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14 Edição nº 151 - Julho de 2019 ssim como os seres humanos se es- tressam por meio de diversas pressões psicológicas, a planta também fica es- tressada de acordo com as mudanças de condição do ambiente. O estresse da planta é proveniente dos obstáculos de temperaturas como falta de exposição ao sol e temperaturas baixas e altas; estresse de quantidade de água; más condições climáticas que vêm do excesso de umidade, insuficiência ou excesso de nutri- entes, ventanias, geadas e outros. Quando essas condições adversas ul- trapassam um limite, causam anormalidades ANA MARIA PRIMAVESI Engenheira Agrônoma nascida em 1920 e formada na Áustria. Foi a primeira agrônoma a afirmar que o solo tem vida. Durante seu período de faculdade, a Europa enfrentava a Segunda Guerra e ela persistiu em seus estudos, determinada a estudar o solo, sua grande paixão. Casou-se com Artur Primavesi ainda na Áustria e o casal emigrou para o Brasil, onde viveram em Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. Escreveu o livro que seria o divisor de águas na com- preensão da prática da agricultura ecológica: “Manejo Ecológico do Solo”. Além desse, outros livros foram publicados e que foram relançados pela Editora Expressão Popular. Facebook: @anamariaprimavesi AGRICULTURA NATURAL- Ana Maria Primavesi A O estresse da planta é o que chama a praga FOTO: Arquivo Pessoal - Ana Maria Primavesi pragas e repolhos sem pragas. Nos repolhos com mau desenvolvimento, vê-se maior sur- gimento de pragas. Também o pulgão tende a surgir em plantas cujo desenvolvimento é fraco. Por conseguinte, para evitar o ataque de insetos, é importante ver de que maneira não se causa estresse na planta e fazer com que esta manifeste o vigor que ela originalmente possui. O nitrogênio orgânico absorvido pela raiz é composto em aminoácidos e, no final, tornando-se proteína, compõe a estrutura da planta. Mas o vegetal que possui algum dis- túrbio, não desenvolve normalmente esse processo de formação da proteína e, às vezes, ficam estagnados dentro da seiva como ni- trogênio inorgânico e aminoácidos livres. Na realidade, esses aminoácidos livres são a fonte de energia dos insetos e, de acordo com a quantidade deles, os insetos também aumentam ou diminuem. Se os nutrientes não estão balanceados, ou surgem distúrbios no metabolismo em função dos agrotóxicos, as plantas produzem em grande quantidade substâncias como glicina, açúcares solúveis, aminoácidos livres e outros que servem de ali- mentos para os insetos. O que mais influencia na colheita da plantação é o nitrogênio. Por isso, na Agricul- tura Natural valoriza-se o aumento da capaci- dade produtiva e coloca-se grande quantidade de fertilizante na lavoura. Na Agricultura Natural também se divulga a técnica que emprega o Bokashi EM, que é o produto da fermentação de materiais orgânicos. Há uma tendência para o aumento de fazendas que na reação fisiológica da planta, tais como redução da capaci- dade de fotossíntese, de absorção dos nutri- entes e da água, baixa resistência às doenças e, como resultado, a planta cresce frágil, apresentando “quei- madura” das raízes, folhas danificadas, fo- lhas quebradiças e ou- tras formas de fraque- za. Essa é a chance do ataque para os insetos. Por exemplo, no cultivo do repolho, per- cebemos repolhos com Figura 1 = Pulgão-Negro (Brevicoryne brassicae) em folha de Couve CRÉDITOS: aphidnet.org

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Page 1: AGRICULTURA NATURAL- Ana Maria Primavesi...151 2019 15 AGRICULTURA NATURAL - Ana Maria Primavesi BIBLIOTECA LIVRO: “A Biocenose do solo na produção vegetal & Deficiências minerais

14 Edição nº 151 - Julho de 2019

ssim como os seres humanos se es-tressam por meio de diversas pressões psicológicas, a planta também fica es-tressada de acordo com as mudanças

de condição do ambiente. O estresse da planta é proveniente dos obstáculos de temperaturas como falta de exposição ao sol e temperaturas baixas e altas; estresse de quantidade de água; más condições climáticas que vêm do excesso de umidade, insuficiência ou excesso de nutri-entes, ventanias, geadas e outros.

Quando essas condições adversas ul-trapassam um limite, causam anormalidades

ANA MARIA PRIMAVESIEngenheira Agrônoma nascida em 1920 e formada na Áustria. Foi a primeira agrônoma a afirmar que o solo tem vida. Durante seu período de faculdade, a Europa enfrentava a Segunda Guerra e ela persistiu em seus estudos, determinada a estudar o solo, sua grande paixão. Casou-se com Artur Primavesi ainda na Áustria e o casal emigrou para o Brasil, onde viveram em Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. Escreveu o livro que seria o divisor de águas na com-preensão da prática da agricultura ecológica: “Manejo Ecológico do Solo”. Além desse, outros livros foram publicados e que foram relançados pela Editora Expressão Popular. Facebook: @anamariaprimavesi

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pragas e repolhos sem pragas. Nos repolhos com mau desenvolvimento, vê-se maior sur-gimento de pragas. Também o pulgão tende a surgir em plantas cujo desenvolvimento é fraco. Por conseguinte, para evitar o ataque de insetos, é importante ver de que maneira não se causa estresse na planta e fazer com que esta manifeste o vigor que ela originalmente possui.

O nitrogênio orgânico absorvido pela raiz é composto em aminoácidos e, no final, tornando-se proteína, compõe a estrutura da planta. Mas o vegetal que possui algum dis-túrbio, não desenvolve normalmente esse processo de formação da proteína e, às vezes, ficam estagnados dentro da seiva como ni-trogênio inorgânico e aminoácidos livres.

Na realidade, esses aminoácidos livres são a fonte de energia dos insetos e, de acordo com a quantidade deles, os insetos também aumentam ou diminuem. Se os nutrientes não estão balanceados, ou surgem distúrbios no metabolismo em função dos agrotóxicos, as plantas produzem em grande quantidade substâncias como glicina, açúcares solúveis, aminoácidos livres e outros que servem de ali-mentos para os insetos.

O que mais influencia na colheita da plantação é o nitrogênio. Por isso, na Agricul-tura Natural valoriza-se o aumento da capaci-dade produtiva e coloca-se grande quantidade de fertilizante na lavoura. Na Agricultura Natural também se divulga a técnica que emprega o Bokashi EM, que é o produto da fermentação de materiais orgânicos. Há uma tendência para o aumento de fazendas que

na reação fisiológica da planta, tais como redução da capaci-dade de fotossíntese, de absorção dos nutri-entes e da água, baixa resistência às doenças e, como resultado, a planta cresce frágil, apresentando “quei-madura” das raízes, folhas danificadas, fo-lhas quebradiças e ou-tras formas de fraque-za. Essa é a chance do ataque para os insetos.

Por exemplo, no cultivo do repolho, per-cebemos repolhos com Figura 1 = Pulgão-Negro (Brevicoryne brassicae) em folha de Couve

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Page 2: AGRICULTURA NATURAL- Ana Maria Primavesi...151 2019 15 AGRICULTURA NATURAL - Ana Maria Primavesi BIBLIOTECA LIVRO: “A Biocenose do solo na produção vegetal & Deficiências minerais

Edição nº 151 - Julho de 2019 15AGRICULTURA NATURAL - Ana Maria Primavesi

BIBLIOTECA

LIVRO: “A Biocenose do solo na produçãovegetal & Deficiências minerais em culturas”Autor: Ana Maria PrimavesiNúmero de páginas: 608 - R$ 60,00ISBN: 9788577433285Editora: Expressão Popular(www.expressaopopular.com.br)

Esta obra foi originalmente publicada em duas par-tes: Moderna Agricultura Intensiva volume I – a bioce-nose do solo na produção vegetal, editado em 1964 pela Editora Pallotti (Santa Maria/RS), e Moderna Agricultura Intensiva volume II – deficiências minerais em culturas: nutrição e produção vegetal, editado no ano seguinte pelas Oficinas Gráfica da Livraria do Globo S. A. (Porto Alegre/RS). Por serem complementares, juntamos os dois volumes, identificados agora por seus antigos sub-títulos.

o utilizam em grande quantidade, o que faz com que o nitrogênio acumule-se em forma de nitritos causando uma queda na qualidade.

Natural significa ter o que é ne-cessário na hora necessária e na quanti-dade necessária. Para a saúde da planta, pode-se dizer que o correto é que os nu-trientes não sejam muitos nem poucos. O excesso de um ou outro fragiliza a con-stituição da planta.

Normalmente, no caso do arroz, quando a capacidade de fotossíntese diminui pela falta de luminosidade, acumula-se um excesso de nitrogênio na planta, ou seja, o que não foi metabo-lizado. Isso significa que a planta não conseguiu transformar todo o nitrogênio absorvido em proteína e ele se acumula como produtos intermediários, como aminoácidos e a amina.

No caso do arroz, acumula-se o ácido aspártico que é a substância causa-dora que atrai a Cigarrinha-Verde e por

normais. E consequentemente, a resistência mecânica em rela-ção à penetração de insetos e pragas, enfraquece.

Quando há excesso de nitrogênio nas verduras, as folhas ficam moles, grandes e caídas e por isso perdem a estrutura de recepção de luz. Se proliferar demais, as folhas de baixo ficam sem sol, tendendo para o crescimento frágil e vulnerável ao ataque dos insetos.

Como inseto frequente na produção da Agricultura Natu-ral, podemos citar o pulgão. Ele é um inseto de natureza diver-sificada que ataca diversos tipos de cultura como as curcubita-ceae, as crucíferas (Figura 1) e as leguminosas. E como danos secundários, também há grande risco de transmissão de vírus. Normalmente, o surgimento de pulgões se dá pelo excesso de nitrogênio e consequente falta de cobre e potássio. Segundo os resultados observados nos testes comparativos de espécies de pepinos e outros, houve uma tendência para o surgimento de pulgões no início, quando se observava que as folhas estavam pretas pela absorção excessiva de nitrogênio.

Daí pensa-se que é possível afirmar que o excesso de ni-trogênio é um dos fatores mais importantes na geração e au-mento das pragas. Por conseguinte, é importante controlar ao máximo o nitrogênio, formando um solo saudável e o cultivo de plantações saudáveis para se evitá-las. (Texto avulso; Fotos retiradas do livro: A Biocenose do Solo & Deficiências Minerais em Culturas, de Ana Maria Primavesi).

FIGURA 7

FIGURA 12

FIGURA 2FIGURA 6

Figura 2 = Deficiência de nitrogênio no algodão. Nota-se as margens das folhas inferiores cloróticas e até amarelas, com pontinhos e manchas purpúreas. O pé é muito pequeno, com aspecto inteiramente clorótico, quase sem ramos laterais e com muito poucas “maçãs”.Figura 6 = Deficiência em nitrogênio em laranjeira. As folhas se apresentam inteiramente cloróticas, mais nas margens e pontas do que na base. Os brotos novos morrem. A desfolhação é intensa.Figura 7 = Deficiência em nitrogênio nas leguminosas 1- Alfafa, 2 - Soja. As plantinhas novas são mais pálidas. Mais tarde as folhas mais velhas ficam amarelas ou mesmo douradas com as margens um pouco enroladas. A clorose quase nunca começa nas pontas.Figura 12 = As folhas da batateira apresentam, no caso de deficiência em azoto, uma clorose que progride das margens e pontas para dentro do limbo. As margens enrolam para cima, assumindo a folha uma cor esbranquiçada, morrendo logo.

isso, o excesso de nitrogênio do arroz é a causa da grande quantidade deste inseto.

Quando houver absorção excessiva de nitrogênio, o açú-car – que é o produto da fotossíntese – é levado para o lado que assimila o nitrogênio e como resultado, fica escassa a formação de paredes celulares necessárias ao crescimento de culturas

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