utilização de auxiliares na orto_responsabilidade legal

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 R Dental Press Ortodon Ortop Facial 121 Maringá, v. 11, n. 5, p. 121-128, set./out. 2006 Utilização de auxiliares odontológicos em Ortodontia - implicações éticas e legais Rhonan Ferreira da Silva*, André da Costa Monini**, Eduardo Daruge Júnior***, Luiz Francesquini Júnior***, Marcos Augusto Lenza****  A RTIGO  I NÉDITO  * Mestre em Odontologia Legal FOP/UNICAMP . P rofessor de Od ontologia Legal UNIP (GO).  ** Especializando em Ortodontia FOAr/UNESP .  *** Professor Doutor em Odo ntologia Legal FOP/UNICAMP.  **** Doutor em Ortodontia e Ortop edia Facial pela Universidade de Nebraska (EUA). Pro fessor Titular de Ortodont ia FO-UFG. Resumo Palavras-chave: Ortodontia. Auxiliares de Odontologia. Odontologia legal. Ética. Introdução: o mercado de trabalho tem se mostrado saturado de prossionais atuando nos grandes centros urbanos e, por este motivo, as estratégias de produtividade são imprescindíveis. A delegação de funções aos auxiliares odontológicos tem se tornado vital e corriqueira para aqueles que exercem a Ortodontia. Objetivo: conhecer o perl do cirurgião-dentista espe- cialista nesta área e as funções delegadas por ele à equipe auxiliar. Metodologia: foi aplicado um questionário a todos os especialistas em Ortodontia e Ortopedia Facial inscritos no Con- selho Regional de Odontologia de Goiás, com atividade em Goiânia e Aparecida de Goiânia. Resultados e Conclusões: os resultados demonstraram que os ortodontistas, de um modo ge- ral, aproveitam bem a mão-de-obra auxiliar chegando até a ultrapassar os limites ético-legais. INTRODUÇÃO Atualmente, o tratamento ortodôntico correti- vo vem sendo parcialmente desmisticado, devi- do ao surgimento de novos conhecimentos aliado ao desenvolvimento de novas técnicas, materiais e procedimentos, tornando-o mais acessível para que uma maior quantidade de prossionais o exe- cute. Neste ínterim, a grande oferta de cursos de pós-graduação contribuiu para que a Ortodontia se encontrasse inserida num contexto competiti- vo, tendo seu acesso facilitado pela considerável oferta de mão-de-obra que disputa o mercado. A popularização da Ortodontia fez com que os prossionais que atuam nesta área adquirissem mé- todos que agilizassem o atendimento dos pacientes, com o intuito de aumentar a produtividade e dimi- nuir custos. Dentre os diversos métodos, destacam-se a adaptação do local de trabalho para o atendimen- to simultâneo de pacientes e a delegação da maior quantidade possível de funções à equipe auxiliar . De um modo geral, a utilização de pessoal auxiliar no consultório odontológico torna-se fundamental para se conseguir um aumento na produtividade, estando também relacionada com a melhoria da qualidade de trabalho, dimi- nuição do estresse e fadiga prossional além da possibilidade de execução dos procedimentos com maior ergonomia e diminuição do custo

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5/10/2018 Utiliza o de auxiliares na orto_Responsabilidade legal - slidepdf.com

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Utilização de auxiliares odontológicos em

Ortodontia - implicações éticas e legais

Rhonan Ferreira da Silva*, André da Costa Monini**, Eduardo Daruge Júnior***, Luiz Francesquini Júnior***,Marcos Augusto Lenza****

 A r t i g o i n é d i t o

*MestreemOdontologiaLegalFOP/UNICAMP.ProfessordeOdontologiaLegalUNIP(GO). **EspecializandoemOrtodontiaFOAr/UNESP. ***ProfessorDoutoremOdontologiaLegalFOP/UNICAMP. ****DoutoremOrtodontiaeOrtopediaFacialpelaUniversidadedeNebraska(EUA).ProfessorTitulardeOrtodontiaFO-UFG.

Resumo

Palavras-chave:Ortodontia.AuxiliaresdeOdontologia.Odontologialegal.Ética.

Introdução: o mercado de trabalho tem se mostrado saturado de profssionais atuando nosgrandes centros urbanos e, por este motivo, as estratégias de produtividade são imprescindíveis.A delegação de unções aos auxiliares odontológicos tem se tornado vital e corriqueira para

aqueles que exercem a Ortodontia. Objetivo: conhecer o perfl do cirurgião-dentista espe-cialista nesta área e as unções delegadas por ele à equipe auxiliar. Metodologia: oi aplicadoum questionário a todos os especialistas em Ortodontia e Ortopedia Facial inscritos no Con-selho Regional de Odontologia de Goiás, com atividade em Goiânia e Aparecida de Goiânia.Resultados e Conclusões: os resultados demonstraram que os ortodontistas, de um modo ge-ral, aproveitam bem a mão-de-obra auxiliar chegando até a ultrapassar os limites ético-legais.

INTRODUÇÃOAtualmente, o tratamento ortodôntico correti-vo vem sendo parcialmente desmistifcado, devi-do ao surgimento de novos conhecimentos aliadoao desenvolvimento de novas técnicas, materiaise procedimentos, tornando-o mais acessível paraque uma maior quantidade de profssionais o exe-cute. Neste ínterim, a grande oerta de cursos depós-graduação contribuiu para que a Ortodontiase encontrasse inserida num contexto competiti-vo, tendo seu acesso acilitado pela considerável

oerta de mão-de-obra que disputa o mercado.A popularização da Ortodontia ez com que os

profssionais que atuam nesta área adquirissem mé-

todos que agilizassem o atendimento dos pacientes,com o intuito de aumentar a produtividade e dimi-nuir custos. Dentre os diversos métodos, destacam-sea adaptação do local de trabalho para o atendimen-to simultâneo de pacientes e a delegação da maiorquantidade possível de unções à equipe auxiliar.

De um modo geral, a utilização de pessoalauxiliar no consultório odontológico torna-seundamental para se conseguir um aumentona produtividade, estando também relacionadacom a melhoria da qualidade de trabalho, dimi-

nuição do estresse e adiga profssional além dapossibilidade de execução dos procedimentoscom maior ergonomia e diminuição do custo

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Utção d uxrs odotoóos m Ortodot - mpçõs éts s

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operacional8,10,11,13,17,21.Primordialmente, a participação dos auxiliares

odontológicos estava relacionada com o atendi-mento público visando minimizar um problemasocial de acesso aos serviços odontológicos15, mashoje estes profssionais são utilizados para otimi-zar o atendimento clínico nos consultórios de ummodo geral. Inserida neste contexto, a equipe au-xiliar odontológica assume um papel undamentalpara a agilização do tratamento odontológico. Dasdiversas categorias de profssionais auxiliares, as quetêm uma relação mais estreita com a Ortodontia sãoa secretária, o Técnico em Higiene Dental (THD) e

o Atendente de Consultório Dentário (ACD). Noconsultório odontológico, secretária é a unção exer-cida por quem auxilia o profssional da Odontologiaem questões administrativas (recepção, agenda depacientes, correspondências, dentre outras unções)e que não possui curso de ormação ou habilitaçãolegal para exercer as atribuições de ACD ou THD.Recentemente, o ACD teve a sua nomenclaturamodifcada para Auxiliar de Consultório Dentário,por meio da Decisão n° 47 editada pelo ConselhoFederal de Odontologia4.

As categorias de THD e ACD tiveram os seuscurrículos mínimos de ormação estabelecidospor meio do Parecer n° 460/75 do Ministérioda Educação, mas a área de atuação bem comoas atribuições específcas de cada unção estãoatualmente regulamentadas pelo Conselho Fede-ral de Odontologia (CFO), por meio da ResoluçãoCFO 063/20053. Esta resolução revogou a antigaConsolidação das Normas para Procedimentos nosConselhos de Odontologia, editada pela ResoluçãoCFO nº 185/93, mas conservou boa parte do seuconteúdo, inclusive aquele relacionado com as atri-buições específcas da equipe auxiliar odontológica.Recentemente, o Ministério da Saúde publicou ummanual2, sustentado pelo Código de Ética Odonto-lógica5 e na antiga Resolução CFO 185/93, conten-do o perfl de competências profssionais do THDe do ACD com o intuito de ornecer subsídios àsinstituições ormadoras. A observação destas nor-

mas propicia ao cirurgião-dentista a possibilidadede delegar diversas unções à equipe auxiliar sem,

contudo, erir os princípios éticos e legais que re-gem o exercício da Odontologia.Tendo em vista a importância da utilização de

pessoal auxiliar na prática odontológica, torna-seapropriado analisar se o especialista em Orto-dontia e Ortopedia Facial tem conhecimento dasunções que podem ser delegadas a esta equipe(THD, ACD e secretária), correlacionando com asatribuições permitidas e estabelecidas na legisla-ção vigente, bem como analisar o perfl dos pro-fssionais que exercem esta especialidade.

MATERIAL E MÉTODOPara a realização do presente estudo elabo-

rou-se um questionário contendo questões es-truturadas, as quais sinalizam aspectos ineren-tes à ormação profssional do especialista emOrtodontia e Ortopedia Facial, devidamenteinscrito no Conselho Regional de Odontologiade Goiás (CRO-GO), à atualização de seus co-nhecimentos e à delegação de unções à equipeauxiliar. Algumas questões eram compostas por

múltiplas alternativas, podendo os ortodontistasassinalarem mais de uma. Nestes questionáriosoi assegurada, a cada participante, a confden-cialidade das inormações prestadas, além do usoexclusivo para fns de pesquisa, por meio de umTermo de Consentimento Livre e Esclarecido,sendo que os mesmos, em número de 95, oramaplicados nos municípios de Goiânia e Apa-recida de Goiânia, ambos no Estado de Goiás.A presente pesquisa oi devidamente aprovadapelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdadede Odontologia de Piracicaba – UNICAMP, sobo número 137/2003. Os dados obtidos nos ques-tionários oram inormatizados e, para tal, oiconeccionado um banco de dados, utilizando-se planilhas do Microsot Excel 2000. O mesmoprograma oi utilizado para o levantamento dasreqüências das respostas e os resultados oramanalisados por estatística descritiva.

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Silva, R. F.; MOnini, a. c.; DaRUge JúniOR, e.; FRanceSqUini JúniOR, l.; lenza, M. a.

R Dt Prss Ortodo Ortop F 123 Mrá, . 11, . 5, p. 121-128, st./out. 2006

RESULTADOSDos 95 questionários aplicados, 84 (88,4%)

oram devolvidos e apresentavam-se devidamenterespondidos. Dentre o total de questionários váli-dos (84), observou-se que 61,9% da amostra eramcompostos por profssionais do gênero masculinoe o restante (38,1%) era do gênero eminino.

Quando analisado o perfl de ormação dos pro-fssionais entrevistados, constatou-se que 60,7% segraduou em aculdades de Odontologia públicase os demais (39,3%) em instituições particulares.Em relação à ormação de pós-graduação em Or-todontia e Ortopedia Facial, 83,3% dos entrevis-

tados possuía especialização nestas áreas, 21,4%possuía mestrado e 2,4% doutorado.

Em relação à reqüência de atualização dos co-nhecimentos em Ortodontia, 31% buscam cursosrelacionados a esta área trimestralmente, 21,4%semestralmente, 13,1% anualmente e os demaisem outra periodicidade.

Analisando o tempo de exercício profssionalcomo especialista em Ortodontia e OrtopediaFacial, constatou-se que 30,9% atuavam em umperíodo inerior a cinco anos, 32,1% entre cinco e

dez anos, 27,4% entre dez e vinte anos e 9,6% emum período superior a vinte anos.

Com relação ao local de trabalho, todos os en-trevistados atuavam em clínica particular, 9,5%

também trabalhavam em instituições de ensinosuperior, 4,8% em serviço público e 3,6% em clí-

nicas de terceiros.Em relação à obtenção de conhecimentos eorientações odonto-legais, verifcou-se que 85,7%da amostra cursaram a disciplina de OdontologiaLegal e/ou Ética na graduação e 60,7% na pós-graduação.

Com relação ao emprego de profssional auxi-liar, constatou-se que 73,8% empregavam ACD,72,6% secretária e 16,7% trabalhavam com THD,conorme tabela 1.

Quando questionado ao ortodontista sobre

onde está presente a legislação que estabelecequais as unções que podem ser delegadas à equi-pe auxiliar, 53,6% não sabiam, 25% citaram a re-solução CFO 185/93 (que corresponde atualmen-te à Resolução CFO 063/20053) e 21,4% citaramo Código de Ética Odontológica (CEO)5.

Quando questionado ao ortodontista se os pro-fssionais da sua equipe auxiliar trabalhavam dire-tamente com o paciente, 38% relataram que não eo restante (62%) respondeu que sim ou eventual-mente.

Do total de ortodontistas, 67,8% relataram queestão presentes fsicamente quando os profssionais

Tabela 1 - Rção dos profssos uxrs u trb-hm juto o ortodotst.

categoria profssionalnúmero de

profssionais%

acD 62 73,8

srtár 61 72,6acD srtár 36 42,8

THD 14 16,7

acD (xusmt) 14 16,7

srtár (xusmt) 16 19

THD, acD srtár 7 8,3

THD acD 5 6

ão mpr 4 4,8

THD srtár 2 2,4

= 84.

Tabela 2 - Fuçõs stbds Rsoução cFO063/20053 u podm sr dds pos ortodotstsos THD.

unções delegadas pelo ortodontistareqüência

bsout rt (%)

rr tst d tdd pupr 0 0

rr rmoção d dutos, ps áuos suprs

8 9,5

rspodr p dmstrção d í 13 15,5

r tomd rr rdorfstrbus

21 25

prtpr do trmto d auxr dcosutóro Dtáro (acD)

49 58,3

oor modos 65 77,4

r dmostrção d té dsoção

69 82,1

prprr modrs 73 87

= 84.

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da equipe auxiliar estão trabalhando diretamentecom o paciente, 26,2% não e 6% estão presentes

eventualmente.Dentre as diversas unções delegadas pelo orto-dontista à equipe auxiliar odontológica, as presen-tes na tabela 2 estão enumeradas como atribuiçõeslegalmente permitidas para o THD e na tabela 3as permitidas para o ACD realizarem junto ao ci-

rurgião-dentista. Na tabela 4 oram relacionadosoutros procedimentos, comuns da rotina de trata-

mento ortodôntico, e que não estão relacionadosna Resolução CFO 063/20053.

DISCUSSÃONos tempos atuais, a Odontologia presencia um

momento em que o mercado de trabalho apresen-

Tabela 3 - Fuçõs stbds Rsoução cFO 063/20053 u podm sr dds pos ortodotsts o acD.

unções delegadas pelo ortodontistareqüência

bsout rt (%)

rr motr rdorfs trbus 24 28,6pr métodos prtos pr otro d ár dtár 46 54,8

sor modrs 46 54,8

otror o momto fro 50 59,5

prhr mrr fhs ís 51 60,7

oor modos d sso 65 77,4

ortr o pt sobr h bu 69 82,1

mpur mtrs d uso odotoóo 72 85,7

uxr o tdmto o pt 74 88,1

strumtr o rurão-dtst o THD juto à dr oprtór 75 89,3

prprr o pt pr o tdmto 76 90,5

prodr osrção mutção do upmto odo- toóo 77 91,7

mtr m ordm ruo fháro 81 96,4

mrr osuts 81 96,4

= 84.

Tabela 4 - Fuçõs ão stbds Rsoução cFO 063/20053 dds pos ortodotsts à up uxr.

unções delegadas pelo ortodontistareqüência

bsout rt (%)

tção d rmpos /ou mos d prhos ortodôtos 0 0

rmoção d rs u f drd os dts pós rtrd doprho ortodôto

5 6

om drt d bruts 6 7,1

rmoção do prho ortodôto 6 7,1

 tro d fos ortodôtos 12 14,3

om d otção fx 14 16,7

dptção (r) /ou mtr d bds ortodôts 16 19

rtrd ou ooção d st/mrrhos 36 42,8

rção d mods d studo 39 46,4

ooção d borrhs pr sprção d dts 55 65,5

= 84.

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Silva, R. F.; MOnini, a. c.; DaRUge JúniOR, e.; FRanceSqUini JúniOR, l.; lenza, M. a.

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ta-se repleto de profssionais atuando nos grandescentros urbanos e um dos atores que agravou esta

situação oi a abertura indiscriminada de cursos degraduação e pós-graduação. Em maio de 2005, apágina na internet do CFO continha, cadastradosem seu banco de dados, 170 cursos de graduaçãoem Odontologia no país, sendo que 28,8% desteseram oerecidos somente no estado de São Paulo6.Além disso, a prolieração de planos de saúde, con-vênios, dentre outras entidades que atuam diretaou indiretamente no âmbito odontológico, acirroua disputa de mercado entre os cirurgiões-dentistasna conquista de um maior número de pacientes.

Certos tratamentos, como a Ortodontia corre-tiva, estão atualmente com o acesso acilitado aopúblico pela grande quantidade de profssionaisque os executam. No Brasil, em maio de 2005, ha-via 6.605 especialistas em Ortodontia e OrtopediaFacial inscritos em todos os Conselhos Regionaisde Odontologia (CRO), sendo que 32,8% estavaminscritos somente no CRO-SP6. Esta grande oertade mão-de-obra especializada aumentou a con-corrência profssional, pois além de disputarem ospacientes entre si, estes profssionais também con-

correm com os clínicos gerais, que tiveram a a-cilitação do aprendizado da Ortodontia corretivapela enorme oerta de cursos de apereiçoamentonesta área.

Uma das ormas de se obter um aumento naprodutividade é inserindo a equipe odontológicaauxiliar na execução das unções que lhe são per-mitidas e que estão estabelecidas na legislação quenorteia a profssão. O presente trabalho observouque 95% dos ortodontistas entrevistados utili-zam-se desta conduta, constituindo um resultadomaior que os encontrados por Eleutério e SilvaFilho7 (81%); Serra17 (79,4); Serra, Sasso Garcia18 (83,2%) e Saliba et al.14 (37,5%), demonstrandoque os profssionais que exercem esta especialida-de estão atentos para este quesito.

No entanto, quase a metade (45,2%) dos orto-dontistas não utiliza o seu pessoal auxiliar na apli-cação de métodos preventivos para controle da

cárie dentária e não delega diversas outras unçõesque são permitidas pela legislação vigente (Tab. 2,

3). Serra e Sasso Garcia

18

observaram que a ins-trumentação do cirurgião-dentista era uma unçãodelegada por 58% dos profssionais entrevistadose neste trabalho, quase 90% dos ortodontistas sebenefcia desta conduta, demonstrando que estesprofssionais necessitam e usuruem mais destavantagem quando comparados com as pesquisasrealizadas com clínicos gerais.

Diante da grande utilização de profssionais au-xiliares na Ortodontia, surge um ponto polêmico eque necessita de uma abordagem criteriosa: quais

as atribuições que podem ou devem ser delegadasà equipe auxiliar? Para as categorias reconhecidaspelo CFO (THD e ACD), esta resposta está atual-mente presente na Resolução CFO 063/20053,norma esta que relaciona quais as atribuições es-pecífcas de cada categoria. A não observação des-tas orientações normativas pode propiciar a ins-tauração de processos éticos ou criminais contrao ortodontista e contra o profssional auxiliar porextrapolar os limites de sua atuação19.

Na prática ortodôntica, onde o especialista

nesta área pode trabalhar com mais de um pro-fssional auxiliar (Tab. 1), é imprescindível que omesmo tenha conhecimento das atribuições quepodem ser delegadas, de acordo com a legislaçãovigente. Como exemplo, pode-se citar a realiza-ção de uma moldagem de estudo, necessária paraa avaliação da execução do tratamento. Sabendoque na obtenção dos modelos de gesso estão en-volvidas as ases de seleção das moldeiras, prepa-ração do material e a conecção dos modelos emgesso, observou-se que estas unções eram dele-gadas por 54,8%, 87% e 77,4% dos entrevistados,respectivamente. Considerando que a moldagempropriamente dita é atividade privativa do cirur-gião-dentista, constatou-se que 46,4% dos entre-vistados delegava esta unção à equipe auxiliar.Estes resultados demonstram que a maior partedos ortodontistas envolve a equipe auxiliar duran-te o procedimento de obtenção de modelos, inclu-

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sive permitindo que estes profssionais extrapolemsuas atribuições específcas, ao delegar a realização

da moldagem de estudo.Os procedimentos relacionados na tabela 4,dentre eles a realização de moldagens de estudo,colagem direta de braquetes e a colagem de con-tenção fxa, constituem atribuições específcas docirurgião-dentista e, de acordo com a legislação vi-gente, não podem ser delegados à equipe auxiliar.

Ao considerarmos que a atribuição de uma un-ção está baseada na reversibilidade do ato18, seria justifcável delegar alguns procedimentos em Orto-dontia que não estão descritos na legislação vigen-

te, dentre eles a retirada de elásticos de separaçãodentária e de alastic/amarrilho. Na execução destesatos, a probabilidade de ocasionar dano ao pacienteé mínima, o que não traria prejuízo ao tratamento.Entretanto, a delegação destes procedimentos e deoutros que a classe odontológica julgar pertinente,como a realização de moldagem de estudo, só seriapermitida após a inclusão dos mesmos numa próxi-ma revisão da norma regulamentadora.

Por outro lado, a revisão desta norma legaldeve considerar a necessidade de conhecimento

técnico-científco na realização do procedimento,estando sensível aos riscos inerentes à execução doato. Kharbanda et al.9 relataram o caso de uma ga-rota que engoliu uma coroa metálica durante umasessão de tratamento ortodôntico. A paciente oimonitorada radiografcamente e o objeto degluti-do oi recuperado no quinto dia após o acidente,sem necessidade de intervenção cirúrgica. Miltonet al.12 relataram três outros casos onde oramdeglutidas partes de aparelhos ortodônticos (fose braquetes) de pequenas dimensões e que nãocausaram danos aos pacientes. Entretanto, podemocorrer acidentes decorrentes do uso de um apa-relho ortodôntico onde uma intervenção cirúrgicatorna-se necessária, como no caso relatado por Ab-del-Kader1, onde uma barra transpalatina quebroue oi deglutida por uma paciente de doze anos,quando esta se alimentava. Como a colocação dosfos e bandas e a colagem de braquetes constituem

atos indelegáveis na prática ortodôntica, de acor-do com a norma regulamentadora vigente, qual-

quer acidente ocorrido durante a execução destesprocedimentos será de responsabilidade direta doortodontista. Além disso, compete ao profssionala inspeção dos objetos, materiais e aparelhos queserão utilizados ou colocados na cavidade bucaldo paciente, pois estes integram o tratamento es-tabelecido pelo cirurgião-dentista.

No presente trabalho, constatou-se que a subs-tituição de fos ortodônticos (14,3%), colagem decontenção fxa (16,7%) e adaptação e/ou cimen-tação de bandas ortodônticas (19%) estão sendo

delegados à equipe auxiliar. Este tipo de condutaapresenta pequeno risco imediato à saúde do pa-ciente, mas exige grande conhecimento técnico-científco do profssional, podendo causar compli-cações para o tratamento, caso sejam executadosinadequadamente. A remoção do aparelho orto-dôntico, delegada por 7,1% da amostra, e outrosprocedimentos possuem um risco de dano ime-diato maior, podendo levar à ratura do elementodentário ou desgaste desnecessário da superíciedo esmalte durante a remoção do braquete. Desse

modo, estes procedimentos devem ser executadosobrigatoriamente pelo ortodontista, não podendoser delegados à equipe auxiliar.

Cabe ressaltar que a assistência prestada pelaequipe auxiliar, que pode atuar diretamente nacavidade bucal do paciente, exige a indispensávelsupervisão do cirurgião-dentista, além da sua pre-sença ísica durante a realização do procedimen-to3. Esta conduta não oi adotada por quase umterço da amostra (32,2%), confgurando uma in-ração passível de punição, de acordo com as nor-mas legais vigentes.

A delegação de procedimentos a serem reali-zados na cavidade bucal do paciente, que não es-tão discriminados na resolução CFO 063/20053,constitui inração ética com sansões administrati-vas e multa aplicáveis tanto ao ortodontista quan-to ao profssional auxiliar inscrito no CRO, pelaconivência com o exercício ilegal da Odontologia,

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Silva, R. F.; MOnini, a. c.; DaRUge JúniOR, e.; FRanceSqUini JúniOR, l.; lenza, M. a.

R Dt Prss Ortodo Ortop F 127 Mrá, . 11, . 5, p. 121-128, st./out. 2006

conorme estabelece o artigo 9º, IV do Código deÉtica Odontológica5. Além disso, aquele que exer-

ce a Odontologia de modo ilegal ou extrapolandoos seus limites, inringe o artigo 282 do CódigoPenal Brasileiro podendo ser penalizado com de-tenção além de possível multa.

No que se reere à ormação odonto-legal dosortodontistas, observou-se que 85,5% tiveramacesso a estes conhecimentos ainda durante a gra-duação e 60,7% um reorço na pós-graduação. Noentanto, apenas 25% relataram saber onde estápresente a legislação que regulamenta as atribui-ções delegáveis à equipe auxiliar, indicando que

esta inormação não está completamente con-solidada, mesmo com 83,3% dos ortodontistasatualizando os seus conhecimentos pelo menosuma vez ao ano. Desse modo, torna-se necessáriaa busca de inormações sobre a legislação que en-volve o exercício de suas atividades profssionais,pelo dinamismo das modifcações nas normasregulamentadoras, culminando em mudanças deconduta e comportamento.

O atual estágio da Odontologia, no que dizrespeito ao acesso ao tratamento e quantidade de

profssionais no mercado, mostra que a delegaçãode unções aos auxiliares é um processo irrever-sível, principalmente quando relacionado ao tra-tamento ortodôntico. Em outros países, a atuaçãodos auxiliares na Ortodontia apresenta-se bemmais abrangente que no Brasil. Seeholzer et al.16 constataram, em uma pesquisa realizada em vinte

e dois países da Europa, que a cimentação de ban-das e a colocação/remoção de arcos eram unções

delegadas aos auxiliares odontológicos em 5 e 10países, respectivamente. Na Escandinávia, os auxi-liares podem ajustar separadores dentários, colarbraquetes, remover arcos e aparelhos fxos20.

Diante destes atos e sabendo que diversos pro-cedimentos realizados na prática ortodôntica, nãopermitidos pela legislação vigente, estão sendo de-legados à equipe auxiliar; seria prudente a revisãoresponsável da norma que defne a atuação destesprofssionais junto ao ortodontista. Permitir novasdelegações nas diversas especialidades odontológi-

cas proporcionaria ao cirurgião-dentista uma ade-quação à realidade atual do mercado de trabalho eregulamentaria alguns procedimentos que já estãosendo delegados à equipe auxiliar.

CONCLUSÕESA partir dos dados obtidos e de acordo com a

metodologia empregada, é lícito concluir que:- Diversos procedimentos não permitidos pela

legislação estão sendo delegados pelo ortodontistaà equipe auxiliar.

- Apenas 25% dos ortodontistas entrevistadosindicou corretamente onde está presente a legis-lação que regulamenta as atribuições da equipeauxiliar odontológica.

Enviadoem:maiode2005Revisadoeaceito:julhode2005

Utilization of dental assistants in Orthodontics - ethics and legal implications

AbstractIntroduction: theworkmarkethasbeenshowntobesaturatedwithproessionalsworkingatlargeurbancentersand,orthisreason,productivestrategiesareindispensable.ThedelegationounctionstodentalassistantsisbecomingvitalandquitecommonorthosethatworkwithOrthodontics.Aim: toevaluatetheproleotheorthodontistsandtheworkloaddelegatedbythemtothedentalassistantteam.Methods: aquestionnairewasgiventoallspecialistsinOrthodonticsandDentoacialOrthopedicsregisteredattheRegionalCounciloDentistryoGoiás,withpracticesinGoiâniaandAparecidadeGoiânia. Results and Conclusions: theresultsdemonstratedthatorthodontists,ingeneral,takeadvantageotheworklaborothedentalassistantsevensurpassingtheethical-legallimits.

Key words:Orthodontics.Dentalassistants.ForensicDentistry.Ethics.

5/10/2018 Utiliza o de auxiliares na orto_Responsabilidade legal - slidepdf.com

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Utção d uxrs odotoóos m Ortodot - mpçõs éts s

R Dt Prss Ortodo Ortop F 128 Mrá, . 11, . 5, p. 121-128, st./out. 2006

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