terceiro setor - gestao privada de recursos publicos (1)

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Terceiro Setor: gestão privada de recursos públicos Marcia Pelegrini O objetivo deste texto centraliza- se na reflexão acerca do regime jurídico que deve incidir na gestão dos recursos públicos repassados às entidades integrantes do terceiro setor, não apenas em relação ao controle, mas, sobretudo, quando da aplicação dos valores, com análise crítica acerca do estabelecido no Decreto Federal nº  5.504/2005 e na IN STN nº 01/97, alterada pela IN nº 03/03, que obrigam as entidades do terceiro setor a se submeterem ao procedimento licitatório nos termos da Lei Federal nº  8.666/93 e da Lei Federal nº 10.520/02. Terceiro setor. Direito privado. Licitação. Lei Federal nº  8.666/93. Recursos públicos. 1 Introdução - 2 Enquadramento conceitual e regime jurídico das atividades desempenhada s pelas entidades integrantes do terceiro setor - 2.1 Derrogação parcial do regime de direito privado - 3 Panorama legal no âmbito federal - 4 Obrigatoriedade de entidades do terceiro setor se submeterem ao procedimento licitatório, nos termos da Lei nº  8.666/93 - 5 Conclusões 1 Introdução O tema sobre o qual nos propomos a refletir diz respeito aos reflexos jurídicos decorrentes da atuação de um segmento da sociedade que, devido a seu crescimento extraordinário, passou a assumir importância cada vez maior, atraindo atenção em várias áreas do conhecimento, inclusive a do Direito, na medida em que não há um enquadramento jurídico exato das atividades que essas entidades desempenham. Trata -se das organizações que não integram o aparelhamento do Estado nem o mercado, situando-se em um setor intermediário entre ambos. Como se sabe, o crescimento dos direitos sociais e econômicos colocados perante o Estado com a consolidação do Estado Social, ou Estado do Bem -Estar, após a Segunda Guerra Mundial, acarretou o crescimento desenfreado da máquina administrativa, tendo em vista que o Estado procurava se adequar para atendimento de suas novas e amplas atribuições. Assim, juntamente com a prestação dos serviços assumidos como públicos e a atuação subsidiária nas atividades econômicas, a título de intervenção no domínio econômico, o Estado passou também a desenvolver o fomento, voltado para as atividades que não foram definidas como serviço público, tampouco ficaram reservadas à iniciativa privada. Segundo Carlos Ari Sundfeld, a interferência da Administração Pública no campo privado pode ocorrer de duas formas: através de estímulos à iniciativa privada, quando assume tais atividades e passa a atuar em substituição aos particulares, e, ainda, pela ordenação de seus comportamentos. Importa para o tema em análise o fomento que "... consiste em prestações produzidas pela Administração sejam positivas (ajuda financeira a cientistas, créditos subsidiados e empresas estratégicas) ou negativas (isenções de impostos) para tornar mais fáceis ou eficazes atividades que, não obstante, os indivíduos são livres para explorar". 1  A atividade de fomento reflete a aplicação do princípio da subsidiariedade, na medida em que igualmente surgiu da ampliação das atividades que o Estado se viu obrigado a assumir, sendo verdadeiro incentivo à iniciativa privada, quando envolvido interesse público. Desse modo, as categorias de entidades abrangidas no presente estudo seriam aquelas inserid as nas atividades em que o Estado atua como fomentador, deixando o desempenho das mesmas para a iniciativa privada e apenas incentivando os particulares, por serem consideradas de interesse público. Maria Sylvia Zanella Di Pietro, ensina que: No Direito Brasileiro existem inúmeras formas de parceria em que está presente nitidamente a atividade de fomento: no âmbito social , podem-se referir os ajustes (convênios, termos de parceria, contratos de gestão) com entidades do terceiro setor, tais como as declaradas de utilidade pública, as filantrópicas, as organizações da sociedade civil de interesse público, os serviços sociais autônomos, as organizações sociais... 2  Esse setor intermediário pode ser denominado de terceiro setor, expressão que vem sendo largamente utilizada mas cujo conceito jurídico ainda não está delimitado, envolvendo um número expressivo de entidades com regimes jurídicos diferentes, de modo que está longe de ser tarefa fácil a indicação de todas as categorias de entidades que o integram. E embora não seja proposta precípua do presente estudo a indicação dessas entidades, torna -se relevante seu enquadramento em nosso sistema jurídico, pois somente dessa forma será possível a identificação do regime jurídico a que estarão submetidas e também, conseqüentemente, a identificação de quais normas jurídicas incidirão na gestão dos valores a elas repassados pelo Estado. 2 Enquadramento conceitual e regime jurídico das atividades desempenhadas pelas entidades integrantes do terceiro setor  Não há uma terminologia uniforme para o chamado terceiro setor, existindo, em verdade, a presença dos mesmos traços nas variadas entidades que nele podem ser inseridas. Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, tais traços seriam os seguintes: Entidades instituídas por particulares, com personalidade jurídica de direito privado, que desempenham serviços não exclusivos do Estado, porém, em colaboração com ele, recebendo algum tipo de incentivo, razão pela qual sujeitam -se a controle pela Administração e pelo Tribunal de Contas, sendo seu regime jurídico parcialmente derrogado por normas de direito público. 3  Os teóricos da Reforma do Estado, sem descartar a expressão terceiro setor com as características mencionadas, também denominaram tais entidades de "públicas não estatais" públicas porque prestam atividades de interesse público e não estatais porque não integram a Administração Pública direta ou indireta. 4  Por fim, a doutrina também inclui as entidades integrantes do terceiro setor dentre as denominadas "entidades paraestatais", no sentido em que a expressão é empregada por Celso Antônio Bandeira de Mello e adotada por Di Pietro, que abrangeria as pessoas privadas que colaboram com o Estado, desempenhando atividade não lucrativa e recebendo proteção especial, situando -se próximas do Estado ou paralelas a ele, de modo que o "terceiro setor" abrangeria as entidades declaradas de utilidade pública, as que recebem certificado de fins filantrópicos, os serviços sociais autônomos (Sesi, Sesc, Senai, Senac), as organizações sociais da sociedade civil de interesse público e as organizações sociais. 5  Di Pietro conclui que "integram o terceiro setor porque nem se enquadram inteiramente como entidades privadas, nem integram a Administração Pública, direta ou indireta. Incluem-se entre as chamadas organizações não-governamentais (ONGs). Todas essas entidades enquadram-se na expressão entidade paraestatal". 6  No Direito, a questão assume relevância, considerando que, apesar de essas entidades, sem fins lucrativos e vocacionadas à prestação de serviços de interesse público em colaboração com o Estado, serem constituídas com personalidade de direito privado, recebem recursos de origem pública, o que faz com que assumam um caráter híbrido, situação que gera incontáveis desdobramentos jurídicos, mormente relacionados à gestão desses recursos. Apesar de as parcerias celebradas entre o Poder Público e as entidades sem fins lucrativos que prestam serviços de relevância social não serem novas, é incipiente a literatura produzida acerca do tema em seus vários aspectos. A atividade desempenhada por tais entidades não se enquadra no conceito de serviço público, tampouco de atividade econômica, sendo necessário buscar na Constituição Federal a intelecção do regime jurídico a que estarão submetidas, já que é inegável que a Carta Magna admite a existência de atividade de relevância pública, ao lado dos conceitos de serviço público e de atividade econômica. Paulo Modesto, em painel de debates sobre o tema organizações sociais, trouxe à baila essa preocupação, criticando a forma como a doutrina vem conceituando o terceiro setor, como se fosse um conceito jurídico, quando, na sua opinião, trata -se de conceito heterogêneo e extrajurídico, que, como já tivemos oportunidade de mencionar, envolve um grande número de entidades com regimes jurídicos diferenciados, devendo centrar a preocupação na possibilidade do desempenho das atividades por elas desenvolvidas, em face do tratamento dado pela Constituição Federal. 7  Biblioteca Digital Revista de Direito do Terceiro Setor - RDTS Belo Horizonte, ano 1, n. 2, jul. 2007 Copia da Versão Dig ital - Pagina: 1 / 6

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  • TerceiroSetor:gestoprivadaderecursospblicos

    Marcia Pelegrini

    O objetivo deste texto centraliza-senareflexoacercadoregimejurdicoquedeveincidirnagestodosrecursospblicosrepassadossentidadesintegrantesdoterceirosetor,noapenasemrelaoaocontrole,mas,sobretudo,quandodaaplicaodosvalores,comanlisecrticaacercadoestabelecidonoDecretoFederaln 5.504/2005 e na IN STN n 01/97, alterada pela IN n 03/03,queobrigamasentidadesdoterceirosetorasesubmeteremaoprocedimentolicitatrionostermosdaLeiFederaln 8.666/93 e da Lei Federal n 10.520/02.Terceirosetor.Direitoprivado.Licitao.LeiFederaln 8.666/93.Recursospblicos.1Introduo- 2Enquadramentoconceitualeregimejurdicodasatividades desempenhadas pelas entidades integrantes do terceiro setor - 2.1Derrogaoparcialdoregimededireitoprivado- 3Panoramalegalnombitofederal- 4 Obrigatoriedadedeentidadesdoterceirosetorsesubmeteremaoprocedimentolicitatrio,nostermosdaLein 8.666/93 - 5Concluses

    1Introduo

    Otemasobreoqualnospropomosarefletirdizrespeitoaosreflexosjurdicosdecorrentesdaatuaodeumsegmentodasociedadeque,devidoaseucrescimentoextraordinrio,passouaassumirimportnciacadavezmaior,atraindoatenoemvriasreasdoconhecimento,inclusiveadoDireito,namedidaemquenohumenquadramentojurdicoexatodasatividadesqueessasentidadesdesempenham.Trata-sedasorganizaesquenointegramoaparelhamentodoEstadonemomercado,situando-seemumsetorintermedirioentreambos.

    Comosesabe,ocrescimentodosdireitossociaiseeconmicoscolocadosperanteoEstadocomaconsolidaodoEstadoSocial,ouEstadodoBem-Estar,apsaSegundaGuerraMundial,acarretouocrescimentodesenfreadodamquinaadministrativa,tendoemvistaqueoEstadoprocuravaseadequarparaatendimentodesuasnovaseamplasatribuies.

    Assim,juntamentecomaprestaodosserviosassumidoscomopblicoseaatuaosubsidirianasatividadeseconmicas,attulodeintervenonodomnioeconmico,oEstadopassoutambmadesenvolverofomento,voltadoparaasatividadesquenoforamdefinidascomoserviopblico,tampoucoficaramreservadasiniciativaprivada.

    SegundoCarlosAriSundfeld,ainterfernciadaAdministraoPblicanocampoprivadopodeocorrerdeduasformas:atravsdeestmulosiniciativaprivada,quandoassumetaisatividadesepassaaatuaremsubstituioaosparticulares,e,ainda,pelaordenaodeseuscomportamentos.

    Importaparaotemaemanliseofomentoque"...consisteemprestaesproduzidaspelaAdministraosejampositivas(ajudafinanceiraacientistas,crditossubsidiadoseempresasestratgicas)ounegativas(isenesdeimpostos)paratornarmaisfceisoueficazesatividadesque,noobstante,osindivduossolivresparaexplorar".1

    Aatividadedefomentorefleteaaplicaodoprincpiodasubsidiariedade,namedidaemqueigualmentesurgiudaampliaodasatividadesqueoEstadoseviuobrigadoaassumir,sendoverdadeiroincentivoiniciativaprivada,quandoenvolvidointeressepblico.

    Desse modo, as categorias de entidades abrangidas no presente estudo seriam aquelas inseridas nas atividades em que o Estado atua como fomentador, deixando o desempenhodasmesmasparaainiciativaprivadaeapenasincentivandoosparticulares,porseremconsideradasdeinteressepblico.

    Maria Sylvia Zanella Di Pietro, ensina que:

    NoDireitoBrasileiroexisteminmerasformasdeparceriaemqueestpresentenitidamenteaatividadedefomento:nombitosocial, podem-se referir os ajustes (convnios,termosdeparceria,contratosdegesto)comentidadesdoterceirosetor,taiscomoasdeclaradasdeutilidadepblica,asfilantrpicas,asorganizaesdasociedadecivildeinteressepblico,osserviossociaisautnomos,asorganizaessociais...2

    Essesetorintermediriopodeserdenominadodeterceirosetor,expressoquevemsendolargamenteutilizadamascujoconceitojurdicoaindanoestdelimitado,envolvendoumnmeroexpressivodeentidadescomregimesjurdicosdiferentes,demodoqueestlongedesertarefafcilaindicaodetodasascategoriasdeentidadesqueointegram.

    Eemboranosejapropostaprecpuadopresenteestudoaindicaodessasentidades,torna-serelevanteseuenquadramentoemnossosistemajurdico,poissomentedessaformaserpossvelaidentificaodoregimejurdicoaqueestarosubmetidasetambm,conseqentemente,aidentificaodequaisnormasjurdicasincidironagestodosvalores a elas repassados pelo Estado.

    2Enquadramentoconceitualeregimejurdicodasatividadesdesempenhadaspelasentidadesintegrantesdoterceirosetor

    Nohumaterminologiauniformeparaochamadoterceirosetor,existindo,emverdade,apresenadosmesmostraosnasvariadasentidadesquenelepodemserinseridas.

    SegundoMariaSylviaZanellaDiPietro,taistraosseriamosseguintes:

    Entidadesinstitudasporparticulares,compersonalidadejurdicadedireitoprivado,quedesempenhamserviosnoexclusivosdoEstado,porm,emcolaboraocomele,recebendoalgumtipodeincentivo,razopelaqualsujeitam-seacontrolepelaAdministraoepeloTribunaldeContas,sendoseuregimejurdicoparcialmentederrogadopornormasdedireitopblico.3

    OstericosdaReformadoEstado,semdescartaraexpressoterceirosetorcomascaractersticasmencionadas,tambmdenominaramtaisentidadesde"pblicasnoestatais"pblicasporqueprestamatividadesdeinteressepblicoenoestataisporquenointegramaAdministraoPblicadiretaouindireta.4 Porfim,adoutrinatambmincluiasentidadesintegrantesdoterceirosetordentreasdenominadas"entidadesparaestatais",nosentidoemqueaexpressoempregadaporCelsoAntnioBandeiradeMelloeadotadaporDiPietro,queabrangeriaaspessoasprivadasquecolaboramcomoEstado,desempenhandoatividadenolucrativaerecebendoproteoespecial,situando-se prximasdoEstadoouparalelasaele,demodoqueo"terceirosetor"abrangeriaasentidadesdeclaradasdeutilidadepblica,asquerecebemcertificadodefinsfilantrpicos,osserviossociaisautnomos(Sesi,Sesc,Senai,Senac),asorganizaessociaisdasociedadecivildeinteressepblicoeasorganizaessociais.5

    DiPietroconcluique"integramoterceirosetorporquenemseenquadraminteiramentecomoentidadesprivadas,nemintegramaAdministraoPblica,diretaouindireta.Incluem-seentreaschamadasorganizaesno-governamentais (ONGs). Todas essas entidades enquadram-senaexpressoentidadeparaestatal".6

    NoDireito,aquestoassumerelevncia,considerandoque,apesardeessasentidades,semfinslucrativosevocacionadasprestaodeserviosdeinteressepblicoemcolaboraocomoEstado,seremconstitudascompersonalidadededireitoprivado,recebemrecursosdeorigempblica,oquefazcomqueassumamumcarterhbrido,situaoquegeraincontveisdesdobramentosjurdicos,mormenterelacionadosgestodessesrecursos.

    ApesardeasparceriascelebradasentreoPoderPblicoeasentidadessemfinslucrativosqueprestamserviosderelevnciasocialnoseremnovas,incipientealiteraturaproduzidaacercadotemaemseusvriosaspectos.

    Aatividadedesempenhadaportaisentidadesnoseenquadranoconceitodeserviopblico,tampoucodeatividadeeconmica,sendonecessriobuscarnaConstituioFederalaintelecodoregimejurdicoaqueestarosubmetidas,jqueinegvelqueaCartaMagnaadmiteaexistnciadeatividadederelevnciapblica,aoladodosconceitosdeserviopblicoedeatividadeeconmica.

    Paulo Modesto, em painel de debates sobre o tema organizaessociais,trouxebailaessapreocupao,criticandoaformacomoadoutrinavemconceituandooterceirosetor,comosefosseumconceitojurdico,quando,nasuaopinio,trata-sedeconceitoheterogneoeextrajurdico,que,comojtivemosoportunidadedemencionar,envolveumgrandenmerodeentidadescomregimesjurdicosdiferenciados,devendocentrarapreocupaonapossibilidadedodesempenhodasatividadesporelasdesenvolvidas,emfacedotratamentodadopelaConstituioFederal.7

    BibliotecaDigitalRevistadeDireitodoTerceiroSetorRDTSBeloHorizonte,ano1,n.2,jul.2007

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  • Defato,naConstituioFederalquedevemosidentificarcomooordenamentojurdicoptriotrataodesempenhodessasatividadesquenososerviospblicos,enquantoatividadeprpriadoEstado,quespodeserdesempenhadadiretamenteouatravsdeconcessooupermisso,equetampoucoseenquadramnoartigo173daCartaMagna,comoatividadesreservadasaosparticulares,ondeoEstadospodeatuardeformaexcepcional.

    Poisbem,quandooEstadoprestaserviopblico,estdesempenhandoumaatividadeordinriasoboregimejurdicodedireitopblico,equando,excepcionalmente,atuaematividadereservadaaosparticularesnosetordeexploraoeconmica,ofazdeformapredominantementesoboregimededireitoprivado.Cumpre,portanto,buscarqualregimeincidenosetordeserviossociais,ondeaatividadedoEstadoobrigatria,masnoexclusiva,jqueoparticularnoprecisadeautorizaoparadesempenh-la, estandosujeitoapenasaocontroledepolciaefiscalizaoestatal.

    AquimaisumavezinvocamosaliodePauloModesto,quenomesmopainelmencionouoseguinte:

    Deformaartificialadoutrinatentouenquadraressasatividadessociaisnoconceitodeserviopblico,dizendodeforma,ameujuzo,ambgua,quequandoessasatividadesforemdesempenhadaspeloEstadososerviospblicosequandoforemdesempenhadasporparticularessoatividadeseconmicas.Ouseja,enquantotodasasdemaisatividadesatraemumregimejurdicoprprio,essesserviossociaisnoatraemregimenenhumaatividadeemsimesmanoatrairiaumregimejurdico,masaocontrrio,dependeriadoregimejurdicoquecadaenteexercesse.

    Ecomplementanoseguintesentido:"Oparadoxodissoquetodasasoutrasatividadestmumadefinioobjetivaenquantoessateriaumadefiniosubjetiva".8

    AcrticalanadaporPauloModesto,queencampamosnestareflexo,vainosentidodequeosujeitoquemdefiniriaoregimejurdicodessasatividades.Pormofatodeosserviosderelevnciasocialseremdesempenhadosporpessoasprivadaslevariaaoentendimentodequeosprincpiosdaatividadeeconmicaseriamplenamenteaplicveis,situaoquedeveservistacomreservas.

    Deformagenrica,podemosindicardoismomentosemqueaConstituioFederalsepreocupacomosserviosderelevnciapblica.Noartigo129,incisoII,quandotratadasfunesinstitucionaisdoMinistrioPblico,colocandocomoumadesuasatribuiesaproteodosserviosderelevnciapblica,enoartigo197,quandosereferesaeseserviosdesade,comoderelevnciapblica,demodoquepodemosconsiderarque,aoladodosserviospblicosedaexploraodaatividadeeconmica,humterceiroconceito a ser explorado.

    Nessalinhaderaciocnio,interessanteavisodeGustavoHenriqueJustinodeOliveiraaoafirmarqueanoodeesferaestatalnoseequiparacomanoodeesferapblica,tornando-seusualadistinoentreespaopblicoestataleespaopblicono-estatal,sendoqueaprestaodosserviosnoexclusivosdoEstadodar-se-ia no espaopbliconoestatal.Assim,explicaojuristaquecontinuamexistindoapenasduasformasclssicasdepropriedade,apblicaeaprivada,masapropriedadepblicadivide-seemestatalenoestatal.9

    Defato,osprincpiosdaatividadeeconmicanopodemincidirplenamentenessassituaes,porqueelaspressupemtransfernciasderecursospblicos,oqueimplicaanecessidadedaincidnciaderegrasdeDireitoPblico,sobretudoaquelasvoltadasaocontrole.Hqueseconceber,ento,aexistnciadeumregimehbrido,aexemplodoqueocorrecomasempresasestataisexploradorasdeatividadeeconmica,regidaspeloregimejurdicodeDireitoPrivado,derrogadoparcialmentepeloDireitoPblico.

    SemdvidaaquestoquesecolocaassumeextremarelevnciadiantedeumEstadoemtransformao.Aspolticasreformistasprovocaramumatendnciaacentuadadereduodoaparelhoestataleampliaodaatividadedefomento.Comisso,alargaram-seosinstrumentosdeparceriaentreossetorespblicoeprivado,e,emdecorrncia,emergeurgentenecessidadedeoEstadosepreparareseajustarataistransformaes.

    nessecontextoquesurgeminmerasentidadespassveisdesereminseridasnoconceitodeterceirosetor,quecelebramajustesdevariadasnaturezascomoEstado,tornando-sebeneficiriasdetransfernciasvoluntriasparaatuaremematividadesespecficaseatingiremdeterminadasfinalidadesestabelecidasnosajustes.

    Questorelevanteaindapoucodiscutidapeladoutrina,sendotambmincipientesasdecisesjudiciaisenombitodosTribunaisdeContas,dizrespeitoformadeescolhadessasentidades.Emfacedadiversidadedeentidades,temosque,emalgumassituaes,asleisespecficasquepreviramsuacriaoestabelecemadispensadoprocedimentolicitatrio,aexemplodoqueocorrecomasorganizaessociais(artigo24,incisoXXIVdaLein 8.666/93).

    ALeidasOrganizaesdaSociedadeCivildeInteressePblico(OSCIPs)prevarealizaodeconcursodeprojetos,parecendodeixaracritriodoAdministradorsuaefetivao,questo,ameuver,bastantecontrovertidaemvirtudedaexistnciadeumexpressivonmerodeentidadesqualificadascomoOSCIPs,aptasadesempenharemosmesmosservios,demonstrandoainegvelexistnciadeamplapossibilidadededisputa,excetoseosserviospuderemserprestadosportodasasentidadeseventualmenteinteressadasecapazesdeprest-los,oqueseresolveriaatravsdeumprocedimentopblicodecredenciamento.

    Emrelaoaessasentidades,recentedecisoproferidapeloTribunaldeContasdaUniorecomendouaoMinistriodoPlanejamento,OramentoeGestoeCasaCivildaPresidnciadaRepblica"queavaliemainclusoemnormativoprpriodedispositivoqueobrigueaaplicaodocritriodeseleodeOSCIPprevistonoart.23doDecreton 3.100/99,emtodaequalquersituao".1 0Essarecomendaorefleteaclaratendnciadenoseconsiderararealizaodoconcursodeprojetoscomomeraopodoadministradorpblico.

    Noentanto,reconheceuaquelaEgrgiaCortedeContasnoexistiremregrasobjetivasparaseleodessasentidadesmedianteanovafigurajurdicadotermodeparceria.1 1

    OTribunaldeContasdoEstadodeSoPaulo,emManualBsicoemquetratoudosrepassesdeverbaspblicasaoterceirosetor,aocuidardoprocedimentoadministrativodacontrataodasOSCIPs,pareceuconsiderarnohavernecessidadedeprvioprocedimentolicitatrio,emfacedaausnciadeprviaprevisolegal.Contudo,ressaltouanecessidadedoestabelecimentodeprocedimentosvoltadosgarantiadatransparncianaescolhadaentidade,relacionandoexemplosdemedidasaseremadotadaspeloAdministrador,taiscomo:adivulgaopblicadaintenodeterceirizaroobjetodofuturoajuste,acompanhadadaminutadotermodeparceriacomascondiesaseremfirmadas,aconvocaopblicadasentidadesinteressadasemfirmaroajusteparaaapresentaodepropostas,arealizaodesessopblicaparaaleituradaspropostasapresentadaseadivulgaopblicadoresultadodaseleo,comajustificativadosfatoresconsideradosrelevantesparaaescolhadaentidadevencedora.1 2

    Instrumentosantigos,contudoaindabastanteutilizados,queenvolvemrepassesvoluntriosderecursospblicossoosconvnios,quetmrecebidotratamentodecorrentedasinterpretaesconferidasaoartigo116daLein 8.666/93,predominandooentendimentonosentidodadesnecessidadedelicitarparacelebrartaisajustes,jque,atravsdeles,aspartesestabeleceminteressescomuns,coincidentes,exatamenteporqueacontrapartidanoenvolveinteresseslucrativos.

    Acreditamosqueessatendnciadevaserrepensadadiantedanovarealidadequesecoloca,nosentidodequetaisparceriasdevemserprecedidasdeprocedimentoqueassegureigualdadedecondies,diantedaexistnciadecompetio.Sobreoassunto,CelsoAntnioBandeiradeMellodeixaclaroseuentendimento:"Paratravarconvnioscomentidadesprivadassalvoquandooconvniopossasertravadocomtodasasinteressadasosujeitopblicoterquelicitarou,quandoimpossvel,realizaralgumprocedimentoqueassegureoprincpiodaigualdade".1 3

    Todavia,nopretensodesteestudoenfrentaressaespecficaquesto,masasubmissodessasentidadesaoregimededireitopblico,maisespecificamentesnormasdaLeiGeraldeLicitaes,emsuaatuaonaaplicaoeutilizaodasverbaspblicasrepassadaspeloEstado.

    2.1Derrogaoparcialdoregimededireitoprivado

    Naoportunidadeemquetraamosconsideraessobreoregimejurdicoincidentesobreasatividadesdesempenhadaspelasentidadesqueintegramaterceirosetor,conclumosacercadanecessidadedeseconceberumregimehbrido,aexemplodoqueocorrecomasempresasestataisexploradorasdeatividadeeconmica,regidaspeloregimejurdicodedireitoprivado,derrogadoparcialmentepelodireitopblico.

    Porbvio,podemostomaressarelaoapenasattulodecomparao,eisquenoestamosfalandodeentidadessimilaresjqueasqueintegramoterceirosetornoseinseremnaestruturadoEstado,comoosentesqueintegramaadministraoindireta.

    Assim,afastamosapossibilidadedeconsiderarqueoregimedasempresasestataisexploradorasdeatividadeeconmicaseapliquesentidadesdoterceirosetorqueutilizam

    BibliotecaDigitalRevistadeDireitodoTerceiroSetorRDTSBeloHorizonte,ano1,n.2,jul.2007

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  • recursospblicos,masacreditamosqueaquelesentespodemserutilizadoscomoparadigma,oupontodepartidaparaumareflexoacercadaderrogaodoregimededireitoprivadonessassituaes.

    Polmicasrelacionadassentidadesdaadministraoindireta,regidaspelodireitoprivado,queintegramoaparelhamentodoEstado,sempreestiverampresentes.Discussesemtornodaobrigatoriedadeounoderealizaremlicitaoeconcursopblicoparaadmissodepessoal,sempreforambastantearraigadas,einmerasforamastentativasdelivr-lasdessas"amarras",soboargumentodequeestariamatuandonaesferaprivadaemregimedeigualdadecomasempresasexploradorasdeatividadeeconmica.

    Longofoiocaminhopercorridoatchegarmosaalgumasdefinies,sendoqueaConstituiode1988colocouumapdecalsobrevriasdiscusses,namedidaemqueatualmenteindiscutvelaobrigatoriedadederealizaodeconcursopblico,bemcomodelicitao.

    Contudo,comooregimeprivadoapenasderrogadoemparte,deformabastanterazovelopargrafonicodoartigo173daCartaMagna,comasalteraesintroduzidaspelaEmenda Constitucional n 19/98,previuapossibilidadedeasempresasestataisexploradorasdeatividadeeconmicadeproduooucomercializaodebensouprestaodeservioscriarem,naformadalei,estatutosprprios,dispondo,conformeprevisocontidanoincisoIIIdoreferidodispositivolegal,sobrelicitaoecontrataodeobras,servios,comprasealienaes,observadososprincpiosdaAdministraoPblica.1 4 1 5 1 6

    Essasdisposiesparecemdemonstrarexplcitoreconhecimentodaincompatibilidadeereaisdificuldadesencontradaspelasentidadesdedireitoprivado,queintegramoaparelhoestatal,deseadequaremaosexatostermosdaLeiGeraldeLicitaes,permitindoqueasmesmasrealizemlicitaomedianteprocedimentosprprios,observadososprincpiosdaadministraopblica.

    certoqueoraciocniovincula-sepreocupaocomarelaodeigualdadeentreasempresasestataisexploradorasdeatividadeeconmica,easempresasparticularesquedisputamomercado,umavezqueasubmissoaoprocedimentolicitatrionostermosdaLein 8.666/93poderiainviabilizarsuaatuaonaesferaeconmica.

    Nessaseara,CelsoAntnioBandeiradeMello,comsuahabituallucidez,explicaque:

    Semdvida,aadoodomesmoprocedimentolicitatriodoPoderPblicoseriainconvenienteparaanormalidadedesuasatuaesnaesferaeconmica,isto,noseriaexeqvelemrelaoaosseusrotineirosprocedimentosparaoperarocumprimentodasatividadesnegociaisemvistadasquaisforamcriadas.Asdelongasquelhessoprpriasinibiriamseudesempenhoexpeditoemuitasvezesobstariamobtenodonegciomaisvantajoso.Delanohaveriacogitaremtais casos.1 7

    Noentanto,orenomadojuristadeixabastanteclarooslimitesdaaplicaododispositivoconstitucional,quedevemincidirto-somente nas atividades em que devam estar presentesaagilidadeedesenvolturaqueaexploraodaatividadeeconmica,paraaqualfoicriada,exija.

    LciaValleFigueiredo,aodiscorrersobreoassunto,explicitasuapreocupaocomonecessrioesforodeinterpretaoaserempregadonasoluodosconflitosquepodemdecorrerentreasnormasdoartigo37,incisoXXI,edoartigo173,1, incisoIII,ambosdaConstituioFederal,umavezqueoprimeirorefere-seadministraopblicadiretaeindiretaeosegundoestinseridonaordemeconmica,dispondoqueoestatutoprpriodasestataisexploradorasdeatividadeeconmicadeverobservarosprincpiosdaadministraopblica.Nesseesforodeinterpretao,aautoradeixaconsignadaaseguinteconsiderao:

    Parece-nos,pois,queainterpretaopossvelsejaadequeseasestataisestiveremprestandoserviopblico,teroregimesobforteinfluxodoDireitoPblico,embora revistam-sedeformaprivada.E,nestecaso,deverosesubmeterlicitao(snormas)eno,apenas,aosprincpiosdaadministraopblica.

    Seentretanto,estiveremnaatividadeeconmica,porquedeveterregimeequivalentesempresasprivadas,submetem-se,apenas,aosprincpiosdaadministraopblica.1 8

    Percebemosqueadoutrinanopoupaesforosemencontrarsoluesrazoveisecompatveiscomaatuaodasentidades,tendosemprecomovetordeinterpretaoosprincpiosaqueestsubmetidaaadministraopblica,emais,oscontrolesquedevemnecessariamenteincidir,quandoentidadesprivadasutilizamverbaspblicas,comoocorrecomasentidadesquerecebemrepassesvoluntriosdoEstado.

    EcomosecomportaroasentidadesqueintegramoterceirosetorequenointegramaestruturadoEstado?Qualseriaolimitedeincidnciadasregraseprincpiosdedireitopblico?Atquepontopoderiaserderrogadoodireitoprivadoqueregeaatuaodessasentidades?

    ReferidasentidadesdoterceirosetordesempenhamatividadesquesosubmetidasaoregimededireitopblicoquandoprestadaspeloEstado,eaoregimeprivado,quandoprestadasporparticulares.Soosservios,comojdissemos,quedevemserprestadospeloEstado,masnodeformaexclusiva,demodoquenossosistemajurdicoadmitesuaprestaosoboregimededireitoprivado,sujeitoapenasaoscontrolesdepolcia.Nessesentido,quandoasentidadesdoterceirosetorosprestam,ofazemsoboregimededireitoprivado,masdeformadiferenciadadosparticularesqueprestamtaisservios,eisque,sendoelasentidadessemfinslucrativos,recebemrepassesdedinheiropblicopara atuarem ao lado do Estado, desempenhando de forma complementar atividades da responsabilidade deste.

    Assim,deseconsiderarqueoregimededireitopblicodevenecessariamenteincidir,umavezqueestoenvolvidosrecursospblicos,estandotaisentidadesnecessariamentesujeitas ao controle do Tribunal de Contas.

    Masoutrasregrasdedireitopblicotambmincidiro,sendobastanteamplaaanlisedoslimitesdaderrogaodoregimeprivadonessassituaes.Pretendemosapenasrefletiracercadasnormasincidentesemrelaoacomprasecontrataeslevadasaefeitocomrecursospblicosrepassados,enessesentidonosparecebastanterazovelaaplicaoderaciocniosemelhanteaoqueserefereinconveninciadaaplicaodasmesmasregrasrgidasdelicitaoecontrataodaLein 8.666/93.

    Portanto,hqueseperquiriroseguinte:SeaConstituioFederaladmitequeosprpriosentesintegrantesdaadministraopblicaindireta,compersonalidadejurdicadedireitoprivado,queutilizamdinheiropblico,nassituaesjmencionadas,editemseusprpriosregulamentos,semconsiderarqueissosignifiquedescumprimentodosprincpiosdasupremaciaedaindisponibilidadedosinteressespblicos,quaisrazespoderiamnoslevaraoentendimentodequeosistemajurdicoestariaasubmeternecessariamenteaspessoasprivadas,querecebemrepassesdedinheiropblico,LeiGeraldeLicitaes?

    Certamentequeaspessoasquedealgumaformamanejam,recebem,administramouutilizamdinheiropblicoestosubmetidasatodososmecanismosdecontroleprevistosnoordenamentojurdico,masissoinduzirianecessariamenteconclusodequeestarosubmetidasaosprocedimentosrgidosecomplexosestabelecidosnaLein 8.666/93?

    3Panoramalegalnombitofederal

    Osinmerosinstrumentosdeparceriafirmadosentreaadministraopblicaeoterceirosetor,unsmaisantigos,outrosbematuais,foramdesenvolvidosemdecorrnciadaidiadesubsidiariedadedoEstadoeatualmenteestoinseridosnumcontextodepropostasecriaodemecanismosparasubstituiodaadministraoburocrticapelaadministraogerencial,emqueseprivilegiaocontrolederesultados.

    Importa,paraaadequadasituaodotemaaserexplorado,queatravsdessesinstrumentos(convnios,contratosdegesto,termosdeparceriaeajustessimilares)osvaloresrepassadosnoperdemanaturezadepblicos,razopelaqualasentidadesdevemprestarcontasdesuautilizao,sendoresponsabilidadedoEstadorepassadoroexercciodessecontrole.

    desenotarqueocontroledosvaloresrepassadosnosconvnios,enquantoinstrumentosmaisantigos,sempresedeudeformaposterior,ouseja,apsaefetivaaplicaodos recursos pela entidade conveniada, verificando-se,pormeiodanecessriaprestaodecontas,seosvaloresforamaplicadosdeacordocomasfinalidadesestabelecidasnoinstrumentodeconvnio,traduzindo-seemcontrolederesultado,demodoquetalcontrolesempresedeudiantedaverificaodocumprimentodasmetas,programasdetrabalho,cronogramasestabelecidos,prazoseoutrosrequisitosnormalmenteinseridosnasclusulasdorespectivoinstrumento.

    Contudo,ainsatisfaodecorrentedautilizaodessescontrolesesuaaparenteineficinciaressaltamaosolhosquandonosdeparamoscomaproliferaodeinstrumentosnormativosvisandoaoestabelecimentodecontrolesburocrticos,nacontramodapropostainseridanocontextodaReformaAdministrativadoEstado.1 9

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  • Enosemrazoapreocupao,jqueagestoprivadaderecursospblicosquestomerecedoradeesforosnabuscadesoluesadequadasparaoestabelecimentodeefetivoeeficientecontrole,comsubmissodasentidadesdoterceirosetoraosprincpiosaqueestosubmetidassentidadespblicas,paraaaplicaoegastodedinheiropblico.

    Todavia, considerando-se que as entidades do terceiro setor submetem-seaoregimededireitoprivado,taisregrasdedireitopblicodevemincidirapenasparcialmente,emvirtudedanaturezadosvaloresaelasrepassados,que,comojsedisse,noperdemanaturezadepblicos.EaprpriaConstituiodeixaclaroqueestarotaisentidades,comoqualquerpessoafsicaoujurdicaqueutilize,arrecade,guarde,gerencieouadministredinheiropblico,submetidasaocontrolepelosTribunaisdeContas(art.70,pargrafonico).

    Vejamosadisciplinalegalsobreoassunto,relacionadaestritamentesformalidadesaseremobservadasparaaplicaodosvaloresrepassados,considerando-se as normas infralegaisnombitofederal,quesomenteseaplicamUnio,excetoquandonormasgerais.

    AConstituioFederalfazreferncialicitao,basicamenteemdoisdispositivos,queimportamparaapresenteanlise:noartigo22,incisoXXVII,eemumdosincisosdoartigo37,voltadoespecificamenteadministraopblicadiretaeindireta.

    NoprimeiroestabeleceacompetnciaprivativadaUnioparalegislarsobrenormasgeraisdelicitaoecontratao,emtodasasmodalidades,paraasadministraespblicasdiretas,autrquicasefundacionaisdaUnio,Estados,DistritoFederaleMunicpios.Oartigo37estabeleceexplicitamentequeaadministraopblicaobedeceraosprincpiosdalegalidade,impessoalidade,moralidade,publicidade,eficincia,almdopreceituadoemseuincisoXXI,quefazrefernciaespecificamentenecessidadedarealizaodelicitao,emlinhagerais,medianteprocessoqueassegureigualdadedecondiesaosinteressados,nostermosdalei.

    A Lei Federal n 8.666/93,noslimitesestabelecidospelaCartaMagna,dispenopargrafonicodeseuartigo1 queenunciaasnormasgeraisdelicitaesecontratosnombitodosPoderesdaUnio,dosEstados,doDistritoFederaledosMunicpiosqueficamsubordinadosaoregimedalei,nostermosdeseupargrafonico,almdosrgosdaadministraodireta,osfundosespeciais,asautarquias,asfundaespblicas,asempresaspblicas,associedadesdeeconomiamistaedemaisentidadescontroladasdiretaou indiretamente pelos entes federados.

    AInstruoNormativan 01,de15.01.97daSecretariadoTesouroNacional,quedisciplinaacelebraodeconvniosdenaturezafinanceiraquetenhamporobjetoaexecuodeprojetosouarealizaodeeventos,estabelecianaredaooriginaldoartigo27queoconvenente,quandoentidadeprivada,deveriaadotarprocedimentoanlogo ao estabelecidonaLeiGeraldeLicitaes,ficandosujeitosaostermosdaLein 8.666/93apenasosconvenentesintegrantesdaadministraopblica.

    Contudo,aIN03/03alterouessaredao.Eisoatualteordoartigo27:

    o convenente, ainda que entidade privada, sujeita-se,quandodarealizaodedespesascomosrecursostransferidos,sdisposiesdaLei8.666/93,especialmenteemrelaoalicitaoecontrato,admitidaamodalidadedelicitaoprevistapelaLei10.520/02,noscasosemqueespecifica.

    A disciplina da IN STN n 01/97,cominmerasalteraesposteriores,pareciarazovelnamedidaemquedeterminavaqueasentidadesprivadasrealizassemprocedimentosanlogosaosestabelecidosnaLeiGeraldeLicitaesecontratosadministrativos.Todavia,onovoregramentointroduzidoestabeleceuaobrigatoriedadederealizaodelicitaonostermosdaleifederaltambmparaasentidadesprivadasnointegrantesdaadministraopblica.2 0

    Em 05 de agosto de 2005, o Governo Federal publicou o Decreto n 5.504,que,igualmente,nacontramodapropostadareformadoEstado,sujeitouasentidadesquerecebemrecursospblicosdaUnio,emdecorrnciadeconvniosouinstrumentoscongneres,realizaodelicitaonostermosdaleifederal,estabelecendoaobrigatoriedadedautilizaodoprego,preferencialmentenaformaeletrnica,paraentespblicosouprivados,nascontrataesdebenseservioscomuns.

    Nos termos preconizados no artigo 1 eseuspargrafos,doreferidodecreto,destacamosocontedodopargrafo4 estabelecendoqueassituaesdedispensaeinexigibilidadedeveroserprocessadasnostermosdaleifederaldelicitaes,comobservnciadodispostonoartigo26,devendooatoderatificaoserrealizadopelainstnciamximadaentidade,sobpenadenulidade.

    Opargrafo5 dodispositivosubmeteaosseustermosasOrganizaesSociais(OSs)easOrganizaesdaSociedadeCivildeInteressePblico(OSCIPs),emdecorrnciadoscontratosdegestoedostermosdeparceriascelebrados,adespeitodasregrasprevistasnasleisespecficasqueregularamacriaodetaisentidades.

    surpreendenteaquantidadedeleiseinstrumentosinfralegaisesparsosquetratamdavidadasociedadecivilorganizadanoBrasil.Entretanto,noexistesequerumaleiquetrateotemadeformamaisabrangenteoupreponderante,deformaquesetornaurgenteanecessidadedeestabelecimentodeummarcoregulatrioparaoterceirosetoremnossoPas.Emlinhasgerais,esseopanoramalegalqueatualmenteregeaespecficaquestorelacionadaaosprocedimentosnecessriosparaautilizaodosrecursosoubensrepassadosvoluntariamentepelaUniosentidadesdoterceirosetor.

    Parece-nosqueoaspectomaisrelevante,quenopodedeixardeserenfrentadoequemaisdemonstraanecessidadedaexistnciadeummarcoregulatrio,orelacionadonaturezadosatosnormativosqueobrigamasentidadesquerecebemosrepassesvoluntriosrealizaodecertamelicitatrio,nostermosdaleifederaldelicitaesecontratos, como veremos a seguir.

    4Obrigatoriedadedeentidadesdoterceirosetorsesubmeteremaoprocedimentolicitatrio,nostermosdaLein 8.666/93

    Comoseviu,osatosquesubmetemosentesquerecebemrepassesvoluntriosfederaisaostermosdaLein 8.666/93sodenaturezainfralegal.

    OregimedalicitaoestabelecidonaLeiFederaln 8.666/93, bem como na Lei Federal n 10.520/02, destina-seaosentespblicos,consideradosestesaadministraodiretaeaindireta,ondeseincluemasempresasestataisprestadorasdeserviospblicos,asautarquiaseasfundaespblicas,resultandoqueoprocedimentoprevistonaleinoadequadoparautilizaoporpessoasjurdicasdenaturezaprivada,quenointegramaestruturadoEstado.

    Defato,olegisladorconstituinte,quandotratoudelicitaesecontratosadministrativos,nopretendeuincluiroterceirosetor,eassimtambmnoofezaLeiGeraldeLicitaes.Emborabastanteorganizado,essesetornopossuiaestruturadosrgosqueintegramaadministraopblicaparaarealizaodeprocedimentosburocrticos,estandovoltadospredominantementeconsecuodeseusfinsdeinteressepblico,ouseja,prestaodoservioderelevnciasocial,deformaeficienteecomqualidade.Afinal,essaarazopreponderantequelevaoEstadoarepassarvalorespblicosaoterceirosetor.

    Certamentenoestamosafastando,considerandoanaturezapblicadosrecursos,arealizaodeprocedimentoquegarantaaobservnciadosprincpiosqueregemaadministraopblica.Aocontrrio,defendemoscomveemnciaoaspectodocontrole,entendendo,inclusive,queseusmecanismosdevamseraperfeioados.Destarte,almdaprestaodecontasdiretamenteaorgorepassador,sustentamostambmquedevemosTribunaisdeContasseestruturarparaaefetivaodecontrolesconcomitantes,afimdecoibireventuaisdesviosemesmomgestododinheiroedebenspblicosrepassados.

    Entendemos,porm,queascontrataesfeitaspeloterceirosetor,comrecursospblicosrepassados,podemserrealizadasatravsdeprocedimentosemelhanteaoestabelecido pela Lei n 8.666/93,disciplinadoemnormasinternastornadaspblicasmedianteampladivulgao,aexemplodoregulamentodecomprasaquesereferealeique instituiu as OSCPIs.

    Parece-nosrazoveloentendimentosegundooqualdevamtaisentidadesobservarosprincpiosconstitucionaisqueregemaatuaodaadministraopblica,ouseja,aqueleselencados no caputdoartigo37,bemcomoosprincpiosqueregemoprocedimentolicitatrio,sobretudoosestatudosnoincisoXXIdomesmodispositivoconstitucional.

    Contudo,comosedepreendedocontedodosatosnormativosantesmencionados,essanotemsidoadiretrizadotada,que,repita-se,norefleteaintenodolegislador,jque estabelecida em atos infralegais.

    Asdificuldadesimpostassodeextensoinimaginvel,epodemosperceb-laspormeiodeumasimplesabordagemnadisciplinadasOSCIPsOrganizaesdaSociedadeCivildeInteressePblico,considerando-sequearegraespecficadoartigo14daLein 9.790/99,queasautorizaaelaborarnormasprpriasorientadorasdascontrataesdeobras,serviosecompras,comempregoderecursospblicos,comobservnciadosprincpiosqueregemaadministraopblica,nofoisuficienteparaafastaraceleumaemtorno

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  • dasuasubmissoLeiGeraldeLicitaes.AssimqueoDecretoFederaln 5.504/05fezrefernciaexpressasOSCIPs,ignorandoporcompletoostermosdaleimencionada.

    Emboraaparentementevenhamsendopaulatinamentesuperadas,taiscontrovrsiasnoescaparamdeembatesacalorados,comoseverificapeloteorderecentedecisoproferidapeloPlenriodoTribunaldeContasdaUnio,ondesetravouadiscussoemtornodoentendimentodequeameraobservnciadosprincpiosquenorteiamaatuaodaadministraopblicanoseriasuficienteparaasseguraraprepondernciadointeressepblicosobreoparticularepreservaraincolumidadedaindisponibilidadedointeressepblicoprimrio.Masaquestoencaminhou-senosentidodaadoodeinterpretaodequeasOSCIPs,emdecorrnciadeprevisolegalespecfica(art.14daLein9.790/99),nosesubmetemaocumprimentodaLein 8.666/93e,sim,aosprocedimentosestabelecidosemseusregulamentosprprios.2 1

    Adecisopautou-senaargumentaoapresentadapeloE.MinistroRelator,noseguintesentido:

    Nota-se,portanto,queexisteprevisolegalparaaconstituio,pelasOSCIPs,deregulamentoparaacontrataodeobras,serviosecomprascomrecursospblicos,observadososprincpiosconstitucionaissupramencionados.Tendoemvistaqueoobjetivodareferidalegislaofoiodesimplificarasexignciassobreas entidades do terceiro setor, sem a perda do controle, dando-senfaseaoresultado,entende-sequenofariasentidoexigir-se das OSCIPs que cumprissem detalhadamentetodososdispositivosdalegislaodelicitaesecontratos.

    EcomplementaojulgadorinvocandointerpretaodoprprioTCU,sobreanosubmissodosserviossociaisautnomos,quenoestariamsujeitosobservnciadosestritosprocedimentosdaLeiGeraldeLicitaes,massimdeseusprpriosregulamentos,demodoquenoserialgicaaadoodeentendimentocontrrioemrelaosOSCIPs.2 2 2 3

    NessesentidoprelecionaGustavoJustinodeOliveira,que,analisandoaquesto,concluiu:

    Emfacedetodooexposto,sobretudoemrazododispostonaLeiFederaln 9.790/99 e no Decreto n 3.100/99, opinamos pela ilegalidade do decreto n 5.504/05 edesuaaplicaosOSCIPSqueporventuracelebremtermosdeparceriacomaUnioFederal,eemvirtudedosquaisefetivamentehajaorepassederecursospblicosfederais.Taisentidadesnoestosubordinadasoulegalmenteobrigadasarealizarprvioprocessolicitatrio,nosmoldesprevistospelaLeiFederaln 8.666/93 e pela Lei Federal n 10.520/02(prego)paraadquirirbensoucontrataremservioseobrasjuntoiniciativaprivada.2 4

    Noobstante,oentendimentodaEgrgiaCortedeContasdaUnionosentidodequequalquerentidadeprivadaquecelebrarconvnioouinstrumentocongnerecomaadministraopblica,manejandorecursospblicos,deveobservaroEstatutodasLicitaeseContratosAdministrativos,nalinhadaDecison 1.070/2003, que resultou na alteraodaredaodaIN/STNn 01/97,comaexclusoapenasdasOSCIPs.

    Dopontodevistajurdico,odecretonopoderiaampliaroroldeaplicaodaLein 8.666/93, padecendo de flagrante ilegalidade, de modo que as entidades devem observar, naaplicaodosvaloresrepassados,normasprpriasqueasseguremaigualdade,aimpessoalidadeeaobjetividadedocertame,equandodaprestaodecontas,deverodemonstrarnosaaplicaodosvaloresnasfinalidadesparaasquaisforamrepassados,mastambmaobservnciadoprincpiodaeconomicidade,demaneiraqueresulteclaroteremsidoosvaloresaplicadosemsuasfinalidadesespecficasegeridosdeformaadequada.

    Ademais, pondere-sequenemmesmoasubmissoLeiGeraldeLicitaesestariaagarantiraboaaplicaodosrecursos.necessrioquehajaexignciadeprestaodecontasemtemporeal,concomitantementerealizaodosgastos,almdaefetivaresponsabilizaodosdirigentes,poreventualmaplicaodosrecursos.

    Enfim,aleigeraldelicitaonosedirigeaoterceirosetor,quenoestaparelhadoparaoenfrentamentodaslidesburocrticasporelaimpostas,sobpenadetornarinvivelaadequadautilizaodosrecursospblicosrepassadosenoatingiraeficinciaesperada.

    NodifcilperceberqueaLeiGeraldeLicitaesestvoltadaaosentesqueintegramaestruturaburocrticadoEstado,poiscontmincontveisregrasqueenvolvemopoderextroversodecorrentedasupremaciadointeressepblicosobreoprivadoedaindisponibilidadedosinteressespblicos.

    Aindaqueseentendaqueasentidadesdoterceirosetorestarosubmetidasapenasaregrascabveisdalei,deseperquirirquaisseriamtaisregras,jqueaconcepodaleiestvoltadaaosentesestatais.Hqueseponderar,porexemplo,sepoderiamelasaplicarsanes,declararinidoneidadedolicitante,proibirdecontratarcomaadministrao,fiscalizar,rescindirealterarajustesdeformaunilateral.Eaindanumcontedodeindagao,dentrodeumrolbastanteamplodedvidas,seestariamestendidasaoterceirosetorasregrasvoltadasadministraoindireta,aexemplodoqueocorrecomoestabelecidonopargrafonicodoartigo24daLein 8.666/93, que altera os percentuais paraadispensadelicitaopelovalor.

    5ConclusesAsentidadesdoterceirosetorassumemrelevnciacadavezmaior,emdecorrnciadaampliaodoespaoporelasocupadonodesempenhodasatividadesdeinteressepblicorelevante,masoordenamentojurdicoptrioseressentedaexistnciadenormasreguladoras,situaoqueremeteurgentenecessidadedoestabelecimentodeummarcoregulatrio.

    I.

    II.Nohumaterminologiauniformeparaoadequadoenquadramentodasentidadesqueintegramoterceirosetor,masapenasapresenadetraosquefazemcomquesesubsumamaocontedodoconceito,sendogenericamenteosseguintes:entidadesparticulares,regidaspeloregimededireitoprivadoequedesempenhamatividadesdeinteressepblicorelevanteemcolaboraocomoEstado,dequemrecebemincentivos.

    III.Porreceberemrepassesderecursospblicos,asentidadesdoterceirosetorestosujeitasaocontrolepelaadministraorepassadoraepeloTribunaldeContas,quepropugnamos seja exercido em tempo real.

    IV.Pordesempenharematividadesquenoseenquadramnoconceitodeserviopblico,enquantoatividadeexclusivadoEstadoetampoucoexploraremaatividadeeconmicareservada aos particulares, situam-senoespaopbliconoestatal,sendoseuregimeprivadoparcialmentederrogadopeloregimededireitopblico,concebendo-se a existnciadeumregimejurdicohbrido,queafastaaincidnciaplenadosprincpiosdaatividadeeconmica.

    V.Aquestorelacionadaaosprocedimentosparaacelebraodosvariadosajustesentreopoderpblicoeasentidadesdoterceirosetordeveserrepensada,considerando-se aampliaodoespaoocupadoporessasentidadeseainegvelexistnciadedisputa,deformaquedevemserestabelecidasformasquepermitamaigualdadeentreconcorrenteseestabeleamcritriosobjetivosdeescolha.

    VI.NoquedizrespeitorealizaodedespesaspelasentidadesdoterceirosetorcomrecursostransferidospelaUnio,estoasmesmassubmetidaslicitaonostermosdaLei n 8.666/93 e da Lei n 10.520/02,porforadeatosinfralegais,comoaINn 01/97, alterada pela IN n 03/03, e o Decreto Federal n 5.504/05.

    VII.Tendoemvistaoordenamentojurdicovigente,mormenteosartigos22,incisoXXVII,e37,incisoXXI,daConstituioFederal,eoartigo1, pargrafonico,daLeiFederal n 8.666/93,novislumbramosnalegislaoptriaabrigoparaasdisposiesestabelecidasnosatosinfralegaisquesubmetemasentidadesdoterceirosetoraoprocedimentolicitatrionostermosdaLeiGeraldeLicitaes.

    Abstract:The aim of this text focuses on the reflection upon the legal system which should incur in the management of the public resources that are transferred to entities belonging in the third sector, not only in relation to control, but above all, considering the use of funds, with a critical analysis on what has been established by Federal Decreed 5.504/2005 and on IN STN 01/97, altered by IN 03/03, which imposes on the third sector entities to submit to tender proceedings under the terms of Federal Law 8.666/93 and Federal Law 10.520/02.

    Keywords:Third sector. Private law system. Tender. Federal Law 8.666/93. Public resources.

    1 SUNDFLED, Carlos Ari. Direito administrativo ordenador.SoPaulo:Malheiros,1993.p.25.

    2 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella.ParceriasnaAdministraoPblica.5.ed.SoPaulo:Atlas,p.28.

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  • 3 Maria Silvia Zanella Di Pietro obra citada, p. 265-266.

    4 Organizaessociais.Cadernos Mare da Reforma do Estado,Braslia,1997,p.9."Umoutroprocessoqueseinserenoquadromencionadoacimaomovimentoemdireoaosetorpbliconoestatal,nosentidoderesponsabilizar-sepelaexecuodeserviosquenoenvolvemoexercciodopoderdeEstado,masdevemsersubsidiadospeloEstado,comoocasodeserviosdeeducao,sade,culturaepesquisacientfica.Chamaremosaesseprocessode"publicizao".Pormeiodeumprogramadepublicizao,transfere-separaosetorpblicono-estatal,odenominadoterceirosetor,aproduodosservioscompetitivosounoexclusivosdoEstado,estabelecendo-se um sistema de parceria entre Estado e sociedade para seu financiamento e controle."

    5 Maria Sylvia Zanella Di Pietro obra citada, p. 265.

    6 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo.14.ed.SoPaulo:Atlas,p.414.

    7 PauloModesto.PaineldeDebatesnasJornadasdeEstudosNDJdeDireitoAdministrativo,realizadonodia17deoutubrode2005,emSoPaulo-SP, publicado no Boletim de Direito Municipal BDM, p. 8, jan. 2006.

    8 Paulo Modesto. Obra citada. p. 10.

    9 GustavoHenriqueJustinodeOliveira.OrganizaesdaSociedadeCivildeInteressePblico:termodeparceriaelicitao.IDPBInstitutodeDireitoPblicodaBahia.Revista EletrnicaSobreaReformaDoEstado, Salvador, n. 2, p. 7, jun./ago. 2005.

    1 0Acrdon 1.777-43/05-P.TribunaldeContasdaUnio.Atan 43/2005-Plenrio.Sesso09.11.2005.DOU,p.0,22nov.2005.MinistroRelatorMarcosViniciusVilaa.

    1 1Decison 931/1999-Plenrio.Processon 014.334/1999-2.TribunaldeContasdaUnio.EstudosrealizadosporGrupodeTrabalhocomafinalidadedeexaminaroalcancedasdisposiesdaLeidasOrganizaesdaSociedadeCivildeInteressePblicoLein 9.790/99 nas atividades de controle do TCU.

    1 2TRIBUNALDECONTASDOESTADODESOPAULO.Manualbsico:repassespblicosaoterceirosetor.jul.2004.p.61.

    1 3 Curso de direito administrativo.19.ed.SoPaulo:Malheiros,2005.p.626.

    1 4Aquestorelacionadaaosestatutosprpriosaindaobjetodeincontveisceleumas,sobretudo,porquealeiaqueserefereodispositivoconstitucionalnofoieditadaathoje,demodoqueoentendimentopredominantesednosentidodeque,enquantonopromulgadaalei,estarotaisentessubmetidossnormasdaLein 8.666/93.

    1 5EmdecisoproferidanosautosdeMedidaCautelarnoMandadodeSeguranan 25.888/DFimpetradopelaPetrobrascontradecisodoTCUquedeterminousuasubmissoLei n 8.666/93,oMinistroGilmarMendesreconheceuemsededeliminarqueosprocedimentosdecontrataodaimpetranteestosubmetidosaoRegulamentodeProcedimento Simplificado aprovado pelo Decreto Federal n 2.745/98, com lastro na Lei n 9.478/97.

    1 6Recentemente,em09.07.07,outradecisofoiproferidanomesmosentido,pelaPresidentedoSupremoTribunalFederal,MinistraEllenGracie,que,igualmente,deferiuliminar requerida pela Petrobras, nos MS n 26.783contraatodoTribunaldeContasdaUnio,quedeterminouaobservnciadaLeiGeraldeLicitaes,determinandoqueaempresaseabstivessedeaplicarprocedimentolicitatriosimplificado.AMinistraentendeupresenteaplausabilidadejurdicadopedido,apontando,entreoutros,oprecedente,"absolutamenteidntico",aestecaso,noqualoMinistroGilmarMendesponderouqueadeterminaodoTCUparaqueaPetrobrascumprisseasexignciasdaLeideLicitaesparecia"estaremconfrontocomasnormasconstitucionais",mormenteasquetraduzemoprincpiodalegalidade,asquedelimitamascompetnciasdoTCU,assimcomoaquelasqueconformamoregimedeexploraodaatividadeeconmicadopetrleo.

    1 7 Obra citada, p. 193.

    1 8 Curso de direito administrativo.6.ed.SoPaulo:Malheiros,p.117.

    1 9Noentanto,orelatriodoMinistroRelatorMarcosViniciusVilaa,nosautosdoAC-1777-43/05-P,nosdumpanoramadiferenteaoafirmaraeficciadoscontrolesrealizadosnosconvnios,noseguintesentido:"CumpreassinalarqueaexistnciadosatuaiscontrolessobreosconvniospermiteaoTCUimputarresponsabilidadesemmontantesignificativoporirregularidadesnasuaexecuo.Porexemploconsiderando-seascondenaesimpostaspeloTCUem1998,anoanteriorLein 9.970/99, verifica-se que as irregularidadesdetectadasemconvniosabrangem71%daquantidadefsicadeprocessos68%dototalderesponsveiscondenadose64%dovalortotaldosdbitosapuradosemultasimputadas,somandomaisde28,5milhesdeUFIR's.Assim,conclui-seque,naqueleano,irregularidadesemconvnioscausaram2/3dasresponsabilizaesfeitaspeloTCU".

    2 0OMinistriodaFazenda,atravsdaSecretariadoTesouroNacional,procedeualteraomencionadaemdecorrnciadoAcrdon 1.070 proferido pelo TCU em 06.08.03. Referidoacrdo,aoexaminaroprocedimentoadotadoporentidadeprivadaparaaplicaoderecursospblicosrepassadosmedianteconvnio,trouxeampladiscussosobreaobrigatoriedadeounodeosentesprivadossesubmeteremLein 8.666/93, sendo que o voto do Ministro Relator (Ubiratan Aguiar) deu-se no sentido de que as entidades privadas,nessasituao,estoobrigadasarealizarcertamelicitatrionostermosdaleifederal,sendoestaanicaformadedar-se atendimento ao estabelecido no artigo 37, incisoXXI,daCartaMagna,porqueaslicitaespblicasspodemserfeitasnostermosdalei.Paraexplicitaraceleumageradaemtornodoassunto,consta,emdeclaraodevotovencido,divergncianosentidodequeoexercciodasprerrogativasdaLein 8.666/93incabvelaosentesprivadose,seassimfosse,somentepoderiaserfeitoatravsdelei,nosepodendoexigirqueosentesprivadosquerecebemrepassesdeverbaspblicassesubmetamLein 8.666/93,considerandofelizaredaodoartigo27daINSTN n 01/97,quandoexplicitouqueoconvenenteestarsujeitoapenasaprocedimentosanlogosaodaLeiGeraldeLicitaes.Oacrdo,porm,acolheuovotodorelatoredeterminouqueaSecretariadoTesouroNacionalprocedesseadequaodopargrafonicodoartigo27daIN/STNn 01/97,paraexigiraadoodaLein 8.666/93 para a realizaodelicitaopelaentidadeconvenente...

    2 1TCU.Acrdon 1.777/2005-Plenrio.Processon 008.011/2003-5.MinistroRelatorMarcosViniciusVilaa.Sesso09.11.2005.DOU, 22 nov. 2005.

    2 2TCU.Acrdon 1.777/2005-Plenrio.Processon 008.011/2003-5.MinistroRelatorMarcosViniciusVilaa.Sesso09.11.2005.DOU, 22 nov. 2005. p. 64.

    2 3NaDecison 907/97PlenrioAtan 53,entendeuaquelaCortedeContasqueosserviossociaisautnomos,comoentesdecooperao,espciesdogneroentidadesparaestatais,noestaroobrigadosalicitaoprviaparaassuasobras,servios,comprasealienaes,porquantooDecreton 200/67aimpeunicamenteadministraodiretaesautarquias(art.125).EntendiaoTCU,tambmnavignciadoDL2.300/86,queessasentidadesestavamsujeitasaessediplomaesuasalteraes,atqueeditassemregulamentosprpriosdelicitao.ComaediodaLein 8.666/93,oentendimentonosealterou.

    2 4 OSCIPSelicitao:ilegalidadedodecreton 5.504,de05.08.05.ParecerpublicadonositeoficialZniteInformaoeConsultoria.

    BibliotecaDigitalRevistadeDireitodoTerceiroSetorRDTSBeloHorizonte,ano1,n.2,jul.2007

    CopiadaVersoDigitalPagina:6/6