trabalho biod
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BIODIESEL:
A PARTIR DE GORDURA ANIMAL
Maringá2009
SUMÁRIO
1.0) BIODIESEL..............................................................................................................4
Trabalho apresentado à disciplina de Tecnologia Química servindo como avaliação integral do primeiro Bimestre do Curso de Química Bacharelado, Departamento de Química, Centro de Ciências Exatas da Universidade Estadual de Maringá.
Professor: Msc. Valter R. Gianotto
1.1) Breve histórico sobre surgimento do biodiesel.........................................................4
1.2) Biodiesel: Questões ambientais e socioeconômicas.................................................6
1.3) Biodiesel e as matérias-primas para sua produção....................................................7
2.0) GORDURA ANIMAL COMO FONTE DE BIODIESEL.......................................9
3.0) COMPOSICAO DO BIODIESEL...........................................................................13
4.0) ESTRUTURAS QUÍMICAS DE GORDURAS ANIMAIS....................................15
5.0) PROPRIEDADES FÍSICAS E QUÍMICAS DA MATÉRIA-PRIMA E DO
BIODIESEL....................................................................................................................17
5.1) Índice de acidez........................................................................................................17
5.2) Índice de Iodo .........................................................................................................17
5.3) Teores de sódio, potássio e sabões..........................................................................18
5.4) Densidade................................................................................................................19
5.5) Viscosidade Cinemática..........................................................................................20
5.6) Ponto de Fulgor.......................................................................................................21
5.7) Ponto de Entupimento de Filtro a frio (PEFF)........................................................21
5.8) Faixa de Destilação.................................................................................................23
5.9) Número e Índice de Cetanos...................................................................................23
6.0) PRINCIPAIS PROCESSOS DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL DE BIODIESEL..25
7.0) METODOLOGIAS PARA PRODUÇÃO DE BIODIESEL...................................26
7.1) Esterificação por catálise ácida................................................................................29
7.2) Transesterificação por catálise básica......................................................................30
7.3) Transesterificação por catálise heterogênea.............................................................30
7.4) Transesterificação por catálise enzimática...............................................................31
7.5) Transesterificação com metanol supercrítico..........................................................32
8.0) UMA ANÁLISE SOBRE O MERCADO MUNDIAL DO BIODIESEL...............32
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8.1) Cenário do mercado biodiesel em alguns países......................................................36
8.1.1) Alemanha..............................................................................................................36
8.1.2) França...................................................................................................................38
8.1.3) Estados Unidos.....................................................................................................39
8.1.4) Brasil....................................................................................................................40
9.0) QUEM APOSTA NO BIODIESEL, A PARTIR DO SEBO BOVINO, NO
BRASIL..........................................................................................................................42
10.0) CONCLUSÃO.......................................................................................................43
1.0) BIODIESEL
1.1) O surgimento do biodiesel
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As experiências com alternativas de combustíveis não são recentes,
comprovando a preocupação da população com o eventual esgotamento das reservas
petrolíferas. As primeiras experiências com o uso comercial do biodiesel na Europa
surgiram nos anos da Segunda Guerra Mundial (Patente belga de 1937).
Outros registros históricos apontam que o Dr. Rudolf Diesel desenvolveu o
motor diesel, em 1895, levando sua invenção à mostra mundial em Paris, em 1900,
usando óleo de amendoim como combustível. Em 1911, teria afirmado que “o motor
diesel pode ser alimentado com óleos vegetais e ajudará consideravelmente o
desenvolvimento da agricultura dos países que o usarão”. Já no Brasil os estudos acerca
de combustíveis alternativos iniciaram na década de 70, com a experiência do PRO-
ÁLCOOL. A idéia de utilizar o biodiesel no Brasil surgiu na Universidade do Ceará,
nos últimos anos da década de 70. Assim, segue abaixo um breve histórico dos
principais fatos associados à utilização de biomassa para fins energéticos no mundo,
especialmente biodiesel (1):
1900: Primeiro ensaio por Rudolf Diesel, em Paris, de um motor movido a óleos
vegetais.
1937: Concessão da primeira patente a combustíveis obtidos a partir de óleos
vegetais (óleo de palma), a G. Chavanne, em Bruxelas/Bélgica. Patente 422.877.
1938: Primeiro registro de uso de combustível de óleo vegetal para fins
comerciais: ônibus de passageiros da linha Bruxelas-Lovaina/BEL.
1939-1945: Inúmeros registros de uso comercial na “frota de guerra” de
combustíveis obtidos a partir de óleos vegetais.
1975: Lançamento do programa PRO-ÁLCOOL.
1980: Depósito da 1ª Patente de Biodiesel no Brasil - Dr. Expedito Parente.
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1988: Início da produção de biodiesel na Áustria e na França e primeiro registro
do uso da palavra “biodiesel” na literatura.
1997: EUA aprovam biodiesel como combustível alternativo.
2002: Alemanha ultrapassa a marca de 1milhão ton/ano de produção.
12/2003: DECRETO do Governo Federal Institui a Comissão Executiva
Interministerial (CEI) e o Grupo Gestor (GG), encarregados da implantação das
ações para produção e uso de biodiesel.
24/11/2004: Publicadas as resoluções 41 e 42 da ANP ( Agencia Nacional do
Petróleo), que instituem a obrigatoriedade de autorização deste órgão para
produção de biodiesel, e que estabelece a especificação para a comercialização
de biodiesel que poderá ser adicionado ao óleo diesel, na proporção 2% em
volume.
06/12/2004: Lançamento do Programa de Produção e Uso do biodiesel pelo
Governo Federal.
24/03/2005: Inauguração da primeira usina e posto revendedor de Biodiesel no
Brasil (Belo Horizonte/MG).
O biodiesel inseriu-se na matriz energética brasileira a partir da criação de seu
marco regulatório, através da lei 11.097/2005, publicada no Diário Oficial da União em
13/01/2005. Assim, de janeiro de 2005 a janeiro de 2008 foi proposta a mistura
voluntária de 2% de biodiesel ao diesel (B2).
A partir de janeiro de 2008 a janeiro de 2013, mistura B2 é compulsória e a
mistura de 5% do biodiesel ao diesel (B5) é facultativa e por fim, após janeiro de 2013 a
mistura B5 torna-se obrigatória.
1.2) Biodiesel: Questões ambientais e socioeconômicas
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Reduzir a poluição ambiental é hoje um objetivo mundial. Todo dia tomamos
conhecimento de estudos e notícias indicando os males do efeito estufa. O uso de
combustíveis de origem fóssil tem sido apontado como o principal responsável por isso.
A emissão de gases da combustão dos motores que operam com biodiesel não
contém óxidos de enxofre, principal causador da chuva ácida e de irritações das vias
respiratórias. O biodiesel possui menos que 0,05% em massa de enxofre total, enquanto
o diesel convencional possui 0,15% (Dados CERBIO – TECPAR, PR, 2007).
A produção agrícola que origina as matérias primas para o biodiesel capta CO2
da atmosfera durante o período de crescimento, sendo que apenas parte desse CO2 é
liberada durante o processo de combustão nos motores, ajudando a controlar o “efeito
estufa”, causador do aquecimento global do planeta. Além disso, a produção de
biodiesel possibilita pleitear financiamentos internacionais em condições favorecidas,
no mercado de créditos de carbono, sob o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
(MDL), previsto no Protocolo de Kyoto. O mercado de créditos de carbono, previsto no
Protocolo de Kyoto, já vem realizando algumas operações. A vantagem consiste,
basicamente, em financiar empreendimentos que contribuam para reduzir a emissão de
gases causadores do efeito estufa tais como o gás carbônico e o enxofre, dentre outros.
Assim, os empreendimentos são financiados em condições especiais, como estímulo à
sua contribuição para a melhoria das condições ambientais do planeta.
O aspecto social é de fundamental importância. O cultivo de matérias-primas e a
produção industrial de biodiesel, ou seja, a cadeia produtiva do biodiesel tem grande
potencial de geração de empregos, promovendo, dessa forma, a inclusão social,
especialmente quando se considera o amplo potencial produtivo da agricultura familiar.
Com o passar dos anos, o preço da gasolina, diesel e derivados de petróleo
tendem a subir. A cada ano o consumo aumenta e as reservas diminuem. Além do
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problema físico, há o problema político: a cada ameaça de guerra ou crise internacional,
o preço do barril de petróleo dispara.
As perspectivas para o mercado de combustíveis, se tudo continuar como está,
não são positivas. O petróleo e demais fontes fósseis de energia estão com os dias
contados. Segundo especialistas, as reservas atuais darão conta do abastecimento
mundial por mais apenas 40 anos.
Por conta deste panorama, e das questões acima apresentadas, o mundo todo
começa a investir seriamente em outras fontes prováveis de energia que já vinham
sendo estudadas no passado, sejam as opções a produção de biocombustíveis, o melhor
aproveitamento de gás natural ou qualquer outro combustível renovável e não-poluente.
A inserção do biodiesel na matriz energética brasileira causa um grande
crescimento econômico. Em 2004, o Brasil gastou com importações de óleo diesel,
aproximadamente US$ 826 milhões, em dólares corrente (4). Assim estima-se que a
diminuição de importações com petróleo e derivados, proveniente da mistura de
biodiesel a 2% no óleo diesel (B2), geraria uma economia em divisas de US$ 160
milhões / ano, enquanto que para a mistura de biodiesel a 5% no óleo diesel (B5)
haveria uma economia de US$ 400 milhões / ano (2).
1.3) Biodiesel e as matérias-primas para sua produção
De um modo geral, biodiesel é definido como o derivado monoalquil éster de
ácidos graxos de cadeia longa, proveniente de fontes renováveis como óleos vegetais ou
gordura animal, cuja utilização está associada à substituição de combustíveis fósseis em
motores de ignição por compressão (motores do ciclo Diesel)(3).
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As matérias-primas para a produção de biodiesel incluem óleos vegetais puros e
residuais, e as gorduras animais, produtos basicamente de triglicerídeos, ésteres de
glicerol e ácidos graxos.
O Brasil apresenta inúmeras fontes de extração do óleo vegetal com potencial
para a produção de biodiesel, são as oleaginosas como a mamona, dendê, soja, girassol,
pinhão manso, caroço de algodão, nabo forrageiro, amendoim, babaçu, etc. Cada região
do Brasil tem um determinado potencial para produção de oleaginosa, podendo assim a
cadeia produtiva de biodiesel desenvolver economicamente essas regiões (4), Figura 1.
Fonte: MME/2004
Figura 1: Regiões potencializadas na produção do biodiesel.
Os óleos e gorduras de animais possuem estruturas químicas semelhantes as dos
óleos vegetais, sendo moléculas triglicerídicas de ácidos graxos. As diferenças estão nos
tipos e distribuições dos ácidos graxos combinados com o glicerol. Portanto, as
gorduras de animais, pela sua estrutura química semelhante aos óleos vegetais, também
podem ser transformadas em biodiesel. Os exemplos de gorduras animais são o sebo
bovino, os óleos de peixes, o óleo de mocotó, a banha de porco, entre outras matérias
graxas de origem animal.
Além dos óleos e gorduras virgens, os óleos e gorduras residuais, resultantes do
processamento domésticos, comerciais e industriais também servem de matéria-prima.
As possíveis fontes de óleos e gorduras residuais são: as lanchonetes, as cozinhas
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industriais, comerciais e domésticas, onde são praticadas as frituras de alimentos,
indústrias nas quais processam frituras de produtos alimentícios, como amêndoas,
tubérculos, salgadinhos, e várias outras modalidades de petiscos, os esgotos municipais
onde a nata sobrenadante é rica em matéria graxa, possível de extrair óleos e gorduras,
águas residuais de processos de certas indústrias alimentícias, como as indústrias de
pescados, de couro, etc.
O óleo, depois de usado, torna-se um resíduo indesejado e sua reciclagem como
biocombustivel alternativo não só retira do meio ambiente um poluente, mas também
permite a geração de uma fonte alternativa de energia.
2.0) GORDURA ANIMAL COMO FONTE DE BIODIESEL
As gorduras animais representam uma fonte de biomassa que já está sendo
bastante utilizada como matéria-prima para produção de biodiesel. Este material graxo é
um resíduo industrial que pode ser reaproveitado e utilizado para produção de energia.
O biocombustivel originado a partir deste material residual apresenta propriedades
comparáveis as do diesel, exceto pela sua alta viscosidade (depende diretamente da
quantidade de compostos saturados como os ésteres dos ácidos palmítico e esteárico),
que pode vir a causar problemas no sistema de injeção de motores.
A matéria graxa de origem animal apresenta maiores percentagens de oxigênio
quando comparada ao diesel mineral e, este fator proporciona uma combustão eficiente.
No entanto, ainda não existem limites padrões especificados para o biodiesel de
origem animal. Este é um dos motivos pelo qual, o biodiesel proveniente deste material
é mais utilizado em formulações com o diesel convencional.
Dentre as gorduras animais que estão sendo utilizadas para obtenção de ésteres
alquílicos, as mais utilizadas são o sebo bovino, gordura de frango, banha de porco e
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óleo de peixe. Estas gorduras são de fácil obtenção e apresentam um custo relativamente
barato como subprodutos em indústrias alimentícias.
A produção de biodiesel a partir de gordura animal proporciona uma grande
vantagem ambiental evitando a disposição inadequada de resíduos animais, que na
maioria dos casos não recebem nenhum tipo de tratamento e acabam chegando aos rios
e córregos provocando inúmeros problemas no meio ambiente.
Um desses problemas causados pela poluição é a eutrofização, isto é, a
proliferação de algas tóxicas e de plantas aquáticas (macrófitas), que se alimentam dos
nutrientes dos resíduos orgânicos expelidos pelos animais. Além disso, esta forma de
poluição também pode causar sérios problemas para o tratamento de águas e danos a
piscicultura.
Os sebos comestíveis e não comestíveis são excelentes matérias-primas para
obtenção de ésteres alquílicos, visto que são originados em grandes quantidades a partir
dos processos de matança de animais e execução do empacotamento de carnes em
indústrias alimentícias. A utilização deste material na obtenção de biocombustiveis
proporciona vantagens energéticas, ambientais e econômicas.
O Sebo não comestível é geralmente usado como suplemento para ração animal
(maior parte), seguido por sabões, lubrificantes e outros usos. Existe também o sebo
obtido de animais infectados com uma doença neurodegenerativa chamada de
encefalopatia espongiforme bovina (do inglês Bovine Spongiform Encephalopathy). O
gado contaminado com esta doença neurológica é excluído do consumo alimentar,
porém o seu uso na indústria de biocombustiveis não teria o menor problema.
A gordura animal difere de alguns óleos vegetais como o de soja e o de colza,
com respeito as suas propriedades químicas. Estes óleos vegetais apresentam em sua
composição uma grande quantidade de ácidos graxos insaturados, entretanto nas
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gorduras animais, como o sebo, ocorre o contrario, apresentam uma quantidade maior
de ácidos graxos saturados. A presença da grande concentração de compostos saturados
influencia em duas propriedades importantes dos combustíveis que são inversas: a
estabilidade, a oxidação e o ponto de nevoa. O tempo de estabilidade à oxidação
aumenta com o aumento de compostos saturados no biodiesel obtido de gordura animal.
Porém, o ponto de nevoa aumenta para o biodiesel com o aumento da concentração de
compostos saturados e como conseqüência o desempenho do motor pode diminuir.
As graxarias são unidades de processamento normalmente anexadas aos
matadouros ou frigoríficos, mas também podem ser autônomas. Elas utilizam
subprodutos ou resíduos das operações de abate e de limpeza das carcaças e das
vísceras, sangue, parte dos animais não comestíveis e aquelas condenadas pela inspeção
sanitária.
Muitos resíduos de frigoríficos podem causar problemas ambientais graves se
não forem gerenciados adequadamente. A maioria é altamente putrescível e pode, por
exemplo, causar odores se não processada rapidamente nas graxarias anexas ou
removida adequadamente das fontes geradoras no prazo máximo de um dia, para
processamento adequado por terceiros.
O gerenciamento destes resíduos pode ser critico, principalmente para pequenas
empresas, que carecem de recursos e onde o processamento interno dos resíduos, não
raro, e inviável.
Segundo nota da Revista ABCZ 7, o sebo de boi tornou-se a matéria-prima mais
utilizadas na indústria do gênero de limpeza. Quatrocentas e cinqüenta mil toneladas de
sebo de boi estão sendo direcionadas anualmente no Brasil só para atender a produção
de dois itens básicos na limpeza da casa e na higiene pessoal, o sabão e o sabonete. Por
mês, saem das indústrias no país quase 50 milhões de toneladas dos dois produtos. Nas
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multinacionais Gessy Lever e Colgate-Palmolive do Brasil, até as indústrias brasileiras
responsáveis por marcas como o sabão Minuano, por exemplo, o sebo de boi é utilizado
em larga escala.
As gorduras dos animais vivos usualmente são brancas ou sem cor e são
quimicamente formadas de triacilglicerois. A partir do momento do abate, naturalmente
tem inicio a decomposição. Com a morte, a ação de enzimas e bactérias inicia mudanças
na cor e no teor de ácidos graxos livres. Deste modo, o controle enzimático e
bacteriológico antes do abate é fator essencial para obtenção de um selo de qualidade 5,6.
O próximo passo importante para a preservação da qualidade do sebo esta no uso
de melhores e mais modernos processos para abate, separando a gordura da proteína
sólida e da água contida nos materiais crus. Também tem grande importância a
utilização de boas práticas no carregamento, estocagem e manuseio para minimizar ou
eliminar a degradação da qualidade de antes da utilização da gordura 5,6.
Logo, a seleção e controle de qualidade das gorduras utilizadas, o uso de
modernos processos de abate juntamente com uma boa estocagem e processo de
manuseio são as premissas para produzir e manter a qualidade do produto.
Com o inicio da produção do biodiesel, os investidores despertaram para o papel
estratégico desta matéria-prima. Inicialmente pela questão da produtividade do óleo
(100%), em segundo lugar pelo abastecimento sem concorrência e finalmente pelo fator
fundamental para seu preço final que é seu custo de produção. Para exemplificar, 1kg de
sebo bovino se transforma em 1 quilograma de óleo, ao passo que 1kg de soja se
transforma em 170g de óleo, restando ainda comparar custos de aquisição e sua
variabilidade no tempo.
Considerando os problemas de abastecimento que vem ocorrendo com algumas
matérias-primas vegetais, a gordura animal – principalmente de bovinos e avinos –
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adquiriu significativa importância, inclusive pelo fato de os projetos industriais poderem
estar acoplados a plantas industriais já existentes no abate de animais. Isto garantiria o
abastecimento ao longo do ano, sem maiores preocupações com a procura e
principalmente gasto com transporte em relação à matéria-prima, podendo gerar
economia ao produtor de biodiesel. Deve-se considerar, também, a agregação de valor a
um subproduto que, sem um tratamento adequado, poderá gerar uma alta poluição
ambiental. Portanto, o sebo bovino apresenta vantagens potenciais na produção de
biodiesel, como:
- Redução do uso de combustíveis fóssil;
- Eventual redução de custos por tonelada de vapor produzida (dependendo das
eficiências de combustão e dos preços/custos relativos dos combustíveis);
- Redução da geração de SO2 (sebo tem baixo teor de enxofre);
- Redução de riscos de poluição associados ao transporte de sebo, se este e
queimado nas unidades produtivas que o geram 16.
3.0) COMPOSIÇÃO DO BIODIESEL
As gorduras animais são geralmente classificadas como sebos, gorduras que
apresentam estado sólido em temperatura ambiente, devido a sua composição percentual
ser elevada em ácidos graxos saturados, principalmente o esteárico.
Uma exceção são as gorduras de frangos, classificada como óleo de frango,
devido também a sua composição percentual, neste caso com valores baixos de ácido
esteárico, ficando próximas a óleos como o de soja, apresentando-se em estado líquido a
temperatura ambiente, facilitando a reação de transesterificação.
Abaixo seguem-se algumas tabelas que reportam a composição de ácidos graxos
encontrados em alguns tipos de gorduras animais.
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Tabela 1: Composição media de ácidos graxos no biodiesel de suíno.
NUMERO DE CARBONOS ÁCIDO GRAXO PORCENTAGEM
C14:0 MIRÍSTICO 1,3
C16:0 PALMÍTICO 24,6
C16:1 n-7 PALMITOLÉICO 2,0
C18:0 ESTEÁRICO 13,1
C18:1 n-9 e C18:1 n-7 OLEICO E cis-VACCÊNICO 43,5
C18:2 n-6 LINOLÉICO 15,5
Tabela 2: Composição media de ácidos graxos no biodiesel de bovino
ÁCIDO GRAXO PORCENTAGEM
C14:0 MIRÍSTICO 3 A 7
C16:0 PALMÍTICO 30
C18:0 ESTEÍRICO 20 A 25
C18:1 n-9 OLÉICO 45
C18:2 n-6 LINOLÉICO 1 A 3
C16:1 n-7 PALMITOLÉICO 1 A 3
Fonte: Graboski e Mccormick, 1998.
Tabela 3: Composição media de ácidos graxos no biodiesel de frango
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4.0) ESTRUTURAS QUÍMICAS DE GORDURAS ANIMAIS
4.1) Ácido graxo linolênico (C18:3n-6)
4.2) Ácido graxo linoléico (C18:2n-6)
4.3) Ácido graxo mirístico (C14:0)
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4.4) Ácido graxo palmítico (C16:0)
4.5) Ácido graxo esteárico (C18:0)
4.6) Ácido graxo oléico (C18:1n-9)
4.7) Ácido graxo palmitoléico (C16:1n-7)
4.8) Ácido graxo cis-vaccênico (C18:1n-7)
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5.0) PROPRIEDADES FÍSICAS E QUÍMICAS DA MATÉRIA-PRIMA E DO
BIODIESEL
5.1) Índice de Acidez
O teste de índice de acidez, semelhante à viscosidade, é um método simples para
monitorar a qualidade dos combustíveis. O índice de acidez (IA) deve ser uma das
primeiras análises realizadas, uma vez que o valor encontrado pode refletir a eficiência
do processo de obtenção do biodiesel. De acordo com a Resolução 42 da ANP o limite
máximo estipulado para IA e 0,8 mg KOH/g. No entanto, se for encontrado um IA alto
(superior a 2 mg KOH/g de amostra) é possível supor que alguns ácidos graxos livres
permanecem no biodiesel.
Lebedevas e colaboradores testaram algumas propriedades de diferentes
amostras de biodiesel produzidas através da transesterificação com álcool metílico, onde
avaliaram o IA das amostras de biodiesel dos óleos vegetais de colza e linhaça e, das
gorduras animais sebo bovino e banha de porco. Estes testes apresentaram valores de
acidez bastante semelhantes que variaram de 0,4 a 0,5 mg KOH/g.
Lee e colaboradores realizaram alguns testes para comparar propriedades de
mistura B20 (20% biodiesel de soja e 80% petrodiesel) com as do diesel mineral puro.
Uma das propriedades destacadas foi o índice de acidez, o qual apresentou um valor
bem acessível (0,32 mg KOH/g) para a B20.
5.2) Índice de Iodo
O índice de iodo está diretamente relacionado com o total de instaurações de um
material lipídico, ou seja, o índice de iodo aumenta com o aumento na proporção de
instaurações. A determinação do índice de iodo é usualmente baseada no método padrão
europeu de biodiesel (norma EN 14111), que segue o método químico clássico em que
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se utiliza a solução de Wijs. Entretanto, esta propriedade pode demonstrar sua
importância, quando se trata de uma avaliação de estabilidade à oxidação do
combustível.
A estabilidade à oxidação de ésteres metílicos de ácidos graxos, também
chamados de FAMEs (do inglês Fatty Acid Methyl Esters) é definida como a medida do
grau de resistência a oxidação, a qual depende do grau de instaurações e da posição da
dupla ligação ao longo das moléculas, podendo ocasionar a formação de depósitos no
motor e a deterioração do óleo de lubrificação. Este problema afeta o biodiesel
principalmente durante a estocagem.
A resolução 42 da ANP não determina um limite para o índice de iodo do
biodiesel. Entretanto, o Padrão Europeu EM 14214 estipula um valor máximo de 120g
I2/100g para o biodiesel. Lebedevas e colaboradores realizaram análises para avaliar o
índice de iodo dos ésteres metílicos provenientes dos óleos de linhaça e colza e
encontraram valores 176,2 e 116,3 I2/100g respectivamente. Porém para os ésteres
metílicos obtidos do sebo bovino e banha de porco foram encontrados os valores de
51,5 e 64,9 I2/100g respectivamente.
5.3) Teores de sódio, potássio e sabões
A catalise básica homogênea é bastante utilizada em processos industriais para
obtenção de biodiesel, pois este tipo de reação apresenta rendimentos elevados em
tempos menores. As bases mais utilizadas como catalisadores são os hidróxidos de
potássio ou de sódio, os quais são os geradores da contaminação com sódio e potássio
na produção de biodiesel. Segundo a Resolução 42 da ANP o limite máximo para a
contaminação sódio + potássio é de 10mg/Kg.
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Embora a transesterificação de óleos vegetais e gorduras animais na presença
destes catalisadores alcalinos seja uma reação relativamente simples, que ocorre a
pressão atmosférica e temperaturas amenas (25 a 70°C aproximadamente), existe o
inconveniente de produzir sabões, devido a presença de água e/ou ácidos graxos livres
no meio reacional. A catálise alcalina apresenta uma incapacidade de esterificar os
ácidos graxos livres, e estes por sua vez reagem com bases solúveis formando sabões.
Consequentemente a saponificação consome o catalisador, reduz o rendimento
da transesterificação, dificulta os processos de separação da glicerina e purificação do
biodiesel e também aumenta a viscosidade podendo gerar depósitos no motor além de
catalisar reações de polimerização. Devido a estes inconvenientes o uso de catalisadores
alcalinos necessita que o óleo ou gordura empregado esteja isento de água e contenha
menos que 0,3% de ácidos graxos livres. O teor de sabões no biodiesel não tem um
limite estipulado pela ANP.
O óleo de soja apresenta aproximadamente 0,3% de ácidos graxos livres, porém
as gorduras residuais apresentam concentrações maiores dos mesmos devido a hidrólise
do óleo com a água.
5.4) Densidade
A medida de densidade, também conhecida como massa específica, é uma
propriedade importante e tem o objetivo de restringir a utilização de alguns materiais
como matéria-prima para a produção de biodiesel. A densidade e outras características
como volatilidade e viscosidade são geralmente independentes e exercem uma grande
influência em processo como a injeção de combustível e a preparação deste para a
ignição automática.
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Consequentemente, deve-se obter parâmetros aceitáveis para cada propriedade
físico-química com o objetivo de otimizar o processo de combustão no motor. O
estabelecimento de um valor mínimo para densidade, deve-se a necessidade de obter
uma potência máxima para o motor, que usa o combustível com controle de vazão na
bomba de injeção. Além disso, este valor estabelecido previne a formação de fumaça
quando opera com potencia máxima. No entanto, a Resolução 42 da ANP não
estabelece um limite para densidade do biodiesel.
5.5) Viscosidade Cinemática
A viscosidade cinemática é a medida da resistência interna ao escoamento de um
combustível. Esta propriedade é considerada uma das mais importantes, pois ela
influencia na operação da injeção de combustível no motor, principalmente em baixas
temperaturas, quando o aumento da viscosidade afeta a fluidez do combustível. O
controle da viscosidade tem como objetivo permitir a boa atomização do óleo e
preservar suas características lubrificantes. Os altos valores de viscosidade podem levar
a outros problemas como desgaste das partes lubrificadas do sistema de injeção,
vazamento da bomba de combustível, atomização incorreta na câmara de combustão e
carbonização nos pistões 16.
Esta propriedade física, também pode ser utilizada para selecionar o perfil de
ácidos graxos, presentes na matéria-prima utilizada para a produção do biocombustivel.
Um aumento no tamanho da cadeia e/ou no grau de saturação aumenta
proporcionalmente a viscosidade. Fatores como a posição e a configuração das duplas
ligações (a ligação dupla cis apresenta uma viscosidade menor que a trans) também
podem influenciar na viscosidade.
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5.6) Ponto de Fulgor
O ponto de fulgor é a menor temperatura, na qual o combustível ao ser aquecido,
sob condições controladas, gera uma quantidade de vapores suficiente para formar com
o ar uma mistura capaz de inflamar. Esta propriedade não exerce influência direta no
funcionamento dos motores, no entanto está relacionada à inflamabilidade e serve como
indicativo das precauções que devem ser tomadas durante o manuseio, transporte e
armazenamento do combustível. Com respeito ao biodiesel, a especificação do ponto de
fulgor tem como objetivo limitar a quantidade de álcool residual presente neste
biocombustivel.
De acordo com ANP, o limite mínimo para ponto de fulgor e 38°C. porém o
diesel convencional apresenta um ponto de fulgor normalmente variável (54 a 71°C),
enquanto o biodiesel apresenta um ponto de fulgor acima de 93°C. Por conseguinte, o
biodiesel é considerado um combustível mais seguro que o diesel, em relação ao
transporte, armazenamento e manuseio no que se refere ao perigo de incêndio 16.
5.7) Ponto de Entupimento de filtro a frio (PEFF)
O ponto de entupimento é considerado a análise mais importante de um
combustível quando este funciona em temperaturas baixas, pois ele influencia
diretamente a operação do combustível no motor em temperaturas menores.
Um dos principais problemas associados ao uso de biodiesel são as propriedades
de fluidez a baixas temperaturas, as quais são monitoradas pelo ponto de nevoa e ponto
de fusão. Altos valores para estas grandezas implicam em baixa fluidez. O ponto de
nevoa é a temperatura na qual uma substância liquida fica turva devido à formação de
cristais e solifidifica. O ponto de nevoa é ligeiramente superior ao ponto de fusão, pode
ser definido como a mais baixa temperatura na qual a substância pode fluir. Gorduras
21
saturadas têm pontos de fusão significativamente mais altos que gorduras insaturadas.
Assim combustíveis derivados de biodiesel de gorduras ou óleos com quantidades
significantes de ácidos graxos saturados exibirão ponto de nevoa e pontos de fusão mais
altos. Ambos podem ser calculados pelo ponto de entupimento de filtro a frio.
Algumas especificações em relação a propriedades a baixas temperaturas são
padrões para biodiesel. O ponto de nevoa é uma propriedade citada na ASTM D6751,
mas seu limite não é definido, entretanto é uma propriedade importante no Brasil devido
a grande variação das condições climáticas em todo o território.
De acordo com a literatura, o ponto de entupimento de biodiesel originado de
gordura animal é um pouco maior que o do biodiesel de soja, visto que as gorduras
animais apresentam uma quantidade maior de ácidos graxos saturados, os quais
demonstram uma tendência maior à precipitação em baixas temperaturas do que os
ácidos graxos insaturados.
Dorado e colaboradores analisaram o ponto de entupimento de filtro a frio do
biodiesel metílico proveniente do óleo de oliva residual e encontraram um valor de
-9°C. Wyatt e colaboradores realizaram testes para avaliar o ponto de entupimento de
filtro a frio de ésteres metílicos originados do óleo de soja e de gorduras animais, sendo
feita uma comparação com o valor de ponto de entupimento do petrodiesel. Os valores
de ponto de entupimento do diesel e dos ésteres metílicos estão presentes na Tabela 4.
Tabela 4 – Dados de pontos de entupimento de filtro a frio do petrodiesel,
biodiesel de soja, banha, sebo e frango.
Combustíveis Ponto de Entupimento (°C)
Diesel -2,7
Biodiesel de Soja -3,3
Biodiesel de Frango 1,3
22
Biodiesel de Sebo 8,0
Biodiesel de Banha 8,3
5.8) Faixa de Destilação
A curva de destilação exerce uma influencia direta na evolução da combustão.
Uma das características do diesel convencional é apresentar uma faixa de ponto de
ebulição específica. A produção do diesel é baseada em um controle dos limites de seus
pontos de ebulição e, devido a isto, o petrodiesel normalmente é ajustado para não
apresentar variações significativas nestes limites.
As características de ponto de fulgor e pressão de vapor do diesel mineral variam
em função da quantidade de hidrocarbonetos leves, e estas são diretamente relacionadas
com o ponto inicial de destilação dos produtos. Um decréscimo no ponto de ebulição
inicial e na temperatura da primeira fração do liquido recuperado na destilação ocasiona
um aumento da volatilidade dos combustíveis, o qual pode ser confirmado pelo aumento
de suas pressões de vapor e consequentemente, pelos seus baixos pontos de fulgor.
O biodiesel, que é constituído por uma mistura de ésteres alquílicos, tende a
apresentar propriedades físicas semelhantes aquelas dos ésteres alquílicos puros.
Consequentemente, é esperado que a mistura destes compostos apresente volatilidade e
pontos de ebulição semelhantes que dependem da composição de ácidos graxos.
5.9) Número e Índice de Cetanos
O número/índice de cetanos é uma das propriedades mais importantes do diesel
mineral. Esta propriedade descreve a qualidade de ignição do combustível e, o seu
aumento normalmente proporciona uma redução no consumo de combustível e nas
emissões liberadas. Um combustível que apresenta alto número/índice de cetanos
23
inflama com mais facilidade quando é injetado dentro do motor, ou seja, um NC/IC alto
produz uma combustão mais eficiente e pode amenizar o barulho emitido pelos motores.
O índice de cetanos é uma ferramenta útil para estimar o número de cetanos de
acordo com o padrão ASTM, ou seja, o número de cetanos é medido com o auxilio de
um motor especial e o índice de cetanos é calculado. Os valores de índice de cetanos
(IC) calculados são usualmente semelhantes ao número de cetanos (± 2 unidades),
especialmente na faixa de 30-60 cetanos como mencionado na ASTM D 976, a qual
calcula o IC em função do ponto de ebulição médio e da densidade. Na América do
Norte os níveis de cetanos são considerados baixos, pois a especificação mínima para
eles é de 40, enquanto na maior parte do mundo o mínimo é de 45. Um valor médio
típico nos EUA para o diesel está em torno de 45.
O Índice de Cetano (IC) calculado por equação de quatro variáveis proporciona
uma forma para estimar o número de cetanos ASTM de combustíveis destilados por
medidas da densidade e temperaturas de destilação, e é definido através da norma
ASTM 4737. O valor computado pela equação é denominado Índice de Cetano
Calculado por Equação de Quatro Variáveis. O IC não é um método opcional para
expressão do número de cetanos ASTM, mas uma ferramenta suplementar para estumar
o número de cetanos quando usado com conhecimento de suas limitações.
De acordo com a ASTM 4737 o método de teste “Índice de Cetano Calculado
por Equação de Quatro Variáveis” e particularmente aplicável para óleos diesel
combustíveis, contendo óleos de correntes de destilação direta, craqueamento ou
mistura dos dois. Também pode ser usado para combustíveis pesados com temperatura
dos 90% recuperados menos que 382°C e para combustíveis contendo derivados que
não sejam de petróleo, provenientes de destilados de alcatrão e óleos de xisto.
24
Uma correlação em unidades SI é estabelecida entre o número de cetanos
ASTM, a densidade, e as temperaturas dos 10%, 50% e 90% recuperados do
combustível.
O biodiesel costuma apresentar NC e/ou IC mais alto que o petrodiesel e, isto se
deve ao foto do biodiesel apresentar uma percentagem maior de oxigênio na sua
composição. Muitos pesquisadores têm citado que o IC do biodiesel depende da
composição original do óleo usado como matéria-prima. Quanto mais saturada e longa a
cadeia carbônica do éster, maior o valor de IC. Consequentemente o biodiesel de
gorduras animais apresenta um IC maior que o biodiesel de óleos vegetais.
6.0) PRINCIPAIS PROCESSOS DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL DE
BIODIESEL
A produção do biodiesel em escala industrial é recente no mundo. A Alemanha
foi o primeiro país a dar inicio a um processo de produção em escala (1988), seguido
pela Áustria e França. No Brasil e nos Estados Unidos, a produção em escala só iniciou
em 2003.
As tecnologias empregadas nos processos produtivos conhecidos tendo como
insumo básico o óleo vegetal ou a gordura animal são: de natureza química, a
esterificação ácida e a transesterificação alcalina; de natureza bioquímica, a
transesterificação enzimática; e de natureza termoquímica, o craqueamento catalítico e o
hidrocraqueamento. Os processos em maior utilização são os de craqueamento catalítico
e transesterificação e suas derivações. No processo de craqueamento térmico, ou
pirólise, pode-se usar um catalisador, razão da denominação craqueamento catalítico.
O hidrocraqueamento deu origem ao H-Bio (patente da Petrobras) 16. O processo
de transesterificação pode adotar a rota etílica (etanol) ou a metílica (metanol), as quais
25
se encontram em continuo aperfeiçoamento. Estudos recentes apontam que a técnica de
transesterificação com a presença de enzimas provenientes de microorganismos
(transesterificação enzimática) pode ser mais eficiente 16. Em qualquer dos métodos
adotados é importante observar que a matéria-prima utilizada precisa estar com o
mínimo de umidade e acidez possíveis. Outra observação é a de que os processos de
produção podem ser contínuos, semi-contínuos ou por batelada (descontinuo), o que vai
depender da escolha de produção. É preciso mencionar que varias experiências
tecnológicas de produção do biodiesel estão em processo de aperfeiçoamento, como é o
caso da técnica de “transesterificação em solvente supercrítico” e a “transesterificação
in situ”, cujos resultados do ponto de vista técnico apresentam avanço, mas não
apresentam, ainda, resultados econômicos (custo de produção elevado) 16.
7.0) METODOLOGIAS PARA PRODUÇÃO DE BIODIESEL
Gorduras animais e óleos vegetais são substancias promissoras como
biocombustiveis, tem propriedades comparáveis com o diesel e podem ser usados em
máquina de ignição por compressão sem qualquer modificação. Um dos fatores
limitantes ao uso de óleos vegetais e gorduras de animais como combustíveis em
motores diesel, a tendência desses é que solidifique a temperaturas baixas, como no
inverno do sul do país. 16.
Os óleos vegetais e gorduras animais contem, alem dos triacilgliceróis, ácidos
graxos livres, fosfolipídios, esteróis, água, odores e outras impurezas. Estes compostos
conferem propriedades especiais a esta matéria prima, que impede o seu uso
diretamente como combustível. Estes problemas podem ser superados com leves
modificações químicas, uma dessas é a transesterificação do óleo bruto, chamada
também de alcoólise, podendo ser conduzida por uma variedade de rotas tecnológicas
26
em que diferentes tipos de catalisadores podem ser empregados, como bases
inorgânicas, ácidos minerais, resinas de troca iônica, argilominerais ativados, hidróxidos
duplos lamelares, superácidos, superbases e enzimas lipolíticas. Não há duvidas de que
algumas dessas rotas tecnológicas, particularmente aquelas que empregam catalisadores
heterogêneos, apresentam vantagens interessantes como a obtenção de uma fração
glicerinica mais pura, que não exija grandes investimentos de capital para atingir um
bom padrão de mercado. Porem, é também correta a afirmação de que a catálise
homogênea em meio alcalino ainda prevalece como opção mais imediata e
economicamente viável para a transesterificação de óleos vegetais.Um fluxograma
simplificado do processo de produção de biodiesel, utilizando a transesterificação etílica
em meio alcalino como modelo, encontra-se apresentado na Figura 2.
27
A reação de produção de biodiesel forma ésteres alquílicos e glicerol, sendo que
a camada de glicerol é mais densa que os ésteres e se deposita no fundo do recipiente da
reação. O processo se baseia na reação estequiométrica do alquil glicerol com álcool em
presença de um catalisador. Tal processo, deve reduzir ao máximo a presença de
contaminações no produto, como glicerina livre e ligada, sabões ou água. No caso da
glicerina, reações de desidratação que ocorrem durante a combustão podem gerar
acroleína, um poluente atmosférico muito perigoso, que pode, devido a sua reatividade,
envolver-se em reações de condensação, que acarretam um aumento na ocorrência de
depósitos de carbono no motor. Sabões e ácidos graxos livres acarretam a degradação de
componentes do motor, e a umidade, desde que acima de um limite tolerável, pode
28
interferir na acidez do éster por motivar a sua hidrólise sob condições não ideais de
estocagem.
Na literatura, alguns processos de produção de biodiesel são descritos tais como
transesterificação alcalina, esterificação ácida, entre outros. O processo global de
transesterificação de óleos vegetais e gorduras é uma seqüência de três reações
reversíveis e consecutivas, em que os nomo e os diacilglicerois são os intermediários.
Figura 3: Reação Global de Transesterificação do Triacilglicerol
Álcoois tais como metanol, etanol, propanol ou butanol podem ser utilizados na
transesterificação e os monoésteres são chamados respectivamente metil, etil, propil e
butil ésteres.
Nesta reação são necessário 3 mols de álcool para cada mol de triacilglicerol. Na
maioria dos casos, é utilizado um catalisador como, por exemplo, NaOH ou KOH, de
forma a acelerar a reação. A catálise utilizada para transesterificação dos triacilgliceróis
pode ser ácida, básica, heterogênea ou enzimática.
7.1) Esterificação por catálise ácida
29
No processo de catálise ácida, a esterificação é catalisada por um ácido,
preferencialmente os ácidos sulfônico ou sulfúrico. O rendimento obtido é muito
elevado (99%), mas a reação é lenta, sendo necessárias temperaturas elevadas (acima de
100°C) e mais de 3 horas para alcançar o referido rendimento 16. Alem disso, é
necessário usar um grande excesso de álcool para garantir a reação. A catálise ácida é
satisfatória para óleos com alto teor de ácidos graxos livres e água. Neste caso o
processo e de esterificação dos ácidos livres e não transesterificação do triacilglicerol.
7.2) Transesterificação por catalise básica
A produção de biodiesel por catálise básica usando a rota metílica e mais atrativa
sob o ponto de vista industrial, por ser mais rápida e econômica do que as demais. Os
catalisadores alcalinos são menos corrosivos que os catalisadores ácidos e os mais
usados são os hidróxidos de potássio (KOH) e o hidróxido de sódio (NaOH). No Brasil,
o KOH é mais caro do que o NaOH, entretanto tem a vantagem de menor formação de
sabão16.
7.3) Transesterificação por catálise heterogênea
Alguns óleos e algumas gorduras, que podem ser utilizados como matérias-
primas para a produção de biodiesel, tem altos teores de ácidos graxos livres. A
presença de ácidos graxos livres dificulta a síntese do biodiesel via catálise básica
homogênea. Nesse sentido, os catalisadores heterogêneos ácidos, que promovam
simultaneamente reações de alcoólise de triacilglicerois e de esterificação dos ácidos
graxos livres, apresentam-se como substitutos promissores dos catalisadores
homogêneos básicos 16.
30
Alem disso, tais catalisadores apresentam as vantagens inerentes a catálise
heterogênea, como reduzir significativamente o número de etapas de purificação dos
produtos, bem como a possibilidade de serem reutilizados e viabilizar a produção do
biocombustivel por processo continuo com reatores de leito fixo.
7.4) Transesterificação por catálise enzimática
A catálise enzimática permite a recuperação simples do glicerol, a
transesterificação de triacilglicerois com alto conteúdo de ácidos graxos, a esterificação
total dos ácidos graxos livres, e o uso de condições brandas no processo, com
rendimentos de no mínimo 90%, tornando-se uma alternativa comercialmente rentável16.
Neste tipo de catalise não ocorrem reações colaterais de formação de
subprodutos, o que reduz gastos com a posterior purificação. Algumas enzimas
necessitam de co-fatores: íons metálicos ou compostos orgânicos (coenzimas). Esses co-
fatores irão influenciar na atividade do catalisador biológico.
As vantagens deste processo são: inexistência de rejeito aquoso alcalino, menor
produção de outros contaminantes, maior seletividade e bons rendimentos, que motivam
a realização de pesquisas que visam diminuir a principal desvantagem da tecnologia que
é o alto custo das enzimas puras. O custo elevado dos processos de extração e
purificação das macromoléculas e sua instabilidade em solução representam um
obstáculo à recuperação do biocatalisador após sua utilização16.
Uma desvantagem comum ao uso de processos enzimático é o elevado custo. A
imobilização de enzimas permite a reutilização de uma mesma enzima mais de uma vez,
barateando o processo. No caso de biocatálise em meios não aquosos, a imobilização
também resulta em melhoria na atividade da enzima. Assim, muitos processos de
transesterificação empregando lipases imobilizadas têm sido desenvolvidos
31
7.5) Transesterificação com metanol supercrítico
A transesterificação com metanol supercrítico tem sido considerada muito
efetiva, produzindo uma alta, conversão de 60-90% em apenas 1 min 16 e mais de 95%
em 4 minutos. As melhores condições para a reação são: temperatura de 350°C, pressão
de 30 Mpa e razão entre metanol e óleo de 42:1 para 240 segundos. O tratamento
supercrítico de lipídios com o solvente adequado como o metanol, depende da relação
entre temperatura, pressão e propriedades termofísicas tais como constante dielétrica,
viscosidade, massa específica e polaridade.
Este processo hoje se torna atraente por superar problemas como o desperdício
de óleo/gordura rico em ácidos graxos livres e também o problema de utilização de água
que muitas vezes favorece a formação de sabão. Visando a solução destes problemas,
Imaha e colaboradores [87], desenvolveram um processo de produção de biodiesel em
um único passo com metanol supercrítico, porem esse processo requer temperaturas
elevadas e alta pressão, 350°C e 20 a 50 Mpa.
8.0) UMA ANÁLISE SOBRE O MERCADO MUNDIAL DO BIODIESEL
A matriz energética mundial esta apoiada no petróleo e este, segundo alguns
estudos, não será mais capaz de suprir a crescente demanda nos próximos 40 anos. Para
contornar a situação a sociedade esta a procura de novas fontes de energia que sejam
baratas, renováveis e menos poluentes, uma vez que o mundo enfrenta e sofre
conseqüências do aquecimento global causado pela emissão de dióxido de carbono na
atmosfera.
Neste contexto, surge como alternativa, o biodiesel, combustível produzido a
partir do óleo de leguminosas que pode substituir, parcial ou totalmente, o diesel fóssil.
32
O desenvolvimento e a utilização de agroenergia têm sido discutidos por varias
pesquisas, isso principalmente dada à necessidade de substituição dos combustíveis
fosseis. Dados revelam que as reservas mundiais de petróleo se esgotarão por volta de
2046, sem considerar a tendência de crescimento do consumo. No entanto, mesmo antes
de seu esgotamento é possível que seu preço atinja patamares muito elevados tornando
seus derivados inviáveis economicamente.
O petróleo é matéria-prima para empresas e fornecedor de energia para
movimentar portos, aeroportos e rodovias. Todavia, constantemente, o petróleo é fonte
de crises mundiais. As variações no seu preço afetam a balança comercial de muitos
países e prejudicam diversos setores da economia e, consequentemente, o consumidor
final.
Algumas formas de agroenergia utilizadas na substituição parcial dos
combustíveis fósseis são representadas pela experiência brasileira no desenvolvimento
do álcool, com o Programa do Álcool – Proálcool – e pela utilização de óleos vegetais e
animais transesterificados – biodiesel.
Atualmente, os EUA vem incentivando o uso de Biodiesel com o “Programa
EcoDiesel” e a mistura mais cogitada e de 20% de Biodiesel – B20. Na Europa, a
utilização de Biodiesel teve inicio em 1991 com os subsídios para a produção agrícola
não-alimentar. Hoje, a Alemanha é considerada a maior produtora e consumidora de
Biodiesel do Mundo.
No Brasil, Lucena (2004) mostra um estudo onde se comparou o preço do diesel
com o preço estimado do Biodiesel. A composição do custo levou em consideração a
etapa agrícola, a etapa industrial, a distribuição e a tributação. A infra-estrutura
existente na distribuição do óleo diesel mineral permite que os únicos custos adicionais
sejam compostos do produto comercializado em larga escala. O custo de distribuição e
33
revenda do Biodiesel foi considerado o mesmo do diesel. O autor concluiu que o
Biodiesel é economicamente competitivo se combinado com uma desoneração tributaria
por certo período até que se tenha uma redução dos custos decorrentes da escala e do
aprendizado. Esse modelo é valido para o biodiesel produzido a partir de óleo de soja,
no entanto, o projeto do governo prevê que 50% do total produzido sejam provenientes
do óleo de mamona. Há diferenças entre as cotações dos outros óleos vegetais, bem
como da gordura animal, que tornam o preço final do produto diferenciado.
O Brasil possui uma vantagem comparativa em relação aos outros produtores de
oleaginosas por sua diversidade de ecossistemas. Alem disso, considera as seguintes
vantagens na utilização do biodiesel:
Vantagens ecológicas: o CO2 liberado durante a combustão dos motores
é absorvido pela fotossíntese da produção agrícola que origina a matéria-
prima para o Biodiesel;
Vantagens macroeconômicas: geração de oportunidades de emprego para
a população rural devido à expansão da demanda por produtos agrícolas;
proximidade entre a produção do Biodiesel e seu uso;
Diversificação da matriz energética, através da introdução dos
biocombustiveis;
Vantagens financeiras: a produção de Biodiesel pode contribuir para
atingir as metas que habilitam o Brasil a participar no mercado de “bônus
de carbono” do Protocolo de Kyoto;
Desenvolvimento regional: reestruturação do sistema produtivo,
demonstrando a necessidade por inovações produtivas, inserindo-se ai a
constituição de uma cadeia competitiva do biodiesel como resposta de
desenvolvimento local ante ao desafio global.
34
O contexto atual retrata um mercado em expansão e carente de pesquisas e
desenvolvimento, pois apesar de substituir o diesel derivado do petróleo com muitas
vantagens tanto para demanda quanto para oferta, o biodiesel propõe uma nova
tecnologia de produção, e uma nova dinâmica de mercado, porque ainda não tem canais
de distribuição estabelecidos.
Ao se considerar o cenário mundial em que o petróleo é o principal componente
da matriz energética e a projeção de esgotamento de reservas nos próximos 50 anos, o
biodiesel surge tanto na forma de um bem complementar como na de um bem
substituto. O biodiesel proporciona, também, a possibilidade de que paises importadores
de petróleo optem pela agricultura de energia, ou agroenergia, para reduzir seus déficits
na balança comercial, reduzindo as importações do combustível fóssil e/ou exportando
biodiesel para atender a demanda mundial.
O biodiesel pode ser considerado um bem complementar quando é adicionado ao
diesel mineral. Nesse caso, uma variação na demanda por diesel influencia de forma
direta a demanda por biodiesel.
Como bem substituto, o biodiesel na composição B100, ou seja, sem adição de
diesel fóssil, poderia substituir completamente o diesel mineral, que com o esgotamento
das reservas tende a diminuir a quantidade ofertada, o que levaria a uma possível
elevação dos preços do combustível fóssil. Vale lembrar que crises políticas/religiosas
nos paises exportadores de petróleo proporcionam elevação dos preços, o que também
influencia a demanda e a oferta do produto 8.
O combustível vegetal ou animal, neste caso, atuaria como um regulador para o
mercado, alem de em um futuro não muito distante, se tornar o produto principal da
matriz energética mundial para transportes e eletricidade.
35
No entanto, o cenário atual ainda é favorável a exploração, produção,
distribuição, utilização e comercialização dos combustíveis fosseis, dada a capacidade
do sistema instalado e as reservas disponíveis. Assim o Biodiesel precisa, inicialmente,
de incentivos fiscais e subsídios para que o preço deste bem-complementar e substituto
torne-se competitivo, o que já vem sendo feita com a estruturação da cadeia de
produção.
Os mecanismos utilizados para garantir sua competitividade e apoiar sua
produção são basicamente: tributação especifica sobre o diesel de petróleo (Europa),
incentivos tributários para a cadeira produtiva (Europa), alterações na legislação de
meio ambiente (Europa) e subsídios concedidos aos produtores (Estados Unidos).
Isso mostra que a regulação de mercado, pelo menos no inicio da implantação
desse novo componente na matriz energética, merece atenção dos estados nacionais. O
Brasil, que tem demonstrado grande interesse na produção do Biodiesel, devido a sua
capacidade agrícola, precisa adotar medidas efetivas e eficazes em parcerias públicas e
privadas para garantir uma posição favorável no mercado internacional com esse
“biotrade”.
8.1) Cenário do Mercado Biodiesel em alguns países
8.1.1) Alemanha
O maior produtor de biodiesel do mundo possui um amplo parque industrial com
plantas de processamento distribuídas por todo o país. A Alemanha também se destaca
por ser o maior consumidor de Biodiesel do mundo. Segundo a European Biodiesel
Board – EBB (2006), a produção alemã de biodiesel em 2005 foi de 1,67 milhões de
toneladas.
36
A capacidade de produção cresceu 4,34 vezes, como pode ser observado na
figura 4. O crescimento da capacidade se deu de maneira acentuada nos últimos cinco
anos, levando a Alemanha há estar quatro anos à frente no programa de substituição de
combustíveis fósseis em relação ao prazo estabelecido pelo European Union’s Biofuel
Directive.
A Alemanha conta, ainda, com uma excelente política de incentivos fiscais que
torna o biodiesel mais barato que o diesel convencional proveniente de combustíveis
fósseis, que em geral é importado dos países do Oriente Médio. De acordo com Union
zur Forderung von Oel – und Proteinpflanzen – UFOP (2006), a diferença nos preços
entre o diesel convencional e o biodiesel, em 2005, foi de aproximadamente 0,07
dólares para o B100 e aproximadamente 0,14 dólares para as misturas de biodiesel em
combustíveis tradicionais.
Fonte: BOCKEY (2005, p.155)
Figura 4: Capacidade de produção de Biodiesel na Alemanha de 1998 a 2006.
O sistema de distribuição do biodiesel na Alemanha se da por três canais: a)
através da mistura B%; b) frotas dedicadas ou cativas e c) vendas do biodiesel B100
através de 1900 postos com bombas exclusivas.
37
Com a adesão crescente de postos de gasolina, os custos de distribuição têm
diminuído gradativamente. Soma-se a isso o fato de que 1400 postos aderiram ao
programa de qualidade – Quality Assurance System of the Arbeitsgemeinschaft
Qualitatsmanagement Biodiesel e.V.. As frotas de transporte público, que são cativas,
também respondem por um percentual significativo do consumo do biocombustivel.
Com o uso intensivo de biocombustivel, a Alemanha espera atender as
exigências de redução de gases nocivos à atmosfera estabelecidos pelo Protocolo de
Kyoto tanto pelo seqüestro de carbono pelas plantações quanto pela diferença de
emissão que existe entra a queima de biodiesel e o combustível tradicional.
8.1.2) França
A França é o segundo maior produtor de biodiesel da Europa com uma produção
de 492 mil t em 2005, e uma capacidade produtiva de 775 mil t em 2006.
A motivação dos franceses para o desenvolvimento dos biocombustiveis é
porque essas tecnologias permitem reduzir a emissão de gases que agravam o efeito
estufa, diminuir a dependência de petróleo no país, diversificar os mercados da
agricultura e criar novos empregos. Nesse sentido, o governo francês fixou alguns
objetivos para incorporação dos biocombustiveis na matriz enérgica do país. A partir de
2008, os combustíveis passaram a conter 5,75% de biocombustivel; e deverão conter
7% em 2010 e 10% em 2015.
Para atingir o objetivo de 2010 serão necessárias 900 mil t de biodiesel e 200 mil
t de etanol. Novas fábricas de biocombustiveis serão construídas em 14 regiões, sendo
15 de biodiesel e 6 de etanol, alem de outras 11, abrangendo 5 de biodiesel e 6 de etanol
que já estão em implementação. O investimento para a realização deste projeto é
38
estimado em mais de US$ 1,62 bilhão; o número de empregos criados ou consolidados
esta estimado em mais de 30 mil.
8.1.3) Estados Unidos
Os EUA consomem mais de 864 mil dólares por minuto de biocombustivel,
sendo que 60% são importados. O maior consumidor de petróleo do mundo esta em
busca de fontes de energia baratas, renováveis e menos poluentes. Diante deste fato, os
Estados Unidos demonstram grande interesse nos biocombustiveis. O biodiesel pode ser
a solução para diminuir a dependência norte-americana do combustível fóssil do Oriente
Médio e da Venezuela. Dependência esta, que o ex-presidente Bush classificou como
sendo um “vicio americano”, uma vez que os EUA estavam enfrentando diversas
dificuldades políticas e militares nas respectivas regiões.
Os números revelam que a adição ou substituição do diesel tradicional por
Biodiesel representaria uma economia significativa nas importações dos EUA, alem de
o uso do biodiesel beneficiar amplamente os produtores rurais americanos que cada vez
mais tem dependido dos subsídios do governo. Fornecer matéria-prima para a produção
do biocombustivel pode ser a salvação para muitos deles, uma vez que a pressão
internacional para o fim dos subsídios aumenta a cada safra 13.
Para garantir a qualidade do biodiesel produzido, o NBB criou um selo de
qualidade denominado BQ-9000 que têm validade de dois anos. Para conseguir o selo,
os produtores e distribuidores de biodiesel devem cumprir uma serie de exigências que
são avaliadas por uma auditoria.
Outra frente para a adoção do biodiesel são os incentivos fiscais para tornar o
biocombustivel viável durante sua implantação com um incentivo de 1 dólar por galão
de biodiesel produzido a partir de óleo virgem de produtos agrícola ou gordura animal e
39
0,50 dólar para biodiesel produzido a partir de óleo residual de origem agrícola ou
gordura animal.
8.1.4) Brasil
A partir de 2008 o óleo diesel comercializado passou a ser composto de 2% de
biodiesel e 98% de diesel mineral (B2) conforme decreto de 2005 que ainda prevê 5%
de biodiesel e 95% de diesel mineral (B5) a partir de 2013. Através desse decreto o
biodiesel passou a fazer parte da Matriz Energética Brasileira 9. O diesel tem sido o
combustível fóssil mais utilizado no Brasil, logo a sua substituição se torna mais
atraente. Segundo dados do Balanço Nacional Energético 2005, o consumo total de óleo
diesel foi aproximadamente 40,4 mil t anuais 10. Com base nesse dado, a quantidade de
biodiesel a ser consumida com a implantação do B2 será de aproximadamente 808 mil
t/ano. O setor de transportes representa 75% do consumo de diesel no Brasil, enquanto a
agricultura é responsável pelo consumo de 16% e o setor de transformação – geração de
energia elétrica – responde por 5% do consumo total de diesel. O biodiesel pode
substituir totalmente o diesel no setor de transformação e agropecuário sendo utilizado
como aditivo no setor de transportes.
Em 2005, a produção de biodiesel no Brasil foi de 736,2 mil litros, enquanto que
sua capacidade nominal de produção foi de 85,3 t. A venda de B2 pelas distribuidoras
chegou a 3.8 t (isso porque a mistura ainda não era obrigatória), sendo o estado de
Minas Gerais o que mais se destacou com 2,12 t vendidos 12.
O Decreto n° 5.457, de 6 de junho de 2005, estabeleceu que para o Biodiesel
fabricado a partir da mamona ou de palma produzida nas regiões Norte, Nordeste e no
semi-árido pela agricultura familiar, há desoneração total de alguns tributos (PIS/
PASEP e COFINS), ou seja, 100% de redução da alíquota. Já para o biodiesel fabricado
40
a partir de mamona ou de palma nas mesmas regiões pela agricultura patronal, a
redução da alíquota e 30,5%. O biodiesel produzido a partir de qualquer outra matéria-
prima pela agricultura familiar, independentemente da região, terá 67,9% de redução da
alíquota geral.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou o
Programa de Apoio Financeiro a Investimentos em Biodiesel. Este programa prevê o
financiamento de até 90% dos itens passiveis de apoio, para projetos com
enquadramento social, e de até 80% para os demais projetos. Os financiamentos são
destinados a todas as fases de produção do biodiesel, entre elas a agrícola, a de
produção de óleo bruto, a de armazenamento, a de logística e a de aquisição de
equipamentos para a produção deste combustível 11.
O desenvolvimento tecnológico do Programa Nacional de Produção e Uso de
Biodiesel (PNPB) é coordenado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, o qual
abrange a constituição da Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel, cujo escopo é a
consolidação de um sistema gerencial de articulação dos diversos atores envolvidos na
pesquisa, no desenvolvimento e na produção de biodiesel. Outro objetivo da rede é a
identificação e eliminação de gargalos tecnológicos que possam surgir com a evolução
do Programa.
Desta maneira, o Governo Federal pretende desenvolver a produção e o uso de
biodiesel de forma sustentável, tanto técnica como economicamente, com enfoque na
inclusão social e no desenvolvimento regional.
O Brasil já possui uma capacidade instalada de produção suficiente para atender
o objetivo de implementar a mistura de B2 e, ainda assim, gerar excedentes para
exportação. Em 2013, o Brasil pretende implementar a mistura obrigatória de B5 e
41
atingir a produção de 2771 t. O Brasil tem potencia para se tornar o maior exportador de
biodiesel.
9.0) QUEM APOSTA NO BIODIESEL, A PARTIR DO SEBO BOVINO, NO
BRASIL
A Bertin é a única indústria do país que atua exclusivamente hoje com a
produção de biodiesel a partir de produtos de origem animal. No entanto, o insumo vem
ganhando adeptos e parece cada vez mais fortalecido no mercado nacional. Uma
pesquisa recente realizada pelo grupo BiodieselBR mostra que das 119 usinas
comerciais instaladas ou em implementação no Brasil, 42 informaram que pretendem
utilizar sebo entre suas matérias-primas. Isso não quer dizer que elas desejem deixar de
lado as gorduras vegetais: a idéia é somar forças.
O caso da Bertin, que investiu R$ 42 milhões para ter uma indústria capaz de
gerar 110 milhões de litros de biodiesel por ano, é bastante específico. A empresa já
trabalhava com matéria-prima bovina para outros gêneros de produção. Com a chegada
do projeto de biodiesel, o investimento necessário foi consideravelmente reduzido.
Agora, com a obrigatoriedade da inclusão de 2% do combustível verde no diesel de
petróleo a partir de 2008, a empresa paulista prevê um crescimento para o mercado.
O processo utilizado para produzir biodiesel a partir de gordura animal é
basicamente o mesmo dos óleos vegetais: é a transesterificação. Trata-se da reação da
gordura com um álcool, impulsionada pela presença de um agente catalisador.
No caso da Bertin, o álcool utilizado é o metanol. Como resultado, obtém-se
biodiesel e glicerina. E como nesse mundo nada, ou quase nada, se perde, também a
glicerina pode acabar tendo uma finalidade industrial. Se aproveitada, ela pode virar
insumo aos segmentos farmacêutico, cosmético e químico.
42
Na Bioverde, a estratégia tem sido utilizar 30% de biodiesel feito de gordura
animal e 70% de óleos vegetais (soja). Isso dá um resultado com bom custo e boa
qualidade. Lá, eles venceram o desafio de adaptação dos tanques de produção para uma
temperatura mais alta, para derreter o sebo animal. “Como o ponto de endurecimento é
diferente, temos que trabalhar com aquecimento”, afirma José Pereira Júnior, da usina
Bioverde, que fica em Taubaté, São Paulo.
Para os técnicos da usina, um dos problemas do mercado é que a indústria
farmacêutica pega o melhor pedaço da gordura animal. Ao biodiesel, muitas vezes resta
o material de segunda linha, com mais impurezas. Como os cosméticos têm contratos
mais antigos e longos, essa situação deve demorar alguns anos para se resolver.
10.0) CONCLUSÃO
Com a crescente consciência global sobre o efeito do impacto ambiental devido
ao uso desmedido de combustíveis fóssil, motivam a busca por soluções alternativas
para a criação de um combustível menos danoso ao meio ambiente.Em meio a essa
busca surge a alternativa do biodiesel, inúmeros são os benefícios que o caracterizam
dentre eles: ser um combustível obtido de fontes renováveis, a redução da emissão de
gases relacionados ao efeito estufa, ser biodegradável, atóxico, reduzir a dependência
da importação de petróleo cru, além de ser bem aceito pelos fabricantes de veículos
automotores.
No Brasil a obtenção do biodiesel derivado de gordura animal, tem
desempenhado um papel significativo e crescente pois possuímos o maior rebanho
comercial de bovinos do mundo o que remete a uma grande fonte de matéria prima e
também tem-se uma importante viabilidade econômica.
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Transformar o sebo bovino em biodiesel é realizar um enorme beneficio
ambiental pois assim se reduz o descarte de sebo bovino para o meio ambiente,
previnindo-se que o metano que será gerado na decomposição deste componente
orgânico polua a atmosfera alem disso as emissões de dióxido de carbono são
neutralizadas pelo processo de renovação do biocombustivel.
A produção de biodiesel derivado de gordura animal ainda esta em processo de
aperfeiçoamento mais já se caracteriza por ser uma proposta que poderá gerar grandes
beneficio 15.
8.0) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1.0) Rathmann, R. ; Benedetti, O. ; Plá, J. A., Padula, A. D.; Biodiesel: Uma
alternativa estratégica na matriz energética brasileira?; Rio Grande do Sul- Brasil,
2005.
2.0) Agência nacional de petróleo, gás natural e biocombustíveis(ANP). Dados
Estatísticos, Página http://www.anp.gov.br em 15/03/2005.
3.0) National Biodiesel Board; In: Anais do Congresso Internacional de
Biocombustíveis Líquidos; Instituto de Tecnologia do Paraná; Secretaria de Estado da
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior; Curitiba, PR, 19 a 22 de julho, 1998; p. 42
4.0) http:// www.biodiesel.gov.br acessado em 03/06/2009
5.0) http://www.aazevedo.ind.br/sebo.htm, acessado em 03/06/2009
6.0) http://www.aboissa.com.br/sebo/espec.htm, acessado em 03/06/2009
7.0) Revista ABCZ – Associação Brasileira dos Criadores de Zebu – ABCZ
http://www.abcz.org.br/site/produtos/revista/04/mat29.php3
8.0) “Uma proposta de modelo para avaliar a viabilidade do Biodiesel no Brasil”.
Teoria e Evidencia Econômica, 14(ed. Especial), 81 – 107
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9.0) Decreto n°5.457, de 6 de junho de 2005b. Diário Oficial da União, Casa Civil,
Brasília, DF, 7 jul. 2005. Seção 1.
10.0) Ministério de Minas e Energia. Balanço Energético Nacional 2006. Disponível
em: http://www.mme.gov.br/site/menu/select_main_menu_item.do?
channelId=1432&pageId=10780
11.0) Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Programa de Apoio
Financeiro e Investimentos em Biodiesel. [2005]. Disponível em:
http://www.bndes.gov.br/programas/infra/Biodiesel.asp
12.0) Agencia Nacional de Petróleo. (2007) Anuário Estatístico 2006. Disponível em:
http://www.anp.gov.br/conheca/anuario_2006.asp#secao_4
13.0) NATIONAL BIODIESEL BOARD (2006). “Fuel Fact sheets”. Disponivel em:
http://www.biodiesel.org/resources/fuelfactsheets/default.shtm
14.0) Plano Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (2005). Desenvolvimento
tecnológico. Disponível em: http://www.biodiesel.gov.br
15.0) http://www.biodieselbr.com, acessado 03/06/2009
16.0) http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/14362/000663279.pdf?
sequence=1, acessada em 03/06/2009
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