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AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO EM CONJUNTO HABITACIONAL MULTIFAMILIAR COM ÊNFASE NO
CONFORTO AMBIENTAL EM TERESINA-PI
Ana Luisa C. M. Mendes (1); Ana Lúcia R. C. da Silveira (2)
(1) Universidade Federal do Piauí – Curso de Arquitetura e Urbanismo – Bolsista Iniciação Científica
(2) Universidade Federal do Piauí – Profa. Dra. do Departamento de Construção Civil e Arquitetura,
RESUMO:
O Programa de Arrendamento Residencial (PAR), executado pela Caixa Econômica Federal, tem como
objetivo atender à necessidade de moradia da população de baixa renda. Entretanto, muitas vezes, são
adotadas soluções arquitetônicas e construtivas repetitivas em larga escala, sem levar em consideração a
cultura, os hábitos, o clima, as necessidades e as características particulares de cada região. A Avaliação
Pós-Ocupação (APO) é um instrumento que procura estudar as relações entre os usuários e o espaço em que
eles habitam, levando em consideração o nível de satisfação dos mesmos. Objetivo: Este trabalho propõe
uma APO em edifícios habitacionais multifamiliares com até 4 pavimentos, financiados pelo PAR, em
Teresina, Piauí. Método /Abordagens: A APO foi realizada no Condomínio Imperial Park, constituído de
160 apartamentos com 42m² de área construída, distribuídos em 10 blocos. Resultados: A APO mostrou que,
entre os principais problemas apontados pelos moradores, estão o tamanho reduzido dos apartamentos (em
especial a cozinha e a área de serviço), o desconforto térmico durante o 2º semestre do ano e o ruído
proveniente dos apartamentos vizinhos e das áreas comuns. Contribuições/Originalidade: O trabalho
contribui para a melhoria do projeto de conjuntos habitacionais financiados pela CEF, no âmbito do PAR.
Palavras-chave: Edifícios habitacionais; Avaliação pós-ocupação
ABSTRACT:
The Program of Residential Leasing (PAR), executed by the Caixa Econômica Federal, has the objective of answering
to the necessity of dwellings for the low income population. However, very often, repetitive architectural and
constructive solutions are adopted in wide scale, without taking into account the culture, the habits, the climate, the
necessities and the particular characteristics of each region. The Post-Occupancy Evaluation (POE) is an instrument
that seeks to study the relations between the users and the space in which they live, taking into account their level of
satisfaction with the space. Objective: This work proposes a POE in multifamiliar housing buildings with four
pavements financed by PAR, in Teresina, Piauí - Brazil. Method / approaches: The POE was carried out in the
Imperial Park Condominium, constituted of 160 apartments with 42m ² of built area each, distributed in 10 blocks.
Result: The POE showed that, among the main problems pointed out by the residents, are the reduced size of the
apartments (especially the kitchen and the service area), the thermic discomfort during the 2nd semester of the year and
the noise originating from the nearby apartments and from the common areas. Contributions / originalities: The work
contributes to the improvement of the housing projects financed by Caixa Econômica Federal, in the context of PAR.
Key-words: Multifamiliar housing buildings; Post-Occupancy Evaluation;
1.0 INTRODUÇÃO
Criado pelo Governo Federal em 1999, o Programa de Arrendamento Residencial (PAR) é financiado pelo FAR (Fundo
de Arrendamento Residencial), executado pela Caixa Econômica Federal e tem como objetivo ajudar Estados e
Municípios a atenderem à necessidade de moradia da população de baixa renda, especificamente aquelas famílias que
recebem até R$1800,00 e vivem em centros urbanos. O programa foi criado para funcionar mediante construção e
arrendamento de unidades residenciais, com opção de compra do imóvel ao final do período de contrato, mas
posteriormente abriu-se a opção de compra antecipada dos imóveis (antes de 15 anos de arrendamento) e também a
venda de imóveis sem prévio arrendamento.
A construção de habitações de interesse social no Brasil acontece em larga escala devido a grande demanda da
população. Muitas vezes, essa necessidade de construções simples e baratas para atender um público de baixa renda faz
com que sejam adotadas soluções arquitetônicas e construtivas repetitivas em larga escala, sem levar em consideração a
cultura, os hábitos, o clima, as necessidades e as características particulares de cada região. A qualidade projetual
também é deixada para segundo plano e, dessa forma, observa-se comumente o surgimento de problemas como o
desconforto térmico, a má iluminação, o baixo isolamento acústico, dentre outros.
Este trabalho tem como objetivo a Avaliação Pós-ocupação (APO) com ênfase nas questões de funcionalidade e de
conforto ambiental em edifícios habitacionais multifamiliares com até 4 pavimentos, financiados pela Caixa Econômica
Federal através do PAR – Programa de Arrendamento Residencial - em Teresina, Piauí.
A APO é focalizada nos ocupantes do edifício e suas necessidades, a partir das quais verificam-se as conseqüências das
decisões de projeto na qualidade das edificações. Dessa forma, pretende-se contribuir para a maior satisfação dos
moradores desse tipo de habitação. Propõe-se uma ação em favor da melhoria na qualidade do conforto ambiental desse
tipo de habitação e espera-se auxiliar na solução de um problema relevante verificado pelas famílias de baixa renda
especificamente na cidade de Teresina, no Estado do Piauí.
2.0 A AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO
A avaliação pós-ocupação é um método de investigação científica que permite a análise dos espaços construídos sob o
ponto de vista dos usuários e de suas necessidades, bem sob o ponto de vista técnico, feito por especialistas. Para
Ornstein (1992, p. 23) a APO “pode ser entendida como um método interativo que detecta patologias e determina
terapias no processo de produção e uso de ambientes construídos, através da participação intensa de todos os agentes
envolvidos na tomada de decisões”.
A APO é um importante instrumento para o controle e gestão da qualidade na construção civil. Teve sua origem nos
estudos multidisciplinares das relações entre o ambiente e o comportamento humano, nos EUA, na década de 1950. No
Brasil, em 1975 o IPT publica a primeira pesquisa de APO em conjuntos habitacionais na grande São Paulo. A partir da
década de 1980, a APO passa a ser oferecida como disciplina nos cursos de graduação e pós-graduação da FAU-USP,
gerando então um grande número de trabalhos e apontando métodos de pesquisas mais adequados à realidade brasileira.
Os trabalhos de APO nos mais diversos ambientes, desde os conjuntos habitacionais, como também escolas, escritórios,
hospitais passam também a ser apresentados e discutidos nos encontros e seminários promovidos pelo NUTAU -
Núcleo de Tecnologia em Arquitetura e Urbanismo e pela ANTAC – Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente
Construído, entre outros.
3.0 O MÉTODO UTILIZADO
Esta pesquisa foi realizada de acordo com a metodologia de APO proposta por Romero e Ornstein (2003) e se detêm
aos aspectos funcionais e de conforto ambiental do Condomínio Imperial Park, situado em Teresina –PI.
Inicialmente foi realizado o levantamento do projeto original do condomínio junto à construtora responsável pelo
empreendimento e, em seguida, foram realizadas visitas ao local para verificar como foi construído e se houveram
alterações posteriores ao projeto.
Concluída a etapa de cadastro do condomínio, foi elaborado um questionário a ser respondido pelos moradores dos
apartamentos, com perguntas fechadas visando à caracterização dos moradores e o grau de satisfação com a adequação
dos espaços internos dos apartamentos e com o conforto ambiental (térmico, acústico e luminoso). Antes de ser
realizada a pesquisa foi realizado um pré-teste com moradores de condomínios semelhantes, para detectar possíveis
erros ou inadequações do questionário.
O levantamento técnico funcional e de conforto ambiental foi realizado através da análise do projeto, de visitas ao local
e com a utilização de softwares de simulação de conforto ambiental. Para o estabelecimento de critérios de desempenho
dos apartamentos, foram utilizados o Código de Edificações de Teresina (PMT, 2006), a NBR 15220 (ABNT, 2005) e o
projeto de norma 02.136.01-001/5 (ABNT, 2004) sobre edifícios habitacionais de até cinco pavimentos.
O diagnóstico dos pontos negativos e positivos do condomínio foi realizado com base no julgamento dos usuários e na
avaliação técnica realizada pelas pesquisadoras.
4.0 O CONDOMÍNIO IMPERIAL PARK – LOCALIZAÇÃO E CARACTERÍSTICAS
Teresina localiza-se às margens dos rios Parnaíba e Poti, na região do médio Parnaíba, com latitude de 05°05’21’’ e
longitude 42°48’07’’W e altitude média de 72m. De acordo com a classificação de Köppen, o clima da região é tropical
megatérmico (Aw), com amplitude térmica anual menor que 5°C.
Caracteriza-se por ter duas estações bem distintas. Durante o primeiro semestre o clima é quente e úmido, com a média
das temperaturas máximas entre 30 a 32°C e umidade relativa média entre 75 a 85%. As chuvas são concentradas neste
período, nos meses de dezembro a maio. No segundo semestre, praticamente não há precipitações, o clima é quente e
seco, com temperaturas médias máximas entre 33 a 36°C e umidade relativa média do ar entre 55 a 65%.
Há elevada presença de calmarias, cerca de 40% das horas do ano, e os ventos são fracos, com velocidade média de 1,4
m/s e direção predominante sudeste. De acordo com o zoneamento bioclimático brasileiro proposto pela NBR-15220
(ABNT, 2005), Teresina situa-se na região bioclimática 07 (figura 01).
A escolha dos conjuntos habitacionais multifamiliares como objeto desta pesquisa deu-se por se tratar de uma tipologia
habitacional de grande uso na cidade de Teresina, a partir da década de 1980. De acordo com dados do IBGE (2005), a
população do município é de 788.773 habitantes, com cerca de 94,7% da população na zona urbana do município.
Figura 01 – Zoneamento Bioclimático Brasileiro – Fonte: Adaptado de ABNT (2005)
O Condomínio Imperial Park foi selecionado para esta pesquisa por apresentar características que o tornam uma ilha de
calor dentro do tecido urbano da cidade, conforme estudo realizado por Silveira (2007) sobre o microclima nas áreas
externas de conjuntos habitacionais em Teresina. Como existe uma relação direta entre o desempenho das áreas
externas do condomínio e áreas internas, esta APO investiga a opinião dos usuários sobre este condomínio, em relação
aos apartamentos.
O Condomínio Imperial Park foi construído pela Construtora Estrela da Manhã através de financiamento da CEF, pelo
programa PAR, sendo concluído em 2005. Possui 160 apartamentos com 42,18m² de área construída cada um,
distribuídos em dez blocos. Localiza-se na zona leste da cidade, no bairro Morada do Sol, numa área residencial de
baixa densidade, com casas e edifícios multifamiliares (figura 02).
(a) (b)
Figura 02 – Localização no bairro (a) e planta de situação do Condomínio Imperial Park (b).
O sistema construtivo adotado nos edifícios é o de alvenaria estrutural com blocos cerâmicos de dimensões 14 x 19 x 30
cm, lajes de piso com vigotas premoldadas de concreto e blocos cerâmicos e cobertura com estrutura de madeira e
telhas cerâmicas. As esquadrias externas são de ferro com vidro, de correr nas salas e quartos e basculantes nas
cozinhas e banheiros. O revestimento externo dos edifícios é de reboco com pintura com cores claras (figura 03)
Cada bloco possui 16 apartamentos, sendo 04 por andar, com planta baixa em forma de H. Os apartamentos são
dispostos em torno de escada central. As fachadas principais com as aberturas dos quartos e salas estão voltadas para
norte e sul. (figura 04)
(b) (a)
Figuras 03 e 04 – Fotos da vista externa do Condomínio Imperial Park (a). Fonte: Ana Luísa Mendes (2009)
Planta Baixa do Pavimento Tipo (b). Fonte: Arquivo digital Construtora Estrela da Manhã.
5.0 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
A APO foi dividida em duas partes principais, a avaliação técnica e a avaliação comportamental. Os resultados obtidos
pelas avaliações técnica e comportamental foram comparados com os critérios estabelecidos como parâmetros, retirados
do Código de Edificações de Teresina (PMT, 2006), a NBR 15220 (ABNT, 2005) e o projeto de norma 02.136.01-001/5
(ABNT, 2004) sobre edifícios habitacionais de até cinco pavimentos.
5.1 Avaliação técnica
5.1.1. Funcionalidade e adequação dos espaços
De um modo geral, a padronização das unidades habitacionais é considerada positiva para os autores preocupados com
a redução nos custos da construção, que, dessa forma, será dividido entre os diversos futuros condôminos e considerada
negativa para os autores que defendem os aspectos ligados à qualidade de vida, pois a adoção desse tipo de solução
única pressupõe que os futuros ocupantes terão modos de vida extremamente semelhantes, o que na realidade ocorre de
forma diferente.
Uma questão importante a ser considerada é o dimensionamento das unidades habitacionais, uma vez que para atender
as necessidades do mercado, os projetistas adotam soluções que atendem às áreas mínimas recomendadas ou exigidas
por lei. Os critérios de desempenho que serão utilizados como referencial de qualidade para a análise funcional dos
apartamentos analisados foram baseados nos valores apresentados na tabela 01. O Código de Edificações de Teresina
(2007) considera como habitações de interesse social, aquelas com área inferior a 70,00 m². Apresenta também uma
tabela de dimensões mínimas exigidas para os compartimentos desse tipo de edificação.
Foram utilizados também outros indicadores nacionais com relação às áreas mínimas por cada compartimento
especificamente, que podem ser visualizados na tabela 01, a seguir:
Tabela 01 – Áreas Mínimas recomendadas por cômodo (m²).
Fonte 1ºdorm. 2ºdorm. Sala Coz. BWC A.Serviço
CDHU básico (1) 8,18 8,18 11,78 4,87 3,04 1,82
IPT (2) 9,00 8,00 12,00 10,00 2,50 1,50
PMT Teresina (3) 9,00 7,50 18,00 7,00 2,00 2,50
PMT Teresina (4) 6,25 5,00 12,50 4,00 1,80 2,25
(1) Pivetta e Gentilw, 1998; (2) IPT, 1987; (3) Código de Edificações da Prefeitura Municipal de Teresina (2007)-
Dimensões mínimas dos compartimentos das edificações habitacionais; (4) Código de Edificações da Prefeitura
Municipal de Teresina (2007) - Dimensões mínimas dos compartimentos das edificações habitacionais de interesse
social.
O apartamento em estudo possui uma área útil de 41,94m² (incluindo o hall de circulação) sendo composto por sala de
estar/jantar (12,61m²), cozinha/área de serviço (4,42m²), hall de circulação (0,91m²), BWC (2,16m²), dormitório 1
(7,91m²) e dormitório 2 (6,99m²) (figura 05).
Figura 05 – Planta Baixa Apartamento Tipo. Fonte: Adaptado do Projeto Arquitetônico Original.
Desconsiderando-se a área de 0,91m² referente ao hall de circulação e considerando-se a tipologia de dois dormitórios, a
área total do apartamento estudado (40,03m²) está um pouco além do valor mínimo de área total permitido pelo Código
de Obras ao somarmos os valores mínimos exigidos para cada compartimento (31,80m²).
Partindo-se para uma análise mais específica de cada ambiente, as áreas por cômodo são inferiores à maioria dos
valores mínimos recomendados ou exigidos (Tabela 01). Contudo, todos os compartimentos estão dentro do permitido
pelo Código de Edificações para habitações de interesse social (PMT, 2007), com exceção da área de serviço, que
merece uma atenção à parte.
A área de serviço representada no projeto corresponde a um espaço para um tanque de lavar roupas e uma máquina de
lavar que ficam integrados na própria cozinha. Se considerarmos a área mínima total como cozinha + área de serviço, o
valor mínimo permitido pela Prefeitura Municipal de Teresina seria de 6,25m², que corresponde à soma de 4,00m²
(referentes à área mínima para uma cozinha) + 2,25m² (referentes à área mínima para uma área de serviço). Dessa
forma, concluimos que o valor de 4,42m² encontrado no apartamento analisado é inferior ao valor mínimo permitido
pela legislação.
Tomando como base o projeto de Norma da ABNT (2004) observa-se que o quarto de casal, o segundo quarto, a sala de
estar/jantar e o BWC seguem o recomendado pelo projeto de Norma, tendo espaço suficiente para acomodar pelo
menos os móveis e equipamentos padrões mínimos com dimensões iguais ou maiores às dimensões sugeridas, além das
respectivas circulações livres iguais ou maiores que as circulações mínimas recomendadas. Apenas a cozinha e área de
serviço não estão adequadas ao que a ABNT propõe.
5.1.2 Conforto ambiental
Entre os parâmetros que influenciam o desempenho térmico dos edifícios habitacionais propostos pela ABNT (2004 e
2005), estão os valores mínimos admissíveis, para a zona bioclimática 07, da transmitância térmica das coberturas (U ≤
2,3W/m²K) e paredes externas (U ≤ 3,7W/m²K, para α ≤ 0,60), capacidade térmica das paredes (≥ 130kJ/m²K) e área
útil das aberturas para ventilação (Área ≥ 5% área do piso). As aberturas devem ter dispositivos de controle do
sombreamento pelo usuário.
Os valores encontrados nos edifícios pesquisados são: cobertura (U = 2,0W/m²K), paredes externas (U = 1,20 W/m²K),
capacidade térmica das paredes (= 68,75kJ/m²K) e área útil para ventilação (quartos = 9% área do piso), (sala = 8,5%
área do piso). Os valores da transmitância térmica das paredes externas e da cobertura estão dentro dos limites
recomendados. Em relação ao tamanho das aberturas dos quartos e salas, a área útil para ventilação está de acordo com
o recomendado pela norma. Estas aberturas são de ferro com vidro e não dispõem de dispositivos de sombreamento e os
moradores utilizam cortinas internas para o controle da luminosidade e da insolação.
As principais fachadas estão orientadas para norte e sul e recebem sol aproximadamente seis meses ao ano, na latitude
de Teresina. A proximidade entre os prédios, distantes entre si apenas 8 metros, faz com que um edifício gere sombras
sobre o outro em alguns horários do dia, diminuindo a insolação sobre as fachadas, o que melhora as condições de
conforto.
A ventilação natural nos apartamentos é bastante necessária durante todo o ano. Considerando a ventilação
predominante sudeste, os prédios localizados a oeste são mais prejudicados em relação à ventilação, pois se encontram
dentro da área de influência dos edifícios situados à leste. A proximidade dos edifícios dificulta a passagem livre dos
ventos entre os prédios, em função da cavidade gerada nas áreas a sotavento dos prédios.
A disposição dos ambientes no apartamento permite a ventilação cruzada na sala e nos quartos, conforme estudo feito
considerando a ventilação sudeste, predominante na região (figura 06). O apartamento situado a noroeste é o que recebe
menos ventilação. As aberturas da cozinha e do banheiro, por serem do tipo basculante, dificultam a entrada dos ventos.
Figura 06 – estudo da ventilação no interior dos apartamentos
Em relação nível de ruído nos ambientes internos, a ABNT (2004) propõe valores mínimos para os índices de redução
sonora de paredes externas, internas, lajes de piso e coberturas, considerando as necessidades de repouso noturno, lazer
e atividades intelectuais nas salas e dormitórios. O índice de redução sonora ponderado, entre paredes de salas e
cozinhas entre uma unidade habitacional e áreas de corredores, halls e escadaria nos pavimentos-tipo deve ser de 35 a
39dB e, entre paredes de unidades habitacionais autônomas, de 45 a 49dB. Para isolação do ruído de impacto nas lajes
de piso, o nível de pressão sonora ponderado deve ser entre 56 a 65dB.
O índice de redução sonora de paredes de blocos de cimento de 15cm de espessura é de 42dB (BISTAFA, 2006). O
índice de redução sonora de laje entrepisos de concreto de 10cm, com reboco de 1cm e piso acabado, de acordo com
Carvalho (2006), é de apenas 45dB. Desta forma, o edifício analisado apresenta valores de redução sonora abaixo dos
recomendados, tanto em relação às lajes de piso como em relação às paredes entre dois apartamentos.
5.2 Avaliação comportamental
A pesquisa comportamental utilizou uma amostra de 60 unidades habitacionais, dentro do universo de 160 apartamentos
do condomínio, para um nível de confiança de 95,5% e margem de erro de 12,9%, de acordo com metodologia proposta
por Osnstein (1992, p.80). A seleção amostral foi não-probabilística, visando contemplar a variedade dos apartamentos
em função da orientação solar e da altura do pavimento (térreo, 1º, 2º ou 3º), que influenciam nas condições de conforto
ambiental.
O questionário utilizado na pesquisa continha 41 perguntas no total, referentes à caracterização do entrevistado,
adequação dos espaços e funcionalidade e conforto ambiental. As respostas eram dadas na presença das pesquisadoras e
levava em média 10 minutos para ser respondido.
A maioria dos entrevistados era do sexo feminino (72%), com idade entre 20 a 29 anos (43%), curso superior completo
(48%), renda familiar entre 3 a 5 salários mínimos (40%) e mora no condomínio há mais de 2 anos (65%). A maioria
dos apartamentos tem entre 2 a 3 ocupantes (64%).
5.2.1. Funcionalidade e adequação dos espaços
De um modo geral, a opinião dos usuários com relação ao tamanho do apartamento é bem equilibrada, somando um
total de 30% de moradores que responderam positivamente (ótimo e bom), 35% de moradores que se posicionaram
como neutros (regular) e 35% de moradores que se disseram insatisfeitos (ruim e péssimo). Utilizando-se o diagrama de
Paretto (figura 07) para se analisar as respostas colhidas referentes ao tamanho de cada cômodo especificamente,
verifica-se uma grande insatisfação por parte dos moradores principalmente com relação aos tamanhos da área de
serviço e da cozinha.
Figura 07 – Diagrama de Paretto - níveis de satisfação dos moradores com relação ao dimensionamento dos ambientes.
Um dos maiores problemas relatados por uma parcela significativa de moradores é a falta de espaço para lavar, estender
e passar roupas. É importante ressaltar, inclusive, que os 8% de moradores representados pelo resultado NSA (“Não se
aplica”) correspondem a uma parcela de usuários que se recusaram a responder a questão referente ao tamanho da área
de serviço por considerarem a pergunta inadequada, pois na realidade, para esses usuários, não existe área de serviço no
apartamento (figura 08).
Figura 08 - Níveis de satisfação de moradores com relação ao tamanho da área de serviço e da cozinha
A ausência de espaço próprio para a atividade contribui para que os condôminos sejam obrigados a estender suas roupas
em locais inadequados e improvisados como nos quartos, na sala e, apesar de não ser permitido pelo condomínio, nas
janelas, contribuindo para um aspecto estético desfavorável (Figura 09).
Figura 09 – Foto de roupas estendidas na janela do Condomínio Imperial Park por falta de local apropriado nos
apartamentos. Fonte: Ana Luísa Mendes (2009).
A falta de espaço adequado para as atividades próprias da área de serviço também se faz presente nas respostas sobre a
falta de espaço para o desenvolvimento de alguma atividade. Em um universo de 60 entrevistados, 54 pessoas (90%)
afirmaram sentir falta de espaço para desenvolver alguma atividade e apenas 6 pessoas (10%) se manifestaram
satisfeitas. Dessas 54 pessoas insatisfeitas, 25 (46%) afirmaram sentir falta de espaço para desenvolver as atividades de
lavar, passar e estender roupas. As outras respostas se referem à ausência de espaço para estudo ou trabalho (22%),
local para receber os amigos, festas ou lazer (17%), varanda ou espaço aberto (6%), espaço para desenvolver atividades
físicas (5%), outra sala (2%) e despensa (1%).
5.2.2 Conforto ambiental
Em relação às condições de conforto ambiental nos apartamentos, os usuários classificaram como ótima e boa a
iluminação natural dos apartamentos (75%) e das áreas comuns (65%). A ventilação natural foi considerada péssima ou
ruim na cozinha (42%), no banheiro (22%) e na área de serviço (61%). Na sala e nos quartos a ventilação natural foi
considerada boa ou ótima por 59 e 53% dos entrevistados respectivamente.
A temperatura dentro do apartamento durante o 1º semestre é considerada confortável por 60% dos entrevistados e no 2º
semestre por apenas 7% dos usuários. 93% acham a temperatura quente ou muito quente neste período. A presença de
mofo nos apartamentos não é registrada pela maioria dos moradores (82%). O ruído proveniente das áreas vizinhas e
externas atrapalha as atividades dentro do apartamento de acordo com 57% dos entrevistados. Estes ruídos provêem
principalmente do teto (28%), das paredes dos apartamentos vizinhos (17%) e da escada (17%).
6. DIAGNÓSTICO DO CONDOMÍNIO
Com base na avaliação técnica e comportamental do condomínio, podemos estabelecer os principais pontos negativos e
positivos do Condomínio Imperial Park, em relação aos aspectos funcionais e de conforto ambiental.
6.1. Funcionalidade e adequação dos espaços
O apartamento atende aos requisitos mínimos em relação ao tamanho dos espaços internos, com exceção das áreas
destinadas à cozinha e área de serviço. Esta é a principal reclamação dos usuários em relação ao dimensionamento dos
espaços. Apesar de estar satisfeita com o projeto arquitetônico do apartamento, a maioria dos usuários sente a
necessidade de espaço para realização de algumas atividades extras, como lazer, estudo e receber amigos. Como pontos
positivos do apartamento, estão o tamanho das salas e o espaço para abertura de portas e janelas.
6. 2 Conforto ambiental
Em relação ao conforto ambiental, a situação de desconforto térmico no 2º semestre, em função da alta temperatura
dentro do apartamento e o barulho proveniente dos outros apartamentos e das áreas comuns são os principais problemas
encontrados. A ventilação natural das salas e dos quartos são pontos considerados positivos na avaliação.
Apesar dos valores da transmitância térmica das paredes e da cobertura estarem dentro dos valores recomendados para a
região, durante o período mais quente do ano (2º semestre) o calor armazenado nos interiores durante o dia que não
consegue ser retirado pela ventilação natural, contribui para a sensação de desconforto térmico registrada pelos
usuários. Vale apontar que muitos moradores utilizam ar-condicionado nos quartos, para a melhoria das condições de
conforto, o que não seria compatível, em termos de despesas, com a renda média dos usuários.
A ventilação das salas e dos quartos é boa, apesar das janelas apresentarem apenas 50% da área útil para ventilação.
Nos banheiros e na cozinha a ventilação é deficiente, em função das janelas do tipo basculante que não permitem uma
boa entrada dos ventos.
Os índices de redução sonora das paredes e das lajes de piso, abaixo dos valores recomendados, justificam a existência
de ruídos externos que atrapalham as atividades dentro dos apartamentos, principalmente provenientes do teto, das áreas
comuns e dos apartamentos vizinhos.
O arranjo em planta dos apartamentos permite a ventilação cruzada nas salas e nos quartos (considerando as portas
abertas), como é comprovado na avaliação dos moradores.
7. CONCLUSÕES
A APO realizada no Condomínio Imperial Park permitiu o diagnóstico dos principais problemas existentes nos
apartamentos, levantados pela análise funcional e comprovados pela opinião dos moradores. Dessa forma, pretende-se
contribuir para qualidade das habitações destinadas a esta camada da população e conseqüentemente, maior satisfação
dos moradores desse tipo de habitação.
Um maior número de pesquisas nesta área tornará possível a criação de um banco de informações de relevante
importância, que sirva de instrumento para os profissionais projetistas no desenvolvimento de edifícios semelhantes.
Através do conhecimento prévio do tipo de clima da região, do padrão cultural e das necessidades dos usuários, será
possível projetar edificações adequadas em relação à funcionalidade dos espaços e ao conforto ambiental, que
apresentem o menor número de problemas possíveis ao longo de sua vida útil, evitando assim, a insatisfação dos
usuários e suas intervenções aleatórias.
8. REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Norma nº 15220: Desempenho térmico de edificações. Rio
de Janeiro; ABNT, 2005.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, COMITÊ BRASILEIRO DE CONSTRUÇÃO CIVIL.
Projeto de norma CE 02:136.01.001: Desempenho de edifícios habitacionais de até cinco pavimentos. Rio de Janeiro:
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BISTAFA, S. R. Acústica aplicada ao controle do ruído. São Paulo: Edgard Blucher, 2006.
CARVALHO. R. P. Acústica arquitetônica. Brasília: Thesaurus, 2006.
ORSTEIN, Sheila. Avaliação Pós-Ocupação do Ambiente Construído. São Paulo: Studio Nobel, 1992.
PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA – PMT. Legislação urbana - Código de Obras e Edificações. Lei
municipal nº 3608 de 04.01.2007. Teresina, 2007.
ROMERO, M. A., ORNSTEIN, S. W. Avaliação Pós-Ocupação - Métodos e Técnicas Aplicados à Habitação Social.
Porto Alegre: ANTAC , 2003. Coleção Habitare.
SILVEIRA, A. L. R. C. Parâmetros bioclimáticos para avaliação de conjuntos habitacionais em Teresina- PI. 2007.
312f. Tese (Doutorado em Arquitetura) - Universidade de Brasília, Brasília, 2007.
INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS, São Paulo. Implantação de conjuntos habitacionais: recomendações
para adequação climática e acústica. São Paulo: IPT, 1986.