uma análise sócio-discursiva do aquipe online: das leis ... · a análise do discurso deve ser...
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UMA ANÁLISE SÓCIO-DISCURSIVA DO AQUIPE ONLINE:
DAS LEIS DO DISCUSO À TEORIA DAS FACES
Maria Carolina Brito Mendes1 (UFPE)
Resumo: Após a popularização da internet, a versão virtual dos meios de informação tornou-se necessária na medida em que a composição textual decorrente da natureza do hipertexto transforma o sentido de interatividade antes conhecido pelas mídias sociais convencionais. A presente pesquisa objetiva investigar a versão online do periódico mais recente e representante do Jornalismo Popular em Pernambuco, o AquiPE, partindo do pressuposto de que a comunicação midiática é um fenômeno de produção de sentido social (CHARAUDEAU, 2006) em que o uso da língua envolve não só o dizer, mas principalmente um sistema de valores sociais. A investigação busca identificar as condições comunicacionais regidas pelas “leis do discurso” (ou máximas de Grice), conforme Maingueneau (2001), e o comprometimento sobre o “fenômeno das faces” (GOFFMAN, 1959/2005). Desse modo, compreende o corpus do trabalho as edições online do AquiPE no período de julho a setembro de 2012, analisadas à luz da pragmática griceana e da Teoria das Faces de Goffman. Pretende contribuir para a
reflexão acerca da complexidade da “máquina midiática” no sentido proposto por Charaudeau, e do discurso sobre a interatividade, tema fundamental à formação profissional do jornalista na atualidade. Palavras-chave: AquiPE online; leis do discurso, faces Abstract: After the internet’s popularization, the newspaper’s virtual version became necessary as the textual composition, due to the hypertext nature, transforms the mean of interactivity before known by the conventional social media. The present research aims investigate the online version of the latest newspaper and representative of the popular journalism in Pernambuco, the Aqui PE, assuming that media communication is a phenomenon of social mean’s production (CHARAUDEAU, 2006) in which the use of language involves not only saying, but mainly a system of social values. The investigation seeks to identify the communicational conditions governed by the “speech laws” (or Grice’s maxims), according to Maingueneau (2001), and the commitment about the
“phenomenon of faces” (GOFFMAN, 1969/2005). Thereby, comprises the work’s corpus the AquiPE online editions since july until september of 2012, analyzed in the light of Gricean pragmatic and Goffman’s face’s theory. The intention is to contribute to the reflection about the media
1 Estudante da Universidade Federal de Pernambuco, na qual cursa o primeiro período de Comunicação Social – Jornalismo.
machine’s complexity in the sense proposed by Charaudeau, and the discourse about the interactivity, central theme to the journalist’s professional graduation. Key words: online AquiPE, speech laws, faces
Introdução
A partir, especialmente, do final do século XX e início do século XXI, os
avanços tecnológicos mudaram o cotidiano das pessoas. No campo comunicacional
e midiático, o uso crescente da internet e a chegada de sites com informações
online impulsionaram os jornais que até então se limitavam à produção impressa a
buscar meios mais rápidos de fazer e divulgar notícia. Acompanhar as inovações
tecnológicas se tornou essencial na medida em que, existindo outros meios que
divulguem os acontecimentos quase instantaneamente, só se manter na forma mais
convencional de produzir informação torna o jornal obsoleto e atrasado à sua
época. Consequentemente, foram criadas as representações virtuais dos
periódicos, dando início à modalidade online de jornalismo.
“O webjornalismo, por sua vez, refere-se a uma parte específica da
internet, que disponibiliza interfaces gráficas de uma forma bastante amigável. A
internet envolve recursos e processos que são mais amplos do que a web, embora
esta seja, para o público leigo, sinônimo de internet”. (MIELNICZUK, 2003, p.26).
No webjornalismo, o leitor vira internauta. “De certa forma, o conceito de
jornalismo encontra-se relacionado com o suporte técnico e com o meio que
permite a difusão de notícias. Daí derivam conceitos como jornalismo impresso,
telejornalismo e radiojornalismo.” (MURAD, 1999, p.2).
Os jornais virtuais possuem uma organização hipertextual. Ao falar de
hipertexto, podemos dizer que “trata-se de um construto multi-enunciativo
produzido e processado sobre a tela do computador, que, emergindo no seio da
atual Sociedade da Informação, surge como mais novo desafio a ser enfrentado em
nossa contemporaneidade. Theodore Nelson, cunhador do termo “Hipertexto”,
descreve-o em Literary Machine (1993) como uma tecnologia com a qual se pode
religar as idéias e os dados, evidenciando uma dupla vocação do hipertexto: um
sistema de organização de dados e um modo de pensar.” (XAVIER, 2003, p.284)
O presente trabalho objetiva analisar a página virtual do periódico AquiPE,
estruturada como hipertexto, identificando, assim, as condições comunicacionais
regidas pelas “leis do discurso” (ou máximas de Grice), conforme Maingueneau
(2001), e o comprometimento sobre o “fenômeno das faces” (GOFFMAN,
1959/2005).
Metodologia
Compreende o corpus desta pesquisa qualitativa o estudo do site do AquiPE à
luz da pragmática griceana e da Teoria das Faces de Goffman. O período de análise
será de julho a setembro de 2012.
Charaudeau esclarece que: “Se existe um fenômeno humano e social que
dependa precipuamente da linguagem, é o da informação” (2006, p.33). Os
veículos de comunicação, que têm como objetivo primordial informar, devem
prezar pelo ato de linguagem impecável, ou seja, a notícia deve ser passada e
recebida de maneira clara e objetiva. Além disso, é necessário obedecer a uma
série de “convenções e normasdos comportamentos linguageiros, sem as quais não
seria possível a comunicação humana” (CHARAUDEAU, 2006, p.67).
O objeto de estudo desta pesquisa, o AquiPE, embora seja um veículo de
informação forte no estado de Pernambuco e formador de opinião, não cumpre
com todas essas normas do ato de linguagem, comprometendo, assim, a notícia e a
credibilidade do jornal.
Analisar como acontece essa quebra de regras no correspondente virtual
do periódico é necessário à medida que os jornalistas devem saber como passar
informações e divulgar notícias sem infringir máximas conversacionais e
pragmáticas. “A atividade do jornalista está, portanto, baseada num princípio
ético.” (CHARAUDEAU, 2006, p.263). Um jornalismo de qualidade é aquele que, em
primeiro lugar, preza-se pela verdade, respeito e informação.
Fundamentação Teórica
Segundo o glossário do Hypertext/HypermediaHandbook, de Berk e Devlin
(1991), hipertexto pode ser definido como: “(...) uma coleção de textos, imagens e
sons – nós – ligados por atalhos eletrônicos para formar um sistema cuja existência
depende do computador”. Ou seja, as informações não são todas dadas em uma
única página com texto corrido na internet. São separadas por categorias e o
acesso a elas é feito através de links que ficam na página inicial do site.
O hipertexto trouxe à atualidade uma nova forma de divulgar informações.
Mais rápida, prática e acessível, transformando o conceito de interatividade até
então conhecido. Há, hoje, uma dependência do jornalismo por esse tipo de
composição textual à medida que a complexa máquina midiática, no sentido
proposto por Charaudeau (2006, p.242), necessita de links acessíveis tanto para a
difusão de notícias quanto para o discurso de propaganda que, mesmo não
contribuindo no sentido de informar, aparece nos meios de comunicação.
Segundo Maingueneau (2000), o discurso está relacionado à atividade
verbal, a enunciados e usos da linguagem. Pode tanto indicar um sistema que
permita a criação de textos quanto os próprios textos produzidos. Neste trabalho,
“discurso” fará referência à linguagem em uso, o texto produzido a partir de uma
interação social. A análise do discurso se limitará a ser apenas o estudo deste
fenômeno, não entrando na análise do estudo propriamente dita, investigada por
Dominique Maingueneau em parte do livro “Análises de Textos de Comunicação”
(2000).
O discurso não se limita apenas a ser transmissão de informação. Ele
constitui sujeitos (coenunciadores) e suas produções de sentido. O ato de
linguagem envolve não somente o plano comunicacional; acomete também o social.
A análise do discurso deve ser feita não só em cima do que é falado, mas também
de como é falado, como é entendido, a situação em que a comunicação encontra-
se, a linguagem não verbal envolvida, e qual a consequência final desse ato.
Tanto nos jornais impressos, quanto na interação face a face ou notícias virtuais:
tudo que acontece numa interação acrescenta sentido ao que está sendo
transmitido.
Além da chegada da internet, os telejornais também impulsionaram a
criação do jornalismo virtual. A TV tem o poder de informar a qualquer hora do
dia. A notícia é transmitida no momento que acontece. Em alguns casos, os
telespectadores acompanham o fato em coberturas ao vivo. Essa instantaneidade
de divulgação precisou ser acompanhada pelos jornais impressos de alguma forma,
já que as pautas publicadas não eram mais novidades para o leitor. A versão virtual
dos jornais os possibilita a divulgar notícias com a mesma rapidez que a televisão.
Além disso, o webjornalismo tem estrutura de hipertexto, ajudando o leitor a se
informar à medida que torna mais fácil achar, através dos links, a informação que
mais o interessa.
O webjornalismo tem natureza de informar, sendo, assim, é diretamente
compromissado com o Princípio da Cooperação. De acordo com esse princípio, para
que todos enunciados sejam interpretados corretamente, o locutor deve
preocupar-se em interagir com o alocutário da forma mais explícita e completa
possível. Dessa forma, para o sucesso da troca verbal, cada um sabe seus direitos e
deveres na conversação, assim como os direitos e deveres do outro. Outras leis
estão submetidas ao princípio da cooperação. São chamadas de Leis do Discurso ou
Máximas de Grice:
Lei da Pertinência: O enunciado deve adequar-se ao contexto no qual está
inserido e passar informações não somente interessantes ao interlocutor,
mas que também modifiquem a situação presente.
Lei da Informatividade: Os enunciadores devem dar informações novas aos
leitores. Além disso, é importante ressaltar queo rádio, a TV, a internet e o
jornal impresso, devem informar seu público-alvo dos fatos de relevância
não só para o país, mas também mundial. Mesmo o AquiPE, um periódico
com enfoque regional, não pode ignorar um fato importante como, por
exemplo, a queda do boeing da gol, em 2006, ou a primavera árabe (2010 –
2012).
Lei da Sinceridade: O enunciado deve ser o mais verdadeiro possível. Para
isso, não se pode afirmar ser verdade o que parece ser falso ou o que não
tem como ter sua veracidade comprovada.
Lei da Modalidade: De acordo com Charaudeau, “a acessibilidade da
informação baseia-se na hipótese de que o grau de compreensão de um
discurso está ligado à simplicidade, à clareza com a qual o discurso está
construído.”(2006, p.81). Essa lei indica que as contribuições
conversacionais devem ser claras e objetivas. Vale ressaltar que esta regra
depende do gênero discursivo em questão, pois aplicam-se normas distintas
em cada situação enunciativa.
Lei da Exaustividade: O enunciador deve passar a informação máxima, com o
cuidado de nem omitir dados importantes ou falar mais do que a situação
necessita.
Além das máximas griceanas, o Fenômeno de Preservação das Faces,
proposto inicialmente por Goffman (1959) e depois atualizado com estudos de
Brown e Levinson (1987), está presente na interação verbal e não-verbal, e baseia-
se, também, no princípio da cooperação. Segundo esse fenômeno, durante a
interação, cada falante deve apresentar e manter uma imagem positiva de si
mesmo e do seu interlocutor. Manter um equilíbrio. Essa imagem (face) foi dividida
por Brown e Levinson em positiva e negativa.
A face positiva é o conjunto de imagens valorizadas de si mesmo que os
interlocutores constroem e impõem na interação. É a imagem pública que os
envolvidos possuem. Já a face negativa são os territórios do “eu”, isto é, território
temporal, espacial, corporal e bens materiais ou simbólicos. É o lado pessoal da
vida do interlocutor.
Respeitar essas leis durante uma interação é manter o equilíbrio social e
comunicacional presente. Conseguir realizar um ato de linguagem impecável, onde
a informação é passada e recebida de maneira clara e objetiva, é imprescindível
para formação jornalística. No entanto, apenas através de uma árdua preparação e
profissionalismo, os veículos de comunicação conseguem atingir este objetivo.
O AquiPE
O objeto de estudo desta pesquisa é o correspondente virtual do jornal
AquiPE, o www.aquipe.com.br. Para facilitar o entendimento da análise, conhecer
as características do jornal e os detalhes do site é essencial.
Apesar de ter ser considerado o correspondente virtual, o site do AquiPE não
apresenta todas as notícias do próprio jornal na íntegra, e sim apenas alguns links
que dão acesso a partes do jornal como, por exemplo, o Blog do Pai Aqui (Blog com
um toque humorístico que faz parte do periódico) e Garota calendário (Garota
vencedora do concurso “garota AquiPE”. Todos os dias são mostradas candidatas e
de tempos em tempos escolhe-se uma vencedora). Além dos supracitados, há
Promoções (Uma das partes propagandísticas do site. As empresas patrocinadoras
oferecem suas promoções no link), Capa do dia (a única sessão por onde esta
pesquisa será feita no que se trata a análise do jornal, já que as notícias por
completo só são disponíveis no impresso), entre outras sessões. Podemos observar a
página inicial do site na Figura 1 abaixo:
No site, os links referentes às notícias se encontram no menu horizontal, na
parte superior da página (Figura 2):
O AquiPE representa o jornalismo popular em Pernambuco. Baseando-se na obra
Jornalismo Popular de Márcia Franz Amaral (2006), um jornal “popular” pode ser
definido com as seguintes características:
Tem um formato menor do que os jornais convencionais, para ajudar a
leitura daqueles que tem que fazê-la rapidamente.
Classes C, D e E como público-alvo.
Fonte: http://www.aquipe.com.br
Fonte: http://www.aquipe.com.br
Figura 1
Figura 2
Preço acessível à grande camada da população.
Abordagem de assuntos que envolvam o cotidiano do público-alvo. Por isso a
preferência de pautas regionais.
Linguagem menos rebuscada, adaptando-se às variações linguísticas faladas
pelos leitores.
Como podemos ver na Figura 2 acima, a proposta do AquiPE exposta no site
se encaixa nas características de um jornal popular. “Opção moderna, prática e
barata para o cidadão que deseja se informar sobre assuntos que lhe interessam e
afetam diretamente o seu dia-a-dia.”
Ao falar sobre a finalidade do contrato midiático, Charaudeau reconhece que
a comunicação midiática divide-se em duas visadas: a de fazer saber e a de fazer
sentir. O fazer saber tem como princípio lógico informar o cidadão, enquanto o
fazer sentir “tende a produzir um objeto de consumo segundo uma lógica
Figura 3
Fonte: http://www.aquipe.com.br
comercial: captar as massas para sobreviver à concorrência” (CHARAUDEAU, 2006,
p.86). Na tentativa de captar as massas, o AquiPE investe em capas chamativas
(Figura 4), com apelo sexual (Garota AquiPE), manchetes com tom humorístico ou
regional, promoções, esportes e notícias policiais: as partes do periódico que mais
chamam a atenção do público-alvo.
As análises dessas manchetes e do site do jornal compõem o conteúdo da
presente pesquisa.
Análise
Figura 4
Promoções
Apelo Sexual
Notícias policiais
Esportes
Fonte: http://www.netpapers.com/capa-do-jornal/aqui-
pe
As infrações às máximas conversacionais podem ser observadas em
diferentes tópicos e links do site. Desde a própria estrutura da página virtual às
capas do dia.
Nem todos os links do site dão acesso a notícias do AquiPE, e é onde a Lei da
Pertinência é violada. Por ser um jornal pertencente à rede empresarial Diário dos
Associados, o periódico popular divide espaço no grupo com outro jornal do estado:
o Diário de Pernambuco. Por ser mais antigo e mais tradicional, o Diário ocupa
alguns links no site do AquiPE, como, por exemplo, “esportes” (cujo link resulta
diretamente nas notícias do dia do “Superesportes”, caderno de esportes do Diário
de Pernambuco).
A violação acontece na medida em que, por ser o site do periódico popular,
o caderno de esportes acessível deveria ser o do AquiPE e não de outro jornal,
mesmo que pertençam a mesma empresa (Figura 5). Se o internauta quisesse ver as
notícias do Diário de Pernambuco, certamente visitaria a página virtual deste.
Figura 5
Fonte: http://www.aquipe.com.br/esportes/tabela.asp
O periódico também vai de encontro com a Lei da Informatividade quando
publica em suas edições assuntos irrisórios em detrimento a fatos de extrema
relevância. Por exemplo, no começo do mês de agosto deste ano, foi iniciada a
primeira fase de investigações sobre o esquema do mensalão, no qual entre os
denunciados estão o ex-ministro José Dirceu, o ex-deputado José Genoino, que
presidia o PT em 2005, quando o caso veio à tona, e o ex-tesoureiro do partido
Delúbio Soares. O processo tornou-se de interesse nacional, cujos atingidos eram
todos os brasileiros. O AquiPE, mesmo tendo seu enfoque nas pautas regionais,
deveria dar prioridade de divulgação a esse caso, considerando que seu público-
alvo faz parte da nação diretamente ligada às consequências desse processo.
Porém, enquanto os três jornais de referência no estado de Pernambuco (Folha de
Pernambuco, Diário de Pernambuco e Jornal do Commercio) abordaram o assunto
desde a capa, o AquiPE preferiu tratar de outros temas, no momento menos
relevantes, se abstendo de comentar, na capa, o início do julgamento. (Figura 6)
Figura 6
Fonte: http://www.netpapers.com/jornal/aqui-pe
Outro exemplo é a capa do dia 29/09, que não mostrou nenhum destaque
para o fim da greve dos bancários da Caixa e bancos privados ou recomeço das
obras de transposição do rio São Francisco, que vai gerar cerca de dois mil
empregos. Ao invés disso, eis abaixo a capa do AquiPE (Figura 7):
A Lei da Sinceridade é cumprida pelo AquiPE, pois, para se manter no estado
como jornal, fonte de informação para a sociedade, é necessário fornecer notícias
verídicas aos leitores. Os jornais têm o compromisso com o público de publicar
apenas a verdade. (Figura 8)
Figura 7
Fonte: http://www.netpapers.com/jornal/aqui-pe
Figura 7
Ao observar a imagem acima, vemos que o AquiPE tem uma forma distinta de
divulgar notícias: utiliza linguagem informal e regionalismos. No entanto, as
informações passadas são verídicas, respeitando a Lei da Sinceridade.
Outra lei que é respeitada pelo periódico é a da Modalidade, já que, como
jornal popular, ele deve utilizar uma linguagem mais simples, de fácil
entendimento para todas as classes sociais; e textos menores e menos complexos,
em decorrência ao tamanho reduzido do jornal. (Figura 9)
Figura 8
Fonte: http://www.netpapers.com/jornal/aqui-pe
Como é possível ver na imagem acima, o objetivo do jornal é fornecer
informações “sem frescuras, sem lero-lero, sem meias palavras”. A notícia é
passada de forma clara e objetiva.
Acerca da Lei da Exaustividade, há, também, um descumprimento. O menu
horizontal do site contém vários links que servem de acesso a partes específicas,
como, por exemplo, “Geral”, “Esportes”, “Cidades&Polícia”, entre outros (Figura
10).
A violação ocorre no link “Últimas”, no qual, ao invés de aparecer as últimas
notícias do dia, a única tela que aparece contém os dizeres “Aguarde a publicação
das matérias”. Matérias que nunca são publicadas. A informação além de não ser
Figura 9
Fonte: http://www.aquipe.com.br/expediente.shtml
Figura 10
Fonte: http://www.aquipe.com.br
dada por completa, não é dada de nenhuma forma. O que existe é um link vazio.
(Figura 11)
O AquiPE também vai de encontro à teoria de preservação das faces. No
menu horizontal supracitado, há o link “Conheça o AquiPE”, que leva o internauta
a uma página onde há informações básicas sobre o jornal e seu objetivo. O texto
introdutório presente nesta página termina com a frase “um jornal para ser lido
por todos, sem preconceito.” Porém, o jornal desmente o que é dito no site sobre
não haver preconceito quando coloca uma capa desta forma (Figura 12):
Figura 11
Fonte: http://www.aquipe.com.br/ultimas/noticias.asp
“Gaguinho acabou pe pe... pego com droga e se se se...” e “Quem quem
quem mandou?”. Considerando que gagueira é um problema grave que acomete
boa parte da população, o AquiPE ameaça a face negativa do leitor ao usar essas
expressões – que remetem à disfluência na fala - na manchete. O jornal também
ameaça a própria face positiva, perdendo credibilidade perante os leitores, ao
desrespeitar, desse modo, os gagos.
Outro exemplo de ameaça à face aparece na Figura 13:
Figura 12
Fonte: http://www.netpapers.com/jornal/aqui-pe
Obesidade também é um problema de acomete grande parte da sociedade.
A frase na parte superior da manchete “Já se olhou no espelho hoje” é uma forma
desrespeitosa de tratar o tema, ameaçando a face negativa dos obesos e a positiva
do jornal, que perde credibilidade diante dos leitores.
O AquiPE deve aprimorar-se no que diz respeito ao modo de fazer notícia.
São inúmeras as edições em que as máximas conversacionais e pragmáticas são
infringidas. A busca pelo equilíbrio comunicacional e social é necessária ao
periódico que ambiciona uma alta credibilidade perante a população.
Figura 13
Fonte: http://www.netpapers.com/jornal/aqui-pe
Conclusão
O hipertexto mudou totalmente o conceito de interatividade até então
conhecido, e, hoje, não só os correspondentes virtuais dos meios de comunicação o
utilizam em sua estrutura, mas também sites de diversos tipos e assuntos: desde
redes sociais a sites de jogos ou filmes. Os links facilitam a vida dos leitores à
medida que os ajudam a achar mais rapidamente o tópico que lhes interessa; no
webjornalismo, a notícia que mais os chame atenção. Se comparado com outros
veículos de informação, o jornalismo no ciberespaço ganha destaque. Isso porque
além de conter as mesmas notícias que o telejornal ou o jornal impresso, por
exemplo, o webjornalismo apresenta os fatos de uma maneira mais clara e
objetiva, além de contar com links que liguem o internauta a outros fatos que
possam ajudá-lo a entender por completo a notícia. A informação é passada da
maneira mais abrangente possível.
No entanto, algumas fontes virtuais de notícia, ao não cumprir com teorias
linguísticas sócio-discursivas e pragmáticas, perdem, além de credibilidade perante
os leitores, a qualidade necessária em um formador de opinião pública, difusor de
informação. O site do AquiPE, objeto de estudo desta pesquisa, encontra-se entre
os jornais virtuais que falham no ato de linguagem.
No presente estudo, foram identificadas e analisadas não só as capas do dia –
disponíveis na página inicial do site -, mas também todos os links e detalhes do
jornal cibernético. Dentro de um período de três meses (julho a setembro de
2012), houve violações às leis do discurso, com exceção das leis da modalidade e
da sinceridade, e à teoria de preservação das faces, na qual tanto a face do leitor,
quanto a face do jornal foram atingidas. Além dos citados neste trabalho, o portal
virtual do AquiPE apresenta outros diversos casos de violação às teorias linguísticas.
Devido à importância do webjornalismo na atualidade, a análise do site do
AquiPE se torna necessária à medida que o crescimento deste jornal no cenário
comunicacional pernambucano é preocupante enquanto não houver melhoras
referentes às infrações às máximas conversacionais. Um formador de opinião
pública deve manter o equilíbrio no ato de linguagem. Teorias, como as abordadas
nesta pesquisa – fenômeno das faces e leis do discurso –, precisam ser respeitas em
prol de uma interação bem sucedida. É imprescindível para a formação jornalística
identificar os erros presentes neste veículo e consertá-los, de forma a passar
informação impecavelmente.
Referências
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jornal/aqui-pe>. Acesso em: 24 setembro 2012
BERTHIER, C. A.; Silva, P. Jornalismo popular: Não necessariamente
sensacionalista. Disponível em:
<http://www.itpac.br/hotsite/revista/artigos/52/1.pdf>. Acesso em: 12 setembro
2012
ROCHA, M.; Luz, L. Resumo de parte do texto de Dominique Maingueneau.
Disponível em:
<http://imagemcomunicacao2008.blogspot.com.br/2009/05/resumo-de-parte-do-
texto-de-dominique.html>. Acesso em: 30 setembro 2012
CHARAUDEAU, P. Discurso das Mídias. Tradução de Ana M. S. Corrêa. São Paulo:
Contexto, 2006; 285 p.
FIGUEREDO, R. As Leis do Discurso. Disponível em:
<http://amigonerd.net/trabalho/28018-as-leis-do-discurso>. Acesso em: 12
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RECUERO, R. Redes sociais na internet, difusão de informação e jornalismo:
Elementos para discussão. Disponível em:
<http://www.pontomidia.com.br/raquel/artigos/artigoredesjornalismorecuero.pdf
>. Acesso em: 26 outubro 2012
CANAVILHAS, J. M. WEBJORNALISMO: Considerações gerais sobre jornalismo na
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