lênin propõe um bloco ou coligação parlamentarentre o KPD e o USPD. Ala esquerdista do KPD não concorda com a proposta.

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Page 32: SEMINÁRIO TEÓRICO COMPARATIVO

Os bolcheviques realizaram acordos práticos com as organizações revolucionárias pequeno-burguesas para otransporte clandestino de publicações revolucionárias e, algumas vezes, para a organização comum de umamanifestação, ou para responder aos grupos de "pogromistas".

Quando das eleições para a Duma, recorreram, em certas circunstâncias e no segundo grau, à blocoseleitorais com os mencheviques ou com os socialistas revolucionários. Isso é tudo. Nem "programas" comuns,nem organismos permanentes, nem renúncia a criticar os aliados circunstanciais. Este tipo de acordos ecompromissos episódicos, estritamente limitados a objetivos precisos – os únicos que Lenine tomava emconsideração – nada tinham em comum com a Frente Popular, que representa um conglomerado deorganizações heterogêneas, uma aliança duradoura de classes diferentes ligadas para todo um período – e queperíodo! – por uma política e um programa comum: por uma política de ostentação, de declamação e de poeiranos olhos. Na primeira prova séria, a Frente Popular vai se romper e todas as suas partes constituintes sairãocom profundas rachaduras. A política da Frente Popular é uma política de traição.

A regra do bolchevismo, no que se referia aos blocos, era a seguinte: Marchar separados, vencer juntos! Aregra dos atuais chefes da Internacional Comunista é: Marchar juntos para ser derrotado separadamente. Queesses senhores se aferrem a Stálin e Dimitrov, mas que deixem Lenine em paz.

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MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTAEscrito em dezembro de 1847, publicado em janeiro de 1848

IV - Posição dos Comunistas para com os diversos partidos oposicionistasDe acordo com a secção II é evidente a relação dos comunistas para com os partidos operários já

constituídos, portanto, a sua relação para com os cartistas em Inglaterra e os reformadores agrários na Américado Norte.

Lutam para alcançar os fins e interesses imediatos da classe operária, mas no movimento presenterepresentam simultaneamente o futuro do movimento.

Em França os comunistas juntam-se ao partido socialista-democrático contra a burguesia conservadora eradical, sem por isso abdicarem do direito de assumir uma atitude crítica perante as frases e as ilusõesprovenientes do legado revolucionário.

Na Suíça apoiam os radicais, sem deixar de reconhecer que este partido é composto por elementoscontraditórios, em parte socialistas democráticos no sentido francês, em parte burgueses radicais.

Entre os Polacos os comunistas apoiam o partido que faz de uma revolução agrária condição da libertaçãonacional, aquele mesmo partido que deu vida à insurreição de Cracóvia de 1846.

Na Alemanha o Partido Comunista luta, assim que a burguesia entra revolucionariamente em cena, emconjunto com a burguesia contra a monarquia absoluta, a propriedade feudal da terra e a pequena burguesia.[Kleinbürgerei].

Mas nem por um instante deixa de formar nos operários uma consciência o mais clara possível sobre aoposição hostil entre burguesia e proletariado, para que os operários alemães possam virar logo as condiçõessociais e políticas, que a burguesia tem necessariamente de originar com a sua dominação, como outras tantasarmas contra a burguesia, para que, depois do derrube das classes reacionárias na Alemanha, comece logo a lutacontra a própria burguesia.

(…) Por fim, por toda a parte os comunistas trabalham na ligação e entendimento dos partidos democráticosde todos os países.

Os comunistas rejeitam dissimular as suas perspectivas e propósitos. Declaram abertamente que os seus finssó podem ser alcançados pelo derrube violento de toda a ordem social até aqui. Podem as classes dominantestremer ante uma revolução comunista! Nela os proletários nada têm a perder a não ser as suas cadeias. Têm ummundo a ganhar.

Proletários de todos os países, uní-vos!”

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Page 33: SEMINÁRIO TEÓRICO COMPARATIVO

MENSAGEM DO COMITÊ CENTRAL À LIGA DOS COMUNISTASMarço de 1850, Marx-Engels

A consequência imediata da derrota dos governos existentes deve ser a eleição de uma assembleiaconstituinte nacional representativa. Aqui o proletariado deverá vigiar para:

1) Que sequer nenhum núcleo operário seja privado do direito de voto sob nenhum pretexto nem por nenhumtruque das autoridades locais ou dos comissários do governo.

2) Que ao lado dos candidatos burgueses democráticos disputem em todas as partes candidatos operários,eleitos na medida do possível entre os membros da Liga, e para seu triunfo se coloquem a disposição os meiosdisponíveis. Inclusive onde não exista nenhuma esperança de triunfo, os operários devem apresentar candidatospróprios para conservar a independência, fazer uma avaliação de forças e demonstrar abertamente para todomundo sua posição revolucionária e os pontos de vista do partido. Ao mesmo tempo, os operários não devem sedeixar enganar pelas alegações dos democratas de que, por exemplo, tal atitude divide o partido democrata efacilita o triunfo da reação. Todas estas alegações não têm mais que a finalidade de enganar o proletariado. Osêxitos que o partido proletário alcançar com semelhante ação independente pesam muito mais que o dano quepossam ocasionar a presença de alguns reacionários na assembleia representativa.

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F) UNIDADE DE AÇÃO, FRENTE ÚNICA E FRENTES ELEITORAIS:DIFERENÇAS, COM QUEM, COMO E QUANDO FAZER.

TESES SOBRE A UNIDADE DA FRENTE PROLETÁRIA [Redigida pelo CEI da Internacional Comunista, 1921. Aprovado no IV Congreso da Terceira

Internacional, novembro de 1922]

10. Na França, o Partido Comunista engloba a maioria dos trabalhadores politicamente organizados.Consequentemente, o problema da Frente Única assume um aspecto diferente do que apresenta em outrospaíses. Mas também na França é preciso que toda a responsabilidade da ruptura da frente operária recaia sobrenossos adversários. A fração revolucionária do sindicalismo francês combate com razão a cisão nos sindicatos edefende a unidade da classe operária na luta econômica. Porém esta luta não se detém no limite da fábrica. Aunidade também é indispensável contra a onda de reação, contra a política imperialista, etc. A política dosreformistas e dos centristas, depois de ter provocado a cisão no seio do partido, ameaça agora a unidade domovimento sindical, o que prova que, igual a Jean Longuet31, Jouhaux32 serve, na realidade, à causa daburguesia.

A consigna da unidade política e econômica da Frente Proletária contra a burguesia é o melhor meio deacabar com as manobras separatistas.

Quaisquer que sejam as traições da CGT reformista que dirigem Jouhaux, Merrheim33 e seus parceiros, oscomunistas, e com eles todos os elementos revolucionários da classe operária francesa, se sentirão obrigados apropor aos reformistas, frente a toda greve geral, frente a toda manifestação revolucionária, frente a toda açãode massas, a unidade nessa ação e, assim que os reformistas a rechaçarem, deverão desmascará-los diante da

31 Longuet, Jean Laurent (1876-1938): Advogado e deputado socialista francês. Na primeira guerra teve uma posição pacificista, masterminou votando a favor dos créditos de guerra. Suas posições foram majoritárias no Congresso de Estrasburgo do PartidoSocialista Francês. 32 Jouhaux, Leon (1870-1954): Dirigente da Confederação Geral do Trabalho (CGT), da qual foi secretário geral desde 1921 até aSegunda Guerra Mundial. Sindicalista social-patriota durante a Primeira Guerra Mundial. Opôs-se a Revolução Russa. Para Trotskyera a personificação da colaboração de classes.33 Merrheim, Alphonse (1871-1923): Partidário de Jouhaunx em 1917, lutou contra os revolucionários e permaneceu na ala direita daCGT depois da divisão de 1921.

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classe operária. Desse modo, a conquista das massas operárias apolíticas será mais fácil para nós. É evidenteque este método de modo nenhum significa para o partido francês uma restrição de sua independência e não ocomprometerá, por exemplo, em apoiar o bloco das esquerdas no período eleitoral ou a mostrar exageradaindulgência em relação aos ”comunistas” indecisos que não param de deplorar a cisão dos social-patriotas.”

***

CARTA AO OPERÁRIO COMUNISTA DO KPD – LEON TROTSKY[REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO, pág. 132-133. Editora Sundermann]8 de dezembro de 1931

Não compreendem a diferença - nem sequer a mais modesta - digamos, entre uma combinação parlamentar eum acordo de combate para uma greve ou para a guarda das tipografias operárias contra os bandos fascistas.

Em regra geral, os acordos eleitorais, os arranjos parlamentares feitos entre o partido revolucionário e asocial-democracia, servem os interesses da social-democracia. Acordos práticos para ações de massas, para finsde combate, servem sempre a causa do partido revolucionário. O Comitê anglo-russo foi uma formainadmissível do bloco de dois vértices, sobre uma plataforma política comum indeterminada, enganadora, quenão implicava em nenhuma ação. Apoiar esse bloco durante a greve geral, em que o Conselho Geral exerceuum papel de fura-greve, significava, da parte dos stalinistas, fazer uma política traidora.

Nenhuma plataforma comum com a social-democracia ou com os chefes dos sindicatos alemães, nenhumaedição, nenhuma bandeira, nenhum cartaz comum: marchar separadamente, lutar juntos. Combinação apenasnisto: como combater, quem combater e quando combater? Nisto, pode-se entrar em acordo com o própriodiabo, com a sua avó e mesmo com Noske34 e Grzesins. Com uma condição: conservar as mãos livres.

***

E AGORA? PROBLEMAS VITAIS DO PROLETARIADO ALEMÃO (A REVOLUÇÃO ALEMÃ EA BUROCRACIA STALINISTA) – L. TROTSKY

[Revolução contrarrevolução na Alemanha, págs., 211, 212. Editora Sundermann]27 de janeiro de 1932

Em fins de dezembro, o S.A.P.35 se dirigiu a todas as organizações operárias, convidando-as a organizar, emtodo o país, reuniões em que os oradores de todas as tendências dispusessem dum tempo igual de palavra. E'evidente, que por este caminho, nada se pode esperar. Com efeito, que sentido haveria para o PartidoComunista ou para o Partido Social-Democrata partilhar, em pé de igualdade, a tribuna com Brandler36,Urbahns37, e outros representantes de organizações e grupos muito insignificantes demais para pretenderem umlugar particular no movimento? Frente única quer dizer unidade das massas trabalhadoras comunistas e social-democratas, e não uma transação de grupos políticos desprovidos de massa. Dir-nos-ão: o bloco de Rosenfeld-

34 Noske, Gustav (1868-1946): Dirigente da ala direita da socialdemocracia alemã. Como ministro da Defesa entre 1919-1920, foi oresponsável pelo fuzilamento de dezenas de operários durante o movimento revolucionário no país. 35 SAP: Partido Operário Alemão, resultado da fusão dos socialdemocratas de esquerda com a juventude do SPD, os pacificistas, ecom parte do brandeliristas do KPO (Partido Comunista da Alemanha- Oposição, representava a denominada Oposição de direita noKPD).36 Brandler, Heinrich (1881-1967): fundador do Partido Comunista Alemão (KPD) e seu principal dirigente durante as jornadasrevolucionárias de março de 1921. Junto com Thaelmann Orientou o partido de acordo com a orientação do CE da III Internacional.Mas frente a mudança brusca da situação aberta com a crise de 1923, perdeu a oportunidade e não orientou o partido no caminho datomada do poder. O Kremlin o removeu da direção do partido em 1924. Formou uma fração, a Oposição do Partido Comunista(KPO), que se alinhou à Oposição de Direita dirigida por Bukharin na URSS. Em 1929 foi expulso do KPD e da InternacionalComunista.37 Urbahns, Hugo (1890-1946): Dirigente do KPD na década d 1920. Foi expulso pelos stalinistas em 1927 porque, como partidário deZinoviev, havia defendido a Oposição Unificada Russa. Em 1928, foi um dos fundadores de Leninbund que colaborou com aOposição de Esquerda até 1930, ano em que expulsou os oposicionistas de Esquerda da organização.

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Brandler-Urbahns não é mais que o bloco de propaganda da frente única. Mas precisamente no domínio dapropaganda, a frente única é inadmissível. A propaganda deve apoiar-se em princípios claros, num reprogramadefinido. Marchar separadamente, lutar juntos. O bloco é unicamente para ações práticas de massa. Oscompromissos pelo alto, sem base de princípios, não trazem outra coisa senão confusão.

A ideia de se propor o candidato à presidência, pela frente única operária, é uma ideia radicalmente errônea.Só se pode propor um candidato na base de um programa definido. O Partido não tem o direito de furtar-se,durante a eleição, a mobilizar os seus aderentes e ao recenseamento de suas próprias forcas. A candidatura doPartido, oposta a todas as outras candidaturas, não poderia impedir, em nenhum caso, o acordo com as outrasorganizações para os fins imediatos da luta. Os comunistas façam ou não façam parte do Partido oficial,apoiarão com todas as suas forças a candidatura Thaelmann38. Não se trata de Thaelmann, mas da bandeira docomunismo. Defendê-lo-emos contra todos os outros partidos. Destruindo as prevenções inoculadas pelaburocracia stalinista nas fileiras comunistas, a Oposição de Esquerda abre para si o caminho da consciênciadestas.

***

A CATÁSTROFE ALEMÃ: A RESPONSABILIDADE DA DIREÇÃOEscrito em 28 de março de 1933, publicado no Boletim da Oposição, nº 35, em julho de 1933

(…) A unidade do proletariado, como consigna universal, é um mito. O proletariado não é homogêneo. Adivisão começa com o despertar político do proletariado, e constitui a mecânica de seu desenvolvimento. Só sobcondições de uma crise social madura, quando se enfrenta com a tomada do poder como tarefa imediata, pode avanguarda do proletariado, prevista com uma política correta, agrupar ao seu redor a imensa maioria de suaclasse. Porém o ascenso até este pico revolucionário se realiza sobre os passos de sucessivas cisões.

Não foi Lênin quem inventou a política de frente única; igual à divisão do proletariado, é imposta peladialética da luta de classes. Nenhum êxito seria possível sem acordos temporários, com o objetivo de realizartarefas imediatas, em vários setores, organizações e grupos do proletariado. Greves, sindicatos, jornais, eleiçõesparlamentares, manifestações de rua, exigem que a divisão seja superada de vez em quando, na medida quesurge a necessidade; quer dizer, exigem uma frente única ad hoc, inclusive mesmo que nem sempre tome estaforma. (...)

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ESQUERDISMO, DOENÇA INFANTIL DO COMUNISMO (Ensaio popular sobre a estratégia e atática marxistas) – V.I. Lenin

12 de maio de 1920

VIII - Nenhum compromisso? (…) Nossa teoria, diziam Marx e Engels, não é um dogma, mas sim um guia para a ação, e o grande erro, o

imenso crime de marxista; "registrados", como Karl Kautsky, Otto Bauer e outros consiste em não havercompreendido essa afirmação, em não haver sabido aplicá-la nos momentos mais importantes da revoluçãoproletária. "A ação política não se parece em nada com a calçada da avenida Nevsk! (a calçada larga, limpa elisa da rua principal de Petersburgo, rua absolutamente reta), já dizia N.G. Chernishevski, o grande socialistarusso do período pré-marxista. Desde a época de Chernishevski, os revolucionários russos pagaram cominúmeras vítimas a omissão ou esquecimento dessa verdade. É preciso conseguir a todo custo que oscomunistas de esquerda e os revolucionários da Europa Ocidental e da América fiéis à classe operária paguemmenos caro que os atrasados russos a assimilação dessa verdade.

38 Thalmann, Ernest (1886-1945): Dirigente e candidato presidencial do partido comunista (KPD), partidário da política do Kremlinque permitiu a vitória do Hitler. Foi preso pelos nazistas em 1933 e executado no campo de concentração de Buchenwald em 1945.

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Os social-democratas revolucionários da Rússia aproveitaram repetidas vezes antes da queda do czarismo osserviços dos liberais burgueses, isto é, concluíram com eles inúmeros compromissos práticos, e em 1901/1902,mesmo antes do nascimento do bolchevismo, a antiga redação da Iskra (na qual participávamos Plekhanov,Axelrod, Zasúlich, Martov, Potresov e eu) concertou - (é verdade que por pouco tempo) uma aliança políticaformal com Struve, chefe político do liberalismo burguês, sem deixar de sustentar, simultaneamente, a lutaideológica e política mais implacável contra o liberalismo burguês e contra as menores manifestações de suainfluência no seio do movimento operário. Os bolcheviques sempre praticaram essa mesma política. Desde1905 defenderam sistematicamente a aliança da classe operária com os camponeses contra a burguesia liberal eo czarismo sem negar-se nunca, ao mesmo tempo, a apoiar a burguesia contra o czarismo (na segunda fase daseleições ou nos empates eleitorais, por exemplo) e sem interromper a luta ideológica e política maisintransigente contra o partido camponês revolucionário-burguês, os "social-revolucionários", que eramdenunciados como democratas pequeno-burgueses que falsamente se apresentavam como socialistas. Em 1917,os bolcheviques constituíram, por pouco tempo, um bloco político formal com os "social-revolucionários" paraas eleições da Duma. Com os mencheviques, estivemos formalmente durante vários anos, de 1903 a 1912, numpartido social-democrata único, sem interromper nunca a luta ideológica e política contra eles como portadoresda influência burguesa no seio do proletariado e como oportunistas. (...)

***

ESQUERDISMO, DOENÇA INFANTIL DO COMUNISMO – V.I. Lenin(“Ensaio popular sobre a estratégia e a tática marxistas”)12 de maio de 1920

X - Algumas Conclusões É preciso compreender perfeitamente que esse centro dirigente não pode, de modo algum, ser formado

segundo normas táticas estereotipadas de luta, mecanicamente igualadas, idênticas. Enquanto subsistiremdiferenças nacionais e estatais entre os povos e os países e essas diferenças subsistirão inclusive durante muitotempo depois da instauração universal da ditadura do proletariado - a unidade da tática internacional domovimento operário comunista de todos os países exigirá, não a supressão da variedade, não a supressão dasparticularidades nacionais (o que é, atualmente, um sonho absurdo), mas sim uma tal aplicação dos princípiosfundamentais do comunismo (Poder Soviético e ditadura do proletariado) que modifique acertadamente essesprincípios em seus detalhes, que os adapte, que os aplique acertadamente às particularidades nacionais enacional-estatais. Investigar, estudar, descobrir, adivinhar, captar o que há de particular e específico, do pontode vista nacional, na maneira pela qual cada país aborda concretamente a solução do problema internacionalcomum, do problema do triunfo sobre o oportunismo e o doutrinarismo de esquerda no movimento operário, aderrubada da burguesia, a instauração da república soviética e da ditadura proletária, é a principal tarefa doperíodo histórico que atualmente atravessam todos os países adiantados (e não só os adiantados). (...)

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G) RESULTADOS ELEITORAIS

RESULTADO DAS ELEIÇÕES NA CÚRIA DE PETERSBURGO (*)Publicado em “Proletari” nº 13, 11 de fevereiro de 1907.[OC, tomo 14, págs. 414-420]

(*) Referente às eleições para a II Duma

É, sem duvida, que os esseristas se fortaleceram mais do que esperávamos. Até os mencheviquesreconhecem isso. Na Cúria operária da província os esseristas conquistaram 4 dos 10 compromissários. NaCúria urbana eles foram vencidos pelos socialdemocratas, que ganharam o total de 14 compromissários[eleitores], porém o número de votos obtidos pelos candidatos esseristas foi considerável (de 269 votantes, 110-135 para os esseristas e 145-149 para os socialdemocratas).

Prossigamos. Ninguém nega, tampouco, o fato de que os esseristas ganharam de nós, em especial, nasmaiores fábricas.

Os mencheviques negam o seguinte fato, o de maior importância para esclarecer as causas de nossosfracassos, a saber: os esseristas triunfaram, no fundamental, sobre os mencheviques. (...)

Inclusive os dados reunidos agora demonstram cada vez mais a justeza de nossa conclusão inicial (n° 12 deProletari ), ou seja, que os esseristas venceriam os mencheviques. (...)

O êxito obtido pelos esseristas nos distritos de Nevski, Moscovski e Viborgski chamou particularmente aatenção de todos. E precisamente por esses distritos se explica agora a causa desse êxito: os socialdemocratasoportunistas comprometem o prestígio da socialdemocracia frente ao proletariado de vanguarda.

Porém, se por culpa dos socialdemocratas de direita perdemos 4 das 10 cadeiras na Cúria operáriaprovincial, em troca melhoramos a situação na Cúria operária urbana.

E melhoramos, como se verá pelo que segue adiante, justamente porque desenvolvemos diante de todos osdelegados a tática da socialdemocracia revolucionária e não a da socialdemocracia oportunista.

No total foram 272 os delegados operários da cidade. Calculava-se que 147 deles, ou seja, mais da metade,eram socialdemocratas e simpatizantes. Dos restantes, somente 54 eram parcialmente esseristas definidos, 55parcialmente indefinidos, 6 apartidários, 1 de direita , 9 trudoviques de “esquerda” (dois desses eramdemocratas-constitucionalistas) etc. (...)

Nas próximas eleições conquistaremos todas as cadeiras para a socialdemocracia.”

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RESULTADO DAS ELEIÇÕES DE PETERSBURGOPublicado no “Proletari” nº13, 11 de fevereiro de 1907.[OC, tomo 14, págs. 426-434]

(*) Referente às eleições para a II Duma

Nas eleições de Petersburgo triunfaram os democratas-constitucionalistas. Obtiveram 151 compromissáriosem 11 circunscrições. O bloco de esquerda triunfou apenas em uma, na de Viborgski, obtendo 9compromissários entre 160.

Particularidades fundamentais das eleições de Petersburgo: aumento da porcentagem de votantes em quasetodas as circunscrições, além disso, debilitamento das direitas. Os democratas-constitucionalistas encabeçam alista com 28.798 votos (calculado pelo máximo de votos emitidos para seus candidatos). Em segundo lugarfigura o bloco de esquerda que reuniu 16.703 votos. Em terceiro, os outubristas, com 16.613 votos. Em quarto,os monárquicos, com 5.270 votos.

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Desse modo em comparação com Moscou, deu-se um grande passo adiante. Conquistou-se umacircunscrição. Do terceiro lugar no conjunto das listas, as esquerdas passaram para segundo. Os votos a favordo bloco de esquerda chegam a 13% em Moscou. Em Petersburgo chegam a 25%, quase o dobro. (...)

***

BALANÇO DAS ELEIÇÕES (*)Publicado em “Proveschenie” nº 1, janeiro de 1913[OC, tomo22, págs. 336-365]

(*) Referente às eleições para a IV Duma

VIII. Encobrindo a derrotaResta examinar os resultados das eleições na Cúria mais importante: a operária. (...) E o que evidenciou o balanço das eleições? (...)A partir da II Duma (a primeira foi boicotada pela maioria da socialdemocracia) há dados exatos sobre o

número de deputados à Duma pela Cúria operária e distribuídos entre as distintas "correntes" no seio do PartidoSocialdemocrata. São estes:

Deputados a Duma de Estado pela Cúria operária:

Mencheviques Bolcheviques % destes últimos

II Duma (1907) 12 11 47

III Duma (1908-1912) 4 4 50

IV Duma (1912) 3 6 67

São cifras que falam por si mesmas!Em 1907 os bolcheviques tinham a maioria no Partido, uma maioria oficialmente computada (105 delegados

bolcheviques contra 97 mencheviques). Ou seja, 47 por cento na Cúria operária (em todo o grupo havia 18bolcheviques +36 mencheviques=54) constituía 52 por cento mais ou menos no partido operário.

Em 1912, pela primeira vez, todos os deputados da Cúria, isto é, seis, são bolcheviques. Sabe-se que estasseis províncias são as províncias industriais principais. Sabe-se que nelas está concentrada uma proporçãoincomparavelmente maior do proletariado do que nas restantes. Compreende-se, pois, e fica bem demonstradopela comparação com 1907, que 67 por cento da Cúria operária significa mais de 70 por cento no partidooperário.

***

AS ELEIÇÕES PARA A ASSEMBLEIA CONSTITUINTE E A DITADURA DO PROLETARIADOV. I. Lenin

(…) Em novembro de 1917, nessas 54 circunscrições foram emitidos um total de 36.626.560 votos. (...) Adistribuição por partidos é a seguinte: os esseristas russos obtiveram 16.500.000 votos, e se estes somarmosos conseguidos de outras nações (ucranianos, muçulmanos, etc.) obteremos um total de 20.900.00, ou seja, 58%dos sufrágios emitidos.

Os mencheviques conseguiram 669.064 votos, que somados aos obtidos por outros grupos análogos comosão os “socialistas populares” (312.000), o grupo Ednstvo (25.000), os cooperadores (51.000), ossocialdemocratas ucranianos (95.000), os socialistas ucranianos (507.000), os socialistas alemães (44.000) e ossocialistas finlandeses (14.000), teremos um total de 1.700.000 votos.

Os bolcheviques obtiveram 9.023.963 votos.

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Os democratas constitucionalistas tiveram 1.856.639 votos. Agreguemos a estes a União de Proprietáriosde Terras (215.000), os “grupos de direita” (292.000), a seita religiosa do “antigo ritual” (73.000), osnacionalistas -judeus (550.000), muçulmanos 576.000), bashkírios (195.000), letões alemães (130.000) ebielorrussos (12.000)- e as “listas de diversos grupos e organizações” (418.000) e teremos um total de4.600.000 votos emitidos a favor dos partidos dos latifundiários e da burguesia.

(...) Se tomarmos os três principais grupos que se apresentaram nas eleições da Assembleia Constituinte,obteremos o seguinte resultado:

Partido do proletariado (bolcheviques) 9.020.000 25%Partidos da democracia pequeno-burguesa (esseristas, mencheviques etc.) 22.620.000 62%Partido dos latifundiários e da burguesia (democratas constitucionalistas etc.) 4.620.000 13%Total 36.260.000 100%

(…) Diremos de passagem que, diante de tais fatos, são ridículas as afirmações de que os bolcheviquescontaram e contam com uma “minoria do proletariado”. E isso é afirmado tanto pelos mencheviques (queobtiveram 668.000 votos, e de 700.000 a 800.000 mais se contarmos os da Transcaucásia, contra os 9 milhõesobtidos pelos bolcheviques) quanto pelos social traidores da II Internacional.

(…) Tomemos as duas capitais, Petrogrado e Moscou. O número total de sufrágios emitidos nas cidadesdurante as eleições para a Assembleia Constituinte foi de 1.765.100. Disso obtiveram:

Os esseristas 218.000Os bolcheviques 837.000Os democratas constitucionalistas 515.400

(…) Aqui estão os resultados dessa votação tal como cita N. Sviatitski:O total dá: 1.885.100 a favor dos esseristas e 1.671.300 a favor dos bolcheviques. Se acrescentarmos a esta

última cifra os 120.000 votos (aproximadamente) da frota do Báltico, teremos a favor dos bolcheviques1.791.300 votos.

Portanto, os bolcheviques obtiveram um pouco menos que os esseristas.Quer dizer, já em outubro-novembro de 1917 a metade do exército era bolchevique. (...)

***ELEIÇÕES REICHSTAG 1932

Principais Partidos NSDAP - Nazistas SPD - Socialdemocratas KPD - ComunistasMês Jul Nov Jul Nov Jul NovVotos 13.745.680 11.737.395 7.959.700 7.251.690 5.282.636 5.980.614Porcentagem 37.27% 33.09% 21.58% 20.43% 14.32% 16.86%Cadeiras 230 196 133 121 89 100Balanço +19.02% - 4.18% - 2.55% - 1.15% + 1.19% + 2.54%

***

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Page 40: SEMINÁRIO TEÓRICO COMPARATIVO

H) CRITÉRIOS USADOS PARA FAZER OS BALANÇOS

BALANÇO DAS ELEIÇÕES (*)Publicado em “Proveschenie” nº 1, janeiro de 1913[OC, tomo22, págs. 336-365]

(*) Referente às eleições para a IV Duma

(…) Se uma campanha eleitoral oferece singular interesse a todo político responsável é porque proporcionadados objetivos sobre as concepções, à vontade, e em consequência, os interesses das distintas classes dasociedade. As eleições a corpos representativos podem ser comparadas neste sentido aos censos da população:as eleições proporcionam uma estatística política. Claro, está estatística pode ser boa (se existe, o sufrágiouniversal etc.) e pode ser má (as eleições de nosso parlamento, perdoem a palavra). Claro, é preciso aprender acriticar essa estatística – como qualquer outra – e utilizá-la com sentido crítico. Claro, por fim, é necessáriotomar essa estatística em conexão com toda a estatística social em geral, e, por exemplo, a estatística das grevesé frequentemente, para quem não está contagiado pelo cretinismo parlamentar, cem vezes mais importante eprofunda que a estatística das eleições.

Apesar de todas estas obviedades não há dúvidas de que as eleições proporcionam dados objetivos. Acomprovação dos desejos subjetivos, do estado de ânimo e das opiniões mediante o escrutínio de uma votaçãode massas pertencentes às distintas classes sempre deve ser valiosa para um político digno desse nome. Adisputa dos partidos na prática, ante o eleitorado, com a contagem dos votos proporciona sempre dados quecomprovam nossa visão do enquadramento das forças sociais e o alcance de tais ou quais "consignas".

Tentaremos enfocar o resultado das eleições desde este ponto de vista. (...)

***

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ANEXOS

RESUMO39 SOBRE O SISTEMA ELEITORAL NAS DUMAS

Houve duas leis eleitorais que basicamente regularam as eleições para as Dumas. A primeira foi a Leieleitoral de 11 (24) de dezembro de 1905 que regulou as eleições para a I e II Duma. A segunda foi a Lei de 3(16) de junho de 1907 que regulou as eleições para a III e IV Duma. Ambas eram muito anti-democráticas,sendo que a segunda era ainda pior.

De acordo com a primeira, o sufrágio não era universal. Não tinham direito à voto, as mulheres e mais dedois milhões de homens: operários de pequenas empresas, os povos nômades, os militares e os menores de 25anos.

As eleições eram indiretas. Os deputados eram eleitos em assembleias provinciais de compromissárioseleitos em quatro cúrias: a cúria agrária ou dos latifundiários; a cúria urbana; a cúria camponesa (aldeias) e,por fim, a cúria operária.

Também se elegiam deputados nas grandes cidades que constituíam um grupo a parte: Petersburgo elegia 6deputados; Moscou 4; Varsóvia e Tashkent, 2 cada uma; as demais cidades, um deputado em cada. Assim das17 cidades consideradas grandes se elegiam 27 deputados.

Por fim, os camponeses elegiam em separado um deputado de cada província pela cúria camponesa. Dessemodo, resultavam três grupos de deputados: os das assembleias eleitorais das províncias, das grandescidades e da cúria camponesa. No total, em geral se elegiam em torno de 420/430 deputados.

As eleições nas cúrias agrária (latifundiários) e urbanas se realizavam em duas fases. A primeira elegiaos compromissários e, estes, os deputados. Sendo que na cúria urbana havia duas eleições. A primeira cúriaurbana (ou primeira assembleia urbana) era composta pela burguesia, os grandes proprietários; a segundacúria urbana (ou segunda assembleia urbana) era formada pelos proprietários de casa ou inquilinos deapartamentos.

Na cúria operária havia três fases: na primeira, os cadastrados com direito a voto elegiam os delegadosoperários; na segunda, os delegados elegem os compromissários; e, na terceira, os compromissários elegiam osdeputados.

Na cúria camponesa, por sua vez, havia quatro fases: a primeira se elegia os representantes; estes elegiamos delegados; e estes, por sua vez, elegiam os compromissários que, por fim, elegiam os deputados.

As eleições também eram desiguais. Para a cúria agrária se elegia 1 compromissário (eleitor que elegia osdeputados) para cada 1 mil eleitores. Na cúria urbana, 1 para cada 7 mil. Na cúria camponesa, 1 para cada30 mil. Na cúria operária, 1 para cada 90 mil.

Os compromissários da cúria operária constituíam somente 4% do total de compromissários. Foi concedidodireito a voto somente aos operários de empresas fabris e da indústria mineira. As eleições eram realizadassomente nas empresas com mais de 50 operários. As empresas entre 50 e 100 operários enviavam um delegado.Nas grandes empresas, um delegado a cada mil.

Com esta estrutura, a nova Duma também assegurava um enorme predomínio dos grandes proprietáriosagrários e dos capitalistas.

***

A Lei eleitoral de 03 (16) de junho de 1907, expressão do golpe de 03 de junho, ampliou ainda mais arepresentação dos grandes proprietários de terras e da burguesia comercial e industrial. Ao mesmo temporeduzia o numero de representantes dos camponeses e dos operários.

A cúria agrária (latifundiários) passava a eleger 01 compromissário por cada 230 pessoas cadastradas. Aprimeira cúria urbana 01 compromissário para cada 1 mil. A segunda cúria urbana 01 para cada 15 mil. Acúria camponesa 01 para cada 60 mil. A cúria operária 01 para cada 125 mil.

A lei estabelecia que em seis Gubiernas (regiões administrativas) específicas - São Petersburgo, Moscou,Kharkov, Kostroma, Vladimir e Yakaterinoslav - se elegia um deputado da cúria operária. Isso não se estendiaàs grandes concentrações operárias dos Urais, Polônia, Cáucaso etc.

39 Trata-se de um resumo das notas cronológicas que estão no final.

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Page 42: SEMINÁRIO TEÓRICO COMPARATIVO

Dessa forma os proprietários agrários e a burguesia poderiam eleger até 65% dos compromissários; oscamponeses 22% (antes era 42%); os operários 2% (antes 4%).

Como não podia deixar de ser a III e a IV Duma eleita sob essa legislação, teve maioria ultrarreacionária eoutubrista.

***

PRINCIPAIS PARTIDOS

Partido Operário Social democrata russo (POSDR): fundado em 1898, quando se realizou seu ICongresso. Em 1903, durante seu II Congresso se dividiu entre sua ala Bolcheviques (ala revolucionária,maioria na direção) e reformista Mencheviques (ala reformista, minoria). A cisão se consumou após ocongresso voltando a se unificar IV Congresso (1906). As frações na prática seguiram até sua transformação empartidos separados.

Centúrias Negras/ centurionegrista: Grupo monarquista fundado no início do século XX pelosnacionalistas russos. Perseguiam intelectuais oposicionistas ao governo czarista e organizavam progroms(massacres) anti-semitas e contra o movimento revolucionário.

Outubristas: membros do partido «União de 17 de Outubro», formado na Rússia após a publicação domanifesto do Czar de 17 de Outubro de 1905. Era um partido contrarrevolucionário que representava e defendiaos interesses da grande burguesia e dos latifundiários que exploravam as suas propriedades de modo capitalista;o partido era encabeçado pelo conhecido industrial e proprietário imobiliário de Moscovo A. I. Gutchkov e pelogrande latifundiário M. V. Rodzianko. Os outubristas apoiavam inteiramente a política interna e externa dogoverno czarista.

Partido Democrata Constitucionalista ou Cadetes: fundado em outubro de 1905, era principal partido daburguesia monárquica liberal na Rússia. Apoia-se em setores burgueses, latifundiários ativistas dos zemstvos(administrações locais), intelectuais e profissionais liberais. Foi um partido de tendência liberal que lutava pelainstauração de uma monarquia constitucional na Rússia.

Partido Socialista Revolucionário (Socialistas Revolucionários SRs/esseristas): Fundado no estrangeiroem 1901/1902 por distintos grupos e intelectuais populistas que reivindicavam os camponeses como classedirigente da revolução. Se dividiram em duas alas frente à revolução de outubro, os SR de direita, que vão seopor a Revolução de Outubro de 1917, e os SR de esquerda, que vão apoiá-la primeiro e depois vão entrar noGoverno junto com os bolcheviques em 1918.

Partido Socialista Popular do Trabalho (Socialistas Populistas/enessistas): Partido pequeno burguês quese separou da ala direita do Partido Socialista Revolucionário em 1906. Refletiam os interesses dos Kulaks(camponeses ricos), preconizavam a nacionalização parcial da terra, com indenização, e sua distribuição parausufruto dos camponeses segundo o número de membros de cada família aptas ao trabalho.

Trudoviques: “Grupo do Trabalho” ou “laborista”. Originalmente ligado ao Partido SocialistaRevolucionário, em 1906 se constitui como grupo parlamentar autônomo. Vacilavam entre os cadetes e asocialdemocracia. Num sentido amplo, também se refere a um bloco que além do Grupo de Trabalho“apartidário”, incluía os esseristas e os enessistas.

Bund (união Geral Operária Judía de Lituânia, Polônia e Rússia): foi organizado em 1897. Agrupava

principalmente artesãos semi-proletarios judeus das regiões ocidentais da Rússia. No I Congresso do POSDR(1898), o Bund ingressou como organização autônoma, independente somente nos assuntos referentes aoproletariado judeu. Defendia o nacionalismo e separação do movimento operário da Rússia.

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BREVE ANÁLISE DE LENIN SOBRE OS PARTIDOS A PARTIR DOS RESULTADOS DAS ELEIÇÕES PARA A II DUMA

AS ELEIÇÕES PARA A DUMA E A TÁTICA DA SOCIAL-DEMOCRACIA RUSSAPublicado em 27 de março de 1907, no “Die Neue Zeit” nº 26, I. Band 190-1907.Publicado pela primeira vez em russo em 1922, nas obras de Lenin, tomo VIII. [OC, tomo 15, págs. 40 a 52]

O primeiro grupo é formado pelas direitas. A ele pertencem os ultra-reacionários, as chamadas “CentúriasNegras” (monarquistas, União do Povo Russo etc.), que propõem o retorno completo à autocracia em suaforma pura, propõem o terror militar desenfreado contra os revolucionários e os assassinatos traiçoeiros - comoo de Herzenstein, membro da Duma - fazem “massacres” etc ... . Entram também nesse grupo os “outubristas”(como se chama na Rússia o partido dos grandes industriais) quem, imediatamente depois do manifesto do Czarde 17 de outubro de 1905 aderiram à contra-revolução e hoje apoiam por todos os meios ao Governo. Naseleições, esse partido faz frequentemente bloco com os monarquistas.

O segundo grupo é composto pelos apartidários. Mais adiante veremos que muitos compromissários edeputados, sobretudo do campesinato, se escondem com esse nome para evitar represálias por suas convicçõesrevolucionárias.

Os liberais formam o terceiro grupo. À cabeça dos partidos liberais está o Democrata Constitucionalista(conhecido como partido Cadete) ou partido da “liberdade do povo”. Na revolução russa ele é o partido docentro; está entre os latifundiários e os camponeses. A burguesia tenta conciliar essas duas classes. Aapreciação do partido da burguesia liberal – os cadetes - é um ponto de divergência muito importante entre asduas correntes da socialdemocracia russa.

Também as “Centúrias Negras” polonesas estão na Duma ao lado dos liberais russos, não por convicçãopolítica senão por oportunismo; é o partido dos “Democratas Populares”, que na Polônia luta por todos osmeios, inclusive a delação, o locaute e o assassinato, contra o proletariado revolucionário.

O quarto grupo está integrado pelos progressistas. Não é o nome de um partido, senão - à maneira dos“apartidários” - a denominação convencional que nada significa e cuja missão primordial é servir de proteçãocontra as perseguições policiais.

Finalmente, o quinto grupo está constituído pelas esquerdas. A ele pertencem os partidossocialdemocratas, os socialistas revolucionários, os socialistas populistas (que equivalem, mais ou menos,aos radicais-socialistas franceses) e os “trudoviques”, organização ainda amorfa da democracia camponesa. Ostrudoviques, os socialistas populares e os socialistas revolucionários são, pelo seu caráter de classe, democrataspequeno-burgueses e camponeses. Em algumas ocasiões os compromissários de alguns grupos revolucionáriostrataram de esconder-se durante a campanha eleitoral com a denominação geral de “esquerdas” para enganarcom maior eficácia as perseguições policiais. (...)

***

NOTAS CRONOLÓGICASDumas, Congressos e Conferências do POSDR

1903

- II Congresso do POSDR (Partido Operário Social Democrata da Rússia). Ocorre entre17 (30) de julhoa 10 (23) de agosto de 1903. As primeiras treze reuniões foram em Bruxelas (Bélgica) e as últimas em Londres(Inglaterra) devido à perseguição da polícia. Os temas centrais em debate foram o programa e os estatutos doPartido.

Apesar das polêmicas entre os “iskristas” e “economicistas” e “bundistas” em torno ao programa, este foiaprovado por unanimidade com uma abstenção.

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Em relação aos Estatutos ocorre o famoso debate em torno ao Artigo primeiro dos Estatutos provocando adivisão entre bolcheviques (maioria) e mencheviques (minoria). Lenin defende que para ser membro do partido,além de concordar com o programa, era necessária a participação pessoal numa das organizações do partido.Para Martov bastava cooperar com o partido sob a supervisão de um organismo. O Congresso aprovou aproposta de Martov por 28 votos a 22.

No entanto, tanto Martov quanto Lenin, negavam ao Bund a autonomia que estes reivindicavam. Estes seretiram do Congresso.

Dessa forma, com o apoio de Plekhanov, Lenin obteve maioria nos órgãos dirigentes do partido, em especialda redação do Iskra, jornal que centralizava a política do partido. No entanto, logo após o Congresso,Plekahanov passa a apoiar os mencheviques liderados por Martov e Lenin perde a maioria na redação do Iskraabrindo-se uma crise no partido. O Iskra começa a atacar os bolcheviques e as resoluções do II Congresso. Emoutubro de 1903 Lenin abandona a redação. Aprovado numa reunião bolchevique, em 22 de dezembro de 1904é publicado em Genebra o Vperiod (Avante), jornal bolchevique que buscava seguir a tradição do Iskra.

1905

- Domingo sangrento. Depois de importantes greves operárias (petroleiros de Bakú; operários da fábricaPutilov (Petersburgo); greve geral em Petersburgo), em 09 de janeiro de 1905, uma grande manifestação comem torno 140 mil operários e operárias e seus familiares se dirige ao Palácio do governo (Czar Nicolau II)reivindicando terra e liberdade. A manifestação de caráter pacífico é dirigida pelo padre Gapon (depois,descobre-se que era um agente provocador) e é violentamente reprimida pelas tropas matando mais de milpessoas.

Na tarde do mesmo dia, barricadas são levantadas em vários bairros e, no dia seguinte, uma onda de grevesse alastra por toda a Rússia. Ao invés de colocar fim ao ascenso, o massacre detona um processo revolucionárioque se estenderá durante todo ano de 1905.

- III Congresso do POSDR [bolchevique]. Realizado em Londres (Inglaterra) entre 12 a 27 de abril (25de abril a 10 de maio) de 1905, somente com a participação dos bolcheviques. Definiu o caráter democráticoburguês da revolução e a hegemonia do proletariado e do campesinato; ocorre a revisão dos Estatutos votadosno II Congresso e se decide pela fundação de um novo jornal, o Proletari.

- Conferência de Genebra [menchevique]. Abril de 1905. Conferência menchevique realizadasimultaneamente ao III Congresso do POSDR. Definiu o caráter democrático burguês da revolução sob ahegemonia da burguesia liberal. Anulou os Estatutos aprovados no II Congresso.

- Levante dos marinheiros do couraçado Potenkim. Em 14 de junho de 1905, a tripulação do couraçadoPotenkim sublevou-se no Mar Negro, inaugurando uma série de Insurreições militares no país. Grandes greveseclodem nos centros industriais e estende-se ao campo a onda revolucionária.

- Duma de Bulinguin. A lei convocando as eleições foi redigida pelo Ministro do Interior A. G. Bulinguin.Em 06 de (19) agosto de 1905 foi publicado o Manifesto Czar, a lei instituindo a Duma de Estado e oregulamento das eleições da mesma. Era uma manobra para desviar a revolução.

O voto não era universal. O sufrágio só foi concedido aos grandes proprietários rurais, aos capitalistas, e aum reduzido número de camponeses acomodados. A este último grupo concederam 51 cadeiras entre as 412estipuladas pela lei.

A maioria da população operária, camponesa pobre, trabalhadores braçais e intelectuais democratas, nãotinham direitos eleitorais. Tampouco podiam votar os estudantes, as mulheres, os militares, os menores de vinteanos e a população que compunha uma série de populações oprimidas.

A Duma de Estado não tinha caráter deliberativo, mas apenas consultivo. As eleições para a Duma deBulinguim não chegaram a ocorrer. Os bolcheviques defenderam o boicote ativo, ou seja, com ações paraimpedir às eleições à Duma.

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- Lei eleitoral de 11 (24) de dezembro. Em 17 de outubro foi publicado outro Manifesto do Czarprometendo Eleições para uma nova Duma. A nova Lei eleitoral é promulgada em 11 de dezembro, em plenainsurreição armada em Moscou, como certa concessão aos operários. Diferente do caráter consultivo da Dumade Bulinguin, esta tinha o caráter legislativo.

O sufrágio não era universal. Não tinham direito ao voto as mulheres e mais de dois milhões de homens:operários de pequenas empresas, os povos nômades, os militares e os menores de 25 anos.

As eleições eram indiretas. Os deputados eram eleitos nas assembleias provinciais de compromissárioseleitos em quatro cúrias: a cúria agrária ou dos latifundiários; a cúria urbana; a cúria camponesa (aldeias) e,por fim, a cúria operária.

Além disso, também se elegiam deputados nas grandes cidades constituíam um grupo a parte: Petersburgoelegia 6 deputados; Moscou 4; Varsóvia e Tashkent, 2 cada uma; as demais cidades, um em cada. Assim das 17cidades consideradas grandes se elegiam 27 deputados.

Por fim, camponeses elegiam em separado um deputado de cada província pela cúria camponesa. Dessemodo, resultam três grupos de deputados: os das assembleias eleitorais das províncias, das grandes cidades eda cúria camponesa.

As eleições nas cúrias agrária (latifundiários) e urbanas se realizavam em duas fases. A primeira elegiaos compromissários e, estes, os deputados. Sendo que na cúria urbana havia duas eleições. A primeira cúriaurbana (ou primeira assembleia urbana) era composta pela burguesia, os grandes proprietários; a segundacúria urbana (ou segunda assembleia urbana) era formada pelos proprietários de casa ou inquilinos deapartamentos. Entre os últimos havia muitos milhares de eleitores de oposição ao czarismo, como ostrabalhadores, os artesãos, funcionários públicos, administradores, etc.

Na cúria operária havia três fases: na primeira, os cadastrados com direito a voto elegiam os delegadosoperários; na segunda, os compromissários; e, na terceira, os compromissários elegiam os deputados.

Na cúria camponesa, por sua vez, havia quatro fases: a primeira se elegia os representantes (1 para cada 10famílias); estes, elegiam os delegados; estes, por sua vez, elegiam os compromissários que, por fim, elegiam osdeputados.

As eleições também eram desiguais. Para a cúria agrária se elegia 1 compromissário (eleitor que elegia osdeputados) para cada 1 mil eleitores. Na cúria urbana, 1 para cada 7 mil. Na cúria camponesa, 1 para cada30 mil. Na cúria operária, 1 para cada 90 mil.

Os compromissários da cúria operária constituíam somente 4% do total de compromissários. Foi concedidodireito a voto somente aos operários de empresas fabris e da indústria mineira. As eleições eram realizadassomente nas empresas com mais de 50 operários. As empresas entre 50 e 100 operários enviavam um delegado.Nas grandes empresas, um delegado a cada mil.

Com esta estrutura, a nova Duma também assegurava um enorme predomínio dos grandes proprietáriosagrários e dos capitalistas.

- Derrota da greve insurrecional em Moscou. Conquistado alguns diretos ao czarismo, a greve geraldeflagrada no início de outubro de 1905, diminui de intensidade. O Czar investe contra o soviete de Petersburgoprendendo sua direção. Em represália, o soviet de Moscou colocou os trabalhadores nas ruas, travando entre 7 a16 de dezembro encarniçados combates armados contra as tropas czaristas.

Em 19 de dezembro termina a greve geral insurrecional em Moscou, depois da derrota dos sublevados dobairro Presnia (Krasnaia Presnia). Embora as greves nas cidades e os levantes no campo, no exército e namarinha, seguissem em toda a Rússia, aderrota de Moscou marcou o declínio do processo revolucionário.

- Conferência Bolchevique. No final de dezembro, ocorre na Finlândia (pertencia à Rússia czarista), umaConferência bolchevique que aprova resolução propondo a reunificação com os mencheviques e todas astendências do POSDR.

1906

- I Conferência urbana do POSDR de São Petersburgo [Conferência do Boicote]. Realizada entre 11(24) de fevereiro de 1906. É convocada centralmente para decidir sobre as eleições da Duma de Estado. Commaioria bolchevique, no tema eleitoral, decide-se pelo boicote ativo visando impedir as eleições para a I Duma.

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Os bolcheviques aprovam também uma resolução sobre a representação do partido na Comarca de Petersburgo,legalizando sua legitimidade, bem como as resoluções da própria Conferência que então passariam a serobrigatórias.

- II Conferência urbana do POSDR de São Petersburgo. Realizada entre fim de fevereiro e começo demarço. Aprova-se por escrito a resolução dos bolcheviques (Lenin) sobre o boicote ativo às eleições a I Dumacontra a dos mencheviques (Axerold). Os Mencheviques abandonam a Conferência.

- IV Congresso [de Unificação]. Realizado em Estocolmo (Suécia) entre 10 a 25 de abril (23 de abril a 08de maio) de 1906. Na parte política os mencheviques obtiveram a maioria aprovando sua plataforma quedefendia o fim da insurreição armada, pela participação das eleições e contra o boicote à Duma. No tema docampo venceu o programa agrário menchevique que previa a municipalização e o arrendamento das terras,contra a proposta dos bolcheviques de expropriação sem indenização. Já em relação aos Estatutos, a resoluçãoaprovada foi a dos bolcheviques, restabelecendo a resolução do II Congresso.

A política de alianças para as eleições da I Duma foi aprovada resolução do Congresso Internacional deAmsterdam (1904) que proibia a aliança com os partidos burgueses. A direção eleita (CC) foi composta por 7mencheviques e 3 bolcheviques. A redação do novo periódico, o Sotsial-Democrat, foi integrada só pormencheviques.

- I Duma [Witte]. Funcionou entre 27 de abril (10 de maio) a 08 (21) de julho de 1906. Ela foi anunciadapelo Manifesto de convocatória de 17 de outubro de 1905. As eleições foram regulamentadas pelas leis de 11(24) de dezembro de 1905 e de 20 de fevereiro (05 de março) de 1906.

Os bolcheviques defenderam novamente o boicote, mas dessa vez as eleições foram realizadas entre fins defevereiro e início de março de 1906. Dois terços dos 478 deputados corresponderam aos Cadetes.

Uma vez instalada a Duma, os bolcheviques decidiram intervir nela apoiando os deputados operários eleitos.Os debates centrais na I Duma se deram em torno à questão agrária. Os cadetes apresentaram um projeto de

lei conservador assinado por 42 deputados, mantendo a grande propriedade, admitindo a alienação a um preçojusto nos caso de grandes propriedades arrendadas ou cultivadas com ferramentas dos camponeses.

Os trudoviques apresentaram um projeto um pouco mais avançado com 104 assinaturas (projeto dos 104).Dentre outros pontos, propunham formar um “Fundo” - uma espécie de “banco de terras” -, com propriedadesdo Fisco, da Coroa e da Igreja. Também se incorporariam ao “Fundo” as terras particulares, indenizáveis, quesuperassem o tamanho de uma determinada área definida pela lei. A reforma agrária seria feita pelos comitêslocais com membros eleitos por sufrágio universal.

Também foi elaborado o “Projeto dos 33”, encabeçado pelos socialistas revolucionários. Mais radicaldefendia a abolição da propriedade privada, a expropriação sem indenização dos grandes proprietários, adivisão igualitária e a exploração comunitária da terra.

Por proposta dos bolcheviques foi formado um Comitê Executivo – “Comitê Executivo das Esquerdas” -integrado pelos partidos de esquerda da Duma. Diante da grande instabilidade política acarretada pelos debatessobre a questão agrária, a I Duma foi dissolvida em julho de 1906.

- Conferência Interdistrital da organização de Petersburgo do POSDR. Celebrada entre 11 e 12 dejunho de 1906. Teve início em Petersburgo e, por razões de segurança, se transferiu para a Finlândia (Terioki).Foi convocada para definir a tática do proletariado frente ao gabinete da I Duma.

A resolução dos mencheviques (Dan) que previa o apoio ao gabinete encabeçado pelos cadetes foi derrotada,sendo aprovada a dos bolcheviques (Lenin). Foi aprovada a convocação de um novo congresso do partido sob oargumento de que o CC do IV Congresso era minoria no partido.

- II Conferência do POSDR (Primeira de Toda Rússia). Realizada em Tammefors (Suécia) entre 13 a 7de novembro (16 a 20) de 1906. Embora questionada por fraude (organizações “fictícias”), a maioria foimenchevique em vários temas. Aprovou-se por 18 votos a 14 a resolução menchevique sobre a tática eleitoralem que se admitia o bloco eleitoral com os cadetes. Lenin consegue aprovar uma emenda sobre a unidade dacampanha a nível local e a convocação de um Congresso do partido.

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1907

- Conferência urbana e provincial da organização de Petersburgo do POSDR. Reunida em Terioki(Finlândia) em 06 (19) de janeiro de 1907. A conferência anula os delegados mencheviques por violação daregra estabelecida pelo Comitê de São Petersburgo que estabelecia que a eleição dos delegados se daria sob abase da discussão da proposta de se realizar ou não acordos com os cadetes. Também se rejeitou a proposta deencaminhamento dos mencheviques de dividir a Conferência em duas partes (urbana e provincial) de acordocom as circunscrições eleitorais, o que lhes favorecia. Os mencheviques abandonaram a Conferência parapactuar com os cadetes, rompendo o partido às vésperas das eleições para a II Duma (7 de janeiro).

Os debates em torno à primeira fase das eleições de Petersburgo seguiram, ocorrendo, no entanto, umadivisão dos bolcheviques entre os “puristas”, que rejeitavam a aliança com a democracia revolucionária(camponeses e pequena burguesia urbana), e os “dissidentes”, que defendiam o bloco das “esquerdas” paraenfrentar tanto os cadetes como as “direitas”. Ao final foi aprovado um chamado à formação do “bloco dasesquerdas” a ser constituído pelos socialdemocratas e os socialistas revolucionários, trudoviques do Grupo deTrabalho, menos os socialistas populistas.

- II Duma. Funcionou entre 20 de fevereiro (05 de março) a 03 (16) junho de 1907. A II Duma tinha uma

composição mais à esquerda e, portanto, era mais débil ainda que a I Duma. Teve o reforço dos partidosextremistas: social-democratas e populistas, por um lado; e das “direitas”, a expensas dos cadetes, por outro.

Sob o argumento de que os socialdemocratas estariam organizando uma conspiração armada, a II Duma foidissolvida por um golpe de estado operado por Stolipin (primeiro ministro), no dia 03 de junho, marcando operíodo de reação.

Neste dia o Czar publicou um novo Manifesto dissolvendo a II Duma e modificando a Lei eleitoral. O atoafrontava o anterior Manifesto de outubro de 1905 e a própria Lei Fundamental de 1906, segundo os quais ogoverno não poderia promulgar leis sem a sanção da Duma. A bancada social-democrata foi detida namadrugada do mesmo dia.

Os bolcheviques encabeçaram greves de protesto em Petersburgo, Moscou, Baku, Sarátov e outras regiões. Dos 37 deputados julgados 10 foram absolvidos e os demais ou perderam os direitos políticos, ou foram

exilados,ou ainda, condenados àprisão com trabalhos forçados.

- Conferência da organização urbana de Petersburgo do POSDR. Reunida em 25 de março (7 de abril)e 26 de março (8 de abril) em Terioki (Finlândia), discutiu a reestruturação da organização em Petersburgo; arepresentação de Petersburgo no grupo socialdemocrata na II Duma; a inadmissibilidade da socialdemocraciana imprensa burguesa; a tática para o 1º de maio. Tinha a maioria bolchevique. Aprovou-se a legitimidade dasConferências como organismo nos Estatutos e reunificou a organização dividida desde a Conferência de janeirode 1907. Aprovou-se também uma comissão de 07 membros para decidir os critérios para a eleição dedelegados para a V Congresso.

- V Congresso do POSDR. Celebrado entre 30 de abril e 19 de maio (13 de maio e 01 de junho) de 1907,em Londres. Os bolcheviques tiveram a maioria com o apoio dos socialdemocratas da Polônia, Letônia eLituânia. Em todos os pontos fundamentais se aprovou os projetos de resolução dos bolcheviques.

Foi aprovada a participação no parlamento com o fim de desmascará-lo, de denunciar a autocracia e apolítica da burguesia conciliadora, bem como para divulgar o programa do partido; foi a aprovado que aatividade parlamentar estaria subordinada à extraparlamentar. Em relação à atitude frente aos partidosburgueses se aprovou a resolução redigida por Lenin que faz uma apreciação dos partidos não proletários -centúrias negras, outubristas, democratas-constitucionalistas e eseristas - e a tática em relação a eles.

Foi rechaçada a neutralidade frente aos sindicatos; foi rechaçada a proposta de realização de um “CongressoOperário” apartidário defendida pelos mencheviques e tida como liquidacionista do partido. Os estatutos forammodificados pondo fim ao bicentrismo em que o congresso elegia o CC e a Redação do Órgão Central. O CCeleito é que passaria a eleger a Redação do Órgão Central.

Devido à instabilidade da situação da direção conformada por diferentes grupos e tendências, ao final foiconstituído um Centro bolchevique tendo como Órgão central o Proletari.

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- Lei eleitoral de 03 (16) de junho de 1907. Expressão do golpe de 03 de junho, esse novo regulamentoeleitoral ampliou ainda mais a representação dos grandes proprietários de terras e da burguesia comercial eindustrial. Ao mesmo tempo reduzia o numero de representantes dos camponeses e dos operários.

A cúria dos proprietários agrários (latifundiários) passava a eleger 01 compromissário por cada 230 pessoas. A primeira cúria urbana 01 compromissário para cada 1 mil. A segunda cúria urbana 01 para cada 15 mil. A

cúria camponesa 01 para cada 60 mil. A cúria operária 01 para cada 125 mil.A lei estabelecia que em seis Gubiernas específicas (São Petersburgo, Moscou, Kharkov, Kostroma,

Vladimir e Yakaterinoslav) os colégios eleitorais deveriam eleger um deputado da cúria operária. Mas isso nãose estendia às grandes concentrações operárias dos Urais, Polônia, Cáucaso etc.

Dessa forma os proprietários agrários e a burguesia poderiam eleger até 65% dos compromissários; oscamponeses 22% (antes era 42%); os operários 2% (antes 4%).

Na verdade a lei privava do direito de voto a população autônoma da Rússia Asiática, os povos turcos dasprovíncias de Astrakan e Strávoprol e metade da população da Polônia e do Cáucaso. Na Rússia, só votavaquem falava o idioma russo.

Além das restrições havia muitas manobras legais e ilegais. Por exemplo, só poderia participar das eleiçõesde delegados (primeira fase) os trabalhadores que trabalhavam há mais de 6 meses numa determinada fábrica.Assim, um trabalhador poderia ser demitido na véspera da eleição e isso o desqualificaria a votar. Mesmo queele garantisse trabalho em qualquer outra fábrica, ele não seria autorizado a votar ou ser eleito porque nãoestaria empregado em sua nova empresa com tempo suficiente para estar apto.

Na segunda cúria urbana, visando reduzir ainda mais o número de eleitores se utilizava do próprio sistemade compilação das listas de eleitores. Embora a lei garantisse o sufrágio a todos os que possuíssem casa e quetivessem atingido os vinte e cinco anos, somente entravam na lista os que pagassem um imposto especial decasas, como por exemplo, aqueles que ocupassem os apartamentos maiores e mais caros. Todos os outroseleitores omitidos das listas poderiam incluir nelas seus nomes apenas se fizessem um pedido especial nacomissão eleitoral. Mas os eleitores que fizeram esses pedidos tinham que passar por tantos obstáculosimpostos pela polícia que perdiam o desejo de participar na eleição. Primeiro, era necessário obter umcertificado da polícia, que fazia de tudo para dificultar a emissão de tais certificados. Os eleitores eramobrigados a requerer pessoalmente e repetidamente ao chefe da delegacia de polícia; os certificados querecebiam eram deliberadamente formulados para que fossem, em seguida, declarados nulos pelas comissõeseleitorais, ou o eleitor era informado de que já estava atrasado para fazer a requisição. Quando descobrisse averdade, e provasse seu direito, o período para o requerimento já teria, de fato, transcorrido.

Outro método de restringir o número de eleitores eram as famosas “desqualificações”, baseadas em umainterpretação arbitrária da lei. Tais “desqualificações” eram emitidas por todos os tipos de autoridades, e eramapontadas não apenas para indivíduos considerados suspeitos, mas contra grupos inteiros da população. Assim,de uma canetada, 95% dos judeus residentes além do Pale tiveram retirados seus direitos políticos. Cadagovernante agia à sua maneira; cada chefe de polícia interpretava a lei da sua forma.

Como não podia deixar de ser a III Duma eleita sob essa legislação, teve maioria ultrarreacionária eoutubrista.

- III Conferência do POSDR (Segunda de toda a Rússia). Ocorreu na cidade de Kotka (Finlândia) entre21 a 23 de junho (03 a 05 de agosto) de 1907. A convocatória urgente da Conferência meses depois do VCongresso se deveu ao golpe contrarrevolucionário de 03 de junho. Discutiu-se a posição frente às eleições paraa III Duma, a plataforma e acordos eleitorais e a posição frente aos sindicatos.

Foram apresentados três informes: o de Lênin (contra o boicote e sem o apoio da bancada bolchevique); deBogdanov (pelo boicote), e o de Dan (contra o boicote, em nome dos mencheviques e do Bund).

Foi aprovada uma resolução contra o boicote e a luta contra os partidos direitistas e os cadetes. Aprovou-setambém que, salvo exceções, não se realizaria nenhum acordo com os outros partidos na primeira fase daseleições. No caso de nova votação se admitiam acordos com os partidos à esquerda dos cadetes. Na segunda eoutras fases se admitiam acordos com todos os partidos revolucionários e, com os cadetes contra “as direitas”.Já na cúria operária não se faria acordos com outros partidos, salvo os partidos socialdemocratas nacionais nãointegrados ao POSDR, além do Partido Socialista Polaco. Sobre os sindicatos reafirmou-se a posição contra aneutralidade.

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- III Duma (Duma de Estado da terceira legislatura). De 01 (14) de novembro de 1907 a 09 (22) dejunho de 1912. Eleita sob a base da lei eleitoral 03 de junho - ainda mais anti-democrática que as anteriores -tinha uma maioria outubrista-ultrarreacionária. Mais da metade dos 229 deputados eram nobres de nascimento eprivilégio. Nenhum partido tinha maioria absoluta o que permitia ao governo atuar como “Bonaparte” entre osgrandes proprietários de terra e a burguesia.

Havia uma maioria outubrista-ultrarreacionária (Centúrias Negras) na qual o governo se apoiava para aplicara parte essencial de sua política como era o caso da política agrária (rejeição dos projetos de mudanças), da durarepressão ao movimento e de opressão às minorias nacionais.

A outra maioria, outubrista-cadetes, por sua vez, era utilizada para pelo governo para validar a existência deum parlamento, obter empréstimos no estrangeiro e fazer pequenas concessões para o movimento.

O grupo parlamentar do POSDR (formado por decisão da IV Conferência) era composto inicialmente por 19deputados socialdemocratas: 5 bolcheviques e 2 simpatizantes eleitos pelas cúrias operarias; e 12mencheviques, dentre eles os eleitos pelas cúrias urbanas, camponesas e, inclusive, a cúria agrária (dosproprietários rurais).

O grupo atuou para desenvolver o trabalho de denuncia da III Duma e educar politicamente o proletariado eo campesinato. Ao final, o grupo ficou com 13 deputados: 4 bolcheviques e 2 simpatizantes e 7 mencheviques,alguns dos quais “partidistas”, aliados dos bolcheviques contra a ala “liquidacionista” em relação ao trabalhoclandestino.

A III Duma foi a primeira a cumprir o mandato legal de cinco anos.

- IV Conferência do POSDR (Terceira de toda a Rússia). Celebrada em Helsingfors (Helsinki) entre 05 a12 de (18 a 25) de novembro de 1907, pouco depois de se instalar a III Duma. A pauta era: a tática do gruposocial-democrata na Duma; organismos de direção e fortalecimento do vínculo entre o CC e as organizaçõeslocais; a colaboração dos social-democratas na imprensa burguesa.

Os mencheviques e os bundistas defenderam apoiar os cadetes e os outubristas de esquerda na Duma. Pormaioria se aprovou a resolução dos bolcheviques aprovada na Conferência Urbana de Petersburgo. Foirechaçada a colaboração dos social-democratas na imprensa burguesa, especialmente por parte de Plekhánovque criticou os acordos da III Conferência do POSDR no jornal (Továrich) dos democratas-constitucionalistasde esquerda. A representação do POSDR na Duma foi denominada “Grupo socialdemocrata”.

1908

- V Conferência de toda a Rússia do POSDR. Realizou-se em Paris, entre 21 e 27 de dezembro de 1908(3 a 9 de janeiro de 1909). Lenin, por um lado, travou uma luta contra os mencheviques liquidadores(encabeçada por Axerold, Dan e Ramishvili) que queriam o fim do trabalho ilegal; e, por outro, contra osOtzovistas (encabeçada por Bogdanov) que exigiam o fim do trabalho legal e a retirada dos deputados doPOSDR da Duma, por outro. Discutiu-se também a centralização do Grupo de deputados do POSDR pelo CC, àqual os mencheviques se opunham.

Foram aprovadas as resoluções bolcheviques pela manutenção do trabalho ilegal (com o apoio dosmencheviques “partidários”, encabeçada por Plekhanov) e, ao mesmo tempo, do trabalho no parlamento, bemcomo sua centralização pelo CC.

Sobre a organização foi rechaçada a proposta do Bund de uma organização federativa por nacionalidades.Também se decidiu manter o Buro do CC e a redação do Jornal do partido no exterior, rechaçando a propostamenchevique de transferi-los para a Rússia.

1909

- Escola de Capri (Itália). Iniciada em agosto de 1909, depois da V Conferência, visava organizar umafração anti-bolchevique (Vperiod ou Adiante) que agrupou os “otzovistas, “ultimatistas” (exigiam a retirada doGrupo de deputados na Duma) e dos “Construtores de Deus” (encabeçada por Bogadanov, Lunacharski, Gorkie outros, era uma corrente filosófica que surgiu no interior do partido e que defendia a criação de uma novareligião, “socialista”, que buscava conciliar o marxismo com a religião).

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Lenin é convidado como conferencista, mas se nega a ir. Acusa a iniciativa de fracional e anti-partido.Enviou uma carta aos alunos denunciando o caráter fracional da escola e faz um convite às conferencias que eleestaria organizando em Paris. Alguns alunos rompem com a escola de Capri e participam das conferências.

1910

- Pleno do CC (de Unificação). Realizado em Paris, entre 02 e 23 de janeiro (05 de janeiro a 15 defevereiro) de 1910. Lenin propõe uma aproximação com os mencheviques “partidários” (Plekhanov) paracombater de forma conjunta os mencheviques liquidadores e os otzovistas. Uma ala conciliadora propunha aunificação dos bolcheviques com os liquidadores e tinha o apoio de Trotsky.

A princípio a maioria do pleno estava com os conciliadores, mas, no final as resoluções de Lenincondenando tanto os liquidadores quanto os otzovistas foram aprovadas.

Dessa forma, o Pleno conseguiu consolidar a linha tática do partido - anteriormente votada na V Conferência- para o período contra-revolucionário,.

1911

- Escola de Bolonha (Itália). Realizada entre novembro de 1910 e março de 1911, era uma continuação daescola de Capri. Trotski foi um dos Conferencistas junto com Liádov, Máslov e Sokolov. Lenin é novamenteconvidado como conferencista, mas da mesma forma que o ocorrido do convite à escola de Capri, se nega aparticipar. Envia nova carta aos alunos e os convoca a participar das conferências que estaria organizando emParis, mas desta vez estas terminaram não ocorrendo.

- Escola do partido de Logjumou (localidade próxima de Paris). Organizada pelos bolcheviques sob adireção de Lenin na primavera de 1911 para os militantes das organizações do partido dos grandes centrosindustriais da Rússia. A escola foi organizada pelo Comitê de Educação aprovado no Pleno do CC do POSDRde 1910.

Participaram 13 alunos, todos operários, entre os quais estavam uma maioria de bolcheviques, além demencheviques “partidários” e até mesmo um adepto da fração Vperiod. Os mencheviques liquidadores (Martove Dan) foram convidados como conferencistas, mas se negaram a participar.

Terminada a Escola, em 17 de agosto, os alunos partiram para a Rússia para desenvolver o trabalho ilegal epreparar a VI Conferência do POSDR (de Praga) de toda a Rússia.

1912

- VI Conferencia de toda a Rússia do POSDR. Realizada em Praga (Tchecoslováquia) entre 5 a 17 (18 a30) de janeiro de 1912.Participaram mais de 20 organizações do partido. Algumas não puderam participardevido à ação da polícia, mas enviaram sua adesão. Assistiram à Conferência, representantes (entre eles Lenin)da Redação do Órgão Central (jornal Sotsial-Democrat), da Redação do jornal Rabóchaya Gazeta (jornal ilegalpopular), do Comitê de Organização no Estrangeiro e do Grupo de Transporte do CC do POSDR.

A Conferência teve 14 pontos de pauta e se realizou 23 sessões. Dado sua importância e representação defato ela desempenhou o papel de um congresso do partido.

Em seu informe sobre “O momento atual e as tarefas do partido”, Lenin reafirmou que a conquista do poderpelo proletariado em aliança com o campesinato seguia sendo a tarefa da revolução democrática na Rússia.

A Conferência proclamou que os liquidadores que haviam se organizado por fora do partido em torno dasrevistas legais NashaZariá e Delo Zhizni, por sua conduta, tinham se colocado definitivamente fora do partido,sendo formalmente expulsos do POSDR.

Ao mesmo tempo condenou os grupos anti-partido no estrangeiro: os mencheviques de Golos, os elementosde Vperiod e o grupo de Trotsky. Estes se seguissem atuando por fora do CC não poderiam mais usar o nomedo POSDR.

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Teve uma grande importância nos debates a questão da participação na campanha para as eleições para a IVDuma. Definiu-se que a tarefa fundamental do partido e da minoria social-democrata na Duma era apropaganda e a agitação política. Definiu-se que as principais consignas eleitorais do partido seria: repúblicademocrática; jornada de 8 horas e confiscação de toda propriedade agrária dos grandes proprietários de terra.

Tratou-se também da organização das greves e dos sindicatos, além do caráter e a forma de organização dotrabalho do partido. Aprovaram-se modificações nos Estatutos de acordo com a resolução do V Congresso deLondres.

Chegou-se ao acordo que o Sotsial Demokrat seria Órgão Central do partido e que o Rabóchaya Gazeta seriao órgão oficial do CC.

No ponto internacional, além de resoluções sobre a luta pela libertação da China, da Pérsia (Irã), asolidariedade à luta dos operários da Finlândia, aprovou-se uma saudação redigida por Lenin à grande vitóriaconseguida pelos socialdemocratas alemães nas eleições do Reichstag.

Por fim, se informou sobre o trabalho do Buro da Internacional Socialista e a luta entre os socialdemocratasrevolucionários e os reformistas na Alemanha.

- IV Duma. Funcionou de novembro de 1912 a fevereiro de 1917. A IV Duma teve o mesmo caráterreacionário da III Duma. A legislação eleitoral era a mesma.

Embora houvesse pequenos deslocamentos em relação à III Duma, como foi o caso do enfraquecimento dosoutubristas (considerado como a “centro-direita” dentro os partidos burgueses), a maioria seguiu sendo as“direitas”, encabeças pelas Centúrias Negras.

Apesar disso, o POSDR decidiu participar ativamente das eleições como havia feito na II e III Dumas,valendo-se para isso das resoluções da VI Conferência (Praga). Cumpriu um papel muito importante nacampanha, o jornal bolchevique Pravda, publicado a partir de junho de 1912.

Foram eleitos 14 deputados do POSDR. Mas o grupo dos social-democratas na IV Duma era constituído por13 deputados (1 menchevique liquidador rompeu), sendo 7 mencheviques e 6 bolcheviques. Na II Duma essarelação nas cúrias operárias era de 12 mencheviques e 11 bolcheviques; na III Duma era 4 a 4; e, na IV Duma,foi de 6 deputados bolcheviques e 4 mencheviques. No entanto, todos os 6 deputados bolcheviques das cúriasoperárias, representavam os seis centros industriais fundamentais, correspondendo 80% dos operários daRússia.

Em 1913, a fração parlamentar do POSDR se dividiu, separando-se bolcheviques e mencheviques. Otrabalho do grupo bolchevique na Duma foi modelo para todo o movimento comunista internacional.

Um fato de muita repercussão foi a atuação da fração parlamentar em torno aos debates sobre os créditos deguerra (I Guerra Mundial) nas seções da IV Duma. Os deputados bolcheviques foram indiciados pela seguintefrase: “É necessário dirigir os exércitos, não contra nossos irmãos, os escravos assalariados dos outros países,mas contra a reação dos governos e partidos burgueses de todos os países”.

Lenin afirma que “Essas palavras vão se espalhar, graças ao julgamento, e já se espalharam pela Rússiacomo um apelo ao internacionalismo proletário, à revolução proletária. A palavra de ordem de classe davanguarda dos trabalhadores russos alcançou, graças ao julgamento, as mais amplas massas dostrabalhadores”.

No dia 7 de novembro, os parlamentares da fração bolcheviques presos e, posteriormente, condenados aoexílio na Sibéria. Os debates que se deram em torno a esse episódio foram publicados no Pravda. SegundoLenin, “Os jornais “pravdistas” e o trabalho de “tipo Muranov”- deputado da fração bolchevique querespondeu às acusações - “causaram a unidade de quatro quintos dos trabalhadores conscientes da Rússia.Cerca de quarenta mil trabalhadores compraram o Pravda; muitos outros o leram”.40

40 Referente ao artigo “O que o julgamento da fração socialdemocrata comprovou?” (V.I. Lênin. Sotsial-Demokrat, no. 40, 29 demarço de 1915).

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