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Balneário Camboriú, 14 de abril de 2012 14 Especial Mais um Festival CineramaBC Textos Caroline Cezar Os filmes da mostra principal D urante quatro dias -de 4 a 8 de abril- Balneário Camboriú recebeu a segunda edição do Festival Internacional de Cinema, o CineramaBC, que trouxe para o Cine Itália (Rua 700 com Central) uma programação de primeira linha para a cidade, entre estréias nacionais e internacionais, curtas de Santa Catarina, do Brasil e do mundo, filme de animação escolhido pelo público, filme infantil, palestras, oficinas e muita troca de informações entre o público presente. O Página3 esteve em todas as sessões e foi um dos apoiadores culturais do festival, pela segunda vez consecutiva. Confira os principais destaques dessa edição. Fotos Divulgação No segundo CineramaBC foram inscritos, nas mostras competitivas, 261 curtas e 140 longas metragens, de várias partes do mundo. Desses a curadoria selecionou 6 curtas e 6 longas para exibir nessa edi- ção. A responsável pelo traba- lho, Bárbara Sturm, disse que procurou trazer filmes com mensagens fortes e marcantes, e que normalmente não chega- riam no circuito de Santa Cata- rina, já que nos grandes centros o cinema não-convencional como alternativa é um pouco mais acessível. “No ano passado venceu Tom Boy, que trata de um tema forte, como a homossexualidade, de forma sutil e delicada. E esse ano trouxemos coisas bem dife- rentes, o e Precinct, que é inusitado, tem um humor meio estranho, e também por ser do Azerbaijão; o Câmera Escura, que achamos um filme bem feito, com uma questão sensí- vel e por ser a estréia mundial, exibido pela primeira vez aqui; o Anna Pavlova, que é bem Ale- manha, e traz muito esse lance da balada, da festa, de forma até degradante -embora o diretor, que estava aí, diga que não, mas eu achei que tem. Aí tem Otelo e L’age Atomic, que são filmes bem atuais e que dialogam muito com o público, o pri- meiro com essa coisa do surfe, mas também do sofrimento, de forma bem direta; e o outro um filme mais alternativo, mais poético, que vai mais pelo lado da arte e da poesia. E o Amor e Dor que também é bem legal, diferente de um filme de amor comum. Competitiva Longa-metragens » Camera Escura / Camera Obscura » O Interrogatório / e Precinct » A Idade Atômica / L’Age Atomic » Otelo em Chamas / Otelo Burning » Amor e Dor / Love and Bruises » Ana Pavlova Vive em Berlim / Ana Pavlova Lives in Berlin Competitiva Curta-metragens » Eu Sou John Wayne / I am John Wayne » Teleféricos / Los Teleféricos » Ligações / Bonds » Confinópolis / Locked City » Ükun’ahpó – Desenforme / Ükun’ahpó – Out of a Mould » Manolo / Manolo Mostra Catarina » Babás / Nanies » Mais ou Menos / More a Less » Máscara Negra / Black Mask » Qual Queijo Você Quer? / Which Cheese You Want? » Sentidos / Senses Homenageados » Cinema: Onde a Terra Acaba » Novas Mídias: Phila7 » Mostra Catarina: O Mundo em Duas Voltas Sessões Especiais » Curadoria do Público: As Biciletas de Belleville. » Sessão Infantil: Uma Professora Muito Maluquinha. Toda a programação O CineramaBC foi divulgado em festivais importantes no início do ano, como o Roterdã IFF.

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Especial para o 2 Cinerama de Balneário Camboriú.

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Page 1: 2 Cinerama

Balneário Camboriú, 14 de abril de 201214 Especial

Mais um Festival CineramaBCTextos Caroline Cezar

Os filmes da mostra principal

Durante quatro dias -de 4 a 8 de abril- Balneário Camboriú recebeu a segunda edição do Festival Internacional de Cinema, o CineramaBC, que

trouxe para o Cine Itália (Rua 700 com Central) uma programação de primeira linha para a cidade, entre estréias nacionais e internacionais, curtas de Santa Catarina, do Brasil e do mundo, filme de animação escolhido pelo público, filme infantil, palestras, oficinas e muita troca de informações entre o público presente. O Página3 esteve em todas as sessões e foi um dos apoiadores culturais do festival, pela segunda vez consecutiva. Confira os principais destaques dessa edição.

Fotos Divulgação

No segundo CineramaBC foram inscritos, nas mostras competitivas, 261 curtas e 140 longas metragens, de várias partes do mundo. Desses a curadoria selecionou 6 curtas e 6 longas para exibir nessa edi-ção. A responsável pelo traba-lho, Bárbara Sturm, disse que procurou trazer filmes com

mensagens fortes e marcantes, e que normalmente não chega-riam no circuito de Santa Cata-rina, já que nos grandes centros o cinema não-convencional como alternativa é um pouco mais acessível. “No ano passado venceu Tom Boy, que trata de um tema forte,

como a homossexualidade, de forma sutil e delicada. E esse ano trouxemos coisas bem dife-rentes, o The Precinct, que é inusitado, tem um humor meio estranho, e também por ser do Azerbaijão; o Câmera Escura, que achamos um filme bem feito, com uma questão sensí-vel e por ser a estréia mundial,

exibido pela primeira vez aqui; o Anna Pavlova, que é bem Ale-manha, e traz muito esse lance da balada, da festa, de forma até degradante -embora o diretor, que estava aí, diga que não, mas eu achei que tem. Aí tem Otelo e L’age Atomic, que são filmes bem atuais e que dialogam muito com o público, o pri-

meiro com essa coisa do surfe, mas também do sofrimento, de forma bem direta; e o outro um filme mais alternativo, mais poético, que vai mais pelo lado da arte e da poesia. E o Amor e Dor que também é bem legal, diferente de um filme de amor comum.

Competitiva Longa-metragens » Camera Escura / Camera Obscura » O Interrogatório / The Precinct » A Idade Atômica / L’Age Atomic » Otelo em Chamas / Otelo Burning » Amor e Dor / Love and Bruises » Ana Pavlova Vive em Berlim / Ana Pavlova Lives in Berlin

Competitiva Curta-metragens » Eu Sou John Wayne / I am John Wayne » Teleféricos / Los Teleféricos » Ligações / Bonds » Confinópolis / Locked City » Ükun’ahpó – Desenforme / Ükun’ahpó – Out of a Mould » Manolo / Manolo

Mostra Catarina » Babás / Nanies » Mais ou Menos / More a Less » Máscara Negra / Black Mask » Qual Queijo Você Quer? / Which Cheese You Want? » Sentidos / Senses

Homenageados » Cinema: Onde a Terra Acaba » Novas Mídias: Phila7 » Mostra Catarina: O Mundo em Duas Voltas

Sessões Especiais » Curadoria do Público: As Biciletas de Belleville. » Sessão Infantil: Uma Professora Muito Maluquinha.

Toda a programação

O CineramaBC foi divulgado em festivais importantes no início do ano, como o Roterdã IFF.

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Balneário Camboriú, 14 de abril de 2012 15Especial

Os premiados

“Otelo em Chamas” (Otelo Burning, África do Sul), de Sara Blecher, foi o escolhido do público como melhor � lme. Trata de um garoto de 16 anos que se descobre sur� sta em pleno clima de apartheid, com revoltas e violência espalhados pelo país. O contato estreito com a natureza e o corpo como veículo possibilita que Otelo viva a liberdade de maneira plena, em um momento com-plicado, quando negros ainda não sur-favam na “praia de brancos” e a regra era pegar em armas e não em pranchas. “Amor e Dor” (França/ China), do dire-tor chinês Ye Lou, melhor � lme na opi-

nião do júri, tem amor, sexo, drama, colocados de maneira pontual e às vezes até contraditória, o que garante um espaço para o não-óbvio na interpre-tação de quem vê. O � lme, que é uma adaptação do romance ”Bitch”, de Jie Liu-Falin, conta a história de Hua, uma estudante chinesa que se mudou para Paris e conhece Matthew, um trabalha-dor braçal, com quem vive uma relação contraditória de paixão e amor, agressi-vidade, diferenças e a� nidades.Na competitiva de curtas o argentino Teleféricos (Los Telefericos), de Federico Artis, foi escolhido o melhor.

O júri também premiou a francesa Helena Klotz, que estava presente no festival, por Melhor Direção em Idade Atômica (L’Age Atomic), que também levou o prêmio de Melhor Ator, para o jovem Elliot Paquet. Corinne Yam, de Amor e Dor, foi premiada como Melhor Atriz, e o júri deu um prêmio especial para “Anna Pavlova Vive em Berlim”, de � éo Solnik, brasileiro, que exibiu seu � lme pela primeira vez no país aqui em Balneário Camboriú, recém vindo do festival do Uruguai.

“Otelo em Chamas” foi escolhido Melhor Filme pelo público do festival. Surfe e violência, dor e liberdade, como temáticas no longa metragem sul africano.

Los Telefericos, curta argentino sobre caminhos que vem e que vão mas nunca se cruzam. Melhor Curta Internacional no CineramaBC.

“Amor e Dor”, longa franco--chinesa mostra uma história de amor intenso. Melhor Filme na escolha do júri.

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Balneário Camboriú, 14 de abril de 201216 Especial16

Além dos filmes das mostras competitivas, foram exibidos um filme infantil - Uma Pro-fessora Muito Maluquinha, de Ziraldo- um filme de animação escolhido pelo público - As Bici-cletas de Belleville, e dois home-nageados - O Mundo em Duas Voltas, de David Schurmann, e Onde a Terra Acaba, de Sérgio Machado, além do filme pro-duzido em um dia na oficina de realização coletiva -e que deu sequência ao feito no ano anterior. “O Mundo em Duas Voltas” foi a sessão mais emocionante pra mim, porque vieram muitas crianças -foram distribuídos ingressos nas escolas- e apesar de não ser um filme especifi-camente para crianças, é um

documentário, elas gostaram muito, fizeram perguntas para o David que estava aí, com os país Heloísa e Wilfredo Schur-mann, eles são muito acessíveis, o pessoal gostou muito, partici-pou”, disse Bárbara. Ela continua: “O Sérgio Machado, de Onde a Terra Acaba, é um diretor que par-ticipa de vários festivais como júri, e é sempre um acréscimo, apesar de estar entrando em gravação, conseguiu vir, foi muito legal, o filme dele sobre a vida e obra de Mário Peixoto encerrou o festival. E a anima-ção é ótima, mas esperava mais participação na votação do público, que foi feita pelo Face-book”, analisa Barbara.

Sessões especiais e homenageados

Jurados e “Coruja de Ouro”Foi a primeira vez que o CineramaBC contou com um corpo

de jurados (o melhor filme ano passado foi escolhido exclusiva-mente pelo público). O júri de curtas-metragens esteve formado pelo diretor Francisco Garcia, a diretora de arte Mônica Palazzo

e o roteirista Filipe Domiano; o júri de longas-metragens era a jornalista Caroline Cezar, o diretor Rodrigo Grota, a atriz e di-

retora Christiane Tricerri, o crítico e escritor Rodrigo Fonseca e o diretor Sérgio Machado. Ao lado, o prêmio “Coruja de Ouro”.

Também foram homenageados o ator Marcos Azevedo e o diretor Rubens Velloso, pelo projeto Phila 7, de Novas Mídias; que pales-traram sobre o tema. Desde 2005 eles pesquisam uma nova forma de expressão artística, em novas mídias, que conta com elementos do teatro, do cinema e usa a tecnologia como suporte, para exibir em uma tela gigante, por exemplo, uma cena conjunta de atores no Brasil, em Singapura e Inglaterra, ao vivo, interagindo entre si simultaneamente. “Não cabe vir com aquele papo “qual é meu público cara? Meu público é qualquer um, hoje a gente tem meca-nismos de gravação e de edição em casa, se não tem a tela grande, tem a internet, podemos movimentar uma idéia de homem, é isso que a arte faz, é isso que o cinema quer fazer, que o teatro quer fazer... Nós construímos a nossa própria mutação”, defendeu Rubens Velloso em sua palestra.

“O Mundo em Duas Voltas”, documentário da Família Schurmann foi muito bem recebido pelo público.

Wilfredo Schurmann (centro) contando suas aventuras para ouvintes atentos no hall do festival; e as crianças satisfeitas com a experiência.

Cartazes do documentário “Onde a Terra Acaba”, de Sér-gio Machado e do curta metra-gem feito na oficina do festival.

Ale Tastardi, da organização do CineramaBC, anotando o “veredicto” do juri, sob supervisão da curadora Bárbara Sturm (direita), que tem ao seu lado, um pouco escondida, Christiane Tricerri, Sérgio Machado (centro), Rodrigo Grota (também escondido) e Rodrigo Fonseca (de óculos).

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Balneário Camboriú, 14 de abril de 2012 17Especial

Apesar de uma programação consistente dos filmes e pales-tras, com os diretores, atores e outros envolvidos com a sétima arte estarem presentes e aces-síveis às discussões; e da boa localização -o festival acontece no centro da cidade-, o público de forma geral ainda deixa a desejar, e comparece menos do que deveria. São 500 mem-bros CineramaBC cadastrados no site do evento, mas menos da metade esteve lá. Os “mem-bros” são pessoas que se cadas-tram no site gratuitamente e com isso recebem descontos e vantagens no festival.O jornalista Bola Teixeira (na foto abaixo, com Ike Gevaerd), de BC, que marcou presença constante, pensa que “o Cine-ramaBC tem o perfil perfeito para que se estabeleça na cidade uma política de turismo cul-tural. A segunda edição do festival já demonstrou que o público daqui não se interessa, mas tenho absoluta certeza que pode atrair amantes do cinema de outras cidades. Basta ter vontade política e abra-çar o projeto idealizado pelo André”, colocou. Bárbara Sturm, que faz a cura-

doria, acha que tem que envol-ver mais as pessoas de alguma forma. Ela teve uma surpresa positiva com as vídeolocado-ras, que receberam bem a idéia e ajudaram na divulgação; e negativa com o estudantes, que mais uma vez não se envolve-ram. “Parece que eles não têm muito interesse, não existem aqueles grupos grandes par-ticipando”. Ela também acha que um fator negativo é que durante o ano o Cine Itália fun-ciona como centro de eventos, e muita gente não o reconhece como cinema. André Gevaerd, que junto com a Bárbara, é o idealizador do festival, chegou a cogitar um projeto para manter o cinema de rua funcionando durante o ano com uma sessão semanal, por exemplo, mas é um projeto que exige patrocí-nio, como acontece com as salas HSBC ou outras que levam o nome do apoiador que as man-tém para exibição de filmes não comerciais.O lado bom, acha Bárbara, é que foi feita uma curadoria sólida, com muitos filmes inscritos, qualidade ótima, e os convi-dados gostaram e elogiaram

muito. “Enfim, vejo como uma consolidação do festival, da pri-meira edição que aconteceu em novembro”. A idéia é que o fes-tival aconteça sempre em abril e que a divulgação comece pelo menos seis meses antes. “Dessa vez foi muito perto”, acha Bár-bara, que diz que já “está de olho” em filmes para a próxima edição do CineramaBC. O diretor Carlos Daniel Rei-chel, de Jaraguá, disse que fica feliz de participar pelo segundo ano do festival Cinerama BC. “Novamente a oficina em que fui um dos orientadores con-seguiu produzir um curta que agradou o público presente e, principalmente, os alunos ins-critos. Estes tiveram um pri-meiro contato com construção narrativa, onde o ligar a câmera só será completo quando se sabe o que vai na frente da lente. O contato com filmes e cineastas de outros países ajuda a reforçar o caráter universal do cinema. Encontros, debates e muita conversa reforçaram a fé que muitos ainda depositam nesta que é chamada de sétima arte. Eu sigo acreditando, e você?”

O que falta?

Lugares de sobra em uma das sessões na enorme sala do Cine Itália.

Marcelo de Lima

André Gevaerd e Bárbara Sturm, idealizadores do festival.